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21.20 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 Definições Os resultados esportivos obtidos por um determinado país são geralmente considerados uma indicação do estado de desenvolvimento do esporte em si mesmo e/ou da própria nação em foco na comparação internacional. Este sentido de avaliação tem sido normalmente adotado pela mídia em diferentes países. Trata-se também de um critério definidor de políticas governamentais em geral: dos 16 países selecionados por Chalip, Johnson e Stachura (1996), num estudo comparativo internacional de políticas públicas do setor esportivo, o resultado de competições internacionais revelou-se dominante como meta dos diferentes tipos de intervenção. No capítulo referido ao Brasil – autoria de DaCosta, L.P. (1996, pp. 23-38) – cita-se a criação da Loteria Esportiva no início da década de 1970 como marco em que o esporte passa de uma atividade social subsidiada pelos diferentes Governos desde 1941, para um nexo explícito de desenvolvimento nacional. E neste particular, a representação externa do país foi enfatizada. Outro autor incluído na coletânea de Chalip et al., foi Foldesi, J.S. (1996, pp. 187 – 211), que examinou o caso da Hungria e concluiu que a propaganda política do país originada das vitórias no esporte superava todas as demais esferas relacionadas ao Cenário internacional dos resultados esportivos – Situação do Brasil ALEXANDRE MEDEIROS JORGE DE CARVALHO International scenario of sport results – the Brazilian situation Sports results of a country are generally considered an indication of the status of development of the sport itself and/or of the nation itself in international terms. In Brazil, one of the major standards for the distribution of resources that come from the lotteries managed by the federal government is the number of medals obtained and to conquer. This scenario displays an analysis of the sports performance of medal winner countries in order to revise validity and tendencies of the criterion of sports results in relation to economic and social variables. The variables selected for the analysis were the most commonly used for the study and measurement of the potential of a country at macro level: gross national product (GNP), population, per capita income, and Human Development Index (see Tables 1 – 11). The conclusion was that all of the scenarios had some deviation, which suggests a multiple approach has to be used as the basis for comprehension of the relative positions of the country in international sport comparisons. In the case of the Brazilian future situation, it was possible to observe that the number of Olympic medals tended to reflect primarily the results of policies specifically made up for the development of sports competitions, which a country, government or society decides to privilege more than others. These policies tend to become legitimate for various nations once they need their populations to develop self-esteem and to project their positive image internationally. desenvolvimento esportivo nacional. Na atualidade, o critério do resultado esportivo continua a se reforçar como se constata nos casos da Inglaterra e da França, cujas políticas relacionadas ao esporte tornaram paradigmáticos os resultados de competições internacionais (Collins, M.F., pp. 493 – 520, e Raynaud, J., 413 – 422; In DaCosta & Miragaya – eds, 2002). Em resumo, as fontes citadas relacionam a vitória esportiva com meios de obter auto- estima por parte das populações como também de projetar internacionalmente a imagem positiva dos países. No Brasil, o critério de distribuição de recursos financeiros provenientes da chamada Lei Agnelo-Piva (Lei nº 10.264 de 16/97/2001) – que estabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loterias federais do país sejam repassados ao esporte olímpico e (85%) e ao paraolímpico (15%) – foi definido pelo Comitê Olímpico Brasileiro tendo como uma das bases principais o número de medalhas alcançadas e a conquistar (ver “Prestação de Contas 2002 – Lei Agnelo / Piva”, COB, 2002). Assim estabelecido, objetiva-se a seguir um exame analítico do desempenho esportivo dos países medalhistas olímpicos, ora delimitados nos Jogos Olímpicos de Verão de 2000 e de Inverno de 2002, de modo a revisar validade e tendências do critério do resultado esportivo em relação a variáveis econômicas e sociais. As variáveis escolhidas para a análise são as mais comuns usadas para se apreciar e medir o potencial em nível macro de um país, a saber: Produto Interno Bruto-PIB, população, renda per capita e Índice de Desenvolvimento Humano- IDH. Posteriormente, elabora-se uma série de simulações usando-se diferentes critérios de ponderação que hipoteticamente podem expressar o potencial de cada país em termos de resultados esportivos (obtenção de medalhas). Neste contexto, a situação do Brasil será tentativamente identificada, delineando-se assim um cenário de tendências gerais que possa oferecer bases de compreensão favoráveis ou desfavoráveis das posições relativas do país em comparações internacionais de resultados olímpicos. Estes exercícios são aqui desenvolvidos à vista de dois pressupostos principais: (1) o Comitê Olímpico Internacional não reconhece oficialmente qualquer tipo de ranking de países com relação a resultados nos Jogos Olímpicos; (2) há vários modos de dispor e interpretar tais tipos de resultados, o que sugere a adoção de uma abordagem em conjunto e comparativa a fim de evitar legitimações apressadas e arbitrárias de determinados critérios de avaliação.

Cenário internacional dos resultados esportivos – Situação ... · GNP vs . sports results in ... Jogos Olímpicos de ... clássico da influência do limite populacional ocorreu

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21.20 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Definições Os resultados esportivos obtidos por um determinadopaís são geralmente considerados uma indicação do estado dedesenvolvimento do esporte em si mesmo e/ou da própria naçãoem foco na comparação internacional. Este sentido de avaliaçãotem sido normalmente adotado pela mídia em diferentes países.Trata-se também de um critério definidor de políticasgovernamentais em geral: dos 16 países selecionados por Chalip,Johnson e Stachura (1996), num estudo comparativo internacionalde políticas públicas do setor esportivo, o resultado de competiçõesinternacionais revelou-se dominante como meta dos diferentestipos de intervenção. No capítulo referido ao Brasil – autoria deDaCosta, L.P. (1996, pp. 23-38) – cita-se a criação da LoteriaEsportiva no início da década de 1970 como marco em que oesporte passa de uma atividade social subsidiada pelos diferentesGovernos desde 1941, para um nexo explícito de desenvolvimentonacional. E neste particular, a representação externa do país foienfatizada. Outro autor incluído na coletânea de Chalip et al., foiFoldesi, J.S. (1996, pp. 187 – 211), que examinou o caso da Hungriae concluiu que a propaganda política do país originada das vitóriasno esporte superava todas as demais esferas relacionadas ao

Cenário internacional dos resultados esportivos – Situação do BrasilALEXANDRE MEDEIROS JORGE DE CARVALHO

International scenario of sport results – the Brazilian situation

Sports results of a country are generally considered an indicationof the status of development of the sport itself and/or of the nationitself in international terms. In Brazil, one of the major standardsfor the distribution of resources that come from the lotteriesmanaged by the federal government is the number of medalsobtained and to conquer. This scenario displays an analysis of thesports performance of medal winner countries in order to revisevalidity and tendencies of the criterion of sports results in relation

to economic and social variables. The variables selected for theanalysis were the most commonly used for the study andmeasurement of the potential of a country at macro level: grossnational product (GNP), population, per capita income, and HumanDevelopment Index (see Tables 1 – 11). The conclusion was that allof the scenarios had some deviation, which suggests a multipleapproach has to be used as the basis for comprehension of therelative positions of the country in international sport comparisons.

In the case of the Brazilian future situation, it was possible toobserve that the number of Olympic medals tended to reflectprimarily the results of policies specifically made up for thedevelopment of sports competitions, which a country, governmentor society decides to privilege more than others. These policiestend to become legitimate for various nations once they need theirpopulations to develop self-esteem and to project their positiveimage internationally.

desenvolvimento esportivo nacional. Na atualidade, o critério doresultado esportivo continua a se reforçar como se constata noscasos da Inglaterra e da França, cujas políticas relacionadas aoesporte tornaram paradigmáticos os resultados de competiçõesinternacionais (Collins, M.F., pp. 493 – 520, e Raynaud, J., 413 –422; In DaCosta & Miragaya – eds, 2002). Em resumo, as fontescitadas relacionam a vitória esportiva com meios de obter auto-estima por parte das populações como também de projetarinternacionalmente a imagem positiva dos países. No Brasil, ocritério de distribuição de recursos financeiros provenientes dachamada Lei Agnelo-Piva (Lei nº 10.264 de 16/97/2001) – queestabelece que 2% da arrecadação bruta de todas as loteriasfederais do país sejam repassados ao esporte olímpico e (85%) eao paraolímpico (15%) – foi definido pelo Comitê OlímpicoBrasileiro tendo como uma das bases principais o número demedalhas alcançadas e a conquistar (ver “Prestação de Contas2002 – Lei Agnelo / Piva”, COB, 2002). Assim estabelecido,objetiva-se a seguir um exame analítico do desempenho esportivodos países medalhistas olímpicos, ora delimitados nos JogosOlímpicos de Verão de 2000 e de Inverno de 2002, de modo a

revisar validade e tendências do critério do resultado esportivo emrelação a variáveis econômicas e sociais. As variáveis escolhidaspara a análise são as mais comuns usadas para se apreciar e mediro potencial em nível macro de um país, a saber: Produto InternoBruto-PIB, população, renda per capita e Índice de DesenvolvimentoHumano- IDH. Posteriormente, elabora-se uma série de simulaçõesusando-se diferentes critérios de ponderação que hipoteticamentepodem expressar o potencial de cada país em termos de resultadosesportivos (obtenção de medalhas). Neste contexto, a situação doBrasil será tentativamente identificada, delineando-se assim umcenário de tendências gerais que possa oferecer bases decompreensão favoráveis ou desfavoráveis das posições relativasdo país em comparações internacionais de resultados olímpicos.Estes exercícios são aqui desenvolvidos à vista de dois pressupostosprincipais: (1) o Comitê Olímpico Internacional não reconheceoficialmente qualquer tipo de ranking de países com relação aresultados nos Jogos Olímpicos; (2) há vários modos de dispor einterpretar tais tipos de resultados, o que sugere a adoção de umaabordagem em conjunto e comparativa a fim de evitar legitimaçõesapressadas e arbitrárias de determinados critérios de avaliação.

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DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 21.21

O Produto Interno Produto é a soma, expressa em US$ (dólar americano), do valor monetário finalde bens e serviços produzidos dentro do país. Mede sua capacidade produtiva: quanto mais alto oPIB, mais rica é uma nação. O problema desse método de cálculo é que, ao converter o PIB de umdeterminado país para o dólar, consideram-se taxas distintas de câmbio que denotam inflação locale variações cambiais de oscilações bruscas, principalmente em nações emergentes. Com isso, o PIBde alguns países fica artificialmente reduzido. Para contornar essas variações, existe um fatorconversor chamado de Paridade de Poder de Compra (PPC). Ele permite saber a quantidade demoeda de um país necessária para adquirir o mesmo que um dólar norte-americano pode comprarnos Estados Unidos. É com base nessa relação que se estabelece o PIB-PPC. Assim, a China – queestá em sétimo lugar na Tabela 1 – desponta atrás apenas dos EUA no PIB-PPC.

Em resumo, se o PIB mede a riqueza produzida por um país, então se presume que este indicadorpode revelar o desenvolvimento do esporte, já que se pode também supor que um país com umaenorme riqueza possua mais possibilidades de formar melhores atletas do que países com menordisponibilidade de recursos. Assim, em princípio, considerando as 15 maiores economias do mundo,apenas Espanha, Brasil, México e Índia apresentaram um desempenho tímido nos Jogos Olímpicos,não chegando a 15 medalhas. Porém, ao se focalizar diferenças em lugar de semelhanças surgemnotáveis contrastes: a Rússia, com o vigésimo PIB do mundo, foi o segundo melhor país na conquistade medalhas. Mais surpreendentes ainda foram os desempenhos de Romênia, Cuba e Ucrânia, queconseguiram um resultado melhor do que o Japão. Somando-se o PIB desses três países peculiares,não se chega a 100 bilhões de dólares, resultado que representa, no mínimo, 1/45 avos da economiajaponesa. Porém, somando-se suas medalhas, chega-se a um total de 78 medalhas, 25 de ouro,quase quatro vezes o total japonês.

A Tabela 1 confirma o desfavorável desempenho de países com PIB relevante como Taiwan, ArábiaSaudita, Turquia, Argentina, Bélgica, Dinamarca, Chile, Portugal, Indonésia, Irlanda, Israel, Colômbiae Kuwait. São países que possuem, no mínimo, o dobro da riqueza de Romênia, Cuba ou Ucrânia.Porém, são fracos em termos de resultados esportivos, o que sugere a existência de distorções noinstrumento de medida.

Produto Interno Bruto / Gross National Product

Tabela 1 / Table 1PIB x Resultados esportivos nos Jogos Olímpicos– Verão (2000) e Inverno (2002)GNP vs. sports results in Olympic Games – Summer (2000) and Winter (2002)

(Tabela 1 – continuação)

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21.22 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Um exercício de ajustamento do PIB ao poder de compra para efeito de observação dos resultadosesportivos foi produzido pela conhecida empresa de consultoria PriceWaterhouseCoopers com respeitoà atuação dos países medalhistas nos Jogos Olímpicos de Sydney, 2000 (Kidane, 2001). O autor doestudo foi John Hawksworth, cujas conclusões indicaram que os países do antigo bloco soviéticoobtiveram resultados muito melhores aos que se esperava tendo em conta a capacidade econômicados mesmos. A metodologia usada consistiu na elaboração de uma regressão logarítmica que associouuma escala de pontos (Ouro – 4 pontos; Prata – 2 pontos; Bronze – 1 ponto) ao PIB tendo em vista osníveis de câmbio utilizados para se obter a paridade do poder aquisitivo e de uma variável associadaaos países do antigo bloco soviético. Segundo o autor, tais variáveis possuem um alto valor significativono terreno das estatísticas e explicam cerca de 44 % dos resultados constatados ao nível da pontuaçãoolímpica dos países (Tabela 2). Uma crítica deve ser feita com relação ao estudo acima: colocar apontuação de medalhas com valores diferentes para cada uma pode ser um fator de distorção dosresultados. Nas competições esportivas, a diferença entre os medalhistas é mínima. Muitas vezes osárbitros se socorrem de meios tecnológicos para definirem um campeão por causa da igualdade quese encontra entre os competidores. No caso em pauta, considerar uma medalha de ouro valendo 4pontos e uma de bronze valendo 1 é totalmente desapropriado. Conquistar 1 medalha de ourofreqüentemente é mais fácil do que 4 de bronze.

Produto Interno Bruto com ajuste de variação de câmbioGross National Product with money exchange adjustment

Tabela 2 / Table 2Medalhas dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000 ajustadas ao PIB (*)Escala da pontuação: ouro – 4 pontos; prata – 2 pontos; bronze – 1 pontoAdjustment of 2000 Sydney Olympic Games medals to GNP (*)Index scores: gold – 4 points; silver – 2 points; bronze – 1 point

(*) Regressão logarítmica que associa a escala de pontos das medalhas ao PIB tendo em vista os níveis de câmbioutilizados para se obter a paridade do poder aquisitivo / Logarithm regression related to medals vs. GNP adjusted tomoney exchange and purchase power

(Tabela 2 – continuação)

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Na Tabela 3 foram relacionados os números de habitantes de cada país que conquistou medalha nosJogos Olímpicos de Verão e de Inverno de 2000 e 2002, respectivamente. Potencialmente, o númerode habitantes constitui um fator determinante do desempenho esportivo de um país. Trata-se apenasde uma simples relação estatística: quanto maior a população do país, maior a possibilidade dedescoberta de talentos esportivos, e conseqüentemente, maior a possibilidade de um bom desempenhoesportivo. Observam-se os casos de países como Cuba, Hungria, Bulgária e Noruega. São países comuma pequena população, mas que conseguem um excelente desempenho esportivo, ficando à frentede países com um número muito maior de habitantes, como Brasil, Indonésia e Índia. Entretanto, opotencial humano reduzido é um fator que impede que esses países aumentem consideravelmenteseu número de medalhas. Por exemplo, Cuba está praticamente no limite de seu desempenho, nãopossui população suficiente para poder se expandir para os mais variados esportes, embora tenhademonstrado uma grande versatilidade, principalmente em esportes de combate. Outro exemploclássico da influência do limite populacional ocorreu nas décadas de 1970 e de 1980. A entãoAlemanha Oriental desenvolveu um ousado programa esportivo que lhe possibilitou ultrapassar osEstados Unidos nos Jogos Olímpicos e se estabelecer como a segunda potência esportiva mundial.Com uma população de 17 milhões de habitantes, competiu no limite de suas possibilidades. Teve queconcentrar sua força em esportes básicos, como atletismo, natação, canoagem, remo, ciclismo,ginástica, patinação de velocidade, tobogã, trenó e biatlo. Encontrava dificuldades para expandir seudomínio para outros esportes, embora tenha conseguido excelentes desempenhos também no boxe,no tiro ao alvo, no handebol, no voleibol, no judô e no levantamento de peso. Já a União Soviética,líder do esporte mundial naquela época, com uma população de 280 milhões de habitantes, conseguiuexpandir seus desempenhos para praticamente todos os esportes, inclusive para os coletivos, em quefoi a maior potência mundial. União Soviética e Alemanha Oriental, países que trabalhavam com100% de suas possibilidades materiais voltadas para o esporte, são exemplos da grande dificuldadeprovocada pela diferença populacional. Em condições iguais, o fator população foi determinante nocaso. Outra abordagem pertinente neste tema é que a importância do número de habitantes tambémpode ser relacionada com a renda per capita e com o Índice de Desenvolvimento Humano-IDH. Porexemplo, poder-se-ia dizer que o Brasil não possui uma renda per capita e um IDH tão altos comovários países. Porém, não se pode desprezar o fato de que o Brasil possui um grande número dehabitantes e uma vasta diferença entre suas regiões. Assim, as regiões Sudeste e Sul apresentam umIDH e uma renda per capita muito superior àquelas apresentadas pelas regiões Norte, Centro-Oestee Nordeste. Poderiam ser consideradas como países isolados, e com isso a potencialidade dessasregiões está acima da média nacional e chegando ao nível de países considerados desenvolvidos.

População / Population

Tabela 3 / Table 3População x medalhas nos Jogos Olímpicos- Verão (2000) e Inverno (2002)GNP vs. medals in the Olympic Games – Summer (2000) and Winter (2002)

(Tabela 3 – continuação)

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21.24 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Este índice representa quanto cada habitante receberia se o valor do Produto Nacional Bruto de um paísfosse distribuído igualmente entre todos. Como tal, este fator de avaliação possui algumas peculiaridadesuma vez que é considerado quando se analisam custos esportivos, como viagens, equipamentos, mão deobra etc que possuem um determinado preço no mercado internacional e necessitam ser importados.Entretanto, isso muda quando consideramos o custo interno do esporte em cada país. Por exemplo, aremuneração de um treinador em Cuba ou no Leste Europeu é bem menor do que a de um treinador nosEstados Unidos ou na Europa Ocidental. O custo de uma instalação esportiva que não necessite daimportação de materiais é bem menor em países como Romênia, Cuba e Bulgária do que nos EstadosUnidos, na Alemanha ou no Japão, por exemplo. Assim, o fator renda per capita perde seu significadodependendo do enfoque em que é utilizado. Na Tabela 4 pode-se discernir que entre os 20 países commaior renda per capita, Dinamarca, Islândia, Bélgica, Kuwait, Irlanda e Israel tiveram um fraco desempenhoesportivo. Porém, deve-se observar que são países de reduzida população, uma variável expostaanteriormente e que se apresenta freqüentemente como limitadora de resultados esportivos. Considerem-se os casos de Rússia e China: países populosos, mas com baixíssima renda per capita, que estãorespectivamente com o segundo e quarto melhores desempenhos.

Renda per capita / Per capita Income

Tabela 4 / Table 4Renda per capita x medalhas nos Jogos Olímpicos- Verão (2000) e Inverno (2002)Per Capita Income vs. medals in the Olympic Games – Summer (2000) and Winter (2002)

(Tabela 4 – continuação)

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O Índice de Desenvolvimento Humano mede o bem-estar da população em três aspectos: vida longa esaudável (expectativa de vida), conhecimento (escolaridade) e padrão de vida decente (Produto InternoBruto per capita menos Paridade de Poder de Compra). Sua escala varia de 0 a 1: quanto mais próximode 1, melhor a qualidade de vida. O IDH aparece com três casas decimais, mas possui, na verdade, 15casas decimais, o que garante o desempate entre alguns países no ranking da qualidade de vida. ATabela 5 oferece uma tomada geral de posição quanto ao IDH relacionado ao resultado esportivo, a fimde dar sustentação a análises feitas adiante, combinando diferentes indicadores de avaliação.

Índice de Desenvolvimento Humano-IDHHuman Development Index-HDI

Tabela 5 / Table 5IDH x medalhas nos Jogos Olímpicos – Verão (2000) e Inverno (2002)HDI vs. medals in the Olympic Games – Summer (2000) and Winter (2002)

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21.26 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Na Tabela 6 foram relacionados os países que conquistaram medalhas nos Jogos Olímpicos de Verão ede Inverno, respectivamente em 2000 e 2002. Os dados relativos ao Índice de Desenvolvimento Humanosão de 2001, período mais adequado para se analisar o desempenho dos países nos últimos JogosOlímpicos. O quadro foi elaborado a priori da seguinte forma: os países medalhistas foram relacionadosnos quatro indicadores, sendo que a posição que ocuparam em cada um equivaleu a um número depontos. Assim, os Estados Unidos como nação líder em PIB receberam um ponto neste item. Comoterceiros colocados nos índices de população e renda per capita, receberam 3 pontos em cada um. Como sexto melhor IDH, receberam 6 pontos. A pontuação foi somada, resultando num total de pontos. Essetotal expressaria tentativamente o potencial esportivo à luz dos resultados olímpicos: quanto menor onúmero de pontos, no caso, colocações, maior o potencial do país. Neste exercício de cenário, os índicesinicialmente tiveram o mesmo peso. Porém, surgiram situações inusitadas. Por exemplo, a Islândia, com288.000 habitantes e com um PIB de 8,5 bilhões de dólares, ficou à frente da Índia, que possui umapopulação superior a 1 bilhão de habitantes e um PIB de 455 bilhões de dólares. Logicamente, diantedesses números, a Índia possui um potencial muito maior do que a Islândia. Nestes termos, os índices derenda per capita e IDH acabam escondendo uma situação de fato, no caso o maior potencial da Índia.Esses dois últimos índices também possuem falhas no momento em que são analisados países comoBrasil, México e Índia, que possuem uma grande população e um importante PIB, que podem serconcentrados em algumas regiões, colocando-as acima da média geral do país. Por exemplo, a renda percapita e o IDH do Estado de São Paulo é muito superior aos dos Estados das regiões norte, nordeste ecentro-oeste. Porém, quando se considera o total brasileiro, essas regiões acabam influenciando parabaixo os índices do Brasil. Igualmente, na primeira simulação ocorreram algumas distorções, como porexemplo: Portugal e Rússia com o mesmo potencial; o Brasil com um potencial inferior à Finlândia eArgentina; Casaquistão, Nigéria e Bulgária atrás de Barbados, que possui uma reduzidíssima populaçãoem relação a esses países, fator que inviabiliza a obtenção de atletas qualificados. Outra distorção foi ada Islândia colocar-se à frente de Índia, Irã, Ucrânia e Indonésia, países de elevada população e comriqueza respeitável. Estes resultados demonstram que os fatores renda per capita e IDH devem ser vistoscom reservas quanto à avaliação de dimensões macro de um país. Diante destas constatações, foiadotado em segunda instância na construção da Tabela 6, o critério de peso dois para os índices PIB epopulação, e peso 1 para IDH e renda per capita. Os mesmos pesos foram aplicados na construção daTabela 7 na qual a posição relativa aos resultados esportivos foi obtida utilizando-se o critério do maiornúmero de medalhas, que compensa distorções, como a que classificou Moçambique, Colômbia e Camarõesà frente do Brasil por possuírem apenas uma medalha de ouro contra 6 de prata e 6 de bronze.

Avaliação ponderada reunindo PIB, população (POP),renda per capita (RPC) e IDHWeighed assessment joining GNP, population (POP), per capitaincome (RPC) and HDI (IDH)

*Peso dois para os índices PIB e população, e peso 1 para IDH e renda per capita / Weighed scores:GNP and population x 2; HDI and per capita income x 1.

Tabela 7 / Table 7Avaliação em conjunto PIB, POP, RPC e IDH x maior número demedalhas nos Jogos Olímpicos – Verão (2000) e Inverno (2002)*Joint assessment of GNP, POP, RPC and IDH vs. larger number of medals inthe Olympic Games – Summer (2000) and Winter (2002)*Ordenação de países por potencial olímpicoOrder of countries by Olympic potential

Tabela 6 / Table 6Avaliação em conjunto PIB, POP, RPC e IDH x medalhas nosJogos Olímpicos – Verão (2000) e Inverno (2002)*Joint assessment of GNP, POP, RPC and IDH vs. medals in the Olympic Games– Summer (2000) and Winter (2002)*

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A Tabela 8 foi elaborada a fim de se estabelecer um índice de aproveitamento, ou seja: coloca-se onúmero da posição do país em potencial, subtraído do número da posição em medalhas. Por meiodeste arranjo pode-se hipoteticamente chegar a três conclusões:

1. O resultado positivo significa que o país está acima do seu potencial, sugerindo capacidade efetivade aplicação dos recursos na área esportiva em adição à vontade política quanto à obtenção deresultados favoráveis.

2. O resultado negativo significa que o país está abaixo do seu potencial, e que sua aplicação de recursosestá insuficiente na área esportiva por deficiência administrativa e / ou por falta de vontade política.

3. O resultado nulo, ou seja, igual a zero, significa que o país está correspondendo exatamente aoseu potencial.

Assim sendo, a apreciação dos dados ordenados pela Tabela 8 indica correspondências com a Tabela2 que apresenta constatações da empresa PriceWaterhouseCoopers, ou seja, o bom desempenho depaíses do antigo Bloco Socialista. Por outro lado, países subdesenvolvidos como Jamaica, Quênia eEtiópia tiveram um excelente resultado. Os Estados Unidos, em particular, conseguiram uma posiçãoque seria a esperada deles como primeiros colocados no critério de pontuação elaborado, confirmandoa expectativa com o primeiro lugar no quadro de medalhas. Alemanha, França, Itália e Polôniatambém corresponderam os resultados com seus potenciais. Rússia e China obtiveram resultadosbem acima do que seria o potencial de cada um. O Brasil ficou atrás da Nigéria, mas conseguiu secolocar à frente de Japão e Espanha. Por outro lado, Argentina, Índia, Israel e Taiwan são exemplos deinsuficiência na obtenção de resultado esportivo olímpico. Outra limitação a se considerar nestecritério refere-se à escassez do número total de medalhas em disputa. Ocorre neste caso, que asgrandes potências esportivas deixam cada vez menos espaço para as demais, reduzindo as possibilidadesde se relevar nações de eficiência olímpica mas que estejam fora do conjunto de líderes. A recentedissolução da União Soviética tem adiado esta constatação por abrir mais espaço nas medalhas emdisputas. Por outro lado, a crescente ênfase em Jogos continentais – Panamericanos, Asiáticos,Commonwealth etc – tem constituído um fator de distensão de uma oferta inelástica de medalhas.

A Tabela 8 adicionalmente oferece uma melhor compreensão do desempenho do Brasil em relação aoseu potencial, ao se comparar a posição do país em número total de medalhas com as posiçõesreferentes ao Produto Interno Bruto, à população, à renda per capita e ao IDH. O Brasil ocupa a 10ªcolocação em termos de Produto Interno Bruto na lista dos países medalhistas nos Jogos Olímpicosde 2000 e 2002. Entretanto, ficou apenas com a 26ª posição em número de medalhas. Nesse caso oresultado se mostrou desfavorável em relação ao PIB. Já dentre todos os países medalhistas, o Brasilpossui a quinta maior população do mundo. Porém, como ficou em apenas 26º lugar em número demedalhas. Seus resultados em relação ao número de habitantes também foram negativos. Quantoaos dois outros fatores, o IDH e a renda per capita, o desempenho do Brasil pode ser consideradofavorável. Sua 26ª colocação em número de medalhas supera largamente sua posição no IDH (54ºlugar entre os medalhistas) e em renda per capita (49º lugar).

Índice de aproveitamento / Index of effectiveness

Tabela 8 / Table 8Índice de aproveitamento do potencial de resultados olímpicos, 2000 / 2002Effectiveness index related to potential of Olympic results, 2000 / 2002

(Tabela 8 – continuação)

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21.28 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006

Na tabela 10, o critério utilizado foi dividir o número de componentes, ou seja, de atletas, de cadadelegação, pelo número de medalhas conquistadas. Teoricamente, obteve-se um índice deprodutividade, ou seja, “x” atletas por medalha: que apresentou menor índice foi o que apresentoumelhor produtividade. Com relação a este critério, o Brasil ficou em 51º lugar com uma média deuma medalha para cada 17.1 atletas. Entre os cinco primeiros colocados, a ordem foi China, Rússia,EUA, Alemanha e Austrália. Esta última participou com uma grande delegação em virtude de tersido o país sede. Naturalmente seu 28º lugar acabou sendo conseqüência deste fato. Convémlembrar que o número de competidores de uma delegação não é arbitrário: é determinado atravésdas competições pré-olímpicas e também de índices classificatórios pré-estabelecidos, como ocorrena Natação e no Atletismo, por exemplo. Assim, um país com uma reduzida delegação e que obtémalgumas medalhas não significa que seja uma força, pois conseguiu se classificar em poucos esportese por isso se apresentou com poucos atletas. Nesse caso se enquadram a Etiópia e Moçambique, quesó disputam o Atletismo e ainda em provas restritas. Naturalmente, quando obtêm uma medalhaacabam apresentando elevado nível de produtividade. É significativo notar que este critério mesclapaíses com um total maior de medalhas, como Rússia, Estados Unidos e China, e com poucasmedalhas, como Moçambique, Etiópia, Costa Rica, Vietnã, entre os primeiros colocados.

Ranking de produtividade atletas x medalhasProductivity ranking of athletes vs. medals

Tabela 9/ Table 9Classificação ponderada de resultados olímpicos, 2000 / 2002Weighed scores of classification related to Olympic results, 2000 / 2002

Tabela 10/ Table 10Ranking de produtividade atletas x medalhas – resultados olímpicos, 2000 / 2002Productivity ranking of athletes vs. medals – Olympic results, 2000 / 2002

Um exercício digno de atenção foi feito pelo jornal “Folha de São Paulo” da cidade de São Paulo-SP(02/10/2000), ao publicar tabelas classificando os países medalhistas em Sydney primeiramente pelocritério de medalhas de ouro, em seguida pelo critério do total de medalhas. Para isso, usou-se umaclassificação ponderada, em que 4 pontos são dados à medalha de ouro, 2 à medalha de prata e apenas1 à medalha de bronze. Em uma outra classificação, elencou os países de acordo com sua produtividade,dividindo o número de atletas presentes pelo número de medalhas conquistadas. Por fim, apresentouuma classificação considerando a relação do número de habitantes por número de medalhas. Umacrítica já antes aqui esposada quanto a uma medalha de ouro valer 4 pontos contra apenas 1 de umade bronze desfigura amplamente a possibilidade de se medir a força de um país: obter 4 medalhas debronze exige alguma estrutura esportiva, enquanto uma medalha de ouro pode ser reflexo de algumatleta isolado. Mesmo assim, o critério da classificação ponderada possui alguma significação, poisconsegue, ainda que de forma limitada, levar em conta o total de medalhas obtidas. Por exemplo, osoito maiores medalhistas dos Jogos de Sydney ficaram com as oito primeiras posições na classificaçãoponderada. A Etiópia, 26ª colocada em número de medalhas, sobe apenas para 24º lugar. O Brasil, 21ºem número de medalhas, cai para 26º lugar. Porém, no deficiente critério de medalhas de ouro, o Brasilfica apenas com a 52ª colocação. Neste propósito, cabe citar Tubino (2000), que se referindo aos JogosOlímpicos de Sydney-2000, afirmou que o critério de medalhas de ouro passou a ser adotado pelaimprensa depois que a União Soviética passou a conquistar mais medalhas do que os Estados Unidos.Antes, prevalecia um critério mais complexo, que considerava as 10 ou 8 primeiras colocações.

Classificação ponderadaWeighed scores of classification

* Os números em parênteses são a efetiva pontuação conseguida pelos países após a revisão doresultado da categoria até 76 kg na Luta Livre; o jornal Folha de São Paulo organizou as tabelasantes da revisão dos resultados / The original Tables were adjusted after the revision of results inOlympic Wrestling

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DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). A T L A S D O E S P O R T E N O B R A S I L . RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006 21.29

O Relatório Global de Competitividade 2003-2004 – Fórum Econômico Mundial elaborouquestionários a executivos de 102 países objetivando quantificar o impacto de determinadosfatores considerados chaves na criação de condições para o crescimento sustentável de umpaís. Entre eles incluem-se taxa de juros (100), crime organizado (82), inflação, superávit/déficit governamental, política macroeconômica (75), qualidade das instituições, situação datecnologia e infra-estrutura (números entre parênteses representam a ordem de colocação doBrasil nas respectivas áreas). O exercício diante deste tipo de abordagem é o de observarpossíveis correlações entre a competitividade definida pelo Fórum Econômico Mundial-FEM eos resultados olímpicos. A Tabela 11 apresenta países que obtiveram medalhas nos JogosOlímpicos de Verão em 2000 e de Inverno em 2002, ordenados pelo índice FEM. Observando-seeste ranking à luz da ordenação de medalhas 2000-2002, nota-se que em relação a algunspaíses há uma certa correspondência entre a competitividade de natureza econômico-social ea obtenção de resultados olímpicos. Porém, com relação a outros não há qualquer relação,donde se conclui que a competitividade esportiva é distinta da competitividade macro admitidapelo FEM. A comprovação destas assertivas resulta da apreciação de cada país isoladamente.Os Estados Unidos, a Austrália e a Alemanha estão em segundo (2), décimo (10) e décimoterceiro (13) respectivamente. Já em resultados, estão em primeiro (EUA), quinto (Austrália)e terceiro (Alemanha), lugares considerando-se a soma de medalhas nos Jogos de Verão(2000) e de Inverno (2002). Portanto, admitindo-se que há uma certa aproximação entre os doismodos de competitividade, o deslocamento da análise para duas potências olímpicas mundiais,Rússia e China, que ficaram respectivamente em 70º e 44º lugares FEM, elimina tal pressuposto.Isto porque em termos de resultados esportivos, a Rússia ocupou no período estudado a segundacolocação enquanto a China ficou com a quarta.

Outros exemplos são a França (26) e a Itália (41), que em termos de resultados olímpicos seapresentaram em 6º e 7º lugares respectivamente. Algo similar ocorre com a Romênia (75) e aUcrânia (84), respectivamente em 14º e 15º lugares em termos de resultados olímpicosesportivos. O Brasil ocupa a 54ª colocação segundo o estudo do FEM. Porém, em termos deresultados olímpicos é o 26º colocado. Neste caso seria oportuno tentar estabelecer umarelação com a baixa competitividade do país e sua fraca atuação em termos de resultados.Porém, deve-se levar em conta o fator riqueza (PIB) e população, pois se poderia chegar àconclusão de que estando em 54º lugar em competitividade e obtendo a 26ª colocação emnúmero de medalhas, o desempenho do país seria favorável. Esta hipótese se dilui ao seanalisar os dados de Produto Interno Bruto em conjunto com a população. Também se develevar em conta que este tipo de estudo, considerando países de reduzida população, provocadistorções se quisermos comparar com outros países bem mais populosos. A Islândia, porexemplo, possui alto índice de competitividade, mas é escassa em número de habitantes; omesmo se pode afirmar de Malta e Luxemburgo.

Tabela 11 / Table 11Ordem de competitividade internacional segundoo Fórum Econômico Mundial, 2003International competitiveness order according to the World Economic Forum, 2003

Competitividade global entre naçõesx competitividade esportiva olímpicaGlobal Competitiveness between nationsvs. Competitiveness in Olympic sports

O pressuposto da adoção de uma abordagem em conjunto e comparativa a fim de evitar legitimaçõesarbitrárias de determinados critérios de avaliação de resultados esportivos tem ampla confirmaçãoao se compararem as análises anteriores, que se apóiam na vertente olímpica, a de maior influênciano esporte dos dias presentes. Simplesmente, nenhum dos exercícios cenarizados ficou isento dedesvios, o que sugere o uso indispensável de abordagem múltipla como base de compreensão dasposições relativas do país em comparações internacionais esportivas. Outra evidência consolidadarefere-se à peculiaridade do projeto esportivo nacional, cujo sentido de competitividade é sobremododistinto da competitividade econômica e social em perspectivas internacionais (ver análisesconcernentes à Tabela 11). Ou seja: o projeto esportivo vale por si mesmo e como tal tem valorrelativo em cada país. Mais especificamente, as tendências discerníveis – nas quais o Brasil poderáse posicionar ou se inserir no presente e no futuro – são:

1. A contagem das medalhas olímpicas permanece como uma importante referência para a tradiçãoesportiva, mas não é adequado afirmar a existência de uma correlação direta entre o total de vitóriasobtidas pelos países e seus respectivos indicadores nacionais de produto interno bruto, população,renda per capita, poder de paridade de compra ou índice de desenvolvimento humano.

2. Os ideais do esporte guardam proximidade com princípios ligados ao desenvolvimento humano,porém o êxito nas disputas olímpicas não é atestado de um maior índice de desenvolvimento humano.

3. O número de medalhas olímpicas tende a refletir primordialmente o resultado de políticasespecificamente voltadas para o desenvolvimento do esporte competitivo, que um país, governo ousociedade decide privilegiar mais do que outras. Estas políticas tendem a se legitimar por meio danecessidade de determinadas nações no sentido de obter auto-estima por parte de suas populaçõescomo também de projetar internacionalmente a imagem positiva do país.

4. A tentativa que visa a associar a conquista de medalhas olímpicas com indicadores nacionais podeestimular reflexões desafiadoras com respeito do valor atribuído às vitórias olímpicas e àdemocratização do esporte em um contexto de desenvolvimento social.

Fontes Chalip, L., Johnson, A. & Stachura, L. National Sports Policies. Greenwood Press, London,1996; DaCosta, L.P. & Miragaya, A.M. Worldwide Experiences and Trends in Sport for All. Meyer &Meyer Sport, Aachen, 2002; Kidane, F. Report on Sydney Olympic Games. Olympic Review, no. XXVII,Dec. 20000/ Jan. 2001, pp. 27 – 28; ALMANAQUE ABRIL-2003; Manoel Gomes Tubino (2000).

Tendências do cenário internacional dos resultados esportivosTrends of the International scenario of sports results