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Universidade Federal do Ceará Centro de Tecnologia Departamento Engenharia Elétrica DESENVOLVIMENTO DE UM SENSOR VIRTUAL BASEADO EM REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DO OXIGÊNIO CONSUMIDO NO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA Carlos Alberto Araújo Lopes Júnior Fortaleza Dezembro de 2010

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Universidade Federal do Ceará

Centro de Tecnologia

Departamento Engenharia Elétrica

DESENVOLVIMENTO DE UM SENSOR VIRTUAL BASEADO EM

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DO OXIGÊNIO

CONSUMIDO NO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Carlos Alberto Araújo Lopes Júnior

Fortaleza

Dezembro de 2010

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ii

Carlos Alberto Araújo Lopes Júnior

DESENVOLVIMENTO DE UM SENSOR VIRTUAL BASEADO EM

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DO OXIGÊNIO

CONSUMIDO NO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Monografia submetida à Universidade Federal

do Ceará como parte dos requisitos para

obtenção do grau de Graduado em Engenharia

Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Silva Thé

Pontes.

Fortaleza

Dezembro de 2010

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iii

Carlos Alberto Araújo Lopes Júnior

DESENVOLVIMENTO DE UM SENSOR VIRTUAL BASEADO EM

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DO OXIGÊNIO

CONSUMIDO NO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Graduado em

Engenharia Elétrica, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Graduação em

Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará.

Fortaleza, Dezembro de 2010

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iv

“Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças,

porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem projeto,

nem conhecimento, nem sabedoria alguma”

Eclesiastes 9:10

“Os dias prósperos não vêm por acaso.

Nascem de muito esforço e persistência”

Henry Ford

“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”

Albert Einstein

Page 5: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

v

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, a Deus pelas inúmeras bênçãos derramadas sobre minha vida, de

forma incondicional, todos os dias. Por nunca ter me abandonado durante toda minha vida, e

principalmente nesses cinco anos de lutas, me dando forças, e não deixando que fracassos ou

perdas me abalassem ao ponto de fazer desistir.

Ao professor Ricardo Silva Thé Pontes, orientador desse trabalho, por acreditar em

mim e no que é possível ser feito com coragem e dedicação.

Aos meus pais Carlos Alberto Araújo Lopes e Soneide Carlôto Lopes, grandes

exemplos para mim, pelo amor incondicional, carinho, dedicação e pela formação que me

deram, em fim, por tudo que eles são.

Àos professores do Departamento de Engenharia Elétrica da UFC: Arthur, Otacílio,

Laurinda, Paulo Praça, Almeida, Demercil, Fernando, Sérgio Daher, Ruth, José Carlos, Luiz

Henrique, pelo auxílio e por toda a disponibilidade durante o período de graduação.

Aos colegas e amigos de graduação, pelo companheirismo e por todas as etapas

vencidas juntos, Wellington, Dalton, Gean, Pedro André, Décio, Luiz Paulo, Luiz Fernando,

Levy, Rômulo Costa, Eduardo F. de Oliveira, Gilberto, Júlio César, Janaína, Igor Araújo.

A todas as equipes de trabalho das quais fiz parte, e aos colegas do GPAR,

Francisco Alexandre, Thiago Nogueira, Thiago Menezes, Leonaldo, Robério, Antônio

Barbosa, Éber, Sérgio, Brito, e todos os membros do Grupo de Monitoramento Ambiental,

pelo apoio, parceria e paciência.

Aos meus irmãos, familiares, amigos, pela amizade, companheirismo e por sempre

acreditarem em mim durante toda a minha trajetória acadêmica, também à minha namorada

Leidiane, pelo amor, confiança, carinho, e principalmente por sua paciência em minhas

ausências durante esse curso de graduação.

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vi

RESUMO

Resumo da monografia apresentada à Universidade Federal do Ceará como parte dos

requisitos para obtenção do Grau de Graduado em Engenharia Elétrica.

DESENVOLVMENTO DE UM SENSOR VIRTUAL BASEADO EM

REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA PREVISÃO DO OXIGÊNIO

CONSUMIDO NO PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Carlos Alberto Araújo Lopes Júnior

Em Estações de Tratamento de Água com processo de pré-dosagem de oxidante, como

é o caso da ETA Gavião, o contato do cloro livre com compostos orgânicos presentes na água bruta provoca a formação de compostos indesejáveis, que prejudicam a qualidade da água.

Um método de avaliação deste potencial é a medição do parâmetro Oxigênio Consumido (OC) que é útil para indicar alterações de qualidade da água a ser tratada e avaliar a aplicabilidade de técnicas alternativas de pré-tratamento.

O procedimento de medição do OC é laboratorial e demorado, fornecendo sempre uma visão passada que não contribui com a tomada de decisões imediatas quanto ao processo de tratamento de água.

Assim, o objetivo deste trabalho é desenvolver um sensor virtual baseado aplicando modelos de inferência da quantidade de oxigênio consumido (OC) no processo de pré-dosagem de oxidantes de uma estação de tratamento de água (ETA) correspondendo a sensores de medição implementados em software, que possuem a capacidade de estimar, em tempo real, o oxigênio consumido, a partir de medidas de pH e turbidez da água em tratamento.

O sensor virtual será projetado com base em Redes Neurais Artificiais do tipo Perceptron de Múltiplas Camadas (MLP) e variações temporais da mesma, Redes alimentadas adiante focadas atrasadas no tempo (FTLFN). A idéia do desenvolvimento com duas topologias é a comparação de desempenho das redes.

Número de páginas: 64.

Palavras-Chave: Sensores Virtuais, Redes Neurais Artificiais, Redes MLP.

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vii

ABSTRACT

Abstract of dissertation presented at Universidade Federal do Ceará as partial of

fulfillment of the requirements for the Graduation degree in Electrical Engineering.

DEVELOPMENT OF A SOFT-SENSOR BASED ON ARTIFICIAL

NEURAL NETWORK FOR PREDICTION OF OXYGEN CONSUMED

IN THE PROCESS OF WATER TREATMENT

In Water Treatment Plants (WTP) with the pre-dose of oxidant, such as WTP's Gavião, the contact of chlorine with organic compounds in raw water causes the formation of undesirable compounds that affect the water quality.

A method of assessing this potential is the parameter measuring the Oxygen Consumed (OC) that is useful to indicate changes in water quality to be treated and to evaluate the applicability of alternative techniques of pre-treatment.

The measurement procedure the OC is laboratory and time consuming, providing a vision always passed that does not contribute to make immediate decisions about the process of water treatment.

Thus, the objective is to develop a soft-sensor based inference models by applying the amount of oxygen consumed (OC) in the pre-dosing of oxidizing a water treatment plant (WTP) corresponding to measuring sensors implemented in software that have the ability to estimate, in real time, oxygen consumption, based on measurements of pH and turbidity of the water under treatment.

The soft-sensor is designed based on Artificial Neural Networks of the type Multilayer Perceptron (MLP) and temporal variations of it, Focused Time Lagged Feedforward Network (FTLFN). The idea of development of sensors with two different topologies is the comparison of network performance.

CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR

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viii

SUMÁRIO

1 Introdução..........................................................................................................................1

1.1 Motivação ............................................................................................................................. 1

1.2 Objetivos............................................................................................................................... 2

1.3 Redes Neurais Artificiais..................................................................................................... 3

1.3.1 Introdução........................................................................................................................................ 3 1.3.2 Breve histórico................................................................................................................................. 3 1.3.3 Modelos de um neurônio ................................................................................................................. 5 1.3.4 Funções de ativação......................................................................................................................... 7

2 Sensores Virtuais .............................................................................................................10

2.1 Considerações Iniciais ....................................................................................................... 10

2.2 Importância ........................................................................................................................ 11

2.3 Estado da Arte.................................................................................................................... 12

2.4 Aplicações ........................................................................................................................... 15

2.5 Metodologias básicas de projeto....................................................................................... 16

2.6 Conclusão............................................................................................................................ 18

3 Modelo do sensor: Redes Neurais Artificiais .................................................................20

3.1 Introdução ................................................................................Erro! Indicador não definido.

3.2 Metodologia empregada.................................................................................................... 22

3.2.1 Seleção das variáveis ..................................................................................................................... 22 3.2.2 Estrutura da rede neural ................................................................................................................. 23 3.2.3 Treinamento da rede ...................................................................................................................... 23 3.2.4 Validação do modelo ..................................................................................................................... 24

3.3 Determinação da estrutura da rede neural ..................................................................... 25

3.3.1 Arquitetura da rede ........................................................................................................................ 25 3.3.2 Definição da topologia................................................................................................................... 32 3.3.3 Inicialização dos pesos .................................................................................................................. 33

3.4 Conclusão............................................................................................................................ 34

4 Treinamento e Validação do sensor................................................................................35

4.1 Introdução ................................................................................Erro! Indicador não definido.

4.2 Número de camadas e neurônios por camada................................................................. 35

4.3 Treinamento e Validação .................................................................................................. 36

4.3.1 Redes alimentadas adiante focadas atrasadas no tempo ................................................................ 36 4.3.2 Redes MLP feedforward................................................................................................................ 43

4.4 Conclusão............................................................................................................................ 45

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ix

5 Conclusões .......................................................................................................................46

5.1 Conclusão............................................................................................................................ 46

5.2 Contribuições do trabalho................................................................................................. 46

5.3 Trabalhos futuros .............................................................................................................. 47

Referências Bibliográficas ......................................................................................................48

Apêndice A ...............................................................................................................................50

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x

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 – Modelo não linear de um neurônio [13].................................................................5

Figura 1.2 – Função de limiar.....................................................................................................8

Figura 1.3 – Função linear por partes. ........................................................................................8

Figura 1.4 – Função linear. .........................................................................................................9

Figura 1.5 – Função sigmoidal. ..................................................................................................9

Figura 2.1 – a) Modelagem caixa branca. b) Modelagem caixa preta. c) Modelagem caixa cinza (híbrida)...........................................................................................................................13

Figura 2.2 – Diagrama de blocos do processo de desenvolvimento do sensor virtual [3]. ......17

Figura 3.1 – Aprendizado supervisionado [14]. .......................................................................26

Figura 3.2 – Rede neural MLP. ................................................................................................27

Figura 3.3 – Filtro neural focado [13]. .....................................................................................30

Figura 3.4 – Rede neural alimentada adiante focada atrasada no tempo (FTLFN) [13]. .........31

Figura 4.1 – Gráfico com MMM para as redes FTLFN com três atrasos na entrada...............38

Figura 4.2 – Validação da rede “10 5” FTLFN com 3 atrasos. ...............................................40

Figura 4.3 – Gráfico com MMM para as redes FTLFN com cinco atrasos na entrada. ...........41

Figura 4.4 – Validação da rede “5 5” FTLFN com 5 atrasos. ..................................................42

Figura 4.5 – Gráfico com MMM para as redes MLP feedforward...........................................43

Figura 4.6 – Validação da rede “10 7” MLP feedforward.......................................................45

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xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Combinação de camadas e neurônios por camada. ................................................37

Tabela 2 – Cálculo da Média da Metade Melhor. ....................................................................38

Tabela 3 – Cálculo dos erros apresentados pelas redes para redes FTLFN com três atrasos na entrada. .....................................................................................................................................39

Tabela 4 – Três melhores redes FTLFN com 3 atrasos............................................................39

Tabela 5 – Cálculo da Média da Metade Melhor (FTLFN com 5 atrasos). .............................41

Tabela 6 – Três melhores redes FTLFN com 5 atrasos............................................................42

Tabela 7 – Cálculo da Média da Metade Melhor. ....................................................................43

Tabela 8 – Cálculo dos erros apresentados pelas redes para redes FTLFN com três atrasos na entrada. .....................................................................................................................................44

Tabela 9 – Três melhores redes MLP feedforward. .................................................................44

Tabela 10 – Três melhores redes. .............................................................................................45

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xii

SIMBOLOGIA

Símbolo Significado

jx Sinal de entrada da sinapse j

kjw Peso sináptico entre a entrada j e o neurônio k

kb Bias aplicado ao neurônio k

( )ϕ ⋅ Função de ativação

ku Saída do somador devido às entradas

kv Campo local induzido do neurônio k

ky Sinal de saída do neurônio k

( )'ϕ ⋅ Derivada da função de ativação

δ Gradiente local

( )e n Erro da n-ésimo padrão de entrada

α Constante de momento η Taxa de aprendizagem

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xiii

ACRÔNIMOS E ABREVIATURAS

Símbolo Significado OC Oxigênio Consumido ETA Estação de Tratamento de Água MLP Perceptron de Múltiplas Camadas

CAGECE Companhia de Água e Esgoto do Ceará SOM Redes (Mapas) Auto-organizáveis PCA Análise de Componente Principal PLS Mínimos Quadrados Parciais RNA Redes Neurais Artificiais GA Algoritmos Genéticos LWR Regressão Localmente Ponderada RBF Função de Base Radial

FTLFN Rede Alimentada Adiante Focada Atrasada no Tempo MSE Erro Médio Quadrático ARX Modelagem Auto-regressiva e entradas exógenas

ARMAX Modelagem Auto-regressiva com média móvel e entradas exógenas NARX Modelagem não-linear Auto-regressiva e entradas exógenas

NARMAX Modelagem não-linear Auto-regressiva com média móvel e entradas exógenas ARMA Modelagem Auto-regressiva com média móvel

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1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Motivação

Em plantas industriais é necessário buscar uma produção mais eficiente respeitando

sempre as leis governamentais que impõem limites rigorosos sobre o produto e emissões de

poluentes. Nesse contexto pode-se observar a grande importância de se monitorar uma grande

quantidade de variáveis usando dispositivos de medição confiáveis, para obter-se maior

confiabilidade nos dados. Um grande obstáculo para implementação dessa política, medições

em larga escala em plantas industriais, é o alto custo dos dispositivos de medição online [3].

Quando variáveis químicas estão em questão, existem casos em que os medidores

trabalham com tempos de resposta baixos, e que são vendidos a preços relativamente baixos,

podemos citar como exemplo os medidores de pH. Entretanto quando a necessidade é medir

variáveis químicas ou bioquímicas relacionadas à composição, como acontece nesse trabalho,

fica bem mais difícil.

Assim, caso se deseje manter as especificações de qualidade de algum produto, tem-se

a necessidade de conhecer sua composição para poder implementar um sistema de controle

eficiente. Em casos de existir um analisador em linha, que possua um tempo de resposta

razoável, uma precisão aceitável, e um custo relativamente baixo tem que ser pensada uma

técnica de controle mais avançada. Contudo, infelizmente, um analisador deste tipo não está

disponível em muitas situações na prática na indústria. Um sensor virtual, medidor

inferencial, medidor indireto, ou soft sensor deve ser considerado como uma das opções para

estimar a(s) variável(is) de interesse [6].

O abastecimento de água de Fortaleza é garantido pela Estação de Tratamento de água

Gavião que utiliza água dos Açudes Pacajus, Pacoti/Riachão/Gavião, pertencentes à Bacia

Metropolitana. Para ser apropriada ao consumo humano a água oriunda desse conjunto de

mananciais é submetida a um tratamento de forma a adequá-la aos padrões de potabilidade

estabelecidos pela Portaria Nº 518/04 do Ministério da Saúde.

Para cada etapa de produção da água a CAGECE realiza o monitoramento da

qualidade através da análise de parâmetros físicos, químicos e biológicos, em quantidade e

frequência de acordo com as exigências do Ministério da Saúde.

Em Estações de Tratamento de Água com processo de pré-dosagem de oxidante, como

é o caso da ETA Gavião, o contato do cloro livre com compostos orgânicos presentes na água

bruta provoca a formação de compostos organo-clorados e trihalometanos. Tais substâncias

Page 15: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

2

são indesejáveis no ponto de vista da qualidade final da água tratada por gerar alterações no

odor e sabor da mesma. Dentre outros fatores indesejáveis, pode-se citar o baixo poder de

desinfecção de tais compostos, fator que não contribui para o tratamento da água, além dos

riscos que os mesmos representam à saúde da população abastecida. Faz-se necessário,

portanto, a fim de assegurar a produção de água dentro dos padrões de potabilidade exigidos

pela Portaria Nº 518/04 do Ministério da Saúde, avaliar o potencial de formação de tais

compostos.

Esta Portaria contém parâmetros de qualidades física, química e bacteriológica que a

água deve possuir para ser considerada potável. Também consta da Portaria a freqüência com

que amostras devem ser coletadas para as respectivas análises, sendo que o quantitativo de

coletas é função da população atendida pelo sistema.

Um método de avaliação deste potencial é a medição do parâmetro Oxigênio

Consumido (OC) que informa a quantidade de matéria orgânica oxidável presente na água a

ser tratada. A quantidade do OC é útil para indicar alterações de qualidade da água a ser

tratada e avaliar a aplicabilidade de técnicas alternativas de pré-tratamento.

O procedimento de medição do OC é laboratorial e demorado, fornecendo sempre

uma visão passada que não contribui com a tomada de decisões imediatas quanto ao processo

de tratamento de água. Técnicas de predição de parâmetros poderiam solucionar este

problema, fornecendo uma visão futura que contribuiria para a dinamização do processo de

tratamento quanto a diminuição da geração de organo-clorados e trihalometanos.

Um sensor virtual corresponde a um método inferencial ou indireto para medição em

tempo real, em que um modelo matemático estático, de preferência dinâmico do processo é

aplicado em um conjunto de variáveis medidas. Onde para essas variáveis existem no

mercado medidores, na maioria das vezes, de baixo custo, de boa precisão e de rápida

resposta.

1.2 Objetivos

Aplicar modelos de sensores virtuais para fazer a inferência da quantidade de oxigênio

consumido (OC) no processo de pré-dosagem de oxidantes de uma estação de tratamento de

água (ETA).

Esses modelos correspondem a sensores de medição implementados em software, que

possuem a capacidade de estimar, em tempo real, o oxigênio consumido, a partir de medidas

de pH, turbidez da água em tratamento.

Page 16: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

3

O objetivo desse trabalho é desenvolver esse sensor para uma estação de tratamento

de água, com base em Redes Neurais Artificiais do tipo Perceptron de Múltiplas Camadas

(MLP) e variações temporais da mesma. Os dados utilizados para o desenvolvimento do

trabalho foram disponibilizados pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) e

correspondem ao Boletim Diário de Medição de Parâmetros de Qualidade de Água da Estação

de Tratamento de Água do Gavião (Fortaleza-Ce) para o ano de 2007.

1.3 Redes Neurais Artificiais

O trabalho em redes neurais artificiais, usualmente denominadas “redes neurais”, tem

sido motivado desde o começo pelo reconhecimento de que o cérebro humano processa

informações de uma maneira completamente diferente que um computador digital

convencional.

1.3.1 Introdução

O cérebro é uma estrutura semelhante a um computador, entretanto supera o

computador devido a seu grande poder dedutivo e de adaptação, ou seja, um sistema que

processa informações, altamente complexo, não-linear e paralelo. Ele possui a capacidade de

organizar seus constituintes estruturais, chamados de neurônios, de forma a realizar diversos

processamentos com uma velocidade bem maior que o mais rápido computador digital

existente hoje.

Considere a visão humana, que é uma tarefa de processamento de informação. A

função do sistema visual é fornecer uma representação do ambiente à nossa volta e, mais

importante que isso, fornecer a informação de que cada indivíduo necessita para interagir com

o ambiente. Para sermos mais específicos, o cérebro realiza rotineiramente tarefas de

reconhecimento perceptivo em aproximadamente 100-200ms, ao passo que tarefas de

complexidade muito menor podem levar dias para serem executadas em computadores

convencionais [13].

1.3.2 Breve histórico

O cérebro humano possui características desejáveis em qualquer sistema artificial.

Como exemplo, pode-se citar a sua capacidade para lidar com informações inconsistentes e/ou

probabilística, alta flexibilidade para se adaptar a situações aparentemente pouco definidas,

tolerância a falhas, entre outras. Todas estas características mencionadas despertaram o

Page 17: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

4

interesse de pesquisadores que, na década de 80, intensificaram suas linhas de estudo na área

de inteligência artificial com o uso da computação intensiva.

Entretanto, o aparecimento da neuro-computação ocorreu bem antes, na década de 40.

O primeiro modelo artificial de um neurônio biológico foi fruto do trabalho pioneiro de

Warren McCulloch e Walter Pitts, em 1943. McCulloch, psicólogo e neurofisiologista,

dedicou sua carreira à tentativa de representar e modelar eventos no sistema nervoso.

Pitts, um matemático recém graduado, juntou-se a ele em 1942. No trabalho publicado

em 1943, “A Logical Calculus of the Ideas Immament in Nervous Activity”, são apresentadas

uma discussão sofisticada de redes lógicas de neurônios artificiais, além de novas idéias sobre

máquinas de estados finitos, elementos de decisão de limiar lineares e representações lógicas

de várias formas de comportamento e memória [14].

Em 1951, Marvin Minsky criou o primeiro neuro-computador chamado Snark. A

partir de um ponto de partida, o Snark, operava bem, ajustando os seus pesos

automaticamente. Apesar de não ter executado uma função de processamento de informação

relevante serviu como “molde” para futuras estruturas.

Em 1958, Frank Rosenblatt e Charles Wightman junto com alguns outros estudiosos

desenvolveram o primeiro neuro-computador bem sucedido. Estes pesquisadores são

designados como os fundadores da neuro-computação devido à importância de seus trabalhos

para essa linha de pesquisa muito próxima da forma como existe atualmente. Os seus estudos

sustentaram os modelos do tipo perceptron (redes de um nível) e MLP. O objetivo inicial era

aplicar a modelagem do tipo perceptron para o reconhecimento de padrões [16].

Em 1969, Minsky e Papert chamaram a atenção para algumas tarefas que o perceptron

de uma camada descrito por Rosemblatt não era capaz de executar. O “perceptron simples”,

como ficou conhecido o modelo de uma única camada de pesos ajustáveis, está limitado à

resolução de problemas linearmente separáveis, ou seja, problemas cuja solução somente pode

ser obtida dividindo-se o espaço de entrada em duas regiões por meio de uma superfície

linear.

O principal argumento de Minsky e Papert era de que o problema do crescimento

explosivo, tanto de espaço ocupado, como do tempo requerido para a solução de problemas

complexos, grandes obstáculos que a escola clássica da inteligência artificial já enfrentava,

afetaria, cedo ou tarde, as RNAs, inclusive o perceptron [14].

A partir dos anos 80, os estudos com redes neurais tomaram um impulso

revolucionário. Em 1982, John Hopfield, físico mundialmente conhecido, criou um tipo de

rede diferente daquelas fundamentadas no perceptron. Neste modelo a rede apresentava

Page 18: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

5

conexões recorrentes (sinal não se propaga exclusivamente para frente) e baseava-se num

aprendizado não supervisionado com a competição entre os neurônios.

Em 1986, o reaparecimento das redes baseadas em perceptrons foi possível graças a

teoria de redes em multinível (MLP) treinadas com o algoritmo de aprendizado por

retropropagação (Backpropagation) desenvolvida por Rumelhart, Hinton e Willians.

Além disso, vale lembrar que a década de 80 foi marcada pelo desenvolvimento de

computadores cada vez mais potentes e velozes que permitiram melhores simulações das

redes neurais. Neste período também foram desenvolvidos modelos matemáticos que

permitiam solucionar o problema do XOR. A partir de então, um contexto favorável foi criado

para o desenvolvimento das pesquisas em neuro-computação [13].

1.3.3 Modelos de um neurônio

A Figura 2.2 mostra o modelo de um neurônio que funciona como a base para um

projeto de RNA. O neurônio é a menor unidade de processamento de informações de uma

rede neural, ou seja, é a unidade básica e fundamental de uma rede. Pode-se identificar na

Figura 2.2 pelo menos três elementos, considerados básicos, do modelo neural:

Figura 1.1 – Modelo não linear de um neurônio [13].

• Uma função de ativação ou função de transferência: essa função funciona como um

saturador para a saída de um neurônio, ou seja, ela restringi a amplitude de saída.

Limita o intervalo permissível de amplitude de saída para um valor finito. As funções

Page 19: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

6

de ativação mais comuns normalizam a saída do neurônio em intervalos fechados

como: [0,1], ou até mesmo [-1,1].

• Outro elemento que compõe o modelo neural básico é o “somador”. Seu

funcionamento é bem intuitivo, ele soma os sinais de entrada. Entretanto, os sinais de

entrada antes de passarem pelo somador são ponderados por suas respectivas sinapses

(terceiro elemento básico do neurônio). A operação descrita acima é a mesma que a de

um combinador linear.

• Os elementos abordados neste ponto são as conexões ou conjunto de sinapses.

Individualmente é caracterizada por um peso, ou seja, uma força própria. Sendo mais

específicos, é um valor que é multiplicado por um sinal de entrada. Esse valor é

responsável por ponderar essa entrada fazendo com que ela seja mais ou menos

relevante para a saída do sistema. Matematicamente, um sinal na entrada da sinapse

j , jx , conectada ao neurônio k é multiplicado pelo peso sináptico kjw . Não existem

restrições quanto aos valores dos pesos sinápticos, podem estar em intervalos que

inclui valores positivos e negativos.

• O modelo de neurônio da Figura 2.2 inclui também um elemento chamado de bias

aplicado externamente, representado por kb . O bias kb tem o efeito de aumentar ou

diminuir a entrada líquida da função de ativação, dependendo de esse valor ser

positivo ou negativo respectivamente [13].

Pode-se, também, descrever o neurônio em termos matemáticos. Modelando-se um

neurônio k temos as equações (1.1) e (1.2):

1

m

k kj j

j

u w x=

=∑ (1.1)

e

( )k k ky u bϕ= + (1.2)

onde 1 2 3, , ,..., mx x x x são os sinais de entrada; 1 2 3, , ,...,k k k kmw w w w são os pesos sinápticos do

neurônio k ; ku é a saída do somador devido as entradas; kb é o bias; ( )ϕ ⋅ é a função de

ativação e ky é o sinal de saída do neurônio [13]. Quando se utiliza o bias tem-se o efeito de

aplicar uma “transformação afim” à saída ku do combinado (somador) linear no modelo da

Figura 1.1, como observamos na equação (1.3):

Page 20: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

7

k k kv u b= + (1.3)

McCulloc e Pitts simplificaram seu modelo considerando que os neurônios em cada

uma das camadas da rede são disparados de forma síncrona, isto é, que todos os neurônios são

avaliados ao mesmo tempo.

Em sistemas biológicos, sabe-se que não existe um mecanismo para sincronizar as

ações dos neurônios, e tão pouco há restrições a fim de que suas saídas sejam ativadas em

tempos discretos como no modelo da Figura 1.1. Sabe-se também que o valor da próxima

saída dos neurônios biológicos depende grandemente das ativações dos estados anteriores, já

que até mesmo os neurotransmissores liberados anteriormente levam algum tempo para se

recombinarem, influenciando assim as ativações seguintes. Modelos artificiais mais recentes,

entretanto, incorporam muitas dessas características dinâmicas dos neurônios biológicos [14].

1.3.4 Funções de ativação

A função de ativação é responsável por gerar a saída ky do neurônio a partir dos

valores de pesos 1 2 3, , ,...,k k k kmw w w w e de entrada 1 2 3, , ,..., mx x x x . Ela é representada por

( )vϕ . Identificaremos três tipos básicos de funções de ativação:

• Função de limiar: A Figura 1.2 representa bem este tipo de função. A saída do

neurônio k que emprega essa função de limiar pode ser expressa pela equação

(1.4):

1 0

0 0k

k

k

se vy

se v

≥=

< (1.4)

onde kv é o campo local induzido do neurônio, ou seja, as entradas ponderadas pelos pesos

sinápticos somado com o bias, matematicamente é apresentado na equação (1.5):

1

m

k kj j k

j

v w x b=

= +∑ (1.5)

onde kjw é o peso sináptico no entre a entrada j e o neurônio k , jx é o sinal na entrada j , e

finalmente o kb é o bias no neurônio k .

Page 21: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

8

Figura 1.2 – Função de limiar.

• Função linear por partes: Para função linear por partes temos a Figura 1.3.

Figura 1.3 – Função linear por partes.

A representação matemática da função linear por partes é dada pela equação (1.6):

( )1

1

k

k

k

se v n

v v se n v n

se v n

ϕ

≥ +

= + > > − ≤ −

(1.6)

onde assume-se que o fator de amplificação dentro da região linear de operação é a unidade.

Esta forma de função de ativação pode ser vista como a aproximação de um amplificador não

linear.

As duas seguintes situações podem ser vistas como formas especiais da função linear

por partes:

• Se a região linear de operação é mantida sem entrar em saturação, surge um

combinador linear, mostrado na Figura 1.4.

Page 22: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

9

• A função linear por partes se reduz a função de limiar, se o intervalo

kn v n+ > > − é feito infinitamente pequeno, pode-se ver na Figura 1.2 [13].

Figura 1.4 – Função linear.

• Função sigmóide: A função sigmóide é a função de ativação mais utilizada na

construção de redes neurais, pois ela introduz na rede uma característica não

linear, característica abordada nos próximos tópicos. Ela é definida como

mostra a equação (1.7):

( ) ( )1

1 kk k avy v

−=

+ ℓ (1.7)

onde a é o parâmetro de inclinação da função sigmóide. Variando-se o parâmetro a , obtem-

se funções sigmóides com diferentes inclinações, pode-se observar essa função na Figura 1.5.

Figura 1.5 – Função sigmoidal.

Page 23: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

10

2 SENSORES VIRTUAIS

2.1 Considerações Iniciais

A concepção de utilização de sensores virtuais não é muito recente e remonta à

modelagem matemática de processos dando ênfase na predição de propriedades a partir de

dados fornecidos da planta. A partir de sistemas de controle indireto foi que surgiram os

primeiros sensores virtuais, onde a variável primária, ou seja, a variável a ser controlada era

controlada através do comportamento de outras variáveis (secundárias), normalmente

temperatura. Um dos primeiros sensores que foram desenvolvidos é o estimador inferencial de

Brosilow que data do fim da década de setenta [1].

Ao longo do tempo, os modelos de sensores inferenciais passaram por uma evolução e

tendo como principal objetivo extrapolar, estimar, uma variável que apresenta grandes

desafios para sua medição. A partir daí observou-se muitos esforços para aprimorá-los, ou

seja, melhorou-se sua precisão e confiabilidade, por meio do emprego das mais variadas

técnicas. Entretanto, somente nas últimas décadas sua utilização industrial começou a ser

explorada [2].

A expressão “sensor virtual” é ainda utilizada para uma grande quantidade de técnicas

de estimação que são empregadas para extrapolar estados e parâmetros de um processo.

Estados fazem referência às variáveis que caracterizam o comportamento do processo e

normalmente apresentam-se na forma diferencial, como, por exemplo, concentração de um

produto.

Os parâmetros são variáveis que delineiam o processo e com muita freqüência

aparecem na forma algébrica, como, por exemplo, taxas de crescimento, propriedades físicas

ou coeficientes. Assim, pode-se fazer uma última distinção, quando o sensor virtual é

utilizado para estimar os estados é comumente chamado de “observador de estados” e quando

é aplicado para inferir parâmetros é denominado “estimador de parâmetros” [7].

Sensores virtuais são ferramentas extremamente valiosas nos diversos campos de

aplicações industriais, incluindo refinarias, indústrias químicas, usinas de geração de energia,

indústrias de papel e celulose, processamento de alimentos, usinas nucleares, dentre outros.

Eles são usados para resolver os mais diversos problemas, tais como: análise em tempo-real,

previsão para controle de planta, validação de sensores físicos e estratégias de diagnósticos de

falhas.

Page 24: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

11

2.2 Importância

Sensores são de indiscutível importância para a Instrumentação, em diversas áreas da

Engenharia e Ciências aplicadas, pois permitem a percepção do estado de sistemas de

automação e controle, gerando informações usadas para atuar tanto no controle da planta,

quanto no monitoramento do desempenho dos processos.

Por seu papel fundamental, os sensores vêm sendo foco de constante evolução

tecnológica, a fim de reduzir a um número menor possível seus problemas e potencializar sua

atuação [9].

As indústrias estão a cada dia sendo confrontadas com a escolha da melhor política de

produção. O preço final e a qualidade do produto são, obviamente, dois fatores relevantes e

que concorrem entre si e podem definir o sucesso no mercado. Além disso, observação das

regras de segurança (de acordo com vários estudos, o manejo inadequado das situações

anormais representa um importante causa de perda na indústria) e as questões de poluição

ambiental contribuem para aumentar a complexidade dos cenários descritos [3].

Nas últimas décadas as pessoas e os políticos têm voltado sua atenção para estes

tópicos, e as regulações estão sendo feitas pelos governos. As empresas são obrigadas a

respeitar as leis que impõem limites cada vez maiores sobre os produtos especificados e as

emissões de poluentes das plantas industriais. Devido a todas essas restrições a importância

do monitoramento de um grande conjunto de variáveis com a instalação e uso adequado de

sistemas de medição (geralmente um monitoramento em rede distribuída) é claro.

Infelizmente dispositivos de medição em geral são obrigados a trabalhar em um

ambiente hostil, ambiente que, por um lado, requer instrumentação para atender muitas

especificações padrão de projetos, enquanto que por outro lado, um protocolo de manutenção

deve ser seguido (agendado).

Mesmo com todas as precauções a ocorrência de falhas inesperadas não pode ser

totalmente evitada, e ainda algumas ferramentas de medição podem introduzir um atraso

significativo na aplicação que pode reduzir a eficiência das políticas de controle.

Para instalar e manter uma rede de medição dedicada ao monitoramento de uma

grande planta o custo é elevado. Devido a isso as indústrias são geralmente tendenciosas a

reduzir o número total de variáveis monitoradas ou a freqüência das observações, embora em

muitas situações amostras infreqüentes de algumas variáveis do processo poça acarretar

potenciais problemas de operacionalidade.

Page 25: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

12

Um caso típico é quando estas de grande importância para a qualidade do produto são

determinadas por análises fora da linha de produção, em laboratório, assim ocorre à

introdução de descontinuidade e atrasos significativos.

Existem casos onde a impossibilidade de instalação de um dispositivo de medição

online é devido a limitações tecnológicas. E em alguns casos variáveis chaves para indicação

de qualidade do processo são determinadas por análises laboratoriais.

Modelos matemáticos, de processos, desenvolvidos para estimar variáveis relevantes

deste, podem ajudar a reduzir a necessidade de dispositivos de medição, melhorando a

confiabilidade do processo e proporcionando políticas de controle rígidas. Modelos de plantas

dedicados a estimação de variáveis da própria planta são conhecidos como modelos

inferenciais, sensores virtuais ou soft sensor.

Os sensores virtuais possuem um grande número de propriedades atrativas, dentre elas

poder ser destacadas as seguintes:

• representam uma alternativa de baixo custo frente aos caros dispositivos físicos de

medição, permitindo a implementação de mais redes de monitoramento;

• podem trabalhar de forma paralela com sensores físicos, dando informaçoes úteis para

a detecção de falhas, permitindo assim uma operação mais confiável do processo;

• podem facilmente ser implementados nos hardwares existentes, e podem retornar os

parâmetros do sistema quando ser faz necessária alguma modificação;

• são capazes de fazer estimação de dados em tempo real, superando os atrasos

introduzidos por meio dos sensores físicos lentos, melhorando assim o desempenho

das estratégias de controle.

2.3 Estado da Arte

Após realizar-se um estudo sobre as técnicas empregadas para o desenvolvimento de

sensores virtuais em processos bioquímicos, pode-se encontrar na literatura três classes

distintas de sensores de acordo com os modelos empregados. A primeira classe trata-se uma

abordagem de modelagem física, Figura 1.2 a), também conhecida como modelagem caixa

branca, obtida através de equações que descrevem a física do processo. A segunda classe é

baseada em modelagem (ou identificação) caixa preta, Figura 1.2 b), inferencial, ou seja, uma

abordagem de identificação estatística, e métodos de inteligência artificial tais como redes

neurais, lógica fuzzy, dentre outros. A terceira classe é composta por sensores baseados em

modelos híbridos, Figura 1.2 c), ou seja, uma combinação das duas classes anteriores [7].

Page 26: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

13

Figura 2.1 – a) Modelagem caixa branca. b) Modelagem caixa preta. c) Modelagem caixa cinza (híbrida).

Na primeira classe, chega-se a um modelo matemático através de equações que

descrevem a natureza do processo, como balanços de energia. Nesta abordagem faz-se

necessário um grande conhecimento sobre o sistema a ser modelado, bem como, conhecer as

relações matemáticas que descrevam os fenômenos envolvidos [10].

Se considerarmos um modelo simples do processo em estudo, este tipo de estimados

possui uma grande atratividade. Entretanto, na maioria dos casos o modelo que se necessita

para o sensor é bastante complicado, principalmente processos químicos e biológicos, pois

além de envolverem muitas variáveis, possuem características que são não lineares.

Na segunda classe, estão os modelos empíricos, ou data-driven models, que produzem

estimações confiáveis em tempo real de variáveis do processo baseados em sua correlação

Page 27: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

14

com outras variáveis do sistema. Isso pode ser uma ferramenta muito útil para contornar o

problema da complexidade de plantas dinâmicas.

O histórico acumulado de dados coletado pelas próprias indústrias, de fato,

representam uma fonte de informações muito útil, com as quais características relevantes do

sistema podem ser identificadas. A política de aquisição de dados numa indústria é uma

questão fundamental, porque por mais que um modelo do processo seja bem desenvolvido

não pode ser melhor, para a estimação, que os dados coletados da própria planta.

Entretanto deve-se ter um tratamento para esses dados coletados, erros na estimação

muitas vezes são ocasionados pela má qualidade dos dados. Existem muitas ações que podem

ser tomadas para tratamento desses dados, como, seleção, filtragem, etc. O projetista do

modelo pode também realizar uma seleção dos dados tomando os que representam à dinâmica

global do sistema, podendo assim fazer experimentos adequados na planta [3].

Esta segunda classe possui algumas desvantagens que estão relacionadas às

dificuldades para selecionar a estrutura mais apropriada para este tipo de modelo, como, as

funções a serem utilizadas, a quantidade de termos que o modelo necessita. Outra

desvantagem é que os modelos da primeira classe podem ser utilizados para estimar

coeficientes de crescimento ou de rendimento diretamente, pois as variáveis aparecem

explícitas no modelo, o que não é possível para grande parte dos modelos inferenciais da

segunda classe [2].

A terceira e última classe é composta pela modelagem híbrida que possui em um

mesmo modelo do processo, abordagens das duas classes anteriores. Esses modelos híbridos

não possuem um conhecimento tão grande da planta quanto os modelos caixa branca, mas

possuem conhecimento suficiente para não pertencerem a classe caixa preta.

Estimadores híbridos têm por objetivo estimar tanto parâmetros como estados, através

da combinação do conhecimento do modelo do processo com a habilidade e a capacidade do

mapeamento dos dados de entrada-saída.

Os modelos de concepção inferencial, da segunda classe, são os mais populares e

serão utilizados neste trabalho, onde serão empregadas técnicas de modelagem através de

redes neurais artificiais. A topologia e projeto da rede será abordada com mais detalhes no

capítulo 3.

Tirando um pouco o foco da abordagem utilizada uma preocupação que se deve ter ao

desenvolver-se um sensor virtual é escolher quais são as melhores variáveis a serem

consideradas como entrada para o modelo desenvolvido.

Page 28: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

15

2.4 Aplicações

Como citado na introdução deste capítulo os sensores virtuais possuem uma grande

área de aplicação, pois podem funcionar auxiliando no controle, no monitoramento e na

otimização de processo dos mais diversos tipos. Temos que ressaltar que, além de fornecer na

maior parte das vezes medições mais rápidas, mais precisas e mais confiáveis a um custo mais

baixo, tanto para implementação quanto para manutenção, os sensores virtuais podem atuar

substituindo os sensores físicos, ou trabalharem juntos no controle e previsão de falhas.

Em [2] são utilizadas técnicas de sensores virtuais numa coluna de destilação

multicomponente com condensador parcial, o objetivo é estimar instantaneamente a

composição dos produtos no topo da coluna de destilação utilizando redes neurais artificiais.

Propõe-se ainda realizar um estudo dos efeitos do treinamento intervalado na rede neural.

Além disso, propõe-se ainda um método que possibilite correções das estimativas atuais

apresentadas pelo sensor caso apresente erros decorrentes do treinamento.

É apresentado em [3], capítulo 1, seção 1.2.3 mostra vários exemplos de áreas de

aplicação para estes sensores, como em um processo de fabricação de penicilina

(desenvolvimento de modelos dinâmicos para evitar intervenção humana), petroquímica

(estima o ponto de congelamento do diesel combustível em um fluido numa unidade de

catalisação, estimação de uma superfície não linear para os dados aplicado numa coluna de

petróleo bruto, identificação de problemas em sistema multivariáveis e com variação de

tempo aplicado num processo de decomposição de polietilenos), planta de geração térmica

(estimação de xNO ), e etc.

Em [4] é mostrada uma aplicação de Redes Neurais Artificiais para controle de

coagulação numa planta de tratamento de água. O sensor virtual desenvolvido é um sistema

híbrido que utiliza uma rede auto-organizável (SOM - Self-Organizing Map) para validação

do sensor e para seleção das variáveis, e uma rede perceptron de múltiplas camadas (MLP -

Multi-Layer Perceptron) para modelar o processo de coagulação.

No artigo [5] é tratado o desenvolvimento de um soft sensor numa planta de

tratamento de águas residuárias, que utilizam a correlação entre os parâmentros da qualidade

da água para estimar o parâmetro alvo. Foi utilizada uma rede neural híbrida, com uma etapa

de pré-processamento dos dados de entrada da rede através de análise de componentes

principais (PCA).

Em [8] utilizam várias abordagens de regressão PLS (Partial Least Squares) para

estimar a qualidade dos produtos obtidos de uma coluna de destilação batch não somente no

Page 29: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

16

fim do processo, mas também durante a completa duração do batch (fila, batelada). Um sensor

virtual (soft sensor) baseado em PLS é desenvolvido de medidas de variáveis secundárias do

processo e uma base de dados histórica simulada. Assim, várias questões são dirigidas tais

como uma comparação da performance de modelos PLS lineares e não lineares, a seleção das

variáveis de entrada mais informativas para os modelos PLS, e os efeitos do aumento dos

dados originais do processo com medidas atrasadas. Por fim, uma nova abordagem de

regressão PLS é proposta a qual é baseada no desenvolvimento de modelos de regressão

múltiplas para diferentes porções ou fases, do processo batch.

Propõe-se em [12] a estimação inferencial, ou seja, uso de sensores virtuais para se

obter uma estimação da biomassa a partir de conjuntos diversos de medições, por exemplo,

taxa de evolução de dióxido de carbono mais tempo transcorrido, e pH mais o tempo

transcorrido e taxa de evolução de carbono mais taxa de evolução de oxigênio mais o tempo

transcorrido.

2.5 Metodologias básicas de projeto

Conforme relatado anteriormente os sensores virtuais são modelos matemáticos que

permitem inferir variáveis relevantes em função de sua dependência com um conjunto de

variáveis influentes. Neste tópico serão descritos algumas metodologias usadas para

desenvolvimento de sensores virtuais. Serão mostrados alguns passos típicos que o projetista

do sensor terá de vencer.

O projeto de sensores virtuais baseados em dados empíricos (data-driven) segue o

esquema mostrado na Figura 2.2. Algumas restrições podem existir neste esquema,

dependendo do objetivo do sensor virtual.

Quanto ao primeiro bloco da Figura 2.2 uma observação preliminar é necessária.

Geralmente, a primeira fase de qualquer procedimento de projeto deve ser levada em

consideração a experiência do desenvolvedor, e é onde acontece a escolha cuidadosa dos

dados que serão utilizados como entrada do sistema. Em aplicações industriais esse aspecto

não é normalmente considerado, pois, os sinais de entrada são obrigatoriamente tirados dos

bancos de dados históricos do sistema.

Isto proporciona uma série de desafios para quem vai projetar o sensor, tais como:

Falta de dados, ruídos, elementos isolados (outliers), representação pobre da dinâmica do

processo (um sistema industrial passa a maior parte do tempo em regime permanente, logo

poucas informações sobre a dinâmica podem ser extraídas do banco), etc. Uma solução

Page 30: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

17

parcial para esse problema é a investigação cuidadosa dos registros, a fim de encontrar

tendências relevantes nos dados [11].

Figura 2.2 – Diagrama de blocos do processo de desenvolvimento do sensor virtual [3].

Nesta fase é muito importante ter uma aproximação com especialistas, ou até

operadores do processo, com eles pode-se conseguir informações sobre as variáveis mais

relevantes, sobre a ordem do sistema, atrasos de transporte, tempo de amostragem, não

linearidades da planta, e assim por diante.

Sem a ajuda de um especialista ou uma boa percepção física o projeto de um sensor

virtual pode tornar-se uma tarefa inviável, e os dados podem ser explorados apenas

parcialmente.

A etapa de seleção do modelo da estrutura é bastante influenciada pela finalidade do

projeto. Quando se necessita de um modelo mais rústico, onde não é necessária tanta precisão,

podemos usar um modelo linear, devido a sua simplicidade na fase de projeto. Um modelo

linear também pode ser escolhido quando os sensores são aplicados a estratégias de controle

Page 31: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

18

clássico. Para todos os outros casos a melhor escolha pode ser o modelo não-linear, que é o

aconselhável para aplicar em processos industriais [3].

Apesar de existirem muitas técnicas e métodos clássicos disponíveis para os sistemas

não-lineares metodologias como redes neurais, sistemas especialistas e sistemas de lógica

nebulosa estão se tornando ferramentas padrão devido ao bom desempenho obtido para uma

gama de aplicações no mundo real e a disponibilidade de softwares que podem ajudar

projetista [9].

O último passo na Figura 2.2 é a validação do modelo. Esta é uma fase muito

importante para os modelos baseados em dados experimentais (data-driven models), um

modelo que se ajusta aos dados utilizados para identificar o sistema, pode dar resultados

muito ruins quando apresentados a conjuntos desconhecidos (novos) pelo mesmo. Além

disso, modelos que parecem muito bons para os dados existentes podem não se comportar

como se deseja quando novos dados são processado, isso só seria detectado com uma longa

fase de validação online.

Os critérios usados para validação do modelo geralmente dependem de análises

realizadas nos resíduos do modelo e são bem diferentes para os modelos lineares e não-

lineares.

2.6 Conclusão

Ao longo do capítulo pode-se entender o que são realmente os sensores virtuais em sua

essência. Mostrou-se que apesar de ser um assunto muito atual sua concepção de utilização

não é muito recente.

A importância dos sensores virtuais é indiscutível, como mostrada no tópico segundo

tópico deste capítulo, e devido ao sucesso de sua implementação, boa precisão, robustez,

baixo custo, a sua utilização em plantas industriais só tende a aumentar. Esse sucesso é

comprovado pelos resultados obtidos neste trabalho, que serão mostrados no capítulo 5, e em

várias referências citadas neste capítulo.

Foram apresentados também os tipos de sensores virtuais existentes, baseados em

estudos realizados. Essa classificação diferencia os sensores pela sua concepção, existem os

sensores caixa branca, os caixa preta, e por fim os híbridos, que concatenam características

dos dois tipos citados anteriormente.

E finalmente mostraram-se os passos, procedimento, de projeto de um sensor virtual,

devemos ter em mente que o procedimento mostrado é uma “tentativa e erro” de modo que se

o modelo falhar na fase de validação o desenvolvedor no sensor deve repensar criticamente

Page 32: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

19

todos os aspectos da estratégia do projeto, e reiniciar o processo tentando escolhas diferentes

das anteriores. Isso significa dizer que o projetista deve está preparado para voltar a qualquer

passo do projeto.

Page 33: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

20

3 MODELO DO SENSOR: REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

3.1 Considerações Iniciais

Na literatura como em [10], [3] observa-se que diversas técnicas podem ser

empregadas com o objetivo de identificar os modelos utilizados pelos sensores virtuais.

Técnicas bem simples podem ser utilizadas como a identificação linear paramétrica, onde são

utilizados modelos compostos por somatórios de funções simples ponderadas por parâmetros,

que podem ser encontrados por meio de técnicas de regressão.

Pode-se citar como exemplo o somatório dos mínimos quadrados. Modelos utilizados

para essa identificação são, em sua maioria, do tipo entrada-saída tais como auto-regressão e

entradas exógenas (ARX), auto-regressão não linear e entradas exógenas (NARX), modelo

auto-regressivo com média móvel e entradas exógenas (ARMAX), ARMA, é um caso

particular do ARMAX onde não há entradas exógenas, e modelo auto-regressivo não linear

com média móvel e entradas exógenas (NARMAX) [10].

Há também modelos do tipo espaços de estados, é dado a esses modelos o nome de

observador ou estimador de estados. O observador pode ser exato quando fornece o estado

diretamente ou assintótico quando seu limite tende ao estado exato para tempo infinito. Estes

tipos de modelo são mais usados quando os sistemas são lineares, pois o caso não linear se

torna muito complicado.

Ao se conhecerem a média e a covariância dos erros cometidos por um observador, é

possível a utilização de técnicas de filtragem para se alcançar maior precisão. O Filtro de

Kalman é um estimador, otimizado, de estados para sistemas lineares quando um modelo do

sistema e o conhecimento de certas propriedades estocásticas das medições estão disponíveis.

O Filtro de Kalman Estendido é uma extensão da abordagem do Filtro de Kalman linear para

equações diferenciais ordinárias lineares [9].

Redes Neurais Artificiais é uma técnica que possui a capacidade de aprendizado e

adaptação, essas características são copiadas do funcionamento de sistemas neurais biológicos

[16]. Entretanto, essa imitação ocorre em um nível simplificado, esse método está se tornando

muito popular e vem sendo bastante utilizado na comunidade científica.

A técnica é inspirada no funcionamento do cérebro, sendo assim é baseada em

elementos funcionais simples, denominados neurônios, estes possuem ligações entre si

ponderadas por pesos que funcionam como parâmetros e podem assumir os mais diversos

Page 34: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

21

valores. Uma escolha correta dos pesos permite identificar sistemas não lineares de maneira

simples.

A técnica de redes neurais baseia-se numa identificação entrada-saída. Porém, muitas

vezes a informação para a identificação do sistema não está em dados de ensaio e sim no

conhecimento que um determinado especialista tem sobre o assunto. Sistemas Especialistas

são concebidos de maneira a conter este conhecimento.

O fato de que humanos são freqüentemente aptos a conduzir tarefas complexas sob

significante incerteza tem estimulado a pesquisa por padrões alternativos de modelagem. Têm

sido introduzidas assim as chamadas metodologias de modelagem "inteligentes". Tais

abordagens empregam técnicas motivadas por sistemas biológicos e conhecimento humano

para desenvolver modelos para sistemas dinâmicos [9].

Estas técnicas exploram métodos de representação alternativa, que utilizam, por

exemplo, linguagem natural (variáveis lingüísticas), regras, modelos qualitativo, e possuem

métodos formais para incorporar informações suplementares relevantes. Modelagem nebulosa

é exemplo típico de técnicas que fazem uso do conhecimento humano e processos dedutivos

[15].

A abordagem citada no parágrafo anterior faz uso de lógica nebulosa. A característica

especial dessa lógica é a de representar uma forma inovadora de manuseio de informações

imprecisas, de forma muito distinta da teoria de probabilidades [15]. Do mesmo modo que um

sistema especialista, sistemas de inferência nebulosos podem ser obtidos da descrição

lingüística do sistema dada pelo especialista.

Também podem ser encontrados métodos inspirados na natureza, como algoritmos

genéticos (AG), que são um ramo dos algoritmos evolucionários e como tal podem ser

definidos como uma técnica de busca baseada numa metáfora do processo biológico de

evolução natural.

Outras abordagens que também vêm sendo bastante usada para identificação de

sistemas são: análise de componentes principais (PCA) e mínimos quadrados parciais (PLS).

São métodos estatísticos multidimensionais aplicados quando estes sistemas apresentam alta

dimensionalidade e boa correlação linear entre suas variáveis.

Uma restrição deste tipo de método é o fato de que somente informação linear é

extraída dos dados. Existem métodos estatísticos, como a regressão localmente ponderada

(LWR), que aliviam esta restrição, podendo ser usados para sistemas não lineares [9].

Existem diversas técnicas para identificação de sistemas, lineares e não lineares.

Contudo, neste trabalho foi proposta a utilização de redes neurais artificiais como

Page 35: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

22

metodologia de identificação. O próximo tópico aprofunda o conhecimento nesse método e

deixa claro porque é uma abordagem atrativa e funcional.

3.2 Metodologia empregada

Como descrito no capítulo anterior a metodologia empregada no desenvolvimento do

sensor possui os seguintes passos: seleção do histórico de dados do banco de dados da planta;

detecção e tratamento de falha nos dados; seleção da estrutura do modelo;

treinamento/estimação do modelo; teste/validação do modelo.

Como citado anteriormente, as redes neurais possuem um processamento paralelo,

diferente do processamento dos computadores convencionais, com apenas um núcleo, e bem

semelhantes ao processamento que ocorre no cérebro humano, contudo com várias restrições.

Algumas características que as RNAs procuram imitar do cérebro são entre outras: a

capacidade de lidar com informações inconsistentes e/ou probabilísticas, alta flexibilidade

para se adaptar a situações aparentemente pouco definidas, tolerância a falhas. Deve ser

frisado que essas características só são possíveis após a rede ser treinada corretamente.

Utilizar redes neurais como uma estratégia para resolver problemas que necessitam de

uma análise mais complexa dos dados, não é uma idéia muito nova. Contudo, recentemente

métodos de modelagem, identificação e estimação de parâmetros utilizando técnicas de RNAs

têm sido aplicados com êxito em uma grande variedade de problemas reais [17].

Devido a todas essas características citadas acima, pretende-se utilizar redes neurais

artificiais para o desenvolvimento do sensor virtual, por ser esta uma técnica que tem sido

bastante empregada nos últimos anos na resolução de problemas semelhantes apresentando

resultados bem satisfatórios.

3.2.1 Seleção das variáveis

As variáveis de entrada e saída da rede que se utilizou nas etapas de treinamento e

validação do modelo foram disponibilizadas pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará,

como citado no primeiro capítulo deste trabalho, e correspondem ao Boletim Diário de

Medição de Parâmetros de Qualidade de Água da Estação de Tratamento de Água do Gavião

(Fortaleza-CE).

Foram disponibilizados pela CAGECE os dados, na forma citada acima, dos anos de

2007, 2008 e 2009. Os dados selecionados para aplicar no sensor foram os dados do ano de

2007, pois os dados de 2008 e 2009 estavam com algumas falhas, como lacunas e dados

Page 36: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

23

isolados fora do padrão (outliers), tais falhas comprometeriam a qualidade da saída do sensor

virtual.

Além de determinar o intervalo dos dados que serão aplicados na rede, também se

deve conhecer quais variáveis são mais influentes na saída do sistema, ou seja, quais variáveis

possuem maior variância com relação a saída desejada do sensor, esses detalhes serão

explicados no capítulo quatro, onde aborda-se o treinamento da rede neural.

3.2.2 Estrutura da rede neural

A etapa de determinação da estrutura da rede possui três passos: seleção do

“paradigma neural” apropriado a aplicação; “paradigma neural” se refere a qual tipo de rede

será utilizada (MLP, RBF, Recorrentes, dentre outras), escolha da “topologia da rede” a ser

utilizada; o número de camadas, o número de neurônios em cada camada, a escolha da função

de ativação, etc.; e a determinação de parâmetros do “algoritmo de treinamento”. Esta última

etapa possui um grande impacto nas capacidades e possibilidades do sistema, mostrado no

capítulo quatro [2].

Na próxima seção deste capítulo serão mostradas as topologias empregadas no

desenvolvimento do sensor virtual, bem como o seu algoritmo de treinamento e paradigma

neural utilizado.

3.2.3 Treinamento da rede

Nesta etapa tendo escolhido os dados, as variáveis, para o treinamento da rede,

seguindo o algoritmo selecionado para o treinamento, os pesos sinápticos serão ajustados. É

muito importante ter bastante atenção, nesta fase, para alguns aspectos tais como a

inicialização da rede, modo de treinamento e tempo de treinamento [2].

O primeiro aspecto citado é a inicialização da rede, esse processo diz respeito ao valor

inicial arbitrado aos pesos da rede. Intuitivamente sabe-se que uma boa escolha dos valores

iniciais dos pesos pode diminuir o tempo de treinamento da rede. Apesar do conhecimento

desse fato, os pesos das redes são normalmente inicializados com valores aleatórios,

normalmente valores pseudo-aleatórios no intervalo [0,1].

Quanto ao modo de treinamento temos duas formas básicas de apresentar a o conjunto

de treinamento à rede neural:

• Modo seqüencial. O modo seqüencial da aprendizagem é também conhecido

como modo on-line, modo padrão ou modo estocástico. Neste modo a

Page 37: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

24

atualização dos pesos é feita ao fim da apresentação de cada exemplo de

treinamento à rede neural [13].

• Modo por lote. No modo por lote a atualização dos pesos acontece somente

após a apresentação de todos os exemplos de treinamento [13].

Cada modo de treinamento possui suas vantagens e desvantagens, o treinamento no modo

seqüencial é o mais utilizado devido à necessidade de um menor armazenamento de dados e é

menos suscetível a problemas com mínimos locais, contudo, no modo de treinamento por lote

se obtém uma melhor estimativa do vetor gradiente, tornando assim o treinamento mais

estável que o treinamento seqüencial [13].

O critério de parada implementado no algoritmo é crucial na duração do treinamento

da rede, influenciando assim o tempo de treinamento. De fato não se pode demonstrar que o

algoritmo de backpropagation, que será aprofundado mais a frente, convergiu, existem

critérios bem definidos para finalizar a sua operação, contudo, sua eficácia pode ser

contestada.

Outro fator determinante não só do tempo de treinamento, mas também da capacidade

de extrapolação da rede é o número de neurônios, esse assunto será abordado nos próximos

tópicos, mas podemos citar aqui um problema conhecido como over-training.

O problema citado acima acontece devido a uma escolha exagerada do número de

neurônios para a rede. A rede se especializa num conjunto de treinamento e perde a

capacidade de extrapolação, ou generalização, como o backpropagation não é sensível a esse

fenômeno, dependendo do critério de parada utilizado o algoritmo não vai conseguir finalizar

por si mesmo.

3.2.4 Validação do modelo

Espera-se que a rede tenha se tornado bem treinada de modo que tenha aprendido

suficiente sobre o “passado” para generalizar valores futuros. Baseados nessa visão, a escolha

dos parâmetros da rede é crucial para o processo de aprendizagem. Cientes da importância de

uma boa generalização para a inferência da rede uma ferramenta padrão da estatística

conhecida como validação cruzada, será utilizada para validar o treinamento da rede..

Imediatamente após a fase de seleção das variáveis, o conjunto de dados é dividido em

dois subconjuntos; essa divisão acontece aleatoriamente, entretanto respeitando uma

porcentagem de cada subconjunto do conjunto total, ou seja, subconjunto de treinamento, ou

estimação, possui 70% dos dados do conjunto total e o subconjunto de validação, ou teste,

possui o restante dos dados.

Page 38: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

25

A motivação nessa etapa é fazer a validação do modelo escolhido com um conjunto de

dados diferente do conjunto utilizado para o treinamento do modelo. O uso de validação

cruzada é atrativo quando temos que projetar uma rede neural de grande porte e necessitamos

de uma boa generalização [13].

Das etapas comentadas acima, a primeira, seleção das variáveis, já foi comentada e

apresentada neste mesmo capítulo. As etapas seguintes que são: estrutura da rede neural,

treinamento da rede e validação do sensor serão apresentadas a seguir, da seguinte forma:

neste capítulo será apresentada a topologia da rede e no próximo capítulo serão apresentados

treinamento e validação do modelo.

3.3 Determinação da estrutura da rede neural

Como já se dispõe de todo o conjunto de dados para realizar o treinamento e validação

do sensor virtual, a próxima etapa é a de determinação da topologia de rede neural que será

utilizada, bem como de seus parâmetros.

3.3.1 Arquitetura da rede

Existem diversos modelos de redes neurais que podem ser aplicadas a este problema,

tanto redes feedforward como redes recorrentes, dentre essas duas classes de RNAs podemos

citar as principais como sendo:

Redes Feedforward

• Linear

o Perceptron e Adaline

• MLP – Perceptron de Múltiplas Camadas

o Backpropagation

o Variações

• RBF – Funções de Base Radial

• Redes Probabilísticas

Redes Recorrentes

• Rede de Elman

• Rede de Hopfield

Page 39: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

26

Fez-se opção de trabalhar com duas redes diferentes e comparar os seus resultados, as

redes selecionadas foram: MLP com algoritmo backpropagation, clássico, e FTLFN (Focused

time lagged feedforward network) com algoritmo backpropagation.

O critério de escolha dessas duas redes se deu baseado em sua simplicidade e boa

adequação a problemas semelhantes como pode ser observado em [2]. A seguir apresentam-se

mais características das redes escolhidas que fundamentam melhor a sua escolha.

Rede Feedforward MLP – Backpropagation

Como o próprio nome sugere trata-se de uma rede que não possui realimentação,

assim podemos afirmar que a informação flui em apenas um sentido. Os perceptrons de

múltiplas camadas através do seu treinamento de forma supervisionada têm sido

implementados com muito sucesso para resolver problemas com um alto grau de dificuldade,

como observado em [3] e [12].

No paradigma de aprendizado supervisionado existe a figura e um “tutor” que é

responsável por estimular as entradas da rede por meio de padrões de entrada e observar a

saída calculada pela mesma, comparando-a posteriormente com a saída desejada, fornecendo

assim informações sobre a direção de ajuste dos pesos [14].

Figura 3.1 – Aprendizado supervisionado [14].

A Figura 3.1 mostra uma representação esquemática do aprendizado supervisionado.

Aprendizado supervisionado implica a existência de um professor externo, o qual é

responsável por estimular as entradas da rede por meio de padrões de entrada e observar a

saída calculada pela mesma, comparando-a com a saída desejada pela rede [14].

O algoritmo de treinamento supervisionado mais popular é conhecido como

backpropagation, ou algoritmo de retropropagação do erro, este é baseado na regra de

aprendizagem por correção de erro.

Basicamente, a aprendizagem por retropropagação de erro consiste de dois passos

através das diferentes camadas da rede, Figura 3.2. Um passo para frente, a propagação, e um

Page 40: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

27

passo para trás, a retropropagação. Durante o passo de propagação, os pesos sinápticos da

rede são todos fixos. Já durante a fase para trás, ou retropropagação, os pesos sinápticos são

todos ajustados de acordo com uma regra de correção de erro.

A regra de correção de erros consiste em tomar uma resposta real (saída) da rede e

subtrar de uma resposta desejada para produzir um sinal de erro, este erro é então propagado

para trás através da rede, contra a direção das conexões sinápticas.

A rede neural MLP é a mais utilizada e difundida [3], isso acontece devido a sua

simplicidade e, como citado anteriormente, pela sua grande capacidade de resolver problemas

com alto grau de complexidade, como aproximação de funções. A rede MLP é capaz de

aproximar qualquer função com um número finito de descontinuidades, pra isso necessita que

tenha um número suficiente de neurônios nas camadas ocultas.

O backpropagation é um dos algoritmos utilizado para treinar as redes MLP, podendo

fazer isto baseado nas mais diversas funções de ativação, mostradas na seção 1.3.4. Este

algoritmo também permite o mapeamento de relações lineares bem como não lineares entre os

vetores de dados de entrada e saída.

Figura 3.2 – Rede neural MLP.

A arquitetura da rede neural MLP é completamente determinada pelo problema a ser

resolvido. Assim, o número de neurônios na camada de entrada da rede e na camada de saída

são requeridos e determinados pelo problema. Por exemplo, se o problema possui 5 variáveis

de entrada, então, a rede terá 5 neurônios na camada de entrada, o mesmo ocorre com a

Page 41: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

28

camada de saída, o número de neurônios na camada de saída corresponde ao número de saídas

distintas que se deseja obter com a rede neural.

No entanto, o número de neurônios na(s) camada(s) oculta(s), ou escondida(s), entre a

camada de entrada e a camada de saída, são escolhas realizadas pelo projetista da rede e

baseadas principalmente na análise e experiência do mesmo. Existem algumas regras que

tentem abordar o melhor ajuste destes valores, entretanto as teorias são em sua maioria

contraditórias e pouco práticas [2]. No capítulo será tratado o assunto da(s) camada(s)

escondida(s).

Como foi apresentado anteriormente o modo de treinamento seqüencial é o método

preferido para a implementação em tempo de execução (online) do algoritmo

backpropagation. Segundo [13] para este modo de operação segue os passos mostrados

abaixo:

1. Inicialização: supondo que não se tem nenhuma informação prévia, retire os pesos

sinápticos e limiares de uma distribuição uniforme cuja média é zero e cuja variância é

escolhida de tal forma que o desvio padrão dos campos locais induzidos dos neurônios se

encontre na transição entre as partes linear e saturada da função de ativação sigmóide.

Campos locais induzidos fazem alusão ao valor que sai dos somadores que existem em

cada neurônio, ou seja, é o valor de saída da rede antes de passar pela função de ativação.

2. Apresentação dos exemplos de treinamento: apresenta-se uma época de exemplos de

treinamento à rede. Para cada exemplo do conjunto, ordenado de alguma forma, realize a

seqüência de computações para a frente e para trás descritas anteriormente.

3. Computação para frente (propagação): Supondo que um exemplo de treinamento da

época seja representado por ( ) ( )( ),x n d n , com o vetor de entrada ( )x n aplicado à camada

de entrada de nós sensoriais e o vetor de resposta desejada ( )d n apresentado à camada de

saída de nós computacionais. Calcula-se, então, os campos locais induzidos e os sinais

funcionais da rede prosseguindo para frente através da rede, camada por camada. O campo

local induzido ( ) ( )l

jv n para o neurônio j na camada l é dado pela equação (3.1):

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )0

1

0

ml l l

j ji i

i

v n w n y n−

=

=∑ (3.1)

Page 42: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

29

onde ( ) ( )1l

iy n− é o sinal (função) de saída do neurônio i na camada anterior 1l − , na iteração

n , e ( ) ( )l

jiw n é o peso sináptico do neurônio j da camada l , que é alimentado pelo neurônio i

da camada 1l − . Para 0i = , temos ( ) ( )10 1ly n

− = + e ( ) ( ) ( ) ( )0l l

j jw n b n= é o bias aplicado ao

neurônio j na camada l . Assumindo-se o uso de uma função sigmóide, o sinal de saída do

neurônio j na camada l é mostrado na equação (3.2):

( ) ( )( )l

j j jy v nϕ= (3.2)

Se o neurônio j está na primeira camada oculta, isto é, 0l = , tem-se a equação (3.3):

( ) ( ) ( )0j jy n x n= (3.3)

onde ( )jx n é o j -ésimo elemento do vetor de entrada ( )x n . Se o neurônio j está na

camada de saída, isto é, l L= , onde L é denominada a profundidade da rede, faz-se de

acordo com a equação (3.4):

( ) ( )L

j jy o n= (3.4)

Calcula-se, então, o sinal de erro pela equação (3.5):

( ) ( ) ( )j j je n d n o n= − (3.5)

onde ( )jd n e ( )jo n são os j -ésimos elementos do vetor resposta desejada e resposta obtida,

ou real da rede respectivamente.

4. Computação para trás (retropropagação): Calcula-se os δ , isto é, gradientes locais, da

rede definidos por (3.6):

( ) ( ) ( ) ( ) ( )( )'l L L

j j j jn e n v nδ ϕ= (3.6)

para o neurônio j da camada de saída L , e (3.7):

( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( )1 1'l l ll

j j j k kj

k

n v n n w nδ ϕ δ + += ∑ (3.7)

para o neurônio j da camada oculta l , onde o apóstrofe em ( )'jϕ ⋅ representa a diferenciação

em relação ao argumento. Ajusta-se, agora, os pesos sinapticos da rede na camada l de

acordo com a regra delta generalizada (3.8):

Page 43: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

30

( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )11 1l l l l l

ji ji ji j iw n w n w n n y nα ηδ − + = + − + (3.8)

onde η é o parâmetro da taxa de aprendizagem e α é a constante de momento.

5. Iteração: Faz-se as computações para frente e para trás dos pontos 3 e 4, apresentando

novas pocas de exemplos de treinamento para a rede, até que seja satisfeito o critério de

parada.

Redes alimentadas adiante focadas atrasadas no tempo

Normalmente utiliza-se a topologia de uma rede neural estática (como a topologia

apresentada no tópico anterior deste mesmo capítulo) no reconhecimento estrutural de

padrões. Já o reconhecimento temporal de padrões, diferente do primeiro, necessita de um

processamento de padrões que evolua no tempo, ou seja, a resposta, ou saída da rede em um

determinado instante de tempo não depende somente dos valores presentes na entrada, além

desses é dependente de seus valores passados. Pode-se analisar como a rede neural sendo

estimulada por uma memória de curto prazo. O operador 1Z − representa esse atraso no tempo

que é aplicado às entradas.

Figura 3.3 – Filtro neural focado [13].

Sendo mais claros pode-se analisar da seguinte forma, dado um sinal de entrada sendo

o valor presente ( )x n e de p valores passados, ( ) ( )1 ,...,x n x n p− − , armazenados em uma

Page 44: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

31

memória de linha de atraso de ordem p , exemplificando-se, pode ser observada essa estrutura

ao nível de um único neurônio ou de uma rede de neurônios na Figura 3.3 e Figura 3.4.

A menor estrutura responsável pelo processamento temporal é mostrada na Figura 3.3.

Na sua composição tem uma memória de linha de atraso derivada e todas as suas derivações

conectadas às sinapses de um neurônio. Essa unidade é denominada de filtro neural focado,

diz-se focado no sentido que a toda a estrutura da memória está localizada na entrada de cada

unidade.

Essa memória de linha de atrasos tem a capacidade de capturar do sinal de entrada a

informação temporal, e esse neurônio já coloca essa informação em seus próprio pesos

sinapticos. Em resposta à entrada ( )x n e aos seus valores passados (atrasados)

( ) ( )1 ,...,x n x n p− − , temos a saída dada pela equação (3.9):

( ) ( ) ( )0

p

j j j

l

y n w l x n l bϕ=

= − +

∑ (3.9)

onde ( )ϕ ⋅ é a função de ativação do neurônio j , os ( )jw l são seus pesos sinapticos e jb é o

bias. Percebemos que a estrutura é bem semelhante a da Figura 1.1, onde a entrada da função

de ativação consiste em uma combinação das seqüências de amostras de entrada e pesos

sinapticos do neurônio.

Figura 3.4 – Rede neural alimentada adiante focada atrasada no tempo (FTLFN) [13].

Page 45: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

32

Na Figura 3.4 tem-se uma rede formada por várias n unidades de filtros neurais

focados formando a rede alimentada adiante focada atrasada no tempo, trata-se de um filtro

não linear mais poderoso que consiste de uma memória de linha de atraso derivada de ordem

p e um perceptron de múltiplas camadas.

Para realizar o treinamento desse filtro (FTLFN) utiliza-se o algoritmo de

backpropagaion descrito no tópico anterior. Tem-se que tempo n , o “padrão temporal”

aplicado à entrada da rede é o vetor ( ) ( ) ( ) ( ), 1 ,...,T

X n x n x n x n p = − − .

A saída da FTLFN, assumindo que o perceptron de múltiplas camadas possui apenas

uma camada escondida como na Figura 3.4 é dada pela equação (3.10):

( ) ( )

( ) ( )

1

1

1

1 0

m

j j

j

m p

j j j o

j l

y n w y n

w w l x n l b bϕ

=

= =

=

= − + +

∑ ∑ (3.10)

onde se assume que o neurônio de saída da FLFN é linear, os pesos sinapticos são

representados pelo conjunto { } 1

1

m

jj

w=, onde 1m é o tamanho da camada oculta e ob representa

o bias.

3.3.2 Definição da topologia

Neste tópico vamos apresentar alguns critérios para obter o ajuste da topologia

escolhida, dentre os parâmetros de ajuste destacam-se os seguintes: número de camadas

escondidas, número de neurônios em cada camada, função de ativação e algoritmos de

treinamento.

Alguns desses parâmetros já foram determinados como a função de transferência a ser

utilizada que é a sigmoidal Figura 1.5, também já foi apresentado o algoritmo de treinamento

das duas redes que utilizaremos para o sensor virtual, esse algoritmo é o backpropagation.

Entretanto, para decidir os outros parâmetros necessita-se de alguns critérios para comparar os

resultados obtidos, nessa avaliação das redes foram usados dois critérios:

• Erro Máximo Relativo: é o valor máximo do erro apresentado no final de cada

treinamento, esse erro é obtido comparando os resultados que obtemos na saída da

rede, com os valores desejados. A observação desse erro pode-se avaliar o quanto está

fora o pico do erro na avaliação da rede. A equação utilizada para essa comparação é

(3.11):

Page 46: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

33

( ) ( )( )

max .100%máx

d n y n

y nε

−=

(3.11)

onde ( )y n é a saída da rede, e ( )d n é a saída desejada.

• Erro médio quadrático (MSE): este é a média dos quadrados das diferenças entre o

valor estimado pelo sensor e o valor desejado. Este valor é utilizado para medir o

desempenho da rede da rede neural durante o treinamento, algoritmo

backpropagation. Esse erro pondera com maior peso os pontos em que o erro

apresentado pela rede for maior. A função desse erro é dada pela equação (3.12):

( ) ( )( )21

N

nmq

d n y n

Nε =

−=∑

(3.12)

3.3.3 Inicialização dos pesos

A determinação de bons valores iniciais para os pesos sinapticos, pode ser de grande

ajuda para um projeto de rede bem sucedido. Pode representar uma alteração significativa no

tempo necessário para o treinamento da rede e para melhor convergência dos resultados

apresentados.

Se iniciarmos os pesos com valores muito grandes (acima de 10), a probabilidade de

os neurônios da rede serem levados a saturação é bem alta, pois a função de ativação que

utilizamos satura nos valores -1 e 1. Neste caso, os gradientes locais no algoritmo de

retropropagação recebem valores bem pequenos, acontecendo assim uma diminuição na

velocidade de convergência, ou seja, do processo de aprendizagem. Por outro lado, quando

são valores muito pequenos na inicialização dos pesos, o algoritmo backpropagation pode

operar em uma área muito plana em torno da superfície de erro. Logo, uma escolha adequada

para a inicialização se encontra em algum lugar entre esses dois casos extremos.

Na maioria dos casos, a inicialização dos pesos da rede é feito com valores aleatórios

uniformemente distribuídos no intervalo [ ]0,1 . Entretanto, existem outras possibilidade para a

inicialização desses pesos, e algumas delas já se encontram incorporadas à programas

específicos. Dentre elas há funções que realizam um melhor ajuste destes valores iniciais dos

pesos da rede através da relação entre amplitudes dos valores de entrada, saída, tipo da

arquitetura da rede, etc. [2].

Page 47: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

34

3.4 Conclusão Foram citadas nesse capítulo várias arquiteturas que podem ser utilizadas no

desenvolvimento de sensores virtuais.

Entretanto, foi discutido mais profundamente apenas os modelos baseados em redes

neurais artificiais. Apresentou-se um breve histórico sobre o assunto e alguns conceitos sobre

essas redes, procurando-se destacar as características utilizadas no projeto do sensor.

Dentre esses conceitos destacou-se a topologia (“paradigma neural”) do sensor, que

foram dois, as redes MLP feedforward e FTLFN. Além de explicar o funcionamento de cada

uma das redes foi dado um enfoque ao seu algoritmo de treinamento, que é o

backpropagation.

Outros conceitos importantes para o sensor também foram abordados como: seleção

das variáveis, treinamento e validação do sensor.

Com relação ao treinamento e validação do sensor virtual, o capítulo quatro

aprofundará as discussões e apresentará os resultados dessas duas etapas do projeto.

Page 48: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

35

4 TREINAMENTO E VALIDAÇÃO DO SENSOR

4.1 Considerações Iniciais

Neste capítulo será discutido o treinamento e validação do sensor virtual. Para realizar

a seleção da melhor topologia de rede serão utilizados os critério apresentados no capítulo

anterior em 3.2.3 e 3.2.4. Discutiu-se no mesmo capítulo vários parâmetros da topologia da

rede, neste capítulo, baseado no treinamento e validação da rede será ajustado o número de

camadas escondidas da rede, e ainda o número de neurônios contidos em cada uma dessas

camadas.

Além de fazer os últimos ajustes na arquitetura da rede, serão discutidos nesse capítulo

os resultados dos treinamentos e a determinação da melhor topologia de rede para o sensor

virtual desenvolvido.

4.2 Número de camadas e neurônios por camada

Naturalmente o número de neurônios na camada de entrada e camada de saída da rede

neural é determinado pelo próprio conjunto de dados. A quantidade de entradas define o

número de neurônios na camada de entrada, já o número de saídas desejadas define a

quantidade de neurônios da camada de saída. Baseando-se nesses critérios, a rede definida

terá três neurônios na camada de entrada, esses parâmetros são: pH, turbidez, e

contextualização temporal (as datas de cada medição). Na camada de saída da rede tem

apenas um neurônio, pois apenas um parâmetro será previsto pelo sensor, oxigênio

consumido.

Os parâmetros, que serão utilizados como entradas da rede neural, foram selecionados

com a ajuda de um especialista responsável pelo tratamento. Devido a não realização de testes

preliminares com os dados, como teste de correlação, houve necessidade desse especialista

indicar quais as melhores variáveis de entrada.

Segundo [14], as redes neurais perceptron de múltiplas camadas com apenas uma

camada oculta são capazes de aproxima qualquer função contínua, já as redes com duas

camadas escondidas conseguem aproximar qualquer função não linear. As redes que possuem

mais de duas camadas ocultas não apresentam melhoria nenhuma à capacidade estimativa da

rede, entretanto podem apresentar maior segurança para perdas localizadas (redundância de

neurônios) e maior precisão.

Page 49: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

36

O número de camadas escondidas, assim como o número de neurônios em cada

camada que determinam o melhor resultado não são obtidos de modo determinístico. Após

muitos estudos empíricos alguns autores propuseram algumas regras que ajudam na

determinação da quantidade inicial de neurônios.

Entretanto, esses mesmos autores enfatizam que estas regras servem apenas para

auxiliar o projetista, e que devido a grande variedade de problemas existentes e que podem ser

apresentados às redes neurais é difícil o estabelecimento de regras.

Em [13] o autor alerta que não existe teoria para otimizar a arquitetura das redes

neurais, ou seja, não existe um modo determinístico de encontrarmos o valor ideal para o

número de neurônios e o número de camadas ocultas, é sugerido como solução para esse

problema realizar um estudo experimental exaustivo em busca da melhor combinação.

Com a intenção de determinar a estrutura da rede neural que será utilizada foram

realizados vários ensaios, variando progressivamente o número de camadas e de neurônios

por camadas e comparando-se os resultados obtidos.

As redes neurais são muito influenciadas pelas condições iniciais utilizadas durante o

treinamento, e que para algumas dessas condições a rede neural não converge ou apresenta

convergência para um erro maior que o esperado, ou seja, converge para um mínimo local.

Para se realizar a comparação entre as diferentes topologias de rede foi realizado o

treinamento de sete redes com diferentes condições iniciais para cada estrutura, combinação

de camadas e neurônios.

Como é o intuito deste capítulo, serão apresentados os resultados para as duas redes,

tanto a MLP feedforward quanto a FTLFN e ao final esses resultados serão comparados. O

conjunto de dados utilizado no treinamento foi de 292 pontos de todos os dados.

4.3 Treinamento e Validação

4.3.1 Redes alimentadas adiante focadas atrasadas no tempo

Como mencionado acima se realizou o treinamento das oito redes com diferentes

condições iniciais, ou seja, oito arquiteturas diferentes de redes, e cada uma dessas redes

foram treinadas quatro vezes, após esse treinamento foram selecionadas as duas melhores, ou

seja, a metade melhor das redes para discutir os seus resultados. A outra metade das redes foi

descartada, elas não apresentaram bons resultados, os problemas que causaram maus

resultados para as redes descartadas foram: falta de convergências, ou convergência para

mínimo local.

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37

Este método de comparação das redes (Média da Metade Melhor) justifica-se pelos

seguintes fatos: na inicialização de cada treinamento são atribuídos valores aleatórios aos

pesos sinápticos, devido a essa diferença em cada treinamento não se pode simplesmente

comparar uma arquitetura de rede realizando apenas um treinamento com essa topologia.

Assim para se ter a certeza de uma boa comparação são utilizadas as médias dos

valores de Erro máximo e Erro Médio Quadrático (MSE).

No capítulo anterior foi explicado como funcionavam as redes FTLFN, além das oito

combinações de camadas e neurônios nas camadas foram treinadas redes com atrasos

diferentes. Neste trabalho treinamos redes com três e cinco atrasos para cada entrada. Com

diversas combinações de neurônios.

Na Tabela 1 pode-se observar quais as combinações de camadas e neurônios por

camadas que foram utilizadas:

Tabela 1 – Combinação de camadas e neurônios por camada.

Redes FTLFN com 3 e 5 atrasos

Número de

camadas

Prineira

camada

Segunda

camada

1 3 -

1 5 -

1 7 -

2 3 3

2 5 5

2 7 7

2 10 5

2 10 7

Os primeiros treinamentos apresentados são para a FTLFN com três atrasos de tempo.

Realizou-se diversos treinamentos, como citado anteriormente, e desses treinamentos foram

selecionadas as redes com melhores valores de Erro máximo e MSE. Dos valores

selecionados foi calculada uma média, que foi denominada de “média da metade melhor”

(MMM) [2], e estes valores foram comparados na Tabela 2:

Page 51: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

38

Tabela 2 – Cálculo da Média da Metade Melhor.

Rede FTLFN com 3 atrasos e 10 neurônios

na primeira camada e 5 na segunda

Erro MSE Erro Máximo

0.40611 0.25069

0.40734 0.27222

Redes Selecionadas

0.50849 0.34945

0.46539 0.43163 Redes Descartadas

0.40672 0.26145 MMM

A Figura 4.1 apresenta de forma comparativa os valores calculados para as médias das

melhores metades para as várias estruturas de rede, mostradas na Tabela 1, com uma e duas

camadas escondidas, e com diferentes quantidades de neurônios em cada camada.

Todos os valores encontrados nas tabelas deste capítulo são Erro máximo e MSE do

treinamento das redes neurais.

A respeito da nomenclatura das redes apresentada temos o número de camadas e

neurônios por camada representados da seguinte forma: as redes com duas camadas ocultas e

com dez neurônios na primeira camada e sete neurônios na segunda camada são representadas

como “10 7”, e assim por diante.

Figura 4.1 – Gráfico com MMM para as redes FTLFN com três atrasos na entrada.

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39

Os valores que são mostrados na Figura 4.1 podem ser vistos na Tabela 3. Foram

escolhidas as melhores redes para compor o gráfico.

Tabela 3 – Cálculo dos erros apresentados pelas redes para redes FTLFN com três atrasos na entrada.

3 atrasos MSE Emax

5 0.45535 0.26790

7 0.49015 0.33349

3 3 0.50432 0.33280

5 5 0.43791 0.32461

7 7 0.44128 0.28465

10 5 0.40672 0.26145

10 7 0.41804 0.27140

Fazendo-se uma análise da Figura 4.1 observa-se que existe um ponto ótimo para cada

número de neurônios para cada número de camadas, ou seja, para cada número de camadas há

um ponto ótimo, dos valores de MSE e erro máximo, no número de neurônios por camada.

Assim temos as melhores redes para cada configuração. Para as redes com apenas uma

camada oculta e com três atrasos de tempo é a rede com cinco neurônios na camada

escondida. Para as redes com duas camadas ocultas tem-se que a melhor arquitetura é a rede

com dez neurônios na primeira camada e cinco neurônios na segunda camada escondida.

Entretanto, como pode ser visto na Tabela 4 as melhores redes obtidas podem ter a

mesma quantidade de camadas escondidas. No caso analisado até o momento se tem que as

redes com duas camadas escondidas obtiveram melhores desempenhos que as de uma única

camada, a única exceção é a rede com duas camadas ocultas e com três neurônios em cada

camada, que teve um desempenho pior que as duas das redes com apenas uma camada

escondida (cinco e sete neurônios na camada).

Tabela 4 – Três melhores redes FTLFN com 3 atrasos.

Média da metade melhor Melhor rede obtida

Erro MSE Erro máximo Erro MSE Erro máximo Redes

0.40672 0.26145 0.40611 0.25069 10 5

0.41804 0.27140 0.38873 0.30208 10 7

0.43791 0.32461 0.37236 0.31920 5 5

Page 53: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

40

Depois do exaustivo treinamento podemos escolher a melhor rede FTLFN com três

atrasos de tempo. Essa rede é a rede com duas camadas escondidas, com dez neurônios na

primeira camada e cinco neurônios na segunda camada escondida. Essa escolha foi baseada

na MMM. Como essa rede teve a melhor média para o erro médio quadrático (MSE) significa

que vários treinamentos convergiram para resultados bons e o maior pico computado para a

mesma é menor que o das outras redes.

Na Figura 4.2 pode-se observar o dois gráficos que mostram o melhor resultado para a

rede “10 5” FTLFN com três atrasos de tempo. O primeiro estão plotados a saída desejada

(azul) e a saída da rede neural (vermelho) para uma comparação ponto a ponto da saída da

rede. O segundo gráfico mostra o erro residual, ou seja, a diferença entre as duas saídas

(desejada e obtida).

Figura 4.2 – Validação da rede “10 5” FTLFN com 3 atrasos.

Os resultados que serão apresentados abaixo são para as redes FTLFN com cinco

atrasos de tempo. As combinações de camadas escondidas e neurônios por camada são a

mesmas apresentadas na Tabela 1.

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41

Essas redes foram treinadas em condições semelhantes as anteriores, foram escolhidos

os melhores treinamentos e feito a MMM. Pode-se observar na Tabela 5 o exemplo de uma

rede treinada e seleção dos melhores resultados.

Tabela 5 – Cálculo da Média da Metade Melhor (FTLFN com 5 atrasos).

Rede FTLFN com 5 atrasos e 5 neurônios na

primeira camada e 5 na segunda

Erro MSE Erro Máximo

0.38540 0.25062

0.39123 0.25687

Redes Selecionadas

0.41918 0.25566

0.44085 0.33253 Redes Descartadas

0.38827 0.25596 MMM

O gráfico da MMM pode ser visto na Figura 4.3, percebe-se que para cada

combinação de redes e camadas tem-se um valor ótimo. Para uma camada escondida a melhor

arquitetura é com três neurônios nessa camada. Já para uma topologia com duas camadas

ocultas a configuração que apresentou melhores resultados foi a rede com cinco neurônios

tanto na primeira quanto na segunda camada escondida.

Figura 4.3 – Gráfico com MMM para as redes FTLFN com cinco atrasos na entrada.

Page 55: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

42

Dos valores utilizados para plotar o gráfico da Figura 4.3 foram selecionados os três

melhore e agrupados na Tabela 6. O melhor resultado para as redes FTLFN foi apresentado

pela rede “5 5” como mostrado no capítulo anterior. O critério utilizado foi o MSE da MMM

que indica que muitas redes com essa configuração convergiram para bons resultados, apesar

de não ser a melhor rede obtida (melhor rede foi uma “7 7”).

Tabela 6 – Três melhores redes FTLFN com 5 atrasos.

Média da metade melhor Melhor rede obtida

Erro MSE Erro máximo Erro MSE Erro máximo Redes

0.38827 0.25596 0.38540 0.25062 5 5

0.42105 0.25479 0.35601 0.21147 7 7

0.42415 0.25241 0.39333 0.22224 10 5

Após a escolha da melhor rede FTLFN com cinco atrasos (“5 5”) de tempo pode-se

observar o melhor resultado para o treinamento dessa rede na Figura 4.4. No primeiro gráfico

são mostrados os valores reais (azul) e previstos pela rede (vermelho). No segundo gráfico

observa-se a diferença entre esses dois valores mostrados no primeiro gráfico.

Figura 4.4 – Validação da rede “5 5” FTLFN com 5 atrasos.

Page 56: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

43

4.3.2 Redes MLP feedforward

Em seguida foram realizados todos os treinamentos com as redes MLP feedforward.

As MMM foram calculadas da mesma forma que nas redes anteriores (FTLFN com três e

cinco atrasos no tempo). O exemplo de uma seleção dos melhores resultado pode ser visto na

Tabela 7.

Tabela 7 – Cálculo da Média da Metade Melhor.

Rede MLP feedforward e 3 neurônios na

primeira camada e 3 na segunda

Erro MSE Erro Máximo

0.45991 0.38720

0.46662 0.32687

Redes Selecionadas

0.52201 0.34869

0.53478 0.35735 Redes Descartadas

0.46326 0.35703 MMM

A Figura 4.5 mostra o gráfico da MMM, analisando-se esse gráfico observa-se que

para cada número de camadas há um ponto ótimo, dos valores de MSE e erro máximo, no

número de neurônios por camada.

Figura 4.5 – Gráfico com MMM para as redes MLP feedforward.

Page 57: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

44

Assim temos que para as redes com apenas uma camada oculta a melhor foi a rede

com cinco neurônios. Para as redes com duas camadas escondidas tem-se que a melhor

configuração foi com dez neurônios da primeira camada escondida e sete neurônios na

segunda. A Tabela 8 mostra os valores de erro médio quadrático e erro máximo utilizados no

gráfico da Figura 4.5.

Tabela 8 – Cálculo dos erros apresentados pelas redes para redes FTLFN com três atrasos na entrada.

3 atrasos MSE Emax

5 0.50100 0.33743

7 0.50238 0.34858

3 3 0.46326 0.35703

5 5 0.41377 0.25889

7 7 0.54081 0.31862

10 5 0.42309 0.25001

10 7 0.40931 0.28218

As três melhores redes MLP encontram-se agrupadas na Tabela 9, pode-se observar

que as três possuem duas camadas escondidas. O critério para a escolha da melhor rede MLP

feedforward (rede “10 7”) foi baseado no MSE tanto da MMM quanto da melhor rede obtida.

Um valor pequeno para esse erro da MMM significa que mais redes convergiram para bons

resultados.

Tabela 9 – Três melhores redes MLP feedforward.

Média da metade melhor Melhor rede obtida

Erro MSE Erro máximo Erro MSE Erro máximo Redes

0.40931 0.28218 0.37708 0.26319 10 7

0.41377 0.25889 0.38380 0.28248 5 5

0.42309 0.25001 0.37736 0.20095 10 5

Na Figura 4.6 pode-se observar dois gráficos semelhantes aos da Figura 4.2 e Figura

4.4. Onde se tem no primeiro as saídas real e estimada sobrepostas a fim de uma comparação.

O segundo temos uma comparação numérica, ou seja, é plotado o erro (diferença entre real e

estimada) ponto a ponto.

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45

Figura 4.6 – Validação da rede “10 7” MLP feedforward.

4.4 Conclusão

As redes neurais estáticas, como é o caso da MLP, treinadas normalmente pelo

algoritmo backpropagation, apresentam certa dificuldade em realizar mapeamentos

dinâmicos.

Comparando-se as três estruturas (MLP feedforward e FTLFN 3 e 5 atrasos) pode-se

observar que as três obtiveram resultados muito semelhantes. Contudo, as redes FTLFN

tiveram resultados melhores que as redes MLP. Na Tabela 10 tem-se as três melhores redes

no geral, ou seja, a melhor rede MLP, e as melhores FTLFN.

Tabela 10 – Três melhores redes.

Média da metade melhor Melhor rede obtida

Erro MSE Erro máximo Erro MSE Erro máximo Redes

0.40931 0.28218 0.37708 0.26319 10 7 - MLP

0.38827 0.25596 0.38540 0.25062 5 5 – FTLFN (5)

0.40672 0.26145 0.40611 0.25069 10 5 – FTLFN (3)

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46

5 CONCLUSÕES

5.1 Conclusão

Este trabalho propôs a construção de um sensor virtual de oxigênio consumido durante

o tratamento da água numa ETA, a partir de dados reais coletados no ano de 2007 e

disponibilizados pela CAGECE.

A aplicação de RNA como um sistema de previsão de oxigênio consumido mostrou-se

eficiente no desenvolvimento do referido sensor. A partir dos dados de entrada utilizados, o

sensor virtual foi capaz de reconhecer os parâmetros de entrada e retornar na saída o

parâmetro desejado (OC).

Primeiramente foram definidos os parâmetros que seriam utilizados como entrada da

rede, esses foram: contextualização temporal (data), pH e turbidez da água. Por não se ter um

vasto conhecimento sobre o tratamento de água, fez-se necessário a consulta de um

especialista da área, que indicou as variáveis que possuíam relação com o parâmetro a ser

inferido.

A próxima etapa foi a de projeto do sensor, ou seja, definição de seu “paradigma

neural” e todos os outros parâmetros configuráveis na rede neural. Realizaram-se os

treinamentos com duas topologias de redes deferentes, MLP feedforward, e FTLFN com

diferentes atrasos (três e cinco).

Foram utilizadas oito redes para cada tipo citado no parágrafo anterior, essas redes

diferenciavam-se umas das outras pela combinação de camadas ocultas e neurônios por

camada. Uma grande dificuldade encontrada nessa fase foi minimizar o erro médio

quadrático, tanto no treinamento quanto na validação.

Após realizarem-se todos os treinamentos e ajustes da rede pode-se comprovar que

essa alternativa, baseada em redes neurais, para desenvolvimento de sensores virtuais é muito

eficiente e ainda possui muito potencial a ser explorado.

5.2 Contribuições do trabalho

A necessidade de uma medição instantânea, sem abrir mão da confiabilidade e

precisão foi a principal motivação deste trabalho. Além das características citadas acima se

pode destacar o baixo custo de implantação e manutenção como outro grande atrativo para os

sensores virtuais.

Page 60: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

47

A fim de sanar essa necessidade foi proposta uma alternativa. O desenvolvimento de

um sensor virtual baseado em redes neurais artificiais. Sensor capaz de satisfazer os requisitos

citados no parágrafo anterior.

Um dos objetivos era aprofundar o conhecimento sobre redes neurais artificiais, suas

capacidades e possibilidades de utilização para reconhecimento de padrões e modelagem de

sistemas. Outra contribuição importante foi a revisão bibliográfica sobre o estado da arte na

área de sensores virtuais, ressaltando suas diferentes arquiteturas, desde modelos físicos,

modelos empíricos baseados em dados experimentais, até os modelos híbridos, que mesclam

as duas abordagens anteriores.

5.3 Trabalhos futuros

Todas as fases (passos) de projeto do sensor virtual proposto existem vários de pontos

que dão margem ao desenvolvimento de trabalhos futuros. Trabalhos mais avançados e

implementando diversas melhorias.

Começando pela fase de seleção de variáveis. Neste trabalho utilizaram-se médias dos

parâmetros de entrada para treinamento e validação da rede devido a fim de tentar minimizar

os erros de medição. Entretanto, existem técnicas específicas para seleção das variáveis de

entrada como: análise de componentes principais (PCA) e mínimos quadrados parciais (PSL).

Na fase de seleção do modelo, “paradigma neural”, a ser utilizado pode-se utilizar

modelos recorrentes de redes neurais, como a Rede de Elman, a fim de tentar obter melhores

resultados. A rede recorrente de Elman possui a capacidade de armazenar informações

passadas, devido a atrasos entre as conexões e realimentações internas.

Nas fases de treinamento e validação do sensor pode-se implementar técnicas para

correção dos erros. Essas técnicas proporcionam um ajuste fino ao longo do tempo, uma

técnica implementada muito implementada é a de treinamentos sucessivos.

Page 61: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 62: CARLOS ALBERTO ARAÚJO LOPES JÚNIOR.pdf

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50

APÊNDICE A

Trecho do código do sensor virtual, etapa de treinamento, propagação para frente do

sinal de entrada.

xI=[xI(:,1);xI(:,2);xI(:,3)]; % Vetor de entrada yD=Ydesejos((a+1),1); % Saida Desejada X1 = [-1; xI]; % Vetor de entrada da rede Ui = W1 * X1; % Ativacao (net) dos neuronios da camada oculta Y1 = 1./(1+exp(-Ui)); % Saida entre [0,1] (funcao logistica)

X2 = [-1; Y1]; % Vetor de entrada do neuronio de saida Ux = W2 * X2; % Ativacao (net) dos neuronios da camada de saida Y2 = 1./(1+exp(-Ux)); % Saida entre [0,1] X3 = [-1; Y2]; % Vetor de entrada do neuronio de saida Uy = M * X3; % Ativacao (net) dos neuronios da camada de saida Ok = 1./(1+exp(-Uy)); % Saida entre [0,1] Ek = yD - Ok; % erro entre a saida desejada e a saida da rede EQ = EQ + 0.5*sum(Ek.^2); % soma do erro quadratico de todos os

% neuronios p/ VETOR DE ENTRADA erro(int)=EQ;

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Trecho do código do sensor virtual, etapa de treinamento, fase de retropropagação do

erro.

%%% CALCULO DOS GRADIENTES LOCAIS Dk = Ok.*(1 - Ok); % derivada da sigmoide logistica (camada de saida) DDk = Ek.*Dk; % gradiente local (camada de saida) Di2 = Y2.*(1 - Y2); % derivada da sigmoide logistica (camada oculta) DDi2 = Di2.*(M(:,2:end)'*DDk); % gradiente local (camada oculta) Di1 = Y1.*(1 - Y1); % derivada da sigmoide logistica (camada oculta) DDi1 = Di1.*(W2(:,2:end)'*DDi2); % gradiente local (camada oculta) % AJUSTE DOS PESOS - CAMADA DE SAIDA M_aux=M; M = M + eta*DDk*X3'+ mom*(M - M_old); M_old=M_aux; % AJUSTE DOS PESOS - CAMADA OCULTA W2_aux=W2; W2 = W2 + eta*DDi2*X2'+ mom*(W2 - W2_old); W2_old=W2_aux; % AJUSTE DOS PESOS - CAMADA OCULTA W1_aux=W1; W1 = W1 + eta*DDi1*X1'+ mom*(W1 - W1_old); W1_old=W1_aux;