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i CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA AREIA DA PRAIA DE IPANEMA Felipe Bogossian Simões Rio de Janeiro Agosto de 2015 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Ian Schumann Marques Martins

caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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Page 1: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

i

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA AREIA DA PRAIA DE IPANEMA

Felipe Bogossian Simões

Rio de Janeiro

Agosto de 2015

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Ian Schumann Marques Martins

Page 2: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA AREIA DA PRAIA DE IPANEMA

Felipe Bogossian Simões

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO DE 2015

________________________________________

Prof. Ian Schumann Marques Martins, D.Sc.

________________________________________

Prof. Alessandra Conde de Freitas, D.Sc.

________________________________________

Prof. Robson Palhas Saramago, D.Sc.

Page 3: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

iii

Simões, Felipe Bogossian

Caracterização geotécnica da areia da praia de Ipanema

/ Felipe Bogossian Simões. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

Politécnica, 2015.

X, 124p.:il.; 29,7 cm.

Orientador: Ian Schumann Marques Martins

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso

de Engenharia Civil, 2015.

Referências Bibliográficas: p. 72.

1.Caracterização dos Solos. 2. Cisalhamento direto.

I. Martins, Ian Schumann Marques. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Caracterização geotécnica da areia da

praia de Ipanema.

Page 4: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

iv

“É um erro capital teorizar antes de ter os dados.

Insensivelmente, começa-se a distorcer os fatos

para adaptá-los as teorias, em vez de fazer com que

as teorias se adaptem aos fatos.”

Sherlock Holmes, de Conan Doyle (1891)

Page 5: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

v

À Maria Claudia e Eduardo (in memoriam)

Page 6: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

vi

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família todo o suporte ao longo dessa caminhada. Aos

meus pais Marcelo e Denise, agradeço por todo o amor, carinho, educação e

principalmente apoio em todas as etapas, fáceis ou não tanto. Aos meus irmãos Guilherme

e Yasmin, por estarem sempre ao meu lado.

Ao professor Ian Schumann Marques Martins pela orientação, auxílio e empenho na

execução desse trabalho, além da disponibilidade a sempre estar ensinando algo ou

sanando alguma dúvida.

À professora Alessandra Conde de Freitas e à engenheira e amiga Ana Cláudia de Mattos

Telles por toda a amizade, carinho e auxílio ao longo dos ensaios e elaboração deste

trabalho.

Ao professor Robson Palhas Saramago por aceitar participar da banca examinadora, além

da contribuição nas discussões após a apresentação do trabalho.

Aos professores da Escola Politécnica, especialmente Fernando Arthur Brazil Danziger e

Marcos Barreto de Mendonça, pelo ensino prestado de qualidade e a constante

preocupação com seus alunos.

Ao engenheiro Victor Pimentel Nunes pela oportunidade que me foi dada ao trabalhar na

sua monografia e servir de ponto de partida para este trabalho.

Aos amigos que fiz na Engenharia Eletrônica, pessoas muito especiais que espero levar

para a vida toda: Andrea, Laura, Rapha, Sherbs, Luizinho, Marcello, Renan, Soares.

Aos amigos da Engenharia Civil, incluindo os da ênfase em Geotecnia, que foram

fundamentais na minha graduação, seja nos momentos de estudo ou lazer. Em especial,

à: Ju, Mari e Nathan.

Aos funcionários e amigos da Sondotécnica, em especial: Aninha, Assiba, Flávia, Léo,

Lude, Márcia, Rafael, Renato, Rodrigo, Vaclav, Zana e Zé.

Aos funcionários da COPPE/UFRJ da área de Geotecnia, por toda ajuda prestada quando

foi necessária.

Page 7: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Caracterização Geotécnica da areia da praia de Ipanema

Felipe Bogossian Simões

Agosto/2015

Orientador: Ian Schumann Marques Martins

Curso: Engenharia Civil

Este trabalho apresenta um estudo onde foram realizados diversos ensaios de laboratório

com o objetivo de caracterizar a Areia da Praia de Ipanema, localizada no Rio de Janeiro.

A areia em questão é de granulometria média, mal graduada e uniforme. Os grãos têm

formatos variando de subangulares a arredondados e são basicamente de quartzo, com

densidade igual a 2,659.

Utilizando o método de pluviação no ar, foram obtidos índices de vazios variando de

0,461 a 0,732.

Os ensaios de cisalhamento direto, para três compacidades distintas, resultaram em

variações nos ângulos de atrito, de 27,1°, num estado fofo, a 43,5° sob condição

compacta. O ângulo de atrito no repouso é de 33°.

Ensaios edométricos realizados em corpos de prova com três compacidades forneceram

módulos edométricos máximos de 8 x 105 kPa para corpos de prova fofos, 1,6 x 106 kPa

para corpos de prova de compacidade intermediária e 3,2 x 106 kPa para os corpos de

prova compactos. Realizaram-se também ensaios edométricos especiais onde a Areia de

Ipanema foi submetida a tensões de até 20.000 kPa com o objetivo de estudar a quebra

dos grãos. Após o ensaio, foram feitas análises do solo ao microscópio e foi refeita a

granulometria para verificação de possíveis quebras.

Palavras-chave: Areia, Resistencia ao cisalhamento, Compressibilidade

Page 8: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

Ipanema beach sand’s geotechnical characterization

Felipe Bogossian Simões

Agosto/2015

Advisor: Ian Schumann Marques Martins

Course: Civil Engineering

In this work several laboratory tests carried out to characterize Ipanema Beach Sand are

presented. This poor graduated uniform medium sand is made up of subangular to

rounded quartz particles which average specific gravity G = 2,659. Using dry pluviation

in the air and the aid of funnels of varying openings, void ratios between 0,461 and 0,732

were obtained.

Direct shear tests carried out on loose, medium and dense specimens resulted in angles of

internal friction whose values fall between 27º and 43.5 º, corresponding, respectively, to

the loosest and densest packing. The angle of repose is 33º.

Compressibility tests carried out in the oedometer on samples of varying relative densities

resulted in oedometric modulus of 8 x 105 kPa, 1,6 x 106 kPa and 3,2 x 106 kPa for the

loose, medium and dense specimens, respectively. A series of special oedometer tests in

which the specimens were submitted to vertical stresses as high as 20.000 kPa was also

carried out for the purpose of studying grain crushing. Grain crushing assessment was

made after such tests by observing the grains under the microscope and carrying out a

new series of grain size analysis.

Keywords: Sand, shear strength, compressibility

Page 9: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

2. COLETA E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS ........................................................... 1

3. CARACTERIZAÇÃO ....................................................................................................... 4

3.1. GRANULOMETRIA ................................................................................................................................ 4

3.2. FORMATO DOS GRÃOS ....................................................................................................................... 7

3.3. DENSIDADE ............................................................................................................................................ 9

3.4. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA ...................................................................................................... 12

4. ÍNDICE DE VAZIOS ............................................................................................................ 13

4.1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................... 13

4.2 ÍNDICE DE VAZIOS MÁXIMO .......................................................................................................... 14

4.3 ÍNDICE DE VAZIOS MÍNIMO E ÍNDICES DE VAZIOS INTERMEDIÁRIOS ............................... 16

5 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO – FUNDAMENTOS .................................. 22

5.1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................... 22

5.2 ATRITO INTERNO NUMA MASSA DE AREIA .............................................................................. 24

5.3 TENSÕES NORMAIS, CISALHANTES E SUA REPRESENTAÇÃO .............................................. 26

5.4 A TEORIA DE RESISTÊNCIA DE MOHR E O CRITÉRIO DE MOHR - COULOMB .................. 30

6 ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO .................................................................. 34

6.1 DESCRIÇÃO DO ENSAIO .................................................................................................................... 34

6.2 ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO NA AREIA DE IPANEMA ............................................. 38

6.2.1 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA .................................................................................... 38

6.2.2 RESULTADOS OBTIDOS ................................................................................................................ 40

6.2.2.1 DOMÍNIO FOFO ............................................................................................................................... 40

6.2.2.2 DOMÍNIO MEDIANAMENTE COMPACTO .................................................................................. 44

6.2.2.3 AMOSTRAS COMPACTAS ............................................................................................................. 47

6.2.3 ÍNDICE DE VAZIOS CRÍTICO ........................................................................................................ 50

6.3 ÂNGULO DE ATRITO NO REPOUSO ................................................................................................ 53

6.3.1 PROCEDIMENTO PARA DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO DE ATRITO NO REPOUSO DA

AREIA DE IPANEMA .......................................................................................................................................... 53

6.4 RESUMO DOS ENSAIOS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO E CONSIDERAÇÕES

ADICIONAIS ........................................................................................................................................................ 55

7 COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL ........................................................................... 61

Page 10: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

x

7.1 PROCEDIMENTOS ............................................................................................................................... 62

7.1.1 ANEL ................................................................................................................................................. 62

7.1.2 CÉLULA DE COMPRESSÃO .......................................................................................................... 66

8 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS ESTUDOS .............................. 70

8.1 CONCLUSÕES ...................................................................................................................................... 70

8.2 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS ................................................................................... 71

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 72

ANEXOS.................................................................................................................................... 73

ENSAIOS CISALHAMENTO DIRETO .............................................................................. 74

ENSAIOS COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL ............................................................ 105

Page 11: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

1

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a caracterizar, geotecnicamente, a areia da praia de

Ipanema. A literatura técnica brasileira mostra-se carente de dados desse tipo, sendo mais

comum encontrarem-se dados de areias internacionais. Este trabalho faz parte de um

programa mais extenso, que busca conhecer melhor as características geotécnicas das

areias do Rio de Janeiro.

Ipanema, tornada mundialmente famosa por ter inspirado Tom Jobim e Vinicius de

Moraes, dentre outros compositores e artistas, localiza-se na zona sul da cidade do Rio de

Janeiro e é mundialmente conhecida por seus atrativos turísticos. Um desses atrativos é,

por exemplo, a própria Praia de Ipanema que tem como pano de fundo o Morro Dois

Irmãos, ambos mostrados na foto da Figura 1.1. Com mais de 2,0 km de extensão, situada

entre os bairros do Leblon e Copacabana, a Praia de Ipanema é um dos principais locais

do bairro que leva o mesmo nome.

Figura 1.1 – Imagem da Praia de Ipanema

Page 12: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

2

A harmonia natural entre a Praia de Ipanema e o Morro Dois Irmãos, têm sido também

fonte de inspiração para diversos pintores que procuram retratar a beleza da região, como

pode ser visto na tela do pintor Jayme Cavalcante, mostrada na Figura 1.2.

Figura 1.2 – A Praia de Ipanema e o Morro Dois Irmãos – Pintura de Jayme Cavalcante

Visando um completo levantamento das características geotécnicas da Areia da Praia de

Ipanema, foram executados diversos ensaios. Eles foram divididos da seguinte maneira:

No capítulo 2, apresentam-se o local de coleta da amostra e a forma pela qual o material

foi preparado para ensaio, principalmente no que diz respeito à limpeza da areia com o

objetivo de eliminar impurezas como, por exemplo, “tocos de cigarro”.

No capítulo 3, foi feita a caracterização do material. São apresentadas, neste capítulo, as

propriedades tais como tamanho dos grãos, distribuição granulométrica, aspectos visuais

ao microscópio, composição mineralógica e densidade dos grãos, além dos métodos

usados para essas determinações.

No capítulo 4, foram feitos diversos ensaios para determinar os índices de vazios mínimo

e máximo do solo. O método que se mostrou mais adequado para tal foi o da pluviação

através de peneiras. Tal método mostrou tão boa repetibilidade que foi usado também

para a obtenção de corpos de prova com índices de vazios intermediários.

No capítulo 5, são apresentados os resultados dos estudos da resistência ao cisalhamento.

Utilizou-se o ensaio de cisalhamento direto para essas determinações, que foram

Page 13: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

3

realizadas para três compacidades relativas distintas, uma no estado fofo, outra no estado

compacto e uma outra num estado intermediário de compacidade relativa.

No capítulo 6, foram executados ensaios de compressão unidimensional (edométrica),

também em três índices de vazios diferentes, correspondentes aos estados de

compacidade relativa fofo, intermediário e compacto. Tais ensaios tiveram o objetivo de

fornecer o módulo edométrico da Areia de Ipanema sob diferentes compacidades e sob

diferentes tensões verticais. Além disso, devido à limitação de carga do equipamento

utilizado, foram feitos ensaios edométricos em corpos de prova de seção transversal

reduzida, para que pudessem ser atingidas tensões verticais efetivas elevadas. Com isso,

pôde-se avaliar também a eventual quebra de grãos para essas tensões mais elevadas.

Page 14: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

1

2. COLETA E PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS

As amostras utilizadas nos ensaios foram coletadas no dia 07/04/2014, em frente ao

edifício de nº 272 na avenida Vieira Souto, a uma distância de aproximadamente 50

metros do calçadão, como indicado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Local de coleta das amostras utilizadas nos ensaios

Por se tratar de um local com grande fluxo de pessoas e de veículos nas proximidades, as

amostras retiradas encontravam-se bastante contaminadas por diversos tipos de

impurezas. As amostras foram, portanto, lavadas em água corrente antes da execução dos

ensaios, visando a diminuição das concentrações de sais e a retirada de impurezas

grosseiras, como gravetos, folhas, guimbas de cigarro, plásticos, anéis de lata e canudos.

Apenas a areia natural foi preservada.

Após a lavagem, o material foi seco em estufa a 105 - 110°C e armazenado num

reservatório plástico de forma a evitar sua contaminação com poeira e outras impurezas

presentes no ar.

Page 15: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

2

Antes de iniciar um novo ensaio, as amostras de areia eram quarteadas manualmente,

visando garantir uma maior homogeneidade das porções ensaiadas. O método adotado foi

a disposição de grande quantidade em forma de cone e sua divisão em quatro partes

iguais. Dois quartos diametralmente opostos eram devolvidos ao reservatório de

armazenamento, enquanto os outros dois quartos eram usados em novo processo de

quarteamento, que se repetia até que fosse obtida a quantidade necessária ao ensaio a ser

realizado, conforme esquema apresentado na Figura 2.2 e na foto da Figura 2.3 abaixo.

Figura 2.2 – Processo de quarteamento partindo-se de uma pilha cônica de areia.

Page 16: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

3

Figura 2.3 – Processo de quarteamento da amostra.

Page 17: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

4

3. CARACTERIZAÇÃO

3.1. GRANULOMETRIA

A curva granulométrica do material foi determinada a partir da execução de três ensaios

de peneiramento, realizados segundo a NBR 7181/1988 – Solo – Análise Granulométrica.

No caso em questão, por se tratar de uma areia, não há a etapa de sedimentação. O ensaio

consiste então em despejar uma determinada quantidade de areia (da ordem de 100 gf)

sobre uma sequência de peneiras de abertura decrescente, submeter o conjunto à vibração

e pesar as quantidades retidas em cada peneira. Isto permite também determinar a

quantidade acumulada de material passando em cada peneira.

As curvas granulométricas obtidas em cada ensaio encontram-se apresentadas nas Figuras

3.1 a 3.3. Pode-se constatar que todos os resultados ficaram muito semelhantes, revelando

a boa repetibilidade do experimento.

Figura 3.1 – Curva granulométrica determinada no Ensaio 1

Page 18: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

5

Figura 3.2 – Curva granulométrica determinada no Ensaio 2

Figura 3.3 – Curva granulométrica determinada no Ensaio 3

Page 19: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

6

Foram analisados o coeficiente de não uniformidade 𝐶𝑁𝑈 e o coeficiente de curvatura

𝐶𝐶, definidos como:

𝐶𝑁𝑈 =𝐷60

𝐷10 (3.1)

e

𝐶𝐶 =𝐷30

2

𝐷60 × 𝐷10 (3.2)

onde:

𝐷10 é o diâmetro pelo qual passam 10% do material no ensaio de granulometria;

𝐷30 é o diâmetro pelo qual passam 30% do material no ensaio de granulometria;

𝐷60 é o diâmetro pelo qual passam 60% do material no ensaio de granulometria;

Para as curvas granulométricas da areia de Ipanema, estes valores são:

𝐷10 = 0,22 mm

𝐷30 = 0,30 mm

𝐷60 = 0,42 mm

O coeficiente de não uniformidade CNU indica o quão desuniformes são os grãos do solo.

Quanto maior esse valor, maior é a variedade na dimensão dos grãos. Para a areia de

Ipanema foi obtido CNU = 1,90, o que indica um material uniforme, sem grandes

variações na granulometria (PINTO, 2006).

O coeficiente de curvatura CC indica possíveis descontinuidades na granulometria do

material como, por exemplo, ausência de determinado tamanho de grão na amostra, ou

concentração elevada de grãos mais grossos, como descrito por PINTO (2006). Para esta

areia, foi obtido CC = 0,97, indicando ser um material mal graduado.

Após uma inspeção visual das curvas granulométricas, praticamente verticais, observa-se

que ambos os coeficientes (CNU e CC) corroboram com a conclusão de que a Areia de

Ipanema constitui uma areia média, mal graduada e uniforme.

Page 20: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

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3.2. FORMATO DOS GRÃOS

Um aspecto interessante e que ajuda a entender como se dá a interação entre as partículas

de uma areia é a análise do formato dos seus grãos. No caso de um solo sedimentar, como

é o caso da Areia de Ipanema, o formato dos grãos é resultado dos processos aos quais o

solo foi submetido durante seu transporte e sua formação. Diferentemente das argilas, as

partículas das areias possuem as três dimensões com a mesma ordem de magnitude.

Características como o arredondamento ou a presença de cantos mais acentuados podem

explicar o seu comportamento. Grãos mais angulares, por exemplo, podem se intertravar

melhor, o que garantiria uma maior interação entre as partículas e resultaria em uma

resistência ao cisalhamento mais elevada. No entanto, quando areias com tais tipos de

grãos são submetidas a tensões elevadas, as arestas dos grãos seriam concentradoras de

tensão e os grãos se tornariam quebradiços fazendo com que, sob tais circunstâncias, não

haja o acréscimo de resistência que tal areia exibiria sob tensões não tão elevadas.

PINTO (2006) relata que as areias constituídas de partículas esféricas e arredondadas têm

ângulos de atrito menores que areias constituídas de grãos angulares. Isso se dá pelo

entrosamento das partículas irregulares, como ilustrado pela Figura 3.4.

Figura 3.4 – Entrosamento de areias (a) de grãos arredondados; (b) de grãos angulares.

PINTO (2006)

Com auxílio de um microscópio e fazendo uso de um gabarito proposto por F.J. Pettijohn,

apresentado em LAMBE e WHITMAN (1969, pág. 45) e reapresentado na Figura 3.5 a

seguir, foi possível avaliar o formato dos grãos da Areia de Ipanema.

Page 21: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

8

Figura 3.5 – Grau de arredondamento das partículas – Sedimentary Rocks (1949) por

F.J. Pettijohn. Reproduzido de LAMBE e WHITMAN (1969, pág.45).

Após análise das amostras no microscópio, os grãos podem ser descritos como

subangulares a arredondados. Foi notada também a presença esporádica de alguns grãos

de diferente coloração e partículas de mica e conchas. A Figura 3.6 apresenta uma amostra

da Areia de Ipanema vista ao microscópio sob ampliação aproximada de 100 vezes.

Figura 3.6 – Grãos da Areia de Ipanema vistos ao microscópio

A – ANGULAR

B – SUBANGULAR

C – SUBARREDONDADO

D – ARREDONDADO

E – BEM ARREDONDADO

Page 22: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

9

3.3. DENSIDADE

A densidade (specific gravitiy) de um solo é definida como a relação entre o peso de um

dado volume de grãos sólidos e o mesmo volume de água destilada a 4º C. A determinação

da densidade das partículas sólidas de um solo é fundamental para a determinação de

vários outros parâmetros, como por exemplo, o índice de vazios.

Sua determinação é feita de acordo com o procedimento prescrito pela NBR 6508/1984

– Grãos de solos que passam na peneira 4,8 mm – Determinação da massa específica

(norma cancelada). De acordo com o catálogo de normas da ABNT, “esta norma

prescreve o método de determinação da massa específica (sic) dos grãos de solos que

passam na peneira 4,8 mm (de acordo com a NBR 5734), por meio de picnômetro, através

da realização de pelo menos dois ensaios”. O uso do termo “massa específica” no título

da referida norma é inadequado pelo fato da massa específica ter definição diferente.

O procedimento a ser seguido para a determinação da densidade dos grãos, denotada por

𝐺, está mostrado esquematicamente na Figura 3.7 abaixo.

Figura 3.7 – Procedimento para determinar a densidade dos grãos de um solo.

Page 23: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

10

Para a determinação da densidade dos grãos com o uso do picnômetro, pesa-se

primeiramente o picnômetro. Isto feito, introduz-se o solo seco no picnômetro pesando-

se o picnômetro mais solo seco. Pela diferença determina-se o peso de solo seco (𝑊𝑠)

usado. Adiciona-se água destilada ao picnômetro com solo seco, mas sem enchê-lo por

completo. Isto feito, coloca-se o picnômetro + solo em banho maria para que as bolhas

de ar porventura existentes possam ser liberadas. Para tornar esta operação mais efetiva,

é recomendável retirar o picnômetro + solo + água destilada do banho maria, agitá-lo

manualmente e devolvê-lo ao banho maria. Terminada esta etapa, completa-se o nível do

picnômetro + solo com água destilada e deaerada levando-o ao banho de temperatura

constante. Espera-se um tempo para que o picnômetro + solo + água destilada entre em

equilíbrio térmico com a água do banho de temperatura constante. Mede-se a temperatura

do banho e, após enxugar a superfície externa do picnômetro, insere-se em sua entrada o

tubo capilar completando-se seu nível com água destilada. Isto feito, toma-se o peso do

picnômetro + solo + água (𝑊2).

Da curva de calibração do picnômetro, toma-se o valor do peso do picnômetro + água

destilada (𝑊1) correspondente à temperatura do ensaio (temperatura do banho). O valor

(𝑊2 − 𝑊1) corresponde à diferença entre o peso do solo seco e o peso de água destilada

que ocupa o mesmo volume de solo seco (𝑉𝑠). Chamando o peso específico da água

destilada na temperatura de ensaio de 𝛾𝑤𝑇, pode-se escrever:

𝑊2 − 𝑊1 = 𝑊𝑠 − 𝛾𝑤𝑇 × 𝑉𝑠 (3.3)

Sendo a densidade real dos grãos 𝐺 igual a razão entre o peso especifico dos grãos e o

peso especifico da água a 4°C, denotado por 𝛾0, a expressão (3.3) pode ser reescrita como:

𝑊2 − 𝑊1 = 𝑊𝑠 − 𝛾𝑤𝑇 ×𝑊𝑠

𝐺 × 𝛾0 (3.4)

Page 24: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

11

Determinando o valor de 𝐺 da expressão (3.4) vem

𝐺 = 𝛾𝑤𝑇

𝛾0×

𝑊𝑠

(𝑊𝑠+𝑊1 − 𝑊2) (3.5)

Na expressão (3.5) a relação 𝛾𝑤𝑇 𝛾0⁄ é, por definição, a densidade da água destilada na

temperatura T, denotada por 𝐺𝑇 . Os valores da densidade da água destilada 𝐺𝑇 estão

tabelados em TAYLOR (1948, pág. 25). Assim, a expressão que dá a densidade dos grãos

(𝐺) pode ser escrita como:

𝐺 = 𝐺𝑇 ×𝑊𝑠

(𝑊𝑠 + 𝑊1−𝑊2) (3.6)

As curvas de calibração dos três picnômetros usados para a determinação da densidade

dos grãos da Areia de Ipanema estão mostradas na Figura 3.8

Figura 3.8 – Curvas de calibração dos picnômetros.

Page 25: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

12

Os valores dos pesos obtidos nos três ensaios, realizados de acordo com o procedimento

descrito anteriormente, encontram-se na Tabela 3.1 a seguir. Como tais ensaios foram

realizados sob a temperatura de 23ºC, o valor a ser usado para 𝐺𝑇 = 0,99757.

Tabela 3.1 – Resultados dos ensaios de densidade dos grãos.

Picnômetro 01 02 03

peso (gf) 128,22 116,51 121,41

Picnômetro + solo seco (gf) 265,39 265,38 273,21

solo seco (gf) 137,17 148,87 151,80

Picnômetro + solo + água (gf) (23ºC) (*) 691,70 703,94

𝐺 (*) 2,660 2,658

Com exceção do primeiro ensaio, onde houve um acidente com o picnômetro, as outras

duas determinações forneceram para os grãos da Areia de Ipanema um valor médio de

densidade de 2,659. Este valor é muito próximo da densidade do quartzo, cujo valor é de

2,65 (ver por exemplo LAMBE e WHITMAN, 1969, pág. 30).

3.4. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA

Com a inspeção visual ao microscópio, o valor da densidade dos grãos 𝐺 = 2,659 e a

ausência de reação em presença do ácido clorídrico (HCl), pode-se descartar a presença

de carbonato de cálcio (CaCO3) cuja densidade é de 2,72. Com esta observação, pode-se

concluir que a Areia de Ipanema é, salvo a presença de um ou outro grão de mica e a

ocorrência de um ou outro fragmento de concha, composta essencialmente por grãos de

quartzo, como ilustra a foto da Figura 3.6.

Page 26: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

13

4. ÍNDICE DE VAZIOS

4.1. INTRODUÇÃO

O solo é um material trifásico composto por partículas sólidas (grãos), ar e água. A

proporção em que se encontram esses três componentes determina a condição física em

que um solo se encontra. Variações desta proporção podem resultar em alterações no

comportamento mecânico dos solos, notadamente nos solos de granulometria fina,

quando submetidos a variações no estado de tensões.

O índice de vazios (e) representa uma das relações mais usadas na mecânica dos solos e

é definido como a razão entre o volume de vazios do solo (𝑉𝑣), onde se encontra o

conjunto ar + água, e o volume de partículas sólidas (𝑉𝑠). Então:

𝑒 = 𝑉𝑣

𝑉𝑠 (4.1)

Como se trata da razão entre dois volumes, o índice de vazios é adimensional e sempre

maior do que zero.

Cada solo apresenta um índice de vazios máximo e um índice de vazios mínimo. No caso

das areias em particular, é interessante saber se ela se encontra compacta ou fofa, isto é,

se dentro da faixa possível de variação de seu índice de vazios, ela se encontra

respectivamente com um índice de vazios mais próximo do mínimo ou do máximo. A

variável que se presta a quantificar o grau de compacidade que uma determinada areia

pode exibir, dentro do domínio possível de variação do seu índice de vazios, é

denominada compacidade relativa, denotada por 𝐶𝑅 e definida por

𝐶𝑅 = 𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒

𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛 (4.2)

onde:

𝑒 → é o índice de vazios em que se encontra a areia;

𝑒𝑚𝑎𝑥 → é o índice de vazios máximo obtido em laboratório;

𝑒𝑚𝑖𝑛 → é o índice de vazios mínimo obtido em laboratório.

Page 27: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

14

A Tabela 4.1 apresenta uma terminologia sugerida por Terzaghi que classifica uma dada

areia quanto a sua compacidade. Para solos granulares, que é o caso das areias, o arranjo

dos grãos determina a compacidade do material, variando assim seu índice de vazios.

Quanto menor for o valor do índice de vazios, para um mesmo volume de solo, mais

partículas sólidas estarão presentes no conjunto, tornando a amostra mais compacta. Em

contrapartida, quanto maior for o índice de vazios, mais espaço para o ar e a água existirá,

diminuindo a quantidade de sólidos e caracterizando o material como mais fofo.

Tabela 4.1 – Classificação das areias segundo a compacidade – (PINTO, 2006).

Classificação Compacidade Relativa

Areia fofa abaixo de 0,33

Areia medianamente compacta entre 0,33 e 0,66

Areia Compacta acima de 0,66

Apesar de não representar uma propriedade do material, mas um estado em que ele se

encontra, o índice de vazios do solo granular e sua compacidade relativa podem ser usados

para estimar seu comportamento. As areias compactas, por exemplo, tendem a ser mais

resistentes e menos deformáveis do que as areias fofas.

Para que fosse possível moldar corpos de prova com diferentes compacidades, foram

avaliados inicialmente alguns métodos para determinar os limites mínimo e máximo do

índice de vazios.

4.2 ÍNDICE DE VAZIOS MÁXIMO

O índice de vazios máximo (𝑒𝑚𝑎𝑥) foi estimado de acordo com um método proposto por

Skempton no trabalho de KOLBUSZEWSKI (1948). Neste método coloca-se 1 kgf de

areia seca dentro de uma proveta de 2000 cm3 e, tapando-se a boca da proveta com uma

das mãos, vira-se-a de cabeça para baixo tornando-se a virá-la de volta para a posição

normal num movimento repentino. A ideia por trás do método é a de não dar tempo hábil

aos grãos de areia para se organizarem e se acomodarem em posições mais estáveis, o

que provoca um estado de compacidade fofo. Para este método, foi obtido um índice de

vazios, supostamente máximo 𝑒𝑚𝑎𝑥 = 0,724.

Page 28: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

15

Ainda na tentativa de obtenção de um índice de vazios máximo, foi avaliada outra

proposta de KOLBUSZEWSKI (1948), onde é sugerido que podem ser moldadas

amostras mais fofas quando é reduzido o tempo de deposição da areia no molde, de

maneira que os grãos não tenham tempo hábil para se acomodar. Neste método

alternativo, foram usados dois funis em forma de tronco de cone, com ângulo sólido de

60º e cujas aberturas tinham diâmetro de 80 mm e 100 mm. O método consistia então em

posicionar o funil num suporte de tal forma que sua abertura inferior distasse 6 cm do

topo de um cilindro Proctor Normal, utilizado como molde, onde era recolhida a amostra.

Com o conjunto todo montado, tampava-se manualmente a abertura do funil com uma

placa de papelão rígido e punha-se dentro dele uma quantidade de areia suficiente para

encher o molde. Com um movimento rápido, retirava-se horizontalmente a placa de

papelão permitindo-se que a areia caísse em queda livre sobre o molde preenchendo-o

totalmente, operação esta que durava cerca de 1 segundo. Isto feito, arrasava-se a

superfície superior da amostra com uma régua de aço com todo o cuidado e pesava-se a

amostra assim obtida calculando-se o índice de vazios. A figura 4.1 ilustra o esquema

adotado para moldagem de corpos de prova com índices de vazio elevados.

Figura 4.1 – Esquema para a determinação do índice de vazios máximo.

Como o funil de 100 mm de abertura forneceu índices de vazios inferiores aos obtidos

com o funil de 80 mm, tais resultados não são aqui apresentados. Levantou-se a hipótese

Page 29: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

16

de que a proximidade entre as medidas da abertura do funil de 100 mm e o diâmetro

interno do cilindro Proctor Normal teria interferido na queda livre dos grãos fazendo com

que fossem obtidos índices de vazios menores do que os obtidos com o funil de 80 mm.

Este é um ponto que merece um estudo posterior. Sugere-se usar um funil de 90 mm,

centralizando-o com o eixo do cilindro Proctor e observar os resultados obtidos.

Os valores dos índices de vazios obtidos com o funil de 80 mm, seguindo-se o

procedimento anteriormente descrito, estão apresentados na Tabela 4.2. Para cálculo das

compacidades relativas, a serem apresentadas mais adiante, o valor adotado para o índice

de vazios máximo foi 𝑒𝑚𝑎𝑥 = 0,732.

Tabela 4.2 – Índices de vazios no arranjo mais fofo obtidos com o funil de 80 mm.

Ensaio Peso

(gf)

Índice

de

Vazios

1 1532,2 0,732

2 1533,5 0,731

3 1535,8 0,728

4 1537,6 0,726

5 1538,4 0,725

6 1543,9 0,719

7 1534,7 0,730

8 1537,0 0,727

9 1537,5 0,726

10 1540,1 0,723

Média 0,727

4.3 ÍNDICE DE VAZIOS MÍNIMO E ÍNDICES DE VAZIOS INTERMEDIÁRIOS

Para a determinação do índice de vazios mínimo (𝑒𝑚𝑖𝑛) foi utilizada a pluviação ao ar

através de peneiras, que consiste em um método de moldagem de corpos de prova de areia

com boa repetibilidade e acurácia nas compacidades relativas resultantes obtidas. Neste

método, a areia é colocada em um funil e deixada “fluir” por gravidade criando um fluxo

vertical contínuo que passa por uma sequência de peneiras. Ao sair do funil e passar pelas

Page 30: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

17

peneiras, o fluxo se espraia numa “chuva” uniforme e vai cair sobre um molde, colocado

sob a última peneira da sequência, preenchendo-o com a areia pluviada.

Devem ser evitadas peneiras de pequena abertura, que dificultam o fluxo e retêm material,

influenciando o processo de forma negativa.

MIURA e TOKI (1982), idealizadores do método, chegaram experimentalmente à

seguinte sequência de peneiras para a areia de Toyura: uma peneira superior de abertura

1,41 mm seguida de outras seis de abertura 3,66 mm para um diâmetro 𝐷50 = 0,18 𝑚𝑚.

O mesmo procedimento foi adotado posteriormente por OLIVEIRA FILHO (1987) e

NUNES (2014) para as areias de São Francisco e Itaipuaçu respectivamente, onde foram

adotadas relações similares entre as aberturas das peneiras usadas na pluviação e o

diâmetro 𝐷50 de cada uma das referidas areias.

Para a areia de Ipanema, foram, inicialmente, adotadas relações similares às adotadas por

MIURA e TOKI (1982) e posteriormente, por tentativas, uma sequência de seis peneiras

(com aberturas crescentes no sentido do fluxo, de cima para baixo), sendo uma superior

de 4,75 mm (#4), duas intermediárias de 9,5 mm (⅜”) e três inferiores de 12,5 mm (½”).

Essa sequência se mostrou eficiente pois não houve diminuição do fluxo por eventual

retenção de material nas peneiras, e pôde-se observar a uniformidade da “chuva” de areia

pluviada no molde e ao redor dele.

Tabela 4.3 – Razões 𝐷50/diâmetros das peneiras usadas na pluviação para diferentes

areias.

Ipanema Toyura S. Francisco Itaipuaçu

𝐷50 (𝑚𝑚) 0,38 0,18 0,22 1,20

𝑎. 𝑝. 𝑠. (𝑚𝑚)(∗) 4,75 1,41 2,00 9,50

𝑟𝑒𝑙𝑎çã𝑜 𝑎. 𝑝. 𝑠. 𝐷50⁄ 12,5 7,83 9,09 7,92

𝑎. 𝑝. 𝑖. (𝑚𝑚)(∗∗) 12,5 3,66 4,76 25,4

𝑟𝑒𝑙𝑎çã𝑜 𝑎. 𝑝. 𝑖. 𝐷50⁄ 32,89 20,33 21,64 21,17

(∗) 𝑎. 𝑝. 𝑠. → 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑛𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 𝑢𝑠𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑝𝑙𝑢𝑣𝑖𝑎çã𝑜

(∗∗) 𝑎. 𝑝. 𝑖. → 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑛𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑓𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 𝑢𝑠𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑎 𝑝𝑙𝑢𝑣𝑖𝑎çã𝑜

Page 31: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

18

Na Tabela 4.3 são mostradas, para fins comparativos, as razões entre 𝐷50 e as aberturas

das peneiras usadas na pluviação por MIURA e TOKI (1982), OLIVEIRA FILHO (1987),

NUNES (2014) e as empregadas neste trabalho.

O método de pluviação relatado acima de forma sumária, pode ser visto com mais

detalhes na Figura 4.3. Nesta figura vê-se um funil, com ângulo sólido de 60º, apoiado

num suporte e posicionado imediatamente acima da sequência de peneiras através das

quais é feita a pluviação.

Figura 4.3 – Pluviação através de peneiras para a determinação do índice de vazios

mínimo.

A sequência de peneiras, de aberturas crescentes no sentido do fluxo (aberturas crescentes

de cima para baixo) é suportada por um cilindro de cartolina rígida, de 50 cm de altura,

que por sua vez apoia-se sobre a bancada de trabalho. No interior do cilindro de cartolina

encontra-se, também apoiado sobre a mesa, servindo como molde, um cilindro Proctor

Normal sobre o qual se dará a pluviação. Ao passar pela sequência de peneiras a “chuva”

de areia cairá sobre o cilindro preenchendo-o e permitindo que se determine o índice de

vazios obtido. O cilindro de cartolina rígida tem por objetivo tão somente fazer com que

Page 32: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

19

não haja espalhamento da areia sobre a mesa mantendo o ambiente de trabalho mais

limpo. Uma foto da montagem apresentada na Figura 4.3 é mostrada na Figura 4.4.

Figura 4.4 – Montagem do equipamento usado para obtenção do índice de vazios

mínimo.

Page 33: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

20

Com o conjunto todo montado, tampa-se manualmente a abertura do funil com uma placa

de papelão rígido pondo-se, dentro do funil, uma quantidade de areia suficiente para

encher o molde sem interromper a pluviação (ver Figura 4.3). Com um movimento

manual rápido, retira-se horizontalmente a placa de papelão permitindo-se que a areia

“flua” através das peneiras e caia sobre o molde preenchendo-o totalmente. Isto feito,

retira-se todo o conjunto para que se tenha acesso ao molde, arrasa-se a superfície superior

do corpo de prova com uma régua de aço, retirando-se com todo o cuidado o material que

exceder o volume do molde. Terminada esta etapa, pesa-se a quantidade de areia no molde

e calcula-se o índice de vazios.

Como descrito por MIURA e TOKI (1982) e posteriormente por OLIVEIRA FILHO

(1987), fatores como a altura de queda e a abertura inferior do funil são determinantes na

variação da compacidade relativa do corpo de prova, sendo a abertura do funil o mais

importante. Além disso, para o processo funcionar de maneira efetiva, o material deve ser

mal graduado pois, caso contrário, ele segrega. Isso ocorre porque os grãos mais grossos

têm mais dificuldade em passar pelas peneiras do que os grãos mais finos.

A Tabela 4.4 apresenta os valores dos índices de vazios obtidos para cada abertura de

funil testada. Os resultados mostram que o procedimento de pluviar a areia através da

sequência de peneiras não só é adequado para determinar o índice de vazios mínimo como

também se presta a reproduzir índices de vazios dentro de um amplo espectro.

Tabela 4.4 – Índices de vazios x diâmetro de abertura dos funis usados na pluviação.

Abertura do Funil (mm)

Ensaio 5 10 20 30 40 50 60 70 80

1 0,461 0,464 0,473 0,485 0,526 0,550 0,607 0,673 0,671

2 0,460 0,464 0,472 0,484 0,520 0,550 0,625 0,665 0,676

3 - 0,464 0,472 0,485 0,530 0,553 0,614 0,653 0,664

4 - 0,461 0,474 0,485 0,533 0,564 0,618 0,659 0,667

5 - 0,460 0,473 0,488 0,519 0,575 0,622 0,670 0,654

6 - 0,461 0,473 0,486 0,512 0,571 0,616 0,677 0,686

7 - 0,461 0,472 0,486 0,518 0,543 0,623 0,659 0,679

8 - 0,461 0,473 0,486 0,515 0,568 0,643 0,657 0,668

9 - 0,461 0,473 0,490 0,523 0,565 0,640 0,657 0,654

10 - 0,462 0,474 0,486 0,531 0,570 0,616 0,672 0,689

Média 0,461 0,462 0,473 0,486 0,523 0,561 0,622 0,664 0,671

Page 34: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

21

Fazendo uso da mesma sequência de peneiras descrita anteriormente (mostrada na Figura

4.3), foram testados funis com diversas aberturas para que fosse avaliada a sua

interferência no índice de vazios dos corpos de prova obtidos por pluviação. Os funis

testados tiveram diâmetro da abertura variando de 10 em 10 mm, desde 10mm até 80 mm,

obtendo-se com isto uma ampla faixa de índice de vazios como mostram os resultados da

Tabela 4.4.

O motivo pelo qual foram feitas duas determinações com o funil de 5 mm, deveu-se ao

fato de não haver ganho em termos de compacidade relativa quando os resultados foram

comparados aos obtidos com o funil de 10 mm. Além disso, para o funil de 5mm, o tempo

necessário para preenchimento do molde (cilindro Proctor Normal) estava acima de duas

horas, o que fez com que a série de ensaios utilizando tal funil fosse interrompida.

Também foi possível identificar uma grande repetibilidade dos índices de vazios obtidos

utilizando este processo, gerando resultados com baixa dispersão. Essa dispersão, como

descrita por OLIVEIRA FILHO (1987), mostrou-se ser inversamente proporcional à

compacidade relativa da amostra. Os resultados obtidos encontram-se apresentados no

gráfico da Figura 4.5.

Figura 4.5 – Índices de vazios obtidos na pluviação x diâmetro de abertura do funil.

0,450

0,500

0,550

0,600

0,650

0,700

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Índ

ice

de

Va

zio

s

Abertura de funil (mm)

Médias

Page 35: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

22

5 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO – FUNDAMENTOS

5.1 INTRODUÇÃO

A resistência de um material é sempre um dos parâmetros de maior importância nas

análises dos problemas de engenharia civil. No caso dos solos, como a ruptura se dá, na

grande maioria das vezes, por cisalhamento, a resistência ao cisalhamento precisa ser

conhecida.

O fenômeno do cisalhamento no seio de uma massa de solo pode ser melhor entendido

começando-se por estudar o atrito entre corpos sólidos a exemplo do que fez TAYLOR

(1948) - pág.311, com o auxílio da Figura 5.1.

Figura 5.1 – Ilustração do atrito e do critério de escorregamento

Na Figura 5.1 (a) um corpo sólido encontra-se apoiado sobre uma superfície plana

horizontal. A força 𝑃 representa a força vertical agindo sobre o corpo, incluindo seu peso.

Page 36: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

23

A reação à força 𝑃 é a força normal 𝑁. A reação normal 𝑁 torna disponível uma força de

atrito 𝐹𝑎𝑡 que pode ser expressa por

𝐹𝑎𝑡 = 𝑁 tan 𝜙 = 𝑁. 𝑓 (5.1)

O ângulo 𝜙 é chamado de ângulo de atrito e 𝑓 de coeficiente de atrito. 𝜙 e 𝑓 são

propriedades dos materiais que estão em contacto. Para a maioria dos materiais 𝜙 e 𝑓 são

aproximadamente constantes e independentes das forças que agem sobre o corpo. A força

𝐹𝑎𝑡 não entra em ação a menos que seja mobilizada para resistir a uma força horizontal

aplicada e atender ao equilíbrio.

Na Figura 5.1 (a), não há força horizontal aplicada. Na Figura 5.1 (b) uma pequena força

horizontal 𝑇′ foi aplicada ao corpo. A resultante das forças 𝑃 𝑒 𝑇′ é a força 𝑅′ cuja linha

de ação faz um ângulo 𝛼 com a normal à interface entre o corpo e a superfície horizontal.

O ângulo 𝛼 é chamado de ângulo de obliquidade da força 𝑅′, que depende apenas das

forças que agem sobre o corpo. Para resistir à força 𝑇′, é mobilizada uma parcela da força

𝐹𝑎𝑡 disponível. Uma vez que 𝑇′ < 𝐹𝑎𝑡 , e 𝛼 < 𝜙 , o corpo sólido não escorrega em

relação à superfície.

Na Figura 5.1 (c) é aplicada uma força horizontal 𝑇, igual a 𝐹𝑎𝑡 . Neste caso toda a

resistência por atrito disponível 𝐹𝑎𝑡 é despertada para reagir à 𝑇. Neste caso 𝛼 = 𝜙 e o

corpo se encontra na iminência de escorregar. A condição matemática que traduz o

critério de escorregamento é então:

𝑇 = 𝑁 tan 𝜙 = 𝑁. 𝑓 (5.2)

O caso simples acima revela os seguintes fundamentos:

1) A força de atrito disponível depende da reação normal 𝑁 e do ângulo de atrito 𝜙. Se

um dos dois for zero, não haverá resistência por atrito;

Page 37: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

24

2) Se a obliquidade da resultante em relação à normal à interface entre o corpo e a

superfície horizontal (𝛼) for menor que o ângulo de atrito (𝜙), será mobilizada apenas

uma parcela da resistência por atrito disponível e não haverá risco de escorregamento;

3) O ângulo de atrito é o valor limite da obliquidade, quando a obliquidade for igual a 𝜙,

toda a resistência por atrito disponível estará mobilizada e o escorregamento do bloco

torna-se iminente;

4) O critério de escorregamento é traduzido então pela obliquidade da resultante igual ao

ângulo de atrito.

Os fundamentos acima podem ser estendidos a outros casos de forças aplicadas, como no

caso mostrado na Figura 5.2, em que um corpo de peso 𝑊 está apoiado sobre um plano

inclinado de um ângulo 𝑖 com a horizontal. Ao aumentar gradativamente o ângulo 𝑖 ,

chega-se a um ângulo crítico 𝑖𝑐𝑟 em que o escorregamento do bloco se torna iminente. A

figura 5.2 mostra que 𝑖𝑐𝑟 = 𝜙.

Figura 5.2 – Condição de deslizamento de um corpo sólido sobre um plano inclinado.

5.2 ATRITO INTERNO NUMA MASSA DE AREIA

Em areias, a resistência ao deslizamento (chamada de resistência ao cisalhamento) ao

longo de qualquer plano imaginário que corta a massa, é similar ao fenômeno discutido

no item 5.1. A diferença é que numa massa amorfa de grãos, onde não há geometria

Page 38: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

25

definida, a força normal 𝑁 da figura 5.1 a ser considerada é a força normal ao plano em

questão por unidade de área, ou seja, a tensão normal 𝜎 no referido plano. Já a força

tangencial 𝑇 considerada na Figura 5.1, deve também ser substituída por uma força

tangencial por unidade de área, isto é, pela tensão cisalhante 𝜏 que tende a provocar o

deslizamento segundo o mesmo plano onde 𝜎 atua. Esta conclusão pode ser obtida

dividindo-se ambos os membros da expressão (5.2) pela área 𝐴 da base do corpo sólido

em contato com a superfície plana horizontal para chegar a

𝐹𝑎𝑡 =𝑇

𝐴=

𝑁

𝐴 tan 𝜙 ( 5.3)

ou, chamando a resistência ao cisalhamento de 𝑠,

𝑠 = 𝜏 = 𝜎 tan 𝜙 (5.4)

No caso dos solos em geral e das areias em particular, o ângulo de atrito 𝜙 é chamado de

ângulo de atrito interno.

Há ainda que fazer a observação de que a tensão normal a ser considerada na resistência

ao cisalhamento (𝑠) de uma areia é a tensão normal efetiva. A tensão normal efetiva,

denotada por 𝜎′ foi definida por Terzaghi como a diferença entre a tensão normal total

(𝜎) e a pressão de água reinante nos vazios da areia, denotada por (𝑢) e chamada de poro-

pressão. Assim, a expressão (5.4) deve ser reescrita como

𝑠 = 𝜏 = (𝜎 − 𝑢) tan 𝜙 = 𝜎′ tan 𝜙 (5.5)

Na verdade, o fenômeno da resistência por atrito (resistência ao cisalhamento) nas areias

é mais complicado que o do atrito entre um corpo sólido e uma superfície plana porque

nas areias há atrito por rolamento e por deslizamento. Nas areias há ainda uma resistência

adicional devida ao intertravamento (“interlocking”) dos grãos, comumente chamado de

Page 39: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

26

“entrosamento”, que é considerada como fazendo parte da resistência ao cisalhamento

das areias.

Nas areias, o ângulo de atrito interno (𝜙) varia de forma apreciável com o índice de

vazios ou a compacidade relativa. A resistência adicional devida ao “entrosamento”

depende fundamentalmente da compacidade relativa e também da tensão normal efetiva

atuando no plano onde se dá a o deslizamento (no caso dos solos chamado de ruptura por

cisalhamento). Entretanto, para uma dada compacidade relativa e para faixas de tensões

usualmente encontradas na Engenharia Civil, o ângulo de atrito é tão próximo de uma

constante que no estabelecimento de alguns conceitos fundamentais é razoável considerá-

lo constante.

5.3 TENSÕES NORMAIS, CISALHANTES E SUA REPRESENTAÇÃO

Uma vez que o deslizamento dentro de uma massa de solo não está restrito a nenhum

plano específico, é preciso conhecer as tensões normais e cisalhantes que atuam em todos

os planos que passam por um determinado ponto numa massa de solo. Esta tarefa é

necessária para que se determine, dentre todos os planos passando por um ponto, aquele

que apresenta condições mais suscetíveis ao deslizamento.

O problema de determinar as tensões normais e cisalhantes em qualquer plano passando

por um ponto é possível quando são conhecidas as tensões normais e cisalhantes nas

facetas de um cubo infinitesimal no entorno deste ponto.

De uma forma geral, nos planos que passam por um ponto numa massa de solo atuam

tanto tensões normais, denotadas por 𝜎 , quanto tensões cisalhantes, denotadas por 𝜏.

Entretanto, na mecânica dos sólidos demonstra-se que há três planos ortogonais entre si

nos quais as tensões cisalhantes são nulas. Assim, nestes planos atuam apenas tensões

normais. Tais planos são chamados de planos principais maior, intermediário e menor de

acordo com a ordem decrescente da magnitude das tensões que neles atuam. Nos planos

principais maior, intermediário e menor atuam respectivamente as tensões principais

maior, denotada por 𝜎1, a tensão principal intermediária, denotada por 𝜎2, e a tensão

principal menor, denotada por 𝜎3 (ver Figura 5.3).

Page 40: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

27

Figura 5.3 – Estado de tensões, representado pelas tensões principais, num cubo

infinitesimal no entorno de um ponto.

Observa-se experimentalmente que a ruptura nos solos ocorre sempre em planos paralelos

à direção da tensão principal intermediária 𝜎2 (ver Figura 5.4 (a)). Assim, para estudar a

ruptura dos solos, basta saber, as tensões normal (𝜎) e cisalhante (𝜏) em qualquer plano

paralelo à direção de 𝜎2 (Figura 5.4 (b)).

Figura 5.4 – (a) Plano de ruptura paralelo à direção de 𝜎2. (b) Tensões 𝜎 e 𝜏 num plano

qualquer paralelo à direção de 𝜎2 cuja normal faz um ângulo 𝜃 com a direção de 𝜎1.

Page 41: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

28

Demonstra-se que as tensões normal (𝜎) e cisalhante (𝜏) num plano cuja normal faz um

ângulo 𝜃 com a direção de 𝜎1, denotadas respectivamente por 𝜎𝜃 e 𝜏𝜃 são dadas por:

𝜎𝜃 = 𝜎1 + 𝜎3

2+

𝜎1 − 𝜎3

2 cos 2𝜃 (5.6)

e

𝜏𝜃 = 𝜎1 − 𝜎3

2 sen 2𝜃 (5.7)

As equações (5.6) e (5.7) são as equações paramétricas de um círculo de centro em

[(𝜎1 + 𝜎3) 2⁄ , 0] e raio (𝜎1 − 𝜎3) 2⁄ (ver Figura 5.5). Tal círculo recebeu o nome de

Círculo de Mohr em homenagem ao seu criador, o engenheiro alemão Otto Mohr.

Figura 5.5 – O Círculo de Mohr

É interessante chamar a atenção para o fato de que, segundo o Princípio das Tensões

Efetivas enunciado por Terzaghi (1936), quem comanda o comportamento dos solos é o

Page 42: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

29

estado de tensões efetivas. Como a tensão efetiva (𝜎′) é dada pela diferença entre a tensão

normal total (𝜎) e a poro-pressão reinante na água dos poros (𝑢) escreve-se:

𝜎′ = 𝜎 − 𝑢 (5.8)

que é a equação do Princípio das Tensões Efetivas.

A equação (5.8) traduz matematicamente um conceito físico importante, qual seja, o de

que como a água não resiste às tensões cisalhantes, a poro-pressão (𝑢) só afeta as tensões

normais. Isso significa que para a representação dos estados de tensões nos solos são

necessários dois Círculos de Mohr: um representando o estado de tensões totais e o outro

representando o estado de tensões efetivas. Entretanto, como a água não resiste às tensões

cisalhantes, ambos os círculos apresentam, para os mesmos planos, a mesma tensão

cisalhante, ou seja, ambos os círculos de Mohr têm o mesmo diâmetro e estão afastados

entre si do valor da poro-pressão (𝑢). Tais círculos são mostrados na Figura (5.6).

Figura 5.6 – Círculos de Mohr das tensões totais e das tensões efetivas.

Page 43: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

30

A discussão apresentada acima conduz à conclusão de que se o comportamento dos solos

é comandado pelo estado de tensões efetivas, então deve-se sempre tomar o Círculo de

Mohr das tensões efetivas para fins do estudo da resistência ao cisalhamento dos solos.

5.4 A TEORIA DE RESISTÊNCIA DE MOHR E O CRITÉRIO DE MOHR - COULOMB

Mohr combinou as ideias do círculo que leva seu nome com uma possível relação entre

as tensões normal e cisalhante para estabelecer um critério de ruptura para os materiais.

Este critério de ruptura, conhecido como critério de Mohr, enuncia que um estado de

tensões provoca ruptura num material sempre que as tensões normal e cisalhante, atuantes

num mesmo plano, satisfizerem uma certa relação funcional 𝜏 = 𝑓(𝜎).

Considere agora a Figura 5.7 onde é mostrada uma relação 𝜏 = 𝑓(𝜎), dada pelas linhas

E e E’, chamadas de envoltória de Mohr, e também três estados de tensão representados

por seus respectivos Círculos de Mohr I, II e III.

Figura 5.7 – Estados de tensões possíveis e impossíveis

Page 44: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

31

Admita que na Figura 5.7 o estado de tensões num ponto de um material seja representado

pelo Círculo de Mohr I. Como a envoltória de Mohr representa a resistência ao

cisalhamento do material, todas as tensões cisalhantes do estado de tensões representado

pelo Círculo de Mohr I são menores que a resistência ao cisalhamento, dada pelas linhas

E e E’. Por exemplo, no plano onde a tensão normal é OA, a tensão cisalhante AB é menor

que a resistência ao cisalhamento AC. Sob tal estado de tensões não há ruptura. Por outro

lado, não é possível aplicar ao material em questão um estado de tensões representado

pelo Círculo de Mohr II porque as tensões cisalhantes associadas aos pontos dos arcos

XW e YZ são maiores que a resistência ao cisalhamento.

O Círculo de Mohr III é tangente à envoltória de resistência no ponto G. O plano sob a

tensão normal OF está submetido à tensão cisalhante FG, que é também a resistência ao

cisalhamento no plano considerado. Assim, a ruptura ocorrerá no plano onde atuam a

tensão normal OF e a tensão cisalhante FG.

O exemplo acima explica a teoria da resistência de Mohr. De forma breve, o critério que

traduz a ruptura pode ser enunciado como: “todo estado de tensões cujo Círculo de Mohr

se situar dentro da região delimitada pela envoltória de resistência sem tangenciá-la,

representa um estado de tensões que não provoca ruptura no material. Por outro lado, todo

Círculo de Mohr que além de estar dentro da região delimitada pela envoltória de

resistência a estiver tangenciando, representará um estado de tensões que provoca ruptura

no plano associado ao ponto de tangência.

Observe que na Figura 5.7 há dois pontos de tangência simétricos entre si com relação ao

eixo das tensões normais, havendo assim, dois planos onde a ruptura se dá

simultaneamente. Observa-se também que a curva 𝜏 = 𝑓(𝜎) é o lugar geométrico dos

pares (𝜎, 𝜏) que delimita uma região do plano 𝜎 𝑥 𝜏 definida pela curva que tangencia

todos os Círculos de Mohr que representam estados de tensões de ruptura. Em outras

palavras, a curva 𝜏 = 𝑓(𝜎) “envolve” todos os Círculos de Mohr que representam estados

de tensões possíveis, tangenciando os que representam estados de ruptura. Daí a curva

𝜏 = 𝑓(𝜎) ser chamada de envoltória de resistência ou envoltória de ruptura.

A envoltória de resistência de Mohr deve ser vista como uma propriedade do material e

independente do estado de tensões a ele imposto. Ao mesmo tempo, o Círculo de Mohr

depende apenas do estado de tensões provocado pelo carregamento e, portanto,

independente da matéria do qual o material é constituído.

Page 45: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

32

Deve-se notar que na relação funcional 𝜏 = 𝑓(𝜎), 𝜏 e 𝜎 são respectivamente a tensão

normal e a tensão cisalhante que provocam a ruptura e que ambas agem no plano onde a

ruptura está na iminência de ocorrer. Para enfatizar que tanto a tensão cisalhante como a

tensão normal são ambas as atuantes no plano de ruptura na ruptura, muitas vezes elas

são denotadas respectivamente por 𝜏𝑓𝑓 e 𝜎𝑓𝑓 . Assim, chamando de s a resistência ao

cisalhamento, pode-se escrever:

𝑠 = 𝜏𝑓𝑓 = 𝑓(𝜎𝑓𝑓) (5.9).

No caso em que a função da envoltória de Mohr pode ser representada por uma reta, a

expressão (5.9) pode ser escrita como:

𝑠 = 𝜏𝑓𝑓 = 𝑐 + 𝜎𝑓𝑓 tan 𝜙 (5.10)

que é a lei de Coulomb para o deslizamento entre corpos sólidos, sob a sua forma mais

geral, expressa em termos de tensões. Na expressão (5.10) 𝑠 é a resistência ao

cisalhamento, 𝑐 é chamada genericamente de coesão e 𝜙 o ângulo de atrito interno, como

definido nos itens 5.1 e 5.2. Assim, é comum chamar o critério de ruptura que reúne a

envoltória de Mohr e a lei de Coulomb de critério de ruptura de Mohr-Coulomb.

No caso do cisalhamento das areias, que não apresentam coesão, os resultados

experimentais mostram que, para um dado índice de vazios e para estados de tensões

usualmente encontrados na Engenharia Geotécnica, a envoltória de resistência é uma reta

passando pela origem, caracterizada pelo ângulo de atrito interno 𝜙 . Entretanto,

lembrando que no caso dos solos a resistência ao cisalhamento depende do estado de

tensões efetivas, a expressão (5.10) deve ser reescrita como

𝑠 = 𝜏𝑓𝑓 = 𝜎𝑓𝑓′ tan 𝜙 (5.10)

Page 46: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

33

onde:

𝑠 é a resistência ao cisalhamento

𝜏𝑓𝑓 é a tensão cisalhante no plano de ruptura na ruptura

𝜎𝑓𝑓′ é a tensão normal efetiva no plano de ruptura na ruptura

𝜙 é o ângulo de atrito interno

O critério de ruptura para as areias, traduzido pela expressão (5.10), está ilustrado na

Figura (5.8).

Figura 5.8 Ilustração do critério de Mohr-Coulomb utilizado para as areias.

Observa-se da figura 5.8 que no caso das areias a condição de ruptura pode ser expressa

por uma relação envolvendo as tensões principais efetivas na ruptura 𝜎1𝑓′ 𝑒 𝜎3𝑓

′ como

apresentado na expressão (5.11)

𝑠𝑒𝑛 𝜙 =(𝜎1𝑓

′ − 𝜎3𝑓′ )

(𝜎1𝑓′ + 𝜎3𝑓

′ ) (5.11).

Observar na expressão (5.11) que 𝜎1𝑓′ 𝑒 𝜎3𝑓

′ não levam em sua notação o duplo índice

“ ff ” porque embora ambas (𝜎1𝑓′ 𝑒 𝜎3𝑓

′ ) representem ruptura, nenhuma delas atua no

plano de ruptura.

Page 47: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

34

6 ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO

6.1 DESCRIÇÃO DO ENSAIO

O ensaio de cisalhamento direto é o método mais simples para a determinação da

resistência ao cisalhamento de um solo. Ele se dá em três etapas: moldagem do corpo de

prova, aplicação da carga vertical (adensamento unidimensional) e cisalhamento do solo.

O equipamento, mostrado esquematicamente na Figura 6.1, consiste numa caixa metálica

dividida em duas metades, uma superior e outra inferior, dentro da qual se encontra o

corpo de prova a ser cisalhado (ver fotos na Figura 6.2). O corpo de prova é inicialmente

submetido à uma tensão vertical sob a qual se dá a etapa de adensamento (fundamental

quando o solo ensaiado é uma argila). No caso das areias, como o ensaio se dá de forma

francamente drenada, a etapa de adensamento se dá quase que de forma instantânea e não

é tão importante quanto no caso das argilas.

A caixa bipartida sofre a aplicação de um deslocamento horizontal, com velocidade

constante, na sua parte inferior, resultando em um deslocamento relativo entre ambas as

metades e no consequente cisalhamento do corpo de prova. A parte de cima da caixa, que

permanece imóvel, reage contra o anel dinamométrico, medindo assim a força cisalhante

no plano de ruptura. Mede-se também o deslocamento vertical do “top cap”, que indica o

comportamento de expansão ou contração do corpo de prova.

Figura 6.1 – Montagem esquemática de um ensaio de cisalhamento direto

Page 48: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

35

(a) (b)

Figura 6.2 – Detalhe da caixa usada nos ensaios de Cisalhamento Direto.

(a) Caixa vazia (b) Caixa com corpo de prova da Areia de Ipanema

Se a simplicidade do ensaio de cisalhamento direto é a sua principal vantagem, ele

apresenta também as seguintes desvantagens:

1) O plano de ruptura é imposto;

2) A drenagem não pode ser controlada;

3) A poro-pressão não é conhecida;

4) O estado de tensões não é conhecido;

5) O estado de deformações não é conhecido.

Em função das limitações (2) e (3) o resultado fornecido pelo ensaio de cisalhamento

direto é em termos de tensões totais. No caso das areias, entretanto, como seu coeficiente

de adensamento é elevado, qualquer excesso de poro-pressão é dissipado e o ensaio se dá

de forma francamente drenada. Nestes casos as tensões totais são iguais às tensões

efetivas.

Outra limitação deste ensaio, a de número (1) na lista acima, é a de que a ruptura do solo

está condicionada a ocorrer no plano horizontal que divide a caixa bipartida. Como

somente são conhecidas as tensões atuantes neste plano, o estado de tensões no corpo de

prova não é conhecido durante o ensaio. Em consequência disso, não se pode traçar o

Círculo de Mohr representativo do estado de tensões ao longo do ensaio.

Page 49: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

36

Como resultados de um ensaio de cisalhamento direto, é usual apresentar dois gráficos:

a) A razão (𝜏𝜎⁄ ) x deslocamento relativo horizontal (𝛿𝑥);

b) Deslocamento vertical do “top cap” (𝛿𝑦) x deslocamento relativo horizontal (𝛿𝑥).

A vantagem em apresentar o gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 em lugar do gráfico 𝜏 𝑥 𝛿𝑥 reside no fato

de não ser preciso fazer a correção da diminuição da área da seção transversal que ocorre

com o avanço do deslocamento horizontal relativo (𝛿𝑥) da parte superior da caixa em

relação à sua parte inferior. Assim, para achar a relação 𝜏 𝜎⁄ , em qualquer instante do

ensaio, basta dividir a força cisalhante horizontal (𝑇) registrada no anel dinamométrico,

pela carga vertical (𝑃) agindo sobre o “top cap”. Isto se dá porque a diminuição da área

da seção transversal afeta de forma igual tanto o cálculo da tensão vertical normal como

o da tensão cisalhante.

Outra vantagem em plotar o gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 reside no fato da razão (𝜏

𝜎⁄ ) (𝑜𝑢 𝑇𝑃⁄ )

ser a própria obliquidade ou a tangente do ângulo de atrito mobilizado.

Já o gráfico deslocamento vertical do “top cap”(𝛿𝑦) x deslocamento relativo horizontal

(𝛿𝑥), revela se o solo ensaiado apresenta dilatância ou não. Os dois gráficos, plotados

usualmente juntos para que possam ser interpretados, estão ilustrados na Figura 6.3.

Figura 6.3 – Gráficos (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 e 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥

Page 50: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

37

Como dito anteriormente, num ensaio de cisalhamento direto os Círculos de Mohr

representativos dos estados de tensões não podem ser traçados. Assim, para obter a

envoltória de resistência, realizam-se vários ensaios com diferentes tensões normais,

tomando-se, para cada ensaio, os pares de pontos (𝜏𝑓𝑓 , 𝜎𝑓𝑓) dados pela tensão cisalhante

no momento da ruptura, no plano de ruptura e a tensão efetiva vertical correspondente.

Isto feito, a envoltória de resistência é determinada através do ajuste de uma reta aos pares

de pontos (𝜏𝑓𝑓 , 𝜎𝑓𝑓).

É interessante observar que a faixa de tensões normais a serem usadas nos ensaios, deve

ser a mesma que a encontrada no problema do campo que se pretende resolver.

Um exemplo de envoltória de resistência assim obtida está mostrada na Figura 6.4.

Figura 6.4 – Envoltória de resistência obtida de ensaios de cisalhamento direto – Areia

de Itaipuaçu – índice de vazios = 0,650 (estado fofo) – NUNES (2014)

Page 51: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

38

6.2 ENSAIOS DE CISALHAMENTO DIRETO NA AREIA DE IPANEMA

6.2.1 PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA

Como o objetivo deste trabalho é a caracterização da areia de Ipanema e não a

determinação dos parâmetros de resistência para uma determinada faixa de tensões de

trabalho, os ensaios foram realizados considerando o intervalo de tensões compreendido

entre 25 e 1250 kPa, de forma a avaliar a resistência da areia em toda essa faixa. O valor

máximo de 1250 kPa usado para a tensão normal deveu-se tão somente à limitação do

anel dinamométrico.

Foram realizadas três baterias de dez ensaios cada uma. Em cada bateria foi usado um

índice de vazios de moldagem correspondente a um determinado valor de compacidade

relativa. Na primeira bateria os corpos de prova foram moldados com um índice de vazios

médio no domínio fofo. Na segunda bateria os corpos de prova foram moldados com um

índice de vazios médio no domínio medianamente compacto. Na terceira bateria, o índice

de vazios médio de moldagem correspondeu ao domínio compacto.

Foram usados em cada bateria os seguintes valores para a tensão normal (em kPa): 25,

50, 75, 100, 150, 300, 500, 750, 1000 e 1250.

A etapa de moldagem foi executada através do processo de pluviação descrito

anteriormente usando-se, entretanto, a própria caixa de cisalhamento como molde.

Como o índice de vazios obtido por pluviação poderia variar, ainda que pouco, mantendo-

se um mesmo funil e a sequência de peneiras, mas variando-se o molde, achou-se por

bem verificar se o processo de pluviação, usado anteriormente com o cilindro Proctor

Normal, mantinha sua repetibilidade quando se usava como molde a própria caixa de

cisalhamento direto.

Além de verificar se a repetibilidade do método de pluviação se manteria usando-se a

caixa de cisalhamento direto como molde, outra preocupação era a de saber se o processo

de pluviar a areia diretamente sobre a referida caixa, poderia fornecer corpos de prova em

três compacidades relativas distintas, nos domínios fofo, medianamente compacto, e

compacto.

Page 52: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

39

Para fazer a verificação de que a pluviação mantinha sua efetividade em termos de

repetibilidade e variação no grau de compacidade, foram realizadas diversas pluviações-

teste diretamente sobre a caixa de cisalhamento, de forma a serem obtidos corpos de prova

em três compacidades relativas distintas nos domínios fofo, medianamente compacto, e

compacto.

Para a obtenção dos corpos de prova no domínio fofo, a areia foi “deixada cair”, em queda

livre, do funil onde era colocada diretamente sobre a caixa de cisalhamento, com altura

de queda em torno de 6 cm. Para tal, foi usado um funil de abertura de 60 mm. Não foi

usada nenhuma sequência de peneiras e o procedimento seguido, a exceção do molde que

foi a própria caixa de cisalhamento direto, foi o mesmo descrito no item 4.2 para a

determinação do índice de vazios máximo.

Foram feitas cinco determinações e a repetibilidade foi considerada satisfatória. Os

corpos de prova obtidos nesta fase preliminar apresentaram índice de vazios médio de

0,644 e compacidade relativa de 32%. Os resultados estão apresentados na Tabela 6.1.

Para a obtenção dos corpos de prova medianamente compactos, foram feitas diversas

tentativas até que se chegasse a um resultado satisfatório. Adotou-se então, funil de 40

mm de abertura, além da sequência de peneiras descrita no item 4.3. Com tal

procedimento e pluviando-se a areia diretamente sobre a caixa de cisalhamento, foram

obtidos corpos de prova com índice de vazios médio de 0,570 e 60% de compacidade

relativa. Os resultados estão apresentados na Tabela 6.1.

Os corpos de prova compactos foram obtidos com a mesma sequência de peneiras e o

mesmo procedimento usados na obtenção dos corpos de prova medianamente compactos,

mas com uso do funil de abertura 10 mm. O índice de vazios médio encontrado foi de

0,493 e a compacidade relativa de 88%. Os resultados obtidos também estão apresentados

na Tabela 6.1.

Na Tabela 6.1 são apresentados os resultados obtidos com os procedimentos teste de

moldagem descritos, onde se observa uma boa repetibilidade dos valores dos índices de

vazios encontrados para cada domínio da compacidade relativa.

Page 53: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

40

Tabela 6.1 – Resultados das pluviações-teste para obtenção de corpos de prova nos três

domínios de compacidade relativa.

Corpos de prova no

domínio fofo

Corpos de prova no

domínio medianamente

compacto

Corpos de prova no

domínio compacto

Peso solo

(gf) e

CR

(%)

Peso solo

(gf) e

CR

(%)

Peso solo

(gf) e

CR

(%)

155,48 0,660 26% 165,16 0,563 62% 172,88 0,493 88%

157,58 0,638 35% 164,34 0,570 59% 172,69 0,495 87%

157,32 0,641 34% 163,35 0,580 56% 172,69 0,492 88%

156,82 0,646 32% 164,75 0,567 61% 172,77 0,494 88%

157,70 0,637 35% 164,28 0,571 59% 172,93 0,492 88%

MÉDIA: 0,644 32% 0,570 60% 0,493 88%

Embora os resultados da Tabela 6.1 tenham indicado boa repetibilidade, tomou-se o

cuidado de, após cada ensaio, pesar o material de todos os corpos de prova ensaiados para

verificar se os índices de vazios correspondiam aos valores esperados.

6.2.2 RESULTADOS OBTIDOS

6.2.2.1 DOMÍNIO FOFO

Os resultados dos ensaios nos corpos de prova com índice de vazios médio igual a 0,644,

correspondente ao domínio fofo, estão apresentados na Figura 6.5. Tais resultados são

apresentados em termos gráficos pelas relações (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 𝑒 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 sendo (𝜏

𝜎⁄ ) a

razão entre as tensões cisalhante e normal atuantes no plano horizontal, 𝛿𝑥 o

deslocamento horizontal relativo entre as metades superior e inferior da caixa de

cisalhamento e 𝛿𝑦 o deslocamento vertical do “top cap”.

Page 54: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

41

Figura 6.5 – Gráficos (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 𝑒 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 para os corpos de prova no domínio fofo.

0,00

0,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00τ/σ

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Fofos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

-0,50

0,00

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

De

slo

cam

en

to V

ert

ical

(m

m)

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Fofos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

Page 55: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

42

Na tabela 6.2 estão apresentados, para os corpos de prova moldados no domínio fofo, os

valores dos índices de vazios de moldagem, dos índices de vazios após a aplicação da

tensão normal, das tensões normal vertical (𝜎𝑓𝑓) e cisalhante (𝜏𝑓𝑓) no plano de ruptura, na

ruptura (sem correção da área), a tangente do ângulo de atrito na ruptura (𝑡𝑎𝑛𝜙) e o ângulo de

atrito obtido (𝜙°).

Tabela 6.2 – Resultados dos ensaios de cisalhamento direto dos corpos de prova fofos.

índice de vazios de moldagem

índice de

vazios após aplic.

tensão normal

deslocamento

𝛿𝑥 na ruptura

(mm)

𝜎𝑓𝑓

(kPa)

𝜏𝑓𝑓

(kPa)

(𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓) = 𝑡𝑎𝑛𝜙

𝜙°

0,656 0,656 2,40 25 16 0.64 32,7

0,638 0,637 1,90 50 30,5 0,61 31,4

0,635 0,625 2,40 75 43,5 0,58 30,3

0,642 0,635 2,20 100 57,7 0,58 30,0

0,658 0,646 2,80 150 86,6 0,58 30,0

0,641 0,627 2,20 300 162 0,54 28,5

0,643 0,630 2,40 500 280 0,56 29,0

0,658 0,638 1,90 750 383 0,51 27,1

0,654 0,624 2,80 1000 520 0,52 27,5

0,652 0,625 2,00 1250 675 0,54 28,5

Os corpos de prova com índice de vazios pertencentes ao domínio fofo apresentaram

comportamento típico das areias fofas, isto é, ausência de pico no gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 e

contração durante todo o ensaio.

Para as tensões normais mais elevadas, percebe-se um aumento pronunciado na contração

ao longo do ensaio. Para deslocamentos relativos horizontais (𝛿𝑥) maiores que 2 mm,

parece haver, em alguns ensaios, alguma perturbação provocada pelo adernamento do

“top cap”, problema este que será abordado posteriormente.

A partir dos resultados obtidos calculou-se, para cada tensão normal ensaiada, isto é, para

cada ensaio, o ângulo de atrito da areia em seu estado fofo, na ruptura, usando-se a

expressão (5.10). Admitiu-se, por se tratar de uma areia, que o ensaio se deu de forma

francamente drenada, ou seja, com as variações dos estados de tensões totais iguais às

variações dos estados de tensões efetivas. No caso em questão, estando a areia seca ao ar

Page 56: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

43

sob tensão atmosférica, além das variações das tensões totais serem iguais às variações

das tensões efetivas, ambas são, por esta razão, iguais. Assim, o ângulo de atrito (também

chamado de ângulo de atrito efetivo) pode então ser calculado por

𝜙 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 (𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓) (6.1).

O gráfico da Figura 6.6 ilustra os resultados encontrados em cada ensaio. Observa-se que

os ângulos de atrito efetivos variaram entre 33° e 27° havendo uma clara tendência de

decréscimo com o aumento da tensão normal aplicada.

Figura 6.6 – Variação dos ângulos de atrito no domínio fofo com a tensão normal.

25,0

26,0

27,0

28,0

29,0

30,0

31,0

32,0

33,0

34,0

35,0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400

Ân

gulo

de

Atr

ito

em

gra

us

Tensão Normal (kPa)

Fofos

Page 57: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

44

6.2.2.2 DOMÍNIO MEDIANAMENTE COMPACTO

Os resultados dos ensaios nos corpos de prova com índice de vazios médio igual a 0,570,

correspondente ao domínio medianamente compacto, estão apresentados na Figura 6.7.

Tais resultados são apresentados em termos gráficos pelas relações

(𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 𝑒 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥.

Os corpos de prova correspondentes ao domínio medianamente compacto apresentaram,

durante o cisalhamento, um leve pico nos gráficos (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 . Nos gráficos 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥

houve inicialmente uma ligeira contração seguida de expansão.

Observa-se na Figura 6.7 que a expansão que se segue à contração inicial torna-se menor

a medida que as tensões normais de ensaio vão aumentando. A tendência de expansão

parece também sofrer, nesta série, uma perturbação quando os deslocamentos relativos

horizontais (𝛿𝑥) começam a ultrapassar o valor de 2 mm. Um dos sinais aparentes desta

perturbação é novamente o adernamento do “top cap”, problema discutido mais adiante.

Na tabela 6.3 estão apresentados, para os corpos de prova moldados no domínio

medianamente compacto, os valores dos índices de vazios de moldagem, dos índices de

vazios após a aplicação da tensão normal, das tensões normal vertical (𝜎𝑓𝑓) e cisalhante

(𝜏𝑓𝑓) no plano de ruptura, na ruptura (sem correção da área), a tangente do ângulo de atrito na

ruptura (𝑡𝑎𝑛𝜙) e o ângulo de atrito obtido (𝜙°).

O gráfico da Figura 6.7 ilustra os resultados encontrados em cada ensaio. Observa-se que

os ângulos de atrito efetivos variaram entre 39° e 31,5° havendo uma clara tendência de

decréscimo com o aumento da tensão normal aplicada.

Como seria de esperar, os valores do ângulo de atrito são superiores aos valores

correspondentes aos corpos de prova fofos. Isso se deve ao fenômeno da dilatância e

explicado pela energia de cisalhamento gasta no trabalho de expansão do corpo de prova.

Este aspecto será discutido mais adiante.

Outro ponto digno de nota são os valores de 𝛿𝑥 correspondentes à ruptura, que para os

corpos de prova no domínio medianamente compacto são inferiores aos valores

observados para os corpos de prova no domínio fofo.

Page 58: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

45

Figura 6.7 – Gráficos (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 𝑒 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 para os corpos de prova medianamente compactos.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

τ/σ

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Medianamente Compactos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

-0,50

0,00

0,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

De

slo

cam

en

to V

ert

ical

(m

m)

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Medianamente Compactos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

Page 59: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

46

Tabela 6.3 – Resultados do cisalhamento direto nos corpos de prova med. compactos.

índice de vazios de moldagem

índice de

vazios após aplic.

tensão normal

deslocamento 𝛿𝑥

na ruptura (mm)

𝜎𝑓𝑓

(kPa)

𝜏𝑓𝑓

(kPa)

(𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓) = 𝑡𝑎𝑛𝜙

𝜙°

0,561 0,561 0,95 25 20,3 0,81 39,1

0,566 0,566 0,80 50 37,3 0,74 36,7

0,576 0,571 1,30 75 50,3 0,67 33,7

0,568 0,561 1,20 100 65,1 0,65 33,1

0,572 0,559 0,75 150 99,0 0,66 33,4

0,564 0,552 1,60 300 195 0,65 32,9

0,562 0,545 1,10 500 310 0,62 31,7

0,566 0,539 1,00 750 480 0,64 32,7

0,559 0,539 1,00 1000 640 0,64 32,6

0,569 0,543 1,60 1250 775 0,62 31,6

De forma análoga aos ensaios com a areia na condição fofa, foi traçado o gráfico da Figura

6.8 onde se faz notar o decréscimo do ângulo de atrito com o aumento da tensão normal

de ensaio.

Figura 6.8 – Ângulos de atrito no domínio medianamente compacto com a tensão

normal.

31,0

32,0

33,0

34,0

35,0

36,0

37,0

38,0

39,0

40,0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400

Ân

gulo

de

Atr

ito

em

gra

us

Tensão Normal (kPa)

Page 60: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

47

6.2.2.3 AMOSTRAS COMPACTAS

Os resultados dos ensaios de cisalhamento direto realizados nos corpos de prova com

índice de vazios médio igual a 0,493, correspondentes ao domínio compacto, são

mostrados na Figura 6.9. Tanto o gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 quanto o gráfico 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥

apresentaram características típicas das areias compactas. O gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 apresenta

pico bem acentuado e o gráfico 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 uma pequena contração inicial com posterior

expansão ao longo do cisalhamento.

Observa-se que a expansão volumétrica devida à dilatância foi mais acentuada que para

os corpos de prova medianamente compactos, como era esperado.

A forte expansão durante o cisalhamento é a principal responsável pelos valores elevados

do ângulo de atrito, no caso entre 37º e 43º. Estes valores são apresentados na Tabela 6.4

onde se observa também o decréscimo do ângulo de atrito com o aumento da tensão

vertical aplicada.

Uma outra característica que se observa, tanto nos gráficos da Figura 6.9 quanto na Tabela

6.4, é o decréscimo dos valores do deslocamento horizontal 𝛿𝑥 associados à ruptura. Esta

é uma outra característica que o domínio compacto confere ao comportamento das areias

no cisalhamento direto.

Em outras palavras, areias compactas tornam-se mais friáveis apresentando picos de

resistência mais nítidos, ângulos de atrito mais elevados, dilatância durante o

cisalhamento e mobilizando sua resistência máxima para deslocamentos relativos 𝛿𝑥 tão

menores quanto menores forem os índices de vazios e a tensão normal de ensaio.

Todos esses aspectos estão ilustrados tanto na Figura 6.9 quanto na Figura 6.10 e na

Tabela 6.4. Na Figura 6.10 observa-se, mais uma vez, o claro decréscimo do ângulo de

atrito com o aumento da tensão normal.

Um outro detalhe, também notado nos ensaios dos corpos de prova fofos e medianamente

compactos, foi a perturbação no gráfico 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 após o valor de 2,8 mm para o

deslocamento relativo 𝛿𝑥. Observa-se que após estabilizar, 𝛿𝑦 volta a diminuir, o que se

deve à rotação do “top cap”, provocando condições de contorno diferentes daquelas

existentes no início do ensaio. Esta é uma discussão à qual se voltará mais adiante.

Page 61: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

48

Figura 6.9 – Gráficos (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 𝑒 𝛿𝑦 𝑥 𝛿𝑥 para os corpos de prova compactos.

0,00

0,50

1,00

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00τ/σ

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Compactos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

-0,50

0,00

0,50

0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00

De

slo

cam

en

to V

ert

ical

(m

m)

Deslocamento Horizontal (mm)

Cisalhamento Direto - Compactos

25 kPa

50 kPa

75 kPa

100 kPa

150 kPa

300 kPa

500 kPa

750 kPa

1000 kPa

1250 kPa

Page 62: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

49

Tabela 6.4 – Resultados do cisalhamento direto dos corpos de prova compactos.

índice de vazios de moldagem

índice de

vazios após aplic.

tensão normal

deslocamento 𝛿𝑥

na ruptura (mm)

𝜎𝑓𝑓

(kPa)

𝜏𝑓𝑓

(kPa)

(𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓) = 𝑡𝑎𝑛𝜙

𝜙°

0,493 0,493 0,75 25 23,8 0,95 43,5

0,496 0,494 0,55 50 42,5 0,85 40,5

0,495 0,485 0,80 75 63,8 0,85 40,3

0,494 0,485 0,82 100 82,0 0,82 39,3

0,491 0,482 0,75 150 122 0,81 39,0

0,491 0,479 0,70 300 237 0,79 38,3

0,490 0,470 0,95 500 395 0,79 38,2

0,493 0,472 1,00 750 578 0,77 37,7

0,488 0,459 1,20 1000 770 0,77 37,6

0,495 0,466 1,20 1250 975 0,78 37,9

Figura 6.10 – Ângulos de atrito no domínio compacto com a tensão normal.

37,0

38,0

39,0

40,0

41,0

42,0

43,0

44,0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400

Ân

gulo

de

Atr

ito

Tensão Normal (kPa)

Compacto

Page 63: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

50

6.2.3 ÍNDICE DE VAZIOS CRÍTICO

Ao longo dos ensaios de cisalhamento direto pode-se perceber que o comportamento das

areias varia na ruptura: alguns corpos de prova sofreram contração e outros dilatância.

Esse comportamento é particularmente importante para análise da resistência do solo em

condições de carregamento não-drenado, pois é ele que define se o excesso de poro-

pressão que surgirá em decorrência desse carregamento será positivo ou negativo. Em

resumo, se o solo for submetido a um carregamento não-drenado e tiver tendência a dilatar

na ruptura, surgirá excesso de poro-pressão negativo; com isso a tensão efetiva será maior,

e por consequência também a resistência ao cisalhamento. Se, no entanto, o solo tiver

tendência a contrair, o excesso de poro-pressão será positivo, e a resistência ao

cisalhamento será menor. Esta é a situação mais crítica quanto à estabilidade, e que deve

ser considerada na hora de se verificar a segurança do solo quanto à ruptura. Observa-se

que haveria ainda uma terceira situação, quando o solo não apresentasse nem

comportamento dilatante nem de contração na ruptura, isto é, quando a variação de

volume fosse zero no momento da ruptura. Para esta situação, o excesso de poro-pressão

também seria nulo sob ação de um carregamento não-drenado.

LEE e SEED (1967) mostraram, usando ensaios triaxiais, que estas três situações são

função do par índice de vazios – tensão confinante sob os quais a areia encontra-se antes

do cisalhamento. Isto é, para um determinado par destes valores, a areia apresentará

comportamento de contração, dilatância, ou nenhuma variação de volume, na ruptura. O

par de valores para o qual não há variação de volume foi chamado de crítico, e denotado

por (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟) e a união de diversos pares críticos para uma determinada areia resulta em

uma curva semelhante à apresentada na Figura 6.11.

Observa-se que uma areia cujo par de valores tensão confinante - índice de vazios se

encontrar acima da curva (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟) irá apresentar contração na ruptura. Caso a mesma

areia se encontrasse com outro par de valores, localizado abaixo da curva (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟),

apresentaria dilatância.

Cabe ressaltar, no entanto, que situações de carregamento não-drenado não são usuais em

areias, devido ao alto valor do coeficiente de adensamento desses solos. Como exemplo

de solicitação não-drenada em areias pode-se citar a ação de um sismo.

Page 64: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

51

Figura 6.11 – Linha (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟)definida no ensaio triaxial drenado por LEE e SEED

(1967).

Embora a linha tensão confinante crítica-índice de vazios crítico tenha sido definida para

os ensaios triaxiais, pode-se defini-la também a partir de ensaios de cisalhamento direto

tomando-se em lugar da tensão confinante de adensamento a tensão vertical normal.

Uma das formas de se determinar a linha tensão confinante crítica - índice de vazios

crítico de uma areia, segundo a definição de LEE e SEED (1967), é apresentada por

PINTO (2006) na Figura 6.12, considerando um ensaio triaxial.

A Figura 6.12 apresenta uma série de ensaios triaxiais drenados onde a tensão confinante

(de adensamento) é a mesma para todos os ensaios variando-se apenas os índices de

vazios no início do cisalhamento.

Tomando-se, para cada ensaio, os valores da deformação específica 휀𝑉𝑓 na ruptura, pode-

se traçar um gráfico 휀𝑉𝑓 𝑥 𝑒 . O valor do índice de vazios associado à 휀𝑉𝑓 = 0 fornecerá

o índice de vazios crítico associado àquela tensão confinante. Com isso, determina-se um

par (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟). Repetindo-se o mesmo procedimento para uma outra tensão confinante,

determina-se outro par (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟). Com um número suficientemente grande de pontos

(𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟) traça-se então a linha tensão confinante crítica – índice de vazios crítico,

mostrada nas Figuras 6.11 e 6.12.

Page 65: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

52

Figura 6.12 – Determinação de um par (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟) segundo PINTO (2006)

Uma linha similar à sugerida por LEE e SEED (1967) poderia ser determinada a partir

dos ensaios de cisalhamento direto. Basta que para isso se substitua a tensão confinante

pela tensão normal vertical aplicada ao corpo de prova no ensaio.

Como neste trabalho foram ensaiados corpos de prova com apenas três índices de vazios

e o procedimento para determinação do par (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟) , descrito acima, requer

interpolação, julgou-se que o número de três ensaios utilizando-se uma mesma tensão e

diferentes índices de vazios não é adequado para determinar com relativa acurácia os

pares (𝜎𝑐𝑟, , 𝑒𝑐𝑟). Por esta razão, a linha (𝜎𝑐𝑟

, , 𝑒𝑐𝑟) não será apresentada neste trabalho,

ficando como sugestão para continuação deste trabalho.

Page 66: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

53

6.3 ÂNGULO DE ATRITO NO REPOUSO

Quando um material granular é despejado em queda livre, forma-se uma pilha. A

inclinação do talude natural formado é função do atrito entre os grãos superficiais e é

denominado ângulo de atrito no repouso. Este ângulo é a maior inclinação que os grãos

podem chegar de maneira estável, sem que haja nenhum confinamento.

De acordo com TAYLOR (1948), no mais antigo e simples procedimento para obter o

ângulo de atrito de um solo granular seco, observa-se o ângulo de atrito no repouso de

uma pequena pilha deste material. Na verdade, o ângulo de repouso é o ângulo de atrito

sob tensão praticamente zero e ele tende a ser diferente do ângulo de atrito sob tensões

comumente encontradas na prática de engenharia geotécnica devido a diversas razões.

Uma pilha de um material granular não pode estar em equilíbrio a menos que os grãos

mais instáveis na sua superfície estejam também em equilíbrio. O ângulo de atrito interno

de um solo se refere às condições internas à massa e desta forma ele é dependente de

condições médias de todos os grãos. Desta forma, o ângulo de atrito interno tende a ser

superior ao ângulo de repouso. A superfície de uma pilha de areia provavelmente está

num estado ligeiramente mais fofo que o interior. Assim, o ângulo de atrito na zona

superficial onde o ângulo no repouso é determinado tenderá a ser menor do que aquele

correspondente à massa como um todo. Além disso, o ângulo de repouso inclui pouca ou

nenhuma resistência por entrosamento (interlocking). Assim, o ângulo de repouso é, na

melhor das hipóteses, uma aproximação grosseira do ângulo de atrito interno. Em solos

como as areias, ele em geral é apreciavelmente menor do que o ângulo de atrito interno.

6.3.1 PROCEDIMENTO PARA DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO DE ATRITO NO

REPOUSO DA AREIA DE IPANEMA

Foi construída uma caixa de acrílico transparente (figura 6.13), cujas dimensões são de

40 cm x 40 cm x 10 cm (na direção ortogonal ao plano do papel). Sobre a face quadrada

desta caixa, foi desenhada uma grade, feita de “células quadradas” de 3 cm x 3 cm, com

auxílio da qual pode-se determinar o ângulo de repouso de uma areia colocada dentro da

caixa.

Page 67: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

54

O procedimento para determinar o ângulo de atrito no repouso com a caixa mostrada na

figura 6.13 consistia em apoiar a caixa sobre uma de suas faces de 10 cm x 40 cm fazendo

um movimento “quasi-estático” de rotação em torno de uma das arestas de 10 cm até que

uma das faces de 10 cm x 40 cm se apoie sobre uma superfície horizontal. Com isso,

forma-se na superfície da massa de areia um plano inclinado cujo ângulo com a horizontal

é o ângulo de atrito no repouso (ver figura 6.13). Este ângulo pode então ser facilmente

avaliado pela grade desenhada na face de 40 cm x 40 cm.

Repetindo-se cuidadosamente o procedimento acima, encontrou-se para o ângulo de

repouso da areia de Ipanema um valor aproximado de 33°. É interessante observar que

este ângulo é ligeiramente superior ao encontrado para a areia de Itaipuaçu, cujo valor do

ângulo de repouso é de 32° (NUNES, 2014). Como ambas as areias são compostas

essencialmente de quartzo, esta diferença deve-se provavelmente ao formato mais

irregular dos grãos da areia de Ipanema se comparados aos grãos da areia de Itaipuaçu.

Estes últimos por exibirem notável arredondamento.

Figura 6.13 – Caixa para determinação do ângulo de atrito no repouso

Page 68: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

55

6.4 RESUMO DOS ENSAIOS DE RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO E

CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS

Em linhas gerais, pode-se dizer que o comportamento da areia de Ipanema nos ensaios de

cisalhamento direto, dentro da faixa de compacidade relativa e tensões normais sob as

quais os corpos de prova foram ensaiados apresenta as seguintes características:

As duas variáveis principais que comandam o ângulo de atrito interno de uma

areia são: o índice de vazios (ou a compacidade relativa) e a tensão normal.

Quanto menores o índice de vazios e a tensão normal, maior o ângulo de atrito

interno.

Outra característica importante conferida aos ensaios pelo índice de vazios e pela

tensão normal é o pico que se faz sentir, de forma mais acentuada quanto maior

for a compacidade relativa e menor o valor da tensão normal de ensaio.

Considerando-se o mesmo índice de vazios de moldagem, o efeito do aumento

da tensão normal, além de diminuir o ângulo de atrito e inibir a dilatância, é o de

fazer com que o deslocamento relativo (𝛿𝑥) correspondente à ruptura aumente,

tornando o solo menos friável. Este fato é facilmente identificável comparando-

se os valores de 𝛿𝑥 na ruptura apresentados nas tabelas 6.2, 6.3 e 6.4.

Quanto à dilatância, o valor elevado do ângulo de atrito apresentado pelas amostras

compactas se deve, segundo TAYLOR (1948), à energia de cisalhamento correspondente

ao trabalho extra que as tensões cisalhantes têm que realizar para romper o corpo de

prova. Esta energia de cisalhamento corresponde ao trabalho realizado contra a força

normal para expandir o corpo de prova, fenômeno este também conhecido como

dilatância. O fenômeno pode ser melhor explicado com o auxílio da figura 6.14.

De acordo com o fenômeno descrito por TAYLOR (1948), a tensão cisalhante necessária

à ruptura de uma areia compacta é composta de duas parcelas: Uma necessária a cisalhar

a areia sob volume constante, denotada por 𝜏𝑐𝑣, e uma outra adicional, denotada por 𝜏𝑒,

Page 69: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

56

correspondente ao trabalho realizado contra a força normal expandindo o corpo de prova

durante a ruptura. Assim, na ruptura:

𝜏𝑓𝑓 = 𝜏𝑒 + 𝜏𝑐𝑣 (6.1)

Dividindo-se ambos os membros da equação (6.1) pela tensão normal 𝜎𝑓𝑓, escreve-se:

𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓=

𝜏𝑒

𝜎𝑓𝑓+

𝜏𝑐𝑣

𝜎𝑓𝑓 (6.2)

Igualando-se, na ruptura, o trabalho da força cisalhante extra dada por 𝜏𝑒 A d𝛿𝑥 , ao

trabalho de expansão realizado contra a força normal dado por 𝜎𝑓𝑓 𝐴 𝑑𝛿𝑦 vem

𝜏𝑒 𝐴 d𝛿𝑥 = 𝜎𝑓𝑓 𝐴 𝑑𝛿𝑦 (6.3)

ou seja,

𝜏𝑒

𝜎𝑓𝑓=

𝑑𝛿𝑦

d𝛿𝑥 (6.4).

Levando o resultado da expressão (6.4) na expressão (6.2), chega-se finalmente a

𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓=

𝑑𝛿𝑦

d𝛿𝑥 +

𝜏𝑐𝑣

𝜎𝑓𝑓 (6.5)

ou

tan 𝜙 = 𝑑𝛿𝑦

d𝛿𝑥+ tan 𝜙𝑐𝑣 (6.6)

onde 𝜙𝑐𝑣 é o chamado ângulo de atrito sob volume constante.

Page 70: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

57

Figura 6.14 – Dilatância como trabalho realizado para expandir a amostra (TAYLOR,

1948)

A expressão (6.6) traduz um conceito físico importante, qual seja, que a tangente do

ângulo de atrito interno é dada pela soma da tangente do ângulo de atrito do cisalhamento

sob volume constante mais o efeito da dilatância dada pela taxa de variação do aumento

da espessura do corpo de prova (𝑑𝛿𝑦) por unidade de deslocamento horizontal (𝑑𝛿𝑥).

Observa-se que, havendo ou não dilatância, para grandes deslocamentos relativos, o valor

𝑑𝛿𝑦 𝑑𝛿𝑥⁄ tende a zero, fazendo com que o corpo de prova passe a cisalhar sob volume

constante. Com isso, chega-se à conclusão de que independentemente das condições

iniciais, chegar-se-á sempre ao valor 𝜏𝑐𝑣 𝜎𝑓𝑓⁄ que é, por definição, o ângulo de atrito sob

volume constante (𝜙𝑐𝑣), uma propriedade da areia.

Isso significa que, teoricamente, o ângulo de atrito a volume constante (𝜙𝑐𝑣), poderia ser

determinado para grandes valores do deslocamento 𝛿𝑥 quando 𝑑𝛿𝑦 𝑑𝛿𝑥⁄ = 0 . Este

expediente, entretanto, não é recomendado em função do adernamento do “top cap” que

faz com que mudem as condições de contorno para as quais o ensaio foi concebido. Tal

fenômeno pode ser observado nas fotos da figura 6.15.

Page 71: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

58

Figura 6.15 – Detalhe do adernamento do “top cap” após ensaio de cisalhamento direto

Page 72: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

59

Como o adernamento do “top cap” começa a se fazer notar, no programa de ensaios aqui

realizado, para valores de 𝛿𝑥 maiores que 2 mm, é de se esperar que o adernamento do

“top cap” seja mais prejudicial à determinação do ângulo de atrito dos corpos de prova

fofos. Isto acontece porque, de acordo com os resultados apresentados na tabela 6.2, os

valores de 𝛿𝑥 observados na ruptura dos corpos de prova fofos tem valor médio 2,3 mm.

Este dado sugere que valores do ângulo de atrito para corpos de prova fofos tão baixos

quanto 27° sejam valores obtidos sob influência do adernamento do “top cap”. Esta

suspeita torna-se ainda mais forte ao se confrontar valores tão baixos com os valores do

ângulo de atrito no repouso, revelado como sendo de 33°.

Já as condições de ruptura dos corpos de prova compactos e medianamente compactos

não devem sofrer com o adernamento do “top cap” pois, nesses casos, a ruptura se dá para

um deslocamento relativo 𝛿𝑥 bem inferior ao valor para o qual o adernamento se inicia.

Em razão destas perturbações provocadas pelo adernamento do “top cap”, pode-se tirar

partido do conceito físico traduzido pela expressão (6.6) e determinar indiretamente o

valor do ângulo de atrito a volume constante (𝜙𝑐𝑣) nos pontos notáveis A e B da figura

6.14. Como no ponto A, (𝑑𝛿𝑦

𝑑𝛿𝑥)

𝐴= 0,

(𝜏

𝜎)

𝐴= tan 𝜙𝑐𝑣 (6.7).

No ponto B, correspondente à ruptura, como (𝑑𝛿𝑦

𝑑𝛿𝑥)

𝐵= 𝑚𝑎𝑥.,

tan 𝜙𝑐𝑣 = (𝜏

𝜎)

𝐵− (

𝑑𝛿𝑦

𝑑𝛿𝑥)

𝐵 (6.8).

Valores de tan 𝜙𝑐𝑣 determinados pelas expressões (6.7) e (6.8) são apresentados, a título

ilustrativo, para os corpos de prova compactos na tabela (6.5).

Page 73: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

60

Tabela 6.5 – Valores de tan 𝜙𝑐𝑣 obtidos nos ensaios compactos

índice de vazios de moldagem

𝜎𝑓𝑓

(kPa)

(𝜏𝑓𝑓

𝜎𝑓𝑓) = 𝑡𝑎𝑛𝜙

𝜙° tan 𝜙𝑐𝑣 (ponto

A)

𝜙𝑐𝑣 (ponto

A)

tan 𝜙𝑐𝑣 (ponto

B)

𝜙𝑐𝑣 (ponto

B)

0,656 25 0.64 32,7 - - - -

0,638 50 0,61 31,4 0,63 32,2 0,59 30,5

0,635 75 0,58 30,3 0,61 31,3 0,65 33,0

0,642 100 0,58 30,0 0,62 31,8 0,62 31,8

0,658 150 0,58 30,0 0,56 29,2 0,58 30,1

0,641 300 0,54 28,5 0,65 33,0 0,59 30,5

0,643 500 0,56 29,0 0,56 29,2 0,54 28,4

0,658 750 0,51 27,1 0,57 29,7 0,56 29,2

0,654 1000 0,52 27,5 0,59 30,5 0,55 28,8

0,652 1250 0,54 28,5 0,55 28,8 0,57 29,7

Observa-se da tabela 6.5 que os valores estimados para 𝜙𝑐𝑣 pelas expressões (6.7) e (6.8)

condizem mais com os valores de 33° do ângulo de repouso do que com os valores obtidos

para os corpos de prova fofos onde não se notou pico.

Page 74: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

61

7 COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL

Os materiais em geral, quando submetidos a algum esforço, tem tendência a se deformar,

de maneira a resistir a essa solicitação. Essa deformabilidade é função do material e da

carga aplicada a ele e, no caso dos solos, representa uma das informações mais

importantes em projetos, o recalque.

As tensões de compressão aplicadas sobre os solos arenosos geram deformações

admitidas instantâneas em virtude de seu comportamento drenado, onde a variação de

volume ocorre facilmente pela variação dos vazios e rearranjo dos grãos, já que eles são

praticamente incompressíveis. Portanto, quem realmente comprime é o arranjo como um

todo e não os grãos. Além desse rearranjo, quanto maior a tensão atuante, maior a

probabilidade de haver quebra de grãos.

Por conta de seu arranjo típico, os solos de compacidade mais elevada têm tendência a

sofrer uma deformação menor, devido ao seu arranjo. Os grãos já têm um entrosamento

considerável e, quando há aplicação da carga, não há muita mobilidade entre eles. Em

contrapartida, os solos de menor compacidade têm mais vazios e maior possibilidade de

encontrar um arranjo mais compacto, quando submetidos à carga, ocorrendo uma

deformação maior.

No ensaio edométrico, estudado neste item, as deformações horizontais são impedidas

em todas as direções, permitindo-se ao corpo de prova deformação em apenas uma

direção (vertical).

Como o objetivo principal dos ensaios aqui estudados era o de determinar o módulo

edométrico, e sabendo-se que os módulos edométricos em areias são elevados, cuidados

especiais foram tomados para descontar as deformações medidas no ensaio que não

podem ser atribuídas às deformações da areia ensaiada. Tais deformações devem-se a

ajuste de partes componentes do ensaio, tais como deformação das pedras porosas e

“acomodação” das diversas interfaces como por exemplo a existente entre o fundo da

célula e a pedra porosa inferior. Para que tais deformações não fossem computadas

indevidamente, foram feitas calibrações onde foram aplicados estágios de carga, sem o

corpo de prova, simulando o mesmo carregamento a ser aplicado aos corpos de prova de

areia.

Page 75: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

62

Observou-se que os resultados obtidos com o procedimento acima, quando era realizado

apenas um ciclo de carga e descarga, não forneciam valores acurados para o módulo

edométrico. Isto acontecia porque para a moldagem dos corpos de prova, era necessário

desmontar o equipamento. Com isso, todos as “acomodações” conseguidas no ensaio

anterior perdiam seu efeito. Este problema só foi identificado depois de terem sido

calculados valores do módulo edométrico tidos como não acurados. Por diversas vezes,

o sistema não estava acomodado o suficiente e as deformações resultantes eram muito

superiores às esperadas e muito diferentes umas das outras. Para tentar eliminar esse

problema, foram feitos dois ciclos de carregamento e descarregamento, sendo o primeiro

apenas para que o conjunto se acomodasse e o segundo para o experimento. Tal

procedimento foi aplicado, não só aos ensaios propriamente ditos, como também à

calibração das deformações do equipamento sem o uso de corpos de prova. Assim, os

valores apresentados para o módulo edométrico são referentes apenas ao segundo ciclo

de carga e descarga.

Verificou-se de maneira geral o comportamento não elástico da areia, que durante o

processo de descarregamento, não retornou à configuração original. Entretanto, observou-

se que quanto mais compacta era o corpo de prova ensaiado, mais ele se aproximava de

sua configuração inicial quando descarregado.

7.1 PROCEDIMENTOS

7.1.1 ANEL

Foram moldados corpos de prova pluviando a areia de três maneiras distintas, buscando

amostras com compacidades diferentes, dentro dos domínios fofo, medianamente

compacto e compacto.

Para as amostras fofas, foi feito o chuveiramento com funil de abertura 40 mm e altura de

queda de 6 cm diretamente sobre o anel de adensamento de aproximadamente 7 cm de

diâmetro que se encontrava apoiado sobre a pedra porosa.

Amostras medianamente compactas e compactas foram obtidas por pluviação através de

peneiras e uso de funis de abertura 80 mm e 10 mm respectivamente. O procedimento foi

Page 76: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

63

o mesmo descrito no item 4.3, pluviando-se a areia diretamente sobre o anel de

adensamento apoiado sobre a pedra porosa.

Tanto na moldagem dos corpos de prova fofos, como nos casos medianamente compactos

ou compactos, a pluviação era feita sobre o anel após o que arrasava-se cuidadosamente

a superfície do corpo de prova com uma régua de aço. Fotos ilustrando o anel vazio

apoiado sobre a pedra porosa e já preenchido com areia estão mostradas na figura 7.1.

Para verificar se o procedimento era adequado e se havia repetibilidade no processo,

foram moldados previamente 10 corpos de prova para cada compacidade. Os resultados

obtidos encontram-se apresentados na tabela 7.1 onde se nota repetibilidade adequada.

Tabela 7.1 – Índices de Vazios de moldagem

Índices de vazios de moldagem

Amostras Fofas Amostras Medianamente

Compactas Amostras Compactas

massa solo (gf)

e CR (%)

massa solo (gf)

e CR (%)

massa solo (gf)

e CR (%)

125,56 0,704 10% 134,19 0,594 51% 145,92 0,466 98%

126,00 0,698 13% 135,22 0,582 55% 145,83 0,467 97%

125,28 0,708 9% 135,16 0,583 55% 145,60 0,469 97%

125,38 0,706 10% 135,39 0,580 56% 145,43 0,471 96%

125,93 0,699 12% 135,54 0,578 57% 145,54 0,470 96%

125,56 0,704 10% 134,25 0,593 51% 145,46 0,471 96%

125,46 0,705 10% 135,49 0,579 56% 145,41 0,471 96%

126,17 0,695 13% 134,75 0,588 53% 145,72 0,468 97%

125,31 0,707 9% 133,70 0,600 49% 145,59 0,469 97%

125,23 0,708 9% 134,57 0,590 52% 145,68 0,468 97%

MÉDIA: 0,703 11% 0,587 53% 0,469 97%

Figura 7.1 – Molde e corpo de prova moldado

Page 77: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

64

Posteriormente, foram ensaiados três corpos de prova para cada compacidade, com tensão

aplicada variando de 0 a 1600 kPa. A aplicação do carregamento foi feita em estágios nos

quais a tensão vertical de um estágio subsequente era o dobro da tensão usada no estágio

anterior.

Tabela 7.2 – Ensaios teste de compressibilidade edométrica

Ensaio de Compressibilidade

Ensaio

Amostras Fofas Amostras Medianamente

Compactas Amostras Compactas

e moldado

e de ensaio (após 1º ciclo)

e moldado

e de ensaio (após 1º ciclo)

e moldado

e de ensaio (após 1º ciclo)

1 0,692 0,662 0,580 0,560 0,464 0,424

2 0,694 0,672 0,579 0,565 0,463 0,453

3 0,684 0,663 0,575 0,561 0,466 0,456

Figura 7.2 – Resultados ensaios de compressibilidade edométrica para corpos de prova

fofos

0,00%

0,05%

0,10%

0,15%

0,20%

0,25%

0,30%

0,35%

0,40%

0,45%

0,50%

1 10 100 1000 10000

De

form

ação

Esp

ecí

fica

Tensão aplicada (kPa)

Fofo 1 - e = 0,662

Fofo 2 - e = 0,672

Fofo 3 - e = 0,663

Page 78: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

65

Figura 7.3 – Resultados ensaios de compressibilidade edométrica para corpos de prova

medianamente compactos

Figura 7.4 – Resultados ensaios de compressibilidade edométrica para corpos de prova

compactos

0,00%

0,05%

0,10%

0,15%

0,20%

0,25%

0,30%

1 10 100 1000 10000

De

form

ação

Esp

ecí

fica

Tensão aplicada (kPa)

Med Comp 1 - e = 0,560

Med Comp 2 - e = 0,565

Med Comp 3 - e = 0,561

0,00%

0,02%

0,04%

0,06%

0,08%

0,10%

0,12%

1 10 100 1000 10000

De

form

ação

Esp

ecí

fica

Tensão aplicada (kPa)

Compacto 1 - e = 0,424

Compacto 2 - e = 0,453

Compacto 3 - e = 0,456

Page 79: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

66

7.1.2 CÉLULA DE COMPRESSÃO

Para obtenção de cargas elevadas, foi desenvolvida uma célula de compressão cilíndrica,

em aço, de área da seção reduzida, aproximadamente π. Com as mesmas cargas que

anteriormente, mas agora com menor seção, foram feitos ensaios com tensões até

aproximadamente 20.000 kPa.

A preparação do ensaio se dá despejando o material no molde apresentado na figura 7.5,

de maneira que a sua altura sobressalente seja aproximadamente a mesma em todos os

ensaios. Após dois ciclos de carga e descarga, o material resultante é pesado para

determinação de índice de vazios e posterior análise microscópica. Também foi feita uma

análise da curva granulométrica, para avaliação da quebra de grãos.

Figura 7.5 – Molde da célula de compressão e corpo de prova moldado

Page 80: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

67

Tabela 7.3 – Informações dos ensaios na célula de compressão

Ensaio

1

Ensaio

2

Ensaio

3

Ensaio

4

Ensaio

5

Ensaio

6

Ensaio

7

Ensaio

8

Ensaio

9

Ensaio

10

Altura a mais

da peça

(mm)

18,4 19,2 19,4 18,4 18,6 18,5 18,9 19,4 18,7 19,3

Peso

(gf) 10,25 10,53 10,4 10,2 10,07 10,33 10,19 10,47 10,45 10,38

Volume

(cm³) 5,865 6,121 6,185 5,865 5,929 5,897 6,025 6,185 5,961 6,153

Índice de

vazios

de moldagem

0,521 0,545 0,581 0,528 0,565 0,517 0,572 0,570 0,516 0,576

Índice de

vazios

do ensaio

0,494 0,526 0,556 0,518 0,544 0,512 0,561 0,549 0,506 0,558

Figura 7.6 – ensaios compressão

Após dez ensaios na célula de compressão, com amostras submetidas a dois ciclos de até

20000 kPa, o material resultante foi armazenado para análise granulométrica, por meio

do microscópio e também de determinação da nova curva granulométrica.

0,00%

0,20%

0,40%

0,60%

0,80%

1,00%

1,20%

1,40%

1 10 100 1000 10000 100000

De

form

ação

Esp

ecí

fica

Tensão aplicada (kPa)

Ensaio 1 - e = 0,494

Ensaio 2 - e = 0,526

Ensaio 3 - e = 0,556

Ensaio 4 - e = 0,518

Ensaio 5 - e = 0,544

Ensaio 6 - e = 0,512

Ensaio 7 - e = 0,561

Ensaio 8 - e = 0,549

Ensaio 9 - e = 0,506

Ensaio 10 - e = 0,558

Page 81: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

68

Figura 7.7 – Comparativo entre as curvas granulométricas dos ensaios antes e após a

compressão edométrica a 20.000 kPa

A curva granulométrica evidencia uma clara quebra de grãos em comparação com as

demais curvas descritas no item 3.1. O material retido na peneira #40 é cerca de 10 %

maior que as curvas anteriores, enquanto o solo retido na peneira #60 é aproximadamente

10 % menor. Nas demais peneiras, os valores são praticamente os mesmos. Pode-se

concluir que essa mudança de granulometria é função da compressão a que foram

submetidas às amostras, onde ocorreu a quebra.

200 100 60 40 30 20 10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Po

rcen

tage

m P

assa

da

(%)

Diametro dos grãos (mm)

Curva Granulométrica

Granulometria 1

Granulometria 2

Granulometria 3

Granulometria 20000 kPa

Page 82: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

69

Figura 7.8 – Areia que não passou por nenhum ensaio

Figura 7.9 – Areia após ensaio de compressão, submetido a 20000 kPa.

Page 83: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

70

8 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTUROS ESTUDOS

8.1 CONCLUSÕES

Este trabalho permite as seguintes conclusões:

1) A Areia da Praia de Ipanema é uma areia média, uniforme e mal graduada com grãos

que vão do formato subangular a arredondado e cujos diâmetros dos grãos estão

compreendidos entre 0,15 mm e 0,7 mm.

2) O valor da densidade dos grãos igual a 2,659, a ausência de reação química em

presença do ácido clorídrico e a inspeção em microscópio permite concluir que a Areia

da Praia de Ipanema é constituída basicamente de grãos de quartzo.

3) O índice de vazios máximo, determinado com um funil de 80 mm de abertura

permitindo que a areia caísse dentro de um molde Proctor Normal de uma altura de 6

cm foi de 0,732. O índice de vazios mínimo, de valor igual a 0,461, foi obtido pelo

método de pluviação através de peneiras usando-se um funil de abertura de 10 mm.

4) O método da pluviação se mostrou eficaz em reproduzir compacidades relativas ao

longo de todo o intervalo de variação do índice de vazios. Observa-se uma menor

dispersão nos valores dos índices de vazios na obtenção de corpos de prova compactos.

5) Os ângulos de atrito, medidos nos ensaios de cisalhamento direto variaram desde 27º

para os corpos de prova fofos, com compacidade relativa de 32%, até 43º,

correspondentes aos corpos de prova compactos, de compacidade relativa de 88%.

6) As variáveis que determinam o valor do ângulo de atrito são o índice de vazios e a

tensão normal. Quanto menores o índice de vazios e a tensão normal, maior será o valor

do ângulo de atrito interno e mais pronunciada a dilatância fazendo com que o pico no

gráfico (𝜏𝜎⁄ ) 𝑥 𝛿𝑥 seja bem nítido.

7) O uso de tensões normais elevadas, além de inibir a dilatância diminuindo o ângulo

de atrito interno, aumenta o valor do deslocamento relativo 𝛿𝑥 para o qual se dá a

ruptura.

8) O ângulo de atrito no repouso é de 33º.

Page 84: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

71

9) Comparando-se os valores do ângulo de atrito obtidos para os corpos de prova fofos,

alguns dos quais com 27º, com o valor do ângulo de atrito no repouso, suspeita-se que o

adernamento do “top cap” tenha afetado os resultados de tais ensaios. O motivo para tal

suspeita deve-se ao fato dos corpos de prova fofos terem apresentado ruptura para

deslocamentos 𝛿𝑥 na faixa de valores onde o adernamento do “top cap” torna-se

evidente.

10) A expressão do trabalho realizado pela força tangencial adicional necessária para

vencer o entrosamento dos grãos (“interlocking”), fenômeno explicado por TAYLOR

(1948), pôde ser usada para estimar o valor do ângulo de atrito a volume constante.

8.2 SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS

Como sugestões para futuros estudos apresentam-se os seguintes pontos:

1) Realizar para a Areia da Praia de Ipanema um estudo da variação do coeficiente de

permeabilidade com o índice de vazios.

2) Executar uma campanha de ensaios triaxiais e comparar os resultados dos ângulos de

atrito obtidos nos triaxiais com os obtidos nos ensaios de cisalhamento direto. Comparar

também os valores dos módulos de deformação obtidos nos ensaios triaxiais com os

módulos de deformação obtidos neste estudo indiretamente

3) Realizar ensaios de cisalhamento direto em corpos de prova com compacidades

relativas de 45% e 75% com o intuito de determinar a relação 𝜎𝑐𝑟′ 𝑥 𝑒𝑐𝑟.

4) Estudar com mais detalhe o problema do adernamento do “top cap” e sua influência

sobre os resultados de ensaios realizados em corpos de prova fofos.

5) Usar funis de 90 mm e 95 mm juntamente com o cilindro Proctor Normal na tentativa

de obter um índice de vazios superior ao determinado com o funil de 80 mm.

6) Estudar os recalques ao longo do tempo de corpos de prova da Areia de Ipanema

submetidos a carregamentos edométricos de longa duração.

Page 85: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

72

BIBLIOGRAFIA

PINTO, C. S., 2006, Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas, 3ª ed., Oficina

de Textos, São Paulo.

KOLBUSZEWSKI, J. J., 1948, "An Experimental Study of Maximum and Minimum

Porosities of Sands", Proceedings, 2nd International Conference on Soil Mechanics and

Foundations Engineering, Vol. 1, pp. 158-165.

MIURA, S., e TOKI, S., 1982, “A Sample Preparation Method and its Effect on Static

and Cyclic Deformation-Strength Properties of Sand”, Soils and Foundations, Vol. 22,

No. 1, 1982, pp. 61-77.

LAMBE, T.W. e WHITMAN, R.V., 1969, Soil Mechanics, John Wiley and Sons, Inc.,

New York

LEE, K. L. e SEED, H. B., 1967, “Drained Strength Characteristics of Sands.” Jornal of

Soil Mechanics C& Foundations Div.

OLIVEIRA FILHO, W. L. de, 1987, Considerações Sobre Ensaios Triaxiais em Areias,

Tese de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.

NUNES, V. P., 2014, Ensaios de Caracterização Geotécnica da Areia da Praia de

Itaipuaçu, Escola Politécnica/UFRJ, Rio de Janeiro.

TAYLOR, D. W., 1948, Fundamentals of Soil Mechanics, John Wiley and Sons, Inc.

New York.

Page 86: caracterização geotécnica da areia da praia de ipanema

73

ANEXOS

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74

ENSAIOS CISALHAMENTO DIRETO

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104

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ENSAIOS COMPRESSÃO UNIDIMENSIONAL

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