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Cartas Paulinas Contexto, Comunidade e destinatários Esquema Temático Introdução: Conhecer o mundo de Paulo e o contexto das Comunidades por ele fundadas e a quem depois são enviadas as suas Cartas é fundamental para a compreensão da mensagem teológica. Neste sentido, um percurso, mesmo que seja rápido e breve, pelas Comunidades é uma tarefa imprescindível em ordem à compreensão dos textos que nos são propostos por Paulo, incluindo o seu alcance e a sua vivência hoje. 1. Algumas questões: Paulo é um missionário do ‘anúncio kerigmático’ ou um homem da escrita? Como entender as suas Cartas no contexto do anúncio da Boa Nova? Que género literário é este ‘de Cartas’ que Paulo nos legou? 2. Tinha Paulo uma estratégia missionária? A quem se dirige Paulo no seu anúncio? Temos aqui sempre presente o eterno dilema: Judeus ou Gregos? A quem se destina a palavra que Paulo proclama, tanto no anúncio oral como depois nos textos escritos? Quando Paulo se dirige aos ‘gentios’ (aos não-judeus) fá-lo porque tem consciência que a mensagem é rejeitada pelos Judeus? Paulo está consciente que o horizonte da mensagem tem agora um alcance universal, um novo projecto messiânico que incorpora judeus e não-judeus, superando a dicotomia que o Judaísmo não era capaz de comportar? 3. Quais os conteúdos essenciais do anúncio Paulino? À semelhança do que sucedia no Império, Paulo recorre a um vocabulário próprio e proclama um anúncio de salvação que incorpora em Jesus – o Messias anunciado – uma esperança universal de salvação, aberta a todos, judeus e gregos, escravos e homens livres. 4. Quais os Centros de irradiação da actividade missionária de Paulo? A actividade de Paulo concentra-se em três grandes cidades: Antioquia (1ª fase e 1ª viagem missionária); na Macedónia (Filipos, Tessalónica, incluindo Corinto, uma 2ª fase e 2ª viagem); em Éfeso (Ásia, centro da 3ª viagem). 5. Judeus e Gregos – Os Tementes a Deus e as Mulheres: Paulo escolhe o seu auditório ou tens grupos especiais a quem se dirige? Quem são os chamados ‘Tementes a Deus’ a que Paulo alude nos seus textos e que estavam também no centro das suas preocupações missionárias? Supera Paulo a dicotomia judaico entre o masculino e o feminino? Qual a razão que leva a que muitas mulheres tenham aderido à mensagem proposta por Paulo. Centro Cultural Franciscano – 24 de Outubro de 2008 P. João Lourenço

Cartas Paulinas

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Cartas paulinas estudo.

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  • Cartas Paulinas Contexto, Comunidade e destinatrios

    Esquema Temtico

    Introduo: Conhecer o mundo de Paulo e o contexto das Comunidades por ele fundadas e a

    quem depois so enviadas as suas Cartas fundamental para a compreenso da mensagem teolgica. Neste sentido, um percurso, mesmo que seja rpido e breve, pelas Comunidades uma tarefa imprescindvel em ordem compreenso dos textos que nos so propostos por Paulo, incluindo o seu alcance e a sua vivncia hoje.

    1. Algumas questes:Paulo um missionrio do anncio kerigmtico ou um homem da escrita? Como entender as suas Cartas no contexto do anncio da Boa Nova?Que gnero literrio este de Cartas que Paulo nos legou?

    2. Tinha Paulo uma estratgia missionria?A quem se dirige Paulo no seu anncio? Temos aqui sempre presente o eterno dilema: Judeus ou Gregos? A quem se destina a palavra que Paulo proclama, tanto no anncio oral como depois nos textos escritos?Quando Paulo se dirige aos gentios (aos no-judeus) f-lo porque tem conscincia que a mensagem rejeitada pelos Judeus? Paulo est consciente que o horizonte da mensagem tem agora um alcance universal, um novo projecto messinico que incorpora judeus e no-judeus, superando a dicotomia que o Judasmo no era capaz de comportar?

    3. Quais os contedos essenciais do anncio Paulino? semelhana do que sucedia no Imprio, Paulo recorre a um vocabulrio prprio e proclama um anncio de salvao que incorpora em Jesus o Messias anunciado uma esperana universal de salvao, aberta a todos, judeus e gregos, escravos e homens livres.

    4. Quais os Centros de irradiao da actividade missionria de Paulo?A actividade de Paulo concentra-se em trs grandes cidades: Antioquia (1 fase e 1 viagem missionria); na Macednia (Filipos, Tessalnica, incluindo Corinto, uma 2 fase e 2 viagem); em feso (sia, centro da 3 viagem).

    5. Judeus e Gregos Os Tementes a Deus e as Mulheres:Paulo escolhe o seu auditrio ou tens grupos especiais a quem se dirige? Quem so os chamados Tementes a Deus a que Paulo alude nos seus textos e que estavam tambm no centro das suas preocupaes missionrias? Supera Paulo a dicotomia judaico entre o masculino e o feminino? Qual a razo que leva a que muitas mulheres tenham aderido mensagem proposta por Paulo.

    Centro Cultural Franciscano 24 de Outubro de 2008 P. Joo Loureno

  • Cartas Paulinas Contexto, Comunidade e destinatrios

    (24.10.08)

    IntroduoDando continuidade ao que fizemos no ano passado acerca de S.

    Paulo e da celebrao do Ano Jubilar, este ano vamos continuar a estudar S. Paulo, mas numa linha mais orientada para a compreenso dos seus Escritos. No ano que passou, colocamos a tnica das nossas actividades na pessoa de Paulo e nos grandes eixos do seu pensamento, da sua mensagem e da sua teologia. Este ano, no conjunto de actividades que pretendemos levar a cabo, desejamos aprofundar mais a misso de Paulo: as comunidades evangelizadas e por ele criadas, bem como o contexto dos seus Escritos, das suas Cartas e a problemtica que estas abordam como resposta ao mundo de ento.

    Neste sentido, os encontros aqui organizados no CCF sero muito direccionados para os Escritos de Paulo, convidando-vos, se possvel, e conforme o programa, a fazer-vos acompanhar pelos textos da Carta (ou das Cartas) que analisaremos no respectivo dia. Ser assim uma forma de procurar olhar os textos e a partir deles conhecer melhor os grandes dinamismos da misso Paulina no seu contexto e enquadramento. Colocamos a tnica nesta trplice perspectiva:

    .A quem dirigiu Paulo o seu anncio as Comunidades Paulinas;

    .Como se dirigia Paulo ao seu auditrio a linguagem e a estrutura das cartas;.Onde falou Paulo o contexto social e religioso das Comunidades urbanas a quem Paulo anunciou o Evangelho.

    O tema de que nos ocupamos aqui hoje tem exactamente um carcter introdutrio questo das Cartas; abordamos algumas das temticas mais directamente relacionadas com o Paulo escritor e a sua aproximao s Comunidades onde anuncia Jesus Cristo. No se tratava de uma tarefa fcil, tal a complexidade que descobrimos nos grupos sociais e nas cidades onde Paulo anunciou Jesus. Ao contrrio do que sucedia nas comunidades palestinenses, a sociedade onde Paulo anuncia a Boa Nova um mundo complexo, diversificado, onde pontificam cultos e ritos pagos para todos os gostos, numa contraposio declarada com o teor da mensagem que o Apstolo proclama

    1. Paulo, um homem da palavra oral ou escrita uma interrogao?No pretendemos olhar os Escritos de Paulo a partir de uma

    perspectiva literria, pois creio que ele, apesar de ser um notvel escritor, no gostaria de ser tido nem considerado como tal. Paulo, ao falar de si

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  • mesmo, mormente nas Cartas (destaco o testemunho de Glatas: cap. 1-2; e o da Carta aos Filipenses: 3,4-6) a que poderamos tambm acrescentar o testemunho que dele nos deixou Lucas nos Actos dos Apstolos (Act 22), apresenta-se sempre como um ministro da Palavra, um homem do anncio, anncio este que era dirigido a um pblico nem sempre determinado, embora na maioria dos casos a pregao seja dirigida aos Judeus da dispora e, mais tarde, anunciada aos pagos.

    Paulo, como um mestre de retrica judaica que era, ele que fora instrudo numa das melhores escolas do pensamento rabnico, um homem do verbo fcil, onde sobressai o testemunho pessoal e, ao mesmo tempo, constata-se que h nele um impulso arrebatador que Paulo concentra sempre em Jesus Cristo. Senn Vidal1, numa obra recente sobre Paulo, chama a esta realidade concntrica, o Projecto Messinico de Paulo, todo ele centrado no anncio de que Jesus era o messias esperado de Israel, empenhando-se Paulo em mostrar como afinal Ele agora o Messias universal, e no apenas de Israel.

    Dando incio proclamao deste Projecto, Paulo comea por visitar e fazer-se presente em ambientes urbanos, mormente em cidades que ladeiam as grandes vias de comunicao, as estradas da poca, ou ento, em cidades que serviam de portos, onde se cruzavam grupos variados de pessoas. Os casos so mltiplos e bem conhecidos. Aludiremos a alguns deles ao longo da nossa reflexo. Para compreender Paulo, importa ter presente que o seu anncio , essencialmente, um prolongamento da sua converso e as suas palavras, antes de escritas, fazem-se eco desta experincia pessoal.

    Por isso, antes de nos debruarmos sobre as Cartas em si, vejamos em que consistia o anncio de Paulo. O esquema era muito simples e muito linear, quase sempre idntico, podendo ns sintetiz-lo em quatro pontos:

    .Paulo comea por situar o seu anncio no contexto da Histria de Israel, apresentando Jesus como aquele que d sentido a essa histria, cumprindo as promessas feitas aos antepassados (no AT);.Alude ao ministrio de Joo Baptista como preparao para o advento do Messias, numa aluso clara tradio messinica da vinda do arauto do Messias (Elias deve vir primeiro: Mt 17,10-11);.Apresenta Jesus como salvador, referindo a sua injusta condenao perante Pilatos a pedido das autoridades judaicas e do povo de Jerusalm, dando assim cumprimento ao que tinha sido anunciado pelas profecias do Antigo Testamento. A argumentao Paulina, neste aspecto, muito consistente e repetitiva;.Finalmente, Paulo refora o anncio especfico da ressurreio de Jesus (dando cumprimento s Escrituras) que, desta forma, concede o perdo dos pecados queles que acreditam nEle. Por sua vez, a Lei mosaica no s no concede o perdo, como acentua a diviso entre os homens.

    1 SENN VIDAL, El Proyecto Mesinico de Pablo, Sgume, 2005.

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  • Este esquema est bem documentado em passagens dos Actos (13,16-41), constituindo como que um paradigma do 1 anncio feito aps o servio sinagogal. Estamos, portanto, perante um quadro em que decorre a misso de Paulo, que , antes de mais, um missionrio.

    Neste sentido, podemos dizer que Paulo no um epistolrio como tal; no um homem que redige um texto para anunciar uma boa-nova, seja ela qual for, partindo do princpio que o anncio da Boa-Nova j tinha acontecido na Comunidade antes do envio da respectiva Carta. Por isso, denotamos uma forte oralidade em muitas das Cartas, j que estas tinham como objectivo confirmar agora o que outrora havia sido j anunciado oralmente, conservando assim os traos da passagem do Apstolo e do anncio que havia sido a proclamado. A oralidade das Cartas uma espcie de eco da voz do Apstolo que perdura na Comunidade. Da a razo que leva ao pedido para que a Carta seja lida na Comunidade, como o caso de Col 4,16. O mesmo se pode dizer acerca dos Emissrios que faziam de portadores das Cartas; eles so apresentados como que representando o prprio autor (Paulo) em pessoa, para quem pedido um bom acolhimento por parte da Comunidade destinatria.

    O que uma Carta?Na antiguidade, o gnero Carta era usado essencialmente para

    transmitir, informar, comunicar. Na Grcia antiga, este gnero literrio era j muito comum; Plato, Epicuro e outros, escreveram cartas abertas a expor as suas ideias filosficas e religiosas a um vasto pblico que assim tinha acesso s suas teses. Tambm no mundo romano encontramos o mesmo gnero de escritos, sendo clebres as Cartas de Ccero, Plnio, Sneca, etc. Na fase decadente do Imprio, vamos encontrar autores

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  • cristos recorrendo ao mesmo processo, de que se celebrizaram, de entre outros, Cipriano, Santo Agostinho, S. Jernimo. Neste sentido, Paulo segue uma tradio que era j em uso e que ter continuidade depois dele, sendo ele um excelente representante do pensamento cristo que deu incio a este processo de comunicao.

    Comecemos por estabelecer um quadro de paralelos com outros Escritos do Novo Testamento. Isso ajudar-nos- a compreender a singularidade de Paulo.

    Assim, Paulo no comparvel aos Evangelistas, a nenhum deles, pelo simples facto que ele no redige um memorial de Jesus nem pretende recolher a Traditio de Jesus para a transmitir. Ele tambm no vai como Lucas, de terra em terra, para compilar a Traditio acerca de Jesus existente nas Comunidades para depois a transmitir a novos fiis. Paulo no est a guardar a Traditio nem a transmitir um testemunho de f vivido na Comunidade.

    Pelo contrrio, Paulo comea por ser um mensageiro, um pregoeiro de uma Boa-Nova que o tocou profundamente e faz dessa experincia o centro do seu prprio anncio. Ele no proclama um anncio que recebeu, razo pela qual diz que o Evangelho que anuncia no o conheceu maneira humana, pois no o recebeu nem aprendeu de homem algum, mas apenas por revelao de Jesus Cristo (Gl 1,11-12). Por isso, ele um missionrio que vai de terra em terra a anunciar esse acontecimento. A sua escrita vem depois; no antecipa o anncio, mas surge depois como orientao dirigida queles que acolheram o anncio. Isso justifica o prprio gnero dos escritos de Paulo, pois trata-se de textos de tipo teolgico, fundamentando a identidade de Jesus como messias anunciado e, ao mesmo tempo, fornecendo perspectivas em ordem vivncia. Por isso, podemos dizer que nos Escritos de Paulo temos dois plos, dois ncleos temticos:

    .Um, mais de natureza teolgica, doutrinal, essencialmente cristolgica (os Hinos cristolgicos: Ef 1,3-10; Fl 2,1-11, etc);.Outro, orientado para a vivncia, de tipo exortativo, concentrado nas formas e nas expresses da identidade dos crentes face ao mundo que os rodeia.

    As suas Cartas contemplam os dois plos temticos, procurando sempre consolidar os dois mutuamente, ou seja, a teologia de Paulo gera uma praxis, uma forma de identidade crist, tal como esta pressupe uma fundamentao teolgica.

    Por tanto, nesta relao entre anncio-proclamao e texto escrito que situamos o Paulo missionrio: Ai de mim se no evangelizar (1 Cor 9,16). para isso que ele foi enviado, j que Deus o escolheu para que ele revele nele o Seu filho.

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    augusto.orsiRealce

  • Um outro aspecto que singulariza Paulo neste seu anncio missionrio o facto de ser ele a movimentar-se, a pr-se a caminho para ir ao encontro daqueles que ele quer evangelizar. Ele, ao contrrio dos Mestres do seu tempo (e semelhana de Jesus), no constitui uma Escola no sentido restrito do termo; no tem discpulos que vm ao encontro para receber lies do Mestre. ele que procura os ouvintes e vai ao seu habitat, comunidades judias ou agregados urbanos dos gentios, para lhes anunciar o evangelho. Neste aspecto, Paulo, embora seja um missionrio itinerante como Jesus, diferente do Mestre, pois procura os ambientes urbanos (comunidades, entrada das cidades, praas pblicas, prticos), conferindo assim ao seu ministrio uma dimenso no apenas universal, mas tambm uma perspectiva aberta e urbana.

    Neste enquadramento, olhamos os seus Escritos como algo que complementa o anncio oral, que vai consolidar a proclamao j feita em ordem a que a mensagem ganhe fora e vitalidade no seio da comunidade.

    2. A estratgia missionria de Paulo: Quem so os seus ouvintes?Os textos paulinos no so o resultado da primeira abordagem que

    Paulo faz s Comunidades. O Apstolo d incio proclamao do Kerygma atravs do anncio oral, fazendo-o de forma itinerante: ele desloca-se, ensina e lana as bases da Comunidade local. As Cartas aparecem num segundo momento e so j o resultado do crescimento e consolidao das Comunidades e, ao mesmo tempo, da ausncia de Paulo.

    Um dos elementos fulcrais para a compreenso dos Escritos de Paulo est na questo: A quem se dirigem os seus Escritos? Haver algum pblico especfico a que Paulo tenha em vista chegar quando define a sua estratgia de evangelizao? O que o leva a percorrer o mundo de ento,

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  • estendendo o cristianismo para alm das fronteiras da Palestina? Seria apenas para os Judeus da Dispora? O anncio aos pagos apenas consequncia directa do facto dos Judeus, nas suas comunidades, terem rejeitado o kerygma de Paulo? Em termos sociais: h alguma classe de privilegiados para o anncio Paulino? Um trao que percorre toda a actividade missionria de Paulo a universalidade, trao que o separa do judasmo do tempo, todo ele fechado sobre si mesmo, preocupado e centrado na sua sobrevivncia. Paulo, pelo contrrio, busca uma abrangncia universalista que no conhece fronteiras de raa (judeu ou grego) nem de condio social (escravo ou homem livre) nem espiritual (justo ou pecador, reconciliado ou separado). Facilmente percebemos que o mundo fsico e geogrfico de Paulo no tem fronteiras, nem ele se deixou intimidar pelas distncias. Ora, tambm verdade que essa universalidade no contempla apenas as distncias; ela est presente no auditrio de Paulo: ele dirige-se a um universo de gentes e de condies muito alargado.

    O que motivou esta abrangncia?Podemos contrapor a atitude de Paulo quela que ser a atitude do

    Judasmo quando, nos anos que se sucederam grande calamidade da destruio do Templo, optou por se fechar em si mesmo, tornando-se numa espcie de religio pessoal, e fazendo do escrito da Lei (da Torah) o centro da sua identidade. Neste aspecto, podemos dizer que Paulo como que anteviu o que poderia vir a suceder aos cristos se estes, tal como fizeram os Judeus, tivessem limitado a expresso da vivncia da sua f ao territrio

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  • da Palestina. Independentemente das razes que esto na origem da intuio Paulina de alargar o seu ministrio s paragens do Imprio, razes essas que ns dificilmente poderemos conhecer em toda a sua extenso, pensamos que a condio de Paulo, como cidado romano, poder ter contribudo, juntamente com a de outros companheiros seus, para esse universalismo sem fronteiras como foi o seu.

    Senn Vidal, na sua obra El proyecto mesinico de Pablo2, classifica a misso de Paulo como uma espcie de marcha triunfal, em que Paulo, acreditando no regresso escatolgico iminente do Senhor, parte a anunciar Cristo como o Messias, procurando com isso congregar as comunidades judaicas dispersas pelo Imprio, tornando-se assim apstolo desta causa messinica. Para este Autor, tomando os textos da 1Tessalonicenses (1,9; 2,1-2), o 1 escrito de Paulo (datado pelo ano 50), onde esta intuio est muito viva, depois confirmada tambm pelo texto de 2 Cor 2,14-16, Paulo sente que a sua misso uma caminhada messinica, de que ele foi feito porta-voz, precedendo assim a chegada do Messias soberano que Cristo. Paulo, no seu anncio, recorre abundantemente a um vocabulrio de cariz messinico que se contrape com aquele que tambm era usado na propaganda do Imprio, embora, no caso de Paulo, os termos usados tenham um contedo especfico que nada tem a ver com a substncias dos anncios proclamados pelos arautos do Imprio. Dentre esses termos podemos destacar:

    .evangelio (anncio feliz, boa notcia);

    .pistis (f, em contraste com a fidelidade imperial)

    .reino ( ; o reino imperial);

    .parusia (manifestao, apario), etc.

    So alguns dos vocbulos a que Paulo muito recorre nos seus anncios, para alm dum certo clmax que ele impe em muitos textos, colocando no centro do seu anncio a manifestao iminente de Cristo (1 Tes 4, 15-17) e completando depois em 5,1-3, que essa vinda ser gloriosa, prxima e surpreendente. Estamos, portanto, perante um cenrio tipicamente messinico e escatolgico, reforando assim esta dimenso messinica do seu projecto.

    Qual o contributo de Paulo no contexto desta estratgia messinica? Como sabemos, a esperana messinica era um dos elementos mais

    vinculativos da identidade judaica e que durante o perodo intertestamentrio, mormente durante o 1 sculo da nossa era, mais contribuiu para reforar essa identidade entre as comunidades dispersas pelo Imprio. Sendo um elemento fundamental dessa identidade, o messianismo era algo tipicamente judeu que no era nem podia ser partilhado com outros grupos nem com outros povos. Ora, Paulo, superado

    2 S. VIDAL, El Proyecto mesinico de Pablo, Sgume, Salamanca, 2005, 133s.

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  • esse nacionalismo, procura congregar volta do Messias Jesus todos os povos, Judeus ou Gregos, escravos ou homens livres, conferindo-lhe assim uma universalidade que era incomportvel para o judasmo. Unir gregos e judeus em Cristo Jesus era assim criar uma universalidade nova que nem o judasmo nem a fora do Imprio eram capazes de fazer. Paulo sabe isso bem e, por isso, a sua estratgia de misso era exactamente essa. Para tanto, procura chegar aos centros urbanos mais representativos da cultura grega onde existiam tambm comunidades judaicas muito fortes, mormente viradas para o comrcio. Esta preocupao est bem documentada na ateno e no tempo que Paulo dispensa a algumas dessas Comunidades: Antioquia (na 1 viagem); Corinto (Macednia, na 2 viagem) e feso (na 3 viagem). Trata-se de cidades e comunidades que tm, para alm da presena de Judeus e de uma grande diversidade cultural, uma posio estratgica muito importante no conjunto das regies em que se inserem.

    2.1 Centros de irradiao da evangelizao de Paulo: O 1 Centro de irradiao Antioquia, a 3 cidade do imprio de

    ento, situada junto s Portas da Sria; a posio estratgica que ocupava fazia dela uma passagem obrigatria. A plancie onde est localizada, em contraforte com as montanhas do Taurus, mais a Norte, permitia que as caravanas comerciais ali se cruzassem, vindas do interior da Anatlia, das bandas costeiras de Tarso e do interior da Sria. Alm disso, o mar estava ali mesmo ao alcance, fazendo dela como que um porto de comrcio para os produtos da regio, um dos celeiros de trigo da antiguidade.

    Aps a vitria de Augusto na batalha de Actium (em 31 a.C.), o Mediterrneo Oriental tornou-se um espao pacfico, onde era fcil navegar e cruzar as duas margens, a da sia Menor a Oriente, e a da Grcia, a Ocidente. o que Paulo faz, razo pela qual a decorre uma parte significativa do seu apostolado, de um e de outro lado, fazendo chegar a

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  • mensagem crist a um conjunto de notveis cidades na regio. Querendo rivalizar com Alexandria, os reis Selucidas tinham atrado para Antioquia uma numerosa comunidade judaica que, segundo Flvio Josefo, denotava um grande dinamismo e um forte proselitismo religioso e nacionalista. Foi tambm concedido aos Judeus gozar do direito de cidadania, tal como os Gregos. Flvio Josefo (Guerra Judaica VII, 4-45) diz-nos que os Judeus atraram ao seu culto um grande nmero de Gregos que a partir de ento fizeram parte da sua comunidade3.

    Um elemento interessante que nos ajuda a compreender a importncia desta cidade como 1 centro da actividade da Comunidade crist fora da Palestina e tambm como ncleo difusor do cristianismo o facto de o prprio Herodes, o Grande, ter financiado sumptuosos trabalhos em Antioquia, tendo em conta a Comunidade judaica a presente. Flvio Josefo descreve assim os benefcios concedidos pelo monarca: aos habitantes de Antioquia, a principal cidade da Sria, atravessada em todo o seu comprimento por uma larga avenida, ofereceu prticos que a ornamentavam de ambos os lados e pavimentou a parte descoberta da via com pedras polidas, contribuindo assim para a beleza da cidade e a comodidade dos seus habitantes4. A grandeza e beleza de Antioquia ainda no sc. IV era elogiada pelo retrico Libnio5 que nos deixa da cidade uma imagem de grande encanto e comodidade. Vejamos:

    Em todos os ornamentos de uma cidade, os lugares de convvio so o que h de mais aprazvel e, acrescentaria, de mais til agradabilssimo concretizar um bom desejo, ouvir mencionar outro ainda melhor, dar um conselho, proporcionar aos amigos, na sua boa ou m sorte, uma palavra de alegria ou de compaixo, receber deles, em troca, as mesmas demonstraes de simpatia Quanto no se passa isto ao longo dos prticos e frente s casas, o mau tempo separa as pessoas; em teoria, habitam na mesma cidade, mas de facto passa a haver entre elas as mesmas divises que entre habitantes de cidades diferentes que, semelhana dos prisioneiros, ficam retidos em casa por causa da chuva, do gelo, da neve, do vento. Entre ns, no assim A chuva s incomoda os telhados; passamos com inteiro -vontade abrigados pelos tectos e sentamo-nos quando queremos faz-lo Para os outros, na medida em que esto separados, a vida social desfaz-se. Entre ns, o contacto incessante faz florescer a amizade e, quanto mais declina em outros lados, mais aumenta aqui.

    Partindo destes dados, e tomando o texto de Act 11, 25-26, facilmente podemos antever o ministrio de Paulo (e de outros companheiros), 3 Cf. E. COTHENET, S. Paulo no seu tempo, Cadernos Bblicos 13, DB, Lisboa, 1983, 34. 4 FLVIO JOSEFO, Antiguidades Judaicas, XVI, 6 (ed. Complete Works, 344). 5 Trata-se de um dos retricos mais famosos de Antioquia (do sc. IV), que tinha relaes de amizade com a Comunidade judaica e que nos refere diversos acontecimentos dessa altura. So particularmente notveis as suas Epstolas (cf. M. STERN, Greek and Latin Authors on Jews and Judaism. Volume II: From Tacitus to Simplicius, Jerusalem 1980, 580-599.

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  • aproveitando as circunstncias favorveis que existiam na cidade para anunciarem Jesus Cristo, congregando assim, maneira das goras de Atenas ou de Corinto, os habitantes locais para lhes propor a nova f. Antioquia tornou-se assim um centro de evangelizao que marca a 1 etapa do ministrio de Paulo.

    Em relao presena de Paulo na Macednia (centro do anncio na 2 viagem missionria), trata-se do 1 anncio do Evangelho em terras europeias em resposta viso de Paulo em sonhos (Act 16,9-10). Filipos era uma Colnia romana de veteranos de guerra, e como tal gozava de inmeros benefcios, com uma forte autonomia de que os seus habitantes se orgulhavam. Paulo soube valorizar esse estatuto, uma vez que a sua cidadania romana lhe permitiu contornar a acusao de proselitismo judaico em Filipos, e que estava proibido pelos decretos imperiais (Act 16,35-40). A comunidade judaica no podia a ter Sinagoga, no lhe restando algo mais do que um modesto local de orao, junto de uma

    nascente de gua, local onde Paulo vir a baptizar Ldia, a rica negociante de prpura que lhe dispensar uma grande hospitalidade. O sucesso encontrado em Filipos, no que tenha sido numeroso, mas em termos de apoio, motivou Paulo para continuar a evangelizao da Macednia (Tessalnica) e, em seguida, em Corinto e Atenas, apesar a oposio dos Judeus na regio.

    Certamente, h em Paulo uma vontade muito forte de levar a f crist ao corao da cultura grega, a cidade da deusa Athina, senhora da sabedoria, da guerra e beleza. O tema da sabedoria que est no centro do discurso no Arepago, no apenas uma questo que diga respeito aos retricos ou aos homens da cultura de Atenas; uma questo que diz respeito aos prprios deuses, patronos da cidade. Da que o anncio principal de Paulo

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  • proclamado em Atenas tenha sido o do abandono dos dolos, ao mesmo tempo que afirma que a cultura uma forma de aproximao condio divina, algo que era apangio da sabedoria grega.

    No que diz respeito 3 viagem, o centro agora desloca-se para a sia Menor, mais concretamente em feso, onde Paulo se demorou por um longo perodo de cerca de 3 anos (Act 19; 1 Cor 15,32). Em feso, Paulo encontrou aquilo que poderamos chamar de um verdadeiro palco ou centro de irradiao do seu apostolado. A cidade constitua uma sntese de toda a sia Menor, de tal forma que, em diversas passagens, tanto dos Actos como das Cartas, a palavra sia designa exactamente feso. A, o Apstolo comea por encontrar-se com uma comunidade judia e com uma proto-comunidade crist, ainda fundada pelos discpulos de Joo Baptista

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  • que teriam imigrado da Palestina e tambm por helenistas que no conheciam a existncia do Esprito Santo (Act 19,1-6). Na poca, feso era j uma grande cidade, a capital da Provncia Romana da sia, situada no eixo que ligava o Eufrates sia Menor e que do litoral conduzia para o interior da Anatlia. Para alm da importncia cultural (Escolas, Biblioteca, teatro), feso era a capital dos cultos de Artemisa e local de peregrinao, onde acorriam multides, vindas das regies prximas. Os santurios da deusa os Artemisions eram no s locais de culto muito procurados, em virtude dos ritos de prostituio sagrada, mas beneficiavam tambm do direito de asilo que o imperador Augusto confirmara. A prpria comunidade judaica da cidade, nem sempre em fcil relao com os efsios, estava tambm envolvida nestes rituais que eram ao mesmo tempo manifestaes religiosas, formas de comrcio e de negcio e rituais de cura e adivinhao (magia). Por isso, Paulo encontrou aqui um ambiente muito complexo, onde no foi fcil anunciar o Evangelho.

    A partir de feso, juntamente com uma equipa de companheiros, Paulo organiza uma autntica rede de evangelizao nas cidades vizinhas, como sejam Colossos, Mileto, Hierpolis, Laodiceia. A actividade missionria suscita, imediatamente, uma forte reaco na regio por parte dos profissionais que fabricavam os objectos que diziam respeito aos cultos que se praticavam na cidade e que, em virtude da pregao de Paulo contra a idolatria, viam os seus proveitos ameaados. So os chamados colgios, uma estrutura social comunitria de tipo religioso ou profissional que, protegidos pelas divindades da cidade, exerciam uma grande presso social. Paulo e seus companheiros vo conhecer momentos difceis na cidade e ser objecto da ira popular, motivada pelos grupos que viam em perigo os seus proveitos, chegando mesmo a colocar em risco a sua vida. De feso, Paulo

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  • escreve s Igrejas uma parte das suas Cartas (a 1 aos Corntios; aos Glatas e talvez tambm aos Filipenses). Toda esta actividade aqui exercida certamente uma das causas das perseguies que lhe so movidas.

    Depois de feso, Paulo dirige-se a Mileto para da se despedir da sia e regressar Palestina. Os Actos dos Apstolos guardam um dos textos mais bonitos e comoventes sobre a memria de Paulo, onde narrada a despedida dos Presbteros da Igreja de feso (20, 17-38). A Igreja de feso marcar uma pgina gloriosa nas tradies da Igreja dos primeiros sculos e isso deve-se, seguramente, ao servio de Paulo durante a sua estadia na regio.

    Desta forma, podemos concluir que a misso de Paulo se centrou em 3 grande plos, cada um com as suas caractersticas prprias, embora em

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  • todos eles a mensagem de Paulo tenha estado centrada em dois objectivos fundamentais:

    .Anunciar Jesus Cristo, partindo da sua experincia a caminho de Damasco;.Fundar comunidades que fossem elas mesmas centro de irradiao missionria.

    3. Judeus ou gregos? Os tementes a Deus; as mulheres: O dilema acerca da identidade (quem so?) dos destinatrios do

    anncio de Paulo tem-se mantido ao longo dos sculos, sempre numa lgica de contraposio, em geral formulada desta forma: ser que o anncio aos pagos (de cultura grega) consequncia imediata do pouco xito que a evangelizao conheceu entre os Judeus? Ou, pelo contrrio, esse alargar a evangelizao aos pagos fazia parte da estratgia de Paulo j desde a sua experincia vivida na comunidade de Antioquia?

    No fcil dirimir esta questo, at porque diversos textos falam tambm da boa aceitao que a mensagem teve entre os Judeus (Act 13,42-43; 17,4), incluindo proslitos de cultura grega e tambm mulheres, um pblico misto que s podia ser alcanado em cidades da Dispora. Por exemplo, as mulheres, no Judasmo palestinense, no frequentavam a Sinagoga e no desempenhavam qualquer funo activa na dinmica da Comunidade. Agora, a referncia adeso de mulheres nova mensagem, mesmo em contexto de anncio na Sinagoga, um elemento novo que muito vai contribuir para o sucesso do cristianismo, para alm do apoio que dado ao ministrio dos Apstolos e de Paulo. Em muitos casos, os nomes das convertidas no oferece dvidas; elas so gregas. Como chegaram f em Cristo? Frequentavam j a Sinagoga judaica, semelhana dos proslitos (Act 17,4)? Ou ser que todos os convertidos eram apenas proslitos que tinham chegado ao conhecimento de Cristo atravs do judasmo?

    Nas referncias que confere s mulheres no mbito das suas Cartas, Paulo reala mais a condio da nova humanidade messinica que elas adquiriram pelo baptismo do que a diferenciao sexual que perdeu relevncia pelo facto de todos, varo e mulher, terem sido revestidos de Cristo. Senn Vidal diz que as Cartas de Paulo testemunham a primazia na misso e nas comunidades do princpio da tradio baptismal sobre qualquer outra condio, o que permite assim superar a eterna dicotomia, herdada do judasmo, de uma subalternizao do feminino ao masculino.

    No que aos proslitos diz respeito, sabemos que no Imprio, havia sempre muita gente que se movia nas proximidades das Sinagogas judaicas, no propriamente por curiosidade, mas sim pelo facto do monotesmo ser uma interpelao forte no mbito da cultura greco-latina. Alm disso, tambm os ensinamentos ticos do judasmo constituam um ptimo

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  • motivo para que muitos se aproximassem, procurando conhecer mais de perto a identidade judaica e os seus comportamentos sociais. Estes tementes a Deus participavam inclusive em encontros nas Sinagogas, embora nem todos aderissem de alma e corao, convertendo-se ao judasmo como tal, j que isso implicava ritos a que nem todos desejavam submeter-se, mormente a circunciso. Por duas vezes, em Antioquia da Pisdia, conforme o texto dos Actos (13,16.26), Paulo dirige-se a estes tementes a Deus. Paulo anuncia-lhes uma boa nova que o judasmo no lhes podia comunicar: eles podem aderir ao povo de Deus, do Deus nico, sem estarem sujeitos aos preceitos judaicos, mormente aos ritos de converso. Por isso, como refere os Actos (13,48), os gentios encheram-se de alegria, suscitando imediata reaco dos Judeus (Act 13,45), ciosos dos seus estatutos e privilgios. A ira suscitada por esta situao abate-se ento contra Paulo, j que ele anuncia, aos olhos dos observantes judeus, um procedimento facilitista, roubando-lhes toda essa gente que acabava por dar suporte s prprias comunidades judaicas. Paulo precisa de ir Sinagoga, expor a a mensagem, pois era l que podia interpelar esses tementes a Deus, embora isso lhe acarretasse custos humanos muito elevados.

    Portanto, olhando para esta questo a partir do judasmo do tempo, podemos dizer que existiam duas classes de proslitos que se diferenciavam pelo compromisso na sua adeso f. Assim, temos um grupo, classificado de tementes a Deus que se ficavam pelo reconhecimento do Deus nico, comprometiam-se a seguir as normas da Lei (Torah), mas no entravam plenamente no povo eleito, nem cumpriam qualquer rito formal de entrada, como seja a circunciso. Alis, este mesmo conceito de tementes a Deus aplicado, em Act 10,1, ao Centurio Cornlio que em Cesareia comandava a Coorte Itlica, sendo portanto algum que nada tinha a ver com o judasmo. Pode tratar-se, neste caso, da aplicao de um conceito posterior a algum que manifestava sentimentos humanos compatveis com a f crist e que se mostra receptivo mensagem do Evangelho.

    Por outro lado, temos os proslitos propriamente ditos (tambm chamados proslitos da justia que pertenciam plenamente ao povo de Deus, apesar de no gozarem da totalidade dos direitos dos descendentes de Abrao. A adeso destes gentios f crist sem lhes serem apresentadas exigncias semelhantes quelas que eram feitas no Judasmo, constitui no apenas uma novidade assinalvel, conseguida aps um duro combate conduzido por Paulo e seus colaboradores, mas podemos classific-la tambm, teologicamente falando, como uma espcie de nova criao (kain ktisis) a que Paulo alude em diversos textos: Gal 6,15 (contrapondo a nova criao circunciso); 2 Cor 5,17.

    Quanto s diferenas sociais que Paulo tambm refere diversas vezes (por exemplo: escravos e homens livres), mas que agora em Cristo so

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  • superadas, Senn Vidal, na obra a que j aludimos anteriormente, diz que no projecto de Paulo no se nega a sua existncia, mas apenas que essa diferena social se torna irrelevante no projecto messinico que ele anuncia, pois agora a relao social (de escravo ou de homem livre) no tem como referencial qualquer soberano temporal (poltico ou senhorio), mas sim o Messias, Jesus Cristo (1 Cor 7,21-23).

    Concluso: Conhecer o mundo de Paulo e o contexto das Comunidades algo

    fundamental para compreender os seus Escritos (Cartas) e, mais ainda, para podermos alcanar o verdadeiro significado da sua doutrina. Esta, a doutrina, tem muito a ver com a situao das Comunidades por ele fundadas, j que estas viam-se, dia a dia, confrontadas com o mundo hostil onde estavam inseridas.

    Lisboa, 24.10.08Joo Loureno

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