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CELEIRO DE LUZ DEPOIS DA SAFRA Jesus advertiu que a seara era grande, mas os seareiros eram poucos. Através do tempo, entretanto, os seareiros se multiplicaram. A seara continuou crescendo, e o número de seareiros, embora se conserve até hoje insuficiente, desdobrou-se no trabalho. Graças a esses abnegados Servidores do Espírito, as safras não se perderam de todo, e foi possível a edificação de muitos celeiros, onde os homens podem hoje encontrar o bom trigo do Reino de Deus. Roque Jacintho é um daqueles trabalhadores da última hora, de que fala o Evangelho. Apareceu recentemente na imprensa espírita, e já começou a lançar os seus livros doutriná- rios, apurados numa linguagem escorreita e clara. E seareiro também, mas não se esquece dos celeiros que guardam as colheitas do passado. A vantagem do trabalhador da última hora é principalmente essa: trabalhar nas safras atuais e aproveitar as anteriores. Neste livro, Roque Jacintho oferece-nos a oportunidade de recolher o bom trigo da experiência e do ensino, que a semeadura evangélica propiciou às gerações. Podemos abastecer com ele os nossos alforges. Perseverante e humilde, não faz obra dispersiva nem individual. Numa hora em que precisamos estar alertas contra a invasão dos “reformadores”, ele nos poupa as energias da vigilância, oferecendo-nos a verdade impessoal e pura, que provém da Seara do Senhor. Um dos problemas da literatura doutrinária é o das opiniões pessoais, que surgem na imprensa e nos livros, como joio na seara. São poucos os estudiosos sinceros e humildes, que reconhecem a própria pequenez, sabendo repetir intimamente a expressão de João: “Ê necessário que ele cresça e que eu diminua”. Hâ muitos que estão ansiosos por crescer e suplantar o Mestre e seus ensinos, avançando na frente dos ingênuos, como cegos condutores de cegos. Roque Jacintho faz o contrário disso, como o leitor ver nestas páginas. O que lhe interessa não ê renovar os Caminhos do Senhor, mas renovar o homem nesses caminhos eternos. Ele nos toma das mãos para levar-nos pela boa senda. Sigamo-lo sem receios. Notas de apresentação, extraídas das “orelhas" da 1.“ edição, lançada pela EDICEL/1968.

Celeiro de Luz - Roque Jacintho

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CELEIRO DE LUZ DEPOIS DA SAFRA Jesus advertiu que a seara era grande, mas os seareiros eram poucos. Atravs do tempo, entretanto,osseareirossemultiplicaram.Asearacontinuoucrescendo,eonmerode seareiros, embora se conserve at hoje insuficiente, desdobrou-se no trabalho. Graas a esses abnegadosServidoresdoEsprito,assafrasnoseperderamdetodo,efoipossvela edificao de muitos celeiros, onde os homens podem hoje encontrar o bom trigo do Reino de Deus. Roque Jacintho um daqueles trabalhadores da ltima hora, de que fala o Evangelho. Apareceu recentemente na imprensa esprita, e j comeou a lanar os seus livros doutrin-rios, apurados numa linguagem escorreita e clara. E seareiro tambm, mas no se esquece dos celeiros que guardam as colheitas do passado. A vantagem do trabalhador da ltima hora principalmente essa: trabalhar nas safras atuais e aproveitar as anteriores. Nestelivro,RoqueJacinthooferece-nosaoportunidadederecolherobomtrigoda experinciaedoensino,queasemeaduraevanglicapropiciousgeraes.Podemos abastecer com ele os nossos alforges. Perseverante e humilde, no faz obra dispersiva nem individual.Numahoraemqueprecisamosestaralertascontraainvasodos reformadores,elenospoupaasenergiasdavigilncia,oferecendo-nosaverdade impessoal e pura, que provm da Seara do Senhor. Um dos problemas da literatura doutrinria o das opinies pessoais, que surgem na imprensa e nos livros, como joio na seara. So poucos os estudiosos sinceros e humildes, que reconhecemaprpriapequenez,sabendorepetirintimamenteaexpressodeJoo: necessrio que ele cresa e que eu diminua. H muitos que esto ansiosos por crescer e suplantaroMestreeseusensinos,avanandonafrentedosingnuos,comocegos condutores de cegos.RoqueJacinthofazocontrriodisso,comooleitorvernestaspginas.Oquelhe interessa no renovar os Caminhos do Senhor, mas renovar o homem nesses caminhos eternos. Ele nos toma das mos para levar-nos pela boa senda. Sigamo-lo sem receios. Notas de apresentao, extradas das orelhas" da 1. edio, lanada pela EDICEL/1968. ZACARIAS1 ESPERANAS... Na Judia a tarde fora quente e o suor porejava nas frontes daqueles que andavam pela regio,umidecendo-lhesosrostosnumcontrastecomaspaisagensressequidasquese erguiam nos limites das cidades, antes dos grandes desertos. A noite cara sem prenncio de refrigrio. Dentro de sua singela moradia, Zacarias se deixara postar ao lado de sua esposa, Isabel, em longo silncio. O casal idoso semelhava-se a almas gmeas fundidas no mesmo plano de vibraes afetivas, dispensandopalavrasnessacomunhocomadormoral,quenelesse instalara. Ela trazia os olhos marejados pelo pranto. Condenam-nos, querido Zacarias, porque no pude dar ao nosso lar a beno de um filhinho! Ele ouve meditativo, sentindo as lufadas quentes penetrando pela janela diminuta que se rasgavanaparedetraseiradocmodo.Eporessamesmaaberturadeitavaolhares demorados e profundos s sombras noturnas, procurando varar os campos e fixr-se no horizonte penumbroso. Deusluzdentrodastrevas,Isabelfalouconsoladoramentee,semsevoltar companheira, quase monologando, continuou a breve espao: Sabe Ele do meu corao doloridopelavergonhaquetenho,antemeuscompanheirosdesacerdcio,porverque ningum... ningum herdar meu nome e o nome de nossa casa! Porm, sabe tambm da conformao com que recebo suas determinaes indevassveis. Isabel sorriu contristada, recolhendo-lhe a amargura que se vertia das palavras e dos pensamentos do esposo. E meigamente informou: Meu corao de mulher um altar de splicas, onde sacrifico todas as minhas iluses espera de que o Pai me conceda ainda uma graa que me redima e me retire do oprbrio diante dos homens. Que graa?! indagou o sacerdote, com uma entonao de visvel ironia. A interpelada baixou as plpebras, velando os olhos que confessavam espanto. Com tantos anos a dobrarem-se s nossas costas disse ela j poderamos revelar os sinais de nossa resignao no silncio construtivo e no trabalho incessante. Zacarias compreendeu-se em erro. E sentado que estava junto consorte, deslizou os prpriosdedospeloscabeloslevementeencanecidosdeIsabel,numgestoemquese denotava carinho e respeito. Deus atende almas belas como a sua, Isabel! Sbito levantou-se e caminhou pela sala. Amanh comearei a cumprir novos dias de meu ministrio sacerdotal falou de costas voltadas para Isabel e depois se voltou, terminando Sinto que de l retornarei com alguma boa nova, que ser luz sobre os nossos dias! Ambos se fitaram, na penumbra, comunican- do-se esperanas novas enquanto a noite avanava por sobre toda a Palestina.2 PREDIES NO TEMPLO Zacarias estava frente ao santurio do Senhor, no Templo da f judaica. Fora sorteado entre os demais para o servio de suas convices, devendo queimar incenso no ritualismo de sua crena. A multido, ocupando a nave, aguardava orando. Oanciopenetrouorecintosagradocomaemooquesempreserenovaemseu coraoretoesubordinadoaDeus.Separava-sedosdemais,eacadapassosentia aumentaropesodeseusproblemasntimos.Sobressaltadocomsuatormentapessoal, depositou a resina aromtica no incensrio, erguendo angustiadas preces por entre soluos que se afogavam na garganta. Envolto pelo olor que se desprendia, rendeu- se genuflexo e cerrou os olhos, revendo no arquivo de suas memrias a sua Isabel to doce... e os anos que corriam, sem a bno da maternidade. .. e os companheiros a sorrirem sem respeito. .. e sua vida de dedicao e f...Sente-seestremecer,comumfrioacorrer-lhepelocorpoeriando-lheos.cabelos. Abriuosolhostomadodeespantoetemor.suafrente,direitadoaltarde incensamento, um Esprito tornara-se visvel, irradiando fulgurantes cintilaes. No tema, Zacarias advertiu a apario. O sacerdote, ensaiando uma reao, abriu e fechou os lbios sem emitir som audvel. Estou aqui para falar-lhe e trazer-lhe a boa nova de que se intua no recesso de seu ar e que responder s suas splicas e s de Isabel. A custo Zacarias acompanhava-lhe a revelao. Isabel, sua mulher, receber um filho a quem voc chamar de Joo. Essa alma, que pelo reencarne visitar o seu lar, trar jbilo a muitos coraes, pois que, pelos seus dons, converter muitos dos que esto afastados para o caminho da salvao. No ser ele um grande entre os homens de seu tempo, mas ser um grande aos olhos do Pai Amantssimo, porque dar testemunho da Verdade. O espanto aumentava. EmJooteremosareencarnaodeElias,cujafeimensopoderdeesprito serviro de preparo do povo para o Messias que lhe vir a seguir...A ltima informao feriu o sacerdote. Ele cerrou o cenho relembrando de suas leituras e doscomentriosedificantesdosLivrosSagradoseumapassagemseagigantou, permitindo-lhe entrever Elias vencendo aos profetas de Baal, numa disputa de f e, aps faz-losrenderem-seaopoderimensodeDeus,determinouaopovoquetomasseos vencidosporprisioneiros,conduzindo-osjuntotorrentedecaudalosorio...emandou decapit-los, tornando rubras as guas da cor- renteza!1 Banhado emsuor, olvidando todos os preceitos de sua casta sacerdotal, tocoucom a frontenosolo,diantedoEspritodeGabrielquelhefalava.Seuslbiostremiam;asua mente titubeava. J sou velho... Minha esposa est em idade avanada... Oh! Deus! Como poderemos ver o retorno de Elias, no filho que dever chamar-se Joo? O mentor espiritual da hora recolheu-lhe as emisses mentais, ouvindo-lhe o corao, e informou prestativo: A sua falta de f torna-o mudo, Zacarias. E at que Voc d o seu testemunho, de sua boca no mais sairo sons. No lado de fora do santurio os demais sacerdotes temiam por algum acontecimento inesperadocomZacarias,taleraasualongapermanncianorecintosagrado.Ejse dispunhamaprovidncias,quandoeleressurgiucambaleante.Ocorpotodovibravaem agitao contnua. Cuidadososinquiriram-lhearazodademora.Porm,emboraempregandoenorme esforo,contraindoangustiosamenteosmsculosdasfacesedopescoo,noconseguia narrar a viso que tivera. Est mudo... sussurram os populares. Zacarias desdobrava-se gesticulando, fazendo sinais pararevelaro que ocorrera. Mas ningum conseguia entend-lo.'3 A CONSAGRAO Passaram-semesesapsosacontecimentosvividosporZacariasfrenteaoaltarde incensa- mento e aps seu retorno triunfal com as alvssaras de Gabriel. Agora, os esposos felizesseapresentavamaoTemploparaaconsagraodounignito,quelhesviera consagrar a unio na idade adentrada. Trazendoofilhonosbraos,Isabeleraoquadrodafelicidade,espelhandosatisfao plena a despontar-lhe no corao. Avanava em direo ao encarregado do cerimonial. Naturalmente disse o oficiante, vista do menino ele se chamar Zacarias, em homenagem, honra a perpetuao do tronco familiar de onde se origina. A me fitou o esposo e tomando-lhe a vez disse convicta: No, o seu nome ser Joo. 1 (*) I. Reis 18.20-40.O oficiante perturbou-se. Creio que est ocorrendo um engano. Conheo-lhes a famlia e nela no h um s que tenha tal nome. E, pela nossa tradio, ele dever receber o nome do pai! Isabelmostrou-seirredutvel.Osacerdotedirigiu-seaZacariasindagando-lhe,por sinais, como queria que a criana se chamasse. Zacariascompreendeu-lheopropsito,poisqueosouvia,esentiu-seimpulsionadoa secund-loparanointerromperumusohabitualemseupovo.Porm,sentiu-sede retorno frente de Gabriel que lhe anunciara o nascimento do filho e lhe segredara ser o seu teto escolhido para o retorno de Elias. Retornando ao presente pediu aos circunstantes que lhe dessem uma tabuinha para escrever. Atendido, nela grafou bem legvel: Joo o seu nome. Ao pousar o estilete de que se servira, refletia que no seria esse o nome que atenderia s tradies seculares de seu povo, que d ao primognito o nome de um antepassado. Mas era aquela a denominao que o faria confessar aos homens a certeza que ele sustentava na imortalidade da alma e na sua ressurreio em novos corpos. A sua hesitao se dilura com adecisodeIsabelqueafrontaraastradies,sofrendoosolharesdamalciaea maledicncia. Liberto das tribulaes e dos temores, Zacarias reabriu a prpria alma para comunho com os Planos mais elevados da Espiritualidade, recolhendo os fluidos vitalizantes que antes rejeitara. A sua voz retornou ao mundo dos homens a servio de Deus. E sob inspirao medinica falou: Bendito seja o Senhor, porque visitou e remiu o seu povo. Este menino ser chamado profeta do Altssimo, porque ir adiante do Senhor para preparar-lhe os caminhos, para daraoseupovoconhecimentodasalvaonoperdodeseuspecados,graasimensa misericrdia Divina. E por essa mesma misericrdia de Deus, visita-nos a aurora que vem do Alto, iluminando num dia novo todos os que jazem em trevas e prisioneiros na sombra da morte, e dirigindo nossos passos no caminho da paz. Calou-se em seu cntico de exaltao e glria. O sacerdote moveu levemente a cabea, reprovando o quanto ouvira, atribuindo o fato senilidade de Zacarias e considerando que a loucura da velhice montara ninho no corao do amigo. Alguns dos presentes, porm, guardavam a ntida certeza de terem ouvido a voz dos Profetas falando pelo pai de Joo... Isabelpremiuofilhocontraaalma,dolorosamente,desvendandoasagrurasque cercariam o rebento de seu amor nas estradas speras da existncia. E Zacarias envolveu a ambos, esposa e filho, num olhar de profundo estreitamento espiritual. Joo, o batista, fora consagrado ao Senhor!JOAO BATISTA E JESUS4 SINAIS DA MISSO Desdeamaistenraidade,Joo,filhodosacerdoteZacarias,sentira-sepossudode ideais superiores aos dos de sua idade. Os mesmos prazeres e os mesmos folguedos em que se entretinhamosjovensdesuaidadenooatraam.Irresistivelmenteeraconduizdos sinagogas onde se demorava, sob o vigilante olhar materno, a ouvir a leitura dos Profetas e a narrao da histria de seu povo. Naquele sbado em que se procedia leitura dos livros de Isaas, sua ateno era maior: Voz que clama no deserto enunciava o rabino, com olhos fitos no texto preparai ocaminhodoSenhor;aplainaiassuasveredas.Todovalesersoterrado,abater-se-o todos os montes e colinas. Tornar-se-o retos os caminhos tortuosos; planos os acidentados, e todo homem ver a salvao de Deus. Aquelas palavras alcanavam-lhe diretamente o corao, despertando-lhe estranhas e nebulosas recordaes, qual se para si mesmo falara Isaas em seus anncios profticos. Mais que noutros dias, sentia-se embevecido e os Espritos que lhe acolitavam a tarefa de ser desempenhada filtravam-lhe inspirados anseios na alma. Findaareuniododia,quandonenhumcomentaristamaistomouapalavrapara opinar,retirou-separaacasapaterna,envoltoemmeditaesprofundas.Sentiaque, embora fosse doce a permanncia no lar sob o calor dos afetos de Isabel e Zacarias, no seio dafamlianopoderiadarcursosidiasqueacalentavaemsigilo.Sobotetoquerido registrava toda sorte de embates humanos que nasciam e germinavam sombra do Templo que se esboroava pelas disputas constantes de mando e posies. Aos seus ouvidos chegavam o troar da melanclica batalha, onde os homens tomavam Deus por bandeira para fazer das casas de f e orao os tabernculos do egosmo e o tronco do orgulho. Eraprecisoganhardistnciadessasdisputas.Eraurgenteisolar-senumdesertode ambies, onde a alma pudesse, pura e cndida, sustentar seus mais respeitveis anseios, e pudesse ele aprestar-se para cumprir o prprio destino. A nica sombra na regio inspita era a de Joo, que o sol projetava contra as areias do deserto,enquantoojovemfitavaohorizontedistante.Oventopeneirava-lhepoeiraao rostotemperando-lhearesistnciaeaprestando-lheaepidermeparaotempoemque permanecerianoosisflorescendoaprpriaalmaparaoseutrabalhodeprecursordo Messias.5 DE RETORNO EraPncioPilatosogovernadordaJudia,representandoTibrioCsar,cujaguia romana, simbolizando poderio blico, ensombrava a Palestina, quando Joo retornou para juntodoshomensafimdedespert-losaocaminhodaredenoespiritual.Vinha pobremente vestido, saindo do deserto recoberto por veste de plos de camelo e tendo um couro volta da cintura. Barba longa, descuidada. Olhos transmitindo ondas de paz e vigor, e refletindo a sua deciso inquebrantvel. A voz lmpida e forte levantava-se em favor dos sofredores,dizendo-lhesdavindaprximadoReinodeDeus,noMessiasdehmuito esperado. Amadurecidonossperoslaboresdodeserto,suapelebronzeadaeraomapadas privaesaquesesubmeteraparaliberarsuasenergiasmaisprofundasnoesforode estabelecer um vnculo permanente e imaculado entre a Terra e os Cus. Mercados e feiras, praas e estradas, choupanas e palacetes fidalgos, margem dos rios ou defronte das construes que serviam de sinagogas onde quer que encontrasse ouvidos urgindopelossonsdaesperananova,derramavaofertilizantedaadvertnciaeda serenidade,revolvendoossentimentoseaprestandoasidiasparaasementeirado Evangelho. Soprava nas almas o sopro da f renovadora. Sua confiana e seu nimo se transmitiam s multides de aflitos que acorriam s suas prdicas, quais famintos do po da alma, desfalecidos da f que buscavam em lgrimas os raios renovadores do sol do Senhor. Ele no parava, porm. AcompanhandoasrefrescantesguasdorioJordo,desceraporentreterras verdejantes e suaves tapetes de relva em direo da Galilia, aproximando-se do lago de Genesar.Ali,naquelaregiodepescadores,almashumildesedceis,varridaspelas tormentasdeumavidaatribulada,estavamsazonadasparaalbergaremcomcarinhoe devotamento os prenncios da Boa-Nova. E muitos passaram a unir-se aos seus trabalhos de pregaes na condio de discpulos e amigos aps ouvirem os chamamentos de reforma ntima.6 TESTEMUNHOS No demorou muito para que os ecos das pregaes de Joo atravessassem o trio do Templo de Salomo, em Jerusalm, tornando-se objeto de exames entre os sacerdotes, que j lhe temiam as atividades, porque muitos dos que at ali tinham sido fiis constantes se desatavam dos fardos pesados do ritualismo de que se haviam tornado escravos. NasreuniesdoSindrio,semquesedetivessemaconsiderar-lheoespritoda mensagem, analisavam os claros abertos em suas fileiras. E confabulavam planos para fazer comqueoprecursorseperdesse,rompendocomaconfianaquelhededicavamos populares. Um desses doutores das leis divinas, tendo permanecido a ouvi-lo no ptio do Templo, emJerusalm,aotrminodeumadesuasconversaesenobrecedoras,antesquese dispersasse a multido que o tinha escutado, destacou-se entre os demais e indagou-lhe abruptamente: Voc o Cristo que haveria de vir? Um grande silncio envolveu a todos e se achegaram para ouvir melhor a informao preciosa. Joo, porm, examinou o que ihe dirigia a questo, descobrindo-lhe o veneno que destilava com sua aparncia de candura e de falso interesse. Vigiando-se, no se turbou, e sem aceitar o convite da lisonja redarguiu firmemente: Eu no sou o Cristo. Nem sou Elias e nem sou profeta. Um ligeiro murmrio agitou os presentes. Eu renovo peio smbolo da gua a todos os que se arrependem de seus pecados e aspirem a um novo dia em su vida. Mas fao isso apenas at que venha o Cristo. Ele vir aps mim, e no mais ter na gua o princpio de iniciao dos homens no Mundo de Deus. SeussinaiseternosrepousaronoEsprito,quepassarafalarnohomemeatravsdo homem pra toda a Humanidade. O sacerdote no se deixou vencer em seus negros propsitos. Conhecia o fermento da vaidade, que faz crescer nas almas as presunes de- sequilibrantes. No creio somente agora em meus ouvidos, Profeta de Deus! destacou em voz meiga, aparentando humildade. Que viram os meus olhos, seno o poder de sua alma, fazendo retornar aos caminhos da f muitos dos que se perdiam nas sombras da descrena e da maldade? Que ouviram os meus ouvidos, seno o relato das converses de malfeitores e bandidos, de criminosos e perigosos bandoleiros para as casas de oraes e crena? Se meus olhos viram e meus ouvidos ouviram, no posso crer em mais nada a no ser que estou em frente ao nosso esperado Messias. A multido deixava-se conduzir ao fino engodo, entretecido com as ardilosas mentiras. Ento indagou-lhe aps a breve pausa o sacerdote Voc no o Cristo? Joo Batista fitou o horizonte. Ele,que vir aps mim, aqueledequem no soudigno sequer dedesatar-lheas correias das sandlias. Voltando-se ao desapontado intrigante advertiu-o: Digo-lhes aqui, sacerdotes e levitas, o que j tenho repetido abertamente a quantos queiramouvirosannciosdosCusenoassuastrombetas,astrombetasdoshomens: convertam-se, pois que o Reino dos Cus est prximo. Evidenciando invencvel mal-estar o insinuante agente das Sombras se confundiu com a multi,do.Abriucaminhoebateuemretirada.Joonopermitiraaalteraodeseu roteiropessoalsobainflunciadosconvitesdsquilibrantes.Eporreconhecerquecada obreiro tem a sua tarefa definida, no lhe cabia usurpar o lugar do Senhor para que no viesse a confundir-se com suas naturais limitaes de amor e de sabedoria.7 PODEROSOS Tendo por palco as margens do lmpido rio Jordo, o dia afanoso semelhava-se poca de frteis messes, com almas cndidas bendizendo os banhos lustrais do novo reino. Alguns discpulos romperam pela multido, alcanando o centro maior das atividades. Chamaram Joo em particular e possudos de grande alegria anunciaram que muitos dos que oficiavam ocultoreligiosonoTemplode Jerusalmemuitosdosquepregavamnassinagogasaos sbados,alitinhamvindoparasomarem-sesfileirasqueseadensavamemtornodo precursor. Joo recolhia os informes, meditativo. Dirigiu-seaoencontrodosrecm-vindosecomelessustentoucurtodilogo, estudando-lhesasalmas,rompendoamscaradossorrisosparaassenhorear-sedos propsitosquemedravamemseuscoraes.Descobriuquenoestavatratandocom criaturasdispostasareconstruirsuasexistnciasemtrabalhosfraternoseamorosos. Acolh-los junto aos insipientes da f apenas em razo do prestgio social e financeiro que gozavam entre os mais bem postos da poca, seria abraar maus obreiros, pr lobos vorazes em redil de ovelhas. Disse-lhes em tom firme: Raa de vboras, quem os preveniu para que tentassem a fuga da Justia vindoura? Antes de aqui vir, produzam os frutos do sincero arrependimento, atravs das boas obras. E afastem da alma a presuno de que sejam privilegiados aos olhos do Pai Eterno. O grupo agastou-se com a recepo e um dos seguidores de Joo atalhou: Mestre, eles so importantes e teis! Para Deus esclareceu sem reservas no h privilegiados. Somente so dignos e importantes os que trabalham para conquistar a bondade efetiva para a sua prpria alma. Entre os humildes que acompanhavam o encontro, um deles indagou com simplicidade: Que deveremos fazer para sermos dignos daquele que vir? Todos os que almejam iniciao em Cristo ponderou prestativo ho de ter suas almas voltadas em favor de seus semelhantes. Que ningum, pois, retenha alm do que lhe necessrio, para que os cuidados com o suprfluo no lhe roubem do corao o cuidado com o Reino de Deus. Um publicano, ento, indagou: E que devo fazer eu, Joo Batista? Voc, que servidor do povo, nada exija alm daquilo que lhe for ordenado. E eu que sou soldado? perguntou outro. Que os encarregados da ordem no usem de violncia e nem se dem s denncias falsas para assaltar a bolsa dos outros. Preciso que todos se contentem com o que possuem e com o seu prprio salrio. Silncio respeitoso. O roteiro sacrificial, apresentado como essencial para beneficiar-se na vinda do Senhor, entristecia a muitos coraes viciados em aspirarem o Reino Celestial como um caprichoso favordadivindadecriatura.E,comescribasefariseus,algunsamigosdotrabalho desempenhado por Joo tambm abandonaram o campo da reforma ntima.8 DIANTE DO MESSIAS Empenhando-se na recuperao dos que se encontravam enredados com o mal, Joo moviasuavontadeinquebrantveleenvolviacomsuabondadeimensaatodosos desprotegidosdafortuna.Impressionavavivamentemuitosdosseusseguidores.Eeles sonhavam desassombradas vises de glria humana, convencendo-se serem predestinados a tronos imperiais. Confabulavam entre si que o precursor era o prprio Messias, mas que talvez ele no julgasse ainda chegada a hora de revelar-se e tomar de assalto o poder e sufocar toda espcie de mal no Mundo. O Missionrio confrangia-se por seus amados. Sabia-se cercado de invigilantes criaturas que se deixavam seduzir com o brilho fugaz das posies terrenas. Emmais de uma das muitasconversaesquesustentavamosamigos,aocairdatardeapsaspregaes diurnas, s margens do generoso e fertilizante Jordo, tais insinuaes alcanavam-lhe os ouvidos. E por mais negasse ser o Cristo, no conseguia remover do esprito de alguns de seus mais prximos colaboradores a idia de perturbao. Naquelatarde,maisquenasoutras,sentia-seagoniandopelasausnciasdo entendimento. Doam-lhetaisreflexes,quandoviuaproximar-seumhomemaindamoo,que deixavatransparecernosolhos,profundamentemisericordiosos,umabelezasuavee indefinvel.Longosesedososcabelosmolduravam-lheosemblantecompassivo,comose fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade imensa e singular energia, irradiava de sua melanclica e ma-jestosa figura uma fascinao irresistvel.2 Era Jesus, filho de Maria seu parente. sua aproximao, Joo sintonizou-se com Planos Sublimes, anotando uma figurao delicada,equenoseexprimianaTerranaformacomumdoshomens,quedesciado firmamento, lanando de si raios luminosos de pureza celestial. Era a Regio de Espritos redimidos e santificados, cooperadores do Cristo, que vinham anunciar o incio do Reino de 2 (*) H dois mil anos" obra de Emmanuel,psicografia de Francisco Cndido Xavier, pgina 79, 7* edio da FEB.Deus e, em nome do Pai, afirmaram: Este o meu Filho amado, em quem me deleito. Em xtase, de olhos midos e alma soluan- te, Joo balbuciou respeitoso: Eis aqui o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! Este o de quem eu dizia: Aps mim, vem um homem que maior do que eu, porque existia antes de mim. Eu no o reconhecia,masvimaplainando-lheocaminhoparaqueElesetornasseconhecidoem Israel. Vi o Esprito descer do Cu e pairar sobre ele! E dele agora dou testemunho a todos, porque verdadeiramente o Filho de Deus. Os passos suaves de Jesus e sua presena radiosa penetravam-lhe pela alma torturada pelaincompreensohumana,trazendo-lheumestranhoedesconhecidorefrigrio,qual aragem sublime a serenar-lhe o inquieto corao.9 QUE ELE CRESA... Os espectadores aumentavam, presenciando a curiosa divergncia surgida entre o judeu forasteiroeosdiscpulosdJooBatista,comrefernciaaoRabiNazarenohpouco surgido. O nazareno altercava o forasteiro purifica os homens pelo conhecimento que lhes transmite. Ele abre o prprio corao qual nascente inesgotvel de consolao e inicia a todos nos mistrios do amor! Mas ele foi iniciado por nosso Mestre! Talvez sim redargiu o outro com ironia. Mas, mesmo que fosse iniciado por Joo, a sua purificao maior, porque no se realiza apenas num smbolo. Acolhe todos os pecadores e o povo est com ele! O seguidor do batista tornou-se rubro, irado. Sentia-se espicaado em seu amor-prprio nestadisputaquevoluntariamenteaceitara.Abandonouseucontendoremmeioda controvrsia e partiu juntamente com outros companheiros a Enom, lo- 34 cal em que Joo estava empenhado em seu trabalho. 0 grupo aproximou-se e falou o principal: Mestre,aqueleJesusqueestavaconsigoalmdoJordo,edequemosenhordeu testemunho, agora tambm est fazendo seguidores... e todos vo ter com ele! Na acusao que se velava na informao transmitida, o precursor compreendeu que o orgulho ferido se vestia de zelo, naquelas almas generosas mas imprevidentes, que se doam pornoestaremocupandoosprimeiroslugaresnaprefernciadoshomens.Esboou, porm, ligeiro sorriso, tal pai amoroso que surpreende o filho em falta inconsciente. No pode o homem disse Joo receber coisa alguma que lhe no seja dada pelo Cu. O zeloso discpulo, que aguardava outra reao, tornou-se furioso e agressivo. Convenhamos que se os Cus no amparam a criatura ela nada realiza de til. Mas isso no autoriza a quem quer que seja afirmar-se o Cristo! E o Nazareno silencia, quando lhe dizem que ele o Cordeiro de Deus. Mas contraps Joo vocs mesmos so testemunhas do que eu disse e repito: No sou o Cristo, sou enviado adiante dele.O voluntarioso seguidor baixou as plpebras, mas no se deu por vencido. Nonegamosotestemunhodesuaspalavras.Porm,nojustonosconfiemos caladosaojuzotemerriodoshomensquebuscamhumilhar-nos,diminuindo-lhea grandeza, Mestre! Joo envolveu em carinho o amigo. O Cristo tem a Humanidade por sua esposa. E muito me regoizjo ao ouvir a sua voz, falando Terra. Essa uma alegria que me toma o corao. O sorriso da ambio desabrochou no informante. Mestre, se Voc amigo do esposo porque tambm representa a Verdade dos Cus. E como Emissrio da Verdade no lhe cabe ser ignorado pelos homens. Tome o seu lugar entre os maiores do novo reino... Filho meu esclareceu o precursor, colocando a mo no ombro do discpulo na sementeira do Evangelho preciso que o Cristo cresa e eu diminua. A afirmativa encerrou o assunto. Foi-lhe possvel compreender, naquela suprema lio de ajustamento espiritual, que o propagador do Reino de Deus no deve porfiar em tomar o lugardoprprioReino.Fazendocrescer-seasimesmocomofermentodisfaradodo orgulho,trarprejuzoobradequesimplesintermedirio,pelasquedasaqueest sujeito pelas limitaes de sua evoluo natural. Filhos ponderou-lhes Joo, inspirado nas Esferas Celestes aquele que vem do Alto est acima de todos. Aquele que vem da Terra terreno e de coisas terrenas fala. "QuemvemdosCusestacimadetodosedtestemunhodoqueviueouviu,mas ningum recebe o seu testemunho. Aquele que receber o seu testemunho, esse atestou que Deus verdadeiro. "Aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois Deus no lhe d os conhecimentos terrenos por medida. O Pai ama o Filho e tudo lhe ps nas mos. Aquele que cr no Filho descobre a vida Eterna; aquele, porm, que no atende ao Filho no se beneficia com os bens maiores da existncia, mas a reao da Justia Divina fica sobre ele. Silncio respeitoso, que ningum ousava quebrar. Oprecursorpasseouseuolharpelosamigosdahora,assenhoreando-sedeseus pensamentos. Lia-lhes no ntimo e descobria neles muitos que se fariam arautos do Cristo, em futuras reencar- naes, tomando dos Evangelhos unicamente para engrandecerem-se a si mesmos, divorciando-se da obra libertadora de conscincias. E muitos conturbariam as revelaes crists somente para no se despojarem da lisonja que floresce nos lbios dos que lhes nutririam a vaidade pessoal. Outros, porm, guardavam desde j a lio que atravessaria os tempos que, na sua singeleza, se transformaria na senha viva por onde se identificam os obreiros da Verdade: preciso que Ele cresa e eu diminua. Enom fervilhava de forasteiros que iam procura de Joo, e depois se encontrariam com Jesus nas pregaes excelsas do Evangelho.10 PRISIONEIRO Sereno,demosatadas,JooBatistasedeixavaconduzirpelosdoisguardas, atravessando corredores sombrios e midos do palcio de Hero- des, o pequeno rei judeu da regio. Avanavam sem trocar palavras e suspenderam a marcha frente porta da cmara particular da habitao palaciana. Fizeram-se anunciar e entraram. Oespaosoaposento,desprovidodemuitaluz,erautilizadosomenteparacuidarde assuntos confidenciais e particulares do governante, funcionando por bastidor de intrigas, portomadadeinformaessobreperigosquesobrepairassemaotrono,porrecantode examedas manobras romanas e disposies polticas do poder central dos dominadores. Num dos seus ngulos estava Hero- des a denotar seu nervosismo. Gesticulou aos guardas que prontamente se retiraram. Deixadosss,encaminhou-selentaemajestosamenteparaJoo,destacandoa autoridade de que se revestia sob a proteo de Roma, que nele possua um servidor cordato e fiel, sempre disposto a denncias e pacificao de populares para fazer jus confiana que lhe tributavam. Dizem que voc fala de ns em praa pblica, censurando-me a vida conjugal! Embora afirmativo, sua voz revelava temor pelo batista. O prisioneiro examinou-lhe a fisionomiapenetrantemente,obrigandoodespticopolticoabaixarasplpebras,e respondeu: No lcito a Voc, Herodes, possuir a mulher de seu irmo. O rei se transformou em acusado, empalideceu e sustou a respirao, crispando os dedos e voltando as suas costas a Joo para esconder o rubor que lhe assomava a fisionomia. Nada poderia dizer, porque a contundente e ferina revelao era exata, embora ningum no reino se atrevesse a pronunci-la abertamente. Correu porta. Guardas! Levem-no cela! Malficarasorei,saltou-lhefrente,saindodapenumbraemquepermanecera, Herodade, a mulher que tomara de seu irmo por esposa. Ela sentira a alma penetrada por umestileteprofundo,quelherompia ocoraoaomeio.Plida,transfiguradadedio, bramiu a Herodes: preciso mat-lo! No posso! O povo se rebelar... Impossvel que ele continue a lanar-me as ndoas da maldade, reduzindo-me em praapblicacondiodeumapecadoracomum!Eleprecisamorrer!Eopovoser dominado, como sempre foi, na morte dos criminosos! Herodes transpirava abundantemente, enquanto a mulher falava exigindo a morte do profeta.Almdarebeliodopovo,temiaqueobatistalheatirassealgumamaldio, encerrando-lhe a carreira poltica. Cale-se! ordenou bruscamente consorte. Ela abandonou o recinto imprecando contra Joo Batista e maldizendo a fraqueza de Herodesquenohouveraatendidoaoquepedira.Levavaumadeterminaofatdicae terrvel contra o precursor e tudo faria para lev-lo morte. O tetrarca, no entanto, refletia que Joo, pelas referncias que recebera dos informantes queenviaraaespion-lo,eraumhomemjustoesanto,amadopormuitos,mas destemoroso pela audcia, como pudera comprovar ao ser frontalmente acusado. Acima de tudo.. . eu o temo! Conhecendo, porm, a ao de Herodade quando se determinava a realizar um capricho ouumavingana,expediuordensespeciaisparaqueoprecursornoexperimentassea morte que ela exigira, irrefletida e impulsiva, levada pelo aborrecimento de que os populares comentassem a sua traio fidelidade natural do casamento. 11 DVIDAS... Repousando o corpo esgotado, e j febril, sobre as palhas do infecto cubculo que lhe fora destinado porpriso, Joo Batistarevisava mentalmente os ltimos sucessosque vivera. Sentira-se abandonado por muitos, quando Herodes lhe determinara a segregao, pois que temiam seguir- lhe o mesmo destino. Outros prosseguiram corajosos e fiis... mas, entre esses, alguns se iludiam espera de sucesso espetaculoso em que foras celestiais viessem, iradas, ferir os guardas, romper com as paredes das celas e devolv-lo luz do dia sob toque de trombetas! E desde o primeiro instante de isolamento as mais variadas informaes atravessavam a guarda liberal e lhe chegavam aos ouvidos. Eram as censuras amargas aos desertores... eram palavras de nimo... eram lamentos dos aflitos... eram sugestes de feitos miraculosos... O que mais predominava aps algum tempo de recluso, no entanto, eram relatos pejados de indisfarvel despeito de todos os sucessos de Jesus em toda a Palestina. Mestre! ouviu um sussurro, interrompendo a dilatao de seus pensamentos na reflexoenaspreces,eleselevantou,aproximando-sedasdivisesqueoseparavamda liberdade fsica. Era um dos seus que o havia despertado e discretamente lhe informava: Aquele tal de Jesus, vindo de Nazar, tem operado em nome do Altssimo. Dizem que ele est louco, pois tenta fundar um reino em que todos se amaro como irmos do mesmo Pai.TeveaaudciadederrogarapenadeTaliodenossasmaiscarastradies, substituindoo"olhoporolho,dentepordente",porumamorque vaialmdafamlia, beneficiando aos prprios inimigos... A pausa que fez o noticiarista dizia de todo o escndalo que ele entrevia nas atitudes de Jfisu Era-lhe impossvel conceber um dia confraternizar-se com os romanos orgulhosos e dominadores e querer bem aos criminosos! O prisioneiro verteu duas lgrimas que se esconderam nas sombras da cela. Entrevia as agruras que experimentaria Jesus, semeadas por coraes mpiosbeira dos seus caminhos. Quantos sofrimentos o Cordeiro de Deus experimentaria, muito maiores do que os seus. Mestre! insiste o discpulo que no lhe anota a sensibilidade espiritual O que esse Jesus ensina aos populares no se ajusta aos que arregimentam exrcitos para formar um reino!Cercar-sedeestropiadosecegos,demudoseleprosos...pregaaresignaoaos dominadores, sufoca todo ardor que transforma cada brao em arma poderosa e invencvel que se abater contra os forasteiros que dominam nossa gente! Contudo, Ele o Cristo! afianou Joo para serenar o amigo que lhe fazia o relato. Impossvel... J mais de uma vez lhe afirmei que Ele o Messias, o Cordeiro de Deus! J Vocs mesmos o identificaram como tal... O jovem movimentou a cabea discordando. Mas iluminou as faces com um sorriso de quem procura desvender segredos e indagou curioso: Qual a senha para identific-lo? O que lhe d tanta certeza? Achocanteindagaodequemtiveraoportunidadesrenovadasdeinteirar-sedos trabalhosdeJesusrefletiaaatitudedaquelesqueobservamoCristoadistncia, indagando-se a todos os momentos como reidentific-lo a cada segundo, a cada momento, emcadacircunstncia.AssimcomoEle,tambmosdemaisEmissriosDivinossero interrogados silenciosamente pelos que se atribulamcom os prprios programas, semse identificarem com os trabalhos sublimes. O precursor, porm, para no alongar detalhes tericos ou provas de evidncia, resolveu remet-los ao encontro