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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO – NATAL / RN SANDRA MARIA DE LIMA BEZERRIL AGOSTO – 2006 Natal – RN Brasil

CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE

FELIPE CAMARÃO – NATAL / RN

SANDRA MARIA DE LIMA BEZERRIL

AGOSTO – 2006

Natal – RN

Brasil

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Sandra Maria de Lima Bezerril

CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO – NATAL / RN

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre.

Orientador: ProfªDrª. Maria Iracema Bezerra Loiola.

Co-Orientador: Profª.Drª. Maria do Socorro Costa Martim

AGOSTO- 2006

Natal – RN

Brasil

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SANDRA MARIA DE LIMA BEZERRIL

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em:

________________________________________________________________ Profª Drª Maria Iracema Bezerra Loiola

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA – UFRN)

________________________________________________________________ Profº Drª Francisca Soares de Araújo

Universidade Federal do Ceará (PRODEMA / UFC)

________________________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Bastos Costa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA / UFRN)

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede

Bezerril, Sandra Maria de Lima. Caracterização sócio-ambiental do bairro de Felipe Camarão- Natal/ RN/ Sandra Maria de Lima Bezerril. – Natal, RN, 2006.

39f. : il.

Orientador: Maria Iracema B. Loiola. Co- Orientador: Maria do Socorro Costa Martim.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

1. Urbanização - Dissertação. 2. Parcelamento do solo- Dissertação. 3. Ocupação irregular - Dissertação. 4. Alterações ambientais – Dissertação. I. Loiola, Maria Iracema B. II. Martim, Maria do Socorro Costa. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 364.122.5(043.3)

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Aos meus tesouros: mamãe (in memoriam), Suelly e Jorge Henrique;

companheiros fiéis e meus amores…

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

À UFRN, através do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente –

PRODEMA, por contribuir com a viabilização desta pesquisa.

À Profª Maria Iracema Bezerra Loiola, minha orientadora e facilitadora, pela credibilidade e

afetuosa atitude de me aceitar em sua equipe.

À Profª Maria do Socorro Costa Martim, minha co-orientadora, pelo exemplo de

persistência, simpatia e confiança.

À Profª Raquel Franco de Lima, pela intervenção preciosa quando tudo parecia impossível.

Aos colegas, demais professores e funcionários do PRODEMA que colaboraram com

solidariedade e entusiasmo para que essa turma iniciasse a jornada de sucesso e realizações

de muitas outras no futuro.

Aos colegas do Parque das Dunas, um local de muitos recomeços.

Aos amigos da Secretaria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB, legado da

extinta Fundação do Meio Ambiente do Natal – ECO – NATAL, por me reafirmar que

somos responsáveis por quem cativamos e pela inestimável colaboração neste trabalho.

A Maria do Socorro Borges Freire, administradora do Parque Estadual Dunas do Natal

“Jornalista Luiz Maria Alves”, pela manutenção da confiança e credibilidade, mesmo após

tantos anos de distanciamento.

A Carla Vieira dos Santos, pela ajuda na revisão desse texto e pelo inesgotável otimismo.

A Roseane Verônica Matos, pela paciência, carinho e companheirismo.

A Regina Kátia Carneiro Saraiva, grande companheira de antigas histórias e muitas

caminhadas.

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Aos meus amigos da Fundação Bradesco Natal, pelo incentivo, força e inesquecíveis lições

cotidianas sobre a difícil missão de ensinar.

Aos meus alunos, pela confiança, ternura e disponibilidade de prosseguir comigo na busca

do conhecimento.

A minha inesquecível mãe...

Aos meus familiares distantes de Pedro Velho – RN, exemplo constante de honestidade,

simplicidade, entusiasmo e muita fé.

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Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe,

e no teu livro todas essas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia

a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia.

Salmo 139: 16

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO GERAL 01

REFERÊNCIAS 05

CAPÍTULO 1. Caracterização Sócio-Ambiental do Bairro de Felipe Camarão – Natal / RN

07

RESUMO 08 ABSTRACT 08 INTRODUÇÃO 09 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DO BRASIL 09 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DE NATAL 10 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DA ZONA

OESTE DE NATAL 12

ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO

13

MATERIAL E MÈTODOS 14 DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 14 METODOLOGIA 17 RESULTADOS E DISCUSSÕES 19 PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DA COMUNIDADE DE FELIPE

CAMARÃO 19

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA EDIFICADA 23 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA DE DUNAS 25 CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA DE MANGUEZAL 27 CONCLUSÕES 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31 ANEXOS 34 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS MORADORES DO BAIRRO

DE FELIPE CAMARÃO 35

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA AMBIENTE E SOCIEDADE.

39

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RESUMO

O rápido crescimento das cidades brasileiras nos últimos anos trouxe uma série de

problemas relacionados com as políticas de habitação e conseqüentemente com a provisão de

habitações para as classes de renda baixa. Seguindo o exemplo de outras capitais, Natal

repetiu o modelo de urbanização praticado no país, concentrando as populações de baixa

renda em zonas específicas da cidade classificadas como periferias, ou lugar de habitação das

classes menos favorecidas como ocorre em Felipe Camarão, um dos dez bairros que integram

a zona administrativa oeste, região que historicamente recebeu pouca atenção por parte dos

poderes públicos em termos de investimentos em infra-estrutura. Fundamentados nesses

aspectos, o objetivo geral deste trabalho é averiguar quais as principais alterações sócio-

ambientais decorrentes do processo de urbanização e ocupação na área. Constituem-se os

objetivos específicos verificar: o processo de urbanização e parcelamento do solo a partir de

1960; a configuração atual dos espaços públicos do bairro; o processo de descaracterização

das Zonas de Proteção Ambiental; as dinâmicas de ocupação predominantes nas áreas de

dunas e de manguezal e a destruição da cobertura vegetal com conseqüente alteração do

padrão florístico local. A metodologia compreendeu: 1) visitas a campo; 2) aplicação de

questionários – pesquisa comunitária; 3) levantamento da bibliografia publicada pelos órgãos

e instituições encarregados de executar as políticas de meio ambiente e habitação no

município; e 4) estatística descritiva dos dados coletados. No que se refere ao modelo de

ocupação predominante no bairro, constatou-se que o tratamento dispensado pelos moradores

ao espaço culminou com o aparecimento e consolidação de alterações ambientais distintas de

comum ocorrência na área edificada representada pelos conjuntos habitacionais e nas áreas

verdes representadas respectivamente pelas dunas e pelo mangue. Os dados demonstram que

durante o povoamento, houve predominância do processo de ocupação irregular sobre a

política oficial de habitação, colaborando com uma série de problemas freqüentes e

previsíveis nas dinâmicas de urbanização da pobreza como: invasões e apropriações de lotes;

abertura de arruamentos irregulares; formação de vilas e favelas, repletas de unidades

habitacionais auto-construídas e ocupação e degradação de áreas de fragilidade ambiental,

como as encostas de dunas e os manguezais.

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ABSTRACT

The rapid growth of the Brazilian cities in the latest years has brought a series of

problems regarding housing policies and, therefore, the provision of dwellings for the low-

income class people. Following the pattern of other capital cities, Natal has repeated the

pattern of urbanization practiced in the country, which concentrates the low-income class

inhabitants in specific zones of the city known as peripheries or even in a dwelling place for

less-favored classes such as Felipe Camarão, which is one of ten boroughs belonging to the

western administrative zone, a region which has historically received less attention from the

public administrators towards infrastructure investments. Based on those aspects, the general

objective of this work is to investigate which main social-environmental alterations have

resulted from the processes of urbanization and field occupation in that area. The specific

objectives are concerned with verifying 1) the process of urbanization and the process of

dividing urban soil from the 1960s; 2) the current configuration of the public spaces in the

borough; 3) the process of the deprivation of the original landscape characteristics of

Environmental Protection Zones; 4) the dynamics of land occupation which are predominant

in dune areas; 5) the dynamics of land occupation which are predominant in mangrove areas;

6) and the destruction of green covering on the land with its consequent alteration of the local

floristic pattern. The methodology consisted of in-loco visits; the application of questionnaires

as community research; a survey of bibliography published by the organisms and institutions

in charge of carrying out the city hall’s environmental and housing policies; and descriptive

statistics of the collected data. Concerning the pattern of occupation which is predominant in

the borough, the treatment of space dispensed by the local dwellers has culminated in the

emergence and consolidation of environmental alterations which are clearly different from

common occurrence in both the building area represented by housing complexes and in the

green areas represented by dunes and mangroves. The data show that there was the

predominance of the irregular land occupation process over the official housing policy during

the population settlement which contributed with a series of frequent and foreseeable

problems in the dynamics of urbanization of poverty such as invasions and appropriations of

land parcels, the beginning of irregular arrangement of streets, the formation of villages and

slums, which are full of self-constructed housing units, and the occupation and degradation of

susceptibly fragile environmental areas such as the dune slopes and the mangroves.

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1. INTRODUÇÃO GERAL

Cidades são conjuntos de ecossistemas influenciados por dinâmicas naturais e

sociais. Essas dinâmicas, segundo ANGEOLETTO (1998), promovem a urbanização, mas

também são responsáveis por problemas ambientais indissociáveis ao âmbito urbano.

SANTIAGO (1998), acrescentou que essas irregularidades qualificadas como urbanas são,

em sua maioria, problemas decorrentes da falta de planejamento do espaço público e

normalmente surgem como conseqüência direta ou indireta da expansão habitacional e da

segregação sócio-espacial, imposta pelas políticas de habitação através da qualificação das

terras pela especulação imobiliária.

No Brasil, os problemas habitacionais já podiam ser vistos no final do século

XIX, mesmo quando o país possuía uma economia agroexportadora e ainda não se

encontrava inserido efetivamente no processo de industrialização (COSTA e MARINHO,

2004). A política habitacional brasileira não contava com espaços institucionais e

financeiros significativos no interior do aparelho estatal até 1960 (ANDRADE e

AZEVEDO, 1981). Quatro anos depois surgem os programas de habitação do Sistema

Financeiro de Habitação (SFH), com o objetivo de minimizar o déficit habitacional no país,

provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

dos expressivos movimentos de migração e pela incorporação das áreas rurais (SILVA,

2003).

Em Natal, os altos índices de crescimento foram impulsionados tanto pela

migração como pelos incentivos gerados durante o período da segunda guerra mundial,

principalmente com a implantação de uma base militar no município vizinho de

Parnamirim, que acabou impulsionando a economia e as relações sociais da capital do Rio

Grande do Norte e promovendo o crescimento da cidade em vários setores, incluindo o

habitacional (MIRANDA, 1999). Nesse período, foi criado um mercado de terras, mas a sua

sistematização e operacionalização no cenário da política habitacional local só tornaram-se

efetiva em 1962, quando empresas públicas como a Companhia Brasileira de Habitação

(COHAB) e o Instituto de Orientações a Cooperativas Habitacionais (INOCOOP), iniciaram

suas atividades no estado, lançando propostas de financiamentos de casas, para uma classe

com renda compreendida entre cinco a doze salários mínimos (MINEIRO, 1998).

A pressão gerada pela especulação imobiliária condenou as intenções dos

programas de habitação à falência, com a prática de preços e condições de financiamentos

impossíveis para a maioria da população (LIMA, 2001). O valor do solo nas áreas centrais

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tornou-se elevado e inacessível, favorecendo a segregação sócio-espacial através da

concentração de pessoas por faixa de renda em locais específicos da cidade, culminando

com o surgimento das áreas de pobreza ou periferias classificadas, via de regra, como o

lugar de residência da população de baixa renda (SERPA, 2001).

Seguindo o exemplo de outras capitais brasileiras, Natal sucumbiu ao modelo de

urbanização segregacionista. O processo de produção do espaço urbano propagou-se

também através da criação de áreas progressistas (SILVA, 2003), que atraíram uma

população de renda média gerando como conseqüência mais áreas de pobreza assentadas em

terras distantes. A própria divisão das zonas ou regiões administrativas indicam essa

distinção, ao se observar que durante os movimentos de ocupação as zonas leste e sul - mais

próximas do centro foram povoadas por famílias de melhor poder aquisitivo, quando

comparadas com as famílias das zonas oeste e norte, afastadas tanto pelas barreiras

geográficas representadas respectivamente pelas dunas e pelo Rio Potengi, classificadas no

contexto local como periferias.

Povoada basicamente por famílias de operários, a zona oeste revela acentuada

disparidade na distribuição de renda, com 42,5% dos chefes de domicílio abaixo da faixa de

um salário mensal. Formada por 10 bairros, detém 23,3% da área natalense, com uma

população residente de 195.584 habitantes (MINEIRO, 2001). É a zona administrativa que,

historicamente menos atenção mereceu por parte dos poderes públicos em termos de

investimentos em infra-estrutura (IBGE, 2000; MINEIRO, 2001). Apesar dos registros de

ocupação reportarem-se aos anos de 1960, a zona oeste, integrava originalmente a área rural

do município, sendo incorporada ao perímetro urbano muito tardiamente, em 1980. Tornou-

se uma atraente opção de moradia para as camadas menos favorecidas devido a sua vasta

extensão de terras representadas tanto pelos Cordões Dunares como pela extensa faixa de

manguezal paralela às margens do Rio Potengi.

Inicialmente a desqualificação dessas terras pelo comércio colaborou bastante

para a ausência de investimentos e de controle das ocupações cada vez mais persistentes dos

movimentos de urbanização popular. Transcorreram-se aproximadamente vinte anos, sem

que as invasões, o parcelamento do solo e a abertura de loteamentos fossem fiscalizados e

monitorados.

As ocupações transcorreram sem qualquer tipo de controle, fato que segundo

MARICATTO (1996), ocorre com freqüência em áreas afastadas de núcleos

supervalorizados que se tornam intensamente pressionadas por demandas habitacionais,

ignoradas pelo poder público e muitas vezes incentivada extra-oficialmente com a ausência

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de um controle efetivo das invasões que na maioria dos casos se estabelecem em áreas

verdes ou áreas periféricas de valor inferior como mercadoria.

Quando o governo estadual despertou para a necessidade de regulamentação do

uso e ocupação do solo por meio da criação de programas regulares de habitação, uma

população considerável já habitava o lugar. Em 1965 foi construído o primeiro conjunto

habitacional da região denominado de Cidade da Esperança (SILVA, 2003). Este também

foi projetado seguindo a tendência dos grandes conjuntos habitacionais (MIRANDA, 1999),

mas a tardia regulamentação em áreas de espaços previamente modelados pelas sucessivas

demarcações de territórios, tornou-se uma estratégia de planejamento pouco eficaz.

Alterações associadas as práticas irregulares de ocupação estão presentes nos dez

bairros que integram a zona administrativa oeste. A deficiência da infra-estrutura evidenciou-

se ao longo dos anos na precariedade de suas respectivas configurações espaciais. Entretanto,

o fator mais grave corresponde ao assentamento de moradores em terras impróprias ou áreas

verdes, classificadas pela legislação municipal como Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs), de

caráter permanente, diretamente interligadas a seis destes bairros. Nesse contexto, Felipe

Camarão destaca-se por deter grande parte dos conflitos habitacionais, pelo fato da ZPA4 e da

ZPA8 ocuparem um espaço significativo dentro de seus limites (NATAL, ECO-NATAL,

1992).

Designada inicialmente de “Sítio Peixe-boi”, e povoada por colônias de

pescadores, a localidade restringia-se a um pequeno povoado às margens do Rio Potengi

(CASCUDO, 1980). Em 1962, uma fração significativa dessas terras, registradas como de

propriedade particular de um português chamado Manoel Machado, foram vendidas como

parte da herança de sua viúva a outro estrangeiro, o alemão Gerold Geppert, que instituiu as

primeiras iniciativas de parcelamento do solo local com a criação de um loteamento

denominado pelo mesmo de “Reforma” (CASCUDO, 1980). Seis anos depois da instituição

desse loteamento, Peixe-boi foi elevado à categoria de bairro em 22 de agosto de 1968,

passando a se chamar Felipe Camarão, em homenagem ao Índio Poti, que morreu em combate

contra os invasores holandeses. Doze anos após ao seu reconhecimento como bairro, foi

incorporado à região metropolitana de Natal (NATAL, SEMURB, 2003).

A ocupação e loteamento do Campo Dunar do Guarapes (ZPA4), começou por

volta de 1960 e atingiu seu ponto máximo em 1974. As habitações existentes no local foram

implantadas preferencialmente nos sopés e nas encostas de declives suaves com

predominância do padrão autoconstruído (COSTA e MARINHO, 2004), colaborando com o

aparecimento de situações de risco. Outras alterações decorrentes da urbanização da área

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estão representadas pela retirada da vegetação para obtenção de madeira empregada na

própria construção dos barracos, no aplainamento rudimentar de encostas com ferramentas

manuais ou mais raramente, com o uso de tratores e escavadeiras, para a retirada de areia das

encostas e na coleta de frutos silvestres como a mangaba, a ubaia e o araçá.

A ocupação da área de manguezal (ZPA8) é mais antiga e reporta-se ao

povoamento original do lugar ainda representadas pelas populações que sobreviviam da pesca

e da coleta do caranguejo. A urbanização, porém, colaborou com o superpovoamento da área,

por intermédio do loteamento de suas margens, que além de área residencial funciona também

como despejo para variados resíduos.

Fundamentados nesses aspectos, os objetivos deste trabalho consistem em

investigar: 1) o processo de urbanização e parcelamento do solo a partir da década de 1960; 2)

a configuração atual dos espaços públicos do bairro; 3) o processo de descaracterização das

Zonas de Proteção Ambiental; 4) as dinâmicas de ocupação predominantes nas áreas de dunas

e de manguezal e 5) revisão dos documentos de uso e regulação do solo do município, para

elaboração de um diagnóstico sócio-ambiental que confronte suas atribuições com a dinâmica

de ocupação predominante na configuração dos espaço urbano local.

As idéias aqui desenvolvidas são resultado da análise de dados empíricos e dados

constantes em documentos publicados pelos órgãos encarregados de executar a política de

controle e fiscalização ambiental, sobre o estabelecimento e as dinâmicas de produção do

espaço periférico da comunidade de Felipe Camarão, destacando a falta de planejamento

urbano e a exclusão praticada pelas políticas de habitação como causas primordiais da

territorialização que culminou com o aparecimento de terras desqualificadas pelo mercado e

caracterizadas como áreas de pobreza marcadas por alterações ambientais graves. A análise

dos dados aqui apresentados destacam pontos de extrema carência assistencial cujas

iniciativas futuras poderão incrementar a precária estrutura dos equipa,mentos urbanos do

bairro no sentido de otimizar suas condições de habitabilidade.

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2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, L. A. G; AZEVEDO, S. Habitação e poder: da Fundação da Casa Popular

ao BNH. Rio de Janeiro: ZAHAR. 1981.

ANGEOLLETO, F. Um paisagismo diferente: Buscando o incremento da biodiversidade

no ambiente construído. Anais do IV Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em

Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Artigo no prelo. Florianópolis: UFSC, 1998.

CASCUDO, L. da C. História da cidade do Natal. Natal: Ed. José Augusto, 1980.

COSTA, A. A. da; MARINHO, F. D. P. Segregação sócio-espacial: um olhar sobre as

favelas de Natal / RN. 2004. 20f. Monografia (Graduação em Geografia) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal 2004.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Dados

censitários: 2000. Brasília: 2001.

LIMA, P. de. Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano. Natal: EDUFRN.

2001. 190p.

MARICATTO, E. Metrópole na periferia do capitalismo: ilegalidade, desigualdade e

violência. São Paulo: Editora HUCITEC, 1996.

MIRANDA, J. M. F. Evolução urbana de Natal em 400 anos (1599 – 1999). Natal: [s.n.]

1999. v.7, 157p. (Coleção natal 400 anos).

MINEIRO, F. Natal em perfil. Natal: Mandato Popular, 1998.

MINEIRO, F. Crimes ambientais em Natal. Natal: Mandato Popular, 2001. v.7, 97p.

(Coleção Dito e Feito).

NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (ECO-NATAL). Fundação do Meio Ambiente do

Natal. Código do Meio Ambiente do Município do Natal: Natal, 1992. 48p.

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SANTIAGO, A. G. Direito e a paisagem urbana. In: Cadernos Paisagem. 3º Encontro

interdisciplinar sobre o estudo da paisagem. Org: Lívia de Oliveira e Lucy Marion Calderini

Philadepho Machado: UNESP, 1998. 154p.

SERPA, Angelo. Fala periferia! Uma Reflexão Sobre a Produção do Espaço Periférico

Metropolitano. Série UFBA em Campo: Estudos. Salvador: UFBA. 2001. 318p.

SILVA, A. F. C. O. O Parcelamento do Solo e a Formação de Espaços de Pobreza em Natal /

RN. Scripta Nova. Barcelona, v.7, n. 146, 2003. Disponível em: ‹ http//

www.ub.es/geocrit/sn/sn -146(130).htm›. Acesso em: 27 abr. 2005.

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3. ARTIGOS

3.1. ARTIGO 1 – a ser enviado à revista AMBIENTE E SOCIEDADE

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RESUMO

Em Felipe Camarão, bairro da zona oeste da cidade de Natal – RN, o processo

de urbanização consolidou-se ao longo dos anos misturando iniciativas de ocupação popular

com a política oficial de habitação resultando numa diversidade de padrões construtivos e de

iniciativas de parcelamento do solo local que promoveram o gradativo modelamento das

Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs), representadas localmente pelo Campo Dunar de

Guarapes (ZPA4) e pelo Estuário do Rio Potengi (ZPA8), em áreas de moradias precárias.

Palavras–chave: urbanização, parcelamento do solo, ocupação irregular e alterações

ambientais.

ABSTRACT

In Felipe Camarão, a borough situated in the western zone of the city of Natal – RN, the

process of urbanization has been consolidated by mixing the initiatives of popular land

occupation with the official housing policy over the years, resulting in a variety of

construction patterns and a diversity of initiatives of local land parceling which promoted the

gradual modeling of the Environmental Protection Areas (the ZPAs), locally represented by

the Dune Cordon of Guarapes (ZPA4) and the Potengi River Estuary (ZPA8), into precarious

housing areas.

KEYWORDS: urbanization, land parceling, irregular occupation, and landscape alterations.

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CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO – NATAL / RN

_________________________________

SANDRA MARIA DE LIMA BEZERRIL*

MARIA IRACEMA BEZERRA LOIOLA**

MARIA DO SOCORRO COSTA MARTIM***

1. INTRODUÇÃO

1.1 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DO BRASIL

A paisagem urbana, marco do mundo contemporâneo, onde todos os países

conhecem o fenômeno da urbanização é de fundamental importância, quando se trata do

espaço construído pelo homem, como uma forma de vida, cuja morfologia é resultante dos

padrões culturais que a moldaram (VIEIRA,1988).

No Brasil, existe uma complicada engrenagem no aparelho estatal que

conserva problemas habitacionais remanescentes do final do século XIX, mesmo quando o

país possuía uma economia agroexportadora e ainda não se encontrava inserido efetivamente

no processo de industrialização (SANTIAGO, 1988). A expansão do capital decorrente desse

processo levou ao rápido desenvolvimento das cidades, mas gerou uma inevitável especulação

imobiliária quando o solo urbano passou a configurar-se como uma mercadoria valiosa

restrita (COSTA e MARINHO, 2004).

Para XAVIER (1996), o fato da população de baixa renda ter poucas opções na

escolha do lugar de moradia nas grandes cidades brasileiras, trouxe nos últimos 50 anos uma

série de problemas relacionados com o acesso formal à terra e à cidade. SILVA (2003),

destacou que, problemas associados à provisão de habitações para esta parte da população

figuram em todo cenário nacional. JACOBI (1996)constatou que os conflitos vão além da

questão habitacional. Na verdade, dependem diretamente da qualidade dos espaços ocupados,

já que setores pauperizados, tendem a habitar áreas mais sujeitas aos agravos ambientais.

* Aluna do Programa Regional de Pós-Gradução em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA, da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte. E- mail: [email protected].

** Professora do Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia – PRODEMA / UFRN.

*** Professora do Departamento de Geografia – PRODEMA / UFRN.

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1.2 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DE NATAL

O súbito desenvolvimento ocorrido em Natal por volta de 1940, época do pós-

guerra promoveu uma rápida desarticulação do núcleo urbano quando o crescimento

populacional ocasionado pelas migrações campo-cidade colaborou com o avanço do

perímetro urbano sobre as áreas rurais (LIMA, 2001), trazendo no seu rastro uma série de

problemas relacionados principalmente com a provisão de habitações para as classes de renda

mais baixa, assim como a qualidade dos espaços urbanos dessas habitações (SILVA, 2003).

Entre 1941 a 1950 a produção habitacional local prosseguiu em ritmo crescente

(LIMA, 2001). É importante destacar que nesse período as políticas de habitação não

contavam com o controle institucional e financeiro do aparelho estatal (ANDRADE e

AZEVEDO, 1981). A intensificação das migrações rural-urbana respaldadas pela ausência de

regulamentações provocou importantes mudanças estruturais no centro urbano da cidade,

promovida pela abertura de loteamentos instituídos sem qualquer tipo de controle por mais de

dez anos. A cidade passou a apresentar taxas de crescimentos cada vez maiores, iniciando um

próspero mercado de terras com a criação do primeiro loteamento em 1946 (FERREIRA,

1996).

A partir de 1960, quando o Estado desponta como um novo agente de

transformação sócio-espacial nesta configuração, é criado no Brasil o Banco Nacional de

Habitação (BNH), cuja proposta seria a de financiar habitações para as classes menos

favorecidas (SILVA, 2003). Em Natal, empresas públicas representadas pela Companhia

Brasileira de Habitação (COHAB) e pelo Instituto de Orientações e Cooperativas

Habitacionais (INOCOOP), ligados ao Sistema Financeiro de Habitação (SFH), direcionaram

as propostas para o financiamento de casas, contemplando especialmente classes com renda

compreendida entre cinco a doze salários mínimos (SILVA, 2003).

A política habitacional vigente priorizou o planejamento de conjuntos

habitacionais e concentrou-se na oferta de empreendimentos destinados a outra classe de

renda: a dos favorecidos, com o objetivo de retorno financeiro do investimento. A

população de baixa renda foi forçada a procurar terras mais baratas geralmente de

configuração espacial precária (SERPA, 2001), localizadas em áreas rurais e periféricas

adjacentes ao núcleo urbano, como escolha natural, configuradas com apoio do carimbo

estatal, como áreas de pobreza (SILVA, 2003).

10

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11

A cidade foi consequentemente dividida por classe e faixa de ganho salarial

(SILVA, 2003). As quatro “regiões ou zonas administrativas”definiram-se sócio-

espacialmente mantendo diferenças substanciais entre si, ditadas por seus respectivos

processos históricos de ocupação e modelamento urbano. As zonas sul e leste concentraram

famílias com melhor poder aquisitivo, se comparadas às zonas norte e oeste, procuradas

predominantemente por famílias de baixo ganho salarial (MINEIRO, 2001) estigmatizadas

ao longo dos anos de ocupação, como áreas de periferias.

Figura 1. Macrozoneamento das Regiões Administrativas de Natal, com destaque para o

Bairro de Felipe Camarão.

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo – (NATAL, SEMURB, 2003)

Page 23: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

1.3 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DA ZONA OESTE DE

NATAL

Localizada numa área de 3.418,87 ha, sendo a terceira maior da cidade, a zona

oeste tornou-se uma atraente opção de moradia, especialmente pela disponibilidade de terras

associadas às áreas verdes (NATAL, SEMURB, 2004). Além disso, o baixo valor de

comercialização dos loteamentos regulares acabou por reafirmar os padrões periféricos de

ocupação, cuja principal característica era a pouca diferenciação de rendas (MINEIRO,

1998). Povoada basicamente por famílias de operários, revela acentuada disparidade na

distribuição de renda, com 42,5% dos chefes de domicílio abaixo da faixa de um salário

mensal (MINEIRO, 2001).

A segregação promovida pela especulação imobiliária reforçou os movimentos

de ocupação e aproximadamente entre 1962 e 1980, a abertura de loteamentos na zona oeste

ocorreram sem qualquer tipo de controle, fato este comprovado nos estudos de

MARICATTO (1996), ao concluir que em áreas afastadas de núcleos supervalorizados a

ocupação se dá quase sempre em áreas de proteção ambiental, em caráter de informalidade

consentida e mesmo incentivada pelo Estado que, no entanto, não admite o acesso regular à

terra e à cidade.

Paralelamente às iniciativas de ocupação popular, o estado decide atuar também

como agente de configuração na área, investindo com recursos públicos através do programa

de habitação vigente construindo o primeiro conjunto habitacional da região (SILVA, 2003).

“Cidade da Esperança” é lançado seguindo a tendência dos grandes conjuntos já existentes

nas demais zonas administrativas (MIRANDA, 1999).

Foi necessário definir um novo traçado urbanístico para a maioria dessas terras,

tendo em vista que muitas já estavam ocupadas por posseiros que foram forçados a deixar o

local quando a regulamentação oficial instituiu os conjuntos como modelo habitacional

predominante.

Residências foram comercializadas a preços menores com finalidade de atender

a população de baixa renda. Mesmo assim, as restrições de financiamento atreladas à política

de habitação do município perseveraram como fator limitante, terminando mais uma vez por

não resolver e nem minimizar as demandas habitacionais (SILVA, 2003).

12

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1.4 ASPECTOS URBANÍSTICOS E HABITACIONAIS DO BAIRRO DE FELIPE

CAMARÃO

Felipe Camarão figura na zona oeste como a localidade mais problemática no

que refere-se aos contextos de habitação e propriedade. Isso deve-se a dois fatores: o

registro de povoamento mais antigo e a vastidão de terras representadas pelo campo dunar

ou cinturão de dunas e pelo manguezal, freqüentemente designadas pela comunidade como

“o morro” e a “maré”.

Os primeiros registros de ocupação na área, a qual sempre teve sua história

associada ao Rio Potengi, datam de 1920 (FERNANDES et al. 2004). O pequeno povoado

que sobrevivia da pesca e da coleta do caranguejo denominou a localidade de “Sítio Peixe-

Boi”, arrastando através dos anos controvertidas interpretações, devido a não ter se

esclarecido convenientemente se o nome foi atribuído pela ocorrência desse mamífero no

local ou, como citou CASCUDO (1980), se foi pelo fato de um grupo de pescadores ter

achado um exemplar morto e depois disso atribuírem o mesmo nome à comunidade.

Entre 1940 até o final da década de 50, os movimentos de ocupação do bairro

foram predominantemente populares, mas com registros inexpressivos. A área ainda exibia

características do padrão rural de ocupação, misturando esparsos aglomerados de

pescadores a alguns sítios e granjas (MIRANDA, 1999).

Em 1962, uma fração significativa dessas terras, registradas como de propriedade

particular de um português chamado Manoel Machado, foram vendidas como parte da

herança de sua viúva a outro estrangeiro, o alemão Gerold Geppert que instituiu as

primeiras iniciativas de parcelamento do solo local, com a criação de um loteamento

denominado pelo mesmo de “Reforma” (CASCUDO, 1980). Os lotes comercializados

foram destinados especialmente a pessoas físicas de baixo poder aquisitivo (SILVA, 2003).

As demarcações aleatórias utilizadas no parcelamento da área original do

Reforma, que na época correspondia a 30% do município de Natal começaram a se

caracterizar como os primeiros conflitos de propriedade registrados na área, juntamente com

as invasões que foram se tornando cada vez mais ostensivas. Decepcionado, o proprietário

acabou por praticamente se desfazer do restante dos lotes, ofertando-os a preços irrisórios.

Seis anos depois Peixe -boi foi elevado a categoria de bairro, em 22 de agosto de 1968,

passando a se chamar Felipe Camarão, em homenagem ao Índio Poti que morreu em

combate contra os invasores holandeses (NATAL, IPLANAT, 1998).

13

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14

Entre 1965 e 1970 quando ocorreu a intensificação das migrações rural-urbana

em direção a Natal e o processo de favelização se estabeleceu definitivamente como parte

do cenário de habitação da cidade (COSTA e MARINHO, 2004), ocorreu também o

processo de ocupação das dunas e do mangue de Felipe Camarão. Os autores afirmam,

ainda, que devido às baixas condições sócio-econômicas, as classes que buscaram as áreas

verdes públicas da comunidade para constituir moradias quase sempre lançaram mão do

recurso da autoconstrução, alterando significativamente a paisagem criando vilas e favelas

que se instalaram em terras impróprias e avançaram descontroladamente sobre as áreas

verdes.

O fato das terras não terem inicialmente valor de mercado interferiu também na

inclusão da área ao perímetro urbano de Natal, que só ocorreu doze anos após a localidade

receber o título de bairro. A regulamentação da área também ocorreu com atraso, uma vez

que somente em 1990 são finalmente promulgadas duas medidas administrativas para

controle legal do solo urbano: a primeira, com a redefinição dos próprios limites geográficos

do bairro, em 1993; a segunda e mais importante, foi a publicação do “Código de Meio

Ambiente do Município”, decretando as áreas verdes de dunas e de mangue como Zonas de

Proteção Ambiental (NATAL, ECO-NATAL, 1992).

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

De acordo com NATAL, SEMURB, (2003), Felipe Camarão localiza-se na

zona administrativa oeste de Natal e abrange as localidades de Peixe-boi, Quilômetro Seis,

Baixa do Saguim e Barreiros. Sua população abrange cerca de 36.976 habitantes

distribuídos numa área de 663,40 ha. Ao norte limita-se com o bairro de Bom Pastor; ao

sul com Guarapes; a leste com Cidade da Esperança e a oeste, com o município de São

Gonçalo do Amarante (NATAL, IPLANAT, 1998).

Estes índices fazem do bairro o terceiro mais populoso de Natal, representando

4,5% da população da cidade e 19,4% da zona oeste. Atualmente possui 10.792 domicílios

particulares permanentes e 215 improvisados em toda área (NATAL, SEMURB, 2003).

Destes, 1.071 estão reunidos nos seis conjuntos habitacionais: Felipe Camarão I e II e III,

Jardim América, Vida Nova II e III e Lavadeiras (Quadro 1), que apesar de seguir um

Page 26: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

padrão específico de modelo construtivo, perdeu parte de caracterização inicial quando as

vilas, favelas e os loteamentos começaram a se espalhar (NATAL, SEMURB, 2003).

As favelas estão representadas por oito localidades, denominadas: Alta Tensão,

Palha, Maré, Barreiros, Promorar, Torre, Fio e Alemão. As 136 vilas, por sua vez, reúnem

665 unidades habitacionais com uma população estimada em 2.194 habitantes. Dos oito

loteamentos encontrados na comunidade, apenas três estão registrados em cartórios e

cinco não possuem qualquer tipo de regulamentação (Quadro 2).

O bairro encontra-se inserido nas Zonas de Adensamento Básico e de Proteção

Ambiental – Lei Complementar Nº 07, de 05 de Agosto de 1994. Segundo o Zoneamento

Ambiental disposto em NATAL, SEMURB, (2003) possui duas Zonas de Proteção

Ambiental: Subzona de Conservação Estuário do Rio Potengi que engloba o manguezal e

a Subzona de Conservação Campo Dunar do Guarapes - que corresponde as dunas-

denominadas respectivamente de ZPA8 e ZPA4. Juntas, essas duas ZPAs integram uma

área verde potencial de 1.950.236,25 m2 .

Figura 2. Macrozoneamento e limites geográficos do bairro de Felipe Camarão.

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo – (Natal, SEMURB, 2003)

15

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Quadro 1. Relação dos Conjuntos Habitacionais do Bairro de Felipe Camarão e População

Associada.

CONJUNTO

HABITACIONAL UNIDADES HABITACIONAIS POPULAÇÃO

Felipe Camarão I (Promorar) 249 1058

Felipe Camarão II (Promorar) 222 941

Felipe Camarão III (Promorar) 209 886

Jardim América 96 432

Vida Nova (II e III) 209 941

Lavadeiras 86 387

TOTAL 1.071 4.643

Quadro 2. Número de Loteamentos Registrados e Não Registrados por Bairros da Zona

Oeste.

REGISTRADO NÃO

REGISTRADO TOTAL

BAIRRO3º CARTÓRIO 6º CARTÓRIO

QUINTAS 12 1 2 15

NORDESTE 4 1 0 5

DIX-SEPT ROSADO 20 5 9 34

BOM PASTOR 7 0 2 9

N.S. NAZARÈ 0 0 0 0

FELIPE CAMARÃO 1 2 5 8

CID. DA ESPERANÇA 6 2 3 11

CIDADE NOVA 2 3 0 15

GUARAPES 2 0 1 3

PLANALTO 0 0 0 0

ZO

NA

AD

MIN

IST

RA

TIV

A O

EST

E

TOTAL 54 14 22 90

16

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo – (Natal, SEMURB, 2003)

Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo – (Natal, SEMURB,2003)

Page 28: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

2.2. METODOLOGIA

O diagnóstico do modelo habitacional e das principais alterações ambientais da

comunidade fundamentou-se nas recomendações da Lei 4.100 ou “Código do Meio

Ambiente do Município” (NATAL; ECO-NATAL, 1992); do “Plano Estratégico

Municipal para Assentamentos Subnormais” (NATAL, SEMTAS, 2001) e do guia

“Conheça Melhor o Seu Bairro” (NATAL, SEMURB, 2003); principais instrumentos

municipais de respaldo jurídico à ação pública, por se tratar de publicações específicas

que tratam do uso, monitoramento e regulação da ocupação do solo urbano”.

Para tanto, foi utilizada a metodologia teórico-empírica, dividida em quatro

etapas: visitas de campo; aplicação de questionários – pesquisa comunitária; levantamento

da bibliografia publicada pelos órgãos e instituições encarregados de executar as políticas

de meio ambiente e habitação no município; e estatística descritiva dos dados coletados.

Para fins de caracterização e levantamento das principais alterações ambientais

identificadas em espaços distintos, o bairro foi dividido em três ambientes de estudos aqui

designados como: área edificada ou área dos conjuntos habitacionais; áreas de dunas e

áreas de manguezal.

2.2.1 Caracterização Ambiental do Bairro

Constituiu-se na fase de reconhecimento da área de estudo. Sendo realizada no

período de outubro a dezembro de 2004, o que correspondeu a uma avaliação geral da

área edificada, das dunas e do manguezal, abrangendo três etapas de execução: visitas de

campo; registro fotográfico e registro das alterações ambientais identificadas por ambiente

de estudo.

2.2.2 Aplicação de questionários – pesquisa comunitária

Foram entrevistados através de questionários, 100 moradores adultos a partir

dos 18 anos, residentes nos três ambientes de estudo, entre os meses de outubro e

dezembro de 2005. No total, avaliou-se 37 logradouros: sendo 28 ruas, 08 travessas e 01

avenida (Figura 2). As perguntas tratavam de questões como tempo de residência na

comunidade; tipo de residência; realização do descarte do lixo doméstico; eliminação da

água servida; os principais tipos de problemas existentes no bairro; tipos de providencias

que seriam necessárias para atenuar esses problemas (ver Anexo 1). As informações

17

Page 29: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

0 1 2 3 4 5 6 7

Antônio Carolino - tvAntônio Trigueiro - r Professor

Antônio Trigueiro - tv ProfessorAristófanes Fernandes - r

Bom Jesus - tv

Coutinho - r ProfessorFelipe Dias - r

Ferro Cardoso - rFrancisca Campos - r

Indomar - rIndomar - tv

Itamar M aciel - rItamar M aciel - tv

Joana Dar'c - rJoaquim de Castro - r

Jorge Batista - r Jornalista

José da Barra - tvJosé Vicente - r

Josino Galvão - r PastorLivramento - rLuzia Dias - r

M anoel M achado - rM ar e Céu - r

M ar e Céu - tvM aristela Alves - r

M ira mangue - r

M iraí - rM iraí - tv

M irassol - rM irassol - tv

Pedrinho Bezerra - rPeixe-boi - r

Potiguaçu - rRainha do M ar - r

Ranieri M azzilli - avRosário - r Nossa Senhora

Santa Cristina - r

Santa Helena - rSanta Sofia - rSão Vicente - r

Silva - rTibiriça - r

Ruas

Vistorias

fornecidas foram reunidas e transformadas em tabelas e gráficos para análise e tratamento

das incidências através de estatísticas descritivas simples.

Figura 3. Lista dos logradouros percorridos durante as 100 entrevistas.

Os dados relativos aos números de incidências de cada alteração urbana

encontrada foram confrontados com as recomendações dos três documentos municipais

para elaboração de um diagnóstico do modelo de ocupação predominante, sua influência

na configuração espacial local e como estes interferem na estruturação fundiária motivada

pela predominância do padrão irregular de ocupação desenvolvido nas áreas livres

públicas do bairro.

18

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

Page 30: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Perfil sócio-econômico da Comunidade de Felipe Camarão

Dos 100 moradores entrevistados, 61% residem na comunidade há mais de 15

anos (Figura 4). No que concerne à formação original, 45% dos moradores entrevistados

vieram de outros bairros da cidade atraídos, principalmente, pela disponibilidade de obter

a casa própria através do recurso da apropriação irregular. A este contingente somam-se

os 39% que migraram do interior do estado para constituir moradias na capital entre as

décadas de 1960 e 1970 (Figura 5).

Figura 4. Percentual do tempo em anos de residência dos moradores entrevistados no

bairro de Felipe Camarão.

Figura 5. Percentual da composição populacional da comunidade de Felipe Camarão.

19

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

3

2

6

6

9

3

10

61

0 10 20 30 40 50 60 70

1 a 2 anos

3 a 4 anos

5 a 6 anos

7 a 8 anos

9 a 10 anos

11 a 12 anos

13 a 14 anos

Acima de 15 anos

4 5

3 9

9

7

0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0

O u t r o s b a i r r o s d a C i d a d e

I n t e r i o r d o R N

O u t r o s E s t a d o s

S e m p r e m o r o u n o B a i r r o

Page 31: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

No que se refere à classificação das habitações visitadas, 73% dos

entrevistados consideram-se proprietários das casas consolidando um impasse de difícil

resolução por parte do poder público (Figura 6), pois apesar do morador ser o dono da

estrutura habitacional, a maioria dos lotes onde foram implantadas estão em situação de

irregularidade.

Figura 6. Percentual da classificação das habitações visitadas em Felipe Camarão

Na maioria das residências as famílias reúnem entre 3 e 6 membros (Figura 7).

Tradicionalmente o pai, quando presente é o “chefe da família” e, conseqüentemente,

responsável pelo sustento da instituição, embora a maioria possua ganhos reais de apenas

um salário mensal (Figura 8).

Figura 7. Percentual da composição familiar dos moradores de Felipe Camarão

20

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

73%

27%

Própria Alugada

22

70

6

2

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 a 3 pessoas 3 a 6 pessoas 6 a 9 pessoas Acima de 10 pessoas

Page 32: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

Figura 8. Percentual da renda familiar em salário mínimo dos moradores de Felipe

Camarão.

O nível de instrução predominante dos adultos é o fundamental. Embora a

maioria seja assalariada e possua subempregos, os índices de desempregados são

alarmantes por residência pesquisada (Figura 9).

Figura 9. Percentual do número de desempregados no bairro de Felipe Camarão.

21

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

41 ,18

34 ,31

8 ,82

4 ,90

8 ,82

1 ,96

0 ,00 5 ,00 10 ,00 15 ,00 20 ,00 25 ,00 30 ,00 35 ,00 40 ,00 45,00

1 sa lário

2 a 3 sa lários

4 a 5 sa lários

Acim a de 5 sa lários

M enor de 1 sa lário

N ão soube in form ar

40,37

36,70

14,68

8,26

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

Nenhum Apenas um Dois Acima de dois

Page 33: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

O problema da falta de segurança aparece como o fator que mais incomoda os

moradores da comunidade. Apesar de uma fração expressiva considerar bom o local de

moradia, isso não anula a opinião de 41% dos próprios moradores, que classifica a

comunidade como violenta (Figura 10).

Figura 10. Percentual de classificação da conduta da comunidade.

A própria classificação dos moradores sobre a conduta da comunidade reflete a

predominância de valores e regras de territorialização bastante comuns nas periferias em

total concordância com as constatações de (HAESBAERT, 2002), ao apresentar a

construção espacial e a identidade social de terras periféricas como lugares carregados de

valores que instituem o aparecimento de territórios alternativos, sem limites geográficos

definidos quando comparados com as relações de poder impostas por lideranças paralelas.

Tais lideranças delimitam e instituem esses territórios na própria configuração

espacial local, criando seguimentos altamente controlados por regras de conduta e códigos

de interação social típicos, como na comunidade em questão, dividida em “Alto Felipe

Camarão” que congrega grupos que moram nos conjuntos habitacionais (parte elevada do

bairro) e o “Baixo Felipe Camarão” que corresponde aos grupos que vivem próximos à

maré, definindo-se no cotidiano como territórios rivais onde freqüentemente ocorrem

disputas acirradas normalmente envolvendo comércio e distribuição de drogas marcadas

por extremas expressões de violência (OLIVEIRA, et al., 2002).

22

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

36

41

23

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Pacífica Violente Indiferente

Page 34: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

A BFoto: S. BEZERRIL, 2005 Foto: S. BEZERRIL, 2005

3.2. Caracterização Ambiental das Áreas de Estudo

3.2.1 Área Edificada

O acúmulo de lixo nas ruas constitui a irregularidade de ocorrência

predominante, registrada nos conjuntos (Figura 11). Conforme apurado nas entrevistas

realizadas com os moradores, 62% seguem regularmente a coleta, 6% enterram lixo em

quintais e, 32% jogam diretamente em terrenos baldios.

Figura 11. Percentual da forma de descarte de lixo na comunidade de Felipe Camarão

Apesar de existir a coleta municipal três vezes por semana (NATAL,

IPLANAT, 1998) a comunidade descarta o lixo nos terrenos baldios, e em plena via

pública, nos canteiros laterais e centrais de ruas e avenidas (Figura 12).

Figura 12. Deposição de lixo no bairro de Felipe Camarão. A –Lixo em confluência de

ruas; B –Lixo em terreno baldio.

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

23

62

32

6

0

10

20

30

40

50

60

70

Coleta municipal Descarte em terrenos baldios Enterro de resíduos

Page 35: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

AFoto: S. BEZERRIL, 2005

Foto: S. BEZERRIL, 2005

De acordo com MIRANDA (1999) e LIMA (2001), o problema do descarte de

lixo nessa área ocorre há décadas. Devido ao afastamento das áreas nobres, parte dessas

terras sempre foi utilizada como depósito. Em 1968 a prefeitura também escolheu o local

para depositar o lixo da cidade e o “lixão” , como era mais conhecido, ocupou uma área de

trinta hectares por mais de vinte anos (MINEIRO 2001).

Sobre o descarte de água servida, apenas 29% das residências visitadas

afirmaram eliminar toda água utilizada na casa por fossas e sumidouros. Águas de pias e

lavanderias são preferencialmente descartadas por 58% dos moradores através de

encanamentos que desembocam nas ruas (Figura 13 e 14a). O equivalente a 13%

praticam o empoçamento nos quintais. Em 100% dos logradouros visitados observou-se

que a linha paralela ao meio-fio foi convertida em esgotos. (Figura 13b).

Figura 13. Percentual da forma de eliminação de água servida em Felipe Camarão

Figura 14. Problemas relacionados ao destino da água usada pelos moradores: A – Cano

de residência eliminando água servida; B – Esgoto de rua paralelo ao meio-fio.

B24

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

58

29

13

0

10

20

30

40

50

60

70

Cano de rua Sumidouro Empoçamento em quintal

Page 36: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

BFoto: S. BEZERRIL, 2005

Em relação às unidades habitacionais, constatam-se indícios de exclusão sócio-

espacial na própria estrutura de implantação. O padrão construtivo empregado nos

conjuntos habitacionais é baixo e no bairro em geral, existe apenas uma quadra de esporte.

Não há áreas de lazer e nem praças como já registrado por FERNANDES et al., (2004).

Na área edificada observa-se que a concentração dos usuários em determinados

espaços em detrimento de outros, em geral abandonados, colaborou com a formação de

terrenos baldios, exemplificado por ALVES et al., (2004), como àqueles não cercados,

abandonados com presença ou não de vegetação que funcionam como depósito de lixo.

3.2.2 Área de Dunas

Constatou-se nesta área a existência de seis favelas: As favelas da Torre e do

Fio situadas em áreas de encosta; seguidas das favelas do Promorar, Alemão, Alta Tensão e

Palha, que acabaram instalando-se em áreas planas ou aplainadas.

A planificação é feita predominantemente em encostas de declives suaves. A

areia é removida com auxílio de pás e tratores contratados em mutirão, com o objetivo de

nivelar e ampliar o terreno para fixação de moradias.

O “morro”, termo utilizado pelos moradores para as dunas, também sofre

tentativa de compactação. Para conter o avanço constante das dunas móveis, a

comunidade empilha lixo, entulho e improvisa contenções grosseiras com troncos de

árvores e arbustos encontrados no local.

Nos lugares onde a declividade é mais acentuada também ocorre ocupação. Só

que esta é feita da forma mais perigosa. As habitações feitas com lona, plástico, papelão,

palha de coqueiro e demais materiais são instaladas em pontos esparsos, aumentando

ainda mais o risco de desabamentos (Figura 15).

Figura 15. Residências construídas nas áreas de dunas de Felipe Camarão: A – Moradia

implantada em área de sopé; B – Residências erguidas em áreas de encostas.

A 25Foto: S. BEZERRIL, 2005

Page 37: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

Dos ambientes estudados, as dunas destacam-se na predominância de

ocupações irregulares pela vastidão de terras que ocupa dentro do bairro cerca de

1.950.236,25m2 (NATAL, IPLANAT, 1998). A destruição deste ambiente não é

percebido como um problema para 57% dos moradores que acham normal ou são

indiferentes a destruição do ambiente (Figura 16).

Figura 16. Percentual de opiniões dos moradores sobre a destruição das dunas de Felipe

Camarão.

A ocupação da ZPA4 que corresponde à extensão de todo campo dunar do

bairro instituiu-se predominantemente pela implantação de favelas. Dentre as seis encontradas

no ambiente, a favela do Fio (Figura 17) é a que se encontra nos extremos do que se pode

classificar como fragilidade ambiental. Detendo aproximadamente 217 unidades habitacionais

(NATAL, SEMTAS, 2001) está localizada abaixo da rede de alta tensão da CHESF

(Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) em loteamentos irregulares ou clandestinos,

classificados respectivamente por (GRUPENMACHER e BUSQUETS, 1991) como aquele

“que não atendeu às fases administrativas e jurídicas a que estava sujeito” e aquele “que não é

aprovado pela prefeitura e não têm a anuência do Estado”.

26

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

43

31

26

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Procupante Normal Indiferente

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Figura 17. Favela do Fio: Família de catadores coletando resíduo em lixão de terreno baldio

da comunidade.

2.2.3 Área de Manguezal

O trecho de mangue situado em Felipe Camarão compreende uma área de

892.000 m2, estendendo-se até o município de Macaíba. No ambiente encontram-se duas

favelas de representação populacional expressivas: a favela da Maré, mais antiga e, a

favela dos Barreiros originadas nos anos 1970 (NATAL, IPLANAT, 1998).

As ocupações se estabeleceram em sua maioria nas margens aterradas com lixo

e entulhos para fins de compactação do solo, mas também há moradias nas proximidades

do solo sob influência das marés, elevadas por batentes e suspensões. As habitações

seguem os mesmos padrões empregados nas autoconstruções de outros pontos do bairro.

A devastação da vegetação, é praticada constantemente para expandir a área onde também

são implantadas pocilgas e vacarias. No local foram implantados ainda enormes tanques

de coleta e decantação para os resíduos das fossas sépticas da cidade. Além disso, todos os

esgotos da parte alta do bairro despejam seus dejetos nessa área, aumentando os riscos de

poluição e de contaminação.

Apesar do grande número de agressões praticadas no ambiente, os moradores

mostram-se bastante preocupados com a destruição do manguezal. Dos entrevistados,

79% declararam-se preocupados em relação a 14% que se posicionaram como indiferentes

e, 7% que acham normal (Figura 18).

Foto: S. BEZERRIL, 2005

27

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Figura 18. Percentual de opiniões dos moradores sobre a destruição do manguezal de

Felipe Camarão.

A Ocupação da ZPA8 que integra o estuário do Rio Potengi, em termos de

ocorrência, é a mais antiga. A dinâmica de ocupação local mostra que há um isolamento dessa

fração da comunidade em relação aos demais ambientes. A “maré” , como os moradores

geralmente definem essa área, fica na parte baixa do bairro e é habitada pelos representantes

mais carentes da comunidade.

As favelas da Maré e a dos Barreiros reúnem aproximadamente 628 famílias,

integrando uma população de 2876 habitantes responsáveis pela inserção de 597 unidades

habitacionais (Figura 19) espalhadas pelas margens (NATAL, SEMTAS, 2001).

Figura 19. Moradia construída à margem do manguezal de Felipe Camarão.

28

Fonte: Pesquisa de campo (Out / Dez 2005)

Foto: S. BEZERRIL, 2005

79

7

14

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Preocupante Normal Indiferente

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A configuração da área além de precária é caótica. As tubulações irregulares

responsáveis pelo descarte de água servida no local disputam espaço com os casebres e

também com os tanques de captação das empresas encarregadas do esgotamento de fossas

sépticas na cidade (Figura 21).

Figura 21. Problemas detectados nas áreas de manguezal: A – tubulações irregulares

descartando água servida; B – Tanques de captação dos resíduos de fossas sépticas.

Há um desprezo generalizado pelo ambiente não apenas por parte dos

moradores, mas também por demais seguimentos da cidade. O descaso com o estuário do

Rio Potengi, como afirmou DIÓGENES apud MINEIRO (2001), são exemplos de

agressões aos manguezais.

Problemas como desmatamentos ocupação e deposição de lixo vêm

gradativamente comprometendo a balneabilidade da água e reduzindo os índices de

ocorrência especialmente do caranguejo-uçá, que ainda é um importante recurso de ajuda

na renda dessas famílias.

É importante destacar que em face a essas agressões, a comunidade se

preocupa com o desaparecimento dos manguezais. Uma investigação mais apurada desse

indicativo sugere que apesar dos moradores não estarem preocupados com as fontes

poluidoras, porque não conseguem associar as agressões aos possíveis impactos

conseqüentes que ocorrem no ambiente, há uma preocupação genuína com a diminuição

da oferta de peixes e do caranguejo, uma vez que isso compromete a sobrevivência de

quem sempre contou com o recurso.

A BFoto: S. BEZERRIL, 2005 Foto: S. BEZERRIL, 2005

29

Page 41: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

30

4- CONCLUSÕES

A distância do centro e os obstáculos naturais representados pelas dunas e pelo

manguezal representaram fatores pioneiros na desvalorização dessas terras.

A deficiência relacionada as práticas de parcelamento do solo local e regulação

fundiária colaboraram com as invasões iniciadas especialmente na década de 1960,

reunindo pessoas que vieram de outros bairros e aquelas e oriundas do interior atraídas

pela facilidade de constituir residência no local.

Os conflitos mais graves da ocupação territorial no bairro estão relacionados à

regularidade fundiária e à legalidade das residências erguidas predominantemente em

loteamentos irregulares e clandestinos situados nas Zonas de Proteção Ambiental (ZPAs).

As famílias que ocuparam a zona oeste e, conseqüentemente, o bairro de Felipe

Camarão são em sua maioria pessoas humildes e com baixo grau de instrução. Fator que

reflete diretamente no tratamento que estes dispensam à comunidade, e de como a referida

localidade se encontra isolada pelo descaso dos órgãos públicos, fato que acaba

colaborando para o estabelecimento de um controle paralelo imposto, principalmente, pelo

poder do narcotráfico.

A área edificada mescla unidades habitacionais de caráter regular com

residências provenientes das iniciativas de ocupação popular, no entanto, a característica

mais notável dessas habitações é o baixo padrão construtivo.

No que se refere às alterações ambientais, a deposição de lixo é a mais

destacada, seguida de água servida e da formação de terrenos baldios originados pela

concentração dos usuários em espaços específicos.

Nas dunas a ocupação ocorre tanto em áreas planas como em encostas de

declives suaves que são planificadas com o intuito de ampliação das áreas de moradias,

embora também ocorra ocupação extremamente perigosa em locais de declives

acentuados, aumentando os riscos de desabamentos. É o ambiente com o maior número de

registros de irregularidades de ocupação e o menos valorizado no contexto local pelos

moradores, o que justifica os índices de degradação e a pouca preocupação quanto a

preservação ambiental.

No manguezal a ocupação ocorre preferencialmente às margens, em locais

livres da influência das marés, É o ambiente mais poluído do bairro. Esgotos, tanques de

captação, pocilgas e vacarias, disputam espaço com monturos de lixo comprometendo a

balneabilidade da água e diminuindo a oferta de peixes e do caranguejo-uçá, importante

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recurso de sobrevivência das famílias ribeirinhas, o que acaba justificando a preocupação

dos moradores quanto à preservação deste ambiente.

Mais do que uma reflexão sobre a forma de modelamento do espaço urbano da

comunidade de Felipe Camarão, esta pesquisa é um diagnóstico da leitura que a comunidade

faz de seu ambiente e que pode ser melhor utilizado em futuras estratégias de intervenção para

socializar a importância, beleza e riqueza dos recursos ambientais existentes nos ambientes

naturais que perdem-se cotidianamente na paisagem urbana.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Revista Árvore, Viçosa, MG, v.28, n.5, p.755-764. 2004. Disponível em: ‹ http//

www.google.com.br. Acesso em 02 fev. 2006.

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COSTA, A. A. da; MARINHO, F. D. P. Segregação sócio-espacial: um olhar sobre as

favelas de Natal / RN. 2004. 20f. Monografia (Graduação em Geografia) - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Natal 2004.

FERNANDES, J. C. et al. Vivências e Convivências de Lazer no Bairro de Felipe

Camarão. 2004. 10f. Monografia (Graduação em Lazer e Qualidade de Vida) – Centro

Federal de Educação Tecnológica – CEFET / RN, Natal 2004. Tese de Doutorado.

FERREIRA, A.L.A. De la produción del Espacio Urbano a la Creación de Territorios en

la Ciudad: Un Estudio sobre la Constitución de lo Urbano en Natal, Brasil. 1996. Tese de

Doutorado. Universidad de Barcelona. 1996.

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Loteamentos. In: Temas de Direito Urbanístico II. Revista dos Tribunais: 1991.

31

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HAESBAERT, R. Territórios alternativos. Niterói: EDUFF; São Paulo: Contexto, 2002.

173p.

JACOBI, P. Meio Ambiente Urbano e Sustentabilidade: Alguns Elementos para a

Reflexão. In: Anais da 48º Reunião Anual da SBPC. v.1 – Conferências, Simpósios e Mesas

Redondas. São Paulo, 1996.

LIMA, P. de. Natal século XX: do urbanismo ao planejamento urbano. Natal: EDUFRN.

2001. 190p.

MARICATTO, E. Metrópole na periferia do capitalismo: ilegalidade, desigualdade e

violência. São Paulo: Editora HUCITEC, 1996.

MIRANDA, J. M. F. Evolução Urbana de Natal em 400 anos 1599 – 1999. Coleção Natal

400 anos. v7 . Natal: (S.E). 1999. 157p.

MINEIRO, F. Crimes ambientais em Natal. Natal: Mandato Popular, 2001. v.7, 97p.

(Coleção Dito e Feito).

OLIVEIRA, A. P. M. et al. A Influência da Dinâmica Familiar no Comportamento de

Adolescentes do Bairro de Felipe Camarão na Cidade do Natal. 2002. 10f. Artigo

(Departamento de Psicologia e Departamento de Estatística - Grupo de Estudos

Demográficos) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. 2002.

NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (ECO-NATAL). Fundação do Meio Ambiente do

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NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (IPLANAT). Instituto de Planejamento Urbano de

Natal. Perfil dos Bairros de Natal: Natal, 1998. p. 262-272

NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (SEMTAS). Secretaria Municipal do Trabalho e

Assistência Social. Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Subnormais:

Programa Habitat Brasil – Subprograma de Desenvolvimento Institucional. Natal (RN). Natal:

SEMTAS / SEDU, 2001. 32

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NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (SEMURB). Secretaria Especial de Meio Ambiente e

Urbanismo. Departamento de Planejamento Urbanístico e Ambiental. Conheça melhor o seu

bairro: Natal, 2003. 35p.

NATAL. PREFEITURA MUNICIPAL. (SEMURB). Secretaria Especial de Meio Ambiente e

Urbanismo. Departamento de Controle e Impacto Ambiental. Plano de Arborização para o

Município. Natal. 2004. 545p.

SANTIAGO, A. G. Direito e a paisagem urbana. In: Cadernos Paisagem. 3º Encontro

interdisciplinar sobre o estudo da paisagem. Org: Lívia de Oliveira e Lucy Marion Calderini

Philadepho Machado: UNESP, 1998. 154p.

SERPA, Angelo. Fala periferia! Uma Reflexão Sobre a Produção do Espaço Periférico

Metropolitano. Série UFBA em Campo: Estudos. Salvador: UFBA. 2001. 318p.

SILVA, A. F. C. O. O Parcelamento do Solo e a Formação de Espaços de Pobreza em Natal /

RN. Scripta Nova. Barcelona, v.7, n. 146, 2003. Disponível em: ‹ http//

www.ub.es/geocrit/sn/sn -146(130).htm›. Acesso em: 27 abr. 2005.

VIEIRA, M. L. Paisagem Urbana e Rural. In: Cadernos Paisagem. 3º Encontro

interdisciplinar sobre o estudo da paisagem. Org: Lívia de Oliveira e Lucy Marion Calderini

Philadepho Machado: UNESP, 1998. 154p.

XAVIER, H. Percepção Geográfica dos Deslizamentos de Encostas em Áreas do

Município de Belo Horizonte – MG. 1996. Tese de Doutorado. Universidade Estadual

Paulista. Instituto de Geociências e Ciências Exatas: Rio Claro, 1996.

33

Page 45: CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-AMBIENTAL DO BAIRRO DE … · provocado pela urbanização e pelo súbito adensamento populacional das capitais, através

ANEXO 1. Questionário Aplicado aos moradores do bairro de Felipe Camarão

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS - CB

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EM MEIO AMBIENTE – PRODEMA

PESQUISA COMUNITÁRIA DO BAIRRO DE FELIPE CAMARÃO - 2005

1. PERFIL SÓCIO-ECONÔMICO DOS MORADORES

01. Nome do morador:_____________________________________________________

02. Sexo: ______ 03. Idade _____ 04. Tipo de Residência: ( ) Própria ( )

Alugada

05. Endereço: ____________________________________________________________

06. Tempo de residência no bairro: ___________________________________________

07. Onde morava antes de mudar-se para a comunidade ( ) outros bairros ( ) outras

cidades ( ) outros estados.

08. Nº de membros da família ________ Nº de adultos _________ Nº de crianças ______

09. Quantas pessoas trabalham na casa? _______________________________________

10. Quem sustenta a família _________________________________________________

11. Há desempregados na casa? ( ) sim / quantos? _______ ( ) não há desempregados

12. Profissões dos membros que trabalham _____________________________________

___________________________________________________________________________

13. Renda familiar aproximada: ______________________________________________

14. Quantas pessoas são alfabetizadas na casa? __________________________________

15. Existem analfabetos na casa? ( ) sim / quantos? ______________________________

16. Quantos concluíram o ensino fundamental (1º grau)? ___________ e o ensino médio

(2º grau)? ___________________________________________________________________

17. Quantas pessoas na casa têm curso superior? _________________________________

2. PERFIL SÓCIO- AMBIENTAL DA COMUNIDADE

18. Como você classifica o local que mora? ( ) ótimo ( ) bom ( ) ruim ( ) péssimo

19. Como você classifica a sua comunidade? ( ) pacífica ( ) violenta ( ) não sabe.

20. As condições de segurança locais são: ( ) boas ( ) ruins ( ) péssimas

35

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21. As condições de atendimento nas unidade de saúde são:

( ) Satisfatórias – há atendimento diário para a comunidade

( ) Insatisfatórias – há atendimento, mas o número de atendidos por dia é pequeno

( ) Péssimas – é muito difícil conseguir atendimento nas unidades.

22. Qual o problema que mais aflige a Comunidade atualmente?

( ) O vandalismo dos jovens ( ) O comércio crescente das drogas

( ) A prostituição de menores ( ) Os crimes envolvendo assassinato

( ) O trabalho infantil ( ) Os assaltos às residências

23. Fatores que mais incomodam os moradores em via pública

( ) Animais soltos nas ruas ( ) Queima diária de resíduos no Lixão

( ) Lixo acumulado em terrenos baldios ( ) Água empoçada

( ) Som alto de casas e de bares ( ) Falta de pavimentação nas ruas

24 Como é descartado o lixo de sua casa?

( ) Remetido à coleta ( ) Enterrado ( ) Jogado em terreno baldio

25 A água de pias, chuveiros e lavanderias de sua casa é eliminada por qual meio?

( ) sumidouro ( ) cano de rua ( ) empoçada no quintal

26 O que você acha da destruição das áreas de dunas do bairro?

( ) Preocupante – as dunas precisam ser preservadas

( ) Normal – as dunas ocupam um espaço que poderia ser utilizado para a construção de casas

( ) Indiferente – tanto faz as dunas serem ou não preservadas

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27 O que você acha da destruição de mangue do bairro?

( ) Preocupante – as dunas precisam ser preservadas

( ) Normal – são espaços que não têm muita serventia

( ) Indiferente – tanto faz as dunas serem ou não preservadas

28 O que incomoda mais quando você anda nas ruas do bairro?

( ) O lixo

( ) Os esgotos

( ) Os animais soltos

( ) As pixações

29. Sugestões dos moradores ___________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

30. Data de realização: ________ / _______ / __________

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ANEXO 2. Normas para publicação na revista Ambiente e Sociedade

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Todos os trabalhos enviados para Ambiente & Sociedade serão avaliados pelos

conselheiros e editores desta publicação, tendo por base pareceres de assessores ad hoc. Os

artigos deverão ter no máximo vinte e cinco laudas com 50.000 caracteres com espaço, Times

New Roman 12, espaço 1,5 e deverão vir acompanhados de um resumo em português e outro

em inglês, sendo cada um deles de no máximo seis linhas de setenta toques (420 caracteres).

As notas de rodapé deverão ser evitadas ao máximo e, quando existirem, devem ser restritas a

conteúdo e enumeradas automaticamente em algarismos arábicos em ordem crescente e

listadas no final do texto. As referências bibliográficas citadas no interior do texto deverão ser

feitas da seguinte forma: (AUTOR, data: página). A bibliografia deverá ser apresentada ao

final do artigo, em ordem alfabética, da seguinte forma: a) Livros: AUTOR, Título em

negrito. Local de publicação, Editora, data. b) Artigos: AUTOR, “Título”. Título do periódico

em itálico.Local de publicação, número do periódico (número do fascículo): página inicial-

página final, mês/ano. Os autores são responsáveis pela exatidão das referências bibliográficas

e pelas idéias expressas em seus textos. Tabelas e figuras devem se adaptar à impressão em

preto e branco. Os artigos deverão ser enviados para Ambiente & Sociedade em papel e

disquete (WORD 6.0). Endereço para correspondência: Núcleo de Estudos e Pesquisas

Ambientais (Nepam/Unicamp). Caixa Postal 6166, Cep 13081-970 - Campinas/SP. Fone:

(019) 788 8151 - Fax (019) 788 7690. e-mail: [email protected]. A/C Thales de

Andrade.

Instrução aos assessores

O parecer poderá ser enviado aos editores no prazo máximo de 20 dias após a data de postagem e deve constar dos quesitos Apreciação Geral da Proposta, Adequação à Linha Editorial da Revista, Deficiências Notadas e Avaliação Final.

Não sendo possível a observância deste prazo, solicitamos a imediata devolução do material, mesmo sem o parecer correspondente.

Os editores manterão rigoroso sigilo sobre a identidade do parecerista e do proponente.

Apresentação dos originais

Os artigos deverão ser enviados para Ambiente & Sociedade em papel e disquete (WORD 6.0) A/C Thales de Andrade no endereço abaixo.

Disponível em http://www.scielo.br/revistas/asoc/pinstruc.htm. Acesso em: 11 jun. 2006.

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