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Casa da Ínsua – Hotel de Charme – Penalva do Castelo www.casadainsua.pt Casa da Ínsua – Hotel de Charme Viagem Philosophica de Alexandre Rodrigues Ferreira Alexandre Rodrigues Ferreira, considerado um dos maiores naturalistas luso-brasileiros, nasceu na Cidade da Bahia, a 27 de Abril de 1756, filho do comerciante Manuel Rodrigues Ferreira, e faleceu, em Lisboa, a 23 de Abril de 1815. Empreendeu uma extensa viagem, que ficou conhecida como “Viagem Philosophica”, na qual percorreu o interior da Amazónia até ao Mato Grosso, entre 1783 e 1792, em que descreveu a agricultura, a fauna, a flora e os habitantes locais daquela vasta região. Alexandre Rodrigues Ferreira iniciou os seus estudos no Convento das Mercês, na Bahia, que lhe concedeu as primeiras ordens em 1768. Continuaria os estudos na Universidade de Coimbra, onde se matricularia primeiro no Curso de Leis e, mais tarde, em Filosofia Natural e Matemática. Bacharelado com 22 anos, prosseguiu os estudos naquela instituição, onde chegou a exercer a função de Preparador de História Natural e onde obteria o título de Doutor, em 1779. Posteriormente trabalharia no Real Museu da Ajuda e, mais tarde, a 22 de Maio de 1780, foi admitido como membro correspondente da Real Academia de Ciências de Lisboa. Nessa altura, estavam já em decadência as rendas coloniais, exauridas as jazidas de ouro aluvial do Mato Grosso, de Góias e sobretudo de Minas Gerais. Neste contexto, e com o objectivo de conhecer melhor o centro-norte da colónia, até aí praticamente inexplorado, e de ali promover um rápido desenvolvimento, a Rainha D. Maria I ordenou ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira que empreendesse uma Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão- Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Aliciado com a ideia, o naturalista deixou o seu cargo no Museu da Ajuda e, em Setembro de 1783 partiu para o Brasil, para descrever, recolher, aprontar e remeter para o Real Museu de Lisboa amostras de utensílios empregados pela população local, bem como de minerais, plantas e animais. Ficou também encarregue de tecer comentários filosóficos e políticos sobre o que visse nos lugares por onde passasse. Esse pragmatismo será o que fez com esta expedição se tornasse distinta de congéneres suas, mais científicas, comandadas por outros naturalistas que protagonizaram a exploração do continente americano. A Viagem tinha os auspícios da Academia das Ciências de Lisboa e do Ministério dos Negócios e Domínios Ultramarinos e foi delineada pelo naturalista italiano Domenico Vandelli, ao tempo lente na Universidade de Coimbra. Programada para ter quatro naturalistas, veio apenas a ter um, sem contar os drásticos cortes financeiros e materiais. Apesar dos precários recursos Alexandre Ferreira assumiu a missão de realizar as tarefas de colecta de espécies, classificação e preparação para o embarque rumo a Lisboa, e ainda elaborar os estudos sobre agricultura, cartografia e a confecção dos mapas populacionais, que eram objectivo da viagem. Contava para isso apenas com dois desenhadores ou 'riscadores', José Codina, do qual pouco de sabe, e José Joaquim Freire (que tivera importante papel na Casa do Risco do Museu da Ajuda e frequentara aulas de desenho na Fundição do Real Arsenal do Exército) a que se juntava um jardineiro botânico, Agostinho do Cabo. Em Outubro de 1783 a expedição chegou a Belém do Pará na charrua Águia e Coração de Jesus. Os nove anos seguintes seriam dedicados a percorrer o centro-norte do Brasil, a partir das ilhas de Marajó, Cametá, Baião, Pederneiras e Alcobaça. Subiu o rio Amazonas e o rio Negro até à fronteira com as terras espanholas, navegou pelo rio Branco até à serra de Cananauaru. Subiu o rio Madeira e o rio Guaporé até Vila Bela da Santíssima Trindade, então capital do Mato Grosso. Seguiu para a vila de Cuiabá, avançando na bacia amazónica para os domínios do pantanal Mato- Grossensse, já na bacia do rio da Prata. Navegou pelo rio Cuiabá, pelo rio São Lourenço e pelo rio Paraguai. Voltou a Belém do Pará em Janeiro de 1792. Tinha percorrido as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre 1783 e 1792. Inventariara a natureza, as comunidades indígenas e seus costumes, avaliara as potencialidades económicas e o desempenho dos núcleos populacionais. Tinha concretizado a mais importante viagem de todo o período colonial.

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Viagem Philosophica de Alexandre Rodrigues Ferreira

Alexandre Rodrigues Ferreira , considerado um dos maiores naturalistas luso-brasileiros, nasceu na Cidade da Bahia, a 27 de Abril de 1756, filho do comerciante Manuel Rodrigues Ferreira, e faleceu, em Lisboa, a 23 de Abril de 1815. Empreendeu uma extensa viagem, que ficou conhecida como “Viagem Philosophica”, na qual percorreu o interior da Amazónia até ao Mato Grosso, entre 1783 e 1792, em que descreveu a agricultura, a fauna, a flora e os habitantes locais daquela vasta região.

Alexandre Rodrigues Ferreira iniciou os seus estudos no Convento das Mercês, na Bahia, que lhe concedeu as primeiras ordens em 1768. Continuaria os estudos na Universidade de Coimbra, onde se matricularia primeiro no Curso de Leis e, mais tarde, em Filosofia Natural e Matemática. Bacharelado com 22 anos, prosseguiu os estudos naquela instituição, onde chegou a exercer a função de Preparador de História Natural e onde obteria o título de Doutor, em 1779.

Posteriormente trabalharia no Real Museu da Ajuda e, mais tarde, a 22 de Maio de 1780, foi admitido como membro correspondente da Real Academia de Ciências de Lisboa.

Nessa altura, estavam já em decadência as rendas coloniais, exauridas as jazidas de ouro aluvial do Mato Grosso, de Góias e sobretudo de Minas Gerais. Neste contexto, e com o objectivo de conhecer melhor o centro-norte da colónia, até aí praticamente inexplorado, e de ali promover um rápido desenvolvimento, a Rainha D. Maria I ordenou ao naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira que empreendesse uma Viagem Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá.

Aliciado com a ideia, o naturalista deixou o seu cargo no Museu da Ajuda e, em Setembro de 1783 partiu para o Brasil, para descrever, recolher, aprontar e remeter para o Real Museu de Lisboa amostras de utensílios empregados pela população local, bem como de minerais, plantas e animais. Ficou também encarregue de tecer comentários filosóficos e políticos sobre o que visse nos lugares por onde passasse. Esse pragmatismo será o que fez com esta expedição se tornasse distinta de congéneres suas, mais científicas, comandadas por outros naturalistas que protagonizaram a exploração do continente americano.

A Viagem tinha os auspícios da Academia das Ciências de Lisboa e do Ministério dos Negócios e Domínios Ultramarinos e foi delineada pelo naturalista italiano Domenico Vandelli, ao tempo lente na Universidade de Coimbra.

Programada para ter quatro naturalistas, veio apenas a ter um, sem contar os drásticos cortes financeiros e materiais. Apesar dos precários recursos Alexandre Ferreira assumiu a missão de realizar as tarefas de colecta de espécies, classificação e preparação para o embarque rumo a Lisboa, e ainda elaborar os estudos sobre agricultura, cartografia e a confecção dos mapas populacionais, que eram objectivo da viagem.

Contava para isso apenas com dois desenhadores ou 'riscadores', José Codina, do qual pouco de sabe, e José Joaquim Freire (que tivera importante papel na Casa do Risco do Museu da Ajuda e frequentara aulas de desenho na Fundição do Real Arsenal do Exército) a que se juntava um jardineiro botânico, Agostinho do Cabo.

Em Outubro de 1783 a expedição chegou a Belém do Pará na charrua Águia e Coração de Jesus.

Os nove anos seguintes seriam dedicados a percorrer o centro-norte do Brasil, a partir das ilhas de Marajó, Cametá, Baião, Pederneiras e Alcobaça.

Subiu o rio Amazonas e o rio Negro até à fronteira com as terras espanholas, navegou pelo rio Branco até à serra de Cananauaru. Subiu o rio Madeira e o rio Guaporé até Vila Bela da Santíssima Trindade, então capital do Mato Grosso. Seguiu para a vila de Cuiabá, avançando na bacia amazónica para os domínios do pantanal Mato-Grossensse, já na bacia do rio da Prata. Navegou pelo rio Cuiabá, pelo rio São Lourenço e pelo rio Paraguai. Voltou a Belém do Pará em Janeiro de 1792. Tinha percorrido as capitanias do Grão-Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá entre 1783 e 1792.

Inventariara a natureza, as comunidades indígenas e seus costumes, avaliara as potencialidades económicas e o desempenho dos núcleos populacionais. Tinha concretizado a mais importante viagem de todo o período colonial.

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Diz a "Brasiliana", página 51: "Nos diários de sua Viagem Filosófica, traçou um amplo quadro das lavouras, procurando subsídios para o declínio da produção, sobretudo após a expulsão dos jesuítas. As culturas estavam prejudicadas pelo desprezo do português pelo trabalho, indolência dos nativos, falta de braços e redução do número de escravos negros. Os seus planos não se concentravam apenas na multiplicação das áreas agrícolas, mas na qualidade e na diversificação dos produtos. A economia somente avançaria caso houvesse uma racionalização das culturas e introdução de técnicas adequadas à lavoura e ao solo. Para avaliar o empreendimento, construiu tabelas pormenorizadas, destinadas a fornecer um panorama sobre povoados e lavouras. Em cada comunidade, os mapas populacionais dimensionavam as potencialidades da mão-de-obra, destacando a existência de trabalhadores activos e inactivos, o número de brancos, índios, negros escravos, mulheres, crianças e velhos. Deste modo, compunha um quadro sobre a viabilidade económica dos lugarejos visitados. A produção agrícola tornou-se, igualmente, um dado fundamental para compor um diagnóstico da economia da Amazónia. O naturalista, então, mensurava as colheitas de farinha, arroz, milho, cacau, café e tabaco, compondo balanços da produção."

O "Diário da Viagem Filosófica" de Alexandre Rodrigues Ferreira foi publicado em 1887, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A Divisão de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil conserva, na Colecção dedicada a Alexandre Rodrigues Ferreira, centenas de documentos da Viagem Filosófica, além de papéis referentes à Amazónia no século XVIII.

Também o envio destes elementos para Portugal ficou marcado pelo espírito de missão que a todos motivara. De facto, durante os anos de sua estada no sertão, Alexandre Rodrigues Ferreira havia ordenado o envio do material colectado para a Corte em Lisboa. Apesar da falta de recursos, o capitão que recebera estas ordens cumpriu-as usando o seu próprio dinheiro. Alexandre Ferreira, ao descobrir que todas as despesas haviam sido custeadas pelo capitão, gastando o dote de sua filha e inviabilizando o casamento dela, disse-lhe: "Isso não servirá de embaraço ao seu casamento; eu serei quem receba essa sua filha por mulher." E assim fez: casou-se no dia 16 de Setembro de 1792, com Germana Pereira de Queiroz.

O vasto material proveniente da Viagem Filosófica, permaneceu por mais de um século desconhecido e não foi estudado pelos sábios portugueses, nem mesmo por Alexandre Ferreira. Este jamais retomaria os trabalhos com as espécies e amostras recolhidas no Brasil, não aperfeiçoou as memórias e estudos e boa parte desse material seria, mais tarde, levado para Paris como saque de guerra, durante as invasões francesas. Ainda há, entretanto, rico acervo, diários, mapas geográficos, populacionais e agrícolas, correspondência, mais de mil pranchas e memórias - que se encontram sobretudo na Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no museu Bocage, em Lisboa.

Já em Lisboa, após o regresso, em Janeiro de 1793, Alexandre Rodrigues Ferreira dedicou sua vida à administração metropolitana: foi nomeado Oficial da Secretaria do Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos. Em 1794, foi condecorado com a Ordem de Cristo e tomou posse como Director interino do Real Gabinete de História Natural e do Jardim Botânico. No ano seguinte foi nomeado Vice-Director daquela instituição e em seguida seria nomeado Administrador das Reais Quintas e ainda Deputado da Real Junta do Comércio.

Alexandre Rodrigues Ferreira esteve em Cuiabá e Mato Grosso, sabendo-se que se deslocou mesmo ao Real Forte Príncipe da Beira, onde contactou e colaborou com Luís de Albuquerque, Governador e Capitão-General d e Cuiabá e Mato Grosso , que, por essa altura, desenvolvia trabalho afim no levantamento de cartas e de populações daquela região brasileira. Reproduções de alguns desses trabalhos podem ser hoje admirados nas paredes de vários quartos e salas da Casa da Ínsua .