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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL PEDRO HENRIQUE ANDRADE CAMPOLINA ACESSO, PERMANÊNCIA E PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO À EDUCAÇÃO FORMAL Belo Horizonte 2018

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO … · o/a orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para introduzir o produto técnico

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

PEDRO HENRIQUE ANDRADE CAMPOLINA

ACESSO, PERMANÊNCIA E PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANÇAS

E ADOLESCENTES DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO À EDUCAÇÃO

FORMAL

Belo Horizonte

2018

PEDRO HENRIQUE ANDRADE CAMPOLINA

ACESSO, PERMANÊNCIA E PROCESSO EDUCATIVO DE CRIANÇAS

E ADOLESCENTES DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO À EDUCAÇÃO

FORMAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Strictu Sensu Mestrado em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local,

como requisito parcial para a obtenção do título

de Mestre.

Área de Concentração: Inovações Sociais,

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de Pesquisa: Educação e Desenvolvimento

Local.

Orientadora: Profa. Dr

a. Adilene Gonçalves

Quaresma

Belo Horizonte

2018

Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras –

Bibliotecário Júlio Ferreira Gomes – CRB 6 – 3227.

C198A Campolina, Pedro Henrique Andrade

Acesso, permanência e processo educativo de crianças e adolescentes da

ocupação Rosa Leão à educação formal / Pedro Henrique Andrade Campolina. –

2018.

253f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Adilene Gonçalves Quaresma

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2018. Programa de pós-

graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Inclui bibliografias.

1. Educação de crianças e adolescente. 2. Comunidade urbana – Belo Horizonte

(MG). 3. Desenvolvimento local. I. Quaresma, Adilene Gonçalves. II. Centro

Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.

NOTA INTRODUTÓRIA

No Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do

Centro Universitário UNA, as dissertações de mestrado se orientam pelas seguintes normas

aprovadas por seu Colegiado:

Para os elementos textuais:

1. A Introdução deve trazer o tema, problema, questão central da pesquisa, hipótese

(facultativa), objetivo geral, objetivos específicos, justificativas e o plano de capítulos;

2. O primeiro capítulo deve trazer uma revisão teórica na área temática da pesquisa, dentro

de um recorte de tempo. É esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um

artigo de revisão, contendo: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores

(o/a mestrando/a e o/a orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords,

introdução, desenvolvimento, conclusão, referências, notas, anexos e apêndices;

3. O segundo capítulo deve trazer o relato da pesquisa realizada pelo/a mestrando/a. É

esperado que esse capítulo seja apresentado na forma de um artigo científico, contendo:

título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o/a mestrando/a e o/a

orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão teórica,

metodologia, análise dos dados e/ou discussão dos resultados, considerações finais,

referências, notas, anexos e apêndices;

4. O terceiro capítulo deve trazer o produto técnico derivado da revisão teórica e da pesquisa

realizada pelo/a mestrando/a, sua proposta de intervenção na realidade. É esperado que

contenha: título, subtítulo, nomes e filiação institucional dos autores (o/a mestrando/a e

o/a orientador/a), resumo, palavras-chave, abstract, keywords, introdução, discussão para

introduzir o produto técnico e contextualização, descrição detalhada do produto técnico,

considerações finais, referências, notas, anexos e apêndices;

5. Por último, o/a mestrando/a deve trazer as considerações finais da dissertação;

6. Ficam mantidos os elementos pré-textuais e pós-textuais de praxe em dissertações e teses;

7. Alguma flexibilidade em relação a essa estrutura pode ser considerada, mas é

indispensável que o/a mestrando/a apresente pelo menos uma das suas partes na forma de

um artigo.

DEDICATÓRIA

Aos estudantes e moradores da Ocupação Rosa Leão e território local. Especialmente às

coordenadoras, estudantes, professores e demais lideranças que, em consciência transitiva e

crítica, se esforçam para ação e educação com conscientização, para a busca do Ser Mais.

AGRADECIMENTOS

A Deus, que dá proteção e força a nossas vidas.

À minha mãe e à minha esposa, pelo amor e companheirismo.

Aos meus amigos e familiares, que torceram e torcem por mim.

À minha orientadora, pela orientação, apoio e paciência dispensados ao longo deste percurso.

Aos professores e colegas do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

pela convivência e aprendizagem desenvolvidas.

Às famílias, estudantes e Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão e profissionais da Escola

Municipal Professor Daniel Alvarenga.

Aos meus colegas profissionais da Educação em Esmeraldas e Belo Horizonte, que muito me

ensinam e inspiram, e aos que também me deram condições de realizar este trabalho.

RESUMO

A dissertação apresenta resultados da pesquisa sobre a educação formal de crianças e

adolescentes moradores de uma ocupação urbana. Por meio de uma pesquisa

qualiquantitativa, exploratório-descritiva, procura-se detectar como ocorreu e ocorre o acesso,

a permanência e o processo educativo dos moradores da Ocupação Rosa Leão em Belo

Horizonte, Minas Gerais a uma escola vizinha da ocupação, tendo em vista a educação e o

desenvolvimento da sua população e do local. Para este estudo, foram estabelecidos como

objetivos específicos o conhecimento da história e da situação presente das ocupações urbanas

e a sua reivindicação de moradia e educação; a identificação dos limites e possibilidades de

desenvolvimento do acesso, permanência e processo educativo dos moradores da Ocupação

Rosa Leão à educação formal, e a elaboração de um livro didático como produto técnico do

Mestrado Profissional para contribuição para a educação e o desenvolvimento do local. Para

a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: análise documental,

questionário e entrevista semiestruturada aplicada junto aos professores da escola investigada,

Coordenadoras e estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão. Com base nos resultados

alcançados, foi possível concluir que as crianças e adolescentes moradores da Ocupação Rosa

Leão enfrentaram e ainda enfrentam dificuldades no acesso, permanência e processo

educativo na educação formal, como alegação de falta de vaga, estrutura escolar e

comprovante de endereço para matrícula, ou até mesmo procrastinação e resistência;

preconceito e desconhecimento da realidade da Ocupação. Considera-se que a reflexão sobre

a realidade e os projetos de educação, e a inclusão da Ocupação, nos diagnósticos, projetos,

currículos e atividades escolares são importantes para a educação e o desenvolvimento dos

moradores e do local.

Palavras-chave: Educação. Ocupação urbana. Desenvolvimento local. Rosa Leão.

ABSTRACT

The dissertation presents results of the research on the formal education of children and

adolescents living in an urban occupation. Through a cuali-qualitative, exploratory-descriptive

research, we seek detect how occurred the access, permanence and educational process of the

residents of the Rosa Leão occupation in Belo Horizonte, Minas Gerais, to a neighboring

school of occupation, considering the intervention for the education and development of its

population and place. For this study, were established as specific objectives, the knowledge of

the history and present situation of urban occupations, their demand for housing and

education, the identification of the limits and possibilities of development the access,

permanence and educational process of the Occupation Rosa Leão’s inhabitants to the formal

education, and the elaboration of a textbook as a technical product of the Professional

Master's Degree to contribute to education and development of the local territory. The

following instruments used to collect data: documentary analysis, questionnaire and semi-

structured interview applied to the teachers of the investigated school, coordinators and

students living in the Rosa Leão Occupation. Based on the results achieved, it was possible to

conclude that the children and adolescents living in the Rosa Leão Occupation faced and still

face difficulties in access, permanence and educational process in formal education, such as

lack of space, school structure and proof of address for registration, or even procrastination

and resistance; prejudice and ignorance of the reality of the Occupation. It is considered that

the reflection on the reality and the education projects, and the inclusion of the Occupation, in

the diagnoses, projects, resumes and school activities are important for the education and the

development of the place and its residents.

Keywords: Education. Urban occupation. Local development. Rosa Leão.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Trecho de Cartilha elaborada por pesquisadores e moradores da Ocupação

Dandara, em Belo Horizonte/MG. ............................................................................................ 29

FIGURA 2 - Crianças fora da escola em Belo Horizonte/MG. ................................................ 33

FIGURA 3 – Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga ................................................. 170

FIGURA 4 – Ocupação Rosa Leão ........................................................................................ 170

FIGURA 5 – Morro da Providência, Rio de Janeiro/RJ ......................................................... 172

FIGURA 6 – Favela de Paraisópolis, São Paulo/SP ............................................................... 172

FIGURA 7 – Cortiço, RJ/RJ...................................................................................................172

FIGURA 8 – Morro da Providência, RJ/RJ ............................................................................ 174

FIGURA 9 - Escravos na colheita de café, Vale do Paraíba, Rio de Janeiro ......................... 175

FIGURA 10 - Avenida Central, Rio de Janeiro/RJ ................................................................ 175

FIGURA 11 - Mapa de ocupações por movimentos de moradia na malha urbana da RMBH

................................................................................................................................................ 180

FIGURA 12– Grafite na Ocupação Rosa Leão ...................................................................... 183

FIGURA 13 – Início da Ocupação Rosa Leão ....................................................................... 184

FIGURA 14 - Passeata até o Palácio da Justiça, Belo Horizonte/MG ................................... 184

FIGURA 15 - Faixa na Ocupação Rosa Leão ........................................................................ 185

FIGURA 16 – Marcha das Ocupações da Izidora até o TJMG (Tribunal de Justiça de Minas

Gerais) .................................................................................................................................... 185

FIGURA 17 – Placa na Ocupação Rosa Leão ........................................................................ 186

FIGURA 18 – Desocupação da PBH nas Jornadas de Junho ................................................. 188

FIGURA 19 – Manifestação para reconhecimento da Izidora como AEIS ........................... 188

FIGURA 20 – Mapa da Regional Norte de Belo Horizonte................................................... 190

FIGURA 21 – Localização do Bairro Zilah Spósito .............................................................. 191

FIGURA 22 – Localização da Ocupação Rosa Leão ............................................................. 192

FIGURA 23 – Mapeamento da região .................................................................................... 194

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Categoria 1: Você já ficou algum tempo sem estudar? .................................. 122

GRÁFICO 2 - Categoria 1: Quanto tempo mais ou menos? .................................................. 123

GRÁFICO 3 – Categoria 1: Antes de matricular na sua escola atual, você ficou um tempo sem

estudar? ................................................................................................................................... 124

GRÁFICO 4 – Categoria 1: Quanto tempo mais ou menos? ................................................. 124

GRÁFICO 5 – Categoria 1: Sua família teve dificuldades para matricular você na sua escola

atual? ....................................................................................................................................... 125

GRÁFICO 6 – Categoria 1: Acesso à escola – Processo de matrícula .................................. 127

GRÁFICO 7 – Categoria 1: Nos seus primeiros dias de aula você foi bem recebido pelos

profissionais da escola? .......................................................................................................... 128

GRÁFICO 8 – Categoria 1: Nos seus primeiros dias de aula você foi bem recebido pelos

colegas da escola? ................................................................................................................... 129

GRÁFICO 9 – Categoria 2: Quando começou a estudar na escola atual, você chegou a pensar

em não frequentar mais as aulas? ........................................................................................... 132

GRÁFICO 10 – Categoria 2: Você ficou algum tempo sem frequentar a sua escola atual? .. 133

GRÁFICO 11 – Categoria 2: Quanto tempo mais ou menos? ............................................... 134

GRÁFICO 12 – Categoria 2: Em uma semana, quantos dias você costuma faltar? ............... 134

GRÁFICO 13 – Categoria 2: Você tem dificuldades para ir para escola? ............................. 136

GRÁFICO 14 - Categoria 2: Os seus responsáveis gostam da sua escola? ........................... 138

GRÁFICO 15 – Categoria 2: Os seus responsáveis têm vontade de mudar você de escola? 138

GRÁFICO 16 – Categoria 2: Você tem vontade mudar de escola? ....................................... 140

GRÁFICO 17 – Categoria 3: Você se dá bem com os colegas da escola? ............................. 142

GRÁFICO 18 – Categoria 3: Você se dá bem com os professores da escola? ...................... 143

GRÁFICO 19 – Categoria 3: Você se dá bem com os outros funcionários da escola?.......... 143

GRÁFICO 20 – Categoria 3: Você gosta da sua escola atual? .............................................. 147

GRÁFICO 21 – Categoria 3: Você se sente bem na sua escola atual? .................................. 147

GRÁFICO 22 – Categoria 3: Você gosta de estudar? ............................................................ 148

GRÁFICO 23 – Categoria 3: Você gosta das aulas? .............................................................. 149

GRÁFICO 24 – Categoria 3: Seus responsáveis já compareceram em algum evento da sua

escola atual? ............................................................................................................................ 151

GRÁFICO 25 – Categoria 3: Seus responsáveis foram bem recebidos na escola? ................ 152

GRÁFICO 26 – Categoria 3: Reforço/intervenção da escola................................................. 154

GRÁFICO 27 – Categoria 3: Já aconteceu alguma coisa boa com você na sua escola atual?

................................................................................................................................................ 156

GRÁFICO 28 – Categoria 3: Já aconteceu alguma coisa ruim com você na sua escola atual?

................................................................................................................................................ 158

GRÁFICO 29 – Categoria 3: Já tiveram atividades na sua escola atual sobre a cidade e o

bairro Zilah Spósito? .............................................................................................................. 159

GRÁFICO 30 – Categoria 3: Já teve algum conteúdo ou atividade sobre a Ocupação Rosa

Leão? ...................................................................................................................................... 160

GRÁFICO 31 - Categoria 3: Alguém na escola já te criticou ou criticou algum colega seu por

morar na Ocupação? ............................................................................................................... 163

GRÁFICO 32 - Categoria 3: Você ou algum colega seu já foi desrespeitado na escola por

morar na Ocupação? ............................................................................................................... 163

GRÁFICO 33 - Categoria 3: Você está indo bem na escola? ................................................ 165

GRÁFICO 34 - Categoria 3: Você está aprendendo na sua escola? ...................................... 166

GRÁFICO 35 - Dados sobre a moradia no Brasil .................................................................. 177

GRÁFICO 36 – Moradias inadequadas no Brasil .................................................................. 177

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Categorias e Unidades de Análise das Entrevistas com Coordenadoras da

Ocupação Rosa Leão ................................................................................................................ 62

QUADRO 2 - Categorias e Unidades de Análise das Entrevistas com Professores da E.M.

Prof. Daniel Alvarenga ............................................................................................................. 87

QUADRO 3 - Categorias e unidades de análise dos questionários e entrevistas aplicadas com

os moradores da Ocupação Rosa Leão estudantes da E.M. Prof. Daniel Alvarenga ............. 120

QUADRO 4 - Cortiço ............................................................................................................. 173

QUADRO 5 – Favela ............................................................................................................. 173

QUADRO 6 - A terra como mercadoria e especulação imobiliária: a raiz do problema da

moradia ................................................................................................................................... 174

QUADRO 7 - Dados sobre a moradia no Brasil .................................................................... 176

QUADRO 8 - Ocupação ......................................................................................................... 178

QUADRO 9 - O que é direito e dever do Estado, dos proprietários e de todos os brasileiros

................................................................................................................................................ 179

QUADRO 10 - O crescimento das ocupações urbanas .......................................................... 180

QUADRO 11 - Invasão x Ocupação ...................................................................................... 180

QUADRO 12 - Mulheres: Você sabe quem foi? .................................................................... 182

QUADRO 13 - Alguns dados da Ocupação Rosa Leão ......................................................... 187

QUADRO 14 - Quem foi Zilah Spósito e Daniel Alvarenga? ............................................... 193

QUADRO 15 - Resultados da pesquisa .................................................................................. 196

QUADRO 16 - Mais diversidade, inclusão e respeito nas escolas ......................................... 197

QUADRO 17 - Para saber mais: direito à educação .............................................................. 198

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEIS Área Especial de Interesse Social

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

BP Brigadas Populares

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

CIEP Centro Integrado de Educação Pública

CMBT Conselho de Moradores de Brasília Teimosa

CONEP Conselho Nacional de Ética em Pesquisa

COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

CPT Comissão Pastoral da Terra

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

EJA Educação de Jovens e Adultos

FJP Fundação João Pinheiro

FMI Fundo Monetário Internacional

IAB Instituto de Arquitetos do Brasil

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MLB Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas

MLNM Movimento de Luta Nacional por Moradia

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

ONU Organização das Nações Unidas

PBH Prefeitura de Belo Horizonte

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPP Projeto Político Pedagógico

PUC-MG Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TJMG Tribunal de Justiça de Minas Gerais

UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

UMEI Unidade Municipal de Educação Infantil

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

URBEL Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte

ZOCA Zona Ocupada de Cultura e Arte

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 18

1 MORADIA E EDUCAÇÃO PARA OS MORADORES DE OCUPAÇÕES URBANAS .. 20

1.1 Introdução ...................................................................................................................... 21

1.2 Metodologia ................................................................................................................... 22

1.3 As origens do problema de moradia .............................................................................. 22

1.4 Moradias inadequadas no Brasil: dos cortiços às favelas .............................................. 23

1.5 Ocupações urbanas no Brasil: de Brasília Teimosa às ocupações da Região

Metropolitana de Belo Horizonte ........................................................................................ 26

1.6 Do direito de todos à educação à realidade excludente ................................................. 30

1.7 A sociedade brasileira à luz de Paulo Freire: os opressores e os oprimidos .................. 34

1.8 O processo educativo em Paulo Freire: educação humanizadora .................................. 36

1.9 Educação, ocupação urbana e desenvolvimento local ................................................... 38

Considerações finais ............................................................................................................ 43

Referências ........................................................................................................................... 43

2 ANÁLISE DOCUMENTAL E APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DAS

ENTREVISTAS COM AS COORDENADORAS DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO ............. 47

2.1 Apresentação e discussão dos dados dos documentos da escola pesquisada ................ 47

2.1.1 Acesso e permanência na escola pesquisada...............................................................50

2.1.2 Processo educativo na escola pesquisada ................................................................... 56

2.2 Apresentação e discussão dos dados das entrevistas com Coordenadoras da Ocupação

Rosa Leão ............................................................................................................................ 60

2.2.1 Categoria 1 – Acesso à escola ..................................................................................... 63

2.2.2 Categoria 2 – Permanência na escola ......................................................................... 65

2.2.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola ............................................................... 74

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DAS ENTREVISTAS COM OS

PROFESSORES DA ESCOLA PESQUISADA ...................................................................... 86

3.1 Categoria 1 – Acesso à escola ........................................................................................ 88

3.2 Categoria 2 – Permanência na escola............................................................................. 92

3.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola .................................................................. 98

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DOS QUESTIONÁRIOS E

ENTREVISTAS COM OS MORADORES DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO ESTUDANTES

DA ESCOLA PESQUISADA ................................................................................................ 119

4.1 Categoria 1 – Acesso à escola ...................................................................................... 121

4.2 Categoria 2 – Permanência na escola........................................................................... 130

4.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola ................................................................ 141

5 A ROSA LEÃO É LOGO ALI, A ROSA LEÃO É BEM AQUI ....................................... 169

5.1 A QUESTÃO DA MORADIA URBANA .................................................................. 171

5.1.1 História e presente .................................................................................................... 171

5.1.2 O fenômeno das ocupações urbanas ......................................................................... 177

5.2 OCUPAÇÃO ROSA LEÃO ........................................................................................ 181

5.2.1 Início ......................................................................................................................... 181

5.2.2 Trajetória ................................................................................................................... 183

5.2.3 Momento atual .......................................................................................................... 188

5.3 O TERRITÓRIO LOCAL ........................................................................................... 189

5.3.1 Aproximações entre Regional, Bairro, Escola e Ocupação ...................................... 189

5.3.2 Mapeamento da região .............................................................................................. 193

5.4 EDUCAÇÃO ............................................................................................................... 195

5.4.1 Direito à educação.....................................................................................................195

5.4.2 Proposta de temas e atividades ................................................................................. 199

Referências ......................................................................................................................... 201

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 204

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 206

APÊNDICES .......................................................................................................................... 211

ANEXO ..................................................................................................................................250

18

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem como tema o acesso, a permanência e o processo educativo de

crianças e adolescentes de ocupações urbanas à educação formal.

O problema desta investigação deriva-se da observação e experiência do

desconhecimento e resistência de diferentes setores da sociedade para com a ocupação urbana

e a sua população, as suas necessidades, dia a dia, e reivindicações por direito à moradia e à

educação.

O que repercute, segundo bibliografia levantada, na obstacularização e/ou oferta

desigual de condições de acesso e permanência na escola, exemplificados em diferentes

práticas de desrespeito dos sujeitos escolares para com os estudantes moradores, e a não

inclusão da ocupação urbana nos processos escolares.

Diante disso, esta pesquisa objetivou analisar como ocorre o acesso, a permanência e o

processo educativo das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa Leão em Belo Horizonte,

Minas Gerais, à educação formal, tendo em vista o desenvolvimento de intervenção na área de

educação potencializadora do desenvolvimento local. Tendo como objetivos específicos,

conhecer a história e a situação presente das ocupações urbanas, bem como suas

reivindicações por moradia e educação; identificar os obstáculos e as possibilidades de acesso,

permanência e processo educativo dos moradores da Ocupação Rosa Leão à educação formal

e a criação de um produto técnico para contribuir com a intervenção na educação e

desenvolvimento do local.

Os objetivos específicos da pesquisa foram: conhecer a história e a situação presente

das ocupações urbanas, bem como suas reivindicações por moradia e educação; identificar os

obstáculos e as possibilidades de acesso, permanência e processo educativo dos moradores da

Ocupação Rosa Leão à educação formal, e a criação de um produto técnico para contribuir

com a intervenção na educação e desenvolvimento do local.

Sendo assim, a questão central que orientou esta pesquisa foi: como se dá o acesso, a

permanência e o processo educativo de crianças e adolescentes da Ocupação Rosa Leão à

educação formal?

Para tanto, a metodologia desta pesquisa estruturou-se em uma abordagem

qualiquantitativa, exploratório-descritiva, pois pretendeu analisar e descrever, de forma

abrangente, o objeto deste estudo (OLIVEIRA, 2016).

19

Os cenários da pesquisa foram a Ocupação Rosa Leão e a Escola Municipal Professor

Daniel Alvarenga, e os sujeitos da pesquisa foram as Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão,

bem como os estudantes moradores da ocupação que estudam nos anos finais do Ensino

Fundamental e seus professores.

A escolha pela investigação da Ocupação Rosa Leão deve-se à articulação acadêmica

e social que as professoras do mestrado estabeleceram com esta ocupação; e a escolha pela

escola, além da vizinhança com este território, deve-se à possibilidade em quantificar os

estudantes moradores da Ocupação que estudam lá.

Além da pesquisa bibliográfica e documental, esta pesquisa entrevistou 4 de 14

Coordenadoras da Ocupação, 4 de 15 professores, entrevistou 21 estudantes moradores e

aplicou questionário a 35 estudantes moradores, de um total de 61 estudantes moradores da

Ocupação Rosa Leão que se encontram nos anos finais do Ensino Fundamental na escola

cenário desta pesquisa.

A organização, categorização e análise dos dados coletados a partir destes

instrumentos basearam-se no questionamento sobre o acesso, a permanência e o processo

educativo dos estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão à educação formal.

Esta pesquisa se mostra relevante devido à condição incipiente de investigação

acadêmica sobre a educação escolar de moradores de ocupações urbanas, e as possibilidades

de desenvolvimento de uma compreensão e prática de educação e desenvolvimento local

popular e contra-hegemônico nos territórios de ocupação urbana e na sociedade em geral.

A dissertação encontra-se organizada em cinco capítulos. O primeiro é um artigo de

revisão teórica sobre ocupação urbana, educação e desenvolvimento local. O segundo,

terceiro e quarto capítulos apresentam e analisam os dados coletados por esta pesquisa. E o

quinto, e último, contém o conteúdo do produto técnico (livro didático) derivado dos

resultados e contribuições desta pesquisa para a educação e o desenvolvimento local da

Ocupação Rosa Leão e seu entorno.

Ressalta-se que, tendo em vista o que normatiza o Regulamento do Mestrado

Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário

Una sobre o modelo da dissertação, especificamente a obrigatoriedade de que um dos

capítulos seja apresentado em formato de artigo, o capítulo 1 encontra-se neste formato.

20

1 MORADIA E EDUCAÇÃO PARA OS MORADORES DE OCUPAÇÕES

URBANAS

CAMPOLINA, Pedro Henrique Andrade1

QUARESMA, Adilene Gonçalves2

RESUMO

O presente artigo é resultado da pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, intitulada

“Acesso, permanência e processo educativo de crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão à educação formal”. A pesquisa teve como objetivo geral analisar como ocorre o acesso,

a permanência e o processo educativo de crianças e adolescentes da Ocupação Rosa Leão à

educação formal, tendo em vista a intervenção na área de educação potencializadora do

desenvolvimento local. Os seus objetivos específicos foram: compreender a história e a

situação presente das ocupações urbanas, bem como suas reivindicações por educação;

verificar os obstáculos e as possibilidades de acesso, permanência e processo educativo dos

moradores da Ocupação Rosa Leão à educação formal; e a realização de um produto técnico

para contribuir com a intervenção na educação e no desenvolvimento do local. Neste artigo

contextualiza-se a questão da moradia e educação da classe trabalhadora brasileira,

especialmente, a população residente em ocupações urbanas, bem como analisam-se as teorias

de desenvolvimento e educação que se apresentaram e se apresentam para este território,

população e toda a sociedade. Para tanto, a metodologia deste trabalho consistiu em uma

revisão de literatura sobre o tema, consultada em livros, artigos, dissertações e outras

produções científicas. O resultado encontrado foi que os projetos hegemônicos de

desenvolvimento, habitação e educação executados ao longo da história e ainda no presente

não atenderam e nem atendem os moradores de ocupações urbanas e a classe trabalhadora

brasileira, e sim, a classe dominante. Considera-se, portanto, a necessidade de reflexão,

construção e aplicação de teorias, projetos e práticas populares e contra-hegemônicas de

educação e desenvolvimento local para as ocupações urbanas e os seus moradores, e a

sociedade brasileira no geral.

Palavras-chave: Educação. Ocupação urbana. Desenvolvimento local.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro

Universitário Una e Professor de História na Educação Básica. 2 Professora Dr.ª do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no

Centro Universitário Una.

21

ABSTRACT

1 HOUSING AND EDUCATION FOR URBAN INHABITANTS

This article is the result of the research developed in the Graduate Program in Social

Management, Education and Local Development of the University Center Una, entitled

"Access, permanence and educational process of children and adolescents of the Rosa Leão

Occupation to formal education". The research had as general objective to analyze how the

access, permanence and educational process of children and adolescents of the Rosa Leão

Occupation to the formal education takes place, considering the intervention in the area of

education potentiating the local development. The specific objectives were: to understand the

history and present situation of urban occupations, as well as education; to verify the obstacles

and the possibilities of access, permanence and educational process of the inhabitants of the

Occupation Rosa Leão to the formal education; and the realization of a technical product to

assist with intervention in the education and development of the place. In this article, the

question of the housing and education of the Brazilian working class, especially the

population residing in urban occupations, as well as the development and education theories

that have presented themselves and are presented for this territory, population and society as a

whole. Therefore, the methodology of this work consisted in a literature review on the subject,

consulted in books, articles, dissertations and other scientific productions. The result found

was that the hegemonic development projects, housing and education executed throughout

history and still in the present did not and do not meet and serve urban dwellers and the

Brazilian working class, but rather dominant system. It is considered, therefore, the need for

reflection, construction and application of popular and counter-hegemonic theories, projects

and practices of local education and development for urban occupations and their residents,

and Brazilian society in general.

Keywords: Education. Urban Occupation. Local Development.

1.1 Introdução

Em nosso Estado de Direito, regido sob a Constituição Federal de 1988, que tem entre

os seus princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana, morar e estudar com

dignidade são direitos fundamentais de todo brasileiro e deveres do Estado, regulamentados

de forma específica na Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da

Cidade, e Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDBEN).

Contudo, existe um distanciamento entre esses direitos previstos em lei e o que é

acessado ou não com dignidade pela população. Para exemplificar, o Brasil apresenta 15,297

milhões de moradias inadequadas (FJP, 2016), e no que tange à educação, 3.025.868 de

crianças e adolescentes, de quatro a dezessete anos, fora da escola (INEP, 2016).

O Estado Brasileiro, que deveria garantir estes direitos a todos, apresenta dificuldades

para fazê-lo. Exemplo disso são as populações residentes em ocupações urbanas no Brasil.

22

Estas estão vulneráveis mediante aos riscos de despejo e remoção, e devido aos equipamentos

e serviços públicos aos quais são negligenciados ou acessam de forma precária, como escola,

posto de saúde e saneamento básico (NASCIMENTO; LIBÂNIO, 2016; PROGRAMA

CIDADE E ALTERIDADE: CONVIVÊNCIA MULTICULTURAL E JUSTIÇA URBANA,

2015).

Com relação especificamente à educação das crianças e adolescentes moradoras de

ocupações urbanas, o que algumas pesquisas acadêmicas registram3 é que o direito à educação

tem sido negligenciado, dificultado ou precarizado aos moradores devido à falta de escolas,

vagas, comprovante de endereço, transporte escolar, preconceito, etc.

1.2 Metodologia

A fim de conhecer e subsidiar futuras pesquisas sobre a educação e o desenvolvimento

das ocupações urbanas e dos seus moradores, especialmente o acesso, a permanência e o

processo educativo na escola, este trabalho consultou nas bibliotecas acadêmicas IBICT,

CAPES e SciELO, teses, dissertações e artigos que tratam do tema, além de livros e pesquisas

de autores, instituições e programas referências no assunto.

O desenvolvimento deste artigo de revisão de literatura está apresentado da seguinte

forma: abordagem do problema da moradia urbana no Brasil, desde os cortiços até as atuais

ocupações urbanas. Ocupação Urbana e Educação, quando a sociedade e educação brasileira

são abordadas do ponto de vista do direito e do pensamento do educador Paulo Freire; e

Educação, Ocupação Urbana e Desenvolvimento Local, em que se questiona quais

concepções de educação e desenvolvimento local podem ser pensadas para a educação e o

desenvolvimento das ocupações.

1.3 As origens do problema de moradia

O crescimento exponencial das cidades e de sua população tem a sua origem na

Revolução Industrial emergente em fins do século XVIII na Inglaterra. Naquele país, e nos

3 BIZZOTTO, 2015; FREITAS, 2015; PINTO, 2016; PROGRAMA CIDADE E ALTERIDADE:

CONVIVÊNCIA MULTICULTURAL E JUSTIÇA URBANA, 2015; ROCHA, 2010; RUIZ, 2013.

23

demais continentes nos séculos seguintes, a industrialização desencadeou o histórico

problema de escassez e precariedade de moradias em cidades de todo o mundo.

Ainda que, nem sempre, os processos de urbanização tenham se originado

exclusivamente da expansão da atividade industrial, é sem dúvida, a partir da

implantação de indústrias nas cidades que se iniciam os problemas, crises ou

escassez de moradias para os setores populares (BRANDÃO, 2001, p. 37).

Inclusive, logo após a Revolução Industrial, primeiramente na Inglaterra e Europa, a

busca de soluções para as questões urbanas e sociais derivadas deste processo foram pensadas

pela Ciência, Estado e elite burguesa industrial. Para os problemas de aglomeração de

pessoas, precariedade ou escassez de moradias, que começavam a gerar comportamentos

contrários à necessária reprodução da força de trabalho, desenvolveu-se o discurso higienista,

mais tarde propagado no Brasil (BRANDÃO, 2001; CHALHOUB, 1996).

O discurso ideológico higienista previa a limpeza e ordenação do centro das cidades e

a consequente construção e vivência dos trabalhadores em outros espaços de moradia, como

as vilas operárias, ou então a mera expulsão destes para as periferias da urbe (BRANDÃO,

2001; CHALHOUB, 1996).

Passadas as primeiras eras da Revolução Industrial, o problema da precariedade e

escassez de moradia agravou-se, sobretudo, segundo Davis (2006), nos países do terceiro

mundo. Populações de diferentes continentes e culturas têm encontrado variadas formas de

ocupação do território para atenuar a ausência de moradia. Exemplos são os Chawls, de

Mumbai, onde num cômodo de cerca de 15m² aglomeram-se, às vezes, mais de dez pessoas, e

Soweto, na África, em que nas casas cedidas pelo governo aos operários são construídos

barracos para famílias mais jovens, solteiros ou imigrantes rurais (DAVIS, 2006).

1.4 Moradias inadequadas4 no Brasil: dos cortiços às favelas

No Brasil, o crescimento industrial e urbano iniciou-se na segunda metade do século

XIX, no Segundo Reinado. O lucro da economia do café em cidades como São Paulo e Rio de

Janeiro possibilitou aos barões ─ fazendeiros produtores de café ─ o reinvestimento do capital

4 A ONU entende por moradia adequada àquela que atende os critérios de segurança da posse; disponibilidade de

serviços, materiais, instalações e infraestrutura; economicidade; habitabilidade; acessibilidade; localização e

adequação cultural (BRASIL, 2013).

24

em construção de ferrovias, bancos e diferentes indústrias nos municípios em que fixaram

residência.

O telégrafo e as ferrovias facilitaram o controle à distância da vida administrativa nas

fazendas, e o desejo de viver nas cidades, de industrializá-la, modernizá-la e experimentá-la

sob os moldes europeus, ampliaram a atenção da elite agrária para o setor urbano

(BRANDÃO, 2001; CHALHOUB, 1996; LIMA, 2009).

Esta urbanização, com suas especificidades regionais, ocorreu também em outras

capitais brasileiras dentro do cenário de desenvolvimento do capitalismo industrial e

financeiro, e do projeto da Monarquia e posteriormente da República de europeização do país

(BRANDÃO, 2001; CHALHOUB, 1996; LIMA, 2009). Nesse sentido, segundo Lima (2009):

Desde o século XIX a elite brasileira vinha debatendo a respeito da modernização

urbana que estava sendo aplicada à Europa e a necessidade de inserir o Brasil na

esteira do progresso mundial. [...] Com a instauração da República, a discussão de

que era preciso mudar o espaço público, o modo de vida e a mentalidade do Brasil

acentuou-se. A partir daí, foram aplicadas ações modernizadoras no Rio de Janeiro

que serviram de parâmetro para o restante do Brasil (LIMA, 2009, p. 17).

Para além dos barões do café, os demais empresários e políticos instalaram suas

moradias e empreendimentos no centro das cidades e direcionaram o seu planejamento

urbano. E os libertos, imigrantes europeus e migrantes do campo cresceram numericamente e

viram as suas possibilidades de moradia reduzidas a espaços e condições precários.

Em tal contexto, os cortiços surgiram com a aprovação dos governos, como no caso do

Rio de Janeiro, mas rapidamente cresceram e assustaram as autoridades a ponto de serem

proibidos décadas depois, tornando-se uma das principais preocupações na gestão da cidade

(BRANDÃO, 2001).

Os cortiços supostamente geravam e nutriam “o veneno” causador do vômito preto

(febre amarela). Era preciso, dizia-se, intervir radicalmente na cidade para eliminar

tais habitações coletivas e afastar do centro da capital as “classes perigosas” que nele

residiam. Classes duplamente perigosas, porque propagavam a doença e desafiavam

as políticas de controle social no meio urbano (CHALHOUB, 1996, p. 8, grifo

nosso).

Os cortiços existentes até hoje5, originaram-se de antigas e grandes residências de

fazendeiros e comerciantes que as dividiram em cômodos e as alugaram para moradia de

5 A Pesquisa sobre deficit habitacional e inadequação de moradias da FJP (2016), define cortiço no componente

adensamentos excessivos em domicílios e subcomponente cômodos.

25

centenas ou milhares de pessoas, ou então foram construídos especialmente para esse fim

(BRANDÃO, 2001).

Mais tarde, através do projeto higienista que objetivava o progresso positivista, e

iniciava a especulação da cidade, os moradores dos cortiços foram literalmente expulsos dos

seus locais de moradia e acabaram por deslocar-se, sem políticas de habitação, para os morros

e áreas mais distantes das cidades.

Foi o caso da demolição polêmica do Cortiço Cabeça de Porco, na noite do dia 16 de

janeiro de 1893, um dos maiores e mais conhecidos cortiços do Rio de Janeiro. Dele originou-

se a primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, localizada atrás do cortiço onde os

seus ex-moradores se instalaram. Posteriormente, por volta de 1897, os soldados da Guerra de

Canudos, que reivindicavam soldo e moradia prometidos em troca da vitória na referida

guerra, também mudaram para o morro e o rebatizaram de favela.

A destruição do Cabeça de Porco marcou o início do fim de uma era, pois

dramatizou, como nenhum outro evento, o processo em andamento de erradicação

dos cortiços cariocas. [...] Com efeito, trata-se de algo inesquecível: nem bem se

anunciava o fim da era dos cortiços e a cidade do Rio já entrava no século das

favelas (CHALHOUB, 1996, p. 17).

Nos anos e décadas seguintes, o Rio de Janeiro e outras cidades do Brasil vivenciaram,

em peso, a expulsão da população dos cortiços do centro da cidade, e a recepção de mais

imigrantes europeus e migrantes brasileiros. Com isso, muitos outros morros passaram a ser

ocupados e denominados, como o da Providência, de favela.

Décadas depois, o próprio Morro da Providência e demais favelas do Rio de Janeiro

tornaram-se, assim como os cortiços de antes, espaços identificados como centros de

violência, insalubridade e imoralidade. Espaços e casas impróprias que deveriam ser

destruídos e a sua população remanejada para outros locais.

Nos tempos de Getúlio Vargas e da Ditadura Civil-Militar, as diferentes esferas

governamentais tentaram, no Rio de Janeiro e em outras capitais do Brasil, a remoção das

favelas e a destinação da sua população para vilas operárias, conjuntos habitacionais, ou então

a construção e aquisição da casa própria em áreas desvalorizadas e ainda mais distantes dos

centros das cidades (BRANDÃO, 2001).

Desde a Primeira República, passando pela Era Vargas, Ditadura Civil-Militar,

Redemocratização até os dias de hoje, o direito à moradia adequada e à cidade têm sido

tratados como casos de invasões, de polícia e de programas habitacionais desarticulados com

as demandas da população mais necessitada (BRANDÃO, 2001). Provas disso são o crescente

26

deficit habitacional do Brasil em 6,068 milhões de moradias e da existência de 15,297

milhões de moradias inadequadas (FJP, 2016), além das ocupações urbanas que se

desenvolvem em todo país (NASCIMENTO, 2016; NASCIMENTO, LIBÂNIO, 2016).

1.5 Ocupações urbanas no Brasil: de Brasília Teimosa às ocupações da Região

Metropolitana de Belo Horizonte

Nos estudos sobre as ocupações dos espaços vazios ou subutilizados das cidades para

fins de moradia existe a utilização e diferenciação entre os termos ocupação espontânea e

ocupação planejada. E um aspecto não definido na literatura do tema é a de descrição da

primeira ocupação urbana no Brasil. Essa imprecisão se deve aos diferentes tipos de

aglomerados subnormais classificados no país (cortiços, favelas, loteamentos, acampamentos

e ocupações), que podem gerar confusões e usos diferenciados pelos estudiosos, moradores,

sociedade e governo, e também pela conceituação recente das ocupações urbanas.

Uma das conceituações de ocupações urbanas encontradas e adotadas para este

trabalho advém do Relatório pelo direito fundamental à moradia adequada: estudo do caso de

ocupações urbanas em Belo Horizonte e região metropolitana (2015). Nele, entende-se por

ocupações urbanas:

Espaços da cidade antes inutilizados, subutilizados ou não edificados, onde se

exerceu posse planejada, pacífica e informal e se constituíram como identidades

territorializadas, a partir da mobilização pelo acesso à terra urbana e ao exercício dos

direitos à moradia e à cidade (PROGRAMA..., 2015, p. 5).

Contudo, apesar da definição desse relatório não afirmar as ocupações inicialmente

espontâneas como ocupações urbanas, as compreendemos dentro deste conceito, pois o que se

percebe no Brasil e na RMBH é a colaboração de diferentes movimentos sociais no

planejamento urbano do espaço ocupado logo depois dos primeiros momentos de ocupação.

Fator observado em uma das primeiras ocupações urbanas do Brasil, a Brasília Teimosa

(SANTOS, 2011).

Brasília Teimosa compreende uma região da zona sul do Recife ocupada por

pescadores desde 1947, segundo Santos (2011). De fato, de acordo com o levantamento

bibliográfico desta pesquisa, pode-se considerar que a atuação desses pescadores recifenses é

um marco histórico no processo de ocupação urbana e luta por moradia que ocorre no Brasil

na segunda metade do século XX.

27

A ocupação tem esse nome devido à simbólica ação de cinco pescadores locais que

remaram até a capital do Brasil, Rio de Janeiro, para a posse de Juscelino Kubitscheck, com o

intuito de divulgar e ter o reconhecimento do novo presidente sobre a necessidade dos

pescadores em continuar a viver no local e ter regulamentada a posse daquela terra.

Assim, entre paus e pedras, prisões e violências, nascia Brasília Teimosa, com seu

nome fazendo alusão à Brasília, nova capital do Brasil, que estava sendo projetada

no governo de Juscelino Kubitschek, e contrastando com a área que os moradores

viviam em iminente ameaça de expulsão e marcada por conflitos com a Polícia

Militar. [...] Segundo Melo (1986, p. 34), o adjetivo vem da teimosia com que os

moradores, considerados invasores, insistiam em permanecer no local, reconstruindo

seus casebres após cada destruição, numa demonstração de resistência, união e luta

das famílias (SANTOS, 2011, p. 17-18).

Foi Brasília Teimosa o primórdio do desenvolvimento de grupos e entidades de apoio

à luta por moradia, regularização e planejamento urbano das ocupações. A Igreja Católica, no

caso de Brasília Teimosa, na Ordem dos Obreiros de Imaculada, o Instituto dos Arquitetos do

Brasil (IAB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foram as instituições que apoiaram a

organização e a luta dos pescadores. São esses mesmos grupos e entidades, junto aos novos

movimentos sociais urbanos, que nas décadas seguintes e até os dias de hoje continuam a

apoiar centenas de ocupações urbanas pelo Brasil.

De acordo com Coelho (2001, p. 44), em 1963, chegou à comunidade o primeiro

pároco da Igreja Católica, Padre James Kohmetscher, O.M.I., mais conhecido como

Padre Jaime, que se comprometeu com a luta por melhores condições de vida e

incentivou a formação de diversos grupos, tais como Vicentinos e Mães de Jovens.

Em 1966, o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, iniciou uma série

de palestras para incentivar os moradores a se unirem para reivindicar os seus

direitos perante o Estado, dando início ao movimento comunitário (SANTOS, 2011,

p. 18).

A participação dessas entidades em Brasília Teimosa, principalmente da Igreja

Católica, incentivaram os moradores na organização da luta e na formação de um Conselho

dos Moradores. Por isso, o Conselho dos Moradores de Brasília Teimosa (CMBT) foi criado

em 1966 e existe até hoje. Este Conselho, com o apoio de entidades e técnicos especializados,

recusou o projeto de urbanização desenvolvido pela Prefeitura de Recife e, desafiado por esta,

iniciou no ano de 1979 um projeto próprio de urbanização, o Projeto Teimosinho (SANTOS,

2011).

O Projeto Teimosinho foi o primeiro projeto de urbanização criado, reconhecido e

implantado no Brasil pelos próprios reivindicantes da terra e entidades de apoio. A

implantação do projeto resultou na formalização da ocupação como um bairro, e no seu

28

reconhecimento como Brasília Formosa, hoje muito valorizado por imobiliárias e outros

empreendimentos comerciais e especulativos (SANTOS, 2011).

Depois do início da luta de Brasília Teimosa, iniciada em 1947, e seu desfecho

positivo, com a criação de um bairro, décadas depois, muitas outras ocupações urbanas foram

formadas nas diferentes capitais e regiões metropolitanas do Brasil, desde os anos 50 até os

dias de hoje. Ocupações construídas e habitadas por famílias de baixa renda, que sem

condições de arcar com o alto valor da terra e do aluguel, e cada vez menos assistidas pela

política habitacional, encontram nas ocupações urbanas uma opção cada vez mais comum de

moradia e luta por direitos (NASCIMENTO, 2016; NASCIMENTO, LIBÂNIO, 2016,

PROGRAMA..., 2015).

Em Belo Horizonte e RMBH, por exemplo, o desenvolvimento de ocupações urbanas

tem sido uma constante desde 2008, quando a cada ano surgiu uma ou mais de uma ocupação.

De 2012 a 2014 ainda houve a intensificação deste fenômeno: em 2012 surgiram quatro

ocupações, em 2013 surgiram cinco e, em 2014, sete ocupações (NASCIMENTO, LIBÂNIO,

2016).

Na RMBH, as ocupações urbanas têm se caracterizado pelo apoio dos movimentos

sociais urbanos, alguns específicos de luta pela moradia. Das vinte e quatro ocupações

levantadas por Nascimento e Libânio (2016), vinte e três têm o apoio de algum movimento

social. Os principais movimentos sociais presentes nas ocupações da RMBH têm sido o

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Brigadas Populares (BP) e Comissão

Pastoral da Terra (CPT). Todas as três apoiadoras da ocupação cenário de estudo destes

autores, a Ocupação Rosa Leão.

Estas ocupações e movimentos sociais, de acordo com o Programa...(2015) têm

levantado a discussão para o Estado e a sociedade, e reivindicado ao primeiro o direito à

moradia e à cidade, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988 e regulamenta o

Estatuto da Cidade, que entre outras medidas e instrumentos, prevê a regularização e

urbanização de áreas ocupadas:

Art. 2o A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e da propriedade urbana mediante as seguintes diretrizes

gerais: [...] XIV - regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por

população de baixa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de

urbanização, uso e ocupação do solo e edificação, consideradas a situação

socioeconômica da população e as normas ambientais (BRASIL, 2001, p. 19).

29

Em passeatas, audiências, mesas de negociação e publicação de materiais sobre as

ocupações urbanas, os moradores e movimentos sociais de apoio também têm manifestado

contra a situação de negligência e precariedade no acesso aos serviços e equipamentos

públicos, que deve ser oferecido com dignidade pelo Estado. É o que denuncia, por exemplo,

uma das mais antigas, numerosas e conhecidas ocupações urbanas de Belo Horizonte, a

Ocupação Dandara:

FIGURA 1 - Trecho de Cartilha elaborada por pesquisadores e moradores da Ocupação Dandara, em

Belo Horizonte/MG.

FONTE: DIAS et al., 2015, p. 25

A Ocupação Rosa Leão também se enquadra neste contexto de luta por moradia digna

e acesso à cidade. Esta ocupação urbana, em conjunto com as ocupações Vitória e Esperança,

formadas entre maio e julho de 2013, integra a Ocupação Izidora, localizada entre a região

norte de Belo Horizonte e o município de Santa Luzia.

Somadas, as três ocupações reúnem mais de oito mil famílias, e trinta mil pessoas,

sendo que a Rosa Leão, com área de 205.127 m², localiza-se próxima ao bairro Zilah Spósito

e contempla mil e quinhentas famílias, cerca de quatro a cinco mil pessoas (NASCIMENTO,

LIBÂNIO, 2016).

Apesar do tempo de ocupação e grande número de moradores, o acesso aos serviços

básicos na Rosa Leão e demais Ocupações da Izidora, como água, luz e esgoto, direito de todo

cidadão, independentemente da condição urbana e fundiária do território em que se vive,

30

passados cinco anos, ainda só acontece por causa das redes autoconstruídas pelos moradores

(NASCIMENTO, LIBÂNIO, 2016).

Quanto à educação das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa Leão e das demais

Ocupações da Izidora, os moradores relataram algumas dificuldades que outras ocupações

urbanas enfrentaram ou têm enfrentado, como as de fazer matrícula por falta de comprovante

de endereço e negligência; infrequência por impeditivos de ir e vir, por exemplo, em dias de

ameaça de despejo ou conflito; e preconceito e bullying sofridos dentro das escolas

(BIZZOTTO, 2015; BRASIL 247, 2018; FREITAS, 2015).

Tais relatos e práticas encontram-se na contramão do que está presente nas

Declarações e Convenções Internacionais de Direitos Humanos, e em nossa Constituição

Federal de 1988, que reconhece a educação como o primeiro dos direitos sociais dos

brasileiros (CURY, 2014), e estabelece, entre os seus princípios e garantias, a obrigatoriedade

da educação e a igualdade de condições de acesso e permanência à escola (BRASIL, 1988).

Portanto, a fim de aprofundar sobre esta avaliação e de colaborar com novos estudos e

intervenções na educação das crianças e adolescentes do país, especificamente daquelas que

residem em ocupações urbanas, este artigo de revisão provoca uma reflexão e investigação:

como tem sido o acesso, a permanência e o processo educativo de crianças e adolescentes de

ocupações urbanas à educação formal?

1.6 Do direito de todos à educação à realidade excludente

Amartya Sen (2010), teórico do desenvolvimento, cocriador do Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), considera a liberdade como meio e fim do

desenvolvimento.

A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como principal fim e o

principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação de

privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de

exercerem ponderadamente sua condição de agente (SEN, 2010, p. 10).

Uma liberdade substantiva e instrumental que o autor destaca, para alcançar o

desenvolvimento, é a educação. A educação integra a capacidade elementar e o conjunto

capacitatório que as pessoas deveriam ter acesso para que pudessem ter a vida a qual teriam

razão para valorizar, para melhorar as escolhas reais que elas poderiam ter.

Para Sen (2010), a educação como uma das liberdades substantivas capacita

elementarmente as pessoas para que elas vençam as privações de liberdade, como a fome, a

31

subnutrição e a morte prematura. E como liberdade instrumental, situada na liberdade

denominada de oportunidades sociais, a educação fortalece outras liberdades instrumentais,

como as liberdades políticas e oportunidades econômicas, contribuindo dessa forma para o

objetivo do desenvolvimento, que é a expansão das liberdades.

Em sua obra, Desenvolvimento como liberdade (2010), Sen analisa e compara as

trajetórias e as políticas dos países através das liberdades substantivas e instrumentais que

estes promoveram ou negligenciaram a sua população. Em parte da obra, Sen (2010) reserva

atenção para situar e comparar a qualidade de vida e o desenvolvimento dos países pela

liberdade instrumental “oportunidades sociais”, especialmente a educação.

A criação de oportunidades sociais contribui diretamente para a expansão das

capacidades humanas e da qualidade de vida. Há evidências até de que, mesmo com

renda relativamente baixa, um país que garante serviços de saúde e educação a todos

pode efetivamente obter resultados notáveis da duração e qualidade de vida de toda a

população (SEN, 2010, p.191).

Problematização desfavorável ao Brasil, porque segundo Sen (2010), assim como

Índia e Paquistão, na história do nosso país não houve investimento estratégico na educação e

em outras oportunidades sociais, diferentemente do Japão, Coreia do Sul e Taiwan, que em

momentos diferentes de suas trajetórias, apostaram na educação e em outras oportunidades

sociais para alavancarem o seu desenvolvimento.

E, de fato, a história do Brasil, analisada por suas Constituições, por exemplo, é

marcada pelo não reconhecimento ou inaplicabilidade da oferta da educação para todos os

brasileiros. De 1824 até 1988 foram outorgadas ou promulgadas constituições que ora

previam, não previam ou transferiam para as demais esferas administrativas ou até mesmo

para os indivíduos e famílias, a obrigatoriedade, gratuidade, previsão de recursos, planos, leis

e conselhos específicos para a educação (CURY, 1997, 2014).

Durante muitos séculos, nossa elite dirigente impediu ou não moveu esforços na

direção de garantir aos pobres o acesso à educação, sob a mentalidade de que, como estes

eram apenas força de trabalho, bastava a doutrinação e a catequese (CURY, 2014).

Somente com a modificação do mundo do trabalho no século XX, a escolarização

mínima passou a ser uma necessidade para os patrões e elite brasileira. Mas estes, em geral,

não objetivaram uma educação voltada para a cidadania e emancipação dos brasileiros, e sim,

para atender às necessidades da produção e para manter o controle social (CURY, 1997, 2014;

GOHN, 2009). Ou seja, uma educação para a criação de capital humano, e não para extensão

das capacidades e liberdades humanas (SEN, 2010).

32

Contrariamente a essa ideologia da elite brasileira e desta proposta de

desenvolvimento, desde a primeira metade do século XX ocorreram manifestos de intelectuais

e movimentos sociais em defesa de uma escola pública obrigatória, gratuita e de qualidade

para todos, como exemplo o Manifesto dos Pioneiros na década de 1930, o Manifesto em

Defesa da Escola Pública na década de 1950 e o Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública

nas décadas de 1980 e 1990 (GOHN, 2009).

Devemos a estes exemplos de resistências e pautas, apesar de suas limitações, o

capítulo da educação na Constituição Federal de 1934 e 1946, a LDBEN de 1961, e as atuais

Constituição Federal de 1988 e LDBEN 9394/1996.

Hoje, a Constituição Federal vigente, denominada de constituição cidadã, reconhece a

educação como direito fundamental, dever do Estado e da família para com os brasileiros de

quatro a dezessete anos de idade.

Como finalidades, princípios e garantias da educação, a Constituição atual declara

como finalidades o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania

e a qualificação para o trabalho. Entre os seus princípios estão a oferta de igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola, o pluralismo de ideias e concepções

pedagógicas, a gestão democrática do ensino público e a garantia de padrão de qualidade. E

como garantias do Estado na execução do seu dever, declara a obrigatoriedade e gratuidade da

educação básica, a oferta de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,

alimentação e assistência à saúde, dentre outros (BRASIL, 1988).

Um parágrafo especial contido no artigo 208 desta Constituição é o § 1º, que garante,

pela primeira vez na história do país, o acesso ao ensino obrigatório e gratuito como direito

público subjetivo. O direito público subjetivo é uma prerrogativa jurídica dada àquele que tem

esse direito, a exigir imediatamente daquele que tem esse dever, o cumprimento imediato do

que lhe é devido. Assim, por exemplo, quando um responsável não consegue matricular o seu

filho em uma escola pela alegação de inexistência de vaga ou comprovante de endereço, este

pode recorrer à justiça para que o juiz, de forma célere, obrigue as autoridades competentes ao

cumprimento imediato do que é devido ao titular do direito.

O direito público subjetivo explicita claramente a vinculação substantiva e jurídica

entre seu titular e o sujeito do dever. Na prática, isto significa que o titular de um

direito público subjetivo tem assegurada a defesa, a proteção e a efetivação imediata

desse direito quando negado. Qualquer criança ou adulto que não tenha entrado no

Ensino Fundamental pode exigi-lo e o juiz deve deferir imediatamente, obrigando as

autoridades constituídas a cumpri-lo sem mais demora. O não cumprimento por

parte das autoridades competentes implica responsabilidade da autoridade

competente (art. 208, § 2º) (CURY, 2014, p.51).

33

Tais finalidades, princípios e garantias constitucionais, regulamentados na LDBEN

9394/1996, são indiscutivelmente uma vitória significativa da sociedade brasileira, para

aqueles desejam uma educação plena e desenvolvimento para todos, assim como são

fundamentais para uma análise comparativa e crítica entre o que está previsto nos textos

legais e o vivenciado nas comunidades e escolas públicas do país.

Na contramão dos princípios e garantias constitucionais para a educação nacional, as

Notas Estatísticas do Censo Escolar 2015, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2016) revelaram que 3.025.868 de crianças e

adolescentes brasileiros estavam fora da escola em 2015.

E em Belo Horizonte/MG, cidade onde está localizada a Ocupação Rosa Leão, cenário

de pesquisa destes autores, de acordo com o site www.foradaescolanaopode.org.br, da

Campanha Nacional pelo Direito à Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF, 2016) são 28.146 crianças e adolescentes, de quatro a dezessete anos, fora da

escola, ou seja, 6,2% do total de pessoas nesta idade escolar. E estas crianças e adolescentes,

de acordo com o site, apresentam perfil de cor, escolaridade e renda familiar, como demonstra

abaixo a Figura 2.

FIGURA 2 - Crianças fora da escola em Belo Horizonte/MG.

FONTE: Campanha Nacional pelo Direito à Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF). Acesso em: 02/12/2016.

34

A localização em que esses menores residem em Belo Horizonte não é apresentada no

estudo da UNICEF, contudo, é sabido que nas grandes cidades brasileiras as famílias que se

enquadram neste perfil estão localizadas nas favelas, ocupações e outras áreas desvalorizadas

e distantes das cidades (ALVES, 2010; BRANDÃO, 2001; LIMA, 2009; RUIZ, 2013).

Inclusive, algumas produções acadêmicas sobre ocupações urbanas revelam a luta dos

ocupantes pelo acesso a ou construção de escolas próximas (BIZZOTTO, 2015; FREITAS,

2015; PINTO, 2016; PROGRAMA... 2015; ROCHA, 2010; RUIZ, 2013).

Todavia, os problemas da educação brasileira não se encerram na questão do acesso,

que talvez seja a primeira barreira para milhões de crianças e adolescentes de hoje. Outro

grande obstáculo presente na educação nacional encontra-se no processo educativo com os

estudantes, aspecto tratado no próximo item deste artigo, sob a luz da compreensão ético-

crítico-política de educação de Paulo Freire.

Freire, em suas primeiras obras, afirmava que a educação brasileira servia à ideologia

dos opressores através de uma educação bancária, antidialógica e desumanizadora oferecida

aos brasileiros que conseguiam acessar a escola (FREIRE, 1987, 2014). Afirmação esta que

concorda com o tortuoso histórico constitucional, ideológico e prático pelo qual passou a

nossa educação.

Educação esta que pode ser uma das razões pelas qual até hoje o nosso país apresenta

números insatisfatórios não só de acesso, mas de alfabetização e rendimento escolar; e que de

acordo com Sen (2010) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

impede a redução das desigualdades de capacidades e o maior desenvolvimento do país6.

1.7 A sociedade brasileira à luz de Paulo Freire: os opressores e os oprimidos

Foi vivenciando e refletindo os aspectos histórico, social e educacional brasileiro, de

exploração, desigualdade e exclusão, que o educador Paulo Freire desenvolveu suas obras

(COELHO, MARI, 2016). Em seu livro, Pedagogia do Oprimido (1987), referência deste

6 Alguns dos números insatisfatórios da educação e do desenvolvimento brasileiro são as taxas de analfabetismo

de 7,4% entre as pessoas com 10 anos ou mais de idade (IBGE, 2018), a média do IDEB (Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica) do Ensino Fundamental da Rede Pública em 2015 em 4,2 (INEP, 2017),

e a redução do IDH do Brasil em 26,3% (PNUD, 2015), quando este índice é ajustado à desigualdade, pela

avaliação de três dimensões, uma delas, a educação.

35

artigo e do pensamento freiriano, Freire descreveu a situação e contradição opressor/oprimido,

e apontou que a educação brasileira servia aos opressores.

Entre os opressores contextualizados na obra de Paulo Freire (1987), estão o sistema

capitalista, a elite agrária e industrial brasileira, o Estado e suas instituições, como a escola, e

os indivíduos que com estes identificam-se e agem. Entre os oprimidos registram-se os

trabalhadores, explorados e desumanizados pela elite patronal, o Estado e o sistema

capitalista, negligenciados em seus direitos e impedidos de Serem Mais7.

Para o propósito desta pesquisa, de provocar a investigação da educação escolar dos

moradores das ocupações urbanas, considera-se o sistema capitalista opressor em sua lógica

de tratar a terra e a cidade como mercadoria, onde se segregam social e espacialmente as

pessoas; o Estado Brasileiro, quando o Poder Judiciário sobrepõe o direito à propriedade

sobre a função social da moradia e da cidade; a Polícia Militar, quando age violentamente sob

os moradores das ocupações, e a escola, quando desconsidera as potencialidades e os

problemas sociais vivenciados por seus estudantes e entorno.

Segundo Freire (1987), a opressão ocorre porque os opressores têm uma consciência

possessiva,

[...] daí que tendam a transformar tudo o que os cerca em objetos de seu domínio. A

terra, os bens, a produção, a criação dos homens, os homens mesmos, o tempo em

que estão os homens, tudo se reduz a objeto de seu comando. Nesta ânsia irrefreada

da posse, desenvolvem em si a convicção de que lhes é possível transformar tudo a

seu poder de compra. Daí sai a concepção estritamente materialista da existência. O

dinheiro é a medida de todas as coisas. E o lucro, seu objetivo principal. Por isto é

que, para os opressores, o que vale é ter mais e cada vez mais, à custa, inclusive, do

ter menos ou do nada ter dos oprimidos (FREIRE, 1987, grifo do autor, p. 25).

Quanto aos oprimidos, também para o propósito deste artigo, identificam-se os

trabalhadores e os seus filhos que moram em ocupações, que apresentam um perfil familiar de

baixa renda, baixa escolaridade e condições adversas de trabalho (ALVES, 2010;

BRANDÃO, 2001; LIMA, 2009); mas oprimidos que, na luta coletiva por direitos, como o

7 Ser Mais e Ser Menos são categorias importantes da obra Pedagogia do Oprimido (1987), de Paulo Freire.

Segundo Freire, Ser Mais refere-se à conscientização da opressão, e busca dos oprimidos e opressores em

humanizar-se, em libertar-se da situação e contradição de oprimido e opressor. Ser Mais está exemplificado na

luta dos oprimidos por direitos, e na verificação e afirmação de outras possibilidades de vida. E também no

engajamento dos - ora - opressores em abandonar os atos de opressão, que também os desumaniza, e tornar-se

verdadeiramente solidário às causas dos oprimidos, que passam a ser também as suas. Ou seja, aqueles que lutam

por Serem Mais estão em consciência e prática na busca pela superação da situação e contradição

opressor/oprimido. E a categoria Ser Menos, contrariamente, está relacionada com a ação dos opressores na

coisificação e desumanização dos oprimidos, expressas, por exemplo, no domínio, exploração e violência para

com eles, o que gera também a desumanização dos primeiros, os opressores.

36

acesso à moradia e à cidade, estão em processo de conscientização e humanização, em

verificação e afirmação de outras possibilidades de vida, em busca de Serem Mais.

Foi de acordo com este cenário de opressão da maioria dos brasileiros que Paulo

Freire desenvolveu sua compreensão ético-crítico-política da educação, foi para as cidades e

para o campo aplicar o seu método de alfabetização com conscientização, e propôs uma

pedagogia para os oprimidos, e posteriormente, para todos os homens.

A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois

momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da

opressão e vão comprometendo-se na práxis, com a sua transformação; o segundo,

em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido

e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação

(FREIRE, 1987, p. 24).

Para a mudança social e educacional no Brasil, a emancipação dos oprimidos e de

todos os homens, Freire (1987, 1989) defendia uma revolução popular, e para tanto, utilizou

como exemplo o que acontecia ou havia acontecido social e educacionalmente em alguns

lugares do terceiro mundo, como os países africanos recém-libertos de seus colonizadores, ou

a experiência revolucionária de Che Guevara pela América Latina e Fidel Castro em Cuba

(FREIRE, 1987, 1989).

E como teoria para a revolução social, Freire (1987) desenvolveu o que chamou de

teoria da ação dialógica, pautada nas categorias colaboração, união, organização e síntese

cultural, em que o desenvolvimento e trabalho de lideranças, como o de professores, seria

fundamental. Afirmação esta muito oportuna para este artigo, que pretende subsidiar a

problematização do trabalho das escolas e professores, especialmente em ou próximos aos

espaços e processos de conscientização e humanização, luta por direitos e por Serem Mais,

como as ocupações urbanas.

1.8 O processo educativo em Paulo Freire: educação humanizadora

Paulo Freire definiu a Pedagogia do Oprimido como uma pedagogia necessária para o

processo de humanização e libertação do oprimido. Segundo ele, essa pedagogia não

aconteceria em uma sociedade e educação com seus métodos que serviam à opressão, e sim,

na pedagogia que ele propõe, a Pedagogia do Oprimido, feita pelos mesmos e com aqueles

líderes revolucionários que com eles verdadeiramente solidarizariam-se:

37

A nossa preocupação, neste trabalho, é apenas apresentar alguns aspectos do que nos

parece constituir o que vimos chamando de Pedagogia do Oprimido: aquela que tem

de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos, na luta incessante

de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que faça da opressão e de suas causas

objeto da reflexão dos oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na

luta por sua libertação, em que esta pedagogia se fará e refará (FREIRE, 1987, p.

17).

A Pedagogia do Oprimido visa à alfabetização e à formação através da leitura das

palavras geradoras apresentadas pelos oprimidos e dialogadas por eles próprios, a leitura do

mundo juntamente com a leitura da palavra; a alfabetização com conscientização, a tomada de

consciência como seres oprimidos e o engajamento crítico para a luta pela libertação da

situação de opressão e desumanização (FREIRE, 1987; 1989).

Segundo Paulo Freire, a desumanização, experiência vivenciada pelos opressores e

oprimidos, está presente no projeto e na consciência possessiva dos opressores, bem como no

tratamento dispensado aos oprimidos. Os opressores, para manterem as suas supostas

liberdade, humanidade, e os seus privilégios, desenvolvem mitos de descrença e

desvalorização dos oprimidos, coisificando-os e impedindo-os de Serem Mais. Daí a teoria da

ação antidialógica dos opressores, de conquista, divisão, manipulação e invasão cultural

(FREIRE, 1987).

A noção bancária e antidialógica da educação ilustra como esta tem atuado

contrariamente à humanização dos homens. Ao contrário da proposta freiriana, a alfabetização

e escolarização dos homens tem sido mecânica, em que a leitura da palavra se torna apenas

um ajuntamento de sílabas e fonemas, algo doado e decorado, sem compreender a sua

significação, distante e sem diálogo com a realidade, sem a leitura do mundo e da palavra com

o educando (FREIRE, 1987, 1989, 2014).

Por seu propósito e descrença no educando, a educação bancária é denominada assim

por Freire (1987), por separar e colocar em degraus opostos professor e aluno, em que o

primeiro é o detentor do saber e deposita o seu conhecimento nos alunos, seres sem luz e sem

conhecimento.

A narração de que o educador é o sujeito conduz os educandos à memorização

mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em vasilhas,

em recipientes a serem enchidos pelo educador. (...) Na visão bancária da educação,

o saber é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação

que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a

absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da

ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro (FREIRE, 1987, p. 33).

38

Esta educação bancária, por descrer dos estudantes, contribui para a mistificação do

oprimido, como ser incapaz, ignorante e inferior. O descreve e o impõe para o Ser Menos, e

não o Ser Mais, ser objeto, e não sujeito educando, desumaniza-o. Por isso, também é

antidialógica. Esta educação, diferentemente da concepção freiriana, não o oportuniza para a

investigação, construção e diálogo das palavras geradoras, temas geradores e conteúdo

programático da educação.

Para manter a contradição, a concepção bancária nega a dialogicidade como essência

da educação e se faz antidialógica; para realizar a superação, a educação

problematizadora – situação gnosiológica – afirma a dialogicidade e se faz dialógica

(FREIRE, 1987, p. 39).

A Pedagogia do Oprimido, diferentemente da educação bancária como instrumento da

opressão, dialoga com o educando e o seu mundo, pois só dialoga quem ama, crê no homem,

constrói com ele, não para ele o caminho para a sua humanização, a sua vocação de Ser Mais.

Esta deseja uma educação para a conscientização do mundo e de si, o entendimento da

realidade opressora para a luta por sua transformação (FREIRE, 1987).

Por tudo isso, a proposta de investigação do processo educativo dos educandos das

ocupações urbanas na educação formal pode ter como base a Pedagogia do Oprimido (1987) e

o pensamento de Paulo Freire, haja vista ser a educação bancária um método ou prática,

possivelmente ainda muito presente nas escolas de hoje; e da consideração dos moradores das

ocupações como oprimidos que podem estar entre o processo de mistificação e coisificação, e

em luta por sua humanização e libertação, em busca de Serem Mais.

Nesse sentido, a discussão a seguir apresenta as relações possíveis entre educação e

desenvolvimento local, e sua contribuição para processos emancipatórios em uma ocupação

urbana.

1.9 Educação, ocupação urbana e desenvolvimento local

Segundo Natal (2013), a construção da teoria do Desenvolvimento Local tem a sua

origem em meados do século XX na Europa, contudo, a sua concepção ideológica intensifica-

se na década de 1970, quando o capitalismo internacional se reorganiza.

Quando o capital financeiro e especulativo sobrepõe ao produtivo, desregulamentam-

se as economias nacionais, as grandes indústrias dão espaço para as médias e pequenas

empresas e vão para diversas localidades, as garantias trabalhistas são retiradas e a

terceirização e a flexibilização do trabalho crescem.

39

Diante dessa reconstrução do capitalismo, o capital, construtor e propagador da teoria

do Desenvolvimento Local através de suas diversas instituições representativas - como o

Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e

Desenvolvimento (BIRD) -, apresenta esse conceito como a nova concepção e estratégia de

desenvolvimento. Diferente de outrora, em que o desenvolvimento era pensado em escala

nacional, agora o rumo deveria ser ditado para o local.

Uma conceituação comum de Desenvolvimento Local, por exemplo, é encontrada em

Ávila (2012), para quem, para alcançar o seu desenvolvimento, as comunidades-localidades

devem conhecer as suas potencialidades, utilizar os seus recursos antes subutilizados,

aglutinar ajudas externa e interna, e secundarizar interesses divergentes para a formação de

um interesse comum.

Contudo, tal conceituação de Desenvolvimento Local, por ser dominante, mas não

uma ideia totalizante, tem sido rechaçada e alvo de muitas críticas. Paulo Freire, em

Pedagogia do Oprimido (1987), já criticava a concepção de Desenvolvimento Local. Segundo

ele, que não desprezava a importância do local, o problema estava na visão focalista da

realidade, que proporcionava o encobrimento da totalidade, por exemplo, o não entendimento

dos problemas locais como integrantes, salvo especificidades, das questões nacionais e até

mesmo internacionais.

Para Freire, a concepção de “desenvolvimento de comunidade” servia para a teoria

antidialógica dos opressores, a proposta de divisão e alienação do povo, por não permitir a

compreensão do todo (FREIRE, 1987).

Uma das características destas formas de ação, quase nunca percebida por

profissionais sérios, mas ingênuos, que se deixam envolver, é a ênfase da visão

focalista dos problemas e não na visão deles como dimensões de uma totalidade.

Quanto mais se pulverize a totalidade de uma área em “comunidades locais”, nos

trabalhos de “desenvolvimento de comunidade”, sem que estas comunidades sejam

estudadas como totalidades em si, que são parcialidades de outra totalidade (área,

região, etc.) que, por sua vez, é parcialidade de uma totalidade maior (o país, como

parcialidade da totalidade continental) tanto mais se intensifica a alienação. E,

quanto mais alienados, mais fácil dividi-los e mantê-los divididos. Estas formas

focalistas de ação, intensificando o modo focalista de existência das massas

oprimidas, sobretudo rurais, dificultam sua percepção crítica da realidade e as

mantém ilhadas da problemática dos homens oprimidos de outras áreas em relação

dialética com a sua (FREIRE, 1987, p. 80).

Natal (2013) e Christoffoli (2010), indo ao encontro dos argumentos de Freire,

criticam, especialmente, a não previsão do conflito na construção teórica do Desenvolvimento

Local. Destacam que, na concepção e estratégia hegemônica de desenvolvimento local, o que

se utiliza são termos como harmonia, solidariedade e coesão social; haja vista que o

40

capitalismo, como afirmam os autores, rechaça a possibilidade de conflito, busca a existência

de um amálgama social para a acomodação e dominação social. Até mesmo a cidadania, neste

ponto de vista, difundida como processo e resultado do Desenvolvimento Local, é

questionável, pois,

cidadania não tem como ser obtida pela via do consenso, da harmonia, da reunião de

indivíduos que trabalham pelo bem-estar comum - aliás, como lembra F. de

Oliveira, essa concepção se encontra inclusive na contramão da tradição de um

liberal como Rousseau, que sublinhava o conflito. Desse modo, como consequência,

está se elaborando um discurso sobre o desenvolvimento local como paradigma

alternativo à sociedade plagada de conflitos por todos os lados; desenvolvimento

local é apresentado como um emplastro (...) capaz de curar todas as mazelas de uma

sociedade pervertida, colocando-se no seu lugar bucólicas e harmônicas

comunidades (NATAL, 2013, p. 220).

A reflexão quanto à concepção comum do Desenvolvimento Local e as críticas que a

ela fazem os teóricos Christoffoli (2010), Natal (2013) e Freire (1987, 2014) reforçam um

questionamento importante a ser feito para as investigações e intervenções na realidade das

ocupações urbanas.

Considerando as ocupações urbanas como parte da cidade ilegal ou outros termos que

adotam criticamente os estudiosos da questão e remetem à ilegalidade e o seu não

reconhecimento por diversos setores, qual concepção de desenvolvimento local caberia aos

moradores, movimentos sociais e outras entidades de apoio às ocupações pensarem para o seu

território?

É possível aplicar a estratégia hegemônica de desenvolvimento local em uma

ocupação urbana, sendo esta um território não reconhecido como parte da cidade, tendo sua

ocupação e posse contestada por diversos segmentos sociais e mesmo pelo Estado?

Seria possível a constituição de consenso e a aglutinação de investimentos, apoios e

parcerias diversas para as ocupações urbanas como pensam e requisitam os teóricos do

Desenvolvimento Local para os demais territórios? Ou tais cidades ilegais e seus projetos de

desenvolvimento local devem fazer frente ao Estado e à economia capitalista que, ao tratar a

terra como capital, permitem a especulação urbana, uma das causas da periferização e

informalidades urbanas, sobretudo no hemisfério Sul (DAVIS, 2006)?

Quanto à importância da educação para o Desenvolvimento Local, Ávila (2012) e

Dowbor (2007) definem a educação como um espaço fundamental para a formação e

impregnação da cultura do desenvolvimento local (ÁVILA, 2012), e a irradiação de

conhecimentos da realidade local para o desenvolvimento desta (DOWBOR, 2007). Ávila

(2012), por exemplo, descreve que existe uma dupla relação, de causa e efeito em recíproca

41

alternância entre Desenvolvimento Local e educação, e denomina esta última de sistema

respiratório e circulatório do Desenvolvimento Local.

Dowbor (2007) e Ávila (2012) consideram que, para a existência de escolas que

absorvam a cultura do Desenvolvimento Local e irradiem conhecimentos para tal, estas

devem estar voltadas para a comunidade a que pertencem, inseridas em um projeto de

desenvolvimento local que esteja ocorrendo na comunidade, devem construir parcerias e ter

em sua organização, práticas para a pesquisa, apropriação e produção de conhecimentos da

realidade local.

Os dois autores sugerem que, desde a Educação Infantil, para a aprendizagem de

Ciências, Geografia e Artes, por exemplo, os estudantes devem ser mediados pelos

professores para partirem da realidade local, visando conhecê-la para fazer a apropriação do

conteúdo, do concreto para o abstrato, e assim reconhecer as necessidades e potencialidades

locais, contribuir e atuar para o desenvolvimento da comunidade. Ávila (2012), inclusive,

contesta o método de ensino tradicional e desenvolve o que chama de aprendizagem por

interambientalização.

[...] pela tradicional metodologia escolar, são focados diretamente conteúdos

semiotizados (isto é, compendiados em fórmulas ou outras combinações lógicas de

sinais e símbolos de compreensão, armazenamento e comunicação), tendo o aluno

de, desconectado das concretudes que eles representam, fazer o hercúleo esforço de

aprendizagem por virtuais reconstituições de tais conexões, mediante explicações,

ilustrações, muitas comparações, diversas associações, e assim por diante. Mas há

outra opção metodológica possível, a que costumo chamar de aprendizagem por

interambientalização, pela qual os conteúdos escolares devem começar a ser tratados

desde o início da Educação Infantil, em conexão direta com suas reais lógicas e

expressões fenomenológicas básicas, no sentido do concreto para o abstrato e a

partir dos contextos meio-ambientais em que se situam cada escola e respectivos

educandos. Isso, até que os educandos formem lastro cognitivo capaz de mantê-los

em aclive de decolagem para os níveis da pura e semiotizada abstração, disponíveis

em todos os acervos de conhecimento, tanto os científicos quanto os não (ÁVILA,

2012, p. 44).

Contudo, diferentemente de Freire (1987, 2014), Ávila (2012) limita-se a apresentar

uma nova proposta metodológica de ensino de acordo com a sua teoria de educação e

desenvolvimento local. O mesmo, como faz Freire (1987, 2014), não questiona a sociedade e

a educação brasileira que até hoje serve à ideologia dos opressores, que não quer uma

mudança ético-crítico-política e metodológica da educação, e nem uma estratégia popular de

desenvolvimento.

Portanto, sobre a importância da educação, e desta como apropriadora da realidade e

propulsora do desenvolvimento das ocupações urbanas, ditas cidades ilegais por não serem

42

reconhecidas legalmente e, também por isso, não integradas às políticas públicas pelo Estado,

qual a educação lhes serve para apropriação da realidade e desenvolvimento do local?

Como no território de muitas ocupações não há uma escola formal nem informal, as

crianças e adolescentes provavelmente estudam nas escolas dos bairros vizinhos. Mas como

se dá esse processo educativo, ele tem colaborado para o desenvolvimento dos estudantes e da

ocupação? Os estudantes e seus familiares têm sido recebidos e convidados para participação

nos conselhos e na elaboração do projeto político-pedagógico da escola? Qual a concepção

deste projeto político-pedagógico, e o que ele nos diz sobre a relação com as ocupações,

bairro e cidade? Em suas turmas, nos projetos curriculares de cada disciplina, e nos projetos

multi e interdisciplinares, os estudantes têm pesquisado, discutido e produzido sobre as

ocupações em que residem? Os alunos estudam sobre a geografia do local, o problema da

moradia no Brasil, o meio ambiente da ocupação, as manifestações da ocupação, etc.?

Para tais cidades ilegais, como a Ocupação Rosa Leão8, integrante das Ocupações da

Izidora, e cenário de pesquisa destes autores, até hoje sem diálogo permanente com o

Governo do Estado, desassistida por esse e pela Prefeitura no que se refere à regularização

fundiária e urbana, pode ser pensada uma escola que secundarize conflitos e aglutine

parcerias, como pensam Dowbor (2007) e Ávila (2012)? É possível uma escola condizente

com outra estratégia de desenvolvimento local? O que as experiências de escolas formais e

comunitárias dentro de cidades ilegais têm a demonstrar? Quais devem ser as possibilidades e

limites para tal?

Tais questionamentos são fundamentais e devem permear as pesquisas e as ações

sobre o acesso, a permanência e o processo educativo de crianças e adolescentes de ocupações

urbanas à educação formal, assim como a apropriação e o desenvolvimento de sua realidade

local.

8 Diferentemente das outras ocupações da Izidora, sobre as quais ainda pesam alguns processos judiciais de

pedido de reintegração de posse feitos pela Granja Werneck, Direcional Engenharia e outros reivindicantes da

propriedade, a Ocupação Rosa Leão, localizada em terreno da PBH, depois de muita luta junto às outras

ocupações, obteve dessa, a desistência no processo judicial que solicita a reintegração de posse. A promessa do

atual prefeito é regularizar e urbanizar as Ocupações da Izidora, mesmo que as demais ainda aguardam

cancelamento ou decisão de processos judiciais de reintegração de posse. Ademais, até o momento, o

cadastramento das famílias, a instalação de serviços e a infraestrutura urbana na Ocupação Rosa Leão não foram

iniciados. As Ocupações da Izidora, entre elas a Ocupação Rosa Leão, ainda lutam pelo diálogo com o Estado, a

regularização fundiária, e a instalação de infraestrutura e serviços como asfalto, coleta de lixo, correios e outros

prometidos pela Prefeitura.

43

Considerações finais

O presente trabalho contextualizou a história e o presente de dificuldades em que boa

parte da população brasileira teve e tem em acessar e usufruir com dignidade os direitos

fundamentais de moradia e educação, por exemplo, os moradores de ocupações urbanas.

Demonstrou-se que tal situação foi e é resultado de uma teoria e projeto de desenvolvimento e

educação ainda constituído por e subserviente a um sistema e elite dominante.

Neste sentido, em oposição a esta situação, neste trabalho foram apresentadas

possibilidades de reflexão e prática sob um projeto de desenvolvimento e educação popular e

contra-hegemônico, em que o pensamento e a prática de Paulo Freire podem e muito

contribuir para o refletir e o agir em prol da educação escolar e o desenvolvimento das

ocupações urbanas e os seus moradores, além da sociedade em geral. Reflexão e construção

ainda incipientes nas universidades, escolas e territórios de muitas ocupações urbanas no

Brasil.

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47

2 ANÁLISE DOCUMENTAL E APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS

DADOS DAS ENTREVISTAS COM AS COORDENADORAS DA

OCUPAÇÃO ROSA LEÃO

Este capítulo apresenta, relaciona e discute os dados coletados e analisados por esta

pesquisa com as Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão e direção da Escola Municipal

Professor Daniel Alvarenga9 sobre o acesso, a permanência e o processo educativo dos

moradores desta Ocupação à educação formal.

Os dados coletados e analisados foram retirados de cinco documentos da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga e quatro entrevistas com as Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão, que

coordenam ou participam da luta pela moradia, atuam sobre as necessidades e projetos da

comunidade e acompanham a vida das famílias residentes, inclusive a escolarização das

crianças e adolescentes.

O objetivo deste capítulo é apresentar ao leitor um panorama geral sobre o território

no qual a Ocupação Rosa Leão está inserida, a Ocupação, o bairro Zilah Spósito e entorno, e a

E.M. Prof. Daniel Alvarenga, relacionando-o com a questão do acesso, a permanência e o

processo educativo de crianças e adolescentes da Ocupação à educação formal.

Com isso, espera-se subsidiar o leitor para que ele compreenda melhor o contexto e o

conteúdo respondido pelos professores da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, crianças e

adolescentes da Ocupação Rosa Leão que estudam nesta escola, quanto ao seu acesso,

permanência e processo educativo na Instituição, tarefa dos dois capítulos seguintes.

2.1 Apresentação e discussão dos dados dos documentos da escola pesquisada

Os documentos cedidos pela E.M. Prof. Daniel Alvarenga foram analisados à luz do

que eles podem informar sobre o acesso, a permanência e o processo educativo dos seus

estudantes, sobretudo das crianças e adolescentes residentes na Ocupação Rosa Leão. Os

documentos analisados são: Projeto Político Pedagógico da escola (2013), livro O Zilah é

logo ali, o Zilah é bem aqui (2010), Revistas Vidas (2013, 2015) e Lista de Matrícula e

Enturmação (2017), todos eles produzidos pelos sujeitos da escola.

9 A partir deste ponto, a Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga será apresentada como E.M. Prof. Daniel

Alvarenga.

48

O documento Projeto Político Pedagógico (PPP)10

é um instrumento primordial para

que a Instituição escolar, junto à comunidade, diagnostique o seu contexto, pense as suas

finalidades, planeje e se organize para que o trabalho político-pedagógico escolar se realize de

forma que atenda aos seus fins.

Em uma análise geral, pode-se considerar que o PPP da E.M. Prof. Daniel Alvarenga

aponta como finalidade da Instituição, o desenvolvimento integral do educando por meio de

“ações pedagógicas significativas que garantam a inclusão social em um ambiente de

crescimento humano acolhedor” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO ESCOLA

MUNICIPAL PROFESSOR DANIEL ALVARENGA, 2013).

Para a sua realização, a escola pesquisada aponta como direção o conhecimento da

realidade da comunidade local, a gestão pautada na cultura democrática e dialógica, a

organização do currículo, tempo e espaço escolar que crie maiores possibilidades para a

existência e ampliação de momentos coletivos significativos (PROJETO..., 2013).

O livro O Zilah é logo ali, o Zilah é bem aqui (2010) é de autoria da Professora Maria

Laura de Abreu Rosa, produzido quando esta era docente de uma turma do 1º ciclo da escola

pesquisada. A obra compõe uma das atividades realizadas para a comemoração dos 10 anos

de existência da escola. Para realização do livro, a autora contou com a participação dos seus

estudantes, familiares, lideranças comunitárias e profissionais da escola.

O Zilah é logo ali, o Zilah é bem aqui (2010) conta a história do bairro Zilah Spósito e

a história da escola instalada no bairro, apontando bairro e escola como próximos, geográfica,

histórica e socialmente.

O bairro Zilah Spósito, localiza-se na Região Norte de Belo Horizonte. Esta região,

bem como o bairro, compõe um dos últimos territórios ocupados e parcialmente urbanizados

na cidade. Apresenta um dos maiores índices de vulnerabilidade social do município e de

menor qualidade de vida urbana (NAHAS, 2000; PROJETO..., 2013; RELATÓRIO GERAL

SOBRE O CÁLCULO DO ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA URBANA DE BELO

HORIZONTE PARA 2014, 2015).

Rosa (2010) conta a história do bairro a partir de 1991, quando a Companhia

Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (URBEL) destinou um terreno de sua

propriedade, no bairro Jaqueline, para assentar a população que vivia em áreas de risco,

morava nas ruas e seria afetada por obras públicas.

Durante os anos 1990, muitas famílias que chegaram por conta própria ou eram

realocadas pela URBEL para este território, moraram todo esse período em casas de madeirite

10

Nas próximas vezes, o Projeto Político Pedagógico será apresentado pela sigla PPP.

49

e lona, ou nas precárias casas-embriões, construídas pela Companhia Urbanizadora (ROSA,

2010).

Estas famílias, segundo Rosa (2010), compostas por muitos membros, passaram pelas

dificuldades do frio, calor e chuva em suas moradias provisórias e precárias; assistiram a um

incêndio em 1997, que destruiu 68 barracos de lona e desabrigou 400 pessoas; e conviveram

com a falta de infraestrutura básica, como acesso à água, energia, coleta de lixo, etc.

Realidade hoje vivenciada pela Ocupação Rosa Leão, vizinha do bairro Zilah (ROSA, 2010).

De acordo com Rosa (2010), do período do assentamento até o período posterior à

regularização do Zilah Spósito, ocorrido em 1999, os moradores estiveram organizados. Estes

participaram de assembleias diárias, escolheram e foram representados por um Comando,

criaram espaços e meios de comunicação, como o Centro Cultural Tin-dô-lê-lê - que também

era creche -, e cobraram dos poderes públicos agilidade para a regularização e urbanização do

bairro. Assim como tem feito a Ocupação Rosa Leão e outras ocupações da cidade

(BIZZOTO, 2015; FREITAS, 2015; PROGRAMA...; 2015).

No período posterior à regularização fundiária, segundo depoimento de uma mãe à

autora Rosa (2010), a presidente da Associação de Moradores do Zilah Spósito, Rosa Leão –

cujo nome foi dado à Ocupação cenário desta pesquisa - se destacou frente à mobilização de

parte da população por água, energia e calçamento, conquistados posteriormente.

Foi nesse mesmo período, logo após a regularização do bairro, que os moradores do

Zilah Spósito iniciaram outra luta: a reivindicação de uma escola (ROSA, 2010), como assim

fizeram as populações de ocupações e bairros conhecidos pelo referencial teórico desta

pesquisa (PINTO, 2016; ROCHA, 2010; RUIZ, 2013).

Segundo Rosa (2010), em 2000, por pressão dos moradores, a PBH acordou com a

Igreja Santa Beatriz a utilização do seu espaço até uma escola ser construída. A construção da

escola já tinha sido reivindicada pelos moradores na participação comunitária no Orçamento

Participativo Municipal daquele ano.

No primeiro semestre de 2000, as crianças do Zilah Spósito estudaram em duas salas

da Igreja Santa Beatriz e no terreiro desta, debaixo de uma árvore, sentados em caixotes. Já no

segundo semestre do mesmo ano, segundo Rosa (2010), muito por força do acompanhamento

das gestoras escolares, famílias e lideranças comunitárias, cinco salas de aula, dois banheiros

e um pequeno jardim foram construídos na Igreja, conforme acordo feito anteriormente com a

Prefeitura.

Em 2003, o novo prédio da escola foi inaugurado. Hoje ela atende cerca de 800

estudantes em três turnos, na modalidade de ensino regular e Educação de Jovens e Adultos

50

(EJA), e conta com programas de educação integral, como Escola Integrada, Mais Educação e

Escola Aberta (ROSA, 2010).

A Revista Vidas, que possui dois números (um de 2013 e outro de 2015) é uma

produção do corpo profissional e discente da Educação de Jovens e Adultos da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga, com contribuição de textos de educadores e outros profissionais

convidados.

Nos seus dois números, a revista, de acordo com a sua proposta, apresenta a

modalidade EJA, a descrição do ano letivo com as atividades e relações constituídas, textos

sobre e para o trabalho com jovens e adultos, e o contexto do bairro, escola e seus sujeitos.

O documento Lista de Matrícula e Enturmação dos estudantes do final do 2º ciclo e

dos três anos do 3º ciclo permitiu a verificação do acesso e a organização em turmas dos

sujeitos da pesquisa à escola, assim como a sua quantificação.

A leitura destes documentos contribuiu para que o pesquisador conhecesse mais sobre

a história do bairro, do entorno, da escola e dos sujeitos escolares que por lá passaram, ou

seja, uma maior aproximação e conhecimento do cenário desta pesquisa. Além da avaliação

das informações sobre o acesso, a permanência e o processo educativo da escola, mesmo que

de todos os documentos, somente o segundo número da Revista Vidas (2015) possa ser do

tempo de formação e pós-formação da Ocupação Rosa Leão.

2.1.1 Acesso e permanência na escola pesquisada

Como informa Dias et al. (2015), a região periférica de Belo Horizonte, na sua história

e presente, enfrentou e enfrenta dificuldades no acesso aos serviços e equipamentos públicos

essenciais, como a escola. E isto não foi diferente na formação do Zilah Spósito.

Depois de garantir o terreno e a condição mínima para construção de suas moradias,

a comunidade teve que lutar pelo acesso e permanência das crianças no âmbito

educacional. A escola mais próxima ficava há quarenta minutos de caminhada do

bairro onde estavam morando. O dinheiro para pagar passagem nos coletivos era

escasso e como colocar crianças pequenas sozinhas dentro de um ônibus? (VIDAS,

2015, p. 4)

Inclusive, uma outra antiga moradora afirmou para Rosa (2010) que o município de

Santa Luzia, que faz divisa com o Zilah Spósito, e tinha escolas mais próximas, não

matriculava as crianças e adolescentes do bairro porque estes residiam em Belo Horizonte.

“Eu sei pouco, sei que era difícil para muitos pais de alunos conseguirem escola, por ser de

51

região de BH e as escolas mais perto eram de Santa Luzia, a qual não aceitava os nossos

alunos” (ROSA, 2010).

Para a solução do problema de acesso à escola, assim como outros bairros periféricos e

ocupações urbanas, a comunidade do Zilah Spósito (PROGRAMA... 2015; LIBÂNIO,

NASCIMENTO, 2016; NASCIMENTO, 2016) construiu os seus próprios espaços educativos,

como o Centro Cultural Tin-dô-lê-lê, utilizado como espaço de cultura, lazer e creche, como

maneira de disponibilizar algum acesso à sua população à educação e outros direitos (ROSA,

2010).

A comunidade também, assim que o bairro Zilah Spósito foi regularizado, encontrou

na igreja próxima, a Igreja Santa Beatriz, o local para funcionamento de uma escola

provisória e, paralelamente, reivindicou da PBH a ampliação de sua estrutura enquanto a

escola reivindicada no Orçamento Participativo não ficasse pronta (ROSA, 2010).

Na Igreja Santa Beatriz, o primeiro semestre de 2000 foi de muita dificuldade. Eram

quase 200 estudantes para duas salas improvisadas. Como estas não suportavam este número

de crianças, elas por vezes estudavam no terreiro da Igreja, em baixo da árvore, sentados em

caixotes. De acordo com a diretora da época, muitos estudantes e professores faltavam porque

adoeciam devido à poeira do terreiro da Igreja (ROSA, 2010). Segundo os sujeitos

entrevistados desta pesquisa, esta situação é semelhante ao que vivem hoje as crianças e

adolescentes que moram na Ocupação Rosa Leão, que também enfrentam a poeira e o barro

para frequentarem a escola.

Estas pessoas, assim como outras das inúmeras periferias do Brasil, vivenciaram e

vivenciam a situação de opressão exposta por Freire (1987), que responsabilizava a ideologia

e a prática possessiva e desumanizadora da elite dominante por tal condição, que os

condicionavam para a situação de Serem Menos em nome de tudo ter para si.

Porém, diante da não totalidade da dominação, desde o assentamento até o período

posterior à regularização de suas casas, apoiados por movimentos como o Movimento dos

Sem Teto (ROSA, 2010) e organizados internamente, os moradores do Zilah Spósito travaram

lutas para Serem Mais, para a conquista de direitos que a eles eram devidos. Situação hoje

vivenciada com notoriedade pela população da Ocupação Rosa Leão, que luta para Ser Mais

contra uma ideologia e grupos que os provocam para Serem Menos.

É neste contexto que, em 2003, a escola reivindicada pelos moradores do Zilah

Spósito foi entregue. Conquista da luta travada neste território desde 1991 (ROSA, 2010). De

2003 para cá, a estrutura da escola, que já era compatível com uma Instituição em condições

de oferecer acesso, permanência e processo educativo aos sujeitos escolares, ficou melhor.

52

Hoje, a sua estrutura é superior a de centenas de escolas brasileiras que, infelizmente, ainda

não apresentam espaços essenciais com salas multiuso, laboratórios, quadras esportivas,

bibliotecas, acesso à internet, acessibilidade para deficientes, etc. (INEP, 2016; 2017).

A E.M. Prof. Daniel Alvarenga11

possui 16 salas de aula, sala multiuso, laboratório de

ciências, informática, salas de oficinas, playground, parque-escola, pátio e quadra coberta,

rampas e banheiros para deficientes, etc. O seu espaço, anteriormente cercado de grades,

materiais danificados pelos sujeitos escolares e pichações, tornou-se, depois da intervenção

municipal em 2007, um ambiente mais propício para melhores experiências educativas

(PROJETO..., 2013).

Quanto à análise do PPP da Instituição (2013) sobre o que ele suscita em relação ao

acesso e a permanência na escola, este divulga como missão da Instituição “trabalhar

cooperativamente por meio de ações pedagógicas significativas, garantindo a inclusão social

num ambiente de crescimento humano acolhedor”. E para cumpri-la, destaca como primeiro

entre os seus objetivos institucionais, “promover o acesso e a permanência do aluno com vista

à inclusão social” (PPP, 2013).

No entanto, o PPP e outros documentos analisados da escola, não descrevem

diretamente estratégias para garantir o acesso e a permanência a todos os seus educandos ou

àqueles que procuram vagas na escola, sejam eles os moradores do bairro Zilah, dos bairros

vizinhos ou moradores da Ocupação Helena Greco/Zilah Spósito que, ao contrário da

Ocupação Rosa Leão, já tinha quase dois anos de existência na época da publicação do

Projeto.

Indiretamente, o que o PPP da escola propõe através dos seus tópicos, como

Finalidades, Estrutura Organizacional, Currículo, Tempos e Espaços Escolares, entre outros,

podendo ser interpretados como favoráveis ao acesso e à permanência dos estudantes em

geral, e dos estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão, são:

11

O nome da escola é em homenagem ao Professor Daniel Alvarenga. Daniel Alvarenga foi graduado em Letras

pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), professor de Linguística da Faculdade de

Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutor em Psicologia Cognitiva pela Universidade

Paris VIII, França. Desde a sua graduação, Daniel Alvarenga atuou na capacitação de professores e alfabetização

de educandos. Primeiramente em Belo Horizonte, depois em Paris e, por fim, no interior do Brasil. A sua

proposta e prática de alfabetização consistia em alfabetizar vinte pessoas que se comprometiam a ensinar outras

vinte. Proposta esta inspiradora de um projeto nacional encabeçado pela Primeira-Dama Ruth Cardoso, o qual

não teve tempo de acompanhar. O Prof. Daniel Alvarenga faleceu em agosto de 1997 quando se dedicava à

escrita de textos e livros sobre a sua experiência em alfabetização (VIDAS, 2015).

53

1º) a descrição de sua proposta para uma educação para direitos e democracia, com uma

política e prática voltadas para a inclusão social, acolhida, bons relacionamentos e

socialização entre os sujeitos escolares.

2º) a organização em ciclos, implantados pela PBH desde o governo do prefeito Patrus

Ananias - Programa Escola Plural -, que valoriza os ciclos de aprendizagem na idade e

etapas certas e, entre outros aspectos, questiona e impede a reprovação a cada ano

letivo12

.

3º) a previsão de inclusivas e periódicas propostas de apoio e avalição da aprendizagem,

como Recuperação por trimestre, Estudos Intensivos no ano seguinte, Projeto de

Intervenção Pedagógica, e a proposta da própria escola pesquisada denominada de

Enturmação Flexível13.

4º) a existência da Escola Integrada que, de acordo com o PPP (2013), possibilita ao

estudante permanecer por mais tempo na escola ao fornecer alimentação, reforço

escolar e atividades educativas e culturais dentro e fora do espaço escolar,

complementando a proposta político-pedagógica da escola14.

5º) a organização de espaços, tempos e currículos que favorecem o encontro e as

oportunidades para o planejamento, discussão e realização de atividades coletivas.

Atividades estas que, segundo o PPP da escola, devem estar conectadas às

necessidades, desejos, saberes e realidade da comunidade escolar.

12

O Programa Escola Plural foi implantado gradativa e coletivamente pelo Governo e Rede Municipal de Belo

Horizonte a partir de 1995, influenciado pelas discussões sobre a educação pública desde a década de 1970. O

Programa apresenta-se como uma Diretriz Política e Pedagógica que visa transformar as escolas municipais,

tendo como princípios o direito à educação (acesso, permanência e qualidade no processo educativo) e a inclusão

social; e com eixos norteadores que problematizam e buscam construir novas perspectivas para organização dos

espaços, tempos e processos escolares (www.pbh.gov.br/smed/escoplur/escplu00.htm) 13

Estas propostas foram desenvolvidas nos últimos anos pelos governos estaduais e municipais para que as

escolas pudessem aperfeiçoar as possibilidades de apoios e avaliações de aprendizagem em todo o período

letivo, de acordo com as necessidades específicas da escola ou grupo de educandos. Entre outros objetivos, estão

o de melhorar a aprendizagem dos que apresentam dificuldades específicas e o de diminuir os índices de

reprovação escolar, como argumenta o documento da Escola Plural, desenvolvedora do projeto Turmas

Aceleradas (www.pbh.gov.br/smed/escoplur/escplu00.htm). A Enturmação Flexível é uma proposta da E.M.

Prof. Daniel Alvarenga dentro desta perspectiva de apoio e avaliação escolar. Segundo o seu PPP (2013), a

Enturmação Flexível visa reunir, periodicamente, grupos pequenos de educandos que apresentam demandas

específicas para serem atendidos pelos professores da Instituição, a fim de melhor desenvolver as competências

necessárias do grupo. 14

Desde a segunda metade do século passado, pensadores da educação brasileira defenderam e/ou

implementaram programas de educação integral - como os CIEPS (Centro Integrado de Educação Pública) no

Governo Brizola e Darcy Ribeiro (ROCHA, 2010) - para o trabalho em prol do desenvolvimento escolar e pleno

do educando, articulado com a escola e a comunidade em suas instituições, agentes e possibilidades de

aprendizagem. Nesse sentido, em 2006, o Programa Escola Integrada foi implantado na Rede Municipal de Belo

Horizonte, chegando a ser reconhecido e bem avaliado ao longo dos seus anos (ITAÚ SOCIAL, 2011).

54

Estes fatores presentes no PPP da E.M. Prof. Daniel Alvarenga podem ser

contributivos ao melhor acesso e permanência na escola, conforme apontam as compreensões

políticas e educacionais de DINIZ (2015), FREIRE (1987, 2014) e PBH (2017).

Outros fatores que comprovam, contribuem ou ainda não avançam para o acesso e

permanência na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, obtidos na análise dos outros documentos além

do PPP da Instituição, estão na Lista de matrícula e enturmação dos estudantes da escola, na

existência de alguns equipamentos e serviços públicos ao redor, e no exemplo de ações da

modalidade EJA descritas nos dois números da Revista Vidas.

A consulta à lista de matrícula e enturmação dos estudantes da E.M. Prof. Daniel

Alvarenga permitiu a confirmação do acesso das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão à Instituição, assim como a possibilidade de levantar a amostra da pesquisa, e realizar o

planejamento da aplicação do questionário para com os estudantes moradores da Ocupação.

São cerca de 60 estudantes do último ano do 2º ciclo e de todo o 3º ciclo - sujeitos de

inclusão da pesquisa - diagnosticados em três endereços identificados como da Ocupação

Rosa Leão.

Esta simples identificação não existe nas outras duas escolas estaduais previstas

anteriormente como integrantes do cenário da pesquisa, que se situam próximas à Ocupação

Rosa Leão e que recebem os adolescentes moradores desta. Estas duas instituições alegaram

não identificar em nenhuma lista oficial os estudantes da Ocupação em seus respectivos

endereços, ou em endereços identificados como da Ocupação Rosa Leão.

Com isso, estas duas escolas estaduais não têm condições de fazer um levantamento

geral de quantos estudantes de ocupações urbanas elas atendem, o que impede a escola de

fazer um diagnóstico do seu público e pensar em ações político-pedagógicas para garantir

melhor acesso, permanência e processo educativo deste. Motivos esses pelos quais a pesquisa

não foi realizada nessas escolas.

Já a E.M. Prof. Daniel Alvarenga, para avançar na garantia do acesso e permanência

dos estudantes da Ocupação Rosa Leão à Instituição, como prevê o seu PPP, poderia

identificar o endereço real de cada um dos moradores da Ocupação, pois esta organiza-se em

seu território através de ruas e números, como outros bairros, mesmo que ainda não

regularizada.

Esta identificação correta do endereço complementaria o acesso por contato telefônico

aos responsáveis dos estudantes, e poderia permitir ao Conselho Tutelar, CRAS ou o

Programa Escola-Família o encontro do estudante e família para atendimentos contributivos

para a não evasão, melhor permanência ou retorno à escola, conforme preconiza a legislação

55

brasileira sobre a educação e proteção dos direitos da criança e do adolescente (BRASIL,

1988; BRASIL, 1990; BRASIL, 1996). Além disso, possibilitaria o reconhecimento da

Ocupação Rosa Leão e dos seus moradores como integrantes à área de atendimento escolar,

como portadores de direitos, merecedora de ser incluída com igualdade nos diagnósticos,

planejamentos, políticas e ações públicas e locais, entre elas a educacional.

Tal identificação é uma demanda da Ocupação Rosa Leão e das outras ocupações da

RMBH, que visa integrar-se à região, ter o acesso às políticas públicas da cidade, como

garante o arcabouço legal brasileiro (BRASIL, 1988, 2001), mas que ainda não é cumprido

pelas instituições, que continuam a negar, dificultar e não incluir totalmente as ocupações e

moradores aos seus serviços (PROGRAMA... 2015).

Outro exemplo de práticas que podem contribuir para a permanência dos estudantes do

Ensino Fundamental na escola, pode ser obtido no estudo das revistas Vidas (2013, 2015) da

modalidade EJA da Instituição pesquisada.

Nos dois números da revista percebe-se proximidade discursiva e prática entre o PPP

(2013) da escola, a proposta da EJA e da revista, e a postura e ações descritas nos dois anos

letivos - 2013 e 2015 - desta modalidade.

Nas revistas, diferentes profissionais e estudantes da EJA avaliam positivamente a

modalidade nestes anos letivos como resultado, dentre outros, da busca por um ambiente de

boa socialização e atendimento às demandas que cada estudante traz; da valorização de suas

experiências de vida e saberes; da oferta de aprendizagens significativas a fim de garantir a

permanência na escola, e conclusão desta etapa de ensino. Como exemplifica a fala de um

professor e estudante na Revista Vidas:

O acolhimento aos alunos na EMPDA é realizado com carinho e espírito de grupo

com o objetivo de criar um ambiente de amizade. Agimos dessa forma para, em

seguida, promover atividades pedagógicas relevantes. Assim, percebemos que os

estudantes desejam estar no espaço escolar (VIDAS, 2013, p. 64).

Teve um momento no colégio que mais me chamou a atenção – foram os

professores, “de bom nível, de boas maneiras na posição de ensinar e respeitar cada

aluno”. [...] Uma coisa boa que representa na minha vida hoje, na volta à escola, foi

aprender mais e mais com cada um. Na minha forma de pensar, é ter sabedoria,

respeito com os colegas da escola, entender e ser entendido na sua forma de pensar

(VIDAS, 2013, p. 31-32).

Esta proximidade entre a teoria e a prática, e a busca pela permanência desta coerência

entre o PPP da escola, proposta da EJA e as práticas na Instituição, são fatores que

contribuem para a permanência e consequente processo educativo exitoso na escola, seja para

o seu público geral, seja para os moradores da Ocupação Rosa Leão, que conforme relatos do

editorial e dos estudantes do número de 2015, atendem aos moradores da Ocupação.

56

A ressalva que se faz aqui é que, por mais que o segundo número da Revista Vidas

(2015) tivesse como objetivo que os estudantes descrevessem a sua trajetória de moradia, haja

vista o reconhecimento de seus profissionais do contexto histórico e recente de habitação no

bairro Zilah Spósito e proximidades, não foi feito um artigo ou descrição maior da

constituição e das lutas por direitos da Ocupação Rosa Leão. A mesma falha ocorreu na

revista de 2013, quando na época a Ocupação Helena Greco/Zilah Spósito já estava próxima

dos seus dois anos de formação.

2.1.2 Processo educativo na escola pesquisada

Os documentos da escola analisados por esta pesquisa condizem com uma proposta de

educação e processo educativo que critica a educação bancária, o ensino tradicionalista, e

alinha-se às teorias críticas da educação, às previsões da legislação educacional brasileira e ao

pensamento do educador Paulo Freire.

Em seu PPP (2013), a E.M. Prof. Daniel Alvarenga aponta como finalidade o

desenvolvimento pleno do educando, o entendimento da sociedade e do homem como

multidimensional, a perspectiva do trabalho educativo sob a totalidade do mundo e do

educando, como defendia Freire (1987, 1989, 2014).

Como estratégias para alcançar a finalidade da educação e desta Instituição, a escola

através do seu PPP, elenca a gestão e a prática democrática e dialógica com os seus sujeitos

escolares e a comunidade local; a organização dos espaços, tempos, currículos e práticas que

valorizem os ciclos de aprendizagem e idade dos educandos; os encontros para planejamento,

discussão e realização coletiva; e experiências educativas mais significativas, integrais e

participativas (PROJETO..., 2013).

No tópico Currículo, em especial, mas também em outros tópicos do PPP e de outros

documentos analisados, a escola afirma a importância de conhecer a realidade social, local e

escolar, diagnosticar as necessidades e desejos da comunidade, valorizar e levar as

experiências e saberes dos seus sujeitos para o currículo, salas de aula e práticas pedagógicas.

A escola defende a organização do currículo, das disciplinas e práticas conectadas com

a vida concreta do estudante, relacionando a teoria e a prática para, a partir disso, aproximar e

relacionar estes com o conhecimento dos saberes historicamente acumulados pela sociedade,

como também preconizava Freire (1987, 1989, 2014). Para tanto, a Instituição prevê a

desfragmentação das disciplinas, a interdisciplinaridade e o desenvolvimento de projetos

coletivos (PROJETO..., 2013).

57

Ao reafirmar os seus objetivos nos documentos escolares, a escola não cita a

adaptação dos seus sujeitos ao mundo atual, mas a educação para compreender, intervir e

transformar a realidade, ou seja, uma educação que corrobora com a educação para a

transformação, preconizada por Freire (1987) e teóricos de uma estratégia popular e contra-

hegemônica de desenvolvimento local e nacional, como Christoffoli (2010) e Natal (2013).

A escola compreende a história e o presente do bairro Zilah Spósito, como local, antes

e hoje, marcados pela desigualdade e exclusão social, não garantia de direitos; mas também a

existência de algumas melhorias por força da luta dos seus moradores, da reivindicação desses

ao poder público, avaliado pela Instituição como falho, lento, excludente e descompromissado

com esta população (ROSA, 2010; VIDAS, 2013, 2015).

A comunidade é formada por famílias com baixo poder aquisitivo, pessoas marcadas

pela exclusão social, vítimas do descaso das autoridades, carentes de bens e serviços

essenciais para a satisfação das necessidades básicas, além da falta de acesso à

saúde, segurança, justiça, cidadania e representação política. Oriunda do Movimento

dos Sem Teto tem como característica principal a utilização de lutas e movimentos

organizados para reivindicar seus direitos (PROJETO..., 2013, p. 5).

Entretanto, em seu PPP (2013), assim como nas revistas Vidas (2013, 2015), a

Ocupação Helena Greco/Zilah Spósito, já existente no período de produção destes materiais e

a Ocupação Rosa Leão (não existente ou muito incipiente no período da produção destes, não

foram diagnosticadas, contextualizadas e integradas com efetividade nos documentos e

processos escolares, assim como outros bairros vizinhos.

Trabalho importante a ser feito nas próximas discussões acerca do estudo da realidade

local e reelaboração do PPP e práticas da escola. Para permitir melhor intervenção escolar em

prol do acesso, permanência, processo educativo e desenvolvimento do seu público, como nos

dizem os teóricos de educação e desenvolvimento referenciados nesta pesquisa (ÁVILA,

2012; CHRISTOFFOLI, 2010; DOWBOR, 2007; FREIRE, 1987, 1989, 2014; NATAL,

2013).

Outro aspecto importante analisado nos documentos escolares, relacionado ao

processo educativo é a intervenção municipal sofrida pela E.M. Prof. Daniel Alvarenga no

ano de 2007 (ROSA, 2010; VIDAS, 2013, 2015).

Segundo os documentos escolares, devido ao relacionamento conflituoso entre escola

e comunidade, que inclusive, gerou a evasão de muitos professores, e os baixos índices do

IDEB e Prova Brasil, o Ministério da Educação sugeriu e o município encaminhou uma

diretora interventora para a escola (DIAS, 2014; ROSA, 2010; VIDAS, 2013, 2015).

58

“Queremos uma escola feliz”, diz Andréa Caroline Correia Silva. Ela é atual

diretora, mas chegou à Instituição no início de 2007 para desempenhar o difícil

papel de interventora enviada pela Secretaria Municipal de Educação. Na época, a

situação parecia insustentável, uma vez que todo o quadro de professores havia

pedido transferência, amedrontado pelo fantasma da violência que assombrava o

lugar (VIDAS, 2013, p. 6-7).

De acordo com os sujeitos escolares que vivenciaram esta intervenção, esta mudança

logo provocou efeito positivo na prática política e pedagógica da escola. Como suas primeiras

medidas, a direção e equipe convocaram a comunidade escolar para uma assembleia, quando

se pôde ouvir e dialogar a avaliação desta sobre a escola.

Desde aí, a comunidade foi convocada e participou de diversificadas avaliações,

encontros e atividades da Instituição. A escola investiu no conhecimento da realidade local, na

integração da comunidade à Instituição, no trabalho com a autoestima da comunidade e

estudantes (VIDAS, 2013, 2015).

Os resultados que a escola e a comunidade colheram foram a melhoria constante nas

avaliações internas e externas, conservação e reorganização do espaço escolar favorável ao

processo educativo, estabelecimento de tempo para planejamento, execução e avaliação da

escola e dos seus processos, realização de projetos coletivos, etc.

A Escola hoje representa bem a boa interação entre o equipamento público e a

comunidade local. Mas, nem sempre foi assim. A mudança no ambiente escolar só

foi possível a partir do momento em que a Instituição adotou os princípios da gestão

democrática, convidando a comunidade a participar das decisões e envolvendo o

corpo docente e os demais funcionários nos rumos da Instituição. Nos últimos cinco

anos, reorganizou sua administração e seu quadro de trabalhadores, estabelecendo a

parceria escola-comunidade. Onde havia pichação, hoje há grafite, painéis com

imagens de alunos e pais, além de mensagens sobre cooperação, divisão de

responsabilidades e bem-estar. [...] Se no passado a Instituição foi notícia nos jornais

porque seus alunos não dispunham sequer de carteiras para se sentar, atualmente a

pauta é outra. Em dezembro de 2008, a mídia local divulgou os projetos que

receberam o Prêmio Paulo Freire, da Secretaria Municipal de Educação de Belo

Horizonte, no qual a Escola conquistou o segundo lugar na categoria “Qualidade de

Vida”, com o projeto “Comunidade em Movimento”, cujo objetivo é a formação de

líderes comunitários. Além de investir em intercâmbios com outras comunidades

que desenvolvem programas de sucesso, a diretoria promove encontros semanais em

que todo o corpo escolar discute os problemas da região, faz reivindicações e

dialoga com a administração municipal na busca de soluções (VIDAS, 2013, p. 6-8).

Segundo a Revista Vidas (2013), como prova do reconhecimento desta intervenção, a

comunidade e a equipe escolar elegeram para as duas próximas gestões, a diretora que chegou

pela primeira vez à escola como interventora.

O atual PPP da escola, assim como os outros documentos analisados, refletem o

impacto e o interesse da escola na manutenção e no desenvolvimento da proposta política e

pedagógica executada no período de intervenção e pós-intervenção. Para tanto, claro, faz-se

59

necessária a manutenção e o desenvolvimento de práticas, atitudes e comportamentos por toda

a equipe no dia a dia escolar, em seus ambientes e processos.

Um último exemplo, entre os documentos analisados para esta pesquisa, de

alinhamento prático com a proposta política pedagógica da escola do período pós-intervenção

e período atual são as revistas Vidas. O seu segundo e último número, de 2015, traz em suas

noventa páginas, a divulgação de artigos, entrevistas, relatos de experiências dos sujeitos

escolares, e as atividades que convergem com as finalidades da educação e desta escola com

os processos educativos constituídos pela Instituição até aquele ano.

Neste número da revista (2015), que reafirma a proposta e o conteúdo da revista

anterior, assim como da escola e da modalidade EJA, os profissionais e estudantes relataram a

existência de um ambiente escolar acolhedor, propiciador de bons relacionamentos entre os

sujeitos e aprendizagens significativas. Fatores que contribuíram para o atendimento e a

resolução de demandas individuais e coletivas de aprendizagem, o reconhecimento e

valorização das funções da escola e educação, que naquele espaço e momento estavam sendo

realizados.

Na análise dos artigos e relatos das atividades escolares, percebe-se a preocupação, a

adequação e a aplicabilidade do currículo escolar com a proposta da EJA e a realidade social

dos seus estudantes. Todavia, observa-se neste e no primeiro número, em artigos e relatos de

educadores, o incentivo à visita técnica e fruição cultural dos espaços do centro e de outras

regiões da cidade, sem descrição de experiências e maior incentivo ao diagnóstico, visita,

estudo e intervenção no bairro e entorno da comunidade, como a Ocupação Rosa Leão.

Por fim, a análise de alguns documentos da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, permite a

consideração de que o acesso, a permanência e o processo educativo proposto pela escola

objetiva a inclusão social da comunidade escolar, incentivando, para tanto, a acolhida, a

socialização e o bom relacionamento entre os sujeitos para a facilitação de aprendizagens

significativas através do conhecimento e produção sobre a realidade social e local.

Exemplo, mesmo que mínimo, está na realização nos últimos anos da matrícula dos

moradores da Rosa Leão, e a identificação dos sujeitos que lá residem em alguns endereços

identificados como da Ocupação, dever constitucional que até hoje a gestão pública e diversas

escolas não cumprem, quando na formação de novas ocupações, ou até mesmo naquelas em

fase de consolidação (BRASIL 247, 2015; TRIBUNA DE BETIM, 2017).

Contudo, pensando não só na matrícula, mas na inclusão, permanência e processo

educativo dos estudantes, sobretudo da Ocupação Rosa Leão, avanços da escola podem e

devem ser realizados, como o reconhecimento do endereço correto de cada estudante da

60

Ocupação, novo diagnóstico e proposta política e pedagógica para o território local, que

inclua a ocupação em todos os processos escolares.

Parafraseando o título do livro que conta a história do bairro Zilah e da escola

instalada neste, O Zilah é logo ali, o Zilah é bem aqui (2010), faz-se necessário que a E.M.

Prof. Daniel Alvarenga reconheça que a Ocupação Rosa Leão é logo ali, a Ocupação Rosa

Leão é bem aqui. Haja vista que um dos acessos à Ocupação fica a cerca de 200 metros de

distância da escola e, só no último ano do 2º ciclo e nos três anos do 3º ciclo, são 60

estudantes frequentando esta escola. Número que pode ser consideravelmente maior se

diagnosticarmos aqueles que utilizaram outros endereços para a realização da matrícula,

mesmo residentes na Ocupação.

A consideração desta realidade, a Ocupação Rosa Leão é logo ali, a Ocupação Rosa

Leão é bem aqui, pela escola, que é sabida pelos seus profissionais e comunidade escolar, mas

ainda não descrita e discutida nas produções escolares, contribuirá para melhor intervenção na

educação e no desenvolvimento local, conforme apontam os teóricos de educação e

desenvolvimento referenciados nesta pesquisa.

O entendimento de que a Ocupação Rosa Leão é logo ali, a Ocupação Rosa Leão é

bem aqui, assim como outra ocupação e bairros vizinhos à E.M. Prof. Daniel Alvarenga,

provocando na mesma a mudança ou alongamento de percepção sobre o território que atende,

permitirá, como afirmava Freire (1987), o não desconhecimento e divisão entre as realidades

próximas e coincidentes, e sim, o entendimento de que estes bairros e ocupações, apesar de

suas especificidades, são habitados pela mesma população, a classe trabalhadora brasileira,

que enfrenta problemas sociais derivados das desigualdades de nosso país.

2.2 Apresentação e discussão dos dados das entrevistas com Coordenadoras da

Ocupação Rosa Leão

A Ocupação Rosa Leão, desde a sua formação, organiza-se por meio da

representatividade de moradoras Coordenadoras reconhecidas pelos residentes desta.

Residentes que semanalmente - no início, diariamente - participam em assembleias para tomar

conhecimento da situação das lutas, dialogar, organizar ações e votar demandas levantadas.

A Ocupação tem também a coordenação, o apoio e a presença de movimentos sociais,

grupos de pesquisa e outras entidades. Contudo, esta pesquisa pretendeu entrevistar

61

Coordenadoras que moram na Ocupação, trabalham diretamente com as demandas das

famílias e têm familiares que acessam as escolas e outros equipamentos públicos da região.

O presente estudo entrevistou quatro das quatorze Coordenadoras da Ocupação15

,

Coordenadoras que fazem parte da Coordenação Geral, indicadas por esta devido a suas

experiências e atuações na Ocupação Rosa Leão e que poderiam prestar mais informações

sobre o objeto da pesquisa.

As quatro Coordenadoras protagonizaram e vivenciaram a trajetória da Ocupação

desde o seu início. Desde a constituição das primeiras casas de lona e madeirite, os primeiros

enfrentamentos com a polícia, o estranhamento da população do entorno, os riscos de despejo,

até as últimas manifestações, resistências e conquistas.

Por tudo que estas Coordenadoras acompanharam do início da ocupação até os dias

atuais, seus pontos de vista colaboraram substancialmente para a obtenção do contexto do

acesso, permanência e processo educativo das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão à educação formal. Especialmente em três escolas da região que, de acordo com Libânio

e Nascimento (2016), e Coordenadoras da Ocupação, mais atendem aos moradores dali. Entre

elas, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga, cenário de trabalho e estudo dos professores e estudantes

entrevistados.

Segue abaixo o conteúdo dos seus depoimentos através das categorias e unidades de

análise da pesquisa, apresentadas no QUADRO 1.

15

Coordenadoras entrevistadas em 5 de agosto (Coordenadora 1), 12 de agosto (Coordenadora 2), 9 de agosto

(Coordenadora 3) e 16 de setembro (Coordenadora 4) de 2017.

62

QUADRO 1 - Categorias e Unidades de Análise das Entrevistas com Coordenadoras da Ocupação

Rosa Leão

(Continua)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

C1: ACESSO À

ESCOLA UA1: PROCESSO DE MATRÍCULA

[Q 3.1] Q 3.1: Os responsáveis das crianças

e adolescentes de 4 a 17 anos residentes na

Ocupação Rosa Leão têm conseguido

realizar matrícula dos seus filhos nas

escolas próximas à Ocupação? Sempre foi

assim? Caso tenha, quais são as

dificuldades?

C2: PERMANÊNCIA

NA ESCOLA

UA2: PERCEPÇÃO DOS

MORADORES DA OCUPAÇÃO

SOBRE A(S) ESCOLA(S)

[Q 3.2, Q 4.1, Q 4.2 e Q 5.1]: Q 3.2: Você

conhece alguma escola que atende crianças

e adolescentes da Ocupação Rosa Leão? O

que você pode dizer sobre elas?

Q 4.1: Os familiares comentam sobre as

escolas em que seus filhos estudam? O que

eles dizem? Q 4.2: Os alunos comentam

sobre a escola em que eles estudam? O que

eles dizem?

Q 5.1: O que os moradores da Ocupação

acham das escolas da região? E os

Coordenadores?

UA3: DIFICULDADES PARA IR,

FREQUENTAR E PERMANECER

NA ESCOLA

[Q 4.3, Q 4.4 e Q 4.5] Q 4.3: Os estudantes

moradores da Ocupação têm dificuldades

para ir para a escola? Caso sim, quais são?

Q 4.4: Os estudantes da Ocupação têm

dificuldades para frequentar todos os dias e

assim permanecer (não abandonar) na

escola? Caso sim, quais são? Q 4.5: Você

sabe de situações em que as crianças e

adolescentes deixaram de frequentar as

aulas? Caso sim, quais foram os motivos?

UA4: OPINIÃO DOS MORADORES

DO ENTORNO E PROFISSIONAIS

ESOLARES SOBRE A OCUPAÇÃO

E O ATENDIMENTO ESCOLAR

DOS MORADORES DA

OCUPAÇÃO

[Q 4.6 e Q 4.7] Q 4.6: O que os moradores

do entorno dizem sobre a Ocupação Rosa

Leão? Q 4.7: O que os moradores do

entorno e os profissionais das escolas

dizem sobre o atendimento escolar às

crianças e adolescentes residentes na

Ocupação Rosa Leão?

C3: PROCESSO

EDUCATIVO NA

ESCOLA

UA5: CONTATO COM A

OCUPAÇÃO

Q 5.6: Já houve visita de algum funcionário

das escolas na Ocupação?

UA6: PRESENÇA E

PARTICIPAÇÃO DOS

MORADORES DA OCUPAÇÃO NA

ESCOLA

[Q 5.2 e Q 5.3] Q 5.2: Os familiares,

moradores e coordenadores da Ocupação

são convidados a participar dos eventos das

escolas? Q 5.3: De quais eventos e como

eles participam?

63

(Conclusão)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

C3: PROCESSO

EDUCATIVO NA

ESCOLA

UA7: AÇÃO E APOIO DA ESCOLA

E DA OCUPAÇÃO PARA COM OS

ESTUDOS DOS MORADORES

[Q 4.8, Q 5.7 e Q 5.8] Q 4.8: Existe alguma

ação de apoio à educação das crianças e

adolescentes moradores da Ocupação Rosa

Leão? Se sim, qual? Q 5.7: Já foi discutida

a possibilidade de construção de creche e

escola na Ocupação? O que já foi

conversado a este respeito? Quais foram ou

seriam as dificuldades e potencialidades

para isso? Q 5.8: A Ocupação Rosa Leão,

através de seus moradores, coordenações,

movimentos sociais e grupos de apoio, já

apresentou sugestões para as escolas? Se

sim, quais foram e quais propostas tiveram

resultados? Caso não, quais você(s)

faria(m)?

UA8: PERCEPÇÃO DOS

MORADORES SOBRE O

PROCESSO EDUCATIVO NA

ESCOLA

[Q 5.5 e Q 5.4] Q 5.4: Já houve

reclamações quanto a desrespeito e

discriminação nas escolas? Q 5.5: O que os

familiares, moradores e estudantes dizem

sobre os projetos, currículos e

relacionamentos dentro da escola? Por

exemplo, os alunos estudam sobre a

realidade do bairro e da Ocupação Rosa

Leão?

2.2.1 Categoria 1 – Acesso à escola

Esta categoria, na entrevista com as Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão, objetivou

compreender a trajetória da Ocupação e suas famílias em solicitar e obter a matrícula dos seus

filhos nas três escolas mais próximas, localizadas na cidade de Belo Horizonte, que atendem

os estudantes da Rosa Leão. Nessa categoria, Acesso à escola, as questões da entrevista foram

organizadas em uma única Unidade de Análise, conforme apresentação a seguir.

Unidade de Análise 1 – Processo de Matrícula

Pela experiência de moradia e coordenação na Ocupação Rosa Leão, do início da

ocupação até os dias atuais, esta Unidade de Análise pretendeu questionar, junto às

Coordenadoras, como foi a trajetória de reivindicação e conquista da matrícula das crianças e

adolescentes moradores desta em três escolas da região. Entre elas, a E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, escola cenário de coleta documental, e Instituição de ensino dos sujeitos da

pesquisa participantes do questionário e entrevista.

Segundo as Coordenadoras da Rosa Leão, nos primeiros anos da Ocupação, as

crianças e adolescentes não conseguiram acesso às escolas próximas. Muitos ficaram sem

64

estudar. Os motivos atribuídos pelas mesmas foram a orientação do Prefeito de Belo

Horizonte, de impedir o acesso a esta população para que dificultasse a sua permanência no

local, a alegação de falta de estrutura e vagas para recebê-los, e até negligência ou

preconceito.

Inicialmente, no início da Ocupação, por exemplo, era proibido o cadastramento,

afinal, tinha um Administrador Municipal que queria atrapalhar, prejudicar,

envelopar de fato a Ocupação. De fato que as famílias desistissem de ficar no

terreno, e fossem embora, então proibia tanto a saúde, tanto a educação. Então,

muitas crianças ficaram sem estudar, perderam ano letivo. Muitas mães que

moravam aqui na Ocupação e tinham que pegar ônibus para levar a criança e voltar,

buscar e levar. Ainda tem casos assim na Ocupação, e tem muitas crianças fora da

escola porque não conseguem vaga. Então, no início era bem mais difícil, não

aceitava de jeito nenhum, depois aceitaram alguns, mesmo nas dificuldades. Hoje

ainda têm muitos fora da aula por falta de estrutura, de espaço físico nas escolas,

segundo a direção (Coordenadora 3).

Então essa discriminação veio pras escolas, ela veio da Prefeitura para cá, né?

Márcio Lacerda dava certeza pra escolas que a Ocupação não ia ficar. A escola por

sua vez, pra quê matricular, se o menino não vai ficar, né? Então foi isso aí. Alegava

que não tinha como, a escola não tinha estrutura para isso. Mas que na realidade

tinha, porque as crianças depois foram todas encaixadas ali dentro, né?

(Coordenadora 4).

Sobre o acesso às escolas no presente, as Coordenadoras disseram que está mais fácil,

entre outros motivos, por causa da consolidação da Ocupação, das manifestações que já

fizeram, como no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), na Regional Norte e

nas próprias escolas, além de outras mobilizações.

No entanto, algumas ainda alegam que, às vezes, dependendo da escola, até hoje

algumas famílias da Ocupação não conseguem a matrícula para os seus filhos por falta de um

comprovante de residência, vaga ou negligência. É o que conta uma Coordenadora sobre uma

escola, informação confirmada por outra Coordenadora também.

Quando você chega lá e fala que é da Ocupação, eles não querem atender. Falam que

não tem vaga. Tem escolas que não aceitam os alunos da Ocupação. Eles já têm isso.

Negam o atendimento dos meninos da Ocupação. Eles dizem que não é do bairro.

Que não têm CEP. Mas tem que atender todo mundo né, é direito, independente

onde mora. E isso é mentira, tanto que, quando alguns pais vão na Regional

reclamar, exigir a vaga, alguns pais conseguem a matrícula dos meninos

(Coordenadora 2).

Quanto à E.M. Prof. Daniel Alvarenga, as Coordenadoras disseram que esta é mais

aberta, nela é mais fácil conseguir matrícula. Ela inclusive se organiza e dialoga melhor com a

Ocupação e seus moradores para atender os estudantes.

65

[...] a diretora de lá sempre foi parceira da gente assim, sempre quis fazer matrícula.

Mas, pela administração e burocracia, e por depender de outros né, para tomar

decisões, tinha os entraves que não permitia fazer a matrícula das crianças e

adolescentes, etc. (Coordenadora 3).

Importante dizer que, como descreveram as Coordenadoras, as famílias da Ocupação,

desde o seu início, não aceitavam a negativa de falta de endereço, vaga, estrutura ou outro

motivo para a recusa da matrícula dos seus filhos. Muitas delas foram à Regional reclamar e

participaram de manifestações para garantir educação e saúde. A Constituição Federal e a

LDBEN 9394/96 garantem esse direito às mesmas. A educação é um direito humano, o

primeiro dos direitos fundamentais do Brasil, é um direito subjetivo que lhes dá o poder de

provocar a justiça, para que esta e as autoridades ajam rapidamente na realização da matrícula

dos estudantes (BRASIL, 1988; BRASIL, 1996; CURY, 2014).

2.2.2 Categoria 2 – Permanência na escola

Esta categoria pretendeu obter através das Coordenadoras da Ocupação, a avaliação

dos moradores da comunidade escolar onde a Ocupação Rosa Leão e as escolas próximas se

encontram, sobre a Ocupação, as escolas e o atendimento escolar das crianças e adolescentes

da Rosa Leão. Avaliações estas possibilitadoras de uma visão geral do cenário da pesquisa e

potencialmente influenciadoras, entre outros aspectos, na permanência ou não dos estudantes

da Ocupação nas escolas da região.

Mais especificamente, a categoria permanência também investigou junto às

Coordenadoras, as possíveis dificuldades - ou não - das crianças e adolescentes da Ocupação

em ir, frequentar todos os dias e assim permanecer nas escolas. Nessa categoria foi possível

organizar as questões em três unidades de análise.

Unidade de Análise 2 – Percepção dos moradores da Ocupação sobre as escolas

Esta Unidade de Análise teve o objetivo de averiguar diante das Coordenadoras da

Ocupação, o que elas, os moradores, os responsáveis e os estudantes da Rosa Leão conhecem,

pensam e comentam sobre as escolas da região.

O resultado apresentado pela análise das entrevistas é que as Coordenadoras conhecem

e conversam com responsáveis e estudantes sobre as escolas da região. As Coordenadoras

possuem uma avaliação das escolas, desde o atendimento para matrícula e outros assuntos, até

o processo educativo com os estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão.

66

Sobre a percepção das famílias quanto às escolas da região, segundo as Coordenadoras

da Ocupação, antes, as famílias reclamavam muito que não conseguiam matricular os seus

filhos nas escolas, o que acontece ainda hoje, mas com menor frequência.

Atualmente, as quatro Coordenadoras expressam a preocupação de algumas famílias e

delas mesmas com algumas questões de ensino, como o analfabetismo percebido entre os

estudantes do Ensino Fundamental I e II, e a necessidade de um processo educativo mais

dialógico e democrático, sobretudo no ensino médio. Isso no geral, e também especificamente

com os estudantes da Ocupação.

Foram relatadas, principalmente no ensino médio, experiências de resistência à

ocupação de uma das escolas (realizadas no Brasil na época da rejeição estudantil contra a

Proposta de Emenda Constitucional do Congelamento dos Gastos Sociais e a Medida

Provisória da Reforma do Ensino Médio), a não efetividade dos conselhos escolares e o não

trabalho educativo sobre o contexto de moradia em ocupação.

Olha! Isso eu tô fazendo, uma avaliação bem geral assim, tanto aqui do Rosa, quanto

do que eu já escutei de outros casos na Ocupação Esperança e Vitória. É, muitas

famílias, por exemplo, mães e pais né, que são os principais, reclamam muito de

preconceito dentro das escolas. Isso é gritante assim, tanto em outras escolas igual

eu falei, que vem da própria direção da escola, quanto vem de professores

preconceituosos, por se tratar de criança de ocupação, de adolescentes de ocupação,

tentando despolitizar as crianças dentro de sala de aula. Isso é um absurdo gente.

Professor despolitizando, falando “olha o que você faz é errado, e num sei o quê,

você não tem que ser isso, nã nã nã”, Então, assim, é absurdo isso. E, sofrer

preconceito, crianças e adolescentes, sofrer preconceito assim, concretamente, de

pegar, de chegar com pé de barro na sala, a professora falar, “vai lá pega uma

vassoura e varre a sala”. [...] Olha, se eu for olhar questão dos adolescentes, vamos

falar dos adolescentes. Crianças comentam dessa questão que eu já tinha te relatado.

De bullying, preconceito da professora, preconceito dos coleguinhas que moram no

bairro vizinho, e tratam eles com diferença, isso perpassa a escola toda. Mas

adolescente em especial é questão de professores despolitizando mesmo, igual eu

falei, nas próprias falas, tentando tirar os “adolescentes de cabeça”. Por exemplo,

nas ocupações de uma escola que teve é morador de ocupação que tava lá à frente,

coordenando, falando “vamos ocupar que é direito nosso, etc., não é assim, a escola

tem que ter, tem que ser mais democrática, tem que ter participação dos alunos

porque os alunos que fazem a escola” (Coordenadora 3).

Eles falam que a escola não é aberta. Não ouve eles. Que a escola é autoritária. Eles

já fizeram propostas para a direção, para a escola debater a ocupação, e nada. O que

eles conseguem, conseguem no grito (Coordenadora 2).

Que eu já tentei diversas vezes deixar de estudar, porque eu já não aguentava mais

me chamar de pé vermelho, pé cheio de lama. Porque eu saía pra ir para escola,

ainda mais em verão que tem a poeira toda levantada sabe, me zoava, chamava de

preta, gorda, feia, entendeu? Já pensei várias vezes, desistir, porque os alunos não

têm esse conhecimento que os professores não passam pra eles sabe? A partir de

quando a professora passa esse conhecimento pro aluno, o que é uma ocupação na

verdade, eu acho que ele vai mudar esse conceito deles, sabe? Porque hoje em dia

muito jovem reconhece isso aqui como invasão, sabe, isso daqui não é invasão, não

é invasão. Por mais que eu tente repassar esse conhecimento pra eles, eles não dão

ouvidos, porque é totalmente diferente um professor chegar dentro de sala e falar,

67

isso eu acho que falta muito do professor. Porque o professor, ele passa o que ele

estudou, e a nossa realidade? Não é passada. É isso (Coordenadora 1).

Quanto especificamente à E.M. Prof. Daniel Alvarenga, os moradores e as próprias

Coordenadoras comentam da preocupação que têm com a alfabetização e o nível de ensino da

Instituição, relacionando-o com o contexto social e educacional geral. E também descrevem a

boa acolhida e relação dos profissionais desta escola com os estudantes, apesar da existência

de xingamentos e preconceitos de estudantes dos bairros regularizados para com os estudantes

residentes na Ocupação.

Eu já ouvi falar assim que pode ser uma escola boa, mas pode ser uma escola que

não tenha aquele ensinamento muito bom, aquele ensinamento fluente, sabe? Se

você for à escola ali, você vai pegar menino de 11 anos que não sabe ler. Não sabe

ler. Por mais juntar as palavrinhas assim ó, não sabe ler, sabe? Porque os

professores, como é muita, muita criança, todo ano chega uma carinha nova, todo

ano é uma criança nova, sabe, uma identidade diferente, aí a professora fica perdida

(Coordenadora 1).

Eles dizem lá da escola que o ensino não é bom. Tem garoto de 8, 9 anos que não

sabe escrever. Eles preocupam com o ensino. É isso que eles dizem, eles ficam

preocupados com o ensino. Eu mesma, meus filhos estudam lá na escola do Planalto.

Lá na Avenida Vilarinho. Eu escolhi deixar meus filhos matriculados lá

(Coordenadora 2).

Olha, isso é muito complicado porque num universo de milhares de famílias, existe

uma porcentagem que gosta da escola, acha que o ensino é bom, e acha que a

organização é boa, etc. Mas tem uma grande maioria também que acha que o ensino

é muito fraco, que acha que falta mais, como é que fala, ser enérgico dentro da

escola, porque fica muito solto, as disciplinas, porque as coisas ficam muito soltas

dentro da escola e vira uma bagunça. Aí acaba tendo violência com nossas crianças,

né, crianças com crianças, então assim, existem os dois lados de pontuação sobre

isso (Coordenadora 3).

Eles falam que o ensino não é forte, só que o meu menino que formou lá, ele não

teve esse problema. Foi pra outra escola e sem problema nenhum. Mas naquela

época o menino estudava, levava mais a sério. Mas os pais também não tão

reclamando muito não (Coordenadora 4).

Sobre a acolhida e relação entre educadores e educandos da E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, com exceção de situações pontuais, as Coordenadoras descrevem este aspecto

como positivo:

A relação da escola com a Ocupação foi uma rejeição no início, mas a escola, a

direção, a supervisão, os porteiros, o pessoal da Ocupação, quando abraçou a causa

dos meninos do Rosa Leão, vamos matricular, eles abraçaram de verdade. Abraçou

de verdade. Então, depois que matriculou as crianças né, eu te falei, eu não vi

falando que teve um trabalho sobre a discriminação das crianças entre outras

crianças, dentro da escola. Isso eu acho uma falha que teve. Mas em matéria do

tratamento da escola, do professor, com os profissionais da escola, depois que eles

abraçaram, eles abraçaram de verdade, sabe? (Coordenadora 4).

68

Uma escola totalmente diferente da outra. Foram as únicas escolas que me deram a

oportunidade de eu estar estudando, que me deram uma chance de eu acreditar em

mim mesmo, né? [...] Mas agora, os professores da escola, eu aprendi muito com

eles, mas eu também sei que eu ensinei muito a eles, porque na escola é isso, a gente

aprende, a gente ensina, sabe? E o que eles me passaram hoje, eu tenho até contato

com alguns professores da escola, sabe, algumas pessoas que acreditaram em mim,

que acreditam até hoje, sabe, mas é isso (Coordenadora 1).

Por fim, ao questionar o que elas pensam, especialmente das escolas da região, as

Coordenadoras fizeram análises e proposições relacionadas à demanda por uma maior

abertura e conhecimento da escola com as realidades e necessidades da Ocupação e de seus

moradores.

Para a Coordenadora 4, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga deveria estar aberta aos finais

de semana para a realização de atividades pelos estudantes e moradores da Ocupação. Para a

Coordenadora 1, a escola, que cumpre importante função na sociedade, tem que estar mais

atenta para a diversidade de sujeitos que por ela passam. E para as Coordenadoras 2 e 3, as

escolas da região devem ser mais democráticas e dialogais, devem conhecer melhor a

realidade e o público para quem trabalha. Aspecto já representado nos depoimentos acima e

relacionados diretamente com a linha de pesquisa e referencial teórico desta.

O meu posicionamento pessoal é que eu acho que as escolas em geral tão precisando

de uma reforma, mas não é a reforma do Temer não. Uma reforma de saber, é, como

eu posso te dizer, o saber escutar mesmo as pessoas que moram nesses territórios

sabe? Ter uma formação a partir do dia a dia dessas pessoas sabe? Acho que a escola

tem que ter um espaço para isso, é cidadania, solidariedade, escuta, é diferenciação,

formação, e a escola não tem um espaço para isso e tem que ter. [...] Eu já fui na

universidade dar uma palestra, pessoas que tão fazendo universidade, tão formando

e nã nã nã. Porque que uma escola pública aqui próxima do bairro, da Ocupação,

não pode abrir um espaço de fala lá, dentro da metodologia de trabalho durante o

ano, pra escutar a gente, para ouvir quem são essas pessoas. Pra essas pessoas terem

o direito de falar para essas pessoas, porque nós não temos o dinheiro para comprar

a mídia e mostrar o que é belo e é feio, mas temos nossa voz, nossa vivência e nossa

realidade pra esse povo (Coordenadora 3).

Unidade de Análise 3 – Dificuldades para ir, frequentar e permanecer na escola

Depois da obtenção de vaga em uma escola, milhares de crianças e adolescentes da

classe pobre trabalhadora brasileira, do campo e das periferias, encontram um novo desafio: ir

e frequentar todos os dias a escola sem abandonar os estudos. Obstáculos como transporte

para escola, trabalho dos jovens e das famílias, violência, e processos educativos não

includentes e motivadores são fatores que podem dificultar a frequência e a permanência

destas crianças e adolescentes nas escolas públicas do país (UNICEF, 2012).

69

Por isso, esta Unidade de Análise quis avaliar junto às Coordenadoras da Ocupação

Rosa Leão quais são as dificuldades - ou não - que estas percebem das crianças e adolescentes

moradores da Ocupação em ir, frequentar todos os dias e assim permanecer nas escolas da

região.

O averiguado foi que os estudantes do ensino médio que residem na Ocupação Rosa

Leão passam por uma grande dificuldade de ir para a escola. Ao contrário da escola de Ensino

Fundamental Prof. Daniel Alvarenga, as escolas de ensino médio ficam mais distantes do seu

local de moradia. Esta, inclusive, é uma demanda do bairro Zilah Spósito, sobretudo da

Ocupação Rosa Leão, um assunto que já fez parte de pauta de reunião das Coordenadoras

com o Governo do Estado, segundo a Coordenadora 3.

Como aos estudantes não é ofertado o transporte escolar e nem o passe livre integral,

estes têm ficado suscetíveis a motoristas do transporte coletivo que nem sempre param para os

estudantes, às abordagens policiais nos ônibus, que segundo as Coordenadoras, por vezes,

ocorrem de forma abusiva, e a superlotação e reclamação dos demais passageiros.

A dificuldade pra ir para a escola, é o transporte, né? Porque a gente não tem passe

livre pra ir para a escola. Porque polícia entra dentro do ônibus, tira os jovens,

manda ir a pé, chega atrasado na escola. E o ensino médio aqui perto é à noite, é à

noite, sabe? Aí, imagina um jovem com um psicológico, um psicológico todo

abalado, chega dentro do ônibus indo pra escola, ainda é abordado pela polícia, indo

pra escola, uniformizado ainda, sabe, é a única dificuldade que a gente tem. Porque

passando por cima, pelo Jaqueline, corre o risco da gente ser assaltado, sabe? Isso

aconteceu com uma jovem daqui da Ocupação, Coordenadora também. Ela

descendo, vindo da escola, ela e as amigas dela, foi abordada por um cara que tava

de moto, um motoqueiro, assaltaram ela sabe, então corre esse risco. Esse é única

dificuldade da gente estudar à noite, porque a gente chega, eu chego em casa

beirando meia noite. Minha aula sai dez e quarenta (Coordenadora 1).

Outra dificuldade do estudante do ensino médio, relatada pelas Coordenadoras 1 e 3, é

a dificuldade de alguns jovens conciliarem o estudo com o trabalho. Há uma falta de

motivação e reconhecimento do estudo, assim, os jovens acabam por optar pela necessidade

mais imediata de trabalho ou outros planos relacionados.

Quanto aos estudantes do Ensino Fundamental da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, uma

dificuldade que também atinge os estudantes do ensino médio, segundo as Coordenadoras, é a

condição socioeconômica das famílias e a situação da Ocupação (de não regularização e falta

de infraestrutura, que, por vezes, dificultam a frequência com tranquilidade à escola).

As ameaças de despejo, a condição do terreno por causa do barro produzido pela

chuva e a falta de água foram respostas de mais de uma Coordenadora sobre as dificuldades

que os estudantes têm, por diversas vezes, para frequentar a escola. Para as Coordenadoras,

70

essas dificuldades, algumas comuns das periferias e outras mais próprias das ocupações, e a

condição socioeconômica das famílias, podem atrapalhar o desenvolvimento físico,

psicológico e estudantil dos estudantes.

A Ocupação Rosa Leão tem cinco anos e, no início, as ameaças de despejo eram

constantes. Portanto,

nesse período da Ocupação, muitas crianças ficaram sem ir para a escola por causa

da ameaça de despejo. Quando a família tá trabalhando, por exemplo, o pai tá

trabalhando, aí liga: “ah, vai despejar amanhã”. O pai saía do serviço, vinha para cá,

automaticamente a criança escutava uma sirene aqui próxima, uma sirene aqui na

Ocupação, na escola, já ficava assustada chorando. Houve relato demais, da escola,

disso. Escutar foguete, porque quando a gente tinha uma reunião em meio à ameaça

de despejo, a gente soltava foguete e ligava a sirene. A criança na escola ouvia

também, já sabia que era uma ameaça de despejo, ficava transtornada, chorando,

saía da escola. Então, a infrequência é a grande maioria, no período de quatro anos, a

ameaça de despejo. Sempre impediu totalmente as crianças de ir para a escola

devido a essas questões. [...] Se você tá lá na escola, aí você sabe que “ah, vai

quebrar a minha casa que minha mãe tá chorando”, vendo a minha mãe chorando

por causa de uma situação de despejo. Você tá vendo isso, uma criança vendo isso,

isso é muito forte, né? (Coordenadora 3).

Na época da reintegração de posse que eles falavam vai entrar, vai entrar, e vai tirar,

as crianças não iam para a escola, não podiam ir para a escola, porque fechava as

entradas. Se eles entrassem para fazer a reintegração de posse, quem tava lá fora não

podia entrar. Então, os pais não mandavam os filhos para ir para a escola. Não

mandavam para a escola. Então, se ficasse uma semana com as entradas fechadas, as

crianças ficavam uma semana sem ir na aula. [...] Teve muitos dias com as entradas

fechadas. E eles ficam aqui, vai, não entra, e as entradas fechadas. Amanhã vai

entrar, aí não entrava amanhã, sabe? Cada dia ficava assim. Que ia entrar, ia entrar, e

todo mundo apreensivo. Os pais tiravam os filhos de dentro da Ocupação e, por isso,

alguns deles deixavam de ir à escola, porque estavam fora, na casa de parente,

porque se caso entrassem, para fazer a reintegração de posse forçada as crianças não

presenciar aquilo. Então os pais tiravam as crianças de dentro da Ocupação. Ai

ficava sem ir na escola, foi um dos motivos que mais fez com que as crianças ficar

por dias, por mais dias sem ir na aula foi esse. E foi três vezes assim, três anos

seguidos, sabe? (Coordenadora 4).

Outras dificuldades relatadas pelas Coordenadoras é a questão do período da chuva e

da falta de água.

Só na época da chuva, tem. É muito barro para eles poderem descer, escorregando.

Às vezes cai, tem que voltar para casa. Essa é a realidade das crianças ir todos os

dias, é na época da chuva. Muitas vezes a criança descendo o morro, cai no barro,

volta pra casa, aí já tá atrasado. Se sem poeira já entra na escola e é discriminado,

imagina chegar lá com a bunda toda vermelha de barro, né? Então volta pra casa e

passa do horário e já não dá. Num é assim uma dificuldade constante, mas ela existe

(Coordenadora 4).

Outra coisa também que faz com que a criança deixe de ir pra escola, teve uma

época que você pergunta isso, eu lembrei. Teve uma época que criança ficou sem ir

na escola quase uma semana, por causa de água, falta de água para tomar banho,

para fazer higiene, para ir para a escola, pra lavar roupa para a escola. Então isso

também já impediu de criança ir para a escola (Coordenadora 4).

71

Unidade de Análise 4 – Opinião dos moradores do entorno e profissionais escolares

sobre a Ocupação e o atendimento escolar dos moradores da Ocupação

Complementarmente à Unidade de Análise 2, que através das Coordenadoras da

Ocupação pretendeu saber dos seus moradores o que eles conhecem, comentam e avaliam das

escolas da região, a Unidade de Análise 4 pretendeu saber o que os moradores dos bairros

vizinhos e os profissionais escolares avaliam e comentam sobre a Ocupação e o atendimento

escolar destes moradores.

A respeito da Ocupação Rosa Leão, segundo as Coordenadoras, no início da ocupação

do terreno, a maioria da população do entorno foi contra o movimento. De acordo com as

Coordenadoras, a população da Ocupação foi, e ainda é denominada de invasora pelos

moradores do entorno, apesar da objeção ter reduzido um pouco, devido às ações, lutas e

conquistas da Ocupação Rosa Leão que tem se consolidado no local.

Tem moradores que acham que a Ocupação deveria acontecer mesmo, que é um

exemplo, que nos apoiam. Mas a grande maioria, dos vizinhos, do entorno, é contra

a Ocupação. Acha que a gente tá tomando o espaço das crianças deles na escola, que

os moradores da Ocupação não deveriam estar aqui, porque a mídia capitalista ela

vai e mostra o que ela quer mostrar, assim, né. Bando de oportunistas, é, igual o ex-

administrador do poder público, Márcio Lacerda falava diariamente na televisão,

terrorista, é vagabundo, é oportunista, não sei o quê. Mas quando as pessoas entram

dentro da comunidade, conversam com as pessoas e veem que é diferente, mudam

de opinião (Coordenadora 3).

Mas a resistência da população do entorno ainda permanece, exemplificada, segundo

as Coordenadoras, nas alegações dos vizinhos de que a realidade local e os serviços públicos

estão mais precários por causa da Ocupação. Segundo os moradores do entorno, depois da

chegada da Ocupação as suas casas foram desvalorizadas, têm faltado com mais frequência

água, energia e transporte público, vagas nas escolas e atendimento no posto de saúde.

A Ocupação é um estorvo na vida deles. Que depois da Ocupação a luz só fica

acabando, que a água só fica acabando, que a Ocupação só trouxe malefício, que

aumentou a quantidade de pessoas, os ônibus só ficam lotados. Agora mesmo,

semana passada, eu ia comprando uma briga no ônibus por causa disso, porque eu

tava no ônibus, lá na Vilarinho, a fila, lugar de ir sentado acabou, e continuou

entrando gente. Aí uma mulher que estava sentada na minha frente, ela e o marido

dela, falou assim, nossa gente, esse povo não para de entrar gente, é o povo da

invasão. Aí o marido dela falou assim, eles têm que arrumar um ônibus pra eles, eles

têm que arrumar um ônibus pra eles. Aí, quando eu ia levantar a minha bandeira,

vermelha, aí a moça que tava logo assim, levantou e falou assim, ‘eu moro na

72

Ocupação e vou nesse ônibus aqui, em pé ou sentada, eu vou nele porque eu pago a

minha passagem como qualquer pessoa que está aqui dentro’. A moça disse, ‘e eu

não moro na invasão não, eu moro na Ocupação. Eu não invadi a sua casa, eu iria

morar na invasão se eu tivesse invadido a sua casa, eu não invadi a sua casa não’

(Coordenadora 4).

Segundo a Coordenadora 3, é isso que os poderosos, o capital e a mídia capitalista

querem fazer, dividir para reinar, colocar a mesma classe, a classe trabalhadora que vive a

mesma realidade e os problemas sociais contra si.

Olha, eu acho que a gente conseguiu conquistar uma fatia maior de pessoas

mostrando quem nós somos, né? Por exemplo, nós fizemos várias marchas no

entorno entregando rosas pro pessoal, fabricado pelas próprias moradoras do Rosa.

É um cartãozinho falando quem nós somos, mobilizando, falando olha, nós somos

famílias que não aguentaram pagar aluguel, nós estamos juntos nesta luta, não

somos inimigos, nós somos iguais, trabalhadores e trabalhadoras. Então nós fizemos

várias marchas de paz ao entorno, tentando sensibilizar, no decorrer deste período.

Sabendo que é isso né, sabemos que os mesmos problemas que nós temos aqui, os

bairros regularizados ao entorno têm, porém, não têm tanto igual ao nosso porque

não temos nada, eles têm migalhas. Se a gente se une, se fortalece para garantir

direitos, por exemplo, o posto de saúde mesmo. Não tem posto no bairro, aqui no

Bairro Zilah Spósito que tem mais de vinte anos não tem posto de saúde. Nós fomos

lá, junto com a Ocupação, e ocupamos o CRAS e falamos olha, ‘se não consultar as

famílias, se não der um jeito, nós vamos ficar aqui’. O trem desencadeou, resolveu

algumas coisas [...] Então já aumentaram os consultórios, chegaram mais médicos,

nã nã nã, por quê? Por causa da Ocupação que é a mesma luta dos bairros

regularizados, porém, a mídia capitalista quer mostrar o contrário, como diz né,

dividir para reinar, um troço assim né, e é isso que eles tentam fazer todos os dias

(Coordenadora 3).

Esta afirmação da Coordenadora 3 corrobora com Paulo Freire (1987), referência

desta pesquisa. Em sua obra Pedagogia do Oprimido (1987), Freire contextualizou a situação

de opressão que vive a classe trabalhadora brasileira, e a contradição opressor/oprimido. A

contradição porque o próprio oprimido em situação de ignorância, consciência ingênua ou

transitiva, e não em consciência crítica ou emancipada, carrega em si a ideologia do opressor.

É a teoria antidialógica do poder dominante que tem, entre os seus procedimentos e

características, a conquista, a manipulação, a invasão cultural e a divisão para manter a

opressão. Freire (1987) propõe à oprimida classe trabalhadora brasileira, junto àqueles que

verdadeiramente solidarizam-se com ela, a teoria dialógica, que tem entre os seus

procedimentos a colaboração, união, a organização e a síntese cultural. Teoria na qual, a

escola, os professores, as lideranças internas e externas têm papel fundamental, construindo

73

uma educação dialógica, revolucionária, conectada aos movimentos sociais e populares, as

suas lutas engajadas na interpretação e transformação.

Por isso, nesse contexto brasileiro, na Ocupação Rosa Leão e seu entorno, segundo as

Coordenadoras, além dos moradores que muito provavelmente já vivenciaram ou tiveram

familiares e conhecidos que passaram por estas necessidades, como de moradia, existem

diretoras e professores que já se posicionaram contra ou não compreensivos com o

atendimento escolar e a questão social das crianças e adolescentes estudantes da Ocupação,

como afirma a Coordenadora 4.

Os moradores se posicionaram contra atender os meninos da Ocupação, os

moradores. Agora os profissionais não deixaram isso escapar assim, tão nítido não.

Um ou outro dava uma piadinha. Então, de qualquer maneira, sim. Sim, né? Sim.

Teve profissional sim que se recusou sim. Teve um caso de uma mulher que falou

que se fosse atender os capetas da Ocupação, que ela iria largar o serviço. Ela

trabalhava na escola Daniel Alvarenga. Então citou os meninos como capetas. Se

fosse atender os capetas daqui que ela não iria continuar trabalhando lá

(Coordenadora 1).

Agora os moradores do entorno não queriam mesmo que atendesse as crianças. Não

atendendo as crianças, o pessoal era obrigado a sair daqui. Acho que a bronca deles

nem era com as crianças. Mas, não atendendo as crianças, os pais eram obrigados a

ir embora (Coordenadora 1).

A Coordenadora 3 também descreve que reconhece professores que apoiam e não

apoiam a ocupação. Esta cita novamente o posicionamento de uma diretora escolar da região:

Eu já tive fala de diretor de escola que não ia aceitar alunos de Ocupação. E aí é

grave, mas assim, a gente até pensou em ir lá na escola e exigir, é, exigir da direção

da escola que a gente tivesse oportunidade de fazer falas na salas de aulas. Ou uma

construção da escola com a Ocupação para ter o entendimento que a Ocupação não é

errado. Ou nem que não é errado, mas que respeitar todos os seres humanos é

fundamental, e ainda não houve abertura de diálogo com essa escola específica. [...]

Ela fala que achava errado, ela fez uma fala assim, ‘eu acho errado ter essa invasão’.

Eu falei não é invasão, é uma Ocupação, a gente brigou bem, teve uma fala direta,

um embate direto, mas aí é bem o preconceito da pessoa, já. Mas, porém, como

administradora de uma escola, isso, as coisas não pode se misturar, é direito, direito

não se negocia, e nem se discute. É direito de estudar, independente se tá na área de

conflito ou não, a direção tem que entender isso, a escola tem que entender isso, o

povo tem que entender isso. É direito, e acabou, e aí deixar as opiniões particulares

(Coordenadora 3).

Contudo, as mesmas Coordenadoras afirmam que tem escola, diretora e professores,

principalmente atualmente, que em certas atitudes demonstraram reconhecimento à Ocupação

e aos estudantes desta. Como disse a Coordenadora 4, que ficou orgulhosa de um professor

que levou a aluna para casa no dia de ameaça de despejo:

74

Uma estudante Coordenadora já passou por momentos na escola, de chorar, de

passar mal dentro da escola. E tem um professor ali que eu gostaria de saber muito o

nome dele, o professor abraça os meninos da Ocupação como se fossem filhos. Na

época da reintegração de posse, uma estudante Coordenadora, estudava lá, passou

mal, e ele abraçou mesmo a causa, e ele chegou a chorar junto com os alunos sabe,

ele é um professor que defendia com unhas e dentes. Não recordo o nome

(Coordenadora 4).

Apesar da possibilidade de argumentar que este é o dever do professor, compreender a

realidade que o cerca, respeitar os estudantes e a comunidade escolar, alguns não o fazem,

fator que pode ser comprovado nas falas de diferentes Coordenadoras em momentos

diferentes das entrevistas.

Estes são posicionamentos de profissionais da educação que também são classe

trabalhadora, oprimida nas condições de trabalho e vida que lhes são oferecidas pelo poder

dominante e sua teoria antidialógica, principais responsáveis pela situação social e

educacional que lhes cerca.

Repetindo Freire (1987), este posicionamento docente é possível e praticado devido à

teoria e prática antidialógica, a realidade social da opressão, a contradição opressor/oprimido

e a educação bancária. Contudo, situação esta não totalizante, devido à dominação ideológica

não ser total.

2.2.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola

A categoria 3, objetivou investigar junto às Coordenadoras, a qualidade das relações

entre os moradores da Rosa Leão (Coordenação, moradores e responsáveis) com as escolas e

os profissionais escolares da região, assim como averiguar ações de apoio da Ocupação e

escolas para com o estudo das crianças e adolescentes residentes nesta. E, além disso, como

os moradores da Ocupação percebem e avaliam os projetos e currículos sobre as realidades

locais, e os relacionamentos entre os estudantes moradores dos bairros vizinhos e moradores

da Rosa Leão. Nessa categoria, as questões das entrevistas foram organizadas em três

unidades de análise, conforme apresentação a seguir.

Unidade de Análise 5 – Contato com a Ocupação

Conhecer e incluir as realidades locais nos processos de aprendizagem é objetivo das

escolas públicas comprometidas com a comunidade escolar e o estudo de seus sujeitos.

Portanto, inicialmente, esta Unidade de Análise pretendeu saber das Coordenadoras da

75

Ocupação se os profissionais escolares da região conhecem e já trocaram informações in loco

com a Ocupação Rosa Leão e seus moradores.

A análise dos dados coletados através das entrevistas com as quatro Coordenadoras,

permite a esta pesquisa informar que os funcionários da escola não visitam a Ocupação Rosa

Leão. Três das quatro Coordenadoras informaram, uma única vez, que apenas uma

profissional escolar esteve presente na Ocupação. Foi quando uma ex-diretora da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga foi à Rosa Leão fazer campanha no último período eleitoral. Ela disputava

uma das cadeiras para vereança de Belo Horizonte.

A Coordenadora 3 também lembrou da ida de alguém da E.M. Prof. Daniel Alvarenga

para procurar a família de um estudante que brigou na Instituição, a quem o Conselho Tutelar

procurava.

Sobre essa situação, do não conhecimento da Ocupação, duas Coordenadoras

descreveram em diferentes momentos das suas entrevistas a importância da escola saber o

motivo de existirem ocupações urbanas na cidade, o contexto e a realidade dos moradores, das

reivindicações por direitos, etc.

Sobre a importância da visita de moradores do entorno na Ocupação, que serve

também aos educadores, a Coordenadora 3 comenta:

Quando as pessoas entram na comunidade, conversam com as pessoas, veem que é

diferente, mudam de opinião. Mas como o ser humano, a sociedade, ela tá criada

para trabalhar olhando para o seu próprio umbigo, ‘então eu tô num bairro, tenho

minha casa, vou trabalhar e tenho o meu emprego’, com isso, não vai sair da casa

dela para poder vir em uma Ocupação, para poder conhecer as pessoas antes de

criticar. Isso é um problema né, porque a mídia mostra o que quer, as pessoas pegam

aquilo e acabou, não vêm conhecer, pisar na terra e ver de fato as pessoas que estão

aqui. Se estas pessoas ficassem na porta das Ocupações, quatro horas da manhã até

umas oito, elas iam ver um tanto de gente saindo quatro horas da manhã para ir

trabalhar. Mulheres, homens, adolescentes, indo trabalhar, todos os dias, voltando

umas seis, sete, oito horas da noite, todos os dias. Mas não é assim que funciona,

então é outro problema (Coordenadora 3).

Algumas Coordenadoras alegaram que já propuseram para diferentes escolas, e

sugeriram como desdobramento da pesquisa, a visita à Ocupação pelos educadores, reunião e

apresentação nas escolas da Ocupação e suas realidades. Inclusive, as Coordenadoras

comentaram da presença de universidades que não estão na região - mas estão nas cidades, no

contexto urbano atual brasileiro - que pesquisam, visitam, apoiam e conhecem a Ocupação

Rosa Leão. Mas as escolas vizinhas que atendem à ocupação não fazem, nem visitam,

estudam, dialogam ou contextualizam em seus processos educativos a questão da ou das

ocupações.

76

Unidade de Análise 6 – Presença e participação dos moradores da Ocupação na escola

Esta Unidade de Análise pretendeu investigar se os familiares, moradores e

coordenação da Ocupação Rosa Leão são convidados a participar dos eventos e assuntos

escolares, e quais são os eventos e assuntos de que participam ou não.

Segundo as Coordenadoras, os moradores que têm filhos nas escolas do entorno são

convidados a participar dos eventos escolares, como reunião de pais, dia da família, festa

junina, dia das crianças, e outras apresentações e festas. De acordo com elas, eles gostam de

participar destes eventos.

Porém, segundo as entrevistadas, a Coordenação da Ocupação em especial, não é

convidada diretamente e não participa de reuniões para planejamento, acompanhamento,

fiscalização e outros momentos de discussão sobre as escolas. Também não foram convidadas

ou participaram de reunião para discussão específica sobre a escola e a Ocupação, a realidade

local.

Situação, de acordo com a Coordenadora 3, um pouco diferente na E.M. Prof. Daniel

Alvarenga por causa de sua proximidade geográfica com a Ocupação, mas que ainda não

resultou em um processo dialógico entre a escola e a comunidade sobre os temas da

Ocupação, segundo apontamento da Coordenadora 2 e das demais Coordenadoras ao longo

das suas entrevistas.

Na verdade, têm escolas aqui, por exemplo essa Daniel Alvarenga, nós somos mais

próximos porque tá bem próximo fisicamente, né, geograficamente. Mas as outras

escolas têm muita criança nossa que estuda lá, mas não tem nenhum diálogo,

ninguém quer, direção não quer saber de nada. Inclusive a gente precisa até, foi até

bom a gente tá falando sobre isso, para fazer um levantamento nas escolas de

quantos alunos das Ocupações têm. Apesar de que, na Daniel Alvarenga eu já pedi,

e tem já, o levantamento de quantos alunos tem aí, mas as demais escolas fazer esse

levantamento e conversar mesmo com a direção da escola e ver qual que é o

problema que tá tendo pra gente fazer essa parceria. A questão é, é parceria do

mesmo lado, as forças adversas elas não se atraem, então, vai prum lado e vai pro

outro. E eu acho que isso tem que ser feito urgente (Coordenadora 3).

Unidade de Análise 7 – Ação e apoio da escola e da Ocupação para com os estudos dos

moradores

A Unidade de Análise 7 objetivou conhecer quais são as ações de apoio das escolas da

região e da Ocupação para com a educação escolar das crianças e adolescentes moradores

77

desta. O que a Ocupação já discutiu, sugeriu e reivindicou para ela e para as escolas fazerem

em prol do desenvolvimento dos estudos de seus moradores.

Primeiramente, as Coordenadoras responderam o que a Ocupação já discutiu, fez e faz

para o apoio educacional de seus moradores. Segundo elas, atualmente a Rede Fale, uma rede

de cristãos evangélicos do Brasil que está na Ocupação há mais três anos, é o principal

movimento de apoio educacional a suas crianças e adolescentes.

Na Ocupação, a Rede dá orientações educacionais e religiosas aos estudantes. E levam

estes para jogar futebol no campinho, perto do Condomínio Ubirajara, todos os sábados.

Também já deu orientações sobre os direitos das crianças e adolescentes e tem a intenção de

orientar as mulheres da Rosa Leão sobre os seus direitos.

De acordo com as Coordenadoras da Ocupação, quando o Centro de Poder Popular

ZOCA – Zona Ocupada de Cultura e Arte – ficar pronto (no local onde era o Centro

Comunitário), além de ser o espaço para assembleias e reuniões, poderá ofertar curso pré-

vestibular, biblioteca, oficinas, rádio comunitária, etc. Ou seja, ações de apoio educativo,

cultural e social, algumas destas já realizadas no Centro Comunitário, nas ruas ou na casa de

moradores da Ocupação.

Então é um Centro de Poder Popular a proposta da ZOCA. Após construído, em

nome de Deus, lá vai ser um espaço definido para empoderamento da mulher, para

uma cooperativa de costura que chama Cooperativa Diamantes do Rosa, inclusive

que as meninas que formaram ontem, foi muito lindo a formação. Vai servir para

salas do pré-vestibular que é o projeto que eu te falei, pra continuidade dos

cursinhos, cursinhos de artesanato e cursinhos com as crianças, sala de biblioteca,

uma rádio Rosa Leão (Coordenadora 3).

As Coordenadoras informam que, para a concretização de suas demandas para a

educação e outras áreas, a Ocupação já passou e passa por dificuldades de estrutura, recursos

financeiros e situações de emergência. Além do impasse jurídico quanto à regularização da

Ocupação, o que dificulta a implementação, pelo poder público, de equipamentos dentro do

território.

Quanto ao apoio da escola ao estudo das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão, a Coordenadora 4 ressaltou a Escola Integrada, programa de educação integral da PBH,

que tem moradores da Ocupação atendidos pelo mesmo, como os 11 de 21 estudantes sujeitos

da pesquisa entrevistados. Segundo o PPP da escola, a Escola Integrada é um programa que

reforça a função e projeto pedagógico das escolas:

O Tempo Integral é um meio de proporcionar uma educação mais efetiva do ponto

de vista cultural com o aprofundamento dos conhecimentos, do espírito crítico e das

78

vivências democráticas. A Escola Integrada proporciona ao educando mais 4 horas e

30 minutos diárias para o trabalho com outras capacidades. A permanência por mais

tempo na escola propicia melhor desempenho em relação aos saberes escolares, os

quais são ferramentas para a autonomia do aluno. Porém, executada dentro da

concepção multissetorial de educação integral, que entende que o tempo integral não

precisa estar centralizado na Escola. As ações devem envolver diferentes parceiros,

como o Programa Segundo Tempo, O Centro Cultural, O Espaço BH Cidadania, o

Instituto Zilah Spósito, igrejas, ONGs (PROJETO..., 2013, p. 23).

Sobre a possibilidade de construção de creche ou escola na Ocupação, as

Coordenadoras informaram que o antigo Centro Comunitário já serviu durante alguns meses

de escola, de apoio à alfabetização e reforço escolar de jovens e adultos. Foi o Projeto MOVA

Brasil, realização do Instituto Paulo Freire com patrocínio da Petrobrás, na época do Governo

Dilma. A educadora popular foi uma das Coordenadoras da ocupação entrevistadas nesta

pesquisa. Segundo as mesmas, a emergência na organização contra as ameaças de despejo e a

mudança de governo foram alguns dos motivos para a interrupção do projeto.

Ó, a gente já tentou fazer uma escola aqui dentro, sabe, 2014 pra 2015, no antigo

barracão comunitário ali. Teve, se eu não me engano, foi do Prouni, não sei, eu não

lembro, que a Coordenadora, ela estava sendo professora, pra dar aula pros jovens

que pararam de estudar, e para idosos que não sabiam ler, nem escrever. Teve um

momento, teve em torno de 3 a 5 meses, por aí, de ensino, que a Coordenadora se

promoveu pra ser professor aqui dentro, pra ensinar mais às pessoas. Já teve sim!

Mas eu acho que pra ter uma escola assim, oficialmente, eu acho que é bem mais pro

futuro sabe, porque a gente não tem estrutura para isso, e não tem condição nesse

momento (Coordenadora 1).

Quanto à creche, desde o início da ocupação até hoje, existe a proposta de construção

da mesma pela Ocupação Rosa Leão, que já tem um terreno reservado para esta fnialidade,

definição de modo de arrecadação de recursos e construção, e professoras voluntárias. Tal

proposta advém da dificuldade no começo até o presente da Ocupação, de muitos

responsáveis em matricular os seus filhos na Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI)

e demais creches do entorno.

Segundo as Coordenadoras entrevistadas, a emergência nos enfrentamentos já

travados contra a ameaça de despejo e outras situações, assim como a dificuldade financeira,

são os obstáculos para a creche ainda não ter sido construída pela Ocupação.

Sobre a construção de creche e escola pelo poder público, a Coordenadora 3 alega que

o impasse jurídico a respeito da regularização fundiária e urbana da Ocupação é o grande

impeditivo do governo atual para a construção destes equipamentos no território.

A demanda por uma escola de ensino médio no bairro Zilah Spósito, para atendimento

desta e da Ocupação Rosa Leão também já foi ouvida e compreendida pelo Governo do

79

Estado em uma ou outra reunião realizada com a Coordenação e outros grupos, contudo,

ainda nada se avançou neste assunto.

No poder público ainda não. Porque é isso, quando você fala de regularização existe

esse impasse judicial. Agora na comunidade existe uma discussão para a gente tentar

trazer para o bairro, escola a nível médio. Então a gente tem que ver como fazer.

Para o bairro mesmo. Porque isso é obrigação do poder público, né? E se o poder

público diz que não pode por causa dessa questão, a gente tem que ver qual o meio

de fazer então na proximidade da Ocupação, que é o bairro regular (Coordenadora

3).

Ainda sobre apoios na educação das crianças e adolescentes da Ocupação, as

Coordenadoras informaram que sugestões e reclamações já foram feitas às escolas do entorno,

inclusive na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. As reclamações foram em prol de melhor

atendimento dos responsáveis quando procuram vagas e outras informações na escola

pesquisada, mais democracia no processo educativo com os adolescentes do ensino médio,

sugestão de levantamento de estudantes da Ocupação por escola, abertura para o diálogo e

formação com os sujeitos escolares sobre o que é e qual é a realidade da Ocupação.

E as novas sugestões propostas na entrevista pelas Coordenadoras são: formação de

um grupo de responsáveis da Ocupação e escola para diagnóstico e proposição de

intervenções entre escola e família, abertura da E.M. Prof. Daniel Alvarenga para finais de

semana e férias; conhecimento da origem histórica e social, e identidade dos moradores da

Ocupação Rosa Leão; e novamente, o levantamento dos moradores da Ocupação sem escola e

por escola.

A proposta é a gente fazer uma reunião com a diretora da escola, a princípio, as

diretoras das escolas. Primeira coisa que a gente quer, que a gente pensou:

levantamento dos alunos das escolas da Ocupação que estão nas escolas públicas ao

entorno. Levantamento de quantas crianças estão, que moram na Ocupação e que

estudam em outras escolas fora por não ter vaga aqui. Levantamento também de

quantas crianças estão sem escola aqui, essa é uma coisa pra ontem, assim. Quantas

crianças estão sem estudar. E a partir daí ter uma conversa com a diretora da escola

também, pra relatar toda essa problemática que chega de reclamações das escolas

com os alunos e moradores pra gente ver como que a gente faz um debate sobre isso.

Tentar sentar com a diretora e falar com ela ‘olha, precisamos fazer uma formação’.

Primeiro, então, vamos com os professores, depois vamos fazer uma metodologia

para fazer a fala pros alunos. Para eles entenderem essa questão da Ocupação e

bairro regularizado, que eles se comunicam e não são coisas diferentes, porque isso

vai amenizar muito, não vai melhorar totalmente, mas ameniza o grande índice de

preconceito sofrido nas escolas. O grande problema é essa carência, essa desistência,

desânimo de crianças irem para a escola por saber que vai sofrer essa desigualdade

né, esse desrespeito, então a gente tá pensando nesse sentido. Já era pra ter levado,

mas a ameaça de despejo impede com que a gente avance nas coisas. Já era para ter

conversado com a diretora muito tempo. Né? Agora como as coisas estão mais ou

menos maleáveis, porque o processo ainda está em Brasília, a gente tá conseguindo

avançar em algumas coisas, como saúde, e outras coisas (Coordenadora 3).

80

Eu daria a sugestão pra trabalhar mais de perto com os pais. Até mesmo na escola se

reclama muito que as crianças de ocupação são mal educadas, são crianças né, que

não sabem tratar, então eu sugeriria fazer grupos de pais, com os profissionais da

escola, orientadora, supervisora da escola, fazer grupo de pais. Tipo assim, se tem

uma criança que tá dando muito problema, convida esses pais que é, convida e

conversa junto, depois chama aquela criança, conversa, chama aquela família que de

repente a criança vai pra escola toda errada, toda estragada, toda errada, aí é

chamado de capeta, o demônio da escola, mas não sabe que, às vezes o problema tá

saindo lá de dentro de casa (Coordenadora 4).

Ou, a sugestão, a única sugestão que eu daria pra escola, é pros professores

estudarem mais a identidade dos alunos, sabe, que é um fortalecimento enorme,

como eu disse ontem. É a identidade, na verdade, em geral, a identidade, de onde ele

veio, entendeu? Eu acho que isso é importante. É, eu estava falando ontem, porque,

aqui é uma ocupação mas eu não enxergo aqui como uma ocupação, eu enxergo isso

aqui como um quilombo, sabe? Por que as casinhas, se você for reparar um

quilombo por uma ocupação, é a mesma coisa, sabe? Se você for andar assim pela

ocupação, você vai encontrar muita gente que era descendente de quilombola, por

exemplo, eu, que os quilombolas não são reconhecidos, não são valorizados

(Coordenadora 1).

Tais sugestões corroboram com o referencial teórico do pesquisador, na argumentação

sobre a importância de uma educação mais dialógica, que conheça, estude, trabalhe e se

aproxime da realidade social e local dos sujeitos.

Unidade de Análise 8 – Percepção dos moradores sobre o processo educativo na escola

Além de outros fatores, o bom relacionamento entre os sujeitos escolares, os

currículos e projetos integrados que abordem a realidade social e local são caminhos, como

apontam o referencial teórico desta pesquisa, para um processo educativo escolar

significativo.

Por isso, esta Unidade de Análise averiguou com as Coordenadoras da Ocupação, o

que os moradores dizem sobre o processo educativo das escolas da região, especialmente

como se dá o relacionamento com os sujeitos escolares não residentes na Ocupação, e como

este território está integrado nos currículos, projetos e outros processos de aprendizagem nas

escolas do entorno.

Sobre o relacionamento com os demais sujeitos escolares, segundo as Coordenadoras,

os estudantes da Rosa Leão alegam que já foram e ainda são desrespeitados nas escolas por

serem moradores da Ocupação. De acordo com as Coordenadoras, no início da Ocupação e do

acesso à escola, tal situação foi maior e mais intensa, como conta a Coordenadora 4 sobre um

período de ameaça de despejo em que os sujeitos escolares expressavam a sua concordância

com a ação:

81

Eles falavam: ‘nossa, que tinha que tirar mesmo, que graças a Deus aquele povo ia

sair’. E a estudante presenciando aquilo. E ela não tinha força, como brigar, foi

professor que fez isso, foi professor. Não esquece de perguntar ela não, que ela vai

te explicar direitinho. Eu acho que hoje a pessoa que ela é, uma pessoa nova, porém,

adulta, de tanto lutar, sofrer, sofrer preconceito diretamente, porque ela nunca

escondeu que era. Mesmo criança ela estava à frente, ia pras lutas, brigava, então,

ela nunca escondeu isso, então ela sofria isso também diretamente, sabe?

(Coordenadora 4).

Apesar do desrespeito ser maior entre os estudantes, as Coordenadoras relataram e

deram exemplos de desrespeito pelos funcionários, como uma diretora que insiste em ser

contra a matrícula dos estudantes e contra a Ocupação, uma professora que xingou o estudante

por sujar a sala e outra que mandou um varrê-la.

Sim. Muito. Muito, muito, muito. Igual eu já falei na fala anterior, de criança sendo

desrespeitada por professor, por direção da escola, que é mais grave, que eu acho

que a direção que é que administra a escola tem que ser neutra nas decisões, neutra

assim, não olhar. Igual eu já falei. Não ficar olhando o seu preconceito pessoal, ela

tá lá para administrar uma escola e seguir os direitos que estão na lei, na

Constituição, etc. Assim, houve já relatos, muito dela quanto a isso. Igual da criança

que teve que varrer a sala de aula, igual ela falar que não vai cadastrar, matricular

criança da Ocupação. Então essas coisas, pra gente, são muito delicadas

(Coordenadora 3).

Uma professora, por exemplo, xingou uma aluna pequena, criança, que chegou na

escola, com o tênis sujo de barro. Chamou ela de pé vermelho, reclamou que onde

ela mora, na Ocupação, não tem asfalto (Coordenadora 2).

Um dos motivos do desrespeito de estudantes e até funcionários para com os

moradores da Ocupação, além de outros, talvez seja o desconhecimento e diálogo da

comunidade, escola e estudantes sobre o problema histórico, social e presente de deficit e

inadequação de moradia que atinge grande número de famílias. A falta de estudar o fenômeno

ocupação urbana, nos exemplos que as Coordenadoras sugerem sobre o que é invasão e o que

é ocupação, a luta por direitos, por Serem Mais, que os ocupantes travam com o apoio de

movimentos sociais e outras entidades, assim como no passado. No contexto maior, o não

estudo da realidade dos trabalhadores brasileiros, que está ali ao redor da escola. A não

efetivação, como pontuava Freire (1987, 1989, 2014), da leitura do mundo junto da leitura da

palavra, da ausência de uma escolarização para a conscientização, de uma educação mais

dialógica, crítica, humanizadora.

Reflexão presente na entrevista da Coordenadora 3, em algumas de suas falas já

citadas até aqui, ao dizer ser a sociedade, como a mídia e a escola, representativa ou

influenciada pelo interesse do poder dominante, que quer dividir para reinar, colocar

trabalhadores contra trabalhadores, que organiza uma escola bancária, que não dá saber e

82

poder aos estudantes, que os querem que sejam menos, e não mais. Ou seja, inconscientes da

situação e contradição opressor/oprimido, adeptos e propagadores da teoria da ação

antidialógica.

É o que a Coordenadora também diz, por exemplo, no não estudo do bairro e da

Ocupação, de suas realidades.

Quem administra a educação, não é preto, pobre, de periferia. O ensino já veio para

fazer formadores de, na verdade já vem com, a educação vem sendo construída, a

gente sabe, desde quando eu era pequena, vem sendo construída para tirar, para

poder colocar cada um em seu lugar, mais ou menos isso assim. Então a escola de

ensino pública é uma coisa, a particular é outra, a particular vai ensinar e formar

aquela pessoa para ser um médico, nã nã nã, a pública vai ensinar para ser pedreiro,

cansado, pra desistir da escola, não saber os direitos, não saber qual que é a cultura

afrodescendente, sabe, é isso, é isso. Então a educação como um todo é, precisava

muito discutir os problemas da região em que a pessoa mora. Não estuda nada que

dá poder para o povo continuar lutando, isso aí é fato, mas isso teria que ter, isso

teria (Coordenadora 3).

Esta afirmação da Coordenadora 3, corrobora com a descrição das demais

Coordenadoras em questionamentos sobre o processo educativo dos estudantes da Rosa Leão,

quando estas afirmam que os estudantes não estudam sobre a realidade da região, do bairro e

Ocupação. Como diz a Coordenadora 4, relembrando que o bairro Zilah era uma ocupação,

como descreve o livro escrito por uma professora da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, O Zilah é

logo ali, o Zilah é bem aqui.

Seria muito importante que as crianças tivessem um estudo sobre a Ocupação. Tá,

mas não tem isso não. Não tem porque a minha neta faz pesquisa, e ela tá sempre me

perguntando coisa de pesquisa, e eu por menos que eu saiba, mas eu tenho mais

tempo de vida, e ela confia muito em mim, na vó, tadinha, e ela tá sempre me

perguntando, ‘vó, tenho que fazer essa e essa pesquisa, a senhora sabe falar alguma

coisa pra mim sobre isso?’ E eu tenho certeza que não tem, não estuda sobre isso.

Essas crianças não são esclarecidas sobre o que é uma ocupação, não seria isso, não?

Elas não são esclarecidas sobre o que seria uma ocupação. O que elas sabem de

ocupação, de ocupação Zilah Spósito também que é um bairro onde, que foi levado

de pessoas de área de risco, colocaram no Zilah, então, o que elas sabem sobre isso,

é o que a gente conta. Inclusive o Daniel Alvarenga tem uma história muito bonita,

sobre isso daí né, então essa história o Daniel Alvarenga fala, sobre a fundação do

Daniel Alvarenga. Agora, sobre Zilah e Ocupação, não tem não (Coordenadora 4).

Por fim, as Coordenadoras foram questionadas também sobre a questão dos projetos

escolares, o que os estudantes moradores da Ocupação acham sobre os mesmos. Em sua

resposta, a Coordenadora 3 deu um exemplo de projeto, Copa do Mundo, dizendo que estes

devem ser mais contextualizados criticamente, construídos, dialogados e relacionados com o

que vivem as ocupações, a realidade local e seus sujeitos. Descrição também aproximada do

83

que entende Freire (1987, 2014) sobre a alfabetização e escolarização a partir de palavras,

temas geradores e suas situações-limite, sugeridos e dialogados pelos e com os educandos.

Olha, já houve casos, mais de adolescentes que a gente escuta né, falando que tem

algumas atividades, projetos mesmos que eles fazem dentro das escolas que é igual

eu tô falando, que é algo que não vai construir de maneira alguma a vida deles.

Nada, porque são adolescentes, crianças que são politizadas, então é diferente, por

exemplo, questão da Copa do Mundo mesmo. A gente sabe aqui na ocupação que a

Copa do Mundo foi um lixo, em questão com a classe trabalhadora. Porque, igual a

Ocupação aqui mesmo da Izidora, os policiais do interior, que vieram para fazer o

envelopamento da cidade, das manifestações, na época da Copa do Mundo é que

ficaram aqui fazendo despejo em 2014, então, muitos adolescentes sabem disso,

então eu vou lá falar que a Copa do Mundo é linda? Não vou. Então assim, a escola

tem que aprender ouvir, a ouvir, é essa questão de formação. Essa questão de

formação, de escuta mesmo, das pessoas o que vivem dia a dia, sabe? E outra coisa,

os projetos eu acho que têm que ser formados com discussão coletiva, por isso que

eu acho que tem que ter em todas as escolas uma discussão de Colegiado, um grupo

de alunos, estudantes, etc., que discute as coisas que vai acontecer na escola

(Coordenadora 3).

Freire, por exemplo, indicava para a escolarização, a sugestão de temas geradores

pelos educandos, temas que fossem relacionados à sua cultura e trabalho, e a partir desse tema

gerador, por exemplo, meio ambiente - a mata do Isidoro, vizinha da Ocupação -, a

problematização fosse multi e interdisciplinar, que permitiriam aos educandos e educadores

verificar situações-limite, ou seja, dificuldades existentes e a descrição de soluções e ações

para tal.

Estas foram as reflexões das Coordenadoras da Ocupação Rosa Leão sobre o acesso, a

permanência e o processo educativo das crianças e adolescentes da Ocupação à educação

formal. No geral, verifica-se a análise destas que, nos primeiros anos da Ocupação, os

estudantes vivenciaram a obstacularização do seu acesso às escolas pelo governo municipal

de Belo Horizonte e pelas escolas - em graus variados - que alegaram falta de estrutura, vagas,

comprovante de endereço e também por se posicionarem contra a Ocupação e a matrícula dos

seus moradores.

Segundo as Coordenadoras, esta situação começou a mudar pelas manifestações

realizadas para a garantia à escola e outros serviços públicos, e com a consolidação da

Ocupação ao longo do tempo, fruto da sua organização junto aos movimentos sociais e outros

apoiadores na luta por direito à moradia e à cidade.

Sobre a permanência, quando além da dificuldade de ir, permanecer e não evadir da

escola, se perguntou a respeito da percepção dos moradores e profissionais escolares sobre a

Ocupação e o seu atendimento nos equipamentos públicos, as Coordenadoras descreveram a

resistência de boa parte dos vizinhos à instalação e manutenção da Ocupação. Resistência

84

representada em seus discursos de que ali era uma invasão, que seus moradores estavam

tomando as vagas dos moradores do bairro nas escolas e outros equipamentos, e prejudicando

os serviços de energia e água, além da desvalorização financeira das casas e do bairro.

Ainda na categoria permanência, como já citada a fala de uma das Coordenadoras, a

resistência da população do entorno foi amenizada um pouco por causa de sua organização,

demonstração na cidade e no local de quem são os moradores da Ocupação, o que eles

reivindicam e já conquistaram para o território.

Quanto às dificuldades de ir, permanecer e não abandonar a escola, as Coordenadoras

alegaram que os estudantes do ensino médio enfrentam dificuldades resultantes da falta de

escola próxima à Ocupação, por exemplo a questão do transporte, a jornada de trabalho e

escola, e a opção pela primeira advinda da necessidade de ajudar em casa, causada também

pela desmotivação para com a educação escolar.

Sobre as escolas de Ensino Fundamental, segundo as Coordenadoras, as dificuldades

estão na condição socioeconômica das famílias moradoras, e em dificuldades derivadas do

território da Ocupação, como período de ameaças de despejo, chuva e falta de água, e da

expressão da vontade por não continuar na escola por causa de xingamentos de sujeitos

escolares contra a Ocupação e os seus moradores.

A respeito do processo educativo, nas respostas das Coordenadoras, verifica-se que os

profissionais das escolas da região não conhecem in loco a Ocupação, e não buscam aprender

e promover aprendizagens sobre, a partir e junto deste território e população. Fator percebido

até mesmo na escola cenário desta pesquisa, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga, a Instituição mais

próxima da Rosa Leão e que mais atende os moradores de lá.

Este pouco contato e desenvolvimento de aprendizagens sobre e a partir deste

território, infelizmente foi e é fator contributivo para outra evidência do processo educativo na

escola pesquisada: a manutenção e a não intervenção suficiente sobre o preconceito,

xingamentos e discriminação entre os sujeitos escolares para com os discentes moradores da

Ocupação.

Tais evidências do processo educativo na escola pesquisada podem ser relacionadas

com as características da teoria e ação antidialógica do poder dominante - como a divisão - e

de sua educação bancária, como o não estudo, conscientização e envolvimento para a

transformação da realidade social e local dos estudantes. Aspectos ainda presentes em muitas

escolas brasileiras que são contestados pela proposta de educação humanizadora, teoria da

ação dialógica e proposta popular e contra-hegemônica de desenvolvimento local

85

(CHRISTOFFOLI, 2010; FREIRE, 1987, 2014), que podem oferecer reflexões para a

mudança de projeto e prática política e pedagógica da escola sobre este cenário.

86

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DAS ENTREVISTAS

COM OS PROFESSORES DA ESCOLA PESQUISADA

Assim como a análise documental da E.M. Prof. Daniel Alvarenga e a entrevista com

as Coordenadoras da Rosa Leão, ouvir os professores desta mesma escola, a mais próxima da

Ocupação, e que mais atende os moradores desta, foi muito importante para compreender o

contexto do tema da pesquisa, e especificamente o acesso, a permanência e o processo

educativo dos estudantes moradores da Rosa Leão à educação formal.

Foram entrevistados quatro professores16

de três disciplinas diferentes que trabalham

com estudantes moradores da Ocupação no último ano do 2º ciclo e nos três anos do 3º ciclo

do Ensino Fundamental.

Estes professores entrevistados, selecionados pela escola e que se prontificaram a

participar da pesquisa, têm a média de 3 anos e meio de trabalho na Instituição. São

professores que declararam não ter presenciado o início da Rosa Leão, mas que trabalham

com os moradores desta e já podem dissertar sobre o trabalho da escola, a comunidade escolar

e o tema da pesquisa.

As entrevistas permitiram compreender a percepção de parte da equipe docente sobre

a Ocupação Rosa Leão, o trabalho da escola e dos professores para com os seus estudantes no

geral, e especificamente com os estudantes da Ocupação. Permitiram ouvir o que é vivenciado

no dia a dia, nas práticas escolares, nas categorias acesso, permanência e processo educativo

dos estudantes à E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

Suas entrevistas complementam e dialogam com a análise das entrevistas com

Coordenadoras e estudantes da Ocupação, e o questionário também respondido pelos

discentes. Segue abaixo o conteúdo e discussão dos depoimentos dos professores através das

categorias e unidades de análise da pesquisa, que foram organizados conforme o Quadro 2

abaixo:

16

Professores entrevistados em 24 de outubro (Professores 2, 3 e 4) e 18 de dezembro (Professora 1) de 2017.

87

QUADRO 2 - Categorias e Unidades de Análise das Entrevistas com Professores da E.M. Prof. Daniel

Alvarenga

(Continua)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

C1: ACESSO À

ESCOLA

UA1: PROCESSO DE MATRÍCULA

[Q 2.1, Q 2.2 e Q 2.3] Q 2.1: No geral, as

crianças e adolescentes têm dificuldades em se

matricular nesta escola? Q 2.2: E as crianças e

adolescentes moradores da Ocupação Rosa

Leão? Você sabe quais são as dificuldades que

elas têm em se matricular, caso tenham? Q 2.3:

Existe uma demanda maior de vagas do que a

possibilidade de oferta?

UA2: INTEGRAÇÃO DOS

ESTUDANTES

[Q 2.4 e Q 2.5] Q 2.4: Os estudantes

moradores da Ocupação Rosa Leão têm

alguma dificuldade em especial em se integrar

e enturmar nos primeiros dias? Me dê um

exemplo. Q 2.5: A direção ou coordenação dá

alguma orientação sobre como acolher os

alunos moradores da Ocupação Rosa Leão?

C2:

PERMANÊNCIA

NA ESCOLA

UA3: DIFICULDADES PARA

PERMANECER NA ESCOLA

[Q 3.1 e Q 3.2] Q 3.1: No geral, as crianças e

adolescentes têm dificuldades em permanecer

nesta escola? Por quê? Q 3.2: E as crianças e

adolescentes moradores da Ocupação Rosa

Leão? Você sabe quais são, caso tenham

dificuldades em permanecer nesta escola?

UA4: EVASÃO ESCOLAR

[Q 3.3 e Q 3.4] Q 3.3: Qual a sua impressão

quanto à evasão nesta escola? O índice é alto

ou baixo? Quais poderiam ser os motivos deste

índice? Q 3.4: E a evasão das crianças e

adolescentes moradores da Ocupação Rosa

Leão? Você sabe quais podem ser os motivos

de evasão, caso tenha ocorrido na sua escola?

C3: PROCESSO

EDUCATIVO NA

ESCOLA

UA5: PROPOSIÇÕES DO PPP

(PROJETO POLÍTICO-

PEDAGÓGICO DA ESCOLA)

[Q 4.1, Q 4.2 e Q 4.3] Q 4.1: O que o Projeto

Político Pedagógico da escola propõe para o

trabalho educativo com os alunos, comunidade

escolar e bairro? Q 4.2: Existe algo no Projeto

Político Pedagógico sobre a Ocupação Rosa

Leão em especial? Q 4.3: O que o Projeto

Político Pedagógico da escola propõe para o

Plano Curricular da sua disciplina? E da

abordagem disciplinar a respeito da Ocupação

Rosa Leão e os seus moradores?

UA6: CONTATO E PERCEPÇÃO

SOBRE A OCUPAÇÃO E OS SEUS

MORADORES

[Q 4.4 e Q 4.9] Q 4.4: O que você acha dos

alunos da Ocupação? E dos moradores? Q 4.9:

Você já visitou e conversou com moradores e

coordenadores da Ocupação Rosa Leão?

UA7: INTEGRAÇÃO E RELAÇÃO

DOS ESTUDANTES DA

OCUPAÇÃO COM OS SUJEITOS

ESCOLARES

[Q 4.5] Q 4.5: Como é a relação e integração

dos estudantes moradores da Ocupação Rosa

Leão com os colegas, professores e demais

funcionários da escola?

88

(Conclusão)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

C3: PROCESSO

EDUCATIVO NA

ESCOLA

UA8: ESTUDO DA REALIDADE

LOCAL

[Q 4.6, Q 4.7 e Q 4.8] Q 4.6: Existem projetos,

eventos e outras atividades extraclasse que são

ou foram desenvolvidos no bairro, com a

comunidade escolar? E com a Ocupação Rosa

Leão? Q 4.7: Você desenvolve ou participa de

conteúdos, trabalhos e projetos relacionados à

realidade da comunidade escolar e bairro?

Pode citar? Q 4.8: Você já desenvolveu ou

relacionou conteúdos, trabalhos e projetos

referentes à realidade dos estudantes

moradores e da Ocupação Rosa Leão?

UA9: APROVEITAMENTO

ESCOLAR DOS ESTUDANTES DA

OCUPAÇÃO

[Q 4.10] Q 4.10: Como tem sido o rendimento

escolar dos alunos moradores da Ocupação

Rosa Leão? Por quê?

3.1 Categoria 1 – Acesso à escola

Para a entrevista com os professores, a categoria acesso à escola buscou investigar

possíveis dificuldades dos estudantes no geral, e especificamente dos estudantes moradores da

Ocupação quanto à realização de suas matrículas na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, e como

ocorre a integração deste público específico com a Instituição e os sujeitos escolares nos seus

primeiros dias de aula. As questões da entrevista foram organizadas em apenas uma Unidade

de Análise para essa categoria, conforme apresentação abaixo:

Unidade de Análise 1 – Processo de matrícula

Para os professores entrevistados, dentro do que eles percebem, as famílias e os

estudantes, no geral, não têm dificuldades em conseguir a matrícula na escola. Sobre os

estudantes moradores da Ocupação eles observam a não dificuldade para matrícula,

argumentando “com esse tanto de aluno que tem aqui eu acredito que não” e

na verdade, a gente nem sabe quem são os alunos da invasão. Um ou outro, que às

vezes os meninos comentam. Mas a gente não tem esse acesso, a gente não sabe

quem mora na invasão ou não. Eu, realmente essa questão, eu acho que não tem. A

escola tem quase 200 alunos que são da invasão. Então, eu acho que não tem

problema em questão de matrícula não (Professora 3).

Contudo, dois professores apontaram a possibilidade de dificuldade e a sua resolução

pelos moradores e/ou escola na situação de comprovante de endereço, como descreve a

Professora 3, “Não, sei não. Eu acho que o problema era a conta de luz, né?! Porque para

89

fazer a matrícula tinha que ter a conta de luz e eles não tinham. Acho que esse era um dos

empecilhos”, e o Professor 4:

eu não conheço dificuldade de matrícula. Talvez possa ter alguma dificuldade com

relação ao logradouro, endereço dele, mas é uma questão que é resolvida de alguma

forma, porque eles encontram um jeito de criar um endereço ali (Professor 4).

Quanto à demanda maior por vagas do que a possibilidade de oferta, podendo esta

estar relacionada com a dificuldade ou não em fazer a matrícula, os professores também

alegaram não ter o conhecimento exato sobre isso. Apenas o Professor 4, que respondeu que,

no geral, as famílias e estudantes não têm dificuldade em fazer a matrícula, comentou uma

maior procura pela mesma, por causa deste novo contexto populacional, da formação da Rosa

Leão: “o que eu tenho ouvido na fala da nossa diretora é que tem, nos últimos anos, um

aumento significativo na procura de vagas, e esse aumento é devido a essa nova população

que está na Ocupação”.

Unidade de Análise 2 – Integração dos estudantes

A receptividade, a inclusão e a enturmação do estudante ou grupo recém-matriculado

na escola é um aspecto importante para a garantia, igualdade e qualidade do acesso e estudo

na escola.

Tal momento pode influenciar os primeiros dias, a permanência ou não, e o processo

educativo do estudante durante a sua vida escolar na Instituição. Por isso, esta Unidade de

Análise pretendeu saber dos professores, se a E.M. Prof. Daniel Alvarenga teve ou tem algum

trabalho para a receptividade e o apoio ao público morador da Ocupação. E como ocorreu ou

ocorre a integração destes com os sujeitos escolares e Instituição, se existiram ou existem

dificuldades ou não deste grupo quando se deu ou se dá o seu acesso à E.M. Prof. Daniel

Alvarenga.

A resposta dos professores foi que no início da Ocupação Rosa Leão ou do acesso dos

seus moradores à escola, as crianças e adolescentes presenciaram xingamentos e preconceito

dos demais colegas. Situação esta, segundo três professores entrevistados, muito reduzida no

momento atual, o que contribui para melhor integração nos primeiros dias e durante o

percurso escolar. Pensamento um pouco divergente do Professor 4, que descreve a

continuidade significativa do preconceito, comportamento que, para ele, irá mudar só quando

a regularização da ocupação acontecer.

90

Não por parte da escola, não por parte dos professores. Por parte dos próprios alunos

que são moradores daqui e veem com um tipo de preconceito o morador de

Ocupação. Como se esse bairro não tivesse na origem da sua história, uma história

de ocupação. No passado ele foi uma Ocupação. Então é um preconceito, uma falta

de informação dos próprios meninos que tratam de maneira preconceituosa,

diferente, chamando o outro de pé vermelho, chamando, simplesmente porque vem

de outras regiões da cidade, de outras regiões do estado e vem de outros estados e

vem até de outros países (Professor 4).

Como eu te falei, eu não sei realmente quem são os da Ocupação. Mas, no começo

da Ocupação, os meninos eram muito discriminados. Os meninos falavam: ‘ah!

Você é da invasão, você é da Rosa Leão’. Mas agora não se escuta isso mais não.

Dentro de sala de aula não se escuta isso mais não (Professora 3).

Eu já ouvi dizer que eles tinham uma certa dificuldade por causa do preconceito dos

outros meninos que já estavam aqui. Alguns deles, quando começaram a estudar

aqui, sentiram isso, eles tiveram esse tipo de preconceito (Professora 2).

Agora, para esta Professora 2, ‘é muito raro você ouvir falar assim: ah! Você tem pé

vermelho. Ou alguma coisa assim: ah! Você mora lá. Alguns ainda falam, mas assim, é muito

pouco’. Descrição desta e das demais professoras, como dito, um pouco diferente da descrição

do Professor 4:

Eu acredito que isso ainda vai durar, persistir por algum tempo, mas a tendência é o

poder público entrar e fazer o trabalho de urbanização. Porque agora o Kalil, a

Prefeitura parece que já entendeu a situação e já não vai mais fazer reintegração de

posse. Então parece que a tendência daqui uns anos é urbanizar. Quando houver

urbanização esse preconceito vai reduzindo, mas ele ainda é significativo. Melhorou.

Mas ainda é muito significativo (Professor 4).

Questionado sobre a intervenção da escola quanto ao preconceito, os xingamentos por

parte de estudantes para com os colegas moradores da Ocupação, o Professor 4 responde:

Do ponto de vista institucional, geral, não. Cada professor na sua alçada, na sua sala

de aula. Acredito que os professores comprometidos, engajados, articulados, eles

veem isso como um problema, e procuram minimizar isso e mostrar que tá errado,

que não é o correto. O meu procedimento em sala é interferir quando eu vejo que

alguém está sendo vítima de algum tipo de preconceito e tentar fazer disso uma

situação de aprendizado, né? Para que evite que isso se propague e se torne uma

situação pior do que já está. Então, eu acho que a interferência é mais pontual

(Professor 4).

Para ele, algumas professoras da EJA têm procurado fazer este trabalho de

intervenção, até por que esta modalidade, segundo o professor, pela idade escolar dos sujeitos,

oferece maiores possibilidades de realização:

91

Esse ano, a EJA do noturno, o pessoal fez um trabalho bem mais engajado,

mostrando que o fato do bairro ter se estendido para uma Ocupação não deve ser

revelado como um estorvo, um problema, e sim como um ganho para a região. Já

que historicamente ele já é um caso de ocupação desde os anos 80, né? É que agora

a história se repete, são novos atores, novos personagens, e que é necessário

entender que isso é um fenômeno da cidade, da desigualdade da cidade. Então foi

feito um trabalho na EJA, eu fiquei sabendo pelas minhas colegas que trabalham lá,

que são politizadas e articuladas nesse sentido. Então elas trabalharam o tema dentro

disso. Para minorar os efeitos dentro dessa desigualdade e preconceito contra aquele

que é o estranho. Nesse momento, o que é estranho é visto com olhos negativos,

com uma carga de preconceito muito grande, carga pejorativa, né? De

discriminação. Então, assim, nós não tivemos um projeto aqui no terceiro ciclo, nem

no diurno, nem no turno da tarde, mas à noite já tivemos um primeiro trabalho nesse

sentido. Eles trabalham com EJA, e EJA, por ser mais adulto é mais apegado, é mais

politizada para a prática de ensino. Então, os professores levaram essa discussão

para sala porque viram que isso estava gerando muito atrito entre os alunos na sala

de aula. Então eles trabalharam nessa tentativa (Professor 4).

A respeito da existência de alguma orientação da gestão escolar para a equipe quanto à

acolhida dos estudantes moradores da Rosa Leão pela escola, o Professor 4 informou que no

início da Ocupação ou do acesso dos estudantes, a orientação foi geral, genérica, mas houve.

E para as demais professoras, hoje a acolhida é igual a dos outros estudantes, para elas não se

faz e nem se deve fazer essa diferenciação.

No começo, quando a gente teve esse choque maior, né? A ocupação é de 2012, se

eu não me engano, eu cheguei aqui em 2013, já tinha um ano ou dois, mais ou

menos, e a gente tinha uma instrução mais genérica. Sim. De que isso era um fato,

era um dado da realidade, e a gente deveria observar isso com mais atenção. Nem

uma ação mais contundente, mas uma orientação no geral. Quando eu cheguei aqui,

teve. ‘Olha esses meninos estão vindo, tem problema de aprendizagem, muitos são

analfabetos, então a gente precisa de um outro olhar’. Então teve sim, um pouco

dessa atenção (Professor 4).

Eu acho que é como acolher qualquer outro aluno. Não é por que esse aqui é

morador que você vai fazer um tratamento diferenciado para ele. Agora mesmo, no

fim de ano, tem reunião para isso. Como você vai receber os alunos. Mas no geral,

não específico. Tem o caso do aluno que é especial, aí é diferente. Mas no geral não.

Todo mundo igual (Professora 1).

Não. Que na verdade a gente já trabalha com aluno da periferia. Então, por exemplo,

pra mim, se é da Ocupação ou não, o tratamento é o mesmo. Não vejo porque ter

algum tipo de tratamento especial (Professora 2).

É importante citar que a acolhida e o bom relacionamento entre os sujeitos são

diretrizes da escola em seu PPP, quando este menciona a garantia do bom acesso, inclusão e

permanência dos estudantes, para a existência de um bom ambiente e boas relações

propiciadoras de aprendizagens significativas (PROJETO..., 2013).

Contudo, este documento, que é praticamente anterior ao surgimento da Ocupação

Rosa Leão, e que ainda não foi atualizado, propõe o bom acolhimento no geral, por entender

92

que a comunidade escolar, o bairro Zilah Spósito e bairros vizinhos apresentavam um perfil e

público uniforme.

Depois do PPP, o cenário e os sujeitos locais mudaram. Surgiu a Ocupação Rosa Leão

e as ocupações vizinhas, que pelo contingente territorial e populacional impactou, diversificou

e repercutiu na região e até na cidade. E que no início sofreu uma resistência da

Administração Municipal, da mídia, da Polícia e dos bairros vizinhos, quando a Ocupação

Rosa Leão apresentava no seu contexto territorial, habitacional, reivindicatório e

socioeconômico grande diferenciação.

Por isso, a observação e a intervenção contra a rejeição e o preconceito de estudantes e

funcionários para com os estudantes moradores de uma ocupação urbana, devem ser

realizadas pelas escolas que trabalham e vão trabalhar com este público. Principalmente no

início de uma ocupação e do acesso de seus moradores à escola local, momento em que

diversifica-se a comunidade escolar e os sujeitos atendidos, e ocorre o maior estranhamento e

rejeição para com este local de moradia e população.

A observação e intervenção sobre esta situação é dever de toda a escola. Deve ser

realizada para a garantia e igualdade de acesso e permanência qualificada na Instituição, e

para o desenvolvimento de um ambiente e relacionamentos potencializadores de

aprendizagens significativas, como preconizam as legislações educacionais e as diretrizes

escolares progressistas.

3.2 Categoria 2 – Permanência na escola

Diante do cenário de evasão escolar na educação brasileira (UNICEF, 2012), na

categoria 2, permanência na escola, o objetivo foi averiguar junto aos professores, quais são

as suas impressões quanto à permanência ou evasão dos estudantes na E.M. Prof. Daniel

Alvarenga. Para eles, quais poderiam ser os motivos do público atendido, especialmente do

morador da Ocupação, em não permanecer e assim evadir da escola pesquisada?

Para essa categoria, as questões da entrevista foram organizadas em duas unidades de

análise, conforme apresentação a seguir.

93

Unidade de Análise 3 – Dificuldades para permanecer na escola

Esta Unidade de Análise questionou os professores sobre as possíveis dificuldades –

ou não – dos estudantes no geral, e dos estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão em

serem frequentes e assim permanecerem na E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

Para os professores, os estudantes no geral e os estudantes da Ocupação vivem

algumas situações sociais e familiares que podem obstacularizar a sua frequência diária e

permanência na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Porém, três dos quatro professores, disseram

que a maioria dos estudantes, no geral e da Ocupação, são e conseguem ser frequentes na

escola, a ponto da infrequência ou evasão não serem consideradas preocupantes ou alarmantes

para a escola em comparação com a média nacional.

Foi o que respondeu o Professor 4: “no geral, eu vou dizer que a grande maioria

frequenta a escola”, e a Professora 2: “eu vejo que eles são bem frequentes”. Apesar desta

última ter apontado que têm vários estudantes que vão para a escola, mas ficam fora de sala

de aula.

Dou aula para três turmas do 7° ano. Dos alunos que eu dou aula, são pouquíssimos.

Até a questão de matar aula na escola, o menino vem pra escola, fica aqui na escola,

mas ele não entra pra sala de aula. De dizer que menino para de vir à escola não.

Não tem isso não. Vejo muito pouco (Professora 2).

Apenas a Professora 3 descreveu a situação de infrequência como um “grave problema

na escola”. Não obstante, esta mesma ressaltou a ação da Instituição - que é exigência da

LBDEN -, e a atuação do Programa BH na Escola para a redução desta situação.

Tem. Aqui tem um grave problema de frequência. [...] A questão familiar, muitos

dos meninos os pais são separados, uns moram aqui, outros não. Então tem época

que o menino mora aqui, tem hora lá. Vai pra lá, vem pra cá. Não tem essa questão

de lugar fixo para eles morarem, cada hora eles estão em um. E eu acho que não tem

muita questão da família, não tem essa cobrança dos meninos. Se o menino quer vir,

vem, se não quer.... E tem esses meninos que realmente estão envolvidos com droga,

estão envolvidos com outras coisas também (Professora 3).

Na verdade, a primeira chamada quem faz é a secretaria, chama os pais para saber

por que eles estão faltando. E tem, que parece, na Regional tem o povo que trabalha

nesse programa, e aí, de vez em quando, eles vêm para saber por que os meninos

estão faltando. [...] Eles chamam as famílias, tem dia de reunião com os pais, tem

vez que vai à casa dos pais. Então assim, isso não chega até a gente, até por que a

escola é muito grande, são muitos alunos. No dia que eles vão entregar as cartinhas,

pode ver que ela vai lotada. Até ir à secretaria seria mais interessante, ela vai saber

te falar melhor (Professora 3).

94

As dificuldades extraescolares, sociais e familiares, citadas sobre a minoria de

estudantes faltosos ou evadidos - no geral, para os estudantes que são e não são da ocupação -

comentadas pelos professores foram: drogas, violência, mudança constante de moradia,

separação dos pais, cuidado com a casa e irmãos, não acompanhamento da família e

conveniência familiar.

Como fator intraescolar, de facilidade ou dificuldade de permanência na escola, a

Professora 2 informa a acolhida da E.M. Prof. Daniel Alvarenga como aspecto positivo, e

descreve a ausência de atribuição de sentido ao estudo pelos estudantes e famílias, como um

aspecto negativo para a permanência na escola pesquisada. Esta última, atribuição de sentido

ao estudo, é considerada pela professora como fator extraescolar, mas compreendida por

especialistas como um fator também intraescolar, porque também está relacionada com a

metodologia de ensino, currículo, avaliação escolar, etc.

Ainda sobre a infrequência dos estudantes da Rosa Leão, comparando com as

dificuldades ou facilidades dos demais, duas professoras informaram que realmente não

percebem diferença, e uma professora respondeu que os estudantes da Ocupação são mais

presentes, até por causa de uma maior carência. E outro professor respondeu ao contrário, que

talvez eles sejam um pouco mais infrequentes por causa de condições básicas de vida, como

moradia, alimentação e saneamento precário. Situação mais presente na Ocupação, porém,

também existente nos bairros regularizados (LIBÂNIO, NASCIMENTO, 2016; VIDAS,

2013, 2015).

Eu não vejo isso não. Tanto é que a escola é muito acolhedora. Até mesmo por causa

da situação desses meninos, por causa da invasão. Na precariedade. Eu acho que a

escola é muito acolhedora. Então assim, os meninos vêm, são frequentes. Às vezes

eles faltam, mas por questões pessoais, né?! Mas assim, eu vejo que eles são bem

frequentes. E principalmente aqueles que têm poder aquisitivo menor, os mais

carentes. Eu vejo que eles são bem mais frequentes (Professora 2).

Agora, têm casos mais específicos, onde muitas vezes a desigualdade, quando é

ameaçadora do ponto de vista da organização familiar, da estrutura da família. Às

vezes das condições básica de vida, como um teto para morar, isso tudo impacta na

qualidade de vida da pessoa. E aí acaba que isso repercute dentro da escola. Em

evasão, muita falta. Porque dentro de casa, às vezes o cara mora em moradia

precária, com condições de alimentação e sanitárias muito difíceis. [...] Dentro de

um propósito comunitário, aí há diferenças, há questão da violência, há o

narcotráfico, há uma série de problemas que repercutem na vida de uma criança

(Professor 4).

95

Unidade de Análise 4 – Evasão escolar

A Unidade de Análise 4 pretendeu saber dos professores quais as suas avaliações a

respeito da evasão dos estudantes da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, seja dos estudantes no

geral ou especificamente dos estudantes da Ocupação. Estes últimos têm evadido da escola ou

não, quais podem ser as causas desta evasão?

As respostas dos professores sobre a evasão, dos estudantes no geral, e da Ocupação

Rosa Leão, especificamente, reforçaram as suas impressões quanto à frequência e

infrequência na escola, e os seus possíveis motivos.

Para as Professoras 1 e 2, assim como as dificuldades de frequentar e permanecer na

escola, a evasão é pequena.

Eu, particularmente, acho que não, mas claro que tem aqueles que abandonam.

Como por exemplo, eu tenho uma turma que dois abandonaram, em 36 alunos. E

normalmente os que abandonam são por problemas de droga, problemas que na

verdade estão fora da escola. Na verdade, a turma começou cheia e continuou

(Professora 1).

Para a Professora 3, assim como a infrequência, o índice de evasão é alto, também

motivado pelos fatores extraescolares. E para o Professor 4, o índice de evasão na escola,

assim como de infrequência, deve estar equiparado ao nível nacional, também motivado pelos

problemas sociais e condições de vida.

A evasão existe e eu acho que ela não está em padrões insustentáveis não. Eu acho

que ela tá seguindo um padrão razoável de evasão. Coisa que é resultado não de uma

localidade, é um contexto nacional. Vamos ampliar isso aí, porque o Brasil é um

abismo de desigualdade, então a escola é o primeiro lugar que se impacta com

relação a desigualdade. Porque um menino desse, com 13 ou 14 anos, ele tá catando

lata na rua para ajudar em casa. Ele tá procurando um jeito de trabalhar. E aí é que

entra o problema, né? Dos pequenos furtos. Porque muitas vezes a desigualdade é

tão brutal que um menino desses alimenta sonhos, né? De possuir, de bens materiais.

E ele não vai ficar esperando a escolaridade, ele não vai ficar esperando ficar adulto,

ele vai aproveitar o momento, seja por via legal ou ilegal: ele quer o dele. Porque

aqui, no mundo em que vivemos, sinaliza para ele que ele só é alguém se ele tiver

alguma coisa. Possuir, ter e não ser. E daí a escola fica em segundo, terceiro, quarto

lugar. Mas acho que é um nível razoável, não é um nível espantoso para nós. No

momento, está seguindo um nível razoável de abandono, desistência, fruto desse

contexto (Professor 4).

A diferença ou não, e os motivos de evasão dos estudantes moradores ou não da

Ocupação Rosa Leão, assim como no questionamento da frequência, são repetidos.

Assim como no questionamento sobre frequência na escola dos estudantes moradores

ou não da Ocupação Rosa Leão, os professores repetiram as suas impressões. As Professoras

96

1 e 3 afirmaram não perceber maior ou menor evasão de quem é ou não é morador da Rosa

Leão, assim como na frequência ou infrequência. A Professora 2 reafirma a não evasão

escolar devido ao acolhimento da Instituição e a segurança de estar dentro desta, diferente

quando estão fora dos muros da escola. E o Professor 4 destaca a possibilidade de uma maior

evasão de quem é da Ocupação pelas condições de moradia e vida um pouco mais agravantes

do que os moradores dos bairros regularizados.

Como dito no acesso, na categoria analítica permanência, todos os professores, uns

mais, outros menos, dizem não perceber, preocupar ou diferenciar quem é ou não da

ocupação. Segundo eles, todos são e devem ser tratados como iguais, não se deve diferenciar

ou estigmatizar os estudantes. Eles conhecem alguns estudantes que são da Ocupação Rosa

Leão por fala de colegas em chamada, xingamentos presenciados, e pelo caso raro de um ou

outro se posicionar como morador.

Estes professores, no geral, percebem também, principalmente atualmente, com a

consolidação da Ocupação e a garantia do acesso à escola, que os seus moradores têm

semelhantes condições de acesso, integração, frequência e permanência na escola. Com

exceções das pequenas diferenciações feitas principalmente pelo Professor 4 ao longo da sua

entrevista.

Para estes professores, as situações sociais, territoriais, econômicas e familiares que os

estudantes do asfalto e da ocupação passam são idênticas ou muito semelhantes.

A presente pesquisa considera importante o entendimento daqueles que vivem nos

bairros regularizados e na Ocupação como integrantes da mesma classe, a classe trabalhadora

brasileira, que vive situações semelhantes provocadas pela teoria e prática antidialógica e

opressora do poder dominante. Porém, também é importante, pelo propósito e linha desta

pesquisa, da compreensão das localidades e suas pontuais especificidades, reconhecer que

viver em uma ocupação urbana, em fase inicial ou mais consolidada, não é a mesma coisa do

que viver em um bairro regularizado.

Em início ou mesmo em trajetória de consolidação, a ocupação urbana e os seus

moradores, vivenciam ameaças, discriminações e preconceitos dos reivindicantes da

propriedade, do poder público e as suas instituições, da mídia e por consequência da

comunidade.

Enquanto constroem ou mantêm as suas casas de poucos cômodos, de lona e madeira,

ou de alvenaria, os moradores lidam diariamente com o perigo do tempo, sol, chuva e vento;

com a presença e ameaça repressora da polícia, das ameaças de despejo e reintegração de

posse organizadas de forma ilegal, repentina e autoritária; com infraestrutura mais precária,

97

sem asfalto e saneamento básico; não acesso ou desigualdade de acesso aos equipamentos

públicos; em dúvida sobre a regularização fundiária e urbana do território, etc.

Vivendo também, paralelamente, uma situação diária e intensa de organização,

realizando manifestações diversas por direitos à moradia e à cidade, construindo laços de

solidariedade, pertencimento, identidade de classe e conscientização em transitividade, como

diria Freire (NASCIMENTO, 2016; PROGRAMA...,2015). Situação vivenciada por algumas

estudantes Coordenadoras e não Coordenadoras da Ocupação, ex-alunas da escola pesquisada,

e outras, ainda estudantes.

Por isso, educadores e escolas que trabalham ou ainda não trabalham com a

comunidade e os estudantes de uma ocupação urbana, no seu início ou em trajetória de

consolidação, devem considerar esta diferenciação de quem está ou não na ocupação. Devem

conhecer este fenômeno social e a ocupação local, entender a trajetória destas, compreender a

sua realidade e o perfil ou os perfis de seus moradores.

Isto para uma escola pública e um educador comprometido com um projeto político

pedagógico que parta do entendimento da sociedade e da sua realidade local, em sua

diversidade e totalidade. Uma escola inclusiva, que se esforce para cumprir com o dever de

igualdade de acesso e permanência na escola, com a qualidade do processo educativo, a

transformação da educação e sociedade.

Por exemplo, uma escola que entenda e cumpra o direito de todos de estudar,

independente da situação fundiária e urbana da família e estudante, que intervenha nas

situações de discriminação e preconceito, que conheça, dialogue e insira em seus processos

formativos, a realidade e os temas de uma ocupação urbana. Ou como desejaria Freire, que

solidarize e lute com estes, na necessidade da classe trabalhadora em unir, conscientizar e

emancipar-se.

Por fim, sobre o apontamento dos professores de que muitos problemas no acesso e

permanência na escola são derivados de uma complexa questão social, que vai para além da

escola, é preciso também que estes não se eximam de reconhecer as causas intraescolares, e

compreender o seu papel e o papel da escola junto aos outros órgãos diante as situações

extraescolares. Para isso, refletindo e agindo de acordo com as diretrizes políticas e

pedagógicas estabelecidas em seu PPP, entre elas, o estudo, diálogo e ação sobre a realidade

local da comunidade.

98

3.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola

O processo educativo é fundamental para a permanência e a qualidade da

aprendizagem dos estudantes na escola.

O conhecimento das realidades locais e o incremento destas no currículo; a criação de

oportunidades para o desenvolvimento de boas relações entre os sujeitos escolares e

comunidade; e o trabalho individual junto ao trabalho coletivo são exemplos de práticas do

processo educativo que podem resultar nestas garantias exigidas à escola e ao ensino nacional.

Por isso, estes aspectos são as cinco unidades de análise da categoria processo educativo,

organizadas com base nas questões que compuseram o roteiro da entrevista aos professores.

Unidade de Análise 5 – Proposições do PPP (Projeto Político Pedagógico da escola)

Esta Unidade de Análise investigou junto aos professores, o que o PPP da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga propõe para o trabalho da Instituição e de sua disciplina a respeito da

realidade e ação com a comunidade escolar, no geral, e especificamente na Ocupação Rosa

Leão.

Primeiramente, os quatro professores disseram não conhecer ou lembrar muito bem do

PPP da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, até porque estes não fizeram parte da sua construção,

pois ainda não trabalhavam na escola.

Todavia, eles teceram comentários sobre este documento, que é o principal documento

de uma escola brasileira, que deve orientar a sua proposta e prática política pedagógica, a

discussão e o trabalho pelo que se entende da sociedade, educação, formação de educandos,

relação com a comunidade, organização institucional, metodologia de ensino, currículo, etc.

Documento obrigatório segundo a legislação educacional brasileira e, por isso, estudado nos

cursos superiores de formação de professores (BRASIL, 1996). Documento que, aliás, quando

o professor começa a trabalhar em uma escola, deve requerer a sua direção uma cópia para

conhecer e intervir sobre e com ele, junto com a escola e a comunidade escolar.

Para a Professora 3, pelo o que ela lembra, o PPP da E.M. Prof. Daniel Alvarenga

propõe para o trabalho com a comunidade a construção de estratégias para provocar a

interação e participação desta na escola. “Acho que propõe uma interação entre eles, chamar a

família para participar, para saber quais são as dificuldades para juntos achar uma solução”. E

a Professora 2 argumenta que a E.M. Prof. Daniel Alvarenga é receptiva, convida e busca a

99

integração da comunidade para a Instituição e os seus projetos, como o “Mães

Empreendedoras”.

Ah! São os projetos que a gente faz. Nossa! Aqui tem tanta coisa. [...] Domingo teve

um trabalho aqui na escola, não sei te dizer se foi a escola que promoveu, mas ela

que recebeu a comunidade aqui. Entendeu? Alguma coisa de ação social, corte de

cabelo, brincadeiras. Foi bem bacana. Mas a escola está sempre muito envolvida

com a comunidade. Tem um, vou dizer um trabalho que as meninas têm, que a

direção da escola tem com as, elas se chamam Mães Empreendedoras, que quando

tem algum evento na escola, elas são convidadas para vender os produtos delas aqui.

Entendeu? Aí elas trazem artesanato, uma coisa assim. Eu vejo que a escola é muito

integrada com a comunidade. É bem receptiva. Não é só com os alunos, mas com a

comunidade inteira. Sempre que tem a oportunidade de fazer alguma coisa para

trazer a comunidade, a escola tá fazendo. Entendeu? (Professora 2).

Já a Professora 1, sobre a proposta do PPP da escola para a comunidade escolar,

argumenta especificamente que “a comunidade é muito difícil”, e por isso, “manter o aluno na

escola já é um ganho”, que, no geral, a expectativa quanto à assimilação e produção de

conhecimento é maior, mas na prática, percebe-se muita dificuldade, de interesse e

aprendizado.

E o Professor 4, que também analisa o PPP exemplificando a questão da produção do

conhecimento, informa este não ser conhecido e trabalhado articuladamente pela equipe

escolar, que no comum, cada professor trabalha conforme a sua formação e concepção de

educação e ensino:

No nível de PPP a gente acaba, eu por exemplo, nunca me chegou aqui e falou: tá

aqui, o PPP da escola. Nunca me trouxeram dessa forma. Então eu trabalho segundo

a minha concepção do que é a pedagogia, do que é o trabalho da prática de ensino da

qual eu sou formado. Então eu vou trabalhar dentro dessa linha do que eu acho que é

o princípio freiriano, vamos dizer assim, da construção de conhecimento. Às vezes,

vou ali na linha mais tradicional, porque a gente tá num sistema tradicional, não tem

como você fugir de um sistema desse, né? Então você acaba tendo que conjugar,

uma hora você dá uma inovada, cria uma coisa diferente, e outra hora vai beabá

mesmo e vai. Então eu não vejo uma coisa articulada, que envolva um projeto, uma

ação social que envolva a escola como um todo. Eu vejo professores tendo ações

pontuais. Eu vejo nesse sentido assim. Um projeto político pedagógico requer uma

participação integral do corpo docente, envolvendo o corpo discente num projeto

que não é um dia de aula. É um ano, dois, cinco, dez. Enquanto a gente tiver aqui e a

gente vê muito no discurso, no papel, mas quando parte para prática é cada um por

si, dentro da sua atuação, dentro da sua área, dentro da sua competência, dentro da

sua demanda. Porque nós temos uma demanda. Então, dentro disso, cada um vai

tentar dar uma escapadela ali para tentar tratar dessa questão em particular dentro da

sua área. Não vejo uma coisa articulada assim (Professor 4).

Para este Professor 4, existem obstáculos que impedem que a escola construa com

qualidade e dialogicidade o seu PPP, como a própria ideologia e organização do sistema de

100

ensino público no Brasil, a jornada dupla do professorado, a ausência dos tempos e encontros

construtivos na escola, e as demais demandas docentes.

Você sabe que os momentos de construção pedagógica dentro da escola são muito

restritos. Então para a gente construir um PPP não é uma coisa que, e não ficar só no

discurso ou no papel, é algo que tem que ser construído junto e num horário que

todos possam estar juntos. Não adianta eu e você falar de alguma coisa aqui e o

Flavinho tá lá na sala de aula e depois ele vai vim. E aí? Ele pegou o bonde andando,

nesse caso. Então ele vai participar como desse processo? Então, o sistema

educacional, ele não foi feito para o encontro. Ele foi feito para desarticulação.

Porque enquanto você tá cinquenta minutos se for no Estado ou uma hora se for na

Prefeitura, dentro da sala de aula e na hora do seu, a gente chama de assepática ou de

área de projeto. E quando eu estou na minha área de projeto, eu não encontro com os

meus colegas, encontro com um ou dois. Mas eu não construo nada com eles, eu

construo o meu. Eu tenho que acertar o meu diário, eu tenho que corrigir prova, eu

tenho que planejar aula do dia seguinte, eu tenho que pensar naquele projeto da

mostra de cultura que virá daqui 15 dias. Então eu tenho tantas demandas, eu tenho

provinha Brasil, eu tenho prova trimestral, eu tenho o diabo a quatro. São demandas

que eu não tô falando que são desnecessárias, são necessárias. Mas que elas podem

ser construídas e juntamente com o construir pedagógico, com o fazer pedagógico. E

que horas você vai dar conta de todas essas demandas, mais o construir o

pedagógico? Que é no coletivo. Então, depois que eu saio daqui, a maioria de nós,

vai para outra escola, viver outra realidade. E construir mais um processo não é fácil,

porque lá também você não vai ter tempo. O seu tempo que é medido, você sabe

disso, é dentro de sala, esse é o tempo que você recebe, como se fosse uma indústria,

uma linha de produção. Mas nessa linha de produção, a qualidade é questionável. Do

nosso ponto de vista, do que a gente acredita como educação. Do ponto de vista

geral, ideológico, tá atendendo as expectativas. Pessoas mal qualificadas, pessoas

sendo aprovadas sem saber, entrando no mercado de trabalho com baixa

qualificação, ganhando baixos salários e, às vezes, engrossando a fileira dos

desempregados. Nada é por acaso nesse caso (Professor 4).

Apesar da proposta ideológica, organizacional e prática do ensino no Brasil, como

contextualiza o Professor 4, podendo esta ser analisada como educação bancária, como

argumentava Freire (1987), tal organização e educação não é totalizante, totalmente

dominadora. Existem em muitas escolas e profissionais o entendimento, a criticidade e a

resistência pontual e organizada a esta realidade educacional. A própria legislação

educacional brasileira, a LDBEN 9394/96, permite a autonomia da organização do tempo e

espaço escolares, apesar de suas limitações e críticas apontadas por especialistas da educação,

como Cury (1997, 2014).

É possível escolas e professores, organizadamente, implantarem uma nova

organização e estratégias que favoreçam mais possibilidades de tempos e espaços para o

estudo, discussão e desenvolvimento da proposta política e pedagógica escolar.

Segundo as revistas VIDAS (2013, 2015) e até mesmo a fala do Professor 4 em outros

momentos, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga já foi mais articulada no desenvolvimento de sua

proposta política e pedagógica, como no momento de intervenção e pós-intervenção na gestão

escolar, em 2007.

101

O próprio PPP da escola foi organizado dentro deste cenário de possibilidades, e

valoriza e prevê estas oportunidades, como reuniões semanais e mensais entre os professores

da mesma área ou entre a equipe, oportunizadas pela aplicação de um projeto, o “Vivências

Culturais”, e pela organização interna da carga horária da equipe.

Planejamento das atividades pedagógicas é feito coletivamente, uma vez por

semana, em encontro com a participação de toda equipe. Neles são definidos o

desenvolvimento de projetos e eventos pedagógicos, como festas da família e junina,

exposições, feira de arte e literatura ou torneios esportivos, que também são

organizados nos encontros semanais. Quinzenalmente, o grupo de trabalho reúne-se

por disciplina ou ano do ciclo. Para permitir a participação dos professores neste

encontro, os alunos participam do Projeto Vivências Culturais, previsto no Plano

Curricular, onde acontecem oficinas culturais de música, esporte, arte, ministradas

por oficineiros e coordenadas pela equipe pedagógica. O encontro por grupos de

trabalho define metas a serem alcançadas e estratégias de intervenção. A partir do

que é definido coletivamente, o professor faz seu planejamento individual,

adaptando-o à realidade da turma o planejamento coletivo do trimestre

(PROJETO..., 2013).

Quando questionados sobre a existência ou não de contextualização e proposta do PPP

para a Ocupação Rosa Leão, os professores comentaram não saber - até por não estarem na

escola quando ocorreu a sua elaboração -, ou que o PPP (2013) é anterior à Ocupação (2013),

sendo este um dos motivos da não especificação.

O Professor 4 mencionou o contexto diferente que a escola vive hoje em relação ao

ano de 2013, quando o atual PPP foi elaborado. Segundo ele, mudaram-se muitos professores,

discentes e o entorno atendido pela escola. Por isso, a escola precisa discutir e produzir um

novo PPP.

Então essa renovada, tem que ter essa retomada do PPP. Então até penso que uma

nova construção, porque os tempos são outros, as cabeças são outras. Então é

necessário uma reconstrução de um projeto político pedagógico que tenha a cara da

escola, a cara que ela tem hoje. Ela precisa buscar essa identidade. Justamente

porque nós ainda somos novatos nesse espaço, muitos são novatos, muitos mais

antigos. Mas uma metade é nova, e essa metade nova precisa conhecer e ter relação

com essa parte desse professorado mais antigo que viveu a construção do PPP para

fazer parâmetros do que que tem que mudar, do que precisa melhorar, né? (Professor

4)

Sobre o que o PPP propõe para a sua disciplina, e o que este desenvolve sobre e junto

à comunidade, os professores afirmam que seguem a proposta curricular da rede municipal

(Professores 3 e 4); a sua avaliação quanto ao estágio de aprendizado dos estudantes

(Professora 1); os jogos disciplinares e projetos da escola, que algumas vezes abordam a

realidade dos discentes (Professoras 2 e 3); e além da proposta genérica da rede municipal,

102

trabalha de acordo com a sua jurisprudência do que deve ser proposto para os educandos, por

exemplo, conhecimentos mais relacionados com a sua realidade (Professor 4).

Especificamente sobre a Ocupação Rosa Leão, enquanto duas professoras

responderam não desenvolver nada diretamente ou relacionado à Ocupação, houve duas

respostas diferentes entre os Professores 1 e 4.

A Professora 1, até pelo motivo de durante toda a entrevista responder que não poderia

ajudar muito porque não reconhece quem é ou não da Ocupação, e argumentar ser contrária a

esta diferenciação, respondeu: “não sei te falar. A gente tem um olhar diferenciado para

aquele aluno que é especial, se é dali ou não, ao meu ver, tá? Eu não trabalho pensando na

ocupação”.

O Professor 4 já respondeu que procura selecionar e trabalhar os conteúdos mais

próximos da atualidade e realidade dos educandos, como a questão urbana, da região, do

bairro regularizado e da Ocupação. Mesmo que de forma não consistente, e com resultado

dependente do comprometimento e atenção dos estudantes.

Nas matérias, a gente trabalha com história e geografia, e muitas matérias são

pontuadas ainda por questões que são atuais e presentes. Então, de alguma forma,

estudar o passado na história, ou estudar o processo de urbanização no Brasil,

exemplo de Geografia, nos lança luz para entender o nosso processo de existência

aqui. Então eu procuro selecionar conteúdos que vão, de alguma forma, me fazer

enxergar o que que eu estou fazendo aqui nesse tempo e nesse espaço. Então, a

seleção dos conteúdos, eu procuro direcionar para essa compreensão, mesmo que

não seja explícita e direta, mas ela pode ter um efeito ali, na construção à medida

que a gente coloca uma crítica ou outra, um comentário ou outro que é feito em sala,

uma observação. Pegando sempre presente e passado ou outros espaços. Você

fazendo essas comparações, você consegue avaliar e criticar sua própria realidade na

medida do possível. Eu estou falando isso dentro da lógica que a gente espera do

aluno que tenha um mínimo de comprometimento ou de atenção no que a gente tá

fazendo. Então, na minha proposta, eu procuro selecionar conteúdos que vão não

falar de uma realidade distante, mas procurar trazer mais a nossa realidade através

desses conteúdos, fazendo esse paralelo (Professor 4).

Realmente, como respondido pelos professores, o PPP da escola é anterior, ou no

máximo, contemporâneo ao início da Ocupação Rosa Leão, em maio de 2013. E este,

portanto, não contextualiza, nem prevê diretamente uma abordagem no que se refere ao

acesso, a permanência e o processo educativo dos moradores da Ocupação.

Tal documento menciona que a escola localiza-se na Regional Norte de Belo

Horizonte, uma das áreas de maior vulnerabilidade social da cidade, com uma população que,

historicamente e no presente, sofre pelo descaso das autoridades e a não garantia de direitos.

Uma Instituição inserida em um bairro originário de uma ocupação urbana, o Zilah Spósito,

103

que depois de regularizado, exigiu uma escola de Ensino Fundamental, a E.M. Prof. Daniel

Alvarenga.

No entanto, este mesmo PPP não registra o entendimento e a presença de uma

diversidade de territórios e públicos, na unidade do que é a população do Zilah Spósito e

entorno atendido pela escola, como os bairros do município vizinho Santa Luzia e a Ocupação

Zilah Spósito/Helena Greco que, mesmo pequena, já existia desde 2011. É o que se demonstra

em um parágrafo da Introdução do PPP:

Desta forma, foi construído este projeto, que tem como principal objetivo ser o

instrumento que levará a escola a caminhar rumo ao ideal desejado e merecido pela

comunidade Zilah Spósito e pela Equipe da Escola Municipal Professor Daniel

Alvarenga (PROJETO..., 2013 p. 7).

Por isso, para esta pesquisa, uma nova discussão e reconstrução do PPP e prática

escolar se faz necessária, incorporando uma nova leitura, discussão e práticas que

compreendam a maior diversidade da comunidade atendida antes e hoje, composta por

ocupações e outros bairros de BH e cidade vizinha. Bairros que apresentam um perfil

semelhante, como demonstram índices de desenvolvimento da Regional Norte e/ou bairros

vizinhos (NAHAS, 2000; RELATÓRIO..., 2015). Contudo, que também limita-se com

ocupações urbanas, que apesar de viverem os mesmos problemas da classe trabalhadora e

periférica de Belo Horizonte ou Santa Luzia, contém especificidades de uma ocupação, com

diferentes experiências, lutas, obstáculos, etc., como já mencionamos até aqui.

Faz-se necessário o conhecimento da comunidade. Saber quem é este estudante que

chega à escola, que conhecimentos traz consigo, o meio social, cultural e econômico

em que vive, sua família e os seus objetivos em relação à escola, tendo sempre como

foco que tipo de indivíduo que a escola pretende formar, conforme citado no artigo

26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96 (PROJETO...,

2013, p. 17).

Portanto, cabe ao PPP da escola e sua equipe, registrar e trabalhar nessa diversidade

que compõe a nova unidade da comunidade escolar atendida, nas questões que envolvem o

acesso, a permanência e o processo educativo escolar.

Isto para uma escola que, em seu PPP, apresenta-se como progressista em suas

finalidades e estratégias, teve e tem práticas progressistas, com a previsão de ouvir e trabalhar

conforme estudos, necessidades e desejos da comunidade, do que é a sua realidade. De

envolver a comunidade nos processos de avaliação e tomada de decisões, em projetos e na

organização do currículo (PROJETO..., 2013).

104

Currículo este, tema desta Unidade de Análise, que segundo o PPP da escola, prevê a

desfragmentação dos conteúdos, o trabalho por projetos, a abordagem da realidade dos

discentes, a adoção da teoria curricular crítica, orientando-se pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCNs), a Escola Plural e as propostas curriculares da Rede Municipal, descritas

pela escola como as suas referências.

Assim, o currículo deve garantir a aprendizagem de múltiplas habilidades e

conteúdos que são necessários à vida em sociedade, para o aluno compreender a

realidade de que faz parte, situar-se nela, interpretá-la, criticá-la e contribuir para a

sua formação. [...] Na EM Professor Daniel Alvarenga, além dos conhecimentos

disciplinares previstos nas proposições curriculares, as vivências culturais e sociais

devem se fazer presentes na maneira de planejar as atividades, bem como na seleção

de metas e conteúdos, a fim de responder às necessidades apresentadas pela

comunidade, na busca de alcançar a qualidade de ensino desejável. Tendo como

base o direito à educação para todos e propondo a sua universalização, o currículo da

Daniel Alvarenga busca a formação integral de seus alunos e orienta-se, assim como

as proposições curriculares da Rede Municipal de Belo Horizonte, pelas intenções

educativas para a Educação Básica, apresentados no Caderno da Escola Plural

(PROJETO..., 2013, p. 17-19).

Resta então, o maior estudo e inserção da Ocupação Rosa Leão, pertencente à

comunidade escolar, nos documentos e práticas escolares, como o currículo tratado aqui.

Unidade de Análise 6 – Contato e percepção sobre a Ocupação e os seus moradores

A Unidade de Análise 6 teve o objetivo de saber dos professores, quais as suas

percepções sobre a Ocupação Rosa Leão, os seus moradores, e as crianças e adolescentes

residentes na mesma e que estudam na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. E por fim, se eles

conhecem o território ocupado.

Tais questionamentos foram feitos por esta pesquisa, pois, o conhecimento da

comunidade escolar é fator importante para o trabalho de uma escola e de um professor

comprometidos com a formação humana integral, e com uma educação que promova o

desenvolvimento local.

Como primeiro resultado, os professores disseram que nunca visitaram a Ocupação

Rosa Leão. Aqueles que se justificaram alegaram falta de tempo por causa da jornada de

trabalho (Professora 2) e receio devido à atividade que estavam fazendo no Córrego do

Isidoro - localizado ao lado de uma das entradas da Ocupação -, de serem confundidos com

fiscais ou outro profissional que pudesse estar envolvido com a reintegração de posse,

iminente naquele período (Professor 4).

105

Quanto à percepção deles sobre a Ocupação Rosa Leão, os seus moradores e

estudantes, os professores destacaram a Ocupação e os seus moradores como um pouco

revoltados e agressivos (responsáveis dos estudantes que buscam atendimentos na escola); a

vivência de situações importantes de luta por moradia e outros direitos, por lideranças e

jovens; a presença desde o início da ocupação do tráfico de drogas; o desconhecimento; e a

alegação de não conhecer a Ocupação in loco, mas perceber a trajetória recente dos seus

moradores.

Teve um dia que eu presenciei uma mãe reclamando na portaria e ela estava

extremamente revoltada. Geralmente, as poucas que eu vejo, que tá vindo aqui

reclamar e tudo, geralmente é da Ocupação. Como se a culpa de tudo que elas

vivem, a escola tivesse uma certa parcela aí, entendeu? Então são pessoas que não

pensam no que falam, que falam o que vem na cabeça, com uma certa agressividade

e revolta (Professora 1).

Olha, eu acho que muitos realmente estão lutando para ter a sua moradia e que são,

né?! Eu acho que o movimento é até bacana, tá lutando, né?! A questão da moradia e

tudo, mas o que a gente tem conhecimento é que muitos também não é assim, né?!

Que o tráfico de drogas está grande na Ocupação, e que eles comandam lá. A

princípio, quando chegou a invasão, a notícia era até que o tráfico que comandou a

invasão. Mas a gente sabe que tem outros movimentos ali por trás, sabe que existe o

tráfico, mas que realmente não é só isso. Né?! Que tem outras coisas por trás, outros

movimentos, e tudo, até a igreja, e tudo, mas, então eu acho que lá tem os dois lados,

os que realmente precisam, os que estão no movimento, que participam, que cobram.

Tem uns que até não estudam na escola mais, mas eu já tive alunos que eram

lideranças lá dentro, que mesmo sendo adolescentes eram lideranças (Professora 3).

Difícil eu falar sobre os moradores porque eu acho que tem que morar ou conhecer o

lugar. Eu não moro aqui. Eu não vou lá. Aliás, eu não posso nem entrar lá de

bobeira. [...] Então eu não vou te falar que eu conheço essa realidade de dentro, essa

realidade eu conheço é de relato dos meninos. De quem tá de fora. E não me chega

muita coisa. A gente também, pelo menos eu, tem esse cuidado de não ficar, como

há esse preconceito entre o morador do Zilah e o morador da ocupação, eu também

não procuro ficar investigando demais não. De repente ele tá falando da realidade

dele e chega um menino e vai zoar ele, porque a rua dele é de terra, porque não tem

saneamento na rua dele. Então, para evitar esse tipo de situação eu acabo não

questionando muito. A gente imagina, mas imaginar é uma coisa e viver a realidade

é outra coisa. Então assim, eu acho que do morador a gente tem que avaliar

superficialmente porque eu não tenho elementos para te apresentar. O que dá para

entender é que tem gente de tudo quanto é região da cidade, principalmente do

interior do estado. Jequitinhonha, Vale do Jequitinhonha tá muito presente, sul da

Bahia, aquelas regiões lá do sertão baiano. Muita gente pobre e carente que veio

para Belo Horizonte na época da construção da Copa de 2014, aquele boom

imobiliário que teve, aquelas construções e obras pela cidade. Quando passou a

Copa do Mundo, a gente percebe que essas pessoas foram procurar continuar na

cidade, então muitos dos moradores são oriundos dessa construção civil, que vieram

do interior para trabalhar aqui. Os trabalhos normalmente são trabalhos braçais,

trabalhos pesados, então é gente que rala com força, que rala bastante (Professor 4).

Em relação à percepção dos professores sobre os estudantes moradores da Ocupação

que estudam na escola, estes descreveram uma carência dos que moram lá, e por isso

demandam mais apoio da Instituição, e muitas vezes, não têm um apoio familiar, sendo um

106

pouco revoltados, agressivos e vergonhosos de dizerem que são da Ocupação. Segundo os

professores, assim como os demais estudantes, vários deles não entendem e valorizam a

escola como um lugar de estudo e futuro.

Os alunos eu acho que são muito sofridos, sem sombra de dúvida. Alguns sentem

vergonha, não querem que cite que ele mora lá. Isso eu percebo muito. Mas aí tem

vezes que eu fico assim “será que aquele ali é da Ocupação?” Porque têm alunos que

não moram na Ocupação, mas também têm as mesmas dificuldades, os mesmos

problemas. Então eu acho que eles têm vergonha. Até pelo fato da dificuldade de

falar se é de lá ou não. Às vezes acontece, porque lá quando chove tem muito barro,

de aluno não dar conta de descer. Aí, na chamada, os alunos falam: não veio porque

é da Ocupação. Então, eles sentem vergonha sim, sem dúvida (Professora 1).

Eu vejo muita carência, eu vejo de alguns deles. A coisa não é total abandono, mas

eu vejo que os meninos, assim, o apoio deles, eles buscam muito o apoio na escola.

São todos não. Alguns são muito bem cuidados, né e tal?! Mas eu vejo que para

alguns, a questão da família, da presença da família, nossa, é muito pouco. [...] É, a

questão toda é a que eu te falei da falta de entender o que é um espaço para alcançar

um futuro melhor. Nem é só futuro melhor, a escola, o aluno não vem aqui com o

intuito de estudar. Não estou dizendo que são todos não, eu tenho ótimos alunos.

Ótimos alunos. Alguns são da Ocupação, sabe assim, não tô dizendo que são todos

não. Mas eu vejo que em alguns assim não tem. Não vê sentido nisso (Professora 2).

Já a Professora 3, comentou que existe uma impressão da “invasão” e dos moradores

desta, mas que na prática, percebe-se uma diversidade ou adesão aos perfis dos discentes.

Segundo ela, o julgamento que por vezes se faz, como descrevem os demais professores, é

que os estudantes não têm apoio familiar, ou passam por dificuldades ou realidades diferentes

da vivenciada pelos docentes. No entanto, na prática, percebe-se a estrutura familiar,

facilidades e sucessos escolares em vários estudantes moradores da Ocupação, como também

dificuldades em alguns.

Olha, na verdade a gente não tem muito contato. Os que eu sei que moram na

Ocupação, eu tenho alunos que, é difícil falar assim, que quando você pensa em

invasão, muitas vezes você pensa assim, em alunos que vêm sem, é, como eu vou

dizer, que são assim, que não tem um histórico familiar, né?! Que não têm coisas

que nós estamos acostumados, né?! A gente quer cobrar, às vezes, uma coisa que a

gente teve, mas que eles não são acostumados com isso. Então, os que eu conheço

nem parecem que são da invasão. Eles têm uma estrutura familiar, são educados,

têm alunos muito inteligentes, que fazem as coisas. Então assim, não vejo muita

diferença nessa questão não, de ser invasão ou não. Mas os que eu conheço da

invasão são poucos. Agora, em contrapartida, eu já tenho um aluno que agora que eu

fiquei sabendo que ele é da invasão, e ele já foi aluno da escola e ele era um aluno

antes, e ele é outro aluno hoje. Aí tem duas coisas, né?! A gente não sabe, aí fica

difícil falar se é agora que ele mora na invasão, né?! Ele até chegou a falar com a

mãe dele que eu chamei a atenção dele porque ele mora na Ocupação. Aí eu falei:

“Eu nem sabia que ele morava na Ocupação, agora que a senhora tá me falando”. Ou

se é questão também da adolescência, porque quando ele foi meu aluno era no 7°

ano, ele tinha outra idade, agora ele tá no 9°, então aquela questão, né, dos meninos

entrarem nessa idade, eles sofrem uma mudança, aí é difícil falar se é porque

107

realmente ele tá morando lá, ou se é realmente porque ele tá nessa fase (Professora

3).

Por fim, o Professor 4 comentou sobre a mudança que a escola passou na chegada do

novo “alunado”, do acesso dos estudantes da Ocupação à escola, que reforça a percepção das

Professoras 1 e 2 citadas acima, com observação sobre a trajetória escolar e o deficit de

aprendizagem dos mesmos:

Eu acho que os alunos da Ocupação, não é para criar estigma, mas eu acho que

muitos têm problema de aprendizagem que vem de histórico escolar de abandono e

de infrequência também, porque isso já era um dado da realidade da onde ele vinha,

de onde ele vivia. Então ele já vem para cá com esse deficit. Nossos indicadores de

IDEB tiveram uma queda razoável em função desse novo alunado. Que hoje já

representa, o Secretário Escolar pode te falar com mais propriedade, deve ser uns 40,

50% do nosso grupo de alunos. Então, nós tivemos resultados assim, de aumento de

conflitos escolares, de brigas na sala de aula, de briga no pátio, confusões assim

nesse sentido. A escola ela é um porto seguro para essa comunidade. Ela e o CRAS

são os equipamentos que dão o suporte social (Professor 4).

Portanto, apesar de não conhecerem in loco, e nem estudarem e dialogarem a

realidade, trajetória e movimentos da Ocupação Rosa Leão com as suas lideranças, moradores

e estudantes, os professores descreveram as suas impressões da mesma. Surgida da

observação, do contato com os estudantes moradores, e com outros membros da comunidade

escolar. Quanto à menção da importância do movimento de lutas, presença do tráfico de

drogas, e a descrição da trajetória e perfil dos moradores é importante fazermos alguns

apontamentos.

Realmente, na Ocupação Rosa Leão existem movimentos e ações organizadas que

demonstram a trajetória e a vivência diária de lutas e, paralelamente, processos de

conscientização de muitos moradores, estudantes ou não, do entendimento da sua realidade

social, de classe e pessoal, da busca por emancipação da situação de opressão, ou seja, para a

busca de “Serem Mais”. Situação esta que deve ser conhecida e estudada pelas escolas e

professores que trabalham em territórios de ocupação urbana, sejam elas em início ou fase de

consolidação. Até para a participação e apoio em suas lutas, pelos docentes que também são

classe trabalhadora e vivem em situação de opressão pelo poder dominante.

Sobre o tráfico de drogas na Ocupação ou em ocupações, não existem dados

disponíveis que possam comparar ou não com a sua presença no Zilah Spósito e demais

bairros da região. O que alguns entrevistados professores e coordenadores da Ocupação

mencionam é sua forte presença em toda a região.

108

Algumas pesquisas sobre ocupação urbana, em comparação ou não com a cidade ou

conjuntos do Minha Casa Minha Vida, que já mencionaram o tráfico de drogas e violência,

informam a preocupação das coordenações das ocupações no seu início ou fase de

consolidação em evitar delitos para que a Polícia Militar não chegue e aborde autoritariamente

a Ocupação e os seus moradores (PROGRAMA..., 2015; NASCIMENTO, 2016).

A respeito da trajetória dos moradores descrita pelo Professor 4 como trabalhadores, e

trabalhadores braçais, de serviços pesados, os dados sobre antigas e atuais ocupações urbanas

confirmam este perfil (ALVES, 2010; BRANDÃO, 2001; DIEESE et al., 2017; LIMA, 2009).

Assim como o surgimento ou aumento de algumas ocupações devido ao mercado de

construção para a Copa do Mundo de Futebol de 2014, como informado em entrevista pela

Coordenadora 4 e Libânio e Nascimento (2016).

Agora, sobre a percepção dos professores sobre os estudantes da Rosa Leão,

resumidamente verificam-se falas de que estes apresentam demandas e comportamentos ora

um pouco maiores, ora menores ou iguais aos estudantes que não são da Ocupação, como de

carências, apoio familiar, sucesso escolar, etc.

Dentre dois aspectos importantes que os professores declararam a respeito dos

estudantes da Ocupação nesta Unidade de Análise, o primeiro é a vergonha percebida pelos

docentes que estes têm em se mostrarem como moradores da Ocupação.

Uma baixa autoestima, identidade e valorização do lugar onde mora, talvez pelo

histórico de preconceito social, local e escolar que perceberam e sofreram durante a sua

mudança para a Rosa Leão. Resultado também das dificuldades iniciais de acesso, frequência

à escola (ameaça de despejo, chuva, falta de água, etc.), não estudo e intervenção sobre a

Ocupação e os seus movimentos no processo educativo escolar.

O segundo aspecto importante é a fala do Professor 4 de que, com o acesso dos

moradores da Ocupação à escola, atualmente boa porcentagem do corpo discente da

Instituição, o perfil socioeconômico-cultural e pedagógico da escola mudou. Novos conflitos

e resultados de aprendizagens apareceram. Conflitos, que podem ter como fatores

contribuintes a rejeição inicial da Administração Municipal e comunidade em permitir o

acesso dos moradores à escola; os xingamentos, bullying e preconceitos sofridos quando do

acesso à Instituição, que os entrevistados, professores e Coordenadoras alegaram terem sido

intensos; e pela ausência de inclusão desta realidade nos processos educativos na escola.

A respeito da percepção do Professor 4 sobre um deficit de aproveitamento

ligeiramente maior dos discentes da Ocupação por causa de suas trajetórias escolares

marcadas por maior abandono e infrequência, que repercutiram na baixa expectativa e queda

109

do IDEB da escola, a pesquisa contrapõe a esta avaliação os dados consultados e percebidos

no trabalho com os estudantes sujeitos da pesquisa.

Estes têm uma trajetória de matrícula, estudo e aprovação em escolas anteriores,

podendo ser comprovadas com as respostas apresentadas nos questionários e entrevistas,

como a comparação idade-série dos respondentes; que contribuíram não para a queda, mas

para o aumento do IDEB da escola, que subiu de 4,5 em 2013 para 4,9 em 2015, superando a

meta estabelecida pelo Ministério da Educação para o país e para a escola (QEdu, 2015).

Sobre as observações dos professores quanto à Ocupação, aos seus moradores,

estudantes ou não, as percepções positivas como de lutas por direitos, e as críticas, como

presença do tráfico ou outra, é importante descrever que, assim como a realidade regional e

local, não se deve realizar e replicar uma campanha de dessignificação dos movimentos e

lutas dos moradores, mas também não se deve romantizar.

As ocupações urbanas, como aponta o referencial teórico desta pesquisa, realmente se

formam em terrenos não utilizados ou subutilizados, de posse contestada, reivindicando,

como prevê a Constituição Federal e o Estatuto da Cidade, a função social da cidade e da

terra, sendo a sua ocupação e consolidação desenvolvida de forma organizada, coletiva,

composta pela grande maioria de trabalhadores necessitados.

A presença de pessoas com diferentes interesses e não engajadas nas lutas por direitos

existe, assim como em outros bairros. Presença, inclusive, geradora de oposição dos

coordenadores das Ocupações Izidora, como infelizmente suscitou no falecimento do

coordenador Manoel Bahia, da Ocupação Vitória, vizinha da Ocupação Rosa Leão (O

TEMPO, 2015). Porém, estas questões não desqualificam este movimento de luta por

moradia, acesso à cidade e outros direitos, para aquelas pessoas e instituições interessadas em

compreender e enfrentar os problemas sociais brasileiros, como deve ser a escola.

Um maior estudo e discussão da Ocupação Rosa Leão - que já está há cinco anos no

território - pela escola, possibilitaria aos professores e equipe desta, além das informações que

os estudantes ou outros trazem, um maior conhecimento e produção sobre a realidade da

Ocupação. Um melhor diagnóstico da luta social e diária pelo direito à moradia e à cidade; os

movimentos sociais e suas ações; e as contradições locais; aspectos que poderiam ou devem

ser dialogados no processo educativo escolar.

110

Unidade de Análise 7 – Integração e relação dos estudantes da Ocupação com os sujeitos

escolares

Uma boa integração e relacionamento entre os sujeitos escolares, é fundamental para o

processo educativo. Por isso, esta Unidade de Análise pretendeu investigar junto aos

professores, como se dá a integração e a relação dos estudantes da Ocupação Rosa Leão, com

os demais profissionais e estudantes dos bairros regularizados.

A informação coletada junto aos professores entrevistados é que a escola recebe bem

os estudantes dos bairros regularizados ou da Ocupação Rosa Leão. Estes não comentaram

dificuldades específicas de integração e relação dos estudantes da Ocupação com a Instituição

e professores, apesar das Coordenadoras da Ocupação terem divulgado situações pontuais de

preconceito ou desrespeito de algum funcionário, sobretudo no início do acesso destes à

escola.

Acredito que entre os professores não deve ter esse problema que eu te falei do

preconceito e da discriminação. Não que eu tenha visto. Talvez algum funcionário,

não sei. Devido à própria origem, da própria formação, do preconceito que já tá

internalizado ali. De certa forma, eu comentei dos alunos com os alunos. Agora,

com os professores eu acho que eu nunca vi problema assim de discriminação, de

ser tratado diferente. Os professores daqui, eles podem ter suas dificuldades, suas

limitações como qualquer um, mas tratar com respeito é uma orientação básica para

todos nós. Então eu acho que nesse sentido a gente procura apaziguar os conflitos e

não criar mais conflitos (Professor 4).

Dois dos quatro professores pontuaram a questão da indisciplina de estudantes,

moradores ou não da Ocupação, como fator dificultador de um melhor relacionamento entre

os sujeitos escolares.

O relacionamento de alguns é complicado por causa da indisciplina. Eu não vejo

que, se eu não vejo sentido no lugar, se eu não aprendo em casa que eu tenho que

respeitar os funcionários da escola, que eu tenho que respeitar os professores, então

a inteiração com a escola não vai ser bacana não (Professora 2).

Acho que a relação é a mesma que acontece com os outros meninos, não tem essa

diferenciação dos meninos que são da Ocupação, não. É tranquilo. Mas a questão eu

acho que é a que acontece com todos os meninos mesmo, da mesma forma que tem

meninos na escola disciplinados, também tem meninos de lá que vêm com a

indisciplina e tudo, e dá problema aqui na escola (Professora 3).

Além disso, uma professora mais recente na escola comentou que deve existir algum

bullying na Instituição com quem é da Ocupação, e que os estudantes de lá também devem

sentir vergonha de se identificarem ou serem reconhecidos como residentes na mesma. Mas

que na sala de aula, ela não tem percebido problemas gerais de integração e relacionamento.

111

Eu acho que é supertranquilo. É claro que deve ter algum bullying por trás, mas que

eu presenciei não. E acho que eles são bem recebidos. É claro que deve ter aquele

que sente vergonha e tal. Mas na sala de aula, eu não percebo que tá sendo

discriminado não (Professora 1).

Outro professor, assim como demais colegas, em outras categorias e unidades de

análise descreve que existe o preconceito e xingamento daqueles estudantes que moram nos

bairros com aqueles que residem na Ocupação.

Como eu te falei, o fato de morar no asfalto, sua casa, apesar de simples, ter uma

estrutura e urbanização melhor. Já urbanizado. Isso cria um preconceito social que é

do mais pobre com o menos pobre. Porque tem do rico contra o pobre, né? Mas tem

do menos pobre contra o mais pobre também. Eu acho que é basicamente isso.

Chegar aqui de chinelo de dedo e sujo de terra já é motivo para o menino ser

alugado (Professor 4).

Para esta pesquisa, é importante ressaltar que o bom relacionamento entre os sujeitos

escolares deve ser estimulado e desenvolvido na escola, pois, como argumenta o PPP da

Instituição, esse bom relacionamento é importante para a inclusão, a permanência do

estudante na escola e, especialmente, para o desenvolvimento de aprendizagens significativas

na escola.

Unidade de Análise 8 – Estudo da realidade local

Esta Unidade de Análise averiguou com os professores se a E.M. Prof. Daniel

Alvarenga e eles desenvolveram ou desenvolvem projetos, eventos e atividades com e sobre a

comunidade escolar e a Ocupação Rosa Leão. Ou seja, se a realidade local e os seus

moradores, inclusive a Ocupação, estão incluídos no currículo e nos processos escolares.

De acordo com os professores, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga desenvolve ou participa

de projetos e atividades na e para a comunidade escolar. Ela a chama para participar, busca

estar próxima desta. Como exemplo, os professores apontaram projetos já descritos pelos

mesmos nas unidades de análise acima, como Mães Empreendedoras e Conscientização sobre

o Córrego do Isidoro, além das ainda não mencionadas Festa Junina e Campanha da Dengue.

Tem muitos projetos. Exatamente quais eu não sei, mas tem muita coisa. O último,

por exemplo, que eu participei, foi do projeto de revitalização do córrego aqui. E

tem mais coisas, mas é porque geralmente eu não participo, porque geralmente é em

horário diferente. Mas tem sim, só não sei quais. Eu acho que tudo que é feito aqui,

nesta escola, está visando à comunidade. Por exemplo, até uma festa junina que se

faz, a comunidade participa o tempo inteiro. Tem o Mães Empreendedoras, tem

112

muita coisa que a comunidade tá dentro da escola, e assim, no geral, é a escola que

eu mais percebo isso. Eu trabalho em outra escola também, né? Então é muito

presente a comunidade escolar aqui (Professora 1).

Os professores responderam participar destes projetos e atividades quando estão

disponíveis, de acordo com a sua jornada de trabalho. E os mesmos alegaram que não

coordenam ou desenvolvem outros projetos e práticas que envolvem, visitam e estudam a

comunidade escolar, a realidade local.

Questionados sobre algum projeto, evento ou outra atividade na ou sobre a Ocupação,

os professores comentaram que convocam e trabalham a comunidade escolar no todo, e não

especificamente a Ocupação Rosa Leão. “Porque a gente fala no geral, não fala da Ocupação”

(Professora 1). Entretanto, verifica-se que, atividades sobre ou na Ocupação são bem menos

frequentes, quase inexistentes, apesar desta também fazer parte da comunidade escolar.

Citou-se o trabalho de visita, palestra, limpeza e conscientização sobre a Bacia do

Onça, da qual faz parte o Córrego do Isidoro e o Ribeirão do Onça. Trabalho feito com uma

Associação e docente de uma escola do bairro Aarão Reis. Todavia, uma professora não

identificou esta atividade como trabalho com, na ou sobre a Ocupação, e o outro professor

justificou não ter adentrado à Ocupação nesta atividade, entre outros motivos, pela

coordenação e os moradores da Rosa Leão não terem sido envolvidos e convidados a

participarem.

Outra atividade lembrada por dois professores sobre a Ocupação Rosa Leão foi a

Mostra Cultural da EJA. Segundo os mesmos, este trabalho consistiu em discutir a

discriminação e a realidade da moradia na Ocupação e bairros entre os educandos da EJA.

Fotos da Ocupação e dos demais bairros foram expostas na Mostra Cultural. Um dos

professores alegou que este trabalho tem tido continuidade, têm professoras desta modalidade

engajadas no estudo e produção sobre a comunidade escolar e, especificamente, a Ocupação

Rosa Leão. Comentário este que corrobora com a proposta da EJA, da escola, e o conteúdo

das revistas VIDAS, produzidas por esta modalidade de ensino.

Com a Ocupação, na Ocupação, não. Nada específico. Como eu te falei, o único

trabalho que eu tive notícia de um projeto específico que aconteceu foi na EJA. Que

foi até tema da mostra cultural que tivemos aí há um mês atrás. Era justamente a

questão da falta de respeito e da discriminação pelo outro, pelo fato da localidade, da

moradia. Caminhou nessa linha aí. Aliás, esse trabalho ainda tá acontecendo dentro

da EJA (Professor 4).

113

Além disso, o Professor 4 reafirmou o trabalho em seu plano curricular sobre o

processo de urbanização no Brasil, tema que relaciona com a questão da moradia na

comunidade escolar, bairros e ocupação.

Em diferentes momentos da sua entrevista, como a respeito da contextualização da

Ocupação no PPP, e também neste, o Professor 4 descreveu que a escola junto a parceiros,

precisa voltar a realizar as diversas experiências bem sucedidas pela Instituição, de trabalhos

que abordaram, envolveram e estudaram a realidade social e local.

Acho que essas coisas precisam de mais gente trabalhando junto. O coletivo, aí é

que falta para a gente poder abarcar mais essa demanda social, nossa aqui da escola

agora. Já que tudo que acontece lá fora explode aqui dentro. Então, a escola precisa

cada vez mais entrar, mais do que com o assistencialismo, que é pouco, mas que a

gente atua nesse sentido, mas é um pouco mais do que o assistencialismo. Então, a

gente precisa entrar com o conhecimento, e o conhecimento é que trás a luz e o

esclarecimento. E as pessoas, aos poucos vão entendendo que elas precisam se unir e

a união é que faz a força e não ficar ‘olha eu não me misturo, eu não quero’ não. A

gente precisa unir forças e há forças muito positivas e produtivas nesses espaços.

Elas têm que aparecer nesse momento, porque a escola sozinha também não vai

fazer nada não. Ela precisa de parceria. Então, é ir lá e resgatar lideranças para fazer

um trabalho que seja mais engajado (Professor 4).

Nas reuniões pedagógicas no início do ano, foi orientado, ou foi aventado, a

possibilidade da gente fazer outros trabalhos nesse sentido. Por quê? Para resgatar

trabalhos que foram muito importantes no passado e que tiveram toda essa função

social que você tá citando, mesmo no contexto onde ainda não existia Ocupação,

mas que existe esse público que é carente, que sofre as mazelas sociais todas e que

precisa construir isso de novo. Então houve assim um discurso de um resgate disso,

de trabalhos excelentes que foram feitos no passado, mas que devido à demanda, ao

desenrolar das nossas demandas institucionais e tudo mais, a gente acabou não tendo

esse momento para construir isso (Professor 4).

Os professores entrevistados, portanto, alegaram que a escola preocupa, convida,

busca se aproximar e desenvolver atividades com e sobre a comunidade. Porém, assim como

prevê com substância o PPP, este trabalho com e sobre a comunidade deve ser menos pontual.

Deve ser coletivo, integrado em seus processos e práticas educativas, na proposta curricular

da escola no seu todo, não de apenas algumas disciplinas, em alguns momentos.

É o que argumenta a teoria de educação para o desenvolvimento local, ao dizer que a

realidade da localidade deve ter importância central nas principais estratégias e ações

políticas, administrativas e pedagógicas da escola e outras instituições. Como, por exemplo,

na criação e desenvolvimento da metodologia de ensino, que segundo Ávila (2012), pode ser

a aprendizagem por interambientalização, em que a realidade do sujeito e da localidade são

pontos centrais para a aprendizagem do concreto para o abstrato, do conhecimento prévio para

o conhecimento escolar.

114

É o que preconizava também Freire (1987, 1989, 2014), quando afirmava que a

alfabetização e escolarização dos educandos deveria ser a partir da leitura do mundo dos

mesmos e com os mesmos, das palavras e temas geradores que deveriam surgir da realidade

social e local dos sujeitos. Para inclusive, num processo de escolarização com

conscientização, possibilitar a interpretação e transformação da realidade social e local.

Por isso, sobre a importância do conhecimento da realidade local para o processo

educativo dos sujeitos, deve-se questionar o quanto agregaria para uma ocupação urbana e os

seus moradores, uma escola que estudasse e dialogasse com os sujeitos a realidade deste

território, rico em fontes de estudo e experiências, que estivesse também solidária, presente e

engajada em suas lutas por direitos e desenvolvimento.

Uma das discussões encontradas por esta pesquisa é que, ao contrário da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga com a Ocupação Rosa Leão, as escolas que foram reivindicadas ou

construídas pela ou em uma ocupação, desenvolveram uma maior proximidade, solidariedade

e conhecimento da realidade local por seus sujeitos, estudantes ou não, principalmente nos

primeiros anos de vida do território e da Instituição (FREITAS, 2015; PINTO, 2016;

ROCHA, 2010; RUIZ, 2013).

Todavia, esta não é e nem deve ser a única possibilidade de inclusão da realidade de

uma ocupação urbana e dos seus moradores na escola. Escolas públicas, vizinhas ou

extemporâneas a uma ocupação, como a E.M. Prof. Daniel Alvarenga, mas comprometidas

com as finalidades da educação, com um projeto progressista de ensino, devem estar atentas

às mudanças e maior diversificação de suas comunidades, inserindo as suas novas realidades e

os seus novos moradores em seus processos educativos.

Unidade de Análise 9 – Aproveitamento escolar dos estudantes da Ocupação

Esta Unidade de Análise pretendeu saber dos professores entrevistados qual é a

avaliação deles sobre o rendimento escolar dos estudantes moradores da Ocupação Rosa

Leão.

Para os professores, o rendimento escolar dos estudantes, no geral, de quem é ou não

da Ocupação é muito fraco. Justificado, como em outras unidades de análise da pesquisa com

os docentes, pela falta de acompanhamento familiar, não atribuição de sentido à escola e

dificuldades de aprendizagem (Professoras 1 e 2).

A causa de baixo rendimento relacionada diretamente ao sistema público de ensino foi

descrita apenas pelo Professor 4, que discursou na sua entrevista sobre a intenção do poder

115

dominante em não querer uma educação e estudantes desenvolvidos, críticos, como analisou

Freire em suas obras.

A Professora 3, que já descreveu sobre o alto índice de infrequência e evasão na

escola, no geral e entre os estudantes da Ocupação, em contraste com a resposta dos demais

professores, ressaltou que o rendimento escolar dos estudantes da Rosa Leão é bom, muitos

deles têm um bom apoio familiar e condições de estudo. “Os que eu sei que são da Ocupação,

são muito tranquilos. Tem excelentes alunos que moram lá. Não tem problema, não tem

dificuldade nenhuma. São bons alunos”.

De fato, na observação de uma aula da Professora 3 em uma turma de 9º ano, o

presente pesquisador pôde observar a desenvoltura de dois estudantes da Ocupação que

participaram bem das atividades, inclusive uma auxiliando os colegas e professora. Mas

também, presenciou-se a dificuldade de uma estudante da Ocupação, assim como de outros

que não residem lá, em realizar a atividade.

O instrumento de coleta de dados observação não participante, não foi integrado a esta

pesquisa devido às dificuldades encontradas pelo pesquisador em utilizar este instrumento

com tempo e qualidade necessários.

Representando a fala das professoras em vários momentos das entrevistas, o Professor

4, ao responder sobre o rendimento escolar dos estudantes no geral, e da Ocupação, descreveu

não saber e nem poder dividir e diferenciar os estudantes e o seu desenvolvimento entre

aqueles que são e não são da Ocupação Rosa Leão. Apesar de este, ao longo da entrevista, ter

sido o entrevistado que mais pontuou algumas pequenas diferenças entre os estudantes

moradores ou não da Ocupação. Por exemplo, as maiores dificuldades de condições de vida e

moradia, relacionadas à situação territorial e de infraestrutura da Ocupação.

Às vezes a gente não sabe definir assim, se é da Ocupação ou não. Eu não tenho um

relatório completo para identificar, esse é da Ocupação, esse não é. Não tenho uma

orientação nesse sentido. A gente sabe porque ouve comentário de um ou de outro.

Então assim, têm bons alunos, alunos que apresentam bons resultados. Nós temos

um aluno que foi bem na Olimpíada da Matemática no ano passado, era aluno meu

também. Então, você tem todos os casos assim de sucesso, de meninos que já têm

um bom percurso escolar encaminhado. Já vem de outras escolas e chega aqui é uma

questão de adaptação. Por outro lado, também tem meninos com perfil de deficit de

aprendizagem, com problemas psicológicos que a gente não sabe diagnosticar,

porque a gente não tem a competência para isso. De alunos que apresentam

problemas em casa, eu já tinha comentado antes, da própria situação de estrutura

familiar, de vida, até de moradia. Isso tudo impacta. Mas como eu já tinha dito

anteriormente, não chega a ser uma coisa assim que a gente estigmatiza ou define

que o aluno da Ocupação é ruim. Você tem bons exemplos de meninos produtivos e

outros não. Então acho que não cabe. A gente identifica muitos deles, aqueles que a

gente consegue identificar, que vêm de um deficit de aprendizagem e tudo. Mas não

chega a ser algo que distancie eles do grupo em geral. Fazer isso é forçar um

estigma, o que é danoso para a relação social desse menino. Para a inserção dele,

116

para ele poder assumir a sua trajetória de maneira com mais sucesso. Então a gente

procura não reproduzir aquilo que os alunos, os colegas já fazem. De criar rótulos

para designar aquela figura como de uma origem mais humilde, como uma pobreza

mais extrema, de uma exclusão maior. E fazer com que isso, se torne um fardo na

vida dele, né? A gente não pode compactuar com isso, e se ver atuando dessa forma

algum aluno, procurando fazer a intervenção (Professor 4).

A preocupação deste e dos demais professores é importante, de não diferenciar e

estigmatizar o grupo discente da Ocupação Rosa Leão. Porém, diante da bibliografia sobre as

ocupações urbanas, os seus movimentos e reivindicações; a descrição da rejeição de grande

parte de governos, mídia e população às ocupações; a discriminação, o não acesso ou a

obstacularização deste nos serviços públicos, é normal o pesquisador querer averiguar como

foi ou estão sendo, na realidade, o acesso, a permanência e o uso dos serviços, como a escola,

em um território específico. Até porque, como afirmado, as pesquisas e os moradores alegam

o não acesso e igualdade de acesso e uso a estes serviços, comparando-os com aqueles que

residem em bairros regularizados (PROGRAMA..., 2015).

Aspecto observado neste território e escola, mesmo que possivelmente em menor

grau: a obstacularização e dificuldades do acesso à escola; a rejeição de alguns profissionais,

mais em outras escolas, de receber e trabalhar com estudantes de ocupação urbana; a

existência de preconceito e xingamentos por parte dos demais estudantes no ambiente escolar;

a não inclusão de sua realidade nos projetos escolares, curriculares ou não.

Mesmo difícil de quantificar, principalmente no início da Ocupação Rosa Leão, as

famílias e os estudantes da Ocupação passaram por dificuldades específicas dos seus

territórios e condições de moradia e vida, que podem realmente impactar no acesso,

permanência e processo educativo na escola. Situações que aumentam as dificuldades que a

classe trabalhadora brasileira já passa em seu dia a dia.

Querer conhecer uma realidade de um grupo de pessoas, não necessariamente é querer

estigmatizá-los. Os resultados deste trabalho podem ajudar as outras escolas, professores e

ocupações a pensar os seus deveres e garantir o acesso, a permanência e o processo educativo

- melhor e mais igualitário - das crianças e adolescentes de uma ocupação urbana à educação

formal.

Como por exemplo, no conhecimento, visita e diálogo com a Ocupação das suas

realidades e direitos; na contextualização e inclusão deste território no PPP; na descrição de

estratégias para garantir com igualdade as condições de acesso e permanência no início ou

durante a trajetória da Ocupação; na inclusão e discussão da sua realidade no processo

educativo.

117

Voltando para a análise geral das entrevistas com os quatro professores e comparando

estas com a análise das entrevistas com as quatro Coordenadoras da Ocupação, sobre o

acesso, a permanência e o processo educativo dos estudantes na E.M. Prof. Daniel Alvarenga,

verifica-se: parte dos professores reconhece a dificuldade de acesso dos estudantes da

Ocupação à escola no início da formação da mesma, assim como da maior presença de

preconceito e xingamentos entre estudantes neste momento da Ocupação.

Para os professores, atualmente não se vê maiores e substanciais dificuldades no

acesso, permanência e processo educativo do estudante da Ocupação Rosa Leão, comparando

ou não com os moradores dos bairros vizinhos. Percebe-se, segundo os professores,

dificuldades específicas da situação e local de moradia, que, porém, não chegam a diferenciar

significativamente os resultados de frequência, permanência e rendimento na escola, como

chuva e barro por causa do terreno íngreme e não asfaltado da Ocupação, e a vergonha de se

identificar e ser identificado como morador da mesma. Avaliação esta, menos problematizada

em comparação com os depoimentos das Coordenadoras, que analisaram o tema da pesquisa a

partir de outro local, ponto de vista e ação (a Ocupação em sua trajetória e dia a dia).

Ainda verificou-se, a partir dos depoimentos dos professores sobre o processo

educativo, que a escola convida e trabalha sobre a comunidade escolar, num todo, sem

diferenciar os territórios e os estudantes que são ou não da Ocupação. No entanto, constata-se

pelos próprios depoimentos dos professores, a informação de várias atividades para, no e com

apenas o bairro Zilah Spósito, e quase nada na Ocupação Rosa Leão, que também é parte da

comunidade escolar e realidade local atendida.

Percebem-se, portanto, as lacunas e possibilidades de real integração das realidades,

necessidades e desejos da comunidade nos ambientes e processos escolares, como prevê o

PPP da escola, e já fizera melhor à Instituição, segundo a análise documental e a entrevista de

um professor.

Destaca-se também nos depoimentos dos professores, que na maioria das vezes eles

não conseguem fazer distinção entre os estudantes que são e os que não são da Ocupação.

Sendo assim, para os professores, por causa dessa pouca diferença percebida no processo

educativo dos sujeitos dos bairros regularizados em relação aos da Ocupação, não se pode

fazer diferenciação entre os mesmos, principalmente, para evitar maiorespreconceitos,

constrangimentos e xingamentos entre os estudantes do Ensino Fundamental II que, segundo

um professor entrevistado, diferentemente do público da EJA, ainda não estão na idade e

maturidade certa para estudar e dialogar de forma mais aberta a Ocupação Rosa Leão.

118

Pensamento este que pode ser contestado, haja vista, entre outros fatores, as

argumentações das próprias proposições curriculares que influenciaram o PPP da escola (as

proposições curriculares da rede municipal de BH para o 3º ciclo, os PCNs para o Ensino

Fundamental e as diretrizes da Escola Plural) ao descreverem que os estudantes desta etapa

escolar podem, e devem sim, conhecer, dialogar e atuar sobre a realidade social e local, entre

elas, os problemas da comunidade escolar, presentes ou não dentro da Instituição de ensino.

Até porque, o tema Ocupação Rosa Leão, assim como outros temas da realidade local,

se bem compreendidos e trabalhados nos processos escolares da Instituição, podem colaborar

em diferentes aspectos para o processo educativo dos sujeitos, como exemplo, a vivência

contextualizada e em tempo real da cidadania, em contraposição à formação escolar “cidadã”

muitas vezes apresentada apenas de forma teórica, distante e pensada para o tempo futuro dos

discentes.

119

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DOS QUESTIONÁRIOS

E ENTREVISTAS COM OS MORADORES DA OCUPAÇÃO ROSA

LEÃO ESTUDANTES DA ESCOLA PESQUISADA

Com uma abordagem qualiquantitativa, exploratório-descritiva, este capítulo visa

analisar e discutir o conteúdo dos questionários e entrevistas respondidos pelos sujeitos desta

pesquisa, os estudantes do Ensino Fundamental II (último ano do 2º ciclo e três anos do 3º

ciclo) que moram na Ocupação Rosa Leão e estudam na E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

Os resultados dos questionários e entrevistas permitirão análise e discussão ampla das

respostas dos estudantes da Ocupação Rosa Leão sobre o acesso, a permanência e o processo

educativo deles e dos demais colegas da Ocupação à E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

As suas respostas ainda serão dialogadas de acordo com os dados e discussão dos

capítulos anteriores, ou seja, os documentos da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, as respostas das

entrevistas com as Coordenadoras e os professores, além do referencial teórico desta pesquisa.

Dos 61 estudantes do Ensino Fundamental II (último ano do 2º ciclo e três anos do 3º

ciclo) que moram na Rosa Leão e estudam na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, 35 responderam

os questionários e 21 concederam entrevistas, sendo que 12 deles, um percentual de 57%,

participaram dos dois instrumentos de coleta de dados.

As perguntas dos questionários e entrevistas foram semelhantes, sendo cada uma delas

integradas às categorias acesso, permanência e processo educativo, e suas unidades de análise.

Os questionários e entrevistas, portanto, foram analisados a partir de um único quadro de

categorização, como se vê abaixo:

120

QUADRO 3 - Categorias e unidades de análise dos questionários e entrevistas aplicadas com os

moradores da Ocupação Rosa Leão estudantes da E.M. Prof. Daniel Alvarenga

(Continua)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

C1: ACESSO À

ESCOLA

UA1: TEMPO SEM ESTUDAR

[Q1 e Q3] Q1: Você já ficou algum tempo sem

estudar? Quanto tempo mais ou menos? Q3:

Antes de matricular na sua escola atual, você

ficou um tempo sem estudar? Quanto tempo

mais ou menos?

UA2: PROCESSO DE

MATRÍCULA

[Q2 e Q4] Q2: Sua família teve dificuldades

para matricular você na sua escola atual? Q4:

Você conhece colegas da Ocupação que

tiveram dificuldades para se matricular na sua

escola atual?

UA3: RECEPTIVIDADE NA

ESCOLA

[Q5 e Q6] Q5: Nos seus primeiros dias de aula

você foi bem recebido pelos profissionais da

escola? Q6: Nos seus primeiros dias de aula

você foi bem recebido pelos colegas da escola?

C2:

PERMANÊNCIA

NA ESCOLA

UA4: FREQUÊNCIA

[Q7,Q8 e Q9] Q7: Quando começou a estudar

na escola atual, você chegou a pensar em não

frequentar mais as aulas? Q8: Você já ficou

algum tempo sem frequentar a sua escola atual?

Q9: Em uma semana, quantos dias você

costuma faltar?

UA5: DIFICULDADE PARA IR

PARA ESCOLA

[Q10] Q10: Você tem dificuldades para ir para

a escola?

UA6: VONTADE DE

PERMANECER NA ESCOLA

[Q11, Q13 e Q12] Q11: Os seus responsáveis

gostam da sua escola? Q13: Os seus

responsáveis têm vontade de mudar você de

escola? Q12: Você tem vontade de mudar de

escola?

C3: PROCESSO

EDUCATIVO NA

ESCOLA

UA7: RELACIONAMENTO COM

OS SUJEITOS ESCOLARES

[Q14, Q15 e Q16] Q14: Você se dá bem com

os colegas da escola? Q15: Você se dá bem

com os professores da escola? Q16: Você se dá

bem com os outros funcionários da escola?

UA8: GOSTO E SENTIMENTO

PELA ESCOLA

[Q17 e Q18] Q17: Você gosta da sua escola

atual? Q18: Você se sente bem na sua escola

atual?

UA9: GOSTO PELO ESTUDO E

AULAS

[Q19 e Q20] Q19: Você gosta de estudar? Q20:

Você gosta das aulas?

UA10: PRESENÇA DOS

RESPONSÁVEIS NA ESCOLA

[Q21 e Q22] Q21: Seus responsáveis já

compareceram em algum evento da sua escola

atual? Q22: Seus responsáveis foram bem

recebidos na escola? (Ex.: reunião, festa,

apresentação, etc.)

UA11: REFORÇO/INTERVENÇÃO

DA ESCOLA

[Q23] Q23: Você costuma ser elogiado ou

chamado atenção na sua escola atual?

121

(Conclusão)

CATEGORIA UNIDADE DE ANÁLISE QUESTÕES

UA12: EXPERIÊNCIAS NA

ESCOLA

[Q24 e Q25] Q24: Já aconteceu alguma coisa

boa com você na sua escola atual? Q25: Já

aconteceu alguma coisa ruim com você na sua

escola atual?

UA13: ESTUDO DA REALIDADE

LOCAL

[Q26 e Q27] Q26: Já tiveram atividades na sua

escola atual sobre a cidade e o bairro Zilah

Spósito? Q27: Já teve algum conteúdo ou

atividade sobre a Ocupação Rosa Leão?

UA14: AVALIAÇÃO E AÇÃO DOS

SUJEITOS ESCOLARES SOBRE A

OCUPAÇÃO

[Q28 e Q29] Q28: Alguém na escola já te

criticou ou criticou algum colega seu por morar

na Ocupação? Q29: Você ou algum colega seu

já foi desrespeitado na escola por morar na

Ocupação?

UA15: APROVEITAMENTO NA

ESCOLA

[Q30 e Q31] Q30: Você está indo bem na

escola? Q31: Você está aprendendo na sua

escola?

Dos 35 estudantes que responderam o questionário, 51% são do sexo masculino e 49%

são do sexo feminino, com idade de 11 a 16 anos, média de 13,25 anos, e residência na

Ocupação Rosa Leão de 4 meses a 5 anos, média de 3 anos e 1 mês.

As entrevistas ocorreram por meio de visitas aos sábados durante três meses na

Ocupação (agosto, setembro e novembro de 2017), e o questionário através de visitas durante

dois meses na escola (novembro e dezembro de 2017). Todas as entrevistas e questionários

foram aplicados com o assentimento dos estudantes e consentimento dos responsáveis e

escola.

4.1 Categoria 1 – Acesso à escola

Esta categoria teve como objetivo averiguar a trajetória de acesso e estudo dos sujeitos

desta pesquisa antes, durante e após a sua busca por matrícula na E.M. Prof. Daniel

Alvarenga.

Analisou-se especificamente se eles já ficaram algum tempo de sua idade escolar sem

estudar, se tiveram dificuldades em matricular-se na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, como foi a

acolhida e os primeiros dias nesta Instituição. Tudo isso, tendo em vista a análise sobre a

garantia e igualdade de condições que lhes são devidas de acessar a escola, e assim

permanecer e serem integrados no processo educativo escolar. Nessa categoria foi possível

organizar as questões em três unidades de análise.

122

Unidade de Análise 1 – Tempo sem estudar

Como já comentado em capítulo anterior, milhares de crianças e adolescentes

brasileiros têm trajetórias difíceis de acesso e permanência na escola. Muitas já enfrentaram a

falta de vaga e escola, a desistência escolar ou a obstacularização de sua permanência nos

estudos (UNICEF, 2012).

Por isso, antes de analisar como se deu o acesso dos estudantes à E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, esta unidade pretendeu averiguar junto a estes, se eles já ficaram algum tempo da

sua idade escolar sem estudar, quanto aproximadamente foi esse tempo e qual foi o motivo.

As respostas e justificativas dos sujeitos desta pesquisa estão contabilizadas e

comentadas abaixo.

GRÁFICO 1 – Categoria 1: Você já ficou algum tempo sem estudar?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

123

GRÁFICO 2 - Categoria 1: Quanto tempo mais ou menos?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

A maioria dos sujeitos desta pesquisa tem uma trajetória de acesso e estudo anterior a

sua residência na Ocupação Rosa Leão e acesso à E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Vários

moravam e estudavam em regionais e bairros vizinhos da Regional Norte, e até mesmo

escolas e bairros vizinhos da Ocupação, como os estudantes 2, 5, 8, 12, 14, 16 a 21. Resposta

esta justificada pela não distorção idade-série de vários dos sujeitos, ou distorção sem relação

com a falta de acesso ao ensino.

Uma minoria dos sujeitos desta pesquisa ficou cerca de um mês (Estudantes 2, 6, 13 e

15), quatro meses (Estudante 4) e um ano sem estudar (Estudante 21) onde moravam

anteriormente. Segundo eles, pela justificativa de falta de vaga dada pelas escolas, resolvida

após reclamação no Conselho Tutelar e Regional, ou contato da Instituição (Estudantes 6 e

21); viagem para outro Estado (Estudante 2) e adoecimento (Estudante 13 e 15). Estas duas

últimas situações extraescolares, relacionadas às questões pessoais e familiares.

Foi, sobretudo, da necessidade de matricular na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, que

parte dos sujeitos desta pesquisa, alegou ter ficado vários dias e meses sem estudar em sua

trajetória escolar.

124

GRÁFICO 3 – Categoria 1: Antes de matricular na sua escola atual, você ficou um tempo sem

estudar?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

GRÁFICO 4 – Categoria 1: Quanto tempo mais ou menos?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

A alegação dos sujeitos entrevistados foi a falta de vaga informada pela E.M. Prof.

Daniel Alvarenga, junto com a percepção de um ou outro sujeito e família, da burocracia,

procrastinação e possível rejeição escolar à matrícula imediata de quem era da Ocupação.

Além disso, três sujeitos entrevistados (Estudantes 2, 10 e 16) também disseram que

só não ficaram sem ou mais tempo sem estudar até fazer a matrícula na escola porque suas

mães tiveram condições de deixá-los no bairro e escola anterior até conseguir vaga na escola

atual, como informa a Estudante 2:

125

Deixa eu te explicar: é porque antes de eu vim pra Daniel Alvarenga, minha mãe já

trouxe a transferência e eu continuei na Edgar. Aí, quando eu mudei pra cá, demorou

um pouco pra eu entrar na escola, aí eu fiquei tipo uma semana sem estudar, mas eu

não perdi nada. Aí, quando eu entrei na escola, eu peguei tudo já (Estudante 2).

Unidade de Análise 2 – Processo de matrícula

A Unidade de Análise 2, diferente da anterior, tratou de averiguar com os estudantes

sobre a dificuldade ou não de suas famílias e a família dos seus conhecidos da Ocupação, em

matriculá-los na E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

A respeito da dificuldade ou não de suas famílias em matriculá-los na escola

pesquisada, um percentual de 28% dos respondentes do questionário, e 38% dos participantes

da entrevista, responderam que suas famílias tiveram dificuldades.

GRÁFICO 5 – Categoria 1: Sua família teve dificuldades para matricular você na sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os sujeitos entrevistados informantes de que suas famílias tiveram dificuldades em

matriculá-los na E.M. Prof. Daniel Alvarenga residem há mais de dois anos na Ocupação

Rosa Leão. O tempo de dificuldade até conseguir a matrícula, segundo eles, foi de,

aproximadamente, uma semana (Estudantes 2 e 14), um mês (Estudantes 6, 13 e 19), 4 meses

(Estudantes 4 e 9) e 1 ano (Estudante 11).

A escola alegou para as famílias que tiveram dificuldades em conseguir a matrícula, a

ausência de vagas. Todavia, alguns dos estudantes (Estudante 6, 14 e 16) opinaram a

126

burocracia, a procrastinação e a possível rejeição em matricular quem era da Ocupação como

uma justificativa a mais da dificuldade de conseguir se inscrever na escola.

Eu comecei em março, um mês depois que as aulas tinham começado. Por causa de

trem de matrícula, porque minha mãe foi lá, pegou os trem tudo pra trazer pra cá. Só

aqui, eles falou que precisava de outros negócios. Aí, pra minha mãe ficar indo pra

onde eu morava, sendo que é longe, perto de João Monlevade. Aí era muito

complicado minha mãe ir lá. Aí como minha mãe tinha que trabalhar, ela esperou

um tempo. E como só ela podia resolver, minha madrinha não podia resolver. Aí

quando ela foi e pegou, ela trouxe no mesmo dia. Aí o cara falou assim: que

precisava de um relatório porque não tinha vaga lá. Aí minha mãe teve que voltar lá.

Aí no mesmo dia nós voltamos lá, e o cara inventou maior desculpa, falando que

precisava de endereço, disso e aquilo, ai minha mãe falou que qualquer coisa que

precisasse podia ligar na escola, que não precisava ela ir mais. Aí minha mãe falou

que se eu não fosse matriculada naquele dia na escola, ela ia fazer o maior barraco

para me matricular. Porque ficar sem estudar eu não poderia ficar. Aí que ele foi e

preencheu um negócio lá e falou que no outro dia eu poderia começar a estudar

(Estudante 6).

Não tava tendo vaga, aí a professora falou e minha mãe foi lá no Conselho Tutelar

pra dar a vaga. Aí foi isso que aconteceu, por isso que eu estudo ali. Eu saí de lá do

meu bairro pra cá. Aí, assim que saí de lá, vim pra essa casa, sem ser essa casa, a

outra era de madeirite. Aí eles não queriam colocar a gente lá porque era de

madeirite. Ficou uns três dias no máximo (Estudante 14).

Quando nós chegou na Ocupação, eu estudava no Caveirinha, aí nós veio pra cá e

minha mãe foi caçar vaga, e eles falaram que não tinha vaga para as pessoas da

Ocupação, e não sei o que lá. Aí minha mãe foi lá na Regional e eles falaram que

não tinha vaga para a gente. Aí minha mãe xingou lá e depois de um tempo eles

foram lá e chamou a gente (Estudante 16).

Já o Estudante 7, assim como outros que alegaram a conquista da matrícula logo

quando solicitada - dentre estes estudantes também residentes há mais de dois anos na

Ocupação - alegou não ter tido dificuldade em fazer a matrícula, assim como outros colegas,

porque a E.M. Prof. Daniel Alvarenga é “acessível”, “ela consegue achar vaga para todo

mundo que precisa”.

Sobretudo neste momento da entrevista, ou seja, no seu início, e sobre

questionamentos em que os responsáveis poderiam ter mais informações – a dificuldade ou

não de conseguir a matrícula dos seus filhos -, algumas mães, como as dos estudantes 10, 13 e

20, mesmo orientadas para não participar da entrevista, quiseram interrompê-la para dizer que

“não foi bem assim”, estes tiveram mais dificuldades em conseguir a matrícula na escola.

Quanto ao conhecimento de possível dificuldade dos colegas conseguirem se

matricular, assim como no questionário, nas entrevistas também tiveram estudantes que

disseram não saber; acreditar ou afirmar que não; e dizer que sim, conhecem colegas que

tiveram dificuldades em matricular na E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

127

GRÁFICO 6 – Categoria 1: Acesso à escola – Processo de matrícula

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Entre os que responderam a não dificuldade dos conhecidos da Ocupação em fazer a

sua matrícula, alguns deles justificaram que, quando chegaram à escola ou no momento

presente, encontraram ou encontram vários deles na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Como

descreveram os estudantes 19, “não! Quando antes d’eu chegar aqui elas já estudavam lá já”,

e 10, “quando eu fui pra lá, já tinha bastante gente que estudava lá daqui da Ocupação”.

A maioria dos respondentes informantes de terem conhecidos que tiveram dificuldade

em matricular na escola, alegaram não saber direito qual foi o motivo da dificuldade dos

mesmos. Apenas os estudantes 14 e 16 apresentaram as razões, respectivamente falta de vaga

e recusa aos moradores da Ocupação. É o que descreve a Estudante 16, filha de uma ex-

Coordenadora da Ocupação, a respeito da resistência da Prefeitura e professores em

matricular e receber os moradores da Rosa Leão:

Alguns professores, não foi comigo, teve preconceito. A diretora sempre queria, a

diretora sempre apoia a gente da Ocupação. Só que a Prefeitura, né? Eles têm

preconceito com a gente, e aí tem que tá indo na Regional sempre pra tá brigando

por causa de vaga (Estudante 16).

O resultado das respostas dos estudantes corroboram com o conteúdo das entrevistas

com algumas Coordenadoras da Ocupação e professores da E.M. Prof. Daniel Alvarenga. As

afirmações de que na trajetória da Ocupação, vários estudantes tiveram dificuldades em se

matricular na Instituição, principalmente nos seus primeiros anos. Seja pela resistência da

Prefeitura ou de algum profissional, seja pela real ou não comprovada alegação de falta de

estrutura ou vaga.

128

Um fato que se pode comprovar hoje é: segundo a Lista de Matrícula e Enturmação de

2017 disponibilizada pela escola, existem várias turmas do Ensino Fundamental II com um

número grande de estudantes, acima do considerado ideal para um trabalho qualificado. De

dez turmas, apenas uma tem menos de 30 estudantes, estando sete delas, com 35 estudantes

ou mais.

Unidade de Análise 3 – Receptividade na escola

Esta Unidade de Análise pretendeu averiguar com os estudantes como foram os seus

primeiros dias de aula após a matrícula na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Aspecto importante

para análise do acesso com igualdade e qualidade, e também permanência e processo

educativo escolar.

O resultado apresentado foi: cerca de 90% dos estudantes responderam no

questionário que foram bem recebidos pelos sujeitos da escola, e dois terços dos entrevistados

responderam, sem ressalvas, que gostaram dos primeiros dias de aula. Os motivos alegados

pelos entrevistados foram a boa impressão e avaliação da escola; a boa recepção dos colegas;

o motivo de já morarem perto, conhecerem a escola e os colegas; e a enturmação rápida,

sobretudo com os demais educandos.

GRÁFICO 7 – Categoria 1: Nos seus primeiros dias de aula você foi bem recebido pelos profissionais

da escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

129

GRÁFICO 8 – Categoria 1: Nos seus primeiros dias de aula você foi bem recebido pelos colegas da

escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Como exemplo, destacam-se as falas do Estudante 12: “Gostei. Me trataram bem e eu

gostei da sala, da escola”, Estudante 18: “Os meninos me receberam bem. Quase todo mundo

lá eu conheço” e Estudante 16: “Porque quando eu mudei para cá, eu morava aqui em cima,

perto do Zilah, então já conhecia, né?”.

Também tiveram estudantes que responderam que gostaram, além de outros motivos,

por causa dos professores. É o que argumentaram os estudantes 1, 7 e 21. “Porque as

matérias, os professores, os alunos me receberam muito bem” (Estudante 7). “Bom. Os

professores lá é tudo gente “pela ordem”” (Estudante 21). “Gostei. Têm uns meninos “da

hora”. E tinha uns professores legais, agora têm uns ruins” (Estudante 1).

Um terço dos estudantes entrevistados, disseram que não gostaram, gostaram no início

ou gostaram apesar de alguma coisa, como os xingamentos sobre o local onde eles moram

(Estudantes 2, 3, 5, 6, 10 e 14), a dificuldade de enturmação (Estudantes 3, 14 e 17) e o mau

relacionamento e processo educativo entre os sujeitos escolares (Estudantes 2 e 14). Seguem

abaixo duas falas destes estudantes sobre os xingamentos ou resistência dos colegas sobre o

local de suas moradias, quando do seu acesso à escola.

Eu gostei. Só que foi diferente, porque eu estranhei. Porque tipo assim, todo mundo

já morava no bairro e eu na Ocupação. Eles estranhavam, falavam que eu era

diferente. Eles me zoaram muito porque eu morava aqui, e depois que foi mais

alunos daqui matriculados na escola que eles aceitou mais. Porque antes eles

zoavam a gente, chamavam a gente de pé vermelho. Fazia a gente como se fosse

diferente, entendeu? (Estudante 10).

130

Já aqui no Daniel Alvarenga, meus primeiros dias de aula foi muito bom, porque

assim que eu entrei aqui eu já conhecia muita gente, só que mesmo assim as meninas

que não gostam muito de mim, começaram a me zoar nos primeiros dias. Eu virava

para elas e falava: tô nem ai, eu moro lá e moro com muito orgulho (Estudante 6).

As ressalvas do entrevistados a respeito da sua boa avaliação quanto aos seus

primeiros dias na escola, junto à má avaliação de outros, dá conteúdo a esta pesquisa para

apontar ocorridos e lacunas na receptividade aos moradores da Ocupação em seu acesso à

E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

Com quase um terço dos entrevistados ocorreram estranhamentos, preconceito e

xingamentos a respeito dos seus locais de moradia, a Ocupação. O que verifica-se, não só com

a entrevista com os estudantes, mas também com professores e Coordenadoras, que a E.M.

Prof. Daniel Alvarenga poderia e pode se organizar mais para melhor e mais igualitária

acolhida desta parte da comunidade escolar. Por exemplo, agindo para o conhecimento,

acompanhamento, diálogo e trabalho com a Ocupação, e intervindo institucionalmente sobre

os estranhamentos e xingamentos instituídos entre vários estudantes dos bairros regularizados

para com os estudantes da Rosa Leão.

4.2 Categoria 2 – Permanência na escola

A categoria permanência na escola pretendeu investigar se algumas situações

escolares, como as advindas do acesso, pós-acesso e processo educativo, e territoriais, como a

questão de regularização e infraestrutura urbana, têm sido dificultadoras ou não da frequência

e permanência dos estudantes na escola. Outro desafio da escolarização de milhões de

crianças e adolescentes do país.

Esta categoria se faz importante por esta pesquisa e estudos sobre a educação

compreenderem que não basta apenas analisar e exigir o acesso à escola daqueles que a

demandam e têm dificuldades, como os moradores de ocupações urbanas, mas também, com a

preocupação que se deve ter com a inclusão dos sujeitos na Instituição, o diagnóstico e a ação

social e escolar para a minimização e combate aos obstáculos de frequência e permanência

que podem se apresentar.

Por isso, neste trabalho averiguou-se, em três unidades de análise, o pós-acesso escolar

dos estudantes. O quanto eles podem ter sido incluídos pela escola e seus sujeitos em suas

primeiras experiências na Instituição, e as possíveis dificuldades de irem para a escola todos

os dias. Aspectos que podem ou não estar refletidos na sua vontade de permanecer, abandonar

ou mudar de escola.

131

Unidade de Análise 4 – Frequência

Esta Unidade de Análise quis averiguar se e o quanto as possíveis dificuldades no

acesso e pós-acesso à E.M. Prof. Daniel Alvarenga, podem ter influenciado na sua fase pós-

matrícula e em sua frequência atual. Assim como, se no geral, os estudantes são frequentes ou

infrequentes na escola, e quais, por ventura, possam ser as situações que os levam a serem

frequentes ou não na mesma.

Os resultados mais significativos averiguados nos questionários e entrevistas foram

que os que alegaram não mais querer frequentar as aulas depois de sua matrícula foram por

problemas de receptividade e enturmação com os sujeitos escolares. Todos eles, exceto um,

relacionados exclusivamente ou complementarmente com a crítica ao seu local de moradia,

como aconteceu com os entrevistados 2, 3, 6, 10 e 14.

Vários estudantes alegaram também, terem ficado dias seguidos, semanas ou até mais

de um mês sem frequentar a escola, sobretudo, por motivo de adoecimento seu ou de membro

da família. Além da demonstração de infrequência dos mesmos, tendo em vista o parâmetro

de 75% de frequência exigida pela LDBEN 9394/96, pelas razões principais de adoecer,

acordar tarde, acompanhar a mãe e irmãos ao médico ou outros afazeres, retorno tardio do

final de semana, etc. Ou seja, por situações familiares, pessoais e também escolares, como

valorização e sentido não atribuído à escola e importância da frequência diária nesta, podendo

ser este resultado de um trabalho não eficaz da escola e família, ambas responsáveis pela

frequência do menor na Instituição.

Abaixo, seguem maiores descrições do resultado de cada questionamento desta

Unidade de Análise da pesquisa junto aos sujeitos da mesma.

132

GRÁFICO 9 – Categoria 2: Quando começou a estudar na escola atual, você chegou a pensar em não

frequentar mais as aulas?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Três estudantes, respondentes do questionário, e seis estudantes, participantes da

entrevista, responderam afirmativamente que já pensaram em não frequentar mais a E.M.

Prof. Daniel Alvarenga depois de ter conseguido a sua matrícula na mesma. As respostas dos

entrevistados conferem com a declaração que deram na Unidade anterior sobre o porquê não

se sentiram bem ou tão bem recebidos e integrados na escola nos seus primeiros dias de aula.

Ao contrário da Estudante 17, que justificou que pensou e procurou com a sua família

transferir-se da escola por dificuldade de enturmação com a escola e colegas, sem mencionar

especificamente resistência a ela por ser moradora da Ocupação; os demais, cinco estudantes,

alegaram que um dos motivos do desejo de não continuar na escola foi, especificamente ou

além de outras razões, por causa da sua situação de moradia. Como se avalia nas falas dos

estudantes 2, 6 e 10.

Essa escola sim. Eu mudei muito porque no começo foi bom, mas a escola não é tão

boa como eu pensava antes. Ela ensina, mas tipo assim, os professores tratam a

gente ruim, os alunos não são bons pra conviver junto. Tipo assim, eu sou da

Ocupação Rosa Leão, aí eles chamam a gente de pé vermelho. Aí é tipo assim

bullying e eu não gosto disso (Estudante 2).

Porque eu não gosto de lá. Eu nunca gostei. Porque as meninas são muito folgadas e

por causa de um professor que eu não me dou bem. O professor lá direto e reto eles

xingam. Só que as amizades que eu fiz no Daniel Alvarenga, nunca me

influenciaram a não ir para escola. Pelo contrário. Tinha vez que eu falava que não

queria ir pra escola, ai no outro dia me buscava na porta da minha casa pra eu ir pra

escola. [...] Também porque algumas pessoas da Daniel Alvarenga não aceitam. Os

alunos não aceitam. Comigo eu nunca ouvi falar, mas com algumas pessoas aqui na

Ocupação já tentaram arrumar confusão. Só que não arrumaram muita confusão

porque eu entrei no meio. Porque morar aqui na Ocupação gente, ninguém tem que

gostar não. Quem tem que achar o que é melhor é a família, não é os de fora não.

133

Então comigo aqui na Ocupação, nunca aconteceu não porque eu afronto mesmo.

Mas as meninas não afrontam. Crianças, já vi crianças saírem chorando, aí eu

pegava e falava assim: olha seu tamanho. Cavalo velho falando com as meninas de

7, 6 anos de idade onde elas moram (Estudante 6).

Já. Por causa do bullying. Porque eu tenho essas pintas aqui e eles ficavam

chamando de carrapato e eu também acho. Aí eles me zoam porque falam que eu

tenho carrapato na cara, e eu já cheguei até a não querer mais ir pra escola por causa

do bullying que eles fazem comigo. Principalmente as pessoas que não moram aqui

(Estudante 10).

Entre os estudantes que justificaram que nunca pensaram em não mais frequentar a

E.M. Prof. Daniel Alvarenga responderam por que gostam da escola, dos colegas e

professores. E sabem que por lei e pela desautorização dos responsáveis, não podem deixar de

frequentar a mesma, como é o caso dos estudantes 7, 11 e 20.

A respeito de terem ou não ficado um tempo sem frequentar a E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, seis respondentes do questionário informaram que já ficaram um tempo sem

frequentar a escola, período de 15 a 45 dias, média de um mês.

E entre os entrevistados, nove, de vinte um estudantes, também responderam e

justificaram que ficaram um tempo sem ir para a escola. Um período de dias consecutivos,

média de uma semana e máximo de dois meses, este último, tempo que uma estudante levou

para se recuperar de uma fratura na perna. Os motivos alegados foram adoecimento pessoal e

familiar (Estudantes 4, 10, 13 e 16), não concordância com as regras escolares (Estudantes 2 e

14), desmotivação em ir para a escola (Estudantes 6 e 21) e período de chuva (Estudante 1).

Apenas o último motivo é relacionado com o território da Ocupação.

GRÁFICO 10 – Categoria 2: Você ficou algum tempo sem frequentar a sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

134

GRÁFICO 11 – Categoria 2: Quanto tempo mais ou menos?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Quanto ao questionamento sobre a frequência diária e semanal na escola, o resultado

dos questionários, e sobretudo, das entrevistas, apontam para a consideração de que parte dos

estudantes são faltosos - o que argumentou a Professora 3 em sua entrevista. Faltosos em

consideração com o parâmetro de frequência exigido pela LDBEN 9394/96 e a importância da

presença diária na escola.

GRÁFICO 12 – Categoria 2: Em uma semana, quantos dias você costuma faltar?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

135

No resultado do questionário, a média de falta dos estudantes que o responderam é de

0,82 dias por semana, sendo que 20% não responderam, 20% faltam dois dias ou mais, e 26%

faltam pelo menos um dia na semana. Nas entrevistas, a grande maioria respondeu que falta

ao menos uma vez por semana, sendo que cinco deles disseram faltar 2 dias ou mais.

As maiores justificativas dos entrevistados sobre as suas faltas não estão relacionadas

diretamente a sua vivência na Ocupação, são por adoecimento pessoal ou familiar;

acompanhamento dos irmãos e responsável para consultas médicas ou outros motivos;

dificuldade para acordar ou ser despertado; organização do final de semana ou preguiça.

Algumas dessas justificativas de falta na escola foram com conhecimento e

autorização dos responsáveis, segundo os próprios estudantes. A questão de uniforme, dia de

brincadeira, conflito com professor e saída de sala de aula também foram respostas dos

entrevistados. Entre os entrevistados, apenas três afirmaram contundentemente não faltar

nenhum dia, sendo que dois justificaram não faltar por gostar da escola e de estudar.

Este cenário de respostas, sobre a frequência diária na escola, podem estar

relacionados, como mesmo disseram os professores em suas entrevistas, com a falta de

atribuição de sentido ao estudo escolar, e com questões socioeconômicas e familiares.

Aspecto este investigado por pesquisadores especializados na relação escola-família,

socialização escolar e socialização das famílias populares (NOGUEIRA, 2006; RIBEIRO,

ANDRADE, 2007; THIN, 2006).

Para estes pesquisadores, a escola pública, não só a brasileira, até hoje caracteriza-se

por sua organização semelhante com a organização da classe média, sendo ainda fechada e

com regras difíceis de serem cumpridas pelas classes populares em sua organização social e

dia a dia. Por exemplo, por causa da situação de sub-emprego e desemprego, baixa

informação e escolarização vivida por estas famílias (NOGUEIRA, 2006; RIBEIRO,

ANDRADE, 2007; THIN, 2006).

Diferenças que, segundo os pesquisadores, devem ser pensadas e reduzidas por

iniciativa da escola, Instituição que tem profissionais especializados para tratar da educação

escolar, conhecer, aproximar e trabalhar para melhor informação e relação família-escola.

Assim como para pensar e agir sobre as razões extra e, sobretudo, intraescolares de falta de

atribuição de sentido dos estudantes para com a educação escolar. Fator muito relacionado

com a terceira categoria desta pesquisa, o processo educativo.

136

Unidade de Análise 5 – Dificuldade para ir para escola

A Unidade de Análise 5 pretendeu investigar se os estudantes alegam dificuldades ou

não para ir para a escola, seja por sua situação de moradia ou por outras situações.

A maioria dos participantes do questionário e entrevista informaram que não têm

dificuldades para ir para a E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Os que citaram dificuldade na

entrevista, disseram ser o período de chuva e o barro por esta gerado, o fator dificultador para

ir para a escola (Estudantes 3, 8 e 21). Os professores e as Coordenadoras nos capítulos

anteriores também afirmaram o mesmo motivo.

Algumas vezes, sim. Quando chove, eu não tenho nada, tipo bota, esses trem assim,

pra poder ir. Não sei que dia foi, tava a maior chuva, aí, acabou que eu tava de

Melissinha, aí eu fui no dia, tava subindo esse morro daqui, da frente. Aí quando eu

tava subindo, tipo chegando no morro, tipo eu escorreguei. Escorreguei, molhei toda

de lama, o guarda-chuva tipo quebrou. Acabou como não tinha como eu ir pra escola

toda suja, aí acabou que eu voltei pra trás e não tinha como mais ir. Até que

arrumasse, tirasse essa roupa toda molhada, não dava tempo pra poder voltar pra

escola (Estudante 3).

GRÁFICO 13 – Categoria 2: Você tem dificuldades para ir para escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Apenas a Estudante 5 alegou outra dificuldade. A dificuldade quando teve que morar

em outro local e assim utilizar-se de transporte privado para ir para a E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, onde continuou a frequentar em tempo integral. Segundo ela, tinha dias que o

escolar não a levava, e todos os dias ela chegava muito tarde e cansada em casa.

Outros estudantes, entre aqueles que alegaram e não alegaram dificuldades em ir para

escola, mencionaram apenas que ficam cansados por causa das subidas e descidas dos morros

137

da Ocupação e escola, mesmo achando a escola perto ou não longe de sua residência

(Estudantes 2, 10 e 14).

Para talvez compreender melhor a questão de dificuldade para ir para a escola, na

entrevista com os estudantes da E.M. Prof. Daniel Alvarenga, anteriormente prevista para ser

realizada também com estudantes de outras escolas próximas da Rosa Leão, questionou-se

como, com quem e quando os estudantes vão para a escola. A resposta da maioria foi que eles

vão a pé, geralmente acompanhados por parentes e colegas da Ocupação, por vezes sozinhos

ou com responsáveis, chegando no início do horário escolar.

A resposta, portanto, dos estudantes, sobre dificuldades para ir para a escola foi

estritamente relacionada com a locomoção e o terreno da Ocupação (chuva, barro e morros).

Estes não alegaram ou lembraram outras dificuldades, como os professores e principalmente

as Coordenadoras fizeram, a respeito de dificuldades gerais e específicas de quem mora na

Ocupação em ir, frequentar e permanecer na escola (ex: reintegração de posse ou questão

socioeconômica e familiar).

Unidade de Análise 6 – Vontade de permanecer na escola

Esta última Unidade de Análise da categoria permanência na escola, questionou aos

estudantes se eles e os seus responsáveis gostam da E.M. Prof. Daniel Alvarenga e têm

vontade de manter a sua matrícula na Instituição. Especialmente, se possíveis dificuldades ou

facilidades no acesso, pós-acesso e processo educativo para com o estudante da Ocupação

influenciaram a avaliação e vontade dos mesmos em continuar a estudar na escola.

A respeito da avaliação e vontade dos responsáveis em manter os seus filhos na escola,

a maioria dos participantes do questionário e entrevista responderam que os seus responsáveis

avaliam bem a escola, mesmo fazendo algumas ressalvas, e por isso, pretendem mantê-los lá.

138

GRÁFICO 14 - Categoria 2: Os seus responsáveis gostam da sua escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

GRÁFICO 15 – Categoria 2: Os seus responsáveis têm vontade de mudar você de escola?

Fonte: Dados coletados e organizados pelo autor.

Vários dos vinte e um entrevistados informaram que os seus responsáveis, apesar de

apontarem uma ou outra ressalva, gostam da escola por causa do processo educativo, citando

positivamente as relações entre os sujeitos e o ensino-aprendizagem (Estudantes 6, 7, 8, 10,

11, 16, 17 e 19), a proximidade da moradia com o local de estudo (Estudantes 3 e 8) e tempo

integral (Estudante 1 e 5).

Estas foram algumas falas dos estudantes sobre a aprovação dos seus responsáveis a

respeito da escola: “Minha mãe já acha bom por causa da Integrada” (Estudante 5). “O que

139

que minha mãe acha do Daniel Alvarenga? Que é muito boa pra mim, que antes eu não sabia

ler muito, e lá eu aprendi a ler muito, muito, muito” (Estudante 11). “Ah, ela acha boa, ela

gostou. O ensino também é bom. Só que sem a educação de alguns alunos é ruim, atrapalha

muito” (Estudante 17). “Eles falam que a escola lá é boa, que a escola tem o ensino mais

fundamental, só que eu não acho. Porque o que é pra mim aprender, eu já tinha aprendido lá

no terceiro ano na escola estadual” (Estudante 10). “Pra minha mãe a escola é muito boa, não

quer tirar a gente dali. Os professores têm muito respeito com a gente, os diretores têm muito

respeito com a gente. Então minha mãe ama a escola e nós também. Então aquela escola é

tranquila, né?” (Estudante 16).

Porém, uma minoria dos responsáveis, segundo os estudantes, não avalia bem a E.M.

Prof. Daniel Alvarenga. O motivo alegado também foi o processo educativo: as relações entre

os sujeitos escolares e o ensino, mais especificamente a intervenção incorreta da escola para

com os seus filhos.

Minha mãe não fala muito bem de lá não, porque quando mudou pra cá ela pensava

bem da escola, mas agora ela não pensa mais porque mudou de cá pra frente.

Desenvolveu demais e lá não tem muito aprendizado como minha mãe pensava que

tinha. Na outra escola era melhor. E também por causa da convivência com os

alunos e professores (Estudante 2).

Minha mãe não gosta muito não e nem meu padrasto. Porque nós num pode fazer

nada que eles ficam ligando para nossas mães, nossos pais. Nós num tá fazendo

nada, nós tá dentro de sala, aí nós sai para beber água, aí a diretora de lá começa a

gritar com nós, falando que não é pra nós ficar fora de sala. Aí começa a gritar com

nós (Estudante 21).

Um dos estudantes, inclusive, ao falar da não aprovação da escola por sua responsável,

esclareceu o motivo da mesma estar ciente e discordante de como o filho é tratado e chamado

por alguns profissionais.

Péssimo. Os meninos ficam mexendo com nós. Os meninos batendo na minha irmã

e eu já não gosto. Quando mexem com minha irmã eu viro o cão. Ficam mexendo

com nós e os professores não fazem nada. Todo dia dá briga. Tem uma menina aí

que eu briguei. Olha o que ela fez no meu pescoço? Deixou eu suspenso. Os

meninos mexem e as professoras deixam nós suspensos por causa da culpa do outro.

E eu já não gosto disso, e as professoras ficam ofendendo a gente também. Ficam

falando assim: ‘você é invasão, sô. Cala a boca, neguim’. A Coordenadora fica

chamando o tempo todo eu de neguim (Estudante 14).

Quanto à vontade dos responsáveis de mudarem os filhos da escola, segundo a maioria

dos estudantes, estes não a têm porque avaliam bem a escola, se adaptaram com a escola atual

e têm a possibilidade de não adaptarem com outra escola, e aguardam a conclusão do ensino

fundamental dos filhos. Estas últimas, segundo os entrevistados, justificativas dos

140

responsáveis apresentadas aos filhos, para não mudá-los de escola, apesar de suas vontades

(Estudantes 3, 6 e 13).

E os responsáveis desejosos em trocar os seus filhos de escola são pelas mesmas

razões alegadas de não gostarem da mesma, ou seja, como se dá o processo educativo para

com os seus filhos (Estudantes 2, 6 e 14). Com exceção para uma ou outra situação pessoal,

como previsão de mudança de endereço (Estudante 13).

Por fim, sobre a vontade dos estudantes de mudarem de escola, comparando com a

vontade dos responsáveis, o número de estudantes que desejam mudar é maior, como se vê no

GRÁFICO 6.

GRÁFICO 16 – Categoria 2: Você tem vontade mudar de escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os que desejam permanecer na escola, a maioria, alegam vários motivos,

principalmente a adaptação e gosto pela escola, a enturmação com os sujeitos escolares, a

localização, o ensino, a estrutura e os equipamentos escolares, e a Escola Integrada. Como

afirmam os estudantes 11 e 16.

Eu gosto muito daquela escola ali porque a professora é tudo boa pra gente. Eu

aprendi muito lá. E eu gosto muito de lá porque as quadras lá, quando chovem, as

quadras lá são tudo tampadas. Aí dá pra brincar demais, pode chover ainda que nós

continua brincando. Aí eu gosto muito de lá (Estudante 11).

Não, porque eu já acostumei com lá. Lá tenho vários amigos. Os professores são

muito educados com a gente, então eu não sei se eu mudar de escola, os professores

vão ter a mesma educação com a gente (Estudante 16).

141

Já os que desejam mudar de escola (Estudantes 2, 3, 6, 8, 10, 13, 14 e 21), número

maior do que os responsáveis que querem mudá-los, alegam como principais motivos também

o processo educativo. A relação entre os sujeitos escolares e o ensino, inclusive por causa dos

xingamentos e desrespeito para com a Ocupação e quem mora lá, como nas falas de diferentes

estudantes, citadas algumas vezes nesta pesquisa.

Tenho muita, por causa da escola, porque aqui não é como eu pensava antes. No

começo eles tratavam a gente de um jeito e depois, do meio pro fim, eles montam

muito em cima de você. As professoras só ficam no telefone, elas passam atividade

no quadro e não ensinam. Eu quero uma escola que faça passar de ano bem, não

chutada (Estudante 2).

Porque, que nem eu falei, eu nunca gostei do Daniel Alvarenga, eu não me sinto à

vontade lá. Por causa dos bullying que fazem comigo da Ocupação, e por causa

desse professor também. Aí, eu não me sinto muito à vontade lá (Estudante 6).

Vistos os resultados quanti e qualitativos a respeito da categoria permanência na

escola, pode-se afirmar que parte considerável dos estudantes, por questões relacionadas à

Ocupação ou não, não teve ou tem dificuldade de frequentar e nem vontade de mudar da

escola.

Todavia, outra parte dos estudantes, mesmo que de menor número, informantes ou não

de dificuldades encontradas no acesso e pós-acesso à escola, como alegação de falta de vaga e

desrespeito pelos sujeitos para com a Ocupação e morador estudante, não avaliam muito bem

a Instituição ou apontam ressalvas, e desejam mudar de escola.

Os motivos mais alegados são os aspectos do processo educativo desenvolvidos pelos

sujeitos escolares e Instituição no pós-acesso e na atualidade, relacionados ao ensino, no

geral, mas também, especificamente, ao desrespeito entre os sujeitos por causa da Ocupação e

a não intervenção da escola diante desta situação. Isso demonstra o não esquecimento e a não

resolução de dificuldades que vários estudantes, por serem moradores da Ocupação,

enfrentaram no pós-acesso e têm enfrentado no presente momento na Instituição, a ponto de

influenciarem a má avaliação dos mesmos sobre a escola, assim como o seu desejo de não

querer continuar nela.

4.3 Categoria 3 – Processo educativo na escola

A categoria Processo Educativo pretendeu fazer uma investigação pormenorizada com

os estudantes a respeito da sua relação com os sujeitos escolares, o estudo sobre a Ocupação,

as experiências vivenciadas na escola, o seu aproveitamento escolar e a avaliação do trabalho

142

da E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Relacionando sempre estes questionamentos com a sua

situação de moradia na Ocupação Rosa Leão e atitude da escola perante esta realidade da

comunidade. Nessa categoria, foi possível organizar as questões em nove unidades de análise.

Unidade de Análise 7 – Relacionamento com os sujeitos escolares

A Unidade de Análise 7 objetivou ouvir dos estudantes como ocorreram e ocorrem o

seu relacionamento com os colegas, os professores e demais funcionários da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga.

Diferente do resultado do questionário, em que a maioria significativa dos estudantes

respondeu a alternativa sim, tem um bom relacionamento com os colegas, professores e outros

funcionários, nas entrevistas, quando eles puderam se expressar e explicar as suas

justificativas, mais estudantes relataram anteriores e atuais problemas e ressalvas no

relacionamento com os sujeitos escolares.

GRÁFICO 17 – Categoria 3: Você se dá bem com os colegas da escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

143

GRÁFICO 18 – Categoria 3: Você se dá bem com os professores da escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

GRÁFICO 19 – Categoria 3: Você se dá bem com os outros funcionários da escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os estudantes que justificaram o motivo de se relacionarem bem ou parcialmente bem

com os colegas alegaram porque conseguem ter uma boa interatividade com os colegas nos

momentos em sala e intervalos, e não envolvem-se em brigas. Como afirmaram os estudantes

1, 9 e 18: “Eu faço trabalho junto com eles, nós fica junto na hora do recreio. Isso aproxima

nós” (Estudante 1). “Eles não brigam comigo e eu nem brigo com eles” (Estudante 9). “Eu

brinco com eles todos os dias, já acostumei com eles, jogo bola com eles” (Estudante 18).

E os informantes de não terem um bom relacionamento com os colegas, no geral, ou

em alguns momentos, em especial, alegaram que é por causa de posturas e brincadeiras de

144

mau gosto, brigas e xingamentos por parte dos discentes. Inclusive utilizando a moradia na

ocupação como motivo de crítica e desrespeito para com eles.

Da minha sala sim, mas têm uns meninos da escola que só Deus. Porque eles são

muito bagunceiros, eles gostam muito de uma briga. E eu não vou ficar ali dando

ideia para eles porque eu sei que eles querem confusão, então eu nem rendo

(Estudante 17).

Todo dia não. Às vezes nós briga, às vezes não. Porque eles ficam enchendo o saco.

Porque eles falam que a gente não sabe escrever, que a gente mora aqui. Ah, que eu

sou da Ocupação, que eles moram no asfalto (Estudante 20).

Tem uns meninos e meninas que implicam muito com a gente, não pelo lugar onde a

gente mora, não pelo visual, mas sim, tipo, se a gente tem uma orelha grande, ai eles

vai e fazem bullying, inventa apelidos que a gente não gosta. [...] Tem uns que

jogam na cara. Vou dar um exemplo: quando acaba a luz eles jogam a culpa na

gente. Tipo, a gente não tem rede de esgoto, ai eles colocam a culpa na gente se a

rua feder, se a luz caiu. Mas tipo assim, a gente não invadiu, a gente ocupou uma

parte que não tinha dono, ai eles jogam na nossa cara que a gente é pé vermelho, que

a gente pega a luz deles, água também (Estudante 2).

Sobre o relacionamento com os professores, vários alegaram se darem bem com eles

no geral, com exceção de um ou outro professor. Os fatores positivos de vários professores,

possibilitadores de boas relações, segundo os estudantes são: elogio porque e quando fazem

atividades (Estudantes 3 e 14), são legais ou alegres (Estudantes 15, 19 e 21), dão boas

atividades e boas aulas (Estudantes 2, 4 e 6).

E a alegação de má avaliação e relação com alguns professores, é, sobretudo, por

causa de chamarem atenção, gritarem e xingarem durante as aulas, sem razão, quando o

sujeito da pesquisa não está fazendo nada de errado, motivado, por vezes, por implicância

com o mesmo. Ressalvas e respostas dos estudantes 1, 4, 6, 9, 13, 15, 16 e 18.

Outros disseram também não se darem bem com os professores porque eles não se

esforçam para ensinar os estudantes interessados, não interveem em situações de desrespeito

entre colegas, inclusive quando o motivo é a Ocupação. E eles mesmos desrespeitam os

estudantes moradores de lá. Respostas dos estudantes 8, 10 e 14.

Alguns professores que estavam na escola e saíram. Tinha uma lá que chamava a

gente de demônios. A outra falou assim, se a gente não tinha vergonha de morar na

Ocupação, e as outras é porque é chata mesmo. [...] Acabou a aula e todo mundo

saiu, ela chamou nós duas, sentou e falou se a gente não tinha vergonha de morar

aqui, porque aqui não era nosso, que a gente não tinha direito de morar aqui, que a

gente tava roubando dinheiro. Acho que ela falou alguma coisa assim. Aí a gente foi

e saiu (Estudante 8).

Sim, do ano passado pra cá sim. Mas do ano retrasado para o ano passado foi

diferente porque mudou de professor agora, mas antes até as professoras faziam

bullying com a gente. Teve uma vez, que quando é aniversário dos professores a

gente costuma fazer aniversário para eles surpresa. No horário deles. Aí a gente foi

145

pegar e fazer aniversário pra uma professora e na minha sala tinha bastante aluno

que morava aqui dentro, aí ela virou e chamou a gente de palavrão, falou que da

gente não queria nada. Nem os estudos mesmo, ela não queria dar nada pra gente,

que na nossa vida, se dependesse dela a gente não ia pra frente. Ela falou assim. Ela

fazia muito bullying com a gente daqui de dentro, porque ela falou assim que a gente

não vai passar. Porque a gente mora aqui dentro e a gente não tem um ensino mais

pra frente. Aí ela praticamente chamava a gente de burro, né? Aí depois disso, a

gente levou na secretaria e eles tirou, mandou ela para outra escola (Estudante 10).

Minha sala é considerada a pior sala que têm na escola, não é por causa de mim, tá?

É porque os alunos fazem muita bagunça, aí tem gente que se interessa pra saber e

ela não. Só joga o conteúdo no quadro e falam assim, se vocês fazer bem, se não

fazer amém. Aí, ela mesmo não liga pra gente, mas têm outros professores que são

bem juntos com a gente. Tem professores que todo mundo se dá bem com eles

(Estudante 10).

Alguns sim, alguns não. Tem uns que ficam me chamando de neguim, de invasão,

me chama de macaco. Os outros, eles são legal comigo. Sempre quando eu vou fazer

alguma coisa, eles vão lá e elogia. Aí, tem hora que eu não faço nada porque eu

tenho preguiça, eu fico muito cansado. Aí eles vão lá e falam que não gostam de

mim porque eu não fiz a atividade (Estudante 14).

Por fim, sobre o relacionamento com os demais funcionários além dos professores, a

maioria alegou não ter problemas com ou se relacionam bem com eles. Os motivos são

porque os respeitam e porque alguns funcionários, lembrados por muitos, os tratam bem,

inclusive dão lanche a mais para eles. Motivos apresentados pelos estudantes 1, 4, 8, 9, 14 e

17.

A exceção foi o Estudante 19, ao dizer que as funcionárias da Escola Integrada xingam

e são xingadas à toa. Funcionárias lembradas também pelo Estudante 14, ao dizer que estas

não intervêm em brigas e xingamentos entre os colegas, inclusive, quando é sobre a

Ocupação.

Apesar do resultado positivo do relacionamento dos estudantes para com os sujeitos

escolares, sobretudo no questionário, a Unidade de Análise 7 também evidenciou,

especialmente nas entrevistas, alguns problemas de relacionamento e processo educativo.

Principalmente nos intervalos, quando ocorrem empurrões ou brigas, outras ações e posturas

criticadas pelos entrevistados, e xingamentos caracterizados por vezes como bullying, por

causa, entre outros fatores, de suas moradias na Ocupação.

Outra percepção reforçada nesta Unidade de Análise é a declaração dos estudantes de

que atuais e antigos professores já falaram ou continuam a falar mal sobre a Ocupação com os

estudantes, como informaram três deles neste momento da entrevista, e outros estudantes e

Coordenadoras da Ocupação em outras etapas do trabalho.

Problema este que não é o único a respeito do processo de ensino-aprendizagem nesta

escola, porque vários estudantes declararam também a despreocupação de alguns professores

146

com as suas aprendizagens, e a abordagem deseducada ou errônea de alguns ao chamarem a

atenção dos colegas.

Atitudes estas, questionadas por Paulo Freire em sua obra Pedagogia da Autonomia,

saberes necessários à prática educativa (2002), quando este, além de outros saberes, descreve

que ensinar exige apreensão da realidade do mundo, da comunidade escolar e dos estudantes;

rejeição a qualquer forma de discriminação; querer bem aos educandos, saber escutar; e

corporificação das palavras pelo exemplo.

Unidade de Análise 8 – Gosto e sentimento pela escola

Esta Unidade de Análise pretendeu saber dos estudantes se eles gostam e se sentem

bem na escola pesquisada. Fator importante para a boa permanência e processo educativo na

escola, como destaca o próprio PPP da Instituição (2013), quando cita a importância de se

sentir bem e incluído na escola para o desenvolvimento de aprendizagens significativas no

espaço escolar.

De acordo com o declarado nesta e nas unidades anteriores, a maioria dos

participantes do questionário e entrevista gostam da escola atual. Os motivos, segundo eles, é

que se relacionam bem com os sujeitos escolares (Estudantes 1, 3, 5, 11, 12, 19 e 20), são

elogiados pelos professores (Estudante 11 e 15), já se adaptaram à escola (Estudantes 3, 18 e

20), gostam dos espaços, atividades e estrutura escolar (Estudantes 1, 3, 4, 7 e 11), gostam da

Escola Integrada (Estudantes 4, 9 e 15) e avaliam bem as aprendizagens desenvolvidas

(Estudante 7 e 11). E muito por isso, somando-se a outros fatores levantados, como, direção e

equipe docente, sentem-se bem na escola.

E alguns, porque também já superaram problemas de enturmação e relacionamento, ou

veem aspectos positivos que superam certos aspectos negativos já levantados, entre eles,

questões como os xingamentos aos seus locais de moradia, a Rosa Leão. Caso dos estudantes

3, 17, 21 e outros. “Porque agora ela ficou boa. Por causa dos professores, que eles trocaram

de professor, e trocaram de diretora” (Estudante 21), “Sim. Porque lá eu já me adaptei com as

meninas” (Estudante 17), “Porque eu já fiz amigas. É porque ela é boa, tem oficina, tem

informática, tem outras coisas que eu gosto” (Estudante 3).

147

GRÁFICO 20 – Categoria 3: Você gosta da sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

GRÁFICO 21 – Categoria 3: Você se sente bem na sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

E uma minoria de estudantes, desde o seu acesso à escola, até hoje, não gostam e nem

se sentem bem na escola por causa da sua trajetória nesta, em que, entre outros fatores do

processo educativo, já se sentiram e se sentem desrespeitados por serem moradores da

Ocupação. Situação da Estudante 6, e dos estudantes 2 e 14 que melhor se justificaram neste

momento da entrevista:

Porque, como eu comentei, no começo era tudo maravilha e depois mudou. Porque

do meio ao fim, porque no começo a escola era organizada e agora não é mais. [...]

Tipo, tem muitas pessoas que ficam trombando na gente e a gente fala com a

148

coordenação, e a coordenação fala que vai conversar com o aluno e não conversa. Aí

fica a mesma coisa (Estudante 2).

Não. Por causa do preconceito e agressão física. Minha mãe já até chegou a reclamar

na direção uma vez e não deu em nada não. A professora falou: ‘Ah, seu filho é isso,

seu filho é aquilo’. Aí virou e falou que vai pedir minha mãe para arrumar outra

escola (Estudante 14).

Unidade de Análise 9 – Gosto pelo estudo e aulas

A Unidade de Análise 9 objetivou investigar junto aos estudantes, se eles gostam de

estudar e de participar das aulas na E.M. Prof. Daniel Alvarenga, e por quais motivos. Assim

como no questionário, de acordo com as entrevistas, a maioria declarou gostar de estudar e de

participar das aulas, apesar de certas críticas que têm.

GRÁFICO 22 – Categoria 3: Você gosta de estudar?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

149

GRÁFICO 23 – Categoria 3: Você gosta das aulas?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

As principais justificativas apresentadas pelos estudantes para a afirmação do gosto

em estudar foram por atribuir sentido e resultado pessoal e profissional com os estudos, e

gostarem da escola.

É o que se vê nas falas dos estudantes 5 e 7: “Pra poder conseguir um bom emprego,

ajudar minha mãe e eu quero formar. Acho as aulas interessantes também, posso aprender

mais” (Estudante 5), “Porque eu gosto de estudar pra me ajudar no meu futuro, pra que eu não

seja tão dependente” (Estudante 7).

Os que disseram não gostar de estudar, gostarem mais ou menos, ou que apresentaram

ressalvas apesar de gostarem, também justificaram o porquê: porque apresentam dificuldades,

estudar é chato, têm momentos e atividades cansativas e repetitivas, e porque têm preguiça

(Estudantes 3, 15, 16 e 17).

Quanto ao gosto pelas aulas, os estudantes que gostam, a maioria, justificaram porque

aprendem, têm prazer em adquirir conhecimento, os professores são bons, ensinam bem e se

esforçam para os estudantes aprenderem (Estudantes 1, 2, 4, 7, 8, 10, 11, 13, 16, 17, 18, 19 e

20).

É porque as professoras vão atrás da gente pra saber se a gente vai querer estudar,

eles vai atrás da gente pra poder explicar na nossa frente mesmo. Eles, tipo assim,

são bem juntos com a gente mesmo. Ainda mais o professor de Inglês, ele leva vídeo

pra gente assistir e depois fazer relatório, o que a gente viu, o que a gente não viu, o

que a gente gostou, o que a gente não gostou. Mas tirando a professora, eles sim,

eles é bem junto com a gente (Estudante 10).

Porque a gente tá na escola para aprender, né? Então, a gente gostando ou não

gostando, estando ali a gente tem que aprender. E os ensinamentos de lá são muito

bons, os professores que estão ali para ensinar a gente são muito bons. Espero que

150

continue assim. Então sempre gostei das aulas dali e sempre vou tá mais reunida

ainda mais nas aulas (Estudante 16).

Entre os mesmos estudantes que afirmaram gostar das aulas, os que apresentaram

ressalvas disseram que têm disciplinas, aulas e professores que eles não avaliam bem. Porque

têm aulas chatas, atividades repetitivas e não compreendidas, e um ou outro professor que

grita, xinga, não se esforça para ensinar e escreve muita coisa no quadro (Estudantes 3, 5, 9 e

14). Respostas estas relacionadas com a prática escolar e docente, como metodologia de

ensino, didática, planejamento de atividades e trato com os estudantes.

Apenas dois estudantes afirmaram contundentemente não gostarem das aulas

(Estudantes 21 e 6). Um justificou pela dificuldade de acordar cedo e a preguiça de estudar

(Estudante 6).

Tais respostas dos estudantes permitem a este pesquisador provocar reflexão, fazer

contrapontos ou problematizar depoimentos já citados ao longo deste trabalho. Por exemplo,

os questionamentos de algumas Coordenadoras e responsáveis da Ocupação a respeito do

ensino na E.M. Prof. Daniel Alvarenga; e a crítica de alguns professores quanto ao valor não

atribuído pelos familiares e estudantes à escola e ao estudo.

Vários depoimentos dos estudantes, ao contrário da avaliação de algumas

Coordenadoras e responsáveis da Ocupação, demonstram aprovação dos mesmos a respeito

do ensino na E.M. Prof. Daniel Alvarenga. Como se vê na fala dos estudantes de que eles

gostam da escola, do estudo e das aulas porque eles têm bons e esforçados professores, e

porque lá estão aprendendo e se desenvolvendo (Estudantes 7, 10, 11, 13, 16, 17 e 19).

Várias declarações de estudantes, ao contrário da percepção de alguns professores,

demonstram o reconhecimento que eles dão, - mesmo que seja mais verbal e automático como

alguns podem questionar -, à escola, ao estudo e às aulas. Como representado na fala dos

estudantes de que eles têm que gostar da escola, não tem outra saída, e a escola e o estudo são

importantes para a vida e o seu desenvolvimento (Estudantes 2, 4, 5, 8, 14 e 20).

Avaliações estas que, como pretendeu levantar esta Unidade, estão relacionadas à

execução da proposta pedagógica da escola por sua equipe e cada um dos seus professores; da

escolha, organização e execução dos currículos, metodologia de ensino, didática, espaços e

momentos de projetos, avaliações e discussões coletivas. Pelas condições de trabalho e

formação continuada que devem ser possibilitadas pelo poder público, e a própria gestão e

equipe escolar aos seus profissionais.

151

Unidade de Análise 10 – Presença dos responsáveis na escola

A presença e a participação dos responsáveis na escola são importantes para o

conhecimento e colaboração no trabalho da Instituição, e para o acompanhamento da vida

escolar do estudante. Portanto, esta Unidade de Análise pretendeu saber dos mesmos, se os

seus responsáveis já comparecerem a reuniões e a outros eventos escolares, e qual foi a

avaliação destes quanto à receptividade e trabalho escolar.

Sobre a primeira pergunta da Unidade de Análise, grande maioria dos estudantes,

tanto os do questionário quanto os da entrevista, responderam que os seus responsáveis já

compareceram e comparecem nos encontros escolares.

GRÁFICO 24 – Categoria 3: Seus responsáveis já compareceram em algum evento da sua escola

atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os encontros escolares dos quais os responsáveis mais participaram são as reuniões

com os pais e a festa junina escolar. Outros encontros lembrados foram as apresentações

culturais dos estudantes, Dia da Família, Natal, Dia das Crianças e Feira de Ciências.

Dos três estudantes respondentes (Estudantes 13, 17 e 19) da não participação dos seus

responsáveis nos eventos, dois justificaram os motivos citando compromissos e trabalho dos

responsáveis. Junto a uma dessas respostas, uma estudante também respondeu que não gosta

de participar dos encontros escolares e, com isso, a sua responsável não vai.

Entre os respondentes, vários deles alegaram que os responsáveis vão à escola porque

desejam saber sobre o trabalho escolar, sobretudo sobre o desenvolvimento do filho na escola

(Estudantes 2, 3, 6, 16 e 21).

152

A respeito da receptividade e trabalho escolar, a maioria dos estudantes respondeu que

os seus responsáveis foram bem recebidos pela escola e gostaram de participar dos encontros.

Entre eles, até mesmo os responsáveis daqueles que tiveram dificuldades no acesso e têm

dificuldades no processo educativo escolar.

Ela elogiou. Elogiou até demais. Falou que o atendimento lá é bom, tirando o dia da

matrícula, os outros dias de atendimento lá foi ótimo. Que ela gostou dos

professores, menos de um. E falou que eles falaram bem de mim e para mim isso já

foi uma maravilha. Por isso que ela gostou de lá (Estudante 6).

GRÁFICO 25 – Categoria 3: Seus responsáveis foram bem recebidos na escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Alguns estudantes declararam que os responsáveis e eles próprios observam a atenção

que a escola e profissionais destinam aos responsáveis nestes encontros, e a preocupação que

demonstram com o desenvolvimento dos estudantes. Por exemplo, no convite nas reuniões

para que os estudantes, com consentimento dos responsáveis, se inscrevam no Programa de

Intervenção Pedagógica, reforço escolar oferecido pela Instituição.

Minha mãe disse que foi bom ir lá, pra saber algumas coisas de importância para os

alunos. E ela falou que minhas notas tavam boas, mas tinha algumas lá que tava

ruinzinha, tipo Matemática e Geografia. Tentaram colocar eu no PIP, né? Aí colocou

eu lá e eu peguei meta do PIP e depois sai de novo (Estudante 5).

Sim. Compareceram nas reuniões. Eles tratam meus pais muito bem e os outros pais

também. Sempre quando eles comentam comigo, eles falam que gostaram porque lá

eles dão bastante atenção pra gente também. [...] Aí quando a gente tá muito ruim na

escola, eles vão e chamam e oferecem pra gente um reforço. Ontem mesmo eles me

ofereceram um reforço porque eu tô muito ruim na questão de escrever, porque

minha letra é feia, aí eles pediram uma aula de reforço (Estudante 10).

153

Os três responsáveis que não gostaram do evento escolar em que estiveram presentes

alegaram como motivo a desorganização do espaço (Estudante 2), a desaprovação quanto a

uma apresentação teatral (Estudante 5), e a declaração dada sobre o baixo desempenho escolar

do filho (Estudante 15).

Porque lá na escola, o bebedouro é aqui e a rampa é aqui, aí quando a gente bebe

água tem um lugar que vaza água, então no dia da apresentação muitas pessoas

caíram porque tava molhado. E quando eles colocam TNT para tipo tampar, fica

molhando mesmo assim. Igual na apresentação dos dias das mães ou dos dias dos

pais, muitas pessoas caíram. E a gente não reclamou, mas pensou que eles poderiam

ter limpado, desligado a água (Estudante 2).

Meu pai não gostou muito não, porque ele tem religião e teve uma parte do teatro lá

que ele não gostou, aí ele não deixou eu participar mais. Por isso eu não participei

mais do teatro. Depois passou um ano e a professora saiu da escola, não sei se foi

por esse motivo. E alguns pais tiveram que tirar seus filhos da escola também. Pela

autorização dos pais, minha mãe deixou eu participar, mas depois meu pai reclamou

e teve que me tirar do teatro. Aí foi saindo alguns alunos depois que eu saí

(Estudante 5).

A presença, por várias vezes, de boa parte dos responsáveis na E.M. Prof. Daniel

Alvarenga, conforme apontam os resultados desta unidade, demonstram a preocupação e o

acompanhamento deles para com o trabalho da Instituição e, sobretudo, a vida escolar do

filho. O que contrapõe um pouco com a preocupação e opinião de alguns professores a

respeito da não atribuição de sentido dos responsáveis à escola e ao estudo dos filhos.

Sem poder avaliar precisamente o quanto, e a diversidade e a qualidade com que estes

encontros ocorrem e os responsáveis participam, o interessante a apontar neste momento é a

oportunidade que a escola tem em aproveitar a presença dos responsáveis nestes eventos para

estender e diversificar as suas propostas, orientações e conteúdos para uma melhor

participação e acompanhamento dos responsáveis com o que a escola diagnostica que precisa

evoluir (NOGUEIRA, 2006; RIBEIRO, ANDRADE, 2007; THIN, 2006). Isto para uma

relação família-escola mais permanente e rica, tendo em vista a melhora do trabalho da

Instituição, a gestão e participação democrática, bem como o desenvolvimento dos seus

estudantes e da comunidade local.

154

Unidade de Análise 11 – Reforço/intervenção da escola

Esta Unidade de Análise, reforço/intervenção da escola, objetivou saber mais sobre o

processo educativo dos estudantes, a fim de obter mais conhecimento que possa ser relevante

para o contexto e temática do trabalho.

A Unidade de Análise 11 pretendeu saber dos estudantes se e como ocorre o reforço

da escola e professores quanto ao seu processo educativo.

De acordo com os questionários e entrevistas, uma porcentagem significativa dos

estudantes é elogiada, e outra parte significativa é elogiada e chamada à atenção quase que na

mesma proporção pela Instituição e seus profissionais.

GRÁFICO 26 – Categoria 3: Reforço/intervenção da escola

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os estudantes frequentemente elogiados responderam que os professores os elogiam

quando são disciplinados, fazem as atividades, participam da aula, respeitam os professores e

se desenvolvem bem (Estudantes 2, 4, 7, 8, 10, 11, 12, 16 e 17).

Quando a gente não consegue fazer uma coisa a gente é meio avisado a tentar se

esforçar, mas eu sou mais elogiada. Tipo, eu não sou calada na sala de aula, tudo o

que eles me perguntam, errado ou certo, eu falo. Aí se acerto as coisas, eles vão e me

elogiam e falam que tá tudo bem. Igual a prova desse trimestre passado, eles

também me elogiaram. (Estudante 2).

155

Costumo ser mais elogiada na escola, porque eu sempre fiz as atividades, aí eu sou

elogiada. Tem vezes que eu não faço as atividades, ai o professor vai lá e chama a

atenção. Mas é certo chamar a atenção, né? [...] Porque eu sempre faço tudo, os

trabalhos certinhos. Me dou bem com os professores, então eles gostam muito e me

elogiam (Estudante 16).

Os estudantes que disseram ser chamados à atenção frequentemente pela escola e

justificaram o motivo, alegaram que isso acontece quando eles não fazem as atividades, não

participam das aulas, conversam e brincam em sala de aula (Estudantes 3, 9, 5 e 14).

Eu sou muito quieta nas aulas, mas ultimamente não tô sendo muito elogiada não.

Eu tô conversando muito com as pessoas da sala, tipo que eu tô interagida com eles.

Aí tem hora que eu converso e eu tiro a atenção da professora na sala de aula, ai ela

chama atenção, mas depois volta ao normal de novo (Estudante 5).

Parte significativa destes respondentes, nesta etapa da entrevista, ao contrário de outro

momento, quando questionados sobre o relacionamento com os professores, não alegaram

discordância com o reforço escolar destes (Estudantes 5, 8, 12, 13, 15, 16 e 18). Pequenas

exceções nesta etapa da entrevista foram dos estudantes 3, 4 e 6. Estes, assim como outros

estudantes em outros momentos da entrevista, disseram que eles e os seus colegas são

chamados à atenção de forma exagerada (Estudante 3) e porque um professor não gosta deles

(Estudante 4 e 6).

Sobre a importância de um bom reforço e intervenção escolar no processo educativo,

uma estudante declarou:

Elogiam. Eles conversam muito com a gente. Até se a gente estiver bem mal eles

elogiam. Tem professor que não gosta de jogar a gente pra baixo, mas têm

professores que, misericórdia, jogam a gente pra baixo mesmo. Mas fora isso eles

elogiam bem a gente. [...] Eles não chegam na sala fazendo assim “para de fazer

porque você tá fazendo errado”. Eles falam assim “não faz isso por causa disso, isso

e isso”. Eles não querem te mostrar pra todo mundo, te chamar a atenção na frente

de todo mundo. Aí ele vai e faz isso perto de você, na sua frente (Estudante 10).

As respostas dos estudantes e a análise sobre as mesmas nesta unidade e na pesquisa,

nos permitem apontar sobre a boa participação de porcentagem relevante dos estudantes em

diversos momentos e espaços escolares, assim como o reconhecimento destes para com a

função da escola e estudo. Possivelmente, razão entre as quais eles se predispuseram em

participar da entrevista, responder e entregar o questionário.

Esta Unidade de Análise, em especial, através do depoimento de diversos estudantes,

demonstrou também, a preocupação da escola com alguns aspectos especiais do processo

educativo que devem fazer parte do regimento e cultura escolar de muitas escolas brasileiras:

156

a questão da disciplina, do silêncio, e da atenção do coletivo e do indivíduo em alguns

momentos de aprendizagem em sala de aula.

Comportamento estudantil muito esperado pelos professores, porém, difícil de ser

plenamente atendido, haja vista a necessidade dos estudantes de se movimentarem e

comunicarem com os colegas, por questão da idade e etapa de desenvolvimento que

vivenciam, e também, por causa do formato das salas, aulas e métodos, muitas vezes

tradicionais, que desestimulam a atenção, a disciplina e o aproveitamento.

Unidade de Análise 12 – Experiências na escola

Também, a fim de conhecer mais sobre o processo educativo dos estudantes, a

Unidade de Análise 12 objetivou saber destes se eles já passaram por experiências positivas e

negativas na escola pesquisada e quais foram estas experiências.

A grande maioria dos respondentes dos questionários e entrevistas já tiveram

experiências marcantes e positivas na E.M. Prof. Daniel Alvarenga.

GRÁFICO 27 – Categoria 3: Já aconteceu alguma coisa boa com você na sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

As respostas das entrevistas demonstram uma diversidade de experiências positivas na

Instituição pesquisada. Experiências demonstrativas da riqueza de possibilidades e vivências

que a escola oportuniza pela função social, e pelos espaços e momentos de aprendizagem e

convívio que pode e deve ofertar.

Experiências escolares positivas e negativas, como descreve Paulo Freire (2002), que

marcam toda a vida do indivíduo. E por isso, implicantes às escolas e educadores para o

157

conhecimento e desenvolvimento contínuo de saberes em sua prática educativa, como a

consciência do inacabamento; a pesquisa; a reflexão crítica sobre a prática; o

comprometimento; e a segurança, competência profissional e generosidade (FREIRE, 2002).

Parte das experiências positivas mais relatadas pelos estudantes estão relacionadas

com os projetos, eventos e atividades realizadas pela ou ofertadas para a Instituição, como o

Intercâmbio BH-Jabó17

(Estudantes 5, 6 e 8), GincaMat.BH18

(Estudantes 7 e 8), Certificação

de Estudante Destaque (Estudantes 10 e 17), atividades desenvolvidas no Dia das Crianças,

Natal e Festa Junina escolar (Estudantes 1, 12 e 14).

Foi na Festa Junina que nós fez correio elegante e fazendo correio elegante, foi

muito bom. E o BH-Jabó, que é o intercâmbio da escola que vai acontecer, que é

muito bom. Você manda carta pra outra escola e não sabe que escola que é, de outro

lugar. Sempre tem um sábado que nós fica um sábado todo lá conhecendo aquela

pessoa. Tem muita comida, tem apresentações e várias atividades lá. Outro momento

bom também é o que vai acontecer na escola que é um trem de dança dos anos 90

(Estudante 6).

Visita ao clube (Estudante 15), escolha de representante de turma (Estudante 2),

frequência na Informática e Educação Física “quando os professores faltam” (Estudantes 4 e

9), merenda escolar (Estudante 20) e relacionamento desenvolvido com colegas e professores

(Estudantes 3 e 19) também foram citados.

Quanto às experiências negativas, em comparação com o questionário, uma

porcentagem maior dos entrevistados mencionou ter passado por elas durante a sua trajetória

na escola pesquisada.

17

O Projeto Intercâmbio BH-Jabó, iniciado em 1997 por três educadoras, tem o objetivo de promover o

desenvolvimento da leitura e escrita entre os estudantes. Por isso, consiste na redação e troca de três cartas ao

longo do ano por estudantes de diferentes cidades da RMBH que só vão se conhecer no encerramento anual do

evento. Quando estes também participam de atividades recreativas, educativas e culturais

(https://www.educacao.mg.gov.br/leis/story/8313-intercambio-bh-jabo-comemora-20-anos).

18

A GincaMat.BH, realizada há anos pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, tem o objetivo

de promover o ensino e a aprendizagem da matemática através da realização de diversos jogos e resolução de

problemas entre os estudantes de Belo Horizonte. A Secretaria de Educação capacita os professores para a

aplicação e treinamento dos jogos ao longo do ano letivo na escola

(https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/estudantes-do-barreiro-participam-de-gincana-de-matematica).

158

GRÁFICO 28 – Categoria 3: Já aconteceu alguma coisa ruim com você na sua escola atual?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

As principais experiências negativas pelas quais os estudantes passaram na E.M. Prof.

Daniel Alvarenga estão relacionadas a acidentes na Instituição (Estudantes 4, 5 e 21), por

exemplo, queda da escada; briga com colega (Estudantes 3, 11 e 14); convocação do

responsável à Instituição (Estudantes 1, 3 e 9); e desrespeito por ser morador(a) da Ocupação

(Estudantes 6, 8, 10 e 15).

Quando eu fui na direção por causa de bullying. Porque me chamaram de pé

vermelho, aí eu fui pegar cadeira pra tacar na menina. Só que eles não deixou e me

mandou pra direção. Por causa eu já estava cansada de ficar fazendo bullying. Nem

tanto comigo. Por causa da minha sala que tem umas cinco meninas daqui do Rosa.

Que elas também sofreram bullying, mas elas nunca retrucaram assim. Aí teve um

dia que pegaram a cadeira pra tacar nela, ai eles foi e me mandaram pra direção

(Estudante 6).

Foi quando a professora xingou a gente, porque ela virou e falou assim que não

queria nada que viesse da gente da Ocupação. Isso foi bem ruim. E também teve

uma vez que um menino tava fazendo bullying comigo, e o menino falou que se eu

falasse com a Coordenadora ele ia me bater. Eu peguei fui lá e falei, e ele pegou uma

mesa, sabe aquela parte da mesa que fica solta? Aí ele pegou aquela parte da mesa e

acertou na minha cabeça. Aí os professores foram pra cima dele porque ele ia me

bater mais (Estudante 10).

Os meninos ficam me zoando. Agora eu lembrei! São sempre os mesmos meninos.

É porque eu moro aqui. Eles me chamam de pé de toddy, que aqui tem poeira. Às

vezes eu falo na escola e a escola não resolve (Estudante 15).

Tais experiências, positivas e negativas, como o desenvolvimento e participação em

projetos, e o desrespeito com o estudante morador da Ocupação remetem para o que o PPP da

escola implica, como a previsão de momentos para a discussão, planejamento e realização

coletiva, inclusive com a comunidade, para o desenvolvimento de aprendizagens

significativas. E a importância de um ambiente acolhedor para a inclusão, permanência e o

159

processo educativo na escola, assim como o conhecimento e trabalho diante da realidade da

comunidade, como os problemas e necessidades locais (PROJETO..., 2013). Uma delas, o

bullying e o desrespeito entre os estudantes por causa de local de moradia, cor e outra

característica física, acontecimentos repetidamente relatados por vários estudantes, também

informantes, muitas vezes, da não intervenção escolar ou intervenção não satisfatória

(Estudantes 2, 3, 5, 6, 8, 10, 11, 14, 16 e 18). Eventos que, como já dito, positivos ou

negativos, podem marcar para o resto da vida do sujeito escolar.

Unidade de Análise 13 – Estudo da realidade local

Investigar e inserir a realidade local no Projeto Político Pedagógico da escola é

preceito da obra freiriana, das teorias de educação e desenvolvimento local, e do PPP das

escolas progressistas. Por isso, e tendo em vista o objeto deste trabalho, esta Unidade de

Análise pretendeu investigar com os estudantes se na E.M. Prof. Daniel Alvarenga os

discentes estudam sobre a cidade, o bairro e a Ocupação Rosa Leão.

Segundo o resultado do questionário, quase metade dos respondentes (46%) não

estudaram sobre a cidade Belo Horizonte e o bairro Zilah Spósito, onde a escola está inserida.

66% dos respondentes, a maioria, disseram que não estudaram a Ocupação Rosa Leão,

vizinha do bairro e escola, território de moradia de muitos discentes. A porcentagem dos

respondentes que assinalaram Não Sei para as perguntas também foi significativo, 31% e

20%, conforme demonstram os GRÁFICOS 29 e 30, apresentados abaixo:

GRÁFICO 29 – Categoria 3: Já tiveram atividades na sua escola atual sobre a cidade e o bairro Zilah

Spósito?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

160

GRÁFICO 30 – Categoria 3: Já teve algum conteúdo ou atividade sobre a Ocupação Rosa Leão?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Sobre os resultados das entrevistas, em comparação com o questionário, número maior

dos respondentes afirmou ter estudado sobre Belo Horizonte e Zilah Spósito. Porém, parte

destes não lembrou o que estudou ou teve dificuldade para explicar a atividade que abordou

estes locais (Estudantes 1, 8, 12, 13, 17 e 20).

Além disso, algumas atividades lembradas pelos respondentes não representaram

atividades centrais de um plano de aula ou tema curricular que tivesse a proposta de

contextualizar e desenvolver a temática da realidade local, e sim, foram apenas menção ou

questão de prova que compôs a aula ou avaliação do professor (Estudantes 3, 15, 16 e 19).

Segundo os estudantes, as atividades que abordaram ou tiveram Belo Horizonte como

cenário foram passeios e projetos não especificados (Estudante 14); visita à Pampulha para

estudo da questão ambiental da cidade (Estudantes 5); estudo dos monumentos, estradas,

lugares, ruas e museus que as pessoas da cidade ajudaram a construir (Estudante 7); e visita a

uma Instituição no centro de Belo Horizonte para discutir os problemas da região em que a

escola está situada (Estudante 5), sendo esta última atividade avaliada pela estudante

entrevistada como pouco interativa e produtiva.

A respeito do estudo sobre o Zilah Spósito, bairro onde a escola está situada, que tem

muitos dos seus moradores matriculados na Instituição, as atividades que abordaram ou

tiveram o bairro como cenário foram: desenho e redação sobre a experiência de morar no

bairro (Estudantes 1, 11 e 12); campanha contra a dengue (Estudantes 5 e18); reunião e visitas

ao CRAS para discussão dos problemas locais (Estudante 5); desenvolvimento de líderes

161

comunitários para melhoria da limpeza urbana e coleta seletiva (Estudante 6); e estudo do

Córrego dos Macacos (Estudante 18).

Estas quatro últimas atividades, segundo os estudantes, não visitaram o território e não

convidaram a Coordenação e população da Ocupação Rosa Leão, apesar de ser local por onde

também passa o córrego e enfrenta problemas de limpeza urbana, dengue e outros.

Só no Líderes Comunitários, que é um trabalho que eles me perguntaram se eu

queria participar, que é uma liderança do bairro. Ou seja, empenhada para um

trabalho de limpeza e coleta seletiva no bairro Zilah. [...] Achei mais ou menos.

Porque eu acho que eles deviam fazer isso no Rosa e no Zilah. Por isso que eu não

continuei, porque eu falei: no Rosa também faz parte do Zilah. Se a pessoa pergunta

onde você mora: Rosa Leão. Fica perto de onde: do Zilah. Então eu acho que

deveria trazer pra dentro do Rosa e do Zilah. Aí por isso que eu saí também

(Estudante 6).

Quanto ao estudo sobre e na Ocupação Rosa Leão, as únicas atividades que abordaram

ou tiveram a Ocupação como cenário de estudo foram desenho e redação sobre a experiência

de morar na Ocupação (Estudantes 1, 2, 3, 11, 12 e 20) e registro fotográfico da mesma

(Estudante 4 e 9). De acordo com o Estudante 9, uma excursão idealizada por uma professora

também seria realizada na Ocupação, mas esta não aconteceu.

Questionados sobre o que acharam de realizar uma atividade relacionada à Ocupação,

eles se dividiram. Alguns gostaram de ter escrito e desenhado o que gostam na Rosa Leão

(Estudantes 1, 3, 11 e 20), e outros, não gostaram e nem gostariam de estudar o território em

que residem (Estudante 4, 8 e 9). O motivo alegado pelos últimos é a má avaliação que os

estudantes fazem da Ocupação, as brincadeiras ou xingamentos que os colegas realizaram e

realizariam sobre a temática.

Em contraponto, alguns, provocados pelo entrevistador, disseram que acham

importante a escola conhecer, dialogar e abordar a Ocupação Rosa Leão. Inclusive, como

citado acima, uma estudante informou que deixou de participar do projeto de liderança

comunitária para limpeza urbana e coleta seletiva porque a Ocupação não foi incluída no

mesmo.

Acho ruim porque a gente não tá sendo lembrada na escola. Não tá sendo criado,

porque aqui sempre na Ocupação tem alguém com interesse de aprender mais sobre

a Ocupação, e a escola nunca fez isso. Nunca ensinou algumas coisas da Ocupação

(Estudante 16).

Eu acho que deveria ter. Pra cada um conhecer sua cultura. Porque querendo ou não,

eu acho que Rosa Leão é uma cultura, porque o bairro todo, na verdade o Brasil todo

foi ocupado. E acho que eles deviam se empenhar. Rosa Leão e Isidoro deveriam ser

um exemplo para as crianças que estão começando a estudar, porque isso é cada um

162

conhecendo a história da sua família. Que nem Zilah, Jaqueline, foi uma ocupação.

Acho que isso serviria de exemplo (Estudante 6).

A análise a ser feita a partir dos dados acima é que, assim como o PPP da escola

propõe, a E. M. Prof. Daniel Alvarenga, sobretudo em sua modalidade regular, Ensino

Fundamental II, recorte desta pesquisa, pode e deve efetivamente estudar a sua realidade

local, em sua totalidade e partes, entre elas a Ocupação Rosa Leão. Conhecer as histórias,

experiências, saberes, necessidades e desejos da comunidade, incluí-la na gestão e

participação democrática, como tomadas de decisão e projetos. Em especial, desenvolver um

currículo pensado, criado e praticado coletivamente, partindo do estudo e de temas da

realidade dos educandos, favorecidos por uma abordagem interdisciplinar e dialógica.

Proposta presente em Pedagogia do Oprimido (1987), cujo autor descreve a

importância do conteúdo programático ser escolhido, investigado e desenvolvido

coletivamente, entre coordenadores e educandos. Que tenha nele, temas geradores também

elencados em conjunto, rigorosamente pensados e desenvolvidos a partir das experiências

sociais e locais, problematizados interdisciplinarmente, a fim de reconhecer as situações-

limite e esforçar para a sua superação (FREIRE, 1987).

Princípio metodológico de uma educação comprometida com a escolarização crítica,

humanizadora e emancipatória, reconhecedora da viabilidade da mudança e, por isso,

potencialmente interpretativa e transformadora da realidade, que se apresenta sob a opressão,

contradição e desumanização de opressores e oprimidos (FREIRE, 1987). Situação vivenciada

na E.M. Prof. Daniel Alvarenga e comunidade, por exemplo, na rejeição e divisão entre

moradores do asfalto e ocupação.

Unidade de Análise 14 – Avaliação e ação dos sujeitos escolares sobre a Ocupação

A Unidade de Análise 14 pretendeu saber dos estudantes, qual é a avaliação e a ação

dos demais estudantes e profissionais da E.M. Prof. Daniel Alvarenga a respeito da Ocupação

Rosa Leão. Por exemplo, se eles respeitam o território, população e os moradores estudantes.

De acordo com o questionário, 60% dos respondentes já foram ou conhecem algum

colega que foi criticado por morar na Ocupação. E 51% dos respondentes já foram ou

conhecem algum colega que já foi desrespeitado ou discriminado por morar na Ocupação.

163

GRÁFICO 31 - Categoria 3: Alguém na escola já te criticou ou criticou algum colega seu por morar na

Ocupação?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

GRÁFICO 32 - Categoria 3: Você ou algum colega seu já foi desrespeitado na escola por morar na

Ocupação?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Ao analisar as entrevistas, a avaliação a ser feita é que o desconhecimento, rejeição,

crítica e xingamento dos estudantes para com a Ocupação e os seus moradores é um pouco

maior. Algumas ações, podendo ser classificadas como discriminação, injúria e bullying. Esta

última, prática citada por diversas vezes ao longo das entrevistas.

164

Nesta Unidade de Análise, uma porcentagem de entrevistados um pouco superior ao

questionário, afirmou que os colegas da escola têm uma má avaliação da Ocupação Rosa

Leão.

Acham a Ocupação estranha, ruim e feia porque ela não é asfaltada (Estudantes 4 e 5),

não tem saneamento básico (Estudantes 3 e 11) , tem casas de madeira e sem reboco

(Estudantes 10 e 15), dá muito barro quando chove (Estudantes 2, 9, 15 e 21), prejudicam os

serviços do bairro vizinho (Estudantes 2 e 10), tem moradores pobres e criminosos

(Estudantes 6 e 11), etc. E por isso, já criticaram o entrevistado e os colegas por morarem lá.

Inclusive, já torceram dentro da escola para a reintegração de posse do território (Estudantes

1, 8 e 14).

Estes colegas já criticaram e desrespeitaram os estudantes moradores chamando-os de

pobres, invasores, pé-vermelhos e sujos. Declarações realizadas em momentos de

estranhamentos e brigas entre os estudantes na frente da escola ou na escola, inclusive em sala

de aula.

Em contraponto, uma porcentagem menor dos estudantes dos bairros têm colegas que

moram na Ocupação, já a visitaram e realçaram seus fatores positivos, como saída do aluguel,

tranquilidade e espaço para brincar (Estudantes 10, 11, 16 e 19). Avaliação também

apresentada pelos estudantes justificantes do porquê gostam de morar na Ocupação.

A respeito dos profissionais escolares, alguns estudantes lembraram da crítica e ofensa

que alguns já fizeram a ele, aos moradores e Ocupação no geral. Críticas e ofensas, a maioria,

já relatadas ao longo desta pesquisa, como pelos estudantes 1, 8, 10, 11 e 14. Por exemplo,

quando uma professora não aceitou os parabéns dos estudantes moradores da Ocupação, outra

professora questionou se eles não têm vergonha de morar aqui, outra profissional chamou o

estudante de invasor, etc.

Todavia, a avaliação geral, principalmente nesta Unidade de Análise, é de que parte

significativa dos professores e outros profissionais não questionam, não gostam que toquem

no assunto e já interferiram quando um estudante desrespeitou o outro por causa do seu local

de moradia (Estudantes 2, 3, 4, 6, 13, 15, 17 e 21). E uma minoria procura saber da Ocupação

e ressaltar aspectos positivos de lá (como aumento do público estudantil, saída do aluguel,

mata do entorno, tranquilidade do local e luta por direitos) perante o sujeito da pesquisa ou os

demais colegas de classe (Estudantes 5, 7, 9, 16, 19 e 20).

No geral, o que se pode perceber nesta Unidade de Análise é a continuidade, - apesar

do grau menor em comparação com os primeiros anos da Ocupação e do acesso dos seus

moradores à escola -, do estranhamento, rejeição, má avaliação e xingamento à Rosa Leão e

165

seus moradores pelos sujeitos escolares, principalmente estudantes. Assim como a

necessidade, de intervenção escolar para repudiar esses atos e fazer com que, para

conhecimento, mudança de avaliação e postura, esta e os estudantes conheçam a Ocupação, a

diversidade de experiências, saberes e temas que ela pode possibilitar à escola. Por exemplo,

produzindo e utilizando materiais didáticos, como o livro da E.M. Prof. Daniel Alvarenga

feito sobre o bairro Zilah Spósito, O Zilah é logo ali, o Zilah é bem aqui (2000).

Também um livro ou materiais didáticos sobre a Ocupação que abordaria o fenômeno

das ocupações urbanas no Brasil, a sua influência na Regional Norte da cidade e na

localidade, a história semelhante com o bairro Zilah Spósito, a origem do nome da Ocupação,

os direitos dos seus moradores, a diferença entre ocupação e invasão, a questão da

discriminação e bullying escolar e suas implicações legais, as experiências ricas de luta por

direitos e participação comunitária, as conquistas já obtidas para a Ocupação e o bairro, o dia

a dia da Ocupação, a mata e o córrego existente, etc.

Unidade de Análise 15 – Aproveitamento na escola

Esta Unidade de Análise objetivou saber dos estudantes a avaliação dos mesmos sobre

o desenvolvimento da sua aprendizagem na escola. Autoavaliação importante para a

compreensão do processo educativo escolar, especialmente, dos sujeitos desta pesquisa.

Tanto no questionário como nas entrevistas, o resultado encontrado foi que a maioria

significativa considera que está conseguindo aprender e se desenvolver na escola.

GRÁFICO 33 - Categoria 3: Você está indo bem na escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

166

GRÁFICO 34 - Categoria 3: Você está aprendendo na sua escola?

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

Os estudantes que justificaram para além das notas, o porquê estão indo bem e

conseguindo aprender na escola, responderam que melhoraram na leitura, escrita e contas

(Estudantes 1, 4, 9, 11 e 14); perceberam outros avanços ao longo do tempo (Estudantes 4, 7 e

16), têm realizado as atividades e participado das aulas com mais atenção (Estudantes 4, 8, 11,

12 e 20); recebido o apoio e dedicação dos professores (Estudantes 7, 11 e 21), e acessado

materiais didáticos e equipamentos escolares (Estudante 17). Depoimentos que registram

dificuldades significativas na trajetória e etapa escolar em que os estudantes se encontram ou

encontravam, e revelam ações básicas que a escola e docentes devem tomar para desenvolver

a aprendizagem dos mesmos.

Cada dia é uma coisa diferente. A gente fica e aprende mais os trem. Antes eu não

sabia ler direito, agora eu sei. Não sabia escrever. Mandava fazer uma produção de

texto e eu não sabia. Agora eu sei fazer tudo (Estudante 1).

Desde quando eu entrei aqui eu não sabia nem ler nem escrever meu nome. Aí teve

uma professora, era a mais brava de todas. Aí eu comecei a ficar com ela e

acostumei com ela. Aí eu comecei a ler e escrever. Eu aprendi com ela. Tinha 12

anos quando comecei a ler e escrever (Estudante 14).

Tipo assim, de esqueleto humano. Lá onde eu estudava não tem isso não, aqui já tem

e é muito melhor para aprender. Tem aula de informática que é muito melhor de

aprender. Mais rápido e prático. Lá tem a sala com computador, mas os alunos do

oitavo ano, nem do primeiro, nem usam. Fica de enfeite (Estudante 17).

167

Os informantes dos poucos avanços e resultados conquistados na E.M. Prof. Daniel

Alvarenga até então, alegaram que a razão está relacionada a dificuldades pessoais de

aprendizagem que eles têm ou sempre tiveram (Estudantes 5, 6 e 13). Com exceção de uma

respondente, que responsabilizou a escola para provocar maior participação e diálogo com os

estudantes para o melhor desempenho dos mesmos (Estudante 2). Depoimento já citado por

um ou outro sujeito da pesquisa em outros momentos da entrevista, como a própria Estudante

2, e as Estudantes 5 e 10.

Eu não considero que aprendi muita coisa esse ano, porque a professora dá a

atividade e a gente tem que perguntar. Porque não sabe algumas coisas. Mas eu

aprendo algumas coisas e outras coisas não, porque é muito difícil. Tipo assim, todo

mundo forma um dia na escola, mas assim que eles formam, não pelas atividades.

Eles formam por formar mesmo. Pra mudar de ano (Estudante 2).

Apesar da avaliação positiva da maioria dos estudantes a respeito do desenvolvimento

da sua aprendizagem na escola, esta mesma maioria, questionada pelo pesquisador, respondeu

que não consegue associar os conteúdos escolares com a sua vida na Ocupação. Aspecto

importante para a assimilação dos conceitos e aprendizagens escolares, assim como para a

interpretação e atuação na realidade social e local pelos estudantes. Preocupação do objeto e

linha de pesquisa deste trabalho.

Finalizada a apresentação e a análise das categorias e unidades desenvolvidas com os

estudantes, apresentam-se a seguir uma síntese geral das principais questões levantadas.

Em relação à categoria acesso, segundo a maioria dos estudantes, estes em sua

trajetória e idade escolar, não ficaram meses ou mais de anos seguidos sem escola. A maior

dificuldade que encontraram foi justamente quando residentes na Ocupação Rosa Leão, os

seus responsáveis procuraram matriculá-los na E.M. Prof. Daniel Alvarenga e não tiveram

imediato sucesso. A escola alegava falta de endereço e/ou vaga, e fazia resistência, como

procrastinação, à matrícula dos moradores da Ocupação.

Quanto à permanência, parte significativa dos estudantes demonstrou ser faltosa na

escola. Por questões que, quando não são por real desvalorização e desmotivação escolar, ou

outro fator, estão relacionadas, por exemplo, ao dia a dia da família, dentre elas, algumas

dificuldades e diferenças entre a socialização das famílias populares e a socialização escolar.

Sendo, todavia, de acordo com os estudantes, situações que não impedem a ida e

permanência na escola, mas que sabemos, junto a outros fatores, como por eles lembrados,

chuva, barro e condição de infraestrutura e terreno da Ocupação, podem comprometer um

desempenho mais exitoso na mesma.

168

A respeito do processo educativo, também parte significativa passou e tem passado no

acesso, durante a trajetória e o seu atual momento escolar, por situações de críticas,

xingamentos e outras ações difamadoras à Ocupação e sua condição de morador da mesma. O

que demonstra uma avaliação menos positiva de alguns a respeito da intervenção e trabalho

político e pedagógico da Instituição, e o conforto e a vontade de estar na escola.

Resultado este, de aspectos escolares que foi e está sendo deficitário, ou que pode

aprimorar, em conhecer, dialogar e integrar parte importante da realidade escolar, a Ocupação

Rosa Leão, nos diagnósticos, projetos, currículos e ações da Instituição.

169

5 A ROSA LEÃO É LOGO ALI, A ROSA LEÃO É BEM AQUI

Este trabalho compreende o Produto Técnico da Dissertação intitulada “Acesso,

permanência e processo educativo de crianças e adolescentes da Ocupação Rosa Leão à

educação formal”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro Universitário Una, de autoria de Pedro Henrique Andrade

Campolina e sob a orientação da Professora Drª Adilene Gonçalves Quaresma.

O objetivo geral da pesquisa foi analisar como ocorre o acesso, a permanência e o

processo educativo das crianças e adolescentes da Ocupação à educação formal, tendo em

vista a possibilidade de intervenção na área de educação para o desenvolvimento local.

Entre os objetivos específicos para o alcance do objetivo geral, a pesquisa pretendeu

conhecer a história das ocupações urbanas e a sua reivindicação por educação; o diagnóstico

dos limites e possibilidades de acesso e permanência dos moradores da Rosa Leão à

educação; e a identificação dos princípios e objetivos que orientam o processo educativo das

crianças e adolescentes moradores inseridos na educação formal.

As principais conclusões obtidas pela pesquisa que teve como cenário a E.M. Prof.

Daniel Alvarenga, e os seus sujeitos professores e estudantes moradores da Rosa Leão foram:

o encontro de obstáculos para a efetivação da matrícula na escola, principalmente no início da

Ocupação (por resistência do Governo Municipal e orientação de não atendimento a esta

população, e a alegação de falta de estrutura, vaga, comprovante de endereço ou outro motivo

pela escola); a dificuldade de frequência à escola nos períodos de ameaça de despejo, falta de

água e chuva (por causa da condição geográfica, fundiária e urbana do terreno), além de

outros motivos sociais, familiares e escolares; o preconceito para com a Ocupação, que

acontece muito também por causa de outro resultado encontrado: a não inclusão da Rosa Leão

nos diagnósticos, projetos, currículos e atividades escolares.

Por isso, o objetivo desse Produto Técnico, é demonstrar a proximidade histórica,

geográfica e social entre o bairro Zilah Spósito, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga e a Ocupação

Rosa Leão em formato de um livro, constituindo-se, portanto, em um material didático que

poderá ser utilizado pelos profissionais, estudantes, responsáveis e comunidade escolar da

E.M. Prof. Daniel Alvarenga para que estes possam conhecer melhor o território local.

170

FIGURA 3 – Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga

FONTE: ACE Empreendimentos, 2012.

FIGURA 4 – Ocupação Rosa Leão

FONTE: Pedro Campolina, 22/11/2017.

A Ocupação Rosa Leão tem um passado e um presente de luta por moradia e demais

direitos, bem como de ação coletiva que fazem lembrar o que já vivenciaram o bairro e a

escola instalados ao seu lado. Este reconhecimento é muito importante para que a população

local perceba-se como semelhante, e ao invés de divisão e preconceito, de forma unida,

identifique e enfrente os reais poderes e interesses que foram e lhe são contrários e comuns.

Diante disso, é necessário que a E.M. Prof. Daniel Alvarenga e os seus sujeitos

conheçam a Ocupação Rosa Leão, incluindo-a em seus diagnósticos, projetos, currículos e

atividades, contribuindo assim, para a quebra de muros e a união entre trajetórias e realidades

que são comuns e que podem vir a ser melhores com a atuação transformadora da escola.

Dentro desta perspectiva, esse livro apresenta um pouco da história da Ocupação, bem

como sua formação geográfica e social. Por isso, ele está estruturado nestas quatro partes: 1 -

171

A questão da moradia urbana, 2 - A Ocupação Rosa Leão, 3 - O território local e 4 -

Educação.

5.1 A QUESTÃO DA MORADIA URBANA

Este item contextualiza para o leitor o histórico problema da moradia no Brasil, com

raízes na mercantilização da terra e imóveis, no processo de industrialização e urbanização, e

ausência de política habitacional eficiente para o atendimento da população mais necessitada.

Estes são fatores que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento de ocupações

urbanas em todo o país.

5.1.1 História e presente

Entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX, entre o fim do

Império e o início da República, iniciou-se no Brasil, o processo de industrialização e

urbanização nas principais cidades.

Negros libertos, brancos e mestiços, de diferentes localidades do Brasil e do mundo,

querendo sair da exploração, desemprego, fome e miséria, foram para as cidades como o Rio

de Janeiro e São Paulo, com o sonho de encontrar trabalho nas fábricas, obras, comércios e

ruas destas cidades, e assim melhorar de vida.

Todavia, nas cidades, esta população enfrentou baixos salários, trabalhos informais e

temporários, e o próprio desemprego, junto ao alto custo e precarização da vida, por exemplo,

da moradia.

Sem opção, milhares de trabalhadores, empregados e desempregados, viram uma

única saída: morar em cortiços, e depois, nos morros, vilas, conjuntos e lugares mais distantes

das cidades.

172

FIGURA 5 – Morro da Providência, Rio de Janeiro/RJ

FONTE: Agência O Globo, 21/05/1966.

FIGURA 6 – Favela de Paraisópolis, São Paulo/SP

FONTE: Tuca Vieira, 2014.

Foi assim no século XX e tem sido assim até hoje (mas isto pode mudar!)! Os mais

ricos compraram e supervalorizaram o preço dos imóveis mais centrais das cidades, e os

pobres, com trabalho e renda precarizados, sem condições de comprar, construir ou alugar,

viveram e têm vivido em áreas muito longe, sem infraestrutura e serviços básicos.

173

QUADRO 4 - Cortiço

Cortiço: O Cortiço Cabeça de Porco foi um dos primeiros e mais conhecidos cortiços do Rio

de Janeiro. Na segunda metade do século XIX, com o crescimento das principais cidades,

proprietários de antigos casarões aproveitaram do alto custo e falta de moradia e dividiram as

suas propriedades em dezenas de cômodos a serem alugados aos trabalhadores e famílias que

não tinham condição de construir, comprar ou alugar uma casa digna para morar.

Pela disponibilização de cômodos muito pequenos, construídos ou divididos com materiais

precários, sem acesso a circulação de ar, luz e limpeza; compartilhamento de banheiros e

outros espaços por muitas pessoas e alta concentração das mesmas, os cortiços tornaram-se

locais insalubres, foco de muitas doenças.

Por isso, com o discurso de acabar com as doenças, mas também com outras intenções, como

afastar os pobres, modernizar e valorizar, inclusive financeiramente, o centro das cidades, as

Prefeituras proibiram os novos e destruíram os cortiços existentes. Foi assim com o Cortiço

Cabeça de Porco! Sem preocupar, dar tempo e assistência às famílias, na noite do dia 16 de

janeiro de 1893, a Polícia e outros órgãos da cidade destruíram este conhecido cortiço.

QUADRO 5 – Favela

Favela: Sem lugar para ir, os moradores do demolido Cabeça de Porco resolveram ocupar o

morro que ficava em cima do cortiço. O atual Morro da Providência. Era o fim dos cortiços e

o início das favelas no Rio e no Brasil.

Assim como os cortiços, as favelas tornaram-se uma das poucas saídas pela população de

desempregados, subempregados e empregados de baixa remuneração, para a instalação das

suas moradias. Situação que acontece até hoje.

Por sua localização em área de risco ou longe das oportunidades da cidade, irregularidade das

ruas, tamanho e forma dos lotes, ausência ou precariedade de infraestrutura e serviços

básicos, as favelas, assim como outras formas de moradia são consideradas aglomerações

subnormais, áreas de moradias precárias.

174

FIGURA 7 – Cortiço, RJ/RJ FIGURA 8 – Morro da Providência, RJ/RJ

FONTE: Augusto Malta, 27/03/1906. FONTE: Agência O Globo, 21/05/1966.

QUADRO 6 - A terra como mercadoria e especulação imobiliária: a raiz do problema da moradia

A especulação imobiliária tem a sua origem na atribuição de valor financeiro à terra e à

moradia, ao tratamento deste bem apenas como mercadoria, e não como direito de todo ser

humano.

No Brasil, a mercantilização e a especulação da terra e moradia surgiram no processo de

abolição da escravidão e início da urbanização e industrialização das cidades. No período da

escravidão, o escravo era a principal mercadoria, fonte de trocas, investimento e lucro. Com

o processo de abolição, o Império Brasileiro, a fim, inclusive, de impossibilitar o acesso dos

ex-escravos a terra, criou em 1850, a Lei de Terras.

Esta lei instituiu que a terra no Brasil não mais seria concedida ou emprestada para uso, esta

seria somente adquirida por pagamento, o que impossibilitou o acesso de negros libertos,

brancos e mestiços pobres a um lugar para trabalhar ou instalar a sua moradia, pois não

tinham dinheiro para comprar.

A partir desta lei, o que antes eram os escravos, a terra e os imóveis passaram a ser a grande

fonte de investimento e lucro no país. Com o período de crescimento e urbanização das

principais cidades, os ricos começaram a comprar terras e imóveis nos centros, exigir,

articular e esperar reformas nos mesmos, inclusive a expulsão dos pobres destes locais, para

assim, ver aumentar drasticamente o valor destas terras e imóveis, para alugá-las e vendê-las

por muito mais.

A valorização financeira que repercutiu e continua a repercutir em toda a cidade, fez e faz

com que a terra, o imóvel e o aluguel tenham valores incompatíveis com o salário da maioria

175

dos trabalhadores, levando-os até hoje a procurar moradias longes, pequenas e inadequadas,

as únicas possíveis diante do seu salário não valorizado.

É contra essa mercantilização e especulação da terra e moradia que os movimentos sociais e

anticapitalistas, assim como as ocupações urbanas lutam. Segundo eles, a terra e a moradia,

assim como o trabalho e outros, não devem ser mercadoria, que apenas os ricos têm acesso, e

sim um direito básico que todos devem ter.

Para saber mais sobre a especulação imobiliária, acesse os vídeos:

- https://www.youtube.com/watch?v=NXWJxuzTNG4

- https://www.youtube.com/watch?v=tLMKnlqX-og

FIGURA 9 - Escravos na colheita de café, Vale do Paraíba, Rio de Janeiro

FONTE: Marc Ferrez, 1882.

FIGURA 10 - Avenida Central, Rio de Janeiro/RJ

FONTE: Marc Ferrez, 1907.

176

QUADRO 7 - Dados sobre a moradia no Brasil

Deficit habitacional: Segundo a FJP (2015), 6,068 milhões de famílias no Brasil necessitam

de uma nova moradia, o que equivale a 9% das residências improvisadas e permanentes

existentes no país. A necessidade advém destas famílias morarem em domicílios rústicos ou

improvisados, em um cômodo ou mais com 1 a 9 famílias; ou gastando mais de 30% da

renda familiar com aluguel.

Das 6,068 milhões de famílias que necessitam de uma nova moradia, 87,6% delas vivem em

áreas urbanas, e 83,9% vivem com até 3 salários mínimos.

Moradias urbanas inadequadas: Também de acordo com a FJP (2015), 15,297 milhões de

domicílios urbanos estão inadequados e merecem políticas de melhoramento. A grande

maioria deles são inadequados por carência de ao menos um serviço de infraestrutura, como

energia, água, esgoto e coleta de lixo. As outras inadequações apuradas pela pesquisa são

inadequação fundiária (imóveis em terrenos não legalizados), adensamento excessivo em

domicílios próprios (mais de três pessoas por dormitório), cobertura inadequada (telhados de

palha, madeira, zinco, etc.) e ausência de banheiro. De acordo com a Fundação, não existem

dados possíveis para apurar a inadequação de moradias rurais.

Soluções apontadas: Para a solução do problema de deficit e inadequação de moradias no

Brasil, dever fundamental do Poder Público, segundo a Constituição Federal, Estatuto da

Cidade e outras legislações nacionais, são previstas a redistribuição de terrenos e imóveis não

utilizados para a população necessitada (e outras medidas contra a especulação imobiliária);

a regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas pela população de baixa renda; a

construção de moradias populares; programas de incentivo ao melhoramento de moradias,

etc.

Medidas ainda não desenvolvidas em quantidade e qualidade pelo Estado Brasileiro, haja

vista a falta de vontade política ou pressão das grandes construtoras e outros poderes

financeiros para o desenvolvimento de políticas e programas habitacionais e urbanos que os

atendem, mas não resolvem, pelo contrário, pioram o índice de deficit, e sobretudo, a

inadequação de moradias no Brasil.

177

GRÁFICO 35 - Dados sobre a moradia no Brasil

FONTE: Fundação João Pinheiro, 2015.

GRÁFICO 36 – Moradias inadequadas no Brasil

FONTE: Fundação João Pinheiro, 2015.

5.1.2 O fenômeno das ocupações urbanas

É por essa situação, da baixa remuneração do trabalho, e da supervalorização do preço

dos terrenos, imóveis e alugueis, que há a falta de acesso a moradia digna por milhões de

178

brasileiros, que desde a segunda metade do século XX, e sobretudo, nos últimos anos, para

além dos cortiços, favelas e conjuntos, têm surgido ocupações urbanas em todo o país.

As ocupações são grupos de pessoas, apoiados por movimentos sociais de luta por

direitos, como a moradia, que ocupam organizadamente terrenos ou prédios vazios ou

subutilizados das cidades, a fim de solucionar os problemas que vivenciam: o alto custo, a

precariedade e a falta de moradia. O que caracteriza a ocupação como uma forma de protestar

contra a mercantilização e especulação dos terrenos, imóveis e alugueis, e reivindicar direitos

básicos de todos os indivíduos, por exemplo, ter uma casa decente para morar, um bairro e

sociedade mais igual, justo e digno para viver.

QUADRO 8 - Ocupação

Ocupação: A Ocupação Brasília Teimosa é considerada uma das primeiras ocupações

urbanas do Brasil. Esta surgiu em 1947, quando pescadores da Zona Sul do Recife, sem

acesso à moradia, construíram suas casas na região.

O seu primeiro nome, Brasília, foi escolhido pelos pescadores para evidenciar o contraste

entre o projeto de construção de uma moderna e dispendiosa capital para o país – Brasília - e

a necessidade deles e de muitos brasileiros em ter um terreno para construir as suas casas e

viverem de forma digna.

O adjetivo Teimosa, do nome da ocupação, faz referência à insistência dos pescadores em

reerguer as suas casas a cada destruição causada pela Polícia – ação que refletia a

desaprovação do Poder Público à ocupação -, demonstrando assim a sua resistência, união e

luta por moradia.

A luta organizada por acesso à moradia, o apoio de movimentos sociais, associações

profissionais e outros grupos, e a elaboração de um próprio plano de urbanização são

algumas características da Ocupação Brasília Teimosa que caracterizam também muitas

ocupações urbanas do país.

Hoje, assim como outras antigas ocupações, Brasília Teimosa é um bairro regularizado. Por

sua boa localização, infraestrutura e serviços urbanos, conquistados através da luta dos

antigos moradores, Brasília Teimosa é chamada de Brasília Formosa. Infelizmente, alvo de

interesse e especulação de construtoras e imobiliárias.

179

Foto 9 – Brasília Teimosa

Fonte: Prefeitura de Recife, 2004.

QUADRO 9 - O que é direito e dever do Estado, dos proprietários e de todos os brasileiros

Direito: É direito básico de todo o brasileiro, para garantir a sua vida e dignidade, ter uma

casa para morar e viver.

Dever: É dever do Estado combater a posse de lotes e imóveis sem uso, e construir, financiar

ou incentivar a doação, transferência ou aquisição de casas pela população de mais baixa

renda.

Dever: É dever do proprietário dar uso individual ou coletivo à sua propriedade, não manter

esta um espaço vazio para o objetivo de especulação.

Direito: É direito dos que se dizem proprietários ter de volta a propriedade mediante ação e

decisão da Justiça.

Dever: É dever dos reivindicantes da propriedade ocupada, comprovar a posse legal, o

pagamento de impostos e o uso que fizeram e têm feito da propriedade.

Direito: É direito de todos os brasileiros reivindicar por moradia, por exemplo, ocupando e

mantendo-se em terra que não está cumprindo a sua função social.

Dever: é dever do Estado fazer a reintegração de posse apenas de acordo com a lei. Devendo

a reintegração, portanto, ser comunicada anteriormente, e realizada de forma organizada e

sem violência; mantendo a segurança e dignidade dos que a ocuparam.

Baseado nas leis: Declaração Universal dos Direitos Humanos, Constituição Federal do

Brasil, Estatuto da Cidade, Comentário Geral N° 7 do Comitê de Direitos Econômicos,

Sociais e Culturais; Princípios Básicos e Orientações para Remoções e Despejos Causados

por Projetos de Desenvolvimento.

180

QUADRO 10 - O crescimento das ocupações urbanas

Tendo em vista a continuidade do crescimento das médias e grandes cidades, a diminuição

do número de terras livres e destinadas para a construção de moradias, a conivência do

Estado com a especulação imobiliária, o aumento do deficit habitacional, e a organização da

sociedade em luta por moradia e contra a sua especulação, o número e tamanho das

ocupações têm crescido nas regiões metropolitanas do Brasil, inclusive em Belo Horizonte.

FIGURA 11 - Mapa de ocupações por movimentos de moradia na malha urbana da RMBH

Ocupações urbanas na RMBH (2008 a 2014):

22 ocupações, 10.750 famílias, 55.000

pessoas. Fonte: LIBÂNIO E NASCIMENTO

(2016).

FONTE: Comissão Pastoral da Terra, 04/08/2016.

QUADRO 11 - Invasão x Ocupação

Infelizmente, por causa dos seus interesses, os governos, as mídias e as grandes empresas, a

cada nova ocupação ou reivindicação por moradia tentam desfazer da luta dos movimentos

sociais e dos moradores das ocupações.

O espaço de moradia é chamado de invasão e os seus moradores de invasores. A população,

desinformada, sem vontade de conhecer mais sobre o assunto, repercute esta acusação. Por

isso, infelizmente, ouve-se no entorno das ocupações, nas ruas e escolas, pessoas chamando

de invasores os residentes de uma invasão. Mas invasão é o nome correto? Ou é ocupação?

Ocupação: quando cidadãos, de forma organizada e pacífica, ocupam terrenos ou prédios

vazios ou subutilizados que não estão cumprindo a sua função social, para construir as suas

moradias e assim reivindicar e garantir este direito humano, básico e social.

Invasão: quando cidadãos instalam-se em terras e imóveis que estão tendo algum uso social,

181

como moradia, chegando a retirar de lá as pessoas que vivem ou trabalham no local.

5.2 OCUPAÇÃO ROSA LEÃO

Muitas ocupações urbanas são organizadas de forma planejada e pacífica, com o

objetivo de suprir a necessidade imediata de moradia de muitas famílias trabalhadoras, e

exigir dos governos e sociedade a atenção para o cumprimento deste direito humano, social e

básico. Contudo, a formação, trajetória e reivindicações atuais das ocupações não são

divulgadas e conhecidas de forma abrangente pelas pessoas, dentre elas a população

circundante de uma ocupação. Por isso, o objetivo deste item é apresentar para a sua

população local, a história, lutas e conquistas da Ocupação Rosa Leão conhecidas através da

pesquisa bibliográfica e de campo dos autores deste trabalho.

5.2.1 Início

Em maio de 2013, em uma área livre, há décadas não utilizada, em parte da região

conhecida como Granja Werneck, localizada entre Belo Horizonte e Santa Luzia, surgiu a

Ocupação Rosa Leão. Ocupada de forma espontânea por grande maioria de famílias

integrantes do deficit habitacional, que gastavam excessivamente com os alugueis, moravam

com outras famílias, em cômodos ou em habitações precárias.

Nos dois meses seguintes, durante as Jornadas de Junho, quando manifestações de rua

ocorreram nas principais cidades do país, em protesto contra os grandes problemas sociais,

somaram-se à Rosa Leão as Ocupações Esperança e Vitória, formando-se assim as Ocupações

da Izidora, uma das maiores ocupações urbanas do Brasil, considerada um dos 7 maiores

conflitos sociofundiários do mundo19

.

Assim que formadas, os que se apresentaram como proprietários e donos de projeto

para a região, exemplo PBH, Granja Werneck e Direcional Engenharia, reivindicaram na

Justiça a reintegração de posse das terras. E grande parte da mídia, Prefeitura e Polícia

Militar, iniciaram as acusações e violações de direitos contra os ocupantes, como negativa de

acesso aos serviços públicos essenciais, violência policial, e ameaças ilegais de despejo.

Fatores que aumentaram a vulnerabilidade social das famílias ocupantes que vivenciavam

também o preconceito da população local.

19

Tribunal Internacional dos Despejos (2016): www.tribunal-evictions.org

182

Porém, em paralelo a isso, formou-se na sociedade a Rede #ResisteIzidora, composta

por diferentes movimentos sociais, grupos de pesquisa e outras associações e pessoas que

foram muito importantes na divulgação que deram, nas ruas e redes, à causa dos moradores da

Izidora20

. E também na denúncia de violações do Estado e na defesa judicial de seus direitos,

quando estas corriam sério risco de despejo.

QUADRO 12 - Mulheres: Você sabe quem foi?

Assim como a região, por exemplo, Zilah Spósito, Helena Greco, Jaqueline e Juliana, as

ocupações de 2013 também se identificam pelo nome de mulheres: Izidora e Rosa Leão.

Estes bairros e ocupações foram e ainda são construídos até hoje pela liderança, mãos e força

das mulheres que não se envergonharam e nem se envergonham de manifestar e construir os

seus direitos.

Izidora: foi uma entre centenas de mulheres escravizadas nas fazendas e atividades que

existiam na atual regional Norte de BH. Depois de alforriada, Izidora constituiu próximo ao

ribeirão que depois recebeu o seu nome, os seus descendentes.

Rosa Leão: assim como as Coordenadoras e moradoras das atuais ocupações agem, Rosa

Leão foi uma líder comunitária que lutou junto às demais lideranças e moradores pela

urbanização (ex: água, luz e asfalto) do antigo assentamento, hoje bairro Zilah Spósito.

Coordenadoras da Ocupação: atualmente, a Coordenação da Ocupação Rosa Leão é

composta por 13 moradores, a grande maioria delas mulheres (adolescentes, adultas e

idosas).

A Coordenação representa a Ocupação em sua luta por direitos, e diagnostica, acompanha e

intervém sob as demandas das famílias e moradores em geral. Este coletivo é reconhecido

pelos moradores em Assembleia.

20

BIZZOTTO (2015); FREITAS (2015); NASCIMENTO, LIBÂNIO (2016).

183

FIGURA 12– Grafite na Ocupação Rosa Leão

FONTE: Frei Gilvander Moreira/ocupacaorosaleao.blogspot.com.br, 20/08/2013.

5.2.2 Trajetória

Entre a formação e o momento atual da Ocupação Rosa Leão, já se passaram mais de

5 anos. Neste período, a Ocupação cresceu e se consolidou. Sua trajetória foi e tem sido muito

marcada por palavras e ações como resistência(s), luta(s), conquista(s), solidariedade,

cidadania e união comunitária.

Uma dura, mas exemplar história que repercute muito além de Belo Horizonte,

demonstrando, mais uma vez, que é possível a classe pobre e trabalhadora se unir para

reivindicar os seus direitos, contestar grandes interesses e privilégios, buscar e construir uma

sociedade mais justa e igualitária para todos, e não para uma minoria.

184

FIGURA 13 – Início da Ocupação Rosa Leão

FONTE: Frei Gilvander Moreira/ocupacaorosaleao.blogspot.com.br,20/08/2013.

FIGURA 14 - Passeata até o Palácio da Justiça, Belo Horizonte/MG

FONTE: Paulo Filgueiras, Estado de Minas, 28/09/2016.

185

FIGURA 15 - Faixa na Ocupação Rosa Leão

FONTE: Frei Gilvander Moreira/gilvander.org.br,16/10/2017.

Neste tempo, mais de 5 anos, destacam-se 3 percursos que foram e têm sido

desenvolvidos pela Ocupação-comunidade Rosa Leão.

A. Reivindicações: desde 2013, os moradores da Rosa Leão já participaram de

inúmeras assembleias de moradores, manifestações de rua, acampamentos em órgãos

públicos, audiências na Câmara Municipal e Assembleia Legislativa, e mesas de negociação.

FIGURA 16 – Marcha das Ocupações da Izidora até o TJMG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais)

FONTE: Frei Gilvander Moreira/ocupacaorosaleao.blogspot.com.br,24/04/2014.

Nestes diferentes tipos de reivindicações, os moradores da Ocupação, junto aos

movimentos de apoio, divulgaram as suas justas causas para a população; denunciaram os

abusos da Polícia, Governos e Justiça; tiveram apoios; resistiram as ameaças de despejo;

186

lutaram para conquistar acesso aos serviços públicos essenciais. Fator que demonstrou e

fortaleceu a união e cidadania de sua população.

B. Desenvolvimento de espaços e projetos comunitários: desde a sua formação, os

moradores e Coordenação da Ocupação, junto aos movimentos de apoio desenvolveram, têm

desenvolvido e recebido importantes espaços, projetos e ações comunitárias.

São espaços, projetos e ações relacionadas a grandes temas como educação, saúde,

meio ambiente, capacitação técnica e profissional, lazer, etc. Veja abaixo, exemplos de alguns

deles.

FIGURA 17 – Placa na Ocupação Rosa Leão

FONTE: Frei Gilvander Moreira/freigilvander.blogspot.com.br,13/10/2014.

- Centro Comunitário: localizado no centro da Ocupação, o espaço já recebeu curso

de alfabetização de jovens e adultos, atividades de leitura e literatura, formação de lideranças,

oficinas de capacitação técnica e profissional, etc.

- Rede FALE: É uma rede nacional de evangélicos que, na Ocupação Rosa Leão, já

desenvolveu e desenvolve atividades de reforço escolar, orientação religiosa, lazer e

recreação, oficinas e palestras.

- Ocupa Mídia: projeto da ONG Internet Sem Fronteiras em parceria com os

movimentos sociais que têm o objetivo de instrumentalizar e capacitar os jovens da Ocupação

para que estes relatem a sua realidade e impressões.

- Diamantes da Rosa: incentivadas pela formação em corte e costura no Centro

Cultural Zilah Spósito, o Diamantes da Rosa é um negócio de moda e artesanato de algumas

187

moradoras da Rosa Leão que têm tido o apoio e capacitação dos movimentos, grupos e

coordenação da Ocupação.

- Agroecologia na Periferia: é um coletivo que trabalha nas Ocupações Izidora com o

objetivo de divulgar, apoiar, implantar e trocar experiências e saberes para o desenvolvimento

de uma agricultura urbana ambientalmente sustentável, economicamente eficiente e

socialmente justa.

C. Desenvolvimento cultural: desde o seu início, a Coordenação da Ocupação Rosa

Leão tem identificado e incentivado a apresentação e capacitação de músicos, poetas, artesãos

e demais artistas moradores. Além disso, tem construído um calendário cultural anual, em que

o Carnaval, Aniversário da Ocupação, Festa Junina, Dia das Crianças e Natal são as principais

atividades. Realizadas sempre de acordo com a história, cultura, artistas e lutas deste

território.

QUADRO 13 - Alguns dados da Ocupação Rosa Leão

Surgimento: maio de 2013

Localização: Regional Norte de Belo Horizonte (Vizinha ao bairro Zilah Spósito)

Extensão: 205.127m²

Movimentos sociais envolvidos: Brigadas Populares (BP), Comissão Pastoral da Terra

(CPT) e Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB)

Famílias: Mais de 1500 famílias, cerca de 5000 pessoas

Alguns grupos de pesquisa, coletivos, movimentos e outras associações de apoio (2013-

2018): Coletivo Margarida Alves de Advocacia Popular, PRAXIS (UFMG), Indisciplinar

(UFMG), Articulando Redes, Fortalecendo Comunidades (PUC Minas), Rede FALE,

Coletivo Agroecologia na Periferia, Cidade e Alteridade, Polos de Cidadania, etc.

Para saber mais:

- Visite a Ocupação Rosa Leão e converse com as Coordenadoras

- Acesse e se informe no blog e nas páginas:

www.ocupacaorosaleao.blogspot.com.br

https://www.facebook.com/resisteizidora/?ref=br_rs

https://www.facebook.com/ROSALEAODELUTA/?ref=br_rs

188

5.2.3 Momento atual

Ao longo destes 5 anos, a Ocupação Rosa Leão tem resistido e conquistado algumas

situações que lhes são devidas por direito, mesmo que para isso ela esteja enfrentando poderes

dominantes na sociedade, como governos, empresários e mídia.

Neste período a Ocupação protestou nas ruas e defendeu-se na justiça contra as

ameaças de despejo e reintegração de posse, construiu uma rede de apoios e demonstrou para

a sociedade a sua causa, ergueu e aprimorou as suas casas e território, e desenvolveu laços de

união e solidariedade.

FIGURA 18 – Desocupação da PBH nas Jornadas de Junho

FONTE: 31/07/2013 (BITTENCOURT, 2016).

FIGURA 19 – Manifestação para reconhecimento da Izidora como AEIS

FONTE: Frei Gilvander Moreira, 19/03/2018.

Contudo, a Rosa Leão, hoje já considerada como comunidade ou bairro por seus

moradores, movimentos e grupos de apoio, ainda luta frente à Justiça e Prefeitura por alguns

direitos, entre eles:

cancelamento ou justiça nos processos judiciais ainda abertos;

189

reconhecimento do território como AEIS (Área Especial de Interesse Social) pela

PBH, o que facilitaria a realização das demais reivindicações abaixo;

urbanização: instalação dos serviços de energia, água, esgoto e coleta de lixo na

Ocupação;

regularização fundiária: reconhecimento da Ocupação como bairro, e entrega de

documento de posse da casa e terreno aos seus moradores;

acesso com igualdade de condições e qualidade aos serviços essenciais como

escola, saúde e assistência social.

Reivindicações estas que atualmente estão sendo apresentadas e manifestadas nas ruas,

redes, órgãos públicos e Prefeitura pela Ocupação, movimentos e grupos de apoio.

5.3 O TERRITÓRIO LOCAL

A Ocupação Rosa Leão vive atualmente situações de luta por direitos, como a

Regional Norte, o bairro Zilah Spósito e a E.M. Prof. Daniel Alvarenga também viveram no

passado. O objetivo deste item, portanto, é demonstrar as proximidades históricas, geográficas

e sociais destes espaços e população e, consequentemente, a importância do reconhecimento

destas semelhanças e união de sua população em prol de transformações para a região.

5.3.1 Aproximações entre Regional, Bairro, Escola e Ocupação

A Regional Norte

Por sua distância da área central e planejada da cidade, e a existência de muitas áreas

vazias, desde o início do século XX até os dias atuais, esta Regional foi e é foco de

reivindicação e construção pública, privada ou própria de moradias para ou pela população

mais necessitada. Muitas delas, moradias inadequadas que na maioria das vezes, não foram e

nem estão sendo acompanhadas por investimentos na infraestrutura e serviços básicos, como

pavimentação, saneamento básico, transporte, posto de saúde e escola.

190

FIGURA 20 – Mapa da Regional Norte de Belo Horizonte

FONTE: www.diretorioderuas.com, 20/04/2018.

Tal situação existiu, e ainda existe em várias vilas, bairros, conjuntos, favelas e

ocupações na região. História que não foi diferente no bairro Zilah Spósito e nem está sendo

diferente na Ocupação Rosa Leão. Fator que fez e faz com que a região sustente até hoje o

triste título de um dos menores índices de qualidade de vida e maior índice de vulnerabilidade

social de Belo Horizonte.

O Bairro Zilah Spósito

Para quem não sabe, a história do bairro Zilah é muito parecida com a história que a

Ocupação Rosa Leão está construindo hoje. O bairro Zilah Spósito tem a sua origem em

1991, quando em um terreno do bairro Jaqueline, a URBEL (Companhia Urbanizadora de

Belo Horizonte) assentou no local famílias sem teto, de baixa renda e que estavam sendo

removidas de áreas de risco ou obras públicas.

De 1991 até 1999, o assentamento do Zilah era composto em maioria de casas

embriões (construções improvisadas de um ou mais cômodo até a construção das casas

oficiais) e barracos de lona e madeirite pela população que chegava a procura de um terreno e

moradia. Por isso, o assentamento era chamado pelos vizinhos de Capa Preta.

191

FIGURA 21 – Localização do Bairro Zilah Spósito

FONTE: www.diretorioderuas.com, 20/04/2018.

Mesmo com a organização e reivindicação de seus moradores e lideranças junto ao

poder público, foram quase dez anos de assentamento em casas improvisadas, sem acesso

regular à água, energia, coleta de lixo, pavimentação e outros serviços. Foi somente em 1999

que parte de sua população conquistou suas casas, recebeu o título de posse do terreno ou

moradia e assistiu o reconhecimento do Zilah como bairro regularizado.

A partir daí, as lideranças comunitárias, algumas delas organizadas na Associação de

Moradores e/ou integrantes do movimento social MLNM (Movimento de Luta Nacional por

Moradia), como Rosa Leão, focaram ainda mais na reivindicação pela urbanização do bairro,

ou seja, pavimentação, fornecimento de água, energia e outros serviços, como transporte e

escola.

A Escola Municipal Professor Daniel Alvarenga

Neste contexto de reinvindicação comunitária por urbanização e serviços públicos

para o bairro, a própria população construiu o seu centro cultural, creche, jornal e festas,

enquanto a PBH, mesmo pressionada, não implantava a infraestrutura e serviços

reivindicados. E foi assim com a escola da região. Entre 1999 a 2003, a atual E.M. Prof.

Daniel Alvarenga funcionou junto a Igreja local Santa Beatriz.

Neste período, os primeiros estudantes estudaram apertados em 2 salas improvisadas,

ou debaixo de árvores, sentados em caixotes, convivendo com a poeira, o barro e outras ações

do tempo. Foi só no ano seguinte que a PBH construiu banheiros e salas de aula para as

crianças que estudavam na Igreja.

192

Em 2003, depois de 5 anos da exigência de sua construção em reunião de Orçamento

Participativo com a Prefeitura, o prédio da escola, localizado na Rua Coquilho, nº 10,

Jaqueline foi inaugurado.

De 1999 até os dias atuais, a E.M. Prof. Daniel Alvarenga construiu e tem construído a

sua história e identidade. Ao longo destes quase 20 anos, a Daniel Alvarenga já enfrentou

problemas como violência e distanciamento entre comunidade e escola, passou por

intervenção, recebeu reformas, implantou programas, realizou interessantes projetos, ganhou

prêmios, etc. Neste período, também viu crescer o bairro e região atendida, assistiu e

participou das transformações da cidade e do país. E neste novo tempo continuará a construir

e reconstruir a sua história.

A Ocupação Rosa Leão e o território local

Os bairros da Regional, o bairro Zilah e a E.M. Prof. Daniel Alvarenga, como pode se

perceber, surgiram por necessidade de habitação e educação da população pobre e

trabalhadora da cidade ou que vieram de outros locais do Estado e país.

Estas pessoas tiveram que se deslocar para os acampamentos, organizar e reivindicar

os seus direitos, e vencer preconceitos, para ter uma casa, bairro e serviços públicos para lhes

atender. E assim poder ver os seus familiares e novos moradores tendo o acesso a uma vida,

bairro e cidade menos injusta e mais digna para viver.

História que atualmente se repete com a Rosa Leão, que antes era um território que se

encontrava vazio na região e agora serve de moradia para a sua nova população, também

pobre, trabalhadora, explorada e necessitada como a de antes. E que nos dias de hoje, com os

seus atuais movimentos sociais e lideranças, luta por seus direitos, como regularização,

urbanização e escola, antes exigidos e conquistados pelo bairro Zilah Spósito.

FIGURA 22 – Localização da Ocupação Rosa Leão

FONTE: www.diretorioderuas.com, 20/04/2018.

193

Compreender estas aproximações entre a história e o presente deste território

(Regional, Zilah Spósito, E.M. Prof. Daniel Alvarenga e Ocupação Rosa Leão) é muito

importante para os antigos e novos moradores da região se reconhecerem como semelhantes,

identificarem quais poderes e setores tiveram e têm que enfrentar ou reivindicar

continuamente, e qual sociedade e região querem e devem construir. O que contribui também

para o combate às discriminações, preconceitos e divisão entre a população desta região que,

portadoras de semelhante trajetória, não devem se dividir, favorecendo aos maiores poderes e

interesses, e sim, se unir em prol dos direitos seus e do próximo, que consequentemente

melhorará a vida de todos na região.

QUADRO 14 - Quem foi Zilah Spósito e Daniel Alvarenga?

Você já ouviu falar sobre quem foi Daniel Alvarenga e Zilah Spósito? Pessoas que deram

nome a escola e o bairro em que você mora e/ou estuda.

Zilah Spósito: nasceu em 22 de abril de 1928, em Bocaiúva, Minas Gerais. Morou em Belo

Horizonte, onde ajudou a construir o movimento social Ação Católica, que protestou contra a

ditadura. Desde 1960 preocupava-se com a situação das crianças e moradores de vilas e

bairros carentes.

Foi ela, com a ajuda de outras pessoas, quem reivindicou parte da área do bairro Jaqueline,

atual Zilah Spósito, para servir de moradia para as famílias removidas da Vila Vilarinho e

outras famílias sem teto, moradoras de áreas de risco ou em locais de obras públicas.

Daniel Alvarenga: nasceu em 4 de outubro de 1944, em Perdões, Minas Gerais. Estudou

Letras na PUC/MG e foi professor na UFMG. Preocupado com a educação, dedicou a sua

carreira para a capacitação de professores e alfabetização de crianças e adultos carentes.

Realizou e foi reconhecido por seu trabalho em todo o Brasil. Inspirou programas e

professores de alfabetização, e também escola e biblioteca que o homenagearam com o seu

nome.

5.3.2 Mapeamento da região

Sabemos que tanto a Regional Norte, como o território mais próximo da E.M. Prof.

Daniel Alvarenga têm muito o que se desenvolver, por exemplo, no fornecimento de mais

infraestrutura e serviços para a população. Contudo, conhecer e utilizar os bens,

194

manifestações e serviços já instalados, as características e potencialidades do território é

muito importante.

Uma maneira de fazer este reconhecimento é conversar com as pessoas e ir para

campo fazer uma pesquisa, para construir ou complementar um mapeamento da região.

Chame a sua escola e grupo de amigos, reconheça e complemente o mapa abaixo.

FIGURA 23 – Mapeamento da região

FONTE: Pedro Campolina, 20/04/2018.

Faltou alguma associação, campo e time de futebol, bloco de carnaval, feirinha,

parque ou outro espaço e manifestação? Complemente o mapa com as suas informações.

195

5.4 EDUCAÇÃO

Todo brasileiro, independente de sua situação de moradia, tem o direito de matricular,

permanecer e estudar com igualdade de condições nas escolas públicas do país. Entretanto, o

que se averiguou no estudo sobre a Ocupação Rosa Leão e outros documentos sobre as

ocupações urbanas da RMBH é que os seus moradores tiveram e têm enfrentado obstáculos

relacionados à matrícula, preconceito nas escolas e inclusão da sua realidade nos processos

educativos.

Com o intuito de divulgar esta situação e provocar intervenções para a garantia de

direitos educacionais à comunidade, este último tópico demonstra os resultados da pesquisa,

os parâmetros da educação nacional e as propostas de temas e atividades sobre a Ocupação.

5.4.1 Direito à educação

A história dos bairros vizinhos, Zilah Spósito, Ocupação Rosa Leão e E.M. Prof.

Daniel Alvarenga é uma história de reivindicação por direitos, dentre eles, o direito à

educação.

No período de assentamento até a regularização, a comunidade do Zilah Spósito

construiu por conta própria uma creche e uma escola, ao mesmo tempo em que reivindicou do

poder público, a construção imediata de uma Instituição que garantisse o acesso e a qualidade

da educação. Conquista esta obtida em 2003, com a entrega oficial da E.M. Prof. Daniel

Alvarenga.

A Ocupação Rosa Leão, desde 2013, quando se formou, também reivindicou o direito

fundamental à educação, o direito de fazer a matrícula das suas crianças e adolescentes nas

escolas da região. As reivindicações aconteceram na porta do CRAS, nas escolas, na Regional

Norte, nas ruas, etc.

Tais reivindicações foram necessárias, porque nos primeiros anos da Ocupação, os

governos, e vários diretores e professores não queriam matricular as crianças e adolescentes

da Rosa Leão. Eles não concordavam com a ocupação, não queriam que ela ficasse ali, tinham

preconceito, alegavam falta de estrutura, vagas e comprovante de endereço. Por isso, várias

crianças, adolescentes e famílias da Rosa Leão foram prejudicadas em seu direito à educação.

Ficaram meses e até anos sem conseguir fazer a sua matrícula, ou seja, sem estudar nas

escolas próximas da Ocupação.

196

Foi muito por causa das manifestações, reclamações ao Conselho Tutelar, Regional e

Justiça, e a consolidação da Ocupação no território após os seus primeiros anos, que a Rosa

Leão garantiu aos seus moradores a matrícula na E.M. Prof. Daniel Alvarenga e demais

escolas da região.

Atualmente, mesmo com alguns casos de dificuldade de matrícula, a principal

dificuldade dos moradores da Ocupação em relação à E.M. Prof. Daniel Alvarenga é verem

incluídos o seu território nos estudos, projetos, currículos e atividades da Instituição. Além da

vontade de serem respeitados, e não xingados, por seu local de moradia, infelizmente pouco

conhecido por parte significativa dos profissionais e estudantes.

Alguns dados da pesquisa de campo apresentada na dissertação revelam tais

dificuldades:

QUADRO 15 - Resultados da pesquisa

FONTE: Dados coletados e organizados pelo autor.

197

QUADRO 16 - Mais diversidade, inclusão e respeito nas escolas

É dever dos sujeitos da comunidade e escola cuidar e investir no respeito e bom

relacionamento entre os estudantes. Esta atitude é muito importante para a garantia da

igualdade e qualidade no acesso, permanência e processo educativo de todos.

Nenhuma forma de desrespeito deve ser realizada com um estudante ou grupo de estudantes

por causa de sua etnia, gênero, cor, religião, idade, aparência, deficiência física, local de

moradia, etc. Porém, tanto na E.M. Prof. Daniel Alvarenga como em outras escolas da

região, os moradores da Ocupação Rosa Leão, por causa da sua situação de moradia, já

vivenciaram ofensas e desrespeitos que marcaram, infelizmente, o seu estudo e vida. Alguns

casos, podendo ser classificados como discriminação ou outra ação passível de punição

segundo as leis.

Portanto, quando você observar situações de desrespeito para com algum estudante ou grupo

na escola, não participe! Pelo contrário, mostre aos agressores que a atitude deles está errada,

que isto não é uma brincadeira, e caso necessário, denuncie à escola ou a outro órgão

competente.

Discriminação ou preconceito: incentivar, propagandear ou agir para humilhar, proibir,

dificultar ou excluir a entrada e permanência de indivíduos ou grupos a serviços e espaços

por causa de sua cor, nacionalidade, religião ou outra diferença. Sujeito a punições como

multa, prestação de serviços comunitários ou reclusão de um a cinco anos. Lei 9.459, de 13

de maio de 1997.

Preconceito: comportamento relacionado ao desconhecimento, desrespeito e intolerância às

diferenças e liberdades dos indivíduos e sociedades. Não conhecer bem e, por isso, julgar

sem fundamento, indivíduos ou grupos.

Bullying: ações agressivas e repetitivas de um indivíduo ou grupo para com algum indivíduo

não concordante com as ações e com dificuldade de se defender. O bullying pode ser

enquadrado como ato ilícito de acordo com o Código Civil Brasileiro, e ao causar dano,

imputar reparação pelos autores ou responsáveis pelos mesmos21

.

Calúnia, injúria ou difamação: conhecidos como crimes contra a honra, com punições

previstas no Código Penal Brasileiro. A calúnia é acusar alguém publicamente de um crime

(sem provas). A injúria é dizer diretamente para a outra pessoa o que para ela pode ser

prejudicial. E a difamação é contar algo sobre uma pessoa que possa ofender a sua reputação.

21

OLIVEIRA LIMA, ARDIGÓ (2011).

198

QUADRO 17 - Para saber mais: direito à educação

Você sabia? A educação é um direito de todos os indivíduos, não importa a sua diferença de

cor, gênero, classe, moradia, etc. Todas as pessoas têm direito à educação. No Brasil, este

direito está garantido na Constituição Federal de 1998, na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (Lei nº 9394/96) e em outras legislações complementares a estas.

Em nosso país, ela é direito fundamental, o primeiro dos nossos direitos sociais. Inclusive é

um direito público subjetivo, ou seja, é um direito que concede a quem o tem, como uma

criança, adolescente ou responsável, o poder de exigir das autoridades competentes e justiça,

o imediato cumprimento do direito que lhe é devido, sob pena de responsabilização judicial.

Conheça os 4 princípios da Constituição Federal que orientam o direito à educação no nosso

país:

Igualdade de condições de acesso e permanência: não importa o local de moradia, etnia,

deficiência física ou outra situação, as crianças e adolescentes devem ter o mesmo

atendimento e condições para a matrícula e estudo na escola. A escola e o poder público

devem estar atentos aos obstáculos, por exemplo, o preconceito, que dificultam a

permanência e o processo educativo de um estudante ou grupo na Instituição.

Pluralismo de ideias e concepções pedagógicas: um governo, sociedade, comunidade ou

professores não devem impedir ou impor um modo de pensamento e trabalho sobre a

educação. Deve ser garantido à sociedade, comunidade e professores o diálogo, o respeito ao

livre pensamento e a opinião sobre a educação.

Gestão democrática do ensino público: a comunidade escolar deve ser convidada e

incluída para participar ativamente dos processos escolares, por exemplo, dos momentos de

estudo da realidade local, avaliações institucionais e desenvolvimento de projetos.

Qualidade na educação: o poder público deve garantir à sociedade um padrão mínimo de

qualidade na educação. Padrão este, muito relacionado com o investimento financeiro na

educação e escola, disponibilização de estrutura e materiais, apoio à formação e trabalho dos

profissionais.

FONTES:

CURY, Carlos Roberto Jamil; FERREIRA, Luiz Antônio Miguel. A judicialização da

educação. In: Revista CEJ; Ano XIII, n. 45. Brasília: abr./jun. 2009, p. 32-45. Disponível em:

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96.

199

5.4.2 Proposta de temas e atividades

De acordo com os especialistas em educação, é fundamental que a escola conheça e

insira a realidade local nos estudos, projetos, currículos e atividades escolares. O estudo a

partir e sobre a realidade vivida pelos estudantes possibilita uma aprendizagem mais

significativa e consciente, além do incentivo para o envolvimento do sujeito em prol da

transformação da realidade local e social.

Por isso, a E.M. Professor Daniel Alvarenga deve conhecer a realidade das

comunidades que atende, entre elas, a Ocupação Rosa Leão, território situado ao lado da

escola, que tem muitos estudantes e famílias matriculadas na Instituição.

O estudo da rica realidade da Rosa Leão, que apresenta uma diversidade de temas

importantes para serem apresentados nos projetos e atividades escolares, pode contribuir

muito para que os sujeitos da escola reconheçam a importância da luta por direitos como a

moradia, entendam o exemplo da organização, conquistas e ações desenvolvidas neste

território, diminuam e interfiram no preconceito, e incentivem a interpretação e transformação

do que precisa mudar em nossa realidade.

Veja algumas sugestões de temas ou atividades relacionadas às ocupações urbanas e a

Ocupação Rosa Leão que podem ser trabalhados no currículo e projetos integrados da escola

Daniel Alvarenga:

Estudo e uso deste material;

Rodas de conversa ou palestras com a Coordenação e movimentos sociais que apoiam

a Ocupação Rosa Leão;

Direitos, cidadania e legislações: direitos humanos, direito à cidade, direito à moradia,

direito à educação, etc.;

Bullying escolar e o bullying contra os moradores de ocupações - estudo e realização

de atividades que possibilitem a discussão sobre os motivos e as formas de evitar o

bullying convencional e o bullying aos moradores da Ocupação Rosa Leão;

As possibilidades de convivência entre moradias populares e preservação do meio

ambiente. Os estudos e ações já existentes e possíveis relacionadas à preservação da

Mata e Ribeirão do Isidoro;

Estudo sobre os movimentos sociais urbanos e de moradia em Belo Horizonte e no

Brasil;

Estudos sobre a questão da moradia e urbanização em Belo Horizonte (ontem e hoje);

200

Conhecimento, interpretação e trabalho com os índices de habitação, qualidade de vida

e vulnerabilidade social em Belo Horizonte;

Conhecimento e discussão sobre gêneros textuais que abordam a questão da moradia,

cidade e desigualdades;

Mapeamento, Exposição ou Feira Cultural sobre o tema;

Visita guiada à Ocupação Rosa Leão para conhecimento ou aprofundamento de

estudos;

Levantamento das condições de saúde dos moradores tendo em vista a falta de alguns

serviços básicos ou das atuais condições estruturais;

Levantamento das possibilidades de emprego e renda dos moradores da Ocupação

Rosa Leão e de parcerias com os moradores dos bairros vizinhos;

Mapeamento das manifestações culturais e dos artistas da comunidade Rosa Leão.

Mais sugestões de consulta e uso

Documentários:

DANDARA - enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito. Direção: Carlos

Pronzato. Belo Horizonte: La Mestiza Audiovisual, 2013. 1 vídeo digital (65 min.), online,

son., color. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=5fjza-hZ4B0> Acesso em:

06 abr. 2018.

ISIDORO – quando o discurso dissimula o cotidiano. Roteiro: Pacelli Teodoro. Direção: João

Freitas. Belo Horizonte: F Imagens, 2014. 1 vídeo digital HD (146 min.), online, son., color.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hbwr0aSwhFk>. Acesso em: 06 abr.

2018.

Vídeos:

A história da primeira favela do Brasil. 2018. Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=9fx9p-tvD0s&t=16s> Acesso em: 06 abr. 2018.

O que é favela? 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sxwTqGzCUyc>

Acesso em: 06 abr. 2018.

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Livros:

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https://www.dropbox.com/sh/e67jbpvtzxv3azi/AABpolBjwhfawXw8LbXG8Koaa?dl=0&pre

view=1960+-+Quarto+de+despejo+-+Carolina+Maria+de+Jesus..pdf> Acesso em: 06 abr.

2018.

AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. Disponível em:

<http://www.culturatura.com.br/obras/O%20Corti%C3%A7o.pdf> Acesso em: 06 abr. 2018.

Revistas:

BELO HORIZONTE. VIDAS. Educação de Jovens e Adultos – EJA Escola Municipal

Professor Daniel Alvarenga. ano 1. n.1. 2013

BELO HORIZONTE. VIDAS. Educação de Jovens e Adultos – EJA Escola Municipal

Professor Daniel Alvarenga. ano 2. n.2. 2015

Sites:

www.qedu.org.br

www.foradaescolanaopode.org.br

Para contato com os autores:

E-mail: [email protected]

Referências

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BIZZOTTO, Luciana Maciel. #Resiste Izidora: controvérsias do movimento de resistência

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textuais.pdf> Acesso em: 06 abr. 2018.

204

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados coletados por esta pesquisa permitiram um conhecimento amplo sobre o

acesso, a permanência e o processo educativo das crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão à educação formal. Um dos direitos fundamentais de todos os brasileiros, mas ainda

negligenciado, mal ou desigualmente ofertado a milhões de crianças e adolescentes deste país,

entre elas, os moradores de ocupações urbanas.

Na Ocupação Rosa Leão, o que se verificou quanto ao (não) acesso de suas crianças e

adolescentes à educação, especialmente nos primeiros anos de sua formação, foram à

negligência dos governantes, gestores e funcionários públicos que não queriam esta população

na cidade, na região, no entorno ou dentro da escola, ou que não solidarizaram-se e

cumpriram com o seu dever para com estes sujeitos, portadores de direitos, garantindo o seu

acesso à educação com igualdade de condições e qualidade quando logo necessitaram.

Na escola especialmente pesquisada, a E.M. Professor Daniel Alvarenga, por mais que

esta situação tenha tido menos resistência, sobretudo da direção, a Ocupação Rosa Leão

demorou a ver as suas crianças e adolescentes conquistarem a sua matrícula sem maiores

dificuldades. Foram alguns anos tristes assistindo à alegação de falta de estrutura e vagas para

recebê-los, fazendo manifestações e reclamações no CRAS, Conselho Tutelar, Regional Norte

e escola pelo direito fundamental e subjetivo à educação, passando por eventuais

procrastinações e desrespeitos até ver o acesso a este serviço avançar.

Mesmo após a garantia do acesso a esta Instituição, assim como em outras escolas da

região - pelo informado pelas Coordenadoras da Ocupação e estudantes da E.M. Prof. Daniel

Alvarenga que também já estudaram nas escolas vizinhas -, esta população não teve e nem

tem a garantia de outro preceito educacional: ver a sua realidade e necessidades sendo

respeitadas, conhecidas e trabalhadas no processo educativo escolar, o que lhes poderiam e

podem garantir maiores condições, igualdade e qualidade na inclusão, permanência na escola

e desenvolvimento educacional, como preconiza o próprio PPP da Instituição.

Pelo contrário, nestes anos que se passaram, e mesmo atualmente, as experiências que

esta população vivenciou e vivencia, talvez semelhante em outras escolas e comunidades que

se encontram próximas de ocupações, são experiências de desconhecimento, xingamento e

invisibilização pelos sujeitos escolares e comunidade, algumas podendo até ser classificadas

como discriminação, injúria ou bullying escolar. E ainda, por seu não reconhecimento teórico

e prático como parte da comunidade, não incluída até o presente momento, nos diagnósticos,

currículos, projetos e atividades escolares.

205

Este cenário, que deve ser transformado, infelizmente assemelha-se com algumas

características importantes da educação bancária, instrumento da opressão, teoria e ação

antidialógica da classe dominante, como descreveu Paulo Freire (1987).

Uma educação, em que os seus sujeitos, ainda não constroem como seu conteúdo

programático e temas geradores, numa aprendizagem dialógica e coletiva entre educadores e

educandos, a interpretação e ação sobre a realidade local. Pelo contrário, escolariza sem

conscientização e práxis, sem a leitura da palavra junto à leitura do mundo, e engajamento

para a sua transformação. E por isso, vê em seus espaços e momentos escolares, a lógica

reprodutora da opressão percebida na comunidade e sociedade, a opressão dos oprimidos para

com os mais oprimidos, a teoria e ação da divisão e não união.

A E.M. Prof. Daniel Alvarenga e as demais escolas públicas vizinhas de ocupações

urbanas que se consideram progressistas e/ou atentas aos preceitos da legislação educacional

brasileira, não devem esquecer-se da sua importante função social e política para a sociedade,

nem se contentar com uma educação para o conhecimento e adaptação ao mundo atual. E sim,

sabendo que é difícil e que não se faz sozinha, deve ter por base a Formação Humana Integral,

e a implicação para com a educação para a transformação social. Que em seu território,

relaciona-se com o conhecimento, diálogo e ações para a melhoria e transformação da

realidade local, ou seja, da ocupação urbana e bairros vizinhos.

Para esta pesquisa, as boas experiências de escolas reivindicadas ou construídas por

uma ocupação urbana (PINTO, 2016; ROCHA, 2010; RUIZ, 2013), apesar das dificuldades e

limitações que também apresentaram, não devem ser a única possibilidade e solução para uma

educação inclusiva, cumpridora de seus deveres legais, reconhecedora e comprometida com a

classe trabalhadora - não importa onde ela mora -, e seus desafios em busca de educação e

transformação.

As escolas vizinhas às ocupações urbanas, a partir de uma nova ocupação territorial e

populacional em sua área de atendimento, também têm o dever legal e também devem ter o

compromisso para conhecer a nova realidade do território e população a ser atendida. Para

possibilitar a matrícula das crianças e adolescentes com igualdade de acesso, diagnosticar e

intervir em condições adversas de permanência na escola, incluir a ocupação em seus

processos educativos, e contribuir para o conhecimento e transformação da sua realidade

educacional, local e social.

206

REFERÊNCIAS

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Professor Daniel Alvarenga. ano 1. n.1. 2013.

______________. VIDAS. Educação de Jovens e Adultos – EJA Escola Municipal

Professor Daniel Alvarenga. ano 2. n.2. 2015.

BITTENCOURT, Rafael Reis. Cidadania autoconstruída: o ciclo de lutas sociais das

ocupações urbanas na RMBH (2006 - 15). 2016. 241 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura

e Urbanismo), Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.

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JUSTIÇA URBANA. Relatório pelo direito fundamental à moradia adequada: estudo do

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210

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UNICEF. Brasil. Acesso, permanência, aprendizagem e conclusão da Educação Básica na

idade certa – Direito de todas e de cada uma das crianças e dos adolescentes, 2012.

211

APÊNDICES

APÊNDICE A - ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM AS COORDENADORAS DA

OCUPAÇÃO ROSA LEÃO

1. DADOS PESSOAIS

1.1. Nome:

1.2. Por qual nome você gostaria de ser chamado(a)?

1.3. Idade: 1.4. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

2. Informações referentes à atuação na Ocupação Rosa Leão

2.1. Há quanto tempo você mora na Ocupação Rosa Leão?

2.2. Quais são as suas atividades de Coordenação na Ocupação Rosa Leão?

3. ACESSO À ESCOLA

3.1. Os responsáveis das crianças e adolescentes de 4 a 17 anos residentes na Ocupação

Rosa Leão têm conseguido realizar matrícula dos seus filhos nas escolas próximas à

Ocupação? Sempre foi assim? Caso tenha, quais são as dificuldades?

3.2. Você conhece alguma escola que atende as crianças e adolescentes da Ocupação Rosa

Leão? O que você pode dizer sobre elas?

4. PERMANÊNCIA NA ESCOLA

4.1. Os familiares comentam sobre as escolas em que seus filhos estudam? O que eles

dizem?

4.2. Os alunos comentam sobre a escola em que eles estudam? O que eles dizem?

4.3. Os estudantes moradores da Ocupação têm dificuldades para ir para a escola? Caso

sim, quais são?

4.4. Os estudantes da Ocupação têm dificuldades para frequentar todos os dias e assim

permanecer (não abandonar) na escola? Caso sim, quais são?

212

4.5. Você sabe de situações em que as crianças e adolescentes deixaram de frequentar as

aulas? Caso sim, quais foram os motivos?

4.6. O que os moradores do entorno dizem sobre a Ocupação Rosa Leão?

4.7. O que os moradores do entorno e os profissionais das escolas dizem sobre o

atendimento escolar às crianças e adolescentes residentes na Ocupação Rosa Leão?

4.8. Existe alguma ação de apoio à educação das crianças e adolescentes moradores da

Ocupação Rosa Leão? Se sim, qual?

5. PROCESSO EDUCATIVO NA ESCOLA

5.1. O que os moradores da Ocupação acham das escolas da região? E os Coordenadores?

5.2. Os familiares, moradores e coordenadores da Ocupação são convidados a participarem

dos eventos das escolas?

5.3. De quais eventos e como eles participam?

5.4. Já houve reclamações quanto a desrespeito e discriminação nas escolas?

5.5. O que familiares, moradores e estudantes dizem sobre os projetos, currículos e

relacionamentos dentro da escola? Por exemplo, os alunos estudam sobre a realidade do

bairro e da Ocupação Rosa Leão?

5.6. Já houve visita de algum funcionário das escolas na Ocupação?

5.7. Já foi discutida a possibilidade de construção de creche e escola na Ocupação? O que

já foi conversado a este respeito? Quais foram ou seriam as dificuldades e potencialidades

para isso?

5.8. A Ocupação Rosa Leão, através de seus moradores, coordenadoras, movimentos

sociais e grupos de apoio já apresentou sugestões para às escolas? Se sim, quais foram e quais

propostas tiveram resultados? Caso não, quais você(s) faria(m)?

213

APÊNDICE B - ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PROFESSORES

1. DADOS PESSOAIS E PROFISSIONAIS

1.1. Nome:

1.2. Por qual nome você gostaria de ser chamado(a)?

1.3. Idade:

1.4. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

1.5. Há quanto tempo trabalha nesta escola?

1.6. Você escolheu dar aula aqui?

1.7. Você mora nesta região?

1.8. Qual disciplina leciona?

2. ACESSO À ESCOLA

2.1. No geral, as crianças e adolescentes têm dificuldades em matricular nesta escola?

2.2. E as crianças e adolescentes moradores da Ocupação Rosa Leão? Você sabe quais são

as dificuldades que elas têm em matricular, caso tenham?

2.3. Existe uma demanda maior de vagas do que a possibilidade de oferta?

2.4. Os estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão têm alguma dificuldade em especial

em se integrar e enturmar nos primeiros dias? Me dê um exemplo.

2.5. A direção ou coordenação dá alguma orientação sobre como acolher os alunos

moradores da Ocupação Rosa Leão?

3. PERMANÊNCIA NA ESCOLA

3.1. No geral, as crianças e adolescentes têm dificuldades em permanecer nesta escola? Por

quê?

3.2. E as crianças e adolescentes moradores da Ocupação Rosa Leão? Você sabe quais são,

caso tenham dificuldades em permanecer nesta escola?

214

3.3. Qual a sua impressão quanto à evasão nesta escola? O índice é alto ou baixo? Quais

poderiam ser os motivos deste índice?

3.4. E a evasão das crianças e adolescentes moradores da Ocupação Rosa Leão? Você sabe

quais podem ser os motivos de evasão, caso tenha ocorrido na sua escola?

4. PROCESSO EDUCATIVO NA ESCOLA

4.1. O que o Projeto Político Pedagógico da escola propõe para o trabalho educativo com

os alunos, comunidade escolar e bairro?

4.2. Existe algo no Projeto Político Pedagógico sobre a Ocupação Rosa Leão em especial?

4.3. O que o Projeto Político Pedagógico da escola propõe para o Plano Curricular de sua

disciplina? E da abordagem disciplinar a respeito da Ocupação Rosa Leão e os seus

moradores?

4.4. O que você acha dos alunos da Ocupação? E dos moradores?

4.5. Como é a relação e integração dos estudantes moradores da Ocupação Rosa Leão com

os colegas, professores e demais funcionários da escola?

4.6. Existem projetos, eventos e outras atividades extraclasse que são ou foram

desenvolvidos no bairro, com a comunidade escolar? E com a Ocupação Rosa Leão?

4.7. Você desenvolve ou participa de conteúdos, trabalhos e projetos relacionados à

realidade da comunidade escolar e bairro? Pode citar?

4.8. Você já desenvolveu ou relacionou conteúdos, trabalhos e projetos referentes à

realidade dos estudantes moradores e da Ocupação Rosa Leão?

4.9. Você já visitou e conversou com moradores e coordenadoras da Ocupação Rosa Leão?

4.10. Como tem sido o rendimento escolar dos alunos moradores da Ocupação Rosa Leão?

Por quê?

215

APÊNDICE C – ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS ESTUDANTES

MORADORES DA OCUPAÇÃO ROSA LEÃO

1. DADOS PESSOAIS

1.1. Nome:

1.2. Por qual nome você gostaria de ser chamado(a)?

1.3. Idade:

1.4. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( )

2. Informações referentes à residência na Ocupação Rosa Leão

2.1. Quanto tempo mais ou menos você mora na Ocupação Rosa Leão?

3. ACESSO À ESCOLA

3.1. Até se matricular na escola, você ficou um tempo sem estudar? Caso sim, quanto

tempo mais ou menos? Por quê?

3.2. A sua família teve dificuldades para matricular você nesta escola? Caso sim, quais

dificuldades tiveram?

3.3. Outros colegas moradores da Ocupação Rosa Leão tiveram dificuldades para

matricular na escola?

3.4. Quando mais ou menos você foi matriculado nesta escola?

3.5. Assim que se matriculou você já começou a frequentar as aulas?

3.6. Como foram os primeiros dias de aula? Você gostou? Por quê?

4. PERMANÊNCIA NA ESCOLA

4.1. Quando começou a estudar na escola, você chegou a pensar em não frequentar mais as

aulas? Por quê?

4.2. Você já ficou algum tempo sem vir para escola? Por quê?

4.3. Você vai para a aula todos os dias?

216

4.4. Em uma semana, quantas faltas você costuma ter? Por quê?

4.5. Você tem dificuldades para ir à escola? Caso sim, quais são as dificuldades?

4.6. Como você vai para a escola? Qual o transporte? É longe? Você vai sozinho ou

acompanhado? Com quem?

4.7. Você chega à escola no início do horário? Caso não, por quê?

4.8. O que seus responsáveis pensam da escola?

4.9. Você tem vontade de mudar de escola? Por quê?

4.10. Os seus responsáveis têm a intensão de manter ou trocar você de escola? Por quê?

5. PROCESSO EDUCATIVO NA ESCOLA

5.1. Você se dá bem com os colegas da escola? Sempre foi assim?

5.2. Você se dá bem com os professores da escola? Sempre foi assim?

5.3. Você gosta das aulas? Sempre foi assim?

5.4. Você se dá bem com os outros funcionários que trabalham na escola? Sempre foi

assim?

5.5. Seus responsáveis já compareceram em algum evento desta escola? Quando?

5.6. Eles foram bem recebidos? O que comentaram depois da visita?

5.7. Você se sente bem nesta escola? Por quê?

5.8. Você gosta de estudar? E de estudar nesta escola? Por quê?

5.9. Você costuma ser elogiado ou chamado à atenção nesta escola? Por quê?

5.10. Me conte uma coisa boa que já aconteceu com você nesta escola.

5.11. Me conte uma coisa ruim que já aconteceu com você nesta escola.

5.12. As atividades escolares como textos, trabalhos, visitas e provas falam da cidade e do

bairro da escola?

217

5.13. Já teve algum conteúdo ou trabalho escolar sobre a Ocupação Rosa Leão? Caso sim,

quais? O que você achou?

5.14. O que os seus colegas acham da Ocupação Rosa Leão?

5.15. Os seus colegas falam algo com você sobre o lugar onde você mora? Você pode dar

exemplos?

5.16. O que os seus professores acham da Ocupação Rosa Leão?

5.17. Os seus professores falam algo com você sobre o lugar onde você mora?

5.18. O que os moradores do bairro a qual a escola pertence acham da Ocupação Rosa

Leão?

5.19. Você já se sentiu desrespeitado ou discriminado na escola por morar na Ocupação

Rosa Leão?

5.20. Quais sugestões você daria para o trabalho da escola? E dos professores?

5.21. Você está indo bem na escola? Como estão as notas?

5.22. Você está aprendendo?

5.23. O que você aprendeu ou tem aprendido na escola que pode ter sido legal para a sua

vida na Ocupação Rosa Leão?

218

APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PARA OS ESTUDANTES MORADORES DA

OCUPAÇÃO ROSA LEÃO

QUESTIONÁRIO

Prezado estudante, este questionário faz parte de uma pesquisa universitária que pretende

conhecer sobre o acesso, a permanência e o processo educativo de crianças e adolescentes que

moram na Ocupação Rosa Leão na educação formal. A sua participação é muito importante

para esta pesquisa. Preencha este questionário e entregue-o para o pesquisador junto às

autorizações assinadas por você e seu responsável. Atenção, este questionário é “frente e

verso”.

Dados iniciais

Idade:

Sexo: M ( ) F ( )

Há quanto tempo mais ou menos você mora na Ocupação?

Acesso à escola

Q1 Você já ficou algum tempo sem

estudar?

S ( ) N ( ) Quanto tempo mais ou

menos?

Q2 Sua família teve dificuldades para

matricular você na sua escola atual?

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Q3 Antes de matricular na sua escola

atual, você ficou um tempo sem

estudar?

S ( ) N ( ) Quanto tempo mais ou

menos?

Q4 Você conhece colegas da Ocupação

que tiveram dificuldades para se

matricular na sua escola atual?

S ( ) N ( )

Q5 Nos seus primeiros dias de aula você

foi bem recebido pelos profissionais

da escola?

S ( ) N ( )

Q6 Nos seus primeiros dias de aula você

foi bem recebido pelos colegas da

escola?

S ( ) N ( )

Permanência na escola

Q7 Quando começou a estudar na escola

atual, você chegou a pensar em não

frequentar mais as aulas?

S ( ) N ( )

Q8 Você já ficou algum tempo sem

frequentar a sua escola atual?

S ( ) N ( ) Quanto tempo mais ou

menos?

Q9 Em uma semana, quantos dias você costuma faltar?

Q10 Você tem dificuldades para ir para a

escola?

S ( ) N ( )

Q11 Os seus responsáveis gostam da sua

escola?

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Q12 Você tem vontade de mudar de S ( ) N ( )

219

escola?

Q13 Os seus responsáveis tem vontade de

mudar você de escola?

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Processo educativo na escola

Q14 Você se dá bem com os colegas da

escola?

S ( ) N ( )

Q15 Você se dá bem com os professores

da escola?

S ( ) N ( )

Q16 Você se dá bem com os outros

funcionários da escola?

S ( ) N ( )

Q17 Você gosta da sua escola atual? S ( ) N ( )

Q18 Você se sente bem na sua escola

atual?

S ( ) N ( )

Q19 Você gosta de estudar? S ( ) N ( )

Q20 Você gosta das aulas? S ( ) N ( )

Q21 Seus responsáveis já compareceram

a algum evento da sua escola atual

(reunião, festa, apresentação, etc.)?

S ( ) N ( )

Q22 Seus responsáveis foram bem

recebidos na escola? (Na hora da

matrícula, reunião, festa,

apresentação, etc.)

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Q23 Você costuma ser elogiado ou

chamado à atenção na sua escola

atual?

Elogiado ( ) Chamado à atenção ( ) Os dois ( )

Nenhum dos dois ( ) Outra alternativa ( )

Q24 Já aconteceu alguma coisa boa com

você na sua escola atual?

S ( ) N ( )

Q25 Já aconteceu alguma coisa ruim com

você na sua escola atual?

S ( ) N ( )

Q26 Já tiveram atividades na sua escola

atual sobre a cidade e o bairro Zilah

Spósito?

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Q27 Já teve algum conteúdo ou atividade

sobre a Ocupação Rosa Leão?

S ( ) N ( ) Não sei ( )

Q28 Alguém na escola já te criticou ou

criticou algum colega seu por morar

na Ocupação?

S ( ) N ( )

Q29 Você ou algum colega seu já foi

desrespeitado na escola por morar na

Ocupação?

S ( ) N ( )

Q30 Você está indo bem na escola? S ( ) N ( )

Q31 Você está aprendendo na sua escola? S ( ) N ( )

220

APÊNDICE E – PRODUTO TÉCNICO COM ARTE GRÁFICA

18

19

20

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22

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45

46

250

ANEXO – PARECER CONSUBSTANCIADO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

251

252

253