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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL ALCIONE AGUIAR SOUZA COMPORTAMENTO ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS DOS ALUNOS DO PRIMEIRO CICLO DO CENTRO PEDAGÓGICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Belo Horizonte 2016

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

ALCIONE AGUIAR SOUZA

COMPORTAMENTO ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS DOS ALUNOS DO

PRIMEIRO CICLO DO CENTRO PEDAGÓGICO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE MINAS GERAIS

Belo Horizonte

2016

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ALCIONE AGUIAR SOUZA

COMPORTAMENTO ALIMENTAR DAS FAMÍLIAS DOS ALUNOS DO

PRIMEIRO CICLO DO CENTRO PEDAGÓGICO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DE MINAS GERAIS

Dissertação apresentada ao Colegiado do

Programa de Pós-Graduação em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local como

requisito parcial para obtenção do título de

mestre.

Área de concentração: Inovações sociais e

desenvolvimento local.

Linha de pesquisa: Educação e desenvolvimento

local

Orientadora: Profa. Dra. Matilde Meire Miranda

Cadete

Belo Horizonte

2016

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NOTA INTRODUTÓRIA

No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do

Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas

aprovadas por seu Colegiado:

Para os elementos textuais:

1. A Introdução deve trazer o tema, problema, questão central da pesquisa, hipótese

(facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos;

2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática da pesquisa, dentro

de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um

artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores

(o/a mestrando/a e o/a orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords,

introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices;

3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo/a mestrando/a. É

esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo:

título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o/a mestrando/a e o/a

orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica,

metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais,

referências, notas, anexos e apêndices;

4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão teórica e da pesquisa

realizada pelo/a mestrando/a, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que

contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o/a mestrando/a e

o/a orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para

introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico,

considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;

5. Por último, o/a mestrando/a deve trazer as considerações finais da dissertação;

6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em dissertações e teses;

7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser considerada, mas é

indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de

um artigo.

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RESUMO

A alimentação sempre esteve presente na vida dos homens, uma vez que biologicamente a

comida é necessária para sobreviver. É também uma prática social, construída historicamente

e resultante da integração das dimensões biológica, sociocultural, ambiental e econômica. A

percepção de que as famílias de alunos do Centro Pedagógico (CP) da Universidade Federal

de Minas Gerais (UFMG) adotavam um comportamento alimentar diferente do praticado na

instituição foi a principal motivação desta pesquisa que objetivou analisar, na perspectiva das

famílias de crianças do CP da UFMG, o comportamento alimentar, a compreensão acerca do

conceito de alimentação saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades

para formar hábitos alimentares saudáveis. Assim, esta pesquisa, com abordagem quanti-

qualitativa, teve como objeto as famílias dos alunos do primeiro ciclo de formação humana.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram questionário, respondido por 102

famílias, e entrevista semiestruturada realizada com nove mães. Os dados do questionário

tratados pelo programa EPINFO 7.0 assinalaram que a compra de alimentos é feita em 51%

dos lares pelos pais e destes apenas 13,86% sempre leem as informações nutricionais contidas

nos rótulos dos alimentos e 75% leem apenas a data de validade. Esses dados são

preocupantes uma vez que, no mínimo, a validade deveria ser lida em 100% das vezes. A

maioria das famílias, isto é, 92 do total de 102, permitem que as crianças exerçam influência

nas compras de alimentos e apenas cinco delas nunca o permitiram. Contrariamente ao

resultado de outros estudos, encontrou-se nesta pesquisa que as famílias mais abastadas

consomem menor quantidade de refrigerantes, salgadinhos fritos e doces. Porém para os

alimentos embutidos esse hábito foi positivo para 97% dos sujeitos, ainda assim mais de 80%

das famílias consomem o tradicional arroz com feijão em pelo menos cinco dias da semana.

Apesar disso, 26,21% não comem frutas e 12,75% não comem folhosos todos os dias. Em

relação aos fatores dificultadores de adoção de uma alimentação saudável, mais de 50%

responderam que a alimentação ficaria mais cara e afirmaram ser muito difícil mudar a rotina

familiar. Das entrevistas, com base na análise de conteúdo temática à luz de Bardin

emergiram nove categorias: problemas de saúde, rotina alimentar, refeições em família,

hábitos alimentares, impactos na alimentação na saúde das crianças, sentimentos e sentidos

atribuídos à alimentação, alimentação saudável, influência da mídia e alimentação fora de

casa. Considera-se que os dados apontaram que parte do comportamento alimentar das

famílias pesquisadas não está de acordo com as diretrizes da boa alimentação preconizadas

pelo Guia Alimentar da População Brasileira, solicitando a inserção de programas de

educação alimentar e nutricional nas escolas, e elegendo como público-alvo as famílias, tendo

em vista que a segurança alimentar e nutricional está conectada às questões de saúde, e a

obesidade infantil é um problema de saúde pública. Por se tratar de mestrado profissional,

dois produtos técnicos foram construídos: uma roda de conversa com os participantes da

pesquisa com vistas à discussão das demandas, problemas, dificuldades identificadas e, assim,

tecer uma proposta de construção e reconstrução da realidade pelo ato educativo reflexivo,

que acontece tanto por meio da fala quanto da escuta. O outro produto é um livro de receitas

que incitará o ser e o estar juntos na elaboração de alimentos entre pais e filhos, criando

oportunidades não só do cozinhar alimentos, mas cozinhar afetos e diálogos entre ambos.

Entende- se que o comportamento alimentar assertivo é um aprendizado que se dá para além

das teorias, efetivando-se, portanto, no contexto cultural e social, bem como pela descoberta

dos sentidos e das diversas emoções e sensações que envolvem o ato de comer. Alimentar

nutre o corpo e nutre a alma.

Palavras chave: Alimentação. Educação Alimentar. Comportamento Alimentar. Família.

Desenvolvimento Local.

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ABSTRACT

Food has always been part of the lives of men, since, biologically, food is needed to survive.

It is also a social practice, built historically and resulting from the integration of the

biological, socio-cultural, environmental and economic dimensions. A Perception that the

families of students of the Pedagogical Center (CP) of the Federal University of Minas Gerais

(UFMG) adopt a behavior different from the institution was the main motivation of this

research that aimed to analyze, in the perspective of the families of the CP of the UFMG, the

eating behavior, the understanding about the concept of healthy eating and its impact on

children's health, as well as the difficulties to form healthy eating habits. Thus, this research,

presenting quanti-qualitative study had as it's object the families of the students of the first

cycle of human formation. The instruments of data collection used were a questionnaire,

answered by 102 families, and a semi-structured interview with nine mothers. The

questionnaire data treated by the EPINFO 7.0 software pointed out that the purchase of food

is made in 51% of the households by the parents and of these only 13.86% always read the

nutritional information contained on food labels and 75% read only the expiration date. These

data shows that at least expiration date should be read 100% of the time. A majority of

families, ie 92 out of 102, allow children to exercise and only five of them never allowed it.

Contrary to the result of other studies, it was found in this research that the most wealth

families consume less amount of soft drinks, fried and sweet snacks. However, for food, this

habit was positive for 97% of the subjects, yet more than 80% of families consume traditional

rice and beans on at least five days of the week. Despite this, 26.21% do not eat fruits and

12.75% do not eat leafy vegetables every day. In regards to the factors that make it difficult

to adopt a healthy diet, more than 50% answered that food would be more expensive and said

that it was very difficult to change the family's routine. From the interviews, based on the

analysis of thematic content of Bardin's nine categories emerged: health problems, dietary

routine, family meals,eating habits, food impacts on children's health, feelings and senses

attributed to food, healthy eating, media and home food. It is considered that the data pointed

out that part of the families is not in accordance with the recommended feeding guidelines the

Food Guide of the Brazilian Population, requesting the insertion of programs of food and

nutrition education in schools, and targeting households, taking into account the the

perception, as a fact, that food and nutrition security is connected to health issues, and

childhood obesity is a public health concern. Since it is a professional master's degree, two

technical products were built: a round table with the participants of the research with a view

to the discussion of the demands, problems, difficulties identified and, thus, to make a

proposal of construction and reconstruction of reality by the reflective educational act, which

happens both through speech and listening. The other product is a cookbook that will

encourage parents and children being together while elaborating their meals, creating

opportunities not only to cook food, but to cook affections and dialogues between both. It is

understood that assertive eating behavior is a learning process that takes place beyond of

theories, thus materializing in the cultural and social context, as well as the discovery of the

senses and the various emotions and sensations that involve the act of eating. The food

nourishes the body and nourishes the soul.

Key words: Feeding. Nutrition education. Food Behavior. Family. Local Development.

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Lista de gráficos

Gráfico 1 – Nível de escolaridade das famílias do primeiro ciclo de formação humana do

CP/UFMG ................................................................................................................................53

Gráfico 2 – Faixa de renda das famílias do primeiro ciclo de formação humana do

CP/UFMG

...................................................................................................................................................53

Gráfico 3 – Consumo de embutidos pelas famílias do primeiro ciclo de formação humana do

CP/UFMG ................................................................................................................................57

Gráfico 4 – Mudanças de hábitos das famílias do primeiro ciclo de formação humana do

CP/UFMG ................................................................................................................................60

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Lista de tabelas

Tabela 1 – Influência das crianças na compra de alimentos em relação à renda das famílias do

primeiro ciclo de formação humana do CP da UFMG. Fevereiro e Março, 2016 ...................55

Tabela 2 – Consumo de frituras, salgadinhos fritos em pacotes e outros, em relação à renda

das famílias do primeiro ciclo de formação humana do CP da UFMG. Fevereiro e Março de

2016

..................................................................................................................................................56

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Lista de quadros

Quadro 1 – Distribuição de número de artigos por descritores e número de artigos utilizados

por base de dados .....................................................................................................................23

Quadro 2 – Distribuição dos artigos de revisão por ano de publicação e periódico que

publicou

...................................................................................................................................................24

Quadro 3 – Distribuição dos artigos de pesquisa de campo por ano de publicação e periódico

que publicou .............................................................................................................................24

Quadro 4 – Caracterização dos artigos por métodos, resultados e conclusões ........................26

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Lista de siglas e abreviaturas

BVS Biblioteca Virtual de Saúde

CP Centro Pedagógico

DHAA Direito Humano à Alimentação Adequada

DL Desenvolvimento Local

EAN Educação Alimentar e Nutricional

FAFICH Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

FAO Organização das Nações Unidas para e Agricultura e Alimentação

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IMC Índice de Massa Corporal

LILACS Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde

MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC Ministério da Educação e Cultura

MS Ministério da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição

POF Pesquisa de Orçamentos Familiares

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SAS Setor de Apoio a Saúde

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SCiELO Scientific Electronic Library Online

SM Salário Mínimo Vigente

TCLE Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

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À minha mãe que sempre foi exemplo de persistência e

coragem. Com ela aprendi a não desistir dos sonhos.

À minha filha que me ensina todos os dias que cada um é

edição única.

À minha família pelo incentivo, carinho e apoio.

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Agradecimentos

À Deus por me dar vida e saúde para alcançar esta conquista.

À minha família espiritual da meditação pela energia extra destinada a mim.

À Professora Dra Matilde Meire Miranda Cadete, pelos ensinamentos, carinho, dedicação,

paciência, confiança. Obrigada por me proporcionar uma relação de respeito pelo meu saber.

Isto me permitiu construir com bastante liberdade este trabalho.

Às professoras Dra Adilene Gonçalves Quaresma e Dra Lúcia Afonso, pelas contribuições no

exame de qualificação.

Aos professores e colegas do Mestrado pelas conversas, risadas, trocas de experiências,

aprendizados, e especialmente pelos encontros maravilhosos da confraria e do bar da esquina.

Levarei amizades por toda a vida.

Às famílias do primeiro ciclo de formação humana do Centro Pedagógico da UFMG. Sem

Vocês, nada seria possível.

Aos meus colegas de trabalho que me possibilitaram a licença capacitação.

À Walquíria Brandão que me amparou em todos os momentos que necessitei.

À minha amiga e revisora, Rita Viana Gonsalves, que, sempre com muito carinho, dedicação,

zelo e competência, revisou os materiais. Além, de me ouvir em momentos de desespero.

Obrigada pela paciência.

Aos amigos e as pessoas que acreditaram e torceram por mim. A todos que de alguma forma

participaram desta maratona.

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“A primeira lição é que não há palavra que possa

ensinar o gosto do feijão ou o cheiro do coentro. É

preciso provar, cheirar, só um pouquinho, e ficar ali,

atento, para que o corpo escute a fala silenciosa do

gosto e do cheiro. Explicar o gosto, enunciar o

cheiro; pra estas coisas a Ciência de nada vale; é

preciso sapiência, ciência saborosa, para se caminhar

na cozinha, este lugar de saber-sabor. Cozinheiro:

bruxo, sedutor. "— Vamos, prove, veja como está

bom..." Palavras que não transmitem saber, mas

atentam para um sabor. O que importa está para

além da palavra. É indizível”.

Rubem Alves

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SUMÁRIO1

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15

Capítulo 1: O papel das famílias e da escola na formação de hábitos alimentares saudáveis de

crianças escolares ..................................................................................................................... 19

1.1 Introdução ....................................................................................................................... 20

1.2 Objetivo .......................................................................................................................... 22

1.3 Metodologia ................................................................................................................... 22

1.4 Resultados ...................................................................................................................... 23

1.5 Discussão ........................................................................................................................ 29

1.5.1 Alimentação e sociedade ......................................................................................... 29

1.5.2 Alimentação e família ............................................................................................. 30

1.5.3 Mídias e hábitos alimentares ................................................................................... 33

1.5.4 Educação Alimentar e Nutricional .......................................................................... 34

1.6 Considerações finais ....................................................................................................... 35

Referências ........................................................................................................................... 37

Capítulo 2: Comportamento alimentar das famílias dos alunos do primeiro ciclo do Centro

Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais ............................................................ 40

2.2 Discussão teórica ............................................................................................................ 43

2.2.1 A alimentação na perspectiva interdisciplinar: uma abordagem da antropologia

cultural .............................................................................................................................. 43

2.2.2 O significado da alimentação na família e a sua relação com a segurança alimentar

e nutricional ...................................................................................................................... 45

2.2.3 Alimentação, educação e desenvolvimento local .................................................... 46

2.2.4 A influência da mídia na alimentação ..................................................................... 49

2.3 Metodologia ................................................................................................................... 50

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo Ortográfico

assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em vigor no

Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR 14724 de 17.04.2011

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2.4 Análise e discussão de resultados ................................................................................... 52

2.4.1 Análise dos dados do questionário .......................................................................... 52

2.4.2 Análise das entrevistas ............................................................................................ 62

2.4.2.1 Problemas de saúde .......................................................................................... 63

2.4.2.2 Rotina alimentar ............................................................................................... 65

2.4.2.3 Refeições em Família ....................................................................................... 68

2.4.2.4 Hábitos alimentares .......................................................................................... 69

2.4.2.5 Impactos da alimentação na saúde ................................................................... 72

2.4.2.6 Sentimentos e sentidos atribuídos à alimentação ............................................. 73

2.4.2.7 Alimentação Saudável ...................................................................................... 75

2.4.2.8 Influência da Mídia .......................................................................................... 76

2.4.2.9 Alimentação fora de casa ................................................................................. 79

2.5 Considerações finais ....................................................................................................... 79

Referências ........................................................................................................................... 82

Capítulo 3: Roda de conversa: ferramenta pedagógica para a compreensão dos problemas

alimentares contemporâneos .................................................................................................... 87

3.1 Introdução ....................................................................................................................... 88

3.2. A educação na prespectiva dialógica ............................................................................ 89

3.2.1 A toria Freiriana de educação .................................................................................. 89

3.2.2 A educação inovadora e emancipadora ................................................................... 91

3.3 A educação em saúde como meio de transformação para uma melhor qualidade de vida

individual e coletiva ............................................................................................................. 92

3.4 A Educação Alimentar e Nutricional ............................................................................. 93

3.5 A roda de conversa ......................................................................................................... 95

3.5.1 A roda de conversa como instrumento pedagógico ................................................ 95

3.5.2 A operacionalização do produto técnico “Roda de Conversa” ............................... 96

3.6 Considerações finais ....................................................................................................... 98

Referências ........................................................................................................................... 99

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LIVRO DE RECEITAS ....................................................................................................... 103

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 114

APÊNDICES ......................................................................................................................... 117

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INTRODUÇÃO

A alimentação sempre esteve presente na vida dos homens, uma vez que,

biologicamente, o alimento é necessário para garantir a sobrevivência humana. Porém, a ação

de comer não tem como objetivo apenas matar a fome. Apresenta diversos significados e

sofre influências da cultura e da organização da sociedade (MOREIRA, 2010; BRASIL,

2012).

A dimensão social e comportamental da alimentação surge após a descoberta do fogo.

Desta forma, foram instituídos rituais e comportamentos de comensalidade como o “que

comer”, o “como se come”, o “comer à mesa” e o “conviver à mesa” (STRAUSS, 2004). Ao

longo do tempo, as demandas alimentares evoluíram e retrataram as mudanças que

aconteceram no mundo.

No cenário mundial, os padrões alimentares inerentes a cada cultura alteraram-se para

padrões globalizados compostos por alimentos com alto teor de sódio, açúcar e calorias

(BRASIL, 2013 b; BRASIL, 2014).

Especificamente, no Brasil, nas últimas décadas, os hábitos e comportamentos

alimentares sofreram alterações causadas por novas demandas sociais e mudanças na estrutura

e modos de vida das famílias. O fator de maior impacto foi a entrada das mulheres no

mercado de trabalho que se traduziu em menor tempo para cuidar das rotinas tradicionalmente

consideradas como femininas: cuidar dos filhos e cozinhar para a família (BRASIL, 2013 b;

BRASIL, 2014). Em consequência, novos alimentos foram introduzidos na dieta alimentar da

família, que são, em sua maioria, produtos de preparo rápido e fácil, mas, às vezes, em

desacordo com as normas de saúde (COSTA; VASCONCELOS et al., 2012; ONU, 2014).

Como resultado desse novo cenário, a obesidade, o sobrepeso e a má alimentação

estão se desenvolvendo cada vez mais cedo, independentemente da idade e fase de vida em

que os indivíduos se encontram (BRASIL, 2012; BRASIL, 2014; ONU, 2014).

No Brasil, dados estatísticos evidenciam o quadro de insegurança alimentar instalado

entre crianças e adolescentes brasileiros. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares

(POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, as crianças de 5 a 9 anos

apresentam índice de sobrepeso e/ou obesidade de 16,6% (meninos) e 11,8% (meninas)

(BRASIL, 2010).

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Assim, este trabalho elegeu, como objeto de estudo, o comportamento alimentar das

famílias dos alunos do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais

(CP/UFMG), além dos impactos que este comportamento causa na saúde dos filhos.

O CP/UFMG é uma escola de ensino fundamental cujo horário das aulas é das 7h

30min às 15h10min. Nesse período integral, oferece aos alunos de 1ª a 9ª séries uma refeição

e dois lanches por dia, em atendimento à Resolução nº 26, de 17 de junho de 2013, que dispõe

sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do

Programa Nacional de Alimentação Escola (PNAE) (BRASIL, 2013 c).

Neste contexto, entre outubro e novembro de 2013, o Setor de Apoio à Saúde do

CP/UFMG realizou uma avaliação nutricional dos alunos conforme normas e parâmetros

recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Utilizou como índices

antropométricos a estatura, o peso e o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade com o

objetivo de conhecer o estado nutricional dos alunos.

Foram avaliadas 575 crianças, dentre as quais foram 299 meninos e 276 meninas com

idade entre seis anos e seis meses a 18 anos e sete meses. Os resultados não apontaram

diferença estatística relevante quanto ao sexo das crianças. A pesquisa assinalou que 21,5%

delas apresentam sobrepeso e 10,6% estão obesos e apenas 2,8% estão com o IMC abaixo do

esperado para a idade. Comparativamente esses dados apontam que os alunos têm índices

maiores que a média brasileira já citada anteriormente. Destaca-se, ainda, que os resultados

dessa pesquisa desvelaram a pertinência de se fazer este trabalho (UFMG, 2014).

Os profissionais que trabalham no CP/UFMG, envolvidos tanto na alimentação quanto

nos mais diversos setores, como direção, professores, monitores, enfermeiros, assistente

social e psicólogo, observam que a composição dos lanches que os alunos trazem de casa é

rica em sódio, açúcar e gordura, apesar da orientação e proibição da escola de não os trazer.

Paralelamente a essa situação, existe a recusa de lanches e refeição nutricionalmente

saudáveis oferecidos pela escola.

Diante dessa situação complexa, pergunta-se: qual o entendimento que as famílias dos

alunos do CP/UFMG dispõem sobre alimentação e seus impactos na saúde dos filhos?

O foco desta pesquisa foi a família por ser o primeiro meio social a partir do qual o ser

humano se desenvolve e onde irão ser formados os hábitos, preferências, práticas e

comportamentos sociais, afetivos e os alimentares (MAIA et al, 2012; JUZWIAK, 2013).

Este trabalho, portanto, objetivou analisar, na perspectiva das famílias de crianças do

CP/UFMG, o comportamento alimentar, a compreensão acerca do conceito de alimentação

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saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades para formar hábitos

alimentares saudáveis.

E como objetivos específicos almejou-se:

a) identificar, na literatura, o que se tem publicado acerca de alimentação do escolar, dos

hábitos alimentares familiares e seus impactos na saúde dos filhos;

b) conhecer o comportamento alimentar e o entendimento das famílias acerca da alimentação

saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades na formação de

hábitos alimentares saudáveis;

c) elaborar produtos técnicos na forma de “rodas de conversas” e “livro de receitas” que

potencializem o trabalho com as crianças, com a comunidade escolar e com as famílias.

Espera-se que os resultados desta pesquisa se corporifiquem em importante

instrumento para legitimar a escola como um espaço propício para a práxis social, que

segundo Paulo Freire “práxis implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para

transformá-lo”(FREIRE, 2003, p. 67), bem como uma ferramenta de grande importância para

que se estabeleçam novas ações e práticas de Educação Alimentar e Nutricional (EAN), por

meio de estratégias e ferramentas com vistas à promoção de hábitos alimentares saudáveis e

estímulo aos alunos e às famílias para se tornarem sujeitos reflexivos e autônomos,

conscientes de suas escolhas individuais e coletivas (BRASIL, 2012).

Os produtos técnicos advindos desta pesquisa terão viés educativo com fundamentação

pedagógica e didática afinados à educação social voltada para o empoderamento das famílias.

Um deles é a “rodas de conversa” voltadas para pais, alunos, comunidade escolar e sociedade

sobre as temáticas elencadas por estes atores como relevantes e um “livro de receitas” para

pais e filhos. A roda de conversa, por se constituir em uma prática social, poderá ser

desenvolvida na escola ou nas comunidades (BRASIL, 2013 a e b).

Esses produtos técnicos propostos serão instrumentos sociais de grande importância

por serem pautados em processos de construção coletiva do conhecimento que leva em conta

a cultura, região geográfica, convívio social, conhecimento popular, crenças, família e outros.

Em longo prazo, espera-se que os resultados desta pesquisa também assegurem a formação de

novos parceiros e agentes multiplicadores para disseminar a alimentação saudável e o

conhecimento do seu impacto na saúde, conforme concepção e recomendações da FAO/OMS,

Ministérios da Saúde, Educação e Cultura e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Esta dissertação é composta por três capítulos na forma de artigos. O primeiro capítulo

versa sobre o referencial teórico com descrição do papel das famílias e da escola na formação

de hábitos alimentares saudáveis de crianças escolares. Discutiu-se o seguinte tema: as

Page 22: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO ... · O outro produto é um livro de receitas ... Tabela 2 – Consumo de frituras, salgadinhos fritos em pacotes e outros, em relação

18

influências que a sociedade, a família e as mídias exercem sobre os hábitos alimentares. Além

disso, como a escola e a família podem contribuir para a reflexão sobre a alimentação de

crianças nos âmbitos escolar e familiar, com vistas ao direcionamento de ações eficazes e

transformadoras.

O segundo capítulo retrata o comportamento alimentar das famílias do CP/UFMG,

utilizando-se de pesquisa de campo. Trata-se de pesquisa com abordagem quanti e qualitativa,

cujos dados foram coletados por meio de um questionário elaborado com base no teste “Como

está a sua alimentação?”, que integra o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL,

2014) e nos instrumentos de pesquisa da dissertação de Carmo (2015). O questionário foi

respondido por 102 famílias, e os dados foram inseridos no programa EPINFO versão 7.0 e

tratados por meio de categorização, codificação e tabulação. Outro instrumento utilizado foi a

entrevista semiestruturada com nove famílias, adotando-se a técnica de análise de conteúdo

temática à luz de Bardin (2016).

O terceiro capítulo trata dos produtos técnicos advindos dos dados coletados na

pesquisa de campo, o que significa dizer que foram organizados a partir dos juízos/ideias/

pensamentos de todos os sujeitos participantes deste estudo. Esses produtos se assentam em

trabalho educativo com fundamentação pedagógica e didática afinados com a educação

popular e emancipadora. Nas considerações finais, resgata-se a questão originária desta

pesquisa com descrição sucinta da visão e compreensão de comportamento alimentar saudável

das famílias das crianças do CP/UFMG e o que se avançou com os resultados obtidos, além, é

claro, de proposições de progressos e das lacunas a serem estudadas.

Page 23: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO ... · O outro produto é um livro de receitas ... Tabela 2 – Consumo de frituras, salgadinhos fritos em pacotes e outros, em relação

19

Capítulo 1: O papel das famílias e da escola na formação de hábitos

alimentares saudáveis de crianças escolares

Alcione Aguiar Souza2

Matilde Meire Miranda Cadete3

Resumo

Este estudo objetivou analisar, recorrendo-se a uma revisão de literatura integrativa, o papel

das famílias e da escola na formação de hábitos alimentares saudáveis de crianças escolares.

A busca eletrônica foi realizada nas bases de dados LILACS e SciELO. Procurou-se por

artigos brasileiros, publicados nos anos de 2010 a 2015, com os descritores: comportamento

alimentar, educação alimentar, alimentação escolar, segurança alimentar e nutricional. De um

total de 458 artigos encontrados, apenas 17 apresentavam os requisitos estabelecidos para

compor este estudo. Também foram pesquisados Programas do Ministério do

Desenvolvimento Social, Ministério da Educação e Cultura e Ministério da Saúde. Concluiu-

se que alimentar é um ato que não tem apenas o objetivo de matar a fome, mas que oportuniza

interações sociais. O indivíduo, ao realizar as suas escolhas alimentares, sofre influências

psicológicas, afetivas, culturais, familiares, sociais e outras. A saúde e a segurança alimentar e

nutricional, atualmente, estão em risco não só no Brasil, mas em todo o mundo, com o

crescente número de crianças em situação de obesidade e sobrepeso. A família, como

instituição, precisa repensar seus valores, rotinas de vida, condutas e comportamentos sociais

e afetivos, e a escola exerce papel essencial nesse processo de saúde alimentar.

Palavras chave: Comportamento alimentar. Educação alimentar. Alimentação escolar.

Segurança alimentar e nutricional.

Abstract

This study aimed to analyze, through an integrative literature review, the role of family and

school in the formation of healthy eating habits of school children. The electronic search was

performed in LILACS and SciELO databases of Brazilian articles and published in the years

2010-2015, with the key words: feeding behavior, nutrition education, school feeding, food

safety and nutrition. A total of 458 items found, composed 17.Também this study were

surveyed Programs of the Ministry of Social Development, Ministry of Education and Culture

and the Ministry of Health. It was concluded that feeding is an act that gives opportunity

social interactions, and which has not only the purpose of killing hunger. The individual, to

make their food choices, suffer psychological influences, affective, cultural, family, social and

others. Health and food and nutrition security currently are at risk not only in Brazil but all

over the world, with the increasing number of children in obesity and overweight status. The

family needs to rethink their values, life routines, behaviors and social and affective behavior

and the school plays an essential role in health food process.

2 Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL) do

Centro Universitário UNA de Minas Gerais. 3 Matilde Meire Miranda Cadete. Profa. Doutora Orientadora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL) do Centro Universitário UNA de Minas Gerais.

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20

Keywords: Feeding behavior. Nutrition education. School feeding. Food safety and nutrition.

1.1 Introdução

Cada sociedade tem características particulares que retratam os seus ambientes natural

e social. Uma dessas características é a alimentação, cujas práticas refletem símbolos e

significados e determinam concepções alimentares que devem ser compreendidas nas

dimensões sociais, culturais, econômicas, ambientais, religiosas, emocionais, psicológicas

dentre outras (OLIVEIRA, 2012; BRASIL, 2013 a).

À medida que a humanidade foi evoluindo, novas demandas alimentares surgiram.

Como decorrência, os padrões alimentares se alteraram e nem sempre de forma positiva

(MORAES:DIAS, 2012). Nos últimos anos, no mundo todo, a diversidade de alimentos, as

maneiras de preparo e os modos de se alimentar, que eram inerentes a cada cultura, foram

sendo substituídos por alimentos industrializados que são comercializados em todo o mundo.

Estes, na sua grande maioria, são compostos por alimentos com alto teor de sódio, açúcar e

calorias (BRASIL, 2013 a).

Essa nova maneira de se alimentar foi batizada “transição nutricional” e trouxe amplos

desafios aos pesquisadores de diversas áreas como saúde, nutrição e outras, pois o excesso e a

abundância estão presentes nas formas de se relacionar com a alimentação, nas ofertas de

incontáveis alternativas alimentares e pela enorme quantidade de canais de informação, nem

sempre confiáveis, que tratam de assuntos referentes a questões alimentares (FONSECA et

al., 2011; VICENZI, 2015).

Nesta realidade, o Brasil, em 30 anos, saiu diretamente de uma situação de carência

para um contexto de excesso, fato este causado pelas mudanças nos modo de vida e na

sociedade, que tiveram como implicações novas formas de as pessoas se relacionarem com a

alimentação (BRASIL, 2012). Esta modificação no perfil de consumo das famílias brasileiras

apresenta como causas: a entrada maciça das mulheres no mundo do trabalho, os grandes

avanços na economia, mudanças na organização social e cultural, as políticas públicas

inclusivas de renda mínima e a rápida transição demográfica da vida rural para a vida urbana

(BRASIL, 2014).

Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os alimentos industrializados são cada vez mais

consumidos no Brasil, o que faz com que as famílias reduzam o consumo de alimentos in

natura (BRASIL, 2010).

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21

Esta mesma pesquisa relata que cresce cada vez mais o consumo de alimentos com

baixo teor de nutrientes, alto valor calórico e, paralelamente, decai o consumo de frutas,

verduras e legumes eleva a ingestão de bebidas como sucos, refrigerantes e refrescos,

principalmente pelas crianças e adolescentes. Entretanto, a pesquisa informa que o consumo

de arroz com feijão é ainda tradição na dieta do brasileiro e com eco de outros autores

(BRASIL, 2008 e 2012; MORAES; DIAS, 2012; BRASIL, 2013 a; SILVA et al., 2015).

Estes achados mostram que as escolhas alimentares, além de serem

influenciadas por aspectos subjetivos relacionados ao conhecimento e per-

cepções, recebem interferência de fatores econômicos, sociais e culturais,

como constatado neste e em outros estudos (FONSECA et al., 2011, p.

3304).

A pesquisa do IBGE, citada anteriormente, também revelou que crianças de 5 a 9 anos

apresentam um índice de sobrepeso e/ou obesidade na ordem de 16,6% para meninos e de

11,8% para meninas (IBGE, 2010). Na literatura internacional, dados apontam para índices

mais elevados, uma vez que no mundo a média é de 31,6% das crianças com obesidade e

sobrepeso (VICENZI, 2015).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), o sobrepeso e a obesidade,

determinam grande impacto na saúde. Essas enfermidades são consideradas como complexas

(SILVA et al., 2010), e devem-se levar em conta os fatores ambientais e sociais que

influenciam os hábitos e práticas alimentares (BRASIL, 2013 a).

Nesse cenário, a epidemia da obesidade infantil surge como um desafio do

século XXI, não somente para as famílias que lidam com o problema, pois

necessitam de constantes adaptações, mas também para toda a comunidade

científica que se dedica ao entendimento desse fenômeno (MORAES; DIAS,

2012, p. 319).

Sendo a educação uma interação humana e social, ela não pode estar à margem dos

problemas que a sociedade enfrenta. Os indivíduos, frente às inúmeras possibilidades de

consumo, e uma vez estando conscientes das suas práticas e hábitos alimentares, deverão ser

capazes de tomar a decisão ativa e informados sobre o que consumir, reconhecendo as

possibilidades de experimentarem, de se reorientarem, isto é, de ganhar liberdade em relação

aos aspectos envolvidos no seu comportamento alimentar (BRASIL, 2013).

Desta forma, a educação pode auxiliar crianças e adolescentes a diminuírem os riscos

de desenvolverem doenças relacionadas à alimentação por causa da qualidade dos alimentos

que consomem. Essa educação pode acontecer na escola, ou nas agências socioassistenciais

(BRASIL, 2012; BRASIL, 2013 a; BRASIL, 2014; OMS, 2014).

Page 26: CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO ... · O outro produto é um livro de receitas ... Tabela 2 – Consumo de frituras, salgadinhos fritos em pacotes e outros, em relação

22

Face ao atual cenário inquietante em que crianças cada vez mais jovens apresentam

problemas de saúde ligados à alimentação, este estudo torna-se relevante, pois descreve as

principais publicações ocorridas nos últimos e desvela um panorama que nos convoca como

profissionais da educação, saúde e familiares à busca, em conjunto, de estratégias efetivas

para melhoria desse quadro nacional e mundial de obesidade infantil, hipertensão, colesterol

alto, dentre outros.

Espera-se que os resultados computados a partir da leitura dos artigos que compõem

este estudo possam contribuir para a reflexão sobre a alimentação de crianças nos âmbitos

escolar e familiar, com vistas ao direcionamento de ações eficazes e transformadoras.

1.2 Objetivo

Analisar, mediante uma revisão de literatura integrativa, o papel das famílias e da

escola na construção de hábitos alimentares saudáveis de crianças em idade escolar.

1.3 Metodologia

A questão norteadora que suscitou a intenção de realizar este trabalho foi: o que se tem

publicado em periódicos científicos a respeito do papel das famílias e da escola na construção

de hábitos alimentares saudáveis de crianças em idade escolar?

Assim, este estudo se fundamentou na revisão integrativa que, de acordo com

Whittemore e Knafl (2005), trata-se de uma abordagem metodológica que permite incluir

todo tipo de estudo e, assim, obter maior compreensão do fenômeno analisado. Foram

adotados procedimentos para revisão de literatura, utilizando, de forma sistemática, métodos

para identificar, selecionar e analisar os artigos que foram abordados neste trabalho.

As bases de dados consultadas foram a Literatura Latino‐Americana e do Caribe em

Ciências da Saúde (LILACS) e a biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library On-line

(SciELO), bem como os documentos públicos do Ministério do Desenvolvimento Social,

Ministério da Educação e Cultura e Ministério da Saúde.

Em janeiro de 2016, foram selecionados estudos publicados nos últimos seis anos, ou

seja, de 2010 a 2015, cujas pesquisas realizadas no Brasil tiveram como público-alvo crianças

e adolescentes, a partir dos seguintes descritores: comportamento alimentar, educação

alimentar, alimentação escolar e segurança alimentar e nutricional.

Após busca de material publicado nas bases de dados, iniciou-se a seleção dos artigos

por meio da leitura dos respectivos títulos e resumos, tendo como norte os critérios de

inclusão: artigo, acesso ao texto completo, data de publicação e temas focados em relações

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familiares e alimentação, obesidade infantil, educação alimentar e nutricional, em escolas de

ensino fundamental.

Foram excluídos os artigos que não foram considerados dentro da temática e ou que

não se enquadravam nos requisitos expostos. Posteriormente, os artigos foram lidos na íntegra

e fichados, com observância dos objetivos, metodologia, resultados e conclusões, o que

permitiu uma análise aprofundada para que se elaborasse uma síntese do conhecimento

científico disponível nos textos.

1.4 Resultados

Com base nos critérios pré-estabelecidos, fez-se o levantamento do material,

identificando, em um total 458 artigos disponibilizados nas bases de dados, apenas 20 foram

considerados, porém três estavam indexados em mais de uma base de dados. Assim, 17

artigos foram considerados como objeto deste estudo. O Quadro 1 demonstra que apenas 4,72

dos artigos indexados na base LILACS, e 2,85 na base SciELO tratam das questões

relacionadas a alimentação de crianças escolares.

Quadro 1 – Distribuição de número de artigos por descritores e número de artigos utilizados

por base de dados

DESCRITOR ARTIGOS ACHADOS

LILACS

ARTIGOS UTILIZADOS

LILACS %

ARTIGOS ACHADOS

SciELO

ARTIGOS UTILIZADOS

SciELO %

Comportamento Alimentar

73 6 117 3

Segurança Alimentar

87 0 85 1

Educação Alimentar

46 2 44 2

Alimentação Escolar

6 2 84 1

TOTAL DE ARTIGOS

212 10 4,72 246 7 2,85

Esses números indicam baixa produção acadêmica voltada para essa temática, apesar

de a OMS relatar o excesso de peso em crianças em idade escolar, ou seja, entre 5 a 16 anos,

como um problema de saúde pública em todo o mundo, e que poderá chegar a 9,1% em 2020

(OMS, 2010).

Os níveis de evidência dos artigos utilizados estão classificados nos níveis quatro,

“evidências de estudos descritivos (não experimentais) ou com abordagem qualitativa” e

cinco, “evidências provenientes de relatos de caso ou de experiência”.

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24

Os Quadros 2 e 3 mostram que o número de artigos por metodologia reflete uma

distribuição homogênea entre pesquisas de revisão e de campo.

Quadro 2 – Distribuição dos artigos de revisão por ano de publicação e periódico que

publicou

NOME DO ARTIGO ANO METODOLOGIA REVISTA

Alimentação e cultura como campo científico no Brasil

2010 Revisão

bibliográfica

Revista de Saúde Coletiva

Alimentos comercializados nas escolas e estratégias de intervenção para promover a alimentação escolar saudável: revisão sistemática

2011 Revisão de

literatura

Revista do Instituto Adolfo Lutz

Modernidade alimentar e consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição

2011 Revisão

bibliográfica

Revista Ciência e Saúde Coletiva

Obesidade infantil a partir de um olhar histórico sobre alimentação

2012 Revisão

bibliográfica

Revista Interação Psicológica

Hábitos alimentares contemporâneos e a elaboração de uma ética teológica em perspectiva

2012 Revisão

bibliográfica

Revista dos anais do Congresso da Faculdade São

Leopoldo

“Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!”: a décalage como ferramenta para compreensão de práticas corporais e alimentares

2013 Revisão de

literatura

Revista Nutrição

Educação alimentar e nutricional em escolares: uma revisão de literatura

2013 Revisão de

literatura

Revista de Saúde Pública

Repercussões do cenário contemporâneo no ato de compartilhar refeições em família

2014 Revisão de

literatura

Revista Psicologia e Argumento

Complexidade, conhecimento e educação: a emergência de um novo paradigma epistemológico no contexto contemporâneo

2015 Revisão

bibliográfica

Revista Educação

Quadro 3 – Distribuição dos artigos de pesquisa de campo por ano de publicação e periódico

que publicou

(Continua) NOME DO ARTIGO ANO METODOLOGIA REVISTA

Programa de educação nutricional em escola de ensino fundamental de zona rural

2010 Pesquisa de campo qualitativa

Revista Nutrição

Consumo e comportamento alimentar entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2009

2010 Pesquisa de campo

quantitativa

Revista Ciência e Saúde Coletiva

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25

Quadro 3 – Distribuição dos artigos de pesquisa de campo por ano de publicação e periódico

que publicou

(Conclusão) NOME DO ARTIGO ANO METODOLOGIA REVISTA

Relações entre a obesidade na infância e adolescência e a percepção de práticas de alimentação e estilos educativos parentais

2014 Pesquisa de campo

quantitativa

Revista Psicologia e Argumento

Relações Familiares e Comportamento Alimentar

2014 Pesquisa de campo quanti –

qualitativa

Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa

Qualidade da dieta e fatores associados em crianças matriculadas em uma escola municipal de Itajaí, Santa Catarina

2014 Pesquisa de campo

quantitativa

Revista Saúde Coletiva

Percepção de adolescentes sobre a prática de alimentação saudável

2015 Pesquisa de campo qualitativa

Revista Ciência e Saúde Coletiva

Padrões alimentares de crianças e determinantes socioeconômicos, comportamentais e maternos

2015 Pesquisa de campo

quantitativa

Revista da Sociedade Paulista

de Pediatria

Insegurança alimentar e excesso de peso em escolares do primeiro ano do Ensino Fundamental da rede municipal de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil

2015 Pesquisa de campo quanti-

qualitativa

Revista Saúde Pública

Os dados do Quadro 4 indicam que as revisões foram realizadas praticamente uma ao

ano e que as pesquisas de campo foram feitas, a maioria, nos anos de 2014 e 2015. Esse fato

evidencia que existe uma grande preocupação em compreender e conhecer os hábitos

alimentares de crianças e adolescentes brasileiros na intenção de realizar intervenções futuras,

com vistas a modificar a realidade retratada neste trabalho.

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Quadro 4 – Caracterização dos artigos por métodos, resultados e conclusões

(Continua) NOME DO ARTIGO/ AUTOR/

LOCAL DE PUBLICAÇÃO MÉTODO PRINCIPAIS RESULTADOS E CONCLUSÕES

GRABIEL, Cristine Garcia et al. Alimentos comercializados nas escolas e estratégias de intervenção para promover a alimentação escolar saudável: revisão sistemática. Revista do Instituto Adolfo Lutz,(Impressa), São Paulo, v. 70, p. 572-583, 2011.

Revisão de literatura

O reflexo das mudanças de padrão alimentar está afetando a população infantil. Estudos internacionais e nacionais apontam que nas escolas pesquisadas existe uma grande disponibilidade de alimentos de baixo valor nutricional sendo comercializados. No ambiente escolar deve-se oferecer opções variadas e atrativas de alimentação saudável e proibir produtos não saudáveis. Faz-se necessária a implementação de políticas públicas que objetivem uma alimentação saudável nas escolas. A alimentação no ambiente escolar deve ter função pedagógica, e, por isso, a escola deveria realizar ações conjuntas com a família e comunidade em geral.

BOOG, Maria Cristina Faber. Programa de educação nutricional em escola de ensino fundamental de zona rural. Revista Nutrição, v. 23, n. 6, p. 1005-1017, nov/dez 2010.

Estudo de campo quali-quantitativa

O ponto de partida não foi a ciência da nutrição em si, foi o tema alimentação em conjunto com a relação homem/ambiente, mediada pelo trabalho, práticas de consumo, valores e representações. Os alunos se interessaram muito pelo programa de educação nutricional, pois refletiam o seu cotidiano, valorizando o trabalho, história, cultura e as famílias. É possível incentivar o consumo de alimentos regionais. Os professores tiveram oportunidade de conhecer e refletir sobre a condição de vida dos alunos e dialogaram sobre os limites e possibilidades da escola frente à problemática da fome, pobreza/desnutrição. Existem conflitos de interesses, porém, “somente o diálogo entre diferentes faz nascer o novo”.

CASTRO, Juliana Brandão Pinto de, et al. “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!”: a décalage como ferramenta para compreensão de práticas corporais e alimentares. Revista Nutrição, v. 26, p. 595-600, set/out 2013.

Revisão de literatura

As políticas de alimentação e nutrição e as políticas de promoção da saúde reproduzem a hegemonia de um discurso preventivista que encobre contradições e subjetividades inerentes à vida. Há uma diferença inconteste e importante entre as práticas e o discurso sobre elas. O que se pensa e o que se faz são contraditórios: “Uma coisa é o que a gente pensa, outra é o que a gente faz”. A décalage corresponde, nesse sentido, a um instrumento metodológico que auxilia na compreensão de dois aspectos da subjetividade: a ação e o discurso sobre a ação, que se complementam nas relações sociais.

COELHO, Helena Martins; PIRES, António Prazo. Relações Familiares e Comportamento Alimentar. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa v. 30, p. 45-52 jan/mar 2014.

Pesquisa de campo

quantitativa

O Índice de Massa Corporal (IMC) dos pais é, por si só, é um fraco preditor do estatuto de peso dos filhos. Existem evidencias da predominância do ambiente familiar no ganho de peso das crianças. O contexto familiar é um lugar de partilha de afetos, cuidados e padrões culturais. Verificou-se uma maior incidência de crianças com excesso de peso em famílias pouco funcionais. Comer poderá ser, para a criança, uma forma que ela encontra para se estruturar numa família que a faz sentir vazia de afetos, que não a “alimenta” narcisicamente e também uma forma de usar o corpo como proteção de um ambiente familiar disfuncional.

FONSECA, Alexandre Brasil Fonseca et. al. Modernidade alimentar e consumo de alimentos: contribuições sócio-antropológicas para a pesquisa em nutrição. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v.16, n. 9, p. 3853-3862, 2011.

Revisão bilbliográfica

Existe a necessidade de políticas públicas que visem a alimentação saudável para promover a saúde de crianças e adolescentes em fase escolar. Na literatura nacional, ressalta-se a necessidade de mais pesquisas abordando a temática. Foram encontrados somente dois artigos sobre este assunto no período da revisão. A transformação consciente das práticas alimentares não é um processo imediato, exigindo tempo e dedicação. A proibição da oferta de produtos não saudáveis no ambiente escolar e o oferecimento de opções variadas e atrativas ajudariam as crianças e os jovens a escolherem alimentos que contribuam para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis e melhor qualidade de vida.

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Quadro 4 – Caracterização dos artigos por métodos, resultados e conclusões

(Continua) NOME DO ARTIGO/ AUTOR/

LOCAL DE PUBLICAÇÃO MÉTODO PRINCIPAIS RESULTADOS E CONCLUSÕES

LEVY, Renata Bertazzi, CASTRO et al. Consumo e comportamento alimentar entre adolescentes brasileiros: Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 2009. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v.15, supl. 2, p. 3085-3097, 2010.

Pesquisa de campo

quantitativa

Os índices do estudo apontaram que 62,6% realizavam pelo menos o almoço ou o jantar com a mãe ou responsável, e que 50,9% comem assistindo televisão ou estudando. O gênero feminino realiza mais práticas alimentares não desejáveis, e o melhor nível socioeconômico está associado à alimentação não saudável. Existe a associação direta entre o nível socioeconômico e o hábito de realizar as refeições com os pais. É inversa a associação entre nível socioeconômico e hábito de comer enquanto assiste à televisão. Os resultados indicam a necessidade de ações de promoção de saúde voltadas para o público jovem.

MAYER, Ana Paula Franco; WEBER, Lidia Natalia Dobriansky. Relações entre a obesidade na infância e adolescência e a percepção de práticas de alimentação e estilos educativos parentais. Revista Psicologia e Argumento, v. 32, n. 79, p. 143-153, supl. 1, 2014.

Pesquisa de campo

quantitativa

A obesidade está ligada ao modo que os pais educam e alimentam os seus filhos. As mais benéficas estavam ligadas ao estilo autoritativo. Mães e pais permissivos e negligentes são mais prejudiciais para o desenvolvimento alimentar dos filhos. Os estilos parentais e as práticas educativas alimentares não estão ligados de maneira linear, sofrem influências de outras variáveis. Vivemos em uma cultura em que encontros sociais estão relacionados à disponibilidade de alimentos, que são utilizados pelas pessoas como recompensa a bons comportamentos. Constata-se a necessidade de a comunidade – em especial, a escola – disponibilizar grupos educativos para pais, para a orientação tanto de práticas educativas quanto de práticas de alimentação infantil.

MACHADO, Isabel Kasper et al. Repercussões do cenário contemporâneo no ato de compartilhar refeições em família. Revista Psicologia e Argumento, v. 32, n. 76, p. 117-127, jan/mar 2014.

Revisão bibliográfica

Dada a importância da família na aquisição e manutenção dos hábitos alimentares. O elemento afetivo é central na alimentação. A alimentação caseira está entrelaçada com a convivência social e familiar, intimidade, afetividade, e vinculada, principalmente, à figura materna, e oportuniza a convivência de relação de gêneros. Sob o ponto de vista nutricional, fazer as refeições com a família está associado à prática de hábitos alimentares mais saudáveis. Percebe-se que as famílias têm rotinas desregradas em função das demandas sociais e profissionais. Verifica-se a importância da família, da cultura e da sociedade na significação e nos aspectos relacionados à alimentação. Investigações sobre essas relações permitem um melhor entendimento do que envolve o ato de se alimentar e merecem atenção por parte da comunidade científica.

MOMM, Nayara; HÖFELMANN, Doroteia Aparecida. Qualidade da dieta e fatores associados em crianças matriculadas em uma escola municipal de Itajaí, Santa Catarina. Revista Saúde Coletiva, v.22, p. 32-39, 2014.

Pesquisa de campo

quantitativa

52,6% das crianças tiveram sua dieta classificada como inadequada. O sexo masculino, a maior idade, a menor escolaridade do responsável, e o consumo alimentar em frente à televisão está associado a maiores volumes de ingestão e pior qualidade da dieta. O consumo de alimentos e bebidas durante a visualização da televisão é um potencial mecanismo que aumenta a probabilidade de sobrepeso e obesidade. Constatou-se compra excessiva de alimentos altamente energéticos, gordurosos e carnes, além da menor participação de hortaliças, frutas e alimentos mais nutritivos na alimentação infantil. As variáveis referentes aos pais também podem influenciar na qualidade da dieta dos filhos. É sugerido que o trabalho educativo com pais e filhos pode aumentar a efetividade na melhora da qualidade da dieta infantil.

MORAES, Priscilla Machado; DIAS, Cristina Maria de Souza Brito. Obesidade infantil a partir de um olhar histórico sobre alimentação. Revista interação psicológica, v.16, n. 2, p 317-326, jul/ dez 2012.

Revisão bibliográfica

O excesso de peso nas crianças é influenciado pelas modificações no modo de vida das famílias, contexto sociocultural, urbanização e industrialização, sedentarismo, influência da mídia e aumento no consumo de alimentos com alta densidade calórica. A simplificação da culinária e do preparo de alimentos dificulta o ritual das refeições em família, reduzindo a oportunidade de comunicação e intercâmbio humano. A família, escola, comunidade e profissionais de saúde poderão fazer ações educativas e reflexivas para auxiliar na prevenção da obesidade infantil.

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Quadro 4 – Caracterização dos artigos por métodos, resultados e conclusões

(Conclusão) NOME DO ARTIGO/ AUTOR/

LOCAL DE PUBLICAÇÃO MÉTODO PRINCIPAIS RESULTADOS E CONCLUSÕES

OLIVEIRA, Willian Kaizer. Hábitos alimentares contemporâneos e a elaboração de uma ética teológica em perspectiva. Revista dos anais do congresso da faculdade de São Leopoldo, v. 1, p. 1178-1194, 2012.

Revisão bibliográfica

A alimentação não é apenas uma necessidade biológica, mas pode-se entender o mundo por meio dela. Deve ser compreendida nas dimensões sociais, culturais, econômicas, ambientais, religiosas, emocionais, psicológicas e outras. Além disso, tem símbolos e significados próprios que determinam concepções alimentares que caracterizam cada sociedade. Os hábitos alimentares retratam o meio ambiente e a realidade social em que os indivíduos vivem.

RAMOS, Flavia Pascoal; SANTOS, Ligia Amparo da Silva. Educação alimentar e nutricional em escolares: uma revisão de literatura. Revista Saúde Pública, v. 29 n.11, p. 2147-2161, nov. 2013.

Revisão de literatura

A importância que se dá para a Educação Alimentar e Nutricional não traduz os investimentos de pesquisas científicas de campo. O número de publicações no período foi muito pequeno. Os estudos apresentados têm metodologias que refletem a discrepância entre a teoria e a prática. Intervenções inovadoras de educação em saúde e métodos mais apropriados são necessárias. O campo da socioantropologia, da alimentação e nutrição e as ciências envolvidas na educação podem trazer contribuições importantes para a construção de estudos mais consistentes no campo da saúde, alimentação e nutrição.

SILVA, Dayanne Caroline de Assis et al. Percepção de adolescentes sobre a prática de alimentação saudável. Revista Ciência e Saúde Coletiva, v. 20, n. 11, p. 3299-3308, 2015.

Pesquisa de campo

qualitativa

Variados são os fatores que interferem nas escolhas alimentares de crianças e adolescentes O acesso fácil à alimentos de baixo valor nutricional promovem uma discrepância entre conhecer os requisitos da alimentação saudável e pratica-los. A adesão à práticas alimentares inadequadas estão ligadas a assistir televisão por um tempo maior. A mídia incentiva o consumo de produtos industrializados e nutricionalmente inadequados. A família, principalmente a mãe, é a responsável por controlar as escolhas, compras e preparo dos alimentos para consumo. Existe a necessidade de a escola realizar práticas de educação alimentar que incentivem o consumo dos alimentos locais.

SILVA, Juliana Klotz; et al.. Alimentação e cultura como campo científico no Brasil. Revista de Saúde Coletiva, v. 20, p. 413-442, 2010.

Revisão bibliográfica

Alimentação e Cultura como um campo científico fará com que o pesquisador das Ciências da Saúde procure em lugar de encontro que debata estes dois campos distintos. O potencial e a metodologia típicos das Ciências Sociais e Humanas poderão auxiliar na criação desta nova perspectiva. A visão biomédica hegemônica não considera como sólidos os conceitos e métodos que são capazes de enfrentar os significados desta teia complexa da realidade social que está muito além da vida pesquisada em laboratórios. Porém, ela sozinha não consegue explicar o complexo fenômeno da alimentação e seus desdobramentos.

SILVA, Sidnei Pithan. Complexidade, conhecimento e educação: a emergência de um novo paradigma espistemológico no contexto contemporâneo. Revista Educação, v. 40, n. 21, p. 375-388, mai/ago 2015.

Revisão bibliográfica

A função maior da educação é ultrapassar as questões cognitivas e ensinar os sujeitos a se relacionar com o mundo e compreenderem a realidade e o ambiente em que vivem. A sociedade influencia a educação, sendo assim, não deveria existir a fragmentação entre a vida real dos alunos e os conteúdos estudados na escola. O objetivo da educação deveria ser o de emancipar e dar poder para que as famílias e alunos possam resolver os seus problemas na vida real.

VILLA, Julia Khéde Dourado et al. Padrões alimentares de crianças e determinantes socioeconômicos, comportamentais e maternos. Revista da Sociedade Paulista de Pediatria, v. 33, n. 3, p. 302-309, jun. 2015.

Pesquisa de campo

quantitativa

Crianças de baixo nível econômico e que recebiam maior restrição alimentar pelos pais/responsáveis aderiram em maior número ao padrão ‘‘Tradicional’’ de dieta. Este é composto por arroz, feijão, hortaliças, raízes e tubérculos cozidos e carne vermelha. O ‘‘Monótono’’, com elevado consumo de leite e achocolatado, foi mais consumido por crianças de classe econômica intermediária. Os padrões alimentares das crianças estiveram associados às condições econômicas. Melhores condições socioeconômicas contribuíram para um padrão alimentar nutricionalmente menos adequado. A inserção da mulher no mercado de trabalho dificulta o preparo das refeições do domicílio, o que propicia o maior consumo de alimentos industrializados.

VICENZI, Keli et al. Insegurança alimentar e excesso de peso em escolares do primeiro ano do Ensino Fundamental da rede municipal de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Saúde Pública, v. 31 n. 5, p. 1084-1094, maio 2015.

Pesquisa de campo quali- quantitativa

Elevados índices de insegurança alimentar e excesso de peso revelam a complexidade da questão alimentar. Entre os escolares de pior estrato socioeconômico o consumo alimentar é mais saudável, em relação aos de maiores posses. É frequente a insegurança alimentar causada por excesso no consumo de alimentos não saudáveis. Para compreender este fenômeno são necessárias políticas públicas para enfrentar essas condições. É preciso garantir o acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, além de ações de educação alimentar.

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29

1.5 Discussão

1.5.1 Alimentação e sociedade

Segundo Oliveira (2012), a alimentação é uma das formas de os indivíduos se

conectarem e conhecerem o mundo. Desde o nascimento, os homens desenvolvem e

aperfeiçoam os sentidos e o paladar por meio do gosto e olfato. Assim, obtêm as suas próprias

experiências e impressões que podem acontecer de forma prazerosa ou não e as levam por

toda a vida.

Desde a mais tenra infância, a percepção dos alimentos irá basear as preferências

pessoais. São essas preferências que irão direcionar o indivíduo para as escolhas alimentares,

sendo por isso, capaz de comer os mais variados tipos de alimentos desde que sejam

culturalmente aceitáveis (OLIVEIRA, 2012).

O alimento em uma visão estritamente nutricional e biológica é considerado a

prevenção e a cura para várias doenças. Na visão alimentar e sociológica, está impregnado de

inúmeros significados e sentidos, podendo ser símbolo, rito e estar imbuído de valor social e

cultural. Como objeto de representação social, pode ser considerado símbolo de status, poder,

classe social e outros, além de ter o potencial de evidenciar alterações de natureza psicológica

(SILVA et al., 2010).

Por meio das mais variadas linguagens, dentre elas a midiática e a publicitária, pode-se

influenciar a compra e o consumo de alimentos e alterar hábitos alimentares individuais e da

população em geral. Neste cenário, pode-se afirmar que a comida representa as mudanças que

acontecem no mundo em que se vive (SILVA et al., 2010; MOMM; HOFELMANN, 2014).

A alimentação imersa no cenário social e sendo, por isso, considerada uma questão

complexa, não pode ser tratada apenas como uma questão nutricional e biológica, vertente

cientifica que não dá conta de responder de forma conclusiva a questões como: obesidade,

doenças crônicas degenerativas, hábitos alimentares equivocados, desvio de conduta do

comportamento alimentar e outros (SILVA et al., 2010; MOMM ;HOFELMANN, 2014).

O entrelaçamento entre as muitas variáveis que compõem o problema e os contextos

individuais e sociais requer tratar esses assuntos com o viés da área das ciências humanas,

articulando a saúde e as doenças à complexidade da realidade da vida cotidiana (SILVA et al.,

2010).

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As famílias reorganizaram a sua rotina diária e fizeram muitas alterações na estrutura

familiar e nos hábitos alimentares, como forma de responder ao ritmo intenso da vida urbana

que está alinhado ao novo modo de vida moderna (OLIVEIRA, 2010).

Na alimentação humana se materializa a estrutura da sociedade, e por meio

dela se atualiza a interação do ser humano organizado em sociedade com o

meio ambiente, bem como as representações socioculturais (crenças, normas,

valores) (OLIVEIRA, 2010, p. 1181).

Nesta nova realidade, a alimentação se tornou desequilibrada, pois é composta por

alimentos que nem sempre suprem de forma correta as necessidades de nutrientes como ferro,

vitaminas, e têm excesso de sal, gordura, açúcar, dentre outros. Essa prática ocasiona doenças

como o sobrepeso e a obesidade, porquanto as escolhas das famílias recaem sobre alimentos

que são práticos e rápidos tanto no preparo quanto na cocção (BRASIL, 2012; BRASIL,

2013b; BRASIL, 2014; OMS, 2014).

[...] o paladar, o preço, o aspecto/apresentação, a facilidade no preparo, a

publicidade, entre outros, são aspectos que condicionam as escolhas

alimentares, mais do que propriamente o conhecimento dos benefícios para a

saúde (MACHADO et al., 2014, p. 119).

Neste sentido, a melhoria das condições de vida em sociedade incorreu em uma perda

de identidade da cultura alimentar local paralela a um maior consumo de alimentos que são

vendidos em todo o mundo (MORAES;DIAS, 2012).

1.5.2 Alimentação e família

A família é uma das principais responsáveis pelo desenvolvimento, educação,

afetividade, bem-estar, proteção e segurança da criança, mas nem sempre ela tem

desempenhado este papel de forma a suprir as necessidades infantis a contento (MORAES;

DIAS, 2012).

[...] a infância, que passou a ser contemplada como um estágio mágico de

alegrias e divertimento do ciclo vital começou a ser ameaçada pelas

patologias contemporâneas, como é o caso da obesidade e suas

consequências (MORAES ;DIAS, 2012, p. 319).

A escassez de tempo dos membros das famílias tem refletido de forma negativa no

ritual de fazer as refeições juntos ou mesmo constituído um impeditivo para permanecerem

reunidos para convívio, interação, troca afetiva e lazer. A distância cada vez maior entre os

locais de moradia e os locais de trabalho e estudo, bem como os horários intensos e, às vezes,

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descompassados são fatores importantes para compreender as novas formas de relacionar e

conviver em família (MORAES;DIAS, 2012; OLIVEIRA, 2012).

Cozinhar e preparar a alimentação da família está imbuído de significados afetivos e

laços familiares assim como de simbologias únicas que determinada família dá ao ato de se

alimentar e conviver. Mesmo que os participantes destes rituais alimentares não percebam, a

família obtém grande prazer em comer, não só por causa das pessoas que estão preparando o

alimento, mas também por que estão compartilhando as refeições e todo o envolvimento

social e afetivo presentes nestas práticas (MACHADO et al., 2014).

O ser humano não nasce naturalmente gostando de nenhum alimento, este gosto é

aprendido ao copiarem as preferências alimentares dos familiares e meio de convívio em

geral. Assim sendo, na construção das preferências e hábitos alimentares além das influências

familiares, deve-se levar em conta os fatores psicológicos que envolvem a questão

(COELHO; PIRES, 2014).

O ambiente domiciliar representa um fator de proteção à adesão de dietas

saudáveis e controle de peso entre adolescentes, por envolver a maior parti-

cipação dos familiares no controle das escolhas, compra e preparo dos

alimentos (SILVA et al., 2015, p. 3303).

A dimensão afetiva relacionada à alimentação, envolvendo assim a relação com o ou-

tro, está presente nas refeições familiares e é neste meio, juntamente com o envolto social e

histórico, que as pessoas irão formar as crenças e representações mentais relacionadas aos

hábitos alimentares. São as famílias que transmitem aos seus membros esses significados

culturais, sociais e os valores individuais relacionados à alimentação, nutrição e hábitos

(MAYER;WEBER, 2014).

O consumo mais frequente entre escolares adolescentes é de alimentação não

saudável. Estudos apontaram que um quarto deles não faz as refeições na presença da mãe ou

responsável, 20% não havia consumido qualquer fruta ou legumes na semana anterior ao

estudo, e que o sexo feminino está mais exposto a maior risco de insegurança alimentar. Além

disso, para os dois sexos, quanto maior a renda familiar, maior o consumo de alimentos tanto

saudáveis quanto não saudáveis e que 30% deles tomam refrigerantes todos os dias. Esta

informação corrobora estudos europeus que apontam dados semelhantes para aquela realidade

(LEVY et al., 2010).

Estes achados corroboram que existe associação direta entre nível socioeconômico e

hábito de realizar as refeições com os pais, assim como associação inversa entre nível

socioeconômico e hábito de comer enquanto assistem televisão, conforme observado em

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ampla literatura da área. Esses resultados apontam para a necessidade de intensificação e

ampliação das ações de promoção de saúde dirigidas a jovens (LEVY et al., 2010).

Silva et al. (2015) afirmam que a família exerce papel fundamental na formação de

hábitos alimentares dos adolescentes. A mãe foi apontada como a principal responsável pela

alimentação da família. Ela geralmente é quem compra, prepara e orienta as escolha dos

membros da família, bem como é quem regula o comportamento ou escolhas alimentares

equivocadas.

Os tradicionais hábitos, práticas e condutas alimentares estão sendo esquecidos, uma

vez que muitas pessoas não adotam mais horários para fazer as refeições, não veem sentido

em algumas refeições, como por exemplo, o jantar. Entretanto, o ato de se alimentar ainda é

visto como uma oportunidade para unir, compartilhar e encontrar pessoas, família e amigos

(FONSECA et. al, 2011).

Estudos concluíram que os pais podem influenciar na qualidade da dieta dos filhos. Os

dados da pesquisa apontam que 67,8% dos responsáveis relataram que 75,0% dos filhos

realizavam diariamente o desjejum, contudo a dieta foi considerada inadequada em 52,6%

(MOMM;HOFELMANN, 2014).

Resultados de estudo feito por Silva et. al (2015) abordando as refeições que

habitualmente as famílias fazem detectaram que a principal refeição do dia no discurso dos

adolescentes foi o café da manhã. Porém, na prática, a maioria não faz esta refeição por

inapetência, não gostar, não ter tempo, ou por acordar muito tarde e próximo da hora do

almoço. As refeições apontadas como rotineiras dos adolescentes são: café da manhã,

merenda, almoço, lanche e jantar.

O almoço foi apontado pelo estudo como a refeição realizada de forma mais frequente

e com uma maior variedade de alimentos saudáveis. Não obstante, tal prática não foi

corroborada, uma vez que ficou evidente a pouca variedade de legumes e verduras

consumidos, seja por causa dos preços, ou por que demandam muito tempo para serem

preparados, ou por causa do gosto dos alimentos. O jantar foi considerado importante, mas é

frequente a não realização desta refeição por falta de apetite (SILVA et al., 2015).

O lanche foi apontado como a refeição predileta, inclusive pelos que o estudo detectou

que odeiam comer. Ele aparece como substituto para qualquer refeição. Pesquisas realizadas

em vários lugares do mundo apontam que o consumo alimentar de adolescentes recai sobre

alimentos ricos em açúcar, gordura, sódio, principalmente bebidas altamente açucaradas

(GABRIEL et al., 2011).

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33

Percebe-se que as escolhas dos adolescentes são por alimentos não saudáveis e de

baixo valor nutricional, podendo levar à obesidade. Além disso, “fatores que podem causar o

excesso de peso são: aumento do consumo de alimentos com alto teor de lipídio, sacarose e

sódio; redução do consumo de cereais integrais, frutas e hortaliças; e a inatividade física

devido ao uso de computadores, jogos eletrônicos e televisores” (MOMM;HOFELMANN,

2014, p. 33).

Ainda Silva et al. (2015, p. 3303) asseguram que, “a explicação para estes resultados

pode estar ligada à cultura alimentar da sociedade atual, em que as famílias tendem a optar

por alimentos não nutritivos e de fácil acesso, em substituição ao consumo de frutas, legumes

e verduras”. Nos finais de semanas, as refeições são, na maioria das vezes, inadequadas, pois

a alimentação acontece frequentemente fora do lar.

A restrição da alimentação dos filhos pelos pais/ responsáveis, as condições

socioeconômicas, local de moradia na zona rural, a escolaridade da mãe/responsáveis estão

presentes em famílias com alimentação nutricionalmente mais equilibrada (VILLA et al.,

2015).

Autores como Machado et al. (2014) apontaram que o ambiente familiar é o fator

predominante no ganho de peso das crianças, assim como as boas relações familiares são

importantes para o desenvolvimento de peso saudável. O estudo não foi conclusivo quanto à

questão da pobreza das relações familiares e afetivas, ou seja, se este fator orienta para

comida como comportamento compensador pelo afeto.

1.5.3 Mídias e hábitos alimentares

A televisão é um veículo de comunicação que auxilia na formação de hábitos

alimentares e de vida da sociedade como um todo. As propagandas associadas ao número de

horas em que crianças e adolescentes estão em frente à televisão, ou influenciadas por canais

midiáticos, levam-nas ao consumo de produtos e alimentos que nem sempre são saudáveis.

Além disso, os processos simbólicos influenciam mais fortemente as pessoas de mais tenra

idade, que devido ao excesso de exposição à mídia, transformam de forma decisiva as

preferências individuais e familiares (MORAES;DIAS, 2012; MONN; HOFELMANN,

2014).

Pesquisa de Moraes e Dias (2012) assinalou que o número de horas que as crianças

passam assistindo à TV, quando comparadas às de classes média e alta, é maior que número

de horas que elas frequentam a escola. O hábito de assistir á televisão exerce influência sobre

os comportamentos, hábitos e práticas alimentares.

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Mais da metade dos pais indicou que os filhos faziam as refeições, às vezes ou

sempre, em frente à televisão. As crianças que sempre faziam as refeições em frente a esse

aparelho tiveram 46% a mais de prevalência de dieta inadequada do que os que não o faziam

(MONN;HOFELMANN, 2014).

A pesquisa de Silva et. al, (2015) também aponta que alguns adolescentes percebem a

mídia como fonte de informações favoráveis à prática alimentar saudável quando divulga e

aborda temas como obesidade, malefícios do aumento de peso e a necessidade de praticar

atividade física, mas para os autores as práticas alimentares inadequadas são identificadas em

diversos estudos que afirmam que quanto maior o tempo que crianças e adolescentes gastam

assistindo televisão maior a adesão à alimentação de má qualidade.

A escola é um espaço que propicia a convivência e a interação social. Sendo assim, o

grande número de horas que os adolescentes e as crianças passam na escola, é que a torna um

espaço ideal para que ações de promoção à alimentação saudável sejam desenvolvidas, com

base em uma reflexão crítica a respeito dos problemas de saúde que afligem a família,

principalmente a obesidade e o sobrepeso (GABRIEL et al., 2011; BRASIL, 2012; BRASIL,

2013 c; MORAES;DIAS, 2012; MONN;HOFELMANN, 2014; SILVA, 2015; SILVA et al.,

2015)

1.5.4 Educação Alimentar e Nutricional

A função maior da educação é ultrapassar as questões cognitivas e ensinar os sujeitos a

se relacionarem com o mundo e compreenderem a realidade e o ambiente em que vivem.

Nesta lógica, educar é uma prática que vai além do ensinar para adquirir conhecimento ou

aprender conteúdos (SILVA, 2015).

Pela teoria sistêmica de Edgar Morin (2005), a educação influencia a sociedade e a

sociedade influencia a educação, sendo assim, não deveria existir a fragmentação entre a vida

real dos alunos e os conteúdos estudados na escola. Quando esta lacuna aparece, fica evidente

que não existe diálogo entre as ciências e a sociedade, o que em teoria dificultaria o processo

educativo, já que é justamente neste espaço dialógico que emerge o papel da educação

(SILVA, 2015).

Morin parece estar convencido que o enfrentamento da problemática social,

política e educacional oriunda da modernidade não se resolve sem uma

mudança radical na esfera do pensamento. Na interpretação de Morin, esta

mudança se configura na ideia de uma “reforma do pensamento”, ou seja, de

novos princípios para o pensamento (SILVA, 2015, p. 379).

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O alimento dentro da escola deve ser visto na sua função pedagógica e ser utilizado

para promover estratégias e ações para que se transformem as práticas alimentares saudáveis.

A mudança de pensamento e atitudes não acontece de forma repentina, mas sim com

resultados em longo prazo. A intenção é de que os jovens tenham consciência das suas

escolhas alimentares, conhecimento este que levará à formação de hábitos alimentares que

deverão perdurar por toda a vida (BRASIL, 2012; BRASIL, 2013 a e c; GABRIEL et al.,

2011; BRASIL, 2014).

Neste cenário, os conteúdos abordados nos projetos de educação nutricional estarão

contextualizados à realidade local e de acordo com a identidade cultural, de maneira que as

discussões levem à problematização da forma de preparar os alimentos, escolha dos

ingredientes e proporcionar a discussão dos rituais diários, dos eventos festivos em que a

alimentação e a comensalidade das diversas comunidades se fazem presentes (BOOG 2010;

BRASIL, 2012; BRASIL, 2013 a e b e c; OMS, 2014).

A interlocução entre as disciplinas, ou seja, a interdisciplinaridade deve estar presente

como forma de superação das rupturas em que o conhecimento é ensinado e aprendido como

se fossem compartimentos fechados e isolados uns dos outros (BOOG, 2010).

A incorporação de hábitos alimentares saudáveis também efetiva-se na escola não

apenas pelos conteúdos estudados e com a disseminação do conhecimento sobre o assunto,

mas, também, ao fornecer alimentação saudável, oportunizar amplo convívio social e troca de

experiências alimentares entre os seus alunos (MORAES;DIAS, 2012; OMS, 2014).

Essa incorporação pode ocorrer também fora da escola, não se restringindo somente a

questões relacionadas ao cultivo de hábitos saudáveis, mas, também, como um processo que

amplia a ação educacional com ganho de espaço para a discussão de temas sociais (BRASIL,

2013; SILVA et al., 2015; OMS, 2014).

A escola e a família são de fundamental importância na formação de hábitos

saudáveis, por meio de práticas de educação alimentar e nutricional que incentivem o

consumo saudável de alimentos inerentes à cultura a qual o indivíduo está inserido (BRASIL,

2013).

1.6 Considerações finais

Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão de literatura que buscou

identificar qual a influência que as famílias exercem no comportamento alimentar dos filhos e

como a escola pode auxiliar na formação de hábitos saudáveis por meio da educação

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alimentar e nutricional, que leva em conta os fatores: social, cultural, ambiental e econômico

dos escolares.

Os achados desta revisão indicaram que alimentar-se oportuniza as interações sociais e

que o indivíduo sofre influências psicológicas, afetivas, culturais, familiares, sociais e outras

ao realizar suas escolhas alimentares. Além disso, os hábitos alimentares são reflexos de

determinado modo e estilo de vida e, por isso, são modificados de forma a caracterizar ou

ajustar socialmente os sujeitos.

Os maiores problemas da alimentação globalizada são o baixo consumo de frutas,

verduras, legumes e alimentos ricos em fibra, paralelo a um excesso de condimentos, aditivos

químicos como realçadores de sabor ou cor, açúcares, massas, dentre outros alimentos da

mesma natureza.

As mídias e a televisão exercem grande influência nos hábitos alimentares familiares.

No caso da televisão, quanto menor a renda, maior é o número de horas que crianças e jovens

dedicam a sua programação. Percebeu-se que a propaganda reforça a comportamento

compulsivo para compra e consumo de alimentos, sendo que, neste caso, o alimento perde seu

caráter alimentar e nutricional para se tornar um símbolo de status ou fetiche de consumo de

determinado grupo.

Apesar de os adolescentes terem conhecimento acerca do tema alimentação saudável,

essa informação não os leva a praticarem esses preceitos. Deste modo, existe a necessidade de

que os pais estejam atentos às práticas alimentares dos filhos, sendo importante realizarem

pelo menos uma refeição juntos, assim como a necessidade de dar bons exemplos,

consumindo e oferecendo frutas, verduras e legumes, conforme a cultura e hábitos do local

em que vivem.

Outra questão preocupante é que as famílias não atrelam o comportamento e os

hábitos alimentares com a saúde da família e dos filhos, assim como também não conseguem

estabelecer relação de causa e efeito entre a alimentação consumida e a apresentação pelos

familiares de sobrepeso e/ou obesidade, morbidades que necessitam de suporte médico,

psicológico, nutricional e/ou de outros profissionais.

Os achados mostraram que existe associação direta entre nível socioeconômico e

hábito de realizar as refeições com os pais, sendo que a mãe é a responsável principal pela

alimentação da família desde a compra dos alimentos até o preparo. Além disso, faz uma

supervisão mais apurada do que a família consome.

Os pais e o ambiente familiar podem influenciar na qualidade da dieta e o peso dos

filhos. Isto nos leva a considerar que o trabalho educativo com os pais em conjunto com os

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filhos levaria a uma melhoria efetiva na qualidade da dieta das crianças. A Educação

Alimentar e Nutricional seria uma importante ferramenta para empoderar as famílias e alunos

no intuito de fazerem escolhas alimentares assertivas.

Este trabalho apresenta limitações, como a realização da busca apenas no idioma

português e no site da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Sugere-se a realização de novas

pesquisas, que tenham como público-alvo o comportamento alimentar da família.

No cenário atual, como mostrado neste trabalho, em que as questões referentes à

alimentação e nutrição estão intimamente ligadas às questões de saúde e de segurança

alimentar e nutricional, e com o crescente número de crianças em situação de obesidade e

sobrepeso, a família precisa repensar seus valores, condutas e comportamentos sociais e

afetivos.

Diante dos desafios e do quadro preocupante em relação à alimentação e saúde de

crianças escolares, torna-se imperiosa a adoção de estratégias capazes de municiar familiares,

crianças e a comunidade escolar para que, em conjunto, trabalhem educativamente e mudem o

panorama atual.

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Capítulo 2: Comportamento alimentar das famílias dos alunos do

primeiro ciclo do Centro Pedagógico da Universidade Federal de

Minas Gerais

Alcione Aguiar Souza1

Matilde Meire Miranda Cadete 2

Resumo

A alimentação, na sua dimensão biológica, é essencial para a vida do ser humano e, na social,

reflete padrões e comportamentos. Esta pesquisa objetivou analisar, na perspectiva das

famílias de crianças do Centro Pedagógico (CP) da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG), o comportamento alimentar, a compreensão acerca do conceito de alimentação

saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades para formar hábitos

alimentares saudáveis. Trata-se de pesquisa quanti-qualitativa. Os instrumentos de coleta

foram o questionário, respondido por 102 famílias, e a entrevista semiestruturada, realizada

com nove mães das crianças do primeiro ciclo de formação humana. A fase quantitativa foi

tratada pelo programa EPINFO 7.0 e as entrevistas por análise de conteúdo temática à luz de

Bardin (2016). Os dados apontaram que parte do comportamento alimentar das famílias

pesquisadas não está de acordo com as diretrizes da boa alimentação preconizadas pelo Guia

Alimentar da População Brasileira, convocando a inserção de programas de educação

alimentar e nutricional nas escolas, tendo como público alvo as famílias, uma vez que a

Organização Mundial de Saúde e os Ministérios da Saúde, Educação e do Desenvolvimento

Social reconhecem que a segurança alimentar e nutricional estão interligadas às questões de

saúde e a obesidade infantil é um problema de saúde pública.

Palavras chave: alimentação; família; antropologia da alimentação; comportamento alimentar;

desenvolvimento local.

Abstract

Food behavior of the families of the Pedagogical Center - Federal University of Minas Gerais

Food, in its biological dimension, is essential for the life of the human being and socially

reflects patterns and behaviors. This research aimed to analyze, under the perspective of the

families of children of the Pedagogical Center (CP) - Federal University of Minas Gerais

(UFMG), the food behavior, the concept of healthy eating and its impacts on children's health,

along with the the challenges in forming healthy eating habits. This research is both

quantitative and qualitative. The instruments of data-collection were the questionnaires,

answered by 102 families, the semi-structured interview with nine mothers of children

attending now the first cycle of human formation. The quantitative phase was addressed by

1Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL) do

Centro Universitário UNA de Minas Gerais.

2 Matilde Miranda Meire Cadete. Profa Doutoura Orientadora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL) do Centro Universitário UMA de Minas Gerais.

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the EPINFO 7.0 program, and interviews by analysis of thematic content under Bardin's

(2016) perspective. The data have pointed out that part of the food behavior of the families

surveyed is not in accordance to the guidelines of good nutrition recommended by the Food

Guide of the Brazilian Population, suggesting the need of insertion of food education

programs in schools, targeting families, since the World Health Organization and the

Ministeries of Health, Education and Social Development recognize that food security and

nutrition are linked to health issues and childhood obesity, hence, a public health problem.

Key words: Feeding; Family. Anthropology of food; Behavior; To feed. Local development

2.1 Introdução

O Guia Alimentar da População Brasileira traz como premissa básica para uma

alimentação saudável que esta seja composta por alimentos variados, ingeridos em quantidade

suficiente para suprir o corpo de forma equilibrada em cada etapa da vida e composta por

todos os tipos de nutrientes que estão disponíveis nos alimentos, como carboidratos,

proteínas, lipídios, vitaminas, sais minerais, água e fibras que garantam o bom funcionamento

do corpo humano (BRASIL, 2014 b).

Porém, a alimentação não é um ato apenas fisiológico ou biológico, é, também, um

fenômeno complexo, dotado de significados e simbolismos que vão além da simples ingestão

de alimentos ou de nutrientes. Nesta lógica, é necessária uma visão interdisciplinar e dialógica

que possibilite a interligação de diversas disciplinas e campos do conhecimento científicos

para a compreensão das práticas alimentares. As dimensões biológica, psicológica,

antropológica e social estão vinculadas entre si e integram o comportamento alimentar dos

indivíduos (COSTA et al., 2010).

Para Morin (2005), quanto mais dialógica e aberta forem as fronteiras do

conhecimento, mais maleabilidade as pessoas têm para pensar, conhecer e reconhecer a

complexidade da realidade como única e diversa ao mesmo tempo. Inojosa (2001, p. 103)

relata que a complexidade, sendo multifatorial e multidimensional, necessita de variadas áreas

do saber para tratar as demandas ditas complexas, como neste caso, a alimentação. Assim, a

complexidade está intimamente relacionada ao conceito de interdisciplinaridade. “A teoria da

complexidade, por sua vez, trabalha com a compreensão da diversidade”.

Nesta linha de pensamento, a alimentação é formada por um conjunto de símbolos,

sentidos e gestos que perpassam as atividades cotidianas e influenciam as relações sociais dos

sujeitos. Ela marca identidades, estilos, formas de ser, fazer, estar e viver no mundo. Além

disso, retrata o ambiente em que se vive, sendo uma das formas de conhecer e se relacionar

com o mundo (LEONARDO, 2009).

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42

Neste contexto, alimento e sujeito estarão umbilicalmente ligados de forma dinâmica

desde o nascimento. Juntos, construirão diversas experiências individuais e coletivas

relacionadas ao prazer, gosto, escolhas e recusas, bem como serão despertadas uma gama de

sensações relacionadas ao paladar e a outros sentidos, como olfato, tato e visão. Desta forma,

estar à mesa, comer e se alimentar não podem estar vinculadas apenas à nutrir o corpo, mas

também à alma e aos sentidos. Esta abordagem requer uma visão holística e sistêmica dos

indivíduos, coletividade e ambiente (MACIEL;CASTRO, 2013).

No cenário mundial, nas últimas décadas, os hábitos e comportamentos alimentares

sofreram alterações causadas pelo processo de globalização e adaptação às novas demandas

sociais. Especificamente no cenário brasileiro, fatores econômicos, culturais e sociais

impactaram de forma intensa a estrutura e os modos de vida das famílias, sendo que a

feminização do mundo do trabalho a mais importante delas (BRASIL, 2013 a e b; BRASIL,

2014 b). Neste novo contexto social, as tradições alimentares culturais locais consideradas

saudáveis estão sendo substituídas por alimentos de padrão de consumo universal e

considerados não saudáveis pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (COSTA;

VASCONCELOS et al. , 2012; OMS, 2014).

O primeiro meio social a partir do qual o ser humano se desenvolve é a família. Será

no seio familiar e não de forma espontânea, que irão se delinear ao longo do tempo e aos

poucos a formação e depois a consolidação dos hábitos, preferências, práticas e

comportamentos sociais, afetivos, e também, os alimentares. Mais tarde e durante toda a vida,

estes sofrerão grandes influências do meio social que passarão a conviver (MAIA et al., 2012;

JUZWIAK, 2013).

Associados ao contexto familiar e à abrangência praticamente universal de canais

midiáticos de internet e principalmente de televisão, em todas as camadas sociais, ocorreram

alterações nos hábitos e padrões de consumo. Estas mudanças influenciaram o padrão

alimentar das famílias e têm contribuído paralelamente para a alteração de hábitos de saúde,

exercícios físicos e comportamentos de toda ordem (MOTTA-GALLO et al., 2013).

Paralelamente, vem ocorrendo o aumento das doenças relacionadas a hábitos

alimentares e de vida considerados não saudáveis, como o excesso de peso e a carência de

vitaminas e sais minerais, que estão ligadas ao consumo reduzido de frutas, leite, verduras,

legumes, grande consumo de alimentos ricos em calorias, gordura e açúcares. Está também

associada, na maioria das vezes, à influência das relações familiares e de fatores psicológicos

que envolvem a questão das preferências e hábitos alimentares (BRASIL, 2012; BRASIL,

2013 b ; BRASIL, 2014 b; KNEIPP et al., 2015).

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O excesso de peso em crianças em idade escolar, ou seja, entre 5 a 16 anos, é um

problema de saúde pública em todo o mundo. Segundo a OMS os índices de sobrepeso e

obesidade infantil passaram de 4,2% em 1990 para 6,7% em 2010. Estima-se que poderá

chegar a 9,1% em 2020 (OMS, 2014).

No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009

evidenciam um quadro de insegurança alimentar instalado entre adolescentes brasileiros que

estão alinhados a esta tendência mundial (BRASIL, 2010).

Foi realizada uma avaliação nutricional, conforme normas e parâmetros recomendados

pela OMS, entre outubro e novembro de 2013, dos alunos pelo, Setor de Apoio à Saúde do

CP/UFMG. Utilizou-se, com o objetivo de conhecer o estado nutricional dos alunos, os

índices antropométricos, a estatura, o peso e o Índice de Massa Corporal (IMC) para a idade.

Foram avaliados 299 meninos e 276 meninas com idade entre seis anos e seis meses a

18 anos e sete meses, totalizando 575 crianças. Os resultados não apontaram diferença

estatística relevante quanto ao sexo das crianças. A pesquisa apontou que 21,5% têm

sobrepeso e 10,6% têm obesidade, totalizando 32,5% de crianças acima do peso. Apenas

2,8% estão com o IMC abaixo do esperado para a idade. Esses dados confirmaram que os

alunos têm índices mais altos que média brasileira como já citado anteriormente, sendo esta a

justificativa para este trabalho (UFMG, 2014).

Diante desse quadro, pergunta-se: qual o entendimento que as famílias dos alunos do

CP/UFMG têm sobre o comportamento alimentar e seus impactos na saúde dos filhos?

Nessas condições, esta pesquisa objetivou analisar, na perspectiva das famílias das

crianças do CP/UFMG, o comportamento alimentar, a compreensão acerca do conceito de

alimentação saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades para formar

hábitos alimentares saudáveis.

2.2 Discussão teórica

Este capítulo é composto por subtemas que imbricam entre si para maior compreensão

do fenômeno em tela.

2.2.1 A alimentação na perspectiva interdisciplinar: uma abordagem da antropologia cultural

Segundo Morin (2002), o ser humano e a sociedade são um todo composto por

variadas dimensões: física, biológica, psicológica, cultural, histórica, social e outras, e, por

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isso mesmo, necessita ser entendido e educado a partir dessa visão e não de forma fracionada.

Por conseguinte, neste contexto, cabe compreender a teoria da complexidade de Edgar Morin

(2005, p. 13):

[...] a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de

constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o

paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é

efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações,

determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico.

Compreendendo que a sociedade é historicamente construída e que a alimentação é

seu reflexo, ela só poderia ser tratada e entendida em uma abordagem interdisciplinar. Desde

as décadas de 1940 e 1950, a antropologia se fez presente em estudos nutricionais e

alimentares no Brasil. Contudo, somente nos meados da década de 1970, as pesquisas na área

das ciências sociais e nutrição se intensificaram como estudos acadêmicos. Uma das

alavancas para o aumento desses estudos foi a preocupação dos cientistas sociais com as

condições de vida e saúde das populações menos favorecida economicamente (CANESQUI,

1988).

A partir daí, as pesquisas evidenciaram que o consumo alimentar de grande parte dos

trabalhadores brasileiros, moradores da zona urbana, não eram suficientes em qualidade e

quantidade. Além disso, descobriu-se que o consumo de proteínas e ferro era deficitário,

porém desmistificou que as fontes desses nutrientes eram apenas os alimentos de origem

animal. Descobriu-se que a combinação do arroz com o feijão era a fonte proteica perfeita do

ponto de vista nutricional e que era utilizada pelas camadas de menor poder aquisitivo.

Desvelou-se, também, que estes eram os principais alimentos da cesta de consumo e,

portanto, as fontes mais importantes de nutrientes (CANESQUI, 1988).

Foi nesta época que a antropologia aliada à nutrição, “introduziu a importância da

família no consumo alimentar, agregando uma preocupação antropológica, até então ausente

nos estudos anteriores, a despeito da família na economia de subsistência constituir-se,

basicamente, em unidade de produção e consumo” (CANESQUI, 1988, p. 210).

Esta realidade confirma o que Rossi et al. (2008) afirmam: são as várias dimensões da

vida e da alimentação que levam o indivíduo a fazer as suas escolhas de forma consciente ou

não, tendo por base o seu modo de vida, cultura, sociedade em que vive, hábitos, valores,

condição financeira e outros.

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2.2.2 O significado da alimentação na família e a sua relação com a segurança alimentar e

nutricional

O conceito de família na Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004, p.

28) apresenta visão ampliada, uma vez que reconhece que estamos diante de uma família

“quando encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos,

afetivos e, ou de solidariedade”.

Os sentidos nem sempre claros e objetivos de família coincidem quando a opinião gira

em torno do papel que ela exerce na vida de cada sujeito, que é o de fazer a ligação e a relação

entre o mundo familiar e o mundo social e o de ser a mediadora entre a cultura e a natureza

(CARVALHO; ALMEIDA, 2003; SERAPIONI; 2005). Nessas condições, o natural e o

cultural se unem quando a fome, uma necessidade natural do ser humano, é atendida de forma

única pelo ato de se alimentar que é uma prática social. Portanto, comer não quer dizer apenas

matar a fome (VICENZI, 2015). Assim, nesse quadro, desde a mais tenra infância, as crianças

iniciarão as experiências de percepção dos alimentos por meio dos sentidos, principalmente,

do paladar e do olfato, sendo então uma descoberta que, desde cedo, pode estar ligada ao

prazer ou desprazer (MOREIRA, 2010; MAIA et al. , 2012; JUZWIAK, 2013).

Nessa linha de pensamento, será dentro da família que as crianças receberão o maior

impacto na formação dos hábitos alimentares. Os pais, neste caso, são os que exercem

maiores influencias sobre os filhos na formação e/ou manutenção de hábitos tradicionais, ou a

formação de novos hábitos, como, por exemplo, comer, nas principais refeições, arroz e o

feijão, assim como consumir no café da manhã, café e pão com margarina ou manteiga

(MASSARANI et al, 2015).

O contexto social adquire um papel preponderante no processo de

desenvolvimento do comportamento alimentar, principalmente nas

estratégias que os pais utilizam para a criança alimentar-se ou para aprender

a comer alimentos específicos. Estes comportamentos podem apresentar

estímulos tanto adequados quanto inadequados na obtenção das preferências

alimentares da criança e no autocontrole da ingestão alimentar (KNEIPP et

al,, 2015, p. 2412).

Estudos realizados por Silva (2015) revelam que a família tem importante papel no

incentivo à alimentação saudável de crianças e adolescentes, sendo que a mãe representa a

maior influência, além de exercer um controle sobre as escolhas alimentares não assertivas,

por meio da compra e do preparo de alimentos saudáveis. As alterações na vida social

modificaram as relações interpessoais dentro das famílias, o que têm influenciado os padrões

alimentares dos indivíduos, não só por causa dos tipos de alimentos que estão disponíveis

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para consumo, mas, também, pelas atitudes, preferências e valores atribuídos aos alimentos

(MASSARANI et al, 2015).

Distorções acontecem no comportamento alimentar familiar quando existe falta de

tempo dos membros da família para preparar ou fazer junto as refeições, servir para as

crianças alimentação diferente da dos adultos e utilizar o tempo para realizar as refeições em

família para fazer outras atividades paralelas, como trabalhar, estudar e assistir televisão.

Essas condutas oportunizam e propiciam “pular refeições”, o aumento na compra de

alimentos não saudáveis, fazer refeições fora do lar e a falta de estímulo para fazer as

refeições em conjunto, levando, assim, à formação de hábitos alimentares não saudáveis

(CHUPROSKI et al, 2012 SILVA 2015).

Estes momentos de comensalidade familiar – as refeições partilhadas –

parecem ser um importante elemento estrutural da relação que o indivíduo

estabelece com a alimentação e com os sujeitos com os quais convive. A

comensalidade tem um papel importante na criação e estruturação de

vínculos sociais (MINASSE, 2016, p. 94).

O bem-estar, o prazer de comer, a combinação dos alimentos entre si, a forma de

preparo e como e onde serão consumidos resultam no sentimento de fazer parte de

determinada família ou meio social, que retrata e reflete a cultura local e as relações

vivenciadas. Essas deverão ser compreendidas de forma ampla, uma vez que, ao cristalizarem,

transformar-se-ão em práticas alimentares de uma sociedade, ao mesmo tempo em que se

relacionam intimamente com a identidade de casa sujeito (BRASIL, 2014 a e b).

2.2.3 Alimentação, educação e desenvolvimento local

O desenvolvimento social está vinculado à melhoria das condições de qualidade de

vida das pessoas, bem como à melhoria aos acessos a bens e serviços sociais. Ao mesmo

tempo, está intimamente relacionado ao território em que ocorre, território este, aqui

entendido como espaço socialmente construído e, portanto, resultado das relações que se dão

entre os grupos sociais e as pessoas que ocupam este espaço em conjunto com o meio ao qual

estão inseridos (REIS, 2009).

Nesse quadro, o Desenvolvimento Local (DL) é o desenvolvimento de um território

específico, alcançado por meio do protagonismo social, ou seja, é o crescimento e a evolução

social produzidos pelas pessoas e não o resultado automático do crescimento econômico. Ele

não se baseia no fenômeno da exclusão social, uma vez que os atores sociais, mesmo cientes

das forças de poder inerentes ao processo, aderem e decidem ter a responsabilidade pela sua

ascensão junto com outros setores da sociedade, objetivando a promoção do local onde

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vivem. A intenção é de que, juntos, venham a discutir, planejar e tomar decisões no intuito de

implantar ações voltadas para sanar as suas dificuldades e necessidades, para que ocorra a

melhoria das condições de vida de todas as pessoas e não apenas de um determinado grupo ou

segmento da comunidade envolvida (VILLACORTA; RODRÍGUEZ, 2002; REIS, 2009;

BRASIL, 2014 b).

O desenvolvimento, nesta perspectiva, se dá pela identificação, reconhecimento e

valorização dos ativos locais que nesta circunstância tem acesso a oportunidades para

aproveitar e desenvolver as potencialidades, as vocações e as vantagens de seu território de

forma consciente (REIS, 2009).

Dentro do contexto de protagonismo social, a Segurança Alimentar e Nutricional

(SAN) pode ser entendida como acesso garantido aos alimentos básicos em condições de

segurança e de qualidade, em número satisfatório, de modo contínuo e permitindo, ainda que

as outras necessidades efetivas sejam atendidas (PEDRAZA; QUEIROZ; MENEZES, 2013).

Essa compreensão conceitual é considerada uma questão coletiva bem como condição

de exercício pleno da cidadania. Está em permanente construção por ser dinâmica e contar

com a participação de variados setores sociais e governamentais para ser alcançado (BRASIL,

2011). Segundo Leão (2013, p. 11), a SAN “acompanha as diferentes necessidades de cada

povo e de cada época”. E na acepção de Chuproski et al, (2012, p. 53), “as atuais diretrizes

políticas apontam para a necessidade de se garantir a qualidade dos alimentos disponíveis,

prevenir e controlar os distúrbios nutricionais e estimular ações intersetoriais para um efetivo

acesso aos alimentos”.

A SAN, como um dos objetivos e condição para o desenvolvimento local, pressupõe

estratégias relativas à produção dos alimentos, fornecimento, abastecimento, transporte, oferta

e consumo, sem deixar de se ater aos hábitos e culturas de cada território. Paralelamente, esta

deve considerar que a tradição e a identidade cultural das sociedades locais se definem e se

reforçam na maneira de preparar os alimentos, na escolha dos ingredientes, nos rituais diários

e nos eventos festivos em que a alimentação e a comensalidade das diversas comunidades se

faz presente (BRASIL, 2013).

Assim, uma população tem garantida a sua situação de segurança alimentar quando

tem acesso aos alimentos em quantidade e qualidade e seus habitantes tem poder de escolher

como e o que comer, de acordo com os hábitos da sua comunidade (REIS, 2009).

Por outro lado, é importante que os sujeitos saibam fazer suas escolhas alimentares de

forma assertiva e consciente que os levem a efetivar hábitos e práticas saudáveis de vida, uma

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vez que as questões de saúde, segurança alimentar e nutricional estão interligadas (BRASIL,

2012; BRASIL, 2013; OMS, 2014).

A complexidade da situação permite que se afirme que um dos mais importantes

meios para que isto aconteça é incentivar ações sociais que permitam aos indivíduos uma

consciência crítica e o reconhecimento do seu papel como protagonista de sua própria

história. A participação ativa e a ampliação da autonomia são importantes para que o

indivíduo desenvolva senso crítico frente às diferentes situações e estabeleça estratégias

adequadas para lidar com a capacidade de fazer escolhas, governar, transformar e produzir a

própria vida (REIS, 2009; BRASIL, 2014 a; OMS, 2014).

Neste sentido, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) deverá ampliar a sua

abordagem para além da transmissão de conhecimento e gerar situações de reflexão sobre as

situações cotidianas, na busca de soluções e prática de alternativas (BRASIL, 2014 a).

“Quando a EAN aborda estas múltiplas dimensões ela se aproxima da vida real das pessoas e

permite o estabelecimento de conexões, entre o processo pedagógico e as diferentes realidades

e necessidades locais e familiares” (BRASIL, 2014 a, p. 16).

Nesta linha de pensamento, Dowbor (2006, p. 14) diz que a escola tem o papel de

articular as necessidades do desenvolvimento local com os conhecimentos escolares, para

instrumentalizar os alunos que serão capazes de intervir sobre a sua realidade, ou seja, “a

educação não se limita aos alunos fazerem um estoque básico de conhecimentos” e que a

convivência em um mesmo território os fará conhecer os “problemas comuns, as alternativas

e potenciais para a sua resolução”.

Ainda segundo Dowbor (2006), quando o conhecimento é compartilhado de forma

democrática, a educação para o desenvolvimento local passa a ser efetiva e duradoura, por ser

este um instrumento pedagógico para a transformação dos indivíduos e comunidade. As

pessoas, ao se identificarem como parte de uma comunidade, sentir-se-ão também

responsáveis para gerenciarem problemas comuns a todos os envolvidos. Para o autor,

“aprender a colaborar” pode ser considerado como “forma de capital social”.

Entende-se a educação, e neste caso específico, a EAN, como prática de

empoderamento social, com vistas a auxiliar no desenvolvimento local, ao preparar o

indivíduo para o exercício da cidadania, com autonomia e responsabilidade social.

Estas ações educativas favorecem aos alunos e famílias, a oportunidade de

reflexão acerca da realidade em que estão inseridas, dos seus hábitos, e estilo

de vida. [...]. Saber é descobrir sabores, característica social, construída pelo

convívio entre alunos, professores, amigos e família, tal qual o ambiente

escolar proporciona. Trata-se de um conhecimento que não está apenas no

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conteúdo, é apreendido na experiência saborosa da sociabilidade e do

aprendizado com o cotidiano (CORDEIRO; PORTRONIERI, 2014, p. 5).

Para Cordeiro e Portronieri (2014) cabe alargar os olhares para a importância da

Alimentação Escolar. Ela se torna uma ferramenta essencial para também matar a fome de

conhecimento, pois convoca à compreensão de que o comportamento relativo à comida se

coliga ao modo de produção econômica, social e cultural. Pode-se incluir, ainda, que se liga

ao tempo e espaço habitado pelo ser humano.

Diante do exposto, compreende-se a saúde e a SAN como intrinsecamente

relacionadas ao desenvolvimento local, tendo como premissa básica que as pessoas têm o

direito de preservar a sua cultura, assim como têm, também, o direito de desestimular a

inserção e imposição de padrões alimentares diferentes das tradições locais (OMS, 2014).

2.2.4 A influência da mídia na alimentação

A linguagem midiática e publicitária podem influenciar a compra e o consumo dos

mais variados produtos, além de alterar hábitos individuais e da população em geral. Essas

alterações representam as mudanças que acontecem no mundo em que se vive (SILVA et al.,

2010; MOOM; HOFELMANN, 2014). A convivência social e a influência dos meios de

comunicação podem ser consideradas como altamente determinantes e relevantes para os

comportamentos alimentares em todas as idades, porém de forma mais intensa na infância e

adolescência. Muito embora eles recebam influência da família e dos seus valores culturais e

alimentares, também se encontram na fase de valorizar a opinião de amigos e dar grande

importância aos apelos das propagandas, campanhas publicitárias e programas de televisão

(COSTA et al., 2010).

Um dos fatores que tem induzido famílias e principalmente crianças e adolescentes a

realizarem mudanças no comportamento alimentar são a mídia, as propagandas e o número de

horas que passam em frente à televisão. Este meio de comunicação é considerado um grande

formador de hábitos alimentares, uma vez que quanto mais novas são as pessoas, mais

influências sofrem por imagens e processos simbólicos que as levam a consumir produtos e

alimentos nem sempre saudáveis e, geralmente, de elevado valor calórico. Ao longo do

tempo, este excesso de exposição à mídia altera as preferências individuais e familiares

(MORAES; DIAS, 2012; MOMM; HOFELMANN, 2014).

Segundo Moraes e Dias (2012), grande parte das crianças brasileiras passam um

número maior de horas em frente aos televisores do que na escola. Aliado a esse fato, elas não

têm muitas oportunidades para fazer atividades físicas e praticar lazer. O estudo desses

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50

autores apontou que quanto mais baixa é a renda da família, quando comparadas às de classes

média e alta, maior número de horas passam assistindo televisão. Aparelhos esses que

divulgam amplamente propagandas de alimentos voltados para o público infantil.

No Brasil, a televisão é um dos meios de comunicação mais acessíveis à população,

alcançando 95,1% dos lares. Somado a isso, as crianças brasileiras passam entre cinco a seis

horas diariamente em frente à televisão, ou se divertindo com jogos de vídeo e/ou

computadores, recebendo interferência em 80% das escolhas de compra de alimentos da

família, independentemente do valor nutricional associado a eles e sempre agregados à

compra de brinquedos (MOTTA-GALLO, 2013). “Nos Estados Unidos, um estudo de revisão

bibliográfica concluiu que as crianças assistem cerca de 20 horas de televisão por semana. No

total, 91% dos anúncios são de alimentos com alto teor de gordura, açúcar e sal” (MOTTA-

GALLO et al., 2013, p. 88).

Estudos de Momm; Hofelmann (2014) abalizaram que os pais têm o poder de

persuasão na qualidade da dieta dos filhos e o fazer as refeições em frente à televisão está

associado a dietas inadequadas em mais da metade da amostra em relação as que não faziam.

Esses e outros autores afirmaram que quanto maior o tempo que crianças e adolescentes

gastam assistindo televisão, maior à adesão à alimentação de má qualidade. “A mídia

representa uma das principais ferramentas utilizadas pelo marketing para incentivar o

consumo de produtos industrializados e nutricionalmente inadequados” (SILVA et al., 2015,

p. 3304).

2.3 Metodologia

Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, realizado no ano de 2016, na cidade de Belo

Horizonte, com famílias de crianças matriculadas no primeiro Ciclo de Formação Humana do

Ensino Fundamental do CP da UFMG.

A obtenção dos dados se fez em duas fases: na primeira, elaborou-se um questionário

baseado no teste “Como está a sua alimentação?”, que integra a versão de bolso do Guia

Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2006) e nos instrumentos de pesquisa da

dissertação de Carmo (2015). Na segunda fase, fez-se entrevista semiestruturada com as

famílias de crianças que apresentavam algum problema de saúde relativo à alimentação.

A seleção dos possíveis sujeitos ocorreu intencionalmente com o levantamento

cadastral de 144 famílias dessas crianças. A coleta de dados da primeira fase foi realizada

entre fevereiro e abril de 2016. Todas as 144 famílias dos alunos do primeiro ciclo, com

idades entre cinco anos e meio a oito anos, receberam o questionário. Optou-se por este

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recorte, tendo em vista que quanto mais tenra a idade das crianças, mais susceptíveis e aptas

se encontram para adquirir e modificar os hábitos alimentares, que nessa idade, ainda não

estão totalmente sedimentados. Os hábitos, quando internalizados, tendem a perdurar até a

vida adulta (VASCONCELOS et al., 2012).

As famílias foram convidadas a participar da pesquisa e receberam explicações sobre

ela na primeira reunião pedagógica do primeiro ciclo do ano de 2016. Em data posterior,

foram enviados o convite, as orientações, os questionários (APÊNDICE 1) e o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE 3).

Os questionários foram colocados em envelopes não identificados e entregues

diretamente ao professor em cada sala de aula. No questionário, não foram pedidos assinatura

ou identificação do respondente. Do total distribuído em todo o primeiro ciclo, oito alunos

não estavam presentes, 26 alunos não devolveram e oito questionários foram devolvidos em

branco. Desta forma, dos 144 alunos que fazem parte do primeiro ciclo foram devolvidos 102

questionários, ou seja, 71,52% do total.

Os dados dos questionários foram inseridos no programa EPINFO, versão 7.0 e

tratados por meio de categorização, codificação e tabulação. Posteriormente, foram feitas a

análise estatística dos dados, conforme o referencial teórico adotado e os objetivos específicos

definidos.

Na segunda fase, as entrevistas (APÊNDICE 2) semiestruturadas foram agendadas

previamente e realizadas na escola ou nas residências dos entrevistados em datas e horários

que convieram às famílias e gravadas com o consentimento prévio dos entrevistados, após

assinatura do TCLE (APÊNDICE 4). A entrevista foi composta por questões abertas que

incitaram os sujeitos a expressarem tanto o pensar quanto o sentir a respeito do fenômeno

pesquisado. Objetivou-se descobrir os significados, os comportamentos, os sentidos e a

relação que as famílias têm com a alimentação e seus impactos na saúde dos filhos.

O convite se fez por meio de solicitação escrita e posterior contato telefônico às 13

famílias de alunos que já faziam tratamento médico ou nutricional para problemas

relacionados à alimentação ou que tinham familiares nestas condições e a mais 13 famílias

que não apresentavam quaisquer problemas relativos à alimentação. Das 26 famílias

convidadas, nove famílias assentiram participar dessa segunda etapa. Não se pretendeu, em

nenhum momento, traçar dados comparativos, apenas intentar compreender mais

profundamente o vivido das famílias de crianças com ou sem problemas de saúde. Registra-se

que a saturação dos dados ocorrida nas nove entrevistas deu-lhe o caráter de validade e

cientificidade.

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52

As entrevistas, depois de transcritas e mantidas as falas originárias dos sujeitos, foram

lidas várias vezes e, em seguida, tratadas por meio da análise de conteúdo temática de

Laurence Bardin (2016). As categorias foram estabelecidas pelo pesquisador, à medida que as

unidades de registro convergiram.

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA, CAAE

n.1.358.885, em atenção às normas da Resolução 442/12 do Conselho Nacional de Saúde

sobre pesquisa envolvendo seres humanos.

2.4 Análise e discussão de resultados

2.4.1 Análise dos dados do questionário

Primeiramente, serão expostos os dados da primeira etapa da pesquisa com base nas

respostas do questionário.

A análise mostrou que o perfil das famílias é formado por 73,79% de famílias

provenientes da zona urbana, sendo 68% de cidade de grande porte. A idade dos pais entre 21

a 39 anos alcança 52,94% e entre 40 a 49 anos está em 35,29%. Ou seja, 88,24% têm menos

de 50 anos. Dos respondentes, 86,14% são mães e 11,88% pais. Em 51% das famílias o pai e

a mãe estão no mercado de trabalho.

Estes dados permitem inferir que adultos com idade entre 40 e 50 anos estão afinados

ao novo padrão alimentar instituído pela transição alimentar e nutricional. Em todo o mundo

houve um aumento no consumo de produtos alimentícios que elevaram o consumo de açúcar

industrializado e gorduras. No Brasil este fato aconteceu também nos últimos 30 anos

(ZANINI et al., 2013). Esta modernidade alimentar tem como características o excesso,

abundância e uma nova forma de se relacionar com a alimentação (FONSECA. et al.,2011).

Segundo Tardido e Falcão (2006, p. 177), “a urbanização induziu uma mudança nos

padrões de vida e comportamentos alimentares das populações”. Esta transição está atrelada

aos processos de globalização, industrialização e urbanização, já que esses fatores afetaram de

forma intensa os modos de vida e consumo da população. É, também, nas décadas de 1970,

1980 e 1990 que os problemas brasileiros relacionados à alimentação passam da fome e

desnutrição para a obesidade, sobrepeso e má alimentação.

Acompanhando este deslocamento, os dados sobre sobrepeso e obesidade na

população brasileira vêm mostrando crescimento entre as décadas de 1970 e

1990, segundo análises comparativas entre vários inquéritos antropométricos

nacionais, com aumento da prevalência, chegando em 1997 a ser o dobro da

de 1975 (TARDIDO; FALCÃO, 2006, p. 120).

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53

No que concerne à escolaridade, encontrou-se, nesta pesquisa, um índice de 50% de

pais com o segundo grau completo ou superior incompleto. Dados do IBGE assinalam o

equivalente a este nível de escolaridade, em anos de estudo, de 30,9% para mulheres e de

29,2% para homens. Quando se trata de pais com curso superior completo ou pós-graduado,

os índices encontrados são de 43,14%, sendo que os dados do IBGE apontam 11% para

homens e 13,6 para mulheres (IBGE, 2016).

No Gráfico 1, os dados referentes ao nível de escolaridade dos sujeitos desta pesquisa

estão demonstrados.

Gráfico 1 – Nível de escolaridade das famílias do primeiro ciclo do CP/UFMG

Mesmo que esta pesquisa não tenha dados que diferenciem a escolaridade de pais e

mães, os respondentes dos questionários foram em 86,14% mães e apenas 11,88% pais. Desta

forma, conclui-se que a escolaridade retratada em quase 90% dos casos é das mães, sendo

quase quatro vezes maior que a média nacional.

A renda familiar também foi outro achado que difere da média nacional, isto é,

65,59% estão entre três a oito salários mínimos, ou seja, entre R$ 2.640,00 e R$ 7.040,00, que

pode ser considerada alta, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD) contínua de 2016, que tem como média nacional o valor de R$ 1.128,00 (IBGE,

2016).

Gráfico 2 – Faixa de renda das famílias do primeiro ciclo do CP/UFMG

0,98% 2,94%

28,43%

2,94%

21,57% 21,57% 21,57%

0,00%5,00%

10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%

1º grau completo 1º grau incompleto 2º grau completo

2º grau incompleto 3º grau completo 3º grau incompleto

pós graduado

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Estudos apontam que quanto maior a renda familiar, menor é o risco de insegurança

alimentar relacionada à quantidade, mas em relação à qualidade não se pode afirmar o mesmo

(CHUPROSKI, 2012; PEDRAZA; QUEIROZ; MENEZES, 2013). O padrão alimentar

praticado por famílias de maior renda poderá, em médio e longo prazo, influenciar o

desenvolvimento de distúrbios, como excesso de peso, anemia e dislipidemias, uma vez que é

composto por alimentos não saudáveis, refinados e prontos para o consumo, que são, em sua

maioria, pouco saudáveis (RODRIGUES et al., 2012).

Neste sentido, a evolução tecnológica e social que poderia abrir oportunidade para que

as famílias melhorassem a forma de comprarem, prepararem e consumirem os alimentos, na

realidade, resultou em perda de identidade da cultura alimentar, consumo maior de alimentos

processados e ultraprocessados, semiprontos ou totalmente prontos (MORAES; DIAS, 2012).

Para Villa et al. (2015), os pontos associados ao padrão alimentar das crianças são as

condições econômicas da família, escolaridade materna, prática de restrição alimentar

realizada pelos pais ou responsáveis e localização da residência em zona urbana ou rural.

Concluiu-se, em diversas pesquisas nacionais e internacionais, que melhores condições

socioeconômicas e uma maior escolaridade materna se traduzem em alimentação saudável e

equilibrada. Porém, é interessante constatar que os dados obtidos nesta pesquisa não

coadunam com essas assertivas.

Dito isso em consideração aos 13 alunos, ou seja, 12,87% do universo de 144 famílias

fazem ou já fizeram tratamento para controle de doenças relacionadas à alimentação. É sabido

que essas doenças se relacionam à hereditariedade, mas que, também, estão arroladas ao

consumo, preparo e oferta de alimentos.

Pode-se igualmente constatar que os dados deste estudo mostraram que as crianças,

em 56,86% das famílias, são cuidadas pela mãe quando não estão na escola, apesar de em

47,31%

18,28%

26,88%

7,53%0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

3 a 5 SM 6 a 8 SM até 2 SM Mais de 8 SM

3 a 5 SM 6 a 8 SM até 2 SM Mais de 8 SM

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51% dos casos as mães trabalharem fora de casa e, em sua maioria, são as responsáveis pelo

preparo dos alimentos. Ou seja, as mães têm uma sobrecarga de tarefas.

Quanto à compra de alimentos, outro dado associado é que em 51% dos lares, o pai e a

mãe são os responsáveis pela compra de alimentos para as famílias. Destes, 73% sempre ou

muitas vezes deixam de comprar alimentos que possam prejudicar a família. No entanto,

apenas 13,86% sempre leem o rótulo dos alimentos com as informações nutricionais das

embalagens de alimentos e em 75% das vezes a data de validade, um dado que pode ser

considerado preocupante uma vez que deveria acontecer em 100% das vezes. Os dados

revelaram que 10% nunca leem as informações nutricionais e só um respondente afirmou

nunca ler a data de validade dos alimentos.

O preço é considerado como o item mais importante na hora da compra para 50% dos

pais, seguido do gosto familiar por 43,02%. A facilidade de preparo e o tempo para preparar

os alimentos são observados em terceiro e quarto lugares e em último lugar, 59,15%, olham a

propaganda para comprar os alimentos.

Outros dados revelaram que, de forma geral, as famílias permitem que as crianças

exerçam grande influência nas compras de alimentos. Das 102 famílias participantes, 92

responderam positivamente a essa questão. Apenas 25 informaram que raramente as crianças

intervêm na compra e cinco nunca influenciaram. Este percentual indica que dois terços

interferem, em alguma medida, nas compras de alimentos para a família como se pode

comprovar na Tabela 1.

Tabela 1– Influência das crianças na compra de alimentos em relação à renda das famílias do

primeiro ciclo de formação humana do CP da UFMG. (Fevereiro e Março, 2016).

Até 2 SM 3 a 5 SM 6 a 8 SM Mais de 8 SM TOTAL

Algumas vezes 11 24 12 5 52

Muitas vezes 0 7 1 0 8

Nunca 2 2 1 0 5

Raramente 11 10 2 2 25

Sempre 1 0 1 0 2

TOTAL 25 43 17 7 92

Nota: SM = Salário Mínimo vigente

Um dos fatores que tem induzido famílias e principalmente crianças e adolescentes a

realizarem mudanças no comportamento alimentar são a mídia, as propagandas e o número de

horas que passam em frente à televisão. Este meio de comunicação é considerado um grande

formador de hábitos alimentares, uma vez que, quanto mais novas são as pessoas, mais

influências sofrem por imagens e processos simbólicos que as levam ao consumo de produtos

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e alimentos nem sempre saudáveis, e geralmente de elevado valor calórico. Ao longo do

tempo, este excesso de exposição à mídia altera as preferências individuais e familiares

(MORAES; DIAS, 2012; MOMM; HOFELMANN, 2014).

Fazem sentido as palavras de Cordeiro e Portronieri (2014) ao se referirem que ações

educativas beneficiam alunos e famílias a refletirem sobre a realidade em que estão inseridos

e os respectivos estilos de vida. Dowbor (2006) complementa ao afirmar que o conhecimento

é partilhado democraticamente e a educação para o desenvolvimento local é essencial, pois é

uma ferramenta que visa à mudança crítica e duradoura de pessoas e da comunidade.

É preciso, assim, que as famílias transformem a informação veiculada pela mídia,

propagandas e outros veículos de informação em conhecimento em prol da própria saúde.

Mais uma vez, cabe citar Cordeiro e Portronieri (2014, p. 5) ao certificarem que “o

conhecimento que não está apenas no conteúdo, é apreendido na experiência saborosa da

sociabilidade e do aprendizado com o cotidiano”.

Contrariamente aos dizeres de Rodrigues et al. (2012) relativos às famílias menos

abastadas que têm menor consumo de refrigerantes, salgadinhos fritos e doces devido,

possivelmente, ao menor acesso e disponibilidade a alimentos processados, bem como menor

variedade alimentar causada pela dificuldade na aquisição de alimentos industrializados mais

caros, os dados desta pesquisa mostraram o inverso.

Podemos verificar que os pais que informaram o consumo de salgadinhos, por faixa

salarial, em relação à soma das respostas algumas vezes e muitas vezes, obtêm-se um

percentual em torno de 60% para todas as faixas salariais. Percebe-se que o consumo de

salgadinhos ocorre praticamente de forma equânime em todas as faixas, mesmo que quase

12% não tenham respondido a esta questão. Essas afirmativas são comprovadas pelos dados

da Tabela 2.

Tabela 2 – Consumo de frituras, salgadinhos fritos em pacotes e outros, em relação à renda

das famílias do primeiro ciclo de formação humana do CP da UFMG (Fevereiro e Março de

2016).

Nota: SM = Salário Mínimo vigente

Até 2 SM 3 a 5 SM 6 a 8 SM Mais de 8 SM TOTAL

Algumas vezes 12 22 10 04 48

Muitas vezes 03 03 0 00 06

Nunca 00 00 00 00 00

Raramente 10 17 06 02 35

Sempre 00 01 00 00 01

TOTAL 25 43 16 06 90

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57

O estudo de Nobre, Lamounier e Franceschine (2013) tem maior similaridade com

nossos achados, pois aponta que a renda e a escolaridade não mostraram influência

significativa quando relacionadas ao consumo de guloseimas, como chips, balas,

refrigerantes, entre outros. Independentemente do custo, determinados alimentos não

saudáveis são consumidos pelo simples fato de significarem status social e, por isso, ter o seu

consumo aumentado entre as crianças e adolescentes independentemente do seu extrato

social.

No Gráfico 3, encontra-se demonstrado o quantitativo de crianças em uso de alimentos

embutidos.

Gráfico 3 – Consumo de embutidos pelas famílias do primeiro ciclo do CP/UFMG

Os dados do gráfico assinalam que o percentual das famílias que consomem embutidos

(salsichas, hambúrgueres e similares) foi positivo para 97% da amostra. Este percentual diz

respeito à soma das alternativas: algumas vezes, muitas vezes e sempre. As composições

desses alimentos, que são altamente processados pela indústria, são ricos em sódio, gordura,

conservantes, corantes e outros. Segundo o Guia Alimentar da População Brasileira, esses

alimentos devem ser consumidos em pequenas quantidades e com pouca frequência

(BRASIL, 2008). Contrariamente, os dados indicaram ser o consumo alto.

Em décadas anteriores, a alimentação tipicamente brasileira era constituída

basicamente por verduras, legumes, frutas e o tradicional arroz com feijão (BRASIL, 2013,

NOBRE; LAMOUNIER; FRANCESCHINE, 2012, NOBRE; LAMOUNIER;

FRANCESCHINE, 2013). Atualmente, tem elevada frequência de práticas inadequadas como

o aumento no consumo de produtos industrializados, redução no consumo de arroz e feijão e

consumo deficiente de frutas e hortaliças (COSTA, 2010; NOBRE; LAMOUNIER;

FRANCESCHINE, 2012; ROSANELI et al., 2012).

66,00%

13,00% 18,00% 3,00%0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

algumas vezes muitas vezes sempre raramente

algumas vezes muitas vezes sempre raramente

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Pode-se notar neste trabalho que existe uma nítida preferência pelo consumo alto e

regular de guloseimas. Os dados indicaram que 76% consomem biscoitos ou bolos, 60%

consomem salgadinhos tipo chips. Este padrão alimentar característico de pré-escolares está

em consonância com o padrão mundial, com prevalência de alimentos ricos em carboidratos

refinados, como: pães, bolos, biscoitos recheados, alimentos ricos em açúcar como

refrigerantes, sucos industrializados, balas, doces, guloseimas em geral e lanches com

produtos de origem animal e rico em gorduras, como sanduíches e salgados fritos (NOBRE;

LAMOUNIER; FRANCESCHINE, 2012).

Os resultados dos questionários revelaram alguns fatores positivos: a maioria das

famílias do CP da UFMG, ou seja, 64%, nunca colocam sal nos alimentos após estarem

preparados, 97% usam óleo vegetal para preparar os alimentos e 59,8% sempre tiram a

gordura aparente das carnes. Revelaram, ainda, que 66% consomem um pedaço de carne ou

um ovo na refeição e que 50% afirmam beber de um a três copos de suco natural todos os

dias.

Desvelaram, também, que as famílias que consomem, raramente ou nunca, peixes

correspondem a 29,12% e que 43,57% bebem de um a três copos de suco de caixinha ou em

pó todos os dias. Contudo, é considerado fator preocupante, em se tratando de famílias com

crianças, que quase 80% consomem dois ou menos copos de leite por dia, sendo em 80,80%

das vezes leite integral.

No Brasil, há uma aparente tendência na diminuição da ingestão de leite pela

população, e substituição do consumo de leite por refrigerantes. [...]. A

situação atual é preocupante, pois o leite é a melhor fonte de cálcio, e a

diminuição da sua ingestão pode comprometer as fases de crescimento e

desenvolvimento em crianças e adolescentes. É importante ressaltar que o

refrigerante contém substâncias que impedem e diminuem a fixação do

cálcio na matriz óssea (SOUSA; ANDAKI, 2015, p. 146).

Com o crescimento da renda da população em geral e a mudança de perfil

socioeconômico e cultural, o padrão alimentar tradicional foi sendo substituído por alimentos

processados pela indústria e com maior densidade energética. Além disso, um número maior

de pessoas passou a fazer as refeições fora do lar (BRASIL, 2012; BRASIL, 2013, NOBRE;

LAMOUNIER; FRANCESCHINE, 2012, RODRIGUES et al., 2012).

Esta pesquisa mostrou que 54% das famílias têm o hábito de comer fora de casa nos

finais de semana e destes, 86,42% preferem almoçar. As preparações mais consumidas

quando saem para comer fora são arroz, feijão, carne, salada, massas, churrasco e lanches,

como sanduíches, cachorro-quente e similares. O que coincide parcialmente com os dados

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59

apontados na pesquisa de Bezerra et al. (2013) que afirma que os alimentos mais consumidos

na rua são pizza, refrigerantes e salgados fritos ou assados.

A comparação entre as Pesquisas de Orçamentos Familiares, (POF) de 2003-2004,

com a de 2008-2009, revela que foi de 400% o acréscimo de açúcar na alimentação diária

proveniente dos refrigerantes, biscoitos e bebidas industrializadas, como sucos, achocolatados

e outros, que são as maiores fontes de açúcar. As POFs relatam também que alimentos

embutidos, como salsichas, hambúrgueres, linguiça e outros tiveram um aumento de 300%.

Em paralelo, o mesmo estudo revelou que houve redução em torno de 20% nos últimos 40

anos na aquisição e consumo de cereais e leguminosas, como feijão e arroz (IBGE, 2004;

IBGE, 2010).

A oferta de produtos nem sempre saudáveis, porém de preço acessível, pode ser um

dos facilitadores desta tomada decisão. Outra questão é que sempre quando se faz a opção por

se alimentar fora de casa e se dá preferência por locais onde a “exposição intensa à

publicidade de alimentos não saudáveis, e onde não são oferecidas opções saudáveis de

alimentação” (BRASIL, 2008, p. 23).

Os sujeitos deste estudo mostraram ter um padrão alimentar não saudável, não só no

consumo, mas também por não terem rotinas e comportamentos adequados. Essa inferência

está associada a pouca disponibilidade de horários das mães para o preparo das refeições,

cuidados da casa e o desempenho das outras funções no mercado de trabalho.

Outros resultados indicaram que mais de 80% das famílias consomem o tradicional

arroz com feijão em pelo menos cinco dias da semana. Porém, 26,21% não comem frutas e

12,75% não comem folhosos todos os dias. Por outro lado, 76,74% consomem três a cinco

colheres de sopa por dia de legumes, e 46,08% consomem batata menos de cinco dias da

semana, o que está em conformidade com o recomendado pelo Guia Alimentar da População

Brasileira (BRASIL, 2008).

Esses achados são compatíveis com os da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-

2009, que demonstraram que apenas 10% da população brasileira consomem quantidade

suficiente, ou seja, 400 gramas ou mais por dia de frutas, verduras e hortaliças. Esta é a

recomendação da OMS e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

(FAO), que foi adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil (COSTA; VASCONCELOS,

2012).

Os dados da pesquisa mostraram que a maioria das famílias, 73%, fazem apenas

quatro refeições ao dia, incluindo café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Esses

achados revelam que entre o café da manhã e o almoço há um intervalo de muitas horas sem

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que a família/criança se alimente, o que não é recomendado pelo Guia Alimentar da

População Brasileira (BRASIL, 2008). Quase a totalidade, 99,03%, faz a refeição almoço e

82,98% afirmam sempre tomar o café da manhã.

Como já citado na introdução desta pesquisa, os alunos têm dificuldades em aceitar

legumes, verduras e frutas oferecidos na escola, além disso, muitos não comem em

quantidade e qualidade suficientes para a fase de desenvolvimento em que estão. Assim, a

orientação do setor de saúde da escola para os pais é de que seja feita a refeição jantar em

casa, composta de arroz, feijão, carne, legumes e verduras.

Em estudo de Silva et al. (2015), a refeição realizada de forma mais frequente foi o

almoço. O jantar foi considerado importante, mas é frequente a não realização desta refeição

por falta de apetite, de vontade e tempo hábil para fazê-la antes de dormir e o lanche foi

apontado como a refeição predileta, em qualquer horário, sendo o substituto de qualquer

refeição e é frequentemente constituído por alimentos ricos em gorduras e açúcares, como

bolos, pão de queijo, iogurte e outros.

Compreendendo as questões apontadas relativas às refeições pelo estudo de Silva et al.

(2015) como de extrema importância para este trabalho e pela justificativa anterior, nesta

pesquisa foram feitas, de forma direta, duas questões a respeito do jantar. Na questão cinco,

perguntou-se “quais as refeições a sua família faz por dia?”, dos 102 respondentes 86 famílias

afirmaram jantar, porém é passível de que tenham entendido “jantar” como indicação de

horário para fazer uma refeição e não fazer a refeição em si. Entretanto, na outra questão em

que se pergunta explicitamente: “É hábito da família jantar?”, as respostas foram 42,86%

sempre jantam, seguido de 20,41% muitas vezes jantam. Dado que corrobora estas

porcentagens, uma vez que, quando se questiona a respeito da substituição do jantar por

outros alimentos, este é substituído por sanduíches, sopas, biscoitos e leite.

Estes achados mostram que as escolhas alimentares, além de serem

influenciadas por aspectos subjetivos relacionados ao conhecimento e per-

cepções, recebem interferência de fatores econômicos, sociais e culturais,

como constatado neste e em outros estudos (SILVA et al., 2015, p. 3304).

Conforme o gráfico a seguir, a possibilidade de mudar a alimentação da família, a

resposta foi positiva para a maioria. Apenas 20,38% afirmaram que raramente ou nunca

pensam em alterar. Porém, quando se pergunta qual é a opinião que a família tem sobre a sua

própria alimentação, os dados mostraram que 52,48% dizem que a alimentação da família é

saudável e 32,67% parcialmente saudável. Estes dados são incoerentes, uma vez que quase

80% afirmaram que em algum momento tem vontade de modificar a alimentação, o que não

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61

corresponde aos números que apontam que mais da metade percebem a alimentação como

saudável.

Gráfico 4 – Mudanças de hábitos das famílias do primeiro ciclo do CP/UFMG

A decisão em direção à adoção de uma alimentação saudável passa por questões e

“muitos fatores – de natureza física, econômica, política, cultural ou social – podem

influenciar positiva ou negativamente o padrão de alimentação das pessoas” (BRASIL,

2014 b, p. 23) (grifo do autor). Dentro da família, os pais exercem maiores influencias sobre

os filhos na manutenção de hábitos tradicionais da cultura alimentar (MASSARANI et al.,

2015).

Sobre quais fatores dificultariam as mudanças alimentares, caso necessário, em

primeiro lugar as pessoas opinaram que seria por que ficaria mais caro do que a alimentação

que fazem hoje; segundo, que seria difícil mudar a rotina; e terceiro por que ficaria mais

difícil preparar os alimentos. Quando perguntados sobre que fatores dificultariam a

adoção de uma alimentação saudável, mais de 50% responderam que “a alimentação

ficaria mais cara”, seguida de que é “muito difícil mudar a rotina familiar”(grifo do

autor).

Não basta ter acesso ao saber científico para modificar costumes alimentares,

pois eles não estão fundados tão somente na racionalidade humana. Esta

certamente existe, mas convive tensamente com valores simbólicos e com os

prazeres propiciados pela comida, sejam eles gustativos, psicológicos ou

sociais, isto é, provenientes das relações criadas em torno das refeições

(ROMANELLI, 2006, p.336).

A alimentação saudável é normalmente associada a alimentos muito caros. Isso

decorre da concepção criada pelo alto preço de alguns alimentos utilizados em dietas

especiais, que se forem comparados aos preços de alimentos processados ou das guloseimas,

verifica-se que custam menos. Porém, alimentos podem e devem ser substituídos por outros

42,72%

17,48%

3,88%16,50%

19,42%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

algumasvezes

muitas vezes nunca raramente sempre

algumas vezes muitas vezes nunca raramente sempre

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62

de igual valor nutricional, da safra e logicamente com menor preço e maior qualidade

(BRASIL, 2014 b).

No caso dos alimentos tipicamente brasileiros, como o arroz, feijão, mandioca e

outros, existem, também, substituições que são mais em conta e que são igualmente

saudáveis. Além disso, nem todas as variedades de legumes, verduras, frutas e carnes têm

preços altos (BRASIL, 2014 b).

A ideia de que a alimentação saudável custa necessariamente mais do que a

alimentação não saudável não é confirmada por dados da realidade. Cálculos

realizados com base nas Pesquisas de orçamentos Familiares do IBGE

mostram que, no Brasil, a alimentação baseada em alimentos in natura ou

minimamente processados e em preparações culinárias feitas com esses

alimentos não é apenas mais saudável do que a alimentação baseada em

alimentos ultraprocessados, mas também mais barata” (BRASIL, 2014 b, p.

110).

As evidências científicas apontam que a influência que alimentação tem sobre a saúde,

e a relação entre elas, não pode ser entendida ou explicada apenas se baseando no consumo,

ou restrição de consumo de determinado alimento de forma isolada. O conjunto de alimentos

consumidos em uma refeição, o bem-estar, o prazer de comer, a identidade dos sujeitos e o

sentimento de fazer parte de determinado meio social retrata e reflete parte da cultura de uma

sociedade, ao mesmo tempo em que se relacionam intimamente com a combinação dos

alimentos entre si, a forma de preparo e com quem, como e onde serão consumidos. Estas

relações deverão ser compreendidas de forma ampla, uma vez que comer traz em si as crenças

culturais e sociais que se transformam em práticas alimentares (BRASIL, 2014b).

2.4.2 Análise das entrevistas

Com a intenção de aprofundar o conhecimento acerca da alimentação dos alunos

também numa visão subjetiva, trabalhou-se com a visão de mundo expressa pelas famílias a

partir de entrevistas.

Elas foram gravadas em áudio para manter a fidedignidade das falas, lidas de forma

flutuante e em profundidade e foram transcritas e interpretadas pelo método análise de

conteúdo temática de Bardin (2016).

A leitura exaustiva de cada depoimento, o mergulho nas palavras verbalizadas e a

busca do sentido latente e expresso, conforme orientações de Bardin (2016) iluminaram as

falas dos sujeitos em estudo e as convergências dos dizeres permitiram construir nove

categorias de análise que orientaram a compreensão do fenômeno em questão, com base na

repetição das unidades de registros.

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As categorias insurgiram das falas dos sujeitos, refletindo, por conseguinte, suas ideias

e pensamentos. Para garantir o anonimato, os participantes serão denominados de E1, E2, E3

e, assim, sucessivamente, de acordo com a ordem de ocorrência das entrevistas.

As categorias são: problemas de saúde, rotina alimentar, refeições em família, hábitos

alimentares, impactos na alimentação na saúde das crianças, sentimentos e sentidos atribuídos

à alimentação, alimentação saudável, influência da mídia e alimentação fora de casa.

Antes de iniciar a análise das entrevistas, achou-se pertinente abordar a não aceitação

de diversas famílias de crianças que foram convidadas para a entrevista. O não cobrar a

participação por meio de telefonemas, uma vez que o convite foi por escrito, deveu-se ao

respeito pela autonomia individual, bem como a autodeterminação que essas famílias, melhor

dizendo, todo ser humano tem de fazer suas escolhas e tomar suas próprias decisões.

Inferências, nesse sentido, são possíveis: as famílias das crianças que já apresentam

problemas de saúde concernentes à alimentação tiveram medo de se expor? O fato da

pesquisadora trabalhar no CP também foi fator de negação, pois conheceria o como se dão as

relações subjetivas e objetivas com a alimentação e, assim, o não dito se tornaria explícito?

Por outro lado, passado este desafio, as entrevistadas que aceitaram o convite

revelaram os hábitos e comportamentos alimentares da família de forma tranquila e plena, o

que fez com que esta pesquisa tenha conseguido um número de dados que superaram as

expectativas. São questões que convocam à reflexão.

2.4.2.1 Problemas de saúde

Nesta categoria, pretende-se discorrer sobre como o padrão alimentar pode influenciar

no aparecimento de doenças em crianças. Em décadas anteriores, problemas como estes

prevaleciam na idade adulta.

A pergunta que abordou este assunto foi: a criança já fez algum tratamento para

obesidade ou colesterol, triglicérides elevados? Detectou-se que dos nove entrevistados

apenas dois fazem ou já fizeram controle para glicose, colesterol, triglicerídeos ou peso, o que

está de acordo com a tendência apontada nos questionários. De acordo com os depoimentos,

existe uma preocupação que, ao longo do tempo, os filhos venham a desenvolver doenças

relacionadas a hábitos, mas, também, à hereditariedade, como neste caso.

Em relação à subcategoria colesterol, os sujeitos responderam:

Este exame (colesterol) o pediatra nunca pediu não (E7).

É, ela teve. Este colesterol eu estou lutando com ela. Eu não entendo de

onde que aumenta este colesterol dela. A alimentação de casa é controlada.

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Não sou de fazer fritura, não sou de deixar comer o que gosta. Eu já tenho a

lista do que pode e do que não pode (E2).

Ele fez o exame e está tudo normal. Mas ele é pequeno ainda né? E no

futuro? (E 8).

Bergmann et al. (2011), em estudo realizado com crianças de 7 a 12 anos, em Caxias

do Sul, encontraram evidências de que o nível de colesterol total aumentado se associaram às

crianças, cujas famílias tinham alto nível socioeconômico, predominância do sexo feminino e

ao excesso de peso. Esses autores alertam para a necessidade de investimento em ações

educativas, com vistas à diminuição dos fatores de risco, como o desenvolvimento de doenças

cardiovasculares e outras complicações coronárias ao longo da vida. Recomendam que essas

ações educativas elejam como foco os hábitos alimentares saudáveis, a prática regular de

exercícios físicos e verificação periódica do estado nutricional em crianças e adolescentes.

Quanto à glicose, obtiveram-se as unidades de registro:

Não, tudo normal. Mas a família do pai dela tem muita diabetes (E7).

Não. Mas sou de família de diabéticos também (E1).

A minha família tem problemas de diabetes e pressão alta. É hereditário,

né? (E8)

Essas unidades parecem indicar certo conformismo com a doença diabetes “normal;

sou de família com diabetes; é hereditário...”. A despeito dessa “normalidade”, Góes, Vieira

e Liberatore Júnior (2007) garantem que as limites impostos para a criança com diabetes são

vários e desencadeiam sentimentos de medo de insegurança, entre outros. Chama a atenção

para o papel da família, para que esta compreenda os sinais e sintomas que poderão advir e

que se instrumentalizem para o cuidado e autocuidado necessários para manutenção da saúde.

A unidade relacionada ao peso mostra que:

Lá em casa nós três estamos muito acima do peso. Às vezes eu acho que é

esta minha rotina, que é muito difícil manter uma dieta (...) Não é fácil (E1).

A literatura discorre que, em médio e longo prazo, a ingestão em excesso de alimentos

compostos por açúcares refinados e gorduras, quando é consumido ao contrário do que é

preconizado, poderão influenciar o desenvolvimento de distúrbios, como: excesso de peso,

anemia, alteração de glicose e dislipidemias (BRASIL, 2013, NOBRE; LAMOUNIER;

FRANCHESCHINE, 2012, NOBRE; LAMOUNIER; FRANCHESCHINE, 2013).

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65

2.4.2.2 Rotina alimentar

A rotina, de modo geral, é um fator importante na vida das pessoas. Na vida das

crianças tem papel preponderante, pois é por meio dela que se orientam em relação as suas

atividades diárias, inclusive as alimentares.

Monção (2016, p. 5), em estudo realizado em instituição infantil, assegurou que, na

visão das professoras, a rotina era um dos principais empecilhos na constituição de relações

dialógicas efetivas e singulares com as crianças, mas que a falta dela poderia atrapalhar as

atividades pedagógicas e atrasos em outras. O horário e o espaço preponderavam em relação à

rotina. Para as famílias, a rotina, na escola, é ponto positivo, uma vez que irá garantir às

crianças o cumprimento de horários determinados para as atividades, “diferentemente do

contexto familiar, cujos horários não costumam ser tão rigorosos” (grifo do autor).

Apreende-se desses relatos, que, na vigência de uma “rotina flexível”, as crianças

provavelmente comerão em horários regulares, sem pular as refeições, recebendo orientações

e vivenciando a rotina de adultos sobre como, onde e o que comer. Poderão estabelecer

diálogos com os adultos e entre si, educando-se para vida saudável. Porém, a rotina diária das

crianças, alvo deste estudo, assemelha-se muito com a dos adultos, no que tange às atividades

da vida diária relativa às atividades complementares do dia a dia. Muitas ficam entre 8 e 12

horas fora de casa, pois fazem natação, ou aulas particulares, o que estendem estes horários

um pouco mais que isto.

A rotina dos finais de semana inexiste para a maioria das famílias e os horários das

atividades do dia são estabelecidos pelos horários em que acordam, posteriormente pelo

horário que terão fome, não sendo pautados em rotinas pré-estabelecidas.

No sábado e no domingo e, em alguns casos, já na sexta feira depois da aula, o

consumo de alimentos não saudáveis é permitido, além de ser os dias de se alimentarem fora

de casa. E quando na sexta também eu venho buscar para ela sair da rotina, aí a gente passa

na XXX e ela compra aquela coxinha grandona, e come com a coca cola. Ou é chips ou é

coxinha (E4). O assunto foi abordado por meio das seguintes perguntas: Como é a rotina

alimentar da sua família e como estabelecem esta rotina? Por que ela é organizada desta

maneira?

As unidades de registro mostram que a rotina, durante a semana, inclusive a alimentar,

é pautada nos horários de aulas e do trabalho dos pais:

Cada um tem uma rotina (E9).

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Até o lanche da tarde ela está aqui. Quando ela chega em casa, quando ela

não come a fruta aqui, ela faz um lanchinho em casa, ou toma um leite, ou

come uma fruta. Depois ela janta. Eu não gosto que ela fica comendo coisas

assim. Dia de semana ela chega e vai pra natação. (E2).

Durante a semana ele toma leite de manhã. Não gosta de comer nada, e vai

pra escola. E depois tem alimentação de vocês aqui. Ele chega em casa,

toma lanche, um leite ou um biscoito, e vai jantar ás 18 horas. A noite ele

janta (E3).

Durante a semana a alimentação maior parte é daqui. Ele sai daqui e vai

para a outra escolinha, ele chega lá e janta, ele chega na minha casa as

sete, sete e meia. Ai ele janta de novo. E depois dorme (E6).

Em relação aos finais de semana, a rotina é flexibilizada como se apreende da fala a

seguir:

Final de semana costuma almoçar mais tarde um pouco quando a gente está

em casa, por que eles costumam ir para a casa das vovós. Por volta de uma

e meia mais ou menos. O café da manhã é 9, 10 horas. O café é mais tarde,

por que eles acordam mais tarde (E1).

Ao serem inquiridos acerca da organização ou não da rotina, encontram-se os

fragmentos de discurso:

Horários. Rsrsrs. Sinceramente não tem horários nenhum. Não temos

horários para fazer esta rotina alimentar não. É muito ruim a rotina lá de

casa. (...) Não tem horário, a gente tenta adequar, mas acaba a correria não

deixa isto acontecer. É tempo mesmo. A gente faz, não tem organização, as

coisas vão acontecendo. Não tem horários específicos. Dá mais ou menos

meio dia a gente fala nossa vamos almoçar, ai a gente prepara e almoça as

13 horas (E6).

Eu acho assim que eu precisava estabelecer uma rotina lá em casa. Mas eu

acho muito difícil por causa dos meus horários. Eu fico com medo de estar

prejudicando, assim eles, e o futuro deles. O futuro alimentar deles. E a

rotina da família? Como enquadra isto? Uma rotina que não existe? Como

fazer com uma família que não tem rotina? Eu me acho totalmente sem

rotina (E1).

Percebe-se, por meio dessas falas, que a rotina sequer chega a ser flexível. Ela não

existe. Retornando ao pensar de Monção (2016), pode-se inferir que a rotina tanto pode ser

empecilho, quando “dura, inquebrantável e nega o diálogo” quanto pode ser positiva, ao

oportunizar a criança horários que lhe propiciem limites para organizar o próprio viver com

qualidade.

O local onde a família faz as refeições, geralmente, é na sala, mas alguns preferem

outros locais, por que na sala é onde está a televisão. Vejam:

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Geralmente a gente sempre senta na sala (E6).

A gente sempre faz as refeições aqui na copa. Não deixo fazer na sala, senão

vai comer vendo televisão. Geralmente, tem domingo que eu abro mão e

falo: pode almoçar na sala (E9).

[...] se fosse por mim, ia ser só a mesa, todo mundo. Mas não comem à

mesa. Ela na frente do computador o pai na frente da televisão, entendeu, e

o irmão assentado no quarto [...] fico lá na mesa sozinha. (...) e ela vem e

senta comigo. Quando eu brigo muito. Ai ela vem (E4).

Mais uma vez, retrata-se a falta de rotina até nos locais das refeições. Destaca-se que

em algumas famílias, os membros não se reúnem para a refeição. Poder-se-ia dizer que a não

rotina impede o diálogo entre os membros da família e o conhecimento de como se processa a

alimentação entre eles.

Contrariamente ao que acontece nos lares, na escola os alunos têm rotina. Fazem o

lanche da manhã às 9 h, almoço as 11 h, e dois lanches no horário da tarde, sendo uma fruta

às 13:30 h e outra às 15:15 h.

Detectou-se, nesta pesquisa, que o café da manhã não é uma refeição que todos os

escolares fazem. Desta forma, algumas crianças passam até 12 horas sem comer de forma

adequada conforme expressa um sujeito: Durante a semana ele toma leite de manhã. Não

gosta de comer nada e vai pra escola. E depois tem alimentação de vocês aqui (E3).

Metade das famílias entrevistadas opta por não fazer comida para o jantar, às vezes até

mesmo nos dias de semana, substituindo a comida por lanches:

A gente não tem hábito de jantar não, só lancha, geralmente faz um lanche.

Cada dia come uma coisa, come biscoito, pão de queijo. Pão. Arroz, feijão

não (E5).

Mas... o fim de semana é mais livre. E eu só pego mais no pé no almoço, aí

de tarde às vezes eu vejo se ele comeu muita coisa, ele não vai querer jantar,

e eu nem fico brigando muito não. Mas dia de semana eu preocupo com o

almoço. Final de semana às vezes ele mesmo pede janta (E8).

As unidades de registro de E5 e E8 remetem ao que Barbosa (2006) adverte em

relação à rotina no ambiente escolar e que se transpõe para o ambiente familiar. Primeiro,

deve-se, de acordo com a idade da criança, estabelecer horários, isto é, organizar o cotidiano,

gerando, pela rotina, segurança nas crianças. Deve-se ter cuidado com a padronização e

homogeneização da rotina para que não atravesse as singularidades de cada criança. Urge, por

conseguinte, refletir sobre as regras e normas que norteiam a rotina para que seja construída e

reconstruída constantemente, com vistas ao respeito à criança, enquanto sujeito ativo e de

direitos.

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2.4.2.3 Refeições em Família

Levy et al. (2010) apontam que o consumo mais frequente entre adolescentes é de

alimentação não saudável, quando não faz as refeições na presença da mãe ou responsável. É

na família que elas irão aprender a fazer escolhas assertivas sobre o que comer, além de serem

orientadas a não se envolver em outras atividades paralelas.

O comportamento alimentar das crianças e da família como um todo se distorce

quando existe falta de tempo dos membros da família para: preparar ou fazer junto as

refeições, quando usa o tempo que seria para realizar as refeições em família para fazer outras

atividades como trabalhar, estudar, assistir televisão, brincar, ou manusear celulares,

computadores e outros. Estas condutas oportunizam e propiciam o aumento na compra de

alimentos não saudáveis e fazer refeições fora do lar, levando, assim, à formação de hábitos

alimentares não saudáveis (CHUPROSKI et al., 2012; SILVA et al., 2015).

À pergunta: “Vocês fazem as refeições juntos?” Obtiveram-se as seguintes respostas:

Sim, sempre juntos. Eu meu marido e ele. E3

Juntos, a gente faz juntos. A gente briga muito lá em casa, mas comemos

juntos. Todo mundo senta lá na sala e come. E ai come direitinho e janta

direitinho (E4).

Eu e ela fazemos as refeições juntas. O pai dela não alimenta junto. Ela fica

olhando se eu vou jantar se vou comer lanche. Ela cobra em cima. E fala:

por que a senhora não come e eu tenho que comer (E2)?

A prática de fazer as refeições em família é importante para o aprendizado de hábitos

alimentares saudáveis. Além disso, propicia momentos de intenso prazer e trocas afetivas e de

convívio (MASSARANI et al., 2015).

Evidenciou-se, por meio das perguntas “Como as crianças se comportam durante a

alimentação?” ou “alimentam-se apenas ou fazem outras atividades paralelas?” que há

comportamentos diferentes entre as famílias.

Algumas crianças, além de verem televisão, brincam com celular e computador,

enquanto realizam as refeições, às vezes até mesmo acompanhadas dos pais e/ou com a

permissão deles. “Se deixar por ela vai na frente da TV e no quarto, ou na sala junto com o

pai dela. Toma café na frente da TV, faz lanche, tudo. (E5).

Outras famílias, por atinarem que os filhos levam muito tempo para se alimentar, não

permitem qualquer distração neste momento, conforme declarado nas unidades de registro:

Não. Almoço não. Aqui na mesa. Come aqui. Ai só almoço. Lanche às vezes

ela lancha vendo TV (E5).

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Ela fala demais da conta, eu não deixo ela comer lá na sala, para não comer

e assistir TV. Eu não gosto nem que ela assenta aqui nesta ponta porque dá

para ver a TV. Eu gosto que ela senta aqui (Copa) e come. Por que se ela

distrai ele demora mais de uma hora para comer. E ela distrai muito fácil. A

gente senta aqui, e todo mundo come e ela fica comendo o dela. Ela não

consegue comer sem conversar. Ai ela come conversando, ou então para de

comer e fica conversando (E9).

Ela não faz nada paralelo, mas se deixar por ela... Ela pega o celular, e eu

fui tirando, por que senão pega um hábito. Eu não gosto nem dela ficar

parando e conversando. Pra mim o alimento tem que ser ali naquela hora e

naquele local. Só para isto (E2).

Estas falas evidenciam que o comportamento das crianças durante as refeições

refletem as mais diferentes situações e variáveis passando pelo humor, personalidade,

afetividade, autonomia, nível de estresse, pressa, vontade de fazer outras atividades como

brincar e outras. Certamente, durante as refeições em família, não serão somente as relações

harmoniosas e positivas que irão aparecer (SILVA et al., 2015).

Neste trabalho, constata-se que ocorreram tensões e desagrados pelas proibições de

uso do celular, de refeição no quarto ou na sala de televisão, de “porque eu tenho que comer e

você não”, de conversar muito... Essas proibições mostram que há limites, mas, também,

rituais alimentares do local destinado para a alimentação e os comportamentos sociais

consentidos durantes as refeições.

Massarani et al., (2015) explica que parte das mães reconhece que as crianças

necessitam de orientação dos adultos no momento da realização das refeições, tanto para

corrigir, ensinar e reafirmar condutas adequadas, bem como para reforçar condutas e

comportamento assertivo.

2.4.2.4 Hábitos alimentares

A respeito de hábitos alimentares, Silva et al. (2015) afirmam que a família exerce

papel fundamental na formação de hábitos alimentares dos adolescentes, uma vez que os pais

são os balizadores e exemplos de conduta. A mãe foi apontada como a pessoa que mais se

responsabiliza pelo preparo da alimentação da família, por exercer grande influência seja na

compra, preparo ou na orientação das escolhas, inclusive cerceando a autonomia de escolhas

alimentares inadequadas.

Nesta pesquisa, evidenciou-se que é oferecida pouca variedade de legumes e verduras

para serem consumidos, ou porque demandam muito tempo para serem preparados, ou por

causa da rejeição das crianças por este tipo de alimentos. Assim verbalizaram E3 e E5:

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Ele, se deixar, quer batata, arroz e feijão, batata frita, arroz e feijão,

mandioca, arroz e feijão. Só isso que ele gosta (E3).

Macarrão, batata frita[...]. Ela gosta mesmo é de massa, carne ela come

bem, peixe ela gosta. Feijão geralmente ele gosta só de tropeiro, não gosta

de feijão de caldo não. É muito difícil a salada. Ela gosta de massa (E5).

Porém, outras famílias, talvez por que as mães não trabalham fora e tenham o hábito

de cercear escolhas inadequadas, os discursos retratam uma realidade diferente.

O que ela gosta é o que ela não come. Ela gosta é de batata frita, ovo, se

deixar come todo dia. Arroz, feijão e tomate, mas eu sempre dou uma

verdura ou legume ou uma carne. E ela come, reclamando mas come (E7).

Arroz, feijão, couve e bife, ou então, arroz, feijão, quiabo e um angu, ou

então a arroz brócolis, arroz feijão brócolis. Ela não é muito chegada em

carne não. (...) Às vezes ela pede comida sem a carne. Não gosta muito não,

mas a verdura, a verdura é praticamente tudo, tudo mesmo. Ela come muito

bem. (...) Ela não gosta de jantar, mas se eu estou fazendo a janta, eu faço

brócolis, ou couve flor pra ela poder comer um dos dois. Ai ela come ele

sozinho sem comida, purinho (E9).

“É importante ressaltar que, quanto mais cedo se estabelece bons hábitos alimentares,

menor é o risco de apresentar problemas relacionados com obesidade e suas intercorrências

em fases posteriores da vida” (ROSANELI et al., 2012, p. 476).

Em relação à mudança de hábitos, pediu-se: “fale-me a respeito da possibilidade de

fazer mudanças nos hábitos alimentares da sua família.”

Esta foi também uma questão que fez parte do questionário tamanha é a importância

destas mudanças. “O ambiente domiciliar representa um fator de proteção à adesão de dietas

saudáveis e controle de peso entre adolescentes, por envolver a maior participação dos

familiares no controle das escolhas, compra e preparo dos alimentos” (SILVA et al., 2015, p.

3303).

Muito. Muito. Já pensei muito. Estes dias mesmo, eu pensei em mudar isso

por causa de peso, meu peso, o dele eu tenho que ver ainda. Eu tenho que

começar a mudar e mudar ele. Mais por causa dele. [...] E tem que começar

a mudar agora, por depois de mais velho é pior. E eu penso que tenho que

domar ele, por que ele tá comendo muito (E6).

Assim, ela come qualquer coisa, porque eu como qualquer coisa. Ela é

minha companheira de comida. O que eu faço pra mim comer, ela come e

manda para dentro. Ela em acompanha. O que como ela come. Por que os

outros não me acompanham, eles não comem os mesmos alimentos que eu

como e que ela come (E9).

Fazer escolhas alimentares é um processo complexo, porque as escolhas nem sempre

recaem por alimentos que fazem bem para a saúde, mas apenas pelos que mais gostam, sendo

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71

que o ambiente social e cultural exerce influência e, muitas vezes, determinam escolhas e

hábitos alimentares (COSTA et al., 2010).

Também Juzwiak (2013) e Maia et al., (2012) atestam que é desde muito cedo que as

crianças têm contato com os alimentos por meio do gosto e do olfato, constituindo-se, assim,

no encontro, desde cedo, do prazer ou do desprazer com determinados alimentos.

Quando questionadas sobre possibilidades e facilidades para mudanças, parte das

famílias entrevistadas afirmou não haver problemas para estabelecer alterações na

alimentação das crianças:

Eu acho que conversando com ele direitinho, acho que ele não... aos poucos

ele ia tomando gosto. Não seria tão difícil não (E3).

Sim ele aceitaria as mudanças. Ele aceitaria melhor que eu. Ele é muito

obediente, ele aceitaria se eu falar que é para ficar mais forte e mais

saudável. (E2)

No caso do entrevistado E8, as alterações já se iniciaram pois, apesar da criança não

apresentar qualquer alteração fisiológica no momento, a família tem casos de hipertensão e

colesterol alto. E3: “Eu já mudei muito, assim né? Mais verdura eu já coloquei. Por exemplo,

todo mundo come de tudo. Hoje come menos arroz, mais verdura, mais legume, menos sal,

menos gordura. Mais fruta.”

As dificuldades ou os bloqueios para modificar a alimentação também foram

destaques neste estudo. Detectou-se que a mudança da rotina familiar se relaciona,

basicamente, à vontade e à persistência de mudar comportamentos arraigados, para:

estabelecer rotinas, fazer com que a criança experimente e passe a aceitar os alimentos que

rejeitam, colocar limites, além de questionar a preferência dos familiares que não estão

dispostos a mudar os hábitos.

Assim, neste cenário, a relação entre os membros das famílias influencia,

sobremaneira, os padrões alimentares das crianças pelos exemplos que vivenciam em casa,

como as atitudes, preferências, relacionamentos e também pelo tipo de alimentos que são

comprados para o consumo (MASSARANI et al., 2015).

As unidades de registro, a seguir, corroboram esses dizeres:

Se pudesse eu cortaria muita coisa lá em casa. Eu ainda não consegui

cortar tudo. O pai dela ainda não costumou a ficar sem muita coisa. Para

mim e ela muita coisa não faz falta. Ele toma refrigerante todo dia. [...]

Muitas vezes ele quer fritura, e eu fico com dó dela. Eu não tô conseguindo

dobrar ele. Ele pede para fazer pastel frito, hambúrguer. E eu vou

enrolando ele. Se fizer pra ele, e ela ver, ela pede. Eu fico de coração na

mão. Às vezes eu a tapeio, e faço pastel e só dou um, às vezes dou para ele

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escondido. E falo “Sai de perto dela”. Às vezes faço hambúrguer para ele

depois que ela dorme. Fica sem jeito. É difícil esta situação. [...] Se eu falar

para ele não comer e não beber. Parece que ele não entende. Não entra na

cabeça dele esta ideia (E2).

Olha, na minha família, que tem que mudar é ela. Eu como de tudo. Meu

prato é salada e uma carne. (Entrevistadora): Mas você pensa em fazer as

mudanças com ela? Eu tento, mas só que eu tenho muita dificuldade com

ela. Ela não quer nem experimentar, ela é muito resistente. E quando ela era

mais nova ela comia legumes, verdura estas coisas. Eu ensinei ela comer. E

eu faço, mas ela não come um arroz, um feijão, e o resto não quer

experimentar e fala: eu não gosto disso. Ela tem dificuldade de

experimentar e não só na alimentação (E5).

As famílias necessitam de uma nova dinâmica que permita um redirecionamento no

que seria não apenas mudar os hábitos alimentares, mas modificar a relação de todos os seus

membros com a alimentação em si (MASSARANI et al., 2015).

2.4.2.5 Impactos da alimentação na saúde

As evidências científicas apontam que a influência que a alimentação tem sobre a

saúde e a relação entre elas não pode ser entendida ou explicada apenas baseando-se no

consumo ou restrição de consumo de determinado alimento de forma isolada. O conjunto de

alimentos consumidos em uma refeição, a forma de preparo e como e onde são consumidos

também são de grande importância para explicar este fenômeno (BRASIL, 2014 b).

O conceito de práticas alimentares segundo Maia et al., (2012, p. 79), refere-se “à

seleção dos alimentos e seu consumo, bem como ao modo de preparo das refeições e à

consequente ingesta”. Estas são construídas socialmente e influenciadas pela cultura,

ambiente, modos de vida, fatores econômicos, religiosos, mídia, entre outros.

Quanto ao conhecimento das famílias a respeito dos impactos da alimentação na

saúde, um dos objetivos maiores deste estudo, ficou claro que todos compreendem esta

relação que pode ser positiva ou negativa, dependendo dos comportamentos alimentares

adotados.

Se eu me alimento muito mal acho que não tem como a saúde ir bem (E3).

Se a alimentação é boa o impacto é bom. Se for ruim, como eu tô achando

que é o meu caso, o impacto não é tão bom assim (E6).

Eu fico preocupada, por que agora eu levo no médico, ele faz exames, e é

saudável. Está tudo bem agora. Mas, e mais tarde? E8:

Ah tem. Tem. Principalmente se for alimentação ruim. Ela, por exemplo, se

eu deixar comer estes chips sempre, ela vai ter muitos problemas. [...] Se ela

não tirasse o pão e comesse o pão mais o bife de hambúrguer ela já estava

com mais peso, se eu deixasse ela comer a pizza do jeito que ela quer, e

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coxinha do jeito que ela gosta, todo dia, nossa a saúde dela ia para o saco

como os meninos falam (E4).

As entrevistadas relacionam as doenças e seus reflexos negativos às suas práticas

alimentares e ao consumo equivocado de nutrientes da sua dieta alimentar diária. Por isso,

embora no discurso reconheçam que a saúde e o bem estar estão intimamente ligados à

proporção do que se come e ao quanto se come, na prática nem sempre têm atitudes que

confirmam que a saúde e alimentação são fatores imbricados e primordiais quando se pensa

em qualidade de vida. Porém, mesmo assim, reconhecem que o cuidado com elas mesmas e

com os filhos passam por escolhas alimentares assertivas ao cuidar da alimentação da família

(FONSECA et al., 2011).

A escola e a família, trabalhando juntamente com objetivos comuns, terão maior

facilidade de alcançá-los. Dowbor (2006) alerta que cabe à escola o papel de articular as

demandas do desenvolvimento local com os conhecimentos escolares, uma vez que, por meio

deles, os alunos estarão instrumentalizados para intervirem, com propriedade, na realidade ao

redor.

2.4.2.6 Sentimentos e sentidos atribuídos à alimentação

As dimensões biológica, psicológica, antropológica e social estão vinculadas entre si e

integram o comportamento alimentar dos indivíduos (COSTA et al., 2010). Como objeto de

representação social, os alimentos podem ser considerados como símbolos, além de

encerrarem, em si, o potencial de evidenciar alterações de natureza psicológica (SILVA et al.,

2010).

Machado et al. (2014) alertam que o preparo da alimentação, em nível familiar, vai

além do simples ato de cozinhar; inclui o prazer de comer, relaciona-se com os aspectos

emocionais e com as pessoas envolvidas e presentes no consumo das refeições, fatores estes

que nem sempre são percebidos pelas pessoas envolvidas nesse artifício.

Reconhecendo a importância desta dimensão na vida das crianças, esta temática foi

contemplada por meio da questão: “há mudanças de hábitos alimentares quando a criança está

feliz ou triste? Conte pra mim.” Inicialmente, pensou-se que apenas os sentimentos alegria e

tristeza apareceriam nos relatos. Porém, as falas extrapolaram o questionamento, sendo

verbalizados vários outros sentimentos, como o prazer de comer, a importância das refeições

como fator aglutinador da família, comemorações e outras situações, conforme as unidades a

seguir:

E eu acho que é bom comer assim em família (E9);

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A alimentação é mais importante que qualquer coisa. A gente comemora

com comida (E2).

Minasse (2016, p. 94) autentica esses dizeres:

[...] o contexto social influencia diretamente a experiência dos indivíduos

com a comida, e que experiências da infância são determinantes na formação

de preferências e hábitos alimentares que se mantém ao longo da vida do

indivíduo. [...] a comida é uma grande fonte de prazer, um mundo complexo

de satisfação fisiológica e emocional, que guarda grande parte das nossas

lembranças de infância.

Porém, a ansiedade foi um sentimento que se destacou, pois emergiu das falas das

famílias de três crianças que têm problemas de ansiedade e que está relacionada ao maior

consumo de alimentos. A unidade de registro de E6 confirma esta afirmativa.

Eu já reparei ele quando ele tá ansioso ele come muito mais. Ele dobra a

quantidade de comida. Triste, nem tanto, ele permanece do mesmo jeito.

Feliz é normal, é o jeito dele de sempre. É só a ansiedade mesmo.

(Entrevistadora: Ele é muito ansioso? Por causa da escola?) Não ele

sempre foi muito ansioso. Férias está ansioso. Em aula é ansioso. Ele é

ansioso feito a mãe. Eu e ele somos a ansiedade em pessoa (E6).

Também E8 diz: “Quando está ansioso com algum passeio, ou com alguma coisa ele

mastiga mais.”

Ao questionamento sobre a percepção se sentimentos de alegria e tristeza influenciam

na alimentação dos filhos, evidenciou-se que esses sentimentos e sensações, que permeiam o

comportamento alimentar, nem sempre estão claros para as mães. Vejam:

O dia inteiro quando tá lá em casa, quer comer. Ela fala, mamãe eu já

quero comer de novo. Mastiga o tempo todo. Por ela come o tempo todo. Eu

falo acalma aí (E2).

Ela come mais rápido, sem mastigar. Ela está mudando o jeito dela. Sem

mastigação (E7).

Para as mães que já detectaram esse problema, duas sinalizaram que pretendem

procurar auxílio médico, pois percebem que a ansiedade pode ser prejudicial para os filhos

quando estiverem na vida adulta:

[...] eu até vou levar no psicólogo, por que ele tem uma necessidade de

mastigar. Entendeu? [...] Ele tem uma coisa para mastigar. Eu fico medo de

isto ser tipo uma compulsão. Alguma coisa que possa interferir o futuro

dele. E eu fico com medo de interferir no futuro dele, quando ele for

adolescente de ele ter problemas para resolver como adolescente e não

conseguir. Ele transferir estes problemas para os alimentos. Eu fico

pensando assim se seria interessante agora buscar esta ajuda. O que fazer?

(E1).

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Coelho e Pires (2014, p. 50) clareiam esses dizeres ao sinalizarem que: “[...] comer

poderá ser para a criança, por um lado, a forma que encontra para se estruturar numa família

que sente vazia de afetos, que não a ‘alimenta’ narcisicamente e, por outro, uma forma de usar

o corpo como proteção de um ambiente familiar disfuncional.”

As narrativas anteriores convocam o leitor a inferir que o filho reproduz a ansiedade

da mãe, formando um ciclo vicioso de espelhar-se um no comportamento do outro e o refletir

dessa imagem e atitudes se transforma em preocupação com o devir dessas crianças, que

podem se deparar com um futuro nebuloso e “talvez” vazio de afetos e de esperanças.

2.4.2.7 Alimentação Saudável

A alimentação saudável se traduz pelo consumo dos mais variados tipos de alimentos

que são ingeridos em quantidade suficiente para suprir, em cada etapa de desenvolvimento, o

corpo humano, de forma equilibrada. Também requer que seja composta por todos os tipos de

nutrientes importantes para a saúde e manutenção da vida, como carboidratos, proteínas,

lipídios, vitaminas, sais minerais, água e fibras que garantam o bom funcionamento do corpo

humano (BOOG, 2010; BRASIL, 2014 b; BRASIL, 2012).

Para aferir como as famílias percebem a sua alimentação, foi criada uma questão,

perguntando diretamente: “o que significa alimentação saudável, para você?”

A alimentação das famílias, na maioria das vezes, é escassa em alimentos como

verduras, legumes e frutas, mas tem o tradicional arroz com feijão (BRASIL, 2013, NOBRE,

LAMOUNIER; FRANCHESCHINE, 2012, RODRIGUES, 2012; NOBRE; LAMOUNIER;

FRANCHESCHINE, 2013).

Algumas unidades de registro evidenciaram que as famílias têm noção dos alimentos

que compõem uma alimentação saudável, outras ainda têm dúvidas do que seria este tipo de

alimentação. Porém, pode-se perceber, também, que ela foi atrelada a deixar de consumir

frituras de forma constante. Como se esta fosse a única condição para alcançar um patamar

próximo do ideal, o que é comprovado nas falas a seguir:

É sem fritura. Eu associo isso. Alimentação saudável com bastante legume,

verdura, sabe? Aquele monte de verde. (E9)

Alimentação saudável... Significa sem prejuízo pra saúde. No caso que eu

vejo com relação com as doenças que estão assimiladas ao excesso, ao

desproporcional. E eu tento já colocar isso na cabecinha deles. Não pode

comer isso demais, que vai fazer mal. Não pode comer doce demais, por que

vai prejudicar você. (E1).

Aquela que não engorda aquela que não te prejudica a saúde. Eu acho é

isso. Eu acho que não devia ter exagero na coisa. (...) Então eu acho que

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tem que ter equilíbrio. Não precisa ser muito assim não. Precisa ter um

equilíbrio. Eu até queria ser assim, mas eu não consigo, eu acho que é

bobagem. Eu acho exagero (E4).

Eu acho que tudo né? Eu acho que é uma coisa muito boa. (Entrevistador:

Se você fosse montar um cardápio de alimentação saudável o que me falaria

que tem de alimentos?). Na verdade eu não conheço muito bem assim, os

alimentos assim. (Entrevistador: Não precisa você falar o que eu acho não.

Fala o que você pensa). Olha, comida com pouco sal e pouco óleo, o arroz,

o feijão, é importante, uma verdura, uma carne com pouca gordura, um

peixe, eu acho é isso. (E3).

Eu acho que alimentação saudável é importante, né? Comer de tudo. Tanto

para a saúde, para manter. Para manter o corpo, o peso. Eu acho que é

muito comer de tudo, verdura, legume, fruta é muito importante.

(Entrevistador: Então para você seria comer de tudo?) Comer de tudo na

medida certa. Eu evito de fazer batata, fritura, estas coisas. Para ninguém

né? Nem para mim, nem para ele (E8).

Constata-se que, na maioria das vezes, as práticas e os hábitos alimentares das famílias

pesquisadas não estão de acordo com as diretrizes da boa alimentação, apesar do discurso nos

levar a acreditar o contrário. Esta incoerência entre teoria e prática leva a entender que as

famílias não apreenderam quais seriam as condições para se alcançar uma alimentação

saudável. Por isso, ficam aparentes as dúvidas em relação ao que, a quanto e como se

alimentar (MINASSE, 2016).

Além disso, pelas falas, nota-se que, talvez por serem pais jovens que já nasceram

dentro da transição nutricional acontecida a partir da década de 1970, estão acostumados a

consumirem alimentos e produtos alimentícios industrializados de forma cotidiana. Muitos

pais não percebem que os filhos deveriam comer estes produtos em pequena quantidade e de

forma esporádica (TARDIDO; FALCÃO, 2006). Esta constatação, também evidenciada nos

questionários, nos leva a uma pergunta crucial: não existe vontade de mudar ou não se

percebe a necessidade de se adequar ao que seria o ideal?

2.4.2.8 Influência da Mídia

A influência da mídia na compra e consumo de alimentos mereceu destaque nesta

pesquisa. Ao questionamento: “fale-me sobre a influência das propagandas nos hábitos

alimentares da sua família”, buscou-se entender se e como a mídia interfere nas escolhas de

alimentos e quando estes alimentos estão associados a brinquedos (grifo do autor).

As mães reconhecem que a televisão é uma das importantes mídias, neste sentido.

Tem influência de maneira que as crianças assimilam assim aquela

informação de forma que são capazes de repetir a propaganda para você

(risos). Tem uma lá que o pequenininho repete a frase completa. Ele repete

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que é saudável. Ele repete direitinho a frase. Mas eu explico para eles que

aquilo é para vender. Que não pode comer daquele jeito lá, daquele tanto

que mostra lá (Entrevistadora: Então na sua família a propaganda não tem

tanta influência?). Tem, às vezes na hora da marca né? Na hora de comprar

um biscoito, uma coisa lá. Eles querem a marca que viu lá na propaganda.

Mas eu sempre dou um jeito de contornar. Eu acho que não, não influencia

muito não. Não na propaganda de TV (E1).

Rossi, Moreira e Rauen (2008, p. 745) advertem que assistir às propagandas

comerciais desencadeia, na criança, o desejo e o pedido de aquisição dos alimentos

divulgados, com consequente influência no padrão alimentar. “Os produtos alimentícios que

são anunciados com maior frequência tendem a apresentar um maior consumo, comparados

àqueles que são menos anunciados (tais como: frutas e verduras)”.

Os passeios aos shoppings se transformam em apelos, principalmente, nas praças de

alimentação. É, talvez, nesse momento que acentua, de forma decisiva, o desejo de compra ou

não de determinado alimento: “No shopping é só a pizza ou o sanduíche. O da esquina ela

não come, ela prefere a comida (E6).”

Fazem sentido e induzem à reflexão, os dizeres de Maia e Sette (2015, p. 97) no que

diz respeito ao mundo simbólico vivido:

É importante que se entenda que todos os produtos, incluindo alimentos, são

comprados e consumidos simbolicamente. [...] O consumidor infantil

percebe o mundo em termos de símbolos, significados e experiências, de

forma oposta à visão empirista do imediato encontro com os objetos e suas

formas ideais.

Experiências pregressas sempre marcam o cotidiano do ser humano e o discurso de E5

confirma essa assertiva:

Ela pede, só que por exemplo... (pausa) ... se eu vou ao shopping, ela quer

almoçar e lanchar XXX [...] Vamos por aí de 15 em 15 dias. Por exemplo,

você vai no parque, você vai passear e eles já acham que pode comer

qualquer coisa. Eles associam passear a comer qualquer coisa. Você vai no

cinema, ai tem que comer pipoca. Então pra ela a diversão, já pensa vou

comer. Está associado mesmo diversão e já pensa em comer (E5).

Neste aspecto, os pais reconhecem que os estabelecimentos, principalmente os de

lanches rápidos, querem arrebanhar as crianças como consumidoras em potencial para que

adquiram os produtos alimentícios associados a brinquedos, que, a cada dia, estão mais

adaptados ao gosto infantil e com estratégias diferentes para seduzir este público em especial:

Aí ele fala: Mãe tem este brinquedo novo no XXX. Vamos lá para eu ganhar

(E3).

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É muito grande. Tudo quanto é novidade que tem bastante sal, bastante

açúcar bastante gordura, a gente tá dentro. E compra e ele gosta e eu

também. A propaganda tem muita influência (Entrevistadora: E ele logo que

ele vê ele pede como que é?). Ele vê um chips novo e fala: a mamãe eu

quero, aí eu tento segurar um pouco. Mas acaba que eu compro, e falo

vamos só experimentar. E ele gosta. (...) Eu tento não deixar virar hábito.

Eu tento mas, e a gente gosta e uma vez por semana ele tem que comer (E6).

As do XXX. Quer sempre. Eu às vezes tento não comprar não. Mas ela fala,

compra. É um apelo ali e a criança, já quer. É complicado. Eles pegam as

coisas do momento. E associam os filmes com os brinquedos. Passou no

cinema Angy Birds, e ela já tinha o brinquedo. A era do gelo, e já sai. O

menino já associa e já vai no XXX.O marketing é bem forte (E7).

Para outras famílias, as propagandas não interferem na compra de alimentos ou

brinquedos. Um dos fatores pode ser o preço alto de determinado tipo de alimentos, outro

seria o fato de as famílias terem outro tipo de relação com a alimentação. As expressões, a

seguir, levam a essa afirmativa:

Pra ela é festivo. Mãe, saiu um refrigerante novo, vão tomar? Mas é muito

melhor um suco. Mãe você não quer comprar é caro. Eu falo e realmente é

muito mais barato do que eu vou te tratar da sua saúde. E às vezes eu

compro para ela. E quando eu vejo que tem muito corante, eu falo: com

muito corante não dá certo, e não vai não vai fazer bem. Seu dente vai ficar

horrível, ou seja, não tá gostando de escovar vai ser pior... mas, mãe mas

todo mundo já experimentou. Ai a gente compra, ela come e fala; mãe você

tinha razão é horrível. A propaganda causa mesmo muito impacto (E7).

Tudo que ele vê de iogurte de biscoito de propaganda ele pede. O bolinho.

Mamãe, você compra mim? Eu já comprei e ele nem gostou. Estas coisas ele

quer. Ai eu falo para ele por que você não me pede uma fruta um legume.

Isso você não quer né? Então, assim tem muita influência. Às vezes tem. A

gente quer experimentar. A gente vê um trem na TV e compra para

experimentar. Mas por exemplo, XXX. Ele gosta só da batata. Mas eu não

como muito XXX não. Eu não gosto. Ele gosta mesmo é da batatinha. O

sanduíche ele não gosta. Mas eu quase não vou (E8).

Outra questão abordada é que muitas crianças são influenciadas pelos colegas, como

na fala de E4: “Se as amiguinhas já compraram e já experimentaram ela fala, eu também

tenho que tomar. Ai a gente compra às vezes.”

“A alimentação não é um ato solitário; para as crianças é uma atividade social que

envolve diversão, contato com os amigos e emoção” (MAIA; SETTE, 2015, p. 96). Para

Costa et al. (2010), a convivência social e a influência dos meios de comunicação podem ser

consideradas como altamente relevantes e determinantes dos comportamentos dos

adolescentes que, embora recebam influência da família e dos seus valores culturais, também

se encontram na fase de valorizar a opinião de amigos e dar grande importância aos apelos

das propagandas, campanhas publicitárias e programas de televisão.

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2.4.2.9 Alimentação fora de casa

Esta categoria emergiu dos relatos dos participantes, ao discorrerem sobre que tipo de

alimentação faziam nos finais de semana. Por isso, não foi elaborada uma questão

especificamente para este fim.

Os resultados encontrados têm similaridade aos de Silva et al. (2015) ao apontarem

também que nos finais de semana são os dias em que as refeições são com maior frequência

realizadas fora de casa. É o momento em que ocorre a maior ingestão de alimentos

inadequados do ponto de vista nutricional. Comportamento semelhante apareceu nesta

pesquisa, como detectado nas falas dos sujeitos:

Se eu vou ao shopping, ela quer almoçar e lanchar sanduiche no XXX. (E5).

Tudo o que é novo, mesmo ele sabendo que não gosta, ele quer. E eu falo:

você não come isso, mas ele quer (E6).

Ela queria ir para rua comer pizza, ela pede hambúrguer, ou cachorro

quente. Eu não deixo ela, ir, eu corto. Pelo pai dela, pode. Ele compraria.

Tem que ser controlar ela, ele come (E2).

Olha, assim, eu faço comida, muita comida, principalmente final de semana

que vou para a casa da minha mãe. Vou para lá e cozinho. Então gostam de

comer, mesmo (E4).

[...], refrigerante, estas coisas lá em casa não entra. Só no final de semana

por que ela toma na casa da avó, por que ai a gente vai pra casa da minha

mãe. Ai ela almoça, come e toma refrigerante, ai ela fica doida, ai ela enche

a cara no domingo. Na segunda ai ela fala ... ai, tomei muita coca cola e

não tô conseguindo dormir (E4).

Esta pesquisa teve como base, para discutir a temática nutricional, o instrumento de

avaliação da segurança alimentar, os dez passos da alimentação saudável do Guia Alimentar

da População Brasileira (BRASIL, 2008). Considerando este parâmetro e o conjunto de dados

obtidos por este estudo, concluiu-se que as famílias dos alunos do CP da UFMG têm parte dos

hábitos, práticas e comportamentos alimentares não compatíveis com uma alimentação

saudável. O que confirma a hipótese inicial de que as famílias têm um comportamento

alimentar diferente dos praticados pela escola.

2.5 Considerações finais

Como mostrado neste trabalho, as questões referentes à alimentação e nutrição estão

intimamente ligadas às questões de saúde, de segurança alimentar e nutricional, educação e

desenvolvimento local. É crescente o número de crianças em situação de obesidade e

sobrepeso no Brasil. Neste cenário, objetivou-se analisar, na perspectiva das famílias de

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crianças do CP/UFMG, o comportamento alimentar, a compreensão acerca do conceito de

alimentação saudável e seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades para formar

hábitos alimentares saudáveis.

Os dados apontaram que práticas alimentares errôneas, como horários inadequados,

hábito de pular as refeições, más escolhas tanto na quantidade, quanto na qualidade dos

alimentos para consumo evidenciam que há um padrão não assertivo no comportamento

alimentar das famílias. Fato este corroborado pelo Guia Alimentar da População Brasileira

(BRASIL, 2014 b).

Este estudo também revelou que a família desempenha um papel determinante no que

diz respeito à alimentação dos filhos que recebem influências nas escolhas e hábitos

alimentares dos pais ou responsáveis, bem como do círculo de amizades, ambiente onde

convivem e sociedade em geral.

Destaca-se que é papel dos pais exercer controle sobre a qualidade e quantidade dos

alimentos ingeridos pelos filhos, pois estão associados com os mais variados tipos de doenças

relacionadas à alimentação. Outra sugestão seria a de monitorar o tempo que seus filhos

passam assistindo à televisão e na internet, em vista da natureza sedentária da atividade e da

influência dos canais midiáticos na compra e consumo dos alimentos.

Estes canais sensibilizam as crianças por meio de apelo comercial, sendo que, em

grande parte das vezes, elas escolhem quais produtos a família irá comprar e consumir e o que

é mais grave, apesar dos adultos perceberem a manobra, os mesmos permitem esta conduta.

No caso dos alimentos, constata-se que estes são adquiridos e consumidos independentemente

do valor nutricional, ou do fato da criança gostar daquele alimento ou não.

Nesta pesquisa, o fator “menor nível de educação das mães”, que tem surgido em

diversas pesquisas no Brasil e no mundo e como favorecedor da obesidade de crianças e

adolescentes não foi comprovado.

O fator relativo aos maiores índices de escolaridade não se traduziram em menor

índice de sobrepeso e /ou obesidade dos alunos, que é igual à média nacional. Outro fator em

destaque é que famílias com maior renda não resultou em alimentação mais adequada ou

práticas e comportamento alimentares e de vida saudáveis. Mesmo quando estes dados foram

avaliados de forma conjunta e/ou cruzada, os dados não se mostraram diferentes.

As escolhas alimentares familiares equivocadas podem ser consideradas, neste caso

particular, como representação de variáveis, como horários intensos de trabalho, rotinas

diárias longas e as vezes exaustivas para as crianças, pouco tempo das mães ou responsáveis

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para o preparo de refeições, bem como falta de autoridade ao permitir que as crianças comam

regularmente os alimentos não saudáveis.

Evidenciou-se que a metade das mães trabalham fora de casa e ainda são responsáveis

por ficar com as crianças quando estas estão em casa, ao mesmo tempo em que são

responsáveis pelas compras e também pelo preparo da alimentação da família. Embora os pais

auxiliem nessas tarefas, o percentual é ainda muito pequeno, pouco mais de 10%. Uma nova

dinâmica de vida faz-se necessária para permitir um redirecionamento no que seria não apenas

mudança de hábitos alimentares, mas na alternância na relação dos seus membros com a

alimentação e a responsabilidade pelo cuidado com os filhos. Entretanto, esses revezamentos

no estilo de vida demandam tempo, reflexão, compreensão, persistência e vontade real de

mudar as dinâmicas familiares.

Comprovou-se, também, existir a necessidade de que as famílias conheçam mais a

fundo as influências da alimentação na saúde e da necessidade de modificações

comportamentais para a prevenção das doenças que podem ocorrer em longo prazo, como

fruto do padrão alimentar praticado.

Como o cenário desta pesquisa é o universo escolar, ressalta-se que a alimentação

escolar deve ser exemplo e incentivo para um consumo saudável. Além disso, é o local

favorável para promover ações educativas que possam oportunizar uma reflexão crítica a

respeito das suas escolhas alimentares e seus impactos na saúde, que desmistifiquem

conceitos sobre alimentação, valor nutricional dos alimentos, preços e outros.

Todos os fatores apresentados neste estudo permitem considerar que novas ações de

EAN deverão ser discutidas com a comunidade escolar, pais e, também, a comunidade em

geral. Mas, já é evidente que um trabalho informativo e educativo com os pais, em conjunto

com os filhos, faz-se indispensável tanto porque aproximariam a família, e esta seria uma

oportunidade para estreitar laços e ampliar a conivência, quanto porque levaria a uma

melhoria efetiva na qualidade da dieta das crianças.

Sugere-se a implantação de políticas públicas futuras ou programas de educação

alimentar e nutricional nas escolas e unidades sócioassistenciais, tendo como público-alvo as

famílias, uma vez que a OMS e os Ministérios da Saúde, Educação e do Desenvolvimento

Social reconhecem a obesidade infantil como um problema de saúde pública, conforme já

citado neste estudo.

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Capítulo 3: Roda de conversa: ferramenta pedagógica para a

compreensão dos problemas alimentares contemporâneos

Alcione Aguiar Souza1

Matilde Meire Miranda Cadete2

Resumo

O produto técnico oriundo da pesquisa de mestrado realizada com as famílias dos alunos do

primeiro ciclo de formação humana do Centro Pedagógico da UFMG, no ano de 2016,

utilizou como ferramenta de ação a roda de conversa. Essa proposta metodológica se baseia

na metodologia Freiriana de educação social afinada à educação para a saúde. Busca-se, por

meio deste produto, discutir com os sujeitos participantes da pesquisa as demandas e as

dificuldades identificadas por meio do questionário e da entrevista respondidos por eles. A

roda de conversa apresenta uma proposta de construção e reconstrução da realidade, por meio

do ato educativo reflexivo, que acontece tanto por meio da fala e da escuta, quanto por meio

da discussão e da participação. Entende-se que o comportamento alimentar assertivo é um

aprendizado que se dá para além das teorias. Ele se efetiva no contexto cultural e social,

dentre outros, por meio da descoberta dos alimentos, com as suas variadas cores, formas,

texturas, sabores, aromas e pelas diversas emoções e sensações que envolvem o ato de comer.

Alimentar nutre o corpo e nutre a alma.

Palavras chave: Educação social.Educação em saúde. Educação alimentar e nutricional. Rodas

de conversa.

“Round table talks: pedagogical instrument to understand contemporaneous food problems”

Abstract

The technical product from the master's research carried out with the Students' families of the

first cycle of human formation of the Pedagogical Center of UFMG in 2016 used, as an action

tool, the round table talks. This proposal of methodological approach is based on the Freiriana

methodology of social education to health. This product aims to discuss with the participating

subjects of the research the needs and difficulties identified through the questionnaire and

interviews answered by them. The round table presents a proposal of construction and

reconstruction of reality through the reflective educational act, which can happen through

both speech and listening, as well through discussion and participation. It is understood that

assertive eating behavior is a learning process that goes beyond theories. It is effective in the

cultural and social context, and others, through the discovery of food, with its various colors,

1 Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

(GSEDL) do Centro Universitário UNA de Minas Gerais. 2 Matilde Meire Miranda Cadete. Profa. Doutoura Orientadora do Programa de Mestrado Profissional em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local (GSEDL) do Centro Universitário UNA de Minas Gerais.

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forms, textures, flavors, aromas and the various emotions and sensations that involve

the act of eating. Food nourishes the body and nourishes the soul.

Keywords: Social education. Health Education. Food and Nutrition Education

Nutritional. Round Tables.

3.1 Introdução

Este produto técnico apresenta uma proposta de intervenção educativa, na

perspectiva filosófica da Educação em Saúde, que tem como base a teoria da educação

dialógica e libertadora de Paulo Freire. Segundo o Marco de Referência da Educação

Popular para as Políticas Públicas (BRASIL, 2014 c, p. 1), essa é uma metodologia

educacional dialógica com concepção teórica e prática que “articula os diferentes

saberes e práticas, as dimensões da cultura e dos direitos humanos”.

Esta atividade será desenvolvida para atender as demandas levantadas pela

pesquisa de mestrado, realizada com as famílias dos alunos do primeiro ciclo de

formação humana do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais

(CP/UFMG), no ano de 2016, que objetivou conhecer o comportamento alimentar, o

entendimento das famílias acerca de alimentação saudável e seus impactos na saúde dos

filhos, além das dificuldades dessas famílias para formarem hábitos alimentares

saudáveis.

Os dados revelados por este trabalho apontaram que as famílias têm

comportamento alimentar não saudável, bem como práticas alimentares errôneas, como

falta de rotina, hábito de pular as refeições e más escolhas, tanto na quantidade quanto

na qualidade dos alimentos para consumo. Evidenciaram também que há um padrão

alimentar não assertivo, como: baixo consumo de leite, verduras, frutas e legumes e alto

consumo de guloseimas, salgadinhos tipo chips, embutidos e outros alimentos

superprocessados.

Ao mesmo tempo, os dados comprovaram que não existe um entendimento real

de que a alimentação praticada poderá causar a curto, médio e longo prazo impactos

negativos na saúde dos filhos. Os pais externaram que existem grandes dificuldades

para modificar os hábitos que eles próprios identificam como não saudáveis.

Outra questão importante apurada foi que a alimentação saudável, neste estudo,

foi associada ao mito de que teria preço alto, ou que dificultaria a rotina da família,

sendo, por isso, mais difícil propor e efetivar mudanças na vida familiar. Porém,

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89

fazendo o cruzamento entre os dados dos questionários com as entrevistas, percebeu-se

que essas não seriam as reais razões, pois as famílias teoricamente entendem o que seria

alimentação saudável, bem como compreendem que existe um amplo leque de

alimentos que podem e devem ser substituídos por outros que estejam na safra e

logicamente com menor preço e qualidade, bem como que, também, existem outras

formas de preparo e consumo das mais variadas categorias de alimentos que seriam

mais saudáveis e que não modificariam as rotinas da família, e principalmente das mães

que estão sobrecarregadas de tarefas fora e dentro de casa (BRASIL, 2008; BRASIL,

2014 b).

As ações educativas têm por objetivo abordar de forma clara os problemas

apontados na pesquisa e discutir os problemas e as dificuldades levantados que estão

alinhados aos da sociedade brasileira em geral, que são: falta de tempo das mães para o

preparo das refeições, excesso de trabalho dos pais e rotinas intensas para as crianças

com muitas horas fora de casa, excesso de exposição a canais midiáticos, como

televisão e internet. Essas questões acabam por levar a uma falta de rotina alimentar e a

hábitos alimentares não assertivos, o que caracteriza condição de insegurança alimentar

e nutricional (BOOG, 2010; BRASIL, 2013 a e b).

Os problemas alimentares retratados pela pesquisa foram compreendidos de

forma contextualizada em uma perspectiva interdisciplinar e como um problema social

em toda a sua complexidade. Por este motivo, elegeu-se como produto técnico as rodas

de conversa por serem um instrumento educativo afinado com a metodologia da

educação popular.

A educação para a vida e para a cidadania é uma das maiores e mais importantes

funções sociais da educação (FREIRE, 2002; FREIRE, 2003; GADOTTI, 2012). Essa

abordagem de educação inovadora revela ao ser humano que a sua capacidade de

aprender e a de ensinar estão integradas e intrinsecamente ligadas, além disso,

estabelece que a participação dos sujeitos seja livre e crítica.

3.2. A educação na prespectiva dialógica

3.2.1 A toria Freiriana de educação

A teoria Freiriana é uma filosofia educativa que tem como base a realidade, o

diálogo e a relação dialética. Nela, o ato educativo e o ato político se misturam de tal

forma que é impossível um existir sem o outro. Neste sentido, a educação tem a

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obrigação de ser problematizadora da realidade, pois traz em si a essência de todo ser

humano: seres “inacabados”, que se “fazem e refazem” a todo instante. Para Paulo

Freire, a “palavra” é a ferramenta que promove a transformação do mundo, como

também, o meio pelo qual os sujeitos pronunciam sua visão de mundo e se permitem

“encontrar com o outro” (FREIRE, 2003).

Educar, então, seria uma relação dialógica e dialética em que a reflexão e a ação

estariam presentes como práticas de liberdade. O processo de educar desenvolver-se-ia

por meio da comunicação horizontalizada, respeitosa, que transmitiria confiança entre

as partes, de modo a despertar a criticidade, a esperança, a fé e a confiança no outro e no

mundo, características essas necessárias para compreender o mundo em toda a sua

complexidade, diversidade e conflitos (FREIRE, 2003, QUARESMA, 2010).

Essa teoria parte de uma visão de mundo em que o homem dialoga e respeita o

outro, mesmo quando este outro não tem a capacidade de perceber a importância dessa

dinâmica. “O diálogo é este encontro dos homens, imediatizados pelo mundo, para

pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu” (FREIRE, 2005, p. 91).

Assim, o entendimento do processo de ensino-aprendizagem está calcado na

afirmativa de que todo ser já nasce sabendo de algo, e este algo é o seu mundo e é nele

que estão os elementos principais que irão despertar a curiosidade que é a mola

propulsora do ato de aprender. O caráter histórico e social do conhecimento reforça a

necessidade de que este método tenha como plano central as necessidades do aluno,

porque é sempre a partir delas que o educando se aproxima do mundo, interage com ele

e constrói o seu conhecimento (FREIRE, 1997).

Neste quadro, as instituições educacionais, ao proporem os conteúdos

programáticos, dialogarão com os setores sociais, para que, a partir desse diálogo

nasçam as propostas de conteúdos e os temas geradores, ou palavras geradoras. A

palavra geradora é que irá alavancar a conversa e o diálogo com o educando, uma vez

que ele é o construtor do conhecimento (FREIRE, 2005).

É na realidade mediatizadora, na consciência que dela tenhamos

educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo programático da

educação. [...] É o momento em que se realiza a investigação do que

chamamos Universo Temático do povo ou o conjunto de seus temas

geradores (FREIRE, 2005, p. 101).

Porém, o compartilhamento do saber produzido com suas opiniões e ideias tem

tanta importância quanto o conhecimento produzido, uma vez que será por meio dele

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que outros mundos se abrirão para retroalimentar o processo educativo. Nesta

perspectiva educacional, o saber é construído conforme o sentido e significado que o

educando dá a ele. Sendo, por isso, um aprendizado repleto de significados e

significantes, pois nasceu das suas necessidades e de seu mundo. Assim, neste debate, o

papel do educador não é impor a sua visão de mundo, mas sim manter um permanente

diálogo com todos sobre a sua, a minha e a nossa visão de mundo (FREIRE, 2005).

3.2.2 A educação inovadora e emancipadora

Para Bignetti, (2011), a inovação social é um fenômeno social que acontece no

seio da sociedade e que modifica as relações sociais. Assim, a educação inovadora irá

promover a emancipação humana, por meio da reflexão, tomada de decisão e ação

transformadora da realidade. Nesse sentido, a metodologia Freiriana, aqui proposta

como metodologia norteadora para as atividades do produto técnico, é inovadora ao

propor práticas educativas que possibilitam uma aprendizagem abrangente, não

fragmentada, que permita uma tomada de posição frente aos problemas enfrentados na

realidade (QUARESMA, 2010; GADOTTI, 2012; FREIRE, 1997, 2002, 2003).

Os problemas cotidianos da sociedade requerem um novo entendimento de

educação, em que se efetive um processo em que os sujeitos envolvidos tenham

oportunidade de refletir sobre qual seria o seu papel e a sua participação frente ao ato de

conhecer, além de propiciar o contato com o outro sem perder a sua identidade. É

necessária “[...] a proposição de uma nova forma de pensar, na qual a comunicação, a

subjetividade e a reflexividade possam ser as marcas distintivas” (SILVA, 2015, p.

380).

Essas seriam, portanto, formas ideais para se buscar novas soluções sociais, em

que todos têm a oportunidade de influenciar e serem influenciados, de tomar

deliberações e de opinar, sempre no intuito de conciliar e ajustar interesses diversos e

pontos de vista antagônicos, levando em consideração as múltiplas variáveis que fazem

parte dos processos de transformação social (BIGNETTI, 2011).

Assim, entende-se a educação como prática de empoderamento social, podendo

acontecer dentro ou fora da escola, com vistas a auxiliar no desenvolvimento local ao

preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, autonomia e responsabilidade social

(SILVA, 2015).

Compreendendo a alimentação como parte da vida social e que as questões

referentes à alimentação e nutrição estão intimamente ligadas às questões de saúde,

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segurança alimentar e nutricional e às questões de vulnerabilidade social, percebe-se

que as práticas de educação objetivam desenvolver capacidades e autonomia nas

famílias e na comunidade, para que possam fazer escolhas alimentares certas e

conscientes que as levem a efetivar hábitos e práticas saudáveis de vida, conforme

recomendações do Ministério da Saúde, Ministério da Educação e Cultura e do

Desenvolvimento Social (BRASIL, 2012; BRASIL, 2013 a e b).

3.3 A educação em saúde como meio de transformação para uma melhor

qualidade de vida individual e coletiva

A educação em saúde, independentemente do modelo de educação a que estiver

relacionada, é considerada como prática educativa que visa à melhoria da qualidade de

vida e da saúde da população, por meio da mudança de hábitos, atitudes e

comportamentos, tanto de forma individual quanto coletiva. Essa mudança social dar-

se-á por meio da aquisição de novos conhecimentos que irão se traduzir em ações

transformadoras do seu estado de saúde atual (MOREIRA et al., 2009; BATISTA et al.,

2015).

Nessas condições, essa modalidade se alinha à educação social, já que o seu

campo de atuação são as pessoas, além de estar imbuída de capacidade de emancipação

humana e empoderamento para resolução de problemas, bem como é capaz de

promover o desenvolvimento local (GADOTTI, 2012).

Porém, apesar de, na sua concepção, estar clara a ideia transformadora, essa

prática educativa, por vezes, acontece dentro de uma lógica educacional em que os

conhecimentos são transmitidos de alguém que sabe e que os domina, para alguém que

não sabe e, por isso, ficando subordinado ao alguém que sabe. Dessa forma, é na

reprodução da educação assimétrica e baseada na transmissão de saberes, com foco

higienista, prescritivo e policialesco que essa prática pedagógica, em muitos casos, dá-

se desde a década de 1950 do século XX (MOREIRA et al., 2009; SAMPAIO et al.,

2014; GADOTTI, 2012).

Já no século XXI, depois de mais de uma década de profundas discussões, o

Ministério da Saúde, por meio da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), vem

trabalhando em uma proposta de saúde social que requer práticas socialmente

produzidas e contextualizadas ao tempo, história e cultura dos sujeitos, para que

resultem em participação, empoderamento, solidariedade, pertencimento social e outros

(BRASIL, 1989).

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Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 1993, p. 13):

a Educação em Saúde se constitui como um conjunto de práticas

pedagógicas e sociais, de conteúdo técnico, político e científico, que

no âmbito das práticas de atenção à saúde deve ser vivenciada e

compartilhada pelos trabalhadores da área, pelos setores organizados

da população e consumidores de bens e serviços de saúde.

Entretanto, apesar do discurso, essa prática educativa se efetivará apenas se

estiver embasada no respeito às diferenças de culturas, formas de organização

comunitárias, bem como considerar as experiências, valores, crenças e conhecimentos

dos envolvidos (BRASIL,1989).

Na perspectiva problematizadora da teoria freiriana, o saber popular se imbrica

ao saber científico de saúde para formar um novo saber, que resultará na compreensão

do que é a saúde, doença, autocuidado, qualidade, vida e outros, de forma ampliada e

contextualizada, levando em conta a compreensão estrutural dos seus reais problemas

sociais.

3.4 A Educação Alimentar e Nutricional

A resolução do FNDE nº 26, de 17 de junho de 2013, define, no Art. 13º, um

importante instrumento na construção de hábitos alimentares saudáveis, que é a

Educação Alimentar e Nutricional (EAN) que vem a ser definida como: o conjunto de

ações formativas, de prática contínua e permanente, transdiciplinar, intersetorial e

multiprofissional, que objetiva estimular a adoção voluntária de práticas e escolhas

alimentares saudáveis que colaborem para a aprendizagem, o estado de saúde do escolar

e a qualidade de vida do indivíduo (BRASIL, 2013 c).

O parágrafo 1º deste artigo diz que “poderão considerar ações de EAN, entre

outras, aquelas que promovam a oferta de alimentação adequada e saudável na escola;

promovam a formação de pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a alimentação

escolar; articulem as políticas municipais, estaduais, distritais e federais no campo da

alimentação escolar” (BRASIL, 2013 c, p. 7).

A oferta de EAN voltada para o ensino fundamental, período em que as crianças

se desenvolvem, crescem e aprendem de forma mais rápida e intensa do que em

qualquer outra fase da vida, tem como objetivo incorporar e legitimar a escola como um

espaço propício para práticas efetivas de educação para a saúde alimentar e nutricional

(VASCONCELOS et al., 2012).

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As atividades e ações de EAN devem ser elaboradas preferencialmente de forma

prática e teórica, conforme o previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais do

Ministério da Educação e Cultura, que preconizam que essa deverá ser trabalhada em

um processo de construção coletiva do conhecimento, envolvendo: alunos, família,

professores e funcionários (BRASIL, 1997).

O oferecimento do alimento e de informações acerca de seu valor

nutricional não é suficiente para que o hábito alimentar saudável se

constitua. A complexidade inerente ao fenômeno alimentar requer

investimento em abordagens educativas progressistas, transversais e

intersetoriais com a convocação de atores sociais afins (SILVA,

2009).

Essas ações educativas favorecem aos alunos e famílias a oportunidade de

reflexão acerca da realidade em que estão inseridas, dos seus hábitos, e estilo de vida.

[...] Saber é descobrir sabores, característica social, construída pelo

convívio entre alunos, professores, amigos e família, tal qual o

ambiente escolar proporciona. Trata-se de um conhecimento que não

está apenas no conteúdo, é apreendido na experiência saborosa da

sociabilidade e do aprendizado com o cotidiano (CORDEIRO;

PORTRONIERI, 2014, p. 5).

Nesse sentido, a EAN deverá ampliar a sua abordagem para além da transmissão

de conhecimento e gerar situações de reflexão sobre as situações cotidianas, na busca de

soluções e prática de alternativas (BRASIL, 2014 a). “Quando a EAN aborda estas

múltiplas dimensões, ela se aproxima da vida real das pessoas e permite o

estabelecimento de conexões, entre o processo pedagógico e as diferentes realidades e

necessidades locais e familiares” (BRASIL, 2014 a, p. 16).

Partindo do pressuposto que toda a educação tem um caráter social, aqui, neste

contexto, educar significa discutir e alargar olhares para uma questão de saúde pública

mundial, que são os problemas de alimentação desvelados por esta pesquisa.

Mesmo reconhecendo que alimentar é um ato que se faz permeado pela cultura,

influências psicológicas, familiares e outras, é também importante proporcionar aos

indivíduos uma reflexão sobre autonomia e consciência crítica, para que possa fazer

escolhas conscientes sobre o que a modernidade alimentar oferece a ele (BOOG, 2010;

BRASIL, 2013 a e b).

Tratar o tema alimentação e educação em uma perspectiva histórica, social e

crítica significa que reconhecemos que “comer e conhecer estão entrelaçados no

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processo de aprendizado para a vida, e na construção da cidadania” (CORDEIRO;

PORTRONIERI, 2014, p. 3).

3.5 A roda de conversa

3.5.1 A roda de conversa como instrumento pedagógico

Segundo Freire (1997, 2002, 2003), a Educação Popular se baseia em

metodologias teóricas e práticas que definem a relação dialógica como fundamento

principal, em que o entrelaçamento de saberes acontece de forma horizontal, permitindo

criar e recriar saberes, significados e sentidos a partir das suas próprias experiências.

Em consonância a esta teoria, a roda de conversa é uma metodologia que

permite que os significados atribuídos aos problemas humanos ou sociais sejam

entendidos ou explorados por um determinado grupo (CRESWELL, 2010).

Segundo Afonso e Abade (2009, p. 19), a Roda de Conversa é uma metodologia

participativa que tem como “forma de se trabalhar incentivando a participação e a

reflexão. Para tal, buscamos construir condições para um diálogo entre os participantes

através de uma postura de escuta e circulação da palavra bem como com o uso de

técnicas de dinamização de grupo”.

As rodas de conversa apresentam uma proposta de construção e a reconstrução

da realidade, por meio do ato educativo reflexivo, que acontece tanto por meio da fala e

da escuta, quanto por meio da discussão e da participação. Ao entrar em contato com

outros contextos de vida, realidades diferentes e novas interações, os sujeitos têm

oportunidade de ressignificar as temáticas que foram discutidas (AFONSO; ABADE,

2009).

Nessa lógica, é um debate coletivo amplamente participativo sobre determinada

temática, em que os participantes são estimulados a se expressarem, escutarem e

refletirem sobre as suas falas e a dos participantes da roda, permitindo que a

compreensão da temática aconteça não de forma prescritiva, como na educação

tradicional, mas na forma de prática, em que o conhecimento é produzido pelo coletivo

(MELO; CRUZ, 2014).

Será por meio do diálogo que os participantes poderão ampliar e revisitar as

ideias e as opiniões preconcebidas a respeito dos temas abordados na roda de conversa.

Os mesmos serão contextualizados com a realidade dos participantes e discutidos do

ponto de vista da complexidade inerente às questões sociais, questões essas que mesmo

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que aparentemente distintas acabam fundindo-se e sendo percebidas como partes

integrantes de uma mesma realidade (AFONSO; ABADE, 2009; MELO; CRUZ, 2014).

Essa metodologia é adequada para enfrentamentos de fenômenos sociais, pois a

busca da compreensão da realidade não se faz sem a superação das dificuldades que são

impostas pelos conceitos arraigados da cientificidade, como, por exemplo, o de não

conseguir estabelecer pontes entre o proposto pela ciência e a realidade vivida. Assim, a

palavra permite a construção coletiva do conhecimento, proporcionada pela abertura de

novas possibilidades, entrosamento entre os participantes e criação de elos de confiança

(CRESWELL, 2010; SAMPAIO et al., 2014).

3.5.2 A operacionalização do produto técnico “Roda de Conversa”

Segundo Gadotti (2012), a educação social necessita de um olhar

interdisciplinar, intersetorial e multidisciplinar como é a realidade. Nesse contexto, essa

metodologia requer que as temáticas abordadas sejam feitas na perspectiva das mais

variadas áreas, já que as discussões terão um viés amplo que entende a alimentação não

como ato fisiológico, mas como ato complexo, imbuído de símbolos e sentidos que

espelham o ambiente em que se vive. Nessa dimensão, o comportamento alimentar é

também uma lente que permite se conhecer e se relacionar com o mundo (LEONARDO,

2009; COSTA; FERREIRA, 2010).

O objetivo da roda de conversa é proporcionar a aprendizagem mútua e a troca

de experiências, por meio do compartilhamento de vivências, conceitos, preconceitos,

sentimentos e emoções, como também descobertas, soluções e contradições, uma vez

que “[...] proporcionam ao grupo como um todo, e a cada indivíduo em particular, o

crescimento na compreensão dos seus próprios conflitos” (ÂNGELO, 2006, p. 9).

Por outro lado, fazendo o contraponto ao falar, existe o ouvir e o escutar. Assim,

falar e ouvir são as duas faces de uma mesma moeda em que se encaixam o expressar, o

se envolver e o estabelecer comunicação que são conexões imprescindíveis ao ser

humano, pois fazem parte do seu desenvolvimento cognitivo e intelectual. Ouvir as

falas e olhar olhos nos olhos dos participantes oportuniza a adoção de uma postura

reflexiva, permitindo o início do processo de aprendizagem, reconstrução e construção

de valores, bem como o autoconhecimento, conforme as teorias de Vygotski (1991) e

Bakhtin (1999).

A roda de conversa é uma proposta de comunicação dinâmica e produtiva,

porém, como ela tem intencionalidade, a sua metodologia prevê papéis definidos para

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que ela seja operacionalizada, e é, por isso, que temos o coordenador, o mediador e o

relator da roda.

A dinâmica da roda de conversa não tem uma proposta fechada ou normatizada

como convém a educação social, porém, faz-se necessário, em vistas de assegurar o

bom desenvolvimento e de atingir os objetivos almejados, que seja seguido um roteiro

conforme o modelo a seguir (GATTI, 2005; ÂNGELO, 2006; AFONSO; ABADE,

2009):

1. divisão do grupo interessado em grupos menores de, no máximo, 10

pessoas;

2. definir o local onde todos possam se sentir confortáveis e acolhidos;

3. definir data e horário que convenham a todos;

4. organizar o local com materiais sobre o tema (revistas, cartazes, frases e

imagens) para incentivar que os participantes foquem no assunto e

entrem no clima da temática a ser abordada;

5. a reunião será iniciada pelo coordenador que apresentará a equipe e as

motivações que levaram a proposta dos encontros;

6. após, abrir espaço para cada um se apresentar brevemente;

7. repassar, no primeiro encontro, as informações advindas da pesquisa e

expressas como importantes pelos sujeitos participantes da mesma;

8. depois da apresentação, a palavra será aberta para discutir os problemas e

dificuldades apontadas sobre as temáticas que eles gostariam que fossem

abordadas, como exemplo: importância da alimentação das crianças para

a saúde, safra anual, a produção de alimentos do local onde se vive,

descoberta dos alimentos por meio dos sentidos, a influência da

propaganda e mídia sobre a escolha alimentar, como ler e entender os

rótulos de alimentos, como era a alimentação dos pais e dos avós etc;

9. cabe ao coordenador em cada dia propor o assunto escolhido e a

discussão de forma delicada, escutando os participantes de forma

acolhedora para permitir a superação das dificuldades inerentes ao

processo de se expressar em público, de se comunicar de forma assertiva

e reflexiva, deixando de lado os estereótipos e preconceitos, bem como

deixar os participantes à vontade em um contexto socioinstitucional

diferente do usual e incentivá-los a compartilharem suas potencialidades,

dificuldades e limitações. Cabe a ele também incentivar o debate e a

discussão, interligar a experiência vivida e o saber popular com o saber

científico e dar exemplos práticos para efetivar a construção do

conhecimento;

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10. compete ao mediador garantir que todos participem de forma igualitária,

bem como estruturar os critérios de discussão, interagir com todos os

participantes, incentivar o debate e a discussão e não permitir a

existência de diferentes status dentro da roda;

11. o relator coletará e registrará as falas, expressões, gestos, as entrelinhas e

as conexões estabelecidas, bem como os conflitos, dificuldades,

facilidades, entrosamento, bloqueios e todas os comportamentos que

possam ser relevantes para que se alcance o objetivo proposto;

12. o coordenador encerra o debate avaliando a produção do conhecimento

do grupo, legitimando essa construção e sistematizando o conhecimento

produzido.

É fundamental que das falas surja um rico debate sobre a temática do dia,

avaliando e apontando problemas e dificuldades, bem como as soluções e as

possibilidades de mudanças. Porém, o mais importante é que, ao final do debate, tenha

sido elaborada a construção de conhecimento real e contextualizado à realidade de cada

participante. Um subproduto das rodas será ampliado: um livro de receitas voltado para

os pais cozinharem junto com as crianças. A intenção é envolvê-las e incentivar práticas

saudáveis de alimentação realizadas em conjunto com os familiares para estreitar laços

afetivos, convívio e descobrir que é possível alimentar-se bem, com prazer, havendo

trocas, alegria e aprendizagem.

Dada à complexidade da questão, adotamos e daremos prosseguimento, como

base para as receitas, alimentos que as crianças apresentam maior déficit de consumo,

como o leite e as frutas, que fazem parte e que valorizem a cultura alimentar da infância

das crianças, dos pais e dos avós. A intenção é incentivar e reafirmar a utilização e o

prazer pela alimentação natural e minimamente industrializada, além de promover

intercâmbio de tradições familiares.

A parte teórica, se os participantes levantarem a necessidade, será

disponibilizada de forma virtual e/ou impressa.

3.6 Considerações finais

Educar para a cidadania é uma das maiores e mais importantes funções sociais

da educação. A educação social releva a importância de que os conteúdos estejam

conectados aos sentidos e contextos da vida de cada indivíduo, que, assim, terão

condições reais de questionar e transformar a realidade em que vivem.

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A educação para a saúde utiliza a metodologia das rodas de conversa para

facultar, de forma horizontalizada, momentos de compreensão da realidade, discussão,

troca, interação e reflexão, além de fornecer instrumentos para as necessárias

transcendências. Ela permite manter a interação entre os saberes científicos e a realidade

investigada, reconhecendo e compreendendo a sociedade como estrutura viva e

dinâmica que a todo instante se modifica.

Isto posto, a EAN torna-se uma ferramenta essencial para também matar a fome

de conhecimento, pois convoca a compreensão de que o comportamento relativo à

comida alia-se ao modo de produção econômica, social e cultural. Pode-se incluir,

ainda, que se liga ao tempo e espaço habitado pelo ser humano.

O comportamento alimentar correto é um aprendizado que se dá para além das

teorias científicas. Ele concretiza-se tanto por meio da descoberta dos sentidos quanto

pelas diversas emoções e sensações que envolvem o ato de comer. Trata-se de uma

circularidade integradora que nutre o corpo, os desejos, os sonhos, as sensações e tudo o

mais. Nesse ir e vir, constrói-se e descontrói-se para uma nova construção.

Dessa forma, entende-se que a alimentação e EAN, onde quer que ocorram, não

se restringem somente às questões relacionadas ao cultivo de hábitos saudáveis, mas

como processo que amplia a ação educacional para ganho de espaço de discussão de

temas como: emoções, afetividade, relações familiares, identidade cultural, ética, justiça

social, autonomia, participação ativa, protagonismo, dentre outros.

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103

1- Alcione Aguiar Souza, mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão Social,Educação e

Desenvolvimento Local

2- Orientadora e Profa. Dra. do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local

Alcione Aguiar Souza

Matilde Meire Miranda Cadete (orientadora)

Belo Horizonte Dez/ 2016

LLiivvrroo ddee rreecceeiittaass

Alcione Aguiar Souza1

Matilde Meire Miranda Cadete (orientadora)

LLiivvrroo ddee rreecceeiittaass

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Apresentação

Este livro de receitas é um produto técnico da dissertação intitulada “Alimentação e seus impactos na saúde: Comportamento alimentar das famílias e alunos do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais” do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

A autora é a pedagoga Alcione Aguiar Souza, orientada pela Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local.

Introdução

Este livro de receitas foi elaborado com a intenção primária de unir ainda mais pais e filhos pelo ato de cozinhar. Nesse processo de verificar alimentos, escolher o que comer, como fazer os pratos e dispor os alimentos nos prato pode ocorrer o estreitamento de laços afetivos, aumentar os vínculos, manter diálogo e incentivar práticas saudáveis de alimentação. Cozinhar pode ser uma brincadeira que engendra nas crianças a descoberta do mundo dos sentidos pelo olfato e paladar, além de incentivar o prazer de comer.

Toda pessoa é capaz de produzir alimentos gostosos, saudáveis para se comer com os olhos e com a alma ao mesmo tempo.

Lembrem-se: as receitas são fáceis de fazer, mesmo para quem tem poucas habilidades na cozinha. Elas têm como base alimentos que as crianças apresentam maior dificuldade em aceitar, ou mesmo provar, como o leite e as frutas, legumes e verduras, que estão apresentados em preparações diferentes das habituais. Além disso, são alimentos que fazem parte da cultura alimentar deles e dos pais, e dos avós.

As receitas aqui disponibilizadas são apenas para incentivá-los a produzir, sentir o gosto pela cozinha e comerem bem.

Vocês são responsáveis pela indicação de outras receitas e pelo compartilhamento e enriquecimentos de nosso livro de receitas.

Todos nós somos protagonistas de nossas histórias. Então, mãos à obra.

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XUP XUP DE FRUTAS

INGREDIENTES

PORÇÕES: 5

Frutas e legumes de sua preferência: 5 Maçãs ou 1 caixinha

de morango, 5 laranjas, 2 limões, 1 mamão pequeno, 1

abacate, meio abacaxi, 3 cenouras, 2 beterrabas.

1 litro de Leite ou 1 litro de água

5 colheres de sopa de açúcar cristal

MODO DE PREPARO

Escolha a fruta de seu gosto. Lave-as bem lavadas.

Bater os ingredientes no liquidificador com açúcar ou mel se preferir.

Despejar a mistura em um saquinho próprio para gelinho, fechar.

Levar ao congelador

Dicas: O açúcar deve ser a 10% (Cada 200 ml de suco, uma

colher de sopa de açúcar).

Bater laranja e cenoura no liquidificador para fazer o suco.

Gelar.

Bater beterraba no liquidificador com água, coar, adoçar,

misturar com suco de uva. Gelar.

Bater o morango no liquidificador e acrescentar suco de

beterraba ou cenoura.

Bater limão com couve no liquidificador adoçar, coar. Gelar.

O morango, abacate, maçã, podem ser batidos com leite.

Fica delicioso.

Se gostar de coco, pode ser uma excelente pedida: bater um

coco fresco ou colocar um pacote de 100 gramas, leite e

açúcar. Colocar no saquinho. Gelar.

Se gostar de amendoim, pode ser uma excelente pedida:

bater 100 gramas de amendoim mais leite e açúcar. Colocar

no saquinho. Gelar.

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PÉ DE MOLEQUE COM RAPADURA

PORÇÕES: 20 a 25

INGREDIENTES:

1 kg de rapadura pura

1 kg de amendoim torrado e moído

1 copo de leite (250 ml)

MODO DE PREPARO

Corte a rapadura com uma faca como faz com uma barra de

chocolate.

Leve ao fogo, junto com o leite e mexa sem parar até que

derreta tudo.

Deixe a mistura ferver, sem parar de mexer até que a

rapadura dissolva por completo e fique uma espuma grossa.

Sem parar de mexer, junte o amendoim de uma só vez.

Bata bem, até que o doce comece a esfriar e endurecer.

Despeje sobre uma superfície limpa (pedra ou assadeira).

Acerte bem com uma espátula.

Corte com a mesma espátula.

Guarde em recipiente tampado.

BOLO DE BANANA

PORÇÕES: 20

INGREDIENTES

3 bananas maduras (usei banana nanica)

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3 ovos

3/4 xic. (chá) de óleo

2 xic. (chá) de açúcar

2 xic. (chá) e meia de farinha de trigo

1 colh. (sopa) de canela em pó

1 colh. (sopa) de fermento

MODO DE PREPARO

Preaqueça o forno a 180 graus.

Unte com manteiga e polvilhe com açúcar uma forma com

buraco no centro.

Amasse 1 banana e meia numa tigela. Corte o restante das

bananas em rodelas.

No liquidificador, bata os ovos, óleo, as bananas amassadas,

o açúcar e a canela.

Passe essa mistura para uma tigela e acrescente a farinha e

o fermento peneirados, e misture até incorporar.

Despeje a massa na forma preparada e jogue as bananas em

rodela na massa.

Asse por 45 minutos ou até que um palito inserido no centro

saia limpo.

Depois de pronto, deixe descansar por 10 minutos e

desenforme.

BOLO DE CENOURA

INGREDIENTES

PORÇÕES: 20

3 cenouras médias raspadas e picadas

3 ovos

1 xícara de óleo

1 xícara de açúcar

2 xícaras de farinha de trigo

1 colher (sopa) de fermento em pó

1 pitada de sal

Manteiga para untar

Farinha para polvilhar

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MODO DE PREPARO

Bata no liquidificador todos os ingredientes

Acrescente farinha aos poucos.

Unte e enfarinhe uma forma de furo no meio.

Despeje a massa na forma.

Asse em forno médio preaquecido por 40 minutos.

Tire do forno.

Espere amornar e desenforme.

PIPOCA DE PANELA

INGREDIENTES

PORÇÕES: 2

1 xícara de milho para pipoca 4 colheres de óleo Sal

MODO DE PREPARO

As quantidades: nesta panela, primeiro, encha o fundo da

panela com milho, cobrindo por inteiro, formando uma

camada sem espaços (costuma ser uma xícara das de chá).

Em seguida acrescente o óleo de soja, ou o de sua

preferência.

Não coloque sal neste momento. Só depois de pronta.

O milho deve ficar bem brilhante, mas não encoberto do

óleo.

Em fogo alto, ela estoura em pouco mais de 2 minutos.

Assim que parar de fazer barulho, já está boa.

Dicas: A escolha do milho: dê preferência aos grãos “Premium” ou

tipo exportação, estes fazem pipocas graúdas, macias e estouram

bem, quase não sobrando os “piruás”. Precisa ser uma panela fina e

alta, aquela de cozinhar macarrão é uma excelente opção.

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BOLO DE BANANA COM CHOCOLATE

INGREDIENTES

PORÇÕES: 20 a 25

4 bananas bem maduras (nanicas)

3 ovos médios

1/2 xícara de chá de óleo

2 xícaras de chá de aveia em flocos finos

1 1⁄2 xícara de chá de açúcar mascavo ou demerara

derretido

200 g de chocolate amargo derretido ou 3 colheres de sopa

de cacau em pó sem açúcar

1 colher de sopa de fermento em pó

1 colher de sopa de canela em pó (opcional)

2 colheres de sopa de uva passa (opcional)

2 colheres de sopa de castanhas picadas (opcional)

MODO DE PREPARO

Unte uma forma redonda com óleo e um pouco de aveia em

flocos finos e reserve-a.

Corte duas bananas em fatias finas e reserve-as.

Amasse com o garfo as outras duas bananas e reserve-as.

No liquidificador, coloque o óleo, açúcar, aveia, ovos (e a

canela, caso queira).

Bata até virar uma massa homogênea.

Acrescente nessa massa a banana amassada e o fermento.

Na forma, coloque a massa e por cima coloque as fatias da

banana.

Leve ao forno por 30 minutos a 180 graus.

Retire e espere esfriar.

Despeje o chocolate derretido por cima.

Outra forma de usar o chocolate é picá-lo e colocar no meio

da massa ao invés de usá-lo como cobertura.

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SANDUÍCHE JUMBO

INGREDIENTES

PORÇÕES: 20

1 lata de Creme de Leite 1 colher (sopa) de suco de limão 1 pacote de pão de fôrma sem casca, corte horizontal

Creme de queijo

200 g de ricota sal a gosto pimenta-do-reino a gosto

Recheio de Beterraba

1 beterraba grande, passada no processador sal a gosto

Recheio de cenoura

1 cenoura grande, passada no processador sal a gosto

Recheio de ovos

2 ovos cozidos 2 colheres (sopa) de peito de frango cozido desfiado 2 colheres (sopa) de maionese 2 colheres (sopa) de salsão picado 1 colher de sopa de azeite de oliva

MODO DE PREPARO

Bata no liquidificador os ingredientes do creme de queijo e reserve.

Ponha num prato plano retangular (13cm x 30cm) uma fatia de pão.

Misture os ingredientes do recheio de presunto e espalhe sobre a fatia.

Cubra com outra, espalhe uma camada fina de creme de queijo e a beterraba temperada com sal.

Ponha outra fatia de pão e espalhe o recheio de ovos.

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Cubra com mais uma fatia de pão, espalhe uma camada de creme de queijo e a cenoura temperada com sal.

Depois ponha a última fatia de pão. Cubra toda o sanduíche com o creme de queijo restante e

decore a gosto. Leve à geladeira até o momento de servir.

PICOLÉ DE FRUTAS

INGREDIENTES

PORÇÕES: 10

10 morangos cortados

1 kiwi cortado

1 cacho grande de uvas sem sementes

2 mangas

1 a 2 litros de água de coco

Folhas de hortelã

Forminhas de picolé (se você não tiver, pode usar copos

descartáveis pequenos)

Palitos de picolé

MODO DE PREPARO

Corte as frutas em tamanho pequeno, misture com as folhas de hortelã e coloque nas forminhas de picolé até a metade, depois complete com água de coco. Leve ao congelador por cerca de 2 horas ou, quando começar a congelar, coloque os palitos de picolé e volte ao congelador para terminar de congelar.

Dicas: Para soltar o picolé das forminhas é só jogar um pouco de

água do lado de fora da forma e puxar com cuidado. Para

armazenar os picolés no congelador, o ideal é embalar em um saco

plástico individualmente.

Na hora de colocar as frutas já cortadas nas forminhas, convide as

crianças para ajudar, elas vão adorar criar sua própria sobremesa.

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BOLINHO DE BRÓCOLIS ASSADO

INGREDIENTES

PORÇÕES: 10

1 cabeça de brócolis

2 dentes de alho

1/4 copo de farinha de rosca

1 ovo

1/4 copo de queijo de sua preferência (usei prato)

sal e pimenta a gosto

MODO DE PREPARO

Cozinhe o brócolis em uma panela com água e uma pitada

de sal por 2 minutos Após cozinhar, pique o brócolis para que fique parecendo

farinha Numa bacia, misture todos os ingredientes Faça pequenas bolinhas com a massa e coloque-as em uma

forma antiaderente Leve para assar em forno médio (180° C) por cerca de 10 a

15 minutos Sirva-se

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Referências

http://www.1001receitasfaceis.net/category/sobremesas-e-doces/bolos/. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://blog.elo7.com.br/receitas/bolinhos-de-brocolis-assados.html . Acessado em 22 de novembro de 2016. http://br.stockfresh.com/image/1942324/cooking-kids . Acessado em 22 de novembro de 2016. http://www.desafiomamae.com.br/banana-com-chocolate/. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://entretenimento.r7.com/mulher/receitas-e-dietas/fotos/gelinho-sacole-chup-chup-ou-geladinho-aprenda-a-preparar-a-guloseima-que-e-a-cara-da-infancia-02042014#!/foto/22. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://giovanaleiner.com.br/bolo-integral-de-banana/. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://gshow.globo.com/receitas-gshow/receita/bolo-de-banana-com-chocolate-842c3984-2e8b-45f3-ba0e-424d0d13e8d7.html. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://www.monjolo.com.br/produtos/80/pe-de-moleque-com-rapadura. Acessado em 22 de novembro de 2016. http://mundoconectado.net/bem-estar/culinaria-nerd/receita-de-picole-de-frutas-caseiro-100-natural/ Acessado em 22 de novembro de 2016. https://www.nestle.com.br/site/cozinha/receitas/sanduiche_jumbo.aspx. Acessado em 22 de novembro de 2016.

http://onmyownwaybackhome.blogspot.com.br/2011/07/mutual-com-culinaria.html Acessado em 22 de novembro de 2016. https://pixabay.com/pt/chap%C3%A9u-de-chef-cozinheiro-chefe-303194/ Acessado em 22 de novembro de 2016. http://recantodelivros.blogspot.com.br/2013/12/que-tal-cozinhar.html Acessado em 22 de novembro de 2016. http://socorronacozinha.com.br/receita-pipoca-panela-pipoqueira/ Acessado em 22 de novembro de 2016. http://stat10.novotempo.com/wp-content/blogs.dir/90/files/2014/11/pipoca.jpg Acessado em 22 de novembro de 2016. http://www.tudogostoso.com.br/receita/136804-pe-de-moleque-com-rapadura.html?nomobile=true Acessado em 22 de novembro de 2016. http://www.tudogostoso.com.br/receita/185009-bolinho-de-brocolis-assado.html Acessado em 22 de novembro de 2016.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como mostrado neste trabalho, questões referentes à alimentação e nutrição

estão intimamente ligadas às questões de saúde e de segurança alimentar e nutricional.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) este é um problema de saúde pública,

contando com números crescentes de crianças em situação de obesidade e sobrepeso, no

Brasil e no mundo.

Neste cenário, objetivou-se analisar na perspectiva das famílias de crianças do

Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (CP/UFMG), o

comportamento alimentar, a compreensão acerca do conceito de alimentação saudável e

seus impactos na saúde dos filhos, além das dificuldades para formar hábitos

alimentares saudáveis.

Como profissional pedagoga e técnica em nutrição e dietética no cotidiano de

trabalho como responsável pela alimentação dos alunos, ao observar a composição dos

lanches que trazem de casa: chips, chocolates, frituras, refrigerantes, biscoitos recheados

e outras guloseimas, o tema que foi pesquisado emergiu. Os lanches são enviados,

mesmo sabendo que na escola as refeições, dois lanches e almoço, são oferecidos de três

em três horas e seguem as normas técnicas preconizadas pelo Programa Nacional de

Alimentação Escolar.

Paralelamente a essa situação, os alimentos mais recusados na escola são: leite,

feijão, frutas, verduras e legumes. Ajuntando a isto, alguns alunos, apesar da faixa etária

ser entre seis a oito anos, já tem orientação médica e nutricional para controle de

colesterol, glicemia e obesidade e/ou controle de peso. Outro fator importante foi que,

em 2013, o Setor de Apoio à Saúde (SAS) do CP/UFMG realizou uma avaliação

nutricional dos alunos pela estatura, peso e índice de massa corporal (IMC) para a idade,

apontando que 21,5% têm sobrepeso e 10,6% tem obesidade e apenas 2,8% estão com o

IMC abaixo do esperado para a idade, ou seja, 32,5% têm uma situação nutricional

desfavorável.

A revisão bibliográfica mostrou que, ao realizar suas escolhas alimentares, os

indivíduos sofrem influências psicológicas, afetivas, familiares, econômicas, das mídias,

entre outras. O comportamento alimentar das famílias veio se modificando ao longo do

tempo por causa das mudanças sociais e do mundo do trabalho. Na atualidade, os

maiores problemas da alimentação globalizada são o baixo consumo de alimentos

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naturais e ricos em fibra e o alto consumo de alimentos industrializados, constituídos

com excesso de condimentos, aditivos químicos, como realçadores de sabor ou cor,

açúcares, massas e outros produtos de mesma natureza.

As análises dos dados dos questionários e entrevistas apontaram que práticas

alimentares errôneas, como horários inadequados, hábito de pular as refeições e más

escolhas tanto na quantidade, quanto na qualidade dos alimentos consumidos

evidenciam que há um padrão não assertivo no comportamento alimentar.

Destaca-se que é papel dos pais monitorar as práticas alimentares dos filhos,

sendo importante realizar pelo menos uma refeição juntos, assim como é necessário dar

bons exemplos, consumindo e oferecendo frutas, verduras e legumes, conforme a

cultura e hábitos do local em que vivem. Além disso, controlar o tempo que seus filhos

passam assistindo à televisão e conectados na internet, tendo em vista a natureza

sedentária da atividade e a influência dos canais midiáticos para a compra e consumo.

Por outro lado, os dados mostraram que, no caso específico desta pesquisa, ao

contrário de outros estudos no Brasil e no mundo, os maiores índices de escolaridade

não se traduziram em menor índice de sobrepeso e/ou obesidade das crianças e

adolescentes, bem como que o fato das famílias terem maior renda também não resultou

em práticas e comportamento alimentares e de vida saudáveis. Mesmo quando estes

dados foram avaliados de forma conjunta e/ou cruzada eles não se mostraram diferentes.

Esta pesquisa desvelou horários intensos de trabalho, rotinas diárias longas e, as

vezes, exaustivas para as crianças, havendo pouco tempo das mães ou responsáveis para

o preparo de refeições, bem como falta de autoridade ao permitir que as crianças comam

regularmente os alimentos não saudáveis.

Evidenciou-se também que existe a necessidade de que as famílias conheçam

mais a fundo as influências da alimentação na saúde e a necessidade de mudanças

comportamentais para a prevenção das doenças, que podem ocorrer em longo prazo

como fruto do padrão alimentar praticado.

Os pais externaram que existem grandes dificuldades para modificar os hábitos,

que eles próprios identificam como não saudáveis. Além disso, a alimentação saudável

foi associada ao mito de que teria preço alto, ou que dificultaria a rotina atual da família,

sendo, por isso, mais difícil propor e efetivar mudanças na vida dos familiares em geral.

O produto técnico “rodas de conversa” espera contribuir para a resolução dos

problemas aqui apontados. Elas são utilizadas na Educação para a Saúde e darão

oportunidade para que os problemas alimentares retratados pela pesquisa sejam

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compreendidos de forma contextualizada, em uma perspectiva interdisciplinar, e como

um problema social em toda a sua complexidade. O objetivo é empoderar as famílias,

para que elas possam fazer escolhas alimentares assertivas e conscientes que as levem a

efetivar hábitos e práticas saudáveis de vida, conforme recomendações da OMS. Desta

forma, a formação de hábitos saudáveis passará por processos que irão para além da

ação educacional, ganhando espaço de discussão, reflexão e entendimento de questões,

como: emoções, afetividade, relações familiares, identidade cultural, ética, justiça

social, autonomia, participação ativa, protagonismo social, cidadania entre outros.

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APÊNDICES

APÊNDICE 1: QUESTIONÁRIO

Prezado senhor (a),

De início queremos lhe agradecer a boa vontade e colaboração com o

preenchimento deste questionário. Sua participação aqui é de extrema importância e nos

dará subsídios para melhorar o atendimento às crianças que frequentam o CP.

As respostas às perguntas deste questionário serão única e exclusivamente

para fins acadêmicos e o seu nome e o de seu (sua) filho (a) serão também mantidos

em sigilo, conforme explicitado no TCLE assinado por você.

NÃO PRECISA ASSINAR ESTE QUESTIONÁRIO.

I - Identificação

1. Série e turma do seu filho: _____________ 2. Grau de parentesco do responsável por responder o questionário:

( )mãe ( )pai ( )avó ( )avô ( )tia ( )tio ( ) outro 3. Idade

( ) Menos de 20 anos ( ) 21 – 39 anos ( ) 40 – 49 anos ( ) 50 a 59 anos ( ) 60 anos ou mais 4. Renda familiar (em salários mínimos)

( ) até 2 ( ) 3 a 5 ( ) 6 a 8 ( ) mais de 8 5. Grau de Instrução

( ) Nenhum / Analfabeto ( ) 1º. Grau incompleto ( ) 1º. Grau completo ( ) 2º. Grau incompleto ( ) 2º. Grau Completo ( ) 3º. grau Incompleto ( ) 3º. grau Completo ( ) Pós graduado

6. Qual a origem da sua família? ( ) a família veio da zona urbana ( ) a família veio do interior / da zona rural

7. Qual o tamanho do município? ( ) capital ou cidade de grande porte ( ) cidade de médio porte ( ) cidade de pequeno porte

8. Quem fica em casa com a criança quando ela não está na escola? ( )mãe ( )pai / companheiro ( )avó ( )avô ( )tia ( )tio ( )empregado doméstico ( ) outro

9. O pai e a mãe trabalham fora? ( )só o pai / companheiro ( ) só a mãe ( ) os dois ( ) outro

II - Hábitos

1. Quais as pessoas que compram alimentos para a sua família? ( )mãe ( )pai ( )avó ( )avô ( )tia ( )tio ( )empregado doméstico ( ) outro

2. Quais as pessoas preparam os alimentos? ( )mãe ( )pai ( )avó ( )avô ( )tia ( )tio ( )empregado doméstico ( ) outro

3. Marque o grau de importância para compra de alimentos. A nota1 é o mais importante, a nota 6 o menos

importante. ( ) Preço ( ) Tempo para preparar ( ) facilidade para preparar ( ) propaganda ( ) pedido das crianças ( ) Gosto familiar ( ) outro

4. As crianças influenciam na compra dos alimentos? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

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5. Quantas refeições a sua família faz por dia? Marque as que você faz. ( ) Café da manhã ( ) Lanche da manhã ( ) Almoço ( ) Lanche da tarde ( ) Jantar ( ) Lanche da noite

6. É hábito da família tomar o café da manhã? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

7. É hábito a família jantar? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

8. Quais as preparações que substituem o jantar? ( ) sanduiche ( ) hambúrguer ( ) fruta ( ) suco natural ( ) suco de caixinha ( ) biscoito ( ) leite ( ) sopa ( ) macarrão instantâneo ( ) Outro ( ) Não comemos

9. É hábito a família comer fora nos finais de semana? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

10. Se sim, qual refeição? ( ) Almoço ( ) Jantar

11. O que a sua família gosta de comer nos finais de semana? a. ( ) Churrasco b. ( ) Massas ( pizza, macarronada, lasanha) c. ( ) Arroz , feijão, salada, carne d. ( ) Lanches (Hambúrgueres, salgados, cachorro quente ) d. Outras preparações

12. Qual é, aproximadamente, a quantidade de frutas, por pessoa que a família come por dia?

a. ( ) Não comemos frutas, todos os dias; b. ( ) 3 ou mais porções c. ( ) 2 ou mais porções d. ( ) 1 ou mais porções

13. Qual é, aproximadamente, a quantidade de suco de fruta natural, por pessoa que a família consome por

dia?

a. ( ) Não tomamos suco de frutas natural todos os dias b. ( ) 3 copos de suco natural c. ( ) 2 copos de suco natural d. ( ) 1 copo de suco natural

14. Qual é, aproximadamente, a quantidade de suco de caixinha ou suco em pó por pessoa que a família

consome por dia? a. ( ) Não tomamos suco de caixinha ou pó todos os dias b. ( ) 3 copos de suco de caixinha ou pó c. ( ) 2 copos de suco de caixinha ou pó

d. ( ) copo de suco de caixinha ou pó

15. Qual é, aproximadamente, a quantidade de legumes e verduras, por pessoa, que a família come por dia?

Não considere nesse grupo as batatas, cará, mandioca. a. ( ) Não come legumes, nem verduras todos os dias

b. ( ) 3 ou menos colheres de sopa c. ( ) 4 a 5 colheres de sopa d. ( ) 6 a 7 colheres de sopa e. ( ) 8 ou mais colheres de sopa

16. Qual é, aproximadamente, a quantidade, por pessoa, que a família, come dos seguintes alimentos: feijão de

qualquer tipo ou cor, lentilha, ervilha, grão-de-bico, soja, fava, sementes ou castanhas? a. ( ) Não consome b. ( ) 2 ou mais colheres de sopa por dia

c. ( ) 1 colher de sopa ou menos por dia d. ( ) Consome menos de 5 vezes por semana

17. Qual a quantidade, aproximadamente, que a família consome, por pessoa, por dia de Arroz, milho e outros

cereais (inclusive os matinais).

a. ( ) Não consome b. ( ) 2 ou mais colheres de sopa por dia c. ( ) 1 colher de sopa ou menos por dia d. ( ) Consome menos de 5 vezes por semana

18. Qual a quantidade, aproximadamente, por pessoa, que a família consome por dia de mandioca ou cará ou

inhame ou batata-inglesa ou batata-doce ou batata-baroa?

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a. ( ) Não consome b. ( ) 2 ou mais colheres de sopa por dia c. ( ) Consome menos de 5 vezes por semana d. ( ) 1 colher de sopa ou menos por dia

19. Qual a quantidade, aproximadamente, por pessoa, que a família consome por dia de macarrão e outras

massas? a. ( ) Não consome b. ( ) 2 ou mais colheres de sopa por dia c. ( ) Consome menos de 5 vezes por semana

d. ( ) 1 colher de sopa ou menos por dia

20. Qual a quantidade, aproximadamente, por pessoa, que a sua família consome por dia de pães, bolos,

biscoitos sem recheios: unidades/fatias.

a. ( ) Não consome b. ( ) 2 ou mais unidades de por dia por pessoa c. ( ) Consome menos de 5 vezes por semana d. ( ) 1 unidade ou menos por dia por pessoa

21. Qual é, aproximadamente, por pessoa, a quantidade de carnes (gado, porco, aves, peixes e outras) ou ovos

que a sua família come por dia? a. ( ) Não consome nenhum tipo de carne b. ( ) 1 pedaço/fatia/ ou 1 ovo por pessoa por pessoa c. ( ) 2 pedaços/fatias/ou 2 ovos por pessoa

d. ( ) Mais de 2 pedaços/fatias/ou mais de 2 ovos por pessoa

22. Você costuma tirar a gordura aparente das carnes, a pele do frango ou outro tipo de ave? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca ( ) Não como carne vermelha ( ) Não como carne de frango

23. A sua família costuma comer peixes? Com qual frequência? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

24. Qual é, aproximadamente, por pessoa, a quantidade de leite, iogurtes, bebidas lácteas, coalhada, que a sua

família consome por dia? ( ) Não consome leite, nem derivados ( ) 3 ou mais copos ( ) 2 copos ( ) 1 ou menos copos

25. Qual é, aproximadamente, por pessoa, a quantidade de requeijão, queijos e outros a sua família consome

por dia? ( ) Não consome ( ) 3 ou mais porções ( ) 2 porções ( ) 1 ou porções

26. Qual tipo de leite e seus derivados a sua família habitualmente consome? a. ( ) Integral b. ( ) Leite sem lactose c. ( ) Leite de soja d.( ) Com baixo teor de gorduras (semidesnatado, desnatado ou light)

27. Pense nos seguintes alimentos: frituras, salgadinhos fritos ou em pacotes, tipo batata frita e outros. A sua família costuma comer qualquer um deles com que frequência? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

28. Pense nos seguintes alimentos: hambúrgueres, presuntos e embutidos (bacon, salsicha, mortadela,

salame, linguiça e outros) A sua família costuma comer qualquer um deles com que frequência? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

29. Pense nos seguintes alimentos: doces de qualquer tipo, bolos recheados com cobertura, biscoitos doces,

refrigerantes e sucos industrializados. A sua família costuma comer qualquer um deles com que frequência? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

30. Qual tipo de gordura é mais usado na sua casa para cozinhar os alimentos? a. ( ) Óleo vegetal ( soja, girassol, milho, algodão ou canola) b. ( ) Banha animal ou manteiga c. ( ) Margarina ou gordura vegetal

31. A sua família costuma colocar mais sal nos alimentos quando já servidos em seu prato?

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( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

32. Quantos copos de água você bebe por dia? a. ( ) Menos de 4 copos b. ( ) 4 a 5 copos ( ) c. 6 a 8 copos ( ) d. ( ) 8 copos ou mais

III - Conhecimento a respeito de alimentação saudável

1. Você costuma ler a informação nutricional que está presente no rótulo de alimentos industrializados

antes de comprá-los? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

2. Você costuma ler a data de validade que está presente no rótulo de alimentos industrializados antes de

comprá-los? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

3. O aluno já fez, ou faz algum tratamento para controlar o colesterol, triglicerídeo, glicose, ou peso? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não me lembro

4. Você já deixou de comprar algum alimento por que poderia prejudicar a saúde da sua família? EX. :excesso de gordura, excesso de sal, excesso de açúcar. ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

5. Como você considera a alimentação da sua família saudável? ( ) Extremamente saudável ( ) Muito saudável ( ) Saudável ( )Parcialmente saudável ( ) Pouco saudável

6. Você gostaria de mudar os hábitos alimentares da sua família? ( ) Sempre ( ) Muitas vezes ( ) Algumas vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

7. Em sua opinião, o que dificultaria a mudança dos hábitos alimentares da sua família, caso fosse

necessário? (marcar mais de uma se precisar) a. ( ) É difícil mudar a rotina.

b. ( ) O prazer em comer é maior que o risco de ter a saúde comprometida. c. ( ) Ficaria mais difícil de preparar os alimentos comparando com os que comemos hoje d. ( ) Ficaria mais caro para comprar os alimentos comparando com os que comemos hoje e. ( ) Onde moro não encontro alimentos saudáveis para comprar. f. ( ) A minha família não gostaria de mudar a alimentação. g. ( ) Não saberia o que comer para ter uma alimentação saudável.

h. ( ) Não preciso mudar nada na alimentação da minha família. OBRIGADA POR SUA PARTICIPAÇÃO.

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APÊNDICE 2: ROTEIRO DE ENTREVISTA

DATA DA ENTREVISTA:_________ INÍCIO: _______H TÉRMINO: _________H

INICIAIS DO NOME DA

CRIANÇA:______________________SÉRIE:_________DN____________

GRAU DE PARENTESCO DO RESPONSÁVEL POR RESPONDER O

QUESTIONÁRIO:

( ) Mãe ( ) Pai ( ) Avó ( )Avô ( ) Tia ( ) Tio ( ) Empregado Doméstico ( )

Outro

1) Como é a rotina alimentar da sua família e como estabelecem esta rotina?

2) Por que ela é organizada desta maneira?

3) Vocês fazem as refeições juntos?

4) Existe um local e um horário reservado para as refeições da família?

5) Como as crianças se comportam durante a alimentação? Isto é, alimentam-se

apenas ou fazem outras atividades paralelas?

6) Há mudanças de hábitos alimentares quando a criança está feliz ou triste? Conte

pra mim.

7) Que impactos acredita que a alimentação tem na vida das pessoas e das crianças,

em específico?

8) Fale-me a respeito da possibilidade de fazer mudanças nos hábitos alimentares

da sua família.

9) Fale-me sobre dificuldades que você percebe para mudar os hábitos alimentares.

10) Para vocês, na família, de forma geral, que sentido dão para a alimentação?

11) O que significa alimentação saudável, para você?

12) Fale-me sobre a influência das propagandas nos hábitos alimentares da sua

família.

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APÊNDICE 3:TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO -

TCLE / QUESTIONÁRIO

Título da pesquisa: Alimentação e seus impactos na saúde: concepção das famílias e alunos do

Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais.

Nome do Pesquisador Principal ou Orientador (a): Matilde Meire Miranda Cadete

Nome da mestranda: Alcione Aguiar Souza

1. Natureza da pesquisa: o sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que

tem como finalidade analisar a concepção que as famílias dos alunos do Centro Pedagógico da

Universidade Federal de Minas Gerais CP/ UFMG têm sobre alimentação e seus impactos na saúde

dos filhos.

2. Participantes da pesquisa: serão sujeitos da pesquisa todas as famílias dos alunos do

primeiro ciclo de formação humana do ensino fundamental que aceitarem livremente preencher o

questionário composto por questões fechadas.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (Sr) permitirá que o (a) pesquisador

(a) Alcione Aguiar Souza, faça perguntas relativas ao consumo de alimentos, aos hábitos e

comportamento alimentar, e sobre a saúde da sua família e seu filho. O (a) sr. (sra) tem a liberdade de

se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem

qualquer prejuízo para você. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através

do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em

Pesquisa.

Sobre os questionários: Os questionários serão aplicados em um mesmo dia, para todas as famílias

presentes na reunião pedagógica para entrega de fichas do primeiro bimestre do ano letivo de 2016.

4. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais.

As respostas ao questionário, se considerar alguma invasiva ou constrangedora, poderá saltar a

questão e passar para a próxima. Pode, ainda, deixar de responder ao questionário, como um todo.

Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos

procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

5. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador (a) terão conhecimento dos dados.

Portanto, seu nome será mantido em sigilo absoluto. 6. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto,

esperamos que este estudo traga informações importantes sobre alimentação escolar, educação alimentar,

comportamento alimentar, de forma que o conhecimento construído possa auxiliar na compreensão da

temática e na conscientização de hábitos alimentares saudáveis para toda a comunidade escolar e a

população em geral.

7. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem

como nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta

pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu

consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e

autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

_________________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

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Nome do Participante da Pesquisa:

___________________________________________________________

___________________________________

Assinatura do Pesquisador

___________________________________

Assinatura do Orientador

Pesquisador Principal: Alcione Aguiar Souza (031) 99814-4385.

Demais pesquisadores: Matilde Meire Miranda Cadete (031) 99972 8033

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/ MG

Telefone do Comitê: 35089110

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APÊNDICE 4: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO -

TCLE / ENTREVISTA

Título da pesquisa: Alimentação e seus impactos na saúde: concepção das famílias e alunos do

Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais.

Nome do Pesquisador Principal ou Orientador (a): Matilde Meire Miranda Cadete

Nome da mestranda: Alcione Aguiar Souza

1. Natureza da pesquisa: o sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que

tem como finalidade analisar a concepção que as famílias dos alunos do Centro Pedagógico da

Universidade Federal de Minas Gerais CP/ UFMG têm sobre alimentação e seus impactos na saúde

dos filhos. 2. Participantes da pesquisa: serão sujeitos da pesquisa todas as famílias dos alunos do primeiro

ciclo de formação humana do ensino fundamental que aceitarem livremente preencher o

questionário composto por questões fechadas.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (Sr) permitirá que o (a) pesquisador

(a) Alcione Aguiar Souza, faça perguntas relativas ao consumo de alimentos, aos hábitos e

comportamento alimentar, e sobre a saúde da sua família e seu filho. O (a) sr. (sra) tem a liberdade de

se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem

qualquer prejuízo para você. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através

do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em

Pesquisa.

Sobre os questionários: Os questionários serão aplicados em um mesmo dia, para todas as famílias

presentes na reunião pedagógica para entrega de fichas do primeiro bimestre do ano letivo de 2016.

4. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais.

As respostas ao questionário, se considerar alguma invasiva ou constrangedora, poderá saltar a

questão e passar para a próxima. Pode, ainda, deixar de responder ao questionário, como um todo. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos

procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

5. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente

confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador (a) terão conhecimento dos dados.

Portanto, seu nome será mantido em sigilo absoluto.

6. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto,

esperamos que este estudo traga informações importantes sobre alimentação escolar, educação alimentar,

comportamento alimentar, de forma que o conhecimento construído possa auxiliar na compreensão da

temática e na conscientização de hábitos alimentares saudáveis para toda a comunidade escolar e a

população em geral.

7. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como

nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta

pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu

consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e

autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo.

__________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

Nome do Participante da Pesquisa: ________________________________________________________

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_________________________________

Assinatura do Pesquisador

_________________________________

Assinatura do Orientador

Pesquisador Principal: Alcione Aguiar Souza (031) 99814-4385.

Demais pesquisadores: Matilde Meire Miranda Cadete (031) 99972 8033

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/ MG

Telefone do Comitê: 35089110

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