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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO FACULDADE ADVENTISTA DE EDUCAÇÃO CURSO DE TRADUTOR E INTREPRÉTE. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO/ EBONICS ANALISADO NA LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE ADVENTISTA DE EDUCAÇÃO

CURSO DE TRADUTOR E INTREPRÉTE.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO INGLÊS

VERNACULAR AFRO-AMERICANO/ EBONICS ANALISADO

NA LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES

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MÔNICA CECÍLIA SANCHEZ DA SILVA

SIMONE FRANCO DE ANDRADE

ENGENHEIRO COELHO - SP

2007

MÔNICA CECÍLIA SANCHEZ DA SILVA

SIMONE FRANCO DE ANDRADE

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O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO INGLÊS

VERNACULAR AFRO-AMERICANO/ EBONICS ANALISADO NA

LEGENDAGEM DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado a Faculdade Adventista de

Educação do Centro Universitário

Adventista de São Paulo como requisito

parcial a obtenção da graduação em

Tradutor e Intérprete sob a orientação

da Profª. Cecília Eller Rodrigues

Nascimento

ENGENHEIRO COELHO - SP

2007

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Trabalho de Conclusão de Curso defendido e

aprovado em 04 de dezembro de 2007, pela banca

examinadora constituída pelas professoras:

_________________________________________________________

Profª. Cecília Eller Rodrigues Nascimento - Orientadora

_________________________________________________________

Profª. Ms. Ana Maria de Moura Schäffer

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Dedicamos este trabalho à Deus pelo dom da

sabedoria e à minha irmã (da Simone) Ângela

por ter contribuído com a minha formação

acadêmica.

AGRADECIMENTOS

• A Deus por ter cuidado de nós durante estes quatro anos de luta e estudo, e nos

ajudar a desenvolver nossas faculdades mentais e espirituais. E pela oportunidade

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de estudarmos nesta instituição de ensino. E por nos dar força para realizar este

trabalho;

• A nossa orientadora Profª. Cecília Eller por ter aceitado a orientação deste

trabalho, e ter dedicado o seu tempo tão curto nos ajudando e dando as

orientações necessárias para a realização deste trabalho científico;

• A Profª. Ana Schäffer por ter nos incentivado com o tema e por aceitar a

participar da nossa banca e dedicar seu precioso tempo de doutorado, para avaliar

o nosso trabalho;

• Aos nossos familiares pelo apoio e paciência nos momentos de stress e

dificuldade que passamos, os conselhos dados e as viagens feitas da casa de uma

para outra. Obrigada sem o apoio de vocês não teríamos conseguido;

• As minhas companheiras de quarto (da Mônica) Suellen, Liege e Manu, vocês

são especiais para mim, obrigada mesmo, pelo apoio de vocês ao me ajudarem

quando eu mais precisei. Aos nossos corretores Liege e Danilo obrigado por

dedicar o tempo escasso de vocês para corrigem nossos capítulos e abstract;

• Enfim, a todos aqueles que nos apoiaram direta e indiretamente e nos ajudaram

a realizar este trabalho, MUITO OBRIGADA a todos.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ....................................................................................................... vii

RESUMO ..................................................................................................................... viii

ABSTRACT .....................................................................................................................ix

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

CAPÍTULOS

I. INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO: EBONICS ..................................... 3

1.1. A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics ................................... 3

1.2. O Ebonics e a Polemica Atual ............................................................................... 7

1.3. Um Pouco Sobre os Aspecto Fonológico e Gramatical do Ebonics...................... 8

II. LEGENDAGEM O QUE É? ...................................................................................... 11

2.1. Legendagem e suas Regras .................................................................................. 12

2.2. Legendagem Também é uma Questão Cultural .................................................. 16

III. O Estudo Lexical e a Equivalência do Ebonics na Legendagem do Filme 8 Mile

Ruas das Ilusões ................................................................................................... 19

3.1 Neologismo ......................................................................................................... 20

3.2 Omissão e Adaptação ......................................................................................... 21

3.3 Estruturas Gramaticais e Uso de Língua Padrão ................................................ 27

3.4 Aspectos cognitivos e culturais .......................................................................... 29

3.5 Uso de Gíria ........................................................................................................ 31

IV. CONCLUSÃO.................................................................................................35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 37

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LISTA DE SIGLAS

IP – Inglês Padrão

IVAA – Inglês Vernacular Afro-Americano

LC - Língua de Chegada

LP – Língua de Partida

NT- Nossa Tradução

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar o léxico da língua de ebonics e sua equivalência no

Português na legendagem do filme 8 Mile: Rua das Ilusões. Cientes de que a tradução de

legendagem é regida por regras estabelecidas pelas agências de tradução, e das características

próprias da linguagem usada no trabalho audiovisual a ser legendado, consideramos também o

aspecto cultural, que é um fator importante na tradução de legenda, pois não concebemos a

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tradução dissociada da cultura. E essa precisa ser transmitida para o espectador, de modo que

ele entre em contato com a realidade da língua de partida. A metodologia incluiu uma

pesquisa bibliográfica a fim de levantar dados que nos auxiliaram no estudo, com o intuito de

descobrir quais as contribuições já feitas sobre o ebonics e suas características, bem como

elucidar questões referentes à tradução para legendas. Também procedemos a uma análise das

legendas do filme supra-mencionado, utilizando material audiovisual e dicionários on-line

como ferramentas de apoio para a mesma. É importante dispor o conhecimento do ebonics

para os profissionais da área de tradução, a fim de mostrar-lhes como os falantes dessa língua

atuam na sociedade, oferecendo, a partir de então, condições de reconhecer as marcas de sua

forte cultura. Levar os tradutores a traduzirem o ebonics para o português como uma língua

especial e não apenas como o português padrão, apresentar novos meios de tradução para a

essa língua, por meio do olhar sobre um trabalho já realizado, é a intenção de nossos esforços

com esse trabalho. Sua valia se estende desde uma tradução mais consciente das variáveis e,

portanto, mais fidedigna, até a contribuição para a preservação dessa variante lingüística.

Palavras-chave: Ebonics, legenda, tradução, equivalência, cultura.

ABSTRACT

This paper has aimed to analyze the Ebonics language lexicon and its equivalence into

Portuguese in the subtitles of the movie 8 Mile’s. Knowing that the translation of subtitles

has guidelines and rules established by translation agencies, and considering the peculiar

characteristics of the language used at the audiovisual work which is submitted to subtitling,

we considered the cultural aspect, that constitutes an important factor in the subtitling

process, for we can’t conceive translation detached from culture. And it must be transmitted

to the viewer, in order to put him/her in contact with the reality of the original language. The

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methodology included a bibliographic research in order to raise useful data for this research,

aiming to find out which contributions scholars have already made in what concerns

Ebonics, its characteristics and issues regarding subtitling. We have analyzed the movies

subtitles using online dictionaries and other audiovisual material as tools which supported

our analysis. It is important to show the knowledge of this language called Ebonics to the

professionals of the translation field, so that it can become clear how Ebonics speakers act in

the society as well as give to translators conditions to acknowledge traits of their strong

culture. It is our intention as we present this research to convey to the translator that the

Ebonics must be translated into Portuguese as a special language, and not only as the

standard Portuguese, presenting a new ways to translate into this language. The value of this

study extends from a bigger awareness of the translation differences, what implies in a more

authentic work, to a wider contribution to preserve this specific linguistic variant.

Key-words: Ebonics, subtitle, translation, equivalence, culture

INTRODUÇÃO

O mundo hoje vive em uma época em que a comunicação é importante. Há muitas

variações lingüísticas, e uma delas é a língua de ebonics que faz parte do conhecimento

humano presente em algumas situações do cotidiano. Originária dos escravos negros que

vieram para os Estados Unidos e pelas circunstâncias que viviam, criaram variantes

lingüísticas que utilizavam como o seu meio de comunicação.

Essa linguagem atualmente é falada nos guetos e está presente nas músicas de hip-hop

e em filmes sendo bastante divulgada juntamente com a língua, a cultura do povo também

está se expandindo. Um dos meios pelo qual essa língua está sendo disseminada é o cinema. E

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é através da legendagem que essa língua é transmitida para o espectador, pois a mesma é uma

forma de comunicação entre o filme e o espectador, pois nela o mesmo apreende novas

expressões, conhece uma nova cultura ou costume de um povo que não tinha entendimento

anteriormente. Contudo o tradutor tem um papel importante que não é só passar de uma

língua para outra, mas sim desverbalizar essas diferenças lingüísticas presentes.

Diante disso é importante mostrar o conhecimento dessa nova linguagem chamada

ebonics para os profissionais da área de tradução mostrando como os falantes dessa língua

atuam na sociedade deixando marcas de sua forte cultura. Este estudo pretende levar os

tradutores a traduzirem o ebonics para o português como uma língua especial e não apenas

como o português padrão, apresentar novos meios de tradução para a essa língua, de maneira

que não comprometa o sentido do original e preserve a cultura dos povos falantes dessa

língua, fazendo com que o receptor aceite e seja influenciado por ela.

O interesse por este estudo surgiu no primeiro semestre de 2005, ao lermos um artigo

em sala de aula que falava sobre a língua do gueto, no caso o ebonics, nesse momento tivemos

conhecimento dessa linguagem que até então, pensávamos ser gírias do inglês padrão. A partir

desse momento nos dedicamos a pesquisar sobre o ebonics e ver as diferenças existentes entre

o inglês padrão e qual foi a origem dessa língua.

Nossa intenção nesse trabalho é analisar a maneira como essa língua é traduzida para

o português, se a língua perde a suas características próprias ou se existe uma maneira de

retratá-la no processo de tradução utilizando recursos lingüísticos e técnicas de tradução a fim

de transmitir a mensagem. Para realização deste trabalho fizemos pesquisas bibliográficas, a

fim de levantar dados que nos auxilie no estudo e com a intenção de descobrir qual a

contribuição que outros teóricos e estudiosos tem a dizer sobre a língua de ebonics e suas

características, e o que já realizaram na tradução para legendas. Também utilizamos um

material audiovisual e dicionários on-line para a análise quantitativa das legendas.

O trabalho se divide em três capítulos o primeiro introduz a linguagem de ebonics,

suas características e origem, a maneira como essa língua conquistou espaço nos Estados

Unidos a polêmica que a rodeia e como está se difundido no mundo através do cinema e da

música.

O segundo capitulo esclarece um pouco sobre o que é a legendagem seus conceitos e

as regras regidas pelas empresas audiovisuais e a influência da cultura na legendagem a partir

do momento que o espectador vê o filme e recebe a informação.

No terceiro é realizado uma análise lexical e a equivalência em português na

legendagem do filme 8 Mile – Rua das Ilusões e como o aspecto cultural é importante na

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tradução da legenda. A análise foi divida em cinco tópicos sendo estes: neologismo, omissão

e adaptação, estrutura gramatical e uso de língua padrão, aspecto cognitivo e cultural e uso de

gíria.

Com este trabalho pretendemos mostrar que há possibilidade de transmitir a

linguagem de ebonics e suas diferenças e aspectos lingüísticos para Língua de Chegada.

I - INGLÊS VERNACULAR AFRO-AMERICANO: EBONICS

Nesse capítulo, falaremos sobre a linguagem African-American Vernacular

English/Ebonics, ou inglês vernacular afro-americano. Comentaremos como se deu o

surgimento dessa variante lingüística do inglês e a maneira como vem se desenvolvendo

através da história.

Atualmente existe muita polêmica nos Estados Unidos na área acadêmica e social

com respeito ao inglês vernacular afro-americano. Muitos lingüistas não o reconhecem

como dialeto e muito menos como linguagem. Acreditam que essa seja uma gíria, por estar

associada à linguagem de rua, de gangues e por ser gramaticalmente incorreta, se comparada

à norma culta. Essa linguagem teve seu surgimento com o comércio de escravos nos Estados

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Unidos. Então reservamos todo o capítulo 1 para explicar o que é IVAA e aproveitamos

para apresentar a maneira como essa linguagem é conhecida popularmente e mostrar mais

de perto essa polêmica que a rodeia.

Achamos interessante o estudo do IVAA porque é uma língua que está se

expandindo a cada dia nos Estados Unidos e no mundo, através da música e do cinema.

Contudo quando muitos de nós entramos em contato com essa língua não a reconhecemos,

pensamos ser essa algum tipo de expressão idiomática ou de gíria, e não nos damos conta

que se trata de uma variante lingüística do inglês. Posteriormente neste trabalho

analisaremos como é feita a tradução de legendas de filmes nos quais essa linguagem se faz

presente. Pretendemos ponderar sobre a maneira como o IVAA é traduzido para o

português, se o tradutor ao traduzir essa linguagem consegue transmitir também as suas

características peculiares de forma que fique explícito para o telespectador as diferenças

lingüísticas existentes no audiovisual. Isso será feito no terceiro capítulo, dedicado a análise.

Por ora nos deteremos em importantes considerações sobre o IVAA e seu status (ou não) de

variante lingüística.

1.1 - A Origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics

O inglês vernacular afro-americano, também chamado de inglês negro e de inglês

negro vernacular, é conhecido coloquialmente como ebonics. Esse nome surgiu a partir da

junção dos termos ebony (ébano, madeira escura) e phonics (sons). Tal termo foi criado em

1973 por um grupo de estudantes negros que não gostavam da conotação negativa do nome

inglês negro não padrão (nome pelo qual o ebonics era chamado até 1973). Era assim

chamado por ser uma linguagem falada pela comunidade negra e também porque possui sua

própria forma gramatical, a qual difere da norma culta. Daqui pra frente iremos nos referir a

essa linguagem utilizando seu nome coloquial: ebonics.

Duas questões principais estão presentes na discussão da origem do ebonics. A

primeira trata do surgimento do crioulo, buscando entender se essa linguagem foi a base

para o surgimento do ebonics há duzentos ou trezentos anos. A segunda discute se o ebonics

se originou de dialetos falados por povos britânicos. Lingüistas como Krapp (1924, 1925) e

Brooks (1935, 1985:9-13), entre outros, discordam da teoria de que o ebonics tenha surgido

do crioulo e apontam fatos da linguagem ter se derivado de dialetos falados por britânicos e

outros imigrantes brancos daquela época, o que pode ser percebido pela semelhança

existente entre o ebonics e os dialetos britânicos atuais; no entanto, reconhecem que o

ebonics pode ter sofrido influências de línguas crioulas, como por exemplo, o gullah, falado

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por habitantes do lado oeste da África. Entretanto, ainda é importante focalizar a questão da

origem do crioulo, pois segundo lingüistas como Salikoko, Rickford e Baugh (1998:1-2)

essa é a melhor e mais antiga hipótese de surgimento do ebonics, que continua a inspirar

muitas controvérsias e novas pesquisas.

Antes de tudo é necessário saber que o pidgin e o crioulo foram novas variedades de

língua criadas em situações nas quais diferentes línguas entraram em contato. Como no caso

dos escravos que foram trazidos do oeste da África para as colônias no sul dos Estados

Unidos. Esses escravos, quando ali foram postos, entraram em contato com os habitantes

daquela região. Os donos das plantações precisavam se comunicar com os escravos. No

entanto, um não entendia a língua do outro, dessa forma tentavam manter um tipo de

comunicação entre si; esse foi o primeiro contato de línguas que houve, no caso o gullah e o

inglês. Dessas duas línguas surgiram variantes que esses dois grupos diferentes de pessoas

utilizavam para se comunicarem. Nessas circunstâncias ocorre o pigdin, ou seja, os pidgins

são as variantes lingüísticas que surgem do contato entre duas línguas distintas por haver

necessidade de comunicação. Rickford (1992: 224) contribui para maiores esclarecimentos:

Um pidgin possui um papel social altamente restrito, usado para comunicação limitada entre falantes de duas línguas ou mais que entram em contato um com o outro repetidas vezes, através do comércio, escravização ou migração. Um pidgin de forma habitual combina elementos das línguas nativas de seus usuários e é tipicamente mais simples do que essas línguas nativas, à medida que adquire menos palavras, menos morfologia e opções fonológicas e sintática mais restritas. 1(Nossa Tradução, doravante NT).

Podemos notar que o pidgin é a mistura de duas ou mais línguas diferentes que

foram adaptadas à situação para que houvesse um entendimento entre os falantes dessas

línguas. No entanto, é importante esclarecer que o desenvolvimento do crioulo ocorre à

medida que o pidgin passa por um processo de transformação. Tal processo é possível a

partir do momento que os falantes nativos – até então usando o pidgin como meio de

comunicação primário – passam a utilizá-la como primeira língua. A partir daí temos um

crioulo. Os estudos realizados por Hall (1996) corroboram a autenticidade desse

1 A pidgin is sharply restricted in social role, used for limited communication between speakers or two or more languages who have repeated or extended contacts with each other, for instance through trade, enslavement, or migration. A pidgin usually combines elements of the native languages of its users and is typically simpler than those native languages insofar as it has fewer words, less morphology, and a more restricted range of phonological and syntactic options (Rickford 1992a:224).

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mecanismo, pois o crioulo já possuía um vocabulário típico e uma fonte gramatical mais

complexa e extensa do que o pigdin.

O ebonics foi um distanciamento relativo e uniforme do crioulo que

conseqüentemente levou a descrioulização2, aproximando-se mais do inglês. Esse processo

de variações do crioulo foi uma significante mistura de contanto das línguas, em especial no

sul, onde um processo gradual de descrioulização quantitativa tomou lugar nos Estados

Unidos. Naquela época poucos falantes usavam as variantes do crioulo e a maior parte

utilizava variantes mais próximas do inglês padrão, como declara Winford (1997: 51-76).

Uma das evidências que o ebonics se originou do crioulo são as condições sócio-

históricas. Os escravos vindos do oeste da África foram postos em colônias no sul dos

Estados Unidos e entraram em contato com poucos falantes nativos. Assim, mantiveram um

contato limitado com o modelo gramatical do inglês. Muitos escravos que ali foram postos

já falavam algumas variações do inglês, ou seja, o crioulo, tendo em vista a necessidade de

comunicação entre eles e os falantes nativos do inglês; isso ocasionou o processo de

descrioulização. O ebonics foi desenvolvido durante esse processo. Em relação a esse

assunto Stewart (1967), Rickford (1997: 331) e Schneider (1991: 30-31) declaram:

As hipóteses de que muitos escravos vindos para as colônias americanas e caribenhas já falavam alguma variante inglês pidgin oeste-africano ou o inglês crioulo da Costa da Guiné Bissau. (...) O caso de importação crioula significativo da região do Caribe nesse período tem sido apoiado por recentes evidências que escravos que vieram das colônias do Caribe onde o inglês crioulo é falado, foram os segmentos predominantes da antiga população negra em muitas colônias americanas incluindo Massachussetts, Nova York, Carolina do Sul, Geórgia, Virginia e em especial Maryland. (NT) 3

Esses escravos que ali foram deixados passaram por uma mistura de línguas e de

descrioulização e aprenderam o inglês rapidamente, dando à língua uma característica

2 Processo de mudança das línguas crioulas.

3 The hypothesis that many slaves arrived in the American colonies and the Caribbean already speaking some variety of West African Pidgin English (WAPE) or Guinea Coast Creole English (GCCE).. However, the case for significant creole importation from the Caribbean in the founding period has been bolstered by recent evidence that slaves brought in from Caribbean colonies where creole English is spoken were the predominant segments of the early Black population in so many American colonies, including Massachussetts, New York, South Carolina, Georgia, Virginia and Maryland in particular." (Rickford 1997:331) (Stewart 1967) e (Schneider 1991: 30-31).

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peculiar; porque nessas regiões o inglês falado não era o puro4, mas sim um inglês cheio de

misturas e características das línguas de origem dos escravos. Os cativos da África

Ocidental falavam muitas línguas além dos dialetos. Durante a viagem eles desenvolveram o

que hoje é chamado de pidgin, que é a mistura de duas ou mais línguas diferentes como já

mencionamos anteriormente.

Através do contato próximo de falantes de tribos de línguas diversas se formaram os

pidgins, que os ajudaram a se comunicar, pois mantinham a característica das línguas de

origem, ou seja, usavam variantes dessas linguagens para que houvesse entendimento entre

eles e seus captores, porém, muitos donos de escravos mantinham preferência por uma tribo

em particular, sendo assim, a mistura de linguagem no navio algumas vezes era mínima.

Vimos o que é pidgin e crioulo e como se deu o surgimento do ebonics, o qual

ocorreu pelo contato de línguas diferentes por haver necessidade de comunicação entre os

escravos e seus captores. Podemos notar que a origem dessa língua está diretamente ligada

com o comercio de escravos e com a escravidão em si. Hoje em dia existe muita polêmica

relacionada ao ebonics veremos mais adiante qual foi a causa dessa polêmica e o que os dois

lados do debate dizem sobre todo esse acontecimento em relação à linguagem do ebonics.

1.2 – O Ebonics e a Polêmica Atual

A polêmica mais atual que envolve o ebonics é a discussão quanto à decisão tomada

pela cidade de Oakland, no estado da Califórnia, concernente ao ebonics. O Distrito Escolar

da Oakland (the Oakland Unified School District Board of Education) decidiu no dia 18 de

setembro de 1996 reconhecer o ebonics como uma língua e aderi-la como idioma oficial

juntamente com o inglês padrão. Esse seria um meio para ensinar o inglês Padrão (doravante

IP) aos falantes de ebonics5.

Para muitos, principalmente a sociedade leiga no assunto, essa atitude é errada, pois

acreditam que o ebonics seja apenas uma gíria ou um dialeto para preguiçosos. Há

profissionais da área, como o lingüista John McWhorter, que consideram extremamente

4 Inglês puro ou inglês padrão segundo o dicionário Merriam-Webster é o inglês que diz respeito a ortografia, gramática, pronúncia, e o vocabulário é substancialmente uniforme, embora não seja destituído de diferenças regionais. É bem estabelecido pelo uso em discurso e escrita formais e informais de pessoas instruídas, e é altamente reconhecido e aceitável em qualquer lugar onde o inglês é falado e entendido. 5 A decisão do Distrito Escolar de Oakland realizada em 18 de dezembro de 1996 foi publicada pelo San Francisco Chronicle no dia 02 de janeiro de 1997, numa terça-feira. O artigo se encontra na página A18. E também está disponível no site do Distrito Escolar de Oakland. http://webportal.ousd.k12.ca.us/.

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preconceituoso tratar os jovens negros como bilíngües, pois segundo ele isso os segrega, os

diferencia dos brancos e os estigmatiza mais ainda6. Já para muitos lingüistas como

Fillmore, Ervin-Tripp e Clark (1997:1-5) entre outros é um sinal positivo, pois existe um

senso comum (sendo esse um meio de introduzir o IP nas escolas através do uso Ebonics)

no plano do distrito escolar de Oakland. Um fator importante que está diretamente ligado a

essa discussão é o modo como os lingüistas se referem à palavra língua. Fillmore (1997: 1 e

2) argumenta que ambos os lados no debate da decisão de Oakland usam a palavra língua

para facilitar a comunicação, enquanto poderiam introduzir alguns esclarecimentos

necessários sobre o significado dessa palavra, pois língua e dialeto são palavras ambíguas e

isso causa uma grande confusão na sociedade, porque enquanto os lingüistas estão

acostumados com essa ambigüidade existente entre língua e dialeto, os leigos no assunto

não conseguem fazer distinção alguma entre uma e outra e isso abre margens para

especulações e idéias precipitadas, como observa Fillmore (1997: 1 e 2).

A decisão tomada pelo Distrito Escolar de Oakland não deseja estabelecer

parâmetros que definam o ebonics como língua, e sim conscientizar a sociedade. Enquanto

lingüistas, leigos e a mídia debatem essa questão, vinte e sete mil crianças afro-americanas

enfrentam problemas com a linguagem adquirida em casa. O distrito de Oakland encontrou

um meio de solucionar a situação enfrentada por essas crianças, introduzindo o ebonics

como língua nas escolas com a finalidade de ensinar o Inglês Padrão. A intenção é que cada

criança reconheça a diferença entre a língua materna e a língua padrão utilizada, dessa

forma poderá distinguir onde e como melhor usar cada uma das linguagens.

Ervin-Tripp (1997), através de uma experiência, observou que as crianças não são

capazes de ouvir e entender a diferença entre shit e sheet, bitch e beach. As crianças

enfrentam tanto dificuldades fonéticas quanto gramaticais. Esse problema não é revelado

pela mídia, a qual tem uma idéia errônea sobre a decisão de Oakland. Sendo assim fazem

uma falsa interpretação da real situação enfrentada pelos professores e pela sociedade afro-

americana, afirmam assim que o distrito educacional de Oakland excluiu o Inglês padrão

como forma de ensino e aprendizagem. Perry (1998:4-5) argumenta que tal atitude por parte

da mídia agride diretamente e desorienta os educadores e os militantes políticos que estão

preocupadíssimos com o bem-estar das crianças afro-americanas.

Podemos notar que a polêmica está diretamente ligada à decisão do distrito de

Oakland, que com o objetivo de aderir o ebonics como método para ensinar o IP acabou

6 Entrevista realizada com o professor John McWhorter pelo jornal Black Issues In Higher Education em 10 de maio de 2001.

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causando rivalidade entre os lingüistas que não apóiam esse método, pois não aceitam que o

ebonics seja reconhecido como língua, mesmo sendo um método de ensino, e os que são a

favor porque através dele as crianças afro-americanas poderão ter um desempenho maior ao

se depararem com o IP em sala de aula, e não encontrarão dificuldades se a língua utilizada

como método de ensino for a mesma que falam em casa. E o que torna a discussão entre

ambas as partes mais acirrada é a posição da mídia.

1.3 - Um Pouco Sobre o Aspecto Fonológico e Gramatical do Ebonics

Considerando a forma fonológica e gramatical podemos notar as características

peculiares da linguagem de ebonics, dedicamos um espaço para comentar sobre a gramática

e o aspecto fonológico dessa língua são detalhes curiosos e importantes para serem

observados que iremos comentar. Na pronúncia existe a omissão das consoantes do final

das palavras, por exemplo, ‘past' é pronunciado pas' e hand, han’.

Na pronuncia de palavras terminadas em th tira-se o “h” como podemos notar na

palavra “bath” (bat) ou simplesmente troca-se o th pelo “f” (baf). Em palavras terminadas

em vogais ou com o “y” como o “my” e “ride” acrescenta-se um longo “ah” (mah, rahd).

Essas pronúncias não são usadas unicamente no ebonics, pois os falantes do sul dos Estados

Unidos também a utilizam. Existem ainda pronúncias que são unicamente utilizadas pelos

falantes de ebonics como, por exemplo: as letras B, P e G, quando utilizadas no começo de

verbos auxiliares como “don’t” e “gonna, são retiradas, ficando da seguinte forma 'on know

de "I don't know" e “ama do it” de "I'm going to do it." Nesse caso acrescenta-se o ah.

Existem mudanças também nos tempos verbais. Em alguns casos o verbo To Be é

totalmente removido:

Inglês: He is working

Ebonics: He workin’

Inglês: You are crazy

Ebonics: You Crazy,

Inglês: She is my sister

Ebonics: She my sister.

Para enfatizar a ação terminada:

Inglês: He worked.

Ebonics: He done worked.

Nas sentenças negativas, usa-se o ain’t:

Inglês: You are no hero, friend.

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Ebonics: You ain’t no hero, man.

Podemos notar que a forma negativa ain’t é seguida pelo no que está negando a frase,

esse aspecto gramatical é chamado de double negative (dupla negativa). Essa é uma

característica exclusiva do ebonics.

Segundo Pink (2005:15), muitas formas do ebonics ficaram estagnadas por algum

tempo, caindo em desuso, em especial os tempos verbais como o Present perfect

progressive, como mostrado no exemplo abaixo:

Inglês: He has been running for a long time, and still is.

Ebonics: He bin runnin’.

Pink (2005:15) ressalta ainda que essas formas não se desenvolveram pela

discriminação e ficaram estagnadas no passado, pois o ebonics era visto como uma linguagem

incorreta, e por tal motivo essas formas são utilizadas apenas em bairros de predominância

negra. Podemos dizer que essa é uma verdade parcial, pois o ebonics atualmente não é uma

linguagem restrita apenas aos negros americanos, é utilizada também por muitos brancos que

habitam nas regiões onde o ebonics é falado. E existem negros nos Estados Unidos que nunca

entraram em contato com o ebonics. Como o ebonics está se desenvolvendo rapidamente, já

existem dicionários do ebonics para o inglês e sites criados para explicar a gramática, a

fonética e novos termos, pois a cada dia novos vocábulos são criados por meio de

simplificações da língua inglesa, algo que aconteceu na origem da língua e que se repete nos

dias atuais.7 Isso mostra que essa língua, apesar dos preconceitos, tem sido tratada com

seriedade e recebido atenção sistematizada.

Este capítulo apresentou a origem do Inglês Vernacular Afro-Americano/Ebonics, a

confusão e polêmica causadas pela decisão do distrito educacional de Oakland, a atual

situação da língua e seus aspectos fonológicos e gramaticais. O próximo capitulo trará o que

é legendagem e o que envolve essa atividade tradutória com o objetivo de apresentar suas

regras, o sistema que as empresas desenvolvem através desta atividade e como o aspecto

cultural está intimamente ligado a este recurso tradutório. No terceiro capítulo, será feita a

análise do filme 8 Mile Rua das Ilusões, onde essa linguagem de ebonics se faz presente,

mostrando como o seu significado na língua de chegada na legendagem é importante para a

tradução. Através dessa análise verificaremos se o tradutor levou em conta os aspectos

7 Como exemplos de sites dedicados ao ebonics, destacamos os seguintes: www.urbandictionary.com; http://www.ebonics-translator.com/. php; http://www.angelfire.com/ak2/nsyncountryusa/ebonicsdictionary.html; http://joel.net/EBONICS/translator.asp;

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culturais e característicos do ebonics, a fim de localizar o telespectador na realidade que o

filme transmite.

II - LEGENDAGEM O QUE É?

No capítulo I discorremos a respeito do ebonics, sua origem, a polêmica referente a

esta linguagem, aceitação para com a mesma e um pouco das regras gramaticais que ela

possui.

Neste capítulo abordaremos o que é a legendagem ou legendação, seus

conceitos e como esta forma constitui um dos recursos de tradução utilizados pelos meios de

comunicação através dos filmes.

A legendagem pode ser encontrada em quatro suportes diferentes: o cinema, a

televisão tanto aberta quanto fechada, vídeo e DVD. A legendagem e dublagem podem ser

divididas em dois grupos principais: a primeira é a interlingual. Para Pinho (2005:14) ”este é

o processo que se origina de um diálogo oral de uma língua de partida (LP), fornecendo a

informação numa língua de chegada (LC), possibilitando assim ao espectador, que não

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compreende determinada LP, ler e entender o material audiovisual”, mas o espectador que

conhece bem a LC acaba se concentrando mais no que é dito na LP, sendo assim e

preocupando mais com o que foi traduzido. A segunda é a intralingual. Este recurso segundo

Pinho (idem) “é utilizado especialmente por pessoas com deficiência auditiva, ou por

imigrantes e pessoas que querem aprender uma nova língua”. Quando assistimos a um filme

com a legendagem intralingual, é possível aprender novas expressões e palavras novas dentro

de um contexto. E isso ajuda ao telespectador a entender essas novas expressões e ter um

interesse para aprender mais sobre a LP.

Carvalho apresenta outros tipos de tradução audiovisual além das categorias

citadas acima, por exemplo: “interpretação simultânea ou consecutiva, transmitida em eventos

ao vivo; voice over no qual a voz de um intérprete se sobrepõe ao áudio original, mas sem

apagá-lo; closed caption, semelhante à legendagem, porém feito na mesma língua do produto.

Este recurso auxilia deficientes auditivos e pessoas que possuem alguma dificuldade de

compreensão da língua oral; surtiling similar a legendagem, porém é exibido sobre o palco de

peças teatrais e óperas como um auxilio ao ator na hora de falar os textos que são

interpretados; áudio vision é um tipo de dublagem onde são feitos comentários e descrições

das cenas, auxiliando deficientes visuais” (2006:19). Estes recursos tradutórios ajudam ao

legendista no desenvolvimento de seu trabalho, podendo assim transmitir de várias maneiras

ao espectador.

Ao receber um novo projeto para o cinema o tradutor recebe roteiro-guia com uma

marcação chamada “pietagem”. Este termo técnico se refere à indicação das partes que o rolo

de filme é divido, como se fossem camadas, enquanto a cópia-vídeo se situa no decorrer da

história pela contagem do tempo que é chamada de time-code. Os roteiros das falas são

dividas em feets (pés), facilitando os diálogos para o tradutor. Os números de caracteres para

cinema podem variar de 35 a 40 por linha, com um máximo de duas linhas por legenda. No

caso do vídeo e televisão, o material chega em forma de vídeo, DVD ou CD e, se houver o

roteiro que também é gravado em time-code, a legenda é exibida na parte superior ou inferior

da tela, que é registrado pelo segundo em que aparecerá em cada fala. Caso o tradutor passe

do tempo determinado no espaço no subtitle box, a legenda não é validada. No DVD,

televisão e vídeo as regras são as mesmas. O que difere o DVD dos outros é o acréscimo de

materiais extras, dublagem e formato da tela, em widescreen - na maioria das vezes.

2.1– Legendagem e Suas Regras

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A legendagem e a dublagem existem desde os primórdios do cinema, que, como

outros meios de comunicação, acabou se familiarizando com este método de tradução, tão

utilizado ainda hoje (Gorovitz, 2006:64). Podemos ver nos filmes antigos, conhecidos como

filmes mudos, uma tela com o fundo preto e a legenda com letras brancas maiores do que

estamos acostumados. Após cada cena aparecia esta tela com as legendas.

Gorovitz (2006: 64) ressalta que a legenda acompanha o mesmo tempo que a

imagem e o som, e ao assistirmos a um filme nossa atenção tem de ser redobrada, pois o

espectador não lê em seqüência livre e sim pausadamente; são como idas e voltas: “este vai e

vem solicita atividades simultâneas, nas quais diferentes sentidos são colocados em uma

interação inusitada” (idem). Muitas vezes, o espectador se concentra demasiadamente no que

está sendo falado na língua de origem e, ao observar a legenda, cria um conceito que o

tradutor nunca traduz tudo o que foi dito de fato, mas a finalidade da legendagem é transmitir

o essencial para o espectador. Gorovitz ressalta que:

Trata-se de um processo de transformação de discurso e, portanto, existem descompassos temporais e desproporções que marcam incessantemente rupturas na assimilação da mensagem. A fala é acompanhada de uma pluralidade de elementos, de ordem formal e de conteúdo, que podem, entretanto, ser apreendidos pelo público ao assistir ao filme legendado (inflexões, entoações, gestualidade, expressões faciais e certa melodia). No entanto, não tem acesso a uma série de elementos, como jogos de palavras, variações dialetais, pressupostos e subtendidos, elementos culturalmente marcados e portadores de sentidos específicos de uma cultura e de uma dada língua. Portanto, é preciso evidencias de que a legendagem, para superar a sua marginalidade, incorpora certos traços, mas rejeita outros por querer se assemelha o discurso oral. (Gorovitz, 2006:65)

O autor mostra que a legendagem não é somente transmitir o que está sendo

dito naquela língua, mas sim o sentido, pois o espectador necessita entender também o que

acontece, e como o aspecto cultural em um determinado filme é importante. O legendista tem

o papel de transmitir esse entendimento de uma maneira clara sendo que muitas vezes acaba

ocultando alguns destes pelo limite que lhe é imposto.

Em muitas ocasiões, o tradutor tem de restringir a pontuação, omitir palavras, utilizar

palavras menores que transmitam o sentido e não se limitar à literalidade, omitido assim

expressões idiomáticas, gírias, etc. A legenda deve ter uma sincronia com a imagem

aparecendo e desaparecendo a cada novo diálogo. É preciso lembrar que isso ocorre porque o

tempo de leitura é maior do que o tempo gasto para escutar enunciados orais. Assim, o

legendista precisa possuir capacidade de síntese.

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No manual de regras de legendagem “General Subtitling Rules” elaborado pela

empresa Softitler (2007:01) orienta-se ao tradutor a obedecer às regras que são estabelecidas

pelas empresas tais como sugerir o título ao filme, evitar repetições de nomes, prestar atenção

quanto à pontuação, etc. Como também “Não utilizar-se do uso de regionalismos ou

expressões que podem dificultar o entendimento do espectador8” NT (2007:03).

O manual ressalta ao tradutor que: “A legendagem é um processo de tradução, é

transmitir de uma língua falada de um determinado filme para a outra. Isso requer assistir ao

filme enquanto se traduz. A tradução de um filme leva de três a quatro dias” 9 NT (2007:01)

É de responsabilidade do tradutor honrar o compromisso de entregar o produto no

prazo estipulado pelas empresas, mostrando assim uma das facetas do trabalho do tradutor

além do seu conhecimento da língua de partida e de chegada. O manual orienta, entre estas

regras, outras mais específicas como o limite de palavras que devem ser colocadas em cada

parte de um diálogo (idem).

O objetivo do tradutor é prover a interpretação mais concisa e precisa do texto original em inglês. A despeito da língua, a tradução não deve ser mais longa do que o texto em inglês. Traduza o sentido do texto original com o mínimo de palavras possível. (General Subtitling Rules:03) 10(NT)

Evitando assim repetições desnecessárias, como as narrativas que nem sempre

precisam ser traduzidas literalmente, e se por acaso houver alguma expressão não muito

comum em nossa língua, no caso o português, e de nossa cultura como neologismos, jargões

profissionais, é preciso fazer adaptações. Dessa maneira o manual orienta que o tradutor deve

estar mais concentrado e não se alongar muito em diálogos, como já foi citado, há um limite

de palavras estabelecidas pelas empresas conforme o filme exibido. Muitas palavras ou

expressões não podem ser deixadas de lado, por exemplo, “score” (pontuação em jogos

beisebol, basquete, futebol americano etc.) nomes, sobrenomes, apelidos, endereços,

abreviações e sigla. O tradutor também deve se utilizar de dicionários destas determinadas

áreas, glossários e corpus lingüístico, ajudando assim a melhor compreensão para a língua que

está sendo traduzida.

8 Do not use regionalisms or expressions that may impede the viewers’ full understanding. 9 Subtitling is the process of translating the meaning of the original spoken language of a film into another language. T must be done while watching the film. The translation of a film up to three or four days. 10 The objective of the translator is to give the most accurate and concise interpretation of the original English text. Regardless of the language, the translation should not be longer than the English text. Translate the meaning of the original text in the fewest number of words possible (General Subtitling Rules:01)

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As maiorias dos manuais de legendagem fornecidos pelas empresas audiovisuais

impõem estas regras, as quais devem ser cumpridas. No entanto, há muitas falhas neste

sistema e mais e mais vezes os tradutores são criticados pelo seu trabalho. Isso ocorre porque

nem sempre o público está ciente das limitações existentes na tradução audiovisual, quando

não se pode recorrer a paráfrases ou notas explicativas, como na tradução de material

impresso.

Amaral (2007) afirma que: “todo tradutor de cinema precisa ser um bom contador de

histórias”. Concordamos com a afirmação, pois o tradutor que é legendista não reduz seu

trabalho a somente saber escrever ou falar a LP e LC, ou passar de uma língua para a outra,

pelo contrário, é um trabalho que requer muita atenção. O tradutor legendista precisa ter

agilidade criativa necessária para surpreender com diálogos que sejam aptos ao filme, como

comédias, romances, drama, musicais, inglês arcaico (um exemplo são as obras de

Shakespeare) e também “o tradutor precisa ler o texto escrito no original para que o

expectador que não domina a língua estrangeira, na qual a obra original foi produzida, possa

entendê-la 100%” (idem).

Gambier (2005) compara a legendagem à interpretação simultânea:

A legendagem é um tipo de interpretação simultânea escrita: ambas são limitadas pelo tempo (tempo de leitura para primeira e tempo de fala para a segunda); ambas enfrentam densidade de informação (densidade produzida) pelas imagens, som e língua; densidade transmitida por conhecimento e dados especiais); ambas lidam com a relação entre o escrito e o oral (o legendista deve escrever o que foi dito num espaço limitado; o intérprete transforma em discurso oral o que foi escrito e dito); finalmente, ambas levam em consideração os receptores (os espectadores podem ficar inseguros quando não há legendas sem que ninguém esteja falando, da mesma forma que a audiência pode se surpreender pelo silencio do intérprete, enquanto o orador continua falando (p. 97)).

Gambier compara as duas formas de tradução mostrando aqui que o espectador tem

essa idéia de simultânea, que para o legendista é como uma interpretação intermitente, em que

cada diálogo fica dentro de uma subtitlle box e com o vídeo acompanha esse diálogos que está

na LP e a traduz para LC, e assim por diante até que tenha feito todos os diálogos.

Legendagem não é somente passar de uma língua para a outra, ou um trabalho que possa ser

feito por qualquer pessoa que saiba falar fluentemente a LP e LC, pelo contrário, é um

trabalho que requer muita atenção do tradutor como um intérprete de intermitente ou de

simultânea, pois ele transmite o que é essencial para o público. Ao colocarmos as informações

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na tela para o espectador temos que ser concisos para que o mesmo possa entender as cenas

com os diálogos ao mesmo tempo.

Percegueiro (2007) sugere que os tradutores audiovisuais precisam entrar em contato

com “... elementos básicos para citação de um roteiro traduzido para a legendagem: uma

sessão de exibição do filme em película, com o som original, em seu ambiente apropriado,

isto é, no escurinho da cabine de projeção do distribuidor; o roteiro na língua original, pietado

em feet & frames nossos “faróis” no alto mar de nossa escolha; e uma versão do título do

vídeo ou DVD” (idem). Dessa maneira o tradutor sente à vontade em poder colocar suas

idéias e traduzir com calma. A empresa deve disponibilizar ao tradutor os recursos

necessários tanto para obra escrita como em vídeo. Deve fornecer também tempo para

pesquisas do contexto do discurso, investigações e pré-produções dos roteiros que serão

traduzidos. O tradutor pode praticá-los e examinar de forma intensa com o roteiro preliminar

do filme e sua imagem e áudio, o qual é uma das etapas mais difíceis. Há também as

correções, omissões, falhas, cortes de cenas e às vezes remontagem da legenda que foi

traduzida.

O tradutor adapta a estilística da tradução à riqueza de informações extralingüísticas

chamados de recursos semióticos, que estão presentes em: imagens, encenações, vestuário etc.

“O tradutor necessita ter conhecimento das regras de editoração eletrônica a legendagem de

cinema.” (idem)

A autora do artigo mostra que o tradutor tem todos os recursos disponíveis para poder

executar o seu trabalho, pois é necessário que o tradutor e a empresa interajam de forma

harmônica, trabalhem como um time que produz um trabalho sério e prestigioso. Ainda

segundo Pecegueiro (2007), esse time é composto por tradutores, distribuidores, revisores,

equipe de produção, laboratórios etc. Enfim, todas as pessoas envolvidas no projeto precisam

ter um grande conhecimento sobre o que é a tradução e o que é legendagem. A empresa, ao

contratar o tradutor, coloca toda sua confiança e credibilidade nele, pois o legendista ao fazer

o seu trabalho expõe seu conhecimento tanto gramatical como cultural. Pois o mesmo tem

uma tarefa muito difícil que é se concentrar para poder captar o que está sendo dito, uma vez

que boa parte das empresas disponibiliza ao tradutor o roteiro das falas. O tradutor tem

conhecer também expressões idiomáticas e termos que variam de um país ao outro.

A tradução é como uma transposição de uma produção audiovisual para uma forma

escrita que é a tradução de filmes, o trabalho do tradutor é transpor esta forma de uma

maneira segura e consciente do seu trabalho.

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2.2 – Legendagem Também é uma Questão Cultural

Vimos que a legendagem não é somente o conhecimento da LP e da LC, mas envolve

também as exigências das empresas as quais o tradutor deve seguir para produzir um bom

trabalho, além das peculiaridades da própria tradução audiovisual, já debatidas na seção

anterior. Em algumas situações o tradutor recebe críticas, pela legendagem. Ouvimos falar de

um erro ou outro que o mesmo tenha feito como, por exemplo: perdas lingüísticas devido à

aspectos culturais, cotidiano, personalidades etc. Isso pode ocorrer por causa das limitações

que são impostas pela empresa, seguindo o tempo e espaço disponível da legenda na tela.

Com isso alguns desses itens acabam sendo deixados de lado ou o seu sentido não completo.

Dentre os itens mencionados, o aspecto cultural constitui uma das formas lingüísticas

mais difíceis e desafiadoras para o tradutor.

Gorovitz afirma que “a legendagem da obra, deve ser a priori, produzida no país que

irá exibir o filme, pois o tradutor precisa estar impregnado de sua cultura e língua”. Significa

que o tradutor deve ter o conhecimento tanto da cultura da LP quanto da Língua LC, pois

quando o tradutor está executando seu trabalho, pode encontrar alguma expressão ou palavra

que não faz parte de sua cultura. Assim, o tradutor precisa adaptar ou omitir certas palavras ou

expressões. Teixeira (2007) enfatiza:

Outra explicação para a necessidade de adaptação se dá pela própria natureza do texto legendado. Diferentemente de outros formatos de texto escrito, não há como retroceder a leitura para uma tentativa de se entender melhor o que foi dito (pode-se voltar ao início de um parágrafo de um texto impresso, mas não pode fazê-lo ao assistir a um filme na TV ou no cinema). Trabalha-se com um tipo de texto que requer compreensão imediata, sob pena de ficar o espectador sem captar a comunicação realizada entre as personagens. A boa legenda constitui uma forma de leitura que não desvie a atenção do espectador do filme, senão passará ele a maior parte do tempo tentando decodificar o que se pretendeu dizer, tirando-lhe o prazer de assistir a um produto feito, no caso a TV, do cinema e do DVD, precipuamente para entretenimento.

Teixeira mostra que a legendagem é um tipo de tradução mais reduzida, permeada de

regras e limites necessários. O tradutor, ao se basear em um contexto cultural, tem que emitir

esta mensagem de uma forma mais simples, precisa ser conciso e apresentar com precisão a

informação passada, se adequando ao texto e ao tempo da leitura. Se assim proceder,

apresentará uma boa tradução - fácil de entender - e coerente para quem está lendo e com o

que está sendo dito.

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Os filmes norte-americanos, por exemplo, retratam diversos assuntos, tais como:

romances, musicais, máfias, gangues negras, latinas, esportes como beisebol, hockey, futebol

americano etc. Os filmes esportivos exibem muitos esportes praticamente desconhecidos em

nossa cultura. “Há uma diversidade de informações que o tradutor pode encontrar ‘facilitada’

por roteiros anotados, que trazem explicações a respeito de expressões e referências culturais”

(Soares: 2007). Em alguns casos o tradutor recebe um roteiro onde não são fornecidas as

informações a respeito de uma determinada expressão lingüística no seu contexto cultural.

Essa é a situação de trabalho mais desejável. Em outras situações ele não tem disponível o

roteiro e tem de captar o som do que está sendo dito e pesquisar para poder realizar uma boa

tradução, e, por conseguinte transmitir o seu significado de maneira simplificada ao

telespectador.

O aspecto cultural na legendagem se faz importante porque através dele o espectador

tem a oportunidade de conhecer determinado país, suas crenças, sua maneira de agir, hábitos

alimentares etc. O tradutor tem um papel fundamental de passar isso de uma maneira fácil de

entendimento. Gorovitz (2006: 66 e 67) tem a seguinte opinião a respeito da tarefa do tradutor

diante do aspecto de cultura:

Diante das dificuldades mais práticas do sincronismo elementar os obstáculos ligados às diferenças lingüísticas, como aqueles que colocam em jogo noções de cultura, sensibilidade e estética, o legendador terá que optar e atender às múltiplas exigências reunidas. Ao procurar retratar na escrita o discurso oral, depara com a dupla tarefa de encontrar correspondências entre línguas e registros, subordinados as variações de diversas ordens: geográfica, temporal, social, individual, de canal e ao contexto de produção da mensagem. Ocorrem, igualmente, interações entre cada uma dessas variáveis. Levando em conta esses fatos, concluímos que a configuração específica de cada um desses conjuntos de variáveis e seu modo de interação produzem um número de determinações teoricamente infinito. (idem)

O tradutor, ao atender essas “múltiplas exigências reunidas”, contempla todos os

traços de cultura que o texto tem. Como na legendagem, o tradutor não pode se utilizar de

uma nota de rodapé para explicar determinadas expressões como siglas, gírias, determinados

lugares etc, muitas dessas adaptações culturais que são feitas acabam se perdendo, pois não há

como explicar ao expectador o seu significado real. Como algumas produções não vêm

acompanhadas de um roteiro, isso acaba dificultando o trabalho do tradutor. Decorrem daí as

críticas do público por muitas incompletudes que acabam acontecendo. Soares (2007)

argumenta que “... o ato de se utilizar uma linguagem mais coloquial dá uma falsa impressão

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de simplicidade. Por trás dessa simplicidade há, na verdade, domínio da técnica, que é tão

importante quanto o domínio do idioma. Esse é o ”plus” dessa atividade”. Isso é verdade, pois

o tradutor, dependendo do contexto cultural, tem de transpor ao expectador o sentido do que

está sendo dito, pois não adianta traduzir uma palavra ou expressão por ser bonita e ou se

encaixar bem no português se o público não a entende e não absorve as informações propostas

pelo filme.

A tradução de cultura é um dos grandes desafios para o tradutor, pois este tipo de

trabalho exige do mesmo um conhecimento das estruturas lexicais presentes no texto e como

certas expressões farão sentido ao expectador. Mesmo traduzindo no seu sentido literal a

cultura presente no filme tem de ser transmitida, em algumas ocasiões faz-se necessário fazer

uma “adaptação”, para que assim possa se manter a graça e o estilo de um diálogo ou uma

narração.

Este capítulo apresentou o que é a legendagem, suas regras, seu relacionamento entre

o legendador, tradutor e a empresa, como se harmonizam e o aspecto cultural, um dos grandes

desafios do tradutor. No próximo capítulo será feita uma análise da legendagem do filme “8

mile – Ruas das Ilusões” . Refletiremos sobre como a presença do ebonics foi tratada na

legendagem, que recursos foram usados, tendo em vista as especificidades da tradução

audiovisual e do ebonics como variação lingüística.

III - O ESTUDO LEXICAL E A EQUIVALÊNCIA DO EBONICS NA LEGENDAGEM

DO FILME 8 MILE – RUA DAS ILUSÕES

Abordamos no capítulo anterior o conceito de legendagem e a forma como esta

constitui uma das modalidades de tradução. Utilizamos o meio de comunicação através dos

filmes, vimos um pouco sobre as regras estabelecidas pelas empresas e como o aspecto

cultural está ligado com o processo de tradução para legendagem.

Neste capítulo analisaremos a maneira como o ebonics foi traduzido na legendagem

do filme 8 Mile: Rua das Ilusões. Será feito um estudo lexical a fim de avaliar se houve uma

preocupação do tradutor em mostrar as diferenças lingüísticas existentes no meio

audiovisual para o telespectador, o trabalho foi divido em cinco tópicos de análise

quantitativa – neologismo, omissão e adaptação, estrutura gramatical e uso de língua padrão,

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aspecto cognitivo e aspecto cultural e uso de gíria. Pretendemos com esse trabalho mostrar

se há uma maneira de traduzir o ebonics para a LC retratando as diferenças lingüísticas

utilizando os recursos de linguagem como auxílio no ato tradutório. É importante ressaltar

que nosso objetivo não é criticar a tradução realizada, e sim analisar se existe uma forma de

traduzir o ebonics mostrando suas diferenças tanto lingüísticas quanto culturais sem ser

através do uso desse recurso.

Antes de tudo é preciso saber o que se entende por léxico. Segundo Vilela (1979: 09-

11), léxico é entendido como o conjunto de unidades lingüísticas básicas (morfemas,

palavras e locuções) próprias de uma língua. É considerada como conjunto de palavras

lexicais. Neste estudo iremos analisar as palavras lexemáticas, pois pretendemos verificar

quais as estratégias usadas para traduzir o ebonics, e quais delas é capaz de retratar melhor o

contexto de usos dessa linguagem. Primeiramente, queremos situar os leitores quanto ao

filme que será analisado. O filme conta a história da vida de Jimmy, mais conhecido por

Rabbit, um garoto branco que vive em uma comunidade negra no subúrbio de Detroit 313,

lugar considerado perigoso, onde mora em um trailer com sua mãe Stephanie e irmã mais

nova na rua 8 Mile. Ele tem um grupo de amigos: Cheddar, Future (melhor amigo), DJ Iz e

Sol George. Rabbit escreve e canta músicas no estilo hip hop e tem o sonho de gravar um

CD. Mas a única diferença é que ele é branco e isso causa conflito com uma das gangues da

região que é a Free World (Mundo Livre). O lugar mais freqüentado por Rabbit e seus

amigos é o The Shelter onde acontecem as batalhas de hip hop. Essas batalhas são muito

comuns nos guetos americanos. Normalmente os cantores de hip hop marcam um duelo, no

qual cada um tem 40 segundos para criar uma rima. As palavras na batalha são as armas,

pois eles as usam para ofender diretamente o adversário. É interessante notar que quando

alguém perde a batalha é como se tivesse perdido algo muito importante.

Iremos nos focalizar no momento final do filme, a partir da cena 16, analisando

alguns diálogos em que se faz presente o ebonics. Dos 302 diálogos presentes na parte

selecionada do filme faremos a análise de 23 deles, sendo que nos focaremos nas palavras

grifadas em negrito apenas o que for relevante será analisado. No filme há presença de

ebonics, contudo o inglês padrão é que predomina a fala dos personagens, pois se a língua

do audiovisual fosse apenas o ebonics grande parte da sociedade norte americana não

entenderia a mensagem, porque mesmo o ebonics sendo uma variante do inglês padrão, este

possui características próprias e específicas. Então quando falamos que iremos analisar o

que for relevante, estamos querendo dizer que existem falas em que há apenas um termo em

ebonics e o restante é inglês padrão e não faria sentido analisar apenas uma palavra.

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Contudo haverá casos em que analisaremos somente um termo porque o sentido deste

compromete todo o sentido da sentença. Agora passaremos a analise.

3.1 Neologismo

Este tópico apresenta os diálogos nos quais foi utilizado como recurso lingüístico o

neologismo tanto na LP quanto na LC.

Rabbit começa a suas rimas contra o adversário e no meio delas insulta LC:

• To spiggy, spiggity

split lickety

A primeira palavra em destaque acima é específica do ebonics e quer dizer “chewing

gum”, em português significa “mascar chiclete” e a segunda é um termo que foi criado na

hora por Rabbit para que houvesse rima com a primeira palavra, este termo não existe em

ebonics nem no inglês padrão.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Spiggy explique

Lyckety light

O legendista não encontrou um equivalente para a palavra “spiggy’” e manteve o

original só acrescentando o “explique” que não existe na cena, mas ele fez isso a fim de

situar o leitor. A palavra “light” que foi acrescentada é o que acompanha o nome do rapper.

Ele se preocupou com a fonética e procurou um termo próximo da palavra foneticamente no

caso: “spiggity” e “explique”, “split” e “light”. Nesse caso poderia ser traduzida por “cuspir

as palavras”, se fosse traduzida desta maneira o espectador não conseguiria acompanhar,

porque o ritmo do cantor é rápido e o leitor não acompanharia o tempo da legenda na tela.

Lotto termina suas rimas e o publico aplaude, depois disso Rabbit começa com suas

rimas ofensivas quando em um momento diz:

• I ain´t hear a word you say

Hippety hoo-plah

As palavras em destaque não têm definição no ebonics e nem no inglês padrão

Trata-se de uma expressão inserida por fins fonéticos, que entra no contexto

musical.

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A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Não ouvi nada do que disse.

Repete, anda.

O legendista fez uma assimilação da palavra no original porque o ebonics muda a

estrutura e o sentido das palavras no caso acima o tradutor fez uma assimilação de “Hippety

hoo-plah” por “repeat” “repete”, ambas tem semelhança na pronuncia e na escrita, e o

legendista procurou dar sentido à frase dita anteriormente.

Nessa seção vimos como o legendista trabalhou com neologismos presentes na

legenda, em alguns ele assimilou a fonética em outros criou neologismos similar aos

vocábulos em português e também manteve o original. Na próxima apresentaremos omissão

e adaptação como um auxilio no processo de tradução para legendagem.

3.2 Omissão e Adaptação.

Nesta seção será mostrado os diálogos em que o legendista utiliza a omissão e a

adaptação na tradução das legendas. Um diálogo analisado apresenta os dois recursos, seis

apresentam apenas adaptação e quatro apresentam omissão.

Rabbit acaba ganhando a disputa e passa para a última etapa com Papa Doc. Todos

estão empolgados com a próxima etapa, então Future se vira para o público e diz:

• Future: Okay, lotta love, lotta love

A expressão acima é uma abreviação da frase “a lot of” que quer dizer “um monte de

amor”, no ebonics o artigo “a” e a preposição “of” foram removidos e um “ta” foi

acrescentado o final da palavra que deixa de ser frase e fica “lotta”, isso é também uma

característica intrínseca do ebonics de modificar toda uma sentença ou palavra, alterando

assim a gramática do inglês. O tradutor aproveitou os recursos da língua portuguesa para

aperfeiçoar o original.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Tudo bem “lottado” de amor, “lottado” de amor

Aqui o legendista conseguiu fazer uma adaptação de alteração na gramática do

inglês, criando um neologismo em português, similar ao vocábulo “lotado”, já existente.

Transmitiu o mesmo sentido do original dando a frase uma característica peculiar, bem

criativa.

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Na cena em que a gangue Free World bate em Rabbit, o mesmo leva um soco e é

derrubado, quando um deles diz:

• Get your faggot ass up and fight!

A palavra aqui destacada é comum no inglês padrão que significa “feixe de

madeira”, já em ebonics o sentido é outro, no caso, “homossexual man” que em português é

“ homossexual”.

A tradução para a frase acima ficou da seguinte forma:

• Levanta esse rabo de veado e vem lutar!

O legendista transmitiu o sentido, e conseguiu transmitir a diferença lingüística, pois

rabo normalmente significa a parte traseira de um animal, o que não é ofensivo (dizer, por

exemplo, o rabo do gato). Mas ao se referir a uma pessoa, é vulgar e ofensivo.

Rabbit continua a apanhar e não reage às ofensas até que um dos componentes da

gangue o puxa e diz:

• Fight me, you punk-ass bitch!

A palavra destacada “punk-ass” é específica do ebonics e tem um equivalente no

inglês padrão que significa “homossexual”.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Vem lutar, sua bicha punk!

Na cena que se segue o personagem queria simplesmente chamá-lo de gay o desafiando para

lutar. Pois a palavra “punk-ass” em si quer dizer: “gay”. Neste caso a palavra punk poderia

ter sido omitida, pois ele não estava fazendo referencia a um determinado grupo de pessoas,

a uma tribo urbana específica.

Rabbit entra no The Shelter para participar das batalhas, mas antes de começar pede

desculpas ao seu melhor amigo Future, que responde:

• I didn´t even trip.

A palavra destacada no inglês padrão significa: “voyage”, “journey”, “stumble”,

“fall”, “error”, “blunder” que em português é: “viajar”, “jornada”, “cair”, “tropeçar”,

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“errar”. Mas esta palavra em ebonics significa “to overreact” que em português se traduz:

reagir muito além do normal, ficar nervoso.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Não estou puto.

Nesse caso o legendista não foi tão literal ocultando o “even”, isso não alterou o sentido da

frase transmitindo o sentido e a diferença lingüística, pois a palavra “puto” é uma gíria

utilizada para dizer que se está revoltado com alguma situação. Se outra tradução fosse feita

para esta mesma palavra como, por exemplo: “Nem mesmo fiquei bravo”, teria transmitido o

sentido, mas não retratado o aspecto lingüístico.

Future prossegue com a apresentação quando chama Rabbit para o palco, antes que

este suba diz:

• It´s gonna be blazin´

In this bitch tonight

Na palavra “blazin’”, no ebonics, o “g” é omitido sendo acrescentado o apóstrofo, o

seu significado em português é: “incendiar”, “pegar fogo”.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Vamos incendiar isto aqui

hoje à noite.

O legendista omitiu a palavra “bitch”, pois na frase ela não tinha muita importância,

e também no contexto não é um palavrão é muito comum que uma comunidade utilize essas

expressões para se referir a algo ou à alguém. O “isto aqui” está contido no significado de

“bitch”.

Logo Future se dirige ao publico:

• We got lot of dope rappers,

and at the end of the night…

A palavra “dope” no inglês padrão é o mesmo que “silly” que em português significa

“tolo”, já no ebonics é ”cool”, “legal” em português.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

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• Os rappers são do caralho. E o melhor...

O tradutor ao traduzir “dope” utilizou de palavrão o que poderia ter sido evitado,

mesmo dentro do contexto do filme acreditamos que não é necessário, sugerimos utilizar

“irado”, pois transmite o mesmo significado. Na segunda linha o legendista fez uma

omissão da expressão que se fosse traduzido ficaria: “e no final da noite...” o que não

comprometeria o tempo proposto na legenda.

LC o primeiro a enfrentar Rabbit e no meio de tantas ofensas diz:

• ´bout to get smacked

back to the boondocks

A palavra “bout” é uma abreviação de “about” que quer dizer nesse caso prestes a. A

segunda palavra no inglês padrão significa “rural country” que em português é cidade do

interior.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Fadado

A voltar ao seu povoado

A tradução para palavra “fadado” não foi bem colocada poderia ter colocado

“destinado a” que tem o mesmo significado, daria uma melhor compreensão para o

expectador. Pois a linguagem do filme é informal e a palavra não se adequa ao linguajar do

ambiente em que ocorre a cena, o legendista quis incluir a rima e com isso acabou deixando

o registro bem mais formal que o original. Além disso, a tradução para “boondocks” é um

termo usado para se referir as crianças da comunidade afro-americana que tentam se ajustar

no subúrbio onde vivem as pessoas brancas.

Rabbit continua a disputa com Lotto quando diz:

• Matter of fact. Dawg

here´s a pencil.

A palavra em destaque é Ebonics e em português significa “cara”, “mano”, é

definida como: “word to be used in place of a name, or other personal noun or pronoun to be

used in place of a name”. Uma palavra a ser usada no lugar do nome ou outro pronome

pessoal.

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A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Tome a caneta

A primeira frase do dialogo foi omitida, pois o dialogo é rápido e o espectador não

conseguiria acompanhar a legenda na tela, acontece muita omissão no filme devido à

rapidez da fala dos personagens. Na segunda frase o tradutor fez uma adaptação da palavra

"pencil" traduzindo para "caneta" por questão de estética e de forma de uso, com isso ele

simplificou a sentença transmitindo o sentido do original.

Logo após Rabbit dizer a Lotto para escrever uma música que seja boa o suficiente

para enfrentá-lo diz:

• Don´t come back

´til something dope this you

Ambas as palavras em destaque são específicas do ebonics a primeira é uma

adaptação da palavra “until” do inglês padrão, houve uma remoção das duas primeiras

sílabas ficando “‘til” é também uma abreviação da já abreviada palavra “till” que em

português é a preposição “até”. A segunda palavra “dope” significa “awesome”,

“impressionante” em português como já foi dito anteriormente na seção 3.1 neologismo

também significa “tolo” e “cool” em ebonics.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Vá para casa

Escrever algo excitante

A frase acima se fosse traduzida literalmente seria: “vá para casa e só volte quando

tiver algo excitante” só que o legendista fez adaptação que não era necessária, pois Rabbit

quer dizer a Lotto que vá e volte com algo que seja melhor para eles continuarem batalha.

Esta tradução mostra de uma maneira mais desafiadora, deixando claro que Rabbit é melhor

do que Lotto e pode vencer a batalha de qualquer maneira. As duas formas de tradução

cabem no tempo proposto na legenda, porém a palavra excitante no português do Brasil tem

uma conotação sexual, por isso sugerimos o uso da palavra “desafiador” em vez de

“excitante”.

Future pede ao público que escolha o melhor para disputa com Papa Doc e começa

apontando para Lotto e diz:

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• This shit is about to be

crackolatin´in here.

A palavra em destaque é uma mistura de dois termos “cracking” que é o mesmo que

“Something sensational, excellent or cool” e “percolating” que usada apenas entre amigos

de gangue, no inglês padrão possui outro significado” to be diffused through : penetrate.” A

junção dessas duas palavras formam o termo “crackolatin’” e não temos um equivalente no

português para essa palavra. Uma sugestão seria “algo sensacional está para acontecer

aqui”.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• E a batalha está para acontecer.

Como foi dito acima, não há um corresponde para o termo analisado, então o

legendista adaptou a palavra no seu significado, sendo assim delimitou o espaço da legenda,

para que fosse de bom entendimento para o espectador. Uma sugestão que daríamos seria

“algo sensacional está para acontecer aqui”, o que não comprometeria o tempo da legenda.

Nessa seção vimos um pouco sobre omissão e adaptação como recurso lingüístico no

processo de tradução. Pudemos notar através das análises acima que esses dois processos

nem sempre retratam as diferenças lingüísticas presentes no filme, muitas vezes as

características da linguagem foram omitidas e o fator principal não foi transmitido. A

próxima seção trará a estrutura gramática e o uso da língua padrão como auxílio para

tradução de legenda.

3.3 Estruturas Gramaticais e Uso de língua padrão

Nesta seção estudaremos a estrutura gramatical a qual está presente em um diálogo e

os outros três analisa o uso da língua padrão.

No final da disputa Rabbit ganha de LC, então há um intervalo de 15 minutos para a

próxima batalha. Rabbit sobe ao palco e começa a disputa com Lotto que também faz parte

do “Mundo Livre”.

• I´ll spit a racial slur, honky

Sue me

A primeira expressão “a racial slur” “a derogatory or disrespectful nickname for a

racial group, used without restraint” em português apelido depreciativo e desrespeitoso para

um grupo racial usado sem restrições. Faz parte das duas línguas em questão, mas tem mais

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ocorrência no ebonics. A segunda palavra se refere às pessoas brancas em forma de insulto,

este termo só é encontrado em ebonics e não existe no inglês padrão.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Vai ser insulto racial, branquelo

Me processe

O legendista traduziu de forma coerente e colocou “insulto racial”, pois no português

não tem equivalente para esta expressão. A segunda palavra tanto no ebonics quanto no

português tem o mesmo sentido com intenção de ofender.

Rabbit está fazendo seus versos quando diz:

• But I know something about you

Não há nenhuma ocorrência de ebonics nessa fala, porém queremos analisar a

tradução para o português.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Mais numa coisa eu tô ligado sobre você

O legendista faz compensação, pois no decorrer do filme há muitas falas com

presença de ebonics, contudo não tinha equivalente no português, sendo necessária uma

tradução na língua padrão. Mas o mesmo compensou isso traduzindo em forma de gíria, as

sentenças que estão no inglês padrão e que podem ser traduzidas com esse recurso a fim de

retratar o aspecto lingüístico presente no audiovisual e também se baseou no aspecto

cultural que é muito presente no filme, talvez se ele tivesse traduzido da forma padrão não

faria sentido para quem já estivesse vendo o filme com a legenda, pois o espectador tem que

fazer parte do filme também e o tradutor aqui passa isso com segurança.

Rabbit continua com suas rimas quando diz:

• Cause ain´t no such thing

As hafway crooks.

A primeira palavra em destaque é característica do ebonics, como foi dito no

primeiro capítulo da dupla negativa chamada de double negative. A segunda palavra é do

inglês padrão “halfway” “midway between two points” em português “incompleto”,

“parcial”. No ebonics houve uma síncope retirando o “L” ficando então “hafway”, contudo

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o sentido permanece o mesmo. A terceira e última palavra existe tanto no ebonics quanto no

inglês padrão, na primeira língua “crooks” quer dizer “someone who has committed (or

been legally convicted of) a crime”, ou seja, alguém que esteja envolvido em algo errado

que é contra a lei, no inglês padrão o seu significado é bem diferente “bend”, “curve” seu

significado em português é “gancho” algo curvado ou arqueado.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Porque não existe isso

De meio-bandido

No português não tem como retratar a dupla negativa porque não há um equivalente.

O legendista transmitiu o sentido do original na tradução da frase traduzindo “hafway

crooks” por “meio-bandido” porque em português utilizamos muito a expressão “não existe

meio termo”, não transmitiu a diferença lingüística existente porque não faz parte de nossa

realidade nem mesmo em gírias encontramos essa diferença.

Essa seção mostrou a dificuldade que o tradutor enfrenta ao se deparar com as

peculiaridades do ebonics, porque por não temos uma linguagem variante do português e por

tal motivo pudemos notar a ausência de um equivalente que transmitisse a mensagem num

todo, e ainda no aspecto gramatical o legendista não encontrou meios de alterar a gramática

do português a fim de retratar o original, traduzindo assim para o português padrão o que

ocultou a presença do ebonics. Na próxima será analisado o aspecto cognitivo e cultural dos

diálogos e da tradução das legendas.

3.4 Aspectos cognitivos e culturais

A seção seguir analisa cinco diálogos sendo dois o aspecto cognitivo e três culturais.

LC continua com seus versos quando diz:

• When you acted up,

You got jacked up –

No inglês padrão a palavra em destaque significa “fuck up”, “screwed up” que em

português quer dizer “estragar tudo”, mas de maneira bem vulgar.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Quando fez coisa errada

Levou uns tapas.

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“Acted up” e “jacked up” possuem o mesmo significado, a primeira é usada no

inglês padrão e a segunda no ebonics, nesse caso o legendista utilizou como recurso a

construção do sentindo para fazer a tradução.

Rabbit entra no The Shelter para participar das batalhas, mas antes de começar pede

desculpas ao seu melhor amigo Future, que responde:

• You flip the script on this shit tonight.

Uma das características do ebonics é omitir verbos, na frase acima para dar o mesmo

sentido do inglês padrão teria que ter o auxiliar “up” após do verbo “flip” que seria o mesmo

que “turn over”, que em português significa “virar”. A outra palavra em destaque é “script”

que quer dizer “escrita“, “ manuscrito”, “roteiro”. A união dessas duas palavras lexemática

no inglês padrão não tem sentido algum, já no ebonics tem vários significados que podem

ser traduzidos como: “Fazer algo inesperado”, “fugir da normalidade”.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• …de virar a mesa esta noite.

O legendista desverbalizou bem e mesmo omitindo a palavra “shit” transmitiu a

frase de uma forma que o espectador em português pudesse entender. Essa expressão é

muito utilizada nas batalhas de rap que significa usar contra o adversário as palavras que ele

utilizou contra você, e isso fica subentendido no momento da cena quando Future expressa

este sentimento querendo que o amigo ganhe a disputa e “dê a volta por cima” e também

pode ter sido uma sugestão para o legendista ter traduzido a frase acima.

Após a disputa com Lotto o público empolgado começa a gritar pela disputa que está

acontecendo. Neste momento Future olha para o público e diz:

• It´s real as it feels!

A expressão acima é específica do ebonics, no inglês padrão existe uma palavra que

tem o mesmo significado. No português “confusão”, “agitação”.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• A reação diz tudo.

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O legendista passou o sentido da frase seguindo o contexto do audiovisual

mostrando que a reação do público mostra que Rabbit foi bem melhor do que Lotto, mesmo

que a disputa tenha sido difícil para os dois, e o publico terá de escolher o melhor para a

próxima batalha.

A batalha vai se iniciar e o primeiro a enfrentar Rabbit será LC, o qual, antes de

começar, vira para o público e diz:

• Free World nigga.

A Palavra em destaque é derivada do termo “nigger”, como explicamos no primeiro

capitulo a alteração que acontece com palavras terminadas em vogais ou com o “y” no final

se acrescenta um “ah”, ocorre na palavra “nigga” troca-se o “er” por “a”, esse termo só

existe no ebonics.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• “Mundo livre”, negão.

Nesse caso tem um correspondente na LC que transmite o mesmo sentido da LP.

Contudo o aspecto cultural é diferente, LC usa esse termo para se referir aos negros e

excluir Rabbit porque na comunidade em Detroit todos, tanto negros quanto brancos

utilizam esse termo para se dirigir a um amigo, porém se uma pessoa branca se referir a

outra pessoa branca utilizando esse termo e uma pessoa negra estiver presente ela se sente

ofendida.

LC começa a batalha fazendo os seus versos e diz:

• You ain´t Detroit, I´m the D

You the New Kid on the Block

A frase aqui destacada mostra que a população negra de Detroit se refere à cidade

como uma cidade negra, então para eles o branco não está inserido nela. O rapper se refere a

“D” que é mencionando no decorrer do filme se referindo a Detroit, neste caso ele está

querendo dizer que ele é Detroit porque é negro. Dessa forma ofende Rabbit o chamando de

“New Kids on the Block” que era uma banda dos anos 80 cujos componentes eram brancos.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

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• Você não é Detroit

Mas um New Kid on the Block

O legendista omitiu a sentença “I´m the D”, pois não caberia no espaço da legenda e

o espectador não conseguiria acompanhar. A partir do momento em que o espectador

assistir ao filme e ler a legenda, observar as cenas, ele será capaz de construir o sentido do

filme. E automaticamente subentende o aspecto cultural inserido no audiovisual. Por todos

estes motivos já comentados não há necessidade (nem espaço disponível na legenda) de

explicar a situação.

Nessa seção vimos que o legendista utilizou um pouco sobre aspecto cognitivo o

qual exige que o espectador subentenda o que não foi dito e o cultural utilizando a cultura

do povo brasileiro para explicar a situação da cultura presente no filme, em outra ocasião

omitiu falas referentes à cultura do povo que estava retratada no filme, a fim de facilitar o

entendimento do espectador. A próxima seção trará o uso de gíria como recurso de

linguagem.

3.5 Uso de Gíria

Nessa ultima seção mostraremos o uso de gíria como recurso de linguagem na

legenda traduzida.

Na primeira parte da cena 16 Rabbit vai buscar sua irmã na casa da vizinha, porque

teve uma briga com sua mãe. Ao sair da casa com sua irmã no colo a gangue Mundo Livre

está chegando para bater nele.

• Papa Doc: Ready to get knocked out. Dawg?

A palavra knocked out em seu significado no inglês padrão é “tap” que em português

é: bater e golpear de leve. E a palavra Dawg no inglês padrão significa: “friend” ou “close

friend” e em português: “amigo” ou “companheiro”. A conotação tanto em inglês como em

português tem um sentido negativo ou positivo, dependendo do contexto situacional.

A tradução para a frase acima ficou da seguinte forma:

• Pronto para ser derrubado, maluco?

O legendista passou o sentido transmitido pelo audiovisual, mostrou a diferença do

ebonics utilizando a gíria. Se fosse traduzido de outra maneira, por exemplo: “Preparado pra

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apanhar, amigo” também transmitiria o sentido, porém não retrataria a diferença lingüística

existente.

A próxima cena já acontece dentro do The Shelter onde rappers começarão a disputa.

Antes, Future, que apresenta as batalhas olha para a multidão agitada e diz:

• How y´all felling out there?

You felling all right?

A palavra em destaque em inglês padrão é escrita “you all” como dito anteriormente

no capitulo 1 o ebonics tem suas próprias características; podemos notar a clara mudança

que ocorre com essas duas palavras lexemáticas, houve omissão das duas ultimas vogais e a

apóstrofe une as duas palavras dando assim uma característica peculiar à língua. Essa

expressão “Y’all” é muito comum no ebonics e ocorre com muita freqüência no filme.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Como é que estão as coisas aí?

Beleza?

O legendista não fez uma tradução literal da primeira frase, pois se o tradutor se

prendesse na literalidade não transmitiria a diferença do aspecto lingüístico. A palavra

traduzida da segunda frase é uma gíria para dizer que está de acordo ou para perguntar se

está tudo bem com o interlocutor, que foi utilizada para transmitir a expressão do original

”you felling all right”.

• This shit will be off the hook , so stick around.

A palavra destacada em inglês padrão é “out of trouble”, em português “se livrar

de problemas”, no ebonics “cool” há outras definições deste termo, mas neste contexto a

tradução ficou mais coerente.

A tradução para frase acima ficou da seguinte forma:

• Vai ser o bicho, fiquem por aqui.

A palavra traduzida “bicho” em forma de gíria significa algo que irá acontecer, essa

tradução transmite que algo que está para acontecer próxima cena será legal, assim

transmite o sentido de “cool” na forma que ele é em ebonics.

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Nessa seção vimos um pouco sobre o uso de gírias como recurso lingüístico na legendagem,

nas análises feitas no decorrer do trabalho notamos que esse recurso é a melhor forma de

retratar a língua de ebonics, pois ambas são faladas por povos que possuem estilo de vida,

costumes e amtes semelhantes, e percebemos que isso facilita o entendimento do espectador,

porque esse assimila a semelhança e entre as culturas envolvidas e captando logo a diferença

lingüística existente.

Através da análise realizada nesse estudo podemos notar que o tradutor não se baseou

apenas nas falas para fazer a tradução, utilizou também o contexto situacional. Se ele

dependesse apenas das falas não conseguiria transmitir a mensagem de forma clara e coerente,

um fato importante que tentamos mostrar com esse estudo é o papel que o aspecto cultural

exerce sobre a tradução principalmente de audiovisual porque o tradutor muitas vezes

recorreu à cultura pertencente a língua de chegada para retratar a situação, pois como é de

nosso conhecimento cada língua tem sua própria cultura e se explica por si só, como por

exemplo, no caso da expressão “lotta of love” o tradutor manteve a estrutura do original

aproveitando o que o português lhe oferece em questão de recursos de linguagem. Por mais

que o tradutor seja fiel à tradução, ao contexto situacional e ao aspecto cultural, nunca irá

transmitir a mensagem que a LP transmite porque cada língua tem características intrínsecas

que são intraduzíveis, por outro lado essas mesmas línguas nos oferecem recursos de

linguagem diversos que podemos utilizar de forma a retratar a realidade, pois como diz

Gorovitz, “a competência lingüística do telespectador contemporâneo é toda assimilada pela

prática, tanto quanto a competência lingüística de qualquer usuário de língua materna

(2007:17), isso ajuda muito o tradutor no processo de tradução mesmo com tantas regras e

ordens estabelecidas pelas empresas de legendagem”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Na introdução apontamos como objetivo analisar se há uma forma de traduzir a

língua de ebonics para o português sem que essa perca suas características peculiares e se a

diferença lingüística existente no audiovisual pode ser transmitida sem que o tradutor utilize

as gírias como um recurso lingüístico. Para tanto nos propusemos a analisar algumas cenas

e falas do filme 8 Mile Rua das Ilusões a fim de percebemos em que realidade o tradutor se

encontra no ato tradutório, quais os recursos que estão a seu favor levando em consideração

as regras estabelecidas pelas empresas audiovisuais.

Durante o estudo vimos que o ebonics é uma língua enraizada nas línguas do oeste

da África e é também uma variante lingüística do inglês que está se difundindo muito rápido

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através da música e do cinema. Com a globalização, não apenas os Estados Unidos entram

em contato com essa variante peculiar, mas todo o mundo.

Constatamos também que a legendagem é um trabalho realizado desde os primórdios

do cinema e que por sua vez tem as suas regras estabelecidas, as quais devem ser seguidas.

O profissional deve estar ciente de que nem tudo pode ser traduzido e que o tempo da

legenda é marcado, dependendo do filme e para qual meio de comunicação audiovisual a

legenda é produzida. Na legendagem o importante não é apenas transmitir o que está sendo

falado e sim o sentido, o aspecto cultural. Ao analisarmos a legendagem do filme 8 Mile

Rua das Ilusões vimos que esse aspecto cultural é influente porque retrata o preconceito

racial e a diferença lingüística, dessa maneira ao tradutor ao fazer a legenda buscou o uso da

gíria para transmitir a diferença lingüística, pois se o ebonics fosse traduzido como

português padrão não teria retratado a realidade do filme e nem a diferença ali presente, pois

como vimos no estudo não existe um equivalente do ebonics para o português, se fosse

traduzido de forma usual o aspecto cultural não faria sentido para o espectador. Como já é

de nosso conhecimento, não temos uma variante lingüística dessa natureza provinda do

português isso não faz parte da nossa realidade. Entretanto um aspecto da nossa cultura que

se encaixa com a mensagem transmitida no filme é a linguagem da periferia e a realidade

que eles vivem que são bem parecidas e muitos dos termos presentes no filme possuem

equivalente nas gírias, embora isso não seja regra geral, conforme mostrado no capítulo 3.

Através da análise realizada neste estudo podemos dizer que muitos recursos foram

usados pelo legendista para transmitir a diferença lingüística presente no audiovisual, como

vimos no capitulo três. Dos recursos lingüísticos utilizados o mais adequado para se

traduzir o ebonics é o uso de gírias, pois este é o único meio de retratar a diferença existente

no audiovisual em nossa realidade lingüística e também a cultura que envolve o filme,

observamos que se a legenda em que se possui a língua de ebonics fosse traduzida para o

português padrão não transmitiria a realidade do filme e isso não influenciaria o espectador

ao assistir ao filme, pois o mesmo tem a função de receber a informação e através dela

conhecer uma determinada cultura que é enfocada e uma linguagem do qual não tinha

conhecimento, se as legendas não fossem traduzidas em formas de gírias não faria sentido o

filme em seu todo.

Concluímos esse estudo através de pesquisa bibliográfica e pesquisas on-line

pudemos identificar que a linguagem de ebonics é uma língua que não é muito difundida em

nosso meio, mas através dela podemos entender que um determinado grupo a utiliza como

meio de comunicação e através dela pode-se conhecer uma nova cultura e expressões que

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não são do nosso entendimento como foi apresentado no filme analisado. Verificamos que

não há expressões em nossa língua que sejam equivalentes a do ebonics, neste caso foi a

legendagem do filme transpassada em forma de gíria, para que o espectador brasileiro

pudesse entender um pouco do que a língua deseja transmitir e se envolver com o mesmo.

Acreditamos que se essa língua tivesse estudos mais aprofundados facilitaria a dificuldade

dos trabalhos realizados na área lingüística, e tanto o tradutor quanto o espectador

conheceria um pouco mais sobre essa forma lingüística tão polêmica e discutida na América

do Norte.

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