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Aspectos da Construção Sustentável no Brasil e Promoção de Políticas Públicas Subsídios para a promoção da Construção Civil Sustentável

CBCS PT Aspectos Da Construcao Sustentavel 2014-Web

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  • Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas

    Subsdios para a promoo da Construo Civil Sustentvel

  • EquipE tCniCa

    GUAProf. Dr. Orestes Marracini GonalvesEng. Paula Del Nero LandiEng. Luciana Bechara Sanchez

    ENERGIAProf. Dr. Roberto LambertsEng. Edward Borgstein

    MATERIAISProf. Dr. Vanderley M. JohnProf. Dr. Bruno Lus Damineli

    PESQUISA ELETRNICA E ENTREVISTASArq. Diana Csillag

    APOIO/PARTICIPAOEng. Vanessa C. Heinrichs C. OliveiraArq. rica Ferraz de Campos

    DIAGRAMAOCapitular Design Editorial

    REVISOOlik Comunicao

    CBCS Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel

    Carlos Eduardo Garrocho de AlmeidaPresidente do Conselho Deliberativo

    rica Ferraz de Campos e Wilson Saburo HondaDiretores

    pnuMaprograma das naes unidas para o Meio ambiente

    Denise Ham Marcos de La PenhaRepresentante do PNUMA no Brasil

    Fernanda Alto DaltroResponsvel tcnica

    Ministrio do Meio ambiente

    Izabella Mnica Vieira TeixeiraMinistra do Estado do Meio Ambiente

    Regina GualdaSecretria de Articulao Institucional e Cidadania Ambiental

    Ariel Ceclio Garces ParesDiretor do Departamento de Produo e Consumo Sustentvel

    ColaBorao

    Agradecemos a todos os envolvidos e s entidades pelas contribuies feitas ao estudo Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas.

    Adeilton Santos MouraAdriana LeviskyCristina MontenegroElisete CunhaFabio FeldmannFernando PerroneFrancisco Ferreira CardosoGustavo de OliveiraHamilton LeiteLaura MarcelliniLuciana BecharaMarcelo TakaokaMarcos MaranMarcos Otavio PratesMario MonzoniMonica PortoNilson SartiPaul HouangPaulo ItacarambiRivaldo Pinheiro NetoVera Hachich

    EntidadES

    ABRAFACAssociao Brasileira de FacilitiesABRAMATAssociao Brasileira da Indstria de Materiais de ConstruoFGV-CesCentro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getlio VargasANTACAssociao Nacional de Tecnologia do Ambiente ConstrudoAsBEAAssociao Brasileira dos Escritrios de Arquitetura

    Verso 1 Novembro 2014

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    Esta publicao resultado de um trabalho desenvolvido pelo Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS), em parceria com o Ministrio do Meio Ambiente e com o Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em interlocuo com en-tidades representativas do setor.

    O documento produto de anos de refle-xes dos integrantes dos Comits de gua, Materiais e Energia do CBCS e sua elabora-o envolveu contribuies de cerca de 40 pessoas de diferentes entidades, alm de 381 participantes da pesquisa de opinio. Como resultado, apresenta uma viso integradora e multidisciplinar e prope, inicialmente, diretri-zes focadas nos temas gua, energia e mate-riais que, futuramente, podero ser ampliadas para outras reas.

    O CBCS entende que esta iniciativa fortalece sua misso de disseminar conhecimentos e boas prticas para ampliar a sustentabilidade do setor da construo civil, ressalta a impor-tncia da estruturao de polticas pblicas e estimula a evoluo de toda a cadeia produti-va. O resultado um trabalho que apresenta uma reflexo sobre as condies atuais do se-tor nas temticas citadas, aponta gargalos e desafios e rene referncias e recomendaes que podero agregar a contribuio do setor da construo ao processo de desenvolvimen-to sustentvel do pas."

    Carlos Eduardo Garrocho de Almeida Presidente do Conselho Deliberativo

    do Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel

    O Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) entende que a mudana nos padres de con-sumo e produo da humanidade urgente e apoia aes que favoream saltos nessa direo. Esta publicao apresenta o re-sultado de uma iniciativa com forte potencial de influncia nos padres de produo brasileiros, ao indicar formas de reduzir o alto impacto da construo civil uma atividade altamente demandante de matria-prima e geradora de resduos.

    O PNUMA, o Ministrio do Meio Ambiente e o Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS), oferecem, por meio dos estudos aqui relatados, subsdios para a elaborao de uma poltica nacional de construo sustentvel, atendendo s prioridades lanadas pelo Plano de Ao para Produo e Consumo Sustentveis do Brasil.

    Denise Ham Marcos de La PenhaRepresentante do PNUMA no Brasil

    A busca pela sustentabilidade no setor da construo um desafio de grandes propores. Implica o mundo todo, mas sobretudo pases como o Brasil, que vive ainda um pro-cesso de urbanizao em marcha, e tem que enfrentar, ao mesmo tempo, o enorme dfice habitacional, uma herana da desigualdade social do pas. A construo sustentvel , neste contexto, um imperativo para assegurar o equilbrio entre proteger o meio ambiente, viabilizar o crescimento econmico com incluso social e promover a justia ambiental, onde ela se faz mais urgente, nas cidades, que acolhe os menos favorecidos em condies precrias de habitalidade. Neste sentido, a es-cala do desafio ainda maior, quando se torna imprescindvel estender esse esforo ao ambiente construdo e urbano para assegurar qualidade de vida em bases sustentveis.

    A publicao o resultado de um esforo multidisciplinar e conjunto entre academia, setor pblico e privado, para subsi-diar o 2 ciclo do Plano de Produo e Consumo Sustentveis (PPCS). Tem a ambio de mobilizar as partes interessadas num debate para a constituio de uma futura estratgia nacional de promoo da construo sustentvel que precisa expres-sar-se de forma mais ampla e sistmica nas diversas polticas setoriais que tem no ambiente construdo e urbano seu objeto de ateno. , portanto, uma iniciativa de Meio Ambiente como tarefa de todos. Implica a um s tempo, por exemplo, o ar limpo, energia renovvel, gua de qualidade, saneamento adequado, servios de transporte, moradia decente, um direito de todos.

    Izabella Mnica Vieira TeixeiraMinistra do Estado do Meio Ambiente

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    Sumrio ExecutivoO estudo Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas procura organizar um diagnstico do estado atual da construo civil como subsdio para propor um conjunto de orientaes para balizar, de forma tcnica e objetiva, polticas pblicas futu-ras para contribuir com o direcionamento de prticas para uma construo mais sustentvel. Oescopo definido para o trabalho concentra-se em trs grandes reas na Construo Civil: gua, energia e materiais. A abordagem do trabalho engloba linhas prioritrias no ambiente construdo: edificaes e sistemas, com foco na demanda. Foram considerados dados de uma pesquisa virtual com profissionais do setor para agregar demandas da cadeia.

    A primeira etapa do projeto teve como objetivo compreender a atuao dos agentes envolvidos no setor da construo civil, suas necessidades e dificuldades. Para tanto foi proposta uma pesquisa que consultou os profissionais do setor. Conforme definido no escopo do trabalho, buscaram-se informaes sobre trs reas: eficincia energtica; uso racional e gesto de gua; e seleo e destinao de materiais no ambiente construdo. O objetivo da consulta aos profissionais foi identificar gargalos e demandas que sirvam de base para propostas de aes.

    A primeira concluso, obtida pelo nmero de respondentes da pesquisa vrias vezes maior que o esperado, ressaltou a importncia de haver um canal de comunicao para ouvir as demandas e necessidades do setor. Analisando os dados da pesquisa ficou claro que existem demandas comuns s trs reas estudadas, ou seja, so necessidades de todo o setor. Foram apontadas quatro linhas de ao que sero tratadas em detalhe nos relatrios especficos: (1) carncias de conhecimento, necessidade de campanhas de esclarecimento populao e demanda por maior grau de capacitao tcnica dos envolvidos; (2) necessidade de criao de ferramentas especficas; (3) necessidade de criao de incentivos e linhas de financiamentos; e (4) demanda de legislao e regulamentos especficos.

    A temtica gua tem foco principal na gesto da demanda nos edifcios, como instrumento permanente para manuteno de indicadores de consumo compatveis com regio, tipos de uso e de usurios, visando o uso eficiente da gua.

    Este documento apresenta a condio de vulnerabilidade hdrica de centros urbanos brasileiros e indica a necessidade de estabelecimento de medidas que garantam o equilbrio entre a oferta e a demanda de gua, com qualidade apropriada aos tipos de uso, como condio para que estes centros urbanos no se tornem econmica e socialmente inviveis. Sob a tica da demanda de gua, trata-se de aes de carter institucional, tecnolgico, de qualidade e sustentabilidade e de conscientizao e capacitao profissional que, em conjunto, podem contribuir para areduo dos nveis de consumo atuais.

    De acordo com dados nacionais apresentados neste documento, o consumo de gua nos centros urbanos crescente e, se mantida a tendncia dos ltimos anos, a capacidade de fornecimento de gua aos centros urbanos no ser suficiente para atender as necessidades da populao, daindstria e da irrigao, que so os principais consumidores.

    Com foco no abastecimento da populao, estudos e pesquisas realizados demonstram que a quantidade de gua fornecida superior quantidade necessria para o adequado desem-penho das atividades consumidoras. Esta condio se apresenta, entre outros, pela operao e manuteno inadequada dos sistemas prediais hidrulicos. Parte significativa da gua que abastece as edificaes descartada sem ter sido utilizada, por meio de perdas ou desperdcio.

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    O uso eficiente da gua nas edificaes reduzir significativamente a demanda de gua para abastecimento da populao, que necessita de esclarecimento e apoio tcnico para alcanar indicadores de consumo compatveis com os tipos de uso e para evitar a adoo de solues que coloquem em risco a sade pblica.

    Programas institucionais existentes de gesto da demanda de gua, para reduo do consumo de gua nos edifcios, devem ser atualizados, ampliados e implementados, atravs de articulao entre os setores pblico e privado.

    Empresas produtoras de componentes e de servios podem ser estimuladas a participar de projetos relacionados ao uso eficiente da gua atravs de incentivos fiscais ou tarifrios.

    A implantao de programas de substituio e adequao de equipamentos hidrulicos e de modernizao de sistemas hidrulicos prediais para o uso eficiente da gua, contribuir para a eliminao de perdas e desperdcio provocado por equipamentos antiquados, controle de presso e vazo e instalao de sistemas de medio do consumo para viabilizar a gesto da demanda.

    O fortalecimento e ampliao dos programas setoriais da qualidade dos produtos e servios da Construo Civil, com especial enfoque nos sistemas hidrulicos prediais, contribuir para combater a no conformidade s normas e legislao e para garantir a qualidade dos produtos e servios oferecidos populao.

    Este documento, sem esgotar o assunto, apresenta programas e prticas nacionais e interna-cionais para o uso eficiente da gua, alm de 25 recomendaes que tm o objetivo de apoiar a definio de polticas pblicas que induzam ao uso eficiente da gua nas edificaes dos centros urbanos.

    O consumo energtico de edificaes no Brasil apresenta uma tendncia de rpido crescimen-to, devido parcialmente aos aumentos no padro de conforto e servios dentro de edifcios. Osrecentes picos de demanda e altas taxas de construo de edifcios cada vez maiores e mais complexos destacam a urgncia de se aumentar a eficincia energtica neste momento, pois os sistemas instalados agora consumiro energia durante as prximas dcadas. Ao mesmo tempo, a matriz de energia eltrica est cada vez mais suja com maiores emisses de gs de efeito estufa proveniente da gerao. Alm disso, o custo da energia est aumentando; ambas as tendncias esto sendo intensificadas no curto prazo devido a recente escassez de chuva.

    O uso racional de energia considerado internacionalmente como o Primeiro Combustvel, a melhor oportunidade para reduzir custos e impactos de gerao de energia e ainda reduzindo a necessidade de novas instalaes de transmisso. Com a prioridade e a urgncia dadas ao setor, h diversas pesquisas, estudos de caso e polticas exemplares que podem ser avaliados para se propor aplicao nacional.

    No Brasil, h uma grande oportunidade apresentada pelo uso racional de energia. O papel de polticas pblicas em superar barreiras e implementar programas ser essencial. destacada a importncia de ter uma viso estratgica do setor de maneira holstica, como a criao de uma Agncia Nacional da Eficincia Energtica, para priorizar, implementar, acompanhar e avaliar programas.

    Com base nos levantamentos nacionais e internacionais, uma lista de 27 polticas e aes prioritrias para melhorar o uso sustentvel de energia no ambiente construdo foi identificada. O atual programa PBE Edifica deve ser apoiado e fortalecido, para atingir todo o seu potencial de reduo de consumo. Tambm deve ser complementado por um programa de avaliao e

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    certificao do desempenho energtico operacional de edifcios na fase de uso. Alm disso, oretrofit e a reabilitao de edifcios existentes devem ser incentivados.

    Capacitao e treinamento de profissionais da rea so questes-chaves e devem incluir o fortalecimento de instituies tcnicas e a melhoria de currculos universitrios.

    A etiquetagem PBE do INMETRO deve ser fortalecida e ampliada para cobrir outras reas e tipos de equipamentos. Alm disso, os nveis mnimos devem passar por aumentos peridicos. A maior urgncia na rea de ar condicionado, em que os nveis mnimos nesta rea, os n-veis mnimos no Brasil esto muito abaixo dos equivalentes internacionais, mesmo quando os comparamos com o de pases em desenvolvimento. O poder de compra de grandes programas de habitao social deve ser utilizado para estimular e capacitar a indstria da construo civil, para melhorar padres construtivos, adotar aquecimento solar e utilizar microgerao.

    Os diagnsticos e recomendaes apresentados neste relatrio mostram potenciais importantes para redues imediatas e futuras no consumo energtico, sempre levando em considerao a melhoria contnua dos servios e do conforto de pessoas no ambiente construdo.

    A cadeia de materiais de construo civil consome aproximadamente metade das matrias-primas extradas da natureza. um aglomerado de diversas cadeias produtivas, composta de empresas de tamanhos e capacidades tcnicas, gerenciais e econmicas muito variveis. Cada setor da cadeia tem uma agenda ambiental e social especfica.

    A informalidade fiscal, de qualidade, ambiental e trabalhista sempre presente e reduz a eficcia de polticas pblicas. Um exemplo extremo a cadeia produtiva da madeira nativa. Polticas que aumentem o custo do setor formal podem aumentar o mercado do setor informal. Uma alternativa adotar polticas que criem benefcios econmicos a empresas e solues ecoeficientes. Mas o combate informalidade condio para implantar polticas voltadas para a sustentabilidade. O PBQP-H possui metodologia de combate informalidade, que poderia ser ampliada e adequada para incluir aspectos ambientais. Um comprometimento do varejo no combate informalidade necessrio. Polticas visando regulamentar a divulgao dos dados de licenciamento ambiental permitiriam aos consumidores auxiliarem no combate no informalidade ambiental.

    A Anlise de Ciclo de Vida (ACV), a ferramenta mais adequada para a deciso baseada em aspectos ambientais, complexa para um setor em que existe grande nmero de pequenas empresas e em que cada projeto um prottipo. A normalizao internacional da construo j adota uma ACV de escopo reduzido. Dados do mercado brasileiro mostram que o fabricante exerce enorme influncia no impacto ambiental dos produtos: na maior parte das situaes prticas, a deciso mais importante selecionar o fornecedor. Em consequncia, fundamental a implantao de Declarao Ambiental de Produto que seja acessvel tambm a pequenas e mdias empresas.

    A proposta de ACV Modular encaminhada ao PBACV pela coordenao da rea de Materiais ABRAMAT/FIESP-Deconcic coerente com a normalizao internacional, simples o suficien-te para engajar pequenas e mdias empresas a participar da Declarao Ambiental de Produto, e pode ser ampliado para escopo completo, gerando como benefcios extras um benchmark do setor e um inventrio de gases do efeito estufa.

    A reduo do consumo de matrias-primas uma prioridade. A promoo da industrializao da construo permitir reduzir as perdas e, em consequncia, os impactos ambientais da cons-truo, alm da geerao de resduos na construo. A sustentabilidade depende da inovao. A criao de um programa de fomento ecoinovao tem um potencial significativo de retorno ambiental e de ganho de competitividade da indstria.

    LaisRealce

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    SumrioSumrio Executivo ........................................................................................4Apresentao ................................................................................................9

    ConSulta aoS profiSSionaiS do SEtorMotivao .....................................................................................................12Realizao da pesquisa .................................................................................12Pesquisa quantitativa: consulta aos profissionais do setor ...........................13Perfil dos respondentes ................................................................................14Anlise dos dados da pesquisa ......................................................................14

    Necessidade 1: educao, capacitao e divulgao .....................................14Necessidade 2: demanda de ferramentas .........................................................15Necessidade 3: demanda por incentivos e financiamentos ..........................16Necessidade 4: legislao, regulamentao e certificao ............................17Destaques das sugestes livres ............................................................................17

    Comentrios finais da pesquisa ....................................................................18

    partE i | GuaIntroduo ....................................................................................................20

    Vulnerabilidade hdrica em cidades ....................................................................20Diagnstico nacional ....................................................................................28

    Saneamento urbano e gesto da gua nas cidades ........................................28Gesto da demanda de gua nos edifcios ........................................................31Uso racional e conservao de gua ..................................................................33Programas institucionais .......................................................................................34Tecnologia: qualidade, desempenho e inovao .............................................38Regulamentao e normalizao ........................................................................39Educao, conscientizao e capacitao ........................................................39

    Experincias internacionais em gesto da demanda ....................................40Recomendaes de aes estruturantes de gesto da demanda de gua nas cidades para polticas pblicas de desenvolvimento sustentvel .................42

    partE ii | EnErGiaIntroduo ....................................................................................................47

    Uso racional de energia .........................................................................................47Evoluo do setor energtico no Brasil ..............................................................48Objetivo deste documento ...................................................................................51

    Diagnstico nacional ....................................................................................51Energia no ambiente construdo ........................................................................51Tendncias de projeto e construo ...................................................................54Operao, manuteno e retrofit de edificaes .............................................55Gerao distribuda de energia ............................................................................55Programas de etiquetagem e certificao .........................................................56Financiamento de eficincia energtica ............................................................57

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    Polticas internacionais para energia em edificaes ....................................57Introduo ................................................................................................................57Instrumentos e polticas para energia em edificaes ....................................58Polticas exemplares ...............................................................................................60

    Indicaes para futuras polticas pblicas no Brasil ......................................61Questes setoriais e o papel da poltica pblica ..............................................61Planejamento e gesto ..........................................................................................62Educao: profissionais, projetistas e pblico ..................................................65Tecnologias ...............................................................................................................66Matriz de avaliao de polticas ...........................................................................70

    partE iii | MatEriaiSIntroduo ....................................................................................................73Diagnstico do setor de materiais de construo ..........................................74

    A cadeia de materiais e componentes de construo ....................................74Informalidade na cadeia produtiva de materiais .............................................76Impactos ambientais na fase de produo .......................................................78A gesto ambiental na fabricao de materiais ................................................79Impactos na fase de uso ........................................................................................80Impactos na fase de ps-uso ................................................................................81A especificao de materiais mais sustentveis ...............................................83

    Experincias internacionais ..........................................................................85A Avaliao do Ciclo de Vida e na construo ..................................................85Plano de construo sustentvel da Comunidade Europeia (EU) ................87Substncias perigosas regulamentadas ............................................................88Planejamento e estimativa da vida til de produtos da construo ...........89O ps-uso: demolio e desconstruo .............................................................89Inovao em materiais e componentes para a sustentabilidade .................90

    4. Recomendaes para elaborao de polticas pblicas .............................91Combate informalidade .....................................................................................91Implantao de ferramentas do ciclo de vida ...................................................91Minimizaes do consumo de recursos naturais e gesto dos resduos .....92Sade humana e materiais de construo ........................................................93Educao e capacitao profissional .................................................................93Promoo da ecoinovao ...................................................................................93Matriz de avaliao de polticas sugeridas ........................................................94

    Referncias ...................................................................................................96Consulta aos profissionais do setor ....................................................................96Captulo gua ...........................................................................................................96Captulo Energia ......................................................................................................99Captulo Materiais ...................................................................................................102Lista de Siglas ..........................................................................................................108

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    apresentaoO estudo Aspectos da Construo Sustentvel no Brasil e Promoo de Polticas Pblicas procura organizar um diagnstico do estado atual da construo civil como subsdio para propor um conjunto de orientaes para a futura criao de polticas pblicas voltadas para a construo sustentvel.

    No pretenso deste documento encerrar a anlise, mas dar incio a uma discusso com-plexa e rica. Fruto de um esforo concentrado, envolveu amplo grupo de profissionais em sua elaborao e consulta, alm de contar com o conhecimento acumulado nos Comits Temticos do Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS), envolvendo associa-dos e no associados, empresas, acadmicos, entidades e representantes de rgos estatais com a inteno de lanar ideias e abrir debate sobre aes estruturantes incentivadas por polticas de Estado para evoluo da sustentabilidade na construo civil.

    O CBCS recebeu com entusiasmo a encomenda e o desafio de desenvolver em pouco menos de 60 dias uma leitura da sustentabilidade na construo brasileira. Alm de uma extensa pesquisa, o CBCS entrega esse material com a expectativa de inaugurar no setor um debate sistemtico para aprofundamento da matria e incentivo a estudos complementares em diversas frentes.

    Muitas iniciativas contribuem para agregar sustentabilidade: aes institucionais, inovaes tecnolgicas, planejamento e gesto de recursos, sensibilizao da populao e capacitao profissional. Nesse sentido, polticas pblicas podem contribuir com o direcionamento de prticas, se acordadas e introduzidas nos setores produtivos de forma assertiva. Entende-se que no Brasil h grande potencial para a criao de um programa estruturado de poltica nacional voltado promoo da construo sustentvel. Essa poltica somaria esforos s iniciativas globais para um desenvolvimento mais sustentvel.

    Segundo a viso do CBCS, avanar a sustentabilidade no setor da construo civil implica em uma srie de aes sistmicas, a serem adotadas por todos os agentes constituintes da cadeia da construo, poder pblico e sociedade.

    O escopo concentra uma leitura do setor por temas, com proposio de linhas prioritrias de estudo em trs grandes reas na construo civil: gua, energia e materiais, exibindo uma abordagem do ambiente construdo com foco em edificaes e sistemas. H uma grande complexidade ao abordar cada um dos assuntos, e procurou-se focar em aspectos prioritrios, cujas aes podem trazer resultados relevantes e de curto prazo, tendo a cautela de no trat-los de forma demasiadamente simplista. Demais temticas no abordadas do setor da construo civil devem ser alvo de estudo.

    Como temas e grandes reas passveis de futuros estudos, dentre diversos de relevante impacto, podem ser citados diagnstico e recomendaes voltadas ao canteiro de obras, s prticas de projeto e s polticas urbanas.

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    Entrando especificamente no ltimo tema citado, emerge forte reconhecimento por parte da sociedade sobre a importncia de questes urbanas, sobretudo aquelas relacionadas mobilidade, custo social, segurana, dfice habitacional e consumo de gua e energia. Mensurar o valor das melhorias pblicas agregadas ao patrimnio pblico e privado pauta estrutural para a sociedade contempornea.

    H visvel oportunidade de reposicionamento estratgico do poder pblico, que poder ser o grande responsvel pela oferta de novas polticas pblicas capazes de incentivar e educar a sociedade por meio da introduo de novas prticas urbanas visando construo de uma inovadora cultura de consumo; da produo e manipulao de resduos; das prticas da indstria nacional da construo civil; das prticas construtivas e ainda do comportamento da sociedade frente ao seu ambiente construdo.

    Assim, enxerga-se a necessidade da continuidade dessa leitura para ampliar o escopo e abordar assuntos apenas tangenciados neste trabalho.

    Nesse momento, linhas prioritrias para as temticas gua, energia e materiais so propostas nessa verso com objetivo de contribuir para o futuro da construo civil e o aprimoramento de suas prticas e processos.

    Boa leitura.

  • consulta aos profissionais

    do setor

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    1. MotivaoDe acordo com a projeo divulgada pelo IBGE no ano de 2013, a populao brasileira, no horizonte que se estende at 2050, crescer a um ritmo cada vez menor e comear a declinar a partir da dcada de 2040. O perfil da populao tambm ser alterado. Em1990, a idade mdia do brasileiro era de 25,6 anos e sua expectativa de vida era de 66,3 anos. Apenas 36,4% da populao tinha 30 anos ou mais. Em 2030, estima-se que a idade mdia do brasileiro subir para 36 anos e teremos 60% da populao com mais de 30 anos, e aproximadamente 93,1 milhes de domiclios (Brasil Sustentvel).

    Os impactos dessa alterao do perfil demogrfico sobre a questo econmica so enormes, desafiantes e devem ser considerados. Esses dados indicam que:

    1. Haver um aumento da populao mais idosa e, consequentemente, um menor crescimento da populao ativa (EPE, 2014c).

    2. Para compensar a desacelerao do aumento da populao ativa, recomendvel investir na melhoria da produtividade (Abramat).

    3. Como haver mais adultos, haver mais possibilidade de formao de famlias e maior demanda por moradia, resultando em um aumento no nmero de domiclios (EPE, 2014c).

    4. O estudo estima que, em 2030, 91,1% da populao estar vivendo em cidades (ERNST & YOUNG; FGV, 2008).

    5. Observa-se uma diminuio do nmero de habitantes por domiclio, devido queda da fecundidade e aumento de renda da populao, que permite maior nmero de pessoas morando sozinhas. Estima-se que em 2050 essa relao chegue a 2,3 habitantes por domiclio (EPE, 2014c).

    Esse cenrio permite prever uma maior demanda por construes e pelo consumo dos insu-mos associados ao uso e operao destes empreendimentos. Portanto, olhando apenas pelo vis da construo de habitaes, o impacto estimado ser grande, a partir do qual se pode prever que o impacto nas construes comerciais, servios e demais construes urbanas tambm ser considervel.

    Baseado neste cenrio, foi elaborada uma pesquisa para a promoo da construo civil sustentvel por meio de uma consulta aos profissionais do setor.

    2. realizao da pesquisaO foco da pesquisa o ambiente construdo, ou seja, aes ligadas s edificaes e sistemas construtivos centrados na gesto da demanda. O consumo dos insumos de gua, energia e materiais acontece em diferentes momentos no ambiente construdo. Os insumos de gua e energia neste trabalho so abordados principalmente na fase de projeto e operao e o tema material abordado desde sua seleo, no projeto, na fase de obra e na destinao final.

    O objetivo desta pesquisa realizar um levantamento com os agentes do setor da construo civil para servir de base para um plano de aes que promovam a construo sustentvel. Buscam-se informaes sobre eficincia energtica, uso racional e gesto de gua e seleo

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    e destinao de materiais no ambiente construdo para entender a atuao do setor, suas necessidades e identificar gargalos para propor aes.

    Para compreender a atuao dos agentes, foram realizadas duas pesquisas com profissionais do setor: uma de carter qualitativo e outra de carter quantitativo. Na pesquisa quantitativa, 381 profissionais puderam expressar sua opinio sobre o tema por meio de perguntas abertas e fechadas, tendo oportunidade de expressar comentrios em todas as perguntas e responder uma questo de texto aberto no final. A pesquisa qualitativa consistiu de conversas com trs profissionais, um do setor energtico, um do setor de materiais e um do setor hdrico. Nessas conversas, os profissionais puderam expressar seus pontos de vista, conhecimentos e sugestes sobre o assunto, que foram incorporados nos relatrios tcnicos de cada rea.

    3. pesquisa quantitativa: consulta aos profissionais do setorA pesquisa foi realizada por meio de um questionrio eletrnico na plataforma do Survey Monkey. Ela foi organizada em cinco blocos: (1) perfil do entrevistado; (2) oito perguntas sobre materiais; (3) oito perguntas sobre gua; (4) oito perguntas sobre energia; e (5) uma questo aberta.

    O questionrio foi criado para ser aplicado via internet e concebido para no levar mais do que 10 minutos para ser respondido. Os trs grandes temas gua, energia e materiais foram organizados em trs subtemas: as primeiras perguntas de cada grupo foram elaboradas para conhecer e entender como o respondente abordava questes relativas ao emprego do insumo; o segundo subtema, para que o respondente se posicionasse em relao a barreiras nessa abordagem; e o terceiro subtema, para que o respondente escolhesse recomendaes dentre uma lista sugerida. No final dos trs grupos foi colocada uma questo dissertativa para quem quisesse propor aes prioritrias para serem implementadas pelo setor pblico em qualquer nvel.

    A pesquisa ficou aberta por nove dias, do dia 23 de setembro a 1 outubro de 2014, e foi enca-minhada para a lista de e-mails do CBCS e entidades parceiras, totalizando 381 respondentes.

    A pesquisa buscou informaes nas seguintes fases do ciclo de vida da edificao: (1) fa-bricao, materiais e componentes; (2) canteiro de obras; (3) operao e gesto do edifcio; (4) gerao local; e (5) destinao.

    As questes elaboradas so, em sua maioria, de mltipla escolha e permitem selecionar mais de uma opo, o que, na anlise, leva a resultados maiores de 100%, pois uma mesma pessoa pode selecionar dois ou mais itens de resposta.

    A anlise a seguir baseada nos dados coletados, cuja ntegra se encontra no Apndice.

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    4. perfil dos respondentesA pesquisa teve participao das diferentes regies do Brasil. Dos 381 respondentes que participaram da pesquisa, 55% eram da regio Sudeste, 19% da regio Sul, 10% da regio Nordeste, 9% da regio Centro-Oeste e 7% da regio Norte.

    Dentre os participantes, 28,5% atuam na rea de projeto, 26,6% so atuantes na rea de pesquisa e academia e 25,9% so consultores. Os respondentes atuam principalmente com empreendimentos comerciais (37,4%) e com empreendimentos residenciais de mdio padro (29,7%), com empreendimentos residenciais alto padro (25,6%) e habitaes de interesse social (21,1%).

    Do total de respondentes, 32,9% tem maior familiaridade com a etapa de projeto.

    Os dados acima delineiam um perfil dos respondentes da pesquisa, em que predominam projetistas ligados a empreendimentos comerciais e a habitaes nas diferentes tipologias, concentrados nas regies Sul e Sudeste.

    5. anlise dos dados da pesquisaAnalisando os dados da pesquisa, percebe-se que existem demandas e necessidades comuns para as trs reas, ou seja, so necessidades do setor como um todo. Elas so descritas a seguir e sero tratadas com suas especificidades nos relatrios tcnicos de cada rea.

    As trs reas apontam para:

    carncias de conhecimento, necessidade de campanhas de esclarecimento populao edemanda por maior grau de capacitao tcnica dos envolvidos;

    necessidade de criao de ferramentas especficas; necessidade de criao de incentivos e linhas de financiamentos; demanda de legislao e regulamentos especficos.

    A anlise dos resultados apresentada a seguir para detalhar os pontos relevantes apontados nessas quatro necessidades.

    necessidade 1: educao, capacitao e divulgao

    A Figura 1 mostra as respostas associadas ao tema de educao, capacitao e divulgao, agrupadas por insumo. Analisando o grfico, nota-se que, para a rea de energia, a educao vista como uma barreira tcnica pela falta de conhecimento dos responsveis de operao e manuteno (55%), seguido por desconhecimento do potencial e das tecnologias (53%). Para a rea de materiais, a falta de informao e de profissionais capacitados a mais citada (66%). Para a rea de gua, o mais citado o desconhecimento do potencial e da tecnologia do uso de guas alternativas (50%).

    Nos comentrios dos respondentes, ficou clara a demanda por uma reviso extensa para os cursos de engenharia e arquitetura. Tambm foi mencionada a necessidade de atuao por meio de campanhas para o ensino mdio e setores especficos como condomnios, hospitais e hotis.

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    Fica claro que em todas as reas pelo menos 50% dos entrevistados acham que existe algum tipo de falta de informao. Conclui-se que a disseminao de informao no pode ser ignorada em nenhuma iniciativa de sustentabilidade.

    FIGURA 1 EDUCAO, CAPACITAO E DIVULGAO

    0% 20% 40% 80%60%

    39%45%

    53%

    guaenergiamateriais55%

    34%56%

    66%

    33%36%

    39%41%

    45%46%

    50%

    Treinamento e capacitao de projetistas e construtorasBarreira mercado: desconhecimento do potencial econmico

    Desconhecimento do potencial e das tecnologiasBarreira tcnica: falta de conhecimento dos responsveis de operao e manuteno

    Compreenso de ganhos financeiros Conhecimento tcnico da equipe

    Falta de informao e gente capacitada

    Treinamento e capacitao de projetistas e construtorasFalta de conhecimento de equipe de projeto

    Falta de conhecimento dos responsveis de operao e manuteno das edificaesDesconhecimento do potencial econmico

    Campanha de mdia e conscientizaoFalta de capacitao tcnica por parte dos gestores do empreendimento

    Desconhecimento do potencial e da tecnologia uso gua alternativa

    Os respondentes, por meio da questo de texto livre, sugerem campanhas divulgando casos exemplares de solues sustentveis. Apontam o papel importante vindo do poder pbli-co federal, estadual, municipal e como seus edifcios deveriam dar o exemplo. Citam campanhas educacionais e de divulgao na mdia. Recomendam tambm a divulgao de dados tcnicos de entrada, como dados pluviomtricos.

    necessidade 2: demanda de ferramentas

    Os dados pertinentes solicitao de ferramentas especficas foram agrupados na Figura 2. Neste grfico observa-se que os respondentes, na rea de energia, gostariam de ter acesso a mais ferramentas computacionais de simulao energtica (28%). Para a rea de materiais, os respondentes apontam a necessidade de criar um banco de dados pblico de Anlise do Ciclo de Vida (ACV) (38%) com dados de produtos e fabricantes nacionais. Os respondentes acreditam que, para a rea hdrica, h falta de ferramentas para auxiliar na implantao de fontes alternativas de gua (22%).

    Nos textos livres, os respondentes sugerem que se criem bancos de dados pblicos de livre acesso, com parmetros ambientais como vida til, conforto trmico, consumo energtico, emisso de CO2, dentre outros aspectos. Solicitam a criao de uma base brasileira pblica que tenha interface com ferramentas de gesto do tipo Building Information Model (BIM). Para a utilizao das ferramentas com sucesso pedem ainda a definio de mtricas e a criao de benchmarks para avaliao de desempenho on-line e de acesso pblico. Existe tambm a demanda de ferramentas de simulao da rentabilidade financeira dos projetos.

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    FIGURA 2 DEMANDA DE FERRAMENTAS

    guaenergiamateriais

    13%17%

    20%28%

    24%25%25%

    38%

    14%19%

    22%

    0% 5% 10% 15% 20% 35%25% 40%30%

    Falta de mtrica de desempenho dos equipamentos

    Benchmarks mostrando o desempenho tpico do mercado

    Ferramentas de seleo de materiais de baixo impacto

    Simulao energtica computacional

    Ferramenta para gestoBenchmarks mostrando o desempenho tpico do mercado

    Legislao e ferramentas para implantao de fontes de gua no potvel

    Falta de ferramenta para planejamento de uma desconstruo seletiva

    Ferramenta para medir o impacto no meio ambiente

    Banco de dados de desempenho de subsistemas construtivos

    Banco de dados pblico de ACV com dados de produtos e fabricantes...

    necessidade 3: demanda por incentivos e financiamentos

    A Figura 3 agrupa as informaes sobre a demanda por incentivos e financiamentos por rea. Para a rea de energia, os respondentes gostariam de ver incentivos e financiamentos associados ao custo de implantao de solues de eficincia energtica (55%). J para rea de materiais, a demanda por incentivos e financiamentos para correta escolha de materiais (34%) e incentivos para a reciclagem (30%). Nas questes associadas ao tema gua, h uma demanda por diferentes linhas de incentivos por parte do governo (44%).

    FIGURA 3 - DEMANDA POR INCENTIVOS E FINANCIAMENTOS

    guaenergiamateriais

    33%38%

    45%45%

    55%

    15%19%

    30%34%

    5%13%

    19%38%

    44%

    0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%

    Dificuldade de financiar as solues de energias alternativasFerramentas de financiamento para eficincia energtica e energias renovveis

    Falta de incentivo por parte do governo em solues de eficincia energticaDesconhecimento do potencial econmico de eficincia energtica

    Custo de implantao de eficincia energtica

    Programa de incentivos para capacitar especificadoresBaixa valorizao do resduo

    Falta de incentivo do governo para incentivar reciclagemCompreenso de ganhos financeiros da correta escolha de materiais

    Incentivo e campanhas para manutenoIncentivo solues de reteno e infiltrao

    Dificuldade de financiar soluesIncentivo governamental

    Falta de incentivo por parte do governo

    Entende-se que os respondentes acreditam que se houvessem mais incentivos e linhas de financiamentos, haveria mais solues nos empreendimentos.

    So citados: a necessidade de incentivos para incluso de tecnologias nas edificaes, in-centivos para investimento em pesquisa, para capacitao profissional, para reforma/retrofit de edificao existente, alm de incentivos tributrios, linhas de financiamentos especficas e incentivos para startups na rea.

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    necessidade 4: legislao, regulamentao e certificao

    A Figura 4 rene as respostas associadas ao tema de legislao, regulamentao e certificao. A pesquisa apontou que, para a rea de energia, 51% dos respondentes acreditam que precisa ser criada uma regulamentao de desempenho mnimo para novas edificaes. Dentre os respondentes, 49% acreditam que a etiqueta energtica deveria ser obrigatria. Em relao aos materiais, 29% dos respondentes gostariam de legislao para incentivar a manuteno e para garantir o desempenho das edificaes a longo prazo. Em relao s aes ligadas gua, 47% dos respondentes gostariam de ver regulamentao do desempenho mnimo permitido para as novas edificaes.

    Nos comentrios, percebe-se demanda por regulamentao para estabelecer requisitos tcnicos mnimos de desempenho para todas as tipologias, demanda para a adequao dos Planos Diretores e Cdigos de Obras com conceitos de sustentabilidade e a necessi-dade da aproximao da academia (tcnicos) aos legisladores. Os respondentes apontam a necessidade de polticas integradas, ou seja, a necessidade de integrao das diferentes esferas (federal, estadual e municipal), assim como a integrao das diferentes reas: gua x energia, materiais x energia. Os respondentes gostariam de ver a obrigatoriedade de nveis de desempenhos mnimos, como a obrigatoriedade do Programa Procel.

    FIGURA 4 LEGISLAO, REGULAMENTAO E CERTIFICAO

    19%33%

    49%51%

    13%20%

    29%

    11%12%

    22%36%

    40%47%

    0% 10% 20% 30% 40% 50%

    Limites de vazo e presso em projeto e equipamentosLei de transparncia, obrigando grandes consumidores a publicar o seu consumo

    Legislao e ferramentas para implantao de fontes de gua no potvelFalta de regulamentao e normas mnimas de desempenho

    Etiquetagem obrigatria para mostrar a eficincia de novas construesRegulamentao do desempenho mnimo permitido em novas construes

    Obrigao de utilizar gerao renovvel em novos empreendimentos Falta de regulamentao e normas mnimas de desempenho

    Etiquetagem energtica obrigatria, para mostrar a eficincia energtica de novas construesRegulamentao do desempenho mnimo em novas construes

    Demolio controlada com plano de gesto de RCD explicando como sero tratados antes da demolioObrigao de realizar e publicar anlises de energia embutida e emisso de CO2 das construes

    Legislao para incentivar a manuteno para garantir o desempenho das edificaes a longo prazo

    Cabe mencionar que nas entrevistas qualitativas foi sugerido um modelo de etapas para aprovao de legislao e regulamentaes. A primeira etapa para criao de uma legislao seria propor uma metodologia com mtricas e ferramentas definidas oferecendo assim o instrumento para sua aplicao. A segunda etapa seria a validao do proposto pelo setor por meio de um projeto piloto ou de um programa de adeso voluntria. A terceira etapa seria a parceria com o setor, permitindo assim a criao de acordos setoriais para o sucesso da legislao. Finalmente, a quarta etapa tornaria obrigatria a proposta no formato de lei.

    destaques das sugestes livres

    Nos comentrios dos respondentes na pesquisa quantitativa foi sugerido que o pagamento dos contratos de empreendimentos deve ser vinculado aos indicadores de desempenho e que esses devem estar estabelecidos em licitao. Tambm foi sugerido que todos os contratos de licitao para projetos e obras pblicas deveriam exigir um mnimo de medidas mensurveis sustentveis, tanto na fase da construo, como depois de pronto.

    Foi apontado diversas vezes nos comentrios livres que o formato de licitao convencional aplicado atualmente dificulta o aceite de produtos industrializados e inovadores, pois apenas

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    leva em considerao tecnologias tradicionais e d preferncia pelo menor custo da obra, no levando em considerao os custos ao longo do ciclo de vida.

    No texto livre e nas entrevistas qualitativas foi levantado um desafio: como abordar o seg-mento da autoconstruo. sabido que esse segmento tem um alto consumo de materiais e uma baixa qualificao da mo de obra. Seria preciso encontrar caminhos para capacitar e oferecer informaes a esse pblico.

    Foi levantada tambm a necessidade de regulamentar e fiscalizar com mais rigor a por-centagem de reas permeveis dos projetos, garantindo assim a infiltrao de guas nos lenis freticos.

    6. Comentrios finais da pesquisaO presente estudo no teve a inteno de realizar uma amostra balanceada da populao de agentes do setor da construo sustentvel. Tal estudo necessitaria de um censo de profissionais de um setor bastante dinmico e de tcnicas bem mais sofisticadas de coleta de dados e de processamento.

    No entanto, dentro do escopo de coleta de informaes para a promoo da construo sustentvel, um questionrio voluntrio se mostrou uma tcnica bastante eficaz. A pesquisa quantitativa foi considerada um sucesso, com grau de participao muito maior que o espe-rado. Essa alta participao mostra o desejo do setor de ter um canal para expressar as suas preocupaes e o seu desejo de ver polticas que tenham impacto na difuso das prticas de sustentabilidade no setor.

  • parte igua

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    1. introduo

    vulnerabilidade hdrica em cidades

    Em 1992, a Organizao das Naes Unidas (ONU) lanou o documento Declarao Universal dos Direitos da gua (IFRAH, 1992), que declara, entre outros, que: A gua no deve ser desperdiada, nem poluda, nem envenenada. De maneira geral, sua utilizao deve ser feita com conscincia e discernimento para que no se chegue a uma situao de esgota-mento ou de deteriorao da qualidade das reservas atualmente disponveis. Desenvolvia-se a conscincia de que a gua no um recurso inesgotvel.

    Considerando as 10 maiores economias do mundo segundo o Banco Mundial (THE WORLD BANK, 2013), o Brasil detm a maior disponibilidade hdrica per capita, sendo 4,5 vezes maior do que a dos Estados Unidos e 21,5 vezes a da China. A Tabela 1 mostra a disponibi-lidade hdrica de gua doce renovvel per capita nos pases de maior Produto Interno Bruto em 2013, segundo o Comit de gua da ONU (UN-WATER).

    TABELA 1 DISPONIBILIDADE HDRICA DE GUA DOCE RENOVVEL NOS PASES DE MAIOR PRODUTO INTERNO BRUTO EM 2013

    pasdisponibilidade hdrica de gua doce renovvel per capita (m3/hab.ano)

    Brasil 43.528Rssia 31.487

    Estados Unidos 9.666Japo 3.379Frana 3.300Itlia 3.142

    Reino Unido 2.332China 2.017

    Alemanha 1.860ndia 1.545

    FONTE: UN-WATER

    O aparente conforto na oferta de gua no traduz a real distribuio do recurso no territrio nacional. Segundo a Agncia Nacional das guas (ANA, 2013), do Ministrio do Meio Ambiente (MMA), a Regio Hidrogrfica Amaznica detm 80,8% da disponibilidade hdrica superficial e 61,9% da reserva potencial explorvel de guas subterrneas.

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    A ANA (2013) fez um balano entre disponibilidade hdrica e demanda de gua. Considerando o ndice de retirada de gua, Water Exploitation Index (WEI)1 , foi determinada a situao das principais bacias brasileiras, mapeada na Figura 5.

    FIGURA 5 BALANO ENTRE DISPONIBILIDADE HDRICA E DEMANDA DE GUA

    FONTE: ANA (2013)

    A disponibilidade hdrica brasileira proveniente tanto de guas superficiais como de guas subterrneas. Segundo a ANA (2013), a comparao do volume armazenado de gua per capita possibilita identificar o grau de vulnerabilidade hdrica para atender aos usos da

    1 O ndice de explotao de gua (WEI), ou a razo de retirada de gua, em um pas, definido como a captao total mdia anual de gua doce dividida pelos recursos de gua doce mdios de longo prazo. Ele indica como a captao total de gua coloca presso sobre os recursos hdricos. Assim, identifica os pases que tm alta abstrao em relao aos seus recursos e, portanto, esto propensos a sofrer problemas de escassez de gua. Os recursos de gua doce mdios de longo prazo so derivados da precipitao mdia de longo prazo menos a evapotranspirao mdia de longo prazo, mais a entrada mdia de longo prazo de pases vizinhos (LALLANA; MARCUELLO, 2014).

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    gua. Segundo a ANA (2013), O Brasil possui 3.607m3 de volume mximo armazenado em reservatrios artificiais por habitante.

    Ainda segundo a ANA (2013), entende-se por uso do recurso hdrico qualquer atividade humana que, de qualquer modo, altere as condies naturais das guas superficiais ou sub-terrneas. Assim, esto englobados tanto usos que devolvem toda a gua utilizada para o curso dgua (gerao de energia, navegao, pesca, turismo), chamado uso no consuntivo, como os usos em que parte da gua no retorna ao curso dgua (uso urbano, industrial, irrigao, dessedentao animal), chamado uso consuntivo.

    A Figura 6 apresenta o mapa das regies hidrogrficas brasileiras e a Tabela 2 apresenta a disponibilidade hdrica de guas superficiais e guas subterrneas, capacidade de armaze-namento e o tipo de uso predominante por regio hidrogrfica em 2010.

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    FIGURA 6 REGIES HIDROGRFICAS BRASILEIRAS

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    Resumo Executivo

    Mapa 1: As 12 regies hidrogrficas e a diviso poltico administrativa do Brasil

    Regies HidrogrficasPara efeito de planejamento e gerenciamento, o

    Brasil adotou, no seu Plano Nacional de Recursos H-

    dricos, uma diviso do pas em 12 Regies Hidrogrfi-cas, organizadas segundo a localizao das principais bacias hidrogrficas do Pas.

    RO

    MT

    MS

    PR

    SC

    RS

    MG

    SP RJ

    ES

    BA

    TO

    GO

    PA

    AC

    AP

    MA

    PI

    CERN

    PB

    PE

    ALSE

    DF

    RR

    AM

    RH Amaznica

    RH Atlntico Nordeste Oriental

    RH Atlntico Nordeste Ocidental

    RH Atlntico Leste

    RH Atlntico Sudeste

    RH Atlntico Sul

    RH So Francisco

    RH Parnaba

    RH TocantinsAraguaia

    RH Uruguai

    RH Paraguai

    RH Paran

    FONTE: ANA; MMA (2007)

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    TABELA 2 DISPONIBILIDADE HDRICA DE GUAS SUPERFICIAIS E SUBTERRNEAS, CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO E TIPO DE USO PREDOMINANTE POR REGIO HIDROGRFICA EM 2010

    regio hidrogrfica

    disponibilidade hdrica Capacidade de armazenamento

    per capita (m3/habitante)

    predominncia de usoSuperficial

    (m3/s)reserva potencial explotvel* (m3/s)

    AmAznicA 73.748 7.078 2.181 Apresenta baixas vazes de retirada

    PArAn 5.956 1437 4.047

    Predomnio dos usos de irrigao

    (40% a 50% de demanda total)

    TocAnTins- -ArAguAiA 5.447 604 13.508

    Predomnio dos usos de irrigao (mais de 60% de demanda total)

    so FrAncisco 1.886 355 5.183

    Predomnio dos usos de irrigao (mais de 60% de demanda total)

    ATlnTico sudesTe 1.145 146 372

    Predomnio de uso urbano

    PArAguAi 782 617 3.449 Apresenta baixas vazes de retirada

    ATlnTico sul 647 212 11.304

    Predomnio dos usos de irrigao (mais de 60% de demanda total)

    uruguAi 565 400 3.388

    Predomnio dos usos de irrigao (mais de 60% de demanda total)

    PArnAbA 379 227 1.795 Apresenta baixas vazes de retirada

    ATlnTico nordesTe ocidenTAl

    320 183 Apresenta baixas

    vazes de retirada

    ATlnTico lesTe 305 85 945

    Predomnio dos usos de irrigao

    (40% a 50% de demanda total)

    ATlnTico nordesTe orienTAl

    91 86 1.080

    Predomnio dos usos de irrigao (mais de 60% de demanda total)

    Total 91.271 11.430 3.607

    * Parcela da precipitao pluviomtrica mdia anual que infiltra e efetivamente chega aos aquferos livres e que pode ser explorada de forma sustentvel.

    FONTE: ANA (2013)

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    O atendimento das necessidades de demanda de gua exige a avaliao da qualidade do insumo disponvel. Considerando o indicador de qualidade como a capacidade de assimi-lao dos corpos dgua, a ANA (2013) analisou as condies de criticidade quantitativa (disponibilidade hdrica) e qualitativa (condies dos efluentes) das bacias brasileiras, apre-sentadas na Figura 7.

    FIGURA 7 CONDIES DAS BACIAS BRASILEIRAS SEGUNDO CRITICIDADE QUALI-QUANTITATIVA

    FONTE: ANA (2013)

    Fica evidente que as bacias onde se localizam as regies metropolitanas apresentam critici-dade quali-quantitativa como resultado da grande demanda de gua somada quantidade de carga orgnica domstica lanada nos corpos dgua.

    A Macrometrpole Paulista, um dos espaos realados na Figura 3 como de criticidade quali-quantitativa, tem rea aproximada de 52 mil quilmetros quadrados e abriga mais

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    de 30,8 milhes de habitantes (DAEE, 2013)2. Nessa regio esto inseridas, total ou par-cialmente, reas de oito Unidades de Gerenciamento de Recursos Hdricos (UGRHI). Na Figura 8 apresentada a hidrografia da Macrometrpole Paulista.

    FIGURA 8 HIDROGRAFIA PRINCIPAL DA MACROMETRPOLE PAULISTA

    5

    PLA

    NO

    DIR

    ETO

    R D

    E A

    PRO

    VEITA

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    LIST

    A

    A MACROMETRPOLE PAULISTA

    A regio da Macrometrpole Paulista compreende, total ou parcialmente2, reas de oito Unidades de Gerenciamento de Recursos Hdricos UGRHIs que compem a organizao estadual para a gesto de recursos hdricos. Esto inseridas nessa rea quatro Regies Metropolitanas (So Paulo, Baixada Santista, Campinas e a do Vale do Paraba e Litoral Norte), trs aglomeraes urbanas (Jundia, Piracicaba e Sorocaba) e duas microrregies

    (So Roque e Bragantina). O Mapa abaixo apresenta a delimitao do territrio macrometropolitano, objeto de estudo do Plano Diretor.

    Hidrografia Principal da Macrometrpole

    O crescimento da populao na Macrometrpole Paulista, que dever alcanar 37 milhes de pessoas at 2035 (projeo da Fundao Seade), e a expanso das atividades industriais e de irrigao tero forte impacto sobre a demanda de gua.

    Atualmente, as demandas de gua da regio da Macrometrpole somam 222,96 m/s, distribudos de acordo com a tabela abaixo:

    Demandas 2008 por Tipo de Uso da gua e por UGRHI Envolvida

    UGRHI2008 UGRHI

    m/s % 02 03 05 06 07 09 10 11

    Abastecimento 109,14 48,95 6,37 0,98 17,36 69,22 7,03 2,01 6,09 0,07Industrial 69,82 31,32 5,45 0,39 10,55 37,40 7,89 3,59 4,55 0,00Irrigao 44,00 19,73 6,20 0,10 12,38 4,54 0,03 6,29 14,46 0,00

    Total 222,96 100,00 18,02 1,47 40,29 111,16 14,95 11,89 25,09 0,07

    2 Nem todos os municpios das UGRHIs que integram a Macrometrpole esto inseridos no territrio estudado.

    FONTE: DAEE (2013)

    Conforme o Plano Diretor de Aproveitamento dos Recursos Hdricos para a Macrometrpole Paulista, publicado em outubro de 2013 (DAEE, 2013), a demanda de gua total de 222,96 m3/s, distribudos em seus diversos usos, com predominncia de aproximadamente 50% para abastecimento (como possvel observar na Figura 9, que mostra tambm os outros usos da gua na regio).

    2 Secretaria de Saneamento e Recursos Hdricos (2013).

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    FIGURA 9 CONSUMO DE GUA POR TIPO DE USO NO ANO DE 2008

    dEMandaS 2008(por tipo de uso)

    w

    Abastecimento48,95%

    (109,14 m3)

    Irrigao19,73%

    (44,00 m3)

    Industrial31,32%

    (69,83 m3)

    FONTE: DAEE (2013)

    O Plano Diretor apresenta uma projeo populacional para a regio, com expectativa de crescimento de 20% da populao at 2035, comparada com a registrada em 2008. A Tabela 3 apresenta o resultado das projees populacionais para 2018, 2025 e 2035.

    TABELA 3 PROJEES DE POPULAO POR UNIDADE DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HDRICOS

    uGrhi 2008 2018 2025 2035

    Paraba do Sul 1.948.520 2.176.529 2.298.477 2.405.612

    Litoral Norte 242.331 282.644 306.005 330.282

    Piracicaba/Capivari/Jundia

    5.022.874 5.673.617 5.984.388 6.217.851

    Alto Tiet 19.533.758 21.310.657 22.206.211 22.938.472

    Baixada Santista 1.664.929 1.857.493 1.960.432 2.048.752

    Mogi Guau 535.798 594.596 621.814 641.581

    Tiet/Sorocaba 1.828.429 2.109.243 2.253.517 2.375.576

    Ribeira do Iguape e Litoral Sul

    45.617 53.308 58.271 63.557

    Total 30.822.256 34.058.087 35.689.115 37.021.683

    FONTE: DAEE (2013)

    Esse aumento populacional acarretar, inevitavelmente, sensvel aumento da demanda de gua que, ao seguir a curva tendencial, necessitaria de mais 60m3/s.

    A partir dessa perspectiva quadro, o grfico da Figura 10 apresenta a curva de projeo da demanda considerando os cenrios: demanda tendencial, demanda com intensificao do crescimento brasileiro3 e demanda com aes de gesto e controle operacional.

    3 Como explicado no Plano Diretor, para o Cenrio com Intensificao do Crescimento Brasileiro foi considerado um crescimento baseado na projeo do PIB do Estado de So Paulo e o incremento esperado em funo dos projetos de infraestrutura em planejamento para o Estado e o crescimento mais acentuado do pas. [...]

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    FIGURA 10 CURVA DE PROJEO DA DEMANDA TOTAL NOS CENRIOS: TENDENCIAL, COM AES DE GESTO E CONTROLE OPERACIONAL DAS

    DEMANDAS E COM INTENSIFICAO DO CRESCIMENTO BRASILEIRO

    300

    280

    260

    240

    2202008

    m3 /

    s

    Tendencial Intensificao do crescimento

    Aes e controle operacional

    2018 2025 2035

    60 m3/s

    32 m3/s

    13 m3/s

    FONTE: DAEE (2013)

    O Plano Diretor considera que sero necessrias aes de gesto de demanda que possibi-litem a reduo de 32 m3/s da demanda projetada para 2035. As aes previstas so: (a) a reduo do ndice de perdas nas redes pblicas; (b) a gesto da demanda em edifcios pro-gramas de uso racional da gua e mudanas comportamentais; (c) mudanas tecnolgicas e gesto do uso da gua na irrigao; e (d) tecnologia de produo mais limpa e regulamentao da cobrana pelo uso da gua nas indstrias.

    Observando-se o cenrio apresentado, fica claro que a gesto da demanda de gua em edifcios, em especial nos centros urbanos em regies com vulnerabilidade hdrica, uma questo emergencial no Brasil, independente de eventual falta de chuva em determinada poca ou regio, como ocorreu no ltimo vero em So Paulo. Garantir que a quantidade de gua disponvel possa ser distribuda para todos no mais uma preocupao para o futuro.

    A gua certamente um fator que tem importncia na resilincia das cidades, tanto por seu excesso, como por sua falta, segundo Porto (2014).

    2. diagnstico nacional

    Saneamento urbano e gesto da gua nas cidades

    A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), que integra o Ministrio das Cidades, publica anualmente o Diagnstico dos Servios de gua, Esgoto e Resduos, por meio do Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento (SNIS). O SNIS foi concebido

    a projeo do crescimento reflete os potenciais impactos que as proposies de empreendimentos em infraestrutura e energia, em discusso, no Brasil e no Estado de So Paulo, poderiam ter sobre as demandas de recursos hdricos (DAEE, 2013).

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    e desenvolvido pelo Programa de Modernizao do Setor de Saneamento (PMSS), vinculado Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministrio das Cidades. Sua base de dados rene informaes fornecidas voluntariamente pelos prestadores de servios de abas-tecimento de gua e de coleta e tratamento de esgotos (e tambm de resduos slidos) esta-duais, regionais e municipais. Os dados so coletados, analisados e publicados desde 1995.

    Para o Diagnstico de 2012, publicado em 2014, foram levantados dados de 5.070 munic-pios (91% da totalidade de municpios do pas) que somam uma populao de mais de 160 milhes de habitantes (98% da populao urbana).

    O SNIS (2014) apresenta o ndice total de atendimento de abastecimento de gua atravs de rede de 82,7% e de coleta de esgoto de 48,3%. Esses ndices so mais elevados nas re-gies urbanas, respectivamente, 93,2% e 56,1%. Na Tabela 4 so apresentados os nveis de atendimento de gua e esgoto segundo as regies geogrficas.

    TABELA 4 NVEIS DE ATENDIMENTO COM GUA E ESGOTO SEGUNDO REGIO GEOGRFICA E BRASIL

    regio

    ndice de atendimento com rede (%) ndice de tratamento dos esgotos (%)

    gua Esgoto Esgotos geradosEsgotos

    coletadostotal urbano total urbano total total

    Norte 55,2 68,6 9,2 11,9 14,4 85,1

    Nordeste 72,4 89,5 22,2 29,4 31 81,2

    Centro-Oeste 88 96,5 42,7 47,1 44,2 90

    Sudeste 91,8 97 75,4 80,3 42,7 63,6

    Sul 87,2 97,2 36,6 42,7 36,2 79,7

    Brasil 82,7 93,2 48,3 56,1 38,7 69,4

    FONTE: BRASIL (2014)

    Ainda segundo o SNIS (2014), o consumo mdio per capita de gua4 no Brasil foi de 167,5 L/hab.dia. Essa mdia varia de acordo com o estado ou regio estudados, como se pode observar na Tabela 5 (que apresenta o consumo mdio per capita por regio) e no grfico da Figura 11 (que mostra o consumo mdio per capita por estado).

    TABELA 5 VALORES DE CONSUMO MDIO PER CAPITA DE GUA POR REGIO GEOGRFICA

    regio Consumo mdio por capita (l/hab.dia)

    Norte 155,8

    Nordeste 131,2

    Centro-Oeste 156,5

    Sudeste 194,8

    Sul 149,3

    FONTE: BRASIL (2014)

    4 O consumo mdio per capita de gua definido, no SNIS, como o volume de gua consumido, excludo o volume de gua exportado, dividido pela populao atendida com abastecimento de gua (BRASIL, 2014).

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    O grfico da Figura 11 indica que, na maioria dos estados brasileiros, o consumo tem apre-sentado tendncia de crescimento (consumo mdio do ano de 2012 superior mdia dos anos de 2010, 2011 e 2012).

    FIGURA 11 CONSUMO MDIO PER CAPITA NA MDIA DOS ANOS DE 2010, 2011 E 2012

    250

    200

    150

    100

    50

    0

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    )Ano 2012 Mdia 3 anos

    Estado

    FONTE: BRASIL (2014)

    Os dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento confirmam que, para os grandes centros urbanos, tanto os ndices de atendimento de gua e esgoto aumentam, como tambm aumenta a demanda per capita.

    A Gesto da Demanda de gua (GDA) nas cidades engloba o controle de perdas nas redes de abastecimento de gua, a utilizao de fontes alternativas de gua e a gesto da demanda de gua nos edifcios.

    Com relao s perdas nas redes de abastecimento, segundo o SNIS (2014), o Brasil apre-senta elevados ndices de perda de gua na distribuio (IN0495). A Tabela 6 apresenta oIN049 por regio geogrfica brasileira.

    TABELA 6 NDICE DE PERDAS NA DISTRIBUIO POR REGIO GEOGRFICA E BRASIL

    regio in049 (%)

    Norte 49,3

    Nordeste 44,6

    Centro-Oeste 32,4

    Sudeste 33,5

    Sul 36,4

    Brasil 36,9

    FONTE: BRASIL (2014)

    5 O indicador IN049 compara o volume de gua disponibilizado para distribuio e o volume consumido, sinalizando, assim, o ndice de perdas.

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    O controle de perdas de gua nas redes de distribuio objeto do Plano Nacional de Saneamento (PLANSAB), da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, integrante do Ministrio das Cidades.

    O segundo aspecto da gesto da demanda de gua nas cidades, a utilizao de fontes al-ternativas de gua, considera a utilizao de gua no proveniente do sistema pblico de abastecimento de gua potvel.

    Segundo o Conselho Brasileiro de Construo Sustentvel (CBCS, 2009), as fontes alterna-tivas de gua mais utilizadas em sistemas prediais so o aproveitamento das guas pluviais, a utilizao de efluente tratado (gua de reso) e os poos artesianos. Nesses casos, o edi-fcio pode ser considerado produtor de gua e os gestores do sistema hidrulico tornam-se responsveis pela qualidade e pela forma de utilizao dessa gua.

    A gua de reso definida pelo CBCS (MARQUES; OLIVEIRA, 2013) como a gua no potvel obtida por tratamento de gua residuria, sendo esta, por sua vez, definida como

    efluente gerado aps o uso da gua em edificaes residenciais, comerciais e industriais. O reso pode ser indireto, caracterizado quando as guas residurias so descartadas nos corpos dgua (guas superficiais ou subterrneas) e utilizadas novamente jusante, oudi-reto, quando ocorre a utilizao planejada e imediata, aps o efluente receber tratamento adequado ao tipo de utilizao que ser feita.

    O Centro Internacional de Referncia em Reso de gua (CIRRA)6 descreve diferentes tipos de reso, entre eles, o reso urbano.

    O potencial de reso bastante amplo e diversificado. A utilizao de efluente tratado exige controle de qualidade da gua e devem-se levar em conta os custos de implantao e operao. De maneira geral, esse sistema s se viabiliza para usos no potveis e deve ser cuidadosamente planejado e operado (HESPANHOL, 2008).

    Segundo Hespanhol (2010), algumas empresas de saneamento esto atualmente se pre-parando para fornecer a chamada gua de reso ou gua de utilidade para atender a usos de gua no potvel na rea urbana. Um exemplo o projeto Aquapolo, que produz gua de reso destinada ao polo petroqumico do ABC paulista. O Aquapolo uma Estao Produtora de gua Industrial (EPAI) com capacidade de vazo de gua de reso de 1m3/s (PROJETO AQUAPOLO, 2010).

    O terceiro aspecto da gesto da demanda de gua nas cidades, a gesto da demanda de gua nos edifcios, o tema principal deste documento.

    Gesto da demanda de gua nos edifcios

    A gesto da gua pode ser adotada, segundo Silva (1999), em trs nveis de abordagem: omacro, associado s aes na escala dos grandes sistemas ambientais e bacias hidrogrficas; o meso, com aes nos sistemas de saneamento, envolvendo os servios de saneamento e esgotamento sanitrio; e o micro, relacionado s aes que se concentram sobre as edifica-es e seus sistemas prediais hidrossanitrios.

    6 Disponvel em: .

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    Durante muitos anos, os esforos se concentraram na gesto da oferta de gua (nveis macro e meso), por meio de captao em locais cada vez mais distantes e do aumento da extenso das redes de abastecimento. Segundo Silva, Tamaki e Gonalves (2006), esgotada boa parte das possibilidades desse modelo e tornando-se ele cada vez mais custoso, tendo em vista tambm a questo do esgoto gerado, promoveu-se uma mudana de paradigma: daexclusiva gesto da oferta para a gesto tambm da demanda (nvel micro), mais coerente com os preceitos do desenvolvimento sustentvel.

    De acordo com Silva (2004), a gesto da demanda de gua pode ser entendida como o acompanhamento permanente do volume de gua consumido, com organizao e avalia-o de dados e informaes que determinam parmetros de controle (consumos mensais, per capita, perfis de vazo, etc.) que retroalimentam o sistema e permitem o planejamento de aes para manter os indicadores de consumo em nveis adequados, seja na forma de eliminao das perdas fsicas, seja na utilizao de novas tecnologias, seja na reviso de um processo que utiliza gua.

    Um sistema de gesto da demanda de gua em edifcios composto pelo conjunto de aes preventivas (de rotina) e corretivas (quando necessrio) que, sob a responsabilidade do gestor, garantem a manuteno dos indicadores de consumo de gua.

    A setorizao do consumo de gua figura como importante ao de gesto da demanda e, em edifcios, feita a partir da instalao de hidrmetros localizados em pontos estratgicos do sistema hidrulico, que viabilizam a medio de volumes parciais consumidos. Oconheci-mento desses volumes parciais permite: (a) estabelecer procedimentos de monitoramento do consumo; (b) constatar e localizar mais facilmente os aumentos de consumo; (c) pla-nejar aes preventivas e/ou corretivas no sistema hidrulico para manuteno dos nveis de consumo; (d) tarifar o consumo especfico de determinado setor (o restaurante de uma escola, por exemplo).

    Quando a setorizao do consumo de gua coincide com as economias, tem-se a medio individualizada de gua. Em apartamentos residenciais ou conjuntos comerciais, por exem-plo, a medio individualizada permite que o usurio seja cobrado pela gua efetivamente consumida em sua unidade, acrescida do rateio da gua consumida nas reas comuns.

    A adoo dessas ferramentas, apesar de dificuldades tcnicas, administrativas e econmi-co-financeiras que possam existir, principalmente para edifcios existentes, de acordo com Silva, Tamaki e Gonalves (2006), recompensada por benefcios como: (a) obteno mais confivel, em tempo real, de um maior nmero de dados; (b) possibilidade de levantamento de informaes como perfil dirio de consumo e vazes mnimas; (c) deteco mais rpida e precisa de anomalias, entre as quais vazamentos (explicitadas, por exemplo, por vazes mni-mas noturnas elevadas); e (d) maior correspondncia entre o consumo e o sistema consumidor (possibilidade de cobrana da gua consumida por terceiros, tais como restaurantes, etc.).

    A gesto da demanda de gua nos edifcios deve incluir, entre outros, o estabelecimento de procedimentos e responsabilidades na ocorrncia de elevao dos indicadores de consumo de gua. Conforme Silva, Tamaki e Gonalves (2006) formas de aviso e correo eficientes de vazamentos, procedimentos de operao e manuteno dos sistemas prediais (incluindo a manuteno e/ou substituio de equipamentos sanitrios) e a indicao de necessidades de reforma em redes hidrulicas so exemplos de aes de um sistema de gesto da demanda de gua que ajudam na manuteno dos indicadores de consumo.

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    Sistemas estruturados de gesto da demanda de gua garantem a perenidade das aes para reduo do consumo.

    uso racional e conservao de gua

    Os conceitos de uso racional e conservao de gua devem ser bem definidos na formulao de programas de gesto da demanda de gua em edifcios.

    O uso racional da gua, ou uso eficiente da gua, entendido como o conjunto de aes que otimizam a operao do sistema predial de forma a reduzir a quantidade de gua necessria para a realizao das atividades consumidoras, mantendo-se os nveis de desempenho dos servios enfoque na demanda de gua.

    A conservao de gua definida como o conjunto de aes que, alm de otimizar a ope-rao do sistema predial de modo a reduzir a quantidade de gua consumida, promovem a oferta de gua produzida no prprio edifcio, proveniente de fontes alternativas gua potvel fornecida pelo sistema pblico enfoque na demanda e na oferta interna de gua.

    Segundo Hespanhol (1997) apud May (2008), a utilizao de gua de fontes alternativas gua potvel das concessionrias para atendimento a demandas menos restritivas contribui para a reduo do consumo de gua potvel e permite que as guas de melhor qualidade sejam dirigidas aos usos mais nobres.

    Entre as possibilidades de utilizao de gua de fontes alternativas gua potvel das concessionrias esto o aproveitamento de guas pluviais, os poos artesianos e o reso de guas cinzas.

    Segundo May (2004), no aproveitamento de gua de chuva para consumo no potvel so necessrios alguns cuidados referentes instalao e manuteno do sistema para impedir a contaminao da gua potvel. Amostras de gua de chuva coletadas entre novembro de 2003 e maro de 2004 na Cidade Universitria da Universidade de So Paulo foram subme-tidas a anlises fsicas, qumicas e bacteriolgicas que evidenciaram a no potabilidade das amostras, inclusive com a presena de bactrias e coliformes fecais provavelmente prove-nientes de fezes de animais das superfcies das quais a gua foi coletada (telhado). A gua de chuva ao atravessar a atmosfera absorve as partculas ali existentes. As caractersticas de impureza da chuva esto relacionadas com a regio de coleta, assim, as condies para utilizao devem ser analisadas em cada caso. A gua de chuva no pode ser misturada gua potvel, sendo necessria a separao do sistema de reserva e de distribuio da gua (MAY, 2004).

    Solues alternativas gua potvel das concessionrias requerem a ateno do poder pbli-co, em especial em edifcios residenciais, cujos gestores (administradoras de condomnios, sndicos e zeladores), em sua maioria, no so capacitados tecnicamente. Determinadas tipologias de edifcios (industriais, shopping centers, centros comerciais e at mesmo alguns grandes hospitais) apresentam melhor condio para utilizao segura de gua no potvel, em funo da existncia de equipes de manuteno qualificadas.

    A utilizao de gua no potvel em edifcios requer regulamentao que estabelea proce-dimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilncia da qualidade, e operao e manuteno dos sistemas hidrulicos para minimizar os riscos de contaminao da populao.

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    No uso racional da gua, a gesto enfoca a reduo da quantidade de gua, monitorando a variao dos indicadores de consumo e agindo no sistema predial para que esses indicadores se mantenham em nveis adequados gesto da demanda com foco na quantidade de gua.

    Na conservao de gua, alm da gesto se preocupar com a quantidade de gua consumida, deve, obrigatoriamente, monitorar permanentemente a variao dos parmetros de qualidade da gua fornecida por fontes alternativas e impedir a possibilidade de contaminao do sis-tema potvel do edifcio gesto da oferta com foco na quantidade e na qualidade da gua.

    As aes e recomendaes deste documento voltam-se principalmente para programas de uso racional da gua ou uso eficiente da gua em edifcios, com objetivo de reduzir significativa e permanentemente os indicadores de consumo de gua pela populao das cidades, no se descartando, porm, situaes especficas nas quais algumas modalidades de aproveitamento de guas no provenientes do sistema pblico de abastecimento de gua potvel sejam aplicveis.

    Uma vez adotadas aes que promovam o uso racional e a conservao da gua nas edi-ficaes, essas podem se refletir na reduo da demanda necessria ao abastecimento e, consequentemente, aumentar o alcance temporal do sistema de suprimento.

    Oliveira (1999) classificou as aes para o uso eficiente da gua em edificaes sob trs aspectos: social (campanhas educativas e sensibilizao das pessoas); econmico (incentivos financeiros como a reduo de tarifas e subsdios para a aquisio de sistemas e componentes economizadores de gua, ou por meio de desincentivo financeiro para inibir o desperdcio, com o acrscimo da tarifa de gua em funo das faixas de consumo); tecnolgico (utilizao de sistemas e componentes economizadores de gua, deteco e correo de vazamentos).

    programas institucionais

    Programas bem sucedidos de uso eficiente da gua devem ser estruturados e requerem, como base, programas institucionais que propiciem a criao de um ambiente de interao entre os agentes pblicos rgos governamentais, agncias reguladoras, empresas conces-sionrias de servios, etc. e os agentes privados entidades setoriais de produtores e de revendedores de materiais e componentes, construtores, projetistas, gestores de facilities, entidades de consumidores, universidades e entidades de pesquisa, etc. Alm disso, devem ser caracterizados por aes de carter tecnolgico, econmico e social.

    O Brasil j caminhou nesse sentido, com a estruturao e implantao de programas bem sucedidos e que podem ser revistos, atualizados e retomados.

    Em 1994, estudos que deram origem srie Modernizao do Setor Saneamento (MPO/IPEA, 1994 a 1998, 15 volumes) indicaram a necessidade de se incorporar, no mbito federal, a coordenao de polticas e programas voltados conservao e ao uso racional da gua.

    Em 1997, foi institudo o Programa Nacional de Combate ao Desperdcio de gua (PNCDA), conforme estrutura apresentada por Silva, Cojeno e Gonalves (1999), articulado com o

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    envolvimento de ministrios, de entidades representativas no mbito setorial do saneamento e, tambm, entidades que tradicionalmente participam do processo decisrio. O programa tinha por objetivo geral promover o uso racional da gua de abastecimento pblico nas ci-dades brasileiras, em benefcio da sade pblica, do saneamento ambiental e da eficincia dos servios, propiciando a melhor produtividade dos ativos existentes e a postergao de parte dos investimentos para a ampliao dos sistemas. Tinha por objetivos especficos

    definir e implementar um conjunto de aes e instrumentos tecnolgicos, normativos, econmicos e institucionais, concorrentes para uma efetiva economia dos volumes de gua demandados para consumo nas reas urbanas, o que se daria por meio das seguintes dire-trizes: (I)promover a produo de informaes tcnicas confiveis para o conhecimento da oferta, da demanda e da eficincia no uso da gua de abastecimento urbano; (II) apoiar o planejamento de aes integradas de conservao e uso racional da gua em sistemas municipais, metropolitanos e regionais de abastecimento, incluindo componentes de gesto de demanda (residencial e no residencial), de melhoria operacional no abastecimento e de uso racional da gua nos sistemas prediais; (III) apoiar os servios de saneamento bsico no manejo de cadastros tcnicos e operacionais com vistas reduo nos volumes de gua no faturadas; (IV) apoiar os servios de saneamento bsico na melhoria operacional voltada reduo de perdas fsicas e no fsicas, notadamente em macromedio, micromedio, controle de presso na rede e reduo de consumos operacionais na produo e distribuio de gua; (V) promover o desenvolvimento tecnolgico de componentes e equipamentos de baixo consumo de gua para uso predial, inclusive normalizao tcnica, cdigos de prtica e capacitao laboratorial; e (VI) apoiar os programas de gesto da qualidade aplicados a produtos e processos que envolvam conservao e uso racional da gua nos sistemas p-blicos e prediais.

    No mbito do PNCDA foram realizados estudos especializados e organizao de documentos que norteariam atividades nas reas de (a) planejamento, gesto e articulao institucional das aes de conservao e uso racional da gua; (b) conservao da gua nos sistemas pblicos de abastecimento; e (c) conservao e uso racional da gua nos sistemas prediais. Tais documentos seriam elaborados de forma abrangente, numa viso ampla de combate ao desperdcio de gua, buscando-se a eficincia em todas as fases de seu ciclo de utilizao, desde a captao at o consumo final.

    O Programa de Uso Racional da gua (PURA) (GONALVES, OLIVEIRA, 1997) foi criado em 1995, por meio de um convnio de cooperao tcnica entre a Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (EPUSP), a Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo (Sabesp) e o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), com o apoio dos fabri-cantes de louas e metais. O objetivo da PURA era evitar o desperdcio de gua por meio de: (1) aes tecnolgicas para adequao de equipamentos e combate s perdas; (2) aes de conscientizao e sensibilizao, com mudana de hbitos dos usurios; e (3) aes de gesto, com permanente monitoramento dos sistemas hidrulicos para possibilitar a rpida correo de elevaes de consumo (OLIVEIRA, 1999). Enquanto polticas de racionamento, acionadas em situaes emergenciais, diminuem o consumo por meio da imposio de cotas, o PURA foi estruturado para utilizao permanente da quantidade mnima necessria de gua, sem comprometimento das atividades consumidoras. Trata-se, portanto, de ao de carter duradouro, em contraste ao racionamento, que por comprometer as atividades de consumo, implica em carter temporrio (OLIVEIRA, 1999). O PURA apresenta como caracterstica importante a gesto permanente da demanda, para garantir a manuteno do menor consumo possvel ao longo do tempo. A implementao de aes para otimizao sem a adoo de um sistema de gesto permite que os indicadores de consumo retornem aos nveis iniciais ou maiores.

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    O PURA foi estruturado em seis macroprogramas, cujos desenvolvimentos ocor-rem simultaneamente:

    Macroprograma 1 Banco de Dados de Tecnologias, Documentao Tcnica e Estudos de Casos;Macroprograma 2 Laboratrio Institucional do Programa de Uso Racional da gua (LIPURA);Macroprograma 3 Programa de Avaliao e Adequao de Tecnologias (PAAT);Macroprograma 4 Caracterizao da Demanda e Impacto das Aes de Economia no Setor Habitacional;Macroprograma 5 Documentao Relacionada a Leis, Regulamentos e Programas Setoriais da Qualidade;Macroprograma 6 Programas Especficos de Economia de gua em Diferentes Tipos de Edifcios.

    Foram realizados, em So Paulo, estudos de caso em diferentes tipologias de edifcios, que contriburam para aferir a metodologia desenvolvida e iniciar a aquisio de dados para estabelecimento de indicadores de consumo compatveis com as atividades consumidoras, considerando o uso eficiente da gua.

    Aps determinao e aferio da metodologia de implantao, a Sabesp firmou diversas parcerias e o programa foi implantado em maior escala: PURA-Escolas, PURA-Hospitais, PURA-Presdios. De todas as implantaes feitas, destaca-se o PURA-USP que, em funo do sistema de gesto adotado, consegue manter o resultado das aes de reduo de perdas e desperdcio de gua na Cidade Universitria da USP, em So Paulo, desde 1998.

    O PURA-USP um exemplo de programa permanente e efetivo de gesto de deman-da de gua, que apresenta resultados expressivos: foi iniciado em 1997, no mbito do Macroprograma 6 do PURA, por meio de convnio firmado entre a USP e a Sabesp, com os objetivos principais de (a) reduzir o consumo de gua e mant-lo reduzido ao longo do tempo; (b) manter um sistema estruturado de gesto da demanda de gua; e (c) desenvol-ver metodologias aplicveis a outros locais. O programa foi implantado em cinco fases: (1) diagnstico (conhecimento da situao, verificao das condies dos pontos de consumo e do sistema hidrulico, levantamento de dados); (2) reduo de perdas fsicas (deteco e eliminao de vazamentos nas redes externas e em reservatrios); (3) reduo de consumo nos pontos de utilizao (deteco e eliminao de perdas nos pontos de utilizao com regulagens e substituio de comandos hidrulicos, pesquisa e eliminao de vazamentos nas tubulaes internas, substituio de equipamentos convencionais por equipamentos economizadores adequados a cada tipo de uso); (4) caracterizao de hbitos e racionalizao de atividades que consomem gua (adoo de procedimentos mais eficientes para reduo de desperdcio sem perda de qualidade); (5) divulgao, campanhas de conscientizao e treinamentos. As etapas 4 e 5 tm carter permanente.

    Desde o incio foi definido um sistema permanente de monitoramento e gesto do consumo, por meio da instalao de hidrmetros e de um sistema remoto de medio que permite, em uma central de controle, o acompanhamento dirio do consumo de gua do campus. Este sistema de gesto permite que elevaes inesperadas de consumo sejam rapidamente localizadas, diagnosticadas e corrigidas, o que reduz a possibilidade de que o consumo de gua da universidade torne a se elevar. Desde o incio do PURA-USP, a populao do campus cresceu em 13,3%; a rea construda, em 16,3%, e o consumo de gua passou de 137.881 m/ms em 1998 para 78.821 m/ms em 2013, o que significa uma reduo de 43% no consumo mensal de gua da universidade.

  • aSpECtoS da Co

    nStruo SuStEntvEl no

    BraSil E proM

    oo

    dE poltiCaS pBliCaS

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    FIGURA 12 RESULTADOS DO PURA-USP

    perodo

    2013201220112010200920082007200620052004

    Gesto da demanda de gua

    intervenes do pura-uSp

    200320022001200019991998

    140

    43%

    32%

    Total 137 para 79 mil m3/ms

    Fase 2 56 para 44 mil m3/ms

    Fase 1 81 para 35 mil m3/msDem

    anda

    de

    gua

    (1.0

    00 m

    3 /m

    s)

    14%

    44%

    22%

    57%

    120

    100

    80

    60

    40

    20

    0

    FONTE: USP (2014)

    Para manuteno da reduo de consumo