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2014 Territórios, Sociedades e Culturas em tempos de mudança fotografia sem fronteiras

Catálogo Transversalidades 2014

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O Catálogo Transversalidades reúne uma profusão de fotografias selecionadas que foram submetidas à 3ª edição do concurso com o mesmo nome, documentando a diversidade de Territórios, Sociedades e Culturas Ibéricas nas temáticas “Paisagens, biodiversidade e património natural”; “Espaços rurais, povoamento e processos migratórios”, “Cidade e processos de urbanização” e “Cultura e sociedade: diversidade cultural e social”. O Catálogo conta com textos de Adriana Veríssimo Serrão, António Pedro Pita, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Carminda Cavaco, Fernanda Cravidão, Henrique Cayatte, João Ferrão, João Lima Sant’Anna Neto, Lúcio Cunha, Maria Adélia de Souza, Rogério Haesbaert, Rui Jacinto, Santiago Santos, Valentín Cabero Diéguez e Victorino Garcia Calderón.Através deste projeto o CEI procura superar o seu âmbito de atuação mais imediato, confinado à Raia portuguesa e espanhola, alargando-o a países de outros continentes onde figuram marcas da presença ibérica, promovendo desta forma o diálogo entre Territórios, Sociedades e Culturas e alicerçando uma nova cultura territorial mais responsável e inclusiva de pessoas e territórios.

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  • 2014Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    fotografia sem fronteiras

  • 2014

  • Ttulo

    Transversalidades 2014 fotografia sem fronteiras | Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    Coordenao

    Rui Jacinto

    Coordenao fotogrfica

    Jos Monteiro Gil

    Jri do Concurso

    Antnio Pedro Pita | Henrique Cayatte | Jorge Pena | Jos Monteiro Gil | Lcio Cunha | Rui Jacinto | Santiago SantosValentn Cabero Diguez | Victorino Garca

    Textos

    Adriana Verssimo Serro | Antnio Pedro Pita | Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro | Carminda Cavaco | Fernanda CravidoHenrique Cayatte | Joo Ferro | Joo Lima SantAnna Neto | Lcio Cunha | Maria Adlia de Souza | Rogrio HaesbaertRui Jacinto | Santiago Santos | Valentn Cabero Diguez | Victorino Garcia Caldern

    Produo

    Alexandra Isidro | Ana Sofia Martins

    Reviso

    Ana Margarida Proena | Ana Sofia Martins

    Concepo e montagem da exposio

    Antnio Freixo | Renato Coelho | Armnio Bernardo

    Design | pr-impresso

    Via Coloris, Design de Comunicao, lda.

    Impresso | acabamento

    Marques e Pereira, lda.

    Tiragem

    1000 ex.

    Depsito legal

    335972/11

    ISBN

    978-989-8676-06-1

    Edio

    Centro de Estudos IbricosR. Soeiro Viegas, 86300-758 Guardawww.cei.pt

    O Centro de Estudos Ibricos respeita os originais dos textos, no se responsabilizando pelos contedos, forma e opinies neles expressos.A opo ou no pelas regras do Novo Acordo Ortogrfico da responsabilidade dos autores.Organizao Apoios

    Universidadede Coimbra

    Organizao Apoios

    Universidadede Coimbra

    Organizao Apoios

    Universidadede Coimbra

    Organizao Apoios

    Universidadede Coimbra

    Apoio:

  • 2014Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    fotografia sem fronteiras

  • Foto(Geo)grafia: a luz que (d)escreve a terra Rui Jacinto 6Melhor Portfolio 12

    Transversalidades: a fotografia e seus territrios Henrique Cayatte, Antnio Pedro Pita, Santiago Santos, Victorino Garca Caldern , Lcio Cunha, Valentn Cabero Diguez 16

    Tema 1 | Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural 25Fotografias premiadas 26

    O horizonte que vem at ns Adriana Verssimo Serro 30Portfolios selecionados 32 Fotografias selecionadas 44

    Da concepo fsica do universo ao sentimento de mundo Joo Lima SantAnna Neto 52Portfolios selecionados 54Fotografias selecionadas 67

    Tema 2 | Espaos rurais, povoamento e processos migratrios 73Fotografias premiadas 74

    Sociedade rural e espao Carminda Cavaco 78Portfolios selecionados 81Fotografias selecionadas 89

    Grande serto: veredas. O Homem, o Campo e suas (inter)relaes Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro 93Portfolios selecionados 97Fotografias selecionadas 101

    ndice

  • 5Tema 3 | Cidade e processos de urbanizao 107Fotografias premiadas 108

    Mil cidades. E em cada cidade outras tantas cidades Joo Ferro 112Portfolios selecionados 115Fotografias selecionadas 124

    Cidade e sociedade urbana Maria Adlia de Souza 131Portfolios selecionados 135Fotografias selecionadas 138

    Tema 4 | Cultura e sociedade: diversidade cultural e social 143Fotografias premiadas 144

    O instante que se torna eterno Fernanda Cravido 150Portfolios selecionados 152Fotografias selecionadas 164

    Configurar a prpria imagem a partir da imagem do outro Rogrio Haesbaert 170Portfolios selecionados 173Fotografias selecionadas 184

    Legendas 191

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    Foto(Geo)grafia: a luz que (d)escreve a terraRui Jacinto *

    S. Martinho de Anta, 14 de Setembro de 1981 Venham

    como vierem, cobertos de favores do mundo ou simples mor-

    tais, procedo sempre da mesma maneira. Mostro-lhes o que

    nunca viram: panoramas que so autnticas obras-primas

    da ecmena, onde a Geografia fsica e a Geografia humana

    se complementam. A ossatura telrica e a epiderme elabo-

    rada. O natural e o cultural em conjuno perfeita. E fico

    desobrigado. O resto da conta deles. Se prestam, vo mais

    ricos. Dilataram o esprito proporo dos horizontes. Se

    no prestam, vo mais pobres. Mediram-se com a grandeza e

    perderam (Miguel Torga, Dirio XIII).

    relao antiga, ntima e cmplice, que a Geografia mantm com a fotografia no se

    resume a uma afinidade etimolgica que remete para a descrio da terra, num

    caso, e, no outro, para escrever com a luz. Ao advertir que a Geografia do mundo melhor se aprende vista no mesmo mundo que pintada no mapa (Sermes, 137), Padre Antnio Vieira apenas visionou que a prtica de qualquer daquelas artes exige trabalho de campo e de gabinete, ir ao terreno, estar no stio certo hora certa, se houver a inteno de observar a paisagem ou deter-minado acontecimento a partir do ngulo adequado.

    Tal nomadismo inerente condio de qualquer explorador que tenha por misso (d)escrever o planeta e imprescindvel para o (foto)gegrafo que pretenda captar o exato momento em que a luz e a terra se (con)fundem. Depois da sua inveno no sculo XIX, a fotografia passou a testemunhar a passagem por lugares exticos, paisagens deslumbrantes, aconteci-mentos invulgares, modos de vida diferentes. A sua descoberta, alm de abrir novas perspetivas de traba-

    lho para a Geografia, habilitou o gegrafo a apresentar evidncias das suas deambulaes, a cumprir o que algum lembrou ser uma das exigncias da sua profis-so: E o gegrafo, depois de abrir o livro de registos, ps-se a afiar o lpis. As descobertas dos exploradores so primeiro anotadas a lpis. S so passadas a tinta depois de o explorador apresentar provas (Antoine de Saint-Exupry, O Principezinho).

    Desde o seu aparecimento que a fotografia e a Geogra-fia trilharam caminhos paralelos, pois, enquanto as tcnicas fotogrficas progrediram e se consolidaram, a Geografia progrediu e afirmou-se como domnio cientfico. No admira pois, que os primeiros labora-trios de Geografia do incio do sculo XX tenham atribudo um lugar central fotografia, tanto nos seus equipamentos como nas colees, a par com mapas e atlas, com os quais alis a imagem fotogrfica foi cons-truindo relaes e associaes originais e fecundas (Gaspar, 2013: 28). Comeava a fazer caminho a ideia, no isenta de rigor e contradio, que uma imagem vale mais que mil palavras ou que a Geografia se limi-taria descrio, fria e estrita, de realidades objetivas. Sabemos, hoje, que qualquer realidade , em primeira instncia, uma representao. Da a importncia que os gegrafos sempre atriburam s imagens, usadas para distintas finalidades, o que traduz a umbilical re-lao entre Geografia e imagem: o mapa, o desenho, o esquisso ou a pintura apenas antecederam a utilizao de imagens mais realistas e complexas proporciona-das pelo imparvel progresso tecnolgico.

    Com o advento da era digital a produo de imagens tornou-se to sofisticada que os mtodos analgicos

  • 7Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    ficaram rapidamente arcaicos e obsoletos. A Geografia abriu-se a esta nova gerao de imagens, quase sempre geradas ou manipuladas por computador, fixas (foto-grafia) e em movimento (cinema, televiso e vdeo), incorporando-as com fins didticos, cientficos ou, mesmo, estticos. A produo, a difuso e o consumo de imagens globalizou-se, ficou mais acessvel, imedia-to e massificado, prenuncio duma democratizao que indissocivel da acrtica banalizao que atingiu a fotografia. Enquanto as imagens de satlite destrona-vam as velhas fotografia areas, usadas para investigar o meio fsico ou a ao humana, as cartas topogrficas, com as suas delicadas curvas de nvel, cediam terreno aos mapas elaborados instantaneamente por diversas ferramentas que suportam os atuais sistemas de infor-mao geogrficos (SIG).

    Continuao do mapa duma outra maneira, a imagem, sobretudo a fotografia, acabou por fazer emergir uma nova linguagem no seio da Geografia. A Geografia co-meou por estar focada em explorar a materialidade da fotografia, tendo prestado um inquestionvel contri-buto para o reforo do paradigma paisagstico da Geo-grafia, alm de usada para ilustrar livros e artigos de revistas. Nesta fase, a fotografia estava to fortemente associada ao progresso cientfico da Geografia que o congresso da UGI que teve lugar em Washington DC, em 1904, aprovou a proposta do geomorflogo alemo Albrecht Penck para que se promovesse um levantamento fotogrfico da superfcie da Terra. Esta iniciativa viria a originar o Atlas phographique des formes du relief terrestre, da autoria de Jean Brunhes, mile Chaix e Emmanuelle De Martonne, cujas pri-meiras lminas foram apresentadas por De Martonne no X Congresso Internacional de Geografia, Roma 1913. Sucederam-se outros projetos de envergadura, como o iniciado em 1909, pelo banqueiro Albert Khan, que patrocinou o levantamento fotogrfico

    e cinematogrfico, Les Archives de la Plante, cuja direo cientfica entregou, em 1912, ao gegrafo Jean Brunhes, iniciativa que havia de terminar devido grande crise financeira de 1929 (Gaspar, 2013: 29).

    Muitos destes projetos, mais ou menos utpicos, res-pondem ao desejo de evaso e descoberta que povoam o nosso imaginrio, quase sempre alimentados por ima-gens captadas em viagens feitas a lugares recnditos e exticos, o que testemunha a capacidade que a fotogra-fia encerra para desocultar espaos marginais e inaces-sveis. Assim se explica, tambm, o sucesso dos grandes livros de viagens (Odisseia, Lusadas, etc.), onde esto plasmadas imagens escritas que oscilam entre realidade e fico, a longevidade da National Geographic Society e da sua revista, fundada em 1888, cuja notoriedade provm dos mapas e fotografias que sempre editou, ou a recente popularidade alcanada pelo Google Earth.

    Ao permitirem viajar virtualmente pelo mundo e pelas ruas das cidades, o Google Earth ou o Street View parecem institucionalizar um big brother geogrfico e visual que permite aceder em tempo real a imagens de qualquer lugar do planeta. Aqui chegados, nunca esti-vemos to perto da metfora concebida por Jorge Lus Borges quando imaginou que Mapas Desmedidos no bastaram e os Colgios de Cartgrafos levantaram um Mapa do Imprio, que tinha o Tamanho do Imprio e coincidia com ele ponto por ponto. Se estivesse con-vencido desta possibilidade o autor no teria adian-tado, de seguida, que Menos Dedicadas ao Estudo da Cartografia, as Geraes Seguintes decidiram que esse dilatado Mapa era Intil e no sem Impiedades entregaram-no s Inclemncias do Sol e dos Invernos (Sobre o Rigor da Cincia). As olmpicas imagens que, hoje, nos chegam de mais alto, mais longe e com mais pormenor parecem condenadas ao mesmo destino; outros autores, nesta mesma senda, tambm adverti-

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    ram sobre a impossibilidade de desenhar um mapa do Imprio em uma escala de 1 para 1 (Umberto Eco).

    Telas, mapas ou fotografias moldam um certo modo de olhar o mundo, so imagens que contam as suas histrias e, ao descreverem e representarem o espao que nos rodeia, ficam impregnadas dos contextos polticos, histricos e sociais do seu tempo. O mapa e a fotografia, ao omitirem ou distorcerem partes da realidade, ficam sem capacidade para a representar na sua plenitude, expondo os limites que as imagens comportam. Haver sempre discrepncia entre aquelas imagens e os territrios que tentam representar, o que abre espao e margem de manobra para interpreta-es. O mesmo acontece com os sistemas de informa-o geogrficos, por mais sofisticados que venham a ser, pela mesma razo que os velhos cartgrafos, com os seus pretensos mapas cientficos, jamais conseguiram superar, inquestionavelmente, a complexidade das diferentes vises do mundo.

    A Geografia acabou por se preocupar, entretanto, no apenas com o palpvel mas tambm com o sentir e os sentidos, pois a sua construo incide sobre o conhe-cimento do mundo, no sobre o prprio mundo. No podemos estranhar, por este motivo, a importncia dada a compreender os processos que conduzem percepo, s representaes e aos comportamentos que so, portanto, indispensveis a toda a forma de Geogra-fia ativa (A. Bailly, citado por Alegria, 2010). Os tra-balhos pioneiros de Peter Gould (Mental Maps, 1974) e de Armand Frmont (A regio espao vivido, 1976) exprimem a maior ateno que os gegrafos, como ou-tros cientistas sociais, passaram a dar s representaes cartogrficas e s imagens, sejam mapas ou fotografias, estticas ou em movimento. O reconhecimento da importncia que as imagens assumiram nos mdia, no nosso comportamento quotidiano e, consequente-

    mente, na construo de novos mapas mentais levou a vrias anlises crticas do papel das representaes geo-grficas na realidade cultural, designadamente a levada a cabo pela referida Unio Geogrfica Internacional, sob a presidncia de Paul Claval (Alegria, 2010).

    Estudos sobre a imagem, feitos entre ns, mostram o baixo conhecimento do quadro espacial que se deve, em boa medida, ao facto da televiso deixar flutuar os acontecimentos num espao impreciso, no estrutura-do, sem dimenso e abstracto, como observou Suzan-ne Daveau (1984) em o peso da televiso e dos media. Num outro contexto, partindo de imagens mentais su-geridas por fotografias de diversos espaos geogrficos foram exploradas as Geografias do mundo imaginado atravs das representaes mentais de alguns pases, levando concluso que a Geografia tem muito a ver com a construo de imagens do mundo e no apenas com uma realidade objectiva (Alegria, 2010). Os gegrafos no ficaram indiferentes, como vimos, geograficidade latente na imagem, particularmente na fotografia, ao ponto de reconhecerem que em ltima instncia, o espao regional tambm uma imagem. Os mecanismos de aculturao impem aos homens uma certa imagem dos lugares onde vivem, do seu espao, da sua regio. E essa imagem, aceite, recalcada ou recusada, constitui um elemento essencial das com-binaes regionais, o lao psicolgico do homem com o espao, sem o qual a regio seria apenas a adaptao de um grupo a um meio, ou um encontro de interesses dum espao dado (Fremont, 1980: 109).

    A cultura territorial tambm se constri a partir de imagens, que fornecem tantas vezes uma perspetiva parcelar, imprecisa e desfocada dos lugares, regies e pases que tentam representar. Estas imagens, quase sempre estereotipadas ou icnicas, acabam por ser ex-ploradas at exausto pelo turismo, pela publicidade

  • 9Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    e pelo marketing territorial. Com outras coordenadas e novas imagens representativas doutros tempos e espaos possvel esboar mapas mais amplos e abrangentes desses territrios, desenhar com outras linguagens uma Geografia mais assertiva que aponte para novas gramticas. A partir deste olhar, a foto-grafia tanto pode ser encarada como um fim ou como um meio. Um meio, se utilizada como documento com objetivos cientficos ou pedaggicos ou, de maneira mais banal, quando recorremos sua mensagem para recrear uma nova viagem ou estria. Um fim, quando a imagem adquire valor prprio que a aproxima de qualquer outra expresso artstica, rene condimentos estticos e condensa sentimentos que, podendo no ser diretamente apreendidos, nos permite recrear espa-os e emoes que o seu autor nunca ter imaginado.

    A fotografia tem a virtude de nos confrontar com a complexidade plural do mundo que nos rodeia, situada algures entre o real e o imaginrio. Deste modo, atra-vs das imagens fotogrficas, acabamos por ficar con-frontados com as estranhezas do mundo. E mais ainda: em seu frescor, em sua atividade prpria, a imaginao torna estranho o familiar. Com um detalhe potico, a imaginao coloca-nos diante de um mundo novo. Consequentemente, o detalhe predomina sobre o panorama. Uma simples imagem, se for nova, abre um mundo. Visto de mil janelas do imaginrio, o mundo mutvel (Bachelard, 1980: 143). , talvez, por isto que almejamos ser foto(geo)grafos para usar e abusar da fotografia na esperana de, mesmo virtualmente, (re)visitar Geografias vividas ou imaginadas, percorrer

    espaos e tempos onde fomos felizes e, em dado mo-mento, tivemos o privilgio de observar paisagem que, cada um sua maneira, tentou ler e interpretar. Por isso recomeo sem cessar a partir da pgina em bran-co/ E este meu ofcio de poeta para a reconstruo do mundo. Nestes lmpidos e densos versos do poema A Forma Justa (in O Nome das Coisas), Sophia de Mello Breyner Andresen apenas d voz aos que, com as limitadas armas que dispem, tentam explorar a t-nue fronteira entre Geografia e imagem em demanda duma potica do espao.

    O projeto Transversalidades, onde se inscreve a presente publicao, recorre fotografia para abrir janelas para o mundo, esbater fronteiras, promover a cooperao entre pessoas e territrios. A imagem , neste caso, um meio para encontrar outras Geografias a partir das coordenadas que norteiam a cartografia do Transversalidades, fotografia sem fronteiras: Paisagens e patrimnio natural, organizado com fotografias que re-tratam a natureza, o trabalho e as paisagens entretanto humanizadas; Espao e sociedade rural, onde encontra-mos imagens que mostram a diversidade de paisagens, de contextos sociais e do trabalho em meio rural; Cidade e sociedade urbana que nos permite visualizar a multiplicidade de paisagens, arquiteturas e vivncias urbanas, de novas urbanidades, cenas e cenrios urba-nos; Cultura e sociedade, onde a diversidade social e o dilogo cultural se apreendem a partir de imagens das paisagens culturais que espelham a panplia de usos, costumes, tradies e modos de vida que enriquecem de mltiplas vivncias o nosso quotidiano.

    * CEI, CEGOT Universidade de Coimbra.

    Referncias:

    Maria Fernanda Alegria (2010) Geografias do mundo imaginado. Finisterra, XLV, 89.

    Gaston Bachelard (1957; 2005) A potica do espao. Martins Fontes, S. Paulo.

    Jorge Gaspar (2013) Fotografia e paisagem. In Transversalidades, CEI, Guarda.

    Armand Fremont (1976; 1980) A regio espao vivido. Almedida, Coimbra.

  • Melhor Portfolio

  • Melhor portfolio

    2.21.4.2.4 Esforo *(2) Ria de Aveiro, lhavo (Portugal), 2014

    21.4.2.3Puxando a sorte*(1) Ria de Aveiro, lhavo (Portugal), 2014

    Antnio Alves Tedim, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    21.4.2.2Largando a rede*(3) Ria de Aveiro, lhavo (Portugal), 2013

  • Melhor portfolio

    21.4.2.1 A caminho*(5) Torreira, Murtosa (Portugal), 2014

    21.4.2.5Uma j est!*(4) Ria de Aveiro, lhavo (Portugal), 2013

    Antnio Alves Tedim, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    21.4.2.6O trofu*(6) Ria de Aveiro, lhavo (Portugal), 2013

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    Transversalidades: a fotografia e seus territriosA

    otografia e territrio: novos discursos da imagem1. As cidades so territrios de possi-bilidades infinitas.

    Podemos perdermo-nos e encontrarmo-nos, podemos ver e ser vistos e podemos ainda manter com elas um dilogo ntimo, permanente e secreto, sobre os milha-res de impulsos sensoriais que vamos experimentando ao longo do dia.

    A maior parte das vezes sem nos apercebermos deles.

    Olhamos e no vemos.

    Usamos os nossos olhos em varrimentos ditados pelas circunstncias como se fossemos um scanner ambulante.

    No imaginamos o que est por detrs dos volumes, das cores, dos cheiros e dos rudos do que a cidade tem para nos dar a ver. Mas tambm para nos esconder.

    E mais aquilo que esconde do que aquilo que nos mostra num dilogo sensual e sedutor pleno de possi-bilidades.

    Quando usamos a fotografia procuramos seleccionar um dos milhes de pequenos fragmentos que se ma-nifestam nossa frente numa tentativa, que sabemos condenada ao fracasso, de fazer parar o tempo e o espao naquela precisa imagem.

    Procuramos, como dizia Barthes, o nosso punctus. Sempre diferente do dos outros e por isso to democr-tico porque plural e livre.

    S que ao construirmos essas imagens de forma muitas vezes obsessiva, porque banalizada pelos novos artefac-tos, no imaginamos como as estamos a brutalizar.

    Fotografamos, manipulamos, partilhamos e guardamos numa nsia desmesurada como se no houvesse ama-nh. Nunca a cidade foi de tantos e nunca as nossas memrias foram to fugazes. No apenas pelos milhes de imagens que a gastam como pelas novas facetas que ela nos vai mostrando atravs das suas mudanas quotidianas como se nos quisesse dar o seu melhor ngulo e sempre pronta para um close-up final como nos filmes ou nas sesses fotogrficas em estdio.

    Vemos estas imagens como se tudo isto fosse uma ne-ver ending story que na realidade porque as cidades so maravilhosas, tm uma energia infinita e renascem todos os dias porque nunca dormem.

    Como as imagens que fazemos delas.

    que as fotografia no mostram2. No m-bito de um evento to inequivocamente identificado como Transversalidades Fo-

    tografia sem fronteiras, refletir sobre o que as fotografias no mostram pode constituir uma sim-ples provocao. Para mais, a identificao da iniciativa explicita: territrios, sociedades e culturas em tempos de mudana. A fotografia , pois, chamada a documentar, mostrar, dar a ver como que em tempos de mudana se transformam culturalmente os territrios e as socie-dades. Mais: a fotografia privilegiada como o processo

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    por excelncia capaz de fixar e transmitir o que mudou, o que est mudando.

    Por isso, refletir brevemente sobre o que as fotografias no mostram ser mesmo, ou s aparentemente, uma provocao?

    No s por razes tcnicas, histrico-culturais ou estticas que o dispositivo fotogrfico no mostra o que no mostra. Aclarar a questo no esclarece s o que as fotografias no mostram, esclarece igualmente aquele regime de autoconscincia para o qual o devir do mundo devir transparncia do mundo. Ou seja: interrogar a possibilidade da fotografia nos seus limites quando, para si prpria, a fotografia cr ser a ilimita-o de toda a opacidade do real.

    Sigamos, ento, a proposta.

    A fotografia no mostra o presente. Tudo o que a fotografia d a ver j passado. O pensamento da fo-tografia elaborou este tpico com detalhe. O referente da fotografia foi. passado ou mesmo morte. E, deste ponto de vista, h em toda a fotografia uma dimenso espectral que contrasta violentamente com a respon-sabilidade, que nela delegamos, de ser um testemunho de atualidade.

    A fotografia no mostra o movimento do mundo. Pela fotografia, acedemos a fragmentos do passado do mun-do ou do mundo como passado. nossa interrogao sobre o mundo que herdamos, ou em que vivemos herdando, a fotografia contribui com vestgios mais ou menos organizados e verdadeiros. A fotografia sem-pre verdade e nesta frase depositamos uma confiana instvel e perplexa.

    A fotografia no mostra o que no somos capazes

    de ver. O que a superfcie lisa da imagem lana ao nosso encontro, a preto e branco ou a cores, no a informao nua (bruta) que baste recolhermos para sabermos mais ou de outra maneira. A fotografia uma proposta cifrada a que devemos oferecer uma rigorosa competncia interpretativa. A fotografia sig-nifica (diz, mostra) na exata proporo da sensibilidade e da inteligncia do olhar.

    O que a fotografia no mostra no o contrrio do que a fotografia mostra. O que a fotografia no mostra no prprio dispositivo de mostrao o que, no mun-do, resiste consumao da transparncia: uma reser-va de sentido, um pouco de intimidade, o princpio do espanto, a silenciosa exploso da surpresa.

    otografa sin fronteras3. Territorios, Socie-dades y Culturas en tiempos de mudanza es mucho ms que un titulo, es una definicin que encaja a la perfeccin con la prctica

    de la fotografa actual. Una de las caractersticas ms significativas de la fotografa es su capacidad para relacionarse de manera efectiva con gran variedad de disciplinas del conocimiento humano, esta dinmica de colaboracin y transversalidad con la ciencia y el conocimiento adquiere todo su significado observando las imgenes presentadas a concurso.

    La propuesta abarca a la mayora de las especialida-des de la fotografa; reportaje, retrato, fotografa de naturaleza, de arquitectura, social o la turstica, un trmino poco ortodoxo pero sin embargo lleno de contenido en esta poca ya que acta como relato de nuestras vivencias en el tiempo de ocio, y es que, el disfrute del tiempo libre es una de las seas de identi-dad de las sociedades desarrolladas.

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    Como se desprende de las imgenes presentadas a concurso, la fotografa es un medio privilegiado para analizar la situacin actual de nuestra sociedad, no por el hecho de mostrar la realidad, sino por la capacidad que tiene la imagen para fijar en la memoria colectiva situaciones y estados que con demasiada frecuencia pasan inadvertidos.

    La participacin de centenares de personas annimas y su visin de conjunto muestra una ntida instan-tnea de los intereses y preocupaciones de nuestra sociedad, la continua superposicin, en un palinsepto continuo, de estilos, arquitecturas, costumbres, etc. La prdida de identidad del individuo en las grandes ciudades, la uniformidad a la que nos aboca la globa-lizacin y, por otra parte, la necesidad de preservar las tradiciones, las culturas aisladas o los espacios naturales, todo ello con una notable dosis de nostalgia producida por la seguridad de que es mucho lo que el progreso va dejando por el camino, genera imgenes de gran potencia y contenido icnico.

    otografia y Compromiso4. El hecho fotogr-fico nunca es absolutamente banal. Cual-quier persona que, con una cmara en la mano, realiza una toma, por simple que pue-

    da ser su planteamiento original no deja de tener una implicacin con la realidad y con la relacin espacio-tiempo. Supongamos que cae una pequea cmara de fotos en manos de un nio y que alguien le ensea que apretando un botn retiene la imagen que tiene delante de sus ojos. Lo primero que observar es que se ha parado el tiempo y se ha quedado dentro del aparato que le han puesto en las manos. Este hecho, al cabo de los aos, puede que no tenga ms impor-tancia que la que le queramos dar en s mismo, pero

    algo tan desmesuradamente usual y tan actual que en que cada segundo se producen millones de imgenes puede que llegue a ser el motivo fundamental por el que ese nio, o cualquier persona, decida un da que esa imagen que se queda consigo pueda compartirla con aquellos que sintonicen con su contexto y/o semntica. Entonces habr nacido una comunicacin entre el emisor y el receptor y en ese preciso instante la imagen cobra un sentido que aunque muchas veces es inesperado por la parte emisora, siempre dota a la imagen de un cierto poder de traslacin de ideas de unos individuos a otros, porque de eso se trata en el tema que nos ocupa.

    Esta traslacin de ideas a travs de la semntica, es decir, a travs del lenguaje iconogrfico puede llegar a ser un vehculo mediante el cual los dems, los recep-tores de la imagen, asuman ntegramente o en gran parte el mensaje que el emisor quiere hacer llegar y es aqu donde aparece su compromiso, que en el caso de la fotografa tiene multitud de caminos que van desde el informativo al social pasando por el artstico o el publicitario.

    En este caso sera imprescindible que la fotografa viaje por los dominios de los aspectos sociales y que el creador de imgenes ponga todo su bagaje cultural al servicio del, posiblemente, ms poderoso instru-mento de comunicacin de hoy da y se sumerja de lleno en los mbitos del paisaje que hace al hombre, a la vez que el hombre hace el paisaje, tanto urbano como rural, sintiendo a flor de piel cmo, a veces, el aprovechamiento de los recursos naturales es tan excesivo que nunca como ahora ha estado tan en peligro el propio planeta. Sienta en sus carnes que la migracin siempre es dolorosa al principio y que las tierras prometidas hay que conquistarlas con la razn del corazn, no de las armas. Que las ciudades

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    deshumanizan pero se erigen en el lugar propicio para el desarrollo del hombre moderno, apartando de este cometido al mundo rural en una retirada de ste aparentemente incruenta, pero demoledoramente de-finitiva con todo lo que ello conlleva, con una crnica despiadada de una muerte anunciada a corto o medio plazo y lo que ello supone: cunta gente ha tenido que abandonar su hogar familiar en el mundo rural para irse a una inhspita comunidad de vecinos en la ciudad; cuntos subsaharianos, por ejemplo, dejan su pequeo mundo de incierto futuro para adentrarse a ojos cerrados, si no les ponemos impedimentos inhu-manos, en un mundo lleno de promesas que muchas veces se manifiestan como quimricas y en el que la igualdad de derechos y oportunidades para todos los seres humanos es cada da ms ilusoria propiciada por un sistema poltico que cada da es ms injusto y en el que las diferencias entre ricos y pobres son cada da ms insalvables.

    As debemos analizar el compromiso serio de algunos maestros de la fotografa como Sebastio Salgado - con trabajos como Gnesis, xodos, La Mina de Oro de Serra Pelada o Trabalhadores-, o Pierre Gonnord autor de retratos de personajes marginados de Ma-drid, Nueva York y Tokio o los mineros de Sabero en Len-, cuyas producciones son un grito de dignidad en un mundo que les da la espalda. O la aportacin de Alberto G Alix, que ha sabido recoger como nadie el submundo urbano finisecular. Y ya en el fotoperiodismo, Gervasio Snchez cuya frase No soy un periodista solidario, ni comprometido, ni valiente, ni excelente. Si el periodismo no es comprometido, qu es? define por s sola su nivel de responsabilidad con la sociedad, consciente como nadie de que la fotografa debe ser uno de los grandes vehculos, si no el que ms, de comunicacin y de muestra de las desigualdades sociales.

    otografia, natureza e territrio5. Como se l e apreende uma fotografia? Pelos olhos de quem fotografa ou pelos olhos de quem l? Enquanto manifestao artstica a fotografia,

    apenas uma imagem visual ou, se preferirmos, uma representao do real. E, enquanto representao, ela depende, naturalmente, dos olhos de quem fotografa, dos ngulos escolhidos, das aberturas, dos filtros, das luzes, mesmo de alguns efeitos especiais e, porventura em menor grau, da qualidade tcnica das mquinas de que se dispe.

    Mas, a fotografia tambm comunicao e, nesse sentido, a sua leitura depende muito das caractersticas estruturais ou conjunturais do receptor, do conheci-mento social ou cultural que tem do territrio ou do objecto fotografado, das suas experincias vividas e sentidas, das suas caractersticas socio-culturais, do(s) seu(s) estado(s) de alma e de muitos outros factores, gerais ou particulares, externos ou interiores, que interferem com a capacidade de ver e sentir o mundo, o ambiente que nos rodeia, as cores, as formas, as texturas do que nos cerca e que connosco interage de diferentes modos.

    Vista neste sentido, a fotografia corresponder a uma forma de representao artstica, filtrada partida e chegada, interpretada pelo fotgrafo e descodificada pelo leitor, o que faz supor uma enorme variedade de interpretaes dos fenmenos naturais ou antrpicos fotografados e/ou representados.

    Neste catlogo esto fotografias de diversos aspectos da natureza a diferentes escalas. Quase poderamos dizer que vo do infinitamente grande do universo que vemos no nosso pequeno cu, ao infinitamente peque-no que lemos na enorme complexidade estrutural das asas do pequeno insecto, que vo da larga imensido

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    ocenica aos minuciosos contornos da flor selvagem, que vo, enfim, da homogeneidade textural da floresta ou dos campos verdes agrcolas ao pormenor das rugas faciais dos homens e mulheres que os trabalham.

    As fotografias mostram-nos tambm diferentes graus de apropriao da Natureza pelo Ser Humano. No nos parece plausvel, do ponto de vista estritamente geogrfico, falar de Natureza natural ou de Natureza intocada pelo Ser Humano, dadas, quer a interferncia milenar deste sobre aquela, quer a intensidade, a mag-nitude e o alcance temporal e espacial, das interven-es realizadas dos ltimos dois sculos. No entanto, enquanto arte, a fotografia pode fazer-nos regressar aos aspectos naturais da Natureza ou, se preferirmos, Natureza natural, sonho idlico do fotgrafo, enquanto indivduo, mas que funciona para o leitor, quase sempre, tambm, como instrumento de esperana na regenerao ambiental ou, mesmo, como modo de ex-piao das nossas culpas colectivas na relao injusta e pouco inteligente que mantemos com a Natureza.

    Assim, este conjunto de fotografias fala-nos de monta-nhas e de rios, de terra, mar e ar, de animais e plantas; fala-nos tambm dos recursos que a Natureza nos lega e do modo como deles nos apropriamos; fala-nos de trabalhos esforados nessa apropriao; fala-nos da dureza do trabalho rural e da pesca, mas tambm do prazer conseguido em actividades de lazer, quando praticadas na saudvel oikos que habitamos. Fala-nos, ainda, de pobreza no mundo rural e de abandono; fala-nos de Natureza bela e intocada, mas tambm de gua sujas e de poluio. Fala-nos de utilizao e de conser-vao; fala-nos, ao fim e ao cabo, da Natureza e do Ser Humano nas suas relaes, nas suas contradies, nos seus conflitos, nas suas cumplicidades.

    Em sntese, como representao do real, como ma-

    nifestao de arte que estimula o melhor e o pior do nosso imaginrio, a fotografia cumpre um papel social importante no modo de ler a articulao na Natureza com a Sociedade, cumpre um papel cientfico, ao ajudar-nos a compreender os diferentes modos dessa articulao, e desempenha, tambm, um importante papel pedaggico, ao ajudar-nos a melhor intervir na Natureza e, sobretudo, a educar uma nova gerao de seres humanos, melhor preparados para utilizar, con-servar e fruir os aspectos naturais do ambiente.

    ntre el olvido y la topofila: los territo-rios rurales desde la reivindicacin y la esperanza6. Los escenarios rurales que conocemos estn cargados de memoria y de

    lugares que guardan en sus paisajes la explicacin del mundo, de esos pequeos o extensos territorios con nombres simblicos que durante siglos enmarcaron las relaciones sociales y los afanes de supervivencia de campesinos annimos. Son espacios organizados en torno a sus distintas capacidades y a las necesi-dades diacrnicas de sus habitantes. Y tienen como referencias primeras la casa o el hogar familiar y las races que unen la tierra o el suelo con los antepasa-dos. Guardan, por tanto, las experiencias seculares y comunes de generaciones sucesivas que han dejado all sus trabajos al paso de los das, que han encontrado all sus elementos de identidad y sus fuertes o frgiles vnculos de solidaridad. En definitiva los sentimientos de pertenencia se identifican a distintas escalas con el lugar o los lugares, reforzando con la topofila el significado social y cultural de los territorios rurales con frecuencia ignorados.

    En medio de una globalizacin que nos ha llevado a la contradictoria fragmentacin del territorio y a la

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    marginacin cruel de los ms humildes, o en medio de una dura crisis que vuelve la mirada hacia el medio rural y a sus modelos histricos de ocupacin, contemplamos con sentimientos encontrados las imgenes que forman parte del quehacer ms secular en la construccin del paisaje y del territorio. Por doquier topamos con paisajes del abandono que nos muestran la doble cara de las dinmicas de los espa-cios rurales de montaa: la pervivencia de terrazgos y tramas pratenses o forestales de indudable belleza que nos acercan o identifican con la topofila, o por el contrario, con las ruinas de un habitat bien adaptado a las funciones agroganaderas del pasado inmediato que han quedado en el olvido ms ingrato. Hasta la propia toponimia ha ido borrndolos de los mapas. El contrapunto posmoderno de un graffiti de corazones entrelazados incorpora ante nuestra mirada un signo reivindicativo y de esperanza.

    Bien sabemos que el xodo ha dejado al medio rural malparado y con las estructuras demogrficas rotas, estrangulando las perspectivas de futuro de muchos lugares. Es una historia comn a uno y otro lado de la raya ibrica que ha quedado reflejada en estadsticas, estudios e informes, ms bien fros, incapaces de trans-mitir a la sociedad y a las acciones pblicas la fuerza necesaria para detener y corregir con sentido social y territorial sus graves consecuencias ambientales, eco-nmicas y culturales. Aunque sean bien conocidos los procesos migratorios y de abandono, no cejaremos en reivindicar la lucha por un medio rural vivo en condi-ciones dignas y de igualdad con el resto de la sociedad. Por ello, no dejan de ser imgenes que nos rememoran el pasado de una ruralidad basada en la austeridad de la pobreza y en el esfuerzo personal, en el intercambio local en acmilas y en condiciones penosas, o en la familia extensa que daba cobijo a mayores y menores en una sucesin natural y transmisin oral del trabajo

    y de las experiencias. Son testimonios universales que nos invitan a la reflexin transversal en torno al medio rural.

    Precisamente este ao 2014, la FAO, por un lado, y la propia ONU, por otro, ante el fracaso de las garantas alimentarias a escala global y ante las sucesivas frustraciones de las cumbres frente al cambio climtico, ven en las agriculturas familiares histricas y en los recursos pblicos y comunales verdaderas alternativa para frenar y detener los des-manes medioambientales y afrontar con inteligencia agroecolgica y sentido comn el futuro. As, pues, una presencia sensata de las agriculturas familiares y la gestin de los comunales a escala local y regional se presentan como un reto apasionante que compro-mete a toda la sociedad. Ni los actuales instrumen-tos polticos estn preparados para afrontarlo, ni las directrices productivistas y tecnocrticas de la PAC son el camino.

    Digamos algo ms sobre algunas de las imgenes. Es-tamos ante paisajes remotos y prximos. Las gargantas del Todra y los bereberes que las habitan constituyen uno de los paisajes naturales y rurales ms represen-tativos e impresionantes del Atlas marroqu. An pueden observarse los gneros de vida tradicionales y sus formas de ocupacin en un rea de montaa que da paso al desierto, pero en los ltimos aos se ha convertido en uno de los lugares ms visitado por el turismo internacional y particularmente por parte de los franceses y espaoles. Las mejoras de la accesibilidad local han colocado a estos lugares en la rbita de la globalizacin del consumo turstico para aventureros y para ciudadanos amantes de la escalada o de un acercamiento efmero a las races geolgicas y culturales de unos paisajes cargados, ciertamente, de enseanzas y de memoria.

  • Imagem, incluso e cooperao territorial

    Otra lectura ms cercana nos ofrece la recogida de la hierba en nuestras montaas o en sus bordes somon-tanos, recordndonos la capacidad de adaptacin a los ciclos estacionales en unas formas de aprovechamiento histricas que conjugaban los usos agroganaderos con el manejo de los bienes y montes concejiles, dando respuesta a las necesidades familiares y vecinales co-munes. Los pueblos del Noroeste y de las montaas o sierras transfronterizas nos lo recuerdan sabiamente

    J. Caro Baroja, Jorge Dias, Fritz Krger, Virgilio Tabor-da, Orlando Ribeiro o ngel Cabo-, nos dejaron tes-timonios y respuestas agroambientales que han cado en el olvido, pero cuya elocuencia agroecolgica nos invita desde la lectura del paisaje a una topofilia activa en favor del medio rural y en defensa de su patrimonio y de sus bienes comunales. Son paisajes que se nos van y que esperan silenciosamente nuestro rescate y su custodia cordial y solidaria.

    1 Henrique Cayatte Designer, Professor Auxiliar Convidado da Universidade de Aveiro.2 Antnio Pedro Pita Professor Catedrtico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Membro da Comisso Cientfica do CEI.3 Santiago Santos Fotgrafo, Salamanca.4 Victorino Garca Caldern Fotgrafo y Profesor de Educacin Plstica, Fotografa y Comunicacin Audio-Visual, Salamanca.5 Lcio Cunha Professor Catedrtico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Membro da Comisso Cientfica do CEI.6 Valentn Cabero Diguez Professor Catedrtico da Faculdade de Geografia e Histria da Universidade de Salamanca, Membro da Comisso Executiva do CEI

  • TEMAS

  • Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    TEMA 1

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    Prmio Tema

    13.1.2.2Luz do Poente*(7) Figueira da Foz (Portugal), 2014

    Antnio Costa Pinto, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    Menes honrosas

    21.1.1.3Mesma terra, Cores diferentes*(8) Fronteira (Portugal), 2013

    Jorge Feteira, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    48.1.1.1Aproveitamento do abandono*(9) Ribeira Grande (Portugal), 2014

    Telma de Jesus Monteiro Miragaia, Portugal

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    O horizonte que vem at nsAdriana Verssimo Serro *

    e cada de ns sente espontaneamente que est numa paisagem, mais difcil ser encontrar a definio capaz de agregar a diversidade des-sas peculiares experincias do mundo. O que

    uma paisagem? A linguagem parece deter-se numa impossibilidade, relegando-a para a esfera do que se pode sentir e pensar, mas no efectivamente conhecer. Tambm aqui, como na confisso agostiniana acerca do tempo, se no nos perguntam, sabemos; se nos perguntam, deixamos de saber.

    Na busca de respostas complexa questo da essncia da Paisagem entendida como uma das grandes catego-rias do pensamento humano, uma das mais fecundas tem sido a associao noo de horizonte.

    O gegrafo Eric Dardel usou a metfora da janela aberta para acentuar que a paisagem nunca uma coisa, um objecto parado nossa frente, mas um lugar que se abre para outros lugares, uma realidade que se expande para fora dela, sendo meramente aparentes e transitrias as suas fronteiras: A paisagem no um crculo fechado, mas um desdobramento. Uma janela sobre possibilidades ilimitadas: um horizonte. No uma linha fixa, mas um desdobramento, um impulso.

    No h aqui um espao fechado sobre outro igual-mente fechado quando uma sala confina com outro compartimento; a janela no aquela moldura de um interior de onde se avista qualquer coisa l fora, mas j lugar situado, a cu aberto que constantemente se abre e que nesse estender se ganha temporalidade.

    A mesma nfase colocada nesse misto de densidade

    (intrnseca) e irradiao (centrfuga) subjaz ao en-tendimento, proposto por Michel Corajoud, de um lugar onde cu e terra se tocam. Unidade dinmica resultante da conjuno do mltiplo, sempre mais que a soma aritmtica dos seus elementos. Envolvncia de elementos que por sua vez confinam com outros, extravasa se a si mesma tanto na extenso da superf-cie da terra quanto na elevao em altura. O horizonte condio de identidade e de relao, de ligao e cruzamento; tanto sugere a horizontalidade quanto a verticalidade. O horizonte, enquanto dimenso espcio temporal prvia que se desloca e recua sob o impulso do olhar, perspectivado como a potncia de abertura da paisagem que, simultaneamente, lhe confere o seu poder de coeso prprio.

    Procuremos entender melhor a pertinncia desta ima-gem, sendo que, por um lado, ela pretende contrariar a ideia feita de uma circunscrio espacial e objectiva, eventualmente mensurvel, de uma regio que vai deste ponto at quele, mas no deixa, por outro, de apontar para uma delimitao virtual. Estar precisa-mente nesta tenso entre limitado e ilimitado a figu-rao do paradoxo constitutivo da paisagem. Porque enquanto poro de natureza, que nela se manifesta como princpio vivificante, a paisagem no tem limi-tes. Mas ao mesmo tempo o horizonte, que no de facto uma linha de demarcao fsica, d subtilmente conta de um certo recolhimento em si mesma que lhe confere um rosto nico, uma fisionomia irrepetvel. prprio da paisagem a singularidade.

    A paisagem sempre dual, mista: ponto de encontro entre objectividade e subjectividade, entre em si e

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    para ns; em ltima instncia, enlace entre Homem e Natureza. Para que seja autntico, este encontro im-plica ultrapassar o plano da representao, da viso distncia, para mergulharmos no ser. Porque o mundo no est nossa frente, a experincia paisageira no poderia ser exclusivamente visual. Da a valorizao cada vez maior que a filosofia da paisagem tem atribu-do sensao, que une o ser com o ser, e experincia esttica como vivncia ontolgica: experienciar a paisagem tambm tomar conscincia da condio terrena e natural do nosso ser no mundo. a ela que devemos aquilo que vivemos nela.

    Uma via privilegiada desta apreenso directa a cami-nhada. Fazendo-nos participantes, pedindo ao corpo que se desloque, avanamos em direco ao horizonte, que a cada passo se revela e a cada passo se afasta. As sensaes de limitao e imensido mesclam-se. O que existe ainda no se deu totalmente neste momento presente. Encontra-se l, mas escondido, como um alm pressentido, um futuro prometido. Recorrendo formulao magnfica de Rosario Assunto, a finitude aberta da paisagem presena do infinito no finito.

    A outra -nos dada pelo fotografar. Ao contrrio do caminhar distenso temporal do horizonte a perder de vista que o movimento do corpo afasta sempre para mais longe na fotografia as possibilidades da pai-sagem so como que trazidas at ns. As dimenses do ser - densidade e profundidade, texturas, volumes e cores, cambiantes de luz - so condensadas numa pre-

    sena sinttica e inclusiva. O infinito foi comprimido no finito.

    A fotografia est imune condenao que impende sobre muitas formas de arte: de serem projeces da subjectividade, a imposio de um acto que pretende orgulhosamente sobrepor-se ao mundo, rivalizando com ele, ou mesmo substituindo o reivindicando uma superior capacidade expressiva. A Natureza tornar-se-ia significante somente enquanto recriada ou interpretada. Tal sucede na pintura de paisagem, uma imagem do mundo, mas no o mundo.

    Mas a fotografia, se no uma criao humana arbi-trria, mas uma atitude de contornos ticos em que a marca do autor se desvanece para deixar simplesmente surgir a escrita da Luz, pode tornar visvel o invisvel e invisvel o visvel. O que estava l mas no se via passou a estar. Ao entregar Luz, e no ao Eu, o poder revelador, o real enriqueceu-se com possibilidades inscritas no ser mesmo da paisagem.

    Demos agora a palavra ao fotgrafo Rui Cambraia numa reflexo sobre a afinidade entre Paisagem e fotografia.

    Fotografar como espreitar pelo buraco de uma fe-chadura, encerrados numa cumplicidade secreta ns e o segredo, a fechadura como moldura, o fragmento visvel apreendido como um todo: tal a experincia da Paisagem.

    * Departamento de Filosofia da Universidade de Lisboa. Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.

    Referncias:

    Eric Dardel, Lhomme et la terre, 1952.

    Rosario Assunto, Il paesaggio e lestetica, 1973.

    Michel Corajoud, Le paysage cest lendroit o le ciel et la terre se touchent, 1982.

    Rui Cambraia, Paisagem e Fotografia. Luz, fotossensibilidade, o olho e o olhar, in Filosofia e Arquitectura da Paisagem. Um Manual, coord. Adriana Verssimo Serro, Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, 2012; 2014.

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    4.1.35.4.53.1.1.1 Passagem*(11) Costa Algarvia (Portugal), 2013

    53.1.1.2Rochedos*(10) Costa Algarvia, Marinha (Portugal), 2013

    Ana Paula Costa Cebola Oliveira, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    53.1.1.3Esconderijo*(14) Costa Algarvia, Benagil (Portugal), 2013

    53.1.1.5Luz*(13) Costa Algarvia (Portugal), 2013

    53.1.1.4Fuga

    *(12) Costa Algarvia (Portugal), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    13.1.2.5Smbolos*(18) Figueira da Foz (Portugal), 2014

    4.1.35.4.13.1.2.4 Fria

    *(16) Figueira da Foz (Portugal), 2014

    13.1.2.3Jogos de Luz *(17) Figueira da Foz (Portugal), 2014

    13.1.2.1Serenidade

    *(15) Figueira da Foz (Portugal), 2014

    Antnio Costa Pinto, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    48.1.1.5Poa da Dona Beija*(22) Furnas, Aores (Portugal), 2014

    4.1.35.4.48.1.1.2 Ch da Gorreana

    *(20) Gorreana, Ribeira Grande (Portugal), 2014

    48.1.1.6Espao termal natural*(21) Furnas, Aores (Portugal), 2014

    48.1.1.3Furnas

    *(19) Furnas, Aores (Portugal), 2014

    Telma de Jesus Monteiro Miragaia, Portugal

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    23.1.1.1Refletindo Sonhos*(24) Serra da Estrela (Portugal), 2014

    23.1.1.5gua Viva

    *(23) Serra da Estrela (Portugal), 2013

    Ricardo Jorge Duarte Costa, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    23.1.1.6United Colors*(27) Serra da Estrela (Portugal), 2013

    23.1.1.4Casa Abrigo*(26) Serra da Estrela (Portugal), 2014

    23.1.1.3Lugar Sonho

    *(25) Serra da Estrela (Portugal), 2014

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    4.1.35.4.31.1.1.1 Extrao da cortia

    *(29) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

    31.1.1.2Extrao da cortia*(30) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

    31.1.1.3Extrao da cortia

    *(28) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

    Fernando Curado Matos, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    31.1.1.6A pilha final no montado*(33) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

    4.1.35.4.31.1.1.5 O empilhamento das pranchas

    *(32) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

    31.1.1.4O transporte das pranchas de cortia no montado

    *(31) Herdade Joo Pais de Cima - Cercal (Portugal), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    54.1.1.5A luta pela liberdade*(36) Praia de Mira (Portugal), 2013

    54.1.1.2Muita expectativa*(35) Praia de Mira (Portugal), 2013

    54.1.1.1Bravos!!!!

    *(34) Praia de Mira (Portugal), 2013

    Maria Raquel Simes Malho Costa Pinto, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    4.1.35.4.54.1.1.4 Todos ajudam...

    *(38) Praia de Mira (Portugal), 2013

    54.1.1.6Remendar as redes*(39) Praia de Mira (Portugal), 2013

    54.1.1.3O saco da rede

    *(37) Praia de Mira (Portugal), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    21.1.2.3Pesca Artesanal 3*(42) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013

    21.1.2.4Pesca Artesanal 4*(41) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013

    21.1.2.5Pesca Artesanal 5

    *(40) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013

    Vtor da Silva, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    21.1.2.6Pesca Artesanal 6*(44) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013

    21.1.2.1Pesca Artesanal 1*(43) Vila Nova de Milfontes (Portugal), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    16.1.2.6Antnio Rilo, Portugal

    Caramulo - Mar de nuvens*(48) Caramulo (Portugal), 2014

    16.1.2.5 Antnio Rilo, Portugal

    Caramulo - Elicas *(46) Caramulo (Portugal), 2013

    12.1.2.3Maria Isabel Dias Nobre, Portugal

    Em Paz*(47) Sortelha (Portugal), 2013

    1.1.2.2Srgio Miguel Mateus dos Santos, Portugal

    A serra o pastor e os moinhos *(45) Serra da Estrela (Portugal), 2013

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    70.1.1.3Jos Paiva, Portugal

    Lago*(52) Serra da Estrela (Portugal), 2013

    38.1.1.3 Susete dos Anjos Henriques, Portugal

    Lagoa do Caiado *(50) Ilha do Pico (Portugal), 2013

    25.1.1.4Rui Amaro da Silva, Portugal

    A nuvem e a montanha*(51) So Roque do Pico (Portugal), 2013

    29.1.1.3Catarina de Ftima Pacheco Vieira, Portugal

    Mestre Pico *(49) Ilha do Faial, Aores (Portugal), 2011

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    96.1.1.2Cludia Margarida Pereira da Costa, Portugal

    Paiva a dois tons*(56) Arouca (Portugal), 2013

    41.1.1.4 Fabola Franco Pires, Portugal

    Ponte do Arco *(54) Meadela, Viana do Castelo (Portugal), 2014

    18.1.1.3Daniela Morgado Ribeiro, Portugal

    Waterfall*(55) Pal (Portugal), 2014

    84.1.1.3Ludovico Miguel Gama Sousa, Portugal

    Inrcia Voltil *(53) Ribeira de Alge, Fragas de So Simo (Portugal), 2013

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    45.1.1.2Rui Ferreira, Portugal

    gua de Laboreiro*(60) Sul da vila de Castro Laboreiro (Portugal), 2013

    46.1.1.3 Isabel Guedes Pereira, Portugal

    Passadio *(58) Bertiandos e S. Pedro dArcos, Ponte de Lima (Portugal), 2013

    2.1.1.6Carlos Antunes, Portugal

    Verde*(59) Caloura, Ilha de So Miguel, Aores (Portugal), 2013

    77.1.1.6Joana Ceclia Castro Arajo, Portugal

    Pescador de Lampreia *(57) Ponte de Lima (Portugal), 2014

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    40.1.1.2Mariana Filipa Chagas Faria, Portugal

    O imaginvel bem-me-quer*(64) Serpa (Portugal), 2014

    75.1.1.5 Manuel Cunha, Portugal

    Magenta *(62) Fundo (Portugal), 2013

    75.1.1.1Manuel Cunha, Portugal

    A Fuga*(63) Fundo (Portugal), 2013

    75.1.1.3Manuel Cunha, Portugal

    Convento *(61) Fundo (Portugal), 2013

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    60.1.1.5Ins Pereira Leonardo, Portugal

    Olhar*(68) Sesimbra (Portugal), 2013

    30.1.1.3 Antnio Soeiro, Portugal

    Corno *(66) Faro (Portugal), 2014

    86.1.1.1Manuel Alberto Azevedo Gomes Novo, Portugal

    Caloptrix Haemorrhoidalis*(67) Valdreu - Vila Verde (Portugal), 2013

    60.1.1.4Ins Pereira Leonardo, Portugal

    No esturio *(65) Esturio do Sado, Setbal (Portugal), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    76.1.1.4Lucinda Fernandes, Portugal

    Curva*(72) Barca DAlva (Portugal), 2014

    19.1.2.4 Cludia Marina Fernandes Costa, Portugal

    O Pastor *(70) Miranda do Douro (Portugal), 2013

    15.1.2.3Manuel Abelho, Portugal

    Solido*(71) Sortelha (Portugal), 2014

    15.1.2.4Manuel Abelho, Portugal

    Longevidade *(69) Castelo Novo (Portugal), 2014

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    21.1.1.4Jorge Feteira, Portugal

    ltimo Caminho*(75) Carrasqueira, Alccer do Sal (Portugal), 2013

    97.1.1.2 Susana Cristina Rodrigues Gasalho, Portugal

    Ria Formosa 2 *(74) Ria Formosa, (Portugal), 2013

    14.1.2.2Rui Miguel da Cruz Feijo Moreira Marques, Portugal

    Volfrmio 2 *(73) Barroca Grande (Portugal), 2014

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    Da concepo fsica do universo ao sentimento de mundoJoo Lima SantAnna Neto *

    o seria exagerado afirmar que a con-cepo de mundo natural ainda se pauta numa dualidade herdada das concepes fsicas do universo, que remontam

    renascena, quando das descobertas cientficas de Galileu Galilei e Nicolau Coprnico e, das matrizes subjetivas contemplativas que nos foram legadas pelo idealismo romntico, personificado por Alexander von Humboldt.

    A dualidade Racionalismo - Romantismo, quando tra-tamos de nossa relao com a natureza nos confronta a todo instante. A concepo fsica do universo e o sentimento do mundo nos confundem - nos unem e nos separam - pois h uma enorme gama de tons e matizes que possibilitam representam esta dimenso do conhecimento e dos sentimentos.

    Se a racionalidade cientfica nos obriga a decompor os elementos e as dinmicas da natureza, o idealismo romntico nos concede o privilgio de experimentar uma subjetividade artstica e esttica que nos possibili-ta senti-la e contempl-la.

    O mundo, alm de conter as paisagens naturais, patrimnio geogentico de nossa histria geolgica, tambm resultado momentneo e cambiante, marca edificatria da existncia humana sobre a Terra. Trata-se de um processo histrico-geogrfico de perptuo metabolismo no qual as dimenses naturais e sociais se combinam de forma indissocivel.

    As paisagens so fraes ou fragmentos nicos de nossa percepo espao temporal, porm umbili-

    calmente conectados nossa existncia material e sensorial. Assim como no h paisagem desprovida da dimenso humana, no h humanidade fora da imanncia natural. Da, talvez, advenha o progressivo metabolismo e a metamorfose construtiva de um hbrido socionatural.

    No se olham as paisagens impunemente. Por meio da viso, mas tambm pelo tato e por seus aromas, somos transportados para uma dimenso em que razo e emoo se convertem em vida.

    Na mesma frao de territrio contida numa paisagem, encontramos tanto os recursos naturais explorados e obtidos pelo trabalho humano, que so fundamentais nossa sobrevivncia material, quanto os elementos sensoriais e, por que no dizer, metaf-sicos, essenciais para alimentar nossos sentimentos e emoes.

    Cada trajetria individual moldada pelas experincias coletivas nos prepara para uma viagem fantstica rumo ao inesperado. Se a Geografia nos revela os fatores, os processos, os usos e as funes da paisagem, tambm nos permite observar uma profuso de cores, formas, arranjos e perfumes. As paisagens, assim, se revelam como a plenitude da existncia humana.

    O que foi escrito at aqui seria uma bela histria se no houvesse a possibilidade de um contraponto. As paisagens podem conter o todo. Mas, tambm, o nada. E, ainda, infinitas quantidades de mais ou menos qualquer coisa. Podem se referir ao nosso cotidiano prximo ou s nossas memrias distantes,

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    suscitando medos, fantasias, ansiedades, saudades, desejos e necessidades.

    Nesta perspectiva, a paisagem tambm pode desu-manizar-se, ao ser relegada nica e simplesmente condio de mercadoria exposta s foras econmicas e insensveis dos mercados. Quando se retira da paisagem todo seu contedo humano, resta apenas seu valor intrnseco reproduo do capital.

    A histria da humanidade rica em exemplos de intervenes polticas e econmicas que mutilaram e destruram partes importantes deste patrimnio natural. Desapareceu uma infinidade de santurios e refgios ecolgicos que no sobreviveram ganncia de determinados agentes econmicos.

    A ps-modernidade tem nos ensinado que o conceito de paisagem est sendo ressignificado para alguma coi-sa nebulosa que atende pelo nome de sustentabilida-de. Este novo conceito tem a capacidade de mascarar uma das faces mais perversas do capitalismo, que o de atribuir preo e valor econmico a um bem da huma-nidade. Ou seja, ao atribuir um preo, explica-se que se pode vender, comprar, inutilizar, mutilar qualquer frao da paisagem, em nome de seu valor de troca.

    As paisagens deixam de existir enquanto dimenso indissocivel dos homens para se tornar mercadoria intercambivel. E, isto particularmente verdadeiro na periferia do mundo desenvolvido, em que a fora das grandes corporaes globais no enfrenta (como nos pases centrais) as restries legais e morais impostas pelos estados nacionais e mediadas pelos grupos sociais organizados em defesa do patrimnio natural.

    A realidade dos pases mais pobres (ou menos ricos) mostra que as fotografias ainda podem ser capazes de poetizar e sublimar as formas das paisagens, mas conseguem cada vez menos esconder as suas mazelas resultantes da depredao de sua integridade. Entre-tanto, as imagens captadas pelo olhar mais sensvel do observador, podem ser transformadas em instrumento de resistncia para a construo de um mundo melhor.

    Que o sentimento de mundo evocado pela emoo do idealismo romntico prevalea sobre as intenses escusas travestidas de razo ps-moderna. Que as imagens, como as fotografias deste livro, reveladas pela sensibilidade humana, no sucumbam e se trans-formem numa fora simblica em defesa de nosso patrimnio paisagstico.

    * Professor Titular do Departamento de Geografia. UNESP/Presidente Prudente.

    Texto escrito em portugus do Brasil.

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    35.1.1.6Galerna*(77) San Esteban de Pravia (Espanha), 2014

    35.1.1.4Faro en la noche*(76) San Esteban de Pravia (Espanha), 2014

    Julio Herrera, Espanha

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    35.1.1.3Frente de tormenta*(80) Llanes (Espanha), 2014

    35.1.1.5Olas contra la ermita*(79) Llanes (Espanha), 2014

    35.1.1.1Tempesta

    *(78) Llanes (Espanha), 2014

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    8.1.2.6Sem ttulo*(82) Swinousjcie (Polnia), 2014

    8.1.2.1Sem ttulo*(81) Swinousjcie (Polnia), 2014

    Ana Paula Moital Luis Serro, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    8.1.2.5Sem ttulo*(85) Swinousjcie (Polnia), 2014

    8.1.2.3Sem ttulo*(84) Swinousjcie (Polnia), 2014

    8.1.2.4Sem ttulo

    *(83) Swinousjcie (Polnia), 2014

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    9.1.2.4O encantador da floresta*(87) Phnom Penh (Cambodja), 2013

    9.1.2.1Chapinhando entre crocodilos*(86) Phnom Penh (Cambodja), 2013

    Susana Wichels, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    9.1.2.6Dorme meu menino*(90) Phnom Penh (Cambodja), 2013

    4.1.35.4.9.1.2.3 Olhos de Azeitona

    *(89) Phnom Penh (Cambodja), 2013

    9.1.2.2Beleza sem Rugas

    *(88) Mercado de Port Louis (Maurcia), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    4.1.35.4.17.1.2.3 Lucas e Matheus

    *(92) Bahia (Brasil), 2012

    17.1.2.6Vassouras*(93) Bahia (Brasil), 2012

    17.1.2.2Burrico

    *(91) Bahia (Brasil), 2011

    Everaldo Jacob Silva, Brasil

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    17.1.2.5Soneca*(95) Bahia (Brasil), 2012

    17.1.2.4Sacos de luz

    *(94) Bahia (Brasil), 2012

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    11.1.2.5Aproveitar a calmia*(98) Muxa (Espanha), 2013

    11.1.2.3O abrao do mar*(97) Muxa (Espanha), 2013

    11.1.2.1Na falsia

    *(96) Muxa (Espanha), 2013

    Jos Costa Pinto, Portugal

  • 63

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    4.1.35.4.11.1.2.6 Fazer a escolha dos perceves

    *(100) Muxa (Espanha), 2013

    11.1.2.2Um olho no mar e outro nos perceves*(101) Muxa (Espanha), 2013

    11.1.2.4O preo do po...

    *(99) Muxa (Espanha), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    92.1.1.6Lavadeira de Lenis*(104) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

    92.1.1.2Lavadeira de Lenis*(103) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

    92.1.1.1Lavadeira de Lenis

    *(102) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

    Cleidimar Isabel de Oliveira, Brasil

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    4.1.35.4.92.1.1.5 Lavadeira de Lenis

    *(106) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

    92.1.1.4Lavadeira de Lenis*(107) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

    92.1.1.3Lavadeira de Lenis

    *(105) Lenis, Bahia (Brasil), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    6.1.1.4Barbeiro Rural*(111) Matalane (Moambique), 2013

    4.1.35.4.6.1.1.3 Barbeiro Rural

    *(109) Matalane (Moambique), 2013

    6.1.1.1Barbeiro Rural*(110) Matalane (Moambique), 2013

    6.1.1.2Barbeiro Rural

    *(108) Matalane (Moambique), 2013

    Yassmin do Rosrio Santos Forte, Portugal

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    58.1.1.4Lethicia Cardoso Galo, Brasil

    A unidade*(115) Aparecida (Brasil), 2014

    56.1.1.1 Jos Antnio Remoaldo Patrcio, Portugal

    Silenciada *(113) Quintela (Espanha), 2013

    20.1.1.4Augusto Csar Cunha Pessoa, Brasil

    Pedras ao sol*(114) Lajedo de pai mateus (Brasil), 2014

    39.1.1.5Erica Montilha, Brasil

    A Espera do Bem-te-vi *(112) Marlia-SP (Brasil), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    34.1.1.3Daniela Carreira Peralta, Portugal

    Simulacro de ti*(119) Saarschleife (Alemanha), 2014

    90.1.1.1 Josu Carvalho Viegas, Brasil

    Furtacor *(117) Amaznia Legal, Maranho (Brasil), 2014

    44.1.1.2Leonice Seolin Dias, Brasil

    Arara do Morro do Diabo*(118) Teodoro Sampaio, SP. (Brasil), 2013

    28.1.1.3Diego de Holanda Saboya Souza, Brasil

    Contra a gravidade *(116) Praia do Aventureiro, Ilha Grande (Brasil), 2014

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    1.1.1.1Carlos Henchoz, Costa Rica

    Dia 1*(123) Heredia (Costa Rica), 2013

    14.1.1.5 Miguel Julian Ortiz Jaramillo, Colombia

    Atardecer colombiano *(121) Santa Marta (Colombia), 2013

    50.1.1.3Pedro Jorge Gomes Camacho de Almeida, Portugal

    Baa na pennsula de Shieldaig*(122) Esccia (Inglaterra), 2013

    50.1.1.2Pedro Jorge Gomes Camacho de Almeida, Portugal

    Five Sisters of Kintail *(120) Esccia (Inglaterra), 2013

  • 1 I Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    74.1.1.1Luis Iglesias Prez, Espanha

    Naturalesa Comtemplada*(127) Tarragona (Espanha), 2013

    22.1.1.4 Emanuela Ribeiro Rodrigues, Brasil

    O voo *(125) Gois (Brasil), 2013

    36.1.1.3Mnica Henriques, Portugal

    Prtico Fluvial*(126) Florena (Itlia), 2013

    13.1.1.6Sara Augusto, Portugal

    Tarde *(124) Transilvnia (Romnia), 2013

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    5.1.2.3 Jos Antnio Rodrigues de Almeida Pereira, Cabo Verde

    Caravela *(129) Mindelo, S. Vicente (Cabo Verde), 2014

    51.1.1.4Vanessa Alexandra Ribeiro Batista, Portugal

    Observo, sinto tal como tu*(130) Istambul (Turquia), 2013

    66.1.1.4Eduardo Filipe Fernandes Realinho, Portugal

    Pavo *(128) vora (Portugal), 2014

  • Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    TEMA 2

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    Prmio Tema

    7.2.2.1En las gargantas del todra*(131) Gargantas del todra (Marrocos), 2014

    Juan Manuel Hernndez Lpez, Espanha

  • 75

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    Menes honrosas

    11.2.2.2Entrando la hierba*(132) Serveto, Huesca (Espanha), 2013

    Alfonso Ferrer Yus, Espanha

  • 77

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    14.2.2.2Famlia*(133) Lamego (Portugal), 2013

    Miguel Sobral Cardoso, Portugal

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    sociedade contempornea urbana, no rural, mesmo se o urbano se identifica lar-

    gamente com o suburbano, desordenado, degradado, sem qualidade, algo clandes-

    tino, onde proliferaram os bairros de habitaes ilegais pobres e tristes, e at os bairros de lata, que entre ns s foram tardiamente eliminados. E como reverso, o declnio do rural tradicional e agrcola, ao nvel dos espaos e correspondentes sociedades: pobreza de ren-dimentos, alargamento dos incultos, matos e floresta, xodo e desvitalizao, isolamento e regresso demo-grfica, marginalizao de espaos de vida, degradao das infra-estruturas, mesmo dos acessos, rarefaco dos servios Mas sobretudo novas relaes entre os ho-mens e os espaos, entre as cidades e os campos, novas utilizaes dos espaos rurais e novas ruralidades, com valorizao das funes no produtivas da agricultura e das amenidades rurais, atributos naturais ou fruto das aces humanas, os Servios Colectivos dos Espaos Naturais e Rurais: ambiente e biodiversidade, qualidade e disponibilidade da gua, paisagens no banais, identitrias e atractivas, produtos de qualidade, agrcolas e artesanais, patrimnio, das construes s tradies, passando pela gastronomia, qualidade de vida, recreao, etc.

    O desenvolvimento rural ganha novas vertentes, para alm da modernizao agrcola, da reestruturao parcelar, das novas culturas e das novas tcnicas, das produtividades brutas, dos custos e dos rendimentos lquidos, da renovao do universo empresarial: outras populaes, outros ritmos quotidianos, no determina-dos pelas estaes, ou pelo nascer e pr do sol, outras relaes sociais e espaciais, novas hierarquias, novos

    valores e novos comportamentos, novos padres de consumo, novas modas, economias mais monetrias, dos que chegam, dos que partem e tambm dos que ficam, incluindo os rurais agrcolas, camponeses e assalariados (penses de velhice dos rurais), e novas dependncias.

    Portugal exemplifica claramente a decadncia dos espaos rurais tradicionais ao longo do sculo passado. Depois dos mximos demogrficos dos anos 30 mas sobretudo dos meados do sculo, xodo, emigrao, se-cundarizao da actividade agrcola (pluriactividade e plurirrendimento), abandono do trabalho nos campos, extensificao dos sistemas de cultivo, alargamento de incultos, florestao, multiplicao das ausncias, j no apenas sazonais nem limitadas aos espaos nacio-nais, despovoamento e abandono de lugares e aldeias, envelhecimento da populao residente, mais ainda da agrcola. Valorizaram-se os empregos na indstria prxima (minas, txteis e calado, pasta de papel), na construo civil, nos transportes, no pequeno comrcio e nos servios em geral (camionistas, guardas fiscais, polcias, contnuos, comrcio de distribuio), concen-trados nas vilas e cidades, sobretudo nas reas litorais.

    A favorecer a mudana, a difuso da escolaridade, o alargamento de horizontes (rdio e televiso), as vivncias quotidianas nos destinos da emigrao e nas prprias campanhas das guerras em frica, as novas oportunidades de trabalho feminino, nomeadamente no txtil e nos servios, as crescentes mobilidades espaciais, as novas estradas e os novos meios de transporte (motorizadas, camionetas, automveis particulares), encurtando distncias, aproximando os

    Sociedade rural e espaoCarminda Cavaco *

  • 79

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    diferentes espaos de vida. Todavia, em sentido inver-so, modernizao agrcola localizada e estruturalmente selectiva, e sobretudo novo conforto rural: gua, luz elctrica, gs, televiso e telefone, transportes motori-zados, acessibilidades modernas, escolas e infantrios, servios mdicos, assistncia terceira idade (IPSS, lares, centros de dia, apoios domicilirios), outra quali-dade de vida, outras condies na velhice.

    Claro que persistem algumas situaes dramticas de isolamento, solido, abandono, na ausncia de familia-res, vizinhos e amigos e em lugares de casas prolonga-damente vazias, mesmo em runa, onde j no chega regularmente o carteiro, o padeiro, o vendedor ambu-lante, onde falta mesmo a missa dominical, ocasio de encontro, de informao, de recreio. Situaes a que a comunicao social vem dando ateno, um pouco ao acaso ou com programas especficos, recorrendo ao saber de especialistas de grande prestigio e capacidade comunicacional, como Antnio Barreto (Portugal, Um Retrato Social, RTP).

    Neste novo Portugal rural justapem-se modernidades e arcasmos. Por um lado, parcelamento e fragmenta-o predial, mediocridade das produes, variedades tradicionais, modos de cultivo orgnicos, sociedades camponesas algo tradicionais, pequenas produes largamente para auto consumo e partilha por filhos e netos, mesmo quando ausentes (batatas, couves, azeite e vinho, ovos e criaes, ). Mas por outro, intensificao dos sistemas de produo, modernizao tecnolgica, mecanizao, adubos qumicos, pesticidas, novos sistemas de rega, renovao das plantaes (vinha, olival, pomares) e dos efectivos animais, novas variedades e novas culturas comerciais, mesmo especializaes individuais, locais ou regionais, valo-rizadas pelo mercado, tambm floresta de rendimento (pinhal, eucaliptal, montado), e no final, aumento das

    produtividades e dos rendimentos. Sem esquecer as compensaes ambientais nos sistemas extensivos e de agricultura marginal: polticas comunitrias agrcolas e de desenvolvimento rural e local, polticas regionais e polticas orientadas para os espaos objecto de pro-teco ambiental.

    No geral, pluriactividade e plurirrendimento ao nvel dos indivduos e das famlias, acelerao das mobilida-des, proximidade de aldeias, vilas e cidades, migraes pendulares para os centros de emprego e de servios, quadros de vida alargados, esbatendo quotidianamente as distncias entre cidade e campo. E tambm atrac-o residencial de novos habitantes de origem urbana, pelas condies e quadros de vida (ambiente, seguran-a, convivialidade, modos de vida mais sustentveis), urbanizao (sociolgica e fsica) das aldeias, fluidez da fronteira rural urbano, desaparecimento do rural profundo, mesmo do rural autntico.

    Mas as diferenas permanecem, a favor dos campos e ao sabor das estaes: verdes dos lameiros e dos pinheiros; amarelos e brancos dos giestais e estevais floridos, vermelhos e castanhos outonais das vinhas e dos carvalhais; riachos que cantam; pssaros a chilrear, pores de sol inesquecveis, cimos que se elevam ao encontro das nuvens, cus estrelados, ar puro, sombras, brisas frescas, alimentos com outros sabores, receitas com histria, casas de pedra e de taipa, tectos de cana, cobertura de telhas de canudo, contrastes fortes com as casas dos emigrantes, com elementos de outras culturas, aldeias medievais cuidadosamente renovadas, pombais e velhos castelos sem funes, festas popula-res, tradies e crenas, saberes e saberes-fazer

    Acrescem populaes genuinamente acolhedoras, orgulhosas das terras e das suas gentes, abertas ao dilogo, disponveis para uma boa conversa, algo

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    pobres mas generosas, que gostam de partilhar o que tm, mesmo de receber os de fora, que no conhecem, nunca viram, mas que sabem que de uma forma ou de outra convivem com os seus ausentes, na cidade dis-tante, na Frana, no Brasil, na Venezuela Gente que se conhece, se entreajuda e tambm ajuda os de longe, anos atrs os retornados e hoje os da cidade, portado-res da mesma lngua ou de outras lnguas, explorando ento outras formas de comunicao e compreenso, outros linguajares.

    Citadinos que se instalam, que habitam os mesmos lugares, que at pretendem cultivar e produzir; citadi-nos que adquirem e renovam velhas habitaes, para residncias de frias e mais ainda residncias secund-rias; e citadinos que apenas visitam, em estadas curtas ou de passagem. Turismo da natureza, ecoturismo e etnoturismo, turismo rural, turismo cultural e patri-monial, turismo gastronmico; mudana de ares e de ambientes, retorno ao mundo dos avs, a um passado perdido, a uma ruralidade mtica; descoberta, novas experincias e aprendizagens mltiplas; repouso, re-creao, contemplaes, mas igualmente caminhadas, passeios de burro, de bicicleta ou de tractor, ensaios

    de outros modos de vida, como ser agricultor, pastor ou contrabandista, longe da artificialidade dos meios urbanos, bem mais tecnolgicos e densos, dos seus verdes artificiais (parques e jardins) e das suas atmosferas construdas, sonoras e poludas. Sem esque-cer um turismo residencial orientado para a terceira idade e as suas debilidades e dependncias fsicas: resi-dncias assistidas, lares; clientelas regionais, nacionais e estrangeiras, das classes mdia e alta, com adequado nvel de rendimentos.

    Novas expresses da multifuncionalidade dos espaos rurais em todos os pases desenvolvidos, mesmo onde a agricultura produtiva ainda domina claramente a pai-sagem, e que ajuda a viabilizar a presena de comrcios e servios que amenizam os quotidianos dos prprios rurais-agrcolas e de todos os rurais residentes, jovens e menos jovens, estudantes, activos ou reformados. Uma ruralidade compsita que cruza funcionalidades e mobilidades, trabalho e lazer, produo e consumos mltiplos, natureza e paisagem, ambiente e tradio, nostalgias e rotinas, liberdades e dependncias, au-tonomias e solidariedades. E modos diferenciados de habitar

    * Gegrafa. Universidade de Lisboa.

  • 81

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    20.2.1.2A Mscara*(137) Montamarta, Zamora (Espanha), 2013

    4.1.35.4.20.2.1.6 Ma da boa fortuna

    *(135) Rebordanhos, Bragana (Portugal), 2013

    20.2.1.1Sozinhos na paisagem*(136) Sarracin de Aliste, Zamora (Espanha), 2013

    20.2.1.3Regao

    *(134) Mira (Portugal), 2013

    Ilda Susete Ferreira Fernandes Correia, Portugal

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    21.2.1.2Entrosga*(141) Monte da Vinha, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014

    4.1.35.4.21.2.1.1 M

    *(139) Monte da Vinha, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014

    21.2.1.5Curral*(140) Monte Novo, Alfambras, Aljezur (Portugal), 2014

    21.2.1.3Manjedoura

    *(138) Vila do Bispo (Portugal), 2014

    Joo Pedro Costa, Portugal

  • 83

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    32.2.1.3Caixa de correio*(145) Alentejo (Portugal), 2014

    4.1.35.4.32.2.1.4 Reboque

    *(143) Alentejo (Portugal), 2013

    32.2.1.1Paragem*(144) Alentejo (Portugal), 2013

    32.2.1.5Banco de suplentes

    *(142) Alentejo (Portugal), 2014

    Rui Diogo Castela da Silva Neves, Portugal

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    4.1.35.4.6.2.1.1 Desfolhada

    *(147) Dornelas (Portugal), 2013

    6.2.1.2Palhoceiro*(148) Souto de Aguiar (Portugal), 2014

    6.2.1.4Sapateiro

    *(146) Dornelas (Portugal), 2014

    Bruno Andrade, Portugal

  • 85

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    6.2.1.5Tosquia*(151) Forninhos (Portugal), 2013

    6.2.1.6Vindima*(150) Dornelas (Portugal), 2013

    6.2.1.3Queimada

    *(149) Dornelas (Portugal), 2013

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    9.2.2.2Ciclo do linho 2*(154) Penacova (Portugal), 2013

    9.2.2.3Ciclo do linho 3

    *(153) Penacova (Portugal), 2013

    Isaura Ftima Oliveira Santos, Portugal

    9.2.2.1Ciclo do linho 1

    *(152) Penacova (Portugal), 2013

  • 87

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    9.2.2.6 Ciclo do linho 6*(156) Penacova (Portugal), 20139.2.2.4Ciclo do linho 4*(157) Penacova (Portugal), 2013

    9.2.2.5Ciclo do linho 5

    *(155) Penacova (Portugal), 2013

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    18.2.1.1Catavento - cegonhas 1*(161) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014

    4.1.35.4.18.2.1.6 Catavento - Apanha da azeitona

    *(159) Ponte do Tabuado, Ferreira do Zzere (Portugal), 2014

    18.2.1.3Catavento - cegonhas 3*(160) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014

    18.2.1.2Catavento - cegonhas 2

    *(158) Idanha-a- Nova (Portugal), 2014

    Jos Manuel da Conceio Baptista, Portugal

  • 89

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    27.2.1.1Gilda Maria Rodrigues Pereira, Portugal

    Esquecimento 1*(165 ) Corte Antnio Martins (Portugal), 2014

    14.2.1.3 Isidro Manuel Rito Vieira, Portugal

    Espelho de gua *(163) Ilha Terceira, Aores (Portugal), 2013

    4.2.1.2Jos Freitas, Portugal

    Runas*(164) Mina de So Domingos (Portugal), 2013

    14.2.1.2Isidro Manuel Rito Vieira, Portugal

    Preparao *(162) Ilha Terceira, Aores (Portugal), 2013

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    31.2.1.1Ins Silva Carvalho, Portugal

    Fim de tarde*(169) Videmonte, Guarda (Portugal), 2014

    37.2.1.2 Joana Pais, Portugal

    Caracterizar *(167) Pido (Portugal), 2014

    13.2.1.1Jos Guerra, Portugal

    Magusto da Velha*(168) Aldeia Viosa, Guarda (Portugal), 2013

    29.2.1.5Catarina Isabel Martins Balula, Portugal

    Outros tempos *(166) Freixedas, Pinhel (Portugal), 2014

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    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    5.2.1.3Micael Antnio Maria Nussbaumer, Portugal

    Campanha da azeitona*(173) Quinta de So Pedro, Beja (Portugal), 2013

    3.2.1.2 Vasco da Assuno Ribeiro Morais, Portugal

    Apanha da gravalha *(171) Perre, Viana do Castelo (Portugal), 2013

    5.2.1.2Micael Antnio Maria Nussbaumer, Portugal

    Vareja*(172) Quinta de So Pedro, Beja (Portugal), 2013

    3.2.1.3Vasco da Assuno Ribeiro Morais, Portugal

    Esfolhar do Milho *(170) Perre, Viana do Castelo (Portugal), 2013

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    22.2.1.6Patrcia Isabel Lopes Ferreira, Portugal

    O Po de cada dia*(177) Busturenga, Albergaria-a-Velha (Portugal), 2013

    12.2.2.3 Jos Monteiro Fernandes, Portugal

    O Salvador *(175) Santa Eufmia (Portugal), 2013

    14.2.2.1Miguel Sobral Cardoso, Portugal

    Descanso*(176) Tabuao (Portugal), 2013

    12.2.2.2Jos Monteiro Fernandes, Portugal

    O tero *(174) Santa Eufmia (Portugal), 2013

  • 93

    Transversalidades I fotografia sem fronteiras

    1. As relaes Homem Natureza sob a mediao do divino 1

    ntes de abordar a sequncia de momentos relevantes ao longo dos tempos histricos

    concernentes cultura dita ocidental nos diferentes espaos da superfcie

    terrestre e segundo diferentes divindades das religies, vou tentar o confronto mais contrastante possvel entre as condies do ARCAICO (primitivo) e do HIPERMODERNO.

    A implantao do Homem na superfcie terrestre ob-serva duas situaes contrastantes, concentrada (a al-deia, burgo, cidade), dispersa (os campos de cultivo) e aquele ainda no efetivamente ocupada, deixado como primitiva forma da natureza. Sendo o homem um animal gregrio, que vive em comunidades sociais, sua primeira preocupao instalar-se abrigada e confor-tavelmente em casas, em famlia, criando um espao por ele ordenado, diferentemente da natureza, ainda desconhecida, misteriosa, aparentemente o domnio do caos. Alm do espao de instalao ordenado e protegido, no centro do qual se cultua e rende graas s divindades protetoras, h aquele outro onde o homem trabalha e do qual retira o seu sustento, onde a cobertura primitiva foi substituda por espcies sele-cionadas de plantas e animais domesticados. O ncleo de concentrao, germe da urbs, circundado pelos campos de cultivo, afastando do homem aquela reser-va de natureza misteriosa, cheia de perigos e surpresas, de onde provm os estrangeiros e cuja explorao e

    conhecimento devem ser feitos com cautela. O carter sagrado do(s) ncleo(s) famlia(es), embrionrios da comunidade social, contrasta com aquele profano da natureza. O campo representa assim o papel de intermedirio entre o domnio organizado do cosmo e aquele ainda no conquistado do caos. Poderamos designar o ncleo social como VERNA, o lugar, e os campos circundantes como ADVENA.

    A designao de arcaico poderemos aplicar tanto ocupao de sociedades ditas primitivas, como a das nossas comunidades indgenas, quanto conquista da floresta temperada nas latitudes mdia-altas da Europa Ocidental, quando os invasores brbaros do Norte de-sagregaram o Imprio Romano, gerando novas naes, novas lnguas conduzidas pelas ordenaes crists, instauradoras da Idade Mdia.

    Dando maior amplitude a esse arcaico, podemos utilizar esse primeiro esquema para aquele tratamento geogrfico de uma poca definida historicamente (fi-nal do sculo XIX e primeira metade do XX) quando as relaes homem-natureza eram encaminhadas para o estudo dos gneros de vida - segundo os grandes bicoros ou faixas climticas -, tipos de habitat rural e os primrdios do estudo das cidades (stio-posio; forma-funo, etc.).

    Dando um salto para o outro extremo - o do hipermo-derno - constatamos que aqueles atributos inverteram-se. A aglomerao primitiva cresceu, agigantou-se am-pliada em rea, verticalizada e inchada de populao,

    Grande serto: veredas. O Homem, o Campo e suas (inter)relaesCarlos Augusto de Figueiredo Monteiro *

  • 2 I Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    onde as edificaes e engenharias de infra-estrutura modificaram substancialmente o primitivo quadro geoecolgico com a ampliao dos campos circun-dantes sobre a primitiva natureza - pari passu com o progresso dos conhecimentos adquiridos sobre ela - ex-plorada em seus recursos e consideravelmente reduzida. A cidade tornou-se agigantada pela industrializao e perturbada pela crescente velocidade nos meios de circulao. Os meios de comunicao altamente desen-volvidos, revolucionaram a vida na cidade, facultando-lhe que, expandida em condomnios fechados, centros comerciais, centros empresariais, etc., etc, intrometa-se pelos campos. Observando-se as oposies notamos que elas se inverteram. A cidade, degradada, passou a acumular os eptetos negativos, tornando-se o domnio do mal e do profano. Os restos de natureza diminudos, mas melhor conhecidos, passam a ser o domnio do bem, do sagrado onde, ao contrrio da cidade, dispe-se de ar puro, do verde, das reas de recreao e lazer que a fazem merecedora de proteo.

    2. As relaes cidade campo 2

    Parece-me da maior relevncia ter conscincia das mu-danas que os novos progressos tecnolgicos podero trazer-nos no futuro, ou seja as relaes cidade-campo. Num primeiro momento, a importncia crescente da urbanizao mas significativas mudanas, ou mesmo transformaes nas cidades, levar-nos-iam a pensar que nesta era de globalizao teramos de admitir que a presena do homem na Face da Terra implicar, forosamente, na gerao de uma sociedade urbana. Contudo, diante dessas profundas mudanas impostas sobretudo pelos subsd