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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA ANDRELINO DA SILVA CARTAS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO. ORIENTADORA: PROFª. MSc. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO. NATAL/RN 2009

Carta como Fonte de Informa o) - monografias.ufrn.br · Ao personagem Dom Quixote e ao Policarpo Quaresma que me ... da carta que é a de utilidade social, definindo e ... até o

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

ANDRELINO DA SILVA

CARTAS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO.

ORIENTADORA: PROFª. MSc. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO.

NATAL/RN

2009

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ANDRELINO DA SILVA

CARTAS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO.

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelas professoras Maria do Socorro de Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

ORIENTADORA: PROFª. MSc. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO

NATAL/RN 2009

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S 586c SILVA, Andrelino.

Cartas como fontes de Informação. / Andrelino da Silva. – Natal, 2009.

55f.

Orientadora: Renata Passos Filgueira de Carvalho Monografia (Graduação em Biblioteconomia). - Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 2009.

1. Fontes de Informação: Cartas – Monografia. 2. As Cartas e suas utilidade social – Monografia. 3. As cartas e a unidade de Informação - Monografia. I. Carvalho, Renata Passos Filgueira de. II.Título.

CDU: 001.102(044.2)

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ANDRELINO DA SILVA

CARTAS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelas professoras Maria do Socorro de Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

MONOGRAFIA APROVADA EM__/__/2009

__________________________________________________

PROFª. MSc. RENATA PASSOS FILGUEIRA DE CARVALHO

ORIENTADORA

__________________________________________________

PROFª. MSc.ANTONIA DE FREITAS NETA

MEMBRO

__________________________________________________

PROFª. MSc. MARIA DO SOCORRO DE AZEVEDO BORBA

MEMBRO

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AGRADECIMENTOS

A meu Deus o único que não me abandonou.

A minha família, minha mãe Damiana linosapo ( a guerreira), as minhas

irmães, Andreza, Adelina, Adélia, Dayane.

Os sobrinhos: Amanda, Carol, Ramon, Alisson e Andrey.

A Márcia Maria Ambrósio, Jéssica Janaina e Francisca Félix ( Teté) por

conseguirem caronas para mim e fazer-me companhia durante as horas da

espera da vinda para Universidade.

Aos 367 “anjos” que me deram carona durante esses quatro anos de Cachoeira

do Sapo para Natal.

A minha coordenadora Dr. Jadeilda e Gilmar o Secretário de Saúde de

Riachuelo/RN. Pela compreensão!

A Jalmir Dantas, seu Assis da água mineral, Eriberto “do de olho no

combustível” e Sebastião da Rabelo pela atenção dedicada nas caronas.

Aos meus amigos de Residência do apartamento 15. Aníbal, Jéferson, Gilberto,

Ivan Júnior, Ciro, Claudi e Maciel. E todos os que fazem à família CAMPUS II.

Aos meus amigos de sala e em especial meu amigo Manoel Targino.

Aos amigos Leonardo, Valdeci e Lucas pelas horas de descontração. À minha segunda mãe Dona Severina Ribeiro e família. A minha amada esposa Ilka Maria, que sempre foi companheira! Em especial aos meus cinco amigos e irmãos, que a pobreza nos presenteou

com a dor da marginalização e a exclusão na infância: Fia e Naldo de Pelé,

Damião de Nazaré, Zé de Lídio e Novinho de Ana.

Ao personagem Dom Quixote e ao Policarpo Quaresma que me fizeram

acreditar em minhas loucuras.

A minha orientadora que desde o inicio do Curso sempre foi muito eficiente, Profª. MSc. Renata Passos Filgueira de Carvalho. A minha amada terra Cachoeira do Sapo/RN , que me deu o privilégio de

respirar o seu Ar e nadar em suas Águas.

Aos amigos Popô e Sidney pelo apoio que me deram e ao amigo Pedro Leite Filho companheiro da primeira série.

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RESUMO

Apresenta a carta como uma fonte de informação de muito valor, mostrando-a desde o surgimento da escrita até a sua vinda para o Brasil. Enfatiza as atribuições de uma fonte de informação dando destaque à carta como um meio eficiente e seguro para as pesquisa, não sendo utilizadas em sua totalidade por diversos fatores. Destaca a sua importância e a sua utilidade na construção social desse país nos séculos passados. Utiliza para a elaboração do trabalho pesquisa em fonte bibliográficas e virtuais, também consulta a cartas. Classificando-as em duas classes as cartas individuais e as coletivas. Apresenta as cartas em suas mais diversas aparições no meio artístico, entre eles o musical, literário, cinematográfico e poético. Mostra que as cartas não constituem parte do acervo das Unidades de Informação, e que essas são de poucas expressividades nas políticas das Unidades, resumindo-se apenas a algumas cartas de autoridade ou evento importante.

Palavras-chaves: Cartas: Fonte de informação: Unidade de Informação:

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 9

2 HISTÓRICOS DAS CARTAS .................................................................... 11

2.1 EVOLUÇÃO DAS CARTAS NO BRASIL................................................ 15

3 FONTES DE INFORMAÇÃO .................................................................... 19

4 AS CARTAS COMO FONTE DE INFORMAÇÃO ..................................... 23

4.1 AS CARTAS E SUA UTILIDADE SOCIAL .............................................. 26

4.2 AS CARTAS INDIVIDUAIS ..................................................................... 30

4.2.1 O sobrescrito ..................................................................................... 32 4.3 AS CARTAS COLETIVAS ...................................................................... 34

5 AS CARTAS E SUAS DIVERSAS APARIÇÕES ...................................... 37

5.1 NA MÚSICA ........................................................................................... 37

5.2 NA LITERATURA ................................................................................... 39

5.3 NO CINEMA ........................................................................................... 41

5.4 NA POESIA ............................................................................................ 43

6 AS CARTAS E AS UNIDADES DE INFORMAÇÃO ................................. 49

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 52

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 54

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1 INTRODUÇÃO

As cartas sempre foram fascínio, elas iniciam-se como meio de utilidade

informacional, e à medida que a tecnologia foi se aprofundando ela foi perdendo a

majestade como veículo informacional de importância impar, no entanto a carta se

tornou uma fonte de informação. As novas tecnologias acabaram relevando-a a um

segundo plano, geralmente as cartas são mais utilizadas pelas grandes empresas

que emitem suas faturas. Mesmo assim, a importância com que sempre se viu esse

suporte informacional ainda não sofreu nenhum desequilíbrio.

À medida que a tecnologia avança a carta se torna cada vez mais importante,

agora não só como simples aparato de idas e vindas de informações, compondo o

campo de um fabuloso mecanismo do ciclo informacional. nessa perspectiva se

busca perceber o valor atribuído às cartas na conjuntura histórica e na atual de

nossa sociedade. Enfatizando o contexto de como as utilizá-las como fonte de

informação, e qual o papel da instituição biblioteca e do profissional bibliotecário na

utilização de cartas.

A principal função do trabalho é mostrar importância da carta como uma fonte

de informação. Apresentando a sua importância na construção da sociedade da

informação a destacando como um suporte informacional digno de ser utilizado em

uma unidade de informação. Mostrando de forma precisa suas mais diversas

utilizações nos meios de comunicação humana. Através de pesquisas bibliográficas

nos mais diferentes meios tanto impressos como digital.

O trabalho busca em primeiro momento, mostrar o contexto histórico em que

o suporte carta foi desenvolvido e utilizado nos mais diversos lugares nas mais

diversas formas. Trazendo para uma espacialidade bem menor, trazida para o

contexto Brasil. Que acabou possibilitando para a nova terra o desenvolvimento,

uma vez que se levar em consideração o Brasil descoberto, esse tem em uma carta

o seu surgimento oficial. O que remete o trabalho em seu segundo capitulo a uma

abordagem sobre as fontes de informações e como essas são classificadas e

apresentadas.

A carta vista como fonte de informação faz refleti sobre o que são fontes de

informação? E para isso, busca-se mostrar o quanto à carta está inserida no que se

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considera como fonte de informação. E dentro dessa ótica que o terceiro capitulo

mostrar outra característica da carta que é a de utilidade social, definindo e

mostrando as cartas em duas formas:

As individuais de caráter particulares e as coletivas que tem a finalidade de

representar ou transmitir a informação de um grupo. Em todas as formas sempre

fazendo um paralelo entre as cartas e sua importância como uma fonte de

informação.

Com a explanação da carta e suas diversas atribuições dentro do contexto

social, não poderia deixar de mostra a carta em diversas aparições, ela que

enfeitiçou a cabeça de escritores, poetas, músicos e cineasta. Encontrou lugar de

destaque nos mais diversos meios de artes, se confirmando como um meio e uma

fonte de informação capaz de manter-se viva e inserida nas mais diversas formas de

expressões. E por toda essa hegemonia, que a carta ganhou destaque nos meios de

comunicação como uma das principais fontes de informação.

A importância que a carta conquista é totalmente contrária à importância com

que são disponibilizadas nas unidades de informações, essas que pouco tem

atribuído qualquer incentivo para tê-las como uma parte de seus acervos. Nesse

contexto a carta tão bem apresentada com sua importância, acaba sofrendo uma

desvalorização por parte das unidades informacionais pela indiferença com que são

tratadas, sendo a maioria das unidades informacionais, no caso, as Bibliotecas,

portadores de cartas que representam algo de maior importância, o que as torna

reprodutora da História positivista, cultuando apenas os heróis.

A necessidade de se trabalhar também as cartas anônimas, ou seja, de

pessoas que não fizeram tanta fama a ponto de ter suas cartas em exposição, acaba

sendo um problema detectado, já que as cartas independentemente do tempo, estão

elas carregadas de informações, que apesar de fragmentadas possibilitam a

reconstrução mediante pesquisa de qualquer modelo social. E assim, construiremos

nosso texto sempre mostrando a carta como importante fonte de informação. E sua

importância para a construção social e sua pouca disponibilização nas unidades

informacionais.

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2 HISTÓRICOS DAS CARTAS

A carta sempre foi um fascínio para o homem, sua utilização foi capaz de

moldar os primeiros alicerces da globalização. Se pensar como ela surgi e qual sua

importância para os tempos de hoje, é impossível calcular a influência sobre a

unificação social que promoveu. Se nos primórdios o homem já utilizava as paredes

das cavernas com suas escritas rudimentares para se comunicarem, podemos então

julgar que entre a atitude utilizada na comunicação dos primórdios e as maneiras em

que logo se sucedeu, como uma pré-configuração da correspondência. De acordo

com dados disponíveis no site www.suapesquisa.com, diz que.

Na pré-história o homem buscou se comunicar através de desenhos feitos nas paredes das cavernas. Através deste tipo de representação (pintura rupestre), trocavam mensagens, passavam idéias e transmitiam desejos e necessidades. Porém, ainda não era um tipo de escrita, pois não havia organização, nem mesmo padronização das representações gráficas. [grifo do autor].

Isso leva a imaginar as paredes das cavernas como uma remota e primitiva

carta de pedra, que não se deslocava até o receptor para se ter um ato de

comunicação concluído, ela permanecia lá estática esperando que os receptores

viessem até ela e de lá pudessem compreender as mensagens que ali estavam

colocadas. Como coloca Le Coadic em sua teoria da informação baseado no modelo

da física. Que diz.

As comunicações humanas regulan-se, portanto, pelo modo de transmissão dos sinais [...], e, por isso, não podem deixar de ser autoritárias dirigidas, unidirecionais. O modelo resultante, largamente difundido, coloca em cena um emissor, que comunica uma mensagem ao receptor. (LE COADIC, 1996, p. 12)

Em um sentido mais completo as escritas rupestres podem ser

caracterizadas como uma gigante e primitiva carta coletiva, já que diversos

receptores podiam apoderar-se das informações e utilizá-las a seu bel prazer.

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Promovendo assim, um fluxo de informação que seriam utilizados por todos os

povos que compreendesse as informações ali contidas.

Fazendo análise por essa ótica compreende-se que dessa forma, dentro

desse contexto, as artes rupestres têm um caráter informativo de um povo que se

expressam e outros que fazem uso das informações. Se encontrando nesse sentido

com os mesmos valores atribuídos as cartas de papeis, que tinham basicamente

caráter informativo, fazendo então através de suas linhas uma disseminação de

informação que condiciona o homem a viver na teia da informação. A mesma

necessidade encontrada por grupos anteriores, e as cavernas com seus desenhos

também têm o mesmo valor que se atribui às cartas. Já que através do que se ver

escrito se produz resultados, sendo essas paredes o inicio dessa jornada

informacional. Como mostra Pinsky ao discorrer que:

Os primeiros relatos de vida humana foram grafitos em cavernas com materiais contundentes, contituindo-se, com outros vestígios, nas fontes dos futuros historiadores. Após milênios_ quando pequenas comunidades ágrafas deixaram indícios permitindo a arqueólogos, antropólogos, etnólogos levantarem hipóteses sobre diferentes modos de vidas_ surgiram sociedades complexas, como as do oriente antigo, e com elas a instituição da propriedade privada, do comércio, de religiões, de cidades, de estados e impérios que geraram novas configurações de registros, destacando-se entre elas a invenção da escrita, responsável pela produção documental dos períodos históricos subseqüentes, constituindo-se nas fontes mais valorizadas pelos pesquisadores até meados do século XX. (PINSKY, 2006, p. 10)

As escritas ao longo do tempo foram sofrendo alterações, possivelmente às

correspondências já fosse remotamente utilizada nessa época, uma vez que

escrever em paredes não ficava viável.

Dentro dessa lógica é possivel abordar a questão da necessidade

informacional que crescia à medida que a população crescia. Dessa forma era

necessário à informação encontrar o receptor, esse cada vez mais distante.

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As placas de argilas sem dúvidas foram grandes evoluções do meio

informacional e fundamental no controle da memória. Como acrescenta Le Coadic

(1996, p.13) “A comunicação é, portanto, o processo intermediário que permite a

troca de informações entre pessoas”. Por essa ótica, as placas de argilas podiam ser

removidas até o receptor concretizando a finalidade da mensagem. Esse suporte

favorecia o deslocamento da informação, no momento que tanto o suporte como a

escrita haviam mudado, mudanças essas explicitadas nos trabalhos de Silva Filho.

Em princípio, as tábuas só serviram para registros contábeis, posteriormente foram utilizadas para inscrições votivas, comemorativas, narrações históricas, relatos épicos, exemplo disso são as estrelas babilônicas e o código de Hammurabi e o poema de Gilgamesh, estes elaborados com material muito mais duradouro. (SILVA FILHO, 1998)

O que antes eram apenas idéias rabiscadas em pedras, agora tomava

formas de escritas cuneiformes, o que era muito mais compreensível. Desde as

paredes das cavernas até as placas de argilas que a informação persiste. E

permeado pela necessidade humana de sempre procurar se informar mais, é que

surgem essas revoluções. É sabido que as primeiras trocas de comunicação se

inicia nessa face da argila, quando os escribas oficiais rabiscavam suas placas de

argila e de lá saiam às informações que governavam cada Reino. Foi com todo esse

avanço que surgiram as primeiras correspondências, como afirma Silva Filho.

Estas civilizações estavam formadas por pequenas comunidades sob a autoridade de um soberano e ante a necessidade de controle administrativo surgem os primeiros registros da escrita que foram os registros contábeis relacionados com as quantidades de sacos de grãos ou cabeças de gado. Este tipo de contas estava reservada a um grupo privilegiado: os escribas, que ocupavam também importantes cargos sacerdotais. Esses registros contábeis realizavam-se sobre tábuas de argila, que uma vez escritas, eram secas ao sol. Utilizavam para escrever, objetos de metal, osso e marfim, largos e pontiagudos em uma das extremidades e de outra, plano, em forma de paleta com a finalidade de poder cancelar o texto, alisando o material arranhado ou errado. (SILVA FILHO, 1998)

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E quanto mais tempo passava mais aprimorado ficava o sistema de escritas,

e consequentemente o de suporte informacional, é justamente nesse enraizamento

informacional que surge um suporte bem mais simples e mais eficiente que as

tábuas de argilas. Os papiros, que revoluciona as formas da escrita com sua

facilidade e praticidade, sendo modelos sofisticados das comunicações da época

como enfoca Chinarelli.

Relativamente ao suporte, há a registrar uma evolução, no sentido da multiplicação, e que vai desde as inscrições de objetos em barro cozido, passando pelas pinturas nas paredes dos templos e das câmaras funerárias, em pedra e madeira, culminando com a utilização do papiro nos manuscritos. Efetivamente, o papiro – invenção atribuída ao povo egípcio –, foi o material mais importante para este segundo sistema de escrita.( CHINARELLI, 2007)

Levando em consideração que as facilidades em manusear e em destinar as

informações ficavam melhores com esse suporte, dentro desse contexto, deve-se

levar em consideração que o mundo se tornava cada vez mais povoado. O que

necessitavam mais informação para movimentar todo o aparato governamental e

social que eram os pilares dessas sociedades. É nesse propício momento que as

comunicações, sejam elas de caráter privados ou governamental, ganham maior

utilidade. Dos papiros se chega até o mais utilizado dos suportes, o papel, como

afirma Higounet.

Veio da China a idéia de fabricar papel a partir de trapos. Os mais antigos documentos conhecidos escritos sobre papel são textos budistas do século II. Samarkanda foi um dos grandes centros da fabricação de papel durante a alta Idade Média. Foram os árabes que introduziram esse material na Europa. O missal de Silos (perto de Burgos) é o mais antigo manuscrito europeu em papel conhecido até o presente (início do século XI). Aliás, a Espanha foi o primeiro país ocidental a ter fábricas de papel. Todos os papéis da Idade Média eram fabricados com trapos de cânhamo e de linho. Seu defeito era a fragilidade, a falta de flexibilidade e, até o século XIV, o preço de custo relativamente alto. Até o início do século XIX, o papel foi fabricado unicamente à mão sobre uma fôrma. Hoje nossos papéis são tecidos de fibras vegetais das mais diversas proveniências e são fabricados em largas escalas” (HIGOUNET, 2008, p. 18) [grifo do autor]

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O papel, diferente dos demais, trazia muita comodidade e eficiência, uma vez

que o seu manuseio era mais prático. A invenção da prensa de Gutemberg e tantas

outras revoluções nas diversas áreas acabaram gerando um maior número de

alfabetizado, o que harmonicamente se utilizaram desse suporte informacional para

se manterem socializado com as informações mais recentes. É a época em que o

papel e a caneta tinteiro se transformavam no meio de comunicação mais

importante, e assim, a carta de correspondência por séculos reinou magistralmente.

Após tantos avanços as cartas evoluem para uma forma dinâmica e simples,

surgindo nesse momento o telegrama que se utiliza de mecanismo até então

indiferente ao processo de comunicação. O telegrama que perdendo os antigos

suportes necessários a confecção do objeto informacional, conserva os mesmo

objetivos ou as mesmas intencionalidades que as cartas escritas a punho com

tinteiros ou canetas. Com o decorrer dos tempos os telegramas também são

aposentados, chegando como revolução na área informacional o fax, e

posteriormente de uma forma totalmente distinta dos primeiros suportes utilizados

para a produção das cartas ou dos serviços que visavam atender ao mesmo ideal

das cartas, é que nascem sem deixar vestígio os e-mails, esses que nasceram já no

mais alto nível do desenvolvimento tecnológico. É possivelmente umas das últimas

metamorfoses da carta, o objeto de tanto apreço pela sua constante menção como

fonte de informação.

2.1 EVOLUÇÃO DAS CARTAS NO BRASIL

As cartas no Brasil têm inicio logo no seu descobrimento, é talvez a

mesma escrita em 1500, um dos documentos mais importantes para o país. Mesmo

não sendo a carta escrita pelo povo Brasileiro, trata-se de uma carta que contava

sobre as coisas boas da nova terra. Carregada de informação, essa carta que

retorna a Portugal, é um dos documentos mais importante sobre essa terra e a sua

primeira menção para que o reino soubesse de sua existência. A carta que continha

informações precisas sobre a nova terra, servia como um documento que justificava

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todo o investimento realizado nas navegações, nascendo assim, para a História, o

primeiro registro dessa terra chamada Brasil. Como mostra Perón.

Data já do Descobrimento do Brasil a primeira ligação postal entre a nova e a velha posse lusitana. No sábado, 2 de maio de 1500, quando a esquadra cabralina se preparava para deixar a então “Ilha de Vera Cruz” rumo às Índias, seguia para Portugal o que seria o primeiro navio-correio do Brasil, com as missivas e as amostras do que havia sido recolhido na nova terra. Na naveta de Gaspar de Lemos, iam, entre outras, as mensagens do escrivão Pero Vaz de Caminha e do médico e cosmógrafo da corte lusitana, João Faras (Mestre João), ao rei D. Manuel I – a primeira, de 27 páginas, narrando a viagem de 42 dias, descrevendo a nova terra e seus habitantes, observando as suas potencialidades e recomendando a sua exploração; a segunda, de duas páginas, com as medições náuticas da viagem, a descrição do céu austral e a localização da descoberta – ambas as cartas reencontradas, nos séculos XVIII e XIX, nos arquivos da Torre do Tombo em Lisboa – uma prova cabal de que daqui foram expedidas e de que lá chegaram. (PERÓN, 2006) [grifo do autor]

É dessa forma que nascem as comunicações entre a nova terra e o mundo

conhecido. A importância que se deve a essa carta, hoje fica fora de análise, uma

vez que, remete a uma memória que poderá fornecer vários tipos de informações

para diferenciadas áreas. O Brasil já começa tendo como primeiro modelo de

comunicação à carta, essa vai tomando espaço a cada ano que passa, sendo ela o

melhor aparato de comunicação da época, e sua utilização bastante requisitada.

Após a conquista da terra, esse meio de comunicação permaneceu sendo

utilizado com maior freqüência. A carta tinha função primordial na manutenção das

novas terras, era através delas que o reino administrava suas novas posses. Como

mostra Perón.

Foi por carta do rei D. João III, datada de 28 de setembro de 1532 e recebida em final de outubro daquele ano em São Vicente, que Martim Afonso de Sousa foi comunicado da divisão do Brasil em capitanias e da doação de quinhões a ele e a seu irmão, Pero Lopes de Sousa. (PERÓN, 2006)

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Para que houvesse uma comunicação maior entre a colônia e o reino, foi

criado os serviços postais, que era o órgão responsável pelas cartas para levar e

trazer-las aos seus destinatários. Esse órgão se torna vital na manutenção da

comunicação da colônia, era o único veículo de comunicação capaz de manter a

troca de informação entre a colônia e o Reino.

Embora o novo serviço não lograsse penetrar no interior da Colônia por uma série de óbices, que não cabe aqui discutir, o correio marítimo respondeu, ainda que com dificuldades e falta de eficiência, por mais de um século, às necessidades de comunicação através do Atlântico. Tão importante era esse serviço do correio transoceânico, que havia regulamentos rígidos para a sua execução, como o de que a correspondência deveria vir em sacos fechados e lacrados pelos seus assistentes, com rótulos feitos pelos mestres das embarcações. Existia uma grande preocupação por parte das autoridades de ambos os lados do Atlântico para que a correspondência transportada jamais caísse em mãos inimigas. (PERÓN, 2006)

O que se percebe diante das informações é que as cartas por serem tão

importantes veículos de informação e por estarem cheia de conteúdos importantes,

era dado um valor na sua segurança, percebível que se não houve-se as cartas

poderiam simplesmente tornasse um problema para o Rei.

Se havia toda uma preocupação com relação à segurança das cartas isso

implica que essas tinham muito valor informacional, o que acaba comprovando que

as cartas são fontes importantes de informação daquela época.

A quantidade de cartas e a necessidade informacional acabaram favorecendo

os serviços postais no Brasil. A informação como matéria de insumo era um bem

primordial para as manutenções das vidas desse país.

As cartas permaneciam com seu mesmo propósito, ser veículo informacional,

e para tanto era necessário ter um serviço adequado para que esse pudesse dar

seguimento ao processo. Com essas necessidades os correios acabam se tornando

mais preciso e abrangentes. Em informações disponibilizadas no site

www.página20.com.br discorre que:

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Os Correios no Brasil tiveram seu marco com a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, em 1500, dando notícias das terras brasileiras. Em 1663, no dia 25 de janeiro, foi criado o Correio-Mor do Brasil, para comunicação com Portugal. Após a chegada da família real, no século 19, o serviço de correio passou a operar de forma mais estruturada, melhorando o seu desempenho no País. (PÁGINA 20, 2006)

Como vemos na citação, com o tempo a modernização chegou até os

correios, que conseqüentemente acabaram fornecendo um melhor trabalho. As

cartas hoje são entregues a uma velocidade bem diferente aos tempos dos

primórdios serviços dos correios no Brasil. Hoje os correios é uma das instituições

que tem grande credibilidade e um belíssimo trabalho dentro da comunicação

Brasileira. Ainda de acordo com o site www.página20.com.br, afirma que:

Hoje, o correio brasileiro está presente em todos os 5.560 municípios. Possui uma logística por terra e ar, que inclui 35 linhas áreas, uma frota com mais de 19 mil veículos, entre motos, carros e caminhões, e opera uma rede que ultrapassa 12.300 agências. São 32 milhões de objetos, entregues diariamente, entre cartas, encomendas, jornais e revistas. É a maior empregadora celetista do Brasil, com mais de 108 mil empregados em todo o país.Em decorrência do padrão de qualidade dos serviços prestados à sociedade, há vários anos é apontada, em pesquisas realizadas por institutos de renome, como a empresa de maior credibilidade junto à população. (PÁGINA 20, 2006)

Sendo assim, é possível entender que todo esse processo teve como pioneiro

no desenvolvimento desse país, as cartas. E que elas foram primordiais no setor

informacional. Deixando um legado que através de suas escritas proporciona

bastantes fragmentos relevantes para estudos, e a torna fonte incondicionais para

construção do conhecimento em vários contextos Brasileiro em que se queira

pesquisar. Nesse contexto a carta se torna uma fonte de informação como é

apresentado no capitulo seguinte.

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3 FONTES DE INFORMAÇÃO

As fontes de informações são suportes que possibilitam repassar

determinadas informações. Em suas características essa toma diversas formas,

podendo ser da mais diversa procedência e formato. Sendo as fontes de

informações definidas através da área do conhecimento que se estar explorando,

podendo em diversos casos encontrar essas fontes em forma escrita, que são as

mais utilizadas pelos pesquisadores por sua confiabilidade perante o mundo

cientifico. Como afirma Le Coadic (1996, p.5) “A informação comporta um elemento

de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma

mensagem escrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda

sonora, etc”.

Dando sentido ao que Le Coadic afirma, perceber-se que para a Arqueologia,

uma simples ponta de flecha pode reconstruir e fornecer informações suficientes

para desenvolver e finalizar um trabalho sobre a sociedade indígena. Assim

também, como a resina de uma árvore pode dar muita informação para a Biologia.

Para os historiadores, mesmo sendo trabalhado recursos como à História oral, ela é

precisamente comprovada cientificamente através da documentação. A

documentação é a fonte de informação que tem uma maior autenticidade nesse

contexto informacional referente à produção cientifica. Como destaca Le Coadic

(1996, p. 27).

As atividades cientificas e técnicas são o manancial de onde surgem os conhecimentos científicos e técnicos que se transformarão, depois de registrado, em informações cientificas e técnicas. Mas, de modo inverso, essas atividades só existem, só se concretizam, mediante essas informações. A informação é o sangue da ciência.

Como foi explicitado na citação, é possível através da documentação

se comprovar e estudar diferenciados momentos em diferentes visões, utilizando os

mais diversos objetos de estudos. As fontes de informações são atrativos

indispensáveis para pesquisadores que buscam construir bases de conhecimentos.

E esse conhecimento só se produz eficientemente quando o pesquisador se debruça

e se entrega aos seus objetos de pesquisa. Nesse caso, as fontes de informações

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possibilitam a criação de um novo conhecimento em cima do que já é existente.

Para tanto Freire (1998, p. 33) afirma “estudar é desocultar, é ganhar a

compreensão mais exata do objeto, é perceber suas relações com outros objetos.

Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não

se cria nem recria”. Para Paulo Freire, construir conhecimento é necessário estudar,

o que implica em pesquisar. Os objetos são evidenciados justamente pelas fontes

em que o pesquisador tem para formular e provar cientificamente sua nova

explanação. Le Coadic (1996, p. 27). Afirma que “Atividade de pesquisa constitui,

com efeito, a aplicação do raciocínio ao corpo de conhecimentos acumulados ao

longo do tempo e armazenados nas Bibliotecas e centros de documentação”.

São as fontes que possibilitam essa continua progressão científica, como fica

bem claro nas afirmações de Le Coadic. As fontes são substancialmente

necessárias para a concretização de qualquer criação cientifica. Se for através da

pesquisa que possibilita o desocultar, essas só serão possível se houver o objeto de

pesquisa, no caso as fontes de informações, que dentro do pensamento exposto

acima, estão armazenados nas Bibliotecas e centros de documentação. Como

mostra Le Coadic que:

O conhecimento da necessidade de informação permite compreender por que as pessoas se envolvem num processo de busca de informação. Exigência oriunda da vida social, exigência de saber, de comunicação, a necessidade de informação se diferencia das necessidades físicas que se originam de exigências resultantes da natureza, como dormir, comer, etc. (LE COADIC, 1996, p. 39)

As necessidades informacionais são as principais responsáveis pela

existência das fontes de informação. Elas que são bases para a construção de

qualquer cientificidade. Nesse caso, considerando que o assunto está voltado para a

questão documental, deve-se perceber o quanto essas fontes estão classificadas e

divididas. No entanto, visualizando quais são os seus propósitos, que é o de servir

para dar suporte teórico. Como mostra Le Goff:

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O uso das letras foi descobertos e inventado para conservar a memória das coisas. Aquilo que queremos reter e aprender de cor fazemos redigir por escrito a fim de que o que se possa reter perpetuamente na sua memória frágil e falível seja conservado por escrito e por meio de letras que duram sempre. (LE GOFF, 1996 apud GUY conde de never).

É nessa ótica que a carta encaixar-se como fonte de informação, vejamos

como evidencia Le Goff, ela tem todos os elementos que compõe a manutenção da

memória.

A classificação das fontes de informação é dividida da seguinte forma. As

fontes primárias, as secundarias e as terciárias. De acordo com a BV (Biblioteca

virtual) de Biblioteconomia e CI (ciência da informação) essas fontes são distintas e

de importância enorme na construção da pesquisa. E foi com essas bases de

conhecimentos sobre as fontes que desenvolvemos esse trabalho. .

Ainda de acordo com a BV, As fontes terciárias são basicamente as

bibliografias de bibliografias, são fontes que remetem aos índices que podem ser

para as fontes secundárias e também as primárias. Havendo na fonte terciária mais

um serviço de busca das demais fontes secundárias e primárias.

Já as fontes secundárias utilizam-se da informação produzida pelo

segundo autor, utilizando para tanto as fontes primárias. Nesses universos é que

encontramos diversos dicionários, enciclopédias e o famoso resumo. Por esse último

é mais fácil entendermos o que são fontes secundárias, logo que, conseguimos

produzir um resumo, este se torna uma fonte secundária, devido ter sido produzido

em cima de uma fonte primária.

As fontes primárias são as fontes que nunca foram utilizadas em outras

obras. Esse é um universo bastante amplo para qualquer produção cientifica, essa é

uma das fontes mais utilizadas. Essas são as fontes que tem exclusivamente a

produção do autor. Seus recursos informacionais são os mais diversos, e é dentro

desse campo que tiraremos o nosso objeto de estudo. As cartas, que dentro de sua

conjuntura pertence aos recursos das fontes primárias. Como coloca Le Coadic

(1996, p. 6) “Com o advento da escrita, a comunicação passou de oral a escrita”. É

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dentro desse contexto que buscamos trabalhar nosso objeto de pesquisa, as cartas,

que se encontram como fontes primárias, produto de um processo que transformou

a escrita em gigantesca ferramenta desses objetos.

No entanto, vale mencionar que as fontes primárias são compostas de

uma variada gama de recursos informacionais, dentre eles estão às teses e as

dissertações, que englobam as literaturas cinzentas como também os artigos, os

livros, os diários e outros tantos.

As cartas nesse sentido aparecem como uma fonte muita rica em

informação, a pesquisa realizada em cima de suas informações geram bons

resultados. Além do mais, a carta é um recorte histórico, portadora de uma memória

individual que possibilita o fornecimento de informações capazes de serem

primordial para construção do conhecimento baseado no passado. A carta se

encontra justamente carregada dessa prerrogativa, além da informação que pode

emanar, ela ainda serve como um suporte para a memória. Como destaca Le Goff.

A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças ás quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas. (LE GOFF,1996, p. 423) .

Essa forma de ver a carta como uma fonte de memória recheada de

informação, aguça o desejo de mergulhar nas suas linhas manuscritas para sugar na

totalidade todo o seu fornecimento de informação. Credibilizando-a e utilizando-a

como uma fonte de informação capaz de fornecer detalhes precisos para a

construção do conhecimento científico, título desse trabalho e que no capitulo

seguinte abordará a função da carta e apresentará como uma fonte de informação.

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4 AS CARTAS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO

Quem nunca escreveu uma carta? Talvez quem não saiba ler, porém, desde

criança as cartas fazem parte de nossa vida. As cartinhas destinadas ao papai Noel,

por traz do sentido cultural, estava recheada de informações sobre o que aquelas

crianças desejavam receber naquela data tão festiva. Apesar de ser uma prática

melhor visualizada numa sociedade mais estabilizada economicamente, ela permeia

o imaginário de muitas crianças. Nesse caso o papai Noel é o destinatário, que tem

como dever responder com um presente, não se sabe se o papai Noel gostou ou

não da carta, o importante é que ele realmente cumpra o que ela pede. Pode-se

perceber esse relacionamento informacional com a carta escrita por Bernardo

Rodrigues, representando uma criança de nove anos. Destinada ao papai Noel.

Desculpa eu escrever tão devagar é que eu tenho nove anos mas ainda não sei escrever dereito nem meu nome que é muito complicado. Você sabe como é que é aqui agente não temos escola pra todo mundo e fica todo mundo quinem eu. Eu sei que o senhor tem muita carta pra ler e que todo mundo escreve carta pro senhor aí eu resolvi escrever de uma vez pro senhor não ter desculpa depois que tá muito ocupado quinem meu pai todo ano fala. Mais eu queria era fazer essa carta pra falar com o senhor o que eu quero ganhar de Natal. Se não for muinto defício pro senhor eu queria quatro presentes deferentes. O primeiro é um papagaio. Uma vez falei com meu pai que queria um papagaio e ele me deu um, só que o que ele me deu era de papel igual pipa. Eu quero é um daquele verde que paresse uma maritaca e fala um monte de coisa. O Esquerdinha amigo meu ele faz muinta coisa errada mais é do bem e é bom de bola. Aí ele falou que eu não poço ganhar papagaio porque eu sou gago esqueci de falar isso com o senhor mas ele falou que eu sou gago e que gago não pode ter papagaio sinão o papagaio gageja também. Eu acho bobice do Esquerdinha porque o papagaio custa caro e deve ter estudado em escola particular e menino de escola particular não gageja. E si ele vier com defeito aí eu peço pra trocar. Mais como o senhor é que vai trazer eu confio no senhor. O senhor já ta velhinho mas é de confiança deferente dos político daqui. Intão eu queria ganhar um papagaio e uma chutera nova. Agora a chutera eu queria o pé direito número 34 e o esquerdo numero 30 porque eu quero devidir com o Isquerdinha meu amigo porque ele não tem chutera e ainda joga bem pra caramba. Ele chuta de perna isquerda aí pode ser asim. Um papagaio uma chutera e uma camionete. Eu quiria dar uma caminonete pra minha mãe pra ela poder carrega as roupa que ela lava sem ficar com dor nas costa. Mina mãe tem poblema sério de

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coluna aí eu queria mesmo é que ela sarace mas eu sei que o sinhor não é médico nem pai de santo e que o problema da minha mãe é sério. Mas a caminhonete eu acho que ajuda ela um pouco. O outro presente eu queria sarar da minha gagera. Eu vi na televisão que tem um médico que sara gago. Eu queria ganhar um médico desse de presente. Não cei se o senhor dá médico de presenti mas acho que pode ser um presente ispessial. Nem precisa imbrulhar porque senão o médico morre asfiquiciado quinem o policial falou do meu irmão quando mataram ele. Eu quero sarar da gagera pra todo mundo parar de rir de mim e o papagaio não ficar gago mas eu acho que não tem nada a ver é coisa do Esquerdinha que ta com inveja eu acho. E também eu poço falar bonito pra minha professora gostar de mim. Ela é nova e é bonita pra caramba e eu queria cazar com ela pra ela poder me ensenar escrever dereito e mas depressa.( RODRIGUES, 2009)

Diante dessa inusitada carta com seus incontáveis erros ortográficos. Pode-se

realizar diversos estudo em sua estrutura, são distintas informações que podemos

retirar de varias áreas. Na carta escrita pode-se analisar a capacidade psicológica, a

educacional a social e ainda delimitar a situação econômica do remetente. Por mais

que a carta componha um projeto de releitura, ela está recheada de informações. O

ideal é que a carta como destinada ao papai Noel, estivesse contendo informações

pertinentes apenas aos presentes que o remetente queria ganhar. Esses

normalmente são adquiridos pelo próprio pai ou parentes das crianças e na noite de

Natal, colocado em um local dando seguimento a prática cultural.

No entanto, essa carta em especial, traz mais do que só às informações

pertinentes aos presentes, ela traz em suas entrelinhas os problemas de diversas

naturezas. E para os pesquisadores essa fonte é formidável para a construção do

conhecimento científico. Nesse sentido, afirma Le Coadic (1996, p. 27) “A

informação é o sangue da ciência. Sem informação, a ciência não pode se

desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e não existiria

conhecimento”. As informações que se conseguem abstrair no contexto dessa carta,

a caracteriza e comprova que, as cartas são fontes de informações, capazes de dar

bases às pesquisas. Mesmo sendo uma carta que remete a um evento em parte,

como é a carta ao papai Noel, essa mostra que a carta é um elemento presente na

construção da sociedade informacional, mesmo de caráter infantil ela vem rica em

informações pertinentes a vários campos dos estudos científicos.

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As cartas normais que são remetidas para informar acontecimentos, falar de

políticas, paixões, sociedades, elas tanto quanto a carta ao papai Noel vai cheia de

informações importantes. Mesmo sendo de um caráter individual, mesmo assim, traz

elemento muito importante para a construção da ciência. Tanto a História como as

ciências sociais, a antropologia, a ciência da informação podem utilizar-se dessas

conversas em escritas, para entenderem melhor como as coisas aconteciam. Na

verdade, ela transforma-se em uma portadora da memória, mesmo sendo de um

fragmento individual. No que diz Bacellar (2006, p. 63) que “Uma carta pastoral de

um Bispo, por exemplo é a opinião do próprio autor, mas profundamente inseridos

em um panorama ideológico da igreja naquele momento e daquele local.” Com essa

afirmação podemos perceber que mesmo sendo uma conversa em particular,

envolvendo apenas remetente e receptor. Torna-se elemento construtor do

entendimento da consciência, da sociabilidade e da educação de uma sociedade no

todo. É possível entendermos como funcionavam determinadas sociedades em

determinado tempo, através do que eles escrevem. É com essa visão que nos

arquivos do poder executivo, encontramos essas cartas tratadas como fontes de

informações prontas a serem pesquisadas sempre que necessário. Como nos

mostra Bacellar (2006, p. 27). Que diz.

As correspondências enviadas ou recebidas pelas autoridades no exercício de suas funções formam grandes conjuntos documentais em todos os arquivos [...] a correspondência enviada é preservada em forma de minuta, copias e segundas vias, sendo de que a versão original tenha sido arquivada junto ao destinatário. Já a correspondência recebida essa é a original.

Com a citação acima se percebe a importância que se dar as cartas nessa

unidade informacional. Perante um órgão que é responsável pela administração

nacional, as cartas servem para dar suporte como fontes, e fontes que lhes são

dado muita atenção pela sua confiabilidade, já que se trata de documentos sérios e

verídicos.

Não existe uma carta que não seja uma fonte informacional, logo de imediato

elas são utilizadas para informarem ao destinatário sobre o que pensa, o que sente

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e o que ver e como passa o remetente. Ao longo dos anos até uma carta sentimental

pode oferecer bastante suporte informacional, se houver uma análise entre os

relacionamentos de hoje e o do passado, precisamente na Idade Média, em que os

casamentos eram arranjados. Como discorre Marged que:

O casamento era arranjado pelo pai quando sua filha ainda era criança. A mulher era como uma propriedade, usada para obter vantagens. Os casamentos geralmente visavam o aumento de terras. Nas classes sociais mais altas, as meninas eram casadas com a idade de oito anos. A mulher era objeto de seu marido, devendo a este obediência e fidelidade. Dirigia-se a ele com formas de tratamento respeitosas como "meu amo e senhor". Era permitida a agressão física a mulheres quando o marido achasse que ela o havia desobedecido e as histórias de mulheres que sofriam agressões eram contadas nas vilas em tom humorístico. As agressões não podiam causar a morte nem incomodar os vizinhos, entretanto, em caso de adultério flagrante, o marido tinha o direito até mesmo de matar a própria esposa. A lei não poderia intervir em nada. (MARGED, 199?)

Em confronto com o sentimento de hoje, percebe-se que até as cartas

românticas são sobrecarregadas de informações. Que são fontes muito precisas

para entendermos como funcionava a questão do amor. O que parece ser apenas

escritos que compõe a mentalidade humana, acaba sendo essencial para a

compreensão de um tempo, de uma estrutura social. Com isso a carta é

apresentada mais uma vez como uma boa opção como fonte de informação.

4.1 AS CARTAS E SUA UTILIDADE SOCIAL.

Como é fácil hoje comunicar-se com o mundo, um simples telefonema, um e-

mail pode te levar em segundo para qualquer parte do mundo em tempo real. O que

percebesse é que nem toda essa facilidade existiu como existe hoje. Como era a

comunicação há 50 anos atrás, há 100, 150, 200 anos? Nesse tempo a carta, a

magnífica carta, que emocionava e enchia o coração de alegria ao recebê-la ,e mais

ainda ao redigi-la, muitas vezes manchando o papel com os olhos sobrecarregados

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de lágrimas de nostalgia ou da saudade perversa que invadia o ser, era o meio mais

utilizado.

A carta teve sua importância na construção do conhecimento humano, foram

através delas que muitos intelectuais conseguiam se informar sobre o que se

passava em determinados lugares do mundo. Não é surpresa dedicar a carta

méritos sobre a sua importância na construção social do mundo. É impossível

imaginar o mundo de tempos passados sem a contribuição da carta. No Brasil os

grandes intelectuais a utilizavam para ampliarem seus conhecimentos, tanto com

pessoa fora do país, como os próprios residentes no país, mais morando com

distância relevante a tornar uma conversa diária impossível.

As cartas levavam e traziam informações. Falava do passado, do presente e

do futuro, e em suas linhas tortas, linheiras, certas ortograficamente ou erradas,

mantinha a mesma finalidade, a de informar. Era possível saber sobre a morte de

um parente no Rio grande do sul o outro estando no Rio Grande do Norte. A carta

era um meio de informação poderoso, quantos casamentos realizados e namoros

mantidos sobre a influência da mágica e especiais colaborações das linhas

rabiscadas nas inúmeras cartas escritas. Quantos papeis manchados por lágrimas,

escritos na mais complexa solidão e lida no mais completo entusiasmo. Essa era as

cartas no Brasil de pouco tempo atrás.

Elas tinham um caráter de utilidade social, mantinha o vinculo entre pessoas,

entre famílias, Cidades, Estados, Países. Era possível através de sua circulação o

conhecimento sobre as coisas que acontecia no mundo, e que levavam algum

tempo para nos ser evidenciados, mas, com sorte, e tendo uma pessoa em lugares

em que esses fatos eram acontecidos, possivelmente através das cartas, era

comum saber do ocorrido. Isso fica muito claro quando utilizamos personalidades

como Zila Mamede, poetiza e Bibliotecária que mantinha contato através de cartas

com os intelectuais da época, como o grande Câmara Cascudo. Formalizando

assim, uma rede de comunicação que possibilitava a ambos se informarem sobre as

coisas pertinentes a seus mundos. Como mostra Beltrão (1998, p. 13) “A carta

doutrinal, que encerra troca de idéias entre pessoas cultas, ensinamentos ou

conselhos úteis” As cartas serviam como um colaborador informacional muito

importante na construção dessa relação social. Como se pode perceber na carta que

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Zila Mamede escreve na Cidade do Recife, para Câmara Cascudo na Cidade de

Natal, no dia 11 de Março de 1968.

Neguinho, será que você me mandaria isso DEPRESSINHA? Eu te1 daria milhões de cheiros ( com licença de minha madrinha D. Dália) se me fazes tão grande favor. Não sei quando vou a Natal. Mas estou todinha em natal, pois dia e noite noite e dia estou entre LUIZ DA CAMARA CASCUDO e sua bibliografia dêste tamanho. Um abraço em D. Dália e outro em Any, netos e ocê. (BIBLIOTECA, 2009) [grifo do autor]

Percebe-se bem o vinculo de relação social entre ambos exposto nessa

citação, que respeitosamente é mencionada a família do destinatário. Como mostra

Beltrão (1998, p. 13) “A carta familiar versa assuntos da vida privada (alguns autores

falam até em carta de amizade, cortesia e negócio)” (grifo do autor). Mesmo sendo

uma carta que basicamente estava voltada aos interesses intelectuais, acaba

mostrando os laços de afinidades que se estreita com as palavras carinhosa escrita

ao término.

Um exemplo bem interessante desse tipo de contato intelectual, acontecia

entre Eça de Queiroz e Oliveira Martins. Ambos filhos de Portugal, através de suas

cartas eles podiam manter-se informado sobre os mais diversos acontecimentos que

estavam eclodindo pelo mundo. Com uma linguagem refinada e por diversas vezes

tratando-se pelos primeiros nomes, as cartas eram escritas com freqüência. Em uma

delas, no dia 12 de junho do ano de 1888, na cidade de Bristol na Inglaterra. Eça de

Queiroz escreve assim.

1 Citação de uma Carta de Zila Mamede para Câmara Cascudo, no dia 11/03/68. Carta exposta na entrada da

Biblioteca Zila Mamede. Acesso em: 22 de outubro de 2009.

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Recebi tua boa carta. Não é possível, como propões, cortar os pedaços melhores do estudo de Fradique, e alinhava-los todos juntos num só artigo. Decerto me expliquei mal. A introdução a “ cartas que nunca foram escritas por um homem que nunca existiu”, --- não podia deixar de ser uma composição em que se tentasse dar a esse homem primeiramente realidade, corpo, movimento, vida. Não se pode descentemente publicar a correspondência de uma abstração. De sorte que o tal estudo crítico é de fato uma novela—novela de feitio especial, didática e não dramática [....] tem de ser publicado tudo! Por outro lado sem previa historia do homem, é impossível encetar abruptamente as cartas. O publico perguntaria naturalmente—“mas quem é Fradique?” inventa, pois outra coisa, e responde logo, pois que eu tenho pressa de resolver isto, por causa do Brasil. Os artigos não são dez por fim: são oito bem graúdos ( QUEIROZ, 1995, p. 72) [grifo do autor]

É possível estabelecer uma compreensão sobre como funcionava essa

questão do vínculo social, mantido através da informação propiciada pelas cartas.

As cartas no século XIX, era um veículo informacional de importância e utilidade

impossível de descrever. Como mostra a citação acima, algumas coisas destinadas

ao Brasil, eram planejadas em Portugal e em outros lugares do mundo. Esse contato

era primordial para que tais criações viessem a ser realmente condizente para a

sociedade. A citação mostra que se não houvesse a comunicação mantida entre

ambos para a estruturação dos artigos, esses seriam impossíveis de serem

elaborados.

A carta, nesse caso, era a principal fonte de informação, capaz de manter a

construção de novos pensamentos, e ser o elemento principal desse

desencadeamento científico que estava sendo desenvolvido. Sendo assim, a carta

tem entre tantas outras finalidades, a de conceber uma estreita relação social

através da comunicação. Como diz Penteado (1997, p.17) “a comunicação humana

depende da experiência em comum entre transmissor e receptor”. Mostra-se que

essas experiências acabam sendo canalizadas e tomando novas dimensões nas

construções de novas idéias, o que geram novas experiências. É uma cadeia

informacional construída através da experiência particular no convívio social.

Nas cartas escritas pelo povo emigrante alemão no Brasil, podemos encontrá-

las com esses traços e finalidades de expressar as experiências que tiveram aqui no

Brasil, a fim de conscientizar mais alemães a virem também. Essas cartas que por

terem muito valor informacional e serem veículo de utilidade social, eram publicadas

em folhetos para que viessem a atingir o maior número de pessoas possíveis.

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Como já mencionei, as nove cartas provenientes das fazendas do Rio de Janeiro foram publicadas nos suplementos do “ Rudolstädter Wochenblattes” e nos “ Fliegend Blätter Für Auswanderer”. Não se trata de troca de correspondência entre remetente e o destinatário, mas apenas das cartas daqueles que haviam emigrado que tinha algo novo a contar, a relatar sobre a sua experiência no novo país. (ALVES, 2003, p.157) [grifo do autor]

A utilidade social de que a carta estar inserida ultrapassa ao campo da

descrição. É um árduo e fatigante trabalho tentar descrever a sua utilidade e a sua

importância na construção perante a sua influência social. O mais viável a

mencionarmos quanto a sua gigantesca relação com o social, é destacá-la como o

meio informacional mais importante do período exposto. A sua utilidade hoje ficou

menos perceptível devido ao avanço tecnológico, no entanto, sua aposentadoria

como o mais importante e utilizado meio de comunicação do passado deve ser

coroado de glória e louvor, marcando um significativo espaço na memória humana e

nas páginas da História.

Dando continuidade à apresentação da carta como uma fonte de informação,

a dividiremos em: cartas individuais e cartas coletivas, sendo que essa classificação

surge pela necessidade de mostrar modelos diferentes de cartas.

4.2 AS CARTAS INDIVIDUAIS

As cartas na maioria foram de caráter individual, ou seja, remetida a uma

única pessoa. Pessoa essa que era o destinatário e o detentor das informações que

ali estavam. Cabia a ele dentro do conteúdo da carta divulgá-la, passar suas

informações a determinadas pessoas. Na essência, a carta já era escrita por um

laço bem firmado. A carta pode ter diverso caráter, mesmo sendo ela individual,

essa tem valores diferenciados. Na maioria das vezes as cartas são como aponta

Cunegundes.

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A carta é uma modalidade redacional livre, pois nela podem aparecer a narração, a descrição, a reflexão ou o parecer dissertativo. O que determina a abordagem, a linguagem e os aspectos formais de uma carta é o fim a que ela se destina: um amigo, um negócio, um interesse pessoal, um ente amado, um familiar, um seção de jornal ou revista. (CUNEGUNDES, 2009).

Dentro desse universo observamos que as cartas contem diferenciadas

formas de ser, mesmo sendo ela um modelo epistolar de cunho individual, a maioria

das cartas eram as que tinham como destinatários pessoas que tinha um vínculo

bem estreito de relação: pai para filho, marido esposa, namorados para namoradas.

No entanto, existem outras finalidades das cartas além de demonstrar uma forma de

respeito e carinho ou mesmo relatos da amarga saudade, ela poderia ser utilizada

como mencionamos no capítulo anterior, no qual servia como meio portador de

informações de caráter cientifico e profissional.

A finalidade das cartas e suas abordagem eram as mais diversas, poderia

tratar desde uma informação corriqueira, como servir de documentos para a

posterioridade. Nesse caso observamos as cartas escritas no Brasil, no período do

Brasil colônia, que tinha como objetivo principal a legalização de terras para que

fossem trabalhadas. Exemplo essa carta de doação do ano de 1660.

Cidade do natal vinte e oito de novembro de seissento e sesenta. Francisco Mendonça. Visto a informação do provedor da fazenda real desta capitania, ei por bem de dar ao suplicante as terras que pede em sua petição visto ser para o aumento da fazenda real e povoar a capitania, as quais lhe dou em nome de sua magestade e será obrigado o suplicante a povoallas dentro do tempo ley, aliás as darem por devoluptas a quem as pedir, não prejudicando a terceiros, de que se passe carta na forma costumada, dada nesta cidade em vinte e oito de novembro de seissentos e sesenta// Antonio Vaz// Antonio Vaz, capitão mor da foca dos santos reis desta capitania do rio grande por sua magestade que deus guarde[ E ] faço saber aos que esta carta de doassão e sesmaria virem que que avendo respeito ao que na petição atrás dis o capitão Bertholomeu Cabral de Vasconcellos hey por bem e lhe faço merse em nome de sua majestade( como presente dou de sesmaria as quatro legoas de terras que pede em sua petição não prejudicando a terceiros, com todas as suas águas, logradouros, matos, pastos, e mais tudo que nellas ouver e por ellas será obrigado a dar caminhos livres ao conselho e a povoallas no tempo da ley e não o fazendo se daram a quem as pedir, pello que ordeno e mando a todas as justiças e ministros a quem o conhecimento desta der ou posa pertencer lhe mandem dar posse real, effectiva e actual na forma costumada para

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a firmesa do qual lhe mandei pasar a presente sob sinal e selço de minhas armas e se registará nos livros a que tocar e se guardará e se cumprirá tam pontual e inteiramente como nela se contem, sem duvida, embargo ou contradição alguma. Dada nesta cidade do natal, capitania do rio grande a vinte e oito de novembro de mil seissentos e sessenta annos. E eu Francisco de oliveiras Banhos, escrivão das datas e demarcações nesta capitania que o escrevi. Antonio vaz// registada no livro das datas e demarcações a folhahas onze, por mim Francisco de oliveiras banhos, oje vinte e nove de novembro de seissentos e sesenta annos. (RODRIGUES, 2009)

As cartas individuais têm um campo de abrangência bem maior do que outras

modalidades, são elas que mais se configuram no cenário. Sua utilização se deve as

necessidades informacionais. No caso acima exposto pela citação, à carta ganha

diversos contornos, é uma carta individual voltada a negócios com características de

documentação, o que acaba dando a ela um valor bem maior. Para que possamos

melhor entender a carta, essa fonte de informação tão presente no contexto histórico

e atual, faremos uma análise de seus elementos.

São elementos característicos da sua estrutura:

4.2.1 O sobrescrito

Local destinado para a identificação do emissor e do receptor definido da

seguinte forma.

a) Endereço da pessoa que escreve – remetente b) Endereço da pessoa a quem se escreve – destinatário

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Nem sempre as cartas tiveram essa estrutura, hoje o ideal é que as cartas

contenha essas informações, e que tenham esses elementos. No processo

educativo nos anos iniciais, quando a criança está aprendendo a ler, geralmente

existe as atividades de escrever uma carta, essas atividades que possivelmente

deixasse de existir com a modernização dos meios de comunicação, tornou-se ainda

mais presente no nosso dia a dia. É possível em alguns processos seletivos nos

deparamos com a construção de uma carta, e esses padrões devem seguir os

elementos que contem a imagem acima.

No processo seletivo realizado pela COMPERVE ( Comissão Permanente do

vestibular) no ano de 2008, a prova de redação estava voltada para a elaboração de

uma carta, como se ver. COMPERVE (2008, p. 1) “Escreva uma carta ao autor de

cuja opinião você discorda (Gabriel O Pensador ou Walmor Erwin Belz)”. A carta que 2 Figura retirado do site: http://www.avjoaolucio.com/site/ficheiros/BE/como/carta_postal.pdf em 22/09/09

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teria como base o discurso desses autores, e em cima da opinião de cada um, essa

carta seria elaborada. Vejamos que ela está sendo pedida dentro dos padrões de

como se deve redigir uma carta. COMPERVE (2008, p.1) “Não assine a carta com

seu próprio nome. Assine-a, obrigatoriamente, com o pseudônimo JURACI POTI”.

Percebe-se como pretexto principal para a elaboração da carta, os dois principais

elementos da estrutura, o destinatário, que no caso será o autor da opinião

escolhida, e o remetente, que no caso é o próprio aluno, mas que terá que assinar

com o nome de Juraci Poti.

É perceptível a intencionalidade das cartas individuais e como essas estão

restritas com informações pertencentes a apenas um destinatário. No entanto, essas

mesmas informações poderiam ser avaliadas e socializadas com mais pessoas que

compõe o círculo daqueles que estão entre o remetente e o destinatário. Caso o

destinatário ou o remetente concordasse em socializar a informação. O caráter

individual estar impregnada de particularidades o que torna mais fechado o acesso

as informações que estão nas estruturas da carta. Todavia essas cartas mesmo

sendo individuais, são sobrecarregadas de informações valiosas tornando-a uma

fonte de informações necessária.

4.3 AS CARTAS COLETIVAS

As cartas coletivas têm uma diferença das cartas individuas, basicamente nos

elementos da estrutura. Enquanto uma carta individual corresponde a todos os

campos da estrutura, a carta coletiva tem alteração em seu remetente, algumas

vezes podem ser assinadas por diversas pessoas. E na própria estrutura tem uma

diferença quanto sua intencionalidade, enquanto as cartas individuais são bastante

particulares, as cartas coletivas abrangem os interesses de um grupo inteiro. Essa

menção é possível ser visualizada em uma carta escritas por moradores de um

bairro.

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Através desta carta coletiva, os moradores do Cosme Velho vêm expressar sua grande preocupação diante dos avanços de um projeto urbanístico que consideramos equivocado para o bairro: o projeto de construção de um estacionamento coberto no local atual da praça São Judas Tadeu. (COLETIVIDADE, 2003)

Percebe-se que a carta tem como destinatário o secretário urbanístico da

Cidade do Rio de Janeiro, no entanto, os remetentes se assinam como os

moradores. O que forma um conjunto e nos leva a entender, que todos os

moradores do bairro têm a mesma intencionalidade, quanto à informação que

destinam ao secretário. Ou seja, a carta coletiva esta voltada aos interesses de todo

o grupo. Mesmo o destinatário sendo um único ser.

Da mesma forma que na carta coletiva temos um grupo como remetente e um

indivíduo como destinatário, temos também ao contrário, o remetente um único ser,

e o destinatário todo um grupo. E para melhor apresentar esse outro modelo de

carta coletiva, nos remeteremos aos primórdios quando a carta não existia na forma

de hoje, escrita em papel e com canetas. Iremos um pouco mais longe fugindo da

lógica em que a mensagem, que se utiliza de um emissor, o remetente, receptor o

destinatários que são seres que existem fisicamente.

O caso será o de Moises com suas placas de pedras no monte Sinai, onde

Deus escreveu os dez mandamentos ao povo judeu, vamos perceber a

intencionalidade com que aconteceu aquele momento em que as pedras foram

escritas, e comparar aos mesmos propósitos com que as cartas de hoje são

elaboradas. Percebe-se então, que as placas de pedras era uma carta de Deus que

assumi o papel de remetente, para o povo judeu, o destinatário. Configurando-se

assim, em uma bela e importante carta coletiva para o tempo de Moisés, e que tem

sua influência até os dias de hoje, devido as informações redigidas nas placas.

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Certo dia, Moisés desapareceu do acampamento dos judeus. Comentava-se á boca pequena que ele se fora levando nas mãos duas placas de pedra lascadas. Naquela tarde, o topo da montanha se escondeu da vista das pessoas, ocultado pela escuridão de uma tempestade terrível. Mas quando Moisés voltou, eis que estavam gravadas nas tabuas de pedras as palavras que Jeová dirigia ao povo de Israel entre estrondo dos trovões e o fragor dos relâmpagos. E, a partir daquele momento, Jeová foi reconhecido por todos os judeus como senhor absoluto do seu destino, o único deus verdadeiro, que lhe ensinara a viver uma vida santa, intimando-os a pautar sua conduta pelas sábias lições dos dez mandamentos. (VAN LOON, 2004, p.39)

Esse modelo de carta fugiria hoje aos padrões da estrutura, pelo fato de não

conter elemento como a data e o local. Apesar disso, a sua utilidade como

mecanismo de atribuições sociais, é um dos mais completos que existe. A estrutura

fica quase perfeita dentro da ótica de que Deus seria o remetente, o ser que envia a

mensagem, enquanto os dez mandamentos a própria mensagem, as placas de

pedras serviram de suporte tanto quanto o papel e representaria a carta, e o povo

judeu o destinatário, ou seja, o receptor da mensagem enviada por Deus. Com

esses elementos todos existentes as placas de pedras podem serem visualizadas

como uma importante e fascinante carta coletiva.

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5 AS CARTAS E SUAS DIVERSAS APARIÇÕES

As cartas sempre foram objetos de muita sedução e admiração, durante

tempos permeou a cabeça, o imaginário e a memória do homem. Elas foram

tratadas em poesias, literatura, músicas e até explicitadas nos cinemas. Sem

mencionar que algumas delas se tornaram verdadeiras relíquias tornando-se um

marco histórico bastante importante para os homens.

5.1 NA MÚSICA

São inúmeras as músicas que remetem à palavra carta em sua estrutura com

o sentido de informação, porém deve-se fazer uma análise nesse período em que as

cartas eram tão mencionada no contexto sentimental nas letras das músicas, não

havia ainda as tecnologias imperantes de hoje, o computador com o MSN, o E-mail,

Orkut, e os telefones celulares.

Não obstante, o contexto de 30 anos atrás, mostra o quanto se valorizava a

carta como meio informacional. A música brasileira assim como a internacional estão

cheias de referência a essa fonte de informação. Os compositores a utilizaram por

diversas vezes. Vejamos a letra da música de Erasmo Carlos e a importância que

ele remete a carta para a construção de sua felicidade.

3

Escrevo-te estas mal traçadas linhas, meu amor, por que veio a saudade visitar meu coração. Espero que desculpes os meus erros, por favor, nas frases desta carta que é uma prova de afeição. Talvez tu não as leias, mas quem sabe até dará resposta imediata me chamando de meu bem. Porém o que me importa é confessar-te uma vez mais: não sei amar na vida mais ninguém. Tanto tempo faz, que lindo teu olhar, a vida cor-de-rosa que eu sonhava. E guardo a impressão de que já vi passar um ano sem te ver, um ano sem te amar. Ao me apaixonar por ti não reparei que tu tiveste só entusiasmo. E para terminar, amor, assinarei, do sempre, sempre teu. ( CARLOS, 200?)

3 Texto não paginado retirado da internet. http://letras.terra.com.br/erasmo-carlos/45771/. Acesso em: 11/11/2009

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Na letra dessa música se percebe o clamor por informação que

corresponderia ao sentimento do destinatário para o remetente, na sua estruturação

percebe-se que o remetente de uma forma magistral, finaliza sua carta assinando-a

como o sempre teu. A carta nesse sentido aparece recheada de informação sobre

um amor mal correspondido, e é a carta esse suporte informacional que o autor

recorre para estabelecer contato com seu amor.

Além de ser extremamente romântico escrever ao ser amado, a carta

apresenta todo o contexto de um sentimento puro e verdadeiro, a um ser que não

corresponde com a mesma intensidade. Nas entrelinhas da música percebe-se a

evolução histórica desse sentimento, o amor, que dentro desse padrão de cartas

utilizamos para fazer uma análise com o sentimento em tempos passados,

precisamente na Idade Média, quando esse praticamente não existia.

Nas frases de Bartô Galeno em sua música: pelo menos uma palavra, em

parceria com Carlos André. Podemos perceber também essa necessidade

informacional apresentado na música, bem no nordeste. Mesmo sendo um cantor

com um estilo brega, a palavra carta também aparece em suas letras e como a

anterior, ela tem a mesma função, a de intermediar um relacionamento. Sua simples

elaboração era suficiente para haver uma correspondência sentimental.

4

Esta dor, esta saudade, que eu sofro sem saber. Por que viver assim tão longe. Tanto tempo sem lhe ver, escrevi já tantas cartas e você não respondeu. Deixe de ser tão cruel, escreva ao menos uma palavra num pedaço de papel. Sinto a cada momento a esperança indo embora, esperei tanto por você, esperei até agora. Mas eu já estou pensando que você me esqueceu. Deixe de ser tão cruel escreva ao menos uma palavra num pedaço de papel. Escreva ao menos uma palavra num pedaço de papel (GALENO; ANDRÉ, 200?)

Nesse contexto a palavra carta é mencionada com o mesmo propósito, o de

trazer uma informação que definiria o que estava acontecendo. O simples fato de

não haver uma só palavra de retorno faz da música, e principalmente da carta o

4 Texto não paginado retirado da internet. http://vagalume.uol.com.br/barto-galeno/pelo-menos-uma-palavra.html . Acesso em 11/11/2009

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principal meio para amenizar tamanho sofrimento, o que implica em afirmar que a

carta mesmo apresentada de forma simples é na verdade tão objeto de desejo

quanto à própria amada. Sem carta não há amada, mesmo porque a amada não

mais quer escrever e dar continuidade ao fluxo informacional.

A carta nesse cenário representa um suporte muito especial, é tão desejada

quanto à amada, nesse contexto musical ela representa um amor correspondido, a

sua existência era a existência do amor, a sua ausência o fim desse. E por toda

essa representatividade que podemos utilizá-las, justamente para entendermos

como era esse sentimento chamado amor nos tempos passados. A sua estrutura

esta muito rica nesse estilo de informação e por isso a carta nos prova que é uma

fonte poderosa de informação, até mesmo dentro de um contexto musical.

5.2 NA LITERATURA

Na literatura tanto quanto a música, se pode ver esse apelo constante a esse

suporte de informação. Um dos épicos que mais faz sucesso, também menciona a

tão importante carta, no romance de cavalaria Dom Quixote de La Mancha, é

possível ver a carta sendo utilizada como suporte informacional. Seria ela a

responsável por dar mais realismo às loucuras do personagem. A missão dada ao

fiel escudeiro estava sublimada de importância como mostra Cervantes (1605, p. 64)

“Quero que leve uma carta de amor á Dulcineia Del Toboso. Ficarei esperando pela

resposta com o coração impaciente”. Na obra fica implícita a função da carta na

construção da sustentação sentimental que envolve o personagem.

Este capítulo, o Louco da Montanha, serve para compreender como

funcionavam o ciclo da carta desde o emissor, que no caso seria Dom Quixote, o

transmissor que fica sobres a tutela do fiel escudeiro Sancho Pança e a receptora

que seria Dulcineia Del Toboso. Esse fluxo informacional tem as mesmas funções

das cartas modernas, se utilizando dos mesmos mecanismos, o que mais interessa

nesse contexto é que o romance foi editado no ano de 1605, tempo muito diferente

do atual, mais que já menciona a carta como um importante meio de informação.

Continuando com suas facetas, podemos perceber a mesma harmonia presente nas

cartas de Graciliano Ramos a sua amada Eloísa. Cartas essas que foram

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selecionadas e editadas no ano de 1992, ano correspondente ao centenário do

escritor. Como mostra as cartas, existem nas mesmas literaturas a menção que é

diretamente aos processos que correspondem aos ciclos das cartas, remetente,

transmissor e destinatário.

Minha querida noiva: duas cartas e um retrato no mesmo dia deram-me, naturalmente, a tentação de abraçar a empregada do correio. Não havia perigo: é uma senhora respeitável. De resto não abracei ninguém, perdi o apetite e fiquei sem almoço. Duas cartas e um retrato! Santa Terezinha do menino Jesus te pagará com juros a boa ação que praticaste. Vou dar resposta tudo começando pela fotografia (RAMOS, 1992, p. 50)

Ver-se na citação a perplexa felicidade apresentada pelo destinatário, e ao

mesmo tempo o fluxo informacional que essa promove. Uma carta gerando outra e a

outra trazendo outras mais. E assim, se dar o contexto recíproco da movimentação

da informação, que estão nas cartas.Todavia as cartas na literatura não estavam

unicamente destinadas a expressar os amores, hora correspondido, hora

desprezado.

A própria palavra correspondido remete de imediato a imagem da circulação

da carta. No romance Brandão entre o Mar e o Amor, a carta não surgiu só falando

do amor, ela informa bem mais, ela explica uma ação, justifica um ato e simboliza o

perdão, como o arrependimento. A informação nela contida aproxima. Como vemos

nesse romance.

Mãe, voltei ao mar. Voltei porque era inevitável. E voltei fugindo porque não queria encontrar nenhum embaraço à minha resolução. Eu estava tão comovido na madrugada em que parti, que não tive jeito de escrever-lhe algumas linhas, explicando o meu ato. Fui cruel, mas você vai me perdoar. (AMADO, 2000, p. 127).

A informação apresentada na citação, reforça a ligação entre mãe e filho, e

mostra a angústia na fuga do filho em busca de se encontrar. Na literatura a figura

da carta sempre esteve relacionada ao meio de comunicação. Os tempos modernos

quando a carta redigida a mão já não está tão presente como antes, essa que

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encontra-se nos mais diversos romances da literatura, mostra a importância da carta

como fonte de informação dentro da área literária, sendo as cartas as principais

responsáveis pelo surgimentos dos romances epistolares.

As cartas possibilitam através de suas linhas, um mergulho nostálgico no

passado. É com ela que hoje se compara relações de respeito, afeto e carinho nos

relacionamentos, sejam eles amorosos ou familiares, e compara-se aos modelos

atuais o que mostram-se totalmente diferentes do que se encontra na atual

sociedade.

5.3 NO CINEMA

O cinema não tão diferente da música e da literatura, aborda também esse

lado importante do suporte informacional que é a carta. No cinema se pode bem

visualizar como é a satisfação criada por essa ao destinatário. Percebe-se que

escrever cartas era tão natural como é hoje o telefonema. As pessoas tinham o

hábito de escreverem, mesmo quando não sabiam ler, como bem se visualiza no

filme central do Brasil, no qual a personagem principal Dora, interpretada por

Fernanda Montenegro, trabalhava escrevendo carta para analfabetos.

Dora (Fernanda Montenegro) escreve cartas para analfabetos na Central do Brasil. Nos relatos que ela ouve e transcreve, surge um Brasil desconhecido e fascinante, um verdadeiro panorama da população migrante, que tenta manter os laços com os parentes e o passado. Uma das clientes de Dora é Ana, que vem escrever uma carta com seu filho, Josué (Vinícius de Oliveira), um garoto de nove anos, que sonha encontrar o pai que nunca conheceu. Na saída da estação, Ana é atropelada e Josué fica abandonado. Mesmo a contragosto, Dora acaba acolhendo o menino e envolvendo-se com ele. Termina por levar Josué para o interior do nordeste, à procura do pai.(CENTRAL..., 1998) [grifo do autor]

Com a citação se ver a importância da carta no contexto social, até mesmo

para os analfabetos, no filme Central do Brasil de Walter Salles, fica bem

apresentado a importância dessa no cenário nacional como veículo de informação.

As cartas apresentadas no filme são todas de cunho individual, destinava-se a uma

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única pessoa, entretanto mesmo sendo ela de cunho individual, carregava por

diversas vezes informações secundárias que eram destinadas a outras pessoas que

teria a informação através do destinatário principal.

No cinema é bem mais fácil utilizar a representação desse suporte

informacional, é possível vê desde a redação, como a caminhada e a chegada.

Outro fato interessante no cinema que aborda bem a questão da carta é o filme as

Cartas de Iwo Gima, nesse outro filme, as cartas servem como uma espécie de

testamento do que ali se passará e de como estavam agindo para a glória de seu

país.

Nesse contexto cinematográfico as cartas não tinham o mesmo percurso que

as outras. Essas eram para a posterioridade, os destinatários seriam além dos

parentes dos homens que tombavam em campo de batalha, todos que compunha a

nação Japonesa. No filme, as cartas mostram uma outra versão da tomada da ilha,

sendo antagônico ao filme a Conquista da Honra, que aborda a mesma ocupação só

que pela ótica ocidental.

Junho de 1944. Tadamichi Kuribayashi (Ken Watanabe), o tenente-general do exército imperial japonês, chega na ilha de Iwo Jima. Muito respeitado por ser um hábil estrategista, Kuribayashi estudara nos Estados Unidos, onde fizera grandes amigos e conhecia o exército ocidental e sua capacidade tecnológica. Por isso o Japão colocou em suas mãos o destino de Iwo Jima, considerada a última linha defesa do país. Ao contrário dos outros comandantes Kuribayashi moderniza o modo de agir, alterando a estratégia que era usada. Ele supervisiona a construção de uma fortaleza subterrânea, feita de túneis que davam para as suas tropas a estratégia ideal contra as forças americanas, que começam a desembarcar na ilha em 19 de fevereiro de 1945. Os japoneses sabiam que as chances de sair dali vivos eram mínimas. Enquanto isto acontece Kuribayashi e outros escrevem várias cartas, que dariam vozes e rostos para aqueles que ali estavam e o relato dos meses que antecederam a batalha e o combate propriamente dito, sobre a ótica dos japoneses. ( ADOROCINEMA, 2006)

Cinematograficamente a carta é um dos mais especiais elementos

coadjuvante do roteiro dos filmes mencionados. Fica visível, que tanto em central do

Brasil, como em as cartas de Iwo Gima, elas são apresentadas como suporte muito

importante no desenrolar das cenas, e ainda mais na construção social e Histórica

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de uma nação, acabando sendo mundialmente o mecanismo de informação mais

utilizado em tempos passados. Saímos de Central do Brasil, um filme nacional para

confrontarmos com um filme que remonta a História de um país, que fica do outro

lado do mundo, na localização mais atribuída a ele.

A sua aparição também no cinema só afirma a sua contribuição e a

confirmação de sua importância perante as transformações sociais construídas

através da informação. Mais uma vez, a carta se afirma e se apresenta publicamente

como uma das melhores fontes de informação a ser utilizada.

5.4 NA POESIA

Seria essa a aparição pública mais perfeita da carta, ou será essa a forma

mais perfeita de profundidade da sedução com que se percebem as cartas, os

poetas de alma limpas em seus frenesis de semi-deuses em criar poesia, da

perfeição se embebe de eloqüência para atirar as palavras os sentimentos mais

ardentes relativos às cartas. Seria ela uma deusa ou uma fôrmula de se chegar as

deusas? Não se pode confirmar, apenas apreciar as honrarias dedicadas a elas. Os

poetas sabiam de sua importância, e isso os fizeram declamarem lindas e perfeitas

poesias deslumbrando as cartas em suas palavras serenas e bem metrificadas.

Para Fernando Pessoa, essa que geralmente era responsável pela desenvoltura de

um amor. Merecia entre tantas outras coisas um lugar importante para sua

declamação.

CARTAS DE AMOR 5

(Fernando Pessoa)

Todas as cartas de amor

são ridículas.

Não seriam cartas de amor

5 Poesia retirada da internet . http://recantodasletras.uol.com.br/cartas/334623 acesso em: 24/10/2009

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se não fossem ridículas.

Também escrevi, no meu tempo,

cartas de amor como as outras,

ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

têm de ser ridículas .

Quem me dera o tempo,

em que eu escrevia

sem dar por isso, cartas de amor ,

ridículas.

Afinal,só as criaturas

que nunca escreveram Cartas de amor

É que são ridículas...

Ver-se que o louvor dado as cartas está ligado ao Eu, a carta é o auto-retrato

de quem a escreveu, é o mais puro e belo sentimento expresso em rabisco para um

ser amado. Nesse sentido a carta tão amavelmente abordada, é por esta simbolizar,

representar e ser o mais próximo da representação do amor. Mas os poetas não só

aclamavam as cartas em virtude do amor, sua aclamação se deu por diversos

motivos, o que comprova mais ainda a sua plenitude no que refere-se a informação.

Escrever uma carta é na maioria das vezes escrever de si, é tentar afugentar em

escritas o que se pensa, o que se sente, o que vê. Silvino Lopes, tomado de

nostalgia também recorre à aclamação da carta para dizer o que sente. Como se ver

na poesia a primeira carta.

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A PRIMEIRA CARTA ( SILVINO LOPES ÉVORA)6

Escrita logo no primeiro dia,

No dia da chegada, Escrita com tintas de muitas cores;

Tintas de saudades, Fala de muitas coisas E até das dificuldades

Dos contornos da viagem, Das fúrias do mar,

Do impacto da chegada, Do primeiro instante

Diante do desconhecido.

A primeira carta é linda, Escrita com tintas de coração!

Cartas de esperança Seladas pela paixão Que volta a insistir Nas juras de amor.

Reafirma a vontade de vencer

E o desejo de voltar Mal acontecer a chegada.

O desejo

Manifestado na partida Que não queria partir,

Ficando, Mas tendo que sair.

Curioso

O desejo de voltar Logo na primeira hora, Depois de anos de luta

Para fugir da seca de vida, Marcada pela seca do tempo

Que chove A água que não cai.

Chove a tristeza,

A angústia Que influencia

O cheiro da terra.

6 Texto retirado da internet. http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=13426. acesso em:11/11/2009

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O cheiro da vida, Um misto de esperança e contrariedades

Que se mistura Com a ilusão mesclada na resignação

Que não renuncia, Nem demite, Nem abdica,

Sofre E luta

Para vencer.

A vida Tem de tudo um pouco,

Um pouco de tudo E um bocado de nada.

Em cada tudo

Um pedaço de nada, Em cada nada

Um bocado de tudo Que envolve

A primeira carta, Que mistura A confusão

Com o choro Da saudade.

A primeira carta é engraçada:

Três folhas escritas De ambos os lados,

Folhas brancas Preenchidas com o vazio

Daquele que passa o primeiro dia Numa terra que antes era apenas uma miragem,

Uma imaginação, Uma luz na mente

Que brilha com o sonho.

Na terra longe, Tudo está longe, Longe de tudo,

Dos amigos e dos familiares, Longe do amor, Paixão distante Perto do nada,

Do mar Da partida.

A primeira carta deve ser guardada, Uma recordação muito importante

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Que marca O começo e o fim

De algo ou de coisa alguma, Embebida no nada

Que molha a vida seca, Árida como o ponto de partida.

Carta de coração,

Decorada Com aquelas primeiras letras,

Que traçam as bonitas palavras, Que procuram desenhar

O pulsar do coração Que aperta o peito

Na tentativa de espremer a saudade Para se libertar da dor,

Carta que leva as “mantenhas”

Para aqueles que ficaram A remar na maré seca.

Tristes palavras,

Choros e desabafos Procuram reconfortar

Do desespero Do seco Vazio.

O nada

Que invade o coração Dos homens livres

Obrigados a abandonar a sua terra Para continuar a sonhar,

Lá longe Dos mais queridos

Para vencer Desde o primeiro dia.

Ambas as cartas choram angústia do ser remetente, que se mesclam de

nostalgia e de representação do Eu. É na poesia que a carta é contemplada das

mais belas formas, a ela se dar vida e dela encontra-se sentido para a vida. Na

poesia, a carta mostrasse como uma fonte de informação que permeia o íntimo e a

bases da psicologia. Se Fernando Pessoa afirma que: “ridículo é quem nunca

escreveu uma carta de amor” ele deixa a entender que escrever é na verdade viver,

é sentir-se dilacerado em acréscimo de sentimento, tomado por uma emoção que

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depois de muito tempo, poderá perde todo sentido, mas não o valor. Já Silvino

Lopes diz que: “A primeira carta deve ser guardada, Uma recordação muito

importante Que marca O começo e o fim”, é com esse sentido que a carta se afirma

e destaca-se como uma fonte de informação muito especial, tomada de romantismo

e sensibilidade capaz de refazer todo um contexto individual, social e histórico.

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6 AS CARTAS E AS UNIDADES DE INFORMAÇÃO

Essa é uma realidade ainda muito distante, são poucas ou de maneira muito

particular que as unidades de informações abrem espaço para as cartas. No Rio

Grande do Norte, precisamente na cidade de Natal, em busca de uma unidade que

trabalhasse com cartas, sendo essas disponibilizadas ao público. Não houve

nenhuma que disponibilizasse esse serviço, a não ser em caso como pesquisas

históricas ou de cunho parecidos. Nem mesmo nos museus elas estão abertas ao

público, no Museu Memorial Café Filho, as suas cartas não são disponibilizadas ao

público, e as que são tem caráter muito dentro do contexto político, na verdade não

estão expostas.

No Memorial Câmara Cascudo, se faz uma exposição dessas cartas

previamente selecionada para o público. Entretanto, em tempos bem limitados. No

que se refere às Bibliotecas, não existe nenhum serviço que disponibilize cartas,

sejam elas em formatos digitais ou impresso. As cartas como representam

particularidades acabam ficando fora do alcance das Unidades de Informação. Das

Unidades buscadas, somente a Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, tem cartas. Que no caso muito limitado, trata-se de cartas da

própria Zila Mamede, que foi a principal responsável pela criação da mesma.

Apenas algumas cartas são trabalhadas em Unidades de Informação, entre

elas estão às cartas mais famosas que se conhece e comprovam que a carta é uma

fonte de informação importante. Como se ver na carta de Pero Vaz de Caminha:

Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor, onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, 199?)

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Para o Brasil essa carta documento é uma das mais importantes fontes de

informação que existe do seu descobrimento. É possível encontrarmos o seu

conteúdo em diversas unidades de informações, todavia a carta original permanece

na torre do tombo em Portugal:

A carta que o escrivão Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei d. Manuel é considerada o primeiro documento da nossa história, e também como o primeiro texto literário do Brasil. Esta crônica do nascimento do Brasil, redigida em forma de diário, vem motivando um volumoso número de estudos e edições, desde quando o padre Manuel Aires de Casal a publicou pela primeira vez na Corografia brazílica. O original desse precioso documento, em sete folhas de papel manuscritas, cada uma em quatro páginas, num total de 27 páginas de texto e mais uma de endereço, encontra-se guardado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, (gaveta 8, maço 2, n.2). (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, 199?) [grifo do autor]

Com a citação é possível ver a importância da carta como fonte de

informação, e perceber que mesmo não estando à carta original sobre a tutela das

unidades informacionais Brasileiras, essa ainda se encontra na íntegra em locais

como a Fundação Biblioteca Nacional. Nesse contexto visualizar-se a importância

dada à carta em uma instituição. Mesmo não estando à carta sobre a sua posse.

No Brasil, outra carta que muito chama a atenção é carta testamento de

Getúlio Vargas, que junto com a carta do Pero Vaz de Caminha, são relíquia

informacionais. Ambas são consideradas como fontes de informação de muita

importância. Suas informações são analisadas e apresentadas em livros e em tantos

outros meios de comunicação.

Portanto, não existe até o momento da pesquisa realizada, ou se existe não

foi detectada nenhuma Unidade Informacional que trabalhe também com a

disponibilização das cartas como parte integrante de seus acervos. Tomando como

base Le Coadic (1996, p.15) é possível que seja possível a utilização da carta como

suporte informacional em uma Unidade de Informação “A biblioteca tradicional, que

conservava apenas livros, sucedeu a biblioteca que reúne acervos muito mais

diversificados, tanto por seus suportes como por sua origem: imagens, sons, textos”.

Nesse caso a carta se insere na afirmação por ser um suporte informacional. Como

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já foi mencionado, das pesquisas realizadas não houve nenhuma unidade

informacional que trabalhasse com esse suporte, sendo apenas exceções como é o

caso da Biblioteca da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (BCZM) que

tem às cartas da sua pioneira no formato digitalizado, fazendo exposição algumas

vezes desse material.

As cartas como já foi bastante abordada nesse trabalho tem muita

importância, seus fragmentos podem fornecer muito subsidio para uma pesquisa,

porquanto, as unidades de informações não trabalham com a carta como partes

integrantes de seu acervo, na maioria das vezes essas são encontradas em

Memoriais ou nos Museus, quando essas pertenceram a uma pessoa ou a um

acontecimento importante.

As cartas dos anônimos que possibilitam tantas informações quanto às

demais permanecem inexistentes. Com a informatização cada vez mais presente

nas unidades de informação, não seria problema essa ter algumas cartas de

pessoas anônimas compondo seu acervo e não só as que pertenceram aos grandes

nomes perpetuando assim, uma reprodução da historiografia positivista.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se a carta como uma das fontes de informação mais fascinante,

por terem sido primordiais para a construção desse país no setor informacional,

rendendo um valor econômico que também estar por trás de seu aparecimento

nessa terra. Hoje elas são vista além de um excelente veículo informacional, uma

fonte de informação muito poderosa. As suas escritas nos mais diversos contextos e

representando as diferentes formas de vida, de pensamento e de sociedade, acaba

dando a ela essa importância. Além do mais, a carta é um recorte histórico portado

de uma memória individual ou coletiva que possibilita o fornecimento de informações

capazes de serem primordiais para construção do conhecimento baseado no

passado.

A carta se encontra justamente carregada dessa prerrogativa, além da

informação que pode ser retirada, ela ainda serve como um suporte para a memória.

A forma de redigi-lá dentro do mais puro sentimento e nos mais fieis pensamentos

do ser humano, a caracteriza como primordial para estudos. Considerando que não

existe uma carta que não seja uma fonte informacional, na essência, elas são

utilizadas para informarem ao destinatário sobre o que pensa, o que sente, o que ver

e como passa o remetente. A sua valorização vai além, sendo ela capaz de fornecer

dados muitos precisos de qualquer estrutura que se queira pesquisar. O que parece

ser apenas escritos que compõe a mentalidade humana acaba sendo essencial para

a compreensão de um tempo.

A carta que ainda não foi totalmente aposentada é um dos meios

informacionais mais sublimes que existe, já às que foram escritas em tempos

passados são essas que tem uma função primordial, e é o que caracteriza as cartas

como verdadeiras fontes de informação. Devido a sua importância na construção

social e informacional, às cartas foram os objetos mais explicitados voltados em

diferentes meios, sua exaltação só sintetiza a sua importância perante a atual

sociedade. Elas foram tratadas em poesias, literatura, músicas e até explicitadas nos

cinemas. Sem mencionar que algumas delas se tornaram verdadeiras relíquias,

tornando-se um marco histórico bastante importante para os homens.

A utilidade social em que a carta estar inserida forje ao campo da descrição,

é um árduo e fatigante trabalho tentar descrever a sua utilidade, quanto a sua

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importância como fonte de informação. Ficando explícito que as Unidades de

Informação, não tem tanta preocupação em trabalhar com a carta como parte

integrante de seu acervo, na maioria das vezes essas são encontradas em

memoriais ou nos museus. Sendo necessário que houvesse um interesse maior

para inserir as cartas nos acervos, sejam elas impressas ou digitalizadas para

possibilitar um maior fluxo informacional, já que elas são ricas fontes de informação.

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