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1 ÍNDICE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 10 § 1.º O tema e o plano da investigação ............................................................................... 10 I. Delimitação do tema ....................................................................................................... 10 1. A lei .............................................................................................................................. 10 2. Decisões judiciais ...................................................................................................... 11 3. Decisões civis ............................................................................................................. 13 4. Decisões sobre o mérito ............................................................................................ 25 5. Decisões constitutivas de caso julgado .................................................................. 27 6. Modificação por via judicial ...................................................................................... 29 7. Modificação e cessação de efeitos ........................................................................... 31 8. Alteração das circunstâncias .................................................................................... 31 II. Delimitação negativa ..................................................................................................... 32 1. Impugnação do caso julgado através de recurso extraordinário de revisão ...... 32 2. Oposição à decisão ou à execução .......................................................................... 42 3. Desconsideração do caso julgado. Uso da sentença contra a boa fé .................. 45 4. Caducidade do caso julgado. Referência aos limites temporais da sentença e aos limites temporais do caso julgado ........................................................................ 53 III. Interesse do tema.......................................................................................................... 63 1. Incompletude do regime legal ................................................................................... 63 2. Relevância prática ...................................................................................................... 64 3. Tratamento doutrinário e jurisprudencial ................................................................ 68 4. Objecto do processo e da sentença ......................................................................... 86 5. Limites e extensão do caso julgado ......................................................................... 90 6. Instrumentalidade do direito processual civil ......................................................... 90 IV. O plano da investigação .............................................................................................. 97 CAPÍTULO I............................................................................................................................... 106 ENQUADRAMENTO LEGAL .................................................................................................... 106 § 2º A lei portuguesa ........................................................................................................... 106 I. O artigo 671º, n.º 2, do CPC ......................................................................................... 106 1. Inserção sistemática: o caso julgado material ...................................................... 106 2. Sentenças condenatórias ........................................................................................ 107 a) Condenação no pedido. Comparação com o artigo 673º do CPC ......................... 107 b) Exclusão das sentenças de simples apreciação e constitutivas ............................ 109 3. Sentenças de trato sucessivo relativas a dívidas de valor .................................. 110 4. Circunstâncias atendíveis ....................................................................................... 113 5. Procedimento aplicável ........................................................................................... 115 6. Antecedentes históricos .......................................................................................... 117 a) O artigo 671º, 2ª parte, do CPC de 1939 ............................................................... 117 b) Evolução legislativa até ao CPC de 1939 .............................................................. 119 b) 1. Ordenações..................................................................................................... 119 b) 2. Reforma Judiciária .......................................................................................... 119 b) 3. Código de Processo Civil de 1876 .................................................................. 120 b) 4. Lei n.º 3, de 3 de Novembro de 1910 ............................................................. 122 b) 5. Decreto n.º 4288, de 9 de Março de 1918 ...................................................... 122 b) 6. Decreto n.º 4618, de 13 de Julho de 1918 ..................................................... 123 b) 7. Decreto n.º 21 287, de 26 de Maio de 1932 ................................................... 123 b) 8. Decreto n.º 21 694, de 29 de Setembro de 1932 ........................................... 124 b) 9. Lei n.º 1942, de 27 de Julho de 1936 ............................................................. 124 c) Origem do artigo 671º, 2ª parte, do CPC de 1939. A doutrina italiana sobre o caso julgado das sentenças determinativas ........................................................................ 124 7. Fundamento .............................................................................................................. 131 II. O artigo 1411º, n.º 1, do CPC ...................................................................................... 132 1. Inserção sistemática ................................................................................................ 132 a) Disposições gerais dos processos de jurisdição voluntária ................................... 132 b) Decisões transitadas e não transitadas em julgado ............................................... 138 2. Resoluções e outras decisões ................................................................................ 138 3. Resoluções (ou decisões) proferidas segundo critérios de legalidade estrita . 141 4. Conteúdo possível da decisão modificanda ......................................................... 142

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    NDICE INTRODUO ............................................................................................................................ 10

    1. O tema e o plano da investigao ............................................................................... 10 I. Delimitao do tema ....................................................................................................... 10

    1. A lei .............................................................................................................................. 10 2. Decises judiciais ...................................................................................................... 11 3. Decises civis ............................................................................................................. 13 4. Decises sobre o mrito ............................................................................................ 25 5. Decises constitutivas de caso julgado .................................................................. 27 6. Modificao por via judicial ...................................................................................... 29 7. Modificao e cessao de efeitos ........................................................................... 31 8. Alterao das circunstncias .................................................................................... 31

    II. Delimitao negativa ..................................................................................................... 32 1. Impugnao do caso julgado atravs de recurso extraordinrio de reviso ...... 32 2. Oposio deciso ou execuo .......................................................................... 42 3. Desconsiderao do caso julgado. Uso da sentena contra a boa f .................. 45 4. Caducidade do caso julgado. Referncia aos limites temporais da sentena e aos limites temporais do caso julgado ........................................................................ 53

    III. Interesse do tema .......................................................................................................... 63 1. Incompletude do regime legal ................................................................................... 63 2. Relevncia prtica ...................................................................................................... 64 3. Tratamento doutrinrio e jurisprudencial ................................................................ 68 4. Objecto do processo e da sentena ......................................................................... 86 5. Limites e extenso do caso julgado ......................................................................... 90 6. Instrumentalidade do direito processual civil ......................................................... 90

    IV. O plano da investigao .............................................................................................. 97 CAPTULO I ............................................................................................................................... 106 ENQUADRAMENTO LEGAL .................................................................................................... 106

    2 A lei portuguesa ........................................................................................................... 106 I. O artigo 671, n. 2, do CPC ......................................................................................... 106

    1. Insero sistemtica: o caso julgado material ...................................................... 106 2. Sentenas condenatrias ........................................................................................ 107

    a) Condenao no pedido. Comparao com o artigo 673 do CPC ......................... 107 b) Excluso das sentenas de simples apreciao e constitutivas ............................ 109

    3. Sentenas de trato sucessivo relativas a dvidas de valor .................................. 110 4. Circunstncias atendveis ....................................................................................... 113 5. Procedimento aplicvel ........................................................................................... 115 6. Antecedentes histricos .......................................................................................... 117

    a) O artigo 671, 2 parte, do CPC de 1939 ............................................................... 117 b) Evoluo legislativa at ao CPC de 1939 .............................................................. 119

    b) 1. Ordenaes ..................................................................................................... 119 b) 2. Reforma Judiciria .......................................................................................... 119 b) 3. Cdigo de Processo Civil de 1876 .................................................................. 120 b) 4. Lei n. 3, de 3 de Novembro de 1910 ............................................................. 122 b) 5. Decreto n. 4288, de 9 de Maro de 1918 ...................................................... 122 b) 6. Decreto n. 4618, de 13 de Julho de 1918 ..................................................... 123 b) 7. Decreto n. 21 287, de 26 de Maio de 1932 ................................................... 123 b) 8. Decreto n. 21 694, de 29 de Setembro de 1932 ........................................... 124 b) 9. Lei n. 1942, de 27 de Julho de 1936 ............................................................. 124

    c) Origem do artigo 671, 2 parte, do CPC de 1939. A doutrina italiana sobre o caso julgado das sentenas determinativas ........................................................................ 124

    7. Fundamento .............................................................................................................. 131 II. O artigo 1411, n. 1, do CPC ...................................................................................... 132

    1. Insero sistemtica ................................................................................................ 132 a) Disposies gerais dos processos de jurisdio voluntria ................................... 132 b) Decises transitadas e no transitadas em julgado ............................................... 138

    2. Resolues e outras decises ................................................................................ 138 3. Resolues (ou decises) proferidas segundo critrios de legalidade estrita . 141 4. Contedo possvel da deciso modificanda ......................................................... 142

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    5. Ressalva dos efeitos ................................................................................................ 142 6. Circunstncias atendveis ....................................................................................... 143 7. Procedimento aplicvel ........................................................................................... 145 8. Antecedentes histricos .......................................................................................... 146 9. Fundamento .............................................................................................................. 147

    a) Introduo questo .............................................................................................. 147 b) Finalidade assistencial............................................................................................ 150 c) Carcter duradouro das situaes ordenadas ....................................................... 151 d) Excepo regra do artigo 666 do CPC .............................................................. 153 e) Inexistncia de caso julgado material ..................................................................... 156

    e) 1. Refutao da tese ........................................................................................... 156 e) 2. Relevncia da questo ................................................................................... 163

    f) Carncia de tutela judicial ....................................................................................... 167 g) Outras caractersticas da jurisdio voluntria ....................................................... 168 h) Concluso ............................................................................................................... 168

    III. Outros preceitos legais .............................................................................................. 169 1. Preceitos includos no Cdigo de Processo Civil ................................................ 169 2. Preceitos no includos no Cdigo de Processo Civil ......................................... 170

    a) Cdigo Civil ............................................................................................................. 170 b) Cdigo de Processo do Trabalho ........................................................................... 171 c) Outros diplomas legais ........................................................................................... 171

    IV. Sntese da regulao legal ........................................................................................ 174 1. Regulao na lei substantiva e na lei adjectiva .................................................... 174 2. Natureza adjectiva ou substantiva da lei reguladora da modificao ................ 175

    a) O problema. Lei aplicvel modificao de ttulos estrangeiros ........................... 175 b) A diversa natureza das regras relativas modificao .......................................... 179

    3 A lei estrangeira............................................................................................................ 188 I. Alemanha ....................................................................................................................... 188

    1. Os 323, 323a e 323b da ZPO ............................................................................... 188 a) Texto ....................................................................................................................... 188 b) Antecedentes histricos.......................................................................................... 190 c) Pressupostos gerais da Abnderungsklage ........................................................... 192 d) Outros aspectos do regime da Abnderungsklage relativa a sentenas ............... 199 e) Ttulos executivos previstos no 323a da ZPO ..................................................... 202

    e) 1. Transaces judiciais ...................................................................................... 202 e) 2. Outros ttulos executivos ................................................................................. 206

    f) Comparao com o artigo 671, n. 2, do CPC ....................................................... 207 2. O 18 da (anterior) FGG .......................................................................................... 208

    a) Texto ....................................................................................................................... 208 b) Pressupostos gerais e regime da modificao de decises na jurisdio voluntria .................................................................................................................................... 209 c) Comparao com o artigo 1411, n. 1, do CPC .................................................... 212

    3. Os 48 e 238 a 241 da FamFG .............................................................................. 214 II. Itlia ............................................................................................................................... 216

    1. Perspectiva geral ...................................................................................................... 216 2. Os artigos 440 e 445 do c.c. .................................................................................... 218

    a) Texto ....................................................................................................................... 218 b) Pressupostos .......................................................................................................... 218 c) Efeitos ..................................................................................................................... 219

    3. O artigo 742 do c.p.c. (jurisdio voluntria) ........................................................ 219 4. Outros preceitos ....................................................................................................... 223

    III. Frana........................................................................................................................... 224 1. O artigo 1069-6 do NCPC; o Code de procdure civil .......................................... 224 2. Outros preceitos ....................................................................................................... 225

    IV. Espanha ....................................................................................................................... 225 1. O artigo 775 da LEC ................................................................................................. 225 2. O artigo 1818 da LEC de 1881 (jurisdio voluntria) .......................................... 227

    V. Brasil ............................................................................................................................. 230 1. O artigo 471, I, do CPC brasileiro ........................................................................... 230 2. O artigo 602, 3, do CPC brasileiro ...................................................................... 232

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    3. O artigo 1.111 do CPC brasileiro (jurisdio voluntria) ...................................... 233 VI. Outros ordenamentos ................................................................................................ 234

    1. Ordenamentos europeus ......................................................................................... 234 2. Direito angloamericano............................................................................................ 236 3. Ordenamentos da Amrica Latina .......................................................................... 239

    VII. Modelos de regulao ............................................................................................... 239 4 Direito comunitrio....................................................................................................... 240 5 Direito internacional ..................................................................................................... 244

    CAPTULO II .............................................................................................................................. 246 OBJECTO DA MODIFICAO ................................................................................................. 246

    6 Sentenas de condenao em prestaes peridicas vincendas .......................... 246 I. Colocao do problema ............................................................................................... 246 II. Sentenas previstas no artigo 472, n. 1, do CPC ................................................... 246

    1. Sentenas com trato sucessivo .............................................................................. 246 2. Sentenas de condenao no pagamento de prestaes (de dare ou de facere) peridicas vencidas e vincendas ............................................................................... 249

    a) Prestaes peridicas ............................................................................................ 249 b) Distino entre as prestaes peridicas e as instantneas e fraccionadas ......... 249 c) As prestaes duradouras: distino entre as prestaes peridicas e as prestaes de execuo continuada .......................................................................... 250 d) Razo de ser das aces de condenao em prestaes peridicas vencidas e vincendas .................................................................................................................... 254 e) Sentenas de condenao em prestaes vincendas sem concomitante condenao em prestaes vencidas ........................................................................ 259 f) Sentenas de condenao do inquilino no pagamento das rendas ........................ 261 g) Sentenas de condenao em prestaes fraccionadas. O caso da venda a prestaes e dos outros contratos com finalidade equivalente (artigos 934 a 936 do CC). O caso da indemnizao em prestaes ........................................................... 263 h) Sentenas de condenao em prestaes decorrentes de contratos de renda perptua e vitalcia (artigos 1231 e seguintes e 1238 e seguintes do CC) ............. 266 i) Especificidade e desvantagens das sentenas previstas no artigo 472, n. 1, do CPC ............................................................................................................................. 268

    III. Sentenas de condenao em prestaes peridicas vincendas no previstas no artigo 472, n. 1, do CPC ................................................................................................ 275

    1. Condenao em alimentos ...................................................................................... 275 2. Condenao numa indemnizao sob forma de renda ........................................ 276 3. Condenao ao abrigo do artigo 662, n.s 1 e 2, alnea a), do CPC ................... 277

    IV. Concluso acerca da sujeio das sentenas de condenao em prestaes peridicas vincendas aco modificativa. As sentenas determinativas e o poder discricionrio do juiz. As dvidas de valor. ................................................................... 278

    7 Sentenas de condenao em prestaes continuadas ......................................... 292 I. Colocao do problema ............................................................................................... 292 II. Sentenas inibitrias ................................................................................................... 292

    1. Pretenses inibitrias. Sentenas inibitrias previstas na lei. ........................... 292 2. Modificabilidade da deciso judicial que probe o uso ou a recomendao de clusula contratual geral e de outras decises inibitrias ...................................... 296

    III. Outras sentenas de condenao em prestaes continuadas ............................ 303 8 Sentenas de condenao numa prestao instantnea futura .............................. 304

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 304 II. Pedido de condenao em prestaes futuras (artigo 472, n. 2, do CPC) .......... 305 III. Pertinncia do problema da aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC s condenaes em prestaes futuras instantneas previstas no artigo 472, n. 2 (e no artigo 662, n. s 1 e 2, alnea a), do CPC) ................................................................. 306 IV. A aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC s sentenas de condenao numa prestao instantnea futura .......................................................................................... 309

    1. Lugar paralelo: a aplicabilidade do regime dos artigos 437 e seguintes do CC s prestaes instantneas de execuo diferida ......................................................... 309 2. Lugar paralelo: a admissibilidade da oposio execuo fundada no artigo 437 do CC, no caso de prestaes instantneas de execuo diferida ................ 311

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    3. Lugar paralelo: a revogabilidade de actos administrativos de eficcia duradoura e de eficcia instantnea ainda no executados ...................................................... 312 4. Concluso: a existncia ou no de um juzo de prognose sobre factos futuros ........................................................................................................................................ 313

    9 Sentenas de condenao em prestaes vencidas e na restituio de coisas .. 314 I. Colocao do problema. Excluso das sentenas j executadas ........................... 314 II. Aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC ............................................................. 319

    1. Lugares paralelos: a excluso da resoluo ou modificao do contrato no caso de mora (artigo 438 do CC) e a no aplicao retroactiva da lei penal mais favorvel no caso de condenao em multa ............................................................. 319 2. A ausncia de um juzo de prognose ..................................................................... 321

    10 Sentenas condicionais, de condenao condicional, sujeitas a condio ou termo, e sujeitas clusula rebus sic stantibus .............................................................. 322

    I. Sentenas condicionais ............................................................................................... 323 1. Definio e admissibilidade .................................................................................... 323 2. Sujeio aco modificativa ................................................................................ 325

    II. Sentenas de condenao condicional e a termo incerto....................................... 326 1. Definio e admissibilidade .................................................................................... 326 2. Sujeio aco modificativa ................................................................................ 327

    III. Sentenas sujeitas a condio resolutiva ou termo final ....................................... 328 1. Definio e admissibilidade .................................................................................... 328 2. Sujeio aco modificativa ................................................................................ 331

    IV. Sentenas sujeitas clusula rebus sic stantibus ................................................. 332 11 Sentenas de condenao (em alimentos ou indemnizao) sob forma de capital (e no sob forma de renda) ................................................................................................. 338

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 338 II. Prestao dos alimentos como penso ou em capital ............................................ 339 III. Modo de fixao da indemnizao, quando os danos tenham natureza continuada ........................................................................................................................................... 340 IV. Modificabilidade da indemnizao ou dos alimentos sob forma de capital ........ 345

    1. Posio da doutrina e da jurisprudncia portuguesas ........................................ 345 a) Modificabilidade da indemnizao sob forma de capital ........................................ 345 b) Modificabilidade dos alimentos sob forma de capital ............................................. 350 c) Justificao da divergncia de solues ................................................................ 352

    2. Posio da doutrina e da jurisprudncia alems .................................................. 352 a) O elemento literal do 323, 1, da ZPO .................................................................. 352 b) A natureza transaccional da fixao dos alimentos sob forma de capital .............. 353 c) A natureza transaccional da fixao da indemnizao em capital e a exigibilidade da pretenso .................................................................................................................... 353 d) O caso julgado da indemnizao sob forma de capital .......................................... 355

    3. Posio da doutrina e da jurisprudncia em Itlia e Frana................................ 358 4. Posio adoptada ..................................................................................................... 359

    a) A modificabilidade dos alimentos sob forma de capital .......................................... 359 b) A modificabilidade da indemnizao sob forma de capital e de outras prestaes de atribuio nica, no caso dos acidentes de trabalho e doenas profissionais ........... 360 c) O artigo 292, n. 2, do CPC ................................................................................... 363 d) A inadmissibilidade da modificao, por alterao das circunstncias, de sentenas j executadas .............................................................................................................. 364 e) Concluso ............................................................................................................... 364

    12 Sentenas de simples apreciao e constitutivas.................................................. 366 I. Colocao do problema ............................................................................................... 366 II. Admissibilidade da aco de simples apreciao de prestaes futuras ............. 368 III. Aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC s sentenas de simples apreciao ........................................................................................................................................... 370 IV. Aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC s sentenas constitutivas ............. 373

    13 Sentenas absolutrias .............................................................................................. 378 I. Colocao do problema ............................................................................................... 378 II. A discusso no direito alemo: distino entre fundamentos de absolvio; inexistncia de um juzo de prognose nas sentenas absolutrias; a sentena

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    absolutria nos casos do 258 da ZPO como uma sentena de momento absolutria ........................................................................................................................ 380 III. A no prescrio ao ru de um comportamento e a no projeco, para o futuro, do caso julgado da sentena absolutria ..................................................................... 387 IV. Os lugares paralelos da jurisdio voluntria, do processo laboral e dos procedimentos cautelares do contencioso administrativo ......................................... 388 V. Concluso .................................................................................................................... 390

    14 Sentenas no transitadas em julgado ....................................................................... 393 I. Colocao do problema ............................................................................................... 393 II. O problema no direito alemo .................................................................................... 394 III. Alegao da alterao das circunstncias perante o juiz que proferiu a deciso ou perante o tribunal de recurso ......................................................................................... 397 IV. Concluso ................................................................................................................... 403

    15 Sentenas proferidas em recurso ............................................................................ 404 16 Resolues da jurisdio voluntria ........................................................................ 405 17 Decises sobre a relao processual ...................................................................... 407 18 Providncias cautelares ............................................................................................ 409 19 Sentenas homologatrias ....................................................................................... 411

    I. Aplicabilidade do artigo 671, n. 2, do CPC ou dos artigos 437 e seguintes do CC s sentenas homologatrias de negcios processuais ............................................ 411 II. Aplicabilidade dos artigos 437 e seguintes do CC aos negcios processuais titulados pelas sentenas ............................................................................................... 414 III. O caso especial do acordo quanto ao destino da casa de morada da famlia ..... 418

    20 Ttulos executivos diversos de decises judiciais ................................................. 420 I. Colocao do problema ............................................................................................... 421 II. Ttulos executivos de natureza negocial ................................................................... 422

    1. Transaco ou acordo extrajudicial que constitua ttulo executivo ................... 422 2. Outros ttulos executivos de natureza negocial ................................................... 424

    III. Decises do Ministrio Pblico ou do conservador do registo civil proferidas ao abrigo do Decreto-Lei n. 272/2001, de 13 de Outubro................................................. 424 IV. Decises do secretrio judicial e do juiz proferidas ao abrigo do Decreto-Lei n. 269/98, de 1 de Setembro ................................................................................................ 426 V. Decises arbitrais ........................................................................................................ 427 VI. Outros ttulos executivos .......................................................................................... 428 VII. Dvida titulada por sentena e por outro ttulo executivo ..................................... 428

    21 Partes de sentena ..................................................................................................... 429 22 Concluso quanto s decises susceptveis de modificao .............................. 430

    CAPTULO III ............................................................................................................................. 432 FUNDAMENTOS DA MODIFICAO ...................................................................................... 432

    23 Circunstncias supervenientes ................................................................................ 432 I. Colocao do problema: alterao actual ou efectiva das circunstncias; referncia temporal da supervenincia; referncia material da supervenincia; sequncia..... 432 II. Referncia temporal da supervenincia .................................................................... 435

    1. A data a que a sentena modificanda atendeu ..................................................... 435 a) A regra do artigo 663, n. 1, do CPC. Encerramento dos debates e fim do prazo para a produo de alegaes ................................................................................... 435 b) Arbitramento de indemnizao em dinheiro ........................................................... 440 c) Danos futuros previsveis. Lucros cessantes ......................................................... 445 d) Situaes duradouras ............................................................................................. 448 e) Direito aplicvel ...................................................................................................... 450 f) Concluso ................................................................................................................ 455

    2. Referncia temporal da supervenincia e referncia temporal do caso julgado ........................................................................................................................................ 455 3. Precluso do deduzido e do deduzvel na anterior aco ................................... 456 4. A invocabilidade dos efeitos jurdicos produzidos por factos novos ou por leis novas; insuficincia da supervenincia para fundar a aco modificativa; menor permeabilidade de certas sentenas supervenincia; os factos duradouros enquanto factos supervenientes ................................................................................ 466 5. Circunstncias subjectivamente supervenientes ................................................. 471

    a) Colocao do problema .......................................................................................... 471

  • 6

    b) A relevncia da supervenincia subjectiva na oposio execuo .................... 473 c) A relevncia da supervenincia subjectiva na alterao das providncias cautelares .................................................................................................................................... 475 d) Concluso ............................................................................................................... 476

    III. Referncia material da supervenincia .................................................................... 477 1. Circunstncias consideradas na sentena modificanda versus circunstncias efectivamente existentes ............................................................................................. 477 2. Circunstncias prognosticadas versus circunstncias actuais ......................... 482 3. Circunstncias essenciais para a deciso ............................................................ 485 4. Circunstncias julgadas imprevisveis; a alegabilidade posterior de danos julgados imprevisveis, quando haja sido formulado pedido genrico ou proferida condenao genrica; a alegabilidade posterior de danos julgados imprevisiveis em nova aco ou em aco modificativa ................................................................. 486 5. Circunstncias previsveis, mas julgadas imprevisveis ..................................... 499 6. Referncia material da supervenincia, no caso de sentena proferida na sequncia de revelia operante do ru ou de sentena homologatria de negcio processual ..................................................................................................................... 502 7. Referncia material da supervenincia, no caso de omisso do ttulo quanto s circunstncias em que assentou a deciso .............................................................. 506

    IV. A dispensa da supervenincia na aco modificativa: o pedido parcial ............. 512 1. Colocao do problema ........................................................................................... 512 2. A discusso no direito alemo ............................................................................... 514 3. Concluso ................................................................................................................. 528

    24 Circunstncias supervenientes, circunstncias novas e circunstncias anteriormente previsveis ................................................................................................... 531

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 531 II. Circunstncias novas .................................................................................................. 532

    1. Novo dano e agravamento do dano ....................................................................... 532 2. Modificao do objecto do processo anterior ...................................................... 534

    III. Circunstncias anteriormente previsveis, mas no alegadas na anterior aco; a relevncia da previsibilidade da alterao das circunstncias no regime da modificao ou resoluo dos contratos; o caso dos danos j previsveis (remisso) ........................................................................................................................................... 540

    25 A alterao da lei enquanto circunstncia superveniente ..................................... 543 I. Colocao do problema. O problema na oposio execuo. Noo de circunstncia. A alterao de lei como modificao das circunstncias. Sequncia. ........................................................................................................................................... 543 II. O princpio da proibio da retroactividade extrema das leis e o disposto no artigo 282, n. 3, 1 parte, da Constituio como obstculos considerao da alterao da lei nos termos do artigo 671, n. 2, do CPC ............................................................ 550

    1. Introduo ................................................................................................................. 550 2. Noo de retroactividade. Fundamento do princpio da proibio da retroactividade extrema das leis ................................................................................. 551 3. Consagrao constitucional do princpio da proibio da retroactividade extrema das leis (remisso). O carcter no retroactivo da lei que afecta o caso julgado de trato sucessivo. O artigo 282, n. 3, 1 parte, da Constituio como fundamento da proibio de afectao do caso julgado de trato sucessivo pela lei superveniente. .............................................................................................................. 555 4. A possibilidade de afectao do caso julgado de trato sucessivo pela lei superveniente (remisso). ........................................................................................... 557

    III. A invocao da lei superveniente atravs de aco modificativa ou de outra via processual ........................................................................................................................ 559

    1. Cessao definitiva da obrigao e caducidade do caso julgado ...................... 559 2. Situaes diversas da cessao definitiva da obrigao .................................... 562

    26 A alterao da jurisprudncia enquanto circunstncia superveniente ................ 566 I. Colocao do problema ............................................................................................... 566 II. Supervenincia de declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora obrigatria geral ..................................................................................................... 567

    1. Antes da produo de caso julgado ....................................................................... 567 2. Depois da produo de caso julgado ..................................................................... 571

  • 7

    a) Incluso dos casos julgados de trato sucessivo na ressalva dos casos julgados contida no artigo 282, n. 3, da Constituio ............................................................. 571 b) Casos julgados processuais e casos julgados ainda no executados .................. 580 c) Concluso e razo de ordem .................................................................................. 586 d) Invocao da superveniente declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora obrigatria geral nos termos do artigo 671, n. 2, do CPC ....................... 586

    d) 1. Colocao do problema (se a superveniente declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora obrigatria geral pode preencher a previso do artigo 671, n. 2, do CPC) .................................................................. 586 d) 2. O modo de incidncia da superveniente declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade no caso julgado ................................................................................ 587 d) 3. A idoneidade do meio previsto no artigo 671, n. 2, do CPC: ponderao da soluo do direito processual penal ........................................................................ 593 d) 4. Concluso: o regime do artigo 671, n. 2, do CPC o que mais se aproxima da soluo do processo penal; a declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade como circunstncia superveniente que se repercute no caso julgado . 600

    e) Relevncia, em geral, da superveniente declarao de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora obrigatria geral na aco modificativa ................................... 606

    III. Alterao da jurisprudncia constitucional ............................................................. 607 IV. Outras alteraes de jurisprudncia ........................................................................ 609

    27 O novo meio de prova enquanto circunstncia superveniente ............................ 612 I. Colocao do problema ............................................................................................... 612 II. Qualificao do novo meio de prova como circunstncia ...................................... 614 III. A relevncia do novo meio de prova: o caso dos novos conhecimentos cientficos ........................................................................................................................................... 615 IV. O lugar paralelo do documento novo no recurso de reviso ................................ 623

    28 A circunstncia no relacionada com a medida ou com a durao da prestao enquanto circunstncia superveniente ............................................................................. 631

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 631 II. Circunstncias relativas medida ou durao da prestao .............................. 632

    1. Inflao ...................................................................................................................... 632 2. Causa virtual ............................................................................................................. 638 3. Outras circunstncias a ponderar na fixao da penso. A medida dos alimentos ........................................................................................................................................ 640

    III. Circunstncias diversas das relativas medida ou durao da prestao. Superveniente descoberta da inexistncia da relao de filiao ............................. 645

    29 Essencialidade da alterao das circunstncias .................................................... 648 I. Colocao do problema. Essencialidade da alterao das circunstncias e alterao das circunstncias que determinaram a condenao; essencialidade da alterao das circunstncias e total alterao das circunstncias ............................ 648 II. A exigncia, no direito alemo, da essencialidade da alterao: natureza material ou processual do requisito ............................................................................................. 650 III. A alterao anormal e grave exigida pelo artigo 437, n. 1, do CC. Eventual contradio entre esta exigncia e a proteco especial que o caso julgado deve ter. Concluso: a alterao das circunstncias relevante para a modificao da sentena definida pelo direito material. ...................................................................................... 655

    30 A alterao de circunstncias pressuposta pelo artigo 671, n. 2, do CPC e a pressuposta pelo artigo 437, n. 1, do CC ....................................................................... 664 31 A alterao de circunstncias pressuposta pelo artigo 671, n. 2, do CPC e o facto extintivo ou modificativo da obrigao como fundamento da oposio execuo ............................................................................................................................... 671

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 671 II. O problema no direito alemo .................................................................................... 672

    1. A dificuldade de demarcao do campo de aplicao da aco modificativa e da oposio execuo e a no concorrncia dos dois meios processuais ............. 672 2. Os vrios critrios de distino entre a aco modificativa e a oposio a execuo ....................................................................................................................... 677

    III. Concluso .................................................................................................................... 686 CAPTULO IV ............................................................................................................................ 693 CONDIES DA MODIFICAO ............................................................................................ 693

  • 8

    32 Pressupostos processuais da modificao ............................................................ 693 I. Pressupostos processuais gerais ............................................................................... 693 II. Pressupostos processuais especiais ........................................................................ 694

    1. Competncia para a aco modificativa ................................................................ 694 a) Em geral ................................................................................................................. 694 b) Competncia internacional ..................................................................................... 694

    b) 1. Colocao do problema .................................................................................. 694 b) 2. Modificabilidade de ttulos estrangeiros. Reconhecimento do ttulo e competncia internacional ...................................................................................... 697

    c) Competncia interna ............................................................................................... 705 2. Legitimidade para a aco modificativa ................................................................ 708

    a) Colocao do problema .......................................................................................... 708 b) Legitimidade para as aces de fixao de alimentos a menor ............................ 708 c) Identidade entre as partes da primeira aco e as da aco modificativa ............. 709 d) Afectao de ambas as partes pela alterao de circunstncias .......................... 717

    3. Susceptibilidade de modificao, por alterao das circunstncias, da sentena modificanda .................................................................................................................. 719 4. A alterao das circunstncias como pressuposto processual ou como condio de procedncia da aco modificativa. Distribuio do nus da prova 720

    III. Disponibilidade das partes sobre os pressupostos processuais da modificao ........................................................................................................................................... 727

    33 Condies de procedncia da modificao ............................................................ 730 I. Verificao da alterao das circunstncias ............................................................. 730 II. O prazo para propor a aco modificativa ................................................................ 731

    1. Colocao do problema ........................................................................................... 731 2. Prazo de prescrio do direito de indemnizao por danos futuros e do direito ao pagamento de prestaes peridicas ................................................................... 732

    a) Danos futuros ......................................................................................................... 732 b) Diminuio do dano ................................................................................................ 737 c) Alimentos e outras prestaes peridicas .............................................................. 738

    3. Lugares paralelos ..................................................................................................... 739 a) A (anterior) Lei dos Acidentes de Trabalho e das Doenas Profissionais (Lei n. 100/97, de 13 de Setembro) e a actual Lei n. 98/2009, de 4 de Setembro .............. 740 b) O direito administrativo ........................................................................................... 743

    4. Concluso ................................................................................................................. 744 34 Processo da modificao .......................................................................................... 745

    I. A instncia modificativa ............................................................................................... 745 1. Necessidade de pedido............................................................................................ 745 2. A renovao da instncia extinta ........................................................................... 749 3. Vicissitudes e extino da instncia modificativa ................................................ 754

    II. Procedimento ............................................................................................................... 755 1. Procedimentos tpicos ............................................................................................. 755 2. O processo a que alude o artigo 1121, n. 4, do CPC. Compatibilizao deste preceito com o artigo 292 do CPC ............................................................................ 759 3. A aco modificativa enquanto meio processual exclusivo para obter a modificao da sentena ............................................................................................. 761

    a) A modificao atravs de aco autnoma ........................................................... 762 b) A modificao na aco de reviso de sentenas estrangeiras ............................ 764 c) A modificao atravs de procedimento cautelar ................................................... 765

    III. Modificao da modificao anterior ........................................................................ 766 CAPTULO V ............................................................................................................................. 770 DECISO DA MODIFICAO .................................................................................................. 770

    35 Contedo da deciso ................................................................................................. 770 36 Limites da modificao .............................................................................................. 774

    I. Colocao do problema ............................................................................................... 774 II. O significado da vinculao ao anteriormente decidido, no direito alemo ......... 781 III. Proposta de soluo ................................................................................................... 791

    37 Referncia temporal dos efeitos da modificao ................................................... 797 I. Colocao do problema ............................................................................................... 797 II. Lugares paralelos de regulao ................................................................................. 797

  • 9

    III. A natureza constitutiva da sentena modificativa .................................................. 806 IV. Concluso ................................................................................................................... 809

    1. A modificao opera, em regra, para o perodo posterior proposio da aco modificativa ................................................................................................................... 809 2. Justificaes da regra do 323, 3, da ZPO e crticas regra ............................. 811 3. A tutela da confiana do requerido da aco modificativa. A tutela de terceiros ........................................................................................................................................ 821 4. Casos em que a modificao opera a partir da deciso modificativa ................ 823 5. Disponibilidade das partes sobre a referncia temporal dos efeitos da modificao ................................................................................................................... 823 6. A modificao para o futuro como pressuposto processual da aco modificativa? ................................................................................................................ 824

    38 Eficcia da sentena modificativa: a modificao do caso julgado material ...... 825 I. Colocao do problema ............................................................................................... 825 II. A tese da no produo de caso julgado material pela deciso anterior .............. 829 III. Teoria da confirmao e teoria da equidade. Teorias alternativas ........................ 832 IV. Concluso. Limites temporais do caso julgado ...................................................... 844

    39 Natureza da deciso ................................................................................................... 856 I. Colocao do problema ............................................................................................... 856 II. Natureza constitutiva e condenatria ou de simples apreciao da deciso de procedncia ...................................................................................................................... 857 III. Natureza de simples apreciao da deciso de improcedncia ............................ 861 IV. Delimitao dogmtica face ao recurso extraordinrio de reviso ...................... 861

    TESES ....................................................................................................................................... 865 40 Descrio das teses da investigao ....................................................................... 865

    BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................... 868 JURISPRUDNCIA ................................................................................................................... 938 LEGISLAO ............................................................................................................................ 954 RESUMO / ABSTRACT ............................................................................................................ 963

  • 10

    INTRODUO

    1. O tema e o plano da investigao

    I. Delimitao do tema

    1. A lei

    Pretende-se, com esta tese, tratar da modificao, por alterao de

    circunstncias, de decises judiciais civis constitutivas de caso julgado

    material.

    A lei portuguesa admite genericamente esta possibilidade no artigo

    671, n. 2, do CPC.

    O artigo 671 do CPC, sistematicamente inserido na seco dedicada

    aos efeitos da sentena no processo ordinrio de declarao, dispe o

    seguinte:

    Artigo 671

    Valor da sentena transitada em julgado

    1 Transitada em julgado a sentena ou o despacho saneador que decida do mrito da causa, a deciso sobre a relao material controvertida fica a ter fora

    obrigatria dentro do processo e fora dele nos limites fixados pelos artigos 497 e 498,

    sem prejuzo do disposto nos artigos 771 a 777.

    2 Mas se o ru tiver sido condenado a prestar alimentos ou a satisfazer outras prestaes dependentes de circunstncias especiais quanto sua medida ou sua

    durao, pode a sentena ser alterada desde que se modifiquem as circunstncias que

    determinaram a condenao..

    No campo da jurisdio voluntria, onde alis se discute a ocorrncia

    do fenmeno do caso julgado material, o artigo 1411 do CPC sistematicamente inserido na seco relativa s disposies gerais desses

    processos , permite tambm no seu n. 1, em termos curiosamente prximos, a modificao das resolues que porventura a tenham sido

    proferidas:

    Artigo 1411

    Valor das resolues

    1 Nos processos de jurisdio voluntria as resolues podem ser alteradas, sem prejuzo dos efeitos j produzidos, com fundamento em circunstncias supervenientes

    que justifiquem a alterao; dizem-se supervenientes tanto as circunstncias ocorridas

    posteriormente deciso como as anteriores, que no tenham sido alegadas por

    ignorncia ou outro motivo ponderoso.

    2 Das resolues proferidas segundo critrios de convenincia ou oportunidade no admissvel recurso para o Supremo Tribunal de Justia..

  • 11

    Para alm destes dois preceitos de carcter genrico, possvel

    encontrar, tanto no Cdigo de Processo Civil como fora dele por exemplo, no Cdigo Civil (CC), no Cdigo de Processo do Trabalho

    (CPT), na Organizao Tutelar de Menores (OTM) ou na Lei de Proteco

    de Crianas e Jovens em Perigo (LPCJP) , vrios preceitos legais prevendo, explcita ou implicitamente, a modificao de decises judiciais.

    Mas, apesar da multiplicidade de preceitos, no nosso ordenamento,

    permitindo a modificao de decises judiciais transitadas em julgado ou no e constitutivas ou no de caso julgado material , no encontramos nele um regime mais ou menos completo atinente modificao por alterao

    de circunstncias, diferentemente do que sucede, por exemplo, no

    ordenamento alemo, que nos 323, 323a e 323b, todos da ZPO, regula a

    aco modificativa (Abnderungsklage).

    A descoberta desse regime orientar a nossa pesquisa, sendo certo,

    porm, que convm desde j traar-lhe um rumo mais preciso, atendendo

    vastido que o tema, at agora apresentado, certamente comporta.

    2. Decises judiciais

    A questo da modificao por alterao de circunstncias pode

    colocar-se relativamente a qualquer ttulo executivo referenciado no artigo

    46 do CPC e no apenas em relao queles que constituam decises

    judiciais.

    No entanto, no nos centraremos nos ttulos executivos que no

    constituam decises judiciais, pois que, em relao a eles ou, pelo menos, em relao queles que assumam natureza negocial , o regime que imediatamente surge como aplicvel o do direito substantivo, constante

    dos artigos 437 e seguintes do CC (que tratam precisamente da resoluo

    ou modificao do contrato por alterao das circunstncias).

    Por outro lado, esses ttulos executivos no formam caso julgado

    material, qualidade que s as decises judiciais podem possuir1, e a

    presente investigao destina-se justamente a descobrir a permeabilidade

    do caso julgado material alterao das circunstncias.

    Do que ficou dito resulta que, em princpio, nos interessaro apenas as

    decises judiciais, embora a definio desta realidade (e, correlativamente,

    a das realidades aptas constituio de caso julgado) no seja pacfica:

    pense-se, por exemplo, no carcter hbrido que assumem na medida em que, antes da sua consagrao no ordenamento portugus, as matrias sobre

    que versam eram objecto de decises judiciais as decises proferidas

    1 Ver, a este propsito, STJ, 13.05.1999, em cujo sumrio se l: [] III Quer o caso

    julgado material, quer o caso julgado formal so gerados por uma deciso judicial. No mesmo sentido, luz do Cdigo Civil de 1867, E. Hintze Ribeiro (O caso julgado, pg. 15): [] os casos julgados s podem resultar de sentenas judiciaes.

  • 12

    pelo Ministrio Pblico ou pelas conservatrias do registo civil ao abrigo

    do Decreto-Lei n. 272/2001, de 13 de Outubro2, e, bem assim, os actos de

    atribuio de fora executiva petio e de aposio da frmula executria

    no requerimento de injuno, possibilidades conferidas pelos artigos 2 e

    14 do regime anexo ao Decreto-Lei n. 269/98, de 1 de Setembro3.

    Focaremos, de qualquer modo, o problema da modificao, por

    alterao de circunstncias, de ttulos executivos que no constituem

    decises judiciais, quando analisarmos o direito alemo e quando tratarmos

    do objecto possvel da modificao (concretamente, dos pressupostos,

    quanto deciso modificanda, da aco modificativa): a proximidade em

    relao ao tema que nos ocupa justifica essa referncia particular.

    Dentro das decises judiciais, colocam problemas autnomos,

    decorrentes da dependncia do respectivo caso julgado da validade do

    2 Sobre estas decises das conservatrias, RL, 10.03.2005, salientando que a

    conservatria do registo civil da residncia do requerido competente para a aco

    especial de alimentos a filhos maiores, numa primeira fase (a fase em que se tenta obter

    o acordo na fixao dos alimentos), sendo consequentemente incompetentes, nessa fase,

    os tribunais de famlia. Veja-se tambm RG, 01.02.2007, entendendo, conforme se l no

    respectivo sumrio, que quando o processo consubstanciar um verdadeiro litgio, demonstrando, saciedade, ser irreconcilivel a vontade das partes, no se justifica o

    recurso prvio ao procedimento tendente formao de acordo das partes a que alude o

    [] artigo 5, n. 1 [do Decreto-Lei n. 272/2001, de 13 de Outubro], podendo a aco ser instaurada, desde logo, no tribunal judicial; no mesmo sentido, RG, 26.04.2007, salientando que a interveno das conservatrias no mbito dos alimentos a maiores s se compreende e justifica no caso de existir a possibilidade de acordo na fixao dos

    alimentos e, por isso, se no for detectvel uma palpvel razo para a interveno dos

    tribunais, assoberbados com a resoluo de evidenciadas questes a exigir mais a sua

    interveno. Criticamente em relao transferncia de funes dos juzes para os conservadores, Antunes Varela, Os tribunais. 3 No sentido da no atribuio de natureza de deciso judicial ao acto do juiz e ao acto

    do secretrio judicial, veja-se P. Costa e Silva (O ttulo, pg. 595), para quem [] no podero vir a ser qualificados como ttulos executivos europeus as injunes de

    crditos no contestados, salvo quando o procedimento simplificado vier a terminar

    com o proferimento de uma sentena condenatria, circunstncia que ocorrer quando a

    revelia do requerido for inoperante, uma vez que o Regulamento (CE) n. 805/2004, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004, que cria o ttulo executivo

    europeu para crditos no contestados, restringe o seu campo de interveno s decises judiciais, s transaces judiciais e aos documentos que, na verso portuguesa,

    surgem qualificados como autnticos. Refira-se que o Regulamento (CE) n. 4/2009 do Conselho, de 18 de Dezembro de 2008 substituiu aquele primeiro Regulamento em

    matria de obrigaes alimentares, nos termos do seu artigo 68, n. 2, aplicando-se a

    decises, transaces judiciais e actos autnticos (artigos 16 e seguintes e 48, n. 2) e

    englobando na noo de deciso tanto as decises judiciais como as proferidas por

    autoridades administrativas, verificados certos requisitos (considerando n. 12 e artigo

    2, n. 2). Sobre a qualificao, como ttulos executivos judiciais imprprios, dos

    mencionados actos do secretrio judicial, J. Lebre de Freitas, A aco executiva, pgs. 63-64.

  • 13

    negcio subjacente4, aquelas que homologam conciliaes, confisses do

    pedido ou transaces das partes (cfr. o artigo 300, n. s 3 e 4, do CPC)5.

    Atendendo, porm, sua relevncia prtica no campo das aces de

    alimentos aquelas a que claramente se destina o regime do artigo 671, n. 2, do CPC , a presente investigao ficaria incompleta se no lhes fizessemos aluso. F-la-emos, portanto, tambm quando tratarmos dos

    pressupostos, quanto deciso, da aco modificativa.

    Finalmente, o que deixmos dito em relao ao no tratamento (ou

    melhor, ao no tratamento prioritrio) dos ttulos executivos que no

    constituam decises judiciais no significa que apenas nos propunhamos

    tratar das decises judiciais que constituam ttulos executivos. Apesar de o

    artigo 671, n. 2, do CPC, com a referncia que faz s sentenas

    condenatrias, dar a entender que a modificao do caso julgado material

    se traduz na modificao da deciso judicial que constitui (ou, pelo menos,

    que apta a constituir) ttulo executivo, a verdade que nos interessa

    averiguar se assim e, como tal, no perderemos de vista a generalidade

    das sentenas.

    claro que, se a deciso judicial tambm constituir ttulo executivo, a

    sua modificao pode colocar autnomos problemas, nomeadamente o da

    tramitao da modificao na execuo porventura em curso. Mas isso no

    significa que a modificao, em si, no constitua um problema da

    generalidade das decises judiciais.

    3. Decises civis

    4 A expresso de M. Teixeira de Sousa, Aco executiva, pg. 75.

    5 Parece ainda de inserir nesta categoria a sentena homologatria de acordo obtido em

    mediao pr-judicial, prevista no artigo 249-B do CPC, introduzido pela Lei n.

    29/2009, de 29 de Junho (que, entre o mais, aprovou o Regime Jurdico do Processo de

    Inventrio). Embora no homologue desistncia, confisso ou transaco das partes

    (dispensando, alis, tal homologao), o auto de conciliao, a que se referem os artigos

    52 e 53 do CPT parece consubstanciar tambm uma deciso judicial com natureza

    negocial, a aproximar das decises homologatrias. E o carcter de deciso judicial do

    auto de conciliao decorre, ao que julgamos, da circunstncia de a desistncia,

    confisso ou transaco sujeitas a certificao do juiz, nos termos dos artigos 51, n. 2, e 52, n. 2, do CPT produzirem, por expressa imposio legal (cfr. o artigo 52, n. 1, do CPT), efeitos de caso julgado, e, bem assim, da aplicao, execuo para pagamento de quantia certa baseada em auto de conciliao efectuado em audincia, do

    regime da execuo baseada em sentena de condenao em quantia certa (cfr. o artigo

    97, n. 3, do CPT, na verso anterior ao Decreto-Lei n. 295/2009, de 13 de Outubo). J

    escapa categoria das sentenas homologatrias previstas no artigo 300, n. s 3 e 4, do

    CPC a sentena homologatria da partilha, prevista no artigo 60 do referido Regime

    Jurdico do Processo de Inventrio, uma vez que homologa uma deciso do conservador

    ou do notrio (cfr. o artigo 54 do mesmo Regime).

  • 14

    A rea do conhecimento sobre a qual incide a presente tese a do

    direito processual civil, pelo que no nos centraremos na anlise de

    problemas anlogos que se coloquem noutras reas.

    Assim, s pontualmente poderemos tratar, e na medida em que tal

    releve para o tema que nos ocupa, da questo da modificao de decises

    judiciais penais6 (e menos ainda do problema que nem sequer um

    6 A modificao das decises penais coloca problemas autnomos, pois que no s os

    fundamentos do caso julgado penal parecem ser diversos dos do caso julgado civil

    (sobre esses fundamentos e sobre a autonomia das duas figuras, cfr. Amrico A. Taipa

    de Carvalho, Sucesso, 2 ed., pgs. 221-234, e 3 ed., pgs. 284-296, salientando que a ratio do caso julgado penal seria a segurana jurdico-penal individual face ao ius puniendi do Estado), como tambm porque os requisitos do caso julgado civil no podem ser transpostos, sem mais, para o caso julgado penal, e a impugnao do caso

    julgado civil obedece a regras diversas das do caso julgado penal. A este propsito,

    refira-se o tratamento autnomo que ao caso julgado tem dado a doutrina penalista

    (assim, por exemplo, A. Rocco, Opere, pgs. 205-224, ou Eduardo Correia, Caso julgado), bem como que, no acrdo da Relao de Lisboa de 21 de Maio de 1991, se entendeu, conforme resulta do respectivo sumrio, que [o]s princpios gerais do caso julgado penal no se articulam com as regras do processo civil; especificamente em relao ao diverso regime de impugnao do caso julgado civil e penal, veja-se C. R.

    Dinamarco (A instrumentalidade, pgs. 86 e 108), aludindo figura da coisa soberanamente julgada, tpica da sentena penal absolutria, que menos permevel

    reviso. Em sentido algo diverso, aludindo possibilidade de um conceito unitrio de

    caso julgado, vlido para o caso julgado penal e para o civil, na medida em que, quanto

    a ambos, esse conceito traduziria uma nova fora da sentena e da deciso nela contida, decorrente do respectivo trnsito em julgado, E. T. Liebman, Unit, pg. 236; aludindo recente aproximao entre o processo civil e o penal, no que diz

    respeito ao tratamento do caso julgado, veja-se, ainda, W. Sauer, Zum Streit, pgs. 308-310.

    De qualquer modo, patente que as decises penais, pelo menos as que apliquem

    medidas de coaco, podem ser modificadas, referindo-se por exemplo nos acrdos da

    Relao de Lisboa de 18 de Dezembro de 1991 e de 23 de Fevereiro de 1994 que, a, a

    fora do caso julgado est sujeita condio rebus sic stantibus.

    E essa modificao parece apenas possvel quando advenha alterao de circunstncias:

    assim, o j referido acrdo da Relao de Lisboa de 23 de Fevereiro de 1994 e o de 9

    de Julho de 1992, podendo no sumrio deste ltimo ler-se que [d]eve ser indeferido o pedido de revogao da priso preventiva quando dos autos resultam indcios

    suficientes de que se mantm as circunstncias que justificaram a sua aplicao. Tambm no sumrio do acrdo da Relao de Lisboa de 4 de Novembro de 2004 pode

    ler-se que [s]e aquando de reexame dos pressupostos da priso preventiva inexistirem circunstncias supervenientes que modifiquem as exigncias cautelares, ou alterem os

    pressupostos da medida de coao aplicada, constitui fundamentao bastante da

    deciso da sua manuteno, a referncia persistncia do condicionalismo que a

    imps. De igual modo, l-se o seguinte no sumrio do acrdo da Relao do Porto de 14 de Setembro de 1995: [] II Enquanto no surgir alterao fundamental da situao que existia data em que se decidiu aplicar a priso preventiva (admitindo que,

    nessa altura, existiam as condies ou pressupostos exigidos por lei), no pode o

    tribunal reformar essa deciso sob pena de, fazendo-o, provocar instabilidade jurdica

  • 15

    problema de alterao de decises judiciais da alterao substancial dos factos no processo penal), de decises judiciais paralelas s decises

    penais7, de decises judiciais administrativas

    8, de decises do Tribunal

    decorrente de julgados contraditrios. E no sumrio do acrdo do Supremo Tribunal de Justia de 25 de Outubro de 1989 l-se: [] IV S uma modificao substancial dos pressupostos processuais que aliceram a deciso que aplicou a medida da priso

    preventiva pode levar sua alterao. Fora do campo das medidas de coao, refira-se que, no acrdo da Relao de Lisboa

    de 1 de Outubro de 1997 se considerou, como pode ler-se no respectivo sumrio, que a deciso que admitiu o assistente tem valor de caso julgado formal subordinado

    condio rebus sic stantibus, pelo que alterado o objecto da lide, pela acusao, se a relao processual at ento estabelecida for alterada, deve ser reapreciada aquela

    qualidade com base na nova posio processual (no sentido, porm, de que o despacho que admite a constituio de um certo sujeito como assistente no adquire sequer a fora

    de caso julgado formal, veja-se o acrdo da Relao de Lisboa de 9 de Julho de 2002 -

    referido em STJ, 16.10.2003, que, alis, entendeu no existir a oposio de julgados que

    fundamentara o recurso em questo ; veja-se igualmente o acrdo da Relao de Lisboa de 25 de Janeiro de 2001, onde se afirmou que, em homenagem aos princpios

    do processo penal, particularmente o do favor rei e o do favor libertatis, no pode retirar-se ao juiz, no momento em que aprecia o requerimento de abertura de instruo,

    o poder de avaliar a legitimidade do requerente para se constituir assistente

    relativamente aos crimes objecto da requerida instruo, mesmo que no decurso do

    inqurito essa legitimidade tenha j sido reconhecida). J, porm, no acrdo da Relao de Lisboa de 26 de Maio de 1999 parece ter-se entendido que a alterao da

    cauo econmica no depende da alterao de circunstncias.

    Refira-se, por ltimo, que as consideraes expendidas no se aplicam s decises civis

    proferidas em processo penal, que, sob o ponto de vista do correspondente caso julgado,

    devem ser tratadas como vulgares decises civis: assim, RC, 10.02.2009. 7 Referimo-nos, na falta de outro termo que melhor as qualifique pois que, embora

    possuindo tambm finalidades de preveno, assentam, no na culpa, mas na

    necessidade de educao para o direito revelada no facto e subsistente data da deciso

    (cfr. artigo 2, n. 7, da Lei n. 166/99, de 14 de Setembro, que aprovou a Lei Tutelar

    Educativa) , s decises proferidas no mbito do processo tutelar educativo, cuja reviso a Lei Tutelar Educativa expressamente prev (cfr. o artigo 61, relativo s

    medidas cautelares, e os artigos 136 e seguintes, relativos reviso das medidas

    tutelares). A propsito da reviso das medidas tutelares educativas, observa T. d Almeida Ramio (Lei Tutelar, pg. 176) o seguinte: As medidas tutelares tm por finalidade responder a necessidades educativas do menor e que subsistam no momento

    da deciso (art. 7./1). E porque o menor um ser em formao, pode suceder que

    durante a execuo da medida aplicada surjam factos ou circunstncias quer

    relacionados com o menor quer com as concretas condies da sua execuo, que

    justifiquem a sua reavaliao, face s suas actuais necessidades educativas, por forma a

    que a medida ento aplicada possa manter-se adequada satisfao dessas necessidades.

    Por outro lado, importa controlar e acompanhar a execuo da medida e a consequente

    evoluo do processo educativo do menor, cujo decurso do tempo gera, em regra,

    alteraes significativas na sua personalidade. Por forma a alcanar esse objectivo,

    compete ao juiz decidir sobre a reviso da medida tutelar aplicada e acompanhar a

    evoluo do processo educativo do menor [].

  • 16

    8 Actualmente, a doutrina administrativista no parece questionar a susceptibilidade de

    produo de caso julgado pelas decises proferidas no contencioso administrativo,

    concentrando-se, antes, na questo dos limites objectivos do caso julgado material no mbito dos processos de impugnao de actos administrativos e aqui admitindo que o caso julgado resultante da pronncia judicial anulatria transitada se reporta ao acto administrativo na sua globalidade, e no s causas de invalidade que lhe tenham sido

    imputadas e na do alcance do caso julgado subjectivo no campo das sentenas anulatrias concebendo o CPTA diversas solues que tm em vista proteger a posio jurdica daqueles que, no tendo intervindo no processo, possam ser afectados

    pela execuo da sentena anulatria (cfr. C. A. F. Cadilha, Dicionrio (Caso julgado), pgs. 150-159; veja-se tambm M. Aroso de Almeida, Sobre a autoridade, pgs. 53-72). Sobre os efeitos, em geral, das sentenas de anulao de actos

    administrativos (entre os quais se contaria o dever, para a Administrao, de executar a

    sentena e de respeitar o julgado), veja-se, ainda, J. C. Vieira de Andrade, A justia, pgs. 384-396. Os problemas especficos que o caso julgado material das sentenas

    anulatrias suscita no contencioso administrativo aconselham, assim, e seja qual for a

    soluo daqueles que sumariamente se deixaram enunciados, a que a presente tese no

    tenha como objecto as decises respectivas.

    Por outro lado, o instituto da alterao das circunstncias parece repercutir-se nas

    decises judiciais administrativas apenas ao nvel da respectiva execuo, fundando

    uma causa legtima de inexecuo o grave prejuzo para o interesse pblico na execuo da sentena , nos termos do artigo 163 do CPTA, na medida em que esta causa legtima de inexecuo se reporta, em regra (isto , em se tratando de sentena

    condenando a Administrao prestao de facto ou entrega de coisa), e segundo o n.

    3 daquele preceito, a circunstncias supervenientes ou que a Administrao no estivesse em condies de invocar no momento oportuno do processo declarativo (veja-se, porm, o disposto no artigo 175, n. 2, do CPTA para as sentenas de

    anulao de actos administrativos, caso em que no se exige [] que as circunstncias invocadas sejam supervenientes, pois que, como observam M. Aroso de Almeida / C. A. F. Cadilha, Comentrio, pgs. 935-936 e 992, o processo de execuo de sentenas de anulao no pressupe uma condenao, sendo um processo eminentemente declarativo, no qual so pela primeira vez discutidas questes que no

    tinham sido objecto de apreciao no processo em que foi proferida a sentena, de

    estrita anulao, e em que, portanto, o tribunal deve ser chamado a analisar todas as circunstncias relevantes, independentemente do momento em que elas se possam ter

    produzido): sobre a categoria da grave leso do interesse pblico como fundamento para um fenmeno cuja lgica at certo ponto se aproxima da do instituto da

    expropriao por razes de interesse pblico e que pode ser configurado como um

    afloramento da teoria do estado de necessidade, veja-se M. Aroso de Almeida (Anulao de actos administrativos, pgs. 782-789). Mas, apesar de todas estas particularidades do contencioso administrativo em relao ao

    processo civil comum que legitimam que nos concentremos nas decises judiciais civis , de salientar que o Cdigo de Processo nos Tribunais Administrativos, se bem que no contenha preceito semelhante ao artigo 671, n. 2, do CPC, manda aplicar

    subsidiariamente a lei de processo civil ao processo nos tribunais administrativos (cfr. o

    artigo 1 do CPTA), pelo que tambm em relao s decises judiciais administrativas

    se pode, em teoria, colocar a questo de saber se so modificveis com fundamento em

    alterao de circunstncias nos termos daquele artigo 671, n. 2.

  • 17

    Constitucional9, bem como at pela circunstncia de aos actos

    administrativos no ser extensvel o fenmeno do caso julgado material10

    Problemas particulares ao nvel do mbito respectivo caso julgado levantam ainda,

    dentro das decises judiciais administrativas, as proferidas em matria eleitoral (cfr. F.

    Miatti, Lautorit). 9 A propsito das decises do Tribunal Constitucional, pode tambm colocar-se o

    problema, para o qual alertam K. Vogel (Rechtskraft, pgs. 594-596) e R. Bocanegra Sierra (El valor, pgs. 216-220), dos limites temporais do respectivo caso julgado, quando, no obstante no surgirem novos factos, se produza uma alterao

    fundamental nas relaes da vida ou na opinio jurdica geral: na medida em que tal

    alterao pode consubstanciar uma autntica alterao da situao fctica inicial,

    equivalendo essencialmente ocorrncia de novos factos, plausvel sustentar que o Tribunal Constitucional poderia desconsiderar o valor de caso julgado da anterior

    deciso e decidir por meio de uma nova sentena a mesma questo de modo diferente (R. Bocanegra Sierra, ibidem, trad. nossa). Aflorando igualmente o problema e

    propugnando idntica soluo, J. Concheiro del Rio (La revisin, pgs. 56-57). A questo dos limites temporais do caso julgado das decises do Tribunal

    Constitucional autonomiza-se, de qualquer modo, da idntica questo na rea do

    processo civil, no s pela assinalada possibilidade de equiparao da alterao fundamental nas relaes da vida ou na opinio jurdica geral alterao da base factual anteriormente considerada, mas, desde logo, porque a aptido de tais decises

    para a produo de caso julgado material no , nos processos de controlo de normas e atenta a circunstncia de, a, no ser aplicada uma norma a uma concreta situao de

    facto, mas unicamente apreciada uma norma face a outra norma , lquida na doutrina (cfr., quanto doutrina alem, K. Vogel, Rechtskraft, pgs. 604-605, e R. Bocanegra Sierra, El valor, pgs. 49-55). No sentido, porm, de que mesmo as decises de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com fora obrigatria geral previstas

    no artigo 282 da Constituio produzem, no apenas caso julgado formal, mas tambm

    caso julgado material, veja-se C. Blanco de Morais (Justia, pgs. 202-205) porque, sendo eliminada do ordenamento a norma impugnada, a natureza das coisas impede que

    possam ocorrer novos processos que envolvam a questo da sua validade ou

    aplicabilidade, j que os mesmos careceriam de objecto. Nos recursos de constitucionalidade, a possibilidade de as decises do Tribunal Constitucional

    constiturem caso julgado material enfrenta o obstculo do disposto no artigo 80 da Lei

    do Tribunal Constitucional, porquanto este preceito apenas alude ao caso julgado dessas

    decises (obrigatoriedade no processo em que so proferidas): sobre o ponto, A. Rocha

    Marques, O Tribunal Constitucional, pgs. 462-463. Parece, assim, que essas decises so equiparveis, sob o ponto de vista da sua inaptido para o caso julgado

    material, s decises que os restantes tribunais profiram sobre questes de

    inconstitucionalidade (sobre o caso julgado destas decises, veja-se M. Galvo Teles,

    A competncia, pg. 120, nota 23). 10

    O denominado caso decidido ou resolvido, porque resultante da irrecorribilidade (e,

    para alguma doutrina, da irrevogabilidade) de um acto administrativo e no de uma

    deciso judicial, no se confunde com o caso julgado material em sentido prprio, que

    o que temos em vista. Sobre a questo de saber se o acto administrativo pode produzir

    caso julgado material, veja-se, em sentido negativo, Rui Machete (Caso julgado, pgs. 274-277), atendendo a que a proteco definitiva, completa que dada deciso judicial que passou a ter fora obrigatria dentro do processo e fora dele, [] no se verifica na situao emergente do acto constitutivo de direitos. Enquanto na sentena

  • 18

    da questo da modificao das decises da Administrao11

    , que,

    nomeadamente na rea do urbanismo e do ambiente, assume particular

    actualidade e especiais contornos12

    .

    judicial dotada de caso julgado material, a imutabilidade dos seus efeitos, ou o vnculo

    da obedincia subsistem sempre, ainda que haja uma deciso contraditria posterior

    com trnsito (Cd. Proc. Civil, art. 671., 1), o acto administrativo que, com efeitos ex tunc ou ex nunc vier revogar o acto constitutivo de direitos, ferido de uma nulidade simples susceptvel de sanar com o decurso do prazo para a interposio do recurso

    contencioso sem que a sua ilegalidade tenha sido feita valer, ficando, a partir da, a ser

    obrigatria a regulamentao posterior. Na doutrina estrangeira, sobre a questo de saber se o caso julgado material deve ficar reservado para as decises judiciais, veja-se

    A. Merkl, Die Lehre, pgs. 3-61 (tratando simultaneamente das decises administrativas e das decises dos tribunais administrativos), e E. Btticher, Die

    Bindung, pgs. 532-535. No obstante no pretendermos tratar dos actos administrativos, admitimos que algumas das solues a que chegarmos lhes sejam

    aplicveis, e, bem assim, que tambm nos interessem alguns ensinamentos da doutrina

    administrativista, at porque, como sublinha L. Nunes de Almeida (A justia

    constitucional, pg. 38), [o] conceito de caso julgado no se encontra constitucionalmente definido, pelo que se suscitam dvidas, desde logo, sobre a questo

    de saber se ele abrange to-s o caso julgado judicial ou tambm o denominado caso

    julgado administrativo, isto , aquelas decises administrativas que se consolidaram

    definitivamente, por j no serem juridicamente susceptveis de impugnao

    contenciosa. 11

    A modificao do acto administrativo, segundo Pedro Gonalves (Revogao, pg. 307, notas 9 e 11), altera o contedo do acto anterior, mediante a sua substituio parcial, sendo que [a]s regras que regulam a alterao e a substituio de actos administrativos so, em princpio, as que regulam a revogao (art. 147 do Cdigo do

    Procedimento Administrativo). Atendendo a que, na modificao e na substituio, est implicado um efeito revogatrio (idem, pg. 307) e a revogao pode decorrer da verificao, por parte da Administrao, da existncia de alteraes na situao de facto sobre que o acto incide (supervenincia objectiva), ou de alteraes nas prprias [da Administrao] concepes sobre o modo de prosseguir o interesse pblico

    (supervenincia subjectiva) (idem, pg. 306), deduz-se que, para o Autor, tambm modificao pode subjazer a supervenincia objectiva ou subjectiva. Saliente-se, de

    qualquer modo, que a doutrina portuguesa tem criticado a imposio legal da aplicao,

    modificao do acto administrativo, das regras da revogao constantes dos artigos

    138 e seguintes do Cdigo do Procedimento Administrativo (assim: implicitamente, J.

    C. Vieira de Andrade, A reviso dos actos, pgs. 185-187, pois que tece reparos consagrao da revogao como figura central da reviso dos actos administrativos,

    podendo esta redundar na modificao do acto; C. Amado Gomes, Mudam-se os tempos, pgs. 239 e 255-266, e Da aceitao, pgs. 1043-1044, para quem nem a revogao por invalidade originria (artigo 141 do CPA), nem a revogao por

    alterao sobre a concepo da melhor forma de prossecuo do interesse pblico

    subjacente ao acto (artigos 140/1 e 145/1 do CPA) veiculam a transformao interna

    do acto autorizativo de modo a adapt-lo alterao decorrente da supervenincia de

    novos factores de risco (ou de novas tcnicas de gesto deste) associados aos que j se

    encontram cobertos pela conformao inicialmente realizada, propugnando, como tal, a consagrao de um regime diferenciado para a reviso modificativa, baseado no

    instituto da alterao das circunstncias).

  • 19

    12

    Na rea do urbanismo, importa referir que o Decreto-Lei n. 380/99, de 22 de

    Setembro (entretanto republicado pelo Decreto-Lei n. 310/2003, de 10 de Dezembro)

    prev a alterao e a reviso dos instrumentos de gesto territorial, podendo a alterao

    desses instrumentos decorrer (cfr. o artigo 93, n. 2, alnea a)) [d]a evoluo das perspectivas de desenvolvimento econmico e social que lhes esto subjacentes e que os

    fundamentam, desde que no ponham em causa os seus objectivos globais; por seu lado, [a] reviso dos planos municipais e especiais de ordenamento do territrio decorre da necessidade de actualizao das disposies vinculativas dos particulares

    contidas nos regulamentos e nas plantas que os representem (cfr. o artigo 93, n. 3, do referido Decreto-Lei). Sobre a alterao e reviso dos planos, F. Condesso, Direito, pgs. 1103-1105. De assinalar, ainda, o artigo 48, n. 1, do Regime Jurdico da

    Urbanizao e da Edificao (aprovado pelo Decreto-Lei n. 555/99, de 16 de

    Dezembro, e republicado em anexo Lei n. 60/2007, de 4 de Setembro) que estabelece que [a]s condies da licena ou comunicao prvia de operao de loteamento podem ser alteradas por iniciativa da cmara municipal desde que tal

    alterao se mostre necessria execuo de plano municipal de ordenamento do

    territrio, plano especial de ordenamento do territrio, rea de desenvolvimento urbano

    prioritrio, rea de construo prioritria ou rea crtica de recuperao e reconverso

    urbanstica , que, como assinala L. P. Pereira Coutinho (Notas, pg. 22), permite a reviso, em sentido desfavorvel para o seu titular, de licena urbanstica vlida, na

    hiptese especial de supervenincia de novas normas urbansticas.

    Quanto rea do ambiente, assinale-se a possibilidade de renovao de licenas

    ambientais antes do respectivo termo, por alterao das circunstncias, nos termos do

    Decreto-Lei n. 69/2000, de 3 de Maio (cfr. V. Pereira da Silva, Verde cor de direito, pgs. 203-205). Por outro lado, na Comunicao relativa ao princpio da precauo, de 2

    de Fevereiro de 2000, considerou a Comisso das Comunidades Europeias que as

    medidas baseadas no princpio da precauo enquanto princpio de aplicao geral que deve ser tido em conta, nomeadamente, nos domnios da proteco do ambiente, da

    sade das pessoas e dos animais bem como da proteco vegetal (cfr. pgs. 10-11) se inscrevem no quadro geral da anlise de riscos, mais precisamente na gesto de riscos (cfr. pg. 14), devendo manter-se enquanto os dados cientficos permanecerem insuficientes, imprecisos ou inconclusivos e enquanto se considerar o risco

    suficientemente elevado para no aceitar faz-lo suportar pela sociedade. Em caso de

    surgirem novos conhecimentos cientficos, possvel que se devam alterar ou mesmo

    suprimir as medidas num prazo determinado. Contudo, este facto no est relacionado

    com o factor tempo mas antes com a evoluo dos conhecimentos cientficos (cfr. pg. 21). Sobre o princpio da precauo, veja-se C. Amado Gomes (Dar o duvidoso, in Textos, pgs. 141 e seguintes), considerando que da ideia de precauo dec