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NOTÍCIAS DA EPILEPSIA Ano 2002 > Nº1 PUBLICAÇÃO SEMESTRAL Liga Portuguesa Contra a Epilepsia COLUNA DO PRESIDENTE O ano de 2001 permitiu a realização de um velho anseio, com a materialização da LPCE em espaços físicos pertencentes às três Delegações, permitindo- -lhes desenvolver mais actividades e assim prestarem um melhor serviço à comunidade. Coimbra teve a primazia, numa zona pacata e agradável daquela cidade, funcionando com várias dificuldades que a experiência e o entusiasmo dos seus dirigentes vai aplainando. A inauguração da sede nacional no Porto - bonito espaço, bem escolhido e situado, a merecer o aplauso de todos nós - teve ampla divulgação nos meios de informação, permitindo, uma vez mais, trazer a lume a problemática da epilepsia e realçar o desinteresse por ela manifestado pelas autoridades de saúde. Finalmente, após uma diligente procura pelos seus responsáveis, adquiriu-se a sede de Lisboa, pronta a funcionar, aguardando uma inauguração condigna do evento. A nível nacional continuou-se a campanha de apoio e esclarecimento, con- substanciada na actividade dos grupos de ajuda mútua, nas acções para as pessoas com a doença, familiares e educadores, apoiada na distribuição de material informativo, a par das decorrentes para profissionais de saúde. Internacionalmente, os nossos membros continuam a colaborar em projectos internacionais da juventude, de rede de emprego e de treino de Internet. É também de salientar o modo como as pessoas com epilepsia e os seus familiares cooperaram num estudo social europeu, sendo o nosso País o que forneceu mais material. Foi lançada a segunda fase da Campanha Sair da Escuridão na sede da Organização Mundial de Saúde, seguida da apresentação, no Parlamento Europeu do Livro Branco da Epilepsia, contendo recomendações aos governantes, o qual mereceu o interesse de muitos parlamentares europeus... O mesmo foi enviado ao actual Ministro da Saúde, acompanhado de um relatório sobre o estado e as necessidades da epilepsia em Portugal, mas o alheamento dos políticos continua manifesto. Não quer isto significar que o nosso empenhamento tenha diminuído; pode ter esmorecido momentaneamente, a luta vai-se arrastando ao longo de muitos anos, mas tem de continuar para o fim último do bem estar daqueles para quem ela é dirigida. Dr. Francisco Pinto Presidente da LPCE EDITORIAL Foi fértil em novidades para a Epilepsia em Portugal o ano de 2001. Instalaram-se as três sedes nacionais (a de Lisboa aguarda inauguração), adquiridas de modo próprio pela Liga, sem qualquer subsídio externo. Man- tiveram-se as habituais acções de formação e informação, aqui e além com o auxílio da comunicação social, por vezes mais interessada em aspe- ctos paralelos ligados à doença ou aos doentes com epilepsia, mas que se- guramente reforça, de modo cíclico, a visibilidade tão necessária à conti- nuação das nossas actividades. Par- ticipámos (e continuamos a participar) na segunda fase da Campanha Sair da Escuridão, sendo o nosso país, através da LPCE, um dos mais par- ticipativos. Foram ainda realizadas uma série de outras actividades, com menor impacto público, é certo, mas não menos importantes. O Notícias da Epilepsia não tem con- seguido acompanhar esta visibilidade, pois continua sem receber a "retro- alimentação" sempre tão necessária, seja em termos de colaboração es- pontânea (não recebemos até hoje qualquer carta destinada a publicação ou comentário sobre as nossas acti- vidades, muito embora se mantenha uma caixa de correio electrónica e uma morada hospitalar acessíveis a tal), seja em termos de colaboração solicitada. Voltamos, pois, a projectar as nossas esperanças no ano de 2002. Um abraço, Manuel Gonçalves, Editor [email protected] Caro Senhor Santos: O seu rapaz veio ontem à consulta e pareceu-me perceber que ele anda preocupado. A sua Esposa falou o tempo todo, mesmo quando eu fazia perguntas a ele! Eu sei que ele sonha em ser um grande futebolista - mesmo sendo adepto do FêCêPê, não se sabe por quê, os ídolos dele são o Figo e o Sabrosa. As crises parece que diminuíram desde que acrescentamos o último medicamento ao antigo mas, mesmo assim, de vez em quando, "estaca", fica uns segundos a "plissar" (como vocês dizem), repetindo umas palavras que ninguém percebe e mastigando. Não consegui convencer a Mãe de que esconder a doença é mau para o Alfredo. E ele também me disse que não queria que os colegas soubessem pois receia ser retirado da equipa de juniores do clube de futebol lá da terra. Resolvi escrever-lhe esta carta pois não sei se pode vir cá na próxima vez mas acho que pode mostrá-la ao rapaz e à sua Esposa. A epilepsia do Alfredo é uma daquelas que aparece na infância ou adolescência e resulta de uma pequena deformação no cérebro. Esta deformação já lá está desde a gestação mas, não se sabe por quê, começou há 2 anos a "fazer faíscas". O cérebro, como lhe expliquei quando me trouxe a Ressonância, é feito de várias camadas e, em algumas pessoas, ao formar-se, não se sabe por quê, fica um pedaço de substância cinzenta metido no meio da substância branca. Julga-se que é nesses pedaços que começam as crises. Alguns casos destes respondem muito bem aos tratamentos e outros, não se sabe por quê, continuam com crises apesar de se tentarem vários produtos. Tenho doentes que continuam a ter crises grandes - ataques fortes em que caem e se magoam - e outros que ficam sempre com umas paragens como as do Alfredo (chamam-se crises parciais complexas). Na idade dele, temos que saber encontrar os melhores caminhos para o futuro. Por isso os Pais, junto com os médicos, têm de saber "dar-lhes a volta" de modo a que os filhos escolham as profissões a que melhor se adaptem. É pois preciso ser ele a perceber que provavelmente não poderá ser um atleta de grande competição embora possa continuar a jogar futebol para se divertir. Por outro lado, é preciso que vocês compreendam que, se os amigos e os professores dele não souberem que ele tem uma epilepsia, não será fácil que o possam ajudar no caso de ele ter um ataque ou até julguem que ele está a fazer fitas quando tem uma das tais pequenas paragens. Muita gente ainda pensa, não se sabe por quê, que ter epilepsia impede sempre ter uma vida quase normal mas eu acho que isso acontece precisamente por causa de alguns Pais terem alguns receios sem fundamentos. É natural que se preocupem mas esconder a doença só serve para a tornar mais esquisita. Para terminar deixe que diga que o seu Alfredo é um rapaz inteligente e tem todas as condições para vir a dar-lhes muitas alegrias. Saudações amigas do seu Médico >> FICHA TÉCNICA >> O Notícias da Epilepsia é editado pelo Dr. Manuel Gonçalves. >> Design _ Troca de Ideias >> Toda a correspondência relativa ao Notícias da Epilepsia deverá ser dirigida ao Dr. Manuel Gonçalves, Laboratório de EEG e Sono, Unidade de Neurologia e Neurofisiologia, Hospital de S. José, R. José António Serrano, 1150-199 Lisboa. >> E-mail: [email protected] >> O Notícias da Epilepsia é patrocinado por: 6 Carta para um doente Por Dr. Rosalvo Almeida

Carta para um doente NOTÍCIAS DA EPILEPSIAepilepsia.lvengine.net/Imgs/ne-2002_01.pdf · familiar, doenças mitocondriais), de origem ambiencial ou adquiridos (ex. traumatismo cranio-encefálico,

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NOTÍCIAS DA EPILEPSIAAno 2002 > Nº1 PUBLICAÇÃO SEMESTRAL Liga Portuguesa Contra a Epilepsia

COLUNA DO PRESIDENTE

O ano de 2001 permitiu a realização de um velho anseio, com a materialização

da LPCE em espaços físicos pertencentes às três Delegações, permitindo-

-lhes desenvolver mais actividades e assim prestarem um melhor serviço à

comunidade.

Coimbra teve a primazia, numa zona pacata e agradável daquela cidade,

funcionando com várias dificuldades que a experiência e o entusiasmo dos seus

dirigentes vai aplainando.

A inauguração da sede nacional no Porto - bonito espaço, bem escolhido e

situado, a merecer o aplauso de todos nós - teve ampla divulgação nos meios

de informação, permitindo, uma vez mais, trazer a lume a problemática da

epilepsia e realçar o desinteresse por ela manifestado pelas autoridades de

saúde.

Finalmente, após uma diligente procura pelos seus responsáveis, adquiriu-se

a sede de Lisboa, pronta a funcionar, aguardando uma inauguração condigna

do evento.

A nível nacional continuou-se a campanha de apoio e esclarecimento, con-

substanciada na actividade dos grupos de ajuda mútua, nas acções para as

pessoas com a doença, familiares e educadores, apoiada na distribuição de

material informativo, a par das decorrentes para profissionais de saúde.

Internacionalmente, os nossos membros continuam a colaborar em projectos

internacionais da juventude, de rede de emprego e de treino de Internet. É

também de salientar o modo como as pessoas com epilepsia e os seus familiares

cooperaram num estudo social europeu, sendo o nosso País o que forneceu

mais material.

Foi lançada a segunda fase da Campanha Sair da Escuridão na sede da

Organização Mundial de Saúde, seguida da apresentação, no Parlamento Europeu

do Livro Branco da Epilepsia, contendo recomendações aos governantes, o qual

mereceu o interesse de muitos parlamentares europeus... O mesmo foi enviado

ao actual Ministro da Saúde, acompanhado de um relatório sobre o estado e

as necessidades da epilepsia em Portugal, mas o alheamento dos políticos

continua manifesto. Não quer isto significar que o nosso empenhamento tenha

diminuído; pode ter esmorecido momentaneamente, a luta vai-se arrastando

ao longo de muitos anos, mas tem de continuar para o fim último do bem

estar daqueles para quem ela é dirigida.

Dr. Francisco Pinto

Presidente da LPCE

EDITORIAL

Foi fértil em novidades para a Epilepsia

em Portugal o ano de 2001.

Instalaram-se as três sedes nacionais

(a de Lisboa aguarda inauguração),

adquiridas de modo próprio pela Liga,

sem qualquer subsídio externo. Man-

tiveram-se as habituais acções de

formação e informação, aqui e além

com o auxílio da comunicação social,

por vezes mais interessada em aspe-

ctos paralelos ligados à doença ou aos

doentes com epilepsia, mas que se-

guramente reforça, de modo cíclico,

a visibilidade tão necessária à conti-

nuação das nossas actividades. Par-

ticipámos (e continuamos a participar)

na segunda fase da Campanha Sair

da Escuridão, sendo o nosso país,

através da LPCE, um dos mais par-

ticipativos. Foram ainda realizadas

uma série de outras actividades, com

menor impacto público, é certo, mas

não menos importantes.

O Notícias da Epilepsia não tem con-

seguido acompanhar esta visibilidade,

pois continua sem receber a "retro-

alimentação" sempre tão necessária,

seja em termos de colaboração es-

pontânea (não recebemos até hoje

qualquer carta destinada a publicação

ou comentário sobre as nossas acti-

vidades, muito embora se mantenha

uma caixa de correio electrónica e

uma morada hospitalar acessíveis a

tal), seja em termos de colaboração

solicitada.

Voltamos, pois, a projectar as nossas

esperanças no ano de 2002.

Um abraço,

Manuel Gonçalves, Editor

[email protected]

Caro Senhor Santos:

O seu rapaz veio ontem à consulta e pareceu-me perceber que ele anda preocupado.

A sua Esposa falou o tempo todo, mesmo quando eu fazia perguntas a ele!

Eu sei que ele sonha em ser um grande futebolista - mesmo sendo adepto do

FêCêPê, não se sabe por quê, os ídolos dele são o Figo e o Sabrosa.

As crises parece que diminuíram desde que acrescentamos o último medicamento

ao antigo mas, mesmo assim, de vez em quando, "estaca", fica uns segundos a

"plissar" (como vocês dizem), repetindo umas palavras que ninguém percebe e

mastigando.

Não consegui convencer a Mãe de que esconder a doença é mau para o Alfredo. E

ele também me disse que não queria que os colegas soubessem pois receia ser

retirado da equipa de juniores do clube de futebol lá da terra.

Resolvi escrever-lhe esta carta pois não sei se pode vir cá na próxima vez mas acho

que pode mostrá-la ao rapaz e à sua Esposa.

A epilepsia do Alfredo é uma daquelas que aparece na infância ou adolescência e

resulta de uma pequena deformação no cérebro. Esta deformação já lá está desde

a gestação mas, não se sabe por quê, começou há 2 anos a "fazer faíscas". O cérebro,

como lhe expliquei quando me trouxe a Ressonância, é feito de várias camadas e,

em algumas pessoas, ao formar-se, não se sabe por quê, fica um pedaço de substância

cinzenta metido no meio da substância branca. Julga-se que é nesses pedaços que

começam as crises.

Alguns casos destes respondem muito bem aos tratamentos e outros, não se sabe

por quê, continuam com crises apesar de se tentarem vários produtos. Tenho

doentes que continuam a ter crises grandes - ataques fortes em que caem e se

magoam - e outros que ficam sempre com umas paragens como as do Alfredo

(chamam-se crises parciais complexas).

Na idade dele, temos que saber encontrar os melhores caminhos para o futuro.

Por isso os Pais, junto com os médicos, têm de saber "dar-lhes a volta" de modo a

que os filhos escolham as profissões a que melhor se adaptem. É pois preciso ser

ele a perceber que provavelmente não poderá ser um atleta de grande competição

embora possa continuar a jogar futebol para se divertir.

Por outro lado, é preciso que vocês compreendam que, se os amigos e os professores

dele não souberem que ele tem uma epilepsia, não será fácil que o possam ajudar

no caso de ele ter um ataque ou até julguem que ele está a fazer fitas quando tem

uma das tais pequenas paragens.

Muita gente ainda pensa, não se sabe por quê, que ter epilepsia impede sempre

ter uma vida quase normal mas eu acho que isso acontece precisamente por causa

de alguns Pais terem alguns receios sem fundamentos. É natural que se preocupem

mas esconder a doença só serve para a tornar mais esquisita.

Para terminar deixe que diga que o seu Alfredo é um rapaz inteligente e tem todas

as condições para vir a dar-lhes muitas alegrias.

Saudações amigas do seu Médico>> FICHA TÉCNICA

>> O Notícias da Epilepsia é editado

pelo Dr. Manuel Gonçalves.

>> Design _ Troca de Ideias

>> Toda a correspondência relativa ao

Notícias da Epilepsia deverá ser

dirigida ao Dr. Manuel Gonçalves,

Laboratório de EEG e Sono, Unidade

de Neurologia e Neurofisiologia,

Hospital de S. José, R. José António

Serrano, 1150-199 Lisboa.

>> E-mail:

[email protected]

>> O Notícias da Epilepsia é patrocinado

por:

6

Carta para um doentePor Dr. Rosalvo Almeida

Page 2: Carta para um doente NOTÍCIAS DA EPILEPSIAepilepsia.lvengine.net/Imgs/ne-2002_01.pdf · familiar, doenças mitocondriais), de origem ambiencial ou adquiridos (ex. traumatismo cranio-encefálico,

EPILEPSIA E ENXAQUECA

Quanto à relação da epilepsia e da

enxaqueca, esta parece existir, pois

em vários estudos realizados verificou-

se que a frequência de epilepsia em

doentes com enxaqueca é superior à

da população geral (1-17%) e o inverso

também é verdadeiro, sendo a frequên-

cia de enxaqueca em doentes epilé-

pticos superior à da população geral

(8-24%) (referências 1-3).

Para além desta constatação há ainda

a referir que:

1. Pode ocorrer uma cefaleia com

características de enxaqueca a pre-

ceder ou a suceder uma crise epilép-

tica.

2. Certas formas de epilepsia se

acompanham de elevada prevalência

de enxaqueca.

3. Certas doenças como as malfor-

mações artério-venosas, doenças mi-

tocondriais e a enxaqueca hemiplégica

familiar podem ser responsáveis pelo

aparecimento de epilepsia e de enx-

aqueca.

As razões da associação entre enxa-

queca e epilepsia não estão totalmente

esclarecidas, sendo apontados factores

genéticos (ex. enxaqueca hemiplégica

familiar, doenças mitocondriais), de

origem ambiencial ou adquiridos (ex.

traumatismo cranio-encefálico, aci-

dente vascular cerebral isquémico ou

hemorrágico) como explicação para

esse facto, por poderem causar au-

mento da excitabilidade neuronal ou

diminuição do limiar dos ataques.

Independentemente das causas, a

associação das duas doenças tem

implicações não só no diagnóstico

como na abordagem terapêutica.

No que diz respeito ao diagnóstico

um dos aspectos importantes é o

facto de por vezes ser difícil distinguir

a aura de uma enxaqueca da aura de

uma crise epiléptica. As características

clínicas mais importantes para a sua

diferenciação são a duração e tipo de

aura. Auras com duração inferior a 5

minutos são a favor de auras epilé-

pticas e com duração superior a 5

minutos a favor de auras de enxaque-

ca. A presença de alteração do estado

de consciência, automatismos e fenó-

menos motores favorece a hipótese

de epilepsia e a presença de escotomas

cintilantes visuais favorece a hipótese

de enxaqueca. Por seu lado a obser-

vação directa da crise, o electroence-

falograma na crise e/ou o electroence-

falograma das 24 horas (holter EEG)

podem ajudar a diferenciar a aura

epiléptica da aura da enxaqueca.

Em relação ao tratamento, a presença

das duas doenças implica que se

estabeleça uma estratégia terapêutica

que leve isso em consideração, não

Apesar da epilepsia e a enxaqueca constituírem doenças diferentes partilham de

algumas semelhanças e desde longa data que se discute a relação entre ambas.

Nas duas patologias ocorre hiperexcitabilidade do sistema nervoso central e ambas

dão lugar a fenómenos neurológicos de carácter paroxístico.

Existem duas formas básicas de enxaqueca, com e sem aura e a sua prevalência

na população geral é elevada, cerca de 12%, com nítido predomínio na mulher. A

elevada incidência familiar da enxaqueca sugere na sua base um factor genético.

A epilepsia, por seu lado, caracteriza-se pelo aparecimento crónico e recorrente

de crises epilépticas que se devem a uma descarga neuronal excessiva. A sua

frequência também é muito elevada na população geral (0,5%). Durante o ano de 2001 a Delegação

do Norte / Epicentro Porto realizou

as seguintes actividades:

• Aquisição dos equipamentos

necessários ao funcionamento das

novas instalações do Epicentro Porto.

A nova sede do Epicentro foi inaugu-

rada no dia 8 de Novembro, pelo

Presidente da Liga, Dr. Francisco Pinto

e contou com a participação de re-

presentantes da Segurança Social e

do Ministério da Saúde, bem como

com a presença de diferentes órgãos

da Comunicação Social. Aquando da

inauguração foi divulgada a LPCE e o

Epicentro Porto, aproveitando, deste

modo, a cobertura do acontecimento

feita pela comunicação social (jornais,

revistas, TV e rádio).

• No Epicentro Porto continua a ser

feito o contacto interpessoal e telefóni-

co às pessoas interessadas nesta

doença, o encaminhamento para as

diferentes consultas especializadas,

sendo proporcionada uma mais ampla

compreensão do que é a epilepsia,

através dos folhetos de informação

existentes.

• No ano transacto deu-se con-

tinuidade ao Projecto EYE (Epilepsy

Youth in Europe) com a participação

de um membro do GAM, neste pro-

jecto do IBE, o qual frequentou um

curso que decorreu em Bielefeld, de

7 a 12 de Agosto, o qual teve como

produto final uma página da Internet,

feita pelos participantes de 22 países,

sobre a Epilepsia (www.eyie.org).

• Foi implementado mais um GAM

(Grupo de Ajuda Mútua) para jovens

com epilepsia e está a ser criado um

GAM para adolescentes. Prevê-se a

breve prazo a criação de um GAM

para pais de pessoas com epilepsia.

Em projecto está, também, a imple-

mentação de um curso de Formadores

de Grupos de Ajuda Mútua.

• Está a decorrer um estágio profis-

-sional de uma Psicóloga, ao abrigo de

um protocolo estabelecido com a

consulta multidisciplinar de Neurologia

do Hospital Geral de Santo António.

Este estágio tem como objectivo prin-

cipal a criação e dinamização de novos

projectos no âmbito da Ajuda Mútua.

• Foi elaborado um manual da Ajuda

Mútua e criado um novo folheto sobre

este tema.

• A curto prazo será implementado

no Epicentro Porto uma Epi-biblioteca

e uma Epi-videoteca aberta a pessoas

com epilepsia e seus familiares, té-

cnicos, estudantes de medicina, psi-

cologia e outros interessados.

• Articulação com a Comissão de

Educação (Presidida pelo Dr. Rosalvo

Almeida) e o GAM para realização de

sessões de esclarecimento, priorita-

riamente, em escolas. Uma das futuras

sessões está já marcada para Fe-

vereiro deste ano em Santa Maria de

Lamas.

• Organização do 14º Encontro Nacional

de Epileptologia que se irá realizar de

14 a 16 de Março de 2002.

• Salientamos, em todos estes proje-

ctos desenvolvidos no âmbito do Epi-

centro, a participação activa da Comis-

-são de Assuntos Sociais e Emprego.

Dulce Soeiro

Notícias do Epicentro do Porto

Destaque do Semestre

Epilepsia e Enxaqueca2

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Epilepsia e Enxaqueca3

Em relação ao tratamento, a presença

das duas doenças implica que se

estabeleça uma estratégia terapêutica

que leve isso em consideração, não

administrando fármacos indicados

numa das doenças, mas que possam

ser prejudiciais para a outra e tentan-

do sempre que possível usar medica-

mentos que possam ser benéficos no

tratamento de ambas as doenças (ex.

valproato de sódio), permitindo assim

o controlo da epilepsia e da enxaqueca

com menor risco de efeitos adversos.

Mariana Santos-Bento

Hospital de São José, Lisboa

Bibliografia:

1. Marks DA, Ehrenberg BL. Migraine-

related seizures in adults with epilepsy,

with EEG correlation. Neurology 1993; 43:

2476-83

2. Ottman RO, Lipton RB. Comorbidity of

migraine and epilepsy. Neurology 1994;

44:2105-10

3. Alberca R. Epilepsia y Jaqueca. Rev Neurol

1998; 26: 251-5

Destaque do Semestre

Durante o ano de 2001 a Delegação

de Lisboa / Sul realizou as seguintes

actividades:

1. Adquiriu uma sede própria para

instalação definitiva da Delegação de

Lisboa/Sul, sita na Rua Carlos Mardel,

n.º 107-3º A 1900-120 Lisboa.

2. Remodelou a sede e instalou linha

telefónica e fax (218.474.798).

3. Manteve a regularidade das Reuniões

Conjuntas das Consultas de Epilepsia

da Zona Sul, promovendo a organização

de duas reuniões (as 15ª e 16ª). A

primeira realizou-se a 7 de Abril,

organizada pela consulta de Epilepsia

do Hospital do Barlavento Algarvio

sobre Alterações da Migração Neuronal

e Epilepsia e Epilepsia e Agenésia do

Corpo Caloso, com discussão de casos

clínicos. Aproveitando a deslocação

àquele Hospital e em colaboração com

a sua recente Unidade de Neurologia,

promoveu no dia 6 de Abril uma Acção

de Formação para Clínicos Gerais

sobre Epilepsias Sintomáticas no Adulto

e na Criança: Diagnóstico Diferencial

das Epilepsias Sintomáticas; Epilepsia

Sintomática—Sinais de alerta; Trata-

mento das Epilepsias Sintomáticas;

Painéis de discussão - Alcoolismo,

Traumatismo Craniano, Geriatria e

Epilepsia e Epilepsia Sintomática na

Criança. A segunda reunião decorreu

a 29 de Junho no Hospital de Egas

Moniz, sob organização da respectiva

Consulta de Epilepsia sobre Cirurgia

de Epilepsia: Casuística, Avaliação

Psiquiátrica e Neuropsicológica e Trata-

mento Farmacológico Pós-Cirúrgico

(Grupo de Cirurgia de Epilepsia do H.

de Egas Moniz).

4 Prosseguiu a realização de Reuniões

com Educadores, Professores do Ensino

Básico e Especial, e Enfermeiros. Assim,

a 9 de Fevereiro realizou a reunião:

"Escola e Epilepsia—Mitos e Realidades"

para Professores do Agrupamento

Vertical da Mexilhoeira Grande e do

Concelho de Portimão, contando com

350 inscritos e com grande dinamismo

organizativo daquele agrupamento

escolar. Do programa constaram: O

Que é a Epilepsia? Como actuar pe-

rante uma crise? O que não é Epile-

psia? Painéis de Discussão - Epilepsia

e Família: a perspectiva dos pais;

aspectos psicológicos - Epilepsia e a

Escola: a perspectiva do professor;

epilepsia e aprendizagem, epilepsia no

jovem. Em 25 de Maio de 2001 realizou,

em colaboração com a Consulta de

Epilepsia do Hospital de Santarém,

uma reunião sobre o mesmo tema

para Professores, Enfermeiros e alunos

na Escola Superior de Enfermagem

de Santarém, contando com 34 ins-

critos.

5. Prosseguiu as actividades de

divulgação da LPCE e de angariação

de sócios, particularmente nas

reuniões/encontros referidos.

Paula Breia

Notícias do Epicentro de Lisboa

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Papel da Neuropsicologia na Consulta de Epilepsia

4

A Epilepsia pode provocar disfunção

cognitiva e emocional, o que condiciona,

de modo negativo, a vida familiar, sócio-

profissional e escolar dos indivíduos,

implicando uma mudança na sua qual-

idade de vida. O facto desta situação

atingir largas camadas da população

jovem, em plena vida activa, é um

factor de grande relevância, visto

poder interferir, ou mesmo originar

interrupções (temporárias ou defini-

tivas) nas tarefas da vida diária, sejam

elas escolares, laborais ou de ambos

os tipos. Neste sentido, os profissionais

de saúde devem intervir não só visando

o controlo das crises - pela terapêutica

farmacológica -, como também ao nível

da reeducação das funções cognitivas

e da estabilização emocional.

Numa Consulta de Epilepsia a inter-

venção da Neuropsicologia tem por

objectivos:

• Caracterização das alterações neu-

ropsicológicas iniciais;

• Avaliação regular dos efeitos da

medicação na actividade cognitiva;

• Monitorização das alterações cogni-

tivas;

• Reeducação das funções alteradas;

• Despiste de alterações emocionais.

E se necessário encaminhamento para

Consulta de Psicoterapia e/ou Psiqui-

atria (dependendo dos casos).

Múltiplos factores podem ter um

impacto cognitivo em doentes com

Epilepsia. Esses factores incluem a

etiologia das crises, lesões cerebrais

adquiridas, tipo de crises, frequência

das crises, duração e severidade das

mesmas, idade de aparecimento da

Epilepsia, factores hereditários, fa-

ctores psicossociais, sequelas da Ci-

rurgia da Epilepsia, e os efeitos da

medicação anti-epiléptica. Deste modo,

torna-se essencial que se faça uma

monitorização das alterações cogniti-

vas, com avaliações de controlo, mesmo

que a primeira avaliação (de caracte-

rização) não apresente alterações.

As principais alterações neuropsicológi-

cas em indivíduos com Epilepsia são

5

ao nível da memória - com significativa

perturbação da retenção e da ca-

pacidade de aprendizagem; da atenção

- tanto para estímulos rotineiros como

para estímulos novos e diversificados;

da velocidade de processamento da

informação; e, embora com menor

frequência que as supra-citadas, ao

nível da linguagem, do pensamento

abstracto e da capacidade de crítica.

As referidas alterações poderão condi-

cionar não só as actividades diárias

dos doentes como também, e princi-

palmente, o seu desempenho profis-

-sional - originando um menor desem-

penho. A repercussão que as altera-

ções cognitivas apresentadas podem

ter na vida sócio-profissional dos

doentes, justifica o acompanhamento

caso a caso, visando estipular planos

de trabalho no sentido da reeducação

das funções alteradas. Nalguns casos

é possível repor a função alterada,

mas em outros (dependendo, por

exemplo, do tipo de Epilepsia e da

frequência e severidade das crises)

tem de se efectuar a reeducação e

não a reposição da função, permitindo

que os doentes tenham uma vida

activa com a menor repercussão

possível das alterações existentes.

É de ter em consideração que, para

além das alterações cognitivas, existem

alterações emocionais decorrentes

não só do défice cognitivo como tam-

bém do impacto psicossocial da Epi-

lepsia. As limitações cognitivas, a falta

de energia, o sentimento de falta de

independência, a interferência na vida

sexual, a necessidade de tomar me-

dicação, a preocupação com a crise,

e o próprio estigma social associado

à Epilepsia, (com a decorrente falta

de suporte social), podem ter como

consequência uma auto-imagem des-

valorizada, com uma resposta emocio-

nal de tipo ansiógeno-depressivo. Não

esquecendo, a enorme relevância que

tem o facto de as emoções poderem

modificar a resposta dos indivíduos à

sua doença, acentuar as alterações

cognitivas e alterar a frequência das

crises. Consequentemente, impõe-se

a necessidade de, no Exame Neuro-

psicológico, serem avaliadas as alte-

rações emocionais e, quando

necessário, ser feito um acompanha-

mento Psicoterapêutico e/ou Psiquiátri-

co (efectuando o encaminhamento

para as Consultas respectivas).

O objectivo principal da intervenção

Neuropsicológica é o de contribuir,

junto das outras especialidades de

saúde, para uma melhor qualidade de

vida do doente com Epilepsia.

Maria de Lurdes Ramalho

Hospital de S. José, Lisboa

Maria de Lurdes Ramalho

Papel da Neuropsicologia na Consulta de Epilepsia