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CEI - DPU ESPELHO DE CORREÇÃO DA 2ª RODADA www.cursocei.com facebook.com/cursocei Página - 1 ESPELHO DE CORREÇÃO 2ª RODADA CEI - DPU PREPARATÓRIO PARA A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO Círculo de Estudos pela Internet www.cursocei.com facebook.com/cursocei

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ESPELHO DE CORREÇÃO2ª RODADA

CEI - DPUPREPARATÓRIO PARA A

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CORPO DOCENTE

1. Caio Paiva – mediador das matérias Direito Penal, Direito Processual Penal, Direitos Humanos e Princípios Institucionais da Defensoria Pública.Defensor Público Federal, titular do 2º Ofício Criminal da DPU/Manaus, unidade em que é Chefe-Substituto. Membro do GT – Grupo de Trabalho da DPU sobre presos. Especialista em Ciências Criminais. Exerceu o cargo de assessor de juiz de direito (2010-2013). Fundador do CEI. Editor do site www.oprocesso.com.

2. Alexandre Cabral – mediador das matérias Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Direito Administrativo.

Defensor Público Federal desde 2010; bacharel em Comunicação Social e em Direito, especialista em Direito Público e em Segurança Pública. Foi Presidente da Comissão de Prerrogativas da Defensoria Pública Geral da União (DPGU) e membro do projeto piloto de atuação na área trabalhista perante o TRT 10 na DPU/DF de Segunda Categoria, de 2010 a 2013.

3. Pedro Wagner – mediador das matérias Direito Civil e Direito do Consumidor.

Defensor Público Federal em Roraima. Ex-chefe do Núcleo da Defensoria Pública da União em Roraima. Titular do 4º Ofício da Defensoria Pública da União em Roraima. Titular nomeando do Conselho Penitenciário do Estado de Roraima. Aprovado nos concursos da Defensoria Pública do Estado de Alagoas e da Defensoria Pública do Estado da Bahia.

4. Edilson Santana – mediador das matérias Direito Internacional e Direito Constitucional.

Defensor Público Federal, titular do Ofício de Direitos Humanos e Tutela Coletiva da DPU/Manaus, unidade em que exerce a função de Defensor Público Chefe. Membro do GT (Grupo de Trabalho) da DPU sobre Quilombolas e do GT Estrangeiros (voltado ao atendimento de estrangeiros). Membro do Conselho Penitenciário do Amazonas. Foi Defensor Público do Estado do Maranhão. Especialista em Direito Processual.

5. Hendrikus Garcia – mediador das matérias Direito Eleitoral, Direito Tributário e Direito Empresarial.

Defensor Público Chefe da unidade de Cáceres/MT.

6. Alexandre Mendes – mediador das matérias Direito Previdenciário e Direito Processual Civil.

Defensor Público Federal desde 2009. Foi servidor do Ministério Público da União (Técnico Administrativo e Analista Processual) lotado no MPF. Foi Procurador da Fazenda Nacional. É titular do 7º Ofício Cível da DPU/DF de 2ª categoria. Foi titular do 5º Ofício Previdenciário da DPU/DF. Foi Diretor da Escola Superior da Defensoria Pública da União – ESDPU de 08/01/2013 a 14/07/2014.

7. Ricardo Giuliani - mediador das matérias Direito Penal Militar e Processo Penal Militar.

Defensor Público Federal, titular de Ofício Criminal na DPU/Porto Alegre, Especialista em Ciências Penais e Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS, e autor dos livros “Direito Penal Militar” e “Processo Penal Militar” (publicadas pela Editora Verbo Jurídico).

8. Flaubert Mesquita – mediador das matérias Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica e Noções de Ciência Política.

Doutor em Sociologia pela UFRN e Sociólogo da DPU/DF.

COORDENAÇÃO CEI

CAIO PAIVA - [email protected]

Defensor Público Federal, titular do 2º Ofício Criminal da DPU/Manaus, unidade em que é Chefe-Substituto. Membro do GT – Grupo de Trabalho da DPU sobre presos. Especialista em Ciências Criminais. Exerceu o cargo de assessor de juiz de direito (2010-2013). Fundador do CEI. Editor do site www.oprocesso.com.

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QUESTÕES DISSERTATIVASResposta em no máximo 20 linhas.

MEDIADOR: HENDRIKUS GARCIA

DIREITO ELEITORAL

Disserte sobre o direito de voto dos presos provisórios no Brasil.

PONTO DO REGULAMENTO: 2. Direitos Políticos

COMENTÁRIO

Tendo em vista que estamos em período eleitoral, sempre vem a discussão sobre o direito ao voto dos presos provisórios. Até o ano de 2010, a grande maioria dos Estados não asseguravam aos presos o direito ao voto. Em 2010, o TSE editou a Resolução n.º 23.219, dispondo sobre a instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e de internação de adolescentes para viabilizar o voto de presos provisórios e de jovens em medida socioeducativa de internação.

Contudo, alguns Estados ainda insistem em não dar cumprimento à referida resolução alegando falta de recursos materiais e humanos para assegurar o direito ao voto. Nessa seara, importante o papel do Defensor Público Federal, Primeiramente, por ser a Justiça Eleitoral uma justiça mantida pela União, é a DPU que presta assistência judiciária gratuita.

Nessa toada, é fundamental que o Defensor Público Federal resguarde o direito público subjetivo dos presos provisórios de votarem. O art. 15 da Constituição Federal determina a suspensão dos direitos políticos apenas dos presos que tenham sido condenados com o trânsito em julgado. Ademais, o art. 136 do Código Eleitoral deve ser interpretado à luz da CF/88, que assegura o direito ao voto, uma vez que vários estabelecimentos penais em pequenos Municípios não atingem o contingente de 50 presos provisórios.

No âmbito do Direito Internacional, o Comitê de Direitos Humanos da ONU, no seu Comentário Geral nº 25, de 12 de julho de 1996, a propósito do direito ao voto, previsto no art. 25 da Convenção sobre os Direitos Civis e Políticos, destacou expressamente: “Pessoas que forem privadas da liberdade, mas que ainda não foram condenadas, não devem ser excluídas do exercício do direito de votar”

Ainda no plano internacional, a Corte Européia de Direitos Humanos, no caso Hirst v. The United Kingdom, decidiu que “a exclusão do voto imposta aos prisioneiros condenados à prisão é desproporcional. Isso tem em vista o fato de que ela priva um amplo grupo de pessoas do voto; que ela é aplicada de forma automática, sem levar em consideração a duração da pena ou a gravidade do crime. E que os resultados são arbitrários e anômalos, dependendo do cronograma das eleições”.

Com base nessa premissa, os Procuradores da República no Estado do Rio de Janeiro, Daniel Sarmento e Silvana Batini, representaram ao Procurador Geral da República para que o mesmo ajuíze perante o STF Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão, cumulada com Arguição de Descumprimento de

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Preceito Fundamental e com Ação Direta de Inconstitucionalidade.

Na referida representação os ilustres Procuradores da República, de forma magistral, postulam: “(a) reconheça a omissão inconstitucional do Tribunal Superior Eleitoral em adotar as providências de índole normativa e administrativa voltadas à viabilização do exercício do direito de voto dos presos provisórios no Brasil; (b) realize interpretação conforme a Constituição dos artigos 136 e 141 da Lei n.º 4.737/65 (Código Eleitoral), para assentar que eles não se aplicam, respectivamente, à instalação de sessão eleitoral em estabelecimentos prisionais e à votação nestes estabelecimentos; (c) realize interpretação conforme a Constituição do 91 da Lei nº 9.504/97, para afirmar que ele não se aplica à transferência de domicílio eleitoral do voto do preso provisório;”.

Para maior aprofundamento do tema, recomendo a referida representação que se encontra disponível no link: http://s.conjur.com.br/dl/representacao-mpf-rj-presos-vota.pdf

Por fim, conforme bem ressaltado pela IBCCrim “na medida em que os presos não votam, deixam de despertar a atenção daqueles que realizam as políticas públicas. A exclusão social e política dos privados de liberdade acarreta despersonalização e desumanização proibidas em sociedade que tem como ideal o respeito à integridade e à dignidade da pessoa.” (Disponível no link http://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/3695-Obrigatoriedade-de-voto-do-preso-provis%C3%B3rio).

MELHORES RESPOSTAS:

TAMARA ARRUDA

O voto é um direito fundamental assegurado ao cidadão nos termos do art. 15, inciso III da CRFB. Inclui-se no conceito de ‘cidadão’, os presos provisórios, pois são indivíduos sem condenação criminal definitiva, portanto, conservam seus direitos políticos, dos quais o exercício do voto é um deles. O voto é obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo para maiores de 16 e menores de 18 anos. Assim, indivíduo internado em centro de reabilitação maior de 16 anos tem o direito a solicitar o alistamento eleitoral e votar. Todavia, apesar disso, nem sempre os estabelecimentos prisionais asseguram o exercício deste direito aos presos provisórios.

Desta feita, para dar efetividade à garantia constitucional, o TSE por meio da resolução 23.219 normatizou a instalação de seções eleitorais nos estabelecimentos penais e unidades de internação de adolescentes a fim de viabilizar o exercício do direito de voto aos presos provisórios.

A Defensoria Pública, em razão de sua função institucional consignada no art. 4º, XVII da LC 80/94 desde muito atua junto aos estabelecimentos penitenciários e de internação de adolescentes para assegurar a estes grupos o exercício do direito de voto ao preso provisório. Por fim, convém assinalar que o exercício dos direitos políticos pelos presos provisórios dá efetividade aos princípios da dignidade da pessoa humana e da presunção de inocência.

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AUGUSTO DROIT

O voto constitui um importante dever cívico, que possibilita ao cidadão escolher as autoridades políticas que serão responsáveis pela defesa de seus interesses nos âmbitos legislativo e executivo.

O direito ao voto tem tamanha relevância que a Constituição Federal estabelece que não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir o voto direto, secreto, universal e periódico. Além disso, apenas se admite a suspensão dos direitos políticos nos casos expressamente previstos no artigo 15 da Constituição.

O dispositivo citado prevê, no inciso III, como causa para a suspensão dos direitos políticos a condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos, mas não faz nenhuma menção ao preso provisório ou ao adolescente infrator. Por esse motivo, o TSE tem determinado a instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e de internação de adolescentes. A posição do tribunal está alinhada à literalidade da Constituição e ao princípio pelo qual as normas limitadoras de direitos e garantias fundamentais devem ser interpretadas restritivamente.

Por fim, vale citar que a violação desse direito pode ensejar o ajuizamento de uma Ação Civil Pública pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público, em benefício dos presos provisórios ou dos adolescentes internados.

ANA CABRAL

A Constituição Federal de 1988 estabelece, no artigo 14, o direito ao sufrágio universal e pelo voto, direto, secreto e com valor igual para todos, de acordo com a regulamentação por lei.

Por outro lado, o texto constitucional autoriza a perda ou suspensão dos direitos políticos nos casos elencados nos incisos I a V do artigo 15, permitindo a suspensão no caso de condenação criminal com trânsito em julgado, enquanto durar seus efeitos.

Desse modo, o preso provisório tem o direito de votar, tendo em vista que não se encontra entre os casos excetuados pela constituição. Trata-se de direito fundamental, que não pode ser negado ao preso, sem condenação transitada.

No Brasil, a viabilização do voto pelo preso provisório vem acontecendo de forma gradual, pois nem todos os Estados se organizaram para assegurar esse direito aos presos. Desde o ano de 2002, alguns Estados vem atuando junto às zonas eleitorais para que esses presos possam exercer seu direito constitucionalmente garantido.

Em 2010 foi aprovada Resolução n. 23.219 no Plenário do TSE que dispões sobre instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e de internação de adolescentes.

A Defensoria Pública da União, assim como Ministério Público, têm exercido um papel importante na efetivação desse direito, seja por meio de Termos de cooperação Técnica, seja por ajuizamento de ações com vistas a garantir que os presos provisórios tenham seu direito efetivado.

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MEDIADOR: ALEXANDRE MENDES

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Após julgamento da apelação pelo TRF da 1ª Região, inconformada, a parte apelante interpôs recurso especial, o qual foi sobrestado por decisão do desembargador presidente do referido tribunal. Diante dessa situação, responda justificadamente: a) na hipótese do caso tratado ser diverso do apontado como paradigma para fins de sobrestamento, na visão da doutrina e da jurisprudência, qual a via adequada para o recorrente se insurgir contra essa decisão? b) na visão da doutrina e da jurisprudência, qual o prazo máximo para sobrestamento dos recursos especial e extraordinário?

PONTO DO REGULAMENTO: 25.1. recursos.

COMENTÁRIO

O Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal assentam que a decisão que determina o sobrestamento do recurso especial e extraordinário é irrecorrível no âmbito desses tribunais, não cabendo o agravo do art. 544 do Código de Processo Civil e tampouco a reclamação, pois entendem se tratar de provimento sem cunho decisório, não se tratando de juízo de admissibilidade ou de mérito, que ocorrerá apenas quando o recurso representativo da controvérsia for devidamente julgado pelo STJ ou STF.

A doutrina majoritária, por sua vez, assevera que para se chegar à conclusão de que a matéria discutida no recurso interposto é idêntica a que está sendo analisada no recurso representativo de controvérsia, evidentemente, será necessário um juízo valorativo de cunho decisório, sendo, ademais, evidente a possibilidade de prejuízo do jurisdicionado com a equivocada decisão que determina o sobrestamento. Por essa razão, há quem admita a reclamação por considerar que a decisão equivale a uma usurpação de competência, bem como o manejo do agravo interno no tribunal de origem, sendo esta última posição acolhida pelo STF.

O STF não estabeleceu prazo máximo de duração do sobrestamento do recursos especiais, por ausência de previsão legal, de sorte que o sobrestamento perdura até julgamento do definitivo do recurso paradigma. A doutrina diverge, havendo quem aplique por analogia o disposto do art. 21, parágrafo único, da Lei 9.868/99, que determina a perda da eficácia do sobrestamento após 180 dias e quem aplique o art. 265, § 5º do CPC (12 meses), sendo essa posição recentemente acolhida pelo STJ. Asseveram que a ausência de prazo máximo para o sobrestamento pode violar o princípio constitucional da duração razoável do processo, especialmente no âmbito dos juizados especiais federais, regidos pelo princípio da celeridade.

OBSERVAÇÕES

Em primeiro lugar, fico feliz em registrar que todos(as) os alunos(as) que enviaram respostas mostraram domínio das regras da língua portuguesa, o que é essencial em se tratando de concursos públicos.

Cumpre-me informar que essa questão foi elaborada tomando por base artigo escrito pelo Defensor Público Federal e membro da Banca Examinadora Jair Soares Júnior, sob o título “Justiça, igualdade e

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direito à razoável duração do processo: o sobrestamento dos recurso nos juizados especiais federais”, lançado em 2014 no E-Book Juizados Especiais Federais: Contributos para uma releitura (Organizadores José Antonio Savaris, Márcio Ricardo Staffen e Zenildo Bodnar). O referido livro é gratuito e pode ser baixado no seguinte link: http://siaiapp28.univali.br/LstFree.aspx

As questões dissertativas de concursos do CESPE têm sido cada vez menos generosas com relação ao espaço disponível para responder ao que foi perguntado. Por isso, recomenda-se ser o mais direto possível ao responder a indagação.

Alguns alunos começaram a responder com explanações bastante elegantes, mas que não contribuem para a pontuação, pois não tratam de efetivamente responder ao que foi perguntado, o que gera a perda de espaço precioso para realizar essa tarefa. Não se deve ceder a tentação de uma resposta mais “bonitinha”, porém incompleta. Sugere-se a abordagem o mais direta possível, mas sem que se perca a substância.

Quanto ao prazo máximo de sobrestamento, Alguns alunos fixaram a posição do STJ nos termos da resolução n. 7/2008 (180 dias). Observo que essa resolução foi revogada pela n. 8, e apenas recentemente o STF aderiu a posição de analogia ao 265, § 5º, do CPC (AGRESP n. 1229437, 3a Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 10/04/2014)

É preciso ter em mente que a Banca Examinadora tem uma lista de pontuação – um check in list, por assim dizer – usada para aferir a pontuação do aluno, de sorte a tornar mais dinâmica a correção de um grande volume de provas.

No caso da questão em comento, vide um possível check list:

• A posição da jurisprudência (leia-se: STJ/STF) sobre a via para se insurgir contra o sobrestamento (irrecorrível no âmbito desses tribunais);

• As razõesdaposiçãoda jurisprudência (aquestãoexigia resposta justificada)para sua posição (não há cunho decisório);

• A posição da doutrina sobre a via para se insurgir contra o sobrestamento indevido (reclamação, agravo interno);

• As razões da doutrina para sua posição quanto ao sobrestamento indevido (há teor decisório em saber se o recurso está ou não relacionado com o recurso-paradigma);

• A posição da jurisprudência (leia-se STJ/STF) quanto ao prazo máximo de sobrestamento (não há prazo);

• As razões da jurisprudência (leia-se STJ/STF) para a posição adotada quanto ao prazo máximo de sobrestamento (ausência de amparo legal);

• A posição da doutrina quanto ao prazo máximo de sobrestamento (180 dias, analogia 21, parágrafo único, Lei 9.868/99 ou 12 meses, analogia art. 265, § 5º, do CPC) ;

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• As razões da doutrina para a posição quanto ao prazo máximo de sobrestamento (sobrestamento por prazo maior ofende a duração razoável do processo, celeridade);

• Resposta ao espaço máximo para resposta;

• Respeito as normas da língua portuguesa.

A maioria dos alunos sabia a posição do STJ/STF sobre o tema, mas vários a informaram desacompanhada das respectivas razões, o que implicaria em pontuação parcial.

Sugiro que se procurem externar em sua resposta o máximo de ligações possíveis com princípios constitucionais e infraconstitucionais. Aqui, quanto ao prazo máximo para sobrestamento, seria interessante mencionar ao menos dois princípios que certamente estariam no check list: a duração razoável do processo e a celeridade (de latente importância principalmente nos juizados especiais).

MELHORES RESPOSTAS:

MARIANA MOUTINHO

Entende-se que do pronunciamento que versar sobre o sobrestamento não será cabível recurso para Tribunal Superior. Isso porque tal pronunciamento não ostenta caráter decisório, eis que no seu bojo não é feito qualquer juízo de admissibilidade ou de mérito. Questiona-se, então, qual seria a via adequada para levar ao STJ o conhecimento do recurso especial que trata de caso diverso do recurso paradigma (hipótese de distinguishing). Segundo entendimento do STF e do STJ, caso a parte entenda indevido o sobrestamento do recurso excepcional, a medida adequada é a interposição de agravo interno contra decisão do Presidente do Tribunal perante o tribunal de origem. Entendem que não é possível, na hipótese, manejo do agravo do art. 544 do CPC, nem de agravo de instrumento. É de se notar, porém, que tal entendimento encontra crítica da doutrina, para quem o remédio adequado seria o ajuizamento de reclamação constitucional perante o STJ, eis que seria hipótese de usurpação da competência do Tribunal, enquanto há quem entenda ser hipótese de impetração de mandado de segurança. Tanto o art. 543-B quanto o art. 543-C do CPC não dispõem sobre prazo máximo para sobrestamento dos recursos excepcionais, dando a entender que assim permaneceriam até o julgamento dos recursos paradigmas. Todavia, o STJ decidiu que recentemente que o prazo máximo para sobrestamento de recurso especial, suspenso por força de determinação do STF (art. 543-B do CPC), é aquele do art. 265, §5º do CPC, qual seja, 1 ano. Assim, ultrapassado esse período, o STJ estaria autorizado a proceder à apreciação e julgamento do referido recurso.

CAROLINE CANUTO

O regime do recurso repetitivo, também denominado pela doutrina de julgamento por amostragem, foi criado para diminuir a quantidade de recursos que versam sobre matéria de direito idêntica e são dirigidos aos Tribunais Superiores. De regra, da decisão do Presidente do Tribunal que determina o sobrestamento do recurso especial, não cabe recurso, nem reclamação. Por outro lado, se o fundamento da irresignação

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consistir no fato de que o caso do recurso é diverso do que consta no paradigma, o recurso cabível será o agravo regimental para o órgão colegiado do próprio Tribunal Regional Federal. Noutro giro, se esse órgão colegiado mantiver a decisão monocrática, desse decisório, não há mais a possibilidade de interposição de qualquer recurso. Frise-se que, em qualquer caso, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido do não cabimento do recurso de agravo previsto no art. 544 do Código de Processo Civil, sob pena de naufragar-se a verdadeira finalidade do recurso repetitivo. Ainda, em que pese o diploma processual civil não prever um prazo máximo para o sobrestamento, a doutrina e a jurisprudência vêm aplicando o prazo previsto no art. 21, parágrafo único, da Lei 9.868/99. Essa norma trata do processamento da Ação Direta de Constitucionalidade e da Ação Declaratória de Constitucionalidade e prevê a possibilidade de concessão de medida cautelar, nesta última, para suspender o julgamento dos processos que tenham, como objeto, a lei ou ato normativo que está sendo questionado. Decorridos 180 dias sem que haja o julgamento da ação, a cautelar perde sua eficácia. Assim, conforme o entendimento majoritário, esse também será considerado o prazo máximo para o sobrestamento dos recursos repetitivos.

GABRIELA AGUIAR

Na hipótese de sobrestamento indevido de recursos excepcionais, a jurisprudência entende ser cabível a interposição de agravo interno ou regimental, isto é, o recorrente que não corrobora com a decisão de sobrestamento do recurso, por entendê-lo como sendo divergente do leanding case (caso líder ou precedente), deve interpor o agravo interno no tribunal de origem, a fim de que a decisão seja retratada ou submetida ao órgão colegiado. Vale ressaltar que não cabe a interposição de agravo de instrumento (artigo 544, do CPC) para a impugnação de sobrestamento indevido. De uma banda, porque esse dispositivo recursal é aplicável às decisões de inadmissibilidade dos recursos excepcionais, ou seja, nas hipóteses em que o tribunal de origem analisa os pressupostos de admissibilidade desses recursos. Doutra banda, se fosse admitido o agravo de instrumento, haveria apenas a substituição de nomenclaturas recursais, não impedindo que vários recursos, com as mesmas matérias, subissem aos Tribunais Superiores e ao STF, tornando o julgamento por amostragem uma ineficiente ferramenta para uma Justiça célere e definitiva. No entanto, parte da doutrina acredita ser possível a propositura de reclamação ou, até mesmo medida cautelar, para o STJ ou para o STF. Para a reclamação, entende-se possível a sua possibilidade porque ao proceder ao sobrestamento indevido o tribunal de origem estaria usurpando uma competência originária, por não versar sobre o mesmo assunto do recurso escolhido para julgamento por amostragem (distinguishing), ou por não lhe aplicar mais o precedente, em razão de um novo contexto fático ou normativo (Overruling). Para a medida cautelar, vislumbra-se essa possibilidade na ocorrência de fatos urgentes que ensejam danos ao recorrente, sendo imprescindível a manifestação imediata do Poder Judiciário. Cumpre anotar que para a jurisprudência, uma vez deflagrado o julgamento por amostragem e selecionados os recursos representativos da controvérsia, os demais recursos ficarão sobrestados até o julgamento final do recurso apresentado à Corte (art. 543-C, §1º, do CPC). Entretanto, a doutrina entende ser cabível a aplicação, por analogia, do artigo 265, inciso IV, alínea “a”, do CPC, isto é, os demais recursos sobrestados na origem deveriam ficar suspensos pelo prazo máximo de 1 (um) ano, findo esse prazo, o juiz deveria prosseguir o processo.

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HERNANDA CALDEIRA

a) na hipótese do caso tratado ser diverso do apontado como paradigma para fins de sobrestamento, na visão da doutrina e da jurisprudência, qual a via adequada para o recorrente se insurgir contra essa decisão? Enquanto o STJ não se pronunciar sobre a questão federal selecionada, compete ao Tribunal de origem apreciar os incidentes e as medidas urgentes referidas ao especial que fica sobrestado na origem. Isso porque a competência do Tribunal de origem só se exaure com a emissão do juízo precário de admissibilidade do recurso especial, e se esse juízo fica suspenso até o pronunciamento do Superior Tribunal sobre a questão selecionada, é de se supor que a instância a quo deve permanecer incumbida de apreciar todos os feitos e incidentes relacionados ao recurso, inclusive aqueles em que se pleiteia o imediato processamento do feito. Daí não ser cabível a interposição de agravo, ou de qualquer outro recurso, dirigido ao STJ, com o objetivo de impugnar decisão, proferida no Tribunal de origem, que tenha determinado o sobrestamento de recurso especial com fundamento no art. 543-C do CPC, referente aos recursos representativos de controvérsias repetitivas. Segundo a jurisprudência do STJ, a decisão do Presidente do Tribunal a quo que determina o sobrestamento do recurso especial sob o rito do art. 543-C do CPC, não tem cunho decisório, pois nada decide sobre o juízo de admissibilidade ou de mérito do recurso excepcional interposto. O ato impugnado, portanto, tem natureza de despacho (art. 162, § 3º, do CPC), já que não decide nenhum incidente do processo, mas, apenas, dispõe sobre sua tramitação, e, por isso, não está sujeito a recurso, nos termos do art. 504 do CPC. Daí decisões no sentido do cabimento do agravo interno. O direito de o recorrente interpor o vindicado agravo interno está relacionado com o prejuízo decorrente de decisão que, por ocasião do julgamento de admissibilidade ou de mérito do recurso sobrestado (art. 543-B, § 3º, do CPC), vier a aplicar a tese sufragada com repercussão geral de forma equivocada no caso concreto. b) na visão da doutrina e da jurisprudência, qual o prazo máximo para sobrestamento dos recursos especial e extraordinário? Os processos que não forem selecionados como “representativos”, serão sobrestados, aguardando em cartório o pronunciamento definitivo do STJ sobre a questão federal a ele submetida. Com a publicação do acórdão proferido no recurso especial afetado, cessará automaticamente o sobrestamento.

RAPHAEL BRAGA

O STF tem entendimento consolidado de que na hipótese do caso tratado ser diverso daquele que foi apontado como paradigma para fins de sobrestamento, deve a parte interpor agravo regimental (agravo interno) para o tribunal a quo, sendo o Conselho Especial ou o Pleno do Tribunal os órgãos competentes para versar sobre o assunto. A doutrina, no entanto, critica tal posicionamento por entender que tal matéria deveria ser tratada pelos próprios tribunais superiores, uma vez que se estaria diante de um caso de supressão de instância. Assim, diante tal usurpação, caberia reclamação constitucional aos tribunais superiores para que estes possam analisar os possíveis casos de “distinguishing” ou “overruling” que podem se fazer presentes. Como não há disposição expressa em lei que fixe o tempo máximo que um processo pode ficar sobrestado por tais fundamentos, diferentemente do que acontece quando a própria parte pede o sobrestamento do feito por 30 dias, a jurisprudência entende que se deve aplicar, por analogia, o art. 21, parágrafo único, da Lei n. 9.868/99. Ou seja, o prazo máximo é de 180 dias.

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FABRÍCIO RIVA

Embora grande a celeuma, muitos autores sustentam a possibilidade de o pronunciamento em espeque se tratar de ato judicial passível de recurso, entre eles: agravo interno direcionado ao próprio Tribunal de origem; reclamação constitucional para demonstração de distinguishing, eis que a manutenção de um recurso indevidamente sobrestado se equivaleria a uma forma de usurpação de competência; ou ainda medidas cautelares. Noutro eito, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no sentido de que não é cabível a interposição de agravo ou de qualquer outro recurso dirigido ao Tribunal da Cidadania com o objetivo de impugnar pronunciamento judicial, no Tribunal a quo, que tenha sobrestado recurso especial com fundamento no art. 543-C, §1º, do Diploma Adjetivo Cível vigente. A Corte Superior sustenta-se no princípio da taxatividade dos recursos, bem como nos princípios da celeridade e da economia processual, eis que a impugnação seria ofensiva à finalidade da norma insculpida no art. 543-C do CPC. Entretanto, o próprio STJ já entendeu possível, excepcionalmente, e apenas quando da ocorrência da devida afetação do recurso representativo da controvérsia ao julgamento do órgão colegiado competente, seria viável um juízo de adequação, por intermédio, ad exemplum, de medida cautelar. Assim, in casu, a insurgência, com a maior probabilidade de eficácia, estaria lastreada na utilização de agravo interno no Tribunal para demonstração do especificidade do caso; ou de uma cautelar direcionada ao STJ, assim que ocorrer à afetação do recurso representativo-paradigma. Os escólios jurisprudenciais dos tribunais superiores são também remansosos, no sentido de que os recursos excepcionais, na sistemática dos artigos 543-B e 543-C, devem permanecer sobrestados, na origem, até o julgamento pela Corte respectiva do recurso paradigma. Entretanto, já se aplicou, em casos concretos, analogamente, o art. 265 do CPC, para julgamento de recursos excepcionais suspensos, após o sobrestamento atingir um ano; situação esta ratificada pela doutrina processualista.

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PEÇA JUDICIALResposta em no máximo 200 linhas.

MEDIADOR: CAIO PAIVA

DIREITO PENAL, PROCESSO PENAL E DIREITOS HUMANOS

Moacir, indígena, foi denunciado pelo Ministério Público Federal por ter desacatado Policiais Federais próximo ao portão de embarque do Aeroporto de Brasília/DF, ocasião em que, segundo consta nos depoimentos colhidos na fase de investigação, Moacir teria dito vários palavrões aos Policiais Federais por estes não terem autorizado que ele embarcasse no avião usando o seu cocar, tendo, portanto, incorrido no crime de desacato (art. 331 do Código Penal).

Considerando que Moacir preenchia os requisitos legais, o MPF lhe ofereceu o benefício da suspensão condicional do processo pelo prazo de dois anos, o que foi aceito e homologado pelo juiz, obrigando-se o réu a cumprir as seguintes condições: (1) comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades; e (2) pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica.

Moacir, que, à época, era defendido por advogado particular, pagou a quantia fixada e promoveu, por meio da sua defesa técnica, a juntada do comprovante nos autos. Ao final do período de prova, porém, constatou-se que Moacir deixou de comparecer em juízo nos dois últimos meses, não sendo encontrado, ainda, para justificar tal conduta, o que acarretou a revogação do sursis processual, com o retorno da tramitação da ação penal.

O procedimento se desenvolveu até que, ao final, Moacir foi condenado a uma pena restritiva de direitos, com trânsito em julgado. Meses depois, porém, Moacir comparece na DPU e, ao conversar com você, defensor(a) público(a) federal, relata os prejuízos que aquela condenação tem lhe causado, dentre os quais a inviabilização de candidatura eleitoral por ser, agora, “ficha suja”.

Na condição de defensor(a) público(a) federal, proponha a medida processual mais eficaz para a tutela dos direitos de Moacir, arguindo em sua defesa as teses cabíveis para o fim de cassar/anular aquela sentença condenatória, devolvendo-lhe, portanto, o status de primário.

COMENTÁRIO

A peça judicial, vocês sabem, ostenta um peso elevado na segunda fase da maioria dos concursos para carreiras jurídicas, não sendo diferente no concurso da DPU. Sendo assim, não será exagero dizer que o desempenho do candidato na peça judicial pode determinar a sua aprovação ou reprovação naquela fase, a depender, ainda, é claro, de como se saiu nas questões dissertativas. Diante disso, é imprescindível que acompanhem com muita atenção esse diferencial do CEI, qual seja, a nossa correção individualizada e posterior elaboração de um gabarito comentado que explore todos os aspectos a respeito da peça judicial cobrada: seja no que diz respeito a ensinamentos de ordem, digamos, “assessória”, tais como estilo, estética e estratégia, cujo domínio certamente pode diferenciar nosso aluno dos demais concorrentes,

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seja, também, no tocante à uma argumentação de excelência, isto é, uma exposição jurídica que propicie ao assistido a verdadeira assistência jurídica integral.

Pois bem. Antes de apresentar um esboço da peça que a mim (aqui na condição de mediador e examinador) parecia adequada, gostaria de comentar com vocês alguns aspectos que se relacionam com a atividade proposta. Inicialmente, o caso veiculado na peça judicial desta 2ª Rodada do CEI-DPU não é fictício; aconteceu aqui, no Aeroporto de Manaus/AM, e chegou até a DPU. Um caso, eu diria, emblemático: um índio, que se autodenomina cacique (e, de fato, o contexto parece confirmar a alegação), foi impedido de transitar e, consequentemente, embarcar num voo porque estava usando o seu cocar, um adereço que, para a cultura indígena, possui um valor simbólico e de identidade muito grande. O caso chegou até a mim, conforme veiculado – também – no enunciado do problema proposto, já após o trânsito em julgado da condenação. O assistido, agora candidato ao cargo de deputado federal, encontrava-se com a fichasuja. Fiz pra ele, também, uma defesa no processo eleitoral, questionando que crimes de menor potencial ofensivo não poderiam causar a inelegibilidade, mas isso não é um tema que devemos tratar aqui. No caso real apenas não havia a questão relativa ao cumprimento “substancial” dos termos da suspensão condicional do processo, o qual trabalhei com vocês aqui apenas para aproveitarmos a ocasião para explorarmos o máximo de conhecimento jurídico e índole defensiva da peça judicial.

Prosseguindo, ainda neste momento preambular, devo lhes dizer que um dos temas tratados nessa peça judicial (o mais importante: incompatibilidade do crime de desacato com o Sistema Interamericano de Direitos Humanos) é de muito interesse de um dos examinadores do Grupo IV do V Concurso da DPU (Direitos Humanos, Direito Internacional...), o colega da DPU/SP João Chaves, de modo que lhes oriento a acompanharem com muita atenção o raciocínio que exporei abaixo, pois não se pode descartar, acredito, eventual peça – ou questão dissertativa – que aborde esse assunto.

Para a correção individualizada das peças que me foram enviadas por e-mail, adotei o seguinte Espelho de Correção (uma espécie de “check-list”), fazendo apontamentos – individuais – sobre cada um deles:

1. Correção ortográfica:

2. Estética/organização:

3. Endereçamento:

4. Peça apresentada:

5. Teses de mérito:

6. Pedidos:

Segue abaixo, agora, um esboço da peça judicial, com breves comentários acerca de cada ponto do Espelho de Correção:

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL PRESIDENTE DA TURMA RECURSAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA/DF

Como a peça mais adequada, conforme se verá logo mais, seria o Habeas Corpus, o endereçamento deve ser feito para o Presidente do Tribunal/Turma Recursal (art. 661 do CPP).

Autos do processo na origem n.º _________________________

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, no uso de suas atribuições constitucional (art. 5º, LXXIV, e art. 134, ambos da CF) e institucional (art. 4º, IX, da LC 80/94), vem, pelo defensor público federal que esta subscreve, na defesa de

MOACIR, (qualificação),

Cidadão condenado pela prática do crime de desacato (art. 331 do Código Penal), sentença cujo trânsito em julgado se deu em __/__/____, impetrar

HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR

com base no art. 5º, inciso LXVIII, da CF/88, em face de decisão proferida pelo juízo do Juizado Especial Federal de Brasília/DF, que condenou o paciente pela prática do crime de desacato (art. 331 do CP).

Primeiro, a competência para julgar Habeas Corpus contra ato/decisão de juiz do Juizado Especial é da Turma Recursal. Segundo, e mais importante, por que a peça adequada seria o Habeas Corpus e não a Revisão Criminal (que muitos alunos fizeram)? Por dois motivos, basicamente: (1) o enunciado do problema pede que se proponha a medida processual mais eficaz para a tutela dos direitos de Moacir; e (2) fazia-se necessário o requerimento de medida liminar, pleito que conta com certa resistência na Revisão Criminal.

O aluno que fez Revisão Criminal tiraria nota “zero”? Fosse eu o examinador e a prova, real, certamente não, pois prestigiaria mais o raciocínio. No entanto, o Habeas Corpus certamente constitui-se em medida mais eficaz do que a Revisão Criminal, haja vista o seu procedimento ser mais simples e célere, além de permitir tranquilamente o manejo de pedido de liminar.

1. SÍNTESE DO PROCESSO

Aqui o aluno deveria expor, sucintamente, o que ocorreu durante o processo. Recomendo que não gastem muitas linhas nesse tópico, sendo o bastante, de fato, uma mera “síntese do processo”, que veicule o que aconteceu, porque você está recorrendo àquela instância superior e qual será o pleito que se pretende apresentar.

2. CABIMENTO DO HABEAS CORPUS E COMPETÊNCIA PARA JULGÁ-LO

Feita a síntese do processo, o aluno poderia passar à exposição, também sucinta, sobre o cabimento do Habeas Corpus e a competência para julgá-lo. No que diz respeito ao cabimento, me parecia necessário dizer que não se desconhece do entendimento do Supremo Tribunal Federal no sentido de que “o habeas

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corpus não pode ser utilizado, em regra, como sucedâneo de revisão criminal, a menos que haja manifesta ilegalidade ou abuso no ato praticado” (assim, conferir: HC 86367, rel. min. Ellen Gracie, DJe 23/10/2008; RHC 116204, rel. min. Cármen Lúcia, DJe 02/05/2013; RHC 1072013, rel. min. Cármen Lúcia, DJe 22/06/2011; RHC 106397, rel. min. Ricardo Lewandowski, DJe 05/04/2011; dentre outros). O aluno não deveria nem poderia, conforme veiculamos nas instruções do CEI, citar número de decisões nem transcrever trecho delas; bastava fazer referência a esse entendimento. Após, porém, o aluno deveria argumentar porque havia escolhido o Habeas Corpus, sendo que os motivos para tal propositura se resumiam em (1) manifesta ilegalidade, (2) resistência de se admitir medida liminar em Revisão Criminal e (3) o fato de a Revisão Criminal, a princípio, somente comportar a discussão de contrariedade a lei penal (art. 621, I, do CPP), não abrangendo, ao menos numa interpretação mais literal, a arguição de incompatibilidade com Tratados Internacionais de Direitos Humanos.

Acerca da competência, simples: cabe à Turma Recursal julgar HC contra decisão/ato de juiz de Juizado Especial.

3. PRIMEIRA TESE DE MÉRITO: A INCOMPATIBILIDADE DO CRIME DE DESACATO COM O SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS

O caso aqui veiculado revela, indiscutivelmente, o quanto a comunidade indígena (ainda) é vítima de um pensamento político – e jurídico – colonizador, de uma estrutura de/do Estado pronta a reprimir seus costumes, suas tradições, suas crenças, enfim, a sua identidade cultural, protegida pelo art. 231 da CF/88: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. O habeas corpus leva ao conhecimento da Turma Recursal a incompatibilidade da previsão do crime de desacato (art. 331 do Código Penal) na legislação penal brasileira com o entendimento que se tem firmado no âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, notadamente na Comissão Interamericana, que, no informe sobre Leis de Desacato e Difamação Criminal, assentou que

“5.Aafirmaçãoqueintitulaestaseçãoédelongadata:talcomoaRelatoriaexpressouem informes anteriores, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) efetuou uma análise da compatibilidade das leis de desacato com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos em um relatório realizado em 1995. A CIDH concluiu que tais leis não são compatíveis com a Convenção porque se prestavam ao abuso como um meio para silenciar ideias e opiniões impopulares, reprimindo, desse modo, o debate que é crítico para o efetivo funcionamento das instituições democráticas. A CIDH declarou, igualmente, que as leis de desacato proporcionam um maior nível de proteção aos funcionários públicos do que aos cidadãos privados, em direta contravenção com o princípio fundamental de um sistema democrático, que sujeita o governo a controle popular para impedir e controlar o abuso de seus poderes coercitivos. Em consequência, os cidadãos têm o direito de criticar e examinar as ações e atitudes dos funcionários públicos no que se refere à função pública. Ademais, as leis de desacato dissuadem as críticas, pelo temor das pessoas

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às ações judiciais ou sanções fiduciárias. Existem outros meios menos restritivos, além das leis de desacato, mediante os quais o governo pode defender sua reputação frente a ataques infundados, como a réplica através dos meios de comunicação ou impetrando ações cíveis por difamação ou injúria. Por todas estas razões, a CIDH concluiu que as leis de desacato são incompatíveis com a Convenção, e instou os Estados que as derrogassem”.

No mesmo sentido, ainda no âmbito da Comissão Interamericana, o art. 11 da Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão, que estabelece o seguinte: “Os funcionários públicos estão sujeitos a maior escrutínio da sociedade. As leis que punem a expressão ofensiva contra funcionários públicos, geralmente conhecidas como ‘leis de desacato’, atentam contra a liberdade de expressão e o direito à informação”. Por essa razão, ademais, é que o Estado brasileiro já se encontra na situação de demandado naquela Comissão (DPU denuncia Estado brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos: http://www.dpu.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10997&catid=215&Itemid=458), isso porque a manutenção do crime de desacato no ordenamento jurídico interno está em rota de colisão com a Convenção Americana de Direitos Humanos, sendo, pois, inconvencional por violar o seu art. 13, que garante a liberdade de pensamento e expressão.

Assim sendo, o Habeas Corpus veicularia que a Turma Recursal pode (melhor dizendo: deve) cassar/anular a decisão proferida pelo juiz ad quo, aqui considerado como órgão jurisdicional coator, restabelecendo, consequentemente, a condição de inocente do paciente, eis que estamos diante de uma conduta que, para o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, se revela atípica.

4. SEGUNDA TESE DE MÉRITO: EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL DAS CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO DO PROCESSO

A tese que se pretende sustentar nesse tópico resume-se a responder ao seguinte questionamento: tendo o acusado se submetido a duas espécies de condições, quais sejam, (i) comparecimento mensal e (ii) pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica, mas deixando de cumprir parcialmente apenas uma delas (a primeira), afigura-se razoável e proporcional a revogação do sursis ou, diversamente, deve-se admitir o adimplemento substancial das condições fixadas e, consequentemente, declarar-se extinta a punibilidade nos termos do art. 89, § 5º, da Lei 9099/95?

Pois bem. O sistema penal deve se orientar, sempre, por uma política criminal minimalista, de redução de danos. Noutras palavras, a incidência do poder punitivo, em face da sua potencialidade lesiva para a vida do cidadão, somente se legitima quando estritamente necessária. Assim, considerando, então, que o Direito Penal, conforme ensina Zaffaroni, “deve escolher entre irracionalidades, para impedir o avanço das de maior calibre, não pode admitir que a essa natureza não racional do exercício do poder punitivo se agregue uma nota de máxima irracionalidade, pela qual se afetam bens de uma pessoa em desproporção grosseira com o mal que tenha provocado”1.

Se o Direito Penal não pode se tornar (mais) irracional, também o processo penal, por sua vez, não

1 ZAFFARONI, Eugênio Raul. Derecho Penal – Parte General. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p. 130 – tradução livre.

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pode permitir a adoção de expedientes que contrariam o princípio da proporcionalidade, como é o caso deste processo, em que a persecução penal se findou com uma condenação diante de mero descumprimento parcial de apenas uma das medidas fixadas na suspensão condicional do processo, qual seja, o comparecimento mensal. É por esse motivo que Rubens Casara e Antonio Pedro Melchior advertem que “a adoção de uma medida processual desarrazoada afronta a finalidade do processo penal e do próprio Estado, reserva de razão. Vale insistir: qualquer medida processual penal só pode ser validamente adotada na extensão e profundidade necessárias ao fim legal a que se destina”. E concluem os autores, depois, que “qualquer ato processual que ultrapasse o necessário para atingir o objetivo legal configura abuso/excesso e, portanto, é ilegítimo”2.

Tendo o paciente, então, cumprido/adimplido a parte substancial das obrigações assumidas quando aceitou a suspensão condicional do processo, destacando-se o pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica e o comparecimento mensal durante praticamente todo o período de prova, não se mostra razoável – nem juridicamente acertado – que o sursis seja revogado e paciente ao final condenado, o que conduziria a que se desconsiderasse todo o empenho do paciente em cumprir/adimplir as obrigações.

Tem-se aqui, portanto, uma oportunidade para que seja aplicada ao direito/processo penal a denominada teoria do adimplemento substancial, cujo estudo se desenvolveu, primeiro, na dinâmica das relações contratuais, tendo sido objeto de previsão no Enunciado nº. 361 da IV Jornada de Direito Civil, o qual dispõe o seguinte: “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475 [do Código Civil]”. Nesse sentido, vejamos o entendimento de Alexandre Morais da Rosa e Andrezza Anzolin, para quem

“(...) a revogação deve se basear no adimplemento substancial, ou seja, cientes de que o adimplemento procura ser o mais satisfatório para o credor (Ministério Público) e menos oneroso para o devedor, novas coordenadas de pensar devem se instalar, dentre elas a avaliação da boa-fé e função social do contrato. (...).

Aplicando tal teoria [do adimplemento substancia] ao direito penal, mais especificamente,àsuspensãocondicionaldoprocesso,combasenosprincípiosdaboa-fé objetiva, proporcionalidade, equidade e celeridade processual, corolário do devido processo legal substancial, não é cabível a revogação do acordo entre as partes quando, o acusado de boa-fé, cumprindo parte substancial das condições, não cumpre, por exemplo, com o dever de comparecer em juízo no período acordado ou mesmo não quita parte da parcela monetária. Ora, como movimentar o Poder Judiciário com audiência de justificativa, intimando o acusado, tomando tempodo advogado, juiz e representante do Ministério Público para que seja explicado onãocomparecimentoparcialoumesmodeparcela insignificantedoacordado?Necessária se faz a aplicação da teoria do adimplemento substancial, no mesmo contexto em que vem sendo aplicada nos contratos, pois a problemática cotidiana

2 CASARA, Rubens R R; MELCHIOR, Antonio Pedro. Teoria do Processo Penal Brasileiro – volume 1. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013, p. 329.

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do exacerbado formalismo atingiu, também, a suspensão condicional do processo”3.

No mesmo sentido, a lição de Bruno Preti de Souza, em (aparentemente) pioneiro estudo sobre o tema:

“Vê-se que a aplicação da teoria do adimplemento substancial, sob a ótica do princípio daproporcionalidade-razoabilidade,diantedoinsignificantedescumprimentopeloréudecondiçõesque lhe foram impostasno ‘sursisprocessual’, é suficienteparadeclarar a extinção da punibilidade do mesmo.

Importa destacar que o ‘adimplemento substancial’ se contrapõe ao ‘inadimplemento fundamental’. Nesse último, é de rigor a revogação do benefício concedido ao réu, porquanto, efetivamente, há descumprimento das condições em seus elementos primordiais, inclusive com a frustração das legítimas expectativas do Estado que instituiu tal benefício ao réu que preencheu os requisitos da lei.

Exemplo: a determinado sujeito é concedido ‘sursis processual’, com imposição de determinadas obrigações. Após o cumprimento de 90% das obrigações impostas, o sujeito deixa de cumprir apenas uma, consistente no comparecimento em juízo pelaúltima vez para justificar suas atividades.Não comparece. É intimadoparajustificarodescumprimento.Nãojustifica.Obenefícioentãoérevogado,eédadacontinuidade à ação penal. Não seria crível determinar a extinção da punibilidade ante o ‘adimplemento substancial’ das condições impostas? Não foi cumprida afinalidadeessencialdoinstitutobeneficiador?”4.

Repita-se: no caso do problema proposto, o paciente cumpriu parte substancial das condições que lhe foram exigidas, de modo que contraria o princípio da proporcionalidade (aqui concebido pelo aspecto da proibição do excesso) a revogação da suspensão condicional do processo quando, na verdade, o ideal seria a declaração da extinção da punibilidade, medida que melhor se ajusta a uma política-criminal minimalista e a uma concepção processual que não permita o prosseguimento de ações penais quando o Estado já deve(ria) ter perdido o interesse na punição.

Ademais, não procede eventual argumento de que o princípio da proporcionalidade somente teria importância na fase legislativa ou mesmo que o seu âmbito de aplicação fosse limitado à discussão sobre a penalização ou não de ofensas a bens jurídicos. Diversamente, a busca pelo proporcional (ou razoável) deve ser uma atividade constante – também – do Poder Judiciário, em todos os momentos de atuação, inclusive quando em discussão o regramento de “benefícios”, como é o caso da suspensão condicional do processo. A esse propósito, vale citar o ensinamento de Baratta:

“(...) o princípio da proporcionalidade concreta, como guia da lei penal, deve também ter em conta sua aplicabilidade a sujeitos provenientes de diversos estratos sociais. Disso deriva a exigência de introduzir, por razões de justiça, no regramento das sanções e dos benefícios, critérios dirigidos a compensar e limitar as desigualdades

3 ROSA, Alexandre Morais da; ANZOLIN, Andrezza. Excesso de formalismo afeta suspensão condicional do processo. Acessível em: http://www.conjur.com.br/2014-mar-26/suspensao-condicional-processo-nao-afetada-excesso-formalismo. Grifei.4 SOUZA, Bruno Preti. A teoria do adimplemento substancial no Direito Penal. In: Revista Jurídica LEX nº. 63 – maio-jun/2013, p. 413-414. Grifei.

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dos efeitos da pena nos condenados e em seu ambiente social, como, por exemplo, a suspensão condicional, a semiliberdade, a liberdade condicional e as medidas alternativas”5.

Por fim, ressalto que, nesse sentido, já decidiram os Tribunais Regionais Federais da 1ª e da 3ª Região, merecendo destaque os seguintes precedentes, respectivamente:

PENAL E PROCESSO PENAL - SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (ART. 89 DA LEI N° 9.099/95) - PRORROGAÇÃO DO PERÍODO DE PROVA: INEXISTÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO LEGAL

- APLICAÇÃO ANALÓGICA (SURSIS DA PENA) IN MALLAM PARTEM PROIBIDA - RECURSO NÃO PROVIDO.

1. As condições impostas para a suspensão condicional do processo devem ser inspiradas pelo bom senso, indispensável também no exame da revogação facultativa (art. 89, § 40, da Lei n° 9.099195) por descumprimento, mesmo que parcial, de qualquer delas.

2. Na ambiência dos princípios gerais do direito penal não há espaço para aplicação analógica de regra de um instituto em outro desse diferente sem previsão legal, menos ainda quando resulte em agravamento da pena ou da suspensão condicional do processo.

3. Se se deve preferir a opção pela “prorrogação” do período da suspensão do processo (semprevisãolegalparatanto)aoinvésda“revogação”dessebeneficio(STJ,RHC87311RJ, T6, DJ 08 NOV 99), o mesmo equilíbrio presidirá a opção pela “extinção da punibilidade” ao invés da “prorrogação” do sursis processual por pequena falta dodenunciado(ausênciadejustificativaparaumoudoisnãocomparecimento(s)ajuízo valorado(s) no contexto), visto que o direito penal proíbe a analogia in mallam partem.

(RCCR 199935000011700-RCCR - RECURSO CRIMINAL, rel. des. federal Luciano Tolentino Amaral, 3ª Turma, DJ 20/06/2002) – grifei.

PROCESSUAL PENAL. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DECRETADA. DESCUMPRIMENTO DE CONDIÇÃO IMPOSTA E NULIDADE PELA NÃO JUNTADA DA FOLHA DE ANTECEDENTES. INOCORRÊNCIA. FALHA ATRIBUÍDA AO ESTADO-JUIZ. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL.

1. A lei não exige sentença condenatória transitada em julgado para a revogação da suspensãocondicionaldoprocesso,masapenasqueobeneficiáriosejaprocessadopor outro crime.

2. Alegado descumprimento de uma das condições impostas para a suspensão do processo, por parte de Luiz Carlos Mazzuco, consistente no comparecimento por 24 (vinteequatro)vezesaoJuízoparajustificarassuasatividades,devendoosursis

5 BARATTA, Alessandro. Criminología y Sistema Penal – Compilación in memoriam. Buenos Aires: BdeF, 2004, p. 312.

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processual ter sido prorrogado por mais um mês.

3. O acusado compareceu pelo menos 23 (vinte e três) vezes perante o juízo, pelo que,nãosejustificaarevogaçãodobenefício,emrazãodasimplesdúvidaquantoà data aposta na certidão, até porque o erro de digitação pode ser atribuível à Secretaria do Juízo.

4. Aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial - descumprimento de parte mínima - equivale, no direito brasileiro, ao adimplemento chamado de insatisfatório : discrepância qualitativa e irrelevante na conduta do obrigado. (...).

(RSE00006451620034036106,rel.des.federalHenriqueHerkenhoff,TRF3-SEGUNDATURMA, DJU 20/07/2007).

Com isso, tendo o acusado descumprido apenas parte de uma das condições do sursis processual, o aluno deveria pleitear a aplicação da teoria do adimplemento substancial, o que deverá acarretar a extinção da punibilidade.

5. PEDIDO DE LIMINAR

Demonstrando as consequências que a condenação estaria causando na vida (pública e privada) do paciente, notadamente o impedimento para se candidatar ao cargo político pretendido, o aluno deveria afirmar que estão presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora para requerer a suspensão dos efeitos da condenação, viabilizando-se, até o julgamento final deste Habeas Corpus, o gozo pleno dos direitos políticos.

6. PEDIDOS

Diante do exposto, o aluno deveria apresentar os seguintes pedidos:

a) LIMINARMENTE, a concessão da ordem de habeas corpus para que sejam suspensos todos os efeitos da condenação criminal que recaiu sobre o paciente, destacando-se o gozo temporário dos direitos políticos até que se efetive o julgamento final deste HC;

b) AO FINAL, a confirmação do pleito liminar e a consequente concessão da ordem de-finitiva, efetivando-se a cassação/anulação da sentença condenatória, devolvendo ao paciente a sua condição de inocente, tudo isso em vista, seja da inconvencionalidade da previsão do crime de desacato com o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, seja, igualmente, pelo adimplemento substancial do sursis processual, cenário este a acarretar a extinção de sua punibilidade;

c) A intimação do Ministério Público Federal;

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Brasília, __/__/____.

_______________________________Defensor(a) Público(a) Federal

MELHORES PEÇAS:

ALINE ANDRADE

EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por meio do seu órgão, esta subscreve, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, nos termos dos artigos 5º, inciso LXVIII, da CF/88 e 647 do CPP impetrar HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR em favor de MOACIR, indígena, tendo como autoridade coatora o JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL, que o condenou nas penas do delito de desacato, no âmbito do processo de n°, pelos fundamentos fáticos e jurídicos a seguir expostos.

BREVE SÍNTESE DOS FATOS

O réu foi denunciado pelo MPF pelo delito de desacato por, supostamente, ter ofendido a honra de policiais federais que o impediram de embarcar, portando adereço tipicamente indígena, qual seja, um cocar. O MPF procedeu à proposta do benefício contido, no artigo 89 da Lei ° 9.099/95, a qual foi aceita e homologada judicialmente, obrigando-se o réu ao cumprimento das seguintes condições: comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades e pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica.

Embora tenha cumprido a segunda condição e tão- somente deixado de comparecer, nos últimos dois meses do período de prova, por não ter o réu sido encontrado para justificar tal conduta, houve a revogação do sursis processual, com o consequente retorno da tramitação da ação penal, que findou condenando o réu com trânsito em julgado, sendo que, atualmente, esta condenação lhe é hoje impeditiva de sua candidatura eleitoral, à luz do disposto no artigo 1°, inciso I, alínea “e”, ponto 1 da LC n° 64/90.

DAS PRERROGATIVAS DOS MEMBROS DA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO

Nos termos do artigo 44, inciso I, da LC ° 80/94 são prerrogativas dos membros da Defensoria Pública a intimação pessoal, com vistas dos autos, de todos os atos processuais, seja qual for instância, contando-se em dobro todos os prazos processuais.

DO CABIMENTO DO HABEAS CORPUS NÃO SUCEDÂNEO DE REVISÃO CRIMINAL. DA COMPETÊNCIA DA TURMA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL FEDERAL PARA O JULGAMENTO DO HABEAS CORPUS.

De acordo com o artigo 5°, inciso LXVIII, da CF/88 conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade

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ou abuso de poder.

Por se tratar de prolação de sentença condenatória absolutamente ilegal, é perfeitamente cabível o ajuizamento do presente remédio constitucional, pois o descumprimento das penas restritivas de direito, ilegalmente, impostas poderá levar ao réu à prisão privativa de liberdade.

Muito embora se perquira a desconstituição da sentença condenatória de 1º grau, a jurisprudência de nossos Tribunais entende perfeitamente cabível o ajuizamento de habeas corpus, no lugar da revisão criminal, desde que para tanto não seja necessário o revolvimento de matéria fático-probatória e estejamos diante de casos de teratologia, ausência de fundamentação de uma decisão, ofensa a dispositivos legais, erro material na sentença, prescrição, atipicidade, inconstitucionalidade, não recepção etc.

No tocante à competência para o julgamento deste habeas corpus, a jurisprudência do STF e STJ firmaram entendimento segundo o qual a regra esculpida, no artigo 82 da Lei 9.099/95 combinado com artigo 1° da Lei n° 10.259/2001, por meio da qual compete às Turmas Recursais julgar os recursos relativos às decisões dos juizados especiais criminais, deve ser estendida para que se reconheça às tais Turmas competência para o julgamento de mandados de segurança e habeas corpus contra ato de juiz do juizado especial.

DA NÃO RECEPÇÃO DO DELITO DE DESACATO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Rompendo com o regime ditatorial, a promulgação da CF/88 não recepcionou normas que vulnerem os direitos e garantias fundamentais, como, por exemplo, a incomunicabilidade dos presos, a possibilidade de requisição de instauração de inquérito pelo juiz, censura prévia etc. No tocante ao delito de desacato trata-se de normativa que contraria a liberdade de expressão, o direito de crítica, de resistência a atos ilegais, de fiscalização dos atos públicos e do controle democrático, razão pela qual deve ser declarado como não recepcionado pelo CF/88.

DA INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 331 DO CÓDIGO PENAL EM VIRTUDE DA FORÇA PARALISANTE DO ARTIGO 13 DA CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE E DA ATIPIA DOS FATOS.

Nos termos do §2° do artigo 5° da CR/88 os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

No caso, o Brasil ratificou a Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, sendo incorporada à legislação interna pelo Decreto 678/1992. Assim, no tocante à hierarquia normativa, reconhece-se o status supralegal dessas normas, ou seja, os tratados de direitos humanos, mesmo que não ratificados de acordo com o trâmite previsto no §3° do artigo 5° da CR/88, estão acima das leis ordinárias brasileiras, às quais também devem passar por um controle de convencionalidade, e não devem ser aplicadas em havendo algum conflito que não dê primazia aos direitos humanos.

Nessa toada, foi o que decidiu o STF, por exemplo, no RE 466.343, ao vaticinar que por conta da ratificação

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da CADH, não subsiste mais a prisão civil do depositário infiel em nosso ordenamento jurídico.

O delito de desacato é previsão normativa de forte ranço ditatorial, cunhada nos anos de chumbo, onde o homem era tido como objeto do processo e não como sujeito de direitos. Visa, em verdade, à intimidação do direito à crítica, do debate e pluralismo das ideias e não favorece ao regime democrático de fiscalização e controle dos atos da Administração Pública. Esta já goza de uma série de garantias para a execução dos seus atos decorrentes das pedras de toque do Direito Administrativo que são a indisponibilidade e a supremacia do interesse público.

Portanto, não precisa do reforço da proteção do Direito Penal para a defesa dos seus bens jurídicos, pois se trata de ramo jurídico informado pelos princípios da intervenção mínima, fragmentariedade e subsidiariedade.

Assim, a condenação do réu nas penas do delito de desacato configura-se erro material cometido pelo Juizado Especial Federal, pois estamos diante de previsão normativa incompatível com o artigo 13 da CADH, que protege o direito de liberdade de pensamento, de informação e de expressão. Nesse sentido, insta salientar que o Brasil já foi denunciado à CADH em 2012 pela Defensoria Pública do Estado do São Paulo, no exercício da função institucional prevista no artigo 4°, inciso VI, da LC 80/94, por continuar condenando seus nacionais pelas “leis de desacato”.

A descriminalização do desacato há que ser entendida como condição necessária ao próprio exercício da cidadania e não se pode punir meros atos de falta de educação, mesmo que plasmados em críticas ácidas acompanhadas de palavras de baixo calão. Tanto é assim que a Comissão para o Novo Projeto do Código Penal Brasileiro já sinaliza quanto à sua revogação, alocando-o num paragrafo próprio do delito de injúria.

Não se pode descurar sobre os fatos que deram origem ao suposto desacato: o desrespeito à cultura e aos costumes de indígena, os quais protegidos pela CR/88, no artigo 231 e seguintes. O que deve prevalecer na balança da ponderação da justiça: uma mera ofensa verbal ou a defesa dos interesses dos povos indígenas secularmente espoliados? Meros palavrões não constituem desacato.

A bem da verdade, tais delitos: injúria, difamação e desacato deveriam ser extirpados da legislação penal e serem solucionados no âmbito civil, pois sempre são manifestação de palavras mais fortes, ditas no calor das emoções, cuja reparação deve ficar no âmbito de indenizações materiais e morais e não serem responsabilizadas com penas privativas ou restritivas de direito. E no presente caso verifica-se que os próprios agentes estatais tiveram sua parcela de culpa no episódio pelo manifesto desrespeito à cultura indígena, pois importunaram o réu, arbitrariamente, durante um exercício regular de um direito.

Dessa forma, em face da incompatibilidade das chamadas “leis de desacato” com o artigo 13 da CADH é de rigor declarar a insubsistência do delito de desacato, em nosso ordenamento jurídico, com o consequente reconhecimento da atipicidade dos atos e absolvição do réu, nos termos do artigo 386, inciso III, do CPB, pois a previsão típica do artigo 331 do CPP não passa pelo filtro da convencionalidade.

NA NULIDADE DO PROCESSO PELO NÃO OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL

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Compulsando os autos, verifica-se que ao réu não foi oportunizada a proposta de transação penal, sendo esta omissão causa de nulidade absoluta do processo, uma vez que o desacato é espécie de delito de menor potencial ofensivo, nos termos do artigo 61 da Lei n° 9.099, o que leva à aplicação do artigo 76 da Lei n° 9.099, combinado com artigo 1° da Lei n° 10.259/2001, sendo que o prejuízo ao réu é manifesto, pois lhe foi retirado o status de primário, fato que hoje lhe priva, ilegalmente, do exercício da capacidade eleitoral passiva.

V- DA VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE. CUMPRIMENTO DA QUASE TOTALIDADE DO PERÍODO DE PROVA. REVOGAÇÃO ILEGAL DO BENEFÍCIO.

Ao lado da transação penal, o sursis processual, previsto no artigo 89 da Lei n° 9.099/95 é manifestação do Direito Penal de 2ª Velocidade, preocupado com a flexibilização das punições em nome de uma melhor ressocialização. No presente caso, verifica-se que o réu cumpriu com quase totalidade do período de prova, o que detona que seu comportamento foi respeitoso com a Justiça: bem mais cumpriu do que minimamente descumpriu. E isso deve ser avaliado proporcionalmente pelo Estado-juiz, o primeiro a levantar e fomentar a bandeira da ressocialização.

Irmanado com essa lógica, o próprio §4° do artigo 89 da Lei n° 9.099/95 pontua que o descumprimento das condições impostas não é modalidade de revogação obrigatória do sursis e sim uma possibilidade que deve ser analisada pelo julgador com razoabilidade e proporcionalidade, e não se converter em mera operação automática e aritmética. Ademais, o réu possuía advogado constituído nos autos, o qual sequer foi intimado quanto à decisão revocatória do sursis.

Em lugar de pura e simplesmente punir o réu, é imperativa declarar a extinção de punibilidade do réu, nos termos do §5° do artigo 80, prestigiando-se a boa-fé do réu e confiando o Estado, na sua ressocialização, em respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

DA CONCESSÃO DE LIMINAR

Em face da presença da fumaça do bom direito e do perigo da demora, requer-se a concessão de liminar para sustar os efeitos da sentença condenatória do réu a fim de que o réu possa candidatar-se e participar das eleições até definitiva decisão por esta Turma.

DOS PEDIDOS

A intimação pessoal de todos os atos processuais, com vistas dos autos, contando-se em dobro todos os prazos processuais, nos termos do artigo 44, inciso I, do LC 80/90;

A concessão de liminar a fim de sustar-se a eficácia da sentença condenatória;

Declaração de não recepção do artigo 331 do CP pela CF/88;

Declaração de derrogação do artigo 331 do CP pelo artigo 13 da CADH em virtude do controle de convencionalidade;

A concessão da ordem em termos definitivos a fim de desconstituir-se a sentença condenatória,

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absolvendo-se o réu, por atipicidade dos fatos, nos termos do artigo 386, inciso III, do CPB, devolvendo-lhe o status de primário;

A declaração de nulidade do processo em razão do não oferecimento da proposta de transação penal;

A declaração de extinção da punibilidade do réu, nos termos do §5° do artigo 89 da Lei 9.099/95, em consonância com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

Nestes termos, pede deferimento.

Local, data.

Defensor Público Federal.

VANESSA STEFFENS

Atenção: errou apenas o endereçamento.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO

Autos do processo na origem nº.

A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, no uso de suas atribuições constitucional (art. 5º, LXXIV, e art. 134, ambos da CF) e institucional (art. 4º, IX, da LC 80/94), vem, pelo Defensor Público Federal firmatário, na defesa de MOACIR, impetrar HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR, com base no art. 5º, inciso LXVIII, da CF/88, contra a sentença condenatória, transitada em julgado, proferida pelo juízo da Vara Federal da Seção Judiciária de Brasília, por falta de justa causa (art. 648, I, CPP).

DO CABIMENTO

Cabível a interposição de Habeas Corpus, ainda que a sentença condenatória tenha transitado em julgado, tendo em vista que o processo está eivado de nulidade absoluta, seja por violação à Convenção Internacional, seja por falta de justa causa à ação penal, não se enquadrando entre as hipóteses taxativas de revisão criminal, previstas no art. 621 do CPP. Ademais, a via eleita mostra mais adequada e eficaz à obtenção de liminar, admitida por construção pretoriana.

Muito embora a condenação tenha imposto pena restritiva de direito ao paciente, certo é que, descumprida, enseja a conversão da pena alternativa em privativa de liberdade, de maneira que, pela via indireta, vislumbra-se a possibilidade de violação ao direito de locomoção a que alude a Constituição Federal.

DOS FATOS

O paciente foi denunciado pelo Ministério Público Federal como incurso nas sanções do art. 331 do Código Penal, por ter desacatado Policiais Federais, próximo ao portão de embarque do Aeroporto de Brasília/DF.

Proposto o benefício da suspensão condicional do processo pelo prazo de dois anos, foi aceito e

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homologado pelo juiz, obrigando-se o paciente as seguintes condições: a) comparecimento mensal em juízo para justificar suas atividades; b) pagamento de dois salários mínimos a uma entidade filantrópica.

Moacir efetuou o pagamento da quantia fixada, juntando aos autos os comprovantes. Ao final do período de prova, o paciente deixou de comparecer em juízo nos dois últimos meses e, não sendo encontrado para justificar a conduta, teve o benefício revogado, com o retorno da tramitação da ação penal.

Tramitado o feito, Moacir foi condenado à pena restritiva de direitos, sentença transitada em julgado.

DA VIOLAÇÃO À CONVENÇÃO AMERICANA DE DIRETOS HUMANOS

A condenação de Moacir pelo Poder Judiciário Brasileiro pelo crime de desacato viola o artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conforme posicionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

O Brasil permanece descumprindo a obrigação estabelecida no art. 2º da Convenção Americana de Direitos Humanos, por não ter retirado de sua legislação a norma do art. 331 do Código Penal.

Assim, a condenação de Moacir pelo crime de desacato viola os artigos 13 e 24 da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, uma vez que a referida convenção instou os países signatários, desde sua ratificação, em 1992, a retirarem este tipo de previsão criminal de suas legislações.

Caso o Brasil já tivesse eliminado de sua legislação penal o artigo 331, o paciente não teria sido processado e condenado pelo crime de desacato. A omissão estatal, causou a violação aos direitos de liberdade de expressão e do pensamento, bem como da igualdade.

As legislações penais que reconhecem a tipicidade do crime de desacato são incompatíveis com o art. 13 e o art. 24 da referida Convenção, pois tais leis se prestavam ao abuso como um meio para silenciar ideias e opiniões impopulares, reprimindo, deste modo, o debate, saudável às instituições democráticas. Viola, ademais, o direito à igualdade, porque confere privilégio desnecessário ao agente estatal que já está suficientemente protegido pela existência dos delitos contra a honra, sem falar na possibilidade de demandas cíveis por eventuais danos sofridos.

Atenta-se para a existência de outros meios menos restritivos, diversos da tipificação em lei penal, mediante os quais o governo pode defender sua reputação frente a ataques infundados, como a réplica através dos meios de comunicação ou impetrando ações cíveis por difamação ou injúria.

Assevera-se não ser legítima a penalização do desacato, pois protege a ordem jurídica em detrimento dos direitos fundamentais internacionalmente reconhecidos. Outrossim, admitir a dignidade da pessoa humana nas relações com o Estado fortalece a democracia e a participação popular nos rumos da Administração Pública.

Constata-se, portanto, a incompatibilidade da norma interna em relação à norma internacional, merecendo prevalecer a Convenção, uma vez que o STF já firmou entendimento de que tratados internacionais de Direitos Humanos, ratificados no Brasil e incorporados ao direito interno, nos moldes do art. 5º, § 2º,

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CF, possuem natureza supralegal, ensejando a posição superior da Convenção Americana de Direitos Humanos, na hierarquia das normas, acima, portanto, do Código Penal Brasileiro.

Consequentemente, nulo o processo penal, de forma que o paciente é de ser considerado primário, pois nenhum efeito penal subsiste.

DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL

Com efeito, o STF firmou entendimento no sentido de que o benefício da suspensão condicional do processo pode ser revogado após o período de prova, desde que os fatos que ensejaram a revogação tenham ocorrido antes do término deste período, em que pese a redação literal do art. 89, § 5º, da Lei nº 9.099/95, indicar que, expirado o prazo da suspensão do processo sem revogação do benefício, o julgador declarará extinta a punibilidade do agente.

Todavia, no caso concreto, identifica-se violação ao princípio da proporcionalidade, uma vez que fora estabelecido período de prova de 2 anos (24 meses) e Moacir deixou de comparecer em juízo nos últimos dois meses, tendo, ainda, cumprido a outra condição imposta, qual seja, prestação pecuniária.

O princípio da proporcionalidade/razoabilidade, princípio constitucional implícito, retira fundamentos da própria ideia de Justiça, outrossim, do princípio do devido processo legal substantivo. O equilíbrio entre o ato praticado e os fins a serem alcançados é a essencialidade do princípio da proporcionalidade.

Dessa forma, a decisão judicial de revogação do benefício da suspensão condicional do processo apresenta-se desproporcional e, portanto, nula.

Não se mostra proporcional, nem razoável, impor ao paciente o prosseguimento do processo e ulterior condenação à pena restritiva de direito, diante do adimplemento substancial das condições impostas no sursis processual.

O cumprimento significativo das condições, com o adimplemento de mais de 95% das medidas impostas, demonstra a boa-fé do beneficiado, que não pode ser ignorada pelo Juízo, pois demonstrado não ter o paciente agido de maneira descomprometida com a Justiça, ao contrário, mostrou-se responsável, não honrando com inexpressivos dois meses do período de prova.

Conclui-se, portanto, pela inexistência de justa causa a viabilizar o prosseguimento da ação penal, pois é de ser considerado cumprido o benefício legal e julgada extinta a punibilidade do agente.

DA POSSIBILIDADE DE DETRAÇÃO

Subsidiariamente, defende-se ser cabível o abatimento da prestação pecuniária prestada no curso do sursis processual em relação à reprimenda aplicada na condenação criminal, nos termos do art. 42 do CP. Verifica-se a viabilidade de aplicação do instituto da detração penal, considerando-se cumprida a pena imposta, consistente em uma pena restritiva de direitos, tendo em vista o pagamento de dois salários mínimos à entidade filantrópica, condição com nítido caráter sancionatório, cuja comprovação encontra-se nos autos.

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DA SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS

Com o sucesso da tese da nulidade da condenação, não remanesce a causa de suspensão dos direitos políticos (art. 15, III, CF), porquanto a suspensão condicional do processo é medida despenalizadora que não requer a averiguação da responsabilidade penal do agente.

Afora isso, o art. 1º, inciso I, alínea “e”, da LC 64/90, considera inelegíveis por 8 anos após a extinção da pena, os que hajam sido condenados por crimes nela previstos, excetuando as infrações de menor potencial ofensivo, como é o caso do crime de desacato, conforme § 4º do referido dispositivo legal.

Dessa forma, diante da ausência de causa suspensiva de direitos políticos, não remanesce a ficha suja, sendo o paciente elegível.

DA LIMINAR

Feitas estas considerações, cabível concessão de liminar para suspender os efeitos da sentença penal condenatória, mormente a suspensão dos direitos políticos, viabilizando o registro da candidatura do paciente, por ostentar a condição de primário e ser, portanto, ficha limpa.

6. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer-se:

a) liminarmente, seja viabilizada a suspensão da causa e inelegibilidade advinda da condenação criminal, viabilizando o registro da candidatura do paciente, informando-se o TRE;

b) liminarmente, a suspensão da decisão condenatória até final julgamento do writ, viabilizando a expedição de certidão negativa de antecedentes criminais;

c) ao final, a concessão da ordem de habeas corpus, declarando-se nulo processo, na sua integralidade, ou, subsidiariamente, declarando o cumprimento das condições impostas na suspensão condicional do processo, para extinguir a punibilidade do agente ou, ainda, declarando o cumprimento da pena pela aplicação da detração penal;

d) a concessão do benefício da justiça gratuita;

e) a intimação da Defensoria Pública da União de 1ª Categoria que atua perante esse Tribunal;

f ) a intimação do Ministério Público Federal.

Data, local.

DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL

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