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Por João Paulo Bernardes Deleo e Richard Truppel O vai-e-vem dos preços é uma situação típica da tomaticultura de mesa do País. Se o produtor não levar em conta esse risco, ele não consegue ter uma atividade economicamente sustentável. Em 2009, o preço do tomate ao produtor variou entre R$ 10,00/ cx e R$ 44,50/cx de 23 kg, sendo que o custo médio por caixa ficou entre R$ 13,00/cx e R$ 16,50/cx. No mesmo ano, quando a Equipe Custo/Cepea estimou a rentabilidade do produtor com base nos preços médios, custos e produtividade, a lucratividade por hectare variou de um prejuízo de R$ 20.000,00 até um lucro de R$ 100.000,00. Segundo o professor da Esalq/USP Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador científi- co do Cepea, “ser sustentável significa permanecer na atividade de forma ininterrupta, com perspecti- va de aumentar seu capital e progredir na vida.” Os preços, porém, tendem a oscilar ao longo do tempo, completa o professor. “Uma parte dessas variações é realmente imprevisível e não há o que fazer a respei- to. Já outra parte das oscilações tende a apresentar alguns padrões: em certos meses, há elevada chance de lucro e, em outros, o ganho raramente ocorre. Mesmo assim, pode ser interessante investir, pois o lucro, se houver, tende a ser realmente muito gran- de. Nesse caso, um provisionamento adequado po- de manter a sustentabilidade desejada”. Esse comportamento é típico na tomaticultura de mesa. Assim, novamente, neste Especial Tomate da Hortifruti Brasil, ressaltamos a importância de um cálculo apurado de custos e de análise minucio- sa dos riscos assumidos no empreendimento como bases da sustentabilidade econômica do negócio do tomate. Tendo em vista justamente o elevado risco de rentabilidade da cultura e o seu alto custo de produção, na edição nº 80 da Hortifruti Brasil (junho/2009) defendemos a importância do geren- ciamento correto do “dinheiro do tomate” como providência fundamental para minimizar o risco da atividade. Agora, nesta edição Especial Tomate de 2010, os objetivos são aprimorar as formas de cálculo de risco e dar continuidade à adaptação do conceito de boas práticas de gestão sustentável do Cepea/Esalq- USP para o setor hortifrutícola. Repetimos a reco- mendação de que, após cada safra, o tomaticultor avalie a “saúde financeira” do seu negócio, faça um planejamento para a próxima temporada e guarde um montante em dinheiro para situações de prejuí- zos na lavoura. Nesta edição, apresentamos como diferenciais a avaliação do risco de prejuízo da cultura por mês e a forma de estimar uma poupança adequada pa- ra enfrentar momentos de rentabilidade negativa. A proposta é correlacionar a administração financeira com o risco de prejuízo da cultura. Esta Matéria de Capa também analisa, a partir de informações coleta- das com produtores, as formas como o tomaticultor, ao longo de uma safra, administra o seu dinheiro. A importância dessa avaliação é que, numa crise de rentabilidade, o nível de inadimplência do produtor se eleva, e ele pode perder o acesso ao crédito ou ter de pagar juros muito elevados. Ou, ainda pior: ficar sem condição de manter o nível de investimento na cultura. Em situações difíceis, o produtor utilizaria a sua “poupança” feita em sa- fras passadas, evitando ou pelo menos diminuindo o seu grau de inadimplência, o que facilitaria, in- clusive, a obtenção de dinheiro de terceiros a um custo menor. GESTÃO SUSTENTÁVEL Avaliação do risco da tomaticultura é uma das bases da gestão sustentável 6 - HORTIFRUTI BRASIL - Junho de 2010 CAPA

Centro de Estudos Avançados em Economia …...médios, custos e produtividade, a lucratividade por hectare variou de um prejuízo de R$ 20.000,00 até um lucro de R$ 100.000,00. Segundo

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Por João Paulo Bernardes Deleo e Richard Truppel

O vai-e-vem dos preços é uma situação típica da tomaticultura de mesa do País. Se o produtor não levar em conta esse risco, ele não consegue ter uma atividade economicamente sustentável. Em 2009, o preço do tomate ao produtor variou entre R$ 10,00/cx e R$ 44,50/cx de 23 kg, sendo que o custo médio por caixa ficou entre R$ 13,00/cx e R$ 16,50/cx. No mesmo ano, quando a Equipe Custo/Cepea estimou a rentabilidade do produtor com base nos preços médios, custos e produtividade, a lucratividade por hectare variou de um prejuízo de R$ 20.000,00 até um lucro de R$ 100.000,00.

Segundo o professor da Esalq/USP Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador científi-co do Cepea, “ser sustentável significa permanecer na atividade de forma ininterrupta, com perspecti-va de aumentar seu capital e progredir na vida.” Os preços, porém, tendem a oscilar ao longo do tempo, completa o professor. “Uma parte dessas variações é realmente imprevisível e não há o que fazer a respei-to. Já outra parte das oscilações tende a apresentar alguns padrões: em certos meses, há elevada chance de lucro e, em outros, o ganho raramente ocorre. Mesmo assim, pode ser interessante investir, pois o lucro, se houver, tende a ser realmente muito gran-de. Nesse caso, um provisionamento adequado po-de manter a sustentabilidade desejada”.

Esse comportamento é típico na tomaticultura de mesa. Assim, novamente, neste Especial Tomate da Hortifruti Brasil, ressaltamos a importância de um cálculo apurado de custos e de análise minucio-sa dos riscos assumidos no empreendimento como bases da sustentabilidade econômica do negócio do tomate. Tendo em vista justamente o elevado risco de rentabilidade da cultura e o seu alto custo

de produção, na edição nº 80 da Hortifruti Brasil (junho/2009) defendemos a importância do geren-ciamento correto do “dinheiro do tomate” como providência fundamental para minimizar o risco da atividade.

Agora, nesta edição Especial Tomate de 2010, os objetivos são aprimorar as formas de cálculo de risco e dar continuidade à adaptação do conceito de boas práticas de gestão sustentável do Cepea/Esalq-USP para o setor hortifrutícola. Repetimos a reco-mendação de que, após cada safra, o tomaticultor avalie a “saúde financeira” do seu negócio, faça um planejamento para a próxima temporada e guarde um montante em dinheiro para situações de prejuí-zos na lavoura.

Nesta edição, apresentamos como diferenciais a avaliação do risco de prejuízo da cultura por mês e a forma de estimar uma poupança adequada pa-ra enfrentar momentos de rentabilidade negativa. A proposta é correlacionar a administração financeira com o risco de prejuízo da cultura. Esta Matéria de Capa também analisa, a partir de informações coleta-das com produtores, as formas como o tomaticultor, ao longo de uma safra, administra o seu dinheiro.

A importância dessa avaliação é que, numa crise de rentabilidade, o nível de inadimplência do produtor se eleva, e ele pode perder o acesso ao crédito ou ter de pagar juros muito elevados. Ou, ainda pior: ficar sem condição de manter o nível de investimento na cultura. Em situações difíceis, o produtor utilizaria a sua “poupança” feita em sa-fras passadas, evitando ou pelo menos diminuindo o seu grau de inadimplência, o que facilitaria, in-clusive, a obtenção de dinheiro de terceiros a um custo menor.

gestão sustentÁvel

Avaliação do risco da tomaticultura é uma das bases da gestão sustentável

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A tomaticultura está exposta a ameaças climá-ticas, fitossanitárias e de preços. A análise de riscos da sua rentabilidade (prejuízo/lucro), portanto, deve incorporar boa parte dessas variáveis.

Para estimar o risco de rentabilidade, trabalha-mos com intervalos de freqüência em que ocorrem prejuízo e lucro. No Especial Tomate da Hortifruti Brasil do ano passado, analisamos o risco da cultura com base no cálculo da freqüência de perda/ganho anual. Agora, detalhamos o cálculo mês a mês.

A análise mensal é mais apurada porque, na maioria das regiões, a colheita não ocorre o ano to-do, com a comercialização se limitando a uma épo-ca do ano. Além disso, o risco de prejuízo se altera ao longo dos meses do ano, mudando também o va-lor do fundo de reserva que o produtor deve guardar (“poupança”) para enfrentar tempos de crise.

A Tabela 1 apresenta a chance (probabilida-de) de prejuízo mensal na tomaticultura e também a estimativa de quanto, em média, seria o prejuízo por mês nas principais regiões produtoras de tomate de mesa. Com base nestas estimativas de prejuízo,

é possível calcular a “poupança” por pé de tomate que o produtor deveria fazer para estar protegido em momentos de crise. Os dados da Tabela 1 são esti-mativas médias; o ideal é que cada produtor calcule o seu próprio risco de prejuízo e o quanto costuma perder ou ganhar em cada mês.

O cálculo de probabilidade de lucro ou preju-ízo é feito através de uma análise da freqüência de rentabilidade em reais por hectare por mês. Para a tomaticultura de mesa, o cálculo foi feito com base na série histórica de preços, custos e produtividade médios por hectare, para o período de janeiro/2006 a abril/2010, apurada pela própria Hortifruti Brasil. Os preços e custos foram deflacionados aos valores de abril de 2010 pelo IPCA do IBGE.

Na Tabela 1, observamos que há possibilidade de prejuízos em todos os meses para a cultura do to-mate. Os meses de maior risco de prejuízo são julho e agosto, com chances acima de 40% de se obter rentabilidade negativa. Os meses de menor risco de rentabilidade negativa são março, com 11% de pro-babilidade, abril, que representa a menor risco de

1 Refere-se à probabilidade de o tomaticultor ter prejuízo em um determinado mês com base na série histórica de rentabilidade (receita bruta menos custos) estimada pela Equipe Hortifruti/Cepea. Para os meses de janeiro, fevereiro, março e abril, o cálculo abrange dados de 2006 a 2010. Para os demais meses, de 2006 a 2009. 2 O fundo de reserva para enfrentar prejuízos foi calculado através da divisão do prejuízo médio por hectare pelo número de pés de tomate por hectare, sendo considerado 11.500 pés/ha.Obs: As informações consideradas são valores médios e subestimados de prejuízo, tendo em vista que não levam em conta as ineficiências na produção e comercialização nem a inadimplência sofrida pelo produtor. Portanto, são apenas uma aproximação da realidade do tomaticultor.

Tabela 1. Risco da tomaticultura nacionalRisco de prejuízo, perda média por mês em R$/ha e reserva para safras negativas contra prejuízos (R$/pé)

QUAL É O RISCO DO TOMATE?

Font

e: C

epea

Mês

Chance de ter Quando houve prejuízo, Fundo de reserva prejuízo (%)1 foi em média de (R$/ha) R$ por pé2

JAN 26,92% R$ 4.004,38 0,35

FEV 31,11% R$ 9.330,95 0,81

MAR 11,01% R$ 3.024,48 0,26

ABR 6,06% R$ 13.981,59 1,22

MAI 13,10% R$ 7.172,57 0,62

JUN 28,92% R$ 15.991,86 1,39

JUL 40,45% R$ 9.632,64 0,84

AGO 42,05% R$ 13.350,28 1,16

SET 24,39% R$ 8.342,61 0,73

OUT 21,84% R$ 11.741,52 1,02

NOV 30,00% R$ 9.894,73 0,86

DEZ 37,10% R$ 8.206,54 0,71

8 - HORTIFRUTI BRASIL - Junho de 2010

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prejuízo do ano, com 6%, e, maio, com 13%.Valerá a pena submeter-se a um risco de pre-

juízo acima de 10%? A resposta deverá ser positiva se a rentabilidade possível (esperada) compensar tal exposição ao risco (Tabela 2). Isto é, caso a chance de lucro seja maior que a de prejuízo. Nesse caso, a recomendação ao produtor é que invista, mas tam-bém que faça um fundo de reserva, com base no prejuízo médio já sofrido, para superar eventual frus-tração dos resultados.

Por exemplo, em abril, é de 6% a probabilida-de de a cultura do tomate dar prejuízo e, na média dos anos em que o resultado neste mês foi negativo, o montante foi de R$ 13.981,58 por hectare. Por ou-tro lado, é de 94% a chance de se obter lucro com a atividade nesse mês.

Para que o lucro seja suficiente para a forma-ção da “reserva” e, claro, para que o produtor se exponha a esse risco, o lucro mínimo deve ser de R$ 900,00 por hectare. Para se chegar a esse valor,

multiplicamos o prejuízo estimado para o mês (R$ 13.981,59) pela probabilidade de que ele aconteça (6,1%). Em seguida, dividimos esse resultado por 93,9%, que representam as ocasiões em que se teria lucro e, portanto, poderia ser feita a reserva. Temos, então, a quantia exata de R$ 902,04, arredondada para o mínimo de R$ 900,00/ha. A chance de se ob-ter essa lucratividade em abril (R$ 900,00/hectare) é elevada, o que justificaria a reserva de R$ 13.981,58/hectare ou R$ 1,22/pé de tomate.

Os meses de março e maio também estão en-tre os mais favoráveis à criação do fundo, tendo em vista que têm as maiores chances de lucro. Por outro lado, agosto é o mês em que é mais difícil obter ca-pital para o fundo de reserva. Nesse mês, a expecta-tiva de lucro é muito próxima à chance de prejuízo (tabelas 1 e 2).

Analisando as tabelas 1 e 2 e também o ca-lendário de colheita de tomate de mesa nas princi-pais regiões produtoras (tabela 3), é possível avaliar

1 Refere-se à probabilidade de o tomaticultor ter prejuízo ou lucro em um determinado mês com base na série histórica de rentabilidade (receita bruta menos custos) estimada pela Equipe Hortifruti/Cepea. Para os meses de janeiro, fevereiro, março e abril, o cálculo abrange dados de 2006 a 2010. Para os demais meses, de 2006 a 2009. Obs: As informações consideradas são valores médios superestimados de lucratividade, tendo em vista que não levam em conta as ineficiências na produção e comercialização nem a inadimplência sofrida pelo produtor. Portanto, são apenas uma aproximação da realidade do tomaticultor.

Tabela 2. Análise da viabilidade da criação de um fundo de reserva para períodos de crise de rentabilidade do tomate

QUAL É O RISCO DO TOMATE?

Font

e: C

epea

Probabilidade de prejuízo/lucro da cultura do tomate (R$/hectare) (%)1

Lucro mínimo para Chance de ter

Chance de obter Chance de obter proporcionar a criação

prejuízo (%) lucro de até lucro acima de

do fundo (R$/ha) R$ 10 mil/ha (%) R$ 10 mil/ha (%)

JAN 1.475,30 26,92% 25,96% 47,12%

FEV 4.213,98 31,11% 20,00% 48,89%

MAR 374,16 11,01% 11,93% 77,06%

ABR 902,04 6,06% 12,12% 81,82%

MAI 1.080,80 13,10% 22,62% 64,29%

JUN 6.505,16 28,92% 12,05% 59,04%

JUL 6.542,93 40,45% 13,48% 46,07%

AGO 9.685,49 42,05% 12,50% 45,45%

SET 2.691,16 24,39% 14,63% 60,98%

OUT 3.280,72 21,84% 6,90% 71,26%

NOV 4.240,60 30,00% 15,00% 55,00%

DEZ 4.839,76 37,10% 8,06% 54,84%

Junho de 2010 - HORTIFRUTI BRASIL - 9

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Legenda:

Pico de Colheita

Calendário de Colheita

Tabela 3. Calendário de colheita das principais regiões produtoras de tomate de mesa

quais delas estão mais expostas aos riscos de preju-ízo e também as que têm melhores oportunidades de lucro.

Na safra de verão, os meses de maior risco de prejuízo são dezembro e fevereiro. As melhores oportunidades de rentabilidade positiva encontram-se no final da safra: março, abril e maio, e são apro-veitadas pelas regiões que conseguem prolongar a colheita até aquele período (tabela 3).

Na safra de inverno, os meses de julho e agosto são os que apresentam maior exposição ao risco de prejuízo enquanto as melhores oportunidades de lu-cro estão no início e final daquela safra.

No geral, as regiões menos expostas ao risco são aquelas que não apresentam um calendário con-centrado de colheita em poucos meses do ano. A re-gião de Caçador (SC), Itapeva (SP) e Nova Friburgo (RJ), por exemplo, colhem boa parte da sua produção entre os meses de dezembro e fevereiro – período de maior exposição ao risco de prejuízo na safra de verão. Na safra de inverno, a região onde a rentabili-dade é mais arriscada é São José de Ubá (RJ) porque o seu pico de colheita ocorre concentrado nos meses mais críticos: julho e agosto.

Em tempos de crise de preços, os tomaticultores que não possuem um fundo de reserva (“poupança”)

Safra de Verão NOV DEZ JAN FEV MAR ABR MAI

Caçador e Urubici (SC)

Itapeva (região sul de SP)

Venda Nova do Imigrante (ES)

Nova Friburgo (RJ)

Chapada Diamantina (BA)

Reserva (PR)

Chance de lucro e prejuízo na tomaticultura de mesa

Chance de obter prejuízo 30% 37% 27% 31% 11% 6% 13%

Chance de obter lucro 70% 63% 73% 69% 89% 94% 87%

Safra de Inverno MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Sumaré (SP)

Araguari (MG)

Sul de Minas

Pará de Minas (MG)

Mogi Guaçu (SP)

Paty do Alferes (RJ)

São José de Ubá (RJ)

Itaocara (RJ)

Norte do Paraná

Chance de lucro e prejuízo na tomaticultura de mesa

Chance de obter prejuízo 11% 6% 13% 29% 40% 42% 24% 22% 30% 37%

Chance de obter lucro 89% 94% 87% 71% 60% 58% 76% 88% 70% 63%

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O ideal é que os tomaticultores avaliem o seu grau de exposição ao risco com base no seu fluxo de caixa antes de planejar o plantio. Para o cálculo apurado do fluxo de caixa, é importante uma contabilidade dos gastos e das receitas. O risco de preços é inerente à cultura do tomate e, independente da escala do produtor, todos estão expostos. A diferença é o modo como gerenciam o “dinheiro do tomate”.

Na proposta que apresentamos de que se-ja feito um fundo de reserva, tal capital deve ser provisionado de preferência em dinheiro, de fá-

cil acesso. Essa poupança equivaleria ao prejuízo médio a que determinado agricultor está exposto. Essa proteção garantiria a permanência do tomati-cultor no mercado, mesmo em situações de crise.

Nos próximos itens, calculamos o custo de produção, o custo de capital de giro e o fundo de reserva de uma fazenda típica de tomate na re-gião de Mogi Guaçu. O custo de produção desse perfil de propriedade referente à safra de 2008 foi apresentado na edição nº 80 da Hortifruti Brasil, junho/2009 (página 11). Agora, trazemos o custo atualizado da safra de inverno 2009 (página 15).

Como gerenciar o risco na cultura do tomate?

feito em safras anteriores acabam tendo problemas de

acesso ao crédito e diminuem os tratos da cultura. Isso tende a intensificar

ainda mais os prejuízos porque, além de rece-ber menos por unidade comercializada, o pro-

dutor também deve ter uma produtividade menor. Muitos acabam gerando dívidas para vencimen-

tos futuros e, não raro, acabam por ficar inadimplentes com alguns desses compromissos e, com isso, aumen-ta também a dificuldade de acesso ao crédito – se-ja por perda de credibilidade ou porque os juros são reajustados –, situações que ampliam ainda mais o prejuízo. Com pouco crédito à disposição, produto-res que entram nesse ciclo vicioso acabam buscando fontes alternativas, como parcerias com compradores de tomate. Nesses casos, o poder de negociação do tomaticultor se torna bem menor que o de um produ-tor independente.

Assim, o produtor que durante a safra não conse-guir honrar todos os seus débitos, terá sua dependên-cia de crédito do comprador aumentada, ao mesmo tempo em que diminuem ainda mais as chances de lucratividade futura, mesmo em anos de bons preços. O elevado grau de descapitalização e a dependência de crédito do comprador de tomate são mais comuns

nos produtores de pequena escala de produção e que concentram sua colheita em poucos meses do ano.

Assim, reafirmamos a recomendação de que, após uma safra, o tomaticultor avalie a sua “saúde financeira” e faça um planejamento para a próxima temporada. Geralmente, se o ano foi de elevada ren-tabilidade, a decisão do produtor é por aumento dos investimentos na própria cultura. Porém, nesse mo-mento em que o tomaticultor tem dinheiro disponível, é imprescindível que avalie os riscos de expansão do negócio. E, com dinheiro em mãos, é recomendável que ele guarde um montante para se precaver em situ-ações futuras de prejuízo. É comum um ano de boa lu-cratividade ser seguido por outro de baixa justamente por causa da ampliação na área cultivada que acarreta em queda dos preços.

O ideal é que o produtor consiga finalizar a con-tabilidade de cada safra sem acumular dívidas. Como diz o professor Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, “o produtor precavido evita os dissabores da inadim-plência. O principal dissabor é perder de imediato o acesso a todo tipo de crédito a taxas aceitáveis e, evidentemente, ficar sem condição de manter o nível de investimento que vinha praticando. Pode chegar ao ponto de ter de dispor de parte de seus bens, que nes-sas ocasiões, em geral, são desvalorizados”.

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A Equipe Custo/Cepea reuniu-se pelo segundo ano consecutivo com produtores de tomate de mesa na região de Mogi Guaçu (SP) para estimar os gastos da safra de inver-no de 2009 numa propriedade típica. Também foi avaliada a evolução desses gastos em relação ao mesmo período de 2008.

O método de levantamento do custo de produção ado-tado é o Painel, que consiste na reunião de pesquisadores com produtores e técnicos da região para o registro detalha-do tanto da estrutura da propriedade típica quanto das práti-cas relacionadas à cultura. Esse encontro ocorreu na cidade de Mogi Guaçu em abril de 2010.

O tamanho de uma fazenda típica de tomate naquela região continua sendo de 15 hectares. Já o calendário de co-lheita e a produtividade foram alterados de 2008 para 2009. A produtividade em 2008 foi de 3,3 mil caixas por hectare enquanto que, em 2009, subiu para 3,355 mil cx/ha. A safra de 2008 teve início em maio e finalizou em novembro. No ano passado, também começou em maio, mas encerrou um mês antes devido à decisão dos produtores em adiantar o plantio para evitar a competição com o tomate rasteiro.

O custo de implantação (estrutura de estaqueamento) foi igual ao de 2008, estimado em R$ 6.000,00 por hectare,

com o tempo de vida útil permanecendo em três safras ou três anos (no caso de uma safra por ano). Quanto à infra-estrutura da safra 2009, a vida útil do barracão (desmontável) é de três anos, a um custo de aquisição de R$ 8.000,00, com taxa anual de 10% de manutenção e 20% de valor residual. O custo do refeitório (desmontável) foi de R$ 4.000,00, com dois anos de vida útil e taxa anual de 10% de manutenção e 25% de valor residual. Considerou-se também um banheiro de R$ 1.000,00 (incluindo a instalação no local), com vida útil de aproximadamente dois anos, sem valor residual.

Para a colheita de 15 hectares, o produtor compra, em média, 132 caixas por hectare, totalizando 1.980, com um custo de R$ 11,00 a unidade. A cada ano, são repostos 17% dessas caixas.

O sistema de arrendamento de terra ainda é o mais co-mum na região. O custo por hectare foi igual ao de 2008, de R$ 1.240,00 por hectare – valor computado na planilha no Custo Operacional –, com pagamento efetuado no momento da contratação.

Quanto ao inventário de máquinas e implementos, al-guns itens são adicionados em relação ao descrito na edição de junho/2009 (página 10): 9 pulverizadores costais, 30 en-xadas e 12 cavadeiras.

CUSTO DE PRODUçãO DO TOMATE EM MOGI GUAçU

Perfil da propriedade típica de Mogi Guaçu - Safra 2009

Área 15 hectares

Densidade 11 mil pés por hectare

Produtividade em 2009 3.355 caixas por hectare

Sistema de plantio arrendamento

Estrutura básica (desmontável)

1 banheiro, 1 refeitório e

1 barracão para seleção de tomates

Estrutura para o estaqueamento estruturas de mourão, bambu, arame e fitilho

Sistema de Irrigação sulco

Descrição das máquinas, implementos e ferramentas

• 3 tratores com as respectivas potências: • 2 carretas de 5 toneladas cada

65, 75 e 100 cv

• 1 arado de 3 discos e 28 polegadas • 1 tanque de 2 mil litros

• 1 grade aradora de 16 discos e 28 polegadas • 2 mil metros de mangueira

• 1 distribuidor de calcário de cinco toneladas • 1 veículo utilitário

• 1 subsolador de 5 hastes • 1 ônibus

• 1 grade niveladora de 32 discos

• estrutura de irrigação (motobomba + canos)

• 1 sulcador de duas linhas • 9 pulverizadores costais

• 1 plaina • 30 enxadas

• 1 pulverizador de 2 mil litros • 12 cavadeiras

14 - HORTIFRUTI BRASIL - Junho de 2010

capa

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Itens 2008 2009 Var% (R$/ha) (R$/pé) (R$/ha) (R$/pé) 2009/08

CUSTO TOTAL DE PRODUçãO DE TOMATE NA REGIãO DE MOGI GUAçU (SP) - SAFRAS DE INVERNO 2008 E 2009

* Na planilha de 2008, este item não foi computado.** O valor do CARP foi divulgado incorretamente na edição Especial Tomate de 2009. Ao invés de R$ 121,56, o valor correto é R$ 223,91 por hectare, alterando-se, então, os dados finais do custo de 2008.

Insumos e sementes ...........................................................................................................................19.873,12 ...............................1,81 ...........................21.787,00 .............................1,98 ...........................9,63%Fertilizantes/Corretivos ..............................................................................................................................9.085,00 ...............................0,83 ...............................9.175,40 .............................0,83 ...........................1,00%Adubação Foliar ...................................................................................................................................................1.313,78 ...............................0,12 ...............................1.207,02 .............................0,11 .........................-8,13%Sementes ........................................................................................................................................................................2.900,00 ...............................0,26 ...............................3.456,42 .............................0,31 .......................19,19%Fungicidas/Bactericidas .............................................................................................................................3.342,53 ...............................0,30 ...............................3.395,03 .............................0,31 ...........................1,57%Inseticidas .......................................................................................................................................................................2.671,40 ...............................0,24 ...............................3.833,83 .............................0,35 .......................43,51%Herbicidas ............................................................................................................................................................................141,00 ...............................0,01 ......................................266,75 .............................0,02 .......................89,18%Adjuvante/Red. PH/Indutores ................................................................................................................419,42 ...............................0,04 ......................................452,55 .............................0,04 ...........................7,90%Viveirista ............................................................................................................................................................................264,00 ...............................0,02 ......................................318,00 .............................0,03 .......................20,45%Replantio* .............................................................................................................................................................................................- ...........................................- ......................................377,44 .............................0,03 ................................................-Sementes Replantio ............................................................................................................................................................- ...........................................- ......................................345,64 .............................0,03 ................................................-Viveirista Replantio .............................................................................................................................................................- ...........................................- ..........................................31,80 .............................0,00 ................................................-Infra-estrutura ...................................................................................................................................................1.894,59 ...............................0,17 ...............................1.925,14 .............................0,18 ...........................1,61%Estrutura de Plantio ........................................................................................................................................1.870,70 ...............................0,17 ...............................1.870,70 .............................0,17 ...........................0,00%Benfeitorias .............................................................................................................................................................................23,89 ...............................0,00 ..........................................54,44 .............................0,00 ...................127,88%Ferramentas Campo* .......................................................................................................................................................- ...........................................- ..........................................93,00 .............................0,01 ................................................-Operações Mecânicas ..........................................................................................................................1.895,03 ...............................0,17 ...............................2.236,78 .............................0,20 .......................18,03%Colheita ...................................................................................................................................................................................880,00 ...............................0,08 ...............................1.035,31 .............................0,09 .......................17,65%Pulverização ......................................................................................................................................................................434,40 ...............................0,04 ......................................548,19 .............................0,05 .......................26,19%Estaqueamento/Destaqueamento ................................................................................................244,00 ...............................0,02 ......................................274,93 .............................0,02 .......................12,68%Preparo de Solo e Adubação .................................................................................................................336,63 ...............................0,03 ......................................378,35 .............................0,03 .......................12,39%Irrigação ........................................................................................................................................................................1.959,40 ...............................0,18 ...............................2.628,27 .............................0,24 .......................34,14%Irrigação ............................................................................................................................................................................1.950,40 ...............................0,18 ...............................2.628,27 .............................0,24 .......................34,76%Mão-de-obra .........................................................................................................................................................9.682,71 ...............................0,88 ...........................10.361,75 .............................0,94 ...........................7,01%Meeiros (temporários) ................................................................................................................................7.481,23 ...............................0,68 ...............................7.440,33 .............................0,68 .........................-0,55%Diaristas .............................................................................................................................................................................1.368,35 ...............................0,12 ...............................1.368,35 .............................0,12 ...........................0,00%Permanente .......................................................................................................................................................................883,13 ...............................0,08 ...............................1.553,07 .............................0,14 .......................75,86%Despesa com utilitários ..........................................................................................................................181,80 ...............................0,02 ......................................445,60 .............................0,04 ...................145,10%Despesas gerais ..............................................................................................................................................4.040,67 ...............................0,37 ...............................5.171,56 .............................0,47 .......................27,99%Administrador .........................................................................................................................................................3.200,00 ...............................0,29 ...............................4.000,00 .............................0,36 .......................25,00%EPIs ..................................................................................................................................................................................................374,00 ...............................0,03 ......................................400,00 .............................0,04 ...........................6,95%Seguro-lavoura ............................................................................................................................................................266,67 ...............................0,02 ......................................400,00 .............................0,04 .......................50,00%Contador ...............................................................................................................................................................................200,00 ...............................0,02 ......................................200,00 .............................0,02 ...........................0,00%Custo com Telefonia ...........................................................................................................................................100,00 ...............................0,01 ..........................................80,00 .............................0,01 .................... -20,00%Sindicato Rural ..................................................................................................................................................................53,33 ...............................0,00 ..........................................66,67 .............................0,01 .......................25,01%Energia Elétrica .................................................................................................................................................................13,33 ...............................0,00 ..........................................24,89 .............................0,00 .......................86,72%Caixas (reposição)....................................................................................................................................................146,67 ...............................0,01 ......................................188,76 .............................0,02 .......................28,70%Impostos .......................................................................................................................................................................2.099,95 ...............................0,19 ...............................1.686,15 .............................0,15 .................... -19,71%Taxas e Contribuições .................................................................................................................................1.958,69 ...............................0,18 ...............................1.544,90 .............................0,14 .................... -21,13%IPVA + Seguro Obrigatório .......................................................................................................................141,25 ...............................0,01 ......................................141,25 .............................0,01 ...........................0,00%Arrendamento da Terra ...................................................................................................................1.239,67 ...............................0,11 ...............................1.239,67 .............................0,11 ...........................0,00%Finaciamento do Capital de Giro....................................................................................2.872,92 ...............................0,26 ...............................3.327,01 .............................0,30 .......................15,81%Custo Operacional .................................................................................................................................46.141,53 ...............................4,19 ...........................51.597,37 .............................4,69 .......................11,82%CARP .....................................................................................................................................................................................4.855,82 ...............................0,44 ...............................5.047,73 .............................0,46 ...........................3,95%Implantação ................................................................................................................................................................2.314,31 ...............................0,21 ...............................2.314,31 .............................0,21 ...........................0,00%Máquina ...........................................................................................................................................................................1.162,46 ...............................0,11 ...............................1.162,46 .............................0,11 ...........................0,00%Utilitários ...............................................................................................................................................................................395,24 ...............................0,04 ......................................395,24 .............................0,04 ...........................0,00%Implementos ....................................................................................................................................................................494,86 ...............................0,04 ......................................523,34 .............................0,05 ...........................5,76%Equipamentos (Irrigação).............................................................................................................................265,04 ...............................0,02 ......................................325,49 .............................0,03 .......................22,81%Benfeitorias** ...............................................................................................................................................................223,91 ...............................0,02 ......................................326,89 .............................0,03 .......................45,99%

CUSTO TOTAL ............................................................................................................................................50.997,35 ..............................4,64 .........................56.645,10 ................R$ 5,15 .....................11,07%

Custo Total 2008 (3.300 cx/ha) - R$ 15,45/cx de 23 kg

Custo Total 2009 (3.355 cx/ha) - R$ 16,88/cx de 23 kg

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O custo médio por caixa produzida na safra de in-verno 2009 de Mogi Guaçu foi 9% maior que o de 2008. Já por hectare, o custo aumentou 11%. A diferença é explicada pelo ganho de 2% de produtividade.

O que mais pesou foi o encarecimento dos insu-mos, especialmente dos defensivos e sementes. Entre os defensivos, o destaque foi para os inseticidas devido à maior incidência de mosca branca na safra de inverno de 2009. Quanto à semente, o dispêndio cresceu em torno de 20% sobre 2008. A produção da muda também ficou mais cara, sendo preciso desembolsar 20% a mais para o pagamento de viveiristas.

Um item que não havia sido considerado em 2008 são as despesas com replantio de tomate. Em média, 10% da área total cultivada em 2009 teve que ser replantada – percentual considerado normal para a cultura.

Houve aumento de 18% nos custos com as ope-rações mecânicas devido principalmente ao maior nú-mero de pulverizações, já que o preço médio do diesel não aumentou significativamente de 2008 para 2009. O aumento da necessidade de irrigação também impulsio-nou os dispêndios com esse item.

Apesar do reajuste do salário mínimo, os gastos com mão-de-obra temporária (meeiros) apresentaram uma ligeira queda por conta do menor número de pes-soas requeridas em 2009 em relação ao ano anterior. Essa diferença, no entanto, pode estar mais relacionada aos participantes de um Painel e de outro do que pro-priamente a mudanças na demanda por trabalho. Quan-to aos funcionários permanentes, foi declarado salário 75% maior que o verificado no ano passado, o que, igualmente, pode estar atrelado ao perfil dos participan-tes dos distintos Painéis.

O custo com o administrador da propriedade au-mentou 25%. Na propriedade típica definida em con-senso, o administrador é o produtor, e a remuneração destinada a ele equivale ao montante que declararam retirar para o sustento da família.

O dispêndio com o seguro-lavoura também deu um salto de 2008 para 2009. O governo subsidia parte desse seguro e, de acordo com produtores, esse apoio vem reduzindo. Os gastos com impostos foram menores em 2009, tendo em vista que são atrelados ao valor de venda do tomate.

TOMATE CUSTOU 9% A MAIS EM 2009

Distribuição dos principais itens que compõem o Custo Total de Produção (%) de Mogi Guaçu (SP) - safras de inverno 2008 e 2009

2008 2009

Adubo

20% Mão-de-obra

19%

Semente

6%

Capital de Giro

6%

CARP

10%

Defensivos

13%

Outros

26%

Adubo

18% Mão-de-obra

18%Semente

7%Capital de Giro

6%Defensivos

14%CARP

9%Outros

27%

Custo: R$ 15,45/cx Custo: R$ 16,88/cx

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A propriedade analisada de 15 hectares de Mogi Guaçu conseguiu rentabilidade positiva em 2008 e tam-bém em 2009. O produtor que não apresentava débitos de safras passadas conseguiu suprir, em média, 41% da sua necessidade de caixa com capital próprio. Os de-mais recursos para custear a safra vieram de revendas (38%) e de bancos (21%).

Nesta amostra, os defensivos e fertilizantes foram 100% financiados através das revendas, a juros de 2% ao mês para os defensivos e adubos foliares, com um prazo de 120 dias para o pagamento, e 1,7% ao mês para os fertilizantes, com o prazo de 90 dias para o pagamento.

Os 21% restantes foram custeados por recursos

subsidiados pelo governo (através de banco) à taxa de 6,75% a.a., com o montante limitado a R$ 150.000,00 por produtor/ano. No entanto, para o cálculo de juros, a taxa considerada foi de 9% a.a. porque são cobradas outras taxas que acabam por encarecer esse recurso.

Para capital próprio, utilizou-se a taxa de 6% a.a. como custo de oportunidade. Vale lembrar que custo de oportunidade se refere ao ganho que se pode ter com aquele dinheiro e, portanto, 6% (equivalente a poupan-ça) é o mínimo a ser considerando, tendo vista as possi-bilidade de se obterem taxas maiores.

Para a safra de inverno de 2009, os resulta-dos de rentabilidade não foram tão positivos

A seguir, o passo-a-passo do cálculo do fundo de reserva para se enfrentar o risco de rentabilidade na região de Mogi Guaçu (SP) na safra de inverno. Os dados utilizados refere-se à mesma propriedade típica de 15 hectares. A simulação é feita com vistas ao produtor se proteger de uma eventual crise na safra de inverno de 2010, que está sendo colhida.

O fundo de reserva deve equivaler ao prejuízo médio por hectare que o produtor pode ter de arcar em uma temporada de preços baixos ou quebra de produção. Essa reserva representa uma proteção para que o tomaticultor tenha possibilidade de continuar produzindo, sem comprometer seu fluxo de caixa ou se endividar, após safras com rentabilidade negativa. Mogi Guaçu vem de dois anos boa rentabilidade (2008 e 2009), o que favorece a formação de reserva para as temporadas que vêm pela frente.

1. Determine o número de hectares que será cultivado com tomate. No presente exercício, é utilizada a média de plantio por produtor na região de Mogi Guaçu, de 15 hectares.2. Faça o planejamento mensal de colheita. A quantidade de hectares/mês deve ser multiplicada pelo respectivo valor do prejuízo médio mensal:

3. O valor desse fundo é de R$ 157.720,00. Esse montante equivale ao investimento de cerca de 3 hectares de cultivo de tomate. Caso não fosse possível economizar essa quantia, o tomaticultor poderia planejar o plantio de uma área menor, poupando o que seria investido e completando o valor do fundo. Ou, ainda, fazer uma poupança inferior ao valor apurado, expondo-se parcialmente às conseqüências de uma safra de prejuízo.

QUANTO CUSTA O “DI NHEIRO DO TOMATE”?

Mês Calendário

Prejuízo (R$/ha) Valor do Fundo (R$) de colheita (ha)

MAI 4.50 R$ 7.172,57 R$ 32.276,57

JUN 3.00 R$ 15.991,86 R$ 47.975,57

JUL 3.75 R$ 9.632,64 R$ 36.122,40

AGO 1.50 R$ 13.350,28 R$ 20.025,42

SET 1.50 R$ 8.342,61 R$ 12.513,92

OUT 0.75 R$ 11.741,52 R$ 8.806,14

TOTAL 15.00 R$ 66.231,47 R$ 157.720,01

QUANTO POUPAR PARA “SE MANTER VIVO” EM ÉPOCAS DE PREJUÍZOS?

PASSO-A-PASSO

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Produtor (capital próprio)

QUANTO CUSTA O “DI NHEIRO DO TOMATE”?

Principais financiadores da cultura de tomate em Mogi Guaçu e suas respectivas taxas de juros

As revendas oferecem crédito para a compra tanto de fertili-zantes quanto de defensivos, sendo que para fertilizantes o prazo costuma ser mais curto e a taxa menor que para de-fensivos. Para defensivos, o prazo é de 4 meses, a uma taxa de 2% ao mês. Para os fertilizantes, a taxa é de 1,7%, mas o prazo é de 3 meses.

Oficialmente, a taxa é de 6,75% a.a., mas acrescentando os custos de registros, o valor é em torno de 9% aa.

Apesar de o produtor não desembolsar juro sobre seu capital, é importante que ele considere um custo de oportunidade do seu capital – equivalente, pelo menos, à poupança.

Financiadores de fertilizantes (revenda)

Financiadores de defensivos (revenda)

Banco

22% ao ano

27% ao ano

9% ao ano

6% ao ano

quanto os de 2008, com o lucro final por hectare sendo de R$ 10.000,00/ha. Dependendo das reservas passa-das, o produtor pode custear uma parte maior da sua cultura com capital próprio. Isso reduz, e muito, o custo

total de produção ao mes-mo tempo em que alavan-ca a “saúde financeira” do empreendimento.

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