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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ARIANE BOAVENTURA PINTO CATUENSE FUTEBOL S.A.: HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE Alagoinhas 2012

Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

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Ariane Boaventura Pinto

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Page 1: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ARIANE BOAVENTURA PINTO

CATUENSE FUTEBOL S.A.:

HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE

Alagoinhas

2012

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ARIANE BOAVENTURA PINTO

CATUENSE FUTEBOL S.A.:

HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE

Monografia apresentada ao Colegiado do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia – Campus II, Alagoinhas, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Educação Física, sob a orientação do Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro.

Alagoinhas

2012

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MONOGRAFIA - ARIANE BOAVENTURA PINTO

CATUENSE FUTEBOL S.A.:

HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE

BANCA AVALIADORA

Prof. Dr. Augusto Cesar Rios Leiro (Orientador)

Prof. Ms. Alan Aquino Rocha

Prof. Ms. Ubiratan Azevedo de Menezes

Page 4: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

Dedico este trabalho às pessoas mais importantes da minha vida: meus

pais: Aurea Boaventura Pinto e Carlos Roberto Pinto. Obrigado por fazerem

parte da minha vida e que, se hoje, estou aqui é para vocês e por vocês. Essa

conquista é nossa!

À minha mãe, mulher guerreira, que toda a vida lutou por mim e pelo

meu irmão, sempre me incentivou, me animando e não deixando que na

primeira barreira eu desistisse, acreditou nos meus sonhos e decisões em

todos os momentos. Te amo demais!

Ao meu pai, homem guerreiro, de gênio forte, que sempre colocou o

bem estar da família em primeiro lugar, batalhando para nos dar sempre o

melhor. Amo você!

Page 5: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

AGRADECIMENTOS

A Deus por ser o meu escudo e a minha fortaleza, pelo dom da vida, pela força,

coragem e sabedoria que me deu durante este percurso de minha vida,

permitindo que eu continuasse minha caminhada mesmo com todos os

obstáculos que a vida me ofereceu; e pelas pessoas que colocou no meu

caminho, que me ajudaram a tornar este momento possível. Enfim, por cada

dia que iniciava e pela certeza de que tudo podia Naquele que me fortalece.

Aos meus pais, que são a razão do meu viver e estiveram ao meu lado em

todos os momentos de minha vida, me ajudando a crescer e ser uma pessoa

melhor a cada dia.

A meu irmão, Carlos Alberto Boaventura Pinto que me deu sempre todo amor e

apoio necessário nesses anos de luta. Saiba que você é o responsável pela

minha escolha profissional. Se não fosse você talvez, não me apaixonasse

pelos esportes, pra ser mais precisa pelo futebol, pelo nosso mengão. Depois

de descobrir o quanto o futebol é um esporte maravilhoso e contagiante, resolvi

praticá-lo com a sua ajuda, é claro. E a partir daí não larguei mais o futebol,

apesar dos vários preconceitos que sofri. Quando eu estava dando início à

produção desse trabalho, nossa família foi tomada de surpresa, você adoeceu.

Sei o quanto você lutou pela vida meu irmão. Aquele não era o momento de

continuar esse trabalho e nem conseguiria, meus pensamentos estavam todos

voltados a sua saúde. Por isso, agradeço primeiramente a Deus, pois só ele

sabe de todas as coisas, a você por ter lutado pela vida e as suas “anjas”

mainha e Netinha que estiveram o tempo todo ao seu lado. Hoje, posso

agradecer por você existir e fazer parte da minha vida.

A minha avó paterna, Dona Lourdes pela presença física e pelas preocupações

demonstradas cada vez que eu saia de casa rumo a UNEB. A sua ajuda

sempre será bem-vinda. Deu tudo certo minha vó, obrigada por tudo.

Page 6: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

A minha avó materna, Maria Boaventura (in memoriam) que nunca desistiu de

mim e acreditou a todo instante nos meus estudos. Me mostrou a força e a

beleza da família Boaventura. A ti, mãe, essa vitória.

Às especiais Alda e Lúcia, minhas tias, mas podem sim serem consideradas

minhas mães. Obrigada, meus amores, por cuidarem de mim, quando meus

pais tinham que trabalhar. O amor e o carinho de vocês foram muito

importantes na minha vida e sempre serão. A educação que tenho hoje se

deve também a tia Alda e tia Lucinha.

Às minhas tias, Nadja Célia, Raimunda, Isabel, Regina e aos meus tios, os

Edvaldos e Luiz Carlos pelo incentivo, força, amizade, carinho que

compartilharam durante a minha caminhada.

Aos meus tios, Ana e Florisvaldo (in memoriam) que partiram quando eu estava

na metade do meu curso. A minha família tinha acabado de perder dois dos

seres mais divertidos, que me proporcionaram em vida momentos que jamais

esquecerei. Foi muito difícil continuar, mas sei que vocês estavam me dando

forças e sei também o quanto estariam orgulhosos de mim nesse momento.

A minha cunhada, Anete que entrou nas nossas vidas para ser um anjo e que

hoje é como uma irmã pra mim. Obrigada por cuidar do meu irmão e está ao

lado da minha mãe, quando ele mais precisou e por me emprestar o seu PC

quando o meu me deixou na mão para produzir este trabalho.

Aos meus primos e primas carnais ou não pelas horas de incentivo, ajuda,

descontração, amor e carinho.

Não posso deixar de citar em especial, minhas duas irmãs: Izandra Pereira da

Silva e Shirlei Taline Ribeiro dos Santos. Foram laços tão fortes de amizade,

companheirismo e cumplicidade que o tempo e a distância não irá desfazer.

Page 7: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

Não tenho nem palavras para agradecer, só posso desejar que Deus ilumine

cada vez mais a vida de vocês.

A Arissandra, Érica Paula, Janilma, Juliana, Milena, Rita, Tatiane que durante

esses anos foram grandes companheiras. Juntas passando por vários

momentos somos tijolos de uma parede, se um for retirado à parede cai.

A Silas Reis e José Guilherme, dois queridos.

A Antonio Geraldo, um amigo alegre, otimista e prestativo que sempre esteve

disposto a me ajudar.

A Raimundo da Glória, Antônio Pena, Maria Aparecida Pereira Pena e Elzon

dos Santos que colaboraram na construção desse trabalho com alegria e

satisfação.

Ao meu orientador Augusto Cesar Rios Leiro pela ajuda e paciência e

conhecimentos transmitidos.

A todos os professores que fizeram parte de minha trajetória, possibilitando a

construção do conhecimento e meu engrandecimento como pessoa.

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A vida é como um jogo de futebol, cada lance pode definir sua trajetória.

Mikael Johnathan

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RESUMO

Caracterizado inicialmente como prática esportiva, com o intuito de entreter aqueles que jogavam, o futebol ao longo dos tempos assumiu um papel importante de derrubar barreiras sociais e integrar pessoas. Assim, considerado como prática social, o futebol encontra-se de tal modo enraizado na cultura brasileira que estudá-lo implica em considerar diversas possibilidades de abordagens. Desta forma, o presente trabalho toma o clube Catuense Futebol S/A como objeto de estudo a partir de uma investigação de natureza qualitativa do tipo descritiva. Trata-se de um clube de futebol com sede em Alagoinhas com uma trajetória marcada por diferentes momentos. O estudo buscou identificar e compreender os aspectos mais relevantes da história da Catuense desde sua origem até a contemporaneidade. Após a revisão de literatura foram feitos levantamento documental e entrevistas semi–estruturadas com dirigentes e jogadores do time em foco como procedimentos metodológicos. Os sujeitos entrevistados apontaram as opções de mudanças de sede como principal motivo das dificuldades financeiras vivenciadas pelo clube. No decorrer do estudo foi possível perceber que a Catuense é um clube marcado por (in) visibilidade e revelou que a falta de títulos recentes em campeonatos vem gerando sua desvalorização na mídia e na sociedade tanto no âmbito nacional, quanto regional e local.

PALAVRAS – CHAVE: Catuense Futebol S/A, história, futebol.

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ABSTRACT

Characterized initially as sports, in order to entertain those who threw the football over the years assumed an important role in breaking down barriers and integrate social people. Thus, considered as a social practice, football is so rooted in Brazilian culture to study it involves considering several possible approaches. Thus, this paper takes the club Catuense Football S / A as an object of study from a qualitative investigation of the descriptive type. This is a football club based in Alagoinhas with a path marked by different moments. The study sought to identify and understand the relevant aspects of the history of Catuense from its origins to the contemporary. After reviewing the literature were made documentary surveys and semi-structured interviews with managers and players on the team in focus as methodologic instruments. The interviewees pointed to the possible changes of thirst as the main reason of the financial difficulties experienced by the club. During the study it was revealed that the Catuense is marked by a club (in) visibility and revealed that the lack of recent titles in the championships has been generating its devaluation in the media and in society at both national, and regional and local levels. WORDS-KEY: Catuense Football S/A, history, football.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CBF - Confederação Brasileira de Futebol

FBF - Federação Bahiana de Futebol

FIFA - Fédération Internationale de Football Association

S/A - Sociedade Anônima

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Conquistas da Catuense Futebol S/A...................................36

QUADRO 2 – Jogos inesquecíveis da Catuense Futebol S/A.....................39

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 - Antônio Pena, fundador da Catuense.....................................34

FIGURA 02 - Escudo atual da Catuense......................................................35

FIGURA 03 - Mascote da Catuense.............................................................35

FIGURA 04 - Placa de inauguração e vista interna do Estádio Municipal

Antonio Pena, na cidade de Catu..................................................................37

FIGURA 05 - Centro de Treinamento da Catuense......................................39

FIGURA 06 - Infra - estrutura da Catuense..................................................54

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 15

2. PROCESSO HISTÓRICO DO FUTEBOL 18

2.1. FUTEBOL EM MEMÓRIA 18

2.2. FUTEBOL NO BRASIL 22

3. AS PRÁTICAS FUTEBOLÍSTICAS NOS CAMPOS DA BAHIA 29

3.1. ROLANDO A BOLA: ORIGEM DO FUTEBOL NA BAHIA 29

3.2. CATUENSE FUTEBOL S/A: PASSADO E PRESENTE 34

4. INVESTIGAÇÃO DAS RAZÕES QUE INTERROMPERAM UM SONHO 42

5. A CATUENSE E SEUS SUJEITOS SOCIAS: MEMÓRIAS DE UM CLUBE

BAIANO

45

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 66

REFERÊNCIAS 68

ANEXOS 73

ANEXO A – ESCUDO ANTIGO DO CLUBE 74

ANEXO B – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1984 74

ANEXO C – ÔNIBUS DA CATUENSE FUTEBOL S/A 75

ANEXO D – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1985 75

ANEXO E – CATUENSE X VITÓRIA (PARTIDA VÁLIDA PELO ESTADUAL

DE 2003)

76

ANEXO F – HINO DA CATUENSE FUTEBOL S/A 77

APÊNDICES 78

APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 79

APÊNDICE B - ENTREVISTA COM ANTONIO PENA (FUNDADOR DO

CLUBE)

81

APÊNDICE C - ENTREVISTA COM MARIA APARECIDA PEREIRA PENA

(ATUAL PRESIDENTE DO CLUBE)

82

APÊNDICE D - ENTREVISTA COM RAIMUNDO DA GLÓRIA (EX-

JOGADOR DO CLUBE)

83

APÊNDICE E - ENTREVISTA COM ELZON DOS SANTOS (EX - JOGADOR

DO CLUBE)

84

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1 INTRODUÇÃO

O futebol é uma das paixões do brasileiro. Trata-se de uma prática

esportiva que envolve emocionalmente aqueles que a executam e aqueles

que a assistem, despertando sentimentos de variada natureza nas pessoas.

Nesse sentido, é um esporte que desde a sua chegada ao Brasil, no

final do século XIX, encantou distintas classes sociais. A sua prática foi

difundida nas classes elitizadas e proliferou entre as classes mais

empobrecidas, tornando-a, com o passar do tempo, significado de identidade

para toda uma nação. Esse esporte consegue tornar homogêneas as

diferenças que existem no interior da nação, estabelecendo um discurso de

povo unificado em torno de ideais comuns.

Ainda que o futebol se relacione a algumas estratégias políticas

durante alguns episódios da história do Brasil, como foi o caso da Copa de

1970, onde o Brasil sagrou-se tri-campeão, estando sob o regime ditatorial,

sua riqueza também consiste em ser socialmente um esporte que

proporciona momentos de descontração e confraternização a exemplo da

pelada aos finais de semana, com os amigos e da partida no campinho de

terra improvisado, com bola de meia e trave de bambu, entre outros.

Desta forma, o futebol desperta tanto nos mais apaixonados como

nos menos aficionados um sentimento de coletividade, em que os fatores

raciais, religiosos e sociais são dissolvidos e harmonizados em meio ao

sentimento de pertencer a um time em específico ou de torcer pela seleção.

O futebol representa a identidade nacional e também consegue dar

significado aos desejos de potência da maioria absoluta dos brasileiros e é

pura construção histórica, gerado como parte indissociável dos

desdobramentos da vida política e econômica do Brasil.

Todas as considerações feitas acima em relação ao futebol são

válidas em todo território nacional, entretanto, no que tange a Bahia, o

futebol pode representar também uma das poucas formas de chamar a

atenção do resto do país, para as potencialidades variadas deste estado, já

que esse, em geral, só é foco para milhões de brasileiros notoriamente em

época de carnaval, quando a Bahia é exaltada pela grandeza da maior festa

Page 16: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

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popular do planeta. Apesar da pouca repercussão que é oferecida ao futebol

baiano, ultimamente os dois grandes clubes do estado, obtiveram resultados

satisfatórios e participações importantes em competições de cenário

nacional. O retorno do Esporte Clube Bahia à 1ª divisão do Campeonato

Brasileiro da série A e a participação do Esporte Clube Vitória na final da

Copa do Brasil de 2010, podem favorecer a uma reorganização interna no

futebol baiano. Além desses dois clubes, há na Bahia um time que também é

considerado um grande clube das práticas futebolísticas do estado, a

Catuense Futebol S/A, que assim como outros clubes brasileiros, surgiu a

partir dos babas nos campos de várzeas na cidade de Alagoinhas, a qual é a

sua atual sede. É um time que possui uma bela história de conquistas e que

por questões políticas já teve como sede a cidade de Catu, quando então,

ficou mais conhecido e chegou ao status de terceiro melhor clube da Bahia.

Apesar de ter adquirido destaque, esse time atualmente enfrenta grandes

dificuldades no que se diz respeito ao seu momento no futebol da Bahia.

O interesse pelo tema escolhido se deve ao fato de que me identifico

com a modalidade esportiva citada, além de praticá-la, como também há um

desejo meu em realizar um aprofundamento a cerca da história de sucesso

do clube de futebol que leva o nome da cidade em que reside e que hoje se

encontra numa situação bem diferente de outros anos. Estes fatos aliados à

relevância social e econômica que o futebol apresenta se configuram como

motivos para a escolha da temática, onde esse esporte propõe uma relação

de interdependência entre os sujeitos, representando algo além de um

produto de consumo e de acumulação do capital. Portanto, justifica-se o

trabalho pela necessidade de identificar os motivos que favoreceram a

ausência da Catuense Futebol S/A na elite do futebol baiano, principalmente

num período em que o Brasil passou a conhecer a bravura dos times

baianos na disputa de campeonatos nacionais importantes. Assim,

despertou-me o interesse em investigar quais os processos que levaram a

Catuense da visibilidade à invisibilidade no cenário do futebol baiano.

Para tanto, o presente trabalho teve como objetivo compreender

aspectos mais relevantes da história da Catuense da sua origem até a

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contemporaneidade, bem como, suas contribuições para o crescimento do

futebol baiano.

Este trabalho foi pensado e organizado na tentativa de contribuir para

a história escrita referente à temática e se encontra estruturado em seis

capítulos descritos da seguinte forma: introdução em que é feita uma síntese

geral sobre o delineamento da pesquisa fundamentando-a com bases nos

principais teóricos desta temática; no segundo capítulo será apresentada

uma discussão histórica acerca do futebol e sua expansão no Brasil; segue-

se um capítulo que apresenta uma discussão teórica, abordando aspectos

relacionados à prática do futebol na Bahia e o processo histórico da

Catuense Futebol S/A, desde a sua origem até os dias atuais; o quarto

capítulo se refere à metodologia mostrando o tipo de pesquisa utilizada, os

métodos para a construção e o desenvolvimento da mesma; o quinto

capítulo consistirá na análise da pesquisa de campo fundamentando com os

referenciais teóricos; e em seguida, são retomadas brevemente as principais

constatações no item considerações finais.

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2. PROCESSO HISTÓRICO DO FUTEBOL

Este capítulo traz um panorama da historicidade do futebol visando

estabelecer posteriormente uma relação entre os seus momentos históricos,

observando as transformações sofridas por esse esporte ao longo dos

tempos, como também a sua chegada ao Brasil e o processo que o tornou a

paixão dos brasileiros. Diversas foram as mudanças que ocorreram ao longo

dos anos no que diz respeito à função do futebol decorrentes da modificação

nas características políticas e econômicas do país.

2.1 FUTEBOL EM MEMÓRIA

O futebol tornou-se uma linguagem compreensível em quase todas as

partes do mundo contemporâneo. Praticado em centenas de países, este

esporte desperta tanto interesse em função de sua forma de disputa

atraente. Embora não se tenha muita certeza sobre os primórdios do futebol,

historiadores descobriram vestígios dos jogos de bola em várias culturas

antigas. Estes jogos de bola ainda não eram o futebol, pois não havia a

definição de regras como há hoje, porém demonstram o interesse do homem

por este tipo de esporte desde os tempos antigos.

São várias as suposições quanto às origens desse fenômeno

mundial, mas para muitos historiadores o futebol teria começado na

Inglaterra. China, Japão, Grécia, Roma, a Idade Média e finalmente a

Inglaterra constituem alguns dos percursos realizados por esse esporte no

mundo durante a sua história.

Muitos são os que afirmam que as origens do futebol se perdem no tempo. Supostamente, tais origens estariam situadas entre os Maias, que praticavam um jogo com a cabeça dos adversários derrotados; ou entre Egípcios, que se divertiam com uma brincadeira na qual tinham que chutar a bola; e talvez na China, onde existiram indícios de um jogo

muito parecido com o futebol moderno [...]. (MELO, 2000, p. 13)

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Como citado anteriormente não há certezas e sim polêmicas acerca

de qual nação descobriu o futebol.

Existem muitas histórias e “estórias” sobre a origem do futebol. Mas a verdade é que o futebol no início assustava. Isso principalmente entre os séculos VII e XIX, quando se jogava o massfootball (futebol de massa), em que a violência imperava e o número de atletas era indefinido. (DARIDO E JÚNIOR, 2007, p.28).

Na China Antiga, por volta de 3000 a.C, os militares chineses

praticavam um jogo que na verdade era um treino militar. Após as guerras,

formavam equipes para chutar a cabeça dos soldados inimigos. Com o

tempo, as cabeças dos inimigos foram sendo substituídas por bolas de couro

revestidas com cabelo. Formavam-se duas equipes com oito jogadores e o

objetivo era passar a bola de pé em pé sem deixar cair no chão, levando-a

para dentro de duas estacas fincadas no campo. Estas estacas eram ligadas

por um fio de cera. (SILVA, 2005).

No Japão Antigo, foi criado um esporte muito parecido com o futebol

atual, porém se chamava Kemari. Praticado por integrantes da corte do

imperador japonês, o kemari acontecia num campo de aproximadamente

200 metros quadrados. A bola era feita de fibras de bambu e entre as regras,

o contato físico era proibido entre os 16 jogadores (8 para cada equipe).

Historiadores do futebol encontraram relatos que confirmam o acontecimento

de jogos entre equipes chinesas e japonesas na antiguidade. (SILVA, 2005).

Na Grécia clássica, o Episkiros era jogado pelo menos desde o século

IV a.C. em campo retangular entre dois grupos de nove ou de quinze

participantes, que deviam introduzir em determinado espaço a bola de ar e

areia. Dessa prática grega surgiu em Roma, talvez no século III a. C., o

harpastum, destinado inicialmente a aperfeiçoar os soldados na sua

capacidade atlética e tática. (JÚNIOR, 2007)

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As primeiras regras do futebol ainda que não estruturadas foram

introduzidas na Itália devido a violência da época e o termo cálcio que

originou o futebol no país é utilizado até hoje para designar o esporte.

“Em 1850, em Florença, jogava - se o cálcio – 27 atletas por time, com regras proibindo empurrões e pontapés.” (DARIDO

E JÚNIOR, 2007, p.28).

No século XVII, é a vez da Inglaterra praticar o futebol. No início era

comparado com o rugby, sendo praticado apenas pelas classes populares,

pois a aristocracia o achava violento. Contudo, esse esporte já era

vivenciado em várias regiões da Inglaterra e no século XIX, começa a ser

experimentado, pelos alunos das escolas da aristocracia e da alta burguesia

inglesa em seus horários livres, como também pela classe operária.

Percebendo que a proibição ao esporte não ia adiante, os aristocratas

resolveram regulamentar o futebol. No ano de 1846, numa conferência em

Cambridge, estabeleceu-se um único código de regras para o futebol. No

dizer de (GALEANO, 2002), em Cambridge, o futebol se havia divorciado do

rugby: era proibido conduzir a bola com as mãos, embora fosse permitido

tocá-la e era proibido chutar os adversários.

Vale frisar que a profissionalização do futebol na Inglaterra não foi

algo tão simples, pelo contrário houve resistência dos adeptos e

participantes do esporte pertencentes à elite inglesa.

Apesar da resistência imposta pela elite inglesa, as equipes profissionais emergentes ganharam notoriedade, e a profissionalização do esporte tornou-se um fato irreversível a partir de 1885 [...]. (REIS E ESCHER, 2006, p.32).

O futebol se tornou uma forma de identificação para as massas

trabalhadoras das grandes cidades inglesas.

Em 1863, foi fundada na Inglaterra a Football League, fazendo com

que se criassem regras para a prática do jogo entre as equipes. Formavam-

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se assim tabelas, datas dos jogos, ou seja, controlava-se a prática deste

esporte. Os times eram formados pelas fábricas espalhadas pelas diversas

cidades do país. (LIMA, 2002).

No ano de 1904, foi criada a FIFA (Fédération Internationale de

Football Association) que organiza até hoje o futebol em todo mundo. Ela é

responsável pela organização dos grandes campeonatos de seleções e

clubes. Conforme o site da FIFA, esta se trata de uma associação regida

pela legislação suíça, fundada em 1904 e sediada em Zurique. Considerada

como o órgão máximo do futebol, é composta por 208 federações nacionais

e tem como objetivo, de acordo com os seus Estatutos, a melhora contínua

do futebol em todo o mundo. A FIFA conta com aproximadamente 310

colaboradores procedentes de 35 países e é formada pelo Congresso (órgão

legislativo), pelo Comitê Executivo (órgão executivo), pela Secretaria Geral

(órgão administrativo) e pelos comitês (que auxiliam o Comitê Executivo).

Percebe -se que foi nesse país que o jogo ganhou regras diferentes e

foi organizado e sistematizado. De acordo com Melo (2000), foi nesse país,

que as antigas práticas da população começaram a se organizar enquanto

um campo relativamente autônomo, com uma lógica interna específica, um

calendário próprio, um corpo de técnicos especializados, gerando um

mercado de consumo com sentido completamente diferente das práticas

anteriores.

É preciso salientar que o processo de profissionalização do futebol foi

um marco para o seu entendimento como esporte-espetáculo. A intensidade,

a vitalidade e a criatividade do futebol possibilitaram a visão do espetáculo

como uma fonte não só de observação social, mas também de prazer

estético. É o esporte da modernidade e da globalização que abrange

importância econômica e política, sendo um dos mecanismos de mobilidade

social mais eficaz dos dias atuais.

Page 22: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

22

2.2 FUTEBOL NO BRASIL

O futebol é o esporte por excelência do brasileiro. O futebol reflete os

diversos momentos pelos quais passou nosso país, ganhando espaço e se

consolidando como “esporte nacional” ao mesmo tempo em que a nossa

própria identidade brasileira é construída. Ele é uma prática social que

expressa a nossa sociedade, com todas as suas aspirações mais antigas,

seus desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas, sendo

considerado membro legítimo do nosso país que penetra na vida da

população brasileira e também no espírito de cada cidadão. Para DaMatta

(2006, p.163), com o futebol, experimentamos alternadamente a inteligência

e a estupidez, a esperteza e a pasmaceira, a fraqueza e a força, o que

produz, não somente a vivência de um mundo mutável, mas a experiência

da sociedade capaz de proporcionar reversões significativas no plano das

definições e classificações coletivas.

Assim, o futebol brasileiro não é apenas uma modalidade esportiva

com regras próprias, técnicas determinadas e táticas específicas, mas sim

uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar.

Há consensos e controvérsias acerca da chegada do futebol no Brasil,

todavia a origem que é mais difundida no país está em torno de Charles

Miller, brasileiro filho de ingleses que estudava em Londres. Porém, Proni

(1998) afirma que existem indícios de que o jogo foi introduzido, já na

década de 1870, por padres e alunos do Colégio São Luís em Itu, interior de

São Paulo, por marinheiros britânicos em cidades portuárias brasileiras, em

especial no Rio de Janeiro, e por funcionários de companhias inglesas,

como a City e a São Paulo Railway.

A hipótese de que Miller foi o introdutor do futebol neste país

fundamenta-se no fato de que ao retornar ao Brasil em 1894, Miller trouxe na

sua bagagem uma bola de futebol. Logo, tratou de difundi-lo entre os

ingleses residentes em São Paulo que se interessavam mais pelo jogo de

cricket. Aos poucos, porém, os ingleses, altos funcionários da Companhia de

Gás, do Banco de Londres e da São Paulo Railway iriam aderir ao futebol.

Assim é que o São Paulo Athletic, fundado especialmente para a prática do

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cricket, introduziria, em seu espaço lúdico, em 1887, a nova modalidade

esportiva importada por Charles Miller. O primeiro “grande” jogo foi realizado

em São Paulo, em 1899, na presença de 60 torcedores. (CALDAS, 1994).

Esse esporte começou como algo apenas praticado pela elite, sendo

vedada a participação de negros em times de futebol. A aristocracia

dominava ligas de futebol, enquanto o esporte começava a ganhar as

várzeas. Durante muito tempo as elites brasileiras entenderam o futebol,

como “ópio do povo”. Para os aristocratas, o futebol tinha o poder de

manipular as pessoas onde deixariam de lado a realidade e com ela os

“problemas mais importantes” da sociedade.

No Rio de Janeiro, então capital do Brasil, ficou para Oscar Cox o

papel de introduzir o esporte no estado. Assim como Miller, trouxe o futebol

“na mala” em seu retorno da Europa. Porém, isso não era suficiente para

consolidar o esporte no país. Nesse aspecto, foi Cox quem percebeu que o

papel dos clubes era fundamental. No Rio de Janeiro, o primeiro a ser criado

para a prática do futebol foi o Fluminense em 1902. Ele era formado apenas

por brasileiros, todos eles, claro, membros da elite. A Liga Metropolitana de

Football do Rio de Janeiro foi fundada tempos depois, em 1905.

(MAGALHÃES, 2010).

Em seu primeiro momento, o futebol era definitivamente um

entretenimento para as elites. De qualquer forma, logo se tornou uma

importante diversão para as elites e, em pouco tempo, já era praticado em

vários locais do país. Esse foi um fato importante, conforme demonstra Reis

e Escher (2006, p.35): “o Brasil não importou da Inglaterra apenas o jogo de

futebol, mas também as tradições inglesas.” E enquanto estivesse nas mãos

das classes mais altas, o caráter amador do esporte seria mantido, a fim de

manter, assim, sua restrição a poucos.

Daí, sempre entre a elite, foram surgindo os primeiros times de

verdade. Em 1896, o São Paulo Athletic Club, fundado oito anos antes, seria

o primeiro a aderir ao novo esporte, logo seguido do Sport Club Germania

(1889), de Mackenzie Athletic Association (1898), Sport Club Internacional

(1898), Clube Atlético Paulistano (1900), já com nome aportuguesado. Em

Campinas, fundou-se a Associação Atlética Ponte Preta (1900). No Rio de

Page 24: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

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Cox, o Fluminense Foot-ball Club (1902), o Rio Foot-ball Club (1902), o

Botafogo Foot-ball Club, o America Foot-ball Club, o Bangu Athletic Club (os

três últimos em 1904). Flamengo e Vasco da Gama já existiam desde o fim

do século, ambos dedicando-se ao remo: o primeiro, só criaria seu

departamento de futebol em 1911; o segundo, em 1923. Em Porto Alegre, foi

fundado o Esporte Clube Rio Grande (1900); em Minas, o Sport Club Belo

Horizonte (1904); em Recife, o Club Náutico Capeberibe (1901); em

Salvador, o Vitória Foot-ball Club (1905). (MÁXIMO, 1999).

Semelhante com o que aconteceu na Inglaterra, o futebol foi usado

como válvula de escape para as classes trabalhadoras, e com isso

tranqüilizava as elites. As classes mais altas perceberam que com a

popularização do futebol haveria uma forma de controlar a massa

trabalhadora cada vez mais aglomerada nos centros urbanos, entretanto

passava-se a exigir mais direitos e maior participação na vida do país.

Na visão de Proni (1998), o futebol vinha deixando de se restringir aos

clubes e colégios de elite e passando, progressivamente, a ser praticado por

operários e trabalhadores de classes populares, apesar do caráter elitista

das ligas. Com o surgimento de equipes em fábricas de subúrbio como foi o

caso pioneiro da equipe do Bangu no Rio de Janeiro, formada em 1904, ou

com o aparecimento de equipes em bairros de famílias proletárias a exemplo

do Corinthians Paulista, em 1910, a prática foi se popularizando e se

difundindo como um novo elemento do meio social urbano. Em

contraposição ao futebol dos clubes de elite, começava a proliferar o

chamado “futebol de várzea”.

Pode - se dizer que a fundação desses clubes representou a abertura

do futebol para as massas. O Brasil estava se urbanizando e as classes

mais baixas, começavam a buscar espaço tanto na sociedade como na

política. Com o avanço da indústria e o crescimento do operariado houve a

difusão do esporte pela classe operária. Tempos depois, o futebol começava

a se popularizar e se difundir pelo país, a questão social foi ganhando força,

assim como a própria identidade nacional do brasileiro.

A partir de 1908, homens de diferentes classes socias passaram a ter

direito à prática do futebol. Isso só foi possível com a criação de vários

Page 25: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

25

clubes, mas mesmo com esse avanço, ainda houve impedimentos. A

participação dos negros nos times de futebol pode ser considerada um

desses avanços, porém isso só foi possível na década de 20 quando eles

começaram a ser aceitos por outros clubes, sendo o Vasco da Gama que foi

fundado em 1898, o primeiro dos clubes grandes a vencer títulos com uma

equipe repleta de jogadores negros e pobres. (MAGALHÃES, 2010).

Entende-se que os anos que antecederam o governo Vargas foram

marcados por duas disputas no futebol brasileiro. De um lado, a elite

defendendo seu caráter amador e do outro o povo que buscava

democratizá-lo e lutava pela sua profissionalização. Esses conflitos, em

termos de compreensão do futebol, eram o reflexo de importantes questões

sociais e políticas que estavam surgindo no país.

No período da Era Vargas, o futebol representou um modelo de

sociedade a ser alcançado, ao mesmo tempo em que era um dos moldes da

sociedade brasileira. Foi um instrumento ideológico extremamente útil, que

atendia aos objetivos do chamado “governo dos pobres” do referido

presidente. Vargas estimulou a profissionalização do futebol no esforço de

que o Estado controlasse o esporte no país. Assim, conseguiria ampliar a

base social do governo e criar a ilusão de um Brasil democrático. Em Proni

(1998, p. 197), vamos encontrar o seguinte esclarecimento:

Durante a primeira era Vargas o futebol profissional estruturou-se de forma semelhante a uma “autarquia” e que adquiriu uma forte relação com a política local e nacional, relação que se manteria desde então (mesmo nos períodos de maior autonomia).

No Brasil, o profissionalismo no futebol foi introduzido em 1933, e

assim como aconteceu na Inglaterra foi um acontecimento inevitável e alvo

de resistência. As ligas e as associações passaram a exigir dos jogadores a

comprovação de vínculo empregatício ou comprovação de ser estudante, a

fim de dificultar aos trabalhadores e aos que não estudavam a prática do

esporte. Segundo Ribeiro (2003), a profissionalização do futebol

Page 26: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

26

correspondia à tensão que existia entre a tradição elitista e amadora dos

primórdios da prática esportiva e a necessidade de regulamentar nos clubes

- numa conjuntura de popularização do futebol - a crescente participação de

jogadores remunerados, de sua maioria de origem pobre e negra. Foi a partir

dessa década que houve um crescente êxodo de jogadores brasileiros para

a Europa. Para Rosenfeld (1993 apud REIS e ESCHER, 2006), a

profissionalização no Brasil foi uma forma de evitar a saída de jogadores

brasileiros para outros países, que já haviam introduzido o futebol

profissional, principalmente a Itália e a Espanha.

Com o crescente interesse da população pelo futebol, houve a

necessidade da construção de estádios com grande capacidade de público.

Foi nessa perspectiva que em 1940 e 1950 que surgiram os estádios do

Pacaembu e o Maracanã, respectivamente. Devido a sua profissionalização,

esse esporte deixou de ser apenas um fenômeno de massa para se

converter no espetáculo que ele representa nos dias atuais, atraindo

multidões para as suas práticas. E esse processo foi se intensificando com

as participações da seleção brasileira nas copas do mundo e dos times

brasileiros em campeonatos internacionais. (MAGALHÃES, 2010).

Nos tempos da ditadura militar o futebol já era o “esporte do povo”,

por isso os militares utilizaram a sua importância a seu favor. O auge do

esporte nesse período no país se deu através da conquista da Copa do

Mundo de 1970. Conforme Ribeiro (2003), a vitória em 1970, no México, em

plena vigência do regime autoritário, fortaleceu o imaginário de uma nação

moderna e reconhecida como potência mundial. "Ninguém segura esse país"

era a palavra de ordem que impulsionava o regime militar. A imagem do país

estava forjada na conquista do campeonato mundial. O Brasil passara a ser

conhecido como o país do futebol.

Após o período da ditadura, o Brasil, passou por um processo de

redemocratização, e tanto o país quanto o futebol sofreram importantes

transformações a partir de então. Mas, assim como em todo o seu processo

histórico o futebol se adaptou a essas mudanças. O novo definidor das

relações do esporte passava a ser o capital gerado pelo futebol não só no

Brasil como no mundo.

Page 27: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

27

A história do futebol está intrinsecamente ligada à política. No Brasil

não foi diferente, desde o início quando o mesmo chegou ao país, as

cidades que aderiram a esse novo esporte foram justamente São Paulo e

Rio de Janeiro respectivamente a capital do café e a capital da República,

onde a presença de empresas inglesas, a instalação de fábricas de pequeno

porte, a formação de um operariado e o intenso fluxo de imigrantes

propiciavam condições adequadas à contagiante atração exercida pelo novo

esporte e a sua popularização. O esporte brasileiro, principalmente o futebol

já mantinha ligações com o governo há alguns anos. Logo, pode - se afirmar

que uma das razões para que até os dias atuais os maiores clubes que

detém toda a atenção da mídia, do povo e da política são pertencentes a

esses dois estados. (SILVA, 2006).

Hoje, o futebol é o maior fenômeno social do Brasil. Representa a

identidade nacional e também consegue dar significado aos desejos da

maioria dos brasileiros. Essa relação é vista como parte da própria natureza

do país. Segundo Lucena e Proni (2002), o futebol seria uma das raras

oportunidades para sociedade brasileira organizar-se coletivamente em

torno de um objetivo comum, atuando de modo coordenado em contraste

com as representações políticas e econômicas tradicionais.

No Brasil, o futebol se impõe nos quatro cantos, fazendo parte da vida

da sociedade brasileira. Esse esporte é uma forma que a sociedade

brasileira encontrou para se expressar sendo caracterizada como:

Uma maneira de o homem nacional extravasar características emocionais profundas, tais como paixão, ódio, felicidade, tristeza, prazer, dor. Fidelidade, resignação, coragem, fraqueza e muitas outras. (DAOLIO, 2006, p.143).

Esse pode representar uma possibilidade de desenvolver formas

solidárias e cooperativas de organização da sociedade. De acordo com Da

Matta (2006, p. 164), “[...] essa prática proporciona à sociedade brasileira a

experiência da igualdade e da justiça social.” Pois produzindo um espetáculo

complexo, mas governado por regras simples que todos conhecem, o futebol

Page 28: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

28

reafirma simbolicamente que o melhor, o mais capaz, e o que tem mais

mérito pode efetivamente vencer.

Desta forma, o futebol traduz-se em uma prática social que expressa

a nossa sociedade, com todas as suas aspirações mais antigas, seus

desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas, sendo

considerado membro legítimo do nosso país que penetra na vida da

população brasileira e também no espírito de cada cidadão.

Entretanto, é necessário pensar o futebol como algo ainda mais

complexo e poderoso do que um instrumento de ideologia das massas e do

mercado. Em adição, o futebol brasileiro, vive um momento de profunda

reorganização, muito prejudicada pelas mundialmente conhecidas estruturas

de corrupção e má gestão. A lógica instrumental globalizadora vem

prevalecendo sobre a tradição local, alterando profundamente a estrutura do

futebol, e tentando reduzir o torcedor a mero consumidor. (JESUS, 2003).

O futebol brasileiro durante a sua história passou por diferentes fases.

E estas, refletem o que o esporte vem representando ao longo do tempo na

sociedade brasileira, primeiro era visto como um passatempo de poucos, daí

o esporte da elite, depois elemento de integração e paixão do povo, se

tornou uma profissão, posteriormente meio de afirmação da identidade

nacional e instrumento político, uma arte brasileira e por fim um objeto da

globalização dentro do qual o Brasil representa importante papel.

Page 29: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

29

3 AS PRÁTICAS FUTEBOLÍSTICAS NOS CAMPOS DA BAHIA

No capítulo anterior foi relatada a inserção do futebol no Brasil e no

mundo. Agora é apresentada a discussão quanto à gênese do futebol baiano

e a história da Catuense, através de documentos e; posteriormente,

estabelecida uma análise do processo da pesquisa de campo.

3.1 ROLANDO A BOLA: ORIGEM DO FUTEBOL NA BAHIA

A história do futebol na Bahia se assemelha com a origem desse

esporte no Brasil. Assim como Charles Miller, José Ferreira Júnior,

conhecido como Zuza Ferreira, foi para a Inglaterra com o objetivo de

estudar e quando retornou ao país, trouxe consigo a vontade de praticar o

esporte em sua terra natal. Zuza Ferreira teria sido o primeiro a introduzir o

esporte em Salvador no ano de 1901. A Bahia foi o primeiro estado do

Nordeste a acolher essa arte que hoje tanto divulga nosso país nas terras

alheias. (FEDERAÇÃO BAHIANA DE FUTEBOL, 2011).

Conforme Santos (2009), de forma semelhante à Inglaterra e ao

Brasil, o futebol nos seus dois anos iniciais era praticado apenas por jovens

da elite soteropolitana, assim como se copiou a maneira de vestir de homens

e mulheres ingleses, os seus estilos de jogo, entre outros aspectos que

caracterizaram a forma da cultura futebolística na Bahia. Nesse início, o

futebol ao mesmo tempo em que foi aceito, sofreu resistência quando sua

prática se dava entre populares.

A partir do ano de 1903, o esporte estava adquirindo outra dimensão

na sociedade baiana. Notícias nos jornais sobre regras de futebol, a venda e

compra de materiais esportivos importados eram pequenos indícios de que a

visão que se tinha a respeito do futebol estava mudando. Nesse período

ainda não havia clube para as práticas futebolísticas. Os times eram

formados por jovens que se reuniam nos finais de semana e feriados. A t é

e n t ã o n ã o s e f o r m a v a m c l u b e s d e

Page 30: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

30

f u t e b o l e m S a l v a d o r . A s a g r e m i a ç õ e s

o u c l u b e s e x i s t e n t e s e r a m o s d e

r e g a t a s , q u e p r a t i c a v a m o r e m o o u

e n t ã o o s c l u b e s d e c r i c k e t . 1 E s t a s

d u a s p r á t i c a s e s p o r t i v a s e r a m a s

m a i s f a m o s a s e m S a l v a d o r , n a s

q u a i s a p a r t i c i p a ç ã o p o p u l a r e r a

q u a s e i n e x i s t e n t e . Segundo Gama (1923 apud JÚNIOR;

SANTO, 2011) foram os membros da colônia inglesa na Bahia que fizeram a

introdução de um jogo, cuja disputa, para eles, tinha já o cunho de Sport, -

pois sendo a sua pátria o berço do Sport moderno - tinham a noção exata da

significação do vocábulo. Esse jogo, foi o cricket, de origem genuinamente

inglesa [...].

O Sport Club Bahiano, em 1903 foi fundado por rapazes que

trabalhavam no comércio. Conforme é narrado na literatura,

Rapazes do Comércio, animados, fundam o primeiro clube de futebol da Bahia. Foi ele o Sport Club Bahiano, fundado em 7 de setembro de 1903 e a quem a Bahia esportiva ficou a dever reais serviços. Os seus sócios realizavam todos os domingos partidas de futebol entre os times Branco e Verde e uma banda de música alegrava o público. No dia 15 de novembro um grande jogo foi realizado entre os já afamados times Verde e Branco. (MAIA, 1944 apud SANTOS, 2009, p. 7).

Seguindo a tendência apontada por Franco Júnior (2007), outros

clubes foram criados em Salvador, times que podiam ainda ser de elite ou de

origem popular ou ainda, ter base nas colônias estrangeiras. Nessa lista,

vemos clubes como: Club Internacional de Cricket (novembro de 1899); Club

de Natação e Regatas São Salvador (1902); Club de Regatas Itapagipe

(1902); Sport Club Bahiano (1903); Sport Club São Paulo - Bahia (1903);

Sport Club Santos Dumond (1904); Fluminense Foot-Ball Club; Sport Club

1 Nome dado ao um esporte que utiliza bola e tacos, cuja origem remonta ao sul da Inglaterra, durante

o século XVI.

Page 31: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

31

Ypiranga (1906); Botafogo Sport Club (1914) e outros mais. Alguns tiveram

vida curta, outros duraram tempo maior, mas da mesma forma foram

extintos e poucos são os que existem até hoje, com alguns tendo sido criado

em tempos mais recentes, como o Esporte Clube Bahia (1931).

Além disso, convém salientar que a prática do futebol gerou muita

curiosidade em quem assistia aos jogos, cada vez mais frequentes, nos

campos de Salvador.

O processo de institucionalização do futebol baiano começara a

acontecer. Logo, passou a ser necessário um local mais organizado, que

permitisse uma prática de cunho sistematizado, com uma inicial organização

de campeonatos. A essa altura era preciso satisfazer a população e

desenvolver o esporte que acabou sendo adotado pelo povo soteropolitano.

O São Paulo, clube baiano formando por paulistas, por já ter contato com o futebol no sudeste brasileiro percebeu que a criação de uma liga em Salvador seria de fundamental importância para o desenvolvimento do esporte naquele estado. Sendo assim o clube em parceria com o Bahiano, convida o Vitória e Internacional para fundarem, no dia 15 de novembro de 1904, a primeira liga de futebol da Bahia, chamada Liga Bahiana de Sports Terrestres, atual Federação Baiana de Futebol, a fim de organizar

campeonatos de futebol. (SANTOS, 2009, p. 9).

Depois desse acontecimento, passaram a desenvolver a idéia de que

a formação dos primeiros clubes para a prática do futebol designada aos

desportistas era o que faltava no futebol baiano. Um torneio em que fossem

realizados jogos com mais freqüência e certa periodicidade. Através de um

campeonato mais partidas seriam disputadas, sendo que no final deste um

campeão seria declarado recebendo assim um troféu representando a sua

conquista.

No dia 9 de abril de 1905, começa o primeiro Campenato Baiano de

Futebol com a participação de cinco clubes: Vitória, São Salvador,

Internacional, Bahiano e São Paulo. O Internacional que foi fundado por

imigrantes ingleses, acaba vencendo todas as partidas e conquistando o

Page 32: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

32

campeonato. Essa 1ª edição do campeonato baiano foi um sucesso e contou

com grande participação do público, formado por pessoas da alta sociedade

e populares. Houve em Salvador, um momento em que o mesmo

experimentou uma cultura “oficial” no futebol. Entre os anos de 1905 e 1912,

o futebol representava diversão e lazer, e encontrava sentido na prática do

amadorismo, possuidor de um caráter restrito, racista e selecionador.

(SANTOS, 2009). Para muitos desportistas baianos o futebol como uma

prática civilizada, contribuiria para o desenvolvimento da Bahia, baseado é

claro no comportamento dos burgueses e europeus.

Em setembro de 1913, outra liga foi criada, a Liga Brasileira de Sports

Terrestres. Em Salvador, existiram ainda outras ligas futebolísticas, como:

Liga Sportiva Nacional, a Liga Itapagipana e a Liga Rio Branco de Sports

Terrestres. (JUNIOR; SANTO, 2011). Com a criação dessas ligas, o futebol

iniciou um período de transformação, a sua prática estava sendo realizada

nos quatro cantos de Salvador, da elite às camadas mais populares.

Entretanto, houve a tentativa de uma vivência futebolística que remetesse

aos ideais da modernidade, porém tentou-se restringir os populares e negros

pobres da vivência da própria modernidade. Nesse processo de uma prática

desportiva, um dos aspectos mais tensos foi a inserção do negro nos clubes

e nos campeonatos de futebol. A Liga Brasileira de Sports Terrestres ou a

“Liga dos Pretinhos” pode ser considerada um marco para a inclusão dos

negros e populares nas práticas futebolísticas de Salvador. Para Santos

(2009, p. 24), a “ L i g a d o s P r e t i n h o s ” a t e n d i a

a s n e c e s s i d a d e s d e s o c i a l i z a ç ã o p o r

p a r t e d o s p o p u l a r e s . N e s t e s e n t i d o , a

c u l t u r a p o p u l a r d o f u t e b o l e m

S a l v a d o r c o n t r i b u i u p a r a a

c o n s t i t u i ç ã o d e u m a i d e n t i d a d e

c o l e t i v a e n t r e a s c l a s s e s

s u b a l t e r n i z a d a s .

Numa análise acerca do futebol em Salvador, identifica - se que em

sua trajetória, este se desenvolveu como uma prática cultural que ganhou às

ruas da cidade, relacionando-se com outros elementos da cultura

Page 33: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

33

soteropolitana, se transformando no esporte de maior aceitação, até a

atualidade. Tempos depois, não só a capital baiana, como também outras

cidades do estado já haviam disseminado o futebol, adotando-o como o

fenômeno da modernidade. Os times do interior do estado foram surgindo a

partir dessa lógica e através dos campeonatos já existentes, amadores ou

não. Dentre eles podemos citar: Atlético de Alagoinhas

Bahia de Feira, Camaçari, Feirense, Fluminense, Ipitanga, Juazeiro,

Serrano, Colo-Colo, Vitória da Conquista, Poções, Catuense, entre outros.

Os maiores clubes de futebol da Bahia e reconhecidos nacionalmente

são o Bahia e o Vitória, ambos de Salvador. O Bahia, maior vencedor da

história do Campeonato Baiano, campeão brasileiro em 1959 e 1988,

disputa, atualmente, a Série A. O Esporte Clube Vitória, segundo maior

vencedor do certame baiano, foi vicecampeão brasileiro de 1993 e vice -

campeção da Copa do Brasil de Futebol de 2010 e se encontra, atualmente,

na Série B do Campeonato Brasileiro.

Atualmente as competições organizadas anualmente pela FBF, são:

Campeonato Baiano de Futebol - Primeira Divisão , Campeonato Baiano de

Futebol - Segunda Divisão, Torneio Seletivo para o Campeonato Baiano da

2ª Divisão, Campeonato Baiano Sub-20, Campeonato Baiano de Futebol

Feminino Amador, Campeonato Baiano Infantil da 1ª Divisão, Campeonato

Baiano Juvenil da 1ª Divisão, Campeonato Intermunicipal, Copa Governador

do Estado. (FEDERAÇÃO BAHIANA DE FUTEBOL, 2011).

Em sua história mais recente, no ano de 2004 o futebol da Bahia foi

representado na Copa do Brasil pela Catuense Futebol S/A, time interiorano

que por várias veses ficou entre os quatro primeiros colocados do

Campeoanto Baiano. O futebol na Bahia teve ainda como campeões, no seu

mais importante torneio, dois clubes do interior do estado: o Colo-Colo de

Futebol e Regatas, em 2006 e o Bahia de Feira de Santana em 2011.

Pelo que se percebe os times do interior do estado aos poucos vêm

crescendo e obtendo espaço na mídia esportiva e ganhando respeito dos

outros clubes. O fato do Bahia de Feira, clube natural de Feira de Santana

ter sido campeão baiano da 1ª divisão no ano de 2011, derrotando o Vitória,

um dos grandes da Bahia no seu estádio e de virada foi um acontecimento

Page 34: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

34

marcante que pode alavancar o sucesso profissional dos chamados times

pequenos.

3.2 CATUENSE FUTEBOL S/A: PASSADO E PRESENTE

O futebol de várzea que é praticado de forma amadora e organizada

fez surgir os primeiros times, também conhecidos como clubes de várzea.

Esse futebol, da comunidade, da rua, cumpre um papel importante na

personalização singular do brasileiro como povo característico e criador de

uma cultura própria, uma vez que este funciona como ponto de encontro de

amigos para os fins de semana. Ele apresentava, no passado, uma

continuidade com o futebol oficial. A popularidade da sua prática, assim

como o futebol oficial se deve a adequação ao gosto popular. A várzea

representou um celeiro de grandes craques que, descobertos, vestiram a

camisa de grandes clubes apesar da rusticidade de sua organização, pois,

[...] qualquer várzea, em que se colocassem pedaços de pau como traves, e o improviso de bolas, que poderiam ser feitos de material barato (como bexigas de boi), adequavam-se perfeitamente à sua prática. (MELO, 2000, p.21).

Considera-se que o futebol seria um esporte e uma prática corporal

organizado nas ruas, pelas comunidades locais, que pode se tornar a vitrine

de nossa identidade nacional, capaz de fazer refletir sobre diferentes

maneiras de organização política e social. Esses times que se constituem

nas relações sociais democráticas e solidárias, que objetivam a diversão e a

integração da comunidade, surgem como exemplos de possíveis

Page 35: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

35

organizações políticas alternativas. Foi a partir dessas relações sociais que o

clube Catuense Futebol S/A surgiu nas práticas futebolísticas da Bahia.

De acordo com Catuense (2011), a origem do clube Catuense Futebol

S/A, também iniciou com essas “peladas”, como é conhecida as partidas do

futebol de várzea. Foi resultado de uma diversão entre amigos aos domingos

e feriados, na cidade de Alagoinhas. Antônio Pena (Figura 01), empresário,

desportista, sócio e conselheiro de diversos clubes baianos e algumas

agremiações do sul do país, como amante do futebol, resolveu fazer um

campo de peladas na área de sua chácara, em Alagoinhas onde aos

domingos e feriados, reunia atletas do passado e da época. Com o

desenvolver das peladas, despertou o interesse de levar aquele time que

dirigiu a se exibir no Estádio Municipal Antônio Carneiro, situado na cidade

de Alagoinhas e em outras praças esportivas. Então, surgiu a idéia da

fundação de um clube que pudesse mostrar o resultado da união entre

atletas do passado e do presente.

FIGURA 01 – Antonio Pena, fundador do clube. Fonte: Internet (site

oficial do clube)

Page 36: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

36

Justamente em fins de 1973, conforme o Senhor Antônio Pena, no dia

01 de janeiro de 1974, ele e os funcionários da empresa Catuense, Dagmar

Gomes da Silva, Raimundo Stélio, Gerson Santos, José Joaquim, Edmilton

Galisa, José Luiz, Ademir Brito, Jucundino Freire e Eliseu Costa fundaram a

Associação Esportiva Catuense que se sagrou campeã no primeiro ano

disputando o campeonato de amadores de Alagoinhas, voltou a ser

campeão em 1976 e vice em 1975 e 1978 e mais tarde se tornaria uma das

grandes forças do futebol baiano. Suas cores, conforme ilustrado na figura

02, são o amarelo, vermelho e preto e tem como mascote o bem-te-vi

(Figura 03).

FIGURA 02 – Escudo atual da Catuense. Fonte: Internet (site oficial

do clube)

FIGURA 03 – Mascote da Catuense. Fonte: Internet (site oficial do

clube

Page 37: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

37

De acordo com registros do clube, no início as partidas eram

realizadas no Estádio Carneirão, na cidade de Alagoinhas, o que rendeu ao

time o apelido de Laranja Mecânica, pois na época a cidade que sediava os

jogos era uma grande produtora de Laranja. Devido a esse fato, o clássico

entre Catuense e Atlético de Alagoinhas é chamado do Clássico da laranja.

A década de 80 foi marcada por grandes feitos, conforme

apresentado no quadro 01. Além do acesso a primeira divisão do

Campeonato Baiano, o Catuense teve uma passagem positiva pela época.

Nove anos após a sua Fundação, o time chegou à elite do Futebol Baiano,

onde durante 26 anos fez uma história de sucesso, estando por dezessete

vezes entre os cinco primeiros colocados, e ocupando por duas vezes a

vice-liderança do campeonato.(CATUENSE, 2011).

QUADRO 01 - CONQUISTAS DA CATUENSE FUTEBOL S/A

ANO CONQUISTAS

1974/1976 Campeão do campeonato de amadores de Alagoinhas

1975/1978 Vice - campeão do campeonato de amadores de Alagoinhas

1977 Vice - campeão do Torneio Inter Clube

1980 Campeão do Campeonato de Acesso de Profissionais da 2ª divisão

1981/1982/1985/1989 4º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão

1983/1986/1987 Vice - campeão do Campeonato Baiano da primeira divisão

1984 Campeão na Categoria Júnior

1984/1988 3º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão

1987 Campeão da Taça Cidade de Salvador

1981/1990 Vice - campeão na Categoria Júnior

1990/1992/1994 3º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão

1993/1996 4º lugar no Campeonato Baiano da primeira divisão

1989/1994 3° lugar no Campeonato Brasileiro da série B

1990 Semifinalista do Campeonato Brasileiro da série B

1991/1993 Vice - campeão da Taça Bahia Júnior na categoria Juvenil

1994 Campeão da Taça Bahia Júnior na categoria Júnior e Juvenil

Page 38: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

38

1996 Venceu o amistoso contra o Peñarol do Uruguai na inauguração do

Estádio Municipal Antônio Pena em Catu

1998 Vice - campeão do Torneio de Almeria e 4º lugar no torneio de Albacete

(Espanha)

1999 Vice - campeão da Taça Estado da Bahia

2001 Campeão da Taça Estado da Bahia

2003 Vice - campeão do Campeonato Baiano da primeira divisão

2004 Campeão Baiano do Interior

Em 1996 é inaugurado o Estádio Antônio Pena, na cidade de Catu,

(figura 04) construído pelo então prefeito do município e dono do clube

Antônio Pena, que no jogo inaugural recebeu o Peñarol do Uruguai.

FIGURA 04 – Placa de inauguração e vista interna do Estádio

Municipal Antonio Pena, na cidade de Catu. Fonte: Internet (site oficial do

clube)

O estádio Municipal Antônio Pena já foi considerado um dos estádios

mais bonitos da Bahia. Com capacidade para 10.000 pessoas esse estádio

atualmente passa por vários problemas de infra - estrutura, bem como a falta

de estrutura nas cabines de imprensa, instalações internas, estruturas

internas comprometidas, arquibancadas sujas, as torres de iluminação com

ausência de algumas lâmpadas, dentre outros fatos. No dizer do próprio

Antônio Pena, o estádio está abandonado, sujo, onde já depredaram parte

do vestiário, levaram as tomadas, não tem mais água quente e fria para a

recuperação dos jogadores, aquecedores, banheiras térmicas, enfim se

encontra desprezado. O nome do estádio foi apagado da arquibancada e

Page 39: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

39

esse local que já abrigou grandes jogos está servindo apenas para os

campeonatos amadores do município.

No mesmo ano da inauguração, Catu passou a ser a sede do clube, já

que o seu fundador foi nomeado o prefeito da cidade. Segundo o site oficial

do clube, em 07 de novembro de 2001, seguindo uma tendência dos

grandes times brasileiros, a Associação Desportiva Catuense torna-se uma

empresa, a Catuense Futebol S/A. Assim, percebe-se que

A transformação dos clubes profissionais em sociedade anônimas supõe não só o estabelecer de um princípio de responsabilidade limitada dessas entidades, mais ainda, e o que é mais relevante, a existência de mecanismos que facilitem a percepção dessa entidade, favorecedores da transparência, o que ajuda a criar um clima de segurança (e garantia) nas relações jurídicas e econômicas que surjam com terceiros. (FILHO, 2002 apud PERRUCCI, 2006, p. 255).

Esses clubes aderiram a um modelo de empresa, onde há a divisão

do capital social em ações que podem ser negociadas livremente e não

quando o capital é atribuído a um nome em específico.

Neste modelo de sociedade, não é necessário uma escritura pública

(contrato social) ou outro ato oficial, assim esta sociedade de capital, vai

prever a obtenção dos lucros e distribuí-los aos acionistas.

No ano de 2004, Antônio Pena concorreu à reeleição para prefeito na

cidade de Catu, porém acabou sendo derrotado pela atual prefeita reeleita

Gilcina Carvalho. Esse fato abalou o ciclo de sucesso da Catuense Futebol

S.A, conhecida também como Catuca. Com isso a Catuense perdeu

prestígio na cidade, mesmo disputando o Campeonato Baiano da 1ª divisão.

Apesar de ter perdido as eleições, Antônio Pena continuou residindo no

município. Mas, no ano de 2007 a Catuca acabou sendo rebaixada para a

série “B” do Campeonato Baiano. Então o ex-prefeito da cidade de Catu

retornou para Alagoinhas levando a Catuense Futebol S/A. Por isso hoje a

sede do clube volta a ser a cidade de Alagoinhas. Hoje, a presidente do

Page 40: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

40

clube é Maria Aparecida Pereira Pena, que em dezembro de 2002 foi

convidada por seu pai, Antônio Pena a assumir a presidência.

A Catuense Futebol S/A tem uma escolinha de futebol que abriga

futuros talentos ensinando as técnicas do futebol e ajudando na formação do

cidadão pelo aprendizado de regras e normas de conduta. A Escola de

Futebol da Catuca está sendo conhecida internacionalmente através do

projeto de intercâmbio de jogadores. A Catuense possui três equipes:

principal, juvenil e infantil. O Centro de Treinamento da Catuca, como

ilustrado na figura 02, possui 12 quartos, uma enfermaria, uma rouparia, um

refeitório, área de lazer com sala para TV e salão de jogos, uma lavanderia,

um depósito, um vestuário, um escritório, além de um campo com

dimensões oficial (105 x 75 metros). (VALLORY; BASTOS, 2011).

FIGURA 05 - Centro de Treinamento da Catuense. Fonte: Internet

(site oficial do clube)

A Catuca durante a sua história participou de alguns amistosos e

excursões internacionais segundo o quadro 02, que lhe trouxeram grandes

vitórias sobre times já consagrados.

QUADRO 02 – JOGOS INESQUECÍVEIS DA CATUENSE FUTEBOL S/A

Page 41: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

41

ANO JOGOS INESQUECÍVEIS DA CATUENSE

1988 Catuense 2x1 Flamengo

1991 Catuense 0x0 Maryland Bays dos EUA

1991 Catuense 3x0 Seleção Olímpica de El Salvador

1996 Catuense 2x1 Peñarol do Uruguai

------------------------------- Severtte da Suiça 0x7 Catuense

------------------------------ Olto da Alemanha Ocidental 1x5 Catuense

Atualmente a Catuense que revelou Bobô, Vandick, Zanata, Naldinho

e Clemer não se inscreveu para a 2ª divisão de 2011, segundo a presidente

Cida Pena, os motivos são o trabalho focado na base e as mudanças da lei

na FBF (Federação Baiana de Futebol) para os times que participam da

segunda divisão. Conforme o ranking do site da CBF (Confederação

Brasileira de Futebol), terminada a temporada passada a Catuca foi

reconhecida como o terceiro clube baiano melhor colocado, onde se

encontra na 70º posição, na frente de equipes como o Grêmio Prudente

(SP).

Page 42: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

42

4 INVESTIGAÇÃO DAS RAZÕES QUE INTERROMPERAM UM

SONHO

A pesquisa pode ser caracterizada como um processo de construção

do conhecimento voltada para a descoberta de solução dos problemas. É

basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza

quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa também pode

ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela

busca de um conhecimento.

Fazer uma pesquisa científica significa investigar determinado assunto de interesse e relevância, observar os acontecimentos, descobrir respostas, conhecer o assunto com profundidade, utilizar métodos científicos para solucionar os problemas levantados e responder as questões que surgem no decorrer do estudo. (MATTOS, 2004, p.11)

Esta pesquisa tem cunho qualitativo e foi desenvolvida através da

pesquisa documental, da revisão de literatura e da pesquisa de campo. Tem

como característica o caráter descritivo, sendo este, um método que

observa, registra, analisa, descreve e correlaciona fatos ou fenômenos sem

modificá-los. Segundo Uwe Flick (2009, p.8), “a pesquisa qualitativa visa a

abordar o mundo “lá fora” e entender, descrever e, às vezes, explicar os

fenômenos sociais “de dentro” de diversas maneiras diferentes”.

Page 43: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

43

O método da pesquisa documental vale-se de documentos originais,

que ainda não receberam tratamento analítico por nenhum autor, ou seja,

investiga fontes primárias que se constituem de dados que não foram

codificados, organizados e elaborados para estudos científicos. De acordo

com Oliveira (2007, p. 69):

a pesquisa documental caracteriza-se pela busca de informações em documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações, fotografias, entre outras matérias de divulgação.

Desta forma no presente trabalho, para o apoio teórico, foram

consultados documentos indispensáveis à compreensão prévia do problema,

tais como: a ata do clube, artigos da internet entre outros.

A revisão de literatura segundo (GIL, 2002) é aquela baseada em

livros e artigos científicos, mediante análise minuciosa do material de sorte a

averiguar possíveis incoerências ou equívocos nele contidos além de

possibilitar ao pesquisador melhor compreender os dados coletados,

fundamentando-os ou refutando-os.

A pesquisa de campo procede à observação de fatos e fenômenos

exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos

mesmos e, finalmente, à análise e interpretação desses dados, com base

numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e

explicar o problema pesquisado. Para (MARCONI E LAKATOS, 1996), a

pesquisa de campo é uma fase que é realizada após os estudos

bibliográficos, para que o pesquisador tenha um bom conhecimento sobre o

assunto, pois é nesta etapa que ele vai definir os objetivos da pesquisa, as

hipóteses, definir qual é o meio de coleta de dados e a metodologia aplicada.

Ela se caracteriza pela busca de dados diretamente da fonte de origem e

podem ser modificadas pelas condições ambientais.

Page 44: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

44

Assim, além da pesquisa bibliográfica e documental, utilizou-se para

coleta de dados, entrevistas semi – estruturadas que para Triviños (1987, p.

146):

Tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à

medida que se recebem as respostas dos informantes.

Assim, infere-se que esse tipo de entrevista permite que o

entrevistado tenha liberdade para discorrer sobre a temática em questão e

aborde aspectos que sejam relevantes sobre o que se pensa.

As entrevistas consistiram de 5 a 10 questões fechadas e abertas,

onde o indivíduo entrevistado teve a possibilidade de discorrer sobre o tema

proposto, sem respostas ou condições prefixadas pela pesquisadora. Os

sujeitos escolhidos para as entrevistas foram: o fundador da Catuense

Futebol S/A, dois ex- jogadores do clube e a atual presidente. O critério para

a seleção dos sujeitos foi baseado na aproximação que os mesmos

possuem com o clube, onde participaram de forma direta na trajetória do

clube, podendo então, fornecer informações fundamentais para conhecer a

história da Catuense, as dificuldades que favoreceram para o seu declínio no

futebol da Bahia e do Brasil e as perspectivas para o seu futuro.

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45

5 A CATUENSE E SEUS SUJEITOS SOCIAIS: MEMÓRIAS DE

UM CLUBE BAIANO

Durante a pesquisa de campo foram entrevistados o fundador do

clube, o senhor Antônio Pena, a atual presidente, a senhora Maria Aparecida

Pereira Pena e dois ex-jogadores, Raimundo da Glória e Elzon dos Santos.

As entrevistas com os ex-jogadores aconteceram na manhã do dia 25 de

agosto de 2011 em Catu-BA, sendo que a primeira durou cerca de 9 mim e a

segunda 8 min. Já o fundador do clube e a atual presidente foram

entrevistados na manhã do dia 12 de novembro de 2011 em Alagoinhas -

BA, com duração de 40 min e 10 min respectivamente.

As memórias do clube Catuense Futebol S/A começarão a ser

descritas a partir do seu fundador que narrará a história do time desde a sua

fundação até as semelhanças e diferenças entre a sua gestão enquanto

presidente e atual administração.

Quando perguntado sobre o que motivou o grupo fundador da

Catuense a tomar a iniciativa de criá-la, o senhor Antônio Pena2 diz que:

Não tínhamos nos dias de domingo nenhuma opção de lazer, então nós reunimos os funcionários da empresa de ônibus Catuense criada por mim e transformamos os babas nos domingos pela manhã na Associação Desportiva Catuense. (INFORMAÇÃO ORAL).

2 Depoimento obtido através de entrevista com o fundador Antônio Pena, em 12 de novembro de

2011.

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46

A diversidade do futebol é algo que o torna um fenômeno único que

possui diversas formas de organização e possui uma íntima relação com a

sociedade. São várias pessoas que dedicam seu tempo disponível ao futebol

enquanto prática, valorizando momentos de encontro e sociabilidade de

forma informal, criativa e lúdica. De acordo com Bauler (2005 apud RIGO;

JAHNECKA; SILVA, 2010), as práticas do futebol como lazer, continuam a

ter presença marcante, tanto nos grandes centros urbanos como nas médias

e pequenas cidades brasileiras, ou ainda nas zonas rurais, onde, não

raramente, ele é um dos poucos acontecimentos de lazer dos finais de

semana.

Segundo Antônio Pena, um dos motivos para a criação da Catuense

foi a vontade de disputar o Campeonato de Amadores de Alagoinhas. Para o

mesmo a Catuense enquanto amador tem sua origem em Catu e como

profissional em Alagoinhas.

Quando perguntado se após a criação do clube, ele imaginou que a

catuense se tornaria uma das grandes forças do futebol baiano diz que:

Sempre tive muita esperança porque sabia que o futebol no futuro seria um bom negócio. O futebol é uma paixão do povo, sobretudo brasileiro. Embora tenha sido descoberto na Inglaterra, as suas maiores glórias estão em poder dos brasileiros. (INFORMAÇÃO ORAL).

Este trecho da entrevista vai ao encontro do que afirma Galeano

(2002, p. 14), ao descrever o futebol como:

O jogo se transformou em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espectadores, futebol para olhar, e o espetáculo se transformou num dos negócios mais lucrativos do mundo. Esse esporte também é uma “paixão”, um “estilo de vida” e uma instituição social que cultiva mitos, crenças que vende muito bem produtos como o “jogador de futebol”, e se constitui grande fonte de renda.

Page 47: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

47

Inserido no mundo dos negócios, o futebol faz parte do contexto

capitalista, transformou-se em mercadoria e o capital gerado pelo mesmo

assume papel central na produção de toda a riqueza existente. Para o povo

brasileiro essa mercadorização trouxe um novo significado do esporte e,

sobretudo no que diz respeito a sua identidade.

Para argumentar qual teria sido o divisor de águas do apogeu e

declínio da Catuense, destaca que:

O auge do clube foi fruto do meu trabalho juntamente com todos os funcionários da empresa Catuense e que não houve um declínio propriamente dito, o que aconteceu foi uma parada para observação, motivada pela queda da empresa que era o órgão que ajudava, sendo o parceiro e investidor. (INFORMAÇÃO ORAL).

A Catuense Futebol S/A por se tratar de um clube-empresa teve ao

longo da sua trajetória metas que alavancariam os outros negócios do clube,

tais como: a obtenção de lucros e as conquistas em campo. Pode-se dizer

que o fato da empresa de ônibus Catuense não existir mais, possibilitou

mudanças nas pretensões do clube decorrentes da falta de patrocínio, o que

foi fundamental para a invisibilidade do clube nos cenários local, regional e

nacional. Do ponto de vista de Perruci (2006, p. 203), o clube-empresa

consiste numa atividade empresarial desenvolvida pelos clubes de futebol

que desempenham atividades profissionais, coincidindo, então, com a

correta acepção da empresa, como objeto de direito, ou seja, a atividade

profissionalmente exercida e organizada para a produção e circulação de

bens e serviços.

Diante do questionamento de quais seriam os fatores que levaram à

transferência da sede da catuense para outra cidade, defende:

[...] a sede da Catuense deveria ser no Catu, porque a origem do clube foi lá. Como amador o time começou em Catu e eu fui prefeito daquela cidade durante dois mandatos, construi um estádio e esperava continuar com

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48

Catuense lá, mesmo o centro de treinamento sendo em Alagoinhas. (INFORMAÇÃO ORAL).

Então um dos fatores para a transferência da sede foi o fato do

senhor ter assumido a empresa Alagoinhas?

Eu vim para Alagoinhas orientado pelo governo na época porque a empresa Alagoinhas não estava bem e a empresa Catuense estava em franca ascensão, desenvolvendo, crescendo. (INFORMAÇÃO ORAL).

Através da fala do entrevistado percebe-se que não há objetividade e

clareza quanto às causas da mudança de sede do clube, porém, pode-se

concluir que pela vontade do fundador do clube, a sede do mesmo seria em

Catu, entretanto, houve a necessidade do próprio Antonio Pena assumir a

empresa Alagoinhas, a fim de levá-la ao mesmo patamar que a empresa

Catuense se encontrava.

A Catuense foi uma equipe de grande sucesso desde a sua origem

até o início desse século, porém houve no decorrer da sua história

momentos que marcaram a memória dos seus sujeitos sociais. Quando se

pergunta qual teria sido o momento mais marcante da trajetória da Catuense

durante a sua gestão, acredita que:

Além da inauguração do estádio Municipal Antônio Pena houve os quatro vice-campeonatos baianos que para mim foram quatro títulos. Na inauguração do estádio nós trouxemos o Peñarol do Uruguai que naquela ocasião era bi-campeão do mundo. A catuense ganhou o jogo por 2 a 1 e isso está gravado na história do futebol da Bahia. (INFORMAÇÃO ORAL).

Assim como outros times do Brasil, a Catuense participou de alguns

amistosos internacionais que alavancaram o nome do clube pelo Brasil e

pelo mundo.

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49

Fizemos grandes amistosos internacionais, jogamos nos EUA, Portugal, Itália, na Suíça contra o Sevette. Enfim grandes partidas que nos deram grande satisfação e alegria, onde honramos o futebol da Bahia. (INFORMAÇÃO ORAL)

É possível observar na fala do entrevistado que na memória dos seus

sujeitos sociais, a construção e inauguração do estádio, como também os

amistosos realizados pela Catuca por todo o mundo, foram um marco

histórico para todos os envolvidos direta ou indiretamente a esses

acontecimentos.

Quando perguntado quais foram as dificuldades encontradas durante

o processo de formação da Catuense, Pena alega que:

Não tive dificuldades, porque fazia o que gostava. Antes da Catuense eu era torcedor do Galícia e me convocaram para presidência e fui campeão com o clube. Na Catuense era eu quem decidia os recursos para bancar as despesas. (INFORMAÇÃO ORAL).

O gosto pelo futebol, a sensação de prazer, de estar fazendo o que

ama serviu como um estímulo para que Antônio Pena viesse a formar o

clube. A forma lúdica com ele apreciava o esporte pode ser explicada por

(SALLES, 1998), quando diz que a escolha do futebol como fonte de lazer

parece ter relação com o modo do indivíduo se relacionar com ele próprio e

com os outros, o modo como ele se vê, quais os seus objetivos e seus

valores.

A gestão da Catuense Futebol S/A obedece a uma hierarquia, há

quase dez anos a direção do clube está nas mãos da filha do senhor Antônio

Pena, Maria Aparecida Pereira Pena. Interrogado como está sendo a atual

administração e quais seriam as semelhanças e diferenças da sua gestão e

da atual, o fundador do clube afirma que:

A atual administração está sendo com muita responsabilidade, Cida absorveu bem as minhas idéias e

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50

com isso ela usa a mesma filosofia que eu seguia, dirigindo o clube com orgulho. Não há diferenças entre as gestões, é a continuidade, porém o poder de realização está comigo, quem administra sou eu. Ela tem um corpo de funcionários que a ajuda muito, dando continuidade a minha legenda que é a Catuense. (INFORMAÇÃO ORAL).

Percebe-se claramente a satisfação e o orgulho do entrevistado ao

falar do processo de administração da atual gestora do clube. Entretanto, há

a certeza de que mesmo não sendo oficialmente o presidente da Catuense,

Antônio Pena é o grande responsável pelos rumos futuros a serem tomados

pela Catuca. A parte financeira está concentrada em suas mãos. Uma

gestão de futebol deve seguir um padrão onde se busque a lucratividade,

assim como, o desempenho em campo com metas e resultados esperados.

Na visão de (JUNIOR, 2001) este modelo de gestão está circunscrito a

modalidade esportiva de futebol, o que de certa maneira dá um foco ao

negócio.

Então, já existe um projeto para que a catuense volte à elite do futebol

baiano?

Sim, a catuense não morreu não, estamos nos reorganizando para depois reinvestir. (INFORMAÇÃO ORAL)

Por muito tempo, a Catuense fez parte do cenário esportivo,

conquistando torcedores e títulos. Hoje, a percepção da presidente

Aparecida Pena em relação a sua integração dentro desse contexto é clara

quando a mesma diz que a Catuense está fora do cenário esportivo atual,

focando seu trabalho na base. Pelo que se pode notar o atual objetivo do

clube é formar atletas com qualidades técnicas e táticas e inseri-los no

mercado de trabalho. Como descrito por Souza (2001), as categorias de

base têm como principais metas, permitir a possibilidade de correção técnica

e tática do jovem jogador, incutir no jovem a predisposição para o trabalho

físico e adequar o jogador as normas do clube, requisitos básicos para

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51

preencher vaga no mercado de trabalho, (padronização, disposição, e

obediência).

O mundo do futebol é enriquecido de questões com caráter

econômico, sendo o patrocínio um núcleo de retorno e visibilidade. O

sucesso dessas ações está diretamente ligado com o tamanho da torcida do

clube, o sucesso nas competições dentro de campo e com o tamanho da

exposição que ele vai ter na mídia. Entretanto, muitos são os clubes que não

conseguem adquirir esse auxílio e acabam na instabilidade e sujeitos a

tensão das forças do mercado. É o caso da Catuense que no ponto de vista

da presidente, desde que a mesma assumiu o cargo, o patrocínio sempre foi

a maior dificuldade do clube Segundo Apararecida, o fato de seu pai ser um

empresário torna as negociações mais complicadas, pois acreditam que

sendo ele um empreendedor pode resolver todos os problemas.

E há essa procura por patrocínio?

Sim, estamos procurando um patrocinador que realmente tenha responsabilidade e que queira fazer uma sociedade, sem que no final haja qualquer débito para o meu pai. (INFORMAÇÃO ORAL).3

Há um receio por parte de Cida Pena em conseguir patrocinadores

que cumpram com os seus deveres e por conseqüência, não deixem Antônio

Pena sobrecarregado com as despesas.

O patrocínio é o meio mais conhecido e utilizado de investimento no

mercado esportivo, inclusive do futebol. Os patrocinadores adquirem

valorização e o posicionamento da empresa, além de obterem retorno

institucional e de vendas. Conforme Zunino (2006) no futebol, o patrocínio

esportivo apresenta-se principalmente através da publicidade e propaganda

nos fardamentos dos clubes, nas dependências esportivas (estádios, centros

3 Depoimento obtido através de entrevista com Maria Aparecida Pereira Pena, em 12 de novembro de

2011.

Page 52: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

52

de treinamento, ônibus da equipe), e no endosso e fornecimento de

equipamentos esportivos a jogadores individuais de renome.

Quanto à sua vontade em fazer parte da diretoria do clube e como

teria surgido esse interesse, sustenta que:

Nunca tive vontade de fazer parte da diretoria, se eu pudesse tinha jogado uma bomba no time da Catuense (risos). Quando foi em dezembro de 2002, meu ex-esposo saiu da diretoria e meu pai tinha feito uma sociedade com a antiga firma Siema de Salvador. Então eu assumi e daí tomei gosto e nesse tomar gosto, quero largar, mas nunca consegui. A minha idéia é que em 2012 eu não esteja mais na presidência da equipe. (INFORMAÇÃO ORAL).

É possível que a falta de interesse de Cida Pena em participar do

corpo de dirigentes da Catuense se deva ao fato de que a mesma cresceu

vendo a luta do pai e fundador do clube em administrá–lo e posteriormente

as suas dificuldades depois de ter transformado a Catuense em um clube-

empresa. Provavelmente, após se deparar com a situação descrita por ela

na entrevista, sentiu-se no dever de assumir a presidência. Depois desse

acontecimento, assim como todos os povos do mundo e principalmente o

brasileiro, ela se rendeu ao fascínio do futebol, tentou deixar o cargo, mas

não foi feliz, pois o futebol já tinha feito dela mais uma vítima do seu

espetáculo.

Em DaMatta (2006), vamos encontrar o seguinte esclarecimento,

talvez o futebol seja capaz de tudo isso porque é uma atividade dotada de

uma notável multidimensionalidade: uma densidade semântica complexa

que permite entendê-lo e vivê-lo simultaneamente por meio de muitos

planos, realidades e pontos de vista. Embora seja uma atividade moderna,

um espetáculo pago, produzido e realizado por profissionais da indústria

cultural, dentro dos mais extremados parâmetros capitalistas ou burgueses,

ele, não obstante, também orquestra componentes cívicos básicos,

identidades sociais importantes, valores culturais profundos e gostos

individuais singulares.

Page 53: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

53

Sobre as possibilidades existentes do retorno da Catuense para a

elite do futebol baiano diz:

No momento eu não estou querendo participar de campeonatos para voltar a elite. Eu quero manter a antiga idéia da Catuense que é trabalhar só com a base. Fazer jogadores e mandar para os clubes que eu já tenho parceria, Santos, Corinthians e Mogi - Mirim. Fazendo isso já estou satisfeita. (INFORMAÇÃO ORAL).

Com clareza e objetividade, a entrevistada afirma que a Catuense não

irá participar de campeonatos para o acesso a primeira divisão. E com

satisfação, reforça a idéia do trabalho com as categorias de base. O clube

que formar jovens para serem futuros jogadores profissionais.

E não tem perspectiva para a formação do time principal?

Não, até porque a lei da federação foi mudada esse ano, Nós estamos na 2ª divisão, mas para ela não fazemos mais parte. Teríamos que participar de uma seletiva, chegar para a 2ª divisão novamente e depois tentar voltar a 1ª. (INFORMAÇÃO ORAL).

Conforme o site da Federação Baiana de Futebol, a lei citada pela

presidente da Catuense é a Lei nº 10.671/03, de 15/05/2003 (Estatuto de

Defesa do Torcedor). Entende-se que o torneio seletivo será na prática uma

espécie de 3ª Divisão que dará acesso a 2ª Divisão do mesmo ano.

Ascenderão ao Campeonato baiano de futebol profissional da segunda

divisão, as associações classificadas em primeiro e segundo lugares do

torneio seletivo.

Segundo Aparecida Pena, o funcionamento da política interna do

clube está em trabalhar com investidores que realmente queiram ganhar

dinheiro com o futebol. Ela cita o caso Neymar, que hoje é o jogador mais

bem pago do Brasil e possui um contrato de milhões. De acordo com a

Page 54: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

54

presidente, a Catuense tem que procurar trabalhar sério. Acrescenta ainda

que os professores do clube são capacitados e tomam curso em São Paulo

com os melhores treinadores do país.

Compreende-se que houve receio por parte da entrevistada em

responder a questão acima, logo informações importantes para entender

como funciona a política interna da Catuense não foram reveladas. Ela volta

a insistir no patrocínio, o capital gerado no futebol, cita o jogador Neymar

como sendo o símbolo nacional dessa relação e por fim fala, ainda que

indiretamente sobre as categorias de base, salientando que os professores

que atuam no clube são altamente capacitados.

Em relação à infra-estrutura como se encontra a Catuense?

A infra-estrutura do clube é muito boa. Ela tem hoje dois campos oficiais, sendo o único time da cidade e do interior da Bahia com esse requisito. Possui quartos com ar – condicionado, todos têm banheiros, existe um ônibus para a viagem. Então a estrutura da equipe é uma das melhores do estado, só falta um bom investidor. (INFORMAÇÃO ORAL).

A presidente em seu depoimento acredita que a Catuense possui uma

das melhores estruturas do futebol baiano, apesar do momento atual do

clube. Os dois campos mencionados por ela estão localizados no centro de

treinamento do clube e na chácara do fundador, respectivamente, de acordo

com a figura 05. Os demais espaços físicos, os quartos, além da enfermaria

e do ônibus do time também estão ilustrados na figura supracitada.

Page 55: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

55

FIGURA 05: Infra- estrutura da Catuense Futebol S/A. Fonte: Arquivo

pessoal.

A infra - estrutura de um time de futebol é todo um conjunto de

espaços físicos destinados a melhoria dos atletas dentro e fora de campo.

Uma boa estrutura inclui: campos, vestiários, academia de musculação,

refeitório, salão de jogos, dormitórios. É importante o clube pensar nos seus

atletas e saber que esse aglomerado de espaços pode interferir nas vitórias

e derrotas em campo. O jogador de futebol precisa ter um bom local de

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56

trabalho, com estruturas amplas e desenvolvidas, para a sua preparação e

recuperação.

As escolinhas de futebol representam uma grande oportunidade para

os times de futebol e seus alunos, futuros atletas. Questionada sobre quais

seriam os planos da diretoria da Catuense para os futuros atletas da

escolinha defende:

Na escolinha a criança fica até os 14 anos, depois vai para o infantil, passa para o juvenil e daí eu mando para o Corinthians, Santos e Mogi - Mirim. (INFORMAÇÃO ORAL).

E já fez parcerias com times cariocas?

Ainda não fechei nenhum, mas para mim o melhor lugar para desenvolver o futebol no Brasil é São Paulo, tanto é que a Copa São Paulo de Futebol Júnior é no estado, assim como os melhores cursos para treinadores. (INFORMAÇÃO ORAL).

Como descrito por Aparecida Pena, a escolinha de futebol da

Catuense atende em média, contando com bolsas em torno de 180 a 200

alunos. Os treinos são aos sábados com turmas pela manhã e pela tarde. A

criança inicia as suas atividades aos 4 anos e fica até os 14 anos. Afirma

ainda que nem todos os alunos são residentes de Alagoinhas. Existem

alunos de Riacho da Guia, Pedrão, Aramari e de outros municípios

próximos. Do ponto de vista de (SOUZA, 2001), há uma tentativa de formar

rapidamente o jogador para o mercado de trabalho. Isto faz com que se

tente levar os jovens jogadores, que são formados nestas categorias, a

atingirem precocemente o “amadurecimento” do estado atlético e da

assimilação dos sistemas de jogo, para serem lançados neste mesmo

mercado.

Com a globalização o futebol se transformou num esporte -

espetáculo e a necessidade de “formar” jogadores se tornou cada vez maior.

Porém, nesse processo de formação o objetivo maior se resume a fazer com

que o atleta esteja preparado para os noventa minutos de batalha, a fim de

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57

que o mesmo trabalhe como um produto capitalista, fruto dessa nova era

mercadológica. Os seus sentimentos deverão ser deixados para escanteio e

em jogo estará um homem - máquina que vai elevar os padrões capitalistas

no futebol moderno.

A grande maioria dos meninos quando nascem sonham em um dia se

tornarem jogadores de futebol. A chance de fazer o que gosta e ser

reconhecido local, nacional e até mundialmente desperta nesses garotos a

vontade de se aprofundarem melhor no esporte. Para isso e por isso, pedem

aos seus pais que o coloquem numa escolinha de futebol para conseguirem

evoluir no que diz respeito as suas capacidades técnicas e táticas.

Tomando como exemplo a situação atual da Catuense, achou-se

necessário conhecer a opinião da entrevistada em relação aos times do

futebol baiano se terão visibilidade nacional nos próximos anos:

Eu acredito que não (risos), até porque na política da Bahia só funciona o Bahia e o Vitória. Então os times menores do interior não têm possibilidade nenhuma. Deu um Bahia de Feira e um Colo - Colo serem campeões, isso foi um fato inédito que vai demorar uns dez anos para acontecer novamente. É bom para a Bahia ter o Bahia na 1ª divisão e se o Vitória conseguir subir, mas para os times do interior é ruim, porque só fica a concentração nesses dois clubes. (INFORMAÇÃO ORAL).

Dentro desse mesmo contexto, procurei saber dela o que os times

baianos devem fazer para conquistarem espaço no cenário nacional:

Eu não diria os times baianos, porque Bahia e Vitória já estão no Campeonato Nacional. O que poderia ser feito e é até um pensamento meu e de meu pai, são as parcerias. O Bahia e o Vitória deveriam fazer parcerias com os times do interior. Assim iam divulgar os times do interior e os jogadores. (INFORMAÇÃO ORAL).

Mas há uma procura dos times do interior para essas parcerias?

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58

A procura é muito pequena. A Catuense há um tempo tentou fazer uma parceria com o Bahia e não deu certo. Fez com o Vitória, ficando com 40% do passe do jogador Neto Coruja e o Vitória os outros 60%. Agora o Bahia de Feira foi campeão, pegaram seus jogadores e mandaram para o Santos, mas não são aproveitados. (INFORMAÇÃO ORAL).

Esse trecho final da entrevista talvez tenha sido o momento mais

seguro de Cida Pena nas suas explanações. O olhar que a atual presidente

da Catuense tem em relação à visibilidade dos times baianos do interior não

é contraditório da realidade. Entretanto, é válido dizer que tanto o Bahia

quanto o Vitória também vivem nessa instabilidade midiática e popular em

termo nacional. Apesar do Bahia ser bicampeão brasileiro da primeira

divisão e o Vitória ter sido vice - campeão da Copa do Brasil não possuem

visibilidade nos quatro cantos do país e ainda existem espaços a serem

preenchidos por ambos os times.

Ainda que a origem do futebol na Bahia se assemelhe com a

introdução desse esporte no Brasil, nota-se que o tratamento entre esses

“futebóis” é totalmente diferente. A atenção e valorização da mídia aliada à

imagem que as outras regiões do país tem em relação a região nordeste,

especificamente a Bahia podem ser consideradas as causas possíveis para

essa questão da invisibilidade dos times baianos. É real que há uma

concentração destinada aos times da região sudeste, principalmente no que

tange a ponte Rio - São Paulo. Essa questão da visão entre as regiões

brasileiras é histórica, porém contraditória, já que o Brasil nasceu na Bahia e

teve nesse estado a sua primeira capital. Outro quesito que talvez contribua

para esse contexto é a falta de grandes conquistas, todavia têm duas

discussões em torno dos ganhos dentro e fora dos gramados: a mídia

televisiva e o marketing esportivo.

Quando se trata dos times do interior baiano, Cida Pena acredita que a

situação fica mais complicada. Segundo ela, a chance de um time baiano do

interior ser campeão novamente é de uma probabilidade muito pequena e a

longo prazo. Diz ainda que uma possibilidade para superar essas diferenças

seriam as parcerias. Finaliza a entrevista afirmando que com o Bahia e o

Page 59: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

59

Vitória apoiando ficaria mais fácil para os times pequenos e seus jogadores

serem divulgados. Todavia de acordo com a presidente a procura dos times

do interior ainda é muito pequena e as parcerias que já existiram não foram

mais adiante.

Se os dois times considerados principais do estado têm problemas de

popularidade, nada mais coerente que os demais padecessem da mesma

circunstância. Mas, vale lembrar que mesmo distantes do destaque nacional,

os clubes baianos estão tendo espaço na mídia local. Contudo, apenas o

estado tem noção de que esses clubes existem. É preciso ir mais além,

procurar novos rumos, pois aos poucos os times da Bahia e do seu interior

vêm demonstrando que têm condições de almejarem grandes feitos no

Brasil.

Como descrito pelo presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues no site da

Federação Baiana de Futebol, com essa parceria entre a Rede Bahia e o

futebol baiano, o esporte no estado irá se desenvolver ainda mais. "O

crescimento do futebol da Bahia passa por essa sintonia com todos os

segmentos. Imprensa, torcedores, atletas, diretorias... Fora de campo tem

que haver um profissionalismo de alto nível. Assim, produziremos mais

receita e teremos mais equilíbrio técnico e aumentaremos a

competitividade". Ele agradece a NER Produções Artísticas, que apostando

no produto futebol baiano, firmou parceria com 10 clubes profissionais do

interior visando capacitação de receitas e investimento em organização,

gestão, padronização e promoção destes clubes com arrojadas ações de

marketing. Nesse mesmo endereço eletrônico, Renato Braz, presidente do

Ipitanga, acredita que o Campeonato Baiano passará a ser tratado como

sempre mereceu e que os clubes do interior precisam dessa divulgação,

principalmente para revelar jogadores. Ainda em relação a essa parceria,

Thiago Souza, presidente do Bahia de Feira, clube Campeão do Torneio

Início, já pensa grande: “Essa visibilidade permite o crescimento tanto dos

clubes como da própria emissora.”

Durante o seu processo histórico a Catuense Futebol S/A foi

responsável por revelar grandes jogadores que posteriormente viriam a

defender os melhores times do Brasil. Alguns dos atletas que tiveram

Page 60: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

60

passagem pelo clube jogaram também em times internacionais. Foi o caso

do ex - jogador Elzon dos Santos que se tornou atleta da Catuense em 1994,

começou no juniores, mas no mesmo ano subiu para o profissional, ficando

na equipe cerca de 10 anos.

Pelo fato do ex - jogador já ter conquistado alguns títulos pelo clube,

procurou-se saber dele qual foi o mais importante durante a sua passagem

pelo mesmo:

Foi o título de Campeão Baiano do Interior. Fomos campeões 2 vezes desse campeonato e vice do campeonato baiano da 1ª divisão. (INFORMAÇÃO ORAL)4.

Esse campeonato conquistado pelo entrevistado enquanto atleta da

Catuense foi o torneio de mais destaque para os times do interior do estado,

daí a valorização do ex - jogador pelo feito. O campeonato baiano do interior

foi extinto e não faz mais parte da grade da Federação Baiana de Futebol.

Já o vice do baiano lhe trouxe boas lembranças, um momento histórico em

participar da mais importante competição da Bahia e ainda terminar como

segundo melhor colocado.

Quanto à representação da Catuense em sua carreira profissional

alega que:

A Catuense representou tudo. Foi através da Catuense que tive a oportunidade de jogar no Qatar e em outros clubes. Comecei a minha carreira nessa equipe e tenho muito orgulho em falar isso. Esse clube sempre vai morar no meu coração. (INFORMAÇÃO ORAL).

Elzon fala da Catuense com muita alegria e saudade. De acordo com

ele, iniciar a carreira, participar de jogos importantes desse clube abriu as

portas para que o mesmo pudesse desenvolver o seu trabalho em outros

times nacionais e do exterior.

4 Depoimento obtido através de entrevista com o ex-jogador Elzon dos Santos, em 25 de agosto de

2011.

Page 61: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

61

Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da

Catuense?

Foi a realização da inauguração do Estádio Municipal Antônio Pena, onde disputamos um jogo amistoso contra a equipe do Peñarol do Uruguai e vencemos a partida por 2 a 1 em casa.(INFORMAÇÃO ORAL).

O ex-jogador, assim como o fundador da Catuense credita o momento

que ficará na memória dos sujeitos sociais do clube, a inauguração do

estádio Municipal Antônio Pena e a vitória contra um time grande de outro

país. Além de ter representado uma melhora qualitativa na infra - estrutura

da Catuca, esse estádio se tornou símbolo da cidade de Catu e um grande

orgulho para a sua população que via nesse local, diversão e

entretenimento.

Para Elzon dos Santos, a atual situação da Catuense é muito triste.

Para ele, o clube deveria está disputando a 1ª divisão do Campeonato

Baiano, e ainda é considerada a terceira força do futebol da Bahia. Ressalta

ainda que apesar das dificuldades Antonio Pena está conseguindo manter a

base que é o alvo principal dos seus dirigentes. A tristeza do entrevistado é

a mesma que assola todos os torcedores da Catuense. Ver um time que foi

tão vitorioso em outros tempos passar por tamanha dificuldade e

esquecimento. Ele alega que depois do Bahia e do Vitória, a Catuense é o

terceiro melhor time da Bahia e reforça a idéia do fundador e da atual

presidente no trabalho com a base, dizendo que a manutenção da escolinha

é a meta para os seus gestores.

Enfim, procurou-se saber três medidas que ele tomaria para trazê -la

de volta ao destaque no cenário esportivo, caso assumisse a direção do

clube:

Continuaria com o trabalho nas divisões de base, aproveitando os garotos; contrataria uma equipe boa e competitiva, um treinador que viesse ajudar a Catuense;

Page 62: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

62

permaneceria com a mesma diretoria que está tendo um ótimo desempenho. (INFORMAÇÃO ORAL).

Observa - se que no seu depoimento o ex - jogador pouco mudaria a

realidade atual da Catuense. A escolinha seria mantida sendo o objetivo

maior do clube, permaneceria com o mesmo corpo de gestores, ficando a

inovação no que diz respeito ao time propriamente dito, traria novos

jogadores e um ótimo treinador. Esse planejamento ainda que não

estruturado apontado por Elzon vai de encontro a opinião de (PEREIRA,

RESENDE, CORRAR; et al, 2004), quando relata que o planejamento é o

processo que define as ações necessárias para enfrentar situações e atingir

meta. O modelo de gestão é caracterizado pela segmentação das partes que

interagem entre si e dá suporte à decisão. No planejamento estratégico são

identificados os pontos fortes e fracos, as ameaças e as oportunidades das

atividades empresariais, necessárias as decisões que definem os destinos

de produtos e serviços e em conseqüência o êxito ou o fracasso das

organizações.

Existem características que podem se tornar cruciais para o sucesso

de um modelo de gestão, onde deve haver o estabelecimento de princípios e

valores em prol dos objetivos estratégicos da empresa. A manutenção dos

gestores atuais pode determinar a forma como a empresa é administrada.

Inclui conhecimentos já adquiridos a cerca do processo de planejamento e

controle, observa - se o nível de autonomia dos gestores, as avaliações de

desempenho e as questões relacionadas à postura gerencial.

O presente estudo também contou com a participação de Raimundo

da Glória, ex - jogador do clube, mais conhecido como Deco que através de

Antônio Pena iniciou a carreira no Atlético de Alagoinhas com 17 anos, onde

se tornou profissional com a mesma idade. Em 1979, saiu do Atlético e foi

para a até então Associação Esportiva Catuense. Para ele o título mais

importante conquistado pelo clube durante a sua passagem foi o

Campeonato de Acesso de Profissionais da Segunda divisão de 1980, onde

a equipe se consagrou de forma invicta e garantiu o acesso a 1ª divisão do

campeonato baiano.

Page 63: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

63

Antônio Pena teve grande influência na carreira de Deco, pois foi

através do fundador da Catuense que ele se transformou de um jogador

júnior para um jogador profissional. Segundo o ex - jogador, a conquista

invicta que levou o clube rumo à primeira divisão da competição baiana

configura - se como o título de mais expressão quando o mesmo era atleta.

Quando se pergunta o que a Catuense representou na sua carreira

profissional diz:

A Catuense representou muito pra mim, porque jogando na Catuense tive muitas alegrias. Fui honrado em jogar contra jogadores como: Zico, Adílio, Andrade, Lico e vários outros craques. Esse jogo contra o Flamengo foi em 1988, pouco tempo depois do Flamengo ter sido Campeão do Mundo. (INFORMAÇÃO ORAL) 5.

Conforme Raimundo da Glória, a Catuca lhe possibilitou grandes

alegrias e momentos marcantes. Como foi citado por ele, o amistoso entre a

Catuense e o Flamengo em 1988, marcou a sua carreira profissional, onde

teve a oportunidade de jogar contra o Flamengo o mais querido do Brasil e

seus jogadores que fizeram história, após o título de melhor time do mundo

em 1988, no Mundial de Clubes. O resultado foi o melhor, daí o tamanho do

acontecimento: a catuense venceu o flamengo pelo placar de 2 a 1.

Segundo Raimundo da Glória, o direito de disputar a 1ª divisão do

campeonato baiano e a possibilidade de está entre os melhores da Bahia

significaram o momento histórico da Catuense enquanto jogador do clube.

Interrogado sobre a situação que o clube está vivenciando nos dias

atuais, entende:

[...] não é boa. A Catuense caiu para a 2ª divisão do campeonato baiano. Antônio Pena que arcou com todas as

5 Depoimento obtido através de entrevista com o ex-jogador Raimundo da Glória, em 25 de agosto de

2011.

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64

despesas não vai ter mais condições de manter o clube só, porque hoje é uma empresa. A Catuense tem que arranjar vários patrocinadores para poder começar nas divisões de base e depois voltar a disputar a segundona e tentar a promoção à elite do futebol baiano. (INFORMAÇÃO ORAL).

A atual posição da Catuense traz muita tristeza para quem viveu

tantas alegrias no clube. Está fora da elite do futebol baiano e não ter

patrocinadores resumem o momento complicado do time. Todos os

entrevistados mencionaram as divisões de base como sendo a única saída

para reverter a realidade em que se encontra o clube e as dificuldades da

falta de investidores.

Quanto às três medidas que o ex-jogador tomaria caso assumisse a

diretoria do clube para trazer o mesmo de volta ao cenário esportivo atual

afirma que:

A primeira medida seria procurar patrocinadores para começar do zero... é estrutura, academia, divisões de base, infantil, juvenil e um time profissional e competitivo para ser campeão da segundona do baiano. A segunda medida seria fazer uma diretoria forte, para procurar vários patrocinadores, não só aqui em Catu, mas em todo o Brasil. A terceira constituiria já com essa estrutura fazer uma sede em Catu. A Catuense é um time que tem que vim para Catu. O povo de Catu tem que incentivar, ajudar e o comércio investir mais nesse clube. (INFORMAÇÃO ORAL).

Por fim, Deco apresentou as suas medidas caso se tornasse um dos

diretores da Catuense para fazê - la ressurgir nas práticas futebolísticas do

estado. Diferentemente de Elzon dos Santos, Raimundo da Glória faria

grandes mudanças. Montaria uma infra - estrutura de respeito e de grande

porte, pois entende que isso pode interferir no desempenho do time nas

disputas, esperando sempre a evolução do mesmo. Na diretoria, buscaria

pessoas capazes de adquirirem patrocinadores para a Catuense não só no

estado, mas também no país. E para finalizar ele, com todo amparado

estrutural construiria uma sede do clube na cidade de Catu, acreditando que

Page 65: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

65

é nesse lugar que a Catuense vai prosperar com a ajuda do comércio

patrocinando e o incentivo do povo catuense que sempre apoiou o time

quando o mesmo pertencia ao município.

A nova administração proposta pelo ex-jogador vai de encontro ao que

alega Fernandes (2000, p. 22):

A atual administração dos times dos times de futebol não tem compelido seus administradores a atenderem tais exigências. Essa deficiente administração é atribuída, pelos autores, à penúria financeira em que a grande maioria se encontra, acrescentado - se a isso a total estagnação de idéias e a prática arcaica de administrar.

A busca por novos mercados consumidores, a atuação de grupos

econômicos auxiliando a Catuense e a construção de espaços físicos

amplos e de primeira linha necessitam de uma gestão especializada

firmadas na mercantilização do futebol a fim de contribuir para a

transformação da realidade do clube em questão.

Page 66: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

66

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em todo o Brasil existem clubes de futebol que por muito tempo

fizeram sucesso e que por diferentes motivos econômicos, culturais e

políticos vivem tempos difíceis e incertos.

A gestão do futebol apresenta características que a distingue da

gestão de outras atividades econômicas e de serviços. Tal diferença decorre

principalmente de fatores culturais e emocionais que invariavelmente

interferem nas decisões tomadas pelos gestores, do complexo mundo do

futebol. Sob este aspecto, observa-se que os clubes de futebol necessitam,

cada vez mais, adotar sistemas de informações que ofereçam subsídios e

auxiliem na tomada de decisão racional.

A carência de registros históricos dificultou o desenvolvimento da

presente investigação e limitou um melhor entendimento acerca da história e

perspectiva da Catuense. Ainda assim, é possível reconhecer que mesmo

com sua situação contábil organizada, a forte influência política tem mudado

a história do clube. Contradições entre os gestores/familiares, antagonismo

na sistematização de idéias de seus dirigentes e a falta de investidores, são

os principais fatores que hoje limitam a participação de Catuense no cenário

do futebol baiano.

Este trabalho monográfico revelou parte dessas dificuldades vividas

pela Catuense e como o time caiu na (in)visibilidade no âmbito do futebol

baiano. Ficou também evidente que o declínio da Catuense deve-se ainda

as grandes mudanças do futebol, impostas em grande medida, pela tele-

espetacularização no esporte. Constatou-se que esse clube teve grande

destaque no futebol baiano conquistou títulos e disputou partidas

importantes em campeonatos nacionais, porém nos dias atuais, o seu futuro

está indefinido e esse fato está diretamente relacionado com os diferentes

olhares dos seus gestores.

Page 67: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

67

Portanto, acredita-se que discussões prévias, de propostas mais

maduras e a resolução dos conflitos entre as tendências internas, possam

viabilizar a solidificação de uma proposta minimamente acertada em respeito

à continuidade da prática futebolística de sucesso da Catuense Futebol S/A.

Espera-se que esse estudo possa contribuir na reflexão do tema e

desperte a necessidade da organização da memória e acervo público do

clube. As informações levantadas e as histórias dos sujeitos sociais da

Catuense (entrevistas e documentos), certamente nos permitem reconhecer

história de jogadores, a abnegação do seu presidente e a paixão de

saudosos torcedores que sonham em rever a Catuense Futebol S/A a altura

da sua breve história no futebol.

Page 68: Catuense Futebol S.A: história de clube nômade

68

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ANEXOS

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ANEXO A – ESCUDO ANTIGO DO CLUBE

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ANEXO B – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1984

ANEXO C – ÔNIBUS DA CATUENSE FUTEBOL S/A

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ANEXO D – ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA CATUENSE NO ANO DE 1985

ANEXO E – CATUENSE X VITÓRIA

(PARTIDA VÁLIDA PELO ESTADUAL DE 2003)

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ANEXO F – HINO DA CATUENSE FUTEBOL S/A

Quando o meu Bem-te-vi entra em campo, bate forte o meu coração,

E a torcida toda gritando: Catuense é o campeão.

Sua história repleta de glorias, futebol que dá gosto de ver,

Catuense seu lema é a vitória, vamos juntos pra frente vencer.

Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir,

Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir.

É gol! É gol! A Catuense nasceu pra vencer,

É gol! É gol! Eternamente meu bem-querer.

Quando o meu Bem-te-vi entra em campo, bate forte o meu coração,

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E a torcida toda gritando: Catuense é o campeão.

Sua história repleta de glorias, futebol que dá gosto de ver,

Catuense seu lema é a vitória, vamos juntos pra frente vencer.

Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir,

Catuca, meu, meu bem-te-vi, a laranja mecânica faz a galera explodir.

É gol! É gol! A Catuense nasceu pra vencer.

É gol! É gol! Eternamente meu bem-querer.

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APÊNDICES

APÊNDICE A- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado na

pesquisa de campo referente ao tema CATUENSE FUTEBOL S.A.:

HISTÓRIA DE UM CLUBE NÔMADE desenvolvida no curso de Educação

Física da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus II –

Alagoinhas. Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é orientada pelo Dr.

Augusto Cesar Rios Leiro com a autoria de Ariane Boaventura Pinto.

Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber

qualquer incentivo financeiro e com a finalidade exclusiva de colaborar para

o sucesso da pesquisa. Fui informado dos objetivos estritamente

acadêmicos do estudo, que, em linhas gerais é compreender a história da

Catuense da sua origem até a contemporaneidade, bem como, suas

contribuições para o crescimento do futebol baiano.

Minha colaboração se fará de forma identificada, por meio de

entrevista semi-estruturada a ser gravada a partir da assinatura desta

autorização. O acesso e a análise dos dados coletados se farão de forma

ética como parte integrante do Trabalho de Conclusão do Curso de

Educação Física.

Alagoinhas, ____ de _________________ de _____

Assinatura do(a) participante: ______________________________

Assinatura da pesquisadora: _______________________________

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APÊNDICE B - ENTREVISTA COM ANTONIO PENA (FUNDADOR DO

CLUBE)

1. O que motivou o grupo fundador da Catuense a tomar a iniciativa de

criá-la?

2. Quem participou da fundação do clube e como se deu essa

participação?

3. Após a criação do clube, o senhor imaginou que a catuense se

tornaria uma das grandes forças do futebol baiano?

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4. Considerando o apogeu e o declínio do time, qual teria sido o divisor

de águas destas duas fases?

5. Na sua opinião, quais fatores levaram à transferência da sede da

catuense para outra cidade?

6. Durante a sua gestão, qual foi o momento mais importante da história

da catuense?

7. Quais foram as dificuldades encontradas durante o processo de

formação da catuense?

8. Como está sendo a atual administração? Quais são as semelhanças e

diferenças da sua gestão e da atual presidente?

APÊNDICE C - ENTREVISTA COM MARIA APARECIDA PEREIRA PENA

(ATUAL PRESIDENTE DO CLUBE)

1. Como a senhora percebe a integração da Catuense ao cenário

esportivo atual?

2. Qual foi a sua maior dificuldade encontrada após assumir a

presidência da Catuense?

3. Você sempre teve vontade de fazer parte da diretoria da Catuense?

Como surgiu esse interesse?

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4. Quais são as possibilidades existentes para o retorno da Catuense à

elite do futebol baiano?

5. Como funciona a política interna do clube?

6. Em relação à infra-estrutura, como se encontra a Catuense?

7. Quais são os planos da diretoria do clube para os futuros atletas da

escolinha da Catuense?

8. Na sua opinião, nos próximos anos os times do futebol baiano terão

maior visibilidade nacional?

9. O que os times baianos devem fazer para conquistarem espaço no

cenário nacional?

10. Quantos alunos são atendidos na escolinha?

APÊNDICE D - ENTREVISTA COM RAIMUNDO DA GLÓRIA (EX -

JOGADOR DO CLUBE)

1. Como e quando você se tornou atleta da Catuense?

2. Qual foi o título mais importante conquistado pelo clube durante a sua

passagem pelo mesmo?

3. O que a Catuense representou na sua carreira profissional?

4. Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da

Catuense?

5. Como você analisa a atual situação da Catuense?

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6. Caso, você assumisse a direção da Catuense, cite três medidas que

você tomaria para trazê-la de volta ao destaque no cenário esportivo.

APÊNDICE E - ENTREVISTA COM ELZON DOS SANTOS (EX-JOGADOR

DO CLUBE)

1. Como e quando você se tornou atleta da Catuense?

2. Qual foi o título mais importante conquistado pelo clube durante a sua

passagem pelo mesmo?

3. O que a Catuense representou na sua carreira profissional?

4. Qual foi o momento histórico que você presenciou sendo atleta da

Catuense?

5. Como você analisa a atual situação da Catuense?

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6. Caso, você assumisse a direção da Catuense, cite três medidas que

você tomaria para trazê-la de volta ao destaque no cenário esportivo.