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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL APRESENTADO POR VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE Março 2009

Catalogo Dos Livros de Horas

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Page 1: Catalogo Dos Livros de Horas

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA

BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL

APRESENTADO POR

VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE

Março 2009

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

PROFESSORA ORIENTADORA DOUTORA ANGELA MARIA DE CASTRO GOMES

PROFESSORA CO-ORIENTADORA DOUTORA VÂNIA LEITE FRÓES

VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE

CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em

Bens Culturais e Projetos Sociais.

Rio de Janeiro, Março 2009

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Faillace, Vera Lúcia Miranda.

Catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil/ Vera Lúcia Miranda Faillace. Rio de Janeiro: FGV, 2009.

99 p.

Orientadora: Angela Maria de Castro Gomes

Dissertação – Mestrado Profissional em Bens Culturais Projetos Sociais (Fundação Getulio Vargas – CPDOC)

1.Biblioteca Nacional (Brasil) - Catálogos 2. Livros de Horas – Bibliografia - Catálogos 3. Iluminuras de Livros e Manuscritos I. Gomes, Angela Maria de Castro II. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais III. Título.

CDD - 091

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2

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS

MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS

CATÁLOGO DOS LIVROS DE HORAS DA BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO APRESENTADO POR

VERA LÚCIA MIRANDA FAILLACE

E

APROVADO EM 19/03/2009

PELA BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________

Profa. Drª Angela Maria de Castro Gomes (Orientadora)

________________________________________________________

Profa. Drª Vânia Leite Fróes (Co-Orientadora)

_________________________________________________________

Prof. Dr. Vitor Manoel Marques da Fonseca

_________________________________________________________

Profa. Drª Letícia Borges Nedel (Suplente)

Page 5: Catalogo Dos Livros de Horas

AGRADECIMENTOS

À professora Angela Maria de Castro Gomes, minha orientadora, que aceitou o desafio de se

aventurar, junto comigo, num trabalho de tema tão complexo. Agradeço por ter acreditado no

projeto, pelo carinho, compreensão e firmeza na orientação.

À professora Vânia Leite Fróes, minha co-orientadora, que me acolheu e me indicou caminhos

que tornaram o tema “tão complexo” uma pesquisa agradável e prazerosa.

À ex-diretora do Centro de Referência e Difusão da Fundação Biblioteca Nacional, Carmen

Tereza Coelho Moreno, que muito me apoiou e me permitiu o acesso aos cofres da área de

Manuscritos.

À amiga e companheira de trabalho Marta Ramos, pelo carinho, pela força e formatação desse

catálogo, sem a sua prestimosa colaboração, este trabalho não existiria.

À equipe de Manuscritos pela compreensão na ausência ao trabalho, pela leitura do trabalho, pela

força, paciência e incentivo nos momentos de desânimo.

Aos colegas Vera Lúcia Garcia Menezes, Cláudio Xavier e Hélio Jorge Garcia da Conceição, da

Coordenadoria de Microrreprodução, responsáveis pelas imagens desse trabalho.

Aos professores Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, pela colaboração no abstract; Robson

Duarte, pela leitura e revisão do texto; e Vitor Manoel Marques da Fonseca, pelas idéias e

palavras de incentivo na banca de qualificação.

À minha turma do mestrado da FGV com a qual dividi idéias, angústias, tristezas e alegrias.

Ao frei Damião Berge (In memorian), cujo trabalho tornou-se a base desse catálogo.

Aos meus pais Enedina de Moraes Mendes, minha eterna gratidão pela compreensão, dedicação e

apoio durante o processo de realização desse trabalho e por toda minha vida, e Oscar Pereira de

Miranda (In memorian), amor eterno.

Aos colegas da Biblioteca Nacional, Sérgio Apelian, pela ajuda na classificação e Rosimeri

Rocha da Silva, pela encadernação; e a Marco Dreer, da Fundação Getulio Vargas, pela

impressão dos CD-ROMs.

À Fundação Biblioteca Nacional pelo apoio financeiro para a realização deste curso.

Page 6: Catalogo Dos Livros de Horas

“Livros, mercadoria espiritual, tem como grande virtude desafiar

os séculos, trazendo-nos não apenas o seu conteúdo, mas a sua

concretude de livro [...] DOCUMENTO DE UMA

CIVILIZAÇÃO”.

(Pina Martins)

Page 7: Catalogo Dos Livros de Horas

SUMÁRIO

I NTRODUÇÃO 7

I – PARTE: Apresentação 12

1- Os livros de horas na Idade Média 12

1.1 Livro de horas: liturgia e espiritualidade 14

1.2 Tipologia e estrutura 17

1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas 22

2- O acervo da Biblioteca Nacional 25

2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação do seu acervo

26

2.2 A área de Manuscritos

34

2.3 A coleção dos manuscritos iluminados e os livros de horas 37

3- A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional 39

3.1 Tipologia dos catálogos 39

3.2 Catálogo de manuscritos 40

3.3 O catálogo dos livros de horas 43

II – PARTE: Catálogo dos Livros de Horas 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85

GLOSSÁRIO 93

Page 8: Catalogo Dos Livros de Horas

RESUMO

O presente trabalho objetivou identificar a coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional do

Brasil, com vistas a produzir um catálogo. A coleção abrange nove livros manuscritos

iluminados; neste trabalho, porém, foram identificados apenas os oito livros produzidos na

segunda metade do século XV. Quatro desses livros são provenientes da Real Biblioteca – Casa

do Infantado, que veio para o Brasil em 1808 com a família real portuguesa, tornando-se o núcleo

inicial da Biblioteca Nacional brasileira. Na primeira parte apresentamos as considerações

teóricas situando o período no qual o livro de horas se inscreve, destacando a sua importância,

tanto na sociedade quanto no desenvolvimento da piedade do homem na cristandade medieval.

Apresentamos também um breve histórico da Biblioteca Nacional, depositária da coleção dos

livros de horas e, concluindo a primeira parte, os dados referentes à construção do catálogo. A

segunda parte é o catálogo propriamente dito, onde os livros estão descritos obedecendo às

normas internacionais vigentes, viabilizando o acesso, a divulgação e o intercâmbio de

informações, promovendo assim a valorização e a preservação desses bens culturais e

patrimoniais.

Palavras-Chave: Livros de Horas; Manuscritos Iluminados; Manuscritos Medievais; Biblioteca

Nacional (Brasil) – Catálogos; Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal).

Page 9: Catalogo Dos Livros de Horas

ABSTRACT

The objective of the present monograph is to identify the books of hours pertaining to the

National Library of Brazil, aiming at the production of a catalogue. The collection comprises nine

illuminated manuscript books; however, only the items produced in the second half of the 15th

century are identified in this work. The provenance of four of these books is the Portuguese

Royal Library – Casa do Infantado, which was transferred to Brazil in 1808, together with

Portugal’s Royal family, thus becoming the core of the Brazilian National Library. The first part

of the monograph includes theoretical considerations and situates the period in which the books

were created, also putting in relief their importance, both to medieval society and to the evolution

of devotions. A brief history of the National Library and information related of the catalogue’s

construction are also presented. The second part of the monograph presents the catalogue itself,

where the books are described according to intenational rules, enabling access, diffusion and data

interchanging, thus valuing and promoting the preservation of these cultural and patrimonial

assets.

Key-words: Books of Hours; Illuminated Manuscripts; Medieval Manuscripts; National Library

(Brazil) – Catalogues; Royal Library – Casa do Infantado (Portugal).

Page 10: Catalogo Dos Livros de Horas

7

INTRODUÇÃO

Na década de 1990 discutiu-se muito o suposto desaparecimento do livro. O

texto eletrônico seria uma ameaça ao livro no seu formato tradicional? Muitas são ainda as

dúvidas e não podemos assegurar, precisamente, que futuro o livro terá face ao frenético

desenvolvimento tecnológico que nos oferece uma multiplicidade de novos meios de

comunicação e de difusão do conhecimento, em diferentes formas de linguagem midiáticas.

Segundo os historiadores do livro e da leitura, esta seria mais uma revolução na estrutura material

da cultura escrita – a tipografia de Gutenberg foi considerada a maior revolução tecnológica do

milênio – que estaria acrescentando um novo modo de inscrição e uma nova maneira de ler.

Porém, esses mesmos historiadores, são unânimes em afirmar que a chegada desses novos

dispositivos tecnológicos não tornaria obsoletos os antigos, do mesmo modo que esses formatos

podem perfeitamente coexistir. Por isso, segundo Chartier,

a biblioteca do futuro deverá ser, também, o lugar onde poderão ser mantidos o conhecimento e a compreensão da cultura escrita nas formas que foram, e que ainda são, majoritariamente as suas. A representação eletrônica de todos os textos cuja existência não começa com a informática não deve, em absoluto, significar o abandono, o esquecimento, ou pior, a destruição de objetos que foram os seus suportes. Mais do que nunca, talvez, uma das tarefas essenciais das grandes bibliotecas é de coletar, proteger, recensear - por exemplo, sob a forma de catálogos [...] - e, também, tornar acessível a ordem dos livros que ainda é a nossa, e que foi a de homens e mulheres que lêem desde os primeiros séculos da era cristã. Apenas preservando a inteligência da cultura do códice podemos gozar a “felicidade extravagante” prometida pela tela. 1

Não estamos aqui interessados em discutir o futuro do livro ou como será o

livro do futuro. O que nos preocupa no momento, nesta era da globalização e do mundo digital, é

a preservação e a disseminação de um formato original, de um objeto de arte que foi testemunho

de uma sociedade, de uma cultura, de um determinado período da história. Queremos registrar

aqui a trajetória desses textos manuscritos medievais, denominados livros de horas, para que

possamos entender no presente o que foram o livro e a leitura em seus primórdios.

1 CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1999. p. 107

Page 11: Catalogo Dos Livros de Horas

8

Em 2008, teve início no Brasil e em Portugal uma grande comemoração para

celebrar o bicentenário da viagem da família real portuguesa ao Brasil. Para isso, foi criada, pelo

Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro e

Prefeitura de Petrópolis, a Comissão Organizadora das Comemorações pelos 200 anos da

chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil. Dois anos depois, em 2010, pois foi em 1810 que

aqui chegaram os pertences da Família Real, dentre eles a Real Biblioteca, festejar-se-a o

bicentenário da Biblioteca Nacional do Brasil.2

A vinda da Família Real portuguesa para o Brasil, em 1808, deu à colônia um

novo significado, criando uma nova infra-estrutura para abrigar, no Rio de Janeiro, a Corte do

império português. Neste contexto, inúmeras instituições foram fundadas: a Escola Anatômica,

Cirúrgica e Médica (uma das primeiras escolas de ensino superior), a Academia Real Militar, o

Real Horto, o Museu Real, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia e a Biblioteca Nacional, entre

outras. Para compreender melhor a importância do momento, transcrevemos aqui o comentário,

feito em 1835, por um ilustre viajante alemão chamado João Maurício Rugendas:

É em 1808 que começa realmente a história do Brasil e do Rio de Janeiro; e se desde então não houve grandes acontecimentos, vitórias ou derrocadas sangrentas, suscetíveis de atrair para o país a atenção de observadores superficiais, as modificações que ocorreram no estado intelectual e material da antiga colônia, e principalmente da capital, são da mais relevante importância (Viagem Pitoresca através do Brasil, p. 200).

Em novembro de 1807, quando o príncipe Regente d. João, a rainha d. Maria I e

toda a família real, diante da invasão de Portugal pelas tropas francesas napoleônicas, deixaram

Lisboa com destino ao Brasil, trouxeram a Real Biblioteca, com cerca de 60.000 peças, entre

livros, manuscritos, estampas, mapas, moedas e medalhas. Veio também a Livraria chamada do

Infantado. A Casa do Infantado, criada em 1654 por d. João IV,3 era uma organização patrimonial

dos segundos filhos dos monarcas portugueses, ou seja, do príncipe que não seria o herdeiro da

coroa. Este infante possuía o título de Senhor da Casa do Infantado, instituição que existiu por

180 anos e foi extinta pelo decreto de 18/03/1834, de d. Pedro IV4, sendo seus manuscritos e

impressos incorporados à Real Biblioteca. Apenas para se dimensionar a riqueza desse acervo,

2 A Biblioteca Nacional está localizada na Avenida Rio Branco nº 219, no centro da cidade do Rio de Janeiro. 3 D. João IV, conhecido como O Restaurador, foi rei de Portugal no período de 1640 a 1656. 4 Foi o 27º rei de Portugal (1831-1834) e Pedro I, no Brasil (1822-1831).

Page 12: Catalogo Dos Livros de Horas

9

vale observar que nele estava, provavelmente, o mais antigo livro de horas português de que se

tem notícia, O livro de horas de d. Fernando, rei de Portugal,5 que o teria encomendado ao artista

italiano Spinello Spinelli, no ano de 1378.

A coleção dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira é o tema de

nosso trabalho. O termo livro de horas é utilizado para designar um livro na forma de um códice

manuscrito, que tem o pergaminho como um dos suportes mais utilizados Segundo Houaiss: 6 “é

uma outra determinação do livro com finalidade temática”. Os livros de horas da Biblioteca

Nacional, ainda pouco estudados, integram a coleção7 dos manuscritos iluminados da área de

Manuscritos. Como observa Herkenhoff (1996: 23), “a coleção de manuscritos europeus

iluminados da Biblioteca Nacional é peculiar na América Latina. São algumas dezenas de códices

e folhas de pergaminho esparsas da Idade Média e do Renascimento, além de alguns posteriores

[...]”.

O acervo abrange nove livros de horas, mas devido às características e estrutura

identificamos, neste trabalho, apenas àqueles produzidos na segunda metade do século XV.

Quatro são provenientes da Casa do Infantado – Real Biblioteca e os outros cinco foram

adquiridos pela Biblioteca Nacional, por meio de compras e doações. Eles figuram, parcialmente

identificados, no catálogo da exposição Manuscritos séc. XII-XVIII, pergaminhos iluminados e

documentos preciosos, organizado por Darcy Damasceno, ocorrida no ano de 1973, na Biblioteca

Nacional. Antes, porém, encontramos alguns deles arrolados no Catálogo da Exposição

Permanente dos Cimélios da Bibliotheca Nacional, de 1885 (ver também Anais da Biblioteca

Nacional, v. 11, 1883/4), descritos pelo antigo chefe da área de Manuscritos, Alfredo do Vale

Cabral. Contudo, nenhum dos trabalhos mencionados se compara ao estudo feito por frei Damião

Berge,8 na década de 1940. Trata-se de um estudo minucioso dos nove livros de horas – e mais

5 9º rei de Portugal, d. Fernando I, O Formoso, nasceu em 1315, subiu ao trono em 1367 e faleceu no ano de 1383. 6 HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. São Paulo: HUCITEC; [Brasília]: INL, Fundação Nacional Pró-

Memória, 1983. V. 2, p. 31. 7 Segundo Pomian: “uma coleção, isto é, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou

definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público”. POMIAN, Karzysztof. Coleccção. Enciclopédia Einaudi, v. 1: Memória e História. Lisboa: Imprensa Oficial/Casa da Moeda, 1984. p. 53

8 Frei Damião Berge nasceu no Rio de Janeiro em 31/8/1895. Pertenceu à Ordem Franciscana e foi professor titular da Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ). Faleceu no Convento de Santo

Page 13: Catalogo Dos Livros de Horas

10

outros breviários e missais – onde o franciscano tomou por base a obra clássica de Victor

Leroquais.9 Não temos notícia de sua publicação, mas uma cópia datilografada está disponível,

apenas para consulta, na área de Manuscritos. Essas fontes serviram de base para a construção

deste estudo.

Este trabalho está estruturado em duas partes. A primeira parte destina-se à

apresentação do catálogo dos livros de horas. Nela, três temas são abordados com o objetivo de

situar o livro de horas no tempo – os livros de horas na Idade Média –, na coleção – Biblioteca

Nacional do Brasil – e na forma de um catálogo. Tomamos como exemplo os catálogos

elaborados pela Biblioteca Nacional de Portugal por oferecerem melhores soluções ao nosso

propósito.

Não poderíamos tratar do tema sem falar da Idade Média, pois o livro de horas

é produto desse período. Neste sentido abordamos, ainda que de forma superficial, questões como

a espiritualidade, o surgimento dos livros de horas, sua tipologia, estrutura, uso e produção. Não

temos aqui a pretensão de nos investir de historiador para falar do medievo cristão dos últimos

séculos, pois todo o estudo realizado foi feito com o único propósito de ser aplicado no âmbito

deste trabalho.

Incursionar pela história da instituição em que trabalhamos é, além de uma

tarefa prazerosa, uma obrigação. Saber e dar a conhecer o fato de que metade desses livros de

horas são provenientes desse tesouro bibliográfico que é a Real Biblioteca, nos enche de orgulho

e nos faz sentir, cada vez mais, comprometidos e responsáveis pela preservação dessa parte

importante da memória cultural.

A segunda parte do trabalho é o catálogo propriamente dito. Oito livros estão

identificados: seus conteúdos, suas imagens, proveniências, encadernações, bibliografias e suas

Antônio (Rio de Janeiro) no dia 29/08/1976. O trabalho mencionado provavelmente foi escrito no ano de 1973 e, uma cópia datilografada foi doada à Biblioteca Nacional em 1976.

9 Les livres d’heures manuscrits de la Bibliothèque Nacionale (França). Paris, 1925. 3 v. , obra de fundamental

importância para o estudo dos livros de horas.

Page 14: Catalogo Dos Livros de Horas

11

respectivas localizações. Algumas imagens foram selecionadas com a finalidade de ilustrar a

descrição. Por fim, para facilitar o entendimento de termos especiais e técnicos empregados, –

alguns deles definidos no próprio texto – elaboramos um pequeno glossário. Esses termos estão

sublinhados em azul e remetem ao glossário localizado no final deste trabalho.

Mesmo tendo como objetivo primordial a guarda de acervos de memória, a

produção de instrumentos de pesquisa é também uma das funções da Biblioteca Nacional. Os

curadores de acervos não só devem se preocupar com a preservação de suas coleções, mas

também em promover, de uma maneira rápida e eficaz, o tratamento técnico de suas coleções,

incentivando com isso a elaboração de inventários, repertórios e catálogos, impressos ou em

formato eletrônico, que atendam as necessidades institucionais e à crescente exigência dos

pesquisadores, pois esses instrumentos são ferramentas importantes para dar a conhecer, ao

público em geral e ao pesquisador em particular, o acervo da instituição. Com isso, esperamos

que este catálogo sirva de base para muitos outros estudos, envolvendo múltiplas áreas do

conhecimento, como a história da arte, história do livro e da leitura, linguística, paleografia,

teologia etc.

Como bibliotecária e funcionária, atualmente responsável pela área de

Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, acreditamos ser esta uma boa oportunidade para

acrescentar mais um projeto às comemorações do bicentenário de chegada da família real ao

Brasil e da Biblioteca Nacional, em 2010: o de catalogar, divulgar e permitir o acesso, através de

um catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional brasileira. Eles constituem uma das mais

preciosas e belas coleções trazidas de Portugal pela Família Real, verdadeiro tesouro do

patrimônio cultural nacional.10

10 “Na acepção da Biblioteca Nacional da França, que aqui utilizamos, tesouro nacional é entendido como categoria

de bem cultural de excepcional valor bibliográfico, histórico, artístico, arqueológico, etc., devendo o Estado assumir a suprema responsabilidade de sua preservação, e captação para o território nacional” (Ferreira, 2006: 1).

Page 15: Catalogo Dos Livros de Horas

12

I – PARTE: Apresentação

1. Os livros de horas na Idade Média

Estabelecer marcos cronológicos é das tarefas mais difíceis para o historiador.

Embora se entenda a necessidade de periodizar e definir limites para o estudo de diferentes

épocas históricas, convém deixar claro a relatividade desta ação. A cronologia é um instrumento

de trabalho importante para o historiador e é a partir dela que ele demarca os limites de trabalho

para o exercício do seu ofício. Ressaltamos, porém, que é preciso não confundir os modelos

oferecidos pela cronologia com o vivido na história. O modelo é um artifício para a abordagem

de formações históricas, mas que não se confunde com o empírico.

O conceito de Idade Média, denominação extremamente genérica e ambígua,

tem sido alvo de grandes polêmicas e das pesquisas inovadoras pelo grupo da “nova história”

liderado por Jacques Le Goff. Este medievalista, além de discutir em várias de suas obras a

própria questão teórica da periodização,11 focaliza os problemas dos cortes de início e fim da

Idade Média, criticando a noção genérica de Idade Média. Por isso propõe uma designação mais

ampla a que denomina “Idades Médias” que seriam manifestações históricas diversas no longo

milênio chamado tradicionalmente de medieval. Jean-Claude Schmitt e, mais recentemente,

Jérôme Baschet retomaram nesta última década essa discussão a partir de idéias de Le Goff. A

influência desta historiografia francesa na Idade Média é muito grande, mas não é consensual. A

solidez dos argumentos apresentados pelos historiadores acima referenciados e a adoção destes

argumentos por grande parte dos historiadores brasileiros determinaram nossa escolha por estas

propostas.

Os limites da Idade Média são amplos e estendem-se, dentro da perspectiva

acima referenciada, por uma longa Idade Média. Para Le Goff (2008: 14), que acredita numa

11 Uma longa Idade Média (2008), As raízes medievais da Europa (2007), Em busca da Idade Média (2006), são

algumas delas.

Page 16: Catalogo Dos Livros de Horas

13

longa Idade Média porque não vê sua ruptura no Renascimento, ela só termina no século XVIII

com a Revolução Francesa – nos domínios político, social e mental – e com a Revolução

Industrial na Inglaterra, no domínio econômico. No caso específico dos livros de horas, convém

considerar de forma relativa esta extensão cronológica, pois embora continuassem sendo feitos

manuscritos, o impacto da imprensa sobre esta produção deverá ser avaliado, estudo a que não

nos propomos a fazer no âmbito deste trabalho.

Do ponto de vista da periodização interna da Idade Média, o Groupe

d’Anthropologie Historique de l’Occident Médiéval – GAHOM – propõe uma divisão tripartida

(Baschet, 2006: 34-35): “Alta Idade Média (século V a X), seguida da Idade Média Central,

época de apogeu e de dinamismo máximo (século XI a XIII), enquanto os séculos XIV e XV,

mais sombrios, marcados pela peste negra, pelas crises e dúvidas, podem ser qualificados de

Baixa Idade Média [...]”, que se opõe à velha divisão bipartida da Idade Média.12

Este trabalho inscreve-se, explicitamente, no que se chamou, nesta divisão

tripartida, de Baixa Idade Média.

No início da Alta Idade Média a cultura letrada estava sobre o domínio da Igreja

Católica. Grande parte da vida intelectual se concentrava nas abadias, onde escrever era um

exercício espiritual. Na maioria das vezes os scriptoria eram monásticos, onde se faziam as

cópias dos manuscritos e se produziam os livros. Segundo Maria José Santos (2003: 75): “[...] a

escrita era um meio de fixar a palavra de Deus, de guardar a lembrança dos mortos, de invocar

Deus e os santos. [...] Se a escrita estava a serviço do divino ela era sagrada”. Era na biblioteca

dessas abadias que se guardava a produção desses scriptoria e também grande parte de toda a

herança livresca da Antiguidade. A produção, conservação e circulação do conhecimento estavam

ali concentradas. Por isso, a criação das universidades – século XII – foi um dos fatores que mais

contribuíram para a quebra desse monopólio e com elas, conseqüentemente, o avanço da cultura

laica.

12 Alta Idade Média (do século V ao século X) e Baixa Idade Média (do século XI ao século XV).

Page 17: Catalogo Dos Livros de Horas

14

Como observa Fischer (2006: 206), “na Idade Média, possuir e ler um livro era

um privilégio dos ricos e daqueles de elevado status social”. Os livros de horas – aqui nos

referimos aos livros de horas manuscritos, pois, com o advento da tipografia, na segunda metade

do século XV, surgem também os livros de horas impressos – começaram a aparecer a partir do

século XII, sendo que, no período que vai de 1350 a 1480, tiveram seu apogeu. Estes livros, de

certa forma, tornaram-se o protótipo do livro em sua função simbólica: tinham grande utilidade

para o ensino e grande valor comercial, pois também eram uma refinada obra de arte. Por tudo

isso, o livro de horas manteve uma destacada popularidade até o século XVI. Porém, a partir daí,

os livros de horas manuscritos foram raríssimas exceções.

1.1 Livros de horas: liturgia e espiritualidade

A sociedade medieval – do século X até o final do Antigo Regime (Monarquia

Absolutista) – ainda segundo Le Goff (2007: 277), estava representada, ideologicamente, em três

grandes grupos sociais: os que oravam (oratores), os que guerreavam (bellatores) e os que

trabalhavam (laboratores). A função de orar ficava por conta dos clérigos e monges e as de

guerrear (os guerreiros) e trabalhar (os camponeses) por conta dos leigos. Como observa Schmitt,

“no seio da sociedade cristã, as funções dos clérigos e dos leigos são complementares [espiritual

e material], mas o papel mais ativo é de direito atribuído aos clérigos, que são os ‘pastores’. Os

outros são somente as ‘ovelhas’ que recebem de suas mãos os sacramentos e de sua boca a

palavra de Deus”.13

Como instituição detentora do poder espiritual e também material, a Igreja

Católica era reguladora de toda cristandade medieval. Cabia a ela o zelo e a assistência aos

leigos, o que se dava através da liturgia administrada pelo clero. Seguir o Evangelho era a única

regra, e o clero o único caminho para se chegar a Deus. Viver uma vida reclusa, disciplinada e em

constante oração era o caminho para se conseguir a remissão dos pecados e, conseqüentemente, a

13 Dicionário Temático do Ocidente Medieval, 2006. V. 1, p. 243

Page 18: Catalogo Dos Livros de Horas

15

salvação. Segundo Vauchez,“o mosteiro era uma antecipação do paraíso, um pedaço do céu sobre

a terra”.14

Além do monopólio na elaboração do conhecimento, do controle a seu acesso e

a sua transmissão, a Igreja também era uma espécie de guardiã da escrita. O latim era a língua do

sagrado, de ritual, a língua da Igreja e poucos sabiam usá-la. Os livros eram copiados nos

scriptoria dos mosteiros. Mas, segundo Zumthor (apud Baschet, 2006: 182), “apesar da crescente

utilização da escrita, a oralidade e os gestos rituais continuam a dominar a vida social. Mesmo se

as obras literárias são conservadas por escrito, continuam essencialmente feitas para ser contadas

ou cantadas: a voz predomina sempre a letra”.

A técnica de leitura que predominava na Antiguidade era a leitura em voz alta,

para os outros ou para si mesmo. Ou seja, era uma leitura preocupada em reproduzir o sentido e o

ritmo da escrita, até porque os textos eram escritos sabendo-se que seriam lidos em voz alta. Nos

mosteiros e conventos medievais, durante a Alta Idade Média, praticava-se tanto a leitura coletiva

(feita nos espaços comunitários por ocasião dos ofícios, durante as refeições e exercícios

espirituais), como a leitura individual (que era solitária: estudo e meditação). O livro mais lido

era a Sagrada Escritura, pois constituía a base da espiritualidade monástica. Embora um pouco

longa, a citação é esclarecedora:

Sua cronologia [história da leitura] se organiza a partir da localização de duas mutações fundamentais. A primeira incide sobre a transformação da modalidade física, corporal, do ato da leitura e insiste sobre a importância decisiva da passagem de uma leitura necessariamente oralizada, indispensável ao leitor para a compreensão do seu sentido, a uma leitura possivelmente silenciosa e visual. Essa revolução diz respeito à longa Idade Média, quando a leitura silenciosa, antes restrita aos scriptoria monásticos, entre os séculos VII e IX, ganha o mundo das escolas e das universidades no século XII, e dois séculos mais tarde, as aristocracias leigas. [...] Segunda observação, em forma de pergunta: não seria necessário dar mais atenção às funções da escrita que ao modo de sua leitura? Se tal for o caso, uma ruptura tão essencial deve localizar-se no século XII, quando a escrita não é investida de uma função apenas de conservação e memorização, mas é composta e copiada com a finalidade de uma leitura, entendida como trabalho intelectual.15

14 A Espiritualidade na Idade Média Ocidental, 1995. p. 39 15 CHARTIER, op. cit., p. 98-99

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Estava-se diante de uma dupla revolução: a passagem de uma leitura oralizada

para uma leitura silenciosa e visual, que objetivava algo que podia ser chamado de “aprendizado”

de novas relações sociais. Mais uma vez, Chartier é preciso: além de promover novas relações

entre os homens, “a conquista da leitura solitária possibilitou as novas devoções que modificam

radicalmente as relações do homem com a divindade”.16 Numerosos textos religiosos foram

traduzidos em língua vernácula e oferecidos aos leigos como meio de se buscar um

relacionamento individual, direto com Deus (e por meio dele com os homens), por meio da

leitura e da meditação para alcançar o bem-estar espiritual e a salvação. Nessa brecha

fundamental, encontram-se os livros de horas da Baixa Idade Média.

Os livros de horas escritos em vernáculo [era uma tendência, pois eram escritos em latim, porém, muitos deles já apresentavam determinadas partes de sua estrutura em língua vernácula], suportes de uma devoção privada e individual que pedia leitura silenciosa e meditação, são característicos das cortes do século XV. A multiplicação de imagens pintadas nos livros acompanha com freqüência a passagem para a língua vernácula e a mudança de público (Schmitt, 2006: 245).

.

No final do século XII ocorreram grandes mudanças que marcaram a vida dos

que habitavam a Europa ocidental: no conceito de trabalho, no panorama das cidades, na

contagem do tempo e, o que está diretamente ligado ao nosso tema, no surgimento de uma nova

espiritualidade que terá seu ápice no século XIII com a reforma franciscana. Havia um

sentimento geral de renovação da cultura cristã, em que o clero detinha o monopólio do sagrado –

tudo o que dizia respeito às funções relativas ao poder espiritual era reservado à Igreja –, mas ao

leigo era possibilitada uma espiritualidade mais intimista, mais individualizada: uma nova forma

de se comunicar com Deus.

O homem da cristandade medieval passava grande parte de sua vida em ofícios

religiosos. Leigos e religiosos rezavam no mesmo livro: o Saltério, série de 150 salmos

encontrados em toda Bíblia. A maioria deles era em latim, alternando a seqüência dos salmos,

incluindo hinos, cantos fúnebres, louvores, exaltações reais e canções de peregrinos. Mas,

basicamente, o saltério é um livro da Igreja Católica para uso eclesiástico. Com essas mudanças

na espiritualidade dos homens, sentiu-se a necessidade de um livro mais acessível aos leigos. Um

16 História da Vida Privada, 1992. V. 3, p.119

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17

livro não litúrgico, de devoção privada e que não fosse submetido a qualquer controle ou revisão

por parte das autoridades eclesiásticas, como acontecia com os saltérios, missais (livros litúrgicos

para as missas) e breviários (para as orações breves do cotidiano). Em outras palavras, tal livro

deveria ser uma composição personalizada de um novo texto de devoção secular que refletisse a

mudança ocorrida em relação à postura do leigo perante sua espiritualidade. Diz Alberto Manguel

em Uma história da leitura (2001: 153-4) que

[...] não surpreendeu que um dos livros mais populares da época fosse o livro de orações pessoais ou Livro de Horas, comumente representado em pinturas da Anunciação. Escrito em geral à mão ou impresso em formato pequeno, em muitos casos iluminados com requinte e opulência por mestres da arte, continha uma coleção de serviços curtos denominados “Ofício menor da abençoada Virgem Maria” (uma compilação de cerimônias religiosas curtas), recitados em vários momentos do dia e da noite. Tendo por modelo o oficio divino – serviços completos ditos diariamente pelo clero –, o ofício menor que compreendia os Salmos e outros trechos das Escrituras, bem como hinos, ofícios dos mortos, orações especiais para os santos e um calendário. Esses volumes pequenos eram eminentemente instrumentos portáteis da devoção, podendo ser usado pelo crente tanto em serviços públicos da igreja como em orações privadas [...].

1.2 Tipologia e estrutura

Por volta do século XI foi criado um livro com a intenção de condensar, em um

só volume, todos os textos do Ofício Divino – ou Liturgia das Horas – da Igreja Católica, e de

facilitar seu transporte pelos monges que se deslocavam com freqüência. Este livro litúrgico era o

breviário, do qual se originou o livro de horas. Neste sentido, o livro de horas se apropriou de

várias partes da estrutura dos breviários, mas foi o Pequeno Ofício de Nossa Senhora – Officium

parvum beate Marie Virginis – o texto que lhe serviu de base.

Segundo Leroquais, apesar de proximamente ligados ao breviário, e apesar de retirarem destes seus elementos principais: o calendário, o pequeno ofício de Nossa Senhora, os salmos penitenciais, as ladainhas, os sufrágios e o ofício dos defuntos, os livros de horas dele se distinguem nitidamente. Prova-o certo número de características. A principal é a sua absoluta independência do ciclo litúrgico. [...] E mais: eles não se revestem de nenhum caráter obrigatório, sua recitação depende da iniciativa particular. Sua composição escapa à vigilância da Igreja (Católica); ao retirar certos elementos do breviário, o editor ou o copista deles dispõe a seu arbítrio; ora acrescenta-lhes preces encontradas ninguém sabe onde, ora lhes insere textos

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inteiramente profanos. Enfim, se o breviário é o livro do sacerdote e do religioso, as Horas o são do leigo.17

Os livros de horas são também chamados de Horas, devido à palavra latina

Horae que assinala o momento em que se iniciam os Ofícios, neste caso, o de Nossa Senhora, ou

seja, as Horas da Virgem Maria – Incipiunt horae Beatae Mariae Virginis. A palavra Horas deve

ser sempre empregada no plural porque designa o livro no seu conjunto. O tema central dos livros

de horas é o culto à Virgem Maria. O fervor do culto a Nossa Senhora e suas múltiplas facetas

fizeram da Virgem a expressão mais popular de fé e de piedade na Idade Média. Escritos

geralmente em latim, os livros de horas seguiam a sequência canônica estabelecida pela Liturgia

das Horas nos breviários dos clérigos. Elas foram determinadas pela passagem:

“Sete vezes ao dia, eu te louvarei Senhor, pela equidade dos teus julgamentos”

(Salmo 118, 164).

A Igreja Católica adotou a prática judaica de recitar orações em horas fixas do

dia (pela manhã, ao meio-dia e no fim do dia). São Bento determina em regra para seus monges

sete horas de orações, seguindo o que diz a passagem do salmo acima mencionado. Acrescentou-

se mais uma oração noturna, as “completas”, somando assim oito horas canônicas, que deveriam

ser celebradas segundo o badalar dos sinos. São elas:

MATINAS (meia-noite)

LAUDES (três horas da madrugada)

PRIMA (seis horas)

TERCIA (nove horas)

SEXTA (doze horas ou meio-dia)

NOA ou NONA (quinze horas)

VÉSPERAS (dezoito horas ou ao cair da noite)

COMPLETAS (vinte e uma horas ou depois do pôr do sol)

17 Apud Berge, [1973?]: capítulo II, p. 4

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As horas canônicas (cada uma das horas indica um oficio divino ou liturgia)

podem ser divididas em duas categorias: Horas menores (Prima, Tercia, Sexta e Noa) e as Horas

maiores (Matinas, Laudes e Vésperas). Nas menores devem ser rezadas as orações que evocam

um acontecimento do Evangelho ou dos Atos dos Apóstolos. Por exemplo, na Noa é lembrada a

hora da morte de Jesus na cruz. As maiores são as horas principais e, como tais, devem ser

celebradas pela manhã e tarde. Já as completas, acrescentadas posteriormente, devem ser rezadas

antes do repouso da noite. Recitando essas orações, nessas horas determinadas, o homem

medieval cumpria o seu dever de cristão: orar incessantemente a Deus pedindo-lhe por si e por

todos os homens.

Um livro de horas modelo, segundo Berge,18 tem a seguinte estrutura:

1. Partes essenciais – o Calendário, as Horas da Virgem Maria, os Sete Salmos

Penitenciais, a Ladainha de Todos os Santos, o Sufrágio dos Santos (ou

Memórias ou Comemorações) e o Ofício dos Defuntos;

2. Partes secundárias – as Passagens dos Quatro Evangelhos, as orações

Obsecro te e O intemerata, 19 as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo,

Os Prazeres de Nossa Senhora (orações em louvor dos prazeres de Nossa

Senhora) – e os Sete Pedidos a Nosso Senhor;

3. Partes acessórias – são variáveis: os Salmos Graduais (os salmos de 119 até

133), o Saltério de São Jerônimo (uma coletânea dos mais belos e

expressivos versos dos salmos) e preces em geral.

Numa análise mais pormenorizada:

►O Calendário – o livro de horas começa sempre com um calendário, onde são

registradas (com letras nas cores vermelha, preta e dourada) as principais

18 Berge, Op. cit.,Capítulo II, p. 5 – 20. 19 Tradução para o português: Eu te imploro e Oh! Imaculada.

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festas cristãs (como Natal, Páscoa etc.), os feriados e os dias dos Santos

(universais, regionais e locais). A Idade Média herdou o calendário romano

(ou Juliano, introduzido por Júlio César em 45 a.C.) em que o ano continha

365 dias divididos em doze meses. Os dias do mês eram nomeados de

Calendas (kalendae – 1º dia do mês), Nonas (nonae – 5º dia do mês) e Idos

(idus – 13º ou 15º dia do mês). Às vezes, de acordo com o seu portador,

contém informações necrológicas, aniversários, nascimentos e batizados. O

calendário é um dos principais elementos para se identificar a origem ou o

destino do manuscrito;

►As Passagens dos Quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João);

►Orações à Virgem Maria (Obsecro te e O intemerata);

►As Horas da Virgem Maria é a parte mais importante das Horas. Este

Pequeno Oficio de Nossa Senhora se manifesta através de salmos, hinos,

lições, e orações destinadas à leitura ou recitação nas oito horas canônicas.

Como as lições, que aqui figuram, variam de igreja para igreja, as Horas da

Virgem também se constituem um importante elemento de identificação;

►As Horas da Cruz – textos mais curtos que as Horas da Virgem, compõem-se

de um hino, uma antífona e uma oração para cada hora;

►As Horas do Espírito Santo – um hino, uma antífona e uma oração;

►Os Salmos Penitenciais – são sete salmos: 6, 31, 37, 50, 101, 129 e 142, por

expressarem o arrependimento e o pedido de perdão dos pecados;

►A Ladainha de Todos os Santos ou Litania – é uma súplica que obedece uma

certa ordem com categorias invariáveis dos santos;

►O Ofício dos Mortos ou dos Defuntos – orações pelos mortos, que deveria ser

rezada diante do defunto ou precedendo o enterro, ou orações por aqueles que

estivessem em perigo de morte;

►O Sufrágio dos Santos – em memória ou invocação aos santos, também

chamado Santoral;

►Preces em geral – “[...] talvez, a parte mais rica, mais pitoresca e mais

variada do livro, aquela onde aparece mais expressivamente a alma medieval.

O que lhe dá mais vivo colorido é a presença, se não exclusiva, certamente

Page 24: Catalogo Dos Livros de Horas

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frequentíssima, da oração extra-litúrgica, particular, nascida espontaneamente

da inspiração do povo, que lhe traduz, no momento dado, as aspirações e

necessidades. Alheia aos ares solenes da prece eclesiástica, é uma conversação

imediata da alma, simples, sem cerimônias, humilde e confiante, com Deus ou

com os santos. O valor de suas várias composições pode ser bastante desigual:

umas são altamente inspiradas, outras não se elevam acima das necessidades

materiais e terrestres. Entretanto, todas elas vivem da seiva de uma piedade

sincera.” (Leroquais, apud Berge, Capítulo II: 18).

Esta disposição era bastante flexível, adaptando-se à devoção particular da

pessoa a quem o livro era destinado.

Nem todos os livros de horas eram decorados, pois, isso dependia muito do

poder e da condição financeira do proprietário, mas, em geral, para o ponto de vista artístico, o

grande atrativo nestes livros manuscritos medievais são as suas ilustrações: as miniaturas e as

iluminuras. No momento em que era feita a encomenda, escolhia-se também a ornamentação que

o manuscrito deveria conter.

Por miniatura entende-se a ilustração propriamente dita, qualquer desenho,

letras ornadas e historiadas, vinhetas espalhadas pelo texto, cenas pintadas, pinturas de página

inteira etc., escritos ou pintados com as tintas originais do mínio (cor vermelha). A iluminura,

parte ornamental da decoração, tem todos os caracteres da grande pintura, sendo desenhos

ilustrativos com abundância e variedade de cores. Neles, empregava-se também, além das tintas,

detalhes em ouro e prata (daí a expressão manuscrito iluminado, porque refletem a luz).

Svend Dahl diz sobre a natureza das iluminuras, no primeiro período da Idade Média, pertenciam mais à arte decorativa do que propriamente à ilustração. Os desenhos eram feitos com a intenção de decorar o livro e não a de ilustrar o texto: dessa forma, é freqüente que as ilustrações dos manuscritos nada tenham com o seu assunto, ao contrário do que modernamente se pratica. [...] os autores costumam assinalar que muitos livros piedosos são ornados com gravuras bastante livres, da mesma forma por que os animais fantásticos ofereciam motivos para o desenho das iniciais, sem que o leitor procurasse entre uma coisa e outra a menor correlação (apud Martins, 1996: 108).

Page 25: Catalogo Dos Livros de Horas

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Toda a beleza da apresentação era destinada a Deus no momento em que o

leitor fazia a sua oração, sem a mediação da igreja, que até então havia monopolizado a escrita

religiosa. Progressivamente, estas ilustrações vão se desenvolvendo, saindo do domínio dos

mosteiros, passando para as mãos dos iluminadores laicos nos castelos e nas oficinas dos bairros

das universidades, perto dos copistas e dos livreiros.

Para Fischer (2006: 154), “no final da Idade Média, as iluminuras e miniaturas,

incluídas nas páginas desses livros, constituíam o principal trabalho artístico da Europa

ocidental”.

1.3 O uso, a encomenda e a produção dos livros de horas

Ao contrário dos grandes formatos utilizados para os cultos na Igreja Católica,

os livros de horas eram pequenos e portáteis, seguindo o novo formato que estava sendo utilizado

para os breviários. De fácil leitura, podiam ser comodamente sustentados nas mãos e

transportados para qualquer lugar. Devido ao seu pequeno tamanho, podiam ser utilizados pelas

crianças, mas, a princípio, eram destinados às mulheres, provavelmente pela ênfase nas orações à

Virgem Maria, mãe de Cristo, exemplo de virtude para todas elas.

Como são livros de orações cotidianas, destinados à sociedade laica, tinham

como proprietários os aristocratas, principalmente aqueles de sangue real como os reis, rainhas e

duques. Posteriormente, também foram apreciados pelos burgueses endinheirados, mesmo os

analfabetos, que os utilizavam para admirar suas miniaturas. Não podemos esquecer de que nem

todos os livros de horas eram ricamente decorados, pois existiam aqueles mais modestos,

unicamente para uso cotidiano. No geral, contudo, esses livros refletiam mais a vaidade de seus

proprietários – em muitos eles apareciam retratados na figura do doador – do que a sua devoção.

Fora a parte devocional, os livros de horas exerceram, na Idade Média e no

Renascimento, um papel de suma importância social, servindo para o ensino da leitura nas

Page 26: Catalogo Dos Livros de Horas

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residências abastadas e da nobreza. Conta-se que Luis IX, o santo, aprendeu a ler neles. Muitas

vezes era o único livro da família, uma vez que a Bíblia era muito cara. Ainda assim, eram

reveladores da riqueza de seus proprietários, sendo comprados como jóias preciosas, que

valorizavam as coleções dos bibliófilos endinheirados. Figuravam nos testamentos e inventários

como peças de alto valor (bens móveis), que os proprietários deixavam registrados a quem seriam

destinados. Serviam também como presente do noivo para sua prometida e para os monarcas em

ocasiões solenes, como, por exemplo, sua coroação (vide as grandes coleções dos museus e

bibliotecas nacionais).

Em sua grande maioria, os livros de horas tiveram como suporte o pergaminho.

Devido a suas inúmeras vantagens técnicas e de conservação, este material substituiu o papiro.

Quando é de boa qualidade, é um material suave, fino, aveludado, dobrando-se com facilidade,

sendo, acima de tudo, durável. O pergaminho, pele de animal – as mais utilizadas eram as de

cabra, ovelha, carneiro e vitela – de extraordinária durabilidade, era adequado como suporte para

um livro de uso quotidiano. Seu preparo era bastante trabalhoso e lento. Primeiro se retirava a

pele do animal; em seguida, ela era lavada em água corrente e fria; por fim, mergulhada numa

tina de madeira ou de pedra para um banho de água e cal. Depois as suas duas faces – a do pêlo,

parte mais porosa e amarelada, e a da carne, mais lisa e mais branca – eram aplainadas para que

fossem retiradas todas as asperezas. Então, eram cobertas por um pó fino de calcário branco e,

finalmente, alisadas, polidas e postas, esticadas, para secagem. Uma vez secas, eram cortadas em

folhas que eram dobradas ao meio, criando-se dois fólios. Cada fólio tem dois lados: o recto e o

verso. As pessoas encarregadas desta tarefa eram chamadas de pergaminheiros.

Depois do pergaminho preparado, o copista começava seu trabalho fazendo

linhas horizontais nos fólios para que estas o orientassem na hora da escrita. São os chamados

raiados, característicos de um manuscrito medieval. As linhas eram assinaladas com um estilete

feito de osso com pontas de metal, e as tintas utilizadas eram nas cores vermelha, marrom, verde,

às vezes, um combinado delas. Usadas com freqüência nos manuscritos medievais, as tintas eram

obtidas por meio de diversas fórmulas que utilizavam metais, minerais e vegetais. Com a tinta

vermelha – rubrica –, cor mais utilizada, se escreviam os cabeçalhos – títulos, epígrafes e iniciais

– e com a preta o texto principal. As cores azul e verde eram mais raras.

Page 27: Catalogo Dos Livros de Horas

24

Para escrever, os copistas utilizavam pena de aves, em geral de ganso, ou um

estilete de ponta fina. Sabiam escrever vários tipos de letras, sendo a mais comum nos livros de

horas a letra gótica. Como observa Martínez de Sousa (1992: 28), “o gótico foi utilizado desde o

século XII até o XV nos códices; suas letras são de traço quadrado e anguloso; substituiu, durante

esse período, a letra romana e foi a primeira a ser gravada pelos tipógrafos em Mogúncia”.

Depois de copiado o texto, o copista deixava espaços em branco com

indicações – às vezes se escrevia nas margens, com letras bem pequenas –, ou esboços, para o

miniaturista a respeito do tema das ilustrações que, em geral, eram os mesmos: a Anunciação, a

Visitação, a Natividade etc. Depois de prontos os desenhos, a etapa seguinte era a iluminação

(ouro ou prata), depois as cores.

A última fase na produção de um livro manuscrito consistia em reunir os

diferentes cadernos para encadernar o livro. Os tipos de encadernação mais comum na Idade

Média eram os feitos de madeira, revestidos com pergaminho ou couro. Alguns livros de horas

possuíam encadernações luxuosas, feitas com materiais valiosos como o ouro, a prata, o marfim,

pérolas e pedras preciosas, mas não era o habitual. Conhecem-se alguns manuscritos medievais

sem encadernação e muitos dos que chegaram até nós (são poucos os que têm a encadernação

original) apresentam encadernações simples. “Quase todos os livros traziam fechos e marcadores

esmaltados com flores, esculpidos com cabeças de animais e cravejados de pérolas e pedras

preciosas. Os mais valiosos guardavam-se em camisas de damasco – tecido de seda lisa fabricado

em damasco – e defendiam-se do atrito com cravos de cobre pregados no dorso” (Rizzini, 1977:

38). As encadernações também refletiam a riqueza do encomendante, pois elas eram comparadas

a um relicário que protegia e adornava o valioso objeto.

O livro manuscrito medieval, decorado com miniaturas, era muito valioso e,

consequentemente caro. Seu comércio, portanto, era bastante lucrativo. O preço do suporte (as

folhas de pergaminho) era muito elevado. Mais elevado ainda era o preço da cópia, pois bons

copistas eram raros e trabalhavam lentamente. Acrescentava-se, ainda, o valor do tipo de escrita,

do número de fólios, formato, presença de ilustrações, encadernações etc. Só com o aparecimento

Page 28: Catalogo Dos Livros de Horas

25

do papel, das universidades, das bibliotecas e, principalmente, da imprensa é que o livro – aqui

no sentido de conjunto de cadernos costurados ordenadamente – vai se tornar mais acessível e

mais difundido.

Concluindo esta primeira parte, a Apresentação, queremos aqui explicar que

este texto se destina tanto a um público amplo – para quem ele foi especialmente escrito – como

para um público especializado que, devido ao conjunto de novas informações, se interessará mais

pela segunda parte deste trabalho: o catálogo propriamente dito.

2. O acervo da Biblioteca Nacional

O conceito de biblioteca nacional tem evoluído ao longo dos anos e, com o

frenético desenvolvimento do conhecimento, vem deixando as bibliotecas nacionais com uma

grande responsabilidade no sentido de acompanharem o progresso bibliográfico de seus países.

Estas bibliotecas nacionais que, desde a época da Revolução Francesa (século

XVIII), são conceituadas como depositárias e preservadoras da cultura e da memória de um país,

não têm o caráter de popular, pois, se o objetivo primordial é salvaguardar o patrimônio

bibliográfico nacional, elas deveriam ficar restritas aos pesquisadores especializados. Segundo

Jannice Monte-Mór,20, “seu acervo tem por objetivo oferecer, no futuro, a documentação

suficiente ao juízo da produção intelectual do passado e, no presente, os necessários elementos de

informação, que condicionam um consciente e harmonioso desenvolvimento cultural”.

Reproduziremos aqui o conceito atual, utilizado pela Biblioteca Nacional

brasileira que se encontra disponível no site21 da Fundação Biblioteca Nacional.

Insere-se a Biblioteca no conceito de nacional, em contraposição ao de pública por apresentar as seguintes características: ser beneficiária do instituto do Depósito Legal;

20 Anais da Biblioteca Nacional, 1971. V. 91, p.360 21 http://www.bn.br

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possuir mecanismo estruturado para compra de material bibliográfico no exterior a fim de reunir uma coleção de obras estrangeiras, nas quais se incluam livros relativos ao Brasil ou de interesse para o país; elabora e divulga a bibliografia brasileira corrente através do Boletim Bibliográfico; é o centro nacional de permuta bibliográfica, em âmbito nacional e internacional.

2.1 A Biblioteca Nacional do Brasil e a formação de seu acervo

A Biblioteca Nacional brasileira teve como núcleo inicial a chamada Livraria22

que o rei de Portugal d. José I, O Reformador, – rei de Portugal no período de 1750 a 1777 –

mandara organizar em substituição à Real Biblioteca da Ajuda. Esta fora destruída pelo incêndio

ocorrido no Paço da Ribeira, em consequência do terremoto em Lisboa, no dia 1º de novembro de

1755. Foi esta preciosa coleção, de propriedade da família real portuguesa, cujo acervo remonta à

própria história da monarquia portuguesa, que veio para o Brasil, denominando-se de Real

Biblioteca. Cabe aqui registrar que, na época, existia uma outra biblioteca em Lisboa,

denominada Real Biblioteca Pública da Corte, localizada no Terreiro do Paço. Ela fora criada por

decreto, em 1775, e instituída pela rainha d. Maria I, no ano de 1796,23 e nunca deixou Portugal.

Como já escreveram seus biógrafos, a Real Biblioteca teve uma origem acidental

e cheia de aventuras. O incêndio gerado em decorrência do terremoto destruiu o Palácio da

Ribeira, sede do governo português onde estava localizada a livraria do rei. Tal livraria tivera seu

primeiro núcleo organizado pelos soberanos d. João I (O da Boa Memória, 1385-1433), d. Duarte

(O Eloqüente, 1433-1485) e d. Afonso V (O Africano, 1438-1481).

Depois do terremoto, já instalado no Palácio da Ajuda, o rei de Portugal, que

teve como missão reconstruir Lisboa, d. José I, avô de d. João VI, tratou também de juntar o que

restara do incêndio e, com a ajuda de seu poderoso ministro – o Marquês de Pombal que baniu de

Portugal as ordens religiosas, incorporando seus acervos aos bens do rei –, organizar uma nova

biblioteca, adquirindo valiosas coleções. Como observa Carvalho (1994: 32),

Num folheto intitulado Processos célebres do Marquês de Pombal (1882), relata-se que a Biblioteca Real da Ajuda, menina dos olhos d’El Rei, nunca parou de crescer:

22 Livraria era o termo adotado na época para designar biblioteca particular. Eram coleções especiais, acessíveis a

poucos e que ficavam em salas genericamente chamadas de gabinetes. 23 Hoje é a Biblioteca Nacional de Lisboa. Anais da Biblioteca Nacional, 1981. v.101, p. 132.

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seja com os livros dos Cônegos de São Vicente de Fora, quando estes foram transferidos para o Mosteiro de Mafra e ficaram privados de suas coleções, seja com os numerosos espólios de bibliófilos condenados à morte ou ao exílio.

No Palácio da Ajuda foram reunidas duas coleções distintas: a Livraria Real (ou

Real Biblioteca, que era a biblioteca privativa dos monarcas) e a Livraria da Casa do Infantado

(destinada a formação dos príncipes reais). Em pouco tempo a nova biblioteca real foi

recomposta.24

A fim de reconstruir o acervo da Real Biblioteca, encarregavam-se

representantes do reino Português para que buscassem, em outros centros culturais da Europa,

material bibliográfico e coleções especiais de interesse para a biblioteca do rei. O acervo também

foi acrescido de valiosas aquisições por compra e doações, as mais relevantes dentre elas foram:

►O valioso acervo do bibliófilo dr. Nicolau Francisco Xavier da Silva,

adquirida por compra em 1756;

►A Biblioteca da condessa de Redondo, com grande volume de livros e

manuscritos de história;

►A Livraria de José Maria Monteiro de Mascarenhas, dono de um jornal

português, rica em dicionários e livros de genealogia, de origem castelhana,

inglesa e portuguesa;

►O acervo do cardeal Mota e de seu irmão;

►A mais preciosa delas, a doação que fez, entre os anos de 1770 a 1773, o

abade de Santo Adrião de Sever, Diogo Barbosa Machado. Sua livraria

reunia 4.301 obras em 5.764 volumes, abrangia todos os ramos do

conhecimento, retratos, álbuns de estampa de caráter religioso, mapas e um

conjunto de factícios agrupados por temas. Segundo Cunha (1931: 131),

a entrega da coleção fez-se por partes, em caixotes numerados com a relação do que cada uma continha. As listas se sucedem mesmo depois da morte de Diogo Barbosa Machado, ocorrida em 1772, tendo ficado encarregado das entregas ‘seu comensal, protegido e amigo’ o Padre Francisco José da Serra Xavier [futuro bibliotecário da Real Biblioteca].

24 No ano de 1795, a biblioteca escapou de um outro incêndio ocorrido no antigo Barracão Real da Ajuda, onde

estava localizada.

Page 31: Catalogo Dos Livros de Horas

28

Muitos livros pertencentes a esta coleção possuem o ex-libris do padre

Francisco José da Serra Xavier, acredita-se que foram incorporados à

coleção do abade antes da doação feita ao rei d. José I;

►Os livros do Colégio de Todos os Santos (Ilha de São Miguel – Açores),

patrimônio da Companhia de Jesus, expulsa e extinta pelo Marquês de

Pombal no ano de 1759. Esses livros permaneceram durante muito tempo

encerrados em 15 caixotes e, quando foram abertos, em 1804, estavam

comidos por bichos e podres. A ordem foi então queimá-los. Poucos foram

os que se salvaram;

►Estampas raras e códices manuscritos do inglês Guglielmo Dugood;

►Os livros da livraria do dr. Miguel Franzini, num total de 192 volumes,

incorporados à livraria em 1773;

►Um caixote de livros do dr. Bartholomé Ulloa, em 1779, vindo de Madri;

►A coleção, contendo 1.234 obras, do cardeal da Cunha, comprada depois de

sua morte ocorrida no ano de 1793.

Pouco mais se adquiriu, pois, após o incêndio de 1755, havia poucas livrarias

disponíveis no mercado. A organização e o acondicionamento dessas aquisições ficava por conta

dos funcionários da biblioteca, a maioria religiosos. Esta era frequentada pelos membros da

Família Real e da Corte, visitantes ilustres ou representantes do corpo diplomático.

A preciosa coleção versava sobre diversos assuntos: religião, história, filosofia,

belas artes, ciências naturais etc. e diversos materiais: atlas, livros impressos, manuscritos,

estampas etc. Foi essa biblioteca – junto com a Livraria da Casa do Infantado – que chegou ao

Brasil em três remessas: as duas primeiras em 1810 trouxeram 230 caixotes e a terceira, e última,

87 caixotes em 1811.

Em 1807, quando a família real portuguesa veio para o Brasil, o príncipe regente

d. João não conseguiu trazer, naquela viagem, a sua biblioteca real, cujo acervo lhe conferia

prestígio e poder. O que veio com ele foram documentos políticos e administrativos do Estado

lusitano e, no navio Medusa, em 34 caixotes, apenas a biblioteca de Antônio Araújo, o conde da

Barca.

Page 32: Catalogo Dos Livros de Horas

29

Para a longa viagem rumo ao Brasil, o acervo da Real Biblioteca foi dividido

em 3 lotes e acondicionado em caixotes. Na correria para embarcar em 1807 os caixotes foram

esquecidos no porto, permanecendo, por algum tempo, debaixo de sol e chuva, até retornarem

para o Palácio da Ajuda. Sua transferência começou a ser feita em 1810. O primeiro lote – que

trouxe também, em segredo, os 6.000 manuscritos da coroa – veio acompanhado pelo servente da

Real Biblioteca, Joaquim José de Oliveira. O segundo saiu de Lisboa em março de 1811, na

fragata Princesa Carlota. Trazia a Biblioteca Real em 66 caixotes e aportou no Rio de Janeiro em

junho, sendo acompanhada pelo bibliotecário Luis Joaquim dos Santos Marrocos. O terceiro e

último lote saiu de Lisboa em setembro de 1811, com 87 caixotes de livros. Foram embarcados

na charrua São João Magnânimo, sob a guarda do servente José Lopes Saraiva. Em novembro de

1811 estava reunida toda a biblioteca real em terras brasileiras. “Estava salvo o grande acervo

cultural português, salvo do incêndio, salvo da destruição e da pilhagem próprias de uma guerra,

salvo dos perigos de uma longa e incerta travessia marítima” (Carvalho, 1994: 38).

Para acomodar o acervo foi requisitado, através do Decreto Real de 27 de junho

de 1810, o andar superior do Hospital da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo,

próximo ao palácio e capela reais. Como o espaço era insuficiente, um novo decreto foi assinado,

revogando o primeiro, para que o acervo ocupasse também os porões e as catacumbas do mesmo

hospital. A data da assinatura deste novo decreto, 29 de outubro de 1810, tornou-se a data oficial

de fundação da Biblioteca Nacional brasileira.

Havendo ordenado, por Decreto de 27 de Junho do presente ano, que nas casas do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, situado à minha Real Capela, se colocassem a minha Real biblioteca e gabinete dos instrumentos de física e matemática, vindos ultimamente de Lisboa; e constando-me pelas últimas averiguações a que mandei proceder, que o dito edifício não tem toda a luz necessária, nem oferece os cômodos indispensáveis em um estabelecimento desta natureza, e que no lugar que havia servido de catacumba aos Religiosos do Carmo se podia fazer uma mais própria e decente acomodação para a dita livraria: hei por bem, revogando o mencionado Real Decreto de 27 de Junho, determinar que nas catacumbas se erija e acomode a minha Real biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda toda despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido estabelecimento. O Conde de Aguiar, do Conselho de Estado, Presidente do Real Erário, o tenha assim entendido e faça executar por este Decreto somente, sem embargo de quaisquer leis, regimentos ou disposições em contrario. Palácio do Rio de

Page 33: Catalogo Dos Livros de Horas

30

Janeiro, em 29 de Outubro de 1810. Com a rubrica do Píncipe Regente Nosso Senhor. 25

Dois religiosos, que vieram com a família real, foram designados para dirigirem

a Real Biblioteca: frei Gregório José Viegas – da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,

confessor de uma das infantas – que administrou a biblioteca no período de 1810 a 1821 e o

padre Joaquim Dâmaso – da Congregação do Oratório de Lisboa – encarregado do arranjamento

e conservação, trabalhando com ajudante da biblioteca, Luis Joaquim dos Santos Marrocos.

Já no Rio de Janeiro, o acervo da Real Biblioteca continuou crescendo.

Chegavam remessas de livros vindas de Portugal a título de propinas, 26 impressos advindos da

Impressão Régia – instalada no Rio de Janeiro em 1808 – e aquisições de coleções particulares.

Uma importante doação foi feita à biblioteca no dia 13 de novembro de 1811 pelo provincial do

Convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro. Foram doados livros – aproximadamente 2.500

volumes – e manuscritos originais – dentre eles os da Flora Fluminensis – pertencentes ao

espólio do frei José Mariano da Conceição Velloso, falecido naquele convento. Em 1813 foram

incorporadas ao conjunto doado as pranchas de cobre gravadas e as obras impressas pela extinta

Oficina do Arco do Cego, em Lisboa. O ilustre botânico brasileiro dirigiu a Oficina no período de

1799 a 1801.

De 1811 até o ano 1814, a consulta ao acervo só era permitida mediante

consentimento régio. A partir de 1814 a biblioteca foi plenamente aberta à população.

Muitas outras importantes aquisições foram feitas no período (dentre elas, em

1815, as coleções de Manuel Inácio da Silva Alvarenga e do arquiteto real José da Costa e Silva,

em 1818; em 1822 a coleção Araujense que pertenceu ao conde da Barca) e muitos dos

encarregados – ou prefeitos, como eram chamados – contribuíram para o enriquecimento do

acervo da real livraria do príncipe regente d. João, aclamado rei de Portugal, Brasil e Algarves,

em 1818. Com seu retorno a Portugal, em 1821, e no ano seguinte o Brasil se tornando

25 Decreto de 29 de Outubro de 1810. A área de Manuscritos da Biblioteca Nacional possui uma cópia. 26 “Em relação a este assunto que se prende ao que modernamente se denomina Contribuição Legal, um parêntese se

faz necessário. A Real Bibliotheca foi, desde o século XVIII, acrescida também com a entrega de ‘propinas’ enviadas pela Mesa Real Censória” (Cunha, 19: 140). Ou seja, a entrega de um exemplar de tudo que fosse impresso nas oficinas tipográficas em Portugal.

Page 34: Catalogo Dos Livros de Horas

31

independente, a Real Biblioteca permaneceu no Brasil e foi incorporada ao patrimônio da nova

nação brasileira,27 como Schwarcz observa (2002: 24),

[...] é possível pensar além do valor pecuniário da biblioteca. Os livros são símbolo e sinal de independência: independência política, mas também independência nas idéias, independência no pensar e nas possibilidades de construir utopias e projetos. A biblioteca custou caro, mas, por certo, simbolizava e valia muito. Valia muito por conta de seus tesouros – entre gravuras de Rembrant, Callot, Mantegna ou Durer; os incunábulos, os livros de horas, a bíblia de Mogúncia, a enciclopedie, os mapas e plantas, os desenhos e manuscritos, as cartas de Vieira e tantos mais que tomaríamos o resto das páginas desse livro com tantas lembranças.

Em 1858, uma nova mudança. Dessa vez o acervo foi transferido para o Largo

da Lapa (rua do Passeio, no prédio onde hoje se encontra a Escola de Música da Universidade

Federal do Rio de Janeiro), onde permaneceu até 1910. Só nesse ano a biblioteca ganhou a sua

sede definitiva – na gestão de Manuel Cícero Peregrino da Silva (de 13/7/1900 a 9/2/1924) – na

avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro.

O governo imperial já determinara, em 1822, que um exemplar de tudo o que

fosse impresso pela Tipografia Nacional deveria ser entregue à Biblioteca Imperial e Pública da

Corte. Essa legislação foi-se aperfeiçoando por atos dos anos de 1847, 1853, 1865. Porém, é só

com a República, por meio do decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907 – complementado

por Instruções de 19 de dezembro de 1930, que ampliam a sua abrangência –, que a medida

ganha instruções para a sua execução.28 Esta é a Lei do Depósito Legal, cujo principal objetivo é

assegurar o registro e a guarda da produção intelectual nacional, através da doação de um

exemplar de toda obra editada no país, além do controle, a elaboração e a divulgação da

Bibliografia Brasileira corrente.

Por meio da Lei do Depósito Legal, de permuta com outras instituições e de

aquisições, por compra e doações, o acervo da Biblioteca Nacional cresceu e cresce

assustadoramente. O seu atual prédio, que será centenário no próximo ano de 2010, foi projetado

pelo General Francisco Marcelino de Sousa Aguiar. A construção esteve a cargo dos engenheiros

27 A questão dos bens deixados pela Família Real portuguesa no Brasil foi resolvida com a intermediação da

Inglaterra na qual o governo imperial pagou a Portugal, através da Convenção Adicional ao Tratado de Paz, Amizade e Aliança (29 de agosto de 1825), dois milhões de libras esterlinas. Deste montante, 800 contos de réis (250.000 libras esterlinas) correspondem à compra da biblioteca.

28 Continua em vigor.

Page 35: Catalogo Dos Livros de Horas

32

Napoleão Muniz Freire e Alberto Faria. De estilo eclético, em que se misturam elementos

neoclássicos e de art noveau, seus seis andares – só de armazéns – foram projetados para

receberem 400.000 volumes. No entanto, hoje já comportam mais de nove milhões de peças. Na

década de 1990, o então presidente Fernando Collor de Melo doou à Biblioteca Nacional um

depósito no Cais do Porto do Rio de Janeiro, para lhe servir de anexo. Este depósito ainda hoje

está sendo reformado, e alguns andares já estão em condições estruturais para o armazenamento

de determinados acervos, como por exemplo, os periódicos já microfilmados e o acervo de peças

teatrais da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).

Destacaremos aqui, a título de ilustração, algumas das principais coleções ditas

especiais, que foram sendo incorporadas ao acervo da Biblioteca Nacional após a partida de d.

João VI para Portugal até nossos dias. Como observa Cunha (1981: 125), “refletem as diversas

coleções a personalidade e formação cultural de seus anteriores proprietários ou doadores, como

também são da maior importância para o conhecimento de certos períodos históricos, das

mentalidades que formaram as elites culturais [...]”. São elas: coleção Francisco de Mello Franco

(1824); José Bonifácio de Andrada e Silva (1838), Pedro de Angelis (1853), Antônio Corrêa de

Lacerda (1853), Alexandre José de Mello Moraes (1872), Alexandre Rodrigues Ferreira (1873),

Castelo-Melhor (1879), Rio Branco (1881), José Augusto Saldanha da Gama (1884), Salvador de

Mendonça (1884), José Antônio Marques (1889), Francisco Antônio Martins (1890), d. Theresa

Christina Maria (doada por d. Pedro II, em 1891), Benedito Ottoni (1911), Arquivo da Casa dos

Contos (1903/1938), Arthur Ramos (1956), Editora José Olympio (2006) e muitas outras.

Hoje, a Biblioteca Nacional é um órgão do Governo Federal, vinculado ao

Ministério da Cultura. Sob o novo estatuto de fundação - Fundação Biblioteca Nacional (FBN) –

ela ampliou seu campo de atuação, passando a coordenar as estratégias fundamentais para o

entrelaçamento de três dos mais importantes alicerces da cultura brasileira: a biblioteca, o livro e

a leitura. Assim, a instituição coordena o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e a política de

incentivo à leitura, por meio da Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura, diretamente ligada ao

Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL).

Estão sob a responsabilidade da FBN os seguintes serviços: o Escritório de

Direitos Autorais (EDA), para registro e averbação de direitos de autor e a Agência Nacional do

Page 36: Catalogo Dos Livros de Horas

33

International Standard Book Number (ISBN), que coordena e incentiva o uso do sistema

internacional de numeração de livros e atribui códigos às editoras e às publicações nacionais para

efeito de divulgação e comercialização. Também oferece os serviços de visitas guiadas, pesquisa

à distância, produção de catálogos, inventários, revistas, exposições e os Anais da Biblioteca

Nacional, “destinados a divulgar os manuscritos interessantes da Biblioteca, e trabalhos

bibliográficos de merecimento” (www.bn.br). Seu primeiro volume corresponde ao ano de 1876.

A Biblioteca Nacional desenvolve atividades de processamento técnico

biblioteconômico, gestão de armazenamento, atendimento ao público, conservação, restauração,

encadernação e reprodução – microfilmagem, fotografias e arquivos digitais. Gerencia o Plano

Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros, através de núcleos estaduais de

microfilmagem com vistas à preservação de toda a produção jornalística do país e o Plano

Nacional de Recuperação de Obras Raras – Planor –, que tem por objetivo identificar as obras

raras existentes nas diversas bibliotecas brasileiras, a fim de elaborar o Catálogo Coletivo do

Patrimônio Bibliográfico Nacional (CPBN).

Suas áreas de acervo guardam, além de obras gerais (como livros, monografias,

manuais, teses, cd’s, folhetos etc.) e publicações seriadas (como jornais, revistas etc.), acervos

especiais, como manuscritos, livros raros, documentos iconográficos (fotografias, gravuras,

desenhos etc.), documentos cartográficos (mapas, atlas etc.), registros sonoros (fitas

audiomagnéticas, discos, cd’s etc.) e partituras musicais.

Para a execução de suas atividades, a FBN conta, em linhas gerais, com a

seguinte estrutura organizacional: um presidente, três diretorias – Centro de Processos Técnicos,

Centro de Administração e Planejamento e Centro de Referência e Difusão –, três coordenadorias

– Coordenadoria Geral de Pesquisa e Editoração, Coordenadoria Geral do Livro e da Leitura e

Coordenadoria Geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – e duas bibliotecas

subordinadas – Biblioteca Euclides da Cunha (no Rio de Janeiro) e Biblioteca Demonstrativa de

Brasília (Distrito Federal). Todas essas coordenadorias estão organizadas em diversas divisões,

seções, núcleos e setores.

Primeiro Real Biblioteca, depois Biblioteca Real e Pública da Corte, no período

do império, foi Biblioteca Imperial e Pública da Corte e, no dia 4 de março de 1876, assumiu

Page 37: Catalogo Dos Livros de Horas

34

oficialmente o título de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Somente em 1948, tornou-se

Biblioteca Nacional. Hoje, a Biblioteca Nacional possui, como mencionado, um acervo estimado

em 9 milhões de peças (livros, manuscritos, periódicos, estampas, mapas, partituras etc.), recebe

em suas salas de consultas uma média anual de 64.000 usuários e, segundo dados da Organização

das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco -, é considerada uma das dez

maiores bibliotecas do mundo e a primeira da América Latina. Por isso, fazemos valer a

consideração de Herkenhoff (1996: 20), para quem:

Nenhuma instituição cultural do país pode superar a Biblioteca Nacional e exibir uma história bicentenária de participação ininterrupta da sociedade através de doações, legados, cumprimento da contribuição legal, reflexão, edições e pesquisa. Uma das grandes lições de sua própria história, é que a Biblioteca Nacional para o Estado e a sociedade civil é orgulho e responsabilidade, é signo possível de sua cultura e opulência espiritual.

2.2 A área de Manuscritos

Aqueles manuscritos que vieram “em segredo” com o servente José Joaquim de

Oliveira, na primeira remessa da Real Biblioteca, em 1810, os chamados manuscritos da Coroa,

nunca foram incorporados ao acervo da Real Biblioteca. Tratava-se de uma coleção de 6.000

códices que estavam em um arquivo reservado na Livraria da Congregação dos Oratorianos no

Paço das Necessidades, em Lisboa. Como eram documentos reservados, o visconde de Vila Nova

da Rainha, na qualidade de guarda-jóias da coroa, conservou-os sob sua proteção imediata, em

uma casa do governo situada na rua do Ouvidor (no centro do Rio de Janeiro). Grande parte

destes manuscritos, mais especificamente aqueles que diziam respeito à história de Portugal,

retornaram com d. João VI, em 1821 e, o restante, com o padre Joaquim Dâmaso, em 1822.

Todavia, os manuscritos da Coroa foram organizados e classificados em um

catálogo, datado de 1813, por Luis Joaquim dos Santos Marrocos. Listados em 75 páginas, os

documentos predominantes retratavam a política portuguesa e suas relações diplomáticas.

Segundo Schwarcz (2002: 283), “os livros da Biblioteca eram uma jóia para expor; já os

manuscritos cumpriam uma função política delimitada, representando o testemunho de lutas,

Page 38: Catalogo Dos Livros de Horas

35

políticas e operações militares portuguesas”. Hoje, esses manuscritos se encontram na Biblioteca

da Ajuda, em Lisboa.

Durante muitos anos, os manuscritos se constituíram em um dos três grandes

pilares da biblioteca: os impressos, os manuscritos e as medalhas. Como observa Gútiez (1999:

81), “os códices têm constituído tradicionalmente a aristocracia do livro [...] a Biblioteca devia

reunir antes de tudo ‘livros originais’ ou ‘livros manuscritos’. [...] na cultura escrita, todo

conhecimento se apoiava em outro conhecimento e os primeiros e originais estavam os códices”.

A área de Manuscritos surgiu como complemento do acervo da Real Biblioteca

– Livraria do Rei e Casa do Infantado – com, aproximadamente, mil códices manuscritos e

avulsos, muitos dos quais de uso privativo de d. José I e de d. João VI. Eram papéis e documentos

oficiais escritos pelo próprio Dâmaso sobre a administração da Real Biblioteca. Seus primeiros

administradores designaram o depósito dos manuscritos como Arquivo e depois com Gabinete

dos Manuscritos. Já terminando o período Imperial, com a organização administrativa da

Biblioteca Nacional pelo Decreto nº 6141, de 04/09/1876, passou a denominar-se 2ª Seção-

Manuscritos. Na República, em meados do século XX, passa a se chamar Seção de Manuscritos,

depois Divisão de Manuscritos e hoje, oficiosamente, Área de Manuscritos.29

Três catálogos sobre o acervo manuscrito foram elaborados. Dois de pequeno

porte, que podemos chamar de inventários, anteriores à administração de Ramiz Galvão (1870-

1882), um feito pelo bispo de Anemuria (1822-1831) que arrolava alguns códices em ordem

alfabética e o segundo, feito pelo cônego Januário da Cunha Barbosa (1839-1846), este de maior

porte, um pouco mais completo, organizado também em ordem alfabética de autor e/ou título, em

três volumes. Um terceiro, o mais completo e importante de todos, foi organizado por Alfredo do

Vale Cabral (1882-1890), a partir do ano de 1873 e publicado em cinco volumes no ano de 1878.

Sobre Vale Cabral, diz Teixeira de Melo na introdução do catálogo (1878: 11), “[...] manda a

justiça se tribute neste lugar a devida homenagem pelos relevantes serviços que assim prestou ao

país e às letras”.

29 Os dados aqui registrados foram coletados nos apontamentos dos antigos chefes da área de Manuscritos, Waldir da

Cunha e Carmen Moreno.

Page 39: Catalogo Dos Livros de Horas

36

A área de Manuscritos está subordinada à Coordenadoria de Acervo Especial

que, por sua vez, integra a estrutura do Centro de Referência e Difusão. Esta área possui um

precioso conjunto documental, parte do patrimônio documental brasileiro. Estimado em

oitocentos mil itens (códices, manuscritos avulsos, fotografias, estampas, mapas, recortes de

jornais etc.), é composto por arquivos privados e coleções de documentos manuscritos doados ou

adquiridos de particulares, além de uma coleção de três mil impressos – livros e revistas – para

auxiliarem no desenvolvimento das atividades de trabalho local. No acervo também estão

armazenados microfilmes e cd’s. Como o acervo possui características que exigem

conhecimentos específicos para seu adequado tratamento, a área procura combinar os

procedimentos gerais vigentes na Biblioteca Nacional, no que se refere ao tratamento da

informação, aos princípios e técnicas da biblioteconomia e da arquivologia, ditadas pelo Arquivo

Nacional.

Este acervo abrange documentos que vão desde o século XI-XII – o mais antigo

é um Evangeliário escrito em grego –, até o século XX, nos mais variados tipos de escrita,

idiomas e suportes. São registros medievais, como os livros de horas, bulas papais, cartas

jesuíticas, documentos do período colonial, papéis de Estado, documentos de diversos reis

europeus, correspondências da Família Real portuguesa, do período do Império brasileiro, da

República, correspondências presidenciais, peças teatrais, correspondências e textos literários,

arquivos relativos às ciências naturais no Brasil, cartas e diários de viajantes, coleções de

autógrafos e acervos completos e documentos avulsos de personagens as mais variadas. Como

observa Herkenhoff (1996: 109): “Garante-se assim uma abrangência nacional do acervo. Essa

envergadura ímpar conferiu à Biblioteca Nacional brasileira um significado simbólico para a

sociedade, como poucos países podem ostentar”. Destaca-se, neste acervo, o Arquivo Histórico

da Biblioteca Nacional, que retrata, através de seus documentos, a formação da instituição e suas

diversas administrações.

Atualmente, trabalha na área de Manuscritos uma equipe composta de

historiadores, licenciados em Letras, cientistas sociais, arquivistas e bibliotecários, além de

terceirizados e estagiários do curso de graduação em História. Cada servidor efetivo coordena o

tratamento de uma determinada coleção contando com o auxílio de um estagiário. O tratamento

Page 40: Catalogo Dos Livros de Horas

37

das coleções consiste em organizar, descrever, indexar, inserir registro patrimonial, alocar a

documentação e digitação em base de dados.

Dezena de funcionários passaram pela direção da área de Manuscritos, nas

diversas fases de administração da Biblioteca Nacional, a saber: fase Eclesiástica, fase dos

Bacharéis, dos Historiadores, dos Escritores, dos Bibliotecários e dos Professores.30

Seu público alvo é o pesquisador e/ou especialista de nível superior, que pode ter

acesso aos documentos através dos diversos instrumentos de consulta disponíveis na sala ou

através da base de dados on-line. De acordo com as regras previamente determinadas pela direção

da biblioteca, o acervo pode ser reproduzido, mas, de acordo com a política de preservação, está

proibida a utilização de cópia do tipo xerox. Anualmente, cerca de dois mil usuários visitam a

área de Manuscritos.

2.3 A coleção dos Manuscritos iluminados e os Livros de Horas

Segundo Carrion Gútiez (1999: 102-103), “Manuscritos, geralmente, quando não

constituem riquezas por seu preço ou não estão ligados às pessoas por laços familiares ou

sentimentais, são objetos preferentemente de instituições com responsabilidades históricas e de

conservação”. Daí as coleções de manuscritos iluminados das bibliotecas nacionais.

A coleção de manuscritos iluminados, custodiada pela área de Manuscritos da

Biblioteca Nacional, é constituída por inúmeros códices que apresentam iluminuras, datados

desde a Idade Média até o século XIX. São provenientes de diversas coleções que foram doadas à

biblioteca, como a de José Antônio Marques, Cardeal Arcoverde; d. Thereza Christina Maria;

através de compras, como a da Livraria do Conde da Barca e provenientes, principalmente, da

Real Biblioteca como os livros de horas. Como afirma José Ruysschaert (apud Herkenhoff, 1996:

30 Seguindo a ordem cronológica, são eles: Felisberto Antônio Pereira Delgado (nomeado em 1822), José Alexandre

Teixeira de Melo (1876–1882), Alfredo do Vale Cabral (1882–1890), Antônio Jansen de Melo (1890–1892), João Carlos de Carvalho (1893–1922), Mário Behring (1922–1924), Miguel de Melo (1924–1934), Alfredo Mariano de Oliveira (1934–1935), Luiz Corte Real de Assunção (1935–1936), José Bartholo da Silva (1936–1948), Otávio Calazans Rodrigues (1948–1957), Darcy Damasceno dos Santos (1957–1982), Maria Celeste Garcia Mendes (1982–1988), Waldir da Cunha (1988–1995) e Carmen Teresa Coelho Moreno (1995–2003).

Page 41: Catalogo Dos Livros de Horas

38

28), “foram raras as cortes européias, como a de d. João II [1481-1495], que encomendaram

livros iluminados italianos para a formação de suas novas bibliotecas”.

O acervo da área de Manuscritos abrange temas variados, com destaque para um

considerável número de documentos religiosos. São saltérios, breviários, missais, bíblias, livros

de horas, antifonários, cartas de forais manuelinos, cartas de reis e rainhas, compromissos de

irmandades, regras de ordens religiosas, documentos representativos de história, literatura e

alguns códices escritos em caligrafia árabe.

Nesta coleção, além dos livros de horas, destacam-se as Epistolae ad Familiares

– coletânea de 503 cartas de Cícero – de 1467, uma Bíblia do século XIII-XIV em velino e o

Príncipe Perfeito. Emblemas de d. João de Solorzano. Parafrazeados em Sonetos portuguezes, e

offerecidos ao Sereníssimo Senhor d. João Príncipe do Brasil. Pello Baxarel Francisco Antonio

de Novaes Campos. Anno de 1790, um conjunto de cem emblemas, escritos em latim com a

respectiva tradução para o português, com teor moral e político utilizado para a educação dos

príncipes, no caso o futuro rei d. João VI. Cada emblema está ornado, na parte superior, com uma

miniatura e, o segundo soneto dedicado ao príncipe, escrito a ouro. Maria Helena Prietro,

estudiosa do Príncipe Perfeito, nos diz sobre a obra: “este livro é um documento da história do

livro iluminado em Portugal e da literatura emblemática, além da própria história das

mentalidades” (apud Herkenhoff, 1996: 30).

Os livros de horas que integram a coleção dos manuscritos iluminados são em

número de nove. Datados entre os séculos XIV e XVI, têm diversas proveniências. Quatro são

provenientes da Real Biblioteca – Casa do Infantado, outros dois de coleções que foram doadas à

Biblioteca Nacional, como a do Marquês de Pombal e a coleção José Antônio Marques, doada em

1889, os restantes foram adquiridos por compras nos séculos XIX e XX.

Como destaque da coleção, o livro de horas de d. Fernando (1367-1383), em cujo

colofão aparece o ano de 1378 e a indicação de que foi obra do artista italiano Spinello Spinelli.

Este livro desperta enorme interesse nos pesquisadores, não só pela beleza e elevada qualidade

artística, mas pela história e mistérios no qual está envolvido. Ele já foi objeto de trabalho do

franciscano Damião Berge, na década de 1940, e da historiadora Vânia Leite Fróes, que fez um

estudo crítico da obra.

Page 42: Catalogo Dos Livros de Horas

39

Dos nove livros de horas identificados, apenas o livro do século XVI não foi

selecionado para o catálogo, pois além de pertencer a um outro período, apresenta características

distintas dos demais como, por exemplo, a sua estrutura. Os oito livros estão descritos na segunda

parte deste trabalho: o Catálogo dos Livros de Horas da Biblioteca Nacional do Brasil dos séculos

XIV e XV.

3. A construção do catálogo dos livros de horas da Biblioteca Nacional do Brasil

Por se tratar de uma das mais raras coleções da Biblioteca Nacional brasileira,

os manuscritos iluminados estão, na sua grande maioria, armazenados nos cofres da área de

Manuscritos. De acesso restrito – por motivos de preservação e segurança – esta coleção

necessita de um tratamento técnico adequado, amplo e abrangente, voltado para suas

especificidades e em consonância com as normas internacionais adotadas em outras bibliotecas

nacionais.

Apesar de todo o empenho de pesquisadores e bibliotecários, a elaboração de

um catálogo não é tarefa fácil de se realizar. Algumas bibliotecas tradicionais européias, como a

nacional de Viena, iniciaram seus catálogos de manuscritos no século XIX e, no século seguinte,

ainda não haviam concluído o projeto. Quanto mais especializado for o catálogo, mas lenta e

complexa é sua execução.

3.1 Tipologia dos catálogos

Principal veículo para difundir e divulgar o conteúdo de uma coleção de

manuscritos ou de qualquer fundo bibliográfico, o catálogo é um instrumento de referência que

orienta o pesquisador, indicando o que ele deve consultar em meio aos inúmeros fundos de uma

biblioteca ou de um arquivo. Segundo o Dicionário brasileiro de terminologia arquivística31,

31 Arquivo Nacional (Brasil), 2005. p. 45.

Page 43: Catalogo Dos Livros de Horas

40

“catálogo é um instrumento de pesquisa organizado seguindo critérios temáticos, cronológicos,

onomásticos ou toponímicos, reunindo a descrição individualizada de documentos pertencentes a

um ou mais fundos, de forma sumária ou analítica”.

Eles podem ser gerais, se relacionam os materiais de uma ou mais coleções,

sendo por isso conhecidos como catálogos coletivos (quando abrangem fundos de mais de uma

instituição), ou especiais, se selecionam o material descrito, em virtude de alguma característica

previamente determinada. Devem sempre ter em conta, de um modo especializado, todos os

aspectos particulares da peça que se está sendo descrita. Uma característica que distingue um

catálogo geral de manuscritos de um catálogo de livros impressos, mesmo que contenham o

mesmo texto, é que o catálogo de livros necessita de descrição de exemplares, que podem ser

vários e distintos, enquanto o catálogo de manuscritos prescinde de tal necessidade por cada peça

ser única.

Os catálogos especiais podem ser de manuscritos de um autor, de um assunto,

temáticos ou de textos que apresentem uma característica especial, como data de cópia, origem

ou a língua em que estão escritos. Os mais característicos são os catálogos de manuscritos de uma

determinada época, como os medievais, e os catálogos de manuscritos iluminados. Quando se

planeja a elaboração de um catálogo de manuscritos, deve-se levar em consideração as normas a

serem adotadas, a língua da descrição (normalmente a descrição é feita na língua vernácula do

catalogador), a terminologia que será empregada, hoje, e as questões referentes a sua publicação,

on-line ou impressa.

3.2 Catálogo de manuscritos

Antes da invenção da tipografia,32 todo o material se copiava à mão. Para

melhor entendimento, é necessário saber que: “Manuscrito é o texto escrito à mão em papiro,

pergaminho ou papel. O manuscrito medieval será, por consequência, um texto nessas condições,

datando da Idade Média”.33 Tendo como característica essencial o seu caráter de espécie única.

32 No ano 1450, por Johann Gutenberg. 33 Wilson Martins. A palavra escrita, p. 93.

Page 44: Catalogo Dos Livros de Horas

41

Códice é o conjunto de folhas escritas à mão, manuscritos geralmente de forma retangular, sejam

de papiro ou pergaminho (Códice manu scripti = livros escritos à mão). A forma era quadrada,

em razão de vir das tábuas enceradas dos gregos e romanos. Os temas desses livros eram,

geralmente, de caráter religioso – como breviários, bíblias, missais, saltérios, livros de horas,

sermões etc. Quando profanos, tratavam de legislação, medicina, história natural e astrologia,

além de obras clássicas de autores gregos e romanos. O latim é o idioma usado na maioria desses

livros.34 Para Le Goff (2006: 35), “a generalização do códex (nosso livro, com páginas e

cadernos) marca uma passagem. [...] O livro-codex favorece a leitura pessoal, interiorizada,

mesmo que a leitura totalmente silenciosa só venha a se generalizar no século XIII”.

Na maioria das bibliotecas, os manuscritos estão agrupados em dois grandes

conjuntos: códices, termo já definido no parágrafo anterior, e avulsos, coleção em aberto cuja

documentação possui assuntos diversos e heterogêneos. Segundo Teresa Ferreira e Ana

Santana,35

considerando a natureza muito diversificada, em termos de conteúdo e características formais específicas, das coleções de manuscritos que se encontram à guarda das bibliotecas patrimoniais, devemos distinguir: 1) Livro manuscrito - códice com unidade física e intelectual contendo texto (ou

textos) de caráter monográfico e unitário; 2) Miscelânea – códice composto por vários textos intencionalmente coligidos, com

ou sem ligação temática entre si [...]; 3) Códice factício – conjunto de documentos originariamente independentes,

reunidos numa mesma encadernação, em fase posterior à sua produção, e por motivos alheios ao processo documental, resultado, muitas vezes, de uma prática antiga de conservação das espécies.

A análise codicológica, ou seja, a descrição do códice é feita em duas etapas: a

descrição interna (sobre a informação registrada) e a descrição externa (sobre como ocorreu o

registro da informação).

34 Alberto Manguel. Uma história da leitura, p. 120. 35 O tratamento documental de manuscritos ao serviço da investigação: a experiência da Biblioteca Nacional.

Lisboa, 2006.

Page 45: Catalogo Dos Livros de Horas

42

A descrição interna ou descrição textual (conteúdo) deve ser feita com a

máxima precisão possível, pois é nessa etapa que se identifica o assunto que trata o manuscrito e

seu texto(s), de onde serão retirados o título(s) e o autor (es). Isso não é tarefa fácil, porque o

manuscrito não possui página de rosto, local onde figuram os dados que identificam um livro

impresso. Em se tratando de manuscritos medievais, as fontes de onde são retirados esses dados

são o colofão, o explicit e o incipit.

Ao terminar a cópia, os copistas acrescentavam as linhas da “subscrição”, ou

seja, o colofão, nas quais mencionava o título do livro. Essas linhas começavam em geral, com as

palavras explicitus est, ou explicit, reminiscência ainda do rolo antigo: significavam que o

manuscrito estava “desenrolado”. Antes do começo do texto vinham as palavras: hic incipit, isto

é, “aqui começa”, para explicar, logo em seguida, de que se tratava o livro (Martins, 1996: 101).

Caso não se encontre nenhuma identificação nessas fontes citadas, deve-se recorrer aos

repertórios e catálogos especializados, como também aos especialistas nos diversos campos dos

conhecimentos medievais.

A descrição externa é, se comparada à descrição interna, muito mais simples de

se fazer, pois, no caso de ocorrer alguma imprecisão, isso não acarretará tantos transtornos ao

pesquisador. Mas a descrição externa também deverá ser a mais correta possível, pois poderá

servir de base para estudos históricos. Um dado fundamental dessa descrição é a data do

manuscrito, mais especificamente a data da cópia que se tem em mãos. Caso apareça mais de

uma data, uma no texto e outra no colofão, deve-se comparar as datas com as características

internas e externas do manuscrito (o exame da escrita: tipo, forma, características, traçado, o

sistema de abreviaturas e a qualidade e preparação do suporte: numeração e ordenação dos

cadernos, reclamos, assinaturas, marcas do fabricante do papel, ilustrações etc.) e verificar qual

data se refere à da cópia, para se poder datar, com precisão, o manuscrito. Outros dados da

descrição externa de um manuscrito são: foliação do manuscrito (número de fólios ou páginas e,

em alguns casos, o número de volumes), as dimensões, a distribuição do texto na página (linha

tirada ou colunas), o número de linhas, as características das ilustrações, ornamentação etc.

Page 46: Catalogo Dos Livros de Horas

43

Deve-se fazer constar também, em notas gerais, a história do manuscrito que

está sendo descrito: sua procedência, anotações, características particulares que o distinguem de

outras cópias, o tipo de manuscrito (autógrafo ou outro tipo de cópia), tipo de escrita, nome do

copista e o lugar da cópia, suporte, detalhes da encadernação e estado de conservação.

É comum que as descrições no catálogo sigam a ordenação topográfica

(localização física dos livros nas estantes), como nos catálogos de livros impressos. Sua

recuperação deverá ser feita através de índices, que devem ser os mais detalhados possíveis.

3.3 O catálogo dos livros de horas

Como é nosso propósito seguir as normas e padrões internacionais de controle,

intercâmbio de informações e descrições bibliográficas automatizadas adotadas na Biblioteca

Nacional do Brasil – que segue as normas americanas adotadas pela Biblioteca do Congresso

Americano (American Library of Congress) – e, principalmente, para manter uma

“uniformidade” com o que está sendo feito em matéria de descrição documental na área de

Manuscritos, optamos por desenvolver uma descrição que contemple esses princípios normativos

e a diversidade do material a ser identificado.

No ano de 1998, após inúmeras reuniões, a então chefe da área de Manuscritos

Carmen Moreno, implantou uma metodologia para a descrição de documentos na área de

Manuscritos:

No bojo destas discussões, criou-se o embrião de uma estrutura de descrição que utilizava o formato MARC36 na codificação da base de dados e a organizava segundo as normas ISAD.37 Toda esta compatibilizarão demandou vários estudos sobre as correlações do tratamento arquivístico, gerando um modelo de metadados que buscava integrar os conceitos utilizados na Arquivologia e na Biblioteconomia.38

36 Machine Readable Cataloguing (Catalogação Legível por Computador). 37 International Standard Archival Description (Norma Internacional de Descrição Arquivística). 38 Comunicação apresentada por Carmen Moreno e Vinícius Martins no II Encontro de Bases de Dados sobre

Informações Arquivísticas. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2001.

Page 47: Catalogo Dos Livros de Horas

44

Levando-se em conta também as normas adotadas pelas principais bibliotecas

nacionais estrangeiras, principalmente a Biblioteca Nacional de Portugal, adotaremos para a

descrição dos livros de horas as Regras de Catalogação Anglo-Americanas – AACR2,39 a

segunda edição da tradução par o português, onde o quarto capítulo se refere aos manuscritos.

Estas regras foram estabelecidas pela American Library Association, em 1966, com o apoio da

International Federation of Library Associations (IFLA). O AACR utiliza os princípios

normativos da International Standard Bibliographic Description (ISBD), de 1987, de acordo

com as regras estabelecidas pela International Standard Organization (ISO) para o tratamento de

manuscritos, incluindo os medievais e renascentistas, abrangendo a totalidade das formas,

suportes, tipologia e âmbito cronológico. Para catalogação em suporte eletrônico utilizaremos o

formato MARC por ser, como já mencionamos, o formato adotado pela Biblioteca Nacional do

Brasil.

Os oito livros de horas estão descritos no catálogo obedecendo a ordem

topográfica (localização fixa) em que eles se encontram, fisicamente, no cofre da área de

Manuscritos. Segundo Pinheiro (2007: 33), “O sistema de localização fixa aplica-se a bibliotecas

onde a conservação do livro é condição para a salvaguarda de seu conteúdo, porque os livros são

organizados segundo sua materialidade”.

No caso da Biblioteca Nacional, a localização (notação, cota, número de

chamada) é um conjunto numérico composto por três números, separados por virgulas, onde cada

número representa: o primeiro, o número do armário; o segundo, o número da prateleira e o

terceiro, o número do item. Todos os livros de horas estão guardados em caixas confeccionadas

na própria Biblioteca, cuja localização foi dourada na parte inferior da lombada. Todos os livros

apresentam bom estado de conservação.

Após a escolha das normas e a identificação dos livros de horas, a seguinte

metodologia foi adotada para efetivarmos as descrições:

39 Anglo-American Cataloguing Rules, 2ª edição.

Page 48: Catalogo Dos Livros de Horas

45

� DESCRIÇÃO FÍSICA (interna e externa):

1. Material (paginação, formato, dimensão, suporte etc.);

2. Construção (identificação e localização das suas partes componentes,

Calendário, Passagens dos Evangelhos, Preces à Virgem Maria, as Horas da

Virgem Maria, as Horas da Cruz, as Horas do Espírito Santo, os Salmos

Penitenciais e Ladainhas, o Ofício dos Mortos, Sufrágio dos Santos e

Orações diversas);

3. Textual (idioma, tipo de escrita, autor, título, local, data e conteúdo – muitos

desses elementos são reflexões técnicas, pois não estão explícitos ou não

existem);

4. Decoração (os livros de horas utilizavam normalmente uma hierarquia

complexa de formas decorativas para demarcar e ordenar as suas seções e

subseções: as iniciais, as vinhetas, as margens, finais de linha, bas-de-page

etc.);

5. Imagens (as miniaturas);

6. Notas gerais (incompletude, anotações, carimbos etc.);

7. Encadernação;

8. Adições ao manuscrito;

9. Proveniência;

10. Localização (ordem topográfica).

Concluída a descrição, toda a coleção, futuramente, será digitalizada e integrará

a Biblioteca Digital localizada na página web da Fundação Biblioteca Nacional.

Uma frase muito utilizada entre os conservadores retrata muito bem o que vem a

ser o propósito do nosso catálogo: “Não se pode preservar ou proteger o que não se conhece”.

Catálogos são instrumentos de pesquisa que, além de descrever e localizar dados de um

determinado acervo – no nosso caso uma coleção “reservada” –, servem também para registrar e

Page 49: Catalogo Dos Livros de Horas

46

difundir o patrimônio bibliográfico e documental de uma instituição cultural, aqui no caso a

Biblioteca Nacional. Trata-se de uma etapa, necessária e indispensável, que viabiliza o acesso, de

uma maneira bastante eficaz, a esses bens culturais, promovendo assim a sua valorização,

difusão, intercâmbio e proteção.

“Os bens (materiais e imateriais) culturais, ou seja, aqueles que foram ou são valorados positivamente continuam exigindo uma análise que contribua para o nosso conhecimento do campo. Os bens culturais devem receber um tratamento que dê conta de sua historicidade, da atuação de pessoa e grupo responsáveis pela criação de instituições e políticas públicas direcionadas ao seu desenvolvimento”. (Lúcia Lippi, 2008: 189)

Terminada esta apresentação, cabe, então, convidarmos o leitor a conhecer o

conteúdo, as características e algumas das belas imagens dos oito livros de horas da Biblioteca

Nacional, que se encontram descritos na segunda parte deste trabalho.

Page 50: Catalogo Dos Livros de Horas

47

A Anunciação

1. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas de Dom Fernando / iluminado por Spinello Spinelli, 1378.

[200] f. (no geral, 20 linhas): perg., il. color.; 250

x 180 mm. Texto em latim. Caracteres góticos,

alternados em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a

ouro e a cores, com bordaduras, tarjas e finais de linha

ornamentadas em arabescos com motivos fitomórficos

e zoomórficos, estes com a predominância de aves.

Contém assinaturas manuscritas às margens nos f. 71r,

f. 138v, f. 151v e f. 154v. Antiga localização

manuscrita no f. 2r: 46–5-47 (escrita em cima de 47-5-

57). Faltam os fólios 22 e 23. Carimbo da Real

Biblioteca - Casa do Infantado nos f. 16v e f. 164v.

Conteúdo:

• f. 2r – f. 7v Calendário (cada mês em um lado – recto e verso – do fólio)

• f. 10r – f. 16v As Quinze Orações a Jesus Cristo.

• f. 18r – f. 19v Comemoração a Santíssima Trindade; f. 21r – f. 21v Comemoração a São João

Batista; f. 25r – f. 25v Comemoração a São Jorge; f. 27r – f. 27v Comemoração a São

Cristóvão; f. 29r – f. 29v Comemoração a Santana; f. 31r – f. 31v Memória de Santa Catarina;

f. 33r – f. 33v Memória de Santa Maria Madalena; f. 35r – f. 35v Memória de Santa

Margarida; f. 37r – f. 37v Memória de Santa Bárbara.

Em cada Comemoração e Memória o recto do primeiro fólio está em branco e no verso contém

uma miniatura de página inteira representando o santo comemorado.

Page 51: Catalogo Dos Livros de Horas

48

• f. 39r – f. 89v Horas da Virgem Maria.

• f. 90v – f. 102v Louvores à Virgem Maria.

• f. 93v O intemerata...

• f. 95v Obsecro te...

• f. 104r – f. 107r Ofício das Cinco Chagas de

Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa

Senhora e de São João Evangelista.

• f. 107v – f. 109r Oração de São Beda.

• f. 109r – f. 112r Sete Orações a Nosso

Senhor.

• f. 112r – f. 112v Os Cinco Prazeres de Nossa

Senhora.

• f. 114r – f. 121r Os Sete Salmos Penitenciais.

• f. 121r – f. 127r Os Quinze Salmos Graduais.

• f. 127r – f. 135r Ladainha de Todos os Santos.

• f. 136r – f. 176v Ofício dos Defuntos.

• f. 178r – f. 186v Saltério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

• f. 187r – f. 199v Saltério de São Jerônimo.

• f. 188v Em branco.

• f. 199 Glória: Ne reminiscaris...// Oremus // Omnipotens sempi//terne deus clementiam tu//am

suppliciter deprecor ut // me, famulum tuum. N. tibi fideliter // servire concedas et

Incipiunt vigilie mortuorum

Page 52: Catalogo Dos Livros de Horas

49

perseverantiam bo//nam et felicem consummationem mihi // largiri digneris ut hoc psalterium

// quod in conspectu tuo decantavi fiat // ad salutem et remedium animae omniumque meorum

ve//niam ac // vivis et defunctis ad vitam // proficiat sempiternam. Amen.

• f. 199v Colofão (escrito em vermelho):

Ipse dipicture que conti//net hoc libro

fuerunt manufacte //per Spinello Spinelli et illas

deri//gebat Rmo. P. Ioachinus desa ora//tor

amplissimus in oratório Re//gis D. Ferdinandi

Portugalie et //pro ipsso Rege Menistrus Lusitanie

//apud Sanctissimum P. Gregoriû //XI. Anno

1378.

• f. 200 Em branco.

Transcrevemos aqui duas notas importantes

sobre o colofão deste livro de horas. A primeira

nota é a de Damião Berge (1945: 69):

“Evidentemente, trata-se de um post-scriptum um

tanto posterior. A letra gótica, em tinta encarnada,

se bem que imite a dos textos precedentes, não lhe

consegue a firmeza e perfeição. O latim bárbaro destoa por completo da linguagem correta usada

pelo compilador do texto. Na grafia de 1378, segundo me lembrou atenciosamente o dr. Bartholo

da Silva40, o 7 não é do século XIV”.

A segunda nota é a do professor de História da Arte da Universidade de Princeton (Estados

Unidos) James H. Marrow41: “Como lhe informei durante minha visita, a informação dada no

colofão no fólio 199v, segundo a qual o manuscrito data de 1378 e foi iluminado por Spinello

40 José Bartholo da Silva chefiou a área de Manuscritos da Biblioteca Nacional no período de 1936 a 1948. 41 Esta nota foi retirada de uma carta, originalmente escrita em inglês, do professor James H. Marrow – autor de uma

vasta obra sobre manuscritos iluminados e sobre diversos aspectos da arte e iconografia religiosa tardo-medieval – endereçada à coordenadora de Acervo Especial da Biblioteca Nacional Georgina Staneck, datada de 24/08/2004. A carta se encontra arquivada na área de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

Colofão

Page 53: Catalogo Dos Livros de Horas

50

O Martírio de São Sebastião

Spinelli, é incorreta. Esse colofão é uma adição pós-medieval ao manuscrito (ou seja, uma farsa)

que fornece uma falsa informação. [...] O Ms. 50,1,1 foi feito no sul da Holanda (Bruges) para ser

exportado para a Inglaterra (para Sarum Use)42 provavelmente cerca de 1460. Ele está

estreitamente relacionado a um

pequeno subgrupo de Livro de Horas

de luxo produzidos em Bruges para

clientes ingleses [...]”

Imagens:

32 miniaturas de página inteira (a

maioria dessas miniaturas possui, em

seus ângulos, medalhões com imagens

de santos, algumas trazendo os nomes,

outras apagadas pelo tempo).

1ª miniatura: f. 1v – O Martírio de São

Sebastião. “No alto, entre as folhagens

da árvore em que está atado o santo,

aparece o brasão de Portugal. Prova de

que o livro foi propriedade da real

família”. (Damião Berge, 1945: 58).

2ª miniatura: f. 9v – Jesus Cristo, tendo a seus pés o orbe terrestre e à sua

esquerda sustenta as tábuas da Lei. Com quatro medalhões (possivelmente São

Gregório, São Leão, São Jerônimo e Santo Ambrósio).

3ª miniatura: f. 17v – A Santíssima Trindade. Com quatro medalhões.

4ª miniatura: f. 20v – São João Batista. Com quatro medalhões.

42 Sarum Use era uma coleção de práticas medievais que incluíam os ritos e o repertório musical da grande Catedral

de Salisbury.

Page 54: Catalogo Dos Livros de Horas

51

Santa Margarida

5ª miniatura: f. 24v – São Jorge. Com quatro medalhões.

6ª miniatura: f. 26v – São Cristóvão. Com quatro medalhões.

7ª miniatura: f. 28v – Santana. Com quatro medalhões.

8ª miniatura: f. 30v – Santa Catarina. Com quatro medalhões.

9ª miniatura: f. 32v – Santa Maria

Madalena. Com quatro medalhões.

10ª miniatura: f. 34v – Santa Margarida.

Com quatro medalhões.

11ª miniatura: f. 36v – Santa Bárbara.

Com quatro medalhões.

12ª miniatura: f. 38v – Jesus Cristo no

Horto das Oliveiras. Com quatro

medalhões.

13ª miniatura: f. 39r – A Anunciação.

14ª miniatura: f. 46v – A Traição de

Judas e a prisão de Jesus. Com quatro

medalhões.

15ª miniatura: f. 47r – A Visitação.

16ª miniatura: f. 60v – Jesus Cristo diante de Pilatos. Com quatro medalhões.

17ª miniatura: f. 61r – A Natividade.

18ª miniatura: f. 65v – A Flagelação. Com quatro medalhões.

19ª miniatura: f. 66r – O Anúncio aos Pastores.

Page 55: Catalogo Dos Livros de Horas

52

Ofício das Chagas de N. Senhor

20ª miniatura: f. 70v – Jesus Cristo

a caminho do calvário. Com quatro

medalhões.

21ª miniatura: f. 71r – Adoração

dos Reis Magos.

22ª miniatura: f. 74v – Jesus Cristo

Crucificado. Com quatro

medalhões.

23ª miniatura: f. 75r – A

Apresentação do Menino Jesus no

Templo.

24ª miniatura: f. 78v – A Descida

da Cruz. Com quatro medalhões.

25ª miniatura: f. 79r – O Massacre

dos Inocentes.

26ª miniatura: f. 84v – A Deposição de Jesus Cristo da Cruz. Com quatro

medalhões.

27ª miniatura: f. 85r – A Fuga para o Egito.

28ª miniatura: f. 103v – A Crucificação. Com quatro medalhões.

29ª miniatura: f. 113v – O Juízo Final. Com quatro medalhões.

30ª miniatura: f. 135v – A Ressurreição de Lázaro. Com quatro medalhões (um

representando a celebração de uma missa, o outro um túmulo e os dois últimos

representando duas monjas).

Page 56: Catalogo Dos Livros de Horas

53

São Jerônimo

31ª miniatura: f. 177v – Jesus Cristo tendo à sua esquerda, sua Mãe, e à direita,

São João Evangelista, entre os instrumentos de seu martírio. Com quatro

medalhões.

32ª miniatura: f. 188v – São Jerônimo sentado, segurando a pata direita de um

leão. Com quatro medalhões.

12 miniaturas menores

ilustram o Calendário:

Janeiro: Cena típica de inverno

(figura humana em frente à lareira).

Fevereiro: Lenhagem das árvores.

Março: A Poda das árvores.

Abril: Cena de jardim (homem

passeando com flores nas mãos).

Maio: Falcoaria (um homem a

cavalo com um falcão sobre a mão

direita).

Junho: O corte do feno.

Julho: Ceifar o trigo e os cereais

(colheita dos cereais).

Agosto: Joeiramento do trigo (bater o grão de trigo).

Setembro: A vindima (pisar as uvas).

Page 57: Catalogo Dos Livros de Horas

54

Outubro: A semeadura.

Novembro: Derrubando bolotas para o repasto dos porcos.

Dezembro: O abate do javali (ou do

porco).

33 miniaturas menores (iniciais

historiadas) intercaladas no texto: das

Horas da Virgem Maria e Ofício de

Nosso Senhor, representando cenas da

vida de Cristo, da Virgem Maria e de

diversos santos.

Encadernação:

A encadernação (séc. XIX?), em

simples pergaminho, não é da época.

Lê-se na lombada em couro vermelho

com letras douradas: Breviarium. Mss.

XIV Sec.

Proveniência:

Real Biblioteca – Casa do Infantado

(Portugal)

Bibliografia:

BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de

Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, p. 12-15, mar. 1945.

EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL. Rio de

Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 2

O Calendário

Page 58: Catalogo Dos Livros de Horas

55

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:

Salamandra, 1996.

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 3

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,001

Ladainha de Todos os Santos

Page 59: Catalogo Dos Livros de Horas

56

São João Evangelista

2. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.

[102] f. [no geral, 24 linhas]: perg., il.

color.; 210 x 135mm. Texto em francês e

latim. Caracteres góticos, alternados em

vermelho e preto. Iniciais iluminadas a

ouro e a cores, com bordaduras, tarjas

laterais e finais de linha ornamentadas em

arabescos com predominância de flores e

frutos. Contém dois ex-libris, um com as

armas e a divisa: surgit post nubila

phoebus e o outro de Robert Heysham

Sayre, South Bethlem (Filadélfia), com a

divisa: Who Maintains Obtains 1900.

Consta também, no ex-libris, uma nota

manuscrita: “Presented by Mrs. Martha

Nevin Sayre Oct. 3 1899”. “O f. 101 teve

as três margens aparadas, tendo sido

colada, juntamente com o f. 102, sobre a

guarda; com letra gótica francesa os f. 99v,

100 e 101r, dir-se-iam escritos por outra mão, com tintas preta e vermelha mais apagadas”.

(Damião Berge)

Conteúdo:

• f. 1r – f. 6v Calendário em francês (cada mês em um lado – recto ou verso – do fólio)

• f. 7r – f. 10v Passagens dos Quatro Evangelhos.

• f. 11r – f. 14v Orações à Virgem Maria.

Page 60: Catalogo Dos Livros de Horas

57

• f. 11r Obsecro te...

• f. 13r O intemerata...

• f. 15r – f. 49r Horas da Virgem

Maria.

• f. 49v – f. 51v Horas da Cruz.

• f. 52r – f. 54r Horas do Espírito

Santo.

• f. 54v Em branco.

• f. 55r – f. 62v Os Sete Salmos

Penitenciais.

• f. 62v – f. 67r Ladainha de Todos os

Santos.

• f. 67v – f. 93r Ofício dos Defuntos.

• f. 93r – f. 99r Memórias da Santíssima Trindade, de São Miguel Arcanjo, São João Batista,

São João Evangelista, São Pedro e São Paulo, São Estefânio, São Jacobo, São Lourenço, São

Sebastião, São Nicolau, Santo Antônio, São Rocho, Santa Apolônia, Santa Maria Madalena,

Santa Catarina, Santa Margarida, Santa Bárbara e, novamente, Santa Apolônia.

• f. 99v – f. 100v Stabat...

• f. 101r Quant on venet...

• f. 102 Está colado na capa.

O Calendário

Page 61: Catalogo Dos Livros de Horas

58

Imagens:

13 miniaturas de página inteira.

1ª miniatura: f. 7r - São João

Evangelista.

2ª miniatura: f. 15r - A

Anunciação.

3ª miniatura: f. 22r – A

Visitação.

4ª miniatura: f. 29v – A

Natividade.

5ª miniatura: f. 32v – O

Anúncio aos Pastores.

6ª miniatura: f. 35v – Adoração

dos Reis Magos.

7ª miniatura: f. 38v -

Apresentação do Menino Jesus

no Templo.

8ª miniatura: f. 41v – A Fuga para o Egito.

9ª miniatura: f. 46v – A Coroação de Nossa Senhora.

10ª miniatura: f. 49v – A Crucificação.

11ª miniatura: f. 52r – Pentecostes.

12ª miniatura: f. 55r – O Rei Davi.

A Visitação

Page 62: Catalogo Dos Livros de Horas

59

13ª miniatura: f. 67v – Ofício

pelos Defuntos.

4 miniaturas menores.

1ª miniatura: f. 8r – São Lucas.

2ª miniatura: f. 9r – São Mateus.

3ª miniatura: f. 10r – São

Marcos.

4ª miniatura: f. 11r – Nossa

Senhora com o Menino Jesus

no colo.

Segundo nota de Herkenhoff (1996: 28):

Segundo o livreiro M. Curvillier em carta a M. Campos em 25 de abril de 189943, algumas das

miniaturas apresentam detalhes de construções de Paris, entre elas o palácio do Louvre. O

missivista arrisca a afirmar que esse Livro de Horas seja obra de artista francês, da região de

Paris, ou mesmo da abadia de Soissons. O outro motivo de atribuição a miniaturista francês

está no tipo de decoração da moldura, de flores e frutos, com morangos e uvas.

Encadernação:

Encadernação original em couro marrom sobre madeira, com vestígios dos fechos. Segundo

Herkenhoff, “a encadernação antiga atribui-se a Maioli”.

43 A carta está anexa ao livro.

A Crucificação

Page 63: Catalogo Dos Livros de Horas

60

Proveniência:

Jacqueline Champeau (Paris – 1947)

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 8

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca

Nacional: a história de uma coleção.

2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra,

1996. p. 28

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII

PERGAMINHOS ILUMINADOS E

DOCUMENTOS PRECIOSOS. Rio

de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973.

Catálogo de exposição, n. 8

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de

Manuscritos: 50,1,010.

O Calendário

Page 64: Catalogo Dos Livros de Horas

61

O Calendário

A Anunciação

3. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Paris.

[160] f. [no geral, 17 linhas]: perg., il. color.; 180 x 130

mm. Texto em francês e latim. Caracteres góticos, alternados

em vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e a cores,

com bordaduras, tarjas laterais e finais de linha ornamentadas

em arabescos com predominância de folhas, flores e frutos.

Contém a antiga localização manuscrita no f. 1r: 47-3-58 e

assinaturas manuscritas às margens nos f. 1r (na parte

superior a antiga localização e na margem inferior apenas

vestígios). Consta nota no Cimélios (1885: 481): “segundo a

autorizada opinião do fr. Camilo de Monserrate, fôra [sic]

escrita [as assinaturas manuscritas nas margens inferiores] no

XVI século. São atualmente indecifráveis os seus vestígios”.

Faltam os f. 70 e f. 72. Carimbo da Real Biblioteca - Casa do

Infantado nos f. 2v e 151v.

Conteúdo:

• f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em

um fólio)

• f. 13r – f. 16r Horas da Cruz.

• f. 16v – f. 20v Horas do Espírito Santo.

• f. 21r – f. 25r Passagens dos Quatro Evangelhos.

• f. 25r – f. 31r Orações à Virgem Maria.

Page 65: Catalogo Dos Livros de Horas

62

Os Salmos Penitenciais

• f. 25r Obsecro te...

• f. 28v O intemerata...

• f. 31v Em branco.

• f. 32r – f. 87v Horas da Virgem Maria.

• f. 88r – f. 99r Os Sete Salmos Penitenciais.

• f. 99r – f. 103v Ladainha de Todos os

Santos.

• f. 104r – f. 145r Ofício dos Defuntos.

• f. 145r – f. 153v Memórias dos Santos.

• f. 154r – f. 159r Ofício das Chagas de

Nosso Senhor Jesus Cristo.

• f. 160r: eam in refrigério lucis et quie//tis. Amen. // Confiteor deo Beate marie et omnibus

//sanctis quia peccavi mimis. cogitacione // locutione et opere. mea culpa. Ideo // precor te.

Ora pro me. // Misereatur tui omnipotens deus. et di//mittat tibi omnia peccata tua. liberet //

te ab omni malo. conseruet et confirmet // in omni opere bono. et perducat ad // vitam

eternam. Amen.

• f. 154r: Prosa fratris iohãnus Lemo//uicensis monachi clareuallen//sis. Salutatio devota ad

yma//ginem saluatoris nostri...

• f. 160v Em branco.

Imagens:

12 miniaturas de página inteira (uma delas apresenta três, de menor porte) e duas miniaturas nas

cercaduras (marginais).

Page 66: Catalogo Dos Livros de Horas

63

O Rei Davi

1ª miniatura: f. 13r - A Crucificação.

2ª miniatura: f. 16v – Pentecostes.

3ª miniatura: f. 25r – A Pietá (miniatura marginal).

4ª miniatura: f. 28v – Adoração do anjo com a harpa (miniatura marginal)

5ª miniatura: f. 32r - A Anunciação (com três miniaturas menores: O

Nascimento da Virgem Maria, a Consagração de Santa Genoveva e o

Casamento da Virgem Maria).

6ª miniatura: f. 52v – A Visitação.

7ª miniatura: f. 62r – A Natividade.

8ª miniatura: f. 67r – O Anúncio aos

Pastores.

9ª miniatura: f. 76v – A Fuga para o Egito.

10ª miniatura: f. 82r – A Coroação da

Virgem.

11ª miniatura: f. 88r – O Rei Davi.

12ª miniatura: f. 104r – Um Funeral.

Page 67: Catalogo Dos Livros de Horas

64

Carimbo da Real Biblioteca – Casa do Infantado

Encadernação:

A encadernação, em simples pergaminho,

não é da época.

Proveniência:

Real Biblioteca – Casa do Infantado

(Portugal)

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas

manuscritos iluminados da Biblioteca

Nacional do Rio de Janeiro. [Rio de

Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat.

Capítulo VI, n. 2

EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTECA NACIONAL Rio de

Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo de exposição, n. 3

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:

Salamandra, 1996. p. 22

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n.4

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,016

Page 68: Catalogo Dos Livros de Horas

65

4. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen.

[158] f. [no geral, 14 linhas]: perg., il.

color.; 185 x 130 mm. Texto em francês e

latim. Caracteres góticos, alternados em

vermelho e preto. Iniciais iluminadas a ouro e

a cores, com bordaduras e finais de linha

ornamentadas em arabescos. As barras da

decoração das miniaturas integram-se com os

arabescos vegetais. Um reclamo no f. 140v:

gaudebit. Contém a antiga localização

manuscrita no f. 1r: 47–3–62. Carimbo da

Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f. 1v

e 112v.

Conteúdo:

• f. 1r – f. 12v Calendário em francês (cada mês em um fólio)

• f. 13r – f. 18v Passagens dos Quatro Evangelhos.

• f. 18v – f. 26v Orações à Virgem Maria.

• f. 18v Obsecro te...

• f. 22v O intemerata...

A Fuga para o Egito

Page 69: Catalogo Dos Livros de Horas

66

• f. 27r – f. 50v Horas da Virgem Maria.

• f. 51r – f. 56r Memórias do Espírito Santo, da Santíssima Trindade, de São João Batista, São

João Evangelista, São Pedro, São Mateus, São Marcos, Santa Maria Madalena, Santa

Catarina, Santa Margarida e de Todos os Santos.

• f. 56v Em branco.

• f. 57r – f. 85v Horas da Virgem

Maria.

• f. 86r – f. 89r Horas da Cruz.

• f. 89v – f. 92r Horas do Espírito

Santo.

• f. 92v Em branco.

• f. 93r – f. 106v Os Sete Salmos

Penitenciais.

• f.106v – f. 112v Ladainha de

Todos os Santos.

• f. 113r – f. 158v Ofício dos

Defuntos.

Imagens:

12 miniaturas de página inteira.

1ª miniatura: f. 27r – A Anunciação.

2ª miniatura: f. 39r – A Visitação.

3ª miniatura: f. 57r – A Natividade.

Adoração dos Reis Magos

Page 70: Catalogo Dos Livros de Horas

67

4ª miniatura: f. 63v – O Anúncio

aos Pastores.

5ª miniatura: f. 68r – Adoração dos

Reis Magos.

6ª miniatura: f. 71r – A

Apresentação do Menino Jesus no

Templo.

7ª miniatura: f. 74v – A Fuga para

o Egito.

8ª miniatura: f. 81r – A Coroação

da Virgem.

9ª miniatura: f. 86r – A

Crucificação.

10ª miniatura: f. 89v – Pentecostes.

11ª miniatura: f. 93r – O Rei Davi.

12ª miniatura: f. 113r – Um Ofício dos Defuntos.

Encadernação:

Nota de Herkenhoff: “... foi reencadernado no século XIX no Rio de Janeiro por Manoel José

Cardozo”. A encadernação atual é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional

na década de 1980.

A coroação da Virgem

Page 71: Catalogo Dos Livros de Horas

68

Proveniência:

Real Biblioteca – Casa do Infantado (Portugal)

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 4.

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 10

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:

Salamandra, 1996. p. 28

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,019.

Page 72: Catalogo Dos Livros de Horas

69

5. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.

[64] f. [no geral, 14 linhas]:

perg., il. color.: 180 x 130 mm. Texto

em latim. Caracteres góticos,

alternados em vermelho e preto.

Iniciais iluminadas a ouro e a cores,

com bordaduras, tarjas laterais e finais

de linhas ornamentadas em arabescos

com predominância de flores, frutos e

ramagens. Não possui Calendário.

Falta o f. 52 que, provavelmente, seria

uma miniatura com a imagem da

Coroação da Virgem. Os f. 37, f. 38, f.

39 e f. 40 foram encadernados

erroneamente antes do f. 1. Nota de

Damião Berge: “[...] na folha de

guarda [provavelmente a anterior, que

não se encontra mais no códice] escrito

à lápis a cota antiga Cód. 66 – 14 e a

nota: compra a Isidoro de Castro”.

Conteúdo:

• f. 1r – f. 55v Horas da Virgem Maria.

• f.11r [...] secundum usum curie romane...(escrito em vermelho)

• f. 13v, f. 27v, f. 40v e f. 51v Em branco.

• f. 56r – f. 59v Horas da Cruz.

A Visitação

Page 73: Catalogo Dos Livros de Horas

70

• f. 60r – f. 63r Horas do Espírito Santo.

• f. 63v e f. 64 Em branco.

Imagens:

9 miniaturas de página inteira.

1ª miniatura: f.1r – A

Anunciação.

2ª miniatura: f. 14r – A Visitação.

3ª miniatura: f. 28r – A

Natividade.

4ª miniatura: f. 33r – O Anúncio

aos Pastores.

5ª miniatura: f. 37r – Epifania.

6ª miniatura: f. 41r –

Apresentação do Menino Jesus

no Templo.

7ª miniatura: f. 45r – A Fuga para

o Egito.

8ª miniatura: f. 56r – A

Crucificação.

9ª miniatura: f. 60r – Pentecostes.

O Anúncio aos Pastores

Page 74: Catalogo Dos Livros de Horas

71

Encadernação:

A encadernação é em pergaminho contemporâneo, feita na Biblioteca Nacional.

Proveniência:

Isidoro de Castro (comprado no final do século XIX)

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?].

[609] f. Original. Dat. Capítulo VI,

n. 7

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca

Nacional: a história de uma

coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:

Salamandra, 1996. p. 25

MANUSCRITOS: SÉC. XII-

XVIII PERGAMINHOS

ILUMINADOS E

DOCUMENTOS PRECIOSOS.

Rio de Janeiro: Biblioteca

Nacional, 1973. Catálogo de

exposição, n. 12

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) –

Área de Manuscritos 50,1,020.

Epifania

Page 75: Catalogo Dos Livros de Horas

72

6. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Rouen.

[132] f. [no geral, 15 linhas]: perg.,

il. color.; 195 x 125 mm. Texto em francês

e latim. Caracteres góticos, alternados em

vermelho e preto. Iniciais iluminadas a

ouro e a cores, com bordaduras, tarjas

laterais e finais de linha ornamentadas em

arabescos com predominância de folhas e

frutos. Nas bordaduras figuras humanas,

anjos e animais fantásticos. Nota de

Damião Berge: “Nas três folhas de guarda

iniciais foram aplicadas seda na cor verde.

A segunda serve de fundo a um

pergaminho rendilhado em cujo centro se

vê pintado um medalhão representando

Nossa Senhora do Rosário, tendo a seus

pés uma bandeirola com a inscrição

Regina S.S. Rosary”. Contém a antiga

localização manuscrita no verso da terceira

folha de guarda: 47–3–61. Carimbo da

Real Biblioteca – Casa do Infantado nos f.

2v e 132v. O f. 128 está solto. Nas folhas

de guarda contém as armas do marquês de Pombal.

Capa com o super libris do marquês de Pombal

Page 76: Catalogo Dos Livros de Horas

73

Conteúdo:

• f. 1r – f. 12v Calendário em francês

(cada mês em um fólio). No dia 24 de

abril foi registrado posteriormente: “S.

Robert abbs”.

• f. 13r – f. 18r Passagens dos Quatro

Evangelhos.

• f. 18v – f. 26r Orações à Virgem

Maria.

• f. 18v Obsecro te...

• f. 22r O intemerata...

• f. 26v Em branco.

• f. 27r – f. 46v Horas da Virgem

Maria.

• f. 46v – f. 50v Memórias do Espírito

Santo, da Santíssima Trindade, de São

Miguel, São João Batista, São Nicolau, Santa Catarina, Santa Margarida, de Todos os Santos

e da Paz.

• f. 51r – f. 69v Horas de Nossa Senhora.

• f. 70 Em branco.

• f. 71r – f. 73v Horas da Cruz.

• f. 74r – f. 76v Horas do Espírito Santo.

Obsecro te

Page 77: Catalogo Dos Livros de Horas

74

• f. 77r – f. 88v Os Sete Salmos Penitenciais.

• f. 88v – f. 93v Ladainha de Todos os Santos.

• f. 94 Em branco.

• f. 95r – f. 123r Ofício dos Defuntos.

• f. 123v Les. xv. ioies nostre dame (contém apenas

esta inscrição em vermelho).

• f. 124r – 129v As Quinze Orações aos Prazeres de

Jesus Cristo (em francês).

• f. 129v – f. 132v As Sete Súplicas a Nosso Senhor

(em francês).

Imagens:

8 miniaturas de página inteira.

1ª miniatura: f. 13r - Os Quatro

Evangelistas (São João, São Lucas,

São Mateus e São Marcos). No bas-

de-page, uma jovem montada sobre

um leão.

2ª miniatura: f. 27r – A Anunciação.

“Na bordadura lateral, um putto entre

folhas e cachos de uvas, abaixo deste

uma torre gótica, suavemente roxa,

erguendo-se de dentro de um tanque

Nossa Senhora do Rosário

Os Quatro Evangelistas

Page 78: Catalogo Dos Livros de Horas

75

quadrado da mesma cor, despejando, de três gárgulas de ouro, água neste tanque

donde jorra por outra gárgula de ouro; no bas-de-page, um ser híbrido, de corpo

e pernas azuis de cavalo, sem cauda, sem braços, peito e cabeça de homem

idoso, coberto com uma tiara de ouro forrada de azul”. (Damião Berge).

3ª miniatura: f. 51r – A Natividade. Na bordadura lateral dois pastores.

4ª miniatura: f. 71r – Jesus

Crucificado entre os dois

ladrões. No bas-de-page, dois

anjos, ajoelhados, segurando

um escudo azul.

5ª miniatura: f. 74r –

Pentecostes. “Na bordadura

inferior [bas-de-page], um

servo brandindo, com a

direita, uma longa maça e

segurando, com a esquerda,

um enorme cão”. (Damião

Berge)

6ª miniatura: f. 77r – O Rei

Davi. Na bordadura lateral,

um ser híbrido, metade

animal, metade mulher.

Pentecostes

Page 79: Catalogo Dos Livros de Horas

76

7ª miniatura: f. 95r – Um

Sepultamento. No bas-de-page, a

morte, intimando um jovem.

8ª miniatura: f. 124r – A Pietá.

No bas-de-page, um veado alado.

Encadernação:

Encadernação do século XVIII

em marroquim vermelho, com

rica ornamentação a ouro,

lantejoulas brancas e vermelhas.

Filetes e cortes em dourado.

Super libris do Marquês de

Pombal nas duas capas.

Proveniência:

Real Biblioteca – Casa do

Infantado (Portugal).

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 3

EXPOSIÇÃO PERMANENTE DOS CIMÉLIOS DA BIBLIOTHECA NACIONAL. Rio de

Janeiro: Leuzinger & Filhos, 1885. Catálogo da exposição, n. 4

HERKENHOFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a história de uma coleção. 2.ed. Rio de Janeiro:

Salamandra, 1996. p. 29 e p. 62.

Um Sepultamento

Page 80: Catalogo Dos Livros de Horas

77

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 9

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) - Área de Manuscritos 50, 1, 022

A Pietá

Page 81: Catalogo Dos Livros de Horas

78

7. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Auxerre.

[81] f. [no geral, 19 linhas]:

perg., il. color.: 170 x 111,5 mm.

Texto em latim. Caracteres góticos,

alternados em vermelho, preto e

azul, com bordaduras laterais e

bas-de-pages ornamentadas em

arabescos com predominância de

flores. Falta o f. 14. Nota de

Damião Berge: “Faltam, entre as

atuais f. 13 e 14, o início do

Evangelho de S. João e foi cortada

a penúltima folha; entre as f. 1 e 2

o encadernador inseriu uma f.

avulsa, contendo o início das Horas

do Espírito Santo (já existente no

livro nos f. 50r até 52v) não

pertence ao códice apesar de sua

pintura antiga...”. Contém nota

manuscrita à tinta na folha, em

papel, de guarda anterior: “Compra

feita a Joaquim da Silva Nazareth,

em 12 de julho de 1906, por 150,000. Texto em três tintas”. Possui o carimbo da Biblioteca

Nacional – Secção de Manuscritos em todos os fólios.

A Crucificação

Page 82: Catalogo Dos Livros de Horas

79

Conteúdo:

• f. 1 Em branco.

• f. 2r – f. 13v Calendário em

francês (cada mês em um fólio)

• f. 14r – f. 16v Passagens dos

Quatro Evangelhos.

• f. 16v – f. 20v Orações à

Virgem Maria.

• f. 16v Obsecro te...

• f. 19r O intemerata...

• f. 21r – f. 46r Horas da Virgem

Maria.

• f. 46v Em branco.

• f. 47r – f. 49v Horas da Cruz.

• f. 50r – f. 52v Horas do

Espírito Santo.

• f. 53r – f. 60r Os Sete Salmos Penitenciais.

• f. 60r – f. 62v Ladainha de Todos os Santos.

• f. 63r – f. 80r Ofício dos Defuntos.

• f. 80v e f. 81 Em branco.

Pentecostes

Page 83: Catalogo Dos Livros de Horas

80

Imagens:

6 miniaturas de página inteira.

1ª miniatura: inserida entre os f. 1 e o f. 2 – Pentecostes. No verso, bordadura

lateral à esquerda.

2ª miniatura: f. 21r – A Anunciação. No bas-de-page aparece um animal com

duas pernas, em azul e ouro, com rosto humano num enorme elmo de ouro.

3ª miniatura: f. 47r – A Crucificação.

4ª miniatura: f. 50r – Pentecostes.

5ª miniatura: f. 53r – Davi e Golias.

6ª miniatura: f. 63r – A Morte de pé

em um sarcófago.

Bordadura lateral e bas-

de-page ornamentados em arabescos

nos f. 16v e somente bordadura

lateral nos f. 26v, f. 32v, f. 35v, f.

37v e f. 43v.

Encadernação:

A encadernação é em pergaminho

contemporâneo.

Proveniência:

Joaquim da Silva Nazareth (compra

em 1906)

Davi e Golias

Page 84: Catalogo Dos Livros de Horas

81

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 5

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 11

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,023.

Texto com carimbo

Page 85: Catalogo Dos Livros de Horas

82

8. IGREJA CATÓLICA. Livro de Horas

Livro de Horas [Século XV], segundo costume de Roma.

[118] f. [no geral, 16

linhas]: perg., il. color.: 125 x

90 mm. Texto em latim.

Caracteres semigóticos,

alternados em vermelho e

preto. Iniciais iluminadas a

ouro e a cores, com

bordaduras, tarjas e finais de

linha ornamentadas em

arabescos. Contém a antiga

localização manuscrita: cód.

66 – 2. As oito folhas de

guarda – quatro anteriores e

quatro posteriores – são de

um pergaminho mais novo, no verso da primeira folha está escrito a lápis, e repetido na folha

seguinte, por outra mão e a tinta, a seguinte nota: “Foi comprado este precioso manoscrito em

paris a um libreiro muito besta por 20 francos por um feliz acaso já me davão pelo mesmo e hera

para negocio 300 francos eu pedi 2000”. Anotações manuscritas nos f. 16r, f. 82v, f. 117: Robert

Chevalier e no f. 118: duas assinaturas de François Becquerel. Faltam três fólios: um entre aos f.

28 e f. 29 e dois entre os f. 82 e f. 83. Contém uma nota a lápis no fragmento que foi inserido

entre os f. 90 e f. 91: “Esta folha veio já cortada ao meio. Raymond”. Os f. 1 e o f. 21 estão

mutilados.

Conteúdo:

• f. 1r – f. 12v Calendário em latim (cada mês em um fólio)

Texto

Page 86: Catalogo Dos Livros de Horas

83

• f. 13r – f. 15v Horas da Cruz.

• f. 16 Horas do Espírito Santo,

somente as Vésperas e as Completas.

• f. 17r – f. 23r Incipit missa beate

marie...

• f. 23r – f. 28v Passagens dos Quatro

Evangelhos.

• f. 29r – f. 74v Horas da Virgem

Maria.

• f. 74v – f. 82v Orações à Virgem Maria.

• f. 76r Obsecro te...

• f. 82r O intemerata...

• f. 80v Em branco.

• f. 83r – f. 95v Os Sete Salmos Penitenciais.

• f. 95v – f. 99v Ladainha de Todos os Santos.

• f. 100r Em branco;

• f. 101r – f. 116v Ofício dos Defuntos.

• f. 117 e f. 118 Em branco.

Imagens:

Uma miniatura de página inteira.

As Horas da Cruz

Page 87: Catalogo Dos Livros de Horas

84

1ª miniatura: f. 101v – A Ressurreição de Lázaro.

OBS: No bas-de-page do f. 13r aparece um brasão não identificado.

Encadernação:

A encadernação é em pergaminho

contemporâneo, feita na Biblioteca

Nacional. Notas de Damião Berge

sobre a antiga encadernação:

“Encadernação de 1926, pouco

digna do ms. danificada pela

broca; na lombada, de pano preto,

lê-se, impresso a ouro: Manuscrito

do XV século; capa coberta de

papel marrom, imitando mármore;

folhas de guarda do mesmo papel,

colada a uma f. branca, seguida de f., mais antiga, provavelmente de uma encadernação anterior,

colada com a primeira f. do pergaminho em branco[...]”.

Proveniência:

Não foi encontrado nenhum dado sobre a sua proveniência.

Bibliografia:

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [Rio de Janeiro, 1973?]. [609] f. Original. Dat. Capítulo VI, n. 6

MANUSCRITOS: SÉC. XII-XVIII PERGAMINHOS ILUMINADOS E DOCUMENTOS

PRECIOSOS. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1973. Catálogo de exposição, n. 5

Localização:

Biblioteca Nacional (Brasil) – Área de Manuscritos 50,1,028.

A Ressurreição de Lázaro

Page 88: Catalogo Dos Livros de Horas

85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Nova Fronteira; Brasília: INL, 1986.

ARNS, Paulo Evaristo. A técnica do livro segundo São Jerônimo. 2.ed. revista e ampliada. São

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ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de

Janeiro, 2005.

ARRUDA, Susan Margaret de, CHAGAS, Joseane. Glossário de Biblioteconomia e Ciências

afins. Florianópolis: Cidade Futura, 2002.

ARTES DO LIVRO. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995. Catálogo de

exposição.

BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América. Tradução de

Marcelo Rede. São Paulo: Globo, 2006.

BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. A.

Queiroz, 1991.

BELO, André. História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. (Coleção História

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BERGE, Damião. Um livro de horas do século XIV na Biblioteca Nacional. Verbum, Rio de

Janeiro: Faculdades Católicas, t. 2, fasc. 1, mar. 1945.

BERGE, Damião. Livros de horas manuscritos iluminados da Biblioteca Nacional do Rio de

Janeiro. [1973?]. Datil.

Page 89: Catalogo Dos Livros de Horas

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BROWN, Michelle P. Understanding illuminated manuscripts: a guide to technical terms. 3th.

ed. Los Angeles: The J. Paul Getty Museum : The British Library, 1994.

BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Tradução de Vera Maria Xavier dos

Santos. Bauru, SP: EDUSC, 2004.

CARRIÓN GÚTIEZ, Manuel. La Biblioteca Nacional. Madrid: Biblioteca Nacional, 1999.

CARVALHO, Gilberto Vilar de. Biografia da Biblioteca Nacional (1807 a 1990). Rio de

Janeiro: Irradiação Cultural, 1994.

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Page 96: Catalogo Dos Livros de Horas

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GLOSSÁRIO

Antífona

Versículos tirados da Bíblia, que o povo canta ou recita em determinados momentos da missa e

de outras celebrações e, especialmente, no início e fim dos Salmos do Ofício Divino ou Liturgia

das Horas (Falcão: Letra A).

Assinaturas

Numeração colocada no pé das folhas dos cadernos ou apenas na primeira folha da cada caderno;

para tal numeração utilizavam-se letras associadas a números; destinava-se a indicar ao

encadernador a ordem a seguir na encadernação do volume; no livro antigo ajudava a determinar

o formato real (Faria e Pericão, 1988: 29).

Bas-de-page

Parte inferior da página, onde são gravadas cenas, imagens que podem ou não se referir ao texto

acima (Brown, 1994: 16).

Bibliófilo

Pessoa amante das edições originais, raras e curiosas de livros; os bibliófilos apreciam,

sobretudo, a beleza tipográfica, a encadernação, a raridade e o material com que foi impresso e

confeccionado um livro (Faria e Pericão, 1988: 38).

Breviário

Livro litúrgico que contém os textos necessários para celebração do Ofício Divino. Ver também

Ofício Divino e Liturgia das horas (Falcão: Letra B).

Caderno

Conjunto de folhas de pergaminho ou papel dobradas ao meio, encartadas umas nas outras e

constituindo os elementos de um manuscrito ou de um livro antigo (Faria e Pericão, 1988: 50-51).

Camisas de Damasco

Tecido, geralmente de seda, com que se envolviam os códices, principalmente os livros de horas,

para sua proteção. Essas proteções eram assim chamadas porque o tecido vinha da cidade de

Damasco (Rizzini, 1977: 38).

Códice

Do latim caudex (tábua de madeira). Em sua origem eram tabuinhas de madeira enceradas, onde

se escreviam e depois eram agrupadas pelo dorso (lombada) mediante costura. Mais tarde foram

Page 97: Catalogo Dos Livros de Horas

94

substituídas pelo papiro, depois pelo pergaminho. Diferente do rolo onde as folhas eram coladas

umas as outras e, posteriormente, enroladas. O códice é formado por folhas soltas que se dobram

e se encaixam umas nas outras para formar os cadernos. A vantagem é que se podia manipular

com mais facilidade e escrever nos dois lados da folha. A palavra hoje se utiliza para denominar

livros escritos à mão, principalmente sobre pergaminhos. O livro manuscrito, de uma certa

antiguidade, composto por um conjunto de folhas de um material flexível (papiro, pergaminho ou

papel), unidas entre si pela margem interna e geralmente protegidas com capas.

(Walther e Wolf, 2005: 492).

Codicologia

Ciência que tem por objeto o estudo do livro manuscrito em todos os seus aspectos.

(Ruiz García, 1988: 376).

Colofão

Contém indicações a respeito da produção de um manuscrito ou de um livro impresso antigo. É

uma indicação tipográfica colocada na última página impressa da obra, onde figura o lugar, o

impressor e data, seguida por vezes pela marca tipográfica; nos incunábulos e obras da primeira

metade do século XVI, continha dados mais pormenorizados sobre o autor, título da obra e o dia

em que a obra acabou de ser impressa. Corresponde ao Explicit dos manuscritos.

(Faria e Pericão, 1988: 75).

Copista

Também era chamado de amanuense (servi ad manum), escriba, pendolista ou pendolário (de

pendola, pena de ave usada para escrever). Era o indivíduo que produzia o códice, copiando um

escrito ou escrevendo um texto ditado (Martínez de Sousa, 1992: 51-52).

Ex-libris

Serve para designar toda a menção de posse de um livro; pode ser manuscrito e figurar em

qualquer lugar do livro; quando é impresso ou gravado em papel (ou excepcionalmente de couro)

está geralmente colado no verso da capa; a identidade do possuidor pode ser indicada pelo nome

(por vezes precedido da palavra ex-libris) ou suas iniciais, eventualmente pelas suas armas, um

emblema ou uma divisa (Faria e Pericão, 1988: 136).

Page 98: Catalogo Dos Livros de Horas

95

Explicit

Termo que originalmente indicava que se havia terminado de desenrolar o livro em forma de

rolo. Posteriormente, indicava o final do manuscrito, ou de um livro impresso antigo, muitas

vezes informando acerca do nome do autor (ou do copista), o local e o título da obra.

(Faria e Pericão,1988: 138).

Factício

É a reunião sob a mesma encadernação de volumes ou brochuras que tratam de assuntos

freqüentemente diferentes assim como de autores distintos (Rouveyre, 1899: 159).

Foliação

É a numeração dos fólios, das folhas (folheação), de um documento de modo que um mesmo

número servia para a página ímpar (recto) e para a página par (verso).

(Martínez de Sousa, 1992: 53).

Iluminura

Conjunto de elementos decorativos e das representações com imagens executadas num

manuscrito com a finalidade de embelezamento, utilizavando-se tintas luminosas, principalmente

a prata e ouro (Brown, 1994: 69).

Incipit

Palavra que encabeça o texto escrito, nos manuscrito e nos incunábulos (Ruiz García, 1988: 381).

Incunábulo

Do latim incunabulum (berço, origem), palavra empregada para designar os primeiros impressos

na Europa até 1501 (Brown, 1994: 72).

Liturgia das Horas

É a santificação das horas do dia pela oração oficial (Ofício Divino) que a Igreja, em união com

Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo, eleva à Santíssima Trindade. Com o decorrer dos

tempos, a Igreja foi santificando as principais horas do dia pela oração dos Salmos e leituras

bíblicas, recorrendo assim à própria palavra de Deus. Desta maneira preparava e prolongava a

celebração do Mistério Pascal, completando a Missa de cada dia. Embora seja oração de todo o

povo, a celebração da Liturgia das Horas passou a ser especial obrigação dos sacerdotes e outros

consagrados, fazendo parte do seu ofício exercido em nome da Igreja (Falcão: Letra L).

Page 99: Catalogo Dos Livros de Horas

96

Livro

É a forma genérica usada para designar um veículo portador de um texto escrito de certa

extensão, independente de sua tipologia, com a finalidade de registrar e transmitir o pensamento.

Desde a Antiguidade, o livro adquiriu várias formas – encontradas, principalmente, no Ocidente.

As mais antigas são as tábulas ou tábuas, que eram pequenas placas de argila, madeira, marfim,

ouro ou outro material que servissem de suporte para a escrita. A segunda forma corresponde ao

rolo (rotulus) ou volumen, assim chamado porque o papiro ou o pergaminho de que era feito se

envolvia em torno de uma vareta cilíndrica de madeira ou de metal, e a terceira forma do livro é o

códice, que se constituiu na forma definitiva do livro. Todavia, é preciso atenção [...] com o

tempo a palavra códice chegou até nós como sinônimo de manuscrito, que não é de todo exata,

pois se todos os códices são manuscritos (isto é, escritos a mão), nem todos os manuscritos são

códices (por exemplo, não o são os rolos, que eram manuscritos, nem os documentos

eclesiásticos ou diplomáticos, as cartas etc.). (Matínez de Sousa, 1992: 49).

Miniatura

Pintura delicada que ilustra e decora as margens de um manuscrito ou de um livro; no início

significava a simples execução manual, a cores, de um sinal ou inicial com o minium (a cor

vermelha do óxido de chumbo), de onde deriva o termo miniaturista (Faria e Pericão, 1988: 227).

Missal

Livro litúrgico que contém os textos necessários (cantos, orações e leituras) para o sacerdote

celebrar o ritual da missa (Brown, 1994: 87).

Ofício Divino

Conjunto de orações (salmos, antífonas, hinos, leituras bíblicas etc.) organizadas pela Igreja

Católica para serem rezadas em determinadas horas do dia.Ver Liturgia das Horas.

(Falcão: Letra O).

Putto

Termo utilizado no campo das artes, que se refere a uma criança nua, geralmente do sexo

masculino, frequentemente representada com asas (Brown, 1994: 104).

Raiado

Operação prévia da escrita que consiste no traçado de linhas que servem de guia para o copista.

Essas linhas podem ser feitas com ponta seca ou mediante a utilização de substância cromática.

(Ruiz García, 1988: 387).

Page 100: Catalogo Dos Livros de Horas

97

Reclamo

Chamada da primeira palavra de um caderno no pé da última página do caderno precedente,

usada para facilitar a ordenação dos cadernos de um livro pelo encadernador.

(Faria e Pericão, 1988: 293).

Recto

Frente de uma folha de pergaminho ou papel; nos livros é sempre constituído pela página ímpar,

ou seja, a que fica à direita, uma vez aberto o livro. Abreviatura r (Faria e Pericão, 1988: 293).

Rubrica

Título, título corrente, título de capitulo ou outros ornamentos traçados à mão em tinta de cor,

geralmente em vermelho, num manuscrito ou incunábulo (Faria e Pericão, 1988: 306).

Saltério

Livro litúrgico que contém o conjunto dos Salmos (Falcão: Letra S).

Santoral

Livro onde são registradas as celebrações das festas em honra dos santos, com exceção daquelas

entre 24 de dezembro e 13 de janeiro, que são conhecidas como o Próprio dos Santos.

(Brown, 1994: 113).

Scriptoria (plural), scriptorium

Era o lugar onde trabalhava o copista medieval, individual ou coletivamente (Ruiz García, 1988:

389).

Super libris

Marca de propriedade estampada na encadernação de um livro (Ruiz García, 1988: 390).

Verso

Face inferior ou interna num fólio, em oposição ao recto. É a parte que fica à esquerda de quem

lê. Abreviatura v (Ruiz García, 1988: 391).

Vinheta

Na origem, era o ornamento formado de folhas de videira que decorava os manuscritos;

atualmente são pequenas ilustrações gravadas, impressas no alto da página ou intercalando o

texto, prestando-se a inúmeras combinações (Faria e Pericão, 1988: 337).