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  • 7/29/2019 Casos+Pr..

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    Universidade Catlica PortuguesaTeoria Geral da Relao Jurdica

    Resoluo dos Casos PrticosAno Lectivo 2004/2005

    por

    Gonalo Rosas

    Concluso de contrato; proposta e aceitao contratuais

    I

    O livreiro Antnio pretende aumentar o seu j elevado nmero de clientes. A estes

    costuma enviar livros de amostra para que os examinem e, caso sejam do seuagrado, fiquem com eles, pagando em seguida.Antnio resolve adoptar o mesmo processo para captar novos clientes. Nestestermos, o professor Ernesto recebeu trs livros de amostra, os quais foramacompanhados de uma carta dizendo que se considera o negcio concludo poracordo, s os livros no forem devolvidos no prazo de uma semana. Ernesto colocaos livros de lado, sem os utilizar, no reagindo. Passadas trs semanas Antnio exigeo pagamento. Ernesto ter de pagar?A resposta seria a mesma se entre Antnio e Ernesto existisse um acordo no sentidode que os livros s poderiam ser devolvidos na semana seguinte entrega?

    1 pergunta

    - A obrigao de pagar os livros s existe se o contrato estiver concludo.- A concluso do contrato depende de:

    Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Antnio eficaz: os livros chegaram esfera de poder de Ernesto(cf. art. 224, n. 1, 1 parte).

    - Ernesto no reage, logo no h uma exteriorizao de uma declarao. Nestecaso, o silncio no tem valor declarativo, uma vez que, nos termos do art. 218,s por lei, uso ou conveno este ter valor declarativo.

    - Concluso: o negcio no foi concludo, logo Ernesto no ter que pagar oslivros a Antnio.

    2 pergunta

    - A obrigao de pagar os livros s existe se o contrato estiver concludo.

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    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Antnio eficaz: os livros chegaram esfera de poder de Ernesto(cf. art. 224, n. 1, 1 parte).

    - O texto refere que existe um acordo entre Antnio e Ernesto, no sentido de que

    Ernesto tornar-se-ia proprietrio dos livros, se no os devolvesse no prazo deuma semana.- Ernesto ficou com os livros, logo h uma aceitao eficaz deste, usando o

    silncio como meio declarativo.- Neste caso o silncio tem valor declarativo, porque entre Antnio e Ernesto

    havia uma conveno (cf. art. 218).- Concluso: Ernesto ter que cumprir a sua obrigao (cf. art. 879, c)), ou seja,

    pagar os livros a Antnio.

    II

    Jernimo escreveu a Paulo uma carta declarando-se interessado na compra do seuautomvel Mercedes, modelo de 1950, por 25.000 euros a pronto pagamento. Acarta, expedida em 5 de Janeiro, continha ainda a meno de que Jernimo esperaria

    por uma resposta at ao dia 20 do mesmo ms.Em, 18 de Janeiro, Paulo respondeu tambm por carta dizendo que concordava coma venda nos termos propostos por Jernimo. Porm, devido a um erro no sistema dedistribuio de correspondncia, a carta s chegou ao seu destino no dia 22 deJaneiro.a) Ficou concludo algum contrato entre Jernimo e Paulo? A situao jurdica deJernimo seria a mesma se o carimbo de expedio da carta de Paulo fosse do dia25e a carta tivesse chegado a 26?

    b) Se no dia 22 Paulo tivesse telefonado a Jernimo pedindo-lhe para tratar doprocesso de alterao do registo de propriedade, a resposta primeira parte da alneaa) seria a mesma?c) E se a carta de Paulo, expedida a 17 de Janeiro, tivesse sido entregue no dia 20 ao

    jardineiro, que, por coincidncia, fazia o seu servio nesse dia, mas se esqueceu defazer chegar a carta s mos de Jernimo, s a tendo entregue a este na semanaseguinte, quid iuris?

    Alnea a)1 pergunta

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Jernimo eficaz, pois esta chegou esfera de poder de Paulo (cf.art. 224, n. 1, 1 parte). A proposta de Jernimo continha uma limitaotemporal, ou seja, o prazo de vigncia da proposta.

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    - A aceitao de Paulo ineficaz, pois apesar deste ter expedido a declarao emtempo, a recepo foi tardia. Nos termos do art. 228, n. 1, a proposta mantm-se at o prazo findar, logo a aceitao j no encontrou uma proposta.

    - Concluso: no h contrato.

    2 pergunta

    - Na primeira pergunta, Jernimo est perante uma recepo tardia (cf. art. 229)- O art. 229 distingue duas situaes, quanto a esta figura:

    Se a aceitao foi expedida em tempo, mas a recepo foi tardia,o proponente deve alertar o aceitante que o contrato no seconcluiu, sob pena de responder pelos danos causados (nostermos da responsabilidade civil extra-contratual). Em caso dedvida, se a expedio foi feita em tempo ou no, o proponentedever avisar o aceitante para a no concluso do contrato, pois osriscos no avisar so maiores, comparados com a opo de no

    alertar o aceitante para o facto, visto que o ltimo pode crer quehouve concluso do contrato. (NOTA: em situao alguma ocontrato se conclu por sano ao proponente, pelo facto desteno ter avisado o aceitante.)

    Se a aceitao foi expedida em tempo, mas a recepo foi tardia,o proponente tem a faculdade de ressuscitar a proposta, demodo a tornar a aceitao eficaz. Em caso de dvida, se aexpedio foi feita em tempo ou no, o proponente no tem essedireito, pois est em causa um direito potestativo, sendo este decarcter excepcional, devido sua natureza unilateral.

    - Na segunda situao, j no estamos perante uma recepo tardia, pois a

    aceitao no foi expedida m tempo, logo no se podendo aplicar p art. 229.

    Alnea b)

    - O facto de Jernimo telefonar a Paulo para iniciar o processo e alterao dottulo de propriedade, constitui um reconhecimento tcito da eficcia daaceitao de Paulo, ou seja, Jernimo usou a faculdade que o art. 229, n. 2 lhed, ressuscitando a sua proposta.

    - Se, a concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    logo, h um contrato concludo entre Jernimo e Paulo.

    Alnea c)

    - A lei impe como condio para a eficcia de uma declarao, a chegada aopoder do destinatrio desta, ou dele conhecida (cf. art. 224, n. 1)

    - No funo de jardineiro receber cartas, logo a entrega da aceitao aojardineiro no vlida, pois este no faz parte da sua esfera de poder, por outras

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    palavras, a declarao recebida pelo destinatrio em condies de, sem culpasua, no poder ser conhecida, ineficaz.

    - Se, a concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    logo, no h um contrato concludo entre Jernimo e Paulo, visto a aceitao no

    ser eficaz.

    III

    Horcio possui um piano que pretende vender. Dirige a Felisberto uma proposta,limitada at ao dia 3 de Outubro, s 13h.

    a) Felisberto escreve, no dia 2, uma carta na qual declara a aceitao da proposta. Deregresso da estao do correio atropelado por um autocarro e morre pouco depois.A carta metida s 12h do dia 3 de Outubro na caixa de correio de Horcio que aencontra s 14h.

    b) Felisberto escreve, no dia 2, uma carta na qual declara a aceitao da proposta. Acarta metida s 12h do dia 3 de Outubro na caixa de correio de Horcio que,entretanto, tinha falecido subitamente algumas horas antes.c) Felisberto envia no dia 2 uma carta registada na qual declara a aceitao da

    proposta. Na manh do dia 3, o carteiro procura em vo entregar a carta a Horcio.Este encontra-se dentro de casa, mas prefere no abrir a porta porque entretantoobtivera uma oportunidade para vender o piano a um preo mais elevado. S no dia4 de Outubro, Horcio recebe a carta.

    Diga se, nas trs hipteses expostas, ficou concludo um contrato ou no.

    Alnea a)

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Horcio eficaz (cf. art. 224, n. 1, 1 parte), mas tambmlimitada no tempo, ou seja, Felisberto ter que aceitar at dia 3 de Outubro s13h (cf. art. 228, n. 1, a)).

    - Felisberto morre de regresso da estao de correios, onde enviou a sua aceitao.Segundo o princpio geral do art. 226, a morte ou incapacidade do declaranteno prejudica a eficcia da declarao, pois a declarao autonomiza-se do

    declarante no momento que emitida.- Contudo, o art. 231, n 2 estabelece uma excepo ao artigo anteriormente

    citado. Este art. apenas se aplica a aceitao ainda no se tornou eficaz, ou seja,antes da concluso do contrato. Assim, este diz-nos: A morte ou incapacidadedo destinatrio (da proposta) determina a ineficcia da proposta.

    - A aceitao da proposta ineficaz, porque j no encontrou proposta, quandochegou, pois esta j era ineficaz, ao abrigo do art. 231, n. 2 que procura tutelaro interesse do proponente.

    - Concluso: no h contrato entre Horcio e Felisberto.

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    Alnea b)

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Horcio eficaz (cf. art. 224, n. 1, 1 parte), mas tambm

    limitada no tempo, ou seja, Felisberto ter que aceitar at dia 3 de Outubro s13h (cf. art. 228, n. 1, a)).- Neste caso, Horcio morre, algumas horas antes da chegada da aceitao.- Analisando de novo o art. 231, mas desta vez o seu n. 1, este diz-nos que a

    morte do proponente no obsta concluso do contrato. Contudo estapossibilidade de concluso do contrato post mortem s possvel quando huma dispensa da aceitao (art. 234). A contrario sensu, se retira que no sedispensava a aceitao, logo a aceitao no eficaz.

    - Concluso: no h contrato entre Horcio e Felisberto.

    Alnea c)

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - A proposta de Horcio eficaz (cf. art. 224, n. 1, 1 parte), mas tambmlimitada no tempo, ou seja, Felisberto ter que aceitar at dia 3 de Outubro s13h (cf. art. 228, n. 1, a)).

    - Felisberto tomou as devidas diligncias conducentes aceitao da proposta,enviando uma carta registada a Horcio. Na manh do dia 3, o carteiro noconsegue entregar a carta a Horcio, por este no querer abrir a porta. Aaceitao s chega no dia 4.

    - Aparentemente, a aceitao chegou fora do prazo, no sendo tempestiva,contudo a lei, no art. 224, n. 2, consagra uma excepo: se s por culpa do

    destinatrio, a declarao no foi recebida, esta considera-se eficaz.- Concluso: h contrato entre Horcio e Felisberto.

    IV

    Antnio enviou sua seguradora, por telefax, uma comunicao onde manifestava avontade de contratar um seguro de responsabilidade civil automvel pelo valormximo que a seguradora praticasse. Nessa comunicao, Antnio inclua todos osdados relevantes do automvel a que se referia o seguro e pedia ainda que a

    seguradora o informasse caso no pudesse ou no quisesse efectuar o mesmo seguro.O telefax foi enviado s 22.00 de Quinta-Feira e recebido logo depois na companhia.s 9.00 de Sexta-Feira os servios comerciais da seguradora enviaram o telefax paraos servios tcnicos para ser processada a aplice e aviso de pagamento dorespectivo prmio.

    No Sbado seguinte Antnio sofre um acidente com o automvel em questo. Estara sua responsabilidade civil coberta pelo seguro?

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    - Antnio s estar coberto se existir um contrato concludo.- A concluso do contrato depende de:

    Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - Antnio dirige uma proposta seguradora, por telefax, informando-a que queriacontratar um seguro de resp. civil automvel, indicando todas as condies e

    dados relativos viatura. O fax foi enviado s 22.00 de quinta-feira.- A seguradora recebe o telefax logo depois, e s 9.00 de sexta-feira envia aosservios tcnicos. A proposta torna-se eficaz (art. 224, n. 1).

    - Estamos perante um caso de dispensa da aceitao, pois no mercado de seguros,as seguradoras no enviam qualquer aceitao, caso aceitem a proposta deseguro.

    - Segundo o art. 234, o contrato d-se por concludo quando a seguradora mostreinteno de aceitar a proposta: foi o que aconteceu, quando a proposta deAntnio foi enviada aos servios tcnicos.

    - Concluso: h concluso de contrato, logo Antnio est coberto.

    V

    Joo, agricultor, envia um fax a Manuel, grossista, dizendo: "ofereo-lhe 20toneladas de mas ao preo de 50 contos por tonelada. Peo resposta imediata7''.

    O fax d entrada no escritrio de Manuel s 21 horas desse dia, no se encontrandol ningum a essa hora.Enquanto jantava em casa, Joo ouve a notcia de que as mas vo subir de preo.

    Na manh seguinte, envia, o mais cedo que lhe foi possvel, um segundo fax aManuel com o seguinte contedo: "no posso manter o preo oferecido, o qual

    passar a ser de 60 contos por tonelada".

    Ao chegar ao seu escritrio, hora habitual, Manuel depara com os dois faxes.Imediatamente envia um fax a Joo dizendo: "aceito o fornecimento de 20 toneladasde mas ao preo de 50 por tonelada". Joo ter de fornecer as mas a este preo?

    - Joo s ter que fornecer maas se existir um contrato concludo.- A concluso do contrato depende de:

    Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - Joo dirige uma proposta a Manuel, por fax que d entrada no escritrio deManuel s 21.00 desse dia, oferecendo-se para lhe fornecer maas a 50c./ton. A

    proposta torna-se eficaz (art. 224, n. 1).

    - Joo arrepende-se e envia, na mesma noite, uma retraco da proposta a Manuel.- Manuel depara-se na manh seguinte com duas propostas. Segundo a lei, s se o

    destinatrio receber a retraco antes ou ao mesmo tempo da proposta, estatorna-se eficaz (art. 230, n. 2). Contudo, isso no aconteceu: a retraco chegoudepois da proposta.

    - No entanto, a doutrina (cf. Hrster, pag. 458) considera que, mesmo que as duaspropostas sejam recebidas em momentos diferentes, o que decisivo omomento do conhecimento das propostas. Se esse momento for simultneo, ficaa primeira proposta sem efeito.

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    - Concluso: Joo ter que fornecer as maas ao preo da retraco.

    VI

    Em l de Junho de 2003, vem publicado um anncio num jornal onde se l: "Vende-seservio de porcelana Vista Alegre pelo melhor preo. Aguardam-se propostas, at ao

    dia 7 de Junho. Ivo Costa e Silva, telemvel: 87 98 924 06.Depois de um prvio contacto telefnico, no dia 3 de Junho, Ivo e Joana celebram porescrito um contrato de compra e venda do servio, por 1000 euros, acordando que o

    preo seria pago no dia 15 do mesmo ms, data em que tambm seria entregue oservio.Dois dias depois, em resposta ao mesmo anncio, Lusa oferece 1500 euros peloservio. Ivo celebra, imediatamente, um contrato com Lusa e entrega-lhe o servio.Tambm Lusa paga Jogo.Ivo envia ento a Joana a seguinte carta: "como me ofereceram um preo melhor pelo

    servio, o nosso contrato fica sem efeito",

    Em 15 de Junho, Joana exige a Ivo a entrega do servio.Ouid iuris?

    - Joana s poder exigir a Ivo a entrega do servio se, entre eles, existir umcontrato.

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - No dia 1 de Junho, Ivo publica num jornal um anncio, informando que vendeum servio de porcelana pelo melhor preo. Mais acrescentou que aguardavarespostas at ao dia 7 de Junho. Ora, este anncio no constitui uma proposta,mas sim um convite a contratar. O convite a contratar apenas sinaliza o interesseou a disponibilidade de entrar em negociaes com vista posterior conclusodo contrato, ou seja, o convite a contratar constitui um incentivo para quealgum dirija uma proposta contratual a quem convida, deixando a este o papelde aceitar ou no a dita proposta1. Assim, uma proposta contratual deve tercomo elemento imprescindvel a susceptibilidade de ser aceite, ou seja, a

    proposta deve ser concreta e determinada, devendo prever os efeitos tpicosdaquele tipo de contrato (ex.: Compra e venda: efeitos art. 879 C.Civil). O

    proponente deve a exprimir uma clara vontade de vinculao aos efeitosjurdicos que a proposta visa realizar.

    - No dia 3 de Junho, aps um contacto telefnico, Ivo e Joana celebram um

    contrato escrito de compra e venda do dito servio de porcelana (art. 874 e ss.C.Civil). Note-se que os contraentes tm liberdade de forma (art. 219 C.Civil),no sendo exigida escritura pblica (art. 875 C.Civil), tendo por isso adoptadoforma escrita [voluntria] (art. 222 C.Civil), ou seja, documento particular (art.373 e ss. C.Civil). Combinaram ainda que, o preo seria de 1000 euros, sendo o

    pagamento e o servio entregues no dia 15 de Junho.

    1 vd., HRSTER, Einrich Ewald, A Parte Geral do Cdigo Civil Portugus, 743, Almedina.

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    - Neste momento, j h um contrato celebrado entre Ivo e Joana, que foiconcludo no momento em que os dois disseram sim ao telefone, pois acelebrao do contrato no depende da sua forma, ao contrrio daqueles a que exigida escritura pblica. Concluso: a propriedade do servio de Joana.

    - No dia 5 de Junho, devido a uma oferta superior (1500 euros) Ivo celebra comLusa um contrato de compra e venda do servio de porcelana. Ivo entrega

    imediatamente o servio, tal como Lusa paga logo. Ivo informa Joana que, porter tido melhor oferta, o contrato entre eles fica sem efeito.- Ivo no o pode fazer. Na sua carta a Joana, Ivo pretende sugerir que o contrato

    se extinguiu. Segundo o art. 406 C.Civil, o contrato s se pode extinguir oumodificar-se por mtuo acordo dos contraentes: isto no aconteceu, logo ocontrato ainda vlido e existe. Assim, Ivo dispe de uma coisa que j no sua, ou seja, vende uma coisa alheia (art. 892 C.Civil), sendo esse contratonulo. Joana poder ainda reforar a sua posio invocando o art. 407, que nosdiz que, em caso de incompatibilidade de direitos pessoais de gozo (o queacontece, uma vez que se trata de propriedade), prevalece o direito mais antigo,que o de Joana.

    - Concluso: Ivo ter que entregar o servio a Joana.

    VII

    Antnio, proprietrio de uma fbrica de produtos txteis, enviou a Bernardo,proprietrio de uma loja de pronto-a-vestir, uma carta, acompanhada de um catlogo erespectiva lista de preos, na qual manifestava o seu interesse em lhe fornecer os

    produtos constantes desse catlogo. A carta foi enviada em 3 de Junho e recebida no diaseguinte.Bernardo escreveu a Antnio, em resposta, que existia um interesse semelhante da sua

    parte, e tomou a iniciativa de enviar ao mesmo tempo uma minuta de contrato (em doisexemplares) donde constavam os produtos que lhe interessavam e demais condies,mas com preos inferiores aos constantes da lista previamente enviada por Antnio.Esta carta, juntamente com a minuta, foi enviada a 12 de Junho e recebida a 14.O mesmo Antnio limitou-se ento a devolver os dois exemplares do contratodevidamente assinados em 20 de Junho. Bernardo recebeu os contratos em 22 domesmo ms, assinou-os tambm, e devolveu um dos exemplares a Antnio em 25 deJunho, que o recebeu a 27.a) Diga se existiu, e quando, algum contrato concludo entre Antnio e Bernardo,

    justificando a resposta e caracterizando juridicamente todas as fases da negociao.b) Se em 20 de Junho Antnio, em vez de enviar os contratos assinados, tivesse apenasescrito a Bernardo dizendo que estava de acordo com o contedo do contrato mas que

    no o queria assinar, em virtude de no ter ainda a certeza de poder fornecer algunsdos modelos, a resposta pergunta anterior seria a mesma? Justifique.

    - Antnio e Bernardo s tero obrigaes a cumprir se, entre eles, existir umcontrato.

    - A concluso do contrato depende de: Proposta eficaz Aceitao eficaz

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    Alnea a)

    - O envio do catlogo a Bernardo, por parte de Antnio constitui um convite acontratar2.

    - Em resposta ao envio do catlogo, Bernardo escreveu a Antnio sinalizando um

    interesse semelhante da sua parte, tendo enviado duas minutas de contrato,discriminando os produtos que lhe interessavam, mas com preos inferiores aosconstantes na lista enviada por Antnio. Resta saber se j possvel considerareste acto de Bernardo, uma proposta contratual. Na opinio do Prof. Dr. Hrstere do Prof. Agostinho Guedes, o envio das minutas no constitui uma proposta.Esta posio justifica-se pelo facto de Bernardo no ter, desde logo, assinado asminutas, mantendo as dvidas sobre a sua efectiva vontade de vinculao

    jurdica. Outros consideram que, as minutas de um contrato, ou seja, a sua forma(quando no exigida por lei) no decisiva para a concluso de um contrato esua posterior validade, pois este contrato poderia ser concludo verbalmente, nosendo por isso relevante o facto de os contraentes terem assinado ou no asminutas. Considerando a ltima posio o envio das minutas e a carta

    constituem uma proposta, pois ela preenche todos os requisitos da propostacontratual (opinio unnime), contudo adoptarei para a resoluo a primeira

    posio, visto ser esta a que melhor ser adequa ao desenvolvimento do caso.- Ao receber e assinar as minutas do contrato, Antnio envia a Bernardo uma

    proposta contratual; Bernardo aceita proposta ao assinar os exemplares docontrato. Neste momento, conclui-se o contrato entre Antnio e Bernardo.

    Alnea b)

    - A aceitao com aditamentos, limitaes ou outras modificaes, importa arejeio da proposta (art. 233 C.Civil). Aparentemente, e no havendoinformaes para o confirmar, a modificao no foi suficientemente precisa,

    pelo que no constitui nova proposta, logo neste caso, no h concluso docontrato.

    VII

    Eduardo e Francisco celebraram, por escrito, um contrato mediante o qual oprimeiro se obrigou a fornecer ao segundo material informtico diverso, pelo preoglobal de 20 000 euros com pagamento a trinta dias aps a data de emisso darespectiva factura. Recebido o equipamento e a respectiva factura Francisco recusa-se a pagar o preo alegando que tinha sido acordado com Eduardo um desconto de10% sobre o preo da factura, acordo esse testemunhado por funcionrios do mesmoFrancisco.Se o caso for levado a tribunal como dever este decidir?

    2 vd. sobre o convite a contratar Caso VI, ponto 3.

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    - Francisco ter que pagar o preo se, entre ele e Eduardo, existir um contrato.- A concluso do contrato depende de:

    Proposta eficaz Aceitao eficaz- A concluso do contrato deu-se quando os contraentes disseram sim respectiva

    proposta e aceitao, tendo celebrado, por escrito, o dito contrato medianteEduardo se comprometia a fornecer material informtico, mediante o pagamentode 20.000 euros de Francisco.

    - Ao receber o equipamento e a factura, Francisco repara que o preo no incluium alegado desconto de 10%, alegadamente acordado entre os dois verbalmente.Apesar de no estar no contrato, o art. 222 C.Civil diz que as estipulaesverbais acessrias, anteriores ou contemporneas ao escrito, so vlidas.

    - Contudo, para mostrar que corresponde vontade das partes, Francisco invocacomo testemunhas, os seus funcionrios, que tero presenciado o acordo. Noentanto, o art. 394 C.Civil considera inadmissvel a prova por testemunhas de

    convenes contrrias ou adicionais ao contedo do documento autntico.- Francisco ter assim, que recorrer a outras provas para comprovar o acordo de

    desconto, caso contrrio ter que pagar o preo previsto na factura enviada porEduardo.

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    Representao; procurao na concluso de um contrato.

    XV

    Nivaldo, sabendo que o seu amigo Gustavo pretendia arrendar um apartamento noAlgarve para passar as suas frias em Agosto, aproveitou as curtas frias que fez nessaregio em Abril, para celebrar um contrato de arrendamento de um belo apartamento,com vista para o mar, em nome de Gustavo por 300 contos, sem que este soubesse dosucedido, pagando j um sinal de 75 contos.Uma vez regressado ao Porto, Nivaldo de imediato informou o seu amigo Gustavo,tendo este ficado muito satisfeito. Sem demora, Gustavo escreveu ao proprietrio doapartamento perguntando como e quando este pretendia o pagamento dos restantes 225contos.Porm, eporque entretanto outra pessoa tinha oferecido 400 contos pelo mesmoapartamento para o ms de Agosto, o aludido proprietrio devolveu os 75 contos erespondeu a Jos dizendo que j no estava interessado no contrato.

    Quid iuris?

    - Nivaldo s ter que pagar ao proprietrio se, entre eles, existir um contrato.- A concluso do contrato depende de:

    Proposta eficaz Aceitao eficaz

    - No necessrio que o declarante emita a declarao negocial: este pode nomearoutra pessoa que, em nome dele, emita essa declarao e, assim, negoceie paraconcluso de um contrato.

    - A figura da representao vem regulada nos arts. 258 e ss., estando arepresentao voluntria nos arts. 262 e ss. A representao um negcio

    jurdico [unilateral] realizado pelo representante em nome do representado, noslimites dos poderes que lhe competem, que produz efeitos jurdicos na esfera

    jurdica do representado.- Nivaldo, sabendo do interesse de Gustavo, mas sem o conhecimento dele,

    negoceia um contrato de arrendamento (art. 1022 e ss. C.Civil) em nome deGustavo. Por outras palavras, Nivaldo celebrou um contrato em nome deGustavo, mas sem poderes, enquadrvel no art. 268 C.Civil, tendo ogo pago umsinal de setenta e cinco contos.

    - A consequncia jurdica da representao sem poderes a ineficcia do negciojurdico em relao ao representado, a menos que seja por este ratificado, ouseja, o contrato de arrendamento ineficaz (no produz efeitos) em relao a

    Gustavo, mas continua eficaz na esfera jurdica do proprietrio do apartamento.Naturalmente, o contrato nunca produz efeitos em relao a Nivaldo, pois este procurador.

    - No entanto, Gustavo at ficou satisfeito com o contrato que Nivaldo celebrou emnome dele, ou seja, Gustavo tenciona ratificar o contrato, o que provoca a total

    produo de efeitos. Pe-se agora o problema da forma da ratificao (art. 268,n. 2 C.Civil e art. 262, n.2 C.Civil). A ratificao deve ter a forma exigida

    para a procurao, sendo que a procurao deve ter a forma do negcio jurdico.No caso concreto, o contrato de arrendamento exige forma escrita,

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    consequentemente a ratificao tambm deve ter essa forma. Gustavo enviouuma carta ao proprietrio do apartamento, perguntando quando e como pretendiareceber os restantes 225 contos. Esta carta constitui uma ratificao tcita donegcio, sendo possvel ao abrigo do art. 217, n. 2 C.Civil o carcter formalda declarao no impede que esta seja emitida tacitamente.

    - Concluso: a forma foi cumprida e o proprietrio fica vinculado ao contrato, at

    porque no reagiu em tempo (art. 268, n. 3 C.Civil).

    XVI

    Antnio sabe que o seu amigo Bernardo pretende estudar Direito na UCP, do Porto.(1) Assim, por ocasio de uma estadia no Porto arrenda, sem informar Bernardo, umquarto em nome deste.(2) Suponha agora, em alternativa, que Bernardo tinha pedido a Antnio que lhearrendasse um quarto no Porto mas este, pelo contrrio, arrendou um apartamento nonome de Bernardo.

    a) Quando, em qualquer dos casos, o senhorio pede o pagamento da renda a Bernardo,este recusa-se. Quid iuris? (Na sua resposta distinga bem entre as situaes de interesseexistentes nas duas alternativas).

    b) E se, em qualquer dos casos, Bernardo se limitasse a enviar um cheque com o valorda renda, quais seriam as consequncias jurdicas?

    Alnea a)

    - No primeiro caso, Antnio celebra em nome de Bernardo um contrato de

    arrendamento. No entanto, Antnio no tinha poderes para o fazer, ou seja,exerce uma representao sem poderes (art. 268 C.Civil). Concretizando,Antnio arrenda um quarto a Bernardo sem que este o tenha investido de tais

    poderes. Assim, o contrato s eficaz em relao ao proprietrio do quarto e noquanto a Bernardo, a menos que este o ratifique. O caso informa-nos queBernardo recusa o pagamento do preo, logo recusa a ratificao. Concluso: osenhorio no tem direito a pedir o pagamento da renda.

    - No segundo caso, Bernardo concede a Antnio poderes de representao (art.262 C.Civil), para que negoceie um quarto. No entanto, Antnio arrendou umapartamento. Ora, mais uma vez, Antnio no tinha poderes para isso, logo cainuma representao sem poderes (art. 268 C.Civil), sendo o contrato apenaseficaz em relao ao proprietrio do apartamento.

    Alnea b)

    - Ao enviar um cheque, Bernardo estaria a ratificar o negcio jurdico (tanto naprimeira como segunda situao), que Bernardo tinha realizado sem poderes.Resta averiguar a forma da ratificao. O art. 7 Regime do ArrendamentoUrbano determina que este tipo de contrato seja celebrado por escrito. Ao passaro cheque, Bernardo cumpre essa forma, apesar de tacitamente, o que noconstitui impedimento, uma vez que o carcter formal da declarao no impede

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    que ela seja emitida tacitamente (217, n. 2 C.Civil). Ao ratificar, o contratoproduz os seus efeitos totalmente, tanto em relao ao declarante como emrelao o declaratrio.

    XVII

    Amlcar, residente no Porto, entrega uma procurao ao seu amigo Bernardo, residenteem Lagos, pedindo-lhe a reserva de um quarto de hotel naquela cidade para a primeiraquinzena de Agosto. Na procurao nada se dizia sobre o tipo de hotel pretendido porAmlcar.Considere as seguintes hipteses:a) Bernardo faz uma reserva num hotel de 5 estrelas, com um preo de 4000 euros,apesar de Amlcar lhe ter dito que no queria gastar mais do que 2000 euros. Qual ovalor jurdico deste negcio?

    b) Bernardo reserva um apartamento tipo Tl pertencente a um outro amigo seu por 1700euros. Qual o valor jurdico deste negcio?

    O caso diz-nos que Amlcar entrega uma procurao a Bernardo (262 C.Civil), ouseja, atravs de um negcio jurdico unilateral, Amlcar atribui voluntariamente poderesrepresentativos e funcionais a Bernardo, para em nome dele negociar para a conclusode um contrato, neste caso, uma reserva num quarto de hotel.

    Alnea a)

    Na primeira hiptese, Bernardo reserva um quarto num hotel de cinco estrelas, por4000, sabendo que Amlcar apenas pretendia gastar 2000. Contudo, essa inteno deAmlcar no constava da procurao: Bernardo no estava a ultrapassar os limites

    formais da procurao, mas sim a abusar conscientemente dos seus poderesrepresentativos, pois Bernardo sabia claramente que aquele negcio no era querido porAmlcar. Assim, Bernardo comete um abuso de representao (269 C.Civil), no entantoeste no relevante juridicamente, a menos que a outra parte conhecesse ou deviaconhecer o abuso. Nesse caso, o abuso de representao teria as consequncias darepresentao sem poderes (268 C.Civil).

    Alnea b)

    Na segunda hiptese, Bernardo reserva um apartamento, por 1700, apesar daprocurao limitar o negcio a um quarto de hotel. Neste caso, Bernardo j ultrapassa ospoderes funcionais que a procurao estabelece, uma vez que esta refere que Bernardo

    deveria reservar um quarto de hotel. Ora, mesmo que um apartamento seja bastantesemelhante, a procurao era clara, logo Bernardo reserva o apartamento sem poderes.A representao sem poderes (268 C.Civil) torna o negcio ineficaz em relao aAmlcar, mas no quanto ao proprietrio do apartamento (naturalmente, o negcio ineficaz em relao a Bernardo, por este ser representante), a menos que seja ratificado

    por Amlcar. Como o caso no nos d informao sobre a reaco de Amlcar, spoderemos concluir, para j, que o negcio ineficaz em relao ao proprietrio.

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    Invalidade de negcios jurdicos: nemo plus iuris transfere poteste quamipso habite; prioridade das leis do registo;

    XVIIIVicente vendeu a Xavier, por documento particular, um prdio rstico que possuanos arredores da cidade onde ambos residem. Xavier no registou a aquisio. Umano mais tarde, apercebendo-se de que o terreno, em virtude de um plano municipalde ordenamento do territrio, passara a ser urbanizvel, tendo o seu valor triplicado,Vicente volta a vend-lo, desta vez, a Zacarias. Este tambm no registou aaquisio. Abel, interessado em comprar o mesmo terreno, informa-se naConservatria do Registo Predial sobre a identidade do seu proprietrio. Depois,dirige-se a Vicente, oferecendo-lhe uma soma acima das expectativas deste. Vicentevende-lhe o terreno, cumprindo todas as formalidades legais, tendo Abel registadode imediato a sua aquisio.a) A quem pertence o terreno?

    b) Suponha agora que a venda entre Vicente e Xavier, portanto a primeira venda, foirealizada por escritura pblica; a pergunta feita "a quem pertence o terreno?" ter amesma resposta?

    Alnea a)

    - O primeiro negcio jurdico, feito entre Vicente e Xavier, um contrato decompra e venda (874 e ss. C.Civil) de uma coisa imvel (204 C.Civil),celebrado por documento particular (373 C.Civil). As coisas imveis (tais comocertas coisas mveis, a saber: automveis, navios, aeronaves e cotas sociais)

    esto sujeitas a registo. No entanto, Xavier no o fez, o que no tem qualquerconsequncia na validade do negcio jurdico, apenas este no oponvel aterceiros para efeitos de registo (5, n. 4 C.R.Predial), nomeadamente todosaqueles que tenham adquirido de autor comum, direitos incompatveis entre si.Contudo, Vicente e Xavier celebram o negcio por documento particular,quando a lei exige que este negcio seja reduzido a escritura pblica (875C.Civil). Assim, o contrato nulo ao abrigo do 220 C.Civil, ou seja, no produzefeitos ab initio. Neste momento, a propriedade de Vicente.

    - No segundo negcio, Vicente volta a vender (874 e ss. C.Civil) o prdio rsticoa Zacarias, que tambm no regista a aquisio, no sendo, como o negcio deXavier, oponvel a terceiros para efeitos de registo. Como nada nos dito sobrea forma deste negcio, podemos presumir que este cumpriu todos os trmiteslegais. Assim, o negcio vlido e a propriedade transfere-se para Zacarias(879, al. a) C.Civil).

    - O terceiro negcio, celebrado entre Vicente e Abel, tambm um contrato decompra e venda (874 e ss. C.Civil), que como nos diz o caso, cumpriu todas asformalidades legais, ou seja, foi feito por escritura pblica. Apesar disso, onegcio nulo, porque Vicente vendeu uma coisa que j no tem, ou seja,vendeu uma coisa alheia (892 e ss. C.Civil). Contudo, ao contrrio dos ltimosdois negcios, Abel regista a sua aquisio. Assim, a propriedade transfere-se

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    para Abel. Como se justifica este problema? Eis um pequeno artigo, que noessencial, resume a argumentao do problema (tome-se A como Vicente, Bcomo Xavier e Zacarias e C como Abel):

    Problema 1: de quem a propriedade neste momento?

    Penso que unnime na doutrina e jurisprudncia que a propriedade de C.

    Ao adquirir de uma mesma pessoa direitos incompatveis entre si, C e B tornam-se terceiros para efeitos de registo, como nos informa o art. 5, n. 4 doC.R.Predial. Sendo assim, segundo o art.6, n. 1 do mesmo cdigo, o registofeito em primeiro lugar prevalece sob todos os outros, ou seja, o registo de C

    prevalece sobre o de B.

    Problema 2: no tendo o registo efeitos constitutivos, porque que este permiteque C se torne proprietrio?

    C no pode alegar a transmisso do direito de propriedade, porquesimplesmente, a propriedade no de A. O que existe entre A e C um merocontrato, ou seja, apenas h uma relao que envolve direitos relativos. Nestecaso, esses direitos relativos so legais, porque exigidos por lei. Como o 892 doC.Civil, probe que A oponha a nulidade do negcio a C, desde que este estejade boa f (o que podemos pressupor que acontece, pois este confia no registo),s podemos daqui concluir que C tem o direito a exigir que A cumpra o contratoacordado entre ambos, apesar deste ser invlido. Ao registar, C apenas amplia odireito que tinha, tornando-o absoluto. Como ficou explicado atrs, C tem

    primazia por ter registado primeiro.

    O instituto do registo no pode ser posto em causa junto com a f pblica que oacompanha, sob pena de condenar o trfego jurdico a uma inseguranainaceitvel.Esta teoria, esboada pelo Prof. Dr. Hrster, sobre um problema que muitoocupa a doutrina e jurisprudncia portuguesa, parece-me bem mais justificvel elgica do que a tese de que, neste caso, o registo teria efeito constitutivo, o queme parece ser uma interpretao revogatria do art. 1 do C.R.Predial.3

    Alnea b)

    - O facto do primeiro negcio ter sido realizado por escritura pblica, apenasaltera o valor jurdico do primeiro e segundo negcios, ou seja, o primeiro

    torna-se vlido, e o segundo nulo, por ser uma venda de bens alheios (892 ess. C.Civil). No essencial, a situao mantm-se, pois s Abel registou aaquisio, por isso continua ele o proprietrio.

    3 Vd. http://www.iuris.web.pt.

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    XIX

    (1) Antnio vendeu um terreno a Bernardo, no havendo registo desta aquisio.Depois, Antnio vende o mesmo terreno a Csar.(2) Daniel arrenda a Eduardo um espao comercial por dez anos, no havendoregisto deste arrendamento. Uma vez que Eduardo se atrasa em ocupar o mesmo,Daniel aproveita e arrenda-o, com um segundo contrato, por uma renda muito maiora Fernando.Diga, em qualquer das duas hipteses,a) qual a validade dos contratos celebrados, fundamentando devidamente a suaresposta, e

    b) quem , respectivamente, proprietrio ou arrendatrio dos objectos em causa.

    A seguir, explique se a feitura dos registos possveis, tanto na hiptese (1) como nahiptese (2) tem relevncia jurdica, e qual, para a soluo dos casos.

    Alnea a) e b)

    - Antnio celebrou com Bernardo um contrato de compra e venda (874 e ss.C.Civil) de um bem imvel (204 C.Civil), que deve ser feito por escritura

    pblica (875 C.Civil), sendo a coisa sujeita a registo. No entanto, Bernardono a registou, o que no implica a validade do negcio: o registo s relevante para opor o negcio a terceiros para efeitos de registo (5, n. 4C.R.Predial). Assim sendo, a propriedade transferiu-se (879, al. a) C.Civil),

    por mero efeito do contrato (408 C.Civil), para Bernardo. Seguidamente,Antnio vende o mesmo terreno a Csar. Contudo, Antnio est a vender algoque j no possui, e sendo assim comete uma venda de bens alheios (892C.Civil). Como consequncia, este negcio nulo, ou seja, no produz efeitos,logo Bernardo mantm-se proprietrio

    - No segundo caso, h um contrato de arrendamento (porque referente a bensimveis) (1022 e ss. C.Civil) entre Daniel e Eduardo, sujeito a registo e, porisso necessariamente feito por escritura pblica (1029 C.Civil). Contudo,Eduardo no registou o arrendamento, no perdendo com isso o ttulo dearrendatrio. Concluindo, este negcio vlido. Vendo que Eduardo tardava aocupar o espao comercial, Daniel arrenda esse imvel a Fernando.

    Naturalmente, Daniel no pode arrendar algo que j est arrendado, logo estenegcio invlido.

    - Caso Csar e Fernando registassem as suas aquisies, passariam a serproprietrio e arrendatrio dos bens objecto dos negcios por eles realizados.

    Isto explica-se pela prevalncia das leis do registo. Concretizando, o art. 6, n.1 C.R.Predial diz-nos que o direito registado em primeiro lugar prevalecesobre todos os outros registados sobre o mesmo bem4.

    4 Cf. explicaes dadas a este propsito no caso XVIII.

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    Simulao e os seus efeitos.

    XX

    Alberto encontra-se em graves dificuldades econmicas. Como tal, para evitar que asua moradia seja apreendida pelos credores, ficciona vend-la a Bento. Este, porm,ao contrrio do que ficara combinado, e porque comeara tambm a enfrentar umasituao econmica desfavorvel, vende a casa a Marta.a) Assim que Alberto toma conhecimento deste negcio, pretende reaver a sua casade Marta. Ser procedente a sua pretenso?

    b) O procedimento de Alberto contra Marta desperta a ateno dos credores;tambm estes querem que Marta restitua a moradia? Quid iuris?

    - De modo a salvaguardar os seus bens dos credores, Alberto vende a sua

    moradia, coisa imvel (204 C.Civil), a Bento (874 e ss. C.Civil). Estamosperante uma simulao, pois esta situao preenche os seus pressupostos: Divergncia intencional entre a vontade e a declarao [Alberto

    na realidade no queria vender a sua casa]; Acordo entre declarante e declaratrio; Intuito de enganar terceiros [neste caso, os credores].

    - Esta simulao absoluta, porque na realidade Alberto no queria celebrarnegcio nenhum, sendo o negcio nulo (240, n. 2 C.Civil). O proprietrio Alberto.

    - Bento, tambm em dificuldades econmicas, celebra com Marta um contrato decompra e venda (874 e ss. C.Civil) dessa mesma casa. Este contrato nulo, pois uma venda de bens alheios (892 C.Civil), pois Bento dispe de uma coisa que

    no possui.

    Alnea a)

    - Alberto um simulador e Marta um terceiro ao negcio simulado. Os terceirosesto protegidos no art. 243 C.Civil, sendo o nico requisito estar de boa f, queconsiste na ignorncia da simulao ao tempo em que foram constitudos osrespectivos direitos (243, n. 2 C.Civil): esta boa f pode ser culposa 5, ou seja, oterceiro pode desconhecer com culpa o negcio simulado. Nada nos indica queMarta conhecia a simulao, logo ela estaria de boa f, e consequentemente

    protegida pelo art. 243 de Alberto. Concluindo, Alberto nada poderia fazercontra Marta.

    Alnea b)

    - Caso diferente o dos credores: estes j no so simuladores e tm legitimidadeao abrigo do art. 605 e 286 de invocar a nulidade dos negcios jurdicos, poiseles pretendem conservar a sua massa patrimonial, que foi afectada. Logo, Marta

    5 Ao contrrio da boa f consagrada no art. 291.

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    j no se pode proteger pelo ar. 243. Resta-lhe apenas a proteco do art. 291,mas preciso provar que esto cumpridos os cinco pressupostos exigidos:

    O negcio deve dizer respeito a bens imveis ou mveis sujeitosa registo [cumpre-se, pois a casa um bem imvel];

    Negcio oneroso [cumpre-se, pois foi um contrato de compra evenda];

    O terceiro deve estar de boa f [cumpre-se, j o vimos a propsitodo 243]; O registo da aquisio deve ser anterior ao registo de nulidade

    [no se sabe]; Devem ter passado trs anos aps a concluso do primeiro

    negcio [no se sabe].- Assim, se Marta conseguir provar que preenche todos os requisitos est

    protegida contra os credores, caso contrrio a nulidade do negcio imparvel.

    XXI

    Em 1992, Antnio vende a Berta, com quem mantm secretamente relaes extra-matrimoniais, um prdio registado em seu nome. Contudo, conforme fora acordadoentre os dois, o preo indicado na escritura pblica nunca foi pago, uma vez queAntnio tencionava beneficiar Berta.Posteriormente, Berta vende o mesmo prdio a Carlos, que conhecia perfeitamente oreferido acordo entre ela e Antnio, embora no tivesse quaisquer indcios sobre asrazes que deram origem quele procedimento. Carlos, por seu lado, pagou a Berta eregistou a sua aquisio.Suponha as seguintes hipteses:a) Antnio morre em 1997. Podero os seus herdeiros reaver o prdio de Carlos?

    b) E se Berta tivesse doado o prdio ao seu amigo Drio que apenas no soube do

    referido acordo e suas razes subjacentes porque no prestou ateno s explicaesda mesma, os herdeiros de Antnio podiam reaver o prdio de Drio?c) E se, em cada uma das hipteses referidas, os credores de Antnio pretendessem arestituio do prdio ou de Carlos ou ento de Drio, que entretanto tambmregistara a sua aquisio invocando para o efeito precisamente as razes concretasque deram origem quela transmisso entre Antnio e Berta, quid iuris?

    - De modo a beneficiar Berta, com quem mantm secretamente relaes extra-matrimoniais, Antnio vende um prdio seu, coisa imvel (204 C.Civil), aBerta (874 e ss. C.Civil). Estamos perante uma simulao, pois esta situao

    preenche os seus pressupostos: Divergncia intencional entre a vontade e a declarao [Antnio

    na realidade no queria vender o seu prdio, queria do-lo]; Acordo entre declarante e declaratrio; Intuito de enganar terceiros [neste caso, a lei e o conjugue].

    - Esta simulao relativa objectiva, porque na realidade Antnio celebrou umnegcio, quando queria concluir outro, neste caso de natureza diferente, sendo onegcio simulado nulo o contrato de compra e venda (240, n. 2 C.Civil).Resta-nos avaliar o negcio dissimulado o contrato de doao. No art. 241,

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    diz-se que a invalidade do negcio simulado no prejudica a validade do negciodissimulado, ou seja, este deve ser analisado autonomamente.

    - O n. 2 do mesmo artigo diz-nos que se o negcio dissimulado for de naturezaformal, s vlido se tiver respeitado essa forma. Neste ponto a doutrina divergequanto interpretao: a maioria da doutrina e a jurisprudncia defende que aforma do negcio simulado (naturalmente, desde que seja essa a requerida para o

    negcio dissimulado, no caso, ambos os negcios so celebrados por escriturapblica) aproveita para o negcio dissimulado. A doutrina minoritria,encabeada pelo Prof. Dr. Hrster, defende que a forma do negcio simuladono aproveita para o negcio dissimulado; os simuladores devem ter previstoanteriormente essa forma.

    - No caso, o problema da forma nem se pe, uma vez que o negcio dissimulado nulo, pois um dos casos de indisponibilidade relativa (o doador casado no

    pode dispor a favor da pessoa com quem cometeu adultrio) (953 C.Civilremissvel paro o 2196 C.Civil). Assim, conclui-se que tanto o negciosimulado, como o negcio dissimulado so nulos, no tendo a propriedade sidotransferida.

    - Apesar disso, Berta vendeu o mesmo prdio a Carlos, que pagou e registou a sua

    aquisio. No entanto, este contrato nulo, uma vez tratar-se de uma venda debens alheios (892 C.Civil).

    Alnea a)

    - Aps a morte de Antnio, os seus herdeiros pretendem reaver o prdio. O art.242, n. 2 C.Civil estabelece as condies para que estes o possam fazer.Primeiramente, no podero ser quaisquer herdeiros: s os herdeiros legitimrios(2131 e 2157 C.Civil) podero arguir a simulao. As outras duas condiesso Antnio (autor da sucesso) e que os negcios tenham sido feitos no intuitode os prejudicar (referncia simulao fraudulenta). Ora, estas condies nose verificam, logo resta aos herdeiros assumirem a posio contratual de

    Antnio, ou seja, tero a legitimidade de um simulador (242, n. 1 C.Civil).Assim, os herdeiros so simuladores e Carlos um terceiro ao negciosimulado. Os terceiros esto protegidos no art. 243 C.Civil, sendo o nicorequisito estar de boa f, que consiste na ignorncia da simulao ao tempo emque foram constitudos os respectivos direitos (243, n. 2 C.Civil): esta boa f

    pode ser culposa6, ou seja, o terceiro pode desconhecer com culpa o negciosimulado. Neste caso, -nos dito que Carlos conhecia o acordo, logo no est

    protegido pelo art. 243, pois no preenche o nico requisito.Consequentemente, tambm no est protegido pelo art. 291, uma vez que esteconsagra uma boa f mais exigente.

    Alnea b)

    - No caso de doao por parte de Berta a Drio (940 e ss. C.Civil), sendo que esteignora o acordo e as razes subjacentes, porque no prestou a devida ateno sexplicaes de Berta, esta continua a ser nula, por ser uma doao de bensalheios (956 C.Civil). Como na alnea a), os herdeiros tero que assumir a

    posio de simuladores, por no cumprirem as condies do art. 242, n. 2C.Civil, ou seja, os herdeiros so simuladores e Drio um terceiro ao negcio

    6 Vd. nota 1.

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    simulado, podendo invocar a proteco do art. 243, restando-lhe para issopreencherem o requisito de boa f, sendo que esta consiste na ignorncia dasimulao ao tempo em que foram constitudos os respectivos direitos (243, n.2 C.Civil). Com efeito, Drio est de boa f, pois no conhecia a simulao, nosendo neste caso relevante se o desconhecia com ou sem culpa. Concluindo, nocaso de Drio, os herdeiros de Antnio nada poderiam fazer.

    Alnea c)

    - Os credores de Antnio, ao argurem a simulao do negcio entre Antnio eBerta, exercem a sua legitimidade ao abrigo do art. 605 e 286, uma vez que aconsistncia econmica da sua massa patrimonial foi afectada. No que dizrespeito aos terceiros (Carlos e Drio), estes j no se podero defender com oart. 243 C.Civil, pois este apenas os protege contra os simuladores. Resta-lhesinvocar o art. 291 C.Civil. No entanto, nenhum deles preenche os pressupostosexigidos (como se viu nas outras alneas): Carlos no est de boa f; Drioestava de boa f, mas o art. 291 C.Civil exige que boa f sem culpa (291, n 3C.Civil), logo no est de boa f e o seu negcio no era oneroso. Assim, seria

    procedente a inteno dos credores, que pretendiam a restituio do prdio.

    XXII

    Dinis, divorciado, pretende evitar atritos com os filhos do casamento dissolvido.Assim, resolve esconder destes a doao que pretende fazer sua nova namorada,Eduarda, da sua casa de praia. Para tal, Dinis, Eduarda e Filipe (um amigo de Dinis)acordam no seguinte: a doao ser feita, respeitando todos os trmites legais, aFilipe, que, posteriormente transmitir a Eduarda da mesma forma a casa de praia.a) Apesar de todas as cautelas de Dinis, os seus filhos vm a descobrir tudo, dois

    anos aps o ocorrido. Podem reagir?b) Ese Filipe, decorrido o prazo convencionado, no doa a casa de praia a Eduarda,mas vende-a a Gustavo?

    - Dinis, divorciado, pretende doar sua namorada a sua casa de praia, mas demodo a evitar atritos com os seus filhos, resolve vende-la a Filipe, respeitandotodos os trmites legais, para que este a doe posteriormente a Eduarda. Estamos

    perante uma simulao, pois esta situao preenche os seus pressupostos: Divergncia intencional entre a vontade e a declarao [Dinis na

    realidade no queria vender o seu prdio a Filipe, queria do-lo a

    Eduarda]; Acordo entre declarante e declaratrio; Intuito de enganar terceiros [neste caso, os filhos de Dinis].

    - Esta simulao relativa subjectiva, porque na realidade Dinis celebrou umnegcio com uma pessoa, quando queria concluir esse negcio com outra

    pessoa, ou seja, h uma interposio fictcia de pessoas, sendo os negciossimulados nulo o contrato de compra e venda entre Dinis e Filipe; a doaoentre Filipe e Eduarda (240, n. 2 C.Civil). Resta-nos avaliar o negciodissimulado o contrato de doao. No art. 241, diz-se que a invalidade do

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    negcio simulado no prejudica a validade do negcio dissimulado, ou seja, estedeve ser analisado autonomamente.

    - O n. 2 do mesmo artigo diz-nos que se o negcio dissimulado for de naturezaformal, s vlido se tiver respeitado essa forma. Neste ponto a doutrina divergequanto interpretao: a maioria da doutrina e a jurisprudncia defende que aforma do negcio simulado (naturalmente, desde que seja essa a requerida para o

    negcio dissimulado, no caso, ambos os negcios so celebrados por escriturapblica) aproveita para o negcio dissimulado. A doutrina minoritria,encabeada pelo Prof. Dr. Hrster, defende que a forma do negcio simuladono aproveita para o negcio dissimulado; os simuladores devem ter previstoanteriormente essa forma.

    - Neste caso, seguiremos a doutrina maioritria, reconhecendo assim a validade donegcio dissimulado, uma vez que nos dito no caso que so cumpridos todosos trmites legais, e o negcio no uma indisponibilidade relativa, pois Dinis j divorciado.

    Alnea a)

    - Aps descobrirem o sucedido, os filhos de Dinis pretendem reagir contra onegcio. O art. 242, n. 2 C.Civil estabelece as condies para que estes o

    possam fazer. Primeiramente, no podero ser quaisquer herdeiros: s osherdeiros legitimrios (2131 e 2157 C.Civil) podero arguir a simulao. Asoutras duas condies so Dinis (autor da sucesso) e que os negcios tenhamsido feitos no intuito de os prejudicar (referncia simulao fraudulenta). Nocaso, os filhos de Dinis cumprem as primeiras duas condies, mas no a ltima,uma vez que a simulao inocente, ou seja, feita no intuito de os enganar, eno de os prejudicar. Logo, os herdeiros no podero reagir.

    Alnea b)

    - Agora, Filipe vende a casa a Gustavo (874 e ss. C.Civil). J analisamos o valorjurdico do negcio entre Dinis e Gustavo: nulo. Assim sendo, este nuncaproduziu efeitos, ou seja, a propriedade nunca se transmitiu (879 al. a) C.Civil).Logo, ao dispor da casa, Filipe vende algo que no tem, ou seja faz uma vendade bens alheios, que nula (892 C.Civil).

    - Resta referir que, Gustavo ter a proteco do 243 C.Civil contra Dinis, se seprovar que este est de boa f, e eventualmente do art. 291 C.Civil, mais umavez se provar todos os requisitos. Caso o faa, estar protegido.

    XXIII

    Antero, Beltro e Carlota so os nicos scios da sociedade comercial "Facas eCanivetes, SA.", cada um detendo 5000 aces com o valor nominal de 5 euros.Antero tem vindo a tentar comprar mais aces de modo a deter mais de 50% docapital social, mas quer Beltro quer Carlotasempre se negaram a alienar aces aAntero. Considere as seguintes hipteses:a) Antero acordou com Filipe que este compraria a Beltro e a Carlota 2510 aces etransmiti-las-ia posteriormente a Antero. Filipe assim fez. Beltro e Carlota queremagora invalidar os negcios e recuperar as aces vendidas.

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    b) Antero acordou com Filipe que este compraria a Beltro e a Carlota 2510 aces etransmiti-las-ia posteriormente a Antero, mas Filipe, para conseguir que Beltro eCarlota lhe vendessem as aces e com o conhecimento de Antero, convenceu-os deque era neto do fundador da "Facas e Canivetes, SA." e estava a tentar reconstituir o

    patrimnio da famlia. Beltro e Carlota vm mais tarde a saber a verdade epretendem reaver as aces. De que meios dispem para conseguir este objectivo?

    c) Pressupondo ainda a mesma hiptese da alnea anterior, Beltro e Carlotaconseguiriam reaver as aces se tivessem sabido da verdade quatro anos aps avenda das aces?

    - Facas & Canivetes, SA. uma sociedade comercial detida por Antero, Beltroe Carlota, sendo que cada um detm 5000 aces, cada uma com o valornominal de cinco euros, ou seja, cada um dos scios tem cerca de 33% do capitalda sociedade. Interessado em aumentar a sua participao para 50%, Antero

    pretende comprar aces a Beltro e Carlota, mas ambos recusam-se.

    Alnea a)

    - No conseguindo convencer os scios a vender-lhe as aces, Antero acordoucom Filipe que este compraria a Beltro e Carlota 2510 aces, transmitindo-asdepois a Antero. Este caso no uma simulao, pois de facto Antero queriamesmo contratar Filipe, sendo que este queria mesmo comprar as aces aBeltro e Carlota, ou seja, no h qualquer divergncia entre a vontade e adeclarao. Trata-se assim de um mandato sem representao ou de umainterposio real de pessoas, pois Filipe actua em nome prprio (art. 1180C.Civil). Naturalmente, que o mandatrio obrigado a transferir os direitos/bensadquiridos por via do mandato (art. 1181 C.Civil). Resumindo, o mandatrio(Filipe) suporta os efeitos jurdicos, ao passo que o mandante deve suportar os

    efeitos econmicos (art. 1182 C.Civil).

    Alnea b)

    - Neste caso, mantm-se no essencial a situao descrita na ltima alnea: Anterofaz um contrato de mandato (sem representao, uma vez que durante asnegociaes nunca se revela o nome de Antero, o mandante) com Filipe, paraque este compre 2510 aces a Beltro e Carlota. No entanto, introduzido umnovo facto: para convencer Beltro e Carlota, Filipe disse-lhes que era neto dofundador da sociedade, e que tentava reconstituir o patrimnio da famlia.Convencidos, Beltro e Carlota vendem as aces a Filipe.

    - Assim, conclui-se que Beltro e Carlota tm a vontade viciada, por outras

    palavras, formaram uma representao intelectual que no corresponde realidade. Estamos, por isso perante um erro sobre os motivos (art. 252C.Civil), mais propriamente um dolo (art. 253 e 254 C.Civil), pois o erro

    provm de uma actuao exterior, mais propriamente das declaraes de Filipe.Neste caso, o dolo positivo, pois Filipe usou um artifcio com a inteno econscincia de induzir Beltro e Carlota em erro (art. 253, n1, 1 parte C.Civil).

    No se pode dizer que o dolo foi lcito (art. 253, n.2 C.Civil), uma vez que asafirmaes de Filipe no so artifcios ou sugestes usais naquela actividade.

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    - Consequentemente, Beltro e Carlota tm direito a anular a declarao (art. 254,n. 1 e 287 C.Civil), podendo faz-lo no prazo de um ano a contar da cessaodo vcio (art. 287, n.1 C.Civil).

    Alnea c)

    - Como se disse na alnea anterior, Beltro e Carlota tm um ano subsequente cessao do vcio que lhe serve de fundamento, neste caso desde oconhecimento do dolo7. Concretizando, mesmo tendo passados quatro anos,Beltro e Carlota ainda tm mais um ano para arguir anulabilidade do negcioque realizaram. Para isso, devem interpor uma aco especialmente para oefeito, e sendo decretada anulabilidade, todos os efeitos produzidos seroapagados [efeitos ex tung] (289 C.Civil).

    XXV

    A um conhecido comerciante de bens imveis, s que, nos ltimos tempos, os seusnegcios no tm corrido muito bem. Estando iminente a sua declarao deinsolvncia, A resolve vender quatro apartamentos a B, seu grande amigo, com ofim de os subtrair ao processo de falncia. B prometeu que uma vez resolvido o

    problema da falncia voltaria a transmitir os apartamentos para A. De resto nuncachegou a ser entregue qualquer preo.A venda foi feita a B por intermdio de C, entretanto nomeado procurador de A, Cesse que ignorava por completo o acordo existente entre A e B. Este no registou aaquisio.Entretanto, e ainda antes da abertura do processo de falncia, D props a A compraros referidos apartamentos por um preo bastante favorvel, ao que A, muitoaliviado, acedeu de imediato.

    B, sentindo-se mal-agradecido com a atitude de A, procedeu imediatamente aoregisto, antecipando-se concluso do contrato entre A e D. a) Qual o valor jurdico do contrato celebrado entre A e B?

    b) Aps a concluso do contrato entre A e D, quem ser o proprietrio dosapartamentos?c) Suponha agora que o contrato entre A e D foi concludo depois de declarada ainsolvncia do primeiro. Quem o proprietrio dos apartamentos?

    - A, em francas dificuldades financeiras e de modo a salvaguardar o seupatrimnio, vende a B (874 e ss. C.Civil) quatro apartamentos seus, que seriam

    restitudos quando A resolvesse o problema de falncia. Estamos perante umasimulao, pois esta situao preenche os seus pressupostos:

    Divergncia intencional entre a vontade e a declarao [A narealidade no queria vender os seus apartamentos];

    Acordo entre declarante e declaratrio; Intuito de enganar terceiros [neste caso, os credores].

    7 Vd. MOTA PINTO, Carlos Alberto, Teoria Geral do Direito Civil, pginas 612 e ss., 3 edio,Coimbra Editora

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    - Esta simulao absoluta, porque na realidade A no queria celebrar negcionenhum, sendo o negcio nulo (240, n. 2 C.Civil). O proprietrio A.

    - O facto do negcio ter sido celebrado por um representante, C, no altera o valordo negcio entre A e B, segundo o princpio a boa f do representante noaproveitar a m f do representado (259 C.Civil)

    - Antes do processo de falncia8, e aproveitando o interesse de D, A vendeu-lhe

    (874 e ss. C.Civil) os apartamentos por um preo muito favorvel. Este negciono simulado, porque A e D querem mesmo celebrar aquele negcio, que atajuda a grave situao de A. Assim, por mero efeito do contrato (408 C.Civil), a

    propriedade transfere-se para D (879 C.Civil). B, apesar de ter registado, nadapode fazer, pois o contrato entre ele e A nulo, ou seja, nunca produziu efeitos,e por isso A pode perfeitamente vend-lo.

    - A insolvncia provoca a ineficcia de todos os negcios, que disponham a massainsolvente. Concretizando, os apartamentos de A fazem parte da massainsolvente, logo A no poderia dispor deles, apesar de continuar sobre a sua

    propriedade. Logo, depois da declarao de insolvncia, o negcio entre A e D ineficaz.

    8 Actualmente, no existe falncia, apenas insolvncia para ambos os casos.

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    Incapacidades.

    XXVIII

    A nasceu em 1 de Janeiro de 1980. No dia 15 de Fevereiro de 1997, vendeu a B umavaliosa baixela, legada pelos seus avs paternos. O preo foi pago e ficou estipuladoque a coisa seria entregue dois meses depois. Em 16 de Abril, B apresenta-se emcasa dos pais de A, reclamando, na presena e com surpresa deles, a entrega da

    baixela.a) Ser A obrigado a entregar a baixela? Que podero os seus pais fazer?

    b) A falece em Dezembro de 1997, sobrevivendo-lhe um filho, C, com seis meses deidade. Suponha que s nesta altura B reclama a baixela. Quid iuris? E se, entretanto,os pais de A tivessem entregue a baixela a B, C poderia reav-la?

    - Primeiramente, h que referir que data de celebrao do negcio, A era menor,pois tinha menos de 18 anos (122 C.Civil) e, consequentemente no temcapacidade negocial de exerccio de direitos (123 C.Civil), logo no podeconcluirper si, um contrato de compra e venda. Segundo o art. 125 C.Civil, osnegcios jurdicos celebrados pelos menores, so anulveis.

    Alnea a)

    - Conclumos que o negcio entre A e B anulvel (125 C.Civil). Contudo, htrs casos, consagrados no 127 C.Civil, que so excepes incapacidade dosmenores:

    Actos de disposio ou administrao de bens adquiridos pelo seu

    trabalho; Negcios prprios da vida corrente do menor, que estejam aoalcance a sua capacidade natural, que s impliquem disposiesde pequena importncia;

    Negcios relativos sua profisso, arte ou oficio.- Conclumos que nenhuma das excepes se verifica no caso, e por isso, apesar

    de j ter produzido alguns efeitos, A pode invocar anulabilidade por via daexcepo (287 C.Civil), no tendo assim de entregar a baixela.

    - Por via da aco, os pais (porque so representantes legais) podem requereranulabilidade do negcio celebrado por A (125, n 1, al. a) e 287 C.Civil), no

    prazo de um ano a contar do conhecimento do negcio, mas nunca depois de omenor ter atingido a maioridade, concretizando os pais tm at 31 de Dezembro

    de 1997 para requerer anulabilidade.- Os pais de A no podem confirmar o negcio (125, n 2 C.Civil), pois estes nopoderiam celebrar o negcio, pois necessria autorizao do tribunal para a suavalidade (1889 C.Civil).

    Alnea b)

    - Se A falecer em Dezembro de 1997, ainda menor, e B s nessa altura reclamar aentrega da baixela, o art. 125 C.Civil cria legitimidades concorrentes: em

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    primeiro os representantes legais poderiam anular o negcio, no prazo de umano, como consagra a alnea a); e depois os herdeiros do menor (se os herdeirosforem menores, sero os representantes deles que arguiro a anulabilidade),tendo tambm um ano a contar da morte do menor, mas sempre at data emque o menor atingiria a maioridade, ou seja, mais uma vez, representantes legaise herdeiros s teriam at 31 de Dezembro para invocar anulabilidade por via da

    aco.- Caso os pais de A j tivessem entregue a baixela a B, restava a C interpor umaaco de anulabilidade (dentro dos prazos acima referidos) para pedir ainvalidade do negcio. Caso fosse decretada, s restava a B restituir a baixela,

    pois a anulabilidade tens efeitos ex tung, ou seja, todos os efeitos devem serapagados (289 C.Civil).

    XXIX

    No dia em que fez 17 anos de idade, A comprou uma moderna motorizada da marca

    BMW, exibindo ao vendedor desconfiado o bilhete de identidade de um primohomnimo, de modo a faz-lo crer que j tinha mais de 18 anos de idade. Um msantes de atingir a maioridade, A falece vtimade um acidente de viao em que amotorizada fica completamente destruda. Sobrevive-lhe umum filho de dois meses, nascido fora do casamento.a) Dez meses depois do acidente, o contrato de compra e venda ainda poder serinvalidado? Como e por quem?

    b) Suponha que o vendedor tambm est interessado em invalidar o contrato. Haveralgum fundamento que lhe sirva de apoio?

    - No dia em que fez 17 anos, A celebra um contrato de compra e venda (874 e ss.C.Civil). H que referir que data de celebrao do negcio, A era menor, poistinha menos de 18 anos (122 C.Civil) e, consequentemente no tem capacidadenegocial de exerccio de direitos (123 C.Civil), logo no pode concluirper si,um contrato de compra e venda. Segundo o art. 125 C.Civil, os negcios

    jurdicos celebrados pelos menores, so anulveis.

    - Conclumos que o negcio entre A e o vendedor anulvel (125 C.Civil).Contudo devemos verificar se o acto no se enquadra nos rs casos, consagradosno 127 C.Civil, que so excepes incapacidade dos menores:

    Actos de disposio ou administrao de bens adquiridos pelo seu

    trabalho; Negcios prprios da vida corrente do menor, que estejam ao

    alcance a sua capacidade natural, que s impliquem disposiesde pequena importncia;

    Negcios relativos sua profisso, arte ou oficio.- Verifica-se que nenhuma das excepes preenchida, logo o negcio continua a

    poder ser anulvel (125 C.Civil). Contudo, A para provar a sua alegadamaioridade, que lhe permitiria comprar a mota, usa o Bilhete de Identidade doseu primo, que maior, tendo convencido o vendedor. Estamos assim perante

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    dolo do menor (126 C.Civil), pois A usa um artifcio para induzir o vendedorem erro (253 C.Civil). A consequncia do dolo para o menor que este no

    perde o direito a invocar a anulabilidade do negcio. Contudo, deve-se referirque o dolo do menor no d direito ao vendedor de anular o negcio: esse acto

    perverteria todo o sistema de incapacidades, que tem como principal objectivo aproteco do menor. Devem ser os representantes legais a sancionar o menor e

    no o vendedor. Consequentemente, s os representantes legais tm direito ainvocar a anulabilidade do negcio (125 C.Civil).

    Alnea a)

    - Como se explicou anteriormente, s os pais podero invocar anulabilidade,naturalmente dentro de um ano a contar do conhecimento do negcio, e sempreantes do menor ter atingido a menoridade. No entanto, aps dez meses doacidente, o menor j seria maior (h nove meses), logo os representantes legais

    j nada poderiam fazer (125,n. 1, al. a) C.Civil). O seu filho, herdeiro, tambmnada poderia fazer, primeiramente pelas mesmas razes temporais dosrepresentantes legais (125, n. 1, al. c) C.Civil), e depois porque o menor

    tambm j no tinha legitimidade para arguir simulao, devido ao dolo.

    Alnea b)

    - A questo da legitimidade do vendedor j foi resolvida na introduo ao caso.

    XXX

    Antnio, nascido a 1 de Janeiro de 1980, sofre de perturbaes mentais que oimpedem de reger a sua pessoa e bens.Em 1 de Janeiro de 1997, os pais de Antnio propuseram uma aco, visando

    restringir a sua capacidade, e obtiveram sentena favorvel em l de Outubro de1997.Em 5 de Outubro de 1997, Antnio celebrou um contrato-promessa com Bentorelativo venda de uni automvel que recebera em virtude de uma disposiotestamentria. Os pais de Antnio tomam conhecimento do contrato-promessa j nodia da sua celebrao.a) Qual teria sido a restrio de capacidade decretada pelo tribunal? A partir de quemomento a sentena produz efeitos e porqu?

    b) Supondo que, no momento em que celebrou o contrato, Antnio estavacompletamente incapacitado de entender o sentido dos seus actos, poderia essecontrato ser invalidado com fundamento em incapacidade acidental?c) Supondo que o contrato prometido no chegou a ser celebrado, poder o contrato-

    promessa ser anulado em 1 de Outubro de 1999? Em caso afirmativo quem o poderfazer e a que ttulo?

    Alnea a)

    - Antnio menor, porque tem menos de 18 anos (123 C.Civil), at ao dia 31 deDezembro de 1997. Visto sofrer de perturbaes mentais que o impedem de

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    reger a sua pessoa e bens, os pais, seus representantes legais, que tmlegitimidade ao abrigo do art. 141, n.2 , propuseram uma aco para restringira sua capacidade, tendo obtido sentena favorvel. Naturalmente, o tribunaldeclarou uma interdio, porque Antnio incapaz de reger a sua pessoa e bens(138, n. 1 C.Civil), ser muito brevemente maior. A interdio s pode seraplicada a maiores, mas os representantes podem requer-la um ano antes da

    maioridade, para que a pessoa alvo de interdio nunca adquira plena capacidadenegocial (138, n. 2 C.Civil). A interdio s comear a produzir efeitos apartir de 1 de Janeiro de 1998, data em que Antnio ser maior. A interdio temum regime mutatis mutandis semelhante menoridade (139 C.Civil), ou seja, osincapazes carecem de capacidade negocial de exerccio. A forma de suprimentoda incapacidade a tutela (143 C.Civil).

    Alnea b)

    - Quando celebrou o negcio, Antnio era menor, ou seja, no o poderia fazer,pois carece de capacidade negocial de exerccio (123 C.Civil). Logo, emprincpio no se pode aplicar a incapacidade acidental, pois esta para pessoas

    que, normalmente, possuam capacidade de exerccio, como resulta dainterpretao do art. 257, 1 parte C.Civil, a menos que Antnio fosseemancipado ou que o negcio preenchesse alguma das excepes do art. 127C.Civil, o que no acontece.

    Alnea c)

    - A 1 de Outubro de 1999, Antnio j era maior e assim, como se viu antes,interdito. Contudo, o contrato-promessa foi celebrado quando Antnio eramenor, logo dever-se- aplicar o regime de anulabilidade dos menores (125C.Civil), concluindo-se que, como Antnio j maior, s ele tem legitimidade

    para arguir anulabilidade do contrato-promessa (125, n.1, al. b) C.Civil), tendo

    um ano aps a maioridade, ou seja, at 31 de Dezembro de 1998. Mas namaioridade, Antnio interdito, logo ele prprio no poder requereranulabilidade: ter que ser o seu tutor, que desde 1 de Janeiro de 1998 cuidadele.

    XXXI

    Em Fevereiro de 1997, Ricardo adquiriu o equipamento para um estdio fotogrficoque manteve em actividade at Abril de 1998 e onde atendeu os seus clientes.

    Na sequncia de uma aco proposta em Junho de 1997, Ricardo foi interditado poranomalia psquica, sendo a sentena devidamente registada naquele ms de Abril de

    1998. Do parecer psiquitrico em que o tribunal baseou a deciso consta, semmargem para dvidas, que Ricardo padecia desde h muito, de uma demncia grave.a) O tutor, logo que sabe, na altura da sentena, do parecer psiquitrico, querinvalidar o negcio de aquisio do equipamento. Quid iuris?

    b) A soluo seria a mesma se Ricardo tivesse feito a sua aquisio em Setembro de1997, por um preo excepcionalmente favorvel?c) E se o preo tivesse sido, mais alto, em comparao com os valores de mercado,quando Ricardo, em Setembro de 1997, o pagou, o tutor pode reagir?

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    d) E se, em qualquer dos casos, Ricardo ainda no tivesse pago o preo de aquisio,quid iuris?

    - Ricardo, que possua um estdio fotogrfico, comprou em Fevereiro de 1997(874 e ss. C.Civil) o equipamento com que atendia os seus clientes. Em Junho

    de 1997, Ricardo foi interditado, tendo sido a sentena registada em Abril de1998. Por outras palavras, Ricardo deixou de ter capacidade negocial deexerccio, sendo que os seus actos de administrao e disposio de bens soanulveis (125 e 287 C.Civil). O suprimento desta incapacidade feito portutela, por pessoa a nomear nos termos do art. 143. A sentena deve sercomunicada ao registo civil para publicao do registo (147 e 1920 BC.Civil), sob pena de no poder ser invocada contra terceiro de boa f (1920 CC.Civil).

    Alnea a)

    - O tutor, considerando que servia melhor os interesses do menor, pretende pedir a

    declarao de invalidade do contrato de compra e venda, feito por Ricardo emFevereiro de 1997. Contudo nessa altura, Ricardo ainda no era interdito, logoteria capacidade negocial de exerccio9. Mas, para proteco do prpriointerdito, o C.Civil consagra no art. 150 a possibilidade de anular os negciosanteriores publicidade da aco, atravs da incapacidade acidental (257C.Civil). Assim, a incapacidade acidental s pode ser invocada se:

    quem fez a declarao se encontrava, por qualquer causa, (1)acidentalmente incapacitado de entender o sentido dela ou (2) notinha o livre exerccio da sua vontade;

    o facto fosse notrio (se uma pessoa de normal diligncia o teriapodido notar) ou conhecido do declaratrio.

    - Apesar de no termos informaes suficientemente precisas, tudo leva a crer queos requisitos sero cumpridos (o segundo poder ser mais duvidoso), visto oenunciado do caso, referir que o parecer psiquitrico que serviu de base aotribunal, afirmava, sem margem para dvidas, que Ricardo sofria h muito dedemncia grave. Concluindo, se se conseguir provar que a situao preenchia osrequisitos do art. 257 C.Civil, o negcio poderia ser anulado, caso contrrio,no o poderia.

    Alnea b)

    - Se Ricardo tivesse celebrado o negcio em Setembro de 1997, j no seria umacto antes da publicao da sentena (150 C.Civil), mas sim no decurso da

    aco (149 C.Civil). Esta diferena, apesar de ambos os actos terem igualconsequncia: a anulabilidade, altera o regime pelo qual esta pode ser arguida.Para que isso acontea, necessrio que se cumpram as duas condies que oartigo estabelece:

    a interdio deve ser efectivamente decretada; o negcio cause prejuzo ao interdito.

    9 Naturalmente, durante todo este caso, devemos considerar Ricardo maior.

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    - Como se v, o primeiro pressuposto cumprido, mas no o segundo, porqueRicardo adquire o equipamento por preo excepcionalmente favorvel. Logo, onegcio no pode ser anulado.

    Alnea c)

    - Nesta alnea, Ricardo paga um preo mais alto, em comparao com os valoresde mercado, logo a aquisio causa prejuzo a Ricardo. Fica assim preenchido orequisito que faltava, podendo assim o tutor pedir a anulao do negcio deRicardo, tendo para o efeito um ano aps o registo da sentena (149, n. 2C.Civil).

    Alnea d)

    - Ricardo celebrou um contrato de compra e venda (874 e ss. C.Civil), tendo estecomo efeitos essenciais (879 C.Civil):

    a transferncia da propriedade da coisa ou da titularidade dodireito;

    obrigao de entregar a coisa; obrigao de pagar a coisa.

    - Ao no ter pago o preo, o contrato ainda est um cumprimento, ou seja, aindafalta uma obrigao para que ele, no essencial, se cumpra. A consequncia desteincumprimento que o tutor de Ricardo pode arguir a anulabilidade do negciosem dependncia de tempo (os prazos caem), naturalmente quando temlegitimidade para isso, o que se verifica apenas nas alneas c) e eventualmente naa).

    XXXII

    Alexandre, apaixonado pela arte, tem vindo a adquirir, por preos elevados, quadrosde jovens pintores que considera dotados de talento e merecedores de estmulo, aomesmo tempo que doa ou vende por preo reduzido obras-primas de grandesmestres a museus e outras instituies pblicas, por entender que as obras devem seracessveis a todos.Com esta atitude, Alexandre desfez-se de grande parte da sua fortuna, colocando emrisco a conservao do seu padro de vida, bem como o da sua famlia.A sua mulher, Beatriz, e os seus filhos maiores, Cristiano e Duarte, pretendemrestringir a capacidade de Alexandre, de modo a impedir a destruio da sua fortuna.Para esse efeito, proposta e publicitada uma aco em Janeiro de 1998, e esta vema ser julgada procedente em Outubro de 1998 e registada em Janeiro de 1999.

    a) Ao restringir a capacidade de Alexandre, qual ter sido a deciso do tribunal?b) Ao longo dos anos, Alexandre pratica os seguintes actos: 1) em Setembro de1998, graas sua intuio e bom gosto, adquire, em leilo, por um preo bastantesuperior s restantes licitaes, um quadro de autor desconhecido, que mais tarde se

    prova ter sido pintado por Vermeer, como Alexandre suspeitava, e que vale cerca doqudruplo do que por ele foi pago; 2) em Dezembro de 1998 compra uma casaantiga, do sculo XIV, pelo dobro do preo do seu valor de mercado.

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    Qual a validade dos actos praticados por Alexandre? Quem e dentro de que prazospode invocar uma eventual invalidade daqueles actos?

    Alnea a)

    - Alexandre, devido sua paixo pela arte, desfez-se de grande parte da sua

    fortuna. A sua famlia, preocupada, pediu ao tribunal para restringir a capacidadenegocial de exerccio de Alexandre. A incapacidade ter necessariamente queser a inabilitao (152 e ss. C.Civil), pois Alexandre apenas no consegue regeros seus bens (na interdio, o incapacitado no consegue reger a sua pessoa e

    bens), por habitual prodigalidade, uma vez que as outras situaes so de excluir(152 C.Civil). A sentena foi registada em Janeiro de 1999. Porque a tudo queno esteja especialmente previsto na seco de inabilitao, deve ser aplicadomutatis mutandis o disposto no regime de interdio, tm legitimidade pararequerer a inabilitao, neste caso, tanto o conjugue, como os filhos maiores(porque parte sucessvel). A inabilitao suprvel por um curador, pessoa aquem o inabilitado tem que pedir autorizao para dispor dos seus bens (153C.Civil). Quanto administrao dos bens, esta pode ficar a cargo ou no do

    curador (154 C.Civil). O curador deve uma das pessoas designadas no art. 143C.Civil (com as devidas adaptaes), e os actos praticados sem autorizao desteso anulveis (125 e 257 C.Civil).

    Alnea b)

    - O primeiro negcio de Alexandre, feito em Setembro de 1998, e por isso nodecurso da aco, foi uma compra e venda (874 e ss. C.Civil) em leilo. Porremisso do art. 156 C.Civil, os actos praticados no decurso da aco podem seranulados pelo curador, sendo necessrio que se cumpram as duas condies queo artigo estabelece:

    a inabilitao deve ser efectivamente decretada; o negcio cause prejuzo ao inabilitado.

    - Como se v, o primeiro pressuposto cumprido, mas no o segundo, porqueAlexandre adquire o quadro por preo excepcionalmente favorvel, apesar deno se reconhecer imediatamente. Logo, o negcio no pode ser anulado.

    - No segundo acto de Alexandre, tambm um contrato de compra e venda (874 ess. C.Civil), j concludo depois da aco ser julgada procedente, mas antes da

    publicao. Por isso, a este acto devemos aplicar o art. 150 C.Civil, mais umavez remetido pelo art. 156 C.Civil. Este artigo tambm uma remisso, destavez para o art. 257 C.Civil. Para proteco do prprio inabilitado, o C.Civil a

    possibilidade de anular os negcios anteriores publicidade da aco, atravs daincapacidade acidental. Assim, a incapacidade acidental s pode ser invocada se:

    quem fez a declarao se encontrava, por qualquer causa,

    (1)

    acidentalmente incapacitado de entender o sentido dela ou (2) notinha o livre exerccio da sua vontade;

    o facto fosse notrio (se uma pessoa de normal diligncia o teriapodido notar) ou conhecido do declaratrio.

    - No temos informaes precisas que nos permita esclarecer se os requisitosforam cumpridos ou no, mas caso se conclua que se preencheram, o tutor podeinvocar a anulabilidade do negcio, no prazo de um ano a contar doconhecimento do negcio (125 e 287 C.Civil).

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    Erro na declarao; Vcios da vontade.

    XXXVI

    Jos Honrio um empresrio devorado pela ideia de maximizar os seus lucros,Tni Migalhas um trabalhador que, por estar desempregado, se encontra emsituao econmica desesperada.Sabendo deste facto, Jos Honrio prope a Tni Migalhas um contrato de trabalhoem que este seria remunerado com uma quantia igual a dois teros do salriomnimo nacional. funo desempenhada deveria corresponder, porm, em termosnormais, uma soma igual ao dobro do salrio mnimo nacional. Tni aceitou a

    proposta.a) Poderia, mais tarde, Tni reagir contra o contrato que se viu forado a concluir?De que formas?

    b) E se a remunerao proposta e aceita correspondesse exactamente ao salriomnimo nacional, a soluo (dada alnea a.) seria a mesma?

    - Jos, empresrio obcecado pelos lucros, v em Tni, desempregado em situaoeconmica desesperada, uma oportunidade de diminuir os custos da empresa.Para isso, celebrou com Tni um contrato de trabalho, tendo sido acordado queJos pagaria a Tni um valor correspondente a dois teros do salrio mnimonacional. Contudo, a funo que Tni iria desempenhar equivaleria a doissalrios mnimos. Apesar das condies, Tni aceitou a proposta.

    Alnea a)

    - O contrato celebrado entre Jos e Tni resulta em prestaes claramentedesequilibradas, ou seja, Tni no recebe o salrio justo para o seu trabalho.Apesar que representar uma limitao autonomia privada e liberdadecontratual (405 C.Civil), a Lei protege estas pessoas, vtimas de um mau uso daautonomia privada. Assim, o negcio realizado entre Jos e Tni, usurrio,visto o seu contedo ser desaprovado pela Ordem Jurdica.

    - Para que se possa dizer que um negcio usurrio necessrio preencher doispressupostos, enunciados no art. 282 C.Civil:

    subjectivo: situao de uma situao de inferioridade[necessidade, inexperincia, ligeireza, dependncia, estadomental, fraqueza de carcter];

    actuao consciente do autor da usura10; objectivo: dessa situao, retirar benefcios excessivos e

    injustificados.- Verificamos que, no caso, os requisitos se cumprem, pois Jos explora o estado

    de desespero econmico de Tni, actua de modo consciente e, por outro lado,retira da benefcios excessivos, nomeadamente no pagando cerca de um salriomnimo nacional.

    10 Vd. CASTRO MENDES, Joo,Direito Civil (Teoria Geral), 1973, Lisboa

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    - Consequentemente, o negcio celebrado entre Jos e Tni e anulvel (282, n1e 287 C.Civil), sem dependncia de tempo, visto o contrato ainda estar emexecuo (287, n 2 C.Civil).

    - No entanto, devido sua situao, Tni pode no estar interessado nem emanular o contrato, nem em cumpri-lo como ele se encontra concludo. Assim,Tni pode modificar o negcio, de modo a que ser torne lcito (283 C.Civil),

    por outras palavras, d-se uma convalescena do contrato (906 C.Civil).Concretizando, Tni poderia alterar o contrato ao receber o salrio justo para oseu trabalho. Caso Tni tenha interposto uma aco de anulao, ainda

    possvel que Jos se oponha, bastando para isso que aceite a modificao docontrato.

    - Poder-se- ainda afirmar que este contrato ofensivo aos bons costumes emesmo ordem pblica, pois proibido que algum trabalhe sem receber osalrio mnimo nacional. Caso se verificasse, o contrato passaria a ser nulo(280, n 2 C.Civil).

    Alnea b)

    - No caso de Jos pagar a Antnio o equivalente ao salrio mnimo nacional,poderamos, desde logo, afastar a possibilidade do negcio ser contrrio ordempblica, visto j no ser contrrio a uma disposio legal. No que diz respeito usura, poder-se-ia discutir se o benefcio retirado por Jos excessivo einjustificado. Na minha opinio, admitirmos que o benefcio j no excessivo entrar numa lgica de formalismo, pois na prtica, Jos apenas estaria a pagarmais um tero do salrio mnimo nacional, o que no conduz a um radicaldesagravamento do desequilbrio entre as prestaes. Apesar de se poder admitiro contrrio, penso que o negcio ainda usurrio, e por isso anulvel ou sujeitoa modificao.

    XXXVII

    Francisco um apreciador de bons vinhos e gosta de, em ocasies especiais,presentear os seus amigos com garrafas de colheitas seleccionadas. Vendoaproximar-se o aniversrio de um dos seus maiores amigos, resolve oferecer-lheduas garrafas de vinho do Do, reserva de 1964 (uma excelente reserva). Contudo,encontrando-se Francisco impossibilitado de comprar ele prprio o vinho, pediu aum colega, Zeferino, que o comprasse, indicando-lhe o tipo de vinho, colheita eestabelecimento onde devia adquirir (junto de um comerciante onde Francisco desdeh muito se abastecia de vinhos de castas e reservas de qualidade superior).

    Chegado ao estabelecimento, Zeferino pediu: "duas garrafas de vinho do Do,reserva de 1984, para o senhor Francisco". Trocou portanto o ano da reservatrazendo um vinho de qualidade corrente e, por isso, muito inferior ao "reserva 64".Ao receber as garrafas, Francisco telefonou de imediato ao comerciante paradesfazer o negcio. Quid iuris?Haveria outra forma de satisfazer o interesse de Francisco?

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    - Para oferecer duas garrafas de vinho Do, reserva de 1964, a um amigo,Francisco pediu a Zeferino para se deslocar ao estabelecimento onde este seabastecia de vinhos de castas e reservas superiores. Contudo, Zeferino pediuduas garrafas de Do, mas de 1984, dizendo expressamente que seriam para osenhor Francisco.

    - Com efeito, este caso centra o seu problema na emisso da declarao. Essa

    declarao, produzida por Francisco, foi transmitida por Zeferino ao vendedor.O problema est assim, na transmisso da declarao, e no na declarao em si,pois Francisco disse aquilo que efectivamente queria, mas Zeferino no disseaquilo que Francisco queria. Logo, estamos perante um erro na transmisso dadeclarao (250 C.Civil), mais propriamente na prpria declarao, poisZeferino transmitiu a declarao com palavras diferentes do que na realidade

    pretendia. Logo, este negcio anulvel, nos termos do art. 247 C.Civil.- Para que Francisco possa anular a declarao, teria que provar que o declaratrio

    conhecia ou no devia ignorar a essencialidade, para o declarante, do elementosobre que incidiu o erro. Concretizando, para a declarao ser anulvel, ovendedor devia conhecer ou no ignorar que adquirir vinhos de reserva superiorera essencial para Francisco.

    - Pelo que nos diz o caso, podemos afirmar que essa essencialidade era conhecidado vendedor, uma vez que Francisco, naquela loja, s comprava vinhos dequalidade superior, tendo sido dito expressamente por Zeferino que os vinhoseram para Francisco. Concluindo, Francisco pode desfazer o negcio, tendo umano para o efeito (287 C.Civil).

    - Uma outra forma, eventualmente mais prtica, de satisfazer o interesse deFrancisco, era este acordar com o vendedor a alterao do contrato, de modo acorresponder sua vontade. Ao fazer isto, estariam a validar o negcio, ou seja,eliminariam a causa da anulao, que no poderia proceder (248 C.Civil).Poder-se-ia tambm, eventualmente, afirmar que o vendedor no estaria de boaf, pois ele sabia que Francisco no comprava no seu estabelecimento vinhoscorrentes. Se assim se considerasse, o vendedor poderia ter que indemnizar osdanos que, culposamente, causasse a Francisco, por no agir de boa f naformao do contrato (227 C.Civil).

    XXXVIII

    Jos quer comprar uma enciclopdia de Direito e Economia denominada "Polis",mas est convencido que essa enciclopdia se chama "Logos", nome que designauma outra enciclopdia, esta de Filosofia.Para o efeito dirigiu-se, por carta, editora responsvel por ambas as enciclopdias e

    pediu que lhe fosse entregue a enciclopdia de Direito e Economia "Logos".Passados alguns dias recebeu em sua casa a enciclopdia "Logos" e procedeu ento

    ao respectivo pagamento.Quando abriu a embalagem onde se encontrava a enciclopdia verificou que aquelaera, afinal, uma enciclopdia de Filosofia e a no a enciclopdia de Direito eEconomia que pretendia. Jos pretende agora desvincular-se do negcio. Poderfaz-lo?

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    - Ao escrever uma carta editora pedindo a enciclopdia Logos de Direito eEconomia, Jos emitiu uma declarao que no corresponde sua vontade real,

    pois ele, na realidade, queria a enciclopdia Polis. Estamos assim perante umadivergncia no intencional entre a vontade real e a declarao, mais

    propriamente um erro no contedo da declarao, visto Jos usar palavras quetm um sentido diferente (236 C.Civil) do que ele lhes d.

    - Por sua vez, pode-se afirmar que o erro na declarao de Jos revelado nocontexto da declarao, ou seja, na carta que enviou editora e, por isso, podeser considerado um erro de escrita (249 C.Civil). Este estruturalmente um errona declarao, mas ostensivo. O erro na declarao de Jos consiste em adenominao da enciclopdia no corresponder claramente ao nome e, por suavez, o nome corresponde a outra enciclopdia. Podemos concluir que o erro ostensivo e foi revelado no contexto da declarao, sendo assim um erro deescrita.

    - O erro de clculo ou escrita no d direito a Jos a anular o contrato, ou seja,Jos no se pode desvincular dele. Jos apenas o pode rectificar: correco docontrato para que fique de acordo com a vontade real do declarante.

    XLI

    Romeu comprou a Csar, construtor civil, um andar num edifcio de quinze pisosconstrudo por este ltimo. Romeu decidiu-se pela compra deste andar porque, emcomparao com outros do mesmo gnero, apresentava um preo mais acessvel.Pouco tempo aps a escritura, porm, Romeu toma conhecimento que afinal oedifcio onde se encontra o seu andar no dispe, ao contrrio do legalmenteexigido, da devida proteco anti-ssmica, pois os respectivos pilares no tinhamsido pura e simplesmente construdos, e da o preo to acessvel.Romeu consulta o seu advogado para saber de todos os meios possveis que a lei lhe

    faculta para se desvincular daquele contrato de compra e venda, e de todos osdireitos que poder invocar contra Csar. Qual dever ser a resposta do advogado?Considere agora as seguintes hipteses a respeito da concluso do contrato decompra e venda entre Romeu e Csar:a) Csar celebra o negcio por meio de Lus, seu procurador, que desconhece as"particularidades" da construo do edifcio em causa.

    b) Csar utiliza, na preparao do contrato, de um