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i PHILIPI COUTINHO DE SOUZA CARCINOGÊNESE MAMÁRIA EXPERIMENTAL INDUZIDA PELO 7,12,DIMETILBENZ(A)ANTRACENO (DMBA): CARACTERIZAÇÃO HISTOPATOLÓGICA COMPARADA E IDENTIFICAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DE CÉLULAS- TRONCO NEOPLÁSICAS (CTNs) CAMPINAS 2013

CARCINOGÊNESE MAMÁRIA EXPERIMENTAL INDUZIDA PELO 7… · Título em inglês: Breast cancer neoplastic stem cells histology compared Sprague Dawley rats 7, 12 dimetilbenz (A) antracene

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  • i

    PHILIPI COUTINHO DE SOUZA

    CARCINOGÊNESE MAMÁRIA EXPERIMENTAL INDUZIDA

    PELO 7,12,DIMETILBENZ(A)ANTRACENO (DMBA):

    CARACTERIZAÇÃO HISTOPATOLÓGICA COMPARADA E

    IDENTIFICAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DE CÉLULAS-

    TRONCO NEOPLÁSICAS (CTNs)

    CAMPINAS

    2013

  • ii

  • iii

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

    Faculdade de Ciências Médicas

    PHILIPI COUTINHO DE SOUZA

    CARCINOGÊNESE MAMÁRIA EXPERIMENTAL INDUZIDA PELO 7,12,DIMETILBENZ(A)ANTRACENO (DMBA): CARACTERIZAÇÃO

    HISTOPATOLÓGICA COMPARADA E IDENTIFICAÇÃO IMUNOISTOQUÍMICA DE CÉLULAS-TRONCO NEOPLÁSICAS (CTN)

    ORIENTAÇÃO: Prof. Dr. ANDRE ALMEIDA SCHENKA

    Dissertação de Mestrado apresentada à Pós-Graduação da Faculdade de

    Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP para obtenção de título de Mestre em Farmacologia.

    ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA POR PHILIPI COUTINHO DE SOUZA, E ORIENTADO PELO PROF. DR. ANDRE ALMEIDA SCHENKA. _______________________ Assinatura do Orientador

    CAMPINAS 2013

  • iv

    FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA POR

    MARISTELLA SOARES DOS SANTOS – CRB8/8402

    BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

    UNICAMP

    Souza, Philipi Coutinho de, 1987-

    So89c Carcinogênese mamária experimental induzida pelo

    7, 12, dimetilbenz (A) antraceno (DMBA) : caracterização

    histopatológica comparada e identificação

    imunoistoquímica de células-tronco neoplásicas (CTNs) /

    Philipi Coutinho de Souza. -- Campinas, SP : [s.n.], 2013.

    Orientador : André Almeida Schenka.

    Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de

    Campinas, Faculdade de Ciências Médicas.

    1. Neoplasias da mama. 2. Células-tronco

    neoplásicas. 3. Histologia comparada. 4. Ratos Sprague

    Dawley. 5. 9,10-Dimetil-1,2-benzantraceno. I. Schenka,

    André Almeida, 1976-. II. Universidade Estadual de

    Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. III. Título

    Informações para Biblioteca Digital

    Título em inglês: Breast cancer neoplastic stem cells histology compared Sprague

    Dawley rats 7, 12 dimetilbenz (A) antracene.

    Palavras-chave em inglês:

    Breast neoplasms

    Neoplastic stem cells

    Histology, Comparative

    Sprague Dawley rats

    9,10-Dimethyl-1,2-benzanthracene

    Área de concentração: Farmacologia

    Titulação: Mestre em Farmacologia

    Banca examinadora:

    André Almeida Schenka [Orientador]

    Maria Salete Costa Gurgel

    Maria Cristina Costa Resck.

    Data da defesa: 18/01/2013

    Programa de Pós-Graduação: Farmacologia

  • v

  • vi

  • Dedicatória

    vii

    Aos animais

    Foste um instrumento de nosso aprendizado?

    Foste apenas um objeto de experiência?

    Não!

    Foste para nós, vítimas solicitadas pela ciência, para beneficio da

    humanidade, porém, apesar do teu olhar mudo e de não teres a permissão

    da palavra, isso não nos impedirá de dizer-te sempre: muito obrigado.”

    (Autor desconhecido)

    Dedico este trabalho...

    ...a toda minha família pelo apoio incondicional, o carinho, a torcida e por

    sempre acreditarem em mim...

  • viii

  • Agradecimentos

    ix

    À DEUS, inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas.

    Ao Professor André Almeida Schenka pelo exemplo de trabalho, pesquisa e ética, pelo

    brilhante ensinamento da patologia mamária e excelente orientação.

    À Professora Dra. Liliana A. Lucci de Ângelo Andrade pela sua experiente contribuição

    nos dados anatomopatológicos do exame de qualificação.

    À Professora Dra. Maria Salete Costa Gurgel pela discussão do aspecto clínico do trabalho.

    Ao Professor Dr. Edson Antunes, pelo apoio como representante da comissão de pós-

    graduação.

    À toda equipe do Laboratório de Patologia investigativa do Hospital AC Camargo e a

    Fundação Antônio Prudente em especial ao Dr. Rafael Malagoli Rocha e ao Dr. José

    Vassallo por disponibilizarem inúmeras vezes os recursos metodológicos para realização

    deste trabalho.

    À amiga Valéria Barbosa de Souza pela ajuda incondicional neste trabalho, sem a sua

    colaboração não chegaríamos até aqui.

    Ao Professor Dr. Luiz Alberto Magna pelo auxílio e interpretação estatística de nossos

    resultados.

    Aos amigos da CEVEL em especial a Ricardo Coutinho e Michele Bione pela reconhecida

    confiança em mim depositada e por entender os meus momentos de ausência.

    Aos colegas do LHIAP pelas trocas de idéias, ensinamentos e discussões.

    À Professora Dra. Maria Cristina Costa Resck pelo constante incentivo e apoio desde os

    tempos da graduação.

    Ao amigo Gilberto C Franchi Jr. pelo apoio inestimável.

    À Jacqueline pelas estimáveis e valiosas dicas de imunoistoquímica.

    Finalmente agradeço a todos aqueles que, longe ou perto, sempre me desejaram sorte e

    sucesso e tornaram os caminhos mais alegres durante a eterna caminhada...obrigado!

  • x

  • Sumário

    xi

    PÁG

    SÍMBOLOS, SIGLAS ABREVIATURAS................................................................ xvii

    RESUMO................................................................................................................... ... xix

    ABSTRACT.................................................................................................................. xxi

    1- 1- INTRODUÇÃO........................................................................................................ 23

    1.1- Câncer de mama......................................................................................... 23

    1.2- Células tronco neoplásicas........................................................................ 38

    1.3- Dimetilbenz-(a)-antraceno (DMBA) como modelo de carcinogênese mamária................................................................................................................

    47

    2- JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 51

    3- OBJETIVOS............................................................................................................ 53

    4- MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................... 55

    4.1- Aspectos éticos............................................................................................ 55

    4.2- Locais de realização do experimento........................................................... 55

    4.3- Animais........................................................................................................ 55

    4.4- Indução tumoral e obtenção dos espécimes anatomopatológicos................ 55

    4.5- Tissue microarray........................................................................................ 56

    4.6- Colorações histológicas................................................................................ 57

    4.7- Variáveis de análise morfológica.................................................................. 59

    4.7.1- Formação ou diferenciação tubular glandular (acinar).................... 59

    4.7.2- Pleomorfismo ou grau nuclear........................................................ 59

    4.7.3- Índice mitótico................................................................................ 60

  • Sumário

    xii

    4.7.4.Grau histológico final............................................................... 60

    4.8 – Variáveis de análise imunoistoquímica................................................ 60

    4.8.1.Positividade para receptores hormonais (RE/RP)..................... 60

    4.8.2.Positividade para C-erbB-2...................................................... 62

    4.8.3. Critérios para a classificação alternativa em subtipos moleculares baseada no perfil molecular..............................

    62

    4.8.4. Positividade para marcadores de CTNs................................ 63

    4.9- Análise estatística................................................................................ 63

    5- RESULTADOS.................................................................................................. 65

    6- DISCUSSÃO...................................................................................................... 105

    7- CONCLUSÃO................................................................................................... 109

    8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 111

    9- ANEXOS........................................................................................................... 119

  • Lista de figuras

    xiii

    PÁG Figura 1. Incidência e mortalidade relacionadas ao câncer................................. 24

    Figura 2. Principais neoplasias malignas da mama humana .............................. 27

    Figura 3. Esquema ilustrativo do desenvolvimento de neoplasias mamárias

    epiteliais a partir de UDLTs.................................................................................. 31

    Figura 4. Padrão de expressão gênica do câncer de mama.................................. 34

    Figura 5. Aspectos macroscópicos das neoplasias induzidas pelo DMBA......... 66

    Figura 6. Aspectos macroscópicos das neoplasias induzidas pelo DMBA

    (ulceração)............................................................................................................. 67

    Figura 7. Superfície de corte das neoplasias induzidas pelo DMBA................... 68

    Figura 8. Fotomicrografias ilustrativas de focos de carcinoma ductal in situ..... 71

    Figura 9. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma ductal invasivo................ 72

    Figura 10. Fotomicrografias ilustrativas de tumor filóide................................... 73

    Figura 11. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma papilífero invasivo........ 74

    Figura 12. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma mioepitelial invasivo..... 75

    Figura 13. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma lobular invasivo............. 76 Figura 14. Frequência dos principais tipos histológicos encontrados na

    amostra.................................................................................................................. 77

    Figura 15. Composição histológica dos tumores mistos...................................... 78

    Figura 16. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma ductal invasivo grau 1 e

    grau 2.................................................................................................................... 82

    Figura 17. Fotomicrografias ilustrando a variação na extensão da necrose........ 83 Figura 18. Fotomicrografias ilustrativas da expressão de RE, RP e C-erbB-2.... 87

    Figura 19. Diagrama de classificação de subtipos moleculares........................... 88 Figura 20. Fotomicrografias ilustrativas do subtipo molecular triplo

    negativo/basal símile............................................................................................. 89

    Figura 21. Freqüência de casos expressando cada um dos marcadores de

    CT/CP...................................................................................................................

    91

  • Lista de figuras

    xiv

    Figura 22. Número de células tumorais expressando cada um dos

    marcadores de CT/CP....................................................................................... 92

    Figura 23. Frequência de células positivas para marcadores de CT em tecidos neoplásicos e tecidos normais...............................................................

    93

    Figura 24. Fotomicrografias ilustrativas da expressão de CD24, CD44 e ALDH1..............................................................................................................

    95

    Figura 25. Fotomicrografias ilustrativas da expressão de CD133, CD34 e

    CD117................................................................................................................ 96

    Figura 26. Fotomicrografias ilustrativas da expressão de Oct-4, EGFR e

    p63..................................................................................................................... 97

    Figura 27. Fotomicrografias ilustrativas da expressão de CK14 e EpCAM... 98 Figura 28. Correlações significantes entre marcadores de CT/CP em

    amostras de tumores......................................................................................... 103

  • Lista de tabelas

    xv

    PÁG

    Tabela 1. Neoplasias malignas primárias da mama............................................ 25

    Tabela 2. Sumário das características histológicas das principais neoplasias

    mamárias............................................................................................................... 29

    Tabela 3. Principais diferenças entre os constituintes celulares da UDLT.........

    32

    Tabela 4. Subtipos moleculares determinados pelo perfil de expressão gênica.. 36

    Tabela 5. Classificação molecular substitutiva de neoplasias da mama humana 37

    Tabela 6. Principais marcadores imunofenotípicos de CTNs.............................. 46

    Tabela 7. Monomarcadores de CTNs, prognósticos e preditivos........................ 58

    Tabela 8. Principais características diagnósticas dos tipos histológicos

    encontrados e principais diferenças em relação ao correspondente humano....... 79

    Tabela 9. Graduação histológica aplicada as neoplasias induzidas pelo DMBA 81

    Tabela 10. Positividade para receptores hormonais (RE e RP)........................... 85

    Tabela 11. Positividade para o produto do oncogene HER2/neu na amostra de

    tumores induzidos pelo DMBA............................................................................ 86

    Tabela 12. Correlação entre marcadores de CT/CP e fatores preditivos de

    comportamento biológico dos tumores................................................................ 101

    Tabela 13. Correlação entre marcadores de CT/CP entre si................................ 102

  • xvi

  • Símbolos, siglas e abreviaturas

    xvii

    INCA – Instituto nacional do Câncer

    RE – Receptor de estrógeno

    RP – Receptor de progesterona

    CAAF – Citologia aspirativa por agulha fina

    AFIP- Instituto de Patologia das Forças Armadas (Armed Forces Institute of Pathology)

    OMS – Organização mundial de Saúde

    CLI – Carcinoma lobular invasor

    HER 2 – Fator de crescimento epidermal humano (Human Epidermal growth factor

    Receptor)

    CT – Célula-tronco

    CTs – Células-tronco

    CTN – Célula-tronco neoplásica

    CTNs – Células-tronco neoplásicas

    Pgp – Glicoproteína P

    MDR1 – Fator de resistência a múltiplas drogas (Multidrug resistance gene1)

    ALDH1 – Aldeído desidrogenase 1 (Aldehydedehydrogenase 1)

    ESA – Antígeno epitelial específico (Epithelial specific antigen)

    Oct-4 – Octâmero de ligação do fator de transcrição 4 (octamer-binding transcription

    factor 4)

    Sca-1 – Antígeno de célula tronco 1 (stem cell antigen-1)

    HOECHST – Corante para identificação de DNA (ácido desoxirribonucléico )

  • Símbolos, siglas e abreviaturas

    xviii

    DMBA –Dimetilbenz(a)antraceno (Dimethylbenz(a)anthracene)

    ASCO – Associação Americana de Oncologia Clínica

    CAP – Colégio Americano de Patologistas

  • Resumo

    xix

    O câncer de mama é a neoplasia maligna mais prevalente e a principal causa de óbito entre

    mulheres, no mundo. A despeito de avanços substanciais no entendimento da biologia da

    doença, nos métodos de detecção precoce, e em sua farmacoterapia, a sobrevida geral não

    se modificou significantemente nas últimas décadas. Portanto, pode se dizer que um dos

    deveres primordiais das Universidades Públicas engajadas com pesquisa básica e aplicadas

    consiste em contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento sistêmico

    desta neoplasia. Nesse contexto, um dos alvos estratégicos mais promissores no

    desenvolvimento de novos fármacos antineoplásicos é representado pela célula-tronco

    neoplásica (CTN). As CTNs tem sido associadas em inúmeros estudos à capacidade de

    algumas neoplasias malignas de resistir às principais modalidades terapêuticas anti-

    neoplásicas, especialmente à: radio-, quimio-, hormônio- e imunoterapias. Em resumo, na

    atualidade, a detecção de CTNs constitui uma ferramenta clínica bastante promissora

    enquanto alvo terapêutico, fator prognóstico e preditivo de resposta terapêutica. O objetivo

    deste trabalho foi descrever e discutir as potencialidades e limitações do modelo de

    carcinogênese mamária pelo DMBA, após reclassificação das neoplasias mamárias segundo

    os critérios diagnósticos da OMS (2003, 2012), subtipagem molecular e quantificação de

    imunomarcadores prognósticos, preditivos e de CTN. Após a aplicação do protocolo

    experimental de indução química pelo DMBA e a eutanásia dos animais controle e

    experimental, suas linhas mamárias (contendo ou não tumores) foram ressecadas e

    avaliadas quanto a morfologia e a imunoexpressão para marcadores de CTNs. Após 13

    semanas, 100% dos animais desenvolveram neoplasias macroscópicas e histologicamente

    compatíveis com os critérios de avaliação indicados pela OMS. Os tumores foram

    classificados em carcinoma ductal, carcinoma papilífero, carcinoma lobular, carcinoma

    mioepitelial e tumor filóide, sendo o tipo mais frequente, o ductal. Poucos marcadores

    imunoistoquímicos mostraram correlação com variáveis de comportamento biológico.

    Mesmo assim, o grau de correlação não foi elevado. A grande heterogeneidade morfológica

    intratumoral e interanimal, associada à presença de subtipos histológicos bifásicos (tumor

    filoide), tumores com diferenciação mioepitelial/basal e à grande positividade para

    marcadores CTN clássicos (tanto em termos de frequência na amostra como em termos de

  • Resumo

    xx

    distribuição média nas neoplasias) demonstram a participação clara de CTNs no modelo, o

    que o torna um importante referencial como modelo in vivo para o teste de drogas anti-CTN

    específicas. O modelo reproduz os principais subtipos histológicos e moleculares de câncer

    mamário, o que significa que poderá ser utilizado no estudo pormenorizado de drogas

    indicadas especificamente para cada subcategoria molecular (e.g., agentes hormonais que

    são indicados especificamente para os tipos luminais e trastuzumab, indicado nos tumores

    do subtipo HER2), bem como no desenvolvimento de novas drogas com maior

    especificidade para a classe molecular de interesse.

    Palavras-chave: câncer de mama, células-tronco neoplásicas, imunoistoquímica, Sprague-

    dawley, DMBA.

  • Abstract

    xxi

    Breast cancer is the most common malignancy and the leading cause of death from cancer

    among females worldwide. Despite all the research and all the progress, methods of early

    detection, and its pharmacotherapy, overall survival has not changed significantly in recent

    decades. Therefore, the Public University has been engaged in basic and applied research is

    to contributed to the development of new strategies for systemic treatment of this

    malignancy. In this context, one of the most promising strategic target in the development

    of the anticancer drugs is represented by neoplastic stem cell (NSC). Neoplastic stem cell

    has been linked in various studies to the capacity of some malignancies to resist major anti-

    neoplastic therapeutic modalities, especially: radio-, chemo-, hormone- and

    immunotherapies. In summary, the detection of NSCs is a clinical tool very promising

    while therapeutic target and prognostic factor predictive of therapeutic response. The aim

    of this study was to describe and discuss the strengths and limitations of the model of

    mammary carcinogenesis by DMBA, after reclassification of breast cancer according to the

    diagnostic criteria of the WHO (2003, 2012), and quantification of molecular subtyping

    prognostic immunomarkers, predictive and NSC. After application of the experimental

    protocol of chemical induction by DMBA and euthanasia of experimental and control

    animals, the mammary lines (with or without tumors) were resected and evaluated the

    morphology and immunostaining for markers of NSCs. After 13 weeks, 100% of the

    animals developed macroscopic neoplasms and histologically consistent with the evaluation

    criteria of evaluation indicated by WHO. Tumors were classified as ductal carcinoma,

    papillary carcinoma, lobular carcinoma, myoepithelial carcinoma and phyllodes tumor,

    being the most common type, the ductal. Few immunohistochemical markers correlated

    with variable behavior biological. Nevertheless, the degree of correlation was not high. The

    morphological intratumoral heterogeneity and interanimal associated with the presence of

    histological biphasic subtypes (phyllodes tumor), tumors with myoepithelial/basal

    differentiation and the positivity for NSCs classic markers (both in terms of frequency in

    the sample and in terms of the average distribution neoplasias) demonstrate a clear

    involvement of NSCs in the model, making it an important reference as a model for in vivo

    testing of anti-specific NSC. The model reproduces the main molecular and histological

  • Abstract

    xxii

    subtypes of breast cancer, which means that could be used in detailed study drug indicated

    specifically for each subcategory molecular (eg, hormonal agents that are suitable

    specifically for the luminal type and trastuzumab indicated in tumors HER2 subtype), as

    well as to develop new drugs with higher specificity for the class of molecular interest.

    Keywords: breast cancer, neoplastic stem cell, immunohistochemistry, Sprague-dawley,

    DMBA.

  • 1. Introdução

    23

    1. Câncer de mama

    O câncer de mama é a neoplasia maligna mais prevalente e a principal causa de

    óbito por neoplasia na população feminina, no mundo (1, 2) (Figura 1). A despeito de

    avanços substanciais no entendimento da biologia da doença, nos métodos de detecção

    precoce e em sua farmacoterapia (principalmente com a incorporação de anticorpos

    monoclonais e nanomoléculas inibitórias de tirosina quinase), a sobrevida geral não se

    modificou significantemente nas últimas décadas (3). No Brasil e em outros países em

    desenvolvimento, espera-se não apenas um aumento importante na prevalência do câncer

    de mama (em grande parte devido ao envelhecimento da população feminina), como

    também no gasto com o financiamento da Saúde Pública, em função dos custos crescentes

    com as novas modalidades terapêuticas (4, 5) e tratamentos de casos avançados, a maioria

    não diagnosticados precocemente. Portanto, pode-se dizer que um dos deveres primordiais

    das Universidades Públicas engajadas com a pesquisa básica e aplicada, consiste em

    contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento sistêmico desta

    neoplasia.

    As neoplasias malignas da mama constituem um grupo bastante heterogêneo de

    doenças, seja do ponto de vista clínico ou anatomopatológico. A Organização Mundial da

    Saúde (OMS) contabiliza um pouco mais de 50 tipos histológicos diferentes (Tabela 1), o

    que coloca o câncer mamário entre os de maior variabilidade morfológica intra- e

    intertumoral do organismo humano. Tradicionalmente, a classificação histopatológica dos

    tumores malignos da mama baseia-se no componente celular e/ou padrão arquitetural

    predominante da neoplasia e na semelhança deste componente com constituintes normais

    da mama (tais como células epiteliais, mioepiteliais, basais, bem como vários tipos de

    células estromais, isto é, de origem mesenquimal). Desse modo, as malignidades primárias

    da mama podem ser divididas em quatro grupos principais: os carcinomas (i.e., neoplasias

    que se semelham a células epiteliais e/ou mioepiteliais), os sarcomas (semelhantes a células

    mesenquimais), os tumores bifásicos com potencial maligno (tumores filóides e

    carcinossarcomas) e as neoplasias de natureza linfóide e hemopoiética (6) (Figura 2).

  • 1. Introdução

    24

    Figura 1. Incidência e mortalidade relacionadas ao câncer, por sítio primário, no mundo,

    em ambos os sexos. Adaptado de: Ferlay J, Shin HR, Bray F, Forman D, Mathers C and

    Parkin DM. GLOBOCAN 2008 v2.0, Cancer Incidence and Mortality Worldwide: IARC

    CancerBase No. 10 [Internet]. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer;

    2010. Disponível em: http://globocan.iarc.fr, último acesso em 04/01/2013.

  • 1. Introdução

    25

    Tabela 1. Neoplasias malignas primárias da mama: principais entidades clínicopatológicas (e genéticas) reconhecidas pela

    Organização Mundial da Saúde (6).

    Tumores epiteliais malignos

    Carcinomas Invasivos

    Carcinoma ductal invasivo, sem outras especificações (SOE) e variantes Carcinoma de células acinares

    Carcinoma lobular invasivo, clássicos e variantes Carcinoma mucoepidermóide (veja se tem acento no o)

    Carcinoma tubular Carcinoma polimórfico

    Carcinoma cribriforme Carcinoma oncocítico

    Carcinoma mucinoso Carcinoma rico em lipídios

    Carcinoma medular Carcinoma de células claras rico em glicogênio

    Carcinoma apócrino Carcinoma sebáceo

    Carcinoma com células em anel de sinete

    Carcinoma micropapilífero invasivo Tumores epiteliais-mtioepiteliais malignos

    Carcinoma metaplásico, SOE e variantes* Adenomioepitelioma com carcinoma

    Tumores neuroendócrinos Carcinoma adenóide cístico

    Carcinoma secretor

    Carcinoma papilífero invasivo

    *Inclui o carcinoma mioepitelial.

  • 1. Introdução

    26

    (continuação da Tabela 1)

    Tumores mesenquimais malignos Neoplasias linfoides e hemopoiéticas

    Lipossarcoma Linfoma difuso de grandes células B

    Angiossarcoma Linfoma de Burkitt

    Rabdomiossarcoma Linfoma de células T (inclui o linfoma anaplásico ALK-negativo)

    Osteossarcoma Linfoma B da zona marginal extranodal do tipo MALT

    Leiomiossarcoma Linfoma Folicular

    Tumores fibroepitelias malignos

    Tumor filóide maligno

    Tumor periductal estromal de baixo grau

  • 1. Introdução

    27

    Figura 2. Principais neoplasias malignas da mama humana.

  • 1. Introdução

    28

    Em geral, as neoplasias malignas da mama são graduadas quanto à semelhança com

    o correlato celular/histológico (hipotético) normal, através de diferentes sistemas (6,7).

    Esses sistemas de graduação histológica podem variar de acordo com o tipo histológico de

    neoplasia em questão. Fala-se em correlato histológico “hipotético”, pois inicialmente

    pensava-se que as neoplasias conservavam algumas características fenotípicas de sua célula

    origem (i.e., a célula normal, alvo de sucessivas mutações carcinogênicas). Contudo, como

    será discutido adiante, é possível que a maioria das neoplasias malignas não tenha origem

    em células diferenciadas que sofreram mutação, e sim em células indiferenciadas, com

    capacidade de diferenciação para múltiplas linhagens, chamadas variavelmente de células-

    tronco ou células progenitoras. Nesse caso, a semelhança com estruturas tissulares normais

    não apontaria para a origem da neoplasia, mas indicaria a capacidade da neoplasia em

    “mimetizar” células ou estruturas teciduais normais (8).

    Cumpre lembrar que tanto a subtipagem histológica (classificação diagnóstica

    principal) como a graduação histológica são de grande importância na conduta clínica,

    definindo vários aspectos da (1) propedêutica complementar (i.e., que exames

    complementares devem ser solicitados), da (2) terapêutica (i.e., se algum tipo de

    farmacoterapia será associado ao tratamento cirúrgico e em que momento da terapêutica

    isso ocorrerá, etc.), bem como da (3) estratificação prognóstica (6). As características

    histopatológicas mais típicas dos principais subtipos morfológicos reconhecidos pela OMS

    (e pela maioria dos especialistas na área) encontram-se resumidas na Tabela 2 (6, 7, 9).

  • 1. Introdução

    29

    Tabela 2. Sumário das características histológicas típicas das principais neoplasias mamárias, segundo a OMS (6).

    Tipo histológico Principais características microscópicas

    Carcinoma ductal invasivo

    Estruturas tubulocinares infiltrativas

    Citoplasma abundante e eosinófilo

    Pleomorfismo nuclear variável

    Estroma pouco celular

    Índice mitótico variável

    Carcinoma lobular invasivo (clássico) Células descoesas com núcleos homogêneos

    Dispostas isoladamente ou em filas indianas

    Invasão concêntrica, circundando ductos (aspecto em alvo)

    Baixo grau nuclear

    Carcinoma papilífero Estruturas papilares complexas revestindo estruturas císticas

    Papilas delicadas revestidas por duas ou mais camadas de células neoplásicas

    Citoplasma anfofílico

    Pleomorfismo nuclear variável

    Carcinoma mioepitelial Componente epitelial + componente mioepitelial (ambos malignos)

    Depende de confirmação imunoistoquímica

    Tumor filóide maligno Tumor bifásico (componente epitelial geralmente benigno + mesenquimal maligno)

    Aspecto foliáceo

    Estroma hipercelular, atípico e mixóide

  • 1. Introdução

    30

    Divergências e controvérsias diagnósticas existem no estudo dos tumores mamários,

    como em qualquer outro campo da Patologia; contudo, pode se dizer que as características

    enumeradas na Tabela 2 constituem, na atualidade, verdadeiros critérios diagnósticos

    através dos quais as malignidades mamárias humanas podem ser classificadas de forma

    racional e reprodutível.

    Dentre as neoplasias malignas da mama, cumpre destacar os carcinomas (neoplasias

    malignas de natureza epitelial e/ou mioepitelial), uma vez que representam a grande

    maioria dos tumores primários (6, 7) . Dentre os carcinomas, os subtipos histológicos mais

    comuns são: o carcinoma mamário invasivo sem outras especificações (SOE) ou carcinoma

    ductal invasivo (40-75% dos carcinomas) e o carcinoma lobular (5-15%) (6, 7, 9). Apesar

    dos nomes (“ductal” e “lobular”), acredita-se que ambos se originem nas unidades

    ductolobulares terminais (UDLTs) – as unidades funcionais da mama localizadas nas

    extremidades distais da ramificação do sistema ductal mamário. No tecido mamário maduro

    e funcional, as UDLTs são constituídas por três tipos celulares principais: (1) as células

    epiteliais luminais, (2) as células mioepiteliais e (3) a células basais (Figura 3) (9, 10). Os

    dois primeiros tipos celulares são considerados como células “diferenciadas”, isto é, no

    extremo da maturidade funcional e com mínima capacidade de autorreplicação. A célula

    basal, por outro lado, apresenta algumas características fenotípicas, funcionais e

    topográficas que as tornam fortes candidatas ao título de célula-tronco ou célula progenitora

    da mama. Um sumário das principais diferenças morfológicas, topográficas,

    imunofenotípicas e funcionais pode ser observado na Tabela 3

    Embora seja consenso que a maioria dos carcinomas mamários se origine nas

    UDLTs, não se pode precisar qual dos três tipos celulares é o alvo das mutações sucessivas

    que levam ao desenvolvimento do câncer. Isso porque as características típicas das células

    epiteliais, mioepiteliais e basais se manifestam de forma variada e imprevisível nas

    neoplasias malignas da mama (ou seja, ora encontram-se evidências de diferenciação para

    um tipo único de célula [e.g., epitelial] ora observam-se fenótipos combinados [e.g.,

    epitelial + mioepitelial]).

  • 1. Introdução

    31

    Figura 3. Esquema ilustrativo do desenvolvimento de neoplasias mamárias epiteliais a

    partir de UDLTs (10).

    Expansão inicial de UDLTs por

    CDIS

    Unidade ductolobular terminal (UDLT)

    Ducto segmentar

    Papila

    Seio lactífero

    Expansão completa de UDLTs por CDIS

    GLD não lactante GLD lactante

    UDTL normal

  • 1. Introdução

    32

    Tabela 3. Resumo das principais diferenças entre os constituintes celulares da unidade

    ductolobular terminal (9).

    Célula

    Luminal

    Células

    Mioepitelial

    Célula

    Basal/ Tronco/

    Progenitora

    Topografia

    Revestimento mais interno

    (luminal)

    Revestimento mais externo

    (interface ácino-estroma)

    Interface ácino-etroma

    Morfologia Colunar/cuboidal,

    citoplasma eosinófilo

    Variável (desde

    semelhante a linfócito até

    epitelióide)

    Indiferenciada (semelhante

    a linfócito)

    Imunofenótipo Citoqueratinas 7, 8, 18 e

    19

    S-100, actina muscular,

    calponina, CD10, p63,

    citoqueratinas 5/6, 14, 17

    Citoqueratinas, 5/6, 14 e

    vários marcadores

    clássicos de célula-tronco

    tecido-inespecíficos (vide

    adiante).

  • 1. Introdução

    33

    Além da tradicional classificação morfológica, recentemente, uma nova maneira de

    subtipar as neoplasias mamárias vem ganhando importância clínica, particularmente,

    devido ao seu valor preditivo de resposta terapêutica. Essa classificação, chamada

    “classificação molecular dos carcinomas mamários”, baseia-se em estudos de perfil de

    expressão gênica (isto é, trabalhos focados no uso de microarranjos de cDNA) e preconiza

    a divisão dos casos em 4 subtipos principais: luminal A, luminal B, HER2 e basal-símile

    (ou basal-like) (9, 11, 13, 14, 15). Esses novos tipos diferenciam-se não apenas em relação

    ao padrão de expressão gênica (Figura 4), como também no que diz respeito a

    características clínicas, prognósticas e de resposta ao tratamento farmacológico (9, 11, 13,

    14, 15) (Tabela 4) .

    Uma vez que a subtipagem molecular através do perfil de expressão gênica envolve

    metodologia laboriosa, de alto custo e, portanto, ainda indisponível na maioria dos serviços

    de saúde, tem se recorrido com frequência ao uso de uma subtipagem molecular

    “alternativa”, que se baseia no uso de um painel imunoistoquímico bastante simples. Esse

    método alternativo é apresentado na Tabela 5 (9, 13, 14, 15, 16). O método alternativo ou

    aproximado de subtipagem molecular das neoplasias mamárias vem ganhando bastante

    crédito entre mastologistas e patologistas especialistas na área, especialmente após o último

    Consenso de St. Gallen que propõe esta classificação como base para a indicação dos

    diferentes regimes de farmacoterapia disponíveis para o tratamento do câncer mamário

    (16). É provável que muito em breve este sistema de subtipagem deverá ser incorporado à

    padronização do laudo anatomopatológico do câncer de mama como item obrigatório,

    devido à importância crescente do subtipo molecular no estabelecimento do prognóstico e

    da conduta terapêutica frente a um carcinoma mamário.

  • 1. Introdução

    34

  • 1. Introdução

    35

    Figura 4. Padrão de expressão gênica de 85 amostras experimentais representando 78

    carcinomas, 3 tumores benignos e quatro tecidos normais, analisados por agrupamento

    hierárquico utilizando um conjunto de 476 clones de cDNA intrínseco. (A) As amostras de

    tumores foram divididas em cinco (ou seis) subtipos com base nas diferenças da expressão

    dos genes. O dendograma mostra os cinco (seis) subtipos de tumores (coloridos) que são:

    subtipo luminal A, azul escuro; subtipo luminal B, amarelo; subtipo luminal C, azul claro;

    mama normal, verde; tipo basal, vermelho e ERBB2+, rosa. (B) As barras coloridas à

    direita representam as inserções apresentadas no C-G. (C) Amplificação do ERBB2. (D)

    Conjunto desconhecido. (E) Células epiteliais basais. (F) Mama normal. (G) Luminal

    contendo receptor de estrógeno (15).

  • 1. Introdução

    36

    Tabela 4. Subtipos moleculares do câncer de mama determinados pelo perfil de expressão

    gênica: sumário das principais diferenças em termos de perfil de expressão gênica,

    características clínicas e resposta ao tratamento (1).

    Luminal HER2 Basal

    Padrão de

    expressão gênica

    Elevada expressão de RE e

    RP e genes associados

    (luminal A>luminal B)

    Elevada expressão de

    HER2;

    Baixa expressão de RE

    Elevada expressão de genes

    epiteliais basais,

    citoqueratinas basais;

    Baixa expressão de RE e

    HER2.

    Características

    clínicas

    ~ 70% dos carcinomas

    invasivos, RE/RP positivos.

    Grau histológico: luminal B >

    luminal A;

    Alguns superexpressam

    HER2 (luminal B2).

    ~15% dos carcinomas

    invasivos;

    RE/RP negativos

    ~15% dos carcinomas

    invasivos;

    A maioria triplo negativo

    Resposta ao

    tratamento

    Responde ao tamoxifeno e

    inibidores da aromatase, pode

    ser diferente para luminal A e

    luminal B;

    Resposta variável a

    quimioterapia (luminal

    B>luminal A);

    Prognostico luminal A>

    luminal B.

    Responde ao Trastuzumab

    (Herceptina) e a

    antraciclinas

    Geralmente pior

    prognóstico

    Não responde ao

    Trastuzumab (Herceptina);

    Pode ser sensível as

    platinas e inibidores da

    enzima poli (ADP-ribose)

    polimerase-1(PARP);

    Geralmente pior

    prognóstico

  • 1. Introdução

    37

    Tabela 5. Classificação molecular substitutiva (alternativa aos métodos moleculares

    validados: Mammaprint® e Oncotype Dx®) de neoplasias malignas da mama humana (9).

    Luminal A Luminal B1 Luminal B2 HER2 Triplo

    negativo/basal-

    símile

    RE/RP

    +

    +

    +

    -

    -

    C-erbB-2

    -

    -

    +

    +

    -

    Ki67

    14%

    Variável

    Variável

    Variável

  • 1. Introdução

    38

    2. Células-tronco neoplásicas

    As células-tronco (CT) podem ser definidas através de duas propriedades

    fundamentais: a capacidade de (1) autorrenovação e de (2) diferenciação em múltiplas

    linhagens celulares (17). Em geral, são classificadas segundo sua origem em: embrionárias,

    fetais, umbilicais e adultas (18). Os três primeiros subtipos são representados por CTs mais

    primitivas e com expressivo potencial de diferenciação, podendo originar qualquer tipo

    celular de um organismo desenvolvido.

    As CT adultas constituem uma pequena parcela de órgãos sistêmicos maduros, onde

    podem originar alguns tipos celulares específicos como os que caracterizam a pele, a

    glândula mamária, a próstata, o trato gastrintestinal e o sistema nervoso central (19). As

    CTs adultas são células de vida longa, em geral, quiescentes ou de baixo índice

    proliferativo. São capazes de gerar, através de divisões simétricas ou assimétricas, novas

    células tronco (preservando assim o pool de reserva destas células) ou células

    comprometidas com um fenótipo morfofuncional (que deverão proliferar, constituindo

    desse modo a maior parte de um determinado órgão/tecido) (3, 20, 21).

    O crescimento e a diferenciação da CT adulta mais primitiva (a CT toti- ou

    pluripotente) e sua progênie mais imediata (as células precursoras imaturas ou

    multipotentes) são modulados por sinais encontrados no microambiente local – o chamado

    “nicho da célula tronco”. Essa sinalização inclui interações homotípicas de caderinas (do

    nicho e das CTs), bem como interações entre integrinas das CTs e a matriz extracelular.

    Em conjunto, a capacidade de autorrenovação e o potencial multilinhagem conferem

    às CTs um papel fundamental tanto em processos fisiológicos quanto patológicos. Nos

  • 1. Introdução

    39

    processos fisiológicos, incluem-se: a organogênese intra-útero, a renovação natural de

    epitélios e outros tecidos com capacidade de proliferação, bem como processos de

    reparação/cicatrização de tecidos lesados. Dentre os processos patológicos, destacam-se as

    neoplasias malignas, onde as propriedades fundamentais das CTs parecem estar

    desreguladas (17). Em várias neoplasias malignas (incluindo leucemias e a maioria dos

    tumores sólidos), evidências recentes indicam que a célula alvo de mutações cumulativas

    responsáveis pelo desenvolvimento e manutenção do fenótipo canceroso seja uma célula

    normal com características fenotípicas de CT adulta (21). Neste contexto, as CTs seriam

    responsáveis pela origem, manutenção (autorrenovação) e heterogeneidade morfológica das

    neoplasias.

    Cumpre ressaltar que essas hipóteses configuram um novo paradigma de

    carcinogênese, que vem ganhando credibilidade na última década por meio de evidências

    cumulativas, e que se contrapõe ao modelo clássico de carcinogênese no qual as neoplasias

    se originariam a partir de mutações sucessivas em qualquer célula de um tecido

    (independente do seu status de maturação/diferenciação) (22).

    Independentemente da origem da neoplasia (seja em célula madura/diferenciada ou

    em CT), é possível constatar in vitro e in vivo, em um grande número de tumores malignos,

    uma subpopulação de células indiferenciadas, com características biológicas e fenotípicas

    de célula tronco, que em geral corresponde a menos de 1% do total de células de uma

    neoplasia (17). Essas células são designadas na maioria dos estudos como “células-tronco

    cancerosas, tumorais ou neoplásicas (CTNs)”. Nesses estudos, demonstra-se que as CTNs

  • 1. Introdução

    40

    são responsáveis pela variabilidade citoarquitetural e molecular de inúmeras neoplasias

    malignas (tais como carcinomas mamários e ovarianos) (3, 21).

    Embora representem, geralmente, uma pequena parcela da neoplasia total, as CTNs

    têm sido associadas em vários estudos à capacidade de algumas malignidades de resistir às

    principais modalidades terapêuticas anti-neoplásicas – especialmente, a quimio-, radio- e

    imunoterapias (3, 17). Essas abordagens terapêuticas parecem atuar de forma eficaz apenas

    sobre as células mais diferenciadas da neoplasia (principalmente, as que apresentam

    elevados índices de proliferação), reduzindo essa subpopulação, sem comprometer

    significantemente as CTNs. A preservação, mesmo que parcial, de CTNs, por sua vez,

    poderia contribuir de forma decisiva para recidivas neoplásicas locais e à distância, em

    médio ou longo prazo (3, 21, 22).

    Os fatores que tornam as CTNs mais resistentes à terapêutica antineoplásica não

    estão totalmente elucidados, mas parecem estar relacionados ao fato das CTNs (1) estarem

    na maior parte do tempo em estado quiescente (sendo que a maioria das estratégias

    terapêuticas são mais efetivas em células em ciclo) e (2) expressarem moléculas

    transportadoras de xenobióticos (transportadores de efluxo), que impedem o acúmulo

    citosólico de fármacos anti-neoplásicos (17). Dentre esses transportadores de efluxo, que

    constituem o substrato molecular para o fenômeno de resistência a múltiplas drogas,

    destacam-se a glicoproteína P (Pgp) - produto do gene MDR1 (“multidrug resistance

    gene1” ou ABCG1) -, bem como a proteína codificada pelo gene ABCG2 (ATP-binding

    cassette sub-family G member 2). A proliferação lenta das CTNs também explicaria porque

    as recidivas de alguns tumores (como os carcinomas mamários, os osteossarcomas e os

  • 1. Introdução

    41

    sinoviossarcomas) podem demorar mais de 10 anos para tornarem-se detectáveis pelos

    métodos imagenológicos e laboratoriais disponíveis (23).

    Além de estarem implicadas em resistência terapêutica, as CTNs parecem estar

    associadas a outras variáveis biológicas relacionadas à agressividade dos processos

    neoplásicos, influenciando negativamente, através de diferentes vias, o prognóstico das

    neoplasias malignas (3, 24). Dentre as variáveis biológicas de agressividade onde a

    presença e o número de CTNs podem ter papel significante, destacam-se: (a) a capacidade

    de migração celular (deslocamento de células neoplásicas após separação espontânea do

    tumor parental); (b) a invasividade em tecido conjuntivo (capacidade de se deslocar no

    tecido conjuntivo, dissolvendo ou destruindo barreiras naturais, como fibras colágenas,

    células estromais e células imunes, em geral através da produção de enzimas e/ou

    substâncias citotóxicas); (c) a atividade pró-angiogênica (capacidade de estimular a

    proliferação de novos vasos a partir de um leito capilar pré-existente, facilitando a nutrição

    do tumor primário e o acesso de células invasoras ao sistema circulatório); e (d) a

    tumorigenicidade (capacidade de estabelecer-se e de dar origem a um novo tecido

    neoplásico, em um novo sítio anatômico do organismo de origem ou em um novo

    organismo vivo, relacionada à expressão de moléculas de adesão, homing e à resistência a

    mecanismos de defesa inatos e imunológicos locais) (3, 24). Essas características biológicas

    estão diretamente associadas à capacidade metastatização, um evento que caracteriza o

    estádio mais avançado de uma neoplasia maligna, onde a probabilidade de cura ou

    sobrevivência com qualidade de vida é muito pequena. Desse modo, a presença e proporção

    de CTNs em uma neoplasia maligna parecem estar associadas a comportamento biológico

  • 1. Introdução

    42

    mais agressivo (i.e., maior capacidade de invasão local e metastatização) e, por

    conseguinte, pior prognóstico (3, 24).

    A prova definitiva de que uma determinada célula é de fato uma CT consiste na

    demonstração da capacidade desta célula em reconstituir o seu tecido de origem (seja ele

    normal ou neoplásico), quando implantada em uma nova topografia anatômica ou em um

    novo organismo (19, 25, 26). Esse tipo de demonstração impõe algumas limitações éticas e

    técnicas à realização de estudos sobre CTN, em particular, quando envolvem tecidos

    humanos e geração de dados em larga escala, respectivamente. Por esses motivos,

    historicamente, uma série de técnicas menos laboriosas/complexas e mais factíveis vem

    sendo desenvolvidas com o intuito de substituir o método de demonstração considerado

    como padrão ouro (17, 26).

    No câncer de mama, a presença de CTNs foi estabelecida em linhagens celulares,

    modelos experimentais murinos de carcinogênese induzida e em tecido humano, através de

    diferentes técnicas como a formação de mamosferas em cultura, o teste de efluxo do

    corante Hoechst, a imunofenotipagem por imunoistoquímica e por citometria de fluxo (26).

    Na imunofenotipagem, as CTs e CTNs apresentam um perfil de expressão de moléculas, as

    quais são representadas especialmente por proteínas e glicoproteínas encontradas na

    superfície, no citoplasma ou no núcleo dessas células.

    Esse perfil molecular pode ser definido tanto pela expressão típica de algumas

    moléculas (CD34, CD133, CD44, ALDH, ESA, Sca-1, dentre outras) quanto pela ausência

    de outras (17, 27). Assim, algumas moléculas como o ALDH1 (um marcador alternativo ao

    teste do ALDEFLUOR), CD133, ESA/EPCAM e a combinação CD44/CD24 (sendo o perfil

  • 1. Introdução

    43

    CD44+/CD24- indicativo de CTN) são consideradas os marcadores mais utilizados em

    pesquisas científicas e os mais descritos na literatura para o estudo de CTNs (Tabela 6) (27,

    28).

    O perfil imunofenotípico típico de uma CTN pode variar de neoplasia para neoplasia,

    entre espécies animais e modelos experimentais distintos, com a técnica de

    imunofenotipagem utilizada (citometria de fluxo vs. imunoistoquímica), com a abordagem

    experimental (in vitro vs. in vivo) e dentro de um mesmo tumor, sugerindo a coexistência

    de clones diferentes de CTNs (17). Além disso, nem sempre o perfil imunofenotípico de

    determinada CTN coincide perfeitamente com o perfil da CT normal correspondente, o que

    pode indicar que algumas destas moléculas possam desempenhar uma função importante

    para a manutenção do próprio fenótipo neoplásico ou maligno (3, 17).

    Sugere-se que grande parte da variabilidade imunofenotípica acima possa estar

    relacionada ao fato destes marcadores serem moléculas envolvidas na interação da CT

    (normal ou neoplásica) com o seu nicho podendo esta ser uma interação dinâmica.

    Portanto, se houver variação no microambiente celular ou no momento da dinâmica de

    interação, padrões imunofenotípicos diferentes poderão ser encontrados. Da mesma forma,

    as diferenças técnicas inerentes a cada método de imunofenotipagem podem favorecer ou

    não a detecção de alguns marcadores.

    É importante ressaltar que, independente dessa variabilidade imunofenotípica, a

    existência de perfis imunofenotípicos específicos para CTs e CTNs permite a detecção

    dessas células em diferentes contextos experimentais, o que por sua vez favorece e agiliza

    muito a realização de estudos sobre essas células, voltados para o entendimento de aspectos

  • 1. Introdução

    44

    fisiopatológicos e para o desenvolvimento de aplicações clínicas (testes diagnósticos,

    ferramentas de avaliação prognóstica/preditiva de resposta terapêutica e estratégias de

    tratamento, como as farmacológicas) (17, 29).

    Nos últimos anos, o estudo da biologia de células tronco de tumores sólidos tornou-se

    crescente na prática clínica oncológica devido, principalmente, a identificação de novos

    marcadores de células progenitoras e/ou CTNs (3, 19). A identificação de CTNs mamárias

    através das técnicas imunólogicas como a imunoistoquímica tem sido importante nas

    pesquisas com o objetivo de estabelecer uma melhor conduta diagnóstica e avaliar fármacos

    que atuem principalmente sobre as CTNs, sem causar danos às células tronco normais ou

    mesmo as células normais diferenciadas do organismo. Esta abordagem baseia-se na

    premissa de que as CTNs devem conservar pelo menos parcialmente a expressão de

    antígenos característicos da célula de origem que pode ser uma CT ou progenitoras

    primitivas normais, o que já foi demonstrado em estudos mais recentes (30, 31).

    Assim, a técnica imunoistoquímica apresentaria ainda a vantagem de permitir o

    estudo das CTN in situ, com correlação morfológica e topográfica, onde as células são

    observadas em seu contexto histológico real. Nenhum marcador ainda é absolutamente

    específico para o fenótipo CTN, portanto, essa correlação citomorfológica/topográfica

    poderia não só reduzir as chances de falsos positivos, como poderia fornecer insights a

    respeito do papel biológico específico das CTN em várias neoplasias (25). Além disso, o

    recente advento dos scanners de lâminas histológicas que permitem a digitalização e a

    análise automatizada de toda a superfície de um corte histológico, com agilidade e precisão

  • 1. Introdução

    45

    e das técnicas aprimoradas de imunomarcação múltipla em material cito e histológico

    também favorece a utilização da técnica de imunoistoquímica para detecção das CTNs.

  • 1. Introdução

    46

    Tabela 6. Principais marcadores imunofenotípicos de CTN, em diferentes neoplasias malignas (17).

    Marcador Sinonímia Órgão/tecido

    CD24 Heat stable antigen Mama (CT e CTN)

    CD29 Integrina beta-1 Mama (CT e CTN)

    ESA/EPCAM Antígeno epitelial-específico Mama e pâncreas (CTN)

    CD44 - Mama e próstata (CTN)

    CD133 Prominina-1 Mama e próstata (CTN)

    p63 - Mama e próstata (CT e CTN)

    Stem cell antigen Sca-1 Mama, próstata, músculo, MO (CT e CTN)

    CD34 - Intestino (CTN); fígado e pâncreas (CT)

    c-Kit CD117 Intestino (CTN); fígado e pâncreas (CT)

    Abrev.: CT= célula tronco normal, CTN= célula tronco neoplásica, MO= medula óssea (séries hemopoiéticas).

  • 1. Introdução

    47

    3. Dimetilbenz-(a)-antraceno (DMBA) como modelo de carcinogênese mamária

    Os modelos animais são utilizados em todos os campos da pesquisa biológica. Tais

    modelos, obrigatoriamente, devem permitir a observação de fenômenos biológicos naturais,

    induzidos ou comportamentais, que possam ser comparados aos fenômenos humanos

    estudados (32, 33).

    Um dos modelos mais utilizados para o estudo do câncer de mama baseia-se no uso

    de 7,12-dimetilbenz-(a)-antraceno (DMBA) como indutor químico em ratas Sprague-

    Dawley (SD). Para a obtenção de neoplasias mamárias, Russo e Russo (2000) e Barros et al

    (2004) utilizaram o DMBA diluído em óleo de soja na dose de 20 mg por animal,

    administrado por gavagem intragástrica, e após 13 semanas da indução 100% dos animais

    apresentaram de 1 a 3 nódulos palpáveis. Os tumores assim obtidos parecem apresentar

    certa similaridade histomorfológica e molecular com tumores humanos (34). A

    suscetibilidade da glândula mamária destes roedores a este protocolo torna este órgão um

    alvo importante para testar o potencial carcinogênico de compostos específicos. Os tumores

    induzidos pela administração de produtos químicos cancerígenos como o DMBA

    constituem uma ferramenta útil para investigar as várias etapas da carcinogênese que inclui

    a iniciação, promoção e progressão da doença (35, 36, 37).

    Dentre os mecanismos que explicam a carcinogênese pelo DMBA, a principal teoria

    é a ativação do receptor/fator de transcrição AhR (aryl hidrocarbon receptor/transcription

    fator), membro da família Per-ARNT-Sim (PAS) de fatores de transcrição, o que

    influenciam no desenvolvimento, no ciclo circadiano e nas respostas da hipóxia (38).

    De modo geral, a administração de DMBA leva ao aumento na atividade do AhR,

    por intermediação da indução da CYP1A1, CYP1A2 e outras enzimas que também

    participam no metabolismo de xenobióticos (38, 39). São estas enzimas que convertem o

    DMBA em intermediários epóxido mutagênicos - o 7-hidroximetil-12-

    dimetilbenzantraceno (7-HDMBA), o 12-hidroximetil-7-metilbenzantraceno (12-HMBA) e

    o 7,12-dimetilbenzantraceno, que formam adutos de DNA (40). Estes metabólitos ativam

    principalmente o AhR que se complexa com a proteína Heat-Shock 90 (hps90) e

    provavelmente ainda com outras proteínas ainda não evidenciadas. Quando por algum

  • 1. Introdução

    48

    motivo estas proteínas se dissociam, a AhR está livre para se translocar para o núcleo e se

    dimerizar com o cofator ARNT (aryl hidrocarbon receptor nuclear translocator),

    associando-se a sequencias regulatórias de transcrições específicas no DNA. Um vez no

    núcleo induzem a expressão de genes que codificam para fatores de crescimento e proto-

    oncogenes (38, 40).

    Estudos em animais indicaram que o DMBA é rapidamente absorvido no trato

    intestinal e tende a se acumular no tecido adiposo. Como a glândula mamária tem por

    característica fisiológica o acúmulo de tecido adiposo isso a torna um importante local de

    tropismo para o DMBA (40, 41).

    A incidência de tumores induzidos quimicamente, o número de tumores por animal

    e as características patológicas podem ser influenciadas pela idade do hospedeiro, no

    momento da exposição cancerígena, o status hormonal, a dosagem do agente de indução e a

    via de administração, dentre outros fatores (35, 36, 37, 42, 43, 44). As ratas SD são muito

    sensíveis a carcinogênese pelo DMBA entre 35 e 55 dias de idade devido à intensa

    atividade proliferativa do tecido mamário neste período (44, 45, 46). Além disso, há grande

    sucesso na taxa de indução, sendo obtidos tumores macroscopicamente visíveis após 13

    semanas em mais de 90% dos animais (45). Embora não totalmente demonstrado, é

    possível que os tumores obtidos a partir deste modelo expressem receptores hormonais e

    marcadores preditivo-prognósticos (e.g., C-erbB-2), o que o tornaria um modelo ainda mais

    robusto, principalmente frente ao desenvolvimento da chamada medicina personalizada.

    Apesar do DMBA ser um indutor dos modelos de carcinogênese mamária mais

    utilizado na literatura, ou seja, tanto em estudos de fisiopatogênese como em estudos

    farmacológicos, são raros os trabalhos focados na descrição histopatológica pormenorizada

    das neoplasias induzidas pelo DMBA, na caracterização imunoistoquímica de marcadores

    prognósticos/preditivos de resposta terapêutica e na correlação minuciosa com as

    neoplasias humanas.

  • 1. Introdução

    49

    Finalmente, até o momento, não foram relatados trabalhos voltados para a detecção da

    expressão de marcadores de células-tronco neoplásicas neste modelo de carcinogênese.

  • 50

  • 2. Justificativa

    51

    A classificação das lesões induzidas pelo DMBA segundo os critérios diagnósticos da OMS

    (2003; 2012) para neoplasias humanas e em subtipos moleculares, bem como a

    caracterização imunoistoquímica dessas lesões quanto à expressão de marcadores

    prognósticos, preditivos terapêuticos e de CTNs, além de inéditas, deverão contribuir

    significantemente para definir as potencialidades e limitações do modelo. Em outras

    palavras, é importante identificar que subgrupo de neoplasias mamárias o modelo de fato

    mimetiza, e se o modelo é robusto o suficiente para o teste de drogas anti-CTN ou

    direcionadas contra alvos moleculares específicos. Além disso, os marcadores avaliados

    poderão ser investigados futuramente como possíveis alvos farmacológicos (i.e., para o

    desenvolvimento de novos fármacos, em particular anticorpos monoclonais e

    nanomoléculas).

  • 52

  • 3. Objetivos

    53

    3.1- Objetivo Geral

    Descrever e discutir as potencialidades e limitações do modelo de carcinogênese mamária

    pelo DMBA após classificação das neoplasias mamárias segundo os critérios da OMS

    (2012), subtipagem molecular e quantificação de imunomarcadores prognósticos, preditivos

    e de CTN.

    3.2- Objetivos específicos

    1. Reclassificar os tumores induzidos por DMBA, segundo os critérios da OMS

    (2012). Determinar a frequência dos subtipos histológicos na amostra avaliada e a

    composição histológica média dos tumores induzidos.

    2. Descrever e quantificar as características histomorfológicas indicativas de

    comportamento biológico (tais como graduação histológica, necrose e índice

    proliferativo).

    3. Quantificar a expressão imunoistoquímica de marcadores prognósticos/preditivos e

    de CTN.

    4. Classificar os tumores induzidos pelo DMBA segundo os principais tipos

    moleculares estabelecidos (luminais, HER2 e triplo negativo/basal-símile).

    5. Estabelecer o grau de correlação entre os marcadores imunoistoquímicos e as

    características morfológicas avaliadas.

    6. Estabelecer o grau de correlação entre diferentes marcadores de CTN.

    7. Discutir as principais potencialidades e limitações do modelo.

  • 54

  • 4. Material e métodos

    55

    4.1- Aspectos éticos

    O experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética no uso de animais da

    Universidade Estadual de Campinas (CEUA-IB-UNICAMP), protocolo nº 2390-1.

    4.2- Locais de realização

    A pesquisa foi realizada no Laboratório de Histomorfometria e Patologia Molecular

    Aplicadas do Departamento de Farmacologia (LHIAP)/FCM (UNICAMP), em colaboração

    como Laboratório de Patologia Experimental (LAPE)/CAISM (UNICAMP), o Centro de

    Investigações em Pediatria (CIPED)/FCM (UNICAMP) e o Laboratório de Patologia

    Experimental e Molecular do Hospital do Câncer A. C. Camargo/Fundação Antônio Prudente.

    4.3- Animais

    Para o experimento, quarenta (40) ratas Sprague-Dawley virgens, entre 45-55 dias de idade,

    pesando entre 150-200 g, provenientes do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica-

    CEMIB-Unicamp, foram adaptadas ao Biotério do Departamento de Farmacologia - Unicamp e

    divididas em 2 grupos:

    • Experimental (GE, n=20): ratas submetidas a protocolo de indução química de

    neoplasias mamárias.

    • Controle (GC, n= 20): animais não induzidos quimicamente.

    4.4- Indução tumoral e obtenção dos espécimes anatomopatológicos

    A neoplasia mamária foi induzido através de uma única dose de 7,12-

    dimetilbenz(a)antraceno(DMBA) (100mg/Kg de peso vivo, diluída em 1mL de óleo de soja)

    administrada intragastricamente por gavagem. Os animais foram eutanasiados 90 dias após a

    indução química (grupo experimental). Foram também eutanasiados os animais que receberam

    apenas dose única de 1 ml de óleo de soja (grupo controle).

    Ao fim do protocolo de indução, as ratas experimentais e seus controles

    correspondentes foram anestesiadas com diazepam (2 mg/kg), ketamina (60 mg/kg) e

  • 4. Material e métodos

    56

    fentanila (0,04 mg/kg), em seguida, submetidas a aprofundamento anestésico em câmara de

    isoflurano e deslocamento cervical (sendo todo o procedimento acompanhado por um

    médico veterinário). Foram ressecadas ambas as linhas mamárias das ratas controle e

    experimental. Todos os animais foram submetidos à necropsia completa para avaliação macro e

    microscópica de doença metastática e neoplasias primárias sincrônicas (em sítios não mamários).

    O produto das ressecções mamárias e da necropsia foi encaminhado para exame macroscópico

    (com especial atenção à determinação das dimensões e alterações à superfície de corte das peças),

    fixação em formalina 10% tamponada e processamento histológico automático para inclusão em

    parafina.

    4.5- Tissue microarray (TMA)

    Os casos foram analisados e as áreas de interesse do corte foram marcadas com caneta

    permanente sobre a lâmina, e sobrepostas aos seus respectivos blocos que também foram

    marcados nos pontos a serem doados os cilindros de tecido. As identificações das lâminas foram

    transferidas para planilha Excel® que foi utilizada como guia para a confecção do microarranjo.

    Após a confecção do bloco receptor com o auxílio do aparelho de construção de array (Manual

    Tissue Arrayer, MTA-1, Beecher Instruments Inc.) com agulha de 1mm, foram retirados

    cilindros de tecido de cada bloco e sepultados no bloco receptor, tendo aí a matriz formada. Em

    um micrótomo rotativo, o bloco foi cortado na espessura de 5µm em fita adesiva e aplicada em

    lâminas especiais (Instrumedics Inc.); a fita adesiva foi retirada por exposição a luz ultravioleta

    por 30 minutos, e após esse passo, as lâminas foram mergulhadas em solvente (TPC) e secas a

    temperatura ambiente (validação metodológica: De Brot et. al., 2012 (49)).

  • 4. Material e métodos

    57

    4.6- Colorações histológicas

    Cortes histológicos entre 4-5 µm foram corados em hematoxilina-eosina (HE) com a

    finalidade de avaliar os órgãos removidos durante a necropsia e as características morfológicas

    dos tumores; quantificar necrose tumoral, índice mitótico e graduação histológica final. Para esta

    análise foram excluídas as neoplasias bifásicas (tumor filoide).

    Para a imunoistoquímica foram selecionados alguns marcadores para CTNs disponíveis

    comercialmente e marcadores prognósticos/preditivos de resposta farmacológica de rotina, com

    reatividade comprovada em tecidos murinos (Tabela 7). Resumidamente, após desparafinização e

    hidratação, os cortes histológicos foram submetidos ao bloqueio da peroxidase endógena (três

    banhos de H2O23%, de 5 minutos cada), recuperação antigênica por calor úmido (imersão em

    solução tampão citrato de sódio pH 6.0, por 30 min, em panela de vapor, a 95ºC) e incubação

    com o anticorpo primário “overnight”. Como método de detecção foi utilizado o Advance™

    HRP Link (Dako cód. K4068, Carpinteria, CA, EUA) e para a revelação da reação foi

    utilizado o substrato cromogênico (DAB-tetraidrocloreto de 3-3'-diaminobenzidina, Sigma

    Chemical Co., St. Louis, MO, Estados Unidos da América). Os cortes foram então

    contracorados com hematoxilina de Harris, desidratados e montados em lamínulas e resina

    Entellan® (Merck, Dermstad, Alemanha).

    A digitalização das lâminas foi realizada de modo automático em equipamento

    constituído pelo scanner de lâminas Pannoramic MIDI (3DHistech), equipado com o

    software dedicado Pannoramic Viewer para obtenção da lâmina virtual e das imagens TIFF

    de análise (após seleção manual dos campos de interesse). Para determinação da frequência

    de células neoplásicas positivas para marcadores de CTN foi utilizado o programa Image J

    (programa de domínio público, fornecido pelo NIH, EUA, através do site:

    http/imagej.nih.gov/ij/download). Os resultados de positividade foram expressos em

    número de células positivas para cada marcador. Para as análises morfológicas dependentes

    do exame direto da lâmina (e.g., graduação histológica), foi utilizado o fotomicroscópio de

    co-observação (Nikon 50i + Moticam 5Mpx). Neste caso, as análises foram realizadas

    levando-se em consideração toda a superfície de corte.

  • 4. Material e métodos

    58

    Tabela 7. Monomarcadores (single markers) de CTNs, prognósticos e preditivos (de resposta ou

    resistência terapêutica).

    Marcador Fabricante Diluição Função

    CD34 Santa Cruz 1:2000 Marcador CTN

    p63 Dako 1:300 Marcador CTN

    C-kit (CD 117) Dako 1:200 Marcador CTN

    Oct-4 Abcam Pronto para uso

    Marcador CTN

    CD 44 Leica/Novocastra 1:40 Marcador CTN

    CD 24 Neomarkers 1:50 Marcador CTN

    CD 133 Abcam 1:100 Marcador CTN

    EPCAM (Esa) Cell Marque 1:200 Marcador CTN

    Ck14 Thermoscientific 1:500 Marcador CTN

    EGFR Leica 1:50 Marcador CTN

    ALDH 1A1 Abcam 1:250 Marcador CTN e preditivo de resistência terapêutica

    RE Neomarkers 1:100 Marcador de bom prognóstico e preditivo de resposta terapêutica para agentes hormonais (e.g., Tamoxifeno).

    RP Dako 1:400 Marcador de bom prognóstico e preditivo de resposta terapêutica para agentes hormonais (e.g., Tamoxifeno).

    C-erbB-2 (HER2/neu) Dako 1:1000 Marcador de mau prognóstico e preditivo de resposta terapêutica para Trastuzumab

  • 4. Material e métodos

    59

    4.7. Variáveis de análise morfológica

    O tipo histológico foi estabelecido seguindo os critérios recomendados pela

    Organização Mundial de Saúde (2012). A graduação histológica foi baseada no Sistema de

    Nottingham (SBR modificado), o qual avalia: o grau de formação tubular, o grau de

    pleomorfismo nuclear e o índice mitótico. Cada parâmetro recebe uma pontuação que varia

    de 1 a 3 (vide itens 4.7.1 3). O somatório dos escores parciais permite o estabelecimento do

    “grau histológico final” (vide subtópico 4.7.4) A porcentagem de necrose espontânea foi

    estimada após exame de toda a superfície de corte ao microscópio.

    4.7.1. Formação ou diferenciação tubular/glandular (acinar)

    Percentual de formação tubular Pontuação >75 1

    10-75 2

  • 4. Material e métodos

    60

    4.7.3. Índice mitótico

    Foram contadas apenas as figuras de mitose bem definidas (ignorando-se núcleos

    hipercromáticos ou picnóticos), em 10 campos de maior aumento (objetiva de 40X) na

    periferia do tumor, onde a atividade proliferativa foi mais intensa (hotspots). Dentro dos

    hotspots, a seleção do campo foi aleatória:

    ¡ Os pontos de corte para atribuição de valores de pontuação para o fotomicroscópio

    Nikon 50i foram:

    ▪ 0-8 figuras de mitose= 1 ponto;

    ▪ 8-11 FM= 2 pontos;

    ▪ > 11 FM= 3 pontos;

    4.7.4. Grau histológico final

    Os escores de cada parâmetro foram somados, resultando em um escore final de 3 a 9

    pontos. A graduação final foi expressa da seguinte forma para os carcinomas:

    1. 3-5 pontos: grau 1, bem diferenciado ou baixo grau

    2. 6-7 pontos: grau 2, moderadamente diferenciado ou grau intermediário

    3. 8-9 pontos: grau 3, pouco diferenciado ou alto grau.

    4.8. Variáveis de análise IHQ

    4.8.1. Positividade para receptores hormonais (RE/RP): Método Allred (1990)

    Foram quantificadas (1) a distribuição de células positivas e a (2) intensidade de coloração

    (vide atribuição de pontuação abaixo); posteriormente, foi realizada a soma dos escores

    parciais obtidos, sendo que, valores acima de 3 foram considerados positivos.

  • 4. Material e métodos

    61

    Distribuição

    Proporção de células positivas Pontuação (escore)

    1/100 0-1

    1/10 2

    1/3 3

    2/3 4

    >2/3 até 1 5

    Intensidade

    Intensidade Pontuação (escore)

    Negativo 0

    Fraco 1

    Moderado 2

    Forte/intenso 3

    Fonte: Allred, 1990 (50).

  • 4. Material e métodos

    62

    4.8.2. Positividade para C-erbB-2

    Para avaliar a positividade para C-erbB-2 seguimos as recomendações da ASCO/CAP.

    Escore de

    positividade Característica Resultado

    0 Ausência completa de marcação de membrana citoplasmática negativo

    +1 Escassas marcações incompletas e sem continuidade da

    membrana negativo

    +2 Marcações fortes em menos de 10% das células neoplásicas indeterminado/equívoco

    +3 Marcação forte e completa em todo o contorno da membrana

    citoplasmática em mais de 10% das células neoplásicas positivo

    4.8.3. Critérios para a classificação alternativa em subtipos moleculares baseada no

    perfil molecular

    Subtipo molecular Perfil de biomarcadores

    Luminal A ER+ e/ou PR+

    Luminal B

    B1

    B2

    ER+ e/ou PR+,

    Ki67>14% ou GHF 2/3

    HER2+

    HER2 ER- e/ou PR-, HER2+

    Triplo negativo/basal símile ER-, PR- e HER2-, e CK14 ou EGFR+

    Schnitt SJ, 2010 (50); Consenso de St. Gallen, 2011 (16).

  • 4. Material e métodos

    63

    4.8.4.Positividade para marcadores de CTNs

    Foram contadas as células com pelo menos marcação leve em 5 imagens TIFF obtidas das

    lâminas virtuais, em campos aleatórios correspondentes a campos de grande aumento

    (objetiva virtual de 40X).

    4.9. Análise estatística

    Este estudo foi experimental descritivo e exploratório. As comparações entre os grupos

    (variáveis quantitativas contínuas) foram realizadas por meio do teste t de Student (para

    amostras não pareadas). Na avaliação do grau de correlação entre as variáveis biológicas e

    marcadores imunoistoquímicos, e diferentes marcadores de CTNs (marcadores entre si)

    foram feitos gráficos de dispersão com curva ajustada e regressão linear com o cálculo do r

    de Spearman.

  • 64

  • 5. Resultados

    65

    Aspectos macroscópicos

    Noventa dias após a indução química com o DMBA, todos os animais do grupo

    experimental desenvolveram entre 1 a 4 nódulos tumorais, macroscopicamente visíveis, com

    diâmetro médio de 2,2 cm (mínimo:0,5 cm; máximo: 3,5 cm). Observou-se bilateralidade e

    multicentricidade em 60% e 20% dos animais, respectivamente (Figura 5).

    Ao exame macroscópico clínico, as neoplasias mamárias induzidas pelo DMBA neste

    protocolo apresentaram evidências de ulceração cutânea (Figura 6) em 30% dos animais. Nem

    sempre o fenômeno de ulceração estava associado ao atrito da neoplasia com o solo durante a

    deambulação. Na maioria dos casos, erosão/ulceração foram detectadas no primeiro tumor de

    cada animal (i.e., na neoplasia de maior velocidade de crescimento). Durante o desenvolvimento

    das neoplasias, observou-se em todos os animais algum sinal de síndrome consumptiva (como

    por exemplo, consumo de tecido adiposo periférico), por vezes acompanhado de perda do

    comportamento de busca ativa de alimentos. Esse quadro foi mais perceptível nos animais com

    tumores multicêntricos/ulcerados.

    Apesar dos contornos arredondados/ovalados e dos limites precisos (boa delimitação em

    relação aos tecidos normais adjacentes), as neoplasias apresentavam-se firmemente aderidas a

    esses (i.e., não era possível a enucleação das neoplasias seja durante a remoção necroscópica,

    seja durante o exame macroscópico da peça). Não foram observados sinais macroscópicos de

    cápsula verdadeira ou pseudocápsula tumoral. Aos cortes, todos os tumores apresentaram

    coloração creme/rosada, com áreas necro-hemorrágicas centrais e consistência friável (Figura 7).

    Após a realização da necropsia dos animais avaliando cada órgão individualizado, bem

    como na análise histológica, não fora detectada nenhuma evidência macro e/ou microscópica de

    metástases.

  • 5. Resultados

    66

    Figura 5. Aspectos macroscópicos das neoplasias induzidas pelo DMBA no D90 da indução:

    multicentricidade e bilateralidade (vide círculos).

  • 5. Resultados

    67

    Figura 6. Aspectos macroscópicos das neoplasias induzidas pelo DMBA no D90 da indução:

    ulceração (seta).

  • 5. Resultados

    68

    Figura 7. Superfície de corte das neoplasias induzidas pelo DMBA no D90 da indução: áreas

    necro-hemorrágicas centrais (linha tracejada).

    A

  • 5. Resultados

    69

    Achados histomorfológicos (I): características indicativas de comportamento biológico e

    tipos histológicos

    Do ponto de vista histológico, todas as neoplasias obtidas com o presente protocolo

    apresentaram simultaneamente pelo menos 2 características indicativas de malignidade (segundo

    os critérios estabelecidos em “Material e Métodos”). Não foram observadas lesões benignas, seja

    de natureza hiperplásica (e.g., adenose esclerosante) ou neoplásica (e.g., fibroadenoma). Em

    apenas um único caso, foi detectada lesão precursora/pré-maligna (concomitante a lesão maligna,

    perifericamente), classificado com um carcinoma ductal in situ dos tipos sólido e cribriforme,

    com necrose, grau nuclear 2 (OMS, 2012) (Figura 8).

    Quanto ao tipo histológico, foi observado que 68 % das neoplasias induzidas pelo DMBA

    eram compostas por mais de uma variante histológica, sendo denominadas “tumores mistos” (de

    acordo com os critérios da OMS, 2012). As neoplasias mistas eram caracterizadas por

    combinações variadas dos seguintes tipos histológicos: (1) carcinoma ductal invasivo (CDI) sem

    outras especificações, (2) tumor filoide (TF), (3) carcinoma papilífero invasivo (CPAP), (4)

    carcinoma mioepitelial (CMIO) e (5) carcinoma lobular (CLI) (Figuras 9-13). As Figuras 14 e 15

    representam, respectivamente, a frequência desses subtipos histológicos entre os animais do

    grupo experimental (ou seja, em que percentagem dos animais cada um dos tipos histológicos

    enumerados esteve presente) e a participação percentual de cada variante na composição da

    maior neoplasia (i.e., que fração percentual da neoplasia em questão estava comprometida com

    determinado tipo histológico). O subtipo histológico mais frequente na amostra foi o CDI.

    Dentro dos tumores mistos, o componente predominante também foi representado por

    CDI, com uma contribuição média de 70% do tumor misto principal. Cumpre relatar que a

    delimitação entre subtipos histológicos de um mesmo tumor misto era quase sempre difícil (i.e.,

    a mistura dos componentes histológicos era bastante intrincada, por vezes incluindo zonas

    híbridas ou transicionais) e que, em geral, a composição histológica do tumor principal (maior

    neoplasia) não diferia significantemente da composição das neoplasias secundárias. Portanto, o

    que se descreve para a formação tumoral principal (tumor maior e mais precoce) vale também

    para a carga tumoral total (somatório de todos os tumores induzidos).

  • 5. Resultados

    70

    Cerca de 32% da amostra era representada por tumores constituídos de apenas um tipo

    histológico (i.e., um componente histológico bem definido ocupando mais de 90% da neoplasia

    principal), sendo designados de “tumores puros”. Neste estudo, duas formas principais de

    tumores puros foram encontradas: (1) uma representada quase exclusivamente por CDI e (2)

    constituída por um tumor bifásico, epitelial-estromal (sendo a porção estromal hipercelular,

    atípica e por vezes dotada de focos de necrose). Em função das características do componente

    estromal e da má delimitação da lesão, este segundo tipo histológico, foi classificado com um

    tumor filóide, histologicamente borderline (Figura 10).

    A Tabela 8 apresenta de forma sintética as principais características que permitiram o

    diagnóstico das neoplasias dentro dos tipos preconizados pela OMS (2012), bem como os

    principais achados que distinguem essas neoplasias murinas de seus correspondentes humanos.

  • 5. Resultados

    71

    Figura 8. Fotomicrografias ilustrativas de focos de carcinoma ductal in situ, grau nuclear 1 (a e b). Hematoxilina-eosina, barras de

    escala= 100μm.

  • 5. Resultados

    72

    Figura 9. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma ductal invasivo (a e b). Hematoxilina-eosina, barras de escala= 100μm.

  • 5. Resultados

    73

    Figura 10. Fotomicrografias ilustrativas de tumor filoide (a e b). Hematoxilina-eosina, barras de escala= 100μm..

  • 5. Resultados

    74

    Figura 11. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma papilífero invasivo (a e b). Hematoxilina-eosina, barras de escala= 100μm.

  • 5. Resultados

    75

    Figura 12. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma mioepitelial invasivo (a e b); (a): aspectos morfológicos, (b) imunocoloração

    anti-CK14. Hematoxilina-eosina (a) e imunoperoxidase (b), barras de escala= 100μm.

  • 5. Resultados

    76

    Figura 13. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma lobular invasivo (a e b). Hematoxilina-eosina, barras de escala= 100μm.

  • 5. Resultados

    77

    Figura 14. Frequência dos principais tipos histológicos nesta série de tumores induzidos pelo DMBA.

  • 5. Resultados

    78

    Figura 15. Contribuição relativa dos principais tipos histológicos constituintes dos tumores mistos em sua composição histológica.

    *Outros: tumor filoide, carcinoma mioepitelial e carcinoma lobular.

  • 5. Resultados

    79

    Tabela 8. Principais características diagnósticas dos tipos histológicos encontrados e principais diferenças em relação ao

    correspondente humano.

    Tipo histológico Características diagnósticas essenciais Diferenças em relação ao correspondente

    humano

    Carcinoma ductal invasivo

    Estruturas tubuloacinares de aspecto infiltrativo

    com atipia citológica variável.

    Em áreas, os tumores induzidos pelo DMBA

    apresentam justaposição de estruturas tubulares,

    resultando em aspecto cribriforme.

    Tumor filoide Tumor bifásico, epitelial-estromal, no qual as

    principais características atípicas/indicativas de malignidade se concentram no componente

    estromal. Estroma hipercelular e mixoide. Aspecto

    foliáceo.

    Nesta série, foram evidenciados apenas tumores

    com características limítrofes de malignidade (tumores borderline). O componente estromal não

    apresenta diferenciação heteróloga.

    Carcinoma papilífero invasivo Lesões císticas, revestidas internamente por papilas

    constituídas por hastes fibrovasculares delgadas e 2

    ou mais camadas de células epiteliais atípicas; associadas a componente invasivo papilífero ou do

    tipo carcinoma ductal.

    -

    Carcinoma mioepitelial invasivo Tumor contendo dois componentes principais: um epitelial e um mioepitelial, ambos exibindo

    características de malignidade. O componente

    mioepitelial como confirmado através da realização de marcadores imunoistoquímicos.

    Lesão muito rara na glândula mamária humana (mais frequentemente relatada em glândulas

    salivares).

    Carcinoma lobular invasivo Neoplasia maligna epitelial constituída por células pequenas, com leve atipia nuclear, exibindo

    descoesividade (com células infiltrando de forma

    isolada, por vezes, simulando um infiltrado

    linfocítico). Presença de infiltração em padrão de fila indiana.

    -

  • 5. Resultados

    80

    Após a caracterização dos tipos histológicos, os carcinomas ductais (puros e os

    constituintes de tumores mistos) foram graduados de acordo com sistema Nottingham. O sistema

    de Nottingham (também referido como sistema de Bloom-Richardson modificado por Elston-

    Ellis) visa definir de forma mais objetiva o grau de semelhança histológica entre a neoplasia e

    seu correspondente histológico normal - o tecido mamário normal. Os dados referentes à

    graduação histológica dos carcinomas ductais invasivos (CDI) induzidos pelo DMBA

    encontram-se resumidos na Tabela 9 e ilustrados na Figura 16. De acordo com essa tabela, nota-

    se que a grande maioria dos CDIs (83%) são representados por tumores de grau histológico final

    1, isto é, neoplasias de bem diferenciadas ou de baixo grau histológico. Esta constatação associa-

    se ao fato de que a maioria dos tumores recebeu pontuação baixa (escore 1-2) nos 3 critérios que

    definem a graduação: formação tubular, pleomorfismo nuclear e índice mitótico.Assim, observa-

    se que a maioria dos carcinomas apresenta-se constituído em mais de 75% de sua extensão por

    estruturas tubulo-acinares (78%), apresenta núcleos com pleomorfismo moderado (61%) e baixo

    índice mitótico (72%).

    Os tumores ainda apresentaram em média 14% de necrose espontânea, conforme ilustrada

    na Figura 17.

  • 5. Resultados

    81

    Tabela 9. Graduação histológica aplicada às neoplasias mamárias induzidas pelo DMBA: escores

    parciais e grau histológico final.

  • 5. Resultados

    82

    Figura 16. Fotomicrografias ilustrativas de carcinoma ductal invasivo bem diferenciado/grau histológico final 1 (a) e

    moderadamente diferenciados/grau histológico final 2 (b). Hematoxilina-eosina, barras de escala= 100μm (a) ou 25 μm (b).

  • 5. Resultados

    83

    Figura 17. Fotomicrografias ilustrando a variação na extensão da necrose em neoplasias induzidas pelo DMBA: (a) necrose restrita;

    (b) necrose extensa. HE, barra de escala= 500 μm.

  • 5. Resultados

    84

    Marcadores prognósticos/preditivos e subtipagem molecular substitutiva

    Em relação aos marcadores prognósticos/preditivos (classsicamente utilizados na rotina

    diagóstica humana), foram quantificados os seguintes: (1) receptor de estrógeno (RE), receptor

    de progesterona (RP) (ambos quantificados segundo a normatização estabelecida p