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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS COLEGIADO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA LUAN CAVALCANTE DATTOLI CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA DOS GRANITOIDES DA FAIXA ARAÇUAÍ NA REGIÃO DE ITANHÉM, EXTREMO SUL DA BAHIA. Salvador 2013

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E LITOGEOQUÍMICA … · Figura 20 – Diagrama de classificação das rochas da área de estudo proposto por Le Maitre (1989).. 57 Figura 21 – Diagrama

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

COLEGIADO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

LUAN CAVALCANTE DATTOLI

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E

LITOGEOQUÍMICA DOS GRANITOIDES DA FAIXA

ARAÇUAÍ NA REGIÃO DE ITANHÉM, EXTREMO SUL DA

BAHIA.

Salvador

2013

LUAN CAVALCANTE DATTOLI

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E

LITOGEOQUÍMICA DOS GRANITOIDES DA FAIXA

ARAÇUAÍ NA REGIÃO DE ITANHÉM, EXTREMO SUL DA

BAHIA.

Salvador

2013

Monografia apresentada como requisito parcial para

obtenção do título de bacharel em geologia pelo Instituto

de Geociências, da Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. PEDRO MACIEL DE PAULA

GARCIA

TERMO DE APROVAÇÃO

LUAN CAVALCANTE DATTOLI

CARACTERIZAÇÃO PETROGRÁFICA E

LITOGEOQUÍMICA DOS GRANITÓIDES DA FAIXA

ARAÇUAÍ NA REGIÃO DE ITANHÉM, EXTREMO SUL DA

BAHIA.

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA, PELA UNIVERSIDADE

FEDERAL DA BAHIA. REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE

BACHAREL EM GEOLOGIA.

1º Examinador - Prof. Pedro Maciel de Paula Garcia – Orientador

Mestrado em Geologia pela Universidade Federal da Bahia

Prof. Substituto IGEO/UFBA

2º Examinador - Prof. Dr. Haroldo da Silva Sá

Pós-doutorado nas universidades de Leicester-UK e Cardiff-UK

Prof. Titular IGEO/UFBA

3º Examinador - Geólogo Ernesto Fernando Alves da Silva

Coordenador de Geologia e Pesquisa Mineral (COOPEM) da CBPM

Salvador, 30 de agosto de 2013

“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”

AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço à Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) pelo apoio

prestado durante todo o processo de realização deste projeto.

Ao meu orientador Prof. Pedro Maciel de Paula Garcia, no qual teve paciência e

atenção ao passar seus conhecimentos, me orientando com clareza e confiança. Ao geólogo

Ernesto da Silva, pela oportunidade cedida.

Aos professores Haroldo Sá, Débora Rios, Luiz C. Gomes, Simone Cruz, Osmário R.

Leite, Flávio Sampaio e Telésforo Marques, que participaram de toda evolução do

conhecimento que tornou possível a realização deste projeto.

Aos meus pais, meus avos e meus irmãos, que sempre estiveram ao meu lado quando

precisei, desde os momentos calmos aos mais turbulentos, eternamente, obrigado.

Aos meus queridos amigos da geologia Ramon (Monstro), Paulo (Rabikó), Júlio

(Gagau), Kim, Luiz (Cabeça), Pedro Lélis (Farofino), Mariana Fraga, Jaime (Duvidoso),

Mileno, Davdson (Coroa), Eduardo (Chapa), Tiago (Dona Florinda), Bruno (Trilobita),

Marcelo (Carcará), José Diogenes (Zé), João Paulo (Caveirão), Mariana Andriote, Ravena,

que sempre estiveram presentes em todos os momentos dessa conquista. Ao meu colega

Renato (Microssonda), pelo auxílio na análise das seções delgadas descritas neste trabalho.

Aos meus amigos do curso de geografia Pedro (Pombo), Philipp, Igor, Ravi, entre outros, que

sempre me deram forças e estiveram presentes nos momentos de distração.

Aos geólogos Edu B., Felipe S., Wilson L., entre outros, que sempre me alertaram

para os desafios presentes neste caminho, me tornando uma pessoa mais madura e consciente.

Aos meus amigos Lula, Vini e Duda, que tornaram tantos momentos difíceis em

momentos de alegria, lembrando sempre que a fé é a nossa arma mais poderosa. Aos meus

primos Alan e Caio, que são verdadeiros irmãos em todos os momentos. Ao meu Tio Bola,

meu padrinho, que me concedeu abrigo em todos os momentos necessários.

A Jah, que me concedeu a vida e faz possível que a cada dia eu participe deste mundo

que, por mais que tenha seus defeitos, é tão maravilhoso e mágico.

RESUMO

A região do Extremo Sul da Bahia apresenta-se no contexto tectônico do segmento

nordeste da Faixa de Dobramentos Araçuaí, consolidada no Neoproterozoico. Durante o

evento colisional foram geradas suítes de granitóides que compõe diversos corpos dispostos

pela região.

O estudo de caracterização petrográfica e litogeoquímica foi feito a partir da

amostragem sistemática dos maciços presentes nos arredores do município de Itanhém. Estes

corpos estão dispersos em uma área de aproximadamente 1500 km2. Corresponde aos

maciços, aqui batizados, de Umburatiba, Vereda, Córrego do Rezende, Córrego do Meio,

Água Limpa e pela Suíte Itanhém, na qual é representada por uma fácies enderbítica e uma

chanockítica.

Esses litotipos apresentam-se como topografia em topos côncavos, abaulados, com

contatos normalmente tectônicos, por vezes transicionais, com sua encaixante representada

pelos paragnaisses do Complexo Jequitinhonha na área de estudo. São tonalitos a sieno-

granitos fraco a fortemente foliados com características texturais e litogeoquímicas similares.

Os corpos amostrados demonstram assinaturas cálcio-alcalinas de alto K e

peraluminosas, com trends de padrões de elementos traços mostrando uma relação genética

entre eles e sua encaixante.

Palavras-Chave: Extremo Sul da Bahia, Faixa de Dobramentos Araçuaí, Itanhém,

cálcio-alcalino de alto K, peraluminosas.

ABSTRACT

In the extreme south of Bahia presents the tectonic setting of the northern segment of

the Araçuaí Fold Belt, consolidated in Neoproterozoic. During the event collisional granitoid

suites were generated that comprises various bodies arranged by region.

The petrographic characterization study and lithogeochemistry was made from the

systematic sampling of soil present on the outskirts of the city of Itanhém. These bodies are

scattered in an area of approximately 1,500 km2. Corresponds to the massive, baptized here in

Umburatiba, Vereda, Córrego do Rezende, the Córrego do Meio, Água Limpa and the

Itanhém Suite, which is represented by a facies enderbitic and chanockítica.

These rock types are presented as topography concave tops, bulging with contacts

normally tectonic sometimes transitional, with its enclosing represented by Jequitinhonha

Complex paragneisses in the study area. They are tonalite are the sieno- granites weak to

strongly foliated with similar textural and lithogeochemical characteristics.

The bodies sampled signatures show high-K calc-alkaline and peraluminous, with

trends of trace element patterns showing a genetic relationship between them and their host

rocks.

Keywords: extreme south of Bahia, Araçuaí Fold Belt, Itanhém, high-K calc-alkaline,

peraluminous.

INDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo ................................................................................. 16

Figura 2 - Acesso a área de estudo, representada pelo quadrado de contorno azulado. (A) município de

Salvador (B) município de Itanhém. ..................................................................................................... 17

Figura 3 - Cenário tectônico da Bacia Macaúbas, precursora do Orógeno Araçuaí. ............................ 18

Figura 4 - Seções esquemáticas do modelo evolutivo do Orógeno Aracuaí-West Cong. ..................... 19

Figura 5 - Ilustração mostrando os estágios colisional (a) e de colapso (b) do Orógeno Araçuaí pelo

modelo mecanismo que lembra a operação de um quebra-nozes. ......................................................... 20

Figura 6 – Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Umburatiba, normalizadas para

condrito. ................................................................................................................................................ 28

Figura 7 – Padrões de ETR para as amostras do Maciço Umburatiba, normalizadas para condrito. .... 28

Figura 8 - Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Vereda, normalizadas para condrito. 33

Figura 9 - Padrões de ETR para amostras do Maciço Vereda, normalizadas para condrito. ................ 33

Figura 10 - Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Córrego do Rezende, normalizadas

para condrito. ......................................................................................................................................... 38

Figura 11 - Padrões de ETR das amostras do Maciço Córrego do Rezende, normalizadas para condrito.

............................................................................................................................................................... 38

Figura 12 - Padrões de elementos traços das litofácies da Suíte Itanhém, normalizadas para condrito.45

Figura 13 - Padrões de elementos traços das litofácies da Suíte Itanhém, normalizadas para condrito.45

Figura 14 - Padrões de elementos traços da amostra do Maciço Córrego do Meio, normalizadas para

condrito. ................................................................................................................................................ 49

Figura 15 - Padrões de ETR da amostra do Maciço Córrego do Meio, normalizadas para condrito. ... 50

Figura 16 – Padrões de elementos traços de uma amostra representativa do Maciço Água Limpa. ..... 53

Figura 17 - Padrões de ETR de uma amostra representativa do Maciço Água Limpa. ......................... 53

Figura 18 – Diagramas de classificação dos litotipos da área de estudo, em comparação com as áreas

de variação das rochas do Cinturão de Dobramentos Lachlan. (a) FeO/(FeO+MgO) versus % SiO2 (b)

Na2O+K2O-CaO versus % SiO2. .......................................................................................................... 56

Figura 19 – Digrama de séries magmáticas........................................................................................... 57

Figura 20 – Diagrama de classificação das rochas da área de estudo proposto por Le Maitre (1989).. 57

Figura 21 – Diagrama de classificação pelo índice de saturação em alumina, porposto por Maniar &

Piccolo (1989). ...................................................................................................................................... 58

Figura 22 – Padrões de elementos traços e ETR dos tipos de rochas consideradas padrões para esses

tipos de classificações. .......................................................................................................................... 59

Figura 23 – Padrões de elementos incompatíveis para amostras representativas de cada maciço

estudado e de sua encaixante. MU – Maciço Umburatiba; MV – Maciço Vereda; MSR – Maciço

Córrego do Rezende; MCM – Maciço Córrego do Meio; SI-End e SI-Char – Suíte Itanhém fácies

enderbito e charnickito; CJ – Complexo Jequitinhonha. ....................................................................... 60

Figura 24 - Padrões de ETR para amostras representativas de cada maciço estudado e de sua

encaixante. . MU – Maciço Umburatiba; MV – Maciço Vereda; MSR – Maciço Córrego do Rezende;

MCM – Maciço Córrego do Meio; SI-End e SI-Char – Suíte Itanhém fácies enderbito e charnickito;

CJ – Complexo Jequitinhonha; Tipo-I GMP – Granitoide Martins Pereira; Tipo-S SD – Granitoide

Serra Dourada. ....................................................................................................................................... 61

INDICE DE FOTOS

Foto 1 - Representação do de topos concavos do maciço Umburatiba. Visada para N130°. ................ 24

Foto 2 – Amostra de mão da litofácies granidiorítica do MU. .............................................................. 24

Foto 3 – a) Textura inequigranular com fenocristais de plagioclásio demonstrando geminação em

cunha (nicóis cruzados); b) Intercrescimento de cristais de quartzo em grão de k-feldspato (textura

granofírica) em nicóis cruzados. ........................................................................................................... 26

Foto 4 – Inclusões de quartzo em grãos de granada xenomorfo em luz plana (a) e nicóis cruzados (b).

Contato serrilhado entre a granada e grãos subédricos de biotita. ........................................................ 26

Foto 5 – Inclusões de zircões em biotita, mostrando bordas de reação, e em quartzo. (a) luz plana; (b)

nicóis cruzados. ..................................................................................................................................... 26

Foto 6 – Afloramento próximo ao contato com a encaixante demonstrando leve foliação NW-SE. .... 29

Foto 7 – Amostra de mão de porção representativa da fácies. .............................................................. 30

Foto 8 – Desagregação de grãos de granada por aglomerados de quartzo, plagioclásio e biotita no

centro. Vênula de Quartzo na porção esquerda. (a) luz plana (b) nicóis cruzados. ............................... 31

Foto 9 – (a) Moscovita ao em contato com grãos de plagiocásio (nicóis cruzados). (b) Pleocroísmo

castanho esverdeado a castanho avermelhado da biotita (luz plana) .................................................... 31

Foto 10 – Amostra de mão parcialmente alterada, dispondo de fenocristal de k-feldspato e matriz com

quartzo, feldspatos e biotita. .................................................................................................................. 35

Foto 11 – Afloramento em beira de estrada de chão evidenciando orientação aproximadamente NE-

SW, discordante do trend regional NW-SE. ......................................................................................... 35

Foto 12 – Cristais biotitas em 2 fases: uma marrom escura (titanífera), e outra castanho esverdeada,

subedral em contato com granadas e k-feldspatos. Observa-se inclusões da biotita titaníferas nas

granadas. (a) luz plana (b) nicóis cruzados ........................................................................................... 36

Foto 13 – (a) Fenocristal de ortoclásio com inclusões de quartzo e biotita. (b) Orientação de cristais de

biotita, possivelmente originadas por fluxo magmático. ....................................................................... 37

Foto 14 – Bloco rolado em beira de estrada. ......................................................................................... 39

Foto 15 – Amostra de mão do biotita enderbito. Observa-se a coloração esverdeada apresentada pelo

plagioclásio. .......................................................................................................................................... 40

Foto 16 – Assembléia mineralógica da litofácies enderbítica. Observa-se a biotita preenchendo fraturas

dos outros minerais presentes na trama. (a) luz plana (b) nicóis cruzados. ........................................... 43

Foto 17 – (a) Porção com predominância de opx em relação ao cpx. (b) Textura mimerquítica e

inclusão de zircão em cristal de plagioclásio. ....................................................................................... 43

Foto 18 – Textura poiquilítica representada por inclusões de quartzo em cristais de plagioclásio e cpx

na litofácies charnockítica. Presença de cpx e anfibólio. (a) luz plana (b) nicóis cruzados. ................. 43

Foto 19 - Substituição do opx pela biotita. Possível evidencia de um processo de metamorfismo

regressivo. ............................................................................................................................................. 44

Foto 20 – Vista da Pedreira Pirambóia, atualmente inativa. Visada para N20. .................................... 46

Foto 21 – Porção representativa do monzogranito. Observa-se uma massa de quartzo e feldspato com

granadas disseminadas. ......................................................................................................................... 47

Foto 22 – (a) Porção representativa da litofácies. Observa-se aglomerados de cianita na parte inferior

da foto (b) Cristal de moscovita entre grãos de k-feldspato. ................................................................. 48

Foto 23 – Granada envolta de cristais de cianita como sombras de pressão. (a) luz plana (b) nicóis

cruzados................................................................................................................................................. 48

Foto 24 – Porção pegmatítica com cristais centimétricos de biotita feldspato e quartzo. ..................... 51

Foto 25 – Porção representativa da litofácies ........................................................................................ 51

Foto 26 - (a) Geminação Carlsbad em crital de ortoclásio. (b) Substituição da granada pela moscovita

............................................................................................................................................................... 52

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. i

RESUMO ................................................................................................................................... ii

ABSTRACT ............................................................................................................................. iii

ÍNDICE DE FIGURAS ........................................................................................................... iv

ÍNDICE DE FOTOS ................................................................................................................ vi

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13

1.1 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................... 14

1.2 OBJETIVOS .................................................................................................................. 14

1.3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 14

1.3.1 Pesquisas Bibliográficas .......................................................................................... 14

1.3.2 Fase campo e Seleção de amostras .......................................................................... 15

1.3.3 Análises Petrográficas ............................................................................................. 15

1.3.1 Análises Litogeoquímicas......................................................................................... 15

1.4 LOCALIZAÇÃO E ACESSO ...................................................................................... 16

CAPÍTULO II – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL ............................................. 18

2.1 Complexo Jequitinhonha .............................................................................................. 20

2.2 Granitoide ...................................................................................................................... 21

2.2.1 Granitoides sin-tectônicos ....................................................................................... 21

2.2.2 Granitoides sin a tardi-tectônicos ............................................................................ 21

2.2.3 Granitoides tardi a pós-tectônicos ........................................................................... 21

2.2.4 Granitoides pós-tectônicos ...................................................................................... 22

CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS DOS GRANITOIDES ESTUDADOS ............. 23

3.1 MACIÇO UMBURATIBA ........................................................................................... 23

3.1.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 24

3.1.1.1 Fácies biotita tonalito a granodiorito com granada e zircão ............................ 24

3.1.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 26

3.2 MACIÇO VEREDA ...................................................................................................... 29

3.2.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 29

3.2.1.1 Fácies biotita granodiorito com granada e zircão ......................................... 29

3.1.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 32

3.3 MACIÇO CÓRREGO DO REZENDE ...................................................................... 34

3.3.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 34

3.3.2.1 Fácies biotita sienogranito porfirítico ............................................................. 34

3.3.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 37

3.4 SUÍTE ITANHÉM ........................................................................................................ 39

3.4.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 40

3.4.1.1 Fácies biotita enderbito com zircão .................................................................. 40

3.4.2.1 Fácies biotita charnockito ................................................................................. 41

3.4.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 44

3.5 MACIÇO CÓRREGO DO MEIO ............................................................................... 46

3.5.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 46

3.5.1.1 Fácies granada monzogranito com cianita e moscovita ................................... 46

3.5.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 48

3.6 MACIÇO ÁGUA LIMPA ............................................................................................ 50

3.6.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS ................................................................ 50

3.6.1.1 Fácies granada monzogranito com moscovita ................................................... 50

3.6.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS ........................................................... 52

CAPÍTULO IV – CARCTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO PETROGENÉTICA DOS

GRANITOIDES ...................................................................................................................... 54

4.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 54

4.2 CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO ...................................................................... 55

4.2.1 Elementos maiores ................................................................................................... 55

4.2.2 Elementos traços ...................................................................................................... 58

4.3 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 64

13

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

Há mais de um século, a região do extremo sul da Bahia vem sendo explorada para

garimpagem de água marinha, além de extração de minério não-metálico, para utilização na

construção civil e na produção de rochas ornamentais (SAMPAIO et al., 2004).

Segundo alguns autores (AUTRAN & COGNÉ, 1998; BARD et al., 1980;

BARBARIN, 1997; LITVINOVSKY et al., 1997 apud CELINO, 1999) a formação de plútons

formados por um evento orogênico colisional é comumente aceito como resultado de dois

(02) mecanismos principais: (i) a subducção, reponsável pela geração de suítes diferenciadas

de dioritos a granitos por fracionamento de magmas mantélicos (GRAVIOU, 1984,

STEPHENS, 1997 apud CELINO, 1999), onde estão incluídos os granitoides metaluminosos

do tipo I; (ii) espessamento crustal, onde se desenvolvem os granitoides peraluminosos,

gerados pincipalmente pela fusão de metassedimentos.

Em ambientes de cinturões orogênicos, é comum a interação entre esses magmas

magmas, gerando um terceiro tipo, o tipo-H (Hybrid-type sugerido por Winter, 2010), no qual

ocorre a mistura entre os magmas de origem mantélica com magmas gerados por fusão

crustal. Segundo o mesmo autor, as características dessas suítes são tão similares que pode ser

impossível distingui-las geoquimicamente ou isotopicamente.

A geologia da região é composta por uma intensa magmatogênese representada por

granitoides sin a pós-tectônicos intrudidos em paragnaisses do Complexo Jequitinhonha,

gerados no ciclo orogênico Brasiliano.

Ao longo desses anos, trabalhos relacionados a essas suítes presentes na região,

podendo citar Silva-Filho et al. (1974), Celino (1999), Gomes (2002), Sampaio (2002),

Teixeira (2002), Menezes et al. (2012), apresentaram dados nos quais servem de contribuição

para o entendimento da evolução magmática e contexto geotectônico da Faixa Aracuaí.

Segundo Teixeira (2002), esses corpos foram formados a partir da interação de suítes

graníticas do tipo I com as do tipo S, juntamente com suas encaixantes crustais e

supracrustais, explicando o quimismo peraluminoso e cálcio-alcalino de alto K presente na

região.

Neste trabalho, foram analisados os maciços, aqui batizados, Umburatiba (MU),

Vereda (MV), Córrego do Rezende (MCR), Córrego do Meio (MCM), Água Limpa (MAL) e

a suíte Itanhém (SI). As fácies encontradas variam entre tonalitos, granodioritos, monzo a

14

sienogranitos, enderbitos e charnockitos com geoquímica predominantemente calci-alcalina

de alto K e peraluminosa.

1.1 JUSTIFICATIVA

A presença de água marinha em corpos pegmatíticos atrai garimpeiros para a região,

além do seu potencial para recursos minerais para material de construção e para rochas

ornamentais. O conhecimento específico desses corpos magmáticos auxilia na evolução do

trabalho de prospecção para esses bens minerais.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo principal deste trabalho é apresentar dados petrográficos e geoquímicos dos

granitoides presentes na região do Extremo Sul da Bahia de modo a auxiliar o conhecimento

sobre sua gênese.

Tem-se como objetivos específicos:

- Comparar os dados obtidos com estudos anteriores feitos em suítes graníticas

circunvizinhas.

- Correlacionar os dados das análises litogeoquímicas com a caracterização petrográfica.

- Compreender a evolução litogeoquímica da granitogênese sin a pós-tectônica, na porção

baiana do Orógeno Araçuaí.

1.3 METODOLOGIA

A metodologia empregada para este trabalho consistiu em três (03) fases: Pré-campo,

no qual foram feitas pesquisas bibliográficas de trabalhos com assuntos semelhantes ou

relacionados à área na qual o trabalho está inserido; fase-campo, na qual foram realizadas as

amostragens dos corpos presentes na área; fase de análise interpretativa, onde as amostras

foram caracterizadas a partir da sua petrografia e litogeoquímica, buscando o entendimento da

evolução petrogenética de cada corpo.

1.3.1 Pesquisa Bibliográfica

Nesta etapa foram realizados levantamentos bibliográficos de antigos trabalhos

executados em regiões próximas, como também em trabalhos no qual o foco é semelhante ao

apresentado neste trabalho.

Este levantamento foi realizado em materiais presentes em acervos digitais, na

biblioteca do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia e nos acervos

15

presentes na biblioteca da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Fazem parte

desses acervos artigos publicados, relatórios técnicos, dissertações e trabalhos finais de

graduação.

1.3.2 Fase-campo e Seleção de Amostras

Para esta etapa foi utilizado como base o mapa geológico do relatório técnico do

Projeto Extremo Sul da Bahia, feito por Sampaio (2002), sendo integrado ao volume 19 da

Série Arquivos Aberto da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). A partir deste

mapa, foi possível uma amostragem sistemática a partir dos limites pré-definidos dos corpos.

Essa amostragem foi possível após uma viagem de campo realizada com o total de 10 dias.

Foram selecionadas 27 amostras, retiradas sistematicamente de cada corpo estudado

neste trabalho, sendo duas representantes das rochas encaixantes dos mesmos.

1.3.3 Análises Petrográficas

Para esta etapa do trabalho, foram confeccionadas, no laboratório de laminação da

CBPM, 20 lâminas delgadas de amostras de rocha selecionadas no levantamento de campo.

Os estudos foram feitos no Laboratório de Mineralogia e Petrografia do Instituto de

Geociências da Universidade Federal da Bahia (IGEO-UFBA).

1.3.4 Análises Litogeoquímicas

As amostras colhidas na fase-campo foram analisadas pela GEOSOL

LABORATORIO Ltda, com o patrocínio da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral

(CBPM). Foram usados os métodos ICP-OES para elementos maiores e traços e ICP-MS para

os Elementos Terras Raras (ETR). Foram analisados também pelo ICP-MS com pré-

concentração por FA (Fire Assay), os elementos Au, Pd e Pl, porém com resultado abaixo do

limite para quase toda totalidade da amostragem.

Foram produzidos aranhogramas pelo programa MinPet 2.0 para análises de dispersão

dos elementos traços (ETR, LIL e HSFE).

16

1.4 LOCALIZAÇÃO E ACESSO

A área de estudo, na qual foram amostrados os corpos graníticos, está localizada na

região do extremo sul da Bahia, mais precisamente na área dos municípios de Vereda,

Itanhém, Medeiros Neto e Umburatiba, sendo este último pertencente ao estado de Minas

Gerais. A área está compreendida entre os meridianos 40°20’ e 40°5’ W, e os paralelos

12°20’ e 12°5’ S (Figura 1).

Partindo do município de Salvador, o acesso à área de estudo é dado através das

rodovias BR-324, BR-101 e BA-290, passando pelos municípios de Conceição do Jacuípe,

Itabuna, Eunápolis e Teixeira de Freitas (Figura 2). O acesso para as áreas de amostragem a

partir do município de Itanhém foi possível apenas através de estradas de barro.

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo

Área de estudo

17

Figura 2 - Acesso a área de estudo, representada pelo quadrado de contorno azulado. (A) município de

Salvador (B) município de Itanhém.

Fonte: Modificado do Google Map.

18

CAPÍTULO II – CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

A região do extremo sul da Bahia está presente no contexto da Faixa Araçuaí

(ALMEIDA, 1977 apud SAMPAIO et al., 2002), que corresponde a um cinturão de

dobramentos integrante no domínio metamórfico do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental

(NEVES & CORDANI, 1991). Esta faixa possui limites contornando a porção meridional do

Cráton São Francisco (CSF) e, ao sul, com o sistema orogênico Ribeira (ALKMIN, 2007). A

bacia precursora que posteriormente foi invertida para a geração do orógeno é denominada

por Bacia Macaúbas (Figura 2.1), que teve seu início no Neoproterozóico, de acordo com

datações em basaltos metamorfisados na fácies xisto verde (NOCE, 1997; SAMPAIO, 2004).

Os valores encontrados são de aproximadamente 1,1 Ga, com dados em isótopos U-Pb em

zircões (BABINSKI et al., 2005) na regiões de Diamantina (MG) e Ar/Ar (RENNÉ et al.,

1990) nas regiões de Ilhéus-Olivença (Bahia).

Figura 3 - Cenário tectônico da Bacia Macaúbas, precursora do Orógeno Araçuaí.

Fonte: Alkmin et al., 2007

O modelo sugerido por Sampaio (op. cit.), é o mesmo proposto por Pedrosa Soares et

al. (2001), Tendo o início com uma fase extensional, caracterizada por faturamento e

rifteamento continental (ca. 1.100 Ma – 880 Ma) (Figura 2.2a). Seguiu-se a evolução

extensional com a formação de uma crosta oceânica colocando a bacia em condições de

margem passiva (880 – ca. 595 Ma) (Figura 2.2b). Durante a evolução desta bacia, foi

possível a formação de granitoides anarogênicos e dos representantes litoestratigráficos do

Grupo Macaúbas. Entre 595 e 575 Ma passava-se o período acrescionário (Figura 2.2c), com

19

formação de uma margem continental ativa, com o consumo da litosfera oceânica então

gerada. O estágio colisional (Figura 2.2d) ocorreu entre o período de 590 e 535 Ma, onde

foram colocadas as suítes magmáticas sin a tardi-colisionais, juntamente com o metamorfismo

das sequencias pré-dispostas. O colapso final do Orógeno formado se deu entre 535 e 490 Ma

que, por um reaquecimento regional, possibilitou a geração de novas suítes graníticas pós-

tectônicas.

Figura 4 - Seções esquemáticas do modelo evolutivo do Orógeno Aracuaí-West Cong.

Fonte: Sampaio (2004). Adaptado de Pedrosa-Soares et al. (2001).

20

Outro modelo para a inversão da bacia, sugerido por Alkmin (2007), ora em fase de

teste, representa o seu fechamento por um mecanismo que lembra a operação de um quebra-

nozes, ou seja, onde as forças de colisões que geraram o orógeno fossem geradas a partir de

rifteamentos internos do Cráton São Francisco (Figura 2.3).

Figura 5 - Ilustração mostrando os estágios colisional (a) e de colapso (b) do Orógeno Araçuaí pelo modelo

mecanismo que lembra a operação de um quebra-nozes.

Fonte: Alkmin (2007)

A litoestratigrafia da Faixa Araçuaí é constituída por um embasamento, representado

por rochas do arqueano ao mesoproterozóico e pelas unidades do Complexo Jequitinhonha,

Complexo Paraíba do Sul, Grupo Dom Silvério, formação Capelinha, Grupo Rio Doce. Ao

longo dos eventos tectônicos, granitoides pré a pós colisionais foram formados e estão

presentes por toda sua extensão.

Segundo Sampaio (2002), na região de estudo, as unidades presentes são o Complexo

Jequitinhonha e os granitoides sin, tardi e pós-tectônicos:

2.1 Complexo Jequitinhonha

Este complexo representa a unidade de maior área aflorante da área de estudo.

Segundo Sampaio (op. cit.), é composta por paragnaisses kinzigíticos (lato sensu) em

variados estágios de migmatização. Possui contatos tectônicos com o embasamento

ortognaissico e com o Grupo Macaúbas.

Segundo Teixeira (2002), esse complexo representam rochas sedimentares das bacias

precursoras submetidas à deformação e metamorfismo nas fácies anfibolito a granulito. Esta

afirmação foi possível após visto a expressiva variação de SiO2, que varia entre 57% e 76%,

21

evidenciando uma mistura dos componentes areia e argila em diferentes proporções, mesmo

com o efeito do metamorfismo de alto grau.

2.2 Granitóides

Durante a fase sin a pós colisional, ocorreu uma magmatogênese representada por

diversos corpos de granitoides ao longo da Faixa Araçuaí. Na área de estudo esses corpos

encontram-se intrudidos nos paragnaisses do Complexo Jequitinhonha.

Segundo Teixeira (2002), esses granitoides são representados por corpos de assinatura

geoquímica variando entre os tipos S e I (CHAPELL & WHITE, 1974 apud TEIXEIRA

2002), com diversas assimilações das litologias encaixantes e entre os próprios granitoides

justapostos. Ou seja, a intrusão de granitos do tipo I e S em um material metassedimentar

fértil gera uma série de contaminações que, juntamente com a diferenciação magmática,

produz uma série de fácies litológicas.

2.2.1 Granitoide Sin-tectônico

Esta unidade é representada apenas por um corpo, com contato pouco nítido com o

Complexo Jequitinhonha. O plúton se estende da cidade de Medeiros Neto para o noroeste. É

representado por fácies granodioríticas a tonalíticas gnaissificadas, com teores variáveis de

granada e hiperistênio, quase sempre milonitizado. Sua orientação é, predominantemente,

concordante com direção NW-SE de sua encaixante paragnaissica.

2.2.2 Granitoides Sin a Tardi-tectônicos

Representam variações petrográficas de granitoides do tipo S, sendo formados no pico

da deformação/metamorfismo da Orogênese Brasiliana. Possuem contatos difusos e

transicionais com suas encaixantes e são caracterizados pela grande presença de enclaves

kinzigíticos.

Idades obtidas por Nalini (1997) e Noce et al. (1999) entre 591 Ma e 575 Ma, pelos

métodos U/Pb e Pb/Pb em zircões, foram feitas em granitoides da região. Silva & Armstrong

(2002), utilizando o métodos U/Pb-SHIRIMP em zircões, obteve idades em torno de 560 Ma

para o granito de Nanuque, um dos representantes dos granitoides sin a tardi-tectônicos.

Segundo Teixeira (op. cit.), esses granitoides são peraluminosos, de assinatura cálcio-

alcalina de alto K e teores de sílica acima de 70%.

2.2.3 Granitoides Tardi a Pós-tectônicos

Os maciços que compõem esse grupo são tonalitos, sieno e monzogranito,

normalmente com textura porfirítica associada à fenocristais de feldspato potássico. Segundo

22

Teixeira (op. cit.), esses granitoides são exemplos de mixing entre granitoides do tipo-I e do

tipo-S.

Dados geocronológicos obtidos por Silva &Amstrong (op. cit.) resultaram em idades

entre 585 Ma e 560 Ma para formação desses granitoides.

2.2.4 Granitoides Pós-tectônicos

As suítes de granitoides que representam esse conjunto ocorreram no último episódio

de magmatismo na Faíxa Araçuaí, entre 530 Ma e 490 Ma, relacionado ao colapso do orógeno

(PEDROSA-SOARES & WIEDEMAN-LEONARDOS, 2000 apud SAMPAIO, op. cit.). São

assembleias charnokíticas a enderbíticas, dioritos e sieno a monzo-granitos com presença de

noritos e gabros associados.

Segundo Teixeira (op. cit.), esses granitoides possuem assinatura cálcio-alcalina de

alto k, precocemente peraluminosos. Analises Sm/Nd (idade modelo) realizadas para o projeto

Extremo Sul da Bahia (PIMENTEL & RODRIGUES, 2001 apud SAMPAIO op. cit.),

dataram entre 1.386 Ma e 1.409 Ma.

23

CAPÍTULO III – CARACTERÍSTICAS DOS GRANITOIDES ESTUDADOS

Os litotipos estudados representam fácies originadas no orógeno colisional que gerou a

Faixa Araçuaí, em seu contexto sin a pós-tectônico. A amostragem foi feita com base no mapa

geológico gerado no Projeto Extremo Sul da Bahia por Sampaio (op. cit.), onde foram

propostos os limites litológicos usados neste presente trabalho (Anexo 1).

Foram amostrados cinco maciços e uma suíte presentes na região do município de

Itanhém, sendo eles: Maciço Umburatiba (MU), representado por fácies tonalíticas a

granodioríticas; Maciço Vereda (MV), por uma fácies granodioriticas; Maciço Córrego do

Rezende, por fácies sienograníticas; Suíte Salomão, por fácies charnockiticas e enderbíticas; e

os Stocks Córrego do Meio e Medeiros Neto, representados por fácies monzograníticas.

Amostras referentes à encaixante paragnáissica, o Complexo Jequitinhonha, também foram

analisadas geoquimicamente para análises comparativas.

Neste capítulo são expressos resultados de análises macro e microscópicas para cada

fácies, assim como de análises litogeoquimica. Os aranhogramas gerados foram normalizados

para condrito.

3.1 MACIÇO UMBURATIBA (MU)

Este maciço está presente a oeste do município de Itanhém, seguindo uma estrada de

chão aproximadamente 18 km sentido Umburatiba, no estado de Minas Gerais. Segundo

Sampaio (2002), está presente em um conjunto de suítes que compõe os granitoides sin a

tardi-tectônicos. Representam corpos com topografia suave, em morros côncavos em formatos

de meia laranja (Foto 1). A fácies analisada neste trabalho foi biotita tonalito a granodiorito

com presença de granada e zircão. Foram confeccionadas 4 lâminas para análises

petrográficas para este litotipo.

24

Foto 1 - Representação do de topos concavos do maciço Umburatiba. Visada para N130°.

3.1.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

3.1.1.1 Fácies biotita tonalito a granodiorito com granada e zircão.

Essas fácies consistem em tonalitos a granodioritos de coloração cinza claro a cinzas

escuras, isotrópicos, por vezes fortemente, especialmente quando próximas a zonas de

cisalhamento (Foto 2). São massas de quartzo e feldspato com biotitas orientadas e granadas

disseminadas.

Foto 2 – Amostra de mão da litofácies granidiorítica do MU.

25

Em lâmina, esse litotipo apresenta textura inequigranular de densa a média (Foto 3),

xenomórfica, com grãos que variam de 0,001 a 7 mm. Sua moda média consiste em

plagioclásio (57%), quartzo (25%), biotita (12%), feldspato potássico (6%), granada (1%).

Ocorre textura poiquilítica em abundância nesta fácies, marcada pela inclusão de zircão em

biotitas, da biotita em grãos de quartzo e de plagiocásio e de quartzo em grãos de granada e

biotita. A textura granofírica é observada, relacionada a cristais de quartzo intercrescidos com

feldspatos potássicos (Foto 3).

O plagioclásio consiste no mineral mais abundante desta fácies, classificados como

andesinas a partir do teor de anortita de 33%, estimado a partir do método Michel-Lévy.

Consistem em grãos anedrais com tamanhos que variam de 0,1 a 7 mm. A geminação albita

presente é bem formada, por vezes com textura caótica ou demonstrando diminuição gradual

da espessura das lamelas, gerando geminações em cunha, evidenciando deformação tectônica.

Seus contatos são quase sempre irregulares curvos com quase todos os minerais da trama,

com exceção das biotitas ripiformes, nos quais estão com contatos planares ou serrilhados.

Apresentam alteração sericítica, restrita a apenas alguns grãos das seções delgadas descritas.

O quartzo está presente como grãos anedrais de tamanhos variados, semelhantes aos

do plagioclásio. A extinções ondulante é observada em boa parte dos grãos. Seus contatos são

irregulares curvos com os feldspatos e serrilhados com a biotita.

A biotita apresenta pleocroísmo variando de verde amarronzado a castanho

avermelhado. Seus grãos são subédricos a anédricos, com formas irregulares e ripiformes,

com tamanhos variando de 0,01 a 1,7 mm, normalmente aglomerados, sem orientação

preferencial. Possuem contatos planares, por vezes irregular, e inclusões de quartzo,

plagioclásio e zircão anedrais (Foto 5). Ocorrem preenchendo fraturas nos minerais presentes

na trama. A moscovita está presente em pequenas proporções associada à biotita.

O feldspato potássico presente é o ortoclásio, evidenciado pela geminação Carlsbad.

Consistem em grãos anédricos de tamanhos variando de 0,6 a 1,2 mm com contatos

irregulares curvos.

A granada está presente como grãos anedrais de aproximadamente 1 mm. Apresenta

inclusões de quartzo e biotita (Foto 4).

26

3.1.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS

Foram selecionadas 7 amostras para análises de elementos maiores, menores e traços,

sendo estas: MU-LC-22; MU-LC-23; MU-LC-24; MU-LC-37; MU-LC-38; MU-LC-39; MU-

LC-40, representados na tabela em anexo (Anexo 2). Os dados obtidos foram normalizados e

Foto 3 – a) Textura inequigranular com fenocristais de plagioclásio demonstrando geminação em

cunha (nicóis cruzados); b) Intercrescimento de cristais de quartzo em grão de k-feldspato (textura

granofírica) em nicóis cruzados.

Foto 4 – Inclusões de quartzo em grãos de granada xenomorfo em luz plana (a) e nicóis cruzados

(b). Contato serrilhado entre a granada e grãos subédricos de biotita.

Foto 5 – Inclusões de zircões em biotita, mostrando bordas de reação, e em quartzo. (a) luz plana;

(b) nicóis cruzados.

1 mm

Plag

Plag

Qtz

0,25 mm

Qtz

K-feld

1 mm 1 mm

Gr

Plag

Qtz

Plag

Bt

Bt

Zr

0,25 mm 0,25 mm

a) b)

a) b)

a) b)

27

representados em gráficos pelo programa Minpet 2.02, onde foi possível verificar a

importância do fracionamento dos elementos químicos de para este plúton e sua respectiva

fonte.

Os valores encontrados para a fácies desta suíte são altos para SiO2, variando de

66,4% a 74,16% e Al2O3, variando de 13,81 a 15, 87%. Os teores de Fe2O3 são mais elevados

em relação ao FeO, sendo o primeiro com valores que beiram 6%, enquanto o segundo

possuem teores que variam entre 2,36 e 5, 02%. O MgO possui máximas que chegam até

2,92% em amostras com menores teores de K2O. O TiO2, MnO e o P2O5 possuem teores

baixos, variando entre 0,01 a 1,13%. Os valores de K2O possuem uma variação de teor entre

3,02 a 6,94% e 2,47 a 2,87% para o Na2O. Os valores de K2O/Na2O se mostram em média em

torno de 2, demonstrando um caráter potássico para esse litotipo. Os índices de A/CNK (=

Al2O3/CaO+Na2O+K2O, molar), sempre superiores a 1, mostram o caráter peraluminoso desta

fácies, podendo evidenciar enriquecimento precoce a partir da fonte ou enriquecimento tardio

posterior por assimilação de encaixantes.

Em relação aos elementos traços, os valores médios dos elementos Ba (médias em

torno de 802 ppm), Sr (médias acima de 140 ppm) e Zr (médias acima de 279 ppm),

demonstram uma contribuição alcalina para esses elementos, sendo que estes possuem

afinidades com minerais potássicos como o k-feldspato e a biotita (Figura 6) . Os teores

elevados de U e Th evidenciam que essa fácies cristalizou em um estágio final de um evento

de cristalização fracionada. O Y apresentou teores médios em 32 ppm, sendo seus menores

valores representados quando o valor do Zr é maior, este possuindo valores médios em 286

ppm.

Os valores de ETR demonstram um forte fracionamento e valores enriquecidos de

ETR leves para esta fácies, demonstrando espectros típicos de rochas ricas em álcalis (Figura

7). O trend vertical no gráfico mostra um processo de diferenciação nas amostras presentes

neste litotipo, tendo o enriquecimento de ERT leves e o maior fracionamento do centro do

corpo em direção aos seus contatos, ou seja, quanto maior a proximidade do corpo com sua

encaixante paragnaissica, mais forte o fracionamento dos ETR (da amostra SU-LC-40 até a

SU-LC-24).

28

Figura 6 – Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Umburatiba, normalizadas para condrito.

Figura 7 – Padrões de ETR para as amostras do Maciço Umburatiba, normalizadas para condrito.

29

3.2 MACIÇO VEREDA (MV)

Este maciço integra o mesmo conjunto sin a tardi-tectônico do MU (SAMPAIO, op.

cit.). São plútons graníticos com morfologia em morros de topos côncavos, sem cobertura

vegetal. Para este litotipo foram confeccionadas 4 lâminas petrograficas para analise.

A fácies analisada é um granodiorito com presença de dois tipos de feldspatos

potássicos, granada e moscovita.

Foto 6 – Afloramento próximo ao contato com a encaixante demonstrando leve foliação NW-SE.

3.2.2 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

3.2.2.1 Fácies biotita granodiorito com granada e zircão.

Este litotipo apresenta-se em campo como rochas de coloração cinza claro, marcados

pela presença de plagioclásio e quartzo em abundância, biotita e granada (Foto 7). A rocha

apresenta orientação de incipiente, ficando mais forte com a proximidade dos paragnaisses

encaixantes (Foto 6)

Em lâmina, essa rocha apresenta textura inequigranular de fina a média,

hipidiomórfica a xenomórfica, constituída por plagioclásio (38%), quartzo (36%), ortoclásio

(10), biotita (8%), microclina (4%), granada (3%) moscovita (1%) e zircão (traço). A textura

poiquilítica está presente entre quase todos os minerais da trama. É possível observa a

transformação da granada em biotita, possivelmente por um processo de metamorfismo

30

regressivo. A cianita aparece raramente em pequenas porções nas lâminas dessa fácies.

Ocorrem vênulas de quartzo cortando a trama.

Foto 7 – Amostra de mão de porção representativa da fácies.

O plagioclásio encontrado apresenta o teor de anortita em torno de 30%, estando entre

o oligoclásio e a andesina. Encontra-se com grãos subédricos a anédricos, de tamanhos que

variam de 0,1 a 3 mm. A geminação albita apresenta-se deformada, com aparência de

deformação magmática e tectônica (geminação em cunha) e, por vezes, bem formada. Seus

contatos são, em sua maioria, irregulares curvos e planares, nos grãos subédricos. A

sericitização está presente, porém de forma incipiente.

O quartzo apresenta-se anédrico, muitas vezes em formato ameboide preenchendo

interstícios e formando vênulas. Seus grãos variam entre 0,1 a 5 mm, e possui contatos

irregulares curvos, interlobados e planares, sendo esses últimos com as biotitas e os feldspatos

subédricos.

O ortoclásio está presente em grãos que podem chegar a até 7 mm de comprimento.

Apresentam-se como cristais anédricos com contatos irregulares curvos com o restante da

trama. Estão quase sempre com geminação carlsbad e albita-carlsbad mal formada e extinção

ondulante fraca em alguns grãos.

A biotita encontra-se como 2 tipos principais: um com forte pleocroísmo, com

coloração variando de castanho esverdeado a castanho avermelhado e outro com pleocroísmo

fraco e coloração variando entre castanho avermelhado e marrom escuro. Os grãos que

representam o primeiro tipo apresentam-se euédricos a anédricos, enquanto os do segundo

31

tipo dispõem-se anedrais. Seus contatos são irregulares curvos e serrilhados, por vezes retos.

Esses dois tipos possivelmente marcam duas fases de biotita, uma magmática e uma

metamórfica. O tipo que possui as biotitas marrom avermelhadas sendo os magmáticos,

evidenciando uma cristalização em alta temperatura mais enriquecida em TiO2, e o tipo com

cristais mais bem formados e forte pleocroísmo sendo formado por uma ação metamórfica

regressiva.

A microclina nesta fácies apresenta geminação albita-periclina marcante, normalmente

em grãos anedrais com contatos irregulares convexos e tamanho variando de 0,2 a 0,8 mm.

Encontram-se quase sempre inclusos em grãos de quartzo.

A granada está presente em grãos arredondados, com contatos quase sempre convexos,

e tamanhos entre 0,1 a 0,4 mm. Ocorrem associados a biotitas e quase sempre cortados por

minerais de quartzo.

A moscovita está associada, predominantemente, a biotita, aparecendo como produto

de alteração em feldspatos.

Foto 8 – Desagregação de grãos de granada por aglomerados de quartzo, plagioclásio e biotita no centro.

Vênula de Quartzo na porção esquerda. (a) luz plana (b) nicóis cruzados.

Foto 9 – (a) Moscovita ao em contato com grãos de plagiocásio (nicóis cruzados). (b) Pleocroísmo

castanho esverdeado a castanho avermelhado da biotita (luz plana)

0,25 mm 0,25 mm

Gr

Qtz Bt

Ort Mv

Plag Bt

Bt

0,01 mm 1 mm

a) b)

a) b)

32

3.2.3 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS

Para a fácies em análise desta suíte foram selecionadas os resultados de 6 amostras:

SV-LC-55, SV-LC-58, SV-LC-60, SV-LC-61, SV-LC-62 e SV-LC-67 (Anexo 2).

Os teores dos elementos maiores nestes litotipos são: SiO2 variando 64,74 a 71,41%;

Al2O3 de 13,93 a 15,34%; Fe2O3 de 3,64 a 6, 35%; FeO de 2,26 a 3,28%; MgO de 0,61 a

2,41%; TiO2 de 0,27 a 1,13%. Os valores de CaO, Na2O e K2O, assim como os valores

citados de Al2O3, possuem médias semelhantes a da fácies amostra da Suíte Umburatiba,

demonstrando o mesmo caráter alcalino e peraluminoso.

Os teores médio de Ba chegam a 722 ppm, os de Sr a 182 ppm e os de Zr a 395 ppm,

evidenciando o caráter alcalino desta rocha. Os valores de Nb tem sua máxima em 16 ppm,

tanto para MV quanto para a MU. Uma diferença notável entre esses litotipos é o valor de Th

que pode chegar 295 ppm para uma umas amostras analisadas.

As análises dos elementos terras raras (ETR) mostram 2 trends diferentes de

diferenciação. O primeiro, representado pelas amostras SV-LC-58 e SV-LC-60, apresenta

mais enriquecido em ETRL e empobrecido em ETRP, demonstrado maior fracionamento

desses elementos em relação ao segundo, representado pelas outras amostras coletadas. Essa

variação pode ter ocorrido devido a um processo de alteração hidrotermal atuante nesse

litotipo (Figura). O mesmo ocorre para os valores de Th e Ce, demonstradas no diagrama da

Figura X, mostrando anomalias fortemente enriquecidas nas amostras com altos teores em

ETRL (Figura).

33

Figura 8 - Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Vereda, normalizadas para condrito.

Figura 9 - Padrões de ETR para amostras do Maciço Vereda, normalizadas para condrito.

34

3.3 MACIÇO CÓRREGO DO REZENDE (MCR)

Esta maciço representa um conjunto de fácies sieno a monzograníticas que possui

como limites a Suíte Itanhém a leste, e o Maciço Umburatiba a oeste, com contatos tectônicos

entre eles. Os paragnaisses do Complexo Jequitinhonha representam seus contatos sul e norte.

Foram confeccionadas 4 lâminas para analise dessa fácies.

As litofácies aqui descritas consistem em biotita sienogranitos com abundância em

granada, com acréscimo na quantidade da mesma com a proximidade com a encaixante.

3.3.2 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

3.3.2.1 Fácies biotita sienogranito porfirítico

Consistem em granitos porfiríticos, marcados pela presença de fenocristais de

feldspato potássico (Foto 10) e leve foliação marcada pela biotita e por ripas de feldspato

potássico, com direções discordantes as do trend regional, indicando uma orientação primária

por fluxo magmático intracâmara.

Em lâmina, essa fácies apresenta textura inequigranular porfirítica, xenomórfica, com

pórfiros de k-feldspato que chegam a 3,5 cm envoltos em uma matriz com tamanho variando

de 0,001 mm até 1,5 mm e textura pertítica presente em grãos presentes na matriz. Sua moda

é representada por feldspato potássico (30%), plagioclásio (21%), quartzo (18%), granada

(17%), biotita (12%) e opacos (2%). Observa-se textura mimerquítica, que consiste em um

processo de exsolução, é marcada pelo intercrescimento de quartzo em plagioclásio, e indica

uma alta pressão de H2O na cristalização do magma. A textura poiquilítica é comum,

representada pela inclusão de biotita nos cristais de granada e feldspato potássico e do zircão

na biotita.

O feldspato potássico predominante nesta fácies é o ortoclásio, com tamanho variando

de 0,2 a 35 mm, sendo a presença da geminação Carlsbad comum entre eles. Exsoluções de

plagioclásio em ortoclásio estão presentes formando grãos micropertíticos. Os grãos

apresentam-se subédricos a anédricos, com contatos irregulares curvos com os minerais

presentes na trama, por vezes serrilhado, apenas com a biotita. Observa-se extinção ondulante

em alguns dos cristais de ortoclásio, sendo muitas vezes confundidos com o quartzo. Suas

inclusões predominantes são de quartzo e biotita.

35

Foto 10 – Amostra de mão parcialmente alterada, dispondo de fenocristal de k-feldspato e matriz com

quartzo, feldspatos e biotita.

Foto 11 – Afloramento em beira de estrada de chão evidenciando orientação aproximadamente NE-SW,

discordante do trend regional NW-SE.

O plagioclásio encontrado foi o oligoclásio (An28), em sua maioria, com cristais

anédricos de tamanho variando de 0,1 a 0,7 mm. A geminação albita é comum e bem

definida, por vezes deformada. Seus contatos são irregulares com o quartzo e a granada, e

irregulares e planares com a biotita.

36

Os cristais de quartzo são anédricos, de tamanhos que variam de 0,0003 a 3 mm. Seus

contatos são variados, comumente irregulares, por vezes inclusos no feldspato potássico e no

plagioclásio. A extinção é em geral ondulante com intensidade média a alta.

A granada encontra-se em abundância nesta fácies, possuindo grãos com tamanho

entre 0,4 a 0,6 mm. Possuem contatos irregulares convexos com os outros minerais da trama.

Ocorrem quase sempre em contato com a biotita, muitas vezes mostrando contatos planares,

ou englobando-a. Além da biotita, é comum a inclusão de grãos de quartzo nesse mineral.

A biotita apresenta-se sob duas formas: uma com pleocroísmo variando de marrom

escuro a castanho avermelhado e outro tipo com cores variando de verde claro a castanho

avermelhado. Possui cristais subédricos a anédricos com contatos planares, por vezes irregular

convexo e serrilhado. Apresentam-se inclusos em quase todos minerais da trama,

principalmente nas granadas (Foto 12). A coloração marrom escuro e baixo pleocroísmo é

característica de biotitas titaníferas. Sua orientação é incipiente, por vezes nula. A possível

origem dessas fases de biotitas foi descrito nas características do maciço pré-descrito.

Os opacos estão geralmente em contato com os grãos de biotita ou granada. Dispõem-

se inclusos ou com contatos irregulares convexos.

Foto 12 – Cristais biotitas em 2 fases: uma marrom escura (titanífera), e outra castanho

esverdeada, subedral em contato com granadas e k-feldspatos. Observa-se inclusões da biotita

titaníferas nas granadas. (a) luz plana (b) nicóis cruzados

K-feld Gr

Gr

Bt

Bt

1 mm 1 mm

a) b)

37

3.3.3 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUIMICAS

Para esta fácies foram analisadas 5 amostras: SRC-LC-15, SRC-LC-16, SRC-LC-17, SRC-

LC-18 e SRC-LC-21 (Anexo 2).

Com exceção da amostra SRC-LC-16, que possui um teor de 51,3%, todas as amostras

analisadas possuem teores de SiO2 em torno de 68%. Essa amostra dispõe de um teor anômalo

de Al2O3, correspondente a 23,13%, evidenciando uma possível assimilação de uma

encaixante rica em alumina, já que sua amostragem foi feita próxima aos limites com uma das

litofácies do Complexo Jequitinhonha. O teor de Fe2O3 chega a 15,36% na amostra depletada

em sílica, tendo valores semelhantes aos das outras suítes nas amostras restantes. Os teores de

FeO, Na2O, K2O, TiO2 e CaO são semelhantes aos das fácies presentes nas suítes Vereda e

Umburatiba.

Em relação aos elementos traços, este plúton demonstra uma variação nos teores de

Ba, Sr e Zr semelhantes aos das fácies previamente descritas, possuindo teores máximos na

amostra depletada em SiO2 (SCR-LC-16) e valores mínimos na amostra com maior teor de

SiO2 (SCR-LC-21), evidenciando a interação do magma parental com suas encaixantes

(Anexo 2). O diagrama mostra a variação da composição dos elementos traços a partir do

fracionamento, chegando a valores altamente enriquecidos em Th nas fácies mais

diferenciadas (Figura 10).

Os valores encontrados dos ETR evidênciam um alto fracionamento nesta suíte

magmática, apresentando espectros de fraco a fortemente fracionados (Figura 11). Os valores

de ETRL podem variar em até 21 vezes o valor mínimo da normalização. Os máximos

encontrados para os ETRL e o maior fracionamento do espectro presente no gráfico são

encontrados na amostra SCR-LC-15, evidenciando uma possível interação com os líquidos

Foto 13 – (a) Fenocristal de ortoclásio com inclusões de quartzo e biotita. (b) Orientação de

cristais de biotita, possivelmente originadas por fluxo magmático.

K-feld

Qtz Bt

Bt

1 mm 1 mm

a) b)

38

residuais. Os diferentes valores de ETR pesados no espectro podem ser explicados pela

abundância relativa de granada.

Figura 10 - Padrões de elementos traços das amostras do Maciço Córrego do Rezende, normalizadas para

condrito.

Figura 11 - Padrões de ETR das amostras do Maciço Córrego do Rezende, normalizadas para condrito.

39

3.4 SUÍTE ITANHÉM

Esta suíte está presente nos arredores do município de Itanhém, com relevos

abaulados, semelhantes aos das suítes pré-descritas. Seu limite a oeste é com a Maciço

Córrego do Rezende, sendo os outros limites circunvizinhos com o Complexo Jequitinhonha.

Apresentam-se como corpos de topos abaulados. Ocorrem seixos e blocos rolados de quartzo

em toda área deste litotipo, evidenciando uma fase de fluidização silicática tardia nessas

rochas (Foto 14).

Foto 14 – Bloco rolado em beira de estrada.

As fácies analisadas neste trabalho foram um biotita-tonalito e um biotita-

monzogranito com piroxênios presentes em sua composição modal. O hiperistênio, quando

primários em granitoides, indica magmas anidros de alta temperatura (WINTER, 2001).

Nessas fácies, é comum a substituição de piroxênios por biotita, evidenciando uma possível

hidratação por líquidos residuais. A presença de augita nessa assembleia normalmente indica

cristalização em fases finais, segundo dados experimentais obtidos em sistemas magmáticos

(WINTER, op. cit.).

40

3.4.2 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

3.4.2.1 Fácies biotita enderbito com zircão

Estas litofácies estão presentes a aproximadamente 1 km ao sul do município de

Itanhém. Consistem em hiperistênio-augita-tonalitos, de coloração esverdeada escura,

marcada pelos feldspatos, que se encontra nessa cor, e pelas biotitas (Foto 15). Para esta

fácies foram confeccionadas 3 seções delgadas.

Em Lâmina, apresenta textura inequigranular fina a média, hipidiomórfica, com grãos

que variam de 0,15 a 4 mm de comprimento. Sua moda consiste em: plagioclásio (44%),

clinopiroxênio (20%), quartzo (13%), ortopiroxênio (11%), biotita (7%) e opacos (5%).

Ocorrem texturas de intercrescimento de quartzo e feldspato e, em poucas seções descritas,

mimerquítica (Foto 17b). O feldspato potássico presente é a microclina, porém foi encontrado

em apenas 1 lâmina, apresentando geminação albita-periclina. A presença do piroxênio nesta

fácies mostra a característica anidra do magma parental, formado sob condições de alta

temperatura. O zircão está presente inclusos em alguns minerais dispersos na trama (Foto

17b)

Foto 15 – Amostra de mão do biotita enderbito. Observa-se a coloração esverdeada apresentada pelo

plagioclásio.

Os plagioclásios encontrados possuem o teor médio de anortita de 30%, estando entre

a faixa do oligoclásio e andesina de acordo com estimativas pelo método Michel-Lévy.

Apresentam-se como cristais subédricos a anédricos e tamanhos que variam de 0,3 a 7 mm.

41

Seus contatos são irregulares curvos em grãos xenomórficos, planares em grãos facetados e

serrilhados com as biotitas. A geminação albita está presente, porém em poucos casos

encontra-se bem formada, demonstrando uma distribuição caótica por deformação magmática.

É comum a ocorrência de geminação em cunha nos grãos com formas irregulares.

O clinopiroxênio presente é a augita. Está quase sempre xenomorfa, com contatos

irregulares variados com o restante da trama. Seu tamanho varia entre 0,1 e 4 mm. Ocorrem

quase sempre associados aos ortopiroxênios, por vezes substituindo-os. Outros minerais

associados são a biotita e os opacos. Em muitos casos estão sendo cortados por grãos de

plagioclásio.

O quartzo encontra-se como grãos anedrais, com tamanhos variados. Suas formas são

quase sempre irregulares, ameboides, com contatos interlobados e irregulares convexos.

O ortopiroxênio é o hiperstênio. Seus grãos estão xenomorfos, com contatos

irregulares convexos, por vezes côncavos e planares (Foto 17a). Suas características são

semelhantes as dos clinopiroxênios, se mostrando precoces em relação aos mesmos.

A biotita nesta fácies apresenta-se sob duas formas, uma com distribuição uniforme,

coloração vermelho escuro e cristais mal formados, favoráveis a uma origem magmática

primária, e outra com grãos subédricos e forte pleocroísmo, variando de marrom esverdeado a

marrom escuro, favoráveis a uma origem secundária. Ocorrem quase sempre em tamanhos

inferiores a dos grãos presentes na trama e, em sua maioria, preenchendo fraturas e intertícios

entre grãos (Foto 16).

Os opacos estão presentes sempre associados às biotitas e aos piroxênios. Encontra-se

com formas arredondadas e alongadas. Seus contatos são quase sempre irregulares convexos.

3.4.2.1 Fácies biotita charnockito

Esta fácies teve sua amostragem a sul de Itanhém, próximo ao limite com as

encaixantes do Complexo Jequitinhonha. São rochas de composição granítica, com coloração

cinza esbranquiçada a amarelada. Não foi possível a amostragem da rocha fresca. As análises

microscópicas foram feitas em 3 seções.

Em lâmina, essa rocha apresenta características de um monzogranito, com presença de

augita, hiperistênio e hornblenda. Sua textura é inequigranular de fina a média, xenomórfica,

com tamanhos que variam de 0,1 a 8 mm. A textura poiquilítica apresenta-se constante nos

fenocristais de plagioclásio e quartzo (Foto 18). As principais inclusões são de quartzo e

anfibólio. Texturas de intercrescimento entre plagioclásio e feldspato potássico são comuns, e

estão presente por quase todas as lâminas. Os piroxênios estão sendo substituídos pela biotita

42

(Foto 19), evidenciando (junto com a textura mimerquítica) uma rápida descompressão,

gerando um provável metamorfismo regressivo. A moda consiste em: plagioclásio (30%),

feldspato potássico (22%), quartzo (20%), clinopiroxênio (10%), anfibólio (8%), biotita (6%),

ortopiroxênio (3%) e opacos (1%).

Os plagioclásios encontrados, utilizando o mesmo método dos litotipos anteriores, são

oligoclásios (An27). São grãos subédricos a anédricos que podem variar em tamanho de 0,3 a

8 mm. A geminação albita apresenta deformações nos grãos xenomorfos e bem formada em

grãos hipidiomorfos. Seus contatos são irregulares curvos, interlobados, por vezes planares.

Os feldspatos potássicos encontrados foram o ortoclásio e a microclina. Suas

determinações foram possíveis devido às geminações albita-periclina e albita-carlsbad

apresentada pelos seus grãos. São grãos subédricos a anédricos, com tamanhos que variam de

0,2 a 3 mm. Seus contatos são comumente irregulares convexos, sendo planos quando em

grãos facetados.

O quartzo está presente por toda lâmina como grãos xenomorfos. Encontra-se, em sua

maioria, incluso em grãos maiores, podendo chegar a 5 mm. Observa-se extinção ondulante

forte em alguns núcleos.

O clinopiroxênio descrito é a augita, e encontra-se como grãos anédricos por toda

trama de tamanho variando entre 0,1 a 2 mm. Está quase sempre associado à biotita,

ortopiroxênio e anfibólio. Sua substituição pela biotita é comum por toda a lâmina, mostrando

um possível metamorfismo regressivo, pela ação da rápida descompressão.

O anfibólio presente na fácies é a hornblenda. Está presente como grãos anédricos

restritos a pequenas porções nas lâminas estudadas (Foto 18). Seus tamanhos variam de 0,15

mm em grãos inclusos, chegando a 1,2 mm nos grãos mais bem formados. Faz contatos

irregulares convexos, por vezes planares com grãos bem formados de plagioclásio.

As biotitas apresentam-se da mesma maneira do que na fácies enderbítica pré-descrita,

podendo distingui-las em 2 tipos: um com cores que variam em tons de marrom avermelhado

escuro, xenomórficos; e outro com pleocroísmo variando de castanho esverdeado e vermelho

amarronzado. Nas lâminas dessa fácies está sempre associada aos piroxênios, por vezes

substituindo-os.

O ortopiroxênio é o hiperistênio. O mineral encontra-se em pequenas porções nas

lâminas, sempre associado ao clinopiroxênio. Estão como cristais xenomórficos com contatos

sempre irregulares variados.

Os opacos estão presentes disseminados por todas as porções deste litotipo, sempre

associados a biotita e aos piroxênios.

43

Foto 16 – Assembléia mineralógica da litofácies enderbítica. Observa-se a biotita preenchendo

fraturas dos outros minerais presentes na trama. (a) luz plana (b) nicóis cruzados.

Foto 17 – (a) Porção com predominância de opx em relação ao cpx. (b) Textura mimerquítica e

inclusão de zircão em cristal de plagioclásio.

Foto 18 – Textura poiquilítica representada por inclusões de quartzo em cristais de plagioclásio

e cpx na litofácies charnockítica. Presença de cpx e anfibólio. (a) luz plana (b) nicóis cruzados.

1 mm 1 mm

Qtz

Plag

Cpx

Opx

Opx

Plag

Plag

Zr

Mimerquita

Cpx

Qtz

Plag

Anf

Qtz

1 mm 0,25 mm

1 mm

a)

a)

b)

b)

a) b)

44

3.4.3 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS

Para essa fácies foram analisadas 6 amostras, sendo 4 para a fácies enderbítica (SI-LC-

12, SI-LC-49, SI-LC-50 e SI-LC-52) e 2 para a fácies chanockítica (SI-LC-30 e SI-LC-31).

A caracterização da fácies enderbítica em relação aos elementos maiores demonstra

um decréscimo considerável em relação aos outros litotipos nos teores de SiO2, variando entre

47,93 e 51,57% e de K2O, variando de 0,95 a 1,48%. Enquanto isso, os valores de CaO,

Fe2O3, MgO, TiO2 e P2O5 obtiveram considerável aumento em relação às fácies das suítes

previamente descritas, com teores médios, respectivamente, de 7,95%, 13,8%, 5,1%, 4,6% e

1,7%.

Esta fácies se mostra enriquecida em elementos incompatíveis, relacionando-as aos

outros litotipos, tendo valores médios de Ba, Sr, Nb respectivamente, 680 ppm, 604 ppm e 32

ppm . Possui baixos teores de Rb, com médias de 35 ppm. O enriquecimento em ferro

proporcionou um valor anômalo do V em relação às outras fácies, chegando a 242 ppm.

São enriquecidos em ETR leves e pesados, com anomalia fraca de Eu. Seu espectro

possui fracionamento semelhante ao da fácies da SU.

Já na fácies charnockítica, os teores de SiO2 variam de 60,28 a 66,97%. Os outros

elementos maiores mostram teores médios semelhantes aos das suítes pré-descritas, com leve

enriquecimento em Fe2O3, FeO e Al2O3 (Tabela)

Os valores de Ba e Zr mostram os valores máximos nessa fácies, tendo médias de

2342 ppm e 839 ppm, respectivamente. Os teores de Rb e Th tiveram um leve acréscimo em

relação à fácies enderbítica, enquanto o Sr obteve um decréscimo de aproximadamente 100

ppm em suas amostras.

As fácies apresentadas para esta suíte demonstram o mesmo trend em relação aos

elementos traços, com teores enriquecidos para a fácies charnockiticas, evidenciando a sua

formação a partir do fracionamento magmático da fácies enderbítica (Figuras .

Foto 19 - Substituição do opx pela biotita. Possível evidencia de um processo de metamorfismo

regressivo.

0,25 mm

mm

0,25 mm

mm

Opx

Bt Ort Qtz

a) b)

45

Figura 12 - Padrões de elementos traços das litofácies da Suíte Itanhém, normalizadas para condrito.

Figura 13 - Padrões de elementos traços das litofácies da Suíte Itanhém, normalizadas para condrito.

46

3.5 MACIÇO CÓRREGO DO MEIO

Este maciço está presente a nordeste de Itanhém, no sentido do município de Salomão,

e representa um corpo de dimensões inferiores aos demais descritos (Anexo 1). A amostragem

foi feita na Pedreira Pirambóia, produtora de rocha ornamental, atualmente inativa, presente

na Fazenda Belezinha, na localidade de Córrego do Meio (Foto 20). Encontra-se intrudido no

paragnaisse do Complexo Jequitinhonha, sem contatos diretos com as suítes descritas

anteriormente.

Consiste em um granada monzogranito com presença de cianita e moscovita. Foi

confeccionada 1 lâmina petrográfica de uma porção representativa da rocha para análise

microscópica.

Foto 20 – Vista da Pedreira Pirambóia, atualmente inativa. Visada para N20.

3.5.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

Este litotipo consiste em um granito de coloração cinza esbranquiçado, caracterizado

por massas de feldspato e quartzo, com faixas cinza escuro e porções pegmatíticas associadas.

A presença de granada de coloração avermelhada é marcante por toda a rocha, porém com

menor quantidade nas porções pegmatíticas e com abundância nas porções com presença de

opacos (Foto 21). A presença da granada em grande quantidade e da cianita evidencia um

processo de assimilação de um material peraluminoso, possivelmente de sua encaixante

paragnáissica, ou de uma fonte precocemente aluminosa.

47

Foto 21 – Porção representativa do monzogranito. Observa-se uma massa de quartzo e feldspato com

granadas disseminadas.

Em lâmina, essa fácies apresenta textura inequigranular densa a média, xenoblástica

(Foto 22a), composta pelos minerais: feldspato potássico (34%), plagioclásio (27%), quartzo

(25%), granada (8%), cianita (6%) e moscovita associada. Ocorrem texturas de exsolução

como a mimerquita e a mesopertita, além da textura poiquilítica, marcada por inclusões de

quartzo nos cristais de feldspato.

O feldspato potássico é o ortoclásio, demonstrando quase sempre geminação Carlsbad

e, em muitos casos, textura pertítica. Apresenta-se como cristais anédricos de tamanhos que

variam de 0,01 a 3 mm, por vezes arredondados. Seus contatos são irregulares interlobados.

Os plagioclásios encontram-se semelhantes ao feldspato potássico, porém seus

tamanhos variam entre 0,1 a 1 mm. Não foi possível a determinação do teor de anortita devido

à imperfeição das geminações encontradas. Estão presentes como exsoluções em ortoclásios.

Encontram-se fracamente sericitizados em sua maioria.

O quartzo possui grãos anédricos e tamanhos variados. Seus contatos são irregulares,

envolvendo minerais de microclina e plagioclásio. Ocorrem preenchendo vesículas e inclusos

nos minerais presentes na trama, exceto a cianita.

As granadas apresentam-se arredondadas, anédricas, bastante fraturadas, preenchidas

por cristais de feldspatos, ou por vezes quartzo. Sua associação com a cianita é comum em

lâmina, apresentando evidências de cisalhamento quando está bordejada por cianita, sob

sombras de pressão.

48

Os cristais de cianita estão visíveis somente em lâmina, caracterizados por

aglomerados muitas vezes associados a granada. Possui pleocroísmo variando de incolor a

verde pálido e alto relevo marcante. Seus grãos encontram-se em forma de ripas, por vezes

aciculares e ameboides, subédricos a anédricos, com tamanhos que variam de 0,001 a 0,4 mm.

Seus contatos são irregulares curvos e esgaçados.

A moscovita está presente, em sua maioria, preenchendo fraturas e intertícios dos

demais minerais presentes na trama, por vezes com cristais que chegam a 0,3 mm (Foto 22b).

3.5.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS

Para essa fácies foi analisada apenas 1 amostra representativa do corpo: a MCM-LC-

25 (Anexo 1).

Os teores de seus elementos maiores, representados em óxidos, são: 69,32% para SiO2,

14,6% para Al2O3, 4,15% para K2O, 3,69% para Na2O, 1,73% para Fe2O3, 1,36% para CaO e

1% para FeO. O TiO2 não possuí valor detectável para essa amostra. Nota-se semelhança dos

teores de Al2O3, Na2O, K2O e CaO desta fácies relacionando-as com as fácies das suítes

Foto 22 – (a) Porção representativa da litofácies. Observa-se aglomerados de cianita na parte

inferior da foto (b) Cristal de moscovita entre grãos de k-feldspato.

Foto 23 – Granada envolta de cristais de cianita como sombras de pressão. (a) luz plana (b) nicóis

cruzados.

1mm 0,25 mm

Ort

Ort

Plag

Ct

Ort

Ct Gr

1mm 1mm

a)

b)

a)

b)

49

presentes na área de estudos, mostrando a mesma assinatura em relação à alcalinidade e ao

índice de alumina.

Em relação aos elementos traços, o stock apresenta teores inferiores aos das fácies das

suítes SV, SU e SCR, para elementos como Cs, Ba e Sr, com atenção aos valores depletados

de Nb e Y em relação ao Rb, evidenciando um possível caráter de granitos sin à tardi-

colisionais (Figura 14).

O espectro de ETR demonstra um empobrecimento desta litofácies em ETRL

relacionando-os as fácies anteriormente descritas, sendo este semelhante às amostras do

Complexo Jequitinhonha, evidenciando uma possível relação genética entre esses litotipos

(Figura 15).

Figura 14 - Padrões de elementos traços da amostra do Maciço Córrego do Meio, normalizadas para

condrito.

50

Figura 15 - Padrões de ETR da amostra do Maciço Córrego do Meio, normalizadas para condrito.

3.6 MACIÇO ÁGUA LIMPA

Assim como o Stock Córrego do Meio, esse maciço foi amostrado em uma pedreira

produtora de rocha ornamental, atualmente ativa, de posse da Mineração Corcovado Ltda.

Está disposto na saída de Medeiros Neto sentido Vereda, entrando na região de Água Limpa.

A fácies consiste em um monzogranito semelhante ao Stock Córrego do Meio, porém

sem a presença de cianita.

3.6.1 CARACTERÍSTICAS PETROGRÁFICAS

3.6.1.1 Fácies granada monzogranito com moscovita

Essa fácies consiste em um granito cinza esbranquiçado com granadas avermelhadas e

porções pegmatíticas ricas em biotita e quartzo. Em sua porção mais representativa, o litotipo

apresenta-se com uma massa de quartzo e feldspato com granadas disseminadas (Foto25).

Em lâmina, essa rocha apresenta textura inequigranular fina a média, xenomórfica e

texturas de intercrescimento de quartzo e feldspato. Sua moda consiste em: quartzo (37%);

ortoclásio (33%); plagioclásio (23%); granada (6%); moscovita (1%). A presença de biotitas e

microclinas é rara.

51

Foto 24 – Porção pegmatítica com cristais centimétricos de biotita feldspato e quartzo.

Foto 25 – Porção representativa da litofácies

O quartzo está presente como grãos anedrais de tamanhos que variam de 0,01 a 6 mm,

normalmente de formatos ameboide ou arredondado. Seus contatos são irregulares curvos

com os feldspatos e serrilhados com a moscovita.

O ortoclásio encontra-se em grãos que variam de 0,5 a 7 mm. São subédricos a

anédricos com contatos irregulares, por vezes planares e serrilhados.

52

O plagioclásio é o oligoclásio (An26), quase sempre apresentando geminação albita

bem formada. Em alguns grãos é possível notar a geminação em cunha formada por

deformação mecânica.

As granadas nesta fácies encontram-se subédricas a anédricas, com cristais

apresentando pouca variação em seu diâmetro, normalmente entre 0,3 a 0,6 mm. Estão see

desagregando para a formação de cristais de moscovita em algumas lâminas.

A moscovita apresenta-se quase sempre associada a granada e possui tamanhos

variados. Dispõem-se como grãos subédricos a anédricos ao redor da granada ou entre os

intertícios dos demais minerais da trama.

A microclina está presente em pequenas quantidades, quase sempre apresentando

geminação albita-periclina. A biotita está presente apenas em porções pegmatíticas, e

encontra-se de forma disseminada em porções representativas do litotipo.

Foto 26 - (a) Geminação Carlsbad em crital de ortoclásio. (b) Substituição da granada pela moscovita

3.6.2 CARACTERÍSTICAS LITOGEOQUÍMICAS

Para este plúton foi analisada 1 amostra representativa, a MAL-LC-77 (Anexo 2). Os

valores encontrados para os elementos maiores e menores são semelhantes a do Stock Córrego

do Meio.

Relacionando o espectro de elementos incompatíveis com o MCM, o MAL mostra

valores semelhante, com aumento considerável no teor de Ba, Sr e Rb, e valores não

detectáveis para Nb e Y (Figura 16). No espectro dos ETR, mostra valores depletados para os

ETR leves e pesados, diferenciando-se apenas pela forte anomalia positiva de Eu (Figura 17).

0,25 mm 0,25 mm

Ort

Plag

Qtz Mv

Gr

a)

b)

53

Figura 16 – Padrões de elementos traços de uma amostra representativa do Maciço Água Limpa.

Figura 17 - Padrões de ETR de uma amostra representativa do Maciço Água Limpa.

54

CAPÍTULO IV - CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO PETROGENÉTICA DOS

GRANITOIDES

4.1 INTRODUÇÃO

Em 1863, Joseph Jukes, como diretor do Serviço Geológico Irlandês disse “Granite is

not a rock which was simple in its origin but might be produced in more ways than one.”

(WINTER, op. cit.). Essas palavras evidenciam a complexidade no estudo das fontes

geradoras desses litotipos.

Os primeiros gráficos geoquímicos de classificação de granitos foram dados por

Chappell & White, em 1974. Esses autores estudaram dois distintos conjuntos corpos

presentes no Cinturão de Dobramentos Lachlan, no domínio da Austrália Oriental: um com

caráter relativamente sódico, e com teores de SiO2 podendo variar entre 56 e 77%,

denominado de tipo-I; e outro com caráter potássico, teores mais elevados de Al2O3, e com

altos teores de SiO2, variando entre 64 e 77%, chamado de tipo S (FROST et al., 2001). Os

autores identificam os do tipo-I como sendo gerado pelo fracionamento de magmas

mantélicos, podendo sofrer contaminação crustal (GRAVIOU, 1984; STEPHENS, 1997 apud

CELINO, 1999) enquanto os do tipo-S estão relacionados principalmente a fusão de

metassedimentos aluminosos (WHITE & CHAPPELL, 1988; BARBARIN, 1997 apud

CELINO, 1999).

Posteriormente, outras classificações alfabéticas de granitos foram surgindo, como por

exemplo, os granitoides do tipo-A (LOISELLE & WONES, 1979), tipo-M (WHITE, 1979) e

do tipo-C (KILPATRICK & ELLIS, 1992), cada qual com sua característica litogeoquímica

específica, sendo as duas últimas consideradas imprecisas por alguns autores (FROST et al.,

op. cit.).

Mais recentemente, autores como Winter (2010), propuseram uma nova nomenclatura

para granitoides, o tipo-H, na qual o magma é gerado a partir de processo de mixing entre 2

diferentes magmas. Está ligado, principalmente, a zonas de orógenos colisionais, onde

câmaras magmáticas mantélicas se encontram com granitos formados por fusão crustal, além

da assimilação das rochas encaixantes. O resultado são magmas com características distintas

daqueles pré-citados, com trends que variam a depender das caraterísticas das fontes dos

magmas e de suas encaixantes durante sua trajetória na crosta.

As primeiras classificações em relação ao índice de álcalis foram dadas por Peacock

(1931; apud FROST et al., op. cit.). O autor separou suítes vulcânicas, a partir dos teores de

55

SiO2, Na2O, K2O e CaO, em quatro tipos distintos: os cálcicos, cálcio-alcalinos, álcali-

calcicos e os alcalinos.

Outra forma de classificação para granitóides é em relação ao seu índice de saturação

em alumínio, proposta por Shand em 1943. Essa classificação foi definida a partir da equação

Al/(Ca - 1.67P + Na + K)e distingue três tipos principais de granitos: os peraluminosos, o

metaluminosos e os peralcalinos, com teores decrescentes de alumínio.

Autores como Pearce et al. (1984) utilizaram diagramas de elementos traços, como Nb

versus Y, Ta versus Yb, Rb versus (Y + Nb) para descriminação dos granitoides em relação

ao seu ambiente de formação. Esses diagramas dividem os granitóides em: granitos de arco

vulcânico (VAG), granitos colisionais (COLG), granitos intraplacas (WPG) e granitos de

dorsais meso-oceânicas (ORG). Harris et al (1986) utilizaram diagramas triangulares de Rb-

Hf-Ta para distinguir os granitóides entre os tipos: (i) de zonas de subducção; (ii) colisionais;

(iii) pós-tectônicos cálcio-alcalinos e (iv) pós-tectônicos alcalinos.

4.2 – CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO

4.2.1 Elementos Maiores

Utilizando os teores dos elementos maiores, foram plotados gráficos de discriminação

propostos em trabalhos realizados por Chappell & White (1974), Collins et al., (1982), White

& Chappell (1983) e King et al. (1997;apud FROST, 2001) granitoides do Cinturão de

Dobramentos de Lachlan, na Austrália. Foram plotadas os valores de FeO/(FeO + MgO) vs

SiO2% (Figura Xa) e Na2O + K2O – CaO vc SiO2 (Figura Xb).

Nestes gráficos, quase todos os maciços estudados se concentram na região dos

granitos do tipo-S, tendo apenas a fácies enderbítica da Suíte Itanhém como sendo do tipo-I.

As amostras da fácies charnockítica caem no campo dos granitóides do tipo-A, confirmando o

fracionamento do magma formador desta suíte. No gráfico da Figura 18b (Na2O + K2O – CaO

vs. SiO2) é possível notar também a assinatura preferencial cálcio-alcalina a cálcio-alcalina de

alto K dos maciços estudados.

56

Figura 18 – Diagramas de classificação dos litotipos da área de estudo, em comparação com as áreas de

variação das rochas do Cinturão de Dobramentos Lachlan. (a) FeO/(FeO+MgO) versus % SiO2 (b)

Na2O+K2O-CaO versus % SiO2.

Fonte: Modificado de Landenberger & Collins (1996), retirado de Frost (2001).

Foi utilizado o Diagrama das Séries Magmáticas (K2O versus SiO2) (Figura 19) para a

classificação a partir das séries magmáticas. As amostras apresentaram alto teor de K2O,

estando entre as séries cálcio-alcalina de alto potássio e shoshonítica, enquanto as amostras do

Complexo Jequitinhonha dispuseram-se entre a série cálcio-alcalina e cálcio-alcalina de alto

potássio, demonstrando características de rochas originalmente crustais. No diagrama da

Figura 20, proposto por Le Maitre (1989), os litotipos apresentaram-se entre as zonas

potássica-sódica e potássica. A variação de posição no diagrama das amostras de um mesmo

litotipo mostra uma forte diferenciação magmática no interior de cada câmara parental.

57

Figura 19 – Digrama de séries magmáticas.

Figura 20 – Diagrama de classificação das rochas da área de estudo proposto por Le Maitre (1989).

Para classificação em relação ao índice de saturação de alumina, foi utilizado o

diagrama de Maniar & Piccolo (1989) (Figura 21). Como outros autores já haviam proposto

para os granitóides presentes nesta região, todas as fácies se mostraram fortemente

%

%

58

peraluminosas, indicando a assimilação durante os processos magmáticos de alguma

encaixante rica neste componente. É possível notar um trend preferencial no qual todas as

rochas analisadas estão presentes.

Figura 21 – Diagrama de classificação pelo índice de saturação em alumina, porposto por Maniar &

Piccolo (1989).

4.2.2 Elementos Traços

Os diagramas aqui apresentados foram normalizados para MORB, considerando os

elementos incompatíveis LIL e HSFE, e para condrito, considerando os ETR.

A concentração dos elementos traços nas rochas depende de sua composição

mineralógica. Elementos como os LIL (Rb, Ba e Sr) e o Eu costumam se concentrar em

minerais reativos nos processos de fusão, mostrando estar dispersos nos granitos, refletindo a

variação composicional da fonte. Outros elementos como os ETRL, Zr e o Hf, concentram-se

em minerais acessórios, como o zircão e a monazita. Assim, a concentração desses elementos

varia não apenas pela estequiometria das reações de fusão, mas também pela composição do

seu material parental e do grau de dissolução dos minerais acessórios presentes (VILLAROS,

2009).

Após as análises expostas ao longo do Capítulo II, podemos perceber uma intensa

relação genética entre os maciços estudados. Ao compararmos os valores dos elementos

traços dos granitoides estudados neste trabalho com sua encaixante, percebe-se uma

59

semelhança entre os trends da mesma com os dos maciços MU, MV, MSR e a suíte SI. A

variação vertical nos gráficos desses litotipos mostra um forte fracionamento magmático,

tendo os valores das amostras menos diferenciadas próximos aos do CJ. Essa semelhança

pode evidenciar juntamente com o caráter peraluminoso, que esses maciços são granitoides

formados pela anatexia do litotipos paragnáissicos do complexo encaixante (Figuras 23 e 24).

A partir da classificação original inicial S-I-A-M, os granitoides utilizados por

diversos autores originaram diagramas distintos, mostrando trends particulares para elementos

incompatíveis e elementos traços.

Para a caracterização petrogenética dos litotipos apresentados neste trabalho, foi feita

uma análise comparativa de diagramas multielementares dos elementos incompatíveis dos

trabalhos de autores como Chappell & White (1992), demonstrando trends para granitoides

do tipo-I e do tipo-S, e While et al. (1987), com os trends de granitoides do tipo-A e do tipo-

M (Figura 22) (WINTER 2010).

Figura 22 – Padrões de elementos traços e ETR dos tipos de rochas consideradas padrões para esses tipos

de classificações.

Fonte: Winter (2010).

Utilizando o aranhograma da Figura 23, é possível fazer uma análise comparativa dos

valores dos elementos incompatíveis de amostras representativas de cada litotipo com

granitoides que deram origem as classificações hoje propostas, citadas acima (Figura 22), e

com a sua encaixante. O valores de Rb, Th e alguns ERTL (Ce e Sm), encontram-se

enriquecidos em relação aos clássicos granitoides do tipo-I e -S de Chappell e White (op. cit.).

A forte anomalia negativa de Nb presente nos maciços MU, MV, MCM e MAL evidenciam a

formação desses corpos em ambiente sin a tardi-colisional. As fácies da suíte SI demonstram

um forte fracionamento entre elas, e uma possível colocação pós colisional a partir dos teores

de Nb.

60

Figura 23 – Padrões de elementos incompatíveis para amostras representativas de cada maciço estudado e

de sua encaixante. MU – Maciço Umburatiba; MV – Maciço Vereda; MSR – Maciço Córrego do Rezende;

MCM – Maciço Córrego do Meio; SI-End e SI-Char – Suíte Itanhém fácies enderbito e charnickito; CJ –

Complexo Jequitinhonha.

Utilizando o aranhograma da Figura 23, é possível fazer uma análise comparativa dos

valores dos elementos incompatíveis de amostras representativas de cada litotipo com

granitoides que deram origem as classificações hoje propostas, citadas acima (Figura 22), e

com a sua encaixante. O valores de Rb, Th e alguns ERTL (Ce e Sm), encontram-se

enriquecidos em relação aos clássicos granitoides do tipo-I e -S de Chappell e White (op. cit.).

A forte anomalia negativa de Nb presente nos maciços MU, MV, MCM e MAL evidenciam a

formação desses corpos em ambiente sin a tardi-colisional. As fácies da suíte SI demonstram

um forte fracionamento entre elas, e uma possível colocação pós colisional a partir dos teores

de Nb.

Como já dito, e pode ser demonstrado nas comparações com os diagramas da Figuras

22, não é possível identificar a fonte dos granitoides apenas pelas concetrações dos elementos

incompatíveis.

61

Figura 24 - Padrões de ETR para amostras representativas de cada maciço estudado e de sua encaixante. .

MU – Maciço Umburatiba; MV – Maciço Vereda; MSR – Maciço Córrego do Rezende; MCM – Maciço

Córrego do Meio; SI-End e SI-Char – Suíte Itanhém fácies enderbito e charnickito; CJ – Complexo

Jequitinhonha; Tipo-I GMP – Granitoide Martins Pereira; Tipo-S SD – Granitoide Serra Dourada.

O maciço MCM mostra valores primitivos em relação às demais fácies, com valores

depletados para ETRL e ETRP, e uma forte anomalia positiva para o Eu, aprisionado nas

fases dos plagioclásios. Os valores encontrados para este corpo podem evidenciar uma

formação próxima à fonte geradora do magma parental, possivelmente mantélica, além de

taxas mais elevadas de fusão, capazes de extrair os plagioclásios mais cálcios da fonte.

No diagrama da Figura 24, dos padrões de ETR, ocorrem campos representados por

amostras dos granitoides Martins Pereira (tipo-I) e Serra Dourada (tipo-S), no Escudo Guiana

(ALMEIDA et al., 2007) para análise comparativa. Podemos perceber que os valores

encontrados para os maciços MU, MV, MSR, MCM e MAL podem ter sido formados tanto

por diferenciação magmática com contribuição crustal de um magma mantélico, quanto pela

anatexia crustal.

O caráter cálcio-alcalino de alto potássio, peraluminoso e o enriquecimento de

elementos incompatíveis como Rb, Th e ETRL para os maciços MU, MV e pela SI pode ser

explicado pelos seguintes processos:

- Uma fonte metassedimentar aluminosa enriquecida em minerais reativos e

acessórios.

- Formação do magma parental a partir de uma porção enriquecida do manto

litosférico;

62

- As rochas representam suítes em seu estágio final de cristalização fracionada,

adquirindo assim os elementos incompatíveis a partir do magma residual;

- A ação de fluidos tardios, metamórficos ou dos próprios granitoides, pode ter

remobilizado os elementos traço mais móveis, resultando em teores mais enriquecidos que os

padrões de comparação.

Nas propostas acima, devemos considerar que, juntamente com o fracionamento

magmático sofrido ao longo da cristalização do magma, processos de assimilação crustal

ocorrem desde a geração do magma até o final de sua solidificação. Teixeira (op. cit.),

estudando granitoides presentes na mesma região, indica uma fonte magmática alcalina

proveniente do manto a partir dos teores de Zr e P2O5, facilitando assim a assimilação das

rochas adjacentes a esses litotipos.

4.3 CONCLUSÕES

Após trabalhos realizados em suítes de granitoides em ambientes de orógenos

acrescinários e colisionais, é possível identificar, de fato, que poucos cinturões orogênicos

mostram distinções entre os tipos I e S tão bem quanto os do Cinturão de Dobramentos

Lachlan (WINTER, 2010). Utilizando a classificação proposta pelo mesmo autor, podemos

adicionar este grupo, exceto o MCM, como sendo do tipo-H, ou seja, um magma gerado por

um processo de mixing, ass

Dos corpos estudados, apenas o MCM se mostrou com um trend primitivo em relação

aos outros, demonstrando-se fracamente fracionados e uma possível origem mantélica.

A semelhança dos trends dos maciços restantes com sua encaixante paragnáissica e o

enriquecimento desses maciços em elementos traços podem caracterizar:

- Uma interação de magmas mantélicos com suas encaixantes, por assimilação, e com

magmas gerados por fusão crustal, por processos de mistura de magmas (mixing).

- Formação magmática a partir da fusão das encaixantes representadas pelas litofácies do

Complexo Jequitinhonha.

- Magma parental mantélico já enriquecido, possivelmente pela influência dos líquidos

gerados na desidratação dos slabs no estágio de orógeno acrescionário.

- Enriquecimento gradacional dos elementos incompatíveis a partir de um magma mantélico

pelo processo de cristalização fracionada.

A possibilidade de o enriquecimento ter ocorrido por ação hidrotermal tardia é

improvável pelas falta de evidências nas análises petrográficas, porém não descarta a

63

possibilidade de uma interação dessas câmaras com fluídos, como os metamórficos por

exemplo. Apenas o MV demonstra uma possível alteração hidrotermal local em algumas de

suas amostras analisadas.

64

REFERÊNCIAS

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tectônica do Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental. GEONOMOS 15 (1): 25-43. 2007.

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65

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TEIXEIRA, L. R. Projeto Extremo Sul: relatório de litogeoquímica. Salvador: CPRM, 2002.

66

Anexo 1 – Mapa geológico da área de estudo, modificado de Sampaio (2002). As letras

representam os maciços estudados: (A) Maciço Umburatiba (B) Maciço Vereda (C)

Maciço Córrego do Rezende (D) Maciço Córrego do Meio (E) Suíte Itanhém (F) Maciço

Água Limpa. CJ: Complexo Jequitinhonha.

Depósitos e terraços aluviais

Depósitos areno-argilosos, inconsolidados.

Arenito imaturo, com intercalações de níveis argilosos e conglomeráticos.

Enderbito a charnoenderbito e mangerito; pós-tectônico

Sienito a monzogranito; pós-tectônico

Sienogranito; tardi a pós-tectônico

Granito; sin a tardi-tectônico

Tonalito; sin a tardi-tectônico

Gnaisses kinzigíticos migmatíticos; CJ

Gnaisses kinzigíticos migmatíticos bandados, com bandamento milimétrico a centimétricos; CJ

Anex

o 1

67

Anexo 2

Amostra

CJ-LC

-81C

J-LC-20

SI-LC

-50S

I-LC-52

SI-LC

-49S

I-LC-31

SI-LC

-30S

I-LC-12

MC

R-LC

-21M

CR

-LC-18

MC

R-LC

-17M

CR

-LC-16

MC

R-LC

-15M

V-LC

-67M

V-LC

-62M

V-LC

-61M

V-LC

-60M

V-LC

-58M

V-LC

-55M

U-LC

-40M

U-LC

-39M

U-LC

-38M

U-LC

-37M

U-LC

-24M

U-LC

-23M

U-LC

-22M

AL-LC

-77MC

M-LC

-25

SiO

267,81

77,4647,93

51,5749,22

60,2866,97

50,9274,42

69,0167,72

51,363,86

71,4167,01

69,4967,65

64,7467,68

68,1566,4

68,3274,16

69,5868,4

67,4176,29

69,23

TiO2

0,391,16

4,783,91

4,871,05

1,034,83

0,140,36

11,73

1,440,27

0,80,71

0,971,13

0,81,13

1,110,82

0,540,08

0,830,58

0,03<0,01

Al2O

315,25

11,2314,94

15,5114,51

16,216,78

14,4115,24

14,0216,22

23,1316,98

15,2914,93

14,8215,34

14,6813,93

15,5715,87

15,4114,17

15,1715,01

13,6113,54

14,6

Fe2O3

4,195,89

15,2611,95

16,666,97

7,2111,3

1,663,51

8,215,36

9,163,67

6,355,73

4,614,44

5,476,31

7,355,65

4,781,13

5,184,65

1,661,73

FeO2,7

3,865

3,663,61

4,554,63

5,141,22

2,073,51

3,724,64

2,262,98

3,282,93

3,113,16

4,665,02

3,692,36

0,943,46

2,990,93

1

MnO

0,080,06

0,220,16

0,240,1

0,10,17

0,040,04

0,150,21

0,150,06

0,090,08

0,050,03

0,090,07

0,080,06

0,070,01

0,030,05

0,020,04

MgO

0,931,93

4,835,56

4,440,96

1,045,57

0,290,8

2,685,5

1,340,61

1,841,68

0,971,19

2,412,02

2,131,59

0,920,14

1,260,98

0,090,09

CaO

3,671,2

8,046,86

8,632,76

2,938,27

0,82,28

1,130,61

4,653,08

1,120,79

1,352,35

3,572,92

2,82,52

1,791,36

2,151,91

1,331,36

Na2O

3,392,2

2,532,56

2,533,04

2,932,4

3,123,15

2,151,1

3,153,44

2,381,96

2,362,64

2,442,86

2,82,87

2,472,5

2,892,54

2,833,69

K2O

2,621,92

1,291,3

0,953,91

4,381,48

5,773,52

3,243,62

2,833,23

4,464,9

6,415,42

3,23,02

3,583,72

4,596,94

3,853,78

5,334,15

P2O

50,17

0,091,83

0,681,98

0,210,27

2,260,19

0,070,09

0,040,56

<0,010,1

0,030,22

0,320,08

0,110,08

0,090,32

0,370,14

0,11<0,01

<0,01

Ba

526353

683851

4962213

2471690

253354

536906

1863581

540638

6841043

850978

988733

6961121

506587

629226

Rb

88,5117,8

35,235,3

24,6115,4

12146

206,5143,8

157,4137,6

74109,2

193,6199,9

323,6244,1

120,9120

129136,4

148,6200,4

165147

155,298,1

Sr

263148

686700

508405

399522

68148

125112

450229

116109

124212

306181

181157

115168

125117

189105

Y10

3631

2242

4955

35<10

3426

7550

1126

1914

<1018

3037

2443

3225

32<10

12

Zr121

549436

424371

869808

54070

130236

3061382

127204

167649

738274

409391

337248

55283

28444

34

Nb

9,5614,12

37,2226,53

40,0922,89

19,922,38

9,9612,23

16,4923,28

36,2210,32

16,179,05

12,65,04

13,0314,79

16,0616,37

11,210,42

18,3712,75

<0,051,4

Th4

16,412,7

9,211,9

56,442,5

19,75,1

1717,4

25,883

714,1

28,2197,9

1484,2

20,724,2

27,126

5,416,3

18,90,8

4,8

Ga

20,516

25,527,8

24,225,1

23,523,6

18,920,8

23,433,9

28,422,9

21,922

33,330,5

19,721,8

21,122,1

17,614,3

22,820,1

1717,4

Zn77

98223

161202

7776

20255

4095

221136

7274

105130

10275

6658

4752

<539

3243

14

Cu

107

4544

4018

1339

<5<5

359

248

2127

78

1310

2211

5<5

97

5<5

Ni

635

4685

1714

1438

79

4282

177

2825

128

3425

2920

105

1813

12<5

V37

88218

183242

4856

231<5

33120

27857

1869

6923

4279

7381

5940

<542

26<5

<5

Hf

3,513,42

11,0110,67

920,43

17,3414,48

2,625,6

78,44

31,033,83

5,944,55

17,8720

7,6211,82

11,439,81

7,161,59

7,777,86

1,991,77

Cs

1,644,91

0,570,52

0,742,09

1,920,66

3,081,57

2,822,1

1,81,11

3,272,62

0,860,72

4,032,48

2,242,21

1,641,38

2,391,64

0,780,26

Ta0,73

1,112,19

1,332,37

1,541,31

1,761,27

1,11,51

1,52,15

0,562,17

0,390,68

0,170,7

0,740,88

0,90,75

0,171,19

1,12<0,05

0,22

Co

5,513

34,235,5

33,59,9

8,833,4

1,76,4

17,738,5

12,44,3

14,911,5

7,47,5

12,915,4

14,59,5

7,31

97

1,10,7

U0,86

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W0,1

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1,60,8

1,10,5

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1,2<0,1

0,4

Sn

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<0,31

60,4

Mo

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<22

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

<2<2

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Pr

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Nd

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Sm

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Gd

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0,5

Dy

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Ho

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