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Caro estudante,

Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do que

preparação técnico-científica e que nossa missão como Universidade é proporcio-

nar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhe-

cimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É

proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo.

Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente

do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar

de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfren-

tar os desafios que se coloquem ao longo de sua vida e de sua trajetória profissio-

nal, e de aprender permanentemente e de forma autônoma.

Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nos-

so Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadê-

micas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desen-

volvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso

Unifacs; como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho.

Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir:

Disciplinas de Formação Humanística: oferecidas em todos os cursos de gradua- �

ção da Unifacs;

Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns �

aos cursos de uma mesma área do conhecimento, para o futuro exercício profissio-

nal;

Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desen- �

volvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso;

Atividades integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos tra- �

balhados em sala de aula, através do desenvolvimento de projetos específicos;

Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conheci- �

mento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias,

programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Junio-

res, entre outras;

Estágio Supervisionado; �

Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas. �

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As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel

fundamental na consecução desse perfil. Preparam uma sólida base de conheci-

mentos gerais que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica

de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para

as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como

cidadão e profissional; motivando à busca do saber perene.

Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcio-

nada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Forma-

ção Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes:

aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.

Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores,

cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo

melhor.

Cordialmente,

Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho

Chanceler

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Formação Humanística uniFacs

Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as dis-

ciplinas de Formação Humanística têm como objetivo:

Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da

sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao

processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para

a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes

aos direitos humanos, à ética, às questões sócio-ambientais

que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políti-

cos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a

formação cidadã.

As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são:

1. Comunicação

Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma

autônoma, adequando-se às diversas situações comunicativas presentes no dia-a-

dia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua

vida pessoal e profissional.

2. Introdução ao Trabalho Científico

Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do

conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solu-

ção de questões cotidianas.

3. Sociedade, Direito e Cidadania.

Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que

garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de for-

ma a interferir positivamente na sociedade.

4. Conjuntura Econômica

Habilitar à compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas

diversas variáveis e características no dia-a-dia de países, empresas e cidadãos.

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5. Arte e Cultura

Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e

culturais e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissio-

nais de qualquer área do conhecimento.

6. Meio Ambiente e Sustentabilidade

Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas

relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estu-

dantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos.

7. Psicologia e Comportamento

Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fa-

zem parte, e avaliar papeis e funções nas relações pessoais e profissionais.

8. Filosofia

Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diver-

sas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.

9. Empreendedorismo

Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para

o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como em-

presário.

10. Saúde e Qualidade de Vida

Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter uma

melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos

pessoais e profissionais.

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comunicação

autora: nilza carolina suzin cercato

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© 2012. universidade salvador – uniFacs – Laureate international universitiesÉ proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.Disciplina: conjuntura Econômica.

Universidade Salvador – UNIFACS

Diretor Presidente

Marcelo Henrik

Chanceler

Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho

Reitora

Marcia Pereira Fernandes de Barros

Pró-reitora de Graduação

Maria de Fátima Silveira Ferreira

Pró-reitor de Pesquisa, Extensão e Inovação

Leonardo Maestri Teixeira

Coordenadora do Eixo de Formação Humanística

Sílvia Rita Magalhães de Olinda

EAD UNIFACS

Coordenador Geral

Péricles Nogueira Magalhães Junior

Coordenadora Pedagógica

Maria Luiza Coutinho Seixas

Coordenadora Acadêmico-Administrativa

Rita de Cássia Beraldo

Coordenadora do Curso

Mônica de Souza Massa

Coordenador de Tecnologia da Informação

Guna Alexander Silva dos Santos

Coordenadora do Laboratório de Mídias

Agnes Oliveira Bezerra

Designers

Jorge Antônio Santos AlvesJosé Archimimo Costa Conceição Daniel Sousa Santos

Apoio do Laboratório de Mídias

Adusterlina Cerqueira Lordello

Coordenadora SPACEAD

Renata Lemos Carvalho

Revisão / estrutura

Séfora Joca Maciel Sonildes de Jesus Sousa

Contato: www.unifacs.br | UNIFACS Atende: 3535-3135 - Demais Localidades: 0800 284 0212

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Sumário

FORMAçãO HUMANíSTICA UNIFACS .............................................................................................................................................3

comunicação ...................................................................................................................................5

AULA 01 - NOçÕES DE TEXTO / ASPECTOS DA COMUNICAçãO ......................................................................................... 11AULA 02 - FATORES DE TEXTUALIDADE ....................................................................................................................................... 23AULA 03 - COESãO E COERÊNCIA / REVISAR CONECTIVOS ................................................................................................... 35AULA 04 - FALA E ESCRITA / VARIAçãO, REGISTRO/ NíVEIS DE FORMALISMO .............................................................. 57AULA 05 - TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ....................................................................................................................................... 73AULA 06 – HIPERTEXTO ..................................................................................................................................................................... 83AULA 07 - LEITURA /OBJETIVOS, ESTRATÉGIAS, CONTEXTOS ............................................................................................... 93AULA 08 - PRODUçãO DE TEXTO / CARACTERíSTICAS DE BONS TEXTOS, ESTILO, AUTORIA .................................115AULA 09 – PRODUçãO DE TEXTO / ARGUMENTAçãO/ ESTILO / AUTORIA ...................................................................121

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A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,

foi inventada para ser calada.

Em momentos de graça, infrequentíssimos,

se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão

Puro susto e terror

Adélia Prado.

APrESENTAÇÃo

Estas aulas foram construídas pensando no aprimoramento do uso do idio-

ma para comunicação. Nelas, você encontrará os fundamentos para desenvolver

suas habilidades, a leitura e a escrita. O aprofundamento depende de seu empenho

pessoal, da dedicação e interesse com que desenvolver as atividades propostas.

Em cada aula, você vai encontrar, como título, o assunto que será desenvol-

vido, em seguida, o objetivo que pretendemos alcançar, depois o conteúdo a ser

desenvolvido, com explicações dos termos técnicos e demonstração do uso desse

conteúdo na comunicação.

Depois da parte teórica há a parte prática, com exercícios pensados com o

objetivo de aplicar as teorias. Na verdade, só podemos ter certeza de que domina-

mos os conteúdos quando os usamos na prática. Através dos exercícios você vai

incorporar os conhecimentos, integrando-os à sua comunicação.

A síntese que é apresentada ao final da prática contém as ideias importan-

tes de cada conteúdo, a ênfase do que precisa ser repensado. Também há uma

frase ou um período para reflexão, que, espero, você desenvolva e analise.Em se-

guida, sugiro uma leitura cuja finalidade é de oferecer um olhar diferente ao que

foi produzido na aula.

Finalmente, desejo bom aproveitamento, e que você saia enriquecido de-

pois de cada atividade realizada.

Nilza Carolina Suzin Cercato

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auLa 01 - noçÕEs DE tEXto / asPEctos Da comunicação

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“O maior presente que você pode dar

a outra pessoa é a pureza da sua atenção.”

Richard Moss

Nesta primeira aula da disciplina Comunicação, vamos trabalhar os conceitos

de texto, discurso, valorizando os aspectos da comunicação.

Quando se conceitua texto, sabe-se que ele é uma unidade de sentido, por-

tanto o significado de uma parte não é autônomo, ele só faz sentido dependente de

outras partes com as quais se relaciona. Texto, como tecido, constrói-se numa relação

de fios que se entretecem.

Para ter o significado global de um texto, é preciso estabelecer uma combina-

ção geradora de sentido, em que cada parte se inter-relacione.

A seguir, vamos analisar algumas definições de texto, de autores que servem de

referência para este estudo.

Segundo Koch e Travaglia,

O texto será entendido como uma unidade linguística concreta, que

é tomada pelos usuários da língua, em uma situação de interação

comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como pre-

enchendo uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, in-

dependentemente da sua extensão. (KOCH; TRAVAGLIA, 1997, p. 9)

Vamos compreender a definição. Em primeiro lugar: ao dizer unidade linguís-

tica, os autores pressupõem que essa construção tenha começo, meio e fim, formando

um todo compreensível. Quando os autores afirmam que o texto envolve uma situ-

ação de interação, trazem o valor da presença de interlocutores, isto é, quem fala e

para quem fala; o termo específica significa, neste contexto, alguém que fala de um

lugar para seu interlocutor que ocupa outro lugar. Lugar, nessa definição, refere-se a

um lugar social. Por exemplo: o pai que fala ocupando o lugar de pai, pode, em outra

situação, falar do lugar de empresário, ou de marido. Nesta situação, deverá haver um

funcionamento da língua, trazendo sentido para os interlocutores.

A língua tem como constituinte a interação verbal, que vem a ser a relação entre

dois indivíduos: o locutor e o interlocutor, que se reconhecem socialmente. Mas, caso

não haja a presença real do interlocutor, pode ser citado o papel social que desempe-

nha. Nota-se que o interlocutor está sempre marcado, pois não há possibilidade de

um enunciado dirigido a um ser abstrato; encaminha-se, portanto, para uma função

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desempenhada, para o papel social desse interlocutor, como diretor, professor, aluno,

gerente, etc.. Veja o exemplo a seguir:

Aquele pai não entende nada

Luís Fernando Veríssimo.

- Um biquíni novo?

- É, pai.

- Você comprou um no ano passado...

- Não serve mais. Eu cresci, pai.

- Como não serve mais? No ano passado você tinha 14 anos, agora tem 15, não cresceu

tanto assim...

- Não serve, pai

- Está bem, está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.

- Maior, não, menor, pai.

Aquele pai, também, não entendia nada.

Fonte: http//chaodeestrelascassilandia.blogspot.com/2011/05 leitura-e-interpretacao-de-text—cornica-html

Você deve ter percebido que, neste breve conto de Luís Fernando Veríssimo,

não aparecem os nomes das personagens, mas são identificadas pelo lugar social que

ocupam: pai e filha.

Fazendo uma paráfrase do que diz M. H. Duarte Marques (1990), podemos dizer

que um texto, para ser definido como tal, deve ter coerência e coesão. Isso significa

que os enunciados devem estar inter-relacionados, encadeados entre si.

Por outro lado, a extensão do texto pode ser variável e a materialidade com que

se apresenta também varia: pode ser uma foto, um vídeo, uma frase, poesia, prosa,

uma conversa informal ou telefônica, também pode apresentar-se como um artigo

científico, notícias, um filme, etc.

Desdobrando o conceito, a autora propõe a presença da coesão e coerência

para que o significado esteja presente entre os interlocutores. Note-se que também

coloca a necessidade de uma unidade de sentido para que realmente estabeleça a

comunicação.

O acréscimo que a autora coloca está na citação de formas de texto. O impor-

tante é que faça sentido na situação de uso, isto é, que funcione, que comunique. Afi-

nal, tudo é texto.

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Um exemplo clássico, muito citado, é o caso de Victor Hugo, escritor do romance

Os Miseráveis. Quando a obra ficou pronta, ele mandou os originais para o seu editor,

com um bilhete, no qual havia apenas: “?”. Depois que o editor leu o romance, escreveu

outro bilhete em que estava: “!!”.

Hoje em dia, mesmo fora da situação de comunicação entre autor e editor, po-

demos compreender: Victor Hugo interroga seu editor: Que tal? Está bom? Ao que o

editor responde significando: Maravilhoso!!. Estupendo!!.

Na contemporaneidade, quando se lê Os Miseráveis, surgem as mesmas excla-

mações, no caso, agora pelo leitor.

Segundo Fiorin e Savioli (2006, p. 18), “Um todo organizado de sentido, deli-

mitado por dois brancos e produzido por um sujeito num dado espaço e num dado

tempo.”

Os autores trazem um acréscimo na definição de texto: a presença de um sujei-

to. Aqui não se está falando do sujeito gramatical (aquele que pratica ou sofre a ação

do verbo), mas sim de um indivíduo que ocupa um determinado lugar e fala desse

lugar, num espaço (lugar) não geográfico, mas numa situação social, e num tempo,

pois é importante verificar “o quando” para o texto ter sentido.

Esse lugar no discurso é governado por regras anônimas que definem o que

pode e deve ser dito. Somente nesse lugar constituinte, o texto (discurso) vai ter um

dado efeito de sentido. Se for falado em outra situação que remeta a outras condições

de produção, seu sentido, consequentemente, será outro. Na medida em que retira-

mos de um discurso fragmentos e inserimos em outro discurso, fazemos uma trans-

posição de suas condições de produção. Mudadas as condições, a significação desses

fragmentos ganha nova configuração semântica (BRANDãO, 1993).

Discurso

Depois de termos trabalhado com a definição de texto, vai ser muito interessan-

te ver o que é o discurso.

Segundo Brandão (1998), discurso é o espaço em que emergem as significações

e a língua é a materialidade na qual o discurso aparece. Dessa forma, acontece o uso

de uma mesma língua, falando sobre o mesmo referente, mas não o mesmo discurso.

Para Eni Orlandi (2001, p.64), “discurso é o efeito de sentido entre locutores”, ten-

do na língua sua possibilidade de existência. Ao surgir, o discurso mobiliza condições

determinadas, pistas que devem ser interpretadas ou descobertas pelo alocutário.

Vemos que as duas autoras concordam na definição de discurso. O que precisa

para que um texto seja um discurso? Segundo elas, o discurso é o funcionamento, o

efeito de sentido construído por dois “personagens”: o locutor, aquele que fala, e o

interlocutor, aquele para quem se fala. Agora, para o discurso funcionar, ele depende

da língua, que é a materialidade, o que permite o surgimento do sentido.

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A unidade do texto é verificada pelo sentido, pois um discurso nunca está só,

depende de um “já-dito”, que, na Análise de Discurso, se chama de interdiscurso. Inter-

discurso vem a ser tudo o que o sujeito sabe ou conhece e usa no momento da cons-

trução de seu discurso. A imagem que podemos relacionar com o texto é de uma rede,

em que os vazios são preenchidos por conhecimentos anteriores que formam uma

memória. Com a imagem da rede, podemos compreender melhor o sentido de incom-

pletude que caracteriza o discurso, pois sempre haverá falta, falha e o ainda a dizer.

Devido ao interdiscurso, fica evidente o quanto a incompletude faz parte do

discurso, pois nada está acabado para sempre, sempre há o que acrescentar. A incom-

pletude é constitutiva de qualquer signo - qualquer ato de nomeação é um ato falho,

um mero efeito discursivo. Quando falamos em incompletude, estamos dizendo que

um mesmo discurso pode voltar com novas materialidades, com novas palavras, com

novas experiências.

O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretendia. “A multiplicidade

de sentido é inerente à linguagem” (ORLANDI, 1988, p. 20).

Veja um caso que aconteceu em sala de aula. O título de uma reportagem de

jornal foi oferecido a um grupo, para que cada um dissesse qual seria o teor do texto

Sementes do Suicídio. E Você, o que entende por Sementes de suicídio?

Os sentidos oferecidos pelo grupo foram: descoberta de uma semente que

mata; uma pessoa, sentindo-se ofendida, suicidou-se, a ofensa foi a semente que ge-

rou o suicídio; a violência sofrida por alguém gera sementes de ódio e pode levar ao

suicídio. Sua compreensão foi semelhante?

Veja o que aconteceu. Na verdade, o texto falava sobre uma pesquisa feita pela

indústria da Monsanto, para deixar inférteis as sementes de frutas. Essas frutas foram

obtidas através de várias experiências, resultando perfeitas quanto ao tamanho, ao

sabor, à cor, à textura. Quem desejasse plantar essas sementes não conseguiria repro-

dução. Essa foi a forma encontrada pela empresa para proteger sua pesquisa.

Aí está a multiplicidade de sentido. Os alunos criaram hipóteses de leitura. Em

seguida, refizeram o seu caminho e atribuíram outro sentido, mais outro, construindo

uma rede. A falha, o furo, no caso do exemplo anterior, está no fato de os alunos em-

pregarem a palavra “semente” em sentido figurado, quando, na verdade, ela estava

sendo empregada no sentido literal.

Quando se fala em interdiscurso, faz-se referência ao que fala antes, em outro

lugar, o que foi importante para cada leitor trazer o conhecimento que possui em rela-

ção às palavras “semente” e “suicídio”, para levantar hipóteses de desenvolvimento da

reportagem. Esse conhecimento forma o conhecimento de mundo ou conhecimento

enciclopédico que cada indivíduo acumula ao longo de sua experiência linguística.

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asPEctos Da comunicação

Deve ter ficado claro para você o significado de texto e de discurso. Agora, va-

mos ver como os interlocutores funcionam num dos esquemas de comunicação. O

mais conhecido e funcional foi traçado por Jakobson (1969). Vejamos:

Locutor e alocutário

Esses dois primeiros elementos constituem-se em sujeitos, determinados por

condições sociais, historicamente delineáveis e portadores das significações ideoló-

gicas de tais condições. O que quer dizer isso? Locutor e alocutário vão ocupar um

determinado lugar social, (como já vimos anteriormente) e esse lugar é determinado

por condições sociais conhecidas, marcadas pela história e se colocando em seu lugar

na luta de classes.

Para melhor conhecer os elementos da comunicação, devem-se colocar em evi-

dência os protagonistas do discurso – quem fala? para quem fala? As respostas a essas

questões vão determinar outros dois novos elementos da comunicação:

Código lingüístico (que é a materialidade, o idioma)

Locutor (quem fala) Discurso(o que é falado) Alocutário (para quem se fala

Para que o discurso atinja sua finalidade de comunicação, é fundamental que o

código linguístico seja comum ao locutor e ao alocutário. Veja o que aconteceu entre

um turista francês e uma baiana de acarajé pelo fato de não usarem o mesmo código

linguístico (a mesma língua).

Um diálogo entre um turista francês e uma baiana de acarajé, em Amaralina:

Turista: Qu’est que ça? (Traduzindo: o que é isso?)

Baiana: Tem que cessá, sim.

T. : Comment? (Como?)

B. : Com a mão também, sim.

T. Je ne comprend pas. (Eu não compreendo)

B. Se não vai comprar, passe a frente, porque a fila tá grande.

(N.C.)

Fonte: A autora

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O caso anterior evidencia o fato de que códigos linguísticos diferentes geram

uma situação de não-comunicação.

O código linguístico e o tipo de discurso são condicionados aos papéis que lo-

cutor e alocutário desempenham – o discurso é resultante das relações dos papéis

sociais.

Agora, podemos acrescentar novos elementos:

LOCUTOR Contexto (Referente) ALOCUTÁRIO

Remetente Mensagem (Discurso) Destinatário

Contato (Forma como se dá a comunicação)

Código (Linguístico)

Fonte: Jakobson (1969, p.123)

Podemos compreender, então, que, para haver comunicação, segundo Jako-

bson, há um locutor (aquele que fala), um alocutário (aquele para quem se fala), um

contexto (que aqui significa as condições de produção), a mensagem (que é o discur-

so), o contato (via em que o discurso acontece) e, finalmente, o código linguístico (o

idioma que é falado).

É interessante que, a partir do momento em que você conhece os elementos de

comunicação, passe a analisar suas falas e as falas do outro dirigidas para você. Se per-

gunte, às vezes, de que lugar essa pessoa está falando comigo? De que lugar eu vou

responder à questão proposta? Vai ser uma experiência muito produtiva em matéria

de comunicação.

FunçÕEs Da LinGuaGEm cEntraDas nos ELEmEntos DE comunicação

Pela nossa experiência pessoal, sabemos que qualquer produção, seja oral ou

escrita, tem um fim, um objetivo, pois a forma com que construímos nossa comunica-

ção pode trazer efeitos diversos. Então, é preciso considerar os seguintes elementos:

emotivos (ver qual a emoção envolvida no momento da comunicação); informativos

(buscar compreender as informações que estão sendo passadas) e performativos da

linguagem (que tipo de performance está funcionando).

Continuando com nossa referência, para melhor entender as funções, Jakobson

(1969, p 118-129) traça os fatores constitutivos de todo processo linguístico, de todo

ato de comunicação verbal, relacionando os elementos de comunicação com as fun-

ções da linguagem, como se pode ver a seguir:

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Contexto (função referencial)

LOCUTOR (função emotiva) Mensagem (função poética) ALOCUTÁRIO(função conativa)

Contato (função fática)

Código (função metalingüística)

Fonte: Jakobson (1969, p. 129)

Cada um desses fatores vai determinar uma diferente função da linguagem.

A função EMOTIVA está centrada no locutor, é a expressão direta da atitude

de quem fala em relação àquilo de que se está falando. Essa função emotiva deve ser

usada quando a subjetividade surge aos olhos de todos. No discurso escrito, o estrato

puramente emotivo da linguagem é apresentado pelas interjeições, exclamações; no

discurso oral, pela expressão fisionômica, tom de voz, pausas... Essas marcas de atitude

pessoal do emitente, isto é, daquele que fala. Elas dão um colorido às manifestações

verbais no nível fônico ou gramatical. Por exemplo, conforme se pontua ou pronuncia

uma expressão, o sentido pode mudar. Leia, em voz alta, o texto a seguir, observando

a pontuação:

Isso é comigo? Isso! É comigo. Isso? É comigo? Isso é comigo! Isso é. Comigo. Isso é comigo...

Ou então:

Booooa noite! Boa noite. Boa noite? Boa noooite!

Existe uma história de um ator cuja peça teatral consistia em dizer de 48 formas

diferentes a expressão “boa noite”. Tente você também. Não digo as 48, mas umas três.

Veja como a função emotiva colabora para a expressão comunicativa.

Se a comunicação estiver orientada para o destinatário, há a função CONATIVA.

Ela aparece, em sua forma mais específica, no uso do vocativo e do imperativo. Nessa

função, há o desejo de impulsionar o alocutário ou destinatário da mensagem para

um determinado comportamento. Por isso, o uso do imperativo exerce uma voz de

comando forte. Por outro lado, esse tipo de frase não pode ser submetido ao julga-

mento de verdadeiro ou falso. Já as frases declarativas podem ser submetidas à prova

da verdade. Outra diferença é que as frases declarativas podem ser transformadas em

interrogativas, o que não acontece com a função conativa. A palavra conativa vem do

latim conatus, que quer dizer “ação de coagir”.

Esse tipo de função é muito usado nas propagandas. Basta lembrar aquela que

dizia: “Compre baton” repetidamente – mensagem que era transmitida por uma voz

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autoritária, persuasiva – às vezes, manipulatória.

Se a mensagem estiver orientada para o contexto, teremos a função REFEREN-

CIAL – denotativa ou cognitiva. Embora ela apareça em muitas mensagens, deve-se

considerar a participação adicional de outras funções. O uso é variado: reportagens,

certo tipo de correspondência, textos de caráter científico, etc. É uma das funções mais

presentes na vida cotidiana.

Quando dizemos função referencial, estamos falando do referente, que é o ob-

jeto ou a situação de que a mensagem trata. A objetividade torna-se uma marca dessa

função. No entanto, um texto impessoal e objetivo traduz um comportamento linguís-

tico de quem o produziu. Por isso, é preciso desconfiar de sua aparente neutralidade.

Por quê? Porque, quando falamos, escolhemos determinadas palavras que acabam

traindo nossa imparcialidade. Se estivermos diante de uma manchete “impessoal” que

diz: CIDADE ABANDONADA: AUTORIDADES INCOMPETENTES. Há imparcialidade? Não,

embora seja uma manchete bem objetiva. Agora, compare com essa outra manchete:

CIDADE CUIDADA: OBRAS EM TODOS OS BAIRROS. Há imparcialidade? Não. Por quê?

Há uma intenção de valorizar o que é feito. Se a objetividade é resultado de uma ati-

tude premeditada, pode acontecer uma manipulação a fim de alcançar determinado

objetivo. Nos dois casos, é possível verificar formas de manipulação.

Outra função da linguagem pende para o contato - suporte físico por meio do

qual a mensagem caminha do remetente para o destinatário. Trata-se da função FÁ-

TICA. Essa função se evidencia pela troca de fórmulas ritualizadas – presentes nos

diálogos -, cujo objetivo é prolongar a comunicação. Como exemplos, podemos citar:

“Alô, está ouvindo?”, “Pois é!”. Essa função ocorre também nas situações em que de-

sejamos preencher o silêncio, então, falamos do tempo, de filmes, etc. É importante

levar em consideração se a comunicação se faz por telefone, por carta, num diálogo

convencional...

Continuando, vamos encontrar a função da linguagem centrada no código: a

metalinguagem – função METALINGUíSTICA. O texto volta-se para o código – expli-

car a linguagem, caracterizar a poesia, explicar os usos da linguagem. Metalinguagem

significa a linguagem falar da própria linguagem. Por exemplo, Carlos Drummond de

Andrade, em uma poesia intitulada O lutador, fala da luta do poeta com as palavras.

Vejamos os primeiros versos:

Lutar com palavras / é a luta mais vã / entanto lutamos/ mal rompe a manhã.

Em todo o texto, o poeta mostra como existe um embate no momento de usar

as palavras.

A função centrada na mensagem recebe o nome de função POÉTICA. Quando

dizemos poética, a tendência é achar que essa função só se aplica à poesia. Não. Ela

deve ser estudada no âmbito dos problemas gerais da linguagem, não pode ser redu-

zida apenas à poesia. O exemplo de Jakobson é o seguinte: “Por que você sempre diz

Joana e Margarida e nunca Margarida e Joana? Será porque prefere Joana à sua irmã

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gêmea? De modo nenhum; só porque assim soa melhor.” (JAKOBSON, 1969, p.128).

Esta é uma questão de sonoridade que marca um idioma. A função poética está na

busca do melhor som para enunciar a mensagem.

Então, o estudo da função poética deve abranger toda poesia e ultrapassar esse

limite. Não se pode restringir o estudo da poesia à função poética. Por exemplo, a

poesia épica põe em destaque a função referencial da linguagem; a lírica, orientada

para a 1ª pessoa, destaca a função emotiva; a poesia súplice, ou exortativa, destaca a

segunda pessoa, vem imbuída da função conativa.

A elaboração do texto com função poética parte de um trabalho de seleção e

arrumação das palavras, da exploração de seus significados, que cria efeitos sonoros,

rítmicos no texto, muitas vezes, causando surpresa – o estranhamento dos surrealistas

franceses e formalistas russos.

Quando estudamos as funções da linguagem, devemos ter em mente que é

muito difícil um texto ser de um tipo de função só. Haverá uma função dominante, mas

podem aparecer outras em segundo plano.

FormaçÕEs imaGinÁrias - sEu EFEito na comunicação

Um aspecto importante a ser considerado na comunicação interpessoal diz res-

peito às formações imaginárias. Entendemos por formações imaginárias como vemos

o lugar social do locutor. Quando emitimos uma mensagem, uma informação é passa-

da de emissor A para receptor B, que ocupam determinado lugar social, comunicam-

se de lugares sociais, a partir dos quais os sentidos se constroem. Os interlocutores se

representam, pois, a partir das chamadas Formações Imaginárias.

Para Pêcheux ([1969] 1997), num discurso, A (locutor) e B (alocutário) se repre-

sentam, produzindo um jogo de efeitos de sentido que, a partir do lugar social dos

interlocutores, das relações de poder e força, criam um imaginário.

Quando falamos imaginário, estamos nos referindo à “imagem” que os interlo-

cutores fazem de si e do outro. Então, uma imagem é construída simbolicamente e, a

partir dela, os sentidos se efetivam. Essa imagem varia de acordo com o papel social

desempenhado no momento da mensagem, sendo o lugar evidenciado pelo discur-

so.

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De acordo com Pêcheux (1969), podemos estabelecer o seguinte quadro:

Quadro 1 - Funcionamento das Formações Imaginárias

Fonte: Gadet. e Hak (1990, p. 83)

Por exemplo, o professor diz ao diretor: ‘Vamos trabalhar com o material do la-

boratório.” O diretor fala: “Hoje é impossível. Você deveria ter reservado o espaço on-

tem.”

Considerando a fala do diretor como a posição A e a do professor como a posi-

ção B, temos:

Imagem de A em relação à posição de A deriva nesta pergunta: quem sou eu para falar �

ao professor assim? Eu falo de um lugar social de responsável pela organização do uso

do laboratório.

Imagem de B para o sujeito situado em A: quem é ele para eu lhe falar assim? Ele fala �

do lugar social de componente de uma equipe que deseja usar o laboratório.

Imagem de B para o sujeito colocado em B: quem sou eu para que ele me fale assim? �

Falo do lugar social de professor que deseja usar o laboratório e que deveria ter reser-

vado o espaço.

Imagem de A para o sujeito situado em B: quem é ele para que me fale assim? Ele falou �

do lugar social do responsável pela organização do uso do laboratório.

Em outra situação de fala, os lugares sociais podem mudar completamente e

nova análise das formações imaginárias é construída.

Seria o caso de o diretor chegar em casa, por exemplo, e sua mulher lhe dizer:

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por que você não reservou lugar no restaurante? Agora, vamos ficar sem sair. Nesse

caso, a mulher estaria no lugar de A, que, no discurso anterior, era ocupado pelo dire-

tor.

Essa mobilidade de papéis sociais, de lugares sociais, dinamiza as formações

imaginárias a partir das quais os efeitos de sentido são construídos e ativados.

Encerramos aqui o estudo de discurso e texto, digo, encerramos enquanto es-

paço de tempo, porque o que vimos nesta aula deve acompanhar seus estudos e suas

comunicações ao longo de sua vida. Por exemplo, numa situação de comunicação,

reflita de que lugar a pessoa está falando ou escrevendo. Essa atitude pode trazer sen-

tidos inesperados ou diferentes da primeira interpretação.

SíNTESE

Nesta aula, trabalhamos com os aspectos de discurso, texto, textualidade, bem

como os diversos enfoques feitos por autores da área. É importante ver como, em cada

aspecto, encontramos complementos para orientar o que se entende por comunicar-

se, por usar o discurso como instrumento de convencimento.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Reflita à luz das definições e teorias que estudamos sobre frase de Bakhtin: “A

linguagem é essencialmente ideológica”. ([1939] 2001, p.96)

LEiTurA iNdicAdA

Para complementar seu estudo, leia o capítulo “O que é um texto”, do livro O texto e a

construção de sentido, de Ingedore Koch, da Editora Contexto, 2000.

SiTE iNdicAdo

www.uff.br/mestcii/ines1.ht

rEFErêNciAS

BAKHTIN, M.; VOLOCHINOV (1939). Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 2001.

BRANDãO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. 7. ed. Campinas, SP: Unicamp, 1998.

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FERREIRA, Maria Cristina Duarte. As práticas religiosas sob a mirada do discurso. Debates do NER (UFRGS),

Porto Alegre, v.6, 2005.

FIORIN, Luís; SAVIOLI, Platão. Lições do texto: Leitura e Redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.

JAKOBSON, Roman. Linguistica e comunicação. São Paulo: Cultrix, 2001.

KOCH, Ingedore G. Villaça; TAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1997.

KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a construção de sentidos. São Paulo: Contexto, 2000.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

LYONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1987

MARQUES, M. H. Duarte. Iniciação à Semântica. Rio de Janeiro: Zahar, 1990.

ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1988.

ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. Campinas: Cortez/Editora Unicamp,

2001.

ORLANDI, Eni P. Discurso e texto: formação e circulação de sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2001.

PÊCHEUX, M. Análise Automática do Discurso (1969). In: GADET F.; HAK, T. (Orgs.) Por uma Análise

Automática do Discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Trad. de Eni P. Orlandi. Campinas:

Unicamp, 1990.

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auLa 02 - FatorEs DE tEXtuaLiDaDE

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“As palavras têm o poder de destruir e de curar.

Quando são ao mesmo tempo sinceras e gentis,

elas podem mudar nosso mundo”

Zuangzi

Na aula anterior, estudamos as noções de texto e os aspectos da comunicação.

Esta aula tem o objetivo de que você consiga identificar, nos textos, os fatores de tex-

tualidade, bem como usar esses mesmos fatores em suas produções escritas.

Como está dito na aula 1, um texto/discurso é uma unidade, uma interação

entre interlocutores, interpelados como sujeitos a partir de um lugar social. Vimos,

também, que as materialidades podem ser as mais variadas: desde uma palavra, como

“Uai!!”, até um capítulo de romance. Mas, para que seja realmente uma unidade de

comunicação, há fatores que caracterizam a textualidade.

FatorEs DE tEXtuaLiDaDE

Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores de textualidade:

Coesão; �

Coerência; �

Intencionalidade; �

Aceitabilidade; �

Situacionalidade; �

Informatividade; �

Intertextualidade. �

Os fatores internos ao texto, intrínsecos, devem estar claros e presentes. São

eles: coesão, coerência e intertextualidade. Os demais fatores, enunciados por Beau-

grande e Dressler, estão na periferia do texto, até no contexto. A seguir, vamos tratar

sobre cada um deles.

coErÊncia

A coerência é responsável pela unidade semântica, pelo sentido do texto, en-

volvendo não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos. Esse fator

não está no texto, mas se constrói a partir do texto, envolvendo autor e leitor. Com

sua experiência de vida, o autor cria uma determinada situação, com uma finalidade.

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O leitor, também usando seus conhecimentos e experiências, vai produzir uma leitura

em que o sentido se faz presente.

Vejamos um exemplo em que o sentido do texto fica incoerente, fica truncado:

“No sertão as casas ficaram alagadas devido ao mau tempo, embora não tenha chovido e

a seca fosse intensa”. Ora, existem dois motivos para as casas alagarem: vazamento de

água e chuva. Ativando nossas experiências e conhecimento de mundo, verificamos

que, em região de seca, no sertão, pela forma como as pessoas valorizam a água, não

haveria possibilidade de vazamento; por outro lado, não chovera. Temos uma incoe-

rência cognitiva na qual o sentido está ausente.

coesão

A coesão garante a unidade do texto através do uso adequado dos conheci-

mentos gramaticais e lexicais. Enquanto a coerência está diluída no texto, a coesão

aparece claramente no texto. Por isso, afirma-se que, através da construção, se percebe

a coesão, que pode ser entendida como a “liga” do texto.

Observe que, no exemplo “Estava dormindo porque o sol nasceu”, o texto fica

incoerente devido ao uso indevido da conjunção “porque”, que dá ideia de causa. O

correto seria usar um operador argumentativo de tempo. A frase ficaria: “Estava dor-

mindo quando o sol nasceu”.

Enquanto a “coerência” é subjacente ao texto, a coesão é revelada através das

marcas linguísticas, dos índices formais na estrutura da sequência linguística e super-

ficial do texto que lhe dá um “fio condutor”.

Coesão é a ligação, a relação de nexos que se estabelecem entre os elementos

que constituem uma superfície textual.

intencionalidade

Essa característica se refere à competência do autor em elaborar um texto coe-

rente e coeso, com a finalidade de atingir o objetivo que pretende ou deseja explicitar.

Por exemplo, se quero viajar e viajo, normalmente o meu desejo causará o evento que

representa, o ato de viajar com todos os outros necessários para realizar a viagem. Há,

portanto, conexão interna entre a causa e o efeito, por que se tenho um desejo (via-

gem), que é a causa, vai originar um efeito, que é eu viajar.

aceitabilidade

Para que o texto seja aceito, deve apresentar coesão e coerência, além de ser

útil e ter relevância. Precisa, também, ter verdade, mesmo sendo ficção, mesmo que

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seja um simulacro do real; ter autenticidade e quantidade: um número tal de informa-

ções que permitam ao leitor tomar posse do texto, sem que haja vazios e lacunas que

tornem o texto sem sentido. A cooperação do leitor faz-se presente desde que o autor

corresponda a uma necessidade do leitor.

Analisando a frase “Aquele rapaz disse isso”, podemos afirmar que essa frase

solta não pode atender às necessidades do leitor. Que rapaz? Disse o quê?

Note a diferença:

Paulo Lima Duarte, autor conceituado (aquele rapaz), disse que todos nós precisamos rever

o que escrevemos a fim de estarmos certos de ter feito o melhor (disse isso).

situacionalidade

O texto deve estar adequado a um contexto, situado em relação aos fatos em

volta dele, deve ter compatibilidade com a situação, ser coerente com o contexto em

que aparece. Vejamos o texto a seguir:

A jovem motorista de 25 anos estacionou seu carro em vaga de idoso no shopping. Uma

senhora idosa, que estava para estacionar naquele espaço, esperou a jovem sair do carro e

disse:

- Poderia me dar o telefone de seu dermatologista ou de seu cirurgião plástico?

Sem entender direito, a jovem perguntou:

- Por quê? Como?

A senhora respondeu:

- Ora, porque você está muito bem conservada.

Compreendemos esse diálogo devido à situacionalidade. Vaga de idoso é re-

servada para pessoas acima de 60 anos. É claro que a jovem de 25 terá a aparência

correspondente a essa idade, daí a ironia da senhora ao querer saber quais médicos

teriam efetuado aquela maravilha: uma idosa com aparência de 25 anos.

informatividade

Refere-se às informações que são colocadas no texto. É um aspecto delicado,

pois informações demais deixam o texto sem criatividade e até infantilizado; por outro

lado, se faltar de informações, o texto não atinge o objetivo de comunicabilidade. Um

texto criativo pode ter menor informatividade, ser menos previsível, no entanto, ser

interessante, envolvente, desde que venha ligado a dados conhecidos.

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Vejamos o exemplo desse texto jornalístico:

No México, os comerciais dirigidos a crianças precisam trazer alguma mensagem educativa.

Os anunciantes podem mostrar as crianças se entupindo de sucrilhos ou de chocolate,

desde que no pé da tela corra um letreiro com os dizeres ‘Coma legumes e verduras’ ou

‘Escove os dentes três vezes ao dia’

Fonte: http://www.escritoresalagoanos.com.br/texto/2140

intertextualidade

Vem a ser a relação de um texto com outros textos. Para identificar a intertex-

tualidade, é importante uma história de leituras, uma vez que um texto se constrói

em cima de um “já-dito”. A intertextualidade acontece da seguinte forma: existe um

texto primeiro e sobre ele se constrói um outro, com passagens, versos ou frases que

permitem ao leitor identificá-lo como relacionado com o primeiro. O segundo texto

fica, digamos, “contaminado” pelas ideias ou pela construção daquele sobre o qual se

constrói. E esse processo é contínuo, pois há sempre um “a-dizer” marca da incom-

pletude da linguagem. Portanto, intertextualidade é o processo de produzir um texto

construído como absorção ou transformação de outros textos, e um discurso se ela-

bora em “vista” do outro.

Estamos entrando no campo do dialogismo de Bakhtin – “em que o outro” per-

passa, atravessa, condiciona o discurso do “eu”. Por exemplo, a primeira experiência

de linguagem a criança aprende da mãe e dos familiares que a cercam. À medida que

cresce, ela vai elaborar sua própria linguagem – até esquecendo a origem primeira. O

seu discurso será então uma elaboração sobre as outras vozes, outros discursos. Por

exemplo: o discurso citado será colocado entre aspas e em nota, indica-se o autor e de

onde ele foi retirado – mas essa citação deve ser tecida no texto.

O conceito de intertextualidade diz respeito ao processo de construção, repro-

dução ou transformação do sentido – um novo texto que tem como suporte um outro.

Veja um exemplo:

Pero Vaz de Caminha, na carta ao rei de Portugal, diz: “As águas são muitas e infindas. E em

tal maneira é graciosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que

tem” (CASTRO, 1996, p. 97.).

No início dos anos 80, houve um movimento iniciado no sul do Brasil, que pre-

tendia separar o chamado “sul maravilha” do Nordeste. Um dos argumentos usados foi

o seguinte:

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O Nordeste atrasa o sul, os nordestinos são preguiçosos e usam a seca como desculpa.

Caminha mesmo escreveu para o rei: “A terra é tão maravilhosa que nela se plantando tudo

dá”. (Transcrito de uma entrevista na TV)

O entrevistado transformou e manipulou o que Caminha escreveu realizando

um apagamento significativo. Na carta, Caminha fala das águas, e o entrevistado deu

ênfase para terra.

Às vezes, produz-se um apagamento intencional do já-dito, pois a intenção é

dizer algo novo. No exemplo, há uma voz institucionalizada – Caminha – que é usada

como argumento de autoridade.

Para a compreensão global de um texto, muitas vezes, é preciso entender as

alusões e referências que ele faz a outros textos. No exemplo citado, se o ouvinte da

entrevista não tem conhecimento do texto primeiro, a Carta ao rei, por ocasião da

descoberta do Brasil, poderá inocentemente ou ingenuamente concordar com o en-

trevistado.

Tendo Foucault como fonte teórica, Courtine (1981 apud BRANDãO, s.d., p.78)

distingue comportamentos linguísticos que constroem a intertextualidade:

1) O domínio da memória � – É o texto preexistente – que a memória discursiva separa

e elege numa determinada contingência histórica. É o texto que subjaz ao texto novo

– ausente na escritura, mas presente na memória pelas semelhanças ou rompimentos

que o novo texto traz.

Constitui o domínio da memória uma voz sem nome, fruto de todo conhecimento �

dominado por um leitor. Como tal é irrepresentável, pois vem a ser tudo o que sabemos,

e aqui não está significando memória como antônimo de esquecimento, mas todo o

saber de um indivíduo.

2) Um domínio da atualidade � – Trata-se de sequências discursivas do passado reatu-

alizadas. É um campo de presença. É o texto atual fundado sobre o outro. É um texto que

sobre outro que surge da semelhança ou da ruptura.

3) Um domínio de antecipação � – Segundo Courtine, revela o caráter aberto da re-

lação discursiva. São as possibilidades que um texto oferece de ser repetido, refeito em

outra circunstância, trazendo novos sentidos. “Se há um “sempre-já” do discurso, pode-

se acrescentar que haverá um “sempre-ainda”. É impossível atribuir um fim a um proces-

so discursivo. Há sempre novas possibilidades, novas intertextualidades.

Vamos exemplificar os três itens anteriores com uma parte da letra da música

Monte Castelo, de Renato Russo.

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Ainda que eu falasse a língua dos homens

E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.

Para compor esse texto, Renato Russo se valeu do domínio da memória, pois o

trecho em questão faz parte da carta de São Paulo aos Coríntios, 13, 1 e 2: “Se eu falasse

a língua dos homens e falasse a língua dos anjos e não tivesse amor, [...] eu nada seria”.

Essa carta foi escrita entre os anos 50 e 51 d.C. Esse é o domínio da memória.

O domínio da atualidade se faz presente no momento em que Renato Russo

compôs essa letra e acrescentou uma parte da carta de Paulo e outra do soneto de

Camões, que também é do domínio da memória. O modo como reuniu suas ideias às

de Paulo aos Coríntios e ao soneto de Camões traz para o domínio da atualidade um

texto do passado.

Quanto ao domínio da antecipação, qualquer autor pode fazer uso dos dizeres

da Carta de São Paulo e trazer para o domínio da atualidade, do seu modo, com seus

critérios. É um texto sempre disponível para novas interpretações, novas construções

a partir dele. Esse é o sempre-ainda.

A percepção das relações intertextuais, da referência de um texto a outro, de-

pende do repertório do leitor. Daí a importância da leitura, para ter a compreensão do

texto e ao mesmo tempo para o despertar da criticidade – da leitura crítica e conscien-

te. Por exemplo, uma pessoa pode muito bem cantar toda a música Monte Castelo sem

jamais saber que parte dela vem dos anos 50/51 d.C., o mesmo acontecendo com o

soneto de Camões que faz parte da música.

Ao ler o texto, é preciso levar em conta os seguintes aspectos:

Dialogismo � - É a presença do eu e do outro. No caso da música Monte Castelo, estão

presentes eu-leitor e o outro-compositor. Há um leitor inscrito no texto do autor, alguém

em quem ele pensa no momento da composição.

b) � Polifonia - Refere-se às várias vozes do texto. No texto Monte Castelo, nós temos

claramente as vozes de Paulo, de Camões, de Renato Russo.

c) � Intertextualidade - Diz respeito a vários textos que se entrecruzam no tempo e

no espaço. Está visível a intertextualidade no texto, observam-se textos que se entrete-

cem.

As formas de intertextualidade em evidência são: citação, paráfrase, paródia.

A citação consiste em apresentar um discurso de outro no próprio discurso.

Acontece quando escrevemos um trabalho ou uma pesquisa e para referendar o que

pretendemos provar citamos outro autor. Essa citação vem marcada por aspas, nome

do autor e do livro em que ela aparece. Outra forma de citação é a de ditados popula-

res ou frases do senso comum presentes na cultura de um país.

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A paráfrase consiste em reafirmar, com palavras diferentes, o mesmo sentido

de outro texto. A paráfrase consiste no “mesmo” dito de outra forma. Trata-se do já-

dito, o estável, o retorno constante ao mesmo. Há um texto que é a matriz do sentido

– e essa matriz é repetida com o mesmo sentido, mas com outras palavras – há um des-

locamento sem que haja traição ao seu significado primeiro. Por exemplo, Caetano, na

letra da música Sampa, diz: “Narciso acha feio o que não é espelho”. Nesse caso, temos

uma paráfrase da mitologia grega.

A paródia estabelece uma ruptura com o texto primeiro. O distanciamento é

absoluto. A linguagem torna-se dupla sendo impossível a fusão de vozes: é uma es-

crita transgressora, que engole e transforma o texto primitivo, articula-se sobre ele,

reestrutura-o, mas, ao mesmo tempo, o nega – estabelecendo a intertextualidade e

possibilitando a dupla leitura. A paródia não se reduz a uma mera repetição do texto

primitivo, mas soa como um eco deformado e as palavras do outro se revestem de algo

novo e se tornam bivocais. Leia os textos a seguir para ver como ocorre a paródia.

Texto Primeiro

No Meio do Caminho

Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei desse acontecimento

que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no

meio do caminho

no meio do caminho

tinha uma pedra

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Parafraseando Drummond – Intertextualidade

No meio do caminho

Nilza Cercato

No meio do caminho tinha aqueles olhos

tinha aqueles olhos no meio do caminho

tinha aqueles olhos

no meio do caminho tinha aqueles olhos.

Nunca esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

que no meio do caminho

tinha aqueles olhos.

Tinha aqueles olhos no meio do caminho

No meio do caminho tinha aqueles olhos.

Ah! Que olhos!!! Seguem-me até hoje.

Depois de ter visto como acontecem as formas de textualidade, podemos con-

cluir que:

uma estrutura nunca está constituída completa e perfeitamente, uma vez só e �

para sempre, antes da leitura que a tira do limbo e a repõe em movimento, no ato

interpretativo que cada leitura engaja – “mas se elabora em relação a uma outra

estrutura”(MAINGUENEAU, 1989, p. 39) -, o que quer dizer que podemos ter um texto

voltando, com significados diferentes, desde que o autor ponha em funcionamento a

linguagem e as condições de produção;

quando dizemos “todo texto é absorção e transformação de outro texto” (MAINGUE- �

NEAU, 1989, p.39), trazemos a questão da citação, com a qual um texto não resulta nem

direta nem exclusivamente de uma língua natural, mas de outros textos, seus prede-

cessores.

Proponho a você que leia a letra da música Bom Conselho, de Chico Buarque, e

procure relacionar com os ditados populares que seguem o texto. Veja como o autor

trabalha a intertextualidade. Divirta-se.

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Bom Conselho

Ouça um bom conselho

que eu lhe dou de graça

Inútil dormir que a dor não passa

Espere sentado

Ou você se cansa

Está provado,

quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo

Deixe esse regaço

brinque com meu fogo

tenha se queimar

Faça como eu digo

Faça como eu faço

Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo

Vim de não sei onde

Devagar é que não se vai longe

Eu semeio vento na minha cidade

Vou pra rua e bebo a tempestade

(Chico Buarque, 1972)

Fonte: http://www.thefreelibrary.com/revisitando o conceito de proverbio.-a0200117510

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Provérbios populares

“Uma boa noite de sono combate os males”

“Quem espera sempre alcança”

“Faça o que eu digo, não faça o que eu faço”

“Pense, antes de agir”

“Devagar se vai longe”

“Quem semeia vento, colhe tempestade

Fonte: http://www.thefreelibrary.com/revisitando o conceito de proverbio.-a0200117510

Espero que tenha notado como a intertextualidade está presente em nosso co-

tidiano. Nem sempre é fácil identificar se há intertextualidade, por isso eu recomendo

leitura. Quanto mais você conhecer, mais fácil será identificar a origem de uma paródia

ou analogia, ou paráfrase.

SíNTESE

Os fatores de textualidade são relevantes para oferecer sentido ao texto. Quan-

do um texto está incoerente, ou sem coesão, por exemplo, não há como estabelecer

o sentido adequado. Outros elementos situam-se em torno desses dois, que são fun-

damentais.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Reflita sobre a frase de Maingueneau (1989, p. 39): “Um discurso não vem ao

mundo numa inocente soletude, mas constrói-se através de um já-dito em relação ao

qual toma posição.”

LEiTurA iNdicAdA

Para complementar seu estudo, leia o capítulo “Atividades e estratégias de

processamento textual”, do livro O texto e a construção de sentido, de Ingedore Koch,

da Editora Contexto, 2000.

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SiTES iNdicAdoS

www.foa.org.br/cadernos/edicao/04/57. http://www.slideshare.net/cleiantjohnny/4o-

dia-tp5-os-princpios-da-textualidade)

rEFErêNciAS

BEAUGRANDE, R. A.; DRESSLER, W. U. Introduction to Text Linguistics. London, Longman, 1983.

CASTRO, Silvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L & PM, 1996.

CHAROLLES, Michel. Introduction aux problèmes de la cohérence textuelle. Paris: Langue Française,

1978.

KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 4. ed. São Paulo: Cortez,

LYONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1969

ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1988.

KOCH, Ingedore Villaça. O Texto e a construção de sentidos. São Paulo: Contexto, 2000.

MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise de discurso. SP, Campinas: Pontes, 1989.

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auLa 03 - coEsão E coErÊncia / rEVisar conEctiVos

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“O mais importante na comunicação é

escutar aquilo que não foi dito.”

Peter Drucker

Vimos, na aula passada, que coesão é a ligação, a relação de nexos que se esta-

belecem entre os elementos que constituem uma superfície textual.

Nesta aula, daremos um passo mais adiante, vamos ver como empregar ele-

mentos de coesão e coerência, reconhecê-los, e, principalmente, utilizar os conectivos

necessários para que um texto tenha coesão.

Num texto, há coesão quando existe uma conexão entre os períodos, produzin-

do o sentido do texto. Para alcançar esse patamar de união entre os vários enuncia-

dos, existem classes de palavras chamadas de elementos de coesão ou conectivos. São

elas: preposições, conjunções, pronomes e advérbios.

Dentre elas, destacamos as conjunções, que têm a função de pôr em evidên-

cia as relações entre os enunciados. Os pronomes, por sua vez, podem substituir ou

determinar um nome, e os advérbios podem modificar o sentido de um verbo. Esses

elementos não são formas vazias que podem ser substituídas entre si, sem nenhuma

consequência, ao contrário, são formas linguísticas que carregam um significado, tra-

zem a coerência, e para usá-las, fazem-se necessários critérios especiais em seu em-

prego, tais como:

manter uma estrutura do texto: é o momento de vermos se o texto está organizado, �

“arrumado”, com começo, meio e fim;

visualizar o conjunto: uma leitura atenta, verificando se o “todo” do texto faz sentido; �

observar como se realiza a “liga”, a conexão entre os enunciados: vamos verificar se um �

período está ligado ao outro e se acontece o mesmo com os parágrafos.

Vamos trabalhar duas modalidades de coesão:

Modalidade 1 – Coesão referencial

Esse tipo de coesão acontece entre elementos do texto que remetem (ou per-

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mitem recuperar) uma mesma referência, ou um mesmo assunto. Pode ser dividido

em:

Substituição - ocorre quando se retoma um termo enunciado, usando-se, para

isso, um pronome, verbo ou advérbio, deixando de repetir o elemento já citado.

Ex.: Marcos e Pedro, apesar de serem gêmeos, são muito diferentes. Por exem-

plo, este é calmo, aquele é explosivo.

Neste exemplo, temos uma substituição dos nomes dos gêmeos: “este” refere-

se a Pedro e “aquele” refere-se a Marcos.

Reiteração - que se faz através de sinônimos, de nomes genéricos, expressões

nominais definidas, de repetição do mesmo item lexical, de nominalizações.

Observe o exemplo que segue em que foi usada a reiteração com a repetição

dos mesmos itens lexicais: educação e saúde.

Ex.: Os problemas do Brasil se encontram na área de educação e saúde. Educa-

ção porque não há escolaridade e conhecimento de formas para resolver situações

pessoais e da comunidade. Saúde, pelo desconhecimento dos cuidados básicos e pela

falta de projetos no sentido de esclarecer a população.

Outro exemplo, em que um nome genérico e uma expressão nominal definida

é reiterada. Note como a palavra homens aparece no exemplo a seguir:

Ex.: Um país precisa de homens conscientes; de homens honestos; de homens

corajosos para defender suas posições e suas ideias.

Modalidade 2 – Coesão sequencial

Este tipo de coesão é usado para manter a sequência entre as ideias expressas

facilitando, dessa maneira, a produção de sentidos.

Recorrência – ou parafrástica – que é obtida pela recorrência (repetição) de

termos, de estruturas (paralelismo), de conteúdos semânticos (paráfrase), de recursos

fonológicos segmentais ou suprassegmentais e de aspectos verbais.

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O paralelismo consiste em repetir uma palavra ou expressão para que se man-

tenha unidade equilibrada no enunciado. Por exemplo:

Ex.: O ser humano foi criado para a perfeição, para a verdade, para dirigir seus pró-

prios passos, para construir sua história.

Observe que o paralelismo foi construído através do uso do termo “para”.

Outro modo de estabelecer a coesão sequencial é pelo uso de elementos seg-

mentais ou suprassegmentais (ritmo, rima, aliteração, eco, etc.). Constrói-se a coesão

pelo uso dos recursos sonoros, muito explorados nos poemas, como por exemplo, os

versos de Fernando Pessoa (heterônimo Bernardo Soares) na definição que faz de po-

eta:

Autopsicografia

O poeta é um fingidor

Que finge tão completamente

Que chega fingir que é dor

A dor que deveras sente.

Se você ler em voz alta o poema acima, vai observar como a sonoridade, obtida

através das rimas (dor e ente), traz um ritmo, uma melodia própria da poesia.

Coesão por progressão - é feita por mecanismos que possibilitam:

1) manutenção temática - pelo uso de termos de um mesmo campo lexical.

Ex.: As vozes são agradáveis quando sonoras e suaves, falas agudas são desto-

antes.

Observe que vozes e falas são termos do mesmo campo.

2) encadeamentos – que podem se dar por justaposição ou conexidade:

Justaposição – uso de partículas sequenciadoras ou continuativas de enuncia-

dos ou sequências textuais que dizem respeito à linearidade e à ordenação de partes

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do texto.

Ex.: Entre vários fatores para resolver sua ação, sugiro dois. Em primeiro lugar,

você deve ter um plano de ação; em seguida, pô-lo em prática.

Você já deve ter concluído que a justaposição está nas expressões “primeiro

lugar” e “em seguida”, que mantêm a ordenação do enunciado.

Encadeamento por conexão – ocorre por meio de conectores, das conjunções

ou através dos operadores do discurso – justificação, explicação, conclusão.

Ex.:

Luciana apresentou-se de forma competente, logo foi aprovada.

Você tem medo porque não sabe correr riscos.

No primeiro exemplo, a conjunção logo dá a ideia de conclusão. No segundo,

temos uma justificação através do uso do operador argumentativo “porque”.

A relação entre coesão e coerência é um processo de mão dupla: na produção

do texto se vai da coerência (profunda), a partir da intenção comum, desde o aspecto

prático e do uso de linguagem, do nível superficial até o mais profundo.

Muitas vezes, lendo textos, você pode observar que nem sempre os elementos de coesão

são necessários e nem sempre são suficientes – haverá necessidade do conhecimento de

mundo da colaboração dos interlocutores, de saber em que situação acontecem os dizeres

e, por último, a forma em que foram usadas as normas sociais.

Por outro lado, o mau uso dos elementos linguísticos de coesão pode causar

incoerências locais pela violação de sua especificidade de uso e função, por exemplo:

Naquele dia, quando todos aguardavam o resultado da pesquisa, o diretor ex-

plicava como seriam desenvolvidos os trabalhos.

Note como a frase fica incoerente devido ao mau emprego do elemento de

coesão quando. Verifique, agora, o sentido:

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Naquele dia, enquanto todos aguardavam o resultado da pesquisa, o diretor

explicava como seriam desenvolvidos os trabalhos.

A explicação para o uso de “enquanto” em lugar de “quando” está no fato de as

ações são simultâneas: todos aguardavam e o diretor explicava. Usamos “quando” com

verbos no pretérito perfeito, tempo esse que expressa ação iniciada e encerrada no

passado. Note a diferença no exemplo a seguir:

Quando os funcionários souberam o resultado, traçaram as metas a serem atin-

gidas.

Como você notou, é importante conhecer os operadores para o bom uso dos

mesmos, evitando incoerências. Pela sua própria experiência, você sabe avaliar o do-

mínio da escrita, analisando um bilhete, uma carta, ou mesmo um cartão. Para aper-

feiçoar sua escrita, a elaboração de seus textos, vamos estudar, a seguir, as conjunções

e o seu uso.

conJunçÕEs – QuaDro DE oPEraDorEs Do tiPo LÓGico E Do tiPo DiscursiVo

O que nos interessa, neste momento, é fazer uma revisão do uso de operadores

argumentativos, representados pelo uso das conjunções.

Celso Ferreira da Cunha (1972, p. 532) conceitua conjunções como: “vocábulos

gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da

mesma oração”. Divide-as em: coordenadas e subordinadas e afirma que se percebe

facilmente a diferença entre as conjunções coordenativas e as subordinativas quando

comparamos construções de orações a construções de nomes.

Ex: Estudar e cantar. O estudo e o canto. �

1 )

Estudar ou cantar. O estudo ou o canto. �

Vemos que a conjunção coordenativa não se altera com a mudança de constru-

ção, pois liga elementos independentes, estabelecendo entre eles relações de adição,

como no primeiro caso, e de alternatividade, como no segundo. Essa é a característica

das conjunções coordenadas, como o próprio nome diz, elas (co)ordenam sem que

haja dependência entre os elementos.

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Nos enunciados seguintes:

( 3 ) Quando tiver estudado o assunto, pode ensaiar o canto.( 4 ) Depois do estudo, o �

canto.

Note que, no exemplo 3, há dependência do primeiro termo (quando tiver estu-

dado o assunto) em relação ao segundo (pode ensaiar o canto). Já, no exemplo 4, em

lugar da conjunção subordinativa “quando”, temos uma preposição (depois) que está

colocando a dependência de um elemento a outro. (Só depois de ter estudado é que

pode ensaiar).

oPEraDorEs Do tiPo LÓGico E Do tiPo DiscursiVo

Tendo visto como se organizam os elementos de um período, em relação à co-

ordenação e subordinação, é importante situá-los. Portanto, vejamos, entre os recur-

sos que nos auxiliam na manutenção da coesão, quais são os principais operadores

argumentativos, cujo papel, no texto, é manter a logicidade e oferecer coerência:

Tipos de relações dos operadores do tipo lógico

Disjunção: ou

Condicionalidade: se, caso, desde que

Causalidade: já que, visto que, tanto (assim) que, porque, então, assim, por isso

Mediação: para que, para, a fim de

Tipos de relações dos operadores do tipo discursivo argumentativo

Disjunção: ou - quando se propõe “isto ou aquilo”

Conjunção: e, também, tanto quanto/como, além disso, além de, nem (=e não), não

só...mas também, ainda -quando se acrescenta, soma

Contrajunção: e (=mas), mas, no entanto, porém, entretanto, todavia, contudo,

embora, apesar de, ainda que, mesmo que - quando coloca oposição entre os

elementos do período

Explicação: pois, porque, que - para justificar ou explicar

Conclusão: assim, portanto, logo, por isso, então, pois, por conseguinte - para

demonstrar a que resultado chegamos.

Se você prestar atenção ao que fala, ou lê, verá que os operadores lógicos e

argumentativos pontuam todo o dizer. Essas expressões dão sentido e organizam lo-

gicamente a nossa comunicação, seja oral ou escrita.

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coErÊncia

Coesão e coerência são duas faces do mesmo fenômeno.

Define-se coerência textual como uma lógica interna que deve existir para dar

verossimilhança e verdade ao texto.

A incoerência pode acontecer quando:

1° - O locutor usa dois processos verbais em duas fases distintas de sua realização,

como em: (por processos verbais entendem-se fatos acontecidos em determinado

período de tempo).

Ex.: Maria já tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda estava lavando

roupa.

Observamos que, no exemplo, acontece o uso do verbo tinha lavado que dá

ideia de processo acabado e ainda estava lavando, ideia de processo não acabado.

Seria correto dizer:

Maria já tinha lavado a roupa quando chegamos, mas ainda não tinha passado

a ferro.

2° - há uma relação de oposição contrariando a relação de causa que parece ser a

mais plausível e esperada, como no exemplo:

Ex.: João não foi à aula, entretanto estava doente.

Vamos notar que a ligação entre as duas partes do período não estão coesas,

porque o termo “entretanto” dá ideia de oposição. Deveria ser usada uma relação de

causa, no caso, uma das conjunções: pois, porque, devido ao fato de..., entre outras.

Então a construção da frase fica assim:

João não foi à aula porque estava doente. Ou, pois estava doente. Ou ainda,

João não foi à aula devido ao fato de estar doente.

3° - por contrariar o conhecimento geral, como em:

Ex.: A galinha estava grávida.

Julgar se um texto é coerente ou não, depende:

A - da combinação entre os elementos linguísticos do texto.

Vamos ver como, na letra de “Águas de Março”, há uma combinação dos ele-

mentos linguísticos:

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ÁGUAS DE MARÇO

É pau, é pedra, é o fim do caminho,

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol,

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira,

Caingá, candeia, é o Matita Pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira,

É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira,

É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira,

Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira,

Passarinho na mão, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão,

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho,

No rosto o desgosto, é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego,

é uma ponta, é um ponto, é um pingo pingando,

É uma conta, é um conto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando,

É a luz da manha, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada,

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama,

É o carro enguiçado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã,

É um resto de mato, na luz da manha

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São as águas de março fechando o verão,

É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José,

É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão,

É a promessa de vida no teu coração

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã,

É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão, a promessa de vida no teu coração,

É pau, é pedra,...

(Tom Jobim)

Fonte: http://letras.terra.com.br/tom-jobim/49022/

Para valorizar o que diz o poeta Tom Jobim, nós, os leitores, devemos produzir nossa

leitura. Imagine a época do ano de que o texto fala: o fim do verão, as águas de

março chegando. Imagine-se passeando por um local de veraneio, e acompanhe

o poeta no seu trajeto. A coerência do texto se estabelece pelos elementos da

natureza, que ele descreve, como numa pintura em que o verbo ser (é, são) define a

construção da paisagem, pequenas coisas que fazem o dia a dia desta época do ano.

Por outro lado, essa descrição de uma natureza viva, no trajeto do poeta, abre para

o verso magnífico que é a proposta do autor: “a promessa de vida no teu coração”.

O fim de uma estação como o verão, traz em seu bojo a promessa de novo tempo.

Como as chuvas de março renovam a natureza, também teu coração será renovado,

essa é a promessa.

Esse modo de ler, num texto como Águas de março, o autor o apresenta com a

intenção de que seja um texto, e nós, leitores, agimos cooperativamente e aceitamos a

sequência como um texto e procuramos determinar-lhe o sentido.

B - Do conhecimento prévio sobre o mundo em que o texto se insere. Um exem-

plo é a fábula do lobo e do cordeiro, em que há incoerência nas afirmações do lobo,

mas a coerência se faz para obter o resultado desejado: a lição de moral da fábula.

Ex.:

O LOBO E O CORDEIRO

Vendo um lobo que certo cordeirinho matava a sede num regato, imaginou um

pretexto qualquer para devorá-lo. E embora se achasse mais acima, acusou-o de

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sujar-lhe a água que bebia. O cordeiro explicou-lhe que bebia apenas com a ponta

dos beiços e, alem, disso, que, estando mais abaixo, nunca poderia turvar-lhe o

líquido. O lobo exposto ao ridículo, insistiu:

- No ano passado, ofendeste meu pai.

- No ano passado, eu não tinha nascido, replicou o cordeiro.

O lobo, então replicou:

- Tu te defendeste muito bem. Mas nem por isso vou deixar de te devorar.

Moral: Contra a força não há argumentos.

Fonte: Esopo. Enciclopédia Universal da Fábula, v. 3. p. 76)

Observe que a argumentação do cordeiro nega a afirmação do lobo, mostran-

do o quanto ele está incoerente. No entanto, o que dá a coerência ao texto é o desejo

do autor de mostrar que contra a força não há argumentos. É a denúncia da lei do mais

forte.

C - Do tipo de texto. Se for uma propaganda, ou um outdoor é preciso que se te-

nha conhecimento de mundo, das circunstâncias em que aquele texto foi produzido.

Por exemplo, se for uma receita, ter um comportamento adequado, se for uma carta,

agir cooperativamente, e assim por diante, verificando qual tipologia textual.

Por exemplo:

Caro Amigo Francisco. Em minha viagem pelo Chile, lembrei-me de ti, por isso

escolhi esse cartão postal dos lagos chilenos, com a intenção de que te animes e faças

esse passeio com tua esposa. Vê que maravilha!!! Um abraço de teu companheiro de

luta. Pedro

Esse é um texto característico dos cartões postais.

A coerência, às vezes, é subjacente, subentendido, ligado a fatores históricos e

sócio-culturais, que podem ser:

1. Intenção comunicativa - Deve responder à pergunta: o que desejo comunicar? Há �

uma canção de protesto que diz: Tudo está tão certo como dois e dois são cinco. Se ficar-

mos no limite da matemática, veremos que há uma incoerência, mas se pensarmos que

esses versos estão denunciando um período histórico em que não havia liberdade de

expressão, veremos que a intenção comunicativa é dizer que tudo está errado.

2. Formas de influência do falante na situação de fala - É preciso compreender que, �

conforme o lugar social que o falante ocupa, sua fala pode ter mais força, por ele gozar

de influência. Por exemplo, a fala do diretor da empresa tem mais força que a fala do

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empregado.

3. Regras sociais determinadas pelos lugares sociais - Existem expressões típicas que �

compõem as regras sociais. Por exemplo: há formas de cortesia para velórios, casamen-

tos, ações jurídicas. Por exemplo, seria uma “gafe” enorme alguém chegar num velório

em que a mãe chora a perda de seu filho dizer: Meus parabéns.

Vimos várias formas de manter a coerência, de dar sentido ao que escrevemos

e de observar como se pode atribuir sentido ao que lemos. Procure praticar o que foi

exposto acima para assegurar qualidade e verdade a seus trabalhos.

tiPos DE coErÊncia

Agora, aprimorando ainda mais nossa competência em relação à coerência,

vamos ver como se identificam os tipos de coerência nas diversas formas comunica-

tivas.

Coerência semântica - É a relação entre significados dos elementos das frases

em sequência em um texto. Observe a incoerência semântica (significado) das expres-

sões a seguir:

Exemplo 1: executar problemas. Qual o sentido de executar problemas? Executar tem o �

sentido de realizar, como em executar uma tarefa. Então, a incoerência está em dizer que em

lugar de resolver problemas, o autor da fala está dizendo que vai “criar” mais problemas.

Exemplo 2: cuidar do stress. O sentido do verbo cuidar está relacionado com a ideia de pro- �

teção, de dar cuidados especiais, como por exemplo, cuidar da plantinha, cuidar da criança.

Daí ficar claro que a incoerência se faz presente pelo fato de o autor da fala, em lugar de

eliminar o stress, cuida dele permitindo que ele cresça, floresça.

Exemplo 3: correr atrás do prejuízo. Neste caso, claramente, notamos a incoerência. Se o �

autor da fala corre atrás do prejuízo, este estará sempre à frente dele, não havendo meios de

sanar o prejuízo.

Exemplo 4: risco de morte. Risco de morrer todos nós corremos. Afinal, a morte é certa. O �

que deve ser dito é “correr risco de vida”, uma vez que a vida corre perigo.

São expressões do cotidiano em que o sentido contradiz o que se deseja, mas

são tão corriqueiras que nem sempre o locutor se dá conta de que está sendo incoe-

rente. Mas não vamos esquecer que, para dar sentido a essas expressões, precisamos

verificar em que contexto elas foram faladas.

Coerência estilística - é o uso do registro de linguagem numa situação co-

municativa. Se culto, não introduzir gíria ou expressões populares. Se, para dar cor ou

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imprimir maior comunicabilidade, for necessário usar gíria no registro culto, o que se

pode fazer é introduzir expressões como: “Se me permitirem o termo...” ou “Para usar

uma palavra bem expressiva...”.

Exemplo: Nossa vida nem sempre atende às nossas expectativas. As decepções

e os desencontros fazem parte do cotidiano, mas nem por isso, se me permitirem o

termo, pode-se “chutar o pau da barraca”.

Coerência pragmática – Os atos de fala devem satisfazer as mesmas condições

presentes em uma dada situação comunicativa. Todo o dizer traz uma consequência.

Por exemplo:

para pedido é coerente atendimento

pedido recusa justificativa

É uma situação óbvia: quando se faz um pedido, em um ato de fala, podemos

ter duas situações, a primeira, atender ao que está solicitado; a outra, recusar. Observe

as duas possibilidades no trecho a seguir:

Ex. Pode me emprestar o carro? (pedido)

Não posso, hoje eu vou viajar. (recusa e justificativa de porque não pode em-

prestar o carro)

Ou então:

Aqui está a chave. (atendimento)

Veja outro exemplo:

Ex.: O namorado prometeu ir ao cinema com a namorada.

Pela nossa experiência pessoal, sabemos que a namorada espera que a pro-

messa se cumpra – se não der para ir ao cinema, o namorado deve-se justificar e muito

bem...

Dessa forma, podemos perceber que coerência é a unidade de sentido do tex-

to: nada é ilógico, contraditório ou desconexo.

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níveis de coerência

Um texto bem escrito deve ter coerência, mas ela se organiza em diversos ní-

veis: para a narrativa, há um percurso; para argumentação, os operadores; para descri-

ções, as imagens figurativas. O que veremos é como esses níveis se articulam.

Narrativa

Estudando a narrativa, Fiorin e Savioli (1997, p.56) propõem quatro fases para

melhor estruturar o texto. São elas:

manipulação: alguém é induzido a querer ou dever realizar uma ação;

competência: adquire um poder ou um saber para realizar aquilo que deve ou quer;

performance: quando realiza a ação;

sanção: recompensa ou castigo pelo que realizou.

Vamos exemplificar esses níveis de coerência através da história infantil A Cin-

derela. Vejamos:

A manipulação vai acontecer quando a Cinderela quer ir ao baile em que o

príncipe vai escolher uma princesa por esposa.

A competência é externa, quando a fada madrinha aparece e faz as transfor-

mações. Quem torna a Cinderela competente para ir ao baile é a fada.

A performance ocorre quando Cinderela vai ao baile e dança com o príncipe,

deixando-o encantado por ela.

Na história, Cinderela sofre duas sanções, uma negativa outra positiva. A ne-

gativa acontece quando perde a noção da hora e ouve o relógio marcar as doze bada-

ladas da meia-noite, e tudo volta ao que era antes de a fada madrinha ter feito a trans-

formação. A positiva é ela ser finalmente reconhecida pelo príncipe e ser a escolhida.

Veja, a seguir, algumas formas de incoerência narrativa:

1ª forma � : As quatro fases se pressupõem, a posterior depende da anterior. Constitui-

se incoerência narrativa uma performance de alguém sem a competência; ou a sanção,

sem a performance. Um exemplo é o processo de Kafka. Nesta obra, um trabalhador é

preso, julgado e condenado sem ter feito nada. Embora ninguém ache culpa nele, ele é

condenado. Se ele foi preso, é porque fez alguma coisa. A obra é uma crítica aos gover-

nos ditatoriais.

2ª forma � : Se um personagem adquire objeto de um outro, este deixa, portanto, de

possuí-lo. Mas se, por exemplo, numa parte do texto, está dito que uma mulher vendeu

um colar de pérolas negras, ela não pode aparecer, em outra parte, usando tal colar, sem

outras explicações anteriores.

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3ª forma � : Com relação à caracterização dos personagens e às ações a eles atribuídas

- a dupla face precisa ser esclarecida –, o leitor deve ter o domínio do que está sendo

explicitado. Se, no texto, aparece um mendigo, que, na verdade, é uma pessoa que tem

poder, riqueza, mas que, para resolver uma determinada situação, está somente se fa-

zendo passar por mendigo, isso deve ser explicado.

Observamos, portanto, que a coerência é fundamental para a comunicação,

pois quando um texto apresenta uma das formas anteriores de incoerência fica evi-

dente, para o leitor, que algo não está funcionando na narrativa.

Coerência figurativa

É a articulação harmônica das figuras do texto com base na relação de signifi-

cado que mantêm entre si. As figuras devem constituir um bloco temático. A ruptura

pode produzir efeitos desconcertantes – às vezes, essa ruptura produz a sátira, a ironia,

a ridicularização. Por exemplo: Num convite para festa, está explicado que o traje será

à vontade e a festa ao ar livre, uma pessoa que compareça de smoking ou com vestido

longo de seda pura, estará em desarmonia, perto do ridículo.

Coerência argumentativa

Ocorre quando, no texto, há um jogo de pressupostos, dados e inferências, de

que se tiram conclusões que conduzem para onde se deseja chegar. Se os pressupos-

tos não permitirem as conclusões desejadas, há a incoerência argumentativa. É preciso

sempre ter em mente a que conclusão se deseja chegar. Por exemplo: Um chefe quer

que seus subalternos cumpram horários, sejam pontuais. Além de estabelecer esses

horários claramente, ele também deve dar o exemplo para que haja coerência.

Toda linguagem é argumentativa, porque desejamos que o interlocutor aceite

nossos pontos de vista. Por isso, é fundamental desvendar, no texto, os pressupostos e

subentendidos, além de manter a coerência de atitudes diante do que afirmamos.

conHEcimEnto DE munDo

Entendemos por conhecimento de mundo nossa experiência de vida. Alguns

autores usam a expressão “biblioteca vivida”, outros, repertório de ideias. Vamos usar a

expressão que é usada por Koch.

O nosso conhecimento de mundo desempenha um papel decisivo

no estabelecimento da coerência: se o texto falar de coisas que ab-

solutamente não conhecemos, será difícil calcularmos o seu senti-

do e ele nos parecerá destituído de coerência. É o que aconteceria

a muitos se nos defrontássemos com um tratado de física quântica.

(KOCH, 1995, p. 60)

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Adquirimos esse conhecimento à medida que vivemos, tomamos contato com

o mundo que nos cerca e experienciamos uma série de fatos. Mas, ele não é arquivado

na memória “de maneira caótica: vamos armazenando os conhecimentos em blocos,

que se denominam “modelos cognitivos”. Segundo Koch e Travaglia (1995, p.60),

existem diversos tipos de modelos cognitivos. Dentre eles, vale citar:

“os frames: � conjuntos de conhecimentos armazenados na memória debaixo de um

certo “rótulo”, sem que haja qualquer ordenação entre eles.” Ex.: Carnaval: confete, ser-

pentina, desfile, escola de samba, bloco, fantasia, abadá, baile, etc.

os esquemas: � conjuntos de conhecimentos armazenados em sequência temporal ou

causal. Ex.: pôr um aparelho a funcionar, a rotina do dia de cada pessoa.

os planos � – “conjunto de conhecimentos sobre como agir para atingir determinado

objetivo. Ex.: como vencer uma partida de xadrez.”

Os scripts � – “conjunto de conhecimentos sobre modos de agir, altamente estereoti-

pados em dada cultura, inclusive em termos de linguagem. Ex.: formas de cortesia, as

praxes jurídicas”

As superestruturas ou esquemas textuais – � “conjunto de conhecimento sobre os

diversos tipos de textos, que vão sendo adquiridos à proporção que temos contato com

esses tipos e fazemos comparação entre eles.” Ex.: conseguir decodificar as metáforas de

um texto.

É importante que locutor e alocutário partilhem conhecimentos para que um

texto possa ter sentido e coerência. No caso do estudante, por exemplo, ele traz para a

academia um mundo de conhecimento e, a partir do estudo, novas informações vão-

se acrescentando. Dizemos que há a informação velha e a nova. Para que um texto

seja coerente, é preciso haver um equilíbrio entre o conhecimento de mundo e a in-

formação nova. Se um texto contivesse apenas informações novas, seria ininteligível,

pois faltariam ao alocutário as bases, as “âncoras” a partir das quais ele pode proceder

ao processo cognitivo do texto. Por outro lado, se houvesse apenas informação de co-

nhecimento de mundo já dada, o texto seria redundante, isto é, seria um texto circular,

próximo do círculo vicioso.

as inFErÊncias

Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o

alocutário de um texto estabelece uma relação não explícita entre dois elementos do

texto que ele busca compreender e interpretar.

Quase todos os textos exigem que se façam inferências para poder compre-

endê-los integralmente. Todo texto se assemelha a um iceberg – o que fica à tona é a

parte explicitada do texto e é uma pequena parte daquilo que fica submerso, ou seja,

implícito.

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Ex.: Paulo comprou um Audi novinho em folha.

Que ideias podem estar implícitas nessa afirmação? Conforme o contexto, po-

dem estar implícitas as seguintes ideias: Paulo tem um carro novo. Paulo tinha recursos

para comprar o carro. Paulo é rico. Paulo é melhor companhia que você, que não tem

carro.

Observe o diálogo:

- A campainha!

- Estou de camisola.

- Tudo bem!

As inferências permitem que o alocutário entenda:

- A campainha está tocando, vá atender.

- Não posso, estou de camisola.

- Tudo bem, deixe que eu atendo.

Ao ler o texto do Professor José Luis Fiorin, publicado na revista Língua Portu-

guesa, de setembro de 2009, você vai ver que perceber o que há em tudo aquilo que se

apresenta a nossa frente é um dos desafios da interpretação dos discursos implícitos.

O DITO PELO NãO DITO

A todo momento multiplicam-se os exemplos cotidianos que mostram como o conteúdo

implícito dos atos de fala comunica muito mais do que aparenta.

José Luiz Fiorin

Na edição passada de Língua, mostramos que os conteúdos de nossos atos de fala podem

ser explícitos ou implícitos. Estes últimos são inferências. Classificam-se em pressupostos

e subentendidos. Vimos que os pressupostos são conteúdos implícitos que decorrem

necessariamente de uma palavra ou expressão presente no ato de fala produzido.

Assim o jornalista Mathew Shirts escreveu “...acabara, havia pouco, O homem do Avesso,

de Fred Vargas, um policial francês, mas interessante”. (O Estado de São Paulo, 3/10/2005).

Nessa frase há cinco informações explícitas:

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1) tinha acabado de ler um livro; 2) o livro era um romance policial; 3) o romance foi escrito

por Fred Vargas; 4) a autora é francesa; 5) o livro é interessante.

Da ligação com a conjunção adversativa “mas” decorre a informação implícita de que todos

os romances policiais franceses são chatos.

Observe-se que os conteúdos postos (explícitos) se constroem sobre os pressupostos. Se

o autor não julgasse que os romances policiais franceses são chatos, não haveria nenhum

sentido em notar que esse policial é francês e é interessante.

Analisemos agora os subentendidos. Em discurso proferido na Festa da Uva, em Caxias do

Sul, o presidente Lula disse:

- Vocês sabem que no Palácio da Alvorada, todas as recepções que nós damos são com

vinho brasileiro. E, obviamente, que, de vez em quando você vê gente de outro país botar

na boca e não sentir o mesmo gosto que sente se ele antes passou na França para tomar um

vinho francês de qualidade. (O Estado de São Paulo, 18/6/2006)

O que o presidente deixou subentendido é que o vinho brasileiro não é de boa qualidade.

O subentendido é uma informação implícita veiculada por um falante, cuja atualização

depende da situação de comunicação. Qual é a diferença entre o subentendido e o

pressuposto? Este é indiscutível tanto para o falante quanto para o ouvinte, pois decorre

necessariamente de um marcador lingüístico. Já o subentendido é de responsabilidade do

ouvinte. O falante pode refugiar-se atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha

querido dizer aquilo que o ouvinte inferiu.

No caso do presidente Lula, quando alguém lhe declarasse que ele afirmara que os vinhos

brasileiros não têm boa qualidade, ele poderia simplesmente dizer que apenas estava

constatando que as pessoas sentem que têm um gosto diferente daquele do vinho francês.

No entanto, na situação de comunicação, em que o presidente formulou esta constatação

(um almoço oferecido por produtores de vinho, em que afirmou que nas refeições oficiais

do governo brasileiro só se serve vinho brasileiro e notou que as pessoas sentem um saber

diferente do vinho francês de qualidade, quando provam a bebida servida no Palácio, pode-

se perfeitamente inferir que o presidente não tem em alta conta o produto nacional.

No caso, certamente se trata de um deslize no improviso da fala, mas o subentendido é

utilizado, argumentativamente, para que o falante diga alguma coisa sem comprometer-se,

pois ele apenas sugere, dize sem dizer.

O pressuposto é uma inferência que não depende do contexto, enquanto o subentendido

está ligado à situação de comunicação em que o ato de fala é produzido.

A insinuação e a alusão são dois tipos de subentendidos. O primeiro é um implícito maldoso

(por exemplo, em “X cuida muito bem de seu dinheiro, conseguiu, depois que entrou na

política, aumentar seu patrimônio vinte vezes”, está-se insinuando que X é corrupto, mas o

falante pode dizer que está apenas fazendo uma constatação objetiva e tirando a conclusão

de que X é um bom aplicador de seu dinheiro)

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A alusão é um subentendido de conteúdo licencioso, com conotação sexual; é a referência a

um fato do conhecimento de apenas alguns dos envolvidos na troca verbal ou é a remissão

a conteúdos de outros atos de fala (por exemplo, em “Y é uma moça, mas uma moça

mesmo”, pode-se inferir que o falante não quis dizer que Y é bem educado é homossexual,

quando o governador Alckimin disse que, no seu governo, o Brasil vai crescer pra chuchu,

está fazendo remissão ao apelido que lhe foi dado no jornal Folha de São Paulo por José

Simão, “picolé de chuchu”).

Os implícitos têm função argumentativa muito importante: os pressupostos apresentam

como verdade indiscutível o que não é necessariamente incontestável, aprisionando o

interlocutor na lógica criada pelo falante; com os subentendidos, o falante diz, mas sem

dizer; não se compromete com o que insinuou, com o que sugeriu.

José Luis Fiorin é professor de Lingüística na USP

e autor, entre outros, do livro Lições de Texto

Você imagina se tivéssemos que dizer tudo sempre, sem os pressupostos e os

subentendidos, sem as alusões e as insinuações? Teríamos uma linguagem redundan-

te, repetitiva. É muito importante investigar o que há por trás do dito, o que não está

sendo dito, mas está com efeito de sentido e pode ser apreendido num texto, numa

fala.

PRÁTICA

Analise a coesão e coerência presentes (ou ausentes) nos textos a seguir:

Vamos fazer uma experiência, seguindo a orientação proposta para o conto a

seguir:Procure os operadores argumentativos e seu significado;

Estabeleça o tipo de coerência ou incoerência encontrada no texto;

Em caso de incoerência, proponha uma forma coerente;

Demonstre a presença de implícitos, identificando os pressupostos e suben-

tendidos.

CENAS DE UM CASAMENTO

Ao acordar, pela manhã:

- Eu não suporto mais! Você é incapaz de colocar a toalha molhada no banheiro, deixa

sempre em cima da cama!

- Eu é que não suporto mais suas reclamações. Você só sabe reclamar...

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- Mas claro. Olha como você deixa suas roupas jogadas pela casa toda! Ai, acho que a gente

não se entende mais.

- Que porcaria de café é esse, mulher? Frio, fraco, pão velho, manteiga dura de congelada!

Que droga!

Ao meio dia, durante o almoço:

- Você podia ter adiantado a arrumação da mesa para me ajudar. Eu tenho que fazer tudo

nesta casa, e ainda preciso trabalhar...

- Tá bom... pare de reclamar. Acho que a gente não se entende mais. Eu não consigo te

agradar, nada do que faço te satisfaz.

- Não é bem assim... É que você é um egoísta, só pensa no seu conforto.

- Ah! Que horror, como você tem coragem de servir uma comida dessas? Sal demais, carne

torrada, arroz “unidos venceremos”. Puxa, mulher...

- Achou ruim, vá comer no restaurante, ora.

À noite, após o jantar:

- Vamos para cama, estou cansado, tive um dia difícil.

- Eu também. Meu chefe estava complicando tudo.

No quarto:

- Luz acesa ou apagada?

- Você que sabe.

- Vamos deixar acesa, tá bom?

- Certo.

Depois de uns quinze minutos, muitos gemidos e suspiros:

- É acho que a gente ainda se entende, não é querido?

- E como, meu amor.

(CERCATO, Nilza Carolina S., 2001)

Numa primeira leitura parece-nos incoerente o casal chegar à conclusão de que

ainda se entendem, uma vez que as queixas são constantes e os resmungos de parte a

parte desafiam a convivência pacífica.

Para manter a coerência foi usada uma unidade temporal: cena pela manhã, ao

meio-dia, após o jantar. Essa divisão em cenas dá coesão ao texto. As duas primeiras

cenas dão ênfase para o desentendimento do casal, nas pequenas rotinas que cons-

tituem a vida a dois. A frase “acho que a gente não se entende mais” que aparece nas

duas cenas preparam o leitor para um desfecho que seria o fim do casamento. No en-

tanto, para surpresa do leitor, na última cena, a esposa afirma: “acho que a gente ainda

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se entende” ao que o marido responde: “e como, meu amor.

Pelo desenrolar das cenas, verificamos que o texto apresenta coerência através

dos implícitos e subentendidos, além do conhecimento de mundo.

Agora você: O que você acha que tornou o texto coerente?

Continuando a especulação, pela cena depois do jantar, há coerência na afirma-

ção do casal de que eles ainda se entendem?

Leia o período que se segue:

Chegaram instruções repletas de recomendações para que os enfermeiros e

fonoaudiólogos participantes do congresso, que, por sinal, acabou não se realizando

por causa de fortes chuvas que inundaram a cidade e paralisaram todos os meios de

comunicação.

É compreensível conteúdo?

Qual é o seu grande defeito?

Dê coesão e coerência à notícia, redigindo o texto claramente.

(Se tiver dúvida, consulte a tutoria)

Escrever bem é fruto de exercício, ler produzindo sentidos da leitura também.

Mas não o fazemos no espaço, sempre temos a mão recursos que nos apoiam, faci-

litam nossa compreensão. Esta aula trata especificamente desses recursos, use-os e

você terá garantido o sucesso no seu empreendimento de leitor e de escritor.

SíNTESE

Observamos e analisamos textos em que a coerência e a coesão são fundamen-

tais para estabelecer o sentido. Também vimos como os implícitos compõem o quadro

comunicativo, sinalizando para a cooperação do leitor. Constatamos que não menos

importantes são os operadores argumentativos que introduzem as ideias que se su-

bordinam à principal. Além disso, verificamos que o conhecimento de mundo facilita

a compreensão e apreensão do sentido.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Comente a seguinte afirmação: Coesão e coerência são duas faces do mesmo

fenômeno.

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LEiTurA iNdicAdA

Para complementar o seu estudo, leia: “A construção do sentido no texto: a coe-

são e a coerência”. Você encontra esse capítulo em: KOCH, Ingedore G. Villaça. O texto

e a construção de sentido. São Paulo: Contexto, 2000. p.35.

SiTE iNdicAdo

www.foa.org.br/cadernos/edicao/04/57.

rEFErêNciAS

CUNHA, Celso Ferreira da. Gramática da Língua Portuguesa.Rio de Janeiro: Fename, 1982

ESOPO. Enciclopédia universal da fábula.v.3. Por to Alegre: L&pm Pocket. 1997.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1997.

GREGOLIN, M (Org.). Filigranas do discurso: as vozes da história. Araraquara: FCL/Laboratório Editorial/

UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica Editora, 2000.

JOBIM, Tom. Águas de Março. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/tom-jobim/49022/>. Acesso em: 5

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KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os segredos do texto. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

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LYONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1987.

ORLANDI, Eni P. Discurso e leitura. Campinas: Cortez/Editora da Unicamp, 1988.

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auLa 04 - FaLa E Escrita / Variação, rE-Gistro/ níVEis DE FormaLismo

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“Seria interessante saber do que o homem tem mais medo:

se dar um novo passo ou pronunciar uma nova palavra”

Hannah Arendt (filósofa)

Nesta aula, vamos trabalhar com as distinções entre fala e escrita. Para tanto,

veremos os níveis de fala, a linguagem formal e informal, dando ênfase especial às

variações linguísticas.

Você já ouviu dizer que se pode falar de qualquer jeito, por isso a linguagem

oral é menos correta que a escrita? Você concorda com isso? Vamos ver como será sua

opinião ao final desta aula.

FaLa E Escrita

As gramáticas tratam, em geral, as relações entre fala e escrita tendo como pa-

râmetro a língua escrita. Esse procedimento dirige para uma visão um tanto precon-

ceituosa, valorizando a língua escrita como a fonte, quando, na verdade, o indivíduo

aprende, em primeiro lugar, a fala e depois a escrita.

Quando a criança entra na escola, mesmo nos anos iniciais, já domina a fala,

expõe suas opiniões, tem consciência de proximidade, distância inclusive de tamanho.

Nessa perspectiva, é preciso verificar:

como se processa a linguagem oral, isto é, como funciona a linguagem oral; �

quais os pontos de contato e afastamento entre a linguagem oral e a escrita; �

quais os componentes em evidência no ato de fala e na escrita, quer dizer, o que é �

evidente no momento da fala e no ato de escrever, mas, principalmente,

como se tecem as habilidades orais e escritas na estrutura da língua, como nós usamos �

nossa capacidade de comunicação oralmente e na escrita.

Quando Marcuschi, que é um linguista que se dedica ao estudo da linguagem

oral, aprofunda o estudo das marcas conversacionais, em Análise da Conversação

(1986), ao longo da obra, mostra como se comete o equívoco de considerar a fala

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como um lugar de linguagem errada. Na verdade, segundo ele, os gramáticos estão

confundindo a linguagem falada com a linguagem escrita, que deve seguir determina-

dos códigos. O que se pode falar é em linguagem diferente e não linguagem errada.

Também Marcos Bagno, (1999, p.52-53) analisa o mito de que “o certo é falar

assim, porque se escreve assim”, evidenciando as diferenças entre a fala e as “forças

internas que governam o idioma”.

Como se vê, é comum a valorização da escrita em detrimento da fala.

Pensamentos como esses decorrem do fato de se associar a fala com um dos

níveis de uso da linguagem, ou seja, toma-se a fala como sinônimo de informalidade.

Na verdade, tanto a fala como a escrita se encaminham do nível mais informal ao mais

formal, passando por graus intermediários.

Como vimos na aula 01, em toda a comunicação, devemos considerar quem

fala e para quem se fala. Um mesmo indivíduo em situação diferente muda o registro,

o nível de fala. Por exemplo: um empresário em reunião de negócios usa um nível de

linguagem; já estando em família, ao falar com o filho pequeno, o nível será outro.

Para marcarmos as diferenças entre fala e escrita, vamos apresentar algumas

características que marcam essas modalidades.

A fala apresenta as seguintes características:

Pressuposição de um ouvinte � - A comunicação é imediata, logo, na linguagem oral,

há um falante e um ouvinte. Até mesmo naquele caso em que o falante diz que “fala com

seus botões”, para dizer que está falando sozinho, há necessidade de um ouvinte.

Rapidez na enunciação � - Pensa-se e logo se enuncia, não há elaboração vocabular.

Quando há diálogo, a fala acontece com naturalidade.

Comunicação em que não há fontes para pesquisa � - Fala-se o que se sabe ou se tem

em mente, o que se diz é fruto de um saber e, se houver dúvida, o próprio interlocutor,

no caso, o ouvinte, esclarece no momento da fala.

Possibilidade de explicações � , em caso de turnos de fala - Os pontos que tiverem

ficado obscuros podem ser explicados. Por turnos de fala entende-se que, num diálo-

go, ou conversa de grupo, cada locutor fala e dá espaço para que outro falante tome a

palavra.

Retomadas, repetições e explicações � , ainda em turnos de fala - O interlocutor re-

toma, repete e explica conforme o seu desejo.

A escrita, por sua vez, apresenta:

Presença de um leitor, sem, necessariamente, a presença física do autor � , e mais,

entre o momento da escrita e o tempo da leitura pode acontecer distância no tempo e

no espaço;

Produção reflexiva � - Deve-se ter um plano de escrita, visto que, de acordo com a

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estrutura desejada, construímos um projeto do que vamos escrever e podemos recorrer

a outros textos a fim de fundamentar as ideias.

Revisão do texto � - As reescritas serão marcas propostas pelo próprio produtor do

texto.

Texto à disposição do leitor - Depois de considerado pronto pelo autor e publi- �

cado, o texto fica à disposição do leitor, sem que o autor tenha domínio sobre as conse-

quências. Um exemplo que deixa clara essa característica aconteceu no filme “O poeta e

o carteiro”. O poeta Pablo Neruda compôs um poema de exaltação de sua esposa. Para

conquistar a namorada, o carteiro copia o poema e o dedica à moça. Quando o poeta

soube, disse que ele não podia fazer isso, porque aquele poema era para outra mulher,

e não a namorada do carteiro. Então, o carteiro respondeu: um poema serve para quem

precisa dele. O poeta riu e assentiu.

Possibilidade de escritas e reescritas � - Muitas vezes, as escritas e reescritas são

dependentes da autocrítica ou de posições do leitor; aliás, o segredo de bem escrever é

reescrever até que o autor se sinta satisfeito.

Pode-se, pois, apresentar as duas modalidades da seguinte forma:

usamos a linguagem oral em diálogos, bate-papos, entrevistas, palestras, situações �

conversacionais;

já a linguagem escrita está presente em nossa vida no artigo científico, nas disserta- �

ções, nas cartas, nas composições poéticas, nos contos, nas crônicas, nos romances etc.

Se compararmos, linguisticamente, fala e escrita, veremos que a fala é mais li-

vre, com expressões dinâmicas, enfatizadas pela expressão corporal, tom da voz, pau-

sas, digressões, às vezes, alguns cacoetes, como “né”, “então”. Por outro lado, a escrita

exige maior domínio da língua culta, não se admitem erros de grafia, de concordância

e outros; a estrutura deve ser coerente, a coesão entre as partes do texto deve ficar

evidente.

VariaçÕEs LinGuísticas numa PErsPEctiVa socioLin-Guística

Partimos do pressuposto de que o caráter social da língua já foi demonstrado

ao longo dos textos que estudamos. Importa, agora, saber que entre língua e socieda-

de há uma relação intensa.

Diz Preti (2000, p.11-12):

Desde que nascemos, um mundo de signos linguísticos nos cerca

e as possibilidades comunicativas se tornam reais a partir do mo-

mento em que começamos a formular nossas mensagens. E durante

toda nossa vida em sociedade, o intercâmbio se fará, fundamental-

mente, pela língua.

[...]

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Sons, gestos, imagens, diversos e imprevistos, cercam a vida do ho-

mem moderno.

Por outro lado, linguagem oral e escrita, verbal e não-verbal constituem-se em

situações de contato com o mundo de forma permanente e atualizada. Dessa forma, a

língua passa a ser o suporte de uma dinâmica social que compreende relações diárias,

atividade intelectual, fluxo de informações dos meios de comunicação de massa.

É através da língua que a realidade se apresenta, com signos, significantes e

significados. Basta pensarmos que tudo o que existe é linguagem, se algo não tem

representação na linguagem não existe. Nossos sonhos acontecem com palavras, nos-

sos pensamentos são palavras. Tudo o que existe é nomeado, o que não puder ser

nomeado não existe.

Como exemplo do processo vital que envolve língua e sociedade, diz Urban:

[...] a vida meramente vivida não tem sentido. Poder-se-ia pensar

que somos capazes de apreender ou intuir diretamente a vida, mas

seu sentido não pode captar-se nem expressar-se a não ser numa

linguagem, seja ela qual for. Tal expressão ou comunicação é parte

do próprio processo vital. [...] Num sentido bem objetivo, os limites

da minha linguagem são os limites do meu mundo. (URBAN, 1953 p.

13 apud PRETI, 2000, p. 14)

Vamos refletir um pouco sobre a última frase: “os limites da minha linguagem

são os limites do meu mundo”. De modo especial, o autor nos mostra qual é o limite

de nosso mundo a linguagem. Quanto mais pudermos nos apossar das palavras, ser-

mos seres de linguagem, mais o nosso mundo se alarga, mais desenvolveremos nosso

processo vital.

Por isso, para dar conta da diversidade linguística, vamos identificar suas di-

mensões que, em princípio, são três: a dimensão do locutor, (aquele que fala ou es-

creve), do alocutário (aquele com quem se fala ou o leitor) e do contexto situacional

(quem diz o quê, para quem, onde e quando). O lugar que os interlocutores ocupam

no processo de comunicação estabelece o tipo de linguagem que será usada. Por que

alguém escolhe determinada palavra e não outra em situação de comunicação? Todas

as pessoas daquele local ou daquele grupo social usam a mesma palavra na mesma

situação? Há um significado social nessa escolha? Essas questões, entre outras muitas

que se podem fazer, dão a dimensão da variedade e diversificação linguística.

Pense em uma situação em que você expressou a mesma ideia, mas precisou

usar palavras diferentes porque a situação de fala era outra. O que estamos apresen-

tando é algo que é parte de nossas vidas constantemente, uma rotina tão cotidiana

que nem nos damos conta.

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QuaDro DE VariEDaDEs

Entendemos por variedades as diversas linguagens que usamos conforme a si-

tuação. Veremos as variedades sincrônicas, as que são usadas no tempo presente, por

isso se diz num mesmo plano temporal; as variações diacrônicas, mudanças que acon-

tecem em tempos diferentes, por exemplo, a linguagem de nossos avós é diferente da

nossa.

Variedades Sincrônicas (simultâneas, observáveis num mesmo plano tempo-

ral) - Devem-se a:

Fatores geográficos � - dialetos, ou falares próprios em uma região, vila ou aldeia. Será

que se fala a mesma linguagem no Rio Grande do Sul e no Rio Grande do Norte? Vere-

mos que há termos que são diferentes para designar a mesma situação.

Fatores socioculturais � - família, classe, padrão cultural, atividades habituais. Clas-

ses sociais diferentes apresentam formas diferentes de comunicação; por outro lado,

conforme a profissão que o indivíduo exerce, pode trazer palavras do trabalho para a

linguagem cotidiana.

Fatores estilísticos � - variação observada de momento para momento na atividade

linguística de um único sujeito, vista como uma adequação que o mesmo realiza, cons-

tituindo-se na satisfação de necessidades cognitivas próprias de seus atos verbais. Vem

a ser a forma como cada indivíduo constrói sua comunicação para ficar adequado à si-

tuação de fala. Por exemplo, em uma conferência, há uma variedade de linguagem, no

contato familiar, outra.

Variedades Diacrônicas (as variedades dispostas em vários planos de uma só

tradição histórica.) - Trata-se de pesquisar as variações ocorridas em diferentes perío-

dos históricos. Por exemplo, a variação de uma palavra no português medieval, depois

no período dos oitocentos e na modernidade.

Vamos a um exemplo usando a palavra “embora” numa visão diacrônica. No

século XIX, dizia-se “em boa hora”; modernamente, usa-se “embora”, mas, na fala de

jovens, hoje, pode-se ouvir “bora” ou até “bó”.

Algumas considerações:

A linguagem toma diferente colorido segundo o tema da conversação: maior paixão, �

ou indiferença, se detecta pelas palavras escolhidas ao comunicar.

A escolha das palavras, considerando a situação em que fala e para quem o indivíduo �

se dirige, também traz variações na linguagem.

Uma nova compreensão da noção de erro surge no momento em que se considera a �

situação de fala, ou a temporalidade da mesma, ou ainda, o registro usado para comu-

nicar.

Um indivíduo entra em contato com uma diversidade linguística diariamente, em situ- �

ações diferentes, e não só compreende como também produz. Para isso, basta estar se

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comunicando em um grupo social variado.

Chegamos à conclusão de que não existe uma linguagem única, há muitas va-

riantes, situações adequadas para cada variação, uma linguagem para cada situação.

VariEDaDEs GEoGrÁFicas ou DiatÓPicas

Esse tipo de variedades ocorre num plano horizontal da língua, na concorrên-

cia das comunidades linguísticas, sendo responsáveis pelos chamados regionalismos,

provenientes de dialetos ou falares locais. Entende-se por dialeto qualquer variação

de grupo, na língua, de natureza geográfica ou cultural. Assim, no Brasil, teríamos um

dialeto amazônico, nordestino, baiano, fluminense etc. Veja um exemplo:

A família havia se mudado do Rio Grande do Sul para a Bahia. Eles não conheciam ninguém

em Salvador. O que sabiam da Bahia era o que haviam lido em Jorge Amado.

Para se situar na cidade, a leitura do jornal é uma ajuda poderosa. Eis que um dia, num

anúncio está escrito: “Troco beijo por cheiro”. Anúncio sintético como deve ser um

classificado de jornal. Ana Rosa, a mãe, ficou pensativa, como alguém poderia trocar um

beijo por um cheiro? Nessa questão, uma vizinha sempre resolve.

Quando interrogada sobre o sentido do anúncio, a vizinha respondeu: Ah! É uma proposta

para a troca de mortalha, do bloco de carnaval Beijo pelo Cheiro de Amor. - Mortalha? Na

linguagem da gaúcha, mortalha é a roupa com que se enterra o defunto.

É. Aí ficou evidente, “com essa roupa vou brincar até morrer” metaforicamente, claro. Isso em

1980, porque, hoje, ninguém mais diz mortalha para a roupa do bloco de carnaval. Agora é

abadá.

E qual o significado de abadá? Em nagô, é um camisolão folgado, no estilo da roupa oficial

de Nigéria; também é o nome do uniforme do capoerista. Em árabe, significa grande

derrota ou escravo. Em hebraico, o sentido é de pai, de guia.

Qual será o sentido que mais se aplica ao abadá do carnaval baiano? Só quem sai no bloco

pode saber.

Nilza Cercato

Mas a oposição fundamental com relação às variedades geográficas está entre

linguagem urbana/linguagem rural: a primeira, cada vez mais próxima da linguagem

comum, pela influência de fatores culturais, como escola, meio de comunicação de

massa; a segunda, mais isolada e conservadora, pode extinguir-se ao longo do tempo

com a chegada do progresso e da tecnologia. Com a televisão e a internet, essa lingua-

gem pode desaparecer, podendo-se perder uma riqueza em comunicação. Há um mo-

vimento de pesquisa cujo interesse é preservar o dialeto dos pequenos grupos rurais.

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VariEDaDEs sociocuLturais ou DiastrÁticas

Ocorrem num plano vertical, isto é, dentro da linguagem de uma comunidade

específica urbana ou rural. Essas variações podem ser influenciadas por fatores ligados

diretamente ao falante ou à situação ou a ambos simultaneamente.

As variações socioculturais devem ser consideradas segundo os aspectos a se-

guir:

Idade � - Refere-se à linguagem jovem, linguagem infantil e linguagem adulta. São rea-

lizadas análises com intuito de identificar o que uma difere de outras linguagens, como

e quando é usada.

Sexo � - Diz respeito à oposição entre a linguagem do homem e a da mulher. Estudos

mostram de que forma a linguagem revela o preconceito de gênero numa sociedade e

como os meios de comunicação de massa expressam certos tabus em relação ao femi-

nismo e machismo.

Raça � (ou cultura) - Corresponde às variações que são fruto de fatores etnológicos. No

Brasil, por exemplo, as variações em regiões de maior imigração negra, ou de maior imi-

gração europeia.

Profissão � : Diz respeito à linguagem técnica em que o locutor utiliza vocábulos refe-

rentes à atividade que exercem. É rica a variação entre vendedores ambulantes, jogado-

res e comentaristas de futebol, entre outros profissionais.

Posição social � : O status do locutor determina a linguagem que vai usar. Um político

tem uma expressão, um dirigente industrial ou um servente de pedreiro também, isto é,

a linguagem varia de acordo com a cultura, posição social e instrução.

Grau de escolaridade � : Uma simples frase falada ou escrita já revela a capacidade de

reflexão, de escolha de variações mais cultas, conforme o grau de instrução do locutor.

Como podemos verificar, há uma enorme variedade de linguagem e, como dis-

semos no início, essas variações levam em consideração quem fala ou escreve, para

quem se fala ou se escreve e em que situação está acontecendo a fala ou a escrita.

a QuEstão Da DiGLossia

Nem sempre é possível notar, claramente, as variações de dialetos sociocultu-

rais, no entanto é possível estabelecer a existência de, pelo menos, duas variedades

que coexistem numa mesma comunidade, cada uma desempenhando papel especí-

fico. É a chamada diglossia. Temos uma linguagem culta ou padrão e uma linguagem

popular ou subpadrão. A primeira tem maior prestígio e se usa em situações de maior

formalidade; a segunda, de menor prestígio, é empregada nas situações coloquiais, de

menor formalidade. Assim, se o locutor está em uma aula universitária, ou numa con-

ferência usará a linguagem padrão, e esse mesmo locutor, numa situação de conversa

entre amigos ou em família, usará a linguagem popular ou coloquial.

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USO E CARACTERÍSTICAS DOS DIALETOS SOCIAIS (DI-

GLOSSIA)

Vamos ver, a seguir, aspectos relacionados ao emprego do dialeto culto e do

dialeto popular:

Padrão linguístico formal

Maior prestígio

Situações mais formais

Falantes cultos

Literatura e linguagem escrita

Sintaxe mais complexa

Vocabulário mais amplo

Vocabulário técnico

Maior ligação com as regras gramaticais e com a língua dos escrito-

res. (PRETI, 2000, p. 36)

Dialeto popular

Subpadrão linguístico

Menor prestígio

Situações menos formais

Falantes do povo menos culto

Linguagem escrita popular

Simplificação sintática

Vocabulário mais restrito

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Gíria, linguagem obscena

Fora dos padrões da gramática tradicional. (PRETI, 2000 p. 36)

Em geral, na escrita, usamos o dialeto culto e na fala, o dialeto popular. Fazemos

esses usos tão naturalmente que se tornam rotineiros.

VariaçÕEs DEViDas À situação /níVEis DE FaLa ou rEGis-

tros

Essa variação diz respeito ao uso que o locutor faz da língua e de suas varie-

dades, em função da situação, entendida como influências determinadas pelas con-

dições extraverbais que cercam o ato da fala. A presença física do ambiente em que

a conversação ocorre pode ocasionar um nível de linguagem diferente dos hábitos

normais do locutor. Nesse caso, estão presentes: o grau de intimidade entre os interlo-

cutores, os elementos emocionais que podem alterar a linguagem, levando o locutor

até o truncamento da frase. Daí surgem os chamados níveis de fala ou registros.

Vejamos o que caracteriza cada nível:

Nível Formal �

Situações de formalidade �

Predomínio de linguagem culta �

Comportamento linguístico mais tenso e mais refletido �

Vocabulário técnico �

Você deve ter notado que é um nível mais elaborado e refletido, exigindo do-

mínio da norma culta.

Nível Coloquial �

Situações familiares ou de menor formalidade �

Predomínio de linguagem popular �

Comportamento linguístico mais distenso �

Presença de Gírias �

Linguagem afetiva, expressões obscenas. �

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É como falamos em situações cotidianas, sem grandes preocupações com o ní-

vel formal. Veja, a seguir, um texto que exemplifica as variações linguísticas.

O SOTAQUE DAS MINEIRAS (excertos)

(Carlos Drummond de Andrade)

O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar.

Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais,

como é que o falar lindo (das mineiras) ficou de fora? (...)

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas.

Preferem abandoná-las no meio do caminho, não dizem:

pode parar, dizem: “pó parar”.

Não dizem: onde eu estou?, dizem: “ôncôtô”.

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem,

precipitada e levianamente, que os mineiros vivem linguisticamente

falando,

apenas de uais, trens e sôs.

Digo-lhes que não. (...)

Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra:

- “Cê tá boa?”.

Para mim, isso é pleonasmo.

Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada.

Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer:

- “Mexe” com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc.).

O verbo “mexer”, para os mineiros, tem os mais amplos significados.

Quer dizer, por exemplo, trabalhar.

Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido.

Querem saber o seu ofício.

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“Sôcê” (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:

- “Aqui”, não vou dar conta de chegar na hora, não, “sô”. (...)

Mineiras também não dizem apaixonada por.

Dizem, sabe-se lá por que, “apaixonada com”.

Soa engraçado aos ouvidos forasteiros.

Ouve-se a toda hora:

- Ah, eu apaixonei “com” ele...

Ou: Sou doida “com” ele (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro).

Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe.

É um tal de “bonitim”, “fechadim”, e por aí vai.

Minha inclinação é para perdoar, com louvor,

os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada.

Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a

oficial esteja com a razão.

Se você, em conversa, falar:

- Ah, fui lá comprar umas coisas...

- “Que’ s coisa?” - ela retrucará.

O plural dá um pulo.

Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um “pelas metade”,

no lugar de “pela metade”. (...)

Até o tchau, em Minas, é personalizado.

Ninguém diz tchau pura e simplesmente.

Aqui se diz: “tchau pro cê”, “tchau pro cês”.

É útil deixar claro o destinatário do tchau.

Trem bão também demais sô....

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PROPOSTA DE TRABALHO (em grupo): Organizar um seminário sobre variações

linguísticas.

ProJEto Para DEsEnVoLVEr um sEminÁrio

Costuma-se apresentar trabalhos de pesquisa ou de análise na forma de semi-

nário, mas nem sempre sabemos como devemos proceder, ou quais os critérios de

organização desta atividade. Assim, a seguir, você vai encontrar uma orientação para

seu próximo seminário.

o QuE É um sEminÁrio

Trata-se de uma atividade acadêmica, com características de evento que obje-

tiva a reflexão sobre o tema, com análise de textos, aprofundando o tema dado, para

uma posterior apresentação oral, em grupo.

PARA DESENVOLVER O PROJETO COLETIVO

Preparar disciplinadamente; �

Construir o conhecimento; �

Contribuir concreta e especificamente para a realização do trabalho; �

Questionar sistematicamente as contribuições e conclusões, acatando as ideias dos �

componentes do grupo;

Fundamentar a argumentação; �

Participar ativamente das discussões e buscar consenso por parte de todos os parti- �

cipantes da equipe;

Eleger um coordenador que deverá zelar pelo andamento satisfatório do alcance dos �

objetivos, estimulando a participação de todos, impedindo que alguém se omita;

Eleger um relator, que deverá registrar de maneira elaborada as contribuições dos �

membros do grupo;

Lembrar sempre: todos são responsáveis pelo resultado final a ser apresentado. �

CRITÉRIOS DE ELABORAçãO

Adequação ao público; �

Delimitação e unidade do tema; �

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Sequência lógica; �

Pertinência dos subtemas abordados; �

Planejamento da extensão e tempo dedicado a cada subtema; �

Clareza e simplicidade dos argumentos e evidências; �

Precisão e objetividade na apresentação dos resultados e conclusões. �

EXPOSIçãO

Introdução – apresentar a trajetória expositiva, visão geral do que vai ser discutido; �

Metodologia – como o estudo foi desenvolvido, enfocando os fundamentos; �

Resultados – é o corpo do trabalho, a parte a ser bem destacada; �

Discussão – exposição convincente, com credibilidade, evitando repetições; �

Conclusões – as fundamentações do trabalho. �

CARACTERíSTICAS DE UMA BOA APRESENTAçãO

Concisão, clareza e correção do vocabulário empregado; �

Uso da terminologia específica convencional da respectiva área; �

Adequação da linguagem ao público, observando o tempo disponível; �

Elaboração prévia de um plano expositivo; �

Entusiasmo, competência e domínio do assunto a ser exposto; �

Abordagem original. �

NOSSA PROPOSTA

Dividir a turma em 4 grupos, compostos de 5 ou 6 acadêmicos; �

Dar um nome para cada grupo; �

Sortear os assuntos (durante o encontro para desenvolver o projeto); �

Combinar a data de apresentação; �

Todos os participantes devem falar e apresentar-se no seminário; �

Após exposição oral, deve ser apresentado o texto escrito. �

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CONCLUINDO

O seminário é um recurso pedagógico de grande valia, quando todos se em-

penham para realizar o melhor trabalho possível. Em geral, os testemunhos são de

que a aprendizagem se fez de modo agradável, principalmente pela interação entre

colegas.

Em relação às variações linguísticas, sugiro que você fique atento aos vários

linguajares, livre de preconceitos, pensando na comunicação que se enriquece com

todas as possibilidades.

SíNTESE

Vimos, nesta aula, como o Brasil, tendo um único idioma, pode apresentar va-

riações típicas de cada estado. Um exemplo é o dicionário baianês, em que são elenca-

das as variações da Bahia. Chamo atenção é parafraseando o que diz o Prof. Marcuschi

tanto para a escrita como para a fala há regras, e não se pode considerar a linguagem

oral como uma linguagem de erro.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Reflita sobre o que afirma Marcos Bagno (2005, p. 203):

A unidade linguística do Brasil é um mito: em nosso país, além das

línguas indígenas e das línguas trazidas pelos imigrantes, fala-se

diferentes variedades da língua portuguesa, cada uma delas com

características próprias, com diferenças em seu status social, mas

todas com uma lógica linguística facilmente demonstrável.

LEiTurAS iNdicAdAS

Para entender melhor como funcionam as variações linguísticas, sugiro que leia

o capítulo “Pondo a mão na massa”, do livro A língua de Eulália, de Marcos Bagno,

publicado pela editora Contexto, em 2005.

SiTES iNdicAdoS

www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/.../art06_irande.

www.youtube.com/watch?v=kZ6dhChLUDY

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rEFErêNciAS

BAGNO, Marcos. Preconceito linguistico: o que é, como se faz. São Paulo: Ed. Loyola, 1999.

______. Dramática da língua portuguesa. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.

______ A língua de Eulália: uma novela sociolinguística. São Paulo: Contexto 2005.

MARCUSCHI, L. A. A concepção de língua falada nos manuais de português de 1º e 2º graus: uma visão

crítica. Trabalhos em Lingüística Aplicada, Campinas,SP, UNICAMP/IEL, n. 30, 1997.

______. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

MARCUSCHI, L. A. A linguística do texto: o que é como se faz. Recife: UFPE, 1983. Série Debates 1.

PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis de fala. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000.

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auLa 05 - tiPos E GÊnEros tEXtuais

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“Um herói é um homem que faz o que pode”

Roman Rolland (novelista)

Nesta aula, vamos trabalhar com os gêneros e tipos textuais, com as modalida-

des discursivas, evidenciando suas características e a necessidade dessa classificação.

Esse estudo é importante para que haja uma comunicação mais efetiva, além de eco-

nomia de esforço e tempo.

Gêneros textuais

Um aspecto interessante da classificação dos gêneros e tipos textuais e discur-

sivos é o fato de que eles nos apontam uma direção de leitura, Por exemplo, ao lermos

uma carta, sabemos o que esperar, pela própria prática de leitura. Bakhtin diz (1992,

p.279):

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a

variedade virtual da atividade humana é inesgotável e cada esfera

dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que

vai diferenciando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e

fica mais complexa.

Quando fala em variedade virtual da atividade humana, prevê as possibilidades

de novas formas e novos gêneros que podem surgir. Um exemplo disso são os novos

repertórios de gêneros que apareceram através da internet.

Ao comparar a atividade humana com a esfera, faz lembrar o efeito que se

obtém ao jogar uma pedra em um lago, os círculos se alargam, se expandem. Assim

acontece com os gêneros. Alguns desaparecem, depois retornam com variações, no-

vos gêneros surgem e se instalam.

A primeira classificação de gênero se estabeleceu entre prosa e poesia, sendo

que a prosa aparecia em parágrafos e a poesia em versos. Mas sabemos que essa divi-

são fica limitada quando se pensa na obra de Guimarães Rosa, em que a prosa-poética

está presente. Por outro lado, com o advento do Modernismo, o verso livre abandona

algumas características que eram exclusivas da poesia, como a rima e a métrica a favor

da melodia do verso. Aí está o que Bakhtin (1992, p.279) explicita “à medida que a pró-

pria esfera se desenvolve e fica mais complexa.”

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Outra classificação que vem desde Platão é a distinção entre os gêneros líricos,

épicos e dramáticos. Essa classificação, com algumas variações, permanece em nossos

dias. O gênero lírico se caracterizaria pela presença da voz do autor somente. No gê-

nero dramático, somente as personagens falam. No épico, autor e personagens têm

direito à fala.

Notamos que a classificação dos gêneros é algo construído ao longo do tempo.

Por isso, vale lembrar que, além da literatura, a retórica também apresenta uma clas-

sificação. Aristóteles dividiu a retórica em gêneros, que são até hoje fontes de conhe-

cimento. Ele os classificou de acordo com o objetivo: o deliberativo, para julgar uma

ação futura; o judicial, para uma ação passada, e o epidíctico, em que o orador louva

ou censura, exaltando o sucesso e condenando o fracasso.

Com essas classificações, evidencia-se que o estudo dos gêneros foi uma cons-

tante. Segundo Brandão (2003, p.19),

Esta diversidade de campos do saber voltados à questão do gênero

tem resultado numa variedade de abordagens - o que se atesta pela

metalinguagem utilizada; tem-se usado, às vezes, indistintamente

os termos: gêneros, tipos, modos, modalidades discursivas, espécies

de texto e de discursos.

Com essas reflexões sobre gêneros e sua classificação histórica, justifica-se a

necessidade de uma organização, divisão, para, como dissemos no início, através do

gênero, direcionar nossa leitura, pois, como vimos, eles são dinâmicos, por isso mes-

mo não são formas fechadas.

Maingueneau diz isso claramente (2002, p.59-60):

Tais categorias correspondem às necessidades da vida cotidiana e

o analista do discurso não pode ignorá-las. Mas também não pode

contentar-se com elas, se quiser definir critérios rigorosos. O rigor

não impede, contudo, que se aceitem critérios variados, que corres-

pondem a formas distintas de apreender o discurso.

Desse modo, os gêneros podem ser entendidos como um produto coletivo dos

diversos usos da linguagem e que se realizam de diversos modos, de acordo com as

necessidades comunicativas do dia a dia da comunidade.

GÊnEros E tiPoLoGias na atuaLiDaDE

Podemos entender gêneros como os diversos tipos de discurso associados a

grandes setores da atividade social de comunicação. Esses setores da atividade social

são os canais pelos quais os tipos são apresentados. Maingueneau nos dá um exemplo

elucidativo (2002, p.61):

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Assim, o talk show constitui um gênero de discurso no interior do

tipo de discurso “televisivo” que, por sua vez, faz parte de um con-

junto mais vasto, o tipo de discurso “midiático”, em que figurariam

também o tipo de discurso radiofônico e o da imprensa escrita.

Exemplos de gêneros discursivos: carta, convites, cartões de natal, de felicita-

ções, telegramas, novela, piadas humorísticas, cinema, teatro, crônicas, resenhas, pro-

pagandas, história em quadrinhos e assim por diante.

Notamos que os gêneros estão, conforme diz Maingueneau (2002, p.61): “em

todos os setores da atividade social”.

Vejamos o que diz Bakhtin (1992, p.279):

Se os gêneros do discurso não existissem e se nós não tivéssemos

o seu domínio e se fosse preciso criá-los pela primeira vez em cada

processo da fala, se nos fosse preciso construir cada um de nossos

enunciados, a troca verbal seria quase impossível.

À mesma ideia refere-se Maingueneau, quando diz (2002, p.64):

Graças ao nosso conhecimento dos gêneros do discurso, não preci-

samos prestar uma atenção constante a todos os detalhes de todos

os enunciados que ocorrem a nossa volta. Em um instante somos

capazes de identificar um dado enunciado como sendo um folheto

publicitário ou como uma fatura e, então, podemos nos concentrar

apenas em um número reduzido de elementos.

Notamos, então, como a identificação do gênero textual facilita a abordagem

do leitor ou do ouvinte. Mentalmente nos preparamos para o que vamos ler ou ouvir.

Claro que, se houver algo diferenciado, refazemos nosso percurso ou identificamos

um novo formato. Esse comportamento é muito natural quando se dominam as for-

mas dos gêneros textuais.

Veja o exemplo a seguir:

Receita de mãe

Ingredientes:

5 xícaras de paciência

2 xícaras de dedicação

3 xícaras de perdão

1 pitada de raiva

2 colheres de humor

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3 xícaras de preocupação

2 copos de lágrimas

Amor à vontade, para dar o ponto.

Modo de fazer:

Misture tudo, mexa com cuidado e junte o sorriso, mesmo nas dificuldades. Sinta a textura

desse colo que sempre está à disposição, até quando os filhos forem adultos. Veja como

à volta dela a vida gira e acontece. Evite magoá-la. Ao lado dela, sempre haverá amor de

sobra para todos. Sirva-se à vontade.

Nilza Cercato

Observe que estamos diante de uma receita, mas, à medida que vamos lendo,

constatamos que essa receita não é de culinária comum, porque a autora usou um

gênero, para falar de outro. Temos uma receita que se aproxima do gênero poético. O

importante é que notemos o afastamento do usual de receita logo de início, até pelo

título, embora os elementos componentes estejam presentes, como ingredientes e

modo de fazer, que são marcados nas receitas culinárias. É por isso que Bakhtin (1992,

p.279) diz que “a variedade virtual da atividade humana é inesgotável”.

tiPoLoGia tEXtuaL

Com relação às tipologias, a classificação mais usual na escola é a divisão entre

narração, descrição e dissertação argumentativa. Cada uma delas tem suas especifici-

dades, mas é comum encontrarmos descrição em um texto narrativo, como também

podemos encontrar narração em forma de poema.

Veja o seguinte exemplo:

O rumor das vozes e dos veículos acordou um mendigo que dormia nos degraus da igreja.

O pobre-diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, mas acordado, de barriga

para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, impassível como ele, mas sem

as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os andrajos, um céu claro, estrelado,

sossegado, olímpico. (ASSIS, 1994, p.65)

Nesse trecho do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, temos uma

narração no primeiro período, nos demais, o autor descreve a personagem. Um caso

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típico de narração com descrição.

Por isso, é preciso levar em consideração os seguintes aspectos:

A linguagem é regida pelo princípio do dialogismo, isto é, há um “eu” e um “tu” virtu- �

almente presentes. No exemplo acima, o autor pressupõe um leitor. Então, o “eu” seria

Machado de Assis, o autor; o “tu” seríamos nós, os leitores.

O texto é constitutivamente heterogêneo, polifônico, quer dizer, vozes diferentes apa- �

recem no texto, de forma explícita ou implícita. No caso do exemplo, vemos que há uma

reciprocidade entre o mendigo e o céu. Por outro lado, há uma voz que se faz presente

pelo modo como opõe o mendigo ao céu.

Não se textualiza sob uma única forma, podendo, no texto, aparecerem, concomitan- �

temente, sequências narrativas, descritivas, explicativas, argumentativas.

Vamos, agora, caracterizar essas tipologias, apresentando características das

mesmas, mas sempre lembrando que, em matéria de comunicação, variações e possi-

bilidades surgem a cada momento e a cada contato.

características da narrativa

Na narração, os fatos são apresentados numa sequência temporal e causal,

uma vez que o interesse reside na ação e é por ela (ação) que as personagens ganham

importância Concebe-se uma narrativa quando, em seu contexto, aparecem respostas

às seguintes questões:

O que está sendo contado? �

Quem praticou a ação? �

Quando? �

Em que lugar aconteceu o fato? �

Quem está contando? �

Os fatos podem apresentar uma sequência lógica ou não, mas devem estar co-

erentes com o que é narrado. A seguir, temos o exemplo da narrativa do romance

Memórias Póstumas, de Brás Cubas:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se

poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja

começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a

primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para

quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e

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mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo:

diferença radical entre este livro e o Pentateuco. Dito isto, expirei às duas horas da tarde

de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. (ASSIS,

1992, p.18)

Observamos que há um narrador que se apresenta na primeira pessoa. Brás

Cubas está contando o fato. Quando? Depois da morte, pois se apresenta como um

defunto autor. Onde? Na chácara de Catumbi. O que está sendo contado? As memó-

rias.

Notamos que a sequência está invertida e o próprio autor coloca sua dúvida

com relação a isso: “suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento [...] me leva-

ram a usar diferente método”

As narrativas podem aparecer em contos, romances, lendas, novela, ficção cien-

tífica, biografias, crônicas, notícias, reportagens etc.

Notamos que as narrativas estão muito presentes em nossa vida. Contamos

para nosso melhor amigo como foi o filme que vimos, o jogo a que assistimos, o en-

contro que tivemos no dia anterior, como foi a “bronca” do chefe, e assim por diante.

Em nossas conversações e em nossos relatos, a sequência narrativa é uma tipologia

constante.

características da descrição

A tipologia descritiva apresenta traços diferenciadores de um objeto, de um

personagem ou de um lugar. É como fazer uma pintura usando as palavras. Em geral,

os substantivos e adjetivos são muito usados, pois essas categorias nomeiam e quali-

ficam seres. Descrever exige criatividade, pois, se houver apenas uma enumeração e

qualificação do objeto a ser descrito, estaremos diante de uma listagem, apenas.

Veja o exemplo:

O ar ali estava mais frio. Sobre a cidade, graças ao céu limpo, o sol ainda brilhava, posto

já sobre o lado do mar a cair, lançando uma luz suave, um afago luminoso a que daqui

a pouco responderão as vidraças da encosta, primeiro com archotes vibrantes, depois

empalidecendo, reduzindo-se a um pedacinho de espelho trêmulo, até se apagar tudo e

começar o crepúsculo a peneirar a sua cinza lenta entre os prédios, ocultando as empenas,

apagando os telhados, ao mesmo tempo que o ruído da cidade baixa esmorece e recua sob

o silêncio que se derrama destas ruas altas onde vive Raimundo Silva. (SARAMAGO, 2003, p.

83)

Observamos a beleza poética dessa descrição, o ar, o sol, o crepúsculo, as casas,

as ruas, o ruído. Um pintor poderia desenhar essa paisagem, mas nunca captaríamos

as nuances com que o autor descreve o pôr do sol. Considero essa descrição com tra-

ços poéticos, pela forma como a imaginação é convocada para recriar esse momento

tão especial do pôr do sol.

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Procure relacionar a qualificação que o autor faz de cada elemento que compõe

esse belíssimo quadro, por exemplo: luz suave, afago luminoso, cinza lenta. Proceda da

mesma forma com os outros elementos.

As tipologias descritivas aparecem quase sempre mescladas com a narrativa.

Podemos ter uma descrição do mais belo gol de Neymar, até a da expressão mais sin-

gela de uma criança abrindo um presente. Creio que uma descrição criativa seja uma

das formas mais complexas de criar um texto.

Características da argumentação

Argumentar tem o sentido de convencer, através de argumentos, isto é, através

de ideias convincentes, defende-se um ponto de vista. Esses argumentos podem ser

expressos por meio de exemplos, causas, consequências, comparações, oposições, da-

dos científicos, resultados de pesquisas, em conversações e debates.

Geralmente, a dissertação argumentativa pressupõe uma tese, que vem a ser a

ideia a ser defendida, o posicionamento tomado diante de um determinado assunto.

Isto comporia a introdução. Em seguida, viriam os argumentos para demonstrar, con-

vencer da legitimidade do que se defende, e, por último, uma conclusão que reitera a

tese.

Observe o seguinte exemplo:

A divisão social do trabalho, ao separar os homens em proprietários e não-proprietários,

dá aos primeiros poder sobre os segundos. Estes são explorados economicamente e

dominados politicamente. Estamos diante de classes sociais e da dominação de uma classe

por outra. Ora, a classe que explora economicamente só poderá manter seus privilégios se

dominar politicamente e, portanto, se dispuser de instrumentos para essa dominação. Esses

instrumentos são dois: o Estado e a ideologia. (CHAUí, 2001, p.82)

Nesse parágrafo, a autora apresenta o seu ponto de vista em relação à ideologia

e às classes sociais. Expõe a construção de uma sociedade formada a partir do poder

econômico e político.

É preciso pensar que não existe linguagem inocente, sem objetivo. Em todo

o discurso, há uma argumentatividade, pois desejamos convencer o outro de nosso

ponto de vista. Para atingir esse objetivo, a construção de nossa comunicação se faz

com os operadores argumentativos, como as conjunções e preposições, de forma a

manter a coerência textual.

moDaLiDaDEs DiscursiVas na anÁLisE DE Discurso

Para complementar esse estudo de gêneros e tipologias, vamos ver uma clas-

sificação usada na Análise de Discurso. As modalidades discursivas foram enunciadas

por Orlandi (1987, p.154-156):

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1. Discurso lúdico - Diz-se do discurso que apresenta reversibilidade total entre

os interlocutores, isto é, os interlocutores usam indiferentemente a voz, propondo sen-

tidos, pois resulta de uma polissemia aberta do jogo com a palavra. Não há coerções,

o que significa que não há desejo de convencer, apenas, uma expressão de sentimen-

tos ou opiniões, uma vez que o imperativo desaparece. Há um jogo de interlocuções

(eu-tu-eu dinamizados) em que se percebe menos desejo de convencer; uma vez que

o caráter desse discurso é polissêmico – trazendo riqueza de sentidos e encontro de

novos significados.

Veja o exemplo:

Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas

caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente, em

público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... Pobre velhinho! (Mário Quintana)

O jogo lúdico que o autor faz com as palavras traz uma polissemia aberta, po-

dendo-se estabelecer novas significações, inclusive pelas figuras usadas, personalizan-

do as palavras e associando-as à figura do próprio eu do autor.

2. Discurso polêmico - Nessa modalidade, há reversibilidade em certas condi-

ções; pois se trava um embate/debate no qual a função referencial é disputada pelos

interlocutores; o “eu” domina, mas ouve o “tu” para rebater, por isso a polissemia é con-

trolada e até instigante ao apresentar argumentos que podem ser contestados.

Observe o exemplo:

Morder o fruto amargo e não cuspir

Mas avisar aos outros o quanto é amargo.

Cumprir o trato injusto e não falhar,

Mas avisar aos outros quanto é injusto.

Sofrer o esquema falso e não ceder

Mas avisar aos outros o quanto é falso;

Dizer também que são coisas mutáveis...

(Geir Campos)

A presença da adversativa “mas” caracteriza o embate entre duas situações. A

cada denúncia do “eu”, surge a voz de um “tu” para desestabilizar a situação injusta,

amarga, falsa. A argumentatividade presente no poema encaminha para o debate en-

tre duas situações que emergem no dizer, através das pistas lingüísticas. Sabemos que

o “mas” é um operador argumentativo que opõe duas situações e, dessa forma, um

debate se estabelece.

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3. Discurso autoritário - É assim chamado porque a reversibilidade tende a

zero, uma vez que resulta em verdade imposta, verificando-se o exercício de domina-

ção pela palavra. É um discurso no qual não há lugar para a interlocução, pois o “eu”

domina e o “tu” é reduzido ao silêncio, numa forma de discurso exclusivista que não

permite mediações, já que é a voz da autoridade que se faz ouvir. O discurso de gover-

nos ditatoriais, da igreja, da escola e da família, quando propõem comportamentos,

costuma ser autoritário.

A seguir, veja um exemplo de discurso autoritário:

Quebre o silêncio. Converse com o seu parceiro e previna-se contra a AIDS. Cui-

de de você e da sua família. Use camisinha. (Campanha publicitária governamental)

Há, no exemplo, uma voz autoritária, que orienta e ensina no sentido educativo

e preventivo. A coerência se faz quando a modalidade autoritária traz uma referência

de bom senso, promotora do bem-estar social e político. Mas também podemos en-

contrar o discurso autoritário prejudicial, quando uma vontade é imposta para domi-

nar, submeter injustamente.

Depois de passarmos por várias teorias sobre os gêneros, tipologias e modali-

dades discursivas, verificamos que é um princípio de economia na leitura e no conhe-

cimento estabelecermos, logo nas primeiras linhas, a que gênero pertence o texto que

estamos lendo. Por outro lado, como escritores, temos diante de nós uma facilidade

na interação com o leitor.

SíNTESE

Conforme vimos, os gêneros são histórico-sociais e não devem ser fechados em

regras aprisionadoras. As possibilidades de utilizar os gêneros e as tipologias facilitam

a leitura, direcionam a comunicação. Vimos também que as tipologias designam uma

espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composi-

ção (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Reflita sobre o que nos diz Bakhtin (1992, p.259):

Se os gêneros do discurso não existissem e se nós não tivéssemos

o seu domínio e se fosse preciso criá-los pela primeira vez em cada

processo da fala, se nos fosse preciso construir cada um de nossos

enunciados, a troca verbal seria quase impossível.

LEiTurAS iNdicAdAS

Você deve aprofundar a questão dos gêneros e tipologias lendo o primeiro ca-

pítulo do seguinte livro:

BRANDãO, Helena N. Gêneros e tipologias textuais. In: BRANDãO, Helena N. (org.).

Gêneros de discurso na escola: mito conto, cordel, discurso político, divulgação

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científica. São Paulo: Cortez, 2002.

SiTE iNdicAdo

www.ich.pucminas.br/posletras/06.pdf

rEFErêNciAS

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: FTD, 1994.

ASSIS, Machado de. Quincas Borba. São Paulo: FTD, 1992.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992

BRANDãO, Helena N. Gêneros e tipologias textuais, In: BRANDãO, Helena N. (org.). Gêneros de discurso

na escola: mito conto, cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez Ed. 2002.

CHAUí, Marilena. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 2001

FÁVERO, L. L. & KOCH, I. V. Contribuição a uma tipologia textual. Letras & Letras, Uberlândia, v.3, n.1, p.

3-10, 1987.

MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONíSIO, Â. et al. Gêneros textuais e

ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

ORLANDI, Eni P. Análise do Discurso: princípios & procedimentos. 6. ed. São Paulo: Pontes, 2005.

ORLANDI, Eni P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas, SP: Pontes, 1987

SARAMAGO, José. História do Cerco de Lisboa. São Paulo: Folha de São Paulo, 2003.

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auLa 06 – HiPErtEXto

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“Ter muito é estar confuso.”

Lao-Tzu (filósofo)

Vamos tratar, nesta aula, do hipertexto, suas especificidades, seus usos e suas

modalidades, nosso conhecido na prática, pois, diariamente, estamos conectados, mas

é interessante conhecer algumas teorias a respeito. Para desenvolver esta aula, usei o

livro Hipertexto, organizado por Luiz Antônio Marcuschi e Antônio Carlos Xavier, além

de alguns sites da internet, fazendo com isso uma metalinguagem.

HiPErtEXto

Quando pensamos na linguagem, verificamos que ela é uma forma de conhe-

cimento variável, flexível, com plasticidade capaz de se adaptar às transformações so-

ciais e culturais graças à criatividade do homem.

Agora, ao associarmos linguagem e tecnologias de comunicação virtuais, um

universo se abre, devido às inovações, por isso se faz necessário pensar nas mudanças

trazidas pelo uso do hipertexto, dos gêneros eletrônicos, do discurso e das diversas

formas de comunicação a partir do uso da internet.

Diz Marcuschi (2005, p.13):

Em certo sentido, pode-se dizer que, na atual sociedade da informa-

ção, a Internet é uma espécie de protótipo de novas formas de com-

portamento comunicativo. Se bem aproveitada, ela pode tornar-se

um meio eficaz de lidar com as práticas pluralistas sem sufocá-las,

mas ainda não sabemos como isso se desenvolverá.

Pela nossa prática no uso da comunicação via Internet, temos, simultaneamen-

te, texto, som, imagem com uma rapidez tal que suplanta as demais práticas sociais de

comunicação fora do contexto virtual.

E novos gêneros textuais começam a fazer parte do cotidiano do indivíduo.

Pensemos no bate-papo on-line semelhante às conversações face a face. A diferença,

no entanto, está no uso da linguagem oral na conversação e da escrita no bate-papo.

Por outro lado, na conversação face a face, a identificação do interlocutor é real, en-

quanto que, on-line, há um nickname que não garante a identidade do interlocutor, às

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vezes, mesmo com o uso do webcan.

A análise que Marcuschi (2005, p. 17) faz a respeito disso é que:

Criam-se novas formas de organizar e administrar os relaciona-

mentos interpessoais nesse novo enquadre participativo. Não é

propriamente a estrutura que se reorganiza, mas o enquadre que

forma a noção de gênero. Em suma: muda o gênero. Desde que não

tomemos a contextualização como um simples processo de situar

o gênero numa situação exteriorizada, mas sim como enquadre

cognitivo, os gêneros virtuais são formas bastante características de

contextualização.

O que vale ressaltar é que os gêneros virtuais se situam como meio de comuni-

cação para todos os setores da realidade: empresas, comunidades, grupos de lazer e

educação. Sobre o ensino a distância, diz Paiva (2001, p. 272):

Nas comunidades virtuais de aprendizagem, abandona-se o mode-

lo de transmissão de informação tendo a figura do professor como

o centro do processo e abre-se espaço para a construção social do

conhecimento através de práticas colaborativas. Assim as dúvidas

dos alunos são respondidas pelos colegas e deixam de ser responsa-

bilidade exclusiva do professor.

Mudanças de estilo de aprender e de ensinar, mudanças no uso da linguagem,

novos modelos de comunicação fazem parte do dia a dia. Sobre isso, Galli (2005, p.125)

diz:

A linguagem da Internet tem seus pressupostos que, naturalmente,

estão caminhando para um novo modelo de comunicação. A Inter-

net já se transformou num veículo de comunicação com uma lin-

guagem acessível à maior parte dos hiperleitores. Desse modo, há

uma exploração dos termos dessa área, os quais são transferidos

para o contexto social e divulgados como uma linguagem global.

Assim sendo, as mensagens veiculadas nos sites são destinadas a todo tipo de

público. No entanto, o locutor precisa estar sempre atento ao emprego da uma lingua-

gem adequada, uma vez que, “Não é só quem escreve que significa; quem lê também

produz sentidos”, afirma Orlandi (2000, p.101).

Um dos contextos sociais e econômicos que dizem respeito à questão da in-

terpretação, da produção de sentidos, vem associado à de persuasão. Assim é que o

hipertexto é um veículo importante para vendas, publicidade, além das mensagens

interpessoais. Segue-se por um caminho virtual a um simples toque do mouse. O in-

ternauta tem a seu dispor possibilidades de conhecer e adquirir produtos em qualquer

parte do mundo, basta dominar formas de comunicação virtual. O universo se expan-

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de e, portanto, a linguagem passa a ser globalizada.

Usando como referência Robin (1973), podemos distinguir quatro fases do uso

da internet, numa linguagem globalizada. A primeira é o uso “por necessidade e diver-

são”. Nessa etapa, comunicações importantes que exigem contato imediato tornam-se

comuns em empresas, nacionais e internacionais, encurtando distâncias de forma a

tornar ágil e proveitoso o processo de intercomunicação. A diversão fica por conta das

redes sociais e dos bate-papos.

Em seguida, a segunda fase diz respeito a uma “linguagem globalizada”, em que

há uma associação de palavras específicas em outros idiomas, principalmente em in-

glês, que passam a ser usadas por todos e, embora causem estranhamento no início, a

recepção da mensagem não é prejudicada.

A terceira etapa veicula a “persuasão: dialogia/interação”, usada especialmente

em publicidade. A sedução se faz pelo uso dos recursos de som, cor, imagem e lin-

guagem persuasiva. Criam-se possibilidades de troca de mensagens entre a empresa

fornecedora de produtos e o interessado em adquiri-los.

A última fase trata da impressão geral da internet: sites> linguagem virtual > glo-

balização. Aqui entram os sites, em geral, de fácil acesso, em que os termos de uso glo-

bal passam a fazer parte do cotidiano dos internautas, inclusive gerando derivações

fruto desses termos, como inicializar, digitalizar, servidor etc.

Essas etapas não deixam de lado, no entanto, o texto impresso comum, usual.

Vejamos como pensa Johnson-Eilola (1994, p. 216). Para ele, o hipertexto traz uma

possibilidade de rever as condições de produção, as formas de transmissão de conhe-

cimento. É importante pensar no hipertexto como um modo de dar voz a todos, in-

cluindo os silenciados na cultura, como um modo de pensar as relações entre autor e

leitor.

Sobre a relação entre autor e leitor, diz Chartier:

Do rolo antigo ao códex medieval, do livro impresso ao texto eletrô-

nico, várias rupturas maiores dividem a longa história das maneiras

de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os pos-

síveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram a

compreensão. (CHARTIER, 1999, p.77)

É importante notar que, se retirarmos a característica da virtualidade da comu-

nicação via internet, as formas de comunicação se mantêm. Passamos do meio real

para o meio virtual com muita facilidade e certas fórmulas de comunicação se mo-

dificam, outras quase desaparecem, como é o caso das cartas via correio. Precisamos

fazer diferença entre fórmulas e formas: a primeira é a mudança de meio de envio da

comunicação; a segunda, a organização do discurso. Fundamentalmente, é necessário

que o texto seja coerente, tenha coesão e comunique.

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catEGorias DE HiPErtEXtos

Quais são as categorias do hipertexto? Como se organizam? São questões pon-

tuais em nosso estudo. Vamos acompanhar o que dizem os teóricos a esse respeito.

Michael Joyce (1995, p. 41-42, apud SNYDER, 1998, p. 30-31) identifica duas ca-

tegorias de hipertexto:

A) Hipertexto exploratório - Nesta categoria, há um autor inicial, mas abre es-

paço para que os leitores, que são os navegadores, acrescentem informações, quer

seja por necessidade pessoal, quer pelo desejo de contribuir. O que acontece, ao final,

é ser o texto original modificado, recriado, havendo possibilidade de versões da mes-

ma mensagem.

B) Hipertexto construtivo - Como o próprio nome diz, a autoridade do autor

desaparece, sendo recriado todo um conjunto de conhecimentos. É o caso de contos

e narrativas compostas por quaisquer leitores virtuais.

Num extremo, no caso do hipertexto exploratório, os usuários são navegadores

que têm que fazer escolhas e seguir como se estivessem numa ação linear. Há uma

certa passividade.

Por outro lado, o hipertexto construtivo é aberto, permite interconexões e o

usuário pode controlar sua atuação, adicionar notas, e pode produzir seu corpo de

conhecimento.

Por exemplo, um pesquisador necessita de uma informação sobre a arquitetura

de um prédio histórico de Salvador. Ele vai navegar por vários sites antes de chegar ao

que deseja. Depois de várias leituras, chega ao que deseja. É uma construção pelos

elos e nós que compõem o hipertexto. Mesmo assim, ele terá uma construção frag-

mentada. Se ele tiver o site efetivo da arquitetura do prédio, poderá ativar o conheci-

mento mais rapidamente.

Uma construção interessante é a de alguns escritores hipertextuais literários,

cabendo indagar o que significa produzir uma obra virtualmente aberta para um leitor

comum.

Por exemplo, um autor monta uma história de tal forma que, ao final, cada inter-

nauta que acesse seu texto, tenha quatro formas, à sua escolha, para seguir. O que vai

escolher? Como vai dar continuidade? De repente, pode-se ter uma multiplicação de

histórias, pois elas serão construídas e desconstruídas como num labirinto.

O que temos é um novo espaço de escrita, mas é preciso que ele apresente

textualidade, coerência e coesão, embora seja difícil um aprofundamento pelo fato de

ser uma produção fragmentada.

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tEXto E HiPErtEXto

Em sua obra intitulada Hipertexto (2005), Marcuschi afirma que o hipertexto é

um novo espaço de escrita, mas diz também:

Em certo sentido, pode-se dizer que, na atual sociedade da informa-

ção, a internet é uma espécie de protótipo de novas formas de com-

portamento comunicativo. Se bem aproveitada, ela pode tornar-se

um eficaz meio de lidar com as práticas pluralistas sem sufocá-las,

mais ainda não sabemos como isso se desenvolverá. (MARCUSCHI,

2005, p. 13)

Mais adiante, ao situar o hipertexto, acrescenta:

Pode-se dizer que parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao

fato de reunir num só meio várias formas de expressão, tais como:

texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorpo-

ração simultânea das múltiplas semioses, interferindo na natureza

dos recursos lingüísticos utilizados. (MARCUSCHI, 2005, p. 13)

Além de se afirmar que o hipertexto é um novo espaço de escrita, é comum

ouvir-se que o hipertexto representa uma novidade radical, uma espécie de novo pa-

radigma de produção textual. A rigor, ele não é novo na concepção, pois sempre exis-

tiu como idéia na tradição ocidental; a novidade está na tecnologia que permite uma

nova forma de textualidade.

O hipertexto, aliado às vantagens da hipermídia, consegue integrar notas, ci-

tações, bibliografias, referências, imagens, fotos e outros elementos encontrados na

obra impressa, de modo eficaz e sem a sensação de que sejam notas, citações etc.

É interessante o papel do leitor: se, por um lado, ele tem todo o poder, porque

pode ir pelo texto como quiser, se é quase tão poderoso como o autor; por outro lado,

é um leitor vazio de histórias, parecendo um personagem em eternas férias, sem com-

promisso com o real. A comparação que Possenti (2002, p.18) faz é de uma pessoa

que passa em uma livraria e fica bisbilhotando, olha uma figura, uma capa, depois vai

numa estante e retira de lá um livro, lê algumas páginas e passa adiante.

Ao analisar o papel do leitor, ele sugere:

O leitor de hipertexto nunca é apresentado como o constituidor

de sentidos de um texto, na tensa interação com o autor, a obra

(o texto) e tudo o que já se disse sobre a obra ou seu tema. Parece

estar sempre lendo pela primeira vez e ele precisa, assim, que lhe

forneçam pistas muito claras, e cores para saber em qual momento

pode ou deve derivar do texto (trecho?) que lê para outro texto que,

eventualmente fornecerá informações a mais. (POSSENTI, 2002, p.

219-220)

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O hipertexto traz, portanto, novos comportamentos em relação ao ato de co-

municação; em geral, são a rapidez, o dinamismo, a possibilidade de interação instan-

tânea, mesmo a distância, acesso a informações, assim como maiores possibilidades

de pesquisa. Há também uma nova visão da autoria, pois a interatividade pode apagar

o autor primeiro e, ao final, o texto ser uma composição como um quebra-cabeça, em

que as partes se ajustam para formar o todo.

PrÁtica

Marcuschi, ao analisar o hipertexto e a oralidade, coloca algumas questões (veja

a seguir). Reflita sobre elas e, com base em sua experiência de internauta, nas explica-

ções desta aula e em pesquisas, responda às questões. Justifique seu ponto de vista e

dê exemplos de como isso acontece.

Qual é a relação do hipertexto com a oralidade? �

Há maior proximidade desse tipo de escrita com a oralidade do que a escrita impressa �

em livros?

No livro “Hipertexto”, Marcuschi apresenta uma comparação entre os gêneros

textuais emergentes e os gêneros preexistentes. Veja a seguir:

GÊNEROS EMERGENTES GÊNEROS JÁ EXISTENTES

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

E-mail

Chat em aberto

Chat reservado

Chat ICQ (agendado)

Chat em salas privadas

Entrevista com convidado

E-mail educacional (aula por

e-mail)

Aula Chat (aulas virtuais)

Video-conferência interativa

Lista de discussão

Endereço eletrônico

Blog

Carta pessoal / bilhete / correio

Conversações (em grupos

abertos?)

Conversações duais (casuais)

Encontros pessoais (agendados?)

Conversações (fechadas?)

Entrevista com pessoa

convidada

Aulas por correspondência

Aulas presenciais

Reunião de grupo/ conferência/

debate

Circulares / séries circulares (???)

Endereço postal

Diário pessoal, anotações,

agendas

Fonte: Marcuschi (2005, p. 31)

Agora, escolha um gênero emergente e outro já existente e estabeleça as dife-

renças e semelhanças entre eles. Por exemplo: quais as semelhanças e diferenças entre

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o diário pessoal e o blog?

O livro “Hipertexto”, de Marcuschi, é de 2005. Notamos que ele não coloca o

twiter como um gênero emergente, porque se tornou popular depois da edição do

livro. Como você correlaciona o twiter com um gênero já existente? Que semelhanças

e diferenças com outro gênero você aponta?

Leia e divirta-se:

ATUALIZANDO O BLOG

- Filho, não está funcionando.

- Você ligou os fios como eu te falei?

- Liguei.

- Você conectou a rede neural na corrente quântica?

- Acho que sim…

- Como assim “acha”, pai?

- Qual é essa corrente mesmo?

- Varia, é o seu signo cognitivo pra alimentação de força, ele fica sempre no canto inferior

direito da sua interface?

- E onde que eu vejo essa interface?

- Como assim, pai? Você não está vendo a interface? Você calibrou sua rede neural?

- Não sei… como que faz pra calibrar?

- Ai, pai…, espera um pouco que daqui a pouco eu chego em casa.

- Mas eu só quero atualizar meu blog, não dá pra entrar na neuronet pelo computador, não?

- Hahahaha claro que não, pai. Entrar na neuronet pelo computador… só você mesmo, pai.

(Anônimo)

Como você pode ver, há muito o que se dizer sobre o hipertexto, é um mundo

que se descortina, permitindo acesso ilimitado. Para tanto, convido para as descober-

tas que se podem fazer, contatos que se podem estabelecer e papéis a desenvolver.

SíNTESE

O uso da internet e dos gêneros que aí surgem faz parte do dia a dia do indiví-

duo da era digital. Como tal, usamos o hipertexto, sem, no entanto, ter os fundamen-

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tos teóricos para um uso consciente. Importante é lembrar que o hipertexto permite

a interação virtual. Também é importante relacionar os gêneros já existentes com os

novos gêneros digitais.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Reflita e discuta com seus colegas sobre a seguinte proposição:

A internet permite uma pluralidade de vozes, diminuindo as distâncias e aproxi-

mando pessoas, inclusive possibilitando que o indivíduo que não tem voz e vez possa

se manifestar.

LEiTurAS iNdicAdAS

Para aprofundar os fundamentos do hipertexto, você deve ler o capítulo, de autoria

de Marcuschi, intitulado Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital,

do seguinte livro:

MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto. Rio de Janeiro:

Lucerna, 2005.

rEFErêNciAS

CHARTIER, Roger. Leitura e leitores populares. In: CAVALLO, G.; CHARTIER, R. (Org.). História da leitura no

mundo ocidental. São Paulo: Ática. 1999.

GALLI, Fernanda Correia Silveira. Linguagem da Internet, um meio de comunicação global. In: MARCUSCHI,

L. A.; XAVIER, A. C. (Orgs.). Hipertexto. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

JOHNSON-EILOLA, J. Reading and writing in hypertext: vertigo and euphoria.

C.L. Selfe&Hillingoss, 1994.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro dom pensamento na era da informática. Rio de

Janeiro: Editora 34, 1993.

MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005

PAIVA, Vera Lúcia Menezes (Org.). Interação e aprendizagem em ambiente virtual. Belo Horizonte: FALE

- UFMG, 2001.

POSSENTI, Sírio. Notas um pouco céticas sobre hipertexto e construção de sentidos. In:______. Os limites

do discurso. Curitiba: Criar edições Ltda. 2002.

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ROBIN, R. História e linguística. São Paulo: Cultrix, 1973

SNYDER, L. Page to Screen: taking Literacy into the Eletronic Era. London/New York/London: Routledge,

1998.

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auLa 07 - LEitura /oBJEtiVos, EstratÉ-Gias, contEXtos

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

Com a leitura podemos criar mundos e conhecer personagens. Nesta aula,

vamos trabalhar com leitura, seus objetivos, quais as melhores estratégias;

vamos valorizar o contexto em que é produzida e verificar que tudo pode ser

objeto de leitura.

“Se as coisas são inatingíveis... Ora, não é

motivo para não querê-las... que tristes os

caminhos se não fora a presença distante das

estrelas...”.

Mário Quintana

LEr É atriBuir sEntiDos

São muitos os sentidos que se podem atribuir à palavra leitura, desde apenas

identificar letras, até o sentido mais profundo de que ler é atribuir sentidos. Nesta aula,

vamos produzir algumas leituras, ver como se constroem seus objetivos, como o texto

está organizado.

Vejamos, há quem pense que ler é:

decodificar, apenas, o que faz um recém alfabetizado; �

procurar descobrir o que o texto está dizendo; �

dizer o que entendeu do texto. �

Nossa proposta é ir além. É a de que ler é atribuir sentidos. O leitor recria o texto:

assim como há uma produção de texto escrito, há também uma produção de leitura.

Quando lemos, devemos considerar que existe um leitor virtual e um leitor real.

O leitor virtual é aquele que é pensado pelo autor no momento da escrita. Por exem-

plo: ao escrever uma carta, pensamos na pessoa para quem escrevemos, ela está virtu-

almente em nossa presença. O mesmo acontece com todos os textos, pois o autor, de

seu lugar, imagina um leitor que também ocupa um lugar. O leitor real é aquele que,

no momento, está diante do texto atribuindo sentidos. O leitor lê a partir de um lugar.

Por exemplo, hoje lemos a carta de Pero Vaz Caminha como leitores reais, uma vez que

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o leitor virtual de Caminha era o rei de Portugal.

Para melhor atribuir sentidos, devemos levantar hipóteses de leitura. A partir

do título, criamos hipóteses para a leitura que fazemos e, se elas não se sustentam,

precisamos refazer os caminhos e criar novas hipóteses. Um exemplo são os romances

de ficção em que as hipóteses são refeitas a cada capítulo.

Ao longo da leitura, surgem as inferências, os subentendidos e os pressupostos.

Deve-se desvendar o dito pelo não dito, criando possibilidades de novos sentidos.

Vamos apresentar alguns aspectos que nos favorecem no momento de atribuir

sentidos:

O segredo de uma leitura proveitosa é mobilizar saberes em novas combinações. O �

que é novo: tipo de vocabulário, expressões criativas e outros aspectos.

Outro recurso é buscar a intertextualidade, estabelecendo comparações, apontando �

analogias ou contrastes. Um novo texto se apoia em outro de modo claro ou de forma

implícita, como já vimos em aula anterior.

A leitura é um processo de interação entre autor e leitor; cabe ao leitor constituir sen- �

tidos. Não podemos saber qual a intenção do autor ao produzir o texto, mas podemos

descobrir sentidos através das pistas linguísticas (palavras, expressões) que apontam

para determinada conclusão.

A leitura é seletiva, pois há vários modos de ler. Seria responder à questão: com que �

objetivo vou ler o texto? Lazer? Estudo? Informação? Conhecimento? Posso ler um texto

somente para saber como determinado autor usa argumentos, ou então, para determi-

nar como esse texto se encaixa na obra do autor, ou ainda, descarto determinado texto

porque não me interessa, não o leio.

Cada leitor atribui sentido a partir de seu conhecimento de mundo. Isto é fácil compre- �

ender quando pensamos na literatura infantil. Há todo um vocabulário, uma apresen-

tação dos fatos coerente com o desenvolvimento da criança. Veja este exemplo: A mãe

ensinava as cores para a filhinha de 2 anos. Quando ela mostrou cor-de-rosa, a menina

disse: Mamãe, já sei, o rosa é um vermelho que chega bem devagarzinho.

O contexto histórico e o lugar ocupado pelo leitor podem determinar uma interpre- �

tação de leitura. O momento e os fatos que aconteceram no momento da produção do

texto pelo autor devem ser pesquisados pelo leitor a fim de produzir um sentido em

profundidade. Por exemplo: determinados assuntos são tabus em certa época, o leitor

deve ter esse dado para “ler” como o autor se refere a eles, considerando que linguagem

usou, quais os implícitos presentes.

Nossa sugestão é de que sua leitura seja produtiva, em que os saberes, a inter-

textualidade, as condições de produção sejam mobilizados para oferecer sentido a sua

leitura.

tiPos DE LEitura

Há modos de ler. Conforme o leitor cria seus objetivos, podem-se atribuir sen-

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tidos, passando por tipologias diferentes. De acordo com os objetivos, pode-se fazer

um tipo de leitura. Vejamos:

Leitura parafrástica: � Observa-se relevância na relação com o texto. Trata-se de fazer

uma paráfrase do texto, isto é, dizer com as próprias palavras de que o texto trata. Em

geral, esse é o primeiro comportamento, transportar para a linguagem do leitor o que

o autor diz.

Comparativa � : Tem o intuito de comparar textos lidos em suas semelhanças e diferen-

ças; estabelecer a intertextualidade; ver como textos de autores diferentes se posicio-

nam diante de um determinado assunto e a época em que isso acontece.

Referencial � : É informativa, tem como foco o assunto do texto. Geralmente, notícias de

jornal, noticiários de TV apresentam textos que pedem uma leitura referencial. É a forma

mais usual de leitura para colher informações.

Interpretativa � : Buscar-se verificar o que se entendeu do texto. Seria trabalhar com um

nível mais profundo de linguagem, de ideias, procurando estabelecer o nexo entre elas,

como devem ser lidas.

Polissêmica � : Procura atribuir sentidos a partir das condições de produção. Essa é a

leitura mais produtiva. A polissemia permite trabalhar com as várias possibilidades de

sentido. Por condições de produção compreende-se: o momento sócio-histórico (quais

os fatos relevantes na sociedade e na história quando o autor produziu seu texto); o

contexto situacional (em que circunstâncias o texto foi levado a público ou ao leitor) e o

lugar ocupado pelos interlocutores, no caso, autor e leitor (seria verificar o papel social e

as relações de força entre interlocutores).

Para uma leitura de qualidade, a Análise de Discurso propõe o trabalho com a

leitura parafrástica e a polissêmica. Vejamos, a seguir, como elas acontecem.

A leitura parafrástica privilegia:

o mesmo, isto é, o uso do mesmo idioma, o mesmo sentido; �

o já-dito, não somos a origem da linguagem, em algum lugar, alguém já disse as pa- �

lavras que usamos;

a estabilidade, uma certa fixidez, estrutura; �

o retorno constante ao mesmo, ou seja, o uso de palavras já-ditas; �

a matriz de sentido, a base sobre a qual se vai atribuir sentido. �

Não há sentido sem repetição, pois as palavras que usamos podem voltar a

qualquer momento.

Já a leitura polissêmica se caracteriza por apresentar:

o diferente, conforme a situação o sentido pode ser outro; �

o ainda-a-dizer uma característica da incompletude da linguagem, visto que sempre �

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há novas possibilidades - a lógica do eterno retorno;

o equívoco, que é entendido não como erro, mas com o deslize do sentido (Lembre �

que, numa aula anterior, no caso das Sementes do suicídio, o que houve foi um deslize

de sentido);

conflito com o já produzido: - se podemos atribuir sentido diferente, novas interpre- �

tações podem surgir;

fonte da linguagem, porque uma mesma palavra pode ganhar sentido novo, se cons- �

truirmos em outro contexto sócio-histórico;

sujeitos e discursos múltiplos - considerando o sujeito como lugares sociais, conforme �

a situação o sentido pode ser outro;

repetição, pela qual se tangencia o novo, o possível e o diferente, uma vez que a po- �

lissemia permite a multiplicação de sentidos;

a memória, visto que, em todo o dizer há algo que se mantém, mas devemos pensar �

nas possibilidades de formulações sobre o mesmo e, ao mesmo tempo, lembrar dos des-

locamentos e rupturas que podem acontecer;

a leitura que se faz na tensão entre o mesmo (que é a paráfrase) e o diferente (através �

da atribuição de sentidos polissêmica).

Com essas duas formas de ler podemos recriar sentidos, refazer percursos em

nossos objetivos, com a finalidade de produzir sentidos.

Veja, a seguir, a partir da leitura da letra da música “Leo”, de Chico Buarque e

Milton Nascimento, um exemplo de como atribuir sentido.

Leo

Chico Buarque e Milton Nascimento (1978)

Um pé na soleira e um pé na calçada, um pião.

Um passo na estrada e um pulo no mato,

Um pedaço de pau

Um pé de sapato e um pé de moleque,

Leo.

Um pé de moleque e um rabo de saia, um serão.

As sombras da praia e o sonho na esteira,

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Uma alucinação.

Uma companheira e um filho no mundo,

Leo.

Um filho no mundo e um mundo virado, um irmão.

Um livro, um recado, uma eterna viagem,

A mala na mão.

A cara, a coragem e um plano de vôo,

Leo.

Um plano de vôo e um segredo na boca, o ideal.

Um bicho na toca e o perigo por perto,

Uma pedra, um punhal.

Um olho desperto e um olho vazado,

Leo.

Um olho vazado e um tempo de guerra, um paiol.

Um nome na serra e um nome no muro,

A quebrada do sol.

Um tiro no escuro e um corpo na lama,

Leo.

Um nome na lama e um silêncio profundo, um pião.

Um filho no mundo e uma atiradeira,

Um pedaço de pau.

Um pau na soleira e um pé na calçada.

Fonte: www.chicobuarque.com.br/letras/Leo-78htm)

O primeiro passo para atribuir sentidos é analisar as condições de produção,

isto é, quando o discurso foi escrito, quais os fatos importantes do período, quem é o

autor e quem é o leitor virtual.

conDiçÕEs DE ProDução

Sabemos que as condições de produção compreendem o contexto sócio-histó-

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rico, contexto situacional, que é a cena enunciativa, e os interlocutores “eu-tu”.

Vamos começar abordando o contexto sócio-histórico.

contEXto sÓcio-HistÓrico

O texto “Leo”, que você acabou de ler, foi produzido em 1978, período em que o

Brasil vivia um tempo de ditadura, de cerceamento da liberdade. Havia muitas pessoas,

em especial intelectuais e artistas, que eram perseguidas, exiladas, feitas prisioneiras.

Houve, também, os grandes heróis anônimos que lutaram em guerrilhas, trincheiras

para defender seus ideais. Hoje, temos notícia das ossadas encontradas em regiões

diversas. Com a abertura dos dossiês do DOPS (Departamento da ordem política e

social), os brasileiros tomaram conhecimento da repressão, perseguição e morte de

compatriotas que tinham um ideal de liberdade e não temeram em se expor e morrer

por esse ideal. Nesse contexto histórico, a música de Chico Buarque e Milton Nasci-

mento é gravada.

cEna EnunciatiVa (Eu – tu – aGora)

Os locutores (representam o ‘eu’)

Chico Buarque e Milton Nascimento são autores e cantores da música popular

brasileira que trazem, em seus textos, uma construção poética. Eles viveram e sofreram

as repressões do período da ditadura militar. Chico teve composições proibidas, tendo

sido interrogado pelo DOPS várias vezes.

O mesmo aconteceu com Milton Nascimento. O recurso que eles passaram a

usar foi apresentar uma linguagem em que as ideias não estivessem no sentido literal,

mas de forma subentendida, com pressupostos, para que seus textos pudessem ser

cantados.

Recursos como esse eram constantes: as ideias deveriam estar subentendidas,

nunca muito claras, expressas de forma que as palavras dissessem uma coisa e pudes-

sem ser entendidas de outra forma.

Os alocutários (representam o ‘tu’)

A classe média brasileira é quem representa o alocutário (o leitor). Essa classe

está, no Brasil, cada vez mais achatada e empobrecida. Como formadora de opinião,

foi a que mais sofreu com o período da repressão. Dessa classe, também saíram os

“Leos” que tinham um sonho e um plano de vôo para executar seu projeto de vida.

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Pelo respeito e prestígio que os autores gozam junto à classe média, falam de uma

situação que todos entenderam e lastimaram o próprio destino. Especialmente, há ne-

cessidade de não esquecer, de conservar a memória dos fatos para que essa realidade

não aconteça mais.

a cEna EnunciatiVa (rEPrEsEnta o ‘aGora’, o contEXto

situacionaL)

A cena enunciativa funciona como um teatro em que o locutor e alocutário se

posicionam no tempo e no espaço.

Pela nossa experiência de leitores, sabemos que o modo como o locutor se ins-

creve no tempo e o espaço de seu interlocutor, bem como todas as variações linguís-

ticas e a construção sintática que usa, contribuem para construir uma imagem de si

para os seus leitores.

O tempo é a década de 70, período do AI5, da bomba do rio centro, dos senado-

res biônicos, da forte repressão e censura, da guerrilha do Araguaia

O lugar é o Brasil, posição geográfica-espacial determinada. As imagens do lo-

cutor e alocutário ganham sentido nesse espaço. Quem sou eu (os compositores) para

ti (leitores) e quem és tu para mim.

A seguir, veja exemplo de leitura parafrástica e polissêmica a partir das condi-

ções de produção.

Leitura parafrástica

O texto está dividido em seis partes e a marca linguística divisória é o verso com

uma única palavra, “Leo”.

Compreendemos o texto como a história de uma vida. Nos versos de 1 a 3, te-

mos a infância do menino Leo, brincadeiras, o pião, o mato, um pedaço de pau. Vida

simples.

Nos versos 4 a 9, temos a adolescência: o momento da paixão, dos sonhos; a

maturidade da união amorosa e o nascimento do filho.

Nos versos 10 a 14, há a ideia de que nem tudo vai bem nesse mundo em que o

filho vai viver. O “mundo virado” conota uma reviravolta na história. Há um ‘irmão’ que

aparece, um recado, a viagem. É a mudança de rumos e, para iniciar essa nova etapa,

Leo tem uma mala, a cara, a coragem e um plano de vôo.

Em seguida, nos versos 15 a 19, há apresentação da luta nesse “mundo virado”. É

Uma luta secreta, na sombra, em que as verdades são meias verdades e os horizontes

não são claramente visíveis, daí o verso: “um olho desperto e outro vazado”

Nos versos 20 a 24, temos a tragédia, o drama que acontece com Leo. O sol na

quebrada sugere o surgimento da noite da morte. Essa sugestão confirmada pelo ver-

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so seguinte: “um tiro no escuro e um corpo na lama”. Na serra distante, em tempo de

luta, morre o Leo, de forma obscura e sem muito sentido.

Na última parte, correspondente aos versos de 25 a 28, compreende-se que a

morte de Leo leva o nome dele para a lama, como se fosse um traidor, mas as explica-

ções não vêm, o silêncio em torno do fato é profundo. A vida continua e o filho do Leo

vive sua infância com as brincadeiras da mesma forma que o pai.

Leitura polissêmica

Estamos diante de um texto de denúncia. Desde o nome do personagem “Leo”,

que, no latim, significa ‘leão’, há apresentação de um lutador corajoso, o primeiro entre

os seus. Leo é um revolucionário que não aceitou a dominação e, enfrentando todos

os obstáculos e dificuldades, vai à luta, sonha com um futuro diferente para seu filho. A

morte que encontra, no entanto, não é gloriosa. Um silêncio cerca o fato e até o nome

de Leo é apresentado de forma pejorativa, pois temos, no texto, um ‘nome na lama’

O texto revela uma circularidade que representa a integração à vida: o início, o

meio, o fim e o reinício.

Num texto sintético, muito substantivado, em que os verbos estão de forma

subliminar e subjazem ao sentido do texto, os autores apresentam uma trajetória de

vida. Vida e morte de Leo. No entanto, há uma ênfase especial a determinadas circuns-

tâncias que são ditas de uma forma poética. Entre elas, destacamos: ‘o mundo virado;

a cara, a coragem e um plano de vôo; um olho desperto e um olho vazado; a quebrada

do sol; um silêncio profundo’. São esses versos significativos que permitem uma leitura

polissêmica no momento em que analisamos as condições de produção.

Leo morreu em vão? A criança brinca em sua inocência, mas, e nós? O que faze-

mos com a relativa liberdade que gozamos? Temos um plano de vôo? Nossa memória

conserva as lições dos heróis anônimos, ou estamos esquecidos, vivemos como se não

tivéssemos passado, como se não tivéssemos histórias para contar para nossos des-

cendentes? São reflexões que o texto nos oferece. O mundo não só nos oferece desa-

fios, o momento é de desafiarmos nossa realidade e nos superarmos a todo instante.

Estamos com um pé na soleira, um pé na calçada, mas qual o nosso destino?

Acabamos de apresentar um exemplo de leitura de letra de música. Agora, va-

mos exemplificar uma leitura da cidade. É possível ler uma cidade?

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CIDADE BABEL: PUBLICIDADE LAMBE-LAMBE

Considera-se a cidade um espaço habitado por uma memória feita de historicidade, por

uma alteridade em que se entrecruzam língua, sujeito e mundo. Por isso, o eu-urbano se

forma num espaço interidentitário em que há um sempre a dizer e a significar. A proposta

deste trabalho é um olhar sobre a cidade de Salvador, tomando como materialidade a

publicidade que se faz fora dos cânones regulares e das regras da economia, nos postes

de iluminação: a publicidade lambe-lambe. Essa publicidade desorganiza o espaço pelo

muito cheio, não deixando espaços vazios, pois o que não está repleto, é preenchido

pelo imaginário. Há, então, uma representação desse imaginário com as condições

reais de existência do indivíduo, significada pela ideologia. São sujeitos marcados pela

ambiguidade, numa fusão extrema de universos culturais que se apresentam ao olhar pelo

flash, pelo instantâneo.

A publicidade lambe-lambe consiste em um poster de papel, colado, geralmente, em

muros, postes ou árvores. Sua origem é antiquíssima, basta lembrar os cartazes de

“procurado” nos velhos filmes de Hollywood, um exemplo de pré-construído, memória

do já dito, para saber que esse tipo de comunicação está no inconsciente coletivo. Não se

encontram referências sobre esse objeto de pesquisa que nasce de forma desordenada,

caótica, em alguns casos artística, presente em toda a comunidade. As referências vêm de

depoimentos de pessoas e publicitários que usam essa mídia.

Um anúncio sobre publicidade em postes afirma que eles são um excelente meio de

comunicação, são uma forma de colocar sua marca na rua, com ótimo custo e grande

visibilidade. Para o anunciante, é oferecido retorno imediato, baixo custo, livre local de

exposição, durante 24 horas, localizando-se no campo visual de pedestres e motoristas. Em

Salvador e na Grande Salvador, basta uma autorização da prefeitura (SUCOM) para fazer uso

desse tipo de publicidade. Mas nem sempre esse órgão governamental é consultado.

Em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, essa mídia foi proibida, no entanto, há

uma resistência discreta, mas firme, pois nesses estados a publicidade lambe-lambe ainda

aparece, atraindo pela contravenção.

O nosso olhar, no entanto, vai-se voltar para a cidade de Salvador. E o que é vinculado nos

posters lambe-lambe? Desde propagandas de shows de forró aos serviços mais variados

como consultas a videntes, tarólogos, terapias, aluguel de carros, construção de sites,

serviço para retirar multas de trânsito, conserto de fogões, de geladeiras, aulas sobre como

fazer seu imposto de renda, convite para acessar sites de Youtube e até cursos de pós-

graduação. Tudo isso espalhado pela cidade em muros, postes, em abrigos das paradas de

ônibus, em árvores e embaixo de viadutos.

A visão que se tem é de uma cidade que se fala em seus serviços, se plenifica pelo espaço

muito cheio, e o que não está cheio é preenchido por um imaginário, captado pelo olhar,

mesmo distraído. O que vamos demonstrar é que há um discurso em que a divisão de

classes se presentifica nas condições reais de existência dos indivíduos considerando-

se cultura, sociedade e economia, tendo como recorte quatro tipos de posters, em oito

fotografias.

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Quando se fala em cidade, faz-se necessário pensá-la como uma forma de associação

humana com indivíduos socialmente heterogêneos, funcionando em torno de conceitos

políticos, econômicos, sociais e culturais, com um conjunto de instituições de administração

política que propõe o brotar da noção de cidadania e de comunidade urbana.

A cidade é um fenômeno contraditório em si mesmo, pois apresenta heterogeneidade

ao lado de uma padronização, necessidade de estar subordinado a exigências, a leis da

comunidade, mas, ao mesmo tempo, surge a individualidade e a dispersão.

A cidade observada pelo prisma da materialidade, da escrita, do espaço em que a

publicidade lambe-lambe está colocada evidencia uma presença de indivíduos e classes

que significam a si mesmos e aos outros, numa trama de sentidos.

O modo de funcionamento do discurso, neste tipo de publicidade, permite compreender a

constituição discursiva do sujeito urbano, sua manifestação, forma como resiste, transforma

e se torna visível preenchendo um espaço público. Não nos interessa, agora, neste trabalho,

analisar a questão da poluição visual que causou a proibição dessa mídia em alguns

estados, e sim as formações discursivas e ideológicas, memória e materialidade.

Partindo da reflexão de Orlandi (2004 p. 35) que diz “Não restam espaços vazios na cidade,

sua realidade estando toda ela preenchida pelo imaginário urbano”, verifica-se que nesse

lugar organizado/desorganizado surge uma narrativa que atravessa a massividade urbana

na forma de um flash. Aí se instala, então, a falha, o equívoco na materialidade dos posters

colados na via pública, na calçada, o lugar comum em que os sujeitos urbanos materializam

seu estar no mundo.

Longe do apelo ao requinte, à classe, à elegância e ao status que caracteriza uma peça

publicitária, pois segundo os cânones deve seduzir e persuadir o possível cliente para

o consumo da mercadoria ou do serviço, a publicidade lambe-lambe apregoa o serviço

cotidiano, para solucionar problemas funcionais, geralmente serviços braçais ou técnicos.

Em geral, esses anúncios estão em postes próximos a prédios de vários andares, colados

em postes contíguos, que se a rua for olhada em perspectiva, nota-se uma configuração em

que todos os postes daquela rua estão com a publicidade colada.

Os anúncios dizem respeito a serviços em consertos de aparelhos domésticos, móveis,

ou reparos de encanamento, construção, pintura. A função poética da linguagem e das

imagens está ausente, o estímulo que o anúncio oferece está na ideia do conserto, no

telefone para contato, e, em geral, os serviços são realizados na própria residência do

consumidor. Alguns acrescentam o tempo de serviço, oferecem garantias.

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Foto 1 - Anúncio “Conserta-se fogão”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Foto 2 - Anúncio “Consertos em refrigeração, lavadora”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Foto 3 - Anúncio “Pingo de tinta”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Esses anúncios são acontecimentos discursivos

irrompendo de uma singularidade única, no

lugar e no momento de sua produção. Isso

implica uma atualidade, compreendida pelo

que está posto, reforçado por uma memória

discursiva.

Há uma posição de sujeito funcionando como

o anunciante de um serviço – que aparece

nesse lugar – e interpela o indivíduo que

passa pela rua a ocupar um lugar de sujeito –

daquele que fará, ou não, uso desse saber que

está colocado em evidência.

No enunciado das fotos 1, 2 e 3, a formação

discursiva permite observar que existe um

padrão, um estereótipo, que começa com o

serviço oferecido: consertos em refrigeração,

lavadora; fogão; alguns falam do tempo de

experiência; outros acrescentam um slogan ,

como na foto 2 “trabalhamos bem para servir

melhor”. A excelência do serviço está garantida

pela indicação da experiência e pelo slogan.

A seguir ganham importância os números de

telefone e, na foto 2, o e-mail.

Na foto 3, os serviços são colocados sem o

estereótipo de início, mas da mesma forma,

estão elencados os serviços a serem prestados.

O acréscimo é o nome da empresa: Pingo de

Tinta, mais o endereço, citando rua e bairro.

A expressão etc. não esclarece quais são os

outros serviços a serem prestados.

Quando se pensa no urbano como quantidade,

pensa-se nos indivíduos se constituindo ou

sendo interpelados como sujeito, refletindo

o espaço urbano como um lugar comum,

lugar de convivência, daí a necessidade de

comunicação. O anúncio permite ao indivíduo

constituir-se como sujeito e se reconhecer

através da prática de si, isto é, práticas que

controlam seus saberes.

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Nesses anúncios nota-se a ausência do nome do profissional que realiza o servi-

ço. É um silenciamento que significa. O sujeito anuncia seu trabalho, sua competência,

mas não sua identidade civil. É um dizer cuja autoria é silenciada, mas existe.

Orlandi (2000 p. 75) afirma

A unidade do texto é efeito discursivo que deriva do princípio da au-

toria. Dessa maneira atribuímos um alcance maior e que especifi-

ca o princípio da autoria como necessário para qualquer discurso,

colocando-o na origem da textualidade. Em outras palavras: um

texto pode até não ter um autor específico, mas pela função-autor,

sempre se imputa uma autoria a ele.

Na formulação do poster, verifica-se o uso de um estereótipo que traz a idéia de

coisa fixa, cristalizada, uma vez que consiste numa operação de pensar o real através

de uma representação cultural pré-existente, um esquema coletivo fixo, pois um indi-

víduo pode ser percebido e valorizado em função do modelo pré-construído difundi-

do na comunidade de que faz parte. Essa estereotipagem serve para dar à construção

da imagem do sujeito do anúncio, a autoridade e legitimidade do discurso. E ao indi-

víduo interpelado como sujeito, passando pelo poster, cabe identificar o anunciante

numa categoria conhecida socialmente.

Outra linha de anúncios está em oferecer colaboração social ou solicitar aju-

da. São em menor número, mas também estão presentes na paisagem urbana. Dois

exemplos para ilustrar:

Foto 4 - Anúncio “Exame de vista”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

A foto 4 traz um anúncio em que

se propõe uma troca social de

benefícios. De um lado está o sujeito

que oferece um serviço de saúde, em

troca de alimentos. Portanto, saímos

da área de serviços de consertos.

Note-se que não traz o nome

da clínica que oferece o exame,

apenas dois endereços, em pontos

diferentes da cidade. A qualidade do

exame está no enunciado: grátis e

computadorizado.

A contribuição do indivíduo que

atende ao anúncio consiste em

alimentos.

A imagem do olho, perfeita para um

poster de rua, traz um diferencial

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As lacunas são preenchidas pelo imaginário, através das questões: que clínica é

essa? Consulta grátis, mas os alimentos não serão uma forma de pagamento? Qual é

o interesse que existe ao oferecer o anúncio? Esses questionamentos trazem à tona a

reflexão de que há uma ambivalência da noção do individual e do social, aliada à ques-

tão do criativo, que oferece um exame de vista e o banal, na publicidade lambe-lambe.

Por outro lado, não se pode esquecer o pensamento de Pêcheux em Materialités dis-

cursives, (1980) de que o sujeito dividido, o deslize dos sentidos, a não transparência

da língua, do sujeito, do sentido, necessitam de interpretação e evidenciam a presença

da ideologia.

Foto 5 - Anúncio “Cursos a distância”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Essa publicidade cobre uma anterior,

mas o que oferece é um serviço de

caráter intelectual. Lê-se: Novamente

em Salvador. Cursos a distância. Pós-

graduação. São 67 cursos nas áreas

de: Direito/ Educação / Gestão/ Saúde.

Números de telefone. Após, o e-mail.

Analisando a materialidade discursiva,

verificam-se, em primeiro lugar, os

destaques: Salvador, pós-graduação;

números de telefones.

O nome da cidade, Salvador, está em vermelho sobre o branco; pós-graduação

em letra duplicada em preto e branco sobre o vermelho e os números de telefone em

preto sobre o amarelo. O uso dessas cores exerce uma atração sobre o olhar. Não há

como não ver.

Novamente em Salvador: implícito que esses cursos já foram ministrados em

Salvador, e agora voltam. Sendo curso a distância justifica-se o e-mail e o site. O indiví-

duo que desejar se inscrever nos cursos tem ao seu dispor as informações essenciais.

Essa publicidade dirige-se para um público mais restrito. Enquanto outros ser-

viços interpelam todo e qualquer indivíduo, para atender a esse anúncio, pressupõe-

se a necessidade de um curso de graduação. O que interessa a esse poster são pessoas

com um nível de formação superior. Denota-se, devido a isso, uma melhor qualidade

de colorido, destaques, e o espaço físico de colocação, como se pode ver pela foto,

próxima da praia. No entanto, como as demais publicidades lambe-lambe, oferece um

serviço.

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Foto 6 - Anúncio de “Procura-se”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Na foto 6, há um anúncio de

procura-se, em que a foto colorida

do procurado é precedida pela

apresentação do mesmo. A data

do desaparecimento, o nome da

pessoa com quem fazer contato, os

telefones e endereço. No entanto,

há uma frase-chamariz em negrito

que catalisa o olhar: “Ofereço

excelente recompensa” com efeito

de sentido de um estímulo para que

o Lorinho seja devolvido.

Neste anúncio, não falta nem o

toque emocional, caracterizando

sofrimento pela perda: por favor,

nos ajude! O apelo está registrado

na frase em negrito e na frase final.

Completando essa análise, dois posters sobre a mesma temática. O modo de

circulação do dizer é público e se faz na quantidade. Nestas duas fotos, os serviços

estão ligados à crença, apresentando formações discursivas diferentes, com a mesma

formação ideológica, em que o oferecido vem com uma promessa mágica. O indivíduo

é interpelado como sujeito pela ideologia, numa situação de falha, de falta, de carên-

cia; apresenta-se como um ser desejante.

Lemos no primeiro recorte: Ganecha. Taróloga Vidente. Previsões para 2009.

Traz a pessoa amada e reza o mal em 48 horas. Seguem-se dois números telefônicos.

Iguatemi.

Temos, então, a identificação daquela que oferece os serviços: Ganecha. Em se-

guida, o que é oferecido: em primeiro lugar, as previsões para o ano.

O desejo de prever o futuro, presente na memória discursiva, é provavelmente

tão antigo quanto o ser humano, que tem tentado satisfazer esse impulso de diversas

maneiras, dando-lhe, conforme a época e a mentalidade reinante, maior ou menor

importância.

Foto 7 - Anúncio de “Procura-se”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

Foto 8 - Anúncio “Ganecha”

Fonte: Arquivo pessoal da autora

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Dá-se o nome de adivinhação ao conjunto de procedimentos empregados para

obter informação sobre os acontecimentos futuros, recorrendo para isso a meios so-

brenaturais. Essa vinculação com o transcendental se depreende da etimologia latina

da palavra, que literalmente significa “descobrimento da vontade dos deuses”. Gane-

cha se intitula vidente, a que consegue ver os fatos futuros e, com isso, orientar as deci-

sões do indivíduo que a procura, confirmando a qualidade que se atribui de vidente.

O uso do Tarô, para prever, pressupõe um ritual. A palavra tarô na língua por-

tuguesa (ou em outras línguas: tarot, tarock, tarok, tarocco, tarocchi etc.) não possui

uma tradução específica — ninguém sabe ao certo sua real etimologia. Acredita-se

que ele possa vir da palavra árabe turuq, que significa “quatro caminhos”, sugerindo

possibilidades.

Além de prever o futuro, do uso ritualístico, há a proposta de trazer a pessoa

amada. Implícito no discurso a ideia de uma perda, para recuperar o bem perdido, o

sobrenatural e o misterioso entram em cena.

Como um oráculo, Ganecha se propõe a “rezar”, cujo efeito de sentido, através

da memória discursiva, no anúncio, significa eliminar um malefício, seja feitiço ou mau-

olhado através de uma reza poderosa, que afastaria o mal em quarenta e oito horas.

Os dois números de telefone em caracteres maiores constituem uma garantia

de que o interessado verá claramente para onde ligar. A indicação do bairro tem um

sentido subjacente: o local de atendimento está num bairro nobre, garantindo um

espaço de acesso fácil e seguro.

O segundo recorte apresenta a mesma temática, no entanto, verifica-se que não

há identificação de quem oferece os serviços, havendo um apagamento do locutor, no

entanto, a desinência feminina caracteriza o gênero do autor. Os rituais divinatórios,

que oferece, são variados: Tarô, runas, bola de cristal. Uma taróloga oferece orienta-

ções através desses códigos. E mais, a ambiguidade se estabelece quando oferece “tra-

balhos gratuitos”. Na memória discursiva, ao longo da história de nossa colonização,

esses trabalhos estão relacionados com atividades que eliminam o mal, a bruxaria, o

feitiço, o mau olhado, todos acontecimentos baseados em crenças e crendices.

Comparando os dois recortes, notam-se diferenças nas formações discursivas;

enquanto o primeiro narrativiza sua atividade, pois o presente do indicativo é uma

garantia do que faz, o segundo apresenta o ponto de sua interferência: união amorosa,

negócios, vícios e outros. Ao acrescentar “outros”, torna ambíguo o que faz, deixando

para o imaginário quaisquer possibilidades.

As cores das letras também são diferenciadas: o primeiro é em vermelho, o se-

gundo em azul. O sentido do uso das cores produz um efeito de sentido que energiza

e pacifica. (...)

Observa-se, portanto, a presença de um pré-discursivo, de uma memória dis-

cursiva presente nos anúncios, que são os mais constantes serviços oferecidos nos

anúncios lambe-lambe em postes na cidade do Salvador. Outros anúncios dos mes-

mos serviços usam uma variação do tipo “Irmã” ou “Pai de santo” ou obalorixá. O im-

portante é verificar que esses serviços estão relacionados com os processos divinató-

rios, através de um ritual.

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Compreendendo-se o ritual como uma reprodução de um significado vital para

a dinâmica de uma sociedade, o real da língua e o real da história remetem ao próprio

imaginário dos sujeitos. O vínculo entre o símbolo, a coisa, o imaginário efetivo cons-

titui-se no processo divinatório em que cada objeto traz uma interpretação, conferin-

do ao mesmo tempo um sentido global ao universo e ao lugar ocupado pelo sujeito.

Parafraseando o filósofo pré-socrático Heráclito, entre o mito e a consciência projetiva

“corre um rio cujas águas nunca são as mesmas”.

Após essa breve análise, pode-se compreender o sentido de ideologia, na qual

os homens que fazem a história, sem o saber, podem passar a ter consciência das con-

dições que determinam sua história, no entanto, isso só pode acontecer através da luta

de classes, que aparece cotidianamente na sociedade civil.

Comparando os anúncios dos postes com os outdoors, ou publicidades milio-

nárias publicadas em revistas e jornais, pode-se perceber a diferença social e econômi-

ca existente entre essas mídias.

Para grandes lucros, grandes anúncios, elegância, linguagem em sua função

poética, para trabalhadores cuja função é considerada economicamente menor, sobra

a divulgação de seus serviços nos postes.

Segundo Chauí (2001, p.72), “a ideologia não é um processo subjetivo conscien-

te, mas um fenômeno objetivo e subjetivo involuntário produzido pelas condições ob-

jetivas da existência social dos indivíduos”. Isso significa que, no momento em que o

sujeito se situa em sua classe, com condições de vida e de trabalho pré-fixadas, parece-

lhe que está construindo sua própria classe.

Entra em cena a alienação, instrumento da ideologia enquanto a experiência

comum de vida for mantida sem crítica. Mas, a maior força da ideologia é o poder que

ela tem de ocultar, de cristalizar em verdades fatos invertidos, é fazer com que no lugar

da verdade fale uma pseudo-verdade. Há uma manobra camufladora que faz com que

o discurso se caracterize pela presença de falhas, lacunas, silêncios e opacidades que

preservam a sua coerência.

Na Análise de Discurso, o papel da ideologia é analisado através das formações

ideológicas que são os processos discursivos que constituem a fonte de efeitos de sen-

tido, daí ser o discurso um espaço em que surgem as significações, a constituição dos

sentidos, a interpretação do dito, fruto da memória e do esquecimento e do a-dizer. O

discurso é o lugar onde a ideologia aparece na materialidade da linguagem que está

nas condições de produção desse discurso, no uso do estereótipo, na economia de

informações, no espaço em que o anúncio está colocado, isto é, nos postes.

Por outro lado, há uma evidência de sentido, pela linguagem, pela memória, e

há uma evidência de sujeito que se fala e se propõe enquanto trabalhador ao tempo

em que interpela o indivíduo que passa pela rua, leitor do anúncio, para ocupar um

lugar de sujeito.

Cidade Babel remete a uma das narrativas míticas mais surpreendentes do Gê-

nesis, para a ideia de projeto unificador (um povo e uma língua). “Vamos construir para

nós uma cidade e uma torre que chegue até o céu. Assim nos faremos um nome.” (Bí-

BLIA SAGRADA 11,4). Mas, num segundo momento, a torre e a cidade dão lugar à ideia

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de diversidade, sendo a metáfora incompreensão recíproca e dispersão, realçadas pela

oposição dicotômica: a unidade e a diversidade,

Faço uso dessa imagem para encerrar a análise da dispersão que caracteriza o

urbano em sua visibilidade.

Nilza Carolina Suzin Cercato.

(Trabalho apresentado no V Seminário de Análise de Discurso.)

É interessante verificar de que lugar as pessoas falam. Vamos provar isso com as

mudanças de sentido que acontecem na leitura, a seguir, da história do Chapeuzinho

Vermelho.

Observe o jogo com os lugares de que as pessoas falam e o sentido que ofere-

cem ao que está proposto:

Se história da Chapeuzinho Vermelho fosse verdade, como ela seria contada na imprensa do

Brasil? Veja as diferentes maneiras de contar a mesma história.

Jornal Nacional

(William Bonner): ‘Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de

ontem...’ (Fátima Bernardes): ‘...mas a atuação de um lenhador evitou a tragédia.’

Programa da Hebe

‘...que gracinha, gente! Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva

da barriga de um lobo, não é mesmo?’

Cidade Alerta

(Datena): ‘...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? A

menina ia pra casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte

público! E foi devorada viva... um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo! Porque eu falo

mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não!

Superpop

(Luciana Gimenez): ‘Geeente! Eu tô aqui com a ex-mulher do lenhador e ela diz que ele é

alcoólatra, agressivo e que não paga pensão aos filhos há mais de um ano. Abafa o caso!’

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Globo Repórter

(Chamada do programa): ‘Tara? Fetiche? Violência? O que leva alguém a comer, na

mesma noite, uma idosa e uma adolescente? O Globo Repórter conversou com

psicólogos, antropólogos e com amigos e parentes do Lobo, em busca da resposta. E

uma revelação: casos semelhantes acontecem dentro dos próprios lares das vítimas, que

silenciam por medo. Hoje, no Globo Repórter.’

Discovery Channel

Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

Revista Veja

Lula sabia das intenções do Lobo.

Revista Cláudia

Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

Revista Nova

Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama!

Revista Isto É

Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

Revista Playboy

(Ensaio fotográfico do mês seguinte) ‘ Veja o que só o lobo viu’.

Revista Vip As 100 mais sexies - desvendamos a adolescente mais gostosa do Brasil!

Revista G Magazine

(Ensaio com o lenhador) ‘O lenhador mostra o machado’.

Revista Caras

(Ensaio fotográfico com a Chapeuzinho na semana seguinte)

Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: ‘Até ser devorada, eu não dava

valor pra muitas coisas na vida. Hoje, sou outra pessoa.’

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Revista Superinteressante

Lobo Mau: mito ou verdade?

Revista Tititi

Lenhador e Chapeuzinho flagrados em clima romântico em jantar no Rio.

Folha de São Paulo

Legenda da foto: ‘Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador’. Na matéria, box

com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico

mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O Estado de São Paulo

Lobo que devorou menina seria filiado ao PT.

O Globo

Petrobrás apoia ONG do lenhador ligado ao PT, que matou um lobo para salvar menor de

idade carente.

O Dia

Lenhador desempregado tem dia de herói.

Extra

Promoção do mês: junte 20 selos mais 19,90 e troque por uma capa vermelha igual à da

Chapeuzinho!

Meia hora

Lenhador passou o rodo e mandou lobo pedófilo pro saco!

O Povo

Sangue e tragédia na casa da vovó.

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Correio da Bahia e TV Bahia

Menina usando um chapeuzinho vermelho é atacada por um lobo e não consegue

atendimento em nenhum hospital do Estado. Governador Wagner não se manifesta.

Balanço geral

Cartão vermelho para isto! Ora, desde o tempo da suburbana que todos conhecem a

história, Lobo mau traçou Chapeuzinho lá no tempo da vovozinha, agora a culpa é do

Wagner?

Bocão

Passa o rodo! Menor de 13 anos, inocente, é estuprada devorada viva por desconhecido

drogado, quando ia para casa da vovózinha. O safado degolou a velha! O major

Cláudio flagrou o meliante e o levou às pressas ao HGE para extração da adolescente!

Temos imagens exclusivas da cirurgia. Kd vc Liana Cardoso! É com vc, na tela! Mas, antes,

nós temos R$ 5.000,00 na roleta, ligue agora 9965-3011

(http.uazi.zip.net)

atiViDaDE aPÓs a LEitura

Imagine um tema e uma situação em que, a partir do lugar ocupado pelo leitor,

você crie uma leitura como foi feita com a história do Chapeuzinho Vermelho.

Tenho uma proposta para você. Usando as condições de produção, procure

produzir sentidos no texto a seguir:

Ser filho de médico

“Sou viciado em bulas. Principalmente em reações adversas. Sinto todas”

*José Simão

Meu pai era médico, meu irmão é médico e eu sou hipocondríaco. O dia em que não tomo

remédio algum, tomo um tylenol. Prá garantir! Crescer entre médicos é crescer ouvindo:

espasmos, baixo ventre, tromboflebite, plasil, nádegas, injetável e me liga daqui três dias. E

a pior coisa que podia acontecer com um hipocondríaco foi o que aconteceu comigo: ficar

doente em Istambul! E ler as bulas em turco! Desespero total, a única palavra que entendia:

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tablets! Sou viciado em bulas. Principalmente em reações adversas. Sinto todas! A mais

preocupante, por causa do meu trabalho, é: diminuição da acuidade mental! E a melhor

consulta que tive até hoje: “Doutor, toda vez que eu aperto aqui, dói”. “Então, por que

aperta?” respondeu o médico!

Meu pai era clínico geral das antigas, atendia doentes em casa. Esse é o meu sonho de

consumo: ser atendido em casa. O apogeu do hipocondríaco! Quando ele ia ao hospital, eu

ficava passeando com as freiras e comendo gelatina de hospital. Mas devo ter visto alguma

coisa grave que apaguei da memória porque hoje não consigo entrar em hospital, tremo

como vara verde e sinto que vou desmaiar! Quando atendia doentes na região da 25 de

Março, me deixava no restaurante da dona Vitória, onde uma roda de libanesas vestidas de

preto amassava quibe cru, e sempre sobrava pra mim. Talvez o quibe cru tenha me deixado

tão forte!

O bom de ser filho de médico é se sentir a vontade no mundo dos remédios. O ruim é

você se achar capacitado para se automedicar e medicar os amigos. “Plasil não, é melhor

tomar buscopan”. “Vagostesyl é muito fraco, toma logo um lexotan”. Eu sou do tempo do

vagostesyl! E o pensamento básico do hipocondríaco quando um amigo ou parente de

amigo está doente: se fulano está com isso, eu também estou. Se fulano teve aquilo, eu

também tenho. E a hilária definição de urologista: “urologista é aquele que olha pro seu

pingolim com desdém, pega com nojo e cobra como se tivesse chupado”. E para terminar

tenho que confessar uma coisa que realmente me envergonha: eu minto para os médicos!

* José Simão é colunista do jornal Folha de São Paulo

(Publicada no jornal do Cremesp em 12/09/2011)

Lembre que, para trabalhar com as condições de produção, você deve em pri-

meiro lugar, pensar no contexto sócio-histórico. Procure responder:

Em que época foi escrito este texto? �

Quais os fatos que podem ser relacionados com o texto? �

Que circunstâncias estão envolvidas no texto? �

Em seguida, analise a cena enunciativa:

Onde foi publicado o texto? �

Que relação o tema tem com o local de publicação? �

Por último, os interlocutores:

Quem é José Simão, qual a característica dominante dos textos dele? �

Quem é o leitor de José Simão? �

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Veja como fizemos no texto Leo e na Publicidade Lambe-lambe. Essas duas

leituras podem servir de orientação para você produzir suas leituras. O importante é

fazer o percurso através da análise das condições de produção.

SíNTESE

Ler é atribuir sentidos. A melhor forma de apreender o sentido do texto é cons-

truir as condições de produção a fim de produzir uma leitura parafrástica e polissêmi-

ca.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

A incompletude é condição da linguagem. Um discurso nunca está acabado,

sempre há a possibilidade de um dizer. Nada está pronto: há um trabalho contínuo,

movimento simbólico e da história Como você interpreta essa colocação? Você saberia

apresentar um caso em que a incompletude da linguagem permite um novo dizer?

LEiTurAS iNdicAdAS

Vídeo Ilha das Flores - produção de Jorge Furtado.

rEFErêNciAS

MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2002.

ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP: Pontes, 2001.

ORLANDI, Eni. Cidade dos sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2004.

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auLa 08 - ProDução DE tEXto / caractE-rísticas DE Bons tEXtos, EstiLo, auto-ria

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que

você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte,

sem querer, a resposta, como estou

perguntando. Não se preocupe em ‘entender’.

Viver ultrapassa todo o entendimento.”

Clarice Lispector

Convido você para trabalhar com a produção de textos dentro dos padrões for-

mais, em que o conteúdo e a argumentação coerente devem estar organizados dentro

dos parâmetros de cada gênero e tipo textual.

Vejamos o que nos diz Neil Ferreira, em entrevista, sobre a arte de escrever.

“A arte de escrever é o ofício de reescrever”

Neil Ferreira

Fonte:SXC.hu

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“Um texto não pode ser chato.

Um texto não pode insultar a inteligência de quem está o lendo. Um texto tem que ter

ritmo. Às vezes, você vê um redator brigar que nem um leão por causa de um ponto e

vírgula, porque, na respiração desse redator, essa frase tinha um ritmo tão emocionante

que, sem esse ponto e vírgula, talvez fosse quebrado um ritmo, quebrando a comunicação

de uma ideia bela, de um raciocínio emocionante. Talvez esse ponto e vírgula não seja

nem ao menos essencial ao conteúdo da mensagem. Mas é muito provável que ele seja

essencial à forma da mensagem, à roupa que ela vai vestir para chamar atenção, para

cativar, para emocionar as pessoas. Essa roupa vai ser criada e costurada por um homem

solitário, neurótico, inseguro e talentoso, irritante e emocionado, que luta com a máquina

de escrever, briga com o papel em branco cada dia, não sabendo nunca se ele vai vencer a

briga.

Cada linha que ele constrói, ele implora para que o leitor leia a próxima linha. Cada

parágrafo implora para que o outro parágrafo seja lido. O talento, o instinto, o suor e

o sofrimento desse homem não merecem que um mau editor venha friamente tentar

contribuir com o “tira-essa-palavrinha-daqui-e-põe-ali”, derrubando toda uma pirâmide de

palavras, desarticulando uma forma bela, anarquizando um texto emocionante (...)

O que eu sei dizer é o que eu sinto. Não existe texto curto ou texto comprido. Existe texto

bom ou texto ruim. Não existe texto que o público não lê. Existe texto banal, medíocre, sem

surpresa, que não enriquece a vida de ninguém, nem de quem lê, nem do produto que

ele está anunciando. Eu costumo dizer para o pessoal que trabalha comigo: “Olha, gente,

quando vocês não têm nada para dizer, não digam. Às vezes, o silêncio fala muito mais

do que 30 mil palavras vazias. Quando vocês têm uma emoção violenta para comunicar,

comuniquem de forma violenta. Quando vocês não têm uma emoção para transmitir, mas

tem um fato, comuniquem esse fato, mas com estilo; e quando vocês não têm nada a dizer,

não digam. Acho que esses são os bons textos.”

Fonte:

Assista a uma entrevista de Neil Ferreira e José Zaragoza em dois vídeos pro-

duzidos pelo Multishow e disponibilizados no site Truveo. Siga os links

http://www.truveo.com/Entrevista-com-a-dupla-Neil-Ferreira-e-Jos%C3%A9/id/3853520464

Após a leitura do texto acima, reflita e procure respostas para as questões que

estão colocadas a seguir:

Como o autor estabelece uma analogia entre costurar e escrever? �

Qual é o efeito de sentido que o texto oferece ao traçar a personalidade do escritor? �

Qual é a luta que o autor enfrenta diante do papel em branco? �

O que deixa um escritor indignado em relação ao seu texto? �

O que está implícito com relação à subjetividade na produção de texto escrito? �

Para o autor, o que qualifica um texto como bom? �

Agora, leia o poema Escrever, de João Cabral de Melo Neto:

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ESCREVER

João Cabral de Melo Neto

Escrever é estar no extremo

de si mesmo, e quem está

assim se exercendo nessa

nudez, a mais nua que há,

tem pudor de que outros vejam

o que deve haver de esgar,

de tiques, de gestos falhos,

de pouco espetacular

na torta visão de uma alma

no pleno estertor de criar.

O poeta relaciona escrever com apresentar-se nu. Como você compreende os

cinco últimos versos?

Observe o desenho do autor mostrando como ele imagina o funcionamento

da língua.

Escreva um texto, entre 15 e 20 linhas, interpretando o desenho de acordo com

a sua concepção de linguagem.

Fonte: A autora - Ilustração: UNIFACS

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Vamos analisar um texto produzido por um aluno ingressante na universidade.

Foi oferecido um título e o escritor deveria produzir um texto em que mesclasse

narração e descrição. Vejamos o que foi produzido.

E isso aconteceu...

Eu estava no desfile de 15 de novembro com a minha família e com os meus amigos

quando derepente começou a vir bombas de todo que lado era uma confusão do cão

começaram a correr, e todos começaram a gritar, crianças chorando e o desfile foi uma

trapalhada depois começou a chover, estavam todos molhados e as bombas se acabaram

ainda bem por que não iríamos aguentar mais tinha alguns feridos mas não teve mortes

ainda bem que ninguém morreu por que se não seria muito ruim para todos os militares

estavam socorrendo quem se feriu e acalmando que estava passando mal mas todos

ficaram bem e ai todos foram para a casa contentes e ficou tudo bem.

Neste texto, percebe-se a junção de letras na palavra derepente (de repente).

Falta de pontuação e paragrafação, marcas de oralidade. O autor parece desconhecer

a utilização dos sinônimos, uso da técnica de substituição, a fim de evitar repetições

desnecessárias. Faltam elementos coesivos e, no último período, há uma incoerência

semântica. Como ele pode afirmar que todos foram para casa contentes, depois de

tudo o que aconteceu? Apesar de todos os problemas observados, o aluno utiliza vá-

rios elementos conectores, como por exemplo: e, com, quando, de repente, e, todos,

depois, por que, quem, mas todos, e ai, e, entre outros.

Reescrevendo o texto e respeitando a variedade linguística do autor, vamos ver

como o texto ficaria:

E isso aconteceu...

Eu estava admirando o desfile de 15 de novembro com minha família e amigos, quando

de repente começaram a soltar bombas por todo lado. Tudo ficou muito confuso, pois as

pessoas começaram a correr e, ao mesmo tempo, gritar; ouvia-se o choro das crianças, a

tentativa das mães de acalmá-las. O que deveria ser um desfile alegre, virou uma confusão.

Ainda mais que começou a chover e todos ficaram molhados.

Finalmente, não houve mais bombas, havia algumas pessoas feridas, sem muita gravidade;

os militares socorreram os que se feriram, procuraram acalmar a quem estava passando mal.

Depois de tudo, fui para casa. E isso foi o que aconteceu.

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Agora é sua vez!

Há, a seguir, também de aluno, um texto com algumas deficiências, que você

deve notar e fazer o comentário sugerindo uma nova forma:

E isso aconteceu...

Aquele era o último ano que eu ficaria em casa de meus pais. Era o que eu mais queria, ficar

independente, cuidando de mim só, sem as pessoas me darem ordens o tempo todo.

Mas uma coisa inesperada aconteceu... Fiquei desempregado, sem condições de me

manter sozinho. Precisaria de ajuda para essa nova etapa. É muito chato você se planejar

todo e sem mais aquela, fica na dependência, ainda mais depois de imaginar um mundo

de liberdade. Eu não tinha coragem de pedir ajuda aos meus pais, depois de tanto falar

na minha mudança. E eles não se ofereceram para nada. É assim mesmo. Quando você

precisa ninguém fala, nas outras ocasiões que você não quer saber de nada, todo mundo dá

palpite. Por tudo isso, fico em casa mais um ano.

Agora, leia outro texto sobre o mesmo tema. Espero que note as diferenças; a

elaboração mais cuidada, a linguagem adequada.

E isso aconteceu...

Nariz rente ao vidro, expressão de enfado, ombros caídos, olhos sem vitalidade.

Essa era a imagem do menino junto à janela da cozinha. Ele era a imagem da natureza

chuvosa e fria naquele mês de julho. Nada de novo. Puro tédio. O gato miava rompen-

do uma monotonia e o silêncio. Mais nada...

Mas, inesperadamente, a casa pareceu criar vida, O menino observou da janela

que todos corriam em direção ao galpão. Alguma coisa nova devia estar movimentan-

do o pai, a mãe e o tio. Então ele também correu para lá.

Logo que entrou no galpão ouviu risos e gritos de satisfação. O bezerrinho ha-

via nascido!! Ainda não tinha levantando. Vagarosamente, o menino se aproximou,

maravilhado. O bezerro esticou as patas, pôs-se de pé, deu um primeiro mugido.

No coração do menino, o sol nasceu com o bezerro, a nova vida chegava tiran-

do tédio, tristeza. Ele sentiu uma bruta vontade de gritar. E nesse momento, o fato mais

espetacular aconteceu. O pai olhou para ele e disse:

- Filho, este potro é seu.

Sempre que vamos produzir um texto é importante uma releitura atenta. Volta-

mos ao primeiro texto dessa aula: escrever é a arte de reescrever. Não importa o tempo

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gasto, reescrever é um ato de coragem para dar qualidade ao texto produzido.

SíNTESE

Escrever é a arte de reescrever. Nenhum texto de qualidade é produzido num

“passe de mágica”. É preciso sonoridade, correção da linguagem, privilegiar uma tipo-

logia e suas características.

A descrição deve ser uma pintura através de palavras, o leitor deve poder re-

construir a cena mentalmente, a paisagem, o ser que está sendo descrito.

A narração deve responder às questões: O quê? Para quem? Quando? Onde?

Como? Um fato deve ser narrado, as impressões que o autor deseja despertar no leitor

aparecem de forma subliminar e subjetiva.

Para defender pontos de vista, os argumentos são fundamentais, são os textos

dissertativos. Os argumentos devem trazer causas, consequências, exemplos, contras-

tes, analogias. Portanto, é preciso cuidar para que os argumentos estejam coesos e

coerentes.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

O que eu sei dizer é o que eu sinto. Não existe texto curto ou texto comprido.

Existe texto bom ou texto ruim. Não existe texto que o público não lê. Existe texto ba-

nal, medíocre, sem surpresa, que não enriquece a vida de ninguém, nem de quem lê,

nem do produto que ele está anunciando. De que forma essa passagem orienta para

sua produção textual?

LEiTurA iNdicAdA

Filme: Narradores de Javé (2003). Direção: Eliane Caffé.

rEFErêNciAS

INDURSKY, F. O texto nos estudos da linguagem: especificidades e limites. In: ORLANDI, E.; LAGAZZI-RO-

DRIGUES, S. (Orgs.). Introdução às ciências da linguagem: discurso e textualidade. Campinas, SP: Pontes,

2006.

KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. Série Fundamentos. São Paulo: Obje-

tiva, 2001.

LAGAZZI-RODRIGUES, S. Texto e autoria. In: ORLANDI, E.; LAGAZZI RODRIGUES, S. (Orgs.). Introdução às

ciências da linguagem: discurso e textualidade. Campinas, SP: Pontes, 2006.

ORLANDI, E. P.; GUIMARãES, E. J. Texto, leitura e redação. São Paulo: CENP/SEE, 1985.

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auLa 09 – ProDução DE tEXto / arGu-mEntação/ EstiLo / autoria

Autora: Nilza Carolina Suzin Cercato

“Não existe linguagem inocente.”

Michel Pêcheux

Nossa proposta, nesta aula, é produzir textos dentro dos padrões formais, apre-

sentando conteúdo e argumentação coerentes. Você será convidado(a) a produzir

textos variados. Lembre-se de que a arte de escrever é reescrever. Para mim, a maior

solidão que existe é quando você está diante do papel em branco procurando cons-

truir seu texto. As palavras terão que ser suas, as ideias defendidas com clareza. É um

belo trabalho, inspire-se.

Vamos começar com o parágrafo que é uma unidade mínima de comunicação.

Ele pode ser composto por uma ou várias frases. Nesta aula, vamos trabalhar com pa-

rágrafo argumentativo, quando temos como objetivo defender uma ideia.

Em geral, um parágrafo argumentativo compõe-se de uma ideia núcleo, que

será apresentada como fio condutor do texto a ser escrito.

Vamos analisar o parágrafo produzido por João Ubaldo Ribeiro, considerando a

ideia núcleo e os argumentos com que trabalha essa ideia:

Todo mundo saberá ler e escrever, num mundo de mensagens instantâneas? Talvez não.

Não me refiro a escrever à mão, com lápis ou caneta. Hoje já tem quem escreva uma

página digitando com os polegares e não rabisque três linhas com uma caneta. Mas estou

pensando em leitura e escrita sem o uso do alfabeto. De vez em quando, sou tentado a crer

que as futuras mensagens instantâneas, torpedos e similares, serão grafados mais ou menos

com ideogramas simples – imagens como aquelas carinhas Smiley que aparecem em

milhares de aplicativos, acrescidas talvez de uma ou outra palavra abreviada em letras. De

escrever e ler usando alfabeto e sintaxe, como hoje ainda fazemos, não haverá necessidade

para grande parte dos usuários de aplicativos de mensagens. Passaremos mais ou menos

para hieróglifos simples, que deverão ser perfeitamente adequados ao vocabulário e ao

universo de interesses desses usuários. E talvez os que saibam ler e escrever usando o

alfabeto venham a constituir uma categoria especial na sociedade, como eram os escribas

da Antiguidade.

(João Ubaldo Ribeiro – Vejaonline – 11/10/2011)

(www.joaoubaldoribeiro/vejaonline/11/10/2011.com

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Agora, vamos à análise!

Ideia núcleo: Todo mundo saberá ler e escrever, num mundo de mensagens

instantâneas? Talvez não.

Com essa interrogação e a resposta que dá, o autor nos oferece o fio condutor

para podermos acompanhar a argumentação. Quando responde à própria pergunta,

ele propõe uma hipótese que precisará ser explicada através dos argumentos.

Primeiro argumento: “Não me refiro a escrever à mão, com lápis ou caneta.”

Esse é um argumento explicativo para deixar claro a que tipo de leitura e escrita

ele se refere.

Segundo argumento: “Hoje já tem (sic) quem escreva uma página digitando

com os polegares e não rabisque três linhas com uma caneta.”

Esse argumento é fruto de observação.

Terceiro argumento: “Mas estou pensando em leitura e escrita sem o uso do

alfabeto.”

O argumento é iniciado pelo operador argumentativo “mas”, que sugere uma

oposição ao que foi dito antes. Significa que não está se referindo a quem digite com

polegares e não escreva com caneta.

Quarto argumento: “De vez em quando, sou tentado a crer que as futuras

mensagens instantâneas, torpedos e similares, serão grafados mais ou menos com

ideogramas simples – imagens como aquelas carinhas Smiley que aparecem em mi-

lhares de aplicativos, acrescidas talvez de uma ou outra palavra abreviada em letras.”

É um argumento explicativo com o qual clareia a quem e a que se refere em

relação à ideia-núcleo.

Quinto argumento e sexto argumento: “De escrever e ler usando alfabeto

e sintaxe, como hoje ainda fazemos, não haverá necessidade para grande parte dos

usuários de aplicativos de mensagens. Passaremos mais ou menos para hieróglifos

simples, que deverão ser perfeitamente adequados ao vocabulário e ao universo de

interesses desses usuários.”

São argumentos com os quais defende o que diz a ideia-núcleo, se todos sabe-

rão ler e escrever alfabeticamente.

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Conclusão: “E talvez os que saibam ler e escrever usando o alfabeto venham a

constituir uma categoria especial na sociedade, como eram os escribas da Antiguida-

de.”

Note que essa conclusão conduz à questão que está proposta na ideia-núcleo:

saber ler e escrever serão habilidades de poucos.

Por outro lado, note como os argumentos estão ligados entre si por expressões

de coesão, por exemplo: “Não, hoje, mas [...]” e assim por diante.

Além disso, quando analisamos o tom do texto, verificamos a ironia como mar-

ca, pois todos os argumentos conduzem para uma conclusão que seria uma regressão

cultural.

Essa análise mostra como pode ser construído o parágrafo dissertativo. Agora,

quando desejamos construir um texto dissertativo em vários parágrafos, é necessário

ter uma tese a ser defendida que aparece no primeiro parágrafo.

Veja a sugestão a seguir:

Na Introdução, inicie com uma frase que dê ideia de que tratará o texto. De-

pois, construa uma frase que desenvolva, brevemente, o caminho que seguirá ao de-

senvolver a ideia. Em seguida, coloque a tese que pretende defender.

O Desenvolvimento pode ser apresentado em quantos parágrafos o autor de-

sejar. Veja como fez João Ubaldo no texto que analisamos. Em geral, escolhemos uma

forma de desenvolver: usando exemplos, por contraste, por analogia, por causa e con-

sequência, fruto de observação, com citações etc.

Na Conclusão, é preciso apresentar uma posição em relação à tese. Depois de

termos argumentado, mostramos como nos posicionamos diante da tese que defen-

demos.

Vamos analisar o texto argumentativo produzido pelo jornalista da Folha de

São Paulo:

De um lado só

Janio de Freitas

Ainda uma vez, indícios de corrupção em obras públicas levam a um acesso de agitação

noticiosa e política. Derrubam um ministro bem enraizado. Dão alguma aparência de vida à

oposição. Forçam depoimentos e investigações de servidores. E sobre os que corromperam,

nada.

A corrupção nas obras públicas brasileiras tem geração espontânea. É assim aos olhos dos

congressistas inquiridores, das polícias, do Ministério Público, do Judiciário e do noticiário.

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De certa vez, respondi em inquérito da Polícia Federal, com a presença inquiridora também

de um procurador da República, a longa e insistente série de perguntas. A razão foi a

fraude em uma grande concorrência de obra pública, anulada porque o resultado foi aqui

publicado, sob disfarce, com antecipação. Eram 18 grandes empreiteiras que dividiam

a concorrência e os bilhões por intermédio da fraude. Pois não me foi feita nem uma só

pergunta sobre qualquer das empreiteiras ou dos seus dirigentes.

Aquela foi a primeira concorrência de obra pública anulada por revelação de fraude.

Foi tudo arquivado pela Procuradoria-Geral da República. Mas, bem-sucedida, a receita

praticada então pelas instituições e pessoas responsáveis por moralidade administrativa e

aplicação das leis ficou para as sucessivas fraudes e atos corruptores do serviço público.

Parece lógico que, se um ministro e assessores graduados caem, por indícios de corrupção,

há o lado corruptor. Parece. Mas a lógica a reger tais situações é outra. Provém, por extensão

quando as circunstâncias o exigem, daquela, mais que secular, de aplicação dos ônus a um

só lado: nos incidentes comuns, a punição aos humildes; nos casos graúdos, o ônus para os

menos influentes ou menos afortunados.

E os empreiteiros, se você ainda não notou, com que o ganham no uso dos seus métodos

estão ficando donos do Brasil: telefonia, rodovias, ferrovias, petróleo, TV, hidrelétricas,

mineração, siderurgia, não tem fim. O Brasil também está ficando de um lado só.

Fonte: Folha de S. Paulo, 27/07/2011.

Agora, segue a análise:

O Título, “De um lado só”, já dá a ideia de que haverá outro lado para ser fala-

do.

Na Introdução, o primeiro período situa o assunto de que vai tratar o texto:

Ainda uma vez, indícios de corrupção em obras públicas levam a um acesso de agitação

noticiosa e política.

Os períodos 2, 3, 4 explicam qual será o fio condutor de sua argumentação:

Derrubam um ministro bem enraizado. Dão alguma aparência de vida à oposição. Forçam

depoimentos e investigações de servidores.

Observe que ele usa um sujeito indeterminado, caracterizando uma entidade

não possível de denominar: quem derruba? Quem dá? Quem força?

A Tese está no seguinte trecho:

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E sobre os corruptores, nada.

Aí está a explicação para o título. O autor quer falar do outro lado da corrup-

ção.

No que diz respeito ao Desenvolvimento, vamos analisar, a seguir, cada pa-

rágrafo.

No 2º PARÁGRAFO, o argumento é baseado na observação e na visão da política

brasileira:

A corrupção nas obras públicas brasileiras tem geração espontânea. É assim aos olhos dos

congressistas inquiridores, das polícias, do Ministério Público, do Judiciário e do noticiário.

O 3º PARÁGRAFO apresenta um argumento sobre uma experiência pessoal,

uma realidade pela qual passou, mas a direção argumentativa está dirigida para a tese

quando encerra o parágrafo, justificando ter relatado a experiência pessoal:

De certa vez, respondi em inquérito da Polícia Federal, com a presença inquiridora também

de um procurador da República, a longa e insistente série de perguntas. A razão foi a

fraude em uma grande concorrência de obra pública, anulada porque o resultado foi aqui

publicado, sob disfarce, com antecipação. Eram 18 grandes empreiteiras que dividiam

a concorrência e os bilhões por intermédio da fraude. Pois não me foi feita nem uma só

pergunta sobre qualquer das empreiteiras ou dos seus dirigentes.

No 4º PARÁGRAFO, há um argumento de consequência em relação ao que foi

explicitado no parágrafo anterior:

Aquela foi a primeira concorrência de obra pública anulada por revelação de fraude. Foi tudo

arquivado pela Procuradoria-Geral da República. Mas, bem-sucedida, a receita praticada

então pelas instituições e pessoas responsáveis por moralidade administrativa e

aplicação das leis ficou para as sucessivas fraudes e atos corruptores do serviço público.

O 5º PARÁGRAFO traz argumentos dirigidos para a tese, pois este é o parágrafo

com os argumentos mais fortes, a fim de conduzir à conclusão que deseja. Observe

que todos os argumentos usados, até o momento, tinham como finalidade chegar a

um argumento definitivo:

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Parece lógico que, se um ministro e assessores graduados caem, por indícios de corrupção,

há o lado corruptor. Parece. Mas a lógica a reger tais situações é outra. Provém, por extensão

quando as circunstâncias o exigem, daquela, mais que secular, de aplicação dos ônus a um

só lado: nos incidentes comuns, a punição aos humildes; nos casos graúdos, o ônus para os

menos influentes ou menos afortunados.

Quanto à Conclusão, o autor do texto a inicia apresentando a consequência

do que documentou no parágrafo anterior, depois conclui, defendendo a posição que

vem expressa desde o título. No entanto, aqui, o sentido se aprofunda, porque suben-

tendido está o fato de que o Brasil ficar de um lado só significa que o povo brasileiro

não está ao lado dos ricos e poderosos e corruptores, mas do outro lado:

E os empreiteiros, se você ainda não notou, com que o ganham no uso dos seus métodos

estão ficando donos do Brasil: telefonia, rodovias, ferrovias, petróleo, TV, hidrelétricas,

mineração, siderurgia, não tem fim. O Brasil também está ficando de um lado só.

Note também que o tom do texto é de denúncia e de indignação diante de um

quadro que precisa ser analisado em todos os seus ângulos. É interessante também

verificar os elementos de coesão. Observemos como ele liga os períodos e parágrafos

entre si. Procure marcar, no texto, os elementos de coesão entre os parágrafos e entre

as frases.

GÊnEro: carta

Parece-nos que, hoje em dia, não se escrevem cartas, que o e-mail resolve todas

as formas de contato. No entanto, no mundo comercial, só podemos resolver nossas

questões com cartas que serão entregues a um funcionário que deverá registrar o re-

cebimento da mesma. Por isso, esta proposta para escrever carta.

Vamos analisar uma carta: (Atenção: Os números entre parênteses são uma es-

tratégia didática para compreender a explicação no final da carta.)

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(1)

(2) 1/CC/2003

(3) Salvador, 20 de novembro de 2011.

(4) À Central de Ourocard / Cartão Visa.

Rio de Janeiro.

(5) Senhores:

(6) Recebi, no dia 10 de novembro, minha conta do Ourocard, nº 0000-00000-0000-0000,

e notei que há algumas compras que não reconheço, porque, na verdade, não as fiz.

Como o cartão ainda está em minhas mãos, não foi perdido, nem roubado, estranhei

profundamente.

(7) Em contato com a central de atendimento, at. nº 00.000.000, fui informada de que devo

relatar o que segue:

Contas que não reconheço como feitas por mim:

em 02/10/2011 – Ticketmaster – São Paulo – Valor: 724,00 �

em 02/10/2011 – Gol tran – São Paulo – Valor: 4x105,31= 421,24 �

Em vista do acima, solicito o imediato cancelamento de tais débitos, sob pena de, inclusive,

não ter saldo para débito em conta corrente, o que passa a ser de responsabilidade de

V. Sas. para todos os efeitos de direito. Em anexo, segue cópia do cartão: frente e verso,

conforme solicitação.

(8) Atenciosamente.

(9) Fulano de tal.

CPF: 000 000 000 – 00

Tel. (00) 000-0000

(10) NC/SC

Analisando as partes da carta:

(1) Cabeçalho ou timbre. (como se trata de carta particular não há o timbre) – se

houver, deve ser colocado a partir da esquerda

(2) número da carta/ código ou índice/ano: isto é, primeira carta/ carta comer-

cial/ ano 2011, na margem à esquerda.

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(3) data e local: escritos do centro para a direita: os meses com letra minúscula

(4) Destinatário e endereço – basta a cidade a que se destina – escrito a partir

da esquerda.

Com relação aos itens 3, 4 e 8, eles podem aparecer de duas formas: com pon-

tuação aberta, isto é sem obrigatoriedade de uso de pontuação, ou com pontuação

fechada, em que os sinais de pontuação devem ser respeitados. O uso de uma forma

ou outra é indiferente. Somente se deve ter cuidado de ao optar por um tipo, manter

a coerência ao longo da carta

(5) Invocação e vocativo – se for a primeira vez, usa-se apenas: “Senhor(es)” se-

guido de dois pontos, se for uma correspondência habitual, pode-se usar: “Prezados

Senhores:” (dois pontos).

(6) Introdução: assunto de que a carta vai tratar.

(7) Desenvolvimento ou explanação: explicações necessárias.

(8) Fecho ou encerramento.

(9) Assinatura.

(10) Iniciais do redator e digitador.

Agora, vamos comparar cartas e estabelecer diferenças. Veja os exemplos a se-

guir:

Porto Alegre, abril de 1966.

Regina:

Recebi sua amável carta, reclamando que a poesia se está ausentando ultimamente

das minhas crônicas, em proveito do lado humorístico da vida... Fiquei desapontado,

Regina. Primeiro porque pensava que andasse escrevendo coisas muito sérias, inspiradas

como eram, precisamente, no lado amargo da vida... Depois porque pensava que a poesia

estivesse nas entrelinhas, como aliás acontece na vida.

Além disso, pela sua carta, quer-me parecer que não pertence ao número das pessoas

que pensam que há assuntos “poéticos” e outros não, como também um estilo que possua a

exclusividade de ser “poético”... E, precisamente pelo estilo de sua carta, vejo que tampouco

pertence à escola literária daquela professorinha do interior que me disse um dia:

- O senhor não imagina como estamos... como “eu” estou contente com a sua visita à

nossa cidade!.

E confidencialmente: — aqui a gente não tem com quem falar difícil.

Espero que consiga encontrar consolo na atenção que dei à sua carta.

Com afeto,

Mário Quintana.

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MINISTÉRIO DA FAZENDA

Direção Geral da Fazenda Nacional

Carta-Patente nº 210

Faço saber que, havendo a Imembuí S. A., estabelecida na Rua Morotim n° 897, na

cidade de Santa Maria (RS), satisfeito todas as formalidades das leis vigentes, conforme

despacho no processo n° 2.034-50, pela presente carta, fica habilitada a efetuar a venda de

mercadorias e prestações, mediante sorteios, de acordo com o decreto n° 0000000.

Rio de Janeiro, 16 de junho de 1999.

Diretor Geral

Entre as três cartas, podemos encontrar algumas diferenças, e são essas diferen-

ças que vão nos dizer diante de que tipo de carta estamos:

Há três tipos de carta:

Oficial � – que pode ser memorando diplomático ou documento em que se afirmam,

ratificam ou retificam resoluções tomadas pelo governo. No segundo caso, dizemos que

ela é uma carta promulgada, como exemplo, a Carta das Nações Unidas.

Comercial � : tratam de assuntos gerais de uma empresa. Inserem-se aqui também as

cartas bancárias, como pedido de crédito, aviso de cobrança, etc.

Particular ou pessoal � – a correspondência trocada de forma íntima: cartas entre ami-

gos, carta para familiares, cartas de amor.

Até há poesia sobre análise de cartas:

Cartas de Amor

Todas as cartas de amor são

Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem

Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Tem de ser

Ridículas.

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Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

Fernando Pessoa

É importante identificar o tipo até para interpretar melhor o teor das informa-

ções. Embora hoje em dia sejam poucas as pessoas que usem cartas pessoais, prefiram

o e-mail, ainda se podem escrever lindas cartas de amor, a mão, com nossa própria

letra. É muito mais significativo.

rEsEnHa

Uma atividade acadêmica muito solicitada ao longo do curso é produzir rese-

nhas. Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar

cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envol-

vem.

O objeto resenhado pode ser um acontecimento qualquer da realidade (um

jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de livros) ou textos e obras cul-

turais (um romance, uma peça de teatro, um filme, uma representação simbólica com

vários textos)

Para elaborar a resenha, deve-se proceder seletivamente, filtrando os aspectos

pertinentes, aquilo que é funcional do ponto de vista de uma intenção previamente

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definida.

A estrutura de uma resenha crítica consta de:

a) parte em que se dão informações sobre o texto, tais como: �

nome do autor (ou autores); �

título da obra ou do artigo / ou tema a que a resenha se refere; �

se for o caso, editora, coleção de que a obra faz parte; e �

lugar e data da publicação. �

Observação: Essa parte pode ser colocada em destaque, antes de iniciar a rese-

nha propriamente dita, ou pode constar no corpo da resenha.

b) resumo do conteúdo da obra: �

indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado); �

ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom); e �

resumo em que se apresentam os pontos essenciais do texto e seu plano geral. �

c) crítica: �

comentário e juízos de valor sobre as ideias expostas pelo autor; �

valor da obra ; contribuições que ela traz; e �

indicação – para quem se pode indicar essa obra, esse objeto. �

Veja, a seguir, um exemplo de resenha.

MEMÓRIA – ricas lembranças de um precioso modo de vida.

O diário de uma garota (Record, Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que

comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos

nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para

42.

Acabados os exames, Maria Julieta começa seu diário, anotando em um caderno da capa

dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina,

que se propõe a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde

recordar coisas já esquecidas.

O resultado final dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia

do texto que, ao ser concebido, tinha como destinatária única a mãe da autora, a quem o

caderno deveria ser entregue quando acabado.

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E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos,

pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce de leite, novena, o

Tico-tico, doce-de-banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos

novos de camurça branca, bem-casados, romances franceses, comunhão, recorte de

gravuras, festas de aniversário, Missa do Galo, carta para a família, dor de barriga, desenho

de aquarela, mingau, indigestão... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota

carioca em férias mineiras, das quais regressa sozinha de avião.

Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje

apenas um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto, que, graças à arte de Julieta,

escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida.

O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua

linguagem, que, se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda, não obstante,

o sotaque antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários dominavam os

pronomes cujo/a/os/as e conheciam a impessoalidade do verbo haver no sentido de existir

e empregavam, sem pestanejar o mais que perfeito do indicativo quando de direito.

Outra e não menor riqueza do livro é o acerto de seu projeto gráfico, aos cuidados de

Raquel Braga. Aproveitando para ilustração recortes que Maria Julieta pregava em seu

diário e reproduzindo na capa do livro a capa marmorizada do caderno, com sua lombada e

cantoneiras imitando couro, o resultado é um trabalho em que forma e conteúdo se casam

tão bem casados que este Diário de uma garota acaba constituindo uma grande festa para

seus leitores adolescentes a quem recomendamos a leitura.

Marisa Lajolo

Jornal da Tarde

Fonte: Platão e Savioli (1997 p. 426-427)

Observação: Essa resenha poderia ter a primeira parte destacada como segue:

(Título)

ANDRADE, Maria Julieta Drummond. O diário de uma garota. São Paulo: Record, 1990.

O diário de uma garota é um texto que comove de tão bonito. (E daí em diante segue a

resenha do mesmo modo.)

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Propostas de atividade:

1) Identificar as partes que compõem a resenha apresentada e verificar se con-

têm o que se exige de uma resenha crítica.

2) Produzir um texto argumentativo em que você possa fazer uma análise da

forma como conduz seus argumentos para defender a tese e chegar a uma conclu-

são.

Tema a ser desenvolvido:

Um dos principais desafios das estruturas políticas vigentes é manter um esforço contínuo

de conciliação dos tipos e das culturas, de valores aparentemente contraditórios, do poder

com os valores sociais. O setor privado vive este paradoxo dentro da lógica do capitalismo,

dos resultados e das metas econômicas. Valores sociais, econômicos e ambientais são

conciliáveis? É possível a construção de um círculo virtuoso, onde ganham as organizações,

os indivíduos e a sociedade? (MARCOVITCH, 2006,p.36 )

3) Produzir uma resenha crítica do vídeo “Ilha das Flores”., com o qual você tra-

balhou na aula 7

Observe os critérios para ver se seu trabalho está de acordo com o que deve

conter uma resenha:

Ficha de autoavaliação

1. O texto está adequado aos objetivos de uma resenha acadêmica?

2. O texto está adequado ao(s) destinatário(s)?

3. O texto transmite a imagem que você quer passar de si mesmo?

(Isto é, a imagem de quem leu e compreendeu adequadamente o texto original e de

quem soube se posicionar em relação a ele de forma crítica?)

4. As informações que o autor do texto original coloca como sendo as mais relevantes são

por você abordadas na resenha?

5. Além do conteúdo propriamente dito, você abordou:

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A - dados sobre o autor do texto? �

B - o conhecimento do autor em relação ao assunto? �

C - a adequação da linguagem usada no texto para o público ao qual se dirige? �

D - a organização do texto? �

E - os mecanismos lingüísticos de que o autor se utiliza para construir sua argu- �

mentação?

6. Você escolheu os marcadores textuais mais apropriados para ressaltar a relação entre as

idéias principais?

7. Você procurou ser polido em suas críticas?

8. Você utilizou adjetivos e substantivos para expressar sua opinião sobre o texto?

9. Você variou e escolheu os verbos mais apropriados para traduzir os atos realizados pelo

autor da obra?

10. Não há problemas de pontuação, concordância, erros gramaticais e ortográficos etc.?

Caso ache necessário e com base no que foi estudado em sala, avalie outros aspectos

relevantes presentes em sua resenha. Segue uma sugestão de leitura: MACHADO, Anna

Rachel; LOUSADA, Eliane Gouveia; ABREU-TARDELLI, Lilia Santos. Resenha. In: Leitura e

Produção de textos técnicos e acadêmicos. v. 2. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

Agora, vamos analisar textos dissertativos produzidos por estudantes univer-

sitários.

Tema: A energia nuclear é uma boa solução para o Brasil?

Texto 01

Energia nuclear é a solução?

Percebe-se atualmente uma dinâmica mundial de tendências a novas fontes energéticas,

porém deve-se ressaltar a importância dessas fontes estarem em concílio com o

ambientalismo.

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No Brasil, destaca-se a intenção de investimento em energia nuclear. As estruturas

para a produção dessa fonte energética, foram constituídas a partir da década de 70 com

a construção de Angra I e posteriormente (na década de 90) com a construção de Angra

II. A infraestrutura dessas usinas foram adquiridas através do repasse de reatores e

sistemas de antigas usinas européias. O plano para a abrangência no setor, conta com a

construção de Angra III e a expansão do enriquecimento de urânio em nosso país.

No ponto de vista favorável, o plano pode viabilizar os problemas enegéticos

enfrentados pelo país, contribuir para o meio ambiente não poluindo a atmosfera nem

contribuindo ao aquecimento global, vantagens na sua utilização em indústria,medicina e

agropecuária,além de fortalecer a segurança (caso ocorresse uma guerra nuclear).

Em uma antítese, destaca-se a alta peliculosidade de uma contaminação ambiental

(como a ocorrida na URSS e em Goiânia), a disponibilidade do lixo radioativo no meio

ambiente e afetaria as relações políticas-econômicas brasileiras no cenário internacional, o

país poderia ser considerado indulto perigoso a paz mundial, (como o Irã). Trata-se de uma

idéia pouco recomendável pois gastará bastante capital estatal que poderia ser investido

em obras sociais.

Considerando a vasta contingência de recursos ambientais no Brasil, conclui-se que

o país deveria investir em fontes energéticas que não poderá afetar suas relações

políticas-econômicas, nem tampouco colocará em risco o ecossistemas local.

Uma dessas fontes é a energia eólica, se seguirmos o modelo da Alemanha,

garantiríamos um fonte energética com o perfil brasileiro: confiável, barata e sem objeções

ambientais. Garantindo assim o Brasil como referência em novas fontes energéticas.

Você pode notar que o texto apresenta uma estrutura argumentativa e trata do

tema proposto. No entanto, observe o que está em negrito. São dificuldades linguísti-

cas e impropriedades semânticas, sintáticas e ortográficas. Vejamos:

Há a impropriedade vocabular em “concílio”, no primeiro parágrafo. “Concílio”

significa “assembleia de bispos católicos convocados pelo papa para deliberar sobre

questões de fé e outras”. Não se trata de conciliar. Uma sugestão para resolver o proble-

ma seria: “Deve-se ressaltar a importância de conciliar o uso dessas formas de energia

com a preservação do meio ambiente.”

Também é preciso dar atenção à concordância: no segundo parágrafo, o cor-

reto seria “a infraestrutura dessas usinas foi adquirida”. O último parágrafo também

apresenta o mesmo problema. Eis o certo: “fontes energéticas que não afetem (...), nem

(...) coloquem em risco (...)”.

Observe as questões de ortografia e concordância, assinaladas em negrito: o

correto seria “periculosidade” e “energéticos” e “político-econômicas”

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Agora, analise o texto a seguir, sobre o mesmo tema:

Texto 2

A energia nuclear como opção

A expansão da produção de energia nuclear no Brasil com a implantação da usina

Angra 3, tem dividido opiniões na sociedade e órgãos protetores do meio ambiente.

Há pessoas que defendem essa forma de geração de energia como alternativa viável, porém

muitos a vêem como ameaça à humanidade no curto e longo prazo

De um lado, os defensores do uso dessa forma de energia alegam que sua geração não

lança gases tóxicos na atmosfera, deixando de contribuir para aumentar o efeito estufa.

Além disso, as usinas podem ser construídas perto dos grandes centros urbanos, o que

ajuda na redução dos custos da transmissão, tornando-a economicamente atraente.

Por outro lado, estão os que criticam a construção de usinas nucleares alegando os

riscos ao meio ambiente trazidos pelo lixo tóxico produzido. Esses resíduos devem ser

mantidos sob vigilância por milhares de anos para que não causem danos. O Greenpeace

apresentou recente relatório sobre o estudo da inviabilidade de se usar a energia nuclear

para conter os efeitos nocivos do aquecimento global, por ser extremamente cara e de

demorada implantação. Para o órgão não-governamental, há fontes ainda não exploradas

de energia hidráulica, além de fontes alternativas que trariam benefícios mais seguros que a

construção de usinas nucleares.

Dessa forma, é preciso responsabilidade no uso de uma energia cujos resíduos precisarão

ser administrados por várias gerações. Com formas ainda pouco exploradas de energia

seguras, não parece ser conveniente o uso e a expansão de uma fonte energética na qual

erros em sua gestão possam resultar em grandes acidentes.

Note como o texto está bem articulado e organizado de forma simples e direta.

O autor elenca argumentos favoráveis e contrários à utilização da energia nuclear.

A única falha do texto está na conclusão, pois o autor não assume claramente

uma posição. No aspecto linguístico, o texto apresenta domínio da norma culta.

Vamos pontuar alguns aspectos que valorizam esse texto:

O autor fez uma escolha acertada logo no início do texto. O primeiro período

é sintético e objetivo, situando o leitor na discussão que vem a seguir. Há apenas um

pequeno reparo a fazer: a necessidade de mais uma vírgula. O período ficaria assim: “A

expansão da produção de energia nuclear no Brasil, com a implantação da usina Angra

3, tem dividido opiniões na sociedade e órgãos protetores do meio ambiente.”

Os argumentos pró e contra o uso de energia nuclear aparecem bem discrimi-

nados, com o emprego de expressões como “de um lado”, “os defensores” e “por outro

lado”, “os que criticam”. É fácil para o leitor acompanhar o andamento da argumenta-

ção.

Nesse contexto argumentativo, em que há clareza e objetividade, observe

como o último parágrafo cria um contraste, por usar expressões vagas e proposições

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indiretas como os trechos assinalados em itálico: “é preciso responsabilidade” e “não

parece ser conveniente”.

Agora é sua vez:

Leia o texto abaixo, sobre o mesmo tema, e analise a estrutura, a coesão e a

coerência, bem como a correção da linguagem. Para facilitar seu trabalho, algumas

passagens com problemas estão em itálico. Bom trabalho!

Texto 3

Energia diferenciada

A energia nuclear é uma forma de energia muito satisfatória, porém que gera muita

polêmica e discussão. Embora seja considerada uma limpa, potencialmente energética e não

poluidora do meio ambiente, ela pode causar vários riscos à natureza, principalmente no que

se diz respeito ao seu principal produto envolvido: o urânio.

Energia nuclear é um tema muito controverso. Ainda que por um lado ela seja benéfica ao

meio ambiente, não gerando poluição, não agravando o efeito estufa ou o aquecimento

global, por outro ela é algo a ser discutido com muita cautela, pois o urânio, utilizado

como fonte de energia principal, pode, se não descartado ou armazenado corretamente,

contaminar potencialmente a natureza, como lençóis freáticos, rios, mares, lixo e,

principalmente, acarretando sérios problemas, além de gerar acidentes, como o que houve

em Chernobil.

Utilizar qualquer forma de energia é muito importante; porém, o que se deve é conhecer os

benefícios e prejuízos dela, uma vez que formas de vidas estão envolvidas, além da agressão

ao meio ambiente, que compromete sinergicamente a vida humana e animal.

Exemplos como Angra 1 e Angra 2, no Rio de Janeiro, e futuramente Angra 3, como já está

em andamento, são usinas que até hoje contribuíram para o desenvolvimento do país,

mas vale lembrar que pesquisa, desenvolvimento de práticas que visem a prevenção de

acidentes e bom senso de seu uso, são medidas eficazes que só tendem a tornar esse tipo

de energia cada vez mais potente e segura.

Assim sendo, a energia nuclear é e pode ser um grande avanço para a humanidade, mas

pessoas altamente qualificadas, desenvolvimento de novos métodos, estudos de casos,

medidas preventivas, atuação significativa aliada a outras formas de energia, como a eólica,

solar, hidrelétrica e outras, só tendem a mostrar ao país e a outras nações que energia limpa

pode e deve ser utilizada, a fim de beneficiar todos, com segurança e eficiência.

Então, conseguiu uma forma melhor de redação dos trechos assinalados? Note

como é importante a clareza, a objetividade com relação ao uso de argumentação

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para defender um ponto de vista.

Para uma produção de texto de qualidade, sugiro que procure uma tese que

realmente seja produtiva, que traga possibilidades de argumentação. No momento

de argumentar, use em primeiro lugar os argumentos mais fracos e termine a parte do

desenvolvimento com os argumentos mais fortes. E... sempre - releitura e reescritura

do texto.

SíNTESE

Escrever é buscar dentro de nós as melhores palavras. Diante do papel em bran-

co, tudo o que vivemos, lemos e estudamos deve vir à tona. É um trabalho solitário,

mas glorioso quando conseguimos produzir argumentos sólidos, convincentes e ca-

pazes de mobilizar nosso leitor. Para conseguir isso, precisamos escrever, reescrever,

ler muito, observar criticamente a realidade. Um texto argumentativo deve ser coe-

rente, apresentar coesão entre os períodos e entre os parágrafos. É bom revisar a aula

sobre coesão e coerência.

QuESTÃo PArA rEFLEXÃo

Toda a linguagem é argumentativa. Como você compreende esta afirmação?

LEiTurA iNdicAdA

Sugiro a leitura do 8º capítulo do livro indicado a seguir, por ser um trabalho bem

feito, esclarecedor, que contém os fundamentos necessários para quem deseja

começar a produzir bons textos.

VIANA, Antônio Carlos. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo:

Scipione, 1998.

rEFErêNciAS

EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto: redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração Editorial,

2004.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto. São Paulo: Ática, 1997

LAGAZZI-RODRIGUES, S. Texto e autoria. In: ORLANDI, E.; LAGAZZIRODRIGUES, S. (Orgs.). Introdução às

ciências da linguagem: discurso e textualidade. Campinas, SP: Pontes, 2006.

LAJOGO, M. et al. Ofício de professor: leitura e escrita. v. 3. São Paulo: Abril, 2002.

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MACHADO, Anna Rachel; LOUSADA, Eliana Gouveia; TARDELLI, Lilia Santos. Resenha. In: Leitura e produ-

ção de textos técnicos e acadêmicos. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

MARCOVITCH, Jacques. Para mudar o futuro. São Paulo: EDUSP/ Saraiva. 2006.

VIANA, Antônio Carlos. Roteiro de redação: lendo e argumentando. São Paulo: Scipione, 1998.

Page 141: Caro estudante, - periodicos.anhembi.brperiodicos.anhembi.br/arquivos/Ebooks/421286.pdf · Caro estudante, Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do
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Fonte:CERCATO, Nilza Carolina Suzin. Comunicação. Salvador: UNIFACS, 2012. 142 p .. E-book