Cartilha Jardins Agroflorestais

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  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    JardinsAgro orestais

    CURSODE

    CAPACITAO

    Princpios, Implantao e Manejo

    GUIA PRTICO

    Braslia DF | 2014

    Realizao Patrocnio

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    com grande prazer que o IPOEMA recebeseus alunos para mais um curso.

    Esperamos que seja para todos um momentode intenso aprendizado, de momentosprazerosos e de descobertas entusiasmantespara um mundo melhor.

    Sejaresponsvel pe lasuaprpria

    existncia.

    JardinsAgroorestaisPrincpios, Implantao e Manejo

    GUIA PRTICO

    Realizao Patrocnio

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    IPOEMA Instituto de Permacultura: Organizao, Ecovilas e Meio Ambiente

    www.ipoema.org.br

    [email protected]

    Pesquisa e texto Eduardo J. P. Lyra [email protected]

    Colaboradores Srgio Pamplona [email protected]

    Cludio Jacintho [email protected]

    Luiza Padoa [email protected]

    Fernanda Rachid [email protected]

    Capa e projeto grco Wagner Soares [email protected]

    Fotos Centro de Permacultura Asa Branca, So Semente,Daniel Lavenere, Luiza Padoa, Wagner Soares, www.freeimages.com

    Ilustraes Luiza Padoa, Darci Seles

    Ficha Catalogrca

    ROCHA, E. J. P. L.Jardins Agroorestais: Princpios, Implantao e Manejo. IPOEMA Instuto de Permacultura:Organizao, Ecovilas e Meio Ambiente. (2014). Braslia

    1. Educao. Ecologia. Permacultura. Agrooresta. IPOEMA Instuto de Permacultura.

    O contedo desta carlha de inteira responsabilidade do IPOEMA. permida a cpia, reproduo e distribuiodessa, desde que seja citada a fonte.

    APRESENTAO, 7Educao para a sustentabilidade, 8Jovens Empreendedores, 9

    IPOEMA, 11

    O QUE PERMACULTURA?, 13

    CURSOS DE CAPACITAO, 19Curso Jardins Agroflorestais, 20Ementa do curso,20

    Programao, 21

    DE ONDE VEM SUA COMIDA?, 23Porque podemos afirmar que estamos vivendo

    uma crise socioambiental na produo dealimentos?,23Porque chegamos a esta crise?, 23Qual o papel do ser humano na natureza?, 24Permacultura, 25

    POSSVEL PRODUZIR ALIMENTOS DE FORMAECOLGICA?, 27Agroecologia, 27

    Sistemas Agroflorestais, 29Histrico, 30

    Agroecologia, 30Agroflorestas, 31

    Agroflorestas Sucessionais, 32Princpios, 33

    Alta diversidade, 33Sucesso natural, 35

    Estgios, 37Evoluo das Espcies, 40Estratos, 41Lista de espcies Agroflorestais, 43Aprofundando conhecimentos, 44

    Sementes, 44Classificao, 44

    Coleta, 46Beneficiamento, 46

    Armazenamento, 46

    Sementes Do Cerrado, 47Cosmologia, 48Plantio, 48

    Manejo, 49Signos Do Zodaco, 49

    COMO FAZER UM SISTEMA AGROFLORESTAL?, 51Observando a natureza, 51

    Conhecendo o cerrado, 52Planejamento, 54

    Quais so os nossos objetivos?, 54Onde implantar uma agroflroesta e qual o

    tamanho da rea para iniciar o trabalho?, 54Quais espcies escolher?, 55

    As Trs Irms, 56Insumos necessrios: plantas e adubos, 57Preparo dos canteiros para o plantio, 58

    Plantio agroflorestal, 60Manejo, 65

    Capina seletiva, 65Otimizando a sucesso natural por meio das

    podas, 65Cobertura do solo, 66Manejo de borda, 67

    QUAIS OS BENEFCIOS DO SISTEMAAGROFLORESTAL?, 69

    Vantagens sociais, 69VAntagens ambientais, 70

    Vantagens socioeconmicas, 71

    E AGORA, O QUE EU POSSO FAZER NO MEU DIA-A-DIA?, 73

    O CERRADO, 75Naturalmente rico, 76Ocupao, 76

    Riscos, 77

    GLOSSRIO, 79

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA, 81

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    Apresentao

    Para recuperar essas reas e fomentar

    o uso sustentvel da gua, o Ipoema est

    desenvolvendo o Projeto guas do Cerrado

    O Futuro em Nossas Mos, patrocinado

    pela Petrobras. O trabalho envolve aes de

    revegetao de reas degradadas associadas

    a cursos d`gua e a promoo do uso racional

    dos recursos hdricos em escolas pblicas

    e comunidades rurais, implementando,

    replicando e difundindo tecnologias sociais de

    permacultura.

    A ideia consolidar a conscincia ambiental,

    estimulando o protagonismo de jovens e

    gerando oportunidades de trabalho e renda

    com servios socioambientais. Com isso,

    formam-se redes de relacionamento e trabalho

    que promovem um modelo de governana

    social e de preservao dos recursos hdricos

    do Cerrado. Ao mesmo tempo, amplia-se a

    capacidade de debate sobre as polticas pblicas

    ligadas s tecnologias sociais de melhorias na

    gesto social do uso da gua na regio.

    A ideia consolidar aconscinciaambiental,estimulando oprotagonismo dejovens e gerandooportunidades detrabalho e rendacom serviossocioambientais."

    As duas principais fontes de gua para a populao do DistritoFederal, as bacias do Lago Parano e do Rio So Bartolomeu,esto ameaadas pelo acelerado processo de urbanizao e peladegradao dos crregos que alimentam seus reservatrios.

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    EDUCAO PARA A SUSTENTABILIDADE

    O Projeto guas do Cerrado planejou

    diversas atividades que sero oferecidas

    para as escolas pblicas selecionadas.

    O programa dividido em uma srie de

    etapas que incluem envolvimento da

    comunidade, eventos, capacitaes e

    construo de tecnologias sociais para

    a sustentabilidade. Conhea, agora, o

    programa completo do projeto:

    Aulas de sensibilizao ao ar livre

    A Estao Escola Asa Branca ir receberos estudantes para proporcionar vivncias

    com o uso de tecnologias simples para

    produo de alimentos e construo de

    habitaes para famlias, tudo com custo

    e impacto ambiental baixos.

    Encontro guas do Cerrado

    Um encontro acontecer em cada uma

    das escolas, buscando a participao

    de toda a comunidade escolar. Nesses

    eventos, o projeto ser apresentado e a

    comunidade convidada a integrar um

    grupo local para a definio dos critrios

    de seleo de alunos que iro atuar

    como empreendedores socioambientais.Esse grupo local tambm eleger os

    parmetros de escolha dos futuros

    bolsistas no projeto.

    Cursos de capacitaoUma vez despertado o interesse, as

    comunidades recebero as informaes

    tericas e prticas para implementao

    das solues conhecidas e vivenciadas,

    por meio de trs cursos especficos:

    Introduo Permacultura (40h);

    Jardins Agroflorestais (24h);

    Manejo Sustentvel de gua (24h).

    Tecnologias sociais

    Durante os cursos de capacitao,

    o Ipoema equipar as escolas com as

    seguintes instalaes:

    Tecnologia Social gua Sustentvel:

    Gesto Domstica de Recursos Hdricos

    com os elementos:

    Sistema de captao de gua dachuva;

    Tanque de 50.000 L para

    armazenamento da gua coletada; e

    Sistema de ecossaneamento

    (Tratamento Ecolgico de Esgoto)

    por meio da implantao de bacia

    vapotranspiradora para 300 L/dia.

    Viveiro de 60 m para produo de

    aproximadamente 4.000 mudas de

    nativas e frutferas que sero

    utilizadas para a implantao dopaisagismo produtivo e do plantio de

    rvores na escola, bem como aes de

    reflorestamento comunitrio;

    Jardim agroflorestal de

    aproximadamente 100 m;

    Minhocrio educativo para aproveitamento

    dos resduos orgnicos de 4 m.

    JOVENS EMPREENDEDORES

    O grupo de empreendedores

    socioambientais contemplar 30 alunos

    que recebero os cursos de:

    Empreendedorismo Socioambiental;

    Viveirismo.

    Esse grupo ainda passar por um processo

    de seleo, resultando num total de 10

    alunos que sero efetivamente contratados

    pelo Projeto como estagirios bolsistas.

    Saiba mais:

    www.ipoema.org.br/aguas

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    IPOEMA

    Essa prtica envolve o planejamento

    de ambientes sustentveis,

    bioconstrues, uso racional da

    gua, energias renovveis, sistemas

    agroflorestais, produo alimentar

    ecolgica e organizao social

    participativa.

    Em 2011, uma de suas tecnologias

    sociais, a experincia gua Sustentvel:

    Gesto Domstica de Recursos

    Hdricos, foi certificada e premiada pela

    Fundao Banco do Brasil como uma

    das trs finalistas na categoria Gesto

    de Recursos Hdricos no Prmio de

    Tecnologias Sociais desta Fundao.

    Com o Projeto guas do Cerrado:

    O FUTURO EM NOSSAS MOS, que

    ter durao de dois anos, o Ipoema

    pretende seguir cumprindo sua misso

    de construir uma sociedade melhor, com

    mais justia social e equilbrio ambiental,

    em prol das geraes futuras.

    O Ipoema, Instituto de Permacultura, fundado em2005 com sede em Braslia, tem como misso ampliar aparticipao da sociedade civil na construo do modelode sustentabilidade proposto pela Permacultura.

    Saiba mais:

    www.ipoema.org.br

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    HISTRICO

    O termo foi criado em 1978 pelo

    naturalista Bill Mollison, a partir do

    trabalho desenvolvido por ele e o

    estudante David Holmgren paralelamente

    a um curso pioneiro de Design Ecolgico

    na Tasmnia, Austrlia.

    Tratava-se inicialmente da contrao em

    ingls de permanent com agriculture,

    ou seja, agricultura permanente. Os

    dois visionrios enxergaram, h mais

    de 30 anos, que sem uma base agrcola

    permanente, no seria possvel haver

    uma sociedade permanente (hoje

    diramos sustentvel). difcil dizer queeles estavam errados, diante do cenrio

    atual de destruio da biocapacidade do

    planeta para nos sustentar.

    Por essa base agrcola permanente,

    eles se referiam a um modo de produzir

    alimentos (alm de fibras, materiais

    de construo e combustvel) que no

    fosse destruidor e impactante dos

    ecossistemas, mas sim harmnico com eles.

    OQUEPERMACULTURA?

    ... sem uma base agrcola

    permanente, no seriapossvel haver umasociedade sustentvel. difcil dizer que elesestavam errados,diante do cenrioatual de destruio dabiocapacidade do planetapara nos sustentar."

    Srgio Pamplona

    Ns nos propomos, neste espao, a tentar esclarecer um poucodo significado de Permacultura, adiantando que algo fascinante

    e que costuma mudar vises de mundo e vidas. Vamos l.

    Argo publicado na Revista ECObraslia,

    Braslia, Ano 1 N1, julho/agosto 2013

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 15

    Seria, portanto, um modo de suprir as

    necessidades humanas locais por meio de

    um planejamento integrador dos humanos

    paisagem. Essa proposta pioneira surgiu

    (junto com o termo) no livro seminal

    chamado Permacultura Um, que

    chegou a ser publicado no Brasil pela

    Editora Ground.

    O sucesso foi imediato, e logo

    apareceram simpatizantes e ativistas

    para botar aquelas ideias em prtica. Da

    Austrlia para o mundo no demoroumuito e os permacultores se multiplicaram

    rapidamente planeta afora, aplicando,

    semeando e disseminando a novidade

    que trazia paradoxalmente um profundorespeito pelas vises de mundo, sabedoria

    e tcnicas ancestrais e locais.

    S que nem s de po vive o homem,

    e assim o conceito de permacultura logo

    evoluiu para se referir grande mudana

    cultural e civilizacional que o ser humano

    deve empreender se quiser permanecer

    sobre a espaonave Terra, ou, de modo

    mais potico, sobre Gaia, o planeta vivo

    do qual fazemos parte.

    DEFINIESO termo passou a significar literalmente

    a Cultura Permanente que devemos

    efetivamente construir. Mas tambm

    significa uma srie de coisas, todas

    entrelaadas entre si e apontando para a

    construo dessa nova cultura. Vamos a elas:

    uma filosofia, uma tica e uma prtica

    voltadas para a criao de abundncia e

    qualidade de vida sem dano ambiental

    nem explorao social. Aqui enfocamos

    os valores da permacultura, aquilo em

    que ela (e todos os que buscam inseri-la

    em suas vidas) se ancora para construir

    a Cultura Permanente.

    um sistema de planejamento, projeto

    e design de propriedades (rurais ou

    urbanas) e de comunidades ( bairros,

    vilas, cidades) sustentveis e produtivas.

    Essa a sua definio na tica do

    planejamento que ela prope para dar

    base material Cultura Permanente. aqui que ela estabelece as estratgias

    e caminhos para implantar os sistemas

    agrcolas saudveis integrados s

    moradias e produo de energia das

    comunidades, a fim de garantir sua

    sustentabilidade tempo afora. Aqui nos

    defrontamos com o fato assustador de

    que at hoje, nesse ponto da jornada

    humana, no tnhamos um manual

    de instrues para a sobrevivncia

    da nossa raa. A permacultura veio

    preencher essa lacuna, esperamos que

    em tempo.

    o pensamento sistmico e holstico

    que somos levados a desenvolver

    para a implantao e readaptaodos nossos sistemas (residncias,

    propriedades, cidades, biorregies)

    na direo da Cultura Permanente.

    Quando mergulhamos no estudo

    ... e assim o conceitode permacultura logoevoluiu para se referir grande mudana

    cultural e civilizacionalque o ser humanodeve empreender sequiser permanecersobre a espaonaveTerra, ou, de modomais potico, sobreGaia, o planeta vivo doqual fazemos parte."

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    Curso de Capacitao | Jardins Agroforestais 17Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais

    e, principalmente, na prtica dapermacultura, passamos a ter uma

    mudana na percepo das coisas,

    do mundo que nos rodeia e da

    subsequente e necessria ao sobre

    ele. Diz Bill Mollison: Ela traz uma

    mudana do aprendizado passivo para

    algo ativo. como dizer que em vez

    de os fsicos ensinarem fsica, eles

    deveriam ir para casa e ver como a fsicase aplica ao seu lar.

    um conjunto de tcnicas para a

    produo de alimentos orgnicos e

    saudveis, usando a natureza como

    modelo, onde o objetivo criar uma

    ecologia cultivada, dentro da qual o ser

    humano est inserido de modo positivo.

    Muitos acham que a permacultura

    apenas mais uma tcnica de agricultura,

    como a biodinmica ou os sistemas

    agroflorestais. Na verdade, para construir

    a Cultura Permanente, a permacultura

    lana mo do que houver de mais

    apropriado entre todas as correntes de

    produo ecolgica de alimentos, sem

    preconceitos nem dogmas.

    um poderoso movimento de

    empoderamento local, ativismo

    prtico e renovao planetria,

    baseado em respeito, cooperao e

    na sustentabilidade das comunidades

    em geral. Aqui falamos na mobilizao

    que veio a ocorrer a partir do

    seu crescimento avassalador. Os

    permacultores e permacultoras formam

    uma rede sem hierarquias ou donos,

    ... um poderoso

    movimento deempoderamento local,ativismo prtico erenovao planetria,baseado em respeito,cooperao e nasustentabilidade dascomunidades em geral."

    que cresce rapidamente em todos os

    continentes.

    Ou seja, permacultura algo vasto, fcil de

    sentir, fcil de compreender como um todo,

    fcil de identificar com um monte de desejos

    pessoais profundos. Por isso ela encanta e

    envolve tanta gente. Porm, como vimos,

    muito difcil de definir. O prprio Bill

    Mollison diz: voc pode compar-la com

    um guarda-roupa milagroso, no qual voc

    pendura roupas de qualquer cincia ou arte,

    e v que elas esto sempre em harmoniacom as que j estavam penduradas l.

    uma estrutura que nunca para de se

    mover, e aceita informao de qualquer

    lugar. difcil defini-la, eu no consigo. Ela

    multidimensional est inevitavelmente

    envolvida na teoria do caos desde o

    princpio.

    Sendo assim, no seremos ns a botar

    um ponto final nessa definio. Fica aqui

    o convite para o amigo leitor (ou leitora)

    juntar-se a ns no trabalho em prol dessa

    Cultura Permanente, absolutamente

    necessria para a construo do MundoSustentvel que tanto queremos.

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    Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 19

    Curs osdeCapacitao

    Luiza Pdoa

    O guas do Cerrado realizar capacitaes terico-prticas em Introduo Permacultura, ManejoSustentvel da gua e Jardins Agroflorestais.

    A formaodos jovens serconsiderada umaao estruturante,percebida comoum espao deconstruo deconhecimento...

    Apesar da correlao temtica, esses pontos ou conceitos

    foram estruturados para serem aplicados de forma

    independente. O pblico-alvo dos cursos so alunos,

    professores e funcionrios das escolas envolvidas com o

    projeto.

    A formao dos jovens ser considerada uma ao

    estruturante, percebida como um espao de construo

    de conhecimento, quando sero contextualizadas as

    justificativas e estratgias de aplicao de Tecnologias

    Sociais e solues ecoeficientes.

    A principal caracterstica da abordagem a ser dada aos

    contedos ser a possibilidade real de disseminao de

    aes prticas no dia-a-dia do indivduo, como por exemplo:

    Que aes efetivas de reduo de desperdcio de gua

    e energia podem ser adotadas?

    Como gerenciar de forma adequada o lixo produzido? Como produzir alimentos saudveis em casa?

    Argumentos socioambientais e econmicos tambm

    sero utilizados de forma a motivar os indivduos para a

    sua implicao nos processos de mudana esperados.

    Os cursos sero realizados com base na metodologia

    da Aprendizagem Ativa, na qual os estudantes alm

    de receberem a base conceitual e terica do tema em

    questo, imergem na vivncia e convivncia com os

    professores permacultores, que integram aulas tericas

    com prticas monitoradas e atividades ldicas.

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    Curso de Capacitao| Jardins Agro orestais 21Curso de Capacitao| Jardins Agro orestaisCurso de Capacitao| Jardins Agro orestais 21

    O Curso Jardins Agroflorestais traz como eixo norteador a crise socioambiental

    na agricultura e a relao do ser humano com a natureza a partir da tica da

    permacultura. Para tanto, faz um paralelo entre a agricultura convencional e a

    agroecologia apresentando as vantagens e desvantagens socioambientais de ambas

    as prticas. Ou seja, neste curso, os estudantes sero capazes de refletir sobre o

    contexto e a realidade atual da produo, distribuio e consumo dos alimentos,

    conhecer e aplicar uma tcnica permacultural e buscar solues ecoeficientes para

    incorporarem em suas prticas dirias.

    PROGRAMAOCurso "Jardins Agroflorestais"

    Problematizao da agricultura convencional e Agroecologia;

    Permacultura e a relao homem natureza;

    Princpios de sistemas naturais;

    Sucesso natural;

    Agroflorestas sucessionais;

    Canteiros agroflorestais;

    Plantio;

    Preparo do Solo;

    Sementes.

    EMENTA DO CURSO

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    Curso de Capacitao | Jardins Agroforestais 23Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 23

    Deondevemsuacomi da?

    A degradao ambiental temuma relao direta com ocrescimento populacionaldesenfreado, com os modosde produo poluentes,o consumismo... "

    Nunca na histria da humanidade houve tanto poderdestrutivo, frente ao meio ambiente, como atualmente.

    A degradao ambiental tem uma relao

    direta com o crescimento populacional

    desenfreado, com os modos de produo

    poluentes, o consumismo, bem como com

    o uso e explorao dos recursos naturais.

    Esse comportamento levou a humanidade

    a viver o que atualmente denominado de

    crise socioambiental. E a origem do nosso

    alimento est intimamente ligado com

    essa crise.

    Porque podemos afirmar queestamos vivendo uma crisesocioambiental na produo dealimentos?

    Vrios sintomas da nossa sociedade

    nos permitem dizer que estamos vivendo

    uma crise na produo de alimentos:

    a baixa qualidade nutricional; o uso

    indiscriminado de produtos qumicos;

    o esgotamento dos solos; a pouca

    diversidade de alimentos (incluindo

    variedades de uma mesma espcie); a

    contaminao da gua, entre outros que

    voc mesmo pode listar ao conversar com

    seus colegas de curso.

    Porque chegamos a esta crise?

    Um conjunto de fatores esto na origem

    desta crise socioambiental global na produo

    de alimentos. Dentre eles, podemos destacar

    a revoluo industrial e a revoluo verde que

    buscaram o aumento da produo com vistas

    ao lucro financeiro por meio da mecanizao,

    uniformizao da produo em larga escala,

    utilizao de compostos qumicos e da

    centralizao da produo em poucas e

    gigantes empresas, objetivando abastecer

    a indstria com produtos primrios e no

    exatamente para a alimentao nutritiva da

    civilizao humana.

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    Curso de Capacitao| Jardins Agro orestaisCurso de Capacitao| Jardins Agro orestais

    Qual o papel do ser humano na relao com a natureza?Um exemplo prtico dessa relao a

    nossa alimentao. Voc sabe de ondevem a sua comida? Se a resposta for sim,

    timo! Porm, dificilmente sabemos

    responder essa questo, por conta da

    complexidade de fatores que envolve a

    produo alimentar das ltimas dcadas.

    A chamada Revoluo Verde, ocorrida

    a partir da dcada de 60, aps a Segunda

    Guerra Mundial, alavancou uma nova

    forma de produo de alimentos,

    sobretudo nos pases em desenvolvimento

    que at ento era realizada em pequena

    escala. Deu-se incio, portanto, a uma

    produo em larga escala com uso abusivo

    de agrotxicos, intensa mecanizao e

    dependncia de insumos qumicos, aliados

    aos melhoramentos genticos

    das espcies.

    Atualmente, a base de produo da nossa

    alimentao resultado de processos demonocultivos, ou seja, a produo em larga

    escala de apenas um tipo de alimento.

    Esse tipo de produo o que chamamos

    de agricultura convencional, aquela que

    objetiva a maximizao da produo e do

    lucro.

    As consequncias desse tipo de produo

    devastadora, causando a destruio dos

    recursos naturais, ocupao inapropriada

    dos espaos, baixa fertilidade dos solos,

    uso de agrotxicos e proliferao de

    pragas.

    Hoje, a comida que dispomos para o

    consumo , muitas vezes, produzida em

    diversos locais do mundo. Ou seja, os

    alimentos circulam entre continentes

    muitas vezes em curto espao de tempo,

    aumentando os custos, causando mais

    impacto ambiental e comprometendo a

    sua qualidade.

    Alm disso, com esse tipo de produo

    e distribuio, a populao dos pases

    em desenvolvimento e pobres sofrem

    com a fome. Inacreditavelmente, apesar

    da quantidade de alimentos produzidos,

    muitas pessoas no mundo morrem

    de fome, pois a distribuio no

    igualitria e h muito desperdcio.Outro grave problema a qualidade dos

    alimentos que ingerimos. sabido que o

    uso cada vez mais intenso de agrotxicos e

    de alimentos modificados geneticamente,

    os transgnicos, podem vir a afetar

    diretamente a sade da populao.

    PermaculturaMediante a situao do planeta, fica

    evidente a necessidade de novas prticas

    de uso da terra e uma relao mais

    harmnica do homem com a natureza. E a

    permacultura se prope a fazer isso!

    Da juno das palavras PERMANENTE

    + CULTURA, surgiu o nome dessanova cincia. Cultura se refere s

    relaes sociais e do homem com o

    meio e Permanente se refere algo

    que no temporrio, de forma que

    possamos habitar um mesmo espao

    ao longo de vrias geraes. Nesse

    sentido, trs princpios regem a tica na

    permacultura: o cuidado com a terra, o

    cuidado com as pessoas e o cuidado na

    distribuio dos recursos.

    Atravs de uma nova forma de se

    relacionar com a natureza, o homem pode

    exercer uma atividade benfica para o

    planeta, assim como pode se beneficiar ele

    prprio de sua atividade sem ter que deixar

    o local onde mora e comear de novo.

    Em termos de agricultura, a tecnologia dos

    Sistemas Agroflorestais permite posicionar o

    ser humano em uma relao completamente

    nova com a natureza, assumindo o papel

    de semeador, plantador e intensificador de

    processos naturais geradores de vida.Ao invs de se perguntar o quanto o ser

    humano pode retirar da natureza para

    atender suas necessidades, a pergunta

    passa a ser o quanto ele poder colaborar

    com ela para produzir mais abundncia

    e vida. Ao colocar-se como um elemento

    inserido na teia da vida, torna-se lgico

    beneficiar no apenas os seres humanos

    mas tambm pssaros, macacos, minhocas,

    insetos e todas formas de vida. Assim,

    samos da lgica da escassez para a lgica da

    abundncia.

    Em vez de se perguntar oquanto o ser humano poderetirar da natureza [...]a pergunta passa a ser oquanto ele poder colaborarcom ela para produzir maisabundncia e vida.

    25

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    deformaecolgica?

    Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 27Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 27

    possvel prod uzirali mentos

    Ao trabalhar com altadiversidade de espcies,pode-se garantir a soberaniaalimentar e promovem oflorescimento da culturapopular e das tradiescomunitrias."

    Dentro da tica da permacultura, os sistemas agroflorestaissurgem como uma tcnica excelente para a produo dealimentos de forma sustentvel nos trpicos.

    Essa forma de produo alimentar

    confere poder s pessoas, ao trabalhar

    com sistemas de produo local, menos

    mecanizados, diversos e autnomos, que

    no dependem de insumos qumicos e

    txicos para a produo. Ao trabalhar com

    a alta diversidade de espcies, pode-se

    garantir a soberania alimentar e promover

    o florescimento da cultura popular e das

    tradies comunitrias.

    AGROECOLOGIA

    AGRO= Campo +ECOLOGIA= Cincia/Estudo (Logos) da

    Casa/Habitat (Ecos), ou seja, cincia queestuda as interaes entre os organismos

    e seu ambiente.

    A agroecologia a cincia que oferece

    os conceitos e os princpios para o

    desenvolvimento de uma agricultura

    sustentvel. Uma agricultura que tenha

    alm de objetivos econmicos, objetivos

    sociais. A agroecologia surge como um

    novo conjunto de tecnologias, um modelo

    que no usa os recursos naturais de forma

    predatria e apropriada para pequenos

    produtores e agricultores familiares.

    A agroecologia surgiu quando prticas

    agrcolas tradicionais comearam a ser

    organizadas e sistematizadas. Durante sculos,

    pequenos agricultores tm desenvolvido

    sistemas de cultivos sustentveis, que

    os tem ajudado em suas necessidades

    de subsistncia, mesmo em condies

    ambientais adversas, sem depender de

    mquinas, fertilizantes e pesticidas qumicos.

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    Curso de Capacitao | Jardins Agroforestais Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 29

    O conhecimento tradicional de agricultores

    deve ser justamente a base para a construo

    de modelos de produo agroecolgica.

    Ao desenvolvermos qualquer sistema

    produtivo, seja ele na forma de hortas,

    pomares, jardins medicinais ou

    agroflorestas, podemos ter um enfoque

    nos princpios da agroecologia. Nossas

    prticas agrcolas tambm devem buscar

    ser prticas ecolgicas.

    SISTEMAS AGROFLORESTAIS

    As AGROFLORESTAS ou SISTEMAS

    AGROFLORESTAIS so uma mistura ou

    consrcio de plantas em um sistema

    produtivo. O termo vem da unio de:

    AGRO= Plantas agrcolas (hortalias,

    milho, feijo, mamo, banana, etc) +FLORESTA= rvores (frutferas,

    produo de madeira, espcies

    nativas, etc)

    Conceito

    Sistemas Agroflorestais so uma

    mistura de culturas anuais, rvores

    perenes e frutferas, leguminosas,

    criao de animais, a prpria famlia

    e outros, reunidos numa mesma rea

    ou lote (PESACRE, 2004). A partir

    da mistura de uma planta alimentar

    com uma florestal, pode-se dizer

    que uma agrofloresta. No entanto,

    existem diversos tipos de agroflorestas,

    com maior ou menor semelhana

    a uma floresta, num gradiente de

    complexificao e aplicao dos

    princpios ecolgicos.

    Agrofloresta um sistema ancestral

    de uso da terra que vem sendo

    praticado por milhares de anos por

    agricultores de todo o mundo. No

    entanto, nos anos mais recentes,

    tambm tem sido desenvolvida como

    uma cincia que se compromete a

    ajudar agricultores a incrementar

    produtividade, rentabilidade e

    sustentabilidade da produo em sua

    terra (McDICKEN e VERGARA, 1990).

    SAF Sucessional

    A agrofloresta que vamos trabalhar

    um sistema de produo que imita

    o que a natureza faz normalmente,

    com o solo sempre coberto pela

    vegetao, muitos tipos de plantas

    juntas, umas ajudando as outras,

    sem problemas com pragas ou

    doenas, dispensando o uso de

    venenos (CENTRO SABI, 2000).

    O principal objetivo no desenho

    e implantao de um SAF a

    intensificao dos mecanismos

    ecolgicos das florestas e, no caso

    dos trpicos midos, os ecossistemas

    sucessionais parecem ser o modelo

    mais apropriado na tomada de

    decises com relao s agroflorestas

    (FARREL; ALTIERI; 2002).

    As agroflorestas sucessionais

    so sistemas com alta diversidade

    de espcies que agem de acordo

    com a sucesso natural e com os

    demais princpios ecolgicos dos

    ecossistemas. So desenhadas

    na forma de consrcio de plantas

    anuais, leguminosas e espcies

    perenes (rvores), onde as taxas de

    crescimento e evoluo sucessional

    so maximizadas pelas atividades de

    manejo.

    Neste curso, trabalharemos na

    tica dos Sistemas Agroflorestais

    Sucessionais, muito baseadas no

    trabalho de Ernst Gtsch.

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 31

    Acima vemos uma agrofloresta de cerca de 10 anos, j estabelecida e produzinho. Note que

    as rvores e outras plantas de diferentes tamanhos (angicos, ings, guapuruvus, laranjas,

    pupunhas, cafs e plantas ornamentais) convivem saudveis e com uma boa produo.

    HISTRICO

    Agroecologia

    A palavra agroecologia foi utilizada pela

    primeira vez em 1928, com a publicao do

    termo pelo agrnomo russo Basil Bensin.

    O entendimento da agroecologia

    enquanto cincia coincidiu com a maior

    preocupao pela preservao dos

    recursos naturais nos anos 60 e anos

    70. Os critrios de sustentabilidade

    nortearam as discusses sobre uma

    agricultura sustentvel, que garantisse

    a preservao do solo, dos recursos

    hdricos, da vida silvestre e dos

    ecossistemas naturais, e ao mesmo

    tempo assegurasse a segurana alimentar.

    Porm, s depois de 1970, quando

    agrnomos passam a enxergar o valor

    da ecologia nos sistemas agrcolas, que o

    termo comea a ser mais aceito.

    A agroecologia passa a ser entendida

    como campo de produo cientfica e

    como cincia integradora, preocupada

    com a aplicao direta de seus princpios

    na agricultura, na organizao social e

    no estabelecimento de novas formas de

    relao entre sociedade e natureza.

    A agroecologia ainda uma cincia

    e uma prtica em franca expanso.

    A partir dos anos 80, as organizaes no

    governamentais foram fundamentais na

    promoo e divulgao da agroecologia

    em todo o mundo e especialmente no

    Brasil. Nos ltimos anos nota-se uma

    preocupao constante de universidades,

    centros de pesquisa e projetos de

    extenso em trabalhar aspectos e

    caractersticas tcnico-cientficas,

    bem como os impactos sociais

    provenientes da prtica agroecolgica.

    Costa-Rica: cacau, caf, banana, cana, eucalipto,

    macadmia, pupunha, fruta-po, frutas ctricas,

    cedro, coco e pimenta;

    Brasil: cacau, erva-mate, guaran, cupuau, caf,

    pimenta-do-reino, banana, castanha-do-par,

    bracatinga, pinus, ip;

    Equador: caf e cacau com ing, goiaba, jambo;

    Mxico: caf, cacau, banana, leucena, Samama, cana

    com caj;

    Peru: caf, cacau, ctrico, ing.

    Agroflorestas

    importante lembrar que as

    Agroflorestas no so algo novo,

    esses sistemas vem sendo utilizados

    por agricultores em todo o mundo h

    milhares de anos. Produtores rurais e

    indgenas, principalmente dos pases

    tropicais, vem plantando sistemas

    Agroflorestais, observando a

    natureza e buscando imitar a

    floresta. A seguir, seguem alguns

    consrcios praticados em alguns

    pases da Amrica Latina.

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    Curso de Capacitao | Jardins Agroforestais 33

    AGROFLORESTASSUCESSIONAIS

    Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais

    A principal referncia quando se fala

    em Agroflorestas, em especial quelas

    que seguem os princpios da alta

    diversidade e da sucesso natural, o

    agricultor e pesquisador Ernst Gtsch

    ou simplesmente Ernesto. Agricultor

    de origem, Ernst, suo, mas vive no

    Brasil h mais de 30 anos observando,

    pesquisando e inovando a forma de

    produo de alimentos de forma

    harmoniosa com a natureza. Ao longo

    dos anos de trabalho e ensino, ele

    desenvolveu profundo conhecimento das

    culturas tropicais.

    Depois de anos pesquisando e observandoo funcionamento da natureza em toda

    Amrica Latina, ele iniciou seu trabalho no

    Brasil, implantando reas experimentais de

    Sistemas Agroflorestais Sucessionais em sua

    fazenda na zona cacaueira da Bahia. Numa

    terra considerada totalmente improdutiva

    ele transformou essa rea numa das terras

    mais produtivas de toda a Mata Atlntica.

    Conseguiu reflorestar mais de 300 ha de

    reas degradadas em florestas altamente

    produtivas, sem utilizar adubos qumicos ou

    agrotxicos, levando ao ressurgimento de

    17 nascentes.

    Ernst Gtsch tem uma viso pioneira

    da evoluo e funo das espcies,

    bem como dos princpios que regem os

    sistemas naturais. Seu conhecimento

    aplicvel em qualquer ecossistema e

    constitui uma referncia internacional

    no desenvolvimento de SistemasAgroflorestais. uma referncia no assunto

    e realiza cursos e consultorias no Brasil e no

    exterior formando muitos profissionais.

    Para Ernst, a sucesso natural o pulso

    da vida. Isto , significa o aumento de

    recursos que ocorre na natureza, onde

    as mudanas dos ecossistemas naturais

    caminham, de acordo com a sucesso,

    sempre para o aumento da qualidade e

    quantidade de vida consolidada. Para ele,

    essas mudanas se do numa via dupla.

    Por um lado, os seres vivos modificam o

    ambiente e, por outro, o ambiente atua

    sobre os seres vivos.

    "(...) para cada passo que ando e para

    tudo em que intervenho, previamente

    me pergunto: o que posso fazer para

    que, como resultado da minha presena

    e das minhas intervenes nasa(m), se

    desenvolva(m) um sistema (sistemas)

    mais prspero(s), mais vida com toda

    sua abundncia e mais complexidade

    em todos os seus aspectos no Planeta

    Terra, do qual somos parte, e no mais

    importantes do que todas as outras

    espcies." (GTSCH, 1998).

    O agricultor e pesquisador Ernst Gtsch

    PRINCPIOS

    Alta Diversidade

    A alta diversidade biolgica uma das

    caractersticas mais importantes em

    uma Agrofloresta, ou seja, diversidade

    de tudo aquilo que vivo: plantas

    nativas e cultivadas, fungos, insetos,

    animais pequenos e de grande porte.

    Quanto maior for esta diversidade no

    sistema produtivo, maior o nmero de

    interaes ecolgicas, isso quer dizer que,

    maior o nmero de relaes entres os

    diferentes seres vivos que ali habitam e se

    reproduzem.

    Quando utilizamos a alta diversidade em

    nossos sistemas produtivos, caminhamos

    com segurana rumo sustentabilidade.

    Primeiro, porque estamos garantindo

    um ambiente produtivo e saudvel. Com

    solos frteis e cheios de minhocas, gua

    disponvel e limpa, animais polinizadores

    e plantas nativas convivendo com nossas

    plantas cultivadas.

    Segundo, porque quanto maior a

    variedade de cultivares, menor o risco

    de perda de safra causado por fatores

    climticos ou de mercado. O investimento

    em frutas e madeiras, que so culturas

    perenes tambm tem se mostrado cada

    vez mais vantajoso no Brasil.No modelo de agrofloresta abaixo,

    podemos encontrar vrias espcies

    diferentes, cada uma delas com uma

    funo especfica dentro do sistema,

    sendo que todas contribuem para o

    aumento da diversidade biolgica e

    diversificao da produo.

    Figura 01 Observe um desenho de uma Agrofloresta: veja que cada planta diferente da outra, por isso podemos

    cultiv-las juntas e obter uma maior diversidade de produtos para a famlia e para o mercado. Veja a lista das

    espcies com o nmero correspondente neste modelo de Agrofloresta.

    1. Mamo | 2. Mandioca | 3. Copaba | 4. Milho | 5. Banana | 6. Abacaxi

    Fonte: http://www2.turmadoleleco.com.br/secoes/destaque/cultivar-sem-derrubar/

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 35

    Lembrando que cada espcie possui

    uma funo diferente no sistema

    produtivo e ir oferecer um determinado

    tipo de produto.

    O mogno, a andiroba e a copaba so

    espcies florestais que fornecem madeira

    para a construo de casas e mveis,

    sementes para a recomposio da floresta

    e, no caso da copaba e da andiroba, leo

    para a produo de cosmticos. O leo

    da andiroba e do neem servem como

    biopesticida, pois capaz de repelir insetos.As espcies frutferas, como banana,

    Um sistema produtivo familiar que inclui

    pelo menos quatro tipos de plantas:

    rvores, bananeiras, milho e cebolinhaem canteiros de horta.

    mamo, aa, pupunha e abacaxi, servem

    de alimento para o ser humano e algumas

    espcies da fauna silvestre, como aves

    e mamferos. Tambm podem ser

    comercializadas, como o caf, o feijo

    e a mandioca, aumentando a renda do

    produtor.

    Assim, cada espcie tem sua

    importncia no ambiente e, juntas,

    formam um sistema sustentvel para

    a manuteno da diversidade biolgica

    alm de fornecer alimento e diversosoutros benefcios ao homem.

    Perceba que, na foto acima, o

    sistema produtivo possui apenas

    cerca de 4 espcies que foram

    plantadas juntas e no 12 tipos

    de plantas como no desenho da

    pgina anterior. Mas isto no

    importa, o importante que seja

    praticada a diversidade e no a

    monocultura. Duas plantas juntas

    j melhor do que uma planta

    sozinha, trs, melhor que duas e

    assim por diante.

    Sucesso natural

    O nascimento de cada ser vivo, a sua

    fora de crescer, de frutificar, de criar

    o prximo a seguir, de completar o

    processo de amadurecimento tendo

    no final a morte, ou melhor dizendo, a

    transformao em outras forma de vida

    tudo isso faz parte do metabolismo

    do macroorganismo Me Terra. (...) A

    sucesso natural das espcies o pulso da

    vida, o veculo em que a vida atravessa o

    espao e o tempo (GTSCH, 1997).Alm do princpio da alta diversidade,

    as Agroflorestas tem como importante

    caracterstica o que chamamos de

    sucesso natural. A sucesso natural

    quando uma grande diversidade de

    plantas ocupa uma determinada rea de

    forma sucessiva, ou seja, algumas plantas

    surgem primeiro para depois dar lugar

    para outras.

    Isto ocorre, por exemplo, quando uma

    grande rvore cai na floresta e forma

    o que chamamos de "clareira". Neste

    lugar, que antes era muito sombreado e

    com diversas outras rvores, arbustos,

    cips e etc., o sol passa a entrar e todas

    as plantas que caem no solo viram

    matria orgnica, fertilizando o lugar.

    Nestas condies, sementes que estavam

    armazenadas no solo, alm de outras

    sementes trazidas pelo vento, gua

    da chuva e etc, comeam a germinar.

    Se inicia ento todo um processo de

    sucesso natural de plantas para que afloresta volte ao que era.

    Observando esta dinmica das

    clareiras e seguindo o princpio de

    sucesso natural, foram desenvolvidas as

    Agroflorestas Sucessionais. Neste modelo

    de Agrofloresta, princpios simples so

    utilizados, tais como:

    a alta diversidade de plantas;

    a cobertura permanente do solo com

    matria orgnica;

    a sucesso natural de plantas, aplicadas,

    neste caso, para frutferas, espcies

    produtoras de madeira, espcies

    agrcolas e etc.O desenho abaixo mostra osdiferentes tipos de planta que vo

    ocupando uma clareira ao longo

    dos anos. Representa o processo

    de sucesso que tem incio em

    geral com os capins e gramneas

    em geral, passando por plantas

    rasteiras e arbustos, at chegar

    em rvores de grande porte.

    Fonte: http://cienciasdecampo.webnode.pt/cn-8-%C2%BAano/

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 37

    A partir do entendimento da dinmica

    do processo sucessional so identificados

    alguns grupos de espcies que servem

    para montar os consrcios das

    Agroflorestas ao longo do tempo.

    Todos os estgios (etapas da sucesso)

    devem ser cumpridos, bem como os

    estratos (andares da floresta) precisam

    estar completos. A partir de agora iremos

    definir melhor esses dois conceitos:

    estgios e estratos.

    Estgios

    Os estgios de uma Agrofloresta esto relacionados ao fator tempo, ou seja, ao ciclo de

    vida de cada consrcio de plantas que escolhemos. Os estgios representam o conjunto

    de espcies que predominam ao longo dos anos nas Agroflorestas. So eles:

    NOME DO ESTGIO CICLO DE VIDA

    Placenta 1 de 0 6 meses

    Placenta 2 de 6 meses 1 ano/ 1 ano e meio

    Secundria 1 de 1,5 ano 5 anos

    Secundria 2 de 5 anos 15 anos

    Secundria 3 de 15 anos 50 anos

    Primria de 50 anos 80 anos

    Transicional + que 80 anos

    O Tringulo da Vida proposto

    por Ernst Gtsch representa o

    avano da sucesso natural e da

    complexidade das agroflorestas.

    Lembrando que as Agroflorestais so sistemas de produo perenes, ou seja, so

    permanentes. Devemos, portanto, plantar todas as espcies, de todos os estgios, no

    mesmo dia, no dia da implantao da Agrofloresta.

    A seguir um srie de figuras e fotos que representam as Agroflorestas em alguns

    estgios de crescimento.

    PLACENTA 1 E 2

    Ciclo de vida curto: at 1 ano e meio

    4 meses

    Podemos observar na foto

    ao lado uma agrofloresta

    no estgio de Placenta, comaproximadamente 6 meses de

    crescimento. possvel identificar

    espcies como a cenoura, o

    inhame, a banana comeando a

    aparecer e as mudas frutferas

    crescendo juntas.

    Ipoema/Local:StioSemente

    Ipoema / Local: Stio Semente

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 39

    O termo Placenta se refere a um local que precisa ser agradvel e nutritivo para o

    nascimento de um novo ser. No caso de nossa Agrofloresta, precisamos recobrir o solo

    com matria orgnica no incio do sistema e plantar espcies que se desenvolvem bem

    e rpido a pleno sol.

    So estas plantas quer iro criar um local vivel para que espcies mais exigentes

    cresam ali. As plantas de ciclo de vida curto que utilizamos so geralmente as

    hortalias e culturas anuais (milho, feijo, arroz, etc).

    SECUNDRIAS 1 E 2

    Ciclo de vida: at 15 anos

    Para os primeiros 15 anos de nosso

    sistema devemos escolher espcies de

    rpido crescimento e que aceitem bem as

    podas. Nos primeiros anos do sistema fundamental aumentar a quantidade de

    matria orgnica no solo, principalmente

    com madeira de poda de espcies como a

    mutamba e o angico, por exemplo.

    5 anos

    18 anos

    Podemos observar na foto ao lado uma

    Agrofloresta no Estgio de Secundria, com

    aproximadamente 5 anos de crescimento.

    possvel identificar espcies como a

    banana, o neem, o caf, o mogno e as

    pupunhas em crescimento incial.

    Ipoema/Local:EmbrapaVitrine

    SECUNDRIA 3

    Ciclo de vida: at 50 anos

    PRIMRIAS E TRANSICIONAIS

    Ciclo de vida: alm do 80 anos

    Durante esse tempo j podemos

    planejar a colheita de algumas madeiras,

    como a do pau-de-balsa e a do eucalipto.

    Algumas frutferas tambm j teroiniciada a sua produo, como por

    exemplo a banana, a laranja de enxerto

    e o caf. Alm disso madeiras, como o

    eucalipto, j podem ser colhidas. Quando uma Agrofloresta j estestabelecida, isto , aps os 10 ou

    15 primeiros anos de implantao,

    praticamente todas as plantas j

    produziram ou estaro produzindo.

    Frutferas, resinas e palmitos j

    estaro sendo colhidos. Diversas

    madeiras para diferentes usos

    estaro nossa disposio.

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 41

    Espcies pioneiras (placenta 1 e 2)

    Espcies do futuro como o mogno,

    o caj, o cedro e o jatob so

    fundamentais para as Agroflorestas.

    So elas que iro ocupar o sistema

    no Estgio de Primrias. Alm de

    muitas outras.

    Teremos portanto, um sistema

    sustentvel, o trabalho durante

    todos esses anos ser a realizao

    de podas e a colheita de tudo aquilo

    que investimos no comeo de nosso

    Sistema Agroflorestal, quando eleainda estava em sua Placenta.

    Evoluo das espcies

    No resta dvidas que as

    Agroflorestas so planejadas para o

    futuro. So florestas de alimentos,

    que sero boas para a natureza e

    para as geraes futuras. Se formos

    capazes de unir agricultura com

    floresta, plantas de ciclo de vida

    curto e longo, teremos lugares com

    abundncia de vida e de alimentos.

    Lembrando que, todas as espcies,

    de todos os estgios so plantadas

    no primeiro dia de vida de nossa

    Agrofloresta. O esquema abaixo

    representa a evoluo das espcies

    dentro do sistema. Note que todas

    esto presentes desde o incio.

    Estratos

    Um dos muitos nomes que as Agroflorestas recebem o de Floresta de Andares.

    Justamente porque considera as alturas de cada planta durante os diferentes estgios

    de uma Agrofloresta. Estas alturas, estes andares, so chamados de estratos.

    Em uma floresta podemos observar 5 estratos bem diferentes entre si: Emergente,

    Alto, Mdio, Baixo e Rasteiro.

    A ocupao de cada estrato pela vegetao influencia diretamente a quantidade de

    radiao do sol que chega ao solo, e assim o crescimento das plantas nos diferentes

    estratos. Temos dois extremos possveis, como ilustrado abaixo, que permitem maior

    ou menor radiao solar:

    BAIXA RADIAO SOLARCHEGANDO AO SOLO

    Espcies secundrias I, II e III

    Espcies transicionais

    ALTA RADIAO SOLARCHEGANDO AO SOLO

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    Ao plantar nossas Agroflorestas,

    buscamos reproduzir o padro

    observado para os trpicos, que

    permite a entrada de luz e um

    adensamento da vegetao conforme

    mais prximo ao solo. A ocupao

    das plantas diminui a medida que

    subimos os andares, ou seja, nos

    andares rasteiro e baixo teremos muitas

    plantas, enquanto que nos andares alto

    e emergente, poucas plantas. Abaixo

    segue a ocupao de cada estrato

    conforme as florestas tropicais e que

    usamos de referncia nas Agroflorestas.

    A seguir, uma tabela com algumas espcies que podemos utilizar em nossa Agrofloresta.

    Nela podemos observar a classificao de cada planta conforme o estgio da sucesso

    (tempo de vida) e o estrato (andar) que ocupa, alm de instrues para plantio e o tempo

    de colheita.

    Lista de espcies Agroflorestais

    Tempo de Vida Espcie

    (Nome comum)Espaamento deplantio (metros)

    Tempo de colheita Estrato

    At 3 meses

    Melancia 2,0 x 1,0 100 dias Rasteiro

    Abbora 3,0 x 2,0 5 meses Baixo

    Feijo 0,5 x 0,2 70 dias Baixo

    Couve flor 0,6 x 0,8 100 dias MdioPimento 0,5 x 0,5 150 dias Mdio

    At 6 meses

    Pepino 2,0 x 1,0 80 dias Mdio

    Tomate 1,0 x 0,5 80 dias Alto

    Quiabo 1,0 x 0,5 80 dias Alto

    Milho 1,0 x 1,0 4 meses Emergente

    Inhame 1,2 x 0,7 3 meses Baixo

    At 3 anos

    Abacaxi 1,0 x 0,4 24 meses Baixo

    Mandioca 1,0 x 1,0 18 meses Alto

    Chuchu 5,0 x 5,0 4 meses Alto

    Banana da

    terra

    3,0 x 3,0 14 meses Alto

    At 10 anos

    Banana prata 3,0 x 3,0 14 meses Alto

    Banana ma 3,0 x 2,0 10 meses Alto

    Laranja 6,0 x 3,0 3 anos Alto

    Abacate 8,0 x 9,0 3 anos Alto

    Lima 7,0 x 4,0 3 anos Baixo

    At 50 anos

    Tangerina 6,0 x 4,0 4 anos Mdio

    Carambola 4,0 x 4,0 5 anos Mdio

    Pupunha 6,0 x 6,0 4 anos Emergente

    Caf 2,0 x 1,0 3 anos Baixo

    Juara 2,0 x 1,0 12 anos Alto

    Mais que

    50 anos

    Manga 10,0 x 8,0 3 anos Alto

    Jaca 10,0 x 8,0 6 anos Alto

    Caj 10,0 x 8,0 2 anos Emergente

    Cco 9,0 x 9,0 3 anos Emergente

    Tamarindo 10,0 x 10,0 12 anos AltoFonte: Cartilha Liberdade e Vida com Agrofloresta, 2008

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    APROFUNDANDOCONHECIMENTOS

    Para implantar um Sistema Agroflorestal

    (SAF), mltiplos outros conhecimentos

    so necessrios. Selecionamos alguns que

    consideramos importantes e valiosos para

    um bom agrofloresteiro.

    As sementes so extremamente

    importantes, pois guardam a capacidade

    de gerar vida, e, por meio delas,

    poderemos plantar uma enorme

    diversidade de plantas. Saber como

    coletar, armazenar e beneficiar as

    sementes fundamental para criar

    agrofloresta com alta diversidade e bom

    desenvolvimento.

    A observao de ciclos maiores da

    natureza, com os ciclos do sol e da lua, e

    dos demais planetas no sistema solar ao

    longo de milhares de anos, possibilitaram

    ao homem um conhecimento emprico

    sobre os melhores momentos de plantar,

    de podar e de colher. Uma pequena

    compilao dessas informaes tambm

    apresentada a seguir.

    SEMENTES

    A semente o embrio da planta,

    composto por um eixo embrionrio mais

    os cotildones, que garantem a nutrio da

    planta durante o perodo de germinao

    e crescimento inicial, podendo ser envolta

    ou no por um fruto. As sementes tambm

    possuem estruturas de disperso que so

    essenciais para a reproduo e diversidade

    gentica das espcies. O conhecimento das

    sementes e de seus processos de disperso,

    coleta, beneficiamento e germinao soessenciais para o sucesso na produo de

    mudas e plantio de agroflorestas.

    ClassificaoAs sementes so classificadas em

    basicamente duas categorias, em funo

    do tipo de cpsula que a protegem: as

    ortodoxas e as recalcitrantes.

    Sementes OrtodoxasSo aquelas envoltas em cpsulas secas.

    Toleram ambientes mais secos e menores

    temperaturas (menos de 0), ou seja, podem

    ser armazenadas em geladeira por um longo

    perodo, permitindo o plantio a longo prazo.

    Sementes RecalcitrantesSo aquelas envoltas em

    cpsulas carnosas. No toleram

    o armazenamento em baixas

    temperaturas e devem ser plantadas

    logo aps sua disperso e seu

    beneficiamento.

    Existe outra classificao que pode

    ser observada que faz a distino entre

    frutos deiscentes e indeiscentes. Os

    deiscentes, como o caso do barbatimo

    (Stryphnodendron adstringens), no seabrem ao amadurecer, mas podem ser

    abertos manualmente. Os indeiscentes

    explodem e suas sementes so

    expelidas para fora.

    Classificao pelo modo de dispersoSEMENTES

    Dispersopor animais

    Dispersopela gua

    Dispersopelo vento

    Disperso pelaprpria planta

    Disperso de sementes

    Os mecanismos de disperso permitem a regenerao de florestas e

    podem ser classificados em: chuva de sementes (sementes recentemente

    dispersadas), banco de sementes (sementes dormentes no solo), banco de

    plntulas (pequenas mudas inibidas pela sombra da floresta) e rebrota.

    Os tipos de disperso de sementes variam de acordo com cada espcie e

    so classificados em zoocoria, hidrocoria, anemocoria e autocoria. Confira a

    ilustrao abaixo:

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    Beneficiamento

    Os frutos podem ser classificado em secos

    e carnosos. De modo geral, os secos abrem

    sozinhos (deiscentes) e os carnosos necessitam

    de despolpamento para obteno da semente,

    nesse caso a polpa de algumas espcies pode ser

    aproveitada para diversos fins alimentcios.

    Os mtodos mais comuns de despolpamento

    so a raspagem e a fermentao, que consiste no

    amolecimento da polpa, no caso de polpas mais

    aderidas s sementes, colocando-as na gua ou no solo.

    No caso de frutos indeiscentes, que explodem

    e suas sementes podem ser perdidas, nesse caso,

    devem ser coletados ainda fechados, mas maduros

    fisiologicamente, antes que isso ocorra e colocados

    em lonas a meia-sombra para que abram e suas

    sementes sejam aproveitadas.

    Armazenamento

    No caso de sementes que podem ser guardadas

    importante fazer um armazenamento adequado para

    garantir a viabilidade longo prazo. Fatores externos

    como a umidade do ar, a temperatura ambiente

    e a presena de fitopatgenos, so os principais

    fatores a serem observados. De modo geral as salas

    de armazenamento devem ser bem ventiladas,

    sombreadas e as prateleiras bem espaadas. Podem

    ser utilizados sacos de papel ou de plstico, garrafas

    ou potes de vidro ou at mesmo garrafas pet para

    guardar as sementes.

    Sementes do cerrado

    LEGENDA

    Beneficiamento:

    desp: despolpamento;

    esc: escarificao;

    extr: extrao da casca

    Nome Cientfico NomePopular

    Beneficiamento

    %germinao

    Coletadesementes

    Utilizao

    Alim Mad Orn M el M ed R es F orr Fau Ar t

    Ancardium humile Caju - > 80 out-nov x x x x

    Anadenanthera falcata Angico - > 70 ago-set x x x x

    Annona crassifolia Aracum* esc > 70 fev-abr x x x

    Caryocar brasiliense Pequi desp < 5 dez-jan x x x

    Cedrela odorata Cedro - 70 jul-ago x x x

    Copaifera langsdori Copaba esc > 80 mai-out x x x x x

    Dypterix alata Bar extr 30-50 set-out x x x x x

    Eugenia dysenterica Cagaita desp 85 set-dez x x x x x

    Inga alba Ing - > 90 nov-fev x x x

    Mauria exuosa Buri desp 60 abr-jun x x x x

    Pterodon emarginatus Sucupira extr 30-45 jun-jul x x x x

    Qualea grandioraPau-terra extr < 30 ago-out x x x x x

    Hymenaeaesgnocarpa

    Jatobextresc

    70 set-out x x x x x

    Stryphnodendronadstringens Barbamo esc 70 jul-set x x x x

    Tabebuia aurea Ip-amarelo - >80 set x x x

    Utilizao:

    Alim: Alimentar;

    Mad: Madeirvel;

    Orn: Ornamental;

    Mel: Melfera;

    Med: Medicinal;

    Res: Resinfera;

    Forr: Forrageira;

    Fau: Alimentar para a fauna;

    Art: Artesanal

    Coleta

    A coleta de sementes

    nativas pode ser feita pelo

    prprio produtor rural ou

    agrofloresteiro, uma vez que no

    existe um mercado consolidado

    para isso. importante conhecer

    a poca de maturao de cada

    espcie para uma coleta mais

    eficiente. No caso do cerrado

    a maioria das sementes esto

    viveis entre julho e novembro,ou seja, da metade ao final do

    perodo de seca.

    Para obter uma produo de

    maior diversidade gentica

    importante fazer a coleta de

    diversas rvores matrizes. Para

    a escolha dessas rvores deve-

    se levar em considerao suas

    caractersticas tais como altura,

    vigor, sanidade e produo de

    sementes, bem como a finalidade

    do plantio.

    Caso se queira produzir

    madeira a matriz escolhida

    deve ter um fuste reto e livre

    de doenas, caso o objetivo

    seja a produo de frutos,

    deve-se avaliar a qualidade

    e a produtividade. No caso

    de recuperao de reas ou

    plantios florestais o ideal

    a coleta de uma grande

    variabilidade de indivduos,

    com isso possvel obter

    mudas com diferentes

    capacidades adaptativas.

  • 7/21/2019 Cartilha Jardins Agroflorestais

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    PlantioCada ciclo lunar favorece uma

    atividade especfica na atividade

    ecofisiolgica das plantas. Durante

    a fase que vai da lua nova para a

    cheia, a seiva das plantas permanece

    na parte area, o crescimento se

    d mais nessas do que nas razes,

    quando a expirao predomina. Por

    exemplo, quando se quer plantar

    folhagens (alface, rcula, couve, etc.)

    devem ser semeadas ou replantadas

    na fase crescente. Durante a fase

    que vai da lua cheia para nova, a

    seiva desce raiz, o solo recebe

    e, portanto, inspira. Por exemplo,

    quando ser quer plantar razes

    (cenoura, nabo, inhame, beterraba,

    etc.) devem ser semeadas ou

    replantadas na fase minguante.

    COSMOLOGIA

    Quem tem contato com agricultores que realmente vivem h geraes na terra

    sempre ouve relatos sobre as relaes da Lua com a poca de plantio, poda, etc..

    mas principalmente, sobre as fases da Lua, que o ritmo mais visvel deste astro. Em

    culturas ancestrais indgenas, ainda encontramos observaes mais apuradas do cu. A

    observao destes ciclos e a utilizao deles como orientador dos melhores momentos

    de cada atividade pode aumentar a produo.

    Os ciclos da lua, bem como os signos do zodaco, exercem influencia em todos os seresvivos em diferentes dimenses. As fases da lua, por exemplo, representam ciclos de

    inspirao e expirao para os seres vivos, sendo que esses ciclos so complementares

    entre plantas e animais. Dessa forma, dentro de um consrcio agroflorestal regido pela

    sucesso, tambm tem sua fase de rpido e vigoroso crescimento, de inspirao, e

    depois da maturidade, vem a senescncia do consrcio, ou sua inspirao.

    ManejoAs podas e as colheitas tambm

    devem seguir as fases lunares, bem

    como as estaes. Podas geralmente

    so feitas na primavera e durante a

    fase que vai da lua cheia para a nova,

    pois assim se estimula o crescimento

    e evitam-se as perdas. As colheitas

    obviamente seguem o ciclo de

    produo de cada planta. No caso de

    madeira e bambus para construo,

    por exemplo, devem se coletadosna fase minguante, pois o acmulo

    de seiva na parte rea ser menor.

    A colheita de frutos e verduras se

    da forma contrria, feita na fase

    crescente, pois se deseja o acmulo de

    seiva, bem como nutrientes, na parte

    area da planta.

    Signos do zodacoPodemos favorecer diferentes partes

    da planta de acordo com a posio da

    lua nos elementos referentes a cada

    signo do zodaco, que, geralmente,

    permanece de dois a trs dias em cada

    constelao.

    Frutos devem ser plantados

    em dia de fogo Verduras de folhagem em dias

    de gua

    Razes em dias de terra

    Flores e a maioria das ervas em

    dias de ar.

    Para saber mais sobre este tema,

    indicamos a consulta a um Calendrio

    astronmico/agrcola disponibilizado

    no Brasil pela Associao Biodinmica.

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    Curso de Capacitao | Jardins Agroforestais 51

    Agroflorestal ?

    Curso de Capacitao| Jardins Agroorestais 51

    Comofaze r um Sistema

    As espcies e o tipo devegetao nativa queformam a paisagem ouo ecossistema naturalem que vivemos so abase de conhecimentopara inicialmenteplanejarmos asAgroflorestas.

    Convivendo com agricultores nativos da Costa Rica, ErnstGtsch desenvolveu uma forma de plantar Agroflorestasque busca imitar a dinmica das clareiras. Observando anatureza e organizando as plantas de interesse alimentarou de mercado, dentro do processo de sucesso natural.

    OBSERVANDO A NATUREZA

    Ao decidirmos implantar uma

    Agrofloresta, algumas perguntas podem

    nos ajudar a tomar as decises corretas.

    Refletir e buscar as respostas para essas

    perguntas um bom caminho para a

    implantao de Agroflorestas Sucessionais.

    Dessa forma, a primeira pergunta a ser

    feita :

    Em qual paisagem vamosimplantar a agrofloresta?

    As espcies e o tipo de vegetaonativa que formam a paisagem ou o

    ecossistema natural em que vivemos so

    a base de conhecimento para inicialmente

    planejarmos as Agroflorestas.

    Os ecossistemas naturais definem as

    condies do clima, do solo, da vegetao

    e das relaes das pessoas com esses

    ambientes. Essas condies originais no

    orientam nas prticas agrcolas e florestais.

    Portanto, importante que sejam

    escolhidas muitas espcies nativas ou bem

    adaptadas ao ecossistema natural em que

    vivemos para compor uma Agrofloresta.

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    Nome Popular Coletadesementes

    Utilizao

    Alimento Madeira Ornamental Mel Medicinal Forrageira Artesanato

    Caju Out-Nov X X X

    Angico Ago-Set X X X

    Aracum Fev-Abr X X X

    Pequi Dez-Jan X X X

    Cedro Jul-Ago X X X

    Copaba Mai-Out X X X X

    Bar Set-Out X X X X

    Cagaita Set-Dez X X X X X

    Ing Nov-Fev X X X

    Buri Abr-Jun X X X X

    Sucupira Jun-Jul X X X X

    Pau-terra Ago-Out X X X X X

    Jatob Set-Out X X X X

    Barbamo Jul-Set X X X X

    Ip-amarelo Set X X X

    O Cerrado o segundo maior bioma da

    Amrica do Sul, abrange cerca de 22%

    do territrio nacional. O bioma abriga

    10.400 espcies de plantas, das quais

    50 so endmicas, ou seja, s ocorrem

    nesta regio. A fauna tambm apresenta

    uma importante diversidade, incluindo

    180 espcies de rpteis, 113 espcies de

    CONHECENDOOCERRADO

    A seguir uma primeira ideia de algumas

    espcies que podemos utilizar em

    Agroflorestas no bioma Cerrado. Segue na

    anfbios, 837 de pssaros e 195 espcies

    de mamferos.

    Apesar da extensa rea de abrangncia

    o bioma brasileiro que mais sofre

    alteraes com a ocupao humana,

    sobretudo em relao abertura de

    novas reas para construo de cidades e

    produo alimentcia.

    QUE TIPO DE PLANTAS EXISTEM NO AMBIENTE QUE VIVEMOS?

    tabela algumas informaes importantes

    sobre cada uma delas, inclusive os diferentes

    produtos que cada uma pode nos oferecer

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    Curso de Capacitao | Jardins AgroforestaisCurso de Capacitao | Jardins Agroforestais 55

    Quais so os nossos objetivos?

    Ao implantar Agroflorestas podemos

    dar preferncia as espcies que produzam

    alimentos e outros bens de interesse para

    nossa famlia, comunidade e ao mercado.

    Como j foi dito, as espcies nativas

    sempre so uma boa opo. Porm,

    para termos mais possibilidades decomercializao no mercado, podemos

    escolher para plantar espcies frutferas,

    oleaginosas, madeiras de lei, plantas com

    resinas, medicinais e ornamentais.

    Alguns objetivos gerais podem nos

    ajudar quando desejamos implantar uma

    Agrofloresta:

    1. Cobrir rapidamente o solo com

    matria orgnica, dando prioridade a

    galhos e troncos de rvores do local de

    implantao;

    2. Combinar espcies de rpido

    crescimento com espcies que iro

    demorar mais para se crescer e

    produzir;

    3. Plantar o maior nmero de plantas

    diferentes logo na implantao;

    4. Escolher espcies com boa capacidade

    de regenerao, para que possamos

    trabalhar com as podas;

    5. Plantar em grande quantidade para

    se ter excesso de alimentos para toda

    a nossa famlia, para comercializar

    e tambm para os animais e

    microorganismos;

    6. Manter a vegetao nativa.

    Onde implantar umaagrofloresta e qual o tamanhoda rea para iniciar o trabalho?

    Primeiro devemos decidir em qual

    rea da propriedade os objetivos que

    escolhemos tero mais chance de ter

    sucesso. A escolha da rea tambm deve

    partir da realidade do agricultor, de seus

    cultivos tradicionais e dos costumes de

    lida com a terra.

    O tamanho da rea escolhida para se

    iniciar o trabalho com Agroflorestas no

    deve ser muito grande inicialmente,

    pois devemos lembrar que tudo comea

    pequeno e depois cresce.

    Com o passar do tempo, podemos

    reproduzir a Agrofloresta de acordo com

    o aprendizado que tivemos com o plantio

    de cada consrcio. Alm disso, o tempo

    permite que cada agricultor se adapte s

    prticas de manejo Agroflorestal.

    PLANEJAMENTO Quais espcies escolher?Uma Agrofloresta composta por

    espcies que possuem diferentes

    caractersticas. Essencilamente, 3 fatores

    devem ser levadas em conta na hora de

    escolher as espcies do sistema que ser

    implantado e como posicion-las:

    1. Estgios: se refere ao ciclo de vida das

    plantas;

    2. Estratos: a altura que cada planta ocupa;

    3. Caractersticas especficas de cada planta.

    Alm da durao do ciclo de vida e o

    estrato que um planta ocupa, cada planta

    nica e tem caractersticas prprias

    relativas :

    Necessidades nutricionais

    Necessidades hdricas

    Necessidades fsicas (cilma, solo)

    Necessidade luminosa

    Produo de metablitos

    Interelaes com plantas, animais,

    fungos e bactrias

    Arquitetura das raizes

    Arquitetura da folhagem

    Fenologia

    Ao planejar o Sistema Agroflorestal,

    a escolha das espcies de extrema

    importncia, e para se chegar a

    melhor combinao entre todas estas

    caractersticas devem ser consideradas.

    Existem historicamente alguns consrcios

    que foram criados ao longo dos

    milhares de ano de desenvolvimento da

    agricultura, como as trs irms dos

    povos pr-colombianos: o milho, o feijoe a abbora.

    Quando pretende-se implantar um

    sistema agroflorestal sucessional leva-

    se em conta as necessidades de luz, o

    porte, forma do sistema radicular de

    cada espcie e seu comportamento no

    tipo de clima e solo local. Alm disso,

    considerado o efeito de cada espcie

    no crescimento e produo das demais

    espcies do sistema ao longo do tempo e

    do espao disponvel.

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    Curso de Capacitao| Jardins Agro orestais 57

    ASTRSIRMSH aproximadamente 5.000 anos o

    milho, abboras e feijes so cultivados

    pelos povos nativos que os semearam.

    Quando os povos faziam suas colheitas,

    no deixavam seus campos; construam

    vilas e deixavam de ser nmades.

    A abundncia de milho, feijo e abbora

    livrou povos das caas contnuas, deram

    o recolhimento e os possibilitou a

    construrem repousos melhores, fazerem a

    cermica, tecerem o pano, criarem arte e

    desenvolverem cerimnias religiosas. Milho,

    feijes e abboras podiam ser secados e

    armazenados por perodos longos, aliviando

    o ciclo anual do inverno. Os nascimentos

    aumentaram e a vida se prolongou.

    Os americanos nativos das florestas

    orientais usam o termo "trs irms" para

    se referirem ao milho, feijes e abbora.

    Estas trs irms do uma lio na

    cooperao ambiental que os americanos

    nativos sentem que todos os seres

    humanos devem praticar hoje.

    Plantadas juntas, o milho fornece a haste

    para os feijes escalarem; os feijes fornecem

    o nitrognio ao solo para nutrir o milho; e a

    abbora sai da terra para fora, impedindoa competio da vegetao no desejada e

    protegendo as razes rasas do milho.

    Esse princpio praticado e preservado

    atualmente no mundo atravs da tcnica

    da "permacultura". Como a parte do

    crculo da vida, estas colheitas confiam em

    si para a sobrevivncia. So, no somente

    ricas em simbolismo espiritual, mas na

    cultura e historia botnica e tambm na

    nutrio. O milho, feijes e abboras,

    complementam-se: milho para os gros

    e o hidrato de carbono, os feijes para a

    protena e a abboras para a vitamina A.

    O milho era preparado de muitas

    maneiras. Cozido, assado, como farinha, a

    imaginao era o limite. A abbora podia ser

    cozida ou podia ser secada e armazenada

    para o uso durante todo o inverno. Os feijes

    novos frescos foram includos nos cozidos, e

    os feijes mais maduros eram secados para

    o inverno . Os feijes forneceram uma fonte

    de protena durante o inverno.

    Existem muitas tradies, histrias

    e cerimnias dos nativos americanos

    ligadas milho, a histria das Trs Irms,

    a mais conhecida. Uma delas diz que o

    milho chegou atravs de uma entidade

    associada ao corvo. Na regio dos Grandes

    Lagos eram feitos rituais e cerimnias

    de agradecimento para plantar e colher.

    Quase todos os americanos nativos incluem

    alguma histria de sua cultura, referente as

    "Trs Irms": milho, feijo, e abbora.

    Uma vez selecionadas as espcies, que

    iro compor a Agrofloresta, temos que

    providenciar as sementes,

    mudas, ramas etc, necessrias

    para o plantio. O interessante

    que, com um baixo investimento

    financeiro, podemos obter

    plantas de qualidade que iro

    nos trazer retornos econmicos e

    ambientais por muito tempo.

    As sementes de hortalias e gros

    so encontradas facilmente em

    casas agropecurias. Ramas de

    mandioca e cana; bulbos de

    batata doce e inhames; mudas

    de abacaxi e banana podem

    ser obtidos com agricultores

    familiares. Sementes de espcies

    nativas podem ser coletadas e as

    mudas produzidas no prprio local de

    plantio.

    Com o passar do tempo, teremos nossa

    prpria fonte de material para plantios

    futuros. Todos os insumos necessrios para

    a "criao" de uma Agrofloresta so recursos

    que aumentam com o uso, ou seja, quanto

    mais produzimos com diversidade, maisdiversidade de fonte de insumos teremos.

    Outro recurso que aumenta com

    o uso o solo frtil. Ao contrrio da

    agricultura convencional, que necessita

    constantemente de adubos qumicos e

    venenos, nas Agroflorestas, produziremos

    nosso prprio adubo.

    Porm, na implantao de um novo

    sistema Agroflorestal ser necessrio

    investir em alguns adubos comprados,

    uma vez que a maioria dos locais est

    degradado e sem fertilidade.

    Recomenda-se o uso de estercos bemcurtidos (gado ou galinha) ou compostos

    orgnicos j prontos (adubo da compoteira,

    hmus de minhoca, etc.). Tambm deve-

    se utilizar adubos de fonte mineral como

    calcrio ou outros tipos de p de rocha

    para uso agrcola. Os estercos j curtidos

    so encontrados em fazendas ou pequenos

    criadores de animais. Os adubos minerais

    so vendidos em casas agropecurias.

    INSUMOS NECESSRIOS: PLANTAS E ADUBOS

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    PREPARO DOS CANTEIROSPARA O PLANTIO

    A. Escolha da rea

    Primeiro, devemos decidir em qual

    rea da propriedade os objetivos que

    escolhemos tero mais chance de ter

    sucesso. As plantas que j existem no

    local e a experincia com os cultivos

    tradicionais, permitem antecipar de certa

    forma os resultados.

    O tamanho da rea escolhidainicialmente no deve ser muito grande,

    podendo-se depois reproduzi-las de

    acordo com o sucesso, ou no, de cada

    consrcio. Alm disso, o tempo permite

    que o agricultor se adapte s prticas

    de manejo Agroflorestal. Trataremos de

    manejo logo em seguida.

    Para isso, necessrio observar o

    terreno, a inclinao, a orientao do sol,

    a presena de outras plantas que faam

    sombra ou influenciem quimicamente as

    que vamos plantar, alm de considerar

    as necessidades operacionais: acessos,

    transporte, ergonomia, caminhos

    internos, passagem de mquinas etc.

    B. Desenho da Agrofloresta -Canteiros Agroflorestais

    Com os insumos adquiridos e a

    localizao da Agrofloresta definida,

    devemos definir de que forma iremos

    plantar, ou seja, qual o desenho do

    sistema que ser plantado. No existe

    forma pr definida ou receita de

    sucesso, se os princpios j descritos

    forem seguidos, possvel plantar uma

    Agrofloresta em diferentes formatos,

    como por exemplo em canteiros, crculos

    ou as plantas de forma aleatria.

    Os Canteiros Agroflorestais tem se

    mostrado um bom modelo por sua

    praticidade de implantao e manejo.

    So feitos de forma linear, o que facilita

    o manejo com matria orgnica junto

    s plantas e a instalao de sistemas de

    irrigao que gastam menos gua.

    C. Preparo do CanteirosAgroflorestais

    A implantao de uma Agrofloresta

    inicia-se pelo preparo da rea.

    Geralmente necessria a limpeza do

    terreno pela roagem e capina. Todas as

    gramneas, arbustos e outras plantas que

    no sero parte do sistema agroflorestal

    devem ser retirados pela raiz do local.

    No momento da capina importante

    o armazenamento de toda a matria

    capinada, para que possa posteriormente

    ser depositada como cobertura do solo daAgrofloresta implantada.

    Aps a limpeza do terreno, os beros

    para os plantios das mudas aberto, com

    a profundidade adequada pra cada tipo

    de planta. Beros de banana devem ter

    no mnimo 0,50x0,50x0,50m, enquanto

    que beros de mudas podem ter

    0,25x0,25x0,30m.

    O solo entre os beros das mudas deve

    ser afofado e em seguida adubado. O

    canteiro levantado, aumentando a

    quantidade de terra para cima do solo,

    e promovendo a arquitetura do canteiro

    de forma a dinamizar os processos de

    desenvolvimento ao armazenar nutrientes

    e gua no seu interior.

    Canteiros Agroflorestais em diferentes estgios de crescimento. Na primeira foto, vemos o dia de implantao de

    um sistema de: 3 canteiros de 6 metros de comprimento, com corredores de 3 metros. Na segunda, um canteiro no

    estgio de placenta 2: o milho ocupando o estrato emergente; o feijo, o alto; e a abbora, o rasteiro. Veja que no

    existem espaos vazios no canteiro. Na foto seguinte, um canteiro em estgio secundrio, com bananas e abacaxis

    iniciando a produo e o feijo guand protegendo as mudas em crescimento.

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    Canteiros agroflorestais com detalhes muito importantes. Na foto esquerda possvel perceber o formato cncavo

    do topo do canteiro e o alinhamento perfeito entre os beros de mudas. Na foto da direita, Ernst Gtsh nos mostra a

    altura que deve ficar o canteiro pronto e como este deve ser completamente coberto com matria orgnica.

    PLANTIO AGROFLORESTAL

    Com os canteiros preparados, inclusive

    j cobertos com matria orgnica,

    possvel dar incio ao plantio das

    sementes, mudas e ramas que j haviam

    sido selecionadas.

    Utilizando as informaes contidas na

    tabela da pgina 43 (Lista de espcies

    Agroflorestais Estgios (tempo de

    vida), Estrato (andar) e Espaamento

    recomendado), faremos a distribuio das

    plantas no Canteiro Agroflorestal.

    A. Quantidade de plantas

    A quantidade de plantas (mudas,sementes e ramas) por espcie

    a ser introduzida calculada de

    acordo com o espaamento utilizado

    convencionalmente para cada espcie.

    No caso do feijo, por exemplo, quando

    temos o espaamento de 0,5x02m,

    significa 0,5m entre linhas e 0,2m entre

    sementes. Se tivermos uma rea de

    100m2 (10,0x10,0m), com 21 canteiros

    de 10 metros de comprimento, iremos

    precisar de 5 sementes por metro linear,

    ou seja distribudos em linha ao longo do

    canteiro, o que nos d um total de 1050

    sementes.

    Outro exemplo, a banana ma possui

    um espaamento recomendado de

    3,0 x 2,0m, ou seja, 3,0m entre linhas

    de plantio e 2,0m entre mudas. Se

    tivermos uma mesma rea de 100m2

    e considerando que cada maaroca

    ou toicera de bananeira ocupar cercade 6m2, teremos portanto, 16 mudas

    plantadas nesta rea.

    B. Coquetel de sementes

    Um dos princpios mais difundidos por

    Ernst Gotsch para as Agroflorestas, a

    tentativa de se assemelhar ao ambiente

    natural no seu processo de sucesso.

    Para isso, as sementes so fundamentais.

    Alm das mudas dispostas de acordo

    com seus espaamentos, podemos

    investir no plantio de rvores, plantando

    diretamente as sementes no canteiro

    agroflorestal. As sementes so misturadas

    e plantadas juntas em alguns locais

    especficos de nosso canteiro, misturaessa que se convencionou chamar

    Coquetel de Sementes.

    Ao longo do tempo, Ernst vem nos

    ensinando que possvel ter, para nosso

    ambiente de Cerrado, 8 espcies de rvores

    a cada metro quadrado. Portanto, se temos

    aquela mesma rea de 100m2 e vamos

    plantar apenas com sementes, devemos

    plantar cerca de 800 sementes nesta

    rea. Se usarmos um espaamento para o

    coquetel de sementes de 3,0x2,0m, teremos

    17 locais onde ser plantado o coquetel e

    em cada local teremos que plantar cerca de

    47 sementes de espcies variadas.

    Para espcies que possuem sementes

    pequenas ou com baixa taxa de

    germinao usamos muitas sementes

    em cada local e para sementes maiores

    e com boa germinao podemos utilizar

    poucas sementes. aconselhvel que

    as sementes grandes no entrem nocoquetel e sejam plantadas com a ponta

    do faco na borda das linhas de rvores.

    Cada espcie possui um espaamento

    recomendado, mas devemos sempre

    aumentar o uso deste recurso ao mximo

    e nos valer de muitas sementes em

    nosso plantio, utilizando assim a mesma

    estratgia da natureza.

    C. Distribuio das plantasnos canteiros

    A orientao das plantas, bem como

    dos canteiros no terreno, deve ser feita

    de acordo com a movimentao do sol,

    o melhor que as linhas de canteiros

    estejam na direo leste-oeste. Masoutros fatores tambm so importantes,

    tais como declividade do terreno, direo

    dos ventos e outros fatores especficos de

    cada realidade.

    No existe uma receita de como

    distribuir as plantas em uma Agrofloresta,

    tudo varia de acordo com os objetivos

    e com as espcies selecionadas. Como

    j visto existem os espaamentos

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    recomendados para cada planta, mas,

    como costuma dizer o Ernst: "o limite a

    criatividade". Com isto, cada Agrofloresta

    ser nica.

    O importante lembrar que todas as

    espcies de todas as fases do sistema

    devem ser plantadas ao mesmo tempo

    para que seja garantida a sucesso natural

    e a sincronia do sistema.

    Seguir experincias de sucesso e

    as orientaes de pessoas com mais

    experincia uma boa forma de se fazer

    as primeiras Agroflorestas. A seguir, uma

    representao grfica de um canteiro

    Agroflorestal de apenas 9 metros de

    comprimento, para que possamos ter

    uma ideia de como as plantas podem ser

    distribudas.

    Abaixo, exemplos de sistemas de frutferas.

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    Faa aqui o seu desenho representando as espcies que voc plantou e como elas

    estavam distribudas no canteiro: MANEJO

    A regra geral para o manejo ou manuteno

    de uma Agrofloresta Sucessional seguir as

    indicaes da natureza, que demonstram

    como criar mais variedade e produzir melhor

    aquilo que necessitamos.

    A capina seletiva, as podas nas rvores,

    a cobertura do solo com matria orgnica,

    o replantio e, claro, a colheita so as

    principais atividades de manejo de uma

    Agrofloresta.

    Capina Seletiva

    Ao invs de limpar toda a rea do plantio

    com a enxada ou com veneno, como

    de costume na agricultura convencional,

    na Agrofloresta fazemos uma capina

    de forma seletiva. Primeiro iremos

    identificar aquelas plantas que surgiram

    de forma espontnea no plantio, capins,

    arbustos, ervas rasteiras e etc. Uma vez

    identificadas, essas plantas devem ser

    arrancadas pela raiz de forma manual.

    As plantas jovens que desejamos

    ou da regenerao natural devem ser

    marcadas com estacas para que no

    sejam pisoteadas. Todo o material

    capinado deve ser incorporado ao solo

    para ser reciclado como matria orgnica.

    Essa prtica muito importante, pois

    sincroniza o plantio e cobre o solo commatria orgnica.

    Otimizando a sucesso naturalpor meio das podas

    Uma das formas de sabermos quando

    intervir na Agrofloresta observar o

    amadurecimento das plantas. Quando

    percebermos que uma planta j madura

    comea a envelhecer podemos acelerar a

    sucesso e retir-la do sistema.

    Em muitas rvores tambm podemos

    perceber quando algum inseto ataca as

    folhas ou quando as pontas comeam a

    secar, quando galhos ou plantas inteiras

    esto doentes ou mortas. Nestes casos

    podemos cortar as partes afetadas ou as

    plantas inteiras.

    As podas tm uma funo muito

    importante para sincronizar o sistema

    e otimizar a sucesso natural. Tal

    manejo acelera o fluxo de circulao dematria orgnica, alm disso, permite

    que as plantas mais jovens tenham

    mais condies para se desenvolverem

    no consrcio. Sincronizar o sistema

    significa fazer com que todas as plantas

    da Agrofloresta cresam juntas e se

    desenvolvam ao mesmo tempo

    importante lembrar que a poda uma

    atividade que sempre deve ser realizada

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    CICLODAMATRIA ORGNICAcom ferramentas apropriadas e bem

    amoladas, como a tesoura de poda, o

    faco, o serrote e etc. Tambm devemos

    ter cuidado para no ferir muito a planta,

    o que pode aumentar os risco de doenas.

    A direo do corte tambm deve ser

    observada. A poda sempre feita de

    As podas ajudam a sincronizar o sistema e fazer com que as plantas cresam juntas.

    Cobertura do solo

    Um importante processo que

    acontece nos ecossistemas naturais

    a presena de folhas e galhos que

    ficam depositados no solo. Todo esse

    material que faz parte de qualquer

    ecossistema natural chamado de

    matria orgnica ou biomassa. Nas

    Agroflorestas , portanto, essencial

    que esse material tambm seja

    mantido e sempre incorporado

    no solo. Ao ser realizada a capina

    seletiva e a poda, fundamental

    garantir a cobertura do solo com a

    matria orgnica produzida a partir

    deste trabalho.

    forma inclinada para que a gua no

    acumule na parte podada e a rea

    de regenerao seja maior. Outra

    estratgia e realizar as podas durante

    a lua minguante, pois o acmulo

    de seiva nos galhos e folhas ser

    menor, nesse momento ela estar

    concentrada nas razes.

    A seguir, podemos observar o que acontece com a matria

    orgnica e os nutrientes no solo de uma floresta e que,

    portanto, desejamos que acontea em nossa Agrofloresta.

    1. Na floresta h sempre a queda de

    folhas e galhos que ficam no solo;

    2. Insetos, formigas e minhocasprocessam essa biomassa e a

    misturam com a parte mineral

    do solo, criando, assim, melhores

    condies para a atividade de fungos

    e bactrias;

    3. Aos poucos se inicia um processo de

    decomposio da matria orgnica

    e atravs dos fungos e bactrias

    se cria condies favorveis para a

    microfauna e microflora no solo;

    4. Com a atividade de animais no solo

    h uma melhor permeabilidade da

    terra, o que facilita a penetrao de

    razes e a infiltrao de ar e de gua.

    5. Com a decomposio da biomassa,

    os nutrientes se tornam novamentedisponveis para as plantas;

    6. A terra vegetal funciona como um

    filtro de nutrientes, que no permite

    que a gua da chuva os leve morroabaixo e para os rios.

    Manejo de borda

    A vegetao que se encontra prxima,

    ou seja, na borda de um plantio

    agroflorestal influi consideravelmente

    sobre o mesmo. A influncia de uma

    vegetao j formada ou rvores antigas

    na borda de uma novo plantio, pode

    inibir o crescimento deste. Estas bordas

    devem ser, portanto, podadas e a matria

    orgnica produzida utilizada no novo

    sistema agroflorestal impantado.

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    SistemaAgroflorestal?

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    Quaisosbenefciosdo

    Agroflorestas so capazes de minimizar os desafiossocioambientais do mundo atual,