75
PAULO TANCREDO DE CAMPOS CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW) MESTRADO EM ENGENHARIA MECÂNICA PUCPR CURITIBA 2005 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

  • Upload
    vokiet

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

PAULO TANCREDO DE CAMPOS

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL

DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)

MESTRADO EM ENGENHARIA MECÂNICA

PUCPR

CURITIBA

2005

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

Page 2: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

ii

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

PAULO TANCREDO DE CAMPOS

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL

DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)

CURITIBA AGOSTO / 2005

Page 3: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

iii

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

PAULO TANCREDO DE CAMPOS

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS

MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)

CURITIBA AGOSTO / 2005

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Departamento de Ciências Exatas e de Tecnologia, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Diego Torres Co-Orientador: Profa. Dra. Karin Soldatelli Borsato

Page 4: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

iv

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA – CCET

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA – PPGEM

Dissertação de Mestrado

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE

JUNTAS SOLDADAS PELOS PROCESSOS MIG/MAG (GMAW) E ARAME TUBULAR (FCAW)

Autor: Paulo Tancredo de Campos ________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Diego Torres (Orientador) Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR) ________________________________________ Prof.a Dr.a Karin Soldatelli Borsato (Co-orientadora) Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR) ________________________________________ Prof. Dr. Aleir Antônio Fontana de Paris Universidade Federal de Santa Maria - UFSM ________________________________________ Prof. Dr. Irionson Antônio Bassani Curso de Engenharia Mecânica (PUC-PR)

CURITIBA

AGOSTO / 2005

Page 5: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

v

RESUMO

Os processos de soldagem MIG/MAG e Arame Tubular são amplamente

aplicados na indústria de petróleo. Ambos os processos podem ser

aplicados em uma variedade de aços, tais como baixo carbono, inoxidável

entre outras ligas ferrosas. Outra característica importante destes dois

processos é a excelente produtividade devida a possibilidade de automação

dos equipamentos. Estes dois processos já são empregados a nível

industrial, entretanto, as diferenças em termos microestruturais e

propriedades mecânicas foram pouco exploradas a nível científico. O

objetivo principal deste projeto de pesquisa é determinar a microestrutura e

o comportamento mecânico do MIG/MAG e do Arame Tubular quando as

juntas são soldadas submetidas à pulsação térmica. As juntas soldadas

pelo processo Arame Tubular apresentaram uma microestrutura mais fina

bem como uma maior tenacidade. O Arame Tubular resultou em um metal

de solda com dureza mais elevada. Por outro lado, o gradiente de dureza é

mais elevado para as juntas do Arame Tubular.

Palavras Chave: Arame Tubular, MIG/MAG, Pulsação Térmica.

Page 6: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

vi

ABSTRACT

The GMAW and FCAW welding processes are been applied mostly in

the oil industry. Both processes can be applied in a variety of steels, such as

low carbon, stainless among other ferrous alloys. Another important feature

of these two processes is the high productivity due the automatization of the

equipments. Even thought these two processes are already an industrial

reality the difference in terms of microstructure and mechanical response

are not been well establish. The main goal of this research project is to

determine the microstructure and mechanical behavior of the GMAW and

FCAW when the joints are produced under Thermal Pulsation. The FCAW

joint showed a finer microstructure as well as higher toughness. The FCAW

showed a higher hardness in the weld metal. On other hand, the hardness

gradient is higher for the FCAW joints.

Key Words: FCAW, GMAW, Thermal Pulsation

Page 7: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

vii

Agradecimentos

Aos meus pais e à minha irmã pelo incentivo e motivação.

À minha esposa pela compreensão e apoio nas horas difíceis.

Aos professores Ricardo Diego Torres e Karin Soldatelli Borsato pela

orientação e amizade.

Ao Túlio Fernades dos Santos pelo incentivo, orientação e amizade.

Aos meus amigos.

Page 8: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

viii

“É muito mais honrado erguer-se a lutar mesmo tendo que correr o risco do insucesso, do que unir-se aos pobres de espírito que não perdem e não vencem e por isso acabam morrendo sem viver."

Page 9: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

ix

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1

2 OBJETIVO ................................................................................................. 2

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 3

3.1 PROCESSO MIG/MAG .............................................................................. 3

3.1.1 INFLUÊNCIA DO TIPO DO GÁS DE PROTEÇÃO NO PROCESSO

MIG/MAG ................................................................................................... 4

3.1.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO MIG/MAG....................... 5

3.1.3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS DE SOLDAGEM................................................ 6

3.1.4 MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE METAL DE ADIÇÃO ......................... 7

3.2 PROCESSO ARAME TUBULAR................................................................ 9

3.2.1 APLICAÇÕES .......................................................................................... 10

3.2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO ARAME TUBULAR ...... 11

3.2.3 GENERALIDADES................................................................................... 11

3.3 MODO PULSADO.................................................................................... 13

3.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO..................... 13

3.3.2 CONTROLE DO MODO PULSADO......................................................... 14

3.4 MODO PULSADO TÉRMICO................................................................... 16

3.4.1 PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO

TÉRMICO................................................................................................. 16

3.4.2 CONTROLE DO MODO PULSADO TÉRMICO ....................................... 17

3.5 METALURGIA DA SOLDAGEM............................................................... 18

3.5.1 REGIÕES DA JUNTA SOLDADA ............................................................ 18

3.5.2 APORTE TÉRMICO................................................................................. 18

3.5.3 ZONA TERMICAMENTE AFETADA ........................................................ 21

3.5.4 ZONA FUNDIDA ...................................................................................... 22

3.5.5 ZONA DE LIGAÇÃO ................................................................................ 26

4 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 27

4.1 CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS ...................................................... 27

4.1.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA .......................................................................... 28

4.2 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM......................................................... 29

4.2.1 TESTES PRELIMINARES........................................................................ 32

4.2.2 TESTES FINAIS....................................................................................... 33

Page 10: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

x

4.3 ENSAIOS MECÂNICOS........................................................................... 35

4.3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO.............................................................................. 36

4.3.2 ENSAIO DE IMPACTO ............................................................................ 36

4.3.3 ENSAIO DE DUREZA .............................................................................. 37

4.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL............................................ 38

5 RESULTADOS E ANÁLISES ................................................................... 38

5.1 TESTES PRELIMINARES........................................................................ 38

5.1.1 MICROESTRUTURA ............................................................................... 39

5.1.2 ENSAIO DE DUREZA .............................................................................. 40

5.2 TESTES FINAIS....................................................................................... 41

5.2.1 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM......................................................... 41

5.2.2 MACROGRAFIAS .................................................................................... 43

5.2.3 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL............................................ 47

5.2.3.1 ZONA FUNDIDA............................................................................. 47

5.2.3.2 ZONA TERMICAMENTE AFETADA .............................................. 48

5.2.3.3 ZONA DE LIGAÇÃO....................................................................... 49

5.2.4 ENSAIOS MECÂNICOS........................................................................... 50

5.2.4.1 ENSAIO DE TRAÇÃO.................................................................... 50

5.2.4.2 ENSAIO DE IMPACTO................................................................... 52

5.2.4.3 ENSAIO DE DUREZA .................................................................... 53

6 CONCLUSÃO........................................................................................... 56

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ....................................... 57

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 58

Page 11: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

xi

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 3.1 – Representação esquemática do processo MIG/MAG. ................... 3

Figura 3.2 – Efeito da condutibilidade térmica do gás de proteção sobre a forma

da coluna de plasma, (Quites, 2002). ......................................................... 5

Figura 3.3 – Representação esquemática do processo Arame Tubular (Araújo,

2004). .......................................................................................................... 9

Figura 3.4 – Geometria do cordão de solda. Esquerda: arame maciço com

formação do finger; direita: Arame Tubular, (Araújo, 2004). ..................... 12

Figura 3.5 – Principais variáveis do modo pulsado. ......................................... 14

Figura 3.6 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo

pulsado. A linha vermelha corresponde à corrente média de soldagem... 15

Figura 3.7 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo

pulsado com pulsação térmica. A linha vermelha corresponde à corrente

média durante o período de base térmica (160A) e o período de pulso

térmico (240A). A linha verde indica a corrente média de soldagem

resultante (200A)....................................................................................... 17

Figura 3.8 – Regiões de uma junta soldada..................................................... 18

Figura 3.9 – Repartição térmica, (FBTS, 2000)................................................ 19

Figura 3.10 – Repartição térmica x Diagrama de Fases, (AWS,1995)............. 20

Figura 3.11 – Ciclo térmico de uma junta soldada (metal base Aço API 5L) com

arame tubular (medido a 7,0mm do centro da solda) utilizando-se

temperaturas de pré-aquecimento (Tpa) de 25°C e 95°C, (Santos Neto,

2003). ........................................................................................................ 20

Figura 3.12 – Influência do pré-aquecimento na largura e na dureza da zona

termicamente afetada. Caso 1 sem pré-aquecimento onde B – A

corresponde à largura da ZTA. Caso 2 com pré-aquecimento onde C – A

corresponde à largura da ZTA, (AWS,1995). ............................................ 21

Figura 3.13 – Influência do pré-aquecimento na microestrutura da ZTA de uma

junta soldada (metal base Aço API 5L X 70) com arame tubular; esquerda:

pré-aquecimento de 25°C, e direita: pré-aquecimento de 95°C, (Santos

Neto, 2003). .............................................................................................. 22

Page 12: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

xii

Figura 3.14 – Crescimento competitivo de grãos na zona fundida, (Kou, 1987).

.................................................................................................................. 23

Figura 3.15 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, conforme

Tabela III.1, (Modenesi, 2004). ................................................................. 25

Figura 3.16 – Crescimento epitaxial, solidificação da zona fundida, (FBTS,

2000). ........................................................................................................ 26

Figura 4.1 – Fluxograma de condução dos experimentos................................ 28

Figura 4.2 – Fotos da bancada com sistema de deslocamento, sistema de

fixação da chapa, fonte de soldagem e geometria da junta. ..................... 31

Figura 4.3 – Tipos de tecimento utilizados. ...................................................... 35

Figura 4.4 – Corpo de prova de tração transversal. ......................................... 36

Figura 4.5 – Dimensões (mm) do Corpo de prova de tração transversal. ........ 36

Figura 4.6 – Corpo de prova de Charpy (transversal) com entalhe na ZTA

(esquerda) e com entalhe na solda (direita).............................................. 37

Figura 4.7 – Dimensões (mm) dos Corpos de prova de Charpy (transversal)

com entalhe na solda (esquerda) e com entalhe na ZTA (direita)............. 37

Figura 4.8 – Distribuição dos pontos de medição de dureza nas regiões da

junta soldada............................................................................................. 38

Figura 5.1 – Comparativo das micrografias dos ensaios preliminares. ............ 40

Figura 5.2 – Comparativo de dureza (HV5) dos ensaios preliminares mostrando

o efeito da pulsação térmica na dureza do metal de solda (parâmetros de

soldagem conforme Tabela IV.5). ............................................................. 41

Figura 5.3 – Chapas de teste soldadas sem sucesso. ..................................... 42

Figura 5.4 – Chapas de teste MIG/MAG pulsado térmico (3-GMAW). ............. 42

Figura 5.5 – Chapas de teste Arame Tubular pulsado térmico (3-FCAW). ...... 43

Figura 5.6 – Macrografias das juntas soldadas pelos processos MIG/MAG e

Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.................. 45

Figura 5.7 – Visão geral da microestrutura das regiões da junta soldada pelos

processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e

2-FCAW. ................................................................................................... 46

Figura 5.8 – Micrografias mostrando as microestruturas do metal de solda para

os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW................................................... 47

Figura 5.9 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona Termicamente

Afetada (ZTA) para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW. .................. 48

Page 13: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

xiii

Figura 5.10 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona de Ligação

para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW........................................... 49

Figura 5.11 – Limite de resistência médio para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e

2-FCAW. Todos os corpos de prova romperam no metal de base. .......... 50

Figura 5.12 – Corpos de prova de tração, mostrando o rompimento no metal de

base. ......................................................................................................... 51

Figura 5.13 – Energia média absorvida (J) no ensaio de Charpy a –20ºC, para

entalhe no metal de solda e na ZTA. ........................................................ 52

Figura 5.14 – Perfil de dureza (HV5) na linha superior. ................................... 53

Figura 5.15 – Perfil de dureza (HV5) na linha intermediária............................. 54

Figura 5.16 – Perfil de dureza (HV5) na linha inferior. ..................................... 54

Figura 5.17– Comparativo de dureza (HV5) nas regiões da junta soldada. ..... 55

Page 14: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

xiv

ÍNDICE DE TABELAS Tabela III.1 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, segundo o IIW.

.................................................................................................................. 25

Tabela IV.1 – Composição química (%) do metal de base conforme norma

ASTM A283 (2000). .................................................................................. 30

Tabela IV.2 – Propriedades mecânicas de tração do metal de base conforme

norma ASTM A283 (2000). ....................................................................... 30

Tabela IV.3 – Composição química (%) do metal depositado. ......................... 30

Tabela IV.4 – Propriedades mecânicas do metal depositado. ......................... 30

Tabela IV.5 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios preliminares... 32

Tabela IV.6 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios finais.............. 34

Tabela V.1 – Análise dos resultados do ensaio de tração utilizando a Tabela de

distribuição t de Student com grau de risco de 5%. .................................. 50

Tabela V.2 – Análise dos resultados do ensaio de charpy a –20ºC, para entalhe

no metal de solda e na ZTA, utilizando a Tabela de distribuição t de

Student com grau de risco de 5%. ............................................................ 52

Page 15: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

1

1 INTRODUÇÃO

A soldagem é aplicada em grande escala nas diversas atividades

industriais: como a Automobilística, de Refino, Petroquímica, Naval, etc. Em

todos estes casos, há uma contínua busca da melhoria na qualidade das

juntas soldadas de responsabilidade como em tubulações, vasos, tanques,

estruturas metálicas, estruturas de automóveis, entre outras. Para isto faz-

se necessário um investimento em pesquisas e desenvolvimento dos

processos de soldagem, bem como a caracterização destes processos para

facilitar a seleção do método mais adequado para cada aplicação

específica.

Os processos semi-automáticos MIG/MAG e Arame Tubular são

amplamente utilizados, devido a sua ampla faixa de aplicação em termos de

espessuras e materiais utilizados, além da sua alta produtividade quando

comparado com o processo eletrodo revestido.

Tanto o processo MIG/MAG quanto o processo Arame Tubular podem

ser automatizados, com a utilização de mecanismos de deslocamento para

as pistolas de soldagem ou para a própria peça a ser soldada.

Neste trabalho foi feita uma análise comparativa destes dois processos,

utilizando o modo de corrente pulsada com pulsação térmica. Este modo de

corrente surgiu recentemente na década de 90, sendo ainda um método

não muito conhecido nos ramos da indústria.

A utilização do modo pulsado térmico para o processo Arame Tubular é

novo em termos de pesquisas. Outra novidade foi a utilização de duas

misturas de gás de proteção para este mesmo processo, das quais uma é

indicada pela literatura para o modo pulsado e a outra é indicada e também

a mais utilizada como gás de proteção para o Arame Tubular.

Como o custo do metal de adição para aços de baixo carbono para o

processo Arame Tubular pode ser até três vezes maior em relação ao

processo MIG/MAG, faz-se necessário um estudo mais aprofundado para

determinar os benefícios metalúrgicos e mecânicos de cada um destes

processos, visto que a produtividade de ambos é semelhante.

Page 16: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

2

Por este motivo este projeto objetivou uma maneira de contribuir com

informações e resultados sobre o comportamento dos processos MIG/MAG

e Arame Tubular perante o modo pulsado térmico para auxiliar na

implantação deste método na indústria.

Este trabalho foi desenvolvido com uma revisão bibliográfica sobre os

assuntos relacionados a estes processos. A caracterização e as

comparações foram baseadas no comportamento dos processos durante a

soldagem, nas microestruturas obtidas e nas propriedades mecânicas das

juntas soldadas.

2 OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo principal a ampliação do campo de

conhecimento sobre os processos MIG/MAG e Arame Tubular com a

utilização do modo de corrente pulsado com pulsação térmica ou

duplamente pulsado. As soldas foram executadas em chapas de aço

carbono em juntas de topo com chanfro reto.

Para alcançar este objetivo buscou-se caracterizar a relação do

processo com as microestruturas obtidas e relacioná-las com as

propriedades mecânicas das juntas soldadas.

Page 17: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 PROCESSO MIG/MAG

O processo MIG/MAG (GMAW – Gas Metal Arc Welding) é um processo

de soldagem a arco, o qual se estabelece entre o metal de base e o metal

de adição alimentado automaticamente. A Figura 3.1 representa

esquematicamente o processo MIG/MAG.

Figura 3.1 – Representação esquemática do processo MIG/MAG.

Como o arame eletrodo (metal de adição) não possui revestimento como

no processo por eletrodo revestido, a proteção do arco e da poça de fusão

no processo MIG/MAG ocorre através de um gás inerte ou ativo suprido

externamente.

Na soldagem com gás inerte (MIG) o gás utilizado pode ser Ar (Argônio),

He (Hélio) ou misturas controladas ricas em Ar complementadas com He,

O2 (oxigênio) ou CO2 (dióxido de carbono). O gás inerte não reage

metalurgicamente com a gota ou a poça de fusão, atua apenas na proteção

destas regiões e auxilia na abertura e manutenção do arco voltaico, (Quites,

2002).

Na soldagem com gás ativo (MAG) CO2 puro ou misturas (Ar + CO2) ou

(Ar + CO2 + O2), além das funções de proteção e das funções elétricas o

Page 18: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

4

gás ativo reage metalurgicamente com a gota e a poça de fusão, (Quites,

2002).

3.1.1 INFLUÊNCIA DO TIPO DO GÁS DE PROTEÇÃO NO PROCESSO MIG/MAG

Os gases de proteção, segundo sua natureza e composição, têm uma

grande influência nas características do arco, no tipo de transferência de

metal, na velocidade de soldagem, nas perdas por projeções (respingos),

na penetração e na forma externa da solda (Quites, 2002).

O gás de proteção representa apenas 3% do custo da soldagem de aço

carbono, sendo 77% de mão-de-obra, 2% de energia e 18% de arame.

Colocando os principais tipos de gases aplicados na soldagem na ordem

crescente de custo teremos a seqüência: CO2, Ar e He (Irving, 1999).

A eficiência de deposição de material com o CO2 no processo MAG é

tipicamente de 88% a 92%. Com o uso de uma mistura de Ar com 10% de

CO2 esta eficiência pode chegar entre 95% e 97% e produz menos fumos

(Irving, 1999).

Gases altamente oxidantes como CO2 puro, requer arames com

desoxidantes adicionais. Por este motivo perde-se microligas através da

reatividade do CO2 no arame de solda. Se o CO2 for trocado por uma

mistura de Ar com 8% de CO2, o arame pode ser substituído por um arame

mais barato, pela boa retenção da liga essencialmente dos gases baseados

em Ar. O inconveniente do baixo nível de CO2 é a perda da característica

de penetração da solda, sendo recomendado o uso de teores maiores de

CO2 para aços com espessura acima de 6,4mm. No modo de transferência

por curto circuito, quanto menor o teor de CO2 em uma mistura de Ar,

menor é a perda de material por respingos. As misturas triplas (Ar + CO2 +

O2) podem ser usadas para os modos de transferência por curto circuito,

spray e pulsado, com ótimos resultados, pois o O2 auxilia na estabilização

do arco a pode-se ganhar também na velocidade de soldagem (Irving,

1999).

Page 19: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

5

Além da melhoria na estabilidade do arco, o O2 adicionado na mistura

causa um aumento no comprimento, na largura e no volume da poça de

fusão. Na proporção em torno de 2% o oxigênio aumenta a tenacidade em

soldas de aços ferríticos. Mas em quantidades maiores que 8% causa

formação de escórias de difícil destacamento (Jönsson et al, 1995).

O fato da condutividade térmica do gás ser maior torna mais estreita a

coluna do plasma (vide Figura 3.2), aumenta a densidade de corrente,

aumenta a temperatura, aumenta a penetração do passe de solda,

enquanto diminui a sua largura. Por isso, é compreensível que as

propriedades do gás tenham também influência nas perdas de elementos

químicos, na temperatura da poça de fusão, na sensibilidade à fissuração e

à formação de porosidades, bem como na facilidade de execução da

soldagem nas diversas posições (Quites, 2002).

Figura 3.2 – Efeito da condutibilidade térmica do gás de proteção sobre a forma da

coluna de plasma, (Quites, 2002).

3.1.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO MIG/MAG

As principais vantagens deste processo são, (Quites, 2002; Machado,

1996):

• Processo semi-automático, podendo ser automatizado;

• Maior produção de metal depositado em relação ao eletrodo

revestido;

• Longos cordões podem ser feitos sem parada, devido a alimentação

contínua do arame;

Page 20: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

6

• Grande versatilidade quanto à aplicação de materiais e espessuras;

• Soldagem pode ser feita em todas as posições;

• Limpeza mínima após a soldagem devido a inexistência de escória

pesada;

• Menor exigência de habilidade do soldador comparado ao processo

com eletrodo revestido;

As principais limitações deste processo são, (Quites, 2002; Machado,

1996):

• A variedade de arames disponíveis é relativamente pequena,

cabendo mencionar que materiais que não tenham suficiente

ductilidade para serem trefilados não podem ser transformados em

arame maciço para soldagem por este processo;

• O equipamento de soldagem é mais complexo, mais caro e menos

portátil do que o do eletrodo revestido;

• O arco deve estar protegido de correntes de ar que possa dispersar o

gás de proteção, dificultando a soldagem em campo;

• Dificuldade na soldagem em locais de difícil acesso, pelo tamanho da

pistola de soldagem e pela proximidade entre o bocal e a peça

exigida pelo processo.

3.1.3 PRINCIPAIS VARIÁVEIS DE SOLDAGEM

Podemos citar como principais variáveis na soldagem MIG/MAG: a

intensidade de corrente, tipo de polaridade, tensão de soldagem, velocidade

de soldagem, comprimento do eletrodo (stick out).

A intensidade da corrente de soldagem influi diretamente na taxa de

consumo de material de adição, na penetração da solda e na energia

específica de soldagem, (Quites, 2002; Machado, 1996).

O tipo de polaridade mais usada no processo MIG/MAG é a inversa

onde a corrente é contínua e o eletrodo está no pólo positivo (CC+). Nesta

polaridade o arco torna-se mais estável (MACHADO, 1996). A polaridade

direta (CC-), onde o eletrodo está ligado no pólo negativo, não apresenta

aplicação prática na soldagem com o processo MIG/MAG. A técnica de

Page 21: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

7

soldagem com a utilização da corrente alternada (CA) ainda está sendo

estuda e aprimorada, (Quites, 2002; Machado, 1996).

A tensão de soldagem influencia diretamente na energia específica de

soldagem, na largura do cordão, na altura do arco e no modo de

transferência de metal. De modo geral em níveis tensões baixas tem-se a

transferência de material por curto-circuito e em elevadas tensões tem-se a

transferência por spray, (Quites, 2002; Machado, 1996).

A velocidade de soldagem é a velocidade relativa entre a pistola de

soldagem e a peça a ser soldada. Para uma certa condição de soldagem,

quando é utilizada uma velocidade de soldagem relativamente alta, a

penetração da solda diminui, a energia específica de soldagem também

diminui, e o contrário ocorre em baixas velocidades de soldagem, (Quites,

2002; Machado, 1996).

O comprimento do eletrodo é o comprimento do arame está projetado

em relação ao bico de contato até o início do arco, conforme mostrado na

Figura 3.1. Este trecho de arame por onde passa corrente elétrica gera-se

calor por efeito Joule. Quanto maior o comprimento do eletrodo, maior será

o calor gerado por efeito Joule e conseqüentemente terá um acréscimo na

taxa de fusão de material. Este calor gerado influi diretamente na taxa de

fusão de material, (Quites, 2002; Machado, 1996).

3.1.4 MODOS DE TRANSFERÊNCIA DE METAL DE ADIÇÃO

O modo de transferência de material no processo MIG/MAG influi na

geometria e nas propriedades da solda, nas características do processo,

estabilidade do arco, a aplicabilidade em determinadas posições de

soldagem, na quantidade de respingos, entre outras (Quites, 2002).

Experimentos mostraram que o modo de transferência no processo

MIG/MAG influi no nível de ruído durante a soldagem. Colocando os modos

de transferência na ordem crescente de ruído temos a seguinte seqüência:

spray (71dB – 75dB), pulsado (82dB – 88dB), curto circuito (86dB – 88dB) e

Page 22: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

8

o globular (88dB – 90dB); sendo dB a pressão sonora medida a um raio de

1m a partir do arco segundo a AWS F6.1, (Castner, 1997).

A transferência de metal depende do tipo de gás de proteção, do tipo e

intensidade de corrente de soldagem, do comprimento do eletrodo, diâmetro

e composição química do eletrodo.

Basicamente, os principais modos de transferência de metal são: curto

circuito, globular, spray e o pulsado.

a) Transferência por curto circuito – Na transferência por curto circuito o

material é transferido para a poça de fusão somente quando ocorre o

contato do arame com a poça, não ocorre transferência de material pelo

arco elétrico. O curto circuito ocorre em níveis relativamente baixos de

corrente e tensão, possibilitando assim a soldagem de pequenas

espessuras. No modo curto-circuito é possível a soldagem em todas as

posições, (Quites, 2002).

b) Transferência globular – Ocorre em níveis de tensão mais elevados que

no curto-circuito. As gotas de metal fundido são transferidas para a poça

de fusão principalmente pela ação da força gravitacional, o que limita a

soldagem somente na posição plana. O diâmetro das gotas é maior que

o diâmetro do arame. É comum neste modo de transferência a

ocorrência de falta de fusão, falta de penetração e respingos. Não é um

modo muito utilizado nas indústrias, (Quites, 2002).

c) Transferência por spray – A partir do globular, com o aumento da

corrente de soldagem, o diâmetro das gotas de metal que se transferem

para a peça diminui, até uma certa faixa de corrente onde o modo de

transferência muda bruscamente de globular para spray. Esta corrente

na qual ocorre esta mudança de modo de transferência é chamada de

corrente de transição. As gotas desta vez são pequenas e são

destacadas da ponta do arame devido a certas forças magnéticas que

atuam nas direções radiais e axiais. O cordão tem um bom acabamento

e praticamente não há respingos. Devido aos altos níveis de corrente, a

soldagem se torna difícil nas posições vertical e sobre cabeça, podendo

ocorrer escorrimento a partir da poça de fusão. No spray, um arco alto

(aproximadamente 33V) e uma certa quantidade de oxigênio no gás de

proteção mantém a estabilidade do arco, (Modenesi et al, 1994).

Page 23: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

9

d) Transferência por corrente pulsada – É o modo de transferência

controlada que se dá através do controle da forma de onda da corrente

de soldagem, utilizando a corrente pulsada. O pulsado une as vantagens

da transferência por spray, mas em níveis menores de corrente média,

permitindo a sua utilização em chapas finas e a soldagem em todas as

posições. No pulsado existem dois níveis de corrente, um acima da

corrente de transição (corrente de pulso) que atua num intervalo de

tempo (tempo de pulso) e outro a baixo da corrente de transição

(corrente de base) que atua no intervalo de tempo (tempo de base). O

destacamento da gota formada na ponta do arame ocorre quando se

sobrepõe a corrente de pulso. O diâmetro da gota é aproximadamente o

mesmo do eletrodo.

3.2 PROCESSO ARAME TUBULAR

O processo Arame Tubular (FCAW – Flux Cored Arc Welding) é o

processo de soldagem através de um arco elétrico que se estabelece entre

o metal de base e o metal de adição (um arame tubular) alimentado

automaticamente. A Figura 3.3 representa esquematicamente o processo

Arame Tubular.

Figura 3.3 – Representação esquemática do processo Arame Tubular (Araújo, 2004).

Page 24: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

10

Basicamente a diferença deste processo em relação ao MIG/MAG é o

metal de adição que desta vez é um arame tubular que contém no seu

interior um fluxo em forma de pó. Este fluxo contém elementos

desoxidantes, elementos que auxiliam na proteção e estabilidade do arco, e

também pode conter elementos de liga. Existem duas variantes do processo

Arame Tubular. A primeira é a utilização de arames autoprotegidos, cujos

elementos contidos no fluxo são suficientes para promover a proteção do

arco e da poça de fusão sem a utilização de proteção gasosa suprida

externamente. A segunda é a utilização de arames que exigem uma

proteção gasosa complementar, (AWS, 1995).

Os gases de proteção usados neste processo são os gases ativos. O

mais utilizado é o dióxido de carbono puro (CO2) e mistura deste com

Argônio (CO2 + Ar), (AWS, 1995).

O equipamento utilizado é muito semelhante ao utilizado no processo

MIG/MAG, poucas mudanças são necessárias para a soldagem com arame

tubular, exceto para arames autoprotegidos, pois exigem também

mudanças na pistola de soldagem.

As variáveis de soldagem e os modos de transferência são os mesmos

do MIG/MAG.

3.2.1 APLICAÇÕES

Este processo é utilizado na soldagem de uma ampla variedade de

materiais e espessuras. Nas indústrias pode ser aplicado em tubulações

industriais, tanque de armazenamento, vasos de pressão, pontes,

estruturas, plataformas marítimas, etc. Apresenta um bom comportamento

inclusive na aplicação em campo, devido à proteção do arco suportar altas

correntes de ar, por exemplo, quando utilizado arame auto protegido, estas

correntes de ar podem chegar a 10m/s (Quites, 2002).

Page 25: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

11

3.2.2 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO PROCESSO ARAME TUBULAR

As principais vantagens são, (Quites, 2002; Machado, 1996):

• Processo semi-automático, podendo ser automatizado;

• Maior produção de metal depositado em relação ao eletrodo

revestido;

• Solda com boa aparência;

• Exige menos operações de limpeza antes da soldagem do que o

processo MIG/MAG;

• Mais tolerante ao efeito do vento;

• Maior variedade de materiais que podem ser soldados devido a

possibilidade de adição de elementos de liga no fluxo;

As principais limitações são, (Quites, 2002; Machado, 1996):

• Necessidade de um equipamento mais complexo que o processo por

eletrodo revestido;

• O processo produz uma escória espessa que deve ser removida;

• Os eletrodos tubulares são mais caros que os arames maciços,

exceto para alguns aços de alta liga;

• Geram-se mais fumos e gases que o processo MIG/MAG.

3.2.3 GENERALIDADES

Experimentos mostraram que o aumento da corrente de soldagem, para

o arame E71-T1, causa o aumento na concentração de hidrogênio difundido

na solda, mas quanto maior o stick out, menor é esta concentração de

hidrogênio difundido, (Harwig et al, 1999).

A concentração de hidrogênio no metal de solda pode chegar a

6,79ml/100gr, para corrente de soldagem em torno de 200A, (Bracarense et

al, 2001).

Page 26: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

12

O aumento de 50% na corrente de soldagem, para o arame E71-T1,

gera um aumento do tamanho das gotas, no modo globular, em cerca de

20%, (Bracarense et al, 2001).

Na soldagem multi-passes de chapas espessas (exemplo, 50mm) pelo

processo Arame Tubular, está sujeito ao aparecimento de trincas

transversais quando as temperaturas de pré-aquecimento e interpasse

estão abaixo de 30ºC; e quando se aplicam temperaturas de pré-

aquecimento de 100ºC e interpasse de 120ºC estas trincas são inexistentes,

(Lee et al, 1998; Bauné et al, 2000; Lee et al, 2001).

A soldagem de tubos de aço API 5L gr X65 pelo processo Arame

Tubular, mostra uma redução da dureza na ZTA em torno de 13%

comparando-se a soldagem com temperatura de pré-aquecimento de 25ºC

(225HV de dureza máxima na ZTA) e de 250ºC (195HV de dureza máxima

na ZTA), (Santos Neto, 2003). Neste mesmo trabalho, Santos Neto mostrou

que a diferença morfológica, de microdureza e de microestrutura, entre a

soldagem com temperatura de pré-aquecimento de 180ºC e 250ºC, são

mínimas não justificando o uso de temperaturas de pré-aquecimento de

250ºC.

A diferença entre a geometria do cordão na soldagem com Arame

Tubular e Arame maciço (MIG/MAG) se dá devido ao comportamento do

arco e da transferência das gotas de metal fundido para a poça de fusão,

formando uma penetração profunda e estreita do tipo dediforme (finger)

para o arame maciço e uma penetração rasa, porém mais larga, conforme

mostrado na Figura 3.4, (Araújo, 2004).

Figura 3.4 – Geometria do cordão de solda. Esquerda: arame maciço com formação do

finger; direita: Arame Tubular, (Araújo, 2004).

Page 27: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

13

3.3 MODO PULSADO

A utilização da corrente pulsada teve início na década de 60, sendo

aplicada na soldagem de alumínio. Nesta época as fontes de soldagem só

geravam corrente na forma de ondas senoidais com freqüência limitada

pela freqüência da rede de alimentação, 50/60Hz, tornando difícil o controle

do processo. Atualmente com o desenvolvimento da eletrônica, as fontes

geram diversos formatos de onda de corrente, possibilitando a adequação

do formato da onda ao processo melhorando o controle da soldagem, em

termos de destacamento de gotas, aporte térmico, agitação da poça de

fusão e penetração da solda, (Barra, 2003; Subramaniam et al, 1999).

3.3.1 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO

Segundo Barra, 2003; as principais vantagens e desvantagens do modo

pulsado são:

Vantagens:

• Obtenção da transferência por spray em corrente média inferior a

corrente de transição;

• Redução ou eliminação na incidência de respingos e na geração de

fumos;

• Possibilidade de soldagem de espessuras menores quando

comparado com o modo convencional (menor aporte térmico);

• Possibilidade de soldagem em todas as posições.

Desvantagens:

• Necessidade de mão-de-obra mais qualificada, devido à

complexidade na escolha dos parâmetros;

• Exige fontes de soldagem mais caras do que no modo convencional;

Page 28: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

14

• Maior emissão de raios ultravioleta pelo arco.

3.3.2 CONTROLE DO MODO PULSADO

As principais variáveis do modo pulsado são: corrente de base (Ib),

corrente de pulso (Ip), tempo de base (tb) e tempo de pulso (tp), conforme

mostrado na Figura 3.5.

Figura 3.5 – Principais variáveis do modo pulsado.

Para obtermos um ótimo controle do modo pulsado, é necessário se

fazer uma combinação destas variáveis de acordo com a velocidade de

alimentação do arame.

Para que esta combinação garanta um processo de transferência

estável, é necessário satisfazer três condições, (Barra, 2003; Subramaniam

et al, 1999):

1) Igualdade entre a taxa de alimentação e a taxa de fusão do arame. Se a

taxa de alimentação do arame for maior do que a taxa de fusão do

arame, haverá o aumento do comprimento do eletrodo acarretando na

ocorrência de curto circuito. Se a taxa de alimentação for menor do que a

de fusão do arame, o comprimento do eletrodo diminuirá, aumentando a

altura do arco e causando a fusão do bico de contato.

Page 29: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

15

2) Destacamento de apenas uma gota por pulso. Durante todo o regime de

soldagem deverá ser garantido que a transferência desta gota ocorra na

fase final de cada pulso. Esta condição garante uma transferência

metálica estável produzindo um cordão com acabamento e penetração

uniformes. Para garantir esta condição, nesta pesquisa foi utilizada a

análise dos oscilogramas obtidos através de um sistema de aquisição de

dados denominado SAP, desenvolvido pela Universidade Federal de

Santa Catarina. Estes oscilogramas são a representação da corrente de

soldagem em função do tempo (Is x t) e da tensão de soldagem em

função do tempo (U x t). O momento do destacamento da gota pode ser

observado devido uma perturbação no sinal de tensão de

aproximadamente 0,5V devido ao “empescoçamento” da gota.

3) Manutenção do arco na fase de base. A combinação corrente de base e

tempo de base tem simplesmente a função de garantir a manutenção do

arco elétrico entre os pulsos, aquecimento resistivo do eletrodo e a

limpeza catódica.

A Figura 3.6 ilustra a forma da onda de corrente utilizada no pulsado.

Figura 3.6 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo pulsado. A linha vermelha corresponde à corrente média de soldagem.

Page 30: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

16

3.4 MODO PULSADO TÉRMICO

No Brasil, o início das pesquisas sobre o MIG/MAG pulsado com

pulsação térmica teve início na década de 90. O pulsado térmico une as

características do MIG/MAG pulsado com as vantagens do TIG pulsado,

(Barra, 2003).

A pulsação térmica é uma técnica dinâmica de refinamento de grãos,

através de nucleação heterogênea devido à agitação da poça de fusão,

(Kou, 1987).

3.4.1 PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MODO PULSADO TÉRMICO

Segundo Barra, 2003; as principais vantagens e desvantagens do modo

pulsado são:

Vantagens:

• Controle sobre o tamanho da poça de fusão;

• Boa penetração e redução da espessura mínima a ser soldada;

• Nível de freqüência adequado para ter efeito na poça de fusão

(freqüência térmica na faixa de 0,5 a 10Hz);

• Curto espaço de tempo em temperaturas elevadas;

• Redução de porosidades e mordeduras

Desvantagens:

• Formação de pontos de concentração de tensão para valores baixos

de freqüência térmica, devido à formação de escamas na superfície

do cordão;

• Diferentes níveis de diluição entre as fases de pulso e base térmica.

Page 31: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

17

3.4.2 CONTROLE DO MODO PULSADO TÉRMICO

O pulsado térmico é a combinação de duas fases, base térmica (bt) e

pulso térmico (pt), as quais permanecem em um determinado tempo, tempo

de base térmica (Tbt) e tempo de pulso térmico (Tpt). A base térmica e o

pulso térmico são combinações dos parâmetros de tempo, corrente e

velocidade de arame do MIG/MAG pulsado que irá gerar uma corrente

média de base térmica (Imbt) e uma corrente média de pulso térmico (Impt),

respectivamente. Esta variação da corrente média no decorrer do tempo

provoca uma variação do aporte térmico e conseqüentemente submete o

material a um ciclo térmico durante a soldagem.

Além da variação do aporte térmico, a pulsação da velocidade de arame

provoca uma mudança cíclica na geometria do cordão, tanto na superfície

quanto na forma da penetração do cordão, formando o efeito serrilhado

observado quando e feito um corte longitudinal ao cordão de solda (Barra,

2003). A Figura 3.7 mostra o comportamento da corrente de soldagem em

função do tempo para o modo pulsado térmico.

Figura 3.7 – Exemplo da forma de onda da corrente x tempo para o modo pulsado com pulsação térmica. A linha vermelha corresponde à corrente média durante o período de

base térmica (160A) e o período de pulso térmico (240A). A linha verde indica a corrente média de soldagem resultante (200A).

Page 32: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

18

3.5 METALURGIA DA SOLDAGEM

3.5.1 REGIÕES DA JUNTA SOLDADA

Em juntas soldadas, as principais regiões analisadas, em termos de

microestrutura, são: zona fundida ou metal de solda, zona termicamente

afetada (ZTA) e zona de ligação. Na Figura 3.8 estas regiões podem ser

observadas.

Figura 3.8 – Regiões de uma junta soldada.

As características microestruturais destas regiões dependem

basicamente das condições térmicas na qual a junta foi submetida e da

composição química do metal de base e do metal de adição.

3.5.2 APORTE TÉRMICO

As temperaturas nas quais a junta soldada é submetida durante a

soldagem depende basicamente da energia de soldagem e da temperatura

de pré-aquecimento.

A energia de soldagem (Heat input) absorvida pela junta soldada é dada

pela Equação 1.

vIUE ××⋅= 60η (1)

Page 33: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

19

onde:

E → Energia de soldagem [J/cm]

η → Rendimento do arco

U → Tensão de soldagem [V]

I → Corrente de soldagem [A]

v → Velocidade de soldagem [cm/min]

O rendimento do arco varia de acordo com o processo de soldagem,

sendo η = 0,80 para o processo Arame Tubular e η = 0,78 para o processo

MIG/MAG, (Quites, 2002).

A repartição térmica de uma junta soldada é representada pelas

máximas temperaturas atingidas ao longo da seção transversal da junta,

conforme ilustrado na Figura 3.9. A repartição térmica tem influência direta

na microestrutura da junta, conforme ilustrado na Figura 3.10.

Altas taxas de resfriamento e a composição de grãos grosseiros podem

promover a formação de fases frágeis e duras no metal fundido e na ZTA de

aços soldados. Aliado a estes fatores, a presença de hidrogênio difundido

no processo de soldagem pode levar ao trincamento a frio do conjunto

soldado, (Kou, 1987).

Figura 3.9 – Repartição térmica, (FBTS, 2000).

Page 34: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

20

Figura 3.10 – Repartição térmica x Diagrama de Fases, (AWS,1995).

Figura 3.11 – Ciclo térmico de uma junta soldada (metal base Aço API 5L) com arame

tubular (medido a 7,0mm do centro da solda) utilizando-se temperaturas de pré-aquecimento (Tpa) de 25°C e 95°C, (Santos Neto, 2003).

Page 35: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

21

3.5.3 ZONA TERMICAMENTE AFETADA

A Zona Termicamente Afetada (ZTA) é a região da junta soldada,

localizada ao lado da zona fundida, a qual sofre alterações microestruturais

devido ao ciclo térmico sofrido por esta região durante a soldagem.

A largura da ZTA é influenciada pelo aporte térmico (heat input). A

Figura 3.12 mostra a influência do pré-aquecimento na largura da ZTA e na

dureza desta região. O pré-aquecimento aumenta a energia final de

soldagem, aumentando assim a largura da ZTA, mas este pré-aquecimento

diminui significativamente a taxa de resfriamento, promovendo uma redução

da dureza nesta região. Esta redução na dureza diminui a susceptibilidade

desta região sofrer fissuração por corrosão sob tensão quando a junta é

submetida a serviços com H2S, por exemplo, (AWS, 1995).

Figura 3.12 – Influência do pré-aquecimento na largura e na dureza da zona

termicamente afetada. Caso 1 sem pré-aquecimento onde B – A corresponde à largura da ZTA. Caso 2 com pré-aquecimento onde C – A corresponde à largura da ZTA,

(AWS,1995).

Page 36: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

22

A soldagem com pré-aquecimento de 25°C apresentou grãos mais

grosseiros na ZTA se comparado com a soldagem com pré-aquecimento de

95°C, conforme mostrado na Figura 3.13, (Santos Neto, 2003).

Figura 3.13 – Influência do pré-aquecimento na microestrutura da ZTA de uma junta

soldada (metal base Aço API 5L X 70) com arame tubular; esquerda: pré-aquecimento de 25°C, e direita: pré-aquecimento de 95°C, (Santos Neto, 2003).

Uma alternativa para reduzir a dureza na ZTA é a utilização de um

cordão de revenimento, o qual é aplicado sobre os passes de acabamento,

próximo a margem da solda em juntas multi-passes, este passe de

revenimento pode diminuir em até 20% a dureza máxima da ZTA, (Kiefer,

1995).

3.5.4 ZONA FUNDIDA

A Zona fundida é a região na qual, durante a soldagem, ocorreu a fusão

do metal de solda e também a diluição entre metal de base e metal de

solda.

Um fenômeno que ocorre nesta região é o crescimento competitivo de

grãos. Durante a solidificação, os grãos tendem a crescer na direção

perpendicular à interface líquido/sólido, desde que esta é a direção do

gradiente máximo de temperatura e, portanto, a direção da força máxima

para solidificação. Apesar disto, os grãos também tem sua própria direção

preferencial de crescimento, chamada de direção de crescimento fácil, por

exemplo, direção <100> em metais cúbicos de face centrada (c.f.c.) e

cúbicos de corpo centrado (c.c.c.), e direção <1010> em hexagonal

Page 37: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

23

compacto (h.c.p.). Portanto, durante a solidificação, grãos com sua direção

de crescimento fácil na direção do gradiente máximo de temperatura

crescem e barram o crescimento de outros grãos cuja direção de

crescimento não está orientada na direção do gradiente máximo de

temperatura, (Kou, 1987). Este fenômeno é ilustrado na Figura 3.14.

Figura 3.14 – Crescimento competitivo de grãos na zona fundida, (Kou, 1987).

As principais fases da Zona Fundida em aços de baixo carbono são:

(ASM, 1997)

1) Ferrita primária:

a. Ferrita no contorno de grão: ferrita pro-eutetóide que cresce ao

longo da austenita primária nos contornos de grão. É equiaxial ou

poligonal, e pode ocorrer em veios.

b. Ferrita poligonal intragranular: ferrita poligonal que não é

associada à austenita primária nos contornos de grão. É muito

maior que a largura média das ripas de ferrita acicular.

2) Ferrita com segunda fase:

a. Com alinhamento da segunda fase: ripas de ferrita paralelas

classificadas como ferrita de Widmastatten e bainita (superior /

inferior)

b. Com a segunda fase não alinhada: ferrita randomicamente

distribuída, ou ripas isoladas de ferrita.

c. Agregado de ferrita com carboneto: uma estrutura fina de ferrita

com carboneto incluindo perlita.

3) Ferrita acicular: pequenos grãos de ferrita não alinhada encontrada

dentro de grãos da austenita primária.

Page 38: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

24

4) Martensita: colônia de martensita maior que as ripas de ferrita

adjacentes.

Em soldas de aço baixo carbono uma grande quantidade de ferrita é

associada com altos níveis de resistência, enquanto que microestruturas

como martensita e bainita estão associadas a um baixo nível de resistência.

Martensita e bainita são também associadas a altas taxas de

resfriamento, assim diminuindo a quantidade de manganês, ou reduzindo a

taxa de resfriamento com o aumento do aporte térmico ou pré-aquecimento,

a quantidade de ferrita acicular aumenta, melhorando assim a resistência da

solda.

A caracterização microestrutural das soldas tem dois propósitos básicos:

avaliar a microestrutura com as respectivas propriedades, e relacionar a

microestrutura com o processo de soldagem utilizado.

O objetivo é aperfeiçoar o processo de soldagem para produzir a

microestrutura desejada.

Em geral, os efeitos do processo e dos parâmetros na microestrutura

são devido aos efeitos térmicos e de composição química. Os efeitos da

composição química estão ligados na zona de fusão, enquanto os efeitos

térmicos afetam a zona de fusão e a zona termicamente afetada (ZTA),

Os constituintes da zona fundida de aços ferríticos são identificados

segundo codificação do IIW (International Institute of Welding), conforme

descrito na Tabela III.1 e ilustrado na Figura 3.15, (Modenesi, 2004).

Page 39: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

25

Tabela III.1 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, segundo o IIW.

Figura 3.15 – Constituintes da zona fundida em aços ferríticos, conforme Tabela III.1,

(Modenesi, 2004).

M

AF

FERRITA DE CONTORNO DE GRÃO

FERRITA POLIGONAL INTRAGRANULAR

MARTENSITA

FERRITA ACICULAR

FERRITA COM SEGUNDA FASE NÃO ALINHADA

CONSTITUINTE CÓDIGO

FCAGREGADO FERRITA CARBONETO

FERRITA COM SEGUNDA FASE ALINHADA FS(A)

FS(NA)

PF(G)

PF(I)

FERRITA PRIMÁRIA

Page 40: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

26

3.5.5 ZONA DE LIGAÇÃO

É a região limite entre a poça de fusão (líquida) e o metal de base

(sólido). A partir desta linha é iniciada a solidificação e o crescimento dos

grãos em direção à linha central da solda formando o metal de solda. Este

processo é chamado de epitaxia ou crescimento epitaxial, (Kou, 1987). O

crescimento do grão inicia-se pelo agrupamento dos átomos da fase líquida

no substrato sólido existente, estendendo este, sem alterar a orientação

cristalográfica do substrato, conforme ilustrado na Figura 3.16.

Figura 3.16 – Crescimento epitaxial, solidificação da zona fundida, (FBTS, 2000).

Page 41: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

27

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 CONDUÇÃO DOS EXPERIMENTOS

Na primeira etapa do projeto foram feitos testes preliminares com

deposição sobre chapa para uma identificação inicial do comportamento

dos processos MIG/MAG e Arame Tubular perante a pulsação térmica. As

chapas de teste foram obtidas com deposição sobre chapa soldadas no

modo convencional e no modo pulsado térmico. Após a soldagem as

chapas de teste foram submetidas a análises microestruturais e medições

de dureza Vickers nas regiões da solda (ZTA e Zona Fundida).

Juntamente com os teste preliminares foi feito uma análise de perda de

material durante a soldagem, apenas para efeito de comparação entre os

dois processos. Esta perda de material é dada pela razão entre a massa de

arame consumido (mcons.) e a massa de material depositado (mdepos.). A

soldagem foi executada no modo convencional com deposição sobre chapa

sem interrupção do arco.

Após os testes preliminares foram executados os testes finais os quais

foram divididos em três situações distintas, diferenciando o processo e o

gás utilizado. Para cada situação foi adotada uma sigla para auxiliar na sua

identificação nas Tabelas, nos Gráficos e Figuras.

A sigla é composta por duas partes separadas por um hífen (-). A

primeira parte indica a mistura de gás utilizado, podendo ser: 3 para a

mistura tripla Ar + CO2 + O2 (composição aproximada: Ar – 90%, CO2 – 8%

e O2 - 2%) ou 2 para a mistura Ar + CO2 (composição aproximada: Ar –

75% e CO2 – 25%). A segunda parte da sigla indica o processo utilizado,

podendo ser: GMAW para o processo MIG/MAG ou FCAW para o processo

Arame Tubular.

As situações estudadas foram 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW. Para cada

situação foram soldadas cinco chapas de teste de dimensões 150x330mm

resultando em um cordão de solda com 300mm de comprimento. Para a

retirada dos corpos de prova para os ensaios de tração, dureza, impacto e

Page 42: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

28

micrografias foram descartados 50mm do início e do fim do cordão de

solda.

A soldagem foi executada em juntas de topo com chanfro reto na

posição plana “1G” (AWS D1.1, 2002) e com cobre-junta.

A condução dos experimentos pode ser mostrada de maneira

simplificada através do fluxograma representado na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Fluxograma de condução dos experimentos.

4.1.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os resultados dos ensaios de dureza, Charpy e tração foram submetidos

a um tratamento estatístico. A análise adotada foi a Distribuição t de

Student, por ser a mais indicada quando a amostra é pequena, ou seja,

Page 43: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

29

n<30. Neste caso n corresponde à quantidade de corpos de prova

ensaiados em uma determinada condição. Esta análise determina um

intervalo estimado para a média populacional na qual pode-se fixar um certo

nível de confiança, neste trabalho foi adotado um nível de confiança de

95%. O intervalo é dado pelo Limite Inferior e pelo Limite Superior de

Confiança os quais são determinados segundo as Equações 2, 3 e 4.

nt σε ⋅= (2)

εµ −=LIC (3)

εµ +=LSC (4)

Onde:

ε – Margem de Erro

t – t de Student (tabelado)

σ – desvio padrão

µ – média

LIC – Limite Inferior de Confiança

LSC – Limite superior de Confiança

4.2 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM

Para a confecção das chapas de teste, foi utilizado como metal de base

um aço carbono conforme especificação ASTM A283 grau C, com

espessura de 4,75mm. Esta espessura foi escolhida para possibilitar a

soldagem da junta em um único passe.

A composição química está relacionada na Tabela IV.1, e as

propriedades mecânicas de tração estão relacionadas na Tabela IV.2.

Page 44: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

30

Tabela IV.1 – Composição química (%) do metal de base conforme norma ASTM A283 (2000).

Tabela IV.2 – Propriedades mecânicas de tração do metal de base conforme norma ASTM A283 (2000).

Como metal de adição, para o processo MIG/MAG, foi utilizado o arame

de classificação ER70-S6, conforme especificação AWS A5.18 (2001); e

para o processo Arame Tubular, foi utilizado o arame de classificação E71T-

1, conforme especificação AWS A5.20 (1995). As composições químicas do

metal depositado e resistência à tração, estão representadas nas Tabelas

IV.3 e IV.4.

Tabela IV.3 – Composição química (%) do metal depositado.

Tabela IV.4 – Propriedades mecânicas do metal depositado.

Page 45: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

31

Duas misturas de gás de proteção foram utilizadas. A primeira é a

mistura Ar + CO2 + O2, a qual é indicada pela literatura como a melhor

opção para o uso da corrente pulsada, (Irving, 1999). A segunda é a mistura

Ar + CO2, indicada pela norma AWS A5.20 (1995) como sendo a mistura

ideal para o arame E71-T1.

Neste trabalho foi adotada uma fonte de soldagem eletrônica multi-

processo modelo DIGITEC 300, desenvolvida pela Universidade Federal de

Santa Catarina. Esta fonte permite a seleção dos parâmetros de pulsação

térmica como tempos de base e pulso, correntes de base e de pulso,

períodos de pulsação velocidades de arame no pulso térmico e na base

térmica. A bancada de testes está representada na Figura 4.2.

Figura 4.2 – Fotos da bancada com sistema de deslocamento, sistema de fixação da

chapa, fonte de soldagem e geometria da junta.

O controle da velocidade de soldagem foi feito com auxílio de dois

equipamentos: TARTÍLOPE V1 (para deslocamento em um único eixo); e

BURNY 3 CNC (para deslocamento nos eixos X e Y).

Page 46: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

32

Durante a parametrização, para medição de corrente e tensão de

soldagem, foi utilizado um sistema de aquisição portátil (SAP), conectado

em um microcomputador.

4.2.1 TESTES PRELIMINARES

As chapas de teste foram soldadas no modo convencional (modo de

transferência por spray) e no modo pulsado com pulsação térmica, para os

processos MIG/MAG e Arame Tubular. As chapas de dimensões

150x330x4,75mm foram soldadas com deposição sobre chapa.

Os parâmetros de soldagem utilizados nos testes preliminares estão

listados na Tabela IV.5. Além destes parâmetros, consideram-se as

seguintes condições: limpeza da chapa por esmerilhamento, vazão de gás

de proteção (Ar + CO2 + O2) igual a 17,5l/min, corrente média de soldagem

300A (tanto para o modo convencional quanto para o pulsado térmico) e

velocidade de deslocamento de 90cm/min.

Tabela IV.5 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios preliminares.

Os parâmetros de pulsação térmica, utilizados nos testes preliminares,

produzem uma pulsação na corrente média de 250A (Equação 5), no

Page 47: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

33

período de base térmica em um tempo de 0,12s a 350A (Equação 2), no

período de pulso térmico em um tempo de 0,12s. A composição destas

duas correntes média resulta em uma corrente média final de 300A

(Equação 6), a mesma intensidade da corrente média utilizada no modo

convencional. A utilização de uma corrente média de soldagem de 300A

permitiu a comparação dos dois modos de corrente para uma mesma

energia de soldagem para cada processo.

As velocidades de arame para o pulsado térmico foram escolhidas de

maneira a permitir que a altura do arco permanecesse entre 5 e 7mm.

As correntes médias citadas acima são calculadas conforme Equações 5

e 6.

( ) ( )( )tbtp

tbIbtpIp+

×+×=Im (5)

( ) ( )( )TbTp

TbIbtTpIptIs+

×+×= (6)

Onde: Im – corrente média de pulso térmico ou de base térmica; Ip –

corrente de pulso; Ib – corrente de base; tp – tempo de pulso, tb – tempo de

base; Is – corrente de soldagem; Ipt – corrente média de pulso térmico; Ipb

– corrente média de base térmica; Tp – período de pulso térmico; Tb –

período de base térmica.

4.2.2 TESTES FINAIS

Os testes finais foram executados com o modo pulsado térmico tanto

para o processo MIG/MAG quanto para o Arame Tubular.

Os parâmetros de soldagem utilizados nos testes finais estão listados na

Tabela IV.6. Além destes parâmetros, consideram-se as seguintes

condições: velocidade de deslocamento de 20cm/min (sem tecimento), com

cobre-junta, abertura de raiz de 4,75mm e vazão de gás de 17,5l/min.

Page 48: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

34

Tabela IV.6 – Parâmetros de soldagem utilizados nos ensaios finais.

Os parâmetros de pulsação térmica, utilizados nos testes finais,

produzem uma pulsação na corrente média de 160A (Equação 5), no

período de base térmica em um tempo de 0,5s, a 240A (Equação 2), no

período de pulso térmico em um tempo de 0,5s. A composição destas duas

correntes média resulta em uma corrente média final de 200A, (Equação 6).

As velocidades de arame para o pulsado térmico foram escolhidas de

maneira a permitir que a altura do arco permaneça entre 5 e 7mm.

Antes da soldagem, todas as chapas foram jateadas com granalha e

escovadas com escova manual.

Foram soldadas chapas com abertura de raiz de 1,5 e 3mm com

deslocamento em uma única direção. As chapas com abertura de 1,5mm

apresentaram em toda a sua extensão falta de fusão e falta de penetração.

Com o aumento da abertura da raiz para 3mm, ocorreu a perfuração no

início da soldagem. Na tentativa de eliminar estas descontinuidades, com o

auxílio de um equipamento com deslocamento nos eixos X e Y, foi utilizado

dois tipos de tecimento, conforme mostrados na Figura 4.3.

Page 49: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

35

Figura 4.3 – Tipos de tecimento utilizados.

O tecimento reduziu os problemas de falta de fusão e falta de

penetração, porem apareceram mordeduras ao longo de todo o cordão de

solda.

A solução adotada para eliminar estes problemas foi a inclusão do

cobre-junta do mesmo material do metal de base e aumentar a abertura da

raiz para 4,75mm, conforme norma AWS D1.1 (2002) que permite a

utilização do cobre-junta tanto para o processo MIG/MAG quanto para o

processo Arame Tubular.

4.3 ENSAIOS MECÂNICOS

Os testes preliminares passaram apenas por uma avaliação da dureza, a

qual foi medida na seção transversal da solda, para o modo pulsado térmico

e para o modo convencional em ambos os processos (MIG/MAG e Arame

Tubular). As regiões avaliadas foram o metal de base, o metal de solda e a

zona termicamente afetada (ZTA).

Os testes finais passaram por uma avaliação completa, sendo adotados

os ensaios de tração, de impacto (Charpy) e de dureza. As dimensões dos

corpos de prova obedeceram à norma ASTM A370 (2003), considerando os

tamanhos reduzidos devido à espessura da chapa soldada ser de 4,75mm.

Page 50: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

36

4.3.1 ENSAIO DE TRAÇÃO

O ensaio foi executado em corpos de prova de tração transversal, no

qual o eixo longitudinal do corpo de prova é perpendicular ao eixo

longitudinal da solda. Os corpos de prova foram retirados das chapas de

teste soldadas com o modo pulsado térmico nos processos MIG/MAG, com

a mistura Ar + CO2 + O2 como gás de proteção, e no processo Arame

Tubular com as misturas Ar + CO2 + O2 e Ar + CO2 como gás de proteção.

Para cada situação foram ensaiados quatro corpos de prova, totalizando em

doze corpos de prova de tração.

Figura 4.4 – Corpo de prova de tração transversal.

Figura 4.5 – Dimensões (mm) do Corpo de prova de tração transversal.

4.3.2 ENSAIO DE IMPACTO

No ensaio de impacto (Charpy) o corpo de prova foi do tipo transversal,

onde o eixo longitudinal do corpo de prova é perpendicular ao eixo

longitudinal da solda. Foram estabelecidas duas posições para o entalhe

em “V”, um no centro da solda e outro a 2mm da margem da solda situado

na ZTA, conforme Figura 4.5. Foram retirados cinco corpos de prova de

cada chapa de teste soldada nas mesmas condições citadas para o ensaio

Page 51: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

37

de tração, totalizando trinta corpos de prova. A temperatura de ensaio foi

escolhida de acordo com a norma AWS D1.1 (2002), onde exige que os

ensaios de impacto sejam feitos a uma temperatura máxima de –18°C,

portanto foi adotada a temperatura de –20ºC.

Figura 4.6 – Corpo de prova de Charpy (transversal) com entalhe na ZTA (esquerda) e

com entalhe na solda (direita).

Figura 4.7 – Dimensões (mm) dos Corpos de prova de Charpy (transversal) com

entalhe na solda (esquerda) e com entalhe na ZTA (direita).

4.3.3 ENSAIO DE DUREZA

A avaliação da dureza foi através do método Vickers com carga de 5kgf

conforme recomendado pela norma Petrobras N-133 (2004), aplicado na

seção transversal da solda em vários pontos, espaçados igualmente, desde

o metal de base até o centro da solda, possibilitando a obtenção de um

perfil de dureza ao longo desta seção transversal.

Page 52: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

38

Figura 4.8 – Distribuição dos pontos de medição de dureza nas regiões da junta

soldada.

4.4 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL

A caracterização microestrutural foi realizada tanto para os testes

preliminares quanto para os testes finais. O método se resume em

preparação metalográfica de um corte transversal da solda, ataque químico

com o reagente Nital 2% e análise das microestruturas em um microscópio

ótico. Os resultados obtidos para as situações aplicadas foram comparados

entre si nas regiões distintas da junta soldada (o metal de base, o metal de

solda, a ZTA e a zona de ligação).

5 RESULTADOS E ANÁLISES

5.1 TESTES PRELIMINARES

Nos ensaios preliminares foi utilizada uma corrente média de 300A para

o modo convencional e o pulsado térmico, observou-se uma dificuldade de

manutenção da altura do arco constante devido aos níveis de pulsação

chegarem próximo ao limite da fonte de soldagem. O modo convencional

adotado com transferência metálica por spray, é conseguido com corrente

média em torno de 300A, não possibilitando assim a diminuição da corrente

média para execução dos ensaios. Devido esta dificuldade, os períodos de

pulsação térmica que responderam com um arco estável, ficaram com

tempo de 0,12s, correspondendo em uma freqüência térmica de 4,2Hz.

Segundo Barra (2003) os valores de freqüência térmica que causam efeito

Page 53: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

39

na poça de fusão estão entre 0,5 e 10Hz, sendo quanto menor a freqüência

térmica maior o efeito da pulsação térmica.

Para avaliar o efeito da pulsação térmica foi adotado o caminho de

analisar o comportamento dos dois processos, objeto de estudo deste

trabalho, utilizando-se uma freqüência térmica de 2Hz (tempos de pulsação

de 0,5s), com uma corrente média de soldagem de 200A mantendo a

estabilidade do arco.

Adicionalmente, têm-se os resultados da análise de perda de material

durante a soldagem a qual mostrou os seguintes valores:

• mdepos./mcons. = 1 para o arame ER70-S6 (arame maciço), ou seja,

100% do arame consumido resulta em 100% de material

depositado.

• mdepos./mcons. = 0,87 para o arame E71-T1 (arame tubular), ou

seja, perde-se 13% de material em escória e respingos.

5.1.1 MICROESTRUTURA

Inicialmente observou-se que o processo Arame Tubular produz uma

microestrutura da zona fundida muito mais refinada que a microestrutura

desta mesma região para o processo MIG/MAG, tanto no modo

convencional quanto no modo pulsado térmico. Esta diferença

microestrutural irá refletir nas propriedades mecânicas desta região.

As microestruturas obtidas pelo modo convencional para ambos os

processos mostraram uma estrutura de grãos grosseiros, em relação ao

modo pulsado térmico, conforme mostrado na Figura 5.1.

A pulsação térmica promoveu um refino de grãos na região do metal de

solda para os processos MIG/MAG e Arame Tubular, devido à agitação da

poça de fusão conforme explicado por Kou (1987).

A região da ZTA não sofreu mudança significativa em sua

microestrutura, provavelmente devido o uso de tempos de pulsação térmica

na ordem de 0,12s, sendo talvez mais acentuado este efeito para tempos

de pulsação na ordem de 0,3 a 0,5s.

Outra observação importante é a confirmação da geometria da

penetração, sendo estreita e profunda do tipo finger para a solda executada

Page 54: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

40

pelo processo MIG/MAG; e rasa, porém larga, para o Arame Tubular

conforme observado por Araújo (2004).

Figura 5.1 – Comparativo das micrografias dos ensaios preliminares.

5.1.2 ENSAIO DE DUREZA

Como reflexo da microestrutura mais refinada, a dureza da zona fundida

para o processo Arame Tubular é maior quando comparada com a dureza

desta mesma região da solda resultante do processo MIG/MAG, conforme

Figura 5.2. Esta superioridade é observada tanto para o modo convencional

quanto para o modo pulsado térmico.

O efeito da pulsação térmica causou um aumento da dureza da zona

fundida, para ambos os processos, devido ao refino de grãos desta região

conforme explicado no item anterior.

Como não houve mudança significativa na microestrutura da ZTA, a

dureza nesta região não sofreu alteração substancial com a pulsação

térmica. Fazendo uma comparação entre os processos, o MIG/MAG

Page 55: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

41

ocorreu uma tendência em formar uma ZTA com maior dureza em relação

ao Arame Tubular.

Figura 5.2 – Comparativo de dureza (HV5) dos ensaios preliminares mostrando o efeito da pulsação térmica na dureza do metal de solda (parâmetros de soldagem conforme

Tabela IV.5).

5.2 TESTES FINAIS

5.2.1 PROCEDIMENTO DE SOLDAGEM

Durante a soldagem das chapas de teste, foi observado a evolução da

execução do procedimento desde soldas com falta de penetração, falta de

fusão e perfuração, conforme mostrado na Figura 5.3; até a obtenção de

soldas livres de descontinuidades (Ensaio Visual), conforme mostrado nas

figuras 5.4 e 5.5.

O processo MIG/MAG apresentou um melhor controle do pulsado

térmico, e uma maior facilidade em se obter soldas livres de

descontinuidades (Ensaio Visual).

Na Figura 5.4 (processo MIG/MAG), foi observado a formação de

escamas no acabamento do cordão, provocada pela pulsação térmica,

Page 56: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

42

identificada como uma desvantagem deste modo por Barra (2003) devido

ao fato destas escamas gerarem um fator de concentração de tensões.

Para o processo Arame tubular, Figura 5.5, foi observado que esta

formação de escamas foi muito mais suave, reduzindo os pontos de

concentração de tensão.

Figura 5.3 – Chapas de teste soldadas sem sucesso.

Figura 5.4 – Chapas de teste MIG/MAG pulsado térmico (3-GMAW).

Page 57: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

43

Figura 5.5 – Chapas de teste Arame Tubular pulsado térmico (3-FCAW).

5.2.2 MACROGRAFIAS

A junta soldada pelo processo MIG/MAG, condição 3-GMAW

apresentada na Figura 5.6, apresentou mordedura na margem da solda de

aproximadamente 0,6mm de profundidade. Foi observada também uma

falta de fusão na raiz da solda.

Para o processo Arame Tubular, na situação 3-FCAW, foi observado um

acúmulo de escória entre a raiz da solda e o cobre-junta. Esta escória

impediu a fusão completa da raiz da solda, acarretando assim em uma falta

de penetração, a qual foi observada em outros pontos da chapa de teste.

Na situação 2-FCAW, para o Arame Tubular, observou-se a completa

fusão das faces do chanfro, produzindo uma solda sem descontinuidades

observadas na macrografia. Outra observação que pode ser feita em

relação a esta situação, é que esta foi a condição que teve a maior fusão

das chapas quando comparado com as outras situações. Esta maior fusão

ocorreu devido ä mistura utilizada para a condição 2-FCAW ter mais CO2

que a mistura utilizada para 3-GMAW e 3-FCAW. Isto comprova a

Page 58: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

44

afirmação de Irvin (1999) que quanto maior a quantidade de CO2 no gás de

proteção, maior é a penetração resultante.

Alem disto observa-se que 2-FCAW não teve problemas com falta de

fusão ou de penetração, isto devido ao cobre-junta ter ficado afastado da

chapa nesta região onde foi retirada a macrografia. Através desta

observação, pode-se concluir que para o processo Arame Tubular, não é

aconselhado o uso do cobre-junta, ou se for necessário usar um cobre-junta

com geometria adequada, para poder facilitar a segregação da escória.

Page 59: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

45

Figura 5.6 – Macrografias das juntas soldadas pelos processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

Em uma visão geral das microestruturas das condições soldadas, Figura

5.7, é possível identificar as diferenças das regiões das juntas mostrando

grãos colunares no metal de solda, estrutura grosseira na região da ZTA

devido ao efeito térmico sofrido por esta região durante a soldagem, e a

estrutura mais fina a qual corresponde ao metal de base.

4,75mm

CONDIÇÃO 3-FCAW

4,75mm

CONDIÇÃO 2-FCAW

4,75mm

CONDIÇÃO 3-GMAW

MORDEDURA

FALTA DE FUSÃO

FALTA DE PENETRAÇÃO

Page 60: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

46

Figura 5.7 – Visão geral da microestrutura das regiões da junta soldada pelos

processos MIG/MAG e Arame Tubular nas condições 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

METAL DE BASE

ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO

METAL DE SOLDA

CONDIÇÃO 3-FCAW

METAL DE BASE

ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO

METAL DE SOLDA

CONDIÇÃO 3-GMAW

METAL DE BASE

ZTA E ZONA DE LIGAÇÃO

METAL DE SOLDA

CONDIÇÃO 2-FCAW

Page 61: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

47

5.2.3 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL 5.2.3.1 ZONA FUNDIDA

A região do metal de solda (zona fundida), para os três casos estudados,

é formada pelos seguintes constituintes microestruturais (Figura 5.8):

• 3-GMAW : Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de

contorno de grão – PF(G), regiões com ferrita com segunda fase

alinhada – FS(A) e ferrita intragranular poligonal.

• 3-FCAW : Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de

contorno de grão.

• 2-FCAW: Grãos colunares de ferrita acicular – AF, com ferrita de

contorno de grão – PF(G), regiões com ferrita com segunda fase

alinhada – FS(A) e ferrita intragranular poligonal.

Figura 5.8 – Micrografias mostrando as microestruturas do metal de solda para

os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

AF PF(G)

FS(A)

PF(I)

AF

PF(G)

PF(I) PF(G)

AF FS(A)

Page 62: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

48

5.2.3.2 ZONA TERMICAMENTE AFETADA

A região da zona termicamente afetada (ZTA), para os três casos

estudados, é formada pelos seguintes constituintes microestruturais (Figura

5.9):

• 3-GMAW : Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base

e na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com

segunda fase alinhada – FS(A).

• 3-FCAW : Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base

e na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com

segunda fase não alinhada – FS(NA) e ferrita de contorno de grão

– PF(G).

• 2-FCAW: Grãos de ferrita quando se aproxima do metal de base e

na região próxima ao metal de solda apresenta ferrita com

segunda fase alinhada – FS(A).

Figura 5.9 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona Termicamente

Afetada (ZTA) para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

FS(A)

PF(G)

FS(NA)

FS(A)

Page 63: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

49

5.2.3.3 ZONA DE LIGAÇÃO

A região da zona de ligação corresponde à composição das

microestruturas observadas na região da zona fundida com as observadas

na ZTA para todos os três casos estudados, conforme Figura 5.10.

Figura 5.10 – Micrografias mostrando as microestruturas da Zona de Ligação

para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

Page 64: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

50

5.2.4 ENSAIOS MECÂNICOS

5.2.4.1 ENSAIO DE TRAÇÃO Tabela V.1 – Análise dos resultados do ensaio de tração utilizando a Tabela de distribuição t de Student com grau de risco de 5%.

Figura 5.11 – Limite de resistência médio para os casos 3-GMAW, 3-FCAW e 2-FCAW.

Todos os corpos de prova romperam no metal de base.

O ensaio de tração comprovou a integridade das juntas soldadas, pois

todos os corpos de prova romperam no metal de base com tensão máxima

de tração acima do valor mínimo de 380MPa conforme requerido na

especificação ASTM A283 grau C, para o metal de base.

Normalmente as juntas soldadas quando submetidas ao ensaio de

tração fraturam na ZTA, mas neste caso com o uso da pulsação térmica,

Page 65: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

51

todas as juntas romperam no metal base conforme exemplificado na figura

5.12.

Figura 5.12 – Corpos de prova de tração, mostrando o rompimento no metal de base.

Page 66: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

52

5.2.4.2 ENSAIO DE IMPACTO Tabela V.2 – Análise dos resultados do ensaio de charpy a –20ºC, para entalhe no metal de solda e na ZTA, utilizando a Tabela de distribuição t de Student com grau de risco de 5%.

Figura 5.13 – Energia média absorvida (J) no ensaio de Charpy a –20ºC, para entalhe

no metal de solda e na ZTA.

As soldas com Arame Tubular, 3-FCAW e 2-FCAW, apresentaram uma

maior tenacidade, com absorção de mais de 25 Joules na fratura a –20ºC

no ensaio de Charpy, quando comparado com o processo MIG/MAG. Esta

tenacidade superior ao processo MIG/MAG deve-se à menor quantidade de

ferrita de contorno de grão – PF(G) e ferrita com segunda fase alinhada –

FS(A), quando comparada com a microestrutura do metal de solda

resultante do processo MIG/MAG, situação 3-GMAW. Entre as duas

situações soldadas com o processo Arame Tubular, a 2-FCAW apresentou

microestrutura do metal de solda com menor quantidade de ferrita de

Page 67: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

53

contorno de grão – PF(G) e nenhuma ferrita com segunda fase alinhada –

FS(A), resultando na absorção de 29,8 Joules para o entalhe no metal de

solda.

A solda resultante do processo MIG/MAG, ensaio 3-GMAW, apresentou

uma baixa tenacidade absorção de 17 Joules, relacionada com a grande

quantidade de ferrita de contorno de grão – PF(G) e ferrita com segunda

fase alinhada – FS(A).

5.2.4.3 ENSAIO DE DUREZA

Os resultados do ensaio de dureza Vickers foram analisados e

comparados de acordo com os gráficos apresentados a seguir.

Figura 5.14 – Perfil de dureza (HV5) na linha superior.

Page 68: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

54

Figura 5.15 – Perfil de dureza (HV5) na linha intermediária.

Figura 5.16 – Perfil de dureza (HV5) na linha inferior.

Page 69: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

55

Figura 5.17– Comparativo de dureza (HV5) nas regiões da junta soldada.

A Figura 5.17 mostra que a dureza nas regiões da junta soldada pelo

processo MIG/MAG (3-GMAW) é menor que qualquer situação soldada com

o processo Arame Tubular, devido às diferenças microestruturais mostradas

anteriormente.

Os perfis de dureza mostraram que a soldagem com o processo

MIG/MAG, 3-GMAW, produz uma solda com menores níveis de dureza ao

longo da seção transversal inferior em relação às situações do Arame

Tubular, 2-FCAW e 3-FCAW. Além do perfil inferior, apresentou também

uma menor variação de dureza entre o metal de solda e a ZTA. Por estes

motivos o processo MIG/MAG mostrou uma melhor condição de ser

aplicado em situações onde é determinada uma dureza máxima, por

exemplo, 248HV em soldas de tubulação (material A106 ou API 5L) que

trabalham com H2S, conforme norma Petrobras N-76 (2001).

A utilização da mistura Ar + CO2 + O2 para o processo Arame Tubular,

situação 3-FCAW, resultou em uma solda com um maior gradiente de

dureza entre o metal de solda e a ZTA, quando comparado com a situação

2-FCAW. A mistura tripla como gás de proteção, para este processo, não é

indicada na soldagem de juntas as quais serão submetidas às condições

exemplificadas no parágrafo anterior.

Page 70: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

56

6 CONCLUSÃO

O modo pulsado térmico apresentou um comportamento mais estável

durante a soldagem com o processo MIG/MAG tendo maior facilidade de se

obter soldas com ótimo acabamento superficial.

Para ambos os processos, o modo pulsado térmico promoveu o

refinamento da microestrutura do metal de solda, conforme mostrado nos

testes preliminares.

O uso do cobre-junta para o processo Arame Tubular causou a retenção

de escória na raiz da solda ocasionando falta de penetração.

Conforme mostrado nos ensaios executados neste trabalho, é evidente a

influência do gás de proteção na microestrutura e conseqüentemente nas

propriedades mecânicas do metal de solda no processo arame Tubular,

situações 2-FCAW e 3-FCAW.

O processo Arame Tubular produz soldas com maior tenacidade, sendo

mais indicado nas situações onde requer uma boa resistência ao impacto.

O processo MIG/MAG produz soldas com menor perfil de dureza em sua

seção transversal, sendo indicada nas situações onde são fixados limites

máximos de dureza.

Page 71: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

57

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Estudar o efeito da pulsação térmica para soldas multi-passes.

Estudar o efeito da pulsação térmica em outros tipos de aço ao carbono

e aços inoxidáveis.

Monitorar o destacamento de gota com filmagem de alta velocidade para

o processo Arame Tubular com pulsação térmica.

Avaliar a influência da pulsação térmica na resistência do metal

depositado, utilizando ensaio de tração com corpos de prova retirados

longitudinalmente ao cordão de solda.

Estudar o comportamento à fadiga de juntas soldadas pelos modos:

convencional e pulsado térmico.

Page 72: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

58

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Araújo, W. R.; Comparação entre soldagem Robotizada com Arame Sólido e “Metal Cored” - A ocorrência do “Finger”, Belo

Horizonte, UFMG, 2004. Dissertação (Mestrado).

2. ASM, Weld Integrity and Performance, 1997

3. ASTM, Standard Specification for Low and Intermediate Tensile Strength Carbon Steel Plates, ASTM A283, 2000.

4. ASTM, Standard Test Methods and Definitions for Mechanical Testing of Steel Products, ASTM A370, 2003.

5. AWS, Structural Welding Code - Steel, AWS D1.1 (2002).

6. AWS, Specification for Carbon Steel Electrodes and Rods for Gas Shielded Arc Welding, AWS A5.18 (2001).

7. AWS, Specification for Carbon Steel Electrodes for Flux Cored Arc Welding, AWS A5.20 (1995).

8. AWS, Weldability, Welding Metallurgy, and Welding Chemistry,

1995.

9. Babu, S. S.; Quintana, A. M. and David, S. A.; Modeling Microstructure Development in Self-Shielded Flux Cored Arc Welds, Welding Journal: Apr. 2001.

10. Barbetta, P. A.; Estatística Aplicada às Ciências Sociais,

Florianópolis, 2004, 5a edição.

Page 73: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

59

11. Barra, R. Sérgio; Influência do processo MIG/MAG Térmico sobre a microestrutura e a geometria da zona fundida, Tese de

Doutorado, UFSC, 2003.

12. Bauné, E.; Bonnet, C. and Liu, S.; Reconsidering the Basicity of a FCAW Consumable – Part 1: Solidified Slag Composition of a FCAW Consumable as a Basicity Indicator, Welding Journal: pag.

57s – 65s, Mar. 2000.

13. Bracarense, A. Q.; SOUZA, R. L.; COSTA, M. C. M. S.; FARIA, P. E.;

Welding current effect on diffusible hydrogen in flux cored arc welding metal. Joining Of Materials, Inglaterra, p. 340-352, 2001.

14. Castner, H. R. and Singh, R.; Pulsed vs. Steady Current GMAW: Which is Louder? , Welding Journal: Vol. 76 pag. 47 – 51, 1997.

15. FBTS, Curso de Inspetor de Soldagem, Fundação Brasileira de

Tecnologia da Soldagem, 2000.

16. Harwig, D. D.; Longenecker; D. P. and Cruz, J. H.; Effects of Welding Parameters and Electrode Atmospheric Exposure on the Diffusible Hydrogen Content of Gas Shielded Flux Cored Arc Welds, Welding Journal: pag. 314s – 321s, Sept. 1999.

17. Irvin, B.; Shielding Gases are the Key to Innovations in Welding,

Welding Journal: pag. 37 – 41, Jan. 1999.

18. Jönsson, P. G.; Murphy, A. B. and Szekely, J., The Influence of Oxygen Additions on Argon-Shielded Gas Metal Arc Welding Processes, Welding Journal: pag. 48-s – 58-s, Feb. 1995.

19. Kiefer, J. H.; Bead Tempering Effects on FCAW Heat-Affected Zone Hardness, Welding Journal: Vol. 74 pag. 363 – 367, 1995.

Page 74: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

60

20. Kou, Sindo; Welding Metallurgy, New York: John Wiley & Sons,

1987.

21. Lee, H. W.; Kang, S. W. and Park, J. U.; Fatigue Strength Depending on Position of Transverse Cracks in FCAW Process,

Welding Journal: Jun. 2001.

22. Lee, H. W.; Kang, S. W. and Um, S. D., A Study on Transverse Weld Cracks in Thick Steel Plate with the FCAW Process,

Welding Journal: pag. 503s – 510s, Dec. 1998.

23. Machado, G. Ivan; Soldagem & Técnicas Conexas: Processos, UFRGS, 1996.

24. Modenesi, P. J.; Apostila – Soldabilidade dos Aços Transformáveis, UFMG 2004.

25. Modenesi, P. J. and Nixon, J. H.; Arc Instability Phenomena in GMA welding, Welding Journal: Vol. 73 pag. 219 – 224, 1994.

26. N-133; Soldagem, Norma Petrobras, 2004 rev. J.

27. N-76; Materiais de Tubulação, Norma Petrobras, 2001 rev. E.

28. Quites, A M.; Introdução à soldagem a Arco Voltaico, Soldasoft,

Florianópolis, 2002.

29. Santos Neto, N. F.; Caracterização de soldas em aços API 5L com diferentes arames tubulares e temperaturas de preaquecimento,

Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade

Estadual de Campinas, 2003. Dissertação (Mestrado)

Page 75: CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E …€¦ · paulo tancredo de campos caracterizaÇÃo mecÂnica e microestrutural de juntas soldadas pelos processos mig/mag (gmaw) e arame tubular (fcaw)

61

30. Subramaniam, S.; White, D. R.; Jones, J. E. and Lyons, D. W.;

Experimental Approach to Selection of Pulsing Parameters in Pulsed GMAW, Welding Journal: pag. 166s – 172s, May. 1999.