155
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL TAMIRIS GOMES DINIZ VIEIRA A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA TOCAR: O ENCONTRO DAS ESCOLAS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL FORTALEZA - CE 2014

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

  • Upload
    vudang

  • View
    219

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TAMIRIS GOMES DINIZ VIEIRA

A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA TOCAR: O

ENCONTRO DAS ESCOLAS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O MOVIMENTO

ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL

FORTALEZA - CE

2014

Page 2: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

TAMIRIS GOMES DINIZ VIEIRA

A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA TOCAR: O

ENCONTRO DAS ESCOLAS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O MOVIMENTO

ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL

FORTALEZA – CE

2014

Page 3: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

TAMIRIS GOMES DINIZ VIEIRA

A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA TOCAR: O ENCONTRO

DAS ESCOLAS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O MOVIMENTO ESTUDANTIL

DE SERVIÇO SOCIAL

Monografia como pré-requisito para

obtenção do título de Bacharel em

Serviço Social, outorgado pela

Faculdade Cearense – FaC, tendo sido

aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de Aprovação:____/____/_______

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos

Orientadora

______________________________________________________________

Prof.ª Ms. Ivna de Oliveira Nunes

1ª Examinadora

_____________________________________________________________

Prof.ª Esp. Maiara Lopes da Silva

2ª Examinadora

Page 4: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

Ao exército de lutadores, da militância

aguerrida, àqueles que no cotidiano

materializam um projeto de sociedade mais

justa e emancipada.

Page 5: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

AGRADECIMENTOS

Quais palavras poderia utilizar para expressar gratidão àqueles que

estiveram comigo, ao meu lado, ombro a ombro, nessa caminhada difícil e tão

desafiante? O que dizer a meus familiares parceiros, meus amigos e companheiros

aguerridos de militância? Espero que algumas palavras colocadas aqui possam expressar

um tanto do meu agradecimento a todos estes seres iluminados.

É com imensa satisfação que agradeço à minha família mais próxima,

especialmente à minha tia “mãezona” Irene, e minha mãe, Vera, por todo o apoio,

dedicação e doação incondicional. Agradeço aos meus dois irmãos Yuri e Geovane, aos

quais tenho profundo amor e cuidado. À minha querida tia Raimunda e ao tio Juvenal,

que muito contribuiu para que eu chegasse até aqui. À minha prima Janett, que inclusive

nestes longos quatro anos, por diversas vezes, compartilhou comigo a internet, o

notebook e por tantos outros momentos de troca e de companheirismo. À minha prima

de sangue, Rose, madrinha, mas uma verdadeira irmã, por tudo que és para mim, pelo

amor, amizade, companheirismo, que sempre esteve presente na minha vida.

Ao Joselanio Vieira, pelos momentos felizes, pelo crescimento e sabedoria

de vida que me foi proporcionado nos oito anos de convivência. Aos meus primos-

irmãos Regis e Vitor, pelos cuidados e trocas. A todos os familiares, inclusive os que

estão hoje mais distantes, aos parentes agregados e que também foram importantes na

minha construção enquanto sujeito social.

Aos amigos do Ensino Fundamental do antigo CIES, Raquel Honório,

Priscila Drummond, Diana, “Manú”, Mikaelle e outros que no momento não recorde,

mas que reservam um lugar especial no meu coração.

Aos amigos do Ensino Médio do César Campelo: Nayara, Luzinete, “Gisa”

e Bruna, amigos que dividiam comigo aqueles anos de estudo.

Aos amigos da infância, adolescência e juventude: “Vaninha”, Marisol,

Raquel, Camila, Aline, tempo bom em que nossa maior preocupação era com a

brincadeira do dia seguinte.

Aos amigos e colegas, aos quais pude conhecer em uma etapa mais madura:

Juliana Barros, Janaina Oliveira, “Gigi”, Vanderléa, Gorete, “Zezinho”, “Fatinha”,

Sandro e Ana.

E, por último, à amiga Delany Carvalho pela dedicação, pelo

companheirismo, pelas trocas durante esses cinco anos de amizade.

Page 6: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

Aos amigos da graduação, que dividiram comigo as manhãs de estudo:

Kelliane Monteiro, Érica Lessa, Regina Gadelha, Daniele Ferreira, Jéssica Linhares

Araruna, Raquel Bastos, Miriam Bandeira, Camila Barbosa, Ana Maria, Fabio Silva,

Alyne Sales, Samila Barbosa, Jucilene Lopes e Oscarilda Alves.

Aos camaradas que encontrei na militância do MESS, aos quais pude dividir

momentos de luta e de aprendizados: Julio César, Marisa Albuquerque, Inaê Soares,

Emillie Kluwen, Isalenny Gonçalves, Paula Fahd, Ítalo Falcão, Renata Oliveira, Almir

Filho, Marianne Guimarães, Nanda Cavalcante, Michele Santos, Natasha Liberato,

Monique Vieira, Janderson Freitas Fontenele, Michelly Camelo, Janniely Lima,

Wanessa Brandão, Cleyton Oliveira, Emanuel Rocha, Rafaela Mascarenhas, Beto

Mendes, Yuri Ramos, Heber Stalin, Amanda Oliveira, Alan Sampaio, Sarah

Nicodemos, Alexandre Roseno, Camila Cid, Sijone Oliveira, Bianca Ribeiro, Angelina

Marcelo, Juliana Ribeiro, Isabella Epifânio, Ana Kelly, Natan Junior, Jaymeson Lopes,

Pedro Almeida, Raquel Brito, Larissa Silveira, Iana Taigla, Priscila Nobre e Marcelo

Ramos.

Aos companheiros do MESS e do CA da FaC, pessoas que foram

fundamentais no meu amadurecimento enquanto militante e sujeito desbravador desse

universo de resistências, em especial ao Marcelo Matos Michiles, à Aline Silva, à

Jéssica Braga e ao Alfredo Monteiro.

Aos camaradas que pude conhecer em outras militâncias, com os quais

tocamos a luta combativa para além dos muros da universidade: Raphael Cruz, Priscila

Amaral, Luiz Costa, Letícia Maria, “Macarrão”, Rafhael David, Israel Carlos, Nágila de

Castro, Thati Nunes, Ingrid Melina, Iara Saraiva, Thiago Wiston e Carol Vasconcelos.

A todos os meus professores tão sabedores nessa caminhada, em especial a

Kelma Nunes, Alexandre Carneiro, Renato Ângelo, Mário Castro, Bruno Lopes,

Richelly Barbosa, Virzângela Sandy, Mônica Duarte, Daniel Rogers, Cristiane Porfírio,

Jefferson Sales, Eliane Nunes, Igor e Bernadete Adriano.

Aos assistentes sociais os quais tive o prazer de conhecer e compartilhar

muitos aprendizados: Bete Leandro, Léo Santos e Wescley Pinheiro.

Às Assistentes Sociais do Núcleo de Atendimento ao Público do Fórum

Clóvis Beviláqua, local em que estagiei: Ana Maria Freire Xavier, Giovanna Guedes,

Vera Figueredo, Sandra Magalhães e Wladia Ribeiro. E a Denise Aguiar, coordenadora

do Núcleo.

Page 7: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

À professora Jane Meyre da Disciplina de TCC, do 8º semestre, pelas

contribuições, incentivos, pela paciência e tamanha tranquilidade na ministração de uma

disciplina tensa e angustiante, a qual sempre nos deixou acolhidos e confiantes no

decorrer de todo o processo.

À minha orientadora, Geórgia Santos, pela imensa paciência nas horas de

ansiedade, por ter aceitado dividir comigo essa experiência, pelas trocas, orientações e

luzes durante este período.

À minha banca constituída pelas professoras Ivna Nunes e Maiara Lopes, as

quais se mostraram disponíveis a trazer contribuições valiosas ao meu trabalho.

E, sobretudo, aos sujeitos desta pesquisa, os quais foram fundamentais para

a construção dela.

Page 8: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

Dissidência ou a arte

de dissidiar

“Há hora de somar

E hora de dividir.

Há tempo de esperar

E tempo de decidir.

Tempos de resistir.

Tempos de explodir.

Tempo de criar asas,

romper as cascas

Porque é tempo de partir.

Partir partido,

Parir futuros,

Partilhar amanheceres

Há tanto tempo

esquecidos.

Lá no passado tínhamos

um futuro

Lá no futuro tem um

presente

Pronto pra nascer

Só esperando você se

decidir.

Porque são tempos de

decidir,

Dissidiar, dissuadir,

Tempos de dizer

Que não são tempos de

esperar

Tempos de dizer:

Não mais em nosso nome!

Se não pode se vestir com

nossos sonhos

Não fale em nosso nome.

Não mais construir casas

Para que os ricos morem.

Não mais fazer o pão

Que o explorador come.

Não mais em nosso nome!

Não mais nosso suor, o

teu descanso.

Não mais nosso sangue,

tua vida.

Não mais nossa miséria,

tua riqueza.

Tempos de dizer

Que não são tempos de

calar

Diante da injustiça e da

mentira.

É tempo de lutar

É tempo de festa, tempo

de cantar

As velhas canções e as

que ainda vamos inventar.

Tempos de criar, tempos

de escolher.

Tempos de plantar os

tempos que iremos colher.

É tempo de dar nome aos

bois,

De levantar a cabeça

Acima da boiada,

Porque é tempo de tudo

ou nada.

É tempo de rebeldia.

São tempos de rebelião.

É tempo de dissidência.

Já é tempo dos corações

pularem fora do peito

Em passeata, em multidão

Porque é tempo de

dissidência

É tempo de revolução”

(Mauro Luis Iasi)

Page 9: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

RESUMO

A presente pesquisa “A gente quer ter voz ativa e a nossa luta tocar: O Encontro das

Escolas de Serviço Social e sua contribuição para o Movimento Estudantil de Serviço

Social” analisou a contribuição do Encontro das Escolas para o Movimento Estudantil

de Serviço Social (MESS) no âmbito privado de Fortaleza e Região Metropolitana entre

o período de 2013.2 a 2014.1. Tomamos como base o MESS das referidas Instituições

de Ensino Superior privado: Faculdade Cearense (FaC), Faculdade Terra Nordeste

(FATENE), Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Faculdade

RATIO e Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO). Tratou-se de

uma pesquisa de abordagem qualitativa, uma vez que compreendeu a importância do

Movimento Estudantil (ME) a partir do resgate da trajetória deste na sociedade

brasileira, propondo-se a discutir o cenário político e econômico no qual o MESS das

particulares está inserido, sobretudo, a partir da década de 1970, quando se instala o

neoliberalismo no mundo em face de uma grave crise econômica do capital e no final

dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando, no Brasil, o neoliberalismo e a

contrarreforma do Estado acarretaram implicações para o ensino superior. Além do

referencial teórico proposto, a análise dos dados apresentados na pesquisa acerca do

fenômeno estudado foi possível através de uma pesquisa documental em relatorias,

convites, posts e fotos presentes nos grupos virtuais do movimento e no próprio perfil

pessoal da pesquisadora, a qual também participou durante esse período. Utilizamos

ainda a técnica da entrevista semiestruturada com sete participantes do Encontro das

Escolas de Serviço Social e militantes do Movimento Estudantil de Serviço Social das

referidas instituições. A partir dos resultados, constatou-se que a Reunião das Escolas

contribuiu para a integração e organização do MESS de Fortaleza e Região

Metropolitana, bem como para a formação política e profissional dos militantes.

Palavras-chave: Movimento Estudantil. Movimento Estudantil de Serviço Social.

Neoliberalismo. Contrarreforma do Ensino Superior.

Page 10: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

RESUMEN

Esta investigación "Queremos tener una voz y nuestro toque lucha: La Reunión de

Escuelas de Servicio Social y su contribución al Movimiento de Instituciones Privadas

de Educación Superior de Estudiantes de Servicio Social" tiene como objetivo analizar

la contribución de la Reunión de Escuelas para el Movimiento Estudiantil de los cursos

de Servicio Social (MESS) de las particulares de y región metropolitana durante el

período 2013.2 hasta 2014.1. Nos basamos en las siguientes instituciones de educación

superior privadas: Faculdade Cearense (FaC), Faculdade Terra Nordeste (FATENE),

Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), Faculdade Ratio e Faculdade

Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO). Se trata de una investigación

cualitativa y explicativa, ya que comprende la importancia del movimiento estudiantil

(ME)a partir de la historia de él en la sociedad brasileña, proponiéndose a discutir la

situación política y económica en la que el MESS de las particulares se ubica,

principalmente a partir de la década de 1970, cuando se instala el neoliberalismo en el

mundo en medio a una severa crisis económica del capital y en la década de 1980 y

principios de 1990, cuando en Brasil, el neoliberalismo y la contrarreforma de Estado

implicarán complicaciones para la educación superior. Más allá del marco teórico

propuesto, los datos presentados en la encuesta sobre el fenómeno estudiado fueron

viabilizados a través de una investigación documental por medio de invitaciones,

mensajes y fotos presentes en grupos virtuales del movimiento y el investigador propio

perfil personal de la investigadora, que también participó de los chats durante este

período. A partir de las entrevistas semi-estructuradas con siete participantes en el

Encuentro de Escuelas de Servicio Social y miembros del Movimiento del curso de

Servicio Social de estas instituciones, constatase que la reunión, además de haber

contribuido a la integración y organización de MESS de Fortaleza y el área

metropolitana, contribuyó también para la formación política e profesional de los

militantes.

Palabras clave: Movimiento Estudiantil. Movimiento Estudiantil de Servicio Social.

Neoliberalismo. Educación Superior Contador.

Page 11: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Movimento Estudantil de Serviço Social dividido por regiões .................... 52

Page 12: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Evolução de Matrículas ................................................................................ 72

Tabela 2 - Cursos de Serviço Social distribuídos por períodos ..................................... 80

Page 13: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ABESS - Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social

AI - Ato Institucional

AL - Alagoas

ALN - Ação Libertadora Nacional

ANDES - Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior

ANEL - Assembleia Nacional dos Estudantes Livre

BA - Bahia

BID- Banco Internacional do Desenvolvimento

BH - Belo Horizonte

BM - Banco Mundial

BPC- Benefício de Prestação Continuada

CA - Centro Acadêmico

CAEL - Centro Acadêmico Edna Leite

CASS - Centro Acadêmico de Serviço Social

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CD - Caderno de Deliberações

CE - Ceará

CALSS - Centro Acadêmico Livre de Serviço Social

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CN - Coordenação Nacional

CNE - Conselho Nacional de Estudantes

CONLUTE - Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes

CONESS - Conselho Nacional de Entidades Estudantis de Serviço Social

CONUNE - Congresso da União Nacional dos Estudantes

CR - Coordenação Regional

CORESS - Conselho Regional de Entidades Estudantis de Serviço Social

CORETUR - Conselho de Representantes de Turma

CRESS - Conselho Regional de Serviço Social

CUT - Central Única dos Trabalhadores

DA - Diretório Acadêmico

DCE - Diretório Central dos Estudantes

Page 14: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

DF - Distrito Federal

EAD - Ensino a Distância

ECESS - Encontro Cearense de Serviço Social

ELESS - Encontro Local dos Estudantes de Serviço Social

ENADE - Exame Nacional de Desempenho de Estudantes

ENESS - Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social

ENESSO - Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

ERESS - Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social

ES - Espírito Santo

FaC - Faculdade Cearense

FAMETRO - Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza

FATENE - Faculdade Terra Nordeste

FEB - Federação de Estudantes Brasileiros

FENAS - Federação Nacional de Assistentes Sociais

FENEX - Fórum Nacional de Federações e Executivas de Cursos

FHC - Fernando Henrique Cardoso

FIES - Fundo de Financiamento Estudantil

FMI - Fundo Monetário Internacional

FSS - Faculdade de Serviço Social

FUMESS - Fórum de Usuários e Não Usuários de Drogas do Movimento Estudantil de

Serviço Social

GERES - Grupo Executivo para a Reforma da Educação Superior

IES - Instituição de Ensino Superior

IFCE - Instituto Federal do Ceará

INEP - Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LGBT- Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis

LPJ - Levante Popular da Juventude

MA - Movimento de Área

MA - Maranhão

MB - Movimento de Base

ME - Movimento Estudantil

MG - Movimento Geral

MEC - Ministério da Educação

MESS - Movimento Estudantil de Serviço Social

Page 15: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

MS - Movimento Social

MSs - Movimentos Sociais

MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MPOG- Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

MR - Mobilização de Recursos

NMS - Novos Movimentos Sociais

NUPES - Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior

OMC - Organização Mundial do Comércio

ONG - Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

PARU - Programa de Avaliação da Reforma Universitária

PB – Paraíba

PCB- Partido Comunista Brasileiro

PCdoB - Partido Comunista do Brasil

PDE - Plano de Desenvolvimento da Educação

PDP - Projeto Democrático Popular

PDRE- Plano Diretor da Reforma do Estado

PE - Pernambuco

PEN - Planejamento Estratégico Nacional

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio

PEP - Projeto Ético Político

PER - Planejamento Estratégico Regional

PNE - Plano Nacional de Educação

PPP – Parceria Público Privada

PROUNI - Programa Universidade Para Todos

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira

PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PT - Partido dos Trabalhadores

PUC - Pontifícia Universidade Católica

REUNI - Reestruturação e Expansão das Universidades

RJ - Rio de Janeiro

RN - Rio Grande do Norte

RS - Rio Grande do Sul

Page 16: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

SESSUNE - Subsecretaria de Estudantes de Serviço Social da União Nacional dos

Estudantes

SC - Santa Catarina

SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

SINAPES - Sistema Nacional de Avaliação e Progresso do Ensino Superior

SNFPMESS - Seminário Nacional de Formação Profissional e Movimento Estudantil

de Serviço Social

SP - São Paulo

SRFPMESS - Seminário Regional de Formação Profissional e Movimento Estudantil

de Serviço Social

SUDS - Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

TCLE-Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UBES - União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

UCG - Pontifícia Universidade Católica de Goiás

UCMG - Universidade Católica de Minas Gerais

UCSAL - Universidade Católica de Salvador

UECE - Universidade Estadual do Ceará

UEE - União Estadual dos Estudantes

UEL - Universidade Estadual de Londrina

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFF - Universidade Federal de Fluminense

UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso

UFPA - Universidade Federal do Pará

UFPE - Universidade Federal do Pernambuco

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFS - Universidade Federal de Sergipe

UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

UJS - União da Juventude Socialista

UNAMA - Universidade da Amazônia

UNB - Universidade de Brasília

UNE - União Nacional dos Estudantes

USP - Universidade de São Paulo

VERSUS - Vivências e Estágios na Realidade do SUS

Page 17: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 18

2-CAPÍTULO I - PERCURSO METODOLÓGICO ................................................ 21

2.1 Cenário da Pesquisa ............................................................................................... 22

2.2 Procedimentos de Coleta de Dados ....................................................................... 23

2.3 Perfis dos Sujeitos da Pesquisa .............................................................................. 26

3-CAPÍTULO II- “OS BONS MORREM JOVENS”: UM BALANÇO DA

ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL .............. 28

3.1 A Construção das Abordagens Teóricas sobre os Movimentos Sociais ............. 28

3.1.1 O Movimento Estudantil do Ensino Superior e o debate dos Movimentos

Sociais ...................................................................................................................... 35

3.2 A Trajetória da Organização Política do Movimento Estudantil no Brasil ...... 38

3.2.1 E o Movimento Estudantil de Serviço Social? ...................................................... 42

3.3 A Estrutura e Organização do Movimento Estudantil e Movimento Estudantil

de Serviço Social..................................................................................................... 50

3.3.1 A Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO) ................... 51

4-CAPÍTULO III – “A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER

COMIDA, DIVERSÃO E ARTE”: A REORGANIZAÇÃO DO

CAPITALISMO NOS ANOS 1970 DO SÉCULO XX ....................................... 55

4.1 A Conjuntura Político-Econômica Mundial nos Anos 1970 ............................... 55

4.2 O Neoliberalismo e a Contrarreforma do Estado Brasileiro nos Anos 1990 .... 63

4.3 A Contrarreforma no Âmbito do Ensino Superior no Brasil ............................. 70

CAPÍTULO IV-A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA

TOCAR: A CONTRIBUIÇÃO DO ENCONTRO DAS ESCOLAS PARA O

MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL .................................. 84

5.1 O Surgimento do Movimento Estudantil de Serviço Social organizado nas

Instituições de Ensino Superior Privadas de Fortaleza e Região Metropolitana

................................................................................................................................. 84

5.2 O Surgimento do Encontro das Escolas ............................................................... 85

5.3 O Encontro das Escolas na Análise dos Entrevistados ....................................... 88

5.3.1 Divulgação do Encontro e o repasse das atividades encaminhadas em 2013.2 e

2014.1 ...................................................................................................................... 92

Page 18: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

5.3.2 As Principais atividades deliberadas no Encontro das Escolas de 2013.2 a 2014.1

executadas pelo Movimento Estudantil de Serviço Social no Curso....................... 93

5.4 A Contribuição do Encontro para o Movimento Estudantil de Serviço Social de

cada Escola ............................................................................................................. 94

5.4.1 O Encontro das Escolas e suas contribuições para o Movimento Estudantil de

Serviço Social nas instituições particulares de Fortaleza e Região Metropolitana de

2013.2 a 2014.1 ........................................................................................................ 97

5.5 O Encontro das Escolas e o Projeto Ético-Político do Serviço Social .............. 101

5.6 Os Desafios para Fortalecer a Participação dos Estudantes no Encontro das

Escolas ................................................................................................................... 108

6-CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 112

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 115

APÊNDICES ............................................................................................................... 123

ANEXOS ..................................................................................................................... 127

Page 19: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

18

1-INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico intitulado “A gente quer ter voz ativa e a

nossa luta tocar1: o Encontro

2 das Escolas de Serviço Social e sua contribuição para o

Movimento Estudantil de Serviço Social” gestou-se de minha experiência3 como

militante do Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS) no universo de uma

faculdade privada, especificamente na gestão 2013.2/2014.1, “A luta não para”, do

Centro Acadêmico de Serviço Social da Faculdade Cearense (CASS/FaC), a qual

possibilitou minha aproximação ao MESS de forma mais ampla, através da participação

no Encontro das Escolas de Serviço Social de Fortaleza e Região Metropolitana

durante este período.

Minhas percepções no decorrer da militância no Movimento Estudantil

foram muitas. Apreendi em um grau de clareza muito maior o significado político da

profissão, passei a me reconhecer enquanto sujeito político, em uma consciência de

classe trabalhadora e enquanto indivíduo a contribuir para a transformação dessa

sociedade. Essa experiência me trouxe questionamentos desde à estrutura social

econômico-política, passando pela desconstrução e oposição à valores culturais

enraizados que estão intrinsecamente relacionados à opressão da mulher, do negro, dos

sujeitos homoafetivos, das minorias sociais de uma forma geral. Contudo, reitero que

esse processo que se iniciou a partir do MESS não é algo acabado e, por isso, não se

esgota nele, pois se exige que seja constante no decorrer da vida e da militância

organizada. Ademais, sem dúvidas, são inúmeras e valiosas as contribuições da

militância do MESS para a minha formação profissional, pois me despertou com mais

profundidade o interesse pela leitura e pelo conhecimento, um maior rigor e

responsabilidade com a minha formação.

Deste modo, foram essas as minhas motivações em analisar a contribuição

desse Encontro para o MESS das faculdades particulares, pois constatei que ele

contribuiu para a integração das escolas e a organização do MESS de Fortaleza e Região

1 A pesquisadora fez um trocadilho com a frase da música Roda Viva de Chico Buarque: “A gente quer

ter voz ativa e o no nosso destino mandar”. 2 No título da presente pesquisa, utilizamos “Encontro das Escolas de Serviço Social” porque é o termo o

qual nós consideramos o mais usual e o qual remonta as suas origens. Contudo, esclarecemos que existem

outras nomenclaturas também utilizadas: “Reunião Ampliada das Escolas de Serviço Social” ou

“Encontro dos Estudantes de Serviço Social” ou ainda “Fórum das Escolas de Serviço Social”. No

decorrer do estudo poderemos utilizar todos os termos citados, mas estaremos abordando o mesmo

fenômeno. 3 Neste momento, peço licença para discorrer sobre as justificativas pessoais utilizando o verbo em

primeira pessoa.

Page 20: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

19

Metropolitana através do apoio à criação dos Centros Acadêmicos, bem como para a

formação política e profissional dos militantes do Movimento Estudantil de Serviço

Social (MESS) das faculdades privadas: FaC, Faculdade Terra Nordeste - (FATENE-

CAUCAIA), Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO), Centro

Universitário Mauricio de Nassau (UNINASSAU) e Faculdade RATIO entre 2013.2 a

2014.1.

Apresentou-se como objetivos específicos: a) compreender o Movimento

Estudantil (ME) do Ensino Superior no debate dos Movimentos Sociais (MSs); b)

analisar a trajetória de lutas do ME e, em específico, do MESS no Brasil; c) traçar a

conjuntura política e econômica mundial a partir da década de 1970; d) analisar a

contrarreforma neoliberal do Estado Brasileiro nos anos 1990 e as implicações para o

ensino superior no país; e) Resgatar por intermédio da pesquisa documental, entrevista

semiestruturada e observação participante todos os dados possíveis relativos ao

Encontro das Escolas de Fortaleza e Região Metropolitana durante o período de 2013.2

a 2014.1.

Nas categorias de estudo Movimento Estudantil (ME) e Movimento

Estudantil de Serviço Social (MESS), utilizamos como referências teóricas: Araújo &

Netto (2007), Chagas (2006), Guimarães (2011), Michiles (2014), Montaño e

Duriguetto (2011) Poerner (2004), Rodrigues (2008) e Vasconcelos (2003). Com

relação à categoria neoliberalismo, foram válidos os estudos de Behring (2003), Behring

& Boschetti (2008), Mota (2009), Vasconcelos (2003). E, por último, no debate sobre a

contrarreforma do ensino superior, foram analisadas as produções de Dourado (2002),

Durham (2003), Lima & Pereira (2009), Rocha (2007), dentre outros.

O primeiro capítulo consistiu no percurso metodológico da pesquisa, no

qual apresentamos informações preliminares que são pertinentes ao entendimento do

trabalho, tais como: o cenário da pesquisa, procedimento de coleta de dados e perfis dos

sujeitos entrevistados. No segundo, resgatei elementos introdutórios para a compreensão

dos Movimentos Sociais (MSs) e de como o ME do Ensino Superior se inseriu nesse

debate, bem como analisamos a trajetória de lutas do ME e, especificamente, do MESS

no Brasil, e ao final, explicamos a estrutura organizacional desse movimento. No

terceiro capítulo, realizamos uma análise de conjuntura mundial, a partir da década de

1970 e de que forma esta repercutiu em nosso país a partir do final dos anos 1980 e

início dos anos 1990 do século XX. Por último, discorremos sobre as implicações do

neoliberalismo para o ensino superior, que se relaciona com o cenário no qual está

Page 21: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

20

inserido o MESS das Instituições de Ensino Superior (IES) particulares. No quarto e

último capítulo, apresentamos os dados colhidos a partir da pesquisa documental e do

trabalho de campo sobre o surgimento, metodologia e contribuições do Encontro das

Escolas de Serviço Social e Região Metropolitana para o MESS das particulares em

2013.2 a 2014.1.

O presente estudo analisou o Movimento Estudantil de Serviço Social-

MESS em um cenário político-econômico de crise estrutural do capital e contrarreforma

do Estado em nosso país. A contrarreforma, tida como expressão do período que se

inaugurou como neoliberal, vem provocando mudanças e reformatações nos direitos

sociais outrora conquistados pela classe trabalhadora, por intermédio de suas lutas

cotidianas contra a ofensiva do capital.

Esses direitos que se inscrevem no campo do público e presumidamente da

universalidade, são transferidos para o campo privado, portanto, da mercantilização na

cena contemporânea, seguindo orientações de organismos internacionais como as do

Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio (OMC),

dentre outros, no intuito de inserir as economias latino-americanas ao capital

globalizado, o qual tem implicado na perspectiva regressiva de direito enquanto produto

ou serviço a ser comercializado na esfera da reprodução da sociedade capitalista, o que

se configura como verdadeira estratégia à reversão de uma grave crise econômica

mundial deste modelo, presente desde os anos 1970.

Deste modo, no campo da educação, de modo geral, tal contrarreforma se

expressou nas mais diversas nuances, especialmente no campo da educação superior,

com a instituição de políticas pelo Governo Federal como o Plano de Restruturação das

Universidades Brasileiras (REUNI), Programa Universidade para Todos (PROUNI) e

Fundo de Financiamento Estudantil (FIES). Estes programas se propõem a democratizar

esse nível de ensino em uma lógica precarizada, acarretando a transferência de recursos

públicos para a iniciativa privada, ou até mesmo a exoneração de impostos em troca de

vagas nas IES particulares, em detrimento de investimento nas universidades públicas,

contribuindo para um “empresariamento da educação”, para o alastramento dessas

instituições sem a garantia de uma formação sustentada no tripé ensino, pesquisa e

extensão.

É neste cenário contemporâneo que se insere o MESS destas faculdades, o

qual mediante uma práxis revolucionária luta por uma educação e formação profissional

Page 22: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

21

de qualidade, por outro modelo de universidade e sociedade, bandeiras de lutas que

expressam o projeto profissional e societário do Serviço Social.

2-CAPÍTULO I - PERCURSO METODOLÓGICO

No sentido de favorecermos a compreensão do leitor, o qual se debruçará

sobre esse pequeno “artesanato intelectual” (MINAYO, 2007), fez-se imprescindível

delinearmos o percurso metodológico que tanto se construiu paulatinamente das

aproximações com as macroteorias, quanto diretamente com base no material empírico.

Segundo Gil (2002), a pesquisa é um procedimento racional, sistemático, a

qual busca soluções para os problemas que são propostos, constituindo-se de um

processo decomposto em várias fases.

Para construir um trabalho científico, precisamos ainda dos procedimentos

metodológicos, pois estes iluminam o percurso da pesquisa e serve para que um

conhecimento se torne científico, uma vez que se exige que sejam identificadas as

operações mentais e técnicas que permitiram sua verificação (GIL, 2008). Por sua vez,

Minayo (2007, p. 15) argumenta:

[...] Na verdade a metodologia é muito mais que técnicas. Ela inclui as

concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a

realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade. Enquanto

abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e a metodologia

caminham juntas, intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de

técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente,

elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da

prática.

A pesquisa científica tem um papel muito importante, uma vez que contribui

para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das relações sociais e, se na

contemporaneidade estivesse, sobretudo, mais relacionada às demandas da classe

trabalhadora, certamente muito mais contribuiria para a melhoria da qualidade de vida

coletiva. Contudo, o sistema capitalista atinge todos os campos, inclusive o campo do

conhecimento científico, da ciência e da universidade.

Seguindo adiante e tomando como base os objetivos ditos anteriormente,

tratou-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa e explicativa, pois buscamos

explicar os fatores que contribuem para a ocorrência dos fenômenos, bem como nos

aprofundamos sobre o conhecimento de uma realidade social (GIL, 2002). Ademais,

procurou-se compreender o fenômeno da organização do Movimento Estudantil (ME)

Page 23: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

22

na sociedade brasileira, bem como análises conjunturais anteriores que delinearam as

particularidades sociais, econômicas, políticas e culturais em que o Movimento

Estudantil de Serviço Social (MESS) encontra-se atualmente inserido, a saber, o

universo das Instituições de Ensino Superior (IES) privado de Fortaleza e Região

Metropolitana. Falaremos melhor sobre este cenário no próximo tópico.

2.1 Cenário da Pesquisa

A integração do MESS da universidade pública e das particulares ocorreu a

partir do surgimento do Encontro das Escolas em 2012. Entretanto, ressaltamos a

complexidade para resgatar a história do Encontro, uma vez que quase não existem

documentos que possam atestar com precisão sua dinâmica de surgimento, e em

decorrência do movimento ser de natureza transitória, muitos sujeitos que estiveram

presentes em sua gênese, encontram-se atualmente afastados, tendo em vista que já

estão graduados ou em processo de finalização do curso.

Entre 2013.2 a 2014.1, participaram do Encontro o MESS da Faculdade

Cearense (FaC), Faculdade Terra Nordeste (FATENE-CAUCAIA), Universidade

Estadual do Ceará (UECE), Centro Universitário Mauricio de Nassau (UNINASSAU),

Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO) e Faculdade RATIO

(FORTALEZA).

Com exceção da UECE, todas as outras são faculdades privadas e ofertam o

Curso de Serviço Social na modalidade presencial. A partir da análise dos sites

institucionais4, a Faculdade Cearense (FaC) tem sua sede localizada na Avenida João

Pessoa, nº 3884, Bairro Damas, em Fortaleza-CE e foi fundada no ano de 2002. O

Serviço Social nesta instituição foi autorizado pela portaria nº 277, de 14/12/2012. A

Faculdade Terra Nordeste (FATENE) localiza-se na Rua Coronel Correia, nº 1119, em

Caucaia-CE; além de manter outro campi em Fortaleza-CE. Nesta IES, o curso de

Serviço Social foi autorizado pela Portaria do Ministério da Educação (MEC) nº 1.043

de 08/12/2008. O Centro Universitário Mauricio de Nassau (UNINASSAU) está

localizado na Avenida Aguanambi, nº 251, Bairro de Fátima, em Fortaleza-CE. O

Serviço Social foi autorizado pela Portaria/MEC nº 253-09.11.2012. A Faculdade

Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO) foi fundada no ano de 2002 e está

localizada na Rua Conselheiro Estelita, nº 500, no Centro de Fortaleza-CE. Nesta

4 Foram consultados em 15/11/2014, o site da FaC, FATENE, FAMETRO, RATIO e UNINASSAU.

Page 24: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

23

instituição o Curso de Serviço Social foi autorizado pela Portaria/MEC nº 16, de 6 de

janeiro de 2011. A sede da Faculdade RATIO localiza-se na Rua Isac Amaral, nº 420,

no Bairro Dionísio Torres em Fortaleza-CE. O Curso de Serviço Social foi autorizado

pela Portaria n° 1.840, de 10 de novembro de 2010 do MEC.

Essas instituições surgem a partir dos anos 2000 em decorrência do projeto

de mercantilização da educação, já iniciado nos anos 1990 no governo de Fernando

Henrique Cardoso e que deu continuidade no governo de Lula, uma vez que sua política

para o ensino superior favoreceu a abertura de mais faculdades privadas no país, que se

verifica a partir da análise dos dados do Censo da Educação Superior do Instituto

Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) de 20135, no qual as IES privadas tinham

uma participação de 5. 373.450 (74%) no total de matrículas de graduação em relação a

1.932.527 (26%) nas públicas. Na esfera do Serviço Social, em nosso Estado, houve um

crescente aumento na oferta do Curso nas instituições privadas de Fortaleza-CE e

Região Metropolitana, pois desde então somente existia o Curso de Serviço Social na

UECE.

2.2 Procedimentos de Coleta de Dados

O procedimento técnico que foi utilizado para a coleta dos dados,

primeiramente consolidou-se com a análise bibliográfica, a qual segundo Gil (2002) é

desenvolvida com base nos materiais já produzidos. Dessa forma, foram analisados

livros, artigos, monografias, dissertações de mestrado, dentre outras fontes textuais que

foram importantes para o desenvolvimento da escrita sobre as categorias de estudo já

anteriormente citadas.

Além da bibliográfica, realizamos a pesquisa documental, que

diferentemente da primeira, a qual se utiliza de outras teorias já produzidas sobre

determinado assunto, a segunda vale-se de materiais que não receberam ainda um

tratamento analítico, ou que ainda podem ser reanalisados de acordo com os objetos da

pesquisa (GIL, 2002).

Assim, durante o mês de setembro e outubro de 2014 foram resgatadas e

analisadas fotografias dos encontros, relatorias, posts e convites divulgados nos grupos

virtuais do Movimento Estudantil de Serviço Social das escolas e/ou grupos dos Centros

5 Essas estatísticas foram apresentadas no site, disponível em:

http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/apresentacao/2014/coletiva_censo_superi

or_2013.pdf acesso em 15/11/2014.

Page 25: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

24

Acadêmicos: Faculdade Cearense (FaC), Faculdade Terra Nordeste (FATENE),

Universidade Estadual do Ceará (UECE), Centro Universitário Mauricio de Nassau

(UNINASSAU), Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza (FAMETRO) e

Faculdade RATIO, inclusive no “Encontro dos Estudantes de Serviço Social de

Fortaleza e Região Metropolitana”6, grupo virtual criado para contribuir na articulação

desses estudantes e nas ações da Reunião das Escolas, além de algumas fotos resgatadas

no próprio perfil pessoal da pesquisadora.

Uma das principais dificuldades no decorrer da pesquisa foi encontrar

documentos como atas, primeiro porque não se tem o costume de fazê-las e, segundo,

porque quando as elaboram, geralmente fica na responsabilidade dos estudantes que no

momento da Reunião se dispõem, mas que não há uma iniciativa de sistematizar e

guardar esses registros. Então isso, é uma observação pertinente que deve ser feita aos

movimentos sociais de forma geral e, ao próprio movimento estudantil que acaba

secundarizando e deixando à revelia o registro documentado de sua atuação.

Desse modo, ressaltamos que foi feito todo o esforço necessário para que

toda a informação aqui mencionada com relação ao Encontro das Escolas

correspondesse à realidade dos acontecimentos. Entretanto, como alguns dos registros

analisados foram os divulgados nas redes sociais, algumas datas de realização dos

Encontros poderão não ser precisas, mas tomamos como base as datas dos posts de

convites, fotos e algumas poucas relatorias colhidas nos grupos e perfil citados.

Resgatamos ainda elementos importantes advindos da observação participante, uma

técnica que consiste em “[...] uma tentativa de colocar o observador e o observado do

mesmo lado, tornando-se observador um membro do grupo de modo a vivenciar o que

eles vivenciam e trabalhar dentro do sistema de referência deles (MANN, 1970 apud

LAKATOS & MARKONI, 2008, p. 277)”.

Realizamos ainda a chamada entrevista semiestruturada, uma vez que

elaboramos um roteiro de perguntas básicas e fixas para todos os entrevistados, porém,

previmos que outros questionamentos poderiam surgir no momento da entrevista e que

se tornariam necessários para elucidarmos questões que não seriam esclarecidas logo de

início, questões essas particulares ao campo empírico dos sujeitos, o que converge para

o fato de que “[...] a entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o

qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras

6 O grupo foi criado no dia 16 de julho de 2013, por um estudante-participante. Atualmente o grupo no

Facebook encontra-se com 994 membros. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/500881909987743/?fref=ts>. Acesso em: 14 out. 2014.

Page 26: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

25

questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista” (MANZINI, 1990,

1991, p. 154). Para participar da entrevista estabelecemos dois critérios de escolha para

os entrevistados, são eles: 1) ser estudante ou já concludente do Curso de Serviço Social

em uma faculdade privada e que tenha participado do Encontro das Escolas durante o

período de 2013.2 a 2014.1; 2) ser participante ou já ter participado ativamente do

MESS organizado7.

Em média o Encontro das Escolas reúne de dez a trinta estudantes,

dependendo da conjuntura política, semana de provas, eleições dos Centros Acadêmicos

ou outros eventos. Desse total, escolhemos sete sujeitos: dois da FaC, dois da FATENE,

um da UNINASSAU, um da FAMETRO e um da RATIO. Como a FaC e a FATENE

foram escolas que durante todo este processo estiveram mais presentes organicamente e

com a participação maior dos estudantes, optamos por escolher dois estudantes de cada,

uma vez que poderia nos fornecer mais elementos correspondentes aos objetivos da

pesquisa.

Todos os sujeitos receberam o convite para participar da pesquisa

individualmente na primeira semana de setembro de 2014 por meio das redes sociais, e

todas as questões referentes a agendamento de dias, horários e locais foram realizadas

previamente, respeitando a disponibilidade dos entrevistados.

As entrevistas ocorreram durante o período de oito de setembro a sete de

outubro de 2014 nas salas dos Centros Acadêmicos das referidas escolas. Quando

inexistente ou indisponível, as entrevistas foram feitas nas salas de aulas das referidas

instituições com a organização prévia do pesquisador ou do estudante8. No momento da

entrevista, foi entregue o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) e após a

leitura dele, os sujeitos assinaram e receberam uma cópia do documento.

O roteiro da entrevista apresentou 16 perguntas. Foi necessário ainda

conhecer um tanto do surgimento do MESS organizado em cada instituição, para que se

pudesse verificar se o Encontro também havia contribuído com a organização do MESS

nessas escolas.

7 Ter participado de alguma gestão do Centro Acadêmico ou fazer parte do MESS organizado,

contribuindo nas atividades cotidianas do movimento, com vivência para além dos encontros da categoria. 8 As entrevistas da FaC, UNINASSAU e uma da FATENE foram realizadas na FaC com a organização do

espaço pela pesquisadora. Uma das entrevistas da FATENE foi feita no próprio espaço institucional, com

a organização do entrevistado. As entrevistas da RATIO e FAMETRO foram realizadas na instituição

com a organização dos estudantes.

Page 27: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

26

2.3 Perfis dos Sujeitos da Pesquisa

Pelo compromisso ético da pesquisa científica, os sujeitos entrevistados

serão caracterizados por nomes fictícios dos encontros organizados pela Executiva

Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO), são eles: Conselho Nacional das

Entidades Estudantis Serviço Social (CONESS); Conselho Regional das Entidades

Estudantis de Serviço Social (CORESS); Encontro Nacional dos Estudantes de Serviço

Social (ENESS); Encontro Regional dos Estudantes de Serviço Social (ERESS);

Planejamento Estratégico Nacional (PEN); Planejamento Estratégico Regional (PER);

Seminário Nacional de Formação Profissional do Movimento Estudantil de Serviço

Social (SNFPMESS).

CONESS

Identidade de gênero9 mulher; Faculdade Cearense; milita no MESS

organizado desde 2013/6º semestre; e atualmente não milita em nenhum outro

movimento social.

CORESS

Identidade de gênero homem; Faculdade Terra Nordeste (FATENE); milita

organicamente no MESS desde 2012/2º semestre; não milita em nenhum movimento

social.

ENESS

Identidade de gênero homem; Centro Universitário Maurício de Nassau

(UNINASSAU); é do MESS organizado desde o segundo semestre; militante do Partido

dos Trabalhadores (PT).

ERESS

Identidade de gênero mulher; Faculdade Terra Nordeste (FATENE); milita

no MESS organizado desde 2012/6º semestre; não milita em outro movimento social.

PEN

Identidade de gênero mulher; Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza

(FAMETRO); militante do MESS desde o 2º semestre; milita no movimento social

quilombola.

9 Identidade de gênero diz respeito ao gênero que a pessoa se reconhece e se identifica, a qual pode ser

homem, mulher ou intergêneros e que, em muitos casos, não corresponde ao sexo biológico e que é

independente e diferente da orientação sexual.

Page 28: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

27

PER

Identidade de gênero mulher; Faculdade RATIO; é militante do MESS há

dois anos; não milita em nenhum outro movimento social.

SNFPMESS

Identidade de gênero homem; Faculdade Cearense (FaC); militou no MESS

durante dois anos; atualmente milita em outro movimento social.

Finalizamos este primeiro capítulo, o qual correspondeu ao percurso

metodológico da pesquisa, seguiremos no próximo abordando as principais teorias sobre

os MSs e tecendo uma análise sobre a organização do Movimento Estudantil e como

parte dele, do Movimento Estudantil de Serviço Social na sociedade brasileira.

Page 29: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

28

3-CAPÍTULO II- “OS BONS MORREM JOVENS”: UM BALANÇO DA

ORGANIZAÇÃO DO ME NO BRASIL

Este capítulo abordou basicamente a trajetória do Movimento Estudantil e

Movimento Estudantil de Serviço Social no Brasil. No primeiro e segundo tópico

introduzimos um debate que teve como objetivo relacionar o ME enquanto movimento

social. Por último, explicamos a estrutura organizacional do ME e MESS.

3.1 A Construção das Abordagens Teóricas sobre os Movimentos Sociais

Para analisar de que forma o Movimento Estudantil (ME) se encontra no

debate dos Movimentos Sociais (MSs), exige-se analisar inicialmente alguns aspectos

teóricos que envolvem o estudo dos Movimentos Sociais. A referida temática surge

como objeto de estudo com o surgimento da própria sociologia10

, pois a referida ciência

sempre foi considerada o campo por excelência no estudo dos movimentos sociais.

Ao relatarmos a gênese do estudo dos MSs, sabe-se que Lorenz Von Stein

foi o primeiro estudioso, na sociologia acadêmica, a utilizar o termo “Movimentos

Sociais”, em 1842, quando defendeu a necessidade de uma ciência da sociedade que se

dedicasse ao estudo dos movimentos sociais, principalmente para o estudo do

movimento proletário francês11

e o do comunismo e socialismo12

emergentes nesse

10

A sociologia surgiu na Idade Moderna por volta de 1830. Seu surgimento foi influenciado por quatro

momentos históricos importantes: o Renascimento, a Revolução Científica, a Revolução Industrial e a

Revolução Francesa. Ao estudar esses referidos fatos históricos, Augusto Comte pensou em uma ciência

que analisasse a sociedade, chamou-a inicialmente de “Física Social” e, posteriormente, chamou-a de

Sociologia. 11

Nesse período há o aprofundamento de uma crise política em toda a Europa, com a agudização de uma

insatisfação política com alguns governos burgueses que não realizaram reformas pretendidas pela

população, além de muitos movimentos que se despontam lutando pela independência política de alguns

países, como é o caso da Bélgica e Polônia. Outro fator importante para a efervescência política do

proletariado tanto da França quanto de outros países europeus na década de 1840, do século XIX, foi a

crise econômica gerada pela baixa colheita de produtos agrícolas, bem como da própria indústria têxtil

que superproduziu e não encontrou mercado. Essa crise desencadeou o aprofundamento das precárias

condições de vida e trabalho dos operários, com perspectivas diferenciadas para cada país. Na França, o

movimento efervescente desencadeou no final dos anos 1840 uma das mais importantes rebeliões

proletárias, a Revolução de 1848, que soterrou o governo de Luís Felipe e instalou um governo

provisório. No entanto, a revolta foi abortada com uma Assembleia que delegou poderes ao general

republicano Cavaignac que reprimiu violentamente, causando a morte de dezesseis mil pessoas. 12

Para efeitos de compreensão, Marx utilizava comunismo e socialismo como sinônimos. Mas, para

alguns, após a derrocada do capitalismo, o socialismo deverá ser o sistema transitório a ser implementado

para criar as condições para o comunismo. Nele, há a abolição da propriedade privada dos meios de

produção e a constituição da “Ditadura do proletariado”, tática a ser adotada na concepção marxiana, na

qual os trabalhadores tomam o Estado e o dirigem visando a diminuição das desigualdades sociais. No

Page 30: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

29

período (GOHN, 2008, 2010). A partir da década de 1970, o estudo dos movimentos

sociais ganhou visibilidade na sociologia, principalmente porque nesses anos há o

aprofundamento de uma efervescência política destes na sociedade, inclusive com a

atuação do Movimento Feminista, do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e

Travestis (LGBT), o próprio Maio de 1968 que é o principal marco histórico para o

Movimento Estudantil.

Explicamos que a conceituação dos MSs é bastante diversa, principalmente

por dois motivos: 1) essas produções teóricas têm levado em consideração as realidades

particulares de cada contexto político, econômico, social e cultural; 2) a teoria dos MSs

tem sido pensada e debatida no interior de campos de estudo teóricos diversos, como o

materialismo histórico-dialético, escola de Frankfurt, fenomenologia, interacionismo,

correntes hermenêuticas, ciências da linguagem e da cognição, teorias da comunicação,

dentre outros (GOHN, 2008, 2010).

Nas análises dos MSs propostas por Gohn (2008), a autora constrói alguns

paradigmas13

conceituais que desenham as realidades históricas particulares de

desenvolvimento destes estudos, levando em consideração a atuação destes

movimentos. Por sua vez, como não se constitui objeto deste trabalho aprofundar as

diversas teorias que envolvem esses paradigmas, faremos algumas considerações que

são fundamentais para a compreensão inicial dos MSs.

De forma resumida, podemos dizer que temos as seguintes grandes

correntes teóricas no estudo dos MSs: a histórico/estrutural; a culturalista/identitária; a

institucional/organizacional/comportamentalista (GOHN, 2010). Com relação à

comunismo, o próprio Estado se destrói e há a igualdade entre todos, sem classes sociais e Estado. No

entanto, atualmente socialismo e comunismo têm algumas diferenças práticas, pois a partir de 1917 do

século XX, o socialismo passou a ser compreendido como uma reforma gradual do capitalismo, em um

modelo que diminua a disparidade entre ricos e pobres. Já o comunismo defende que a revolução se

consolidaria com a luta armada, que poria fim a classe burguesa. 13

Para aprofundar o estudo sobre os MSs, sugerimos o livro de Maria da Glória Gohn “Teorias dos

Movimentos Sociais-Paradigmas clássicos e contemporâneos” (2008). A referida autora constrói três

paradigmas conceituais no estudo dos MSs: Paradigma Norte americano; os Paradigmas Europeus sobre

os estudos do MSs; Paradigma Latino-americano.

De acordo com Silva (2008, p. 17): “[...] cada paradigma corresponde a uma corrente teórico-

metodológica composta por teorias elaboradas a partir de realidades particulares, que se apresentam por

certas especificidades. Essas realidades são pensadas a partir da dimensão geográfico-espacial. Gohn as

apresenta como paradigmas que se constituíram nas diferentes realidades. Em sua análise ela destaca as

peculiaridades desses paradigmas pensados através de uma relação com as realidades da América do

Norte, da Europa e da América Latina. Para a referida autora cada uma dessas realidades se configura a

partir de um contexto histórico e de lutas diferenciados. Esses contextos manifestam dinâmicas de

movimentos sociais, que vão corresponder a certos paradigmas. Daí que para a autora esses paradigmas se

estabeleçam pelas especificidades de cada uma dessas realidades”.

Page 31: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

30

primeira, esta toma como base as produções de Marx, Gramsci, Lefebvre, Rosa de

Luxemburgo, Trotsky, Lênin, Mao Tsé-Tung etc.

Compreende-se que as análises e estudos de Marx sobre os movimentos

sociais dos trabalhadores, no século XIX, deu embasamento teórico as análises tidas

como clássicas nas pesquisas dos movimentos sociais no século XX. Nesse sentido, os

estudos marxistas sobre os movimentos sociais voltaram-se essencialmente para o

estudo do movimento operário. Para Gohn (2010, p. 28):

O paradigma teórico mais amplo era o do processo de mudança e de

transformação social. Havia a crença, fundada em análises objetivas da

realidade social, na existência de um sujeito principal daqueles processos,

dado pela classe trabalhadora. Consequentemente, a maioria dos estudos

empíricos teve como objeto o movimento operário ou camponês, os

sindicatos e os partidos políticos. Como as categorias da organização da

classe e o processo de formação da consciência social eram centrais no

modelo de projeto da sociedade que se desenhava e aspirava-se como ideal,

não havia muita preocupação com a diferenciação entre movimento social e

político. As organizações eram vistas como suportes dos movimentos. O

tema da desigualdade social estava posto em contraposto ao da igualdade e da

emancipação da classe explorada [...].

Desse modo, os estudos produzidos sob a perspectiva marxista, até os anos

1950, relacionavam o conceito de movimento social ao de luta de classes e

subordinavam ao próprio conceito de classe, que era central em toda análise. Em sua

grande maioria, relacionava os movimentos sociais na questão reforma ou revolução.

Assim, os movimentos eram analisados ou como reformistas, reacionários ou

revolucionários (GOHN, 2010; HOBSBAWN, 1970). Embora outras correntes tenham

surgido e ganhado visibilidade, os estudos marxistas na contemporaneidade têm

assegurada ainda sua importância, principalmente por serem consideradas as principais

teorias orientadoras dos MSs.

A segunda corrente, chamada de culturalista-identitária, é influenciada por

diversas outras teorias, como as de Kant, Rousseau, Nietzsche, as teorias utópicas e

libertárias do século XIX, a fenomenologia, a sociologia de Weber, a Escola de

Frankfurt e as teorias críticas. Para Gohn (2010, p. 29):

Esta corrente construiu a chamada novidade dos „novos movimentos sociais‟

ao destacar que as novas ações abriam espaços sociais e culturais, eram

compostas por sujeitos e temáticas que não estavam na cena pública ou não

tinham visibilidade, como mulheres, jovens, índios, negros etc.

Page 32: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

31

Touraine14

, Melucci (1980), Offe (1983), Eder (2002) e outros, são

considerados os principais teóricos que produziram seus estudos tomando como base

esta corrente na análise dos movimentos sociais. Esses autores enfatizaram a identidade

desses grupos e criticaram as abordagens estruturais marxistas, que se voltavam

exclusivamente para as ações da classe operária e dos sindicatos e não levavam em

consideração outras organizações coletivas. Segundo Gohn (2010, p. 30), a presente

corrente fez críticas ao marxismo, contudo “[...] tiveram com o marxismo um diálogo

permanente [...], o grande saldo desta corrente foi apresentar ao mundo a capacidade

dos movimentos sociais de produzir novos significados e novas formas de vida e ação

social”.

O que se percebe nesta corrente é a aproximação de uma vertente mais

construtivista no estudo desses movimentos sociais, que se diferenciam dos estudados

pelo paradigma estruturalista. Neste sentido, a referida teoria analisou o movimento

estudantil, de mulheres, gays, lésbicas, gênero, minorias raciais, culturais, dentre outros.

Contudo, detendo-se apenas na apreensão da identidade desses grupos como uma

novidade deles sem relacioná-los a classe social (GOHN, 2008). A referida estudiosa

(2008, p. 23) argumenta que o estudo da corrente culturalista/identitária é importante

porque resgata as primeiras teorias dos MSs, principalmente para entender vários

conceitos que estão sendo retomados nos anos 1990 pelo próprio paradigma norte-

americano. Desse modo, esta corrente demarca um período em que “o que há de novo

realmente é uma nova forma de fazer política e a politização de novos temas” (GOHN,

2008, p. 124)

A terceira e última, chamada de institucional/organizacional

comportamentalista, desenvolveu-se, sobretudo, nos Estados Unidos, mas teve

influência em muitos adeptos da Europa, principalmente na Inglaterra - onde

predominou sob o nome de abordagens neoutilitaristas. Holanda e Alemanha também

assimilaram bastante influência (GOHN, 2010, 2008). Esta corrente tem origem em

algumas teorias liberais do século XVII e XVIII (Adam Smith, John Locke, etc), nos

utilitaristas, na antropologia e na sociologia norte-americana de R. Merton, Radcliffle

Brown e Parsons. De acordo com Gohn (2010) as mobilizações eram analisadas

segundo uma óptica econômica em que os fatores tidos como objetivos são: a

organização, os interesses, os recursos, as oportunidades e as estratégias; ou segundo

14

Dos anos 1960 do século XX até a contemporaneidade.

Page 33: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

32

uma ótica sociopsicológica, a partir das análises estrutural-funcionalistas. Sobre os

estudos sociopsicológicos, a autora (2008, p. 24) discorre:

A ideia da anomia social estava sempre muito presente, assim como

explicações centradas nas reações psicológicas às frustrações e aos medos, e

nos mecanismos de quebra da ordem social vigente. Estes elementos, aliados

às ideologias homogeneizadoras, eram precondições importantes para a

emergência dos movimentos sociais. O sistema político era visto como uma

sociedade aberta a todos, plural [...]. Mas os movimentos sociais não teriam a

capacidade de influenciar aquele sistema devido a suas características

espontâneas e explosivas, somente os partidos políticos, os grupos de

interesses e alguns líderes [...]. Toda ação coletiva extrainstitucional,

motivada por fortes crenças ideológicas, parecia ser antidemocrática e

ameaçadora para o consenso que deveria existir na sociedade civil.

Os teóricos desta corrente que mais se destacaram foram: Smelser (1962).

Na Inglaterra, Wilkinson (1971), Banks (1972) e Wilson (1973). Para Gohn (2010, p.

30), “nesta corrente, de certa forma, um movimento atingia seus objetivos quando se

transformava numa organização institucionalizada [...]”.

Contudo, na década de 1960, o paradigma comportamentalista, no qual se

localizam as teorias institucionais, passou por uma reatualização crítica, a qual originou

uma nova teoria, a da Mobilização de Recursos (MR), em que merecem destaque os

trabalhos de Olson (1965), Oberschall (1973), Mayer (1973), dentre outros. A partir daí,

“a psicologia foi rejeitada como foco explicativo básico das ações coletivas, [...] como

todas as análises centradas no comportamento coletivo dos grupos sociais e a visão dos

movimentos sociais como momentos de quebra das normas daqueles grupos” (GOHN,

2008, p. 49).

Ao falarmos um pouco dos estudos sobre os movimentos sociais na América

Latina, a maior parte deles são influenciados pela vertente marxista estruturalista de

Castells e a dos “Novos Movimentos Sociais” (NMS) em suas várias correntes (GOHN,

2008).

Desse modo, analisar as condições de emergência dos movimentos sociais

neste continente é fundamental para compreender a condição econômica e política

dependente15

deste aos países de capitalismo avançado. Segundo Gohn (2008, p. 211):

15

Para entender mais sobre a teoria da dependência, sugerimos o vídeo sobre a história de Rui Mauro

Marini, intelectual revolucionário que criou a teoria dialética da dependência e os conceitos de

superexploração e sub imperialismo, para entendermos a configuração do capitalismo na América Latina

e sua condição de subordinação econômica e política aos países centrais. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=ww4_HoY-UYA&hd=1. Acesso em: 27 ago. 2014.

Page 34: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

33

Falar de um paradigma teórico latino-americano sobre os movimentos sociais

é mais uma colocação estratégica do que real. O que existe é um paradigma

bem diferenciado de lutas e movimentos sociais, na realidade concreta,

quando comparado com os movimentos europeus, norte-americanos,

canadenses etc., e não um paradigma teórico propriamente dito.

O estudo dos movimentos sociais na América Latina, dessa maneira,

especialmente no século XIX, está relacionado à atuação dos movimentos sociais

clássicos e aos movimentos de libertação nacional16

. Contudo, no século XX,

emergiram os chamados “Novos Movimentos Sociais” 17

(NMS), ora vistos como

movimentos complementares aos movimentos clássicos, somando-se às lutas dos

trabalhadores, ora vistos como alternativos a esses movimentos, substituindo tais lutas

(MONTAÑO E DURIGUETTO, 2011).

No Brasil e na América Latina, os NMS eclodiram a partir da década de

1970 em decorrência do movimento operário não ter conseguido se articular com as

demandas de diferentes grupos políticos relacionados à questão de gênero, racial, dos

homossexuais, entre outros. Segundo Birh (1998), esses movimentos eram “antiEstado”

e “antipartidos políticos”, dessa forma, rechaçavam as organizações operárias. Não

questionavam diretamente as relações capitalistas, no máximo, as condições sociais

secundárias, fazendo com que suas lutas não se constituíssem como anticapitalistas e

fossem localizadas, não se articulando com a luta do proletariado, o que contribuiu para

fortalecer ainda mais o capitalismo.

As particularidades do continente latino-americano, sobretudo de nosso

país, revelam ainda que tem sido importante apreender as diferenças entre o conceito de

movimento social e o de mobilização social, pois, de acordo com Montaño e Duriguetto

(2011, p. 264), um movimento social pressupõe uma organização contínua, a qual

supera a de uma mobilização social:

Uma „mobilização social‟ remete a uma atividade, que se esgota em si

mesma quando concluída. Mobilização pode ser uma ferramenta do

movimento; também uma mobilização pode se desdobrar em outras até

formar um movimento; mas em si, mobilização não necessariamente significa

uma organização nem constitui um movimento social.

16

Existem os movimentos clássicos, que estão imersos diretamente na relação capital x trabalho, que

direcionam as lutas de forma mais imediata, buscando regulamentar as relações de trabalho, constituindo-

se nos movimentos sindicais e trabalhistas e os movimentos de libertação nacional, socialistas, anti-

imperialistas que buscam a superação desse sistema (Montaño & Duriguetto, 2011). 17

O adjetivo “novos” é utilizado, porque se refere a Movimentos Sociais mais contemporâneos.

Page 35: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

34

No contexto contemporâneo, a partir dos anos 1990, há uma reconfiguração

dos movimentos sociais, os quais vão ampliar e apreender novas formas de participação

na sociedade, daí teremos movimentos urbanos, de mulheres, negros, lésbicas,

homossexuais, ecológicos, de direitos humanos e outros disputando espaços como

fóruns de discussão, plenárias, conselhos gestores, conferências, ONGs, entidades

profissionais e acadêmicas, entidades sindicais, assessorias, partidos e organizações de

esquerda, universidades, mídia e setores estatais, visando relacionar essas temáticas aos

interesses coletivos e de direitos da população, com o objetivo de aprofundarem a

democracia (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

Da mesma forma, estes referidos autores diferenciam ainda a categoria de

“movimento social” de “Organização Não Governamental (ONG)”, principalmente a

partir dos anos 1990 com a expansão do Terceiro Setor como uma estratégia de

desresponsabilização do Estado e responsabilização da sociedade civil frente à “questão

social”. É necessário compreender o MS e a ONG como organizações de naturezas

políticas diferentes. A perspectiva de atuação do movimento social busca a autonomia e

emancipação política sustentada num grau de identidade dos sujeitos inseridos, isto é, as

reinvindicações são advindas de um sentimento de identidade de classe, as quais são

propostas, diretamente pelos próprios sujeitos envolvidos a partir de sua realidade

sócio-histórica, que se diferencia das realidades das ONGs, na qual os sujeitos mantêm,

muitas vezes, uma relação trabalhista ou voluntária e que se mobilizam não por suas

reinvindicações, mas pelas de terceiros (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

Portanto, a América Latina apresenta muitos elementos particulares para o

estudo dos movimentos sociais, especialmente pela sua diversidade cultural, pelas

formas diversas de reprodução da vida social, da organização política dos trabalhadores

em uma realidade peculiar de exploração da força de trabalho.

Em consonância com Montaño e Duriguetto (2011), Gohn (2008) concorda

que os estudos sobre os movimentos sociais exigem que eles deem conta das

especificidades históricas de cada contexto que as originam. Embora, resumamos que a

análise geral dos movimentos sociais tem se constituído de forma imprecisa, a nossa

perspectiva de MSs e do próprio Movimento Estudantil do Ensino Superior, está situada

nas análises estruturalistas, em uma leitura histórico-dialética, na qual as lutas sociais

mais gerais estão circunscritas no campo da luta de classes, na totalidade da vida social.

Portanto, para compreender o ME no interior desse debate, foi inicialmente

oportuno resgatar estes paradigmas conceituais que facilitam nossa compreensão na

Page 36: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

35

análise dos MSs. No próximo tópico abordaremos a compreensão do movimento

estudantil do Ensino Superior e sua relação com algumas teorias que envolvem o estudo

dos movimentos sociais.

3.1.1 O Movimento Estudantil do Ensino Superior e o debate dos Movimentos Sociais

Os movimentos sociais na análise marxista, a qual diverge dos paradigmas

comportamentalista e pós-moderno culturalista, são considerados uma manifestação da

“luta de classes”18

na sociedade, pois expressam contestação ao modelo de sociedade

que está posto, conforme explica Silva (2008, p. 30-31):

[...] Um Movimento Social deve ser entendido como uma ação prática

revolucionária e transformadora, conduzida por um projeto coletivo, projeto

este que expressa interesses comuns, mas acima de tudo apontam para uma

mudança social posta por sujeitos que estabelecem relações entre si. Cabe

destacar ainda que enquanto ação transformadora esta atividade prática

humana é mediada por condições objetivas, materiais, constitutivas dessa

realidade a que a ação visa transformar.

Para os marxistas clássicos, a tarefa dos movimentos sociais é buscar a

transformação com a eliminação da sociedade de classes, pois de acordo com Vechia

(2012) a luta de classes deve ser o centro das demais lutas sociais e para a

transformação social é necessário à existência de uma vanguarda19

, que no marxismo é

composta pelos operários organizados em partidos e sindicatos.

Em um marxismo “reatualizado”, a ideia de MSs está relacionada ao

processo que visualiza muitas lutas sociais em contextos nos quais as classes estão

permanentemente disputando e influenciando a conjuntura e a estrutura social

(VECHIA, 2012). Uma vez que, segundo Rodrigues (2008, p. 25), “[...] os movimentos

18

Segundo a tradição marxista, as “lutas sociais” gerais são consideradas derivações, manifestações,

desdobramentos específicos das “lutas de classes”, e delas constitutivas, “[...] na medida em que as

questões específicas em torno das quais se organizam e lutam são entendidas como manifestações

variadas da central „questão social‟ (fundada na contradição capital-trabalho) (MONTAÑO E

DURIGUETTO, 2011, p. 118)”. Desse modo, para os referidos autores citados, as lutas pela igualdade de

gênero, racial, pelos direitos humanos, luta por uma creche ou demandas específicas de uma comunidade,

lutas diferentes a partir dos seus campos de atuação, da sua organização, dos seus objetivos, que são mais

pontuais e não precisam esperar a mudança do sistema econômico-político, mas que não deixam de serem

lutas constitutivas da luta de classes. 19

Vanguarda na concepção leninista está ligada a ideia de uma organização revolucionária dos

trabalhadores, pois segundo Ianni (1968, p. 236) “[...] é o proletariado que fornece aos membros de outras

classes as possibilidades de compreensão das condições e tendências de existência social. É a situação

típica da classe operária que abre possibilidades à consciência social, tanto dos próprios membros como

de elementos de outras classes”.

Page 37: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

36

sociais desempenham o papel de reforçar a luta contra questões que são reflexo do

sistema, mesmo não se articulando primeiramente com o econômico [...]”, inclusive a

autora argumenta que, por o ME se inserir na luta anticapitalista, podemos compreendê-

lo como Movimento Social.

Desse modo, a organização do ME e de outras organizações, por exemplo,

que pautam a luta contra o machismo, racismo, homofobia, são expressões da

contradição capital x questão social e que demonstram as variadas formas dos sujeitos

enfrentarem esta sociedade. Dessa forma, a atuação do ME não nega essa contradição,

na verdade ele confirma, pois nenhum movimento social na perspectiva marxista pode

ser pensado sem considerar as esferas política e econômica.

Para alguns autores, o Movimento Estudantil, quando não se limita a pautas

corporativas, mas articula-se e reivindica as lutas mais gerais dos trabalhadores, adquire

um caráter de movimento social de classe. Em contrapartida, é preciso entender que se

trata de um MS com características peculiares em relação a outros movimentos,

principalmente por ser um movimento juvenil e, portanto, transitório em que há uma

rotatividade de seus membros em relação a outros movimentos, dificultando manter a

continuidade da atividade, organização, inclusive do programa e da ideologia, como

constatou Hobsbawn (1985) acerca dos movimentos juvenis.

No entanto, segundo Guimarães (2011, p. 138), essa transitoriedade se

refere ao fato de que os sujeitos militam por um dado período de tempo em que estão na

escola20

ou na universidade e que, portanto, refere-se aos militantes e não ao

movimento, uma vez que:

[...] O processo de disputa por uma educação voltada para a transformação e

construção de uma nova sociabilidade, sem dúvida, transcende trajetórias

individuais. Daí termos a convicção de que a transitoriedade se refere de fato

aos sujeitos que militam no ME e de forma alguma ao movimento estudantil

em si.

Embora os estudantes permaneçam por um período determinado, a autora

supracitada comenta que a militância no ME não deixa de ser um espaço formador, pois

muitos estudantes desenvolvem posteriormente sua militância em outros espaços

organizados.

20

Refere-se ao Movimento Estudantil Secundarista.

Page 38: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

37

No que toca ao caráter policlassista, existem muitas divergências, pois

algumas análises e organizações do movimento argumentam que esse policlassismo21

significa que “[...] o movimento representa ou defende os direitos de várias classes [...],

mas o Movimento Estudantil [...] tem um direcionamento político classista,

anticapitalista, de defesa da classe trabalhadora e de uma outra sociedade” (MICHILES,

2014, p. 37).

Por ser considerado um movimento da área da educação, o qual reivindica

outro modelo de universidade, o ME tem buscado estratégias para denunciar a histórica

contradição de classe no acesso aos níveis de ensino da educação formal posta, acirrada

principalmente no Ensino Superior. Chauí (2003, p. 13) reflete com muita propriedade

sobre essa questão:

[...] A baixa qualidade do ensino público nos graus fundamental e médio tem

encaminhado os filhos das classes mais ricas para as escolas privadas e, com

o preparo que ali recebem, são eles que irão concorrer em melhores

condições às universidades públicas, cujo nível e cuja qualidade são

superiores aos das universidades privadas. Dessa maneira, a educação

superior pública tem sido conivente com a enorme exclusão social e cultural

dos filhos das classes populares que não têm condições de passar da escola

pública de ensino médio para a universidade pública. Portanto, somente a

reforma da escola pública de ensino fundamental e médio pode assegurar a

qualidade e a democratização da universidade pública. A universidade

pública deixará de ser um bolsão de exclusões sociais e culturais quando o

acesso a ela estiver assegurado pela qualidade e pelo nível dos outros graus

de ensino público.

Desse modo, no contexto de uma democratização privatizada no acesso ao

Ensino Superior, iniciada no Brasil nos anos 1990, Chagas (2006, p. 3) pontua que “[...]

o ME deve [...] formar militantes comprometidos com as lutas do povo [...]; e massificar

em torno de um novo projeto de sociedade e na construção de uma nova universidade”.

Resumidamente, podemos dizer que o Movimento Estudantil se apresenta

como um movimento social, porque não se limita às demandas específicas, pois sua

trajetória de organização política revela que este movimento buscou, através da

articulação com outros movimentos e outros sujeitos, defender bandeiras sociais mais

gerais. Como um movimento da área da educação faz a defesa da universidade pública,

da real democratização do acesso às universidades, inclusive com políticas de

21

Parece-nos que algumas análises compreendem que o caráter policlassista está relacionado às diversas

classes originárias dos estudantes, inclusive Chagas (2006) desenvolve uma concepção sobre o “suicídio

de classe”, isto é, que a partir da vivência no ME os estudantes desenvolvem uma consciência política de

identidade com a classe trabalhadora. Já outras análises entendem esse caráter com relação às bandeiras

de luta do movimento, o que acarreta em algumas críticas na própria categoria.

Page 39: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

38

permanência, lutando por uma formação profissional de qualidade e referenciada pela

sociedade (CHAGAS, 2006).

3.2 A Trajetória da Organização Política do Movimento Estudantil no Brasil

Para examinarmos historicamente o MESS, antes será necessário

compreendermos a organização do ME de modo mais geral. Primeiramente, constata-se

que o surgimento e a atuação desse movimento na América Latina estiveram mais

direcionados a um processo de resistência diante de um cenário marcado pela

dominação econômica e política do continente pelas grandes metrópoles, nos quais

diversas rebeliões já reivindicavam a soberania das colônias. Como parte disso, no

Brasil, Poerner (2004, p. 45) coloca:

O conflito de gerações existe no Brasil, como em quase todo o mundo. Mas,

em nosso país, deixa de ser simples conflito para se transformar em rebelião

social da juventude, quando o „velho‟, aos olhos do jovem, deixa de ser um

„quadrado‟ para se transformar num reacionário.

Outro ponto que merece destaque é o fato de que, diferentemente do

contexto da América Hispânica, onde universidades católicas foram criadas já no século

XVI, até início da colonização, o Brasil não tinha universidades nem outras instituições

de ensino superior durante todo o período colonial. Logo, uma das principais lutas desse

movimento consistiu pela implementação dessa modalidade de ensino no país, já que

segundo Durham (2003 p. 3)22

:

A política da coroa portuguesa sempre foi a de impedir a formação de

quadros intelectuais nas colônias, concentrando na Metrópole a formação de

nível superior. Foi apenas no início do século seguinte, em 1808, quando a

Coroa portuguesa, ameaçada pela invasão napoleônica da Metrópole, se

transladou para o Brasil com toda a corte, que teve início a história do ensino

superior no país.

Contudo, conforme Poerner (2004, p. 58), naquela época o ME atuava de

forma mais isolada e em pequenos grupos e não havia a intensidade e a organização que

o movimento só viria a adquirir nos anos 1920. Conforme visto e que converge também

com a análise do referido autor, a participação dos estudantes brasileiros nas lutas

22

Sugerimos o Documento de trabalho do Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior (NUPES/USP)

(2003), intitulado “O Ensino Superior no Brasil: público e privado”, Núcleo coordenado pela

pesquisadora Eunice Durham. O documento contribui para a compreensão do surgimento do Ensino

Superior no Brasil, tanto na perspectiva do público quanto do ensino privado. Disponível em:

http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt0303.pdf Acesso em 18/09/2014.

Page 40: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

39

sociais precede mesmo à independência política do país, pois constatamos que se

organizaram muitas revoltas a favor da abolição da escravatura, na Proclamação da

República, na Revolução Farroupilha em 1835 e, na Sabinada em 1837, além de outras

posteriores.

A criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 13 de agosto de

1937, na Casa do Estudante do Brasil, durante o Estado Novo23

de Getúlio Vargas,

revelou-se como a mais importante estratégia de sistematização do Movimento

Estudantil “[...] quanto à necessidade da organização em caráter permanente [...]. A

UNE representa, sem qualquer dúvida, o mais importante marco divisor dessa

participação ao longo da nossa história” (POERNER, 2004, p. 119), tendo em vista que

as organizações universitárias estavam mais direcionadas apenas a problemas

específicos e pontuais, o que acarretava em uma atuação transitória, fragmentada e

descontínua.

Outra característica comum das organizações anteriores a UNE dava-se pelo

seu caráter regionalista, que criava um isolamento entre os Estados que compunham a

Federação de Estudantes Brasileiros (FEB), assim como a Sociedade Filomática

Paulista e o Centro de Acadêmicos Carioca, entidades anteriores, porém sua atuação não

ultrapassava o espaço da escola e/ou faculdade em que tinham sede.

No que se refere às lutas diretamente relacionadas à universidade, a década

de 1950 em diante revela que o ME através da UNE já reivindicava reformas para o

Ensino Superior, principalmente em torno da ampliação de vagas, pois as universidades

não conseguiam absorver o número considerável de candidatos excedentes, constituído

por estudantes aprovados nos exames vestibulares que não podiam ser admitidos por

falta de vagas (DURHAM, 2003). Na segunda metade desta década, o movimento se

concentrou na discussão que se encaminhava no Congresso para a votação da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), prevista na Constituição de 194624

,

23

O Estado Novo foi um período ditatorial que durou de 1937 a 1945 no Brasil, implantado no governo

de Getúlio Vargas. Temendo o avanço das forças populares, Getúlio Vargas com o apoio das Forças

Armadas invalidou o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as demais Câmaras

Municipais, simultaneamente impondo ao povo brasileiro uma nova Constituição, que ficou conhecida

como “Polaca”, por ter se baseado na Constituição da Polônia, partidária do fascismo. 24

Sampaio (2000) mostra que no governo Vargas foram criadas somente três universidades: duas

públicas e uma católica (a do Rio de Janeiro fundada em 1944), no período seguinte, entre 1946 e 1960

(antes da reforma de 1960) foram criadas outras 18 públicas e 10 privadas. Esses últimos dados

demonstram que no Brasil o ensino superior privado desenvolveu-se de forma concomitante ao setor

público.

Page 41: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

40

que reorganizou o sistema político após a derrocada do Estado Novo. Acerca disso,

Durham (2003, p. 12) comenta:

Os estudantes, junto com os setores liberais e de esquerda da intelectualidade,

defendiam uma reforma profunda de todo o sistema educacional que alterasse

toda a estrutura existente e rompesse com o modelo que resultara dos

compromissos do Estado Novo. No ensino superior, o que se pretendia era a

expansão das universidades públicas e gratuitas, que associassem o ensino à

pesquisa, as quais deveriam ser um motor para o desenvolvimento do país,

aliando-se às classes populares na luta contra a desigualdade social. Os

estudantes reivindicavam, inclusive, a substituição de todo o ensino privado

por instituições públicas. Esta reivindicação chocava-se frontalmente com os

interesses do setor privado, dominado por escolas superiores autônomas de

tipo tradicional, que temia um cerceamento na sua liberdade de expansão e se

opunha a um projeto de dominância das universidades públicas.

Durham (2003) explica ainda que em decorrência do processo de

modernização das cidades houve um crescente envolvimento dos estudantes

universitários nas lutas contra o imperialismo25

, o capitalismo, o latifúndio, defendendo

o nacionalismo, o desenvolvimento, a erradicação do analfabetismo, a reforma agrária, a

democracia popular, a educação popular e a cultura popular. Tanto que, nesse período,

Montaño e Duriguetto (2011, p. 287) colocam:

Desde sua criação até a década de 1950, o movimento estudantil, mediante

atuação da UNE, participou de lutas importantes no cenário político nacional

como das mobilizações contra o Estado Novo; a campanha pelo ingresso do

Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos aliados, a chamada

„campanha contra o eixo‟; a defesa do patrimônio territorial e econômico do

país expressa por meio da campanha „O petróleo é Nosso‟, entre outras ações.

Embora todos esses fatos se revelem como importantes elementos para o

estudo do ME no Brasil, o período da ditadura militar é, sem dúvida, um momento

particular para compreender a organização política e a resistência dele, pois segundo

Montaño & Duriguetto (2011) em face do aparato repressivo-militar, houve uma

acirrada criminalização do movimento estudantil e de muitos movimentos sociais, que

foram colocados na clandestinidade. O regime militar promoveu inúmeras prisões,

torturas e assassinatos de presos políticos, bem como levou alguns militantes políticos

25

Segundo Netto e Braz (2012) o estágio imperialista do capitalismo, gestou-se nas últimas três décadas

do século XIX, percorreu todo o século XX e permanece no XXI. Sua forma típica é a monopolista, no

qual as pequenas e médias empresas estão sucumbidas às pressões das grandes empresas monopolistas.

Nesse estágio o capital financeiro promove uma oligarquia financeira constituída por um pequeno grupo

de grandes capitalistas (industriais e banqueiros) que detêm o poder econômico nos seus países e fora

deles. Além da influência econômica, mantém uma influência política em nível nacional e internacional.

Outra característica importante do estágio imperialista é o desenvolvimento da indústria bélica para

colaborar na aquisição de territórios em contextos de guerra.

Page 42: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

41

ao exílio. Esse período é marcado por uma efervescência política, por diversas ações de

resistência pedindo o fim da ditadura no país, devido aos abusos cometidos, tais como:

proibição de greves, fechamento de sindicatos, dentre outros.

Em 1968, ocorreu um protesto dos estudantes com relação ao Calabouço,

restaurante universitário e casa de estudantes no Rio de Janeiro. Havia a intenção por

parte do regime em fechar o restaurante, que deixou muitos sem poder estudar, a partir

disso os estudantes se organizaram e promoveram sucessivas mobilizações, mas as

tropas militares invadiram o restaurante e assassinaram o estudante secundarista Edson

Luís, o que acabou gerando intensos protestos, inclusive uma marcha à Assembleia

Legislativa do Rio de Janeiro, que denunciava o assassinato do secundarista. Neste

cenário de extrema criminalização dos movimentos sociais, o movimento estudantil

realizou ações contra a repressão e a política educacional do governo, principalmente na

ocupação de reitorias (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2011).

A famosa Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, reuniu diversos

segmentos da sociedade civil, como estudantes, artistas, intelectuais e ativistas de

diversos movimentos sociais, ocupando as ruas do Rio de Janeiro, que protestavam

contra a abusiva repressão da ditadura e reivindicando o processo de redemocratização

do país. Um dos principais acontecimentos que ilustra o que significou os “anos de

chumbo” para o ME diz respeito ao 30º Congresso da UNE, realizado em 1968 na

cidade de Ibiúna (SP). Neste Congresso, os estudantes receberam a visita de Carlos

Marighela, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN)26

e um dos principais procurados

na ditadura, porém as autoridades militares invadiram o local e praticamente todos os

congressistas e líderes do movimento estudantil foram presos (MONTAÑO &

DURIGUETTO, 2011).

Além da efervescência do ME no Brasil e na América Latina, tivemos

vários conflitos protagonizados pelo Movimento Estudantil na Europa e nos Estados

Unidos, a luta contra o imperialismo norte-americano e a intervenção deste no Vietnã,

consistia nas principais bandeiras unificadoras do movimento em diversos países. O

“Maio Francês de 1968” foi o mais importante marco histórico de luta do ME, que

aliado aos trabalhadores realizou uma greve geral que naquele período quase derrubou o

regime militar do general De Gaulle. Esse movimento foi responsável por colocar na

cena política movimentos diversos como os de mulheres, de negros, dentre outros.

26

Em 1967 Carlos Marighela fundou a ALN, após romper com o Partido Comunista Brasileiro (PCB),

depois que este se manifestou contrário à luta armada. Essa organização revolucionária surgiu porque o

grupo entendia que somente uma ação armada poria fim ao regime militar no Brasil.

Page 43: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

42

No Brasil, no ano de 1969, a Lei nº 477 estabeleceu greves e mobilizações

estudantis como atos infracionais cometidos por docentes, discentes e funcionários das

instituições de ensino no país (MONTAÑO E DURIGUETTO, 2011). A forte

repreensão, através do Ato Institucional - (AI 5), contribuiu para um recuo nas lutas do

movimento e é somente em 1975 que há o reaparecimento do movimento estudantil,

ocupando reitorias, participando de passeatas, greves, reivindicando a redemocratização

de forma articulada com outros setores organizados da sociedade.

3.2.1 E o Movimento Estudantil de Serviço Social?

No que diz respeito ao MESS, existe um vazio no registro da história de sua

atuação política antes do período ditatorial no país, uma vez que muitos documentos

foram perdidos com o regime militar.

Sabe-se que, no ano de 1978, cerca de 24 escolas de Serviço Social

participaram do I Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESS), que se

realizou na cidade de Londrina-PR, promovido pelo Centro Acadêmico (C.A.) da

Universidade Estadual de Londrina (UEL). O Encontro teve como tema: “O Serviço

Social e a Realidade Brasileira”. O evento foi marcado pelo debate sobre a profissão, a

universidade e outros temas. A partir dele, percebeu-se a necessidade e importância de

debater a formação profissional e a construção de um currículo mínimo para o curso de

Serviço Social, inclusive sendo deliberada uma comissão nacional para debate e

encaminhamentos do currículo e ainda para a organização do II ENESS (RODRIGUES,

2008).

No ano seguinte, precisamente em maio de 1979, a comissão nacional se

reuniu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foram definidas algumas

ações que teriam como objetivo conferir ao MESS uma maior organicidade. Umas delas

foi a divisão do MESS brasileiro em sete regiões. Cada região deveria realizar

anualmente o Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social (ERESS). Após cada

ERESS ocorreria uma reunião da comissão, na qual se chegaria a um consenso sobre o

que foi estabelecido nas reuniões regionais e se definiria a agenda para o próximo

ENESS. Essa reunião, no ano seguinte, foi chamada de Conselho Nacional das

Entidades Estudantis de Serviço Social-CONESS (RODRIGUES, 2008).

No mesmo ano, ainda em 1979, ocorre o II ENESS na cidade de Salvador-

BA, organizado pelo Diretório Acadêmico (D.A.) da Universidade Católica de Salvador

Page 44: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

43

(UCSAL). Em tal período, a conjuntura brasileira é marcada pelo processo de reabertura

democrática, inclusive com a revogação do AI-5. Neste encontro são criadas novas

instâncias deliberativas além do CONESS, como a Secretaria Executiva Nacional27

formada pela escola sede do ENESS e por uma escola representante de cada região, a

chamada escola-polo. Ainda em 1979, é realizado também o congresso de reconstrução

da UNE, que foi a “[...] primeira entidade organizativa de âmbito nacional com caráter

de massa a se reorganizar nessa conjuntura de democratização da sociedade civil

brasileira” (RAMOS, 1996, p. 65).

O ano de 1980 é marcado pela efervescência política dos movimentos

sociais. Neste contexto, os estudantes de Serviço Social realizam o III ENESS na

Universidade Católica de Minas Gerais (UCMG), realizado pelo Centro Acadêmico de

Serviço Social com o tema: ”Serviço Social: Formação Profissional e Intervenção na

Realidade”. Neste encontro foi definida uma proposta de currículo mínimo que deveria

ser levada à ABESS28

. Este evento marca a aproximação do MESS junto às entidades da

categoria (RODRIGUES, 2008).

No ano de 1981 começa-se a discutir a criação da Subsecretaria de Serviço

Social na UNE – SESSUNE. Neste mesmo ano o CONESS é realizado na Pontifícia

Universidade Católica PUC-SP e o IV ENESS na Universidade Federal de Pernambuco

(UFPE), com o tema: “Reconceituação do Serviço Social na Realidade Brasileira”.

Ocorreu ainda em setembro deste referido ano, a convenção da ABESS, que

corresponde a um marco entre a categoria e o MESS, pois neste evento houve mudanças

na estrutura da ABESS, que passou a ser formada por um vice-presidente (docente) e

um discente por região (ENESSO, 2006; RODRIGUES, 2008).

27

A ENESSO antes de ser fechada pela ditadura militar em 1968 era chamada de ENESS. Após a

reorganização no final da década de 1970, passou a ser a Secretária Executiva Nacional até 1988, quando

se torna SESSUNE (Subsecretária de Estudantes de Serviço Social da UNE). No ano de 1993, ela é

intitulada de ENESSO (Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social). 28

Em 1946, dez anos após a criação da primeira escola de Serviço Social no país (PUC-SP), foi criada a

Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social-ABESS. No ano de 1979, em uma convenção, esta

assume a tarefa de coordenar e articular o projeto de formação profissional, transformando-se em

Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social. Na segunda metade da década de 1990, a sigla mudou

para Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), justificada em função da

necessidade e defesa dos princípios da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão no ensino

superior e no curso de Serviço Social, bem como da “articulação entre graduação e pós-graduação, aliada

à necessidade da explicitação da natureza científica da entidade, bem como a urgência da organicidade da

pesquisa no seu interior”. Disponível em: <http://abepss.org.br/files/O-protagonismo-da-ABEPSS-no-

passado-e-no-presente.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2014.

Page 45: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

44

Em 1982 ocorre o V ENESS na cidade de Vitória-ES que teve como tema:

“Política Social e Intervenção do Serviço Social – Correlação teoria x prática”. Neste

momento, percebe-se que as discussões ainda se centravam a respeito do currículo e a

organização do movimento (ENESSO, 2006).

O VI ENESS, em 1983, é realizado em Belo Horizonte – MG, com o tema:

“Movimento Político Atual e a Formação Profissional”. Este foi o ano que começamos

a debater a formação profissional direcionada às demandas da classe trabalhadora. Neste

ano, o Brasil é atravessado por uma profunda crise econômica e marcado por grandes

mobilizações, como por exemplo, a “Campanha das Diretas Já”. Há um intenso

movimento de luta pela redemocratização do país (ENESSO, 2006).

No ano seguinte, ocorre o VII ENESS em Porto Alegre-RS, com o tema:

“Relações de Poder do Serviço Social na Sociedade Capitalista”. No ano de 1985, na

cidade de Brasília-DF, acontece o VIII ENESS, o qual centralizou suas discussões na

“Reforma Universitária e Organização Estudantil”, inclusive debatendo-se a criação de

uma entidade nacional de estudantes de Serviço Social (ENESSO, 2006).

No IX ENESS, com o tema “Novas propostas políticas dos estudantes de

Serviço Social frente à atual conjuntura” foram realizados três cursos: “Correntes

Teóricas do Serviço Social”; “História das Lutas Camponesas”; “História do

Movimento Operário Brasileiro”. A partir do evento, os encontros nacionais passam de

três para cinco dias. Ainda no ano de 1986, inicia-se o processo de implantação da

Assembleia Nacional Constituinte.

Em 198729

, houve a impossibilidade de ocorrer o X ENESS e na Convenção

da ABESS foi escolhida a UFRJ para sediar o X ENESS com o tema: “Se muito vale o

que já feito, mais vale o que será”. Em 1988 ocorre a promulgação da nova

Constituição, e no ENESS deste referido ano, foi criada e eleita a primeira gestão da

SESSUNE que ficou com sede na UFRJ, inicialmente sem o estatuto devido. Esta

gestão teve como principais atividades: a participação na organização do VI Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS)30

, que ocorreria no ano de 1989 e na

articulação do MESS da América Latina (ENESSO, 2006).

29

Na história do MESS, o ano de 1987 foi o único em que não foi possível a realização do ENESS, pois o

CASS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) não teve condições de organizar o

encontro. 30

O CBAS ocorre a cada três anos e é considerado um evento de natureza político-científica para a

profissão.

Page 46: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

45

A SESSUNE e o CALSS da Universidade Federal do Pará (UFPA)

organizaram e realizaram em 1989, na cidade de Belém-PA, o XI ENESS com o tema:

“Nimue Noasu” que corresponde “Aquele que constrói seu próprio caminho”. Este foi

um encontro em que prevaleceu a discussão acerca das estratégias e táticas para o

cotidiano do MESS. Neste encontro foi ainda aprovado o estatuto e eleita a segunda

gestão da SESSUNE. Neste ano, o país passava por eleições presidenciais: de um lado

Fernando Collor de Melo, candidato que foi responsável em rearticular a burguesia

brasileira frente à possibilidade de um trabalhador ser eleito presidente e, de outro, Luiz

Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) e representante da

esquerda organizada. Apesar da excelente campanha de Lula, Collor venceu a eleição.

Nesse período, inaugura-se o projeto neoliberal no país (ENESSO, 2006).

Em 1990, o XII ENESS é realizado em Fortaleza-CE com o tema: “Nada de

grandioso se fará sem paixão”. A terceira gestão da SESSUNE é eleita, ficando a

Universidade Estadual do Ceará (UECE) com a coordenação geral. Fruto de um

amadurecimento do MESS, no que toca à formação profissional, em 1991, é realizado

em Recife-PE o I Seminário Nacional sobre Formação Profissional e Movimento

Estudantil em Serviço Social -SNFPMESS (ENESSO, 2006).

O XIII ENESS tem com tema: “Serviço Social no desafio do novo”, e

ocorreu ainda neste mesmo ano, na cidade de Cuiabá-AL. Neste evento é eleita a quarta

gestão da SESSUNE com sede na UFPA, cuja gestão foi responsável pela realização do

II Seminário de Formação Profissional e Movimento Estudantil de Serviço Social e pela

sistematização das discussões dos encontros, o que deu origem ao “Anteprojeto da

Campanha Nacional pela Reestruturação da Formação do Assistente Social no Brasil”

(ENESSO, 2006).

O XIV ENESS, no ano de 1992 é realizado em Salvador-BA. O Encontro é

marcado por uma expressiva participação dos estudantes e por algo inédito que foi a

apresentação de teses das forças políticas que participavam do MESS. Segundo Ramos

(1996, p. 140) havia “[...] três grupos políticos mais atuantes na oposição à direção do

movimento [...] no período: Viração (tendência do PCdoB, grupo dos independentes e

os (as) da tendência Convergência Socialista que depois entraram no PSTU”. Esses

grupos disputavam a diretoria da SESSUNE em duas chapas “Sem tesão não há

solução” e “Pro dia nascer feliz”. Na disputa, ganhou a segunda, ficando sediada a

coordenação geral da SESSUNE novamente na UECE (ENESSO, 2006).

Page 47: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

46

Outro grupo bastante hegemônico é o Projeto Democrático Popular (PDP),

que somente veio a se apresentar com esse nome no ano de 1994, mas surgiu a partir

das Comunidades Eclesiásticas de Base (CEB) desde a década de 1970, vinculando-se

ao MESS a partir de 1978.

Ainda em 1992, o Fórum Nacional das Executivas de Curso (FENEX) 31

fez

com que as executivas de curso se mostrassem como alternativa para a reorganização

estudantil, pois “[...] defendem, dessa forma, a unidade entre as lutas especificas e as

gerais, visando implementar para o ME, uma dinâmica não corporativista, mas

articulada e orgânica” (RAMOS, 1996, p. 83).

Na conjuntura neoliberal no país, ocorreu em São Leopoldo-RS, no ano de

1993, o XV ENESS. Novamente, os grupos políticos presentes apresentam suas teses,

porém, desta vez, em formas de grupos de discussão. O conteúdo destas discussões se

dividia em conjuntura, universidade e movimento estudantil. Mesmo com a

apresentação de mais de uma chapa que explicitavam as diferentes formas de organizar

o MESS, somente a chapa “Enquanto a chama arder” disputou a SESSUNE e a sede da

entidade passou a ser a Universidade Católica de Salvador (UCSAL), em Salvador-BA

(ENESSO, 2006).

O ano de 1993 foi marcado também pela ruptura com a UNE, de modo que

a SESSUNE passa a se chamar Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social-

ENESSO. A mudança de nome deu-se pelo aprofundamento do debate sobre a

autonomia da entidade. Ocorreu ainda a criação da Secretaria de Formação Profissional

e a Coordenação Nacional de Representação Estudantil da ABESS (ENESSO, 2006).

De acordo com Rodrigues (2008), não se constituiu como estratégia isolada

do MESS em romper com a UNE, mas um procedimento político coletivo, inclusive de

diversas outras executivas. Particularmente, no que se refere ao Movimento Estudantil

do Serviço Social (MESS), Montaño e Duriguetto (2011, p. 290) relatam:

[...] Evidencia-se que sua organização, em nível nacional, intensificou-se no

contexto de lutas pela redemocratização do país, no final dos anos 1970. A

partir dos anos 80, o MESS vem construindo uma aliança com outras

entidades de representação estudantil, movimentos sociais e as entidades

representativas do Serviço Social, no caso a Associação Brasileira de Ensino

e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e o Conselho Federal de Serviço

Social (CFESS) [...].

31

O Fórum Nacional das Executivas de Curso-FENEX agrega todas as executivas e federações de curso

para definir seus planos e estratégias de lutas.

Page 48: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

47

Daqui em diante, todas as informações mencionadas com relação ao MESS

foram resgatadas a partir da análise da monografia “A trajetória política da organização

dos estudantes de Serviço Social, 1978-2002”, de autoria de Vasconcelos (2003), uma

vez que na análise da monografia de Rodrigues (2008) até aqui citada não tenha sido

possível coletar informações a partir de 1994.

No XVI ENESS em 1994, apresentaram-se três teses: “indignação” (PSTU);

“Se muito vale o já feito, mais vale o que será” composta pelos Independentes e “Nosso

próprio Tempo” (PDP). Apenas esta ultima apresentou chapa a direção da ENESSO

(VASCONCELOS, 2003).

Em 1995, socorreu o XVII CONESS em Londrina, com o aparecimento de

uma nova força política, que se mostrava insatisfeita com a direção política do MESS.

Nesse mesmo ano, ocorre o XVII ENESS em Natal/RN, onde as forças de oposição se

uniram para compor uma chapa e houve a apresentação de duas teses: “Contribuição do

Projeto Democrático e Popular” e “Não dá mais pra segurar”, que representava a

unificação dos independentes e do grupo vinculado ao PSTU, de acordo com

Vasconcelos (2003). Desse modo, houve duas chapas disputando a direção da entidade:

a chapa do PDP “Vamos nos permitir”, composta pelos estudantes da UECE e da

oposição unificada, e “Não dá mais pra segurar” dos estudantes da Universidade do

Amazonas (UNAMA) e UFPA. Nesse ENESS também ocorreu a desvinculação do

cargo da Secretaria de Formação Profissional da ENESSO, com as representações

estudantis da ABESS por um erro cometido pela direção da entidade.

No XVIII ENESS, ocorrido em Blumenau/SC somente uma chapa disputou

a ENESSO. No XX CONESS, em 1997, que se realizou em Maceió/AL, a Pontifícia

Universidade Católica (PUC) de Belo Horizonte (MG) anunciou que não podia sediar o

XX ENESS por motivos de outros eventos de porte nacional como o da UNE, o que

gerou uma grande revolta por parte dos estudantes da escola.

Em 1997, no XIX ENESS, em Campos/RJ, que, de acordo com Vasconcelos

(2003), foi o ENESS mais tenso da história do MESS, principalmente após a

apresentação da tese “Eu quero é mais”, que apesar de não ter lançado chapa, surgiu

como novo grupo político no interior do movimento.

No ano de 1998, em Maceió/AL, comemoraram-se os 20 anos da

reorganização do MESS e 10 anos da ENESSO com a venda de camisetas, adesivos e

uma mesa comemorativa. Neste ENESS o grupo do PDP perdeu a direção da ENESSO

depois de 10 anos de gestão e o grupo “Eu Quero é Mais” apresentou uma chapa “Nós

Page 49: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

48

Queremos Mais”, composta por estudantes da Região V, das escolas Universidade

Federal Fluminense (UFF)-Niterói, UFRJ e Universidade Federal do Sergipe (UFS).

Em 1999, realizou-se o XXI ENESS em São Luiz/MA, em que, pela

primeira vez, a Região VII conseguiu levar a organização do encontro nacional, já que

há anos os estudantes vinham lutando por isso. No referido ENESS, apresentaram-se

duas chapas: “Eu quero é Mais” e a do Projeto Democrático Popular. Na disputa venceu

a primeira chapa.

No ano de 2000, acontece o XXII ENESS na Cidade de Lins/SP e um dos

principais debates se deu com relação ao “Nota Zero” ao “Provão ”que era uma

campanha para se levar as escolas de forma massiva em que os estudantes eram

esclarecidos a comparecer no dia da prova, mas a entregavam em branco. Um

posicionamento diferente do da ABEPSS, que havia deliberado que, se o Serviço Social

fosse convocado a fazer a prova, ABEPSS, CFESS e ENESSO interfeririam na

elaboração, fiscalização e avaliação das provas, inclusive indicando nomes para compor

a comissão de elaboração destas, o que acarretou uma pressão por parte dos estudantes

por um posicionamento do “Nota Zero” pela ABEPSS. Neste ENESS também houve

mudança no sistema de votação, que depois de 21 anos passou a ser universal e não

mais por escola. Apresentaram-se ainda duas teses: “Mudar é querer sempre mais”- Eu

quero é Mais e “Indignação” do PDP, contudo somente a “Eu quero é Mais” apresentou

chapa para a diretoria da ENESSO.

Em 2001, ocorreu a rediscussão da questão sindical no Serviço Social,

inclusive no XXIII ENESS deste ano, em Brasília-DF, há o debate sobre essa questão,

coincidentemente neste mesmo período é criado a Federação Nacional de Assistentes

Sociais (FNAS). No Encontro, ainda ocorre a apresentação de duas teses: Projeto

Democrático e Popular e Movimento Eu Quero É Mais, mas somente a última apresenta

chapa composta pelos estudantes da Universidade de Brasília (UNB), Universidade

Federal do Mato Grosso (UFMT) e Pontifícia Universidade Católica de Goiás (UCG).

Devido a divergência do ENESS de 2000, no que diz respeito à aclamação

da chapa única, foi acrescentado no estatuto o “Parágrafo Único-Caso a chapa não

obtenha 50% mais um (01) dos votos, será submetido à plenária o novo processo de

eleição dos inscritos presentes”. Neste momento ocorre ainda a “Campanha pela

Redução das Mensalidades” em decorrência do aumento abusivo das mensalidades nas

escolas particulares, inclusive sendo uma demanda desde o XIX CONESS, em 1999,

Page 50: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

49

expressando mudanças específicas nas faculdades particulares e a defesa do ensino

superior público.

Em 2001 ainda é realizado na Universidade Federal de Santa Catarina

(UFSC) o XI SNFPMESS com o tema “As diretrizes Curriculares e a Formação

Profissional do Assistente Social para o mercado de trabalho”, com produções

acadêmicas voltadas para a discussão das diretrizes curriculares aprovadas pela

ABEPSS em 1996.

Durante 2001 e 2002, uma das principais atividades do MESS deu-se em

relação à organização do “Plebiscito do Provão”, organizada pelas Executivas e

Federações de cursos.

Em 2002, a ENESSO estabelece um importante canal de participação com

os estudantes através da criação da página da ENESSO (www.enessomess.hpg.com.br).

No XXIV ENESS, em 2002, na cidade do Rio de Janeiro, tem se a disputa entre duas

chapas: “Na luta e na Ação eu Quero Mais é Transformação” representada pelo grupo

político Eu Quero é Mais e “É preciso estar Atento e Forte” composta pelo Projeto

Democrático e Popular, vencendo a chapa “Na luta e na Ação eu Quero é Mais

Transformação”.

Dos anos 90 até a cena contemporânea, uma das principais divergências do

ME e especialmente do MESS, diz respeito a UNE, pois sabemos que existe uma crise

de representatividade com a entidade, inclusive alguns grupos políticos argumentam que

ela não representa mais os interesses estudantis, caracterizando-se como governista,

burocrática e convergente com a reforma do ensino superior promovida no governo

FHC e fortalecida no governo de Lula, a partir de 2003. A UNE juntamente com a

União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) estão lideradas pela União da

Juventude Socialista (UJS) coletivo de juventude do Partido Comunista do Brasil

(PCdoB) presente no ME e Partido dos Trabalhadores (PT), no qual o segundo

promoveu o novo ciclo da reforma universitária e o primeiro se manteve favorável.

Inclusive, a UNE,

[...] Apresentou-se como coautora do projeto de lei, acompanhando o MEC

nas chamadas caravanas que visitaram algumas universidades, com o intuito

de propagandear a reforma, revelando uma estratégia política propositiva e de

colaboração com o governo (ARAÚJO & NETO, 2007, p. 265).

Para Araújo & Neto (2007), a UNE, em uma postura autoritária,

desconsiderou todo o processo de resistência à reforma por grande parte do Movimento

Page 51: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

50

Estudantil que se deu através de debates, reuniões, encontros estaduais e nacionais,

plenárias, plebiscitos, abaixoassinados, etc. Para o movimento estudantil, a UNE é uma

entidade burocrática, aparelhada, que negocia com setores governistas32

e que se

distanciou das lutas e das entidades de base. Diante disso, há uma grande tensão no ME

por aqueles que defendem a ruptura com a UNE e propuseram a construção de uma

alternativa de entidade estudantil. Inclusive, criaram em 2004 a Coordenação Nacional

de Lutas dos Estudantes (CONLUTE) e, em 2009, a Assembleia Nacional dos

Estudantes Livre (ANEL) e os que defendem a permanência da UNE e o fortalecimento

de uma oposição interna (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

Nessa perspectiva, Rodrigues (2008) coloca que o movimento estudantil é um

movimento social e suas ações específicas são voltadas à educação, tendo em vista que

enquanto política pública deve ser assegurada pelo Estado. Entretanto, assim como as

demais políticas públicas como saúde, transporte, moradia, assistência social e outras a

educação e, particularmente, o ensino superior vem sendo atingido pelo processo de

contrarreforma do Estado.

3.3 A Estrutura e Organização do Movimento Estudantil e Movimento Estudantil

de Serviço Social

O ME se organiza pelo Movimento de Base (MB), Movimento de Área

(MA) e Movimento Geral (MG). O MB é composto pelos Centros Acadêmicos (CA),

Diretórios Acadêmicos (DA) de forma conjunta com o Conselho de Representantes de

Turma (CORETUR). Desse modo, Os CAs e DAs são entidades de representação

específica dos estudantes do curso, “[...] são chamadas de entidades de base, pois possui

um contato mais direto com o coletivo dos estudantes, defendendo os interesses e

travando lutas no curso e na universidade” (RODRIGUES, 2008, p. 35).

A organização dos CAs e DAs é assegurada pela Constituição Federal,

através da lei nº 7.395, de 31 de outubro de 1985, em seu artigo 4º, que garante

juridicamente aos estudantes de cada curso de nível superior o direito à organização de

suas entidades representativas.

De mesma importância, o CORETUR é um espaço que acompanha as

atividades do CA/DA e é composto por representantes de cada turma e tem como

32

Segundo palavras de Araújo & Neto (2007, p. 266), “o PCdoB não apenas apoiou como compôs o

chamado Governo de Unidade Nacional de Itamar Franco (1992-4), assim como [...] compôs a base

governista do Presidente Luís Inácio Lula da Silva”.

Page 52: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

51

objetivo levar as demandas dos estudantes ao CA/DA e, em articulação com o corpo

dirigente, defender os interesses dos estudantes do curso junto ao colegiado didático e

outras instâncias da Faculdade/Universidade.

O Movimento de Área é considerado a instância máxima de representação

dos estudantes de um determinado curso, organizado através das executivas e

federações de curso. Com relação ao MESS, trata-se da Executiva Nacional de

Estudantes de Serviço Social – ENESSO, que é uma entidade sem fins lucrativos, sendo

regida por um estatuto, que foi criado no XVI ENESS, em 1989, e é “revisto a cada três

anos, salvo mediante solicitação de pelo menos 1/3 das Escolas ou pela ENESSO,

extraordinariamente” (RODRIGUES, 2008, p. 37). O Estatuto da ENESSO somente

pode ser revisto na plenária do Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social –

ENESS.

De acordo com Rodrigues (2008), compreende–se como Movimento

Estudantil Geral (MG), a organização dos estudantes em geral, independente do nível,

área ou localidade. As entidades consideradas representativas do movimento estudantil

geral são: União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade máxima de representação

nacional dos estudantes; Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL), criada

após o Congresso Nacional de Estudantes em forma de oposição ao congresso da UNE,

no ano de 2009; Federação Nacional das Executivas de Curso (FENEX), que articula e

organiza todas as executivas, criada pelas entidades de cursos superiores, que tinham

uma postura crítica em relação à UNE; União Estadual dos Estudantes (UEE),

representando em nível de Estado o coletivo de estudantes; e Diretório Central dos

Estudantes (DCE), representação máxima de todos os cursos e estudantes dentro da

Faculdade ou Universidade.

3.3.1 A Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO)

Segundo a ENESSO (2013) o Movimento Estudantil de Serviço Social se

divide em sete regiões, organizadas pelos coordenadores regionais (CR) e

coordenadores nacionais (CN). Nacionalmente, a ENESSO se organiza e se representa

pela Coordenação Nacional – CN, que tem a atribuição de pôr em prática os

encaminhamentos deliberados nos encontros nacionais da categoria. A coordenação

Page 53: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

52

nacional é, no mínimo, formada por oito estudantes e, no máximo, dezesseis,

deliberadas a cada ano no Encontro Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESS.

Figura 1 - Movimento Estudantil de Serviço Social dividido por regiões

Fonte: CADERNO DA ENESSO, 2011

A Região I é formada pelos Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Roraima,

Rondônia, Pará, Maranhão e Piauí. A Região II: Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e

Pernambuco. A Região III: Alagoas, Sergipe e Bahia. A Região IV: Tocantins, Goiás,

Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais (Uberlândia e

Uberaba). A Região V: Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A Região VI:

Paraná, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul. A Região VII: São Paulo.

A diretoria da ENESSO é formada pelo coordenador (a) geral; secretário (a)

geral; coordenador (a) de finanças; coordenador (a) de comunicação; secretário (a) de

formação político-profissional; coordenador (a) de movimentos sociais, cultura e

valores; coordenador (a) de relações internacionais; e coordenadores(as) regionais.

Regionalmente, o MESS se organiza pelas Coordenações Regionais – (CRs), eleitas

anualmente no ERESS – Encontro Regional de Estudantes de Serviço Social. A

coordenação regional tem como papel aproximar os estudantes de cada escola aos

debates locais, regionais e nacionais propostos pela Executiva (ENESSO, 2013).

A ENESSO é uma entidade financeiramente autônoma, cujo estatuto

determina que cada CA ou DA repasse o valor de um salário mínimo anualmente para a

Page 54: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

53

coordenação e ainda fazem parte de sua política financeira os fóruns do MESS, nos

quais o lucro ou prejuízo é dividido entre toda a comissão organizadora (CA ou DA da

escola sede, ENESSO e a representação discente ABEPSS).

Além dos encontros massivos que são os ERESS e ENESS, há outros

encontros em que se espera uma maior participação dos estudantes, como os Seminários

Nacional e Regional de Formação Profissional e Movimento Estudantil de Serviço

Social (SNFPMESS e SRFPMESS). Estes são realizados a cada dois anos e além dos

debates sobre os eixos formativos, configuram-se principalmente como espaços de

apresentação de produção acadêmica.

Há ainda os encontros que tem como objetivo organizar e construir outros

encontros, como os CORESS e os CONESS, são os chamados encontros organizativos.

O primeiro constrói os ENESS, o segundo os ERESS. Tomando como base alguns

encaminhamentos do último ENESS ou ERESS, delibera--se a data dos encontros, o

tema, o título, a programação, as mesas, o tema, o título, os nomes dos palestrantes,

dentre outras questões.

Existem ainda dois importantes eventos, os quais organizam e encaminham

as estratégias para colocar em prática as deliberações do Encontro Nacional, assim

como as ações previstas e não executadas. São eles: o Planejamento Estratégico

Nacional (PEN) e o Regional (PER). O primeiro é realizado logo em seguida ao ENESS

e, posteriormente, realizam-se os regionais (PER), cuja base são as deliberações do

último ERESS e ENESS e o próprio Planejamento Nacional, “[...] para [...] avaliar o

desenvolvimento da atual gestão da Coordenação Regional e planejar as ações da nova

CR” (ENESSO, 2013, p. 7).

Outro encontro ainda “novo” no MESS, sobretudo ainda na Região II33

, é o

Encontro Local de Estudantes de Serviço Social (ELESS), não tendo ainda uma

definição fechada e nem tempo certo para acontecer. Além dos debates tradicionais do

MESS, pode-se eleger os secretários de escola34

e pode-se ainda encaminhar alguns

elementos importantes para a realização do ERESS.

O Caderno de Deliberações (CD) apresenta seis eixos básicos que

expressam as deliberações do Movimento, suas estratégias, táticas e bandeiras de luta.

Os referidos eixos são: Conjuntura, que deve sempre ser o debate inicial de todos os

33

Na Região II, reiteramos que houve a tentativa no Encontro das Escolas de organizar o nosso I ECESS

que se constituiria o nosso I ELESS. 34

Os secretários de escolas são escolhidos nas escolas pelos CAs com o objetivo de dar um suporte ao

trabalho da CR da ENESSO na região, e qualquer estudante pode participar.

Page 55: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

54

encontros. Há ainda: o eixo de Universidade e Educação, o eixo Movimento Estudantil,

o de Formação Profissional, o eixo de Cultura e o de Combate às Opressões (ENESSO,

2013).

Sobre a importância da organização política da ENESSO:

Tem-se posicionado politicamente e lutado pela defesa de um projeto político

da classe trabalhadora [...], [por] uma universidade democrática, gratuita e de

qualidade social; uma formação profissional que propicia capacitação

teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-político de profissionais que

venham a responder às demandas populares. (RAMOS, 1996, p. 278).

Rodrigues (2008) afirma que o Movimento Estudantil, e em específico o

MESS, está inserido nesse contexto, adquirindo um protagonismo no processo de

construção de valores revolucionários e contra-hegemônicos, através das suas ações está

no cotidiano da universidade convidando os sujeitos, promovendo formações políticas e

expressando sua direção política contestadora. No próximo capítulo faremos um resgate

da conjuntura mundial e brasileira, contexto político e econômico o qual o MESS das

particulares está inserido.

Page 56: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

55

4-CAPÍTULO III – “A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA, A GENTE QUER

COMIDA, DIVERSÃO E ARTE”35

: A REORGANIZAÇÃO DO CAPITALISMO

NOS ANOS 1970 DO SÉCULO XX

A seguir realizamos uma análise de conjuntura em nível mundial de forma

que foi possível compreender a relação entre a reorganização do capitalismo nos anos

1970 e os processos históricos decorridos no Brasil a partir dos anos 1990 e as

implicações para a política de educação superior.

4.1 A Conjuntura Político-Econômica Mundial nos Anos 1970 do século XX

A reorganização do capitalismo nos anos de 1970 do século XX em nível

mundial está relacionada aos “sinais de esgotamento” dos “trinta anos gloriosos” de sua

fase monopolista36

, principalmente a partir da falência do modelo fordista-keynesiano

enquanto estratégia frente à crise de caráter cíclico do capital no pós 1945 (BEHRING

& BOSCHETTI, 2008; MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

A grande depressão de 1929, a grosso modo, uma crise de superacumulação,

a qual acarretou quedas na taxa de lucro e maior organização e articulação da classe

trabalhadora contra as ofensivas colocou ao grande capital a necessidade de criar novas

estratégias, pois os princípios liberalistas ortodoxos37

não vinham mais dando resultados

frente à crise (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

Uma das principais estratégias para reverter o quadro de recessão do capital

no período adveio do pacto fordista-keynesiano. Discorreremos a seguir sobre esse

35

A escolha da música “Comida” do grupo Titãs expressa os significados da reorganização do

capitalismo nos anos 1970 para os trabalhadores. Neste período há a emergência de uma crise estrutural e

do neoliberalismo como um dos elementos dessa reorganização rebatendo em um cenário de

aprofundamento das contradições fundantes deste sistema, de intensificação da exploração do trabalho e

de regressão de direitos. Contexto de uma nova fase insaciável de acumulação capitalista, com a regressão

dos direitos dos trabalhadores em um discurso manipulativo de que todos os rebatimentos nas condições

objetivas de sobrevivência das forças produtivas são reflexos da crise e não de um projeto que visa buscar

estratégias para reversão dos momentos de depressão do sistema. A música nos mostra

descontentamentos, insatisfações e questionamentos acerca do que conquistamos como direitos e de que é

preciso lutar cada vez mais. 36

A fase considerada monopolista do capitalismo compreende o contexto expansionista do pós-segunda

guerra, marcado pelo regime de acumulação fordista-keynesiano e estende-se ao período do regime de

acumulação flexível instaurado a partir da crise capitalista na metade dos anos 1970. Desse modo, esta

fase é marcada tanto pela hegemonia do capital produtivo-comercial, pela “onda longa” de expansão

quanto por um segundo período de estagnação, no qual o capital produtivo cede lugar ao financeiro,

caracterizando uma “onda longa” de estagnação e recessão (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011). 37

No pensamento liberal clássico a partir da Lei de Say toda produção geraria sua própria demanda.

Assim, a oferta e demanda de mercadorias sempre atingiriam a longo prazo um equilíbrio (MONTAÑO

& DURIGUETTO, 2011).

Page 57: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

56

pacto tomando como base as análises de Montaño & Duriguetto (2011) e Harvey

(1993). O modelo de acumulação implementado em 1945 até a nova e permanente crise

capitalista em 1973, configurou-se em cinco pilares: intervenção estatal na economia;

reestruturação produtiva industrial fordista, articulando produção em grande escala e

consumo em massa; modernização com novas formas de organização e gerenciamento

da produção que tomarão como base as ideias de Taylor38

e Fayol; aliança entre capital

bancário e industrial constituindo o capital financeiro; novas formas de regulação social

(keynesianismo); nova divisão internacional do capital, sob o controle político,

econômico, cultural, militar e ideológico dos Estados Unidos (MONTAÑO &

DURIGUETTO, 2011).

Todos esses pilares foram fundamentais para esta nova fase de concentração

do capital, principalmente com o desenvolvimento de novas tecnologias que marcaram

o surgimento da “segunda revolução tecnológica” ou “técnico-científica” com a

introdução da máquina elétrica, o motor a explosão, o uso de aço, petróleo e a energia

elétrica.

Na esfera da produção, a especialização do trabalho acarretou na

especialização em tarefas simples por parte do trabalhador, que ficou completamente

rotativo. No que toca às novas funções do Estado nesta conjuntura, ganharam

visibilidade as ideias de Jonh Maynard Keynes (1883-1946) no livro “Teoria Geral do

Emprego, do juro e da moeda”, publicado pelo referido autor em 1936.

Para o keynesianismo o Estado deveria ofertar condições para a produção,

seja com meios de transporte, de comunicação, de serviço postal, legislação civil e até

mesmo o sistema educacional. Deveria ainda ser responsável por todo o aparato para

reprimir todas as ameaças ao modo de produção e acumulação e integrar as classes

subalternas à legitimação da ordem, através da ideia de um “Estado democrático” e da

reprodução de uma ideologia da sociabilidade burguesa através da educação, da cultura

e meios de comunicação.

Para garantir a execução dessas funções, o Estado poderia utilizar o fundo

público e o gasto social para desenvolver as seguintes atribuições: 1) ofertar crédito

38

Segundo Vasconcelos (2003, p. 5,): “[...] [um] padrão de acumulação predominante do século XX,

baseado na produção em massa de mercadorias em alta escala, a custos mais baixos para o consumo,

estruturado numa produção homogeneizada e verticalizada, através do trabalho parcelado e fragmentado.

A característica básica desse processo produtivo é a produção em série fordista com o cronômetro e

gerenciamento taylorista, do qual se instala por toda a indústria automobilística e depois para todos os

ramos de atividades industriais e para o setor de serviços, formando um operário padrão semi-qualificado

e criando um novo modo de ser da classe trabalhadora”.

Page 58: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

57

estatal para a produção em massa na grande indústria; 2) investir e financiar a pesquisa

para o desenvolvimento tecnocientífico a serviço dos grandes interesses do capital; 3)

intervir através das políticas sociais e salários indiretos, compartilhando com o capital a

responsabilidade com os custos de reprodução da força de trabalho; 4) desenvolver um

sistema de salários indiretos e políticas públicas para o consumo em massa; 5) garantir o

pleno emprego e outros incentivos; 6) ampliar os direitos trabalhistas, por via de

legislações trabalhistas e ampliar as ações estatais vinculadas a uma ideia de cidadania

como formas de reduzir os conflitos, sobretudo entre classes sociais (MONTAÑO &

DURIGUETTO, 2011).

O keynesianismo configurou-se como um projeto proposto pelos partidos

social-democratas que vinham atuando desde meados do século XIX, acarretando

rebatimentos para a organização política da classe trabalhadora, no recuo de suas lutas e

que contribuiu mais ainda para os “anos de ouro” do capitalismo.

Além desse aspecto, outros elementos foram de suma importância para essa

nova fase de acumulação, principalmente no período que sucede a Segunda Guerra, são

eles: a derrota do movimento operário pelo fascismo e pela guerra, bem como a situação

caótica dos países que não saíram vitoriosos; a perda de identidade dos trabalhadores

com o projeto socialista, principalmente após os crimes de Stálin na antiga União

Soviética (BEHRING & BOSCHETTI, 2008); a terceira revolução tecnológica, com a

introdução da microeletrônica e, sobretudo, a subordinação de muitos líderes do

movimento operário de partidos social-democratas e comunistas europeus (BEHRING

& BOSCHETTI, 2008) e etc.

Diferentemente da realidade dos países do capitalismo avançado, nos quais

os trabalhadores, embora “abrindo mão” de um projeto mais revolucionário,

conseguiram obter uma estabilidade, inclusive com “[...] ampliação de empregos e

salários e uma forte intervenção do Estado” (MOTA, 2009, p. 55). No Brasil, não

houve Welfare State, como o propugnado nestes países desenvolvidos:

[...] O desenvolvimentismo no Brasil foi resultado de um processo de

modernização conservadora que consolidou a industrialização e o

crescimento econômico, mas que não redistribuiu os resultados dessa

expansão com a maioria da população trabalhadora, [...] apesar da criação de

algumas políticas de proteção social, instituída a partir dos anos 40, mas

somente redefinidas nos anos 80, quando se instituem as bases formais e

legais do que poderia ser um Estado de Bem Estar Social, na constituição de

1988 (MOTA , 2009, p. 57).

Page 59: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

58

Vale ressaltar que, a chegada da década de 1970 inaugura uma nova fase de

reestruturação e que neste sentido, Montaño & Dueriguetto (2011) argumentam que o

keynesianismo aparecerá como completamente desnecessário, ineficiente e até negativo

para os interesses do capital.

A conjuntura mundial revela que essa reestruturação foi provocada por

cinco fatores contidas nas análises dos supramencionados autores: 1) uma nova crise

capitalista mundial acirrada pela alta do preço do petróleo e pelo excesso de produção

que não encontra retorno no mercado, diminuindo consideravelmente os lucros e

desencadeando diversas manifestações e crises particulares; 2) o surgimento e expansão

dos “Tigres Asiáticos” com o modelo industrial toyotista/ohnismo e “a crise do

fordismo”; 3) a financeirização do capital e a “crise do modelo de regulação social

keynesiano”; 4) a crise do bloco soviético e o colapso do socialismo real; 5) a expansão

de um mercado capitalista mundial ou globalização/mundialização do capital e a

“pulverização” e desarticulação da classe trabalhadora.

A nova fase de acumulação do capital será marcada pela hegemonia do

capital financeiro em detrimento do capital produtivo, na qual o primeiro deverá se

reestruturar e garantir elevadas taxas de lucro por meio da elevação dos juros, em

consonância aos interesses da especulação financeira (MONTAÑO & DURIGUETTO,

2011).

Vasconcelos (2003) argumenta que os países de capitalismo central

entraram em uma intensa recessão combinando baixos índices de crescimento e altas

taxas inflacionárias e que caberá ao capital três pilares fundamentais e necessariamente

articulados na tentativa de conter os efeitos desta recessão: 1) a ofensiva contra o

trabalho e suas formas de organização e lutas; 2) a reestruturação produtiva; 3) a

(contra) reforma do Estado, cujo neoliberalismo será o principal elemento dessa

reforma.

A reestruturação produtiva será dada pelo toyotismo, sintetizado no trabalho

de Vasconcelos (2003, p. 6-7):

Constitui-se numa produção diversificada, heterogênea, vinculada a

demanda que se diferencia do modelo fordista, orientada pelo consumo, que determina o

que será produzido;

Dá-se por uma nova organização do trabalho operário em equipe, com a

polivalência dos trabalhadores, exigindo um trabalhador que assuma diversas funções,

Page 60: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

59

mais participativo e dinâmico, que difere da natureza do trabalho e do trabalhador no

fordismo;

Melhor aproveitamento do tempo de produção seguindo uma linha just in

time (incluindo-se também o transporte, o controle de qualidade e o estoque);

Seu funcionamento baseia-se no sistema kambam com placas e senhas de

comando para reposicionar peças e estoque, embora com um estoque mínimo se

comparado com o fordismo;

As empresas se constituem apenas como polos produtivos especializados

em uma etapa do processo produtivo, isto é, uma estrutura hierarquizada, que se difere

da estrutura produtiva verticalizada do fordismo. Desta forma, enquanto a fábrica

fordista era responsável por 75% da produção, no toyotismo, isso vai significar apenas

25%. Assim, boa parte do processo produtivo será estendida às empresas terceirizadas,

subcontratadas e etc;

Neste modelo produtivo também são criados Círculos de Controle de

Qualidade (CQC), um grupo formado por trabalhadores que vão debater seu trabalho e

seu desempenho, ações que são apoiadas e instigadas pelas próprias empresas, que

contribuirão com a figura do trabalhador como “colaborador”, inclusive este passa a ser

o termo empregado para designá-los, desconsiderando as contradições estruturais de

classe, a exploração do trabalho de uma classe sob outra pelo capital;

Todo este processo é acompanhado pelo desenvolvimento de novas

tecnologias, da informatização e robotização da produção.

Conforme visto na síntese acima de Vasconcelos (2003), a flexibilidade não

diz respeito somente a produtos e mercado, atingirá também o campo do trabalho e se

constituirá como uma ofensiva neoliberal ao campo do trabalho, pois segundo Behring e

Boschetti (2008, p. 126), o capital alegava que “a crise resultava do poder excessivo e

nefasto dos sindicatos e do movimento operário, que corroeram as bases da acumulação,

e do aumento dos gastos sociais do Estado, o que desencadearia processos

inflacionários”. Ainda segundo uma lógica neoliberal a intervenção estatal na regulação

das relações de trabalho era negativa, pois impediria o crescimento econômico e a

criação de novos empregos (BEHRING & BOSCHETTI, 2008).

Assim, pretendia-se enfraquecer as organizações sindicais e trabalhistas

através da recusa de negociação com os trabalhadores em greve; reprimindo as lutas dos

trabalhadores e deslegitimando as organizações operárias perante a opinião pública,

reproduzindo uma cultura de desqualificação das demandas trabalhistas, a ideia de que

Page 61: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

60

“[...] a crise econômica afeta a sociedade e que, por isso, necessita da colaboração de

todos [...]” (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011, p. 196).

Além da reestruturação produtiva pretendida, seria ainda necessária a

reprodução de uma nova ideologia, a qual repercutirá em todos os aspectos da vida

política e social dos indivíduos, pois:

[...] Para manter-se como modo hegemônico de organização econômica,

política e social, num mundo tão inseguro e cujo sentido não se orienta para o

atendimento das necessidades sociais da maioria das pessoas, mas para a

rentabilidade do capital, os arautos do neoliberalismo desencadearam

inúmeras estratégias ideológicas e culturais [...], buscaram constituir uma

falsa consciência, a partir da difusão de uma visão de mundo conservadora da

ordem existente, segundo a qual o mercado é a grande utopia [...]

(BEHRING, 2003, p. 65)

Buscando essa “falsa consciência”, o neoliberalismo investiu nos meios de

comunicação de massa, “na desinformação e na descaracterização das lutas e

resistências dos trabalhadores, apresentando-os como „baderneiros‟, „preguiçosos‟,

„marajás‟ ou „privilegiados” (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011, p. 196). A ofensiva

se completa com a desregulamentação do mercado de trabalho e a precarização do

emprego, com a enorme expulsão dos trabalhadores do mercado formal, implicando em

altíssimas taxas de desemprego com os seguintes rebatimentos: tendência à queda dos

salários, perda de poder político dos trabalhadores, atitudes individualistas e defensivas

dos trabalhadores, crescentes subcontratações, terceirizações, esvaziamento dos direitos

trabalhistas, flexibilização das relações de trabalho, promovendo uma verdadeira

contrarreforma aos direitos outrora conquistados, pois se constituiria como pressuposto

para executar os demais ajustes neoliberais, mas primeiro, seria preciso combater a

resistência desses trabalhadores (MONTAÑO & DURIGUETTO, 2011).

Conquanto os ajustes neoliberais tenham sido implementados logo após o

período da Segunda Guerra Mundial, foi no período pós-1970 que as ideias neoliberais

ganharam destaque, principalmente a partir da crise, pois “[...] os reduzidos índices de

crescimento com altas taxas de inflação foram um fermento para os [...] neoliberais

criticarem o Estado social e o „consenso‟ do pós-guerra, que permitiu [o] Welfare State”

(BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 125).

Tomando como base essas premissas, o neoliberalismo defendia que o

Estado não deveria “[...] intervir na regulação de comércio exterior nem na regulação de

Page 62: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

61

mercados financeiros, pois o livre movimento de capitais garantirá maior eficiência na

redistribuição de recursos internacionais” (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 126).

Neste sentido, os neoliberais propugnavam a estabilidade da moeda como

meta principal, o que desembocaria na contenção dos gastos sociais e na manutenção de

uma taxa natural de desemprego, associada a reformas fiscais, com redução de impostos

para os altos rendimentos, “[...] configurando um Estado mínimo para os trabalhadores

e um Estado máximo para o capital [...]” (BEHRING, 2003, p. 64), ou ainda de um

processo de (contra) reforma39

, principalmente com o retrocesso de diversas conquistas

ao longo do século XX.

Desse modo, Montano e Duriguetto (2011) esclarecem que, diferentemente

do keynesianismo, no qual houve o pleno emprego, bons salários e incentivos do Estado

para fortalecer o consumo e a demanda; no neoliberalismo, há o fortalecimento da

oferta, diminuição dos custos com o valor da força de trabalho, precarização dos

salários, direitos trabalhistas, e serviços e políticas sociais estatais, significando um

“desmantelamento” das instituições e estatutos que materializavam as conquistas dos

trabalhadores na fase anterior.

Segundo os autores supracitados, os prejuízos causados à classe

trabalhadora partirão dos ajustes estruturais de orientação neoliberal, principalmente das

exigências das instituições financeiras internacionais de Bretton Woods40

(FMI, BM e

Bird), que colocaram como condição para os países periféricos receber os investimentos

produtivos dos capitais financeiros e das multinacionais.

Na América Latina, esses ajustes estruturais acarretarão em uma perda de

autonomia dos países, cujos organismos internacionais como o Banco Mundial e o

Fundo Monetário Internacional (FMI) propuseram um receituário que reorienta as ações

estatais, principalmente na contenção do mercado interno, bloqueio do crescimento dos

salários e dos direitos sociais, aplicação de políticas macroeconômicas monetaristas,

39

Behring (2003) utiliza o termo “contrarreforma” para tratar sobre esses processos, pois o termo

“reforma” foi difundido pela direita em um viés social-democrata, configurando-se uma estratégia

político-ideológica para buscar consensos e legitimidade, tanto é que o principal instrumento orientador

desses ajustes terá esse termo embutido no nome: o Plano Diretor da Reforma do Estado (PDE), de 1995,

produzido pelo Ministério da Administração e Reforma do Estado (MARE). Como um termo pertencente

à esquerda e que remeteria à melhorias, contrariamente ao que significou, pois diversos direitos dos

trabalhadores foram suprimidos, políticas públicas foram deslocadas para o mercado seria equivocado de

nossa parte reforçar todas essas nuances como reformas.

40 Segundo Lima (2005), em 1944, nos EUA, além dos EUA, Inglaterra e alguns países aliados se

reuniram e realizaram negociações para reconstruir e desenvolver no plano internacional a política

macroeconômica. Essas negociações culminaram na „Conferência Monetária e Financeira Internacional‟

ou “Conferência de „Bretton Woods”.

Page 63: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

62

“[...] com altas taxas de juros e o estímulo à depressão dos fatores de crescimento,

forçando o desaparecimento de empresas e empregos [...]” (BEHRING 2003, p. 61).

No final dos anos 1970, muitos países41

adotam em seus programas de

governo as premissas do neoliberalismo, como por exemplo, os governos Thatcher

(Inglaterra, 1979), Reagan (EUA, 1980), Khol (1982, Alemanha) e Schlutter

(Dinamarca, 1983), (BEHRING & BOSCHETTI, 2008). Embora, para alguns autores

como MONTAÑO & DURIGUETTO (2011), a implementação das políticas de ajustes

neoliberais feita por esses países não foi linear, pois os periféricos e os centrais

implementaram as diretivas de forma diferenciada, dependendo das realidades

particulares de cada contexto econômico, político e social em questão.

Sintetizando o que até aqui debatemos e de forma que nos possibilite

avançar sobre a configuração destes processos particularmente no Brasil, podemos dizer

que a década de 1980 foi marcada pela reestruturação produtiva, que se configurou

como uma das estratégias do capital de reverter uma crise iniciada nos anos 1970

(BEHRING & BOSCHETTI, 2008).

No campo do trabalho, a acumulação do capital com a garantia do pleno

emprego assegurado no pacto fordista-keynesiano cede lugar à regressão dos direitos e

conquistas até então asseguradas pelos trabalhadores, inaugura-se uma conjuntura

completamente desfavorável à sua organização política.

Outro elemento posto é o processo de mundialização da economia, inclusive

isso marcará uma nova relação entre capitalismo central e periférico (BEHRING &

BOSCHETTI, 2008).

Desse modo, o período que sucede os “anos de ouro” do capitalismo é

contrarreformista,“ [...] desestruturando as conquistas do período anterior, em especial

os direitos sociais” (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 124-125).

Todos estes processos analisados até aqui caracterizaram a reação burguesa

mundial à crise global do capital nos anos 1970, partiremos no próximo tópico para os

processos históricos na conjuntura brasileira.

41

A Inglaterra foi o país que adotou as premissas neoliberais de forma mais direta, pois contraiu a

emissão monetária, aumentou as taxas de juros, baixou os impostos sobre altos rendimentos, aboliu o

controle sobre os fluxos financeiros, criou níveis de desemprego maciço, enfraqueceu as greves, aprovou

legislações anti-sindicais, realizou corte nos gastos sociais e instituiu um amplo programa de privatização

(BEHRING, 2003).

Page 64: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

63

4.2 O Neoliberalismo e a Contrarreforma do Estado Brasileiro nos Anos 1990 do

século XX

De maneira a nos deslocarmos um tanto do plano internacional e adentrar o

universo das particularidades históricas do Brasil, o primeiro elemento que se coloca

por alguns estudiosos é “[...] uma aparente falta de sincronia entre o tempo histórico

brasileiro e os processos internacionais” (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 134). Se

na década de 1970, no cenário mundial implementava-se a reação a crise, aqui

acompanhávamos a ditadura militar e à expansão do Milagre Brasileiro.

Diferentemente dos países de capitalismo avançado, no Brasil não houve

pacto social-democrata como o que foi responsável pelos anos de crescimento na

Europa e EUA. O que houve, na verdade, foi “[...] uma redistribuição muito restrita dos

ganhos de produtividade do trabalho, mas que ampliou o mercado interno [...],

alimentando os sonhos da casa própria, dos filhos doutores e do „fuscão‟ na garagem

entre os segmentos médios e de trabalhadores” (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p.

135).

Podemos dizer nos termos de Behring & Boschetti (2008, p. 135), que o

país não acompanhou “[...] a dinâmica externa „ao pé da letra‟, mas sempre esteve

conectado a ela [...]”, uma vez que à época, a conjuntura também era marcada pelo

crescimento econômico com a internacionalização da economia brasileira pelos países

avançados, com expansão dos direitos sociais em meio à restrição dos direitos civis e

políticos.

A década de 1980, embora tenha sido de efervescência política para os

Movimentos Sociais trouxe os impactos mais severos da “onda longa de estagnação”,

pois entre 1973 e 1981, a dívida brasileira passou de 13,8 bilhões de dólares para 75,7

bilhões de dólares (KUCINSKI & BRANFORD, 1987, apud BEHRING & BOSCHETTI, 2008)

acarretando em dificuldades de formulação de políticas econômicas de impacto nos

investimentos e na redistribuição de renda no Brasil (BEHRING & BOSCHETTI,

2008). Embora a maior parte dela tenha sido contraída pelo setor privado, em

decorrência de pressões do FMI 70% da dívida brasileira tornou-se estatal, o que gerou:

[...] Uma contradição entre a intensa geração de receitas de exportação pelo

setor privado e o intenso endividamento do setor público. [...] Ao governo só

restaram três caminhos: cortar gastos públicos, imprimir dinheiro ou vender

títulos do Tesouro a juros atraentes (KUCINSKI & BRANFORD, 1987,

apud BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 139).

Page 65: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

64

Conforme Behring e Boschetti (2008), o caminho escolhido no decorrer da

década de 1980 foi a emissão de títulos da dívida, aumentando consideravelmente os

juros e alimentando a inflação. Em 1981, a inflação anual do Brasil era de 91, 2%,

saltando em 1985 para 217,9%. O endividamento acarretou no aumento generalizado da

pobreza na América Latina, especialmente no Brasil; crise dos serviços sociais públicos;

desemprego; acirramento da economia informal; favorecimento da produção para

exportação em detrimento do atendimento às necessidade internas.

Dessa forma, para Behring e Boschetti (2008), o final dos anos 80 do século

XX foi marcado por uma situação econômica caótica, próxima à hiperinflação, com

média em torno de 200%, com agravamento da fragilidade financeira do setor público e

do comportamento defensivo dos setores privados. Diante desse quadro, havia a

possibilidade de um colapso econômico internacional, que impôs a necessidade de um

ajuste global, reordenando as relações entre os países centrais e periféricos, cujos

primeiros realizaram uma reestruturação industrial e financeira às custas dos segundos.

As recomendações do Consenso de Washington, em 1989, entre os órgãos

de financiamento internacional (Bird, FMI, Banco Mundial), representantes dos Estados

Unidos e dos países da América Latina, estabeleceu dez recomendações aos países

dependentes, dentre elas: 1) disciplina fiscal; 2) priorização dos gastos públicos; 3)

reforma tributária; 4) liberalização financeira; 5) regime cambial; 6) liberalização

comercial; 7) investimento estrangeiro; 8) privatização; 9) desregulação das políticas

sociais; 10) propriedade intelectual.

Lembramo-nos que o Chile foi o primeiro país a implementar as medidas

neoliberais no continente, por intermédio do regime militar de Pinochet. Dentre as

principais medidas tomadas, destacam-se: desregulação das políticas sociais,

desemprego massivo, repressão sindical e privatização de bens públicos. Com relação

aos demais países da América Latina, estes iniciaram suas políticas neoliberais a partir

da década de 1980, no México, com Salinas; na Argentina, com Menem; na Venezuela,

com Andrés Perez; no Peru, com Fujimore; no Brasil, com Collor (MICHILES, 2014).

Outro ponto importante na década de 1980 foi um novo movimento popular

reivindicando a retomada do Estado democrático de direito, através de um processo

duro de mobilizações, que conseguiu implantar alguns eixos importantes na

Constituinte, tais como: reafirmação das liberdades democráticas; impugnação da

desigualdade descomunal e afirmação dos direitos sociais; reafirmação de uma vontade

Page 66: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

65

nacional e soberania, com rejeição das ingerências do FMI; ampliações dos direitos

trabalhistas; e reforma agrária (BEHRING & BOSCHETTI, 2008).

Neste sentido, de acordo com Behring e Boschetti (2008), embora a

Constituição de 1988 tenha trazido avanços na área da Saúde, da Previdência Social,

nos Direitos Humanos, políticos, da Criança e Adolescente, ainda fora influenciada por

traços conservadores.

O ano de 1989 é marcado pela primeira disputa presidencial direta entre

Lula e Collor. Na disputa, Fernando Collor de Mello saiu vitorioso, pois ele era a opção

que restava às elites diante da possibilidade de um trabalhador ser presidente da

república. Além de uma crise econômica, era presente o avanço do movimento sindical

e popular.

Nos anos 90 é que se delineia com profundidade a contrarreforma neoliberal

no Brasil. O governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em um discurso

desenvolvimentista, social-democrata visava buscar o consenso para promover os

ajustes neoliberais, alegando que “[...] os problemas no âmbito do Estado brasileiro

eram apontados como causas centrais da profunda crise econômica e social vivida pelo

país desde o início dos anos 1980” (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, p. 148).

Desse modo, na época, a classe dominante vai afirmar que a crise se

localizava na má administração do Estado, no excesso de regulação, na rigidez e

ineficiência do serviço público. Por isso, a principal estratégia será retomar a

governabilidade e a governança estatal, pois com o Estado social-liberal a política

social, os serviços de saúde e educação, dentre outros, serão de responsabilidade e

executados por organizações públicas não-estatais competitivas, isto é, pelo mercado.

(BEHRING, 2003).

Assim, pautados no discurso de “modernidade do país” a estratégia será um

“pacto de modernização” que se inicia com a liberalização comercial, as privatizações e

o programa de estabilização monetária (Plano Real) e dará continuidade com a reforma

da administração pública. Assim, o documento base dessa contrarreforma, expressará-se

no Plano Diretor da Reforma do Estado (PDRE), em 1995, seguindo orientações de

Bresser Pereira, à frente do Ministério da Administração e da Reforma do Estado

(MARE), órgão que orientará além de outros processos e legislações, a Emenda

Constitucional nº 19, de 19/06/98, que trata da “reforma” da administração pública.

Desse modo, seguem abaixo alguns eixos da reforma:

Page 67: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

66

[...] Ajuste fiscal duradouro; reformas econômicas orientadas para o

mercado-abertura comercial e privatizações-, acompanhadas de uma política

industrial e tecnológica que fortaleça a competitividade da indústria nacional;

reforma da previdência social; e reforma do aparelho do Estado, aumentando

sua eficiência. O ajuste fiscal cabe à equipe econômica (planejamento e

Fazenda). Ao Plano Diretor e ao Mare cabe elaborar propostas visando

aumentar a governança do Estado brasileiro. Ou seja, deve-se distinguir a

reforma do Estado, como um projeto político, econômico e social mais

amplo, da reforma do aparelho do Estado, orientada para tornar a

administração pública mais eficiente (BEHRING, 2003, p. 178).

.

No período seguinte à promulgação da Constituição de 1988, surgiram as

primeiras articulações em torno das exigências dos organismos internacionais que, para

serem atendidas, demandavam mudanças na Constituição. Em agosto de 1995, o

Congresso Nacional aprova a Emenda Constitucional nº 6,proposta por Fernando

Henrique Cardoso, que introduz modificações no capítulo da ordem econômica,

substituindo o conceito de empresa nacional por empresa constituída sob as leis

brasileiras e com sede no território nacional, concedendo a essas o direito de serem

concessionárias dos monopólios estatais, desde a exploração mineral até a produção de

serviços. Com isso, empresas multinacionais passaram a ter acesso à exploração do

subsolo e a participação em todo o processo de privatizações de empresas estatais que se

seguiu (BEHRING, 2003).

Desse modo, conforme visto, a „reforma‟ passa a transferir para o setor

privado funções que podem ser controladas pelo mercado, como exemplo as empresas

estatais, bem como há a descentralização para o „setor público não-estatal‟ de serviços

que não envolvem o exercício do poder do Estado, mas serão subsidiados por ele, tais

como, educação, saúde, cultura e pesquisa científica. Trata-se de uma publicização, que

atingirá diretamente as políticas sociais, referem-se a serviços competitivos ou não

exclusivos do Estado, estabelecendo-se parcerias com a sociedade para o financiamento

e controle social de sua execução, de uma redução na prestação direta desses serviços,

mantendo-se mais como regulador e provedor. A administração pública de um caráter

rígido, ineficiente, passa a ser gerencial, flexível e eficiente (BEHRING, 2003).

De acordo com Behring (2003, p. 182), a referida reforma diferencia quatro

setores no Estado:

O Núcleo Estratégico que formula políticas públicas, legisla e controla sua

execução, composto pelos três poderes; o Setor de Atividades Exclusivas,

onde são prestados serviços que só o Estado pode realizar, a exemplo da

previdência básica, educação básica, segurança e outros; o Setor de Serviços

Não-Exclusivos, onde o Estado atua simultaneamente com outras

organizações públicas não-estatais e privadas, como as universidades,

Page 68: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

67

hospitais, centros de pesquisa e museus; e o Setor de Bens e Serviços para o

Mercado, a exemplo de empresas não assumidas pelo capital privado. A

esses setores correspondem formas de propriedade: estatal para os dois

primeiros; pública não-estatal para o terceiro; no caso do último, a

propriedade estatal não é desejável, mas deve existir regulamentação e

fiscalização rígidas, a exemplo, supõe-se, de companhias de luz, gás e água.

Sobre a administração, no Núcleo Estratégico propõe-se um mix entre

administração burocrática e gerencial. Nos demais, a administração é

gerencial.

De acordo com Behring (2003), em se tratando dos serviços exclusivos do

Estado, a perspectiva foi transformar as autarquias em agências autônomas,

administradas por um contrato de gestão, prevendo-se mecanismos de controle social,

mas que ignora totalmente os conselhos paritários previstos na Constituição, na

regulamentação da seguridade social, por exemplo, inclusive o próprio conceito

constitucional de seguridade social é ignorado e tornado irrelevante pelo Plano, que vê

as políticas públicas de Previdência, Saúde e Assistência Social de forma totalmente

desarticulada. Nos serviços não exclusivos, criam-se as organizações públicas não

estatais, as chamadas organizações sociais.

Desta forma, ainda havia uma tensão entre o que era serviço exclusivo ou

não no caso dos serviços sociais. Para o setor de produção de bens para o mercado, o

objetivo era a privatização, por meio do Conselho de Desestatização ou, quando isso

não seria possível, implantar contratos de gestão. Dessa forma, o Plano previa a

transição da „reforma‟ do Estado e do aparelho do Estado em três pontos: a mudança da

legislação, inclusive as reformas constitucionais; a introdução de uma cultura gerencial

e, por fim, a adoção de práticas gerenciais (BEHRING, 2003).

No tocante ao campo do trabalho, o Plano colocava que:

[...] A legislação que regula as relações de trabalho no setor público é vista

como protecionista e inibidora do „espírito empreendedor‟. A maior

expressão disso, nessa avaliação, é o Regime Jurídico Único e a extensão do

regime estatutário para o funcionalismo. A querer evitar o patrimonialismo e

o clientelismo, a Constituição aumentou a rigidez e a ineficiência, segundo

essa concepção. Outro aspecto é a tendência crescente de aumento dos gastos

com pessoal pela União, com destaque para os inativos (BEHRING, 2003, p.

181).

De acordo com Behring & Boschetti (2008), os governos de orientação

neoliberal, como por exemplo, o de FHC, sob as orientações da „reforma‟ alcançaram

poucos impactos no aumento da capacidade de implementação eficiente de políticas

públicas, considerando sua relação com a política econômica e a explosão da dívida

Page 69: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

68

pública. Ocorreu uma forte tendência de desresponsabilização pela política social (que

era o objetivo da „reforma‟), havendo um desprezo pelos avanços constitucionais no

campo da seguridade social em meio a um crescimento da demanda social, pelo

aumento do desemprego e da pobreza, aprofundados pela macroeconomia do Plano

Real. Desse modo, as políticas sociais foram capturadas por uma lógica de adaptação ao

novo cenário, inscritas no tripé neoliberal: privatização, focalização/seletividade e

descentralização, que se expandiu por intermédio do „Programa de Publicização‟

(BEHRING, 2003).

Desde a década de 1990, estamos vivenciando um período de reestruturação

do Estado e desregulamentação dos nossos direitos sociais em uma perspectiva

neoliberal, que se subordina aos interesses de organismos internacionais como

Organização das Nações Unidas-ONU, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional

(FMI) e Organização Mundial do Comércio-OMC. De acordo com Boschetti (2008, p.

6), as contrarreformas após a promulgação da Carta Magna de 1988 remodelou o Estado

em três campos estratégicos:

A primeira corresponde às funções típicas do Estado (segurança nacional,

emissão da moeda, corpo diplomático e fiscalização). A segunda atinge as

políticas públicas (saúde, cultura, ciência e tecnologia, educação, trabalho e

previdência). E a terceira abrange o setor de serviços (empresas estatais

estratégicos, como energia, mineração, telecomunicações, recursos hídricos,

saneamento e outros) [...], são contra-reformas que re(estruturam) o papel do

Estado e do mercado na regulação das relações econômicas e sociais com a

perspectiva de limitar e restringir o papel regulador e produtor do Estado, nos

moldes keynesianos, bem como fortalecer a onipotência do mercado e da

mercantilização das relações sociais. Como atingem todas as dimensões da

vida, objetivas e subjetivas, essas contra-reformas impactam duramente na

formação e na estruturação dos espaços sócio-ocupacionais de todos os

trabalhadores [...]. Assim, não se pode compreender a ofensiva destrutiva das

políticas sociais se não entendermos suas determinações econômicas.

Compreende-se ainda que a ampliada arrecadação de impostos nos últimos

anos não tem sido revertida em políticas sociais, pois “[...] a política tributária é

regressiva, e onera mais o trabalho do que o capital, pois apenas 4% incide sobre o

patrimônio, enquanto 29% recaem sobre a renda e 67% sobre o consumo

(BOSCHETTI, 2008, p. 6). Assim, constata-se que a arrecadação não se destina a

ampliação e melhoria dos serviços públicos à população, mas privilegia o pagamento de

juros, retirando dinheiro de investimentos e cortando gastos na área social.

Segundo Alves (2013), na década de 2000, o governo Lula (2003-2009)

manteve e deu continuidade aos pilares da macroeconomia neoliberal, mostrando que o

Page 70: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

69

PT apresentava interesses convergentes. Conforme o autor, nesse período, o Estado

financiou diretamente por intermédio do fundo público e fundos de pensões estatais

grandes corporações de capital privado nacional com capacidade de competir no

mercado mundial e ainda construiu grandes obras de infraestrutura destinadas a

atenderem as demandas exigidas pelo grande capital, por exemplo, o PAC (Programa de

Aceleração do Crescimento). Outro ponto importante e peculiar do governo Lula,

colocado por Alves (2013) é o de que o Estado desempenhou um papel fundamental na

indução do crescimento econômico do país, seja construindo obras de infraestrutura

necessárias ao capital, seja incentivando o consumo, o crédito, através da ampliação dos

programas de transferência de renda.

Por sua vez, conforme o mencionado autor, a legitimidade política do

“novo” projeto burguês no Brasil não seria alcançada apenas com a estabilidade da

moeda, do Plano Real do governo FHC, ou com os grandes investimentos necessários

ao desenvolvimento capitalista, tendo em vista que era preciso ainda ampliar os

programas de transferência de renda para os trabalhadores42

, isto é, uma lógica a qual o

Estado precisa incentivar a capacidade aquisitiva dos indivíduos-estratégia

completamente convergente com os interesses do capital e à reprodução política da

ordem burguesa. Desse modo, o governo do PT está constituindo um duplo movimento,

pois:

[...] De um lado produz modificações na política econômica e, de outro,

amplia drasticamente os programas sociais especialmente com o foco nas

frações mais desfavorecidas da classe trabalhadora. Como exemplos de

políticas sociais focalizadas e de cunho compensatório, destacamos o Bolsa

Família, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), o Programa

de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e

Adultos (Proeja) e o Programa Universidade Para Todos (ProUni). Ao

mesmo tempo em que afirma que isso não alterará as condições de

dependência do Brasil em relação aos países centrais e a melhoria das graves

condições de vida da classe trabalhadora, [...] [o] governo Lula, [...] a

denominação de “governo social-liberal” ou “terceira via da periferia”

justamente por ter produzido a expansão incrível de políticas sociais focais e

de caráter compensatório que, por sua vez, têm contribuído para atrair e

controlar o movimento sindical e social. Um grande exemplo disso foi, e

continua sendo, a cooptação do movimento estudantil organizado no âmbito

da UNE (PAULA, 2009, p. 129-130).

42

Apesar das limitações dos programas de transferências de renda, inclusive debatidos por Behring e

Boschetti (2008), esses programas se constituem como mediações importantes na sociedade do capital,

uma vez que promovem o acesso a direitos básicos como educação, saúde e trabalho, à inclusão social

mínima dentro deste cenário de barbárie.

Page 71: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

70

O Partido dos Trabalhadores (PT) vem, nos últimos doze anos,

consolidando-se como um dos principais partidos burgueses no Brasil, também

construindo alianças com os donos do poder oligárquico, visando à governabilidade e à

efetivação de seu projeto econômico (ALVES, 2013), que segue orientações do Fundo

Monetário Internacional, tendo severas implicações para as políticas públicas, inclusive

para a política de ensino superior.

4.3 A Contrarreforma no Âmbito do Ensino Superior no Brasil

A primeira tentativa de contrarreforma do ensino superior teve início na

década de 1980, no governo Sarney (1985-1990), quando foi criado o Grupo Executivo

para a Reformulação da Educação Superior (GERES), responsável por redigir um

relatório e anteprojeto de lei, objetivando reestruturá-lo, alegando que esse modelo o

qual articula o ensino, a pesquisa e extensão seria muito caro. Entretanto, com a pressão

de muitos setores organizados do movimento docente e estudantil, a referida reforma foi

barrada (ANDES, 2007).

No entanto, a proposta foi novamente levada pelo Ministro da Educação do

presidente Fernando Collor, mas em decorrência da crise de seu governo, não foi

possível amadurecê-la. É, portanto, no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-

2002), que a mesma será realmente operacionalizada e no governo de Luiz Inácio Lula

da Silva (2003-2009) que esta será ainda mais fortalecida.

Ao estudarmos as implicações da contrarreforma do Estado para a educação

superior nos anos 1990, será necessário primeiro entender três características que são

peculiares ao desenvolvimento desta no Brasil. O primeiro, diz respeito a sua natureza

tardia, “[...] pois as primeiras instituições de ensino superior são criadas apenas em 1808

e as primeiras universidades são ainda mais recentes, datando da década de 1930 do

século XX” (DURHAM, 2003, p. 1).

Em segundo, deve-se atentar para a expansão desse ensino, ocorrida nos

anos 60 do século XX, a qual, segundo Fernandes (1989), foi conduzida pela burguesia

brasileira e também produziu uma falsa democratização. Isso fica ainda mais evidente a

partir da análise da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961, a qual

legitimou essa expansão e proliferação desse ensino revestido de um discurso de

necessidade de modernização do país. Contudo, para Fernandes (1989), configurou-se

Page 72: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

71

muito mais como uma estratégia da burguesia militar para conter a rebeldia da

juventude que à época já reivindicava a ampliação de vagas.

Neste sentido, o autor coloca que a burguesia militar promoveu três ações

fundamentais nesse campo durante esse período:

A primeira foi preparar uma reforma universitária que era uma anti-reforma,

na qual um dos elementos atacados foi os estudantes, os jovens, os

professores críticos e militantes. [...] Além disso, a ditadura usou um outro

truque: o de inundar a universidade. Simulando democratizar as

oportunidades educacionais no nível do ensino de terceiro grau, ela ampliou

as vagas no ensino superior, para sufocar a rebeldia dos jovens [...]. Por fim,

um terceiro elemento negativo foi introduzido na universidade: a concepção

de que o ensino é uma mercadoria. O estudante não saberia o valor do ensino

se ele não pagasse pelo curso. Essa ideia germinou com os acordos MEC-

USAID, com os quais se pretendia estrangular a escola pública e permitir a

expansão do ensino comercializado (FERNANDES, 1989, p. 106)

Desse modo, a partir da análise de Durham (2003) e Sampaio (2011),

podemos afirmar que o discurso de democratização sustentada em uma lógica privada

não é recente, inclusive a Constituição de 1891 já abordava sobre o ensino privado e as

Cartas Magnas subsequentes mantiveram esse ensino livre à iniciativa privada,

principalmente a Constituição Federal de 1988, (em seu Artigo 9º) que “[...] manteve a

privatização do público e a distribuição de verba pública para o setor privado-laico e

confessional-, por meios diretos ou indiretos” (LIMA & PEREIRA, 2009, p. 34). Desse

modo, diferentemente dos demais países da América Latina e Europa, quando essa

modalidade em sua maior parte se concentrou até a década de 1980 em universidades

estatais ou católicas, no Brasil, as universidades constituíram até esses anos apenas uma

pequena parte do ensino superior, pois:

[...] Além de instituições confessionais e de escolas superiores criadas por

elites locais e sem fins lucrativos, proliferou, já a partir da década de sessenta

um outro tipo de estabelecimento: não confessional, não universitário e

organizado como empresa que, explícita ou disfarçadamente, tinha como

objeto principal a obtenção de lucro, tratava-se, portanto, de um negócio

(DURHAM, 2003, p. 2) .

Além dessas características citadas, é preciso entender que o

desenvolvimento do ensino superior é marcadamente privado e nasce de uma aliança

entre Igreja Católica, governo Vargas e da própria exigência da burguesia brasileira, que

necessitava de uma mão de obra letrada para prover a modernização do país, tanto que

Fernandes (1975b) relata que o sistema econômico funcionou com um dos eixos

Page 73: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

72

fundamentais para o desenvolvimento da educação superior, que converge com as

análises de Lima & Pereira (2009, p. 33), pois:

Com o desenvolvimento do capitalismo no nosso país, a expansão do acesso

à educação passou a ser exigência do próprio capital, seja de qualificação da

força de trabalho para o atendimento das alterações produtivas, seja para

difusão da concepção de mundo burguesa sob a imagem de uma „política

inclusiva‟. Esse processo foi historicamente confrontado pela pressão de

professores e estudantes para a destruição da monopolização do

conhecimento pelas classes dominantes e pela democratização interna das

universidades. Por outro lado, as diversas frações da burguesia brasileira

reivindicavam a „modernização‟ da educação superior para atender às

alterações no mundo do capital. Esse debate foi travado na década de 1960,

quando a reforma universitária entrou na pauta política como uma importante

„reforma de base‟ ou „reforma de estrutura‟ [...], reivindicada pelos

movimentos sociais, dentre eles o movimento estudantil.

Para se ter uma dimensão do desenvolvimento do ensino superior público e

privado no Brasil, seguem abaixo os referidos dados do Censo e Sinopse Estatísticas do

Ensino Superior do Ministério da Educação (MEC) que sinaliza a evolução das

matrículas em estabelecimentos públicos e privados durante o período de 1933 a 2001.

Tabela 1 - Evolução de Matrículas

Evolução das matrículas em estabelecimentos públicos e privados no Ensino

Superior brasileiro 1933-2001

Público Privado Total

Ano Número % Número % Número

1933 18.986 56,3 14.737 43,7 33.723

1945 21.307 52,0 19.968 48,0 40.975

1960 59.624 56,0 42.067 44,0 95.961

1965 182.696 56,2 142.386 43,8 352.096

1970 210.613 49,5 214.865 50,5 425.478

1980 492.232 35,7 885.054 64,3 1.377.286

1990 578.625 37,6 961.455 62,4 1.540.080

1995 700.540 39,8 1.059.163 60,2 1.759.703

2000 887.026 32,9 1.807.219 67,1 2.694.245

2001 939.225 31,0 2.091.529 69,0 3.039.754

Fonte: Durham (2003, p. 9)

Podemos constatar que, na década de 1980 o setor privado já respondia por

cerca de 64% das matrículas e, após os anos 1990, alternaram-se períodos de queda,

estabilidade e crescimento nos anos 2000.

Page 74: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

73

Acompanhando as mudanças econômicas do País e orientando os ajustes

estruturais neoliberais prescritos ao Brasil e a toda a América Latina, foram os

organismos internacionais como o Banco Mundial (BM), o Banco Internacional do

Desenvolvimento (BID) e agências da Organização das Nações Unidas (ONU), que vão

influenciar toda a política educacional no início dos anos 1990.

Segundo Rocha (2007), o conteúdo da reforma do ensino superior proposta

no discurso do Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio fora sintonizada

com a ideologia da Teoria do Capital Humano43

. Sobre a influência do Banco Mundial

no âmbito educacional, Dourado (2002, p. 238) discorre:

[...] Considerando sua liderança no processo de reestruturação e abertura das

economias aos novos marcos do capital sem fronteiras [...], é notório o papel

que esse organismo exerce no âmbito educacional na América Latina e,

particularmente, no Brasil ao difundir, entre outras medidas, em seus

documentos uma nova orientação para a articulação entre educação e

produção do conhecimento, por meio do binômio privatização e

mercantilização da educação. Das orientações gerais do Banco Mundial é

possível depreender a prescrição de políticas educacionais que induzem as

reformas concernentes ao ideário neoliberal, cuja ótica de racionalização do

campo educativo deveria acompanhar a lógica do campo econômico.

Nessa perspectiva, a contrarreforma do Estado brasileiro e do ensino

superior segue diretrizes da política macroeconômica do BM em sintonia com os ajustes

propostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). As “recomendações” estão

contidas, inclusive no documento La enseñanza superior: las leciones derivadas de la

experiência (1995), e são as seguintes: 1) Privatização desse nível de ensino, sobretudo

em países como o Brasil, que não conseguiram estabelecer políticas de expansão das

oportunidades educacionais pautadas pela garantia de acesso e equidade ao ensino

fundamental, bem como pela garantia de um padrão de qualidade a esse nível de ensino;

2) estímulo a implementação de novas formas de regulação e gestão das instituições

estatais, que permitam alterações e arranjos jurídico-institucionais, visando a busca de

novas fontes de recursos junto à iniciativa privada sob o argumento da necessária

diversificação das fontes de recursos; 3) aplicação de recursos públicos nas instituições

privadas; 4) eliminação de gastos com políticas compensatórias (moradia, alimentação);

43

De acordo com Rocha (2007, p. 240), Theodore Schultz (1973) foi o principal teórico desta Teoria que

compreende o ser humano como importante fonte de investimento para que o capital cresça e se

desenvolva cada vez mais, que o homem deve investir em si mesmo para alcançar seu bem-estar. Esse é o

discurso da empregabilidade que acredita que quanto mais o trabalhador se qualificar, mais terá

oportunidades, desconsiderando que o sistema capitalista se coloca completamente incapaz de

proporcionar empregos para todos.

Page 75: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

74

5) diversificação do ensino superior, por meio do incremento à expansão do número de

instituições não-universitárias; entre outras.

Especialmente na gestão de FHC (1995-2002), teremos como elementos

influenciados por essa proposta a aprovação da Lei nº 9.394/96, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB), a qual “[negligenciou] parte das bandeiras

encaminhadas pela sociedade civil, especialmente do Fórum Nacional em Defesa da

Escola Pública” (DOURADO, 2002, p. 241). Guimarães, Monte & Farias (2013, p. 37)

reforçam os retrocessos da LDB por esta ter se adequado às orientações do MEC:

A aprovação da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabeleceu as

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), coloca como

obrigatoriedade, em todas as esferas administrativas, na política de educação

nacional, o ensino fundamental, e delega total liberdade para oferta da

educação privada, reafirmando, no sétimo artigo, o princípio constitucional

de garantia dos recursos públicos às entidades filantrópicas, confessionais e

comunitárias. Para a educação superior, tal Lei, implicou na ampliação do

espaço mercantil, com exponencial crescimento de instituições e matrículas

no setor privado. Assim, a partir do Governo de FHC (1995-2002), os dados

oficiais indicam que a política de expansão da Educação Superior no Brasil

deu-se pelo crescimento do setor privado. Tal processo, ainda que com

“diferenciações”, teve continuidade no Governo de Lula da Silva (2003-

2010) e no primeiro ano do Governo de Dilma Rousseff (2011).

A LDB incorporou algumas medidas que foram frutos de muitos embates

desenvolvidos ao longo dos anos 8044

do século XX, que contrariam muitas conquistas

advindas da Constituição Federal de 1988, que trouxe consigo um conjunto de

dispositivos no capítulo da educação, destacando-se a gratuidade no ensino público em

todos os níveis, a gestão democrática da escola pública, a indissociabilidade entre

ensino, pesquisa e extensão na educação universitária, a autonomia das universidades,

dentre outras resoluções.

Uma das mudanças trazidas pela LDB/1996 diz respeito à flexibilização das

restrições regulatórias, já que elas dificultavam a expansão da oferta de ensino superior

por instituições privadas, apesar da insuficiência dos investimentos públicos nos

diversos níveis do setor e a regulamentação da lei que permitiu que instituições de

ensino superior fossem constituídas como empresas com fins lucrativos (SAMPAIO,

2011).

44

Dentre as iniciativas desencadeadas nesse campo, na década de 1980 e que merecem destaque: O

Programa de Avaliação da Reforma Universitária (PARU), em 1983; A Comissão Nacional para

Reformulação da Educação Superior, em 1985; o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação

Superior (GERES), em 1986.

Page 76: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

75

Outra questão colocada foi que a LDB priorizou a educação básica e no

tocante ao ensino superior reduziu o Estado ao papel de supervisor, pois o discurso do

governo era o de que essa modalidade de ensino exigiria muito orçamento e provocava

desequilíbrio nos recursos da educação 45

(ROCHA, 2007).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ainda estabeleceu nas

disposições transitórias que a União deveria, no prazo de um ano, encaminhar ao

Congresso Nacional proposta do Plano Nacional de Educação (PNE), indicando

diretrizes e metas para a próxima década (1996-2006). Por sua vez, a proposta do PNE

do MEC/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) foi

considerada um plano completamente na contramão do que reivindicava a sociedade

civil, pois diversificou o sistema por meio de políticas de expansão, inclusive através do

Decreto nº 2.306/97, por intermédio da não ampliação dos recursos públicos para essa

modalidade de ensino, implementou um sistema de avaliação para avaliar a qualidade

do ensino, ampliação de crédito educativo por parte do Estado e a ênfase na educação à

distância (DOURADO, 2002).

O Decreto acima citado estabeleceu uma reclassificação das IES em

Universidades, Centros Universitários e Faculdades, o que tem promovido “[...] uma

crise de identidade no ensino superior” (ROCHA, 2007, p. 250).

Segundo Lima & Pereira (2009), a contrarreforma do ensino superior partiu

de dois mecanismos básicos: de um lado, contribuir para a „explosão‟ do setor privado e

de outro, para a privatização interna das instituições de ensino superior (IES) públicas.

As implicações dessa reforma para a universidade brasileira, conforme as autoras

articula três núcleos fundamentais:

1) Em relação ao projeto político-pedagógico, operacionaliza a redução das

universidades públicas a „escolões de terceiro grau‟ através da destituição da

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, especialmente para as

áreas de humanas e ciências sociais aplicadas; 2) em relação ao

financiamento da política de educação superior ocorre o estímulo à

privatização interna das instituições públicas e o aumento, tanto da isenção

fiscal para os empresários da educação superior, como do número de IES

privadas; 3) em relação ao trabalho docente, evidencia-se um

aprofundamento da precarização das condições salariais e de trabalho,

estimulado pela lógica produtivista e da competição pelas verbas dos órgãos

de fomento (LIMA & PEREIRA, 2009, p.36)

45

A educação básica, especialmente o ensino fundamental passa a ser prioridade do neoliberalismo, pois

a reestruturação produtiva apenas necessitará de uma mão de obra básica para responder às demandas do

capital (ROCHA, 2007).

Page 77: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

76

Lima & Pereira (2009) argumenta que, há dois elementos importantes a

serem observados na expansão do acesso à educação superior por meio das instituições

privadas: primeiro, trata-se de IES privadas não-universitárias e que não são obrigadas

juridicamente a implementar políticas de pesquisa e extensão, limitam-se somente a

ofertar o ensino, diferentemente das universidades em que existe a indissociabilidade

entre ensino, pesquisa e extensão. Em segundo lugar, esse acesso é marcado aos cursos

de curta duração, cursos sequenciais, à distância, contribuindo para uma formação

superior aligeirada.

As mencionadas autoras comentam ainda que com relação ao segundo

mecanismo de expansão do acesso (privatização interna das IES públicas), o governo de

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) realizou um reordenamento interno das

universidades públicas, sobretudo, as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES),

por intermédio de duas ações: a venda de “serviços educacionais” e a ênfase no ensino

de graduação.

Nesse governo, seguindo a proposta de contrarreforma do Estado brasileiro,

a educação superior passou a ser uma atividade pública não estatal, portanto, um serviço

prestado por instituições públicas e privadas, para as quais o Estado facilitou o

financiamento público direto ou indireto para as IES privadas e o financiamento privado

para as IES públicas. O financiamento público para as instituições públicas seria feito

através dos contratos de gestão (LIMA & PEREIRA, 2009).

Ao avaliar a contrarreforma da educação superior no governo FHC, as

autoras sinalizam uma perspectiva de universidade limitada ao ensino, em razão do

desmonte do tripé ensino, pesquisa e extensão; da formação profissional subordinada

aos interesses do mercado e do capital e da precarização do trabalho docente46

, o que

nos leva a dizer que foi mais uma etapa da “reforma universitária consentida” nos

termos de Fernandes (1989), conduzida mais uma vez pela burguesia. Conforme

Coggiola (2001, p. 110): “[...] é no quadro da crise que a questão da privatização

assume formas brutais: a educação- a educação superior em especial- deve ser

transformada em um negócio para um capital em crise, desesperado por novos campos

de exploração lucrativa”.

46

Para entender mais sobre a reforma do ensino superior no Brasil e suas implicações para o trabalho

docente, sugerimos o artigo “A precarização do trabalho docente nas instituições de ensino superior do

Brasil nesses últimos 25 anos de Bosi (2007). Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/es/v28n101/a1228101>. Acesso em: 6 out. 2014.

Page 78: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

77

Dados47

de 2001, ainda no governo FHC, apresentados pela Associação

Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), revelam que, em 1999, das

1.097 instituições, 905 (82,50%) eram privadas e, em 2001, das 1.391 instituições,

1.208 (86,84%) eram privadas. Lula, a partir dos anos 2000, continuou fortalecendo a

privatização interna das IES públicas e o estímulo ao setor privado, por intermédio de

um conjunto de Medidas Provisórias, Projetos de Lei, Leis, Decretos, expressando que a

contrarreforma desse ensino também foi prioridade política de seu governo.

De acordo com Lima & Pereira (2009), nos estudos sobre a contrarreforma

do ensino superior realizado no governo Lula (2003-2009), estas sinalizam que uma

nova e terceira fase do “milagre educacional” desenvolveu-se por intermédio de quatro

núcleos temáticos: 1) o fortalecimento do empresariamento da educação superior; 2) a

implementação das parcerias público-privadas/PPPs na educação superior; 3) a

operacionalização dos contratos de gestão, eixos condutores da contrarreforma do

Estado brasileiro, de Bresser-Cardoso a Paulo Bernardo-Lula; e 4) a garantia da coesão

social em torno das reformas estruturais realizadas pelo governo federal em absoluta

consonância com as políticas dos organismos internacionais do capital.

As autoras argumentam que, no que toca ao primeiro núcleo sobre o

fortalecimento do empresariamento da educação superior, podemos dizer que esta

ocorreu por diversas ações: pelo Decreto que estabeleceu as parcerias entre as

universidades federais e as fundações de direito privado; pela possibilidade de cobrança

de cursos e venda de „serviços educacionais‟ pelas IES públicas; pela Lei de Inovação

Tecnológica que viabiliza o trabalho docente nas empresas privadas e a ação destas

empresas nas IES públicas e pelo aumento efetivo do número de IES privadas.

O segundo núcleo diz respeito à implementação das parcerias público-

privadas (PPP) na educação superior. As PPPs foram concretizadas através de várias

ações realizadas pelo governo de Lula: do PROUNI, que garante isenção fiscal para o

setor privado em troca de „vagas públicas‟ nas IES particulares até a Lei de Inovação

Tecnológica que viabiliza as parcerias entre as IES públicas e as empresas. Um exemplo

disso foi a Lei de Incentivo Fiscal à Pesquisa, divulgada em 2007 pela Coordenação de

Pessoal de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (apud LIMA &

PEREIRA, 2009, p. 39), subordinando ainda mais a pesquisa e os programas de pós-

graduação à concepção mercadológica da educação e do conhecimento.

47

Disponível em: <http://www.abmes.org.br/abmes/publicacao/index/categoria/31>. Acesso em : 28 out.

2014.

Page 79: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

78

O terceiro núcleo temático aborda a operacionalização dos contratos de

gestão, eixos condutores da contrarreforma do Estado brasileiro debatidos por Behring

(2003), de Bresser-Cardoso a Paulo Bernardo-Lula da Silva. Uma referência importante

e atual desta operacionalização é o programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades (REUNI), apresentado por intermédio do Decreto

presidencial (6096/07), tendo como objetivos: aumentar o número de alunos por

professor em cada sala de aula da graduação; diversificar as modalidades dos cursos de

graduação, através da flexibilização dos currículos, da educação à distância, da criação

dos cursos de curta duração, dos ciclos (básico e profissional) e bacharelados

interdisciplinares; incentivar a criação de um novo sistema de títulos; elevar a taxa de

conclusão dos cursos de graduação para 90% e estimular a mobilidade estudantil entre

as instituições de ensino. Tudo isto no prazo de cinco anos. Para cada universidade

federal que aderisse a este “termo de pactuação de metas”, isto é, um contrato de gestão

com o MEC, o governo prometeu um acréscimo de recursos limitado a vinte por cento

das despesas de custeio e pessoal.

Contudo, segundo Boschetti (2008) em uma análise do parágrafo terceiro do

artigo 3º e do artigo 7º do Decreto de criação do REUNI, a autora esclarece como

ocorreu esta expansão, pois o atendimento aos planos dependia da disponibilidade

orçamentária anual e operacional do MEC. Para entender mais em que consiste o

REUNI e suas implicações para o ensino superior, Boschetti (2007, p. 5-6) comenta:

O objetivo do REUNI é levar as universidades públicas a atingir a meta

estabelecida no acordo assinado com o FMI, de inserir 30% dos jovens com

idade entre 18 e 24 anos nas universidades públicas e privadas até 2011. Essa

meta seria louvável e é defendida por todo o movimento docente e discente.

O problema é que essa proposta de expansão não está associada ao aumento

do corpo docente e de ampliação de infraestrutura das universidades. Nesse

sentido, a expansão quantitativa, sem as devidas condições, coloca em risco a

qualidade da formação. O REUNI estabelece uma relação de 18 alunos por

docente, afirmando que essa relação nas Universidades Públicas é de apenas

9. Registre-se que nenhum país do mundo tem tal relação, e que muitas das

universidades brasileiras já atingem e mesmo superam essa relação,

sobretudo após o acelerado processo de aposentadorias desencadeadas pelas

reformas da previdência social.

O quarto e último núcleo temático expressa o objetivo das reformas e

políticas do ensino superior no Brasil durante o período de 2003 a 2009: a garantia do

consenso social em torno das reformas estruturais (previdência, tributária, sindical e

trabalhista) realizadas pelo governo Lula em absoluta convergência com as políticas dos

organismos internacionais do capital. Assim, “[...] a educação escolar assume

Page 80: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

79

importante tarefa na difusão da nova pedagogia da hegemonia, no sentido de

conformação do homem coletivo requerido pelo projeto neoliberal de sociabilidade”

(LIMA & PEREIRA, 2009, p. 40).

Outro aspecto que merece destaque e que fundamenta essa contrarreforma

tem sido o sistema de avaliação proposto para esta modalidade de ensino nos anos 1990,

acerca disto, Dourado (2002, p. 243) argumenta:

[...] Na contramão de um processo avaliativo emancipatório, indutor do

desenvolvimento institucional, as políticas de avaliação da educação superior

no Brasil buscam a padronização e a mensuração da produção acadêmica

voltada, prioritariamente, para as atividades de ensino. Desse modo, a

considerar o conjunto de ações desencadeadas pelo MEC para a educação

superior, deslinda-se uma orientação prática da União, qual seja, a de

centralização diretiva dessas políticas, caracterizadas também pela ausência

de interlocução do MEC com os segmentos organizados da comunidade

acadêmica e sindical e pela adoção de avaliações criteriais e normativas.

A esse contexto, acrescente-se o sistema de avaliação do ensino superior

que ocupa papel central, pois avaliações como as que foram implementadas pelo Exame

Nacional de Cursos (Provão) no governo Cardoso e o Exame Nacional de Avaliação do

Desempenho de Estudantes (ENADE) têm legitimado um rankiamento das instituições

de ensino superior e contribuído mais ainda para a expansão do setor privado, seguindo

orientações internacionais de reduzir transferir o papel de controlador do Estado para

regulador (DOURADO, 2002).

Segundo dados apresentados no estudo de Lima & Pereira (2009), no campo

do Serviço Social, entre 1995 e 2002, foram criados mais cinquenta cursos, sendo 90%

no setor privado. Na totalidade desses cursos, somente 15 (30%) foram criados em

universidades públicas, que reforça a política de expansão do ensino superior no setor

privado no governo FHC, principalmente em cursos que no julgamento do Estado

requerem menores investimentos e que dispensam a necessidade da pesquisa,

geralmente os da área de humanas.

Ainda segundo as autoras, no que se refere somente ao governo Lula, entre

2003 e 2009, 210 cursos de Serviço Social foram criados no país. Sobre o processo de

mercantilização da formação profissional em Serviço Social, seguem os dados:

Page 81: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

80

Tabela 2 - Cursos de Serviço Social distribuídos por períodos

Período Privado % Público % Total

1930-1944 47 63,5 27 36,5 74

1995-2002 45 90,0 05 10,0 50

2003-2009 191 91,0 19 9,0 210

Fonte: Lima & Pereira (2009, p. 43)

Desse modo, para as referidas autoras, se entre 1930 e 1994, a participação

dos cursos privados era da ordem de 63,5%, entre 1995 e 2002 há um crescimento

significativo destes para a participação de 90% na totalidade dos cursos de Serviço

Social e que tem continuidade no período de 2003 a 2009. Com relação aos cursos nas

IES públicas, entre 1995 a 2002 foram criados somente cinco cursos, o que contrasta

bastante com o período subsequente em que foram criados 19 cursos públicos. Destes,

14 foram nas IES federais. Se compararmos os percentuais de crescimento do setor

público (9% em 2003-2009) com o aumento acelerado do setor privado, revelaremos

que a expansão do ensino superior tem favorecido muito mais aos interesses do setor

privado da educação.

Lima & Pereira (2009, p. 45) estabelecem nesse sentido seis elementos a

serem analisados para caracterizar os 210 cursos criados a partir de 2003 e que tem

rebatido na formação dos assistentes sociais no país, pois representaram mais de 60%

dos cursos de Serviço Social existentes no Brasil.

1) 91% dos cursos de Serviço Social criados a partir de 2003 estão

concentrados no setor privado;

2) 60% estão inseridos em IES não universitárias, que não tem o dever

jurídico com a realização de pesquisa, contribuindo para uma formação profissional

restrita ao ensino e um tanto distante do que preconiza as Diretrizes Curriculares da

ABEPPS, principalmente com relação à pesquisa;

3) 59% dos cursos estão inseridos em IES privadas particulares em sentido

estrito, o que confirma o crescente interesse do mercado da educação pelos cursos de

Serviço Social, dado seu baixo investimento e rápida lucratividade, bem como o

afastamento de IES de origem confessional;

4) 51,4% dos cursos foram criados na região sudeste, por três fatores: a

importância econômica e densidade populacional da região; b) o maior poder aquisitivo

Page 82: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

81

da população para o pagamento das mensalidades; c) o fato do mercado de trabalho para

os assistentes sociais ser maior nesta região, tanto no setor público quanto no privado.

5) 66,2% dos cursos encontram-se localizados em cidades do interior do

país, inclusive na região sudeste 80% dos cursos estão concentrados em áreas

interioranas, o que nos supõe dizer que os empresários percebem essas áreas como um

mercado atraente na abertura desses cursos, principalmente a partir da Constituição

Federal de 1988, a qual criou novos municípios e descentralizou as políticas sociais,

aumentando a demanda por assistentes sociais;

6) No governo Lula, ocorreu a criação de cursos de Serviço Social na

modalidade EaD, com 11 IES ofertantes. Se elas representaram 5,2% do total de cursos

criados no período, o percentual se inverte quando analisamos o quantitativo de vagas

de Serviço Social ofertadas por tais IES anualmente: as 11 IES oferecem 46.620 vagas

de Serviço Social na modalidade EaD, enquanto as demais 199 IES ofertam 24.824

vagas na modalidade presencial, anualmente. Desse modo, embora tenham surgido

novos cursos em IES federais, o governo Lula e sua política educacional vêm

incentivando a expansão do acesso por intermédio das EaDs e que também vem

rebatendo na formação dos profissionais de Serviço Social. Conforme visto, as vagas

oferecidas na EaD representaram quase o dobro das presenciais, no geral

desqualificando a formação e não prezando por sua qualidade, conforme o que

preconiza o projeto de formação profissional da ABEPSS.

O Censo do Ensino Superior do INEP em 2011 mostra que em 2010

tínhamos somente 14,27% vagas de graduação presenciais públicas e 85,73% privadas.

Já os cursos à distancia cresceram 78,4% nos números de matrícula, apesar do número

de cursos ter crescido apenas 16,9% no mesmo período. Observa-se assim um número

gigantesco de vagas por cada curso aberto - realidade inexistente na modalidade

presencial. Os cursos superiores em tecnologia cresceram no número de matrículas em

24,8%48

.

Os números a seguir revelam a dimensão dessa mercantilização no Estado

do Ceará, onde tínhamos, em 1991, 73,4% de vagas oferecidas pelo setor público e 26,

48

Os dados numéricos apresentados nesse trecho e nos seguintes foram apresentados no artigo “O

Governo Federal do PT e a continuidade da Contrarreforma Universitária: apontamentos sobre a

formação profissional em Serviço Social no Brasil e no Ceará” dos autores Leonardo Moreira dos Santos

e Raquel de Brito Sousa, artigo apresentado na VI Jornada de Políticas Públicas, no Maranhão, em 2013.

Disponível em: <http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2013/JornadaEixo2013/anais-eixo15-

impassesedesafiosdaspoliticasdeeducacao/pdf/ogovernofederaldopteacontinuidadedacontra-

reformauniversitaria-.pdf>. Acesso em: 08 out. 2014.

Page 83: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

82

6% pelo setor privado, no ano de 2010 esse quadro se inverte, com 34,83% das vagas

proveniente do setor público e 65,17% do setor privado.

No campo do Serviço Social, especificamente no Estado do Ceará, segundo

dados do E-MEC49

, existem atualmente 40 polos de EADs, concentrados em seis

instituições e 15 cursos privados presenciais concentrados em 13 IES e somente dois

são ofertados por instituições públicas. A dimensão dessa mercantilização não condiz

com o que defendem as entidades representativas da categoria, o Conjunto

CFESS/CRESS.

Nessa perspectiva, segundo Boschetti (2007)50

:

[...] A defesa da expansão do ensino superior público com padrão de

qualidade e a extinção de processos seletivos elitistas é uma histórica

bandeira de luta do movimento docente e do Conjunto CFESS/CRESS como

forma de ampliação e democratização do acesso ao direito à educação. Mas

entendemos que a expansão desmesurada de cursos de graduação presenciais

e à distância não materializa a democratização do acesso.

Nesse sentido, entendemos que a democratização do ensino superior não se

reduz apenas à extinção do exame de vestibular, mas antes, perpassa problemáticas que

estão presentes desde o ensino fundamental e médio das escolas públicas, sendo

questões que contribuem para a expansão do setor privado já nesses segmentos,

propiciando uma desigualdade de classe social, pois os filhos das camadas mais pobres,

muitas de famílias negras, são obrigados a enfrentar a dura realidade do ensino público.

Já os filhos de camadas médias a ricas vão para as melhores escolas, tendo de forma

mais facilitada o acesso à universidade51

.

Portanto, atraso escolar; evasão; ausência de professores em condições

dignas de trabalho; inadequada infraestrutura das escolas, que propiciem espaços de

estudo e convivência; ausência de políticas públicas de assistência estudantil e de uma

formação com qualidade são questões a ser pensadas, as quais repercutem no debate do

ensino superior, principalmente nas condições de igualdade no acesso.

49

Informação disponível no site do E-MEC: <http://emec.mec.gov.br/>. Acesso em: 11 dez.2014. 50

Parte da fala da Professora Ivanete Boschetti na Conferência realizada no Encontro Nacional

CFESS/CRESS, em 02 de setembro de 2007, em Natal/RN. 51

Reforçamos essa ideia tomando como base alguns dados apresentados no artigo “Acesso ao Ensino

Superior no Brasil: Equidade e Desigualdade Social”, da pesquisadora Cibele Yahn de Andrade,

publicado na revista eletrônica da Universidade de Campinas (UNICAMP). Disponível em:

http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/acesso-ao-ensino-superior-no-brasil-equidade-e-

desigualdade-social. Acesso em: 23 set. 2014.

Page 84: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

83

Desse modo, vale destacar que a contrarreforma do ensino superior continua

em curso com o governo Dilma Rousseff (2010-2014), principalmente com a

implementação das metas do novo PNE (2011-2020), que mais uma vez legitimou os

objetivos do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (SINAES), da

expansão do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), do EAD, do Exame Nacional

do Ensino Médio (ENEM), pós-graduações à distância, inclusive com financiamento

para pós-graduação, projetos que desresponsabilizam o Estado Brasileiro no seu dever

constitucional de financiar a educação pública e gratuita para toda a população.

Page 85: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

84

5-CAPÍTULO IV- A GENTE QUER TER VOZ ATIVA E A NOSSA LUTA

TOCAR: A CONTRIBUIÇÃO DO ENCONTRO DAS ESCOLAS PARA O

MOVIMENTO ESTUDANTIL DE SERVIÇO SOCIAL

No quarto e último capítulo concentramos a pesquisa de campo, trazendo

dados levantados da pesquisa documental e da entrevista semiestruturada. Dividimo-lo

em subseções de modo a facilitar a compreensão e sistematizar os dados correspondidos

aos objetivos da pesquisa. O referido capítulo é dividido em: 4.1 O surgimento do

Movimento Estudantil de Serviço Social organizado nas Instituições de Ensino Superior

privadas de Fortaleza e Região Metropolitana; 4.2 O surgimento do Encontro das

Escolas; 4.3 O Encontro das Escolas na análise dos entrevistados; 4.3.1 Divulgação do

Encontro e o repasse das atividades encaminhadas entre 2013.2 a 2014.1; 4.3.2 As

principais atividades deliberadas no Encontro das Escolas e executadas pelo Movimento

Estudantil de Serviço Social no curso em 2013.2 a 2014.1; 4.4 A contribuição do

Encontro para o Movimento Estudantil de Serviço Social de cada Escola; 4.4.1 O

Encontro das Escolas e suas contribuições para o Movimento Estudantil de Serviço

Social nas instituições particulares de Fortaleza e Região Metropolitana de 2013.2 a

2014.1; 4.5 O Encontro das Escolas e o Projeto Ético-político do Serviço Social; e 4.6

OS desafios para fortalecer a participação dos estudantes no Encontro das Escolas.

5.1 O Surgimento do Movimento Estudantil de Serviço Social organizado nas

Instituições de Ensino Superior Privadas de Fortaleza e Região Metropolitana

Antes de introduzirmos a contribuição do Encontro das Escolas de Serviço

Social e Região Metropolitana para o MESS das IES privadas, foi necessário

conhecermos o surgimento do MESS organizado nessas instituições. A partir da fala dos

entrevistados, constatamos que a organização do MESS na FaC, FATENE e

FAMETRO é um processo mais antigo e consolidado por serem as primeiras

instituições criadas com curso de Serviço Social, além da UECE, diferentemente da

UNINASSAU que está em processo de consolidação e que o MESS vem

desenvolvendo suas atividades políticas de forma ainda muito incipiente. Embora a

Ratio não seja uma instituição muito recente, o MESS já era para estar com seu CA. No

entanto, apesar de está presente no Encontro das Escolas, desde seu início em 2012,

muitos estudantes se afastaram em 2013 e a base que está hoje organizada não é mais a

do início do Encontro.

Page 86: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

85

Na FaC, a organização do MESS ocorreu logo no início do curso, a partir de

uma iniciativa de um pequeno grupo de estudantes logo da primeira turma de Serviço

Social em 2009. As primeiras gestões, além de pautar a luta pela mudança do processo

avaliativo52

, o qual passou de três para duas etapas no semestre, promovia campanhas

de doação de sangue, divulgação de encontros acadêmicos, dentre outras atividades.

A fundação do CA na FAMETRO ocorreu no ano de 2012 e o Centro

Acadêmico Edna Leite (CAEL), nome de uma professora e primeira coordenadora do

curso na instituição. Na FATENE, o Centro Acadêmico de Serviço Social

(CASS/FATENE) Irma Moroni teve sua primeira gestão em 2012.

Na UNINASSAU, o processo de organização do MESS iniciou-se por meio

de quatro estudantes que participaram do Encontro das Escolas nesse período de 2013.2

a 2014.1, inclusive no dia 15 de setembro de 2014 foi aprovado em uma assembleia

geral o estatuto de criação do CA de Serviço Social que leva o nome de Centro

Acadêmico de Serviço Social da Faculdade Maurício de Nassau.

Assim como a UNINASSAU, o MESS da Faculdade RATIO recentemente

passou por um processo de aprovação do estatuto para a criação do CA, sendo aprovado

em 18/11/2014, o qual leva o nome do intelectual Antônio Gramsci.

5.2 O Surgimento do Encontro das Escolas

Segundo os dados colhidos por meio de fotografias postadas nas redes

sociais, entrevistas, relatorias, posts nos grupos do Centro Acadêmico de Serviço Social

da Faculdade Cearense-CASS/FAC e Centro Acadêmico Livre de Serviço Social da

Universidade Estadual do Ceará (CALSS/UECE), não podemos falar de uma data exata

de surgimento do Encontro, mas podemos dizer que no segundo semestre de 201253

iniciou-se uma articulação do MESS das Escolas de Serviço Social da FAC, FATENE e

UECE por intermédio de uma reunião documentada, ocorrida aproximadamente em

07/07/2012, com o objetivo de se articularem para promover uma melhor formação para

52

Apesar de ser uma luta antiga, a mudança do processo avaliativo se consolidou na metade do ano de

2013, na Gestão A luta não Para 2013.2/2014.1 do CASS/FaC. Essa gestão ainda conseguiu uma sala

exclusiva para o CA, promoveu formações políticas e se articulou- mesmo com todas as dificuldades-,

com o Fórum Permanente Pelo Passe Livre (FPL), criando um comitê do FPL na FaC, além de outras

lutas bastante importantes para os estudantes. 53

Há um post de uma militante do MESS da Faculdade Cearense no dia 07/07/2012 no grupo virtual do

Centro Acadêmico Livre de Serviço Social (CALSS-UECE) na qual esta relata que neste dia houve um

encontro com os representantes do Centro Acadêmico/MESS da UECE, FaC e FATENE com o objetivo

de se articularem para promover uma melhor formação para os estudantes. Mas não encontramos fotos

que registrem o referido momento.

Page 87: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

86

os estudantes. Entretanto, essa reunião ocorreu de forma limitada apenas com os

representantes do Centro Acadêmico e MESS organizado dessas instituições, podendo

ser considerada o embrião do Encontro das Escolas, pois desde então surgiram outros.

Ressaltamos que essa articulação ainda não recebia esse nome. Neste mesmo ano, outro

encontro documentado ocorreu em 1 de setembro de 2012, e realmente foi considerada a

I Reunião Ampliada das Escolas de Serviço Social do Ceará e ocorreu no CALSS-

UECE com a participação da FAC, FATENE, UECE, FAMETRO, RATIO, Leão

Sampaio e Instituto Federal do Ceará (IFCE-Iguatu).

Com relação ao ano de 2012, somente é possível citarmos esses dois

Encontros, uma vez que foram os únicos documentados. No ano de 2013, mais

precisamente em 12 de janeiro, realizou-se mais uma Reunião Ampliada entre as

Escolas, agora no Passeio Público/Fortaleza-CE, com a participação novamente da

UECE, FAC, FATENE, FAMETRO e RATIO. Ao chegar em 2013, os Encontros

passaram a ser mais frequentes e regulares, principalmente após o Encontro Regional de

Estudantes de Serviço Social (ERESS) realizado em Pernambuco-PE, no final de maio e

início de junho de 2013, conforme umas das entrevistadas da FATENE pontuou:

[...] Eu participo desde o pré-ERESS de 2013, que foi o primeiro que eu

participei até os dias atuais [...]. Eu até compreendo que alguns estudantes

das particulares falem que começou em 2013, porque a galera começou

mesmo a participar no ano de 2013, depois do ERESS Pernambuco, [...] e eu

achava que o Encontro das Escolas havia surgido no período, na gestão da

Ynaê, de 2012 a 2013, mas conversando, inclusive com alguns estudantes da

UECE pelo que eu soube é que esses Encontros acontecem desde a gestão do

Samuel, de 2011 a 2012 e que não eram vários, era uma vez ou outra que

acontecia, não era regular como vem sendo atualmente desde 2013.2, mas

havia alguns desses Encontros e que uns foram na gestão do Samuel e outros

na gestão da Ynaê. Eu não sei como se deu, mas acho que o objetivo inicial

era [...] fortalecer o movimento estudantil na Região Metropolitana de

Fortaleza, pelo menos aqui, em nível de Ceará, já que a gente não tinha um

contato tão próximo com as outras escolas que também estão no mesmo

Estado [...] (ERESS).

Entretanto, na FaC, a entrevistada disse que o Encontro foi uma iniciativa

de dois estudantes: Marcelo Matos Michiles da FaC e Juliana Ribeiro da RATIO, que

somente depois a ENESSO, na gestão da Coordenação Regional da Inaê Soares e

Sijones Oliveira (UECE) vieram apoiá-lo.

Do Encontro das Escolas não sei muito não, mas pelo que eu sei, acredito

que tenha sido 2012.2 que tenha iniciado, mas eu não tenho certeza. Eu soube

por [...] um convite que veio do próprio centro acadêmico. Pela história que

eu sei foram dois estudantes que viram a necessidade de ter esse Encontro

Page 88: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

87

para aproximar as escolas, tendo em vista que são muitas escolas que hoje

Fortaleza e Região Metropolitana têm o Curso de Serviço Social e então foi

uma forma que eles tiveram de ter essa aproximação e juntar a luta de todas

as escolas, principalmente das escolas particulares. Os dois eram da particular

(o Marcelo e a Juliana) e, na época, a ENESSO era a Ynaê e teve [...]

bastante apoio, inclusive foi uma das pessoas que se dedicou realmente,

porque pegou essa ideia junto com os meninos e levaram para frente. E foi

importante esse apoio da ENESSO, porque afinal tem aquele conteúdo, além

de ser uma pessoa que era da UECE, da pública, que tinha embasamento

maior, tinha um conhecimento maior sobre o assunto, até politicamente

falando [...] (CONESS).

Desse modo, constata-se que com relação ao surgimento do Encontro, com

base nas entrevistas54

, existem duas versões que aponta que este foi uma iniciativa

surgida da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço social (ENESSO) ou de dois

estudantes das faculdades privadas, que obtiveram apoio posteriormente da ENESSO,

mas independente disso, o Encontro desde seu início em 2012 até julho de 2013, foi

apoiado e construído pela Coordenação Regional (CR) da ENESSO, que tinha como

representantes: Samuel Germano, Inaê Soares e Sijones Oliveira, estudantes da UECE.

A partir do ERESS 2013, quando a nova gestão da coordenação da

ENESSO foi escolhida, a Reunião passou a ser construída e apoiada pela Monique

Vieira, estudante da FATENE e Coordenação Regional da Região II, que fazem parte o

Ceará (CE), Pernambuco (PE), Rio Grande do Norte (RN), e Paraíba (PB). Outro ponto

que constatemos como sendo consensual em todas as entrevistas foi quanto ao objetivo

de surgimento, que se pautou em fortalecer o MESS das Escolas de Serviço Social de

Fortaleza e Região Metropolitana.

No início de 2013.2, a Reunião ocorria quinzenalmente, aos sábados, com

formações acerca dos seis eixos estruturantes da ENESSO (Formação Profissional,

Movimento Estudantil, Universidade e Educação, Cultura, Combate às Opressões,

Conjuntura) e após as formações tinha-se um espaço para diálogos sobre as principais

atividades do MESS desenvolvidas nas escolas: trabalho de base, articulação para a ida

a encontros organizados pela Executiva, assuntos correspondentes ao próprio universo

da militância estudantil. É importante mencionar que no próprio Encontro já se delibera

54

Houve divergências e muitas informações desencontradas nas análises das entrevistas com relação ao

surgimento do Encontro, o que fez com que fotos e relatorias pudessem ser úteis para esclarecer muitos

fatos. A partir da análise dessas fotos e uma relatoria, constatamos que ele surgiu mesmo em 2012,

entretanto não nos cabe aqui dizer de quem partiu a iniciativa, para não corrermos o risco de sermos

imprecisos e que apesar de ter surgido nesse ano, a Reunião não era realizada de forma regular e

frequente, caráter que veio adquirir somente em 2013, principalmente com a ampliação da participação

dos estudantes das IES privadas.

Page 89: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

88

a próxima escola-sede e a atividade, bem como nomes de facilitadores, tudo de forma

organizada pelos próprios participantes.

Atualmente, a Reunião continua com a mesma metodologia e continua

sendo realizado aos sábados, mas vem enfrentando dificuldades organizativas e um dos

encaminhamentos tirados foi o espaço com os ABCs do MESS de caráter itinerante e

rotativo em todas as escolas. Em 2013.2 o Encontro se direcionou mais para a

construção coletiva do Planejamento Estratégico Regional (PER) da Região II, que teve

como escola-sede a FATENE, já que um dos Coordenadores Regionais pertencia a

referida instituição. No período de 2014.1, houve a tentativa de organizar o I Encontro

Cearense dos Estudantes de Serviço Social (I ECESS). No entanto, a preparação e

organização do ECESS acarretou o distanciamento da base estudantil e, a partir disso

decidiu-se adiar as atividades para a construção do evento.

5.3 O Encontro das Escolas na Análise dos Entrevistados

Com relação à pergunta sobre o que consiste o Encontro das Escolas, a

entrevistada da FATENE respondeu:

É espaço onde o movimento estudantil das faculdades particulares e da

universidade que estão no âmbito de Fortaleza e Região Metropolitana vem

fortalecendo. Aí nesse Encontro tem informação, acontecem espaços

organizativos, que a gente vai organizar, por exemplo, a ida dos estudantes

dessas instituições para um encontro. É um espaço onde a gente vai falar dos

pré-encontros e dos pós-encontros, é um espaço que a gente também utiliza

dele pra vivenciar o que a gente não consegue vivenciar dentro da própria

instituição. Ás vezes é um espaço [...] que não acontece no espaço dentro da

instituição [...], a gente usa desse espaço para fazer formação, usa desse

espaço para organizar encontro como a gente vem tentando organizar o

ECESS [...], é um espaço fora das paredes da universidade (ERESS).

Parafraseando a supracitada entrevistada, o Encontro das Escolas é um

espaço externo às paredes da universidade e organizativo do MESS, que precisa cada

vez mais pensar estratégias para agregar os estudantes que são das faculdades privadas.

Muitos destes estudantes são trabalhadores; mães e pais advindos de ocupações de

trabalho bastante exploradas relacionadas ao setor de comércio e serviços, geralmente

estudam no período noturno, possuem uma jornada de trabalho semanal e encontram

mais dificuldades para participar das atividades do MESS aos sábados, e, portanto,

quando não estão trabalhando tem suas preocupações com família, com os estudos,

Page 90: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

89

lazer, dentre outras questões, que geram uma sobrecarga, a qual, se não impossibilita,

compromete esta participação na militância.

Conforme Guimarães (2014), esta sobrecarga corrobora para que esse

estudante não se reconheça e nem se sinta parte desse movimento, pois não dialoga com

a realidade deste. Por isso é importante a desconstrução de que esse espaço seja

entendido apenas para os MESS organizado, conforme frisou o entrevistado da FaC:

[...] Não vamos falar só sobre o Movimento Estudantil, porque vai além do

Movimento Estudantil e se a gente fala só de Movimento Estudantil nem todo

estudante vai querer participar, porque fica achando que isso é só coisa do

CA ou de quem tá organizado. Inclusive, é uma das falhas hoje que estudante

não vem, porque fica achando que tem que ser do CA para estar, porque é

difícil encontrar alguém que não seja do CA ou que não esteja construindo o

CA atuando nesses espaços. Então é só uma barreira que tem que ser

quebrada e perceber também esse espaço como qualificante, como um local

de qualificação da sua formação, não só de formação para o movimento

estudantil, mas para [...] formação profissional e política [...]. O estudante

tem que ver aquele espaço como se fosse espaço dele, não só espaço de

organização do movimento estudantil, se não acaba limitando mais ainda a

participação (SNFPMESS).

Para a estudante da FAMETRO, o Encontro proporciona ao estudante

construir a relação entre a teoria e a práxis, que segundo Burtelar (2008), o exercício

profissional do assistente social deve ser entendido como um movimento entre

investigação e ação, entre consciência e ação, aqui entendida como uma capacidade

teleológica, diretamente conectada com a teoria. Além disso, constata-se que o Encontro

fortalece valores fundamentais da militância como a solidariedade e o compromisso

com as lutas coletivas (BOGO, 2000).

[...] É um espaço que contribui para formação profissional e é importante a

gente ter esse vínculo com os outros estudantes para ter essa ideia da

realidade sabe?! [...] é a quebra do conservadorismo quando o aluno chega no

curso sabe?! têm os professores e tudo mais e é importante, mas você está ali

agindo na pratica... então eu falaria pro aluno que se ele quer quebrar umas

coisas na cabeça dele, ele vá para o espaço do Movimento Estudantil, se ele

quer realmente lutar por uma sociedade emancipada ele vá pro Encontro das

Escolas, que ele vai encontrar forças, porque ele não tá só... (PEN).

Desse modo, todos os entrevistados comentaram que o Encontro das

Escolas consiste em um espaço da formação profissional, da mediação necessária entre

teoria e prática, da oposição ao neoconservadorismo que está presente nas mais diversas

relações sociais. Vejamos o que diz a entrevistada da RATIO:

Page 91: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

90

[...] É um Encontro para você está debatendo temas polêmicos, que você não

vai está discutindo em sala de aula. É uma quebra de paradigmas, quebra de

preconceitos... exatamente uma troca de vivências... muito do que a gente

passa na nossa instituição, no Encontro das Escolas, a gente socializa

também, para todo mudo ficar sabendo, para todo mundo se articular e aí

todo mundo se apoia, para que nenhum estudante se sinta sozinho na

militância. Então o Encontro das Escolas é isso... para você entender o que é

o Movimento Estudantil, para você se engrandecer, para conseguir militar e

entender sobre outros temas, [...] porque em sala de aula não vão falar sobre a

legalização do aborto, a legalização da maconha, não vão discutir ou pouco

vão discutir a questão de gênero, principalmente em instituições que tentam

manter o conservadorismo, como é o caso da minha instituição (PER).

Algo que nos chamou atenção diz respeito às recorrentes falas pontuando

que as salas de aula não discutem temas polêmicos. Desse modo, questionamos: “O que

se passa nessas salas de aula?” “Cadê o estímulo ao pensamento crítico tão necessário à

formação do assistente social?”. Para o entrevistado da UNINASSAU, o Encontro é

uma troca de vivências, que possibilita ao MESS ter a consciência do ensino

precarizado, direcionando as lutas a serem travadas no universo das IES privadas,

principalmente pela adequação das grades curriculares dos cursos ao que determina as

Diretrizes Curriculares da ABEPSS. 55

É a principal agenda das escolas aqui de Fortaleza, onde a gente discute

problemas, discute estratégias, a gente discute eventos, tudo que tá

relacionado ao Serviço Social [...]. Aí eu explico o seguinte: hoje em dia eu

sei que a minha grade curricular ainda não é a ideal... Mas como eu sei?

Porque eu sei que existe um problema, inclusive em outras faculdades que

também passaram por esse problema e que eles conseguiram resolver...

Resolveram como? Se mobilizando! Como é que eu ia saber que minha grade

curricular não era ideal? Foi a partir daí...trocando essas informações no

Encontro das Escolas [...], tipo mesa de opressões! o que são essas

opressões?! Por que esse povo se oprime tanto?! Então, tipo assim... até eu

entender isso e não foi na sala de aula, eu entendi no Encontro das Escolas...

Então, assim, é um momento de troca de informações entre instituições, na

qual a gente pensa que se fecha nos nossos problemas, mas que os outros

também têm e têm as soluções, e a gente vai trocando informações e

construindo novos caminhos (ENESS).

Além dessa questão colocada, um dos militantes da FaC e outro da

FATENE também comentaram que a Reunião das Escolas é espaço de uma

solidariedade coletiva, uma vez que reduz a competitividade entre os estudantes e por

não estarem alheios a um modelo econômico competitivo e a um projeto estrutural de

educação, o qual serve muito mais para criar um rankiamento entre as instituições e

favorecer a ampliação do mercado nessa área, principalmente com os exames para aferir

55

Para saber mais sobre as Diretrizes Curriculares da ABEPSS, sugerimos consultar o site da ABEPSS

disponível em http://www.abepss.org.br/files/legislacao_diretrizes.pdf Acesso em 14/12/2014.

Page 92: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

91

a qualidade dos cursos de ensino superior, acabam assimilando essa lógica e disputando

entre si, “tirando a lupa” que enxerga os problemas estruturais e focando-a nas saídas

individuais e meritocráticas como soluções efetivas para os nossos problemas sociais.

Neste sentido, os referidos entrevistados comentam:

O Encontro é importante pra fortalecer enquanto categoria dentro dessa

lógica que cria competitividade e disputa entre as escolas, principalmente

pelo ENADE, a que escola tal tem nota cinco, escola b tem nota quatro,

escola c tem nota três e acaba gerando uma disputa e isso é muito

preocupante, porque lá na categoria pode prejudicar [...]. Então a gente acha

que simplesmente essa competitividade que é propagada pelas escolas e vem

aprofundada pelo ENADE, vai repercutir dentro da categoria como

fragmentação da categoria, e o Encontro quer romper isso, interromper essa

disputa entre as escolas e que contribua com [...] uma categoria mais forte

futuramente, até para a gente lutar com nossas próprias bandeiras de lutas,

porque e uma categoria muito fragmentada [...] (CORESS).

Para a estudante acima o Encontro possibilita superar a rivalidade entre as

escolas, entre os estudantes e contribui futuramente para a construção de uma categoria

mais unificada e fortalecida. Essa questão também foi pontuada pela entrevistada da

FaC:

Eu falo para os estudantes que é um Encontro de todas as escolas de

Fortaleza e Região metropolitana que tem o Curso de Serviço Social para

gente discutir, não só receber formação, mas a gente discutir o que está

acontecendo e a partir daí a gente poder estar junto. A gente crescer junto, a

gente construir espaços juntos, até para acabar com aquela rivalidade que

existe entre as escolas e eu acredito que ainda existe entre os estudantes por

serem de escolas diferentes. Então o que eu falo é isso, é uma forma das

escolas se encontrarem para unir forças juntos e formar um Serviço Social

combativo e de luta (CONESS).

Desse modo, sintetizando as falas de todos os entrevistados, o Encontro das

Escolas de Serviço Social é um espaço rotativo, no qual o MESS da FaC, UECE,

FATENE, FAMETRO, RATIO e UNINASSAU se reúne para organizar o movimento,

discute temáticas relacionadas a formação em Serviço Social, bem como troca vivências

e constrói estratégias de lutas. Estão se direcionam a combater os interesses capitalistas

no campo da educação superior e que repercutem na não garantia de uma formação

profissional de qualidade comprometida com as diretrizes curriculares da ABEPSS, a

qual aponta o projeto de formação preconizado pela categoria, principalmente no que

toca a questão do tripé ensino, pesquisa e extensão.

Além dessa questão, o Encontro é um espaço de conhecimento em que os

estudantes têm a oportunidade de debater temáticas que estão inscritas no campo da

Page 93: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

92

profissão, mas que pelo conservadorismo ainda bastante presente ou pelo tempo em sala

ser muito reduzido, isto não é suficiente. É ainda considerada uma ferramenta

organizativa em que se articula a preparação do MESS para a ida conjunta a encontros

da ENESSO, inclusive criando os espaços dos Pré-ERESS, Pós-ERESS, Pré-

SRFPMESS, que informam aos estudantes a dinâmica dos encontros; bem como é um

local de formação em que o MESS se atualiza e dialoga com o que está sendo debatido

na/pela categoria, através das formações dos seis eixos da ENESSO.

5.3.1 Divulgação do Encontro e o repasse das atividades encaminhadas em 2013.2 e

2014.1

Em todas as escolas, com exceção da FAMETRO, a qual além das redes

sociais divulga com passagens nas salas, o Encontro das Escolas de Serviço Social é

prioritariamente divulgado por meio das redes sociais, através do grupo no Facebook já

citado, do Encontro das Escolas de Serviço Social de Fortaleza e Região Metropolitana,

nos grupos do MESS das escolas, nas páginas dos Centros Acadêmicos.

A divulgação tem se constituído como uma autocrítica dentro do

movimento, tendo em vista que muitos estudantes não têm acesso a esse recurso,

ficando bastante fragilizada. Outra questão a qual tem pesado bastante, diz respeito às

dificuldades financeiras, pois o Encontro não tem uma política financeira própria para a

confecção de cartazes, panfletos, dentre outros materiais de divulgação, inclusive a

militante da FaC comenta um pouco sobre essa divulgação:

Eu acho que ainda é uma coisa que a gente precisa melhorar [...], a

divulgação por outros meios, porque a gente usa muito mais via Facebook e

também nas reuniões do centro acadêmico que é aberta a todos [...], mas eu

acredito que poderia ter uma maior divulgação... assim... como nosso tempo é

muito corrido pela própria dinâmica da faculdade privada, ficar passando em

sala de aula, fazendo aqueles convites nem sempre é possível, por isso que a

gente se restringe muito aos meios de comunicação e ás vezes só o boca a

boca mesmo... vai lá e chama, passa durante o intervalo e chama...é mais

assim mesmo (CONESS).

Com relação à questão do repasse de atividades encaminhadas no Encontro

para os demais estudantes das escolas, seis entrevistados disseram que o repasse ocorre

nas redes sociais através das relatorias postadas nos grupos já citados e reuniões do

centro acadêmico, mas ainda é muito deficiente. Somente uma militante da RATIO

disse que até então nunca foi feito repasse aos demais estudantes da instituição quando

esta participou dos encontros.

Page 94: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

93

5.3.2 As Principais atividades deliberadas no Encontro das Escolas de 2013.2 a 2014.1

executadas pelo Movimento Estudantil de Serviço Social no Curso

Dentre as atividades que foram deliberadas no Encontro das Escolas e que

foram executadas pelo MESS de cada escola, segundo a entrevistada da FaC:

A gente já deliberou muitas coisas, a construção de qualquer pauta que

envolva o Serviço Social de modo geral, a gente constrói junto. Por exemplo,

as lutas nas ruas de 2013, de junho, [...] a gente se sentou e a gente viu quais

as bandeiras que a gente queria jogar. Então assim [...], até o encontro que

não foi possível, que seria o primeiro que a gente iria organizar, inclusive

também [...] algumas escolas que não tem centro acadêmico, vamos buscar

construir um centro acadêmico lá naquelas escolas, [...] a gente sempre

conversa isso dentro do Encontro das Escolas...Qual escola que está

fragilizada no movimento estudantil e o centro acadêmico que está

precisando de ajuda?! ... Então isso sempre é debatido junto e levado para

fora e são muitas coisas que a gente conseguiu levar para frente [...]

(CONESS).

Sobre as atividades encaminhadas relatadas pela entrevistada acima: a

participação do MESS nas manifestações de junho de 2013; e a construção do ECESS

em 2014.1, em que o MESS de cada IES ficou responsável em convidar sua base para

participar da construção, construindo programação, mesas, nomes de facilitadores, datas

e outras questões organizativas do evento. Para a entrevistada da FATENE:

[...] Eu acho que o que a gente mais conseguiu discutir foi o boicote ao

ENADE, e tiveram muitas outras coisas também, os pré-encontros... a gente

sempre conseguiu levar alguns estudantes. Eu acho que algumas coisas foram

deliberadas no Encontro das Escolas e que a gente bateu direitinho, que foi o

PER, porque a gente discutiu muita coisa no Encontro das Escolas, até

porque foi uma proposta nossa de dividir assim o encontro, da gente não

centralizar esse encontro só na FATENE e a gente foi que teve essa ideia de

[...] convidar os estudantes das outras instituições que estavam realmente

participando do Encontro das Escolas pra chegar junto da gente, e aí foi por

isso que aconteceu, a gente teve o apoio da FAC, a gente teve apoio da

UECE (ERESS).

A estudante da FATENE comentou sobre o encaminhamento de debates

acerca do ENADE, seguido da defesa do boicote às provas, uma campanha que foi

levada à frente pelo MESS da FaC e FATENE e a gestão “Sempre Tem Gente pra

chamar de Nós” do CALSS/ UECE, embora o posicionamento fosse divergente do da

ENESSO, que à época não encaminhou o boicote; os pré e pós encontros de preparação

para os encontros organizados pela ENESSO, em que cada escola ficaria responsável

para construir o seu; questões como as reuniões organizativas do Planejamento

Page 95: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

94

Estratégico Regional (PER) de 2013.2, que teve como escola-sede a FATENE, mas que

na Reunião das Escolas essa organização foi dividida com as demais instituições

presentes.

5.4 A Contribuição do Encontro para o Movimento Estudantil de Serviço Social de

cada Escola

Na FaC e FATENE, o Encontro das Escolas não contribuiu diretamente

para a organização do MESS, tendo em vista que já existiam Centros Acadêmicos na

instituição antes mesmo da participação no Encontro. Entretanto, na análise das falas a

principal contribuição foi que o Encontro desenvolveu uma formação política dos

militantes, a qual foi colocada na fala de um dos entrevistados da FaC e de um da

FATENE:

Houve um fortalecimento do Movimento Estudantil, isso é fato, da

apropriação política foi crescente, inclusive na gestão que os estudantes

participam acaba sendo uma formação interna [...]. No Movimento

Estudantil, na Faculdade Cearense, eu percebo que tem muito do Encontro

das Escolas, dos debates, e até de entender a organização coletiva, eu acho

que tem muita contribuição... agora da fundação não, porque já existia, mas

dar esse caráter também de luta, de combatividade, de entender quais são as

bandeiras do Movimento Estudantil, da própria ENESSO. Então acho esse

direcionamento fundamental [...], porque se não existisse, alguns movimentos

estudantis estariam bem isolados, como a gente já teve em outras escolas [...],

um movimento estudantil bem isolado com suas bandeiras especificas [...], e

aí esquece que tem coisas maiores, bandeiras mais coletivas56

(SNFPMESS).

[...] A primeira coisa que o Encontro das Escolas veio contribuir foi para

formação política do Movimento Estudantil aqui, com espaços formativos

onde foi organizada uma discussão sobre conjuntura, sobre formação

profissional, sobre opressões [...]. Então, acho que o Encontro das Escolas

fortaleceu com uma formação política [...] e outra coisa foi que essa interação

com as escolas, a gente começou a perceber a atuação do movimento

estudantil em outras escolas e a gente começou ver a atuação da FAC, [...] da

UECE, a gente percebeu que eles também encontram dificuldades lá... e uma

das coisas pra mim que foi muito pedagógica, foi a FaC ter conseguido

organizar os estudantes e irem pra rua e aí levou a sua experiência para o

Encontro das Escolas57

, então contribuiu sim, nesse sentido de fortalecer o

movimento estudantil, a formação política e fizesse que a gente pensasse

politicamente a ENESSO, começasse não só começar a participar do espaço

da ENESSO, mas também disputar a ENESSO [...]. A gente percebeu que a

56

Para Guimarães (2014) um dos desafios colocados é justamente romper com o MESS isolado, que não

dialoga com os demais movimentos sociais. 57

Na Copa das Confederações de 2013, a FaC conseguiu mobilizar seus estudantes para irem às ruas,

inclusive convidou os estudantes para uma oficina de cartazes para levarem ao ato no dia seguinte. No dia

da confecção dos cartazes, após o término da atividade, cerca de trinta estudantes fizeram uma

intervenção nos dois campos da instituição, sensibilizando os estudantes a irem para as ruas. Além desta

mobilização, organizaram outra em 2014 com cerca de cinquenta estudantes reivindicando uma série de

melhorias para o curso e para o corpo discente em geral.

Page 96: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

95

ENESSO dentro da nossa região II, não acolhia as demandas, não se prendia

a debater a realidade das intuições particulares [...] (CORESS).

Conforme visto a partir da análise dos entrevistados, a formação política fez

com que o próprio movimento tomasse consciência do seu significado, de suas

bandeiras de lutas, de uma atuação mais crítica, contestadora e resistente, não se

limitando somente a questões burocráticas, as quais têm se constituído como um dos

grandes desafios na atualidade, sendo debatidos por Guimarães (2014, p. 71-72), pois

segundo a referida autora, a formação política é um elemento indispensável para a

militância e para a busca de nossa emancipação:

Compreendemos formação política como um processo no qual o indivíduo se

percebe como ser histórico capaz de intervir nos rumos da sociedade.

Perpassa a apropriação de conhecimentos teóricos e da prática política que

instrumentalizem o sujeito para a análise da realidade e para a elaboração de

alternativas visando à sua transformação.

Desse modo, a autora comenta que o estudo da teoria e a formação política

são responsáveis pelo conteúdo dado às reivindicações do movimento, as táticas e

estratégias e se a formação política estiver enfraquecida, as ações perdem a radicalidade

e o seu potencial de transformação da realidade.

Outro dado colocado nas falas referidas acima é o de que o Encontro das

Escolas acompanhou e forneceu apoio ao MESS que quisesse fundar seu CA. O

entrevistado da FATENE ainda disse que o Encontro possibilitou introduzir o debate da

realidade das particulares, o que converge para a análise de que a entidade na Região II,

por muito tempo não se atentou para as discussões do MESS nas IES privadas, que pode

ter sido reflexo de que os cargos de direção da Executiva, na Região II,

hegemonicamente, terem sido ocupados por estudantes das universidades públicas e que

isso, muitas vezes dificulta o protagonismo do MESS das faculdades privadas, inclusive

para discutir as condições objetivas em que está submetido nos encontros organizados

pelo movimento a partir dos seus próprios sujeitos.

A segunda entrevistada da FaC comentou que o Encontro fortaleceu a base

do MESS da FaC, tanto que repercutiu no maior número de estudantes da instituição

que se aproximaram da Reunião:

Com certeza! [...] Tanto o Centro Acadêmico como o Movimento Estudantil

com certeza fortaleceu [...], porque assim eu percebo que a maioria dos

estudantes que vão para o Encontro das Escolas atualmente é da FaC, então

Page 97: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

96

isso já é algo positivo, isso quer dizer que esse Encontro está fortalecendo a

base da Faculdade Cearense [...]. De fato a gente precisa melhorar mais, mas

na FAC com certeza tem chegado, tem contribuído (CONESS).

Na UNINASSAU, o entrevistado disse que a organização do Centro

Acadêmico está diretamente relacionada ao Encontro das Escolas, pois:

O CA da Nassau a gente pode colocar um dia nos livros que ele nasce mesmo

de uma demanda, de uma necessidade, de um intuito do Encontro das

Escolas, se não fosse o Encontro das Escolas não teria CA. Então assim, foi

o primeiro espaço no qual a gente ia lá, debatia os meus problemas, quais

eram as minhas dificuldades e foi lá que vieram todas as estratégias [...].

Então se um dia vocês chegarem a ver uma festa de 35 anos do CA da

Mauricio de Nassau, ele se iniciou através do Encontro das Escolas de

Serviço Social, foi ali a gênesis dele... está entendendo?! Então foi

completamente importante porque, assim, se eu vim de um processo que só

estava eu no Encontro das Escolas e agregou mais quatro, já foi uns 400%,

então agregou sim (ENESS)

Para a estudante da FAMETRO, a Reunião tem fortalecido a organização do

MESS na instituição, embora fazendo repasse e comentando cotidianamente sobre a

capacidade integrativa dela com os demais estudantes, eles não conseguem ter a

dimensão da integração e da organização que o Encontro proporciona ao MESS de

Fortaleza e Região Metropolitana, algo que somente seria possível constatar e

compreender através da participação efetiva desses estudantes. Contudo, apenas a atual

gestão do CA participa e a contribuição fica reduzida aos militantes do CA e não a todos

os estudantes, como seria o ideal.

Eu fui começar a ver a vida política da Executiva nas Reuniões das Escolas,

sem o Encontro das Escolas eu não saberia o que sei hoje, é tanto que eu

falava assim: eles têm uma rede, são todos organizados, todos unidos, eu

falava..., e falo aqui também, (na FAMETRO) [...], que, ás vezes, eles

pensam que é só nós aqui, eles não têm essa perspectiva de entender que é

toda uma rede como estou te dizendo e aí para os alunos em geral da

FAMETRO não contribui, mas pra gestão bastante, porque as meninas

começam a conhecer vocês, as outras instituições, fortalece a organização,

elas sempre chegam aqui [...] instigadas a colocar o movimento estudantil

para frente [...] (PEN).

Na RATIO, o MESS vem se fortalecendo há bastante tempo, pela

participação de alguns estudantes no decorrer da Reunião, inclusive foi uma das escolas

que esteve presente desde o início, apesar de que atualmente muitos militantes se

afastaram, o que acreditamos ser por questões políticas e por estarem concluindo o

curso.

Page 98: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

97

Aqui, na instituição, o Encontro tem contribuído... Ele é bastante lento, mas

tem contribuído, porque se o movimento estudantil aos poucos está sendo

legitimado, ele é reflexo dos Encontros das Escolas. E a tendência é que a

gente consiga levar os estudantes, né?! E a partir do momento que a gente

conseguir levar mais estudantes, essa contribuição só vai tender a aumentar...

(PER).

Após analisarmos a contribuição do Encontro das Escolas para o MESS de

cada instituição, buscaremos compreender as contribuições do Encontro para a

organização do Movimento Estudantil de Serviço Social das faculdades privadas de

forma geral.

5.4.1 O Encontro das Escolas e suas contribuições para o Movimento Estudantil de

Serviço Social nas instituições particulares de Fortaleza e Região Metropolitana

de 2013.2 a 2014.1

No que toca à questão sobre a contribuição do Encontro para o MESS nas

particulares de Fortaleza e Região Metropolitana, constata-se a partir de todas as falas

que o Encontro fortaleceu a organização do MESS nas IES privadas, como disse o

entrevistado da UNINASSAU: “[...] hoje ele agrega [...] a necessidade das escolas em

se organizar como escolas, organizarem suas bases, organizar seus alunos para [...] uma

coisa muito maior [...] (ENESS)”.

Essa organização deu-se, principalmente no apoio à criação dos Centros

Acadêmicos, que, de acordo com Rodrigues (2008) são espaços representativos do

Movimento Estudantil do Ensino Superior e que buscam potencializar a formação

política e profissional dos estudantes. Vejamos o que a estudante da FaC respondeu:

[...] É muita coisa pra se falar, mas [...] enquanto [...] escolas eu avalio como

altamente positivo, algo que é fundamental e necessário para nossa região,

porque quando a gente vai para um encontro, um seminário, a gente percebe

que Fortaleza e Região Metropolitana levam o maior número de estudantes e

isso rebate da junção das escolas, porque [...] a nossa região é fortalecida

nesse sentido, porque de alguma forma os estudantes estão se organizando.

[...] E o Encontro das Escolas consegue [...] fortalecer escolas que

começaram agora [...], e ai a gente já consegue fazer uma formação de base

ali e aquela escola já começa um CA... E isso ai não tem vindo da ENESSO,

não tem vindo da coordenação da CR não, tem vindo do Encontro das

Escolas, do trabalho (CONESS).

Além disso, a entrevistada da FaC colocou ainda que o Encontro contribuiu

para o fortalecimento de uma participação organizada dos estudantes nos encontros da

ENESSO, mesmo com escolas que ainda estão começando a articular o seu movimento,

Page 99: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

98

mas que através da formação de base do Encontro já começam a se organizar, inclusive

a pensar sua instância de representação, facilitando o trabalho da ENESSO nessa região.

Fortalece bastante, porque a nossa realidade das escolas privadas é diferente

das públicas, então quando a gente vai viajar eles focam muito nas públicas, a

gente vai para os espaços, eles falam muito nas públicas e cadê as privadas?!

A gente só pode discutir isso quem é da privada, meu povo! Não tem como a

gente discutir movimento estudantil da privada com uma pessoa que é da

Federal, que é da Estadual não, não tem no sentido que as demandas não são

as mesmas, podem até ser no perfil dos alunos, mas enfim até o perfil dos

alunos mudam também...são demandas diferentes então precisa fortalecer

[...]. (PEN).

Embora saibamos que estamos em uma mesma conjuntura de crise e

precarização da educação, com rebatimentos diferenciados para a organização do

movimento na universidade pública e nas privadas, alguns entendem que as

divergências no MESS tratam-se de uma disputa de estudantes da pública contra os

estudantes da privada, o que desqualifica o debate e não agrega para nenhum lado, pois

há muito mais lutas para nos unir do que nos separar.

Entretanto, já ocorreram algumas falhas e incoerências no MESS,

principalmente em espaços organizativos em que os estudantes das privadas levaram

proposta para debater sobre sua realidade em mesas formativas, mas determinado

propôs o nome de um estudante da universidade pública. É por essa razão, que a

militante acima coloca a importância de se fortalecer o protagonismo do MESS nas

particulares, não porque se trata de uma disputa com o MESS da universidade pública

ou que eles não tenham condições mínimas para debater sobre essa questão, mais pela

razão de que o próprio movimento deve debater suas particularidades, uma vez que

embora a realidade das universidades públicas e particulares hoje apresentem muitas

características comuns, tais como o número significativo de estudantes trabalhadores,

principalmente no período noturno, os quais exercem jornadas duplas ou até mesmo

triplas de atividades, sabe-se que esta realidade é muito mais comum nas instituições

privadas, conforme atesta Mendes (1986, p. 620):

[...] O aluno típico, quase sempre como um trabalhador; o aluno que trabalha

durante o dia e que, portanto, normalmente, chega cansado à escola. É

geralmente, de idade média superior à idade média de seu colega de cursos

diurnos, e também, supostamente, mais maduro. [...] o curso noturno é

procurado como fator de melhoria das condições de trabalho, de emprego, de

remuneração e de ascensão social. [...] ele prevalece entre os

estabelecimentos da rede particular [...] as universidades comparecem

invariavelmente com números mais modestos; a área de Humanidades presta-

Page 100: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

99

se, notoriamente, mais que a de Ciências para cursos noturnos, e a

concentração geográfica destes torna-se mais nítida na região Sudeste.

Para Filho e Nery (2009), um dos motivos que explicam a concentração dos

estudantes trabalhadores no período noturno de cursos particulares decorre do fato de

que a partir da década de 1970 houve uma proliferação desses cursos, como forma de

suprir a crescente demanda por vagas, uma vez que as instituições públicas não

conseguiram atender à demanda. Em sua maioria, são “assistidos” por programas

federais que tem o objetivo de “democratizar”58

o ensino superior, tais como o

Programa Universidade para Todos (PROUNI) e o Financiamento Estudantil (FIES),

que são políticas meritocráticas, compensatórias e que excluem a responsabilidade do

Estado no dever de efetivar o direito a todos os níveis de ensino, de livre acesso e com

qualidade. É justamente contra essa democratização privada e precarizada que o MESS

vem direcionando suas lutas.

Existe uma organização que está se fortalecendo entre as privadas, que é

FAMETRO, FATENE, FaC, [...] e agora a Nassau [...]. A Nassau é um

reflexo do Encontro das Escolas... [...] Então eu vejo que esse Encontro das

Escolas serviu muito para isso, para sair dessas críticas às instituições

privadas, porque ela já está aqui, já é real, você não tem mais o que fazer,

né?! E aí chega um momento da gente [...] começar a pensar já nas EADs,

que tem toda uma crítica, mas elas já estão aí. Então não adianta só criticá-las

e não trazê-las junto com o processo [...], a gente traz para perto da gente para

fomentar a discussão... não é dizendo que o ensino dele não funciona, mas

que isso é uma fragmentação da educação. Não é trazendo o EAD lutando

contra o EAD... (não é contra as pessoas, é exatamente contra o modelo,

apesar de que nós lutamos por uma instituição pública e de qualidade...). Mas

eu vejo que estamos bastante organizados... Ocupando espaços que eram

historicamente só das instituições públicas, por exemplo, o VERSUS, o

VER-SUS é uma prova, é uma mostra disso, que ele era só UECE e UFC e aí

veio uma galera massa das instituições privadas. (PER).

Conforme a estudante da RATIO comentou, existe uma crítica do MESS e

das entidades representativas da categoria ao projeto de mercantilização da educação,

pois segundo Vasconcelos (2003, p. 33) “[...] a educação como mercadoria é

incompatível com o projeto profissional dos assistentes sociais [...]” e é somente a partir

da negação desse projeto que poderemos pensar e direcionar estratégias de luta que

efetivem a educação como direito. Por sua vez, o que acontece é que muitos militantes

personificam e tornam o debate subjetivo. Outra observação pertinente é a de que é

incontestável que a experiência de militância do MESS seja riquíssima para a formação

58

Alguns autores como Chauí (2003) não acreditam em democratização, mas em uma massificação da

educação superior.

Page 101: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

100

profissional, no entanto, isso não significa de forma alguma a pretensão de concebê-lo

como espaço exclusivo e substituto da formação em sala de aula, materializada pelas

diretrizes curriculares da ABEPSS, pois conforme argumenta Vasconcelos (2003, p.

35):

Sem realizar a pesquisa e a extensão, o ensino em Serviço Social perde em

qualidade, já que as diretrizes curriculares, aprovadas em 1996, têm na

pesquisa como um dos componentes centrais, pois é ela que contribui no

desvelamento das múltiplas expressões da questão social, matéria-prima pela

qual se debruça o trabalho profissional [...].

Em nossa região, o Encontro das Escolas está no mesmo modelo do

Encontro Local dos Estudantes de Serviço Social (ELESS), o qual vem recentemente

sendo realizado em outros estados, mas foi influenciado pela dinâmica e potencialidade

dos da Região II, os quais o MESS das particulares tem desempenhado com

protagonismo a realização deles, por esta razão que o entrevistado abaixo menciona que

essa experiência precisa ser cada vez mais ampliada.

Eu acho que primeiramente foi uma ideia que veio agregar muito para o

movimento estudantil e que em outros Estados deveriam tentar materializar

isso... então, na verdade, acho que teve um crescimento qualitativo na

militância do movimento estudantil nas particulares, que começaram a bancar

o Encontro, começaram a pensar politicamente, a organizar, a ser realmente

protagonista desse Encontro. Eu acho que também fortaleceu a interação

entre as escolas particulares e aí que muita coisa que a gente via que a gente

passava, a gente viu que a FAC também passava, que a FAMETRO também

passava e a gente percebeu que algumas das nossas lutas também eram a

mesma deles, tipo a luta pela assistência estudantil que é inexistente não

somente na FATENE, mas também na FAC, na FAMETRO; A repressão ao

movimento estudantil, a gente viu que não e só na FATENE, mas a gente viu

que e na maioria das faculdades privadas, então houve fortalecimento que as

faculdades começaram a se chegar e se organizar e pensar conjuntamente

essas pautas e levar para ENESSO (CORESS).

Para o entrevistado da FATENE, a integração das escolas possibilitou a

constatação de que as lutas e os desafios do MESS nestas IES são comuns: a assistência

estudantil, a repressão, principalmente, porque segundo Guimarães “[...] a realidade

sugere ainda a existência de dificuldades postas à organização política estudantil, de

forma autônoma, nas instituições privadas, haja vista a própria ausência de abertura para

espaços fomentados pelo ME” (GUIMARÃES, 2014, p. 72), daí se justifica a

importância da ENESSO debater mais sobre essas particularidades do ME nas

faculdades privadas.

Page 102: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

101

De acordo com a segunda entrevistada da FATENE, o Encontro das Escolas

é um espaço que atende às mais diversas demandas do MESS das faculdades

particulares:

Eu vejo o Encontro das Escolas como um espaço de grande importância nas

escolas particulares, porque [...] é difícil a gente fazer movimento estudantil

de qualquer maneira e fica mais complicado ainda fazer movimento

estudantil na IES particular, então a gente usa desse espaço como espaço

formativo, a gente usa desse espaço como espaço deliberativo para nossa

localização e acaba que esse espaço às vezes até pode não acontecer dentro

da própria instituição, tipo de uma forma mútua e ele [...] vai buscar essa

amplitude lá no Encontro das Escolas, tipo [...] ele não vai ser um encontro

qualquer, mas é onde a gente vai fazer repasse ás vezes de um problema que

a gente está passando na própria instituição, mas a gente vai também fazer

um espaço formativo, um espaço deliberativo, então eu vejo sim o Encontro

das Escolas como um espaço que consegue fortalecer e dar uma maior ênfase

a isso, se tratando de Movimento Estudantil de Serviço Social aqui no

Estado, porque por mais que a gente não tenha esse contato com as escolas

que estão mais distantes, a gente consegue manter esse vínculo com as

escolas que estão participando [...] (ERESS).

Para a FaC, a principal contribuição seria a organização do I ECESS, mas

que não foi possível pelo fato dos estudantes serem militantes nas suas escolas,

trabalhadores e “pais de família”, o que dificultou muito para o MESS levar adiante a

organização desse Evento e pelo fato de que era preciso pensar estratégias de

aproximação com a base que posteriormente favoreceria a realização do ECESS.

Fortaleceu muito... Teve a tentativa de organização do Encontro Cearense de

Estudantes de Serviço Social também com muita dificuldade, porque são

poucas pessoas que teriam o compromisso de está levando isso de forma mais

séria, devido à correria para cada estudante ser militante na sua escola, ser

trabalhador, têm muitas vezes “mãe de família” e tudo mais... então

complicou muito e acabou que fragilizou um pouco o trabalho de base [...] e,

no final de 2014.1, a gente fez uma análise para retomar o Encontro das

Escolas enquanto fórum de organização do movimento estudantil e de

fortalecimento das discussões das particularidades de cada escola para não

acabar perdendo o sentido desse fórum (SNFPMESS).

Finalizamos este tópico. No próximo abordaremos a relação do Projeto

Ético-Político do Serviço Social e o Encontro das Escolas.

5.5 O Encontro das Escolas e o Projeto Ético-Político do Serviço Social

Na última pergunta, foi solicitado ao entrevistado se ele constatava que o

Encontro das Escolas fortalecia a formação em Serviço Social comprometida com os

Page 103: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

102

princípios e valores do Projeto ético-político (PEP). Para todos os entrevistados, há o

fortalecimento desse projeto, o qual é nas palavras de Netto (1999, p. 95):

Os projetos profissionais [inclusive o projeto ético-político do Serviço Social

apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a

legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções,

formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu

exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e

estabelecem as balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com

as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e

públicas [...].

Segundo Vasconcelos (2003), o PEP do Serviço Social (se materializa) na

década de 1990, a partir das Diretrizes Curriculares de 1996, o Código de Ética de 1993,

a Lei de Regulamentação da Profissão nº 8.662/93 e nas lutas políticas que expressam a

demanda de uma grande parcela dos assistentes sociais pela redemocratização do país

nos anos 80 do século XX, sinalizando o amadurecimento teórico-metodológico e ético-

político da profissão.

Para Barata e Bráz (2009), o projeto profissional do Serviço Social é

vinculado a um projeto societário transformador, uma vez que ele ultrapassa questões

relacionadas ao campo das relações de trabalho do assistente social na sociedade

capitalista e faz a defesa e construção de outra ordem societária sem dominação de

classe, gênero e etnia, de que trata o projeto de formação profissional, o Código de Ética

e a Lei de regulamentação da profissão. Desse modo, o estudante compreende que a

Reunião das Escolas fomenta esse comprometimento societário, uma práxis política, a

qual segundo Konder (1992, p. 115):

[...] A práxis é a atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam

no mundo, modificando a realidade objetiva e, para poderem alterá-la,

transformando a si mesmos. É a ação que, para se aprofundar de maneira

mais consequente, precisa da reflexão, do autoquestionamento, da teoria; é a

teoria que remete à ação, que enfrenta o desafio de verificar seus acertos e

desacertos, cotejando-os com a prática.

É através de uma práxis política que esses estudantes interferem na

realidade que estão inseridos e modificam as condições objetivas, seja lutando contra o

aumento das mensalidades, pelos núcleos de pesquisa, por uma mudança da grade

curricular, tornando-a mais qualitativa, pela ampliação do acervo da biblioteca, “Bolsa-

Xérox”, auxílios para participação nos encontros do MESS, dentre outras demandas.

Page 104: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

103

É justamente essa práxis que tem a capacidade de intervir de forma

qualitativa na realidade e modificá-la que o Encontro das Escolas desenvolve nos

participantes. Neste sentido, para a estudante da FAMETRO, o Encontro fortalece esse

compromisso com a construção de outra ordem societária, expresso no PEP da

profissão:

Com certeza... é um comprometimento para além do curso, é um

comprometimento societário... a Reunião das Escolas é comprometimento

societário ao mesmo tempo que a gente está ali morrendo, deliberando um

monte de coisas [...] a gente é a sociedade e não se separa a formação que a

gente tem do mundo que a gente vive não, assistente social é mesmo um

indivíduo social e faz parte enfim... (PEN).

A construção de outra ordem societária perpassa a desconstrução do

conservadorismo na formação profissional e materializa justamente uma das três

dimensões59

colocadas por Iamamoto (1998), que devem ser articuladas e de domínio

do assistente social na contemporaneidade. A dimensão ético-política surge a partir do

processo de intenção de ruptura com o conservadorismo e a negação de um caráter

apolítico e neutro da formação e exercício profissional ocorrido no final da década de

1970. Essa dimensão contribui para que esse estudante quando profissional assuma um

posicionamento político no cotidiano das realidades sociais, as quais são relações

políticas:

[...] No reconhecimento e defesa dos princípios de liberdade, autonomia,

emancipação, defesa intransigente dos direitos humanos, ampliação e

consolidação da cidadania, aprofundamento da democracia, em favor da

equidade e justiça social; empenho na eliminação de todas as formas de

preconceito; A garantia do pluralismo, optando por um projeto profissional

vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem

dominação, exploração de classe, etnia e gênero; articulação com os

movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios

do Código e com a luta coletiva dos/das trabalhadores/as; O compromisso

com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento

intelectual; O exercício do Serviço Social sem ser discriminado (a), nem

discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,

nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição

física (CÓDIGO DE ÉTICA DO/A ASSISTENTE SOCIAL 1993, p. 23-24 ).

Desse modo, para o militante da UNINASSAU o Encontro das Escolas

fortalece o PEP, porque se opõe ao conservadorismo e contribui para a garantia da

criticidade da profissão, na construção de outros valores:

59

São três dimensões debatidas por Iamamoto (1998): ético-política; teórico-metodológica; técnico-

operativa.

Page 105: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

104

Só forma muito, porque como eu estou te dizendo, se hoje eu não sou

estudante tão conservador como eu poderia ser... eu penso na minha família,

papai, mamãe, família católica, obedeço aos preceitos católicos, frequento a

minha paróquia, sou ativo na minha paróquia, pra quê é que diabos eu vou

ficar pensando em aborto, uma discussão tão conservadora dentro da minha

igreja?! Homossexualismo?! pra quê eu vou estar discutindo isso, se final de

semana vou ali numa boate e me agarro numa boa, esta entendendo?! Pra quê

vou querer estar discutindo [...] querer me casar?! então... assim o Serviço

Social...a gente entra no Serviço Social com projetos individuais e sai com

projetos societários... e é isso está entendendo?! eu tinha uma vida, hoje eu

tenho quase uma bandeira de luta, [...] hoje em dia eu vejo determinadas

coisas e não consigo mais ficar calado, com os meus amigos...meus amigos

reproduzem o preconceito, eu vou lá e tento de alguma forma tentar

conscientizar a galera, isso é preconceito e tal... então assim...

profissionalmente falando se a minha grade, a minha faculdade tem

deficiência, ela é suprida pelo o Encontro das Escolas, principalmente a

formação política, porque a formação política a faculdade não vai dar, ela vai

dar uma formação econômica, eu vou lá analisar economicamente falando,

mas formação política num vai dar não, eu não acredito... então isso é uma

busca minha (ENESS).

As estudantes da FATENE e da RATIO também acreditam que o Encontro

das Escolas fortalece o PEP, principalmente através das formações:

Fortalece, porque a gente faz várias discussões, muita coisa que a gente não

tem, inclusive no próprio espaço da sala de aula, que era pra ser mais forte e a

gente não consegue essa discussão, e aí lá no Encontro das Escolas é uma

formação, até mesmo nessa formação nossa de organizar para o ECESS, a

gente conseguiu discutir formação profissional, a gente consegue discutir

todas essas questões [...], que sempre fortalece, essa questão da formação

profissional... Eu consigo sim ver tudo isso (ERESS).

Com certeza! Muitos dos nossos princípios [...], é a materialização dele né?!

que vai se fazer nos debates sobre legalização do aborto, legalização da

maconha e das drogas em si. Essas discussões que nós não temos de jeito

nenhum em sala de aula e que nós vamos está, depois de formada, lá no

CRAS, no CRESS [...] passando por isso, e não vão ser debatidas em sala de

aula. É isso que eu digo muito quando vou divulgar os eventos, falo que as

pessoas precisam estar participando, precisam estar pulando esses muros,

porque depois de formada, a gente vai está na situação concreta. E aí nós

podemos pensar de um jeito na nossa casa, mas enquanto assistente social

vamos ter que fazer de acordo com o nosso projeto hegemônico, mesmo que

não concordemos com ele. E então... é um momento excelente para gente

estar conhecendo as bandeiras de luta do assistente social... Então eu acho

que o Encontro das Escolas está contribuindo para um processo que iria cair

lá na frente, porque se não houvesse esses espaços de discussão de temas

polêmicos, temas que vão quebrar com o senso comum, temas que nunca ou

quase nunca vão ser discutidos em sala de aula e que são bandeiras do

assistente social, isso aí poderia ocasionar pessoas sofrendo processos éticos

toda semana no CRESS, então contribui bastante (PER).

Além da estudante da RATIO, os entrevistados da FaC também concordam

que a Reunião das Escolas fortalecem a formação profissional baseada no PEP,

Page 106: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

105

entretanto não se pode assegurar que todos vão assimilar o que realmente propõe a

profissão:

Sim... com certeza tem essa perspectiva, embora [...] cada indivíduo e como

ele vai levar para sua escola também, ainda é possível que essa pessoa não vá

de acordo com o que o Projeto Ético-Político defenda, mas isso não é o mais

comum, mas que ele funciona sim como fortalecimento do Projeto Ético-

Político, com os debates e tudo mais, com apropriação e com o entendimento

que a militância no Serviço Social ela é praticamente necessária, a gente não

pode ficar só na formação profissional e achando que isso basta, vai além

disso [...] (SNFPMESS).

Sim, porque a gente no Encontro das Escolas enquanto sujeito já começa a

desenvolver o que eu serei quando profissional, como me colocarei diante de

situações que aparecerem, situações ás vezes de desconforto, situações que eu

preciso intervir, situações que eu preciso agir com ética, que eu vou precisar

ter um posicionamento político, que eu vou precisar jogar pra fora conteúdos

que eu aprendi dentro de sala de aula, das minhas leituras [...], então isso só

tem a fortalecer na minha futura profissão, que a gente sabe que não vai

acabar só enquanto estudante, a minha luta [...] vai para além e ali eu vejo o

movimento estudantil e o Encontro das Escolas como um berço de algo

maior que só tem a nos fortalecer e nos lapidar (CONESS).

A partir das falas acima, constatamos que os entrevistados da FaC

comentaram sobre o PEP e de que este embora seja hegemônico, não é unânime e está

sempre em disputa. Para fins de compreensão, Netto (1998) discorre sobre esse projeto

e o percurso de sua construção no interior do Serviço Social.

Segundo o supracitado autor, a partir da década de 1960 ocorreu a

renovação do Serviço Social em nível mundial, mas no Brasil o debate em torno do

Serviço Social “tradicional”, inicia-se a partir da década de 1950 até o golpe militar em

decorrência de quatro fatores: o primeiro diz respeito ao próprio amadurecimento de

setores da categoria profissional; o segundo se relaciona ao “desgarramento” da Igreja

Católica e de seu conservadorismo tradicional; o terceiro deu-se também pelo fato de o

movimento estudantil ter ingressado nas escolas de Serviço Social e, por último, o

referencial próprio de boa parte das Ciências Sociais do período em uma vertente mais

crítica e nacional-populares.

O Movimento de Reconceituação estendeu-se por quase uma década na

América Latina e se pautou pela crítica ao modelo de dependência dos países latino-

americanos, principalmente ao imperialismo norte-americano, ao caráter funcionalista

da intervenção profissional, às teorias importadas, ao exercício profissional

desvinculado da realidade latino-americana, a renúncia de uma prática empirista,

Page 107: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

106

paternalista, paliativa e burocratizada, baseada em uma ética liberal burguesa numa

vertente funcionalista, objetivando a correção dos indivíduos.

A expressão do Movimento de Reconceituação no Brasil se deu por

intermédio da Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais

(UCMG), conhecido como o “Método BH” entre o período de 1970 a 1975, no qual um

grupo de docentes ao regressar de um encontro no Chile, trouxeram o debate latino-

americano do Movimento de Reconceituação, onde fazia uma crítica ao papel do

assistente social naquela realidade.

Para Netto (1998) o Movimento de Reconceituação no Brasil assumiu três

direções: a primeira é a perspectiva modernizadora que se manteve durante todo o

regime militar onde essa vertente se expressou nos seminários de Araxá (1967) e

Teresopólis (1970), significando a “modernização” do Serviço Social “tradicional”,

tendo como base o neopositivismo e o neotomismo. A segunda direção é a

“reatualização do conservadorismo” que emergiu no final do regime militar e se

expressou nos seminários de Sumaré (1978) e Alto da Boa Vista (1984) em uma

estratégia de retomar as bases conservadoras do Serviço social, uma vez que estava

surgindo no interior da profissão um movimento mais crítico. Nesse período, há a

influência da fenomenologia e de algumas categorias da tradição marxista, deslocada da

totalidade da teoria social de Marx.

A terceira direção é a “intenção de ruptura” a qual se instalou tardiamente

em fins do regime militar e foi um acúmulo do Movimento de Reconceituação e teve

como objetivo romper tanto com o pensamento conservador (positivismo) quanto com o

reformismo conservador da intervenção social. Essa perspectiva penetrou os espaços da

categoria profissional no final da década de 1970 do século XX, como o III Congresso

Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), o qual é considerado um marco histórico,

pois trouxe grandes mudanças para a profissão, cuja direção passa a ser as lutas pela

democracia, direitos humanos, ao lado da classe trabalhadora e não mais para o domínio

conservador. A “intenção de ruptura” estende-se ao longo dos anos 80 e em 90 do

mesmo século, consolida-se com a construção de um projeto profissional, o conhecido

Projeto Ético-Político.

Neste sentido, tomando como base a análise de Vasconcelos (2003), o qual

argumenta que por mais que na década de 1990 tenha havido a “intenção de ruptura”

com o conservadorismo no Serviço Social, acúmulo do Movimento de Reconceituação

desde os anos 1950, não podemos dizer que essa intervenção suprimiu tendências

Page 108: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

107

conservadoras e neoconservadoras no exercício profissional. Por isso, mesmo tendo

atualmente um projeto que rompe com esse conservadorismo, o espaço da universidade

e como todos os outros espaços sociais que os indivíduos estão inseridos influenciam

em sua formação profissional e são entendidos como lócus de disputa política-cultural

constituída de relações políticas e sociais das quais não pode ser abstraída (GIROUX,

1997).

É por esse motivo que o espaço da militância estudantil torna-se um dos

elementos cruciais nessa formação, justamente porque ao se inserir, o estudante pode

usufruir das formações, dos debates e da construção e materialização coletiva de um

projeto societário transformador junto com outros setores organizados.

Para o segundo entrevistado da FATENE, o Encontro das Escolas

proporciona romper com uma das armadilhas da formação profissional na

contemporaneidade que é colocada por Iamamoto (1998), o tecnicismo, quando a

dimensão técnico-operativa é desenvolvida isoladamente na formação, desconsiderando

e anulando a dimensão ético-política e teórico-metodológica.

Sim... porque primeiro a gente incorpora nosso projeto profissional que é um

projeto societário [...], de luta pela construção por uma nova ordem

societária, o que acontece então, por exemplo, dentro do Encontro das

Escolas... os espaços formativos são essenciais e são fundamentais para

formação [...], porque faz com que a gente pense e busque superar [...] essa

formação tecnicista simplesmente de pegar um instrumental e preencher e o

Encontro das Escolas também tem essa expectativa [...], isso é uma questão

política-cultural [...] da educação, de simplesmente ser doutrinado a pensar

somente nos seus próprios interesses, [...] de forma individualista [...] e o

Encontro das Escolas [...] ele quebra isso, ele faz a gente agir

coletivamente... (CORESS).

Contudo, isso não significa dizer que devemos desconsiderar a dimensão

técnico-operativa, pois sabemos que a instrumentalidade do Serviço Social é

responsável por caracterizar o exercício profissional do assistente social como

especialização na divisão sócio-técnica do trabalho, contribuindo para seu

reconhecimento social:

[...] A instrumentalidade é uma propriedade e/ou capacidade que a profissão

vai adquirindo na medida em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os

profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É

por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que os

assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e

subjetivas, e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado

nível da realidade social: no nível do cotidiano (GUERRA, 2000, p. 22):

Page 109: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

108

Por essa razão faz se necessária a articulação dessas três dimensões para que

o profissional não caia nem na armadilha tecnicista, teoricista e nem no militantismo.

5.6 Os Desafios para Fortalecer a Participação dos Estudantes no Encontro das

Escolas

Foi perguntado ainda aos entrevistados quais os desafios para fortalecer a

participação dos estudantes no Encontro. Para dois entrevistados, a estudante da

FAMETRO e o entrevistado da FaC, o principal desafio consiste em ultrapassar a visão

de que o Encontro das Escolas é espaço somente para pessoas organizadas no MESS ou

em Centros Acadêmicos, ao superar essa visão na análise dos entrevistados o Encontro

será realmente fortalecido, mas para isso é preciso fortalecer o trabalho de base nessas

escolas.

A entrevistada da FAMETRO também falou sobre uma dificuldade atual

que tem sido a participação mais ativa de estudantes no Encontro que estão em processo

de finalização do curso e se os participantes não pensarem nas estratégias de

reaproximar a base, isso pode comprometer inclusive sua continuidade.

Quebrar essa imagem que o Encontro das Escolas é só para Centro

Acadêmico. Eu acho que ainda tenho muito essa imagem, que é só pra Centro

Acadêmico, porque a gente nem tem muito culpa nisso, é porque quem vai

mesmo são os estudantes organizados, o corpo estudantil organizado, mas eu

acho que a gente precisa [...] “pegar muito nessa tecla”, principalmente no

das privadas, eu não sei se é uma realidade só aqui da FAMETRO também...

outra coisa é que a gente precisa o quanto antes fortalecer, focar mesmo,

porque como a gente estava conversando, a galera está se formando e eu fico

preocupada também, porque foi aonde eu descobri o Serviço Social, no

Encontro das Escolas sabe... (PEN).

[...] Eu acho que os maiores limites é a questão do trabalho de base, está

conseguindo trazer pessoas novas, e para o Fórum se manter não tem sido um

grande esforço, porque ele tem se mantido há um bom tempo já, a gente

passou uns quatro meses tendo reunião toda semana, todo sábado e, ás vezes,

com poucas pessoas, mas nenhum sábado deixou de ter. Então assim para ele

se manter dar a entender que não é tão difícil, tem muita gente que está

participando agora, como está trazendo novas pessoas para o espaço e como

estão trazendo pessoas que não estão à frente de seu Centro Acadêmico, eu

acho que é o grande desafio, trazendo essas pessoas e elas estarem nesses

espaços, se a gente traz essas, a gente fortalece de fato o movimento

estudantil, a gente não fortalece só quem está à frente, a gente fortalece

aquelas pessoas que nem tem dimensão da importância que tem enquanto

movimento estudantil organizado e o Encontro das Escolas é isso

(SNFPMESS).

Page 110: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

109

Para o estudante da UNINASSAU e a estudante da FaC, o principal desafio

é fazer com que o Encontro volte para o interior das escolas, pois os encontros em

espaços públicos pode dificultar ainda mais a participação desses estudantes, em sua

análise, é preciso que ele esteja mais próximo da realidade das escolas e de sua base.

[...] O Encontro das Escolas precisa estar nas escolas... que a gente

esquecesse aquele modelo que a gente passou um tempo na arquitetura da

UFC [...], mas que os Encontros das Escolas voltem para as escolas e que

eles voltem com uma pauta: a formação. Eu entrei através da formação,

muitas pessoas vão entrar através da formação, então essa seria minha

sugestão e o meu desejo. Se o Encontro das Escolas fosse mais participativo

dentro das bases, dentro das escolas, para que os alunos chegassem nessas

escolas, mesmo que seja da própria escola, assim como eu, fui para Maurício

de Nassau, para o encontro na Maurício de Nassau, hoje eu vou para todas as

outras escolas, mas naquele momento eu só queria ir, porque era na minha

escola, [...] tá entendendo?! Então minha sugestão é que esteja mais próximo

nas escolas, e que esteja colocando a realidade daquelas escolas, esteja

fazendo uma pauta, uma agenda realmente, que a gente faça uma

transformação, principalmente na mentalidade dos alunos (ENESS).

Convergente com o posicionamento da UNINASSAU, a estudante da FaC

acredita que a principal estratégia nesse sentido vem sendo realizada que são os ABCs

do MESS nas próprias escolas com objetivo de aproximar a base de cada escola ao

Encontro.

Eu acredito que o que é pra ser feito [...] é o que nós estamos fazendo agora

atualmente, que é fazer um Encontro itinerante em todas as escolas, que esse

Encontro itinerante vai propiciar a aproximação dos estudantes, aqueles que

não conheciam o Encontro das Escolas [...] vai ter a oportunidade de

conhecer, mas isso vai depender de quê?! de cada escola divulgar, de chamar,

vai depender também de como vamos levar esse Encontro. A gente começou

agora esse itinerante, só teve um primeiro Encontro, mas foi positivo pelo

visto que teve outras pessoas, se aproximaram não aqueles mesmos sujeitos

que estavam no Encontro sempre todos os sábados, foram outras pessoas que

se aproximaram, outros estudantes que com certeza vão levar para os outros

[...] (CONESS).

Para a estudante da FATENE, a questão do local60

muitas vezes

compromete a divulgação e influencia muito, pois muitos estudantes são trabalhadores e

se a divulgação não for feita com bastante antecedência, muitos ficam impossibilitados

de comparecer, tendo em vista que precisam se programar e planejar suas atividades.

60

Como já dissemos, no próprio Encontro se delibera a próxima escola, no entanto, o MESS da

instituição fica responsável em pedir uma autorização para utilizar uma sala de aula, tendo em vista que

em algumas delas o MESS não tem sala exclusiva para o CA, e muitas vezes as instituições por processos

burocráticos retarda a fornecer a autorização, a qual muitas vezes sai na mesma semana da realização do

Encontro e assim compromete a divulgação.

Page 111: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

110

A área, o local, divulgação, acho que se a gente tem dificuldade de conseguir

o local que é o mais difícil, já fica difícil a gente divulgar, então assim a

divulgação vai acontecer em cima da hora, que vai dificultar com que o

estudante compareça, porque, geralmente, pelo menos na minha realidade

enquanto FATENE posso dizer que a maioria dos estudantes, inclusive os

estudantes militantes eles são trabalhadores, e a maioria deles se não trabalha

no sábado, mas eles têm alguma coisa pra fazer no sábado, então para que

eles participem do Encontro das Escolas eles têm que ser avisado bem antes,

com bastante antecedência, para que eles possam desmarcar o que eles têm

no sábado e possam encaixar o Encontro das Escolas lá, então local, horário

e divulgação são o que mais dificultam (ERESS).

O segundo estudante da FATENE, colocou que além do perfil do militante

trabalhador, da questão de repensar a divulgação do Encontro que rebate na participação

dos estudantes, o entrevistado pontuou sobre as divergências que dizem respeito aos

grupos políticos presentes no MESS, que muitas vezes pensam a organização,

estratégias, táticas do movimento de formas diferentes. Desse modo, o Encontro das

Escolas como uma ferramenta do MESS para sua organização, não está alheio à isso,

pois até 2013.2 era bastante hegemônica a presença dos estudantes e militantes do

Campo Popular no Encontro, com a questão do Planejamento Estratégico Regional

(PER), ocorrido nesse período, na FATENE, e as discussões que ocorreram em torno do

ENADE, já que os estudantes pertencentes a esse grupo não defenderam o boicote às

provas e boa parte dos estudantes das faculdades privadas junto com os estudantes da

“Sempre Tem Gente pra chamar de Nós”, na época gestão do CALSS UECE, e

militantes de diversas correntes políticas que fazem atualmente uma oposição unificada

a esse grupo puxou o boicote. A partir disso, houve uma aproximação desses grupos de

oposição ao Encontro, o distanciamento dos militantes do Campo Popular e uma perda

de hegemonia política desse grupo na Reunião das Escolas.

[...] Houve um processo de esvaziamento do Encontro, mas o que [...] me

parece é que um determinado grupo político acabou por boicotar o Encontro

das Escolas. Existia um grupo político hegemônico dentro do Ceará, dentro

de Fortaleza e Região Metropolitana e surgiu um grupo também que a partir

do crescimento da formação política dentro das faculdades particulares de

Fortaleza e Região Metropolitana acabou em oposição até então ao grupo

hegemônico e houve mudança no cenário, que, por exemplo, eram pessoas

muito próximas ao Levante Popular da Juventude que estava à frente dos

Encontros e hoje não está mais, e quando pessoas próximas a esse grupo que

era próximo ao Campo Popular, quando eles estavam à frente, você via que

era massiva a participação deles no Encontro das Escolas, agora que a

conjuntura mudou, que tem um grupo forte de oposição a eles, perderam o

CA, inclusive da faculdade deles e hoje o CA da UECE é um CA que se

coloca como esquerda, à oposição a esse Campo Popular e algumas

faculdades particulares também se colocam em oposição a esse grupo, eles

simplesmente esvaziaram o Encontro das Escolas, [...] então a disputa

política era saudável e ela não prejudicava o Encontro das Escolas, mostrava

Page 112: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

111

a forma de amadurecimento político de algumas pessoas, mas acabou talvez

fragilizando o Encontro porque esvaziaram o Encontro (CORESS).

Nesse sentido, no contexto do ME e de sua história, as divergências e

disputa de projetos políticos são fundamentais e saudáveis, pois Montaño e Duriguetto

(2011, p. 289) comentam:

[...] Não podemos conceber o movimento estudantil como um bloco

monolítico. Seu interior comporta vários grupos políticos com concepções

diferenciadas de projetos societários, de projetos de Universidade e do papel

a ser assumido pelo movimento estudantil no campo da luta de classes, que

acabam por refletir as disputas ideológicas e os projetos políticos presentes

na totalidade da vida social.

Entretanto, é preciso superar a disputa pela disputa, na qual muitas vezes a

importância do Encontro fica reduzida à hegemonia política de um determinado grupo,

ausentando-se do espaço quando não se tem e desconsiderando a dimensão maior que é

contribuir para a organização do MESS, porque este é um espaço qualificante da

formação profissional.

Na fala da estudante da RATIO, que se relaciona com a análise de Montaño

e Duriguetto (2011) há um problema estrutural que rebate na organização de forma

geral, pois em tempos de crise do capital desencadeando redução de direitos

trabalhistas, rebaixamento salarial, desemprego, competitividade entre os trabalhadores

e, de forma geral, uma exploração mais intensificada, a classe trabalhadora fica mais

defensiva e individualista, reforçada também pela intensa criminalização de suas lutas

por parte do Estado e mídia, fragilizando ainda mais sua organização e despolitizando

suas lutas.

Os desafios eles são tremendos, porque esse sentimento apolítico não é só

dos estudantes, ele vem dos trabalhadores, que já não se organizam mais, em

sua grande maioria, e aí reflete também na questão dos estudantes, no

individualismo exacerbado que as pessoas têm, na exploração exacerbada

onde as pessoas não têm tempo para pensar em outras coisas. Então esse é o

grande desafio, conseguir fomentar, conseguir trazer os alunos para estarem

participando, conseguir tirar esses alunos aos sábados de suas casas para

participarem dos espaços [...] (PER).

Neste sentido, os desafios do Encontro das Escolas perpassam desde

problemas organizativos particulares ao fenômeno, bem como as dificuldades

conjunturais, postas pela totalidade da realidade.

Page 113: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

112

6-CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Movimento Estudantil de Serviço Social é um Movimento Social de

Juventude de caráter transitório, composto por jovens que fazem parte de uma fração da

classe trabalhadora, cujo campo de atuação é a escola ou a universidade. Como um

movimento da Área da Educação, tem suas lutas direcionadas à transformação da

universidade, negando seu caráter elitista e seletista, pois faz a defesa da educação

pública, de qualidade e para todos, sem perder de vista os horizontes de transformação

da sociedade, negando a exploração, opressão e dominação de classe própria do sistema

capitalista.

A atuação do ME na sociedade brasileira não é algo recente, constata-se que

ele já atuava antes mesmo da independência do país, inclusive participando de rebeliões

que contestava essa dominação entre colônia e metrópole, no entanto, de forma mais

isolada. É a partir do surgimento da União Nacional dos Estudantes (UNE) na década de

1930, no Estado Novo, que essas lutas passam a ser mais articuladas. O ME através da

UNE reivindicou lutas importantes a partir dos anos 50 do século XX, principalmente

contra as privatizações de empresas estatais, contra a ditadura, ocupando reitorias,

participando de greves e mobilizações. Na história específica do MESS, não temos

registros de sua atuação antes da ditadura, pois com o regime militar muitos

documentos foram perdidos e somente podemos constar sua participação a partir do

início da década de 1960 através dos encontros viabilizados pela categoria estudantil.

No cenário contemporâneo, a crise do capital na década de 1970 - afetada

pela superprodução de produtos os quais encontram um mercado estagnado e apático-

acarretou ajustes estruturais aos países periféricos propostos por organismos

internacionais em nome de empréstimos e de inserção na dinâmica da globalização

provocando uma reestruturação econômico-estatal para conter os efeitos desta. O

Consenso de Washington, em 1989, exigiu que os países dependentes custeassem os

efeitos da recessão nos países centrais, abrindo um mercado lucrativo em que se

comercializam direitos historicamente constituídos através da luta dos trabalhadores.

No Brasil as medidas neoliberais foram implementadas na contrarreforma

do Estado na década de 1990, com um programa de privatizações de empresas públicas

e de direitos, por exemplo, o caso da educação superior, expressa na Constituição

Federal de 1988, na Lei de Diretrizes e Base da Educação de 1996, que manteve a

responsabilidade compartilhada entre Estado e iniciativa privada com a referida

Page 114: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

113

modalidade de ensino, dando liberdade considerável a esse setor para explorar esse

mercado no discurso de modernização do país. Seguindo essas diretivas, o governo de

Fernando Henrique Cardoso e Lula, de um lado, contribuiu para a explosão do setor

privado e de outro, para a privatização interna das Instituições de Ensino Superior

públicas.

Com a ampliação da mercantilização desse Ensino nesse período - falo de

ampliação, pois o desenvolvimento do ensino superior privado aqui foi bastante precoce

- e a crescente oferta de Cursos de Serviço Social nas IES particulares no Estado do

Ceará, o Movimento Estudantil de Serviço Social ganha um novo cenário: o universo

das faculdades particulares, pautando lutas pela assistência estudantil, pela formação

sustentada no tripé ensino, pesquisa e extensão, a melhoria da qualidade das grades

curriculares, combatendo ainda o aumento abusivo das mensalidades, a melhoria da

infraestrutura, dentre outras bandeiras de luta.

No Estado do Ceará, uma das estratégias político-organizativas para esse

movimento, surgiu no ano de 2012 com a iniciativa do Encontro das Escolas de Serviço

Social de Fortaleza e Região Metropolitana com o objetivo de integrar o MESS das

escolas com o apoio da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

(ENESSO). A partir dos dados da pesquisa apresentados, podemos enumerar quatro

contribuições do Encontro das Escolas ao MESS das particulares em 2013.2 a 2014.1:

1) integração desse movimento em nível de Fortaleza e Região Metropolitana; 2)

fortalecimento de sua organização enquanto escola, fornecendo apoio a implementação

de Centros Acadêmicos, que embora não se tenha dado em todas as instituições

pesquisadas, somente nos casos da UNINASSAU e RATIO, uma vez que não foi

possível estabelecer uma relação entre as entidades representativas do MESS da FaC,

UECE e FAMETRO com o Encontro; 3) fortalecimento organizativo a nível de Região

II, podendo ser verificada em decorrência de uma maior participação organizada nos

encontros da ENESSO; 4) contribuição para a formação política e profissional dos

militantes através das formações promovidas no espaço.

A partir da materialização desta contribuição, espera-se que a pesquisa tenha

conseguido responder ao problema inicial proposto, ampliando o conhecimento sobre o

fenômeno do Encontro das Escolas, embora enfrentando dificuldades em razão de ser

pioneira no estudo sobre a temática. Neste sentido, acredita-se que por intermédio dos

procedimentos de coleta de dados utilizados, foi possível debater o Movimento

Estudantil no interior dos Movimentos Sociais; Conseguiu-se analisar a conjuntura

Page 115: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

114

neoliberal mundial na década de 1970 e no Brasil em 1990, que acarretaram implicações

para o ensino superior e, por último, resgatar os elementos da história, metodologia e

atividades do Encontro das Escolas de Serviço Social de Fortaleza e Região

Metropolitana entre 2013.2 a 2014.1. Ademais, espera-se que o Encontro das Escolas

supere seus desafios organizativos e continue a contribuir na organização, na formação

política e profissional desse movimento.

Desse modo, o presente trabalho monográfico ainda pretende contribuir com

outros estudos sobre a organização do Movimento Estudantil e o Movimento Estudantil

de Serviço Social no Brasil, sobre o debate da Contrarreforma do ensino superior a

partir da década da de 1990 em nosso país e sobre as ações organizativas do MESS em

nosso Estado, pois a “gente quer ter voz ativa e a nossa luta tocar”.

Page 116: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

115

REFERÊNCIAS

ALVES, G. Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho no Brasil: Parte I.

2013. Disponível em:

<http://blogdaboitempo.com.br/2013/05/20/neodesenvolvimentismo-e-precarizacao-do-

trabalho-no-brasil-parte-i/. Acesso em: 02 out 2014, 15:58:00.

ALVES, G. Neodesenvolvimentismo e precarização do trabalho no Brasil-Parte II.

2013. Disponível em:

<http://blogdaboitempo.com.br/2013/08/19/neodesenvolvimentismo-e-precarizacao-do-

trabalho-no-brasil-parte-ii/. Acesso em: 2 out. 2014,16: 43:00.

ANDRADE, C. Y. Acesso ao Ensino Superior no Brasil: equidade e desigualdade

social. Ensino Superior Unicamp, julho 2012. Disponível em:

http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/artigos/acesso-ao-ensino-superior-no-

brasil-equidade-e-desigualdade-social . Acesso em: 23 set. 2014,17: 22:00.

ARAÚJO, R. D; NETO, M. F. S. Movimento Estudantil e universidade pública em

meio às contradições capital/trabalho. In: JIMENEZ, S; SOARES, R; CARMO, M;

JIMENEZ, S; SOARES, R; CARMO, M; PORFÍRIO, C. (Orgs.) Contra o

Pragmatismo e a favor da filosofia da práxis: uma coletânea de estudos classistas.

Fortaleza, EDUECE, 2007, p. 237-252.

BARATA, J; BRÁZ, M. O Projeto ético-político do Serviço Social In: Serviço Social:

direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. v. 1.

BEHRING, E. Brasil em Contra-Reforma: desestruturação do Estado e perda de

direitos. São Paulo: Cortez, 2003.

BEHRING, E; BOSCHETTI, I. Política Social: Fundamentos e História. 5 ed. São

Paulo: Cortez, 2008.

BIHR, A. Da grande noite à alternativa. O movimento operário europeu em crise. São

Paulo: Boitempo, 1998.

BOGO, A. Valores que deve cultivar um lutador do povo. In: CONSULTA POPULAR

(Org.). Valores de uma Prática Militante. São Paulo: Consulta Popular, 2000. p. 48 –

79. (Cartilha nº 09).

BOSCHETTI, I. A ofensiva de desregulamentação no capitalismo contemporâneo:

tendências destrutivas das reformas neoliberais no Serviço Social. In: Apostila da

Disciplina de Seminário do Serviço Social II do Curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense. FaC: Fortaleza, 2014.

BOSI, A. P. A precarização do trabalho docente nas Instituições de Ensino Superior do

Brasil nesses últimos 25 anos. Revista Educação e Sociedade: vol. 28, n. 101, p. 1503-

1523. Campinas, 2007. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/es/v28n101/a1228101>. Acesso em: 13 out. 2014, 15:45:00.

BURTELAR, M. O estágio supervisionado. 5ª ed.; São Paulo: Cortez, 2008.

Page 117: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

116

CADERNO DA ENESSO, 2006.

CADERNO DA ENESSO, 2011.

CHAGAS, S. B. Concepção e Papel do Movimento Estudantil: uma reflexão

necessária. 2013. Disponível em:

<https://exnemusbrasil.files.wordpress.com/2013/11/concepcaoepapeldome.pdf>.

Acesso em: 21 jun. 2014.

CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. In: Revista Brasileira de

Educação, n. 24. 2003. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a02.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2014, 15: 37:00.

CHAUÍ. M. Escritos sobre a Universidade. São Paulo: Editora UNESP, 2001.

COGGIOLA, O. Universidade e ciência na crise global. São Paulo: Xamã, 2001.

CÓDIGO de Ética do Assistente Social/Lei nº 8.662/93 de Regulamentação da

Profissão. Brasília: CFESS, 2012. Disponível em:

<http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2014,

16: 15:00.

CONGRESSO Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) 2013. Disponível em:

<http://www.cbas2013.com.br/index.php. Acesso em: 15 jul. 2014,11:15:00.

CORBUCCI, P. R. Financiamento e democratização do acesso à educação superior no

Brasil: da deserção do Estado ao projeto de reforma. In Educ. Soc., Campinas, vol. 25,

n. 88, p. 677-701, Especial - Out. 2004. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

73302004000300003>. Acesso em: 30 set. 2014, 20:26:00.

DIEHL, A. A. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas: métodos e técnicas. São

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2004.

BRASIL. Lei nº 10.260, de 20 de julho de 2001. Dispõe sobre o Fundo de

Financiamento ao estudante do Ensino Superior e dá outras providências. Diário

Oficial da União, Brasília, DF, - Seção 1 - 14/1/2005, p. 7. Disponível em:

<http://www.fpl.edu.br/2013/media/pdfs/graduacao/fies/fies_lei_10.260_2011.pdf>.

Acesso em: 17/11/2014,16:04:00.

BRASIL. Lei nº 11.096, de 13 de Janeiro de 2005. Institui o Programa Universidade

para Todos - PROUNI, regula a atuação de entidades beneficentes de assistência social

no ensino superior; altera a Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004, e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF. Disponível em:

<http://sisfiesportal.mec.gov.br/arquivos/portaria_7_26042013.pdf>. Acesso em: 17

nov. 2014, 16:22:00.

BRASIL. Decreto nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a

Planos de Reestruturação das Universidades Federais (REUNI). Diário Oficial da

União, Brasília, DF. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

2010/2007/decreto/d6096.htm>. Acesso em 17 nov. 2014, 17: 32 min.

Page 118: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

117

DOURADO, L. F. Reforma do Estado e as Políticas para a Educação Superior no Brasil

nos anos 90. Educ. Soc. , Campinas, Vol. 23, n. 80, setembro/2002, p. 234-252.

Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12931>. Acesso em: 12 out. 2014,

16:28:00.

DURHAM, E. R. O Ensino Superior no Brasil: o público e o privado. São Paulo,

NUPES/USP, 2003. Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt0303.pdf.

Acesso em: 18 set. 2014, 14:52:00.

DURIGUETTO, L. M; MONTAÑO, C. Estado, Classe e Movimento Social. 3 ed. São

Paulo: Cortez, 2011.

ENESSO, que bicho é esse?. Cartilha ENESSO, 2013. Disponível em:

<https://enessooficial.files.wordpress.com/2014/04/cartilha-enesso-1.pdf>. Acesso em:

19 jul. 2014,13: 42:00.

ESTATUTO da ENESSO. Disponível

em: <http://cassufrj.blogspot.com.br/2013/09/estatuto-da-enesso.html>. Acesso em: 07

dez. 2014, 22:09:00.

FARIAS, L. M; GUIMARÃES, A. R; MONTE, E. D. O trabalho docente na expansão

da educação superior brasileira: entre o produtivismo acadêmico, a intensificação e a

precarização do trabalho. In ANDES-SN, julho de 2013, p. 34-45. Disponível em:

<http://www.andes.org.br/andes/print-revista-conteudo.andes?idRev=40&idArt=191>.

Acesso em: 28 set. 2014,16:48:00.

FERNANDES, F. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. Rio

de Janeiro: Zahar editores, 1975a.

______. Universidade brasileira: reforma ou revolução? São Paulo: Alfa-Omega,

1975b.

______. O desafio educacional. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989.

(Coleção Educação Contemporânea).

FILHO, A. T; NERY, A. C. B. Ensino Superior Noturno no Brasil: história, atores e

políticas. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação. V. 25. n. 1.

2009. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/rbpae/article/view/19327 . Acesso em: 27

out. 2014,10: 14:00.Fortaleza: Editora UFC, 2005.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GIROUX, H. A. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da

aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

GOHN, M. G. Novas Teorias dos Movimentos Sociais. 3ª ed. São Paulo: Edições

Loyola, 2010.

Page 119: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

118

GOHN, M. G. Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas Clássicos e

Contemporâneos. 7ª ed. São Paulo: Edições Loyola, 2008.

GOSS, K. P; PRUDÊNCIO, K. O Conceito de movimentos sociais revisitado. Em Tese

Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC. Vol. 2, nº

1 (2), janeiro-julho 2004, p. 75-91. Disponível em:

<https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0C

B8QFjAA&url=https%3A%2F%2Fperiodicos.ufsc.br%2Findex.php%2Femtese%2Farti

cle%2Fdownload%2F13624%2F12489&ei=h_9YVO7gOsuggwTJpoSQBQ&usg=AFQ

jCNEpZJNHtc6LPF236oS8DfonvFfN8Q>. Acesso em: 15 jul. 2014,13:56:00.

GUERRA, Y. Instrumentalidade do processo de trabalho e Serviço Social. In: Revista

Serviço Social e Sociedade. n. 62. São Paulo: Cortez, 2000.

GUIMARÂES, M. C. R. Movimento Estudantil de Serviço Social e dilemas atuais: O

desafio é (re) encantar-se. Revista Universidade e Sociedade. n. 54. ANDES-SN:

agosto, 2014. Disponível em: <http://portal.andes.org.br/imprensa/publicacoes/imp-pub-

875933811.pdf. Acesso em: 04 dez. 2014,22: 42:00.

GUIMARÃES, M. C. R. Movimentos e Lutas Sociais na Realidade Brasileira. Revista

Debate & Sociedade -­‐ Uberlândia -­‐ V. 1 / N.º 2 -­‐ 2011.

______. A construção sócio-histórica dos movimentos sociais: notas sobre o movimento

estudantil. In: Revista Universidade e Sociedade. Ano XXI, N.48. ANDES: Brasília,

julho 2011.

______. Movimento Estudantil de Serviço Social: lutas, alianças e organização. In:

Revista Universidade e Sociedade. Ano XXII, N. 51. ANDES: Brasília, março 2013.

HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança

cultural. São Paulo: Edições Loyola, 1993.

HOBSBAWM, E. J. Rebeldes primitivos. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.

HOBSBAWM, E. J. Revolucionários. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

IANNI, O. O Jovem Radical. In: BRITTO, Sulamita (org.). Sociologia da Juventude:

Da Europa de Marx à América Latina de Hoje. Vol. I. Rio de Janeiro. Zahar Editores,

1968.

IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação

profissional. São Paulo: Cortez, 1998.

KONDER, L. O Futuro da Filosofia da Práxis: o pensamento de Marx no século XXI.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 5ª Ed. São Paulo: Atlas,

2008.

Page 120: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

119

LEHER, R. Educação no Governo Lula da Silva: Reformas sem projeto. Revista

ADUSP, maio, 2005. Disponível em:

<http://www.adusp.org.br/files/revistas/34/r34a06.pdf. Acesso em: 20 set.

2014,19:07:00.

LIMA, K. R S. Reforma da Educação Superior nos anos de contrarrevolução

neoliberal: de Fernando Henrique Cardoso a Luiz Inácio Lula da Silva. Tese de

Doutorado. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:

<http://www.uff.br/pos_educacao/joomla/images/stories/Teses/katialima05.pdf. Acesso

em: 28 set. 2014,18: 12:00.

LIMA, K. R. S; PEREIRA, L. D. Contrarreforma na Educação Superior Brasileira:

impactos na formação profissional em Serviço Social. Revista Sociedade em Debate

15(1), Pelotas, 2009, p. 31-50. Disponível em:

<http://revistas.ucpel.tche.br/index.php/rsd/article/view/358. Acesso em: 31 out.

2014,10: 42:00.

MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p. 149-

158, 1990/1991.

MELO, H. Ensino Superior e os Paradigmas da Política Neoliberal. Griot – Revista de

Filosofia, Amargosa, Bahia – Brasil, v.1, n.1, julho / 2010. Disponível

em:<http://www.ufrb.edu.br/griot/downloads/vol-01-n/5-ensino-superior-e-os-

paradigmas-da-politica-neoliberal/download>. Acesso em:11 out. 2014.

MENDES, A. O ensino superior noturno e a democratização do acesso à universidade.

Debates e Propostas INEP. Mesa Redonda. Brasília, 1986. Revista Brasileira de

Estudos Pedagógicos, v. 67, n. 157, p. 617-647, set-dez/1986.

MESQUITA, M. R. Movimento Estudantil Brasileiro: práticas militantes na ótica dos

Novos Movimentos Sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais, nº 66, 2003, p. 117-

149. Disponível em: <http://rccs.revues.org/1151>. Acesso em: 19 jul. 2014, 14: 29:00.

MESZÁROS, I. Para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2002.

MICHILES, M. M. O Movimento Estudantil de Serviço Social da Faculdade

Cearense: São os gritos pela necessidade de não calar. FaC: Fortaleza, 2014.

MOTA, A, E. Crise contemporânea e as transformações na produção capitalista In:

Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília:

CFESS/ABEPSS, 2009, 70 p. v. 1. Disponível em:

<http://exneto.files.wordpress.com/2007/12/concepcaoepapeldome.pdf>. Acesso em: 25

jun. 2014, 09: 57:00.

NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político do serviço social frente à crise

contemporânea. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social módulo 1.

Brasília: CFESS, ABEPSS, CEAD/UNB, 1999.

NETTO, J. P. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-

64. 4.ed. São Paulo: Cortez, 1998.

Page 121: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

120

NETTO, J. P; BRAZ, M. Economia Política: uma introdução crítica. 8ª Ed. São

Paulo: Cortez, 2012.

NEVES, L. M. V. (org.) Reforma Universitária do Governo Lula: reflexos para

debate. São Paulo: Xamã, 2004.

_____. O Empresariamento da educação: novos contornos do ensino superior no

Brasil dos anos 1990. São Paulo: Xamã, 2002.

O PROTAGONISMO da ABEPSS no passado e no presente: 30 anos de lutas.

Disponível em: <http://www.abepss.org.br/files/O-protagonismo-da-ABEPSS-no-

passado-e-no-presente.pdf. Acesso em: 18 jul. 2014, 10: 45:00.

OS FUNDAMENTOS do Plano de Desenvolvimento da Educação do Governo Lula da

Silva. In: Caderno Andes, Brasília, n. 25, p. 11-16, Agosto, 2007. Disponível em:

<http://www.anped11.uerj.br/novas%20faces%20reforma%20universitaria.pdf>.

Acesso em: 29 set. 2014, 18: 39:00.

PAULA, C. M. Neoliberalismo e Reestruturação da Educação Superior no Brasil: O

REUNI como estratégia do governo Lula e da burguesia brasileira para subordinar a

universidade federal à lógica do atual estágio de acumulação do capital. Dissertação de

Mestrado. RJ: Niterói, 2009.

PLANO Nacional de Educação: Proposta da Sociedade Brasileira. In: II Congresso

Nacional de Educação. Belo Horizonte, 1997. Disponível em:

<http://www.fedepsp.org.br/documentos/PNE%20%20proposta%20da%20sociedade%2

0brasileira.pdf>. Acesso em: 20 set. 2014, 21:48:00.

POERNER, A. J. O Poder Jovem: história da participação política dos estudantes

brasileiros. 5ª ed. Rio de Janeiro: Booklink, 2004. Disponível em:

<http://minhateca.com.br/atilamunizpa/Documentos/POERNER*2c+Arthur.+O+poder+

jovem,2859592.pdf. Acesso em: 15 jun. 2014, 10:30:00.

POLIDORI, M. M. Políticas de Avaliação da Educação Superior brasileira: Provão,

SINAES, IDD, CPC, IGC e... outros índices. Revista da Educação Superior, v. 14, n.

2, p. 439-452 Campinas-SP, 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/aval/v14n2/a09v14n2.pdf>. Acesso em: 15 out. 2014,

18:49:00.

PORFÍRIO, C. (Orgs.) Contra o Pragmatismo e a favor da filosofia da práxis: uma

coletânea de estudos classistas. Fortaleza, EDUECE, 2007, p. 253-274.

RAMOS, M. H. R. A crise atual do capitalismo: crise cíclica ou estrutural ? Revista

Praia Vermelha,Rio de Janeiro, v. 19, n.1, p. 49-66 / Jan-Jun 2010.

RAMOS, S. R. A ação política do movimento estudantil de serviço social: caminhos

históricos e alianças com outros sujeitos coletivos. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1996.

ROCHA, A. R. M. Universidade em Crise: Ciência e Educação na rede do mercado. In:

JIMENEZ, S; SOARES, R; CARMO, PORFÍRIO, C. (Orgs.) Contra o Pragmatismo e

Page 122: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

121

a favor da filosofia da práxis: uma coletânea de estudos classistas. Fortaleza,

EDUECE, 2007, p. 237-252.

ROCHA, R. M. Reforma e deforma universitária: o público, o privado e a crise do

ensino superior. RABELO, Jackeline et al. In: Trabalho, educação e a crítica

marxista. Fortaleza: Editora UFC, 2005.

RODRIGUES, L. O. O Movimento Estudantil e a formação política do (a)

estudante de Serviço Social: contribuições e desafios. UERN: Natal, 2009. Disponível

em: <http://www.trajetoriamess.com.br/EBOK/MESSDESAFIOS.pdf. Acesso em:14

jun. 2014, 11:23:00.

SAKURADA, P. K. C. A desconstrução das Diretrizes Curriculares na Reforma

Universitária. Disponível em:

<http://200.16.30.67/~valeria/xxseminario/datos/1/1brCossualSakurada_stamp.pdf>.

Acesso em: 04 nov. 2014, 15:42:00.

SAMPAIO, H. Evolução do ensino Superior Brasileiro 1808-1990. Documento de

Trabalho 8/91 do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior. Disponível em:

<http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt9108.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014, 15:19:00.

SAMPAIO, H. O setor privado de Ensino Superior no Brasil: Continuidades e

Transformações. Revista Ensino Superior Unicamp, 2011, p. 28-43. Disponível em:

<http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/edicoes/ed04_outubro2011/05_ARTI

GO_PRINCIPAL.pdf>. Acesso em: 14 out. 2014, 18:59:00.

SAMPAIO, H. Ensino superior no Brasil: o setor privado. São Paulo:

FAPESP/Hucitec, 2000.

SANTOS, L. M; SOUSA, R. B. O Governo Federal do PT e a Continuidade da

Contrarreforma Universitária. Disponível em:

<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2013/JornadaEixo2013/anais-eixo15-

impassesedesafiosdaspoliticasdeeducacao/pdf/ogovernofederaldopteacontinuidadedacon

tra-reformauniversitaria-.pdf>. Acesso em: 08 out. 2014, 14:49:00.

SILVA, A. A R. Convite à Rebeldia: uma reflexão sobre o Movimento Estudantil de

Serviço Social e seus desafios na contemporaneidade. UECE: Fortaleza, 2008.

Disponível em: <http://www.trajetoriamess.com.br/EBOK/CONVITEREBELDIA.pdf.

Acesso em: 15 ago. 2014,10:05:00.

SILVA, H. T. L; QUEIROZ, L. M; MAIA, Q. K. S. O MESS na defesa e garantia da

Formação Profissional em Serviço Social: A particularidade da FASSO/UERN.

Disponível em: <http://200.16.30.67/~valeria/xxseminario/datos/3/3br_lira_silva_stamp

.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2014, 19:27:00.

SILVA, A. O. Pedagogia Libertária e Pedagogia Crítica. Revista Espaço

Acadêmico. n. 42. Nov/2004. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/04

2/42pc_critica.htm>. Acesso em: 19 dez. 2014, 10:50:00.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa

em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Page 123: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

122

VALLE, M. J. PROUNI: Política Pública de. Acesso ao Ensino Superior ou

privatização? Dissertação de Mestrado. Curitiba, Maio de 2009. Disponível em:

<http://tede.utp.br/tde_arquivos/1/TDE-2009-07-22T115235Z-

199/Publico/marcos_valle.pdf>. Acesso em: 22 jun.2014, 08:55:00.

VASCONCELOS, A. M. A trajetória política da organização dos estudantes de

Serviço Social, 1978-2002. E a sua relação com o projeto de formação profissional.

PUC: São Paulo, 2003.

VECHIA, R. S. D. Movimentos Sociais e Movimento Estudantil. Sociedade em

Debate, Pelotas, v. 18, n.1, p. 31-54, jan.-jun./2012. Disponível em:

<http://revistas.ucpel.tche.br/index.php/rsd/article/view/704/628>. Acesso em: 25 ago.

2014, 15:51:00.

ZAGO, N. Do Acesso à permanência no ensino superior: percursos de estudantes

universitários de camadas populares. Revista Brasileira de Educação, v. 11 n. 32

maio/ago. Santa Catarina, 2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n32/a03v11n32.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2014, 11:

32:00.

Page 124: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

123

APÊNDICES

APÊNDICE A – Modelo de Entrevista

Entrevista

1. Nome?

2. Identidade de gênero?

3. Instituição em que estuda/ou concluiu o Curso de Serviço Social?

4. Em que semestre do curso se aproximou do MESS?

5. Faz parte atualmente de algum MS? Qual?

6. O curso tem C.A. ou MESS organizado? Se sim, desde quando?

7. Você saberia dizer como se deu o processo de implementação do C.A.?

8. Na sua análise, o que é o Encontro das Escolas?

9. Você saberia dizer com que objetivo e como surgiu o Encontro das Escolas?

10. Há a divulgação do Encontro das Escolas aos demais estudantes do curso? De que

forma?

11. Há alguma iniciativa pelo MESS de repasse das atividades do Encontro das Escolas

aos demais estudantes? Se sim, de que forma?

12. Quais as principais atividades que foram deliberadas no Encontro das Escolas e que

foram executadas pelo MESS no curso em 2013.2 e 2014.1?

13. O que o Encontro das Escolas agregou para o MESS do seu curso?

14. Quais foram as contribuições do Encontro das Escolas em 2013.2 e 2014.1 para o

MESS nas IES privadas?

15. Quais os limites e desafios postos para fortalecer a participação dos estudantes no

Encontro das Escolas?

16. Na sua avaliação o Encontro das Escolas fortalece uma formação profissional

comprometida com os valores preconizados no projeto ético-político da profissão?

Como?

Page 125: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

124

APÊNDICE B - Termo de Consentimento

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a) participante:

Sou Tamiris Gomes Diniz Vieira, estudante do curso de graduação em Serviço

Social na Faculdade Cearense. Estou realizando uma pesquisa sob supervisão do (a)

orientador (a) Dra. Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos, cujo objetivo é analisar o

Encontro das Escolas de Serviço Social de Fortaleza e Região Metropolitana e sua

contribuição para o Movimento Estudantil de Serviço Social (MESS).

Sua participação envolve uma entrevista, que será gravada se assim você

permitir, e que tem a duração aproximada de uma hora.

A participação nesse estudo é voluntária, e, se você decidir não participar ou

quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.

Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no

mais rigoroso sigilo e será utilizado um nome fictício para caracterizá-lo, bem como

serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo (a).

Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente você estará

contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de

conhecimento científico.

Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pelo pesquisador

no fone (85) 87967056 ou pelo e-mail: [email protected]

Atenciosamente,

___________________________

Nome e assinatura do(a) estudante

Matrícula 10003188

____________________________

Local e data

__________________________________________________

Nome e assinatura do(a) professor(a) supervisor(a)/orientador(a)

Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma cópia deste

termo de consentimento.

____________________________________

Nome e assinatura do participante

_________________________________

Local e data

Page 126: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

125

APÊNDICE C – Repasse de Reunião com as Escolas de Serviço Social de Fortaleza:

REPASSE DA REUNIÃO DE SÁBADO COM AS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL

DE FORTALEZA:

Reunião com as escolas de Serviço Social de Fortaleza

Data: 01/09/12 Local: CALSS – UECE Horário: 14h30

Escolas participantes: UECE, FAC, RATIO, FAMETRO, FATENE, LEÃO SAMPAIO

O encontro teve a intenção de propiciar a interação entre os estudantes de

serviço social das diferentes escolas da cidade. Conhecer os estudantes, saber como

cada escola se configura enquanto Movimento Estudantil, conversar também sobre o

SRFPMESS.

É interessante existir esses encontros com as escolas para que possamos nos

articular e esse momento é válido para que possamos nos organizar e saber o que

acontece em todas as escolas e sermos propositivos para lutarmos contra o que não

concordamos. É importante participar do movimento estudantil mesmo sem estar

constituindo centro acadêmico enquanto gestão, e se articular para superar momentos

tensionados por conflitos institucionais e para tocar lutas coletivas.

As próximas reuniões acontecerão em outros espaços, em outras faculdades para

que possamos nos conhecer a partir das nossas realidades, tem que ser desconstruído ao

mito de que faculdades privadas e públicas não se dão bem. Hoje em dia atuamos

enquanto seres individuais e estamos aqui para fugir disso, atuar coletivamente. A ideia

é que cada escola coloque um pouquinho das suas maiores dificuldades de organização,

o que é percebido no cotidiano que dificulta a mobilização, entre outras questões; para

se ir montando um quadro do que é comum, das maiores dificuldades. O objetivo são as

trocas de ideias e espaços para a interação entre as escolas.

Além do Centro Acadêmico da FAC, o da UECE está vendo a questão de ônibus

para o Seminário Regional e se pode estudar uma possível parceria. Propostas: 1.

Oficina de Centro Acadêmico, 2. Curso de formação da ENESSO, formação de

militantes com certificados. Com essas iniciativas as escolas poderão agir por conta

própria, buscando autonomia. Valorizando o pensar coletivo, militar quanto estudante e

futuramente quanto profissional.

Page 127: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

126

Todos estudantes estão convidados para os próximos encontros que vierem a

ocorrer, assim como as reuniões do Centro Acadêmico de Serviço Social da FAC: para

o fortalecimento da luta, estreitamento dos vínculos e nossa união enquanto estudantes.

Page 128: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

127

ANEXOS

ANEXO A - I Reunião Ampliada com as escolas de Serviço Social da Capital ocorrida

em 01/09/2012 no CALSS UECE. Estiveram presentes FaC, Fametro,

Ratio, Fatene, Leão Sampaio e UEce.

Fonte: Acervo do Autor

Page 129: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

128

ANEXO B - Reunião das Escolas em 12/01/2013 no Passeio Público com UECE, FAC,

FAMETRO e RATIO.

Fonte: Acervo do Autor

Page 130: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

129

ANEXO C – Encontro realizado em 27/04/2013 na UECE com FaC, UECE e FATENE

e UFPB

Fonte: Acervo do Autor

Page 131: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

130

ANEXO D - Reunião Ampliada das escolas de Serviço Social com a participação da

FaC, UECE, FAMETRO, RATIO, IFCE, FATENE e MAURICIO DE

NASSAU, em 08/06/2014, na Faculdade Ratio.

Fonte: Acervo do Autor

Page 132: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

131

ANEXO E - Encontro realizado no dia 29/06/2013 com FaC, FATENE, UECE e Ratio

na sala do CASS/FaC

Fonte: Acervo do Autor

Page 133: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

132

ANEXO F - Encontro dia 10/08/2013 na FATENE (Damas) com FaC, FATENE e

UECE

Fonte: Acervo do Autor

Page 134: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

133

ANEXO G - Reunião em 24/08/2013 na sala do CA da FaC com FATENE, UECE,

FAC, IFCE e NASSAU

Fonte: Acervo do Autor

Page 135: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

134

ANEXO H - Reunião na Nassau no dia 31/08/2013 com FAC, FATENE, NASSAU e

FAMETRO.

Fonte: Acervo do Autor

Page 136: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

135

ANEXO I - Encontro realizado em 14/09/2013 na Nassau com FAC, FATENE, UECE

e NASSAU.

Fonte: Acervo do Autor

Page 137: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

136

ANEXO J – Reunião no dia 05/10/2013 no Bloco I da UECE. Com FATENE, UECE,

FAC e IFCE.

Fonte: Acervo do Autor

Page 138: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

137

ANEXO K - Encontro do dia 08/10/2013 ocorrido na sala do CA da FaC com UECE,

FAC, FATENE e NASSAU.

Fonte: Acervo do Autor

Page 139: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

138

ANEXO L – Reunião realizada no dia 26/10/2013 para construção do Planejamento

Estratégico Regional da Região II ENESSO que aconteceu no 01, 02 e 03

de novembro de 2013 tendo como escola sede a FATENE. Estão

presentes a FAC, FATENE, UECE e NASSAU na Praça Verde no

Dragão do Mar

Fonte: Acervo do Autor

Page 140: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

139

ANEXO M – Encontro realizado no dia 01/02/2014 com FaC, UECE, FATENE e

NASSAU na Faculdade Mauricio de Nassau

Fonte: Acervo do Autor

Page 141: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

140

ANEXO N – Modelo de Convite organizado pelo próprio MESS participante

Fonte: Acervo do Autor

Page 142: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

141

ANEXO O - Encontro realizado em 08/02/2014 na Fametro com FAC, FATENE,

NASSAU, UECE e FAMETRO.

Fonte: Acervo do Autor

Page 143: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

142

ANEXO P – Encontro no dia 15/02/2014 no espaço do CALSS UECE com NASSAU,

FAC e UECE.

Fonte: Acervo do Autor

Page 144: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

143

ANEXO Q - Encontro do dia 22/02/2014 na sala do Centro Acadêmico da FaC. Estão

presentes FAC, FATENE e UECE.

Fonte: Acervo do Autor

Page 145: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

144

ANEXO R – Modelo de convite para o ECESS 2014 61

Fonte: Acervo do Autor

61

Em 2014. 1, o Encontro tentou organizar o I Encontro Cearense dos Estudantes de Serviço Social

(ECESS). No entanto, não foi possível por questões de força e também relacionado a própria conjuntura

de greves, copa e manifestações, mas a prova disso é que foi preparado o layout de divulgação nas redes

sociais, inclusive com data e os organizadores.

Page 146: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

145

ANEXO S – Encontro 12/04/2014 na arquitetura da UFC com FaC, UECE, FATENE e

RATIO

Fonte: Acervo do Autor

Page 147: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

146

ANEXO T – Encontro no dia 17/05/2014 na Faculdade Maurício de Nassau com

UECE, FAC, RATIO e NASSAU.

Fonte: Acervo do Autor

Page 148: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

147

ANEXO U - Encontro do dia 31/05/2014 realizado na Faculdade Fametro com FAC,

FAMETRO, UECE, FATENE e NASSAU.

Fonte: Acervo do Autor

Page 149: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

148

ANEXO V – Encontro no dia 07/06/2014 ocorrido no CALSS UECE, no qual consistiu

em uma oficina de cartazes e preparação para as manifestações contra a

Copa do Mundo de 2014. Estão presentes a FAC, a RATIO, a UECE e a

FATENE.

Fonte: Acervo do Autor

Page 150: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

149

ANEXO W - Encontro realizado em 09/08/2014 na Arquitetura-UFC com FaC,

FATENE, UECE e NASSAU

Fonte: Acervo do Autor

Page 151: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

150

ANEXO X - Encontro com ABC do MESS em 30/08/2014 na FAMETRO com UECE,

NASSAU, RATIO e FaC

Fonte: Acervo do Autor

Page 152: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

151

ANEXO Y - Encontro do dia 13/09/2014, com ABC do MESS realizado na Faculdade

Maurício de Nassau, com Nassau, FaC, Fatene, UECE e IFCE

Fonte: Acervo do Autor

Page 153: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

152

ANEXO Z - Encontro realizado na FAMETRO com FaC, FAMETRO, UECE e

NASSAU

Fonte: Acervo do Autor

Page 154: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

153

ANEXO AA – Modelo de convite divulgado nas redes sociais, pelo próprio MESS

Fonte: Acervo do Autor

Page 155: CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … GENTE QUER TER... · Prof.ª Dr.ª Geórgia Patrícia Guimarães dos Santos ... à amiga Delany Carvalho ... À minha banca constituída

154

ANEXO AB – Outro modelo de convite para divulgação nos grupos do MESS das

escolas participantes

Fonte: Acervo do Autor