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CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE MINERADORA NA MICROBACIA DO CÓRREGO ESPERANÇA – BRUMADINHO/MG Maria Luiza Navarro de Menezes – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências [email protected] Vilma Lúcia Macagnan Carvalho – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências [email protected] Resumo A intensificação do uso dos recursos naturais pelas atividades mineradoras, particularmente dos solos e recursos hídricos, ampliou os riscos de degradação ambiental, principalmente onde a capacidade de uso destes recursos não é respeitada. A área de estudo é a microbacia do Córrego Esperança, que tem suas cabeceiras e curso situados em uma antiga área de exploração mineral pertencente a EMESA S/A – Brumadinho, RMBH. A escolha da área deu-se em decorrência da existência de uma extinta cava de mineração situada na cabeceira da rede de drenagem, o que torna oportuno à discussão sobre as conseqüências e destino de áreas degradadas. O objetivo foi diagnosticar e mapear os principais impactos ambientais negativos e sua intensificação, causados pelo abandono da área pela atividade mineradora, em dois períodos diferentes (1980 e 1990). Os materiais básicos deste estudo foram: mapas topográficos, de uso e ocupação do solo e cobertura vegetal; e fotografias aéreas de 1989 e 1997. A partir das informações levantadas foi realizado o reconhecimento da área através do levantamento de campo, possibilitando a atualização dos recursos e identificação dos elementos que os compõem, principalmente identificação dos impactos ambientais. O Córrego Esperança tem todo o seu curso desenvolvido na área da extinta mineradora e encontra-se completamente descaracterizado, conseqüência de 40 anos de extração mineral e deposição inadequada de estéreis e rejeitos. A atividade mineradora e o abandono da área favoreceram a aceleração dos processos desnudacionais. O abandono da cava e dos depósitos de estéreis e rejeitos, caracterizados por taludes bastante íngremes e longos, sem cobertura vegetal, favoreceram escorregamentos de terra e desenvolvimento aprofundamento de erosões. Na foz do Córrego Esperança o grande volume de sedimentos depositados originou um delta que e desviou o curso original do rio Paraopeba, acentuando a sinuosidade do canal colocando em risco a pista da rodovia MG-040 que o margeia. Abstract The inadequate use of the natural resources for the mining increases the negative ambient impacts on the hídricos resources. The area of study of this work is Córrego Esperança, that has all its course in the extinct Mineração Esperança – EMESA/SA, Brumadinho, MG. The objective of this work was to verify the main ambient impacts in the area. The objective was to diagnosis and to mapear the main negative ambient impacts and its intensification, caused for the abandonment of the area for the mineradora activity, in two different periods (1980 and 1990). Of the digging and the barren rejeitos and the abandonment deposits, characterized for sufficiently steep and long slopes, without vegetal covering, had favored the development deepening of erosions. In the estuary of the Córrego Esperança the great volume of deposited sediments originated a delta that and at risk deviated the original course of the Rio Paraopeba, accenting the sinuosity of the canal placing the track of highway MG-040 borders that it. Introdução ALMEIDA & TERTULIANO (2001) salientam a necessidade da análise ambiental sustentar-se em uma abordagem holística e sistêmica, procurando buscar a compreensão das relações entre homem e meio ambiente. Ela possibilita um estudo a partir da análise das interações entre os elementos físicos, (não só entre si), mas com as atividades antrópicas que se desenvolvem no meio estudado e a interpretação dos processos acarretados por elas.

CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA … · deposição inadequada de estéreis e rejeitos. A atividade mineradora e o abandono da área favoreceram a aceleração dos processos

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CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE MINERADORA NA MICROBACIA DO CÓRREGO ESPERANÇA – BRUMADINHO/MG

Maria Luiza Navarro de Menezes – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências [email protected] Vilma Lúcia Macagnan Carvalho – Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociências [email protected] Resumo

A intensificação do uso dos recursos naturais pelas atividades mineradoras, particularmente dos solos e recursos hídricos, ampliou os riscos de degradação ambiental, principalmente onde a capacidade de uso destes recursos não é respeitada. A área de estudo é a microbacia do Córrego Esperança, que tem suas cabeceiras e curso situados em uma antiga área de exploração mineral pertencente a EMESA S/A – Brumadinho, RMBH. A escolha da área deu-se em decorrência da existência de uma extinta cava de mineração situada na cabeceira da rede de drenagem, o que torna oportuno à discussão sobre as conseqüências e destino de áreas degradadas. O objetivo foi diagnosticar e mapear os principais impactos ambientais negativos e sua intensificação, causados pelo abandono da área pela atividade mineradora, em dois períodos diferentes (1980 e 1990). Os materiais básicos deste estudo foram: mapas topográficos, de uso e ocupação do solo e cobertura vegetal; e fotografias aéreas de 1989 e 1997. A partir das informações levantadas foi realizado o reconhecimento da área através do levantamento de campo, possibilitando a atualização dos recursos e identificação dos elementos que os compõem, principalmente identificação dos impactos ambientais. O Córrego Esperança tem todo o seu curso desenvolvido na área da extinta mineradora e encontra-se completamente descaracterizado, conseqüência de 40 anos de extração mineral e deposição inadequada de estéreis e rejeitos. A atividade mineradora e o abandono da área favoreceram a aceleração dos processos desnudacionais. O abandono da cava e dos depósitos de estéreis e rejeitos, caracterizados por taludes bastante íngremes e longos, sem cobertura vegetal, favoreceram escorregamentos de terra e desenvolvimento aprofundamento de erosões. Na foz do Córrego Esperança o grande volume de sedimentos depositados originou um delta que e desviou o curso original do rio Paraopeba, acentuando a sinuosidade do canal colocando em risco a pista da rodovia MG-040 que o margeia. Abstract The inadequate use of the natural resources for the mining increases the negative ambient impacts on the hídricos resources. The area of study of this work is Córrego Esperança, that has all its course in the extinct Mineração Esperança – EMESA/SA, Brumadinho, MG. The objective of this work was to verify the main ambient impacts in the area. The objective was to diagnosis and to mapear the main negative ambient impacts and its intensification, caused for the abandonment of the area for the mineradora activity, in two different periods (1980 and 1990). Of the digging and the barren rejeitos and the abandonment deposits, characterized for sufficiently steep and long slopes, without vegetal covering, had favored the development deepening of erosions. In the estuary of the Córrego Esperança the great volume of deposited sediments originated a delta that and at risk deviated the original course of the Rio Paraopeba, accenting the sinuosity of the canal placing the track of highway MG-040 borders that it. Introdução

ALMEIDA & TERTULIANO (2001) salientam a necessidade da análise ambiental sustentar-se

em uma abordagem holística e sistêmica, procurando buscar a compreensão das relações entre homem

e meio ambiente. Ela possibilita um estudo a partir da análise das interações entre os elementos físicos,

(não só entre si), mas com as atividades antrópicas que se desenvolvem no meio estudado e a

interpretação dos processos acarretados por elas.

A atividade mineradora no Quadrilátero Ferrífero e nos demais lugares que se desenvolve

merece papel de destaque não apenas pelo seu expressivo valor econômico, mas também pela posição

que ocupa como uma das mais agressivas para com o meio ambiente.

Neste contexto, um dos impactos que mais têm chamado atenção é a degradação dos sistemas

fluviais, principalmente quanto à deterioração da qualidade da água e a problemática da interferência

humana na dinâmica sedimentar dos sistemas fluviais ao longo do tempo.

A ação da erosão, (remoção, transporte e deposição de material), bem como a ocorrência de

movimentos de massa, deterioram a qualidade do solo e causam impactos a outros recursos naturais,

especialmente os recursos hídricos. O aceleramento destes processos desnudacionais ocasionam maior

disponibilidade de material sedimentar desagregado, que ao atingirem os cursos d´água contribuem

para o seu assoreamento e degradação (JORGE & UEHARA 1998; SILVA et al, 2003).

A área de estudo deste trabalho é a microbacia do Córrego Esperança, que tem as suas

cabeceiras de drenagem situadas em uma extinta cava de exploração mineral pertencente à Empresa de

Mineração Esperança – EMESA S/A -, no município de Brumadinho, região metropolitana de Belo

Horizonte, o que torna oportuno à discussão sobre os impactos ambientais negativos e o destino de

áreas degradadas.

Possuindo nascentes e trajetórias na área da extinta mineração, o Córrego é o receptor e

transportador do material sedimentar originado na área. Esta situação acarretou sua descaracterização

mudança em seu padrão de drenagem. A deposição de grande quantidade de material sedimentar na

foz do Córrego Esperança com o Rio Paraopeba forçou o Rio a desviar o seu curso. Intensificando a

erosão lateral na margem direita do Rio e oferecendo riscos à integridade de uma via estadual (MG 40)

paralela a ele.

Material e Método

Os procedimentos metodológicos utilizados para a elaboração deste trabalho guiaram o

desenvolvimento de atividades que procuraram responder aos objetivos propostos. Inicialmente, com

intuito de conhecer a área a ser estudada foi realizado um trabalho de campo, onde foi possível fazer

uma análise e elucidar possíveis problemas. Para o entendimento da problemática ambiental fez-se

necessário a compreensão da dinâmica dos processos de encostas, importantes na avaliação e

levantamentos referentes ao uso da terra e suas implicações. Essas alterações envolvem os diferentes

tipos de usos que têm influenciado a ocorrência de processos desnudacionais.

O levantamento bibliográfico englobou elementos concernentes às experiências

desenvolvida na área de impacto ambiental e voltada ainda para questões como análise ambiental e

discussões associadas com bacia hidrográfica / dinâmica fluvial e dos elementos que estão diretamente

relacionados com ela como vegetação, solo e água; um outro ponto a ser abordado deve ser a postura

da prática da mineração enquanto atividade econômica importante e a sua relação com o meio

ambiente bem como com outras atividades antrópicas. A análise destes estudos contribuiu de modo

que fossem utilizados como subsídios à compreensão de efeitos ambientais provocados pela atuação da

atividade antrópica na área estudada. Cabe ressaltar, no entanto, que a revisão bibliográfica

desencandeou-se durante todo o período de execução do trabalho.

Paralelamente à coleta e revisão de material bibliográfico foram adquiridos material

cartográfico e fotointerpretativo da área de modo a delimitar a área da microbacia e mapear o uso e

ocupação do solo em diferentes épocas e os seus possíveis impactos, além de possibilitarem a

caracterização da área. Para isso foram analisados mapas topográficos, folha Brumadinho (IBGE,

1:50.000), geológicos folha Brumadinho (IGA, 1:50.000), além de mapas associados com a cobertura

vegetal, geomorfologia, clima, tipos de solo, entre outros. E fotografias aéreas: ano 1989, foto número

1404 / faixa2003Q, vôo USAF, escala 1:30.000; ano 1997, fotos número 08-19 a 10-19 e 09-20, vôo

Vista Aérea, escala 1:8.000. A partir das informações levantadas foi realizado o reconhecimento da

área da abrangência da bacia através do levantamento de campo, que possibilitou ainda a atualização

dos recursos já citados e identificação dos elementos que os compõem, principalmente identificação

dos impactos ambientais que ocorrem na área. Como resultado final chega-se em um mapeamento da

área destacando em períodos diferentes a cobertura vegetal, rede de drenagem, vias de acesso, solo

exposto, pontos de erosão e taludes. A análise dos impactos permitiu estabelecer uma comparação da

problemática ambiental que envolve a área verificando a evolução da atividade antrópica na

microbacia.

Resultados e Discussões

A atividade mineradora (extração de hematita) com o posterior abandono da cava e dos

depósitos de estéreis e rejeitos, contribuíram para o aceleramento de processos desnudacionais na área

estudada, onde se encontra o Córrego Esperança.

Com cerca de 2km de extensão o Córrego Esperança tem suas cabeceiras alojadas na face

sudeste da Serra das Farofas. Sua nascente principal foi totalmente alterada em conseqüência de 40

anos de extração mineral e deposição inadequada de estéreis e rejeitos. Esta nascente se encontra no

interior da cava da mina (foto 01), daí segue até a barragem filtrante. Uma nascente secundária do

córrego provém de uma voçoroca situada na base do depósito de estéreis. O comprometimento das

nascentes está associado com a remoção da cobertura vegetal, o que a deixa desprotegida da atuação

dos processos erosivos.

O abandono da cava e dos depósitos de estéreis e rejeitos, caracterizados por taludes bastante

íngremes e longos, não apresentando qualquer vestígio de vegetação, favoreceram escorregamentos de

terra e desenvolvimento aprofundamento de feições erosivas (ravinas e voçorocas). De acordo com

Salomão & Iwassa (1995) e Bertoni & Lombardi Neto (1999), a cobertura vegetal age como fator

controlador do escoamento superficial. A ausência da cobertura vegetal acentua o impacto das gotas de

chuvas, fazendo com que os agregados se “quebrem”, tornando-os mais suscetíveis ao transporte pela

enxurrada, conduzindo a sérios problemas de erosão.

Foto 01. Extinta cava da Mineração Esperança, onde se localiza a nascente do Córrego Esperança totalmente descaracterizada.

A terra proveniente dos deslizamentos no interior da cava e dos depósitos citados

anteriormente, bem como o material transportado pelo escoamento superficial acabam por atingir o

Córrego Esperança contribuindo para o seu assoreamento (foto 02).

Foto 02. Taludes sem vegetação no interior da cava, onde percebe-se incidência de processos associados com a erosão linear. Convém ressaltar a descaracterização do curso d´água, que já bastante assoreado assume caráter anastomosado para ultrapassar os bancos de sedimentos.

Como constatam GUERRA (1994), JORGE & UEHARA (1998) e GUERRA & CUNHA

(1966), a deposição de sedimentos no leito diminui a profundidade do canal, que não conseguirá conter

a vazão da água no período chuvoso provocando enchentes e rompimento de barragens. Constata-se

assim uma alteração na dinâmica fluvial do Córrego Esperança a jusante é perceptível: a um

alargamento da planície formada pela deposição de sedimentos e o canal único é substituído por

múltiplos canais entrelaçados, atestando as condições especiais em que o rio se desenvolve, altamente

relacionadas com carga sedimentar. O córrego apresenta grande quantidade de carga de fundo, que

associadas às variações do fluxo, ele não tem competência suficiente para conduzi-la até seu nível de

base final e deposita-o no próprio leito. Este obstáculo acaba por provocar a ramificação do Esperança,

que se desenvolve em múltiplos canais pequenos e rasos. Contudo em períodos chuvosos com o

aumento da vasão estes sedimentos são transportados e depositados no rio Paraopeba.

A drenagem da cava era anteriormente direcionada para as instalações de beneficiamento de

minério. Com a paralisação das atividades e os constantes deslizamentos (estes colocaram em risco a

estrada e o duto da empresa), a COPASA foi obrigada a desenvolver obras de modo a evitar que sua

adutora (que corta as glebas Candu e Esperança) fosse danificada pela erosão. De tal modo, em 1998, a

COPASA construiu uma barragem que desvia em aproximadamente 90º o curso do córrego, usando

como novo canal fluvial uma ravina pré-existente (SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO

AMBIENTE E AGRICULTURA, 2003). Atualmente a barragem encontra-se comprometida pela

erosão, a ravina utilizada como canal aprofundou-se. E em alguns pontos a profundidade é superior a

10 metros, como se percebe na foto 03. Freqüentemente ocorrem deslizamentos, e através do

escoamento superficial transporte de materiais das pilhas de estéreis e rejeitos1 que margeiam o canal,

(foto 04).

Foto 03. Barragem construída pela COPASA para desvio do curso do Córrego Esperança. Nota-se que ela vem passando por um acelerado processo de erosão e movimento de massa. Destaque ao assoreamento do córrego, com uma larga planície de sedimentos.

Foto 04. Saída do canal de desvio das águas da cava bastante assoreado. À direita base da pilha de estéreis e à esquerda, base da pilha de rejeitos.

1 De acordo com SUGUIO (1998), o depósito de estéreis está associado com parte de uma jazida que não contém teor de minério suficientemente alto para ter interesse econômico. GUERRA (2001), considera que depósitos de rejeitos ou ganga, são rochas ou minerais inaproveitáveis que acompanham um minério ou os minerais úteis.

Constata-se um transporte seletivo de materiais pelo curso d´água, iniciada a movimentação, os

processos envolvidos em seu transporte e deposição estão associados com a carga e competência do

rio, JORGE e UEHARA (1998).

Alguns metros a jusante, constata-se o encontro do curso principal do Esperança com o seu

afluente também assoreado, oriundo de uma voçoroca, como percebe-se na foto 05.

Foto 05. Vista geral do Vale Esperança. Em primeiro plano a direita encontra-se a voçoroca de onde origina o tributário do Esperança, e a esquerda o depósito de estéril. Em segundo plano na porção esquerda da foto percebe-se a saída da cava. No centro tem-se a planície formada pela deposição de sedimentos, decorrente da filtragem da água pela antiga barragem. Finalmente tem-se em um terceiro plano a adutora da COPASA. Toda a mata presente na área pertence à reserva florestal da extinta mineradora.

As voçorocas se desenvolveram em uma antiga estrada que dava acesso a jazida Candu, que

desprovida de vegetação favoreceu a concentração do fluxo superficial e o aprofundamento dos sulcos

ali existentes. È desta voçoroca que origina um tributário do Córrego Esperança.

É próximo a este ponto, que em 1991, a EMESA construiu uma barragem de gabiões (barragem

de pedras dispostas em telas) de 7 metros de altura, com a finalidade de conter os sedimentos carreados

para o córrego e promover a filtragem da água. Contudo, durante o período chuvoso de 1992, a

barragem recebeu grande aporte de resíduos, o que danificou e rompeu parte de sua estrutura. Na

tentativa de solucionar o problema, foi construído um muro de concreto complementando o

barramento. Entretanto, a montante, formou-se um grande depósito de sedimentos, fazendo com que o

Córrego Esperança deixasse de ter curso definido e anastomozasse pela planície, o que pode ser

verificado nas fotos 06 e 07 (SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE E

AGRICULTURA, 2003).

Voçoroca Pilha de Rejeitos

Saída da Cava

Barragem

Duto

Foto 06. Barragem de gabiões já bastante danificada em meados de 2002. Foto 07. Rebaixamento do nível de sedimentos a montante, devido a ruptura da barragem.

Este trecho do córrego (da cava da mina a alguns metros as proximidades do duto) foi o mais

afetado pelo acidente, estando completamente assoreado por rejeitos e estéreis da cava. Pode-se

considerar que o material depositado no curso através do movimento de massa de escoamento rápido

denominado corrida, uma vez que teve caráter primordialmente hidrodinamico, ocasionado pela

ruptura da estrutura em decorrência de excesso de água (GUIDICINI & NIEBLE, 1983). Estes

compõem ainda, uma espécie de planície aluvionar desprovida de cobertura vegetal. Em 2003, com

sua estrutura já comprometida, contendo fendas, que alcançavam a base da barragem, a barragem

rompeu totalmente, carreando um grande volume de material para o Rio Paraopeba, fotos 08 e 09.

Foto 08. Rompimento da barragem em 2003. Foto 09. Córrego Esperança imediatamente a jusante da barragem de gabiões.

Percebe-se a bifurcação do canal causada pela obstrução do leito por sedimentos depositados em

virtude do aporte maior do que a capacidade. São depósitos sedimentares caracteristicamente arenosos

e / ou conglomerático.

O córrego Esperança, já na área onde se encontram as antigas instalações administrativas e

depósitos da EMESA próximo a sua foz, tem a incisão de um canal mais definido, conferindo-lhe uma

aparência mais natural, apesar de suas margens não terem nenhum tipo de vegetação. Neste trecho, o

córrego recebe, pela margem esquerda, a contribuição de um afluente intermitente, proveniente da

reserva florestal da EMESA. Este afluente apresenta-se em estado natural, a exceção de sua

desembocadura que foi aterrada para permitir a passagem de uma das estradas de serviço da mina (foto

10.

Foto 10. Afluente do Esperança reaparecendo após ser aterrado para construção da estrada; próximo a sua foz.

Na confluência do Córrego Esperança com o rio Paraopeba, foi depositado um grande volume

de sedimentos originando um leque. A formação desta barra de canal longitudinal, formada por

sedimentos arenosos ou com maior granulometria depositadas margialmente ao canal fluvial,

acentuou, neste ponto, a sinuosidade do canal, incrementando o solapamento dos taludes da margem

direita e pondo em risco a pista da rodovia MG-40 que o margeia.

O material sedimentar é predominantemente arenoso, formado por grãos de quartzo, hematita e

seixos de tamanhos variados (SANTOS, 1996). A existência destes sedimentos evidencia que a

quantidade de material depositada pelo Córrego Esperança é superior a capacidade de transporte de

sedimentos pelo Paraopeba. A jusante do delta vão sendo depositados parte do material que o rio

conseguiu transportar. A conseqüente elevação do leito e a expansão lateral da calha (resultantes do

entulhamento do canal), comprometendo as suas duas margens, a rodovia e a vila operária que

margeiam o rio, como percebe-se nas fotos 11 e 12.

Foto 11. Delta formado na foz do Córrego Esperança. Foto 12. Encontro do Córrego Esperança com o rio Paraopeba, destaque para a grande quantidade de sedimentos depositados no rio. Destaque para o desvio do curso original do rio, que devido ao alargamento do seu leito vem provocando erosões em suas margens afetando diretamente a estrada que margeia o rio.

A partir da interpretação de fotografias aéreas de dois periodos (1989 e 1997) e da realização de

trabalhos de campo verificou-se que os principais impactos ambientais que ocorrem na área da são

decorrentes de atividades envolvidas na mineração. Os impactos foram acentuados com o abandono da

cava sem a implementação de medidas mitigadoras no início dos anos de 1990. os principais impactos

verificados, bem como as possíveis causas foram sistematizados no quadro 1.

Mg - 040

IMPACTOS NEGATIVOS POSSÍVEIS CAUSAS SUGESTOES PARA AMENIZAÇÃO

Comprometimento das nascentes - Remoção da vegetação - Aterro e extinção das nascentes em função da

cava e de construção de estradas.

Reflorestamento dos cursos d´água e do entorno das nascentes.

Degradação dos cursos d´ água – assoreamento –

- Remoção da mata ciliar - Paredes da cava desprovidas de vegetação. - Deposição de sedimentos através do

escoamento superficial concentrado e de movimentos de massa.

- Processos erosivos no solo (voçorocas e ravinas).

- Abertura de estradas não pavimentadas - Depósitos de estéreis e rejeitos instáveis e

sem vegetação

Restabelecimento da mata ciliar e adoção de práticas conservacionistas e manejo do solo. Recobrir áreas de solo exposto com vegetação nativa.

Solo exposto, perda de solo, inutilização da área, desenvolvimento de feições erosivas (ravinas e voçorocas), que acabam por fornecer sedimentos para o Córrego Esperança.

- Abertura de estradas. - Cava e depósitos de estéreis e rejeitos sem

cobertura vegetal associada com a declividade e comprimento das vertentes.

- Escoamento superficial concentrado. - Degradação do patrimônio (construções e

estradas pavimentadas).

Obras de contenção nas estradas. Obras de drenagem para desviar o escoamento superficial. Plantio de vegetação rasteira ou arbustiva de modo a recobrir áreas com solo exposto.

Diminuição da profundidade do Córrego Espernça, comprometimento de suas nascentes, em função do assoreamento.

- Resultante dos sedimentos provindos das voçorocas, estradas, depósitos de estéreis e rejeitos e paredes da cava sem vegetação, além da ausência de mata ciliar em suas margens.

Uso de práticas conservacionistas de solo e recomposição da mata ciliar e de encostas.

Delta na foz do Córrego Esperança e desvio do Rio Paraopeba

- Rompimento de barragem e transporte de sedimentos pelo córrego em decorrência da falta de vegetação nos taludes e retirada da mata ciliar.

Obras de dragagem para retirada dos sedimentos Recomposição da mata ciliar e de encostas.

QUADRO 1. Principais impactos ambientais negativos.

Conclusões O desenvolvimento deste trabalho, e o levantamento dos principais impactos ambientais

negativos, possibilitou, a partir da interação entre os elementos componentes da bacia hidrográfica,

água, vegetação, relevo e solo diagnosticar a problemática envolvendo o uso e ocupação do solo na

microbacia do Córrego Esperança.

Dentre os problemas detectados têm-se o comprometimento de nascentes e córregos por obras

de aterro para construção de estradas e pela retirada da cobertura vegetal. Esta interfere ainda no

desenvolvimento do curso d´água, que com as suas margens desprotegidas e paredes da cava e

depósitos de rejeito da expostos, recebe uma grande quantidade de sedimentos carreados pelo

escoamento superficial, acarretando assoreamento, alargamento e desvio do leito original. Tais

sedimentos acabam por serem depositados no rio Paraopeba, levando a uma formação deltáica que fez

com que o rio expandisse lateralmente, erodindo as margens de forma acelerada, tal situação leva

perigo a rodovia que margeia o rio.

A retirada da vegetação ocasiona ainda problemas associados com movimentos de massa, como

deslizamentos e de erosão, atestada pelo ravinamento das encostas e desenvolvimento de voçorocas.

È perceptível assim que são vários os impactos negativos detectados na microbacia do Córrego

Esperança, e que são necessárias a implantação de medidas que procurem amenizar tais problemas.

Cabe destacar que a rede de drenagem, apresentou-se como um agente em busca de um novo equilíbrio

e de tal modo acabou por dinamizar os impactos em toda a área da microbacia.. Assim qualquer

planejamento de ação recuperadora que venha a ser implementado tem de considerar a análise

ambiental como uma proposta de trabalho que permita vislumbrar a integração dos elementos da bacia

e conseqüentemente o desenvolvimento dos impactos, tornando oportuno a discussão do destino de

áreas degradadas com todas as esferas da sociedade.

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