Cenografia - do espaço cênico ao espaço expositivo_Anna Zidanes

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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes e Comunicao Departamendo dDesign Programao Visual

Cenografia: do espao cnico ao espao expositivoAnna Elisa do Nascimento ZidanesOrientadora Oriana Duarte Coorientador Marcondes LimaRecife, outubro de 2006

Cenografia: do espao cnico ao espao expositivo

Monografia defendida em 19 de outubro de 2006, e aprovada com nota ____ pela banca examinadora, constituda pelos professores, com requisito parcial para a concluso do Curso de Desenho Industrial/Programao Visual da Universidade Federal de Pernambuco.

Examinador externo

Examinador interno

Orientador

A Etel, pela ateno e fomento minha formao cultural, desde sempre.

AgradecimentosA Oriana Duarte e Marcondes Lima, pela orientao. Albino Oliveira, pelo acesso ao conhecimento terico. Clarisse Hoffmann, por me favorecer preciosa oportunidade prtica. Equipe da Casa do Carnaval, pelas informaes gentilmente cedidas. Josivan, pela lealdade e incentivo. Minha me, por tudo.

SumrioIntroduo.07 I. Fundamentao Terica 1. O Teatro e a Exposio.11 2. Espao Cnico e Cenografia.14 2.1. Tipologias do Espao Cnico.15 2.2. Modos cenogrficos.26 3. Espao Expositivo e Expografia.38 3.1. Tipologias do Espao Expositivo.41 3.2. Modos expogrficos.44 4. Cenografia como recurso expogrfico.47 II. Estudo de Caso 5. A Exposio Dona Santa e Mestre Salu.515.1. Referncias Conceituais da Exposio.54 5.2. Fase de Planejamento e Conceito.56

6. A Concepo da Exposio.586.1. Escolha do contedo material da exposio.59 6.2. Adaptao de conceitos aos recursos cenogrficos.61 6.3. Definio dos elementos da exposio.63

7. A Realizao da Exposio.657.1. Planejamento da forma de apresentao do acervo.65

7.2. Identidade Visual da Exposio.72 7.3. Consideraes finais.76 8. Concluso.82 Referncias Bibliogrficas.86 Bibliografia.87 Anexos.91

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IntroduoA existncia de museus e instituies de arte contribui para a formao cultural e intelectual da sociedade, no sentido de proporcionar ao seu pblico a oportunidade de vivncias significativas nas atividades que promovem. Neste sentido, as exposies caracterizam-se como um meio de comunicao entre o pblico visitante e as obras de arte que compem um acervo. No mbito nacional, o ano 2000 traz um novo marco para o surgimento de novas questes que envolvem a construo do espao expositivo. Montada no prdio da Bienal, localizado no Parque Ibirapuera, em So Paulo, a Mostra do Redescobrimento Brasil +500 se apresenta de forma diferenciada das exposies realizadas no pas at ento. Nas salas destinadas mostra, para a composio do espao expositivo, um elemento unia-se aos objetos e obras de arte em exibio - a Cenografia teatral. Com surgimento nas artes cnicas, a Cenografia tem como funo principal trazer para a cena os elementos visuais que iro compor o espao cnico. Norteada pela concepo do encenador, a proposta de um cenrio cria o lugar da ao, ou seja, o lugar onde habitam os personagens. Devendo atingir, ainda, o emocional do pblico espectador atravs do sentido visual. A utilizao da cenografia na composio de espaos expositivos torna-se recorrente a partir das duas ltimas dcadas do sculo XX. Neste sentido, artistas e tericos de arte dividem-se emitindo opinies diversas sobre esta prtica. So freqentes as idias que vm o emprego da cenografia como um risco liberdade interpretativa do observador. Outras reflexes apontam, ainda, para o risco de sobreposio visual e/ou conceitual dos cenrios criados, em relao aos objetos expostos.

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A expografia a atividade da museologia que lida com o planejamento, projeto e montagem da exposio. Na realizao do projeto da exposio, em alguns casos, a tarefa de trazer para o campo visual a concepo do curador, na contextualizao dos objetos expostos, implica a adoo de recursos variados. Neste sentido, podem ser utilizados sons, textos, cenrios, texturas, cheiros e dispositivos tecnolgicos. Para a realizao do projeto de uma exposio so utilizadas ferramentas componentes da atividade de Design. Organizao, planejamento e configurao auxiliam na definio do partido projetual da exposio. A percepo desta relao representou motivao significativa para a realizao da presente pesquisa. O presente trabalho traz o estudo de caso da exposio intitulada Dona Santa e Mestre Salu, realizada na Casa do Carnaval, em Recife/PE, no perodo de 01 a 24 de fevereiro de 2005. Pretende-se analisar as variveis que determinam o uso da cenografia como recurso expogrfico. Assim, foi utilizado o mtodo descritivo, que prope-se a descrever aquilo que observvel, fatual, nomeando-se as etapas que compem um processo. Sero demonstradas as etapas que compuseram o projeto para a realizao da exposio. Na Fundamentao Terica, buscou-se conhecer as contribuies cientficas para a temtica, atravs do estudo das reas de Cenografia, Museologia e Design de Exposies. Para as duas primeiras foram utilizados ttulos nacionais, alm de textos e artigos publicados em revistas e sites da Internet. Pela escassez de publicaes nacionais na rea de Design de Exposies, ttulos em lngua estrangeira, foram consultados. O primeiro captulo, O Teatro e a Exposio, traz uma reflexo em torno das linguagens teatral e expositiva, onde alguns dos elementos inerentes s duas linguagens so aproximados em vista da temtica tratada nesta pesquisa. No captulo seguinte, Espao Cnico e Cenografia, sero apresentadas as tipologias, ou seja, as formas de utilizao do espao cnico, e, ainda, os modos de composio cenogrfica do mesmo. Neste mesmo sentido, no captulo 3, sero tratadas as formas de utilizao do espao expositivo e os seu modos expogrficos. A abordagem sobre a

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utilizao da cenografia como um recurso expogrfico ser apresentada no captulo 4, encerrando a Fundamentao Terica. Na segunda parte do trabalho, Estudo de Caso, que trata da exposio Dona Santa e Mestre Salu, sero descritas as etapas do processo de construo do espao expositivo. A concluso desta pesquisa constitui-se no captulo 8, quando so abordados os fatores que envolvem a utilizao da cenografia no espao expositivo.

Parte I

Fundamentao Terica

Captulo 1

O Teatro e a ExposioOriginadas em perodos distintos da histria, a linguagem teatral e a linguagem expositiva so aproximadas por alguns tericos das artes que buscam discutir aspectos construtivos do espao expositivo. Verificam-se analogias entre as duas linguagens nos seguintes aspectos mais notveis: 1. a atuao do curador da exposio e do encenador do espetculo teatral, ou ainda, do curador e do autor do texto dramtico; 2. o papel do visitante da exposio e do ator de teatro; 3. a museografia da exposio e a cenografia teatral. Em uma montagem teatral, o texto carrega a essncia da temtica que ser tratada na encenao. O encenador (ou diretor), atravs de estudo aprofundado do texto, interpreta e preserva as intenes iniciais do autor, associando-as ao seu ponto de vista, sua abordagem conceitual. O conceito proposto pelo encenador nortear a atuao dos diversos profissionais envolvidos com o espetculo: o ator, na interpretao do texto; o figurinista, na criao dos trajes dos personagens; o cengrafo, na definio do lugar da ao; o iluminador na criao da luz que ambientar o espao; etc. Em algumas exposies de arte, cabe ao curador, alm da seleo e ordenao dos objetos no espao, a criao de uma narrativa, explicitando a sua viso crtica em torno da temtica apresentada. A atividade de curadoria aproximada ao trabalho de criao do autor do texto teatral, no sentido de explicitar conceitos.

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Um espetculo tem que ter diretor. (...). Por isso, agora, como qualquer espetculo, toda exposio de arte que se preze entregue a um metteur-en-scne. E como um espetculo tambm tem que ter autor, aquele que o concebe: surge o curador. [1]

Para Ferreira Gullar, este aspecto ilustra a nossa era atual, caracterizada pela promoo comercial, onde tudo vira espetculo. No ponto de vista de Gullar, este tipo de exposio, tida como um espetculo, submete o artista ao segundo plano, onde o mesmo perde a funo de selecionar e indicar as obras a serem expostas, ficando esta atribuio a cargo do curador e do diretor do espetculo. Os atores de um espetculo teatral atuam na representao do texto selecionado para a ao, e, neste sentido, imergem numa atmosfera de fantasia criada e aceita por todos os envolvidos no evento ali proposto. O pblico espectador conduzido a entrar neste jogo atravs da apreenso dos cdigos multisensoriais emitidos. Os sons das msicas, as falas dos atores em cena e o movimento dos seus corpos, alm das luzes e do desenho do cenrio, so dispositivos que provocam no espectador a apreenso da mensagem da encenao atravs dos variados sentidos da percepo humana. O papel do visitante de uma exposio aproximado ao do ator de um espetculo teatral. O visitante tido como ser ativo medida que, inserido no espao expositivo, entra em contato com os objetos expostos e com a museografia que compem tal espao.A separao entre a cena e o espao do espectador desaparece na exposio e o visitante passa a ser entendido como um ator, no sentido que, percorrendo o circuito da mostra, um ser ativo (um corpo presente e fundamental) no seu dispositivo. O seu percurso, a deambulao, essencial. [GONALVES, 2004:20]

1 [Ferreira Gullar poeta e crtico de arte]

Lisbeth Rebollo Gonalves, em seu livro intitulado Entre Cenografias - o museu e a exposio de arte no sculo XX, aborda a construo do espao expositivo e define por cenografia o que seria, at ento, definido por museografia da exposio. Para a autora, a substituio entre os termos pretende fortalecer o entendimento do papel crucial que o desenho museogrfico da exposio cumpre no processo de

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recepo esttica dos visitantes, de forma a contextualizar as obras expostas.A cenografia pe em ativao as obras em exposio, fazendo-as atuar esteticamente. [GONALVES, 2004:150]

No espetculo teatral, a cenografia tem como objetivo criar a atmosfera e o lugar onde habitam as personagens do texto encenado. Ou seja, cabe ao cengrafo materializar os conceitos propostos para a encenao de forma a atingir o pblico dramtica e sensorialmente atravs do sentido visual. A cenografia tem ainda atuao ampliada para alm das artes cnicas e da exposio, sendo tambm utilizada no cinema e na televiso. A sua funo, neste sentido, preservada, devendo a mesma atuar de forma contextualizadora. Porm, apenas o teatro e a exposio estabelecem um espao onde coabitam o pblico (visitante ou espectador) e os demais elementos inerentes s duas linguagens. No teatro e na exposio, os participantes envolvidos vivenciam experincias multisensoriais atravs dos sentidos da percepo humana, devido sua presena fsica em tais espaos. O espao cnico e o espao expositivo sero tratados nos dois captulos que se seguem. O enfoque ser dado s tipologias, ou seja, s diversas formas de utilizao dos dois espaos, e aos modos mais recorrentes de sua composio atravs do estudo da cenografia teatral e da expografia.

Captulo 2

Espao Cnico e CenografiaO edifcio teatral o espao convencional destinado s representaes teatrais. As questes estruturais e construtivas relacionadas ao edifcio teatral so tratadas pela arquitetura cnica. A delimitao da rea de ao das personagens estabelece o espao cnico. Juntamente com a interpretao do ator e o texto dramtico, o espao cnico forma a trade de elementos essenciais para a realizao de uma representao teatral. A cenografia surge nas artes cnicas com a funo de trazer para o campo visual os conceitos/valores explorados pela proposta da encenao, definindo o lugar e o tempo da ao, sugerindo ao espectador a atmosfera social/psquica na qual habitam os personagens da trama apresentada. Pretendendo-se estabelecer uma nova relao espacial com o pblico, sucessivas transformaes foram impostas ao espao cnico. Configuraram-se, ento, as seguintes tipologias: arena, semi-arena, italiano, panorama, vertical e sem limites.

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2.1. Tipologias do Espao Cnico

A seguir seis diagramas iro ilustrar as variaes tipolgicas do espao cnico. H uma verificao sobre a localizao do pblico em relao ao espao de representao.

Tipologia 1 - ARENA

[figura 01]

Forma primitiva do espao cnico, onde o pblico circunda toda a rea de representao. Nele ocorre a inexistncia de qualquer estrutura que configure a cenografia, sendo esta a tipologia recorrente na Antigidade. Datadas do sculo IV a.C., as primeiras manifestaes teatrais na Grcia Antiga aconteciam neste espao, cuja tipologia denominada arena. Esta tambm uma conformao tpica de aglomeraes em vias pblicas, estabelecida de forma espontnea para apreciao de manifestaes artsticas nas ruas e praas, como performances, nmeros circenses, teatro de rua e grande parte das manifestaes do teatro folclrico no mundo. Alguns teatros em funcionamento resgatam esta tipologia configurando os teatros de arena.FIGURA 01 [Diagrama que ilustra a tipologia de arena]

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Tipologia 2 SEMI-ARENA

REPRESENTAO

[figura 02]

Configurao dos primeiros teatros construdos na Antigidade. O pblico ainda aparece localizado em volta da representao. Esta nova tipologia surgiu quando se tornou necessrio solucionar problemas tcnicos na organizao formal da encenao, tais como trocas imperceptveis de roupa e transformaes visuais dos personagens. Nela, o pblico distribua-se em forma de semi crculo, numa semi-arena. A semi-arena se consolidou e configurou os espaos dos grandes teatros gregos e romanos. Assim como a tipologia de arena, a semi-arena tambm empregada em alguns teatros contemporneos.

FIGURA 02 [Diagrama que ilustra a tipologia semi-arena]

[figura 03]

[figura 04]

FIGURA 03 [Tipologia de arena - Teatro Paiol, Curitiba/PR.] FIGURA 04 [Tipologia de semi-arena Teatro de Arena Eugnio Kusnet, So Paulo/SP]

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Tipologia 3 ITALIANO

REPRESENTAO

B PP B[figura 05]

O LIC

Configurao comum a maior parte dos teatros convencionais em funcionamento. Tipologia consolidada no perodo Renascentista. A contribuio do teatro romano, como a criao do proscnio, da parte frontal do palco e do pano de boca cortina - aliada s transformaes realizadas pelos arquitetos e cengrafos renascentistas deu forma ao teatro italiana. Nesta configurao o palco cercado por coxias nas laterais e por uma rotunda (pano de fundo) na sua profundidade, restando ao espectador apenas a viso frontal do espetculo, como se observasse atravs de uma janela ou uma parede de vidro - a quarta parede. O urdimento e o fosso, localizados respectivamente acima e sob o palco, aliados maquinaria teatral, surgem para viabilizar mudanas rpidas de cena e trocas ilusionistas de cenrios.

FIGURA 05 [Diagrama que ilustra a tipologia italiana]

LIC O

PBLICO

[figura 06]

[figura 07] FIGURA 06 [Teatro Nacional Braslia/DF] FIGURA 07 [Teatro de Santa Isabel Recife/PE]

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Tambm foi no teatro italiana que se deu a verticalizao da platia, que se organizava hierarquicamente, de acordo com a sua posio social. De baixo para cima estabeleceram-se: as frisas (camarotes localizados junto platia), os camarotes e os balces. A separao da platia, segundo a sua posio social, praticada desde o teatro grego, com os nobres ocupando parte do espao disponvel em conseqncia da reduo da orquestra. Isto se acentua no teatro italiana. As trs ltimas variaes tipolgicas que sucederam o teatro italiana so tentativas de uma maior aproximao entre o pblico e a cena, sugerindo a dissoluo da "quarta parede". Impulsionadas pela fuga do convencional, estas novas propostas tipolgicas surgem com noteriedade a partir da segunda metade do sculo XX, resultantes das idias introduzidas pelas vanguardas artsticas.

Tipologia 4 PANORMICA

PBLICO

[figura 08]

Tipologia facilmente encontrada em espaos teatrais alternativos. Neste caso, os assentos da platia so mveis, possibilitando atender vrias propostas espaciais.FIGURA 08 [Diagrama que ilustra a tipologia panormica]

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No incio do sculo XX, a atuao de Antonin Artaud [2] caracterizou-se pela ruptura com os modelos convencionais do teatro de sua poca. As suas idias atingiram tambm o espao, onde procurou transgredir os modelos at ento estabelecidos. Propunha uma redefinio espacial, onde a ao ocorre em volta do espectador. A forma panormica tem a configurao semelhante arena, porm h uma inverso na localizao do pblico, que se posiciona no centro do espao, sendo circundado pela representao.

Tipologia 5 VERTICAL

REPRESENTAO

PBLICO

[figura 09]

Tipologia pouco recorrente. Proporciona ao espectador a visualizao de planos inusitados da encenao. A tipologia vertical se configura quando o espao de representao localizado no mesmo eixo (vertical) do espao do pblico. Para se estabelecer, esta tipologia necessita de dispositivos cenotcnicos que possibilitem a adequada visualizao do pblico, estando o espao de representao localizado acima ou sob a platia.

2 [Escritor, ator e dramaturgo francs] FIGURA 09 [Diagrama que ilustra a tipologia vertical]

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Tipologia 6 SEM LIMITES

REPRESENTAO PBLICO

[figura 10]

Nesta configurao todos os elementos do espetculo coabitam o mesmo espao com o pblico. O espao cnico coincide com o espao do pblico configurando a tipologia sem limites. Esta nova configurao introduzida por Jerzy Grotowiski [3], em 1962, no espetculo Kordian. Recorre-se tambm a este formato em alguns espetculos de rua que se executa o teatro invisvel, onde o pblico no tem conhecimento de que est imerso em uma representao teatral.

FIGURA 10 [Diagrama que ilustra a tipologia sem limites] 3 [Terico e diretor de teatro polons]

[figura 11]

FIGURA 11 [Espetculo, O Balco, encenado na tipologia vertical] FIGURA 12 [Desenho para o espetculo Kordian, encenado na tioplogia sem limites]

[figura 12]

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Intensas pesquisas, experimentos e trabalho coletivo tm sido fundamentais s encenaes contemporneas que buscam estabelecer novas relaes entre pblico e representao. Apesar de no se configurarem em novas tipologias, algumas experincias se destacam pelo seu teor inovador em estabelecer espaos alternativos de representao. O grupo de Teatro da Vertigem foi criado em 1991. Sediado em So Paulo (SP), a atuao do grupo marcada pela intensa imerso nas pesquisas que norteiam a realizao de seus trabalhos. A utilizao de espaos no convencionais para os espetculos do grupo uma marca de sua trajetria. Em 1991, o espetculo "O Paraso Perdido" foi encenado no interior de uma igreja desativada; quatro anos depois, para as apresentaes de "O Livro de J", no ano de 1995, utiliza o espao de um hospital em desuso para a sua apresentao; "Apocalipse 1,11" foi encenado nas dependncias de uma penitenciria fora de funcionamento. A mais nova produo do Vertigem, o espetaculo"BR3", estreou em 2005 e utiliza o Rio Tiet como espao de representao.

[figura 13]

[figura 14] FIGURA 13 [Cena do espetculo O Livro de J, da Cia.do Teatro da Vertigem] FIGURA 14 [Cena do espetculo BR3, da Cia.do Teatro da Vertigem]

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2.2. Modos cenogrficos

Uma verificao na histria mundial do teatro revela variaes nos modos cenogrficos em pocas distintas. Tais variaes resultaram das caractersticas e exigncias da dramaturgia de cada perodo especfico, impulsionadas, ainda, pelos avanos nas tcnicas construtivas e tecnologia disponveis. Durante a Antigidade clssica, por volta de 430a.C., um recurso cenogrfico reforava o carter mstico do teatro grego. Atravs de um guindaste, em momentos especficos e pr-determinados na trama apresentada, se faziam descer do teto Deuses ou heris. Este mecanismo ficou conhecido por Deus ex machina o deus descido da mquina. Alguns dispositivos empregados neste recurso, como cordas, polias e roldanas, espelharam-se nas embarcaes da poca e se consolidaram na maquinaria dos teatros de hoje. Segundo os registros deixados por Vitrvio terico e arquiteto romano ainda neste perodo foram realizadas as primeiras pinturas sobre tapumes de madeira e tecidos destinados a decorar a cena. Antes disso, a cerca de 490a.C., os primeiros elementos que configuravam a cenografia nos espetculos gregos eram construdos a partir de estruturas rsticas de madeira decoradas com tecidos, representando montanhas, palcios, acampamentos e muros da cidade. No teatro romano, por volta de 99a.C., a pintura sobre madeira assume carter naturalista. Painis pintados eram utilizados para decorar a parede do palco. Em 79a.C. surge um novo suporte para tais pinturas: os periactos (ou periaktois). Estes suportes consistiam em uma dupla de prismas triangulares que se localizavam nas laterais da cena. Cada uma das faces dos prismas possua uma imagem diferente. Cada imagem representava uma das trs paisagens distintas que eram destinadas representao da tragdia (vista de um palcio), da comdia (vista de uma cidade) ou da stira (vista de um campo arborizado). Os dois periactos funcionavam simultaneamente, e o movimento para alterao da paisagem era feito com um giro em torno de seu eixo central.

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[figura 15]

Foi no teatro romano que se originou o uso do pano de boca, elemento integrante do palco e largamente utilizado nas artes cnicas desde ento. O pano de boca cortina ou velrio passou a ser utilizado no teatro romano medida que os cenrios iam se enriquecendo visualmente. A idia era reservar ao pblico uma surpresa at o momento em que o espetculo fosse iniciado. Esta e outras caractersticas da arquitetura cnica, introduzidas no teatro romano, como a criao do proscnio e o desnvel do palco (mais alto) em relao ao nvel da platia, foram adotadas pelo teatro renascentista. Esta possibilidade de resgate foi possvel devido riqueza de detalhes encontrados nos registros deixados por Vitrvio. As representaes na Idade Mdia eram denominadas "Milagres" e "Mistrios" e se desencadeavam em seqncia, ao longo do cenrio previamente montado, cabendo aos espectadores deslocarem-se para acompanh-las. De carter litrgico, elas, inicialmente, utilizavam o espao interno das igrejas e, por determinao do clero, passaram a ocupar as ruas e praas.FIGURA 15 [Diagrama ilustrativo dos periactos]

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Os palcos assumem o carter itinerante a partir de 1264, quando os primeiros carros-palcos eram utilizados na Europa Ocidental por ocasio das procisses e festejos religiosos realizados nas ruas. Os palcos montados sobre carros eram largamente utilizados em pases como a Espanha, Itlia, Inglaterra e Alemanha. As representaes que faziam uso deste recurso dotavam-se de versatilidade, podendo ser apresentadas em vrios carros, estabelecendo uma seqncia de cenas, onde o espectador deslocava-se de um palco a outro. Numa alternativa diferente utilizava-se apenas um carro, que levava os cenrios j montados at os espectadores em locais de parada pr-determinados ao longo do percurso da procisso as estaes. Estruturas de grande porte, chegando a atingir 50 metros de comprimento por 20 metros de profundidade, tornavamse palcos nos quais eram montados os cenrios simultneos, que representavam lugares variados, de carter realstico ou alegrico. As pinturas nos cenrios renascentistas assumiam a forma de um ambiente urbano. A profundidade se faz presente nas novas composies estabelecendo a perspectiva pictrica. Este fato, de grande relevncia para a linguagem cenogrfica, potencializava o carter ilusrio das cenas apresentadas. Praticveis eram dispostos no proscnio e bastidores em ngulo localizados nas laterais do palco. Uma inovao quanto ao modo cenogrfico da renascena s surgiria em 1640 com o teatro barroco italiano. Molduras revestidas com telas pintadas deslizavam sobre trilhos em direo s laterais do palco, permitindo maior agilidade na troca de cenrios durante o espetculo. Alguns edifcios teatrais que abrigavam as grandes peras dispunham de espaos especialmente destinados a ocultar estes painis quando os mesmos no estivessem em uso. Estas reas localizavam-se nas duas laterais do palco, acima e abaixo do mesmo. Este tipo de cenrio tem carter ilustrativo e foi usado por mais de quatro sculos, sendo recorrente em encenaes romnticas, simbolistas, surrealistas, alm de se fazerem presentes em algumas encenaes contemporneas.

[figura 16]

FIGURA 16 [Representao de um carro-palco do sculo XVI] FIGURA 17 [Desenho de um cenrio em perspectiva pictrica, datado de 1545]

[figura 17]

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Os cenrios realistas foram marcados pelo estilo cnico que pretendia representar um fragmento da realidade. Um fato curioso, datado de 1887, ganha grande repercusso: para a encenao de "Os aougueiros" Antonie [4] traz para o palco pedaos de carne bovina crua, ainda pingando em sangue. Esta atitude provocou perplexidade no pblico presente. E ainda hoje, quando lembrada provoca polmica. Esta atitude de Antonie um importante marco para a disseminao da tendncia naturalista, e, ao mesmo tempo, fomenta iniciativas de rompimento com o estilo realista-naturalista, abolindo os teles pintados que serviam de pano de fundo para as representaes daquele perodo. Sendo assim, em oposio ao teatro naturalista, nas primeiras dcadas do sculo XX, o Simbolismo se apresenta como uma alternativa de grande relevncia para a linguagem cenogrfica. Adolphe Appia e Edward Gordon Craig [5] so dois nomes que marcam este perodo e contraprem-se prtica teatral vigente, apontando para aquilo que consideravam o teatro do futuro. Appia prope a utilizao do espao segundo a sua verticalidade, horizontalidade o cho e profundidade, pois enxerga o ator em cena como um volume em movimento, considerando que o "espao vivo" deveria interagir com o mesmo. Defendia ainda a idia do espaoluz como uma funo psicolgica, como "a alma" das personagens trazida para o campo visual. Craig pe em relevncia a unidade do espetculo: todos os elementos postos em cena devem dialogar harmonicamente, em prol da unidade visual da encenao. Ele utiliza os screens, grandes painis mveis, capazes de alterar a horizontalidade e verticalidade do palco. Para o terico ingls, a cor, assim como a textura e a densidade dos materiais traduziria simbolicamente a atmosfera da cena.

4 [Encenador francs reconhecido pelas inovaes que introduzira no teatro de sua poca] 5 [Adolphe Appia e Gordon Craig atuavam como cengrafos e trouxeram novas idias para a composio do espao expositivo no sentido da unidade visual do espetculo]

[figura 14]

FIGURA 14 [Desenho de Appia,1910] FIGURA 15 [Desenho de Craig para Electra, 1905]

[figura 15]

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Segundo Gianni Ratto [1999], a atuao destes dois profissionais foi responsvel pelas primeiras investidas na busca por uma cenografia de cunho interpretativo e no puramente ilustrativo. Atenta ainda para a aproximao estabelecida com as artes plsticas, quando o material, que antes era tido apenas como mero elemento utilitrio, passa agora a carregar signos e a expressar-se diante dos olhos da platia. As vanguardas artsticas influenciaram as mais variadas formas de expresses do campo das artes, chegado aos cenrios dos espetculos teatrais e de dana. No expressionismo, por exemplo, os cenrios eram funcionais e carregados de significados, atuando a servio do ator e da dramaturgia. A luz tinha uma considervel presena cnica e as cores estabeleciam ritmos que se repetiam tambm nos figurinos. A partir de 1920, o Bal Russo, que j atingira considervel repercusso perante o pblico da poca, inova trazendo ao palco cenrios pintados por artistas como Picasso, Matisse, Mir, entre outros. O palco era apresentado como uma enorme tela pintada. E os danarinos, por vezes trajados com figurinos tambm de autoria do artista que elaborara o cenrio, pareciam simular pinceladas de um quadro ainda em construo. Entretanto, novos artistas, reconhecidos pelo trabalho de ilustraes em livros, a partir de 1921, passam tambm a atuar na criao de cenrios e figurinos para os bals. O resultado percebido, em comparao ao trabalho dos pintores, uma maior definio dos traos, nitidez e preciso das linhas de contornos que integravam a composio, atingindo ainda uma maior riqueza nos detalhes de relevos e texturas, empregados tanto ao cenrio quanto ao figurino. A dinmica da mecanizao, que marca o movimento futurista, est presente em cenrios que exploram o uso de engrenagens, sugerindo ritmo e movimento. As cores e luzes so intensas e frenticas.Os futuristas italianos desejavam chegar a uma comunicao direta com o pblico teatral. Empregavam recursos tecnolgicos para promover a interatividade atravs de efeitos cinticos e luminosos.

[figura 16]

FIGURA 16 [Desenho de cenrio cubista do pintor Pablo Picasso para Bal Russo, 1919] FIGURA 17 [Maquete para cenrio futurista, 1928]

[figura 17]

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Na cena construtivista, contempornea Revoluo Russa, os cenrios eram dotados de planos, plataformas, cordas, guindastes e estruturas metlicas. Os figurinos dos atores faziam meno aos uniformes de trabalhadores operrios. Uma escola superior, contempornea dos movimentos artsticos de vanguarda, surge na Alemanha, em 1915: a Bauhaus. Tornando-se referncia mundial no ensino das artes, realiza inmeras experincias inovadoras tambm praticadas no campo das artes cnicas. As idias quanto ao espao de representao assemelhamse s anteriormente divulgadas por Appia e Craig, onde o fundamental para a ao consistia no movimento de formas, de cores e de luz, num equilbrio matemtico entre o conjunto destes e o corpo do ator em cena. A geometria do corpo em movimento tambm estudada. Para o espao cnico foram investidas novas idias. O Teatro Total foi criado por Walter Gropius [6], tendo em vista a ao cnica, promovendo diversas alteraes na relao pblico-representao, numa soluo mecnica empregada na arquitetura do edifcio. O espao para o Teatro Total permitia mltiplas possibilidades de utilizao, entre elas: arena, semi-arena e italiano. Mesmo no havendo sido construdo, o Teatro Total contribui com inovaes para a arquitetura teatral, sendo exposta a sua maquete em Paris, no ano de 1930. Os experimentos teatrais realizados na Bauhaus foram fundamentais para o que hoje se configura na cenografia contempornea, sobretudo no estudo da relao entre o homem e o espao e ainda na utilizao de novos materiais.

6 [Arquiteto alemo e fundador da Bauhaus]

[figura 18]

[figura 19]FIGURA 18 [Pintura em pano de fundo para cenrio construtivista, 1923] FIGURA 19 [desenho do projeto para o Teatro Total]

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Os recursos multimdia foram introduzidos em encenaes desde a primeira metade do sculo XX, a partir da aproximao entre o teatro e o cinema, caracterizando a moderna cenografia teatral, dotada, ento, de possibilidades inovadoras atividade artstica. Transparncia e translucidez passaram a habitar os elementos cnicos previamente pensados para interagir com as imagens dos projetores. A iluminao e seus efeitos de claro e escuro passam a harmonizar-se com tais elementos. A partir da dcada de 60, esta tendncia esteve associada aos princpios conceituais consolidados no trabalho de Appia e Craig. Neste sentido, o importante cengrafo de origem tcheca, Josef Svoboda, inicia os seus trabalhos na rea teatral a partir de 1943, e consagra-se na suas criaes cenogrficas. A partir da sobreposio de recursos audiovisuais projees, vdeos, cinema - aliada ao emprego de materiais como vidros e espelhos, criado, entre outros realizados por Svoboba, o cenrio do famoso espetculo Lanterna Mgica, em cartaz na cidade de Praga. Na ocasio das primeiras projees de vdeos no teatro, embora a aproximao "teatro-cinema" tenha provocado uma imediata rejeio por parte de alguns encenadores da poca - que viam entre as duas linguagens grande disparidade nas leis artsticas que as norteiam tais recursos foram amplamente explorados e continuam sendo utilizados em determinadas encenaes contemporneas. Tudo impulsionado pelos grandes avanos tecnolgicos da era digital, o que torna acessvel (inclusive financeiramente) a produo de inmeras peas audiovisuais como vdeos, animaes, efeitos especiais.

[figura 20]

[figura 21]

FIGURA 20 [Espetculo Lanterna Mgica, com cenrio de Josef Svoboda] FIGURA 21 [pera Tristo e Isolda, com cenrio de Josef Svoboda]

Captulo 3

Espao Expositivo e ExpografiaAs primeiras instituies a realizar exposies regulares de objetos e obras de arte foram os museus. Mas esta atividade s foi posta em prtica perodos aps o seu surgimento, pois, inicialmente, o seu objetivo limitava-se a abrigar e conservar colees.

ORIGEM E FUNO DO MUSEU No sculo XVII, antes do surgimento dos museus como instituies, algumas colees de obras de arte, como quadros e esculturas, eram dispostos nos sales principais das igrejas e palcios. Esta atitude, porm, no tinha o carter de tornar pblica tais colees. O termo museu de origem grega e significa templo das musas. Esta denominao decorrente da existncia de templos na antiguidade consagrados s musas. Nestes templos reuniam-se estudiosos de assuntos relacionados s cincias e filosofia. Em seguida, um outro significado foi atribudo ao termo no sentido de denominar as compilaes e colees de objetos de uma mesma natureza. J havendo se tornado uma instituio pblica, durante a segunda metade do sculo XIX, uma srie de questes acerca da funo e da responsabilidade educativa do museu para com a sociedade vieram tona. Neste mesmo perodo as colees dos museus ampliavam-se devido ao grande nmero de doaes realizadas, aumentando consideravelmente o volume de objetos destinados organizao e catalogao. A primeira exibio pblica de uma coleo de arte datada de 1750, realizada no Louvre - Frana. O Conselho Internacional de Museus ICOM, oferece a seguinte definio para os museus: toda instituio

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permanente, sem fins lucrativos, aberta ao pblico, que adquire, conserva, pesquisa e expe colees de objetos de carter cultural ou cientfico para fins de estudo, educao e entretenimento."

CLASSIFICAO DOS MUSEUS Os museus so classificados segundo a natureza do seu acervo. Museus de Cincias Naturais abrigam objetos referentes ao homem e a sua relao com a natureza e seus fenmenos; Museus Histricos tm o seu acervo composto de objetos que representam marcos e registros da trajetria da existncia humana; Museus de Arte renem pinturas, esculturas, desenhos, fotografia e demais objetos resultados da expresso artstica do homem, subdividindose em: Museus de Arte Antiga, Moderna e Contempornea. Dentro deste vasto universo que envolve os acervos dos diversos museus, algumas instituies abordam temticas especficas e configuram-se na categoria de museus temticos, como por exemplo o Museu da Lngua Portuguesa (So Paulo, BRA) e Museu do Holocausto (Washington, EUA). Alguns institutos e centros culturais abrigam exposies diversas, geralmente em carter temporrio. Neste caso, o tipo de exposies realizadas definido de acordo com o perfil de cada instituio. Em alguns casos, estes espaos dispem tambm de uma exposio de carter permanente que conta a sua prpria histria. As exposies - temporrias ou permanentes - que tm como finalidade contar uma histria so denominadas exposies temticas. Em geral destinam-se a descrever a trajetria de artistas consagrados ou personalidades histricas, ou ainda a origem e evoluo de expresses ou movimentos artsticos. A atuao do muselogo requerida em exposies onde os objetos expostos formam a coleo de um museu. Nas demais exposies podem tambm atuar os curadores, especialmente nas de arte moderna e contempornea. Parte da curadoria (ou da museologia) a indicao do tema e da finalidade da exposio, estabelecidos a partir de uma pesquisa aprofundada sobre o universo temtico que se vai abordar, tendo em vista o pblico a ser atingido.

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A museologia e a museografia so as reas especficas de formao destinadas aos profissionais que atuam em museus. Em um breve entendimento, citado por Marlene Suano em O que museu?, a primeira pode ser definida como o pensar-se o museu, enquanto que a segunda como o fazer-se o museu, e, prossegue a autora, de forma mais detalhada:a museologia comportaria a elaborao de projetos, programas, linhas de abordagem, enquanto que a museografia os executaria em sua concretude fsica. [SUANO, 1986:79]

Na prtica, a atividade do musegrafo envolve a distribuio dos espaos internos de um museu - em salas de reserva de acervo, biblioteca, sala de pesquisa - e ainda as definies em torno do projeto museogrfico da exposio a expografia. Na concepo expogrfica esto definidas as etapas que concebem o design da exposio: os suportes e mobilirios a serem utilizados, o estilo e material empregado, o tamanho e disposio do texto, a distribuio das peas no espao fsico, a iluminao, etc. Para esta finalidade, atuam na equipe idealizadora de uma exposio: profissionais de arquitetura, designers, artistas plsticos, cengrafos. A deciso pela utilizao de determinados recursos expogrficos tomada ainda no momento da concepo da exposio, quando esto sendo discutidas as questes que definem o tema e a finalidade da exposio tendo em vista o pblico que se pretende atingir. Em conjunto com o designer (projetista) da exposio, o curador elabora a concepo visual da exposio, ou seja, a forma como objetos ocuparo o espao, a seqncia e o agrupamento dos mesmos. Os vrios partidos tomados em torno da concepo visual da exposio define, ao longo da histria, uma srie de tipologias e modos expogrficos para a composio do espao expositivo.

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3.1. Tipologias do Espao Expositivo

As primeiras mostras de colees e objetos de arte que eram realizadas na Europa durante o sculo XIX trouxeram solues expogrficas que perduraram por um longo perodo chegando at o incio do sculo XX. A as paredes eram utilizadas em sua totalidade para a disposio das telas. As esculturas encontravam-se dispostas em pedestais localizados no centro da sala ou nas proximidades das suas paredes. Esta configurao do espao expositivo d forma expografia antiga. Algumas exposies temticas, realizadas na primeira metade do sculo XX, principalmente nos museus norteamericanos, utilizavam-se da reproduo realista de espaos histricos e naturais. Os recursos utilizados eram os dioramas, cenrios e ambientaes, dispostos em maior grau de importncia em relao aos objetos expostos. Esta tipologia, a expografia realista, era mais freqentemente percebida em museus que no dispunham do primor caracterstico dos acervos europeus. A partir da segunda dcada do sculo XX, os museus de arte moderna vm romper com esta tendncia, utilizando a tipologia de paredes brancas. Esta tipologia sugere a eliminao de quaisquer rudos no dilogo entre o objeto exposto e o visitante, acreditando haver encontrado a condio ideal para a apreciao da obra de arte ao atingir a neutralidade do espao expositivo. A expografia moderna passa a ser tambm adotada pelos museus de arte contempornea configurando-se como a forma convencional para a exposio de arte, sendo ainda a mais recorrente dos dias de hoje.

[figura 22]

[figura 23]

FIGURA 22 [Galeria de exposio no Louvre/FRA, 1832] FIGURA 23 [Museu de Arte Moderna de Nova York - EUA, 1948]

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A partir da terceira dcada do sculo XX, emergem as reflexes sobre a funo do museu perante a sociedade. As questes que envolvem as teorias da recepo esttica do pblico visitante de uma exposio tomam relevncia a partir deste perodo. Desta forma, a exposio passa a ser entendida como o meio de comunicao entre o pblico e a arte. neste contexto, a partir da segunda metade do sculo XX, que surgem os novos museus. Atingindo maior notoriedade na dcada de 90, estas instituies so representadas por museus construdos a partir da dcada de 70. Propem uma nova museologia baseada na heterogeneidade do pblico que se pretende atrair, abandonando a idia que o museu destina-se apenas a uma parte da sociedade social e intelectualmente privilegiada. A partir de ento, as exposies nos novos museus passam a utilizar-se da cenografia como recurso expogrfico, criando o desenho e disposio das obras no espao, ambientando a exposio atravs do uso de cores sobre as paredes e painis e empregando a iluminao. Segundo Lisbeth Rebollo, no sentido da funo comunicativa da exposio:(...) os recursos cenogrficos criam para o receptor as estratgias que funcionam como chaves da exposio, pelas quais so possveis a experincia esttica e a apreenso de contedos [GONALVES, 2004:35]

Nos novos museus, so dispostos ainda no espao expositivo os textos que fornecem informaes sobre as obras e seus autores, alm dos dados tcnicos das mesmas, acentuando a aproximao entre o pblico e a obra de arte. Sendo mais notveis em exposies temticas, a expografia que se utiliza da cenografia teatral como recurso para compor o espao expositivo ser retomada no prximo capitulo, aprofundando-se a temtica que intitula esta pesquisa.

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3.2 Modos expogrficos

No incio do sculo XX, as exposies individuais ou coletivas, realizadas no Brasil pelos artistas modernistas utilizavam o espao de estabelecimentos comerciais como galerias. Esta atitude partia de alguns artistas que no tinham os seus trabalhos selecionados para as exposies que o Estado financiava e, desta forma, agiam de maneira independente. A exposio nestes espaos contava com um grande volume de telas que eram dispostas de forma a ocupar as paredes em sua totalidade, assemelhando-se expografia antiga. A partir 1930, com a Exposio de uma Casa Modernista [7], a expografia moderna introduzida no Brasil. O objetivo desta exposio, realizada em So Paulo/SP, era apresentar um novo conceito de arquitetura. Porm para a composio dos espaos internos da casa foram utilizadas obras de artistas modernistas brasileiros, expostas nos moldes da expografia moderna. Desde ento, predominante nas exposies nacionais e bienais, a expografia moderna s veio a ser questionada em 1955 pela arquiteta e designer italiana Lina Bo Bardi que, atuando no Brasil, procedia conforme as idias para os novos museus. Para a Pinacoteca do MASP Museu de Arte de So Paulo na exposio da vasta coleo de telas a arquiteta optou por descartar a possibilidade, convencionada at ento, de disp-las nas paredes brancas e criou uma soluo inusitada para a sua apreciao, devolvendo-lhes a sua propriedade de objeto que ocupa um espao, libertando-as do confinamento da parede.

7 [Exposio criada pelo arquiteto russo George Warchavchik]

[figura 24]

[figura 25]

FIGURA 24 [Pinacoteca do Museu de Arte de So Paulo - MASP - So Paulo/BRA, 1955] FIGURA 25 [Exposio O Desenho no Brasil - Histria e Realidade, montada no SESC Pompia/SP]

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Em outro aspecto, o engajamento de Lina com a proposta social dos novos museus verificada na concepo da exposio inaugural do SESC Pompia [So Paulo], organizada pelo MASP e realizada pela arquiteta, no ano de 1982, intitulada Desenho no Brasil: Histria e Realidade. Lina define a mostra: A exposio no rarefeita, dedicada ao pblico popular. nos moldes das feiras dos sertes nordestinos e supermercados paulistas que hoje inundam todas as capitais do Brasil.[8]

Em sua atuao Lina transitava entre outras vertentes das artes visuais e aplicadas. Abarcou reas como o design, projetando museus e exposies, jias, mobilirio; e artes cnicas executando projetos de cenografia, figurino e arquitetura cnica. A sua contribuio para o design e a arquitetura no Brasil notvel, e ainda hoje os seus trabalhos so tidos como referncia por estudantes e pesquisadores que atuam nessas reas. apenas a partir dos ltimos trinta anos do sculo XX que uma nova esttica para a exposio ganha forma. Neste perodo a atuao do curador ampliada para alm da simples reunio de objetos de arte, e os projetos das exposies passam a ser concebidos conforme a sua viso crtica, estabelecendo uma narrativa no circuito da mostra. A expografia, neste sentido, toma forma segundo os critrios do curador, que dever propor a alternativa que melhor atenda s necessidades de comunicao a ser estabelecida entre o pblico visitante e os objetos expostos.

8 [Revista Valbrarte, 1983]

Captulo 4

Cenografia como recurso expogrficoA polmica em torno da utilizao de recursos cenogrficos nos espaos expositivos tem sido freqente entre os tericos das artes visuais. Esta ocorrncia verificada em revistas e catlogos, alm de peridicos publicados em sites na Internet. So apontadas questes que envolvem o risco integridade conceitual e esttica dos objetos apresentados na exposio. Alguns profissionais e crticos de arte acabaram por criar definies bastante particulares sobre esta questo, estabelecendo neologismos para denominar a atividade: "dramatizao", "cenarizao", "disneylandificao", este ltimo empregado para o caso da explorao de recursos tecnolgicos na composio do espao expositivo. O termo teatralizao de exposies verificado no texto da Doutora em Arte-educao, Ana Mae Barbosa. No ms de dezembro do ano 2000, a Revista Adusp publica o texto de sua autoria intitulado: 500 anos: comemoraes ou celebraes?. Neste texto Ana Mae faz uma crtica em relao Mostra do Redescobrimento Brasil +500 - em cartaz no ano 2000 no pavilho da Bienal em So Paulo/SP:a teatralizao nas exposies de arte procura explicitar contextos, entretanto respeitando a visibilidade das obras, assim a policemia interpretativa do observador. [9]

9 [trecho do artigo publicado no peridico]

A Mostra do Redescobrimento Brasil +500 se apresentou com destaque quanto expografia utilizada, indita em relao s formas praticadas no Brasil at ento. A opo pela utilizao da cenografia como recurso expogrfico foi claramente defendida por seu curador e demais profissionais envolvidos na construo do espao expositivo. Assim, define a curadoria:

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Decidimos incluir na mostra um elemento revolucionrio que mudasse, definitivamente, a histria das exposies no Brasil: em vez de apresentar obras de arte da forma museolgica tradicional, resolvemos transformar cada um dos mdulos da exposio em um autntico espetculo cenogrfico, a servio da maior nfase beleza dos trabalhos expostos e da compreenso do seu contedo[10]

A cenografia utilizada em exposies deve atuar em relao direta com as obras expostas, devendo-se descartar quaisquer tentativas que busquem o apelo decorativo ou meramente acessrio. Cada elemento que integra a composio expogrfica tem um sentido.(...) a inteno da cenografia "teatralizada", "dramatizada", reconstituir o lugar da obra, restaurar algo de sua origem. [GONALVES, 2004:152]

A realizao de uma exposio que utiliza a cenografia como recurso expogrfico requer um trabalho cuidadoso de uma equipe apta a concretiz-la. O projeto museogrfico de uma exposio deve contemplar todos os aspectos tcnicos e de montagem. Alm dos aspectos formais, como os suportes a serem utilizados, a distribuio e disposio dos objetos no espao.

10 [texto do curador, Edmar Cid Ferreira, publicado no catlogo da mostra]

[figura 26]

FIGURAS 26 e 27 [Mostra do Redescobrimento Brasil +500 - Mdulo da Arte Barroca]

[figura 27]

Parte II

Estudo de Caso

Captulo 5

Esposio Dona Santa e Mestre SaluIdealizada pela Prefeitura da Cidade do Recife, a exposio Dona Santa e Mestre Salu ocorreu durante o carnaval do ano de 2005, no perodo de 01 a 25 de fevereiro, no espao expositivo Casa do Carnaval.

a] Sobre a equipe de realizao: Ficha tcnical Curadoria, Projeto e Produo: ....Anna Zidanes,

Clarice Hoffmann, Paula Valadares e Ticiano Arrais.l Pesquisa e Texto: .....................Ester Monteiro e

Eduardo Pinheirol Superviso da Pesquisa: ............Carmem Llis l Projeto Grfico: ......................Paula Valadares

b] Sobre o espao expositivo A exposio foi montada no pavimento trreo da Casa do Carnaval, que fica situada na regio central da cidade do Recife, no bairro de Santo Antnio, nmero 50 do Ptio de So Pedro - rea que se insere na zona especial de preservao do Stio histrico Santo Antnio e So Jos.

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AV . D AN ER TA DE S S R. BA FE RR CA L I P ET MA E O R O R. DI RE ITA R. R. DO DA FO SC GO AL A DA CA S CA SA DO R. RN D AVA LIV O L RA ME NT O

PA. DO CARMO

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PT S. P I O D E EDR O

R. D

ES .

BC. D

R.

G UA SV

OM ARR OQU IM

[figura 28]

A Casa do Carnaval denominava-se, inicialmente, Casa do Frevo. Foi fundada em 1984 e idealizada por Claudionor Germano [11], tendo como objetivo disponibilizar um arquivo para consulta de composies de frevo, alm de um acervo de fotografias. Em 1990, aps uma reforma de ampliao, a ento denominada Casa do Carnaval, passa a abrigar exposies permanentes de adereos e elementos carnavalescos.

Em 2001, a Casa do Carnaval j funcionaria tambm como local destinado a estudo e pesquisa. Cria-se, ento, o Centro de Estudo e Pesquisa em Cultura Popular Casa do Carnaval, que tem como objetivo aprofundar a experincia de fortalecimento da poltica cultural e dar consistncia s estratgias de formao, informao e preservao do nosso patrimnio [12]. O Centro de Estudo e Pesquisa em Cultura Popular Casa do Carnaval hoje referncia para artistas, estudantes e pesquisadores, sendo responsvel por disseminar a cultura popular pernambucana.

11 [ Claudionor Germano cantor e compositor de frevo pernambucano ] 12 [texto do folder institucional do Centro de Estudo e Pesquisa em Cultura Popular Casa do Carnaval] FIGURA 28 [mapa de localizao da Casa do Carnaval]

R. D

A PR AIA

R. D O

PED RO

RANG EL

R. DQ DE CAXIAS

[figura 29]

FIGURA 29 [Casa do Carnaval - imagem da fachada da edificao]

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5.1. Referncias Conceituais da Exposio

A exposio Dona Santa e Mestre Salu foi a 39 realizada pela Casa do Carnaval e teve por finalidade homenagear, respectivamente, Maria Jlia do Nascimento e Manoel Salustiano Soares. Ambos responsveis por importantes contribuies para o fortalecimento e sobrevivncia de duas manifestaes tradicionais da cultura pernambucana: o "Maracatu de baque virado" e o "Maracatu de baque solto", aqui representados pelo Maracatu Nao Elefante e Maracatu Piaba de Ouro.

Sobre Dona Santa e Mestre Salu

l Jlia do Nascimento - Dona Santa - nasceu em Maria

Recife/PE em 1877. Durante quase duas dcadas liderou, como rainha [13], um dos mais antigos maracatus do estado de Pernambuco: O Maracatu Nao Elefante, fundado no ano de 1800. Dona Santa era tambm uma ialorix [14] bastante respeitada na cidade. Foi liderana comunitria e estabeleceu fortes ligaes com os representantes polticos da poca. Nos dias de carnaval, desfilando pelo Maracatu Nao Elefante, Dona Santa era saudada pelo pblico presente, confirmando a sua soberania dentro da manifestao, para com a sua comunidade, e tambm fora dela.

l Manoel Salustiano Soares - Mestre Salu nasceu na

cidade de Aliana/PE em 1945. Chega a Recife com 18 anos de idade, na busca de melhores condies de vida. Trouxe consigo a herana cultural deixada por seu pai, tornando-se tocador de rabeca, atuando em manifestaes populares da cultura pernambucana, tais como: cavalo-marinho, maracatu de baque solto, caboclinho, ciranda, mamulengo e coco. Fundou, em 1977, o Maracatu Piaba de Ouro, e tem hoje o seu trabalho reconhecido internacionalmente.

13 [denominao dada no maracatu para a personagem feminina que compe o cortejo real, ao lado do Rei] 14 [me de santo da religio do Candombl]

[figura 30]

[figura 31]

FIGURA 30 [Dona Santa em desfile no Maracatu Nao Elefante. Fonte: Fundao Pierre Verger, 1957] FIGURA 31 [Mestre Salu em desfile no Maracatu Piaba de Ouro. Fotografia de Tony Braga]

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5.2. Fase de Planejamento e Conceito

a] Idealizao A exposio Dona Santa e Mestre Salu foi idealizada pelo Departamento de Documentao e Formao Cultural, juntamente com o Centro de Estudo e Pesquisa em Cultura Popular Casa do Carnaval, ambos vinculados Prefeitura do Recife. A temtica a ser tratada na exposio, alm da definio do pblico alvo, local e durao, foram definidos pelas diretorias dos respectivos departamentos. Tomar conhecimento destas informaes consistiu na primeira iniciativa, fundamental para a elaborao do projeto da exposio. Este foi definido segundo os resultados obtidos em pesquisas bibliogrfica e iconogrfica.

b] Levantamento de dados

l Pesquisa Bibliogrfica

A pesquisa bibliogrfica sobre a temtica da exposio foi realizada pela equipe da Casa do Carnaval, atravs de consulta a diversas fontes publicadas nas reas de folclore e cultura popular, e entrevistas com parentes e pessoas prximas aos homenageados. Foram entrevistados especialistas em cultura popular e artistas, entre os quais destacamos: Antnio Montenegro (coordenador do LABORARTE FUNDAJ), Helder Vanconcelos (msico, ator e danarino), Jos Amaro (msico, professor da UFPE) e Joo Roberto Benjamim (folclorista, presidente da Comisso Pernambucana de Folclore).

l Pesquisa Iconogrfica

A pesquisa iconogrfica ficou a cargo da equipe de curadoria e projeto da exposio. Serviram para consultas os acervos de imagens das duas agremiaes, alm do acervo de fotografias da Fundao Pierre Verger, Agncia Lumiar de Fotografia, Imago Fotografia e ainda trabalhos independentes feitos por fotgrafos locais.

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A pesquisa iconogrfica abrangeu ainda um levantamento e estudo dos desenhos e grafismos presentes nos estandartes, adereos e vestimentas dos personagens que compem as duas agremiaes. Foram estudados os smbolos que do nome s mesmas o elefante e a piaba. Tais smbolos so ainda encontrados representados nas fachadas das sedes dos dois maracatus.

[figura 32]

c] Resultados alcanados O levantamento de dados resultou nos seguintes aspectos:l Os textos da exposio foram elaborados sob a superviso

da diretora da Casa do Carnaval, Carmem Llis. Neles so descritas as duas manifestaes, alm da relao de Dona Santa e Mestre Salu com as suas agremiaes O Maracatu Nao Elefante e o Maracatu Piaba de Ouro.l Uma mostra fotogrfica documental foi includa na

exposio. Para Dona Santa e o Maracatu Elefante foram reunidas 15 imagens de autoria do fotgrafo francs Pierre Verger. As fotografias que compuseram a mostra de Mestre Salu e o Maracatu Piaba de Ouro so de autoria dos fotgrafos: Alex Braga, Eduardo Queiroga, Gilvan Barreto, Gil Vicente, Roberta Guimares, Tony Braga e Xirumba.

FIGURA 32 [resultado do estudo grfico dos smbolos do Maracatu Nao Elefante e Maracatu Piaba de Ouro]

Captulo 6

A Concepo da ExposioTendo em vista os resultados obtidos nas pesquisas bibliogrfica e iconogrfica, a proposta da exposio deveria contemplar o seguinte conceito:

Tornar relevante o poder e a liderana das duas personagens nas suas respectivas agremiaes carnavalescas Maracatu Nao Elefante e Maracatu Piaba de Ouro. Apresentar ao pblico visitante, as caractersticas especficas do maracatu de baque solto e do maracatu de baque virado, explicitando o elo de religiosidade existente entre estas duas manifestaes da cultura popular e os cultos afro-brasileiros.

Assim, no intuito materializar os pontos chaves indicados no conceito da exposio, tornando-os visveis ao pblico visitante, foram definidos os elementos que compuseram a mostra. A partir da seleo dos objetos para o acervo, buscou-se a sua contextualizao com a adoo de recursos cenogrficos, responsveis por revelar os seus valores e significados mais implcitos relacionados temtica trabalhada na exposio.

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6.1. Escolha do contedo material da exposio

Estiveram presentes no acervo da mostra os objetos de uso pessoal das duas personagens nas suas agremiaes. No maracatu rural (ou maracatu de baque solto), o chapu, o apito e a bengala, so objetos que caracterizam o seu Mestre, representando liderana frente aos demais participantes da agremiao. Os caboclos de lana so os personagens do maracatu de baque solto mais conhecidos pelo pblico em geral. Este fato deve-se ao impacto causado pela fora de sua atuao nas apresentaes do maracatu, e riqueza visual de suas vestimentas, em especial da gola colorida que compe o seu figurino e ganha movimento, juntamente com as fitas de sua lana, durante as apresentaes. Os objetos de Mestre Salu que estiveram presentes mostra foram por ele disponibilizados. Apenas a gola do caboclo de lana foi trazida da cidade de Aliana. Esta vestimenta possui um diferencial em relao as que so atualmente confeccionadas, sendo rara pelo seu bordado em vitrilhos, enquanto nas demais so utilizadas miangas e lantejoulas. Os objetos de uso pessoal de Dona Santa a coroa, o pente, a espada e o cetro, assim como o manto da rainha do maracatu, so smbolos de poder e liderana. Por vontade de Dona Santa, ficou determinado que, aps a sua morte, que veio a ocorrer em 1962, quando tinha 85 anos de idade, as vestimentas, adereos e instrumentos do Maracatu Nao Elefante deveriam compor o acervo de um museu. Havendo ingressado na reserva tcnica do Museu do Homem do Nordeste [15], h cerca de 43 anos, os objetos de uso da rainha do Maracatu Nao Elefante jamais haviam sido expostos ao pblico.

15 [O Museu do Homem do Nordeste

integra o Instituto de Documentao da Fundao Joaquim Nabuco desde 1979, ano em que foi aberto ao pblico. O seu acervo resultado da unio dos j extinto Museu do Acar, Museu de Antropologia e Museu de Arte Popular]

[figura 33]

[figura 34]

FIGURA 33 [Coroa, pente e cetro usados por Dona Santa. Peas pertencentes reserva tcnica do Museu do Homem do Nordeste] FIGURA 34 [Gola do caboclo de lana, proveniente da cidade de Aliana]

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6.2. Adaptao de conceito aos recursos cenogrficos

A soberania de Dona Santa e a liderana exercida por Mestre Salu em suas respectivas agremiaes foi ainda reforado na exposio atravs do uso de duas imagens fotogrficas em grande formato, cada uma delas representando, com imponncia, os personagens homenageados. O elo existente entre as duas manifestaes e os cultos religiosos afro-brasileiros mostra-se mais revelado nos maracatus de baque virado (ou maracatu nao), os quais possuem ligao com os rituais realizados no candombl [16]. Para tornar este aspecto explcito na exposio, foram utilizados elementos cenogrficos na composio do espao expositivo. O piso da sala foi totalmente revestido com barro batido e coberto com folhas de canela, numa referncia aos terreiros que do lugar aos rituais religiosos dedicados s divindades que protegem os participantes do maracatu nao. As calungas (ou bonecas) so smbolos sagrados no maracatu, e por isso no puderam compor a mostra como objeto exposto. As mesmas foram representadas atravs de duas imagens fotogrficas correspondentes ao tamanho real. Por meio de rituais, destinam-se oferendas, pedidos de proteo e agradecimentos s calungas. Para lidar com os signos referentes s questes religiosas, na idia de inseri-los na exposio, foram ouvidos pesquisadores e praticantes do candombl. A convite da equipe de curadoria e projeto da exposio, esteve presente no local da mostra, dias antes de sua abertura, a Me Ivanise de Xang [17]. A mesma apontou a necessidade de dispor, em determinados pontos do espao da sala de exposio, vasos com flores amarelas.

16 [religio de origem afro-brasileira] 17 [rainha do Maracatu Encanto da Alegria]

[figura 35]

FIGURA 35 [montagem do piso de barro no espao expositivo] FIGURA 36 [ esquerda: Dona Leopoldina - calunga do Maracatu Nao Elefante, e, direita: Ritinha calunga do Maracatu Piaba de Ouro]

[figura 36]

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6.3. Definio dos elementos da exposio

Desta forma, compuseram a exposio, a fim de trabalhar os significados presentes na sua proposta conceitual, os seguintes elementos:

a] MOSTRA FOTOGRFICA

OBJETOS Fotografias de Dona Santa e o Maracatu Nao Elefante

SIGNIFICADOS Memria do personagem e sua agremiao

Fotografias de Mestre Salu Memria do personagem e o Maracatu Piaba de Ouro e sua agremiao

b] ACERVO DE OBJETOS DA EXPOSIO

OBJETOS Coroa, pente, espada e cetro

SIGNIFICADOS Poder e liderana do personagem

Chapu, apito e bengala

Poder e liderana do personagem

Manto da rainha do Maracatu Elefante

O personagem e a sua agremiao

Gola do caboclo de lana do Maracatu Piaba de Ouro

O personagem e a sua agremiao

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c] RECURSOS CENOGRFICOS

OBJETOS Imagens grficas do elefante e da piaba

SIGNIFICADOS Smbolos das agremiaes

Imagens fotogrficas em grande formato

Soberania e liderana dos personagens

Piso revestido com barro batido

Elo religioso com os rituais afro-brasileiros

Folhas de canela

Elo religioso com os rituais afro-brasileiros

Imagens das calungas

Elo religioso com os rituais afro-brasileiros

Vasos de flores amarelas

Elo religioso com os rituais afro-brasileiros

65

Captulo 7

A Realizao da Exposio7.1.Planejamento da forma de apresentao do acervoNesta fase, a prtica do design esteve voltada para a concepo e apresentao do projeto expogrfico, a partir de duas etapas:

a] Levantamento arquitetnico De posse da planta do espao, fornecida pela instituio, foram complementados os dados necessrios a um maior detalhamento das caractersticas arquitetnicas da sala de exposio, como por exemplo, a medida do p direito da casa, a altura e largura das portas e o posicionamento das instalaes da rede eltrica. [vide figura 37]

b] Distribuio espacial das peas Embora, inicialmente, o formato da sala tenha se apresentado pouco verstil, devido ao seu grande comprimento e pequena extenso de sua largura, a soluo ideal para a sua utilizao foi conseguida. Para a distribuio dos objetos do acervo no espao, a sala de exposio foi dividida simetricamente em seu comprimento, a partir de um traado imaginrio, estabelecido transversalmente. Conforme ilustrado na figura 38, a parte anterior da sala foi destinada disposio dos objetos, textos e imagens referentes a Mestre Salu e o Maracatu Piaba de Ouro. J os objetos, textos e imagens referentes Dona Santa e o Maracatu Nao Elefante foram dispostos na parte posterior da sala de exposio. Os objetos do acervo foram distribudos em 03 suportes e alinhados em seqncia no centro da sala.

4.64 0.80 2.64 0.80

1.40 2.00 1.40

RUA DO FOGOFIGURA 37 [planta baixa do espao expositivo - escala: 1/65]

12,70

2.00 1.40 2.00 1.401.2 3

13.00

1.31

3.13

RUA DE SO PEDRO [figura 37]

Objetos, textos e imagens de Dona Santa e o Maracatu Nao Elefante

Objetos, textos e imagens de Mestre Salu e o Maracatu Piaba de Ouro

[figura 38]FIGURA 38 [esquema de distribuio espacial das peas do acervo]

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c] Esquema de circulao dos visitantes

O circuito da mostra foi estabelecido a fim de melhor aproveitar o espao da sala de exposio. Das seis portas que do acesso direto ao interior do prdio da Casa do Carnaval, apenas trs delas foram destinadas entrada e/ou sada. Nas demais portas foram situados trs painis impressos com imagens em grande formato. Esta soluo possibilitou o ganho de maior espao para a disposio dos objetos e a melhor ordenao do pblico durante a visitao. A localizao dos suportes dos objetos na parte central da sala, estabeleceu dois corredores principais para circulao do pblico visitante. Desta forma, possibilitou-se o acesso aos objetos por qualquer um dos quatro lados do suporte que os abrigava.

d] Tipo e quantidade de suportes

Alguns objetos da exposio possuam particularidades que recaram sobre a deciso do suporte a ser utilizado para a sua adequada disposio. No caso dos objetos de Dona Santa, por se tratar de peas antigas, de fcil deteriorao, para a sua adequada exibio foram merecidos cuidados e ateno especiais. A opo em expor o manto da rainha do Maracatu Elefante suspenso na posio vertical seria a ideal, sendo esta a forma mais usual para a exibio de vestimentas, tendo em vista a melhor visualizao dos seus detalhes e tambm do seu todo. Entretanto, esta opo precisou ser revista pela equipe de projeto e curadoria da exposio, pois a estrutura do tecido do manto encontrava-se fragilizada pela ao do tempo. Seria necessrio, confeccionar um manequim em material especial e com as exatas medidas para receber o manto, sendo esta uma alternativa que se apresentaria bastante onerosa frente ao oramento previsto para a exposio. Evitando comprometer a sua integridade, o manto da rainha do Maracatu Elefante foi exibido na posio horizontal. Embora esta deciso, conforme previsto e avaliado pela equipe de curadoria e projeto da exposio,

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terminaria por minimizar a sua importncia diante dos demais objetos que compuseram o acervo da mostra. Na definio do tipo dos suportes, tornou-se imprescindvel o uso de vitrines para os objetos que compuseram o acervo da exposio, como forma de garantir a sua integridade contra possveis avarias ou furtos. Foram utilizadas trs vitrines para a distribuio das peas no espao. Duas delas destinadas aos objetos de Dona Santa e Mestre Salu, e, a terceira, ao manto da rainha do Maracatu Elefante.

4

5

3

7

6 2

8 1

9

FIGURA 39 [esquema de circulao dos visitantes]

[figura 38]

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7.2. Identidade visual da mostra

a] Definio do material e forma dos suportes Buscou-se no desenho das bases das vitrines o mximo de leveza para que as mesmas no se pusessem em forte contraste em relao transparncia do vidro. O material selecionado para a sua confeco foi madeira com acabamento feito em pintura. Para o dimensionamento das vitrines, levou-se em considerao a forma estreita e alongada que caracteriza a sala de exposio, a fim de que as mesmas no se apresentassem como um obstculo na circulao dos visitantes.

b] Definio das cores do ambiente e dos suportes As cores empregadas no ambiente foram as mesmas j adotadas pelas agremiaes: vermelho e branco, referentes ao Maracatu Nao Elefante; e vermelho e dourado, cores adotadas pelo Maracatu Piaba de Ouro. O vermelho esteve presente de forma predominante, sendo empregado tambm nas bases das vitrines. O dourado ganhou toda uma parede da exposio, sendo tambm utilizado na imagem grfica da piaba que foi representada pintada sobre a parede.

c] Disposio dos textos e imagens Os textos foram dispostos nas paredes, assim como as imagens que formaram a mostra fotogrfica, as fotos das calungas e as imagens grficas referentes aos smbolos das agremiaes. Trs imagens em grande formato foram dispostas em painis, que foram localizados em trs, das seis portas que do acesso Casa do Carnaval. Tais painis foram construdos em madeira. Em cada um deles foi fixado um tecido tipo voil, preservando a entrada de luz circulao de ar para o interior da sala . Nos tecidos havia a impresso de fotografias, imagens e textos. O primeiro deles exibia o ttulo da exposio. Os demais exibiam as fotografias dos homenageados da mostra, impressas em grande formato.

[figura 41]

[figura 41]

[figura 42]FIGURAS 41 e 42 [pintura do espao expositivo]

[figura 43]

FIGURAS 43 e 44 [montagem do espao expositivo]

[figura 44]

Texto Maracatu Nao

Mostra fotogrfica Dona Santa

Mostra fotogrfica Mestre Salu

Texto Maracatu Rural

Imagem grfica Piabal

Gola do caboclo de lana Cetro

Coroa e pente e pente

Manto

Chapu

Bengala

Texto crditos

Espada Espada

Apito

Painel ttulo

Texto Dona Santa

Painel Dona Santa

Texto Religiosidade

Painel Mestre Salu

Texto Mestre Salu

FIGURA 45 [esquema da composio

[figura 45]

final do espao expositivo]

Concluso

Captulo 8

ConclusoO estudo de caso, desenvolvido neste trabalho, teve como foco identificar as variveis que definem a cenografia como recurso expogrfico. Assim, foi percebida a funo dos elementos cenogrficos empregados no espao expositivo, no sentido de contextualizar os objetos do acervo que integrou a mostra. O lugar referencial, no qual habita a temtica da exposio, foi restaurado, trazendo tona significados sobre a origem dos objetos expostos. Foi possvel, ainda, verificar que esta prtica atingiu maior amplitude em sua mediao, chegando a ultrapassar os limites da concretizao material. Os valores subjetivos trabalhados na mostra, puderam ser captados tambm na esfera da percepo sensorial. A partir da reviso bibliogrfica, a aproximao entre as linguagens teatral e expositiva pode agora ser entendida nas suas relaes de analogia. E, sobretudo, as mesmas foram tambm percebidas nas suas relaes divergentes. O que confere a autonomia de cada linguagem, segundo as caractersticas especficas e essenciais que as norteiam. No estudo dos espaos cnico e expositivo, foram verificadas variaes tipolgicas mais freqentes para a sua utilizao. Compreende-se que a busca por novas relaes espaciais se sucedem no desejo promover diferentes nveis de interao com o pblico. desta forma que, no espao cnico, promovida a dissoluo da quarta parede. Introduzida pela tipologia sem limites, esta atitude representa um alto grau de interao entre o pblico e o espetculo encenado. Neste caso, proporcionada ao espectador a experincia de imergir no espao cnico, onde o mesmo, assim como o ator, recebe da atmosfera criada para a encenao, todos os estmulos sensoriais. Neste caso, o espectador passa a integrar a cena

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juntamente com os demais elementos que a compem. O pblico conduzido, neste sentido, ao abandono de uma postura contemplativa, comum ao pblico freqentador de edifcios teatrais convencionais, onde se estabelece um limite entre a rea do pblico e a rea de representao. Nesta mesma idia, para o espao expositivo, apesar de no se mostrar to nitidamente, algumas tipologias estabelecem uma fronteira entre o pblico visitante e as obras de arte em exposio. O visitante termina por atuar de forma passiva, limitando-se ao ato de olhar os objetos sua volta. visvel este aspecto nas exposies onde o espao usual configura-se numa sala com paredes brancas. Em geral, o objetivo do emprego de tais alternativas tipolgicas busca trazer relevncia aos aspectos formais da obra. Neste caso, tambm comum que a concepo para o espao expositivo fique a cargo do autor da obra, que o tem como uma extenso da mesma, ainda no sentido formal. Numa outra perspectiva, a cenografia empregada no espao expositivo funciona como um convite ao pblico visitante. Cria-se um canal de aproximao entre o mesmo e a obra exposta. Com isto, pretende-se preparar o visitante para uma experincia positiva no sentido da recepo esttica. Ganham relevncia os valores implcitos ao objeto exposto, os quais so, por vezes, no revelados na sua simples disposio no espao. Com vistas a esse respeito, o design para uma exposio requer a adoo de um mtodo que se define para alm do alcance das solues de mbito funcional. No dilogo a ser estabelecido entre o acervo exposto e o observador, buscase o emprego da interface ideal. necessrio que a leitura do visitante, em torno do geral da exposio, seja clara, livre de obstrues ou rudos resultantes da sobreposio conceitual entre os elementos que compem o espao expositivo. A identificao dos valores subjetivos, que permeiam a temtica da exposio, demanda, para a definio do partido projetual, a realizao de pesquisas nas diversas reas do conhecimento relacionadas temtica abordada na exposio. A amplitude que se estabelece na abordagem desta temtica foi verificada durante a fase de reviso te

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bibliogrfica. Foram identificadas reflexes relacionadas ao estudo do espao expositivo para a arte contempornea. Com destaque para instalaes, onde o autor tem o espao como suporte expresso artstica. Entretanto, verificouse que o aprofundamento de tais reflexes no competia ao propsito desta pesquisa, em vista do foco aqui estabelecido. No entanto, retomando as analogias verificadas entre as linguagens cnica e expositiva, verificam-se reflexes do papel do curador na concepo de exposies. A sua atuao aproximada ao trabalho realizado pelo encenador de espetculos teatrais. Para uma montagem teatral, o encenador traz cena o seu ponto de vista, ou seja a sua leitura crtica sobre o texto a ser encenado. Neste propsito, chega a resgatar para os dias atuais textos criados em perodos mais remotos, re-contextualizando-os para a contemporaneidade. De forma semelhante ao encenador, o curador atua explicitando a sua viso crtica em torno da temtica apresentada em uma exposio. Porm, no mbito das exposies nacionais, pode-se dizer que esta funo mediativa s lhe atribuda a partir da ltima dcada do sculo XX, sendo um fato ainda recente para a arte contempornea, demonstrando viabilidade realizao de novas pesquisas que buscam refletir a temtica aqui apresentada.

Referncias Bibliogrficas Bibliografia

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