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Í 22 de agosto de 2013 SALVADOR BAHIA CARTILHA CONVITE

Cartilha Popular - Marcha

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22 de agosto de 2013 SALVADOR – BAHIA

CARTILHA – CONVITE

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SUMÁRIO

Parte 1 .................... 02

O que é genocídio da população negra?

Parte 2 .................... 04

O que é a Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto?

Parte 3 .................... 06

Segurança Pública, pra quê e pra quem?

Parte 4 .................... 08

Um pequeno guia de autodefesa.

Parte 5 .................... 09

Porque uma Marcha Nacional Contra o Genocídio do Povo Negro?

10 Coisas que você precisa saber sobre a Marcha Nacional Contra

o Genocídio do Povo Negro.

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Parte 1 O QUE É GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO NEGRA?

Chamamos de genocídio todas as ações, e a falta delas, de governo

ou Estado que tem impacto negativo na qualidade de vida do povo negro,

como, ausência de saneamento básico, redes de esgoto, saúde pública de

qualidade, violência policial e encarceramento em massa. Estas políticas

de Estado têm levado milhões de negros e negras à morte. O genocídio

atual preserva características da escravidão em que nós negros e negras

fomos tratados como objetos e mercadorias. Hoje já virou um fato

comum na segunda-feira contarmos o número de mortos em Feira de

Santana, Salvador ou na Região Metropolitana, mas o que não é

esclarecido é o tipo de homicídio nem suas circunstâncias.

Estudos apontam que são os jovens negros e a periferia as principais

vítimas da violência homicida e que, no nosso estado, mais de 90% desses

crimes não são solucionados enquanto é esse mesmo o índice de crimes

solucionados quando as vítimas são brancas. Assim os corpos dos nossos

jovens, irmãos/irmãs, filhos/filhas, amigos/amigas, primos/primas e

vizinhos/vizinhas são contados como coisas e acumulado como

mercadorias, lembrando a escravidão. O genocídio contra a população

negra é tão evidente que somente o cinismo cruel da elite branca poderia

negar a sua existência. Não é apenas a violência homicida, com

vitimização juvenil negra, 1900% superior a branca em estados como

Paraíba e Alagoas, que caracteriza o genocídio brasileiro. São também as

más condições de vida, as políticas de segregação sócio- espacial, como

nos casos de Pinheirinho, a Favela do Moinho em São Paulo e Quilombo

Rio dos Macacos na Bahia, do desaparecimento de moradores de rua por

conta das famigeradas copas e a política de encarceramento em massa.

Tudo isso faz parte do processo genocida brasileiro que é fundamentado

no racismo e tem como fim a eliminação do povo negro e indígena do

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território nacional. Portanto, trata-se de um tipo de morte que não é o

resultado do processo natural de nascer, crescer e morrer. A morte negra

é política, é morte produzida.

Isso nos leva a afirmar que a política atual de segurança pública na

Bahia e em outros estados permite entender que o sistema penal

brasileiro tem um caráter seletivo e racista. Em nossas comunidades

destituídas de políticas governamentais, o Estado geralmente se mostra

através de armas e de balas. A pena de morte é aplicada sumariamente,

jovens negros têm seu direitos violados e são assassinados

extrajudicialmente por policiais e grupos de extermínio. As formas mais

diretas de genocídio estrutura o modelo de Estado brasileiro e se

apresenta como realidade nacional no âmbito de todos os seus poderes.

O que percebemos é que essa forma de ação do Estado direcionado para

a população negra não está resumida a um ou outro governo, seja de que

partido for, portanto, é uma questão que marca a prática política e a

organização do Estado Brasileiro, desde quando foi criado até os dias

atuais.

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Parte 2 O QUE É A CAMPANHA REAJA OU SERÁ MORTA, REAJA OU SERÁ MORTO?

A Campanha Reaja ou será morta, Reaja ou será morto, impulsionada

atualmente pela organização Quilombo Xis- ação cultural comunitária,

Núcleo Akofena e Casa do Boneco de Itacaré, organizados em defesa da

vida, desenvolve suas atividades desde 2005, nas ruas, nas comunidades,

pautando sempre o racismo, a violência física e psicológica, o

encarceramento em massa que persegue a população negra desde

tempos remotos.

A Reaja se organiza através de chamados das comunidades, que

buscam na Campanha um reforço pras lutas e resistências que vivenciam

cotidianamente, composta por moradores de bairros periféricos,

familiares e vítimas do Estado, a Reaja está e é a voz das ruas, dos becos e

vielas, porque “ninguém fala pelas ruas”. São vozes que resistem a esse

projeto de Estado Genocida, que “mata negros e negras todos os dias”.

A Reaja existe porque o racismo existe, a Reaja é “o pulo do gato”, é

a dor de familiares e vítimas do Estado travestida de luta, é uma extensão

e expressão da união de várias comunidades e famílias, famílias estas

marcadas por uma dor inexplicável: a dor da perda precoce e violenta.

A Campanha Reaja desde 2005, politiza a morte de pessoas negras

por agentes do Estado, pelos grupos de extermínio, pelos esquadrões da

morte e a política de segurança racista, que seletivamente abate e

encarcera jovens /homens negros. Isto, sob o silêncio das autoridades

guardiãs de direitos e as organizações de direitos humanos, que se fazem

omissas diante do holocausto negro no Brasil. A partir daquele 12 de

maio de 2005, à frente da Secretaria de Segurança Pública do Estado da

Bahia, a Campanha Reaja elegeu a rua como palco de manifestação e luta

contra o racismo.

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Ao longo desses anos a Reaja faz denúncias locais e internacionais

chamando a atenção da sociedade para as bases mínimas de uma

segurança responsiva, baseada nos direitos humanos. Os passos dessa

Campanha vêm de longe, honrando heróis e heroínas negras que deram

seu sangue para que agora nós não hesitemos em nossa tarefa histórica

de defender a vida, e uma vida com dignidade.

A CAMPANHA REAJA CONVIDA A POPULAÇÃO NEGRA A REAGIR COLETIVAMENTE!

https://www.facebook.com/ReajaOuSeraMortoReajaOuSeraMorta

http://reajanasruas.blogspot.com.br/

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Parte 3 SEGURANÇA PÚBLICA PRA QUÊ? PRA QUEM?

A segurança pública é considerada uma demanda social, um sistema

de direitos, e que é efetivada fundamentalmente pelo Estado. Todavia,

socialmente a segurança pública está vinculada fortemente a perspectiva

do controle social, mais especificamente, da intervenção focada sobre o

crime e a violência.

No processo de revisão da estratégia de segurança pública no Brasil,

foi implantado em 1998, no Rio de Janeiro, mais especificamente na

Favela Santa Marta, a primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Mas, foi a partir de 2007, com a implantação do Plano Nacional de

Segurança com Cidadania (Pronasci) que passa a existir um processo

efetivo de investimento em “estratégias comunitárias de policiamento”.

No Estado da Bahia, o modelo escolhido foi a Base Comunitária de

Segurança Pública, a qual integrou o projeto “Pacto Pela Vida”, um

projeto de segurança publica criado e implantado durante o governo de

Jaques Vagner, atual governador da Bahia.

No entanto, mesmo com um projeto de segurança publica

denominado “Pacto Pela Vida”, a Bahia tem 11 das cidades que mais

matam jovens no país, sobretudo jovens negros. Isso nos faz reafirmar

que independente de governo, independente de quem esteja no poder,

“para além da conjuntura”, existe uma população alvo: a população

negra.

Em 2005, no auge do governo de ACM, quando surge a Campanha

Reaja ou será morta, Reaja ou será morto, 635 pessoas foram

assassinadas só em Salvador, de janeiro a setembro. De janeiro a março

de 2007, no atual governo de Jaques Wagner, morreram cerca de 300

pessoas (são dados do próprio governo). Não temos a menor dúvida de

que a maioria dessas pessoas que foram assassinadas, e a maioria

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também vítima da brutalidade policial, é negra.

Nos bairros de classe média, habitados por uma população

majoritariamente branca, ou de pele clara, “que significa um passaporte

fundamental em nossa sociedade”, não existem registros de brutalidade

policial, ao menos não contra essa população. Muito diferente do que

acontece nos bairros onde a população negra é maioria, como Curuzu,

Nordeste de Amaralina, Engenho Velho de Brotas, Boiadeiro, Fazenda

Coutos, Fazenda Grande, Cajazeiras, Mata escura, entre outros. A

realidade é que os jovens negros dessas comunidades, mesmo as que

aqui não foram citadas, estão na mira dos grupos de extermínio.

Diante disso, pergunto novamente, Segurança Pública, para quê e

para quem?

A policia, sobretudo a militar, foi criada quando o Brasil ainda era

império, num momento histórico que o país vivenciava uma série de

movimentos revolucionários que se colocavam contra os governantes

daquele momento (qualquer semelhança com a atualidade, é mera

coincidência). O objetivo da policia militar, que no Brasil império era

denominada “Guarda Real de Policia”, era a estabilidade do império e a

manutenção da ordem pública. Ora, a população negra nunca foi tida por

esse país com bons olhos, logo, não era a nossa segurança que estava em

pauta, nunca foi, a policia militar existi, traz isso da sua raiz, para

assegurar a vida e os bens de uma elite construída historicamente, e nós,

negro e negras, não fazemos parte desse “caldo”.

Se diante dos fatos apresentados a pergunta que iniciou essa

discussão não foi respondida, eu resumo dizendo que, o papel da policia,

sobretudo a militar, não é o de garantir a segurança da população negra,

nesse “jogo” nós somos o único alvo, ou seja, infelizmente,

nenhum/nenhuma de nós esta seguro/segura.

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Parte 4 UM PEQUENO GUIA DE AUTODEFESA

Quando formos vítimas, ou alguém próximo a nós for vítima da

violência estatal, o que devemos fazer? A quem devemos procurar?

Devemos nos assegurar de todos os meios de provas disponíveis,

principalmente a prova testemunhal. É necessário que tenhamos como

provar a violência por nós ou por alguém sofrida. Buscar uma orientação

jurídica para saber o que fazer, quando e como fazer.

Algumas instituições e organizações podem auxiliar as vítimas de

violência do estado, como:

Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto!

Organizações do Movimento Negro;

Entidades de Direitos Humanos;

Ministério da Justiça;

Organizações dos Estados Americanos – OEA;

Organização das Nações Unidas ONU.

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Parte 5 PORQUE UMA MARCHA NACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO

DA POPULAÇÃO NEGRA?

A história da população negra nos últimos séculos é uma história de

luta pela vida e pelo restabelecimento da sua dignidade humana, perdida

com a escravidão, colonização e racismo.

As experiências das populações negras tanto no continente africano

como fora dele, são experiências de levantes contra a dominação branca

e da sua política de genocídio.

No Brasil, a resistência a escravidão se deu de diversas formas, sendo

representada, por exemplo, pela formação dos quilombos, das revoltas

de africanos escravizados, pelas fugas, pela formação das organizações

secretas, pelas irmandades religiosas e por tantas outras histórias de

organização e manifestações de lutas pela libertação racial.

Passada a primeira década do século XXI, as transformações e

evoluções tecnológicas e cientificas não trouxeram para o povo negro a

tão sonhada revolução social e as tão prometidas melhorias em suas

condições existenciais.

Assim como há séculos atrás, o povo africano e seus descendentes

continuam com sua intensa luta contra um modelo de governo/Estado

que o explora e arranca-lhe a dignidade fundamental enquanto seres

humanos. A luta negra, ainda nos dias de hoje, tem como principal

bandeira a defesa da vida e da sobrevivência digna.

Portanto, mudam-se as conjunturas, mas a nossa luta continua sendo

a mesma, mesmo que de forma diferenciada. Atento a tudo isso é que a

Campanha Reaja ou Será morto, Reaja ou Será morta, continua nas ruas

militando, desta vez marchando pela vida dos milhões de jovens, adultos,

idosos, crianças, mulheres, enfim, de toda a população negra, nas ações

antirracista e em defesa da vida.

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Seguidores e seguidoras que somos de pensamentos libertários,

como o de Steve Biko, que nos ensinava “ou a gente está vivo e orgulhoso

ou a gente está morto. E se estivermos mortos, não ligamos para nada”, é

que trilhamos nossa trajetória de luta e revolução contra o racismo, em

defesa da vida, da unificação e libertação negra.

Contudo, não temos que esquecer que são as realidades das ruas e

do dia a dia, dos tempos atuais, que nos move nessa luta. São as dores, os

choros, as lamentações e as injustiças do presente que nos mantêm

ativos/ativas e combatentes nessa guerra contra o genocídio da

população negra.

É com a indignação e oposição ferrenha que pretendemos marchar

no dia 22 de agosto de 2013, não só nesse dia, como também em todos

os outros dias do ano, contra a política estatal e governamental que

assassinam milhões de pessoas de nossa gente preta.

IDENTIFIQUE-SE COM A NOSSA PROPOSTA! CONTRA O GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO

NEGRA, NENHUM PASSO ATRÁS!

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10 COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A MARCHA NACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO DA POPULAÇÃO NEGRA

1. A marcha contra o genocídio do povo negro acontecerá no dia

22/08/2013, às 15h, com concentração no Largo dos Aflitos, em

Salvador – BA;

2. O Objetivo é marchar em silêncio até a Praça da Piedade;

3. Cartazes com fotos de entes queridos, tombados pelo braço armado

do Estado serão nossas bandeiras.

4. A marcha está sendo planejada/organizada pela Campanha Reaja ou

será morta, Reaja ou será morto, e é impulsionada por organizações,

núcleos e coletivos apoiadores.

5. A marcha é composta, sobretudo por familiares e vítimas da ação ou

omissão do Estado.

6. As irmãs, as mães, as avós, as tias, ou seja, as mulheres que sofreram

e sofrem com a violência do Estado formam a frente da Marcha.

7. Todas as comunidades estão convidadas a construir ativamente a

marcha até o dia do ato em si.

8. A marcha é também um ato de fortalecimento das famílias vítimas do

Estado.

9. A marcha é um ato pela vida da população negra.

10. Essa cartilha é um convite a você, sua comunidade, sua família, para

participar da MARCHA NACIONAL CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO

NEGRO.

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22 de agosto de 2013 SALVADOR – BAHIA