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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEAR
FACULDADES CEARENSES CURSO DE SERVIO SOCIAL
NDIA MARA CRISPIM BESSA
ADOO IRREGULAR: RELATOS DE EXPERINCIAS
FORTALEZA 2013
NDIA MARA CRISPIM BESSA
ADOO IRREGULAR: RELATOS DE EXPERINCIAS
Monografia apresentada Faculdade Cearense FaC como requisito parcial para obteno do ttulo de Graduao em Servio Social sob orientao da Profa. Ms. Priscila Nottingham de Lima.
FORTALEZA 2013
Bibliotecrio Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274
B557a Bessa, Ndia Mara Crispim
Adoo irregular: relatos de experincias / Ndia Mara
Crispim Bessa. Fortaleza 2013.
72f. Orientador: Prof. Ms. Priscila Nottingham de Lima.
Trabalho de Concluso de curso (graduao) Faculdade
Cearense, Curso de Servio Social, 2013.
1. Adoo. 2. Crianas. 3. Adolescentes. I. Lima, Priscila
Nottingham de. II. Ttulo
CDU 364
NDIA MARA CRISPIM BESSA
ADOO IRREGULAR: RELATOS DE EXPERINCIAS
Monografia como pr-requisito para obteno do ttulo de Bacharelado em Servio Social, outorgado do pela Faculdade Cearense FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovao: ______/ ______/________
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Professora Ms. Priscila Nottingham de Lima (Orientadora)
________________________________________________ Professora Ms. Mayra Rachel Silva 1. Examinador
_________________________________________________________
Professora Ms. Rbia Cristina Martins Gonalves 2. Examinador
Ao meu esposo Delanio. Chegar at aqui no foi nada fcil e se hoje comemoro uma conquista, esta devo a voc que esteve ao meu lado em todos os momentos; que fez de nossos sonhos os seus e de nossos objetivos sua prpria luta. Quero compartilhar com voc que o meu porto seguro, que no poupou esforos para que o sorriso que hoje trago no rosto fosse possvel. Foram muitas vezes que usei voc como escudo, em que despejei o meu nervosismo, mas o amor sempre foi maior, arrebatador e no momento seguinte voc estava l para me reerguer atravs do seu apoio incondicional, nos momentos importantes, suportou a minha ausncia; nos dias de fracasso, respeitou o meu sentimento e enxugou minhas lgrimas. Dizer a voc obrigado no deve ser suficiente para expressar o meu sentimento de gratido, pois o amor que sinto por voc nessa hora fala mais alto e no h outra forma de agradecer a no ser dizendo agora e sempre que TE AMO! E tambm em especial ao meu pequeno filho Fbio, que veio trazer mais cor e alegria a minha vida, que com seu doce sorriso me incentiva a cada dia buscar o melhor: gratido e humildade. Dedico este trabalho a todas as pessoas que contriburam para essa realizao.
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este sonho, lembro-me de muitas pessoas a quem ressalto
reconhecimento, pois, esta conquista concretiza-se com a contribuio de cada uma
delas, seja direta ou indiretamente. No decorrer dos dias, vocs colocaram uma
pitada de amor e esperana para que neste momento findasse essa etapa to
significante para mim.
Deus me olhou e decidiu realizar mais um sonho meu. Sinto como se Deus me
sussurrasse: Filha voc lutou tanto por isso, que chegou a hora de eu te
presentear, quero te ver sorrir, esse momento seu. Eu te amo e quero te ver feliz.
E eu s quero agradecer a Deus por tudo!
Ao meu pai, Vicente Bessa Moura, por toda dedicao e amor dispensados, e seu
lindo exemplo como pai dedicado, amigo e batalhador; A minha querida e saudosa
me, Maria Zulene Crispim Moura (in memoriam), que mesmo no estando mais
entre ns, est sempre viva dentro do meu corao.
Devo agradecer tambm a minha irm Virlene, que com todos os contratempos
entre irms, foi minha segunda me, me dando broncas quando necessrio, me
apoiando em momentos que s uma irm poderia ajudar, me ensinou muito e foi
minha inspirao para fazer Servio Social.
A minha irm Ngela que de forma especial e carinhosa me deu fora e coragem,
me apoiando nos momentos de dificuldades, preocupando-se at com os problemas
pessoais pelos quais passei durante esse perodo de construo do TCC. Obrigado
por contribuir com tantos ensinamentos, tanto conhecimento, tantas palavras de
fora e ajuda. Espero um dia chegar ao seu nvel.
Aos meus irmos, retaguarda constante de carinho e que, mesmo de longe, no
deixaram de me apoiar, torcer e nunca duvidaram de meu xito.
As minhas amigas Liziany Amora, Maria Jos, do curso de Servio Social, que de
alguma maneira tornou minha vida acadmica cada dia mais desafiante. Peo a
Deus que as abenoe grandemente, preenchendo seus caminhos com muita paz,
amor, sade e prosperidade.
As mes que dividiram comigo suas histrias, por tudo que me trouxeram como
reflexo. Seus depoimentos que tornaram este trabalho possvel. Enfim, agradeo
a Violeta, Rosa, Lils os sujeitos da amostra. Nada seria sem vocs, com certeza
sempre terei carinho, respeito e agradecimento. Obrigada por tudo!
minha orientadora, Prof. Ms. Priscila Nottingham de Lima, que acreditou em mim
e ouviu pacientemente as minhas consideraes partilhando comigo as suas ideias,
conhecimento e experincias e que sempre me motivou. Quero expressar o meu
reconhecimento e admirao pela sua competncia profissional e minha gratido
pela sua amizade, por ser uma profissional extremamente qualificada e pela forma
humana que conduziu minha orientao.
s professoras, Ms. Mayra Rachel Silva, Ms. Rbia Cristina Martins Gonalves por
participarem de minha banca examinadora que cederam uma parte de seu tempo
precioso para poder contribuir com meu trabalho.
A todos os professores do curso de Servio Social, que de uma maneira ou de outra
contriburam para minha formao acadmica.
Se enxerguei longe, foi porque me apoiei em ombros de gigantes.
Isaac Newton
RESUMO
A temtica em questo trata de uma pesquisa qualitativa abordando o processo da
adoo a partir de relatos de famlias e os reais interesses da criana e do
adolescente adotado. A adoo um instituto de direito pblico, a ser deferido
sempre em favor das crianas e dos adolescentes, os quais possuem o direito
protegido constitucionalmente de ter uma famlia, o qual ser fundamental para a
formao sadia de sua personalidade e de seu desenvolvimento. Dessa maneira, o
estudo torna-se relevante ao abordar a temtica da adoo irregular, cuja pergunta
norteadora refere-se anlise de quais os motivadores da adoo nacional de
crianas brasileiras por meios irregulares? Tomando como objetivo geral analisar
quais os motivadores da adoo nacional de crianas brasileiras por meios
irregulares; e objetivos especficos: resgatar o contexto scio histrico da adoo no
Brasil; compreender o arcabouo legal voltado para o processo de adoo no Brasil
e investigar como se estabeleceram as formas irregulares de adoo praticadas
pelos sujeitos pesquisados. Para tanto, tomou-se como base terica os estudos de
Chaves (2002), Fonseca (2002), Leite (2005), Santos e Narjara (2008) entre outros
especialistas que tratam do assunto. Dessa maneira, o procedimento metodolgico
caracterizou-se por uma pesquisa bibliogrfica luz dos referenciais citados,
complementada por uma pesquisa de campo realizada na perspectiva da histria
oral, por meio de entrevistas semiestruturadas e aplicadas junto aos pais que
relataram suas experincias sobre adoo por vias ilegais. A partir do exposto, o
estudo permitiu concluir que o processo de adoo passou por profundas mudanas
ao longo da histria, devido as alteraes do Direito da famlia e concluindo o estudo
foram apresentados os resultados da pesquisa realizada com trs mes, uma
denominada de Violeta, outra foi chamada de Lils e a ltima chamada de
Rosa.Com bastante riqueza de detalhes, as entrevistadas informaram seus anseios
de ser mes e de correr o risco em adotar crianas de forma irregular.
Palavras-chave: Adoo, Famlia, Crianas e Adolescentes.
ABSTRACT
The topic in question is a qualitative research focusing on the process of adopting from reports from families and the real interests of the child and adolescent adopted. Adoption is an institute of public law, to always be granted in favor of children and adolescents, who have the constitutionally protected right to have a family, which is essential for the healthy formation of his personality and its development. Thus, the study becomes relevant when addressing the issue of illegal adoption .Whose guiding question refers to the analysis of what the drivers of national adoption of Brazilian children by irregular means? Taking as its general objective to analyze what the motivators of the national adoption of Brazilian children by irregular means, and specific objectives: to rescue the historical context of socio adoption in Brazil; understand facing legal framework for the adoption process in Brazil and investigate how established the irregular forms of adoption practiced by the subjects surveyed . To this end, we took as a basis the theoretical studies of Keys (2002). Fonseca(2002), Leite(2005), Santos and Narjara(2008) among other experts dealing with the subject.Thus,the methodological procedure was characterized by a literature search in the light of the references cited , supplemented by field research conducted from the perspective of oral history , through semi-structured interviews and applied with parents who reported their experiences of adoption in ways illegal . From the foregoing, It could be concluded that the adoption process has undergone profound changes throughout history , due to the changes of family law and concluding the study the results of research conducted with three mothers,one named Violet were presented , another was called Lilac and last call Rosa.Com very rich details , the women reported their desires to be mothers and risk in adopting children irregularly. Keywords : Adoption, Family , Children and Adolescents .
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AMB - Associao Brasileira dos Magistrados
CADH - Conveno Americana de Direitos Humanos
CDC - Conveno sobre os Direitos da Criana
CF- Constituio Federal
CNA - Cadastro Nacional de Adoo
CNJ- Conselho Nacional de Justia
DUDH - Declarao Universal dos Direito Humanos
ECA - Estatuto da Criana e do Adolescente
IPEA - Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
NCC - Novo Cdigo Civil
NLA - Nova Lei de Adoo
ONU - Organizao das Naes Unidas
PIDCP- Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos
PIDESC - Pacto Internacional dos Direitos Econmicos, Sociais e Culturais
PNCFC- Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e
Adolescentes a convivncia Familiar e Comunitria.
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................. 12
1. PERCURSO METODOLGICO.................................................................. 15
1.1. Aproximao com o tema.......................................................................... 15
1.2. Metodologia............................................................................................... 17
1.3. Os cenrios dos sujeitos da pesquisa....................................................... 21
2. PERCURSO HISTRICO DA ADOO..................................................... 26
2.1. Adoo no Brasil........................................................................................ 26
2.2. A Nova Lei de Adoo............................................................................... 31
2.3. Conceito de Adoo.................................................................................. 33
2.4. Marcos Legais da Adoo na atualidade.................................................. 36
2.4.1 A adoo sob o enfoque do Estatuto da Criana e do Adolescente....... 36
3. ADOO E SUAS PARTICULARIDADES................................................. 38
3.1. Histrico do Modelo de Famlia ................................................................ 38
3.2.Vlvula de escape para as possveis burocracias da adoo? ................. 40
3.3. Conceitos da Adoo Irregular.................................................................. 42
4. RESULTADOS E DISCUSSES DO ESTUDO .......................................... 47
4.1. Relatos de Experincias: depoimentos dos pais ...................................... 47
4.2. Anlises qualitativas da pesquisa de campo ............................................. 50
CONSIDERAES FINAIS.............................................................................. 57
REFERNCIAS................................................................................................. 61
APNDICE........................................................................................................ 67
ANEXOS............................................................................................................ 70
12
INTRODUO
Trata-se neste estudo sobre a adoo irregular com foco em relatos de
histria de vida de sujeitos que vivenciaram tal situao. Com o objetivo de subsidiar
essa anlise, traando um paralelo a respeito das alteraes sofridas pelo Direito de
Famlia ao longo do tempo, assim como um breve estudo acerca do percurso
histrico da adoo, com relao ao conceito, legislao e particularidades desta
instituio.
Considerando os aspectos legais e tericos pertinentes ao tema, pode-se
ressaltar que luz dos referenciais bibliogrficos comtemplados, a adoo um
instituto jurdico que imita a chamada filiao natural. a forma pela qual algum
estabelece com outrem laos de parentesco civil por fora de determinao legal, de
modo que esta filiao advm de sentena judicial.
Com relao ao conceito da adoo, pertinente verificar as mudanas
legislativas ocorridas ao logo do tempo, considerando as palavras de Silva Filho
(2009, p. 20), [...] na sua origem mais remota tinha sentido essencialmente
religioso, na medida em que visava perpetuar o culto domstico dos antepassados.
Essa sistematizao teve origem nos povos orientais, relacionado as Leis de Manu1
que exigiam como requisito que o adotando conhecesse os rituais religiosos.
De acordo com Rizzardo (2008), essa concepo foi ampliada para
diversas populaes e foi no Direito Romano onde mais se desenvolveu essa
prtica, encontrando uma disciplina sistemtica, com a principal finalidade de
proporcionar prole civil queles que no possuam filhos biolgicos.
Na perspectiva Surjus (2002) , cabe acrescentar que no perodo de 1728-
1686 a.C., a famlia e, mais especificamente, a adoo, passaram a ser melhor
sistematizadas com a instituio do Cdigo de Hamurabi, que determinou regras
expressas para que a adoo pudesse ser efetivada, tais como a idade mnima de
sessenta anos do adotante que este no tivesse filhos naturais e que fosse dezoito
1 Historicamente, as leis de Manu so tidas como a primeira organizao geral da sociedade sob a
forte motivao religiosa e poltica. O Cdigo visto como uma compilao das Civilizaes mais
antigas. O Cdigo de Manu no teve uma projeo comparvel ao Cdigo de Hamurabi (lembramos
que o Cdigo de Hamurabi, mais antigo que o de Manu em pelo menos 1500 anos), porm se infiltrou
na Assria, Judeia e Grcia. Em certos aspectos um legado, para essas civilizaes, comparado ao
deixado por Roma modernidade.
13
anos mais velho que o pretendente adoo, considerando ainda que tal legislao
tinha especial preocupao com a possibilidade ou no de o filho adotado reclamar
o retorno sua famlia de origem.
De acordo Cdigo Civil de 1916, a adoo no era regulamentada,
passando a ser disciplinada, pela primeira vez, a partir de sua promulgao. Porm,
o instituto foi pouco utilizado, devido s dificuldades impostas pela lei para que a
adoo fosse celebrada. Nesta poca, eram algumas das caractersticas do instituto:
a exigncia de que o adotante contasse com, pelo menos, trinta anos de idade,
sendo que deveria ser dezesseis anos mais velho que o adotando e, ainda, este
deveria ter mais de dezoito anos; se o adotante fosse casado, tal matrimnio deveria
ter durao de, no mnimo, cinco anos a adoo somente seria efetivada com a
averbao de escritura pblica no registro civil, entre outras alegaes.
Nesse sentido, contemplando os princpios da proteo integral e do
melhor interesse da criana, fundamentados na Constituio da Repblica
Federativa do Brasil de 1988 e no Estatuto da Criana e do Adolescente ( Lei
8.069, de 13 de julho de 1990) que, pela primeira vez no Brasil, a adoo vista
como uma forma de garantir o direito fundamental de crianas e adolescentes
convivncia familiar, inaugurando uma nova fase tambm no Direito de Famlia, j
que a adoo possui natureza irrevogvel e assegura ao adotando os direitos de
filiao, desvencilhando-se, portanto, daquele carter eminentemente caritativo dos
filhos de criao, anteriormente considerados como filhos ilegtimos.
Assim, a partir da incorporao da Doutrina da Proteo Integral no
ordenamento jurdico brasileiro, a adoo transformou-se num instituto de direito
pblico, com caractersticas prprias e reguladas principalmente pelo Estatuto da
Criana e do Adolescente em subseo especfica.
Nessas consideraes, a relevncia do tema pesquisado encontra-se
respaldado ante a sua proximidade com a realidade social, relativa ao cotidiano
scio-comunitrio vivenciado. So questes que dizem respeito vida da criana em
situao de abandono, tratando-se tambm de um ser em construo, com direitos e
deveres legitimados.
Pelo exposto, o estudo traz como objetivo geral analisar quais os
motivadores da adoo nacional de crianas brasileiras por meios irregulares, e
mais especificamente, resgatar o contexto scio histrico da adoo no Brasil;
compreender o arcabouo legal voltado para o processo de adoo no Brasil e
14
investigar como se estabeleceram as formas irregulares de adoo praticadas pelos
sujeitos pesquisados.
Para tanto, realizou-se uma pesquisa de campo, que compreende estudo
bibliogrfico com abordagem qualitativa, utilizando-se como mtodo norteador a
histria oral. A partir desse enfoque, a pesquisa bibliogrfica ocorreu atravs do
levantamento e seleo de textos sobre a temtica e a pesquisa de campo foi
efetivada a partir dos relatos de experincias vivenciadas, a qual consistiu na coleta
e anlise de dados, com aplicao de entrevistas direcionadas aos familiares das
crianas adotadas de maneira irregular.
Nesse direcionamento, o trabalho foi dividido em quatro captulos. O
primeiro trata do percurso metodolgico da pesquisa, contemplando as
caractersticas e os cenrios dos sujeitos pesquisados. O segundo captulo traz uma
discusso terica e histrica da adoo com nfase na legislao anterior e atual.
No terceiro captulo, trata-se tambm da adoo e suas particularidades relatando o
histrico do modelo familiar, da vlvula de escape para as possveis burocracias de
adoo e dos conceitos da adoo irregular e finalizando, apresentam-se os
resultados da pesquisa realizada com as famlias mencionadas, seguindo por fim, as
consideraes finais, referncias bibliogrficas e os anexos.
15
1. PERCURSO METODOLGICO
1.1. Aproximao com o tema
O interesse pela temtica da adoo se deu ao longo de todo curso de
Servio Social, tendo como marco o 4 semestre, quando estudou-se sobre o
referido objeto na disciplina de Pesquisa em Servio Social II. No decorrer do curso,
aprofundou-se a curiosidade sobre adoo. Essa tratando-se inclusive de expresso
da questo social que o assistente social, pelo seu processo investigativo e
interventivo, atua.
De acordo com Yazbek (2002), estes fatos sociais ocorrem na atualidade
de forma agressiva e o assistente social tem um papel essencial nas transformaes
que permeiam estas desigualdades. As desigualdades sociais esto crescendo de
forma assustadora na sociedade, provocando o surgimento, agravamento das
mltiplas expresses da questo social. Segundo Yazbek:
Para uma anlise do Servio Social na atualidade, necessrio situ-lo no contexto de transformaes societrias que caracterizam a sociedade brasileira dos ltimos anos em tempos de globalizao. Tempos de em que a economia e o iderio neoliberal intensificam as desigualdades sociais, com suas mltiplas faces. Tempos em que crescem as massas descartveis, sobrantes e margem dos direitos e dos sistemas de proteo social. (2002, p.19).
A identificao com o tema pesquisado tambm ocorreu devido sua
proximidade com a realidade social, relativa ao nosso cotidiano scio comunitrio. As
questes que dizem respeito criana sempre despertaram maior interesse, pois se
trata de um ser em construo, com direitos e deveres legitimados e que, portanto,
deve receber maior ateno da famlia, ou na falta dela, do Estado por meio de
polticas pblicas efetivas e eficazes, para que aquele ser assuma o seu espao na
sociedade de forma digna.
A temtica da adoo possui grande relevncia, sendo uma das formas
pela qual a criana volta a se integrar ao convvio familiar. Assim, desenvolveu-se um
processo de compreenso e perspectiva em torno do assunto pesquisado. Entretanto,
foi necessrio um aprofundamento terico para proporcionar o entendimento acerca
16
da percepo em volta dos diversos aspectos da vida de crianas adotadas. Durante
o processo de leitura, com o despertar para as questes que envolvem o assunto,
ocorreram diversas indagaes, contudo, o que mais causava inquietao era sobre
crianas adotadas.
Aps esta exposio de fatos, justifica-se aqui a identificao com a
temtica da adoo irregular e o incio de busca por uma melhor compreenso da
problemtica. A ideia sobre o tema foi amadurecendo pela vivncia e pelas histrias
de vida de crianas adotadas ilegalmente que fazem parte do meu contexto scio-
comunitrio.
Dessa maneira, o objetivo da pesquisa proposta refere-se temtica da
adoo irregular, cuja pergunta norteadora refere-se anlise de quais os
motivadores da adoo nacional de crianas brasileiras por meios irregulares?
Para Chaves (2002), h prtica dos pais adotivos registrarem os filhos
adotivos como sendo filhos biolgicos, utilizando meios contrrios ao legalizado. Tem-
se constituda a imagem por parte da populao de que a adoo um processo
demorado e burocrtico, por isso os pais acabam aderindo esse tipo de iniciativa.
Segundo Santos e Narjara (2013), na sociedade de classes em que
estamos inseridos, a adoo se torna algo complexo, devido aos requisitos que so
exigidos do adotante no momento da legitimidade. No Brasil, o processo de adoo
est relacionado, entre outros, ao abandono de menores causado pelas disparidades
sociais presentes na sociedade.
Conforme o ltimo balano do Cadastro Nacional de Adoo (CNA),
publicado em 2011 pelo Conselho Nacional de Justia (CNJ), existem 4.856 crianas
autorizadas pela justia para adoo, e mais de 27 mil candidatos para adotar (CNA,
2011).2
O Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), em 2005, realizou
uma pesquisa sobre Polticas Sociais e apresentou que aproximadamente 20 mil
crianas e adolescentes moram no Brasil em abrigos, dos quais apenas 10%
possuem uma capacidade legal para adoo. (IPEA, 2005).
2 Disponvel em: Adoo gil, cidadania garantida < http: // www.brasil.gov.br / sobre / sade / maternidade / planejamento / adoo - agi l- cidadania - garantida > Acesso em: 05.04.2013.
http://http:%20/%20www.brasil.gov.br%20/%20sobre%20/%20saude%20/%20maternidade%20/%20planejamento%20/%20adocao%20-%20agi%20l-%20cidadania%20-%20garantidahttp://http:%20/%20www.brasil.gov.br%20/%20sobre%20/%20saude%20/%20maternidade%20/%20planejamento%20/%20adocao%20-%20agi%20l-%20cidadania%20-%20garantida
17
Segundo ainda dados da AMB3 (Associao Brasileira dos Magistrados),
o Brasil possui na atualidade 80 mil crianas e adolescentes que esto espera de
serem adotadas em instituies de acolhimento espalhados pelo Pas. Com a
inteno de diminuir este nmero e possibilitar o direito a convivncia familiar e
comunitria a esse pblico infanto-juvenil, promulgada em 2009 a lei 12.010, que
trata das normatizaes referentes adoo no Brasil. (AMB, 2005).
A nova lei Nacional da Adoo, foi sancionada pelo presidente Luiz Incio
Lula da Silva, depois de tramitar por dois anos no congresso. A lei de 2009
representa uma total modificao nas legislaes atuais e acrescenta vrios
mecanismos ao Estatuto da Criana e do Adolescente.
A partir de 2009, a cada seis meses, a Justia ter de avaliar a situao
de cada criana em abrigo. As crianas s permanece em instituio por no mximo
dois anos. Parentes prximos e pessoas com algum tipo de relao com o menor
tero prioridade na hora de adotar. A idade mnima para ser um pai ou me adotiva
baixou de 21 para 18 anos. Com a nova lei os programas de acolhimento familiar
ganharam mais importncia. O adotado com 12 anos ou mais precisa consentir em
audincia judicial com a adoo. Antes, o juiz decidia se ouvia ou no a criana e se
considerava ou no opinio; A lei prev dois cadastros nacionais de adoo um de
crianas e adolescentes em condies de ser adotados e outro de adotante.
1.2. Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida numa abordagem qualitativa, conforme
aponta Minayo (1994), preocupa-se com uma realidade que no pode ser
quantificada, respondendo questes muito particulares, trabalhando com um
universo de significados, crenas e valores e que correspondem a um espao mais
profundo das relaes, dos fenmenos que podem no ser reduzidos
operacionalizao de variveis.
Nessa perspectiva, Minayo (1996) explicita que a pesquisa qualitativa
incorpora a questo do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos, s
relaes e s estruturas sociais, considerando a subjetividade como fundante de
3 Disponvel em: Adoo gil, cidadania garantida < http: // www.brasil.gov.br / sobre / sade / maternidade / planejamento / adoo - agi l- cidadania - garantida > Acesso em: 05.04.2013.
http://http:%20/%20www.brasil.gov.br%20/%20sobre%20/%20saude%20/%20maternidade%20/%20planejamento%20/%20adocao%20-%20agi%20l-%20cidadania%20-%20garantidahttp://http:%20/%20www.brasil.gov.br%20/%20sobre%20/%20saude%20/%20maternidade%20/%20planejamento%20/%20adocao%20-%20agi%20l-%20cidadania%20-%20garantida
18
sentido e como constitutiva do social. Sua preocupao tratar sobre os desvios
das relaes sociais, consideradas como algo inerente ao ser, como resposta da
atividade humana criadora, amorosa e racional (que pode ser alcanada no
quotidiano, na existncia) e do esclarecimento do senso comum. Assim, o
significado o conceito central da investigao, e a tarefa do pesquisador
investigar a percepo da realidade humana vivida socialmente, desenvolvendo-se
no universo dos significados das aes e relaes humanas. (MINAYO, 1996, p.10-
23).
Desse modo, Haguette (1987) estabelece que [...] os mtodos enfatizam
as especificidades de um fenmeno em termos de suas origens e sua razo de ser".
Para autora, o pesquisador deve utilizar o tipo de mtodo mais adequado para cada
tipo de objeto de estudo. (HAGUETTE, 1987, p.63).
A primeira fase do estudo proposto ocorreu por meio da pesquisa
bibliogrfica. Esse tipo de pesquisa, de acordo com Silva (2003), [...] explica e
discute um tema ou problema com base em referncias tericas j publicadas em
livros, revistas, peridicos, artigos cientficos, [...]. (SILVA, 2003, p.60). Tendo em
vista o exposto, pretende-se lanar mo da bibliografia produzida acerca do assunto
estudado, com o objetivo de fortalecer a compreenso das categorias de anlise em
questo e para possibilitar o futuro dilogo junto aos aspectos que sero
encontrados no campo de pesquisa. A pesquisa bibliogrfica tem por objetivo
conhecer as diferentes contribuies cientficas disponveis sobre determinado tema.
A pesquisa de campo tambm integrou uma das etapas do processo
investigativo. A pesquisa de campo [...] o recorte que o pesquisador faz em
termos de espao, representando uma realidade emprica a ser estudada a partir
das concepes tericas que fundamentam o objeto da investigao. (MINAYO,
2004, p.43). Segundo Minayo (2004), o trabalho de campo se apresenta como uma
possibilidade de conseguirmos no s uma aproximao com aquilo que desejamos
conhecer e estudar, mas tambm de criar um conhecimento, partindo da realidade
presente no campo. (MINAYO, 2004, p.43).
A tcnica de coleta de dados utilizado foi a entrevista semiestruturada, em
que Gil (2002) afirma, de uma maneira geral, que [...] entrevista uma tcnica de
coleta de dados em que o investigador se apresenta frente o entrevistado [...] com
objetivo de obter os dados que interessam a uma investigao (GIL, 2002, p.115).
19
Cabe salientar que a entrevista tem como objetivo principal a obteno de
informaes do entrevistado sobre a sua histria de vida, seus conflitos e desafios.
Assim, nesta investigao, os dados foram gerados atravs de uma entrevista
semiestruturada, pois pensamos ser este o instrumento mais apropriado para a
histria oral. Enfim, a necessidade de se utilizar esse tipo de entrevista permite
introduzir outras questes que surgem de acordo com o que acontece no processo
em relao s informaes que se deseja obter. No entender de Gauthier (1998) a
entrevista semiestruturada:
tambm estruturada a partir de uma ordem preestabelecida pelo entrevistador. A diferena que esta entrevista alm de contar questes fechadas e diretas inclui um nmero pequeno de perguntas abertas, nas quais o entrevistador se utiliza de certa liberdade. (GAUTHIER, 1998, p.31).
Utilizado como mtodo para nortear a coleta das informaes a histria
oral. Nesta tica, segundo Ferreira e Amado (2006, p.9), somente no incio dos anos
1990 a histria oral experimentou no Brasil uma expanso mais significativa. Devido
ao aumento de seminrios e a incluso dos programas de ps-graduao em
histria de cursos voltados para o estudo da histria oral so indcios importantes da
vitalidade e dinamismo da rea.
Por outro lado, o aprofundamento de contatos com pesquisadores
estrangeiros e com programas de reconhecido mrito internacional, proporcionados
pelos encontros e seminrios, geraram canais importantes para o debate e a troca
de experincias. (FERREIRA; AMADO, 2006, p.9)
Para os autores Ferreira e Amado (2006), a histria oral como
metodologia funciona atravs de uma ponte entre a teoria e a prtica, que
constituem e elaboram procedimentos de trabalho, como os tipos de entrevista e
suas implicaes para a pesquisa, as possibilidades de transcrio das fitas
gravadas, as maneiras de lidar com os entrevistados. A histria oral consiste num
mtodo que explora as relaes entre histria e memria. Sendo assim, Ferreira e
Amado tratam-na na seguinte perspectiva:
Em nosso entender, a histria oral, como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena procedimentos de trabalho tais como os diversos tipos de entrevistas e as implicaes de cada um deles para a pesquisa, as vrias possibilidades de transcrio de depoimentos, suas vantagens e desvantagens, as diferentes maneiras de o historiador relacionar-se com seus entrevistados e as influncias disso sobre seu trabalho funcionando como ponte entre teoria e prtica. (FERREIRA; AMADO, 2006, p.16).
20
Haguette (1987) busca nos mostrar a Histria Oral, como uma ferramenta
de coleta de dados que usa o depoimento oral como fonte. Sua utilidade completar
casuais lacunas que possam haver nos documentos escritos e restabelecer, usando-
se de depoimentos pessoais, a verdadeira imagem de personagens ou fatos
histricos.
Segundo Haguette (1987), podemos falar que obedecendo a critrios
cientficos antes determinados, a histria oral compe uma alternativa de coleta de
dados, particularmente subjetivos que podero, e dada a sua relevncia, devero
auxiliar para um entendimento mais adequado quanto a acontecimentos histricos
ou histrias de vida. Como Haguette diz, [...] o contedo da histria oral pode variar
na proporo da variedade ocupacional daqueles que a praticam. (HAGUETTE,
1987, p.87).
Com estas concepes, a histria oral investiga os fatos e
acontecimentos registrados na memria das pessoas de destaque na comunidade e
preocupa-se em coletar tudo sobre o passado de certos indivduos suas opinies,
maneira de pensar e agir, procurando captar principalmente dados desconhecidos.
Conforme Lozano (2008) a histria oral pode ser considerada um campo
multidisciplinar, pois permite que algumas disciplinas, entre elas, a antropologia,
psicologia, psicanlise, sociologia, possam propiciar suas colaboraes tericas,
particularmente no tratamento e na anlise da informao oral.
Vale ressaltar tambm a concepo de Franois (2008, p.30), que
considera que a histria oral seria inovadora inicialmente por seus objetos, porque
cuida dos excludos da histria e d ateno aos caminhos individuais, numa
dimenso micro-histrica.
De acordo com Franois(2008), esse tipo de mtodo contemporneo e
pode estar ligado a histria do tempo presente. Traz uma abordagem que valoriza a
vivencia dos excludos, crianas, mulheres, trabalhadores e idosos, o que a torna
mais prxima da realidade. A utilizao de relatos de histria oral de vida colabora
na compreenso dos vrios caminhos tomados pela sociedade em determinadas
pocas e no entendimento do desfecho dos processos da histria que trouxeram
mudanas significativas nos dias atuais.
Para Becker (2006), a histria oral necessariamente til para preencher
as lacunas da pesquisa, compensar a falta de documentao relacionada algum
21
evento histrico ou acontecimento. Nesse sentido, o referido mtodo indicado para
o estudo proposto, tendo em vista que os casos que envolvem a adoo irregular
ocorrem por meios indocumentados, viabilizando apenas a aproximao ao
fenmeno por meio da coleta dos relatos dos sujeitos que vivenciaram essa
experincia.
Becker (2006) utiliza ainda a noo de arquivos provocados para dar
conta da especificidade das fontes produzidas depois do acontecido, que, por isso
mesmo, pertencem mesma categoria das recordaes ou memrias. Ressalta-se
ainda a reflexo feita por Becker (2006) que arquivos provocados um resgate de
memria da sua prpria vida, acontecimentos passados e, portanto, responsvel
por tudo o que foi dito e escrito a posteriori. Para o autor, esses arquivos provocados
podem resgatar lembranas involuntariamente equivocadas, lembranas
transformadas em funo dos acontecimentos posteriores, lembranas sobrepostas,
lembranas transformadas para coincidir com o que pensado muitos anos mais
tarde, para justificar posies e atitudes posteriores.
1.3. Os cenrios dos sujeitos da pesquisa
A pesquisa foi realizada a partir de dados orais gerados em entrevistas
com as mes que narram suas histrias de vida sobre adoo por vias ilegais. A
escolha dos sujeitos ocorreu a partir do contato com pessoas que fazem parte direta
ou indiretamente do convvio social da pesquisadora.
Segundo dados do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA- BRASIL,
1990) para requerer a adoo de crianas e adolescentes, os interessados devero
preencher algumas exigncias legais: pessoas solteiras e vivas, independente do
sexo; os casados e companheiros podem adotar em conjunto, desde que um deles
seja maior de 21 anos e seja comprovada a estabilidade familiar, os separados ou
divorciados judicialmente tambm podem adotar em conjunto desde que a
convivncia com a criana seja iniciada durante perodo do casamento; o adotante
deve ter compatibilidade com a adoo e oferecer ambiente familiar adequado.
Essas medidas foram firmadas na tentativa de garantir que o adotado tenha um lar
que proporcione uma vida saudvel e harmoniosa.
22
O perfil decretado pelo referido Estatuto para os adotados de que sejam
crianas e adolescentes at 18 anos, rfs, de pais desconhecidos ou falecidos, que
aceitaram a adoo do filho ou que foram afastadas da famlia de origem depois de
no terem mais meios para mant-la. De acordo com o novo Cdigo Civil, a adoo
de maiores de 18 anos vai proceder da assistncia do Poder Pblico e da sentena
constitutiva. O adotando deve ser pelo menos 16 anos mais novo que o adotante.
(NCC, 2002).
Conforme as orientaes do ECA, s pode haver destituio do Poder
Familiar aps terem sido esgotadas todas as medidas de apoio aos pais da
criana/adolescente e ficar comprovada a impossibilidade de reintegrao familiar.
(BRASIL, 1990).
Segundo Chaves (2002), o processo de adoo foi classificado por muitos
anos sob a influncia de uma dupla maldio: [...] o abandono da criana e a ferida
extensa dos pais estreis. (CHAVES, 2002, p.5). Nesta perspectiva, a construo
de famlias adotivas caracterizada por uma formao familiar que envolve diversos
aspectos, sendo eles: jurdicos, sociais e psicolgicos. Este processo acontece de
diversas formas em cada poca, adaptando-se s necessidades contemporneas da
sociedade. A composio das famlias adotivas construda por uma complexa
estrutura, por algum motivo os pais renunciam a responsabilidade sobre seu filho,
gerando uma criana abandonada. De outro lado temos os casais impossibilitados
de gerar filhos biolgicos, mas com forte desejo de exercer a parentalidade.
(CHAVES, 2002).
Diante disso, amplas modificaes foram feitas, mesmo assim, falta a
compreenso necessria para administrar a nova sociedade. Na concepo de Dias
(2007): Talvez o grande ganho tenha sido excluir conceitos que causavam grande
mal-estar e no mais podiam conviver com a nova estrutura jurdica e a moderna
conformao da sociedade (DIAS, 2007, p. 30). Diante deste posicionamento, Dias
(2007) elucida que surgiu uma atual forma de pensar o direito de famlia. Surge um
novo nome para essa nova tendncia de compreenso de arranjo familiar, pela sua
clareza afetiva. (IDEM, p. 30).
Ainda para a mencionada autora, na modernidade, Existe uma nova
concepo de famlia, formada por laos afetivos de carinho e de amor [...].
(IBIDEM, p. 30). Logo, a sociedade j atravessa atual fase. Todos se habituaram s
novas formas de famlia que foram se distanciando do padro formado pela famlia
23
estruturada no mtodo patriarcal. A famlia na atualidade, no se limita mais
referida estrutura nuclear. Hoje, existem famlias reconstrudas, monoparentais,
homoafetivas, dentre inmeros outros modelos.
Em decorrncia da abordagem anterior, pois resgatamos a famlia
enquanto valor fundamental na sociedade, no significa que readquirimos conceitos
tradicionais familiares, pois houve realmente mudanas em sua configurao,
expressa nos vrios tipos de arranjos familiares atualmente existentes. Nessa
perspectiva, a famlia um fenmeno social que gera diversos efeitos jurdicos,
produz diferenas sociais que impelem tanto no campo jurdico, quanto o
sociolgico, percorrendo sempre conforme as normas e convenes, e procurando o
seu prprio espao, elaborando solues para sua transformao. (DIAS, 2007).
Compreende-se que uma nova percepo de famlia se classifica em
nossos dias, acontecendo assim, uma suscetvel mudana nos conceitos bsicos. O
conceito de famlia tornou-se mais intenso, mais de acordo com a realidade,
traduzindo assim, a famlia atual. Hoje vivemos com uma pluralidade de formas de
entidades familiares e contnuo a visibilidade de muitas relaes at ento
estabelecidas. Como dispe Rios (1999):
Com efeito, num contexto poltico e ideolgico dominado por uma viso de mundo onde os gneros esto rigidamente definidos e orientados para necessidades de produo e para o fortalecimento de certos padres morais confirmatrios desta cosmoviso, no h espao para aceitao de qualquer espcie de relacionamento destoante do padro desenhado pela famlia institucional. (RIOS, 1999, p. 100).
Weber (2003), ao estudar 240 famlias adotantes4, constatou como
fundamental motivao para a adoo a falta de filhos prprios (50%) e a vontade de
passar pela prtica de cuidar de um beb. Certa demora do processo de integrao
do novo filho, junto aos pais candidatos passa at a ser conveniente porque
vlido lembrar-se que o amor uma relao que se constri lentamente, portanto,
torna-se indispensvel o exerccio da convivncia, da pacincia, e da compreenso.
Em relao s pesquisas de Vargas (1998) consideramos que:
A dificuldade, ou no, da criana de estabelecer novos vnculos estaria, basicamente, relacionada com a possibilidade de expresso e atendimento, pelos pais adotivos, de suas necessidades emocionais mais primitivas, ou
4 Pesquisa realizada na cidade de Curitiba.
24
seja, de ser gestada novamente, de se mostrar indefesa, de requerer ateno, de renegar essa ateno. Enfim, de refazer todo o caminho para a construo de seu novo eu a partir dos novos modelos parentais. (VARGAS, 1998, p.16).
Referente ao assunto Weber(2010), exps que os adotantes brasileiros
so muitas vezes casais de etnia branca, idade mediana de 34 anos, metade das
mes e dos pais adotantes tem nvel superior, um perfil de escolaridade muito
superior populao; a renda familiar mdia de 25 salrios mnimos, o que
tambm representa um nvel econmico superior distribuio da populao; a
maioria absoluta das mes e dos pais adotivos tem atividade remunerada e exercem
profisses que exigem nvel de escolaridade secundrio ou superior; as mes
pesquisadas apresentaram maior nvel de escolaridade do que os pais.
No Brasil, comum essa forma de adoo, chamada de "adoo
brasileira", que est relacionada ao fato de registrar uma criana em nome dos
adotantes, sem o devido meio legal. Apesar da tima inteno que alegam ter as
pessoas que procederam dessa maneira, esse ato encontra-se classificado como
crime na legislao brasileira5 contudo deve ser estudado de maneira mais
aprofundada como meio de discutir essa classificao. Diante do que foi dito, este
tipo de adoo ser estudada ao longo dessa pesquisa. um tema polmico, pois
diz respeito a uma particularidade mais delicada das relaes familiares.
De acordo com Elias (1994), no h dvida que a infncia no pas sofre
ainda com a chamada "Adoo brasileira", devido s crianas serem entregues
diretamente aos pais adotivos por seus pais biolgicos e, em vez de passar por vias
legais de adoo, ignoram o programa da Justia e depois procuram o juizado para
"oficializar" a adoo.
Aqui traa-se uma breve caracterizao dos pais que adotaram por vias
ilegais, o cenrio que pretendo explorar so os endereos dos adotados que no
conviveram em um acolhimento institucional. Essa aproximao teve por objetivo
conhecer a histria dos sujeitos entrevistados, j que adotar um ato que pode ter
diversas motivaes.
5 Consiste em prtica ilegal de adoo, segundo consta no artigo 242 do Cdigo Penal Brasileiro: dar
parto alheio como prprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recm-nascido ou substitu-lo,
suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil, constitui crime.
.
25
Para a referida pesquisa, considera-se de suma importncia conhecer o
perfil dos atores envolvidos para compreenso do tema em estudo. De acordo com
os princpios ticos, alterou-se o nome dos pais que iro contribuir de forma
voluntria com este trabalho, a fim de garantir seu anonimato, utilizou-se algumas
cores do arco ris para referenciar os pais envolvidos na pesquisa.
Violeta casada, e tem um filho (adotado por meio irregular) e seu
conjugue j era pai de dois filhos biolgicos. Quanto profisso considera-se
autnoma, etnia branca, altura mediana, tem aproximadamente 83 quilos, cabelos
acima dos ombros, com 48 anos e de sorrisos largos, mora atualmente em
Fortaleza, concluiu o Ensino Mdio, considera-se possuidora de personalidade forte,
teme a Deus e por ser guerreira, sabia que ainda faltava algo de to precioso em
sua vida, dedica-se a maternidade; mesmo quando descobriu que seu conjugue no
poderia ter mais filho, dedicou-se a sua busca incansvel pela adoo pelos
transmito legal, no tento xito partiu por uma adoo irregular realizando o seu
grande sonho de ser me.
Lils auxiliar de cozinheira, tem 60 anos e 1.58 de altura, pesa 56
quilos, cabelo na altura do queixo, concluiu o segundo grau completo, casada e
tem um casal de filhos porm um filho biolgico e outro por adoo. uma
senhora bem humorada, adora viajar e ajudar o prximo. J av de duas netas
que a enchem de felicidades.
Rosa, formada em Recursos Humanos, casada com um escrivo da
Polcia Civil aposentado. Tem 52 anos e 1.76 de altura, considera-se morena cor de
canela, cabelos longos e encaracolados. Atualmente dona do lar e me de uma
criana com aproximadamente 5 anos de idade, uma adoo ilegal.
As entrevistas em andamento sero de fundamental importncia para o
desenvolvimento da pesquisa, possibilitando assim uma maior amplitude sobre os
questionamentos que envolveram o tema pesquisado.
Feitas essas consideraes, o estudo avana abordando no prximo
captulo o percurso histrico da adoo de acordo com levantamento bibliogrfico
realizado. Tendo em vista que para entender o histrico da adoo no Brasil
importante que se faa inicialmente um breve histrico sobre o instituto da adoo
em outras sociedades, tal enfoque se apresenta no primeiro item do captulo a
seguir.
26
2. PERCURSO HISTRICO DA ADOO
2.1. Adoo no Brasil
O presente captulo objetiva compreender a historicidade da adoo6 e
uma vez que a Nova Lei de Adoo recente, percorre-se o seu trajeto. Por fim, o
ltimo item do captulo aborda a interveno do Assistente Social no Processo de
Adoo.
A adoo sofreu profundas mudanas ao longo da histria, devido as
alteraes do Direito de Famlia. Ela surge com pequena ou grande importncia nas
normas jurdicas de acordo com as caractersticas e as perspectivas de cada
sociedade em um determinado momento. De acordo com Schettini (1998): [...]
procriar uma condio dada pela natureza; criar uma responsabilidade no mbito
da tica entre os homens [...] procriar fisiolgico; criar afetivo. (p.6).
Na antiguidade a adoo era vinculada diretamente com a religio, pois
as civilizaes antigas confiavam que os seres que estavam vivos dependiam da
proteo total dos que j tinham morrido, [...] o pai transmitia a vida ao filho, e ao
mesmo tempo, a sua crena, o seu culto, o direito de manter o lar, de oferecer o
repasto fnebre, de pronunciar as formulas da orao. (GRANATO, 2010, p.33).
A esse respeito, Weber (2009) informa que:
A adoo na antiguidade atendia aos anseios de ordem religiosa, pois as civilizaes primitivas acreditavam que os vivos eram protegidos pelos mortos. A religio s podia propagar-se pela gerao. O pai transmitia vida ao filho e, ao mesmo tempo, a sua crena, o seu culto, o direito de manter o lar, de oferecer o repasto fnebre, de pronunciar as frmulas da orao. Assim, adotar um filho era, portanto, garantir a perpetuidade da religio domstica, era a salvao do lar pela continuao das oferendas fnebres pelo repouso dos antepassados. No havia sequer a preocupao com os laos afetivos entre adotante e adotado. (WEBER, 2009, p.69).
Devido s exigncias da religio [...] adotar um filho era, portanto garantir
a perpetuidade da religio domstica, era a salvao do lar pela continuao das
oferendas fnebres pelo repouso dos antepassados. (WEBER, 2007. p.54). Assim,
observa-se que nessa poca havia um cuidado maior por parte do adotante, pela
6A adoo se constitui instituto antigo, existente desde os povos Babilonenses, Hebreus, Gregos e Romanos, porm; atualmente, exerce funo diversa, fundada na doutrina da proteo integral da criana e do adolescente (MARTINS, Ricardo Ferreira. Evoluo e atual significado da adoo. Disponvel: < http://www.urutaga.eum.br//02adoao.htm>.Acesso em: 15.11.2013.
http://www.urutaga.eum.br/02adoao.htm%3e.Acesso
27
importncia em servir alm de seus interesses religiosos, a reproduo do culto
domstico.
Nessa perspectiva, considera Nakagaki (2004):
Isto acontecia porque a preocupao fundamental da adoo na antiguidade era de cunho religioso. Acreditava-se, naquela poca, que cabia aos vivos a funo de assegurar o bem estar de seus antepassados atravs de preces, oraes e ritos religiosos. Assim, quem no possusse filhos, no teria quem realizasse as suas cerimnias fnebres. Tendo um filho, mesmo que adotado, o culto domstico era continuado e a famlia no sofria com a desgraa de sua extino. O importante era nunca deixar a famlia sem uma representao de seu culto em vida. (NAKAGAKI, 2004.p.14).
Silva Filho (1997) e Weber (2003) relatam que o ato regular desse
instituto foi na Grcia, como forma de preservar o culto familiar pela imagem do
homem. Ressaltam tambm que o adotado, por direito, possua o nome do adotante
e desfrutava de seus bens. Na antiguidade, havia o princpio fundamental da
adoo, o qual, no permitia que o adotado se afastasse da filiao natural: adoptio
naturam7. Todavia, tal princpio foi excludo pelo direito civil moderno. (SILVA FILHO,
1997, p.45; WEBER, 2007, p. 20 e 21).
Assim, Silva Filho (1997) explica:
Nos tempos primitivos prevalecia o aspecto religioso. Perseguiam-se fins que reclamavam por considerao especial do adotado como filho. No entanto a adoo no produzia a converso de um estranho em descendente. Serviu, ainda, em alguns povos, para outros fins. Dentre eles: o de legitimar filho natural; para fundar laos de carter patrimonial; para manuteno do culto domstico e para transmisso do patrimnio, dentre outros. Parece que o fator sucessrio e o culto domstico dominavam o conceito de adoo. Por essa razo, alguns testamentos. A grande diferena estava na forma: a adoo era ato bilateral e irrevogvel. Nota-se uma certa afinidade entre a adoo e a sucesso mortis causa8.No so excludentes tais categorias, pois a adoo era meio de alcanar parentesco em linha reta, margem da natureza. A funo primordial da descendncia , de um ponto de vista biolgico e jurdico, assegurar a continuidade. Os filhos representam a continuao dos pais. A adoo consiste na criao de um parentesco civil equivalente ao de filho e que resguarda essa continuidade. (SILVA FILHO, 1997, p. 56).
7- Adoptio naturam - Filiao Natural ou In vitro: A fertilizao in vitro (FIV) consiste, basicamente, em se retirar um ou vrios vulos de uma mulher, fecund-los em laboratrio e, aps algumas horas ou em at 2 dias, realizar a transferncia ao tero ou as trompas de Falpio. (MEIRELLES, 2.000, pg.18). 8- Causa Mortis -Vem do latim "Causa=motivo, razo ou circunstncia ", e "mortis=morte ou bito". Disponvel em: http://dicionario.babylon.com. Acesso em: 12.11.2013.
28
Para ries (1978, p.186) [...] na idade mdia a criana era reconhecida
como grupo de segunda categoria, uma espcie de adulto em miniatura, um ser
imperfeito, que precisava sair do estado infantil para merecer algum respeito. Nessa
poca, foi um perodo muito marcado por influncias religiosas, pois o sentimento
dos adultos em relaes as crianas era algo desconhecido.
A Idade Moderna foi de grande importncia para o cenrio mundial,
perodo da histria que corresponde aos sculos XV at XVIII e marcado pela
Revoluo Francesa, pois grandes mudanas ocorridas no mundo esto contidas
em seu contexto. Foi nesta poca que o instituto da adoo retorna e logo aps
aquele perodo de decadncia, tomou nova feio graas ao governo de Napoleo
Bonaparte9.
Segundo Weber (2009), adoo representou grande avano, uma vez
que:
[...] dizer que graas ao cdigo de Napoleo, a adoo comeava a engatinhar para um novo rumo, no atendimento dos interesses do adotado, ou seja, das crianas que no tm uma famlia. Nas palavras de Napoleo, a adoo , antes de tudo, uma instituio de beneficncia, e o efeito mais feliz ser dar crianas queles que no as tm, de dar um pai a crianas rfs, de lugar, enfim, a infncia velhice e idade viril. Para Napoleo, a adoo deveria imitar a natureza. (WEBER, 2009, p.57).
Contudo, de acordo com Weber (2009, p. 69), apesar de vivas oposies
a Napoleo Bonaparte, adoo foi legitimada, passando a ser prevista no Cdigo
Civil de 1916 no Brasil, sendo a mesma bastante rgida. Segundo a autora, os
critrios contidos no cdigo civil de 1916 no Brasil tornavam a adoo mais
complicada, pois ditava que era permitido a adoo de maiores de 23 anos. O
adotado no pertencia famlia do adotante, e somente garantia aos mesmos o
efeito de sucesso; o adotante deveria ter mais de 50 anos, ser estril e ser pelo
menos 15 anos mais velho do que o adotado; uma pessoa com menos de 23 anos
no poderia ser adotada por testamento se o adotante tivesse criado seis anos antes
de sua morte.
Havia no cdigo Napolenico (Cdigo Civil Francs de 1792) quatro tipos
distintos de adoo, que eram empregadas pela lei. (SZANICK, 1999, p.23). Os
quatros tipos de adoo eram descritos como:
9 Napoleo Bonaparte - cuja esposa havia se tornado estril.
29
1. a ordinria, realizada atravs de contrato, sujeita homologao por parte do magistrado, a qual concedia direitos hereditrios ao adotado, [...]; 2. A remuneratria concedida a quem tivesse salvado a vida do adotante, caracterizando-se irrevogabilidade; 3.a testamentria, feita atravs de declarao de ltima vontade, permitida ao tutor somente aps cinco anos de tutela; e 4. A tutela oficiosa ou adoo provisria, criada em favorecimento a menores, regulando questes de tutela da criana. (SZANICK, 1999, p.23).
Com decorrer dos anos, as leis que antes eram baseadas no Cdigo
Romano e Napolenico, comeam a perder fora. Diante desse fato,Weber (2009,
p.1) mostra que [...] a lei americana no foi derivada destas leis j existente, suas
razes esto ligadas s leis inglesas que no previam a adoo. O que emperrava
para que a adoo fizesse parte da lei eram as questes ligadas a herana. Foi
ento que a partir de 1926 a adoo surge e passa a ser inserida nos trmites legais
da lei inglesa, e logo em seguida, em 1969, atravs de um estatuto. Tais medidas,
conforme a referida autora, acabam com o problema da herana.
O que se percebe que ao longo da histria a adoo assumiu diversos
aspectos, e para cada momento, se fez importante, seja por meios polticos,
psicolgicos, jurdicos ou at mesmo religiosos. Na maioria das vezes era utilizada a
favor do adotante como foi o caso Napoleo Bonaparte, citado anteriormente, que
por necessidade de um sucessor para assumir seu trono se colocou a favor da
adoo criando mecanismos para que tal pudesse acontecer.
No que tange ao Brasil, de acordo com Paiva (2004, p.3) [...] a histria da
adoo tem um percurso extenso e esteve presente a partir do perodo da
colonizao. Neste momento era ligada a um processo caritativo, no qual os que
detinham um poder aquisitivo maior passavam a criar crianas de poder aquisitivo
menos favorecido, que passavam a ser chamados de filhos de criao. A situao
deste seio familiar no era formalizada. Nesse perodo o que existia era uma
inteno de se favorecer com a mo de obra barata e, em troca, prestar auxlio aos
mais necessitados, conforme os preceitos da igreja catlica.
A adoo surgiu no Brasil com a Consolidao das Leis Civis, com o
jurista Teixeira de Freitas, determinando aos juzes: [...] conceder cartas de
legitimao aos filhos sacrilgios, adulterinos e incestuosos, e confirmar as
adoes. (CHAVES, 2002, p.19). Em seguida, o mesmo Teixeira de Freitas, cuidou
de regulamentar a matria do instituto de modo minucioso nos artigos 1.625 a 1.633,
em seu trabalho denominado Esboo.
30
Foi somente na Idade Contempornea que houve modificaes
profundas e avanos na legislao sobre a adoo em vrios pases. Marclio (1998)
considera que somente aps a Primeira Guerra Mundial que os legisladores
passaram a se atentar mais com a adoo e lograram novas mudanas. Em Pases
como a Itlia, Frana e Inglaterra surgiram uma diversidade de normas legais nos
anos de 1914 e 1930, assim tambm com a lei de adoo plena, em que h o
rompimento de todos os laos com a famlia biolgica e a emisso de um outro
registro de nascimento.
A adoo no esteve sistematizada, no direito brasileiro at o Cdigo Civil
de 1916. A adoo era por meio de escritura pblica num momento averbada ao
Registro Civil, sem Interveno judicial. Sobre isto, Fonseca (2002) atesta que a
posse da criana era regulamentada em cartrio, seguindo o mesmo mtodo feito
para a regulamentao de bens e imveis. Em 1916 com o Cdigo Civil, que em
termos legais aceitou-se a adoo, fortalecendo a oportunidade de dar filhos aos
casais que so estreos, ignorando os interesses do adotado.
De acordo com Paiva (2004):
[...] a primeira vez que a adoo apareceu em nossa legislao foi em 1928, e tinha como funo solucionar os problemas de casais sem filhos. Esses processos ocorriam de forma simples, sendo os registros feitos em cartrios e conhecidos como adoo a brasileira. (PAIVA, 2004, p.359).
Neste Cdigo Civil, o filho adotivo no se desvinculava de sua famlia
biolgica, podendo, assim, permanecer com o nome que foi registrado, sendo ainda
os deveres alimentcios so de responsabilidade dos pais biolgicos. A adoo era
revogvel e no era vista como um modo comum de constituir famlia. Conforme o
art. 368, apenas podiam adotar os maiores de cinquenta anos e no mnimo dezoito
anos mais velhos que o adotado, o que dificultava bastante a efetivao da adoo.
(GRANATO, 2010, p. 20).
A Lei 3.133/57 inovou tambm, que trata do adotado com direito de se
desligar da adoo ao completar a maioridade ou a interdio, permitindo a
dissoluo do vnculo de adoo por acordo e quando era admitida a deserdao. A
adoo era realizada por escritura pblica e o parentesco era restringido entre
adotando e adotado, no causando efeitos perante terceiros. Isso acarretava,
conforme os estudos de Pereira (2008), na excluso dos direitos sucessrios do filho
31
adotado, caso os adotantes j possusse filhos biolgicos reconhecidos. Dessa
maneira, mantinham-se os direitos e deveres resultantes do parentesco natural.
A lei 4.566/65 foi outra modificao realizada que firmava a legitimao
adotiva e delimitava o perfil das pessoas que podiam pr em prtica a adoo,
esclarecendo a ideia de que pessoas solteiras no poderiam mais adotar.
Entretanto, essa regra era contrria do que vinha acontecendo na legislao
comparada. Essa legislao teve vigncia at 1979, quando ocorreu a aprovao do
Cdigo de Menores (Lei 6.679/79).
Apenas com a publicao da Constituio Federal de 1988, os filhos
adotivos foram reconhecidos igualdade com os filhos biolgicos, sendo proibido pela
Magna Carta qualquer forma de discriminao entre os filhos adotados e naturais,
inclusive desigualdades que se reportassem a direitos sucessrios, conforme se
confirma no artigo 227, 6, da CF/88:
Art.227. dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. (ARTIGO 227, 6, da CF/88). 6 Os filhos, havidos ou no da relao do casamento, ou por adoo, tero os mesmos direitos e qualificaes, proibidas quaisquer designaes discriminatrias relativas filiao. (ARTIGO 227, 6, da CF/88).
Ainda assim, com a igualdade trazida pela Constituio Federal (1988)
entre filhos naturais e adotivos, continuou a existir uma srie de questes
relacionadas situao de menores que poderiam ser regulamentadas mais
detalhadamente e, por isso, foi aprovada a Lei n 8.069/90, conhecida por "Estatuto
da Criana e do Adolescente" (ECA), que validou o mandado constitucional acima
em seu artigo 20.10
2.2. A Nova Lei de Adoo
Apesar do Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990)
prever a adoo, o Deputado Joo Matos tinha interesse em aprofundar a discusso
10 Art. 20, do ECA: "Os filhos, havidos ou no da relao do casamento, ou por adoo, tero os mesmos direitos e qualificaes, proibidas quaisquer designaes discriminatrias relativas filiao." (BRASIL, 1990, p. 12).
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e especificao de detalhes relacionados ao assunto, portanto apresentou na
Cmara Legislativa o projeto de Lei de n 1.756 de 2003, no qual tratava a adoo
em Lei prpria, designando-a de Lei Nacional da Adoo, elencando 75 artigos,
tirando do Estatuto da Criana e do Adolescente os dispositivos em relao
adoo. Complementando essa viso, Granato (2010) relata:
As discusses dos legisladores sobre esse projeto de lei, que parecia prestes a ser aprovado, mudaram totalmente a perspectiva de uma nova lei da adoo e culminaram por manter a adoo do ECA, resumindo se portanto, a nova Lei da adoo em simples alteraes do Estatuto da Criana e do Adolescente. (PROJETO DE LEI n 1.756, 2003).
A iniciativa foi aprovada em Lei de n 12.010 no dia 3 de agosto de 2009,
que ficou conhecida como A Nova Lei da Adoo, sancionada pelo Presidente Lus
Incio Lula da Silva. Com esta lei, o que se percebe que o tempo de acolhimento
institucional das crianas foi reduzido e a lentido existente para o avano dos
processos tambm, pois conforme nova normativa:
A permanncia da criana e do adolescente em programa de acolhimento institucional no se prolongar por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciria. (ART.19, 2009).
O principal objetivo desta lei que possa reduzir a problemtica do
abandono e da institucionalizao prolongada da criana/adolescente, facilitando o
processo de adoo. Com a promulgao dessa lei, mudanas aconteceram
tambm com as nomenclaturas atribudas ao processo de adoo, como caso da
substituio de ptrio poder por poder familiar; assim tambm como o termo
abrigamento foi substitudo por acolhimento institucional. Conforme a lei, o abrigo
dever enviar semestralmente relatrios s autoridades mximas sobre as
condies das crianas.
Mudanas significativas tambm aconteceram em relao aos
pretendentes que buscam adotar essas crianas. As principais foram que todas as
pessoas maiores de 18 anos podem adotar, independentes do seu estado civil,
contudo, importante que exista uma afinidade entre adotantes e adotandos. Os
pretendentes devem estar obrigatoriamente inseridos no Cadastro Nacional de
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Adoo11, extinguindo essa exigncia apenas para familiares que tenha afinidade
com a criana e pretendam ficar com ela. As Pessoas ou casais inscritos no
cadastro so obrigadas ainda a passar por uma preparao psicossocial e jurdica,
com o objetivo de prepar-las para o processo de acolhimento da criana no seio
familiar. Outro fator relevante foi, segundo art. 28:
Sempre que possvel, a criana ou o adolescente ser previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estgio de desenvolvimento e grau de compreenso sobre as implicaes da medida, e ter sua opinio devidamente considerada. (BRASIL, 1990, p. 14)
Nesse sentido, a participao da criana tornou-se fundamental no
processo de adoo, cabendo equipe a tarefa de ouvir os desejos e angustias
desses indivduos. importante ressaltar que a lei tambm determina que o Poder
Pblico Estatal deve contribuir para a proteo da infncia atravs de
acompanhamento psicolgico s mes no perodo da gestao e logo aps,
principalmente as que j deixam claro sua vontade pela adoo do filho, tendo
hospitais, e mdicos a obrigao de encaminhar estas parturientes ao juizado da
infncia e da juventude.
H outra inovao na lei, apresentando o conceito de famlia extensa,
considerada a famlia que se estende para alm da unidade do casal, formada por
parentes prximos com os quais a criana ou adolescente convive e mantm
vnculos de afinidade e afetividade.12
2.3. Conceito de Adoo
Diversos so os conceitos para adoo na doutrina. Tal fato se deve por
ter sido o instituto modificado vrias vezes pelas legislaes, em perodos e histrias
recentes na sociedade brasileira. Nesse exposto, a variao conceitual tem sido
explicitada pela vigncia do instituto em diferentes pocas, cada qual com sua
peculiaridade. Portanto, a Adoo, ltima opo dentre os mecanismos de garantia
11 O Cadastro Nacional de Adoo (CNA) consiste em ferramenta criada para auxiliar juzes com competncia em matria de infncia e juventude a dar agilidade aos processos de adoo, por meio do mapeamento de informaes unificadas em todo pas. Disponvel em: . Acesso em: 10.11.2013. 12Projeto que estatui a nova Lei Nacional de adoo. Braslia, 2009. Disponvel em . Acesso em: 30.07. 2009.
http://www.mp.rj.gov.br/portal/page/portal/MCA/Cadastro_Nacional_Adoo
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do direito convivncia familiar de crianas e adolescente, est prevista no art. 39
do 1 e art. 41 do Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA, que assim prev:
1 A adoo medida excepcional e irrevogvel, [...] e art.41, a adoo atribui a condio de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessrios, desligando-o de qualquer vnculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. (BRASIL, 1990, p. 18).
Corroborando com essa viso, Chaves (2002, p. 23-31), conceituou e
assim determinou a natureza jurdica da adoo como: [...] instituto de ordem
pblica, cuja plena virtualidade jurdica, em cada caso particular, depende de um ato
jurdico individual.
Desta feita, pode-se conceber que a natureza jurdica da adoo adviria
de um ato de vontade submetido Juzo, com natureza institucional. Assim, j na
concepo de Guimares (2000, p. 31-39), [...] a adoo seria ato unilateral quando
no fosse necessria a anuncia dos pais biolgicos, ou ato bilateral quando
vinculada a tal consentimento.
Conforme enunciado pelo citado autor, este processo teria natureza de
negcio solene, tendo em vista a forma definida pela lei da qual depende a validade
do instituto. Quanto natureza jurdica da sentena que aperfeioa13 este instituto
de fico jurdica, trata-se de constitutiva14, uma vez que cria situao jurdica
imitadora da natureza de filiao, sem que a esta seja feita qualquer distino,
equiparando-se a ela para todos os fins de Direito (GUIMARAES, 2000).
A esse respeito, Fonseca (2002, p.70) diz que a legitimao adotiva,
ocorreu-se de fato, uma slida proposio para tentar assegurar o bem-estar da
criana e do adolescente, visto que o instituto possibilitava uma famlia, e
unicamente filhos a quem era estril. A partir da concepo de Fonseca (2002):
Um importante passo para o avano da adoo no Brasil, veio com a Lei 4.655, de 02.05.1965, que dispunha sobre a legitimidade adotiva. Esta lei tornava o filho adotivo praticamente igual ao filho sanguneo, em direitos e deveres. No que diz respeito evoluo do procedimento contida nessa lei, ela no tinha muita aplicao prtica, devido ao excesso de formalismo alireinante. (FONSECA, 2002, p. 70).
13 Aperfeioar no sentido aqui designado seria de concretizar, finalizar, torna definitivo. 14A chamada sentena constitutiva pode criar modificar ou extinguir uma relao jurdica. Neste sentido, ela pode ser uma sentena constitutiva positiva ou uma sentena constitutivas negativa, tambm ditas, em outra terminologia, mas no mesmo sentido, sentena constitutiva e desconstitutiva, segundo. (MARINONI; ARENHART, 2008. p. 429).
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Nesse mesmo contexto, Diniz (2010), a exemplo de Rodrigues (1995),
define de forma semelhante, mas adicionando que a adoo :
"[...] ato jurdico solene pelo qual, observados os requisitos legais, algum estabelece, independentemente de qualquer relao de parentesco consanguneo ou afim, um vnculo fictcio de filiao, trazendo para sua famlia, na condio de filho, pessoa que, geralmente, lhe estranha". (DINIZ, 2010, p. 522-523).
Ou seja, ainda que a "Adoo Brasileira" e a Adoo Tradicional15
Tenham os mesmos atos jurdicos para a criana e para os pais, existe uma
diferena em relao ao modo pelo qual tais fins foram obtidos. Enquanto a Adoo
Tradicional demanda "procedimentos solenes" como evidencia Diniz (2005), a
Adoo Brasileira praticada por meios apontados como ilcitos.
Nota-se assim, que a adoo regular aquela mediada pelo Estado e
pela famlia postulante a adoo, ficou mais exigente esse processo com o propsito
de proteger e preservar os direitos de crianas e adolescentes. Busca-se com isso,
garantir que o adotando estar acolhido por uma famlia que preparou-se para
receb-lo e passou a ter todas as informaes no decorrer do processo. O que
impede-se, com esse rigor, que essas crianas e adolescentes sejam devolvidas,
visto que a adoo irrevogvel conforme estabelecido no art. 39, 1 do Estatuto
da Criana e do Adolescente (BRASIL, 1990, p.18).
Destacando essa viso, a partir da incorporao de instrumentos jurdicos
para esse processo, a adoo transformou-se num instituto de direito pblico com
caractersticas prprias e reguladas principalmente pelo Estatuto da Criana e do
Adolescente - ECA (BRASIL, 1990) em subseo especfica como de fato, a seguir
sero abordados, no que se refere aos marcos legais da adoo na atualidade.
15 Adoo Tradicional: Estabelecida pela Lei 12.010 de 03 de agosto de 2009 dispe sobre adoo; altera as Leis n8.069, de 13 de julho de 1990 Estatuto da Criana de do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga os dispositivos da Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002 Cdigo Civil, e da Consolidao das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n 5.452, de 1 de maio de 1943; e d outras providncias.
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2.4. Marcos Legais da Adoo na atualidade
A histria da adoo tem percurso extenso no Brasil. O objetivo deste
item a seguir detalhado, consiste na abordagem dos marcos legais vigentes,
iniciando-se pelo Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA e sua nova doutrina,
passando em seguida para as consideraes sobre PNCFC16. Tais dispositivos
legais proporcionaram mudanas significativas no que se refere forma de perceber
tanto a criana quanto sua famlia.
De 2002 a 2006 foi elaborado, no Brasil, pelo Poder Executivo em
parceria com esferas representativas da sociedade, uma nova poltica referente ao
direito convivncia familiar e comunitria, o Plano Nacional de Promoo, Proteo
e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e
Comunitria. Este teve como base o reconhecimento da necessidade de
investimento nas polticas pblicas de ateno famlia, de que crianas e
adolescentes sejam vistos e cuidados no contexto familiar e comunitrio e de aes
para romper com a cultura da institucionalizao de crianas e adolescentes.
(PNCFC, 2006).
Este Plano respalda-se na Constituio Federal do Brasil e nas
legislaes internacionais de defesa do direito convivncia familiar e comunitria e
tem como objetivo complementar as condies para operacionalizao do Estatuto
da Criana e do Adolescente. Apresenta como principal diferencial a nfase na
preveno do abandono, a partir de aes para prevenir a ruptura dos vnculos
familiares e investir na reintegrao familiar. Para tanto, reconhece a necessidade
de qualificao do atendimento s crianas, adolescentes e suas famlias, em uma
abordagem interdisciplinar e intersetorial. (PNCFC, 2006).
2.4.1 A adoo sob o enfoque do Estatuto da Criana e do Adolescente
Com o surgimento da Constituio Federal de 1988 no Brasil, aconteceu
um grande avano de conquistas para o instituto da adoo na sociedade brasileira.
O Constituinte brasileiro, observando a importncia da proteo criana, cuidou da
16 PNCFC- Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes convivncia Familiar e Comunitria.
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adoo na constituio, desta maneira abrindo o trmite para o surgimento de leis
que regulassem seguidamente o instituto da adoo de forma especifica.
Todavia, a Carta Magna de 1988 possibilitou importantes avanos para tal
instituto, tais como: a previso constitucional da adoo; a obrigatoriedade da
interveno do Poder Pblico; previso de regras diferenciadas para a adoo
internacional; a igualdade absoluta entre filhos adotivos e biolgicos; e a proibio
de qualquer designao discriminatria relativa filiao, passando todos os filhos a
gozarem dos mesmos direitos, inclusive os sucessrios. Vejamos o que diz o art.
227, 5 e 6:
5. A adoo ser assistida pelo Poder Pblico, na forma da lei, que estabelecer casos e condies de sua efetivao por parte de estrangeiros. (grifo nosso). 6. Os filhos, havidos ou no da relao do casamento, ou por adoo, tero os mesmos direitos e qualificaes, proibidas quaisquer
designaes discriminatrias relativas filiao. (BRASIL, 1988, p. 112).
O Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990) uma lei
especifica considerada inovadora, e tm como princpio a teoria da proteo integral,
que defendida pela Organizao das Naes Unidas (ONU) e fundamentada na
Declarao Universal dos Direitos da Criana, sendo considerada uma lei de grande
inovao no plano internacional. De acordo com art. 5 do ECA:
Art. 5 Nenhuma criana ou adolescente ser objeto de qualquer forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso, punido na forma da lei qualquer atentado, por ao ou omisso, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 1990, p. 8).
O Estatuto da Criana e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1990) trouxe
grandes inovaes, entretanto diversas leis anteriores j possussem mudanas
gradativas no instituto da adoo na legislao nacional. O Estatuto simboliza a
prpria mudana do instituto e da proteo criana e ao adolescente. A aprovao
do Estatuto trouxe novos moldes para a adoo, nesta lei, por exemplo, aboliu-se a
adoo simples como era o caso do Cdigo Civil. Agora existe apenas a adoo
plena. Isso torna a criana um filho legitimado e com todos os direitos e deveres que
um filho biolgico possui. Cabe ressaltar esta lei possibilitou uma nova forma de
pensar no que diz respeito adoo, trazendo assim mudanas relevantes e
expressivas.
No prximo captulo, passaremos a estudar no que diz a respeito adoo
e suas particularidades.
38
3. ADOO E SUAS PARTICULARIDADES
3.1. Histrico do Modelo de Famlia
Segundo o conceito do Pacto de San Jos da Costa Rica (1969), a famlia
o centro natural e de fundamental importncia para sociedade e como tal deve ser
protegida, essa preocupao se aplicou tambm na Conveno Americana de
Direitos Humanos de (1969).17 Do mesmo modo, podemos citar outras convenes
internacionais que fortalecem o ato de ser a famlia a base essencial da sociedade,
tais como a Declarao Universal dos Direito Humanos18 (1948), o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Polticos19 (1966), o Pacto Internacional dos
Direitos Econmicos, Sociais e Culturais20(1966) e a Conveno sobre os Direitos da
Criana.21 (1989) Segundo Commaille (1997)22, a famlia a instituio jurdica e
social que resulta das justas npcias, que do origem sociedade conjugal, da qual
originam trs diversos vnculos: o matrimonial, o de parentesco e o de afinidade.
Essa definio certamente foi um destaque na histria, mas cabe frisar que hoje o
17 Pacto de San Jos da Costa Rica: Art. 17 - Proteo da famlia- A famlia o ncleo natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado. II- reconhecido o direito do homem e da mulher de contrarem casamento e de constiturem uma famlia, se tiverem a idade e as condies para isso exigidas pelas leis internas, na medida em que no afetem estas o princpio da no discriminao estabelecido nesta Conveno. 18 A presente Declarao Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as naes, com o objetivo de que cada indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em mente esta Declarao, se esforce, atravs do ensino e da educao, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de carter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observncia universais e efetivos, tanto entre os povos dos prprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territrios sob sua jurisdio. 19 Art. 23: A famlia o ncleo natural e fundamental da sociedade e ter o direito de ser protegida pela sociedade e pelo Estado. 20 Presidente da Repblica, no uso da atribuio que lhe confere o artigo 84, inciso VIII, da Constituio, e Considerando que o Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais foi adotado pela XXI Sesso da Assembleia-Geral das Naes Unidas, em 19 de dezembro de 1966. 21 Prembulo: Convencidos de que a famlia, unidade fundamental da sociedade e meio natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus membros e, em particular das crianas, deve receber a proteo e assistncia necessrias para que possa assumir plenamente suas responsabilidade na comunidade. 22 a instituio jurdica e social resultante das justas npcias, contradas por duas pessoas de sexo diferente. Abrange necessariamente os cnjuges, mas para sua configurao no essencial a existncia de prole. Com as npcias inaugura-se a sociedade conjugal, na qual se identificam trs vnculos; o vnculo conjugal, que une os cnjuges; o vnculo de parentesco, que une os integrantes da sociedade, descendendo um do outro, ou que, sem descenderem um do outro, esto ligados a um tronco comum; e o vnculo de afinidade, estabelecido entre um cnjuge e os parentes do outro. COMMAILLE, Jacques. A nova famlia: Problemas e Perspectivas. Rio de Janeiro: Renovar, 1997, p. 25.
39
casamento, embora nico instituto a possibilitar e a legalizar a famlia, perdeu
importncia.
Vale ressaltar, nas palavras de Farias (2004) a famlia deixa de ser
compreendida como uma simples instituio jurdica para assumir carter de
instrumento para a promoo da personalidade humana, mais moderna e afinada
com o tom constitucional da respeitabilidade da pessoa humana.
Pelo relato de Wald (2004, p.57), a famlia era, de modo simultneo, uma
entidade econmica, religiosa, poltica e jurisdicional. Primeiramente, existia um
patrimnio s que cabia famlia, entretanto governado pelo pater. Numa era mais
desenvolvida do direito romano, aparecia patrimnios individuais, como os peclios,
desenvolvidos por pessoas que encontra-se sob a autoridade do pater23.
No tempo atual, a famlia caracteriza-se, segundo Lobo (2008), pela rea
de produo da afetividade humana, mudando o eixo da funo econmica-poltica-
religiosa-procracional para esse novo cargo. Com esse deslocamento, acontece o
fenmeno jurdico-social chamado de repersonalizao das relaes civis, que
basea numa maior valorizao do empenho da pessoa humana o qual de suas
relaes patrimoniais. No conflito a respeito das grandes influncias do
patrimonialismo embora vigente no Cdigo Civil novo, que no impede as normas
que se desenvolva gradualmente atuais na Constituio, o autor explica a palavra
repersonalizao procurando ressaltar a maior capacidade ontolgica do ser
humano, que conforme ele, no tem ligao com a volta do individualismo
liberal.24Cabe aqui mencionar o prprio autor:
O desafio que se coloca ao jurista e ao direito a capacidade de ver a pessoa humana em toda a sua dimenso ontolgica e no como simples e abstrato sujeito de relao jurdica. A pessoa humana deve ser colocada como centro das destinaes jurdicas, valorando-se o ser e no o ter, isto , sendo fator de medida do patrimnio, que passa a ter funo complementar [...] A restaurao da primazia da pessoa, nas relaes de famlia, na garantia da realizao da afetividade, a condio primeira de adequao do direito realidade.25 (LOBO, 2008, p.12-13).
Segundo Lobo (2008), a famlia moderna s acessvel se respeitada
como rea de realizao pessoal afetiva, de modo que os interesses patrimoniais
23 WALD, Arnoldo. O novo direito de famlia. 15. ed.rev.atual.e ampl. Pelo autor, de acordo com a jurisprudncia e com o novo Cdigo Civil. (Lei n. 10.406, de 10-1-2002), com a colaborao da Prof. Priscila M. P. Corra da Fonseca. So Paulo: Saraiva, 2004, p.13. 24 LOBO, Paulo. Direito civil - famlias. So Paulo: Saraiva, 2008, p.11 e 12. 25 Idem. Ibidem (p. 12 e 13).
40
possuem um papel perifrico. Seguindo a linha de raciocnio, o autor aponta que a
repersonalizao das relaes fortalece as entidades familiares, nos mais variados
padres ou arranjos, in verbis:
[...] A afetividade, assim, desponta, como elemento nuclear e definidor da unio familiar, aproximando a instituio jurdica da instituio social. A afetividade o triunfo da intimidade como valor, inclusive jurdico, da modernidade (LOBO, 2008, p. 13).
Aqui se verifica a essencialidade do apoio familiar ao adotado,
fornecendo-lhe orientao e acompanhamentos adequados. No campo da adoo, a
orientao dever se dar de forma ampla, abarcando todas as esferas de
problemtica social, com muita informao a fim de evitar complicaes
desnecessrias. Nesse sentido, tratar-se- no prximo tpico sobre a adoo
brasileira: vlvula de escape para possveis burocracias, considerando a importncia
da verdade nas adoes.
3.2. Vlvula de escape para as possveis burocracias da adoo?
No que diz a respeito sobre a adoo, uma ao comum aplicada no
Brasil denominada adoo brasileira. Um dos motivos fundamentais que levam
ao da mesma a questo do exagero e burocracia que existe no sistema
judicirio de adoo. A adoo brasileira, no conceito Leite (2005) baseia-se em:
[...] registrar o filho de outra pessoa como sendo prprio sem passar pelos trmites adotivos legais, o que, alm de constituir crime de falsidade ideolgica punvel por lei, de fato expe os pais adotivos ausncia de proteo legal no caso de os pais ou me biolgicos desejarem ter seu filho de volta. (LEITE, 2005, p. 255).
Nas palavras de Leite (2005), nesse modelo de adoo, a me biolgica
entrega seu filho outra famlia ou pessoa para que possa tomar de conta da
criana sem percorrer pelos trmites legais. O que acontece nesse modelo de
adoo, que a me biolgica entrega o seu filho uma famlia ou pessoa
escolhida por ela, contudo, no existem garantias para que se assegure a condio
de amparo legal, especialmente no que refere irrevogabilidade da adoo. Na
maioria dos casos, a adoo brasileira acontece em razo da demora no processo
legal que trata do instituto da adoo. (LEITE, 2005, p. 255).
41
Acontece que, a famlia adotante registra a criana como se fosse seu
filho e assim confirma um crime, caracterizado no artigo 242, pargrafo nico do
Cdigo Penal. Esse tipo de crime est incluso no captulo dos Crimes contra o
Estado de Filiao. Nesse sentido, o artigo 242 do Cdigo Penal aprova as
seguintes normas:
Propiciar do parto alheio como prprio; registrar como seu o filho sendo de outra pessoa; esconder recm-nascido ou troca-lo, anulando ou modificando direito inerente ao estado civil. No pargrafo nico discorre quando o crime aplicado por razes de reconhecida nobreza. (Cdigo Penal, art.242).
Destaca-se que o pargrafo nico do artigo 242 do Cdigo Penal foi
publicado pela Lei n 6898/81, de 7 de dezembro de 1981.Tal ato de modo
obrigatrio apenada com deteno de 1(um) a 2(dois) anos, podendo o juiz desistir
de aplicar a pena, ou seja, no h absolvio pela conduta, mas pode haver um
possvel perdo judicial. (Cdigo Penal, art.242).
As adoes irregulares so provaes do conflito que existe entre a
teoria jurdica do Direito da Criana e do Adolescente sob a tica da Doutrina da
Proteo Integral e uma ao social, resulta do contratualismo, onde, segundo j
provado, o intuito final , to somente, garantir as necessidades dos adultos de
desempenharem sua paternidade ou mat