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Biodiversidade, Unidades de Conservação, Indicadores Ambientais capítulo I

CEB2003 - Caatinga Um Bioma Brasileiro Desprotegido

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captulo IBiodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientais

Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientais

Volume I

26 | VI Congresso de Ecologia do Brasil, Fortaleza, 2003

Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientais Biodiversidade vegetal e do solo em ecossistemas agrcolas e naturais de Mata Atlntica na regio Serrana do Estado do Rio de JaneiroAboim1,3 M.C. R., Barbosa2,3 J.C., Freitas W.K.4, Magalhes L.M.4, Correia E.5, Reis L.L.5, Rosado A. S. 1, Coutinho H. L. C. 3 1 IMPPG-UFRJ; 2graduao Ecologia UFRJ; 3Embrapa Solos; 4IFUFRRJ; 5Embrapa Agrobiologia [email protected] 1. Introduo A Mata Atlntica no Brasil vem sendo devastada nos ltimos 500 anos para fins agropecurios e de extrao madeireira, alm da especulao imobiliria. Atualmente restam apenas cerca de 8% da floresta original. Destes, a maior parte est sob precria condio e sofrendo contnua perda de biomassa vegetal e eroso gentica, particularmente no Estado do Rio de Janeiro. Alm disso, os solos tropicais so conhecidos por sua reduzida fertilidade natural, se comparados com os de pases temperados e, portanto, so os recursos naturais no-renovveis mais limitantes para o desenvolvimento de agroecossistemas com baixa dependncia de insumos externos, necessrios para assegurar sustentabilidade econmica a sistemas de agricultura familiar. Na regio serrana do Estado do Rio de Janeiro, uma das atividades econmicas mais relevantes dos pontos de vista social e econmico a produo de tubrculos e gros para o abastecimento da capital do Estado. Grande parte dos agricultores familiares da regio adotam, dentro de suas propriedades, o sistema de cultivo que chamamos de agricultura migratria, caracterizado pelo cultivo de inhame, milho e feijo durante 3 anos em glebas que so posteriormente deixadas em pousio. Nesta etapa, ocorre o crescimento da vegetao espontnea, e estabelece-se um processo de sucesso ecolgica at o momento de retorno da rea ao cultivo agrcola, aps um perodo de 3 a 7 anos. Apesar de estarem localizadas em reas de elevada declividade, algumas propriedades que adotam este sistema permanecem produtivas aps 40 anos de cultivo, indicando que o perodo de pousio e o desenvolvimento vegetal resultante possibilitam a conservao da capacidade destes solos em sustentar e promover o crescimento de plantas. Com o recrudescimento da fiscalizao ambiental nesta regio, os produtores esto encurtando o perodo de pousio, para que as rvores em crescimento no cheguem a DAP maiores que os permitidos pela legislao vigente (cinco centmetros), impossibilitando o corte. Especula-se que o encurtamento do perodo de pousio torne o sistema insustentvel, levando a degradao do solo, empobrecimento do produtor, podendo levar a inviabilizao da propriedade. Considerando-se que o objetivo da legislao e de sua fiscalizao seja a conservao da j combalida biodiversidade da Mata Atlntica e que a capacidade produtiva do solo depende de sua qualidade, medida por indicadores biolgicos, fsicos e qumicos [2], desenvolvemos um trabalho de pesquisa em uma propriedade rural de base familiar que adota o sistema de agricultura migratria. Alm de glebas sob cultivo e pousio, a rea contm fragmentos de floresta em estgios sucessionais distintos. Isto possibilitou uma investigao sobre a dinmica da biodiversidade vegetal e do solo em uma paisagem heterognea, constituida de um mosaico de terras sob uso antrpico e vegetao natural. 2. Material e Mtodos Tratamentos: Localizada no municpio de Bom Jardim, RJ, Distrito de Barra Alegre, a propriedade Stio da Cachoeira est na regio de cabeceira do Crrego do Pito Aceso, inserido na Bacia do rio Paraba do Sul. Seu proprietrio, h mais de 50 anos, implementa um sistema de produo caracterizado pela diviso das propriedades em glebas, onde cultiva culturas anuais em rotao (inhame, milho e feijo) durante 3 anos, sendo depois deixadas em pousio, quando ocorre o crescimento de vegetao de capoeira primria. A reincorporao das glebas ao sistema de produo ocorre de 3 a 7 anos aps o incio do pousio. A rea de estudo inclui ainda fragmentos florestais em estgios sucessionais distintos. Pasto Plantio de caf* Plantio de banana* Primeiro ano de cultivo (C1) Segundo ano de cultivo (C2) Terceiro ano de cultivo (C3) Primeiro ano de pousio (P1) Pousio entre 3 e 5 anos (P3-5) Pousio entre 5 e 7 anos (P5-7) Mata secundria com cerca de 15 anos (M15) Mata secundria com cerca de 30 a 35 anos (M30-M35) Mata secundria com mais de 70 anos (M>70) *Apenas diversidade microbiana do solo Diversidade de bactrias do solo: De cada parcela foram coletadas amostras compostas de solos da profundidade 0-5cm. A extrao do DNA total do solo foi feita segundo o protocolo do Kit FastDNA SPIN Kit for soils da Bio 101. O DNA total foi preservado 20C at o momento da anlise. Este ento foi amplificado por PCR, utilizando-se iniciadores que reconhecem os flancos da regio do gene que codifica a subunidade beta da RNA polimerase rpoB. O produto de PCR analisado em gel de agarose 1,4%. Por fim, os produtos de PCR tambm foram analisados em um gel de gradiente de desnaturao, em uma unidade DGGE da Bio-Rad [3, 4]. O gel foi corado com SYBER Green I, observado em U.V. 366nm e fotografado A partir do registro dos dados de presena e ausncia de bandas, foi feita a anlise de agrupamento [1] aplicando-se o algoritmo de Pearson atravs do programa STATYSTICA. Anlise Florstica: Nas reas de florestas foram delimitados transectos de 10m x100m, divididos em dez subparcelas de 10m x 10m, numa amostragem de 1000 m2 por transecto. Nas capoeiras incorporadas ao sistema de produo (pousios) foram demarcadas parcelas de 10m x10m. Em uma rea de pousio com um ano de idade (P1) foi definida uma parcela (100 m2),duas parcelas (200 m2) em uma rea de pousio de cerca de trs anos (P3) e quatro parcelas (400 m2) em uma rea de pousio de cerca de cinco anos (P5). A lista florstica obtida nestas diferentes reas originou uma matriz qualitativa com 6 estaes (amostras) e 94 descritores (espcies) [5]. A classificao foi realizada a partir da anlise de agrupamento, com o auxlio do programa Fitopac. O coeficiente de similaridade utilizado foi o de Kulczynsi e o mtodo de aglomerao o UPGMA (Unwegeighted Pair-Group Average). Fauna do Solo: Em todos os tratamentos foram retirados 6 blocos de solo medindo 25 x 25 x 30 cm. Em cada ponto de amostragem a serapilheira e o solo nas profundidades de 0-10 cm, 10-20 cm e 20-30 cm foram examinados e os invertebrados encontrados foram coletados. No laboratrio procedeu-se triagem da fauna de solo, onde os animais foram separados primeiramente ao nvel de grandes grupos taxonmicos (ordens e famlias) e anotadas as suas densidades. Com os dados obtidos foi realizada uma anlise de agrupamento com o auxlio do programa STATYSTICA 5.0, utilizando-se a distncia City-block (Manhatan) expressa em porcentagem e como mtodo de aglomerao o UPGMA (Unweighted Pair-Group Average). 3. Resultados A diversidade de bactrias alta em todos os tratamentos e bastante modificada com relao encontrada na mata mais antiga nos solos sob cultivo. Dois grandes grupos foram formados. Num agrupam-se as amostras de solo sob cultivo, pousio de 1 ano e caf. No outro, agruparam-se as amostras de solos de pousios de 3 a 5 e de 5 a 7 anos (P3-5 e P5-7), e das matas secundrias de 15 e de 30 a 35 anos, alm de do pasto e plantio de banana. A estrutura de

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaiscomunidades de bactrias do solo sob pousio h um ano foi similar encontrada no solo sob cultivo, evidenciando serem comunidades em transio. A mata mais antiga (com mais de 70 anos) apresentou um estrutura bastante distinta das demais amostras. No caso da fauna de solo, houve a formao de trs grupos: um reuniu as matas M30-35 e M>70, o segundo englobou os pousios P3-5 e P5-7, e no terceiro e mais heterogneo dos grupos, foram reunidos os cultivos (C1, C2 e C3), o pasto, o pousio P1 e a mata M15. Os grupos da fauna de solo que mais contriburam para a formao destes agrupamentos foram: Oligochaeta, Araneae, Larvas de Coleoptera e Formicidae. A anlise florstica revelou que os grupos foram formados de acordo com o estgio seral, [6] similar ao encontrado na biodiversidade do solo. O primeiro grupo demonstrou que os pousios de 1 e de 3 a 5 anos apresentaram maior semelhana em funo da presena de uma espcie (Vernonia polyantha). O segundo grupo formado pelas matas secundrias de 15 e de 30 a 35 anos, que caracterizam-se pela presena de espcies tpicas de formaes de estgio inicial de sucesso, tais como: Cecropia glaziovii, Cletha scabra, Eupatorium compressum, Lithraea molleoides, Tibouchina granulosa, entre outras. A mata com mais de 70 anos constitui o terceiro grupo e demonstrou a ocorrncia de espcies tpicas de estgios sucessionais mais avanados, destacando: Apuleia leiocarpa, Brosimun lactescens, Citronella paniculata, Euterpe edulis, Ocotea divaricata, Odorifera puberula, Swartzia flemmingii, Trichilia sp, Virola bicuyba, e outras. 4. Discusso e Concluses As anlises de agrupamento mostraram um processo de sucesso nas comunidades de bactrias e fauna do solo, que apresentaram alteraes em suas estruturas de acordo com o estgio sucessional e com o uso agrcola do solo. Esta tendncia foi acompanhada pela diversidade florstica nos transectos examinados. Os resultados sugerem que o manejo do solo e as modificaes qumica e fsica resultantes, induzem alteraes drsticas em sua biodiversidade. O incio do processo de reverso desta alterao ocorre em algum momento entre 1 e 3 anos de pousio. Aps este perodo, a dinmica de sucesso de biodiversidade do solo aparenta estar acompanhando a da diversidade florstica. Nossas pesquisas tero continuidade buscando elucidar possveis relaes entre os fatores abiticos dos ecossistemas e a biodiversidade sobre e sob o solo, que ainda permanece uma caixa-preta para a cincia. 5. Referncia Bibliogrfica 1-ALDENDERFER, M. S. & BLASHFIELD, R. K. (1984). Series Quantitative Applications in the social sciences: Cluster Analysis. London: Sage Publication Ltda. 2-DORAN, J.W. & PARKIN, T.B. (1994) Defining and assessing soil quality. In: Defining Soil Quality for a Sustainable Environment (J.W. Doran et al., eds.). SSSA 35 Special Publications, Madison, EUA. 3-MUYZER, G.; DE WAAL, E.C.; UITTERLINDEN, A.G. (1993). Profiling of complex microbial populations by denaturing gradient gel electrophoresis anaysis o polymerase chain reaction-amplified genes coding for 16S rRNA. Appl. Environ. Microbiol. V. 59. 4-PEIXOTO R.S., COUTINHO H.L.C., RUMJANEK N.G., MACRAE A. & ROSADO A.S. (2002) Use of rpoB and 16S rRNA genes to analyse bacterial diversity of a tropical soil using PCR and DGGE. Lett Appl Microbial v. 35. 5-SIQUEIRA, M. F. (1994). Anlise florstica e ordenao de espcies de espcies arbreas da Mata Atlntica atravs de dados binrios. (Dissertao de Mestrado) Campinas. UNICAMP. 6-TABARELLI, M & MANTOVANI,W.(1999). A riqueza de espcies arbreas na floresta atlntica de encosta no estado de So Paulo (Brasil). Rev. bras. Bot. v.22.(2). So Paulo. (Este trabalho parte do Projeto Desenvolvimento de sistemas agroflorestais para recuperao e sustentabilidade de reas de Mata Atlntica, financiado pelo Prodetab, com recursos do Banco Mundial, e gerenciado pela Embrapa.)

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Espcies Vegetais Exticas e Invasoras: problemas e solues.Abreu, R. C. R. de a *; Iguatemy, M. A.; Rodrigues, P. J. F. P. b . a Estagirio IC/ Instituto de Pesquisas Jardim Botnico do Rio de Janeiro/ Graduao UNIRIO *([email protected]);b Pesquisador do Instituto de Pesquisas Jardim Botnico do Rio de Janeiro. 1.Introduo Espcies exticas so aquelas que no ocorrem originalmente em determinado ecossistema ou ambiente. Segundo Cronk & Fuller (1995), uma planta invasora uma extica que se propaga naturalmente (sem interferncia humana) em habitat natural ou seminatural. Esta pode ser capaz de alterar a composio, estrutura e processos naturais do ecossistema. As plantas invasoras ocorrem em praticamente todo o mundo destacando-se o arquiplago Havaiano (Henneman & Memmot, 2001), as Ilhas Tiwi (Fensham & Cowie, 1998), a frica do Sul (Enright, 2000; Pimentel et al., 2001), os Estados Unidos (Cronk & Fuller, 1995; Pimentel et al., 2001; Stohlgren et al., 2002), a Austrlia (Hobbs, 2001; Pimentel et al., 2001; Kriticos et al., 2003) e o Brasil (Pivello et al., 1999; Rodrigues et al., dados no publicados). Nestes locais, h indcios de que as plantas invasoras possam permanecer durante anos em baixas densidades e caso ocorram perturbaes, podem proliferar continuamente transformando-se em pragas (Myers et al., 2000). Considerando o cenrio atual de fragmentao e perturbaes recorrentes experimentados por diversos ecossistemas brasileiros, o risco de invases torna-se evidente. A Mata Atlntica, por exemplo, com apenas cerca de 7,6% de sua rea original (Morellato & Haddad, 2000) disposta grande parte em fragmentos est teoricamente dentre os ecossistemas mais vulnerveis. Dentre estes, podemos destacar tambm o Cerrado o qual tem sido sistematicamente degradado principalmente para expanso de fronteiras agrcolas. Neste sentido, o mesmo tem ocorrido com a Floresta Amaznica que apresenta ainda extrao predatria de madeira e vrios outros impactos relacionados. Por serem extremamente nocivas e afetarem localmente as comunidades das reas invadidas, indica-se a erradicao destas espcies. Esta erradicao em termos conceituais consiste na remoo de todo indivduo potencialmente reprodutivo ou ainda na reduo das densidades populacionais abaixo de nveis sustentveis (Myers et al., 2000). Este trabalho terico alerta para potenciais invases de ecossistemas brasileiros e salienta a importncia dos estudos acerca das espcies que invadem tais ambientes. 2.Discusso Os estudos acerca das espcies invasoras no Brasil so escassos, e a ocorrncia destas pode ser relativamente comum. H indcios de que plantas exticas, geralmente, ao encontrarem condies favorveis nas novas regies, podem ter estabelecimento e propagao favorecidos. Alm disso, em alguns casos podem tornar-se maiores, reproduzirem-se mais e viver mais tempo do que nos locais de origem. Isto porque nos novos ambientes, tais plantas em geral encontram-se livres de patgenos e herbvoros reguladores de suas populaes, alm dos inimigos naturais das plantas nativas estarem presentes regulando as populaes destas (Keane & Crawley, 2002). Assim sendo, teoricamente por excluso competitiva as plantas exticas podem atingir grandes densidades ao excluir plantas nativas. Em bordas, por exemplo, freqente encontrar espcies exticas, uma vez que estes locais teoricamente esto mais sujeitos a invaso (Fensham & Cowie, 1998; Stohlgren et al.,2002). Alm disto, invases tambm podem ser facilitadas quando localmente ocorrem atividades que aumentem o nitrognio disponvel, tais como: fogo, poluio atmosfrica, fertilizao e plantas fixadoras de nitrognio. H indcios tambm de que a proximidade com

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaisreas j invadidas pode facilitar a invaso. Neste sentido, muitas espcies exticas colonizam beiras de estradas, reas de baixada e zonas riprias, as quais podem funcionar como verdadeiros corredores de invaso (Dukes & Mooney, 1999; Stohlgren et al.,2002). Em ecossistemas brasileiros, invases a partir das bordas tm sido relatadas para o Cerrado (Pivello et al.,1999) e para a Mata Atlntica (Rodrigues et al., dados no publicados). Na Mata Atlntica, a espcie Artocarpus heterophyllus Lamk (Jaqueira) freqentemente associada a atividades antrpicas como a caa, por exemplo. Desta forma, a introduo de uma extica com frutos atrativos para a fauna pode auxiliar a caa. Caadores, tm atuado como introdutores desta espcie e de outras tais como bananeiras (Musa paradisiaca L.). Assim sendo, freqente observar em algumas florestas, mesmo em Reservas Biolgicas, girais de caa prximos a estas frutferas (Rodrigues et al., dados no publicados). Problemas Associados Dentre os problemas causados por plantas exticas nos ambientes invadidos destacam-se as alteraes dos recursos disponveis, a co-introduo de agentes patognicos, a alterao do estado dos nutrientes do solo e a maior susceptibilidade do solo a queimadas (Pimentel et al., 2001). Sobre os recursos disponveis, Enright (2000) cita casos onde toda gua do lenol fretico foi consumida. Isto ocorre quando a vegetao natural dos campos graminides ou florestas arbustivas substituda por plantaes de Pinus e Eucalyptus, uma vez que as razes destas plantas alcanam o lenol fretico. Neste caso experimentos com corte das plantaes e restabelecimento da vegetao nativa indicaram aumento do nvel do lenol fretico. Ainda neste contexto, estudos j mostram que em apenas trs meses, algumas destas espcies podem alterar a comunidade microbiolgica do solo, modificando a estrutura e a funo deste (Kourtev et al., no prelo). Zin et al. (2002), descrevem alteraes que ocorrem no solo do Cerrado em reas de reflorestamento feito com espcies de Pinus caribaea var. hondurensis Barret e Golfari e de Eucalyptus camaldulensis Dehnh, apontando o horizonte mais superficial do solo (camada de serapilheira) como a camada mais sensvel s mudanas. Outros estudos tambm observaram o esgotamento do Carbono Orgnico do Solo (COS) na Amaznia (Smith et al.,2002) quando a vegetao original foi substituda por plantaes de Pinus e no Cerrado (Zin et al.,2002), quando foi feito o reflorestamento supra citado. importante considerar que algumas modificaes observadas referem-se a ambientes agrcolas. Contudo, tais alteraes podem ocorrer caso estas espcies invadam ecossistemas naturais. Disperso e Sucesso de Estabelecimento A capacidade de disperso um fator importante para o sucesso do estabelecimento de plantas. H indcios de que a disperso zoocrica seja responsvel pelo sucesso de muitos invasores (Rejmnek, 1996). Para espcies anemocricas, Rejmnek (1996) mostrou que quanto menor a massa da semente, maior pode ser a capacidade de invaso. Desta forma, algumas espcies de Pinus (gnero exclusivo do hemisfrio Norte) destacam-se como invasores no hemisfrio Sul (Rejmnek, 1996; Enright, 2000). Outras espcies de disperso anemocrica como gramneas, foram introduzidas para atender demandas agropecurias. Atualmente, tm grande destaque como invasoras do Cerrado: Melinis minutiflora Beauv., Brachiaria decumbens Stapf, Hyparrhenia rufa (Nees) Stapf, Andropogon gayanus Kunth e Panicum maximum Jacq., se propagam naturalmente com relativa facilidade e erradicam competitivamente as gramneas nativas (Pivello et al., 1999). Neste contexto, o estudo de Klink (1996) aponta a alta produo de sementes, associada com a rpida e alta capacidade de germinao no incio da poca das chuvas, como fatores importantes para o sucesso de colonizao de A. gayanus Kunt var. bisqualus (Hochst.) Hack neste ambiente. Erradicao e Restaurao A simples erradicao das invasoras no suficiente para que o ecossistema recupere suas funes, caso no haja uma boa recuperao da vegetao nativa, solos sero mais vulnerveis eroso e o futuro estabelecimento das espcies nativas pode ser lento (Enright, 2000). Neste contexto, Reis (2003) indica que a associao de diferentes mtodos de restaurao da vegetao nativa aumenta o ritmo da sucesso desta. E com a simples erradicao as reas esto sujeitas re-invaso e ao abandono do local pela fauna nativa por no haver comida ou abrigo (Zavaleta et al.,2001). A re-invaso deve ser prevenida, pois a erradicao ser apenas temporria se o fluxo de indivduos continuar e a deteco de espcies invasoras enquanto encontram-se em densidades relativamente baixas deve ser possvel (Myers et al.,2000). Alm disto, a restaurao tambm deve ser aplicada uma vez que alguns invasores alteram o ambiente de tal forma que este torna-se inspito para o estabelecimento das plantas nativas (Zavaleta et al.,2001). 3.Concluses A remoo das espcies exticas, principalmente das invasoras, ento indicada, e Programas de Erradicao devem ser incentivados, especialmente em Unidades de Conservao considerando que estas se destinam a preservar as caractersticas naturais dos ecossistemas. Nestes Programas, estudos ecolgicos acerca da espcie alvo e do ecossistema em questo so fundamentais para a escolha correta dos mtodos de remoo. Este fator determinar o sucesso do Programa de Erradicao. Conforme Wilcove & Chen (1998), aes como a remoo de plantas e animais exticos, queimadas programadas de espcies adaptadas ao fogo, ou controle de predadores e parasitas que ameaam espcies raras esto se tornando ferramentas essenciais para a manuteno da biodiversidade. 4.Referncias Bibliogrficas Cronk, Q.C.B. & Fuller, J.L. , 1995. Plant Invaders. Chapman & Hall, London, UK. Dukes, J.S. & Mooney, H.A., 1999. Does global change increase the success of biological invaders?. Trends in Ecology and Evolution. 14(4):135-139. Enright, W.D., 2000. The Effect of Terrestrial Invasive Alien Plants on Water Scarcity in South Africa. Phys. Chem. Earth (B), 25(3):237-242. Fensham, R.J. & Cowie, I.D., 1998. Alien plant invasions on the Tiwi Islands. Extend, implications and priorities for control. Biological Conservation 83(1):55-68. Henneman, M.L. & Memmott, J., 2001. Infiltration of a Hawaiian Community by Introduced Biological Control Agents. (296):1314-1316. Hobbs, R.J., 2001. 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Economic and environmental threats of alien plant, and microbe invasions. Agriculture, Ecosystems & Environment 84:1-20.

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores AmbientaisPivello, V.R., Shida, C.N., Meirelles, S.T., 1999. Alien grasses in Brazilian savannas: a threat to the biodiversity. Biodiversity and Conservation 8:1281-1294. Morellato, L.P.C. & Haddad, C.F.B. , 2000. Introduction: The Brazilian Atlantic Forest. Biotropica 32(4b): 786-792. Myers, J.H., Simberloff, D., Kuris, A.M., Carey, J.R., 2000. Eradication revisited: dealing with exotic species. Trends in Ecology & Evolution 15(8):316-320. Reis, A.; Bechara F.C.; Espindola, M.B.; Vieira, N.K.; Souza, L.L., 2003. Restoration of damaged areas: using nucleation to improve successional processes. Natureza & Conservao 1(1):85-92. Rejmnek, M., 1996. A Theory of Seed Plant Invasiveness: The First Sketch. Biological Conservation 78:171-181. Smith, C.K., Oliveira, F.A., Gholz, H.Z., Baima, A., 2002. Soil carbon stocks after forest conversion to tree plantations in lowland Amazonia, Brazil. Forest Ecology and Management 164:257-263. Stohlgren, T.J., Chong, G. W., Schell, L.D., Rimar, K.A., Otsuki, Y., Lee, M., Kalkhan, M.A., Villa, C.A., 2002. Assessing Vulnerability to Invasion by Nonnative Plant Species at Multiple Spatial Scales. Environmental Management 29(4):566-577. Wilcove, D.S. & Chen, L.Y., 1998. Management Costs for Endangered Species. Conservation Biology 12(6):1405-1407. Zavaleta, E.S., Hobbs, R.J., Mooney, H.A., 2001. Viewing invasive species removal in a whole-ecosystem context. Trends in Ecology & Evolution 16(8):454-459. Zinn, Y.L., Resck, D.V.S., Silva, J.E., 2002. Soil organic carbon as affected by afforestation with Eucalyptus and Pinus in the Cerrado region of Brazil. Forest Ecology and Mannagment 166:285-294.

Volume I

Estado Atual de Conservao do Parque Estadual do Bacanga, So Lus MA, BrasilAdriana Alves Santos Andrade 1. Introduo Por sculos, as atividades humanas vm causando transformaes nas paisagens naturais. Todavia, nos ltimos cem anos, a capacidade de alterao vem sendo incrementada em virtude do crescimento populacional humano e, especialmente, de sua associao com inmeras transformaes tecnolgicas (MACHLIS & TICHNELL, 1985). Diante desses fatos, surgiu a necessidade de preservar certas fraes de ecossistemas naturais para minimizar perdas da diversidade biolgica e melhorar a qualidade de vida das populaes atuais e futuras. As UCs, localizadas em So Lus, sofreram e vm sofrendo alteraes das suas caractersticas fsico-qumicas e biolgicas, provocadas, principalmente, pelo desordenado crescimento demogrfico de So Lus, demonstrando que, como citado por Morsello (2001), a simples seleo e delimitao de unidades de conservao no encerra a soluo do problema de conservao. Dessa forma necessrio a elaborao e implantao de Plano de Manejo para a manuteno das caractersticas ambientais da unidade. O Parque Estadual do Bacanga uma categoria de UC do grupo de Proteo Integral. Essa categoria mantm os mesmos objetivos dos Parques Nacionais presentes no SNUC (2000), ou seja,... a preservao de ecossistemas naturais de grande relevncia ecolgica e beleza cnica, possibilitando a realizao de pesquisas cientficas e o desenvolvimento de atividades de educao e interpretao ambiental, na recreao em contato com a natureza e de turismo ecolgico. O Parque localiza-se na regio centro-oeste da Ilha do Maranho e parte da zona central do municpio de So Lus. Foi criado pelo Decreto Estadual n 7.545 de 02 de maro de 1980, com uma rea de 3.065 ha, correspondendo parte restante da antiga Floresta Protetora dos Mananciais da Ilha de So Lus (criada pelo Decreto Federal n 6.833 de 26 de agosto de 1944). A rea atual do Parque, segundo ELETRONORTE (2002),

de 2.634,06 ha, correspondendo, aproximadamente a 86% da rea original. A reduo dessa unidade deve-se s excluses de reas irregularmente ocupadas no entorno do Parque. Das UC presentes no Municpio de So Lus, apenas o Parque Estadual do Bacanga possui Plano de Manejo, elaborado em 1992 pela extinta SEMATUR (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Turismo) com o apoio da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) e ENGE RIO (Engenharia e Consultoria S.A.). Entretanto, a maioria dos programas propostos pelo plano de manejo desta UC no foi implementada, o que, certamente contribuiu para agravar os problemas presentes na rea. Este trabalho teve como objetivo levantar as causas dos impactos da rea do Parque Estadual do Bacanga. 2. Metodologia Foram realizadas visitas a campo para o reconhecimento da rea e levantamento dos principais aspectos impactantes, que vm ocorrendo na rea do Parque Estadual do Bacanga. A metodologia utilizada envolveu anlises bibliogrficas de todas as informaes disponveis sobre o Parque Estadual do Bacanga, os mapas contidos no Plano de Manejo do Parque Estadual do Bacanga SEMATUR, 1992, e do mapa contido no documento de atualizao do Plano de Manejo do Parque Estadual do Bacanga Eletronorte, 2002. 3. Resultados e Discusso A Companhia de guas e esgoto do Maranho (CAEMA) mantm vrias estradas na rea do Parque que do acesso represa do Batat, ao Sistema do Rio da Prata e aos nove poos artesianos instalados por essa companhia. A ELETRONORTE tambm mantm reas desmatadas ao longo da linha de transmisso, referentes linha de servido. Essas estradas expem o Parque a inmeras atividades degradadoras e facilitam a interiorizao dessas atividades, tornando as pores mais centrais da UC mais acessveis s atividades clandestinas. Durante os ltimos 10 anos, vrios povoados se instalaram na rea do Parque. Aqueles da periferia do Parque levaram o Estado a redefinir os limites dessa Unidade, atravs da excluso das reas invadidas. Na rea mais interna do Parque, de acordo com informaes da Fundao Nacional de Sade, existem 13 povoados, com uma populao estimada em 679 pessoas. importante frisar que algumas dessas reas so usadas para recreao em fins de semana. Esses fatores contribuem para a ocorrncia de atividades ilegais observadas nas visitas a campo realizadas em 2002, na companhia de um soldado do Batalho Florestal. Os aspectos impactantes observados foram: extrao de areia, no manancial na zona primitiva; extrao de madeira, em vrias zonas, inclusive em mata de galeria; queimadas, nas zonas de recuperao, uso extensivo e uso intensivo; desmatamentos de reas de juareiras e buritizais; lixo acumulado na zona primitiva, adjacente Vila Conceio; lixo acumulado na rea do Batalho Florestal (quentinhas, etc.); pequenas reas com cultivo de arroz, milho, banana e cana-de-acar nas zonas de uso extensivo e intensivo. Em pesquisas realizadas por Machilis & Tichnell (1985), as ameaas s UCs parecem ser diferentes entre os pases mais desenvolvidos e os menos desenvolvidos. Enquanto em pases desenvolvidos, as ameaas mais comuns so a poluio qumica, minerao e invaso de espcies exticas; nos pases de baixos ndices de desenvolvimento, as ameaas mais comuns so a invaso ilegal da rea, queimada, caa e remoo ilegal de madeira. As ameaas ao Parque Estadual do Bacanga no so diferentes, das citadas pelo autor para unidades de conservao de pases em desenvolvimento. A insularizao do Parque condicionado pela ocupao irregular nos permetros norte, leste e sul e a pela presena do Rio Bacanga em seu permetro oeste, rio comprovadamente impactado pelo lanamento de efluente domstico e lanamento de lixo, provavelmente favorecem a perda da diversidade biolgica do Parque

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores AmbientaisEstadual do Bacanga, devido a diminuio gradativa da mata da zona primitiva e conseqente reduo de habitats favorveis manuteno de espcimes da fauna, principalmente daqueles de maior tamanho, que necessitam de maior espao territorial para a manuteno de suas populaes. Morsello (2001) comenta sobre a perda de diversidade biolgica aps a insularizao de reas protegidas, atravs dos resultados do trabalho de Soul e outros pesquisadores em 1974 e do trabalho de Newmark em 1987. Estes pesquisadores concluram que com a degradao de reas adjacentes s unidades de conservao e com a conseqente insularizao, ocorre considervel declnio do nmero de espcies da rea. Da a necessidade de criao e manuteno de uma zona de amortecimento no entorno das UC e da criao de corredores ecolgicos para viabilizar a manuteno da riqueza de espcies na rea, entre outras vantagens. A rea do Parque Estadual do Bacanga no possui uma rea de amortecimento, ao contrrio, cada vez mais a populao est ultrapassando os limites do parque. 4. Consideraes Finais As intenes de criao do Parque Estadual do Bacanga e elaborao do Plano de Manejo de 1992 foram boas. Contudo, se aes especficas e eficazes para a recuperao e conservao dessa UC, no forem tomadas em breve, a rea do Parque Estadual do Bacanga ser considerada irrecupervel, da mesma forma que as reas do Coroadinho, Vila Itamar, Vila Conceio, Vila Esperana, dentre tantas outras que faziam parte da rea do Parque e que foram excludas. Trabalhos para a conscientizao da populao, sobre a importncia dessa rea como uma unidade de conservao, tm de comear rapidamente. Para o melhor gerenciamento da unidade, deve ser formado um conselho gestor, no qual, necessariamente, a populao residente deve fazer parte, de modo a integr-la aos objetivos da UC. Um novo zoneamento da rea dever ser realizado para estabelecer as normas de uso e ocupao do solo, estabelecimento de atividades compatveis com os objetivos da unidade e que possam retornar em benefcios para a comunidade. 5. Referncias Bibliogrficas ELETRONORTE, Superintendncia de Meio Ambiente. Parque Estadual do Bacanga: Atualizao do Plano de Manejo. So Lus, 2002. 30 p. MARANHO, Secretaria de Meio Ambiente e Turismo. Plano de manejo do Parque Estadual do Bacanga. So Lus, 1992. 125 p. MACH, G. E.; TICHNELL, D. L. The state of the worlds parks. London: Westview Press, 1985. 131 p. MORSELLO, C. reas protegidas pblicas e privadas: seleo e manejo. So Paulo: Anablume, 2001. 343p. produtos de origem animal, de uso no alimentar que so comercializados no principal centro consumidor da Amaznia Central, bem como verificar as categorias de uso, a frao do animal utilizada, a procedncia, a aplicabilidade desses produtos e comparar os locais em termos de diversidade de espcies utilizadas e usos. 2. Mtodos Aps um levantamento sobre os locais, da cidade de Manaus, em que so comercializados, diariamente, produtos no alimentares derivados de animais e suas fraes, escolhemos: o Mercado Municipal Adolpho Lisboa, localizado Rua dos Bars, n 46 e a Feira Permanente de Artesanato, localizada na Praa Tenreiro Aranha s/n, ambos no centro da cidade. Para o levantamento elaboramos um questionrio aberto contendo 11 questes, sobre os seguintes aspectos: 1) produto comercializado; 2) etnoespcie utilizada; 3) categoria de uso; 4) parte do animal utilizada; 5) aplicao do produto; 6) fornecedor; 7) procedncia; 8) apresentao; 9) preo; 10) estocagem e; 11) procura. Em cada estabelecimento, entrevistamos vendedores sobre a presena de artesanato, medicinas ou objetos mgicos de origem animal de uso no alimentar comercializados. Explicamos brevemente sobre os objetivos do trabalho e todos foram informados que sua participao era de livre escolha na pesquisa. Aos que concordaram em participar o questionrio foi aplicado e as informaes registradas. Alguns produtos foram fotografados, outros adquiridos, para que as espcies fossem identificadas atravs de bibliografia especializada. Os animais foram identificados com o auxlio de: Ferreira et al. (2000), Schaunesee e Phelps (1990), Amaral (1978), Emmons e Feer (1990). Para calcular o ndice de diversidade nos dois estabelecimentos, utilizou-se: 1) o nmero de espcies (s), ou seja, a riqueza, 2) a distribuio dos indivduos entre as espcies (H), ou equitabilidade (ndice de Shannon), 3) a proporo do total de ocorrncias em cada espcie (D), ou seja, ndice de Simpson. Para efeito de anlise, os animais e suas fraes foram agrupados em 3 diferentes categorias de uso: artesanato, remdio e remdio espiritual. Entendendo-se artesanato como os produtos produzidos manualmente, utilizados principalmente com enfeites e bijuterias, remdio como medicamento para curar doenas fsicas, como asma, sinusite, tuberculose e remdio espiritual como medicamento para tratar incmodos como mal de chifre (traio), falta de dinheiro e atrao de marido. 3. Resultados Os produtos comercializados destinam-se a diversos fins como, por exemplo, enfeites, chamas e remdios. As peas artesanais so formadas, principalmente, por penas de aves, como as de araras (Ara spp) e os remdios, muito utilizados pela populao local, so principalmente banhas, como a da cobra sucuriju (Eunectes murinus). Em seis visitas aos locais escolhidos, entre fevereiro e maio de 2003, entrevistamos 14 comerciantes, sendo 7 no Mercado Municipal e 7 na Feira de Artesanato. Foram 107 citaes de animais, distribudas da seguinte maneira: 63% na feira e 37% no mercado. Das citaes, 28 foram de peixes, 24 de rpteis, 26 de aves, 25 de mamferos e 4 de invertebrados. Desse total de citaes, foram classificadas pelos comerciantes 47 etnoespcies, sendo 14 de peixes, 10 de rpteis, 7 de aves, 13 de mamferos e 3 de invertebrados. Na feira observamos uma maior diversidade de espcies sendo comercializadas, ou seja, a riqueza de espcies foi maior: na feira s = 41 e no mercado s = 20. Quanto a equitabilidade na feira, H = 1,24300 e no mercado H = 1,19994. Com o ndice de Simpson, obteve-se na feira D = 0,98224 e no mercado D = 0,94467. Obtivemos: Artesanatos No mercado foram citados 24 animais, os mais citados foram: piranha, piranha caju, piranha preta, pirarucu, tambaqui, cobra,

Produtos da Fauna de uso no alimentar comercializados em Manaus-AM.Adriana Kulaif Terra1 ([email protected]), George Henrique Reblo2. 1,2, INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia 1. Introduo Em Manaus, existe uma grande diversidade de produtos de origem animal venda. Entre esses produtos, grande parte destinada alimentao. Porm, notvel a grande diversidade de produtos de origem animal de carter no alimentar, que so comercializados. Muitos deles so atrativos para os turistas, que vm Manaus, j que tais produtos so, em sua maioria, constitudos de fraes de animais nativos. O presente trabalho foi realizado no Mercado Municipal e Feira Permanente de Artesanato, dois dos principais locais de venda de artesanato, medicinas e magias da cidade de Manaus, Amazonas e tem como objetivo conhecer os

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaisjacar, arara, galinha, gavio real, papagaio, tucano, boi e quandu. Na feira foram citados 46 animais, os mais citados foram: arari, cuiu-cuiu, lambari, peixe, peixe-agulha, piranha, pirarucu, surubim, trara, tucunar, cobra, coral, jabuti, jacar, jibia, sucuri, tracaj, arara, galinha, gavio-real, peru e tucano. Remdios No mercado foram citados 14 animais usados como remdios, classificados pelos comerciantes principalmente das seguintes etnoespcies: jacar, sucuriju, tartaruga, boto, carneiro e peixe-boi. Na feira foram citados 11 animais, classificados pelos comerciantes como procedentes principalmente das seguintes etnoespcies: coral, jabuti, jacar, anta, boto, capivara, queixada, tatu e uruu. Remdios espirituais No mercado 2 animais foram citados como sendo de uso espiritual ou mgico, : boto e uruu. Na feira foram citados 10 animais, classificados nas seguintes etnoespcies: arraia, jibia, tamanquar, japiin, tucano, cutia, macaco-prego, quatipuru, treme-treme. Das espcies citadas acima, foram utilizadas para confeco dos produtos, diferentes fraes animais e, tambm, o animal inteiro. No mercado foram identificadas 10 diferentes partes animais utilizadas, como banha, chifre, escama, espinha, esporo, osso, penas, unha, vaginal (vagina) e animal todo. A banha foi a mais citada (36%). J na feira, identificou-se 22 diferentes partes animais, sendo banha, bico, cabea, casco, chifre, concha, costela, crnio, dente, escama, espinha, esporo, ferro, lngua, mo (pata), osso, pata, pele, penas, rabo, vaginal (vagina), animal todo, sendo que foi citado um maior nmero de vezes (25%) a utilizao do animal todo. Na feira, dois comerciantes apresentaram as maiores diversidades de fraes animais venda. Do total de espcies citadas (41), um ndio possua 21 delas e uma mulher 14. Alm disso, a maioria das espcies comercializadas por ambos no era encontrada em nenhuma outra localidade. No mercado, uma mulher apresentou a maior diversidade com 7 fraes de um total de 20 espcies. Os produtos so oriundos de diversas regies da Amaznia, sendo produzidos, povos indgenas, artesos locais e caboclos ribeirinhos. A maioria dos produtos da feira provm dos ndios SaterMau, que vivem na regio de Maus (36%), sendo que tambm foram citados como fornecedores: artesos indeterminados, artesos de Manaus, artesos de Janauari, os prprios entrevistados, a loja da FUNAI (Fundao Nacional do ndio), ndios indeterminados e o povo Wai-Wai. No mercado, os caboclos que contriburam com o maior nmero de mercadoria trazidas (39%), mas tambm vieram de: artesos indeterminados, artesos de Janauari, artesos do outro lado do rio, de Belm, de ndios indeterminados, no souberam responder, e dos Sater-Mau e Wai-Wai. Quase 100% dos entrevistados alegaram no ter estoque das mercadorias, pois estas tm grande probabilidade de estragar e, tambm, devido a rpida reposio dos produtos, que so trazidos semanalmente pelos produtores. 4. CONCLUSO Se nossa amostra for representativa dos usos no alimentares da fauna na Amaznia central, ento uma grande diversidade de espcies utilizada e tem alguma aplicao como artesanato, remdio ou objeto mgico. Em uma amostra de dois importantes locais de venda de Manaus, encontramos 47 etnoespcies diferentes de animais, cujas fraes, e s vezes o animal estavam venda. Muitos desses produtos se aplicam medicina popular e tambm ao artesanato, sendo procuradas principalmente por turistas, que vm regio, mas tambm por populares em busca de remdios baratos ou solues mgicas para seus problemas. A maior diversidade de espcies foi encontrada na feira, sendo que um nico comerciante contribuiu com quase a metade das etnoespcies classificadas. Mas a distribuio de indivduos entre as espcies e a proporo do total de ocorrncias em cada espcie foram bastante

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semelhantes. Peixes e rpteis so os grupos mais importantes mais importantes de uso alimentar na Amaznia central, este estudo sugere que tambm so os animais mais importantes para usos no alimentares, mas constituem basicamente sub-produtos de caadas e pescarias. Banhas como remdios e pequenos animais inteiros como artesanato, diferenciam o mercado da feira, respectivamente. Alguns vendedores (homens e mulheres) tambm so grandes conhecedores dos usos e aplicaes, concentrando grande diversidade de produtos e tambm conhecimento. Caboclos ribeirinhos forneceram a maioria dos remdios e ndios a maioria dos artesanatos, ainda que hajam fornecedores em todas as categorias. 5. BIBLIOGRAFIA AMARAL, A. Serpentes do Brasil: iconografia colorida. 2 ed. So Paulo: Melhoramentos, 1978. 247p. EMMONS, L.H., FEER, F. Neotropical rainforest mammals: a field guide. Chicago: The University of Chicago Press, 1990. 281p. FERREIRA, E.J.G., ZUANON, J.A.S., SANTOS, G.M. Peixes comercias do mdio Amazonas: regio de Santarm, Par. Braslia: Edies IBAMA, 1998. 214p. SCHAUENSEE, R.M., PHELPS, W.H. A guide to the Birds of Venezuela. Princeton: Princenton University Press, 1978. 425p.

Observaes sobre a biologia e ecologia de Haplopodus submarginalis (Coleoptera: Curculionidae: Hyperinae) no Parque Nacional da Restinga de JurubatibaAdriana Souza de Abreu; Viviane Grenha & Margarete Valverde de Macedo. Laboratrio de Ecologia de Insetos Departamento de Ecologia, CP 68020, Instituto de Biologia, UFRJ, CEP 21941-590, Rio de Janeiro, Brazil ([email protected]) 1. Introduo Os membros da famlia Curculionidae apresentam, em sua maioria, a cabea mais ou menos projetada em forma de focinho. o maior grupo da ordem Coleoptera, com cerca de 45.000 espcies descritas. Praticamente todas as espcies se alimentam de matria vegetal e a maioria das larvas so brocas, infestando sementes, frutos, troncos, etc (Borror & DeLong, 1969). A subfamlia Hyperinae apresenta rostro cilndrico, mais longo que a cabea, olhos quase transversais e grandes, s vezes contguos na frente, protrax sem lbulos oculares, ou com estes muito pouco desenvolvidos e garras tarsais livres (Costa Lima, 1956). Ainda segundo este autor, as larvas de Curculionidae so normalmente endofticas, mas na subfamlia Hyperinae, vivem sobre as folhas de que se alimentam. As larvas cobrem-se parcialmente de excrementos, como medida defensiva, como acontece nos Chrysomelidae e Curculionidae como os Gonipterinae (Costa Lima,1956). Besouros desta subfamlia podem ocorrer em plantas das famlias Fabaceae (Hatch,1971), Polygonaceae (Puttler, et al. 1973), Bombacaceae (Diniz & Morais) e Sterculiaceae (Janzen, 1979). No Brasil, trs espcies de Phelypera so conhecidas por estarem associadas com espcies de Bombacaceae (Costa Lima,1956; Silva et al.1967; Ferreira & Camargo, 1989). Para Haplopodus submarginalis (Boheman, 1840) no h qualquer registro de hospedeiro. O objetivo do trabalho descrever alguns aspectos da biologia, ecologia e comportamento do besouro Haplopodus submarginalis no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. 2. Material e Mtodos O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba abrange municpios de Maca, Carapepus e Quissam, e est situada entre as coordenadas 22o e 22o23S e 41o 15 e 41o 45W (Martin et al., 1993). A

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaisrea de estudo localiza-se prxima a lagoa de Cabinas, Maca, RJ, onde as plantas hospedeiras de H. submarginalis so acompanhadas. A vistoria realizada uma vez ao ms, onde so vistoriadas as sete plantas encontradas no local. Nelas so conferidas o nmero de ovos, larvas, pupas e adultos. As folhas so classificadas quanto a sua idade relativa e os insetos encontrados tm anotados sua localizao. A fenologia da planta anotada sempre no momento de cada vistoria, ou seja, se est em perodo de florao, se apresenta ramos novos, alm do grau de herbivoria pelo inseto. 3. Resultados e Discusso Haplopodus submarginalis foi encontrada reproduzindo-se em meados da primavera at o incio do vero do ano de 2000, alimentando-se de folhas novas de uma espcie ainda no identificada de Bombacaceae. Durante o outono e inverno, nenhum indivduo foi observado na planta. O ciclo de vida se assemelha ao descrito por Diniz & Morais (1996), para Phelypera schuppeli. Fmeas de H. submarginalis colocam seus ovos isolados sobre as folhas da planta hospedeira e os cobrem com fezes. As larvas alimentam-se de folhas da planta hospedeira e vo acumulando suas prprias fezes em seu dorso ao longo do seu desenvolvimento. Este comportamento muito se assemelha ao de larvas de Chrysomelidae, cujos escudos de fezes tm sido freqentemente associados defesa contra inimigos naturais e condies abiticas. (Olmstead, 1994). Este comportamento, contudo, no foi descrito para a espcie de Hyperinae que tambm se alimenta de Bombacaceae (Diniz e Morais, 1996). Ao final do seu desenvolvimento, as larvas empupam sobre as folhas, tecendo casulos globosos de seda em forma de rede, onde as pupas se localizaro. Este comportamento foi descrito para para outros Hyperinae (Costa Lima, 1956; Diniz & Morais (1996) e Janzen, 1979). O adulto de H. submarginalis emerge em poucos dias desse casulo e apresenta colorao escura, medindo aproximadamente 0,6cm. O ciclo de vida dos Hyperinae rpido, durando cerca de um ms (Costa Lima,1956). 4. Concluses H. submarginalis apresenta reproduo restrita a poucos meses do ano e desenvolve-se alimentando-se de folhas de uma espcie de Bombacaceae no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, RJ. Apresenta comportamento pouco comum entre os Curculiondeos ao alimentar-se externamente e acumula fezes em seu dorso, possivelmente como forma de defesa. 5. Referncias Bibliogrficas Borror, D. J. & DeLong, D. M. 1969. Introduo ao Estudo dos Insetos. Editora Edgard Blcher Ltda., So Paulo. 653 pp. Costa Lima, A.C. 1956. Insetos do Brasil-Coleopteros (10 tomo). Escola nacional de Agronomia, Srie didtica n12; Rio de Janeiro, Brasil. 373 p. Diniz, I.R. e Morais, H.C. 1996. Herbivory by the weevil Phelypera schuppeli, feeding on the tree Pachira aquatica and parasitoid attack. Revista de Biologia Tropical. Costa Rica. 44:919-921. Hatch, M.H. 1971. The beetles of the Pacific Northwest. Part V: Rhipiceroidea, Sternoxi, Phytophaga, Rhynchophora, and Lamellicornia. University of Washington Publications in Biology, Volume 16. Seattle, WA. 662 pp. Janzen, D.H. 1979. Natural history of Phelypera distigma (Boheman), Curculionidae, a Costa Rican defoliator of Gazuma ulmifolia Lam. (Sterculiaceae). Brenesia 16:213-219. Martin, L.;Suguio,K. & Flexor, J.M. 1993. As flutuaes de nvel do mar durante o quaternrio superior e a evoluo geolgica de deltas brasileiros. Bol. IG-USP,Publ.Esp.15:1-186. Olmstead, K. L. 1994. Waste products as chrysomelid defenses [pp. 311-318]. In: P.H. Jolivet, M. L. Cox and E. Petitpierre (eds.), Novel aspects of the biology of Chrysomelidae. Kluwer Academic Publishers, The Netherlands. xxiii + 582 pp. Puttler, B., S.E. Thewke and R.E. Warner. 1973. Bionomics of tree Nearctic species, one new, of Hypera (Coleoptera: Curculionidae), and their parasites. Annals of the Entomological Society of America. 66: 1299-1306. Agradecimentos: Ao Dr. Srgio A. Vanin (Museu de Zoologia USP) pela identificao do besouro. Apoio: CNPQ-PELD e IBAMA.

Fragmentao Florestal, Trilhas e a Comunidade de Macroartrpodos Edficos na Floresta de Tabuleiros do Esprito Santoa

Afonso Henrique Leal a & Irene Garay b Graduao em Cincias Biolgicas UFRJ ([email protected]) b Professora da UFRJ

1. Introduo A Floresta de Tabuleiros um dos ncleos florestais mais representativos do bioma da Mata Atlntica (Garay & Silva, 1995) e sua distribuio geogrfica de uma faixa litornea que vai desde Pernambuco ao Rio de Janeiro, mas sua rea central situa-se no sul da Bahia e norte do Esprito Santo (Rizzini, 1979). nesse ecossistema que desenvolvemos um trabalho cujo objetivo identificar indicadores do grau de heterogeneidade florestal usando como instrumento as comunidades de macroartrpodos edficos. Comunidades estas, que tm sido usadas em estudos de simples caracterizao (Silva del Pozo & Blandin, 1991 a) como tambm de determinao de efeitos de mudanas da cobertura vegetal sobre elas (Silva del Pozo & Blandin, 1991 b; Pellens & Garay, 1999 a, b) e, assim como outros animais do solo so de grande importncia para seu funcionamento e manuteno (Hole, 1981). 2. Mtodos Foram comparadas amostras desses animais retiradas do solo de um grande remanescente de Floresta Atlntica de Tabuleiros e de dois pequenos fragmentos da mesma formao florestal. Nesses dois fragmentos, foram consideradas duas situaes: reas de vegetao bem preservada e trilhas. As amostragens foram feitas na estaes chuvosa e seca com o intuito de se ter uma idia da evoluo sazonal dessas comunidades. Para representar a estao chuvosa, usou-se os meses de maro e abril e a seca, os meses de agosto e setembro do ano 2000. A rea de estudo situa-se na regio norte do estado do Esprito Santo, Brasil, no Municpio de Sooretama. Em ambas as estaes e em cada um dos trs stios de amostragem, a REBIO Sooretama, o fragmento florestal da Fazenda Pasto Novo e o fragmento Bioparque, foram coletadas doze amostras nas reas de mata, tendo sido mais doze coletadas nas trilhas de cada fragmento. A fauna foi extrada das amostras de folhio e solo segundo o mtodo Berlese-Tullgreen durante dez dias. Os animais foram classificados em grandes grupos e contados, tendo suas riquezas mdias e densidades de indivduos comparadas entre as diversas situaes usando o Teste U de Mann-Whitney. 3. Resultados e Discusso Um dos principais resultados do estudo foi que a densidade total da fauna mostrou-se sem diferenas sazonais significativas na REBIO, com uma densidade mdia de 4860980 ind./m2 na estao chuvosa e 63501200 ind./m2 na seca. Enquanto isso, nas matas dos fragmentos, as densidades foram de 4560400 ind./m2 e 3600450 ind./m2 para Pasto Novo na chuvosa e na seca, respectivamente e de 3600310 ind./m2 e 2360250 ind./m2 para o Bioparque. Isto significou uma reduo estatisticamente significativa da estao chuvosa para a seca nessas reas. Nas trilhas, as variaes sazonais foram extremamente significativas para ambos os fragmentos, com 81901330 ind./m2 na estao chuvosa e 3030330 ind./m2 na estao seca para Pasto Novo e 71301360 ind./m2 na chuvosa e 1550250 ind./m2 na seca para o Bioparque.

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores AmbientaisOutros resultados apresentaram os formicdeos mostrarando-se grandemente sensveis fragmentao florestal e, de alguma forma s trilhas. Tal fato j era de certa forma esperado, uma vez que resultados semelhantes foram registrados para comparaes de floresta primria outro tipo de vegetao que a tenha substitudo (Lavelle & Pashanini, 1989; Pellens & Garay, 1999 a, b). Os pseudo-escorpies revelaram-se muito sensveis s trilhas mas nem tanto fragmentao. A sensibilidade desses animais a impactos j registrada por Pellens & Garay em seus estudos com plantao de caf (1999 a) e de eucalipto (1999 b). Os auquenorrincos, heterpteros e tricpteros indicaram ser positivamente afetados pela fragmentao florestal e ainda mais pelas trilhas onde apresentaram altssimos efetivos, sobretudo na estao chuvosa. Eles tambm sofreram grande variao sazonal em seus efetivos, que foi crescente da REBIO para os fragmentos e depois para as trilhas. Pinheiro (1996) considera tais animais como no funcionais no ambiente edfico. No entanto, consideramos que falta conhecimento sobre suas histrias de vida e o real motivo pelo qual so encontrados em amostras de solo. Finalmente, comparando-se os fragmentos um com o outro, nota-se uma clara diferena de composio e variao sazonal de suas comunidades, o que afasta o fragmento da Fazenda Pasto Novo do Bioparque e o aproxima da Reserva Biolgica de Sooretama. 4. Concluses O exame dos resultados leva-nos a inferir que a diminuio de efetivos de alguns animais no solo, principalmente formigas e pseudo-escorpies, um indicador de perturbao no ambiente florestal e que o mesmo indicado por elevadas densidades de outros tais como auquenorrincos, heterpteros e tricpteros. Alm disso, atravs das comunidades de macroartrpodos edficos, confirma-se o estudo da comunidade arbrea (Agarez, 2002) que sugere o melhor estado de conservao do fragmento florestal da Fazenda Pasto Novo em detrimento do Bioparque. 5. Referncias Bibliogrficas Agarez, F. V., 2002. Contribuio para a Gesto de Fragmentos Florestais com Vista Conservao da Biodiversidade em Floresta Atlntica de Tabuleiros. Tese de Doutorado, Programa de Ps Graduao em Geografia UFRJ Garay, I & Silva B. A. O.,1995. Hmus Florestais: Sntese e Diagnstico das Interrelaes Vegetao/Solo. Oecologia Brasiliensis, Volume 1: Estrutura, Funcionamento e manejo de Ecossistemas Brasileiros: 19 46. Hole, F., 1981.Effects of Animals on Soil. Geoderma, 25: 75 112. Lavelle, P. & Pashanini, B., 1989. Soil Macrofauna and Land Management in Peruvian Amazonia (Yrimaguas, Loreto). Pedobiologia 33, 283-291. Pellens, R. & Garay, I., 1999 a. A Comunidade de Macroartrpodos Edficos em uma Plantao de Coffea robusta Linden (Rubiaceae) e em uma Floresta primria em Linhares, Esprito Santo, Brasil. Revista. Brasileira de Zoologia 16 (1): 245 - 258. Pellens, R & Garay, I, 1999 b. Edaphic Macroarthropod Communities in Fast-Growing Plantations of Eucaliptus grandis Hill ex Maid (Myrtaceae) and Acacia mangium Wild (Leguminosae) in Brazil. European Journal of Soil Biology, 35 (2): 77 89. Pinheiro, L. B. A., 1996. Estudo de Solos Cultivados com Canade-acar, sob Diferentes Manejos de Colheita Crua e Queimada. Dissertao de Mestrado, Curso de Ps-Graduao em Cincia do Solo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 98 pp. Rizzini, C. T. 1979. Tratado de Fitogeografia do Brasil, Aspctos Sociolgicos e Florsticos 2, HUCITEC Editora da Universidade de So Paulo, So Paulo. 374 pp. Silva del Pozo, X & Blandin, P., 1991 a. Les Macroarthropodes daphique dune Fort Msothermique primaire de Lquateur

Volume I

Occidental: Abondance Saisonaire et Distribution Spaciale. Revue dcologie et du Biologie du Sol, 28 (4 ) : 421-433. Silva del Pozo, X & Blandin, P., 1991 b. Le Peuplements de Macroarthropodes daphique Diffrentes tapes de la Reconstitution de la Fort Msothermique en quateur Occidental. Revue dcologie et du Biologie du Sol, 28 (4) : 435-442.

Avaliao preliminar da riqueza de espcies de abelhas (Hymenoptera, Apoidea) e similaridade, em sete reas da Chapada Diamantina (Bahia, Brasil).Aguiar, C.M.L, Gimenes, M & Rebouas-Oliveira, P. Depto. de Cincias Biolgicas, Universidade Estadual de Feira de Santana. [email protected] 1. Introduo Os estudos sobre a diversidade de abelhas no Brasil tem despertado crescente interesse, tanto pela rpida velocidade da perda da biodiversidade, quanto pela necessidade de conservao de polinizadores nativos, cujas populaes podem ser manejadas com vistas ao uso na agricultura. Investigaes sobre a diversidade de abelhas tem sido realizadas em diferentes tipos de habitats no Brasil, incluindo cerrados, caatinga, restingas e florestas. Na regio da Chapada Diamantina (Bahia), o conhecimento da fauna de abelhas ainda bastante incipiente. Dentre os estudos realizados nesta regio esto o levantamento em uma rea de cerrado com elementos de campo rupestre, em Lenis (Martins, 1994; Viana et al., 1997), de uma rea de campo rupestre em Palmeiras (Pereira, 2003) e outras trs em Lenis (Almeida & Gimenes, no prelo). Esta abordagem inicial revelou uma elevada riqueza de espcies de abelhas nativas, incluindo algumas espcies novas. A Chapada Diamantina compreende um mosaico de tipos de formaes vegetais com fisionomia e composio florstica distintas em curtas distncias e esperado que haja tambm uma elevada diversidade de insetos visitantes de flores associados a estas plantas. Alguns estudos tm mostrado que diferentes localidades na mesma regio podem apresentar grandes diferenas na composio de certos grupos de insetos, especialmente abelhas, geralmente associados aos diferentes habitats sob diferentes regimes climticos. Morato (1994) observou que tambm podem ocorrer diferenas de composio e abundncia em pontos de amostragem prximos, em um estudo com euglossines na regio Norte. Deste modo, apenas atravs da realizao de estudos com vrios pontos de coleta, em tipos de vegetao diferentes, pode-se obter uma amostragem representativa da diversidade de insetos visitantes de flores. Estes estudos alm de aumentarem o conhecimento sobre a biodiversidade regional, auxiliam a busca de padres de distribuio das espcies e de ocupao de microhabitats. O presente trabalho faz parte de um projeto que pretende realizar o inventrio rpido de biodiversidade na Chapada Diamantina, desde sua poro norte at a sul, compreendendo uma extenso de aproximadamente 1.500.000 ha. A distribuio das espcies e a riqueza da fauna e flora de cada rea subsidiaro a delimitao de reas prioritrias para conservao. Este estudo trata do subprojeto referente ao levantamento das abelhas nas reas selecionadas. 2. Mtodos A metodologia utilizada para a realizao do inventrio foi a de Avaliao Ecolgica Rpida, segundo a qual deve-se distribuir o esforo de amostragem pelo maior nmero de tipos de vegetao possvel. Para o levantamento da biodiversidade foram selecionados oito pontos amostrais em diferentes tipos de vegetao, em seis municpios, atravs dos quais se estende a Chapada Diamantina em direo norte-sul: Morro do Chapu (caatinga), Lenis (duas reas de mata semi-decdua (I e II), vegetao de alagados + mata semi-decdua adjacente), Palmeiras (cerrado), Mucug (cerrado),

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores AmbientaisRio de Contas (cerrado) e Jussiape (caatinga), sendo que nesta ltima apenas uma coleta ocasional de abelhas foi realizada. Os pontos foram selecionados aps a anlise de imagens de satlite e da realizao de um sobrevo, alm da investigao prvia das reas para verificar a representatividade da vegetao. O projeto prev que cada ponto seja amostrado duas vezes, uma na estao seca e outra na estao mida. A coleta de abelhas foi realizada com rede entomolgica a partir da procura em flores, utilizando iscas-odores atrativas para machos de euglossneos e iscas com lquidos aucarados (mel, suco de frutas) para meliponneos. Cada rea foi amostrada por dois coletores ao longo de um dia, aproximadamente entre 08:00 e 16:00 h. As coletas foram realizadas nos meses de dezembro/2002 (Lenis/ Palmeiras), maro/2003 (Mucug/ Rio de Contas/ Jussiape) e maio/2003 (Lenis/ Morro do Chapu). As abelhas foram sacrificadas em cmaras mortferas contendo acetato de etila. Posteriormente foram montadas a seco e incorporadas Coleo Entomolgica da Universidade Estadual de Feira de Santana (CUFS). A identificao das espcies foi realizada pelo Dr. Fernando C. V. Zanella (UFPB). A similaridade entre as reas foi clculada duas a duas, usando o ndice de Sorensen, que varia de 0 a 1, a partir da frmula S=2a/ 2a+b+c. 3. Resultados e Discusso Foram obtidos 390 indivduos, pertencentes a 95 espcies, representando quatro famlias de abelhas. Apidae foi a famlia com maior nmero de espcies e indivduos (65 e 292, respectivamente), seguida por Halictidae (16 e 27), Megachilidae (13 e 28) e Colletidae (1 e 1). As tribos com maior riqueza em espcies foram Apini (25 espcies, sendo 16 de meliponneos, 7 de euglossneos e 2 de Bombus), Centridini (16), Augochlorini (15), Megachilini (8), Tapinotaspidini (6) e Anthidiini (5). Dentre os gneros que se destacaram por sua representatividade em nmero de espcies, encontram-se Centris (9 espcies) e Epicharis (7 espcies) (Centridini/Apidae), Augochlora (7 espcies) e Augochloropsis (5 espcies) (Augochlorini/Halictidae), Megachile (7 espcies) (Megachilini/Megachilidae) e Paratetrapedia (6 espcies) (Tapinotaspidini/ Apidae). A riqueza em espcies de cada rea amostrada variou de 12 a 28 espcies, gerando o seguinte ordenamento das reas em ordem decrescente de riqueza: mata I/ Lenis (28 espcies) > alagado + mata /Lenis (25) > cerrado/Rio de Contas (22) > cerrado/Palmeiras (20) > cerrado/Mucug (16) > mata II/ Lenis (13) > caatinga/Morro do Chapu (12). O baixo nmero de espcies em Mucug e na mata II pode ter sido influenciado pelas condies climticas desfavorveis durante a coleta (dia nublado com chuviscos ocasionais). Combinando-se as reas por tipo de vegetao, foram obtidas 53 espcies nas matas, 47 espcies nos cerrados e 14 espcies nas caatingas. As comunidades de abelhas estudadas parecem apresentar diferenas marcantes, especialmente em relao importncia ecolgica dos diferentes grupos de abelhas na composio das comunidades. Na caatinga de Morro do Chapu, meliponneos (4 espcies) e Centris (2 espcies) so os grupos mais diversificados. Nos cerrados notvel a importncia das abelhas coletoras de leo, dentre elas Epicharis .(5 espcies em Mucug e 2 em Palmeiras), Centris (2 em Mucug, 4 em Rio de Contas e 2 em Palmeiras), Paratetrapedia e Tetrapedia (3 e 2, respectivamente, em Palmeiras). Alm das abelhas coletoras de leo, Megachile foi bem representada em Rio de Contas (5 espcies). Nas matas de Lenis, meliponneos foram o grupo com mais espcies: 3 na mata II, 6 na mata I e 7 na mata + alagado. Nesta ltima rea, Augochlora foi o gnero com maior nmero de espcies (6), enquanto na mata I foram Epicharis (5) e Centris (4). Quanto ocorrncia das espcies, observou-se que a maioria das espcies foi registrada em uma ou duas das sete reas. Apenas cinco espcies foram representadas em trs reas e duas espcies (Euglossa sp., Eulaema cingulata) ocorreram em quatro reas. Nenhuma espcie foi registrada em todas as reas. De um modo geral, as reas foram pouco similares entre si, com a similaridade (S) variando entre 0 e 0,302. A caatinga (Morro do Chapu) foi a rea com menor similaridade em relao a todas as outras: compartilhou apenas uma espcie (Centris fuscata) com o cerrado (Rio de Contas) (Scaatinga/cerrado RC = 0,059) e duas com as matas (Geotrigona mombuca e Trigona spinipes; Scaatinga/ mataII = 0,080 e Scaatinga/mata+alagado = 0,054), enquanto a similaridade com as outras reas foi zero. As reas de cerrados apresentaram tambm similaridade baixa entre si, com no mximo 5 espcies em comum entre as duas reas. Apenas Eufriesea sp. e Euglossa sp. foram comuns s trs reas. A similaridade entre as reas de cerrado foi SPalmeiras/Mucug = 0,278; SPalmeiras/Rio de Contas = 0,238; SMucug/Rio de Contas = 0,214. A similaridade entre as reas de mata de Lenis foi bastante varivel, desde muito baixa (Smata I/mata II = 0,049) at o maior valor entre duas reas neste estudo (Smata I/ mata + alagado= 0,302), com um valor prximo para a Smata (0,263). II/ mata + alagado O nmero de espcies obtido (95) foi bastante elevado, apesar do esforo de amostragem por rea ter sido pequeno. Martins (1994) obteve 147 espcies em uma rea de cerrado com elementos de campo rupestre em Lenis, Pereira (2003) coletou 30 espcies em uma rea de campo rupestre (Palmeiras) e Almeida & Gimenes (no prelo) amostraram 24 espcies, em trs reas de campo rupestre (Lenis/Palmeiras), embora o esforo de coleta nestes estudos tenha sido diferente. Das espcies obtidas no presente estudo, 21 no tinham sido anteriormente citadas nos levantamentos de abelhas na Chapada Diamantina, e duas espcies (uma de Dicranthidium e uma de Moureanthidium) provavelmente ainda no foram descritas (F.C.V. Zanella, com. pessoal). Alm disso, os gneros Ptiloglossa, Diadasina, Moureanthidium, Mesonychium, Osiris, Paratrigona, Scaptotrigona, Tetragonisca e Trigonisca no foram at ento citados nos outros levantamentos feitos na Chapada Diamantina. Foi notvel a elevada quantidade de espcies de Paratetrapedia (6), sendo que anteriormente apenas uma espcie havia sido citada por Martins (1994). 4. Concluso A metodologia utilizada apresenta algumas vantagens para os estudos de biodiversidade em amplas reas geogrficas, j que amostrando diferentes tipos de vegetao esperado aumentar a representatividade da riqueza regional de espcies. Todavia, os resultados precisam ser interpretados com cautela, fazendo-se as ressalvas de que estes dados so influenciados pelos distintos padres de sazonalidade das abelhas e do florescimento das plantas, e pelo esforo de amostragem em cada rea. Atravs de repeties de amostragem nas mesmas localidades em diferentes perodos do ano, ser possvel traar uma figura mais consistente das comunidades de abelhas das reas estudadas. 5. Bibliografia Almeida, G.F. & Gimenes, M. (no prelo). Abelhas e plantas visitadas em reas restritas de campo rupestre na Chapada Diamantina - Ba. Sitientibus, Feira de Santana. Martins, C.F. 1994. Comunidade de abelhas (Hym., Apoidea) da caatinga e do cerrado com elementos de campo rupestre do estado da Bahia, Brasil. Rev. Nordestina Biol. 9 (2): 225-257 Morato, E.F. 1994. Abundncia e riqueza de machos de Euglossini (Hym.: Apidae) em mata de terra firme e rea de derrubada, nas vizinhanas de Manaus (Brasil). Bol. Mus. Para. Emlio Goeldi, Zool. 10 (1):95-105. Pereira, V.S. 2003. Comunidade de abelhas e vespas sociais visitantes de flores em rea restrita de campo rupestre (Chapada Diamantina/ Bahia, Brasil). Dissertao de Mestrado, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 69 p. Viana, B.F.; A.M.P, Kleinert & V.L., Imperatriz-Fonseca. 1997. Abundance and flower visits of bees in a cerrado of Bahia, Tropical

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores AmbientaisBrazil. Stud. Neotrop. Fauna Environ. 32:212-219. (Trabalho financiado pelo CNPq/PROBIO e pela Universidade Estadual de Feira de Santana).

Volume I

Artrpodes de folhio como bioindicadores de solos contaminados por poluentes atmosfricosAlessandra Argolo do Esprito Santo a,b,c ([email protected]); Josandia Santana Limaa,c; Maria Betnia Figueiredoa,c; Gilson Correia de Carvalhoa,b,e & Ariomar de Castro Aguiara,c. a Universidade Federal da Bahia; b Programa de Ps-graduao em Ecologia e Biomonitoramento/IBIO; c LAVIET Laboratrio de Alternativas Viveis a Impactos em Ecossistemas Terrestres; e Numerical Ecology Anlise de dados Ecolgicos (www.numericalecology.hpg.com.br) 1. Introduo O processo intensivo de industrializao e os avanos tecnolgicos so responsveis pelo atual estado de desenvolvimento em que se encontra a humanidade. Esse desenvolvimento vem implicando, cada vez mais, em uma maior produo de poluentes e resduos, responsveis por graves desequilbrios ambientais. A atividade industrial surge como um importante fator no processo de degradao ambiental uma vez que desencadeiam uma srie de reaes, que podem levar a morte da vegetao, desestruturao do solo com o respectivo desaparecimento da vida. Segundo Frighetto (2000), o desenvolvimento e ou adaptao de mtodos para monitorar o impacto antropognico sobre os processos biolgicos do solo, se tornou um grande desafio. At mesmo recentemente, o solo era tido como um filtro ambiental capaz de assegurar a qualidade da gua e do ar. Atualmente, reconhece-se que o solo no apenas um eficiente remediador de poluentes potenciais, por isso suas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas devem ser mantidas e monitoradas. Nesse sentido, parmetros biolgicos tm recebido cada vez mais importncia como indicadores rpidos e sensveis tanto de estresse como de processos de reabilitao do solo, j que so capazes de refletir diferentes aspectos da qualidade do mesmo, nos mais diversos tipos de ecossistemas. O estudo da comunidade de artrpodes associados ao folhio, bem como a presena de organismos especficos e sua populao podem indicar alteraes na estrutura e na taxa e decomposio do solo. importante ressaltar que o uso da fauna como ndice de qualidade do solo, pode ser dificultado devido a variaes espaciais e temporais. De qualquer modo, procedimentos de amostragem estratificados tendem a mitigar alguns desses problemas e a fauna do folhio bem como a do solo tm sido amplamente utilizadas como indicadores de equilbrio em ecossistemas terrestres, j que as mesmas se constituem em ferramentas eficazes e de baixo custo (Brussaard, 1998). Diante do exposto o presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de poluentes atmosfricos na estrutura da comunidade de artrpodes de folhio nas adjacncias de uma indstria produtora de cobre. 2. Mtodos A rea de estudo est localizada no entorno de uma metalrgica de cobre, no plo Petroqumico de Camaari, situado a 45 Km de Salvador, e integrou uma rea sob influncia direta das emisses atmosfricas provenientes do processo de produo de cobre, ou seja, emisses ricas em material particulado, metais (cobre, principalmente) e dixido de enxofre. Com o objetivo de obter variveis explicativas para a interpretao de padres emergentes na estrutura das comunidades dos artrpodes, foi realizada coleta de solo (0 a 10 cm), em um transecto delimitada ao longo de um gradiente de poluio. Foram amostrados 09 pontos e cada um contou com 05 repeties. A comunidade de

artrpodes foi amostrada pelo mtodo dos quadrados, sendo o folhio coletado, acondicionado em sacos e enviado para o laboratrio onde procedeu-se a separao dos organismos usando funis de Berlesse. Os organismos foram fixados em lcool a 70% e morfotipados com auxlio de literatura especfica (Borror & Delong, 1963). Em laboratrio o solo coletado foi seco ao ar (TFSA) e peneirado em malha de 2 mm de abertura e em seguida, caracterizado fsica e quimicamente (granulometria, CRA e densidade do solo, pH em gua, condutividade, matria orgnica, macronutrientes, alumnio, enxofre e metais Fe, Cu, Zn, Mn) de acordo com metodologia descrita pela EMBRAPA (1997). Para facilitar a compreenso, as variveis foram agrupadas em duas categorias: variveis ambientais (parmetros fsico-qumicos do solo e poluentes - Cu e enxofre) e variveis biticas (estrutura da comunidade de macrofauna do folhio). A avaliao da diversidade da macrofauna foi realizada utilizando-se o ndice de riqueza de Margalef, o ndice de equitabilidade de Pielou e a diversidade de Shannon-Weiner (log e). Para cada um desses ndices foram calculados desvio padro e intervalo de confiana a 95 % de probabilidade, considerando-se 5 rplicas amostrais. A integrao multivariada entre as variveis ambientais e a estrutura das comunidades foi realizada atravs da anlise cannica de correspondncia (ACC). O poder desta anlise foi testado com um modelo de ordenao livre de pressupostos (escalonamento multidimensional no-mtrico - NMDS). Para realizao das anlises multivariadas foram utilizados os pacotes estatsticos CANOCO v.4.5 (Canonical Community Ordination) e PRIMER v.5.0. Com base nos resultados obtidos na ACC foram confeccionados grficos de ordenao (NMDS) com superposio em escala relativa de valores de algumas espcies selecionadas como indicadoras. 3. Resultados e discusses 3.1. Efeito da poluio atmosfrica na diversidade de artrpodes de folhio: ndices de diversidade. Ao longo do transecto definido no gradiente de poluio os trs primeiros pontos apresentaram baixa diversidade, quando comparados aos demais. Considerando a riqueza houve um evidente acrscimo, do ponto 1 para os pontos 4, 5, 6, 7 e 9. O ponto 8 foi o mais significativamente diverso. Ressalta-se que o ponto 5 apresentou uma diversidade levemente menor que os pontos 4, 5, 6, 7 e 9. A equitabilidade apresentou uma grande homogeneidade refletindo que, as alteraes provenientes do efeito da poluio esto associadas reduo na componente da diversidade denominada riqueza de espcies. O ponto 5 teve uma equitatividade significativamente inferior aos demais sugerindo que, nesse caso, caractersticas ambientais esto favorecendo a dominncia de determinadas espcies em relao s outras. O ndice de Shanon (que inclui riqueza e equitabilidade), confirmou o padro observado nos outros ndices evidenciando, de maneira geral, um aumento de diversidade na direo dos pontos mais poludos para os menos poludos. A diversidade formada por dois componentes: riqueza e equitabilidade. De acordo com Indeherberg et al.(1998) a maioria dos estudos enfocando o efeito da poluio em comunidades de artrpodes de folhio tem mostrado que a densidade e/ou o nmero de espcies decresce significativamente em direo ao local poludo. Essa expresso quantitativa (reduo de espcies) relacionada ao efeito da poluio pode acarretar na extino local de determinadas espcies. 3.1. Efeito da poluio atmosfrica na diversidade de artrpodes de folhio: integrao multivariada. Na integrao multivariada da estrutura das comunidades com os parmetros ambientais, a ACC explicou 56,2% da variao dos dados. O Eixo I foi responsvel pela explicao de 34,9% e foi interpretado como gradiente poluio. Nesse eixo, os pontos 1,2,3

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaise 6 foram plotados esquerda do diagrama e as estaes 8 e 9 plotadas direita do mesmo. J as estaes 4, 7 e 5 estiveram localizadas no centro do diagrama com relao ao eixo, estando portanto em uma condio intermediria no gradiente de impacto. As variveis ambientais densidade aparente, fsforo, Cobre, e sulfato estiveram correlacionadas com as estaes 1,2 3 e 6, consideradas portanto, como as mais impactadas. A correlao de cobre e sulfato com as estaes de baixa diversidade foi interpretada como efeito da poluio. Estas estaes so as mais prximas da fonte poluidora. O escalonamento multidimensional no-mtrico (NMDS) corroborou o padro apresentado pela ACC sugerindo que esse padro pode estar representando de fato as alteraes sofridas pela comunidade de artrpodes em funo das emisses atmosfricas ricas em enxofre (sulfato e cobre). Collembola sp1 e Aranea sp6 estiveram correlacionadas com as estaes 2, 3 e 6 e aos poluentes cobre e sulfato sendo portanto, consideradas espcies indicadoras de impacto nas condies estudas. A capacidade de indicao do impacto foi mais evidente para a espcie Collembola sp1. Indeherberg et al.(1998) relatam que existem evidncias de que Collembola e Aranea mantm sua densidade em locais comtaminados, principalmente por metais pesados (cobre, por exemplo). Segundo os autores, os Collembola possuem um mecanismo altamente eficiente na excreo desses contaminantes. Caractersticas como especificidade na alimentao, nveis de resistncia, biologia reprodutiva e habilidade de disperso tambm foram citadas como possveis razes da resistncia desses organismos locais impactados. Os pontos 8 e 9 estiveram, na ACC, associados a diversidades maiores e a parmetros ambientais como elevada capacidade de troca catinica, teor de matria orgnica e nitrognio, indicando serem esses pontos de melhor qualidade do solo. As espcies relacionadas a esse ponto, provavelmente so espcies indicadoras de solos saudveis. O Eixo II explicou 21,3 % da variao nos dados. O ponto 5 esteve fortemente associado ao eixo II enquanto que o pontos 8 e 6 estiveram associados negativamente a este eixo. A baixa diversidade encontrada no ponto 5 foi interpretada como efeito de outro fator ambiental que no o gradiente de impacto por cobre e sulfato. Este fator est fracamente relacionado a aumentos dos valores de alumnio no solo que podem ter gerado um gradiente de poluio com efeitos diferentes dos observados para o gradiente de cobre e sulfato. 4. Concluso As emisses atmosfricas, ricas em poluentes como enxofre e cobre (material particulado), podem estar modificando da estrutura da comunidade de artrpodes de folhio da rea estudada, o que pde ser constatado atravs do decrscimo em direo aos pontos menos poludos dos ndices de riqueza de Margalef e Shanon e Pielou. Os grupos taxionmicos divergiram em sensibilidade. Portanto, a poluio pode tambm estar alterando a disparidade ou distino taxionmica encontrada naturalmente na comunidade. Collembola sp 1 e Aranea sp6 foram selecionadas como espcies resistente, portanto indicadoras, nas condies estudadas de reas impactadas. 5. Bibliografia Frighetto, R. T. S & Valarini, P. J. (2000). Indicadores biolgicos e bioqumicos da qualidade do solo: manual tcnico. Jaguarina: Embrapa Meio Ambiente. 198p. Empresa Brasileira De Pesquisa Agropecuria (Embrapa). (1997). Manual de mtodos de anlises de solo. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. 2. ed. Revisada atualizada. Rio de Janeiro. 212 p. Brussaard, L.(1998). Soil fauna, guilds, functional groups and ecosystem process. Applied Soil Ecology, 9 (1-3): 123-135. Borror, D. J.; Delong, D. M. (1963). An introduction to the study of insects.Holt, Rinehart and Wisnton, NY.819p. Indeherberg, M. B. M; Vocht, A. J. P; Gestel, C. A. M. (1998). Biological interactios:Effects on and the use of soil invertebrates in relation to soil contamination and in situ soil reclamation. In: Metal-contaminated soils:in situ inactivation and phytorestoration/ ed: Vangronsveld, J; Cunningham,S. Library of Congress Cataloging-inPublication data. NY.

Ao redor da natureza: percepo ambiental no entorno da estao biolgica de Santa Lcia, Santa Teresa ES.Alessandra Fontana & Marta de Azevedo Irving Estudos Interdisciplinares de Comunidades e Ecologia Social EICOS / IP / UFRJ [email protected] 1. Introduo O Brasil conta hoje com um quadro extenso de Unidades de Conservao (U.C.s), mas que demonstra uma insuficincia no percentual de reas protegidas para a conservao da biodiversidade no pas, em virtude de algumas dessas reas encontrarem-se sobrepostas, aumentando apenas numericamente essa porcentagem. Alm disso, muitas U.C.s no atingiram os objetivos que motivaram sua criao, outras encontram-se ameaadas pelo avano da urbanizao e pela ocupao humana de seus entornos e existem, ainda, aquelas que carecem de regulamentao e recursos para manuteno e gerenciamento. Embora o Brasil seja o detentor da maior biodiversidade do planeta, at julho de 2000, com a criao do Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza - SNUC, Lei n 9.985, a legislao que regia a implementao e regulamentao das reas protegidas era esparsa, sem ordenao e dissociada de objetivos estratgicos, fazendo com que as Unidades de Conservao fossem criadas de forma aleatria em todo o pas. (BRASIL, 2000). As reas protegidas so de relevante interesse no que diz respeito aos recursos naturais, principalmente em termos de preservao de habitat e da diversidade gentica e de espcies. Estas reas contribuem, tambm, para a manuteno do equilbrio dinmico dos ecossistemas - que, por sua vez, evita catstrofes climticas - e, por isso, devem ser preservadas integralmente, em cuja forma mais adequada so as U.C.s. Mas no so apenas os recursos naturais que possuem relevncia, os fatores socioeconmicos e culturais tambm devem ser considerados no processo de preservao da natureza, afinal o ser humano parte dela, interagindo e afetando diretamente o meio em que vive. Dourojeanni (2000), salienta que a Amrica Latina possui o maior crescimento no que diz respeito s reas protegidas, mas tambm se destaca pelo alto nmero de conflitos sociais em relao ao estabelecimento e manejo destas reas, em cujo panorama o Brasil est inserido. neste contexto que se torna premente a necessidade de conhecer a relao das comunidades residentes em reas contguas s reas protegidas e de que maneira afetam e so afetadas pela existncia dessas reas. No basta apenas que cientistas, acadmicos e especialistas digam o quanto importante manter determinada rea preservada, necessrio que a populao entenda seu valor e possua um sentimento de pertencimento natureza, para que possa compreender o porqu preservar. Os mais recentes estudos tm utilizado a percepo ambiental como forma de entender as diferentes relaes do ser humano com o meio em que est inserido, principalmente em comunidades prximas a reas de preservao da natureza. A proposio da Unesco (1973 apud MAROTI, 1997) ressalta a importncia da pesquisa em percepo ambiental para o planejamento do ambiente. Salienta, ainda, que a diferena nas percepes dos valores e da importncia que os diversos grupos tm sobre os ecossistemas naturais uma das dificuldades encontradas nesse planejamento. Pesquisas relacionadas ao gerenciamento de ecossistemas e s relaes Homem-Ambiente necessitam incluir estudos sobre a

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Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaispercepo dos grupos scio-culturais interatuantes, porque contribuem para a utilizao racional dos recursos naturais e, com isso, possibilitam a participao das comunidades no desenvolvimento e planejamento regional. Alm disso, possvel registrar e preservar as percepes e os sistemas de conhecimento do ambiente e proporcionar uma integrao do conhecimento local (comunidades) com o conhecimento exterior (cientfico), como instrumento educativo e de transformao. (WHYTE,1978 apud MAROTI, 1997). neste sentido que o presente trabalho visa ao entendimento da relao do ser humano com o meio ambiente, com o intuito de promover a insero da comunidade no planejamento e na gesto da rea protegida de que trata este projeto, por intermdio da metodologia participativa no levantamento da percepo ambiental. 2. Objetivos Este trabalho visa o levantamento da percepo ambiental da comunidade residente no entorno da Estao Biolgica de Santa Lcia (EBSL), no Municpio de Santa Teresa, Estado do Esprito Santo. A finalidade entender o valor e a importncia de uma rea protegida de proteo integral para essa comunidade, de que forma a influencia e influenciada pela existncia dessa rea. Os dados obtidos com a pesquisa pretendem fornecer subsdios elaborao de um plano de manejo e ao planejamento e gerenciamento da EBSL. 3. Abordagem Metodolgica A metodologia utilizada neste estudo participativa. A pesquisa participante consiste em incentivar processos de autodiagnstico e autoconhecimento, atravs da conscientizao das causas e busca de solues pelas prprias comunidades e da sntese entre o estudo dos processos sociais e o envolvimento do pesquisador nesses processos. Esta metodologia de pesquisa vem sendo utilizada em levantamentos qualitativos e, apesar de ser simples, tem-se mostrado bastante eficiente em levantamentos envolvendo a relao ser humano meio ambiente. Segundo Machado (1996), a pesquisa convencional no fornece descries adequadas da experincia, porque separa pessoa e mundo; pessoa (corpo, mente, emoo, vontade) e mundo esto engajados em um s processo, que implica fenmeno perceptivo e no pode ser estudado como um evento isolado, nem pode ser isolvel da vida cotidiana das pessoas. , portanto, o homem quem percebe e vivencia as paisagens, atribuindo a elas significados e valores. (p. 98). Um dos objetivos da pesquisa participante, segundo Demo (1984), a identificao totalizante entre sujeito e objeto, de forma a eliminar a caracterstica de objeto. Ou seja, o objeto da pesquisa, entendido como uma comunidade, por exemplo, convidada a participar do processo investigativo, intervindo diretamente nele. Desta forma, a pesquisa passa a ser um instrumento que possibilita comunidade assumir seu papel na sociedade. Segundo as idias de Fals Borda, esse esforo encarado como uma ruptura do esquema sujeito outro, para que se possa trabalhar entre cooperadores que se entendam e respeitem. A verdadeira participao praticada quando h simetria entre o trabalho de pesquisa e a vida da comunidade, ou seja, quando h uma relao de sujeito - a - sujeito. (DEMO, 1984) Neste enfoque, ser valorizada a observao participante, mtodo a partir do qual o pesquisador cria um contato real e constante com os pesquisados, participando de suas vidas cotidianas e estabelecendo vnculos de confiana, atravs dos quais pode compreender a realidade da comunidade estudada. A insero na comunidade o processo pelo qual o pesquisador procura atenuar a distncia que o separa do grupo social com quem pretende trabalhar. a condio necessria para que a pesquisa possa ser realizada dentro do grupo com a participao de seus membros enquanto protagonistas e no simples objetos. (OLIVEIRA & OLIVEIRA, 1982). A partir da leitura de Foote-Whyte (1980), essa insero a condio necessria ao ganho de confian-

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a, que mais facilmente conseguido atravs de informantes-chave pessoas de influncia que possibilitam essa condio. 3.1. Sujeitos da Pesquisa Esta pesquisa ser direcionada aos moradores maiores de 18 anos, trabalhadores rurais, do entorno da Estao Biolgica de Santa Lcia, residentes em propriedades limtrofes e localizadas na rea de influncia da rea protegida, conhecida como entorno. A faixa etria delimitada deve-se ao fato da pesquisa ser voltada a adultos trabalhadores rurais, pela presuno de serem sujeitos com maior tempo de relao, interpretao e apreenso da realidade e, portanto, do ambiente natural, em conformidade com sua insero na sociedade. A perspectiva da percepo de um grupo de pessoas que tenha uma base de formao e apreenso individualizada da realidade um dos pressupostos da escolha dos sujeitos da pesquisa. 3.2. Procedimentos Metodolgicos Primeiramente foi selecionada a rea protegida de proteo integral. A EBSL, apesar de no ser uma Unidade de Conservao descrita no Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC), pois no uma Reserva Biolgica ou uma Estao Ecolgica, tem as finalidades conservacionistas e as atividades equiparadas s legalmente descritas para estas categorias de U.C.s, sendo voltada para a pesquisa cientfica e visitaes com fins educacionais. Feito o reconhecimento da rea e de seu entorno, foram realizadas trs idas a campo: a primeira em setembro de 2002, a segunda em novembro de 2002 e a terceira em julho de 2003, com o intuito de iniciar a insero do pesquisador na comunidade e coletar dados a respeito do modo de vida social. Conforme a quantidade de moradores, ser delimitada mais precisamente a rea de estudo, tendo como critrio, inicialmente, as propriedades vizinhas e, posteriormente, a rea de influncia da rea protegida (entorno), da seguinte forma: se o nmero de moradores limtrofes rea for muito pequeno, a rea de atuao ser ampliada, englobando tambm moradores da rea de influncia. Para o levantamento prvio da populao residente no entorno, tem sido utilizada a observao participante, atravs, do contato com indivduos-chave, que ser procedida da aplicao de questionrios. Estes questionrios visam o levantamento de dados relativos quantidade de moradores da residncia, faixa etria, nvel de escolaridade, etc, tornando possvel um diagnstico a respeito da populao e possibilitando a delimitao do universo amostral desta pesquisa. Concluda a fase de diagnstico, se proceder ao levantamento da percepo ambiental atravs das entrevistas semi-estruturadas definidas como o roteiro a partir do qual pode-se apreender o ponto de vista dos atores sociais - servindo como instrumento facilitador da comunicao entre pesquisador e entrevistado. Tendo sido identificadas as diferentes vises das comunidades em relao existncia e manuteno da rea protegida, os dados passaro por uma anlise de contedo que permitir dividir os dados em categorias que fornecero indicadores sobre a questo levantada. Os dados coletados nesta pesquisa, passaro por uma anlise de contedo, que consiste em uma tcnica de investigao com a finalidade de descrever objetiva, sistemtica e quantitativamente o contedo manifesto da comunicao, buscando extrair as conseqncias ou efeitos de um enunciado, atravs da inferncia. A utilizao da anlise de contedo, como instrumento de avaliao dos dados coletados, tem como intuito possibilitar o conhecimento de informaes que permitiro alcanar os objetivos propostos. 4. Resultados esperados Espera-se que o levantamento da percepo ambiental fornea dados a respeito do valor e da importncia da rea protegida para a comunidade do entorno e qual a relao que estabelecem. Os dados coletados, aps a anlise de contedo, devero servir de subsdio elaborao de propostas que apresentem solues -

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Volume I Biodiversidade, Unidades de Conservao, Indicadores Ambientaiseconmica e socialmente viveis - para os problemas existentes no gerenciamento da ESBL, na categorizao da rea como Unidade de Conservao efetiva, inserida no SNUC, e delimitao de estratgias que possibilitem a implementao de medidas de integrao da comunidade com a natureza. Alm disso, esse levantamento poder fomentar a proposio de formas de planejamento ambiental e gerenciamento da rea protegida, que visem a integrao dos interesses sociais com os objetivos da rea, atravs de estratgias de conservao, manejo e educao ambiental. 5. Referncias Bibliogrficas BRASIL. Lei n 9.985 de 18 de julho de 2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza (SNUC). Dirio O