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ORIENTAÇÃO JURÍDICA N.º 02/2015 – CAU/RS Esclarecer e estabelecer orientação conceitual para a fiscalização do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Rio Grande do Sul acerca das instituições de ensino superior de arquitetura e urbanismo. Considerando as disposições da Lei Federal nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010; Considerando as disposições da Resolução nº 28 do CAU/BR, de 06 de julho de 2012; Considerando a necessidade de orientar os arquitetos e urbanistas que atuam na fiscalização do exercício profissional; Considerando a necessidade de provê-los de argumentos jurídicos que auxiliem no exercício do poder de polícia administrativa; Considerando a Comunicação Interna da Unidade Técnica nº 018/2014, na qual se solicita análise jurídica sobre o pedido de registro no CAU/RS do escritório modelo de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário UNIVATES; Considerando a necessidade de estabelecer uma orientação conceitual sobre o tratamento uniforme dos escritórios modelo das faculdades pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo no Estado do Rio Grande do Sul; e Considerando ser atribuição da Assessoria Jurídica: oferecer segurança jurídica, proteção legal e defender os interesses do CAU/RS nos âmbitos judiciais ou extrajudiciais de qualquer natureza; orientar sistematicamente a Instituição quanto a assuntos legais; atuar em ___________________________________________________________________________________ ____ Rua Dona Laura, nº 320, 14º andar, bairro Rio Branco - Porto Alegre/RS - CEP: 90430-090 | Telefone: (51) 3094.9800 | www.caurs.gov.br 1

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ORIENTAÇÃO JURÍDICA N.º 02/2015 – CAU/RS

Esclarecer e estabelecer orientação conceitual

para a fiscalização do Conselho de Arquitetura e

Urbanismo (CAU) do Rio Grande do Sul acerca

das instituições de ensino superior de arquitetura

e urbanismo.

Considerando as disposições da Lei Federal nº 12.378, de 31 de dezembro de 2010;

Considerando as disposições da Resolução nº 28 do CAU/BR, de 06 de julho de 2012;

Considerando a necessidade de orientar os arquitetos e urbanistas que atuam na fiscalização do exercício profissional;

Considerando a necessidade de provê-los de argumentos jurídicos que auxiliem no exercício do poder de polícia administrativa;

Considerando a Comunicação Interna da Unidade Técnica nº 018/2014, na qual se solicita análise jurídica sobre o pedido de registro no CAU/RS do escritório modelo de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário UNIVATES;

Considerando a necessidade de estabelecer uma orientação conceitual sobre o tratamento uniforme dos escritórios modelo das faculdades pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo no Estado do Rio Grande do Sul; e

Considerando ser atribuição da Assessoria Jurídica: oferecer segurança jurídica, proteção legal e defender os interesses do CAU/RS nos âmbitos judiciais ou extrajudiciais de qualquer natureza; orientar sistematicamente a Instituição quanto a assuntos legais; atuar em ações propostas por ou em face da autarquia, através de análise de conteúdos, avaliação de riscos e impacto das medidas a sugerir, no que se referem a negócios, operação, políticas de atuação, demandas, comprometimentos, inversões e demais atividades a que se dedica o CAU/RS; analisar contratos;

A ASSESSORIA JURÍDICA DO CAU/RS, no uso de suas atribuições, orienta:

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I. Do registro obrigatório na Lei nº 12.378/2010:

A Lei 12.378/2010 dispõe sobre a obrigatoriedade do registro profissional junto aos Conselhos de Arquitetura e Urbanismo das Unidades Federativas (CAU/UFs) e dedica dois dispositivos ao tema. A obrigatoriedade do registro do arquiteto e urbanista (pessoa natural) está insculpida no art. 5º, enquanto a obrigatoriedade do registro da sociedade de prestação de serviços de arquitetura e urbanismo vem expressa no art. 10, parágrafo único.

Assim, a Lei 12.378/2010 estabelece a obrigatoriedade do registro:a) às pessoas naturais dos arquitetos e urbanistas eb) às sociedades de arquitetura.

Nesse contexto, andaria melhor a Lei 12.378/2010 se houvesse previsto, em vez de sociedades de prestação de serviço, pessoas jurídicas de direito privado que exercem atividades econômicas relacionadas com arquitetura e urbanismo; ou seja, não apenas as sociedades simples de arquitetura, mas também as sociedades limitadas/anônimas e as empresas/empresários individuais.

O legislador, contudo, assim não o fez, deixando lacunas a serem preenchidas.

Ocorre que o art. 7º da Lei 12.378/2010 abre o leque, ao referir que toda a pessoa física e jurídica que realizar atos ou prestar serviços de arquiteto e urbanista sem possuir registro no CAU incorre em exercício ilegal da profissão. Logo, e a contrário senso, depreende-se que o art. 7º impõe a exigência de que “toda a pessoa física ou jurídica” que realiza atos ou presta serviços de arquitetura e urbanismo deve possuir registro no CAU.

Oportuno destacar que o art. 7º, ao mencionar pessoa jurídica, não discrimina se está tratando de pessoa jurídica de direito público ou pessoa jurídica de direito privado. Assim, simplesmente, toda a pessoa jurídica que realiza atos ou presta serviços de arquitetura e urbanismo deverá ter registro no CAU.

É notório, entretanto, que quando nos referimos às pessoas jurídicas, não devemos nos ater tão somente às sociedades simples de arquitetura. Além dessas, existe uma enorme variedade de tipos de pessoas jurídicas de direito privado que podem realizar atos ou prestar serviços de arquitetura e urbanismo e que não foram expressamente mencionadas pela Lei 12.378/2010 como obrigadas ao registro, mas que por força do art. 7º devem possuir registro no CAU. Exemplo, disso são as sociedades empresárias de arquiteturas (limitadas e anônimas), as empresas individuais de arquitetura (Eirelis) e as sociedades de propósito específico.

Raro é que uma pessoa jurídica de direito público exerça atividades de arquitetura e urbanismo, razão pela qual o art. 7º deve ser interpretado restritivamente, especialmente quando se refere a “toda pessoa jurídica”.

A questão é que raramente se apresentará um caso de fundação, ou de associação, de autarquia, que tenha como finalidade social a realização ou prestação de serviços de arquitetura e urbanismo, porquanto essas pessoas jurídicas possuem finalidades sociais outras. Por exemplo,

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fundações são constituídas para finalidades culturais, morais, religiosas e de assistência. Talvez seja por esse motivo que o legislador preferiu mencionar que o registro obrigatório é para as sociedades de prestação de serviços de arquitetura e urbanismo.

II. Da obrigatoriedade de registro na Resolução nº 28 do CAU/BR:

O certo é que o legislador brasileiro, ao editar a Lei 12.378/2010 e tratar da obrigatoriedade do registro no CAU, preocupou-se, como vimos, especialmente, com a pessoa natural dos arquitetos e com as sociedades prestadoras de serviços de arquitetura, deixando uma enorme lacuna quanto à disciplina do registro para outros tipos de pessoas jurídicas de direito privado e de direito público que, eventualmente, também realizam atos ou prestam serviços de arquitetura e urbanismo.

Em seu poder regulamentar, o CAU/BR editou a Resolução nº 28, buscando complementar a Lei 12.378/2010. Entretanto, se o legislador tratou de assinalar na Lei 12.378/2010 que toda pessoa física e jurídica que atue em campos de atribuição dos arquitetos e urbanistas terá de possuir registro no CAU para não incorrer em exercício ilegal, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, por meio da Resolução nº 28, de 06 de julho de 2012, buscou melhor definir quem são essas pessoas jurídicas obrigadas ao registro.

Para tanto, o art. 1º da Resolução nº 28 andou bem ao estabelecer que ficam obrigadas ao registro as pessoas jurídicas que tenham por objetivo social o exercício de atividades de arquiteto e urbanistas. E discrimina essas pessoas jurídicas da seguinte forma:

I - as pessoas jurídicas que tenham por objetivo social o exercício de atividades profissionais privativas de arquiteto e urbanistas;II - as pessoas jurídicas que tenham em seus objetivos sociais o exercício de atividades privativas de arquitetos e urbanistas cumulativamente com atividades em outras áreas profissionais não vinculadas ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo;III - as pessoas jurídicas que tenham em seus objetivos sociais o exercício de atividades de arquitetos e urbanistas compartilhadas com outras áreas profissionais, cujo responsável técnico seja arquiteto e urbanista.

Ora, sabe-se que somente as pessoas jurídicas de direito privado é que podem ter por objetivo social o exercício de atividades de arquitetos e urbanistas. Não há como pessoas jurídicas de direito público terem esses objetivos. Os entes federativos (União, Estados, Municípios e Distrito Federal), por exemplo, possuem “objetivos transcendentais”, compartilhando entre si os objetivos fundamentais republicanos previstos no art. 3º da CF.

Entretanto, a Resolução nº 28 teria andado bem se ficasse adstrita às pessoas jurídicas de direito privado que exercem atividades econômicas de arquitetura e urbanismo.

A questão é que a Resolução nº 28 do CAU/BR vai além – e a meu ver, exorbitando o poder regulamentar –, porquanto regulamenta a obrigatoriedade de registro de uma enorme gama

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de pessoas jurídicas, inclusive as de direito público, incluindo entes federativos, autarquias, fundações e etc.

Vejamos o disposto:

Art. 20. A pessoa jurídica que, na forma de seus atos constitutivos ou em razão do objeto social ou das atividades efetivamente desenvolvidas, mantenha seção técnica por meio da qual preste ou execute, para si ou para terceiros, obras ou serviços técnicos que se enquadrem nas atividades, atribuições ou campos de atuação profissional da Arquitetura e Urbanismo, está obrigada ao registro da referida seção no CAU/UF da localidade da sua sede.§ 1° Enquadram-se na situação deste artigo as seções técnicas das pessoas jurídicas de direito privado e das de direito público, dos órgãos da administração direta, das autarquias e das fundações que desenvolvam atividades privativas de arquitetos e urbanistas ou compartilhadas entre estes e outras profissões regulamentadas, no caso de terem entre seus responsáveis técnicos arquitetos e urbanistas.§ 2° As pessoas jurídicas referidas no parágrafo anterior deverão fornecer ao CAU/UF, sem qualquer ônus para o conselho, todas as informações necessárias à verificação e fiscalização do exercício profissional da Arquitetura e Urbanismo. (grifei)

O abuso no poder regulamentar é fácil de ser compreendido, pois, se a Lei 12.378/2010 disciplina a obrigatoriedade do registro tão-somente para a pessoa natural do arquiteto e urbanista e para a pessoa jurídica de direito privado (sociedade) que preste serviços na área da arquitetura e urbanismo, não poderia a Resolução nº 28, em seu art. 20, disciplinar que também estão obrigadas ao registro as pessoas jurídicas de direito público (Estados, Municípios, União, Autarquias, Fundações Públicas) que sequer possuem como objetivos sociais o exercício de atividades profissionais privativas de arquitetos e urbanistas.

Sem embargo, o art. 20 da Resolução nº 28 do CAU/BR deve ser interpretado em conformidade com a Lei 12.378/2010. Levando-se em conta os dispositivos da Lei 12.378/2010, é possível perceber que a obrigatoriedade de registro é para pessoas jurídicas de direito privado que possuam por objetivo social a prestação de serviços de arquitetura e urbanismo. Não há que se falar em obrigatoriedade de registro para pessoas jurídicas de direito público. Tampouco há que se falar em obrigatoriedade de registro para as pessoas jurídicas de direito privado que não tenham por objetivo social o exercício de atividades na área de arquitetura.

A ideia que parece ter norteado o legislador é que somente devem registrar-se no CAU as pessoas jurídicas de direito privado que exercem economicamente atividades de arquitetura e urbanismo e os próprios arquitetos e urbanistas. Assim, não se poderia exigir por resolução que entes federativos (Municípios, Estados, DF e União), fundações públicas, fundações privadas, autarquias e associações tenham obrigação de registro no CAU. Se o registro dessas pessoas jurídicas fosse exigido, aplicando-se pura e simplesmente o art. 20 da Resolução nº 28, o CAU teria

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de registrar todos os Municípios do Rio Grande do Sul, o Estado, a União, Fundações como a UFRGS, autarquias com o IPHAN e o IPHAE, Ministério Público, INSS, e assim por diante, porquanto todas as pessoas jurídicas embora não exerçam precipuamente atividades de arquitetura e urbanismo, possuem seções técnicas na área da arquitetura.

III. Da Lei de Diretrizes e Bases da Educação:

As instituições de ensino superior comportam algumas peculiaridades.

Ainda que a Lei 12.378/2010 estabeleça no art. 2º, VIII, que o ensino, a pesquisa, a extensão universitária e o treinamento também são atividades e atribuições de arquitetos e urbanistas, é preciso observar que as universidades brasileiras gozam, constitucionalmente, de liberdade para ensinar (art. 206, II, da CF), desde que autorizadas pelo Poder Público e cumpridas as normas gerais da educação nacional (art. 209 da CF).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996) confere à União a competência para autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

A respeito da autonomia de que gozam as instituições de ensino superior, estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE):

Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes atribuições:I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei, obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino;II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes;III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão; (grifei)(...)

Não há na LDBE norma que condicione o ensino, a pesquisa e a extensão universitária ao registro da instituição de ensino superior no Conselho de Fiscalização Profissional. Tampouco a Lei 12.378/2010 prevê esta obrigatoriedade. Assim, não havendo obrigação legal, não deveria o CAU/BR por resolução exigi-la. Se assim o fez, é porque exorbitou no poder regulamentar.

Os Conselhos Profissionais não podem interferir na autonomia das universidades. Nesse sentido, o Decreto Federal nº 5.773/2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino, prevê no art. 69 que “o exercício de atividade docente na educação superior não se sujeita à inscrição do professor em órgão de regulamentação profissional”. O referido Decreto, em seu art. 28, refere ainda que as universidades e centros universitários independem de qualquer outra autorização para funcionamento de curso superior.

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é enfático ao dizer que os Conselhos Profissionais não possuem competência para se imiscuírem em aspectos da formação acadêmica. O STJ afirma que a União é o Ente Público responsável por autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino.

No Recurso Especial nº 1.453.336-RS, julgado em 04/09/2014, a 1ª Turma do STJ examinou o papel dos Conselhos de Fiscalização Profissional perante as instituições de ensino e manifestou o entendimento de que aos Conselhos Profissionais, de forma geral, cabem tão-somente a fiscalização e o acompanhamento das atividades inerentes ao exercício da profissão, o que não engloba nenhum aspecto relacionado à formação acadêmica.

Vejamos algumas jurisprudências colacionadas pelo ministro relator Napoleão Nunes Maia Filho ao proferir voto, no RESP 1.453.336-RS:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DESCREDENCIAMENTO DE INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL PELO CONFEA. CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA. CANCELAMENTO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO. INCOMPETÊNCIA. ATO ILEGAL. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

À luz do que dispõe a Lei 9.394⁄96, em seus arts. 9º., inciso IX, e 80, § 2º., a União é o Ente Público responsável por autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar os cursos das instituições de educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de ensino , bem como regulamentar os requisitos para o registro de diplomas de cursos de educação à distância. Estas funções são desempenhas pelo Ministério da Educação, pelo Conselho Nacional de Educação - CNE, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP, e pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior - CONAES, nos termos do Decreto 5.773⁄06. (grifei)

Aos conselhos profissionais, de forma geral, cabem tão-somente a fiscalização e o acompanhamento das atividades inerentes ao exercício da profissão, o que certamente não engloba nenhum aspecto relacionado à formação acadêmica. Esta compreensão não retira o papel fiscalizador do CONFEA no tocante aos cursos superiores de Engenharia e Agronomia; muito pelo contrário, esta tarefa é deveras relevante, porquanto qualquer irregularidade descoberta deve ser imediatamente comunicada ao Ministério da Educação, a fim de que tome as atitudes pertinentes. (grifei)(...)

Denota-se límpido que em momento algum as normas de regência da educação nacional entregaram aos Conselhos Profissionais o encargo de fiscalizar a regularidade dos cursos superiores ou de especializações ministrados por instituições de ensino; uma vez

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autorizado pelo Ministério da Educação, o curso deve ser aceito como válido até que o órgão competente diga o contrário. (grifei)(...)

A propósito desta temática, este Superior Tribunal de Justiça já se manifestou em situações similares e reafirmou a incompetência dos Conselhos Profissionais para se imiscuirem em aspectos relacionados à formação acadêmica. Neste sentido: (grifei)(...)

Em face do princípio da legalidade, assentou o E. STF: O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Odontologia têm apenas o poder de polícia do exercício profissional, mas não têm o poder de regulamentar a profissão, que é reserva da Lei, pois não são os Conselhos que conferem habilitação profissional aos cirurgiões-dentistas, eles apenas a registram, para efeito do controle do exercício profissional. A exigência de registro da especialidade odontológica para permitir o anúncio do exercício dela, deve se conter, portanto, nos limites da habilitação do profissional e não exigir créditos curriculares que dizem respeito mais ao ensino do que à regulamentação profissional (RE 94.441⁄RJ, Rel. Ministro Néri da Silveira, DJ de 07.10.1983). (grifei)

A manutenção do ato coator conduziria ao extremo de se admitir que os Conselhos Profissionais pudessem estabelecer e escolher quais as instituições de ensino superior que teriam os seus graduados registrados junto àqueles conselhos.(...)

À luz das normas da LDBE e das razões de decidir acima apresentadas, depreende-se que os Conselhos Profissionais não podem interferir nos assuntos acadêmicos das Universidades. Se o fizerem, o ato praticado pelos Conselhos é ilegal por ausência de competência.

IV. Do registro do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo:

O requerimento de registro do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo de qualquer centro universitário comporta algumas peculiaridades a serem consideradas.

Os Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo, vinculados às Instituições de Ensino Superior, ainda que sejam considerados laboratórios de ensino, prestam serviços na área da arquitetura e urbanismo e possibilitam a prática da arquitetura.

O CAU, como já suficientemente demonstrado, não pode imiscuir-se nos assuntos acadêmicos e tampouco obrigar ao registro as atividades docentes na área da arquitetura. Entretanto, quando as atividades acadêmicas se voltam para o exercício da arquitetura, o CAU deve comunicar o Ministério da Educação, que detém a competência para fiscalizar o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, e solicitar providência no sentido de corrigir a irregularidade.

A irregularidade decorre do art. 7º da Lei 12.378/2010, que prevê considera ser exercício ilegal da profissão a prática de ato ou a prestação de serviço por pessoa física ou jurídica

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sem registro no CAU. Desse modo, o registro do Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da instituição de ensino não decorre do art. 20 da Resolução nº 28 do CAU/BR, mas do art. 7º da Lei 12.378/2010.

Nos casos em que há realização de atos ou a prestação de serviços de arquitetura, o requerimento de registro do Escritório Modelo deve ser deferido. Esse registo, todavia, não representa nenhuma interferência desse Conselho Profissional quanto ao ensino acadêmico desenvolvido pela Instituição de Ensino Superior. Como já foi dito, ao conselho profissional, de forma geral, compete tão-somente a fiscalização e o acompanhamento das atividades inerentes ao exercício da profissão, o que não engloba nenhum aspecto relacionado à formação acadêmica.

V. Conclusões:

Pelos argumentos expostos, conclui-se que:

A atividade de ensino superior é regrada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/1996) e pelo Decreto 5.773/2006, e, em nenhum momento, estes dois instrumentos normativos submetem o exercício das atividades acadêmicas ao registro nos Conselhos de Fiscalização Profissional. No Brasil, a instituições de ensino superior gozam de liberdade constitucional para o ensino, além de autonomia didático-científica.

O Decreto 5.773/2006 estabelece expressamente que o exercício de atividade docente na educação superior não se sujeita à inscrição do professor em órgão de regulamentação profissional. Logo, não há necessidade do docente de arquitetura estar registrado no CAU e tampouco realizar registro de responsabilidade técnica de suas atividades docentes.

O art. 20 da Resolução do CAU/BR configura abuso de poder regulamentar, devendo o caput e os parágrafos ser interpretados de acordo com a Lei 12.378/2010.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação não obriga as instituições de ensino a manter registro nos conselhos para exercer qualquer atividade de ensino superior. Da mesma forma, a Lei 12.378/2010, quando tratou da obrigatoriedade do registro, voltou-se tão-somente para a pessoa natural dos arquitetos e para as sociedades prestadoras de serviços de arquitetura, não prevendo tal obrigatoriedade para as instituições de ensino superior.

Embora as atividades dos Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo das Instituições de Ensino Superior, estejam inseridas em um contexto de formação acadêmica, sendo considerados laboratórios de ensino, quando há prestação de

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serviços na área da arquitetura cabe ao CAU/RS a fiscalização do exercício profissional e tão-somente disso.

Havendo requerimento voluntário de registro no CAU/RS pela instituição de ensino superior, em virtude de que há prestação de serviços de arquitetura e urbanismo por seção técnica denominada Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU), ainda que essa prestação esteja restrita a projetos de cunho social e em parceria com prefeituras e com comunidades carentes do município, é possível o deferimento do registro em nome da pessoa jurídica de direito privado e a cobrança da respectiva anuidade. Tal registro encontra amparo no art. 7º da Lei 12.378/2010 que prevê incorrer em exercício ilegal da profissão a pessoa jurídica que presta serviços de arquitetura sem registro no CAU.

Para a hipótese de não haver requerimento de registro voluntário, e havendo prestação de serviços de arquitetura, não poderá o CAU/RS obrigar o registro dos escritórios modelos dos cursos universitários de arquitetura, por se tratar de atividade de formação acadêmica, fiscalizada pelo Ministério da Educação. Diante dessa hipótese de exercício irregular da arquitetura pelos escritórios modelo cabe ao CAU/RS encaminhar ao Ministério da Educação as irregularidades detectadas para a regularização.

Porto Alegre, 08 de janeiro de 2015.

Mauro Vieira MacielAnalista de Nível Superior – Advogado

OAB/RS 63.951

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