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Emanuel
Este trabalho teve o apoio da ACDI - Canadian internacional development agency / Agence canadienne de développement internacional
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Emanuel Sampaio Silva

Inessa Laura Salomão

Jimmy Peixe Mc Intyre

João Guerreiro

Maria Luiza Lins e Silva Pires

(Or(Or(Or(Or(Organizadora)ganizadora)ganizadora)ganizadora)ganizadora)

Paulo Peixoto Albuquerque

Sandra Suely Soares Bergonsi

Sidney da Conceição Vaz

Recife • 2004

Réseau des universités des amériquesen étude coopérative et sur les associations

Rede universitária das américasem estudos cooperativos e associativismo

Red universitaria de las américasem estudios cooperativos y associativismo

Network of the universities of Americas instudies on cooperatives and associations

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C395 Cenário e tendências do cooperativismo brasileiro /organizadora Maria Luiza Lins e Silva Pires; EmanuelSampaio Silva ... [et al.]. — Recife: Bagaço, 2004.100 p.

Inclui bibliografia e anexo.

1. Cooperativismo 2. Associativismo 3. Ramoscooperativos 4. Agribusiness I. Pires, Maria LuizaLins e Silva II. Silva, Emanuel Sampaio

CDD 334.098 1

Catalogação na FonteSetor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE

Impresso no Brasil – 2004

Projeto Gráfico:Edições Bagaço

Rua dos Arcos, 150 - Poço da PanelaCEP: 52061-180 Recife-PE

Tel: (81) 3441.0133 / 3441.0134E-mail: [email protected]

www.bagaco.com.br

ISBN: 85-7409-789-6

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Sobre os ASobre os ASobre os ASobre os ASobre os Autoresutoresutoresutoresutores

Emanuel Sampaio Silva - Doutorando emSociologia, Mestre em Administração e ComunicaçãoRural, Especialista em Associativismo/ Cooperativismo.Professor do Curso de Especialização em Associativismo/Cooperativismo da Universidade Federal Rural dePernambuco (UFRPE), leciona também na UniversidadeSalgado de Oliveira-UNIVERSO - Campus Recife. (co)autor de quatro volumes da Série Cooperativismo - EdiçãoSEBRAE: - Viabilidade do negócio cooperativo; - Comoformar e gerir um empreendimento cooperativo; -Planejamento estratégico e operacional de cooperativa e- Marketing aplicado à cooperativa.

E-mail [email protected]

Inessa Laura Salomão-Mestranda na Coordenadoriados Programas de Pós-graduação de Engenharia da Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro COPPE/UFRJ. Bacharelem Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo(USP). Consultora da Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO) em desenvolvimento deindicadores e sistemas de monitoramento e avaliação. Inte-grante do Projeto Desenvolvimento Solidário: geração derenda e ocupação da Prefeitura do Município de São Paulo.

E-mail [email protected]

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Jimmy Peixe Mc Intyre - Doutorando em educação.Mestre em Gestão de Cooperativas pela Faculdade deAdministração da Universidade de Sherbrooke-Canadá;especialista em Organização & Métodos; PsicólogoOrganizacional, professor e consultor. (co) autor de quatrovolumes da Série Cooperativismo - Edição SEBRAE: -Viabilidade do negócio cooperativo; - Como formar egerir um empreendimento cooperativo; - Planejamentoestratégico e operacional de cooperativa e - Marketingaplicado à cooperativa.

E-mail: [email protected]

João Guerreiro - Mestre em Planejamento Urbanoe Regional no Instituto de Pesquisa em PlanejamentoUrbano e Regional (IPPUR) da Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ) e Bacharel em CiênciasEconômicas na Universidade Federal Fluminense (UFF).Coordenador Geral da Incubadora Tecnológica deCooperativas Populares da COPPE/UFRJ. Organizadorda publicação "Integrar cooperativas".

E-mail: [email protected]

Maria Luiza Lins e Silva Pires - Doutora emSociologia. Professora do Departamento de Educação daUniversidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE),Coordenadora de ensino do Curso de Pós-graduação emAssociativismo/Cooperativismo da UFRPE. Autora dolivro "O cooperativismo agrícola em questão: um estudocomparativo entre cooperativas do nordeste do Brasil edo leste (Quebec) Canadá".

E-mail: [email protected]

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Paulo Peixoto Albuquerque - Doutor em Sociologiapela Université Catholique de Louvainola-Neuve,(Bélgica). Professor titular e pesquisador do Programade Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas daUniversidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos- RS.Tem como linhas de pesquisa: as transformações domundo do trabalho e associativismo/cooperativismo.

E-mail: [email protected]

Sandra Suely Soares Bergonsi -Psicóloga, Mestreem Educação. Professora do Departamento de Psicologiana área de Psicologia do Trabalho. Coordenadora deDesenvolvimento Social (órgão da Pró-Reitoria deExtensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná).Coordenadora do Programa Incubadora Tecnológica deCooperativas Populares

E-mail: [email protected]

Sidney da Conceição Vaz - Especialista em EnsinoSuperior. Bacharel em Ciências Econômicas pelaFundação de Estudos Sociais do Paraná. Professor daEscola Técnica da Universidade Federal do Paraná.Coordenador Administrativo-Financeiro da IncubadoraTecnológica de Cooperativas Populares da UFRPR.

E-mail: [email protected]

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AAAAApresentaçãopresentaçãopresentaçãopresentaçãopresentação

O cooperativismo está em evidência num momentoem que crescem os desafios impostos pela globalização daeconomia. Desafios no âmbito econômico - que requeratividades empresariais dinâmicas, capazes de concorrer numambiente de forte competitividade, e no âmbito social - queexige práticas mais includentes, capazes de atenuar os efeitosde um modelo econômico por natureza excludente. Ocooperativismo por ser uma atividade que congrega osindivíduos em torno de seus interesses econômicos e sociais,apresentando-se, concomitantemente, como uma estratégiade geração de trabalho e renda, parece acenar nas duasdireções.

O fato é que o cooperativismo vem sendo identificadona literatura enquanto uma opção importante na esferaeconômica, associado às políticas de desenvolvimento local,assumindo, ao mesmo tempo, uma dimensão política,enquanto via privilegiada de emancipação social. Sãodiscussões como essas que impõem ao movimentocooperativo novos desafios e oportunidades. O que requer,por conseguinte, que se situe historicamente esse fenômenoque remonta aos primórdios da industrialização,vislumbrando os seus desafios na contemporaneidade. É umpouco esse exercício que este livro procura fazer.

Na verdade, "Cenários e tendências do cooperativismobrasileiro" é resultado de um trabalho conjunto, realizadopor pesquisadores de quatro universidades brasileiras:

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,Universidade Federal do Paraná - UFPR, UniversidadeVale dos Sinos - UNISINOS e Universidade Federal Ruralde Pernambuco - UFRPE, sob a coordenação desta última,no âmbito das pesquisas desenvolvidas pela RedeUniversitária das Américas em estudos cooperativos eassociativismo.

A referida Rede conta com a participação de 22universidades, ficando a sua coordenação sob aresponsabilidade da Universidade de Sherbrooke -Canadá (Região América do Norte e Caribe),Universidade Javeriana - Colômbia (Região Andina);Universidade de Costa Rica (Região América Central):Universidade Federal Rural de Pernambuco (Cone Sul -parte norte) e da Universidade do Chile (Região ConeSul- parte sul).

Com efeito, a Rede, ao longo de seus dez anos deexistência1, vem estimulando o desenvolvimento depesquisas, a realização de seminários anuais, a publicaçãode artigos, a circulação da revista UniRcoop e o intercâmbiode professores e alunos que têm no cooperativismo/associativismo a sua principal fonte de investigação teórica.Com isso, a Rede vem-se tornando um fórum permanentede discussões sobre o cooperativismo no mundo acadêmico,disponibilizando, do mesmo modo, as especificidades dasmais diversas realidades empíricas.

Convém ressaltar que parte dos resultados aquiexpostos foi publicada na Revista UniRcoop sob o título"Panorama do Cooperativismo Brasileiro: História Cenários

1 Embora, já desde 1983, haja registro de cooperação do IRECUS(Instituto de pesquisa e de ensino para as cooperativas daUniversidade de Sherbrooke, Quebeque, Canadá) junto às demaisuniversidades coordenadoras da Rede.

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e Tendências" que, ao lado de várias outras experiênciasinternacionais das Américas também pertencentes à Rede,forma o segundo número da referida revista. Este livro,assim, constitui uma versão modificada e ampliadadaquela anteriormente publicada.

A metodologia desenvolvida neste trabalho seguiuos procedimentos comuns aos demais trabalhos realizadospelo conjunto de pesquisadores pertencente a Rede,facultando-nos, a posteriori, a possibilidade dedesenvolver algumas análises comparativas entre asdiversas experiências internacionais mencionadas. Talopção, entretanto, não nos impediu, em nenhum momento,de trabalhar com independência e criatividade nas nossasescolhas. E foi dentro desse espírito que dividimos asnossas tarefas a nível dos pesquisadores e universidadesintegrantes do núcleo Brasil.

Em decorrência da grande extensão territorialbrasileira e das especificidades regionais, optou-se porestruturar a pesquisa segundo a divisão geopolítica: Norte,Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste - privilegiando,tanto quanto possível, a inserção da universidade nasrespectivas regiões. Tomou-se como referência, em todosos casos, os principais fatos históricos responsáveis pelasdinâmicas específicas que deram ao cooperativismo decada região uma configuração particular.

Todos os pesquisadores utilizaram, como estratégiametodológica, a consulta sistemática aos acervosbibliográficos, documentos públicos e privados e consultasà Internet. A pesquisa contou ainda com um conjuntode dados secundários, coletados em organizaçõesrepresentativas do setor. Esses dados foram sistematizados,tendo como referência a discussão teórica sobre o assunto.

Finalmente, a estrutura do livro ficou organizadaem três partes principais: a primeira proporciona uma

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visão geral do movimento cooperativo brasileiro, tendocomo princípio norteador a contextualização domovimento em cada região do país. Em seguida, descreve-se o quadro atual do cooperativismo nacional, a partir deuma análise de ordem quantitativa e qualitativa, sugerindoas suas principais tendências. Por fim, com base na análisedos dados, identifica-se algumas das perspectivas docooperativismo no Brasil.

Considerando a incipiente e fragmentada fonte dedados sobre o cooperativismo brasileiro, a importânciamaior deste trabalho reside, muito provavelmente, noesforço de sistematização desses dados por uma equipede pesquisadores especializados no assunto, sedimentandoas bases para a compreensão do cooperativismo a partirde um enfoque regional e de sua dinâmica recente semprescindir, em nenhum momento, de uma posturaeminentemente crítica.

Para a Rede Cooperativa núcleo Brasil, construireste cenário sobre o cooperativismo representou mais doque um mero exercício baseado em critérios econômicos,mas a possibilidade de revisão de conceitos e idéias,vislumbrando uma nova compreensão do cooperativismoa partir dos seus limites e de suas possibilidades concretas.Estima-se, por essa razão, que os resultados aquidiscutidos possam trazer subsídios ao movimentocooperativo e às instâncias políticas, revitalizando aspráticas sociais, podendo, assim, contribuir para o êxitodo movimento cooperativo brasileiro.

Maria Luiza Lins e Silva Pires

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Apresentação ............................................................ 09

1. Antecedentes e identidade jurídica do cooperativismobrasileiro .............................................................. 15

2. Especificidades regionais do movimentocooperativo .......................................................... 212.1.A região Norte ................................................ 212.2.A região Nordeste ........................................... 222.3.A região Centro-Oeste ..................................... 262.4.A região Sudeste ............................................. 272.5.A região Sul .................................................... 32

3. As cooperativas existentes no Brasil ....................... 393.1. Distribuição geográfica das cooperativas .......... 413.2. Perfil do quadro social e administrativo ............ 44

3.2.1. Postos de trabalho .................................. 453.2.2. Participação feminina ............................. 45

3.3. Relações com o Estado ................................... 46

4. Peculiaridades dos ramos cooperativos .................... 494.1. O cooperativismo agrícola ............................... 504.2. O cooperativismo de consumo ......................... 564.3. O cooperativismo de crédito ............................ 59

SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

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4.4. O cooperativismo de educação......................... 654.5. O cooperativismo de habitação ........................ 684.6. O cooperativismo de infra-estrutura ................. 704.7. O cooperativismo de saúde .............................. 744.8. O cooperativismo de trabalho .......................... 794.9. Outros ramos do cooperativismo ...................... 82

4.9.1. Cooperativa Especial .............................. 824.9.2. Cooperativa de Turismo e de Transporte .. 83

5. Tendências e desafios do cooperativismo brasileiro . 85

Anexos .......................................................... 91

6. Referências bibliográficas...................................... 95

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1. Antecedentes e Identidade1. Antecedentes e Identidade1. Antecedentes e Identidade1. Antecedentes e Identidade1. Antecedentes e Identidadejurídica do cooperativismojurídica do cooperativismojurídica do cooperativismojurídica do cooperativismojurídica do cooperativismo

brasileirbrasileirbrasileirbrasileirbrasileirooooo

As primeiras experiências do cooperativismobrasileiro remontam ao final do século XIX, com a criaçãoda Associação Cooperativa dos Empregados, em 1891,na cidade de Limeira-SP, e da Cooperativa de Consumode Camaragibe - Estado de Pernambuco, em 1894. A partirde 1902, surgem as primeiras experiências das caixasrurais do modelo Raiffeisen, no Rio Grande do Sul e, em1907, são criadas as primeiras cooperativas agropecuáriasno Estado de Minas Gerais (OCB, 1996).

A literatura acusa um florescimento da práticacooperativa brasileira a partir de 1932, motivada por doispontos principais: a) o estímulo do Poder Público aocooperativismo, identificando-o como um instrumentode reestruturação das atividades agrícolas; b)promulgação da lei básica do cooperativismo brasileiro,de 1932, passando a definir melhor as especificidadesdaquele movimento diante de outras formas deassociação (Pinho,1996).

O cooperativismo brasileiro é amparado pela Lein. 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que exige umnúmero mínimo de 20 sócios para a sua constituição e érepresentado, formalmente, pela Organização das

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Cooperativas Brasileiras (OCB) em nível nacional e daOrganização Estadual de Cooperativas (OCE), em nívelde cada Unidade da Federação.

A Lei n. 5.764/71 está estruturada em 117 artigoscontidos nos seus dezoito capítulos. O Artigo 4 do CapítuloII da referida Lei define as cooperativas como "sociedadesde pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, denatureza civil, não sujeitas a falência, constituídas paraprestar serviços aos associados (...)". E o Artigo 79 doCapÍtulo XII define os atos cooperativos como sendo "ospraticados entre as cooperativas e seus associados, entreestes e aqueles e pelas cooperativas entre si quandoassociados, para a consecução dos objetivos sociais."2

Tanto a lei específica sobre o cooperativismo de1971 quanto a criação da OCB em 1969, ainda que tenhampermitido maior definição das especificidades dascooperativas no Brasil, representaram forte ingerência doEstado no funcionamento destas organizações. Há de sesalientar, neste sentido, que o panorama político-institucional do momento era de ditadura militar.

Outro aspecto legal a ser destacado está relacionadoà criação da Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999,que criou e normatizou as cooperativas especiais, as quaissão destinadas a auxiliar pessoas em "situação dedesvantagem" a se inserirem no mercado3.

2 Pela sua natureza civel, as cooperativas são regidas também pelocódigo civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que passoua vigorar a partir de 11 de janeiro de 2003.

3 Os deficientes psíquicos e mentais, os dependentes químicos, osegressos da prisões, os condenados a penas alternativas à detençãoe os adolecentes em idade adequada ao trabalho e situação familiardifícil do ponto de vista econômico, social ou afetivo.

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Porém, desde a aprovação da Constituição de 1988quando a prática cooperativa se desvincula do Estado,vários projetos de lei passam a tramitar pelo CongressoNacional com o propósito de alterar a Lei 5.764/714.Pretende-se, com isso, ampliar as margens de ação diantede um mercado globalizado e diminuir as "brechas legais",de forma a inibir práticas fraudulentas das chamadas"cooperativas de fachada" (Pires, 2004).

Na verdade, discute-se, hoje, na literatura, que alegislação cooperativa vem sendo modificada no mundointeiro como forma de atender às novas expectativaseconômico-produtivas, de modo a permitir maiorflexibilidade do movimento frente às novas conjunturasde mercado (Zevi & Campos, 1995; Pires, 2004; Pires& Cavalcanti, 2000). No caso brasileiro, o esforço derevitalização das práticas cooperativas se inscreve dentrode um movimento mais amplo de modernização dasatividades e de ampliação da democracia, e ganharessonância com as discussões sobre economia solidária/ terceiro setor. Estas, aliás, vêm sendo a tônica dosdiscursos da academia e dos órgãos de representaçãodo cooperativismo. Tal perspectiva se distancia daquelaobservada nos anos 80 quando a literatura foi pródigaem denunciar o movimento cooperativista do país dentrodas diretrizes de uma "modernização conservadora" emque o Estado atuava de forma autoritária e centralizada.5Esse modelo de modernização foi acusado pela literatura

4 Art. 5o., inciso XVIII do texto constitucional: A criação e, naforma da lei, a de cooperatrivas independem de autorização sendovedada interferência estatal em seu funcionamento.” Apesardisso, o poder público ainda assegura um programa de apoio àsassociações, e mais particularmente às cooperativas, através doMinistério da Agricultura e do Abastecimento (MA).

5 Ver, sobre o assunto, Loureiro (1981) entre outros.

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de favorecer médios e grandes agricultores voltados àcultura de exportação, em detrimento de uma agriculturade subsistência desenvolvida pela agricultura de basefamiliar (Schneider,1981). O modelo adotado no Brasil,à semelhança de outras experiências na América Latina,utilizou o cooperativismo como instrumento de controlesocial e político. Como bem observa Rios (1989),diferentemente da Europa, onde o cooperativismo surgecomo uma forma de organização proletária, no Brasil,ao contrário, representa a promoção das elites políticase agrárias. Eis a razão pela qual, como observa commuita propriedade Develtere (1998:11), muitas dessasexperiências representaram "grandes esperanças elamentáveis fracassos".

Ainda que tenha havido, predominante, um caráterconservador na implementação do cooperativismobrasileiro, pode-se dizer, ainda assim que, devido à grandeextensão territorial e uma política que acentuou asdesigualdades regionais, não se pode falar de um únicocooperativismo no país. Assim sendo, como assinalaSchneider (1981; 19), a distribuição desigual da presençae do peso econômico do cooperativismo expressa a"dinâmica do modelo de acumulação de capital vigenteno país, cuja característica fundamental é odesenvolvimento desigual da sociedade brasileira". Ecomo exemplifica Rios (1989), nesse sentido:

"Existe um cooperativismo de elites e umcooperativismo dos pés-no-chão; um cooperati-vismo legalizado, letrado e financiado e umcooperativismo 'informal', 'sem lei e sem documen-to', não financiado e mesmo reprimido. Ocooperativismo não está pois 'imune' à divisão dasociedade em classes."

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Convém ressaltar, entretanto, que a diferençaregional do cooperativismo brasileiro foi motivada, dentreoutros fatores, pela forte influência de imigrantes -alemães, italianos e japoneses - instalados nas regiões Sule Sudeste, muitos dos quais já traziam algumasexperiências no campo do associativismo, servindo debase para a estruturação do cooperativismo em basescompetitivas.

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2. Especificidades regionais do2. Especificidades regionais do2. Especificidades regionais do2. Especificidades regionais do2. Especificidades regionais domovimento cooperativomovimento cooperativomovimento cooperativomovimento cooperativomovimento cooperativo

O Brasil se caracteriza por uma vasta extensãoterritorial, estando subdividido em cinco regiões, queapresentam perfis diferenciados no que diz respeito aoprocesso histórico de organização e estruturação docooperativismo.

2.1. Região Norte2.1. Região Norte2.1. Região Norte2.1. Região Norte2.1. Região Norte

A região Norte do Brasil ocupa cerca de 45% doterritório nacional. Com densa floresta tropical, a ocupaçãoterritorial e a atividade econômica dessa região foramcondicionadas ao extrativismo vegetal e mineral ao longoda bacia do rio Amazonas.

Neste contexto, no início do século XX, o movimentocooperativo vai se expandir através das cooperativasextrativistas, sobretudo voltadas para a exploração da borracha.No entanto, apesar de essas cooperativas explorarem umproduto de boa aceitação no mercado internacional elas vãose deparar com uma série de dificuldades para umdesenvolvimento eficaz como: as grandes distâncias, adificuldade de deslocamento, a insuficiência dos meios detransporte e a escassez de mercados consumidores provocadapelo reduzido povoamento da região e pela falta de uma políticagovernamental para o setor.

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Somente a partir da década de 70, com a políticagovernamental de integração e povoamento da Amazô-nia, instala-se uma infra-estrutura na região Norte capazde favorecer o desenvolvimento econômico. Este fatoprovocou a diversificação das atividades produtivas, pos-sibilitando, concomitantemente, o surgimento de novascooperativas agrícolas, de mineração e de trabalho.

Neste mesmo período, destaca-se ainda a políticade apoio das organizações não governamentais, comoapoio à organização dos povos indígenas do norte brasi-leiro em bases cooperativas. Surge, neste período, a coo-perativa de borracha dos índios seringueiros Kaxinauá(população indígena mais numerosa do Estado), fundadaem 1983, constituindo-se na primeira iniciativa deste gê-nero. Em 1989, os índios Ashaninka se organizaram emcooperativa com vistas à comercialização - no mercadonacional e internacional - de mudas de plantas, óleo demurmuru e copaíba, artesanato e instrumentos musicais.

Não obstante, a ausência de uma política global dedesenvolvimento regional, bem como a dificuldade de aspequenas cooperativas acessarem recursos financeiros,equipamentos e a infraestrutura que lhes permitam me-lhorar a sua capacidade de produção, são razões que jus-tificam, em grande parte, a estagnação de algumas des-sas experiências e dificultam, na região Norte, a apariçãode práticas dinâmicas e competitivas.

2.2. Região Nordeste2.2. Região Nordeste2.2. Região Nordeste2.2. Região Nordeste2.2. Região Nordeste

O marco histórico do cooperativismo nordestinoestá associado ao setor de consumo. Considerada dentreas primeiras experiências do cooperativismo brasileiro, acooperativa de Consumo dos Operários da Fábrica de

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Tecidos de Camaragibe - Pernambuco, foi fundada nosanos de 1892 a 1895 por iniciativa de Carlos AlbertoMenezes, então gerente daquela fábrica. Porém, aexemplo das demais regiões do país, foi no setor agrícola,em função da implementação das políticas oficiais, que ocooperativismo mais se expandiu. Dados relativos a 2001acusam, na atividade agrícola, uma concentração de maisde 30% de cooperativas nordestinas. Há de se ressaltartambém que, está no Nordeste, a segunda maiorconcentração de cooperativas - 21,8 % do total, segundoregistros da OCB de 2001 - perdendo apenas para a regiãoSudeste.

Entretanto, para uma compreensão mais nítida dadinâmica do cooperativismo nordestino, faz-se necessárioressaltar algumas especificidades desta região. O Nordestecaracteriza-se por ser uma região de contrastes, marcadapor forte heterogeneidade e complexidade, não somenteem termos de clima, vegetação, topografia, cultura, mas,especialmente, em termos econômicos. Essa regiãoconvive, simultaneamente, com situações de extremapobreza - típicas de países subdesenvolvidos - e comníveis de produção e consumo semelhantes aos dos paísesde capitalismo avançado (Garcia, 1984; Araújo, 1997).

A história do cooperativismo nordestino, nessecontexto, evidencia os mesmos contrastes, reproduzindoum modelo concentrador e excludente, que teve numaestrutura agrária voltada para o latifúndio e para o setoragroexportador a sua base de sustentação.

Situação, por sua vez, que estimulou a criação demuitas cooperativas como fonte de poder e influência deuma classe dominante, mantendo em seus quadrosdirigentes um grupo de poder local, em detrimento dosinteresses da ampla maioria dos cooperados. Essesúltimos, em função de um nível socioeconômico

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desfavorecido, se reservavam, quase sempre, a acatar asdeterminações do grupo mais forte economicamente.Assim sendo, constata-se que, no caso das cooperativasdo Nordeste, a autoridade e o poder foram exercidoshistoricamente pelos dirigentes e não pelo conjunto dosseus associados (Mc Intyre, 1997).

Neste sentido, grande parte das cooperativas ruraisno Nordeste esteve organizada a partir de uma estruturade classes, na qual os postos de comando sempreestiveram preenchidos pelos grandes proprietários e pelaslideranças políticas locais e regionais, atendendo abenefícios de pessoas e de grupos específicos. Eis a razãopela qual o cooperativismo nordestino foi maisidentificado como instrumento de controle do que demudança social, tendo servido, muitas vezes, comoinstrumento de transferência de recursos financeiros paraos grandes produtores (Rios, 1989; Mc Intyre, 1997).

Tais questões trouxeram repercussão direta para ocampo da gestão das cooperativas agrícolas. A carência deplanejamento a curto e médio prazos associada a uma fracacapacidade de investimento de capital, utilização de mão-de-obra sem qualificação e controle financeiro-contábilcondicionaram um baixo nível de competitividade econseqüentemente de capitalização das cooperativas,notadamente nas de pequeno porte (Vienney & Desforges,1980; Schneider, 1981; Mc Intyre, 1997; Silva, 2000).

Todavia, estudos recentes minimizam o peso docontexto sócio-político-institucional na dinâmica dealgumas experiências, sinalizando a capacidade decapitalização e de concorrência das empresas cooperativasem contextos de pouca tradição das práticas cooperativas(Pires, 2004). Isso é particularmente possível a partir daadoção de um estilo de governança e de vários arranjos

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empresariais como: introdução de novas tecnologias,ampliação de oferta do produto no mercado e adequaçãoàs exigências ditadas por clientes internacionais, viaaprimoramento nos processos de qualidade e sanidade dosprodutos. Ainda segundo Pires (2004), o tipo de gestão doempreendimento e nível de tecnologia adotado, o nível departicipação dos associados, bem como seus compromissosem relação à empresa, parecem ser os fatores mais decisivosno sucesso do empreendimento. Assim, os seus estudosrevelam que o cooperativismo agrícola tem servido comoinstrumento importante de integração produtiva às cadeiasde alimentos numa economia globalizada.6 Ainda para aautora, tal fato evidencia que o dinamismo de uma dadacooperativa, independentemente de onde ela se localize,vai ser definida a partir da capacidade de organização daprodução e do jogo de relações expressos entre asimposições produtivas globais e a capacidade de respostasem nível local. O que, como ressalta, não implica desprezaro peso do aparato institucional, da legislação cooperativae da cultura organizacional sobre a dinâmica docooperativismo.

Constata-se, hoje, no Nordeste, um esforço derevitalização das práticas cooperativas, através dosdiversos fóruns realizados em vários estados, na suagrande maioria promovidos pelas entidadesrepresentativas do cooperativismo e pelas universidades,sobretudo no que diz respeito à formação do seu quadrosocial e à capacitação dos seus dirigentes.

6 A autora fez um estudo comparativo entre cooperativas agrícolasno Nordeste do Brasil e do Leste (Quebec) do Canadá, tomandocomo referência, no caso nordestino, a Cooperativa AgrícolaJuazeiro da Bahia, situada num importante pólo de fruticulturado país – o Vale do São Francisco.

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Assim, cada vez mais, as cooperativas,independentemente de onde estejam localizadas, terão quese capacitar e reformular suas práticas democráticas noprocesso de autogestão, passando pela apropriação deferramentas adequadas de gestão organizacional que lhespermitam ocupar um espaço de destaque no mercadolocal, regional e nacional.

2.3. Região Centr2.3. Região Centr2.3. Região Centr2.3. Região Centr2.3. Região Centrooooo-----OesteOesteOesteOesteOeste

A região Centro-Oeste, após um período de ocupaçãoque se baseou na exploração do ouro, apresentou um grandeperíodo de estagnação, tendo por atividade econômicaprincipal a agricultura extensiva.

Após a criação de Brasília e a transferência da CapitalFederal no ano de 1960, teve início uma nova fase dedesenvolvimento regional, sobretudo na década de 80, como surgimento do Programa de Cooperação Nipo-Brasileiropara o Desenvolvimento do Cerrado - PRODECER. Esteprograma impulsiona, na região Centro-Oeste, osurgimento de uma série de iniciativas cooperativas, tantona área rural como na área urbana.

Neste mesmo período, cresce a demanda porhabitações na nova capital federal e, apoiada por umapolítica governamental específica, começa a surgir umgrande número de cooperativas habitacionais. Ocrescimento sócioeconômico também estimula osurgimento das cooperativas educacionais e agrícolas. Estasúltimas resultantes de políticas públicas voltadas para aocupação do cerrado da região Centro-Oeste.

Ainda nesta região, a formação de cooperativasagrícolas é também, em parte, atribuída à estratégia pelaqual pequenos e médios agricultores da região Sul e Sudeste

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ampliaram a produção de commodities como soja e milho,através do aumento da área cultivada. Ressalta-se tambéma importância do Programa de Desenvolvimento Agro-ambiental do Estado de Mato Grosso - PRODEAGRO -no estímulo à organização em cooperativas dos pequenosprodutores da região.

Vale ressaltar, neste sentido, que alguns estados doCentro-Oeste, dentre os quais o de Mato Grosso,estabeleceram políticas específicas para o cooperativismo.Todavia, foi no Distrito Federal onde mais se legislouem prol do estabelecimento de normas legais de apoio aocooperativismo, suscitando políticas públicas voltadas aoestímulo da criação de cooperativas.

Por fim, a discussão em relação ao papel docooperativismo como agente promotor do desenvolvimentoregional tem resvalado na questão da ainda incipientecoesão e interação entre as cooperativas, dificultando umaparticipação mais expressiva nas economias locais.

2.4. Região Sudeste2.4. Região Sudeste2.4. Região Sudeste2.4. Região Sudeste2.4. Região Sudeste

A região Sudeste caracteriza-se por sua importânciasocial, política e econômica desde o início do século XX.No passado, foi a região onde esteve situada a capital darepública e a base econômica do país voltada para aprodução do café e do leite. Produção esta centradabasicamente em cima de grandes e médias propriedadesrurais, permitindo a esta classe produtiva o controle dopoder político (Panzutti, 1997).

O modelo de produção e exportação de commoditiesna região proporcionou a capitalização dos produtoresrurais, bem como o surgimento de novas atividadesurbanas, constituindo-se a base para o processo deindustrialização nacional.

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É neste contexto que se consolidam as experiênciasdo cooperativismo no Sudeste, agrupando, de um lado, umaclasse produtora rural detentora do poder econômico epolítico e, de outro, grupos de trabalhadores urbanos reunidossob as cooperativas de consumo.

Consideradas como berço do cooperativismobrasileiro, as primeiras cooperativas da região Sudesteremontam ao final do século XIX7. Entretanto, ocooperativismo, nessa região, vai começar a se fortalecerem termos socioeconômicos a partir da década de 1920. Umimportante ato constitutivo do cooperativismo ocorreu coma fundação do Banco Agrícola de Pirassununga,influenciando o cooperativismo de crédito em São Pauloque, desde essa época, já começa a se apresentar como omais importante Estado do Sudeste sobre o temacooperativista.

A fundação da Cooperativa Agrícola de Cotia (1927)deu novo impulso ao cooperativismo agrícola. Estacooperativa que, a princípio, só comercializava batatas,passou, a partir da incorporação da Cooperativa de Hortaliçasde Cotia (1934), a transformar a sua área de abrangênciacomo o mais importante cinturão verde de São Paulo.

Nos anos 30, surge uma série de incentivosgovernamentais fiscais às cooperativas, como isenção deimpostos que recaíam sobre atividades mercantis, isençãodo imposto de renda e do imposto federal do selo paracapital social, livros de escrituração e documentos. Em1933, foi criado o Departamento de Assistência ao

7 Segundo Pinho (1996), duas cooperativas de consumo do Sudestesão consideradas as precusoras do cooperativismo brasileiro –Associação Cooperativista dos Empregados da CompanhiaTelefônica (Limeira/SP, 1891) e a Cooperativa Militar deConsumo (Rio de Janeiro/DF, 1894)

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Cooperativismo do Estado de São Paulo, primeiro institutooficial do gênero fundado na América Latina. Em 1938,através de um convênio entre o governo paulista e ofederal, esse departamento ficou incumbido das funçõesde Delegado da Diretoria de Organização de Defesa deProdução, do Ministério da Agricultura, para execuçãodas leis sobre o cooperativismo em São Paulo.

Em termos nacionais, o Estado de São Paulotambém influenciou o sistema cooperativo com oestabelecimento de incentivo à formação de cooperativasna Constituição Estadual de 1937.

Esse interesse do poder público pelo cooperativismoatrela-se às mudanças que estavam ocorrendo no país,com a expansão da indústria nacional, além dapreocupação do Estado com o abastecimento do mercadointerno, em virtude das dificuldades advindas da II GuerraMundial. A partir daí, perseguindo a política deorganização da produção e do consumo, surgiram váriascooperativas, em diversas áreas da região, incluindo ascooperativas agrícolas mistas e o modelo das cooperativasagroindustriais, todas com o mesmo objetivo deabastecimento do mercado interno.

O governo federal, em fins dos anos 50, empenhou-se em organizar cooperativas de produtores de café nosEstados de São Paulo e Rio de Janeiro, expandindo ocooperativismo deste setor para exportação. Entretanto, esteapoio acaba influenciando mais o cooperativismo agrícolano Estado de São Paulo do que no Rio de Janeiro. Isto vemexplicar o salto de quatro cooperativas de produtores decafé na década de 1950 para 27, na década de 1960.

A partir dos anos 70, o Estado passa a utilizar ocooperativismo como instrumento de modernização daagricultura, ou seja, para a expansão do capitalismo no

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campo, trazendo impactos principalmente para ocooperativismo agrícola de São Paulo e de Minas Gerais.Os próprios órgãos de incentivo e apoio estruturaram essenovo perfil, mais moderno e empresarial. Preocupado emalicerçar as cooperativas agrícolas, segundo os moldes maisempresariais, o governo investiu em cursos de treinamentoe preparação do corpo técnico e executivo das cooperativas,aglutinando os mecanismos do setor capitalista sem,todavia, perder a especificidade de uma sociedadecooperativa.

Observou-se, nesta década, um processo de incor-poração e de fusão que se concentrava predominantementena agropecuária paulista. Inicia-se, além disso, uma ten-dência de as cooperativas se associarem a outras singula-res, num processo de integração, com o objetivo decomplementarem os serviços prestados aos seusassociados.

Consideradas por vários economistas como a "décadaperdida", 1980, ao menos em termos das práticascooperativas, pode ser vista como expansão dascooperativas de trabalho. Fenômeno que se repete, aliás,durante toda a década de 1990. Segundo Singer & Souza(2000), a reestruturação produtiva e a crise industrial dosanos 80 vieram acompanhadas de exemplos significativosde cooperativas formadas por ex-funcionários queassumiam a massa falida das empresas onde trabalhavam,representando, ainda segundo os autores, o principalfenômeno associado ao cooperativismo de trabalho. Aliadoao crescimento expressivo das cooperativas de trabalho, osurgimento das cooperativas associadas a empresasfamiliares e as cooperativas em assentamentos detrabalhadores sem-terra tornam-se os principais expoentesdo movimento cooperativista na Região Sudeste nas duasúltimas décadas do século XX.

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Cabe sublinhar nesta visão panorâmica docooperativismo na Região Sudeste do Brasil, ummovimento que se inicia em meados da década de 1990no Rio de Janeiro e alcança o país em menos de seis anos.Trata-se do programa de extensão universitária daIncubadora Tecnológica de Cooperativas Populares(ITCP), originário da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia da Universidade Federal do Riode Janeiro (COPPE/ UFRJ), que teve início em 1995. Oobjetivo desta iniciativa era utilizar os recursos humanose conhecimento da universidade na formação, qualificaçãoe assessoria de trabalhadores para a construção deatividades autogestionárias cooperativas visando a suainclusão no mercado de trabalho (Guerreiro & Inessa,1999; Guimarães, 1999).

O conceito que consubstancia este projeto parte doprincípio de que a universidade, quando responsável pelaproposição e execução de um projeto de intervençãoeconômica e geração de trabalho e renda, como asIncubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares(ITCPs), acaba desenvolvendo de forma plena seuspreceitos de extensão universitária (UNITRABALHO &ICCO, 2002).

Historicamente, então, o programa está intimamenterelacionado a uma busca de resposta aos efeitossocioeconômicos gerados pelo movimento definanceirização da economia e pela reestruturaçãoprodutiva, somados à privatização das empresas públicasbrasileiras. Ou seja, as ITCPs visam a dar uma respostatanto aos trabalhadores desempregados quanto àquelesque nunca conseguiram ser incluídos no mercado detrabalho - os ditos "informais".

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Vale ainda sublinhar que se, por um lado, ocooperativismo agropecuário no Sudeste apresenta-se cadavez mais profissionalizado, mecanizado e competitivo aonível global, por outro, o ramo de atividade que mais cresce- cooperativas de trabalho - concentra um enorme contingentede cooperados com baixa qualificação profissional eeducacional.

Finalmente, é possível observar que os principaisdesafios estão relacionados à: criação de um sistema decrédito às cooperativas que consiga beneficiar tanto ascooperativas ligadas ao agronegócio, como as cooperativasde trabalho de baixa tecnologia e valor agregado; ampliaçãodas assessorias às cooperativas em todo o Sudeste; criaçãode um marco legal do cooperativismo ao nível dos principaismunicípios da região, com poder de influenciar outrosmunicípios na concessão de benefícios na constituição decooperativas formadas por população oriunda de áreas deexclusão social; ampliação do impacto das ações dasuniversidades do Sudeste relacionadas não apenas àscooperativas populares, mas também na condução daformação de quadros qualificados para a gestão de complexoscooperativos, e revitalização do papel da universidade nadiscussão ampla dos princípios do cooperativismo, visandoa maior democracia interna nas decisões do grupo emobilidade nos órgãos diretivos, com ampliação daparticipação feminina nestes órgãos e conselhos.

2.5. Região Sul2.5. Região Sul2.5. Região Sul2.5. Região Sul2.5. Região Sul

O cooperativismo na região Sul deve ser entendidocomo um processo descontínuo, fundado na pluralidadede práticas sociais datadas e localizadas historicamente(alemães, italianos e experiências cooperativas derivadas

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dos nossos grupos étnicos) que, ao propor a autonomia do"nós", qualificou um tipo de relação social - a cooperaçãoentre pessoas, já que o sentido destas práticas sociais tinhapor base a reciprocidade, a confiança, o respeito ao outro.

No Brasil e em especial na região Sul, este tipo deação associativa qualificada tem seus fundamentos naspráticas da comunidade indígena (mutirão), na ação dosjesuítas e no seu "projeto civilizatório" (1610) eprincipalmente na ação do médico brasileiro Jean MauriceFaivre que, em 1847, no Paraná, fundou a colônia TerezaCristina, organizada em bases cooperativas "fourierianas".

Com efeito, na região Sul, o cooperativismo traduz-se em um movimento de duas vertentes: a primeira,resultado de uma ação coletiva mais plural, e a segunda deorigem estatal e vinculada a uma política de governo quepode ser visualizada em três momentos, descritos a seguir:

O primeiro momento ocorreu no início do século XXe constituiu-se nas bases do cooperativismo.

Não se pode dissociar a emergência do movimentocooperativo, que se inicia no Rio Grande do Sul em 1902com Theodor Amstadt8, das pressões da economiainternacional aliada aos processos de organização dosEstados-Nações na América. Instaura-se uma forma deatuar do Estado, em que a questão social das áreas rurais ede colonização passa a ser elemento tangencial e secundárionas propostas e projetos de desenvolvimento.

Este cenário concorre para que, no interior do Brasile, em especial, na Região Sul, se desenhe uma configuraçãosocial fragmentada e imensamente diversificada, seja pelaemergência de grupos demandantes de múltiplos interesses

8 Theodor Amstadt organizou a primeira caixa rural cooperativado Brasil e da América latina (Linha Imperial Nova Petrópolis).

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e de múltiplas identidades, seja pela diferenciação que seapresenta nas novas formas de organização do processoprodutivo (pequena propriedade), no agir político e nocomportamento da sociedade civil isolada e nãoparticipativa, porque estrangeira e/ou minoritária(Oliveira, 2001).

Evidentemente, que nestas primeiras três décadas docooperativismo do século XX os imigrantes exerceram umpapel de destaque porque tiveram a capacidade dedesenvolver suas próprias soluções para questões de fundo;tal fato marca o cooperativismo de forma singular porqueo associativismo se evidencia como alternativa concretapara evitar a dissociação crescente da vida cotidiana(universo instrumental da economia) dos valores e sentidosque pautavam o comportamento das pessoas (universosimbólico das culturas) e o vazio social e político das áreas/regiões de colonização (Schneider, 1998).

Neste período, o cooperativismo traduz açõesestratégicas individuais e coletivas cuja meta não é criaruma outra ordem social, mas acelerar as mudanças, omovimento, a circulação de capitais, bens, serviços,informações, atuando como substituto do Estado napromoção do desenvolvimento nas áreas rurais (Duarte,1986).

O quadro de dissociação crescente dos gruposinterioranos de seus valores e o vazio social indicam queas dificuldades de constituição de sujeitos sociais foi aprimeira realidade enfrentada na região sul, principalmenteporque, no início do século XX, no interior das áreas rurais,a questão do sujeito social (coletivo) só era entendida apartir do modelo institucional e representativo (que tinhanas associações políticas seu modelo mais significativo) e,por isso mesmo, as demandas eram elaboradas e delineadasinstitucionalmente de forma compartimentada a partir da

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divisão de temáticas que valorizavam as lutas na ótica dacidade (Singer & Souza, 2000).

Os anos de emergência do cooperativismo secaracterizaram, na região Sul, principalmente pela existênciade articulações plurais nas quais os indivíduos buscam nocoletivo construir estratégias de sobrevivência de um mundoestranho e em transformação. Percebe-se, assim, que, naafirmação dos princípios cooperativos, o "sujeito coletivo"construído pelos imigrantes adquiriu um sentido social maisamplo, na medida em que transforma uma estratégia desobrevivência em um movimento social.

Cada movimento de "resistência" organizado pelocooperativismo daquela época deve ser entendido como ummovimento de mudança, na medida em que na cooperativao grupo de associados tinha que inventar e diferenciar-sedaquilo que já existia (carências e demandas não atendidas)para construir um outro futuro: o desenvolvimento daquiloque antes se encontrava envolvido numa coexistênciaindiferenciada e de precariedade.

O segundo momento pode ser delineado como os anosda tutela e do controle, estando situado entre as décadas de40 e 70. Neste período, essa nova configuração docomportamento social se consolida na região Sul, fincandoraízes na ação social e no próprio processo social.

Do surgimento de cooperativas de eletrificação rurale telefonia (1941), das primeiras federações de cooperativas(1952) e do desdobramento acentuado das cooperativas deprodução (madeira, tritícolas, 1956), percebe-se acomplexidade do movimento na emergência deempreendimentos tão diversificados quanto complementares(OCB, 1997).

Por outro lado, a nova configuração da economiamarcada pelo cenário internacional de pós-guerra con-corre para uma política governamental de incentivo às

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cooperativas de produção ligadas ao setor rural (mais sig-nificativo economicamente), tornando-as cada vez maisdependentes das políticas do Estado.

Face às políticas do Governo Federal concedendoisenções tributárias e facilidades de crédito, há ocrescimento significativo de um movimento cooperativopassivo que reage apenas aos estímulos de um modeloeconômico determinado pelo Estado. É neste período quesurgem as cooperativas habitacionais (1963) e ocorre odeclínio das cooperativas de crédito rural, motivado pelalei de Reforma Bancária de 1964, causando odesaparecimento de quase todas as cooperativas destesegmento. Ainda neste período, o cooperativismo deixade ser um espaço plural e democrático para transformar-senum instrumento das políticas governamentais e de apoioao modelo econômico agro-exportador (Benecker, s/d).

Por fim, o terceiro momento pode ser denominadode reafirmação de um espaço plural, tendo sido iniciadona década de 80.

A nova configuração da economia, marcada pelastransformações tecnológicas da informática e damicroeletrônica, concorre para que o contexto social desteperíodo se caracterize por uma crescente e cada vez maiorinterdependência nas relações mundiais. Interdependênciaque - associada à valorização excessiva do liberalismo -configura, não só em nosso país, uma profunda crise socialrepresentada por índices crescentes de desemprego, miséria,desigualdades e exclusão social.

Neste sentido, os anos 80/90 concorreram para umesforço de releitura do movimento cooperativista naregião Sul, onde a mutabilidade das ações sociais ésinalizada pela horizontalidade na formação de redes,favorecendo um modo diferenciado de pensar a economiaa partir da cooperação.

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Se, até recentemente, o cooperativismo, enquantosistema, proporcionava uma forma de organização daprodução e social pautado na circulação de capitais, bens,serviços, informações - hoje ele aparece como umaalternativa de pensar o econômico a partir de umapluralidade de ações e possibilidades. Pluralidadenecessária nas sociedades contemporâneas, cujas basesse vêem confrontadas com os limites do modelo propostopela sociedade industrial, evidenciando uma criseinstitucional profunda da própria sociedade industrial.

Neste sentido, a emergência de novas cooperativas(educacionais, saúde, trabalho, turismo e lazer, infra-estrutura, especial), muito mais do que uma estratégia desobrevivência em uma sociedade de risco, aponta para aruptura de uma política de continuidade, sinalizando umpensar o econômico sob outras perspectivas.

O crescimento do cooperativismo na região suldificilmente pode ser passível de compreensão sem a idéiade descoberta, de avanço das formas organizativas nasáreas urbanas que se dão de forma dispersa e longe dosprocessos de controle ou monitoramento promovidospelas Organizações Cooperativas dos Estados- OCE´s. Épor isso que as causas do fenômeno associativo ecooperativo na Região Sul já não parecem encontrar-seno passado, mas no futuro. As considerações a seguirorientam no sentido da compreensão do cenário docooperativismo na região Sul.

a) Afirma-se como um modo do agir coletivo segundoo qual os princípios da ação social se formam naexperiência concreta, concorrendo historicamente,por um lado, para a formação de diferentes setoresprodutivos (são expressivos os indicadores de

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crescimento no segmento trabalho e crédito) e, deoutro, para a consolidação de uma estratégia dedefesa de grupos sociais marginalizados pelaspolíticas macro-econômicas (a emergência decooperativas de produção, infra-estrutura, traduzemeste movimento);

b) Resulta de um conjunto de ações realizadas porpessoas mobilizadas a partir de um projeto, quebusca superar dificuldades em função de uminteresse comum e que, na maior parte das vezes,mesmo revelando-se sem fins lucrativos, consegueser gerador de trabalho e renda (é expressivo comoos valores do capital social conseguem alavancar ocrescimento dos empreendimentos cooperativos).

O sistema cooperativista na região Sul, assim comono restante do país, mesmo atuando sob os limites daspolíticas de Estado governamentais, se evidencia comoum espaço sócioeconômico capaz de qualificar acooperação pelo ato imediato de reunir pessoas e/ou forçasde cada um para produzir uma força maior.

O volume de capital social dos empreendimentoscooperativos aponta para o aproveitamento daspotencialidades atuais das comunidades. Muito mais doque PIB cooperativo (valor de faturamento), os dadosapontam para um capital social existente na Região quepode ser compreendido, como define Puttnan (1996),como uma amálgama de elementos como confiança,coesão social, civismo, lutas e projetos conjuntos quefacilitam a cooperarão para o benefício mútuo em umasociedade.

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3 As cooperativas existentes3 As cooperativas existentes3 As cooperativas existentes3 As cooperativas existentes3 As cooperativas existentesno Brasilno Brasilno Brasilno Brasilno Brasil

Antes de mais nada, é necessário ressaltar que, parafacilitar a compreensão da dinâmica do movimentocooperativo brasileiro faz-se necessário observar onúmero de organizações existentes, o volume de negócios,sua distribuição nas regiões do país, o perfil do quadrosocial e os ramos de maior representatividade, dentreoutras variáveis. Essas questões serão analisadasdetalhadamente nos próximos capítulos.

A partir da década de 90, o cooperativismobrasileiro vem apresentando um crescimento efetivo nonúmero de organizações, tendo essa tendência ainda maisacentuada, a partir da metade dessa mesma década.

Assim, em 1990, podemos constatar a existênciade 4.666 cooperativas registradas no DepartamentoNacional de Registro Comercial (DNRC), saltando para20.579 cooperativas em 2001. Isso equivale a umcrescimento de 331% no número de cooperativas no Brasilem uma década.

Esta mesma tendência de crescimento também podeser verificada quando analisamos os números decooperativas filiadas à maior entidade representativa docooperativismo brasileiro - a Organização das CooperativasBrasileiras (OCB). No ano de 1990, a OCB possuía 3.440

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cooperativas afiliadas, número que saltou para 7.026cooperativas em 2001, apresentando um crescimento de104% ao longo da década de 90 (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Evolução do número de cooperativas noregistradas no DNRC e no sistema OCB entre 1990 e 2001

Fonte: OCB, 2002 e DNRC, 2002

A constatação de registros diferentes divulgadospelas entidades, indicando um número bem maisexpressivo no DNRC quando comparado à OCB, justifica-se pelo fato de a exigência governamental condicionar ofuncionamento das cooperativas ao registro neste órgãooficial. O mesmo não acontece em relação à OCB, ondea filiação torna-se optativa.

Podemos constatar um intenso fenômeno decriação e constituição de cooperativas no Brasil a partirde 1996, onde se contabilizou uma média anual de 2.193novas cooperativas, superior, portanto, à média decrescimento entre 1990 e 1995, que era da ordem de615 novas organizações por ano. Este fato é atribuído aocenário econômico brasileiro que se instalou no Brasil apartir de 1994 com o processo de estabilização monetária(Plano Real). Contribui também para isso, o processo

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massivo de terceirização das atividades públicas eprivadas por meio das cooperativas, favorecido por umdispositivo legal - Lei no. 8.949/ 94 que altera o artigo442 da Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT.

Por outro lado, a taxa de encerramento formal deatividades das cooperativas apresentou também uma altataxa de crescimento em termos percentuais. Todavia, emtermos absolutos, verifica-se que este número ainda ébastante inferior ao número de novas cooperativas quesurgem no Brasil. No período de 1990 e 1995, uma médiade 18 cooperativas encerravam oficialmente suasatividades por ano, enquanto que, a partir de 1996, estamédia subiu para 58 cooperativas fechadas anualmente.

3.1. Distribuição geográfica3.1. Distribuição geográfica3.1. Distribuição geográfica3.1. Distribuição geográfica3.1. Distribuição geográfica

As divisões regionais brasileiras, caracterizadaspor diferentes níveis de concentração demográfica edesenvolvimento socioeconômico, sugerem uma análisemais detalhada da distribuição geográfica dascooperativas brasileiras.

Assim, tomando por base os anos de 2000 e 2001,constata-se que a distribuição das cooperativas nas regiõesdo Brasil apresenta uma relação estreita com o tamanho dapopulação e com as atividades econômicas avaliadas atravésdo Produto Interno Bruto (PIB). Uma exceção quanto àrelação entre valor do PIB e número de cooperativas podeser verificada na região Nordeste, onde apesar de registrarum PIB de valor inferior à região Sul, apresenta um maiornúmero de cooperativas. Mesmo assim, mantém-se a relaçãoquando considerado o tamanho da população.

A maior concentração de cooperativas encontra-sena região Sudeste - 42,6% dos 176 milhões de habitantes -

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coincidindo, portanto, com o maior contingentepopulacional do país, e onde foram gerados 57,9% doPIB nacional (aproximadamente 500 milhões de dólares).Nessa região, de acordo com os registros no DNRC,observou-se, no ano de 2001, 41,5% das cooperativas doBrasil, enquanto os registros da OCB indicavam que nestaregião estavam situadas 45% do total das cooperativasbrasileiras (Gráfico 2).

Segundo dados do DNRC, na região Sudeste, entre1990 e 1995 eram constituídas, em média, 234 cooperativaspor ano. A partir de 1996 esta média foi de 1.014 novascooperativas constituídas. Isto representou um aumento de433% na média entre os dois períodos considerados. Aindaconsiderando esses mesmos períodos, observou-se que onúmero de cooperativas fechadas deu-se em proporçõessemelhantes àquelas constituídas (DNRC, 2003).

A segunda região que apresentou maiorconcentração de cooperativas foi a região Nordeste, ondeestavam situados 28,1% do total de habitantes do país ena qual foram gerados 13,1% do PIB (Gráfico 2). No anode 2001, conforme registros no DNRC, esta regiãoconcentrava 23% do total de cooperativas brasileiras,enquanto os registros da OCB indicavam 21,8 % do totalde cooperativas (Gráfico 2).

A média de surgimento de novas cooperativa naregião Nordeste passou de 143 cooperativas constituídaspor ano entre 1990 e 1995 para 433 novas cooperativas, apartir de 1996. Já o número de cooperativas queencerraram suas atividades neste período, apresentou, emtermos percentuais, um crescimento similar àquelasconstituídas (DNRC, 2003).

A região Sul - terceira maior concentração decooperativas, gerando 17,5% do PIB brasileiro -

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concentravam-se 14,8% da população brasileira. Em2001, na região Sul, segundo dados do DNRC, estavamsituados 16,8% do total das cooperativas do Brasil,enquanto os dados da OCB apontavam que nesta regiãoestavam estabelecidos 18,3% cooperativas brasileiras(Gráfico 2).

De modo análogo à tendência apresentada por outrasregiões, no período de 1990 a 1995, foram constituídas emmédia 86 novas cooperativas por ano, enquanto que entre1996 e 2001, foram constituídas em média 366 novascooperativas por ano. O encerramento de cooperativastambém cresceu entre os dois períodos analisados, emtermos percentuais e absolutos (DNRC, 2003).

As regiões Centro-Oeste e Norte do Brasilconcentravam, respectivamente, os menores números decooperativas no país, sendo também as áreas de menorcontingente populacional e menor participação no PIB.

A região Centro-Oeste possuía 6,9% do contingentepopulacional brasileiro e uma participação de 6,9% nageração do PIB. A OCB computava 7,5% do total decooperativas e 10,3% no número de cooperativas brasileiras(Gráfico 2). Nessa região, entre 1990 e 1995, houve umamédia de 88 novas cooperativas por ano, saltando para umamédia de 179 novas cooperativas entre 1996 e 2001(DNRC, 2003).

Por fim, na região Norte, estavam situadas 8,2% dascooperativas brasileiras, segundo os dados do DNRC, noano 2001, e 8,4% de acordo com os dados da OCB. Estaregião concentrava 7,6% da população do país, sendogerados na sua área de abrangência 4,6% do PIB nacional(Gráfico 2). A média de fundação de novas cooperativasna região Norte do Brasil passou de 63 cooperativas porano, no período entre 1990 e 1995, para 167 por ano, noperíodo entre 1996 e 2001 (DNRC, 2003).

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45,0%

18,0%

23,1%

10,3%

28,1%

42,6%

13,1%

57,1%

17,8%

8,0%

21,0%

8,0%

16,8%

41,4%

8,4%14,8%

6,9%7,6% 7,2%4,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

Norte Nordeste Centro-Oeste

Sudeste Sul

Cooperativas OCB

CooperativasJuntas ComerciaisPopulação

PIB

Gráfico 2 - Distribuição do número de cooperativas,da população e do PIB nas cinco regiões geográficas

do Brasil no ano 2000 / 2001.

Fonte: OCB, 2002; IBGE, 2002 e 2003

Finalmente, estes dados são ilustrativos paraevidenciar o dinamismo, potencial e tendência decrescimento dos empreendimentos cooperativos no Brasil.No entanto, a tendência de crescimento do cooperativismoem áreas de intenso dinamismo econômico constitui umindicativo importante no condicionamento da dinâmicacooperativa, acenando para futuros estudos sobre omovimento cooperativo brasileiro.

3.2. P3.2. P3.2. P3.2. P3.2. Perfil do quadrerfil do quadrerfil do quadrerfil do quadrerfil do quadro social e administrativoo social e administrativoo social e administrativoo social e administrativoo social e administrativo

De acordo com a OCB, em 2001, as cooperativasbrasileiras registravam 4.779.174 cooperados nos seusquadros, mas ao se considerar os registros das JuntasComerciais pode-se concluir que existe um número bemsuperior de cooperados no Brasil do que ora revelado.Todavia, nesta pesquisa, convencionou-se tomar os da-

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• • • 45 • • •

dos da OCB como fonte principal de análise por congre-gar o maior conjunto de dados sobre o perfil docooperativismo brasileiro.

3.2.1. P3.2.1. P3.2.1. P3.2.1. P3.2.1. Postos de trabalhoostos de trabalhoostos de trabalhoostos de trabalhoostos de trabalho

No que tange ao número de empregos gerados, ascooperativas foram responsáveis por um total de 175.412postos de trabalho no ano de 2001 (OCB, 2002).

Contudo, é na região Sul, e não na Sudeste, onde seconcentra o maior número de cooperativas, que é geradoo maior número de postos de trabalho. As cooperativasdesta região, em 2001, foram responsáveis pelo empregode 43% de toda a mão-de-obra contratada diretamentepelo setor cooperativo brasileiro, ao passo que na regiãoSudeste as cooperativas geravam 40,9% dos postos detrabalho (Gráfico 3).

3.2.2. P3.2.2. P3.2.2. P3.2.2. P3.2.2. Participação femininaarticipação femininaarticipação femininaarticipação femininaarticipação feminina

No que concerne a questões de gênero no quadrosocial, constatou-se que menos de 10% dos presidentesde todas as cooperativas do Brasil são do sexofeminino, denotando uma pequena participaçãofeminina na direção das cooperativas até o ano de 2001.Apenas 696 cooperativas do Brasil são dirigidas pormulheres, sendo que em sua maioria, ou seja, 50,7%do total, estão situadas na região Sudeste (OCB, 2002).A região Nordeste, por sua vez, concentrava 28 % dototal de dirigentes femininas do Brasil, enquanto que aregião Sudeste possuía 10,5 do total de dirigentesfemininas (Gráfico 3).

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• • • 46 • • •

Gráfico 3 - Freqüência de cooperativas, cooperados,presidentes do sexo feminino e empregados nas

regiões do Brasil, no ano de 2001

Fonte: OCB, 2002

3.3. Relações com o Estado3.3. Relações com o Estado3.3. Relações com o Estado3.3. Relações com o Estado3.3. Relações com o Estado

Os maiores ramos do cooperativismo brasileiro atéa década de 80 - o agrícola e o de crédito - tinham porprincipal fonte de financiamento externo os recursosgovernamentais. Contudo, a redução dos recursos públicosresultante da crise que abateu o Estado Brasileiro a partirde então, aliado ao processo inflacionário crescente, fezcom que o financiamento destinado às cooperativasminguassem e o endividamento aumentasse (Silva, 2000).

Concomitantemente a isto, o fechamento do BancoNacional de Crédito Cooperativo - BNCC, a reduçãocontínua do preço das commodities agrícolas, além degraves problemas administrativos desencadearam umagrande crise financeira nas cooperativas agrícolas,resultando no fechamento de muitas delas ( Panzutti,1997; Silva, 2000).

Para mitigar os efeitos do processo deendividamento contínuo e crescente, o Governo Federal,

7,3% 3,5% 6,0% 5,9%

21,5%

8,3% 7,0%

28,0%

5,6%

1,2% 1,5%

46,6%

59,7%40,9%

50,7%

18,9%27,4%

44,6%

10,5%

4,9%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

C OOP ER ATIVAS COOP ERA DOS EM PREGA DOS DIRIGENTESFEMIN INA S

SULSUDESTENORTENORDESTECENTRO OESTE

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• • • 47 • • •

no final da década de 90, lançou o Programa deRevitalização das Cooperativas Agropecuárias Brasileiras- RECOOP, visando à reestruturação das cooperativasendividadas9. O RECOOP engloba além de aspectostradicionais para soerguimento do empreendimento -como os de ordem técnica e econômico-financeira - umaproposta inovadora que contempla a capitalizaçãocontinuada da cooperativa, inclusive prevendo a fusão,desmembramento, incorporação ou associação a empresasnão cooperativas, além da profissionalização da gestãocooperativa, organização e profissionalização doscooperados.

Ante o conjunto de exigências de demandas peloGoverno Federal para o enquadramento no RECOOP atéo ano 2001, apenas um pequeno número de organizações,situadas em sua grande maioria na região Sul e Sudestedo país, foi contemplado por este programa.

O Governo (federal, estaduais e municipais), demaneira geral, tem tratado as cooperativas de modoanálogo ao das empresas mercantis, sendo as cooperativasdo ramo de trabalho e saúde as mais afetadas, ante aquantidade de tributos e o seu impacto sobre o faturamentobruto, acarretando graves problemas de competitividadepara as organizações. Assim, uma das grandesdificuldades com que se deparam as cooperativasbrasileiras são os elevados percentuais de tributos,federais, estaduais e municipais.

9 O RECOOP foi intituído pelo governo em 03 de setembro de1998, através de uma parceria estabelecida com a Organizaçãodas Cooperativas Brasileiras (OCB) e com o DepartamentoNacional de Cooperativismo (DENACOOP) e reconhecidoformalmente através da Medida Provisória 1.781.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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• • • 49 • • •

4. P4. P4. P4. P4. Peculiaridades dos ramoseculiaridades dos ramoseculiaridades dos ramoseculiaridades dos ramoseculiaridades dos ramoscooperativoscooperativoscooperativoscooperativoscooperativos

O cooperativismo brasileiro está estruturado emtreze ramos, a saber: agropecuário, consumo, crédito,educação, especiais, habitação, mineral, produção,infra-estrutura, trabalho, saúde, turismo e lazer,transporte de cargas e passageiros (OCB, 2002).

Com efeito, a divisão por ramo facilita avisualização de peculiaridades referentes a gruposespecíficos de cooperativas, de modo a propiciarmelhor entendimento da formação, estrutura,composição e sua participação nos diversos setoreseconômicos.

Entretanto, a composição por ramo vem sofrendo,ao longo do tempo, significativas alterações própriasda conjuntura sócio-econômico-política de cada época.É o que pode ser observado, por exemplo, aocompararmos o período correspondente às décadas de40 e 60 com a década de 90. Constata-se, por exemplo,no primeiro período, uma forte participação docooperativismo agrícola no conjunto das atividadescooperativas do país (Gráfico 4).

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• • • 50 • • •

Gráfico 4 - Evolução dos empreendimentos coope-rativos no Brasil, por segmento de atuação e em

percentual, entre a década de 40 e a década de 90.

Fonte: OCB, 2001

Contudo, o processo de modernização eindustrialização da agricultura fez emergir outros setoresdo cooperativismo nacional, como as cooperativas decrédito e as de saúde, na década de 70 e 80. Neste ínterim,o setor industrial e de serviços passam a ser os principaisresponsáveis pelo PIB brasileiro, incrementando aparticipação, em termos percentuais, das cooperativas detrabalho no setor cooperativo brasileiro.

4.1. Cooperativismo agrícola4.1. Cooperativismo agrícola4.1. Cooperativismo agrícola4.1. Cooperativismo agrícola4.1. Cooperativismo agrícola

No Brasil, as cooperativas agrícolas, ao longo daprimeira metade do século XX, não apenas se mostraramcomo as mais importantes em termos de volume de ne-gócio como também foram as principais responsáveis peladifusão do ideário cooperativista no país. Ademais, a li-teratura acusa que o referido ideário cooperativista ouconjunto teórico-doutrinário do movimento foi utilizado

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• • • 51 • • •

como instrumento ideológico do Estado, a serviço de umEstado conservador e autoritário.10

Com efeito, já a partir dos anos 40, o ramo das coo-perativas agropecuárias constituiu-se o principal represen-tante do cooperativismo brasileiro, tendo em vista que aprópria estrutura econômica do país era eminentementeagrícola. Funcionando como unidades de comercializaçãode produtos dos associados, revendas de insumos e assis-tência técnica, as cooperativas do setor agrícola engloba-vam tanto os produtores rurais do setor agrícola quanto osdo setor pecuário11. Há de se salientar, nesse sentido, que ocooperativismo agrícola continua sendo o mais forte emtermos de volume de negócios e empregos gerados.

Juntas, as cooperativas do setor agrícola empregavam,no Brasil, um contingente de 108.273 trabalhadores, em2001; o que representava 61,2% do total de postos de traba-lho gerados por todas as cooperativas brasileiras. Contudo,deve-se atentar para o fato de que estes postos de trabalhosão gerados principalmente pelas grandes cooperativas lo-calizadas na região Sul e Sudeste do Brasil (OCB2002).

Com a proliferação de cooperativas singulares e antea modernização e industrialização do setor agrícola na dé-cada de 70 e 80 surgiram, então, várias centrais de coopera-tivas (federações) nos estados brasileiros, as quais tinhampor finalidade ter um maior ganho de escala nas atividades,com a horizontalização e verticalização das atividades de

10 Sobre o assunto ver Corandini & Fredericq (1982), Araújo(1982)apud Pires, (2004)

11 No que tange às cooperativas de pesca, observa-se que, emborao Brasil tenha um extenso litoral e uma grande manancial deágua doce, o número de cooperativas deste tipo é bastantereduzido. Este fato é derivado da política pública desenvolvidapara o setor pesqueiro, onde os pescadores foram induzidos, antea ingerência governamental, a constituir outras formas deorganização coletiva (Callou, 1994).

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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• • • 52 • • •

produção, beneficiamento e industrialização de produtosagropecuários. As centrais de cooperativas atuavam na ca-deia produtiva do algodão, soja, milho, leite, frango, dentreoutros produtos. Um fato a destacar é que estas centrais (fe-derações) não conseguiram estabelecer um processo deintercooperação capaz de originar uma confederação regio-nal ou nacional. Registra-se apenas uma única confedera-ção de cooperativas no Brasil, ligada ao setor lácteo - Con-federação Brasileira de Cooperativas de Laticínios - CBCL.

É importante sublinhar que, durante a década de90, verificou-se certa estabilidade no número de coope-rativas agrícolas, registrando-se um crescimento de ape-nas 13,3% no número destas organizações ao longo doperíodo considerado. Há que se levar em conta, entretan-to, que entre 1993 e 1995, observou-se uma involução nonúmero das cooperativas agrícolas no Brasil. Somente apartir de 1999 constatou-se um discreto aumento no nú-mero de cooperativas do setor agrícola (Gráfico 5), o quenão evitou, mesmo assim, uma queda na participação desteramo no cooperativismo nacional. Em 1990, havia 1400cooperativas agrícolas, as quais representavam 39,2% dascooperativas do Brasil, sendo que em 2001 registrou-se1.587 cooperativas, as quais correspondiam a 22,6% dototal de cooperativas do Brasil (OCB, 2002).

Gráfico 5 - Evolução do Número de CooperativasAgropecuárias no Brasil entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

1.400 1.438 1.402 1.3931.334 1.378 1.4031.4491.4081.437 1.448

1.587 1.624

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

*

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• • • 53 • • •

Por sua vez, o número de associados àscooperativas agrícolas, em 2001, era de 822.292,representando 17,2 % do total de cooperadosbrasileiros (OCB, 2002). No que diz respeito àparticipação das cooperativas agrícolas nas cadeiasprodutivas, constata-se, no ano 2000, uma importanteparcela de atuação, tornando-as responsáveis pelaprodução de 62% do trigo, 44% da cevada e 28% dasoja do Brasil.

Gráfico 6 - Percentual da Participação dasCooperativas Agropecuárias na Produção

Nacional no ano 2000

Fonte: OCB, 2002

No que diz respeito à distribuição dascooperativas agrícolas no território brasileiro, é naregião Sudeste que se encontra a maior quantidadede cooperativas deste ramo, ou seja, 32,9% do total.A região Nordeste, apresenta a segunda maiorconcentração de cooperativas agrícolas do país, ouseja, 30,9% das cooperativas existentes. Na região Sulestão situados 22,7% das cooperativas agrícolas doBrasil, ficando reservada à região Centro-Oeste

62,2

37,8

44,2

55,8

39,2

60,8

38,9

61,1

31,5

68,5

29,4

70,6

28,0

72,0

22,5

77,5

19,2

80,8

16,7

83,3

11,4

88,6

11,2

88,8

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Trigo

Cevada

Aveia

Algodã

oSuín

os Soja Café Alho UvaMilh

oArro

zFe

ijão

OutrosCooperativa

Gráfico 6 no corel está o correto

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• • • 54 • • •

apenas 8,3 % do total destas cooperativas (Gráfico7). Verifica-se, entretanto, que nas regiões Sudeste,Sul e Centro-Oeste concentram-se as maiorescooperativas agrícolas do Brasil em termos defaturamento (Anexo).

Gráfico 7 - Distribuição das cooperativas agrícolasnas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

O volume de exportações realizado pelascooperativas agrícolas apresentou um crescimento de72,3% entre 1990 e 2001, passando de U$ 657 milpara U$1.132 no referido período. Não obstante oaumento do faturamento com exportação, houve umatendência na diminuição do número de cooperativasexportadoras neste período (OCB, 2002). A variaçãodo volume de exportações observada ao longo dadécada de 90 está atribuída a fatores internos eexternos à organização, envolvendo aspectos relativosao tamanho da safra nacional e internacional, políticade preços internacional, políticas de estímulo àexportação e diferença cambial, entre outros fatores(FGV, 2002; OCB, 2001 e 2002).

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• • • 55 • • •

Gráfico 8 - Evolução das exportações dascooperativas do setor agrícola entre 1990 e 2001

em U$ Milhões (FOB)

Fonte: OCB, 2002 * previsão para 2002

Os principais produtos da pauta de exportação des-tacam-se, em ordem decrescente: açúcar, café, soja e car-ne, o que denota o baixo valor agregado das exportaçõesdas cooperativas do setor (Gráfico 9).

O armazenamento dessas commodities é realizadoatravés de 2.567 armazéns pertencentes às cooperativas,dos 13.911 armazéns existentes no Brasil em 2000. Logo,se a capacidade de armazenamento de grãos do Brasilera de 89,5 milhões de toneladas, os armazéns das coo-perativas possuíam capacidade para estocar 21,2 milhõesde toneladas, ou seja, 23,6% do total (OCB, 2002).

Gráfico 9- Exportações brasileiras das cooperativaspor grupos de produtos em 1999.

Fonte: OCB, 2001b

657 686 637

1059

877 858759

1132

1000993917

562 604

0

200

400

600

800

1000

1200

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002*

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• • • 56 • • •

Ante o exposto, observa-se que as grandescooperativas do setor agrícola se encontram ligadas aoagronegócio de açúcar e grãos especialmente o açúcar, asoja e o café, embora cooperativas relacionadas aoagronegócio de leite também se apresentem em lugar dedestaque.

A COOPERSUCAR, por exemplo, que atua noagronegócio de açúcar e está situada na região Sudestedo Brasil, foi classificada como a primeira no rankingnacional das cooperativas (Anexo1). A COAMO, segundamaior cooperativa do país, atua no agronegócio da soja elocaliza-se na região Sul. Em terceiro lugar, está aITAMBÉ no agronegócio do leite, também situada naregião Sudeste (FGV, 2002). Há de se salientar que estascooperativas agropecuárias estavam enquadradas no anode 2001 na relação das 500 maiores empresas do Brasil(Gazeta Mercantil, 2002).

4.2. Cooperativismo de Consumo4.2. Cooperativismo de Consumo4.2. Cooperativismo de Consumo4.2. Cooperativismo de Consumo4.2. Cooperativismo de Consumo

Este ramo agrupa todas as cooperativas que têm porfinalidade efetuar compra de bens de consumo final, comoalimentos, vestuário, eletrodomésticos, combustíveis, paraos seus associados. As cooperativas aí inclusas sãousualmente constituídas por grupos de funcionários deempresas públicas ou privadas. Eis o motivo pelo qual osurgimento destas cooperativas esteve, em grande parte,atrelado ao processo de instalação e expansão de grandesempresas a partir da década de 50, a exemplo da Rhodia eVolkswagem, localizadas em regiões como a do ACB, noEstado de São Paulo, na Região Sudeste do Brasil (OCB,2001 e 2002, COOP, 2003).

Vale ressaltar que as cooperativas deste setor, nãoconseguiram estruturar uma Confederação, fato que podeser identificado como um entrave no desenvolvimento

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• • • 57 • • •

de ações integradas, capazes de proporcionar benefíciosde uma economia de escala. Existe apenas uma Federa-ção, a qual agrupa apenas as Cooperativas de Consumodos Funcionários do Banco do Brasil.

Desta forma, mesmo estando concentradas nas regi-ões mais desenvolvidas do país, as cooperativas de consu-mo sentiram os efeitos das mudanças no setor varejista debens não duráveis iniciados a partir da década de 70, resul-tantes de transformações sócio-econômicas no Brasil (Ma-chado & Jayo, 1995). Fatos que contribuíram para a adoçãode novas estratégias, como a abertura de seus quadros parapessoas que não eram funcionários das empresas e, na déca-da de 90, para a fusão de cooperativas (COOP, 2003).

Entre 1990 e 2001 houve uma redução de 39% nonúmero de cooperativas de consumo no Brasil, passandode 331 cooperativas, em 1990, para 189 cooperativas em2001. Se em 1990 as cooperativas de consumo represen-tavam 8,8% das cooperativas do Brasil, em 2001 sua par-ticipação ficou reduzida a apenas 2,7% do total de coo-perativas brasileiras. Todavia, o ano de 2002 representouuma mudança de tendência neste ramo, observando-se osurgimento de novas cooperativas de consumo. Vale res-saltar que as 214 cooperativas correspondem a 2,8% dototal de cooperativas do Brasil (Gráfico 10).

Gráfico 10 - Evolução do Número de Cooperativasde Consumo no Brasil entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

311336 336

292261 256 241 233

193 191 184 189214

100

150

200

250

300

350

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 58 • • •

Esta redução no número de cooperativas, contudo, nãoimplicou uma redução de associados, haja vista que são ascooperativas de consumo as que possuem o maior quadrode associados do país, 1.468 milhão de pessoas, ou seja,29,6% do total cooperados do Brasil (OCB, 2002). Porém,um dado interessante a destacar é que estes associados estãoconcentrados em apenas duas cooperativas, ambas localiza-das no município de Santo André, Estado de São Paulo:

a) Cooperativa de Consumo (COOP_SP)- conta comum quadro social de 932.934 pessoas, ou seja,63,5% do total de cooperados do setor de consumono Brasil (OCB, 2002).

b) Cooperativa de Consumo dos Empregados daVolkswagem (Coopervolks) - possui 349.570 asso-ciados, ou seja, 23,8% do total de cooperados dosetor de consumo no Brasil (OCB 2002)

Quando se analisa a participação das cooperativasno setor de supermercados, verifica-se que a COOP–SPestá posicionada como a 10ª maior empresa do setor, com0,9% de market share (Abras, 2003). Esta cooperativapossui uma estrutura composta por várias empresas, den-tre as quais 19 supermercados, 8 farmácias e uma corretorade seguros (COOP, 2003b). Outras cooperativas de con-sumo como a Cooperativa de Consumo de Inúbia Paulistae a Cooperativa de Consumo dos Funcionários daUsiminas, ocupam o 89ª e 90ª posição, respectivamente,no ranking das maiores empresas de supermercado doBrasil (Abras, 2003).

Quanto ao número de empregados, o ramo decooperativas de consumo emprega aproximadamente7.676, embora haja uma concentração do quadro funcionalnas duas cooperativas relatadas anteriormente (OCB,

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• • • 59 • • •

2001). Esta constatação pode ser verificada quando seanalisa o quadro funcional da Cooperativa de Consumo(Coop-sp), a qual empregava sozinha 42% dos funcionáriosdeste ramo ( COOP, 2003b).

Face aos motivos expostos, ocorreu umaconcentração das cooperativas de consumo, principalmentena região Sudeste, onde, no ano 2002, estavam instaladas54% deste tipo de cooperativa no país (Gráfico 11). Nestaregião, destaca-se o estado de São Paulo, apresentando omaior número de cooperativas de consumo, bem como asmaiores cooperativas em número de associados e emvolume de negócios (OCB, 2002; Abras, 2003).

Gráfico 11 - Distribuição das cooperativas deconsumo nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 20024.3. Cooperativismo de Crédito4.3. Cooperativismo de Crédito4.3. Cooperativismo de Crédito4.3. Cooperativismo de Crédito4.3. Cooperativismo de Crédito

As cooperativas de crédito surgiram no Brasil comoentidades coletivas e mutualísticas de gestão dos recursosfinanceiros dos seus associados, sendo a primeiracooperativa do Brasil e da América Latina instalada em1902, no município de Nova Petrópolis, Estado do RioGrande do Sul (OCB, 2002).

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• • • 60 • • •

A estruturação deste ramo cooperativo fez surgir trêstipos de cooperativas de crédito no Brasil, Luzzati, CréditoRural e Crédito Mútuo (Figura 1). O que caracteriza adiferenciação entre estes três tipos é a natureza do quadrosocial. Enquanto nas Cooperativas Luzzati os associadossão pessoas físicas em geral, nos outros dois tipos osassociados devem estar vinculados a alguma categoria ouatividade profissional. Nas Cooperativas de Crédito Ruralsomente podem ser associados as pessoas físicas quedesenvolverem, na área de atuação da cooperativa,atividade agrícola, pecuária ou extração de pescados. NasCooperativas de Crédito Mútuo somente podem se associargrupos de profissionais autônomos, funcionários de umamesma empresa ou comerciantes de uma mesma atividadeprofissional (OCB, 2002; BANCOOB, 2002).

Figura 1 - Estrutura do CooperativismoBrasileiro de Crédito

Embora o cooperativismo de crédito tenha tido umgrande crescimento entre a década de 50 e 60, especial-mente na categoria crédito agrícola, a reforma bancária

Cooperativas de Crédito

Luzzati Crédito Rural Crédito Mútuo

Federações (Centrais)

Confederação SICOOB Brasil

Confederação SICREDI

BANCOOB BANSICREDI

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• • • 61 • • •

(Lei 4595/64) e a institucionalização do crédito rural (Lei4829/65) trouxeram restrições normativas e conseqüen-temente perda de competitividade para as cooperativasdo setor rural. Isto fez com que desaparecessem dezenasde cooperativas entre 1970 e 1980, fato que levou as co-operativas de crédito a se reunirem sob a forma de fede-rações (centrais), constituindo, em 1996, o primeiro ban-co cooperativo do Brasil - BANSICREDI e, mais tarde, ase agruparem em uma confederação interestadual(BANSICREDI, 2003). No ano de 1997, fruto da articu-lação de um grupo de cooperativas singulares, federa-ções (centrais) e uma confederação, surge outro bancocooperativo, o BANCOOB (BANCOOB, 2002b).

Com a fundação destes dois bancos cooperativos,o Governo Federal, através do Conselho Monetário Na-cional - CMN passou a regulamentar a atividade das co-operativas de crédito conforme resolução 2771, de 30/08/2000, cabendo ao Banco Central do Brasil a autoriza-ção do funcionamento e fiscalização de suas atividades.Nesta resolução, ficou proibida a autorização de criaçãode Cooperativas Luzzati no Brasil, mantendo-se, entre-tanto, as já existentes (OCB, 2002; BANCOOB, 2002).

O dispositivo institucional acima mencionado fezcom que o ramo de cooperativas de crédito no Brasil fi-casse configurado em cooperativas singulares, em fede-rações (centrais), e duas confederações que operam doisbancos, o BANSICREDI e o BANCOOB (Figura 1).

Porém, na década de 90, especialmente a partir de1993, constatou-se um aumento do número de cooperati-vas de crédito motivado, sobretudo, pela criação de no-vas cooperativas de crédito mútuo, notadamente as queagrupavam profissionais da área de saúde, como asUNICREDs (OCB, 2001; UNICRED, 2002).

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• • • 62 • • •

Em 1990, havia 741 cooperativas de crédito, asquais representavam 20,8% do total das cooperativas bra-sileiras. Em 2001, esse número subiu para 1.038 coope-rativas de crédito, o equivalente a 14,7% do total de coo-perativas do Brasil. Esta tendência de evolução do nú-mero de cooperativas também foi verificada em dadospreliminares do ano 2002, embora em termos percentuaistenha sido reduzida a sua representatividade no total ge-ral de cooperativas existentes no Brasil (Gráfico 12).

Gráfico 12 - Evolução do Número de Cooperativasde Crédito no Brasil entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

As cooperativas de crédito mútuo, por sua vez, re-presentam 66% das cooperativas de crédito no Brasil, ouseja, 714 cooperativas, enquanto que as cooperativas decrédito rural representam 33% deste total, equivalentes a357 cooperativas (Gráfico 13). Juntas, estes dois tipossomam 1.071 cooperativas, sendo que 70,5% deste total,(cerca de 755 cooperativas,) estão filiadas, através de suas15 federações (centrais), a confederação SISCOOB(BANCOB, 2002c).

As cooperativas do tipo Luzzati representam ape-nas 1% do total de cooperativas de crédito, com umatendência de diminuição ainda maior de sua participa-ção no ramo, em virtude do crescimento dos outros

741 763665

788 809 834 859 882 890 920 9661038 1082

400500600700800900

100011001200

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 63 • • •

1,0% 2,9%

66,8%54,7%

32,2%42,4%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Cooperativas Associados

RuralMútuoLuzzati

dois tipos de cooperativas, anteriormente descritos, eda proibição da criação de novas cooperativas do gê-nero (Gráfico 13).

Os três tipos de cooperativas de crédito possuemjuntas um total de 1.059.369 associados, fazendo comque no ramo de crédito esteja a segunda maior concen-tração em número de associados no Brasil. Porém, den-tre essas, são as cooperativas de crédito mútuo que agru-pam maior número de associados, cerca de 55% do total,enquanto que as cooperativas de crédito rural congregam42% do total cooperados deste ramo (Gráfico 13).

Gráfico 13 - Freqüência de cooperativas e associadosno ramo de crédito no Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Por sua vez, 86% dos associados das cooperativasde crédito no Brasil estão vinculados ao SistemaSISCOOB, o qual controla o BANCOOB, totalizando 913mil associados, o que representa 86% dos cooperados doramo de crédito no Brasil.

Mesmo contando com um grande número de as-sociados, a participação das cooperativas no merca-

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• • • 64 • • •

do financeiro brasileiro está situada no patamar de1% para as operações de crédito e nos depósitos aprazo realizadas no país (Tabela 2). Este fato podeser atribuído a uma série de fatores dentre os quais sedestacam os encargos fiscais que recaem sobre ascooperativas de crédito, exigibilidade mínima de ca-pital superior a dos demais agentes financeiros e di-ficuldade de acesso aos recursos oficiais para custeio(Cotias, 2003).

Tabela 2 - Participação do sistema bancário e dosistema cooperativo de crédito no Brasil por

produto no ano 2001 ( em R$ milhões )

Fonte: Cotias apud BC / SICOOB, set 2002

No que concerne à distribuição das cooperati-vas no território brasileiro, verifica-se maior concen-tração nas regiões de maior renda per capita - Sul eSudeste - possivelmente favorecida pela maior quan-tidade de recursos financeiros disponível e pela mai-or quantidade de funcionários, públicos ou privados(IBGE, 2003).

A região Sudeste concentra 64% do total de coope-rativas de crédito, destacando-se os estados de MinasGerais e São Paulo. Na região Sul concentram-se 17%das cooperativas de crédito e na região Centro-Oeste 8%destas cooperativas (Gráfico 14).

Produto Sistema Cooperativo

Crédito

Sistema Bancário

Sistema Financeiro Brasileiro

% Participação das Cooperativas

Operações de Crédito 4.225 371.572 375.797 1,12 Patrimônio Líquido 2.301 104.075 106.376 2,16 Depósitos a prazo 2.063 202.132 204.195 1,01 Depósitos a vista 2.657 63.174 65.831 4,04

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• • • 65 • • •

Gráfico 14 - Distribuição das cooperativas do setorde crédito no Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Como muitas cooperativas de crédito funcionamcomo postos de atendimentos de serviços bancários,registra-se uma expressiva oferta de trabalho, fazendocom que este ramo seja o terceiro maior empregador nocooperativismo brasileiro. Assim, as cooperativas decrédito respondem por 20.680 postos de trabalho,equivalente a 11,8% do total de empregos gerados pelascooperativas no Brasil.

4.4. Cooperativismo de educação4.4. Cooperativismo de educação4.4. Cooperativismo de educação4.4. Cooperativismo de educação4.4. Cooperativismo de educação

O crescimento do número de cooperativas dessegênero permitiu, em 1987, o surgimento do ramo decooperativas educacionais, cuja origem está associada aduas experiências (OCB, 2002). Uma delas provenienteda mobilização de pais de alunos que se organizaram emcooperativa e a outra organizada a partir da associaçãode alunos de escola agrícola (Figura 2). A primeira tinha

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• • • 66 • • •

por base a iniciativa dos pais de alunos como umaalternativa de educação de qualidade a um custo reduzido.Tal prática foi particularmente observada a partir dadécada de 80, quando a crise que se abatia sobre o paísassociada aos custos com a educação formal invibializavaa permanência dos estudantes de classe média em escolasparticulares. A segunda experiência foi resultado doestímulo do Governo Federal a criação de cooperativasnas Escolas Agrotécnicas Federais. Contudo, o processode autogestão nestas experiências vem sofrendo umadescontinuidade do quadro social por conta doafastamento do aluno da cooperativa após a conclusãodo curso, o que, muitas vezes, tem favorecido a ingerênciana organização cooperativa a partir da cessãoadministrativa aos funcionários da escola.

Figura 2 - Estrutura do CooperativismoBrasileiro de Educação

Entretanto, foi somente a partir da década de 90que o ramo de cooperativas educacionais passou a ga-nhar maior visibilidade. Entre 1990 e 2001 o número decooperativas cresceu 175%, passando de 101 cooperati-vas, em 1990, para 292 cooperativas em 2001 (Gráfico15). Com isto, a participação das cooperativas de educa-ção no total de cooperativas brasileiras passou de 2,8%,em 1990, para 3,9% em 2001.

Cooperativas de Educacionais

Alunos de Escolas Agrícolas Pais de Alunos

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• • • 67 • • •

30,5%40,2%

69,5% 59,8%

0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%

100%

Cooperativas Associados

Pais de Alunos

Alunos EscolaTécnica

Gráfico 15-Evolução do Número de CooperativasEducacionais entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

Os dados evidenciam, simultaneamente, uma es-tagnação do crescimento das cooperativas de alunos dasescolas agrícolas e maior participação das cooperativasde pais de alunos, passando a representar, essas últimas,69,5% das cooperativas deste ramo (Gráfico 16).

As cooperativas educacionais possuem um total de73.258 cooperados, o que representa 1,5% do total dosassociados das cooperativas brasileiras. As cooperativasde pais de alunos concentram 59,8% dos associados, en-quanto as cooperativas de alunos das escolas técnicaspossuem 40,2% dos associados do ramo educacional.

Gráfico 16 - Freqüência de tipos de cooperativas eassociados no ramo educacional no Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

101 107 112 100 105 106

176 187 193 210 225

278 292

80120160200240280320

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 68 • • •

No que diz respeito à geração de empregos, osindicativos sugerem que essas cooperativas são, em suagrande maioria, empreendimentos de pequeno porte. Oconjunto das cooperativas educacionais gera 2.720 pos-tos de trabalho, correspondendo a uma média de 9,8 em-pregados por cooperativa (OCB, 2002).

Gráfico 17 - Distribuição das cooperativas do ramoeducacional nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Com relação à distribuição geográfica, as coopera-tivas de educação estão concentradas na região Sudeste,onde se situam 44% do total das cooperativas deste ramo,destacando os estados de São Paulo e Minas gerais. Aregião Nordeste, por sua vez, concentra 23% das coope-rativas educacionais do Brasil, com maior concentraçãonos estados do Ceará e Piauí (Gráfico 17).

4.5. Cooperativismo habitacional4.5. Cooperativismo habitacional4.5. Cooperativismo habitacional4.5. Cooperativismo habitacional4.5. Cooperativismo habitacional

Na década de 60, o Governo Federal, dentre as po-líticas de ampliação da moradia implementadas, estimu-lou a formação de cooperativas habitacionais. Estas coo-perativas destinavam-se à construção, manutenção e ad-ministração de conjuntos habitacionais (OCB, 2002).

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• • • 69 • • •

No início da década de 80, com a diminuição dosfinanciamentos governamentais para o setor, as coopera-tivas passaram a desenvolver suas atividades contandoprincipalmente com os recursos de seus associados. Es-tes fatores, aliados ao processo inflacionário crescente,provocaram uma estagnação no surgimento de novas co-operativas habitacionais no Brasil até a metade dos anos90, quando novamente estas cooperativas voltaram a serconstituídas em conseqüência do aumento do déficithabitacional no país e do processo de estabilização dainflação ocorrido após 1994.

O número de cooperativas habitacionais apresentouum crescimento de aproximadamente 66% entre 1990 e2001, com o período de maior aumento a partir de 1996. Em1990 existiam 179 cooperativas; o equivalente a 5% do totalde cooperativas brasileiras contra as 297 cooperativas exis-tentes em 2001 (Gráfico 18). O ano de 2002 acusa um cres-cimento ainda maior desse setor - 332 cooperativas - ace-nando para tendência de sua expansão. Atualmente, este ramoestá estruturado em cooperativas singulares, federações euma confederação - a Confederação Brasileira das Coope-rativas Habitacionais (CONFHAB) (OCB, 2002)

Gráfico 18 -Evolução do Número de CooperativasHabitacionais no Brasil entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

179 182 177 187 176 174190

231202 216 222

297332

100

150

200

250

300

350

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 70 • • •

A maior concentração das cooperativashabitacionais, 38% do total, encontra-se na RegiãoCentro-Oeste do país, destacando-se o Distrito Federalcomo o maior pólo de concentração destas cooperativas.Embora a Região Sudeste concentre o maior percentualda população brasileira, demandando, por conseguinte,maior número de unidades habitacionais, ali se encontramlocalizadas apenas 31% do total de cooperativashabitacionais do Brasil (Gráfico 19).

Gráfico 19 - Distribuição das cooperativas do ramohabitacional nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Juntas, as cooperativas habitacionais têm um canteirode obras de aproximadamente 10.000 unidades habitacionaise empregam diretamente um contingente de 69.668 traba-lhadores. Desta forma, as cooperativas habitacionais são res-ponsáveis por apenas 1,5% do total de postos de trabalhogerados pelas cooperativas do Brasil (OCB, 2002).

4.6. Cooperativismo de infra-estr4.6. Cooperativismo de infra-estr4.6. Cooperativismo de infra-estr4.6. Cooperativismo de infra-estr4.6. Cooperativismo de infra-estruturauturauturauturautura

Na década de 60 o Brasil, com o intuito de estimularo processo de eletrificação rural, desenvolveu políticasespecíficas para o desenvolvimento de cooperativas de

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• • • 71 • • •

eletrificação. Induzidas pelas concessionárias de energia,as cooperativas se constituíram como forma de captarrecursos oriundos de vários organismos internacionais eviabilizar o acesso à energia elétrica no campo,favorecendo a modernização e industrialização do setorrural (Fecoerpe, 2002).

Isto fez com que as linhas de transmissão da redeelétrica rural instaladas pelas cooperativas fossemalimentadas financeiramente pelas concessionárias deenergia elétrica; o que proporcionou às cooperativas dosetor uma relativa estabilidade financeira (OCB, 2002).

Contudo, ante a desestatização das distribuidorasde energia elétrica entre 1996-1998, a principal parceirado setor passou a ser a iniciativa privada, e não mais osetor público, como até então acontecia, obrigando ascooperativas a estabelecerem uma nova estratégia deatuação. Como resultado, estas cooperativas ampliaramo seu leque de ação, incorporando também outrasatividades como comunicação, limpeza urbana, bemcomo a própria geração de energia, passando a constar,na sua natureza jurídica, tais atribuições (OCB, 2000e 2003).

Outro resultado desta estratégia foi um novoarranjo das áreas de atuação das cooperativas, as quais,no intuito de obter vantagens competitivas, ampliaramsuas áreas de atuação quer por fusão ou por aumentoda área de abrangência, agrupando-se em federaçõesestaduais e confederações nacionais (OCB, 2003,Fecoerpe, 2002).

Além das cooperativas singulares, o ramo decooperativas de infra-estrutura apresenta oito federaçõesestaduais, além de duas confederações: a ConfederaçãoNacional das Cooperativas de Infra-Estrutura

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• • • 72 • • •

(INFRACOOP), que congrega seis associados e estásituada no Estado do Rio Grande do Sul, região Sul doBrasil; a Confederação Brasileira das Cooperativas deInfra-Estrutura (CONBRAC), composta por vinteassociados e situada no Distrito Federal, região Centro-Oeste do Brasil (Figura 3).

Figura 3 - Estrutura do CooperativismoBrasileiro de Infra-Estrutura

Constatou-se pouca alteração no número decooperativas de infra-estrutura ao longo da década de90, registrando-se apenas uma pequena redução donúmero de cooperativas (cerca de 4%). Enquanto em1990 havia 195 cooperativas de infra-estrutura,correspondendo a 5,5% do total de cooperativas noBrasil, no ano 2001 havia 187 cooperativas,equivalentes a 2,7% do total de cooperativas brasileiras.Já no ano de 2002 observou-se uma ligeira tendênciade elevação no número de cooperativas, com o registrode 193 cooperativas (Gráfico 20).

Cooperativas Singulares

Federações Estaduais

Confederação (CONBRAC)

Confederação (INFRACOOP)

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• • • 73 • • •

Gráfico 20 - Evolução do Número de Cooperativasde Infra-Estrutura no Brasil entre 1990 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

Apesar da existência de um grande número deprodutores rurais situados em extensas áreas carecendode eletrificação rural, especialmente no Centro-Oeste eNorte do país, é ainda reduzido o número de cooperativasali existente. Observa-se maior concentração destascooperativas na região Nordeste e Sudeste do Brasil, cadaqual concentrando 27% do total das cooperativas deeletrificação (Gráfico 21).

Gráfico 21 - Distribuição das cooperativas de infra-estrutura nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Com relação aos associados, as cooperativas deinfra-estrutura agregam 576.299 sócios, representando12,9% do total de cooperados do Brasil. Estas cooperati-

195

206202

194191

194

209 206

187 184188 187

193

170175180185190195200205210215

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 74 • • •

vas são responsáveis pela geração de 5.431 postos de tra-balho, ou seja, 3,1% dos postos de trabalho gerados pelascooperativas brasileiras (OCB, 2001).

4.7. O cooperativismo de saúde4.7. O cooperativismo de saúde4.7. O cooperativismo de saúde4.7. O cooperativismo de saúde4.7. O cooperativismo de saúde

Na década de 60, o sistema previdenciário brasileirofoi unificado, aprofundando uma crise nas condições deatendimento público de saúde e ampliando o espaço paraatuação das empresas de medicina de grupo. Este fato le-vou médicos da cidade de Santos, Estado de São Paulo, aconstituir a primeira cooperativa médica do Brasil, a Uniãodos Médicos-UNIMED, em 1967 (UNIMED, 2003).

As cooperativas de trabalho médico surgem na dé-cada de 70, com o intuito de alcançar maiorcompetitividade na área. Através de ações integradas,foram constituídas as primeiras cooperativas de segundograu - as Federações. Em 1975 é fundada a Confedera-ção Nacional das Cooperativas Médicas - UNIMED, fatoque possibilitou o desenvolvimento de estratégias emâmbito nacional (UNIMED, 2003).

Atraídos pelo êxito destas cooperativas, outros pro-fissionais da área de saúde, a exemplo dos odontólogos,psicólogos e enfermeiros, passaram a constituir coopera-tivas singulares, federações e confederações.

Este conjunto de cooperativas de profissionais desaúde que, a princípio, era agrupado no ramo de trabalho,passou, em 1996, em virtude da sua crescente importânciasócio-econômica, a ser agrupado sob o ramo decooperativas de saúde (OCB, 2003). Desta maneira, surgeo ramo de cooperativas de saúde no Brasil, congregandocooperativas de médicos, odontólogos, psicólogos eusuários. As cooperativas singulares passam a se agrupar

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• • • 75 • • •

em federações estaduais, sendo que estas federações vãose agrupar em três confederações: a UNIMED Brasil quereúne as federações e cooperativas UNIMEDs de 24estados brasileiros; a UNIMED Mercosul que reúne asfederações e cooperativas das UNIMEDs dos três estadosda região Sudeste; e a UNIDONTO que reúne asfederações e cooperativas de odontólogos de todo o país(Figura 4).

Figura 4 - Estrutura do CooperativismoBrasileiro de Saúde

Em 1996, no ano da estruturação do ramo desaúde, existiam 486 cooperativas de saúde, as quaisrepresentavam 10,8% do total de cooperativas noBrasil. Já em 2001, esse número estava em 863, as quaisrepresentavam 12,8% do total de cooperativasexistentes no Brasil. Assim, em pouco mais de 5 anos,o ramo de saúde apresentou um crescimento de 84%no número de cooperativas. Dados preliminares do ano2002 vêm confirmar essa tendência de crescimento(Gráfico 22).

Cooperativas de Saúde

Médicos (UNIMED) Odontólogos Psicólogos Usuários

Federações Estaduais

Confederação UNIMED Brasil

Confederação UNIMED Mercosul

Confederação UNIDONTO

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• • • 76 • • •

Gráfico 22 - Evolução do Número de Cooperativasde Saúde no Brasil - 1996 e 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

Atualmente, as cooperativas médicas representam65,5% das cooperativas de saúde no Brasil. As cooperativasdos odontólogos e psicólogos respondem por 30,5% do totale as cooperativas de usuários agrupam, por sua vez, apenas4% das cooperativas deste ramo (Gráfico 23).

As cooperativas de usuários estão subdivididas em doistipos: as integrantes do Sistema UNIMED, caracterizadas poragruparem médicos de diversas especialidades, e aquelascooperativas de especialistas que possuem médicos de umamesma especialidade no seu quadro, a exemplo decooperativas de anestesistas e cooperativas de cardiologistas.Assim, o sistema UNIMED totaliza 364 cooperativas,correspondendo a 40,5 % do total das cooperativas do ramode saúde (OCB, 2002; UNIMED, 2003b). Já as cooperativasde especialistas médicos, representam 25% do total dascooperativas deste ramo (Gráfico 23).

Gráfico 23 - Freqüência do tipo de cooperativas desaúde no Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002; UNIMED, 2002b

468530 585

698 757863 898

200

400

600

800

1000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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• • • 77 • • •

No que diz respeito ao número de cooperados,as cooperativas de saúde agrupam um total de 327.191cooperados, sendo que, deste total, aproximadamente28% são associados às cooperativas do sistemaUNIMED (OCB, 2002; UNIMED, 2002b). Osassociados das cooperativas de saúde representam6,84% do total de associados nas cooperativas do Brasil(OCB, 2002).

Contudo, em alguns Estados do Brasil, registra-se a existência de duplicidade de participação deprofissionais que participam, ao mesmo tempo, de umacooperativa de especialidade médica e das UNIMEDs.Este fato se torna um obstáculo para obtenção denúmeros exatos de cooperados do ramo de saúde e desuas subdivisões.

No que se refere ao número de empregos gerados,as cooperativas do ramo de saúde é responsável porum total de 21.426 postos de trabalho, ou seja, 12% dototal de empregos gerados pelas cooperativasbrasileiras, sendo, portanto o segundo ramo decooperativas que mais emprega no Brasil (OCB,2002).Neste aspecto, em virtude de as UNIMEDs disporemde empresas e hospitais próprios, passam a responderpor 74,5% da geração de postos de trabalho do setorde saúde, representando mais de 16 mil empregos(UNIMED, 2003c).

Face à amplitude das ações das UNIMEDs,convém destacar que estas cooperativas desenvolveramum sistema de intercooperação altamente estruturado,que resultou num complexo empresarial cooperativo,possibilitando que estas cooperativas alcançassem umnotável desempenho no mercado brasileiro deassistência médica privada (Figura 5).

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• • • 78 • • •

Figura 5 - Estrutura do Complexo Cooperativo daUNIMED Brasil

Fonte UNIMED, 2002, c

Na região Sudeste, estão concentradas 42% das coo-perativas médicas, com destaque para os Estados de MinasGerais e São Paulo, enquanto que na região Nordeste estãoconcentradas 25% das cooperativas de saúde (Gráfico 24).

Gráfico 24 - Distribuição das cooperativas do setormédico nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

UNIMED Brasil

Cooperativas de Trabalho Médico UNIMED

(Singulares e Federações) Cooperativa de Usuários

USIMED Cooperativa de

Crédito UNICRED

Fundação UNIMED Empresas UNIMED

Universidade UNIMED

Universidade UNIMED

Virtual

Central Nacional UNIMED

UNIMED Seguradora

UNIMED Tecnologia

UNIMED Adm. E Serviços

Transporte Aeromédico

UNIMED Participações

UNIMED Corretora

Fonte: UNIMED, 2002,c

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• • • 79 • • •

Finalmente, hoje, as UNIMEDs detêm 25% daparticipação de mercado nacional dos planos de saúde,possuindo 11 milhões de usuários. Tal sistema dispõe deuma rede de 63 hospitais próprios e 3.500 hospitaiscredenciados, onde são realizadas 42 milhões de consultasanuais, 1,2 milhões de internamentos por ano e 75 milhõesde exames complementares anuais (UNIMED, 2003c).Embora as UNIMEDs estejam presentes em 80% doterritório brasileiro atingindo aproximadamente 4.000municípios, existe uma maior concentração dasUNIMEDs nas regiões Sudeste e Nordeste do Brasil(UNIMED, 2002b).

4.8. Cooperativismo de trabalho4.8. Cooperativismo de trabalho4.8. Cooperativismo de trabalho4.8. Cooperativismo de trabalho4.8. Cooperativismo de trabalho

A partir da década de 70 o setor de serviços começaa se destacar no cooperativismo brasileiro e passa a teruma crescente participação no PIB. Como neste ramo estãoagrupados diversos profissionais, das mais diferentes áreasde atividade, tornou-se necessário segmentá-los por gruposespecíficos de trabalho, a exemplo dos trabalhadores daárea de saúde e de transporte, com vista a possibilitar odesenvolvimento de estratégias e políticas específicas paracada grupo (OCB, 2001 e 2002).

Assim, o ramo de cooperativas de trabalho passoua ser estruturado com base em três grandes grupos: oprimeiro foi o dos profissionais que trabalhavam comartesanato (1,8% do total das cooperativas); o segundo,composto por profissionais das artes, educação e cultura(professores e instrutores técnicos) - 4% do total dascooperativas, e o terceiro composto por uma diversidadede profissionais dos mais diferentes níveis de escolaridadedesenvolvendo serviços diversos (94,2 % do total).

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• • • 80 • • •

Atualmente, estas cooperativas estão agrupadas na CentralBrasileira de cooperativas de trabalho (CEBRACOOP)São Paulo e na Federação das Cooperativas de Trabalhodo Estado de São Paulo, Pernambuco e outros estados ena Confederação Brasileira das Cooperativas de Trabalho(COOTRABALHO) (Figura 6).

Figura 6 - Estrutura do CooperativismoBrasileiro de Trabalho

Apesar do processo de desagregação de novosramos do cooperativismo a partir do ramo trabalho,registrou-se um notável aumento das cooperativas detrabalho no Brasil. Entre 1990 e 2001 este ramoapresentou um crescimento de 280%, passando de 629cooperativas em 1990 para 2391 em 2001 (Gráfico 25).Comparativamente, em 1990 as cooperativas de trabalhorepresentavam 17,7% do total de cooperativas do Brasile, em 2001, esta participação já tinha alcançado 34,4%do total de cooperativas (OCB, 2002).

Ademais, apesar de se registrar um declínio nonúmero de cooperativas em 1996 e em 2002, isto nãorepresentou uma quebra na tendência de crescimento. O

Cooperativas de Trabalho

Artesanato Cultural Diversos

Federações Estaduais

Confederação Brasileira das Cooperativas de Trabalho COOTRABALHO

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que ocorreu foi uma desvinculação das cooperativas desaúde e transporte do ramo trabalho, para fortaleceremseus ramos específicos.

Um fato que contribuiu sensivelmente para ocrescimento do número de cooperativas durante a décadade 90 está relacionado à elevação da taxa de desempregoe à aceleração do processo de terceirização, que impeliramos trabalhadores a buscar novas formas de organização.No final da década de 90, com o avanço das discussõesem torno da economia solidária, terceiro setor e aproblemática de inserção dos excluídos no mercado detrabalho, começam a surgir novos ramos de cooperativasque começam a ocupar um espaço de destaque, tanto nomercado como no movimento cooperativista.

Gráfico 25 - Evolução do Número de Cooperativasde Trabalho no Brasil-1990 a 2002

Fonte: OCB, 2002 * dados de junho de 2002

No que diz respeito à distribuição geográfica,constata-se que as regiões de maior dinamismoeconômico, como a Sul e a Sudeste, são as duas áreasonde estão concentradas quase 2/3 das cooperativas detrabalho brasileiras. Na região Sudeste, estão situadas 49%das Cooperativas de Trabalho, com destaque para o Estadode São Paulo, enquanto que na região Sul encontram-se20% das cooperativas de trabalho (Gráfico 26).

629 531 618 705 825986

699

10251334

1661 1661

23912100

400600800

100012001400160018002000220024002600

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002*

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Gráfico 26 - Distribuição das cooperativas do ramode trabalho nas regiões do Brasil em 2001

Fonte: OCB, 2002

Embora o ramo de trabalho seja o que possui maiornúmero de cooperativas no Brasil, não apresenta umforte contingente de associados - 322.753 - ou seja, 6,7%do total de cooperados do Brasil (OCB, 2001). Com isto,estima-se que 48,1% das cooperativas possuem entre20 e 40 associados, indicando, portanto, que o quadrosocial da maioria destas organizações é bastante reduzido(OCB, 2001).

4.9. Outr4.9. Outr4.9. Outr4.9. Outr4.9. Outros ramos do cooperativismoos ramos do cooperativismoos ramos do cooperativismoos ramos do cooperativismoos ramos do cooperativismo

4.9.1. 4.9.1. 4.9.1. 4.9.1. 4.9.1. Cooperativa de Turismo e de Transporte

Estes novos ramos do cooperativismo, que sur-gem a partir de 2002, passam a se constituir em maisuma nova alternativa econômica do cooperativismo bra-sileiro. As cooperativas de turismo, por exemplo, são oresultado de um mercado em franca expansão na áreade hospedagem, entretenimento e lazer.

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As cooperativas de transporte, por sua vez, seoriginaram, acima de tudo nos grandes centros urbanos,em parte devido ao desemprego estrutural causado pelaconjuntura econômica nacional, bem como pelafragilidade dos serviços de transporte coletivo dascidades brasileiras.

4.9.2. 4.9.2. 4.9.2. 4.9.2. 4.9.2. Cooperativa Especial

Esta categoria de cooperativas surge a partir doavanço das discussões em torno da economia solidária,terceiro setor e da problemática de inserção dos excluídosno mercado de trabalho. As cooperativas especiais têmpor objetivo atender pessoas em situação de desvantagemsocial a partir de uma perspectiva produtiva, a exemplodos deficientes físicos, dependentes químicos e egressosdo sistema penitenciário. Elas ainda desenvolvem serviçossócio-sanitários e educativos, e podem engajar no seuquadro social mais de uma categoria de sócio para prestarserviço gratuito - sócio voluntário. Como já salientadono início deste trabalho, as cooperativas especiais sãonormatizadas pela Lei no. 9.867 de 10 de novembro de1999, que visa à integração social dos cidadãos, a partirda organização e gestão de serviços sociossanitários eeducativos e do desenvolvimento de atividades agrícolas,industriais, comerciais e de serviços.

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55555. T. T. T. T. Tendências e desafios doendências e desafios doendências e desafios doendências e desafios doendências e desafios docooperativismo brasileircooperativismo brasileircooperativismo brasileircooperativismo brasileircooperativismo brasileirooooo

O cooperativismo brasileiro, através da literaturanacional e de seus órgãos de representação, revela apreocupação com a modernização e com a revitalizaçãodas práticas cooperativas, seja para atender aos apeloseconômicos da globalização, seja para atender aos apeloséticos da contemporaneidade, especialmente no que dizrespeito à ampliação da democracia. Isso significa que,particularmente num país como o nosso, o cooperativismotraz em si duplo apelo: de emancipação econômica e deemancipação política (Pires, 2004).

Vale ressaltar, nesse sentido, que o conjunto dascooperativas - e não apenas aquelas identificadas comoespeciais - se reveste, a partir das novas discussões sobreeconomia solidária, de um caráter emancipatório,inserindo-se, ao lado das ONG´s, fundações, associaçõesdiversas da sociedade civil, movimentos sociais comopromulgadoras de uma nova ética social. Dentro dessaperspectiva, Pires(2004) comenta:

"As cooperativas, pela sua natureza democráticana condução das atividades, pela primazia daspessoas e do trabalho sobre o capital, pelaautonomia em relação ao Estado são identificadascomo portadoras de um ideal societário voltado ao

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bem comum e, enquanto tal, ganham respaldo nasconcepções sobre economia social e paradigma dadádiva" (Pires,2004:10).

Santos (2002) identifica essa nova éticaemancipatória como sendo resultado de uma"globalização alternativa ou contra-hegemônica". Comosalienta, este modelo alternativo é pautado em um

"conjunto de iniciativas, movimentos e organizaçõesque, através de vínculos, redes e alianças locais/globais, lutam contra a globalização neoliberalmobilizados pela aspiração de um mundo melhor,mais justo e pacífico que julgam possível e ao qualsentem ter direito."(2002:15)

Nesse sentido, tal perspectiva se apóia noreconhecimento de que as ações sem fins lucrativos seconstituem como formas de resistência ao capitalismohegemônico e a sua racionalidade instrumental. Assim, aperspectiva que atribui um caráter ético e emancipatórioàs práticas sociais na atualidade repousa noreconhecimento do direito de participação ativa e deintervenção dos diversos atores sociais nos destinos dacomunidade. Uma cidadania ativa, portanto, capaz demanter um novo contrato social que permita ampliar aesfera de participação democrática.

Os dados aqui apresentados indicam que o "sercooperativista" traduz não apenas um critério meramenteeconômico, mas vem junto com um "código" apreendidocontinuamente na prática cotidiana e que se reproduz emefeitos culturais presentes nas formas de ajuda mútua, doassociativismo e da busca de autonomia na promoção dodesenvolvimento local.

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As informações das diferentes regiões do país reme-tem à compreensão do associativismo cooperativismo comoalternativa possível para alavancar processos de geraçãode renda e trabalho através de alianças e parcerias.

Apesar das dificuldades, hoje é possível observarque o cooperativismo brasileiro se inscreve numa novaperspectiva histórica do país, que coincide com as maisrecentes conquistas democráticas, sinalizando a constru-ção de uma nova página da história do cooperativismobrasileiro.

Neste sentido, é possível afirmar que o futuro docooperativismo está condicionado aos encaminhamentosdas questões mais amplas pela sociedade brasileira. Per-cebe-se, desde já, um novo vigor às discussões sobre ofuturo do cooperativismo brasileiro a partir do esforçoentre os órgãos de representação, gestores, membros as-sociados, órgãos públicos, Universidades e ONG´s - emredefinir o perfil do cooperativismo brasileiro e alicerçaras bases de credibilidade do movimento face ao conjuntoda sociedade.

O papel da Universidade, nesse conjunto de es-forços, ganha visibilidade através dos seus diversos cur-sos de formação - seja ao nível de graduação ou pós-graduação - e dos programas de incubadora de coopera-tivas, demonstrando, ao mesmo tempo, maior aproxi-mação da academia com o movimento cooperativo. Noensino superior, a educação cooperativa vem demons-trando grandes avanços, considerando, particularmen-te, que muitas universidades brasileiras têm adotado ocooperativismo como disciplina transversal. Constata-se, também, um crescimento de interesse sobre o temana área de pesquisa e extensão universitária, envolven-do professores e alunos.

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Com efeito, não sem razão, vem-se observando umcrescimento de demanda por cursos de pós-graduação emassociativismo/cooperativismo. Entre as universidades bra-sileiras que têm atividades voltadas para o cooperativismo,podemos destacar, particularmente, aquelas que fazem parteda UNIRCOOP, já identificadas no início deste trabalho.Podemos ainda mencionar outras instituições de ensinosuperior situadas nos Estados do Ceará, Paraíba e MinasGerais, todas com programas que contemplam ocooperativismo em suas atividades educacionais. Nos cur-sos de pós-graduação - mestrados e doutorados - o interes-se pelo cooperativismo vem sendo constatado pelo aumentodo número de teses de doutorado e dissertações demestrado. Nesse sentido, vale ressaltar que, na década de90, foram realizados 297 trabalhos sobre o temacooperativismo. Enquanto que, em 1990, ocorreram ape-nas 5 trabalhos sobre cooperativismo nos mestrados e 1 nodoutorado, em 2001, foram apresentados 43 trabalhos nosmestrados e 9 nos doutorados (Anexo 2)12.

Do mesmo modo, pode-se admitir que os "progra-mas de incubadora" constituem mais um sinal evidentenesta direção. Tais programas contemplam projetos deapoio e capacitação voltados aos gestores e demais mem-bros de cooperativas dos mais diversos segmentos com oobjetivo de criar e dinamizar as possibilidades de suces-so das cooperativas.

12 Entre as pesquisas já realizadas, o ramo agrpoecuário destaca-se como mais estudado no meio acadêmico. Assim, entre 1990 e2001, foram desenvolvidas 32 teses de doutorado e 117dessertações e de sauúde nos programas de programas de pós-graduação, o que pode ser identificado como a preocupação domeio acadêmico com as mudanças ocorridas no mundo do tra-balho, via ampliação de terceirização e flexibilização do traba-lho. (Anexos 3 e 4).

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

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A Rede de Incubadoras Tecnológicas deCooperativas (Rede de ITCPs) - Surgida a partir da décadade 90 nas universidades federais brasileiras, é resultantede diversas iniciativas para a formação e consolidação dosempreendimentos cooperativos.As incubadoras atuamnuma perspectiva de empreendedorismo, desenvolvimentolocal e empoderamento. Estas incubadoras apóiamempreendimentos populares autogestionários,particularmente as cooperativas denominadas populares,que são compostas por grupos de pessoas que vivenciamuma situação de desemprego, trabalho informal e oriundasde comunidades de baixa renda e de exclusão social.

Com efeito, o cooperativismo, como sistema, vaialém da celebração de um contrato mútuo que estabeleceobrigações visando a objetivos comuns. A essência destasociedade civil ao estar fundada na repartição do ganho,na união de esforços e no estabelecimento de uma outraforma de agir coletivo, possibilita a implementação de umtipo de ação social diferenciada, porque recusa a lógicaeconomicista que reduz o fazer humano à busca racionaldo interesse próprio. Assim, a prática cooperativa ao nãose deixar seduzir pela ânsia do lucro, abre possibilidadesde pensar a cooperação como um espaço social plural enão instrumental.

Finalmente, mesmo que as práticas cooperativasbrasileiras ainda expressem algumas discrepâncias -resultado de um modelo implementado de cima para baixo,desvinculado das necessidades de amplos segmentossociais - observa-se que o cooperativismo, enquanto idéia-força, está ganhando amplitude através de uma perspectivapositiva - sinalizando seu caráter de inclusão social - e nãomais negativa pelo seu caráter excludente (que foi a ótica

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do passado). Cinco fatores, especialmente - de ordeminterna e externa ao país - parecem contribuir para essamudança de enfoque:

a) a revitalização dos conceitos e da práticacooperativa a partir de um balanço crítico emrelação às práticas do passado;

b) o crescimento do desemprego estrutural,estimulando a proliferação de organizações deeconomia solidária;

c) o caráter competitivo da globalização, que impõepráticas cooperativas com boa performanceempresarial;

d) a flexibilização das relações de trabalho,estimulando práticas autogeridas; e

e) a ampliação das discussões em torno dos conceitosde desenvolvimento local, economia social eterceiro setor.

Assim, a literatura brasileira atual desliga-se de umatendência de denúncia do insucesso de um modelo deimplementação de cooperativismo e revela aspreocupações em torno dos desafios impostos pelaglobalização, destacando a necessidade de adoção demodernização das práticas, da adoção de novos estilosde governança e de maior participação dos associados nadinâmica da cooperativa para permitir uma inserção maisefetiva das cooperativas nos mercados globais.

Todos esses fatores tendem a oxigenar asdiscussões sobre o cooperativismo apontando os seuslimites na atualidade enquanto projeto e prática demudança social.

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ANEXANEXANEXANEXANEXO 1 - RO 1 - RO 1 - RO 1 - RO 1 - Ranking das 25 maioresanking das 25 maioresanking das 25 maioresanking das 25 maioresanking das 25 maiorescooperativas ligadas ao agrcooperativas ligadas ao agrcooperativas ligadas ao agrcooperativas ligadas ao agrcooperativas ligadas ao agronegócio brasileironegócio brasileironegócio brasileironegócio brasileironegócio brasileirooooo

em 2001, tomando o exercício contábil 2000em 2001, tomando o exercício contábil 2000em 2001, tomando o exercício contábil 2000em 2001, tomando o exercício contábil 2000em 2001, tomando o exercício contábil 2000

Class. Nome UF Ativo

Total Patrimônio Líquido

Rec. Op. Líquida

Lucro Líquido

(em R$ mil)

1 Coop. de Prods. de Cana, Açúcar e Álcool do Est. de São Paulo Ltda. - Copersucar 2 SP

2.727.803 269.434 2.704.919 613.752

2 Coop. Agropecuária Mourãoense Ltda. – Coamo PR 759.225 385.755 1.103.089 40.046

3 Coop. Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais Ltda. – Itambé MG 372.338 165.914 627.777 -8.237

4 Coop. Central Oeste Catarinense Ltda. – Coopercentral SC 271.990 126.507 717.408 3.473

5 Coop. Regional de Cafeicultores em Guaxupé Ltda. – Cooxupé MG 291.223 81.782 527.901 11.749

6 Coop. Central de Laticínios do Estado de São Paulo - CCL-SP SP 297.993 126.413 380.952 89.898

7 Coop. dos Agricultores da Região de Orlândia Ltda. – Carol SP 358.862 93.726 350.592 -1.388

8 Coop. de Cafeicultores e Agropecuaristas de São Paulo Ltda. – Coopercitrus SP 362.696 139.957 282.481 4.118

9 Coop. Agrícola Mista Vale Piquiri Ltda. – Coopervale PR 242.027 77.960 374.695 5.510

10 Coop. Tritícola Erechim Ltda. – Cotrel RS 263.897 161.514 316.765 6.575 11 Coop. Agrária Mista Entre Rios Ltda. - Agrária PR 282.373 16.334 285.963 -549 12 Coop. Agropecuária Cascavel Ltda. - Coopavel PR 207.135 83.691 317.005 9.900

13 Coop. Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano Ltda. – Comigo GO 209.826 92.049 295.745 1.094

14 Coop. Agrícola Consolata Ltda. – Copacol PR 128.455 51.447 327.504 3.526

15 Coop. Agropecuária Três Fronteiras Ltda. – Cotrefal PR 197.867 86.719 245.727 2.431

16 Coop. Agro-Pecuária Holambra Ltda. SP 261.533 52.339 191.752 140 17 Coop. Agro-Pecuária Batavo Ltda. PR 151.344 50.312 219.703 1.914 18 Coop. Regional Alfa Ltda. – Cooperalfa SC 95.903 49.428 262.191 2.763

19 Coop. Central Agropecuária Sudoeste – Sudcoop PR 99.879 34.765 241.236 978

20 Coop. Agropecuária Rolândia Ltda. - Corol PR 101.943 46.739 191.915 1.253 21 Coop. Agropecuária Castrolanda Ltda. PR 125.639 44.353 179.833 4.133

22 Coop. Regl. dos Cafeicultores de São Sebastião do Paraíso Ltda. – Cooparaíso MG 110.214 22.984 136.632 389

23 Coop. Agropecuária de Produção Integrada do Paraná Ltda. PR 80.056 22.835 203.084 3.042

24 Coop. Trtícola Mista Alto Jacuí Ltda. - Cotrijal 1 RS 86.781 51.924 178.782 8.458

25 Coop. Trtícola Panambi Ltda. – Cotripal RS 81.178 63.900 146.789 6.470

Fonte: FGV, 2002

2.727.803

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ANEXANEXANEXANEXANEXO 2 - Evolução do númerO 2 - Evolução do númerO 2 - Evolução do númerO 2 - Evolução do númerO 2 - Evolução do número de teses eo de teses eo de teses eo de teses eo de teses edissertações no Brasil sobre cooperativasdissertações no Brasil sobre cooperativasdissertações no Brasil sobre cooperativasdissertações no Brasil sobre cooperativasdissertações no Brasil sobre cooperativas

Fonte: CAPES, 2002

ANEXANEXANEXANEXANEXO 3 - Evolução do númerO 3 - Evolução do númerO 3 - Evolução do númerO 3 - Evolução do númerO 3 - Evolução do número de teses deo de teses deo de teses deo de teses deo de teses dedoutorado no Brasil sobre cooperativas,doutorado no Brasil sobre cooperativas,doutorado no Brasil sobre cooperativas,doutorado no Brasil sobre cooperativas,doutorado no Brasil sobre cooperativas,

segundo ramos do cooperativismosegundo ramos do cooperativismosegundo ramos do cooperativismosegundo ramos do cooperativismosegundo ramos do cooperativismo

Fonte: CAPES, 2002

Ano M D Total 2001 43 9 52 2000 36 13 49 1999 29 7 36 1998 27 9 36 1998 12 1 13 1997 16 2 18 1996 11 0 11 1995 15 3 18 1994 14 1 15 1993 19 2 21 1992 10 0 10 1991 12 0 12 1990 5 1 6

Total Agro- pecuária

Saúde Educação Produção Infra- Estrutura

Trabalho Crédito Outros

2001 9 4 1 2 1 1 2000 13 9 2 1 1 1999 7 6 1 1998 9 7 1 1 1997 1 1 1996 2 2 1995 1994 3 2 1 1993 1 1 1992 2 1 1 1991 1990

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ANEXANEXANEXANEXANEXO 4 - Evolução do númerO 4 - Evolução do númerO 4 - Evolução do númerO 4 - Evolução do númerO 4 - Evolução do número deo deo deo deo dedissertações de mestrado no Brasil sobredissertações de mestrado no Brasil sobredissertações de mestrado no Brasil sobredissertações de mestrado no Brasil sobredissertações de mestrado no Brasil sobre

cooperativas, segundo ramos docooperativas, segundo ramos docooperativas, segundo ramos docooperativas, segundo ramos docooperativas, segundo ramos docooperativismocooperativismocooperativismocooperativismocooperativismo

Fonte: CAPES, 2002

Total Agropec Saúde Educa Produ Inf.Estr Trab Cred Outros 2001 43 16 3 1 3 11 2 7 2000 36 14 5 1 1 6 1 8 1999 29 11 3 2 1 6 1 5 1998 27 11 3 2 1 4 1 5 1997 12 4 3 1 2 2 1996 16 9 1 1 1 4 1995 11 9 1 1 1994 15 7 2 2 2 2 1993 14 8 3 3 1992 19 14 1 4 1991 10 6 2 2 1990 12 8 1 1 2

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