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Nelson Werneck Sodré: Censura, Repressão e Resistência Lucileide Costa Cardoso * Resumo: O presente texto recupera a trajetória política do historiador Nelson Werneck Sodré durante os anos de vigência da Ditadura Civil-Militar no Brasil e analisa os Dossiês preparados pelo DOPS paulista e os Processos na Justiça Mi- litar (Projeto BNM). Ao confrontar a Ditadura, Sodré vivenciou à sua maneira, as agruras impostas pela política de segurança nacional aos considerados “ini- migos internos” da Nação. Sodré respondeu a longos interrogatórios no DOPS, cou preso durante dois meses e teve alguns de seus livros proibidos, além de não poder conceder entrevistas a jornais e revistas. A repressão atingiu não ape- nas os quadros militantes do PCB e os seus teóricos mais expressivos, mas tam- bém os familiares, amigos e simpatizantes do historiador, que sofreram com a institucionalização da tortura no país. Nesse sentido, pensar o papel de Nelson Werneck Sodré na luta contra a Ditadura é compreender questões mais amplas sobre a inserção da esquerda nos meios intelectuais e nas bases da sociedade. Palavras-chave: Nelson Werneck Sodré. Censura. Repressão. Resistência. * Doutora em História Social pela USP. Professora-Adjunta IV do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFBA. Líder do Grupo de Pesquisa Cultura, Memória e Política Contemporânea (UFBA/UFRB/CNPq). Integrante do Projeto de Pesquisa Estado e Memória: Políticas Públicas da Memória da Ditadura Portuguesa (1974-2009). Universidade do Porto/Fundação para a Ciência e Tecnologia em Portugal (PTDC/HIS-HIS/121001/2010). E-mail: [email protected]. Anos 90, Porto Alegre, v. 20, n. 37, p. 237-267, jul. 2013

CARDOSO, Lucileide Costa. Nelson Werneck Sodré

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Artigo publicano na revista "Anos 90".

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  • Nelson Werneck Sodr:Censura, Represso e Resistncia

    Lucileide Costa Cardoso*

    Resumo: O presente texto recupera a trajetria poltica do historiador Nelson Werneck Sodr durante os anos de vigncia da Ditadura Civil-Militar no Brasil e analisa os Dossis preparados pelo DOPS paulista e os Processos na Justia Mi-litar (Projeto BNM). Ao confrontar a Ditadura, Sodr vivenciou sua maneira, as agruras impostas pela poltica de segurana nacional aos considerados ini-migos internos da Nao. Sodr respondeu a longos interrogatrios no DOPS, fi cou preso durante dois meses e teve alguns de seus livros proibidos, alm de no poder conceder entrevistas a jornais e revistas. A represso atingiu no ape-nas os quadros militantes do PCB e os seus tericos mais expressivos, mas tam-bm os familiares, amigos e simpatizantes do historiador, que sofreram com a institucionalizao da tortura no pas. Nesse sentido, pensar o papel de Nelson Werneck Sodr na luta contra a Ditadura compreender questes mais amplas sobre a insero da esquerda nos meios intelectuais e nas bases da sociedade. Palavras-chave: Nelson Werneck Sodr. Censura. Represso. Resistncia.

    * Doutora em Histria Social pela USP. Professora-Adjunta IV do Departa mento e do Programa de Ps-Graduao em Histria da UFBA. Lder do Grupo de Pesquisa Cultura, Memria e Poltica Contempornea (UFBA/UFRB/CNPq). Integrante do Projeto de Pesquisa Estado e Memria: Polticas Pblicas da Memria da Ditadura Portuguesa (1974-2009). Universidade do Porto/Fundao para a Cincia e Tecnologia em Portugal (PTDC/HIS-HIS/121001/2010). E-mail: [email protected].

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  • Introduo

    O cerco repressivo estabelecido com a instaurao dos Inqu-ritos Policiais Militares no ano de 19641 atingiu intelectuais, pensado-res e professores universitrios. Iniciaram-se perseguies, ameaas, triagens ideolgicas, cassaes e aposentadorias compulsrias. Em alguns casos, essas aes foram acompanhadas de priso, tortura, exlio e mortes de amigos e parentes prximos. Os rgos de vigi-lncia, ao exercerem um controle sistemtico das atividades polticas e acadmicas dos intelectuais, considerados por eles de esquerda, impuseram a censura, a difcil sobrevivncia na clandestinidade, aautorrepresso e o autoexlio. A violncia perpetrada s no foi capazde eliminar o foco criativo, crtico e autnomo inerente tarefa des-tes, engajados e convictos da necessidade da poltica, lugar de exerc-cio da liberdade contra a tirania.

    Essa pesquisa possibilita refl exes sobre a insero dos inte-lectuais no contexto de luta de resistncia Ditadura Civil-Militar, analisando os documentos de natureza repressiva produzidos pelos agentes da Comunidade de Informao e Segurana. Tal perspec-tiva ser balizada atravs da trajetria militante e intelectual de um dos principais intrpretes do pensamento brasileiro, o historiador, jornalista militante e general de brigada, Nelson Werneck Sodr. Nascido em 1911, numa famlia de escritores, vivendo em ambiente culto, desde cedo dedicou-se literatura. Foi professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exrcito de 1948 a 1950 e Dire-tor do Departamento de Histria do Instituto Superior de Estudos Brasileiros, ISEB, criado em 1955 e extinto em 1964, em decor-rncia do Golpe de Estado. O historiador faleceu aos 89 anos, em 13 de janeiro de 1999, na cidade de Itu, interior de So Paulo. No pr-1964, pertenceu ao grupo dos militares comunistas ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), mas, com a deposio do pre-sidente Goulart, os seus direitos polticos foram suspensos por dez anos, atravs do Ato n. 4, do Comando Supremo da Revoluo.2 Refugiou-se em uma fazenda de parentes em Fernandpolis, So Paulo, preso no dia 26 de maio de 1964. Enviado ao Rio de Janeiro, fi cou detido durante 57 dias, primeiro no Forte de Copacabana, pas-sando depois fortaleza de So Joo.

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  • Autor de 56 livros produzidos entre 1938 e 1997, Nelson Werneck Sodr, alm de possuir alguns desses livros publicados no exterior, produziu cerca de trs mil artigos que revelam interesse por assuntos variados. Para entender a sua trajetria e participao na vida poltica do pas, priorizamos os escritos memorialsticos que remetem ao contexto da Ditadura Civil-Militar. O propsito con-trapor a sua verso dos acontecimentos com a massa de informa-es, julgamentos e leituras produzidas pelos agentes repressivos a seu respeito. Tais agentes acusaram-no de praticar terrorismo, subverso, de ser membro ativo de movimentos extremistas, de cometer crimes que feriam a sociedade e, portanto, o poder constitudo.

    Com isso, tornou-se essencial a leitura de dois de seus livros de memrias: Histria da Histria Nova, 1986, e A fria de calib: Memrias do Golpe de 64, 1994, que oferecem uma resposta particu-lar s verses encontradas nos documentos ofi ciais.

    Seguindo tal objetivo de relacionar alguns dos seus escritos memorialsticos com os documentos de natureza repressiva oriun-dos do Departamento de Ordem Poltica e Social (DOPS), e do Projeto Brasil Nunca Mais (BNM), estruturamos a anlise a partir de trs eixos, bases de investigao dos Inquritos Policiais Mili-tares em que foi indiciado: IPM do Instituto Social de Estudos Brasileiros, IPM da Histria Nova e IPM do Partido Comunista Brasileiro. Vale lembrar que o seu vnculo com o PCB, ainda no claramente explicitado pela historiografi a, surge bastante acentua-do no jogo da represso poltica e cultural que se abateu sobre ele, auxiliares de equipe, familiares e amigos.

    Represso Poltica e Cultural

    O Dossi do historiador, pertencente ao Fundo DEOPS/SP e constitutivo do acervo temtico de Ordem Social e Poltica, locali-zado na Diviso do Arquivo de Estado de So Paulo, revela o micro-cosmo do poder instaurado no Brasil a partir de 1964. O DOPS foi criado em 1924, com a funo de controle poltico-social e represso aos crimes polticos, empregando mtodos de investigao amparados

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  • na legislao, IPMs, por exemplo, e prticas de atos ilegais: tortu-ras, crcere privado e execuo sumria. Os DOPS, rgos vincu-lados aos governos estaduais atravs das Secretarias de Segurana Pblica, geralmente eram comandados por ofi ciais superiores do Exrcito.3 As siglas desse rgo variam de acordo com cada Estado, podendo ser designados tambm por DEOSP, DPPS, DSS, DVS,entre outros. Durante o perodo militar, o DOPS de So Paulo cons-titua-se num importante centro de poder poltico com relativa auto-nomia de seus funcionrios, que atuavam revelia de outros setores dominantes. Existiu uma enorme semelhana nas estratgias da re-presso poltica do DOPS/SP e do temido DOI-CODI, comandado pelo Exrcito brasileiro.

    Os Dossis foram criados em 1942 para atender ao aumento da atuao do rgo no momento em que o Brasil aliava-se aos norte-americanos na Segunda Guerra Mundial e os suspeitos de colaborarem com o Eixo, residentes no pas, passaram a sofrer vigilncia cerrada. Contudo, a partir do Golpe de 64 que cres-ceu sua importncia e utilizao pelos agentes da Polcia Federal, passando a organiz-los em pastas contendo resumos, relatrios e outras informaes sobre o acusado. O objetivo era atender s soli-citaes dos vrios rgos, dentro e fora do Estado, como parte da rede repressiva que agia de forma sintonizada no combate sub-verso. Os Dossis expandiram-se at o momento da extino do DOPS, em 1983, no estado de So Paulo.

    O material arquivado apresenta o carter multifacetado, ca-tico e extremamente plural das atividades de espionagem e de re-presso, porm no esconde o fato de que foram cuidadosamente planejadas e executadas pelo alto escalo do Poder Executivo. Essa documentao apresenta parte das atividades acadmicas e mili-tantes do nosso historiador, evidenciando a rigorosa observao dirigida pelo rgo aos que denominaram inimigos internos da Nao. Os Dossis de Nelson W. Sodr, pertencentes ao Fundo DEOPS, forneceram pistas importantes que completaram infor-maes adquiridas tambm com a leitura e anlise dos Processos BNM, Projeto A: Brasil Tortura Nunca Mais.4 Alm disso, no geral, a montagem dos IPMs, Inquritos Policiais Militares, base da pes-quisa do Projeto Brasil Nunca Mais, fora realizada nos DOPSs dos diferentes estados.

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  • A investigao sobre Nelson Werneck Sodr foi intensa, sendo que o seu nome consta em noventa e uma pastas da Srie Dossis/Fundo DEOPS. As primeiras informaes datam de 1945, quando Sodr foi identifi cado como colaborador da Revista Leitura, no Rio de Janeiro e em So Paulo. Em 1950, ele integrou, ao lado de reconhecidos intelectuais, a Delegao Carioca do III Congresso de Escritores, realizado em Salvador/BA. Em 1951, Major do Exrcito, foi afastado da Diretoria do Departamento de Cultura, por exercer atividades comunistas. Em informao reservada, datada de 27 de agosto de 1963, foi acusado de aderir convocao do I Encontro Latino-Americano pela Liberdade dos Presos Polticos do Paraguai. Nesse contexto, passou a pertencer Sociedade Amigos do Povo Paraguaio, espcie de entidade organizada pelo Partido Comunista do Brasil. Destacou-se tambm internacionalmente atravs de mani-festaes e solidariedade ao povo cubano. Diversos recortes de jor-nais so arquivados a partir de 1963, identifi cando Nelson Werneck Sodr como agente do comunismo no Brasil, marxista pertencente ao ISEB, perodo em que foi considerado como um dos principais mentores intelectuais da UNE. O DEOPS, baseando-se nas Atas de reunies das entidades estudantis, Unio Nacional dos Estudan-tes (UNE), e Unio Estadual de Estudantes Secundaristas (UEES), estabeleceu um forte vnculo entre suas lideranas e os intelectuais e polticos de esquerda: Nelson W. Sodr, Leonel Brizola, Paulo de Tarso, entre outros.5 Sodr tambm foi acusado de exercer ati-vidades subversivas na imprensa comunista, segundo noticiou o jornal A Gazeta, em 06 de outubro de 1964,6 alm de fomentar o seu iderio em jornais e revistas infl uentes no pas, comportando-se sempre como um infi ltrado comunista.

    Com os direitos polticos cassados, foi autuado e interrogado sob acusao de estar sob sua responsabilidade vasta quantidade de armas e munies, tipo privativo das Foras Armadas. Segundo informaes do DOPS paulista, o general Nelson Werneck Sodr foi preso pouco depois do Golpe de 64, na fazenda do Coronel Nca Verdi, como suspeito de participar da Revoluo Camponesa, levada adiante pelos comunistas de Fernandpolis: Foi ainda em Fernandpolis, [...], que o signatrio do presente teve oportunidade de localizar e prender o General Nelson Werneck Sodr, fundador e ex-presidente do I.S.E.B., priso que efetuamos dias depois da

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  • revoluo de 31 de maro. A cidade de Fernandpolis foi consi-derada um dos maiores centros de irradiao comunista do Estado de So Paulo e qui do pas. Os investigadores do DOPS fi cha-ram trs mil militantes comunistas atuantes naquele municpio desde 1946, ocasio, segundo o relatrio secreto, em que se articulava a Revoluo Camponesa, movimento subversivo que abalou a opi-nio pblica do pas.7

    Nos vrios documentos que compem os dossis e Proces-sos da Justia Militar, encontramos referncias ao processo conde-natrio da obra Histria Militar do Brasil, editada em 1965. Em 04 de abril de 1966, foram apreendidos, na livraria Cruz e Sousa, dois volumes dessa obra, cuja venda estava proibida.8 Em 1970, o Minis-tro da Justia, Alfredo Buzaid, apreendeu vinte livros considerados ofensivos moral e aos bons costumes, entre os quais fi gurava Histria Militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodr, proibindo sua circulao em territrio nacional: No exame dos livros, o Minist-rio da Justia descobriu confi gurada propaganda subversiva [...] e determinou sua apreenso, proibindo sua circulao, impresso ou venda [...], sem prejuzo de ao penal contra os por eles respon-sveis.9 Seu nome citado no informe a respeito de Infi ltrao Comunista nos rgos de Comunicao Social e nas declaraes de alguns presos polticos prestadas no DOI/CODI/IIEx. Nelson Werneck Sodr escreveu vrias notas publicadas em jornais, respon-dendo aos censores dos seus livros, especialmente Histria Militar do Brasil. Tal fato foi rememorado pelo autor anos depois, em que conclui amargamente: Fazer histria era crime militar (SODR, 1994, p. 161). O Supremo Tribunal Militar extinguiu punio a Nel-son W. Sodr, em 1978, que passou a no responder mais pelo pro-cesso referente ao livro Histria Militar do Brasil.10

    Encontramos no Arquivo de Material Apreendido/Projeto BNM um resumo de duas pginas do livro Histria Militar do Brasil. No consta autoria, o qual se inicia com a afi rmao de que Nelson Werneck Sodr considera que a formao das Foras Armadas pas-sou por trs fases: colonial (at a Questo Platina); fase autnoma (at a Revoluo de 1930) e a fase nacional. O autor, segundo o resumo, faz [...] cerrada defesa das Foras Armadas, em especialdo Exrcito, sua tese central de que este, na atualidade, nacio-nal.11 Vrias citaes do livro so destacadas e acompanhadas de

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  • alguns comentrios difusos. No apreo verdade, podemos inferir que, nesse livro, Sodr elaborou sua tese acerca do carter demo-crtico das Foras Armadas, baseando-se na afl uncia s fi leiras do PCB de ofi ciais do Exrcito de esprito nacionalista.

    Outro caso de censura aos seus escritos aparece nos docu-mentos que destacam Nelson W. Sodr como colaborador do Caderno de Debates n. 1 Histria do Brasil, organizado por grupos de intelectuais paulistas de esquerda, sob a liderana do comu-nista Caio Prado Jnior, que publicou nesse mesmo perodo a obra Brasil Histria Texto e Consulta.12 Esse grupo de intelectuais, integrados por ex-terroristas ou elementos com antecedentes subversivos, passou a existir desde 1976, de acordo com o Rela-trio Ofi cial do Exrcito. Tambm so descritos como aproveita-dores da situao de desprestgio da Histria do Brasil, divulgando e impondo suas verses marxistas. O discurso formulado por eles, segundo o documento citado, acaba por relegar ao esquecimento as tradies histricas brasileiras:

    Referido caderno [Caderno de Debates n. 1 Histria do Brasil] conta com a colaborao dos seguintes historiadores marxistas Caio Prado Jnior, Nelson W. Sodr, Edgar Carone e Fernando Novais. Do CEBRAP colaboram o socilogo Fernando H. Cardoso, e o cientista social Francisco Wef-fort, evidncia que cientistas sociais ou socilogos, estejam produzindo conhecimentos de Histria do Brasil, conforme alertaram professores da USP. Estes fatos e circunstncias, relativos particularmente ao desprestgio da pesquisa e doensino de Histria do Brasil, tm repercutido negativamente no campo militar, em razo do temor de que o desprest-gio do ensino e pesquisa de Histria do Brasil seja aprovei-tado cada vez mais pelos comunistas, para amortecimento e esquecimento das tradies histricas brasileiras que seriam substitudas, progressivamente, por uma srie de revises de nossa Histria do saber marxista. Em data recente foi lanado em bairro operrio de So Paulo, exemplar de verso comunista da nossa histria sob o ttulo: Histria da Classe Operria no Brasil 1888-1975, elaborado e distribudo clan-destinamente. O grupo de intelectuais paulistas esquerdistas j conseguiu quase que consenso nacional para a seguinte

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  • idia fora: O que se deve ensinar a nossos fi lhos: uma histria aberta ao claro debate, ou uma histria turva (atual Histria do Brasil) que enfi leira nomes, datas e parece uma lista telefnica. Com aceitao dessas simples idias pelos estudantes e professores de Histria eles estaro em con-dies de fazer a Histria aberta do Brasil (necessariamente verso marxista, ou pelo menos nos pontos essenciais). Es-taro coerentes com a revoluo comunista preconizada por um comunista esquerdista francs Mais importante do que colocar 100 fuzis nas mos de 100 jovens ser colocar-se uma idia na cabea de 10.000 jovens.13

    A extenso dessa estratgia de censura s obras de intelectuais de esquerda prevaleceu como dominante nas dcadas de sessenta e setenta. Em 1977, o II Exrcito informou que a Difuso Editorial pretendia lanar, at 1979, os dois ltimos livros de Histria Geral da Repblica Brasileira, de um total de onze volumes, com partici-pao garantida de Nelson W. Sodr. O DOPS paulista investigou todo o processo de lanamento da coleo em que colaboraram os conhecidos marxistas esquerdistas e socialistas: Edgar Carone, Fernando Henrique Cardoso, Caio Prado Jnior, General Nelson Werneck Sodr, Fernando Novais e Francisco Weffort, sendo que alguns deles foram integrantes do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento CEBRAP localizado em So Paulo. O interesse do DOPS em investigar a edio da coleo tinha um propsito maior, que consistia em extrair dados capazes de caracterizar o [...] grupo de historiadores marxistas atuando em conjunto na PUC/SP, Unicamp, USP, CEBRAP, editora Brasiliense, DIFEL, editora Civi-lizao Brasileira, Vozes de Petrpolis, com ramifi caes na UFMG e PUC/MG.14

    A proibio da circulao da obra Memrias do exlio completa a lista dos livros e colaboraes de Nelson Werneck Sodr censurados pela Ditadura. O Relatrio Confi dencial do II Exrcito, datado de 1976, trata da proibio do panfl eto, intitulado Memrias do Ex-lio Brasil 1964/1975.15 Na verdade, o panfl eto faz referncia Coleo Memrias de Exlio, lanada primeiramente em Portugal, em 1977, e depois em So Paulo, em 1978. Trata-se de uma de obra coletiva composta por vinte depoimentos de exilados de diferen-

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  • tes matizes ideolgicos. Foi patrocinada por Paulo Freire, Abdias de Nascimento e Nelson Werneck Sodr, coordenada por Pedro Celso Ulhoa Cavalcanti e Jovelino Ramos. Os seus organizadores busca-ram discutir a fi gura dos exilados como agentes polticos sufi cien-temente maduros e preparados para enfrentar os riscos acarretados pela luta poltica. Salvo as excees, os exilados no foram vtimas inocentes da Ditadura Civil-Militar. Portanto, no se trata de uma apologia dos exilados, tampouco uma martirologia. Segundo Jos Carlos Sebe Meihy, o livro representou um marco da Histria Oral no Brasil, pois utilizou-se de tcnicas e metodologias que demons-traram o rigor do mtodo na seleo dos entrevistados e no preparo de um roteiro com perguntas bem elaboradas. A obra um docu-mento poltico, demonstrando a presena ativa de gente naquele momento histrico, marginalizada com a pecha de maus brasilei-ros (MEIHY, 1996, p. 1-10). Personagens esses considerados, em sua maioria, os grandes nomes da intelligentsia, responsveis pela pro-duo cultural do perodo.

    Ainda, Nelson Werneck Sodr prope uma periodizao englobando trs fases distintas para se compreender a histria do perodo militar: de 1964-1968, prevaleceram alguns vestgios de liberdade, mesmo com perseguies e prises; de 1968-1974, quando se instaurou a [...] ditadura fechada e absoluta, terrorista e fascista, com a institucionalizao da tortura; e de 1974 em diante, quando o regime entrou em declnio, sob o pomposo nome de abertura. A Ditadura foi o [...] perodo mais negro da nossa histria (SO-DR, 1986, p. 09).

    O historiador no sofreu apenas cassaes, punies e censura aos seus escritos. Tambm foi vetado em aparies pblicas, como a do Programa televisivo Pinga Fogo, da TV Tupi, Canal 4, no qual seria entrevistado. O Programa fora suspenso por ordem do Sistema Na-cional de Informaes (SNI), sob alegao de que o escritor teve os seus direitos polticos cassados.16 A Ditadura Civil-Militar ocasionou uma forte inibio para a abertura e consolidao de programas de entrevistas, especialmente no rdio e na televiso. A cultura do medo prevaleceu, inibindo os depoimentos, especialmente quando se tratava de opositores do regime. Essa condio passou a ser um obstculo concreto e central para formao de uma opinio pblica contrria ao regime ditatorial.

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  • IPM do Instituto Social de Estudos Brasileiros ISEB

    Os principais dirigentes do Instituto Social de Estudos Bra-sileiros,17 entre eles Nelson Werneck Sodr, foram indiciados no famoso IPM do ISEB, instaurado em 1964, sob o comando do coronel Joaquim Portela. Nomes, como os dos ex-presidentes da repblica Juscelino Kubitschek, Jnio Quadros e Joo Goulart, integraram o referido IPM. O Relatrio do ISEB foi composto por 220 pginas. Para sua confeco, foram ouvidas 112 pessoas, como testemunhas de acusao ou de defesa. A histria do IPM do ISEB foi acompanhada de perto pela imprensa: Jornal Folha da Manh, de 3 de junho de 1966. IPM do ISEB vai a Procura-doria-geral. O Jornal O Estado de So Paulo, de 06 de maro de 1965, tambm comenta sobre o mesmo assunto. Cabe esclarecer que os trs ex-presidentes tiveram seus direitos cassados pelo Ato Institucional N. 1, que puniu 417 pessoas. O nome de Nelson Werneck Sodr consta na lista dos jornalistas, ao lado de Samuel Wainer, entre outros. O coronel Portela defi niu o estabelecimento do IPM como uma pea importante de reconstruo da guerra revolucionria:

    A linha de ao traada pelo ISEB era nitidamente sub-versiva, visando implantao entre ns do regime poltico comunista de carter internacional, orientado e dirigido no estrangeiro por organizaes estrangeiras que tomam em seus ombros o movimento comunista internacional.18

    Em Histria da Histria Nova, 1986, Sodr realiza uma sumria anlise do quadro geral em que o ISEB esteve inserido, entre 1955-1964, e de que forma os seus membros, colaboradores externos e simpatizantes envolveram-se no jogo penoso de perseguies, pri-ses, torturas e banimentos. Segundo ele, para os partidrios da redentora, o ISEB serviu s orientaes determinadas por Mos-cou e promoveu a luta ideolgica necessria tomada do poder pelos comunistas no Brasil:

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  • O IPM do ISEB teve duas fases: na primeira, tratou especifi -camente daquela instituio de cultura: na segunda, tornou-se vastssima sopa de pedra em que foram mergulhados trs ex-presidentes da Repblica, meia dzia de ex-ministros da Educao, sem falar em parlamentares, militares, profes-sores, escritores, cineastas, teatrlogos, estudantes, dirigentes sindicais, editores, advogados, toda a sorte de pessoas, no fi m de contas todos aqueles que tinham compromisso com a democracia e procuravam servi-la, com erros e acertos antes que a redentora nos trouxesse aquilo que desconhecamos desde os tempos coloniais: a tortura, o degredo, a pena de morte, a execrao, o confi sco, a infmia como arma poltica. O IPM do ISEB, nesse contexto, atingiu dimenses gigantescas: trinta volumes de mil pginas cada um, segundo ouvi dizer. [...] Era fcil perceber, desde os primeiros interrogatrios, o esquema em que estava metido o encarregado do IPM do ISEB, como peru de roda: o ISEB teria sido uma das organizaes deter-minadas por Moscou diretamente [...] para a luta ideolgica e o controle da orientao governamental no Brasil. [...] O esquema de raciocnio com que opera a reao simples: o aparecimento de correntes de pensamento e de agrupamen-tos polticos que discrepam dos dominantes no resulta da realidade, da estrutura social, das condies econmicas, do prprio fenmeno poltico, em seu desenvolvimento; resulta da ao de minorias solertes, que se infi ltram aqui e ali no organismo social; identifi cadas, neutralizadas, reprimidas em suas aes, est tudo resolvido. [...] Isoladas as pessoas porta-doras do vrus e submetidas ao tratamento adequado tor-tura, priso, demisso, exlio, banimento, etc. a ptria estaria salva, a sociedade redimida. E o Pas se tornou o paraso das multinacionais, [...]. O antpoda, em suma, de tudo aquilo que o ISEB foi expresso, nas limitaes da sociedade brasileira da poca em que vivemos (SODR, 1986, p. 46-47).

    No contexto de forte represso poltica e cultural, donos de editoras e intelectuais sofreram constantes advertncias policiais. O dirigente da Editora Civilizao Brasileira, nio Silveira, foi conside-rado o responsvel pela divulgao da doutrina comunista em nossa

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  • terra.19 Nelson W. Sodr foi um dos autores mais editados pela Civi-lizao Brasileira e, por isso, tornou-se alvo direto da guerra cul-tura empreendida pelos militares e civis golpistas. A Editora Graal, por ter reeditado a obra Histria da Imprensa, de autoria de Nelson W. Sodr, tambm foi punida, atravs de Pedido de Busca, expedido em 09 de setembro de 1977, pelo Ministrio do Exrcito.

    Segundo o Relatrio do Servio Secreto do DOPS, Nelson Werneck Sodr integrou, em 1965, a chapa proposta para a consti-tuio do primeiro Conselho Consultivo do Comando dos Traba-lhadores Intelectuais. O CTI foi fundado em outubro de 1963, sendo fechado em 1964, a mando dos militares. Presidido por nio Silvei ra, a entidade continuou existindo na ilegalidade, realizando reunies na sede da prpria editora. O CTI representou um exemplo de articu-lao poltica, constituindo-se em um espao de resistncia cultural. A experincia compartilhada por vrios intelectuais no CTI permitiu mais tarde a formao do grupo de colaboradores da Revista Civili-zao Brasileira, editada entre 1965 e 1968. A RCB legitimava e hon-rava a tradio intelectual brasileira, composta por grandes nomes que transitaram em torno da editora Civilizao Brasileira: Nelson W. Sodr, Caio Prado Jnior, entre outros. A revista foi dirigida por nio Silveira, editor de orientao ideolgica e partidria, alinhado com o Partido Comunista Brasileiro. De acordo com a Aliana Anti-Comunista Brasileira, a Editora Civilizao Brasileira foi um dos principais redutos de divulgao da doutrina comunista entre ns:

    Tem dado guarida e apoio queles que, escrevendo livros, traem o Brasil, tentando subjug-lo ao domnio dos sovi-ticos. Enio Silveira, lacaio moscovita, fantasiado de protetor da cultura, quando na realidade no passa de um vil traidor de sua ptria e indigno de permanecer vivo. A AAB deixa aqui sua advertncia a este porco nojento que em breve estar em nossas mos para receber o castigo que merece. Que sirva tambm aos comunistas encapuzados de inte-lectuais: Cndido Mendes, Amoroso Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Nelson W. Sodr, Dias Gomes, Rolando Gorbisier, Gerardo M. Mouro, Max da Costa Santos e outros. Ns iremos procur-los em breve para um ajuste de contas. 20

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  • No livro A fria de calib, 1994, Sodr afi rma que a cassao no objetivava apenas os fi ns eleitorais, mas ia mais longe, atin-gindo qualquer atividade ligada luta de ideias ou transmisso de conhecimento. Assim, amputavam as manifestaes e reduziam os intelectuais marginalizao. Carreiras foram interrompidas, universidades invadidas, donos de editoras interrogados. Entre eles, cita Caio Prado Jnior, preso em 1969, e nio Silveira, da Editora Civilizao Brasileira, indiciado em vrios IPMs e presos vrias vezes. Para Sodr, A Civilizao Brasileira apareceu, naquela fase, como o quartel-general da resistncia ditadura, no meio inte-lectual (1994, p. 73). A relao de amizade e respeito intelectual por nio Silveira perpassa a narrativa do incio ao fi m. Admira-o justifi cvel, tanto por sua atuao como membro do Conselho Editorial da Revista Civilizao Brasileira como pelo fato de que a maioria dos seus livros exibem o selo dessa editora. Nelson Wer-neck Sodr tambm relaciona os nomes de todos os professores perseguidos nas universidades brasileiras aps o Golpe de 64.

    O escritor lamenta que, nessa poca, constituam material subversivo livros, jornais, revistas, bem como lecionar e escre-ver livros era prova material de crime. Para Sodr, Na mesa do encarregado do IPM do ISEB vi alguns livros, meus inclusive, que tinham grifado a tinta vermelha linhas e linhas. Antes, eram instru-mentos de cultura; agora, eram provas de inominveis crimes (1994, p. 69). Ademais, vivia-se um terror cultural, em que os intelec-tuais foram amordaados e o livro era a prova material de que as ideias revolucionrias pretendiam subverter a ordem e instaurar o caos comunista no pas.

    IPM da Histria Nova

    Nelson Werneck Sodr tambm foi o principal indiciado no IPM da Histria Nova, que tambm envolveu o ISEB e o Ministrio da Educao:

    Consta que o referido indiciado, por sua capacidade intelec-tual, no exerccio do magistrio, sob a cmoda liberdade de

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  • ctedra, deu aulas e fez conferncias, ao longo da existncia do ISEB, difundindo os principais norteadores da guerra psicolgica, lastreada por Mao-Tse-Tung e seus seguidores.21

    Um dos investigadores do referido rgo policial, DOPS, declarou que os autores da obra se preocuparam em mudar a face da nossa histria atravs da produo inicial de dez monografi as.22 Tal objetivo foi atingido com o aniquilamento dos principais acon-tecimentos da Histria do Brasil, retratando pobremente os heris do povo brasileiro, distorcendo datas e nomes: Essa a caracters-tica que emoldura a Coleo Histria Nova, de alto teor subversivo, e a cujos trabalhos de elaborao estiveram frente o general N. W. Sodr.23 Dentre as vrias acusaes, os militares golpistas desta-caram o seu papel de dirigente da coleo Histria Nova, sendo considerada uma obra altamente subversiva e proibida de ser reeditada.

    Para os articuladores do Golpe, a existncia da coleo forne-cia o suporte histrico necessrio revoluo comunista, colo-cada em curso pela dupla Goulart-Brizola. Tal assertiva evidencia o papel crucial da Histria, em particular do ensino da Histria do Brasil em perodos de mudanas profundas na sociedade. Conside-rado o coordenador do Manual Comunista, divulgado e distribu-do gratuitamente nas escolas pblicas brasileiras, Nelson Werneck Sodr e sua equipe sofreram uma represso cultural sem prece-dentes ao proporem uma viso crtica da histria do Brasil. Uma s-rie de quatro artigos, sob o ttulo A Nova Histria, que apareceram nosdias 3, 4 e 11 de maro de 1964, sempre na terceira pgina, publi-cados no jornal O Estado de So Paulo, deu incio violenta campa-nha contra a Histria Nova:

    Com grande alarde, o governo acaba de introduzir nos ginsios e colgios de todo o Brasil a Histria Nova de nossa Ptria, coleo de brochuras encomendadas aos escribas da nova classe comuno-peleguista, com o objetivo confes-sado de reformular, na essncia e nos mtodos, o estudo e o ensino de nossa Histria [...]. uma Histria anti-hist-rica, a que estes corifeus do nacional-comunismo brasileiro

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  • pretendem apresentar [...]. uma histria ideolgica, a nova histria que o MEC acaba de dar luz o que vale dizer que no Histria [...] uma triste impresso de um marxismo de segunda categoria e mal digerido. O que sumamente condenvel em quem (Nelson Werneck Sodr) apresentado como o mentor intelectual do grupo militar que sustenta o nacional-comunismo-peleguismo brasileiro (OESP, 03 mar. 1964).24

    A campanha contra a Histria Nova tornou-se um dos pretex-tos para o Golpe de 64 e, pela primeira vez, o Instituto Histrico e Geogrfi co Brasileiro (IHGB) foi convocado para participar da Comisso que puniu os seus autores.25 A Ata do IHGB, datada de sete de maro de 1964, informa que o Professor Alfredo Gomes aprovou os comentrios do jornal O Estado de So Paulo, contrrios edio da obra Histria Nova. A polmica em torno da coleo chegou ao fi m com a vitria dos golpistas em 1964:

    Mas, vinte e quatro dias aps, aconteceu a Revoluo de 31 de Maro de 1964, que salvou a nossa Ptria do comu-nismo. Imediatamente, o Governo Revolucionrio suspendeu a distribuio da referida Histria Nova, mandou recolher os volumes que haviam sido distribudos, inclusive os que se achavam nas bibliotecas pblicas. Mas, para dar um aspecto democrtico sua atitude, o Governo nomeou uma comis-so presidida pelo Prof. Pedro Calmon, para dar um parecer sobre a referida Histria Nova.26

    A utilizao ideolgica do saber histrico pelo jogo poltico do momento apresenta-se com toda fora no debate entre histo-riadores, jornalistas e militares reacionrios que passaram a pole-mizar com os autores da coleo, coordenada por Nelson Werneck Sodr. O historiador tambm foi alvo de reao feroz de grupos anticomunistas que, em janeiro de 1978, distriburam pelas ruas de So Paulo panfl etos irados contra a coleo Histria Nova, proibida de circular desde 1964:

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  • Em janeiro de 1964, o Brasil estava dominado por uma camarilha de comunistas e pelegos e, com grande, alarde, o governo acabava de introduzir nos ginsios e colgios de todo o Brasil a Histria Nova de nossa ptria, coleo de brochuras encomendadas aos comunistas e pelegos pelo governo daquela poca e dentre os quais fi gurava o epigra-fado como principal escritor.27

    Os autores annimos do panfl eto fi nalizaram o texto saudan-do a Comisso, nomeada em 1964 pelo governo revolucionrio, que deu parecer contrrio publicao da obra, impedindo sua circulao em territrio nacional. As Atas do IHGB no falaram mais desse assunto, encerrando-se, dessa forma, a contenda entre militares, jornalistas e historiadores reacionrios que atribuam Histria Nova um papel crucial de comunizao do pas, ideolo-gia que justifi cou o Golpe de Estado e a Ditadura Civil-Militar por duas dcadas (1964-1985).

    Um captulo do livro A fria de calib, 1994, refere-se cam-panha contra a Histria Nova, desencadeada no dia 10 de maro de 1964, portanto, anterior ao Golpe. O Diretrio Central da Liga da Defesa Nacional, rgo controlado por anticomunistas, solici-tou ao IHGB parecer sobre a Histria Nova. A novidade que o Instituto, at aquele momento, nunca tinha sido designado para dar parecer sobre livros, seja de Histria seja de Geografi a, e o fez com propsito poltico, juntando-se aos golpistas nessa fase fi nal. Pareceres contrrios Histria Nova tambm foram preparados pelo Estado Maior do Exrcito, chefi ado pelo general Humberto de Alencar Castelo Branco e por uma Comisso Nacional do Livro Didtico, que permaneceu no MEC, prestando seus servios aps o Golpe. Para Nelson Werneck Sodr, a coleo Histria Nova ser-viu como pretexto na trama conspirativa do Golpe em preparao, interrompendo dessa maneira a vigncia de um regime democr-tico no Brasil.

    O IPM, instaurado ainda em 1964, revela novas estratgias de vigilncia e punio aos culpados. O general Nelson Wer-neck Sodr, considerado mentor espiritual da obra, chegou a ser inquirido, mas no foi preso. No entanto, os trs coautores: Pedro

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  • de Alcntara Figueira, Maurcio Martins de Mello e Joel Rufi no dos Santos foram submetidos a uma tcnica especial de tratamento psicolgico. A bem dizer, novas tcnicas de torturas aprendidas nos Estados Unidos, enquanto continuava em estudo a frmula para incriminar Nelson Werneck Sodr. Alm deles, outros cola-boradores e autores da coleo, Pedro Uchoa Cavalcanti Neto e Rubem Csar Fernandes, exilaram-se no Chile.

    No livro Histria da Histria Nova, 1986, o historiador contex-tualiza a campanha contra a coleo, afi rmando que esse momento foi um dos mais terrveis vividos por ele, pois assistiu impotente priso, tortura e exlio dos membros de sua equipe. Rememora que lutou desde o incio para coloc-los em liberdade, coordenando aes junto imprensa e demais intelectuais para preserv-los do pior. Queixa-se de que a principal difi culdade foi receber o apoio da famlia deles, pois, com exceo das esposas, culpavam-no por ser mentor dos atos subversivos dos seus fi lhos. Algumas car-tas, escritas por eles na priso, foram publicadas na imprensa com o propsito de denunciar as sevcias e os maus tratos. Nelson Werneck Sodr fez questo de tornar pblico, em nota divulgada nos jornais, que aguardava a qualquer momento o mandato expedindo sua pri-so. Com isso esperava libertar os companheiros. Mas a estratgia da represso foi mant-lo em liberdade para melhor pressionar os pre-sos polticos durante os interminveis interrogatrios sob tortura.28 Depois dessa penosa experincia, os coautores e outros colabora-dores da coleo Histria Nova seguiram o caminho do exlio. Nelson, que estivera preso no incio de 1964, continuou com os direitos pol-ticos cassados e fora privado do exerccio da ctedra.

    Proibida de circular em 1964, a coleo foi reeditada por ini-ciativa de particulares e com o apoio da Editora Brasiliense, em 1966, sob o ttulo Histria Nova do Brasil, que tambm teve sua circulao proibida. Em 31 de maro de 1966, o jornal O Estado de So Paulo publicou a matria General denunciado, informando que Nelson Werneck Sodr foi denunciado como incurso na Lei de Segurana Nacional (LSN), pela reedio da coleo Histria Nova. Sodr avalia o impacto dessa nova publicao para o grupo da His-tria Nova, homens duramente atingidos pela represso instaurada a partir de 1964:

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  • Posto em liberdade, em julho de 1964, encontrara meus auxiliares desempregados e at proibidos de trabalhar naqui-lo que conheciam. Da a iniciativa da reedio da Histria Nova do Brasil e de outros trabalhos. Iniciativa coroada de xito, at o momento em que nova apreenso e proibio acercearam, seguindo-se a priso de alguns de seus co-autores. Contava episdios da priso e sequestro deles, em junho de 1965; das apreenses de livros, entre eles alguns de minha autoria; das torturas infl igidas queles presos ameaados de priso que me eram feitas, diariamente [...]. (SODR, 1994, p. 135)

    A histria da Histria Nova tornou-se patrimnio na luta por uma sociedade melhor e democrtica e marcou a fecunda estra-tgia da Ditadura de aniquilar com os intelectuais crticos deste pas. Tanto no Brasil como no exterior, os opositores da Ditadura fi zeram dessa histria uma arma de luta contra a censura imposta pelos inquisidores. Os militares no poder tambm se benefi cia-ram desse patrimnio para legitimar o Golpe de Estado. O Presi-dente Mdici proferiu um discurso, divulgado no jornal carioca ltima Hora, julgando a Histria Nova a prova criminal de umahistria engajada, de senso ultrapragmtico, a servio da dialtica marxista (SODR, 1994, p. 282).29 O projeto recrutava professores de Histria e surtia um efeito multiplicador em termos de mobili-zao e contaminao da mente universitria.

    A Histria Nova foi o pretexto para atingir um alvo maior: o ISEB e, posteriormente, o MEC, nos planos previamente tra-ados do Golpe de abril (SODR, 1986, p. 121). Os autores da coleo Histria Nova aguardavam crticas, emendas e reparos, cien-tes das defi cincias da obra. Esperavam resistncias da historiogra-fi a ofi cial e de alguns componentes da ctedra universitria, mas no imaginavam que a publicao da coleo fosse ferir o negcio do livro didtico. Os autores da coleo mexeram em interesses demais e pagaram caro por isso. De acordo com Sodr, a campa-nha contra a Histria Nova foi uma infmia patrocinada por uma publicidade dirigida e muito bem paga:

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  • A mim, h um ms, ameaam pelo DIP dos IPMs, de priso. Todos os dias, pela imprensa, pelo rdio, pela tele-viso, majores e coronis afi rmam que est iminente a mi-nha priso. [...] O que est em jogo no a minha pessoa, nem mesmo os efeitos que, sobre a minha famlia, a guerra psicolgica possa ter causado. O que est em jogo no mesmo a sorte de trs jovens professores cujo crime foi ter escrito comigo uma Histria Nova do Brasil. O que est em jogo a sorte da cultura brasileira. Antes de terminar, um depoimento pessoal: a intelectualidade e as demais cama-das do povo brasileiro no julguem o Exrcito por alguns encarregados de IPMs e por indivduos que se fazem passar por ofi ciais. Acontece que sou militar e conheo a minha gente: os soldados do Brasil, os autnticos, esto to enver-gonhados disso tudo quanto o nosso povo (SODR, 1986, p. 132-133).

    O debate historiogrfi co atual sobre a histria da Hist-ria Nova aponta para novos argumentos e anlises. Paulo Cunha, estudioso da trajetria tenentista de Sodr e de sua formao inte-lectual revolucionria marxista, avalia que o projeto da Histria Nova representou um desejo de renovao do ensino j aquilatado por Sodr desde os anos trinta e quarenta. Infl uenciado por seu antigo professor da Escola Militar, Isnard Dantas Barreto, aquele de quem herdou o mtodo materialista, Sodr passou a defender uma histria compromissada com a transformao social. Paulo Cunha argumenta que Sodr escreveu vrios artigos no jornal Cor-reio Paulistano, propondo reformas gerais para o ensino. Entre eles cita o artigo Um Curso de Histria, 1934, em que o historiador apre-senta sua vocao de professor e compreende o ensino de Histria como um campo formador de uma conscincia revolucionria. De acordo com Paulo Cunha, as preocupaes do historiador podem ser sintetizadas como:

    Pioneira experincia de ministrar um curso de Histria, diferenciado da prtica de ento, que consistia no destilarde datas e fatos, sem a menor preocupao analtica. Penso

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  • que o pensamento crtico apresentado logo no incio docurso, quando sugere aos alunos colocar de lado os com-pndios de Histria do perodo, caracterizado como nocivose elaborados segundo mtodo vesgo (CUNHA, 2002, p. 82-83).

    Sueli Guadalupe de L. Mendona, autora da nica disserta-o de mestrado sobre a Histria Nova, avalia que a obra foi [...] mais militante do que acadmica, mais poltica do que pedag-gica (2006, p. 341). Informa que foi distribuda pelo correio a todos os professores de Histria do Brasil e o trabalho do grupo no se resumiu produo de textos, mas inclua cursos e pales-tras. A represso desencadeada ao ISEB e Histria Nova [...] deram-lhe uma dimenso muito maior do que sua concretude real (Idem, 2006, p. 336). Um dos autores da coleo, Pedro Celso Ucha Cavalcanti, anos mais tarde, em 1993, buscou relativizar a ligao entre o ISEB e a Histria Nova: A Histria Nova mais fruto da Faculdade de Filosofi a, dos estudantes que ns cinco ramos so-mados obra de Sodr [...] a obra de Sodr mais importante do que o ISEB (CAVALCANTI NETO, 1990, p. 39-40).

    Joo Alberto da Costa Pinto tambm observa que no se pode estabelecer um vnculo direto entre o ISEB e o grupo da Histria Nova. Assevera que as tenses entre o corpo discente e docente da Faculdade Nacional de Filosofi a da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, foram os componentes mais decisivos no processo de construo de lutas estudantis por reformas gerais no ensino de Histria. Destaca que o Boletim de Histria, editado por lideranas do movimento estudantil da FNFi, foi o precursor de uma viso de histria crtica do Brasil. Ainda, atravs das conclu-ses de Pedro Celso U. Cavalcanti Neto, apresenta um dado novo: [...] o primeiro volume da coleo referente ao descobrimento do Brasil foi escrito por Francisco Calazans Falcon [...] professor da FNFi (2006, p. 354). Adverte que no possvel minimizar o papel de Nelson W. Sodr na direo do grupo, esclarecendo, porm, que nenhum dos volumes publicados contempla textos de sua autoria. A importncia atribuda a ele pelos rgos de represso visou a desqualifi car o potencial revolucionrio dos jovens profes-

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  • sores e estudantes inseridos na luta mais ampla por reformas edu-cacionais, responsveis e designados por Sodr para elaborarem as tais monografi as.

    Em suma, o caso da Histria Nova foi sintomtico do obs-curantismo cultural imposto pela Ditadura. A novela da cole-o foi contada por Nelson Werneck Sodr em artigo intitulado Histria da Histria Nova, publicado na Revista Civilizao Brasileira, n 3, de junho, e n 4, de setembro de 1965. Em 1986, Sodr edita o livro a Histria da Histria Nova, publicado pela Vozes, ampliando as consideraes j feitas no artigo, datado de 1965. No livro A fria de calib, 1994, dedica um captulo ao tema da Histria Nova. A reedio de Histria Nova, em 1966, compreendia seis volumes. Segundo Sodr, Em maro, apareceram dois volumes, o primeiro e o quarto. Circularam com xito esperado e a edio se aproxi-mava do fi m quando, novamente a obra foi apreendida (1986, p. 125). Os dois volumes foram bastante disputados nas livrarias entre professores e estudantes, durante dois meses, at serem no-vamente apreendidos.

    IPM do Partido Comunista Brasileiro

    Nelson Werneck Sodr tambm foi indiciado no mais conhe-cido e temido IPM, de nmero 709/64, coordenado pelo coronel Ferdinando de Carvalho.30 Com o auxlio de vrios ofi ciais, o IPMteve a pretenso de apurar as atividades do Partido Comunista Brasi leiro em todo o territrio nacional. O IPM do PCB, sob a responsabilidade do coronel, contou com a relao de 958 indicia-dos e autos, organizados em 157 volumes. O nome de Nelson W. Sodr fi gura entre os que tiveram seu processo arquivado a pedido do Procurador Geral da Justia Militar, Sr. Haroldo Queiros Leite. Na lista dos indiciados, esto Leonel Brizola, os ex-presidentes Jus-celino Kubitschek e Joo Goulart e o governador da Guanabara, Francisco Negro Lima. O IPM reuniu uma imensa documenta-o em que so basicamente explorados os denominados crimes de subverso, tendo como principal base de investigao o con-junto das cadernetas do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes.

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  • O seu nome fi gura na Caderneta de Prestes n 15, apreendida pelo DOPS, principal base documental do IPM do PCB. Na referida Caderneta, Prestes sugere ao general reformado que assuma a Di-reo da Revista de Estudos Sociais. Esse simples trecho da Caderneta foi sufi ciente para que o historiador fosse indiciado e julgado pela Justia Militar.

    Anexo ao relatrio do IPM, de autoria do coronel Ferdi-nando de Carvalho, consta um documento intitulado Informe sobre o PCB, datado de 23 de janeiro de 1961, apresentando a reorganiza-o dos quadros do Partido, para o qual tinha sido constitudo um Comit Central Executivo, que funcionava sob a direo de Nelson Werneck Sodr e vrios outros militantes.31 O informe tambm questiona as possibilidades do PCB, ps-64, recuperar seu poder de infi ltrao, sugerindo que os elementos vermelhos pode-riam decidir reconquistar posies alcanadas durante o governo Goulart. Apresenta, ainda, informaes do efetivo do PCB: 45.000 militantes, aproximadamente, em fi ns de 1964, e reproduzem tre-cho do documento intitulado Tese para discusso, elaborado pelo PCB, que atesta a palavra de ordem do Partido no combate Ditadura Civil-Militar:

    A luta contra a ditadura militar fascista que domina o pas deve constituir a principal tarefa dos comunistas, cuja preo-cupao diria ser a unio de todos os partidos patri-ticos e democratas e de todas as organizaes sem qualquer espao de discriminao poltica, ideolgica ou fi losfi ca, que queiram dar um passo, por mais tmido que seja con-tra a ditadura.32

    Na arquitetura repressiva, organizada pelos agentes do poder, intelectuais do porte de Nelson W. Sodr ocupavam o topo da pirmide da hierarquia do Partido Comunista no Brasil. No plano internacional, o Partido era responsvel por disseminar, espe-cialmente na Amrica Latina, o movimento comunista, formado por professores, estudantes e operrios organizados, penetrando em todos os setores na luta contra o imperialismo. Ainda para a Comunidade de Informao e Segurana, permaneceu a convico

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  • de que as atividades dos comunistas, at o 31 de maro de 1964, foram exercidas abertamente, de forma quase legal, pelas vrias correntes que obedeciam aos respectivos comandos do PCB.

    Ademais, possvel identifi car no Processo n 279/Projeto BNM, contra o PCB, um forte contedo repressivo com relao cultura, pois consideravam a Unio Brasileira de Escritores, rgo de cpula nesse setor, exercendo grande infl uncia sobre os crticos de literatura, arte e cinema: A atuao dos crticos comunistas visa a encaminhar os leitores para as obras de escritores da esquerda e,ao mesmo tempo a desacreditar o valor das demais. As editoras de esquerda buscavam politizar o povo, diariamente, num sen-tido unilateral, ou seja, em favor dos comunistas.

    Segundo avaliao dos investigadores do DOPS, no setor das editoras, o processo do PCB foi marcante. O Partido possua algu-mas delas em vrios estados. No Rio de Janeiro, a Editora Vitria tornou-se responsvel pela edio e distribuio de maior parte da literatura vermelha. Em So Paulo, atuaram a Ed. Futuro, Ed. Universitria, Ed. Nova Cultura, Problemas Contemporneos, Ed. Fulgor. No Rio de Janeiro e Porto Alegre, destacam-se a Ed. Civi-lizao Brasileira e Ed. Vitria. Na Bahia, Ed. Futuro, Ed. Univer-sitria, Ed. Nova Cultura. Ainda so mapeadas como editoras do Partido: Ed. Alba, Ed. Elipse, Ed. Nelson, Grfi ca Itamb, Agn-cia de Intercmbio Cultural, Grfi ca L. J. GRECCO, L. Intuliv. No entanto, a intimidao intelectual e os motivos de ordem fi nanceira estavam silenciando muitas vozes no campo editorial comunista. Os militares entendiam que o comunismo no este ou aquele diri-gente; mas, seus quadros, seus rgos superiores e inferiores que do vida organizao.

    Consideraes fi nais

    Em 1977, o Centro Brasil Democrtico foi fundado comosociedade civil, no Rio de Janeiro, por iniciativa de Oscar Niemeyer, Enio Silveira e Srgio Buarque de Holanda. Vrios intelectuais e artis-tas assinaram o Manifesto de Fundao, entre eles Nelson Werneck

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  • Sodr, Darcy Ribeiro, Dalmo Dallari, Fernando Henrique Cardoso, Antnio Callado, Antnio Cndido, Jos Honrio Rodrigues, entre outros.33 A entidade esteve entre as que lideraram a Campanha da Anistia e a luta pela Constituinte, em conjunto com o Comit Bra-sileiro pela Anistia (CBA), buscando alargar os trabalhos anteriores de particulares e pequenos grupos em favor dos presos polticos e exilados. O carter decidido e aberto dessas entidades criou espa-os, que, fi nalmente, permitiram aos intelectuais e artistas brasilei-ros manifestarem sua fora na luta pela conquista dos seus direitos, culminando com a realizao do Congresso Nacional pela Anistia, em 1978, no Estado de So Paulo.

    Entretanto, o surgimento de organizaes da sociedade civil e a constituio de uma oposio mais ampla no impediram que o DOPS intensifi casse o controle, fi scalizando a maioria daqueles que estiveram comprometidos com a luta pela anistia e pelo retor-no ao Estado de Direito. Tal atitude exemplifi ca a necessidade do Estado em traar o perfi l ideolgico dos seus intelectuais, perma-necendo uma sobrevalorizao do denominado inimigo interno, justifi cando a continuidade de aes repressivas no pero do ditode abertura lenta, gradual e restrita. At 1978, o rgo continuou arquivando artigos de jornais buscando comprometer o historia-dor, identifi cado como elemento perigoso.

    O material arquivado sobre Nelson Werneck Sodr exempli-fi ca a dinmica perversa da Comunidade de Informao e Segu-rana, ao instaurar IPMs e proceder a interrogatrios que nem sempre obedeceram s regras da justia. As peas jurdicas dos pro-cessos em que foi indiciado evidenciam que a nossa Justia trans-cendeu as normas da dignidade humana, submetida que estava auma Ditadura marcada pela violncia e arbtrio contra os direitos humanos. O recurso da tortura fsica e/ou psicolgica continuou como o principal instrumento para se obter a confi sso dos acu-sados, justifi cado o descontrole da mquina repressiva. Os motivos das acusaes basearam-se na militncia em organizao, divulga-o de ideias consideradas subversivas e o porte de material tambm considerado subversivo. Em suma, os intelectuais con-siderados perigosos para a sociedade ganharam relevncia no acio-namento da vigilncia e do controle de suas aes.

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  • Nos seus escritos memorialsticos, Nelson Werneck Sodr insiste que o principal dano da represso policial foi mutilar a atividade cultural e criativa. Intelectuais que se contrapunham Ditadura Civil-Militar foram prejudicados, tendo suas residncias invadidas, anotaes perdidas e livros queimados, alm de serem incriminados pelo simples fato de publicarem obras ditas subver-sivas. As editoras tambm foram alvo da intolerncia cultural, especialmente a Civilizao Brasileira, de nio Silveira, e a Brasi-liense, de Caio Prado Jnior. O historiador enfrentou vrias difi cul-dades com relao atividade cultural, especialmente os livros de sua autoria impedidos de circular. A correspondncia com o grupo de historiadores auxiliares da coleo Histria Nova naquele mo-mento, vivendo a experincia dolorosa do exlio depois de vio-lada, passava pelo crivo da censura. Com contatos interrompidos e vigiados, Sodr no acompanhou sufi cientemente as tradues, debates, repercusses de suas obras no exterior. A resistncia pol-tica que se imps internamente no foi capaz de impedir os preju-zos irreparveis no campo cultural. Denunciar a guerra cultura tornou-se um imperativo para Sodr ao longo de sua existncia de combate (s) Ditadura(s).

    CULTURAL AND POLITICAL REPRESSIONOF NELSON WERNECK SODRAbstract: This paper tracks down the political career of the historian Nelson Werneck Sodr during the years of Military Dictatorship in Brazil. It Analyzes the Dossiers prepared by the DOPS (So Paulo-Brazil) and Processes in Military Justice (NMB Project). By confronting the Dictatorship, Sodr experienced, in his way, the hardships imposed by national security policy applied to those ones considered internal enemies of the nation. He had responded to lengthy inter-rogations in DOPS and was imprisoned for two months. His books were ban-ned. Furthermore he couldnt grant interviews to newspapers and magazines. The repression affected not only the militant cadres of the PCBs and their most signifi cant theoretical, but also the families, friends and supporters of the his-torian, who suffered from the institutionalization of torture in the country. So to think the role of Nelson Werneck Sodr in the fi ght against the Dictatorship is to understand the broader issues about the insertion of the left in intellectual circles and in the bases of society.Keywords: Nelson Werneck Sodr. Repression. Politics. Culture.

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  • Notas

    1 Os sucessivos Atos Institucionais do Governo Castelo Branco so prova do crescente fechamento do regime. O AI-1 investiu o Executivo de um poder soberano e incontestvel, rompendo o princpio da igualdade entre os trs po-deres, alm de limitar o poder do Congresso Nacional e suspender temporaria-mente as garantias de imunidade parlamentar. O Poder Judicirio tambm teve sua atuao limitada, foram suspensas por seis meses as garantias constitucio-nais de vitaliciedade e estabilidade dos juzes e fi cou estabelecido que inquritos e processos fossem instaurados. Com base no art. 8 do AI-1, Castello Branco publicava, no dia 27 de abril de 1964, o Decreto-Lei n 53.897, que criava e re-gulamentava os IPMs (Inquritos Policiais Militares). 2 Em 13 de abril de 1964, o nome de Nelson Werneck Sodr consta numa rela-o de militares cassados, publicada no Dirio Ofi cial n 71, de 14 de abril de 1964 fl s. 33/3. Informao n. 245, do Ministrio da Aeronutica 4 Zona Area.3 Esclareo que utilizo no texto a sigla DOPS para designar o rgo vinculado Secretaria de Segurana Pblica do Estado de So Paulo. A sigla DEOPS Departamento Estadual de Ordem Poltica e Social foi adotada em 1975, so-frendo vrias alteraes at o momento da extino do rgo, em 1983. Essa sigla tambm tornou-se usual entre os pesquisadores que passaram a designar o acervo de Fundo DEOPS. Aps a sua extino, em 1983, o acervo permaneceu sob a guarda da Polcia Federal, at 1991, quando passou para a Secretaria do Estado da Cultura, sob tutela do Arquivo do Estado de So Paulo. 4 Pesquisamos o Tomo II, Vol. 2, dividido em: Perfi l das Organizaes de Es-querda (PCB, PC do B, MR-8, VPR, PCR, ALN, entre outras), Perfi l dos Setores Sociais, envolvendo os processos de militares, sindicalistas, estudantes, polticos, jornalistas e religiosos, e Perfi l dos Atingidos, em que localizamos os processos do historiador citado numa lista dos denunciados e dos no denunciados. Os IPMs foram tpicos de 1964, muitas vezes intitulado IPM do Partido Comunista; apurava atividades mistas (sindical, estudantil, militar etc.), com carter de devassa regional (Tomo II, Vol. 1, 1985, p. 11).5 Paulo de Tarso Santos foi Ministro da Educao do Governo Goulart no pe-rodo de 18 de junho a 21 de outubro de 1964. Em sua curta gesto, foi o responsvel pelo aparecimento do projeto poltico da Histria Nova, oriundo do convnio entre o MEC e o ISEB, parceria estabelecida entre Roberto Pontual, diretor da Campanha de Assistncia Estudantil (Cases), e Nelson W. Sodr, di-retor do Departamento de Histria do ISEB.6 Trata-se de recorte do jornal A Gazeta, datado de 06 de outubro de 1964, arqui-vado nas pastas organizadas pelos DEOPS paulista, srie Dossis. Os agentes da

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  • represso utilizavam os recortes de jornais para dar sustentao as informaes contidas nos relatrios e demais documentos informativos.7 O material arquivado pelo DOPS em So Paulo, a partir de 1946, revela a se-vera vigilncia sobre o movimento dos trabalhadores rurais em Fernandpolis, cidade situada na regio do noroeste paulista. Em 1949, ocorreu o chamado Levante Comunista ou movimento de revoluo agrria, com forte infl un-cia do PCB. Consultar Vagner Jos Moreira. Memrias e histrias de trabalhadores em luta pela terra: Fernandpolis SP, 1946-64. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Uberlndia. Uberlndia/MG, 2009.8 Sobre a proibio do livro Histria Militar, consta tambm Informao n 245, carimbo Confi dencial em caixa-alta , datada de 11 de maio de 1972 e difun-dida em diversos rgos repressivos at ser arquivada pelo DEOPS/SP. Os in-vestigadores tambm informam sobre a circulao do livro Formao histrica do Brasil, de autoria de Nelson Werneck Sodr, encontrado facilmente nas livrariase recomendado pelos professores universitrios para a cadeira de Problemas Bra-sileiros. Fundo DEOPS/SP/Srie Dossis. Pastas: 50-D-26-1441/2008/2134, 50-E-3-1738, 50-D-26-3998.9 Jornal Dirio Popular. Buzaid apreende 20 obras consideradas subversivas. 1 Ca-derno p. 12. 04/07/1970. Fundo DEOPS/SP, Srie Dossis. Pastas: 30-C-1-19876; 30-C-1-19878; 50-E-3-1206; 50-Z-317-1146; 50-Z-341-363. Pastas: 50-Z-9-33010/31985/31837; 50-Z-138-651; 50-Z-32-2674; 50-Z-81-14876. Consultamos tambm o Dirio Ofi cial da Unio, 2/07/1970. Secretaria do Es-tado. Ministrio da Justia, despacho do Ministro sobre censura prvia. Pasta 50-E-3-1206.10 A deciso foi tomada pelo Ministro Gualter Godinho, do Superior Tribunal Militar, conforme notcia publicada no jornal Folha de So Paulo, de 27/05/1978. Fundo DEOPS/SP/Srie Dossis. Pasta: 50-Z-9-42382; 21-Z-14-5035; 50-C-22-11256.11 Resumo de Histria Militar do Brasil. Ed. Civilizao Brasileira, 2 ed., 1968, 410p.Uma foto da capa do livro censurado e breves comentrios sobre o contexto repressivo podem ser vistos no livro de Sandra Reimo. Represso e resistncia. Censura a livros na Ditadura Militar. So Paulo: EDUSP, 2011, p. 41.12 O Caderno de Debates n. 1 Histria do Brasil e Brasil Histria Texto e Consulta, publicadas pela editora Brasiliense, So Paulo, na dcada de setenta. No consta informao sobre o ano de publicao.13 Trata-se de relatrio confi dencial do Exrcito Continuao do RPI n 12/76, do II Exrcito. Fundo DEOPS/SP/Srie Dossis. Pastas 50-Z-9-41237; 41.304/41418. 14 Pedido de Busca da obra Histria Geral da Repblica Brasileira, conforme da-dos conhecidos pelo DEOPS/SP e DPF/SP em 03/05/1977. Pasta 50-Z-9-41750/41749.

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  • 15 Sob o ttulo Exilados: no mais uma abstrao, o jornal Folha de So Paulo publi-cou, em 5 de novembro de 1978, artigo de Jefferson Del Rios elogiando a obra Memria de exlio, arquivado a pedido do SNI em 22/02/1979 (30-B-2-159). Fun-do DEOPS/SP/Srie Dossis Pasta 30-B-2. 159.16 Participao do escritor Nelson Werneck Sodr no Programa Pinga Fogo. Fun-do DEOPS Pasta 50-Z-0-11055 Ordem Poltica. 27/9/1965.17 O ISEB foi uma instituio cultural criada em 14 de julho de 1955, como rgo vinculado ao MEC (Decreto n 37.608, assinado pelo presidente Caf Filho). A sede do ISEB, no Rio de Janeiro, foi inaugurada em agosto de 1957, pelo presidente Juscelino Kubitschek. Foi concebido para ser independente, go-zando de liberdade de opinio, pesquisa e de ctedra. Tambm era autnomo em termos administrativos. O rgo destinava-se ao estudo, ensino e divulgao das cincias sociais. O conhecimento crtico produzido seria aplicado anlise da realidade brasileira, fortalecendo tcnicas e instrumentos tericos capazes de estimular e promover o desenvolvimento nacional. Foi extinto em 13 de abril de 1964, em decorrncia do Golpe de Estado (Decreto n 53.884, assinado pelo presidente Ranieri Mazzilli). Em seguida, foi instaurado o IPM do ISEB, colo-cando sob investigao os ex-presidentes Juscelino Kubitschek, Jnio Quadros e Joo Goulart e os ministros da educao Clvis Salgado, Paulo de Tarso e Oli-veira Brito, alm de vrios deputados e todos os professores do instituto. Fonte: Dicionrio Histrico e Bibliogrfi co Brasileiro. ISEB, p. 2801-3. 18 Jornal O Globo, de 16/06/1964: O Ato Institucional puniu em doze listas 417 pessoas, inclusive trs ex-presidentes. Sobre as doze listas, o jornalista observa: As cassaes de mandatos eletivos e suspenses de direitos polticos foram efetua-das com a publicao de doze listas, divulgadas em dez dias diferentes. Fundo DEOPS: Pastas: 50-Z-9-2595; 50-Z-703-1836.19 Sandra Reimo, ao analisar documentos dos censores, assevera que houve trs grupos de livros apreendidos: 1) os que foram apreendidos por equvoco por falsa induo em relao ao assunto em virtude do ttulo ou das ilustraes; 2) os que foram apreendidos porque se referem ao marxismo; e 3) os que foram apreendidos porque se referem revoluo de abril ou a polticos por esta perseguidos. Neste ltimo grupo, Histria Militar do Brasil, de Nelson Werneck Sodr. (REIMO, 2011, p. 22). 20 Fundo DEOPS/Srie Dossis. Pastas 50-Z-9-41750; 50-J-0-5266; 50-Z-8-2178; 50-J-0-5266.21 Essa informao oriunda do DOPS/RJ, sem identifi cao de autoria, con-forme matria publicada no jornal O Estado de So Paulo, de 14/11/1966. Esses mesmos argumentos so base para matria intitulada IPM do ISEB: Queirs exclui ex-ministros, publicada no jornal Folha da Manh, de 21 de janeiro de 1967. Fundo DEOPS/SP. Pasta/Dossi 50-Z-9-29213.

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  • 22 Os autores produziram apenas oito monografi as sob os ttulos: Descobrimento do Brasil; Expanso territorial; Invases Holandesas; Sociedade do acar, Independncia de 1822; Abolio, Da Independncia Repblica; Advento da Repblica e Florianismo. No entanto, apenas as cinco primeiras foram publicadas em maro de 1964. 23 Informao extrada do DOPS/RJ, sem identifi cao de autoria, conforme matria publicada no jornal O Estado de So Paulo, de 14/11/1966. Fundo DE-OPS/SP. Pasta/Dossi 50-Z-9-29213.24 Matria publicada no Dirio Popular, de 04/11/1965, DOPS j consultou IPM do ISEB sobre Histria Nova do Brasil, indica que os donos da Editora Brasiliense, Caio Prado Jnior e Caio Gracco da Silva Prado, contriburam para disseminar a propaganda subversiva no Pas. A consulta do DOPS justifi cava-se, j que os indiciados no IPM do ISEB estavam intimamente ligados publicao da referida Histria Nova do Brasil, editada em seis volumes. Outra matria da Folha da Manh, datada de 18/03/1966, sob o ttulo Osvino Alves denunciado por crime de subverso, comenta a punio do Marechal pelo STM, por permitir a edio da Coleo Histria Nova. Fundo DEOSP/SP/Srie Dossis. Pastas 50-Z-9-2481; 50-Z-0-2501; 50-Z-9-2167.25 O parecer negativo sobre a coleo Histria Nova foi publicada na Revista do IHGB, v. 246, em 1964. A posio do IHGB repercutiu tambm no IHG paulista, que aps amplo debate resolveu no apoiar a posio do jornal OESP, amplamente desfavorvel publicao dos volumes que compunham a coleo. Esse material serviu de base documental para o IPM da Histria Nova, que pro-curou indiciar os seus autores, enquadrados como conspiradores comunistas. 26 Fundo DEOPS/SP/Srie Dossis. Pasta 50-Z-130-1439.27 As citaes aqui destacadas foram retiradas do Panfl eto sob o ttulo Lem-brai-vos..., Diviso de Informaes 4/1/1978. DEOSP/SP. Pasta 50-Z-130-1438/1439.28 Pedro de Alcntara Figueira permaneceu preso 45 dias; Joel Rufi no dos San-tos, 38 dias. Ambos reafi rmaram, aps a libertao, as denncias sobre torturas e maus tratos encaminhadas aos jornais, quando ainda estavam presos (SODR,1986, p. 139). Todos eles, incluindo Maurcio Martins de Mello e Nelson Wer-neck Sodr, compareceram vrias vezes no ms de agosto de 1966 para depor no IPM do ISEB, versando sobre a Histria Nova do Brasil.29 Sodr extra o trecho do discurso de Mdici do artigo de Moacir Werneck de Castro, intitulado Concepes de Histria, publicado no jornal ltima Hora, Rio de Janeiro. (Fonte sem data).30 Informao extrada do Jornal O Estado de So Paulo, 24/11/1966, 50-Z-9-3364; Jornal Dirio Popular, 14/10/1966, 50-Z-9-3741. A notcia da denncia contra Nelson Werneck Sodr foi publicada pelo jornal Folha da Manh, de 18/03/1966. O jornal Dirio Popular, de 05/11/1966, confi rma o arquivamento

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  • do processo, em matria sob o ttulo Pedido no STM o arquivamento do IPM do Par-tido Comunista. Pasta 50-Z-9-3396.31 Em 17 de outubro de 1964, foi produzido o Primeiro relatrio da Seo de Averiguaes para o IPM 709, informando alguns dados da ao do PCB no perodo de 1945 a 1959, com a seguinte observao: Fonte fi dedigna.32 Documento Secreto, datado de 28 de dezembro de 1964, expedido pelo Mi-nistrio da Guerra Gabinete do Ministro 2 Diviso SSI com o ttulo In-forme n 483/64 versando sobre Partido Comunista Brasileiro e seus anexos.33 O Centro Brasil Democrtico foi organizado a partir do Projeto de Programa de Trabalho, cujos interesses e objetivos estavam bem balizados e estruturados em defesa dos direitos humanos, promovendo atividades pblicas prol Anistia. Fundo DEOPS/Srie Dossis. Pastas 50-D-19-701; 50-D-19-700/701/702/703. Carimbo Confi dencial, 27 de Setembro de 1978.

    Referncias

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  • PINTO, Joo Alberto da Costa. A origem e o sentido poltico do Projeto Histria Nova do Brasil. In: CUNHA, Paulo Ribeiro; CABRAL, Ftima (Orgs.). Nelson Werneck Sodr. Entre o sabre e a pena. So Paulo: Ed. UNESP/FAPESP, 2006. p. 354.SODR, Nelson Werneck. Histria Militar do Brasil. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1965.______. Memrias de um soldado. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1967.______. Memrias de um escritor. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1970. ______. A verdade sobre o ISEB. Coleo Depoimentos, vol. 4, Rio de Janeiro: Avenir Editora, 1978. ______. Vida e morte da Ditadura: 20 anos de autoritarismo no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.______. Histria da Histria Nova. Petrpolis: Vozes, 1986. ______. A fria de calib: Memrias do Golpe de 64. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.______. Era o Golpe de 64 inevitvel? In: TOLEDO, Caio N. (Org.). 64: vises crticas do golpe: democracia e reforma no populismo. Campinas: Ed. da Uni-camp, 1997.______. Tudo poltica: 50 anos do pensamento de Nelson Werneck Sodr em textos inditos em livros e censurados. In: ALVES FILHO, Ivan (Org.). Rio de Janeiro: MAUAD, 1998.

    Recebido em: 16/05/2012Aprovado em: 25/09/2012

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