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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL FRANCISCO DE ASSIS RIBEIRO DA SILVA AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA A VIDA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ADVINDOS DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) NO MUNICIPIO DE FORTALEZA. FORTALEZA 2013

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FRANCISCO ......Erradicación al Trabajo Infantil – PETI desarrolla en la vida de niños y adolecentes incluidos en el Servicio de Convivencia

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

FRANCISCO DE ASSIS RIBEIRO DA SILVA

AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO SERVIÇO DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA A VIDA DAS

CRIANÇAS E ADOLESCENTES ADVINDOS DO PROGRAMA DE

ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) NO MUNICIPIO DE

FORTALEZA.

FORTALEZA

2013

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FRANCISCO DE ASSIS RIBEIRO DA SILVA

AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO SERVIÇO DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA A VIDA DAS

CRIANÇAS E ADOLESCENTES ADVINDOS DO PROGRAMA DE

ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) NO MUNICIPIO DE

FORTALEZA.

Monografia apresentada ao curso de graduação

em Serviço Social da Faculdade Cearense –

FAC, como requisito para obtenção do título

de bacharelado.

Orientadora: Ms. Renata Custodio de Azevedo

FORTALEZA

2013

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

S586c Silva, Francisco de Assis Ribeiro da

As contribuições sociais e econômicas do serviço de convivência e fortalecimento de vínculos para a vida das crianças e adolescentes advindos do programa erradicação do trabalho infantil (PETI) no município de Fortaleza / Francisco de Assis Ribeiro da Silva. Fortaleza – 2013.

117f.

Orientador: Profª. Ms. Renata Custódio de Azevedo.

Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013.

1. Trabalho infantil. 2. Políticas públicas. 3. Criança. I. Azevedo, Renata Custódio de. II. Título

CDU 331-053.6   

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FRANCISCO DE ASSIS RIBEIRO DA SILVA

AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO SERVIÇO DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA A VIDA DAS

CRIANÇAS E ADOLESCENTES ADVINDOS DO PROGRAMA DE

ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL (PETI) NO MUNICIPIO DE

FORTALEZA.

Monografia como pré-requisito para obtenção

do título de Bacharelado em Serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense – FAC,

tendo sido aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de Aprovação:___/___/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Ms. Renata Custodio de Azevedo

Orientadora

____________________________________________________

Esp. Maria Márcia Silva Nogueira

Prefeitura Municipal de Fortaleza

____________________________________________________

Profª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos

Faculdade Cearense

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos àqueles que, com todas as dificuldades encontradas ao

logo da nossa vida, lutaram para que eu chagasse até aqui: minha amada Mãe Maria

Ribeiro e meu querido Pai Raimundo Nonato. Meu amor e agradecimento são imensos,

pelo ser humano, que graças a vocês, me tornei.

Aos meus queridos sobrinhos-filhos Bianca e Wellington, que este momento sirva de

incentivo para a vida de vocês.

Aos meus amigos Alexandre Magalhães e Tony Guedes, dois irmão que sempre estão

presentes na minha vida, seja nos momentos alegres como nos tristes.

As minhas ex-coordenadoras e amigas Milena Barros e Márcia Sant´ana, pelas quais

tenho imensa admiração e carinho e que serviram de exemplo para que eu trilhasse mais

ainda o caminho em busca dessa formação. Serei eternamente grato, minha queria

amiga Márcia Sant’ana, por em momento tão turbulento nessa caminhada, você me

estendeu a mão. Seu gesto fez grande diferença nesse processo.

A minha amigona de todas as horas Rejane Peixoto que sempre me deu força com suas

palavras sábias, e que sabe as quantas quartas séries eu andei até me tornar um

Assistente Social.

As minhas duas queridas amigas Emanuelle Guimarães e Erika Jamile, que ao longo

desses quatro anos e meio compartilharam das dores e alegrias na construção desse

sonho. A vocês, minhas queridas, o meu muito obrigado pelo incentivo, às palavras de

encorajamento e por, em momentos, nesse período em que os problemas pessoais me

afetaram e vocês emprestaram o ombro para debruçar minhas lágrimas. E só vocês

sabem como foram muitos.

Aos demais amigos e alunos que compartilharam dessa longa caminhada e a minha

segunda equipe que me acolheu com muito carinho: Amada Santos, Rafaela Viuvez,

Luna Pinheiro e Andrea Barreto.

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A todos os professores do curso de Serviço Social da FAC, que contribuíram para a

nossa formação acadêmica.

A minha querida orientadora Renata Custodio, pela paciência, carinho, profissionalismo

como tratou este momento, (e quem conhece minha história, sabe o quanto este

momento é importante para a minha vida), e pelos momentos de descontração na hora

em que mais fiquei aflito. Você é uma pessoa admirável. Muito grato.

A Associação Beneficente ao Menor Carente pelo acolhimento e colaboração na

organização dos dados dos sujeitos investigados.

As Famílias participantes desse processo de investigação que muito contribuíram com

esse trabalho de pesquisa.

A Esp. Maria Márcia Silva Nogueira e a Profª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque

Vasconcelos por terem aceitado participar da Banca de Defesa desse trabalho.

Deixei este momento para o final, pois gostaria de agradecer uma pessoa muito especial:

a Cleune Alves, que compartilha sua vida há 19 anos comigo. Meu irmão, amigo e

companheiro, a quem falta palavras para agradecer o grande incentivador que és para a

realização deste momento. A você, meu Amor, meu eterno agradecimento por tudo que

você representa na minha vida.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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“Não sei o que possa parecer aos olhos do

mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido

como um menino brincando à beira-mar,

divertindo-me com o fato de encontrar de vez

em quando um seixo mais liso ou uma concha

mais bonita que o normal, enquanto o grande

oceano da verdade permanece completamente

por descobrir à minha frente.”

Isaac Newton

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RESUMO

A presente pesquisa trata de verificaras As Contribuições Sociais e Econômicas do

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para a Vida das Crianças e

Adolescentes Advindos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no

Município de Fortaleza. Tem como objetivo Analisar as transformações e repercussão

do Serviço de Convivência e Fornecimento de Vínculos na vida dessas famílias

acompanhadas. Quanto à metodologia, tem natureza qualitativa, quantitativa,

bibliográfica e de campo. Para tanto, realizou-se visita a Associação Beneficente ao

Menor Carente, espaço escolhido para a realização dessa pesquisa; visitas esta de

caráter exploratório para melhor aproximação dos sujeitos e da dinâmica de

funcionamento deste espaço. No processo metodológico foram utilizados instrumentais

de coletas de dados como: entrevista semiestruturada; gravador e a observação. Para a

análise do objeto pesquisado e do processo investigativo, as categorias analíticas

utilizadas foram: Assistência Social, Infância e Trabalho Infantil. Os pontos analisados

nesta pesquisa revelaram que os objetivos alancado pelo SCFV para crianças e

adolescentes de 6 a 15, de acordo com o colhido pelos sujeitos investigados, na sua

maioria, tem se efetivado. O destaque está para o objetivo do Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil-PETI que visa à retirada da criança e o adolescente da situação da

exploração do trabalho precoce. De acordo com as Famílias pesquisadas, 90%

afirmaram que não houve retorno da criança ao trabalho infantil, depois que passou a

frequentar o SCFV. Segundo ainda destacou as Mães entrevistadas, o acesso as Políticas

Públicas não estão acontecendo, dessa forma, apresentando um déficit no Serviço que

atua na perspectiva da retirada da criança e do adolescente da situação de trabalho

infantil, para tanto, o acompanhamento às famílias desses sujeitos se faz essencial nesse

processo. Na visão dos entrevistados o acesso as Politicas Públicas satisfatória. Outra

situação analisada, que apesar dos resultados obtidos terem sido, na maioria,

apresentados pelos pesquisados de forma positiva, segundo apresentou a ABEMCE,

ainda há a necessidade se efetivar uma maior intervenção junto às crianças e

adolescentes do PETI. Pois, segundo está, as ações realizadas na Associação não estão

sendo diretamente focadas nesse público.

Palavras-chaves: Trabalho Infantil – Criança – Políticas Públicas.

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RESUMEN

El siguiente trabajo viene a investigar el papel social y económico que el Programa de

Erradicación al Trabajo Infantil – PETI desarrolla en la vida de niños y adolecentes

incluidos en el Servicio de Convivencia y Fortalecimiento de Vínculos del PETI, del

año 2011, en la ciudad de Fortaleza. Su objetivo es analizar las transformaciones y

repercusiones del servicio de convivencia y fortalecimiento de vínculos en la vida de las

familias acompañadas desde cerca por el mismo. La metodología utilizada fue de

naturaleza cualitativa, cuantitativa, bibliográfica y encuestas de opinión. Para ello, se

realizó una visita a la Asociación Bienhechora al Niño sin Hogar, sitio elegido para la

realización de la encuesta; también fueron registradas visitas en el sitio para mirar de

cerca a los sujetos involucrados en el proyecto y la dinámica de funcionamiento del

espacio en lo cual los niños y adolecentes se hallaban. En el proceso metodológico

fueron utilizadas herramientas para la adquisición de datos como entrevistas, aparato

para grabación y observación de la realidad. Para el análisis del objeto pesquisado y del

proceso investigativo, las categorías analíticas utilizadas fueron: bienestar social, niñez

y trabajo infantil. Los puntos analizados en esta encuesta revelaron que los objetivos

alcanzados por el SCFV para los niños y adolecentes entre 6 y 15 años, según los

sujetos analizados y observados, fueron alcanzados en su gran mayoría. El objetivo

destacado en el Programa de Erradicación al Trabajo Infantil – PETI fue la

reintegración al hogar a los niños y adolecentes en situación de riesgo y exportación

laboral, que muy temprano conocieron la dura realidad del trabajo infantil. Según las

familias encuestadas, 90% afirmaron que no hubo regreso al trabajo infantil, por parte

de los niños y adolecentes, después que los mismos pasaron a frecuentar al SCFV.

Pero, de acuerdo a las madres entrevistadas, el acceso a las políticas públicas no está

ocurriendo como antes, presentando un déficit al servicio brindado a la población

asistida por el programa y cuya perspectiva para que sus hijos no sean más explotados

laboralmente termina generando dudas e incertidumbres; así, la participación de los

familiares de estos niños y jóvenes es imprescindible al programa, pues según ellos la

asistencia ofrecida ya no es la misma de otrora, dejándolos insatisfechos y recelosos.

Otra situación analizada, que aunque los resultados han sido presentados en su mayoría

por los encuestados de una manera positiva, de acuerdo ABEMCE presentado, todavía

existe la necesidad de realizar una mayor intervención en los niños y adolescentes PETI.

En segundo lugar, las acciones que realice en la Asociación no se centran directamente

en esta audiencia.

Palabras-claves: Trabajo Infantil – Niño – Políticas Públicas.

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LISTA DE TABELAS

1.Referente as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao Gênero no ano de 2011 2.Referente as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao Idade no ano de 2011 3.Refernte as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação a Escolaridade no ano de 2011 4.Referente as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao Raça no ano de 2011 5.Referente as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao Tipo de Trabalho Infantil no ano de 2011 6. Referente as Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação a Regional no ano de 2011  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEMCE – Associação Beneficente ao Menor Carente

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

CADÚNICO - Cadastro Único

CF - Constituição Federal

CNAS - Conselho Nacional De Assistência Social

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência Social

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MDS - Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NOB - Norma Operacional Básica

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONG- Organizações Não-Governamentais

PBF - Programa Bolsa Família

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PSB – Proteção Social Básica

PSE – Proteção Social Especial

SEAS – Serviço Especializado em Abordagem Social

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SUAS - Sistema Único de Assistência Social

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................13

1 - TRABALHO INFANTIL: HISTÓRIA, CONCEITOS E LEGISLAÇÃO.........20

1.1 Um breve contexto sócio-histórica do trabalho infantil no Brasil............................20

1.2 Conceituações e tipos de trabalho infantil................................................................28

1.3 Trabalho Infantil como violação de direitos de crianças e adolescentes..................34

1.4 Fundamentações legal de enfrentamento ao trabalho infantil...................................41

2 - O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANIL E O

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VINCULOS PARA

CRIANÇAS E ADOLESCENTES DE 6 A 15 ANOS COMO ESTRATÉGIA DA

POLITICA DE ASSISTENCIA SOCIAL PARA ENFRENTAMENTO AO

TRABALHO INFANTIL NO BRASIL E EM FORTALEZ...................................49

2.1 A Política de Assistência Social como política pública de garantia de direitos e

como promotora de proteção social.................................................................................49

2.2 O SUAS e o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no Brasil.,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,53

2.3 O SUAS e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e

adolescentes de 6 a 15 anos.............................................................................................62

2.4 O Enfrentamento ao Trabalho Infantil em Fortaleza: o cenário atual do PETI e do

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes de 6

a 15 anos..........................................................................................................................64

3 - AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAS E ECONOMICAS DO SERVIÇO DE

CONVIVENCIA E FORTALECIMENTO DE VINCULOS DE 6 A 15 ANOS NA

VIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES INSERIDASNO SERVIÇO NO ANO

DE 2011, NO MUNICIPIO DE FORTALEZA.....................................................68

3.1 O perfil das crianças e adolescentes atendidas pelo Serviço no ano de 2011..........68

3.2 A Associação Beneficente Menor Carente e o SCFV: contextualizando o cenário da

pesquisa...........................................................................................................................74

3.3 Caracterizando as crianças, adolescentes e famílias entrevistadas............................77

3.4 Revelando as contribuições sociais e econômicas possibilitadas pela participação no

SCFV na vida dessas crianças, adolescentes e suas famílias em relação à (ao)..............80

Escola

Retorno ao trabalho infantil

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Direito à brincadeira

Exercício do afeto

Renda Familiar

Vida diária

Saúde

Sonhos

Acesso a políticas públicas

Acesso a conhecimentos

Consciência de direitos

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................102

APÊNDICES................................................................................................................117

 

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como finalidade investigar as contribuições sociais e

econômicas que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) trouxe para

a vida de crianças e adolescentes advindas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

(PETI), no ano de 2011, no município de Fortaleza. Para tanto, objetivamos identificar esses

dados a fim de que eles possam contribuir para entendermos melhor o SCFV-PETI, e, dessa

forma, apontar elementos capazes de melhorar o serviço ofertado aos usuários.

A Politica de Assistência Social é uma política que junto às políticas setoriais,

considera as desigualdades socioterritoriais, visando ao seu enfrentamento, à garantia dos

mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à sociedade e à universalização dos

direitos sociais. O público dessa política são os cidadãos e grupos que se encontram em

situação de risco. Ela significa garantir a todos, que dela necessita, e sem contribuição prévia

a provisão dessa proteção. A Politica de Assistência Social vai permitir a padronização,

melhoria e ampliação dos serviços assistência no país, respeitando as diferenças locais. Está

politica conta com as ações, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais, organizadas por níveis de Complexidade do Sistema Único de Assistência

Social - SUAS: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta

Complexidade.

A Proteção Social Básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio

do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares

e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social

decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços

públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de

pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre

outras).

A Proteção Social Especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a

famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência

de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias

psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho

infantil, entre outras. São serviços que requerem acompanhamento individual e maior

flexibilidade nas soluções protetivas. Da mesma forma, comportam encaminhamentos

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monitorados, apoios e processos que assegurem qualidade na atenção protetiva e efetividade

na reinserção almejada. Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema

de garantia de direito, exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada

com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo.

O PETI é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil que visa à retirada de

crianças e adolescentes de qualquer forma de exploração da situação de Trabalho Infantil.

Dessa forma, O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil atua na perspectiva do

reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direito, com foco no

desenvolvimento destes, que em hipótese alguma deverão vivenciar situação que os coloquem

em risco ou que prejudique seu desenvolvimento psicossocial, como é o caso da exploração

do trabalho infantil, que rouba da criança seu direito à infância, colocando-a na situação de

trabalhador precoce. Para tanto, em Fortaleza, o PETI conta com as ações do SCFV para

crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos visa à troca cultural e de

vivência entre pessoas, fortalecendo os vínculos familiares e sociais, incentivando a

participação social, o convívio familiar e comunitário, trabalhando o desenvolvimento do

sentimento de pertença e identidade. Entre os quatro serviços ofertados, um deles é o SCFV

para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos advindos da situação de Trabalho Infantil.

Em Fortaleza, o SCFV para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos é

desenvolvido atualmente pela Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate à

Fome – SETRA. As ações voltadas para o enfrentamento ao trabalho infantil vão desde

aquelas destinadas à identificação de trabalho infantil, por meio do Serviço Especializado em

Abordagem Social – SEAS, e ao acompanhamento das ações socioeducativas realizadas nas

entidades e núcleos executores, que ficam a cargo da Equipe do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos. O Programa conta com uma Equipe de Abordagem Social

composta por vinte e um educadores que estão locados nos quatro Centros Especializados de

Referência da Assistência Social - CREAS existentes nas Regionais I, III, V e VI, e que

cobrem todos os bairros da cidade de Fortaleza. Também faz parte nesse processo, uma

Coordenação do PETI, que fica locada na Secretaria do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome - SETRA. A equipe de Educadores da Abordagem Social é responsável pela

identificação de crianças e adolescentes em situação de exploração de trabalho e,

encaminhamento para uma dos 18 núcleos/entidades, dos quais nove são conveniados com a

Prefeitura Municipal de Fortaleza – PMF para a execução do SCFV/PETI. As atividades

pedagógicas são acompanhadas pela Equipe do Serviço de Convivência e Fortalecimento de

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Vínculos, que conta com uma equipe composta por oito Arte Educadores e um pedagogo

responsáveis pelo acompanhamento, junto aos núcleos e entidades , das atividades

socioeducativas desenvolvidas nestes equipamentos e na elaboração de planejamento, o qual é

repassado a cada mês aos Educadores.

As famílias que têm seus filhos inclusos no Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos - PETI são acompanhadas pelo Centro de Referência

Especializado da Assistência Social – CREAS durante três messes. Depois deste período, elas

passam a ser acompanhadas pelo Centro de Referência da Assistencial Social – CRAS. Esse

acompanhamento tem por objetivo conhecer as famílias atendidas, trabalhar atividades com

temas relacionados ao trabalho Infantil, família, leis, Programa Bolsa Família, entre outros

temas; identificar e acompanhar outras violações de direito existentes no âmbito familiar.

Porém, pelo grande número de demanda existente e a quantidade de profissionais dos CREAS

e CRAS, observamos que não se é capaz de se identificar, a fundo, o que realmente muda na

vida das famílias e das crianças e adolescentes atendidas pelo SCFV/PETI. Além dessas

ações, outras são realizadas nas entidades conveniadas de execução do SCFV/ PETI. Algumas

das entidades conveniadas conseguem fazer acompanhamento mais de perto às famílias:

através de visitas e reunião. Contudo, mesmo com o acompanhamento realizado pelo CREAS,

CRAS e algumas Entidades Conveniadas, percebe-se que esse acompanhamento não

consegue identificar possíveis mudanças na vida desses usuários.

Por tanto, o desejo de conhecermos melhor o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos - SCFV que acolhe crianças e adolescentes advindas do Trabalho

Infantil, veio das experiências vividas como profissional da Assistência Social, onde

exercêssemos aproximação direta com o serviço. Dessa forma, percebemos suas deficiências

no que se refere a conhecer melhor aqueles que são atendidos pelo serviço.1Nessa função, foi

possível identificarmos que muitas crianças/adolescentes inclusas no SCFV - PETI logo

abandonavam o serviço. Assim surgi a inquietação: será que o SCFV/PETI estaria trazendo

alguma mudança na vida das crianças/adolescentes retiradas da situação de trabalho infantil?

As atividades realizadas: não eram satisfatórias aos participantes? Já que muitas

crianças/adolescentes se evadiam do SCFV/PETI. Por tanto, surge o desejo de construirmos

uma Pesquisa que trouxesse, mesmo que de forma pontual, essa realidade à tona.                                                             1 A Função de Supervisor da SEAS nos proporcionou uma maior aproximação com os espaços executores do SCFV-PETI, pois o SEAS é responsável pela inserção de todas as crianças e adolescentes advindas do trabalho infantil nesses espaços. Assim, era possível perceber as ações desenvolvidas em cada equipamento de atuação do SCFV-PETI, a evasão das crianças, o retorno ao trabalho infantil, como também, as atividades utilizadas pelos equipamentos no processo de permanência das crianças e adolescentes nesses espaços.

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Percebemos que, estando mais próximo da família, conversando em lócus com o

público atendido seja possível revelar transformações na vida das Famílias acompanhadas

pelo SCFV para crianças e adolescentes advindas do Trabalho Infantil, para tanto é

fundamental a inserção no cotidiano dessas pessoas.

A pesquisa trouxe elementos que podem contribuir para a compreensão, por meio

da opinião dos participantes, acerca das mudanças que o SCFV trouxe em suas vidas: como

no caso da superação da violação de exploração do trabalho infantil, além da repercussão

financeira, sem a contribuição das crianças na renda familiar, após a inserção no SCFV-PETI.

Outro elemento importante nessa pesquisa foi saber que mudanças ocorreram no rendimento

escolar das crianças e adolescentes a partir das atividades socioeducativas desenvolvidas nos

núcleos e entidades executoras do Serviço, já que um dos problemas causados pelo trabalho

infantil é a evasão das crianças da escola, como também, o grande déficit de aprendizagem.

O trabalho aqui apresentado tem como objetivos específicos: traçar um perfil

socioeconômico das crianças e adolescentes atendidos pelo SCFV- PETI no ano de 20112,

com a finalidade de proporcionar um maior entendimento acerca dos impactos na vida desses

usuários; identificar as mudanças, de ordens social e econômica, ocorridas na vida de crianças

e adolescentes retiradas da situação de trabalho infantil e que passaram a ser acompanhadas

pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos; compreender como o SCFV tem

contribuído para que crianças e adolescentes, cada vez mais, venham rompendo com a

situação de exploração do trabalho infantil; proporcionar um maior entendimento sobre o

PETI e sobre o SCFV, como também, analisar os pontos positivos e negativos do programa e

serviço, respectivamente, com a finalidade de melhorar o atendimento aos usuários;

identificar como o SCFV vem trabalhando para que crianças e adolescentes tenham seus

direitos respeitados.

Esta investigação foi de natureza qualitativa, pois tratou de avaliar mudanças na

vida do sujeito de maneira particular, se baseado em um nível da realidade que tenta

responder de forma mais profunda as relações. Além da pesquisa qualitativa, foi necessário o

uso da pesquisa quantitativa, pois se apresentou os aspectos objetivos, trazendo para o

trabalho dados matemáticos e estatísticos. Segundo Minayo (1994), “o conjunto de dados

qualitativos e quantitativos (...) não se opõem. Ao contrário, se complementam, pois a

realidade abrangida por eles interage dinamicamente, excluindo qualquer dicotomia”.

                                                            2 O motivo pelo qual foram escolhidas as crianças e adolescentes inseridas no PETI no ano 2011 para a análise dessa pesquisa se dá pelo fato de haver certo espaço de tempo para que se pudesse fazer uma análise das contribuições do Programa na vida destes.

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17 

 

Existem três pressupostos que fundamentam o uso da metodologia quantitativa: o primeiro é o do reconhecimento da singularidade do sujeito, o segundo pressuposto é que essas pesquisas partem do reconhecimento da importância de se conhecer a experiência de vida e por fim o pressuposto, que se expressa reconhecimento de que conhecer o modo de vida do sujeito pressupõe o reconhecimento de sua existência social. (MARTINELLI, 1999: p.22).

De acordo com Minayo (2012), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos

significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse

conjunto de fenômenos humanos é entendido como parte da realidade social do ser humano.

Seguindo a linha de pensamento da autora, e que se pretende usar a abordagem interpretativa,

pois o método dialético contribuirá no sentido de desvelar e de analisar as diferentes

conjunturais, ações, contradições e inter-relações, mas sempre tendo como argumento um

pensamento crítico.

A pesquisa teve como sujeito de investigação crianças e adolescentes advindas da

situação de Trabalho Infantil que participam de atividade socioeducativa na Entidade:

Associação Beneficente ao Menor Carente (ABEMCE), um dos equipamentos de execução do

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - PETI para crianças e adolescentes de

6 a 15 anos. Essa entidade está localizada no bairro Parque São José, no município de

Fortaleza e atualmente encontra-se conveniada à Prefeitura de Fortaleza, através da SETRA

para execução das ações do SCFV naquele território.

O motivo da escolha da ABEMCE está relacionado com o grande número de

crianças e adolescentes atendidas pelo SCFV/PETI: a riqueza de dados que a Associação tem

dos participantes (existe uma organização dos dados de todos os participantes); a dificuldade

de identificar as crianças e adolescentes que participam do PETI, já que a ABEMCE conta

com vários Projetos dos quais todas as crianças e adolescentes atendidas participam, não

havendo um grupo especifico dos sujeitos advindos do Trabalho Infantil: a aproximação que o

pesquisador tem com alguns funcionários, facilitando assim, a elaboração da pesquisa.

Das crianças e adolescentes atendidas por esta entidade tirou-se uma amostragem

de cinco participantes, incluídos crianças e adolescente do sexo masculino e feminino, cujas

idades variavam entre 8 a 15 anos. Usou-se como critério ainda crianças/adolescentes inclusas

nas ações dessa entidade no ano de 2011, e que tivessem sido acompanhadas, no processo de

inclusão, pelo Serviço Especializado em Abordagem Social - SEAS, equipe essa que tem o

papel de incluir todas as crianças identificadas em situação de trabalho infantil no SCFV-

PETI. Além disso, levou-se em consideração a diversidade de situação de trabalho infantil

executado pelas crianças/adolescentes pesquisados.

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18 

 

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com as crianças/adolescentes, e

também foi necessário entrevistar uma pessoa da família responsável por estes. Em todas as

situações, a mãe foi o sujeito abordado3. O processo de conversa com os sujeitos da pesquisa

aconteceu de forma individual, no primeiro momento contou com a participação da

criança/adolescente, e outro com o responsável. Foi utilizado também o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido para resguardar o sigilo e dar segurança ao pesquisador e

aos interlocutores da pesquisa quanto ao manejo das informações prestadas4.

Segundo Minayo (1992), a entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de

campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais.

Com base em Minayo (1992), concebemos campo de pesquisa como o recorte que o

pesquisador faz, em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a

partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação.

Além dos interlocutores já citados acima, durante o processo de investigação,

achou-se necessária, para melhor compreender a realidade do SCFV na Associação

Beneficente ao Menor Carente, a realização de entrevista com um profissional da entidade

para que se pudesse traçar um pouco da história do local, como também, identificar as

atividades ofertadas aos participantes do serviço. Além da entrevista realizada com a

profissional, foi necessário, para desvelar melhor o cotidiano das crianças e adolescentes no

processo de aprendizado, realizar alguns momentos na ABEMCE5.

Importante ressaltar que antes do início de cada entrevista com as crianças e

adolescentes e seus familiares, era preenchido um questionário, a fim de colher informações

para elaboração do perfil das famílias participantes dessa pesquisa. Também foi construído

um segundo perfil, mais geral, com dados sobre crianças e adolescentes que frequentam o

SCFV desde ano de 2011. Para tanto, este contará com dados a respeito de: idade, gênero,

raça, escolaridade, atividade laboral e a Regional onde mais se realizou encaminhamentos

para o SCFV - PETI. Com esse material foi possível conhecer, mesmo de forma pontual, uma

pouco da realidade desse sujeito.

Antes de acessar o campo de estudo, realizou-se a pesquisa bibliográfica acerca de

dois temas principais: Trabalho Infantil e Política de Assistência Social. Foram utilizados

como material bibliográfico para elaboração desse estudo: artigos, jornais, revistas e livros. A

                                                            3 Ver Apêndices 1 e 2 – Roteiros de Entrevistas com criança/adolescente e com o responsável legal. 4 Ver Apêndices 3 e 4 – Termos de Consentimento Livre e Esclarecido para a criança/adolescente e para o responsável legal. 5 Ver Apêndices 5 – Roteiro de Entrevista com profissional da ABEMCE.

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19 

 

internet também contribuiu como um local de pesquisa, assim como, usou-se documentários

que tratam da temática.

No geral, os passos utilizados para a elaboração deste trabalho de pesquisa:

levantamento bibliográfico, organização do material já coletado que se resume em uma

pesquisa, anteriormente realizada do número de crianças/adolescentes inserida no PETI no

ano de 2011, como também, do material que serviu para traçar o perfil destes: idade, sexo,

escolaridade, atividade laboral, raça e regional; visita ao espaço de atuação do PETI, no caso a

ABEMCE: realização de visita exploratória ao campo, no intuito de passar alguns momentos

na instituição para compreender como se davam as ações do SCFV-PETI, a dinâmica e rotina

de trabalho, bem como para compreender melhor sobre o acompanhamento e também a

aproximação com os sujeitos da pesquisa. As entrevistas com as crianças e adolescentes

foram realizadas no próprio espaço de atuação do SCFV; já com as progenitoras, foram

realizadas em visitas nas suas residências. Em seguida, o material coletado, com as crianças,

mães e Coordenadora da ABEMCE, foi organizado, e transcrito, o qual se transformou nesse

material.

A pesquisa ficou estruturada em três capítulos. O primeiro traz uma abordagem

sobre: “O Trabalho Infantil: História, Conceitos e Legislação”. Para tanto, tentou-se trazer,

para melhor compreensão do fenômeno Trabalho Infantil, um breve contexto sócio-histórico,

deste no Brasil. Contempla-se ainda os “Conceitos e Tipos de Trabalho Infantil”, “O Trabalho

Infantil com Violação de Direitos”, “Causas e Consequências”, e por fim, “Os Marcos Legais

de Enfretamento ao Trabalho Infantil”.

No segundo capítulo apresentamos a Política de Assistência Social no

Enfretamento ao Trabalho Infantil, tendo como título: “O Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças e

Adolescentes de 6 a 15 anos de idade, como estratégia da Política de Assistência Social para o

enfrentamento ao Trabalho Infantil”. Dessa forma, procurou-se falar sobre a “Política de

Assistência Social, como Política de Garantia de Direitos e como Promotora de Proteção

Social”, “O Sistema Único da Assistência Social e o Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil no Brasil”; “O Sistema único da Assistência Social e o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para Crianças e adolescentes de 6 a 15 anos”; “O Enfrentamento

ao trabalho Infantil em Fortaleza” e “O Cenário do Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Crianças e

Adolescentes de 6 a 15 anos”.

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20 

 

O terceiro capítulo apresenta os resultados da pesquisa, e foi instituído com o

seguinte título: “As Contribuições Sociais e Econômicas do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos de 6 a 15 anos na Vida de Crianças e Adolescentes Inseridas no

Serviço no Ano de 2011, no Município de Fortaleza”. Para melhor fundamentar este capítulo,

apresentamos o perfil das crianças e adolescentes inseridas no PETI no ano de 2011 em

Fortaleza, que está expresso nesta pesquisa como: “O Perfil das Crianças e Adolescentes

Atendidas pelo Serviço no ano de 2011”; além deste, outro perfil foi criado, mais específico

com os interlocutores dessa investigação: “Caracterizando as crianças, adolescentes e famílias

entrevistadas”, que busca trazer um pouco da realidade das cinco famílias entrevistadas, com

foco nos seus contextos sócio e econômicos. Segue ainda neste capítulo uma breve

contextualização da ABEMCE. Por fim, o último tópico traz como título: “As Contribuições

do SCFV na vida dessas crianças e adolescentes e suas famílias”.

1.0. TRABALHO INFANTIL: HISTÓRIA, CONCEITOS E LEGISLAÇÃO.

1.1. UM BREVE CONTEXO SOCIOECONÔMICO DO TRABALHO INFANTIL NO

BRASIL

Em meio a grandes transformações econômicas, políticas e sociais, que marcaram

a era da revolução industrial capitalista no século XIX no Brasil, a infância passa a ter uma

nova conotação e uma dimensão social jamais antes vista no mundo ocidental. Essas

transformações que afetam a infância refletem na proteção que era dada a esta no âmbito

privado da família e da Igreja, passando a tornar-se uma questão de ordem social, onde a

criança deixa de ser objeto de interesse da família e da Igreja, como citado acima, para torna-

se competência administrativa do Estado.

Este século, de acordo com pesquisadores, foi de bastante importância na

formação da sociedade moderna. Nesses moldes de transformação, o Brasil caminha com esse

mesmo ideal: o crescimento do país era “deslumbrado” pelos parâmetros de desenvolvimento

dos países ditos civilizados. Sendo assim, era preciso criar novos modos e formas, uma nova

mentalidade, provocando assim, uma revolução de pensamento. A descoberta de novas

culturas fascinava a elite brasileira que deseja ver o país desenvolvido. Para tanto, fazia-se

necessário extrair culturalmente dos países desenvolvidos, como os da Europa, a “beleza” de

uma cidade moderna e civilizada. (REZZINNI, 2008)

É nesse período que a infância passa a ocupar lugar de destaque, diferente da que

se referiu o parágrafo anterior, quando a atenção dada criança era voltada para a caridade da

Igreja e da família. Nesse período de transformações da sociedade brasileira, a criança passa a

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ser vista com destaque, passando a ter valor para a nação que tinha como modelo de infância,

a partir da construção da modernidade. Assim, a criança tornou-se a “chave para o futuro, um

ser em formação” – dócil e moldável. A ideia era que ao ser moldada, a criança se tornaria

homem de bem, pessoa útil para o desenvolvimento da nação ou, de outra maneira, poderia se

transformar em um ser vicioso que traria prejuízo para os cofres públicos.

Essa nova ótica de civilizar a criança, moldar para que essa pudesse, no futuro,

contribuir para o desenvolvimento do país, não se poderia mais atribuir a função de cuidados

ao âmbito familiar e nem tão pouco a caridade da Igreja. Em nome da garantia de uma nação

onde houvesse ordem e paz, era preciso uma ação enérgica e imediata: dessa forma, o Estado

toma para si, a obrigação do papel de colocar em prática o ideal de transformar a criança em

um ser civilizado. A tutela da criança passa a ser, agora, do âmbito público. (RIZZINI, 2008)

As influências positivistas e a evolucionistas eram predominantes nessa época, era

preciso vigiar a criança para que ela não se desviasse: sendo assim, essa questão passou a

fazer parte de uma missão eugênica, cujo objetivo era a regeneração da ração humana.

O período medial na Europa foi marcado por um fenômeno bastante comum no

Brasil: as famílias tinham por costume o abandono de seus filhos, ou simplesmente não lhes

dispensavam maiores cuidados. Essa prática, no momento atual de construção de uma nova

nação, onde a população precisava se tornar civilizada, inclusive os mais pobres, a prática do

abandono passou a não mais ser tolerada pela elite brasileira. Dessa maneira, era preciso

combater essa prática no país, principalmente, se associado aos mais pobres, pois é deles a

culpa pelas consequências da vagabundagem, mendicância, entre outros males que assolavam

a sociedade na época, comportamento este, que com certeza, levaria ao vício e,

consequentemente, acabaria na criminalidade. (Del Priore, 2003: p.1)

A atuação do Estado se deu nesse período por meio de uma concepção higienista e

saneadora da sociedade, objetivando assim, atuar no foco das doenças e da vagabundagem.

Nesse contexto de moralização, essa ação era direcionada aos mais pobres, pois a degradação

da sociedade passa a ser vista como um problema de ordem social e moral, essa estando

entendida como obrigação do Estado. Assim, a criança torna-se o foco dessa intervenção, pois

já fazendo parte da ação do Estado, seria considerado o principal instrumento para que se

configure a ação do Poder Público junto à família, atingindo dessa forma, os transgressores no

nível mais individual e privado possível. Segundo Rizzini,

se os tempos eram de mudanças, no Brasil, mais que isso, os tempos eram de criação, sentia-se finalmente fundando a nação. Acreditava-se fervorosamente na possibilidade de (re) formar o Brasil – proposta que logo adquiriu dimensão de uma ampla “missão saneadora e civilizatória”. (2008: p.25)

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Ao final do século XIX, já era possível observar os anseios das transformações no

mundo. No Brasil, essas mudanças também estavam acontecendo, pois o país vivia um dos

momentos históricos mais importantes da sua formação política e social: via-se entoar o

desejo de emancipação, a busca de materialização da sua nacionalidade. Porém, a esse tempo

de grandes mudanças, no qual o tema era “Salvar o Brasil”, o país ainda se encontrava

rodeado de diversos problemas, cujos determinantes eram uma nação marcada pelo o processo

de escravidão e proclamação da república. Ambos os fatos deixaram ao Brasil, resíduos desse

processo que dificultava os anseios de modernização do País. Então, a ideia de “Salvar o

Brasil” era simplesmente eliminar a ignorância e a barbárie que tanto se fazia presente na

sociedade, inclusive no meio da população pobre. Dessa forma, para se ver modernizado, a

parte pobre da sociedade deveria se tornar culta e civilizada. De acordo com Silvio Romero,

o momento político e social é grave, é gravíssimo. Os problemas que nos assediam a respeito de havermos arredado o trabalho da questão servil, são ainda muito sério, são da índole daqueles que decidem do futuro de um povo (Apud Sodré1983; p.92 in Rizzini 2008; p. 25).

Nesse período é possível constatar o significado social de que foi revestida a

infância, em meio a passagem do regime monárquico para o republicano. Essa transição foi de

grande importância para o país, pois foi nela que se deu a transformação na formação do

pensamento social brasileiro. A ideia de que a criança representava o “futuro da nação”,

“símbolo de esperança” ainda permeava o imaginário do povo brasileiro, com o desejo de que

para isso, fazia-se necessário que a criança deveria ser devidamente educada, e educar a

criança era tirá-la de seu meio, tido como “enfermiço”. Se reeducada, ela passaria a se útil à

sociedade. Para isso, a ação higienista contaria com conhecimentos extraídos da Psicologia e

da Pedagogia. Esses conhecimentos foram aplicados no âmbito doméstico, com a finalidade

de educar as famílias para que estas vigiassem seus filhos. As famílias que não conseguissem

realizar tal ação junto aos filhos, esses passariam a ser de responsabilidade do Estado.

Era necessária uma ação educativa para que as famílias pobres pudessem conter

os filhos, para que estes não enveredassem pelo mundo do crime. Como as famílias eram

tratadas como incapazes de educar os filhos, era crucial a ação interventiva do poder público.

Essa ação tirava das famílias o direito de criar seus filhos, e desses era roubado o direito

natural da infância, em nome de um projeto de transformação de uma nação, tão bem citado

nos parágrafos anteriores.

A ideia formada na época, a respeito da infância estava muito distante de sua

verdadeira natureza, pois, a infância era vista como algo perigoso, provocando nas pessoas a

visão de que a criança representava grande ameaça nunca antes vista. Colocava-se em dúvida

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a inocência da criança, acreditava-se que a infância era formada por elementos que indicavam

crueldade e perversão. Assim, as crianças passam a ser vistas como delinquentes sendo

necessário tirá-las da rua, dos locais ditos propícios ao mundo da criminalidade.

Certo jurista da época nos diz: “(...) contentamos de confessar que aquela lenda da

alma infantil cândida e altruísta, está morta”. (Lobo, 1907; p.28 in Rizzini, 2008; p. 26). A

autora nos traz a visão da sociedade, representada acima, na fala de uma autoridade da época,

que nos faz perceber a visão, que consideramos distorcida, a respeito da criança e sua infância

que permeava o alto escalão da classe elitizada e poderosa da época.

No contexto em que tomava forma a infância, consequentemente, a criança

(pobre) ora era vista como em perigo, ora como perigosa. Essa dualidade a respeito do

desentendimento a respeito da criança e sua infância, na verdade, se configurava como defesa

da sociedade, e não como proteção à criança. Na verdade, todas as ações voltadas para a

criança tinham como finalidade não a proteção dela, mais proteger a sociedade que acreditava

ser a criança um mal e como tal, era preciso corrigi-la aos moldes de uma sociedade que se

dizia civilizados.

Vista a criança como material e moralmente abandonada, como problema social

gravíssimo, percebe-se a necessidade de “ampliar o problema” para o âmbito jurídico. “Dessa

forma”, uma nova categoria é criada, a do “menor”, passando este a fazer referência àqueles

que são pobres e potencialmente perigosos, abandonados ou “em perigo de ser” ou “em perigo

de o ser.” A partir daí, as ações passaram a ser realizadas no âmbito: educacional, assistencial

e jurídico:

Onde constava algo relativo à infância ou a juventude, lá estava implícita a ideia de periculosidade, carregada da ambiguidade anteriormente assinada: ou a criança personificava o perigo ou a ameaça propriamente ditas (vicioso, pervertida, criminosa...) ou era representada potencialmente, perigosa (em perigo de ser). (Rizzini, 2008: p.45).

Essas instâncias tinham como objetivo a função de prevenção, educação,

recuperação e repressão. Desta maneira, a família pobre estava envolta por ações que

visavam, puramente, vigiar a criança, para que ela não se enveredasse pelo mundo da

criminalidade, consequentemente, não causasse nenhum dano à sociedade. Era preciso moldar

o pobre para que ele criasse o hábito do trabalho, inclusive, a criança, observando as regras do

“bem-viver”.

Reeducar o menor percebido como “vicioso” era uma missão. Para isso era

preciso instrui-lo, como também encaminhá-lo para o mundo do trabalho, pois o trabalho era

visto como uma alternativa para reeducação. Neste cenário, o uso da repressão também foi

uma ação desenvolvida para conter o menor dito delinquente, prevenindo que causasse danos

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e evitando a inserção no mundo do crime, para tanto, a ocupação pelo trabalho se fazia

necessário.

Além das instâncias de atendimento criado para cuidar da família pobre e seus

filhos, atuando primordialmente na infância dessas crianças, outras surgiram para contribuir

nesse processo. Podemos destacar aqui a medicina, que incorporou suas ações nesse processo,

com a finalidade de diagnosticar na infância a possibilidade de recuperação e forma de

tratamento. Sendo assim, a infância passa a ser vista também como um problema de saúde,

demandando tratamento para que fosse recuperada e pudesse contribuir com os anseios da

nação.

Ao setor jurídico coube a responsabilidade da “proteção” (criança e sociedade),

usando a punição para que prevalecesse a educação. A Assistência passa a atuar, não mais no

âmbito da caridade, em conjunto com as ações do Poder Público, levando assistência aos

pobres e desvalidos. As ações assistência-jurídica, nem sempre atuavam de forma sintonizada,

havendo discordância entre ambas, porém, os trabalhos desenvolvidos por ambas tinham

como objetivo a “salvação da criança” para transformar o Brasil. Segundo Mary Del Piore,

era muito comum o fato de noticiarem, na época, a perseguição à criança em nome do

processo de civilização do país: “Nos jornais de época, vamos começar a ver uma verdadeira

perseguição a elas por parte das autoridades, dos criminalistas, dos médicos higienistas e,

sobretudo, da população.” (Del Priore, 2013: p.7)

Percebe-se até aqui a criança e sua infância se configurando como

instrumento que impedia a nação brasileira de se desenvolver. Para a sociedade da época, a

criança pobre era tida como um sujeito desprovido de futuro, pois a própria condição de

pobreza em que viviam já os denominavam delinquentes. Para que saíssem da condição da

qual os tornavam marginais era necessário ações diversas, inclusive o uso da repressão para

coibir a proliferação desse mal na sociedade brasileira e torná-la um país civilizado. Segundo

Rizzini, é preciso entender a lógica de outro tempo na postura salvacionista dos reformadores.

Educar a criança era cuidar da nação, moralizá-la, civilizá-la. Cuidar da criança e vigiar a sua

formação moral era salvar a nação. (2008; p. 27)

A frase destacada acima entoou por varais épocas entre idos de 1800 e 1900. Para

o Estado, essa era a missão. A ideia de “salvar a criança” nada mais era do que salvar uma

nação. O processo de educação e civilização para o qual era reservada a criança se pautava na

formação desses para o mundo do trabalho. Dessa forma, inserir a criança no trabalho infantil

passou a ser a solução para coibir a marginalidade, a ociosidade e a criminalidade.

Acreditava-se que ao trabalhar a criança não mais estaria exposta a nenhum perigo, porém, a

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ideia de um país civilizado e educado traria para o cenário social uma nova forma de questão

social: o trabalho infantil.

Se no início do século XIX à infância não era dada nenhuma importância, ao

passar do tempo, com a inserção da criança no mundo do trabalho, esta se distanciou mais

ainda do seu significado original. A partir do final do século XIX e início do século XX,

apresenta-se um novo contexto: o de uma infância que precisa, desde cedo, ser inserida no

mundo do trabalho, pois só dessa forma, não será vista como uma ameaça à sociedade.

A partir de 1913, já era possível ver resquícios das ações desenvolvidas no século

anterior, pois é nesse período que a impressa da época passa a dá mais ênfase às notícias

referentes a acidentes e mortes sofridas por crianças em fábricas. Ao longo dos tempos, foi

possível constatar o perigo que essas crianças foram submetidas nas grandes fábricas e

oficinas.

Aqui podemos perceber que o processo de higienização ao qual as crianças foram

submetidas no século passado, com a ideologia de que se fazia necessária à ação para

desenvolvimento do país. Já a partir do XX, essas crianças se encontram, justamente,

inseridas no mundo do trabalho, atividade esta que para os ideais do século XIX era

necessária para conter a ociosidade e a criminalidade da criança filha da pobreza. Dessa

forma, estariam protegendo a sociedade. Nada mais era a criança que um sujeito que

necessitava de tratamento, pois o período da infância lhes remetia a um período de maldade. E

com a vigilância dos pais, a educação e o trabalho seria possível combater esse mal.

As ações de higienização desenvolvidas para educar e moldar as crianças não

tiveram êxito, pois, além de não solucionar o problema da época, ainda trouxe outro problema

para a sociedade: a naturalização do trabalho infantil. Destaque para a cidade de São Paulo,

que foi uma das primeiras cidades brasileiras a se industrializar, e como tal, a empregar

muitas crianças e adolescentes em suas fábricas.

O cotidiano de crianças e adolescentes nas fábricas e oficinas foi marcado por

acidentes, e muitas vezes, esses acidentes os levavam a morte, ou deixava sequelas que os

pequenos trabalhadores carregariam por toda a vida. Porém, além das situações acima citadas,

eles ainda eram submetidos a vários outros tipos de violência.

O processo de industrialização e sua consequente expansão trouxeram várias

consequências para uma parcela significativa de crianças e adolescentes das famílias

economicamente pobres e oprimidas da cidade de São Paulo. Contudo, essa expansão e suas

consequências não eram um fato isolado do Brasil, pois em várias partes do mundo crianças e

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adolescentes, em nome do capitalismo, tinham sua infância ceifada pela exploração do

trabalho.

As situações de trabalho que essas crianças vivenciavam eram deploráveis: o ar

era impregnado de partículas nocivas à saúde dos trabalhadores, os acidentes, que em muitos

casos, tirava a vida dos pequenos operários, eram constantes. Percebemos que tudo depunha

contra o mundo do trabalho. Mundo onde crianças e adolescentes eram inseridas como se

fossem adultos: meninos e meninas se misturavam aos adultos na esteira das fábricas, onde

passavam: vidros, bebidas, cigarros, chapéu, ferro, tijolo, móveis, entre tantos outros produtos

que passavam pelas mãos dos pequenos operários, sem que fizessem distinção, nem qualquer

outro cuidado, as particularidades e as necessidades que a condição de pessoas em

desenvolvimento necessita.

Alimentar os índices de acidentes do trabalho na cidade de São Paulo, em principio deste século, estavam os pequenos operários diariamente vitimados nas fábricas e oficinas, como Cesare Bettiferri e Antônio de Lima de Cesare de 14 anos de idade, sofreu queimaduras de segundo grau nas mãos e no rosto em janeiros de 1916 quando, trabalhava na fábrica de tecidos das Industrias Reunidas Francisco Matarazzo, quando um recipiente com água fervente entornou e o atingiu. (Del Priore 2008: p.265)

De acordo com a Repartição de Estatística e Arquivo do Estado, em 1890 na

capital, um quarto da mão-de-obra nas fábricas têxteis era composto por menores. Em 1910,

essa estatística já apresenta uma nova configuração, passando esse índice a 35% de

trabalhador infanto-juvenil. Em 1919, uma nova pesquisa foi realizada pelo Departamento de

Estadual do Trabalho, e o mesmo constatou que o total de crianças trabalhando nas fábricas

têxteis no Estado de São Paulo, era de 37%, porém, quando referido à capital, o índice era de

40%.

Observa-se que, a concentração de crianças trabalhadoras de fábricas têxteis na

capital representava um vasto percentual da soma de todos que trabalhavam no Estado.

Consequentemente, a pobreza, os doenças, a violência, o cansaço, os acidentes, as mortes

eram bem mais comuns na capital. Não que esse fosse um fato isolado desta.

Apesar na grande concentração de crianças e adolescentes trabalhando nas

fábricas têxteis, eles não deixaram de fazer partes em outros espaços industriais como:

alimentícios, químicos, metalúrgica, entre outros. Era amplo o leque de funções exercidas

pelos pequenos operários.

Crianças e adolescentes conviviam com vários tipos de situação degradante, além

de acidentes, que em muitos casos os levavam a morte. Também vivenciaram tortura e maus-

tratos por parte dos chefes e patrões no universo do trabalho. Muitos meninos e meninas

foram maltratados com ferimentos com a finalidade de corrigi-los, ou seja, às crianças que

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não conseguissem alcançar um bom nível de produção, seriam aplicados castigos. Era a

maneira que os supervisores e chefes encontravam para manter o pequeno trabalhador “na

linha”.

De fato, crianças e adolescentes foram aqueles que mais sofreram, entre os

trabalhadores, a exacerbada relação de poder hierárquica de patrões e supervisores, que

claramente os transformaram no alvo preferido de uma disciplina severa. Além disso, muitas

crianças eram maltratadas devido à teimosia, que estes exerciam junto aos chefes e

supervisores, pois o fato de serem crianças levou-nas a incorporar, a dura rotina do trabalho

nas fábricas, às brincadeiras, atividade esta ignorada pelo patrão que respondia de forma

violenta à atitude das crianças.

Nem a vida dura que a criança levava na fábrica a impediu de tentar viver sua

infância. De acordo com a grande jornada de horas trabalhada a qual era submetida à criança e

o adolescente, muitos fizeram do espaço da fábrica, o imaginário das brincadeiras. Dessa

forma, os mesmos transformavam em brinquedo aquilo que a fábrica mais tinha para oferecer:

máquinas e ferramentas de trabalho. Brincadeiras e cansaço se misturavam no imaginário dos

pequenos trabalhadores.

As brincadeiras dos menores teimosamente resistiam à racionalidade imposta pelo ambiente de trabalho e foi, ao longo do tempo, em nome da disciplina exigida nos regulamentos das fábricas e oficinas, o claro detonador de violência. (Del Priore 2004: p.268)

A atitude exercida pelas crianças e adolescentes no âmbito do trabalho era vista

como inadequada para o espaço, porém adequada a sua idade. Isso nos permite ter em relação

à presença dos menores nas fábricas e oficinas, outra percepção: segundo Del Priore,

negando-se a obedecer às regras impostas, esses menores demostravam como a condição de

criança e adolescente se contraponha, em muitas situações, à do trabalhador. (2008: p.269)

O comportamento dos pequenos operários, no interior das fábricas e oficinas, a

desobediência, a malcriação, as brincadeiras, pontuavam o cotidiano do trabalho nesse

período, apresentando-se como uma forma de resistência à história desses pequenos

trabalhadores. Tudo isso, inclusive as brincadeiras, significa a ruptura com o sofrimento e o

cansaço dos dias longos e esmagadores, vividos por eles na fábrica. Quem sabe essa não era a

maneira encontrada para desviar a situação de tensão e resgatar minimamente o direito à

infância, tão negada no século anterior, e mais uma vez se repetindo, com a inserção de

crianças e adolescentes precocemente ao mundo do trabalho.

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28 

 

1.2 CONCEITUAÇÃO E TIPOS DE TRABALHO INFANTIL

De forma geral, o conceito de trabalho infantil, é aquele realizado por criança,

como também, por adolescente que esteja abaixo da idade permitida.

No Brasil, a legislação é clara quando coloca que o trabalho infantil é proibido aos

menores de 16 anos (Lei nª 8069/90; Art.60). Porém, ela permite o trabalho na situação de

aprendiz, a partir dos 14 anos. Antes dessa idade, qualquer atividade exercida por crianças ou

adolescente é caracterizada como exploração, sendo este proibido por lei. Aos adolescentes de

16 a 18 anos não é permitido (art. 405, I, da CLT), em hipótese alguma, a realização de

trabalho em atividades insalubre, perigosa, ou penosa; não é permitido ainda, que este realize

trabalho noturno, ou os que envolvem cargas pesadas, e jornadas longas. Ainda no que se

refere à proibição do trabalho, destaca-se ainda atividades em locais ou serviços que possam

vir a lhe trazer consequências ao desenvolvimento psíquico, moral e social. É a partir da

emenda Constitucional nº 20, aprovada em 16 de dezembro de 1998, que teremos a proibição

do trabalho realizado por crianças e adolescentes, salva nas condições que foram explicitadas

anteriormente.

Segundo a definição a respeito do trabalho infantil, a Organização Internacional

do Trabalho (OIT) preconiza que “trabalho infantil” é aquele exercido por qualquer pessoa

abaixo da idade de 16 anos. Já o Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho

Infantil e Proteção ao Trabalho Infantil reconhece o “trabalho infantil” como atividades

econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem fins lucrativos, remunerados ou

não, realizados até aos 16 anos de idade, com exceção na condição de aprendiz a partir dos 14

anos, independente de sua condição ou ocupação. De acordo com De Bonis,

temos, assim, três situações onde a criança não pode trabalhar. A do Aprendiz, que a partir do 14 anos pode trabalhar em condição especial, tendo paralelamente um curso teórico. E a condição de trabalhador em si, a partir dos 16 anos, com restrição de que, antes dos 18 anos, não exercerá tarefa insalubre ou perigosa. (2013, p. 31)

Atualmente, o trabalho infantil tem se manifestado com mais frequência na

economia familiar, sendo encontrado nesse âmbito crianças com idade de até 13 anos. É

comum na atividade da agricultura familiar encontrar crianças elaborando algum tipo de

atividade na justificativa de ajuda aos pais. Quando se trata de adolescente, essa estatística

muda, pois será mais comum encontrar entre 14 e 17 anos este, com mais frequência,

trabalhando no meio urbano, exercendo alguma atividade no mercado informal. Também é

muito comum, durante viagem ao interior, encontrar adolescente em pizzaria e restaurante,

trabalhando como atendente. Segundo Lima,

quando viajamos é comum sermos atendidos por crianças e adolescentes e muitas vezes, as pessoas veem isso com muita naturalidade. Existem os que justificam com

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fala como “é da família”, porém, a família não tem o direito de explorar as suas crianças, muito menos, quando se trata de um estabelecimento comercial ou industrial. (2013, p. 1)

Podemos destacar ainda, muitas crianças e adolescentes realizando trabalho no

qual não existe um empregador definido, mas sim, toda uma cadeia produtiva. Ainda nesse

contexto, destacam-se as seguintes categorias: dos vendedores ambulantes, o trabalho de

crianças/adolescentes no lixão, na coleta de material reciclável, nas praias e semáforos.

Existe ainda, o trabalho infantil doméstico, atividade esta para quais as pessoas

não estão atentas, passando a ser invisível, com a desculpa de que se trata de uma forma de

ajuda para a criança e a família. Na maioria das vezes, essas crianças são trazidas do interior

com a promessa de estudar e na verdade, passam a serem exploradas, executado atividades

que condizem com a atribuição de um adulto, sem hora para qualquer outra atividade

pertinente a sua condição de criança em desenvolvimento. Em alguns casos, as crianças

passam a ser exploradas sexualmente. De acordo com Lima,

no seu trabalho para o Curso Sobre o Combate ao Trabalho Infantil, expressa muito bem essa situação: Muita gente acaba contratando uma adolescente, dizendo que é para que ela possa estudar que é para ajudar, mas, na verdade, acaba explorando esta criança ou, na maioria dos casos, adolescentes, que são prejudicadas em sua educação, na convivência familiar, ficando longe da família, e também no direito de ser criança. ( 2013, p.2)

Como expresso acima, o trabalho infantil doméstico é de difícil identificação, já

que este, na sua maioria, é realizado no lar. É uma atividade insalubre, cansativa até para um

adulto, ainda mais para uma criança. Sendo assim, desde 2008, o trabalho infantil doméstico

passou a fazer parte da relação da chamada “Lista TIP” (LISTA DAS PIORES FORMAS DE

TRABALHO INFANTIL).

A partir de agora, deter-nos-emos em tratar das inúmeras situações de trabalho

infantil, trazendo para essa discussão, como destaque, as piores formas de trabalho infantil.

A OIT, que através da aprovação, em 1989, da Convenção 182, ratificada pelo

Brasil em 1990, vem cobrar dos Países, que estes acabem de vez com as piores formas de

trabalho infantil até o ano de 2016. Já a Convenção 138 atua como instrumento jurídico

internacional de prevenção e erradicação do trabalho infantil, pois recomenda a elevação

progressiva dos limites de idade mínima para o trabalho, como também, estabelece esforços

para que, por meio da política pública, passem a garantir a efetiva prevenção e erradicação do

trabalho infantil. De acordo com o MDS, essas Convenções Internacionais foram ratificadas

pelo Brasil e fazem parte do ordenamento jurídico brasileiro. Nesse sentido, destaca-se o

Decreto Nº 6.481 de 12 de junho de 2008, que define a lista das piores formas de trabalho

infantil no Brasil. (2010, p.33)

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30 

 

Para melhor reconhecimento das várias formas de trabalho infantil, inclusive

referente às piores, a OIT as classificou em quatro grupos. O primeiro grupo tem como

destaque o trabalho escravo e em condições análogas, sendo dessa forma classificado com

uma das “piores formas” de trabalho infantil.

Catarino (2013), em sua fala no Fórum realizado pelo Sindicato Nacional dos

Auditores Fiscais do Trabalho, afirma que para a Auditora Fiscal, além de todo o sistema de

exploração gerado pelo trabalho, onde os adultos são escravizados pelos patrões, pela

sociedade e pelo poder econômico, a criança, além dos agravantes relacionados à escravidão

do adulto, ela ainda tem outro agravante, um dos piores: a escravidão gerada pelos próprios

pais.

O trabalhador adulto é escravizado, mas a crianças é muito mais. Porque o trabalhador adulto, quem escraviza é a sociedade, é o patrão, é o econômico. A criança, além de tudo, e escravizada pelos próprios pais, que teriam o dever primeiro de protegê-lo. (CATARINO, 2013: p. 42).

Dessa forma, os pais que escravizam seus filhos estão ferindo o Art. 4º do

Estatuto da Criança e do Adolescente, que coloca como dever da família segurar com absoluta

prioridade a efetivação do direito à vida de crianças e adolescentes.

O segundo grupo está relacionado à exploração sexual de crianças e adolescentes.

É comum, no Brasil, assistirmos a impressa divulgando situação referente a essa prática, que

envolve mulheres e meninas exportadas para outros países, para fins de exploração sexual em

cárcere privado. A Organização das Nações Unidas (ONU) e a OIT têm reunido esforços para

identificar as rotas dessa prática, como também, coibi-la. A Ásia é um exemplo onde à

questão da exploração sexual é bastante gritante. Nesse país, a questão cultural constitui

aspecto que contribui para prática. Na tradição asiática, muitas meninas são doadas pela

família, por conta de dívida contraída; ou ainda, essas meninas são doadas para a prática da

exploração sexual. Segundo Oliveira, existe também outro aspecto da atividade sexual em

muitos países da Ásia, budista, ou não, em que não existe uma relação de moralidade com a

sexualidade, o que faz com que sejam regiões propícias para esse tipo de arregaçam (2013,

p.21).

Outro agravante que está nessa relação das piores formas de trabalho infantil está

relacionado à questão do uso de crianças e adolescentes para atividades relacionadas ao

tráfico de drogas, ou a chamada atividade ilícita. Esta atividade envolve muito cedo essas

crianças que passam a conviver com alto índice de periculosidade, colocando sua vida em

constante perigo de morte, podendo ocorrer por situações banais. Ao entrar nesse universo, o

sujeito encontra dificuldade de romper com essa prática, porém, muitos externam esse desejo,

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31 

 

não encontrando suporte para esse desligamento. Dessa forma, ele não encontra outra opção a

não ser viver no mundo do crime. Esta atividade está classificada como a terceira pior forma

de exploração do trabalho infantil.

Essa prática tira a liberdade por total da criança, pois esta passa a ser monitorada

pelo tráfico. Ela também acaba por viver constantemente em uma zona de perigo, tensões

devido ao universo de violência em que está inserido, em constante risco de morte.

Geralmente, as crianças são utilizadas como “olheiros”. A função dos olheiros é de monitorar

a entrada na favela com o objetivo de alertar os traficantes, caso polícia apareça. Segundo o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (2010), muitos dormem na rua, em

telhados, lajes, para monitorar, dia e noite a favela.

Outro fato recorrente nesse meio é a intervenção da polícia, que, na maioria das

vezes, usa da repressão como forma de coibir a prática, porém ela não contribui para a

ressocialização. Para as crianças envolvidas no tráfico, não há muitas expectativas de futuro.

A probabilidade é que estes, envolvidos no mundo do crime, tenham o futuro marcado pelo

cenário de mortes, cadeia ou deficiência.

Por fim, o quarto grupo diz respeito às atividades prejudiciais à saúde e à função

moral. Estas atividades, independente do local ou da sua natureza, são capazes de afetar a

saúde da criança, colocando em risco sua vida. Ainda fazem parte desse grupo as atividades

insalubres, perigosas e prejudiciais. Segundo Lima (2013), são 93 as piores formas de

trabalho infantil, relacionados no Decreto 6.481 de 2008, com destaque para quatro delas

referentes à moralidade e outras 42 à questão da saúde.

Dentre as atividades identificadas como aquelas que afetam a moralidade e a

saúde, destacam-se aquela realizada por crianças ou adolescentes na agricultura e na pecuária,

na indústria, no comércio e nas ruas. Sendo assim, qualquer atividade em que a criança seja

exposta ao sol são sempre atividades prejudiciais à saúde, estando classificada no quarto

grupo das piores formas de trabalho infantil.

Além das atividades citadas acima ainda podemos destacar um tipo que, em

matéria de identificação, é um dos mais complexos: o trabalho infantil doméstico. Tem essa

característica, porque é realizado dentro da residência, existindo grande dificuldade de

identificação. Ademais, existe uma grande polêmica nas discussões em palestras e escolas,

quanto ao que é trabalho infantil doméstico e afazeres domésticos.

Segundo Lima (2013), a questão em torno dessa polêmica se faz presente em

vários debates, inclusive nas escolas, em razão da dificuldade na identificação do trabalho

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infantil doméstico, porém existem três situações nas quais se podem identificar a referida

problemática.

No primeiro caso, a situação acontece quando a criança exerce a atividade

doméstica fora do domicílio. Essa situação entra na estatística do IBGE como trabalho

doméstico, mas se é realizado dentro de casa, passa a ser considerado como afazeres

domésticos. Nessa situação, existem dois casos onde podemos fazer a diferença entre as duas

situações: se a criança realiza “pequenas tarefas” em colaboração com os demais integrantes

da família, não existe proibição, pois é importante que todos participem em colaboração, e

este nível de participação poderá ser aumentado, porém, de acordo com a idade da criança.

Assim, é na meninice que iniciamos o aprendizado de partilhar a vida. Nesta direção, é natural e salutar que meninos (as) participem dos afazeres domésticos necessários à vida em família; partilhem, enquanto grupo, por exemplo: dos mutirões, de limpeza da escola, da comunidade. Estes são “trabalhos” partilhados, gratuitos, dever moral, se compreendidos com o bem comum. (Carvalho, 1997: p.10)

A autora é bastante coerente em sua fala, pois traz uma reflexão sobre a

importância de, desde muito cedo, a criança partilhar afazeres coletivos, como forma de

socialização, senso de partilha e da importância de se construir um senso de responsabilidade,

fatores importantes para o desenvolvimento destes. Segundo a autora, se passarmos a ver a

atividade dos afazeres domésticos, citado no parágrafo anterior, como proibido, poderemos a

estar contribuindo para que a criança e o adolescente percam a oportunidade de se socializar,

e de partilhar na realização do pacto familiar ou do bem comum.

Porém, no segundo caso, há crianças que passam a ter responsabilidade pelos

afazeres de casa, tipo: fazer almoço, lavar roupa, limpar a casa, entre outras ações. Isso não se

caracteriza como afazeres domésticos, e sim, trabalho infantil doméstico. Estas atividades

prejudicam o desenvolvimento da criança. Além do mais, lhe rouba o direito de vivenciar sua

infância, pois desde cedo passa a somar responsabilidades que não condizem com sua

formação como pessoa em desenvolvimento.

Dando continuidade a identificação do trabalho infantil doméstico, no terceiro

caso temos a situação na qual a criança trabalha como babá. Sendo assim, temos

crianças/adolescentes que cuidam de outra criança. Em muitos casos, além da função de babá,

a criança passa a realizar atividades referentes ao cuidado com a casa. Pelo fato dessa

atividade ser realizada dentro do domicílio, torna-se de difícil identificação enquanto trabalho

infantil doméstico, não entrando nas estatísticas como tal. Porém, essa atividade representa

afazeres domésticos em regime de exploração. De acordo com Carvalho (1997), nesse caso é

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trabalho condenável, porque as exclui das oportunidades múltiplas de desenvolvimento que

lhe são necessárias.

É comum presenciarmos crianças/adolescentes vindas do interior para brincar com

crianças menores, ou às vezes, da mesma idade, com a justificativa de ajudar a família,

oferecendo estudo, roupas, alimentos etc. Porém, essas crianças/adolescentes quando chegam

acabam tornando-se empregadas da casa, passando a ter responsabilidade pelos vários

afazeres da casa, além do cuidado com crianças.

De Bonis (2013) relata bem essa situação, quando traz que entre meninas, uma das

maiores atividades, e a mais representativa, ainda é o do trabalho infantil doméstico. Segundo

o autor, o trabalho doméstico é a tarefa que mais emprega meninas no Brasil. Ainda existe o

mito da justificativa das famílias que empregam essas meninas, destacando que estão

ajudando, dando a elas uma oportunidade, pois sem esta não teriam como ter um futuro

melhor, tratando essa situação como uma ajuda natural e não como exploração do trabalho

infantil.

Ainda podemos encontrar o caso de trabalho infantil de crianças e adolescentes no

futebol e no meio artístico. Devido a grande visibilidade que é dada à criança junto à

sociedade, essa não enxerga as referidas atividades como trabalho infantil, porém, tanto uma

como a outra, são classificadas como tal. Porém, existem casos específicos de crianças, no

Brasil, exercendo tais atividades, mas tem todo um aparato legal que autoriza a participação

destes nessas atividades.

Existe a possibilidade, em casos específicos, com autorização judicial, de haver, por exemplo, a participação de crianças e adolescentes em manifestações artísticas, mas desde que seja garantido a estas crianças o direito de ser criança, com horários para brincar, com para estudar, e com todo o apoio psicológico. (Lima, 2013; p.3)

Ainda dando continuidade à explicitação sobre as diversas formas de exploração

do trabalho de criança e adolescente precocemente, destaca-se aqui o trabalho infantil na rua.

De acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, o trabalho nas ruas

é proibido devido a natural falta de atenção das crianças e adolescente, pois nas ruas estão

mais vulneráveis e sujeitos a riscos de acidentes e perigos. A realização de trabalho na rua,

antes dos 18 anos de idade, de acordo com a lei acima citada, é proibida.

Hoje, é possível encontrarmos crianças nas ruas das grandes cidades, realizado

trabalho nas formas mais degradantes: é o caso dos catadores de material reciclável,

engraxates, flanelinhas, vendedores ambulantes entre tantas outras atividades. Essas crianças

estão vulneráveis a todo tipo de situação, como é o caso das drogas, acidentes, doenças,

violência entre outras, pois na rua não encontram proteção.

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34 

 

De acordo com o MDS (2013), o trabalho realizado na rua não representa

qualquer segurança ou tipo de proteção à criança e adolescente, expondo-os a uma série de

riscos que poderão ter consequências irreversíveis ao seu desenvolvimento.

Carvalho (1997) destaca bem esta situação, quando explana a respeito de estudos

realizados, que revelam que a maioria das crianças e adolescentes trabalham em regime de

escravidão e exploração, expostos ao tempo e ao mundo da rua, muitas vezes em situação

constrangedora.

Nesse item foi possível revelar algumas formas de trabalho infantil, destacando

aqueles onde se apresentam como algumas das piores formas de exploração do trabalho

infantil, com destaque para o caso da escravidão e do tráfico; outras apresentam menor perigo

para as crianças. Porém, não podemos avaliar a partir dessa lógica, pois qualquer tipo de

atividade onde seja realizado por crianças e adolescentes, onde este não seja regularizado por

lei, independente de sua natureza, se caracteriza trabalho infantil, e consequentemente, tem

grande prejuízo para o desenvolvimento desses sujeitos.

1.3. TRABALHO INFANTIL COMO VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

No Brasil, podemos identificar várias explicações para a situação da exploração

do trabalho infantil. Porém, é possível destacar três situações que predominam para que se

tenham tantas crianças e adolescentes incorporados, de maneira tão precoce, ao mundo do

trabalho.

O primeiro fator que justifica a exploração de crianças e adolescentes no universo

do trabalho diz respeito à questão econômica da família. Dessa forma, nessa primeira

explicação, encontramos como justificativa a necessidade do trabalho de criança e adolescente

para que seja possível a manutenção econômica da família A criança se encontra “obrigada”

em colaborar com a renda familiar. Sendo assim, passa a ter responsabilidade que não condiz

com sua formação de pessoa em desenvolvimento. Passa assim a realizar alguma atividade

para que a família não passe necessidade.

O que nos é apresentado hoje são famílias que não possuem acesso a bens e

serviços, ou se existe esse acesso, ele ocorre de maneira precária. Essas famílias têm um baixo

nível de qualidade de vida, onde podemos constatar: a falta de moradia, saneamento básico,

serviço de saúde e educação, bens culturais, informações, entre outros.

Talvez a situação de pobreza, não seja o fator primordial para a ocorrência do

trabalho infantil, mas esse exerce grande influência na formação dessa situação. De acordo

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35 

 

com o MDS (2010), é relevante a pobreza na incidência do trabalho infantil, já que a Politica

Nacional por Amostragem Domiciliar (PNAD) de 2009 continua apontando os rendimentos

domiciliares baixos nas famílias das crianças/adolescentes ocupados.

Na verdade, o que vem a primeira vista, é que a pobreza é o fator predominante na

consequência do trabalho infantil. Por muitos anos, o trabalho infantil esteve ligado

diretamente à pobreza. E de fato, este é o fator que mais tem motivado as famílias a

incorporar seus filhos ao mundo degradante do trabalho infantil.

Porém, ao longo do tempo, constatou-se que a pobreza, por si só, não é geradora e

causadora do trabalho infantil. Destacando a segunda consequência que está relacionada à

tradição, ou melhor, especificando, à questão cultural.

Hoje e bastante comum, principalmente no Brasil, as pessoas abordarem, quando

se fala em combate ao trabalho infantil, buscando justificar “que a criança precisa trabalhar,

pois o trabalho dignifica o homem”, “ou é melhor trabalhar que roubar”, como se a única

alternativa para criança fosse esta. Tem ainda os que afirmam que “a criança que trabalha fica

mais esperta, aprende a lutar pela vida, tem condições de vencer profissionalmente”, “que a

criança e o jovem devem trabalhar para ajudar na sobrevivência da família”.

Dando um exemplo, uma pessoa defende que os filhos devem trabalhar desde cedo, porque isso será bom para eles. Ela se baseia numa crença (usada aqui também como sinônimo de mito), para tomar esta decisão, sem ter a preocupação de estudar a situação e comprovar, com base em fatos, se o trabalho realmente fará bem para os filhos. (REZENDE, 2013: p.2)

Discursos como o citado acima são bastante comuns entre os mais velhos e no

meio da classe mais alta da sociedade, onde tentam justificar a situação de pobreza da família,

a partir da sua condição de vida. Quando alguém que está em posição de destaque na

sociedade, sendo formador de opinião, coloca as questões acima citadas como justificativa

para que haja o trabalho infantil, este tem muito influência no meio, sendo sua fala um

disseminador dessa exploração.

Para a classe alta da sociedade é justificado o fato da criança iniciar o trabalho

precocemente, porém, para seus filhos, essa não é a forma correta. Pois, enquanto o filho do

pobre se envereda muito cedo no mundo do trabalho, os filhos da classe alta estão

frequentando a escola, o esporte, a cultura. Dessa forma, se o trabalho infantil fosse bom,

esses talvez fossem os primeiros a colocar seus filhos para trabalhar. Assim, percebemos que

essa justificativa não é viável, e que não traz nenhum benefício para a vida da criança. Dieese

(1997),

essas ideias podem ser encontradas no discurso de pessoas e institutos importantes, tais como a escola, as equipes de saúde e as próprias famílias. Essas referências aplicam-se sempre às crianças e adolescentes de classes sociais desfavorecidas e não

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36 

 

seriam pensadas em relação às crianças de classes sociais ricas, onde a valorização dos aportes educacionais e cultural ganha uma relevância muito maior que o trabalho em sua formação. (in NOBRE 2003; p.968)

Se pensarmos bem, um mito a respeito do trabalho infantil que podemos destacar

como superado é o que atribui a ideia de trabalho e ocupação como solução para acabar com a

violência e a criminalidade. Se isso fosse “solução”, sabemos que a história da infância no

Brasil e em outros países foi marcada pela a exploração no trabalho. Essa ideia caracteriza-se

como preconceituosa, porque coloca a pobreza como disseminadora da criminalidade. Traz

ainda reflexo de uma situação vivida no Brasil, a partir do século XX, onde a sociedade

concebia a ideia de que a criança que vivia na rua era ociosa, o que culminou no controle

repressivo disciplinar e violento sobre a infância e a adolescência.

Por último, dando continuidade as causas do trabalho infantil, destaca-se a falta de

proteção à criança, adolescentes e suas famílias, ao acesso a uma política pública que as

promovam e protejam. Dessa maneira, é necessária uma política universal, de acesso a todos.

A falta de proteção a esses sujeitos, na grande maioria dos seus direitos, contribui para que o

fenômeno do trabalho infantil seja tão recorrente na sociedade atual.

Quando a família está sem condições de prover suas necessidades básicas para a

sobrevivência, o ideal era que procurasse o acesso universal às políticas públicas, garantido os

direitos de cidadão. Todavia, como já foi expresso acima, as políticas públicas existentes não

conseguem garantir a grande demanda de sobrantes de sujeitos necessitados. Porém, na falta

dessas políticas, a família não consegue encontrar alternativas, e acabam por inserir os filhos

no mundo do trabalho. Segundo Rezende,

a participação em projetos de âmbito cultural, social e esportivo faz com que a criança aprenda a conviver, a trabalhar em grupo, a resolver problemas etc., além de oferecer condições reais para que ela desenvolva a capacidade de se posicionar frente a grupos, de falar em público, de se expressar, oferecendo, ainda, uma base cultural que servirá como diferencial em situações futuras de seleção ou atuação profissional. (2013; p.6)

O autor afirma a necessidade da criança em participar de atividades relacionadas a

projetos culturais, sociais e esportivos. O Estado, por meio de políticas públicas tem o dever

de proporcionar essas atividades. Porém as políticas públicas nem sempre são para todos,

existindo uma seletividade e focalização, não dando direito a todas as crianças e adolescentes

a participação nesses projetos, serviços e programas. Às vezes, quando essas ações existem,

não são atrativos devido à falta de recursos e metodologias apropriadas para manutenção

deles.

Dessa forma, os próprios argumentos da necessidade econômica, da possibilidade de saída da situação de miséria e do caráter educativo do trabalho devem ser recolocados em outro patamar pelos atores sociais. E as políticas públicas intersetoriais, de acesso e melhoria da qualidade das escolas, incluindo a bolsa

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escola (ou bolsa família), de atenção integral à saúde (incluindo a promoção e a vigilância da saúde), de geração de emprego e renda, devem ser reconhecidas por todos como mais importantes e efetivas para a diminuição das desigualdades sociais e a erradicação do trabalho infantil. (DIEESE, 1997 in NOBRE, 2003: p.969)

Como já foi citada acima, a ausência de Políticas Públicas, além da economia e da

questão cultural, endossa uma das categorias na qual é responsável pela situação de

exploração do trabalho infantil. Nesse contexto, destaca-se a educação de qualidade, ou a

ausência desta, como fator predominante para que crianças e adolescentes, sem ver atrativo na

educação, passem a exercer algum tipo de atividade laboral.

Carvalho (2013) destaca que a escola tem fator primordial na prevenção do

trabalho infantil. Entretanto, a autora destaca que pesquisas recentes mostram que a falta de

educação de qualidade, ou por completa ausência desta, no meio rural, causa a ociosidade nas

crianças, consequentemente, estas passam a ser incorporada ao mundo do trabalho. De acordo

com Oliveira (2013), a economia agrícola emprega 70% da mão-de-obra infantil, e

consideramos que a educação é inacessível, é uma importante causa do trabalho infantil,

naturalmente, verificamos que, de fato, em muitas áreas rurais, não existem escolas de

qualidade.

O que encontramos hoje, não só pela distância das escolas no meio rural, mas se

olharmos geograficamente (campo e cidade) veremos muitas crianças que abandonaram a

escola por conta do trabalho infantil. Dessa maneira, a distância pode ser uma característica

da incorporação da criança ao trabalho infantil na zona rural, mas a situação da falta de uma

educação de qualidade é uma realidade geral. A falta de um ensino de qualidade, que seja

atrativo para criança, capaz de prevenir sua inserção na situação de trabalho precoce, é uma

problemática ainda muito presente.

De acordo com o expresso acima, as causas do trabalho infantil tem como

principais fatores os aspectos econômico, cultural e a ausência de Política Publica que

atendam a toda demanda social. Esses fatores são responsáveis por grande prejuízo a vidas de

crianças e adolescentes, pois a falta de uns, e o excesso de outros, é responsável pela inserção

precoce de crianças e adolescentes ao mundo do trabalho, roubando-lhes o direito de

liberdade, de brincar, do convívio familiar entre outros.

Agora, traçaremos aqui as consequências da situação de trabalho infantil de

meninos e meninas.

Em Países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é comum

encontrarmos indivíduos, com idade inferior a 14 anos, no mercado de trabalho,

desenvolvendo atividades perigosas e danosas à saúde humana. O trabalho infantil, na forma

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com que ocorre nestes Países, reduz as oportunidades de melhoria educacional com

consequentes decréscimos de rendimentos futuros, sem computar os prejuízos físicos e

psicológicos acarretados as crianças com a perda da infância (Basu K. 1999: Canagarajah e

Coulombr 1997: Kassouf 2002). Embora não sejam atividades mutuamente excludentes, o

trabalho e a aprendizagem escolar, caso estejam agindo simultaneamente, tendem a provocar

perdas futuras para ambas às atividades (aprendizado e capacidade produtiva do trabalhador),

além de limitar às oportunidades de emprego a postos que não exigem qualificação e que

oferecem baixas remunerações.

A situação do trabalho infantil vem sendo discutida desde o século XIX, porém,

ao longo dos tempos vem sendo negligenciada pelos economistas. Só a partir de 1995, com a

análise e as pesquisas de economistas é que se passou a ter um maior interesse pela situação.

Esse crescente interesse tem como fator o declínio da incidência global de trabalho infantil

por várias décadas.

Baseado nesse fator se pergunta: por que o crescente interesse em pesquisar o

assunto? Basu Kaushik e Tzannatos Zafiris (2003) destacam como principal fator a crescente

ênfase na redução da pobreza e na acumulação de capital humano para ter desenvolvimento,

que faz com que o trabalho infantil seja visto como um impedimento ao progresso econômico.

Marx, em 1867, já deixava em seu legado, a discussão sobre as causas do trabalho

infantil. Segundo o autor, com o aparecimento da maquinaria, a força muscular é substituída

pelos trabalhadores fracos ou com o desenvolvimento físicos incompletos, mas com membros

mais flexíveis. Assim, entram no cenário do trabalho as mulheres e as crianças. Observa-se

que com a máquina, se reduz o tempo de produção, levando o empregador a diminuir o salário

do trabalhador e os meios de sobrevivência da família. A redução do salário obriga o

trabalhador a inserir, no mundo do trabalho, todos os membros da família para que possam

complementar a renda. Diz Marx que

de poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores, a maquinaria transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número de assalariados, colocando todos os membros da família do trabalhador, sem distinção do sexo e de idade, sob o domínio direto do capital. (Karl Marx, 1867: p. 449).

Além de ilegal, o trabalho infantil é imoral, pois rouba a infância das crianças. Os

prejuízos são irreparáveis e deixam marcas para sempre. Sendo obrigado a trabalhar, outro

direto da criança é violado: a liberdade. A vida é o principal direito. A criança que é

submetida à situação de trabalho tem sua integridade física e moral violadas: pois esta tem o

direito de ser protegida contra tudo que possa machucar o seu corpo. Art.60 do ECA: é

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proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo em condição de

aprendiz, partir de 14 anos.

Elas acordam muito cedo, usam ferramentas cortantes, máquinas perigosas e

manuseio com agrotóxicos; levantam cedo e trabalham como adultos, expostas a sol e chuva.

De um modo geral, a criança/adolescente que é submetida ao trabalho é obrigada a fazer

esforços que seu corpo não suporta. Ao se tornar adulto, esta tem grande possibilidades de ter

vários problemas de saúde. Seu corpo terá pouca resistência, pois a iniciação precoce no

mundo do trabalho trará dificuldades em encontrar uma situação estável na sociedade, uma

vez que não se capacitou. Provavelmente, fará parte de uma maioria que está inserida nas

piores formas de trabalho: como é o caso dos catadores de material reciclável. (Lima, 2013: p.

1)

A criança que trabalha tem seu rendimento escolar muito baixo, não conseguindo

se concentrar nas aulas: em geral, um cansaço físico e mental que atrapalha o

desenvolvimento escolar. As crianças acabam dormindo na sala de aula, tiram notas baixas e

acabam por repetir o ano ou desisti da escola; gerando consequência no futuro, pois sem ter o

mínimo de educação, essas crianças, por falta de qualificação, podem se inserir na

marginalidade. Também observamos que o indivíduo que foi submetido à situação de trabalho

infantil, tem pouca chance de acessão na sociedade, pois não se apropriou de capital

intelectual capaz de contribuir para esse crescimento social. Para Pierre Bourdieu (1998:

p.41), “o domínio da língua culta funciona como uma moeda (um capital) que propicia uma

série de recompensa, seja no sistema escola, seja no mercado de trabalho...”.

É sabido que toda criança que é submetida à situação de trabalho acarreta vários

prejuízo para sua vida. Entre eles podemos destacar: o prejuízo físico, mental e emocional.

Assim, tem-se mais tarde um jovem emaranhado em vários problemas de aceitação na

sociedade: autoestima baixa, sem capacitação profissional; tendo seu futuro comprometido

com pouca perspectiva de crescimento e vulnerável a vários tipos de mazelas. Nessa

percepção, destaca Marques,

faz uma triste análise. “Muitas dessas crianças e adolescentes estão perdendo a capacidade de elaborar um futuro por estarem desenvolvendo doenças decorrentes do trabalho, que os incapacitam para a vida produtiva quando na fase adulta. Essa é uma das mais perversas formas de violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes”. (in KIDDO, 2013; P.1)

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TABELA 1 - Porcentagem de trabalhadores segundo idade que começou a trabalhar e faixa de escolaridade (anos de estudo) - 1995 e 2005.

Escolaridade (anos de estudos)

Idade que começou a trabalhar

Inferior a 10 anos De 10 a 13 a. De 14 a 15 a. 16a ou mais 1995

Analfabeto De 1 a 4 De 5 a 8 De 9 a 11 Acima de 11 anos

23,7 46,2 20,6 7,5 2,0

14,3 39,4 30,1 12,4 3,9

7,5 28,2 35,6 20,8 7,9

3,5 15,5 26,4 32,5 22,1

2005 Analfabeto De 1 a 4 De 5 a 8 De 9 a 11 Acima de 11

18,7 38,4 25,3 14,8 2,9

10,1 28,5 31,7 2,4 5,7

5,6 18,2 32,2 33,7 10,4

2,3 9,1

20,9 43,4 24,4

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da PNAD (1995 - 2005).

A Tabela 1 retrata o percentual de trabalhadores da amostra conforme a

escolaridade e idade que começaram a trabalhar. O objetivo desta tabela é retratar a relação

existente entre ambas. Os valores explícitos acima demonstram que a relação é direta, ou seja,

quanto menor a idade de ingresso no mercado de trabalho, menor será o nível de escolaridade

alcançado. Observa-se que, dos trabalhadores que começaram a trabalhar antes dos 10 anos de

idade, apenas 2,0% e 2,9%, em 1995 e 2005, respectivamente, possuem mais de 11 anos de

estudo, em relação àqueles que postergaram sua inserção no mercado de trabalho, haja vista

que das crianças/adolescentes que começaram a trabalhar após os 16 anos idade mais de

22,0% possuem 11 anos ou mais de estudo. Esta tabela deixa claro que o retardamento do

ingresso do trabalhador deve ser utilizado como meta de política publica possível, visando

melhorar o nível de escolaridade. Afinal, sabe-se que uma das causas da entrada precoce da

criança/adolescente ao trabalho precoce está atrelada à condição financeira familiar

decorrente da desigualdade de renda existente no Brasil.

1.4. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL DE ENFRENTAMENTO AO TRABALHO

INFANTIL

O trabalho infantil faz parte da cultura e da história do Brasil. Sua naturalização

esteve fortemente em pauta, quando a partir da década de 1980, com a ampla mobilização de

organizações não governamentais e governamentais, ganhando força durante o Congresso

Constituinte (1986-1988), desembocou na promulgação da nova Constituição Federal em

1988. Assim, o trabalho infantil tem sido por muito tempo questionado, e como tal, as

conquistas realizadas fazem parte da mobilização dos movimentos sociais.

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O período de mobilização culminou com a criação de várias leis de enfrentamento

ao trabalho infantil. São marcos positivos orientados pelos princípios estabelecidos na

Constituição Federal, em especial no art. 227, na qual determina: “são deveres da família, da

sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito

à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária, além de coloca-lo a

salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão”. (ECA, 90: p.27)

O marco legal criado no Brasil de enfrentamento a exploração do trabalho de

meninos e meninas contou ainda com a incorporação das principais Convenções e

Recomendações da OIT, concretizando assim, avanços no âmbito nacional e internacional.

Dessa forma, as condições, tanto social como legal, fazem parte de um movimento que vem

efetivar um novo paradigma na forma de abordar o trabalho infantil no Brasil.

Com base nas incorporações, na qual o Brasil absolve as ações já existentes, no

enfretamento ao trabalho infantil, nesse item iremos abordar os principais, dando destaque

para: a criação do Código de Menores; a Lei 4.242 de 05/01/1921; a Consolidação das Leis do

Trabalho, art. 402, aprovado pelo Decreto-Lei nº 5452, de 1º de maio de 1943; Convenção nº

138/ 1973; O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990, arts. 60 a 69; da OIT,

sobre limites de idade mínima para o trabalho, promulgada pelo Brasil em 1999; Convenção

nº 128,/1999, da OIT, sobre as piores formas de trabalho infantil.

Iniciaremos o assunto tomando como base, a ordem cronológica da criação de

tais leis. Por tanto, a Lei 4.242 de 5 de janeiro de 1921, marcou o inicio de Direitos Positivos

referentes a crianças e adolescentes no Brasil. Essa lei teve como finalidade organizar os

gastos orçamentais da República por aquele ano, chamado de Lei do Orçamento. Após ser

findada a receita e as despesas, a Lei continha um artigo que autorizava o Poder Executivo a

dispor a assistência, mecanismo de intervenção com o objetivo de proteger à infância e a

adolescência delinquente, na qual as normas constituíram um verdadeiro Código de Menores.

Segundo Gollo,

a partir dai, com a Lei 4242, de 5 de janeiro de 1921 ( Lei Orçamentária para 1921), eliminou-se o discernimento adotando o critério cronológico, e a partir dai os menores de 14 anos forma declarados penalmente irresponsável e sujeitos a medidas reeducativas. (2006; p.1)

A partir da Lei 4.242, os menores de 14 anos foram declarados penalmente

irresponsáveis, e como tal, era necessário criar ações para coibir os delinquentes. Assim, para

esses sujeitos seriam aplicadas medidas reeducativas com a finalidade de que estes se

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adequassem aos anseios da sociedade vigente. Assim, o processo de reeducação tinha como

finalidade tirar a criança da rua e colocá-la em um espaço educacional, para que pudesse ser

educada moralmente.

Em 1926, houve por parte do Congresso a autorização ao Poder Executivo para

que fossem consolidadas as leis sobre menores, com denominação de Código. No ano

seguinte, o Decreto 17.943 - A consolidou as leis que trata dos menores, criando o Código de

Menores, sendo este, o primeiro da América Latina.

O Código de Menores veio assumir a assistência ao menor de idade, de forma a

uma nova perspectiva educacional. Substituindo dessa maneira, concepções obsoletas como

as de discernimento, culpabilidade, penalidade, responsabilidade e pátrio poder. Assim,

passaram a ter como prioridade, questões básicas como: regenerar e educar, abandonando a

visão de que, para a infância, era necessário reprimir e punir. Diante de reflexões a respeito da

questão, chegou-se a conclusão que não se poderia tratar a infância ou a adolescência, numa

perspectiva criminal, ou seja, no âmbito do Código Penal.

Entre os princípios mais significativos do Código de Menores, se podem destacar: Instituição de um juízo privativo de menores; Elevação da idade da irresponsabilidade penal do menor para 14 anos; (com a mudança do Código Penal em 1940, que fixou a irresponsabilidade penal aos 18 anos, determinando que sejam submetidos a legislação especial, o Código de Menores, em 1942, teve que se adaptar a nova idade estabelecida). Instituição de processo especial para os menores em questões que envolvessem menores abandonados ou que estivessem vivendo fora dos padrões da normalidade, bem como sua intervenção para suspender, inibir ou restringir o pátrio-poder, com imposição de normas e condições aos pais e tutores; Regulamentação do trabalho de menores, limitando a idade de 12 anos como a mínima para iniciação ao trabalho, como também proibiu o trabalho noturno para os menores de 18 anos; Criação de um esboço de Polícia Especial de Menores dentro dos comissários de vigilância; Proposta de criação de um corpo de assistentes sociais que seriam designados delegados de assistência e proteção, com possibilidades de participação popular como comissários voluntários ou como membros do Conselho de Assistência e Proteção aos Menores; Estruturou racionalmente os internatos dos juizados de menores. (Gollo 2006; p.2).

As ações da qual se tratava esta legislação menorista tinha caráter corretivo, ou

seja, das famílias desajustadas ou de orfandade, fazia-se necessário educar, disciplinar,

fisicamente e moralmente. A situação na qual o menor vivenciava não era vista como um

fator estruturante, e sim, individualizado, pois o problema existia por acidente da orfandade

ou por incompetência de famílias privadas.

Nesse contexto, o problema do menor foi percebido como algo gravíssimo,

tornando-se questão de ordem pública, dessa forma, a solução seria a institucionalização das

crianças e jovens, que por meio da ação teriam a restituição da sua identidade e predisposição

a conformidade aos cursos esperados de sociabilidade, caso estes permanecessem isolados em

instituições educativas.

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Ao Código de Menores é reconhecida sua importância por conter dispositivos

complexos para o adiantado da época, sendo assim, este colocou a legislação sobre menores

ao nível do Código Penal, Civil e Comercial. Por tanto, é necessário salientar que a falta de

recursos e de manutenção dos institutos já existentes, na época, e a criação de políticas novas

tornaram-se empecilho para o desenvolvimento desta lei. Segundo Gollo (2006), as

reclamações oriundas de juízes e menores nesse sentido eram constantes.

Em 1º de maio de 1943, é aprovada pelo Decreto nº 5.452, a Consolidação das

Leis Trabalhistas (CLT), sendo dessa forma, um marco para a história das lutas dos

trabalhadores brasileiros. Essa aprovação resultou na sistematização de toda a legislação

trabalhista até então existente.

Ao que rege esta Lei, podemos destacar o Capítulo IV que estabelece regras sobre

o trabalhado do Menor, intitulando “Da Proteção do Trabalho do Menor”, constante do Título

III, da CLT. Podemos verificar aqui, alguma das normas que fazem referencia à proteção ao

trabalho do menor, e que está contido no referente capítulo: art. 402 e 403, 407 a 410, 414 a

427, 439 a 441 da CLT. São ainda aplicados aos termos dessa Lei, ao trabalho exercido por

crianças ou adolescentes na área rural.

Porém, ao menor que presta serviço em oficinas de sua família e esteja

sob a direção do pai, mãe ou tutor, as disposições deste capitulo não se aplicam, no entanto, é

necessário destacar que, ao art. 404 e 405 e na Seção II da CLT, destaca-se que, mesmo a

criança/adolescente esteja exercendo atividade em local de propriedade da família, sob a

supervisão de tutor, o menor não poderá ser sujeito a trabalho à noite, em condições insalubre

e perigosa, em locais ou serviço prejudiciais a sua moralidade, tampouco em serviços que

demandem emprego de força muscular superior a 20 quilos para o trabalho continuo ou 25

quilos para trabalho ocasional. Este ainda se aplica ao caso de prorrogação da jornada de

trabalho, salvo em regime de compensação e força maior, destacando que, caso este trabalhe

em mais de um estabelecimento, não poderá ultrapassar, em hipótese alguma, das oito horas

diárias. Destacando-se que, de acordo com as normas contidas nesse Capítulo, fazem-se

irrevogável, insustentáveis a renuncia de ambas as partes. Segundo De Bonis,

a CLT trata especificamente das condições em que o menino pode trabalhar como aprendiz, e vale dizer que essa regulamentação é ainda muito precariamente cumprida no Brasil. A lei permite que a partir de 14 anos, dos 14 aos 18, se possa ter uma profissionalização, uma inserção digna no mercado de trabalho. (2013; p.31)

Porém, segundo o autor, os meninos dessa idade estariam trabalhando no mercado

informal, ferindo, portanto, os artigos do qual trata a Consolidação das Leis Trabalhistas a

respeito do Trabalho do Menor. Este ainda destaca que muitos destes estão nas ruas,

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trabalhando como camelôs, vendendo objetos no meio da rua, e em outras atividades. No

campo, trabalhando na lavoura e de forma irregular. Ou seja, não estão exercendo alguma

atividade laboral de forma digna, como aprendiz, como determina a lei.

Ao que dispõem o Capítulo IV, o mesmo é divido em seis seções, assim

distribuídos:

I e II - Estão inseridas as normas de regência do Trabalho de Menores, a idade

mínima para o trabalho, os tipos de trabalho permitido e proibido ao menor a duração do

trabalho;

III – que tratava das regras de admissão no emprego e expedição da carteira de

Trabalho do Menor foi revogada;

IV e V e VI – Estão regulados os deveres dos responsáveis legais e empregadores

em relação aos menores, da aprendizagem, das penas aplicáveis aos infratores da norma

prevista no Capitulo, da capacidade do menor e da prescrição dos créditos trabalhistas.

De acordo com o expresso acima, é fato que a Consolidação das Leis Trabalhistas,

além de se configurar uma grande conquista para a luta da classe trabalhadora, ainda trouxe

para o cenário de exploração da mão-de-obra e infanto-juvenil, uma ferramenta de proteção

muito importante para o enfrentamento deste.

No âmbito internacional, ocorreu em Genebra, a Conferência Geral da OIT,

convocada pelo Conselho de Administração da Secretaria Internacional do Trabalho, reunida

em 6 de junho de 1973, em sua 58º Reunião, que culminou com a criação da Convenção Nº

138, que trata sobre a Idade Mínima para Admissão ao Emprego. A mesma foi aprovada em

27 de junho de 1873, e promulgada no Brasil em 15 de fevereiro de 2002, pelo Decreto 4134.

Nessa conferência foram adotadas diversas proposições relativas à idade mínima

para admissão no emprego. Dessa forma, consideraram-se os seguintes termos: os termos da

Convenção sobre Idade Mínima (Indústria), 1919; Convenção sobre Idade Mínima (Trabalho

Marítimo), 1920; Convenção sobre Idade Mínima (Agricultura), 1921; Convenção sobre

Idade Mínima (Estivadores e Foguistas), 1921; Convenção sobre Idade Mínima (Emprego não

Industrial), 1932; Convenção (revista) sobre Idade Mínima (Trabalho Marítimo), 1936;

Convenção (revista) sobre Idade Mínima (Indústria), 1937; Convenção (revista) sobre Idade

Mínima (Emprego não Industrial), 1937; Convenção sobre Idade Mínima (Pescadores), 1959;

e Convenção sobre Idade Mínima (Trabalho Subterrâneo), 1965.

Sendo necessário adotar instrumento geral sobre o material acima explícito, que

passa a substituir, gradualmente, os atuais instrumentos, aplicáveis a limitados setoriais

econômicos, tendo em vista à total abolição do trabalho infantil. Para tanto, em 26 de junho de

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1973 adota-se a Convenção Nº 138 que passa a ser conhecida como a Convenção Sobre Idade

Mínima.

Dessa forma, destaca-se aqui, alguns dos Artigos criados por essa Lei:

Artigo 1° Todo Estado-membro, no qual vigore esta Convenção, compromete-se a seguir uma política nacional que assegure a efetiva abolição do trabalho infantil e eleve, progressivamente, a idade mínima de admissão a emprego ou a trabalho a um nível adequado ao pleno desenvolvimento físico e mental do jovem. Artigo 2° 1. Todo Estado-membro que ratificar esta Convenção especificará, em declaração anexa à sua ratificação, uma idade mínima para admissão a emprego ou trabalho em seu território e em meios de transporte registrados em seu território; ressalvado o disposto nos artigos 4º a 8º desta Convenção, nenhuma pessoa com idade inferior a essa idade será admitida a emprego ou trabalho em qualquer ocupação. 2. Todo Estado-membro que ratificar esta Convenção poderá posteriormente notificar o Diretor-Geral da Secretaria Internacional do Trabalho, por declarações ulteriores, que estabelece uma idade mínima superior à anteriormente definida. 3. A idade mínima fixada nos termos do parágrafo 1º deste artigo não será inferior à idade de conclusão da escolaridade compulsória ou, em qualquer hipótese, não inferior a 15 anos. 4. Não obstante o disposto no parágrafo 3º deste artigo, o Estado-membro, cuja economia e condições do ensino não estiverem suficientemente desenvolvidas, poderá, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, definir, inicialmente, uma idade mínima de 14 anos. 5. Todo Estado-membro que definir uma idade mínima de quatorze anos, de conformidade com o disposto no parágrafo anterior, incluirá em seus relatórios a serem apresentados sobre a aplicação desta Convenção, nos termos do Artigo 22 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, declaração: a) de que são subsistentes os motivos dessas medidas ou b) de que renuncia ao direito de se valer da disposição em questão a partir de uma determinada data. Artigo 3º 1. Não será inferior a dezoito anos a idade mínima para admissão a qualquer tipo de emprego ou trabalho que, por sua natureza ou circunstância em que é executado, possa prejudicar a saúde, a segurança e a moral do jovem. 2. Serão definidas por lei ou regulamentos nacionais ou pela autoridade competente, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, as categorias de emprego ou trabalho às quais se aplica o parágrafo 1º deste artigo. 3. Não obstante o disposto no parágrafo 1º deste artigo, a lei ou regulamentos nacionais ou a autoridade competente poderão, após consulta às organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, autorizar emprego ou trabalho a partir da idade de dezesseis anos, desde que estejam plenamente protegidas a saúde, a segurança e a moral dos jovens envolvidos e lhes seja proporcionada instrução ou formação adequada e específica no setor da atividade pertinente. Artigo 4º 1. A autoridade competente, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, poderá, na medida do necessário, excluir da aplicação desta Convenção limitado número de categorias de emprego ou trabalho a respeito das quais se reais e especiais problemas de aplicação. 2. Todo Estado-membro que ratificar esta Convenção listará em seu primeiro relatório sobre sua aplicação, a ser submetido nos termos do Artigo 22 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, todas as categorias que possam ter sido excluídas de conformidade com o parágrafo 1º deste artigo, dando as razões dessa exclusão, e indicará, nos relatórios subsequentes, a situação de sua lei e prática com referência às categorias excluídas, e a medida que foi dado ou se pretende fazer vigorar a Convenção com relação a essas categorias. 3. Não será excluído do alcance da Convenção, de conformidade com este Artigo, emprego ou trabalho protegido pelo artigo 3º desta Convenção. Artigo 5º

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1. O Estado-membro, cuja economia e condições administrativas não estiverem suficientemente desenvolvidas, poderá, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores, se as houver limitar inicialmente o alcance de aplicação desta Convenção. 2. Todo Estado-membro que se servir do disposto no parágrafo 1º deste artigo especificará, em declaração anexa à sua ratificação, os setores de atividade econômica ou tipos de empreendimentos aos quais aplicará as disposições da Convenção. 3. As disposições desta Convenção serão, no mínimo, aplicáveis a: mineração e pedreira; indústria manufatureira; construção; eletricidade, água e gás; serviços de saneamento; transporte, armazenamento e comunicações; plantações e outros empreendimentos agrícolas de fins comerciais, excluindo, porém, propriedades familiares e de pequeno porte que produzam para o consumo local e não empreguem regularmente mão-de-obra remunerada. 4. Todo Estado-membro que tiver limitado o alcance de aplicação desta Convenção, nos termos deste artigo, a) indicará em seus relatórios, a que se refere o Artigo 22 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, a situação geral com relação a emprego ou trabalho de jovens e crianças nos setores de atividade excluídos do alcance de aplicação desta Convenção e todo progresso que tenha sido feito para uma aplicação mais ampla de suas disposições; b) poderá, em qualquer tempo, estender formalmente o alcance de aplicação com uma declaração encaminhada ao Diretor-Geral da Secretaria Internacional do Trabalho. Artigo 6º Esta Convenção não se aplica a trabalho feito por crianças e jovens em escolas de educação profissional ou técnica ou em outras instituições de treinamento em geral ou a trabalho feito por pessoas de no mínimo 14 anos de idade em empresas em que esse trabalho é executado dentro das condições prescritas pela autoridade competente, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, onde as houver, e é parte integrante de: a) curso de educação ou treinamento pelo qual é principal responsável escola ou instituição de formação; b) programa de treinamento principalmente ou inteiramente numa empresa, que tenha sido aprovado pela autoridade competente, ou c) programa de orientação para facilitar a escolha de uma profissão ou de uma linha de formação. Artigo 7 1. As leis ou regulamentos nacionais podem permitir o emprego ou trabalho de jovens entre 13 e 15 anos em serviços leves que: a) não prejudiquem sua saúde ou desenvolvimento e b) não prejudiquem sua freqüência escolar, sua participação em programas de orientação profissional ou de formação aprovados pela autoridade competente ou sua capacidade de se beneficiar da instrução recebida. 2. As leis ou regulamentos nacionais podem permitir também o emprego ou trabalho de pessoas de, no mínimo, 15 anos de idade e que não tenham ainda concluído a escolarização compulsória, em trabalho que preencha os requisitos estabelecidos nas alíneas a) e b) doparágrafo 1º deste artigo. 3. A autoridade competente definirá as atividades em que o emprego ou trabalho pode ser permitido nos termos dos parágrafos 1° e 2º deste artigo e estabelecerá o número de horas e as condições em que esse emprego ou trabalho pode ser exercido. 4. Não obstante o disposto nos parágrafos 1º e 2º deste artigo, o Estado-membro que se tiver servido das disposições do parágrafo 4º do artigo 2º poderá, enquanto continuar assim procedendo, substituir as idades de 13 e 15 anos no parágrafo 1º pelas idades de 12 e 14 anos e a idade de 15 anos do parágrafo 2º deste artigo pela idade de 14 anos. Artigo 8º 1. A autoridade competente, após consulta com as organizações de empregadores e de trabalhadores interessadas, se as houver, podem, mediante licenças concedidas em casos individuais, permitir exceções à proibição de emprego ou trabalho disposto no artigo 2º desta Convenção, para fins tais como participação em representações artísticas. 2. Permissões dessa natureza limitarão o número de horas de duração do emprego ou trabalho e estabelecerão as condições em que é permitido. Artigo 9º 1. A autoridade competente tomará todas as medidas necessárias, inclusive a instituição de sanções apropriadas, para garantir o efetivo cumprimento das disposições desta Convenção. 2. Leis ou regulamentos nacionais ou a autoridade competente designarão as pessoas responsáveis pelas disposições que dão

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cumprimento à Convenção. 3. Leis ou regulamentos nacionais ou a autoridade competente definirão os registros ou outros documentos que devem ser mantidos e postos à disposição pelo empregador; esses registros ou documentos conterão nome, idade ou data de nascimento, devidamente autenticados sempre que possível, das pessoas que emprega ou que trabalham para ele e tenham menos de dezoito anos de idade.

O marco fundamental que alterou profundamente a concepção de criança e

adolescente no Brasil foi à promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em

1990. A partir dai o País passou a ter uma nova maneira de tratar a infância e a adolescência.

O ECA trouxe o reconhecimento que nunca antes havia acontecido com esses sujeitos. Dessa

forma, a implantação deste documento de proteção à criança e ao adolescente garantiu a este

seguimento o reconhecimento como “pessoa humana em processo de desenvolvimento e

como sujeito de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição Federal e nas

Leis (Art. 15º do ECA). O Estatuto da Criança e do Adolescente coloca sob proteção integral

esses sujeitos.

Com a criação do ECA, o governo, sociedade civil e famílias foram convocados

a assumirem o papel de zelar pelo direito de cidadania de crianças e adolescentes. Além disso,

esse instrumento de proteção e garantia de direitos foi percebido apenas no âmbito legal, tão

como foi à renovação do antigo Código do Menor, mas, sobretudo, no reordenamento

institucional, provocando mudanças de conteúdo, método e gestão das políticas de

atendimento. A Lei nº 8069, de 13-07-1990, que aprovou o Estatuto da Criança e do

Adolescente, instituiu no seu Capitulo V importante normas para proteção do Menor,

inspirado nos Princípios da Declaração dos Direitos da Criança. (GRAF, 2008; p. 35)

De acordo com o já expresso acima, o ECA adota os princípios da Proteção Integral,

destacando a segurança da criança e do adolescente ao pleno desenvolvimento físico e mental,

reconhecendo-lhes direitos civis, econômicos, sócias, culturais e políticos. Este traz ainda

assegurado o direito à profissionalização, e, no que trata o artigo 60 a 69 à proteção no

trabalho.

Dessa forma, “é proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade,

salva na condição de aprendiz”, como instituído no Art. 60. O Estatuto ainda apresenta artigos

que tratam, especialmente, da proteção de crianças e adolescentes contra a exploração do

trabalho precoce. Fazendo-se saber:

Art. 63 - A formação técnica-profissional obedecerá aos seguintes princípios: garanti de acesso à frequência obrigatória ao ensino regular; atividade compatível com o desenvolvimento dos adolescentes; horário especial para o exercício das atividades. Art. 65 – Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos é assegurado os direitos trabalhistas e previdenciários; Art. 67 - Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade

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governamental ou não-governamental , é vedado o trabalho; Art. 69 – O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observando os seguintes aspectos, entre outros: I. Respeitar a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, II. Capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho. (ECA, 2009: p. 42 e 43)

O ECA se tornou um grande marco legal de proteção a criança e ao adolescente,

fazendo com que estes fossem vistos pela sociedade como sujeitos de direitos, tão negados no

passado. Por tanto, garantir a esses sujeitos a cidadania, direitos pessoais e sociais, por si só,

não basta, é necessário que se faça valer estes direitos, para que não seja considerado “um

documento de gaveta”, a exemplo de outros criados anteriormente que regulavam a tutela do

Menor.

Outro instrumento legal importante é a Convenção da Organização Internacional do

Trabalho Nº 128, sobre proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata para

sua eliminação, ocorrida em Genebra em 1º de junho de 1990. Ela foi aprovada em 17 de

junho de 1990, sendo promulgada no Brasil, por meio do Decreto 3.597 de 12 de agosto de

2000. De acordo com a OIT (1990)

, o Artigo 3º Para os fins desta Convenção, a expressão as piores formas de trabalho infantil compreende: (a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como venda e tráfico de crianças, sujeição por dívida, servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados; (b) utilização, demanda e oferta de criança para fins de prostituição, produção de material pornográfico ou espetáculos pornográficos; (c) utilização, demanda e oferta de criança para atividades ilícitas, particularmente para a produção e tráfico de drogas conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes; (d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são susceptíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.

A Convenção da OIT Nº 128 foi fundamental para que adotassem novos

instrumentos para a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, tendo como

atores nesse processo, tanto no âmbito nacional quanto internacional, que inclui cooperação e

assistência internacional, ainda assim, complementar a Convenção e a Recomendação sobre a

Idade Mínima para Admissão a Emprego, 1973, que este fundamental instrumento na

proteção sobre o trabalho infantil. Segundo a OIT (1990) - Artigo 1º todo Estado-membro

que ratificar a presente Convenção deverá adotar medidas imediatas e eficazes que garantam a

proibição e a eliminação das piores formas de trabalho infantil em regime de urgência.

Este aponta que é a efetiva eliminação das piores formas de trabalho deve contar

com ações de forma imediata e global, tendo-o como importante instrumento. Nesse caminho,

a educação se faz importante, como o acesso gratuito desta, sendo ambas de fundamental

importância nesse processo. Faz-se constar nesta, a necessidade de retirada da

criança/adolescente de todas as formas de trabalho, promover a reabilitação, como também, a

integração social, sem esquecer que a família tem papel fundamento nessa atuação, dessa

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forma, é preciso atender as necessidades de suas famílias. De acordo com a OIT (1990) Artigo

7º:

1.Todo Estado-membro adotará todas as medidas necessárias para assegurar a efetiva aplicação e cumprimento das disposições que dão efeito a esta Convenção, inclusive a instituição e aplicação de sanções penais ou, conforme o caso, de outras sanções .2 - Todo Estado-membro, tendo em vista a importância da educação para a eliminação do trabalho infantil, adotará medidas efetivas, para, num determinado prazo: (a) impedir a ocupação de crianças nas piores formas de trabalho infantil; (b) dispensar a necessária e apropriada assistência direta para retirar crianças das piores formas de trabalho infantil e assegurar sua reabilitação e integração social; (c) garantir o acesso de toda criança retirada das piores formas de trabalho infantil à educação fundamental gratuita e, quando possível e conveniente, à formação profissional; (d) identificar e alcançar crianças particularmente expostas a riscos e (e) levar em consideração a situação especial de meninas. 3 - Todo Estado-membro designará a autoridade competente responsável pela aplicação das disposições que dão cumprimento a esta Convenção.

Entendo que a pobreza ainda faz parte das consequências para a inserção da

criança ao mundo do trabalho, a Convenção aponta como solução em longo prazo: o

crescimento econômico, sustentando que este conduz ao progresso, sobretudo, ao alívio a

pobreza e a educação universal.

2 O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL E O SERVIÇO

DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS PARA CRIANÇAS E

ADOLESCENTES DE 6 A 15 ANOS COMO ESTRATÉGIAS DA POLÍTICA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL PARA O ENFRENTAMENTO DO TRABALHO INFANTIL

NO BRASIL E EM FORTALEZA.

2.1 A POLITICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL COMO POLITICA PÚBLICA DE

GARANTIA DE DIREITOS E COMO PROMOTORA DE PROTEÇÃO SOCIAL

Segundo rege a Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS vêm intitular no

artigo primeiro, que diz: a Assistência Social é uma Política de Seguridade Social não

contributiva, que sua ação é de responsabilidade do poder público com a participação da

sociedade civil, atuando de forma integrada, para que sejam garantidas as necessidades

básicas direcionadas a todos os cidadãos.

A partir de 1988, com a Constituição Federal, a Assistência Social se apresenta

como uma nova concepção para a Assistência Social brasileira. Essa passa, como

preconizado pela Lei Orgânica de Assistência Social de dezembro de 1993, a fazer parte da

Seguridade Social como política social pública. Essa mudança apresenta a Assistência Social,

não mais uma ação baseada na caridade, e sim, como uma Política no campo do direito,

direcionada a todos que dela necessitam; uma política no campo do direito e de

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50 

 

responsabilidade do Estado. Dessa forma, a Assistência Social passa a fazer parte do sistema

de proteção social brasileiro, configurando o triângulo: juntamente com a saúde e a

previdência social. Segundo Rodrigues e Oliveira (2011),

historicamente, esta conceituação da Assistência Social, enquanto politica publica, não encontrava correspondente na realidade brasileira. Porque, no Brasil, a trajetória desta politica não é identificava como estratégia consagradora de acesso regular ou como um direito social. Assistência Social foi, portanto, durante muito tempo, sinônimo de caridade, dadiva, politica de favor e assistencialismo. (2012, p: 13)

Ao fazer parte da Seguridade Social, a Assistência Social passa a atuar com o

caráter de Proteção Social, trabalhando de forma conjunta com outras politicas do campo

social, atuando na perspectiva da garantia dos direitos e na promoção de condições digna de

vida. Nesse contexto, podemos atribuir, também, as formas seletivas e de distribuição e

redistribuição de bens materiais, como é o caso de comida e dinheiro. Faz parte dessa mesma

ação os saberes, como no caso a Cultura. Ao elencar a comida, o dinheiro e a cultura, estamos

falando de elementos básicos que permitem a sobrevivência e a integração do ser humano nas

várias formas na vida social. Dessa maneira, a Assistência Social configura-se a porta para o

reconhecimento público da legitimidade das demandas daqueles de quem dela necessita como

também, visa proporcionar espaço de discussão na perspectiva de ampliação do protagonismo

como sujeito de direito. De acordo com Di Giovanni,

entende-se por Proteção Social as formas “institucionalizadas” que as sociedades constituem para proteger parte ou conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da vida natural ou social, tais como a velhice, a doença, o infortuno, as privações. (1998:p.10),

A Proteção Social trabalha na garantia de proporcionar segurança ao usuário,

onde essa se configura como: segurança de sobrevivência, em que podemos citar, o

rendimento e a autonomia; segurança de acolhida e a segurança de convívio e de convívio

familiar. A proteção de rendimento não se configura como uma politica que vem como forma

de compensação do salário mínimo inadequado. Ela tem o caráter de garantir que todo

cidadão tenha uma forma monetária de prover sua sobrevivência, dessa forma, não depende

da sua condição física para o trabalho ou de sua condição de desempregado. São públicos da

Politica de Assistência Social todos aqueles que se encontra em situação de vulnerabilidade

social: famílias ou indivíduos que estejam com os vínculos fragilizados, ou tenha desfeito de

vez esses vínculos,

Uma das politicas primordial da Assistência Social e a Acolhida, que consiste em

operar na previsão das necessidades humanas em sociedade. Essas necessidades tem haver

com os direitos: a alimentação, ao vestuário e ao abrigo. Assistência Social ainda atua na

orientação dessas necessidades básicas, como também, na perspectiva do sujeito na autonomia

e protagonismo na conquista dessas previsões.

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51 

 

Segundo o MDS (1990): Mas, é possível que alguns desses indivíduos não

alcancem a autonomia dessas provisões, durante a sua vida, ou por um período dela, pelo

simples fato de restrições, como será o caso de criança e idosos, ou pessoa com alguma

deficiência, saúde mental ou física.

Atualmente a sociedade vem cada vez mais demandando a ação da Assistência

Social por decorrência de separação da família ou parentela. Essa ação tem se tornando cada

vez mais constante e se faz importante nessa politica. Na atual conjuntura, são constantes os

casos de violência familiar ou social, drogadição, alcoolismo, desemprego prolongado e

criminalidade. Dessa forma, cada vez há a necessidade da atuação dessa previsão na vida do

usuário.

Por final, a segurança da vivência familiar ou a segurança do convívio familiar é

uma das ações dessa politica que entende que: o convívio é um aspecto primordial dessa

política de assistência social, supondo assim, que ela não concorda com a situação de

reclusão, como também, da perda das relações. Entendendo assim, que é própria da natureza

humana a vida em sociedade, pois é nesta que ele constrói sua identidade enquanto sujeito,

reconhecendo assim, sua subjetividade. De acordo com Heller e Mota: “ambos afirmam que

as experiências cotidianas, além de ser o espaço de reprodução social, paradoxalmente são

também o espaço de enfrentamento e possibilidades de mudança da realidade”. (Heller 1958

in Mota 2011)

É nesse processo de sociabilidade que o individuo desenvolve suas

potencialidades politicas, culturais, coletivas entre outras. Além da ruptura com barreiras

relacionais que estão presentes no convívio humano. Essas denominações acima, direcionadas

a garantia da segurança da vivência familiar e convívio familiar devem ser focadas na

perspectiva desse direito.

É na relação que o ser cria sua identidade e reconhece a sua subjetividade. A dimensão societária da vida desenvolve potencialidades. Subjetividades coletivas, construções culturais, politicas e, sobretudo, os processos civilizatórios. As barreiras relacionais criadas por questões individuais, grupais sociais por discriminação ou múltiplos inaceitações ou intolerâncias estão no campo do convívio humano. (PNAS, 2004: p. 32)

Nesse contexto, a Politica Pública de Assistência Social se solidifica como um

politica que faz parte da politica social, onde está a saúde e a previdência social, se colocando

como responsabilidade do Estado, onde deverá assegurar esta politica a todos os cidadãos

brasileiros. No que concerne a LOAS compete assegurar que as provisões assistenciais sejam

pensadas a partir da garantia de direitos do cidadão, como também, sob de responsabilidade

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do Estado. Dessa forma, fica a cabo deste a universalização da politica e da cobertura e acesso

para serviços, programas e projetos.

Segundo a LOAS, capitulo II, seção I, artigo 4ª, a Politica Nacional de Assistência

Social tem como principio democrático a autonomia que prever o atendimento aqueles que

necessitam de provisões sociais, no que se refere à rentabilidade econômica, a aproximação

do usuário com a politica de assistência, proporcionando assim, a universalização da politica;

garantir ao sujeito a convivência familiar e comunitária, sua autonomia enquanto sujeito de

direito, à dignidade de cidadão, vedando-se qualquer vexatória de comprovação de que

realmente é beneficiário da Politica de Assistência Social. Proporcionar igualdade de direitos

ao acesso a Politica, sem descriminação de qualquer natureza, garantindo a compatibilidade às

populações urbanas e rurais. É de competência ainda, a garantia da divulgação dos serviços,

programas e projetos assistências, de forma ampla, bem como a divulgação dos recursos pelo

Poder Público e critérios para sua aquisição.

As diretrizes responsáveis pela organização da Assistência Social estão contidas

na Constituição Federal de 1988 e na LOAS. Pois, são elas que orientam como o serviço deve

ser organizado a partir das esferas de governo estadual, municipal e federal. Para tanto, essas

diretrizes apresentam a descentralização da politica-administrativa. Cabendo à esfera federal a

coordenação e as normas gerais, já a esfera municipal e estadual a execução dos programas,

como também, cabe às entidades beneficentes e de assistência social, garantir o comando

único às varias esferas de governo, dessa maneira, respeitando-se as características

sociaterritoriais de locais.

As diretrizes apontam para a participação popular, em que a mesma, terá

participação na organização representativa, como na reformulação da politicas e fiscalização

das ações desenvolvidas pelo Estado. É prioridade e responsabilidade do Estado no

direcionamento da Politica de Assistência Social em cada politica de governo. Por fim, essas

diretrizes focam na centralidade na família, como concepcionária e implementação dos

benefícios, serviços, programas e projetos.

Com base no enfretamento a desigualdades socioterritoriais: as Politicas Publicas

de Assistência Social atuam de forma intersetorial, integradas a outras politicas, na

perspectiva à garantia dos mínimos sociais. Assim, atuando no provimento de condições para

atender as contingências sociais e à garantia da universalização dos direitos sociais. Dessa

maneira, essa ação objetiva a promover serviços, programas, projetos, e benefícios de

proteção social básica; tendo como público especial à família, indivíduos e grupos que dela

necessitarem. Contribui para que haja igualdade e inclusão do usuário e grupos específicos,

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concedendo de forma ampla o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e

especiais, em área urbana e rural. Coloca que a centralidade da ação deve ser focada na

família, garantindo dessa forma, a convivência familiar e comunitária.

2.2 O SUAS E O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO

BRASIL

É a partir de uma forte mobilização da sociedade brasileira que culminou com a

implantação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, em meados da década

de 1980. Por tanto, a defesa dos direitos de crianças e adolescentes contou com vários marcos

legais que fortaleceram a atuação deste Programa. Podemos destacar que: a Constituição

Federal de 1988 elege como prioridade absoluta crianças e adolescentes; em seguida, o artigo

7º, inciso XXXIII foi alterado com a emenda nº 20/98 com a finalidade de proibir o trabalho

noturno, como também, a todo tipo de trabalho perigoso e insalubre a menor de 18 anos de

idade. Além disso, a lei estendesse a proibir qualquer trabalho a menor de dezesseis anos de

idade. Excerto para crianças com idade de quatorze anos, na condição de aprendiz. Além do

mais, para que possa haver essa garantia é necessário que se estabeleça contrato junto a Órgão

responsável como estabelecido em lei. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente,

artigo 60 de 1990 é proibido a qualquer tipo de trabalho a menor de dezesseis anos de idade,

salvo na condição de aprendiz.

O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA a partir da Lei nº 8.069/98 vem

fortalecer a luta contra o Trabalho Infantil, afirmando a proibição do trabalho precoce e

considerando este a condição de aprendiz referindo-se a formação técnica-profissional. O

mesmo está condicionado à frequência assídua ao ensino regular. É necessário que o

adolescente tenha seu momento no processo de aprendizagem de uma profissão, porém, não

deverá comprometer seu aprendizado educacional. Dessa forma, fica garantida ao aprendiz

uma atividade que seja compatível com seu desenvolvimento físico e mental, como também,

um horário especial para o exercício dessa atividade. Para o ECA (1990) o adolescente tem

direito a profissionalização e a proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre

outros: I – respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; II – capacitação

profissional adequada ao mercado de trabalho.

De acordo com que rege a Lei Orgânica da Assistência Social de 1993 lei nº 8742,

em consonância com a que determina a Constituição de 1988, fica a responsabilidade da

Assistência Social, assim como no Capitulo I, artigo 2, além de outros objetivos, a proteção a

família, maternidade, a infância, à adolescência, a velhice e amparo as crianças e

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adolescentes. “Na Lei Orgânica da Assistência Social, em relação aos Serviços, art. 23, seção

III, paragrafo único: na organização dos serviços será dada prioridade à infância e

adolescência em situação de risco pessoal e social, objetivando cumprir o disposto no artigo

227 da Constituição Federal e na Lei nº 8.069, de 13 de junho de 1990”.

No combate a prevenção do trabalho infantil a educação tem papel de garantir a

extensão das atividades nas escolas da rede publica para tempo integral, proporcionando as

crianças e adolescentes atividades lúdicas e formadoras: de cunho artístico e esportivo. Por

tanto, a escola passa a ter papel fundamental na prevenção de crianças e adolescentes ao

mundo do trabalho precoce. De acordo com a Lei de Diretrizes Básicas da Educação, a lei nº

9.394/1996.

O surgimento do PETI no Brasil, como já foi citado, é fruto da luta da sociedade

brasileira, as lutas foram articuladas a vários acontecimentos que resultou na criação de leis

que passaram a coibir a pratica do trabalho infantil. Porém, o surgimento do PETI, não se deu

de imediato a todo o país. Apesar das leis serem aplicadas a quem contribui para o trabalho

precoce de crianças e adolescentes, apenas o Mato Grosso do Sul, em 1996 tem o Programa

atuando no Estado. O que mostra o quanto se tardou para que se tivesse, no País, um

programa governamental que coibisse a prática do trabalho infantil. A implantação do PETI

no Brasil contou com as três esferas de poder: Municipal, Estadual e Federal. Além de contar

com o apoio da Organização Internacional do Trabalho – ONT.

Numa tentativa de atender as demandas da sociedade brasileira, o Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil - PETI estendeu suas ações para os Estados de Pernambuco,

Bahia, Sergipe e Rondônia. A iniciativa de criar Politica Pública que atendesse a crianças e

adolescentes em situação de trabalho precoce contou com o Fórum Nacional de Prevenção a

Erradicação de Trabalho Infantil (FNPETI). Gradativamente, a ação do PETI se estendeu por

todo o Brasil, fortalecendo assim, a rede de prevenção e proteção ao trabalho infantil.

Segundo a portaria nº 458 de outubro de 2001, foram estabelecidas as diretrizes e

normas que orientam as ações do PETI. Tendo como definição o programa de caráter

intersetorial, com gestão intergovernamental, e que tem como objetivo: o enfrentamento as

piores formas de trabalho infantil. Além disso, o PETI atua prioritariamente com crianças e

adolescentes advindas da situação de trabalho infantil, com idade entre 7 a 14 anos, e que se

encontrava exercendo uma atividade laboral considerada insalubre e perigosa. Com exceção

para atendimento de crianças até 15 anos de idade em situação de extremo risco referente à

exploração sexual.

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Em 2008, já com o PETI atuando em todos os Estados do País, o Ministério do

Desenvolvimento Social, com o apoio da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação

(SAGI), realizaram pesquisa com a finalidade de avaliar a atuação do programa nas cinco

regiões do país. A pesquisa de caráter quantitativo visitou 120 municípios, sendo realizadas

entrevistas com vários atores envolvidos na execução do PETI em cada munícipio. Para tanto,

essa pesquisa contou com a participação de gestores, coordenadores e monitores do PETI.

Uma segunda pesquisa foi realizada, tendo esta numa metodologia de caráter qualitativo. A

pesquisa foi realizada em 40 municípios, escolhidos entre os 120 utilizados pela pesquisa

qualitativa. A terceira pesquisa contou com a avaliação por parte de gestores municipais da

Assistência Social, Coordenadores do núcleo de atividades socioeducativos do PETI,

professores da rede pública; ainda foram ouvidas crianças e adolescentes atendidas pelo

programa, como também, suas mães.

A pesquisa, como já foi ressaltada, teve como objetivo apresentar as atribuições

do Programa para o combate ao trabalho infantil, no País. A pesquisa apresentou, segundo os

gestores entrevistados (um total de 95%): que o PETI tem contribuído para a redução do

trabalho infantil. Os monitores do Núcleo de Atividades Socioeducacional e de Convivência,

num total de 45%, afirmaram que: com o surgimento do Programa, diminuiu a incidência do

trabalho infantil, em 71% em seus municípios. Um percentual, referente a 49% apontam que:

as crianças e adolescentes apresentaram maior desenvolvimento, no que se refere à leitura e

escrita. Eles afirmaram ainda que: houve melhora na interpretação de textos em 5%. 80%

ainda afirmaram acreditar que o PETI contribui para que houvesse redução do trabalho

infantil. Apenas 12% afirmaram ter havido erradicação do trabalho infantil em seu município.

Na avaliação realizada com crianças e adolescentes atendidas pelo PETI, as

mesmas disseram que: sua vinda ao Programa é resultado da situação de exploração da sua

força de trabalho. Para elas, a situação de vida melhorou, pois o trabalho exercido por eles os

faziam conviver, diariamente, com situação de violência, como também, de maus tratos. De

acordo com o “ECA, contido no art.70, é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça dos

direitos da criança e do adolescente.” Afirmaram também, que a bolsa PETI contribui com a

renda da família. Segundo eles, antes da inserção no Programa, não havia tempo para brincar,

por conta da dura jornada de trabalho, além disso, aprenderam a ter respeito multo.

Segundo a pesquisa, as mães entrevistadas foram enfáticas em dizer que: o

dinheiro que recebem do Programa PETI e essencial para a vida da família. Porém, elas

identificam que os ganhos maiores são as atividades socioeducativas que contribui, no campo

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da afetividade, para a vida dos filhos. Para elas, esse fator tem contribuindo para um bom

relacionamento dos filhos.

Já os Gestores Municipais, estes afirmaram que um dos fatores importantes da

vida dos usuários foi à mudança de atitude dos mesmos. Eles avaliaram que as pessoas

atendidas apresentaram mudanças de atitude, como: fortalecimento da autoestima, fator esse

que contribui no comportamento, tantos das crianças e adolescentes atendidos, como também

da família. Para os professores que atuam nas escolas da rede pública, (88%), disseram que: a

participação das crianças e adolescentes no Programa tem contribuído no desenvolvimento e

aprendizado escolar. Além disso, os mesmos observaram que houve melhora no

comportamento da crianças/adolescentes, concluindo dessa forma que os alunos apresentaram

maior entrosamento. Mota (2013), acredita que o conjunto de opiniões que expressa

discordância da realização do trabalho infantil apresenta, em sua grande maioria, a noção de

que a condição de estar na escola e aprender a contrapõe ao trabalho, sob a alegação de que é

preciso estudar e o trabalho sempre atrapalha os estudos.

Dessa forma, o autor apresenta em sua obra, que para as famílias, é de

fundamental o estudo para combater o trabalho infantil, apresentando assim, a escola como

fator primordial nesse combate.

Observa-se que, por meio das pesquisas, houve vários pontos positivos desde a

implantação do Programa. Assim, é de suma importância que haja a manutenção do PETI, que

atua de forma, segundo a pesquisa, combatendo a situação de trabalho infantil. Em sumo, na

avaliação, o Programa exerce seu papel, enquanto politica de proteção e cuidado com crianças

e adolescentes. Apresenta que o tempo de permanência no Programa PETI é de bastante

importância, pois senão fosse este, as crianças e adolescentes estariam trabalhando: em casa, a

realizar atividades domesticas, ou em situação de risco. O mesmo Contribui para prevenir

acidentes ocasionando pelo trabalho na rua. Apresenta que houve um bom relacionamento

familiar. Identificando como tendo uma metodologia que estimulam as artes, atividades

esportivas entre outras e que contribui para o desenvolvimento psicossocial dos participantes.

Além disso, o PETI se configura como a formação de um espaço voltado para momentos de

lazer, onde as crianças e adolescentes podem brincar. Por fim, o PETI tem contribuído para

que haja o bom desenvolvimento no desempenho escolar. De acordo com Art.3º do ECA:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo de proteção integral de que trata esta Lei, assegurando- lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (2009: p. 27),

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Diante de todo o marco legal que contribuiu para o surgimento do O Programe de

Erradicação do Trabalho Infantil, a partir de 2004, este conta com mais uma ação que visa

melhorar o atendimento aos usuários. E é no processo de manutenção e aprimoramento dos

serviços públicos voltados a Assistência Social, com foco no sujeito, e com a aprovação da

PNAS em 2004, que se apresenta como fundamental importância a implementação do SUAS

de modo a materializar a regulação e a organização do modelo de gestão decentralizada e

participativa em todo o território nacional. Por tanto, inicia-se pela LOAS/SUAS a ordenação

dos Serviços oferecidos pela Assistência Social. Com esse reordenamento, é formando uma

rede de proteção, não mais isolada, mais articulada a outras públicas no objetivo de contribuir

para melhorar e atender a demanda da população. Sendo assim, os serviços, projetos,

programas e benefícios, inclusive as ações referentes ao Programa de Erradicação ao Trabalho

Infantil, passam a ser organizadas e avaliadas, como já citadas acima, com base no eixo

estrutural do Sistema Único da Assistência Social - SUAS.

Os princípios dessa politica, norteada pela PNAS, tem como foco a centralidade

na família, à ação é voltada para o desenvolvimento da família como núcleo básico da

acolhida, autonomia, convívio familiar, sustentabilidade e protagonismo social. Como

objetivo da ação, está será desenvolvida para que a família cumpra seu papel enquanto

sustento na guarda de crianças e adolescentes. De acordo com o que expressa o Artigo. 22 do

ECA (2009) “Aos pais incube o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,

cabendo-lhe ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as

determinações judiciais.”

Com relação ao trabalho infantil a politica de Assistência Social visa à retirada de

crianças/adolescentes desta, entende que essa prática é proibida por lei no Brasil, desta forma,

compreende-se que se faz necessário uma ação forte e eficaz de intervenção pública para

erradicar; a não residência e prevenção à situação de exploração dessa prática. Para isso, a

politica se organiza no combate dessa situação.

Os princípios dessa prática, norteada pela PNAS exerce centralidade na

matricialidade familiar. Assim, cabe à ação e o desenvolvimento na família como núcleo

básico da acolhida, convivência, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social. Como

tal, a ação desenvolvida junto à família tem como objetivo que esta cumpra o papel enquanto

sustento, guarda e orientação de suas crianças e adolescentes. Sendo assim, o PETI terá papel

fundamental nesse processo, pois atua na perspectiva do reconhecimento da

criança/adolescente enquanto sujeitos de direitos, atuando no desenvolvimento deste, para que

em hipótese alguma sofram qualquer tipo situação que os coloquem em risco ou prejudique

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seu desenvolvimento físico, social ou mental. Cabe ao Programa ainda, coibir, prevenir e

acabar com qualquer forma de exploração do trabalho de crianças e adolescentes. Ressaltando

a condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade, com base em Lei.

Nesse processo de fortalecimento das ações que visam erradicar o trabalho

infantil, faz-se necessário uma politica forte, de cunho público, mas que desenvolva parcerias

com outros equipamentos, que não necessariamente, faça parte deste, mas que possa contar

com a participação do terceiro setor entre outros.

Caminhando num processo de criação de normas com a finalidade da organização

dos serviços, com perspectiva do fortalecimento da Politica de Assistência Social, é criada a

Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistencial, no qual vem se solidificar com as ações

de enfrentamento do trabalho infantil, colocando para a Politica de Assistência Social: que

está deverá contar, nesse processo, com os serviços da Proteção Social Especial e Proteção

Social Básica, pontuando que os dois serviços não podem atuar de forma isolada, mais

articulada entre sim e outros serviços.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome destaca que PETI é

um programa integrado ao SUAS, e que se destina a assegurar transferência de renda as

famílias por via de integração ao Programa Bolsa Família – PSF. Prevendo ainda, que as

crianças retiradas da condição de trabalho infantil, por meio do Serviço Especializado em

Abordagem Social - SEAS, deverão ser encaminhadas para o SCFV, além do mais, a família

deverá ser inserida no Programa de Acompanhamento Especializado a Família e Indevidos –

PAEIF ofertado pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social - CREAS

onde esta será acompanhada no período de três meses, ou até sanar a violação de direitos.

Após esse tempo, a família é contrareferenciada ao Centro Especializado da Assistência

Social - CRAS, onde deverá ser acompanhada pela equipe e inserida no Programa de

Acolhimento Individual a Família – PAIF.

De acordo com a nova reconfiguração dos serviços, a PSB passa a integrar em

suas ações, ao Serviço de Convivência e Fortalecimentos de Vínculos ofertado a

crianças/adolescentes advindos da situação de trabalho infantil, com idade mínima entre 6 e

15 anos de idade, incorporando dessa forma, as ações socioeducativas de convivência

previstas nas normativas do PETI. Isso implica, ao Município, a obrigatoriedade de oferecer a

crianças e adolescentes retirada da situação de trabalho, a inclusão e permanência no SCFV-

PETI, colocando para a família, este serviço como condicionalidade à frequência e

permanência neste, como estabelecido nas normativas do Programa.

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Todas as crianças/adolescentes que se encontra nesta situação tem o direito a frequentar um serviço, com garantia de oferta pelo gestor municipal de carga horária semanal de 15 horas nas áreas urbanas e 10 horas nas zonas rurais, sendo suas famílias acompanhadas pela Assistência Social. (MDSCF, 2010:p.46.)

Como já explicito a politica de Assistência Social, no enfretamento ao trabalho

infantil, tem suas ações volta para a Proteção Social Especial e Proteção Social Básica e que

estas atuam de forma articuladas a outra politicas. Nesse processo de atribuição de cada

serviço, cabe a PSE a função de orientar e acompanhar pessoa em situação de risco social ou

violação de direitos. Atribuindo e este as ações voltadas para coibir, prevenir e erradicar a

situação de trabalho infantil. A PSE é dividida pela alta complexidade e media complexidade,

dessa forma: o serviço é organizado, segundo o grau de agravamento e o que for demandado

de acordo com cada situação encontrada. A Alta Complexidade apresenta uma atenção ao

sujeito ou família que foram: afastadas do convívio familiar ou comunitário. O serviço se

propõe a ofertar segurança e acolhida. O serviço de Média Complexidade oferece atendimento

aos indivíduos ou família que estejam sofrendo violação de direitos ou que estejam correndo

risco pessoal ou social.

A ação oferecida pela PSE em combate à exploração do trabalho infantil consiste

em identificação de crianças e adolescentes nessa situação, pelo Serviço Especializado em

Abordagem Social - SEAS, em logradouros, praças, estabelecimentos, feiras livres, entre

outros. Serviço esse que se encontra no CREAS. Estes serviços são especializados e

continuados. Após essa identificação, A equipe encaminha a criança/adolescente para o SCFV

para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade, em seguida, repassa o caso para os

Técnicos de referência do CREAS para inserção da família no PAEFI, para acompanhamento.

Nesse período, a família será acompanhada durante três meses, em seguida, contra

referenciada para PSB.

A PSB atua na prevenção de situação de risco e suas ações são voltadas para a

população que vivem em vulnerabilidade social ocasionado pela pobreza: com ausência de

renda e acesso aos serviços públicos. O serviço também é focado no fortalecimento de

vínculos. As ações são articuladas com outras politicas públicas fortalecendo a rede de

proteção à criança.

O serviço ofertado pela PSB é o SCFV- PETI: serviço este que é oferecido nos

CRAS, como também, em ONGs, locais estes que firmam convênio com o Município de

Fortaleza para a execução deste serviço. Sendo assim, as criança/adolescentes passaram a

contar com atividades esportivas, artísticas, música entre outras. Além disso, a família deverá

ser inserida no Programa de Acolhimento a Indivíduo e Família – PAIF: este faz parte na

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atuação de prevenção, dos riscos e da reincidência da prática do trabalho infantil. Além disso,

atua articulado ao SCFV para crianças/adolescentes de 7 a 15 anos de idade, recebendo,

prioritariamente, aqueles que se encontra em situação de trabalho infantil. Segundo o

MDS/90: “O SCFV não é exclusivo para crianças e adolescentes retirados do trabalho infantil,

mas deverá incluí-los com prioridade absoluta.”.

Como já foi citada a cima, a interação do PBS ao PETI passou a somar forças no

combate à exploração do trabalho de meninos e meninas. Segundo o Caderno de Orientação

Técnica Gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, no SUAS, do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate a Fome, a unificação do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil – PETI ao Programa Bolsa Família, com base na portaria nº 666 de 28 de

dezembro de 2005, veio fortalecer, organizar, aprimorar o PETI, trazendo para o Programa

uma maior estruturação desse serviço. De acordo com este, um dos benefícios alcançados pela

unificação desses programas foi à garantia da universalização do serviço. Segundo o

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (2010): A integração tornou-se a

forma concreta que permite a garantia da Universalização do PETI e maior interlocução entre

com o PBF, todos os municípios e o DF com as situações de trabalho infantil pode acessar o

PETI desde que cadastre as famílias do Cadastro Único - CADÚNICO.

Antes da portaria nº 666 os benefícios pagos aos usuários do Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil - PETI era repassado ao Gestor Municipal, em seguida, este

era repasso as famílias, por terceiros. O pagamento era feito por meio de boleto, em que o

beneficiário teria que ir ao banco para sacar, denominado de Bolsa PETI. O valor da Bolsa era

de R$ 40, 00 (quarenta reais) pago a cada criança/adolescente da família incluso no Programa.

Como o benefício não estava ligado ao Programa Bolsa Família, as famílias poderiam se

beneficiar dos dois programas. Com as famílias cadastradas no Programa Bolsa Família, estas

passaram a receber o beneficio diretamente, não mais por meio de boleto bancário, mas por

meio de cartão magnético, sendo o valor deste pago diretamente pelo Governo Federal, não

mais por terceiro, como era antes da Portaria nº 666.

Segundo o MDS (2010), a integração dos dois Programas permitiu que as famílias

com crianças e adolescentes em situação de trabalho, nos critérios de elegibilidade do

Programa Bolsa Família, fossem inclusas no maior programa de transferência de renda do

Brasil, eliminando qualquer possibilidade de duplicação de recebimento de benefícios

financeiro.

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61 

 

Essa multiplicidade de beneficio ocorria pelo fato de não haver um controle da

quantidade dos beneficiados e nem de um sistema capaz de dizer quem eram esses usuários.

Dessa forma, era necessário um sistema que pudesse cadastrar todas as famílias para que fosse

realizado o monitoramento do Programa PETI.

Com a portaria de nº 666, essa multiplicidade de benefícios não mais existiu. Pois

os Programas se unificaram, havendo assim, não mais uma Bolsa PETI de R$40,00 (quarenta

reais), mas a inserção da família que tem crianças ou adolescente em situação de trabalho

precoce, atendendo aos critérios de legibilidade do Programa. Assim, as famílias eram

inclusa no programa de transferência de renda Bolsa Família. Dessa forma, a família com

apenas uma criança no serviço do PETI não receberia apenas os R$40,00 (quarenta reais),

mas, o beneficio contaria com várias variáveis, chegando a receber um valor bem maio que o

oferecido pela Bolsa PETI.

As famílias com crianças e adolescentes em situação de exploração do trabalho

precoce passam a ser inseridas no CADUNICO, passando a receber os benefícios do

Programa Bolsa Família. Além disso, foi disponibilizado para os Municípios, Estado e DF um

sistema capaz de monitorar as atividades socioeducativas: assim, possível às esferas

governamentais conhecer o usuário, monitorar as frequências, colocando essa permanência,

no serviço do PETI, como condicionalidade. Esse sistema se denomina SISPETI, ou seja,

Sistema do PETI, sendo por este, capaz de monitorar as faltas e frequências das

crianças/adolescentes no serviço.

Antes da portaria nº 666, o serviço do PETI era ofertado apenas as piores formas

de trabalho infantil, porém, a partir desta portaria, o serviço passou a ser ofertado às diversas

situações de trabalho precoce de crianças e adolescentes. Além do mais, antes, a idade mínima

de permanência no serviço, era de criança na faixa etária entre 07 anos a 14 anos idade, com a

unificação, o atendimento passa a ser ofertada a faixa etária até 16 anos.

Ainda se referindo as contribuições da junção entre PETI e PBF, houve o

fortalecimento da rede de proteção à exploração do trabalho infantil, pois se amplia a

cobertura do atendimento, expandindo-se as ações para o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos e a nacionalização e aprimoramento do processo de gestão que

concerne ao PETI e PBF.

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62 

 

2.3 O SUAS E O SERVIÇO DE CONVIVENCIA E FORTALECIMENTO DE

VINCULOS PARA CRIANÇAS E ADOELSCENTES DE 6 A 15 ANOS.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos ofertados para

crianças/adolescentes retiradas da situação de trabalho infantil, no município de Fortaleza, é

executado em diversos pontos da cidade. Ele forma uma rede de proteção a crianças e

adolescentes que, algum dia esteve em situação de trabalho infantil. São 18 núcleos que

atendem a esse serviço. Dos quais, oito são de execução direta, ou seja, o SCFV é ofertado em

equipamento da própria Prefeitura de Fortaleza: que são os Centros de Referencia da

Assistência Social – CRAS, além de contar com espaços como Centro da Cidadania entre

outros espaços. Os demais espaços, no total de nove entidades6, são de execução conveniada

com a Prefeitura Municipal de Fortaleza. São Organizações não Governamentais - ONGs

conveniadas com o município para ofertar o serviço a crianças e adolescentes advinda do

trabalho infantil.

Os Equipamentos que ofertam o SCFV para crianças e adolescentes de 6 a 15

anos estão divididos pelas seis Regionais de Fortaleza. Na regional I há dois equipamentos de

execução do SCFV. Um de execução direta e outro conveniado. A de execução direta se

encontra no bairro do Pirambu, especificamente em uma Unidade denominada Comunidade

Cristo Redentor e atende a crianças e adolescentes daquela área e bairros adjacentes. A

unidade conta com três educadores sociais que trabalham de segunda a sexta-feira com carga

horaria de 40h “Segundo o que estabelece o MDSCF/90, o serviço deve ser ofertado por pelo

menos 15h semanais na zona urbana e 10h semanais na zona rural”. O que apresenta que

Fortaleze está acima dessa média, ofertando quase três vezes mais o que estabelecido por lei.

A unidade atende em média 150 crianças/adolescentes, sendo 25 para cada educador no

horário da manhã e 25 no horário da tarde. Ainda na Regional I, na área do Presidente

Kennedy o serviço é ofertado em uma unidade conveniada, uma Associação de Moradores do

bairro denominada Floresta, em que atende ao publico daquela área e bairros vizinhos. O

espaço conta com dois educadores sociais que atendem a 100 crianças.

O Serviço deve ser articulado em rede, visando potencializar suas ações. Essa articulação deverá ser fomentada, integrada e orientada sob direção do prefeito, incorporando ações de diversas outras politicas, pois, como já mencionado, as ofertas podem ser mistas. (MDS, 2010: p 49)

                                                            6 A PMF conta com 18 espaços de executado o SCFV-PETI, sendo oito Núcleos de execução direta e nove conveniadas. Apesar de a PMF expressar que conta com 18 espaços de atuação do SCFV-PETI, a Entidade André Luiz e a Associação Autran Nunes estão inseridas num mesmo convênio. Sendo assim, a Entidade André Luiz responde pela Associação Autran Nunes. Dessa forma, conta-se com nove entidades conveniadas.

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63 

 

Nas Regionais II e III existem sete equipamentos que ofertam o SCFV para o

publico que se encontrava em situação de trabalho infantil. Na regional II existe um

equipamento de execução conveniada que é o caso da Associação Curumins que funciona nas

proximidades do bairro Mucuripe: nesse espaço, a meta de atendimento é de 100

crianças/adolescentes. Já na regional III, onde se concentram quatro espaços de atuação do

SCFV-PETI, todos de execução conveniadas, nos quais contemplam os bairros Autran Nunes,

Quintino Cunha, Antônio Bezerra e Henrique Jorge. O número de crianças atendidas nesses

espaços é de acordo com a quantidade de educadores existes no local. Nesse caso, cada

educador atende por dia, 50 criança/adolescentes, esse atendimento é dividido em dois turnos:

manhã e tarde.

Nas regional IV e V existem cinco equipamentos, dos quais, três são de execução

da Prefeitura de Fortaleza, os demais funcionam como espaços conveniados. A regional IV

conta apenas com um equipamento de execução, sendo este Unidade do Município. Este se

encontra no CRAS da Serrinha, bairro onde está localizado. Devido à demanda, que é bem

menor que outros locais, o espaço conta apenas com um educador que atende, por dia, 50

crianças. Uma das maiores regionais do município de Fortaleza em população, a regional V,

conta com quatro espaços de combate ao trabalho infantil, com o Serviço de Convivência e

Fortalecimento de vínculos. No total, dois desses espaços são Unidades da Prefeitura e

funcionam respectivamente no bairro Bom Jardim, no Centro de Referencia da Assistência

Social - CRAS do mesmo bairro, e no Centro de Cidadania Adauto Bezerra no José Walter.

Ambos atendem crianças/adolescentes das áreas de atuação, como também, de bairros

vizinhos, não havendo restrição alguma. No Parque Santo Amaro temos a Associação Vida

Nova, uma instituição religiosa que, além de outros serviços, também oferta o SCFV para

criança/adolescente em situação de trabalho infantil. Ainda na regional V, o serviço conta

com mais um espaço conveniado, A Associação Beneficente ao Menor Carente, ou Menor

Carente, como é conhecido no bairro. Pelo grande numero de educadores que existe no

Equipamento, essa Associação atende a um grande número de crianças/adolescente, chegando

a contabilizar entre 200 a 250.

O SCFV pode ser ofertado, segundo o MDSCF: em unidade privadas sem fins lucrativos, conveniadas com o Poder Público, desde que tenham registro no Conselho de Assistência Social e ofertem o Serviço, conforme Tipificação Nacional de Serviço Socioassistencial, na área de abrangência do CRAS. (MDSCF2010,p:53)

É necessário ressaltar que, além dos educadores, cada espaço conta com uma

manipuladora de alimentos que atende as crianças/adolescentes do SCFV. Essas fazem,

durante um turno, duas refeições, que se divide em lanche, na chegada e almoço, se pela

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manhã, e à tarde lanche e jantar. Porém, esse cronograma é organizado de acordo com as

necessidades de cada espaço, cabendo a eles a organização dessas refeições.

Todas as crianças inseridas nos equipamentos de execução do Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos - PETI, seja conveniada ou de execução da

Prefeitura de Fortaleza, é de responsabilidade do Serviço Especializado em Abordagem Social

– SEAS, sendo esse serviço ofertado pelo Centro de Referencia Especializado da Assistência

Social – CREAS. Em hipótese alguma, nenhuma criança ou adolescente pode ser inclusa no

serviço sem antes ter sido averiguado a situação de exploração da mão de obra infantil pela

equipe do SEAS. O que cabe às entidades, unidades, sociedade civil entre outros e a

realização de denuncia aos diversos Órgãos de Proteção a Criança/adolescente: Conselho

Tutelar, Fala Cidadão, CRAS, ou ao Próprio CREAS.

De acordo como está dividida a Politica de Assistência Social, no que se refere ao

Combate ao Trabalho Infantil, o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos é de

responsabilidade da Proteção Social Básica, cabendo a está a organização desse serviço, seja

nos espaços de execução direta da Prefeitura de Fortaleza, ou nas Entidades Conveniadas.

Além dos mais, todo o processo metodológico das atividades desenvolvidas nesses espaços é

planejado pela PSB que realiza esse planejamento a cada mês, com a participação de todos os

educadores dos núcleos e entidades do SCFV para criança/adolescente advindas da situação

de trabalho infantil.

2.4 O ENFRENTAMENTO AO TRABALHO INFANTIL EM FORTALEZA: O

CENÁRIO ATUAL DO PETI E DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E

FORTALECIMENTO DE VINCULOS PARA CRIANÇAS E ADOÇESCENTES DE 6

A 15 ANOS

Fortaleza, em 2011, foi à cidade do Estado do Ceará que teve o maior índice de

crianças e adolescentes longe do trabalho. Segundo dados da Superintendência Regional do

Trabalho e Emprego – SRTE, 90% desses menores que trabalham estão num seguimento

classificado pelo Ministério do Trabalho entre as piores formas de trabalho infantil: os

serviços coletivos em ruas, logradouros públicos, onde atuam como ambulante guardador de

carro, guardas mirins, guias turísticos, entre outros. Os outros 10%, segundo o Órgão, são

geralmente encontrados no comercio como, por exemplo: mercados e feiras. Diante desses

dados, se coloca que as ações pelo poder público e das entidades que integram a sociedade na

prevenção e erradicação do trabalho infantil, já começam a surtir efeito. Baseado nessas

informações, que nos aguçou ainda mais compreender que efeitos estão sendo identificados na

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vida dessas crianças e adolescentes que estão sendo atendidas pelo Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil- PETI. Em Fortaleza, no ano de 2011, 443 crianças e adolescentes foram

afastadas do trabalho, segundo o Jornal Diário do Nordeste (2011), esse número é bem aquém

do total de meninos e meninas que ainda vivem em situação de exploração do trabalho no

Estado.

Como vimos acima, o Município de Fortaleza, em 2011, teve o maior número de

crianças e adolescentes fora do trabalho. Porém, diante da realidade de crianças e adolescentes

que estão nessa situação, o número de crianças retiradas do trabalho, se configura como índice

baixo. Os equipamentos de execução do SCFV - PETI ainda não são suficientes para atender

a grande demanda. É necessário ampliar esse atendimento, fortalecendo ainda mais as ações

desenvolvidas nos núcleos e entidades executoras do SCFV – PETI. Dessa forma, tornando as

atividades socioeducativas atrativas para seu público, podendo assim, prevenir a evasão do

serviço. Baseado nesses dados, em que podemos identificar o quantitativo das crianças e

adolescentes atendidos no PETI em 2011, é que esperamos conhecer melhor essas crianças e

adolescentes que saíram da exploração de trabalho, e estão nos núcleos/entidades do SCFV -

PETI. Entendemos que é necessário, não só conhecer os números, mas sim, a opinião dos

participantes quanto ao atendimento dado a eles nos equipamentos de atuação do Serviço de

Convivência e Fortalecimentos de Vínculos.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e

adolescentes de 6 a 15 anos de idade, tem como estratégia, no processo de atendimento as

crianças e adolescentes com direitos violados, incluído aquelas que se encontravam em

situação de trabalho infantil, atividades socioeducativas e de convivência, tendo nesse

atendimento atividades desenvolvidas, por meio de processo metodológico de intervenção

grupal. É através de encontros com grupos que o serviço desenvolve atividades de cunho

artístico, esportivo e de lazer. Criando dessa forma, momentos que proporcionam, além do

lazer, reflexão de temas voltados para a situação da exploração do trabalho infantil, como

também, das diversas violações de direitos.

A formação de grupo, em que envolve o acompanhamento a crianças e

adolescentes de 6 a 15 anos de idade, atua na perspectiva na construção de pertencimento e

identidade social e pessoal, troca de experiências entre os participantes, contribuindo dessa

forma, para o aprendizado cognitivo e afetivo, a partir da troca de saberes e vivencia. Além do

mais, os encontros em grupos desperta no participante o reconhecimento de potencialidade na

perspectiva do reconhecimento da realidade vivida, como também, entender essa realidade e

como poder intervir nesta. O trabalho desenvolvido em grupo socioeducativo para o publico

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de crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade, ofertado pelo SCFV faz parte de estratégia

para desconstrução de situação de descasos e negligência vivenciada por crianças e

adolescentes, sendo estas consequências graves no processo de formação do individuo

repercutindo de maneira negativa na construção da subjetividade e na sociabilidade do sujeito.

A proposta de trabalho em grupo com crianças e adolescentes tem como prisma o

sujeito a quem atende. Por tanto, o processo de construção desses encontros tem como

principio e referencia as especificidades da realidade em que esses participantes vivem. Dessa

forma, é a partir das experiências vivenciadas por estes que se constrói o caminho a ser

seguido no processo de tomada de consciência da realidade vivenciada pelos participantes.

Na orientação, planejamento e desenvolvimento das atividades no grupo para

criança e adolescente, a partir da proposta da construção de atividades, levando em

consideração as experiências do sujeito, que o SCFV - PETI trabalha considerando princípios

da educação de Paulo Freire. Para tanto, é através do aprendizado a partir da educação popular

que nortear o caminho a seguir nos encontros desenvolvidos com o publico acolhido. Assim, é

partindo do contexto social vivenciado pelas crianças e adolescentes atendidas, que se articula

saberes e conhecimentos de vivencia empírico e pedagógico, que sucinta a reflexão e

aprendizagem, na formação de construção coletiva de saberes. Além disso, é a partir da

formação do sujeito como conhecedor da realidade de sujeito de direitos, que a proposta tenta

alcançar o efeito multiplicador dos resultados, proporcionando ao publico atendido, formação

capaz de, não só conhecer a realidade, mas ser interventor critica na realidade vivida, podendo

levar o conhecimento adquirido a outros sujeitos; fomenta vivencia de relações de afetividade,

cognitiva, lúdica, recreativa entre educado e educador.

O Processo Metodológico das atividades para crianças e adolescentes de 6 a 15

anos de idade compreende que, nesse processo, tem que reconhecer alguns aspectos

específicos do público atendido, que demanda do serviço, o olhar para as questões de

desenvolvimento cognitivo, social-afetivo e cultural, pertinente na construção do sujeito. Para

tanto, é necessário o foco nessas especificidades na construção e utilização de metodologia,

pois esta deve observar que os participantes tem diferença etária, dessa forma, a construção de

atividades lúdicas e recreativa é desenvolvidas de acordo com a idade dos participantes, e

observando a interação entre estes.

A utilização das artes como mediadora nesse processo de resignação é uma das

estratégias utilizadas como metodologia no combate ao trabalho infantil e outras violações de

direitos. É através das modalidades: música, teatro, dança, e artes visuais, traçados nas

atividades socioeducativas, que o processo metodológico fomenta as discussões, apropriação

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do conhecimento e resignação de vivências. Ainda percorrendo as ações metodológicas, o

SCFV-PETI ainda conta com a modalidade esportiva, lazer e recreativa entre outras, como

forma de proporcionar ao participante a integração, sociabilização, potencialização e

aprendizagens social e humana.

Assim, os eixos estruturantes norteadores desse processo metodológico das

atividades temáticas difunde-se em convivência social e participação. Sendo a convivência

social, importante para o desenvolvimento do sentimento de pertença, como também, a

construção da identidade e a afirmação da individualidade. É por meio da relação social que o

sujeito absorve transmissão de códigos sociais e culturais, contribuindo para nortear os

valores do convívio em sociedade. São no âmbito familiar que se constitui as primeiras

formas de relacionamento: afetivo, proteção e cuidados, estendendo-se estes, para os espaços

comunitários. Formando assim, a rede secundária, que exerce um valor primordial na

formação cognitiva, afetiva e social. Para que o individuo tenha uma vida adulta saldável, a

segurança sentida na convivência familiar e comunitária é primordial para esse processo.

O convivo é parte da didática social na qual desenvolve o sentimento de pertença, a construção da identidade e a afirmação da individualidade. Por meio dele se realiza a transmissão dos códigos sociais e culturais e se estabelecem os valores que norteiam a vida em sociedade. ( SEDH 2006 in MDS 2010,p:78)

A Participação reconhece a crianças e os adolescentes como sujeitos em

formação, sendo esses sujeitos de direitos e em desenvolvimento, e que tem lugar no processo

de partipação da vida pública. Sendo esse de caráter democrático e decentralizado. Porém, é

necessário entender que, em virtude das particularidades especificas que envolve o processo

de desenvolvimento de cada individuo, é necessário se pensar essa participação a partir de

cada especificidade: criança e adolescente. Entendemos que, os processos de construção

desses saberes, são diferentes em cada uma dessas fazes.

Com base nas referencias acima, no que concerne a Convivência Social e a

Participação, eixos esses que se articulam no processo metodológico para a intervenção a

crianças e adolescentes do SCFV, incluindo aqueles que se encontrava em situação de

trabalho precoce, temos a seguir o Cronograma das atividades socioeducativas utilizadas nos

grupo, descrito de acordo com: atividades socioeducativas/recreação; recursos pedagógicos e

posição temática.

A seguir, apresentaremos algumas das propostas de atividades de intervenção,

desenvolvida, pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos em combate a

explora das diversas situações de violação de Direitos, com foco nas crianças e adolescentes

que foram retiradas da situação de trabalho infantil: a proposta metodológica conta com

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atividades Socioeducativas de recreação esporte e lazer. Para tanto, são realizadas oficinas,

rodas de conversa, campanhas comunitárias, gincanas educativas, intervenções comunitárias,

jogos cooperativos, dinâmicas de recreação, campeonatos esportivos, desenvolvimento de

práticas esportivas, passeio cultural e de lazer, discussões em plenárias, encontros

culminantes; oficinas de arte nas seguintes modalidades: dança, música, artes visuais e teatro;

além da realização de palestras. A temática aborda tem como foco a violação de direitos, a

arte, a cultura, a educação, e o lazer, o meio ambiente, saúde, gênero e diversidade entre

outros.

Segundo a proposta técnica-metodológica do SCFV para crianças e adolescentes 6

a 15 anos de idade – A equipe responsável pela execução direta desse serviço conta com:

Coordenação, pedagoga, técnico em esporte, arte educador, - modalidade música, teatro, artes

visuais, dança; além de educadores sociais. É por meio de encontros mensais que o

planejamento das atividades é elaborado. São realizadas ainda, encontros nos CRAS, e

regionalizados, para o Planejamento metodológico ou de atividades pontuais do serviço. Esse

processo envolve toda a equipe do serviço, como crianças e responsáveis familiares.

3. AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS DO SERVIÇO DE

CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS DE 6 A 15 ANOS NA VIDA

DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES INSERIDAS NO SERVIÇO NO ANO DE 2011,

NO MUNICÍPIO DE FORTALEZA.

3.1 O PERFIL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES ATENDIDAS PELO SERVIVO

NO ANO DE 2011.

Segundo dados do Serviço Especializado em Abordagem Social (SEAS), serviço

esse responsável pela identificação de crianças e adolescentes em situação de trabalho, e pelo

encaminhamento deste para um dos 18 núcleos/entidades de atuação do Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos – PETI, em 2011, o SEAS encaminhou para um

dos Núcleos deste serviço, 261 crianças/adolescentes.

De acordo com o SEAS os logradouros mais frequentes de identificação da

situação de trabalho infantil foram: feiras-livres, terminais de ônibus, praias, praças,

cruzamentos, centro da cidade entre outros. Também existe a intervenção da equipe junto aos

diversos eventos existentes na cidade de Fortaleza. O SEAS sempre atua em eventos como:

Fortal, Ceará Music, jogos em estádios, Revéillon, Casas de Shows e eventuais festas

realizadas na cidade.

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69 

 

Além dos processos de identificação do trabalho infantil acima citado, a Equipe

ainda conta com a parceria dos profissionais dos 18 núcleos/entidades do SCFV-PETI, que, ao

identificar, na comunidade esse fenômeno, realiza a intervenção por meio de preenchimento

de cadastro que é repassado para a Equipe que se dirige a residência da família para averiguar

a ocorrência. Caso constatado a violação de direitos, a Equipe encaminha a

criança/adolescente para participara das atividades socioeducativas do SCFV-PETI.

Diante dos dados colhidos do SEAS esse item expõe um perfil, elaborado com a

finalidade de se conhecer melhor alguns aspectos desses sujeitos, da qual permitirá observar

quantas crianças/adolescentes foram retiradas da situação de trabalho infantil, qual gênero é

mais predominante nesse processo, qual a idade mais encontrada nessa situação, qual a

escolaridade desse sujeito, a raça, quais os tipos de trabalho infantil mais encontrados e a

regional que mais recebeu essas crianças/adolescentes. Para tanto, os gráficos a seguir, nos

revela uma pouco dessa realidade:

Gráfico 01 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao gênero no ano de 2011

Fonte: SEMAS-CREAS-SEAS, Fortaleza, Ceará – 2011

O Gráfico 01 - Apresenta que: das crianças/adolescentes encaminhadas para o

SCFV-PETI, em 2001, 51% é composto por meninos, isso da um total 133; já as meninas

foram 128, representando 49% dos encaminhamentos. Percebemos que o número de meninas

é bem compatível com o número de meninos.

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70 

 

Gráfico 02 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação a idade no ano de 2011

Fonte: SEMAS-CREAS-SEAS, Fortaleza, Ceará – 2011

O Gráfico 2 vem nos apresentar o percentual de idade das crianças/adolescentes

inseridas no SCFV-PETI no ano de 2011. No que expressa à amostragem, das 261 inclusos no

ano de 2011, as crianças de 7 anos de idade apresentaram o percentual de 5%, em números

reais, equivale a 12 encaminhamentos; já os com idade de 8 e 9 anos representaram 10%,

respectivamente; com 27 encaminhamentos para os com idade de 8 anos e 26 para os com 9

anos. As crianças com 10 anos de idade somaram um total de 19 inserções no serviço, isso é o

que vale a 7% do gráfico; aqueles com idade de 11 anos estão representados no Gráfico por

13%, sendo assim, o equipamento recebeu 36 crianças nessa faixa etária; entre as crianças,

essa faixa etária foi que mais passou a participar das atividades socioeducativas do serviço;

entre os adolescentes com idade de 12 anos coube a participação nessa amostragem de 11%,

totalizando 29 inserções. Já os com idade de 13 anos apresentaram 12% da amostragem com

31 adolescetentes acompanhados pelo SCFV; o destaque entre os adolescentes é para a faixa

etária de 14 anos de idade que mais apareceu na pesquisa 14% , o que vale a 38 inserção; os

adolescentes com 15 anos de idade que apresentaram 13 encaminhamentos, com 12% da

representação gráfica e 6¨% aparece como “não informado”.

7 ANOS5% 8 ANOS

10%

9 ANOS10%

10 ANOS7%

11 ANOS13%

12 ANOS11%

13 ANOS12%

14 ANOS14%

15 ANOS12%

NÃO INFORMADO6%

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71 

 

Gráfico 03 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação ao Escolaridade no ano de 2011

Fonte: SEMAS-CREAS-SEAS, Fortaleza, Ceará – 2011

De acordo com o apresentado no Gráfico 3 referente à Escolaridade das

crianças/adolescentes saídas da situação de trabalho para participar do SCFV – PETI, a

amostragem destacou que a maioria se encontrava no ensino fundamental, apenas o 1º ano do

Ensino Médio teve expressão nesta. Para as crianças no 1º ano do Ensino Fundamental, está

amostragem apresenta que 7% estão cursando este ano, no total foram 17 crianças; já as do 2º

ano do Ensino Fundamental aparecem com 14% de participação, o que vale a 35

encaminhamentos de crianças ao SCFV-PETI cursando este ano. Aos que estão cursando o

3% ano do Ensino Fundamental, esta pesquisa traz o quantitativo de 16%, sendo 42

encaminhamentos, totalizando a série que mais aparece das crianças em situação de trabalho

inseridas no SCFV-PETI no ano de 2011; 4º do representou 11%, sendo 29; o 5º ano teve

representação de 13% ou 35 inseridos; o 6º representou 15%, no total 38 encaminhamentos; o

7º ficou com 10% , sendo este 27 inscrito no serviço; o 8º totalizou 13 encaminhamento,

representando 5%; 9º ficou com 3%, destacando 8 inseridos; ainda na pesquisa aparece 1

adolescentes encaminhado cursando o 1 do Ensino Médio, este ficou representado no Gráfico

3 com 0% e por fim, 6%, o valor correspondente a 16 “ não informado”.

Gráfico 04 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação a raça no ano de 2011

Fonte: SEMAS-CREAS-SEAS, Fortaleza, Ceará – 2011

1ª7%

2ª14%

3ª16%

4ª11%5ª

13%

6ª15%

7ª10%

8ª5%

9ª3%

1º ANO0%

NÃO INFORMADO

6%

82%

3%14% 1%

PARDA

NEGRA

BRANCA

AMARELA

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72 

 

O Gráfico 4 trata qual a cor mais predominante entre as 261 crianças/adolescentes

que passaram a ser acompanhadas pelo SCFV – PETI em 2011. O destaque vai para a cor

Parda, que totalizou 82% destes encaminhamentos. O que vale destacar que nesse período,

foram 203, segundo levantamento da Equipe do SEAS. Em segundo lugar, 14% se

consideram Brancas revelando um total de 36; os que se consideram Negros representam 3%,

o que totaliza 7 destes, e por final, temos 3 crianças/adolescentes que se consideram

Amarelas, sendo assim, representando no Gráfico 4 em 1%.

. Gráfico 05 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação aos tipos de Trabalho Infantil no ano de 2011

Fonte: SEAS - Creas – Fortaleza, Ceará 2011.

O Gráfico acima expressa as diversas atividades laborais realizadas pelas crianças

e adolescentes encaminhadas pelo SEAS. Destaque para os Catadores de Material Reciclável,

que tiveram 51% das intervenções da equipe. Em segundo lugar vem os vendedores

ambulantes, destacados acima por 30% e os Artesãos que se destacaram com 15%. As

atividades domésticas, aquelas nas quais há dificuldade em identifição, o gráfico trouxe um

percentual de 2%, seguida das Babás e das auxiliares de costura que apresentaram,

consecutivamente, 2%. Crianças que trabalham com Frentes aparecem 1%, as demais

atividades pontuaram 0% e “não informado 7%”.

Gráfico 06 – Crianças/Adolescentes inseridas no SCFV-PETI em relação a Regional no ano de 2011

.

Fonte: SEAS – Creas – Fortaleza, Ceará 2011.

125

73

153 1 6 1 2 1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 1 2 4

18

0

20

40

60

80

100

120

140

I4%

II12%

III9%

IV2%

V19%

VI54%

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73 

 

O Gráfico acima vem revelar qual a Regional da cidade de Fortaleza teve o maior

número de crianças e adolescente retiradas da situação de Trabalho Infantil. Segundo dados, a

Regional VI está entre as que mais realizou encaminhamento para o SCFV com 140

crianças/adolescentes, representando 54%; em seguida, vem a Regional V que teve 19% de

encaminhamentos, no total, 49; A Regional II apresentou 12% é o que vale a 31; A Regional

III apresenta uma percentual de 9%, representando 25 encaminhamentos; já a Regionais I

realizou 10 encaminhamentos, o que representa em números percentuais 4% e a Regional IV,

a que menos apresentou um bom desempenho nesse quesito, realizado apenas 6

encaminhamentos, totalizando 2%.

Assim, os dados apresentados pelo SEAS podem revelar, mesmo que de forma

sucinta, os traços desses sujeitos que saíram da situação de Trabalho Infantil e passaram a

frequentar um dos núcleos/entidades que oferta o SCFV-PETI em Fortaleza, para crianças e

adolescentes que se encontravam na situação do trabalho precoce. Por tanto, podemos

perceber a relação entre o número de meninas e meninos nessa situação identificada pela

Equipe no período de 2011, como também, traça a faixa etária, a raça, idade, atividade

laboral, e Regional a qual esses meninos e meninas foram encaminhados. Destacando dessa

forma, a regional com maior percentual de intervenção do SCFV na questão do Trabalho

Infantil.

3.2 A ASSOCIAÇÂO BENEFICENTE AO MENOR CARENTE E O SCFV:

CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO DA PESQUISA.

Este trabalho de pesquisa tem como lócus de estudo a Associação Beneficente ao

Menor Carente - ABEMCE a qual fez parte da nossa atuação enquanto profissional da

Assistência Social, especificamente no que se refere à inserção de crianças e adolescentes no

SCFV do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, da qual, como já foi citado, é

ofertado pela Associação.

Dessa forma, por conhecermos o local, o trabalho desenvolvido, a organização do

serviço, além das questões relacionadas anteriormente, diante do grande número de crianças e

da grande quantidade de atividades ofertadas, nos veio o questionamento: se o fato de houver

vários serviços atendendo ao mesmo tempo, não dificultava ou facilitava a intervenção das

ações do SCFV às crianças advindas da situação de trabalho infantil.

Para tanto, foi necessário à realização de uma entrevista exploratória com um dos

funcionários do espaço que estivesse há muito tempo a frente das ações do Programa de

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Erradicação do Trabalho Infantil no equipamento. Dessa maneira, os dados colhidos abaixo

consegue descrever a inquietação da qual foi expresso acima.

Há 25 anos surgiu a Associação Beneficente ao Menor Carente – ABEMCE no

bairro Parque São José. “Sua missão é socioeducativa e tem como finalidade retirar as

crianças/adolescentes da situação de pobreza, e da realidade social em que vivem”

(entrevistada ABEMCE). A entidade surgiu através de sua fundadora, a Sra. Francisca da

Chagas, uma das Coordenadoras do espaço hoje, mais conhecida pela comunidade como Tia

Francisca. Esta senhora tinha um sonho: criar um espaço capaz de atender as necessidades da

comunidade. Como relata entrevistada, a Associação iniciou-se na própria residência da Tia

Francisca, uma sala de aproximadamente 1,80m de largura, que ao perceber uma das maiores

carências do bairro: a falta de escola resolveu fazer da sua moradia um pequeno

estabelecimento de ensino. No início, apenas com quatro alunos.

A Instituição surgiu de uma necessidade que a Diretora viu na comunidade de carência das crianças. E começou na casa dela mesmo. Sem nenhum recurso, com pessoas voluntárias. Daí se iniciou os trabalhos e hoje a Associação está fazendo 25 anos. (entrevistada ABEMCE)

No início, Tia Francisca contou com a colaboração de Tia Marta, a primeira

professora da pequena escola, na época, com apenas 16 anos de idade. E ambas resolveram

por em prática o sonho de Tia Francisca. Segundo a entrevistada, foi muito difícil, pois a falta

de recursos, principalmente, de material escolar, dificultava a realização das atividades

escolares. Porém, por meio de doações das pessoas do bairro, aos poucos o sonho foi se

concretizando.

A primeira parceria aconteceu com a Igreja Presbiteriana de Fortaleza, essa

firmará convenio até 1990. Em seguida, veio à contribuição da Igreja Associação de Deus

Mistério, que permanece a até hoje, junto com a COMPASSION, principal parceira que

aderiu ao projeto através da Igreja Presbiterana Central, em 1999. A Associação ainda conta

com convênio com a Prefeitura Municipal de Fortaleza - PMF para ofertar o SCFV-PETI.

Este administrado pela Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social e Combate a Fome.

Além disso, a Prefeitura de Fortaleza ainda firmou outro convênio com a Associação que visa

o atendimento de crianças na creche. A ABEMCE ainda conta com a verba do Programa

Jovem Aprendiz, do Governo Federal.

Uma parte é do PETI, verba Federal, outra é do Apadriamento: são pessoas voluntárias que apadriam crianças aqui, dos 3 aos 18 anos de idade. São de outro País que tem parceria com a COMPASSION. São pessoas da Igreja Evangélica. Tem ainda a verba do Jovem Aprendiz. (entrevistada ABEMCE)

A COMPASSION, como citado acima, é para a Associação uma das mais

importantes parceiras, pois atua atendendo a criança e ao jovem, no formato de

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Apadriamento. O Apadriamento ocorre da seguinte forma: o programa é ligado a Igreja

Evangélica de outros Países, que passam a encaminhar doações para determinada criança ou

jovem, que consiste em ajuda particular para este, como também, o custeio das atividades

realizadas pela Associação. Hoje, a Associação atende em média, 658 crianças e jovens, com

idade entre 3 a 18 anos.

A Associação conta ainda com uma creche para crianças, uma escola que atende

248 crianças do infantil 4 ao 5º ano, Centro de Desenvolvimento Integral que trabalha com

atividades em várias modalidades: arte, dança, música, esporte e informática; O Programa

Primeiro Emprego , ou Jovem Aprendiz, que atua com adolescentes e jovens de 14 a 24 anos;

e o SCFV do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

A parceria7 com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI surgiu há

oito anos, em 2005, quando era administrado pela Fundação da Criança e da Família –

FUNCI. Hoje, o Programa está sendo desenvolvido pela Secretaria de Trabalho,

Desenvolvimento Social e Combate a Fome – SETRA. O Convênio teve início com o

fechamento de um equipamento, próximo à entidade, que executava o serviço, e como as

crianças não tinham para onde ir, devido à boa estrutura da qual apresentava a ABEMCE, o

Programa passou a ser ofertado na Associação. Hoje a Associação atende a 232

crianças/adolescentes no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

“Faz oito anos. Surgiu assim: como tinha uma entidade aqui próximo que ia fechar as portas e as crianças não tinham para onde ir, e como aqui tinha estrutura, ele veio pra cá. Quem gerenciava era a FUNCI”. (entrevistada ABEMCE)

As atividades realizadas na ABEMCE com as crianças advindas do Trabalho

Infantil são orientadas pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV,

que realiza mensalmente, encontro com todos os Educadores dos 18 núcleos/entidades existes

na cidade, onde é oferecido o serviço, para traçar o planejamento das atividades a serem

realizadas durante o mês. “O Planejamento é feito com toda a Coordenação do SCFV e os

educadores. Uma vez por mês. Na maioria das vezes, o que é repassado lá, é aplicado aqui.

Na maioria das vezes”. (entrevistada ABEMCE)

Aos Educadores, Núcleos e Entidades, cabem seguir o Planejamento desenvolvido

pelo SCFV. No entanto, além das atividades que consistem em temáticas sobre o Trabalho

Infantil, entre outras, alguns núcleos/entidades contam com outras atividades que contribui

para a permanência da criança/adolescente no serviço. A ABEMCE conta com, como citado

                                                            7O Serviço de Convivência e Fortalecimento Vínculos para crianças e adolescentes de 6 a 15 anos (Peti) vem sendo ofertado desde 2005 na ABEMCE por meio de Convênio com Prefeitura de Fortaleza..

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76 

 

acima, várias outras atividades que contribui para o aprendizado e a permanência destes no

Serviço.

Mas, devido ao grande número de crianças/adolescente atendidos pela ABEMCE

no SCFV - PETI e das diversas atividades realizadas, esta não consegue organizar as

atividades direcionadas pelo SCFV, para todas as crianças/adolescentes atendidas. O que

ocorre é que, não existe um controle na organização de se ter, em apenas um espaço,

crianças/adolescentes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Todas as atividades

são realizadas para todas as crianças. Ou seja, temos participantes dos diversos programas

juntos, não se tendo apenas um grupo referente ao trabalho infantil. Dessa forma, há uma

inviabilidade de se trabalhar, de maneira focal, os temas e ações relacionadas ao trabalho

infantil. Por outro lado, percebem-se que, pelo grande número de participantes do SCFV -

PETI, as atividades desenvolvidas como: arte, dança, música informática, educação cristã, o

Jovem Aprendiz, o Apadriamento entre outras, tem contribuído para que não haja evasão.

Elas participam de todas as atividades com as crianças dos demais programas (...) todo mês são trabalhados temas transversais (...) que todo mês é trabalhado um tema diferente (...) não há uma atividade especifica apenas para as crianças do PETI. Temas que abordem a situação de trabalho infantil”. (entrevistada ABEMCE)

Segundo a interlocutora da instituição, apesar de uma vez no mês, ser realizado

atividade com temas transversais, esse não é feito de forma focal. Ou seja: apenas para o

grupo advindo do trabalho infantil. No que expressa, não existe, como em outros espaços de

atuação do serviço, a organização das crianças do Trabalho Infantil em apenas um grupo, para

se trabalhar as questões relacionadas a este. No que se percebe na fala da Entrevistada da

ABEMCE é que o cotidiano das crianças e adolescentes se expressa nas diversas atividades,

com metodologias diversificadas, para além do indicado nas orientações expressas nas

reuniões semanais do SCFV.

3.3 CARACTERIZANDO AS CRIANÇAS, ADOLESCENTES E FAMILIAS

ENTREVISTADAS.

Este item tem como proposta a elaboração do perfil das 5 famílias que atuaram

como sujeitos para investigação dessa pesquisa. Para tanto, as famílias foram identificadas por

um número que irá variar entre um e cinco, de acordo com a quantidade estabelecida na

pesquisa.

Dessa forma, para melhor entender a quem o documento se refere, este utilizará,

quando se referi ao responsável da família, o termo “mãe”, já que todos os responsáveis

entrevistados foram às mulheres chefe de família e para o sujeito que se encontrava em

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situação de trabalho, no caso os filhos destas, será usada a palavra “criança”. Assim, como

expresso em Termo de Consentimento, na qual foi assinada e entregue uma cópia deste aos

sujeitos acima citados. Assim, será resguardo às identidades dos mesmos. Dessa forma, o

sigilo dos entrevistados é primordial.

Dessa maneira, de acordo com dados colhidos durante as entrevistas realizadas,

seguem abaixo o resultado, de acordo com cada família:

Família 1

Esta família é composta por cinco membros, sendo quatro filhos e a mãe, que tem

32 anos, estudou concluindo o Ensino Fundamental, e é a chefe da família. A Mãe se diz do

lar, não tendo nenhuma profissão definida. Atua como diarista, porém, perguntado quem

trabalhava na casa, ela relatou que ninguém: pois ela não entende este como trabalho, por

exercer essa tarefa raramente. De acordo com a senhora, a renda da família é de um salário

mínimo, decorrente das faxinas e do Programa Bolsa Família, da qual é beneficiária.

Segundo a Mãe, dos seus cinco filhos, três frequentam os Projetos da ABEMCE,

porém, apenas um participa do SCFV-PETI, decorrente da situação de Trabalho Infantil. A

Criança que participa das atividades socioeducativas ofertados pelo SCFV-PETI tem 9 anos

de idade, está cursando o 3º ano do Ensino Fundamental. Há dois anos foi inserido no

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

Na época em que foi inserida no SCFV-PETI, a Criança trabalhava com sua mãe a

auxiliando na confecção de peças íntimas. A criança exercia essa atividade três vezes na

semana, chegando a receber o valor de R$100,00. Segundo a criança, chegava a trabalhar de

seis a sete horas por dia. Além da atividade desenvolvida com as peças íntimas, ela ainda

cuidava de um bebê, que disse ser seu irmão.

A criança relata que, durante o período que ajudava a mãe na atividade de costura

e cuidava do bebê, estava frequentando a escola. De acordo com ela, não tinha nenhum

problema de saúde, nunca sofreu nenhum acidente nem violência devido às atividades.

Família 2

A família é composta por cinco membros, sendo: o pai, a mãe e três filhos. A Mãe

tem 38 anos, estudou até o 1º ano do Ensino Médio. De acordo com a mesma, trabalham ela e

o marido. A senhora trabalha como zeladora e a renda da família são compostas pelo ganho

dela, do marido e do Benefício Bolsa Família. Segundo a Mãe, o valor mensal da renda da

família é de um salário mínimo.

Dos três filhos da família, apenas uma está inserida no SCFV- PETI ofertado pela

ABEMCE. A criança participa a mais de dois anos das atividades socioeducativas. Antes de

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frequentar as atividades, ela trabalhava reciclando. A criança cursa o 7º ano do Ensino

Fundamental, e hoje está com 13 anos de idade. No período em que passou a participar do

SCFV-PETI, esta tinha 11 anos.

Segundo a criança, ela saia uma vez na semana para fazer a reciclagem, sendo no

próprio bairro. Ela falou que passava em média, três horas realizando a coleta, chegando a

receber, em média, o valor de R$ 1,00 pelo material coletado. Na época em que exercia a

função, a criança falou que não tinha nenhum problema de saúde. Porém, na entrevista com a

Mãe desta, a mesma relatou que a filha tinha problema de saúde. De acordo com ela, a filha,

em alguns momentos, chegou a dar convulsão, afirmando que não era decorrente da atividade,

mas que a realização desta, prejudicava mais ainda o estado de saúde. De acordo com a mãe, a

filha não relatou o problema, pois tem vergonha. Perguntado a respeito da criança ter sofrido

violência ou acidente realizado a atividade, ambas, mãe e filha foram incisiva em afirmar, em

momentos separados, que isso nunca ocorreu. Segundo relatou a criança, neste período estava

frequentando a escola.

Família 3

Esta família tem como componentes quatro pessoas, entre eles: pai, mãe e dois

filhos. A mãe foi à pessoa que participou da pesquisa. Ela relatou que tem 48 anos de idade,

estudou até o 6º ano do Ensino Fundamental. De acordo com ela, não tem nenhuma profissão,

se denominando apenas como do lar. A senhora declarou que apenas o marido trabalha e toda

a renda da família vem do trabalho do marido. Sendo esta, em média, três salários mínimos.

Ela afirmou não ser beneficiária do Programa Bolsa Família. Disse que há algum tempo

procurou o Centro de Referência da Assistência Social - CRAS e realizou seu cadastro,

porém, nunca recebeu este benefício. Ela acredita que a não aprovação do cadastro no PBF é

decorrente da renda do marido ultrapassar o teto máximo exigido pelo Programa.

Apenas um dos filhos participara do SCFV – PETI da ABEMCE. O adolescente

tem 13 anos, está cursando o 7º anos do Ensino Fundamental. Segundo afirma a mãe, o filho

participa das atividades do SCFV - PETI há dois anos. Antes de frequentar o serviço, o

adolescente trabalhava vendendo água. Perguntado ao garoto a respeito dessa atividade, ele

falou que trabalhava três vezes na semana, sendo quatro horas por dia. Da atividade, ele

recebia R$ 30,00 pelos três dias de trabalho realizado.

Nesse período, de acordo com o adolescente, ele frequentava a escola. Disse não

ter nenhum problema de saúde na época. Disse ainda que nunca sofreu violência ou acidente

por conta do trabalho realizado.

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Família 4

A Mãe mora com mais três pessoas, sendo dois filhos e uma irmã. Ela estudou até

o 5º do Ensino Fundamental, tem 40 anos e é a única pessoa que trabalha na família. A renda

é decorrente do trabalho de manicure, sendo está à profissão da senhora. Ela relatou que chega

a ganhar um salário e meio, por mês, realizando essa atividade. Ela ainda conta com o

Beneficio do Programa Bolsa Família, do qual complementa a renda.

De acordo com a Mãe, seus dois filhos participam dos Projetos da Associação

Beneficente ao Menor Carente, sendo um engajado no Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para crianças advindas da situação de trabalho infantil. Segundo

ela, o filho está há mais de dois anos participando das atividades socioeducativas na

ABEMCE.

A Criança tem 10 anos de idade, na época em que foi inserida no SCFV tinha 8

anos. De acordo com a mesma, antes de entrar no Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil - PETI vivia pelas as ruas do bairro trabalhando como vendedor ambulante de sorvete.

Ele exercia a atividade todos os dias da semana, passando duas horas na rua para vender os

Marujinhos, chegando a receber por esse serviço, aproximadamente, R$ 50,00, por semana.

De acordo com à criança, na época, ela frequentava a escola. Questionado se tinha algum

problema de saúde nesse período, a mesma revelou que não. Com relação a acidentes e

violência que tenha sofrido enquanto estava na rua trabalhando, ela falou que nunca sofreu.

Família 5

A Mãe mora com mais três filhos. A mesma tem 31 anos, tem ensino superior, sua

profissão é o de Professora. A família vive do salário de professor da senhora, sendo este,

segundo ela, um salário mínimo. A mesma ainda disse ser Beneficiária do Programa Bolsa

Família, sendo este benefício como o único complemento da renda.

A Criança, na época que foi inserida no SCFV-PETI tinha 13 anos, hoje está com

15 anos. O mesmo está cursando o 7º ano do Ensino Fundamental. Antes de frequentar o

SCFV-PETI ele trabalhava em feira livre, como feirante. Ele relatou que trabalhava de

segunda a sexta, chegando a passar seis horas por dia nessa atividade. O valor recebido por

ele ao realizar a atividade era de R$ 100,00, que recebia por semana.

Durante o tempo que estava trabalhando como feirante frequentava a escola. De

acordo com o mesmo, na época, não apresentava nenhum tipo de problema de saúde.

Perguntado a respeito de acidentes ou violência que tenha sofrido com a atividade, ele falou

nunca ter sofrido.

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3.4 REVELANDO AS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS E ECONOMICAS

POSSIBILITADAS PELA PARTICIPAÇÃO NO SCFV NA VIDA DESSAS

CRIANÇAS, ADOLESCENTES E SUAS FAMÍLIAS.

Nesse item vamos analisar as falas dos interlocutores de modo a observar de que

maneira o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de 6 a 15 anos que recebe

crianças e adolescentes retirados da situação de trabalho infantil através do Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) vem contribuindo para mudanças na vida deles e de

suas famílias em diferentes contextos e sobre variados aspectos, a saber: vida escolar, retorno

à situação de trabalho infantil, direito à brincadeira, exercício do afeto, renda familiar, vida

diária, saúde, sonhos, acesso às políticas públicas, acesso a conhecimentos, consciência de

direitos.

Salientamos que as famílias serão identificadas por uma ordem numérica, onde

cada família recebeu um número, que varia de 1 a 5, de acordo com o número de famílias

pesquisadas, como visto no item anterior a este. Dessa forma, a família um (1) será

identificada da seguinte forma: Família 1 – Crianças, quando está contemplar a fala da criança

e Família 1 – Mãe, quando for contemplada a fala da mãe.

Vida Escolar

Como questionamento a respeito das contribuições do Serviço de Convivência e

Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes que se encontrava em situação de

Trabalho Infantil, essa pesquisa perguntou aos entrevistados (Criança e Mãe) quais as

contribuições observadas por eles referente ao desenvolvimento escolar. De acordo com as

respostas das Crianças, duas afirmaram que não perceberam nenhuma mudança. Porém, as

demais afirmaram que tanto houve mudanças no aspecto do aprendizado como no que se

refere ao relacionamento com outras pessoas. A Criança da Família 1 não reconhece, pelo

menos nesse momento, a escola como um espaço de aprendizado. Porém, ela atribui que as

atividades desenvolvidas no Projeto Vida Nova (assim se refere ao SCFV) ser bem mais

interessantes.

Não melhorou nada. (Família 1 – Criança) Não. Às vezes eu passo o dia todinho sem fazer nada no colégio. Aqui eu gosto de fazer as coisas: gosto de ir para a informática, capoeira. Gosto de todas as pessoas da Vida Nova. (Família 2 – Criança)

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Melhorou muito. Pois antes eu tirava muita brincadeira na escola e a professora dava carão. Tive mais aprendizado na escola, pois passei a tirar boas notas. Teve mais tempo para estudar. (Família 3 – Criança) Tive melhor comportamento na escola. (não soube identificar outra mudança) (Família 4 - Criança) Tive. Aprendi mais... Mexer no computador. Aprendi mais matemática e a ler. (Família 5 - Criança)

De acordo com o relato das Mães, seus filhos melhoram em vários aspectos: como

referente ao aprendizado, ao comportamento, a participação entre outros. De acordo com a

Mãe da Família 5, durante o período que seu filho trabalhava ele não tinha interesse em

estudar, depois que passou a participara do Projeto, segundo ela, a mesma pensava que o filho

teria mais interesse pelos estudos, porém, isso não aconteceu.

Melhorou nas notas e no comportamento. Antes, ela faltava muito à escola. (Família 1 – Mãe) Ela já está aprendendo a ler. Com muita dificuldade, mas está aprendendo a ler. Ela era muito tímida, agora não é mais.. (Família 2- Mãe) Teve. Agora no sexto ano é que ele teve uma queda. Devido a conversar muito na sala de aula. Mas, não foi por conta do Projeto.. (Família 3 – Mãe Melhorou. E nisso, eu não posso falar. Pois ele sempre foi um garoto inteligente e ele sempre gostou de estudar. Ele hoje é mais atencioso na tarefa, querendo mais participar das coisas do colégio. (Família 4 – Mãe) Pois é... ele não tem muito interesse pelos estudos. Mesmo estando no curso, ele não teve interesse nos estudos. Eu disse para ele: agora que você está no curso, aproveita para ler e estudar. Mas, ele não tem interesse em estudar. Não modificou nada. (Família 5 – Mãe)

Observa-se que na maioria das falas dos entrevistados, de alguma forma, a saída

da condição de trabalho infantil, e inserção no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil,

trouxe melhora para o desenvolvimento escolar da crianças e adolescentes.

No que expressa os autores, por muito tempo a consequência do Trabalho Infantil

esteve ligada à questão da pobreza. De fato, esta é uma das maiores causadoras desse

fenômeno. Além desta, o aspecto cultural também exerce grande influência na inserção de

crianças e adolescentes, precocemente, no mundo do trabalho.

Por tanto, estudos recentes, como afirma Oliveira (2013), tem constatado que, na

área onde não existe uma educação de forma acessível, ou a falta desta, a criança/adolescente

fica ociosa se ocupando em outras atividades que não a escola. Dessa forma, a criança que

trabalha, não tem tempo para estudar, comprometendo seu futuro, pois ela não conseguirá

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competir num sistema globalizado que exige qualificação profissional e preparo para a

inserção no mercado de trabalho. Para o autor, a criança que trabalha hoje, será o adulto

desempregado amanhã. De acordo com o ECA Art. 3 – A criança e o adolescente têm direito

à educação visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da

cidadania e qualificação para o trabalho... (2004: p.40)

O fato de não existir creche ou pré-escolas suficientes em grande parte dos

municípios brasileiros, segundo Oliveira (2013), a falta do Poder Público, em muitas

situações, não ofertar esses serviços à população carente, contribui para que muitas mulheres,

sem terem com quem deixar os filhos, passam a levá-los para os espaços de trabalho. Nesse

caso, o autor destaca que, essa situação é bastante comum no interior, em casa de farinha. Ele

relata que, em uma determinada casa de Farinha de Pernambuco formam encontrados

meninos trabalhando com facções.

Catarino (2013) destaca que o acesso à escola é muito fácil. Acredita o autor que o

fato da criança estar na escola não inviabiliza de, em outro turno, estar trabalhando. Ele

acrescenta que o Trabalho Infantil não prejudica o acesso à escola. O mesmo exemplifica que:

um menino ou uma menina trabalha como empregado em uma loja de livros. Isso não

prejudica ao acesso à escola.

No entanto, esse trabalho prejudicará o sucesso escolar dessa criança ou

adolescente. Dessa forma, de acordo com Oliveira (2013), colocando-se sobre a importância

da educação na vida da criança, afirma que não é apenas o fator pobreza nem cultural que

contribuem para a inserção da criança no mundo do trabalho. O não acesso a um ensino de

qualidade também endossa um dos aspectos que contribui para a inserção destes. Sendo

assim, se faz necessário que o Poder Público viabilize o acesso ao ensino de qualidade a todos

de forma universal. Para o autor, a educação é fundamental para que a criança não fique

ociosa se enveredo pelo mundo do trabalho precoce.

Porém, Catarino (2013) destaca que a escola é de fácil acesso para os sujeitos, e

que esta não garante que a criança não garante que este não esteja trabalhando, pois ele pode

em um turno está na escola, em outro, exercendo alguma atividade remunerada.

Na fala de Catarino (2013), percebesse que o autor traz a preocupação da

necessidade de se ter uma retaguarda, além da educação, na prevenção o Trabalho Infantil. O

que se refere aos sujeitos pesquisados observa-se que o SCFV do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil foi fundamental para o desenvolvimento escolar da criança, além de

contribuir para a não reincidência, da maioria destes, ao trabalho, já que, segundo dados

colhidos, essas crianças e adolescentes permanecem a dois anos participando das atividades

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83 

 

socioeducativas do SCFT – PETI da Associação Beneficente ao Menos Carente, mais

conhecida como Vida Nova.

Retorno ao trabalho infantil

A pesquisa quiser saber se havia ocorrido o retorno das crianças ou adolescente

ao Trabalho Infantil. Como relatado pelos entrevistados, algumas crianças ainda continuam

realizando a atividade laboral, mesmo sem o conhecimento, aparente da mãe. Pois, no caso da

Família 2, a criança continua indo reciclar com o pai, e a Mãe relatou que a Criança não havia

retornado a reciclar. Já a criança e a mãe da Família 1, relataram que, no que se refere a

confecção das peças íntimas, esta não mais exerce, porém, continua realizando à atividade de

cuidar do irmão menor. Já as Famílias 3, 4 e 5, tanto as Mães quanto as Crianças afirmaram

que não houve retornou ao Trabalho Infantil.

Não. Mas ainda cuida do bebê.. (Família 1 – Criança) Família 1 – Mãe – Não. Mas, às vezes cuida do bebê. Continua fazendo reciclagem; Eu e meu pai continuamos reciclando. (Família 2 – Criança ) Não retornou. (Família 2– Mãe) Não. (Família 3 – Criança) Não voltou a realizar nenhuma atividade. (Família 3 – Mãe) Não. (Família 4– Mãe) Não. O único trabalho que tenho é fazer as tarefas. (Família 4 – Criança) Não retornei. (Família 5 – Criança) Não retorno ao trabalho. Só passou a frequentar lá e o colégio. (Família 5 - Mãe)

Segundo Oliveira (2013), de acordo com a resposta da Mãe da Família 1, a

respeito da, não identificação da ação de sua criança cuidar de um bebê, se caracterizar como

trabalho infantil. Isso ocorre porque existe uma naturalização dessa situação. Para muitas

famílias, o fato da criança realizar atividades domésticas e cuidar de uma criança menor, não a

prejudica. Estes casos, embora não estejam na estatística de trabalho infantil doméstico, por

que são realizados dentro da própria casa, representam afazeres domésticos em regime de

exploração. O trabalho doméstico é cansativo até para o adulto, imagine para crianças e

adolescentes. É importante lembrar que este é um trabalho invisível, e que está entre as piores

formas de trabalho infantil.

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Direito à brincadeira

De acordo com as respostas colhidas a respeito do direito a brincadeira, todas as

crianças foram enfáticas em afirmar que: além do trabalho, ainda havia tempo para a diversão.

Porém, na resposta dada pela Criança da Família 1, percebe-se que o direito à brincadeira se

limitava aos cuidados com o irmão. Perguntado à criança sobre os tipos de brincadeiras

realizadas por esta, hoje, ela afirma: são as mesmas brincadeiras, e que, às vezes, o horário de

brincar ou é até 21:00 horas ou 22:00 horas. Percebesse que não houve mudanças nesse

aspecto, segundo o relato da criança:

Esconde - esconde, pega- pega, nos brincava com o cachorro, ele queria morder o bebê, o bebê ficava com medo, o irmão tacava nele, mas eu não tacava não, para ele sair de perto... Brincava dentro de casa, com os irmãos. À noite eu brinco fora. Brinco de dominó, baralho, garrafão, comida com as meninas, esconde-esconde, pega-pega, sempre à noite. Agora eu não fico mais, só quando minha mãe não vai à igreja. Hoje são as mesmas de sempre. Na semana eu fico até 9h, no final de semana até 10h. No Projeto não brinca, porque tem vergonha. (Família 1 – Criança)

Com relação à Criança da Família 5, esta relatou que as brincadeiras eram

realizadas no horário do trabalho, e as brincadeiras consistiam em: xingar os outros

companheiros de trabalho. Verificamos, de acordo com o expresso, que este não vivenciava o

direito à brincadeira, pois o tipo de brincadeira realizado por ele está muito distante da que

deve ser vivenciada na infância por uma criança da sua idade. Ou quando não, este

aproveitava o momento do intervalo da escola para brincar com os colegas de sala. A mãe da

criança ainda reforça, afirmando que o filho só brincava nos finais de semana ou no mês das

férias, caracterizando que a criança não exercia o direito de brincar.

Brincava no horário de trabalho: Brincava xingando os amigos na feira. Brincava também no horário da escola no recreio: bola, pega - pega, esconde-esconde. Hoje gosto mais de jogar de vídeo game. (Família 5 - Criança) Ele brincava no final de semana ou quando chegava da escola....Ele nunca foi de estar na rua... A única brincadeira que ele gostava era soltar pipa e tem o tempo... Sempre no mês das férias, ele brincava normal... Nunca empatou, não. Hoje o negocio dele é computador. (Família 5 – Mãe)

De acordo com a criança da Família 3, este não tinha tempo para brincar. Quando

isso acontecia, era sempre no horário entre 17h e 18h. Ele atribui a falta de tempo para brincar

à dura vida que levava como vendedor de água. Durante a entrevista, a criança demonstrou

tristeza ao falar desse tempo, alegrando-se a afirmar que, hoje, a vida é bem melhor. A criança

da Família 4, afirmou que hoje tem mais tempo para brincadeiras. Que antes, quando

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trabalhava, só tinha tempo para brincar depois da 17 horas. A criança da Família 2 relata suas

brincadeiras antes de participar do SCFV, e hoje, percebesse que a criança gosta de dançar.

Brincar de bola com os amigos na rua. Tinha pouco tempo para as brincadeiras, por conto do trabalho. O horário das brincadeiras, geralmente entre 17h e 18h. Hoje continuo gostando de futebol. (Família 3 – Criança) Era de jogar bola depois que chegava da aula. Depois das 5h: Jogar bola, carimba, bila, pião, capoeira. Hoje tenho mais tempo para as brincadeiras, mais que naquela época. (Família 4 – Criança) Não tem... Ah, Gostava de brincar de boneca com as amigas, dançar, correr, Hoje a brincadeira que gosto é dançar. (Família 2 – Criança).

De acordo com o relato das crianças, o fato de realizar a atividade laboral, os

tirava o direito de exercer sua meninice, ou seja, entrar no mundo do trabalho precoce é

roubado das crianças o direito de brincadeiras, tão essencial para o seu desenvolvimento

psicossocial. De acordo com Carvalho (1997), o trabalho precoce compromete as

possibilidades da criança de ser criança e do adolescente de ser adolescente, sendo estas fases

importantes na vida da criança e adolescentes e que não pode ser substituída, pois segundo a

autora, compromete o desenvolvimento das potencialidades humanas.

Exercício do afeto

A pesquisa procurou saber dos entrevistados como era a relação das crianças com

seus familiares, antes, quando estavam totalmente na situação de trabalho infantil, e depois

que passaram a participar do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

De acordo com os entrevistados, houve mudanças no comportamento das

crianças/adolescentes com os familiares. Segundo estes, a participação no SCFV contribuiu

para essa mudança. Percebe-se, pelo relato da Criança da Família 3, que o fato de está

trabalhando precocemente, alterou seu comportamento, pois o mesmo relatou que era muito

estressado na época. Reforçando que: saindo da situação de trabalho para participar de

atividades socioeducativas, de acordo com sua idade, foi fundamental para a mudança de

comportamento.

De acordo com a Mãe da Família 1, as mudanças ocorrem no tempo deles. E ela

atribui às mudanças, além do tempo, à participação no SCFV-PETI. De acordo com os

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entrevistados, de alguma forma, as mudanças relacionadas ao afeto houve, de acordo com a

idade de cada um e, principalmente, depois de inserido no SCFV-PETI, essas mudanças

passaram a ser mais expressivas.

Era bom. Às vezes eu frescava com a cara deles: da minha mãe, dos meus irmãos... Eu era Danada. Me sinto mais perto da minha mãe, eu gosto da minha mãe de verdade. Me dou mais com minha mãe, mas gosto dos meus irmãos. (Família 1 – Criança) De acordo com a idade dela que vai mudando, ela está mais cariosa. Hoje ela é mais carinhosa comigo, com os irmãos não. Eu acho que ela mudou depois que foi participar do Projeto. (Família 1 – Mãe)

Muito rebelde, pois ela dizia que eu não era a mãe dela... Agora não. Agora ela reconhece que eu sou a mãe dela. Eu faço tudo por ela... Eu trabalho por eles. E não tem quem me ajude só Deus e o Projeto. Agora eu tenho paz. Agora ela é mais calma, não é rebelde. (Família 2 – Mãe) Era mais ruim do que para bom... Eu me sentia muito estressado por conta do trabalho. Bem melhor, pois hoje tem mais tempo para ficar com a família... Ao participar do SCFV ficou bem melhor o convívio com a família. (Família 3 – Criança) - Não sou carinhosa com minha irmã... Sou mais carinhosa com a minha mãe. Não moro com meu pai. Continuo a mesma coisa.( Família 4 – Criança) - Ele era rebelde e agressivo. Quando eu mando ele entrar, ele não queria entrar. Só queria estar na rua. Ele não obedecia. Ele passou a ser uma criança mais meiga, mais obediente. Ele passou mais a ser família. (.Família 4 – Mãe) O relacionamento era bom. A mãe passou me apoiar mais.( Família 5- Criança) Ele sempre foi muito carinhoso e tranquilo...Antes e depois do curso ele não mudou o comportamento dele. Até mesmo que ele só ia para a feira quando ele queria. Quando ele não queria dizia: mãe, hoje eu não quero ir. .. Não era aquela coisa obrigada, ele ia quando ele queria... Ele não era agressivo, pois não era uma coisa obrigada a ir, Muitas vezes eu brigava para ele não ir... Ele dizia: Ah mãe, eu não gosto de estar dentro de casa sozinho!( Família 5 – Mãe)

De acordo com De Bonis (2013), a criança ou adolescente que trabalha, em quase

todas as situações, está longe do contexto da sua realidade enquanto pessoas em

desenvolvimento, distante do ambiente propício para sua formação. O convívio com pessoas,

segundo o autor, acima da sua faixa etária prejudica, pois o trabalho precoce tira-lhes a

oportunidade de chegar à fase adulta gradativamente, ou seja, este pula etapas que são

fundamentais para sua vida.

Além disso, à criança e aos adolescentes são impostos a assumirem

responsabilidades e obrigações precocemente. O autor ainda alerta para as perdas relacionadas

ao convívio social e emocional, afirmando que estes, dificilmente irão se reatar. Segundo o

MTE (2008),

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a criança que trabalha é tratada como adulto e, como tal, submete-se as obrigações como cumprimento de metas, produtividade, horários de trabalho, responsabilidade e dedicação. Com isso, chega-se à maturidade antes do tempo, perdendo uma importante fase da vida: a infância.

Renda Familiar

A pesquisa quis saber da criança ou adolescente ao ingressar no SCFV-PETI,

houve alguma mudança na situação econômica da família. Procurando entender se as

crianças/adolescentes desta pesquisa, ao serem inseridas no PETI houve perdas ou ganhos, no

que se refere à questão financeira. Assim, usou-se a seguinte pergunta: Houve melhora na

situação econômica da família após o ingresso no SCFV-PETI? Como?

De acordo com a maioria das entrevistadas, no caso, as Mães, três destas,

afirmaram que não houve melhora na renda da família. Segundo a Mãe da Família 5, ao ser

inserido no Programa, apesar de ter sido inscrita no Programa Bolsa Família e passar a

receber o valor de R$ 96,00, o que o filho ganhava na feira era bem maior. Para ela, houve

muita diferença na situação econômica, depois da saída do filho do trabalho.

Já as demais Famílias afirmaram ter melhorando, disseram que, ao ingresso dos

filhos no SCFV, o Beneficio Bolsa Família teve um aumento.

Por tanto, no que se refere à mudança na renda da família depois que a

crianças/adolescente passou a frequentar o SCFV, na maioria das entrevistadas, não houve

nenhum mudança. Abaixo segue o relato das entrevistadas:

Sim. A Bolsa Família aumentou depois que ela entrou aqui. Eu gasto o dinheiro mais com ela, pois é quem mais me ajuda. (Família 1 – Mãe ) Não. Agora a gente controla tudo. (Família 2- Mãe) Não. Pois o dinheiro que ele ganhava era para uso próprio. (Família 3 – Mae) Sim. Como eu digo: O dinheiro que ele vendia o dindin, nunca participou em nada. A melhora foi que minha Bolsa Família aumentou um pouco e eu acho que foi de acordo com a data que ele entrou no Projeto. Houve. (Família 4 – Mãe) Não. Porque lá eles me cadastram no Bolsa Família, ai ficou ajudando... Ah, houve mudança, pois ele ganhava até mais e o Bolsa Família é só R$ 96,00. Houve diminuição na renda. (Família 5 – Mãe)

De acordo com Ana Lucia Kassouf (2012) os rendimentos ganhos pela maioria

das crianças são baixos, com mais de 60% recebendo meio salário mínimo ou menos por mês.

Entretanto, a contribuição do rendimento das crianças e adolescentes para a renda da família

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mostra-se muito importante. Para a autora, proibir o emprego de crianças e adolescentes não

constitui um passo simples para solucionar os problemas relacionados ao trabalho infantil. A

renda gerada pelo trabalho infantil, segunda ela, em muitos casos, é crucial para a

sobrevivência das famílias, e, a não ser que estas sejam amparadas, eliminar o trabalho

infantil, pode exacerbar a pobreza no Brasil.

Vida diária

O modo de vida levado por as crianças e adolescentes entrevistados, antes de

frequentar o SCFV-PETI, se faz bastante importante para o entendimento de como era o seu

cotidiano e como passou a ser depois que deixaram a situação de trabalho infantil.

Trazendo para a pesquisa essas realidades, podemos analisar se o ingresso no

Programa, segundo a fala destes, contribui para mudar a realidade brusca da situação de

exploração do Trabalho Infantil.

De acordo com o relatado pelas Crianças, a vida antes da inserção no SCFV-PETI

era permeada pela rotina dura do trabalho. Como relata a maioria, o dia era divido entre o

trabalho e a escola, não encontrando tempo para vivenciar a infância. A parte do tempo que

estas passavam trabalhando, estava tirando-lhes o direito de uma infância saudável, vivendo

seu tempo: das brincadeiras, cantigas, sonhos, estudos, convívio familiar, entre outras que são

essenciais para sua formação.

Apesar da Criança da Família 1, continuar a cuidar do irmão, percebesse, pela

fala dos demais, que o SCFV-PETI mudou a realidade vivida por essas crianças. Pelo que

expressam algumas delas, o trabalho as deixavam casadas ou estressadas, porém, de acordo

com o relatado, se existe cansaço hoje, é devido às brincadeiras e atividades realizadas nos

encontros proporcionados pelo SCFV-PETI.

Primeiro eu ia para a escola, chegava 11h, tomava banho e almoça e ia trabalhar fazendo biquíni. Colocava os cordões nos biquínis. À tarde eu dormia, quando o nenê acordava eu acordava também para cuidar do nenê até a mãe chegar. Hoje eu não trabalho mais. Eu acordo, olho o nenê, faço a mistura (salsicha, ovo) de todo mundo. Continuo cuidado de bebê. As 12:45h eu vou para e escola. Quando eu chego vou brincar com o bebê. Eu venho pela manhã para a Vida Nova. A escola é à tarde. Os irmãos dividem o horário para ficar com o bebê. (Família 1 – Criança) De manhã eu ia catar latinha e depois, às 12h ia para a escola. Num dia que a gente comprava refrigerante quando acabava a gente rebolava lá no quintal, ai nós ajuntava... Ai, leva pro homem que a gente ajuntava lá. Tem uma vizinha que às vezes eu peço pra vender as dela. Se eu encontrasse plástico na rua pegava. Uma vez

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já sai com um carinho. Hoje eu se acordo, vou pro o Vida Nova, brinco com os meninos daqui do Vida Nova, brinco com os professores, eles gostam muito de mim, eles brincam comigo. Na hora que eu chego em casa demoro uma pedacinho, dá 12 horas, me arrumo e vou para o colégio. Depois do colégio eu brinco, tomo banho e fico lá fora. (.Família 2 – Criança ) Estudava e vendia água... Muito puxado. Porque era muito corrido, tinha que entrar para pegar água, voltar, entrar de novo... Não tinha tempo para brincar, pois era muito puxado. Muito melhor. Não tenho mais a vida puxada, pois não vende mais água... Hoje vou para a escola pela manhã, à tarde vai para o Projeto Vida Noda e à noite para a Igreja. ( Família 3 – Criança)

Eu saia pelas ruas do bairro vendendo dindin... Andava muito para vender o dindin... Depois tomava banho ia para a escola... Brincava quando chegava da escola... Antes não tinha tempo para brincar. Hoje a vida é ótima... Pois aqui (SCFV) tem muitos cursos... Pela manhã veio para o curso... Quando chego vou para a escola e à tarde e noite brinco com meus amigos. Hoje tenho mais tempo para brincar. (Família 4 – Criança)

Era cansativo. Eu chegava da feira doze, doze e meia e ia para a escala. Entrava na escola às treze horas e só saia às cinco horas. Na feira eu começava às seis horas da manhã. Trabalhava cinco dias na semana. Tinha tempo de estudar apenas na escola. Hoje apenas estuda. Existe tempo para brincar. ( Família 5- Criança)

O Cotidiano, como expresso acima pelas Crianças pesquisadas, passou a ter um

novo contexto ao participar do SCFV – PETI. Para tanto, Carvalho (1997), apresenta as

contribuições que essas crianças que se “encontravam” em situação de trabalho infantil

trouxeram para sua vida, ao romper com a situação de exploração precoce.

Dessa forma, segundo afirma a autora, a criança e o adolescente precisam se

relacionar com outros grupos. Assim, as brincadeiras, o esporte, as competições para na qual

se habilita, contribui para a socialização destes. É necessário que crianças e adolescentes

tenham acesso à arte e ao desenvolvimento de suas expressões artísticas. De acordo com a

autora, a arte é uma expressão que traz para o sujeito troca de culturas, como também, a

apreensão do belo. Ela destaca que as brincadeiras, o esporte, a arte são ações básicas para o

sucesso escolar, ao desenvolvimento da autoestima, comunicação e sociabilidade.

Saúde

Ao ser perguntado a respeito de algum problema de saúde que a

criança/adolescente tinha ou havia adquirido quando se encontrava em situação de trabalho

infantil, todas as crianças disseram que não tinham nenhum problema dessa natureza. A

mesma pergunta foi direcionada as mães destas crianças que afirmaram que os filhos nunca

apresentaram nenhum problema de saúde, com exceção da Mãe da Família 2, que afirmou que

seu filho (Família 2 – Criança) tinha problema de Convulsão, como expresso abaixo:

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Mãe - Ela tinha problema de convulsão. Tenho até exames que comprovam. Agora, depois que começou a participar, não tem mais. (Família 2)

De acordo com a Criança da Família 2, nunca teve nenhum problema de saúde.

Como citado por esta:

Não tive nenhum problema de saúde. (Família 2 – Criança)

Ao ser indagado a respeito da criança não ter externado, na hora da entrevista,

nenhum problema relacionado à saúde, na época que exercia o Trabalho Infantil. A Mãe

(Família 2) relatou que a filha não fala a respeito do problema, pois tem vergonha de falar

sobre a doença. Mas, segundo a mãe, as convulsões eram frequentes, tendo até exames que

compravam a situação. De acordo com ela, só depois que a filha passou a frequentar o SCFV-

PETI, a situação melhorou, não tendo mais aparecido o problema.

Apesar do relato da maioria dos entrevistados ser de que não havia nenhum

problema de saúde no período de Trabalho Infantil na família, esta prática tem como uma das

maiores consequências à saúde da criança. Seja na fase em que esta é criança ou na fase

adulta, as consequências acarretadas pelo trabalho de crianças precocemente deixam marcas

irreversíveis.

Kassouf, (2001) expressa que trabalho infantil pode afetar a saúde em uma fase

adulta da vida. A razão é que locais de trabalho, equipamentos, móveis, utensílios e métodos

não são projetados para utilização por crianças, mas, sim, por adultos. Portanto, pode haver

problemas ergonômicos, fadiga e maior risco de acidentes. As crianças não estão cientes do

perigo envolvido em algumas atividades e, em caso de acidentes, geralmente não sabem como

reagir. Por causa das diferenças físicas, biológicas e anatômicas das crianças, quando

comparadas aos adultos, elas são menos tolerantes a calor, barulho, produtos químicos,

radiações etc., isto é, menos tolerantes a ocupações perigosas, que podem trazer problemas de

saúde e danos irreversíveis.

Em relatório de pesquisa realizada entre 1993 e 1996 em Porto Alegre, já chamava a atenção deste autor o número significativo de acidentes com jovens até 17 anos em empregos do mercado formal. O estudo de cerca de 2800 acidentes do trabalho de trabalhadores urbanos segurados do INSS evidenciava dois aspectos muito importantes a despertar para o tema do trabalho precoce: a enorme variedade de inserções de adolescentes no mercado formal de trabalho e a fantástica multiplicidade de tarefas a seu encargo, lidando com todo o tipo de tecnologia, tornando-os um grupo relevante de risco (Ferreira & Valenzuela, 1998 In FERREIRA, 2011: p. 218)

Kiddo (2013) apresenta na concepção de Marques uma triste analise: para este, o

futuro de muitas crianças e adolescentes está sendo corrompido por estarem desenvolvendo,

por meio da inserção do trabalho precoce, vários tipos de doenças, tornando-se improdutivas

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quando tornarem-se adulto. De acordo com o autor, esta é uma das piores formas de violação

dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

Kiddo (2013) ainda nos traz dado do Ministério da Saúde, em que: pesquisa

realizada no Brasil, entre 2009 a julho de 2011, revelou que crianças e adolescentes se

acidentam seis vezes mais, decorrentes de alguma atividade laboral, que os adultos. E pelos

dados colhidos, três se acidentam por dia no país. Nesse mesmo período, segundo avalia a

pesquisa, 37 crianças morreram, destacando que uma delas sequer chegou a completar os 13

anos de idade. A pesquisa foi realizada em hospitais e posto de atendimentos.

Além da perda de direitos básicos como educação, lazer e esporte, as crianças e adolescentes que trabalham podem sofrer consequências irreversíveis. “As atividades que exigem esforço físico extremo, por exemplo, podem impactar no crescimento saudável”, afirma Márcia. Devido a baixa resistência, a criança é mais suscetível a infecções e lesões, se comparada ao adulto. Em termos psicológicos, a médica aponta o abuso físico, sexual e emocional como principais fatores desencadeadores de doenças. ‘O trabalho infantil cobra seu preço na saúde física e mental, bem como na inclusão socioeconômica das crianças de adolescentes’, avalia a médica. ( KIDDO, 2013: p.1)

Como relata Kiddo (2013), existe dificuldade em identificar possíveis acidentes,

com crianças e adolescentes, ocasionados por situação de trabalho. Marcia Bandini (2013)

destaca que há dificuldade de identificação desses acidentes pelo sistema de saúde, por se

tratarem de ilegalidade. A especialista faz uma recomendação:

Quando a criança ou adolescente é atendido no SUS, é necessário investigar as condições que levaram à lesão e, em caso de suspeita de trabalho ilegal, é preciso notificar o incidente ao Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), ao Conselho Tutelar e a Delegacia Regional do Trabalho. “O profissional de saúde pode e deve exercer seu papel social no combate ao trabalho infantil”.

Sonhos

A pesquisa tentou perceber que perspectiva de vida tinham essas crianças e

adolescentes que se encontravam na situação de exploração do trabalho infantil. E ao

participarem do SCVF-PETI, o que teria mudado a respeito dos sonhos para o futuro. Assim,

foram perguntadas as Crianças: Quais as perspectivas que você tinha quando exercia a

atividade laboral? E agora, que participa do SCFV-PETI, o que espera para seu futuro?

Sonhava em dançar, brincar. Sonhava em participar do jovem aprendiz. Hoje: De trabalhar. Entrar no Jovem Aprendiz para arranjar um emprego. (Família 1 – Criança) Queria ser delegada de policial porque eu queria prender o ladrão. Pois minha irmã queria ser e eu invejo ela. Eu queria ter dois trabalhos igual o Júlio ( do Programa: Todo Mundo odeia o Cris). Ser delegada e babá. Quero ser professora, pois gosta de

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estudar. A tia tem livro e quando eu termino minhas tarefas eu pego. Não tem cadastro, mais vou fazer. (na Biblioteca da escola).. (Família 2- Criança)

Sonhava em ser jogador e policial. Desejava ir para a escolinha e fazer uma faculdade para ser policial. Deseja ainda ser jogador e policial.(Família 3 – Criança) Pensava de quando crescer queria ser jogador de futebol... Pensava em treinar e estudar... Quero me formar para ser jogador de futebol... Gostaria de treinar na escolinha do Ceará... Sempre pedia a mãe para me colocar na escolinha. O sonho continua sendo ser jogador de futebol. (Família 4 – Criança)

Sonhava em ter uma banquinha na feira para vender também... Igual como eu vendia. Queria me forma em advogado. Penso em ter uma vida melhor pra mim... Hoje espero me formar em Engenheiro. Estudar. ( Família 5 – Criança)

Pelo que relatam as crianças/adolescentes envolvidas nesse processo, percebe-se

que: apesar da pouca idade, todas já sonhavam em ter um trabalho. Pelo que parece, a questão

financeira é um fator marcante na vida dessas crianças. Talvez pelo fato da mídia que divulga

a necessidade de ser ter mais de um trabalho, como expressa a Criança da Família 2; ou quem

sabe, de acordo com as Crianças das Famílias 3 e 4: a fama, o dinheiro tenham os incentivado

a sonhar com a carreira de jogador; ou até mesmo a Criança da Família 5, que ao vivenciar a

situação de trabalho infantil como feirante, não o deixou alternativa a não ser dar continuidade

ao trabalho, Já que o mesmo sonhava em possuir uma banca na Feira Livre. Ou talvez, pela

falta de trabalho dos pais, e a inserção no mundo do trabalho precoce, essas crianças não

vejam alternativa a não ser sonhar com este.

O fato é que, mesmo ainda muito pequenas essas crianças não vivenciavam sua

infância, dessa forma, sua perspectiva de vida estava sempre voltada para a questão do

trabalho. Percebe-se que as crianças ainda têm a mesma visão para o seu futuro, com exceção

da Criança da Família 5 que depois que passou a frequentar o SCFV-PETI não mais

verbalizou o desejo de ter uma banca de feira.

Acesso a políticas públicas

Foram perguntadas às Mães se ao inserirem o filho no SCFV – PETI a família

teve algum tipo de acesso a Políticas Públicas. Pelo relato abaixo, verifica-se que duas das

Famílias disseram que passaram a receber a Bolsa Família. A Família 3 relatou que havia

realizado o Cadastro Único para inserção no Programa Bolsa Família, porém, disse nunca ter

recebido nada. As Famílias 1 e 4 disseram não ter tido acesso a nenhum tipo de serviço. No

geral, o que foi percebido durante a entrevista é que as Mães não reconhecem o que são

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Políticas Públicas, pois todas não conseguiram identificar as ações desta, no bairro em que

moram, sendo apenas o Programa de Transferência de Renda citado durante o processo.

Passei a receber a Bolsa Família, (Família 2 – Mãe) Apenas passei a receber a Bolsa família. (Família 5 – Mãe) Fiz o cadastro do BF, mas não fui beneficiada. Não tive acesso a nenhum Programa do Governo. Não tive acesso. (Família 3– Mãe)

No que se refere às Políticas Públicas e o Trabalho Infantil, segundo o MDS

(2010), além da garantia da transferência de renda as famílias que tiram os filhos da situação

de trabalho infantil; da garantia de espaço para acompanhamento destes com atividades

socioeducativas, ainda é garantindo o acompanhamento da família durante três meses

buscando superar a situação de violação de direitos, pelo Centro de Referência Especializado

da Assistência Social (CREAS); após esse período, a família é contrareferenciada para o

Centro de Referência da Assistencial Social (CRAS), passando esta a ser acompanhada de

forma continua pelos equipamentos da Assistência Social, uma vez que a criança passará a

frequentar um desses serviços até que seja sanada a situação de vulnerabilidade social.

Segundo Cosendey (2013), a exploração do trabalho infantil existe,

principalmente, pela condição de miserabilidade e desestruturação das famílias, ausência de

políticas públicas e péssima distribuição de renda deste país. Assim, não basta educar somente

as crianças e os adolescentes. Não adianta só atender o jovem em instituições, pois, quando do

retorno para casa, a realidade lhe mostra uma família fragilizada. Há que se terem políticas

públicas voltadas para o atendimento às famílias que informem sobre os malefícios do

trabalho infantil, entre outros assuntos. De acordo com, Cosendey,

“entendo que a existência do trabalho infantil é a soma da ausência de várias políticas públicas que se arrastaram por décadas neste país. Assim falharam as políticas de educação, saúde, trabalho e geração e distribuição de renda, segurança, assistência social, planejamento familiar etc. Na verdade, é a falência de todas elas”. (2013:p.6)

Acesso a conhecimentos

A pesquisa perguntou aos sujeitos se eles haviam percebido se houve maior

conhecimento, por partes das crianças, depois que as mesmas saíram da situação de Trabalho

Infantil e passaram a frequentar as atividades socioeducativas do SCFV – PETI. Abaixo

podemos observar o que os sujeitos pensam a respeito do questionamento:

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Não. (Família 1 – Criança) Sim. Ela passou a perguntar mais sobre as coisas e eu tento responder na media que eu posso. ( Família 1 – Mãe) Aprendi mais coisa; dançar, fazer balé, mexer no computador.( Família 2 – Criança) Sim. Ela já se interessa mais pelo colégio. Já sabe cuidar da casa. Pois aqui no projeto eles ensinam que ter responsabilidade. Ela já tem mais responsabilidade. (Família 2 - Mãe)

Sim. Adquiriu conhecimento artístico e esportivo: aprendi Rip Rope. Capoeira, Karatê. Futebol, bateria, teclado e violão. ( Família 3 – Criança) Sim. Mas ele é tímido. Fala pouco dentro de casa. (Família 3 – Mãe)

Aprendeu a tocar bateria, antes não sabia tocar... A educação cristã. (Família 4 – Criança) Mostrou, com certeza: informática. Essas coisas mais modernas. Ele sempre se interessa pela vida dos meninos que fazem capoeira. Sempre procura buscar conhecimento nas coisas. Ele é muito inteligente pra isso. . Ele era tímido, apesar de viver na rua, se estivesse em algum lugar na classe social, algum evento que não fosse baderna ou na rua ele era mais tímido. Agora não. Ele passou a ser social. Se tiver algum evento ele não fica mais inibido.( Família 4 – Mãe ) Aprender a ler e escrever. A tocar bateria e bulir no computador. (Família 5 – Criança) Sim. Pois ele passou a ter autonomia. Melhorou na questão pessoal com as pessoas... Ele era muito tímido. (Família 5- Mãe)

De acordo com proposto metodologicamente pelo SCFV para crianças e

adolescentes de 6 a 15 anos, inclusive para aquelas em situação de Trabalho Infantil, a partir

da formação de grupos socioeducativos, observando assim, as necessidades e especificidades

de cada grupo, desenvolvendo estratégias que visam: trabalhar novos significados em relação

às vivências de negligências e violência que tanto repercutem na negativamente na

subjetividade e sociabilidade dessas crianças e adolescentes; identidade social e pessoal;

aprendizagens cognitivas e afetivas a partir das trocas de experiências e sabres;

reconhecimento do sujeito como potencial para o desenvolvimento da realidade vivida, tendo

como finalidade a compreensão desta, como formas de estratégias na intervenção dessa

realidade.

Nessa perspectiva, a utilização da arte, nas suas diversas modalidade, tal como:

dança, teatro, música e artes visuais faz parte desse processo metodológico que visa a

ressignificação da vida dos sujeitos atendidos por este serviço. A Arte, nesse processo é

estratégia utilizada no desenvolvimento das atividades socioeducativas que,

metodologicamente, facilitam a o fomento ao processo de discussão e apropriação de

conhecimento. Além da arte, o serviço ainda conta com o esporte, como ferramenta de

integração e desenvolvimento da potencialização de aprendizagem sociais e humanas.

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95 

 

Segundo a Coordenadora da ABEMCE, as crianças e adolescentes participam de

todas as atividades desenvolvidas na Associação, dessa forma, elas participam de atividades

artísticas como: dança, música, teatro, capoeira, banda de música; além das atividades

esportivas e aulas de informática. As crianças ainda participam de atividade grupal, uma vez

por mês, onde são abordados temas transversais. Segundo esta, o planejamento das atividades

é realizado pela Equipe do SCFV em conjunto com os educadores dos dezoito espaços de

atuação do serviço.

De acordo com o relato das Crianças e as Mães, com exceção da Criança da

Família 1, observa-se que, a proposta do SCFV – PETI, de alguma forma, tem trazido

conhecimento para os usuários. Como expressa as Famílias e a Coordenadora da ABEMCE,

as ferramentas metodológicas propostas pelo SCFV para dar novo sentido à vida das crianças

e adolescentes, segundo estes, tem contribuído para trazer aprendizado aos participantes.

Consciência de direitos

No processo de investigação dessa pesquisa foi perguntado aos participantes, se

depois que as crianças passaram frequentar o Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos - PETI, se as mesmas passaram a expressar entender mais a respeito das

consequências do Trabalho Infantil, como também, sobre outros assuntos. Segundo os

entrevistados:

Sei. Não pode trabalhar com 8 anos pra baixo. Só de 9anos a 32 anos.. Ela afirmou a idade do trabalho, mas disse que não ouviu falar do assunto no Projeto. Outros direitos ela disse que não falaram. (Família 1 – Criança) Quando ela ver algum caso, ela fala: Mãe, tu sabia que fulano de tal não pode trabalhar porque ele é crianças? Ela disse que no Projeto eles falam muito sobre esse tema. Com relação a outros direitos ela não fala. (Família 1 – Mãe) Eu entendo. Só que eu não gosto de falar sobre isso... Não gosta de falar sobre criança porque dá uma coisa ruim.. Criança não deve trabalhar... Porque criança não pode trabalhar,,, Quando ela estiver grande, ela pode trabalhar porque pequeninha ela não pode ainda... Porque a mãe dela não pode deixar... A mãe dela pode ser presa. Não soube identificar outros tipos de direitos. (Família 2 – Criança) Sim. Ela disse que aqui, aprendeu que criança tem que estar no colégio, brincar, estudar, que a gente tem que dar o alimento. Que tem o tempo de trabalhar. Ela ganhou uma cartilha onde tem o direito das crianças. Toda criança tem direito a educação. Aqui ela disse que falaram que criança não pode trabalhar. Que um dia, quando ela crescer vai chegar o dia de ir trabalhar. Que somos responsáveis para alimentar ela. Ela fala coisas que antes ela não falava. (Família 2 – Mãe)

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Até agora nada. Ah, Sim. Poderia ter problema físico. Atrapalha o aprendizado escolar e desenvolvimento da criança. (Família 3 - Criança ) Ele entende: sobre a violência que pode trazer a exploração sexual para a criança. Por que ele ( SCFV) fala muito que a crianças não deve ter trabalho infantil que tem que ser criança e aprender outros tipos de coisas... Quando esteve em reuniões na Associação Beneficente ao Menor Carente foi falado sobre trabalho infantil. E os Professores da Associação pediram pra gente conversar com os filhos para que eles não retornassem ao trabalho. (Família 3 – Mãe) Falaram que criança não pode trabalhar... Criança não pode trabalhar só estudar, para depois trabalhar... Não soube identificar outro tema. (Família 4 – Criança) Percebo. Por meio de conversa minha e pelas palestras de lá (Projeto). Eu percebo que ele teve mais conhecimento: que criança não é para trabalhar, que criança não é pra tá explorar na rua. Ele fala que criança é para brincar e estudar. Ele fala que sabe que tem punição para criança que é explorada. Pela algumas coisas que ele fala, no meu intender, é isso que ele quer dizer: que criança não é para ser explorada. (Família 4 – Mãe) Eles disseram lá que era errado e que eu deveria estar estudando... Eles disseram que eu deveria ir para o curso... Eles foram à minha casa e minha mãe disse que eu deveria ir para o curso. Então eu disse Tá certo, ai eu fui. Eles só colocavam a gente para tocar e mexer no computador. Não estudava outros temas. (Família 5- Criança) Sim. Ela fala que criança trabalhar é exploração. Fala que as crianças têm direitos. Quando eu peço para ele fazer alguma coisa e está no horário de ir para o curso ou a escola, ele fala que eu devo respeitar o horário das atividades. Quando os educadores vieram aqui e disseram que ele tinha que ir para o curso, ele ficou com raiva. Ai, quando ele foi lá no Projeto e explicaram que ele não podia trabalhar, ai ele não ficou mais chateado e foi participar. (Família 5- Mãe)

O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil atua na perspectiva do

reconhecimento da criança e adolescente como sujeitos de direito, com foco no

desenvolvimento deste. De acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais, o SCFV tem como objetivo efetivar trocas culturais e de vivências entre

pessoas, fortalecendo as vivências familiares e sociais, incentivando a participação social, o

convívio familiar e comunitário e trabalhando o desenvolvimento do sentimento de pertencia

e identidade.

Por tanto, oportuniza o acesso às informações sobre direitos e sobre participação

cidadã, estimulando o desenvolvimento do protagonismo dos usuários, contribuindo para a

promoção do acesso a serviços setoriais em especial política de educação, saúde, cultura,

esporte e lazer; assim, contribuindo para o usufruto aos demais direitos.

Como afirma a Entrevistada da ABEMCE: são realizados, mensalmente,

encontros grupais com todos os participantes da entidade, inclusive os que fazem parte do

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Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, e nesses encontros são discutidos temas

transversais. De acordo com a entrevistada: é abordado, em especial, tema relacionado ao

trabalho infantil. Assim expressa a Entrevistada da ABEMCE: “Todo mês são trabalhados

temas transversais, inclusive, relacionado ao trabalho infantil”. (Sic).

Ao perguntar a Entrevistada da ABEMCE a respeito da formação de grupos com

as crianças do PETI, a mesma relatou que não existe o grupo apenas das crianças que são do

Programa, mas, que as crianças e adolescentes participam de todos os grupos e atividades. De

acordo com o questionamento, a Entrevistada da ABEMCE expressou que, ao passar a falar a

respeito do assunto, estava refletido sobre a necessidade de ter atividades direcionadas para as

crianças e adolescentes que estiveram em situação de trabalho infantil. No que expressou a

Entrevistada, seria necessário dar mais ênfase ao tema junto ao público advindo do Trabalho

Infantil.

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98 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Trabalho Infantil tem várias formas no mundo todo. A América Latina

apresenta crianças trabalhando em olarias, pedreiras, carvoarias, mineração de carvão e

canaviais. Além disso, podemos encontrar outras complexidades, pois temos crianças em

situação de exploração do trabalho em diversas atividades. As crianças estão cada vez mais

cedo sendo incorporadas à dura realidade da situação de exploração da mão-de-obra infantil.

No Brasil, essa situação não é diferente do restante do mundo. Há crianças e

adolescentes sendo exploradas em diversas atividades: seja no campo ou na cidade; cada vez

mais é alarmante o número de crianças e adolescentes que se encontram nessa situação. É

possível se identificar crianças/adolescentes em atividades, além das expressas acima: em

trabalhos domésticos, tráfico de drogas, exploração sexual, flanelinha, vendedores ambulantes

entre outros. Percebe-se que no Brasil, são muitas as atividades onde se tem

crianças/adolescentes trabalhando.

Na Ásia, a situação das crianças e adolescentes em relação ao trabalho infantil é

bastante alarmante. Estão sendo mutiladas trabalhando na produção de tapetes e tesoura

cirúrgica. Na África, elas estão se tornando precocemente chefe de família por conta da morte

dos pais, devido ao alarmante número de pessoas infectadas com o HIV. Na Europa,

especificamente, na Europa Central, devido à fase da transição econômica, tem-se um

alarmante número de crianças/adolescentes compondo o cenário das ruas. Assim, estão

expostas as diversas situações de exploração do trabalho infantil em suas: diversas formas

mais degradantes do tipo: exploração sexual e tráfico de drogas.

De acordo com dados colhidos da OIT, a estimativa é que se tenha no mundo

inteiro, um percentual de 246 milhões de crianças exploradas. Esses dados trouxeram ainda

que 180 milhões estão trabalhando nas chamadas piores formas de trabalho infantil, estando

na faixa etária entre 5 e 16 anos.

Assim, diante da realidade apresentada, compreender ações que estão sendo

desenvolvidas para mudar essa realidade é um fator importante para que se possa diminuir o

número de crianças e adolescentes, sendo cada vez mais cedo, incorporadas ao mundo do

trabalho. Para tanto, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) visa desenvolver

e/ou coordenar ações que tem como finalidade a retirada das crianças da situação de trabalho

infantil. É por meio da integração de atividades socioeducativas e acompanhamento contínuo

a crianças/adolescentes e seus familiares no SCFV que vem trilhando ações que tentam coibir

a reinserção de crianças ao degradante mundo do trabalho precoce.

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Por tanto, os objetivos dessa pesquisa visam identificar as contribuições sociais e

econômicas que o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e

adolescentes de 6 a 15 anos trouxe para a vida de crianças e adolescentes advindas do trabalho

infantil; o aprofundamento das ações desenvolvido pelo SCFV-PETI em seus aspectos

positivos e negativos com a finalidade de melhorar o atendimento aos usuários dessa política;

compreender o cotidiano das crianças e adolescentes que estão inseridas nos serviços, como

também, o espaço onde é desenvolve as ações socioeducativas.

Para desvelar essa realidade, o trabalho tomou como ponto de partida um dos 18

espaços onde é desenvolvido o SCFV – PETI, sendo esta a Associação Beneficente ao Menor

Carente - ABEMCE, localizada no bairro Parque São José, situado no Município de Fortaleza,

e que desde 2005 vem executando o serviço. A partir dessa pesquisa elaboraram-se dois

Perfis: um relacionado às famílias entrevistadas, na qual pode se conhecer um pouco da

realidade desses sujeitos; e outro que foi elaborado a partir das crianças inclusas no SCFV-

PETI no ano de 2011, que revelou quem são essas crianças no seu contexto como um todo no

Serviço.

Sobre os Perfis, a pesquisa nos revelou que a maioria dos sujeitos entrevistados

disse que não reincidiram ao Trabalho Infantil. Assim, segundo relato dos entrevistados, o

serviço vem alcançado seu objetivo geral, ou seja, a retirada das crianças da situação de

trabalho infantil.

Outro ponto importante foi à melhora no desenvolvimento escolar. Segundo as

mães, além das crianças terem melhora no rendimento escolar, a forma de se comportar na

escola, em casa e com os amigos também foi positiva.

As crianças destacaram que hoje existe mais tempo para brincar: seja com os

amigos na rua ou na ABEMCE. Pois, segundo eles, antes o tempo das brincadeiras ou era

durante o período na escola ou enquanto exerciam o trabalho. Para a maioria dos entrevistados

a vida depois que passou a frequentar o SCFV-PETI melhorou bastante. Além disso, as mães

disseram que as crianças passaram a serem mais afetivas, educadas, responsáveis,

participativas e menos tímidas.

A maioria das crianças/adolescentes e suas mães disseram que não houve a

contração de nenhum tipo de doença no decorrer das atividades exercidas por elas (crianças).

Não houve alteração na perspectiva de vida das crianças. Os sonhos expressados por eles

antes de participarem do SCFV-PETI são os mesmos de hoje. Com relação ao acesso as

Políticas Públicas, além de ter sido percebido, durante a entrevista que duas delas haviam sido

inseridas no Programa Bolsa Família - PBF estas afirmaram que o acesso as Políticas Públicas

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não houve. Apresentado, durante a entrevista o Centro de Referencia da Assistência Social -

CRAS e o Centro de Referência Especializado da Assistência Social - CREAS, já que estes

têm como papel o acompanhado das famílias de crianças em situação de trabalho infantil,

estas afirmaram que este acompanhamento não ocorreu.

Na visão da maioria dos entrevistados, o SCFV – PETI favoreceu as

crianças/adolescentes o acesso a vários tipos de conhecimentos: artístico, esportivo entre

outros. No campo do direito, as crianças/adolescentes afirmaram que hoje, compreende mais a

respeito das consequências do trabalho infantil. Mas, com relação a outros direitos, estas

disseram nunca ter ouvido falar ou não conhecer.

No que expressa a Associação Beneficente ao Menor Carente - ABEMCE são

realizadas atividades direcionadas pelo SCFV-PETI, porém, a entidade conta com outras

parcerias onde são desenvolvidas outras ações, da qual participam todas as crianças. Para a

Associação, o grande número de atividades realizadas tem contribuído para que as crianças

permaneçam na entidade e não tenham retornado ao trabalho. Segundo as crianças

entrevistadas, o interesse de frequentar a ABEMCE está justamente, na gama de atividades

que esta desenvolve, tais como: educação cristã, esportiva, artística, reforço escolar entre

outras. Muitas das crianças entrevistadas disseram que aprenderam a tocar algum instrumento

musical ou expressado interesse pela dança.

De acordo com o que expos as Famílias pesquisadas, o SCFV-PETI ofertado na

ABEMCE tem significado grande melhoria na vida das crianças e adolescentes que

participam das atividades socioeducativas. Porém, é necessário destacar que a Associação,

pelo que expressou a própria, não consegue traçar um trabalho desenvolvido apenas com o

público advindo do trabalho infantil. Assim, dificulta a realização de atividades onde possam

ser abordados temas relacionados ao Trabalho Infantil. Por outro lado, identifica-se que,

mesmo sem o desenvolvimento dessas atividades, as ações onde envolve a arte e o esporte

tem se apresentado como estratégia da não residência de crianças e adolescentes ao trabalho

precoce.

O Acompanhamento que deveria ser realizado pelo Centro de Referencia da

Assistência Social - CRAS e Centro de Referencia Especializado da Assistência Social-

CREAS não vêm sendo realizado, dificultando assim, o trabalho com as famílias, sendo este

primordial para prevenir o retorno das crianças e adolescentes ao mundo do trabalho. E que,

de acordo com os Cadernos de Orientação do MDS deveria está acontecendo.

No que se refere à transferência de renda, na qual está expresso nos Cadernos de

Orientação Técnicas Gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, e que é

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garantido a todas as crianças e adolescentes inseridas no SCFV-PETI, ainda existe dificuldade

do acesso a esse benefício. Pois, segundo uma Família entrevistada, seu filho está no serviço a

mais de dois anos, porém, até a presente data nenhum valor foi recebido pela família.

Com base no que apresentou esta pesquisa, acredita-se que a mesma tenha grande

valor para o trabalho do Assistente Social, pois trata de uma questão muito complexa que vem

ao longo do tempo criando proporções desastrosas na vida de crianças, adolescentes e suas

famílias. Dessa forma, segundo o Código de Ética do Assistente Social que prima pela

“Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” e

“Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso

aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão

democrática,” esta pesquisa vem desvelar se as crianças e adolescentes atendidas pelo SCFV-

PETI vêm tendo seus direitos garantidos.

Assim, conhecer o contexto histórico, as políticas de enfretamento, os marcos

legais, as ações desenvolvidas no combate ao trabalho infantil é de fundamental importância

para esse profissional que tem como seu objeto de trabalho a questão social. É necessário que

o profissional de Serviço Social tenha um arsenal de informações que possam lhe embasar na

sua ação junto ao usuário. Por tanto, essa pesquisa traz elementos que poderão contribuir para

esse embasamento e para a ação desse profissional no combate a exploração do Trabalho

Infantil.

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SIQUEIRA, Mônica Maria Nunes da Trindade. Família uma experiência de Trabalho com

grupos, V. 01, número 2. São Paulo; (Revista Humana Unitau)

WOLECK, Aimoré - O TRABALHO, A OCUPAÇÃO E O EMPREGO: UMA

PERSPECTIVA HISTÓRICA - Associação Educacional Leonardo da Vinci Curso de

Especialização.

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108 

 

CONVENÇÃO SOBRE PROIBIÇÃO DAS PIORES FORMAS DE TRABALHOINFANTIL

E AÇÃO IMEDIATA PARA SUA ELIMINAÇÃO - 87ª. 1ª de junho de 1999, Genebra:

Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho, 1999.

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109 

 

APÊNDICE 1

Roteiro de Entrevista – Criança/Adolescente

ENTREVISTADO 1 – Criança e adolescente

NOME:

IDADE:

ESCOLARIDA:

HÁ QUANTO TEMPO PARTICIPA DO SCFV?

TIPO DE ATIVIDADE LABORAL EXERCIDA?

QUANTO GANHAVA EM MÉDIA SEMANALMENTE?

QUANTAS VEZES NA SEMANA TRABALHAVA?

DURANTE QUANTAS HORAS POR SEMANA?

ESTUDAVA NESSE PERÍODO?

TEM ALGUM DE SAÚDE RELACIONADO À ATIVIDADE QUE EXERCIA?

SOFREU ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA RELACIONADO À ATIVIDADE QUE

EXERCIA?

SOFREU ALGUM TIPO DE ACIDENTE RELACIONADO À ATIVIDADE QUE

EXERCIA?

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Pergunta 1 - Como era seu dia a dia quando trabalhava?

Pergunta 2 – Como é sua vida hoje, depois que passou a participar do SCFV?

Pergunta 3 – Como era seu comportamento em casa antes de participar do SCFV? Depois

que passou a participar, você percebeu alguma mudança?

Pergunta 4 - O que você pensa sobre o SCFV? Espera aprender algo ao participar do

SCFV?

Pergunta - 5 Que tipo de brincadeira era mais frequente quando você trabalhava? E hoje,

quais as brincadeiras que você gosta?

Pergunta – 6 Quanto a questão afetiva com a família, como era antes e depois que passou a

participar do SCFV?

Pergunta -7 Depois do ingresso no SCFV você observou alguma mudança no

desenvolvimento escolar? Algum exemplo concreto?

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110 

 

Pergunta - 8 Você tinha algum problema de saúde quando trabalhava? Quais? Diminuiu os

problemas de saúde após deixar de trabalhar?

Pergunta – 9 Você passou a gostar de algum esporte ou expressão artista tipo: teatro, dança,

música etc., depois que passou a frequentar o SCFV? Qual?

Pergunta - 10 Você se percebe mais comunicativo ao participar do SCFV? Tem algum

exemplo?

Pergunta - 11 Retornou ao trabalho alguma vez? Ainda continua exercendo alguma

atividade remunerada? Qual? Por quê?

Pergunta -12. Houve melhora na situação econômica da família após o ingresso no SCFV?

Como?

Pergunta - 13. Houve melhora nas condições de vida da família?

Pergunta - 14. Quais as perspectivas que você tinha quando exercia a atividade laboral? E

agora, que participa do SCFV, o que espera para seu futuro?

Pergunta - 15. Houve acesso da família às políticas públicas depois do acompanhamento de

SCFV a família?

Pergunta - 16. Você demonstrou maior conhecimento depois que passou a participar do

SCFV? Que tipo?

Pergunta - 17. Quanto aos direitos: depois que passou a frequentar o SCFV, o que você

entende a respeito das consequências do trabalho infantil? E sobre outros direitos? Quais?

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111 

 

APÊNDICE 2

Roteiro de Entrevista – Responsável Legal

ENTREVISTADO 1 – Família

RESPONSÁVEL:

IDADE:

PROFISSÃO/OCUPAÇÃO:

ESCALARIDADE:

BENEFICIÁRIA/PARTICIPA DE ALGUM PROGRAMA DO GOVERNO/PROJETOS

PÚBLICOS? SIM( ) NÃO ( )

QUAL (IS):

QUANTIDADE DE MEMBROS N FAÍLIA:

QUANTOS FILHOS?

QUANTOS ESTÃO NO SCFV?

HÁ QUANTO TEMPO?

NOME E IDADE DA CRIANÇA/ADOLESCENTE NO SCFV?

QUEM TRABALHA NA FAMÍLIA:

RENDA MENSAL:

ROTEITO DE ENTREVISTA

Pergunta 1 - Como era o dia a dia de seu filho quando trabalhava? Quanta ganhava por

semana? O que ele fazia com o dinheiro? Mais alguém trabalhava na família na mesma

época?

Pergunta 2 - Como seu filho começou a participar do SCFV?

Pergunta - 3. Como é hoje a vida de seu filho, depois que passou a participar do SCFV?

Pergunta - 4. Como era o comportamento em casa de seu filho antes de participar do SCFV?

Depois que passou a participar a senhora observou alguma mudança?

Pergunta - 5. O que é esse serviço pra senhora? O que você pensa que seu filho faz lá?

Pergunta - 6. A senhora espera que seu filho aprenda algo ao participar do SCFV? O que, por

exemplo?

Pergunta - 7. Que tipo de brincadeira era mais frequente na vida de seu filho quando ele

estava trabalhando? E hoje, quais as brincadeiras que ele gosta?

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112 

 

Pergunta - 8. Quanto à questão afetiva, o relacionamento, com a família, como era seu filho

antes e depois que passou a participar do SCFV?

Pergunta - 9. Depois do ingresso no SCFV à senhora observou alguma mudança no

desenvolvimento escolar de seu filho?

Pergunta - 10. Seu filho tinha algum tipo de problema de saúde quando trabalhava? Quais?

Houve mudanças nos problemas de saúde do seu filho após sua participação no SCFV?

Pergunta - 11. A senhora observou se seu filho passou a gostar de algum esporte ou expressão

artista tipo: teatro, dança, música etc., depois que passou a frequentar o SCFV? Qual?

Pergunta - 12. Seu filho passou a ser mais comunicativo ao participar do SCFV? Algum

exemplo?

Pergunta - 13. Seu filho alguma vez retornou ao trabalho? Ainda continua exercendo alguma

função? Por quê?

Pergunta - 14. Houve mudança na situação econômica da família após o ingresso de seu filho

no SCFV? Como?

Pergunta - 15. Quais as perspectivas de vida que seu filho tinha quando exercia a atividade

laboral? E agora, que participa do SCFV, o que ele pensa para seu futuro?

Pergunta - 16. Houve acesso da família às políticas públicas depois do acompanhamento de

SCFV a família?

Pergunta - 17. A senhora observou se seu filho demonstrou maior conhecimento depois que

passou a participar do SCFV? Que tipo?

Pergunta - 18. Quanto aos direitos: seu filho, depois que passou a frequentar o SCFV,

expressa entender a respeito das consequências do trabalho infantil? Ou mesmo sobre outros

assuntos? Quais?

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APÊNDICE 3

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Responsável Legal (entrevista

criança/adolescente)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisa: As contribuições socioeconômicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos – SCFV, na vida de crianças e adolescentes inclusas no serviço no ano de 2011, no

Município de Fortaleza.

Pesquisadora responsável: Francisco de Assis Ribeiro da Silva. RG: 99010361480 - Contato:

85 - 88798778.

Professora orientadora: Ms. Renata Custódio de Azevedo Contato: 86006059:

A pesquisa faz parte da conclusão de curso em Bacharelado em Serviço Social da

Faculdade Cearense - FAC. Tem como objetivo principal investigar as contribuições

socioeconômicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV, na vida

de crianças e adolescentes inclusas no serviço no ano de 2011, no Município de Fortaleza.

Os interlocutores da pesquisa são crianças e adolescentes, como também, um

responsável legal por estes, acompanhados pelo SCFV do município de Fortaleza.

As informações coletadas são de uso exclusivamente acadêmico e serão utilizadas

para compor o relatório final da pesquisa a ser apresentado em defesa de dissertação do curso

em Bacharelado de Serviço Social da FAC. Poderão ser publicadas em parte ou na sua

totalidade em livros e/ou periódicos de natureza científica.

Os dados da entrevista são tratados com sigilo, responsabilidade e compromisso

ético, não sendo expostos nomes nem referências que possam identificar as fontes de

pesquisa. Enfatizamos que não haverá divulgação personalizada das informações, garantindo-

se assim, o anonimato das declarações obtidas. Ao mesmo tempo, nos colocamos a inteira

disposição dos entrevistados, para maiores esclarecimentos e detalhes sobre a pesquisa em

pauta.

Atenciosamente,

Fortaleza, _____ de _______________de 20__.

___________________________________________

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114 

 

Assinatura do pesquisador

Eu, _____________________________________________________________________

RG. __________________________, abaixo assinado, responsável por

__________________________________________________________, autorizo sua

participação no estudo ____________________________________________________,

como sujeito entrevistado. Fui devidamente informado (a) e esclarecido (a) pelo pesquisador

(a) ___________________________________________________________________sobre

a natureza e conteúdo da pesquisa.

Fortaleza, _____ de ______________________de 20________.

______________________________________________________

Sujeito da Pesquisa - Entrevistado (a)

______________________________________________________

Responsável legal pelo entrevistado

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APÊNDICE 4

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Responsável Legal

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisa: As contribuições socioeconômicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos - SCFV na vida de crianças e adolescentes inclusas no serviço no ano de 2011, no

Município de Fortaleza.

Pesquisador responsável: Francisco de Assis Ribeiro da Silva RG: 99010361480 - Contato:

85 - 88798778

Professora orientadora: Ms. Renata Custódio de Azevedo. Contato: 85- 86006059

A pesquisa faz parte da conclusão de curso em Bacharelado em Serviço Social da

Faculdade Cearense - FAC. Tem como objetivo principal investigar as contribuições

socioeconômicas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos - SCFV na vida de

crianças e adolescentes inclusas no serviço no ano de 2011, no Município de Fortaleza.

As informações coletadas são de uso exclusivamente acadêmico e serão utilizadas

para compor o relatório final da pesquisa a ser apresentado em defesa de dissertação do curso

em Bacharelado de Serviço Social da FAC. Poderão ser publicadas em parte ou na sua

totalidade em livros e/ou periódicos de natureza científica.

Os dados da entrevista são tratados com sigilo, responsabilidade e compromisso

ético, não sendo expostos nomes nem referências que possam identificar as fontes de

pesquisa. Enfatizamos que não haverá divulgação personalizada das informações, garantindo-

se assim, o anonimato das declarações obtidas. Ao mesmo tempo, nos colocamos a inteira

disposição dos entrevistados, para maiores esclarecimentos e detalhes sobre a pesquisa em

pauta.

Atenciosamente,

Fortaleza, _____ de _______________de 20_____.

___________________________________________

Assinatura do pesquisador

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116 

 

Eu, ______________________________________________________________________,

RG. __________________________, abaixo assinado, fui devidamente informado (a) e

esclarecido (a) pelo pesquisador (a)

________________________________________________________________ sobre a

natureza e conteúdo da pesquisa.

Fortaleza, _____ de ___________________de 20_______.

_______________________________________________

Sujeito da Pesquisa – Entrevistado (a)

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APÊNDICE 5

Roteiro de Entrevista – Profissional da ABEMCE

ENTREVISTADO: Profissional da ABEMCE.

Nome:______________________________________________Idade: ____________

Instituição onde Trabalha:________________________________________________

Endereço da Instituição__________________________________________________

Função: ______________________________________________________________

Tempo de Trabalho:____________________________________________________

01. Como e quando surgiu a Instituição Associação Beneficente Menor Carente?

02. Qual a missão da Instituição?

03. Quais atividades são ofertadas pela Instituição?

04. De onde vem o financiamento dos Projetos?

05. Como e quando o PETI passou a ser ofertado pela Instituição?

06. Como funcionava o PETI quando era gerenciado pela SDH? Houve alguma mudança

quando o Programa passou a ser ofertado pela SEMAS? Quais?

07. Que atividades são ofertadas as crianças e adolescentes atendidas pelo SCFV - PETI na

Instituição?

08. Como é realizado o planejamento das atividades para crianças e adolescentes atendidas

pelo SCFV - PETI? Que temas são abordados?