Carta de Frida Kahlo a Diego Rivera

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Carta de Frida Kahlo a Diego Rivera

Cidade do Mxico, 12 de setembro de 1939Minha noite como um grande corao batendo. So trs e meia da madrugada. Minha noite sem lua. Minha noite tem olhos grandes que olham fixamente uma luz cinzenta filtrar-se pelas janelas.Minha noite chora e o travesseiro fica mido e frio.Minha noite longa, muito longa, e parece estender-se a um fim incerto.Minha noite me precipita na ausncia sua.Eu o procuro, procuro seu corpo imenso ao meu lado, sua respirao, seu cheiro. Minha noite me responde: vazio; minha noite me d frio e solido. Procuro um ponto de contato: a sua pele. Onde voc est? Onde voc est? Viro-me para todos os lados, o travesseiro mido, meu rosto se gruda nele, meus cabelos molhados contra as minhas tmporas.No possvel que voc no esteja aqui.Minha cabea vaga errante, meus pensamentos vo, vm e se esfacelam. Meu corpo no pode compreender. Meu corpo quer voc. Meu corpo quer esquecer-se por um momento no seu calor, meu corpo pede algumas horas de serenidade. Minha noite um corao de estopa. Minha noite sabe que eu gostaria de olhar voc, acompanhar com as minhas mos cada curva do seu corpo, reconhecer seu rosto e acarici-lo. Minha noite me sufoca com a falta de voc. Minha noite palpita de amor, amor que eu tento represar mas que palpita na penumbra, em cada fibra minha. Minha noite quer chamar voc, mas no tem voz. Mesmo assim quer cham-lo e encontr-lo e se aconchegar a voc por um momento e esquecer esse tempo que martiriza. Meu corpo no pode compreender. Ele tem tanta necessidade de voc quanto eu, talvez ele e eu, afinal formemos um s.Meu corpo tem necessidade de voc, muitas vezes voc quase me curou.Minha noite se esvazia at no sentir mais a carne, e o sentimento fica mais forte, mais agudo, despido da substncia material. Minha noite se incendeia de amor. So quatro e meia da madrugada. Minha noite se esgota. Ela sabe muito bem que voc me faz falta e toda a escurido no basta para esconder essa evidncia. Essa evidncia brilha como uma lmina no escuro. Minha noite quer ter asas para voar at onde voc est, envolv-lo no seu sono e traz-lo at onde estou. Em seu sono voc me sentiria perto e seus braos me enlaariam sem voc despertar. Minha noite no traz conselhos. Minha noite pensa em voc, sonha acordada. Minha noite se entristece e se desencaminha. Minha noite acentua a minha solido, todas as minhas solides. O silncio ouve apenas minhas vozes interiores. Minha noite longa, muito longa. Minha noite teme que o dia nunca mais aparea, porm ao mesmo tempo minha noite teme seu aparecimento, porque o dia um fio artificial em que cada hora conta em dobro e, sem voc, j no vivida de verdade. Minha noite pergunta a si mesma se meu dia no se parece com a minha noite. Isso explicaria minha noite por que razo eu tambm tenho medo do dia. Minha noite tem vontade de me vestir e me jogar para fora, para ir procurar o meu homem. Minha noite o espera. Meu corpo o espera. Minha noite quer que voc repouse no meu ombro e que eu repouse no seu. Minha noite quer ser voyeur do seu gozo e do meu, ver voc e me ver estremecer de prazer. Minha noite quer ver nossos olhares e ter nossos olhares cheios de desejo. Minha noite longa, muito longa. Perde a cabea, mas no pode afastar de mim a sua imagem, no pode fazer desaparecer o meu desejo. Ela morre por saber que voc no est aqui, e me mata. Minha noite o procura sem cessar.Meu corpo no consegue conceber que algumas ruas ou uma geografia qualquer nos separe.Meu corpo enlouquece de dor por no poder reconhecer no meio da minha noite a sua silhueta ou a sua sombra. Meu corpo gostaria de beij-lo em seu sono. Meu corpo gostaria em plena noite de dormir e, nessas trevas, ser despertado com os seus beijos. Minha noite no conhece hoje sonho mais belo e mais cruel do que esse. Minha noite grita e rasga os seus vus, minha noite se choca contra o prprio silncio, mas meu corpo continua impossvel de ser encontrado.Voc me faz tanta falta, tanta. E suas palavras. E sua cor.Elamores un sentimiento tan sublime y a la vez tan efmero que ni los mismos enamorados logran comprenderlo, esas sensaciones, emociones y hastafantasases lo que hace que el ser humano ame estar enamorado, pero cuando ese sentimiento se torna en amor, no como valor, no como sentimiento, no como maldicin, no como emocin, cuando se torna en una forma de vida el amor ha cambiado totalmente tu vida y la de la otra persona, ya sea para bien o para mal, insisto cuando el amor es mutuo no habr nada ni nadie, ni tormentas que puedan destruir, derribar o envenenar ese amor, cuando a pesar de todo y de todos, incluso de las tormentas ms difciles el amor sobrevive y no muere.

Un amor por dems extrao pero sobre todo fuerte y honesto, era el que se tenan dos de los mejores representantes delarte mexicano, adems de ser extravagantes y siempre fieles a sus ideales, lograron conjuntar sus vidas a pesar de tener caminos totalmente similares pero opuestos, ese amor que se tuvieron a lo largo de su relacin es el amor que tal vez muchos quisiramos padecer, claro sin tanto drama y sin lastimarse.

Esta es la carta de queFrida Kahlole escribe a Diego Riveraantes de la amputacin de su pierna y despus de haber realizado su exposicin individual en laGalera deArte Contemporneoy antes de su muerte. Despus de haber perdido parte de la pierna, Frida se dedic aescribir poemastratando de subir su nimo por dems decado e incuso tocado por varias ideas de suicidio.

xico, 1953

Sr. mo Don Diego:

Escribo esto desde el cuarto de un hospital y en la antesala del quirfano. Intentan apresurarmee pero yo estoy resuelta a terminar esta carta, no quiero dejar nada a medias y menos ahora que s lo que planean, quieren herirme el orgullo cortndome una pata Cuando me dijeron que habran de amputarme la pierna no me afect como todos crean, NO, yo ya era una mujer incompleta cuando le perd, otra vez, por ensima vez quizs y an as sobreviv.

No me aterra el dolor y lo sabes, es casi una condicin inmanente a mi ser, aunque s te confieso que sufr, y sufr mucho, la vez, todas las veces que me pusiste el cuernono slo con mi hermana sino con otras tantas mujeresCmo cayeron en tus enredos? T piensas que encabrone por lo de Cristina pero hoy he de confesarte que no fue por ella, fue por ti y por mi, primero por mi porque nunca he podido entender qu buscabas, qu buscas, qu te dan y qu te dieron ellas que yo no te di? Porque no nos hagamos pendejos Diego, yo todo lo humanamente posible te lo di y lo sabemos, ahora bien, cmo carajos le haces para conquistar a tanta mujer si ests tan feo hijo de la chingada

Bueno el motivo de esta carta no es para reprocharte ms de lo que ya nos hemos reprochado en esta y quin sabe cuntas pinches vidas ms, es slo que van a cortarme una pierna (al fin se sali con la suya la condenada) Te dije que yo ya me haca incompleta de tiempo atrs, pero qu puta necesidad de que la gente lo supiera? Y ahora ya ves, mi fragmentacin estar a la vista de todos, de ti Por eso antes que te vayan con el chisme te lo digo yo personalmente, disculpa que no me pare en tu casa para decrtelo de frente pero en stas instancias y condiciones ya no me han dejado salir de la habitacin ni para ir al bao. No pretendo causarte lstima, a ti ni a nadie, tampoco quiero que te sientas culpable de nada, te escribo para decirte que te libero de m, vamos, te amputo te mi, s feliz y no me busques jams. No quiero volver a saber de ti ni que t sepas de m, si de algo quiero tener el gusto antes de morir es de no volver a ver tu horrible y bastarda cara de malnacido rondar por mi jardn.

Es todo, ya puedo ir tranquila a que me mochen en paz.

Se despide quien le ama con vehemente locura,

Su Frid

Diego.

Verdade que, muito muito, eu no queria, nem falar, nem dormir nem ouvir, nem querer.

Sentir-me fechada, sem medo de teu sangue, sem tempo nem magia, dentro de teu mesmo medo, e dentro de tua grande angstia, e na mesma batida de teu corao. Toda esta loucura, se tu pedisses, eu sei que seria, para teu silncio, s turvao.

Peo-te violncia, na irracionalidade e tu me agradeces, tua luz e teu calor. Pintar-te eu queria, mas no h cores, por hav-las tantas, em minha compreenso, a forma concreta de meu grande amor.

F.

Cada momento, ele meu menino, meu menino nascido, cada instantinho dirio, de mim mesma.

*

Meu Diego:

Espelho da noite.

Teus olhos espadas verdes dentro de minha carne. Ondas entre nossas mos.

Tudo tu no espao pleno de sons na sombra e na luz. Tu te chamars AUTOCROMO o que capta a cor. Eu CROMFORO a que d a cor. Tu s todas as combinaes dos nmeros, a vida.

Meu desejo entender a linha a forma a sombra o movimento. Tu preenches e eu recebo. Tua palavra percorre todo o espao e chega em minhas clulas que so meus astros e vai para as tuas que so minha luz.

Era sede de muitos anos retida em nosso corpo. Palavras encadeadas que no pudemos dizer a no ser nos lbios do sonho. Tudo rodeava o milagre vegetal da paisagem de teu corpo. Sobre tua forma, ao meu tato, responderam as pestanas das flores, os rumores dos rios. Todas as frutas no sumo de teus lbios, o sangue da granada, o que se oculta no sapoti e a integridade do abacaxi. Apertei voc contra meu peito e o prodgio de tua forma penetrou em todo meu sangue pela gema de meus dedos. Olor essncia de carvalho, lembrana de nogueira, a verde alento de freixo. Horizontes e paisagens = que percorri com o beijo. Um esquecimento de palavras formar o idioma exato para entender a mirada de nossos olhos fechados.

= Ests presente, intangvel e s todo o universo que formo no espao de meu quarto. Tua ausncia brota tremulando no rudo do relgio, no pulsar da luz; respiras atravs do espelho. Da at minhas mos, percorro todo teu corpo, e estou contigo um minuto e estou comigo um momento. E meu sangue o milagre que vai pelas veias do ar de meu corao ao teu.

1 A MULHER

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#O HOMEM ############.

O milagre vegetal da paisagem de meu corpo em ti a natureza inteira. Eu percorro-a em voo que acaricia com meus dedos os montes redondos, minhas mos os sombrios vales em nsias de possesso e me cobre o abrao das ramas suaves, verdes e frescas. Penetro a secura da terra inteira, me abrasa seu calor e em meu corpo todo roa a frescura das folhas tenras. Seu orvalho seu dom de amante sempre novo. No amor, nem ternura, nem carinho, a vida inteira, a minha que encontrei ao v-la em tuas mos, em tua boca e em teu peito. Tenho em minha boca o sabor amndoa de teus lbios. Nossos mundos nunca se distanciaram. S um monte conhece as entranhas de outro monte.

Por instantes flutua tua presena como envolvendo todo meu ser em uma espera ansiosa de manh. Neste momento pleno ainda de sensaes, tenho minhas mos fundidas em laranjais, e meu corpo sente-se rodeado por teus braos.