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Ariane Boaventura Pinto
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
ARIANE BOAVENTURA PINTO
CATUENSE FUTEBOL S.A.:
HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE
Alagoinhas
2012
ARIANE BOAVENTURA PINTO
CATUENSE FUTEBOL S.A.:
HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE
Monografia apresentada ao Colegiado do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – Campus II, Alagoinhas, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Educação Física, sob a orientação do Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro.
Alagoinhas
2012
MONOGRAFIA - ARIANE BOAVENTURA PINTO
CATUENSE FUTEBOL S.A.:
HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE
BANCA AVALIADORA
Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro (Orientador)
Prof. Ms. Alan Aquino Rocha
Prof. Ms. Ubiratan Azevedo de Menezes
Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida: meus
pais: Aurea Boaventura Pinto e Carlos Roberto Pinto. Obrigado por fazerem
parte da minha vida e que, se hoje, estou aqui é para vocês e por vocês. Essa
conquista é nossa!
À minha mãe, mulher guerreira, que toda a vida lutou por mim e pelo
meu irmão, sempre me incentivou, me animando e não deixando que na
primeira barreira eu desistisse, acreditou nos meus sonhos e decisões em
todos os momentos. Te amo demais!
Ao meu pai, homem guerreiro, de gênio forte, que sempre colocou o
bem estar da família em primeiro lugar, batalhando para nos dar sempre o
melhor. Amo você!
AGRADECIMENTOS
A Deus por ser o meu escudo e a minha fortaleza, pelo dom da vida, pela força,
coragem e sabedoria que me deu durante este percurso de minha vida,
permitindo que eu continuasse minha caminhada mesmo com todos os
obstáculos que a vida me ofereceu; e pelas pessoas que colocou no meu
caminho, que me ajudaram a tornar este momento possível. Enfim, por cada
dia que iniciava e pela certeza de que tudo podia Naquele que me fortalece.
Aos meus pais, que são a razão do meu viver e estiveram ao meu lado em
todos os momentos de minha vida, me ajudando a crescer e ser uma pessoa
melhor a cada dia.
A meu irmão, Carlos Alberto Boaventura Pinto que me deu sempre todo amor e
apoio necessário nesses anos de luta. Saiba que você é o responsável pela
minha escolha profissional. Se não fosse você talvez, não me apaixonasse
pelos esportes, pra ser mais precisa pelo futebol, pelo nosso mengão. Depois
de descobrir o quanto o futebol é um esporte maravilhoso e contagiante, resolvi
praticá-lo com a sua ajuda, é claro. E a partir daí não larguei mais o futebol,
apesar dos vários preconceitos que sofri. Quando eu estava dando início à
produção desse trabalho, nossa família foi tomada de surpresa, você adoeceu.
Sei o quanto você lutou pela vida meu irmão. Aquele não era o momento de
continuar esse trabalho e nem conseguiria, meus pensamentos estavam todos
voltados a sua saúde. Por isso, agradeço primeiramente a Deus, pois só ele
sabe de todas as coisas, a você por ter lutado pela vida e as suas “anjas”
mainha e Netinha que estiveram o tempo todo ao seu lado. Hoje, posso
agradecer por você existir e fazer parte da minha vida.
A minha avó paterna, Dona Lourdes pela presença física e pelas preocupações
demonstradas cada vez que eu saia de casa rumo a UNEB. A sua ajuda
sempre será bem-vinda. Deu tudo certo minha vó, obrigada por tudo.
A minha avó materna, Maria Boaventura (in memoriam) que nunca desistiu de
mim e acreditou a todo instante nos meus estudos. Me mostrou a força e a
beleza da família Boaventura. A ti, mãe, essa vitória.
Às especiais Alda e Lúcia, minhas tias, mas podem sim serem consideradas
minhas mães. Obrigada, meus amores, por cuidarem de mim, quando meus
pais tinham que trabalhar. O amor e o carinho de vocês foram muito
importantes na minha vida e sempre serão. A educação que tenho hoje se
deve também a tia Alda e tia Lucinha.
Às minhas tias, Nadja Célia, Raimunda, Isabel, Regina e aos meus tios, os
Edvaldos e Luiz Carlos pelo incentivo, força, amizade, carinho que
compartilharam durante a minha caminhada.
Aos meus tios, Ana e Florisvaldo (in memoriam) que partiram quando eu estava
na metade do meu curso. A minha família tinha acabado de perder dois dos
seres mais divertidos, que me proporcionaram em vida momentos que jamais
esquecerei. Foi muito difícil continuar, mas sei que vocês estavam me dando
forças e sei também o quanto estariam orgulhosos de mim nesse momento.
A minha cunhada, Anete que entrou nas nossas vidas para ser um anjo e que
hoje é como uma irmã pra mim. Obrigada por cuidar do meu irmão e está ao
lado da minha mãe, quando ele mais precisou e por me emprestar o seu PC
quando o meu me deixou na mão para produzir este trabalho.
Aos meus primos e primas carnais ou não pelas horas de incentivo, ajuda,
descontração, amor e carinho.
Não posso deixar de citar em especial, minhas duas irmãs: Izandra Pereira da
Silva e Shirlei Taline Ribeiro dos Santos. Foram laços tão fortes de amizade,
companheirismo e cumplicidade que o tempo e a distância não irá desfazer.
Não tenho nem palavras para agradecer, só posso desejar que Deus ilumine
cada vez mais a vida de vocês.
A Arissandra, Érica Paula, Janilma, Juliana, Milena, Rita, Tatiane que durante
esses anos foram grandes companheiras. Juntas passando por vários
momentos somos tijolos de uma parede, se um for retirado à parede cai.
A Silas Reis e José Guilherme, dois queridos.
A Antonio Geraldo, um amigo alegre, otimista e prestativo que sempre esteve
disposto a me ajudar.
A Raimundo da Glória, Antônio Pena, Maria Aparecida Pereira Pena e Elzon
dos Santos que colaboraram na construção desse trabalho com alegria e
satisfação.
Ao meu orientador Augusto Cesar Rios Leiro pela ajuda e paciência e
conhecimentos transmitidos.
A todos os professores que fizeram parte de minha trajetória, possibilitando a
construção do conhecimento e meu engrandecimento como pessoa.
A vida é como um jogo de futebol, cada lance pode definir sua trajetória.
Mikael Johnathan
RESUMO
Caracterizado inicialmente como prática esportiva, com o intuito de entreter aqueles que jogavam, o futebol ao longo dos tempos assumiu um papel importante de derrubar barreiras sociais e integrar pessoas. Assim, considerado como prática social, o futebol encontra-se de tal modo enraizado na cultura brasileira que estudá-lo implica em considerar diversas possibilidades de abordagens. Desta forma, o presente trabalho toma o clube Catuense Futebol S/A como objeto de estudo a partir de uma investigação de natureza qualitativa do tipo descritiva. Trata-se de um clube de futebol com sede em Alagoinhas com uma trajetória marcada por diferentes momentos. O estudo buscou identificar e compreender os aspectos mais relevantes da história da Catuense desde sua origem até a contemporaneidade. Após a revisão de literatura foram feitos levantamento documental e entrevistas semi–estruturadas com dirigentes e jogadores do time em foco como procedimentos metodológicos. Os sujeitos entrevistados apontaram as opções de mudanças de sede como principal motivo das dificuldades financeiras vivenciadas pelo clube. No decorrer do estudo foi possível perceber que a Catuense é um clube marcado por (in) visibilidade e revelou que a falta de títulos recentes em campeonatos vem gerando sua desvalorização na mídia e na sociedade tanto no âmbito nacional, quanto regional e local.
PALAVRAS – CHAVE: Catuense Futebol S/A, história, futebol.
ABSTRACT
Characterized initially as sports, in order to entertain those who threw the football over the years assumed an important role in breaking down barriers and integrate social people. Thus, considered as a social practice, football is so rooted in Brazilian culture to study it involves considering several possible approaches. Thus, this paper takes the club Catuense Football S / A as an object of study from a qualitative investigation of the descriptive type. This is a football club based in Alagoinhas with a path marked by different moments. The study sought to identify and understand the relevant aspects of the history of Catuense from its origins to the contemporary. After reviewing the literature were made documentary surveys and semi-structured interviews with managers and players on the team in focus as methodologic instruments. The interviewees pointed to the possible changes of thirst as the main reason of the financial difficulties experienced by the club. During the study it was revealed that the Catuense is marked by a club (in) visibility and revealed that the lack of recent titles in the championships has been generating its devaluation in the media and in society at both national, and regional and local levels. WORDS-KEY: Catuense Football S/A, history, football.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CBF - Confederação Brasileira de Futebol
FBF - Federação Bahiana de Futebol
FIFA - Fédération Internationale de Football Association
S/A - Sociedade Anônima
UNEB - Universidade do Estado da Bahia
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Conquistas da Catuense Futebol S/A...................................36
QUADRO 2 – Jogos inesquecíveis da Catuense Futebol S/A.....................39
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01 - Antônio Pena, fundador da Catuense.....................................34
FIGURA 02 - Escudo atual da Catuense......................................................35
FIGURA 03 - Mascote da Catuense.............................................................35
FIGURA 04 - Placa de inauguração e vista interna do Estádio Municipal
Antonio Pena, na cidade de Catu..................................................................37
FIGURA 05 - Centro de Treinamento da Catuense......................................39
FIGURA 06 - Infra - estrutura da Catuense..................................................54
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 15
2. PROCESSO HISTÓRICO DO FUTEBOL 18
2.1. FUTEBOL EM MEMÓRIA 18
2.2. FUTEBOL NO BRASIL 22
3. AS PRÁTICAS FUTEBOLÍSTICAS NOS CAMPOS DA BAHIA 29
3.1. ROLANDO A BOLA: ORIGEM DO FUTEBOL NA BAHIA 29
3.2. CATUENSE FUTEBOL S/A: PASSADO E PRESENTE 34
4. INVESTIGAÇÃO DAS RAZÕES QUE INTERROMPERAM UM SONHO 42
5. A CATUENSE E SEUS SUJEITOS SOCIAS: MEMÓRIAS DE UM CLUBE
BAIANO
45
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 66
REFERÊNCIAS 68
ANEXOS 73
ANEXO A – ESCUDO ANTIGO DO CLUBE 74
ANEXO B – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1984 74
ANEXO C – ÔNIBUS DA CATUENSE FUTEBOL S/A 75
ANEXO D – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1985 75
ANEXO E – CATUENSE X VITÓRIA (PARTIDA VÁLIDA PELO ESTADUAL
DE 2003)
76
ANEXO F – HINO DA CATUENSE FUTEBOL S/A 77
APÊNDICES 78
APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 79
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM ANTONIO PENA (FUNDADOR DO
CLUBE)
81
APÊNDICE C - ENTREVISTA COM MARIA APARECIDA PEREIRA PENA
(ATUAL PRESIDENTE DO CLUBE)
82
APÊNDICE D - ENTREVISTA COM RAIMUNDO DA GLÓRIA (EX-
JOGADOR DO CLUBE)
83
APÊNDICE E - ENTREVISTA COM ELZON DOS SANTOS (EX - JOGADOR
DO CLUBE)
84
15
1 INTRODUÇÃO
O futebol é uma das paixões do brasileiro. Trata-se de uma prática
esportiva que envolve emocionalmente aqueles que a executam e aqueles
que a assistem, despertando sentimentos de variada natureza nas pessoas.
Nesse sentido, é um esporte que desde a sua chegada ao Brasil, no
final do século XIX, encantou distintas classes sociais. A sua prática foi
difundida nas classes elitizadas e proliferou entre as classes mais
empobrecidas, tornando-a, com o passar do tempo, significado de identidade
para toda uma nação. Esse esporte consegue tornar homogêneas as
diferenças que existem no interior da nação, estabelecendo um discurso de
povo unificado em torno de ideais comuns.
Ainda que o futebol se relacione a algumas estratégias políticas
durante alguns episódios da história do Brasil, como foi o caso da Copa de
1970, onde o Brasil sagrou-se tri-campeão, estando sob o regime ditatorial,
sua riqueza também consiste em ser socialmente um esporte que
proporciona momentos de descontração e confraternização a exemplo da
pelada aos finais de semana, com os amigos e da partida no campinho de
terra improvisado, com bola de meia e trave de bambu, entre outros.
Desta forma, o futebol desperta tanto nos mais apaixonados como
nos menos aficionados um sentimento de coletividade, em que os fatores
raciais, religiosos e sociais são dissolvidos e harmonizados em meio ao
sentimento de pertencer a um time em específico ou de torcer pela seleção.
O futebol representa a identidade nacional e também consegue dar
significado aos desejos de potência da maioria absoluta dos brasileiros e é
pura construção histórica, gerado como parte indissociável dos
desdobramentos da vida política e econômica do Brasil.
Todas as considerações feitas acima em relação ao futebol são
válidas em todo território nacional, entretanto, no que tange a Bahia, o
futebol pode representar também uma das poucas formas de chamar a
atenção do resto do país, para as potencialidades variadas deste estado, já
que esse, em geral, só é foco para milhões de brasileiros notoriamente em
época de carnaval, quando a Bahia é exaltada pela grandeza da maior festa
16
popular do planeta. Apesar da pouca repercussão que é oferecida ao futebol
baiano, ultimamente os dois grandes clubes do estado, obtiveram resultados
satisfatórios e participações importantes em competições de cenário
nacional. O retorno do Esporte Clube Bahia à 1ª divisão do Campeonato
Brasileiro da série A e a participação do Esporte Clube Vitória na final da
Copa do Brasil de 2010, podem favorecer a uma reorganização interna no
futebol baiano. Além desses dois clubes, há na Bahia um time que também é
considerado um grande clube das práticas futebolísticas do estado, a
Catuense Futebol S/A, que assim como outros clubes brasileiros, surgiu a
partir dos babas nos campos de várzeas na cidade de Alagoinhas, a qual é a
sua atual sede. É um time que possui uma bela história de conquistas e que
por questões políticas já teve como sede a cidade de Catu, quando então,
ficou mais conhecido e chegou ao status de terceiro melhor clube da Bahia.
Apesar de ter adquirido destaque, esse time atualmente enfrenta grandes
dificuldades no que se diz respeito ao seu momento no futebol da Bahia.
O interesse pelo tema escolhido se deve ao fato de que me identifico
com a modalidade esportiva citada, além de praticá-la, como também há um
desejo meu em realizar um aprofundamento a cerca da história de sucesso
do clube de futebol que leva o nome da cidade em que reside e que hoje se
encontra numa situação bem diferente de outros anos. Estes fatos aliados à
relevância social e econômica que o futebol apresenta se configuram como
motivos para a escolha da temática, onde esse esporte propõe uma relação
de interdependência entre os sujeitos, representando algo além de um
produto de consumo e de acumulação do capital. Portanto, justifica-se o
trabalho pela necessidade de identificar os motivos que favoreceram a
ausência da Catuense Futebol S/A na elite do futebol baiano, principalmente
num período em que o Brasil passou a conhecer a bravura dos times
baianos na disputa de campeonatos nacionais importantes. Assim,
despertou-me o interesse em investigar quais os processos que levaram a
Catuense da visibilidade à invisibilidade no cenário do futebol baiano.
Para tanto, o presente trabalho teve como objetivo compreender
aspectos mais relevantes da história da Catuense da sua origem até a
17
contemporaneidade, bem como, suas contribuições para o crescimento do
futebol baiano.
Este trabalho foi pensado e organizado na tentativa de contribuir para
a história escrita referente à temática e se encontra estruturado em seis
capítulos descritos da seguinte forma: introdução em que é feita uma síntese
geral sobre o delineamento da pesquisa fundamentando-a com bases nos
principais teóricos desta temática; no segundo capítulo será apresentada
uma discussão histórica acerca do futebol e sua expansão no Brasil; segue-
se um capítulo que apresenta uma discussão teórica, abordando aspectos
relacionados à prática do futebol na Bahia e o processo histórico da
Catuense Futebol S/A, desde a sua origem até os dias atuais; o quarto
capítulo se refere à metodologia mostrando o tipo de pesquisa utilizada, os
métodos para a construção e o desenvolvimento da mesma; o quinto
capítulo consistirá na análise da pesquisa de campo fundamentando com os
referenciais teóricos; e em seguida, são retomadas brevemente as principais
constatações no item considerações finais.
18
2. PROCESSO HISTÓRICO DO FUTEBOL
Este capítulo traz um panorama da historicidade do futebol visando
estabelecer posteriormente uma relação entre os seus momentos históricos,
observando as transformações sofridas por esse esporte ao longo dos
tempos, como também a sua chegada ao Brasil e o processo que o tornou a
paixão dos brasileiros. Diversas foram as mudanças que ocorreram ao longo
dos anos no que diz respeito à função do futebol decorrentes da modificação
nas características políticas e econômicas do país.
2.1 FUTEBOL EM MEMÓRIA
O futebol tornou-se uma linguagem compreensível em quase todas as
partes do mundo contemporâneo. Praticado em centenas de países, este
esporte desperta tanto interesse em função de sua forma de disputa
atraente. Embora não se tenha muita certeza sobre os primórdios do futebol,
historiadores descobriram vestígios dos jogos de bola em várias culturas
antigas. Estes jogos de bola ainda não eram o futebol, pois não havia a
definição de regras como há hoje, porém demonstram o interesse do homem
por este tipo de esporte desde os tempos antigos.
São várias as suposições quanto às origens desse fenômeno
mundial, mas para muitos historiadores o futebol teria começado na
Inglaterra. China, Japão, Grécia, Roma, a Idade Média e finalmente a
Inglaterra constituem alguns dos percursos realizados por esse esporte no
mundo durante a sua história.
Muitos são os que afirmam que as origens do futebol se perdem no tempo. Supostamente, tais origens estariam situadas entre os Maias, que praticavam um jogo com a cabeça dos adversários derrotados; ou entre Egípcios, que se divertiam com uma brincadeira na qual tinham que chutar a bola; e talvez na China, onde existiram indícios de um jogo
muito parecido com o futebol moderno [...]. (MELO, 2000, p. 13)
19
Como citado anteriormente não há certezas e sim polêmicas acerca
de qual nação descobriu o futebol.
Existem muitas histórias e “estórias” sobre a origem do futebol. Mas a verdade é que o futebol no início assustava. Isso principalmente entre os séculos VII e XIX, quando se jogava o massfootball (futebol de massa), em que a violência imperava e o número de atletas era indefinido. (DARIDO E JÚNIOR, 2007, p.28).
Na China Antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses
praticavam um jogo que na verdade era um treino militar. Após as guerras,
formavam equipes para chutar a cabeça dos soldados inimigos. Com o
tempo, as cabeças dos inimigos foram sendo substituídas por bolas de couro
revestidas com cabelo. Formavam-se duas equipes com oito jogadores e o
objetivo era passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão, levando-a
para dentro de duas estacas fincadas no campo. Estas estacas eram ligadas
por um fio de cera. (SILVA, 2005).
No Japão Antigo, foi criado um esporte muito parecido com o futebol
atual, porém se chamava Kemari. Praticado por integrantes da corte do
imperador japonês, o kemari acontecia num campo de aproximadamente
200 metros quadrados. A bola era feita de fibras de bambu e entre as regras,
o contato físico era proibido entre os 16 jogadores (8 para cada equipe).
Historiadores do futebol encontraram relatos que confirmam o acontecimento
de jogos entre equipes chinesas e japonesas na antiguidade. (SILVA, 2005).
Na Grécia clássica, o Episkiros era jogado pelo menos desde o século
IV a.C. em campo retangular entre dois grupos de nove ou de quinze
participantes, que deviam introduzir em determinado espaço a bola de ar e
areia. Dessa prática grega surgiu em Roma, talvez no século III a. C., o
harpastum, destinado inicialmente a aperfeiçoar os soldados na sua
capacidade atlética e tática. (JÚNIOR, 2007)
20
As primeiras regras do futebol ainda que não estruturadas foram
introduzidas na Itália devido a violência da época e o termo cálcio que
originou o futebol no país é utilizado até hoje para designar o esporte.
“Em 1850, em Florença, jogava - se o cálcio – 27 atletas por time, com regras proibindo empurrões e pontapés.” (DARIDO
E JÚNIOR, 2007, p.28).
No século XVII, é a vez da Inglaterra praticar o futebol. No início era
comparado com o rugby, sendo praticado apenas pelas classes populares,
pois a aristocracia o achava violento. Contudo, esse esporte já era
vivenciado em várias regiões da Inglaterra e no século XIX, começa a ser
experimentado, pelos alunos das escolas da aristocracia e da alta burguesia
inglesa em seus horários livres, como também pela classe operária.
Percebendo que a proibição ao esporte não ia adiante, os aristocratas
resolveram regulamentar o futebol. No ano de 1846, numa conferência em
Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras para o futebol. No
dizer de (GALEANO, 2002), em Cambridge, o futebol se havia divorciado do
rugby: era proibido conduzir a bola com as mãos, embora fosse permitido
tocá-la e era proibido chutar os adversários.
Vale frisar que a profissionalização do futebol na Inglaterra não foi
algo tão simples, pelo contrário houve resistência dos adeptos e
participantes do esporte pertencentes à elite inglesa.
Apesar da resistência imposta pela elite inglesa, as equipes profissionais emergentes ganharam notoriedade, e a profissionalização do esporte tornou-se um fato irreversível a partir de 1885 [...]. (REIS E ESCHER, 2006, p.32).
O futebol se tornou uma forma de identificação para as massas
trabalhadoras das grandes cidades inglesas.
Em 1863, foi fundada na Inglaterra a Football League, fazendo com
que se criassem regras para a prática do jogo entre as equipes. Formavam-
21
se assim tabelas, datas dos jogos, ou seja, controlava-se a prática deste
esporte. Os times eram formados pelas fábricas espalhadas pelas diversas
cidades do país. (LIMA, 2002).
No ano de 1904, foi criada a FIFA (Fédération Internationale de
Football Association) que organiza até hoje o futebol em todo mundo. Ela é
responsável pela organização dos grandes campeonatos de seleções e
clubes. Conforme o site da FIFA, esta se trata de uma associação regida
pela legislação suíça, fundada em 1904 e sediada em Zurique. Considerada
como o órgão máximo do futebol, é composta por 208 federações nacionais
e tem como objetivo, de acordo com os seus Estatutos, a melhora contínua
do futebol em todo o mundo. A FIFA conta com aproximadamente 310
colaboradores procedentes de 35 países e é formada pelo Congresso (órgão
legislativo), pelo Comitê Executivo (órgão executivo), pela Secretaria Geral
(órgão administrativo) e pelos comitês (que auxiliam o Comitê Executivo).
Percebe -se que foi nesse país que o jogo ganhou regras diferentes e
foi organizado e sistematizado. De acordo com Melo (2000), foi nesse país,
que as antigas práticas da população começaram a se organizar enquanto
um campo relativamente autônomo, com uma lógica interna específica, um
calendário próprio, um corpo de técnicos especializados, gerando um
mercado de consumo com sentido completamente diferente das práticas
anteriores.
É preciso salientar que o processo de profissionalização do futebol foi
um marco para o seu entendimento como esporte-espetáculo. A intensidade,
a vitalidade e a criatividade do futebol possibilitaram a visão do espetáculo
como uma fonte não só de observação social, mas também de prazer
estético. É o esporte da modernidade e da globalização que abrange
importância econômica e política, sendo um dos mecanismos de mobilidade
social mais eficaz dos dias atuais.
22
2.2 FUTEBOL NO BRASIL
O futebol é o esporte por excelência do brasileiro. O futebol reflete os
diversos momentos pelos quais passou nosso país, ganhando espaço e se
consolidando como “esporte nacional” ao mesmo tempo em que a nossa
própria identidade brasileira é construída. Ele é uma prática social que
expressa a nossa sociedade, com todas as suas aspirações mais antigas,
seus desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas, sendo
considerado membro legítimo do nosso país que penetra na vida da
população brasileira e também no espírito de cada cidadão. Para DaMatta
(2006, p.163), com o futebol, experimentamos alternadamente a inteligência
e a estupidez, a esperteza e a pasmaceira, a fraqueza e a força, o que
produz, não somente a vivência de um mundo mutável, mas a experiência
da sociedade capaz de proporcionar reversões significativas no plano das
definições e classificações coletivas.
Assim, o futebol brasileiro não é apenas uma modalidade esportiva
com regras próprias, técnicas determinadas e táticas específicas, mas sim
uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar.
Há consensos e controvérsias acerca da chegada do futebol no Brasil,
todavia a origem que é mais difundida no país está em torno de Charles
Miller, brasileiro filho de ingleses que estudava em Londres. Porém, Proni
(1998) afirma que existem indícios de que o jogo foi introduzido, já na
década de 1870, por padres e alunos do Colégio São Luís em Itu, interior de
São Paulo, por marinheiros britânicos em cidades portuárias brasileiras, em
especial no Rio de Janeiro, e por funcionários de companhias inglesas,
como a City e a São Paulo Railway.
A hipótese de que Miller foi o introdutor do futebol neste país
fundamenta-se no fato de que ao retornar ao Brasil em 1894, Miller trouxe na
sua bagagem uma bola de futebol. Logo, tratou de difundi-lo entre os
ingleses residentes em São Paulo que se interessavam mais pelo jogo de
cricket. Aos poucos, porém, os ingleses, altos funcionários da Companhia de
Gás, do Banco de Londres e da São Paulo Railway iriam aderir ao futebol.
Assim é que o São Paulo Athletic, fundado especialmente para a prática do
23
cricket, introduziria, em seu espaço lúdico, em 1887, a nova modalidade
esportiva importada por Charles Miller. O primeiro “grande” jogo foi realizado
em São Paulo, em 1899, na presença de 60 torcedores. (CALDAS, 1994).
Esse esporte começou como algo apenas praticado pela elite, sendo
vedada a participação de negros em times de futebol. A aristocracia
dominava ligas de futebol, enquanto o esporte começava a ganhar as
várzeas. Durante muito tempo as elites brasileiras entenderam o futebol,
como “ópio do povo”. Para os aristocratas, o futebol tinha o poder de
manipular as pessoas onde deixariam de lado a realidade e com ela os
“problemas mais importantes” da sociedade.
No Rio de Janeiro, então capital do Brasil, ficou para Oscar Cox o
papel de introduzir o esporte no estado. Assim como Miller, trouxe o futebol
“na mala” em seu retorno da Europa. Porém, isso não era suficiente para
consolidar o esporte no país. Nesse aspecto, foi Cox quem percebeu que o
papel dos clubes era fundamental. No Rio de Janeiro, o primeiro a ser criado
para a prática do futebol foi o Fluminense em 1902. Ele era formado apenas
por brasileiros, todos eles, claro, membros da elite. A Liga Metropolitana de
Football do Rio de Janeiro foi fundada tempos depois, em 1905.
(MAGALHÃES, 2010).
Em seu primeiro momento, o futebol era definitivamente um
entretenimento para as elites. De qualquer forma, logo se tornou uma
importante diversão para as elites e, em pouco tempo, já era praticado em
vários locais do país. Esse foi um fato importante, conforme demonstra Reis
e Escher (2006, p.35): “o Brasil não importou da Inglaterra apenas o jogo de
futebol, mas também as tradições inglesas.” E enquanto estivesse nas mãos
das classes mais altas, o caráter amador do esporte seria mantido, a fim de
manter, assim, sua restrição a poucos.
Daí, sempre entre a elite, foram surgindo os primeiros times de
verdade. Em 1896, o São Paulo Athletic Club, fundado oito anos antes, seria
o primeiro a aderir ao novo esporte, logo seguido do Sport Club Germania
(1889), de Mackenzie Athletic Association (1898), Sport Club Internacional
(1898), Clube Atlético Paulistano (1900), já com nome aportuguesado. Em
Campinas, fundou-se a Associação Atlética Ponte Preta (1900). No Rio de
24
Cox, o Fluminense Foot-ball Club (1902), o Rio Foot-ball Club (1902), o
Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club, o Bangu Athletic Club (os
três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama já existiam desde o fim
do século, ambos dedicando-se ao remo: o primeiro, só criaria seu
departamento de futebol em 1911; o segundo, em 1923. Em Porto Alegre, foi
fundado o Esporte Clube Rio Grande (1900); em Minas, o Sport Club Belo
Horizonte (1904); em Recife, o Club Náutico Capeberibe (1901); em
Salvador, o Vitória Foot-ball Club (1905). (MÁXIMO, 1999).
Semelhante com o que aconteceu na Inglaterra, o futebol foi usado
como válvula de escape para as classes trabalhadoras, e com isso
tranqüilizava as elites. As classes mais altas perceberam que com a
popularização do futebol haveria uma forma de controlar a massa
trabalhadora cada vez mais aglomerada nos centros urbanos, entretanto
passava-se a exigir mais direitos e maior participação na vida do país.
Na visão de Proni (1998), o futebol vinha deixando de se restringir aos
clubes e colégios de elite e passando, progressivamente, a ser praticado por
operários e trabalhadores de classes populares, apesar do caráter elitista
das ligas. Com o surgimento de equipes em fábricas de subúrbio como foi o
caso pioneiro da equipe do Bangu no Rio de Janeiro, formada em 1904, ou
com o aparecimento de equipes em bairros de famílias proletárias a exemplo
do Corinthians Paulista, em 1910, a prática foi se popularizando e se
difundindo como um novo elemento do meio social urbano. Em
contraposição ao futebol dos clubes de elite, começava a proliferar o
chamado “futebol de várzea”.
Pode - se dizer que a fundação desses clubes representou a abertura
do futebol para as massas. O Brasil estava se urbanizando e as classes
mais baixas, começavam a buscar espaço tanto na sociedade como na
política. Com o avanço da indústria e o crescimento do operariado houve a
difusão do esporte pela classe operária. Tempos depois, o futebol começava
a se popularizar e se difundir pelo país, a questão social foi ganhando força,
assim como a própria identidade nacional do brasileiro.
A partir de 1908, homens de diferentes classes socias passaram a ter
direito à prática do futebol. Isso só foi possível com a criação de vários
25
clubes, mas mesmo com esse avanço, ainda houve impedimentos. A
participação dos negros nos times de futebol pode ser considerada um
desses avanços, porém isso só foi possível na década de 20 quando eles
começaram a ser aceitos por outros clubes, sendo o Vasco da Gama que foi
fundado em 1898, o primeiro dos clubes grandes a vencer títulos com uma
equipe repleta de jogadores negros e pobres. (MAGALHÃES, 2010).
Entende-se que os anos que antecederam o governo Vargas foram
marcados por duas disputas no futebol brasileiro. De um lado, a elite
defendendo seu caráter amador e do outro o povo que buscava
democratizá-lo e lutava pela sua profissionalização. Esses conflitos, em
termos de compreensão do futebol, eram o reflexo de importantes questões
sociais e políticas que estavam surgindo no país.
No período da Era Vargas, o futebol representou um modelo de
sociedade a ser alcançado, ao mesmo tempo em que era um dos moldes da
sociedade brasileira. Foi um instrumento ideológico extremamente útil, que
atendia aos objetivos do chamado “governo dos pobres” do referido
presidente. Vargas estimulou a profissionalização do futebol no esforço de
que o Estado controlasse o esporte no país. Assim, conseguiria ampliar a
base social do governo e criar a ilusão de um Brasil democrático. Em Proni
(1998, p. 197), vamos encontrar o seguinte esclarecimento:
Durante a primeira era Vargas o futebol profissional estruturou-se de forma semelhante a uma “autarquia” e que adquiriu uma forte relação com a política local e nacional, relação que se manteria desde então (mesmo nos períodos de maior autonomia).
No Brasil, o profissionalismo no futebol foi introduzido em 1933, e
assim como aconteceu na Inglaterra foi um acontecimento inevitável e alvo
de resistência. As ligas e as associações passaram a exigir dos jogadores a
comprovação de vínculo empregatício ou comprovação de ser estudante, a
fim de dificultar aos trabalhadores e aos que não estudavam a prática do
esporte. Segundo Ribeiro (2003), a profissionalização do futebol
26
correspondia à tensão que existia entre a tradição elitista e amadora dos
primórdios da prática esportiva e a necessidade de regulamentar nos clubes
- numa conjuntura de popularização do futebol - a crescente participação de
jogadores remunerados, de sua maioria de origem pobre e negra. Foi a partir
dessa década que houve um crescente êxodo de jogadores brasileiros para
a Europa. Para Rosenfeld (1993 apud REIS e ESCHER, 2006), a
profissionalização no Brasil foi uma forma de evitar a saída de jogadores
brasileiros para outros países, que já haviam introduzido o futebol
profissional, principalmente a Itália e a Espanha.
Com o crescente interesse da população pelo futebol, houve a
necessidade da construção de estádios com grande capacidade de público.
Foi nessa perspectiva que em 1940 e 1950 que surgiram os estádios do
Pacaembu e o Maracanã, respectivamente. Devido a sua profissionalização,
esse esporte deixou de ser apenas um fenômeno de massa para se
converter no espetáculo que ele representa nos dias atuais, atraindo
multidões para as suas práticas. E esse processo foi se intensificando com
as participações da seleção brasileira nas copas do mundo e dos times
brasileiros em campeonatos internacionais. (MAGALHÃES, 2010).
Nos tempos da ditadura militar o futebol já era o “esporte do povo”,
por isso os militares utilizaram a sua importância a seu favor. O auge do
esporte nesse período no país se deu através da conquista da Copa do
Mundo de 1970. Conforme Ribeiro (2003), a vitória em 1970, no México, em
plena vigência do regime autoritário, fortaleceu o imaginário de uma nação
moderna e reconhecida como potência mundial. "Ninguém segura esse país"
era a palavra de ordem que impulsionava o regime militar. A imagem do país
estava forjada na conquista do campeonato mundial. O Brasil passara a ser
conhecido como o país do futebol.
Após o período da ditadura, o Brasil, passou por um processo de
redemocratização, e tanto o país quanto o futebol sofreram importantes
transformações a partir de então. Mas, assim como em todo o seu processo
histórico o futebol se adaptou a essas mudanças. O novo definidor das
relações do esporte passava a ser o capital gerado pelo futebol não só no
Brasil como no mundo.
27
A história do futebol está intrinsecamente ligada à política. No Brasil
não foi diferente, desde o início quando o mesmo chegou ao país, as
cidades que aderiram a esse novo esporte foram justamente São Paulo e
Rio de Janeiro respectivamente a capital do café e a capital da República,
onde a presença de empresas inglesas, a instalação de fábricas de pequeno
porte, a formação de um operariado e o intenso fluxo de imigrantes
propiciavam condições adequadas à contagiante atração exercida pelo novo
esporte e a sua popularização. O esporte brasileiro, principalmente o futebol
já mantinha ligações com o governo há alguns anos. Logo, pode - se afirmar
que uma das razões para que até os dias atuais os maiores clubes que
detém toda a atenção da mídia, do povo e da política são pertencentes a
esses dois estados. (SILVA, 2006).
Hoje, o futebol é o maior fenômeno social do Brasil. Representa a
identidade nacional e também consegue dar significado aos desejos da
maioria dos brasileiros. Essa relação é vista como parte da própria natureza
do país. Segundo Lucena e Proni (2002), o futebol seria uma das raras
oportunidades para sociedade brasileira organizar-se coletivamente em
torno de um objetivo comum, atuando de modo coordenado em contraste
com as representações políticas e econômicas tradicionais.
No Brasil, o futebol se impõe nos quatro cantos, fazendo parte da vida
da sociedade brasileira. Esse esporte é uma forma que a sociedade
brasileira encontrou para se expressar sendo caracterizada como:
Uma maneira de o homem nacional extravasar características emocionais profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor. Fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras. (DAOLIO, 2006, p.143).
Esse pode representar uma possibilidade de desenvolver formas
solidárias e cooperativas de organização da sociedade. De acordo com Da
Matta (2006, p. 164), “[...] essa prática proporciona à sociedade brasileira a
experiência da igualdade e da justiça social.” Pois produzindo um espetáculo
complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem, o futebol
28
reafirma simbolicamente que o melhor, o mais capaz, e o que tem mais
mérito pode efetivamente vencer.
Desta forma, o futebol traduz-se em uma prática social que expressa
a nossa sociedade, com todas as suas aspirações mais antigas, seus
desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas, sendo
considerado membro legítimo do nosso país que penetra na vida da
população brasileira e também no espírito de cada cidadão.
Entretanto, é necessário pensar o futebol como algo ainda mais
complexo e poderoso do que um instrumento de ideologia das massas e do
mercado. Em adição, o futebol brasileiro, vive um momento de profunda
reorganização, muito prejudicada pelas mundialmente conhecidas estruturas
de corrupção e má gestão. A lógica instrumental globalizadora vem
prevalecendo sobre a tradição local, alterando profundamente a estrutura do
futebol, e tentando reduzir o torcedor a mero consumidor. (JESUS, 2003).
O futebol brasileiro durante a sua história passou por diferentes fases.
E estas, refletem o que o esporte vem representando ao longo do tempo na
sociedade brasileira, primeiro era visto como um passatempo de poucos, daí
o esporte da elite, depois elemento de integração e paixão do povo, se
tornou uma profissão, posteriormente meio de afirmação da identidade
nacional e instrumento político, uma arte brasileira e por fim um objeto da
globalização dentro do qual o Brasil representa importante papel.
29
3 AS PRÁTICAS FUTEBOLÍSTICAS NOS CAMPOS DA BAHIA
No capítulo anterior foi relatada a inserção do futebol no Brasil e no
mundo. Agora é apresentada a discussão quanto à gênese do futebol baiano
e a história da Catuense, através de documentos e; posteriormente,
estabelecida uma análise do processo da pesquisa de campo.
3.1 ROLANDO A BOLA: ORIGEM DO FUTEBOL NA BAHIA
A história do futebol na Bahia se assemelha com a origem desse
esporte no Brasil. Assim como Charles Miller, José Ferreira Júnior,
conhecido como Zuza Ferreira, foi para a Inglaterra com o objetivo de
estudar e quando retornou ao país, trouxe consigo a vontade de praticar o
esporte em sua terra natal. Zuza Ferreira teria sido o primeiro a introduzir o
esporte em Salvador no ano de 1901. A Bahia foi o primeiro estado do
Nordeste a acolher essa arte que hoje tanto divulga nosso país nas terras
alheias. (FEDERAÇÃO BAHIANA DE FUTEBOL, 2011).
Conforme Santos (2009), de forma semelhante à Inglaterra e ao
Brasil, o futebol nos seus dois anos iniciais era praticado apenas por jovens
da elite soteropolitana, assim como se copiou a maneira de vestir de homens
e mulheres ingleses, os seus estilos de jogo, entre outros aspectos que
caracterizaram a forma da cultura futebolística na Bahia. Nesse início, o
futebol ao mesmo tempo em que foi aceito, sofreu resistência quando sua
prática se dava entre populares.
A partir do ano de 1903, o esporte estava adquirindo outra dimensão
na sociedade baiana. Notícias nos jornais sobre regras de futebol, a venda e
compra de materiais esportivos importados eram pequenos indícios de que a
visão que se tinha a respeito do futebol estava mudando. Nesse período
ainda não havia clube para as práticas futebolísticas. Os times eram
formados por jovens que se reuniam nos finais de semana e feriados. A t é
e n t ã o n ã o s e f o r m a v a m c l u b e s d e
30
f u t e b o l e m S a l v a d o r . A s a g r e m i a ç õ e s
o u c l u b e s e x i s t e n t e s e r a m o s d e
r e g a t a s , q u e p r a t i c a v a m o r e m o o u
e n t ã o o s c l u b e s d e c r i c k e t . 1 E s t a s
d u a s p r á t i c a s e s p o r t i v a s e r a m a s
m a i s f a m o s a s e m S a l v a d o r , n a s
q u a i s a p a r t i c i p a ç ã o p o p u l a r e r a
q u a s e i n e x i s t e n t e . Segundo Gama (1923 apud JÚNIOR;
SANTO, 2011) foram os membros da colônia inglesa na Bahia que fizeram a
introdução de um jogo, cuja disputa, para eles, tinha já o cunho de Sport, -
pois sendo a sua pátria o berço do Sport moderno - tinham a noção exata da
significação do vocábulo. Esse jogo, foi o cricket, de origem genuinamente
inglesa [...].
O Sport Club Bahiano, em 1903 foi fundado por rapazes que
trabalhavam no comércio. Conforme é narrado na literatura,
Rapazes do Comércio, animados, fundam o primeiro clube de futebol da Bahia. Foi ele o Sport Club Bahiano, fundado em 7 de setembro de 1903 e a quem a Bahia esportiva ficou a dever reais serviços. Os seus sócios realizavam todos os domingos partidas de futebol entre os times Branco e Verde e uma banda de música alegrava o público. No dia 15 de novembro um grande jogo foi realizado entre os já afamados times Verde e Branco. (MAIA, 1944 apud SANTOS, 2009, p. 7).
Seguindo a tendência apontada por Franco Júnior (2007), outros
clubes foram criados em Salvador, times que podiam ainda ser de elite ou de
origem popular ou ainda, ter base nas colônias estrangeiras. Nessa lista,
vemos clubes como: Club Internacional de Cricket (novembro de 1899); Club
de Natação e Regatas São Salvador (1902); Club de Regatas Itapagipe
(1902); Sport Club Bahiano (1903); Sport Club São Paulo - Bahia (1903);
Sport Club Santos Dumond (1904); Fluminense Foot-Ball Club; Sport Club
1 Nome dado ao um esporte que utiliza bola e tacos, cuja origem remonta ao sul da Inglaterra, durante
o século XVI.
31
Ypiranga (1906); Botafogo Sport Club (1914) e outros mais. Alguns tiveram
vida curta, outros duraram tempo maior, mas da mesma forma foram
extintos e poucos são os que existem até hoje, com alguns tendo sido criado
em tempos mais recentes, como o Esporte Clube Bahia (1931).
Além disso, convém salientar que a prática do futebol gerou muita
curiosidade em quem assistia aos jogos, cada vez mais frequentes, nos
campos de Salvador.
O processo de institucionalização do futebol baiano começara a
acontecer. Logo, passou a ser necessário um local mais organizado, que
permitisse uma prática de cunho sistematizado, com uma inicial organização
de campeonatos. A essa altura era preciso satisfazer a população e
desenvolver o esporte que acabou sendo adotado pelo povo soteropolitano.
O São Paulo, clube baiano formando por paulistas, por já ter contato com o futebol no sudeste brasileiro percebeu que a criação de uma liga em Salvador seria de fundamental importância para o desenvolvimento do esporte naquele estado. Sendo assim o clube em parceria com o Bahiano, convida o Vitória e Internacional para fundarem, no dia 15 de novembro de 1904, a primeira liga de futebol da Bahia, chamada Liga Bahiana de Sports Terrestres, atual Federação Baiana de Futebol, a fim de organizar
campeonatos de futebol. (SANTOS, 2009, p. 9).
Depois desse acontecimento, passaram a desenvolver a idéia de que
a formação dos primeiros clubes para a prática do futebol designada aos
desportistas era o que faltava no futebol baiano. Um torneio em que fossem
realizados jogos com mais freqüência e certa periodicidade. Através de um
campeonato mais partidas seriam disputadas, sendo que no final deste um
campeão seria declarado recebendo assim um troféu representando a sua
conquista.
No dia 9 de abril de 1905, começa o primeiro Campenato Baiano de
Futebol com a participação de cinco clubes: Vitória, São Salvador,
Internacional, Bahiano e São Paulo. O Internacional que foi fundado por
imigrantes ingleses, acaba vencendo todas as partidas e conquistando o
32
campeonato. Essa 1ª edição do campeonato baiano foi um sucesso e contou
com grande participação do público, formado por pessoas da alta sociedade
e populares. Houve em Salvador, um momento em que o mesmo
experimentou uma cultura “oficial” no futebol. Entre os anos de 1905 e 1912,
o futebol representava diversão e lazer, e encontrava sentido na prática do
amadorismo, possuidor de um caráter restrito, racista e selecionador.
(SANTOS, 2009). Para muitos desportistas baianos o futebol como uma
prática civilizada, contribuiria para o desenvolvimento da Bahia, baseado é
claro no comportamento dos burgueses e europeus.
Em setembro de 1913, outra liga foi criada, a Liga Brasileira de Sports
Terrestres. Em Salvador, existiram ainda outras ligas futebolísticas, como:
Liga Sportiva Nacional, a Liga Itapagipana e a Liga Rio Branco de Sports
Terrestres. (JUNIOR; SANTO, 2011). Com a criação dessas ligas, o futebol
iniciou um período de transformação, a sua prática estava sendo realizada
nos quatro cantos de Salvador, da elite às camadas mais populares.
Entretanto, houve a tentativa de uma vivência futebolística que remetesse
aos ideais da modernidade, porém tentou-se restringir os populares e negros
pobres da vivência da própria modernidade. Nesse processo de uma prática
desportiva, um dos aspectos mais tensos foi a inserção do negro nos clubes
e nos campeonatos de futebol. A Liga Brasileira de Sports Terrestres ou a
“Liga dos Pretinhos” pode ser considerada um marco para a inclusão dos
negros e populares nas práticas futebolísticas de Salvador. Para Santos
(2009, p. 24), a “ L i g a d o s P r e t i n h o s ” a t e n d i a
a s n e c e s s i d a d e s d e s o c i a l i z a ç ã o p o r
p a r t e d o s p o p u l a r e s . N e s t e s e n t i d o , a
c u l t u r a p o p u l a r d o f u t e b o l e m
S a l v a d o r c o n t r i b u i u p a r a a
c o n s t i t u i ç ã o d e u m a i d e n t i d a d e
c o l e t i v a e n t r e a s c l a s s e s
s u b a l t e r n i z a d a s .
Numa análise acerca do futebol em Salvador, identifica - se que em
sua trajetória, este se desenvolveu como uma prática cultural que ganhou às
ruas da cidade, relacionando-se com outros elementos da cultura
33
soteropolitana, se transformando no esporte de maior aceitação, até a
atualidade. Tempos depois, não só a capital baiana, como também outras
cidades do estado já haviam disseminado o futebol, adotando-o como o
fenômeno da modernidade. Os times do interior do estado foram surgindo a
partir dessa lógica e através dos campeonatos já existentes, amadores ou
não. Dentre eles podemos citar: Atlético de Alagoinhas
Bahia de Feira, Camaçari, Feirense, Fluminense, Ipitanga, Juazeiro,
Serrano, Colo-Colo, Vitória da Conquista, Poções, Catuense, entre outros.
Os maiores clubes de futebol da Bahia e reconhecidos nacionalmente
são o Bahia e o Vitória, ambos de Salvador. O Bahia, maior vencedor da
história do Campeonato Baiano, campeão brasileiro em 1959 e 1988,
disputa, atualmente, a Série A. O Esporte Clube Vitória, segundo maior
vencedor do certame baiano, foi vicecampeão brasileiro de 1993 e vice -
campeção da Copa do Brasil de Futebol de 2010 e se encontra, atualmente,
na Série B do Campeonato Brasileiro.
Atualmente as competições organizadas anualmente pela FBF, são:
Campeonato Baiano de Futebol - Primeira Divisão , Campeonato Baiano de
Futebol - Segunda Divisão, Torneio Seletivo para o Campeonato Baiano da
2ª Divisão, Campeonato Baiano Sub-20, Campeonato Baiano de Futebol
Feminino Amador, Campeonato Baiano Infantil da 1ª Divisão, Campeonato
Baiano Juvenil da 1ª Divisão, Campeonato Intermunicipal, Copa Governador
do Estado. (FEDERAÇÃO BAHIANA DE FUTEBOL, 2011).
Em sua história mais recente, no ano de 2004 o futebol da Bahia foi
representado na Copa do Brasil pela Catuense Futebol S/A, time interiorano
que por várias veses ficou entre os quatro primeiros colocados do
Campeoanto Baiano. O futebol na Bahia teve ainda como campeões, no seu
mais importante torneio, dois clubes do interior do estado: o Colo-Colo de
Futebol e Regatas, em 2006 e o Bahia de Feira de Santana em 2011.
Pelo que se percebe os times do interior do estado aos poucos vêm
crescendo e obtendo espaço na mídia esportiva e ganhando respeito dos
outros clubes. O fato do Bahia de Feira, clube natural de Feira de Santana
ter sido campeão baiano da 1ª divisão no ano de 2011, derrotando o Vitória,
um dos grandes da Bahia no seu estádio e de virada foi um acontecimento
34
marcante que pode alavancar o sucesso profissional dos chamados times
pequenos.
3.2 CATUENSE FUTEBOL S/A: PASSADO E PRESENTE
O futebol de várzea que é praticado de forma amadora e organizada
fez surgir os primeiros times, também conhecidos como clubes de várzea.
Esse futebol, da comunidade, da rua, cumpre um papel importante na
personalização singular do brasileiro como povo característico e criador de
uma cultura própria, uma vez que este funciona como ponto de encontro de
amigos para os fins de semana. Ele apresentava, no passado, uma
continuidade com o futebol oficial. A popularidade da sua prática, assim
como o futebol oficial se deve a adequação ao gosto popular. A várzea
representou um celeiro de grandes craques que, descobertos, vestiram a
camisa de grandes clubes apesar da rusticidade de sua organização, pois,
[...] qualquer várzea, em que se colocassem pedaços de pau como traves, e o improviso de bolas, que poderiam ser feitos de material barato (como bexigas de boi), adequavam-se perfeitamente à sua prática. (MELO, 2000, p.21).
Considera-se que o futebol seria um esporte e uma prática corporal
organizado nas ruas, pelas comunidades locais, que pode se tornar a vitrine
de nossa identidade nacional, capaz de fazer refletir sobre diferentes
maneiras de organização política e social. Esses times que se constituem
nas relações sociais democráticas e solidárias, que objetivam a diversão e a
integração da comunidade, surgem como exemplos de possíveis
35
organizações políticas alternativas. Foi a partir dessas relações sociais que o
clube Catuense Futebol S/A surgiu nas práticas futebolísticas da Bahia.
De acordo com Catuense (2011), a origem do clube Catuense Futebol
S/A, também iniciou com essas “peladas”, como é conhecida as partidas do
futebol de várzea. Foi resultado de uma diversão entre amigos aos domingos
e feriados, na cidade de Alagoinhas. Antônio Pena (Figura 01), empresário,
desportista, sócio e conselheiro de diversos clubes baianos e algumas
agremiações do sul do país, como amante do futebol, resolveu fazer um
campo de peladas na área de sua chácara, em Alagoinhas onde aos
domingos e feriados, reunia atletas do passado e da época. Com o
desenvolver das peladas, despertou o interesse de levar aquele time que
dirigiu a se exibir no Estádio Municipal Antônio Carneiro, situado na cidade
de Alagoinhas e em outras praças esportivas. Então, surgiu a idéia da
fundação de um clube que pudesse mostrar o resultado da união entre
atletas do passado e do presente.
FIGURA 01 – Antonio Pena, fundador do clube. Fonte: Internet (site
oficial do clube)
36
Justamente em fins de 1973, conforme o Senhor Antônio Pena, no dia
01 de janeiro de 1974, ele e os funcionários da empresa Catuense, Dagmar
Gomes da Silva, Raimundo Stélio, Gerson Santos, José Joaquim, Edmilton
Galisa, José Luiz, Ademir Brito, Jucundino Freire e Eliseu Costa fundaram a
Associação Esportiva Catuense que se sagrou campeã no primeiro ano
disputando o campeonato de amadores de Alagoinhas, voltou a ser
campeão em 1976 e vice em 1975 e 1978 e mais tarde se tornaria uma das
grandes forças do futebol baiano. Suas cores, conforme ilustrado na figura
02, são o amarelo, vermelho e preto e tem como mascote o bem-te-vi
(Figura 03).
FIGURA 02 – Escudo atual da Catuense. Fonte: Internet (site oficial
do clube)
FIGURA 03 – Mascote da Catuense. Fonte: Internet (site oficial do
clube
37
De acordo com registros do clube, no início as partidas eram
realizadas no Estádio Carneirão, na cidade de Alagoinhas, o que rendeu ao
time o apelido de Laranja Mecânica, pois na época a cidade que sediava os
jogos era uma grande produtora de Laranja. Devido a esse fato, o clássico
entre Catuense e Atlético de Alagoinhas é chamado do Clássico da laranja.
A década de 80 foi marcada por grandes feitos, conforme
apresentado no quadro 01. Além do acesso a primeira divisão do
Campeonato Baiano, o Catuense teve uma passagem positiva pela época.
Nove anos após a sua Fundação, o time chegou à elite do Futebol Baiano,
onde durante 26 anos fez uma história de sucesso, estando por dezessete
vezes entre os cinco primeiros colocados, e ocupando por duas vezes a
vice-liderança do campeonato.(CATUENSE, 2011).
QUADRO 01 - CONQUISTAS DA CATUENSE FUTEBOL S/A
ANO CONQUISTAS
1974/1976 Campeão do campeonato de amadores de Alagoinhas
1975/1978 Vice - campeão do campeonato de amadores de Alagoinhas
1977 Vice - campeão do Torneio Inter Clube
1980 Campeão do Campeonato de Acesso de Profissionais da 2ª divisão
1981/1982/1985/1989 4º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão
1983/1986/1987 Vice - campeão do Campeonato Baiano da primeira divisão
1984 Campeão na Categoria Júnior
1984/1988 3º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão
1987 Campeão da Taça Cidade de Salvador
1981/1990 Vice - campeão na Categoria Júnior
1990/1992/1994 3º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão
1993/1996 4º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão
1989/1994 3° lugar no Campeonato Brasileiro da série B
1990 Semifinalista do Campeonato Brasileiro da série B
1991/1993 Vice - campeão da Taça Bahia Júnior na categoria Juvenil
1994 Campeão da Taça Bahia Júnior na categoria Júnior e Juvenil
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1996 Venceu o amistoso contra o Peñarol do Uruguai na inauguração do
Estádio Municipal Antônio Pena em Catu
1998 Vice - campeão do Torneio de Almeria e 4º lugar no torneio de Albacete
(Espanha)
1999 Vice - campeão da Taça Estado da Bahia
2001 Campeão da Taça Estado da Bahia
2003 Vice - campeão do Campeonato Baiano da primeira divisão
2004 Campeão Baiano do Interior
Em 1996 é inaugurado o Estádio Antônio Pena, na cidade de Catu,
(figura 04) construído pelo então prefeito do município e dono do clube
Antônio Pena, que no jogo inaugural recebeu o Peñarol do Uruguai.
FIGURA 04 – Placa de inauguração e vista interna do Estádio
Municipal Antonio Pena, na cidade de Catu. Fonte: Internet (site oficial do
clube)
O estádio Municipal Antônio Pena já foi considerado um dos estádios
mais bonitos da Bahia. Com capacidade para 10.000 pessoas esse estádio
atualmente passa por vários problemas de infra - estrutura, bem como a falta
de estrutura nas cabines de imprensa, instalações internas, estruturas
internas comprometidas, arquibancadas sujas, as torres de iluminação com
ausência de algumas lâmpadas, dentre outros fatos. No dizer do próprio
Antônio Pena, o estádio está abandonado, sujo, onde já depredaram parte
do vestiário, levaram as tomadas, não tem mais água quente e fria para a
recuperação dos jogadores, aquecedores, banheiras térmicas, enfim se
encontra desprezado. O nome do estádio foi apagado da arquibancada e
39
esse local que já abrigou grandes jogos está servindo apenas para os
campeonatos amadores do município.
No mesmo ano da inauguração, Catu passou a ser a sede do clube, já
que o seu fundador foi nomeado o prefeito da cidade. Segundo o site oficial
do clube, em 07 de novembro de 2001, seguindo uma tendência dos
grandes times brasileiros, a Associação Desportiva Catuense torna-se uma
empresa, a Catuense Futebol S/A. Assim, percebe-se que
A transformação dos clubes profissionais em sociedade anônimas supõe não só o estabelecer de um princípio de responsabilidade limitada dessas entidades, mais ainda, e o que é mais relevante, a existência de mecanismos que facilitem a percepção dessa entidade, favorecedores da transparência, o que ajuda a criar um clima de segurança (e garantia) nas relações jurídicas e econômicas que surjam com terceiros. (FILHO, 2002 apud PERRUCCI, 2006, p. 255).
Esses clubes aderiram a um modelo de empresa, onde há a divisão
do capital social em ações que podem ser negociadas livremente e não
quando o capital é atribuído a um nome em específico.
Neste modelo de sociedade, não é necessário uma escritura pública
(contrato social) ou outro ato oficial, assim esta sociedade de capital, vai
prever a obtenção dos lucros e distribuí-los aos acionistas.
No ano de 2004, Antônio Pena concorreu à reeleição para prefeito na
cidade de Catu, porém acabou sendo derrotado pela atual prefeita reeleita
Gilcina Carvalho. Esse fato abalou o ciclo de sucesso da Catuense Futebol
S.A, conhecida também como Catuca. Com isso a Catuense perdeu
prestígio na cidade, mesmo disputando o Campeonato Baiano da 1ª divisão.
Apesar de ter perdido as eleições, Antônio Pena continuou residindo no
município. Mas, no ano de 2007 a Catuca acabou sendo rebaixada para a
série “B” do Campeonato Baiano. Então o ex-prefeito da cidade de Catu
retornou para Alagoinhas levando a Catuense Futebol S/A. Por isso hoje a
sede do clube volta a ser a cidade de Alagoinhas. Hoje, a presidente do
40
clube é Maria Aparecida Pereira Pena, que em dezembro de 2002 foi
convidada por seu pai, Antônio Pena a assumir a presidência.
A Catuense Futebol S/A tem uma escolinha de futebol que abriga
futuros talentos ensinando as técnicas do futebol e ajudando na formação do
cidadão pelo aprendizado de regras e normas de conduta. A Escola de
Futebol da Catuca está sendo conhecida internacionalmente através do
projeto de intercâmbio de jogadores. A Catuense possui três equipes:
principal, juvenil e infantil. O Centro de Treinamento da Catuca, como
ilustrado na figura 02, possui 12 quartos, uma enfermaria, uma rouparia, um
refeitório, área de lazer com sala para TV e salão de jogos, uma lavanderia,
um depósito, um vestuário, um escritório, além de um campo com
dimensões oficial (105 x 75 metros). (VALLORY; BASTOS, 2011).
FIGURA 05 - Centro de Treinamento da Catuense. Fonte: Internet
(site oficial do clube)
A Catuca durante a sua história participou de alguns amistosos e
excursões internacionais segundo o quadro 02, que lhe trouxeram grandes
vitórias sobre times já consagrados.
QUADRO 02 – JOGOS INESQUECÍVEIS DA CATUENSE FUTEBOL S/A
41
ANO JOGOS INESQUECÍVEIS DA CATUENSE
1988 Catuense 2x1 Flamengo
1991 Catuense 0x0 Maryland Bays dos EUA
1991 Catuense 3x0 Seleção Olímpica de El Salvador
1996 Catuense 2x1 Peñarol do Uruguai
------------------------------- Severtte da Suiça 0x7 Catuense
------------------------------ Olto da Alemanha Ocidental 1x5 Catuense
Atualmente a Catuense que revelou Bobô, Vandick, Zanata, Naldinho
e Clemer não se inscreveu para a 2ª divisão de 2011, segundo a presidente
Cida Pena, os motivos são o trabalho focado na base e as mudanças da lei
na FBF (Federação Baiana de Futebol) para os times que participam da
segunda divisão. Conforme o ranking do site da CBF (Confederação
Brasileira de Futebol), terminada a temporada passada a Catuca foi
reconhecida como o terceiro clube baiano melhor colocado, onde se
encontra na 70º posição, na frente de equipes como o Grêmio Prudente
(SP).
42
4 INVESTIGAÇÃO DAS RAZÕES QUE INTERROMPERAM UM
SONHO
A pesquisa pode ser caracterizada como um processo de construção
do conhecimento voltada para a descoberta de solução dos problemas. É
basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza
quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa também pode
ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela
busca de um conhecimento.
Fazer uma pesquisa científica significa investigar determinado assunto de interesse e relevância, observar os acontecimentos, descobrir respostas, conhecer o assunto com profundidade, utilizar métodos científicos para solucionar os problemas levantados e responder as questões que surgem no decorrer do estudo. (MATTOS, 2004, p.11)
Esta pesquisa tem cunho qualitativo e foi desenvolvida através da
pesquisa documental, da revisão de literatura e da pesquisa de campo. Tem
como característica o caráter descritivo, sendo este, um método que
observa, registra, analisa, descreve e correlaciona fatos ou fenômenos sem
modificá-los. Segundo Uwe Flick (2009, p.8), “a pesquisa qualitativa visa a
abordar o mundo “lá fora” e entender, descrever e, às vezes, explicar os
fenômenos sociais “de dentro” de diversas maneiras diferentes”.
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O método da pesquisa documental vale-se de documentos originais,
que ainda não receberam tratamento analítico por nenhum autor, ou seja,
investiga fontes primárias que se constituem de dados que não foram
codificados, organizados e elaborados para estudos científicos. De acordo
com Oliveira (2007, p. 69):
a pesquisa documental caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação.
Desta forma no presente trabalho, para o apoio teórico, foram
consultados documentos indispensáveis à compreensão prévia do problema,
tais como: a ata do clube, artigos da internet entre outros.
A revisão de literatura segundo (GIL, 2002) é aquela baseada em
livros e artigos científicos, mediante análise minuciosa do material de sorte a
averiguar possíveis incoerências ou equívocos nele contidos além de
possibilitar ao pesquisador melhor compreender os dados coletados,
fundamentando-os ou refutando-os.
A pesquisa de campo procede à observação de fatos e fenômenos
exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos
mesmos e, finalmente, à análise e interpretação desses dados, com base
numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e
explicar o problema pesquisado. Para (MARCONI E LAKATOS, 1996), a
pesquisa de campo é uma fase que é realizada após os estudos
bibliográficos, para que o pesquisador tenha um bom conhecimento sobre o
assunto, pois é nesta etapa que ele vai definir os objetivos da pesquisa, as
hipóteses, definir qual é o meio de coleta de dados e a metodologia aplicada.
Ela se caracteriza pela busca de dados diretamente da fonte de origem e
podem ser modificadas pelas condições ambientais.
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Assim, além da pesquisa bibliográfica e documental, utilizou-se para
coleta de dados, entrevistas semi – estruturadas que para Triviños (1987, p.
146):
Tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à
medida que se recebem as respostas dos informantes.
Assim, infere-se que esse tipo de entrevista permite que o
entrevistado tenha liberdade para discorrer sobre a temática em questão e
aborde aspectos que sejam relevantes sobre o que se pensa.
As entrevistas consistiram de 5 a 10 questões fechadas e abertas,
onde o indivíduo entrevistado teve a possibilidade de discorrer sobre o tema
proposto, sem respostas ou condições prefixadas pela pesquisadora. Os
sujeitos escolhidos para as entrevistas foram: o fundador da Catuense
Futebol S/A, dois ex- jogadores do clube e a atual presidente. O critério para
a seleção dos sujeitos foi baseado na aproximação que os mesmos
possuem com o clube, onde participaram de forma direta na trajetória do
clube, podendo então, fornecer informações fundamentais para conhecer a
história da Catuense, as dificuldades que favoreceram para o seu declínio no
futebol da Bahia e do Brasil e as perspectivas para o seu futuro.
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5 A CATUENSE E SEUS SUJEITOS SOCIAIS: MEMÓRIAS DE
UM CLUBE BAIANO
Durante a pesquisa de campo foram entrevistados o fundador do
clube, o senhor Antônio Pena, a atual presidente, a senhora Maria Aparecida
Pereira Pena e dois ex-jogadores, Raimundo da Glória e Elzon dos Santos.
As entrevistas com os ex-jogadores aconteceram na manhã do dia 25 de
agosto de 2011 em Catu-BA, sendo que a primeira durou cerca de 9 mim e a
segunda 8 min. Já o fundador do clube e a atual presidente foram
entrevistados na manhã do dia 12 de novembro de 2011 em Alagoinhas -
BA, com duração de 40 min e 10 min respectivamente.
As memórias do clube Catuense Futebol S/A começarão a ser
descritas a partir do seu fundador que narrará a história do time desde a sua
fundação até as semelhanças e diferenças entre a sua gestão enquanto
presidente e atual administração.
Quando perguntado sobre o que motivou o grupo fundador da
Catuense a tomar a iniciativa de criá-la, o senhor Antônio Pena2 diz que:
Não tínhamos nos dias de domingo nenhuma opção de lazer, então nós reunimos os funcionários da empresa de ônibus Catuense criada por mim e transformamos os babas nos domingos pela manhã na Associação Desportiva Catuense. (INFORMAÇÃO ORAL).
2 Depoimento obtido através de entrevista com o fundador Antônio Pena, em 12 de novembro de
2011.
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A diversidade do futebol é algo que o torna um fenômeno único que
possui diversas formas de organização e possui uma íntima relação com a
sociedade. São várias pessoas que dedicam seu tempo disponível ao futebol
enquanto prática, valorizando momentos de encontro e sociabilidade de
forma informal, criativa e lúdica. De acordo com Bauler (2005 apud RIGO;
JAHNECKA; SILVA, 2010), as práticas do futebol como lazer, continuam a
ter presença marcante, tanto nos grandes centros urbanos como nas médias
e pequenas cidades brasileiras, ou ainda nas zonas rurais, onde, não
raramente, ele é um dos poucos acontecimentos de lazer dos finais de
semana.
Segundo Antônio Pena, um dos motivos para a criação da Catuense
foi a vontade de disputar o Campeonato de Amadores de Alagoinhas. Para o
mesmo a Catuense enquanto amador tem sua origem em Catu e como
profissional em Alagoinhas.
Quando perguntado se após a criação do clube, ele imaginou que a
catuense se tornaria uma das grandes forças do futebol baiano diz que:
Sempre tive muita esperança porque sabia que o futebol no futuro seria um bom negócio. O futebol é uma paixão do povo, sobretudo brasileiro. Embora tenha sido descoberto na Inglaterra, as suas maiores glórias estão em poder dos brasileiros. (INFORMAÇÃO ORAL).
Este trecho da entrevista vai ao encontro do que afirma Galeano
(2002, p. 14), ao descrever o futebol como:
O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo. Esse esporte também é uma “paixão”, um “estilo de vida” e uma instituição social que cultiva mitos, crenças que vende muito bem produtos como o “jogador de futebol”, e se constitui grande fonte de renda.
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Inserido no mundo dos negócios, o futebol faz parte do contexto
capitalista, transformou-se em mercadoria e o capital gerado pelo mesmo
assume papel central na produção de toda a riqueza existente. Para o povo
brasileiro essa mercadorização trouxe um novo significado do esporte e,
sobretudo no que diz respeito a sua identidade.
Para argumentar qual teria sido o divisor de águas do apogeu e
declínio da Catuense, destaca que:
O auge do clube foi fruto do meu trabalho juntamente com todos os funcionários da empresa Catuense e que não houve um declínio propriamente dito, o que aconteceu foi uma parada para observação, motivada pela queda da empresa que era o órgão que ajudava, sendo o parceiro e investidor. (INFORMAÇÃO ORAL).
A Catuense Futebol S/A por se tratar de um clube-empresa teve ao
longo da sua trajetória metas que alavancariam os outros negócios do clube,
tais como: a obtenção de lucros e as conquistas em campo. Pode-se dizer
que o fato da empresa de ônibus Catuense não existir mais, possibilitou
mudanças nas pretensões do clube decorrentes da falta de patrocínio, o que
foi fundamental para a invisibilidade do clube nos cenários local, regional e
nacional. Do ponto de vista de Perruci (2006, p. 203), o clube-empresa
consiste numa atividade empresarial desenvolvida pelos clubes de futebol
que desempenham atividades profissionais, coincidindo, então, com a
correta acepção da empresa, como objeto de direito, ou seja, a atividade
profissionalmente exercida e organizada para a produção e circulação de
bens e serviços.
Diante do questionamento de quais seriam os fatores que levaram à
transferência da sede da catuense para outra cidade, defende:
[...] a sede da Catuense deveria ser no Catu, porque a origem do clube foi lá. Como amador o time começou em Catu e eu fui prefeito daquela cidade durante dois mandatos, construi um estádio e esperava continuar com
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Catuense lá, mesmo o centro de treinamento sendo em Alagoinhas. (INFORMAÇÃO ORAL).
Então um dos fatores para a transferência da sede foi o fato do
senhor ter assumido a empresa Alagoinhas?
Eu vim para Alagoinhas orientado pelo governo na época porque a empresa Alagoinhas não estava bem e a empresa Catuense estava em franca ascensão, desenvolvendo, crescendo. (INFORMAÇÃO ORAL).
Através da fala do entrevistado percebe-se que não há objetividade e
clareza quanto às causas da mudança de sede do clube, porém, pode-se
concluir que pela vontade do fundador do clube, a sede do mesmo seria em
Catu, entretanto, houve a necessidade do próprio Antonio Pena assumir a
empresa Alagoinhas, a fim de levá-la ao mesmo patamar que a empresa
Catuense se encontrava.
A Catuense foi uma equipe de grande sucesso desde a sua origem
até o início desse século, porém houve no decorrer da sua história
momentos que marcaram a memória dos seus sujeitos sociais. Quando se
pergunta qual teria sido o momento mais marcante da trajetória da Catuense
durante a sua gestão, acredita que:
Além da inauguração do estádio Municipal Antônio Pena houve os quatro vice-campeonatos baianos que para mim foram quatro títulos. Na inauguração do estádio nós trouxemos o Peñarol do Uruguai que naquela ocasião era bi-campeão do mundo. A catuense ganhou o jogo por 2 a 1 e isso está gravado na história do futebol da Bahia. (INFORMAÇÃO ORAL).
Assim como outros times do Brasil, a Catuense participou de alguns
amistosos internacionais que alavancaram o nome do clube pelo Brasil e
pelo mundo.
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Fizemos grandes amistosos internacionais, jogamos nos EUA, Portugal, Itália, na Suíça contra o Sevette. Enfim grandes partidas que nos deram grande satisfação e alegria, onde honramos o futebol da Bahia. (INFORMAÇÃO ORAL)
É possível observar na fala do entrevistado que na memória dos seus
sujeitos sociais, a construção e inauguração do estádio, como também os
amistosos realizados pela Catuca por todo o mundo, foram um marco
histórico para todos os envolvidos direta ou indiretamente a esses
acontecimentos.
Quando perguntado quais foram as dificuldades encontradas durante
o processo de formação da Catuense, Pena alega que:
Não tive dificuldades, porque fazia o que gostava. Antes da Catuense eu era torcedor do Galícia e me convocaram para presidência e fui campeão com o clube. Na Catuense era eu quem decidia os recursos para bancar as despesas. (INFORMAÇÃO ORAL).
O gosto pelo futebol, a sensação de prazer, de estar fazendo o que
ama serviu como um estímulo para que Antônio Pena viesse a formar o
clube. A forma lúdica com ele apreciava o esporte pode ser explicada por
(SALLES, 1998), quando diz que a escolha do futebol como fonte de lazer
parece ter relação com o modo do indivíduo se relacionar com ele próprio e
com os outros, o modo como ele se vê, quais os seus objetivos e seus
valores.
A gestão da Catuense Futebol S/A obedece a uma hierarquia, há
quase dez anos a direção do clube está nas mãos da filha do senhor Antônio
Pena, Maria Aparecida Pereira Pena. Interrogado como está sendo a atual
administração e quais seriam as semelhanças e diferenças da sua gestão e
da atual, o fundador do clube afirma que:
A atual administração está sendo com muita responsabilidade, Cida absorveu bem as minhas idéias e
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com isso ela usa a mesma filosofia que eu seguia, dirigindo o clube com orgulho. Não há diferenças entre as gestões, é a continuidade, porém o poder de realização está comigo, quem administra sou eu. Ela tem um corpo de funcionários que a ajuda muito, dando continuidade a minha legenda que é a Catuense. (INFORMAÇÃO ORAL).
Percebe-se claramente a satisfação e o orgulho do entrevistado ao
falar do processo de administração da atual gestora do clube. Entretanto, há
a certeza de que mesmo não sendo oficialmente o presidente da Catuense,
Antônio Pena é o grande responsável pelos rumos futuros a serem tomados
pela Catuca. A parte financeira está concentrada em suas mãos. Uma
gestão de futebol deve seguir um padrão onde se busque a lucratividade,
assim como, o desempenho em campo com metas e resultados esperados.
Na visão de (JUNIOR, 2001) este modelo de gestão está circunscrito a
modalidade esportiva de futebol, o que de certa maneira dá um foco ao
negócio.
Então, já existe um projeto para que a catuense volte à elite do futebol
baiano?
Sim, a catuense não morreu não, estamos nos reorganizando para depois reinvestir. (INFORMAÇÃO ORAL)
Por muito tempo, a Catuense fez parte do cenário esportivo,
conquistando torcedores e títulos. Hoje, a percepção da presidente
Aparecida Pena em relação a sua integração dentro desse contexto é clara
quando a mesma diz que a Catuense está fora do cenário esportivo atual,
focando seu trabalho na base. Pelo que se pode notar o atual objetivo do
clube é formar atletas com qualidades técnicas e táticas e inseri-los no
mercado de trabalho. Como descrito por Souza (2001), as categorias de
base têm como principais metas, permitir a possibilidade de correção técnica
e tática do jovem jogador, incutir no jovem a predisposição para o trabalho
físico e adequar o jogador as normas do clube, requisitos básicos para
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preencher vaga no mercado de trabalho, (padronização, disposição, e
obediência).
O mundo do futebol é enriquecido de questões com caráter
econômico, sendo o patrocínio um núcleo de retorno e visibilidade. O
sucesso dessas ações está diretamente ligado com o tamanho da torcida do
clube, o sucesso nas competições dentro de campo e com o tamanho da
exposição que ele vai ter na mídia. Entretanto, muitos são os clubes que não
conseguem adquirir esse auxílio e acabam na instabilidade e sujeitos a
tensão das forças do mercado. É o caso da Catuense que no ponto de vista
da presidente, desde que a mesma assumiu o cargo, o patrocínio sempre foi
a maior dificuldade do clube Segundo Apararecida, o fato de seu pai ser um
empresário torna as negociações mais complicadas, pois acreditam que
sendo ele um empreendedor pode resolver todos os problemas.
E há essa procura por patrocínio?
Sim, estamos procurando um patrocinador que realmente tenha responsabilidade e que queira fazer uma sociedade, sem que no final haja qualquer débito para o meu pai. (INFORMAÇÃO ORAL).3
Há um receio por parte de Cida Pena em conseguir patrocinadores
que cumpram com os seus deveres e por conseqüência, não deixem Antônio
Pena sobrecarregado com as despesas.
O patrocínio é o meio mais conhecido e utilizado de investimento no
mercado esportivo, inclusive do futebol. Os patrocinadores adquirem
valorização e o posicionamento da empresa, além de obterem retorno
institucional e de vendas. Conforme Zunino (2006) no futebol, o patrocínio
esportivo apresenta-se principalmente através da publicidade e propaganda
nos fardamentos dos clubes, nas dependências esportivas (estádios, centros
3 Depoimento obtido através de entrevista com Maria Aparecida Pereira Pena, em 12 de novembro de
2011.
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de treinamento, ônibus da equipe), e no endosso e fornecimento de
equipamentos esportivos a jogadores individuais de renome.
Quanto à sua vontade em fazer parte da diretoria do clube e como
teria surgido esse interesse, sustenta que:
Nunca tive vontade de fazer parte da diretoria, se eu pudesse tinha jogado uma bomba no time da Catuense (risos). Quando foi em dezembro de 2002, meu ex-esposo saiu da diretoria e meu pai tinha feito uma sociedade com a antiga firma Siema de Salvador. Então eu assumi e daí tomei gosto e nesse tomar gosto, quero largar, mas nunca consegui. A minha idéia é que em 2012 eu não esteja mais na presidência da equipe. (INFORMAÇÃO ORAL).
É possível que a falta de interesse de Cida Pena em participar do
corpo de dirigentes da Catuense se deva ao fato de que a mesma cresceu
vendo a luta do pai e fundador do clube em administrá–lo e posteriormente
as suas dificuldades depois de ter transformado a Catuense em um clube-
empresa. Provavelmente, após se deparar com a situação descrita por ela
na entrevista, sentiu-se no dever de assumir a presidência. Depois desse
acontecimento, assim como todos os povos do mundo e principalmente o
brasileiro, ela se rendeu ao fascínio do futebol, tentou deixar o cargo, mas
não foi feliz, pois o futebol já tinha feito dela mais uma vítima do seu
espetáculo.
Em DaMatta (2006), vamos encontrar o seguinte esclarecimento,
talvez o futebol seja capaz de tudo isso porque é uma atividade dotada de
uma notável multidimensionalidade: uma densidade semântica complexa
que permite entendê-lo e vivê-lo simultaneamente por meio de muitos
planos, realidades e pontos de vista. Embora seja uma atividade moderna,
um espetáculo pago, produzido e realizado por profissionais da indústria
cultural, dentro dos mais extremados parâmetros capitalistas ou burgueses,
ele, não obstante, também orquestra componentes cívicos básicos,
identidades sociais importantes, valores culturais profundos e gostos
individuais singulares.
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Sobre as possibilidades existentes do retorno da Catuense para a
elite do futebol baiano diz:
No momento eu não estou querendo participar de campeonatos para voltar a elite. Eu quero manter a antiga idéia da Catuense que é trabalhar só com a base. Fazer jogadores e mandar para os clubes que eu já tenho parceria, Santos, Corinthians e Mogi - Mirim. Fazendo isso já estou satisfeita. (INFORMAÇÃO ORAL).
Com clareza e objetividade, a entrevistada afirma que a Catuense não
irá participar de campeonatos para o acesso a primeira divisão. E com
satisfação, reforça a idéia do trabalho com as categorias de base. O clube
que formar jovens para serem futuros jogadores profissionais.
E não tem perspectiva para a formação do time principal?
Não, até porque a lei da federação foi mudada esse ano, Nós estamos na 2ª divisão, mas para ela não fazemos mais parte. Teríamos que participar de uma seletiva, chegar para a 2ª divisão novamente e depois tentar voltar a 1ª. (INFORMAÇÃO ORAL).
Conforme o site da Federação Baiana de Futebol, a lei citada pela
presidente da Catuense é a Lei nº 10.671/03, de 15/05/2003 (Estatuto de
Defesa do Torcedor). Entende-se que o torneio seletivo será na prática uma
espécie de 3ª Divisão que dará acesso a 2ª Divisão do mesmo ano.
Ascenderão ao Campeonato baiano de futebol profissional da segunda
divisão, as associações classificadas em primeiro e segundo lugares do
torneio seletivo.
Segundo Aparecida Pena, o funcionamento da política interna do
clube está em trabalhar com investidores que realmente queiram ganhar
dinheiro com o futebol. Ela cita o caso Neymar, que hoje é o jogador mais
bem pago do Brasil e possui um contrato de milhões. De acordo com a
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presidente, a Catuense tem que procurar trabalhar sério. Acrescenta ainda
que os professores do clube são capacitados e tomam curso em São Paulo
com os melhores treinadores do país.
Compreende-se que houve receio por parte da entrevistada em
responder a questão acima, logo informações importantes para entender
como funciona a política interna da Catuense não foram reveladas. Ela volta
a insistir no patrocínio, o capital gerado no futebol, cita o jogador Neymar
como sendo o símbolo nacional dessa relação e por fim fala, ainda que
indiretamente sobre as categorias de base, salientando que os professores
que atuam no clube são altamente capacitados.
Em relação à infra-estrutura como se encontra a Catuense?
A infra-estrutura do clube é muito boa. Ela tem hoje dois campos oficiais, sendo o único time da cidade e do interior da Bahia com esse requisito. Possui quartos com ar – condicionado, todos têm banheiros, existe um ônibus para a viagem. Então a estrutura da equipe é uma das melhores do estado, só falta um bom investidor. (INFORMAÇÃO ORAL).
A presidente em seu depoimento acredita que a Catuense possui uma
das melhores estruturas do futebol baiano, apesar do momento atual do
clube. Os dois campos mencionados por ela estão localizados no centro de
treinamento do clube e na chácara do fundador, respectivamente, de acordo
com a figura 05. Os demais espaços físicos, os quartos, além da enfermaria
e do ônibus do time também estão ilustrados na figura supracitada.
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FIGURA 05: Infra- estrutura da Catuense Futebol S/A. Fonte: Arquivo
pessoal.
A infra - estrutura de um time de futebol é todo um conjunto de
espaços físicos destinados a melhoria dos atletas dentro e fora de campo.
Uma boa estrutura inclui: campos, vestiários, academia de musculação,
refeitório, salão de jogos, dormitórios. É importante o clube pensar nos seus
atletas e saber que esse aglomerado de espaços pode interferir nas vitórias
e derrotas em campo. O jogador de futebol precisa ter um bom local de
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trabalho, com estruturas amplas e desenvolvidas, para a sua preparação e
recuperação.
As escolinhas de futebol representam uma grande oportunidade para
os times de futebol e seus alunos, futuros atletas. Questionada sobre quais
seriam os planos da diretoria da Catuense para os futuros atletas da
escolinha defende:
Na escolinha a criança fica até os 14 anos, depois vai para o infantil, passa para o juvenil e daí eu mando para o Corinthians, Santos e Mogi - Mirim. (INFORMAÇÃO ORAL).
E já fez parcerias com times cariocas?
Ainda não fechei nenhum, mas para mim o melhor lugar para desenvolver o futebol no Brasil é São Paulo, tanto é que a Copa São Paulo de Futebol Júnior é no estado, assim como os melhores cursos para treinadores. (INFORMAÇÃO ORAL).
Como descrito por Aparecida Pena, a escolinha de futebol da
Catuense atende em média, contando com bolsas em torno de 180 a 200
alunos. Os treinos são aos sábados com turmas pela manhã e pela tarde. A
criança inicia as suas atividades aos 4 anos e fica até os 14 anos. Afirma
ainda que nem todos os alunos são residentes de Alagoinhas. Existem
alunos de Riacho da Guia, Pedrão, Aramari e de outros municípios
próximos. Do ponto de vista de (SOUZA, 2001), há uma tentativa de formar
rapidamente o jogador para o mercado de trabalho. Isto faz com que se
tente levar os jovens jogadores, que são formados nestas categorias, a
atingirem precocemente o “amadurecimento” do estado atlético e da
assimilação dos sistemas de jogo, para serem lançados neste mesmo
mercado.
Com a globalização o futebol se transformou num esporte -
espetáculo e a necessidade de “formar” jogadores se tornou cada vez maior.
Porém, nesse processo de formação o objetivo maior se resume a fazer com
que o atleta esteja preparado para os noventa minutos de batalha, a fim de
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que o mesmo trabalhe como um produto capitalista, fruto dessa nova era
mercadológica. Os seus sentimentos deverão ser deixados para escanteio e
em jogo estará um homem - máquina que vai elevar os padrões capitalistas
no futebol moderno.
A grande maioria dos meninos quando nascem sonham em um dia se
tornarem jogadores de futebol. A chance de fazer o que gosta e ser
reconhecido local, nacional e até mundialmente desperta nesses garotos a
vontade de se aprofundarem melhor no esporte. Para isso e por isso, pedem
aos seus pais que o coloquem numa escolinha de futebol para conseguirem
evoluir no que diz respeito as suas capacidades técnicas e táticas.
Tomando como exemplo a situação atual da Catuense, achou-se
necessário conhecer a opinião da entrevistada em relação aos times do
futebol baiano se terão visibilidade nacional nos próximos anos:
Eu acredito que não (risos), até porque na política da Bahia só funciona o Bahia e o Vitória. Então os times menores do interior não têm possibilidade nenhuma. Deu um Bahia de Feira e um Colo - Colo serem campeões, isso foi um fato inédito que vai demorar uns dez anos para acontecer novamente. É bom para a Bahia ter o Bahia na 1ª divisão e se o Vitória conseguir subir, mas para os times do interior é ruim, porque só fica a concentração nesses dois clubes. (INFORMAÇÃO ORAL).
Dentro desse mesmo contexto, procurei saber dela o que os times
baianos devem fazer para conquistarem espaço no cenário nacional:
Eu não diria os times baianos, porque Bahia e Vitória já estão no Campeonato Nacional. O que poderia ser feito e é até um pensamento meu e de meu pai, são as parcerias. O Bahia e o Vitória deveriam fazer parcerias com os times do interior. Assim iam divulgar os times do interior e os jogadores. (INFORMAÇÃO ORAL).
Mas há uma procura dos times do interior para essas parcerias?
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A procura é muito pequena. A Catuense há um tempo tentou fazer uma parceria com o Bahia e não deu certo. Fez com o Vitória, ficando com 40% do passe do jogador Neto Coruja e o Vitória os outros 60%. Agora o Bahia de Feira foi campeão, pegaram seus jogadores e mandaram para o Santos, mas não são aproveitados. (INFORMAÇÃO ORAL).
Esse trecho final da entrevista talvez tenha sido o momento mais
seguro de Cida Pena nas suas explanações. O olhar que a atual presidente
da Catuense tem em relação à visibilidade dos times baianos do interior não
é contraditório da realidade. Entretanto, é válido dizer que tanto o Bahia
quanto o Vitória também vivem nessa instabilidade midiática e popular em
termo nacional. Apesar do Bahia ser bicampeão brasileiro da primeira
divisão e o Vitória ter sido vice - campeão da Copa do Brasil não possuem
visibilidade nos quatro cantos do país e ainda existem espaços a serem
preenchidos por ambos os times.
Ainda que a origem do futebol na Bahia se assemelhe com a
introdução desse esporte no Brasil, nota-se que o tratamento entre esses
“futebóis” é totalmente diferente. A atenção e valorização da mídia aliada à
imagem que as outras regiões do país tem em relação a região nordeste,
especificamente a Bahia podem ser consideradas as causas possíveis para
essa questão da invisibilidade dos times baianos. É real que há uma
concentração destinada aos times da região sudeste, principalmente no que
tange a ponte Rio - São Paulo. Essa questão da visão entre as regiões
brasileiras é histórica, porém contraditória, já que o Brasil nasceu na Bahia e
teve nesse estado a sua primeira capital. Outro quesito que talvez contribua
para esse contexto é a falta de grandes conquistas, todavia têm duas
discussões em torno dos ganhos dentro e fora dos gramados: a mídia
televisiva e o marketing esportivo.
Quando se trata dos times do interior baiano, Cida Pena acredita que a
situação fica mais complicada. Segundo ela, a chance de um time baiano do
interior ser campeão novamente é de uma probabilidade muito pequena e a
longo prazo. Diz ainda que uma possibilidade para superar essas diferenças
seriam as parcerias. Finaliza a entrevista afirmando que com o Bahia e o
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Vitória apoiando ficaria mais fácil para os times pequenos e seus jogadores
serem divulgados. Todavia de acordo com a presidente a procura dos times
do interior ainda é muito pequena e as parcerias que já existiram não foram
mais adiante.
Se os dois times considerados principais do estado têm problemas de
popularidade, nada mais coerente que os demais padecessem da mesma
circunstância. Mas, vale lembrar que mesmo distantes do destaque nacional,
os clubes baianos estão tendo espaço na mídia local. Contudo, apenas o
estado tem noção de que esses clubes existem. É preciso ir mais além,
procurar novos rumos, pois aos poucos os times da Bahia e do seu interior
vêm demonstrando que têm condições de almejarem grandes feitos no
Brasil.
Como descrito pelo presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues no site da
Federação Baiana de Futebol, com essa parceria entre a Rede Bahia e o
futebol baiano, o esporte no estado irá se desenvolver ainda mais. "O
crescimento do futebol da Bahia passa por essa sintonia com todos os
segmentos. Imprensa, torcedores, atletas, diretorias... Fora de campo tem
que haver um profissionalismo de alto nível. Assim, produziremos mais
receita e teremos mais equilíbrio técnico e aumentaremos a
competitividade". Ele agradece a NER Produções Artísticas, que apostando
no produto futebol baiano, firmou parceria com 10 clubes profissionais do
interior visando capacitação de receitas e investimento em organização,
gestão, padronização e promoção destes clubes com arrojadas ações de
marketing. Nesse mesmo endereço eletrônico, Renato Braz, presidente do
Ipitanga, acredita que o Campeonato Baiano passará a ser tratado como
sempre mereceu e que os clubes do interior precisam dessa divulgação,
principalmente para revelar jogadores. Ainda em relação a essa parceria,
Thiago Souza, presidente do Bahia de Feira, clube Campeão do Torneio
Início, já pensa grande: “Essa visibilidade permite o crescimento tanto dos
clubes como da própria emissora.”
Durante o seu processo histórico a Catuense Futebol S/A foi
responsável por revelar grandes jogadores que posteriormente viriam a
defender os melhores times do Brasil. Alguns dos atletas que tiveram
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passagem pelo clube jogaram também em times internacionais. Foi o caso
do ex - jogador Elzon dos Santos que se tornou atleta da Catuense em 1994,
começou no juniores, mas no mesmo ano subiu para o profissional, ficando
na equipe cerca de 10 anos.
Pelo fato do ex - jogador já ter conquistado alguns títulos pelo clube,
procurou-se saber dele qual foi o mais importante durante a sua passagem
pelo mesmo:
Foi o título de Campeão Baiano do Interior. Fomos campeões 2 vezes desse campeonato e vice do campeonato baiano da 1ª divisão. (INFORMAÇÃO ORAL)4.
Esse campeonato conquistado pelo entrevistado enquanto atleta da
Catuense foi o torneio de mais destaque para os times do interior do estado,
daí a valorização do ex - jogador pelo feito. O campeonato baiano do interior
foi extinto e não faz mais parte da grade da Federação Baiana de Futebol.
Já o vice do baiano lhe trouxe boas lembranças, um momento histórico em
participar da mais importante competição da Bahia e ainda terminar como
segundo melhor colocado.
Quanto à representação da Catuense em sua carreira profissional
alega que:
A Catuense representou tudo. Foi através da Catuense que tive a oportunidade de jogar no Qatar e em outros clubes. Comecei a minha carreira nessa equipe e tenho muito orgulho em falar isso. Esse clube sempre vai morar no meu coração. (INFORMAÇÃO ORAL).
Elzon fala da Catuense com muita alegria e saudade. De acordo com
ele, iniciar a carreira, participar de jogos importantes desse clube abriu as
portas para que o mesmo pudesse desenvolver o seu trabalho em outros
times nacionais e do exterior.
4 Depoimento obtido através de entrevista com o ex-jogador Elzon dos Santos, em 25 de agosto de
2011.
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Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da
Catuense?
Foi a realização da inauguração do Estádio Municipal Antônio Pena, onde disputamos um jogo amistoso contra a equipe do Peñarol do Uruguai e vencemos a partida por 2 a 1 em casa.(INFORMAÇÃO ORAL).
O ex-jogador, assim como o fundador da Catuense credita o momento
que ficará na memória dos sujeitos sociais do clube, a inauguração do
estádio Municipal Antônio Pena e a vitória contra um time grande de outro
país. Além de ter representado uma melhora qualitativa na infra - estrutura
da Catuca, esse estádio se tornou símbolo da cidade de Catu e um grande
orgulho para a sua população que via nesse local, diversão e
entretenimento.
Para Elzon dos Santos, a atual situação da Catuense é muito triste.
Para ele, o clube deveria está disputando a 1ª divisão do Campeonato
Baiano, e ainda é considerada a terceira força do futebol da Bahia. Ressalta
ainda que apesar das dificuldades Antonio Pena está conseguindo manter a
base que é o alvo principal dos seus dirigentes. A tristeza do entrevistado é
a mesma que assola todos os torcedores da Catuense. Ver um time que foi
tão vitorioso em outros tempos passar por tamanha dificuldade e
esquecimento. Ele alega que depois do Bahia e do Vitória, a Catuense é o
terceiro melhor time da Bahia e reforça a idéia do fundador e da atual
presidente no trabalho com a base, dizendo que a manutenção da escolinha
é a meta para os seus gestores.
Enfim, procurou-se saber três medidas que ele tomaria para trazê -la
de volta ao destaque no cenário esportivo, caso assumisse a direção do
clube:
Continuaria com o trabalho nas divisões de base, aproveitando os garotos; contrataria uma equipe boa e competitiva, um treinador que viesse ajudar a Catuense;
62
permaneceria com a mesma diretoria que está tendo um ótimo desempenho. (INFORMAÇÃO ORAL).
Observa - se que no seu depoimento o ex - jogador pouco mudaria a
realidade atual da Catuense. A escolinha seria mantida sendo o objetivo
maior do clube, permaneceria com o mesmo corpo de gestores, ficando a
inovação no que diz respeito ao time propriamente dito, traria novos
jogadores e um ótimo treinador. Esse planejamento ainda que não
estruturado apontado por Elzon vai de encontro a opinião de (PEREIRA,
RESENDE, CORRAR; et al, 2004), quando relata que o planejamento é o
processo que define as ações necessárias para enfrentar situações e atingir
meta. O modelo de gestão é caracterizado pela segmentação das partes que
interagem entre si e dá suporte à decisão. No planejamento estratégico são
identificados os pontos fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades das
atividades empresariais, necessárias as decisões que definem os destinos
de produtos e serviços e em conseqüência o êxito ou o fracasso das
organizações.
Existem características que podem se tornar cruciais para o sucesso
de um modelo de gestão, onde deve haver o estabelecimento de princípios e
valores em prol dos objetivos estratégicos da empresa. A manutenção dos
gestores atuais pode determinar a forma como a empresa é administrada.
Inclui conhecimentos já adquiridos a cerca do processo de planejamento e
controle, observa - se o nível de autonomia dos gestores, as avaliações de
desempenho e as questões relacionadas à postura gerencial.
O presente estudo também contou com a participação de Raimundo
da Glória, ex - jogador do clube, mais conhecido como Deco que através de
Antônio Pena iniciou a carreira no Atlético de Alagoinhas com 17 anos, onde
se tornou profissional com a mesma idade. Em 1979, saiu do Atlético e foi
para a até então Associação Esportiva Catuense. Para ele o título mais
importante conquistado pelo clube durante a sua passagem foi o
Campeonato de Acesso de Profissionais da Segunda divisão de 1980, onde
a equipe se consagrou de forma invicta e garantiu o acesso a 1ª divisão do
campeonato baiano.
63
Antônio Pena teve grande influência na carreira de Deco, pois foi
através do fundador da Catuense que ele se transformou de um jogador
júnior para um jogador profissional. Segundo o ex - jogador, a conquista
invicta que levou o clube rumo à primeira divisão da competição baiana
configura - se como o título de mais expressão quando o mesmo era atleta.
Quando se pergunta o que a Catuense representou na sua carreira
profissional diz:
A Catuense representou muito pra mim, porque jogando na Catuense tive muitas alegrias. Fui honrado em jogar contra jogadores como: Zico, Adílio, Andrade, Lico e vários outros craques. Esse jogo contra o Flamengo foi em 1988, pouco tempo depois do Flamengo ter sido Campeão do Mundo. (INFORMAÇÃO ORAL) 5.
Conforme Raimundo da Glória, a Catuca lhe possibilitou grandes
alegrias e momentos marcantes. Como foi citado por ele, o amistoso entre a
Catuense e o Flamengo em 1988, marcou a sua carreira profissional, onde
teve a oportunidade de jogar contra o Flamengo o mais querido do Brasil e
seus jogadores que fizeram história, após o título de melhor time do mundo
em 1988, no Mundial de Clubes. O resultado foi o melhor, daí o tamanho do
acontecimento: a catuense venceu o flamengo pelo placar de 2 a 1.
Segundo Raimundo da Glória, o direito de disputar a 1ª divisão do
campeonato baiano e a possibilidade de está entre os melhores da Bahia
significaram o momento histórico da Catuense enquanto jogador do clube.
Interrogado sobre a situação que o clube está vivenciando nos dias
atuais, entende:
[...] não é boa. A Catuense caiu para a 2ª divisão do campeonato baiano. Antônio Pena que arcou com todas as
5 Depoimento obtido através de entrevista com o ex-jogador Raimundo da Glória, em 25 de agosto de
2011.
64
despesas não vai ter mais condições de manter o clube só, porque hoje é uma empresa. A Catuense tem que arranjar vários patrocinadores para poder começar nas divisões de base e depois voltar a disputar a segundona e tentar a promoção à elite do futebol baiano. (INFORMAÇÃO ORAL).
A atual posição da Catuense traz muita tristeza para quem viveu
tantas alegrias no clube. Está fora da elite do futebol baiano e não ter
patrocinadores resumem o momento complicado do time. Todos os
entrevistados mencionaram as divisões de base como sendo a única saída
para reverter a realidade em que se encontra o clube e as dificuldades da
falta de investidores.
Quanto às três medidas que o ex-jogador tomaria caso assumisse a
diretoria do clube para trazer o mesmo de volta ao cenário esportivo atual
afirma que:
A primeira medida seria procurar patrocinadores para começar do zero... é estrutura, academia, divisões de base, infantil, juvenil e um time profissional e competitivo para ser campeão da segundona do baiano. A segunda medida seria fazer uma diretoria forte, para procurar vários patrocinadores, não só aqui em Catu, mas em todo o Brasil. A terceira constituiria já com essa estrutura fazer uma sede em Catu. A Catuense é um time que tem que vim para Catu. O povo de Catu tem que incentivar, ajudar e o comércio investir mais nesse clube. (INFORMAÇÃO ORAL).
Por fim, Deco apresentou as suas medidas caso se tornasse um dos
diretores da Catuense para fazê - la ressurgir nas práticas futebolísticas do
estado. Diferentemente de Elzon dos Santos, Raimundo da Glória faria
grandes mudanças. Montaria uma infra - estrutura de respeito e de grande
porte, pois entende que isso pode interferir no desempenho do time nas
disputas, esperando sempre a evolução do mesmo. Na diretoria, buscaria
pessoas capazes de adquirirem patrocinadores para a Catuense não só no
estado, mas também no país. E para finalizar ele, com todo amparado
estrutural construiria uma sede do clube na cidade de Catu, acreditando que
65
é nesse lugar que a Catuense vai prosperar com a ajuda do comércio
patrocinando e o incentivo do povo catuense que sempre apoiou o time
quando o mesmo pertencia ao município.
A nova administração proposta pelo ex-jogador vai de encontro ao que
alega Fernandes (2000, p. 22):
A atual administração dos times dos times de futebol não tem compelido seus administradores a atenderem tais exigências. Essa deficiente administração é atribuída, pelos autores, à penúria financeira em que a grande maioria se encontra, acrescentado - se a isso a total estagnação de idéias e a prática arcaica de administrar.
A busca por novos mercados consumidores, a atuação de grupos
econômicos auxiliando a Catuense e a construção de espaços físicos
amplos e de primeira linha necessitam de uma gestão especializada
firmadas na mercantilização do futebol a fim de contribuir para a
transformação da realidade do clube em questão.
66
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em todo o Brasil existem clubes de futebol que por muito tempo
fizeram sucesso e que por diferentes motivos econômicos, culturais e
políticos vivem tempos difíceis e incertos.
A gestão do futebol apresenta características que a distingue da
gestão de outras atividades econômicas e de serviços. Tal diferença decorre
principalmente de fatores culturais e emocionais que invariavelmente
interferem nas decisões tomadas pelos gestores, do complexo mundo do
futebol. Sob este aspecto, observa-se que os clubes de futebol necessitam,
cada vez mais, adotar sistemas de informações que ofereçam subsídios e
auxiliem na tomada de decisão racional.
A carência de registros históricos dificultou o desenvolvimento da
presente investigação e limitou um melhor entendimento acerca da história e
perspectiva da Catuense. Ainda assim, é possível reconhecer que mesmo
com sua situação contábil organizada, a forte influência política tem mudado
a história do clube. Contradições entre os gestores/familiares, antagonismo
na sistematização de idéias de seus dirigentes e a falta de investidores, são
os principais fatores que hoje limitam a participação de Catuense no cenário
do futebol baiano.
Este trabalho monográfico revelou parte dessas dificuldades vividas
pela Catuense e como o time caiu na (in)visibilidade no âmbito do futebol
baiano. Ficou também evidente que o declínio da Catuense deve-se ainda
as grandes mudanças do futebol, impostas em grande medida, pela tele-
espetacularização no esporte. Constatou-se que esse clube teve grande
destaque no futebol baiano conquistou títulos e disputou partidas
importantes em campeonatos nacionais, porém nos dias atuais, o seu futuro
está indefinido e esse fato está diretamente relacionado com os diferentes
olhares dos seus gestores.
67
Portanto, acredita-se que discussões prévias, de propostas mais
maduras e a resolução dos conflitos entre as tendências internas, possam
viabilizar a solidificação de uma proposta minimamente acertada em respeito
à continuidade da prática futebolística de sucesso da Catuense Futebol S/A.
Espera-se que esse estudo possa contribuir na reflexão do tema e
desperte a necessidade da organização da memória e acervo público do
clube. As informações levantadas e as histórias dos sujeitos sociais da
Catuense (entrevistas e documentos), certamente nos permitem reconhecer
história de jogadores, a abnegação do seu presidente e a paixão de
saudosos torcedores que sonham em rever a Catuense Futebol S/A a altura
da sua breve história no futebol.
68
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73
ANEXOS
74
ANEXO A – ESCUDO ANTIGO DO CLUBE
75
ANEXO B – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1984
ANEXO C – ÔNIBUS DA CATUENSE FUTEBOL S/A
76
ANEXO D – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1985
ANEXO E – CATUENSE X VITÓRIA
(PARTIDA VÁLIDA PELO ESTADUAL DE 2003)
77
ANEXO F – HINO DA CATUENSE FUTEBOL S/A
Quando o meu Bem-te-vi entra em campo, bate forte o meu coração,
E a torcida toda gritando: Catuense é o campeão.
Sua história repleta de glorias, futebol que dá gosto de ver,
Catuense seu lema é a vitória, vamos juntos pra frente vencer.
Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir,
Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir.
É gol! É gol! A Catuense nasceu pra vencer,
É gol! É gol! Eternamente meu bem-querer.
Quando o meu Bem-te-vi entra em campo, bate forte o meu coração,
78
E a torcida toda gritando: Catuense é o campeão.
Sua história repleta de glorias, futebol que dá gosto de ver,
Catuense seu lema é a vitória, vamos juntos pra frente vencer.
Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir,
Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir.
É gol! É gol! A Catuense nasceu pra vencer.
É gol! É gol! Eternamente meu bem-querer.
79
APÊNDICES
APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
80
Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado na
pesquisa de campo referente ao tema CATUENSE FUTEBOL S.A.:
HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE desenvolvida no curso de Educação
Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II –
Alagoinhas. Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é orientada pelo Dr.
Augusto Cesar Rios Leiro com a autoria de Ariane Boaventura Pinto.
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber
qualquer incentivo financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para
o sucesso da pesquisa. Fui informado dos objetivos estritamente
acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é compreender a história da
Catuense da sua origem até a contemporaneidade, bem como, suas
contribuições para o crescimento do futebol baiano.
Minha colaboração se fará de forma identificada, por meio de
entrevista semi-estruturada a ser gravada a partir da assinatura desta
autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão de forma
ética como parte integrante do Trabalho de Conclusão do Curso de
Educação Física.
Alagoinhas, ____ de _________________ de _____
Assinatura do(a) participante: ______________________________
Assinatura da pesquisadora: _______________________________
81
APÊNDICE B - ENTREVISTA COM ANTONIO PENA (FUNDADOR DO
CLUBE)
1. O que motivou o grupo fundador da Catuense a tomar a iniciativa de
criá-la?
2. Quem participou da fundação do clube e como se deu essa
participação?
3. Após a criação do clube, o senhor imaginou que a catuense se
tornaria uma das grandes forças do futebol baiano?
82
4. Considerando o apogeu e o declínio do time, qual teria sido o divisor
de águas destas duas fases?
5. Na sua opinião, quais fatores levaram à transferência da sede da
catuense para outra cidade?
6. Durante a sua gestão, qual foi o momento mais importante da história
da catuense?
7. Quais foram as dificuldades encontradas durante o processo de
formação da catuense?
8. Como está sendo a atual administração? Quais são as semelhanças e
diferenças da sua gestão e da atual presidente?
APÊNDICE C - ENTREVISTA COM MARIA APARECIDA PEREIRA PENA
(ATUAL PRESIDENTE DO CLUBE)
1. Como a senhora percebe a integração da Catuense ao cenário
esportivo atual?
2. Qual foi a sua maior dificuldade encontrada após assumir a
presidência da Catuense?
3. Você sempre teve vontade de fazer parte da diretoria da Catuense?
Como surgiu esse interesse?
83
4. Quais são as possibilidades existentes para o retorno da Catuense à
elite do futebol baiano?
5. Como funciona a política interna do clube?
6. Em relação à infra-estrutura, como se encontra a Catuense?
7. Quais são os planos da diretoria do clube para os futuros atletas da
escolinha da Catuense?
8. Na sua opinião, nos próximos anos os times do futebol baiano terão
maior visibilidade nacional?
9. O que os times baianos devem fazer para conquistarem espaço no
cenário nacional?
10. Quantos alunos são atendidos na escolinha?
APÊNDICE D - ENTREVISTA COM RAIMUNDO DA GLÓRIA (EX -
JOGADOR DO CLUBE)
1. Como e quando você se tornou atleta da Catuense?
2. Qual foi o título mais importante conquistado pelo clube durante a sua
passagem pelo mesmo?
3. O que a Catuense representou na sua carreira profissional?
4. Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da
Catuense?
5. Como você analisa a atual situação da Catuense?
84
6. Caso, você assumisse a direção da Catuense, cite três medidas que
você tomaria para trazê-la de volta ao destaque no cenário esportivo.
APÊNDICE E - ENTREVISTA COM ELZON DOS SANTOS (EX-JOGADOR
DO CLUBE)
1. Como e quando você se tornou atleta da Catuense?
2. Qual foi o título mais importante conquistado pelo clube durante a sua
passagem pelo mesmo?
3. O que a Catuense representou na sua carreira profissional?
4. Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da
Catuense?
5. Como você analisa a atual situação da Catuense?
85
6. Caso, você assumisse a direção da Catuense, cite três medidas que
você tomaria para trazê-la de volta ao destaque no cenário esportivo.