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8/17/2019 CASO-Cobranca Indevida - Nao Vexatoria - Sem Indenizacao
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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.°2.200-2/2001, Lei n.°11.419/2006 e Resolução n.°09/2008, do TJPR/OE
O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
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Apelação Cível nº817079-2, do Foro Central da Comarca da RegiãoMetropolitana de Curitiba – 7ª Vara Cível.Apelante: Tereza Cordeiro KiemApelados: Companhia Brasileira de Distribuição e outroRelator: Desembargador Francisco Luiz Macedo Júnior
APELAÇÃO CÍVEL – RESPONSABILIDADECIVIL – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO CONTRATUALENTRE AS PARTES – COBRANÇA INDEVIDADE VALORES – DÉBITOS DECLARADOSINEXISTENTES – COBRANÇA VEXATÓRIA NÃO EVIDENCIADA – AUSÊNCIA DE PROVASSOBRE O DANO – OCORRÊNCIA DE MERODISSABOR – INDENIZAÇÃO QUE DEVIA SER
AFASTADA, MAS QUE EM FACE DA AUSÊNCIADE RECURSO PARA ISTO NÃO PODE SERMODIFICADA, MUITO MENOS AUMENTADA –RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
Trata-se de ação de inexigibilidade de débito cumulada
com indenização por danos morais intentada por Tereza Cordeiro Kiemem face da Companhia Brasileira de Distribuição – Grupo Pão de Açúcar.
Sustentou a autora, que apesar da inexistência de relação
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jurídica entre as partes, a requerida teria efetuado cobrança indevida devalores, de maneira vexatória, causando-lhe constrangimentos.
Contestando o feito (fls. 91/120), a Companhia
Brasileira de Distribuição - Grupo Pão de Açúcar argüiu, preliminarmente,
inépcia da inicial e ilegitimidade passiva. No mérito, requereu a
improcedência da ação.
A Financeira Itaú CDB S.A, Crédito e Financiamento e
Investimento, compareceu espontaneamente ao feito, apresentando
contestação às fls. 134/155, requerendo a substituição das partes, com a
exclusão do Grupo Pão de Açúcar – Companhia Brasileira de Distribuição
do pólo passivo da demanda.
O juiz julgou extinto o processo, sem julgamento do
mérito, em relação a requerida Companhia Brasileira de Distribuição, comfulcro no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil, ante a
ilegitimidade passiva. Ainda, julgou procedentes os pedidos formulados
na inicial, para declarar a inexigibilidade dos débitos, condenando a
Financeira Itaú CDB S.A ao pagamento de indenização por danos morais,
fixados em R$ 300,00 (trezentos reais).
Em razão da sucumbência, condenou a autora ao pagamento dos honorários advocatícios, devidos ao patrono da requerida
Companhia Brasileira de Distribuição, fixados em R$ 300,00 (trezentos
reais), ressalvando o disposto no artigo 12, da Lei n. 1.050/60.
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Condenou, ainda, a requerida Financeira Itaú CDB S.A.ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios, fixados
em R$ 300,00 (trezentos reais), nos termos do artigo 20, § 4º, do Código
de Processo Civil.
A autora Tereza Cordeiro Kiem interpôs embargos de
declaração às fls. 178/190), que foram rejeitados, conforme decisão de fls.
191/192.
Inconformada com o valor da indenização arbitrada a
título de danos morais, a autora Tereza Cordeiro Kiem apela (fls. 78/85),
requerendo a majoração de tal verba, bem como dos honorários
advocatícios fixados.
Contrarrazões das requeridas (fls. 213/216 e 219/223)
pela manutenção da sentença.
É o relatório,
VOTO:
Presentes os requisitos de admissibilidade, intrínsecos e
extrínsecos, de se conhecer o recurso.
Restringe-se o recurso a majoração do valor dacondenação e da verba honorária de sucumbência.
No caso, observa-se que a magistrada a quo fixou o
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valor da indenização em R$ 300,00 (trezentos reais), quantia que semostra ínfima ao ser comparada com os parâmetros jurisprudenciais
estabelecidos para casos semelhantes (entre 20 a 50 SM), pois corresponde
a 0,58 SM (zero vírgula cinqüenta e oito salários mínimos), de R$ 510,00
(quinhentos e dez reais), da época da sentença.
No entanto, para fixação do valor da indenização não
basta, apenas, levar-se em consideração os parâmetros jurisprudenciais, énecessário analisar, também, as circunstâncias do caso concreto.
E, no presente caso, verifica-se que a autora/apelante não
foi inscrita nos cadastros restritivos de crédito, tanto que seu pedido
indenizatório baseou-se na cobrança indevida de valores, efetuada
supostamente de forma ofensiva e persistente, fatos que, segundo ela,
teriam lhe causado inúmeros constrangimentos, ensejadores de danos
morais indenizáveis.
No entanto, inexistem provas quanto às alegadas
cobranças vexatórias.
Outrossim, apesar das cobranças indevidas terem
iniciado em maio de 2007, o que se verifica pela fatura de fl. 18, a autora
interpôs a presente ação somente em 05/08/2010, ou seja, mais de 3 (três)anos depois.
Logo, se esperou tanto tempo para resolver a situação, é
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porque não a considerava tão urgente, nem aflitiva, a ponto de sercausadora de constrangimento e geradora de abalo moral.
Com efeito, a magistrada a quo, ao arbitrar o valor da
indenização em valor inferior aos parâmetros jurisprudenciais atuais,
considerou tais fatos.
A respeito, importante citar parte da sentença:
“..., na análise dos autos, verifica-se que a autora nãoteve seu nome inscrito em cadastro de restrição ao crédito (fl.160). Observa-se, também, que a cobrança descrita na inicialperdurou mais de três anos, o que revela que a autora nãoteve pressa em resolver a situação, já que somente ingressoucom a presente demanda em 2010 e a primeira fatura que junta aos autos é de maio de 2007.
Por fim, a autora afirma que ficou doente ante ascobranças indevidas, contudo não juntou aos autos qualquercomprovante de que sofre de qualquer doença.
Considerando que a indenização devida a título dedanos morais tem por objetivo compensar e consolar dealgum modo a parte lesada, minimizando-lhe a dor, osofrimento, a tristeza e eventual prejuízo em decorrência daofensa perpetuada, deve o magistrado analisarsimultaneamente vários critérios para a definição do quantum
devido, para que a indenização não se constitua em fator deenriquecimento fácil e indevido, bem como para que sejairrisório, de modo a agravar a dor e o inconformismo davítima, sendo o suficiente para fazer às vezes da restauraçãoao status quo ante.
Para tanto, cumpre analisar a situação econômica,profissional, social, familiar e cultural, tanto do ofendido como
do agente ofensor, o grau de culpa do ofensor, ocomportamento da vítima e do ofensor, a divulgação e arepercussão do fato, e os danos causados.
Ante o exposto fixo a indenização por danos moraisem R$ 300,00 (trezentos reais). Valor maior que este, de seuturno, poderia ocasionar enriquecimento indevido a
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requerente, o que é vedado pelo tratamento jurídico daindenização por dano moral.” (fls. 172/173)
Importante salientar, a propósito, que muito embora a
condenação por danos morais dispense a prova efetiva dos prejuízos
experimentados, uma vez que estes se manifestam no íntimo do indivíduo,
é necessário que se demonstre, ao menos, a conduta ou o fato que
supostamente teria ensejado o dano.
No caso em tela, as supostas cobranças vexatórias
realizadas poderiam ser comprovadas através da prova testemunhal ou por
outro meio de prova, por exemplo, gravação das ligações telefônicas.
Porém, nenhuma prova neste sentido foi produzida.
Além disso, como se disse, não há qualquer indício de
que o nome da apelante foi inscrito nos cadastros restritivos de crédito. Ao
contrário, pelo que se observa na inicial, o pedido indenizatório baseou-se
somente nas cobranças insistentes (telefonemas), efetuadas pelos
prepostos da apelada, que segundo a autora foram os causadores de abalo
moral.
Contudo, não obstante a inexistência da dívida, o que
torna a cobrança indevida, a prova da ocorrência de cobrança vexatória se
fazia necessária para a configuração do dano moral indenizável. Veja-se
que tais fatos, que poderiam configurar delito, sequer foram objeto de
noticia crimines, com a confecção do correspondente Boletim de
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Ocorrência, ou termo circunstanciado, o que leva a crer que se existiu erauma cobrança não insistente, muito menos constrangedora ou vexatória.
E, no caso, nos termos do artigo 333, I, do Código de
Processo Civil, a autora incumbia demonstrar que houve cobrança
vexatória. Contudo, nada provou!
Com efeito, compulsando os autos, observa-se não
existir prova de que as cobranças foram realizadas na presença de várias
pessoas, de forma ofensiva e vexatória, ou que tenham exposto a autora à
situação constrangedora ou a outros sofrimentos passíveis de indenização.
Cumpre ressaltar, a propósito, que somente a prova da
exposição pública da dívida, de modo a submeter o devedor à situação
vergonhosa perante as pessoas do seu convívio social ou de terceiros, já
poderia configurar a prática de cobrança vexatória, capaz de ensejar odever de indenizar.
Da leitura da inicial, observa-se que a autora/apelada
reclama, tão somente, sobre ligações telefônicas, feitas pela apelada.
Registre-se que as ligações telefônicas, por si só, não
podem ser entendidas como vexatórias.
Logo, a prova produzida, sobretudo a documental, não
foi suficiente para, com a certeza necessária a uma condenação,
comprovar a existência de cobrança vexatória.
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Além disso, como se disse, verifica-se que a autora não produziu nenhuma prova que pudesse, pelo menos, trazer algum indício de
que tenha sofrido abalo moral, em virtude das tentativas de cobrança feitas
pela requerida (fato no qual fundamenta a ocorrência de dano moral). Tal
prova poderia ser facilmente produzida através do depoimento de
testemunhas que eventualmente tivessem presenciado o momento em que
ocorreram as ligações, como por exemplo, vizinhos ou amigos, entre
outras pessoas.
Assim, uma vez não demonstrado, nestes autos, que
houve cobrança vexatória por parte da apelada, não há que se falar em
indenização. Isto porque, não obstante a inexistência de débito, as
cobranças realizadas mediante o envio de correspondência ou via
telefônica, configuram mero dissabor cotidiano, que não caracteriza dano
moral.
Mas, no caso, a requerida/apelada não recorreu,
resignando-se com tal condenação, que por isto não pode ser modificada.
Nesse passo, incabível, por óbvio, qualquer majoração
sobre tal indenização.
Relativamente aos honorários advocatícios, arbitradosem R$ 300,00 (trezentos reais), considerando a singeleza da causa, bem
como ser caso de afastamento da indenização (que somente não ocorreu
em virtude da resignação da parte contrária), o que levaria a inversão dos
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ônus sucumbenciais, entendo por manter a verba honorária fixada pelo juízo a quo.
Diante do exposto, VOTO por CONHECER o recurso,
para NEGAR-LHE PROVIMENTO, mantendo a respeitável sentença,
nos termos deste voto.
ACORDAM os Membros Integrantes da 9ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em
CONHECER o recurso, para NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos
termos do voto do Relator.
O julgamento foi presidido por este Relator e dele
participaram os excelentíssimos Desembargadores D’artagnan Serpa Sa e
Rosana Amara Girardi Fachin.
Curitiba, 17 de novembro de 2011