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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UnilesteMG Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial OLIVERT SOARES PINHEIRO MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DO RENDIMENTO DE UMA CALDEIRA DE RECUPERAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE CELULOSE KRAFT Coronel Fabriciano 2011

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – … · Figura 2.13: Rede alimentada adiante, totalmente conectada com uma camada oculta ... inteligência artificial, redes neurais,

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – Un ilesteMG Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial

OLIVERT SOARES PINHEIRO

MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DO RENDIMENTO DE UMA CALDEIR A DE RECUPERAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE CELULOSE KRAFT

Coronel Fabriciano 2011

OLIVERT SOARES PINHEIRO

MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DO RENDIMENTO DE UMA CALDEIR A DE RECUPERAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE CELULOSE KRAFT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Industrial.

Orientador: Dr. Dair José de Oliveira Co-Orientador: Dr. Roselito de Albuquerque Teixeira

Coronel Fabriciano 2011

OLIVERT SOARES PINHEIRO

MODELAGEM E OTIMIZAÇÃO DO RENDIMENTO DE UMA CALDEIR A DE RECUPERAÇÃO EM UMA INDÚSTRIA DE CELULOSE KRAFT

Dissertação de Mestrado submetida à banca examinadora designada pelo conselho de Curso do Programa de Pós-Graduação em engenharia, Mestrado em Engenharia

Industrial, do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia Industrial.

Aprovada em 28 de Março de 2011 Por:

__________________________________

Dair José de Oliveira, Dr. UNIFEI – Orientador

______________________________________ Roselito de Albuquerque Teixeira, Dr. PPGE/Unileste-MG – Co-Orientador

__________________________________ Marcelo Vieira Corrêa, Dr.

PPGE/Unileste-MG

_____________________________________ Andréa Oliveira Souza da Costa, Dra.

UFES / Campus de Alegre

Dedico este trabalho a toda minha família e amigos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela vida e saúde.

Agradeço aos meus pais, Sr. Benedito Pinheiro de Paula e Sra. Maria Soares Paula

de Amorim, pelos ensinamentos e educação.

Agradeço à minha esposa Michele Knup pelo amor, paciência e ajuda em todos os

momentos de dificuldade.

Agradeço aos meus irmãos Evandro, Nilza e Pardal pelo apoio e orientação.

Agradeço à minha família e amigos que souberam entender os momentos de

ausência.

Agradeço a todos os meus professores pelos ensinamentos, em especial a meus

orientadores Dair Oliveira e Roselito Albuquerque.

Agradeço aos meus colegas de trabalho na Cenibra, que me apoiaram e de uma

forma ou de outra ajudaram em minha caminhada.

Agradeço a todos da coordenação de manutenção elétrica e instrumentação, em

especial à equipe da otimização: Ailton, Alessandro, Clayton e Flávio.

Agradeço aos amigos Leonardo Figueiredo e Ronaldo Ribeiro, pelo apoio

constante e incentivo.

Agradeço ao Júlio Ribeiro pelas orientações.

Aos meus amigos Periandro, Rafaela, Fernando, Keila, Rodrigo, Eva, Euwaldo,

Hiltinho, Andrea, Steiner, Alessandra e Norminha que foram presença constante em minha

vida.

“A adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”

(Horácio)

RESUMO

Uma caldeira de recuperação química, em uma indústria de celulose, tem a função de recuperar a matéria inorgânica proveniente do setor de cozimento, produzir vapor para suprir as necessidades do processo e alimentar os geradores para produção de energia elétrica na indústria. Portanto, tem uma função estratégica, e em muitas das vezes trabalha de forma não otimizada. Assim sendo, propõe-se neste trabalho a otimização dos principais parâmetros operacionais de uma caldeira de recuperação química de uma planta de celulose branqueada Kraft. Desenvolveu-se um modelo utilizando uma rede neural artificial tipo MultiLayer Perceptron, baseado em dados reais do processo obtidos durante um ano de operação. Os dados foram obtidos através do sistema de gerenciamento da planta, armazenados em planilha eletrônica e posteriormente “lidos” por uma rede neural. Esses dados foram obtidos em condições normais de operação do sistema em regime estacionário, excluindo-se os dados de variação de carga, arranque e parada. Após a obtenção do modelo do processo, formulou-se o problema de otimização, que serviu de base para o uso do algoritmo elipsoidal buscar a melhor combinação das variáveis de operação da caldeira, a fim de maximizar a produção de vapor. As variáveis de entrada otimizadas da rede neural possibilitam maximizar a produção de vapor com relação ao combustível alimentado na caldeira. A escolha das variáveis inseridas no modelo baseou-se em uma pesquisa operacional realizada no processo, que considerou a literatura e o conhecimento dos engenheiros de processo. O resultado da estratégia de otimização apresentou um índice de correlação linear entre as variáveis predita e medida de 0,95. A proposta apresentada neste trabalho foi implementada na fábrica e apresentou resultados satisfatórios. Para realização deste trabalho foram usadas técnicas de pesquisa operacional, modelagem e programação não linear, combinados com sistemas de automação industrial e gerenciamento da produção.

Palavras-chave: Rede neural, algoritmo elipsoidal, caldeira de recuperação.

ABSTRACT

A chemical recovery boiler in a pulp mill has the function of recovering the inorganic material from the cooking process, to produce steam to supply the demands of the mill and to feed the generators for producing electricity in the industry. So, it has a strategic role, and it often works in a non-optimized mode. The purpose of this study is to propose the optimization of the main operating parameters of a chemical recovery boiler of a Kraft bleached pulp mill. A model was developed using a multilayer perceptron artificial neural network, based on real process data obtained during one year of operation. Data were obtained from the plant information management system, stored in a spreadsheet and subsequently "read" by a neural network. These data were obtained in normal operation conditions of the system in steady state, excluding data of loading variation, start up and shut down. After obtaining the process model, the optimization problem was formulated, which was the basis for the use of ellipsoidal algorithm to seek the best combination of variables of boiler operation in order to maximize the production of steam. Optimized input variables of neural network enable to maximize the production of steam with respect to the fuel fed into the boiler. The choice of variables included in the model was based on an operational search conducted in the process, which considered the literature and knowledge of process engineers. The result of the optimization strategy has presented an index of linear correlation between the predicted and measured variables of 0.95. The proposal presented in this study was implemented in the factory and has shown satisfactory results. For this study, operational search techniques, modeling and nonlinear programming were used, combined with industrial automation and production management systems.

Key Words: Neural Network, Ellipsoid Algorithm, Recovery Boiler.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1: Principais etapas envolvidas na rota produtiva Kraft.............................................21

Figura 2.2: Diagrama cíclico do processo recuperação Kraft ..................................................22

Figura 2.3: Floresta de Eucalipto – Sementes ..........................................................................24

Figura 2.4: Floresta de Eucalipto – Clones ..............................................................................24

Figura 2.5: Digestor..................................................................................................................26

Figura 2.6: Rendimento do Eucalyptus grandis para um #Kappa=16 .....................................28

Figura 2.7: Plantas de Evaporação ...........................................................................................29

Figura 2.8: Caldeira de Recuperação........................................................................................30

Figura 2.9: Vista lateral da caldeira de recuperação.................................................................33

Figura 2.10: Injeção de licor preto na fornalha ........................................................................34

Figura 2.11: Caustificações e Fornos .......................................................................................35

Figura 2.12: Modelo de um neurônio artificial.........................................................................39

Figura 2.13: Rede alimentada adiante, totalmente conectada com uma camada oculta...........43

Figura 2.14: Problema de ajuste do modelo .............................................................................46

Figura 2.15: Atualização iterativa de uma elipse com o corte de um semiplano .....................49

Figura 2.16: Mostra de uma interação do método elipsoidal (center cut)................................50

Figura 3.1: Diagrama de Fluxo da Caldeira de Recuperação...................................................55

Figura 3.2: Escolha do número de neurônios na camada escondida ........................................59

Figura 3.3: Escolha do algoritmo de treinamento ....................................................................61

Figura 3.4: Estrutura da rede neural desenvolvida ...................................................................62

Figura 3.5: Correlação dos dados de treinamento ....................................................................63

Figura 3.6: Gráfico dos dados de treinamento (dados reais x modelo) ....................................63

Figura 3.7: Correlação dos dados de validação ........................................................................64

Figura 3.8: Gráfico dos dados de validação (dados reais x modelo)........................................64

Figura 4.1: Análise estatística da eficiência de redução da caldeira ........................................70

Figura 4.2: Eficiência de redução da caldeira...........................................................................71

Figura 4.3: Análise estatística do rendimento da caldeira ........................................................72

Figura 4.4: Rendimento vapor / combustível da caldeira.........................................................72

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Maiores Produtores Mundiais de Celulose e Papel 2007 .........................................18

Tabela 2: Variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo neural. ...................................58

Tabela 3: Algoritmos de treinamento .......................................................................................60

Tabela 4: Resposta do algoritmo de otimização.......................................................................67

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRAF – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas

BE – Balanço de Energia

BM – Balanço de Massa

BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel

CENIBRA – Celulose Nipo Brasileira S.A.

CVRD – Vale

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

EQM – Erro médio quadrado

JBP – Japan Brazil Paper

KAPPA – Termo usado para definir o grau de deslignificação de celulose

KRAFT – Processo de cozimento

32CONa – Carbonato de Sódio

SNa2 – Sulfeto de Sódio

42SONa – Sulfato de Sódio

NaOH – Hidróxido de Sódio

MLP – Perceptron de Múltiplas Camadas (MultiLayer Perceptron)

OMS – Organização Mundial de Saúde

PIMS – Sistema de gerenciamento de informação do processo

PO – Pesquisa Operacional

RNA – Rede Neural Artificial

SMELT – Fundido resultante da queima de licor na caldeira de recuperação

TAPPI – Associação técnica mundial das indústrias de celulose e papel

TRS – Enxofre Total Reduzido

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................13

1.1 Objetivos.....................................................................................................................15

1.2 Justificativa para o trabalho........................................................................................16

1.3 Restrições ...................................................................................................................16

1.4 Mercado de celulose e papel brasileiro.......................................................................16

1.5 Organização dos capítulos..........................................................................................18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................19

2.1 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE CELULOSE KRAFT.....................................19

2.1.1 Visão geral do processo de produção de celulose Kraft ....................................19

2.1.2 Madeira..............................................................................................................23

2.1.3 Cozimento...........................................................................................................25

2.1.4 Evaporação.........................................................................................................28

2.1.5 Caldeira de Recuperação...................................................................................30

2.1.6 Caustificação e Forno de Cal.............................................................................34

2.2 PESQUISA OPERACIONAL....................................................................................36

2.3 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS.............................................................................37

2.3.1 Funcionamento...................................................................................................38

2.3.2 Função de ativação............................................................................................40

2.3.3 Arquitetura.........................................................................................................42

2.3.4 Projeto................................................................................................................43

2.3.5 Treinamento, Aprendizagem e Validação..........................................................44

2.3.6 Algoritmo............................................................................................................47

2.4 ALGORITMO ELIPSOIDAL....................................................................................48

2.5 MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE PROCESSOS INDUSTRIAIS ......................52

3 MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................................54

4 RESULTADOS ..................................................................................................................67

5 CONCLUSÃO....................................................................................................................73

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS......................................................75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................76

13

1 INTRODUÇÃO

As indústrias de celulose estão sempre numa busca incessante para redução de

custos e melhoria no rendimento operacional de suas plantas (BRACELPA, 2009). Este

trabalho busca, através de técnicas de modelagem e otimização de processos, contribuir para a

melhoria operacional de uma caldeira de recuperação química em uma indústria de celulose.

A metodologia proposta está baseada no desenvolvimento de uma rede neural que

descreve o processo em estudo e empregar o algoritmo elipsoidal para otimizar as variáveis

operacionais de entrada de uma caldeira de recuperação, resultando em redução de custo de

produção, melhoria operacional e aumento no rendimento.

Segundo IPPC (2000), Hoglund (1999), Axegard (1997) e Springer (1993), a

otimização de processos é uma das principais alternativas para melhoria do custo e do

rendimento operacional de uma indústria de celulose.

Podem ser encontrados na literatura vários trabalhos que utilizam técnicas de

inteligência artificial, redes neurais, algoritmos genéticos, lógica fuzzy e neuro-fuzzy para

modelar sistemas de combustão. Podem-se citar os trabalhos de Prokhorenkov e Sovlukov

(2002) e Santoso et al. (2005) como exemplos de trabalhos desenvolvidos em lógica fuzzy

para melhoria do controle em caldeiras industriais.

Segundo Kalogirou (2003) as redes neurais artificiais são as mais utilizadas para

modelar sistemas de combustão. Patan e Parisini (2005), Meireles et al. (2003) afirmam que

as redes neurais são uma boa alternativa para modelagem e simulação de processos

industriais, sejam estes processos lineares ou não-lineares.

Existem vários trabalhos de modelagem e otimização aplicados em caldeiras de

recuperação na indústria de celulose. Dentre os quais se podem citar: Marques (2005) que

modelou o controle de nível do tubulão de uma caldeira, Cunha (2005) que analisou a

influência da caldeira de recuperação no sistema de abate de material particulado da indústria

de celulose e papel, Saha (1998) que desenvolveu uma rede neural para controle da caldeira,

Costa et al. (2005) que descreveram um modelo matemático para a fornalha de uma caldeira

de recuperação, Widarsson e Dotzauer (2007) que desenvolveram uma rede para detecção de

vazamento em uma caldeira de recuperação.

Vieira (2003) cita vários trabalhos desenvolvidos em indústrias de celulose e

papel utilizando redes neurais artificiais. Porém a maioria dos trabalhos citados é

desenvolvida para máquinas de papel e não para a indústria de celulose. Dentre os trabalhos

14

desenvolvidos para a indústria de celulose podem ser citados: Costa (2000), que desenvolveu

um simulador para o Sistema de Evaporação Múltiplo-Efeito de Licor Preto, baseado em

redes neurais e um modelo fenomenológico; Dayal (1994) que aplicou redes neurais e

métodos de mínimos quadrados para modelar o #Kappa em um digestor contínuo; Gerhard

(1998) que desenvolveu através de redes neurais parâmetros para limpeza dos efeitos de

evaporadores; Leiviska et al. (1999) que utilizaram uma combinação de redes neurais,

algoritmos genéticos e lógica fuzzy para otimização da produção de uma planta de

branqueamento de polpa; Martinelli (2000) que realizou estudos para a construção de um

sensor virtual, através da técnica de redes neurais, para predizer a concentração do licor preto

na planta de evaporação; Moczydlower (2002) que desenvolveu modelos para inferir variáveis

de controle do digestor, principalmente #Kappa; Rudd (1991) que desenvolveu uma rede para

estimar a consistência na manta de um filtro lavador na planta de Branqueamento; Schultz et

al. (1999) que desenvolveram redes neurais para predizer a espessura do cavacos em função

do tempo de estocagem e posição; Sorsa et al. (1992) que utilizaram redes neurais para

investigar quebras na folha em máquinas de celulose e papel; Vaughan et al. (1999) que

utilizaram redes neurais para modelar, em tempo real, a alvura da polpa após o estágio final

de branqueamento com dióxido de cloro; Zhu et al. (1997) que aplicaram redes neurais no

processo de branqueamento.

Atualmente as redes neurais artificiais estão sendo utilizadas nas mais diversas

aplicações no Brasil, nas quais se pode citar a recuperação de informação (FERNEDA, 2006),

processo de tratamento de água (MENEZES et al., 2009), modelagem de sistemas de

resfriamento (KLASSEN et al., 2009), estimação de volume de árvores (GORGENS 2009),

engenharia nuclear (LUCAS, 2009), predição de rugosidade do aço (PONTES, 2010).

Existem inúmeras razões para justificar o uso de redes neurais na área de

processos químicos e a primeira delas é que são bons aproximadores de funções não lineares

(HORNIK et al.; 1989 e CYBENKO, 1989). Uma segunda razão, conforme Qin (1997), é que

uma rede neural pode ser treinada utilizando dados históricos de um processo químico, pois

com a disponibilidade da imensa massa de dados provenientes dos sistemas digitais de

controle distribuídos (SDCD), a construção de um modelo baseado em redes neurais é

eficiente em termos de custo.

O algoritmo elipsoidal foi utilizado por possuir algumas características

interessantes, como: alta robustez, estrutura simples e as restrições podem ser trabalhadas

independente do algoritmo (SALDANHA, 1999; TAKAHASHI et al., 2003; CALAFIORE e

DABBENE, 2007).

15

O algoritmo elipsoidal tem sido usado em diversas pesquisas, podendo-se citar

controle adaptativo (CABRAL e SAFONOV, 2003), programação linear (GUPTA et al.,

2010), projeto de controladores (KHAISONGKRAM and BANJERKPONGCHAI, 2006);

KANEV et al., 2003; BARTHOLOMAUS, 2002), programação não linear (RUGENSTEIN e

KUPFERSCHMID, 2004; SHAH et al., 2001).

O uso da pesquisa operacional (PO) justifica-se pela maneira que são conduzidas

as pesquisas. O processo começa pela observação, formulação do problema e coleta de dados

relevantes (HILLIER e LIEBERMAN, 2006). Para um levantamento ideal do processo é

importante usar técnicas de pesquisa operacional, que mostram o processo, sugerindo

alterações para o futuro, agregando valor e recomendando soluções.

A importância da PO é melhor entendida quando se pensa nos recursos

financeiros, matéria prima, tempo, pessoas e equipamentos, que são normalmente escassos

e/ou caros. Uma utilização de recursos que, a priori, leva em conta a maximização do seu

benefício (maximização de lucro ou minimização de custo) é um fator diferencial no mundo

competitivo.

Segundo Sarimveis et al. (2003), a PO explora as vantagens de programação

matemática para desenvolver ferramentas para ajudar na tomada de decisão e otimizar a

operação de uma fábrica de celulose, tendo como possíveis parâmetros os custos de

combustível e eletricidade, a demanda de produção, a disponibilidade de unidades de

produção, etc.

1.1 Objetivos

O objetivo deste trabalho é otimizar as variáveis operacionais de uma caldeira de

recuperação visando maximizar a produção de vapor.

Será utilizado redes neurais artificiais para obtenção do modelo e o algoritmo

elipsoidal para combinar as principais variáveis de entrada do modelo, e aplicar as sugestões

obtidas do algoritmo de otimização no processo estudado e verificar seu resultado.

Para atingir o objetivo é necessário investigar o processo estudado, as técnicas de

pesquisa operacional, modelagem e simulação de processos industriais, redes neurais

artificiais e algoritmo elipsoidal e aplicá-las no problema de otimização.

16

1.2 Justificativa para o trabalho

O desenvolvimento de um modelo detalhado da planta, a utilização de otimização

de processos e modelos não lineares são ferramentas úteis para redução de custo e aumento de

produção na indústria, devido à minimização de insumos como combustível e eletricidade

(SARIMVEIS et al., 2003).

Segundo Sarimveis et al. (2003), na competição entre as indústrias de celulose e

papel há uma grande necessidade de soluções que podem abaixar o custo de produção total.

Segundo Embiruçu e Lima (1999), a otimização determina os valores ótimos das

variáveis manipuladas da unidade que proporcionam um melhor rendimento ou um maior

valor de uma função associada a lucro. Para tanto, o sistema calcula o ponto ótimo de um

objetivo econômico (mínimo custo ou máximo lucro), que é escrito sob a forma de uma

equação que contém os custos de matérias-primas, reagentes, utilidades, e os preços dos

produtos.

1.3 Restrições

Toda implantação e testes dos novos parâmetros operacionais sugeridos pelo

modelo desenvolvido devem ser feitos com a indústria em funcionamento; uma parada não

programada é uma situação totalmente indesejada. A parada programada de produção para

manutenção acontece no máximo duas vezes ao ano, e é o momento ideal para inserir

alterações no sistema de controle.

1.4 Mercado de celulose e papel brasileiro

De acordo com dados da BRACELPA (2009), a produção brasileira de celulose

vem apresentando um crescimento médio anual de cerca de 7,6% e o setor de papel um

crescimento de 5,7%. Em 2008 foram produzidos 800 mil toneladas a mais de celulose e 200

mil toneladas a mais de papel em relação a 2007. As cinco regiões do Brasil possuem 220

17

empresas distribuídas em 450 municípios, localizados em 17 estados, com área plantada de

1,7 milhão de hectares para fins industriais, equivalente a 0,2% do território nacional.

O Brasil é reconhecidamente uma referência do setor de papel e celulose. Os

custos de produção das empresas estão entre os menores do mundo. Mais de 30 anos de

investimentos em pesquisa genética permitiram que o eucalipto brasileiro esteja pronto para o

corte em um tempo muito menor do que em outros países.

Atualmente o país é o líder mundial na produção de celulose de eucalipto,

ocupando a 6ª colocação no ranking de celulose de mercado e 12ª posição na produção de

papel como mostra a Tabela 1, sendo responsável por 6,2% e 2,3% dos respectivos mercados

mundiais (BRACELPA, 2009).

O setor de papel e celulose é responsável pela geração de 114 mil empregos

diretos e 570 mil empregos indiretos no Brasil. Em 2008 foi responsável por um saldo

comercial de US$ 4,1 bilhões, representando 16% do superávit da balança comercial do Brasil

(BRACELPA, 2009).

Destaca-se ainda, a evolução da produtividade das florestas plantadas no setor,

apresentando, nos últimos 25 anos, um incremento na produtividade média de 63% para o

Eucalipto e de 58% para as florestas de Pínus, com potencial de acréscimo de cerca de 30%

para o futuro (ABRAF, 2008). As principais razões para os altos níveis de produtividade são:

as condições climáticas e de solo, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em

genética e biotecnologia, a matéria prima de alta qualidade, a organização do setor privado,

além de práticas de manejo florestal e rotação de áreas plantadas aliadas à existência de mão

de obra altamente qualificada.

Além do lado econômico e financeiro, a indústria de celulose e papel promove e

incentiva o desenvolvimento econômico e social em regiões localizadas fora dos grandes

centros urbanos. Segundo a BRACELPA (2009), em 2007, US$ 585 milhões foram investidos

em projetos e iniciativas na área da educação, saúde, programas de educação ambiental e

geração de emprego e renda.

18

Tabela 1: Maiores Produtores Mundiais de Celulose e Papel 2007

Fonte: BRACELPA 2009

Apesar desse crescimento constante do setor de celulose e papel, o relatório anual

da ABRAF (2008) mostra que as florestas tendem a ocupar áreas já desmatadas ou apoiadas

pelos programas de fomento florestal. Vale ressaltar que cerca de 1% das florestas nativas do

Brasil encontra-se preservado pelas empresas do setor de florestas plantadas, sob a forma de

preservação permanente, reserva legal e reserva particular do patrimônio natural. Além disso,

podem-se destacar alguns pontos positivos de contribuição ambiental, uma vez que as

florestas plantadas são responsáveis pela restauração de terras degradadas, conservação do

solo, sequestro de CO2, proteção da biodiversidade e recursos hídricos.

1.5 Organização dos capítulos

O Capítulo 2 apresenta as revisões bibliográficas a respeito da produção de

celulose Kraft, pesquisa operacional, redes neurais artificiais, algoritmo elipsoidal e técnicas

de modelagem e simulação de processos industriais. Primeiramente é apresentado todo o

processo produção Kraft, enfatizando o ciclo de recuperação química e em especial a caldeira

de recuperação química, que é foco principal do trabalho. Mostra-se a pesquisa operacional

19

como base para o levantamento de dados e estudo do processo. Faz-se um estudo das redes

neurais artificiais, suas funções e aplicações na indústria de celulose e em caldeiras de

recuperação. Mostram-se as particularidades do algoritmo elipsoidal e suas principais

características. Na parte de modelagem estudou-se os tipos de modelos matemáticos, suas

definições e aplicações.

O Capítulo 3 é dedicado aos materiais e métodos. Este capítulo apresenta todo o

desenvolvimento do trabalho, evidenciando os materiais utilizados na pesquisa, informações

dos dados coletados, algoritmos e ferramentas necessárias para implementação da otimização

proposta e aplicação dos conhecimentos adquiridos.

O Capítulo 4 é dedicado aos resultados encontrados após implantação do

algoritmo na caldeira de recuperação. É analisada a resposta do algoritmo quanto à eficiência

na produção de vapor e a eficiência de redução de sulfato a sulfeto.

O Capítulo 5 é dedicado às considerações finais. Neste capítulo são apresentas as

conclusões da dissertação e sugestões para trabalhos futuros.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE CELULOSE KRAFT

2.1.1 Visão geral do processo de produção de celulose Kraft

O processo Kraft foi desenvolvido em 1879, na Alemanha, no qual o polpeamento

de madeiras é feito por meio de soda e sulfeto de sódio (ASSUMPÇÃO et al., 1988). A

palavra Kraft é de origem sueca e alemã que significa “força” (resistência).

O processo Kraft tem como função dissolver a madeira, separando as fibras da

lignina, agente ligante das fibras na madeira. Essa separação tem que ocorrer com o mínimo

de degradação dos carboidratos. Na etapa de cozimento da madeira, emprega-se o hidróxido

de sódio (NaOH ) e o sulfeto de sódio ( SNa2 ) como agente ativo na reação.

A indústria de celulose é basicamente composta de três linhas de produção:

−−−− Linha de Fibra: recepção de madeira, polpação (digestor), lavagem,

branqueamento, secagem e expedição;

20

−−−− Linha de Recuperação: evaporação, caldeira de recuperação, caustificação e

forno de cal;

−−−− Linha de Utilidades: tratamento de água e efluente, produção de químicos e ar

comprimido, turbogeradores etc.

O processo de obtenção de celulose apresenta um subproduto denominado “licor

preto”. Esse fluido contém a parte da madeira denominada lignina combinada com os

reagentes químicos utilizados no início do processo de polpação. Por razões econômicas e

ambientais torna-se estritamente necessária a reutilização desse produto em um processo

denominado recuperação de produtos químicos, que consiste na elevação do teor de sólidos e

em seguida sua queima na caldeira de recuperação.

Segundo Pioto (2003) os principais fluxos de uma indústria de celulose Kraft são

mostrados na Figura 2.1. A Figura 2.1 mostra a linha de fibras como fluxo principal e os

outros processos interagindo com a mesma. Costa (2000) descreve as principais etapas

envolvidas no processo de produção de celulose Kraft da seguinte forma:

−−−− Preparo das toras de madeira: as toras são transformadas em cavacos por meio

de um processo que envolve a retirada das cascas seguida de uma etapa para

redução de tamanho nas linhas de picagem;

−−−− Cozimento dos cavacos de madeira: os cavacos são levados ao digestor

juntamente com o licor branco de cozimento e adiciona-se vapor para elevar a

pressão e temperatura para realização do cozimento;

−−−− Separação da pasta e do licor formados: a etapa de cozimento separa a polpa

celulósica, que é enviada para as etapas sequentes da linha de fibras, do licor

preto fraco, que é enviado ao ciclo de recuperação.

21

Figura 2.1: Principais etapas envolvidas na rota produtiva Kraft Fonte: (PIOTO, 2003)

Durante o processo de recuperação, o licor preto que sai do digestor é levado a um

sistema de evaporadores de múltiplo efeito para que o mesmo aumente o seu conteúdo de

sólidos. O licor mais concentrado é então queimado nas caldeiras de recuperação. Os sais

fundidos resultantes são tratados e retornam à rota produtiva de celulose na forma de licor

branco (NaOH e Na2S). Assim, uma característica importante deste processo de recuperação

dos sais inorgânicos é que as etapas envolvidas estão correlacionadas de forma a atribuir ao

processo global uma natureza cíclica como mostra a Figura 2.2.

Cozimento

Pátio de madeira

Deslignificação

Extração/ Secagem da polpa marrom

Caldeira Biomassa

Evaporação Stripping

Caucinação da Lama de cal

Turbina

Tratamento de água

Caldeira recuperação

Oxidação do Licor Branco

Preparação de Oxigênio

Prod. Químicos (branq.)

Caustificação Licor Verde

Água tratada Óleo combustível

Cascas e finos

Vapor

Dregs

Cal

Óleo combustível

Oxigênio líquido ou ar

Insumos Produtos químicos de branqueamento

Celulose

Branqueamento

Lavagem de Polpa marrom

Madeiras

Energia Elétrica Vapor

Licor branco

Gases Odorosos concentrados

Água tratada

Lavagem da Polpa

Licor verde

Rejeitos

Vapor de processo

22

Figura 2.2: Diagrama cíclico do processo recuperação Kraft Fonte: (ASSUMPÇÃO et al., 1988)

Segundo Assumpção et al. (1988), o processo Kraft tem como principal vantagem

o sistema de recuperação dos produtos químicos a ele associado. Por outro lado, apresenta

como desvantagens: o alto custo, baixo rendimento entre 40 a 50%, as emissões de odores no

ambiente, baixa alvura após o cozimento e, consequentemente, maior custo de

branqueamento.

Após a etapa de cozimento, a polpa que deixa o digestor passa por uma lavagem

de massa marrom. Em seguida é branqueada através de uma série de processos químicos que

utilizam oxigênio, peróxido de hidrogênio, soda cáustica e dióxido de cloro. Por fim, a polpa

é enviada para as etapas de secagem e enfardamento.

Armazenamento de licor fraco

Lavagem de “dreg’s” Clarificador de licor verde

Tanque de dissolução

Armazenagem de licor verde

Armazenagem de licor branco

Clarificadores Forno de cal

Espessador da lama de cal

Lavagem da lama de cal

Água

Calcário

Caustificadores

Evaporador

Armazenagem de Licor negro

Fornalha de recuperação

Sulfato de sódio de reposição

Cavacos

Água

Pasta

Tanque de descarga

Digestor

Lavagem de pasta

Armazenagem de Licor negro

23

2.1.2 Madeira

Segundo Gomide (2005), a madeira é uma matéria-prima formada de fibras em

múltiplas camadas, ligadas entre si por forças interfibrilares e pela lignina, que age como

ligante. Para separar essas fibras é preciso despender certa quantidade de energia. Define-se

polpação como o processo utilizado para transformar a madeira em uma massa de fibras

individualizadas, a qual consiste na ruptura das ligações entre as fibras no interior da estrutura

da madeira, levando em consideração o tipo de produto que se deseja para determinação do

processo a usar.

A madeira é a matéria-prima utilizada para a produção da celulose e suas

características morfológicas têm relação direta com o rendimento do processo e com a

qualidade do produto final a ser produzido. Existem diferentes formas de plantio da madeira e

essas formas interferem diretamente na definição morfológica da polpa a ser produzida. As

empresas buscam cada vez mais, menores índices de variação nessas características, tendo a

padronização dos métodos de plantio e cultivo da madeira como primeiro ponto a ser

considerado.

A tendência das empresas é a busca de madeiras produzidas através de clones que

mais se adaptam a região cultivada. O eucalipto foi introduzido no Brasil em 1903, por

Navarro de Andrade para a produção de dormentes para estradas de ferro (CARVALHO,

2005) e atualmente é a madeira mais utilizada para produção de celulose de fibra curta.

A Figura 2.3 mostra uma floresta de eucalipto plantada por sementes, nota-se

claramente uma despadronização na floresta. Em contrapartida na Figura 2.4 uma floresta

plantada através de clones, que a priori tem uma uniformidade maior que a plantada com

sementes (GOMIDE, 2005).

24

Figura 2.3: Floresta de Eucalipto – Sementes Fonte: (GOMIDE, 2005)

Figura 2.4: Floresta de Eucalipto – Clones Fonte: (GOMIDE, 2005)

O melhoramento genético é a ciência utilizada em plantas e animais para a

obtenção de indivíduos ou populações com características desejáveis, a partir do

conhecimento do controle genético destas características e de sua variabilidade.

Em sua forma mais comum, o melhoramento florestal se dá por meio da seleção

de indivíduos superiores, identificados em plantações comerciais, os quais podem ser

vegetativamente multiplicados, ou restabelecidos em um delineamento adequado. Para a

25

comprovação de sua superioridade genética, para a produção de sementes ou para a

propagação comercial (CARVALHO, 2005).

A qualidade da madeira é a soma de todas as características e propriedades que

afetam o rendimento em produtos finais e sua adequação para as aplicações pretendidas. A

qualidade final dos produtos pode ser afetada por características, como: densidade, rigidez,

presença de nós, cerne, bolsas de resina, teor de lignina, teor de extrativos e outros. Essas

variações são causadas, além do material genético, pelas diferenças de manejo, idade de corte,

porção a ser retirada da árvore, etc. (CARVALHO, 2005).

O efeito das condições de cozimento nas propriedades tanto da polpa como do

papel são pequenas quando comparadas com as variações advindas das próprias

características da madeira. Pelo menos 80% das variações na qualidade da polpa e do papel

podem ser atribuídas a variações das características morfológicas das fibras na madeira

(GOMIDE, 2005).

A celulose é descrita como sendo um polissacarídeo que se apresenta como

polímero de cadeia linear com comprimento suficiente para ser insolúvel em solventes

orgânicos, água, ácidos e bases diluídos, todos à temperatura ambiente. Constitui-se única e

exclusivamente de unidades de β-D-anidro glicopiranose unidas por ligações covalente C-O-C

(Carbono – Oxigênio – Carbono), denominadas β–glicosídicas ou β (1-4) (COLODETTE,

2005).

2.1.3 Cozimento

O processo de cozimento tem o objetivo de dissolver e extrair a lignina,

permanecendo a celulose e a hemicelulose.

O bom cozimento depende do tamanho e espessura do cavaco, e da capacidade de

impregnação. Esse processo de cozimento químico usa soda cáustica, compostos de enxofre

(denominado licor branco ou licor de cozimento), temperatura e tempo de cozimento

adequado em um vaso pressurizado, conhecido como digestor.

Durante o cozimento a lignina e os carboidratos são atacados por hidrosulfetos

(SH-) e hidróxidos (OH-). O (SH-) ataca a lignina e o (OH-) ataca tanto a lignina como os

carboidratos. A lignina consome 1/3 do álcali e os carboidratos 2/3, mas isso não significa que

26

2/3 dos carboidratos são extraídos. Uma parte da lignina não é retirada para evitar o ataque

exagerado aos carboidratos (GOMIDE, 2005).

Os digestores são vasos de pressão onde os cavacos de madeira são tratados com o

licor de cozimento, à pressão e temperatura entre 150 e 170°C (BERGLIN et al., 1999),

visando a produção de pasta de celulose (ASSUMPÇÃO et al., 1988). O ciclo de operação do

cozimento inicia-se com a introdução dos cavacos e do licor branco no digestor, seguido pelo

aquecimento do conjunto até a temperatura estabelecida, conforme o tipo de cozimento

empregado. As variáveis: temperatura, tempo de cozimento e quantidade de reagentes,

promovem a solubilização e separação das fibras. A Figura 2.5 mostra um dos digestores da

empresa estudada.

Figura 2.5: Digestor Fonte: Autor

Para evitar a ebulição do licor de cozimento é necessário que o digestor trabalhe

com uma pressão acima da pressão atmosférica, possibilitando assim um aumento da

temperatura de cozimento, uma aceleração nas reações químicas de deslignificação e maior

produtividade no equipamento.

O digestor é um vaso de pressão, onde são alimentados continuamente em sua

parte superior cavacos e licor (MOCZYDLOWER, 2002). O cozimento da madeira ocorre do

topo até o centro do digestor em fluxo co-corrente. Do centro até a parte inferior, realiza-se

uma operação de lavagem com fluxo em contracorrente, a fim de se retirar o licor preto

formado.

27

O objetivo do processo Kraft é chegar a um #Kappa estabelecido. Porém, é uma

tarefa difícil devido a diferenças na madeira que alimenta o processo, proporcionando sempre

algumas variações no resultado do cozimento (SANJUAN, 1997).

D`Almeida (1988) afirma que a lignina presente em pasta não branqueada é

prontamente oxidada por permanganato de potássio, enquanto a celulose é muito pouco

atacada. Tomando-se esta propriedade, pode-se definir o #Kappa como sendo o número em

ml de solução de permanganato de potássio 0,1N consumido por um grama de pasta

absolutamente seca, sob condições específicas.

O #Kappa foi determinado pela norma TAPPI (Technical Association for the

Pulp, Paper, and converting Industry) T236 cm-85. O #Kappa foi obtido após a quantificação

dos ácidos hexenurônicos e utilizando-se do fator de conversão proposto por Li e Gellertedt

(1997), no qual 11,9 mmol de Ahexs/kg de polpa correspondem a uma unidade de #Kappa.

A qualidade da polpa é usualmente verificada ao final do processo de cozimento

da madeira. Uma maneira tradicional de se realizar esta medida é a obtenção do #Kappa para

o processo.

Por meio da Figura 2.6 percebe-se que o rendimento da madeira após o processo

de cozimento é de aproximadamente 50%.

100kg de Eucalyptus grandis possuí em sua madeira 2,1kg de extrativos, 26,7kg

de ligninas, 21kg de hemicelulose, 50,2kg de celulose e 0,4kg de cinzas. Após o processo de

cozimento uma massa marrom com #kappa 16 tem um rendimento de 50%.

Todos compostos da madeira são reduzidos, atingindo a um resultado de

aproximadamente 50kg, sendo 0,25kg de extrativos, 0,75kg de ligninas, 8kg de hemicelulose,

41kg de celulose e 0,1kg de cinzas.

28

Figura 2.6: Rendimento do Eucalyptus grandis para um #Kappa=16 Fonte: (COLODETTE, 2004)

2.1.4 Evaporação

Evaporação é a operação em que se concentra uma solução pela ebulição do

solvente. Um evaporador é constituído por um trocador de calor, capaz de elevar a solução à

fervura, e de um dispositivo para separar a fase vapor do líquido em ebulição.

A função dos evaporadores na indústria Kraft é a de concentrar o licor preto

obtido do sistema de lavagem marrom a um teor de sólidos tais que, quando injetado na

fornalha de recuperação, tenha condições de queima e continue a queimar por força da

matéria orgânica que contém (POLOWSKI, 2004).

A capacidade de evaporação é medida pela quantidade de solvente evaporado por

unidade de tempo, e a economia de vapor é determinada pela quantidade de solvente

evaporado por quantidade de vapor alimentado.

Segundo Soderhjelm (1988), o licor preto é uma solução aquosa complexa

constituída de vários compostos orgânicos (lignina, polissacarídeos, compostos resinosos e de

baixa massa molar) e inorgânicos (principalmente sais), cuja composição química é alterada

de acordo com a espécie de madeira processada e das condições de polpeamento. As

100 Kg Madeira Eucalyptus grandis

Extrativos 2,1 kg

Ligninas 26,7 kg

Hemiceluloses 21,0 kg

Celulose 50,2 kg

Cinzas 0,4 kg

Extrativos

0,25 kg Ligninas 0,75 kg

Hemiceluloses 8,0 kg

Celulose 41,0 kg

Cinzas 0,1 kg

Extrativos 88%

Ligninas 97%

Hemiceluloses 62%

Celulose 18%

Cinzas 75 %

Madeira

Fibras Marrons (50 kg)

Perdas (10 kappa x 0,15 x 0,50)

Cozimento Kraft com #Kappa 16 Rendimento 50%

29

propriedades físicas do licor são função da composição química, e são estas propriedades que

determinam o comportamento do licor nas unidades industriais de recuperação.

O licor preto fraco proveniente da lavagem, normalmente contém de 13 a 17% de

sólidos dissolvidos. Esta concentração deve ser aumentada para 65 a 82% antes do licor ser

queimado na caldeira de recuperação. Essa taxa de sólidos é um dos principais parâmetros de

dimensionamento do equipamento (VAKKILAINEN, 2005). Aquecedores a vapor e

evaporadores de múltiplo efeito são usados para essa finalidade, concentrar o licor até o nível

desejado para queima na caldeira de recuperação.

A Figura 2.7 mostra as duas plantas de evaporação existentes na empresa.

Figura 2.7: Plantas de Evaporação Fonte: Autor

Segundo LIMA et al. (2002), vários estudos têm representado os evaporadores de

múltiplo efeito por meio de modelos matemáticos baseados em BM e BE utilizando RN,

visando o aumento da concentração do licor preto. Atualmente existem sistemas capazes de

atingir super-concentrações acima de 80% (SCHREIBER, 2000).

A evaporação é um processo de transferência de calor e consome em média 25%

do vapor requerido em uma indústria de celulose. O calor é fornecido pela condensação do

vapor saturado em contato com a superfície de aquecimento dos evaporadores (tubos ou

placas).

30

2.1.5 Caldeira de Recuperação

A caldeira de recuperação química em uma indústria de celulose possui três

funções básicas, atua como um reator químico para a produção de sulfeto de sódio ( SNa2 ) e

carbonato de sódio ( 32CONa ), como uma caldeira para geração de vapor pela combustão de

licor preto e como fonte destruidora da matéria orgânica dissolvida, eliminando

consequentemente o descarte ambiental TAPPI (1992); POLOWSKI (2004).

A Figura 2.8 mostra uma caldeira de recuperação química da empresa onde foi

desenvolvido o trabalho.

Figura 2.8: Caldeira de Recuperação Fonte: Autor

A caldeira queima o licor preto, que é um subproduto do processo de produção de

celulose e que contém componentes orgânicos e inorgânicos em um meio aquoso alcalino. A

queima da matéria orgânica possibilita a produção do vapor de alta pressão (GULLICHSEN e

FOGELHOLM, 1999). Para Cardoso (2002), o licor preto compreende, além do poder

calorífico, outras propriedades importantes e representativas para o processo de recuperação

das substâncias imersas na sua composição, a densidade, capacidade de elevação do ponto de

ebulição, tensão superficial, viscosidade (comportamento reológico), condutividade térmica,

solubilidade dos compostos inorgânicos.

A maior importância que se dá à queima eficiente do licor preto (combustível)

frente à geração de vapor é o que diferencia a caldeira de recuperação de outros tipos de

31

caldeiras. Além de uma geração de vapor dentro das necessidades da fábrica, deseja-se obter a

maior quantidade de SNa2 possível. Dessa forma, a fornalha da caldeira de recuperação

funciona como um reator químico onde se deseja maximizar a eficiência de redução (COSTA

et al., 2002). Segundo Saturnino (2003) a produção de vapor tem adquirido um significado

compatível com a recuperação dos compostos inorgânicos do licor.

Segundo D'almeida(1988) as reações gerais de licor negro não-oxidado e oxidado

são representadas nas equações 2.1 e 2.2.

)(2)(32)(2)(22242 22324 gsgg COCONaSOSHSNaCOHSONa ++++→++ ∆ 2.1

)(2)(22322 222 gg COSOSNaCSSNa ++→+ ∆ 2.2

A alimentação do licor preto na fornalha é realizada na forma de spray por bocais

em cada parede do equipamento, conforme mostrado nas Figuras 2.9 e 2.10. Ao serem

alimentadas à caldeira, as partículas de licor sofrem diferentes modificações que são

classificadas como: secagem (eliminação da umidade restante no licor), pirólise (queima do

carbono fixo), oxidação e redução do leito de fundidos (smelt). Cada transformação sofrida

pelo licor acontece, predominantemente, em uma região da fornalha da caldeira de

recuperação (COSTA et al, 2005).

Esses estágios envolvem reações químicas e transformações físicas distintas, que

podem ou não ocorrer de forma sequencial. Durante a pirólise a partícula de licor aumenta em

cerca de vinte vezes seu volume, devido à grande liberação de gases. Neste estágio a partícula

de licor se encontra em chamas. Encerrada a pirólise, a partícula passa a ser composta por sais

inorgânicos, principalmente 32CONa , SNa2 e 42SONa e o carbono fixo (HUPA, 2002).

Com o fim da pirólise, a chama desaparece e se inicia o processo de queima do

carbono fixo. Ao final do processo, resta ainda algum carbono e sais inorgânicos na partícula.

Após perder a umidade, sofrer a pirólise e queimar parte do carbono fixo, a

partícula atinge a superfície do leito de sais fundidos na parte inferior da fornalha. Iniciam-se

então as reações de oxidação e redução dos sais inorgânicos (COSTA et al, 2005).

Quando o licor é queimado, os componentes inorgânicos se acumulam no fundo

da fornalha e recebem o nome de camada, leito ou pilha, onde é terminada a queima da

matéria orgânica, conforme Figura 2.10. A matéria inorgânica que não queima é drenada

pelas bicas de fundido e caem no tanque de dissolução onde, misturado com licor branco

32

fraco, geram uma solução chamada de licor verde, que é composta basicamente por carbonato

de sódio ( 32CONa ) e sulfeto de sódio ( SNa2 ). Este licor verde é enviado à área de

caustificação para produção de uma solução chamada de licor branco, através de reações

químicas. O licor branco é composto principalmente por hidróxido de sódio (NaOH ) e

sulfeto de sódio ( SNa2 ), que será enviado para o digestor para completar o ciclo de

recuperação (MARTINELLI et al., 2008).

A alimentação de ar de combustão na fornalha da caldeira é realizada em três

níveis, primário, secundário e terciário, conforme Figuras 2.9 e 2.10. A principal razão para

isso são as funções antagônicas de proporcionar um ambiente oxidante para as reações de

combustão da matéria orgânica do licor preto, e, ao mesmo tempo, promover um ambiente

redutor para que as reações de redução do sulfato de sódio para sulfeto de sódio ocorram

(ALMEIDA, 2006).

O ar primário tem a função de controlar o formato e a posição do leito de sais e

fornecer oxigênio para as reações de combustão do carbono residual. O ar secundário tem a

função de controlar a altura do leito, manter a temperatura do leito, secar o licor e queimar os

produtos voláteis oriundos do aquecimento do licor. O ar terciário tem a função de completar

a combustão do licor e selar a fornalha para minimizar o arraste de material particulado junto

com os gases para a sessão superior (ADAMS et al., 1997).

As vazões de ar primário, secundário e terciário são controladas individualmente

através da regulagem das guilhotinas na saída de cada ventilador.

A água que é alimentada na caldeira é desmineralizada para evitar corrosão

interna nos tubos, essa água é enviada para os economizadores, que são responsáveis por

executar a primeira elevação de temperatura, aproveitando os gases da saída da caldeira. Por

isso o nome economizador, seguindo para o balão superior. Geralmente as caldeiras têm

circulação natural de água em seus tubos, ou seja, não há bombas de circulação de água e a

circulação ocorre por diferença de temperatura.

A Figura 2.9 mostra uma visão lateral de uma caldeira de recuperação

evidenciando seus principais componentes.

33

Figura 2.9: Vista lateral da caldeira de recuperação Fonte: Kvaerner 2002

A partir do balão superior sai o vapor saturado que alimenta os painéis de

superaquecedores. Nos superaquecedores há a transformação do vapor saturado para vapor

superaquecido e o controle de temperatura através de dessuperaquecedores instalados na

saída.

De acordo com Grace (1992), a camada de fundidos é relativamente impenetrável

ao ar de combustão, e é em seu interior que ocorrem as reações de redução endotérmicas que

absorvem a energia liberada pelas reações de oxidação. A combinação de reações exotérmicas

e endotérmicas gera um gradiente de temperatura no smelt. A temperatura na superfície do

leito de fundidos é da ordem de 1000 a 1200°C, podendo chegar a próximo dos 760 °C em

sua parte mais baixa (GRACE e FREDERICK, 1997). Como o que se deseja é aumentar o

Super aquecedores Bancada Economizador

Balão Superior

Ar terciário

Cortina

Ar secundário

Ar primário

Injeção de licor preto

34

rendimento das reações de redução, é importante que a temperatura no interior do leito de

fundidos seja elevada, já que as reações desejadas precisam absorver energia para ocorrer.

Figura 2.10: Injeção de licor preto na fornalha Fonte: Kvaerner 2002

Os gases gerados pela queima de licor preto passam por precipitadores

eletrostáticos para redução do teor de material particulado e em seguida vão para a atmosfera.

Esse material que é retirado dos gases é retornado para um tanque, normalmente chamado de

tanque de mistura, e misturado com o licor preto que é queimado.

2.1.6 Caustificação e Forno de Cal

O sistema de caustificação faz parte do ciclo de recuperação química do processo

Kraft. Seu objetivo é a produção do licor branco (utilizado no cozimento dos cavacos no

digestor) a partir de produtos químicos inorgânicos recuperados na caldeira de recuperação e

forno de cal.

Segundo Green e Hough (1998), a viabilidade econômica de uma fábrica depende

da capacidade do sistema de caustificação em converter produtos químicos recuperados em

um licor branco de qualidade para atender à demanda de produção de celulose.

A Figura 2.11 mostra dois fornos rotativos e partes do processo de caustificação

da empresa onde foi desenvolvido o trabalho.

Injeção de licor preto

Injeção de licor preto

Ar terciário

Ar secundário

Ar primário

Camada de fundidos

Piscina de fundido (smelt)

Bica de fundido (smelt)

35

Figura 2.11: Caustificações e Fornos Fonte: Autor

Esse processo envolve uma reação química simples, seguida de uma sequência de

processos físicos que envolvem, basicamente, separação sólido/líquido.

O licor de cozimento (licor branco) para o processo Kraft tem sua origem no licor

verde, que é formado a partir do smelt (fundido da caldeira de recuperação) diluído com um

licor fraco adicionado ao tanque de dissolução. A cal é dosada à solução de smelt (licor verde)

produzindo licor branco e carbonato de cálcio como subproduto (lama de cal). O licor branco

é separado da lama de cal e enviado para o digestor, onde atuará como licor de cozimento. O

carbonato de cálcio é calcinado no forno de cal para produzir cal. A lama de cal é lavada para

reduzir seus constituintes químicos antes de ser levada ao forno de cal. O licor fraco resultante

da lavagem da lama de cal é reciclado para dissolver o smelt e produzir o licor verde.

De acordo com Sethuraman et al. (1995), o desempenho de um sistema de

caustificadores é afetado por vários fatores como a qualidade e a quantidade de cal, as

concentrações dos componentes no licor verde e a temperatura e a intensidade da mistura do

licor.

O controle desse processo é importante para atingir o máximo possível de

eficiência da caustificação e produzir licor branco com uma adequada concentração e pureza,

evitando-se, dessa forma, problemas associados às altas e baixas dosagens de cal.

Caustificação

Fornos

36

A reação de caustificação acontece em uma série de quatro tanques reatores

misturadores. Esse tipo de reator, comumente utilizado no processamento industrial, é um

tanque agitado, operado continuamente e referido como reator tanque agitado continuamente

(CSTR) (FOGLER, 1999; PERRY e GREEN, 1997; BEQUETTE, 2003).

A lama resultante da caustificação é queimada (calcinada) em um forno e

transformada em cal (óxido de cálcio) e usada no processo, para a produção de licor branco e

enviado para o digestor.

2.2 PESQUISA OPERACIONAL

Como o próprio nome indica, a pesquisa operacional (PO) envolve “pesquisa

sobre operações”. Portanto, a pesquisa operacional é aplicada a problemas envolvendo como

conduzir e coordenar as operações em uma organização (HILLIER e LIEBERMAN, 2006).

Segundo Lóss (1981), o início da PO no Brasil se deu aproximadamente uma década após sua

implantação na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, sendo que as aplicações à economia é

que motivou os trabalhos pioneiros da PO.

A palavra pesquisa do termo pesquisa operacional significa uma abordagem que

relembra a maneira pela qual são conduzidas as pesquisas em campos científicos. Em grau

considerável, o método científico é utilizado para investigar o problema empresarial. Em

particular, o processo começa observando-se e formulando-se cuidadosamente o problema,

incluindo a coleta de dados relevantes.

A próxima etapa é construir um modelo científico (tipicamente matemático) que

abstrai a essência do problema real. Parte-se, então, da hipótese de que esse modelo é uma

representação suficientemente precisa das características essenciais da situação e de que as

conclusões obtidas do modelo também são válidas para o problema real. A seguir, são

realizadas experimentações adequadas para verificar a eficiência do modelo e modificá-lo

conforme necessário. Essa etapa é frequentemente conhecida como validação do modelo.

A PO também trata da gestão prática da organização. Portanto, para ser bem-

sucedida, necessita fornecer conclusões inteligíveis para o tomador de decisão (HILLIER e

LIEBERMAN, 2006).

37

Na PO existem várias técnicas para se resolver os modelos matemáticos que

podem surgir na prática, e o tipo e a complexidade é que determinam a natureza do método de

solução (TAHA, 2008).

Um estudo de PO nunca deve começar com um viés em favor de utilizar uma

ferramenta matemática específica antes que sua utilização possa ser justificada. A

programação linear é uma técnica de sucesso, há uma tendência a usá-la como a ferramenta

preferencial para modelagem. Portanto, é ideal que se utilize técnicas mais simples como

médias, gráficos e histogramas, com o objetivo de apontar a fonte do problema. Uma vez

definido o problema, pode-se tomar uma decisão em relação à ferramenta mais adequada para

a solução (TAHA, 2008).

A definição precisa de todos os passos para realização de uma pesquisa

operacional é incerta, pois variam muito de acordo com o sistema estudado, mas Taha (2008)

e Hillier e Lieberman (2006) concordam que os pontos a seguir são considerados básicos:

−−−− Definição do problema;

−−−− Construção do modelo;

−−−− Solução do modelo;

−−−− Validação do modelo;

−−−− Implementação da solução.

Neste trabalho as técnicas de pesquisa operacional colaboraram com a definição

do problema, do escopo do trabalho e com a escolha do processo a ser estudado.

2.3 REDES NEURAIS ARTIFICIAIS

As Redes Neurais Artificiais (RNA’s) são algoritmos matemáticos baseados na

estrutura de um neurônio biológico e que possuem a capacidade de relacionar parâmetros de

entrada (variáveis independentes) e saída (variáveis dependentes) “aprendendo” com

exemplos fornecidos (BAUGHMAN e LIU, 1995).

A aprendizagem ocorre sem requerer conhecimento algum acerca da relação entre

as variáveis que interferem no processo em questão (PARK et al., 2005).

38

Os problemas tratáveis por meio de redes neurais podem ser divididos em três

tipos principais: aproximação de função, classificador de padrões e agrupamento de dados

(HAYKIN, 2001). Segundo Venkatasubramanian et al. (2003) as redes são utilizadas

principalmente para resolver problemas de predição e classificação e a topologia básica de

redes neurais artificiais são de alimentação progressiva (feedforward) (BIGUS 1996).

As redes neurais são uma boa alternativa para modelagem e simulação de

processos industriais, apresentam uma boa capacidade de representar as não linearidades dos

processos industriais e são excelentes para modelar processos complexos, pois possuem alta

capacidade de aprendizagem como cita (PATAN e PARISINI, 2005).

Segundo Kalogirou (2003), as redes neurais artificiais estão sendo aplicadas com

sucesso em vários campos da matemática, engenharias, medicina, economias, meteorologia,

psicologia, neurologia, e muitos outros.

As redes neurais têm uma capacidade de adaptação ao problema, por meio de

ajuste dos pesos sinápticos, o que corresponde à etapa de treinamento, de modo a aumentar

sua eficiência (MITTAL e ZHANG, 2000).

Majidian e Saidi (2007) compararam a lógica fuzzy com RNAs para prever a

ruptura de tubos em caldeiras e concluíram que a rede neural foi superior na facilidade de

aplicação e na precisão da predição.

Todos esses fatores e sua adaptação aos processos industriais contribuíram para

escolha da técnica para o desenvolvimento deste trabalho, contribuindo negativamente para a

afirmação de Rudd (1999), que descreve que a modelagem de processos de produção de

celulose e papel utilizando redes neurais, tem sido investigada, ainda que timidamente.

2.3.1 Funcionamento

De acordo com Haykin (2001) e Braga et al. (2000) uma rede neural é um

processador paralelamente distribuído, constituído de unidades de processamento simples, tais

unidades são dispostas em uma ou mais camadas e interligadas por um grande número de

conexões.

As RNAs têm a propensão natural para armazenar conhecimento experimental e

usá-lo futuramente, assemelhando muito ao cérebro (RUBINI e YAMAMOTO, 2006), a

39

priori o conhecimento é adquirido através de um processo de treinamento e aprendizado dos

dados a ela fornecidos.

A soma dos sinais de entrada no “neurônio” é submetida a uma função de

ativação, a exemplo do modelo de ativação elétrica dos neurônios biológicos das redes neurais

naturais, esse procedimento determina a saída que, por sua vez, torna-se entrada para outra

camada.

Na maioria dos modelos essas conexões estão associadas a pesos, os quais

armazenam o conhecimento representado no modelo e servem para ponderar a entrada

recebida por cada neurônio da rede.

Uma descrição do neurônio artificial é mostrada na Figura 2.12.

Figura 2.12: Modelo de um neurônio artificial Fonte: Haykin, 2001

Nesse modelo não-linear (Figura 2.12), podem ser identificados três elementos

básicos do modelo neural:

−−−− Sinapses: ou conexão de entrada, caracterizadas por pesos ou forças próprias.

Um sinal jx na entrada da sinapse, conectada ao neurônio k é multiplicado

pelo peso sináptico kjw ;

−−−− Junção aditiva: responsável pela soma ponderada dos sinais de entrada;

−−−− Função de ativação: restringe a amplitude da saída do neurônio e limita o

intervalo permissível de amplitude do sinal de saída. Podem ser do tipo linear

e não-linear. Tipicamente o intervalo normalizado da amplitude da saída de

um neurônio é escrito como o intervalo unitário fechado [0, 1] ou

alternativamente [-1, 1].

Σ

wk1

wk2

wkm xm

x2

x1

Bias

kb

Pesos sinápticos

Junção aditiva

( )⋅ϕ

Função de ativação

Saída yk

vk Sinais de

entrada M M

40

O modelo neural apresentado na Figura 2.12 inclui também um bias aplicado

externamente, representado por kb . O bias kb tem o efeito de aumentar, ou diminuir a entrada

líquida da função de ativação.

Em termos matemáticos, pode se descrever um neurônio k escrevendo as equações

2.3 e 2.4:

= ∑

=

m

jjkjk xwu

1

(2.3)

( )kkk buy += ϕ (2.4)

Unindo as equações 2.3 e 2.4 temos a equação 2.5.

+= ∑

=

m

jjkjk bkxwy

1

ϕ (2.5)

A priori mxxx ,...,, 21 são os sinais de entrada; kmkk www ,...,, 21 são os pesos

sinápticos do neurônio k; ku é a saída do combinador linear devido aos sinais de entrada; bk é

o bias; ( )⋅ϕ é a função de ativação; e ky é o sinal de saída do neurônio.

2.3.2 Função de ativação

Segundo Haykin (2001), a função de ativação )(⋅ϕ é responsável pela definição

da saída do neurônio em função de seu nível interno de ativação, conforme mostrado na

Figura 2.12 e para que haja esta derivação necessita-se que a função )(⋅ϕ seja contínua.

Haykin (2001) mostra 2 tipos básicos de funções de ativação. Função de limiar e

função sigmóide.

Os tipos de função de ativação mais utilizados são:

−−−− Função de limiar: na literatura de engenharia, esta forma é normalmente

referida como função de Heaviside. A função é descrita pela Equação 2.6a.

( )

<≥

=0 se 0,

0 ,1 vsevϕ (2.6a)

41

−−−− Função sigmóide: cujo gráfico tem a forma de S, é de longe a forma mais

comum de função de ativação utilizada na construção de redes neurais

artificiais. Ela é definida como uma função estritamente crescente que exibe

um balanceamento adequado entre comportamento linear e não-linear. Um

exemplo de função sigmóide é a função logística, determinada pela equação

2.6b.

( ))(exp1

1av

v −+=ϕ (2.6b)

sendo, a é o parâmetro de inclinação da função sigmóide. Variando-se o parâmetro a, obtemos

funções sigmóides com diferentes inclinações.

A função de ativação sigmoidal é a mais utilizada em RNAs do tipo MLP

(Multilayer Perceptron) e caso a escolha seja a função sigmoidal é necessário normalizar as

entradas para o intervalo de 0 a 1 (WANDRESEN, 2004).

As funções de ativação definidas nas equações (2.6a) e (2.6b) se estendem de 0 a

+1. Algumas vezes é desejável que a função de ativação se estenda de -1 a +1, assumindo

neste caso uma forma anti-simétrica em relação à origem; isto é, a função de ativação é uma

função impar no campo local induzido. Especificamente, a função de limiar da equação 2.6a

pode ser definida na equação 2.7.

( )

<−=>+

=0 ,1

0 vse 0,

0 ,1

vse

vse

vϕ (2.7)

Para a forma correspondente de uma função sigmóide podemos utilizar a função

tangente hiperbólica, mostrada na equação 2.8.

( ) )tanh(vv =ϕ (2.8)

42

2.3.3 Arquitetura

Segundo Haykin (2001) a arquitetura é a maneira que os neurônios de uma RNA

estão estruturados. A definição da arquitetura é de grande importância na sua concepção, visto

que ela restringe o tipo de problema que pode ser tratado pela RNA.

Fazem parte da definição da arquitetura os seguintes parâmetros: número de

camadas da rede, número de nós da camada escondida, tipo de conexão entre os nós e a

topologia da rede.

Identificam-se três tipos de arquitetura:

−−−− Redes alimentadas adiante (feedforward) de uma única camada;

−−−− Redes alimentadas adiante de múltiplas camadas (Multilayer Feedforward

Networks);

−−−− Redes recorrentes.

Redes com uma única camada de nós só conseguem resolver problemas

linearmente separáveis. Uma rede multicamada é composta por uma camada de entrada, uma

ou mais camadas escondidas e uma camada de saída. Redes recorrentes, por sua vez, são mais

apropriadas para resolver problemas que envolvem processamento temporal.

A rede pode ser completamente conectada onde cada neurônio está ligado a todos

os neurônios da camada seguinte; parcialmente conectada, onde cada neurônio está ligado a

certo número de neurônios da camada seguinte; ou localmente conectada onde há uma

conexão parcial orientada para cada tipo de funcionalidade.

Segundo Haykin (2001), as RNAs de uma única camada possuem uma camada de

entrada contendo nós fonte e uma única camada de saída, com nós computacionais. A camada

de entrada não é considerada no número de camadas pelo fato dos neurônios de entradas

serem especiais, cuja função é distribuir cada uma das entradas da rede (sem modificá-las) a

todos os neurônios da camada seguinte.

A função da camada “intermediária” é encontrar o melhor conjunto de pesos que,

multiplicados pelos valores dos dados de “entrada”, possam encontrar uma saída predita

semelhante com a saída ideal.

De acordo com Haykin (2001) um neurônio é uma unidade de processamento de

informação que é fundamental para a operação de uma RNA e os pesos determinam em que

grau o neurônio deve considerar sinais de excitação que ocorrem naquela conexão.

43

A Figura 2.13 mostra um exemplo de RNA alimentada adiante, com duas

camadas totalmente conectadas. As RNAs alimentadas adiante com múltiplas camadas

(Multilayer Feedforward Networks) comumente denominadas de MLP (Multilayer

Perceptron), são as redes mais difundidas na literatura e segundo Norgaard (2000), são as

mais utilizadas para modelagem e controle de processos e serão utilizadas neste trabalho.

Figura 2.13: Rede alimentada adiante, totalmente conectada com uma camada oculta. Fonte: Haykin(2001)

2.3.4 Projeto

Segundo Haykin (2001) o projeto de uma RNA passa pelas seguintes etapas:

−−−− Seleção da arquitetura com definição da quantidade de nós de entrada, nós

escondidos e nós de saída;

−−−− Treinamento da RNA a partir de um conjunto de dados do processo;

−−−− Validação da rede treinada a partir da avaliação das respostas da rede mediante

a apresentação de dados não utilizados durante o treinamento, ou seja,

avaliação de sua capacidade de generalização.

Camada de entrada de nós

fonte

Camada de neurônios ocultos

Camada de neurônios de

saída

44

2.3.5 Treinamento, Aprendizagem e Validação

O treinamento que também pode ser chamado de processo de aprendizagem

consiste em ajustar os pesos sinápticos para a rede neural encontrar valores ótimos de saída ou

entrada sem “decorar” os dados apresentados (AGUIAR, 2000). Segundo Polowski (2009), a

aprendizagem é dividida em três tipos:

−−−− Aprendizagem supervisionada é baseada na comparação direta entre a saída da

rede e a saída desejada. Frequentemente é formulada como uma minimização

de uma função de erro tal como o erro quadrático médio entre a saída da rede

e a saída desejada sobre o conjunto de dados disponíveis. Um método de

otimização baseado na descida do gradiente, o “backpropagation” pode ser

utilizado para ajustar os pesos da rede iterativamente a fim de minimizar o

erro;

−−−− Aprendizagem por reforço é um caso especial da aprendizagem supervisionada

onde a saída desejada exata é desconhecida sendo baseada somente na

informação de uma saída ser ou não ser correta;

−−−− Aprendizagem não supervisionada é baseada na correlação entre os dados de

entrada.

Para realizar o treinamento de uma rede neural é necessário um conjunto de dados

que contenha pares de entrada e saídas. Desta forma o problema do treinamento das redes

neurais se resume em um problema de otimização em que se deseja encontrar o melhor

conjunto de pesos que minimize o erro médio quadrático calculado entre as saídas da rede e as

saídas desejadas.

Segundo Haykin (2001): “Aprendizagem é um processo pelo qual, os parâmetros

livres de uma rede neural são adaptados através de um processo de estimulação pelo ambiente

no qual a rede está inserida. O tipo de aprendizagem é determinado pela maneira pela qual a

modificação dos parâmetros ocorre”. Esta definição do processo de aprendizagem implica na

sequência de eventos:

−−−− A rede neural é estimulada pelo ambiente;

−−−− A rede neural sofre modificações nos seus parâmetros livres como resultado

dessa estimulação;

45

−−−− A rede neural aprende acerca de seu ambiente através de um processo iterativo

de ajustes aplicados a seus pesos sinápticos e níveis de bias. Idealmente, a

rede se torna mais instruída sobre o seu ambiente após cada iteração do

processo de aprendizagem;

−−−− A rede neural responde de uma maneira nova ao ambiente, devido às

modificações ocorridas na sua estrutura interna.

As propriedades de uma RNA de fundamental importância são: a habilidade de

aprender a partir de seu ambiente e a habilidade de melhorar o seu desempenho através da

aprendizagem.

Para o treinamento de uma rede neural é necessário um conjunto de dados

suficiente para garantir que a rede realmente aprenda as relações entre as variáveis. Espera-se

que quanto mais pontos forem usados, menor será o erro na validação.

As redes neurais quando bem treinadas têm a capacidade de reconhecer padrões

não apresentados durante o treinamento, isso se deve a sua capacidade de generalização, que é

sua capacidade de calcular saídas coerentes para dados de entrada ainda não conhecidos.

Ao termo “padrões desconhecidos” fica subentendido que seja um conjunto de

padrões extraído da mesma população dos conjuntos de dados de treinamento, ou seja, dados

com mesmas características estatísticas dos padrões de treinamento.

Segundo Teixeira (2001) a capacidade de generalização não é uma propriedade

inerente às RNAs, ou seja, ela não é facilmente obtida simplesmente submetendo a rede à fase

de treinamento. Braga et al. (2000) descrevem que alguns fatores devem ser levados em

consideração para se obter uma RNA com elevada capacidade de generalização e,

basicamente, esta generalização sofre a influência:

−−−− do tamanho e representatividade estatística do conjunto de dados de

treinamento;

−−−− da arquitetura da rede neural;

−−−− da complexidade física do problema abordado.

Não existe uma regra para escolher o tamanho do conjunto de treinamento. Cada

problema abordado requer uma quantidade de amostras capaz de representá-lo. Este

parâmetro não é de simples estimativa dado que o domínio do problema nem sempre é

conhecido.

46

A escolha da arquitetura do modelo neural adequada à complexidade do problema

é um dos maiores desafios no estudo da capacidade de generalização. Modelos com

arquiteturas muito grandes elevam sua complexidade. Quando a complexidade do modelo é

maior que a necessária para modelar o problema, a rede tende a ficar super-ajustada aos dados

de treinamento, respondendo inadequadamente aos padrões de validação e testes.

O super-ajuste do modelo aos dados de treinamento é comumente chamado de

overfitting, e reduz a capacidade de um modelo generalizar. Porém, se a complexidade do

problema supera a complexidade do modelo, este não é capaz de descrever e representar o

domínio do problema, caracterizando assim o fenômeno de sub-ajuste ou underfitting. A

Figura 2.14 ilustra o que pode ocorrer com a resposta da rede quando sob os efeitos de sub-

ajuste e super-ajuste aos dados e treinamento.

Na Figura 2.14, a função geradora é uma senóide que varia de 0 a 2π que foi

contaminada por um ruído de média 0 e desvio padrão 1.

A Figura 2.14a mostra uma RNA que não foi capaz de modelar toda a

complexidade do problema, gerando um modelo neural pobre em termos de generalização. Já

na Figura 2.14c o modelo neural criado superou a complexidade da função geradora, passando

a modelar o ruído presente nos dados, ficando também mal ajustado à função geradora.

Apenas na Figura 2.14b o ajuste do modelo está de acordo com a complexidade do problema

e nota-se que a RNA buscou modelar a função geradora.

(a) Underfitting (b) Ajuste Adequado (c) Overerfitting

Figura 2.14: Problema de ajuste do modelo Fonte: (TEIXEIRA, 2001)

Braga et al. (2000), Teixeira (2001) e Takahashi (2006), afirmam que os

fenômenos de underfitting e overfitting afetam a capacidade de generalização das RNAs e

buscar um equilíbrio pode ser uma tarefa árdua.

47

De acordo com Haykin (2001) uma RNA que é projetada para generalizar bem,

produzirá um mapeamento correto de entrada - saída mesmo quando as entradas forem um

pouco diferentes dos exemplos utilizados para o treinamento da rede. Se uma rede é treinada

em excesso, ela perde a habilidade de generalizar entre padrões de entrada – saída similares.

2.3.6 Algoritmo

O algoritmo mais utilizado em RNAs do tipo MLP é o back-propagation, que

propaga o erro das camadas finais da rede para as iniciais (Braga 2000), segundo Radke

(2002) é o mais conhecido.

Segundo Ribeiro (2003), o algoritmo back-propagation baseia-se no gradiente

descendente do erro, ou seja, na minimização do erro médio quadrático (EQM). Dependendo

dos pesos iniciais, do número de neurônios intermediários e do coeficiente de aprendizado,

pode acontecer da RNA atingir um mínimo local e se esse mínimo local significar um EQM

aceitável, o aprendizado está realizado, caso contrário é necessário reiniciar o treinamento.

A rede perceptron multicamada alimentada adiante (feedforward), que utiliza o

algoritmo de aprendizagem de retro-propagacão (back-propagation), gerou muito interesse

pela habilidade em aprender padrões não linearmente separáveis, a priori a maioria dos

trabalhos práticos aplicados a mapeamento são não linearmente separáveis (BOTELHO,

2004).

Segundo Haykin (2001) não existe critérios de parada bem definidos para o

algoritmo back-propagation, mas existem alguns critérios que trabalham de forma razoável.

O método de treinamento com parada antecipada (Early Stopping) é uma técnica

de treinamento baseada na divisão dos padrões em pelo menos dois conjuntos distintos de

dados, mas com mesma representatividade estatística. Esses conjuntos são chamados

normalmente de conjuntos de treinamento e de validação que após um período de estimação

(treinamento), os pesos sinápticos e os níveis dos bias do perceptron de múltiplas camadas

são todos fixos e a rede opera no seu modo direto para frente. O erro de validação é então

medido por cada exemplo do subconjunto de validação. Quando a fase de validação é

completada, a estimação (treinamento) é reiniciada para um novo período e o processo é

repetido.

48

O erro de treinamento deve ser monotonicamente decrescente a partir do início do

treinamento, que deve ser interrompido no momento que este erro começa a crescer com os

padrões de validação, embora o erro de treinamento ainda seja decrescente (TAKAHASHI,

2006). Esta sintonia indica que o treinamento está levando a rede a uma condição de sobre

ajuste e para evitá-lo o treinamento é interrompido e os parâmetros da RNA na época anterior

são considerados como os parâmetros finais obtidos com o treinamento.

2.4 ALGORITMO ELIPSOIDAL

Segundo Ecker e Kupferschid (1983), o método Elipsoidal foi originalmente

desenvolvido por Yudin e Nemirovski e por Shor, mas sua popularização só ocorreu com

Khachian, em 1979, depois de utilizá-lo para obter um algoritmo de tempo polinomial para

programação linear.

O algoritmo foi proclamado como substituto do Simplex, o que nunca aconteceu.

Essa informação é reforçada por Karp (2008), que afirma que o elipsoidal tem pouca utilidade

prática, mas descreve que é uma ferramenta poderosa para resolver problema de otimização

combinatória.

O algoritmo elipsoidal é um método determinístico de otimização, baseado no

gradiente da função objetivo ou das funções de restrição de um elipsóide de n dimensões, que

delimita uma região na qual se encontra o ponto ótimo do problema.

Embora não apresente uma velocidade de convergência semelhante a de outros

métodos determinísticos, como os métodos de Newton ou quase-Newton (TODD, 2002), o

método elipsoidal possui algumas características interessantes, como: alta robustez, estrutura

simples e de fácil implementação (SALDANHA, 1999; TAKAHASHI et al., 2003;

CALAFIORE e DABBENE, 2007).

A alta robustez ao número de restrições tornam o método aplicável a problemas

de otimização de funções não-convexas ou não suaves, fazendo dele uma importante

ferramenta na resolução de problemas de formulação complexa.

Segundo Kavitha e Nasre (2010), quando o número de restrições e variáveis são

exponenciais o algoritmo não pode ser usado diretamente, deve-se primeiramente reduzir o

número de variáveis.

49

O algoritmo é baseado na exclusão de semi-espaços por meio de elipsóides. A

idéia intuitiva do algoritmo é cercar a solução ótima com um elipsóide. A partir de um

elipsóide inicial, que compreende toda a região de busca, são feitos cortes, gerando elipsóides

menores, até que se chegue a um elipsóide que contemple o ponto ótimo, que será seu centro

(BLAND et al., 1980; BOYD et al., 1994).

Na Figura 2.15 apresenta-se uma atualização iterativa de uma elipse, a qual define

o corte de um semiplano e as curvas de nível da função que se pretende otimizar. Nota-se

pelas quinas nas curvas de nível que a função-objetivo não é continuamente diferenciável.

Figura 2.15: Atualização iterativa de uma elipse com o corte de um semiplano Fonte: (SALGADO et al., (2007)

O algoritmo trata as restrições de forma clara e o corte baseia-se na função

objetivo ou nas restrições. Sua convergência para o mínimo global é garantida caso as funções

envolvidas sejam contínuas quasi-convexas e pode ser acelerada com o uso de cortes

profundos e de restrições ativas (VIEIRA et al., 2007).

A idéia matemática do algoritmo elipsoidal é cercar a região do problema com um

elipsóide de n dimensões, onde n é o número de variáveis da função objetivo.

A Figura 2.16 mostra a evolução do algoritmo, respeitando as restrições e gerando

um kx . O kx é utilizado na geração de um novo elipsóide, menor que o anterior, mas que

ainda mantém em seu interior o ponto ótimo da função. Através de iterações sucessivas, o

centro do elipsóide kE converge para a solução do problema.

Dado um elipsóide qualquer kE , o próximo elipsóide 1+kE é gerado por meio da

divisão do elipsóide kE e deve conter a solução do problema.

50

Figura 2.16: Mostra de uma interação do método elipsoidal (center cut) Fonte: Autor

O elipsóide inicial (elipse maior) tem centro no ponto )(kx . O subgradiente da

função objetivo, calculado no ponto kx , resulta no vetor g . O vetor g determina o semiplano

a ser descartado e determina o semi-elipsóide que deve estar contido no novo elipsóide, cujo

centro, depois de calculado pela fórmula de recorrência, é o ponto 1+kx . O novo elipsóide

também é mostrado.

A equação 2.9, mostra a formulação genérica de um elipsóide, onde 1−Q é uma

matriz de ordem n, definida, positiva, simétrica e conhecida como matriz característica do

elipsóide, e Cx representa o ponto de centro do elipsóide.

O próximo elipsóide será definido 1+kx e 1+kQ , onde 1+kx é o próximo ponto de

centro e 1+kQ é a nova elipse, como mostrado nas equações 2.10 e 2.11.

}1)()(:{),( 1 ≤−−== −C

TC xxQxxxQxEE (2.9)

dxx kk 11 δ+=+ (2.10)

51

)( 321T

kk ddQQ δδ −=+ , (2.11)

na qual:

gQg

gQd

kT

k−= (2.12)

.)1(

2;

)1(;

)1(

132

2

21 +=

−=

+=

nn

n

nδδδ (2.13)

Na equação 2.12, a variável g representa o gradiente da restrição mais violada, ou

da função objetivo caso kx seja viável. Desta forma, g aponta para o lado de corte do

elipsóide. Na Equação 2.13 mostra-se as constantes 1δ , 2δ , 3δ , que podem ser substituídas

pelas constantes da Equação 2.14 em função do uso de um algoritmo com deep cut (corte

profundo), que tende a acelerar a convergência do processo de otimização, ao custo, porém,

de uma perda na robustez do algoritmo (SALDANHA et al., 1999).

Segundo Khaisongkram and Banjerkpongchai (2006), Shor e Gershovich (1992)

foram os primeiros a sugerir a técnica de corte profundo para acelerar a convergência

algoritmo elipsoidal.

Na Equação 2.14 a profundidade do corte é representada pelo parâmetro α ,

podendo variar de 0 a 1/n (máximo corte possível).

Quando a elipse é atualizada com valores de α maiores que 0, realiza-se um deep

cut. À medida que se aproxima de 1/n, mais espaço é descartado a cada iteração, podendo

resultar no descarte da solução do problema (SALDANHA et al., 1999).

;))(1(

)1(2;

)1(

)1(;

)1(

)1(32

2

21 ααδαδαδ++

−=−−=

++=

nn

n

n

n

n

n (2.14)

52

2.5 MODELAGEM E SIMULAÇÃO DE PROCESSOS INDUSTRIAIS

Um modelo matemático pode ser definido de várias formas, seja como uma

representação ou interpretação simplificada da realidade ou segundo uma abstração

matemática do processo real (SEBORG et al., 1989; AGUIRRE, 2004). Também pode ser

definido como um sistema de equações cuja solução, dado um conjunto de dados de entrada,

representa a resposta do processo, uma realidade física ou um determinado sistema (DENN,

1986; GARCIA, 2005). Dessa forma as equações que constituem o modelo são uma

aproximação do processo real, e, segundo Garcia (2005) e Aguirre (2004), o modelo não pode

incorporar todas as características do processo real.

Edgar e Himmelblau (1988) definem modelo matemático como uma

representação dos aspectos essenciais de um sistema existente ou um sistema a ser construído,

que transmite conhecimento sobre tal sistema em uma forma utilizável.

Segundo Aguirre (2004), há várias formas de classificar técnicas de modelagem.

Uma delas agrupa os métodos em três grupos denominados: modelagem caixa branca,

modelagem caixa preta e modelagem caixa cinza.

Na modelagem caixa branca é necessário conhecer bem o sistema com o qual se

está lidando, bem como as leis físicas que descrevem o sistema a ser modelado. Por essa razão

esse tipo de modelagem é também conhecida como modelagem pela física ou natureza do

processo, modelagem conceitual ou modelagem fenomenológica. Infelizmente, devido ao

conhecimento necessário, à complexidade e ao tempo necessário para modelar um sistema,

partindo do equacionamento dos fenômenos envolvidos, nem sempre é viável (AGUIRRE,

2004; FELDER e ROUSSEU, 2005; ALESSANDRI, 2003).

Identificação de sistemas é uma área de modelagem matemática que estuda

técnicas alternativas à modelagem caixa branca. Uma das características dessas técnicas é que

pouco ou nenhum conhecimento prévio do sistema é necessário e, consequentemente, tais

modelos são referidos como modelagem (ou identificação) caixa preta ou modelagem

empírica.

Um conjunto de técnicas que poderia ser classificado como estando entre a

modelagem pela física ou natureza do processo e a identificação caixa preta é chamado de

identificação caixa cinza. As técnicas desse grupo caracterizam-se por usar informação

auxiliar, que não se encontra no conjunto de dados utilizados durante a identificação

53

(AGUIRRE,2004). Segundo Correa (2001), essa ferramenta busca combinar as vantagens dos

procedimentos de identificação caixa preta e caixa branca.

Segundo Aguirre (2004) e Ljung (1999) existem cinco etapas do processo de

identificação: i) testes dinâmicos e coleta de dados; ii) escolha da representação matemática a

ser usada, iii) determinação da estrutura do modelo, iv) estimação de parâmetros e v)

validação do modelo.

No campo industrial, a automação destina-se a supervisionar, controlar e

comandar o processo produtivo industrial. Como tal, sua evolução depende do crescimento

e/ou da modernização do parque industrial. Ao mesmo tempo, os equipamentos de automação

induzem a modernização da indústria, elevando patamares de eficiência e flexibilidade

(COPELIOVITCH, 1993).

O nível de automação da fábrica é imprescindível para a obtenção dos dados e

todos os sistemas de controle devem estar interligados e confiáveis. A integração dos sistemas

de automação é a chave para o sucesso de uma planta e com as novas tecnologias de hardware

e software, têm-se agora a potencialidade para integrar componentes em sistemas diversos.

Segundo Fox (2001), uma total automação significa a implementação de um

completo sistema de integração da operação industrial. Esse sistema deve compor desde o

nível de chão de fábrica, sensores e atuadores, passando pelos dispositivos de rede até o

controle de processo. As questões relativas à atualização tecnológica e ao custo têm efeitos

diretos sobre a eficiência e modernidade do setor produtivo como um todo (GOBBATO,

1990).

De acordo com Bequette (2003), existem muitas razões para o desenvolvimento

de modelos matemáticos de processos. Melhorar ou entender a operação de processos é um

dos principais objetivos para o desenvolvimento de modelos dinâmicos de processo. Esses

modelos são geralmente usados para: treinamento de operadores, projetos de processo, análise

de sistemas de segurança, ou controle de processos

Conforme Leiviska et al. (1999), a interação com um determinado processo de

produção envolve normalmente a investigação de diversas áreas do conhecimento, visando

mostrar como cada variável desse processo se relaciona com as outras.

Toda metodologia usada em modelagem e simulação deve ser desenvolvida no

sentido de fornecer ferramentas adequadas para que as mesmas possam estabelecer as

melhores condições de operação dos equipamentos envolvidos e o consumo mínimo de

energia. Para que essas análises possam ser rápidas e eficientes pode-se utilizar a simulação

54

computacional, baseados em modelos provenientes de balanços de massa, de energia e de

equações de equilíbrio relacionados aos sistemas envolvidos (CUSTODIO 2003).

A aplicação de conceitos de otimização e de controle em processos industriais

demanda que se disponha de modelos matemáticos para tais processos, de modo que os

mesmos possam ser simulados em computador.

Conforme Paraíso (2001), um estudo mais aprofundado das condições de

operação possibilita à indústria estabelecer as melhores condições de operação, resultando na

economia de energia e melhorias na recuperação de produtos.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O processo Kraft de produção de celulose foi inicialmente estudado e verificou-se

com análises do processo, da experiência da equipe técnica de automação e dos engenheiros

de processo a possibilidade de melhorar o rendimento da caldeira de recuperação com a

otimização das variáveis operacionais utilizando um modelo matemático do processo.

Utilizou-se um sistema de gerenciamento da planta para coletar dados e armazená-

los em uma planilha eletrônica e, através da análise dos dados de processo, constatou-se que

algumas das variáveis da caldeira não estavam de acordo com o manual, principalmente as

variáveis ligadas ao sistema de combustão. Outro ponto determinante para o estudo e

otimização das variáveis de operação do equipamento foi a grande variabilidade de algumas

variáveis do processo, citando como exemplo a produção de vapor e a eficiência de redução

que são variáveis importantes para a caldeira.

Esses dados serviram de base para modelagem caixa preta do sistema, utilizando

redes neurais artificiais. O valor ótimo das variáveis de operação foi encontrado por meio do

modelo e do algoritmo elipsoidal. Na empresa onde foi desenvolvido o modelo matemático

existem três caldeiras de recuperação, sendo que a estratégia proposta foi instalada em uma

caldeira de recuperação e futuramente será instalada nas demais.

Segundo Felder e Rousseu (2005), quando se depara com uma descrição de um

processo, é essencial organizar a informação em uma forma apropriada para os cálculos

subsequentes. Uma maneira de se fazer isso é desenhar um diagrama de fluxo ou fluxograma

do processo, usando-se caixas ou outros símbolos para representar as unidades de processo

55

(reatores, separadores, misturadores, etc.) e setas para representar as correntes de entrada e de

saída.

Para se ter uma melhor visualização, um diagrama de fluxo é mostrado na Figura

3.1, evidenciando os principais fluxos de uma caldeira de recuperação. Um fluxograma do

processo pode servir de ajuda para começar os cálculos de balanços de massa. Para isso, o

diagrama deve ser rotulado com todas as variáveis conhecidas do processo e em cada corrente

de entrada e saída.

Figura 3.1: Diagrama de Fluxo da Caldeira de Recuperação Fonte: Autor

Entrada = licor preto forte + vapor baixa pressão + vapor media pressão + energia + água

polida + óleo combustível + ar.

Saída = vapor alta + licor verde + gases.

Sendo definidos como:

−−−− Licor preto forte: é o principal combustível da caldeira de recuperação, e a

maioria das variáveis do modelo são relacionadas a ele;

−−−− Óleo combustível: também denominado combustível auxiliar, é somente

acionado quando existe um problema no combustível principal, devido seu

alto custo;

−−−− Ar: é injetado de forma forçada dentro da caldeira e tem a finalidade de

viabilizar a combustão;

Caldeira de

Recuperação

Licor Preto Forte

Vapor Alta

Água Polida

Vapor Baixa Pressão

Óleo Combustível

Ar

Vapor Média Pressão

Licor Verde

Gases

Energia

56

−−−− Água polida: também chamada de água desmineralizada, é utilizada para

produção de vapor. Antes de adentrar na caldeira passa por vários processos

de purificação, como retirada de íons, retirada do oxigênio, controle de pH e

aditivos para não degradar os tubos da caldeira;

−−−− Vapores de média e baixa pressão: são utilizados para aquecer o ar e o licor

preto injetados na caldeira;

−−−− Vapor de alta pressão: é um vapor superaquecido (65Kgf/cm² e 450°C),

resultante da evaporação da água dentro dos tubos da caldeira. Nas fábricas de

celulose é usado para gerar energia através de geradores e distribuído para

outras partes da fábrica. Sua energia é usada para aumentar a concentração do

licor na evaporação, para auxiliar no cozimento do cavaco no digestor, para

secar a celulose e vários outros fins;

−−−− Licor verde: é a matéria inorgânica contida no licor preto, que após sofrer um

processo de redução química, é enviado ao processo de caustificação para

filtragem e recuperação, e ser novamente enviado ao processo de cozimento;

−−−− Gases: é o que sobra da combustão, ar quente e material particulado não

queimado.

Desse estudo partiu-se para o desenvolvimento de um modelo estático e todos os

dados de arranque, parada e mudança de produção da planta, ou seja, os períodos transitórios

foram eliminados, ficando somente os dados de operação contínua.

Conforme Taha (2008) deve-se buscar inicialmente uma solução linear para

resolver problemas de modelagem. Na tentativa de buscar uma solução linear para o problema

de otimização desenvolveu-se a Equação 3.1 baseada no custo e visando mostrar as condições

ideais das variáveis de entrada para minimizar o custo do vapor produzido.

Fva

CapFapCocFocCeeCvmFvmCvpFvbCustovaMin

∗+∗+∗+∗+∗=_ (3.1)

Sendo:

Custova = Custo vapor de alta pressão

Fvb = Fluxo vapor baixa pressão

Cvp = Custo vapor baixa pressão

Fvm = Fluxo vapor média pressão

Cvm = Custo vapor média pressão

57

e = Energia

Ce = Custo energia

Foc = Fluxo óleo combustível

Coc = Custo óleo combustível

Fap = Fluxo água polida

Cap = Custo água polida

Fva = Fluxo vapor alta pressão

O sistema não linear foi analisado através do método simplex, porém não atendeu

às expectativas, pois, as restrições sempre eram minimizadas ou maximizadas

individualmente não respeitando a relação entre as variáveis.

Dessa forma, desenvolveu-se um sistema não-linear baseado no rendimento do

processo, que é obtido pela divisão da produção total de vapor pelo combustível alimentado,

levando-se em conta as principais variáveis de entrada que podiam influenciar a saída.

Conforme Henson e Seborg (1997), os avanços em meios computacionais e

métodos numéricos de resolução de equações fizeram crescer a utilização de modelagem não-

linear. A quase totalidade dos processos químicos tem seu comportamento não-linear, e

somente assim consegue-se modelar um processo com eficiência (EDGAR e

HIMMELBLAU, 1988).

Definiu-se conforme experiência da equipe técnica e dos engenheiros de processo

as variáveis de entrada que mais poderiam influenciar no processo de produção, para usá-las

como entrada de uma rede neural MLP. Ao todo foram escolhidas 18 variáveis de entrada e

uma variável de sáida como mostra a Tabela 2.

A rede neural foi programada para “ler” os arquivos diretamente de uma planilha

eletrônica, que adquire os dados do processo através de um Process Information Management

System (PIMS) instalado na indústria. PIMS são sistemas que adquirem dados de processo de

diversas fontes, os armazenam em um banco de dados e os disponibilizam através de diversas

formas de representação, proporcionando uma visão unificada do processo (CARVALHO et

al., 2005).

Os dados de processo foram coletados a partir do mês maio de 2009, até março de

2010. A matriz de dados, após a eliminação dos períodos transitórios, ficou com

aproximadamente 7000 linhas (observações), e 19 colunas, sendo 18 colunas com dados de

entrada e uma coluna com dados de saída, como exemplificado na Tabela 2.

58

A rede neural escolhida tem uma camada de entrada, uma camada escondida e

uma camada de saída. As funções de ativação da camada oculta e saída são, respectivamente,

a função tangente hiperbólica e linear. Segundo Cybenko (1989), uma rede contendo uma

camada oculta cuja função de ativação seja sigmoidal é capaz de aproximar qualquer função

contínua.

A definição da quantidade de neurônios em cada camada intermediária tem

geralmente base empírica. Sendo alta, a rede pode sobreajustar os dados usados para

construção do modelo neural, perdendo a capacidade de generalização e, por outro lado,

sendo baixa, ela pode ser incapaz de extrair informações para modelar o problema (PARK et.

al, 2005).

Tabela 2: Variáveis utilizadas no desenvolvimento do modelo neural.

Nº Variáveis de Entrada Variável de Saída

1 Oxigênio Residual dos gases (%)

2 Temperatura da água de alimentação da caldeira (ºC)

3 Concentração do licor preto que é queimado na caldeira (%)

4 Fluxo de licor preto para queima (m³/h)

5 Temperatura do licor preto para queima (ºC)

6 Pressão do licor preto para queima (kgf/cm²)

7 Fluxo de licor preto TSS (Tonelada de Sólido Seco)

8 Relação ar / combustível (Ton ar/TSS)

9 Fluxo de ar primário (Nm³/h)

10 Temperatura do ar primário (ºC)

11 Pressão de ar primário (mmH2O)

12 Fluxo de ar secundário (Nm³/h)

13 Temperatura do ar secundário (ºC)

14 Pressão de ar secundário (mmH2O)

15 Fluxo de ar terciário (Nm³/h)

16 Temperatura do ar terciário (ºC)

17 Pressão de ar terciário (mmH2O)

18 Ar total (Nm³/h)

Fluxo de vapor

principal (Ton/h)

Fonte: Autor

59

Na busca da definição da quantidade ideal de neurônios na camada escondida,

foram feitos vários testes na rede, variando-se a quantidade de neurônios de 1 até 20 e

comparando com os resultados de validação e treinamento, como mostrado na Figura 3.2.

A Figura 3.2 mostra graficamente a correlação linear dos dados de treinamento e

validação. Escolheu-se a rede com 3 neurônios na camada escondida, porque acima de 3

neurônios não houve uma melhora significativa na resposta da rede e dificultaria o

desenvolvimento do modelo.

Número neurônios x Correlação Linear

0,9350

0,9400

0,9450

0,9500

0,9550

0,9600

0,9650

1 2 3 4 5 6 7 8 9 20

Número de Neurônios na camada oculta

Coe

ficie

nte

de

Cor

rela

ção

Line

ar

Treinamento

Validação

Figura 3.2: Escolha do número de neurônios na camada escondida Fonte: Autor

Para definição do algoritmo de treinamento da rede foram testados os 6 algoritmos

do software Matlab (2006), mostrados na Tabela 3. O algoritmo escolhido para utilização foi

o trainbr que obteve o melhor índice de correlação linear para validação e treinamento,

conforme mostra a Figura 3.3.

60

Tabela 3: Algoritmos de treinamento

Algoritmo Descrição Matlab Funcionamento

TrainBR Bayesian Regulation

backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com a otimização de Levenberg-Marquardt,

minimizando os erros quadrados e os pesos. O

processo é chamado Bayesian Regulation.

TrainSCG Scaled conjugate gradient

backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com o método do gradiente conjugado

escalonado.

TrainGDX

Gradient descent

w/momentum & adaptive lr

backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com a velocidade de descida do gradiente e de

uma taxa de aprendizagem adaptativa.

TrainLM Levenberg-Marquardt

backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com a otimização de Levenberg-Marquardt.

TrainGDA

Gradient descent with

adaptive lr

backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com gradiente descendente e uma taxa de

aprendizagem adaptativa.

TrainRP RPROP backpropagation

É uma função de treinamento da rede que

atualiza os valores dos pesos e bias de acordo

com o algoritmo backpropagation resiliente

(Rprop)

Fonte: Autor

A Figura 3.4 mostra como ficou a estrutura da rede ao final do desenvolvimento.

A rede ficou com 18 neurônios de entradas. Cada variável de processo é adicionada a uma

entrada da rede neural.

61

Coeficiente de correlação linear dos algoritmos testados

0,93

0,935

0,94

0,945

0,95

0,955

TrainBR TrainSCG TrainGDX TrainLM TrainGDA TrainRP

Algoritmo de Treinamento

Coe

ficie

nte

de

Cor

rela

ção

Line

arTreinamentoValidação

Figura 3.3: Escolha do algoritmo de treinamento Fonte: Autor

A rede MLP desenvolvida ficou com 3 neurônios na camada escondida (N1, N2,

N3), totalmente conectada e uma camada de saída, que é a produção de vapor da caldeira.

Pode-se notar na Figura 3.4 que essa rede contem 54 pesos sinápticos ligando a

entrada à camada escondida, 3 pesos ligando a camada escondida na somatória final e os bias

simbolizados por b1, b2, b3 e b4.

A rede neural conseguiu predizer a produção de vapor da caldeira com uma

correlação linear de aproximadamente 0,95. As Figuras 3.5 e 3.6 mostram a resposta da rede

para dados de treinamento e as Figuras 3.7 e 3.8 mostram as respostas de validação. As

Figuras 3.5 e 3.7 são gráficos que correlacionam, de forma linear, os valores de processo (eixo

X) e a predição da rede (eixo Y). Esses gráficos têm a finalidade de mostrar o quanto a

predição da rede está aproximando do valor real.

62

Figura 3.4: Estrutura da rede neural desenvolvida Fonte: Autor

As Figuras 3.6 e 3.8 mostram em forma de gráfico a variável de processo e saída

do modelo. Nota-se que o modelo conseguiu aproximar muito dos dados de processo.

N1

N2

N3

b1 b4

Pesos2

Saída

a1

a2

a3

a4

a5

a6

a7

a8

a10

a9

a12

a14

a13

a15

a16

a17

a18

a11

Oxigênio

Temp. água

Conc. licor preto

Fluxo licor preto

Temp. licor preto

Press. licor preto

Fluxo licor preto(TSS)

Temp. ar primário

Fluxo ar primário

Razão Ar/TSS

Fluxo ar secundário

Press. ar primário

Temp. ar secundário

Press. ar secundário

Fluxo ar terciário

Temp. ar terciário

Press. ar terciário

Ar total

Pesos1

Fluxo de Vapor

b2

b3

63

Figura 3.5: Correlação dos dados de treinamento Fonte: Autor

Figura 3.6: Gráfico dos dados de treinamento (dados reais x modelo) Fonte: Autor

64

Figura 3.7: Correlação dos dados de validação Fonte: Autor

Figura 3.8: Gráfico dos dados de validação (dados reais x modelo) Fonte: Autor

65

Depois de desenvolvido a rede neural, iniciou-se a etapa de extração do modelo

gerado pela rede neural.

Variáveis de entrada: 1821 ,,, aaa L

Bias: 321 ,, bbb e b4

Pesos na entrada do neurônio 1: 1812111 ,,, www L

Pesos na entrada do neurônio 2: 1822212 ,,, www L

Pesos na entrada do neurônio 3: 1832313 ,,, www L

Saída da camada intermediária:

bxWu += T (3.1)

Seja

=

183182181

232221

131211

www

www

www

MMMW ,

=

18

2

1

a

a

a

Mx

=

3

2

1

b

b

b

b (3.2)

)( bxWu += Tf (3.3)

][ 342414 wwwT =oW (3.4)

Saída da rede: b4uWo += Ty (3.5)

Depois de definida a saída da rede, calculou-se o gradiente da função (y∇ ), para

ser usado no algoritmo elipsoidal, conforme mostrado na equação 3.5.

∂∂

∂∂

∂∂=∇

1821

;;;a

y

a

y

a

yy L (3.5)

Inicialmente utilizou-se o algoritmo elipsoidal sem restrições para buscar os

valores ótimos das entradas da função, visando maximizar a produção.

Após esse procedimento, o algoritmo encontrou um ponto ideal para as variáveis

de entrada. Porém, algumas variáveis extrapolaram as condições máximas e mínimas de

operação.

66

Ao se perceber a necessidade de manter as variáveis nos pontos de operação, foi

implementado um algoritmo elipsoidal e inserido as condições mínimas e máximas do

processo como restrições.

Primeiramente trabalhou-se no combustível, pois é a variável que tem maior

correlação com a produção de vapor. Quanto mais combustível é inserido na caldeira, mais

vapor é produzido. Porém, a função do algoritmo é melhorar o rendimento, ou seja, produzir

mais vapor com a mesma quantidade de combustível.

Devido a essa condição os dois combustíveis que são variáveis de entrada do

algoritmo foram mantidos no mesmo valor na função, ou seja, o elipsoidal combina todas as

variáveis de entrada menos os combustíveis que ficam travados.

Logo, o problema de otimização pode ser escrito na forma:

Max y(x)

Sujeito a:

1,5 < 1a < 6,0 %

200 < 2a < 260 °C

66 < 3a < 72 %

72 < 4a < 100 m³/h

120 < 5a < 134 °C

0,3 < 6a < 2,0 kgf./cm2

72 < 7a < 130 TSS

3 < 8a < 6 Razão Ton ar/TSS

30 < 9a < 50 % do ar total

155 < 10a < 200 °C

20 < 11a < 80 mmH2O

30 < 12a < 50% do ar total

80 < 13a < 200 °C

200 < 14a < 500 mmH2O

10 < 15a < 30% do ar total

20 < 16a < 40 °C

300 < 17a < 550 mmH2O

250 < 18a < 450 ton/h

67

Esse algoritmo encontrou pontos ideais para as variáveis de entrada, mantendo o

combustível na mesma proporção e respeitando as condições de operação que foram definidas

como restrições.

A implantação do algorítmo elipsoidal proporcionou o encontro de um ponto de

máximo da função. A metodologia utilizada para a solução da otimização foi consistente e

contribuiu para um resultado satisfatório que será apresentado no capítulo 4.

4 RESULTADOS

Conforme já mencionado na Seção 2.1.5, a caldeira de recuperação química em

uma indústria de celulose possui três funções básicas. Atua como um reator químico para a

produção de sulfeto de sódio ( SNa2 ) e carbonato de sódio ( 32CONa ), como uma fonte de

geração de vapor pela combustão de licor preto e como fonte destruidora da matéria orgânica

dissolvida, eliminando, consequentemente, o descarte ambiental (TAPPI, 1992; POLOWSKI,

2004).

Após verificação das respostas do algoritmo, verificou-se que as variáveis mais

alteradas estavam diretamente ligadas ao sistema de ar para combustão.

Na Tabela 4 são mostradas as variáveis e as possíveis explicações para a resposta

do algoritmo.

Tabela 4: Resposta do algoritmo de otimização

Nº Variáveis de

Entrada

Sugestão do

algoritmo Explicações técnicas

1 Oxigênio

Residual

Diminuir

50%

A busca de uma menor quantidade de oxigênio é

coerente. Quando sobra muito oxigênio da combustão

é sinal que gastou-se combustível para aquecer o ar.

2

Temperatura

da água de

alimentação

Algoritmo

não sugeriu

alteração

O algoritmo mostrou que a temperatura da água de

alimentação é ideal.

3 Concentração

do licor preto

Aumentar

3%

Resposta coerente do algoritmo, pois quanto maior a

quantidade de matéria orgânica maior a produção de

68

vapor.

4 Fluxo de licor

preto (m3/h) Travada

Essa variável foi travada na função objetivo, pois

quanto maior o volume de combustível alimentado,

maior a produção de vapor.

5 Temperatura

do licor preto

Algoritmo

não sugeriu

alteração

O algoritmo não sugeriu alteração para a temperatura

do licor preto, subentende-se que a temperatura é

ideal

6 Pressão do

licor preto

Diminuir

2%

O algoritmo mostrou que uma diminuição na pressão

do licor preto é ideal para a pirólise do licor, devido a

melhor formação da gota de licor na fornalha.

7 Fluxo de licor

preto (TSS) Travada

Essa variável foi travada na função objetivo, pois

quanto maior o fluxo mássico de combustível

alimentado maior a produção de vapor.

8 Relação ar /

combustível

Aumentar

5%

O algoritmo indicou aumento na quantidade de ar em

relação à quantidade de combustível.

9 Fluxo de ar

primário

Diminuir

1%

Uma diminuição na quantidade de ar primário

proporciona uma melhora no potencial de redução na

camada de fundidos.

10 Temperatura

do ar primário

Algoritmo

não sugeriu

alteração

O algoritmo não sugeriu alteração para a temperatura

do ar primário, subentende-se que o valor atual é

ideal.

11 Pressão de ar

primário

Diminuir

15%

Uma diminuição na pressão de ar proporciona uma

camada de fundidos maior, proporcionando um tempo

de queima maior da matéria orgânica.

12 Fluxo de ar

secundário

Diminuir

1%

Um fluxo de ar primário menor pode diminuir a

queima na fornalha.

13

Temperatura

do ar

secundário

Aumentar

47%

Um aumento da temperatura do ar secundário pode

aumentar a temperatura da fornalha, porém isso não

pode ser feito na caldeira por falta de equipamento.

14 Pressão de ar

secundário

Algoritmo

não sugeriu

alteração

O algoritmo não sugeriu alteração para a pressão de ar

secundário, subentende-se que a pressão de trabalho

atual é ideal.

69

15 Fluxo de ar

terciário

Aumentar

2%

Um aumento no fluxo de ar terciário ajuda a queimar

a matéria orgânica não queimada na fornalha e que

está sendo arrastada com os gases.

16 Temperatura

do ar terciário

Algoritmo

não sugeriu

alteração

A temperatura do ar terciário é ambiente, não

possibilita alteração.

17 Pressão de ar

terciário

Algoritmo

não sugeriu

alteração

A pressão de trabalho atual é ideal.

18 Ar total Aumentar

25%

O total de ar injetado na caldeira é insuficiente para

manter a combustão ideal.

Fonte: Autor

Analisando-se as respostas do algoritmo mostrado na Tabela 4, tende-se a uma

incoerência, pois, ao mesmo tempo é solicitado uma diminuição do oxigênio e um aumento na

quantidade de ar total. Isso é explicado na distribuição de ar na caldeira, ou seja, o ar estava

sendo injetando no local errado, um exemplo é a sugestão de diminuição do ar primário e ar

secundário e o aumento do ar terciário. O aumento de rendimento com a diminuição do

oxigênio residual é confirmado por (LEFEBVRE e SANTYR, 1989).

Para confirmação dos resultados, analisaram-se as duas principais variáveis

conforme a literatura (ver Capítulo 2), eficiência de redução do sulfeto de sódio e rendimento

da caldeira.

A eficiência de redução é resultado da Equação 4.1. Soma-se a quantidade de

sulfeto de sódio ( SNa2 ) e o carbonato de sódio ( 32CONa ), dividido pela quantidade total da

amostra e multiplicado por 100. O resultado é expresso em porcentagem (%).

100_

322

AmostraTotal

CONaSNaEficiencia

+= (4.1)

O rendimento é obtido por meio da divisão da quantidade de vapor produzido em

hton/ pela quantidade de combustível injetado na caldeira em TSS (Tonelada de Sólido

Seco), conforme mostra a Equação 4.2. O resultado é expresso de forma adimensional.

70

RendimentoLicorFluxo

VaporFluxo

_

_= (4.2)

As alterações das variáveis foram implantadas no mês de outubro de 2009 durante

a parada geral para manutenção, visando maior segurança, evitando interrupção do processo e

verificação da consistência da implementação. Ao observar os resultados, verificou-se uma

melhoria nas duas variáveis analisadas.

Na parte de eficiência de redução obteve-se um aumento médio 1,33%. Passando-

se de um patamar de 96,20% para 97,05%, conforme mostrado nas Figuras 4.1 e 4.2. Esse

aumento na eficiência de redução aumenta em 0,8% a eficiência de reação do licor verde,

melhorando o processo de caustificação, cozimento e evaporação, além de diminuir a

incrustação nos equipamentos. Com esta melhoria deixou de circular no sistema

aproximadamente 4,0 ton/dia de carga morta (material sem função de reação).

Analisou-se a variância dos dados (ANOVA), comprovando o aumento da

eficiência dentro de um intervalo de confiança de 95%, conforme mostrado na figura 4.1.

Figura 4.1: Análise estatística da eficiência de redução da caldeira Fonte: Autor

Teste de hipótese com intervalo de confiança de 95%

71

Segundo Herrera Sosa (2007) a eficiência de redução dentro de uma caldeira

operando adequadamente está próxima de 95% e é desejável atingir o mais alto o grau de

redução possível, uma vez que o Na2S é ativo no cozimento enquanto o sulfato de sódio não o

é.

Figura 4.2: Eficiência de redução da caldeira Fonte: Autor

No rendimento de vapor, obteve-se um aumento médio de 3,1%, passando de 3,19

para 3,29 Ton. vapor/TSS, aumentando a capacidade energética em 2,75 ton./h, conforme

mostrado na Figura 4.3 e 4.4. Calculou-se a média de todas as amostras.

Analisou-se a variância dos dados (ANOVA), comprovando o aumento do

rendimento da caldeira dentro de um intervalo de confiança de 95%, conforme mostrado na

figura 4.3.

Para se produzir esta quantidade de vapor economizado com óleo combustível é

necessário um gasto de R$4,3 milhões/ano. Para se produzir essa quantidade de vapor nas

caldeiras de força, usando casca de madeira que é o combustível mais barato da matriz

energética da empresa, é necessário R$ 800 mil/ano.

Eficiência de Redução da Caldeira

91

92

93

94

95

96

97

98

99

100

mai

-09

jun-

09

jul-0

9

ago-

09

set-0

9

out-0

9

nov-

09

dez-

09

jan-

10

fev-

10

mar

-10

Efic

iênc

ia d

e R

eduç

ão (%

)

Efic. Redução Média Antes Média Depois

72

Figura 4.3: Análise estatística do rendimento da caldeira Fonte: Autor

Figura 4.4: Rendimento vapor / combustível da caldeira

Fonte: Autor

Os resultados mostram-se sustentáveis devido a caldeira trabalhar até a próxima

parada para manutenção com os mesmos resultados de rendimento e eficiência de redução

após a parada. As figuras 4.2 e 4.4 mostram resultados 6 meses após a implantação do

modelo.

Rendimento Caldeira 1 - Vapor(Ton/h) / Fluxo licor negro (TSS)

2,90

3,00

3,10

3,20

3,30

3,40

3,50

3,60

mai

-09

jun-

09

jul-0

9

ago-

09

set-0

9

out-0

9

nov-

09

dez-

09

jan-

10

fev-

10

mar

-10

Ren

dim

ento

Rendimento Média Antes Média Depois

Teste de hipótese com intervalo de confiança de 95%

73

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho apresentou uma aplicação prática de técnicas de inteligência

computacional para determinação dos melhores parâmetros operacionais de uma caldeira de

recuperação Kraft.

Na primeira parte do trabalho mostrou-se uma breve introdução da empresa e do

setor de celulose e papel, descreveram-se os objetivos, motivações e dificuldades da

realização deste trabalho.

Na sequência foi realizada uma revisão bibliográfica que mostrou os principais

processos de uma indústria de celulose Kraft, mostrando a importância da pesquisa

operacional, das redes neurais e do algoritmo elipsoidal como ferramentas para modelagem de

processos industriais.

No Capítulo 3 foi mostrado como o trabalho foi desenvolvido e os métodos

aplicados, evidenciando o estudo das técnicas de redes neurais e do algoritmo elipsoidal e

como foram implementadas no processo estudado.

No Capítulo 4 foram mostrados os resultados alcançados com a aplicação da

otimização dos parâmetros operacionais.

A Seguir, são listadas as principais conclusões do trabalho.

5 CONCLUSÃO

A produção de vapor foi maximizada, otimizando as variáveis de entrada do

processo de combustão da caldeira de recuperação química de uma indústria de celulose

Kraft.

Concluiu-se que o algoritmo elipsoidal é capaz de otimizar os parâmetros de um

modelo não linear, de uma caldeira de recuperação.

O estudo do processo e a construção do diagrama de fluxo da caldeira de

recuperação foram importantes para a visualização do processo e definição das variáveis de

entrada da rede neural.

O sistema de gerenciamento da planta (PIMS) contribuiu na coleta, análise e

filtragem dos dados para uso na identificação do modelo neural.

74

A programação linear não foi uma boa alternativa para modelagem da caldeira de

recuperação, por que a caldeira tem características não lineares e o sistema linear não aceita

restrições não lineares.

A rede neural artificial se mostrou uma boa alternativa para modelagem de uma

caldeira de recuperação Kraft, conseguindo predizer a produção de vapor da caldeira com

uma correlação linear de aproximadamente 0,95.

O coeficiente de correlação linear alcançado entre os dados reais e a predição, se

deve à qualidade dados apresentados à rede neural no período de treinamento e validação e a

qualidade do modelo.

Foi feito um estudo para definição da quantidade de neurônios na camada

escondida que contribuiu para a rede conseguir uma correlação linear entre os valores preditos

e reais, sem comprometer o desenvolvimento do modelo. Um aumento na quantidade

neurônios não iria melhorar de forma significativa a correlação entre as entradas e a saída,

porém dificultaria muito a construção do modelo.

Todos os algoritmos de treinamento testados responderam de forma satisfatória

aos dados apresentados, apresentando uma correlação linear média acima de 0,93. Escolheu-

se o algoritmo TrainBr (Bayesian Regulation backpropagation) porque foi o que obteve

melhor reposta para validação e treinamento.

O algoritmo elipsoidal mostrou-se eficiente na determinação dos melhores

parâmetros operacionais utilizando um modelo neural. O algoritmo apontou uma deficiência

no sistema de combustão das caldeiras e sugeriu ajustes na distribuição de ar para um ganho

operacional.

Verificou-se a importância da correta distribuição de ar e como uma alteração

nessa variável pode proporcionar alterações significativas na produção de vapor e na

eficiência de redução da caldeira de recuperação.

A implementação do modelo proporcionou ganhos operacionais para a indústria

com o aumento da eficiência de redução de sulfato a sulfeto de sódio na camada de fundido,

principalmente na diminuição da quantidade de material inertes no ciclo de recuperação Kraft.

Resultando em possibilidade de aumento de produção e diminuição das incrustações.

A implementação do modelo proporcionou ganhos financeiros para a fábrica em

torno de R$4,3 milhões/ano, com o aumento do rendimento na produção de vapor em relação

ao combustível alimentado.

75

5.1 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como trabalho futuro sugere-se investigar a correlação existente entre as

características químicas do licor preto e suas alterações na caldeira de recuperação. Existem

períodos de operação que o rendimento aumenta ou diminui significativamente e todas as

indicações e parâmetros operacionais continuam os mesmos.

Pesquisar a relação existente entre a eficiência de redução e a produção de vapor no

consumo da energia produzida através da queima do licor preto. Percebeu-se um aumento na

produção de vapor em decorrência de uma pior eficiência de redução na caldeira. Imagina-se

que esse fenômeno aconteça devido à reação endotérmica que acontece na camada de

fundidos. O ideal seria modelar essa reação visando maximizar a produção de vapor e a

eficiência de redução, ou até mesmo priorizar uma variável de acordo com as necessidades da

fábrica.

Desenvolver um aplicativo utilizando algoritmo elipsoidal e rede neural que se adapte

a qualquer massa de dados, independente da quantidade de variáveis.

Pesquisar a influência dos gases do lavador de gases da chaminé quando queimado na

caldeira de recuperação. Visando diminuir a emissão de gases para atmosfera, as novas

caldeiras de recuperação estão queimando os gases provenientes do lavador de gases da

chaminé. Durante o desenvolvimento desse trabalho percebeu-se que o rendimento da caldeira

altera quando é feito esse procedimento.

76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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