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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL NATÁLIA CARDOSO MARRA Cooperação Interinstitucional como Instrumento de Gestão da Região Metropolitana de Belo Horizonte e de Promoção do Desenvolvimento Local Belo Horizonte 2012

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E

EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

NATÁLIA CARDOSO MARRA

Cooperação Interinstitucional como Instrumento de Gestão da Região

Metropolitana de Belo Horizonte e de Promoção do Desenvolvimento

Local

Belo Horizonte

2012

NATÁLIA CARDOSO MARRA

Cooperação Interinstitucional como Instrumento de Gestão da Região

Metropolitana de Belo Horizonte e de Promoção do Desenvolvimento

Local

Dissertação apresentada ao Mestrado em

Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA, como requisito à

obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Organização e

Articulação Interinstitucionais e Gestão do

Desenvolvimento Local.

Orientadora: Raquel Garcia Gonçalves

Belo Horizonte

2012

M358c Marra, Natália Cardoso

Cooperação interinstitucional como instrumento de gestão da região

metropolitana de Belo Horizonte e de promoção do Desenvolvimento Local /

Natália Cardoso Marra. – 2012.

152f.: il.

Orientadora: Prof. Raquel Garcia Gonçalves

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2012. Programa de

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Bibliografia f. 142-154.

1. Administração de regiões metropolitanas. 2. Governança corporativa. I.

Gonçalves, Raquel Garcia. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos aqueles que não me deixaram lutar sozinha e sempre

cooperaram comigo, especialmente ao Túlio, meus familiares, amigos, os companheiros

de mestrado Tim, Kris, Alexandre e Jacke.

“Se você vier

Pro que der e vier

Comigo...

Eu lhe prometo o sol

Se hoje o sol sair

Ou a chuva...

Se a chuva cair

Se você vier

Até onde a gente chegar

Numa praça

Na beira do mar

Num pedaço de qualquer lugar...

Nesse dia branco

Se branco ele for

Esse tanto

Esse canto de amor

Oh! oh! oh...

Se você quiser e vier

Pro que der e vier

Comigo”

(Geraldo Azevedo – Dia Branco).

AGRADECIMENTOS

Agradeço àqueles que me inspiram a ser uma pessoa melhor, como a querida professora

Miracy Barbosa de Souza Gustin, todos do Programa Pólos, o professor Apolo Heringer

Lisboa e os membros do Projeto Manuelzão.

Agradeço, especialmente, à professora Marinella Machado Araújo que foi quem me

incentivou a pesquisar a cooperação interinstitucional na Região Metropolitana de Belo

Horizonte.

Agradeço à minha orientadora, Raquel Garcia Gonçalves, pela cooperação na

realização deste trabalho, aos entrevistados e aos membros da banca examinadora.

“Nunca se vence uma guerra lutando sozinho

Cê sabe que a gente precisa entrar em contato

Com toda essa força contida e que vive guardada

O eco de suas palavras não repercutem em nada.

É sempre mais fácil achar que a culpa é do outro

Evita o aperto de mão de um possível aliado

Convence as paredes do quarto, e dorme tranquilo

Sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo

Coragem, coragem, se o que você quer é aquilo que pensa e faz

Coragem, coragem, eu sei que você pode mais”.

(Raul Seixas – Por quem os sinos dobram).

RESUMO

As cidades vêm sofrendo profundas transformações qualitativas e quantitativas,

transformando-se em metrópoles com uma nova e diferente forma de assentamento

humano, com problemas jurídico-urbanísticos que precisam ser cuidados de modo

específico e diferenciado. Algumas capitais brasileiras já se encontram em estado de

metropolização, porém a legislação e as políticas públicas não vêm acompanhando esse

processo. O objetivo geral desta pesquisa é analisar qual a estrutura de gestão urbana

que melhor fomenta práticas de cooperação e a cultura da solidariedade, condições

fundamentais à materialização de projetos de interesse comum que buscam o

desenvolvimento local de uma região metropolitana. Um dos objetivos específicos é

traçar como foi a formação do sistema federativo e da institucionalização da RMBH,

com a finalidade de esclarecer o contexto no qual surgiu a concepção de administração

regional. Outro objetivo é descrever qual a formação da Administração Pública atual e

identificar se essa tem capacidade de desenvolver, por meio da cooperação, o

desenvolvimento local, caracterizando os instrumentos de gestão criados para a

promoção de uma Administração Pública dialógica e cooperativa. São retratados, nesta

dissertação, a formação do federalismo brasileiro, os processos de urbanização e a

realidade da institucionalização da RMBH, com foco nas práticas de acessibilidade

urbana. O resultado alcançado com esta pesquisa apresentou que não há um modelo

definido para o desenvolvimento local, mas princípios que precisam ser observados,

como o da gestão social, da cooperação interinstitucional, da participação e da

administração pública dialógica. Todos esses princípios dizem respeito ao conceito de

governança. O método utilizado para a realização do presente trabalho consiste em um

estudo de caso da RMBH. O referencial teórico baseia-se em informações adquiridas

em seminários, análise de conteúdo teórico e legal quanto ao tema. A pesquisa é do tipo

qualitativo, pois, para que as conclusões fossem alcançadas, foram utilizados

conhecimentos provenientes da análise de informações sobre lugares, pessoas e

experiências, cruzando prática e teoria. Entrevista e análise documental foram os

instrumentos metodológicos empregados. A proposta de intervenção desta pesquisa é a

realização de um seminário que discuta o tema metropolitano sob a ótica da gestão

social e visando ao desenvolvimento local.

Palavras-chave: Regiões metropolitanas; Cooperação interinstitucional; Gestão social;

Desenvolvimento local; Governança.

ABSTRACT

The social menagement is a way to employ the governance and promote local

development. The case studied was the Metropolitan Region of Belo Horizonte –

RMBH, specially in regard to acessibility, since this depends on the realizations of a

public dialogue with other institutions. Cities have suffered profound transformation,

turning into a metropolis that have new and different forms of human settlements, legal

and urban problems that need special attention. Some brazilian cities have already

became metropolis, but the law and politics are not following this process. The

objective of this research is to analyze which structure of urban management promotes

cooperation and the culture of solidarity, fundamental conditions for realizing projects

of common interests thar seeks for local development. One of the specifics objectives is

to trace how was the formation of the federal brazilian system and the

institutionalization of the RMBH, in order to clarify the context in wich it created the

regional administration. This research also describes how is the public administration

today at RMBH and identify the capacity to develop, through cooperation, the local

development. This study focus on urban accessibility practices, because it requires

cooperation and participation. The results obtained showed that can not be defined one

specific model for local development, but there are some principles that must be

observed, as the social management, inter-institutional cooperation, participation and

dialogue in public administration. All these principles are related to the concept of

governance. The method used on this work consists on a study of the RMBH. The

theory is based on information acquired in seminars, content analysis and legal literature

on the subject. The research in qualitative and were used knowledge obtained from the

analysis of information about places, people and experiences, crossing theory and

practice. Interview and document analysis were the methodological tools employed.

Keywords: Metropolitan areas; Inter-institutional cooperation; Social management;

Local development; Governance.

Lista de Ilustrações

MAPA 1: Divisão Político Administrativa Região Metropolitana de Belo Horizonte e

Colar Metropolitano........................................................................................................95

MAPA 2: Densidade Viária na RMBH.........................................................................127

MAPA 3: Localização do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo

Horizonte.......................................................................................................................129

Lista de Quadros

QUADRO 1: Constituição e características básicas da Região Metropolitana de Belo

Horizonte.........................................................................................................................96

Lista de Siglas e Abreviaturas

Agem Agência Metropolitana

AMBEL Assembleia Metropolitana de Belo Horizonte

Ansur Associação Nacional do Solo Urbano

BNH Banco Nacional de Habitação

CCT Câmara de Compensação Tarifária

CF Constituição Federal

CGTC Comissão Gerenciadora do Transporte Coletivo da RMBH

CNDU Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano

CNPU Comissão Nacional de Política Urbana e Regiões Metropolitanas

DBO Departamento de Bondes e Ônibus

DER/MG Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais

DNER Departamento Nacional de Estradas de Rodagem

EME Esquema Metropolitano de Estruturas

FDM Fundo de Desenvolvimento Metropolitano

FJP Fundação João Pinheiro

Granbel Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte

IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil

IGA Instituto de Geociências Aplicadas

IPNUD I Plano Nacional de Desenvolvimento

Metrobel Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo

Horizonte

MNRU Movimento Nacional pela Reforma Urbana

PACE Plano da Área Central

PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

PDIES Plano de Desenvolvimento Integrado Econômico e Social da RMBH

PERMBH Projeto Estruturador da RMBH

PIB Produto Interno Bruto

Plambel Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo

Horizonte

PPAG Plano Plurianual de Ação Governamental

PROBUS Programa de Organização do Transporte Público

RM Região Metropolitana

RMBH Região Metropolitana de Belo Horizonte

SEDRU Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana

SEGEM Secretaria Extraordinária de Gestão Metropolitana

SEPLAN Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais

Serfhau Serviço Federal de Habitação e Urbanismo

Sistar Sistema de Cobrança e Validação de Tarifa

SNTU Sistema Nacional de Transportes Urbanos

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

SUPAM Superintendência de Articulação com os Municípios

ZEE MG Zoneamento Ecológico Econômico

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................13

1.1 Metodologia..............................................................................................................17

2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................19

2.1 Região Metropolitana.............................................................................................19

2.1.1 Estado Federal.......................................................................................................24

2.2 Desenvolvimento Local...........................................................................................27

2.2.1 Cidade, Território e Metropolização.....................................................................31

2.3 Gestão Social e Governança Metropolitana.........................................................33

2.3.1 Cooperação Interinstitucional...............................................................................40

2.3.2 Administração Pública Dialógica.........................................................................44

2.3.3 Participação Popular.............................................................................................47

3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA..................................................................53

3.1 O Estado Federal Brasileiro...................................................................................53

3.1.1 Autonomia Municipal............................................................................................59

3.2 Metropolização no Brasil........................................................................................64

3.2.1 A trajetória histórica da regionalização no Brasil...............................................65

3.3 Planejamento urbano e a configuração de áreas metropolitanas......................75

3.3.1 Planejamento Urbano no Brasil..........................................................................79

4 A FORMAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE.86

4.1 A definição da sede da nova capital de Minas Gerais: Belo Horizonte..............86

4.2 Do Arraial Curral Del Rey à capital mineira........................................................87

4.3 A construção de uma cidade para abrigar o governo de Minas Gerais.............87

4.4 A expansão urbana e a configuração da Região Metropolitana de Belo

Horizonte enquanto fenômeno urbano espacial.........................................................90

4.5 A institucionalização da Região Metropolitana de Belo Horizonte....................93

4.5.1 A estrutura atual da RMBH................................................................................103

5 A ACESSIBILIDADE METROPOLITANA.........................................................112

5.1 A acessibilidade na RMBH...................................................................................119

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................136

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO............................................................................139

REFERÊNCIAS...........................................................................................................142

13

1 INTRODUÇÃO

Em meados do séc. XX, houve uma revolução demográfica atrelada à integração

das cidades pelos transportes e pela telecomunicação. Esses fatores influenciaram o

êxodo rural e o crescimento desordenado dos centros urbanos (SOUZA, 2006). As

cidades vêm sofrendo profundas transformações qualitativas. As metrópoles,

megalópoles ou regiões metropolitanas não representam apenas uma versão maior da

cidade tradicional, mas uma nova e diferente forma de assentamento humano, com

problemas jurídico-urbanísticos que precisam ser cuidados de modo específico e

diferenciado (SILVA, 2008). Para Esteve (2004, p.22), as cidades são a riqueza das

nações, mas não são produzidas de forma independente, “sino a través de la interacción

com otras ciudades y otros municípios, en no pocas ocasiones, relativamente próximos

en el território”.

A regionalização é uma tendência atual. Conforme afirma Teixeira (2008), a

regionalização é uma alternativa para o processo de mudanças, a partir da constatação

de que os municípios, isoladamente, são incapazes de atender a seus munícipes, tanto

pelo excesso de atribuições quanto pelos escassos recursos financeiros. A divisão

territorial dos municípios hoje não delimita de fato a influência dos mesmos e as

necessidades da população local. Algumas capitais brasileiras já se encontram em

estado de metropolização, porém a legislação e as políticas públicas não vêm

acompanhando esse processo. O território referente à divisão administrativa não

corresponde mais ao território vivido pela sociedade local ou regional.

O intenso processo de urbanização no Brasil proporcionou o surgimento de grandes

conglomerados nos quais os limites municipais tornaram-se indefinidos. As cidades

começaram a coexistir de forma integrada, de modo que a população de diversos

municípios próximos passou a interagir no território de mais de uma administração

municipal. Essa interação fez com que surgissem problemas em escalas regionais. O

crescimento das áreas metropolitanas foi além do aumento populacional, houve

intensificação dos problemas sociais, ambientais e econômicos. Dessa maneira, vem se

tornando necessária uma gestão metropolitana.

A urbanização desordenada que atinge as grandes metrópoles brasileiras e a

exclusão social são responsáveis por uma gama de problemas enfrentados diariamente

pela administração pública e de difícil solução individual por cada município, cada vez

14

mais dependente de uma cidade pólo e dos demais centros urbanos próximos. Segundo

Lopes (2010, p.319),

Nas regiões metropolitanas a situação é agravada pela

característica da ocupação, que faz com que os problemas de

um município afetem diretamente o município vizinho, não

sendo possível pensar em soluções realmente eficazes e

permanentes que não passem por uma ação regional. Mesmo

um município rico, com alta capacidade técnica e política

para atuar, não consegue blindar suas fronteiras e trabalhar

solucionando seus problemas locais, pois a população

regional necessariamente se movimenta entre territórios

vizinhos, transportando problemas e soluções entre eles.

Em 1973, foram criadas oito regiões metropolitanas no país, sendo uma delas a de

Belo Horizonte. Essas regiões foram institucionalizadas com a função de solucionar

problemas derivados da ausência de uma gestão regional. Basicamente, as regiões

metropolitanas da década de 70 tinham como finalidade a prestação de serviços comuns.

Com a Constituição de 1988 e a formulação de outras normas estaduais, federais e

municipais, as funções de interesse comum regional foram aprimoradas e passaram a

tratar de diversos aspectos, como a acessibilidade (TEIXEIRA, 2008).

Ocorre que a simples criação de regiões metropolitanas não resolve os problemas

originados a partir do crescimento das cidades. Seriam necessários institutos e normas

que regularizem a atuação e a competência dessas instâncias da administração pública.

A discussão sobre as dinâmicas socioeconômicas, urbanísticas, políticas e culturais que

caracterizam o “fenômeno da metropolização – a geografia da „cidade real‟, que

desconsidera limites administrativos e mesmo limites físicos – não pode mais ser

dissociada da discussão acerca da dimensão jurídico-institucional desse processo”

(GOUVÊA, 2005, p.12). Mais importante ainda é a necessária cooperação entre as

esferas do poder público, o setor privado e a sociedade. O desenvolvimento local, por

exemplo, depende de formas coletivizadas de gestão (FISCHER, 2002).

As regiões metropolitanas dependem da cooperação interinstitucional para serem

implantadas de forma efetiva. Essa cooperação deriva de um sistema federativo também

cooperativo. Ocorre que, conforme poderá ser observado neste trabalho, a formação da

federação no Brasil deu-se de forma competitiva e passou por diversos estágios de

centralização e de descentralização (ABRUCIO, 2006).

A divisão de competências e recursos no contexto do pacto federativo brasileiro não

deveria ser um fator impeditivo da cooperação, mas na prática esse fato acontece. O

15

sistema federativo brasileiro é competitivo, a cooperação não é estimulada e as

desigualdades regionais apenas tendem a estimular a competição (ABRUCIO, 2006).

Os entes federativos são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Na

atualidade, vem sendo discutida a existência de uma quarta instância, a regional,

derivada da interligação e da interdependência que predominam hoje em algumas áreas

de alto adensamento urbano, conurbadas ou não. Para Gouvêa (2005, p.191), “a

inexistência de políticas públicas de corte metropolitano contribui para o aumento dos

níveis de desigualdade entre os municípios”.

Diante dos fatos narrados, a questão central desta pesquisa é a seguinte: qual seria a

estrutura de gestão urbana que melhor fomentaria práticas de cooperação e a cultura da

solidariedade, condições fundamentais à materialização de projetos de interesse comum

que busquem o desenvolvimento local na região metropolitana de Belo Horizonte?

As cidades são extremamente dinâmicas e, por essa razão, não é devida a definição

de um modelo de gestão perfeitamente adequado para a RMBH. A existência de um

sistema cooperativo e participativo permite que as mudanças ocorridas na sociedade

sejam facilmente absorvidas pela gestão urbana, de modo que esta se mantenha eficaz

mediante as alternâncias vividas no cotidiano. Por esse motivo, não cabe a esta pesquisa

definir uma estrutura administrativa definitiva, mas demonstrar a relevância de se

fomentar a cooperação e a dialogicidade.

Almeja-se apresentar como uma política metropolitana federal, pactuada entre os

diversos ministérios, agências de vocação metropolitana, Congresso Nacional, dentre

outras instituições, deverá oferecer incentivos para que os governos municipais e

estaduais sintam-se motivados a aderir a um círculo virtuoso de cooperação e

intervenção articulada entre os três níveis de governo. O que se busca é a construção de

uma política metropolitana de “soma positiva”, na qual todos os atores envolvidos,

inclusive a população, sejam beneficiados (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010).

O objetivo desta pesquisa é importante, pois no Brasil não há integração entre entes

governamentais, administrativos e o povo. Quem formula as políticas públicas

normalmente não é quem as executa e raramente compreende as implicações sociais,

econômicas e políticas delas derivadas (ARAÚJO, 2010).

Assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar qual a estrutura de gestão urbana

que melhor fomenta práticas de cooperação e a cultura da solidariedade, condições

fundamentais à materialização de projetos de interesse comum que buscam o

desenvolvimento local na região metropolitana de Belo Horizonte. Um dos objetivos

16

específicos é traçar como foi a formação do sistema federativo e da institucionalização

da RMBH, com a finalidade de esclarecer o contexto no qual surgiu a concepção de

administração regional. Outro é descrever qual a formação da Administração Pública

atual e identificar se essa tem capacidade de desenvolver, por meio da cooperação, o

desenvolvimento local, caracterizando os instrumentos de gestão criados para a

promoção de uma Administração Pública dialógica e cooperativa.

Para Ribeiro (RIBEIRO; JUNIOR, 2010), cabe indagar se não está consolidada uma

situação de ingovernabilidade das metrópoles brasileiras, em razão da complexidade

dos problemas que se avolumaram ao longo dos últimos anos, da fragmentação

institucional e da inexistência de valores que impulsionem as ações coletivas de

cooperação interinstitucional, visando ao enfrentamento de problemas comuns.

Para a realização deste trabalho e com o intuito de demonstrar que por meio da

execução da administração pública dialógica e da cooperação interinstitucional é

possível o desenvolvimento de uma gestão regional participativa capaz de melhorar a

qualidade de vida nos centros urbanos, serão retratados a formação do federalismo

brasileiro, os processos de urbanização e a realidade da institucionalização da Região

Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, com foco nas práticas de acessibilidade

urbana.

A opinião de Esteve (2004, p. 38), quanto à gestão governamental, reforça a

proposta de estudo do presente trabalho:

Sin duda, el gobierno que será mas ampliamente reconocido

para impulsar la gestión de redes de ciudades será el gobierno

regional, siempre que parta de los princípios de: respeto a la

autonomia local y no injerencia en asuntos municipales;

subsidariedad respecto a la actuación de los gobiernos locales

y consideración a la asimetría de los municipios y de sus

gobiernos respecto a la importancia demográfica y económica

y social; cooperación para establecer las redes de ciudades, a

partir de una negociación en que em fortalecimiento de la

relación tenga aún mayor importancia que los contenidos

(ESTEVE, 2004, p. 38).

O referencial teórico desta pesquisa trabalha pontos básicos como a concepção de

região metropolitana, o que requer uma explanação sobre o estado federal.

Posteriormente é tratado o conceito de desenvolvimento local, que demanda uma

discussão sobre cidade e território a fim de justificar o motivo da escolha da discussão

do âmbito local. Gestão social, governança metropolitana, cooperação interinstitucional,

administração pública dialógica e participação popular são os últimos aspectos

17

apresentados no referencial teórico e visam a tecer os objetivos desta pesquisa enquanto

proposta de intervenção.

No momento seguinte, os conceitos citados são contextualizados historicamente, em

conformidade com a trajetória do planejamento urbano no Brasil e em Belo Horizonte,

com o intuito de fundamentar a institucionalização metropolitana. Por fim, é relatada a

forma como ocorre a gestão da acessibilidade e a importância dessa em nível regional.

A proposta de intervenção desta pesquisa é a realização de um seminário que

discuta a governança metropolitana, com foco no desenvolvimento local promovido

pela gestão social.

1.1 Metodologia

Esta pesquisa consiste em um estudo de caso da formação da Região Metropolitana

de Belo Horizonte. O referencial teórico baseia-se em informações adquiridas em

congressos e seminários, análise de conteúdo teórico e legal quanto ao tema. Esse

trabalho consiste em uma pesquisa do tipo qualitativo, pois para que as conclusões

fossem alcançadas foram utilizados conhecimentos provenientes da análise de

informações sobre lugares, pessoas e experiências. A prática e a teoria cruzaram-se

durante a realização do trabalho, assim como foi dada relevância ao sujeito, aos atores e

ao contexto no qual o objeto está inserido (CHIZZOTTI, 2003).

Por se tratar de um trabalho na área de ciências sociais, os métodos histórico,

comparativo e descritivo foram amplamente utilizados. Foi relevante o estudo da

formação da RMBH para a explanação da sua situação atual e os reflexos das políticas

aplicadas no passado.

Dados estatísticos quanto aos municípios que compõem a RMBH e quanto ao grau

de institucionalização foram coletados e avaliados, para a construção de um texto

próximo da realidade da sociedade local. As informações quantitativas não alteraram a

natureza da pesquisa, apenas complementaram o texto.

Para que os objetivos fossem cumpridos, foi necessário observar os elementos que

compõem a RMBH, com destaque para os órgãos que a gerenciam, as organizações da

sociedade civil e as instituições acadêmicas envolvidas com questões metropolitanas.

As entrevistas realizadas com José Abílio Belo Pereira, Conselheiro Metropolitano e

com a professora da UFMG, Jupira Gomes de Mendonça foram de grande valia para a

compreensão dos valores aplicados pelos gestores públicos na formulação das políticas

regionais e para verificar a aplicação efetiva da cooperação interinstitucional, da

realização de uma gestão intersetorial, colaborativa e participativa.

18

A pesquisa qualitativa foi a mais adequada para o trabalho, já que possibilitou à

pesquisadora a verificação da interação entre os diversos atores metropolitanos. A

execução do trabalho fez uso dos seguintes instrumentos metodológicos que se

complementaram: investigação por análise documental e entrevistas.

A análise documental foi importante por ter servido como fonte de informações que

enriqueceu o embasamento teórico da pesquisa e ofereceu dados para que fossem

formuladas e interpretadas as entrevistas.

A busca pelas normas jurídicas que criaram e regulamentam a RMBH, ou que de

qualquer forma remetem à gestão metropolitana, contribuiu para fundamentar a

institucionalização dessa instância regional e as políticas de administração

intermunicipal.

Obras e artigos publicados que tratam da regionalização, do processo histórico de

ocupação e planejamento de Belo Horizonte foram lidos e trabalhados, para que

pudessem fornecer dados empíricos ou teóricos quanto aos processos de urbanização e

articulação interinstitucional nas metrópoles.

Documentos dos órgãos da estrutura administrativa da RMBH e notícias de jornais

tornaram-se úteis para a composição da realidade da institucionalização.

Para a compreensão da importância do uso da cooperação interinstitucional como

instrumento de formação de regiões metropolitanas, foram entrevistados membros da

academia, um conselheiro metropolitano e a diretora da Agência Metropolitana, Vivian

Barros Martins. As entrevistas foram semiestruturadas e permitiram o desenvolvimento

de um bom diálogo.

O resultado alcançado com as entrevistas foi a comprovação dos problemas

apontados pela doutrina quanto à dificuldade de se estabelecer a cooperação na RMBH.

Como foram entrevistadas pessoas que possuem um envolvimento distinto com a

temática metropolitana, trechos das falas dos entrevistados estão dispersos pelo texto,

justificando e complementando informações colhidas através de outros instrumentos

metodológicos.

19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente capítulo trata do referencial teórico que servirá de embasamento para a

pesquisa que ora se apresenta. Torna-se fundamental, nesse sentido, tratar dos conceitos

de região metropolitana, contextualizada na realidade brasileira, e de gestão social que

promoverá o desenvolvimento local por meio de práticas cooperativas e participativas.

Cabe ressaltar que a cooperação interfederativa é um dos desafios metropolitanos. A

ausência de um arranjo institucional intergovernamental e o municipalismo fazem com

que os municípios acreditem que possam resolver suas demandas sozinhos

(AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). Assim é preciso tratar do conceito de região

metropolitana, tendo em vista o contexto constitucional e a formação do Estado Federal.

Outro aspecto a ser considerado refere-se à conformação geográfica do poder

político que define uma limitação territorial. Esses limites são margens delimitadoras do

intercâmbio entre distintos grupos e pessoas externas (SERRANO, 1999) e não são

claros nos dias de hoje. Por essa razão, é necessário discutir as relações entre poder,

território e povo.

Como já exposto anteriormente, esta pesquisa trata dos processos político-sociais,

tendo em vista as articulações institucionais e a participação popular. Ela parte do

pressuposto de que é preciso a formação de uma gestão colaborativa baseada em uma

administração pública, dialógica, capaz de tratar de demandas urbanas e do

desenvolvimento local.

Assim, para que o objetivo deste trabalho seja alcançado, o referencial teórico

partirá dos conceitos de região metropolitana, contextualizadas no Estado Federal, e de

gestão social, enquanto precursora da governança urbana, fundamentada na cooperação

interinstitucional, na participação popular e na promoção do desenvolvimento local.

Os conceitos de cidade e território integrarão a discussão do desenvolvimento local,

para que fique clara a dimensão do objeto de estudo e a razão do uso da expressão local,

ao longo da pesquisa, e não regional.

2.1 Região Metropolitana

Do ponto de vista etimológico, metrópole significa cidade-mãe. As antigas cidades

gregas, que conquistavam cidades estrangeiras, eram conhecidas como cidades

metropolitanas (VILLAÇA, 1978).

As regiões metropolitanas podem ser tratadas sob dois contextos: o legal e o

espacial. A configuração espacial consiste nas conurbações urbanas, na existência de

20

conexões entre municípios, sejam elas institucionais, viárias, econômicas ou sociais. Já

o contexto legal trata da regulamentação jurídica das regiões metropolitanas, criadas por

lei com o intuito de normatizar as relações espaciais.

Para Eurico Rezende, citado por Gouvêa (2005, p. 133):

As Regiões Metropolitanas constituem hoje em dia uma

realidade urbanística que não pode ser desconhecida das

administrações modernas, nem omitida no planejamento

regional. Por Regiões Metropolitanas, entendem-se aqueles

Municípios que gravitam em torno da grande cidade,

formando com esta uma unidade socioeconômica, com

recíprocas implicações nos seus serviços urbanos e

interurbanos. Assim sendo, tais serviços deixam de ser de

exclusivo interesse local, por vinculados estarem a toda a

comunidade metropolitana. Passam a constituir a tessitura

intermunicipal daquelas localidades, e, por isso mesmo,

devem ser planejados e executados em conjunto, por uma

administração unificada e autônoma, mantida por todos os

Municípios da região, na proporção dos seus recursos e, se

estes forem insuficientes, hão de ser complementados pelo

Estado e até mesmo pela União, porque os seus benefícios se

estendem aos governos estadual e federal.

Serrano (2009) ressalta o caráter legal da região metropolitana, tendo em vista as

necessidades existentes no espaço envolvido por esta. Sendo assim, Serrano caracteriza

a região metropolitana como um meio desconcentrado de administração regional, cuja

premissa é a solução equânime de problemas de interesse público que afetam

municípios de áreas conurbadas. Dentre esses problemas, podem-se citar o direito à

moradia, à preservação ambiental, à mobilidade, à saúde, à proteção do patrimônio

cultural.

O conceito mais completo apresentado por Serrano é o qual afirma ser a região

metropolitana (SERRANO, 2009, p. 226)

um ente administrativo estadual, da administração direta ou

indireta, sob regime de Direito Público, instituída por

competência discricionária do legislador complementar

estadual por conta do permissivo constitucional do § 3º do

art. 25 de nossa Carta Magna, em áreas de conurbação de três

ou mais municípios em que haja a necessidade de realização

de atividades comuns de caráter regional, no interior dos

limites da competência constitucional do Estado-membro e

em seu nome e sob sua responsabilidade, realizados por

gestão compartilhada com os municípios integrantes, nos

limites e organização estipulados na lei instituidora, sem

interferência na autonomia municipal.

21

Regiões Metropolitanas, conforme é retratado por Eros Graus na obra de Serrano

(2009), são constituídas por leis que reconhecem a existência de uma comunidade

socioeconômica com funções urbanas altamente diversificadas, especializadas e

integradas. Estas estabelecem um agrupamento de municípios com vistas à realização

integrada da organização, planejamento, execução de funções públicas de interesse

comum exigidos em razão da integração urbano-regional. As regiões metropolitanas

representam um conjunto territorial intensamente urbanizado e adensado, pólo de

atividade econômica, cujas necessidades específicas somente poderão ser atendidas

mediante a realização de funções governamentais coordenadas e planejadas (GRAU,

1983).

Para Silva (2004, p.646) a “região metropolitana constitui-se de um conjunto de

municípios cujas sedes se unem com certa contiguidade em torno de um município-

pólo”.

No mesmo sentido, Meirelles (2003, p.82) entende que a região metropolitana

resume-se à delimitação de uma zona de influência da Metrópole e à atribuição de

serviços de âmbito metropolitano a uma única administração. Para Machado (2003,

p.28), a metrópole “visa a estabelecer formas de gestão pública, aderentes às

características supramunicipais, dos problemas urbanos e busca administrar um espaço

fisicamente integrado, porém institucionalmente fragmentado”.

O art. 45 da Constituição do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1989)

conceitua a região metropolitana como um conjunto de Municípios limítrofes,

apresentando a ocorrência ou a tendência de continuidade do tecido urbano e de

complementaridade de funções urbanas, que tenha como núcleo a capital do Estado ou

metrópole regional e que exija planejamento integrado e gestão conjunta permanente,

por parte dos entes públicos nela atuantes1.

O art. 44 da Constituição do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1989)

define as aglomerações urbanas como o agrupamento de Municípios limítrofes, que

apresentem tendência à complementaridade das funções urbanas, exigindo o

planejamento integrado e recomendando ação coordenada dos agentes públicos. Os

1 O art. 46 da Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989 afirma que em cada região metropolitana

haverá uma Assembleia Metropolitana, um Conselho Deliberativo de Desenvolvimento Metropolitano,

uma Agência de Desenvolvimento, com caráter técnico e executivo, um plano diretor de desenvolvimento

integrado e um fundo de desenvolvimento metropolitano. Conforme o art. 47, o fundo de

desenvolvimento metropolitano deve ser destinado a financiar os planos e projetos da região

metropolitana, em consonância com o plano diretor de desenvolvimento integrado.

22

requisitos para as aglomerações são a existência de população mínima de 300.000

habitantes e de complexo geoeconômico e social integrado por três ou mais municípios.

As microrregiões são caracterizadas, pelo art. 49 do mesmo dispositivo legal, como o

agrupamento de Municípios limítrofes, resultante de elementos comuns físico-

territoriais e socioeconômicos, que exija planejamento integrado com vistas a criar

condições adequadas para o desenvolvimento e a integração regional.

Todas essas três modalidades dispostas na Constituição do Estado de Minas Gerais

apresentam, como finalidade, uma gestão e um planejamento urbano que promovam o

desenvolvimento.

De acordo com Fernandes (2004, p.82), a experiência brasileira demonstra que a

região metropolitana não constitui apenas uma região de serviço comum,

socioeconômica, administrativa ou de planejamento do uso do solo, mas também

política. Para Fernandes, o enfrentamento dos problemas metropolitanos não se esgota

na soma das ações locais e a falta de um aparato jurídico-institucional adequado para

enfrentá-los tem levado a distorções de toda ordem, fazendo com que a “gestão urbana

das regiões metropolitanas do país seja caracterizada pela combinação de processos de

ineficiência econômica, irracionalidade administrativa, injustiça social e degradação

ambiental” (GOUVÊA, 2005, p. 16).

Conforme conclui Teixeira (2008), é difícil traçar um conceito único para as regiões

metropolitanas, mas certos aspectos são comuns a qualquer caracterização feita quanto à

mesma. Dentre esses aspectos, pode-se citar a existência de extensa região urbana, onde

há o entrelaçamento territorial de municípios vizinhos, intensos processos econômicos e

industrialização que atraem pessoas, devido à imagem de lugar rico, cheio de

oportunidades, imagem esta em desacordo com os graves problemas sociais acumulados

nas áreas urbanas. Enfim o caráter espacial das regiões metropolitanas é essencial para a

sua configuração legal, reconhecida e instituída por normas jurídicas.

Porém as Regiões Metropolitanas não constituem um ente político, legislativo ou

possuem fonte de arrecadação. A mera criação das mesmas por lei pouco acresce à

possibilidade de solução dos problemas intermunicipais.

A administração da região metropolitana pode ser feita, conforme determinar o

estado que a constituiu, por meio da administração direta, atribuída a órgão do Estado

ou de representantes do estado e dos municípios, ou da administração indireta, pela

criação de pessoas jurídicas distintas da pessoa do estado e dos municípios. Enfim a

região metropolitana, no atual contexto constitucional, é divisão administrativa e, sob

23

essa forma, a entidade ou o órgão que a administrar não poderá ir além de uma

organização com autonomia administrativa e financeira, com personalidade de direito

privado, como uma empresa estatal, de direito público, como autarquia, ou sob a forma

de órgão do estado, como uma secretaria (TEIXEIRA, 2008, p. 79).

Em suma as regiões metropolitanas não podem ser basicamente uma conurbação

urbana que envolva alta densidade demográfica e mais de um município que possuam

interesses comuns. Os interesses comuns devem ser observados em conjunto. A

justificativa para a existência da região metropolitana diz respeito à prestação conjunta

pelos municípios de funções públicas de interesse comum visando à satisfação da

população2 (TEIXEIRA, 2008). Gouvêa (2005, p.137) destaca que:

Os defensores da preservação rígida do princípio da

autonomia municipal, ao procurar definir o alcance da

expressão „serviços comuns metropolitanos‟, viram a

necessidade de separar os serviços comuns em segmentos,

alguns para serem gerenciados de forma unificada e outros

para continuarem a ser executados isoladamente pelos

municípios metropolitanos. No entender desses

municipalistas, funções metropolitanas são aquelas de caráter

unicamente intermunicipal.

Enquanto isso, os partidários de modelos unificados de gestão metropolitana

argumentam que, se o objetivo da criação das RMs foi justamente o de propiciar um

tratamento integrado dos complexos problemas de áreas conurbadas, seria contraditória

e incompreensível a segmentação dos serviços públicos de interesse comum, atribuindo

uns à autoridade municipal e outros à metropolitana. Além disso, na maioria dos casos é

bastante difícil, ou mesmo impossível, delimitar, com razoável nível de precisão, os

limites desses segmentos para fins de determinação dos níveis de competência

(GOUVÊA, 2005).

As divergências envolvem a definição do que seriam, de fato, problemas

metropolitanos, já que os bens e serviços oferecidos no âmbito das metrópoles são

2 Segundo o art. 43 da Constituição do Estado de Minas Gerais: “Considera-se função pública de interesse

comum a atividade ou o serviço cuja realização por parte de um Município, isoladamente, seja inviável ou

cause impacto nos outros Municípios integrantes da região metropolitana. §1° A gestão de função pública

de interesse comum será unificada. §2° As especificações das funções públicas de interesse comum serão

definidas na lei complementar que instituir região metropolitana, aglomeração urbana e microrregião”

(MINAS GERAIS, 1989).

O art. 19 da Constituição do Estado de Minas Gerais (MINAS GERAIS, 1989) dispõe que: “No

planejamento, na organização e na execução das funções públicas de interesse comum, a ação dos órgãos

de gestão da Região Metropolitana abrangerá serviços e instrumentos que repercutam alem do âmbito

municipal e provoquem impacto no ambiente metropolitano, notadamente.”

24

muitas vezes empreendimentos conjuntos, coincidentes ou conflitantes, envolvendo

diferentes organismos vinculados a distintas esferas de governo. O que se percebe é que

a atuação institucional nas áreas urbanas nunca se constituiu domínio exclusivo de

nenhum nível de governo – federal, estadual ou municipal. Nessas áreas, sempre

atuaram uma diversidade de organismos da administração direta e indireta de cada um

desses níveis (GOUVÊA, 2005).

Diante da dificuldade de criar uma estrutura organizacional específica para dar

suporte às atividades de formulação e implementação de políticas públicas de cunho

metropolitano, analistas defendem a formação de parcerias intermunicipais, como os

consórcios e os convênios, mesmo que monotemáticos (GOUVÊA, 2005). Esses

consórcios têm se multiplicado pelo país e tratam de temas específicos como saúde,

habitação, educação, limpeza e coleta de lixo (CRUZ, 2010). A base dessas relações

consorciadas é a cooperação intergovernamental. Segundo dados do IBGE (CRUZ,

2010, p.85), mais da metade dos municípios brasileiros, em 1999, participava de algum

consórcio intermunicipal, sendo a maioria deles referentes à saúde, formados por

cidades pequenas a médias e concentrados nas regiões sul e sudeste. Infelizmente, no

Brasil, não existem mecanismos que proporcionem segurança política para que as

administrações municipais estabeleçam processos de gestão integrada de políticas de

interesse plurimunicipal (GOUVÊA, 2005).

A relevância da articulação intermunicipal é tratada por Abrucio (2004), quando

dispõe que o municipalismo, como projeto democrático no Brasil, só terá sucesso, se o

intermunicipalismo e o entrelaçamento entre os níveis de governo tiverem êxito. Caso

contrário, por mais fortes que os municípios sejam no plano constitucional, continuarão

frágeis no que tange ao poder e à instância democrática capaz de resolver os dilemas da

coletividade.

2.1.1 Estado Federal

Importante abordar o que é o Estado para compreender a formação das regiões

metropolitanas. Essa abordagem permite que seja feito o liame entre a divisão

geográfica do exercício do poder político e a distribuição das competências entre os

entes da federação.

Estado é uma organização política necessária para a vida social e sob a qual vive o

homem moderno. Essa organização é resultado da existência de um povo sobre um

território, delimitado e governado por leis que têm como fundamento um poder não

definido por fatores externos e supremo internamente (BASTOS, 1999). Para

25

Zimmenmann (1999), o Estado é uma realidade sociopolítica incontestável, com

personalidade jurídica e autoridade próprias.

Machado (2003, p. 37) dispõe que:

federalismo é a forma de Estado composta pela reunião de

Estados-membros que conservam, cada um, certo nível de

independência e autonomia, mas que se submetem a uma

única Constituição, a qual prescreve a existência de um

governo central representante, perante Estados estrangeiros,

da União federal.

De acordo com Serrano (2009), o povo, o território e o poder político são condições

de existência do Estado, somados ao ordenamento jurídico e ao interesse comum.

O povo pode ser definido como todas as pessoas que estão no limite territorial de

um Estado e sob as quais o governo exerce seu poder político. A conformação

geográfica do poder político define uma limitação territorial como base física. O

território é o espaço geográfico delimitado constitucionalmente para o exercício da

soberania e, por isso, é elemento que dá sentido à existência do Estado (SERRANO,

2009).

Para Abrucio (1998), o arranjo federativo depende de três elementos: contrato

federativo, equilíbrio entre os princípios da autonomia e da interdependência, e

“republicanização” da esfera pública. Analisando a opinião de Abrucio, Gouvêa (2005)

dispõe que o sistema federativo deve ser estabelecido a partir de um contrato construído

sobre bases constitucionais e mantido por um sólido arcabouço institucional. Apresenta

interdependência entre os entes federados e respeito a princípios predeterminados de

autonomia. Torna a esfera pública mais republicana, submetendo o poder a processos de

controle mútuos entre as diversas instâncias de poder e a sociedade.

O Estado federal é uma associação de estados, submetidos a um poder único,

embora conservem, cada qual, sua independência e preservem a conciliação de seus

interesses, de acordo com os princípios basilares da descentralização, da participação e

da autonomia. Pela participação, cada Estado-membro contribui para a formação da

vontade geral e, pela autonomia, conservam a independência na administração de seus

negócios.

O federalismo deu-se por segregação no Brasil, que é a separação de um Estado

Unitário para a formação de entes ligados ao poder central, mas dotados de autonomia

política. A queda da Monarquia em 1889 e a extensão territorial do país favoreceram a

segregação (SERRANO, 2009). Federalismo vem do latim faedus, que significa

contrato. O sistema federativo envolve a articulação de partes de uma organização

26

territorial do poder central com os poderes regional e local, o que traduz um conjunto de

alianças que buscam a compatibilização de valores e interesses entre atores políticos

(AFONSO; BARROS, 1995). O federalismo envolve uma partilha de poder. Uma

característica central do federalismo é “garantir simultaneamente a unidade e a

diversidade” (ROCHA; FARIA, 2010, p. 103).

Em um território das dimensões do brasileiro, com uma grande dispersão

populacional, o desejo do centro de exercer o controle político sobre o território sempre

apresentou dificuldades para ser concretizado. Se o federalismo brasileiro não reflete

clivagens étnicas, linguísticas e religiosas, é inegável a importância do papel das elites

regionais para o entendimento da política brasileira: as regiões, os Estados e os

municípios foram, historicamente, sistemas de poder que, dependendo do momento, são

reconhecidos ou não pelas instituições governamentais formais. Assim, ao longo do

tempo, a distribuição territorial do poder no Brasil vai configurando momentos de maior

autonomia dos entes frente ao governo central e momentos de afirmação deste frente

aos Estados e municípios (ROCHA; FARIA, 2010).

O federalismo, para se manter em equilíbrio, deve estar em constante processo de

cooperação e competição. Os estados membros acatam a ideia de transferir parte de sua

autonomia para um poder unificador, de modo que a partir da cooperação seja possível a

concretização de um jogo de soma positiva. Para a garantia do equilíbrio, cabe também

a assinatura de um pacto federativo, tendo em vista o encontro de múltiplas vontades

(MACHADO, 2009). O pacto firmado no Brasil é a Constituição da República.

Cumpre ressaltar que a primeira Constituição da República Federal previu como

entes federados apenas a União e os Estados, ainda sem representação no Poder

Legislativo. Não havia previsão de concessão de autonomia aos municípios. A

Constituição de um Estado Federal deve: transmitir a vontade dos entes de formar um

novo Estado; garantir direitos para as pessoas; distribuir competências; fixar a forma de

governo como cláusula pétrea; indicar um poder de controle com prerrogativas

suficientes para garantir o pacto federado (SERRANO, 2009).

O formato federativo brasileiro foi instituído logo após a proclamação da República,

em 1889, pelo Governo Provisório. Este foi definido como a união das antigas

províncias, denominadas estados. A Constituição de 1934 incluiu o Distrito Federal e os

Territórios como entes federativos. As cartas de 1946 e de 1967 confirmaram essa

formação (GOUVÊA, 2005). Os municípios somente foram incorporados à federação,

enquanto entes, na Constituição de 1988.

27

2.2 Desenvolvimento Local

A incorporação dos municípios enquanto unidade de administração local pela

Constituição de 1988 gerou a redistribuição de competências e recursos entre os entes

da federação. O êxodo rural, a concentração populacional nos promissores centros

urbanos, a metropolização e o aumento das demandas sociais nas cidades exigiram

grande atenção dos administradores públicos e, ao mesmo tempo, incentivaram a

discussão em torno do desenvolvimento local.

Para Souza (2008, p. 60), desenvolvimento não é sinônimo de progresso econômico,

pois “desenvolvimento deve representar uma mudança social positiva, correspondente

aos desejos e expectativas dos grupos sociais”. Souza (2008) acredita que a qualidade de

vida serve como indicador para apontar o desenrolar do desenvolvimento na nossa

sociedade.

Desenvolvimento significa o estágio econômico, social e político de uma

comunidade. Importante frisar que o desenvolvimento não se refere somente ao aspecto

econômico de produção de riqueza, mas também à distribuição desta (SOMEKH, 2008).

O desenvolvimento, assim, deriva da redução da pobreza e das desigualdades sociais.

A forma mais legítima de se alcançar a justiça social é a que se mostrar mais

democrática, ou seja, aquela na qual os próprios indivíduos definem e estabelecem as

prioridades. Assim, a justiça social está subordinada à autonomia individual e coletiva.

No Brasil, processos de descentralização político-administrativa ocorreram tendo

como uma de suas finalidades aproximar o governo da sociedade civil, promovendo a

participação popular. O drama da ditadura militar, centralista e autoritária, favoreceu a

ideia de que descentralização está relacionada à democracia. Essa relação é reforçada

por alguns autores que entendem que a implantação de um programa de

desenvolvimento deve ter em vista dois elementos: a participação social dos atores

locais e o empoderamento destes, por meio de mecanismos de descentralização

administrava e financeira das políticas públicas (TAKAGI; SILVA; SANTOS, 2008).

A municipalização da prestação de vários serviços públicos deu-se sob o enfoque da

descentralização, assim como a definição do município como ente federativo e a

redistribuição das competências e de recursos. Os grandes municípios são, atualmente,

as sedes das decisões econômicas e da mudança social, atingem diretamente a sociedade

e as decisões de uma única administração municipal e chegam a afetar outras

localidades, configurando uma área metropolitana (VILLAÇA, 1978).

28

O desenvolvimento local de uma metrópole deve ser resultado de uma articulação de

interesses específicos e de construção de interesses comuns entre diversos atores locais,

de diferentes cidades, mediante situações formalizadas de gestão e planejamento. “Não

existe, portanto, um único segmento impulsionador do desenvolvimento local, pois em

cada circunstância são distintos e restritos na sua organização dentro da escala

metropolitana” (POGGIESE, 2006, p. 492).

Para Nadia Somekh (2008, p. 33):

Com o esforço coletivo de cooperação e solidariedade –

presente nas prefeituras e na sociedade civil da região -, será

possível sonhar com utopias que podem ser realizadas com

base nesse duplo movimento de fortalecimento interno e

conexão externa, resultando numa cidade região bela, justa e

ecologicamente equilibrada.

A inclusão social, a cooperação, a criação e o alargamento de esferas públicas, em

que diferentes atores políticos, econômicos, sociais dialoguem de maneira transparente,

a partir de seus próprios interesses em conflito, são elementos fundamentais para a

construção do desenvolvimento local (DANIEL, 2002).

Para que as instituições metropolitanas e municipais tornem-se instrumentos

efetivos de desenvolvimento local/regional são necessários métodos e procedimentos de

planejamento participativo, operacionalizados em sinergia com o território e seus atores,

monitorados com base na percepção dos usuários. O foco precisa ser no impacto direto

e concreto sobre a qualidade de vida e o sentimento de protagonismo (PIRES, 2008).

Pode-se observar que Pires (2008) destaca a qualidade de vida e a autonomia

participativa como indicadores do desenvolvimento local, assim como Souza (2008).

A estruturação da ação municipal, como instrumento de promoção do

desenvolvimento, depende, inicialmente, “da orientação política da administração, que

deve estar predisposta a transferir parte de seu poder à sociedade e a seus organismos

representativos” (PIRES, 2008, p. 115). As disputas eleitorais e as diferenças partidárias

não podem interferir na realização de iniciativas de desenvolvimento econômico local,

negociadas pelos diferentes atores sociais e econômicos. Os investimentos locais para o

desenvolvimento requerem tempos mais longos de maturação que extrapolam os ciclos

eleitorais e políticos (ALBUQUERQUE; ZAPATA, 2008). O desenvolvimento tem de

ser visto como elemento de vontade política, não apenas técnica ou econômica

(CHRISTOFFOLI, 2008).

29

Dessa maneira, segundo Pires (2008, p. 116), a capacidade da sociedade ou de

iniciativas políticas para transformar os instrumentos públicos em mecanismos de

promoção do desenvolvimento local pode ser facilitada pela:

a) aderência política e estratégica ao território, suas

instituições e pessoas; b) independência política, estratégica e

gerencial quando o fator de indução é a administração

pública; c) proximidade do organismo público com o usuário

de seus serviços, executando o monitoramento; e d) difusa

participação e defesa, pela sociedade, dos instrumentos

construídos e conquistados, que são base para o processo

participativo de promoção do desenvolvimento

local/regional. (PIRES, 2008, p. 116),

Corral (2008) sugere que, para que sejam consolidadas as ações comunicativas de

desenvolvimento local, os cidadãos envolvidos e interessados devem ser valorizados

enquanto multiplicadores dos benefícios das políticas públicas. Dessa mesma forma, o

uso de veículos que indiquem formas efetivas de educação e mobilização precisa ser

incentivado para que a participação popular seja consistente na solução de problemas e

construção de novas alternativas de desenvolvimento.

Cumpre destacar que a ideia de desenvolvimento não é antagônica à de conflitos. A

solução dos conflitos deve ser trabalhada pelo discurso prático dialogicamente. A

tomada de decisões com a participação popular é conflituosa, mas seu resultado é mais

legítimo e tem seus problemas amparados pelo controle social.

O desenvolvimento local não é uma panaceia, uma situação social e produtiva além

dos conflitos, mas a centrifugação de um novo tipo de conflito: o que opõe, por um

lado, as políticas de fragmentação social e segregação espacial e, por outro, uma

“cooperação social que corresponde ao próprio processo de constituição democrática do

território produtivo como rede social de cidadãos” (COCCO, 2008, p. 376).

A dimensão local é utilizada para tratar do desenvolvimento em uma região

metropolitana por representar um adjetivo que indica o que é relativo ou pertence a

determinado lugar, circunscrito ou limitado a uma região. A dimensão local não diz

respeito especificamente a um bairro, uma cidade ou a microrregiões. Segundo Silveira

(2008), o tamanho do lugar é decorrência de acúmulos e densidades sociais que o

constroem como referência, o que não cabe em qualquer escala prefixada. O

fortalecimento dos locais deriva da desfragmentação e da conexão com o extralocal. O

que importa na verdade não é a extensão física dos lugares de referência, nem a

abrangência dos circuitos de interação envolvidos, mas o conteúdo e a natureza das

relações que são desencadeadas. O desenvolvimento, que é objeto deste estudo, é o

30

desenvolvimento que adensa os lugares e cria novos sujeitos visando à mudança social

(SILVEIRA, 2008). Nesse sentido, ressalta-se que a região metropolitana deriva do

adensamento de lugares, tendo em vista a busca constante pelo desenvolvimento desses

locais.

A territorialização das metrópoles não segue as divisões político-administrativas,

mas extrapolam esses limites e constituem, hoje, uma única identidade, com problemas

comuns solucionáveis por propostas conjuntas realizadas mediante o exercício da

cooperação (GOUVÊA, 2005).

É importante clarificar, neste trabalho, as escalas dos espaços abordados, como o

local e o regional. O nível local é muitas vezes identificado de forma simplista, com um

recorte político-administrativo municipal. Souza (2008), ao discutir a impressão de

David Harvey sobre as escalas, dispõe que estas não são nem naturais, nem imutáveis,

mas relativas ao modo histórico de organização e integração humana, logo, dinâmicas.

Esse modo de interpretação não rompe com as divisas político-administrativas,

entendendo estas como essenciais, já que dizem respeito a variantes normativas, de

recolhimento de tributos dentre outros.

A escala local trata da escala por excelência do planejamento e gestão das cidades

(não limitando cidade a município), devido aos seus recortes espaciais. Nesta é

permitida a vivência pessoal e a formação de identidades socioespaciais, além de maior

proximidade física do governo com a sociedade (SOUZA, 2008). As regiões

metropolitanas podem se inserir nessa escala, devido à presença de uma estruturação

urbana e interdependência contínuas, apesar da subdivisão em várias unidades político-

administrativas municipais. O interesse comum, buscado pelos membros de uma região

metropolitana, infere em laços e relações fortes, de modo que todo o espaço da região

passa a ser incorporado como um único lugar.

A escala regional refere-se à moldura imediata da escala local. Essa comporta

relações intraurbanas, entre diferentes manchas urbanas, e pode coincidir com a divisão

administrativa estadual (SOUZA, 2008).

A metrópole configura-se como um espaço fisicamente integrado, porém

institucionalmente fragmentado (MACHADO, 2003). Pela razão da escala local

transmitir a ideia de identidade comum e de proximidade entre governo e sociedade,

esta atende melhor aos interesses metropolitanos. Dentre esses interesses estão o de

integração e o de legitimação de um território comum, usado para o estabelecimento de

relações sociais em prol do desenvolvimento conjunto.

31

No próximo tópico serão esclarecidos os conceitos de cidade e território para que a

escala local do desenvolvimento metropolitano seja melhor compreendida.

2.2.1 Cidade, Território e Metropolização

Para a compreensão do território, Milton Santos (2007, p. 61) sugere um “regresso

ao começo da história humana, quando o homem em sociedade, relacionando-se

diretamente com a natureza, constrói a história”. Respectivo autor dispõe que, nos

primórdios da história humana, os laços entre território, política, economia, cultura e

linguagem eram transparentes, possuíam uma territorialidade genuína. Economia,

política, cultura e linguagem emanavam da perspectiva de território. Essa percepção

criava um sentido de identidade e pertencimento ao seu espaço geográfico. Desse

sentido partiram as ideias de domínio, de poder. Comunidade era um termo restrito ao

contexto de espaço.

“Um território possui pelo menos três atributos a partir dos quais pode ser

caracterizado. Primeiro ele tem de ser geograficamente definido” (TAKAGI; SILVA;

SANTOS, 2008, p. 172), caracterizado enquanto sua dimensão física. Outro modo de

caracterizar um território é a análise de seus atributos que transmitem uma identidade

singular. A coesão de seus principais atores sociais também é uma abordagem que

identifica um território pela dimensão político-institucional (TAKAGI; SILVA;

SANTOS, 2008). Essa última dimensão trata de uma concepção de território dinâmico,

construído continuamente pela sociedade.

Christoffoli (2008, p. 246) reforça o exposto acima ao afirmar que o conceito de

território carrega duas dimensões:

um sentido físico, objetivo, material e localizado; e um espaço

social, com dimensões culturais, políticas, econômicas,

históricas – em sua complexidade e temporalidade. Uma

dimensão relacional, subjetiva, representável e indeterminada.

Um mesmo território físico pode, então, conter várias

territorialidades que colidem, se destroem e se recriam por meio

de relações de poder.

O território não é uma realidade natural, mas resultado da capacidade de articulação

de atores locais. O território possui uma organização social, essencial para o

desenvolvimento.

Os territórios tendem a uma compartimentação generalizada, na qual se associam e

se chocam conforme o movimento geral da sociedade. Hoje se pode afirmar que a

totalidade do planeta está compartimentada, pelo menos politicamente. Todo espaço da

Terra dispõe de uma função com fins de cumprir as necessidades, os usos e interesses da

32

humanidade (SANTOS, 2007). Essa compartimentação reflete na metropolização, pois

esta consiste em uma mancha urbana ou cidade subdivida em diversas unidades

administrativas.

O fenômeno da metropolização demonstra a atuação ativa do território. A cidade

deixa de corresponder aos limites administrativos municipais, os fluxos de pessoas

confundem-se e misturam-se transversalmente. Nova compartimentação territorial deve

ser agregada ao processo de formação de um novo lugar, a região metropolitana.

O território não é neutro ou passivo, ao contrário, produz a consciência do lugar e da

forma de ocupação. “O espaço geográfico não apenas revela o transcurso da história

como indica a seus atores o modo de nela intervir de maneira consciente” (SANTOS,

2007, p.80).

A simples superposição de um conjunto de sistemas naturais e um conjunto de

sistemas de coisas criadas pelo homem não formam o território. Este corresponde ao

espaço vivido pelas relações sociais, políticas, laborais ou produtivas (SANTOS, 2007).

As cidades representam o espaço usado pelas relações sociais, assim como a

transformação das cidades em grandes metrópoles. O município representa uma

delimitação do espaço baseada em um contexto jurídico-político, e não vivido. A cidade

é produto de processos socioespaciais “que refletem a interação entre várias escalas

geográficas” (SOUZA, 2008, p. 52). As cidades não devem ser compreendidas como

uma massa modelável pelo Estado, mas como um conjunto de interações entre vários

atores modeladores do espaço. A compreensão sobre a dinâmica territorial

metropolitana torna-se mais rica e completa com a observação da diversidade de fatores

que influenciam sua espacialidade (MORENO, 2006), o que significa ir além da análise

dos limites das municipalidades.

O território é produto de um processo político e social, construído pela sociedade ao

longo da história. Ao mesmo tempo, é condição material reveladora das condições de

vida, da maior ou menor presença do poder público, enquanto prestador de serviços e

garantidor de direitos. A forma como o espaço é vivido difere de uma comunidade para

outra, conforme a estrutura oferecida pelo Estado (VITTE, 2009).

Segundo Vitte (2009, p. 113):

O conhecimento da história territorial de um país, de uma região

ou de um lugar é capaz de revelar os processos e as práticas

políticas e de poder que foram responsáveis pela incorporação

do espaço e de suas potencialidades ao processo capitalista.

33

O importante de se compreender pela explanação feita quanto às cidades e aos

territórios é que o desenvolvimento local dá-se em um território que possui uma

identidade comum, mesmo que este englobe uma diversidade de subdivisões político-

administrativas. Cidade e município são conceitos distintos. A cidade é resultado de

interações sociais urbanas e esta pode avançar sobre limites municipais, configurando

um processo de metropolização. O município engloba tanto o meio urbano, conhecido

como cidade, quanto a zona rural.

A promoção do desenvolvimento local pela organização do espaço urbano,

caracterizado como uma metrópole, devido ao agrupamento de interesses diversos,

depende de ações que enfatizem as demandas e as singularidades sociais do território

envolvido. No item a seguir, será discutido o conceito de governança metropolitana,

enquanto instrumento de gestão social e de efetivação do desenvolvimento local.

2.3 Gestão Social e Governança Metropolitana

Após a caracterização das regiões metropolitanas, enquanto unidades

administrativas do Estado Federal brasileiro, falta compreender como fazer com que

estas promovam o desenvolvimento local.

Os espaços urbanos são caracterizados pelos altos índices de vulnerabilidade social

e, segundo Dowbor (2001), os serviços sociais carecem de uma atenção especial

executada nos termos da gestão social. O conceito de gestão social adotado nessa

pesquisa pode ser descrito como:

o conjunto de processos sociais no qual a ação gerencial se

desenvolve por meio de uma ação negociada entre seus

atores, perdendo o caráter burocrático em função da relação

direta entre o processo administrativo e a múltipla

participação social e política (TENÓRIO, 1998, p. 7).

Para a prática da gestão social anteriormente conceituada, o instrumento escolhido

neste trabalho é a governança metropolitana. Fischer (2002) destaca as seguintes

características da governança: a concepção de que todos os implicados no processo de

tomada e implementação de decisões são corresponsáveis e donos das decisões

tomadas; o conceito do processo de produção de recursos financeiros, organizacionais e

outros como resultados de parcerias horizontais intra e interorganizacionais; a

valorização das estruturas descentralizadas e participativas que integram tomadas de

decisão. Essas características demonstram que a governança cumpre com os preceitos

da gestão social destacados por Tenório (1998), quais sejam: ação negociada e

participativa.

34

Governança remete ao desenvolvimento de modalidades de governo, que são

caracterizados pela capacidade de tomada de decisões e de imposição das mesmas

(BRASIL; CARNEIRO, 2009). Governança diz respeito a uma multiplicidade de

envolvidos atuantes que possuem responsabilidades comuns relativas a questões sociais

e econômicas. A capacidade de atuação da administração pública depende do uso de

instrumentos de coordenação, indução, regulação e integração, o que implica em

mudanças nos estilos ou formas de governo.

O termo governança traduz a mudança na interpretação da capacidade governativa.

Esta deixa de ser limitada aos resultados das políticas governamentais e passa a

abranger a forma pela qual o governo exerce seu poder. O termo governança refere-se a

três dimensões essenciais de capacidades do Estado: de comando, de coordenação entre

os distintos interesses e de implementação (DINIZ, 2000).

As ideias referentes a governo e governança tratam de idealizações teóricas e podem

corresponder a uma diversidade de conceitos. Segundo McGee (2010, p. 28), as

definições tradicionais dadas a esses termos enfatizam governo como um “sistema

político pelo qual um grupo de pessoas é administrado e regulado, no qual existem

diferentes níveis governamentais com diferentes responsabilidades, que envolvem a

autoridade de criar e impor leis e regulamentos”. Já a governança trata diretamente

daquilo que o governo faz. Com o desenvolvimento das redes formadas entre o governo,

o setor privado e a sociedade civil, a distinção entre governo e governança ficou menos

nítida. Surge então o conceito de governança colaborativa, relacionada à capacidade de

cooperação para a produção de resultados (MCGEE, 2010).

Em conformidade com o conceito de McGee, Velloso (2010) dispõe que:

Parte essencial para a consolidação da governança

democrática colaborativa, a cooperação é estratégia para

conferir poder, mobilizar e favorecer a otimização do aporte

de recursos da sociedade. Cooperação é tanto dinâmica social

quanto condição da construção de relações mais paritárias de

interação de atores e, como resultado, opera para conformar

novas identidades políticas plurais (VELLOSO, 2010, p.

356).

Segundo DINIZ (2000), a capacidade de comando do Estado diz respeito à definição

de estratégias de ação. A de coordenação refere-se à integração entre as diferentes áreas

de governo, com o intuito de garantir a coerência das políticas e a administração de

conflitos. A capacidade de implementação está relacionada à habilidade de mobilização

35

de recursos técnicos, institucionais, financeiros e políticos, para a execução das

decisões. Cumpre destacar que a simples implementação não é suficiente, esta tem que

efetivar os interesses legítimos da sociedade. A garantia de governança requer um bom

desempenho administrativo e um sistema que articule os interesses dos diversos

agentes, dentre eles: o poder público, o setor privado, a sociedade civil.

Sob essa ótica, a governança está ligada a uma administração que preza pela

chegada a um consenso, com a ampliação de atores relacionados ao círculo decisório e à

procura de soluções compartilhadas. A mediação é uma opção de trabalho. Governança

é a forma de cooperação que permite melhor governabilidade de diferentes espaços e a

administração pública dialógica (GOHN, 2001).

A gestão metropolitana invoca normas constitucionais capazes de sustentar arranjos

variados de governança que possam “garantir a regulação pública, a mediação, a

indução por lógicas de coordenação e cooperação, entre outras possibilidades, segundo

critério normativo democrático e inclusivo” (PIRES, 2010, p.168). Com base nas

disposições constitucionais, é possível identificar tipologias vertical e horizontal de

articulação intergovernamental. A tipologia compulsória ou vertical trata da

coordenação federativa exercida principalmente pela União ou pelo estado sobre um

município, sem que o outro tenha a oportunidade de se opor à situação a ele imposta. A

tipologia voluntária ou horizontal ocorre quando os envolvidos na articulação foram

participantes ativos da construção da relação interinstitucional comum e possui os

convênios e os consórcios públicos, como exemplos (PIRES, 2010, p.168)3.

Governança está diretamente relacionada com o exercício da autoridade política, o

que inclui o sistema político, a forma de governo, as relações entre os poderes, os

sistemas partidários, dentre outros. Para Ronaldo Gouvêa (2005), a governança objetiva

qualificar o modelo de exercício da autoridade política ou a função de governar,

envolvendo as dimensões sociais da administração pública. Diante disso, fica clara a

necessidade de associar a capacidade governamental e a democracia. A governança não

se restringe ao aparato governamental institucionalizado. A capacidade de governança

3 O marco legal vigente, embora adote modelo institucional, abre oportunidade, sobretudo para a

exploração da tipologia de consórcios públicos, arranjos horizontais e voluntários concernentes à

processualidade cooperativa. Tendência mundial, a escolha por esse modelo de atuação emana de

conceitos como a intersetorialidade e a articulação, pertencentes à seara da administração consensual,

uma nova tendência que tem sido objeto de estudo das ciências do Estado (PIRES, 2010, p. 182). Em

Minas, foi adotado um modelo híbrido de gestão metropolitana, uma gestão compartilhada na qual

convivem lógicas verticais e horizontais de governança (PIRES, 2010).

36

depende da possibilidade de se estabelecerem canais eficientes de mobilização para a

participação popular na formulação de políticas públicas, o que legitima o desempenho

estatal (GOUVÊA, 2005).

Outro esclarecimento necessário trata da diferenciação do significado de governança

em relação ao de governabilidade. Para Melo (1996), governabilidade refere-se às

“condições sistêmicas de exercício de poder em um sistema político” (MELO, 1996,

p.69). A governabilidade trata das possibilidades operacionais do legado institucional,

enquanto a governança refere-se à capacidade de governo, e não às características das

suas instituições.

Gouvêa caracteriza a governabilidade como um processo de interação, um ajuste

entre as necessidades da sociedade civil e a capacidade efetiva dos governos de

processá-las e atendê-las. Portanto governabilidade requer um gerenciamento “das

relações entre atores sociais, grupos e forças políticas, organizações, instituições

públicas, bem como agências paragovernamentais, em termos de seus interesses e

conflitos” (GOUVÊA, 2005, p. 182).

A governabilidade deve ser tratada sob três dimensões: a capacidade do poder

público de identificar problemas e de formular as políticas adequadas; a capacidade do

Estado de mobilizar os recursos e os meios necessários à implementação dessas

políticas; a capacidade de liderança do governo (GOUVÊA, 2005).

As experiências de governança podem ser acordos multiníveis, envolvendo os níveis

nacional, estaduais e municipais de governo; acordos regionais, que operam em uma

região metropolitana definida; acordos regionais submetropolitanos entre

municipalidades, que formam parte de uma região metropolitana; acordos

descentralizados com foco em políticas públicas de inclusão social (MCGEE, 2010).

Velloso (2010) destaca que:

As parcerias para a governança, celebradas entre instituições, ou

entre instituições e sociedade, constroem-se do ponto de vista

das competências e capacidades a mobilizar para a autonomia,

tanto individualmente (percepção da responsabilidade

individual) como em parceria (consciência das necessidades

coletivas e vigor dos movimentos de organização em conjunto);

mas também pelas novas fronteiras que a escala metropolitana

abre ao exercício da democracia e da cidadania, buscando novas

soluções e formas de governança e de regulação que

dificilmente se esgotam numa resposta político-administrativa

global e com uma delimitação geográfica rígida do ponto de

vista do território de intervenção. Trata-se, mais uma vez, da

construção do comum – de instrumentos comunitários que se

consolidam e estendem em redes, ainda que provisoriamente

(VELLOSO, 2010, p. 356).

37

Estado, União e municípios precisam relacionar entre si, investir na articulação

intragovernamental. Não existem vazios institucionais, mas superposições e disfunções

que somente podem ser corrigidas a partir da integração dos responsáveis pela gestão.

Da mesma forma, as articulações intersetoriais entre Estado-sociedade-setor privado

também precisam ser aprimoradas. Intersetorial é a articulação que objetiva ações

interinstitucionais e a interação entre agentes, a partir da configuração de canais de

comunicação entre os serviços e o envolvimento em rede (KISS; SCHRAIBER;

D‟OLIVEIRA, 2007).

A população em posição ativa pode e deve contribuir para a identificação de

problemas e para a discussão de soluções, além de compartilhar responsabilidades com

a esfera governamental (PIRES, 2010). A governança deve reconciliar a “fragmentação

institucional - da própria abordagem das políticas públicas do Estado – com a

territorialidade metropolitana, com seus desafios urbanos, ambientais e sociais e, ao

mesmo tempo, buscar sinergia para a construção dos objetivos comuns” (PIRES, 2010,

p.187).

Um conceito importante para entender as considerações acerca da governança é o de

custos de transação. Esses custos devem ser assumidos pelos atores envolvidos na

organização metropolitana para o cumprimento de acordos e para a fiscalização da sua

execução. Representam os custos das relações intergovernamentais, da cooperação entre

os atores4. As intervenções metropolitanas estão sujeitas a custos de transação, pois

arcam com custos políticos, financeiros e institucionais para a sua consecução. Custos

elevados inibem a administração regional, custos reduzidos tornam mais atuante a

gestão metropolitana (MACHADO, 2009). Os custos de transação para a governança

metropolitana são custos assumidos por atores para a celebração, execução e

fiscalização de acordos destinados à gestão integrada de um território. Esses custos são

impactados pela assimetria de forças entre os entes, pelo desequilíbrio dos poderes –

assimetria política, legal, técnica, administrativa e orçamentária. Quanto maior a

assimetria, mais difícil a cooperação interinstitucional (NABUCO; BOSSI;

WOJCIECHOWSKI, 2010).

4 Os atores metropolitanos são aqueles que possuem poder decisório. Esses decidem contra ou a favor das

decisões regionais de acordo com o retorno que estas fornecerão (retorno em votos, dinheiro ou até

mesmo prestígio).

38

A eficácia da governança está relacionada, nesse sentido, não apenas à eficiência das

políticas do Estado, mas também à legitimidade dessas políticas e sua sustentabilidade

institucional. A avaliação dos custos de transação é uma forma de se verificar o grau de

cooperação metropolitana. Respectivos custos representam o interesse na organização

colaborativa, pois quanto maiores, menor a disponibilidade de cooperação entre os

envolvidos.

Infelizmente as principais entidades oficiais de pesquisa estatística e coleta de

informações não costumam produzir avaliações de desempenho das formas de gestão

metropolitana (MACHADO, 2009). A falta de dados quantitativos faz com que uma

análise qualitativa sirva de embasamento para a avaliação sugerida, através da

identificação de políticas realizadas intermunicipalmente sob a ótica da cooperação.

Com a finalidade de ressaltar a eficácia da governança, Ribeiro (2007) afirma que o

poder público deve ser capaz de agir cooperativamente e superar os obstáculos advindos

da metropolização, deve construir “um regime institucional de gestão dos territórios

metropolitanos capaz de articular os atores do Estado, do mercado e da sociedade em

torno de ações de cooperação e complementaridade eficazes, eficientes, justas e

sustentáveis” (RIBEIRO, 2007, p.47).

Na escala local, na qual se insere a região metropolitana, o governo é uma forma de

gestão pública baseada na possibilidade de maior proximidade entre gestores, governo e

sociedade, com o intuito de aumentar os níveis de participação democrática popular

(GOHN, 2001). Desse modo, entende-se que, nas instâncias municipal e metropolitana,

a governança, além de extremamente importante, é de certa forma facilitada, desde que

tenha havido o envolvimento do poder local, fundamentado na autonomia popular

(GOHN, 2001).

A governança metropolitana depende da institucionalização de arranjos entre os

diversos atores políticos e sociais através do estabelecimento de regras legítimas, aceitas

coletivamente, para articularem o processo de tomada de decisões a nível metropolitano.

Esses arranjos possibilitarão o desenvolvimento de políticas públicas plurimunicipais.

Sobre esses arranjos, Pires (2008) afirma que eles pressupõem uma intensa e

transparente articulação dos diversos atores e núcleos de poder tanto inter quanto

intragovernamentais. As ações dos entes federados e dos órgãos têm que estar alinhadas

e coordenadas, de modo a possibilitar a superação dos problemas metropolitanos. Além

disso, também é importante que haja uma participação responsável dos interessados, a

39

fim de garantir a eficiência legítima das políticas públicas e de possibilitar a

consolidação de uma rede de sustentação da ação pública.

Para a realização da ordem urbanística, a governança atua como um processo de

planejamento urbano integrado, de construção de matrizes cognitivas e normativas

compartilhadas, de intervenção ou de regulação da esfera privada, no tocante às

dinâmicas que envolvem o solo urbano, “por meio de arranjos democráticos capazes de

sustentar a discursividade para a conciliação dos interesses presentes no território, pela

lógica funcional da propriedade e da cidade. Pressupõe, por fim, governança dos meios

para se atingir os fins coletivos” (PIRES, 2010, p. 186).

Conforme Maria Coeli Simões Pires (2010, p. 189) é urgente:

a construção de uma governança metropolitana

compartilhada, sabendo-se de antemão, que o recorte

metropolitano tradicionalmente não pauta os movimentos

sociais. Isso indica a necessidade de arquiteturas diferentes de

participação, de novos modos de empoderamento da

sociedade. A implementação de um modelo jurídico-

institucional que leve em conta o processo socioeconômico e

urbano-territorial deve-se assentar em práticas sociopolíticas

de gestão, as quais precisam do empreendedor político, mas

devem superar os resquícios do autoritarismo e do

centralismo institucional, para buscar o equilíbrio da

governança nos pilares dos diversos núcleos de poder que

compartilham o espaço metropolitano, os entes federativos, a

sociedade civil e a iniciativa privada.

Os territórios metropolitanos concentram as riquezas e problemas, no entanto a

provisão de políticas públicas é marcada por um embate entre interessados e

provedores. Para a resolução desse conflito, “há que se estabelecer a governança das

demandas por políticas sociais, por meio de planejamento, monitoramente dos fatores

de pressão, informações de base territorial, qualificação da base cognitiva” (PIRES,

2010, p. 186), que deve ser compartilhada com a sociedade para garantia de fluxos

comunicacionais e da legitimidade. Teixeira (2008) esclarece que:

As resistências à aceitabilidade da região metropolitana, à sua

atuação em níveis político e administrativo e as dificuldades

de sua gestão na articulação entre os poderes envolvidos,

tendem a enfraquecer-se, na medida em que a governança

metropolitana se alie à ação comunitária e participativa

(TEIXEIRA, 2008, p.179).

A dinamicidade das relações sociais urbanas faz com que seja impossível o

estabelecimento de um modelo de governança metropolitana generalizado para atender

40

a uma diversidade de regiões. A gestão metropolitana tem um bom desempenho,

conforme a capacidade de planejar, de implementar ou de influenciar as políticas

públicas intermunicipais, de criar sinergias, de favorecer ganhos de escala, redistribuir

riquezas e zelar pela observância de critérios supramunicipais (MACHADO, 2009).

Para Esteve (2004, p. 29), a combinação de “cooperación pública y privada y

participación ciudadana es la única garantia para que, del desarollo de la estratégia,

resulte un progreso humano”.

A governança metropolitana depende de elementos como a cooperação, a

administração pública dialógica e a participação popular para que promova o

desenvolvimento local nas áreas metropolitanas. Por essa razão, esses três itens serão

discutidos nos próximos tópicos.

2.3.1 Cooperação Interinstitucional

A formação de metrópoles é um fenômeno inevitável no mundo moderno e que

pode se tornar capaz de revitalizar a economia, promover empregos e a inclusão social,

a partir da construção de práticas sociopolíticas de gestão (FERNANDES JÚNIOR,

2004).

O processo de metropolização desrespeita os limites administrativos municipais ao

integrar os municípios de maneira indissociável e os problemas derivados dessa relação

somente poderão ser resolvidos por meio de ações integradas, colegiadas e orgânicas,

não de forma isolada ou apenas por um somatório de ações locais (FERNANDES

JÚNIOR, 2004). O art. 2°, incisos III e XVI do Estatuto da Cidade5, dispõe que a

cooperação entre os governos, a iniciativa privada e os demais setores da sociedade é

essencial nos processos de urbanização, para que seja atendido o interesse social e haja

isonomia de condições para os agentes públicos e privados na promoção de

empreendimentos e atividades relativos ao processo de urbanização. A complexidade

socioeconômica das regiões metropolitanas requer uma estratégia que envolva a

cooperação, ações coletivas e a mobilização produtiva de atores públicos e privados

(KLINK, 2008).

Segundo Marinella Machado Araújo (2010, p. 145):

Cooperar interinstitucionalmente não significa apenas fazer em

conjunto, mas, sobretudo, atuar de forma solidária. Se, por um

5 O Estatuto da Cidade, lei 10257/2001, tem como objetivo regulamentar os artigos 182 e 183 da

Constituição Federal de 1988. Esses artigos tratam das políticas urbanas nacionais, municipais e

estaduais.

41

lado, a baixa capacidade administrativo-financeira das unidades

federadas brasileiras estimula a cooperação, a falta de visão

administrativa global do gestor público a dificulta. A lei pode

criar meios para o desenvolvimento de ações e políticas públicas

sustentáveis, mas não pode garantir que elas sejam eficientes.

Cooperação eficiente pressupõe conhecimento da legislação e

de seus entraves, além de capacidade administrativa.

No Brasil pouco foi feito para favorecer a cooperação institucional

intergovernamental, o que levou os municípios a desenvolverem políticas

individualistas. Ocorre que a maioria dos governos municipais não dispõe de recursos

financeiros e de capital humano ou social (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). Em

regra, cada ator tende a agir em favor de seus próprios interesses, o que, em alguns

momentos, pode produzir bons resultados. No entanto, essa estratégia pode gerar

consequências nefastas a outros envolvidos, assim como, no futuro, para o próprio ator

que tomou a iniciativa individualista (GOUVÊA, 2005). O receio que essa informação

gera é de que a percepção da importância da cooperação só se desenvolva quando a

situação de crise for instalada.

Victor (2004) ressalta a importância de se trabalhar a cooperação no grupo de atores,

pois somente haverá de fato um envolvimento, se houver a segurança de que o outro

também cooperará. A imposição da cooperação como uma ação obrigatória não gera

efeitos positivos.

Scherer-Warren (1999) afirma que as maiores dificuldades para a implementação de

ações de cooperação residem no campo da cultura política. De um lado o poder público

tende a se orientar por políticas tradicionais; de outro, a sociedade civil encontra-se

incipientemente organizada. Scherer-Warren (1999) dispõe que as dificuldades de

publicização do poder público, as rivalidades partidárias, o clientelismo, a falta de

transparência e excessiva burocratização indicam a falta de prática do Estado para lidar

com a democracia. Com relação à sociedade civil, a tradição de delegação de poder, fez

com que esta tivesse dificuldade em transformar os problemas em propostas legítimas e

de qualidade (SCHERER-WARREN, 1999).

O espaço metropolitano deve reconhecer a pluralidade e a diversidade de sujeitos

sociais envolvidos nas relações de conflito e cooperação. Esses sujeitos devem ser

verdadeiros cidadãos e não meros destinatários passivos das ações da Administração

Pública (TEIXEIRA, 2008). As questões afetas à gestão metropolitana devem ser

discutidas juntamente com o planejamento do desenvolvimento, traduzido no

planejamento regional e “no desenvolvimento econômico e social em áreas de

42

integração regional, como importante instrumento de articulação municipal, juntamente

com os cidadãos metropolitanos, compondo-se a necessária gestão democrática das

cidades” (TEIXEIRA, 2008, p. 127).

Diante do contexto explanado, é necessária uma teia de diferentes organizações,

entidades e atores interessados no desenvolvimento integrado metropolitano. A

sociedade civil hoje constitui um terceiro poder, ao lado do poder político e do poder

econômico, devido à ampliação dos direitos sociais e do aumento da participação

popular na gestão das cidades. Sendo assim, deve ser definido um novo modelo de ação

metropolitana, com valorização da regionalização, da cooperação e parcerias entre

governo e sociedade (TEIXEIRA, 2008). É fundamental o envolvimento dos atores

sociais e a promoção de um amplo debate para a construção de forma participativa das

alternativas que atendam às necessidades urgentes (GOMES; CHELLES; OLIVEIRA,

2010). Acordos firmados por adesão entre municípios metropolitanos trabalham com

imposições feitas sobre as localidades e não dão suporte ao diálogo. O princípio da ética

do discurso, proposto por Habermas (1989), refere-se a um procedimento que não indica

orientações prontas e acabadas, mas a construção destas, envolvendo os interesses de

diferentes grupos sociais. Esse princípio deve embasar as ações de governança

cooperativa metropolitana.

Araújo (2010) reforça essa ideia afirmando que:

O que se busca com a cooperação, e com as normas que a

regem, é a igualdade entre os cooperados no espaço de

discussão e construção do interesse público. A cooperação

não pode mais ser vista como uma forma legítima de

referendar as decisões tomadas por aquele cooperado que

detenha o poder econômico (ARAÚJO, 2010, p.144).

O desafio é intervir nos processos de decisão, sem implicar na prática da adesão, ou

seja, na aceitação de propostas sem o adequado conhecimento e debate sobre as

mesmas. Nesse contexto é importante o uso da transversalidade, entendida como uma

cooperação intersetorial e interdisciplinar que viabiliza a realização de projetos

governamentais, construídos em conjunto com participantes variados (POGGIESE,

2006).

Diante da criação de grandes espaços com problemas interligados, a estrutura e o

gerenciamento das unidades regionais têm de se adequar ao planejamento das cidades.

Uma eficiente forma de adequação é a criação de mecanismos de cooperação entre as

43

entidades envolvidas na dimensão da regionalização, com os sujeitos comunitários,

parceiros dos governos local e estadual (TEIXEIRA, 2008).

A União, sem subtrair a autonomia e a relevância da administração estadual, precisa

atuar na construção de um novo marco regulatório e na alocação de recursos em

projetos de âmbito regional, para que sejam estabelecidos os estímulos para a

participação efetiva dos Estados federados como dos municípios envolvidos, na gestão

metropolitana (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010, p. 235). Cabe ao governo federal

desempenhar um papel chave nas áreas metropolitanas, induzindo e mobilizando os

agentes em torno de uma agenda de ações articuladas, além de trabalhar para um

eficiente financiamento dessas ações. A distribuição tributária atual ignora as

necessidades das unidades regionais (DENALDI; KLINK; SOUZA, 2010).

O futuro das metrópoles depende tanto da capacidade de organização de seus

moradores quanto da ação do Estado nos seus três níveis de governo. A melhoria do

habitat e o desenvolvimento local estão condicionados não apenas ao acerto de uma

política econômica lato sensu e da reformulação, em curso, de uma política urbana

federal integrada (saneamento, habitação e transporte), “mas também a políticas

estaduais correspondentes e, especialmente, às reformas urbanas levadas a cabo nas

diferentes regiões metropolitanas por acertos que entrelacem os municípios envolvidos e

os governos estaduais” (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010, p. 91).

A cooperação cria uma condição diferenciada na atuação mais efetiva da gestão dos

recursos públicos e mesmo no encontro de soluções comuns através da troca de

experiências e da vivência de problemas que afetam municípios dentro de um mesmo

território, com situações econômicas e sociais diferenciadas. As vantagens da

cooperação entre os entes federados geram reflexos na racionalização do uso dos

recursos, na criação de vínculos e fortalecimento dos já existentes, na

instrumentalização da promoção do desenvolvimento local e na conjugação de esforços

para atender as necessidades da população (GOMES; CHELLES; OLIVEIRA, 2010).

A cooperação interinstitucional torna-se eficiente, quando o planejamento considera

os custos das ações que serão desenvolvidas e trata dos recursos direcionados, previstos

nas leis orçamentárias anuais, nos planos plurianuais, nas leis de diretrizes

orçamentárias. Cooperação interinstitucional e administração eficiente dependem de

planejamento administrativo, financeiro e orçamentário. Esses fatores devem estar

legitimados frente à comunidade para que haja controle social por uma gestão

democrática e participativa (ARAÚJO, 2010, p. 153).

44

Para Esteve (2004), é fundamental o compartilhamento da liderança, assim como o

estabelecimento de relações de confiança entre os atores envolvidos, para uma maior

compreensão dos interesses envolvidos.

A ação cooperativa e intersetorializada deve estar atenta ao objetivo comum do

desenvolvimento local. A articulação intermunicipal, ao compor a gestão democrática

das cidades, torna-se um importante instrumento de mudança social.

2.3.2 Administração Pública Dialógica

Os pressupostos da cooperação interinstitucional são: o conhecimento da legislação

e de seus entraves; a capacidade administrativa dialógica; a consciência das

potencialidades e limitações financeiras da unidade federativa (ARAÚJO, 2010).

A administração pública dialógica fundamenta-se na ação interligada e

comunicativa6 das funções políticas e de gestão, afinal executa as decisões derivadas da

função governamental e política. A colaboração é favorecida a partir do momento em

que se reconhece a relação das funções, como interdependentes umas das outras

(ARAÚJO, 2010). José Abílio7 destaca que a sociedade civil é fundamental para a

manutenção do equilíbrio e assegurar os conflitos entre as instituições da gestão

metropolitana.

Atualmente as metrópoles são espacialidades que contém múltiplas centralidades, o

que nos leva a questionar a eficiência de soluções de regulação e governança baseadas

numa visão centralista, estatizante e espacialmente rígida. Por essa razão, tornou-se

fundamental discutir democrática e amplamente as “formas de regulação e de

governança das regiões metropolitanas num novo patamar que ultrapasse

definitivamente o debate sobre a eficácia e a eficiência, que demarcava o planejamento

funcionalista da cidade” (VELLOSO, 2010, p.354).

Atentando-se para a dinâmica urbana, entendendo a democracia como organização

da sociedade e da relação entre sociedade e Estado, a colaboração interinstitucional é

transformadora dos modos de apropriação e de organização física do espaço

(VELLOSO, 2010). A complexidade da sociedade moderna vem exigindo que o

atendimento de suas demandas não se limite às instâncias legislativas formais. É

necessária a criação de um novo tipo de mediação baseado em fontes de legitimidade e

no efetivo controle social das práticas de poder, o que resulta na combinação de

6 Habermas (1989, p.79) chama de comunicativas as “interações nas quais as pessoas envolvidas se põem

de acordo para coordenar seus planos de ação”. 7 Observação feita por José Abílio em entrevista realizada para esta pesquisa.

45

democracia representativa e participação popular de caráter voluntário (GOUVÊA,

2005).

Alguns fatores precisam ser observados para se concluir se uma administração está

ou não sendo estruturada sobre a base da dialogicidade (SILVEIRA; BOCAYUVA,

2011, p. 6):

- a abrangência e o desenho dos espaços interinstitucionais onde

são conduzidas as agendas/estratégias de desenvolvimento local

(embrionárias ou mais plenamente constituídas);

· a construção e funcionamento de instâncias de consulta e

participação social;

· a produção ou incorporação de informações sistematizadas

sobre as realidades locais (o que inclui os antes denominados

indicadores de diagnóstico);

· a implementação de planos locais compartilhados,

coordenados e metodologicamente apoiados;

· a implementação de processos sistemáticos de capacitação

(dos agentes econômicos e dos gestores locais agentes

governamentais, organizações sociais, conselhos, comissões).

· a integração intersetorial através de mutualidades em rede e

interfaces entre programas e entre organismos;

· a construção de mecanismos de acompanhamento

/monitoramento, com elementos definidos e identificáveis pelos

atores.

A dialética faz parte das relações sociais, inclusive metropolitanas e institucionais.

Segundo Santos (2007), dentro de cada espaço, as alianças, os acordos e os contratos

sociais implícitos ou explícitos estão sempre se refazendo e a hegemonia deve ser

sempre revista. A dialética é essencial para a efetivação da necessidade de constante

adaptação ou revisão. A dialética deve ser pautada na cooperação.

Não é fácil, em sociedades complexas, encontrar um interesse universalizável.

Diante dessas situações, resta a alternativa de realizar negociações que exijam a

disposição cooperativa dos participantes. Os processos de negociação são adequados

para situações nas quais não é possível neutralizar as relações de poder, ou seja, todos

devem ter a mesma chance de participação no discurso. No que concerne aos juízos

morais, cada um, antes de basear seu juízo numa determinada norma, deve examinar se

ele pode querer que qualquer outro, que se encontre numa situação comparável, reclame

a mesma norma para o seu juízo (HABERMAS, 1989). Os resultados são acordos

capazes de equilibrar interesses conflitantes (HABERMAS, 2003).

A argumentação é necessária para a negociação e para o alcance de um consenso,

porque é preciso, para a fixação de uma linha de ação coletiva, coordenar as intenções

individuais e chegar a uma decisão comum (HABERMAS, 1989). Segundo Habermas

(1989, p.165):

46

O grau de cooperação e estabilidade resulta então das faixas de

interesses dos participantes. Ao contrário, falo em agir

comunicativo quanto os atores tratam de harmonizar

internamente seus planos de ação e de só perseguir suas

respectivas metas sob a condição de um acordo existente ou a se

negociar sobre a situação e as consequências esperadas.

O princípio possibilitador do consenso deve assegurar que somente sejam

válidas as normas que exprimirem uma vontade universal. “De acordo com a ética do

Discurso, uma norma só deve pretender validez quando todos os que possam ser

concernidos por ela cheguem (ou possam chegar), enquanto participantes de um

Discurso prático, a um acordo quanto à validade dessa norma” (HABERMAS, 1989,

p.86). Habermas introduz a ideia de universalização como uma regra de argumentação

que possibilita o acordo, sempre que as matérias possam ser regradas no interesse igual

de todos os concernidos.

A formulação indicada do princípio da universalização visa à realização cooperativa

da argumentação de que se trata em cada caso. Por um lado, só uma efetiva participação

de cada pessoa concernida pode prevenir a deformação de perspectiva na interpretação

dos respectivos interesses próprios pelos demais (HABERMAS, 1989). A interpretação

das necessidades não pode de modo algum ser um tema disposto monologicamente.

Quando se tem presente a função coordenadora das ações que as pretensões de

validez normativas desempenham na prática comunicativa quotidiana, percebe-se por

que os problemas que devem ser resolvidos em argumentações morais não podem ser

superados monologicamente, mas exigem um esforço de cooperação. Caso os

participantes prossigam seu agir comunicativo numa atitude reflexiva, o acordo passa a

dar expressão a uma vontade comum. Porém não basta que todos os indivíduos ajam

cada um por si. “O que é preciso é, antes, uma argumentação „real‟, da qual participem

cooperativamente os concernidos” (HABERMAS, 1989, p. 87).

“Na linha da teoria do discurso, o princípio da soberania do povo significa que todo

o poder político é deduzido do poder comunicativo dos cidadãos” (HABERMAS, 2003,

p. 213). As formas de comunicação devem ser institucionalizadas para garantirem o

exercício da participação e da administração pública dialógica. O conceito de

institucionalização refere-se diretamente “a um comportamento esperado do ponto de

vista normativo, de tal modo que os membros de uma coletividade social sabem qual

comportamento eles podem estimular, em que circunstâncias e quando” (HABERMAS,

2003, p. 221). No entanto, podem ser institucionalizados também procedimentos que

47

determinem as regras, segundo as quais a cooperação deve transcorrer, a fim de dominar

certas tarefas.

Souza (2008), ao analisar a teoria de Habermas, dispõe da importância de se ficar

atento para que não sejam costurados consensos artificiais. O grau de conflito de

interesses não deve ser subestimado, mas superado por consensos em seu sentido

genuíno, construído a partir do envolvimento de todos os interessados. Os grupos

divergentes precisam ser identificados e ter as diferenças mediadas, para o encontro de

uma solução.

“Em democracias participativas fundadas em valores como justiça social e

pluralismo político, cada indivíduo é corresponsável pela construção do interesse

público” (ARAÚJO, 2010, p. 144). Dessa forma o cidadão deixa de ser apenas

destinatário das prestações do Estado e passa a ser também responsável pela construção

do que é considerado interesse público. Na aplicação da administração pública

dialógica, o gestor precisa chamar pra si a responsabilidade pela ineficiência da gestão,

e o cidadão deve buscar mecanismos de participação, ao invés de responsabilizar o

Estado (ARAÚJO, 2010). Uma metodologia dialógica é transformadora e coerente com

o objetivo de aumentar o nível de consciência dos sujeitos, com vistas à transformação

social.

2.3.3 Participação Popular

“O primeiro passo para desenvolvermos um projeto de cooperação eficiente é

assumir a responsabilidade que cabe a cada cidadão/indivíduo no tocante à inefetividade

e ineficiência das ações do Estado que resultam em lei e políticas públicas” (ARAÚJO,

2010, p. 145). A participação da sociedade civil na elaboração de normas é essencial em

um Estado como o brasileiro, que é fundado no princípio democrático e na soberania

popular. Cumpre aos cidadãos ser destinatários e coautores das normas, garantindo

maior eficiência e responsabilidade (ARAÚJO, 2010). A transferência unilateral da

responsabilidade do cidadão para os agentes públicos mascara o problema e dificulta a

solução. “Tratar o Estado como oponente do cidadão/indivíduo é um equívoco e leva à

cisão entre os papéis desempenhados pelo gestor público e pelo cidadão na construção

de uma sociedade mais justa e à concorrência entre o interesse público e o privado”

(ARAÚJO, 2010, p. 145).

No Estado Democrático de Direito, é o princípio da soberania popular que impõe a

participação efetiva e operante do povo na coisa pública. A participação não pode se

exaurir na simples formação de instituições representativas. Os processos participativos

48

são recursos estratégicos de desenvolvimento sustentável e de formulação de políticas

públicas, principalmente na área social. A participação não é mais entendida como o

reverso da representação, mas como “expressão de práticas sociais democráticas,

interessadas em superar gargalos da burocracia pública e em alcançar soluções positivas

para os diferentes problemas comunitários” (NOGUEIRA, 2004, p. 121)

A presença do elemento popular é fundamental para a formação da vontade do

Estado e da Administração Pública (DIAS, 2008). A democracia participativa e o

controle social são desdobramentos do direito fundamental de participação (art. 29,

inciso XII da Constituição da República) (TEIXEIRA, 2008, p. 166). Rocha e Pinto

(2008) dispõem que:

Os princípios democráticos devem ser garantidos não

somente quando da formulação das políticas públicas, mas

também durante todo o processo de implementação, ao

considerar uma cidadania ativa não mais disposta a ser

tutorada pelo Estado. Afinal, políticas públicas somente são

direitos na medida em que efetivamente promovam a

liberdade e a igualdade dos membros da comunidade

(ROCHA; PINTO, 2008, p. 179).

Para Milton Santos (2007) é preciso indagar, diante das novas realidades, a

pertinência da presente utilização de concepções já ultrapassadas de democracia,

opinião pública e cidadania. A revisão desses conceitos é primordial para a mudança do

paradigma da participação popular.

O contexto social e a história condicionam a forma efetiva de funcionamento das

instituições. Isso significa que os comportamentos determinados pela cultura política de

uma certa sociedade podem ser um sério fator limitador da concretização dos

comportamentos e princípios democráticos perseguidos (ARRETCHE, 2008). A

passividade do cidadão, um sério problema de origem histórica e cultural, sempre esteve

associada ao crescimento da democracia representativa formal, tida como responsável

pela negação da necessidade de se trazer ao debate os grupos minoritários, dando-lhes,

assim, como à sociedade como um todo, novas oportunidades de apresentação de

opiniões e projetos de interesse direto da população (TEIXEIRA, 2008). À democracia

representativa não basta uma demonstração numérica, precisa indicar a legitimidade dos

representantes frente a seus representados e assim fazer com que as ações da esfera

pública estejam de acordo com os interesses da coletividade.

A gestão democrática participativa, ainda que não resolva as assimetrias de poder,

possibilita a emergência de instâncias públicas de debate e de deliberação da política

49

urbana que obrigam os atores sociais a explicitarem seus interesses, além de favorecer o

controle social das ações do Poder Público (RODRIGUES, 2010).

O princípio basilar da democracia é que os indivíduos são a fonte de poder

(GOUVÊA, 2005). A abertura democrática à participação da sociedade civil não

significa enfraquecimento do Estado (ROCHA; PINTO, 2008).

É importante estar atento às potencialidades do poder social traduzido “na forma de

conhecimento, na capacidade de mobilização, na condição de repositório de demandas,

na disponibilidade para formação de alianças, no poder de resistência e na sua

legitimidade para construção coletiva de identidade e consensos” (PIRES, 2010, p.183).

Avritzer (2008) esclarece que existe uma variedade de instituições participativas que

se expressam através de desenhos institucionais diferenciados. No caso do orçamento

participativo, o desenho funcional é de baixo para cima. Há uma forma aberta e livre de

participação de atores sociais capaz de gerar mecanismos de representação. No caso dos

conselhos de políticas, o desenho institucional é de partilha de poder, pois são

constituídos pelo próprio Estado com representação mista de atores da sociedade civil e

estatais. Já os Planos Diretores Municipais demonstram o desenho institucional da

participação para ratificação, devido à obrigatoriedade das audiências públicas para

discussão de um projeto proposto pelo governo.

Esses desenhos variam em alguns aspectos como: na maneira de organização, na

relação entre Estado e sociedade civil, na forma como a legislação exige do governo a

implementação ou não de iniciativas participativas (AVRITZER, 2008). Observando

essas diferenças, é possível concluir que a aplicação efetiva da participação é muito

dependente da vontade do Poder Público.

O Direito Urbanístico dispõe de um conjunto de normas para garantir os interesses

da comunidade. Disciplina o uso do solo, a ocupação, o parcelamento, o ordenamento e

o desenvolvimento urbano; estabelece parâmetros jurídicos de gestão urbana; define

normas de implementação da função social da propriedade, da posse, da cidade e

incentiva a participação (PIRES, 2008).

As normas urbanísticas somente concretizam a sua vocação, se possuírem eficácia

no plano de aplicação. A distância da “cidade legal” frente à “cidade ilegal” gera

distorções à utilização do direito. Diante desse quadro, resta indiscutível o

reconhecimento da importância da participação no processo de construção e aplicação

das normas urbanísticas. Assim a gestão urbana torna-se legítima e voltada para a justa

50

distribuição dos ônus e dos bônus sociais (PIRES, 2008). O art. 45 do Estatuto da

Cidade trata da participação na gestão e no planejamento urbano:

Art. 45: Os organismos gestores das regiões metropolitanas

deverão incluir obrigatória e significativa participação da

população e de associações representativas dos vários

segmentos da comunidade, de modo a garantir o controle

direto das suas atividades e o pleno exercício da cidadania.

Dentre os instrumentos relacionados com a participação popular, o art. 2° dessa

mesma lei cita e descreve a audiência pública, como importante aliada, pois

diferentemente do debate público e da coleta de opiniões, a audiência pública destaca-se

pela necessidade de formalidade de seu processo e pela eficácia vinculatória de seu

resultado, razão pela qual deve ser realizada, segundo previsão legal, sempre de

iniciativa do Poder Executivo. Assim, a legitimidade das ações administrativas fica

garantida (TEIXEIRA, 2008).

O orçamento público também é um importante instrumento para a gestão urbana

participativa. Esse possibilita o ordenamento de despesas estatais e a disponibilização

de recursos para o cumprimento de metas. Desse modo o orçamento deve ser planejado,

ou os recursos não serão suficientes para todos os custos demandados. O orçamento

participativo, utilizado por diversas cidades brasileiras, consiste na abertura do aparelho

do Estado à possibilidade de a população participar diretamente das decisões quanto ao

uso dos recursos públicos (SOUZA, 2008).

Os conselhos de desenvolvimento urbano consistem em instituições compostas por

membros do poder público e da sociedade civil organizada. São participativos e visam

ao planejamento da cidade. Atuam na confecção, definição e acompanhamento da

implementação de políticas públicas, o que os transforma em uma forma de inclusão

social. Gohn (2001) dispõe que os conselhos gestores são uma grande novidade nas

políticas públicas, pois possuem caráter interinstitucional mediador da relação

sociedade/Estado. A Constituição de 1988 incentiva a criação de conselhos e vincula-os

à realização de repasses de verbas entre as instâncias de governo. Infelizmente muitas

vezes os conselhos são manipulados ou apenas consultivos. Gohn (2001) destaca que

falta uma definição mais precisa das competências dos conselhos, instrumentos

jurídicos de apoio às suas deliberações e capacitação dos conselheiros.

Inojosa (2001) defende que a adoção do planejamento participativo é uma forma de

banir o assistencialismo. A participação é um instrumento para a efetivação da

51

cidadania, pois expande as chances de integração e minimiza a exclusão dos

desprivilegiados (SOUZA, 2008). Segundo Gohn (2001):

a possibilidade da sociedade civil intervir na gestão pública,

via parcerias com o Estado, representa a instauração de um

novo padrão de interação entre governo e sociedade; novas

arenas de intermediação e novos mecanismos decisórios

implantados poderão ter a capacidade de incorporar uma

grande pluralidade de atores e de diferentes interesses

(GOHN, 2001, p. 110).

O grau de abertura para participação popular no planejamento e na gestão urbanos é

variado e pode ser classificado sob as seguintes categorias propostas por Souza (2008):

- Coerção: comum no Brasil durante o período militar, quando não há

abertura para a participação;

- Manipulação: situação derivada da indução da população para aceitar

uma intervenção, não há abertura para diálogo, pode ocorrer por meio do

uso de propaganda maciça, configura uma pseudoparticipação;

- Informação: são disponibilizadas apenas algumas informações sobre as

intervenções, configura uma pseudoparticipação;

- Consulta: não são disponibilizadas as informações mais relevantes para

que a população expresse-se ao ser consultada, nem há garantia de

adoção da proposta aprovada, configura uma pseudoparticipação;

- Cooptação: pode influenciar um indivíduo ou um grupo e ocorre, por

exemplo, quando são oferecidos cargos para líderes de algum movimento

popular, institucionalizando os canais de participação sem oferecer

caráter decisório e sem beneficiar a coletividade como um todo,

configura uma pseudoparticipação;

- Parceria: enfatiza a colaboração entre Estado e sociedade civil, através

do diálogo e da transparência, caracteriza-se como uma forma autêntica

de participação;

- Delegação de poder: é abdicação do Estado de parte de suas atribuições

em favor da sociedade civil, apresenta elementos da democracia direta e

caracteriza-se como uma forma autêntica de participação e de cogestão;

- Autogestão: pressupõe uma sociedade autônoma, de difícil aplicação na

democracia representativa e capitalista.

52

Somente as três últimas categorias demonstram os alicerces da racionalidade e do

agir comunicativo. Sob o ângulo autonomista, os instrumentos de planejamento só

adquirem importância ao serem regulamentados e implantados sob a influência e o

monitoramento dos cidadãos (SOUZA, 2008).

Os principais argumentos para não serem concretizadas iniciativas participativas são

o desinteresse dos indivíduos pela política (o que demonstra, na verdade, um produto da

corrupção e dos desgastes da política no Brasil), a incapacidade técnica (fruto da

desigualdade de informações e da construção de uma sociedade heterônoma) e a

inviabilidade da democracia direta em coletividades de grandes dimensões (que pode

ser viabilizada com o uso da descentralização, da delegação e da tecnologia) (SOUZA,

2008).

Ainda são inúmeros os obstáculos que precisam ser superados para que a

participação popular constitua-se como elemento da administração pública dialógica,

reconhecida enquanto parte fundamental das ações cooperativas. Falta, também, o

aprimoramento da atuação autonomista da sociedade frente às demandas comuns ou

individuais.

A governança metropolitana depende da aplicação dos conceitos de cooperação,

administração pública dialógica e participação popular para possibilitar o

desenvolvimento local. “Las decisiones responsables son propias de unas ciudades y

municípios que han analizado su entorno y han identificado con objetividad los

intereses propios en la configuración de la constelación de intereses de los actores”

(ESTEVE, 2004, p. 23).

53

3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

A contextualização histórica da evolução da formação das regiões metropolitanas no

Brasil é fundamental para uma melhor compreensão da sua estrutura atual. Desse modo,

este capítulo trata, inicialmente, da instauração do Estado Federal, demonstrando o

modo como se deu a relação entre os entes federados no decorrer dos anos, a

distribuição dos recursos e das competências, com ênfase na autonomia municipal.

Após a explanação sobre o sistema federativo, será traçado o perfil histórico da

institucionalização das regiões metropolitanas no país e do desenvolvimento do

planejamento urbano.

3.1 O Estado Federal Brasileiro

O Decreto n.1 de 15 de novembro de 1889 estabeleceu que o Brasil constituísse-se

como uma República Federativa formada pela união dos Estados, que até então eram

conhecidos como Províncias. Respectiva decisão foi tomada por ato exclusivo do poder

central.

O federalismo brasileiro foi fundado baseado na experiência dos Estados Unidos da

América, com uma diferença fundamental, que influenciou todo o sistema nacional: nos

Estados Unidos, as treze colônias independentes resolveram unir-se, como uma

associação de esforços; já no Brasil houve o fenômeno inverso, pois o Estado Unitário

do Brasil Império foi desmembrado em diversos Estados-membros, num esforço de

desagregação, com a proclamação da República.

Por essa razão é que o federalismo brasileiro, desde o

nascedouro, é marcado por ideais centralizadores, conforme o

paradigma norte-americano em que se assentava, sem a

observância dos motivos pelos quais aqueles princípios eram lá

adotados, criando, assim, desde já, a distorção de todo o sistema

(TEIXEIRA, 2008, p.42).

A primeira Constituição Republicana no Brasil, promulgada em 1891, conferiu

poderes expressos à União, e os remanescentes aos estados (ROCHA; FARIA, 2010).

Em 1926, no final do mandato de Arthur Bernardes, houve uma reforma

constitucional e as competências da União foram ampliadas, de modo que esta podia

interferir nas ações dos estados para defender a autonomia municipal. Na década de 30,

o Brasil adotou políticas ainda mais centralizadoras, principalmente durante a Era

Vargas, que não adotou o regime federativo, centralizando o poder na União

(GOUVÊA, 2005). Em 1945, o regime federativo foi restabelecido e instaurada uma

lógica de competição entre as elites políticas regionais.

54

Devido à grande extensão continental, havia regiões muito heterogêneas - áreas mais

defasadas econômica e socialmente e outras muito prósperas. A partir de 1946, passou a

figurar, no quadro federativo, entre as competências da União, a missão de redução das

desigualdades entre as diversas regiões do país, o que provocou o início do debate da

cooperação federativa (TEIXEIRA, 2008).

O federalismo de cooperação foi o meio encontrado para a solução dos desníveis

econômicos e sociais entre os Estados-membros com a União, inicialmente, dirigindo a

economia nacional. Foram criados organismos encarregados do desenvolvimento

regional, para áreas merecedoras de tratamento especial, mediante planejamento,

destinação de recursos e execução de programas, tais como a Superintendência de

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e as regiões metropolitanas (TEIXEIRA,

2008).

Com o advento da ditadura militar, em 1964, o pouco que havia sido construído para

a configuração de um Estado Federal cooperativo foi derrubado. O período entre 1964-

85 foi extremamente autoritário e centralizador e manteve o Brasil quase como um

Estado unitário (GOUVÊA, 2005). O federalismo nesse momento era apenas “nominal”

e o poder central limitava fortemente a autonomia dos entes federados (ROCHA;

FARIA, 2010). Os governos subnacionais dependiam econômica e politicamente do

governo central.

A década de 80 foi marcada pela democratização e descentralização política,

administrativa e econômica. Esse quadro político refletiu na Constituição atual,

promulgada em 1988, que estabelece, em seu art. 1º, que a República Federativa do

Brasil é formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito

Federal. Desse modo o município foi finalmente reconhecido como ente da federação e

tornou-se subordinado, tão somente, à Constituição Federal e à sua Lei Orgânica. Porém

os municípios têm representação frágil no quadro nacional, afinal não possuem

representantes no Senado, como os estados (GOUVÊA, 2005).

A descentralização pode ser analisada sob dois aspectos básicos: um ligado às

discussões sobre as ações governamentais; outro associado às ações participativas da

sociedade civil nos assuntos públicos (ABRANCHES, 2003). A descentralização

política implica na possibilidade de manutenção isolada da existência dos entes, desde

que haja cooperação entre os mesmos, para o alcance do bem comum almejado por todo

o Estado (SERRANO, 2009).

55

A (re)democratização implicou não somente na autonomia municipal, mas também

no empoderamento dos cidadãos. A descentralização do poder público, problematizada

nos anos 90, sugeriu uma maior participação popular nas decisões públicas,

redimensionando a relação Estado – sociedade civil e garantindo os direitos de

formulação e controle de políticas (ABRANCHES, 2003).

Para Mônica Abranches (2003, p 269), a descentralização é concebida como uma

transferência de autoridade legal e política para “planejar, tomar decisões e gerir as

funções políticas de um governo central para outras unidades de governo ou

corporações semipúblicas, organizações não-governamentais, organizações da

sociedade civil dentre outras”.

Abranches (2003, p. 270) destaca que a “descentralização deve servir como um

instrumento de ação para o desenvolvimento político da sociedade e não apenas como

uma das formas possíveis de distribuição de competências e articulações entre os

diversos níveis de governo”.

Contudo a descentralização fez com que fossem redistribuídos os recursos e as

competências entre União, estados e municípios (que se tornaram entes federativos). A

Constituição de 1988, para garantir o equilíbrio da federação, define quais as

competências de cada ente federado, as competências concorrentes e as comuns8.

Quanto às funções das regiões metropolitanas, contanto que obedeçam as previsões

constitucionais e tenham como objetivo a realização do interesse comum, estas devem

ser definidas pelo estado, na mesma lei complementar que as criarem. Enfim as regiões

metropolitanas não possuem destaque no texto constitucional, sendo remetidas à

legislação estadual.

O estabelecimento de responsabilidades comuns aos três entes federativos repercutiu

num amplo e complexo sistema de relações intergovernamentais. A iniciativa indica que

se buscava ampliar o caráter cooperativo do federalismo brasileiro, porém a competição

prevaleceu diante das desigualdades técnicas e financeiras (ROCHA; FARIA, 2010).

Para Gouvêa (2005), o principal obstáculo ao planejamento integrado e à gestão

coordenada de políticas públicas metropolitanas no Brasil é a competitividade existente

entre os entes da federação, o “federalismo predatório”. A tão falada reforma do estado

8 A Constituição fornece aos entes federados, além da autonomia política, recursos financeiros, com o fim

de viabilizar o sistema federativo e o exercício das competências (SERRANO, 2009). Os artigos 153 a

156 da CF/88 apresentam a competência tributária de cada ente e os artigos 157 a 162, a fórmula de

repartição da receitas.

56

deve estar atenta a uma possível reorientação das relações entre os entes (GOUVÊA,

2005).

O federalismo competitivo pode gerar resultados indesejáveis. Dentre esses pode ser

citado o desestímulo à cooperação. Caso uma parte dos entes federados possua uma

condição mais vantajosa, o desequilíbrio provocado fará com que as partes mais fracas

desistam da relação competitiva estabelecida. A conhecida República do Café com

Leite, desenvolvida no Brasil durante a República Velha, foi resultado do desequilíbrio

exacerbado que beneficiou os estados de São Paulo e Minas Gerais. Uma situação que

ocorre comumente nos dias de hoje é a de municípios que se aproveitam de outros que

possuem situações política e econômica mais favorecida. Na gestão da saúde

frequentemente são observados casos, nos quais municípios periféricos preferem

adquirir ambulâncias para enviar seus cidadãos doentes para tratar em uma localidade

mais desenvolvida do que de fato investir na promoção da saúde local, o que é muito

mais oneroso aos cofres públicos (MACHADO, 2009).

O modelo competitivo que visa à busca de eficiência pela competição entre os níveis

de governo pode levar à exclusão da ideia da solidariedade entre as partes,

principalmente nas áreas dotadas de grande diversidade sociocultural e econômica em

relação aos pólos de crescimento. Quanto maior a heterogeneidade entre as diversas

áreas que compõem a federação, maiores as dificuldades de implantação do espírito

cooperativo entre elas, pela forma predatória como agem em relação aos parceiros de

menor poderio econômico (TEIXEIRA, 2008).

Segundo Machado (2009, p. 42), o modelo ideal seria o competitivo/cooperativo já

que esse propõe que os entes federados visualizem, no pacto federativo, um jogo de

soma positiva para todos. “A garantia de autonomia entre os entes federados, que se

manifesta pela competição, vinculada a valores de cooperação intergovernamental,

propicia a própria sobrevivência da federação” (MACHADO. 2009).

Segundo Teixeira (2008), é falsa a conclusão de que as ideias de competição e

cooperação são antagônicas. O ideal é que o Estado federal promova esforços no sentido

de compatibilizar os dois modelos, procurando priorizar as características positivas de

cada qual, de forma a privilegiar as prestações estatais dirigidas diretamente à sociedade

(TEIXEIRA, 2008).

A federação convive com a busca de um relativo equilíbrio entre autonomia e

interdependência dentro de um federalismo compartimentalizado, no qual ocorrem

poucos enlaces entre os três níveis de governo (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). A

57

interdependência entre os entes necessita de um processo permanente de negociação e

cooperação, com o objetivo de identificar, administrar e solucionar os conflitos. A

autonomia deve estar em equilíbrio com o princípio da interdependência (GOUVÊA,

2005).

Santos (2007) diferencia o federalismo compartimentalizado do fragmentado. Para

ele a compartimentalização não é necessariamente negativa ou segregadora, desde que

não resulte na fragmentação. Para esse autor, o problema do federalismo brasileiro é a

fragmentação. Diante disso, a célula local deve ser o ponto de partida para a

reformulação do sistema federativo brasileiro, pois através desta a participação popular

é facilitada, assim como é estimulada a cooperação de baixo para cima e não de forma

compulsória como foi feito durante os regimes de governo totalitários.

O contexto federativo brasileiro, marcado pela desigualdade, dificulta o

estabelecimento de mecanismos eficazes de articulação e coordenação de interesses

comuns. Esse problema é agravado pela ausência de um poder indutor do governo

federal frente aos estados e municípios. Assim, os processos de disputa são

intensificados, mesmo sendo grande a possibilidade de todos os envolvidos serem

prejudicados. Como consequência, ocorre a fragmentação dos espaços inter e

intraregionais, ao invés do desenvolvimento integrado de forma cooperativa.

A crise federativa é resultado do processo de democratização de um Estado

autoritário, centralizador, somado à forma como foi feita a descentralização fiscal. A

centralização tributária na União significa que estados e municípios dispõem de uma

margem pequena de recursos para serem livremente aplicados. No entanto, a maior

autonomia tributária viabiliza a guerra fiscal entre os entes federativos (ARRETCHE,

2008). O conflito federativo tem duas características básicas: horizontalização das

disputas, pelo fato dos conflitos não acontecerem somente entre distintas esferas de

governo; generalização do conflito, que alcança outras dimensões, como a prestação de

serviços e a representação política.

O federalismo centralizado impede a criação de novas formas de descentralização

fiscal e de constituição de uma base cooperativa, nas quais coexistam diversos graus de

intervenção federal, ações conjuntas entre as esferas de governo, autonomia decisória.

Respectivas inovações não podem ser executadas de forma simplesmente tecnicista,

padronizada, mas pela construção conjunta, coerente, de atores sociais e políticos.

Diante de todo o exposto, as palavras de Serrano (2009, p.60) concluem de forma

clara o que é o federalismo cooperativo:

58

O Federalismo inicialmente parte de uma base de associação

política em que as pessoas, públicas e privadas, estabelecem um

método de adesão a um sistema que impõe algumas restrições

em benefício do coletivo. Visa-se à unidade entre os entes e à

estabilização do poder central como única forma de se

estabelecer a paz social através da unidade nacional. Para a

formação do pacto federativo, as pessoas que compõem a

formação do sistema unificado devem estar imbuídas e

totalmente envolvidas na transformação do sistema de

administração do Estado e participar de maneira incisiva para o

fortalecimento de sua base de sustentação. E é justamente no

impulso de transformar a vontade coletiva nesta base de

sustentação que reside o pacto associativo e a manifestação

política que fundamentará a ordem federada.

A forma competitiva do federalismo impacta as relações entre os entes que

compõem uma região metropolitana. As disputas das administrações locais por recursos

públicos e investimentos privados, a tensão entre a descentralização das ações do estado

e a possível perda da, recentemente conquistada, autonomia municipal dificultam o

estabelecimento de um sistema cooperativo e solidário que promova o desenvolvimento

local de forma conjunta. “Tanto as instituições compulsórias quanto as voluntárias de

gestão metropolitana são enfraquecidas por diversas regras federativas que dificultam a

cooperação governamental e são influenciadas pelo jogo político-eleitoral”

(MACHADO, 2009).

A autonomia municipal é resultado de um processo de descentralização do poder

público entre os entes federados com a intenção de aproximar o Estado das demandas

sociais que estão mais próximas dos gestores municipais e aumentar a participação

popular. Porém, de acordo com Marinella Araújo (2010), a descentralização somente

tem a possibilidade de alcançar os objetivos citados, se aplicada, segundo os princípios

federalistas da subsidiariedade e da solidariedade.

O princípio da subsidiariedade estabelece que os problemas e as

demandas que puderem ser resolvidas por um único político

local, como o município, não precisam ser atendidas por entes

federativos mais abrangentes, como os Estados ou a União. A

subsidiariedade pressupõe igualmente que a sociedade tem

condições de resolver ela própria, por seus membros e por

organizações não políticas, um número enorme de problemas

sociais de forma eficiente, deixando a resolução para o Estado

só quando a iniciativa privada não for suficiente (ARAÚJO,

2010, p. 148).

O princípio da subsidiariedade possibilita a atuação política dos municípios e

oferece destaque ao cidadão enquanto fiscalizador e partícipe da gestão pública

municipal.

59

Já o princípio democrático da solidariedade estabelece que os

Poderes do Estado, ao atuarem, devem considerar e corrigir

diferenças típicas de sociedades plurais com o objetivo de

garantir a justiça social. Assim, ainda que haja fragmentação

político-administrativa, existe poder central unificador. Essa

união justifica-se pela existência do bem comum, cuja realização

interessa a todos os cidadãos. (ARAÚJO, 2010, p. 148).

Diante desse quadro, um dos pontos centrais do tema metropolitano é como

abandonar a cultura de jogo de soma zero. Importante então superar a percepção de um

conjunto de atores públicos e privados de que o ganho de um representa

necessariamente prejuízo para outro. “Essa tendência quase natural de cair em uma

armadilha de jogo estritamente competitivo apresenta uma ameaça particularmente

concreta em regiões metropolitanas” (KLINK, 2008, p. 277).

3.1.1 Autonomia Municipal

Os municípios soberanos são a primeira forma historicamente conhecida de Estado.

Estes serviram como modo primeiro de convivência gregária politicamente complexa e

organizada na civilização ocidental. A grande concentração de população no meio rural,

durante a Idade Média, fez com que o ciclo evolutivo da política dos municípios fosse

interrompido. Dessa forma, a titularidade do poder político passou a ser assumida pelo

Estado centralizado (SERRANO, 2009).

Ao contrário dessa situação, a colonização portuguesa no Brasil, devido à grande

extensão territorial da colônia, valorizou as vilas e cidades, garantindo a essas a

formação dos Conselhos que exerciam autonomia institucional e permitiam sua

participação no processo decisório do Império. A Constituição Imperial de 1824

mencionava os municípios como entes de autonomia clara, que podiam regulamentar

suas próprias taxas, eleger seus administradores, convocar as chamadas juntas do povo

para dirimir conflitos, dentre outras ações (SERRANO, 2009).

Com a declaração da República, a autonomia municipal foi prejudicada. A

Constituição de 1891 retirou as competências municipais e fortaleceu os estados. A

Constituição de 1946 devolveu, de certa forma, a autonomia aos municípios ao permitir

que esses produzissem leis sobre temas de interesse local. As ditaduras que o Brasil

enfrentou mantiveram a política de encolhimento da autonomia municipal e ainda

suprimiram a prerrogativa de eleição direta dos prefeitos.

A soma desses fatores fez com que uma grande mobilização fosse estruturada em

busca da autonomia municipal. O resultado foi a inclusão dos municípios no rol dos

60

entes federativos a partir da Constituição de 19889. Como ente federativo, o município

brasileiro passou a ser definido como pessoa jurídica de direito público interno, dotada

de autonomia assegurada pelas capacidades de autogoverno e autoadministração

(BASTOS, 1988). Meirelles (2003, p.130) completa esse conceito:

O Município brasileiro é, pois, entidade estatal, político-

administrativa, que, através de seus órgãos de governo –

Prefeitura e Câmara de Vereadores -, dirige a si próprio, com a

tríplice autonomia política (auto-organização, composição do

seu governo e orientação de sua administração), administrativa

(organização dos serviços locais) e financeira (arrecadação e

aplicação de suas rendas).

De acordo com Serrano (2009), a capacidade de autorganização trata da elaboração

de uma Constituição própria, a de autogoverno diz respeito à possibilidade de exercício

das competências próprias para a realização de funções fundamentais de Estado. Já a de

autoadministração refere-se à repartição, autônoma, de competências e recursos no

âmbito administrativo. Para viabilizar a administração, a capacidade legislativa atua

como instrumento que viabiliza a produção da estrutura normativa necessária.

O principal atributo de um ente da federação está em sua autonomia política e

capacidade de produzir um subsistema jurídico, como a Constituição Estadual. Esta

representa o poder de organizar funções políticas e administrativas, desde que em

conformidade com as normas federais. Os municípios regem-se pelas respectivas leis

orgânicas e possuem competência exclusiva (indelegável) para legislar sobre os

assuntos de interesse local, que não atinjam interesses de outras municipalidades e que

se refiram às suas necessidades imediatas. Assuntos de interesse local podem interessar

simultaneamente à União e aos Estados. No entanto, na configuração urbana atual,

existem ocupações contíguas que ocupam territórios de uma diversidade de

administrações locais. Essa configuração fez com que surgissem demandas

intermunicipais. A titularidade para tratar de problemas intermunicipais é do Estado,

como competência residual ou remanescente (SERRANO, 2009).

José Afonso da Silva (2004) dispõe que a aceitação das municipalidades como entes

foi um equívoco constitucional, uma vez que estas são meras divisões políticas do

9 O Brasil inovou em termos de sistema federativo ao aceitar o município como ente federado. Em

nenhum outro país do mundo o poder local possui tanta autonomia. Nos Estados Unidos, os municípios

são apenas instituições administrativas (SERRANO, 2009). A Constituição de 1988 determina que não há

hierarquia entre os entes federados, o município não advém de uma descentralização do Estado-membro,

ambos são entes que compõem a federação.

61

Estado-membro e a federação, conforme a Constituição Federal. Não diz respeito a uma

união indissolúvel de municípios, mas de estados. As unidades municipais são criadas,

incorporadas e desmembradas por livre decisão dos estados10

. Respectiva interpretação

não retrata o que pensam a maioria dos juristas, sendo que a divisão tríplice dos entes

federados é a mais aceita na atualidade. A característica básica de uma federação é a de

que esta tem o poder governamental distribuído entre unidades regionais, sobre o

mesmo território e o mesmo povo. Segundo Serrano (2009), o reconhecimento das

administrações locais como entes federativos é imprescindível para o alcance da efetiva

unidade nacional e do desenvolvimento do regime democrático. A extensão territorial

do Brasil impede que governos centralizadores atendam aos interesses das diversidades

de grupos e realidades que constituem a nação.

Abranches (2003) dispõe que a municipalização representa a passagem progressiva

de serviços e encargos para os municípios, de modo que estes possam ser desenvolvidos

mais satisfatoriamente. Consiste em transferir da União e dos Estados para os

municípios as responsabilidades e os subsídios necessários para que possam assumir a

execução dos serviços públicos que atendam aos interesses dos cidadãos. Essa

concepção parte da hipótese de que as administrações locais estão mais próximas da

sociedade civil e que por esse motivo será mais fácil estabelecer a comunicação e a

interação necessárias para a participação e o controle social. A descentralização só

existe de forma efetiva, quando as decisões locais possuem uma certa autonomia e

emanam de uma coletividade.

Em Minas Gerais, no espaço de apenas oito anos entre 1987 e 1995, houve um

aumento de 18% no número de municípios, de 723 para 853 unidades. Esse fato

demonstra a força do municipalismo, porém retrata também a criação de unidades muito

pequenas, cuja emancipação gera mais fragilidade institucional que aumento efetivo dos

níveis de autonomia política e econômica. Outras consequências são a concentração de

recursos na elite local, aumento dos gastos com os serviços públicos sem melhorar a

qualidade e o número de pessoas beneficiadas (GOUVÊA, 2005).

Ocorre que a fragilidade financeira e a precariedade da máquina administrativa dos

governos municipais prejudicam a gestão local e a coordenação das políticas públicas

locais (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010).

10

Ar. 18, § 4º, CF/88: A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios far-se-á por

lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta

prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de

Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.

62

A frágil capacidade técnico-operacional das administrações

municipais pode ser constatada pela deficiência na oferta de

serviços públicos, pela precária informatização dos

procedimentos administrativos, pelo reduzido número e baixa

capacitação profissional dos quadros técnicos, pelos

procedimentos orçamentários desvinculados da atividade de

planejamento e não submetidos a controle social e pela

administração escassamente dotada de instrumentos adequados

ao planejamento a médio e longo prazo (FILGUEIRAS;

ANDRADE, 2010, p. 127).

Exame realizado perante os municípios brasileiros constatou que 54,5% deles

possuem até 5% de receitas próprias, 21,4% tinham de 5% a 10% de receitas próprias,

em 17,7% é alcançada uma média em torno de 10% a 25% e em apenas 6,3% a média é

de 25% da própria receita (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010).

O sistema federativo competitivo gerou o “municipalismo autárquico” (TEIXEIRA,

2008, p. 84), derivado da crença dos municípios de que podem resolver seus problemas

de forma isolada, que os desafios da coordenação das políticas públicas podem ser

resolvidos a partir da transferência de recursos. A autonomia municipal não pode ser um

entrave para o desenvolvimento local. Esta deve observar os preceitos constitucionais,

dentre esses o que define a região metropolitana como um instrumento de agregação e

agrupamento de municípios para a solução econômica e racional de problemas de

âmbito infraestadual e supramunicipal.

O afastamento da União das questões metropolitanas com a Constituição de 1988

fez com que os municípios ficassem na defensiva em relação às ações dos estados,

principalmente, devido aos abusos sofridos durante o período militar. Como a União era

responsável pelo financiamento das atividades realizadas a nível regional, com o corte

nesses investimentos, os conselhos regionais restaram desmotivados, pois os municípios

não se interessavam pela gestão metropolitana e os estados não estavam dispostos a

assumir os investimentos antes assumidos pelo governo federal (TEIXEIRA, 2008).

Com o movimento municipalista, a questão metropolitana somente não foi

abandonada por completo, devido aos movimentos da sociedade moderna, tendentes a

reforçar a importância dos fenômenos urbano-territoriais e socioeconômicos regionais.

A intensificação dos fluxos migratórios rumo às grandes cidades, a partir da década de

50, consolidou em torno das capitais estaduais áreas urbanas que se comportaram como

uma única cidade. Teixeira (2008, p. 107) esclarece que:

63

A autonomia municipal, enquanto preceito constitucional, é

contingente e dinâmica, não sendo ossatura institucionalizada

inflexível, pois sofre adaptações aos tempos da pós-

modernidade estatal, na medida em que os Municípios,

autônomos nos termos da Constituição (art. 18), têm pela

mesma Constituição condicionada e limitada essa mesma

autonomia, como se destaca no fenômeno regional. Pode assim

o Estado, pelo Poder Legislativo, criar órgãos regionais com

funções normativas e executivas, obrigando os Municípios,

porque eles se incluem no espaço e ambiência regional, e as

regiões metropolitanas, as aglomerações urbanas e as

microrregiões integram o título da organização estatal no Texto

Constitucional, respondendo aos anseios da liberdade, da

participação e da solidariedade, atributos da cidadania e

pressupostos da regionalização.

Conforme Serrano (2009), o princípio da igualdade entre os entes federados faz com

que a interpretação da Constituição, que entende que o Estado-membro ao criar uma

região metropolitana subtrai parcela das competências municipais, seja errônea. A

atuação da Região Metropolitana não implica em invasão da competência de um

município por outro ou pelo Estado. O município, inserido em uma área conurbada e

parte de uma região metropolitana, não é menos autônomo que outros localizados fora

dessa. A Lei Complementar estadual não é capaz de delimitar as competências

municipais, esse é um papel exclusivo da Constituição Federal.

As funções atribuídas às administrações locais giram em torno da prestação de

serviços públicos, financiada pela cobrança de impostos, tarifas e taxas; da execução de

serviços sociais, financiados de forma compartilhada com outras esferas de governo; da

promoção do desenvolvimento econômico local (MORENO, 2006).

Dada à maior proximidade dos municípios com as necessidades do cidadão, restou a

esse ente a responsabilidade pela execução da política urbana. Porém o poder público

local tem incipiente organização técnica, capaz de utilizar os instrumentos urbanísticos

disponíveis em lei e de fiscalizar a expansão da cidade (PIRES, 2008).

As funções urbanas tratadas pela CF/88 remetem a uma política urbana progressista.

Para a execução dessas funções, foi traçado um condomínio de competências11

11

Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do poder público

para emitir decisões (SILVA, 1997). A federação brasileira, composta pela União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, adotou um sistema de repartição de competências vertical e horizontal. As

horizontais são as privativas de cada ente. As verticais são aquelas que podem ser exercidas,

simultaneamente, por mais de um ente federado como as competências comuns e as concorrentes, essas

últimas não englobam os municípios (SERRANO, 2009).

64

complementares entre todos os níveis de governo12

, embora a demanda por provisão e

financiamento de serviços se dê mais diretamente junto aos municípios (BARBOSA,

2008).

Resumindo a discussão quanto às competências dos estados e dos municípios,

Serrano (2009, p.162) dispõe que:

Quando alguma situação ou serviço pertencer ao interesse

predominantemente local, será decidida e executada de acordo

com os comandos e diretrizes do Município a que se refere. No

entanto, quando se referir a dois ou mais Municípios, tornar-se-á

de interesse regional o que perfaz a competência do Estado-

membro para resolver a situação ou realizar a atividade.

3.2 Metropolização no Brasil

A intensificação dos fluxos migratórios campo-cidade e do processo de urbanização

desde a década de 1950 consolidou, em torno das principais capitais brasileiras, regiões

urbanas que se comportam como uma única cidade, em cujo território, submetido a

diversas administrações municipais, as relações cotidianas tornaram-se cada vez mais

intensas. A acelerada expansão das cidades fez com que essas transbordassem os limites

municipais. Segundo Villaça (1978), esse transbordamento foi além do aspecto físico-

territorial, atingiu também as relações socioeconômicas. Assim, como já comentado

anteriormente, deixou de existir a correspondência entre cidade (unidade territorial) e

município (unidade político-administrativa).

Frente a esse processo, “tornou-se praticamente imprescindível o estreitamento das

relações político-administrativas entre as cidades situadas nessas regiões, como

condição importante para o enfrentamento de um grande leque de problemas”

(AZEVEDO; MARES GUIA, 2010, p.73). O objetivo da regionalização, desde o

primeiro momento, era: o desenvolvimento local como artifício para a redução da

desigualdade econômica.

A legislação brasileira tem evoluído muito no sentido de promover o planejamento

urbano, assim como as políticas públicas, mas, como ressalta Araújo (2006, p.193), “nas

metrópoles brasileiras verifica-se uma atuação limitada e constrangida do poder público,

face às potencialidades que os instrumentos de planejamento disponíveis possibilitam”.

A existência de normas e planos é essencial para a organização dos espaços e para a

12

As competências privativas da União estão previstas nos artigos 21 e 21 da CF/88, as estaduais,

chamadas de residuais, estão fixadas no art. 25 e as municipais, no art. 30, identificadas pelo interesse

predominantemente local.

65

distribuição das disparidades sociais, mas não garante a implementação de políticas

públicas que cumpram com o previsto no ordenamento jurídico. As metrópoles são

extremamente dinâmicas e o sistema normativo deve acompanhar essa dinamicidade,

assim como o poder público executivo.

Na atualidade, o inovador Estatuto da Cidade, Lei 10.257/01, não trata

especificamente da regionalização, pois essa matéria deve ser regulamentada pelos

estados e não por lei federal. Porém, como o Estatuto diz respeito às áreas urbanas e as

regiões metropolitanas são uma grande mancha urbana, esse dispõe sobre diretrizes

gerais que devem ser observadas nos processos de regionalização. Por essa razão,

também, o Estatuto afirma ser obrigatório o Plano Diretor para municípios pertencentes

a regiões metropolitanas13

, ou seja, reconhece a importância do planejamento urbano,

especialmente o intermunicipal. Somado ao reconhecimento da relevância do

planejamento, o Estatuto da Cidade traça como diretriz a participação popular, pela

valorização do cidadão, capacitação das pessoas e pelo compartilhamento do poder e de

responsabilidades.

Atualmente é a criação formal por lei complementar estadual que transforma a

Região Metropolitana de fenômeno urbano em instituição jurídica. Essa transformação

passou por diversas caracterizações no decorrer do desenvolvimento das cidades da

formação política brasileira. Segundo Serrano (2009), as questões mais candentes no

que diz respeito ao regime constitucional da Região Metropolitana repousam na

identificação de seu papel no plano das competências federais. Por esse motivo, será

traçada, a seguir, uma linha do tempo sobre a regionalização no Brasil, explicitando o

papel das regiões metropolitanas no contexto de cada Constituição da República.

3.2.1 A trajetória histórica da regionalização no Brasil

A história do Brasil é marcada por períodos de centralização política e

autoritarismo. Várias foram as constituições vigentes e as características da distribuição

de poder e competências. Quanto à escala municipal de atuação do poder público na

edição da Constituição Imperial de 1834, o poder das Câmaras Municipais era muito

expressivo. O Imperador Dom Pedro I submeteu o texto constitucional à apreciação dos

13 De acordo com o art. 41 do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), todos os municípios integrantes de

regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, onde o Poder Público Municipal pretenda utilizar

instrumentos previstos no § 4º do art. 182 da CF/88 devem elaborar um Plano Diretor próprio.

66

legislativos municipais e definiu que os municípios poderiam se associar para levantar

recursos com o intuito de realizar grandes empreendimentos e de tornar a administração

municipal melhor aceita diante de outros poderes.

A Constituição da República de 1891 facultava aos Estados a possibilidade de se

lavrarem acordos ou convenções intermunicipais, o que demonstra que já nessa época

era reconhecida a importância do associativismo municipal (TEIXEIRA, 2008). Cumpre

reforçar que essa Constituição não reconhecia a autonomia dos municípios, que ficavam

condicionados aos alvitres dos Estados (SERRANO, 2009).

No anteprojeto da Constituição da Comissão do Itamaraty, em 1933, havia uma

proposta que autorizava os Estados a constituir região composta por grupo de

municípios contíguos, com autonomia, rendas e funções que a lei lhe atribuísse. Os

municípios deveriam ter como objetivo interesses econômicos comuns e a região seria

autônoma, como uma nova entidade de direito público interno, dotada de órgão diretivo

e conselho regional (TEIXEIRA, 2008, p. 60).

A Constituição do Estado Novo, de 1937, previa a possibilidade de agrupamento de

municípios em uma mesma região, para instalação, exploração e administração de

serviços públicos comuns, sendo que a regulamentação partiria do Estado-membro14

(TEIXEIRA, 2008, p. 61). Como durante a ditadura do Estado Novo os municípios não

possuíam força política e os prefeitos eram nomeados por critérios de favoritismo, a

regionalização não prosperou. O Congresso foi dissolvido nesse período e o governo

incorporou feições fascistas. O período de 1937 a 1945 foi marcado pelo desrespeito ao

pacto federativo, ao regime democrático e a diversos direitos fundamentais

(SERRANO, 2009).

Já a Constituição da redemocratização, que datava de 1946, não tratou da

regionalização por entender que a descentralização do estado em regiões era um assunto

que dizia respeito à autonomia dos estados e por eles deveria ser regulamentado. Assim,

cada estado do país tratou do associativismo intermunicipal de maneira distinta

(TEIXEIRA, 2008, p. 62). Dessa maneira, a associação de municípios foi, por um

tempo, regrada apenas pelas Cartas Estaduais, devido à ausência de um direcionamento

constitucional. Por essa razão, a comissão instituidora da Constituição de 1967 entendeu

14

Art. 29, Constituição de 1937: Os Municípios de mesma região podem agrupar-se para a instalação,

exploração e administração de serviços públicos comuns. O agrupamento, assim constituído, será dotado

de personalidade jurídica limitada a seus fins.

Parágrafo único: Caberá aos Estados regular as condições em que tais agrupamentos poderão constituir-

se, bem como a forma de sua administração.

67

ser necessária previsão constitucional sobre a criação de regiões metropolitanas

(SERRANO, 2009).

A preocupação com o tema da metropolização ecoou no Seminário do Quitandinha,

promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB – em 1963. No final do

seminário, surgiu a proposta de criação de órgão que envolvessem as municipalidades

para a solução de problemas comuns (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). Algumas

ações foram desempenhadas no país com a intenção de iniciar um processo de

institucionalizar a metropolização. Em 1967, o senador Eurico Rezende propôs a

Emenda Constitucional que introduziu as regiões metropolitanas no ordenamento

jurídico brasileiro (MACHADO, 2009). Como reflexo da mudança no ordenamento, em

1967, foi elaborado, pelo governo estadual de Minas Gerais, o Plano Diretor Preliminar

da Região Metropolitana de Belo Horizonte (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010).

A emenda n. 848, apresentada pelo senador Eurico Rezende, introduziu o seguinte

conceito de região metropolitana no ordenamento jurídico brasileiro:

As Regiões Metropolitanas constituem hoje em dia uma

realidade urbanística que não pode ser desconhecida das

administrações modernas, nem omitidas do planejamento

regional. Por Regiões Metropolitanas entendem-se aqueles

Municípios que gravitam em torno da grande cidade, formando

com esta uma unidade socioeconômica, com recíprocas

implicações nos seus serviços urbanos e interurbanos. Assim

sendo, tais serviços deixam de ser de exclusivo interesse local,

por vinculados estarem a toda a comunidade metropolitana.

Passam a constituir a tessitura intermunicipal daquelas

localidades e, por isso mesmo, devem ser planejadas e

executadas em conjunto por uma administração unificada e

autônoma, mantida por todos os Municípios da região, na

proporção de seus recursos, e, se estes forem insuficientes, hão

de ser complementados pelo Estado e até mesmo pela União,

porque os seus benefícios também se estendem aos governos

estadual e federal. Eis porque a Emenda propõe o

reconhecimento constitucional dessa realidade, possibilitando a

unificação dos serviços intermunicipais de Regiões

Metropolitanas, subvenção estadual e federal, se necessário,

para pleno atendimento da imensa população que se concentra

nessas regiões. (SERRANO, 2009)

O advento da ditadura militar, já em 1964, provocou o centralismo do governo, o

controle exercido sobre os estados e municípios. A União é quem ficou competente para

criar regiões metropolitanas através de lei complementar, o que mantinha distante a

participação dos municípios, primeiros interessados nos processos de regionalização

(TEIXEIRA, 2008). Os princípios do federalismo, como a repartição de competências,

68

foram praticamente abandonados. O sistema federativo passou a ser apenas uma

maquiagem da centralização do poder (SERRANO, 2009).

As regiões metropolitanas criadas nesse período15

tinham como sede as capitais

estaduais e a representação política no Conselho Deliberativo era exercida somente pelo

prefeito da capital, que não era eleito democraticamente. O projeto constitucional de

1967 discutiu o modelo institucional da região, sem se preocupar com a autonomia

municipal ou com a personalidade jurídica das regiões metropolitanas. O termo “região

metropolitana” foi usado pela primeira vez por essa carta

Art. 157 § 10 – A União, mediante lei complementar, poderá

estabelecer Regiões Metropolitanas, constituídas por

Municípios que, independentemente de sua vinculação

administrativa, integrem a mesma comunidade

socioeconômica, visando à realização de serviços de interesse

comum. (GOUVÊA, 2005, p.78)

Uma superestrutura federal de apoio técnico para o desenvolvimento urbano foi

criada: Banco Nacional de Habitação (BNH), Serviço Federal de Habitação e

Urbanismo (SERFHAU), Comissão Nacional de Política Urbana e Regiões

Metropolitanas (CNPU), sucedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano

(CNDU), Fundos de Desenvolvimento Metropolitano (FDM) (LOPES, 2006).

Essa estrutura criada possibilitou o financiamento de várias ações relacionadas às

demandas urbanas. Parcelas de alguns recursos, como o Imposto Único sobre

Lubrificantes e Combustíveis Líquidos e Gasosos, eram repassadas para as regiões

metropolitanas e os municípios recebiam incentivos financeiros para adotarem a política

intermunicipal (MACHADO, 2009). Acontece que as experiências de gestão integrada

entre municípios, ocorridas antes da década de 70, eram iniciativas não muito

formalizadas que buscavam resolver problemas comuns agravados pelo fenômeno físico

da metropolização, da expansão urbana (LOPES, 2006).

Em Belo Horizonte, ainda na década de 1950, foi realizado um estudo no qual ficou

claro o problema metropolitano que já era enfrentado nessa época. Posteriormente, em

1967, foi elaborado pelo governo de Minas o Plano Preliminar da Região Metropolitana

de Belo Horizonte. Essas iniciativas contribuíram para a inclusão da questão

15

Art.164 da Constituição Federal de 1967: “A União, mediante Lei Complementar, poderá, para a

realização de serviços comuns, estabelecer regiões metropolitanas constituídas por municípios que,

independentemente da sua vinculação administrativa, façam parte de uma mesma comunidade

socioeconômica”.

69

metropolitana na Constituição de 1967 e para a sua manutenção na Emenda

Constitucional n° 1 de 1969.

Boa parte dos esforços e investimentos, durante a ditadura militar, foram

empregados na construção civil, na circulação e no transporte urbano. A ponte Rio-

Niterói, metrôs, obras rodoviárias em geral datam dessa época. Vários planos diretores

de desenvolvimento integrado foram elaborados para as administrações periféricas, mas

como não houve fortalecimento dos governos locais, estes não tiveram a capacidade de

exercer as funções previstas nos planos, menos ainda de atender a uma agenda

metropolitana comum. O cenário político centralista repercutiu nas metrópoles de modo

que apenas as cidades-pólo eram objeto de investimento, sob a alegação de que, com o

tempo, os benefícios chegariam à periferia (LOPES, 2006). O resultado de tudo isso foi

o aprofundamento da desigualdade socioespacial.

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (IPNUD), implementado durante o governo

Médici (1969-1974), é contemporâneo do momento da história do Brasil em que a

população urbana ultrapassa, quantitativamente, a rural. Consequentemente, respectivo

plano foi o primeiro a apresentar os termos “espacial, regional e urbano”, integrando o

rol das diretrizes econômicas, além de recomendar a criação de regiões metropolitanas.

Restou reconhecido que a questão metropolitana eleva a importância econômica das

áreas urbanas para além da demanda municipal, de modo que o governo federal ficou

interessado na gestão dessas regiões. As cidades passaram de espaços de vivência para

espaços de produção (GOUVÊA, 2005).

As grandes cidades formaram-se em curto espaço de tempo, com núcleo central

mesclando atividades econômicas e residenciais e em franca expansão, absorvendo

áreas lindeiras. Zonas residenciais desenvolveram-se no entorno do núcleo de negócios

e as atividades industriais localizavam-se nos anéis seguintes, aproveitando a

combinação de menor custo da terra e proximidade da mão de obra, que vivia nas áreas

vizinhas. Essa formação geou amplo entrelaçamento entre áreas residenciais de baixa

renda e atividades comerciais de menor categoria.

Os objetivos da instituição de regiões metropolitanas nos anos 70 eram a realização

de serviços comuns de interesse metropolitano, o planejamento integrado do

desenvolvimento econômico e social, o saneamento básico, o aproveitamento dos

recursos hídricos, o controle da poluição ambiental, a produção e distribuição de gás

combustível canalizado, os transportes e o sistema viário, o uso do solo. Observa-se que

70

a habitação não consta na lista descrita, mas o gás canalizado sim, mesmo este existindo

apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010).

A fragmentação institucional explica o desinteresse da gestão pública pelas áreas

metropolitanas brasileiras. Os organismos metropolitanos criados na década de 70 eram

entidades esvaziadas de autoridade, função e capacidade, inclusive muitos já

desapareceram. Algumas raras ações da União no contexto regional ocorreram isoladas

em locais mais sensíveis a esse tema. Na maioria das metrópoles, a capacidade de

governo dos municípios capitais não é utilizada para gerar uma dinâmica cooperativa,

pelo contrário, legitima práticas de gestão fragmentada e segregadora. Nas cidades

periféricas, o clientelismo prevalece sobre a cooperação (RIBEIRO; JUNIOR, 2010).

A Lei Complementar n.14 de 8 de junho de 1973 criou as regiões metropolitanas de

São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza.

A criação dessas regiões por uma lei complementar federal fez com que estados e

municípios organizassem-se compulsoriamente para a gestão regional, o que feria a

autonomia destes. A relação era de obrigatoriedade e não autônoma (SERRANO, 2009).

A gestão metropolitana instituída com a Lei 14/1973 estava ancorada no

funcionamento de dois conselhos, um deliberativo e outro consultivo. Os conselhos

funcionavam como instâncias homologatórias das propostas feitas pelo governo

estadual e não havia espaço para debate (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). O

Conselho Deliberativo era composto por seis membros nomeados pelo governador do

Estado, um deles indicado a partir de uma lista tríplice articulada pelo prefeito da capital

e outro pelos demais municípios-membros. Esse conselho era presidido pelo governador

que indicava quatro dos seus membros diretamente. O governador do estado era

indicado pelo presidente da república, ou seja, era o governo central quem controlava a

gestão metropolitana. O Conselho Consultivo atuava perifericamente, homologava as

previsões demandadas sem levantar efetivamente as questões necessárias. Sua

composição baseava-se em representantes municipais (ROCHA; FARIA, 2010).

Com o fim da ditadura militar, o governo federal estava enfraquecido. As elites

subnacionais fortaleceram-se e pautaram a descentralização como o grande estandarte

da democratização, repassando funções aos estados e municípios. Diante da admiração

dirigida à ideia de descentralização, pouca atenção foi dedicada à sua coordenação e ao

seu planejamento (TEIXEIRA, 2008, p. 73). A questão metropolitana estava na

contramão do processo político da redemocratização, marcado pelo empoderamento dos

governos locais (MACHADO, 2009).

71

O fortalecimento dos governos locais gerou o chamado „neolocalismo‟ e, como já

comentado nesta pesquisa, tornou os municípios entes federativos. O reforço à

concepção política do poder local confundiu a concepção do poder administrativo

municipal, fazendo com que se despertasse a crença na possibilidade de resolução de

conflitos internamente (AZEVEDO; MARES GUIA, 2010). Desse momento em diante,

a questão metropolitana passou a ser discutida como prática de centralização do poder, o

que gerava desagrado na sociedade, que acabava de sair de um governo autoritário

ditatorial.

Com a crise financeira dos anos 80 e o início do processo de redemocratização, as

fragilidades do planejamento metropolitano ficaram explicitadas. A carência de recursos

públicos estanca os investimentos nesse campo de gestão e gera o desmonte do aparato

institucional que até então havia sido formado. “De formulador e, em grande medida,

executor da política urbana no país, o governo federal passa a assumir um papel

secundário na regulação e no financiamento de alguns programas pontuais”

(AZEVEDO; MARES GUIA, 2010, p. 75).

Durante a constituinte de 1988, oito das nove regiões metropolitanas existentes na

época, após quinze anos de experiência, prepararam um documento, sugerindo a criação

de um novo ente federativo, o metropolitano. Essa proposta baseava-se na constatação

de que uma região metropolitana é mais do que uma simples região de serviços comuns

e que, por esse motivo, precisa efetivar-se como uma instância política (ROCHA;

FARIA, 2010). Contudo o processo constituinte foi palco de um movimento pelo

municipalismo que impossibilitou o sucesso da proposta retro mencionada - um dos

principais temas que dificultam a institucionalização das regiões metropolitanas é a

autonomia municipal (TEIXEIRA, 2008).

Importante levar em consideração que apenas pelo estado a instituição metropolitana

pode ser percebida como uma modalidade de descentralização, sendo que na

interpretação dos municípios ocorre uma centralização administrativa (GOUVÊA,

2005).

Em 5 de outubro de 1988, foi promulgada a atual Constituição Federal. Essa tratou

da garantia dos direitos fundamentais, restabeleceu o sistema federativo e a repartição

de competências entre os entes federativos, dentre eles, os municípios (SERRANO,

2009). A Constituição de 1988 consagrou também nova fisionomia às relações entre os

níveis de governo, assegurando mecanismos de cooperativismo (TEIXEIRA, 2008, p.

65).

72

A dimensão política da delimitação das regiões metropolitanas na atualidade

demonstra como a redemocratização política do país foi acompanhada da

descentralização administrativa, pois a criação das citadas regiões passou a ser definida

pelos estados, sem estarem diretamente atreladas aos planos nacionais de

desenvolvimento16

(SILVA, 2006). Disso têm decorrido alguns efeitos colaterais

indesejáveis, como a excessiva flexibilização e a falta de uniformidade quanto ao que se

deva entender como „metrópole‟, ensejando a criação de várias regiões metropolitanas

de duvidosa consistência técnica por razões mais diretamente relacionadas ao prestígio

político (SOUZA, 2008, p. 430).

Para Serrano (2009), a Lei Complementar n.14 de 1973 não foi recepcionada pela

Constituição de 1988. Desse modo, resta descabida qualquer interpretação que aceite

seus prepostos como base para a regionalização. A competência de criação das regiões

metropolitanas deixou de ser da União para ser dos Estados, em caráter de direito

subjetivo, ou seja, cabe ao Estado regulamentar e optar ou não pela criação de uma

região, sendo que, anteriormente, a União criava a região, sem discutir o tema com os

Estados ou municípios. A concepção de planejamento urbano prevista na Constituição

de 1988 e no Estatuto da Cidade trabalha com a ideia de participação popular,

participação do estado e dos municípios nesse planejamento, muito distante da

concepção que era compreendida na década de 70, cujo governo central era autoritário e

centralizador (SERRANO, 2009). As previsões legais da década de 70 conflitam com a

previsão constitucional de 1988. A Região Metropolitana de Belo Horizonte foi criada,

nos moldes da CF/88, pela Lei Complementar 89 de 12 de janeiro de 2006.

A criação da região pelo Estado deverá proceder de acordo com a sua conveniência

e discricionariedade, pois trata de um direito subjetivo, visto que tal situação implica no

compartilhamento de competências com os municípios que comporão a unidade

regional. Os domínios administrativo e decisório nas regiões metropolitanas são do

estado e dos municípios, de forma equânime, já que essa não é uma entidade política.

Ao Estado, resta a incumbência de definir o modo de administração a ser dispensado,

sem retirar das administrações locais a capacidade de ingerência nas funções públicas de

interesse comum (SERRANO, 2009).

16

O art. 25 da Constituição Federal de 1988 dispõe que cabe aos Estados, mediante lei complementar,

instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por municípios

limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse

comum (TEIXEIRA, 2008, p. 65).

73

O direito subjetivo do estado de criação de uma região metropolitana faz com que

esse ente seja o responsável por determinar, em lei complementar, o papel das

administrações locais na nova relação a ser instituída. Sendo assim, a participação dos

municípios pode ser maior ou menor, consultiva ou deliberativa. Não existe um modelo

ideal previsto nacionalmente e que deve ser seguido pelos estados.

Para a gestão metropolitana, o estado pode optar por criar um órgão da

administração direta, como uma secretaria; ou da administração indireta, como uma

autarquia, sempre sob o regime jurídico do direito público. Para tanto, é preciso

regulamentar a respectiva escolha através de uma lei específica ordinária - a criação da

região depende de lei complementar, a definição dos instrumentos de gestão dá-se por

lei ordinária (SERRANO, 2009).

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu apenas uma diretriz quanto à questão

metropolitana (art. 25): que os estados „podem‟ criar regiões metropolitanas, o que

inaugurou uma dinâmica voluntarista sem modelo (LOPES, 1988).

Os requisitos para a formação jurídica de uma Região Metropolitana são:

conurbação17

, enquanto reunião de municípios limítrofes em torno de um município

sede; intenção do Estado de criar a região metropolitana; existência de lei complementar

estadual, atestando a vontade de criação da unidade de administração regional,

respeitadas as autonomias municipais. Assim, a formação e a extinção de uma região

metropolitana no ordenamento jurídico dependem da vontade do estado e de uma lei

complementar (SERRANO, 2009).

A instituição de uma região metropolitana visa a possibilitar que o estado possa

gerir de forma compartilhada com os municípios suas competências administrativas, de

uma forma mais democrática e eficiente da realização das atividades públicas. Sob essa

ótica, a região metropolitana é mais que mera unidade administrativa, é um modo de

gestão compartilhada de serviços e atividades (SERRANO, 2009).

Há um problema concernente à natureza jurídica das regiões metropolitanas e à

autonomia municipal, pois a Constituição Federal de 1988 apenas delegou ao Estado-

membro a possibilidade de criar tais regiões, mas não concedeu a estas condições de

ente federativo nem de pessoa jurídica de Direito Público de caráter político

17

A conurbação tratada deve ser entre pelo menos três municípios e exigir, para o efetivo

desenvolvimento dos mesmos, a realização de serviços comuns, planejados e executados regionalmente.

74

(SERRANO, 2009). Caso exista lei complementar que crie regiões, os municípios irão

integrá-las, mas não poderão ter sua autonomia prejudicada.

No atual ordenamento jurídico, as Regiões Metropolitanas são uma divisão

administrativa que pode ser conformada como órgão da administração direta ou

entidade da administração indireta, incumbido de atuação administrativa-financeira. Sua

forma será definida como entender a Lei Complementar estadual instituidora. A atuação

administrativa concentra-se como competência estadual, uma vez que, se essa for

outorgada a um Município, esse estaria comandando outra municipalidade (SERRANO,

2009).

Segundo Hely Lopes Meirelles (2004), a lei complementar estadual que cria as

regiões metropolitanas deve apresentar normas flexíveis para não obstaculizar a atuação

dos estados e municípios. Respectiva norma deve também oferecer a possibilidade de

escolha, pelo Estado, do tipo de região a ser instituída, tornar obrigatória a participação

de todos os entes federados envolvidos e conceituar as obras e serviços de caráter

metropolitano, a fim de preservar as funções das administrações locais. Devem ser

atribuídos à região poderes administrativos e recursos financeiros aptos a permitir o

planejamento e a execução das suas atividades.

Algumas constituições estaduais definem claramente quais as funções consideradas

metropolitanas. As políticas de circulação viária e transporte urbano são as que mais

aparecem, como no caso da constituição de Minas Gerais, do Ceará, de Goiás, do

Distrito Federal, do Amazonas, de São Paulo e do Paraná (GOUVÊA, 2005). Quanto às

fontes de financiamento das ações metropolitanas, apenas as constituições da Paraíba,

de Minas Gerais e do Espírito Santo determinam mecanismos específicos que garantam

recursos, normalmente oriundos do governo estadual e dos municípios (GOUVÊA,

2005).

A contextualização das regiões metropolitanas na história do Brasil demonstra como

o formato institucional destas é reflexo dos processos políticos. O municipalismo e os

governos autoritários influenciaram diretamente o desempenho do planejamento e da

gestão urbana.

Nesse sentido, o planejamento urbano brasileiro foi diretamente afetado pelo

contexto político no qual estava inserido. A discussão quanto ao planejamento urbano

faz-se essencial. Diante desses fatos, José Abílio Belo Pereira18

listou como entraves

18

José Abílio Belo Pereira listou esses entraves em entrevista concedida para essa pesquisa, pois é

representante da sociedade civil no Conselho Deliberativo Metropolitano.

75

para a cooperação intermunicipal os revertérios institucionais derivados da alternância

político partidária, a dificuldade de trabalhar com planejamento, mediando

conhecimento e ação.

No próximo tópico, serão abordadas as teorias de planejamento urbano

desenvolvidas no mundo e como essas foram adotadas no Brasil, conforme as mudanças

que ocorreram na realidade das cidades e nas instituições político-administrativas.

3.3 Planejamento urbano e a configuração de áreas metropolitanas

O planejamento urbano nas cidades européias, no séc. XIX, desenvolveu a proposta

de uma alternativa pública de solução dos problemas urbanos decorrentes da

industrialização e do crescimento demográfico. Segundo Carvalho (2009, p. 22):

Como bem público de segundo grau, o planejamento urbano se

identifica com a produção indireta de bens de primeiro grau,

entendidos como equipamentos e serviços diretamente

oferecidos pelos poderes públicos. Sob esse enfoque, a política

de planejamento urbano compreenderia, antes de tudo, a

coordenação de decisões e ações públicas no tempo e no

espaço, que, tomando como referência o problema urbano como

campo privilegiado para intervenção, visariam a promover o

desenvolvimento das cidades.

A concepção de planejamento urbano foi compreendida de várias formas distintas

no decorrer da história. Dentre as teorias que trataram desse tema, podem ser citadas a

do planejamento físico-territorial clássico, a do planejamento sistêmico ou racionalista,

a do new urbanism, a do planejamento tecnocrático e ainda a do planejamento

participativo.

O planejamento físico-territorial clássico consiste na concepção de planejamento

como atividade de elaboração de planos de ordenamento espacial para a „cidade ideal‟.

Essa reduz o planejamento à organização do espaço e à modernização da cidade, além

de ser marcadamente regulatório, pois entende que o Estado pode usar seus poderes de

controle sobre a expansão urbana e o uso da terra. Seu apogeu foi no fim da Segunda

Guerra Mundial, mas data desde os anos 20 como uma corrente modernista e com o

objetivo de adaptar as cidades à era industrial, possibilitando melhorias aos operários

nos termos da teoria capitalista. O planejamento sistêmico, ou racionalista, visava à

adequação dos meios aos fins preestabelecidos e sofisticou o planejamento físico-

territorial, sem ser aplicado de forma independente (SOUZA, 2008).

As perspectivas de mercado sugeriram muitas críticas ao modelo regulatório do

planejamento físico-territorial e, de certa forma, discutiram as necessidades da

sociedade, porém mantiveram o foco na elite capitalista. Já o new urbanism procurou

76

ser uma alternativa aos típicos subúrbios norteamericanos, considerando o espaço

menos especializado com uma diversidade de atividades, sendo exercidas em locais

anteriormente fragmentados (SOUZA, 2008).

Para lidar com as demandas urbanas, existem as modalidades de planejamento

urbano tecnocrático e participativo. O tecnocrático baseia-se no projeto de uma cidade

ideal, fundamentado em valores e interesses socialmente restritos, envolvendo a

participação de um grupo seleto de técnicos e decisões centralizadas.

As principais características do planejamento urbano tecnocrático, segundo

Carvalho (2009, p. 27), seriam: ênfase na funcionalidade urbana; valorização do

conhecimento técnico; concepção de cidade ideal com uma estrutura de árvore (funções

urbanas dispostas hierarquicamente); separação dos usos urbanos pela distribuição

compartimentada das funções. Esse tipo de planejamento desenvolveu-se após a

Segunda Guerra Mundial, devido à necessidade de reconstrução de cidades destruídas

durante os conflitos. As reconstruções feitas, seguindo esse modelo de organização,

reproduziram os processos de segregação socioespacial, diretamente ou pela instituição

de normas que ampliavam as distâncias entre cidade “real” e cidade “legal”.

O planejamento urbano tecnocrático concebe a cidade como uma composição de

atividades urbanas que se relacionam vertical e hierarquicamente. Em contraposição a

essa concepção, o planejamento urbano participativo dispõe que as cidades são

construídas por uma complexidade de atividades que se sobrepõem no espaço urbano, a

partir de interações muito dinâmicas (CARVALHO, 2009).

Com o aumento do envolvimento dos movimentos populares no requerimento das

demandas sociais das grandes cidades, a relação entre Estado e sociedade teve de ser

revista. O planejamento urbano participativo desponta nesse contexto. Na modalidade

participativa, a cidade é construída pela ação conjunta de diferentes atores que

interferem na vida urbana. Assim, as decisões são tomadas de forma descentralizada,

absorvendo uma maior variedade de demandas e reconhecendo a distribuição desigual

de recursos. O planejamento participativo substituiu a cidade com estrutura tipo árvore

pela de semi-retículas, na qual as várias unidades de mesmo nível comunicam-se

diretamente, sem intermédio da unidade maior envolvente, com superposições. Os usos

dos espaços urbanos são misturados (CARVALHO, 2009). O planejamento urbano

participativo relaciona-se com o comunicativo e o autonomista, pois para o

estabelecimento da comunicação ou da autonomia é fundamental a participação.

77

O planejamento urbano compreendido enquanto um “empreendimento

comunicativo” (SOUZA, 2008, p. 149) teve como inspiração filosófica as reflexões de

Jürgen Habermas sobre a razão e o agir comunicativo. Para Habermas, no contexto do

agir comunicativo, é possível chegar a acordos voluntários em nome da cooperação. A

racionalidade comunicativa advinda do agir comunicativo pode ser a solução para a

resolução de conflitos de interesses. Ocorre que a existência de profundas desigualdades

reflete no sucesso da prática do agir comunicativo, pois a racionalidade dialógica

demanda liberdade e igualdade (SOUZA, 2008). Sendo assim, apesar do planejamento

urbano comunicativo representar um avanço, na sociedade atual a sua aplicação ainda é

restrita e difícil.

O planejamento e a gestão urbana autonomistas propõem o desenvolvimento da

autonomia individual e da coletiva, tendo em vista a legitimação do planejamento e da

gestão atrelada à efetiva igualdade de oportunidade de participação nos processos

decisórios. Sob o enfoque autonomista, os planejadores e técnicos, conhecedores de

instrumentos e técnicas de planejamento e gestão, não podem reivindicar privilégios

quanto ao poder de estabelecer as prioridades e definir metas. Não podem presumir que

a racionalidade irá chegar a uma solução em nome da população, mas devem colaborar

na orientação dos debates e no esclarecimento de dúvidas. Cidadãos conscientes e

assessorados podem ter capacidade de decidir autonomamente e realizar um excelente

planejamento e uma gestão eficiente (SOUZA, 2008).

A teoria autonomista propõe a democracia em sua plenitude, participativa e

consciente. Isso significa que a participação, para essa teoria, não representa o simples

envolvimento nos processos decisórios coordenados e comandados pelo Estado, como

parte do processo. A ótica dessa teoria transmite a ideia de participação no processo

como um todo, desde a construção das primeiras propostas (SOUZA, 2008).

O planejamento e a gestão urbanos autonomistas devem ser articulados. O

orçamento e o planejamento precisam ser tanto integrados quanto participativos. A

sugestão dada por Souza (2008) é a da criação de um único conselho que trate do

desenvolvimento urbano (acompanhamento e aplicação dos instrumentos e planos) e do

orçamento (administração dos investimentos e recursos prioritários). A constituição de

um conselho de desenvolvimento urbano é capaz de diminuir os riscos de definição de

ações contraditórias, além de facilitar o controle e a participação popular em todo o

processo de desenvolvimento local.

78

Os planos não precisam ser rígidos, excessivamente detalhados ou formalistas,

obcecados com a “cidade ideal”. Os planos são “documentos consolidadores de uma

dada estratégia de desenvolvimento urbano e, como tais, serão aquilo que dele

fizermos” (SOUZA, 2008, p. 400).

Planejamento e gestão são termos que não se confundem. Possuem referenciais

temporais e atividades distintas. Planejar remete ao futuro, tentar prever a evolução de

um fenômeno. Gestão remete ao presente, administrar uma situação, conforme os

recursos disponíveis e as necessidades imediatas. O planejamento visa a fundamentar

uma gestão futura. A gestão é a implementação do planejamento realizado (SOUZA,

2008).

Com o advento do positivismo, o surgimento da ciência da administração e a

ocorrência de guerras mundiais, o planejamento ganhou status de objeto específico de

análise e conceituação científica. Seus limites conceituais e metodológicos vêm sendo

estendidos e sua potencialidade comprovada na esfera pública e privada. O

planejamento público é tido como uma invenção recente, desenvolvida ao longo do

século XX com as experiências da ex-União Soviética (MENEZES; JANNUZZI, 2009).

Souza (2008, p. 51) afirma que o planejamento deve ser feito de modo flexível,

entendendo-se que a “história é uma mistura complexa de determinação e

indeterminação, de regras e de contingência, de níveis de condicionamento estrutural e

de regras de liberdade para a ação individual”, tudo isso sujeito ao inesperado. Segundo

diversos autores, como Menezes e Jannuzzi (2009), o planejamento público almeja a

melhoria da qualidade de vida da população mediante o atendimento das demandas

sociais e do interesse público. Para Carvalho (2009), planejamento é o meio para se

reconhecerem problemas, diagnosticá-los e indicar as soluções adequadas, superando a

desordem urbana.

Os maiores desafios do planejamento urbano estão relacionados com a desigualdade

na repartição dos benefícios coletivos que gera, por exemplo, a segregação

socioespacial e o grave desequilíbrio das condições de qualidade de vida. Para lidar com

esses problemas, Inojosa (2001, p. 105) propõe a intersetorialidade ou transetorialidade

a partir da “articulação de saberes e experiências com vistas ao planejamento, realização

e avaliação de políticas”, criando uma nova dinâmica para o aparato governamental,

com base territorial e populacional. Segundo Carvalho (2009, p. 44):

Planejamento urbano é reconhecido como a expressão da

diversidade de demandas que configuram a realidade urbana, de

sorte a corresponder à diversidade de interesses e necessidades

79

dos grupos sociais. Ele pode, além disso, ser visto como

expressão dos conflitos que decorrem da apropriação desigual

dos benefícios coletivos produzidos na cidade, seja porque os

recursos públicos são desigualmente alocados, seja porque a

riqueza social é estruturalmente distribuída de forma desigual

(CARVALHO, 2009, p. 44).

3.3.1 Planejamento Urbano no Brasil

No Brasil, o planejamento urbano teve destaque a partir da década de 60, durante a

ditadura militar. Nesse período, as propostas de planejamento tinham caráter

tecnocrático. Foram criadas estruturas administrativas nas esferas federal e estadual para

lidar com o ordenamento do espaço urbano (CARVALHO, 2009). As primeiras

experiências limitaram-se a aspectos de regulamentações arquitetônicas e urbanísticas,

provisão de alguns serviços públicos e, em poucos casos, racionalidade da organização

do solo urbano.

Houve algumas experiências importantes de planejamento urbano como a

construção de Belo Horizonte, Brasília e Goiânia, mas essas foram localizadas, elitistas

e setoriais, não representando o desenvolvimento de uma política nacional de

planejamento urbano. Um dos marcos importantes da história do planejamento urbano

brasileiro foi o já citado Seminário de Habitação e Reforma Urbana, realizado em

Petrópolis, no ano de 1963, no governo João Goulart (GOUVÊA, 2005). No ano

seguinte, 1964, instaurado o regime militar, o planejamento institucionalizou-se, porém

de modo autoritário e com o intuito de fortalecer uma política urbana extremamente

centralizadora. As ações realizadas nesse período que caracterizaram o planejamento

foram: a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH) e do Serviço Federal de

Habitação e Urbanismo (Serfhau), sendo que na estrutura do Serfhau existia o Sistema

Nacional de Planejamento para o Desenvolvimento Local, que visava a induzir os

municípios a elaborar planos diretores, essenciais para a obtenção de recursos do BNH

(GOUVÊA, 2005).

O Serfhau mantinha-se distante da realidade dos municípios, sem recursos e sem

força política. Em contraposição ao modelo centralizador do governo federal, esse

serviço entendia os municípios como unidades autônomas, capazes de decidir e resolver

seus próprios problemas, ou seja, não foi aplicada uma visão integrada no planejamento

ou na formulação dos planos diretores, que se tornaram simples declarações de boas

intenções (GOUVÊA, 2005).

No âmbito do Serfhau, as políticas públicas nacionais que visavam a atender às

demandas do meio urbano eram decididas em círculos estreitos da burocracia pública,

80

pouco atentos aos interesses da comunidade. Até a década de 1970, foram

desenvolvidos, com a orientação do Serfhau, planos de desenvolvimento integrado para

algumas cidades de médio e grande portes. Esses planos pretendiam orientar os

investimentos com vistas ao desenvolvimento urbano, tratando de problemas como a

especulação imobiliária, o crescimento desordenado e a modernização das instituições

locais (CARVALHO, 2009).

Durante a década de 1970, foi adotado, no Brasil, o modelo de planejamento urbano

compreensivo, no qual o controle sobre a expansão urbana, o uso e a ocupação do solo

constituem questões centrais. A estrutura de planejamento adotada nesse período era

excessivamente centralizadora e autoritária, mas o planejamento elaborado produziu

estudos e propostas que, ainda hoje, constituem referências obrigatórias para a

compreensão da dinâmica metropolitana daquele momento e dos períodos posteriores

(COSTA, 2003).

A criação de regiões metropolitanas em 1973 deu-se também de forma centralizada

e sem envolver os estados, muito menos os municípios. Um dos reflexos da forma como

foram criadas essas regiões foi a possibilidade de controle da União, através da

intermediação de recursos, sobre as áreas urbanas mais estratégicas do país. Em 1974,

foi criada a Comissão Nacional das Regiões Metropolitanas e Política Urbana (CNPU)

para tutelar as regiões metropolitanas. Como a CNPU não possuía poder institucional e

político, não foi capaz de realizar um bom trabalho e ficou à mercê de poderosas

organizações federais como o BNH e o DNER (Departamento Nacional de Estradas de

Rodagem). O serviço que mais se desenvolveu em termos de planejamento urbano foi o

de transportes, principalmente depois da implantação do Sistema Nacional de

Transportes Urbanos (SNTU) (GOUVÊA, 2005).

Durante o governo Figueiredo, foi criado o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Urbano (CNDU), no âmbito do Ministério do Interior, que atendeu a solicitações

pontuais de estados e municípios que buscavam financiamentos. Um papel importante

do CNDU foi o trabalho desempenhado em cidades de médio porte, para diminuir o

crescimento excessivo das metrópoles e reorientar os processos de migração interurbana

(GOUVÊA, 2005).

No ano de 1985, foi instituído o Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio

Ambiente, direcionado para cuidar das políticas habitacionais, de saneamento básico, de

desenvolvimento urbano e do meio ambiente. O BNH e o CNDU ficaram vinculados a

esse Ministério (GOUVÊA, 2005).

81

Segundo Gouvêa (2005), com a eleição de Tancredo Neves em Minas Gerais pela

via do voto direto em 1983, os membros que compunham a Superintendência de

Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Plambel) e a Companhia

de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Metrobel)

esperavam que houvesse uma retomada do planejamento, envolvendo a sociedade e os

órgãos públicos.

A Associação Nacional do Solo Urbano (Ansur), no início da década de 80, prestava

assessorias aos movimentos urbanos e organizava suas demandas para que fossem

unificadas. Essas ações promoveram o Movimento Nacional pela Reforma Urbana

(MNRU), que, durante a constituinte, elaborou e coletou 160 mil assinaturas para a

proposta de Emenda Popular pela Reforma Urbana apresentada ao Congresso.

Respectiva proposta não foi incorporada, mas contrabalanceou o conflito entre seus

defensores e a camada de políticos mais conservadora. O resultado foi o até então

inédito capítulo destinado à política urbana no texto constitucional de 1988

(CARVALHO, 2009).

A retomada da valorização do planejamento ocorreu com a promulgação da

Constituição Federal de 1988. A recuperação do papel local na formulação de políticas e

a exigência da formulação dos planos diretores municipais são exemplos de formas de

valorização do planejamento. A Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989

também favoreceu a planificação, distribuiu funções aos municípios e regulamentou a

criação das regiões metropolitanas, microrregiões e outras unidades administrativas.

Conforme Gouvêa (2005), para que uma região metropolitana trabalhe e equilibre as

externalidades negativas derivadas das desigualdades política, econômica e social

verificadas entre os municípios, é necessário um planejamento bem feito das suas ações

e uma rede institucional participativa e legítima.

Na década de 90, começa a ser consolidado um novo modelo de elaboração e gestão

das políticas públicas sociais para a solução dos problemas urbanos. Esse modelo

confere importância à articulação dos setores governamentais e da sociedade civil

através de um processo democrático de tomada de decisões de caráter público

(ABRANCHES, 2003).

Para o bom desenvolvimento do planejamento participativo, é imprescindível um

amadurecimento político, ideológico, técnico e organizativo/institucional. Uma

concepção fragmentada e distorcida da cidade e de seus agentes coloca em risco a

implementação das políticas relacionadas à participação. Desse modo, o envolvimento

82

da sociedade civil é essencial para a compreensão da “cidade real”. O Estatuto da

Cidade recomenda a democracia participativa na gestão urbana ao traçar diretrizes que

tratam da realização de audiências públicas, criação de Conselhos Municipais, dentre

outras (ABRANCHES, 2003).

O Estatuto da Cidade tornou possível uma maior participação popular na gestão das

cidades. O inciso II do artigo 2o de respectiva lei dispõe que uma das diretrizes gerais do

Estatuto é a gestão democrática por meio da participação popular e de associações

representativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e

acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano

(BRASIL, 2001).

O inciso XIII do mesmo artigo 2o impõe a realização de audiência com a

participação da população interessada nos processos de implantação de

empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos. O art. 4o

determina que a gestão orçamentária também deve ser participativa. A publicidade

como mecanismo propiciador de controle democrático da ação urbanística estatal está

prevista no artigo 27. O Capítulo IV do Estatuto da Cidade é inteiramente dedicado à

Gestão Democrática da Cidade (DALLARI; FERRAZ, 2006).

O artigo 43 do Capítulo IV do Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) dispõe sobre os

instrumentos capazes de promover a gestão democrática dos centros urbanos. Dentre

esses instrumentos, podem-se citar a criação de órgãos colegiados de política urbana,

nos níveis nacional, estadual e municipal; a realização de debates, audiências e

consultas públicas; a promoção de conferências sobre assuntos de interesse urbano; a

iniciativa popular de projeto de lei e de planos, programas e projetos de

desenvolvimento urbano. Além dos instrumentos citados, a aprovação de propostas

sobre o plano plurianual, lei de diretrizes orçamentárias dar-se-á mediante a realização

de debates, audiências e consultas públicas. A participação da população e de

associações representativas da sociedade civil fica resguardada pelo artigo 45, que

afirma que os organismos gestores das regiões metropolitanas e aglomerações urbanas

devem incluir, obrigatoriamente, a participação popular nas suas atividades.

Uma das finalidades do planejamento e da gestão urbanos é administrar situações de

conflito social, pois a dinâmica social implica em disputas entre diferentes segmentos da

sociedade. O plano diretor19

é um importante instrumento na execução desse fim,

19

O art. 182 da CF/88 define o plano diretor como um instrumento básico da política de desenvolvimento

urbano e fundamental para a efetivação da função social da cidade.

83

enquanto mediador da qualidade de vida do cidadão e estruturador do uso correto do

solo e do meio ambiente, do saneamento básico, da segurança pública, dos transportes,

do sistema viário e da habitação (TEIXEIRA, 2008, p. 127). Segundo o Estatuto da

Cidade, esses são instrumentos de execução da política urbana municipal, mas são

também essenciais para a política urbana regional, já que são instrumentos que podem

promover a competição intermunicipal. A falta de interação no planejamento de

municípios vizinhos pode fazer com que sejam traçadas metas iguais e concorrentes

entre si (MORENO, 2006).

A realização de uma análise regional para a elaboração dos planos diretores é

fundamental na visão de Moreno (2006), pois existe marcante interdependência entre os

municípios de uma região metropolitana.

O Estatuto da Cidade, ao dispor que todo município pertencente a uma região

metropolitana deve possuir plano diretor, não alerta explicitamente que os planos devem

ser elaborados, tendo em vista o contexto regional, mas, com um pouco de reflexão e

avaliação das diretrizes básicas do Estatuto, fica clara a importância dessa interpretação,

ainda que complexa. A lei não deve ser interpretada isoladamente, e sim avaliando seus

preceitos básicos e normas correlatas.

É preciso superar o isolamento e a fragmentação no processo de ordenação do

espaço urbano. Para Moreno (2006), deve ser estimulada a elaboração de planos

diretores pensados intermunicipalmente, ou até mesmo produzidos pelo estado, tendo

em vista o ordenamento de uma região, e não apenas de um município.

O caráter democrático dado ao planejamento urbano pelo Estatuto da Cidade

favorece a formulação de planos diretores que atendam aos interesses de diferentes

grupos, de forma articulada e cooperada (MORENO, 2006). A promoção da inclusão

social no meio urbano depende da aplicação dos dispositivos legais previstos no

Estatuto da Cidade e na Constituição da República Federativa do Brasil.

O Plano Diretor de Belo Horizonte, Lei 7165/1996 (CÂMARA MUNICIPAL DE

BELO HORIZONTE, 2010), tem como objetivos: ordenar o pleno desenvolvimento do

Município no plano social, adequando a ocupação e o uso do solo urbano à função

social da propriedade; melhorar a qualidade de vida urbana, garantindo o bem-estar dos

munícipes; promover a adequada distribuição dos contingentes populacionais,

conciliando-a às diversas atividades urbanas instaladas; promover a estruturação de um

84

sistema municipal de planejamento e gestão urbana democratizado, descentralizado e

integrado; promover a compatibilização da política urbana municipal com a

metropolitana, a estadual e a federal; preservar, proteger e recuperar o meio ambiente e

o patrimônio cultural, histórico, paisagístico, artístico e arqueológico municipal;

promover a integração e a complementaridade das atividades urbanas e rurais na região

polarizada pelo Município, mediante o adequado planejamento do desenvolvimento

regional.

Analisando os objetivos do Plano Diretor de Belo Horizonte, pode-se perceber que o

mesmo seguiu as diretrizes do Estatuto da Cidade, o que representa a concretização de

um avanço na história da capital mineira, inicialmente construída como um local elitista,

segregador, não cooperativo e no qual as pessoas que ocupavam seus espaços não

tinham voz ou poder. Já a aplicação dos preceitos legais descritos é um desafio para as

políticas públicas municipais.

Menezes e Jannuzzi (2009, p. 80) afirmam que, a partir da análise de dados quanto à

institucionalização da gestão urbana nos municípios brasileiros, são os “fatores

demanda – complexidade urbana e pressão populacional – e não os de oferta –

disponibilidade de recursos – que conduzem à maior estruturação do planejamento”. Os

mesmos autores dispõem ainda que

os instrumentos voltados para o ordenamento financeiro têm

forte presença nos municípios; os instrumentos voltados para o

ordenamento territorial têm presença menos significativa e é

pequena a presença dos instrumentos voltados para o

ordenamento social. O estudo revelou que a estrutura de

planejamento nos municípios guarda forte relação com os

fatores relacionados à complexidade urbana e demanda por

serviços urbanos – medidos por densidade demográfica e grau

de urbanização – e fraca relação com a receita municipal por

habitante (MENEZES; JANNUZZI, 2009, p. 86).

De um modo geral, os municípios com maior complexidade de planejamento

municipal, bem estruturados em termos de planejamento, possuem melhor nível de

oferta de serviços urbanos. Esse dado demonstra a efetividade social do planejamento e

que o grau de instrumentalização do planejamento municipal/regional é tão importante

quanto os recursos orçamentários (MENEZES; JANNUZZI, 2009).

A situação descrita acima pode ser ampliada para o contexto metropolitano, pois

para a gestão e o planejamento de interesses intermunicipais, tendo em vista o

desenvolvimento local, é importante a existência de uma estrutura institucional bem

organizada e legítima, de modo que as demandas dos municípios envolvidos sejam

atendidas. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem sido formada uma estrutura

85

de governança, capaz de fomentar a gestão social das mazelas urbanas e promover o

desenvolvimento local.

Após a contextualização das regiões metropolitanas frente ao estado federal, a teoria

e a prática de planejamento urbano, o próximo capítulo apresentará como ocorreu a

formação da RMBH, analisando o processo de construção da capital, sua expansão para

a periferia e a institucionalização da metrópole.

86

4 A FORMAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

4.1 A definição da sede da nova capital de Minas Gerais: Belo Horizonte

A cidade de Ouro Preto foi a capital de Minas Gerais da segunda década do século

XVIII até 1897. Conhecida como pólo de extração mineral, situava-se geograficamente

distante do litoral e das áreas economicamente mais dinâmicas da Província. Com o

esgotamento das minas de ouro, o eixo econômico do estado passou a ser relacionado às

áreas ligadas à agricultura e à pecuária. Ouro Preto passa, então, a simbolizar o declínio

da economia mineira e o passado colono-imperial. Com o advento da República, a

modernização do país passou a ser almejada e escolher uma nova capital estadual

representava a superação de um passado decadente (CARDOSO, 2007). O Estado de

Minas Gerais queria se mostrar politicamente unido e forte frente à República recém

instaurada (ANDRADE, 2003).

Em 1890, o governador Domingos Rocha designou o engenheiro Herculano Veloso

Ferreira Pena para avaliar qual seria o local ideal para a instalação da nova capital

mineira. As características que deveriam ser observadas eram: localização central que

permitisse a comunicação com diferentes áreas importantes, condições de higiene,

topografia que permitisse o crescimento da cidade. Após a análise dessas características,

cinco localidades foram pré-selecionadas, sendo elas Barbacena, Paraúna, Várzea do

Marçal, Juiz de Fora e Belo Horizonte, antigo Arraial Curral Del Rey (BARRETO,

1995).

Uma equipe chefiada pelo engenheiro paraense Aarão Reis avaliou as cinco

localidades citadas e concluíram que Juiz de Fora era distante do centro do estado,

Paraúna e Barbacena não apresentavam boas condições de higiene ou topográficas.

Dessa forma, restaram Belo Horizonte e Várzea do Marçal, mas essa última era melhor

apreciada pelo engenheiro, pois possuía estrutura ferroviária e muitos terrenos

devolutos. No entanto, por força política20

, o Congresso Mineiro optou por Belo

Horizonte (BARRETO, 1995).

Em 17 de dezembro de 1893, a lei n.3 foi adicionada à Constituição Estadual,

determinando que a nova sede do Governo fosse erguida em Belo Horizonte,

chamando-se Cidade de Minas. O prazo para inauguração da capital era de quatro anos

20

Os congressistas ouropretanos não estavam satisfeitos com a mudança da capital e, ao perceberem que

Várzea do Marçal de fato reunia mais características favoráveis, pressionaram para a escolha de Belo

Horizonte, acreditando que seria impossível a construção de uma nova cidade em apenas quatro anos

(SINGER, 1977).

87

(PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010). O nome Belo Horizonte substituiu o

de Cidade de Minas em janeiro de 1901 (BELOTUR, 2010).

Definido o sítio que abrigaria a nova capital mineira, foi criada, em fevereiro de

1894, a Comissão Construtora da Nova Capital. “O projeto da nova cidade estruturava o

seu espaço urbano de acordo com os parâmetros modernistas vigentes e sua planta

original foi concluída em março de 1895” (CARDOSO, 2007, p. 55).

4.2 Do Arraial Curral Del Rey à capital mineira

Em 1701, o bandeirante João Leite da Silva Ortiz chegou à serra de Congonhas em

busca de metal e encontrou linda paisagem. Encantado, João Leite fundou a Fazenda

Cercado que prosperou rapidamente e começou a atrair pessoas, formando um arraial.

Boiadeiros baianos, mineiros e bandeirantes pousavam no local e, devido à grande

quantidade de viajantes, a padroeira local era Nossa Senhora da Boa Viagem, santa que

era louvada na capela central. O Arraial ficou conhecido como Curral Del Rey e é esse

o nome como é conhecida hoje a antiga serra de Congonhas (GODINHO, 2003). O

nome Curral Del Rey foi adotado, porque na Fazenda Cercado pernoitava o gado

destinado ao pagamento de taxas reais (BELOTUR, 2010). Em 1889, o nome do local

mudou para Arraial Belo Horizonte (ANDRADE, 2003).

A decadência do ouro fez com que pessoas migrassem para a fazenda em busca de

trabalho. Devido a isso, o arraial chegou a ter 18 mil habitantes e foi elevado à

Freguesia, pertencente a Sabará. Esse ciclo de prosperidade durou pouco e, no final do

século XIX, o arraial contava com 4 mil habitantes (PREFEITURA DE BELO

HORIZONTE, 2010).

De acordo com Célio de Castro (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010), a

Proclamação da República em 1889 deixou os curralenses eufóricos e estes decidiram

mudar o nome do local para Belo Horizonte. A notícia da construção da nova capital em

seu território foi recebida com muita festa, mas os moradores locais não imaginavam

que não faziam parte dos planos para a moderna cidade que seria levantada.

4.3 A construção de uma cidade para abrigar o governo de Minas Gerais

A capital mineira Belo Horizonte tornou-se um local distinto do antigo Arraial Curral

Del Rey. A criação da nova capital do estado de Minas Gerais esteve integralmente nas

mãos do Estado, desde o planejamento e a execução das obras até a alienação dos lotes

e o controle da ocupação.

A execução do projeto levaria abaixo todo o arraial. Dessa forma, todas as casas

foram desapropriadas por um valor irrisório e derrubadas. O centro era reservado para

88

os órgãos públicos e seus funcionários. Cabe destacar que, apesar dos baixos valores de

mercado alcançados pelos lotes urbanos nos primeiros anos da capital, a existência de

prazos definidos para a construção das habitações na zona urbana acabou por restringir

a aquisição desses lotes à população de menor renda21

. Contudo frações da zona urbana

foram ocupadas provisoriamente por operários22

, formando favelas e aglomerados de

barracões de empreiteira23

. O vetor sul de Belo Horizonte foi o que apresentou um

maior crescimento inicial, abrigando, concomitantemente, moradores de classes

socialmente distintas, prevalecendo tais condições até meados da década de 1910,

período em que o avanço da urbanização, a especulação imobiliária e a ocupação das

classes mais abastadas expulsaram os operários para as zonas suburbana e rural

(VILLAÇA, 1998).

A cidade a ser construída deveria funcionar como um organismo vivo, higiênica,

saneada, livre de doenças, desordens e revoluções. A inspiração do projeto veio de

Washington e Paris. A Cidade de Minas era elitista, feita para os funcionários públicos e

aqueles que tinham condições de adquirir lotes. A área central recebeu imediatamente

todos os serviços necessários, enquanto a rural e a suburbana iriam ser preparadas mais

tarde (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010).

A planta original de Belo Horizonte, baseada no positivismo, refletia o ideal de uma

cidade funcional e organizada. A concepção e o plano obedeciam aos parâmetros

urbanísticos pré-modernos, com a missão de simbolizar a ordem e o progresso

(LEMOS, 1994). Havia grande preocupação com a higiene e a funcionalidade. Assim,

foi gerado um sistema viário hierarquizado, composto por avenidas e ruas, que, devido

ao baixo volume de veículos e pedestres, pareciam demasiadamente largas. Ao se

construir uma cidade inteiramente planejada, imaginavam que seria possível controlar a

21

Os antigos proprietários do Arraial Curral Del Rey e os funcionários públicos tiveram prioridade para

assentamento na nova cidade. Um detalhe importante é que a moradia dos operários da obra de

construção da cidade não foi prevista no plano (MENDONÇA, 2003). 22

Problemas sociais, como a pobreza, pretendiam ser evitados e, por essa razão, não foram criadas

políticas capazes de trabalhar essas demandas. Com a obra concluída, os operários deveriam ser retirados,

sinal nítido de segregação e elitização. Ocorre que não foi isso que aconteceu. Belo Horizonte foi

inaugurada às pressas, estando ainda inacabada. Os operários, aglomerados em meio às obras, não foram

retirados. Sem lugar para ficar, aqueles que se esforçaram para o sucesso da preparação da nova capital,

assim como os horizontinos formaram favelas na periferia da cidade. A primeira, a do Leitão, ficava nas

proximidades do atual Instituto de Educação, em plena Avenida Afonso Pena. Essa massa de

trabalhadores, que não era considerada cidadãos legítimos de Belo Horizonte, revelava o grau de injustiça

social existente nos seus primeiros anos de vida (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010). 23

Conforme Célio de Castro (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010), imigrantes estrangeiros,

mineiros do interior e gente de todas as partes do país foram para BH. Buscavam empregos, melhores

oportunidades de vida e, sobretudo, a modernidade. Esses bravos sonhadores ergueram a nova capital.

89

sua expansão e que essa ocorreria da área central para a periferia. Porém BH cresceu da

periferia em direção à região central (GOUVÊA, 2005). Ocorre que, conforme dispõe

Andrade (2003, p. 181):

Desde o início, o Estado exerceu um forte controle sobre o

crescimento da cidade, inscrevendo no seu mapa um processo

de segregação socioespacial no qual as classes econômicas

mais privilegiadas puderam ocupar os espaços com melhor

infraestrutura urbana. O conjunto desses espaços foi

denominado zona urbana pela equipe que projetou a nova

capital; um setor cercado por uma avenida em forma de anel

(atual avenida do Contorno), com suas ruas largas e simétricas

e dotado de infraestrutura sanitária. Dentro desse espaço,

localizavam-se o centro comercial da cidade e o Palácio de

Governo, este cercado pelas Secretarias e pelo bairro dos

funcionários públicos. Circulando a zona urbana havia a zona

suburbana e, mais exatamente, a zona rural, destinada a sítios

de pequena lavoura. Ao excluir a população mais pobre, a zona

urbana permaneceu, por muitos anos, com baixas taxas de

ocupação. Em 1912, quinze anos após a inauguração da cidade,

70% dos seus 38.822 habitantes residiam fora da zona urbana.

Essa exclusão configurou, ao longo das décadas seguintes, um

processo de crescimento da periferia para o centro.

A cidade foi planejada para abrigar 200.000 pessoas e dividia-se em três zonas

concêntricas: a zona central, abrangendo 8.825.383 m², apresentando traçado simétrico

de tabuleiro de xadrez, com ruas e avenidas amplas, divididas em seções a serem

destinadas para a sede do governo com seu aparato administrativo, sua estrutura de

transportes, de comércio, de educação de saneamento, de assistência médica, moradia

da elite e alguns setores da classe média; a zona suburbana, localizada na área externa

da Avenida do Contorno, formada por ruas irregulares onde a implantação de serviços

foi deixada para a segunda etapa de construção da cidade; a terceira zona, identificada

como zona rural, composta por cinco colônias agrícolas, deveria funcionar como um

cinturão verde, com o objetivo de abastecer a cidade com produtos hortigranjeiros

(GODINHO, 2003).

A acessibilidade urbana teve destaque no projeto da cidade, o que pode ser

observado pela preocupação com o traçado e as dimensões técnicas das vias públicas.

Inovações da época foram empregadas, como os bondes, que representavam o mais

avançado modo de transporte coletivo urbano existente (CARDOSO, 2007).

A obra de Belo Horizonte teve início juntamente com os trabalhos de construção do

ramal férreo que iria ligar essa à rede da Central do Brasil, inaugurada em dezembro de

1895. Essa medida favoreceu a conexão de Belo Horizonte a outras cidades, como

Sabará, Ouro Preto e a capital federal, Rio de Janeiro. O cumprimento do prazo de

90

inauguração da cidade também dependeu da linha ferroviária, essencial para que fossem

entregues os materiais de construção que chegavam por meio de trens (CARDOSO,

2007).

4.4 A expansão urbana e a configuração da Região Metropolitana de Belo

Horizonte enquanto fenômeno urbano espacial

A cidade não se desenvolveu como o planejado, a industrialização tardou, vindo a

ter seu início na década de 1940. O número de desempregados era grande

(PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010). As periferias ficaram cada vez mais

distantes do centro da capital, assim como a preocupação dos governantes com essas

regiões, agravando-se assim o índice de violência, pobreza e qualidade de vida da

população de baixa renda, em grande parte, vinda do interior do estado ou do nordeste.

A falta de infraestrutura nas periferias proporcionou o surgimento de cada vez mais

favelas24

e a ocupação de áreas de risco ou de reserva ambiental. Belo Horizonte foi

inaugurada em 1897 e já possuía duas favelas, com população estimada de 3.000 (três

mil) habitantes, enquanto a população da cidade era, no total, de 10.000 (dez mil)

(FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2008).

À medida que a capital crescia, aumentavam também as reclamações e

reivindicações populares em busca da instalação de serviços básicos de água, luz,

esgotos e melhorias nas condições de transporte, devido ao acelerado acréscimo

populacional nas periferias da cidade e às limitações no atendimento realizado pelo

sistema de bondes elétricos25

(CARDOSO, 2007). O que acontecia é que inúmeros

bairros periféricos de Belo Horizonte não possuíam condições de infraestrutura que

possibilitassem o seu atendimento por linhas de bondes (não dispunham de redes de

energia elétrica ou vias livres). “A tímida expansão da rede de bondes no decorrer das

suas primeiras décadas de operação contribuiu para a intensificação do adensamento

populacional em favelas localizadas nas proximidades da zona urbana” (CARDOSO,

24

Conforme afirma Alfonsin e Fernandes (2003), as cidades tornam-se um “caldeirão”, devido a dois

fatores: o mercado imobiliário, com sua lógica mercantilista, e a ordem urbana, cuja legislação e medidas

públicas têm como alicerce a elite. 25

Desde a inauguração dos bondes elétricos, esses tiveram seus traçados voltados às áreas urbanas do

vetor sul da cidade. A expansão do atendimento desses acontecia visando a atender a interesses

específicos. “A chegada dos bondes elétricos à região do Prado (1906), por exemplo, foi concebida no

intuito de facilitar o acesso, sobretudo das classes mais abastadas, ao lazer. Aquela área abrigava o antigo

hipódromo, no qual ocorriam, entre outras, exposições pecuárias” (CARDOSO, 2007, p.63). A Serra

também foi beneficiada, mesmo se tratando de um bairro pouco adensado, pois era uma continuidade da

área mais nobre da Capital, onde eram encontrados “inúmeros sítios e chácaras destinados ao descanso e

ao lazer de uma reduzida parcela de cidadãos belo-horizontinos” (CARDOSO, 2007, p.63).

91

2007, p. 64). A especulação imobiliária acompanhava o traçado por onde transitavam os

bondes, fato esse demonstrado pela grande expansão das áreas a nordeste e noroeste da

cidade, que eram atendidas por linhas dessa modalidade de transporte coletivo. Cardoso

(2007) afirma que existe uma relação entre a oferta de transporte e a construção de

bairros residenciais.

Na década de 1930, Belo Horizonte – BH - começou a mudar. A poeira vermelha,

os bangalôs e a arquitetura neoclássica cederam lugar a prédios. Os bondes perderam

espaço para os automóveis. Nesse momento, tem início a formação de um pólo regional

de caráter metropolitano (LEMOS, 1994).

Na década de 1940, a arquitetura moderna marcou a capital. Em 1941, foi criado o

Parque Industrial e, em 1943, foi inaugurado o Complexo da Pampulha. Altos edifícios

foram construídos na região central e a especulação imobiliária passou a atuar no centro.

A criação, nos anos 1940, da Cidade Industrial de Contagem, até então distrito e não

município situado a oeste da capital, lançou as bases para a formação da futura região

metropolitana. A estrutura produtiva industrial e os processos iniciais de conurbação

definiram o eixo industrial e operário da região (MENDONÇA, 2003).

Grandes obras viárias, realizadas nos anos 1940 e 1950, traçaram os eixos de

expansão urbana, a princípio nos sentidos norte e oeste de BH. Também foi a norte e a

oeste que se assentaram os grupos populares e operários (MENDONÇA, 2003). A

Avenida Antônio Carlos ligou o centro à Pampulha26

e proporcionou a ocupação do

vetor norte e municípios vizinhos por pessoas de baixa renda, especialmente na década

de 1970 – Venda Nova, Santa Luzia e Ribeirão das Neves (ANDRADE, 2003). Novos

bairros surgiram na periferia sem qualquer infraestrutura para atender àqueles que

chegavam à cidade. Na década de 1950, a população dobra de 350 mil para 700 mil

habitantes. Preocupado com o crescimento desordenado da cidade, o prefeito, Américo

René Gianetti, deu início à elaboração de um Plano Diretor para Belo Horizonte

(PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010).

Até 1960, o município de Belo Horizonte era o que mais crescia no contexto

metropolitano. Dessa data em diante, os municípios do entorno da capital passaram a

comandar esse crescimento, principalmente, devido aos altos saldos migratórios, intra e

extrametropolitanos. Na década de 1970, a taxa de crescimento populacional anual de

26

A construção da barragem da Pampulha por Juscelino Kubistchek transformou o sistema viário, que

passou a contar com um grande número de ônibus urbanos. Vias foram construídas e asfaltadas (LEMOS,

1994).

92

Belo Horizonte era 41% inferior à dos demais municípios da RMBH em seu conjunto.

Nos anos seguintes, essa diferença aumentou para 75%, entre 1980-1991 (CAETANO;

RIGOTTI, 2008). Esses dados refletem a queda no ritmo de crescimento da capital27

, a

intensificação dos fluxos migratórios dependentes de boas condições de mobilidade

urbana e a contínua expansão da RMBH no sentido de sua periferia. Os principais

sentidos de migração, a partir de Belo Horizonte, na região em questão são: Contagem,

Ribeirão das Neves, Betim, Ibirité, Santa Luzia e Vespasiano.

Na tentativa de resolver os problemas causados pela falta de planejamento, foram

tomadas várias medidas: criou-se o Plambel e foi instituída a Região Metropolitana de

Belo Horizonte no ano de 1973 (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2010).

Os fatores de maior pressão sobre a ordem territorial que provocam a segregação do

espaço na RMBH são, segundo Pires (2010): a incontrolável especulação imobiliária

voltada para a mercantilização do solo urbano, com ampliação do mercado imobiliário

de alto luxo; a insuficiente regulação pelo órgão metropolitano de caráter público, que

ocasiona a autorregulação pelo mercado; a elevação de coeficientes de aproveitamento

das áreas de grande impacto sobre o tecido urbano e a infraestrutura, em especial a

relativa à mobilidade. Esses fatores são agravados pelo esgotamento do território da

capital, o que alimenta a variação das formas de ocupação e atinge locais pouco

propícios, além de incrementar a polarização da distribuição espacial entre pobres e

ricos.

A expansão da mancha urbana de Belo Horizonte para a periferia deu-se sob a

influência dos seguintes fatores: as decisões estatais acerca da localização industrial que

refletem na ocupação do espaço por operários e conjuntos habitacionais populares (a

oeste da capital na primeira fase de industrialização do estado – década de 40; a norte da

capital na segunda fase – anos 70); a legislação urbanística elitista de BH que promoveu

a inserção do mercado imobiliário direcionada para as classes média e alta; a legislação

permissiva dos municípios do entorno da capital que favoreceu a proliferação de

loteamentos populares; a topografia acidentada; a concentração de propriedade fundiária

por parte de empresas mineradoras (MENDONÇA, 2003).

27

Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enquanto a capital cresceu entre 1991 e 2000, a uma taxa

de 1,15% ao ano, Ribeirão das Neves e Ibirité, que apresentam os mais baixos PIBs municipais per capita

da RM, cresceram no mesmo período a taxas anuais de, respectivamente, 6,2 e 4,1% (GOUVÊA, 2005,

p.94).

93

Atualmente a expansão urbana da RMBH está focalizada no Vetor Norte, incluindo

Pampulha e Venda Nova. A área Norte Central, formada principalmente por Santa

Luzia, Vespasiano e Ribeirão das Neves, atua como pólo atrativo da população de baixa

renda, devido à disponibilidade de loteamentos populares e instalação de indústrias. O

Norte Extremo da RMBH, Pedro Leopoldo e Confins, apresenta menor interação com a

capital e congrega menor contingente populacional. Investimentos públicos no Vetor

Norte – Cidade Administrativa, Linha Verde – estão alterando os fluxos migratórios e o

quadro de desenvolvimento urbano (PIRES, 2010).

O crescimento demográfico na RMBH não é homogêneo. Os municípios com

menor grau de integração institucional e relacional apresentaram menores índices de

crescimento do que os demais. Os municípios de grau médio apresentaram taxas de

crescimento altas, mas relativamente estáveis. Já os municípios de alto grau de

integração apresentaram significativo aumento populacional. Nesse quadro, a capital

figura como emissora de pessoas para as demais localidades. De 1986-1991, de mais de

120 mil pessoas que mudaram de município dentro da RMBH, 71% eram originadas da

capital e direcionaram-se a outros locais do entorno (CAETANO; RIGOTTI, 2008)28

.

Apesar das constantes mudanças que ocorrem no contexto metropolitano, Belo

Horizonte permanece como uma cidade pólo e tem apresentado uma relação avançada

frente à institucionalização da região. A Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte,

aprovada em 1990, trouxe avanços em diversos setores sociais. O Conselho

Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município foi criado em 1992, para tratar do

tombamento de construções de valor histórico e impedir a destruição de símbolos

belorizontinos. O Plano Diretor da cidade e a Lei de Uso e Ocupação do Solo, que

datam de 1996, passaram a regular e ordenar o crescimento da capital (PREFEITURA

DE BELO HORIZONTE, 2010). O advento do Estatuto da Cidade, em 2001,

proporcionou nova fundamentação jurídica para a efetivação do direito à cidade. Esse

direito engloba a função social da propriedade, a moradia e a participação popular.

Surge, dessa forma, um novo cenário para o desenvolvimento da capital mineira.

4.5 A institucionalização da Região Metropolitana de Belo Horizonte

28

Os municípios com grande participação no setor industrial e aqueles com oferta de moradias para a

população de baixa renda são os responsáveis pela maior absorção de migrantes que trocaram de

municípios dentro da RMBH (Contagem e Ribeirão das Neves). A capital tem papel secundário como

opção de destino de emigrantes (RIGOTTI; VASCONCELLOS,2003).

94

Belo Horizonte é hoje o centro econômico, político e demográfico de Minas, e a

RMBH é a sétima maior região metropolitana da América Latina em termos

demográficos (Cidade do México, São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Bogotá,

Santiago do Chile aparecem em posição anterior à de BH, no ano de 2000) (PIRES,

2010).

A RMBH possui várias atrações em comparação com outras regiões do país. Uma

das vantagens diz respeito à sua localização privilegiada em relação ao eixo Sudeste –

Distrito Federal no Brasil e o cone sul da América Latina, Mercosul. A região aqui

estudada possui diversificada estrutura econômica. O Aeroporto Internacional Tancredo

Neves, o porto seco de Betim, a universidade federal, as belezas naturais, o acervo

histórico barroco e arqueológico da área Carste também geram diferenciais. Apesar do

grande potencial, a RMBH apresenta baixo grau de inserção econômica nacional e

internacional (PIRES, 2010). Uma gestão metropolitana que garanta sinergia entre os

governos nas suas variadas instâncias pode fazer com que haja melhor aproveitamento

de vantagens.

Integrada por trinta e quatro municípios, a RMBH abrange 1,6% do território

estadual, com uma população de 4.975.126 hab (IBGE/2006) que representa 25% do

total no estado e aproximadamente 50% do PIB (IBGE/2006). O Mapa 1 demonstra a

RMBH e a localização dos municípios que a compõem. Os indicadores sociais são

muito variáveis. A renda per capita no eixo econômico da região – Belo Horizonte,

Contagem, Betim - é em torno de US$ 3,900 por ano, enquanto a média de outros

municípios como Ibirité e Ribeirão das Neves não atinge US$ 630 (IBGE/2006).

A heterogeneidade da RMBH de hoje é o resultado de anos de falta de uma política

promotora de ações cooperativas e integradoras. Algumas iniciativas isoladas buscaram

possibilitar inovações, porém essas não se articularam por muito tempo.

No final dos anos 1960, durante o governo Israel Pinheiro, foi dado impulso a um

processo de planejamento urbano da “Grande Belo Horizonte”. Foi concluído, nessa

época, o Plano Preliminar de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de

Belo Horizonte. Para a efetivação de respectivo plano, o Conselho Estadual de

Desenvolvimento firmou um convênio entre o Estado de Minas Gerais e 14 prefeituras

que comporiam a região metropolitana. Em parceria com a Fundação João Pinheiro, foi

formulado o Plano Metropolitano de Belo Horizonte (GOUVÊA, 2005). O referido

plano não chegou a ser de fato implantado, pois a política metropolitana acabou sendo

abandonada.

95

MAPA 1: Divisão Político Administrativa da Região Metropolitana de Belo

Horizonte e Colar Metropolitano

Fonte: MOURA; MARQUES, 2010.

A Região Metropolitana de Belo Horizonte foi criada pela Lei Complementar

Federal n.1429

, de 8 de junho de 1973. A princípio, catorze municípios compunham a

região; hoje, são trinta e quatro30

. Nessa época, BH contava com uma população de um

milhão de habitantes e continuava crescendo de forma desordenada (GODINHO, 2003).

29

Entre os anos de 2003 e 2005 foram apresentados oito projetos de lei para a criação de novas regiões

metropolitanas em Minas: Caratinga, Governador Valadares, Juiz de Fora, Curvelo, Vale do Rio Grande,

Vale do Alto Paraopeba, Triângulo Mineiro e Inconfidentes. Todos esses projetos foram arquivados,

porque as áreas em questão não são conurbadas, ou seja, não cumprem com uma característica básica das

regiões metropolitanas (TEIXEIRA, 2008, p. 126) 30

A Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989 ampliou a RMBH de 14 para 18 municípios ao

incluir Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus Leme. Em 1996, outras seis localidades foram

incluídas: São José da Lapa, Confins e os ex-distritos recém emancipados de Juatuba, Mário Campos, São

Joaquim de Bicas e Sarzedo. Em 1999, entraram para a região: Baldim, Capim Branco, Taquaraçu de

Minas, Florestal, Itaguara, Matozinhos, Nova União e Rio Manso. Pouco tempo depois, Jaboticatubas foi

incluída na RMBH e, em 2001, Itatiaiuçu. A inclusão de vários desses municípios foi feita sob diversas

críticas quanto ao não atendimento de quaisquer critérios, sejam urbanísticos ou econômicos. Segundo

Gouvêa (2005), diante da farra do ingresso de municipalidades na região em questão, pode-se dizer que

existe uma região metropolitana „real‟ dentro da „legal‟.

96

Os 14 municípios que compunham a RMBH no momento de sua criação pela Lei

Complementar Federal n.14 eram31

: Belo Horizonte, Contagem, Caeté, Betim, Ibirité,

Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Sabará, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio

Acima, Santa Luiza e Vespasiano (GOUVÊA, 2005). Desses, nove fazem limite com a

capital. Hoje os municípios que compõem a RMBH são: Baldim, Belo Horizonte,

Betim, Brumadinho, Caeté, Capim Branco, Confins, Contagem, Esmeraldas, Florestal,

Ibirité, Igarapé, Itaguara, Itatiaiuçu, Jaboticatubas, Juatuba, Lagoa Santa, Mário

Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima, Nova União, Pedro Leopoldo,

Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São

Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo, Taquaraçu de Minas e Vespasiano. O

QUADRO 1 caracteriza os municípios da RMBH quanto ao nível de integração com o

pólo regional, à densidade demográfica, à área, à distância da capital e á população

residente.

QUADRO 1: Constituição e características básicas da Região Metropolitana de

Belo Horizonte

(1)

Municípios

da RMBH

(2)

Integração

na dinâmica

da

aglomeraçã

o

(3)

Ano de

integraçã

o à

RMBH

(4)

Populaçã

o

residente

em 2000

(5)

Distânci

a da

capital

em Km

(6)

Área

(km²)

(7)

Densidade

Demográfic

a em 2000

(hab/ km²)

Belo

Horizonte

Pólo 1973 2.238.526 0 331,9 6718

Contagem Muito Alta 1973 538.017 16 195,2 2748

Ibirité Muito Alta 1973 133.044 25 73,3 1812,3

Ribeirão das

Neves

Muito Alta 1973 246.846 15 154,6 1595

Santa Luzia Muito Alta 1973 184.903 12 234,4 788,1

Vespasiano Muito Alta 1973 76.422 14 70,3 1085,7

Betim Muito Alta 1973 306.675 30 346,8 875,4

Sabará Alta 1973 115.352 17 304,4 376,3

31

A Lei Complementar 26/1993 criou o Colar Metropolitano, composto por catorze municípios da

periferia alcançados pelo processo de metropolização.

97

Caeté Média 1973 36.299 31 542,7 66,8

Lagoa Santa Média 1973 37.872 22 232,7 162,3

Nova Lima Média 1973 64.387 22 429,7 149,6

Pedro

Leopoldo

Média 1973 53.957 24 291,9 184,4

Raposos Média 1973 14.289 23 72 198,2

Rio Acima Baixa 1973 7.658 35 228,7 33,5

Esmeraldas Alta 1989 47.090 38 912,3 50,2

Igarapé Média 1989 24.838 46 110,3 220

Brumadinho Baixa 1989 26.614 44 634,3 41,9

Mateus

Leme

Baixa 1989 24.144 53 303,4 79,5

São José da

Lapa

Alta 1993 15.000 13 48,8 307,6

Juatuba Média 1992 16.389 43 97,1 162,3

Sarzedo Alta 1997 17.274 31 62,1 277,6

Mário

Campos

Alta 1997 10.535 36 35,3 298,2

Confins Alta 1997 4.880 21 42,1 113,9

São Joaquim

de Bicas

Média 1997 18.152 42 72,7 249,7

Florestal Muito

Abaixa

1997 5.647 51 36 28,9

Rio Manso Muito

Baixa

1997 4.646 62 232,8 19,9

Matozinhos Média 1999 30.164 32 253,6 118,6

Capim

Branco

Média 1999 7.900 34 94,5 83,4

Itaguara Baixa 1999 11.302 85 411,9 27,4

Nova União Muito

Baixa

1999 5.247 42 172 31,6

Baldim Muito

Baixa

1999 8.155 59 556,7 14,6

98

Jaboticatuba

s

Muito

Baixa

2000 13.530 40 1117,

1

12,1

Taquaraçu

de Minas

Muito

Baixa

2000 3.491 33 303,3 10,6

Itatiaiuçi Baixa 2002 8.517 64 295,9 28,8

Fonte: Observatório das Metrópoles, 2004 e 2006.

Com a criação da RMBH, o planejamento metropolitano teve que se

institucionalizar e para isso foi implantada a Superintendência de Desenvolvimento da

Região Metropolitana de Belo Horizonte – Plambel32

, sob a forma de autarquia estadual

pela Lei n. 6.303, de 30 de abril de 1974 (TEIXEIRA, 2008). Essa autarquia consistia

em um grupo técnico alocado a um projeto da Fundação João Pinheiro e passou a ser a

agência central do planejamento urbano regional para orientar o estado na realização

dos serviços de interesse comum. Devido ao regime ditatorial centralizador, o Plambel

não teve como realizar grandes feitos, mas contribuiu muito para a consolidação de uma

filosofia de planejamento metropolitano (GOUVÊA, 2005).

Foi na área dos transportes o maior destaque do Plambel. Esse editou estudos que

compuseram o Plano Metropolitano de Transportes, que objetivava priorizar o

transporte público, restringir o uso do veículo privado e resgatar a qualidade de vida no

meio urbano. Foi também o Plambel o responsável por organizar, institucionalmente, a

Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte –

Metrobel, empresa pública implantada em 1980 (GOUVÊA, 2005). Um dos motivos

que levaram à criação da Metrobel foi a necessidade de suplantar o regime predatório e

privatístico que vigorava nos serviços de transporte público.

O planejamento metropolitano estava alicerçado no Plano de Desenvolvimento

Integrado Econômico e Social da RMBH (PDIES)33

, aprovado em 1975 e integrante do

Esquema Metropolitano de Estruturas (EME). Ambos foram elaborados pelo Plambel e

aprovados pelo Conselho Deliberativo Metropolitano (MACHADO, 2009).

Centralismo decisório e tecnocracia marcaram o planejamento metropolitano da

década de 70. Este era alheio à participação da sociedade civil e das instâncias

32

O Plambel foi criado para enfrentar os desafios da região. A criação de um aparato de planejamento

permitiu que os avanços normativos e os investimentos no âmbito da ordem urbanística existissem

mesmo durante o regime militar (PIRES, 2010). 33

A proposta do PDIES abrangia elementos múltiplos da estrutura urbana, numa tentativa de conhecer o

global e, a partir dele, propor um planejamento estruturante de curto, médio e longo prazos (MACHADO,

2009).

99

municipais. Essa distância fez com que a regionalização fosse associada a regimes de

governo autoritários e, assim, a gestão metropolitana perdeu espaço na

redemocratização (MACHADO, 2009).

Em 1973, foi criada também a Superintendência de Articulação com os Municípios

(Supam), órgão da Secretaria do Planejamento e Coordenação Geral de Minas Gerais

(SEPLAN), com o objetivo de articular os planejamentos estadual, microrregional e

municipal. O incentivo a essas articulações foi importante para a formação da Granbel -

Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que derivou de

uma iniciativa estadual e formou, em 1975, o principal espaço institucional onde eram

vinculadas as insatisfações municipalistas34

(MACHADO, 2009).

No final de 1987, foi criada a Secretaria de Estado de Assuntos Metropolitanos,

para onde foi transferida a autarquia Plambel, já bastante enfraquecida e com a missão

de elaborar o Plano Diretor Metropolitano. Infelizmente, apenas chegou a ser concluído

o Diagnóstico da Região Metropolitana. Em 1992, a Secretaria de Estado de Assuntos

Metropolitanos foi extinta e o Plambel transferido para a Secretaria de Estado do

Planejamento. Em 1995, o Plambel foi definitivamente extinto, devido ao abandono do

planejamento no período de crise econômica, ao afastamento da questão metropolitana

pelo governo federal e à falta de repasse de recursos (GOUVÊA, 2005).

Com a extinção do Plambel suas funções foram transferidas para a Secretaria de

Estado de Planejamento, para a Fundação João Pinheiro e para o Instituto de

Geociências Aplicadas (IGA). Essas alterações diminuíram as ações institucionais em

relação ao tema metropolitano e representaram a estratégia do Estado para se esquivar

do assunto (PIRES, 2010).

Diante do empoderamento dos governos locais com a Constituição de 1988, a

questão metropolitana passou a ser tratada com maior participação dos municípios e

menor envolvimento do estado. A Constituição do Estado de Minas Gerais de 1989

previa um arranjo de gestão que, devido às influências municipalistas, não

proporcionava espaço suficiente ao estado ou aos municípios-pólo. Respectivo arranjo

logo mostrou-se ineficaz, devido aos municípios não terem assumido uma posição

34

A Granbel prestava assessoria administrativa aos municípios nas áreas contábil, financeira e tributária.

Essa assessoria era realizada pelos próprios associados. O custeio das atividades da Granbel era feito

pelos próprios associados. Com o advento da AMBEL como órgão representativo de todas as

municipalidades, a Granbel passou a ser instrumento de barganha para a negociação de pleitos junto aos

governos estadual e federal (MACHADO, 2009).

100

relevante e ao desequilíbrio causado pela inexpressividade do papel do Estado (PIRES,

2010).

A Assembleia Metropolitana de Belo Horizonte – AMBEL – ganhou respaldo

como o órgão colegiado composto por representantes de todos os municípios, prefeitos

e um membro das Câmaras Legislativas. Ressalta-se, porém, que nenhum representante

da sociedade civil participava da Assembleia. Essa estrutura da AMBEL fez com que

importantes atores sentissem-se subrepresentados frente a sua relevância política e

econômica. Assim, Betim, Contagem, BH e o próprio estado afastaram-se dos assuntos

relacionados à questão metropolitana por entenderem ser a mesma desvantajosa35

(MACHADO, 2009).

A União e os Estados afastaram-se dos arranjos metropolitanos, deixando à

autonomia dos municípios a função de trabalhar as políticas de interesse comum, na

expectativa de que pudessem implementar soluções de cooperação (PIRES, 2010).

O estado foi aos poucos desmontando as instituições que havia criado, como o

Plambel e a Câmara de Compensação Tarifária dos Transportes. Apesar do

empoderamento dos governos locais trazer benefícios nos termos da governança

metropolitana, um fator não pode ser esquecido:

Os municípios, isoladamente, não são capazes de atender aos

seus munícipes, por razões de toda sorte, desde o excesso de

atribuições e encargos transferidos pela União, somado à

escassez de recursos financeiros (...). A par de tudo isso,

persiste o quadro de despreparo gerencial e dos excessos da

política partidária local (TEIXEIRA, 2008, p.29).

Com a promulgação da Constituição do Estado de Minas Gerais, em 1989, foi

votada pela Assembleia Legislativa a Lei Complementar n. 26, de 14 de janeiro de

1993, republicada em 1996, cujo objetivo era dispor sobre as normas gerais relativas à

AMBEL e às funções públicas de interesse comum, a cargo da RMBH (TEIXEIRA,

2008). A disposição clara na lei das funções públicas de interesse comum é fundamental

para que não ocorram situações como a enfrentada pela AMBEL, pois por muito tempo

essa resumiu-se ao debate quanto à tarifação dos ônibus intermunicipais metropolitanos

administrados pelo Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais - DER-MG

(GOUVÊA, 2005).

35

Entre 1988 e 2002, 20 novos municípios foram integrados à RMBH, sendo que muitos deles com

menos de 10.000 habitantes e sem qualquer possibilidade de conurbação. Esse quadro deriva da

sistemática na qual a maioria numérica dos pequenos municípios na AMBEL preponderava sobre o pouco

poder formal disponibilizado às grandes municipalidades e ao governo do estado (MACHADO, 2009).

101

Na tentativa de controlar os déficits fiscais e o endividamento que Minas Gerais

estava passando, em 2003, o governador Aécio Neves lançou uma reforma

administrativa que procurava revigorar o planejamento público. Em janeiro, foram

editadas um conjunto de 63 leis delegadas. Dentre as mudanças propostas, destaca-se a

criação da Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana (SEDRU- MG),

cujas competências estão dispostas na Lei Delegada n. 119 de 25 de janeiro de 2007. A

SEDRU foi aparelhada com uma Superintendência para Assuntos Metropolitanos que

recolocou a política urbana regional na agenda governamental. Foi realizado também o

Seminário Legislativo Regiões Metropolitanas, que possibilitou a participação de

diversos atores governamentais ou não. A participação popular nesse seminário fez com

que fossem levantadas situações sociais críticas e a necessidade de uma gestão social da

metrópole (PIRES, 2010). Outra iniciativa tomada foi a realização de reuniões técnicas

que incentivavam os líderes municipais a elaborar os planos diretores sob uma

perspectiva regional e integrada (MACHADO, 2009).

Cumpre destacar que a questão da Região Metropolitana de Belo Horizonte é uma

temática estratégica para o governo de Minas Gerais. A relevância da regionalização

levou à criação do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), 2004-2007, que

estabeleceu trinta Projetos Estruturadores, dentre eles, destaca-se a Plataforma Logística

de Comércio Exterior da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Esse projeto visava a

consolidar a RMBH como um pólo dinâmico de logística e de serviços avançados para

o comércio exterior e assim aumentar a competitividade e o desempenho exportador das

empresas mineiras e a atração de investimentos para a RMBH. Dentre as ações

elaboradas pelo PPAG, podem ser citadas a adequação de capacidade e melhoramentos

do Aeroporto Tancredo Neves; o desenvolvimento do Aeroporto Industrial e da

Plataforma Logística de Comércio Exterior da RMBH; a instalação de infraestrutura de

processamento industrial e de serviços de apoio ao comércio internacional (MINAS

GERAIS, PPAG 2004-2007).

A Emenda Constitucional 65, que alterou os artigos 42 a 50 da Constituição do

Estado, somada a novas leis complementares de 2006, definiram novos princípios,

órgãos e instrumentos para compor a estrutura metropolitana estadual (MARES GUIA;

AZEVEDO, 2010). Para Machado (2009, p. 94)36

:

36

Para corroborar a hipótese acerca do surgimento de construtos mentais pró-gestão metropolitana entre

os atores, Machado (2009, p. 94) cita algumas de suas evidências: o aparecimento de propostas pró-

questão metropolitana nas eleições para o governo do estado, em 2002, e para a Prefeitura de Belo

102

Essa conjuntura de um embrionário envolvimento da sociedade

civil, somada à experiência vivida dos excessos da

municipalização, parece cimentar novas percepções por parte

dos atores na região metropolitana. Uma das percepções que

podem estar se consolidando é a da necessidade de o estado

retomar um papel relevante nas atividades de planejamento

metropolitano, desde que o faça de maneira negociada. Nossa

hipótese é a de que novos “constructos mentais” pró-gestão

metropolitana têm levado os atores a perceber vantagens na

consideração da questão metropolitana, reduzindo assim os

custos de transação das negociações.

O art. 43 da Constituição do Estado, modificado pela emenda n° 65/2004,

determinou algumas funções públicas de interesse comum. O art. 46 reformulou o

arranjo institucional. Cada região metropolitana mineira passou a possuir uma

assembleia metropolitana, um conselho deliberativo de desenvolvimento metropolitano,

uma agência de desenvolvimento com caráter técnico e executivo, um plano diretor de

desenvolvimento integrado e um fundo de desenvolvimento metropolitano (PIRES,

2010).

Outras alterações constitucionais desdobraram-se com as Leis Complementares n.

88, 89 e 90, todas de 2006. De acordo com a Lei Complementar n. 88/2006:

Art. 4°. parágrafo único: Incumbe ao Estado, na forma dessa lei

complementar, a execução das funções públicas de interesse

comum, diretamente ou por meio de:

I Concessão ou permissão;

II Gestão associada;

III Convênio de cooperação.

Em 2006, foi criado o Grupo de Governança Metropolitana, com a finalidade de

coordenar ações estaduais no território metropolitano e estabelecer a intersetorialidade

das políticas públicas. Para o resgate do planejamento urbano, o Estado criou, em 2007,

o Projeto Estruturador da RMBH – PERMBH, alocado na Sedru, mas com capacidade

para desenvolver ações integradas com outras secretarias. Desse projeto, partiram

iniciativas para várias políticas e programas, mediante a participação da sociedade civil

e do setor privado (PIRES, 2010).

Horizonte – PBH – em 2004; a criação de um órgão estadual específico para lidar com os assuntos

urbanos e metropolitanos; a defesa, pela Granbel, da elaboração de um Plano Diretor Metropolitano,

definidor de diretrizes para os planos municipais; a transação entre o governo de Minas Gerais e o

município de Belo Horizonte que culminou, em 2003, na renovação do contrato da Prefeitura com a

Copasa; e, por fim, a reforma da legislação metropolitana ocorrida na Assembleia Legislativa estadual.

103

Diante da heterogeneidade da realidade dos municípios que compõem a RMBH, é

de suma importância a institucionalização de uma estrutura de gestão metropolitana que

articule intersetorialmente os interesses e demandas das municipalidades envolvidas.

O não tratamento de modo adequado da questão metropolitana implica no

agravamento das desigualdades sociais, inter e intramunicipais, reforça a oposição entre

núcleo e periferia, aprofunda a crise financeira de localidades que não conseguem lidar

sequer com os problemas estritamente de ambiência local, menos ainda com problemas

de âmbito regional (GOUVÊA, 2005).

Com o remanejamento da estrutura metropolitana atual, o Estado demonstra estar

buscando a eficácia do arranjo institucional pela realização de ações coordenadas e

cooperativas de demandas de interesse comum. O governo de Minas tem atuado como

regulador, prestador e indutor da institucionalização metropolitana. Essa atuação tem,

de certo modo, levado em conta parcerias com a sociedade (PIRES, 2010).

Para Pires (2010, p. 181):

(...) a organização institucional da gestão metropolitana

definida no novo marco legal não exclui outras iniciativas

organizatórias. Se na RMBH, há uma interdependência difusa

no espaço de sua base territorial, outras dinâmicas mais

estruturadas podem justificar arranjos internos complementares

e focados em objetivos mais específicos.

4.5.1 A estrutura atual da RMBH

Para promoção de justiça social pelo desenvolvimento local, os órgãos que zelavam

pela gestão metropolitana foram reformulados. Dentre as propostas aprovadas na

reforma legislativa, podem ser citadas a paridade decisória entre o estado e o conjunto

de municípios na gestão metropolitana37

; a representação diferenciada dos municípios

mais populosos e mais ricos no órgão deliberativo; a definição da titularidade estadual

das funções de interesse comum; a participação da sociedade civil no Conselho

Deliberativo Metropolitano; a criação de uma agência de desenvolvimento com caráter

técnico e executivo. É possível notar que a estrutura atual da RMBH preza o equilíbrio

da representação dos municípios e do estado assim como a participação da sociedade

civil (MACHADO, 2009). Resta às instituições articularem-se como uma só, pois a

37

O Projeto Estruturador da RMBH é outro fator que demonstra o envolvimento do estado na

coordenação metropolitana. Esse projeto, consignado no Plano Plurianual Estadual, contempla ações de

ampliação do sistema viário metropolitano, regulação da expansão urbana e regularização fundiária de

assentamentos humanos informais (MACHADO, 2009).

104

cidade, mesmo que englobe várias administrações municipais, funciona de forma

uníssona.

Na nova estrutura formada, foi mantida a Assembleia Metropolitana, sendo revistas

suas atribuições e composição, como um órgão colegiado de decisão superior com

representação do Estado e municípios da RMBH. Essa passou a ser composta por

setenta e três membros, sendo quatro representantes do Poder Executivo estadual

indicados pelo governador; um representante da Assembleia Legislativa, o prefeito e o

presidente da Câmara Municipal de cada um dos municípios da região. A esse órgão

compete definir as macrodiretrizes do planejamento global da região e vetar, com

deliberação de pelo menos dois terços do total de votos válidos, decisões dos Conselhos

Deliberativo e Consultivo (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010). Pires (2010) destaca,

como particularidade da Assembleia Metropolitana, a ponderação de votos que consiste

em um mecanismo capaz de garantir a equivalência do poder decisório do Estado com

os municípios.

As reuniões da Assembleia estão previstas para ocorrer uma vez ao ano, podendo

acontecer reuniões extraordinárias mediante convocação do presidente ou por

requerimento da maioria dos prefeitos ou ainda por solicitação do Governador do

Estado. Em 11 de dezembro de 2007, teve lugar a primeira reunião extraordinária, com

o objetivo de eleger os membros da Mesa que compõe sua estrutura. Ocorre que a

Assembleia contou com a participação de apenas 50% de seus membros. Em abril de

2008, foi realizada a primeira reunião de caráter ordinário e essa apresentou quorum

ainda menor, contando com menos de 30% dos membros. Essa escassez do quorum

continuou a ocorrer, o que demonstra as dificuldades de mobilização e de ação coletiva.

A pouco expressiva participação nas reuniões dificulta a execução da governança

metropolitana, pois as decisões ficam restritas aos interesses de membros isolados

(LONGOBUCCO, 2009).

Esse fato deixa claro que, se não houver incentivos para a participação de grande

parte dos membros, a Assembleia não conseguirá cumprir o objetivo de aumentar e

equilibrar a representatividade da participação nas decisões públicas.

O Conselho Deliberativo da RMBH é uma instância colegiada composta por

dezesseis membros, sendo dois da sociedade civil organizada, com representação do

Estado e municípios. Este não possui representantes da totalidade dos municípios

pertencentes à RMBH. Apenas Belo Horizonte, Betim e Contagem, que concentram a

produção econômica da região e são os maiores municípios e mais populosos, possuem

105

cadeira no Conselho, atribuições como planejamento, financiamento, execução e

acompanhamento das funções públicas de interesse comum. Suas decisões são

essenciais para o direcionamento das políticas metropolitanas. Apesar de alguns

municípios não possuírem representatividade no Conselho, esses podem exercer o poder

de veto na Assembleia com relação às deliberações do Conselho.

A presença da sociedade civil demonstra que o Estado está buscando estabelecer a

governança metropolitana. As mais diversas organizações têm participado, como os

movimentos sociais e populares, entidades representantes dos trabalhadores, o setor

empresarial e membros da academia (PIRES, 2010).

A consolidação do arranjo de gestão dá-se com a Agência de Desenvolvimento

Metropolitano – Agem, uma autarquia territorial criada pela Lei Complementar n. 107

de 12 de janeiro de 2009. A Agem possui caráter técnico executivo e era vinculada à

Sedru, mas, com a criação da Secretaria Extraordinária de Gestão Metropolitana

(Segem)38

, passou a ser vinculada a esta. Essa autarquia tem como funções: oferecer

apoio técnico aos municípios, incentivar a articulação intergovernamental, intersetorial

e interfederativa, produzir informações e estudos que subsidiem os trabalhos do

Conselho Deliberativo (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010).

A institucionalização da Agem foi pensada de diversas formas. Uma delas era a

criação de uma sociedade de economia mista, na qual cada ator teria suas ações e

assento na entidade. Os assentos seriam em quantidade variada, de acordo com o peso

do órgão na estrutura institucional. Como a atividade de regulação que a Agem deveria

desenvolver não é própria de uma entidade de direito privado, essa opção foi descartada.

Outra possibilidade de natureza da Agem foi pensada a partir da lei de consórcios, que

trata de autarquias interfederativas, mas essa modalidade gera altos custos de transação.

Desse modo, restou a opção da autarquia territorial, instituto em desuso no Brasil desde

que Tocantins e Roraima foram transformados em Estado (MARES GUIA; AZEVEDO,

2010).

A sociedade civil não participa diretamente na Agência. Para resolver esse

distanciamento, a Agem abriga um „Observatório de Políticas Urbanas‟, com a intenção

de abrir espaço para representantes da sociedade civil organizada. Com essas ações, essa

entidade tem sido reconhecida como “interlocutora legítima e privilegiada entre os

38

Em entrevista realizada com José Abílio Belo Pereira, conselheiro metropolitano, o mesmo afirmou que

acredita ser positiva a criação de uma secretaria estadual destinada a lidar com a temática metropolitana,

pois essa centralização em uma secretaria diminui o surgimento de conflitos.

106

agentes que atuam nas questões de interesse comum, gozando de respaldo das instâncias

superiores do aparato governamental” (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010, p. 229).

Para adensar a governança com vistas no planejamento integrado e na

implementação de ações em curto e médio prazos para garantia das funções de interesse

comum, a Agem traçou uma estratégia de agrupamento de funções correlatas, de

organização do mapa institucional e de identificação dos interlocutores. De forma

participativa, a Agem vem elaborando o seu conjunto de estratégias de atuação com

base no Pacto pela Sustentabilidade da RMBH. Esse plano envolve programas

relacionados à mobilidade, a saneamento ambiental, à gestão integrada da saúde, a

planejamento e regulação do território, a desenvolvimento socioeconômico e à gestão da

informação (PIRES, 2010).

Jupira Gomes de Mendonça39

destacou, em entrevista, que, pelo fato dos

funcionários da Agem não serem concursados, pode ocorrer abandono das políticas

iniciadas, o que reforçará a intervenção partidária que sofre constante alternância.

Vivian Barros40

, também entrevistada, afirmou que, como não houve um concurso

público para seleção de funcionários para a Agem, essa autarquia é composta por

pessoas contratadas e funcionários concursados que pertencem a outros setores, mas

estão emprestados para a referida instituição.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado – PDD41

I - (CE 1989, art. 47; LC

88/2006, art. 18) e o Fundo de Desenvolvimento Metropolitano – FDM - (CE 1989, art.

47; LC 88/2006, art. 18; Dec. 44.602/2007, art.2°) são importantes instrumentos

instituídos para apoiar o planejamento do desenvolvimento econômico e social relativo

às funções públicas de interesse comum e de financiamento das ações.

O FDM é financiado com recursos do Estado, dos municípios e de outras fontes,

como transferências federais, retorno de financiamentos, dotações orçamentárias.

Metade dos recursos são estaduais e os outros 50% originados dos municípios que

compõem a RMBH, sendo que esses últimos contribuem proporcionalmente a suas

receitas (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010). Conforme o art. 21 da Lei Complementar

n. 88, ainda poderão compor o Fundo: as dotações orçamentárias ou as transferências da

União destinadas à execução de planos e programas sob a orientação do PDDI; produtos

39

Jupira Gomes de Mendonça é professora da Faculdade de Arquitetura da UFMG. A entrevista foi

realizada em Maio de 2011. 40

Vivian Barros Martins é diretora de regularização fundiária da Agência Metropolitana. A entrevista foi

realizada em julho de 2011. 41

O PDDI é o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da RMBH. Ainda nessa dissertação, serão

abordados outros pontos, com maior profundidade, sobre o referido plano.

107

de operações de crédito, internas ou externas, contraídas pelo Estado ou por Município

integrante da região metropolitana, para financiamento de funções públicas de interesse

comum; retornos de financiamentos concedidos com recursos do FDM; os resultados

das aplicações financeiras das disponibilidades transitórias de Caixa; as dotações a

fundo perdido consignadas ao FDM por organismos nacionais ou internacionais,

inclusive por organizações não governamentais; os auxílios; as subvenções; as dotações

e outros recursos.

O FDM tem a finalidade de arcar com os custos da realização dos serviços de

interesse comum, implantação de programas e projetos estruturantes, conforme

diretrizes estabelecidas pelo PDDI. Esse último traça propostas de ações de médio e

longo prazo, é acompanhado pelo Conselho Deliberativo e segue determinações da

Assembleia Metropolitana42

.

Vivian Barros Martins afirmou, em entrevista, que os eixos estruturantes do PDDI

são a territorialidade e a interinstitucionalidade, sendo que esses devem passar por todos

os temas debatidos transversalmente. Uma dificuldade de se implantar o que foi

estabelecido no PDDI é definir quais atribuições serão incorporadas pela administração

estadual e quais serão encaminhadas para os órgãos metropolitanos.

Apesar do Fundo de Desenvolvimento Metropolitano – FDM - ter sido criado em

1989, com a nova Constituição do Estado de Minas Gerais, ficou inativo por muito

tempo, tanto por falta de regulamentação quanto por falta de interesse dos municípios de

maior porte e do Estado, que deveriam investir no fundo sem ter poder diretamente

sobre o mesmo (MARES GUIA: AZEVEDO, 2010). Como antes das reformas

realizadas em 2004 e 2006, na Constituição estadual, o Estado e os municípios de maior

porte não possuíam participação diferenciada na gestão metropolitana, não era do

interesse dos mesmos envolverem-se nas demandas regionais, participando dos

problemas de outras localidades. Como na atualidade os problemas metropolitanos são

mais graves e a participação desses entes foi alterada, beneficiando-os, estes estão mais

envolvidos.

42

Uma vez aprovados pela Assembleia e pelo Conselho Deliberativo, a execução dos procedimentos

administrativos necessários à implementação de programas e projetos com recursos do fundo ficará a

cargo de um grupo coordenador, composto por quatro representantes de órgãos do Executivo estadual e

dois representantes da região metropolitana, indicados pelo Conselho Deliberativo. Os recursos

disponíveis deverão ser destinados ao financiamento da implementação de programas e projetos de

âmbito metropolitano e à realização de investimentos, tendo como balizadoras as diretrizes estabelecidas

pelo PDDI (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010, p. 227).

108

Existe a pretensão de que a Agem tenha recursos próprios e deixe de depender do

Fundo Metropolitano. É difícil a operacionalização desse fundo, pois são muitos os

diferentes interesses, agentes e perfis envolvidos. Desse modo o fundo pode ser melhor

aproveitado para financiar ações de interesse de um número maior de municípios, sem

gerar tantos conflitos (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010).

A Rede 10, criada em março de 2008, é resultado da conscientização de alguns

municípios da RMBH de que os benefícios derivados da articulação institucional são

maiores que os custos de negociação, monitoramento, cumprimento de contratos

políticos. Assim, Belo Horizonte, Betim, Contagem, Brumadinho, Ibirité, Nova Lima,

Ribeirão das Neves, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano uniram-se na Rede 10. À

exceção de Betim, todas essas localidades fazem limite com a capital. O grupo em

questão representa 29% da área, 90% da população, 91% do PIB da RMBH – 31% do

PIB de Minas Gerais (NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010).

A filosofia da Rede 10 baseia-se na construção de consenso, na cooperação pública,

no envolvimento e no compromisso de todos os municípios participantes. Trata-se de

uma instância de governança metropolitana colaborativa, interinstitucional, que

promove a tomada de decisões consensuais para a promoção da qualidade de vida dos

cidadãos da RMBH. Para tanto, todos os seus integrantes assinaram um Protocolo de

Cooperação. Já na primeira reunião do grupo (entre os prefeitos e secretário de

planejamento), foram determinados os temas a serem trabalhados: segurança pública,

saúde, meio ambiente, desenvolvimento econômico, emprego e renda, mobilidade

urbana e habitação. A partir daí foram distribuídos grupos de trabalho temáticos com

representantes municipais (NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010).

Belo Horizonte assumiu um papel de destaque na Rede 10, pois a Secretaria Geral é

encarregada do seu vice-prefeito. Os secretários de planejamento municipal também

participam ativamente (NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010).

A Rede 10 levantou a questão da capacitação técnica dos gestores municipais, com

vistas à melhoria da eficiência e eficácia da organização e gestão metropolitana. A meta

é a vinculação das políticas públicas setoriais de interesse local à perspectiva regional.

Para a solução desse problema, foi proposto e aprovado o curso de capacitação para

secretários de planejamento de todos os municípios integrantes. Os objetivos do curso

são: elevar o nível de consciência dos gestores com base em conceitos, princípios e

metodologias voltados para o novo papel das cidades-região no contexto nacional;

capacitar profissionais para a governança metropolitana e regional; vincular políticas

109

públicas setoriais de interesse local à perspectiva regional; mapear os processos de

colaboração interinstitucional. No curso, discutem-se também a trajetória histórica da

RMBH, os aspectos jurídico-administrativos da colaboração, a Lei Federal de

Consórcios Públicos e os desafios postos pelos custos de transação, a participação da

sociedade civil em arranjos institucionais regionais e as técnicas de construção de

consenso (NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010, p. 305).

A Rede 10 é um instrumento importante para o trabalho coletivo em busca da

concretização do interesse comum. Os municípios metropolitanos precisam agir

colaborativamente de forma consciente, ou os custos de transação tornam-se

insustentáveis. “É fundamental incrementar a iniciativa compartilhada, com a

consciência da corresponsabilidade, concebendo cada cidade metropolitana como uma

coisa sua” (NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010, p. 306).

A Carta de Princípios da Colaboração proposta pela Rede 10 prevê:

A promoção da governança compartilhada; compromisso de

compartilhamento de informações e experiências;

reconhecimento da interdependência; respeito à autonomia e às

diversidades; promoção da participação democrática;

integração das políticas públicas locais para potencialização

dos resultados regionais; promoção da solidariedade e

cooperação; garantia de publicização e transparência das ações

compartilhadas; garantia da continuidade dos compromissos

assumidos; planejamento de ações dentro de uma visão

metropolitana; colaboração entre os municípios com os

diversos agentes e atores envolvidos com temas da RMBH.

(NABUCO; BOSSI; WOJCIECHOWSKI, 2010, p. 306)

As ações empreendidas pelo estado, na opinião de Machado (2009, p.99) têm

surtido efeito, devido às seguintes razões:

As condições que permitiram esse notável avanço da gestão

metropolitana da RMBH, em curto espaço de tempo, de acordo

com o esquema político aqui proposto, relacionam-se a uma

redução de custos de transação. A hipótese que construímos

relativamente a essa questão refere-se às combinações de

fatores que permitiriam à RMBH ingressar em um ciclo

virtuoso, no qual, a ampliação da estrutura de governança

metropolitana em moldes negociados remodelou constructos-

mentais dos atores e arrefeceu, principalmente o medo de perda

de poder por parte das lideranças municipais. Tal ciclo

virtuoso, se nossa hipótese estiver correta, está inclusive

favorecendo o desenvolvimento e a experimentação

institucional de formas horizontais de articulação

metropolitana, das quais merecem destaque a criação, em 2007,

do Fórum Metropolitano de Câmaras Municipais, e a

instituição, em 2008, de um consórcio público entre os

municípios de Belo Horizonte, Betim, Contagem e Sabará para

110

o atendimento a mulheres vítimas de violência43 (MACHADO,

2009, p.99).

Como política pública de desenvolvimento da RMBH, o Plano Mineiro de

Desenvolvimento Integrado faz as seguintes ponderações:

No caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte, é

importante que a mesma experimente, nos próximos anos, a

ampliação de sua inserção nacional e internacional e a

expansão da sua capacidade de polarização sobre o território

mineiro. Os vetores para essa transformação são o

desenvolvimento de sua infraestrutura econômica e de seu

sistema logístico de transportes de pessoas e cargas, a

urbanização de áreas degradadas, a construção e promoção de

amenidades urbanas e o avanço da governança metropolitana.

O Governo do Estado tem atuado, juntamente com as

prefeituras, na construção dos vetores acima mencionados e

essa linha de ação exige continuidade para potencializar seus

efeitos positivos (MINAS GERAIS, PMDI 2007-2023).

No PPAG 2008-2011, foi criado o Projeto Estruturador RMBH (PE RMBH). O PE

RMBH foi lançado em 2007 para integrar a gestão das funções públicas de interesse

comum da RMBH e melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos conforme define o

PPAG44

:

Dotar a região metropolitana de instrumentos de gestão

integrada de funções públicas de interesse comum,

notadamente o sistema metropolitano de transportes, o

planejamento e gestão do uso do solo e a expansão da

infraestrutura logística. Disseminação do Choque de Gestão

nos municípios da RMBH, com o incentivo à utilização dos

métodos de gestão pública para resultados e qualidade fiscal

(MINAS GERAIS, PPAG 2008- 2011).

A institucionalização metropolitana tem procurado avançar nos termos da

governança e da gestão social. Porém as mudanças na estrutura de gestão são recentes (a

Agem foi criada somente em 2009). Dessa forma há ainda certa insegurança. As

reuniões do Conselho estão esvaziadas como as da Assembleia Metropolitana. Ainda

são relativamente altos os custos de transação e os municípios não estão totalmente

disponíveis a cooperar.

43

Tal experiência de organização horizontal de um serviço metropolitano, construída no âmbito do

projeto Novos Consórcios Públicos para Governança Metropolitana, gerou o segundo consórcio do país

criado nos moldes da Lei dos Consórcios de 2005. 44

Duas grandes obras de mobilidade foram realizadas a partir das propostas do PE RMBH: a Linha Verde

e a duplicação da MG-020.

111

A tendência para Machado (2009) é que, com o tempo, os órgãos responsáveis pela

RMBH fortaleçam-se e passem a ter um respaldo maior frente aos municípios

envolvidos.

Enquanto a gestão social não for uma prática na RMBH, as demandas sociais

urbanas aumentarão. A demora pela adoção de práticas cooperativas agrava a realidade

da situação de segregação socioespacial e de crise urbana.

Em entrevistas realizadas durante esta pesquisa, José Abílio Belo Pereira,

representante da sociedade civil no Conselho Metropolitano, e Jupira Gomes de

Mendonça, destacam que uma dificuldade marcante para a cooperação intermunicipal é

a disputa eleitoral, partidária. José Abílio ressaltou que na RMBH já há uma

compreensão maior quanto à existência de interesses comuns, o que melhora as relações

entre os municípios e diminui as disputas acima citadas. Outro fator que contribui para a

cooperação é a atitude do governo do estado, que tem tomado frente das ações

metropolitanas, coordenando-as. Essa coordenação faz com que os municípios menores

não tenham receio de serem engolidos pelos maiores, assim como impede que os

municípios maiores percam o entusiasmo por acreditarem que sustentarão as localidades

menos desenvolvidas.

José Abílio dispõe que a estrutura da RMBH, que existe na atualidade, é bastante

avançada e precisa ser experimentada para ser avaliada e melhorada. Para ele, não

adianta ficar teorizando e planejando sem colocar na prática os modelos desenvolvidos.

Para demonstrar a relevância da articulação interinstitucional e intermunicipal

cooperativa, no próximo capítulo será tratado o caso prático da gestão da acessibilidade

urbana na RMBH, demonstrando os órgãos responsáveis, as deficiências, as ações de

sucesso e os maiores obstáculos enfrentados.

112

5 ACESSIBILIDADE METROPOLITANA

A acessibilidade pode ser citada como uma das questões prementes a ser pensada no

contexto metropolitano e que requer a cooperação interinstitucional. Uma metrópole

desenvolve-se se a sua população tiver acesso aos serviços e benefícios garantidos por

meio de uma gestão social. Respectivo acesso deve ser tratado de maneira

transdisciplinar.

Segundo Jones (1981), acessibilidade diz respeito à possibilidade de acesso de um

indivíduo a um local, devido à existência de sistema de transporte que o atenda. Já

mobilidade, para esse mesmo autor, diz respeito à potencialidade de uma pessoa

deslocar-se no espaço.

A Lei 12.587 de 03 de janeiro de 2012 (BRASIL, 2012) trata da Política Nacional

de Mobilidade Urbana e considera, no seu artigo 4º, inciso III, a acessibilidade como a

facilidade disponibilizada às pessoas que possibilita a todos ter autonomia nos

deslocamentos desejados, respeitando-se a legislação em vigor. No que tange à

mobilidade urbana, o mesmo artigo, porém no inciso II, dispõe que esta caracteriza a

condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço.

A acessibilidade garante o funcionamento das cidades e contribui para a qualidade

de vida urbana, ao viabilizar a aproximação entre população e atividades econômicas

(CARDOSO, 2007)45

. Por essa razão, a Política Nacional de Mobilidade Urbana

(BRASIL, 2012) tem como princípios, no seu artigo 5 º, a acessibilidade universal; o

desenvolvimento sustentável das cidades; a equidade no acesso dos cidadãos ao

transporte público coletivo; a gestão democrática e controle social do planejamento e

avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana; a segurança nos deslocamentos

das pessoas; a justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes

modos e serviços; a equidade no uso do espaço público de circulação, vias e

logradouros; a eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana.

A sociedade apresenta-se hoje com muitos quadros de desigualdade, seja social,

econômica ou demográfica. Esses quadros de desigualdade fazem com que as

45

“No Brasil, de modo geral, as dificuldades em alcançar oportunidades espacialmente distribuídas

encontram esteio na excessiva concentração de atividades socioeconômicas nas áreas centrais de grandes

cidades, sendo geralmente potencializadas por configurações radiocêntricas dos sistemas de transportes.

Tal morfologia radial tenderia a ser vantajosa caso as modalidades de transporte de massa fossem

majoritárias. No entanto, os históricos incentivos – públicos e privados – ao rodoviarismo no país, os

quais fizeram emergir disputas entre os modos de transporte individual e coletivo pelo consumo do

espaço viário urbano, resultaram na intensificação de congestionamentos, de acidentes de trânsito, de

desperdício de recursos energéticos e de impactos ambientais e psicológicos, com reflexos diretos e

indiretos na qualidade de vida da população” (CARDOSO, 2007, p.34).

113

prefeituras presentes em uma região tenham diferentes níveis de prestação de serviços,

tanto no quesito qualidade quanto no de quantidade46

. Por esse motivo as pessoas

buscam, muitas vezes, terem as suas necessidades básicas garantidas em outro

município que possua uma melhor estrutura. Ou seja, quando um cidadão conclui que

não pode ter acesso a um serviço em um lugar, este busca ter sua necessidade atendida

em outro local. Para tanto, é necessário que o respectivo cidadão tenha condições de

acessar essa outra localidade e, consequentemente, acessar o serviço.

A Lei 12.587, que regulamenta a Política Nacional de Mobilidade Urbana, tem

como objetivos lidar com os problemas acima descritos. O art. 7º destaca em

pormenores cada um dos objetivos:

I - reduzir as desigualdades e promover a inclusão social;

II - promover o acesso aos serviços básicos e equipamentos sociais;

III - proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se

refere à acessibilidade e à mobilidade;

IV - promover o desenvolvimento sustentável com a mitigação dos custos

ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas nas

cidades; e

V - consolidar a gestão democrática como instrumento e garantia da

construção contínua do aprimoramento da mobilidade urbana.

Enfim, conforme os conceitos apresentados no referencial teórico desta pesquisa,

pode ser percebido que uma administração pública dialógica, que preze pela cooperação

interinstitucional, viabiliza a acessibilidade, a prestação de serviços e o

desenvolvimento local. Prova disso são as atribuições da União definidas pela Política

Nacional de Mobilidade Urbana. Dentre as atribuições previstas em lei, podem ser

citadas: a prestação de assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e

Municípios; o fomento à implantação de projetos de transporte público coletivo de

grande e média capacidade nas aglomerações urbanas e nas regiões metropolitanas. Já

aos Estados cabe garantir o apoio e promover a integração dos serviços nas áreas que

ultrapassem os limites de um Município, em conformidade com o § 3º do art. 25 da

Constituição Federal e delegar aos Municípios a organização e a prestação dos serviços

de transporte público coletivo intermunicipal de caráter urbano, desde que constituído

consórcio público ou convênio de cooperação para tal fim.

46

Esse fato pode ser facilmente demonstrado no que tange à prestação de serviços de saúde. Nem todas

as prefeituras conseguem sustentar grandes hospitais, o que faz com que as pessoas de uma determinada

localidade busquem atendimento em outra municipalidade. Para viabilizar o acesso à saúde em outros

municípios normalmente são disponibilizadas ambulâncias para a realização do transporte.

114

Novos arranjos territoriais e novas espacialidades são frequentemente formados no

meio urbano. Para Velloso (2010), uma metrópole constitui-se por uma dinâmica

própria, na qual “indivíduos, comunidades, instituições e organizações configuram tanto

uma densidade como uma articulação – de contatos e relações, de limites político-

administrativos, mas, sobretudo, de lógicas da proximidade e da distância” (VELLOSO,

2010, p. 354). Os meios de acesso e os trajetos percorridos nos espaços urbanos

influenciam os usos e os valores desses espaços, assim como a interação da população e

da economia.

A acessibilidade, enquanto tema transdisciplinar, tem estreita relação com a

mobilidade. Os transportes são essenciais para o planejamento urbano por determinarem

o uso dos espaços a partir da localização, tempo, custo e possibilidade de acesso dos

mesmos (VILLAÇA, 1978). A acessibilidade é um importante fator de comparação

entre metrópoles, pois para estas não basta a oferta de uma ampla gama de serviços, são

necessárias formas eficientes para o acesso aos serviços prestados (VILLAÇA, 1978).

A acessibilidade representa maior ou menor facilidade em atingir as oportunidades

oferecidas, considerando o perfil da rede de transporte, a localização e o número de

atividades disponíveis. A acessibilidade é determinada pelas funções de uso do solo e

pelas características dos transportes. Sendo assim, o custo gasto no deslocamento e a

provisão de acessibilidade podem compor “pilares do planejamento urbano e de

transportes, visando à inclusão social e o desenvolvimento” (CARDOSO, 2007, p.31).

Quanto menor a disponibilidade de transporte e mais difícil o acesso a áreas que

concentram a economia local, mais comprometida fica a inclusão social. Cardoso (2007,

p.35) dispõe que a “adoção de práticas e estratégias alternativas de (re)dimensionamento

das relações entre uso do solo e transporte, poderia contribuir para minorar processos de

exclusão social e para um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável do espaço

urbano”.

Villaça afirma que a acessibilidade reflete em vários fatores que compõem o espaço

urbano, dentre eles a distribuição de valor da terra:

a acessibilidade é o valor de uso mais importante para a terra

urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou

menor grau. Os diferentes pontos do espaço urbano têm

diferentes acessibilidades a todo o conjunto da cidade

(VILLAÇA, 1998, p. 74).

A acessibilidade constitui o fator fundamental determinante

do preço da terra e do arranjo dos usos do solo na cidade. A

necessidade de proximidade (rapidez de contatos diretos) é a

própria razão de ser das cidades (VILLAÇA, 1978, p. 20).

115

A baixa mobilidade produz uma supervalorização dos pontos

de melhor acessibilidade (VILLAÇA, 1978, p. 23)47

.

A gestão urbana que valoriza a acessibilidade dinamiza as periferias urbanas pela

garantia da oferta de serviços de modo descentralizado e pela disponibilização de

diversos modos integrados de transporte. Dessa maneira é construída a base da

superação da exclusão social.

A mobilidade e a integração orgânica entre os municípios sempre foram

consideradas como elementos-chave na identificação de regiões metropolitanas – no seu

aspecto físico, não jurídico. As metrópoles são os espaços integrados dinâmicos ligados

ao centro polarizador. A mobilidade pode ser compreendida como um excelente

indicador da produção do espaço urbano e da integração em escala regional

(MARANDOLA JUNIOR, 2010).

Esteve (2004, p. 23) destaca, como alguns dos principais objetivos de uma

administração regional: garantir o acesso externo aos principais centros econômicos,

sociais e políticos do entorno macrorregional e aumentar a mobilidade interna

sustentável, em especial através do transporte público48

.

A dificuldade de gestão da acessibilidade e o intenso trânsito de pessoas nas grandes

cidades (como nos movimentos pendulares) fazem com que seja eminente a necessidade

de articulação entre estados, municípios e União em prol da realização de melhorias na

mobilidade urbana.

Desde o início dos anos 90, vem ocorrendo um contínuo desmonte da estrutura

federal destinada a atender as demandas do transporte urbano, tendo a União atuado

apenas no financiamento e na normalização técnica de veículos. O afastamento do

governo federal das demandas relacionadas com o transporte urbano resultou em uma

situação desfavorável para a expansão de ofertas de serviços. O transporte de massa por

metrôs, por exemplo, ficou com restrições financeiras quase absolutas. Diante desse

quadro, estados e municípios têm tido que se comprometer mais com a questão da

47

No Brasil, as desvantagens para a residência nas localizações centrais (ruído, poluição, falta de

privacidade) ainda não chegaram ao ponto de neutralizar sua principal vantagem, que é a acessibilidade

ao centro (VILLAÇA, 1978, p. 24). Villaça, em 1978, afirmou que mesmo os congestionamentos

parecem que não chegaram ao ponto de neutralizar essa vantagem. Em 2011, a expressão citada ainda

prevalece como verdadeira. 48

O texto foi traduzido pela autora desse trabalho e segue a transcrição literal da obra de Esteve (2004, p.

23): “Garantizar el acceso externo com respecto a los principales centros económicos, sociales y políticos

del entorno macrorregional en el que se encuentra; aumentar la movilidad interna sostenible, en especial a

través del transporte público”.

116

mobilidade. A previsão constitucional que determina que o transporte coletivo é da

alçada dos municípios fundamenta o distanciamento da União (GOUVÊA, 2005).

No que tange às regiões metropolitanas, o problema da mobilidade é agravado, pois

os agentes financeiros oficiais podem emprestar recursos para estados e municípios, mas

não para entidades metropolitanas que não apresentam fontes próprias de custeio

(GOUVÊA, 2005).

Para Gouvêa (2005), a política de transporte é essencial ao se discutir a problemática

metropolitana. Conforme esse autor,

um bom sistema de transportes deve operar através de redes

multimodais integradas, as quais são planejadas para

proporcionar, no âmbito das aglomerações urbanas, uma

adequada compatibilização entre oferta e demanda. Tais

redes devem ter o seu desenvolvimento orientado, em nome

da funcionalidade e da eficiência, segundo a lógica de

ocupação dos espaços e dos níveis desejados de adensamento

urbano, sem se levar em conta os limites municipais. A

realidade mostra que a imposição política das fronteiras

intrametropolitanas tem impedido, na medida em que a

gestão é municipal, a implementação de uma rede de

transporte público que seja efetivamente integrada, em

termos tanto de sua estrutura física quanto tarifária.

(GOUVÊA, 2005, p.110)

As alianças para uma articulação interinstitucional cooperativa e participativa no

campo dos transportes são difíceis de serem implantadas, devido ao grande número de

conflitos. A diversidade dos grupos envolvidos, a tendência à elitização do transporte e

a valorização do uso individual, a dependência de volumosos investimentos públicos e

da atividade do setor privado agravam a dificuldade descrita.

De acordo com Gouvêa (2005), os usuários dos transportes possuem diversas

preocupações cotidianas e assim não priorizam o debate acerca da mobilidade,

deixando-o à mercê dos interesses do seleto grupo de empresários que gerem os

transportes coletivos em cidades como Belo Horizonte. Mesmo tendo a Constituição da

República de 1988, no seu art. 30, inciso V, elegido o transporte coletivo como serviço

público de interesse local de caráter essencial, as políticas públicas sobre esse tema são,

até o presente momento, prejudicadas pela ausência de um arranjo institucional

metropolitano.

O tamanho, a duração, os custos e a complexidade dos trajetos diários das pessoas

têm aumentado nos últimos anos, especialmente nas metrópoles. Muito tempo é passado

no trânsito, nos corredores de acesso urbano. Esses fatores refletem no estilo de vida

dos cidadãos (MARANDOLA JUNIOR, 2010). Além do mais, o aumento do tempo

117

gasto no trânsito desestimula o mercado ao promover o dispêndio de muitas horas

improdutivas em processos de circulação (MORENO, 2006). Conforme Silva et al

(1994, p. 104), a desigualdade social dos grandes centros urbanos agrava problemas

relacionados à mobilidade:

Com efeito, num contexto de pobreza, tônica dos países periféricos, a

parca incidência de modos alternativos de transporte que independam

de financiamento, como o próprio caminhar, além de problemas

relacionados à limitada integração física e tarifária entre os diversos

modos coletivos componentes dos sistemas de transporte – os quais

são responsáveis pela maioria dos deslocamentos intraurbanos –,

resultam num processo de discriminação geográfica, uma vez que os

indivíduos de menos posses têm dificultadas suas oportunidades de

trabalho, estudo, consumo e lazer, justamente por não conseguirem

alcançar pontos diversos da cidade pagando uma única passagem.

(SILVA et al, 1994)

A falta de um planejamento conjunto da mobilidade e da acessibilidade

metropolitana também prejudica o funcionamento do transporte público. Os planos

diretores municipais são feitos independentemente da visão regional de diversas

demandas comuns.

As precariedades nas condições de acessibilidade nos grandes centros urbanos

normalmente são trabalhadas localmente e “restringem-se à abertura e manutenção de

articulações viárias, que tão somente privilegiam as ligações intermunicipais, não sendo

necessariamente acompanhadas de investimentos em melhorias nos sistemas de

transporte” (CARDOSO, 2007, p. 95). Essa forma de gestão implica na segregação

socioespacial e na dependência de uma região frente a outras mais estruturadas.

A acessibilidade relaciona-se com o desenvolvimento. A descentralização da

ocupação do espaço metropolitano e a desconcentração de atividades da área central

urbana favorecem a diminuição dos problemas de acessibilidade, pois permitem maior

aproximação de áreas residenciais, comerciais, industriais dentre outras regiões com

diferentes usos. Ao mesmo tempo, a descentralização pode ampliar as deficiências no

acesso, caso não haja alternativas eficazes que promovam os deslocamentos

(VILLAÇA, 1978).

Uma boa distribuição do uso do solo, a partir de processos de flexibilização e

desconcentração de atividades, podem promover o uso mais racional da infraestrutura

de transporte. Dentre as contribuições possíveis, podem ser citadas: distribuição dos

fluxos de tráfego, redução dos congestionamentos, melhor fluidez e capacidade

operacional, redução dos índices de poluição, aumento das condições de segurança no

trânsito, diminuição dos tempos de viagem, menor extensão dos deslocamentos, redução

118

dos custos de implantação de atividades na cidade, melhor acessibilidade. Toda essa

articulação possibilita um arranjo espacial que favoreça a produção e o desenvolvimento

local. Esse potencial deve ser explorado levando-se em conta todo o contexto

municipal/regional, de modo que não acentue o desenvolvimento desigual de diferentes

espacialidades (MORENO, 2006).

A adoção no Brasil de políticas de incentivo à produção automobilística49

notadamente sob a égide do Programa de Metas implementado pelo Governo de

Juscelino Kubitschek (1956-1960), o qual inaugurou um curto, porém intenso período

de dinamismo econômico nacional, auxiliado pela atração da indústria automobilística

internacional – promoveu um “crescimento sem precedentes da produção e do consumo

do transporte motorizado individual” (CARDOSO, 2007, p. 4).

Sinônimo de conforto, privacidade e prestígio social, o automóvel passou a ocupar

as ruas e estradas do país, o que exigiu uma adaptação das cidades para que pudessem

comportar o tráfego veicular. Diante disso, restou necessária a realização de políticas

públicas de planejamento integrado. A efetivação de condições de acessibilidade que

atendam à sociedade deve ser tratada levando em conta mais do que o interesse

individual, pois mesmo uma pessoa que possui muitos recursos econômicos e carros de

última geração também sofre com os congestionamentos e a má conservação de vias.

Assim, a acessibilidade deve ser promovida tendo em vista o coletivo.

Cardoso (2007) sugere que os administradores públicos fiquem mais atentos às

necessidades populares, para que possam interpretar a acessibilidade como instrumento

49

O transporte público – historicamente majoritário – sofreu uma importante queda na sua atratividade,

passando de 52,3% para 35,7% na sua utilização diária entre 1992 e 2001, respectivamente. Por outro

lado, o transporte privado apresentou uma elevação no mesmo período (de 16,3% para 18,7%). Esses

resultados devem se explicar por diversas razões, como: a) implementação de políticas públicas que

tendem a privilegiar a circulação de automóveis (tais como abertura e/ou o alargamento de vias públicas);

b) facilidades na aquisição de veículos de transporte individual, somadas ainda às crescentes alternativas

de trabalho para proprietários de motocicletas (a exemplo dos chamados “motoboys”, que, embora não

tenham a profissão regulamentada, prestam serviços rápidos, notadamente relacionados à entrega de

documentos, medicamentos, gêneros alimentícios, entre outros); c) precariedades na prestação dos

serviços dos modos de transporte público coletivo (superlotação, atrasos, desconforto, insegurança etc.).

No entanto, os resultados mais surpreendentes referem-se ao aumento no uso de meios de transporte não

motorizado, categoria que captava pouco mais de 23% dos deslocamentos individuais diários com destino

aos locais de trabalho na RMBH em 1992 e passou a atrair quase 38% da demanda metropolitana em

2001. Tal fenômeno pode associar-se tanto ao processo de desconcentração espacial e de atividades em

curso na RMBH, o que tende a aproximar domicílios e postos de trabalho, tornando, por vezes,

desnecessária a utilização de meios motorizados, ou pela falta de capacidade de pagamento da tarifa dos

sistemas de transporte público, em face da redução da renda, desemprego, subemprego e crescimento da

informalidade do trabalho, conforme atestam Gomide (2003); Cardoso (2007).

119

fundamental para a eficiência das metrópoles. Uma cidade eficiente promove o

desenvolvimento local e a diminuição da crescente exclusão urbana.

O próximo tópico deste trabalho demonstra como é a gestão dos transportes na

RMBH para a promoção da acessibilidade. Será discutido se a possibilidade de

locomoção na área estudada promove ou não o desenvolvimento local a partir de uma

administração cooperativa.

5.1 A acessibilidade na RMBH

Historicamente a acessibilidade na RMBH retrata a segregação socioespacial.

Cardoso apontou, em entrevista realizada em setembro de 2011 para a redação deste

trabalho, como desafio, o conflito político institucional.

Os anos 1940 marcaram Belo Horizonte pela intensa industrialização, o que atraiu

um expressivo contingente populacional oriundo da zona rural. Assim, seu processo de

metropolização teve início na década de 1950, quando a periferia da capital mineira

passou por intensa expansão, obrigando o Poder Público a reestruturar a rede de

transportes. Para lidar com essa demanda, o governo de Minas criou, nessa mesma

época, uma autarquia municipal com a função de gerenciar o sistema de transportes

coletivos, o DBO - Departamento de Bondes e Ônibus (CARDOSO, 2007).

Foi na década de 70 que os limites municipais passaram a ser simplesmente

administrativos, devido à expansão da mancha urbana. A falta de coordenação da

política de transporte gerou uma superposição de itinerários de ônibus, a concorrência

predatória entre linhas, o congestionamento do trânsito, a política tarifária desarticulada,

o planejamento fragmentado e a impossibilidade de implementação de uma rede de

transporte público efetivamente integrada em termos físicos e tarifários (GOUVÊA,

2005).

Com a consolidação da Plambel, enquanto agência de planejamento urbano regional,

esta se dedicou à gestão metropolitana do transporte. A Plambel elaborou alguns

documentos sobre a mobilidade na RMBH, como o Esquema Metropolitano de

Estruturas e o Estudo do Sistema de Órgãos Encarregados do Transporte e do Trânsito

na Região Metropolitana. Esses estudos foram feitos para tentar gerir as demandas de

interesse comum dos municípios da região. Esses documentos alertavam quanto ao

grande número de agências, lidando com os problemas de transporte e trânsito. Essa

diversidade de instituições dificultou a articulação interinstitucional e a cooperação,

pois vários interesses diferentes e, por vezes conflituosos, eram somados. Dessa

maneira, foi sugerida uma redefinição dos órgãos responsáveis pela mobilidade com a

120

finalidade de melhorar o desempenho da prestação desse serviço. Em regra, os

diagnósticos realizados pelo Plambel afirmavam ser necessário algum nível de gestão

centralizada para o sucesso das políticas de mobilidade (GOUVÊA, 2005).

Os Planos Mineiros de Desenvolvimento Econômico e Social I e II, do final dos

anos 70, previam que a habitação, o transporte e o saneamento básico eram

fundamentais para o desenvolvimento do estado. Tendo em vista o cumprimento das

metas dos planos descritos, foi criado um organismo metropolitano para gerenciar o

tráfego e o transporte público da RMBH, a Metrobel50

. A gestão da Metrobel foi

inovadora ao sugerir a participação de diversos representantes da sociedade. Seu

primeiro objetivo era construir linhas de metrô, ligando mais de um município ao centro

da capital. A Metrobel administrou, a partir de 1980, a rede de transporte público e o

sistema viário da Região Metropolitana de Belo Horizonte (GOUVÊA, 2005).

Nesse período, foram criados programas como o PROBUS (Programa de

Organização do Transporte Público) e o PACE (Plano da Área Central). Esses tinham

como meta reestruturar o sistema de transporte metropolitano e reorientar os fluxos de

tráfego (FJP, 1996). Infelizmente a Metrobel foi implantada sob um regime tecnocrático

e autoritário, o que fez com que suas ações não atendessem “às principais reivindicações

populares, guardando um caráter eminentemente técnico” (CARDOSO, 2007, p. 81).

Enfim, mesmo que a Metrobel tivesse como proposta o envolvimento popular, o regime

autoritário de governo a impediu de colocar na prática as suas pretensões.

Outra inovação proposta pela Metrobel foi a criação do Sistema de Cobrança e

Validação de Tarifa (Sistar) que consistia no pagamento da passagem, conforme o

trajeto que iria ser realizado, diferentemente do que ocorre atualmente nos ônibus. Com

a criação da Câmara de Compensação Tarifária – CCT – no ano de 1982, cada linha de

ônibus passou a possuir uma tarifa única, ou seja, o passageiro pagava sem ser levado

em conta o trajeto e a distância percorrida (MACHADO, 2009).

A CCT foi criada com a finalidade de equilibrar o sistema tarifário metropolitano e

essa se tornou, na época, o principal instrumento de metropolização da gestão

(MACHADO, 2009). Essa consideração quanto a ser a CCT responsável, em parte, pela

50

Durante o período de transição política, a RMBH foi marcada pela criação da METROBEL

(Companhia de Transportes Urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte) em 28 de junho de

1978, no governo Aureliano Chaves, através da Lei Estadual n. 7275 – embora somente efetivada em 27

de março de 1980, no governo Francelino Pereira, com a Deliberação n. 14/80. Inspirada na Lei Federal

n. 14, de 1973, que institucionalizou as regiões metropolitanas, a METROBEL foi idealizada como um

órgão metropolitano capaz de unificar as ações de transporte e trânsito da RMBH (CARDOSO, 2007, p.

81).

121

metropolização da RMBH deriva do fato de que essa câmara permitiu que as passagens

do transporte coletivo para viagens mais longas, normalmente realizadas por pessoas de

baixa renda, fossem barateadas. Assim, com o passar do tempo, o modelo de cobrança

de passagens tornou-se um fator indutor da reprodução de periferias e fixação de

populações em regiões distantes, desprovidas de infraestrutura51

(GOVERNO DE

MINAS & INSTITUTO HORIZONTES, 2011). Hoje, no entanto, existem tarifas

diferenciadas e estas apresentam custos elevados.

Com o movimento municipalista da década de 80, as instituições intermunicipais de

organização do transporte ficaram enfraquecidas. Em 1988, no Governo de Newton

Cardoso, antecipando a municipalização dos transportes, a Metrobel foi extinta, sendo

substituída pela Transportes Metropolitanos - Transmetro. Novos investimentos foram

empregados nos transportes a partir dos anos 1990, quando o gerenciamento desses

passou a ser função municipal. Ainda durante a vigência da Transmetro, foi criada a

BHTRANS (Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte), no ano de 1991

através da Lei Municipal n. 5953. Referida empresa herdara basicamente as mesmas

atribuições dos órgãos antecessores, porém restringindo-se à escala municipal, e não

mais metropolitana” 52

(CARDOSO, 2007, p. 85). Somente em 1993 a BHTRANS

passou a operar de forma plena.

Segundo a Constituição de 1988, o município é competente para organizar e prestar,

diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse

local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial. Porém, de acordo

com Gouvêa (2005), em um município metropolitano, o transporte coletivo é de

interesse comum e não simplesmente local. Em 1993, o então prefeito de Belo

Horizonte, Patrus Ananias, municipalizou o transporte da capital e retirou do órgão

estadual vigente, nesse período (Transmetro – Transportes Metropolitanos), a

organização das linhas de ônibus municipais.

Disputas políticas, envolvendo a Prefeitura de Belo Horizonte e o governo do estado

de Minas Gerais, influenciaram a gestão da mobilidade realizada pela BHTRANS. Para

51

Municípios como Ibirité e Ribeirão das Neves cresceram muito nas décadas de 80 e 90, justamente

após o barateamento das passagens para viagens realizadas em transporte coletivo, devido à criação da

Câmara de Compensação Tarifária – CCT (GOVERNO DE MINAS & INSTITUTO HORIZONTES,

2011). 52

Hoje empresas municipais estão fortemente consolidadas como gestoras da mobilidade urbana

(BHTRANS, Transcon, Transbetim), ao mesmo tempo, o DER-MG é o responsável pela gestão do

transporte público considerado metropolitano, mas delimitado com linhas de ônibus que saem de

municípios da RMBH em direção à região central da capital (GOUVÊA, 2005).

122

Dias (1996), o governo estadual sonegou informações sobre o sistema coletivo de

transporte necessárias para a referida empresa, como os quadros de horários das linhas e

as planilhas de cálculo da CCT.

Os embates políticos envolvendo Prefeitura e Estado continuaram nos primeiros

anos da gestão BHTRANS, só sendo minimizados a partir da completa extinção da

Transmetro (1994), momento em que suas atribuições referentes aos serviços

intermunicipais foram repassadas para a diretoria metropolitana do Departamento de

Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais – DER/MG (DIAS, 1996). Essa

desarticulação refletiu negativamente na sociedade e demonstrou a importância de ações

cooperativas e intersetorializadas. Diante disso, teve início um processo de

replanejamento dos serviços ligados à mobilidade na metrópole com o Plano de

Reestruturação do Sistema de Transporte Coletivo do Município de Belo Horizonte

(BHBUS) (CARDOSO, 2007).

Outros municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte seguiram o modelo

implantado pela capital e municipalizaram o sistema de transportes. Um exemplo é

Betim, que, em 17 de dezembro de 1993, criou a empresa Transporte Urbano de Betim

(TRANSBETIM). O trânsito e o transporte coletivo foram assumidos pela citada

empresa, enquanto o DER/MG53

gerenciava as linhas intermunicipais que atendiam o

município.

A situação do transporte público na RMBH é marcada pela desarticulação dos vários

sistemas existentes. No caso das empresas de ônibus, há intensa concorrência entre as

linhas, o que contribui para a irracionalidade do sistema, acúmulo de déficits

operacionais e a queda da qualidade (CUNHA; PEDREIRA, 2008).

Para Cardoso (2007), a simples criação de um órgão municipal, sem a definição

também de um órgão de gestão metropolitana, que coordenasse as políticas públicas

locais fez com que as ações implementadas não contribuíssem para as condições de

acessibilidade na RMBH. Cardoso (2007) destacou, em entrevista realizada pela autora

deste trabalho em setembro de 2011, que um importante desafio é a unificação dos

fluxos, com integração física e tarifária, enquanto resultado de ações cooperadas.

Com isso, a organização dos serviços de transportes coletivos está desarticulada. O

gerenciamento das redes de acessibilidade é realizado por diferentes organizações

53

“O DER/MG “herdou” as atribuições dos sucessivos organismos de gestão metropolitana e jamais

pautou suas ações balizadas em um planejamento estratégico. Talvez, por isso, a RMBH apresenta-se

como uma das regiões metropolitanas brasileiras que detém maiores deficiências no tocante à provisão de

acessibilidade intrametropolitana” (CARDOSO, 2007, p. 90).

123

governamentais que pertencem a distintas esferas de governo, sem que haja interação na

rede. Segundo Gouvêa (2005), esse gerenciamento faz com que os usuários dos

sistemas de transporte público dependam de diversos responsáveis pelos serviços de

mobilidade. Assim, a ausência de integração física e tarifária compromete a

acessibilidade intrametropolitana. José Abílio Belo destaca que a discussão da

mobilidade é urgente no contexto da grande Belo Horizonte e que falta uma gestão

unificada54

.

A Comissão Gerenciadora do Transporte Coletivo da RMBH (CGTC) representa o

início da colaboração e de ações coordenadas na gestão da mobilidade. A CGTC foi

constituída pelo DER/MG, BHTRANS, CBTU, TRANSBETIM e TransCon e tem a

função de “definir os parâmetros comuns para especificação de serviços, veículos e

remuneração das empresas subconcessionárias” (CARDOSO, 2007, p. 90).

Faltam dados precisos quanto aos reflexos da municipalização ocorrida na RMBH,

mas dados apresentados pela Universidade Federal de Minas Gerais demonstram que,

com relação à mobilidade, no período de 1993-2003 houve uma fragmentação do

sistema de serviço de transportes coletivos em dez sistemas concorrentes; 96% dos

passageiros transitam em transporte sobre pneus e apenas 4% por trem metropolitano;

foi extinto o mecanismo de compensação tarifária entre linhas metropolitanas, “que,

baseado no equilíbrio interno das regiões operacionais e das empresas delegatárias,

proporcionava, antes da municipalização dos serviços, subsídios cruzados entre linhas

superavitárias e deficitárias” (MACHADO, 2009, p.144); o sistema ficou desarticulado

e sob funcionamento predatório55

.

54

José Abílio referiu-se ao fato citado durante entrevista realizada com o mesmo pela autora do presente

em trabalho. A entrevista ocorreu em setembro de 2011. 55

“Belo Horizonte, por exemplo, após a consolidação do processo de municipalização dos transportes

públicos e a instituição do Plano Diretor da cidade (ambos durante os anos 1990) – atendendo a

prerrogativas da Constituição Federal de 1988 –, adotou medidas de impacto sobre o sistema de

transportes e o trânsito da cidade, sobretudo através da criação do Plano de Reestruturação do Sistema de

Transporte Coletivo do Município de Belo Horizonte (BHBUS) e do revigoramento do Plano da Área

Central (PACE). A partir de então, começaram a ser realizadas intervenções importantes – algumas ainda

em curso e restritas tão somente à Capital mineira –, como a reorganização de cores, numerações e

itinerários das linhas de ônibus, no intuito de racionalizar a operação do sistema, culminando com a

implantação dos sistemas Tronco-Alimentador e Interbairros; a criação de estações de ônibus em regiões

periféricas e de grande demanda de usuários – algumas delas integradas ao Trem Metropolitano (metrô) –

a implementação de pistas exclusivas para ônibus na área central da cidade e em grandes corredores

viários; a criação do Serviço de Transporte Suplementar de Passageiros, concebido com a função de

coibir o transporte clandestino na Capital, sendo realizado por microônibus; entre outras” (CARDOSO,

2007, p.27).

124

O caso da Companhia Brasileira de Trens Urbanos – CBTU - operadora do metrô de

superfície que liga Belo Horizonte e Contagem retrata bem a situação descrita acima. A

CBTU é umas das poucas entidades remanescentes do arcabouço institucional criado

pelos militares para a área de desenvolvimento urbano e tornou-se uma organização

pública muito interessada na retomada do planejamento metropolitano na RMBH, por

uma razão muito lógica,

a fragmentação institucional do funcionamento dos

transportes na região metropolitana acarreta uma situação de

concorrência predatória entre os sistemas gerenciados pelas

prefeituras, pelo Departamento de Estradas de Rodagem de

Minas Gerais (DER-MG) e pela CBTU, e, como resultado

imediato da desintegração dos transportes na RMBH, o metrô

de Belo Horizonte acusa uma das mais baixas taxas de

participação de usuários de transporte público do país. O

prejuízo operacional do metrô de Belo Horizonte é brutal, de

maneira que o seu funcionamento depende drasticamente de

subsídios do governo federal. (MACHADO, 2009, p. 90)

Na atualidade, a Agência Metropolitana tem se encarregado da realização de um

trabalho de articulação e estabelecimento de consensos entre os agentes que atuam na

produção dos serviços de cunho regional e uma preocupação central da agência está

relacionada às demandas de mobilidade e transporte. A articulação derivada dessas

demandas envolve a Secretaria de Transportes (que herdou do DER a antiga Diretoria

de Transporte Metropolitano), o DER, a CBTU, entre outros. Apesar dos esforços que

estão sendo realizados, várias críticas são esboçadas pelos municípios quanto às ações

do Estado. Para o diálogo no campo dos transportes, foi criado o comitê gestor

metropolitano da mobilidade, integrado por representantes de Betim, Contagem,

DETRAN, DER e Subdiretoria de transporte metropolitano, coordenados por

representantes da agência (MARES GUIA; AZEVEDO, 2010).

Ocorre que, na RMBH, a prestação de serviços de transporte coletivo urbano é

basicamente privada e, como aponta Gouvêa (1992), a permissividade do Poder Público

deixa que os empresários definam os itinerários das linhas de ônibus em função do

retorno financeiro e não tendo em vista o atendimento das necessidades da população.

Os investimentos feitos na RMBH fizeram com que houvesse uma nova concepção

acerca das demandas metropolitanas. Essa mudança levou, como já citado anteriormente

neste trabalho, à produção do PDDI e ao destaque da acessibilidade na elaboração de

referido plano. A compreensão da acessibilidade, enquanto ponto a ser trabalhado de

forma transdisciplinar e interinstitucional, fez com que houvesse novidades nesse

125

campo, como a necessidade de uma gestão cooperativa dos transportes e a utilização de

tecnologias de comunicação digital.

Ainda que seja importante dedicar atenção à gestão dos transportes, muito

fragmentada e privatizada, a acessibilidade foi trabalhada pelo PDDI – Plano Diretor de

Desenvolvimento Integrado. A discussão desse tema foi além do debate acerca da

mobilidade, levando em conta o real conceito de acessibilidade, conforme foi tratado no

início deste capítulo.

O PDDI divide-se em eixos de discussão, propõe mudanças na acessibilidade da

RMBH e ressalta a necessidade de uma gestão integrada, que abranja vários aspectos e

serviços metropolitanos. A natureza transdisciplinar das políticas integrantes do Eixo

Acessibilidade advém do objetivo desse eixo, que é garantir ao cidadão metropolitano

maior participação na sociedade, através do acesso aos meios físicos, aos serviços, ao

lazer, dentre outras necessidades básicas. Os projetos propostos no ponto que trata da

acessibilidade foram divididos em oito políticas (PDDI, v. 2, p. 284):

Política Metropolitana Integrada de Centralidades em Rede

Política Integrada de Mobilidade Metropolitana

Política Metropolitana Integrada de Direito ao Espaço Cotidiano: Moradia e

Ambiente Urbano

Política Metropolitana Integrada de Integração dos Serviços de Saúde

Política Metropolitana Integrada de Assistência Social

Política Metropolitana Integrada de Democracia Digital

As políticas citadas são complexas e de grande abrangência. O Eixo Acessibilidade

“integra políticas e programas que têm em comum a busca pela ampliação das

condições e meios de acesso a uma variedade de serviços, equipamentos e centralidades

da RMBH” (PDDI, v. 2, p. 284). A acessibilidade, para ser plena, depende da efetivação

de melhorias em vários aspetos. As propostas práticas dizem respeito à estruturação

metropolitana em rede e visam a ampliar as condições de acessibilidade, especialmente

da população de baixa renda, inclusive aos espaços naturais e de lazer; aperfeiçoar o

sistema viário dos municípios integrantes da região metropolitana e a rede de transporte

público; integrar sistemas de transporte sustentáveis (não motorizados) aos sistemas

convencionais; ampliar áreas destinadas à circulação de pedestres; reduzir o uso de

veículos privados e incentivar o transporte coletivo (PDDI, v. 2, p.285).

Uma sugestão de certa forma inovadora advinda do PDDI é o exercício da

acessibilidade pela incorporação de novas tecnologias de informação e comunicação,

126

conhecidas como TICs. Segundo observado, as TICs proporcionam a interação e o

acesso por meios eletrônicos digitais, sendo que esse instrumento pode potencializar

inclusive as condições de participação do processo democrático, pois minimiza os

constrangimentos físicos e as limitações impostas pela falta de tempo livre e de modos

de locomoção (PDDI, vol. 2, p. 283).

A possibilidade de deslocamento intramunicipal e a garantia de acesso aos serviços

básicos para a população de uma área metropolitana são a essência de uma gestão

urbana eficaz, promotora do desenvolvimento local. Dessa forma, pode-se concluir que,

ao se traçar para a RMBH um caminho promotor da acessibilidade, através do PDDI,

consequentemente, está sendo favorecida a redução dos custos de transação, a

dialogicidade e a melhoria da qualidade de vida da população.

A redução dos custos de transação deriva da articulação interinstitucional para a

prestação de serviços. A dialogicidade e a melhoria da qualidade de vida são resultado

da possibilidade de participação da população através de tecnologias digitais e pelo

exercício da cidadania a partir do acesso aos serviços básicos de maneira eficiente.

Ocorre que o PDDI somente ficou pronto no final de 2010. No entanto a RMBH foi

criada em 1973 e remodelada, institucionalmente, a partir de 2003. Durante todo esse

período, a metropolização enquanto fenômeno urbano aconteceu de forma ininterrupta e

várias intervenções públicas quanto à acessibilidade foram realizadas, sem a

fundamentação do PDDI.

A Linha Verde, por exemplo, considerada pela Secretaria Estadual de Transportes e

Obras Públicas – SETOP - como o maior conjunto de obras viárias da Região

Metropolitana de Belo Horizonte (SETOP, 2011), foi concluída em 2008, antes da

elaboração do PDDI, que vislumbra a importância de uma gestão metropolitana social,

fundamentada na cooperação e na participação.

A Linha Verde corresponde a uma via de acesso que liga o centro da capital mineira

ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, localizado no município de Confins, ao

norte da RMBH. Esta passa ainda pelos municípios de Santa Luzia, Lagoa Santa e

Vespasiano. Sua extensão total é de 35,4 km e para a sua construção foram gastos,

aproximadamente, 400 milhões de reais do Tesouro do Estado (SETOP, 2011).

O MAPA 2 retrata a densidade viária na RMBH, que é muito concentrada na área

central e estende-se ainda de forma concentrada para o Eixo Sul. No entanto, o Vetor

Norte é de fato uma área onde a densidade viária é pequena, ainda que a Linha Verde já

127

esteja em operação. A concretização de propostas como a da construção do Rodoanel56

e de ampliação de vias já existentes poderá mudar esse cenário.

MAPA 2: Densidade Viária na RMBH

Fonte: MOURA; MARQUES, 2010.

Segundo dados da SETOP (2011), a Linha Verde foi construída com a proposta de

atender a cem bairros de Belo Horizonte e a quinze municípios da RMBH, beneficiando

3,5 milhões de pessoas. A obra propicia o acesso do trabalhador ao centro, à rede

hospitalar da capital, a centros comerciais, a escolas e universidades. A SETOP afirma

ainda que o complexo viário é responsável pelo incremento do setor de serviços, além

de ter gerado cinco mil empregos diretos e cerca de quinze mil indiretos.

Muito dinheiro está sendo investido no Vetor Norte57

da RMBH, localizado no

MAPA 3, devido à construção da Linha Verde. O referido vetor apresentava-se,

56

Projeto de construção de via alternativa ligando diversos municípios do Vetor Norte. 57

Municípios envolvidos no Vetor Norte: Belo Horizonte (regionais Venda Nova, Pampulha, Leste,

Norte, Noroeste, Nordeste), Santa Luzia (em especial, a região do São Benedito), Ribeirão das Neves,

Esmeraldas (a parte do município situada na bacia do Ribeirão da Mata), Vespasiano, São José da Lapa,

Matozinhos, Pedro Leopoldo, Capim Branco, Confins, Lagoa Santa, Jaboticatubas (a parte do município

junto ao Rio das Velhas), Betim (Várzea das Flores ao longo do Anel Viário de Contorno Norte),

Contagem (Várzea das Flores ao longo do Anel Viário de Contorno Norte), Sabará (ao longo do Anel

Viário de Contorno Norte) (GOVERNO DE MINAS e INSTITUTO HORIZONTES, 2011).

128

historicamente, pouco valorizado e com precária prestação de serviços. Os municípios

que o compõem representavam, basicamente, cidades-dormitório com a função de

abastecer a capital com mão de obra barata e pouco qualificada. No entanto, atualmente,

essa região abriga a Cidade Administrativa do Governo do Estado de Minas Gerais e

novos empreendimentos.

Segundo reportagem de Moreira (2009), no Jornal O Tempo, o Instituto Hermes

Pardini, por exemplo, investiu cerca de quarenta milhões na transferência de parte de

seu centro administrativo e unidades laboratoriais para Vespasiano, município

localizado ao norte da área metropolitana e beneficiado pela Linha Verde.

Conforme Paiva (2009), em matéria publicada no Jornal Estado de Minas, A Viva

Empreendimentos Imobiliários, do grupo português Design Resorts, tem a proposta de

investir setecentos e trinta e três milhões de reais na implantação de um complexo

turístico e imobiliário em Jaboticatubas, também no Vetor Norte. Essa proposta visa a

se concretizar nessa região, devido ao acesso pelo Aeroporto Internacional e à Linha

Verde, além da proximidade da Cidade Administrativa. Esse projeto gerará, nos seus

três primeiros anos, mil e quinhentos empregos diretos e oitocentos postos de trabalho

indiretos.

Ainda, na mesma região, está sendo implantado um complexo imobiliário na Região

do Isidoro, última fronteira verde de Belo Horizonte. Para tanto, será criada uma nova

regional administrativa para a capital58

. Notícia de Ayer (2010), divulgada pelo Jornal

Estado de Minas, informa que a área do empreendimento possui cerca de dez

quilômetros quadrados e tem capacidade para receber dois parques, dois grandes

corredores viários, toda a infraestrutura urbana e setenta e dois mil apartamentos.

Werneck (2010) destaca que, para a implantação da Regional Isidoro, a Lei de Uso e

Ocupação do Solo de Belo Horizonte teve que ser alterada e que a respectiva alteração,

apesar de discutida na Conferência Municipal de Políticas Urbanas, pode não ter sido

devidamente analisada com a população ou trabalhada de forma integrada, tendo em

vista a diversidade de fatores envolvidos.

Os investimentos destinados ao Vetor Norte citados acima dizem respeito a

inovações promovidas pela construção da Linha Verde, que consiste na melhoria do

acesso a municípios e bairros da região norte da RMBH. Ocorre que, mesmo diante de

58

Até o momento, Belo Horizonte é subdividida em nove regionais. A Regional Isidoro será a 10ª.

129

promissor quadro para empreendedores, a realidade não condiz com uma gestão social

que prioriza a participação popular e a cooperação interinstitucional.

MAPA 3: Localização do Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo

Horizonte

Fonte: IGC/UFMGIPPUR/UFRJ, 2008

130

Dados concretos mostram mudanças no perfil de municípios que compõem a região

norte. Lagoa Santa, por exemplo, teve seu contingente populacional dobrado nos

últimos trinta e sete anos, pois sua população era de 14.053 pessoas, em 1970, e passou

a somar 44.922, em 2007. A arrecadação municipal, nessa mesma localidade, era de R$

18.516.409,00, no ano de 2002, e passou a ser de R$ 33.825.152,03, em 2008

(PREFEITURA DE LAGOA SANTA, 2012).

Em Ribeirão das Neves, a população dobrou em apenas quatorze anos (passou de

143.853, em 1991, para 311.372, em 2005), e a arrecadação municipal dobrou nos

últimos quatro anos (PREFEITURA DE RIBEIRÃO DAS NEVES, 2012), porém

menos de 75% dos seus habitantes possui moradia que receba a devida prestação de

serviços sobre a coleta de lixo (ZEE MG, 2012).

O Produto Interno Bruto - PIB - de Confins teve alteração marcante, de R$

14.213,00, em 1998, para R$ 40.831,00, informações de 2002 (PREFEITURA

MUNICIPAL DE CONFINS, 2012).

Mesmo diante de dados tão promissores para os citados municípios, segundo o

Zoneamento Ecológico Econômico - ZEE MG (2012), nenhum deles oferece uma

disposição adequada do lixo para mais de 70% da sua população, ou tratamento de

esgoto para mais de 50% da quantidade coletada. Esse quadro retrata como os

investimentos empregados no Vetor Norte não estão sendo gerenciados por uma gestão

social, já que mantém cenários de contraste socioeconômico. Enfim não basta a

ampliação da mobilidade como forma de promover a acessibilidade, ainda são

necessárias diferentes intervenções, além de obras como a Linha Verde.

Nos últimos anos, foram promovidos encontros entre a sociedade civil e o poder

público, com a finalidade de discutir situações como a mobilidade e o crescimento do

Vetor Norte. Um desses encontros foi o Fórum sobre o Planejamento Integrado do

Vetor Norte da RMBH, que ocorreu em Lagoa Santa no dia 21/10/2009. Nessa ocasião,

Maria Madalena, enquanto subsecretária de desenvolvimento metropolitano da SEDRU,

palestrou e destacou a Linha Verde como propulsora do desenvolvimento, assim como a

implantação da Cidade Administrativa e do Aeroporto Industrial. Como projetos futuros

de investimento público, Maria ressaltou o Rodoanel, a pavimentação de corredores

viários, a duplicação da MG-20 e a restauração da MG-424 – matérias do Eixo

131

Acessibilidade, a criação de um pólo de microeletrônica em Lagoa Santa59

e a reforma

do Parque do Sumidouro. Já os projetos de investimentos privados citados foram a

ampliação do centro de manutenção da empresa GOL, a instalação de um centro de

manutenção de turbinas, hotéis, bancos, dentre outros.

Os impactos derivados da aplicação de tantos recursos no Vetor Norte, apresentados

no Fórum Metropolitano pela subsecretária de desenvolvimento metropolitano da

SEDRU, são o surgimento de um novo pólo de atração de pessoas e negócios, a

valorização de terrenos somada à especulação imobiliária, a expulsão da população de

baixa renda, a expansão da mancha urbana, o crescimento desordenado e a exigência de

mais infraestrutura. Para lidar com esses impactos, as propostas sugeridas pelo governo

foram a elaboração de projetos como um de desenvolvimento sustentável para o Vetor

Norte e outro para a regularização fundiária; a redução de riscos, a reabilitação de

centros urbanos e o saneamento da sub-bacia do Ribeirão da Mata. Os objetivos de

respectivos projetos são favorecer a participação popular para a redução das

desigualdades, disponibilizar subsídios para Planos Diretores Municipais, estruturar

políticas de geração de emprego, renda e habitação, além de formular indicadores de

monitoramento.

Os fatos narrados no Fórum sobre o Planejamento Integrado do Vetor Norte foram

todos apenas apresentados, sendo que as pessoas que estavam presentes não tiveram voz

ativa para fazer propostas, mas meros comentários. Apesar do objetivo do evento ter

sido discutir o planejamento de forma integrada, esse foi simplesmente apresentado.

Não houve uma construção dialógica do desenvolvimento local no Vetor Norte. Quanto

à Linha Verde, não foi tratado o seu projeto, pois a obra já se encontrava concluída.

Diante desses fatores, resta claro que o PDDI foi feito tardiamente, após a

implantação de marcantes mudanças na RMBH. Sendo assim, essas mudanças não

consideraram as reflexões a respeito da acessibilidade dispostas no PDDI.

De acordo com o Programa de Desenvolvimento e Gestão da RMBH, elaborado por

uma parceria entre o Governo de Minas e o Instituto Horizontes (2011), uma outra

preocupação oriunda do conjunto de investimentos previstos para o Vetor Norte é a

repetição de experiências passadas, como a que ocorreu com o Vetor Oeste da RMBH

na década de 70. Nessa ocasião, houve a implantação do complexo automotivo da Fiat e

59

O Pólo de Microeletrônica deverá atrair mais de 200 empresas para seu entorno, gerando cerca de 37

mil empregos diretos e indiretos de uma mão de obra altamente qualificada de engenheiros, cientistas,

mestres e Phds em eletrônica, química e física entre outras. O Pólo deverá gerar investimentos de mais de

um bilhão de dólares (GOVERNO DE MINAS e INSTITUTO HORIZONTES, 2011).

132

de uma série de investimentos em melhorias na malha viária e de transportes. Na região

oeste, o desenvolvimento desordenado anulou em parte os benefícios dos investimentos

públicos e privados realizados, o que gerou a formação do mais agudo processo de

reprodução de periferias de que se tem notícia, principalmente em Ribeirão das Neves e

em Ibirité. Com o intuito de trabalhar as questões relacionadas, no referido programa,

consta que deve ser pensada, de forma integrada, uma perspectiva de desenvolvimento

sustentável, tendo como objetivo disponibilizar a acessibilidade, conforme a definição

traçada no início do presente capítulo.

O desenvolvimento sustentável, no caso aqui estudado, deve se fundamentar nas

concepções apresentadas no referencial teórico deste trabalho, relativas ao

desenvolvimento local, à cooperação interinstitucional e à participação popular. O

Programa citado no parágrafo anterior propõe como política a implantação de processos

participativos que envolvam atores públicos, privados e a sociedade civil, com a

finalidade de articular e integrar as ações estratégicas do Vetor Norte. O instrumento

sugerido para tal é o consórcio intermunicipal60

, já que esse proporciona o investimento

de recursos de uma unidade federativa em outra, viabilizando ações não aceitas pela Lei

de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n° 101, de 4 de maio de 2000). Diante

disso, a lei de consórcios públicos oferece parâmetros legais para a cooperação

interinstitucional e ainda cria instrumentos administrativos e orçamentários para sua

gestão (ARAÚJO, 2010) 61

.

60

“As limitações institucionais e jurídicas da repartição de competências constitucionais entre os entes

federados e, principalmente, a precariedade dos arranjos utilizados pelos municípios levaram à aprovação

da Emenda Constitucional n° 19 de 1998 (BRASIL, 1998), que alterou a redação do art. 241 e passou a

prever expressamente os consórcios públicos, os convênios de cooperação e a gestão associada de

serviços públicos” (LOPES, 2010, p.320). Como não feita, num primeiro momento, uma lei específica

para regulamentar os consórcios, estes continuaram a ser criados como associações civis. A mudança da

Emenda Constitucional n° 19 somente tornou-se aplicável com a Lei n° 11.107/2005 (BRASIL, 2005),

que dispõe sobre as regras gerais dos consórcios públicos. A partir dessa norma, os consórcios passam a

ser criados e extintos por lei, passam a ser de natureza pública ou privada e a ter personalidade jurídica

própria. Os consórcios e os convênios devem ser realizados pelas unidades federadas com vistas à

realização de interesses coincidentes das partes. Deverão ser pautados por ambos instrumentos, interesses

comuns e o modo de colaboração, não devendo ter por finalidade a captação de lucros ou o proveito

econômico (SERRANO, 2009). Diferentemente das regiões metropolitanas, os consórcios não são

instituídos por lei complementar, mas por adesão autônoma das partes. A região metropolitana advém de

uma imposição heterônoma do Estado, não de uma transação negocial. Já os consórcios dizem respeito à

regionalização, por vontade autônoma das partes, de atividades de titularidade dos municípios. O

consórcio intermunicipal é a alternativa de cooperação mais utilizada pelos municípios para trabalhar de

forma integrada e articulada. Este consiste em uma associação para a consecução de objetivos, obras,

serviços e atividades de interesse comum (CRUZ, 2008). 61

Segundo Lopes (2006), uma diversidade de formas institucionais de representação política,

organização administrativa e suporte técnico foi criada pelos estados com a finalidade de possibilitar uma

gestão metropolitana de sucesso. Dentre essas formas, podem ser citadas: fóruns para a participação

133

Para Gouvêa (2005), podem ser considerados três sistemas básicos de governo ou

administração metropolitana capazes de resolver situações como a exposta, nos quais

não há acesso adequado aos serviços públicos prestados: o constituído à margem dos

municípios; o formado apenas por representantes dos municípios metropolitanos; o

misto ou coordenado, que envolve outras instâncias políticas e administrativas. Gouvêa

(2005) relata na mesma obra que o sistema mais eficaz é aquele que cria um nível

político-administrativo metropolitano autônomo, sem eliminar o nível local. Deve então

haver a fusão dos municípios metropolitanos, a cooperação voluntária entre os mesmos

e a atribuição legal da responsabilidade decisória ao estado. Assim, as regiões

metropolitanas que possuem um governo institucionalizado diferem das que apresentam

atividades metropolitanas coordenadas por uma instância superior e das que não estão

submetidas a nenhum tipo de coordenação.

As regiões metropolitanas que possuem um governo institucionalizado, como a

RMBH, podem ser criadas a partir da instalação de uma estrutura metropolitana,

definida por lei, acima dos governos municipais ou através da unificação de

aglomerações metropolitanas mediante instrumento legal. Essa estrutura costuma ser

aplicada, quando não há uma unidade central definida, mas cidades com

desenvolvimento paralelo, especialmente em países pouco desenvolvidos sem tradição

democrática (GOUVÊA, 2005).

Nos casos em que não existe uma autoridade metropolitana formal, a estrutura

governamental existente, em instância superior, é adaptada para atender às demandas de

interesse comum. Os municípios nessa situação possuem pouca representatividade e é

comum acontecerem conflitos de competências entre os entes envolvidos, devido à falta

de definição dos papéis e sobreposição de ações governamentais em um mesmo

território (GOUVÊA, 2005). Na RMBH, os conflitos envolvem mais do que as

prefeituras, mas também empresas privadas interessadas na forma como são aplicados

os recursos públicos, pois estas buscam ser beneficiadas. Quando se trata de mobilidade

e acessibilidade, então, pessoas que concentram grande volume de capital têm o

interesse despertado pela possibilidade de lucrar com a especulação imobiliária, obras

de engenharia, licitações públicas, aumento no número de transeuntes, dentre outros

popular, muitas vezes sem personalidade jurídica; consórcios; agências de desenvolvimento regional;

câmaras temáticas; fundos metropolitanos.

134

casos. A forma como está ocorrendo o crescimento do Vetor Norte retrata bem esse

quadro.

Uma alternativa razoável, citada por Gouvêa (2005), é a criação de um nível

administrativo intermediário entre estado e município, como um novo ente federativo,

porém com menos autonomia política, com a função ser um elo entre estados e

municípios. Segundo Abrucio (1998), não se constrói democracia com excesso de

poder, mas com divisão do poder e que, assim, nada mais sensato do que uma nova

composição dos poderes municipais e estaduais de modo metropolitano. No entanto, a

criação de uma nova instância administrativa implica em muitos gastos na formação de

nova estrutura governamental. Além do mais, a referida instância também teria que se

articular com as prefeituras e demais entidades relacionadas à temática metropolitana.

Sendo assim, não adiantaria criar uma nova composição político-administrativa sem ter

a cooperação e a dialogicidade como premissas.

Um fator comum entre todas as propostas de gestão metropolitana é o

estabelecimento de mecanismos estáveis que facilitem a integração e a cooperação entre

diferentes níveis governamentais. A autonomia metropolitana deve ser interlocutora

legitimada junto à sociedade civil (GOUVÊA, 2005). Para tanto, volta-se aos conceitos

de cooperação interinstitucional, gestão social e administração pública dialógica.

Pires (2010, p.185) destaca que:

A gestão metropolitana deve voltar-se de forma decisiva para

o território, focando a sua (re)ordenação, ocupação e

utilização, na busca de equalização de oportunidades diante

de demandas de acesso ao solo urbano, às funções sociais

urbanas, à adequada prestação de serviços e à provisão de

necessidades.

Esse cenário descrito por Pires (2010) leva ao questionamento se o modo como se

deu a construção da Linha Verde, ainda que com o objetivo de promover o

desenvolvimento, foi eficaz no contexto metropolitano. O primeiro motivo foi a forma

de firmar a execução da obra com os municípios diretamente envolvidos, como Belo

Horizonte, que hoje suporta graves problemas de enchentes que podem ser relacionados,

dentre outras coisas, à construção do Boulevard Arrudas, iniciada com as obras da

Linha Verde.

Não houve envolvimento metropolitano ou da população. A Linha Verde partiu de

uma decisão do Governo do Estado de Minas Gerais. Porém o Estado, como

responsável por capitanear o processo institucional metropolitano, deve perseguir o

135

equilíbrio entre o arranjo e a correlação das forças que o sustentam, buscando um

alinhamento permanente com os interesses legítimos da cidade (PIRES, 2010).

Os interesses da cidade foram, de certo modo, ignorados durante a execução da

Linha Verde. Árvores foram cortadas à revelia do interesse municipal, pessoas foram

removidas de suas casas, a obra do Boulevard Arrudas não cumpriu com as expectativas

e projetos de ambientalistas.

Pires (2010, p.190) ressalta ainda que cabe ao Estado protagonizar a gestão

metropolitana por meio de um processo democrático e plural, de modo a colaborar na

construção de governança compartilhada, na melhoria “do nível relacional, por meio de

capacitações com foco em comportamento institucional e em pactuação, na redução das

vulnerabilidades diversas, assegurando que as institucionalidades sejam cada vez mais

legítimas e funcionem para além do momento político”.

A acessibilidade é fundamental para o desenvolvimento local e deve refletir os

interesses da comunidade ou não atenderá às demandas sociais práticas. No caso

metropolitano, o Estado tem um papel de destaque, já que pode contribuir para o

encontro e o diálogo entre os diversos atores envolvidos, como empresas

concessionárias que trabalham com o transporte público, os municípios, os gestores da

mobilidade municipal, os órgãos estaduais relacionados ao tema e a comunidade em

geral. É o Governo Estadual, ao disciplinar sobre a questão metropolitana, quem é

competente para despontar esse assunto no plano institucional. O Estado não deve

apenas possibilitar o encontro, mas também disponibilizar recursos e instrumentalizar as

ações propostas na oportunidade em que foi gerado o diálogo. Assim, a gestão social em

prol do desenvolvimento local estará sendo de fato aplicada e concretizando resultados.

136

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gouvêa (2005, 255), no final de sua obra A Questão Metropolitana no Brasil, usa

das palavras de Maquiavel, em O Príncipe, publicado em 1513, para sintetizar a

problemática da institucionalização de uma administração pública dialógica para a

gestão metropolitana: “Não há coisa mais difícil de fazer, de êxito mais duvidoso, e

mais perigosa de conduzir do que levar a cabo a introdução de novas instituições

legais”.

No presente trabalho, a gestão social foi apresentada a partir da governança, como

forma de colocar em prática a cooperação interinstitucional para o desenvolvimento

local de uma região metropolitana. A definição de gestão social usada é a de Tenório

(1998), na qual esta é o conjunto de processos sociais no qual a ação gerencial

desenvolve-se através de uma ação de negociação promovida por diversos atores. Para

Tenório (1998), deve ser dispensada atenção à relação direta entre o processo

administrativo e a múltipla participação social e política. O caso estudado foi o da

Região Metropolitana de Belo Horizonte, especialmente no que tange à acessibilidade,

já que a análise da efetivação desta demonstra o grau de acesso que a comunidade tem

ao exercício dos seus direitos.

O objetivo geral desta pesquisa era analisar qual a estrutura de gestão urbana que

melhor fomenta práticas de cooperação e a cultura da solidariedade, condições

fundamentais à materialização de projetos de interesse comum que buscam o

desenvolvimento local de uma região metropolitana.

O conceito de desenvolvimento local utilizado aborda a condição socioeconômica

de uma sociedade urbana e a cooperação interinstitucional, articulada com a

participação popular.

A efetivação do interesse público é a meta da gestão social que visa ao

desenvolvimento local de uma metrópole. Esse deveria ser um compromisso da

administração pública e um direito dos cidadãos. Dessa forma, se somente através da

cooperação alguns municípios poderão efetivar o interesse público, cooperar deixa de

ser uma faculdade e passa a ser uma obrigação, cabendo aos municípios e ao estado

escolher qual a melhor forma de atuar coletivamente. No entanto, a cooperação somente

ocorre sem ter altos custos de transação, se ocorrer por vontade espontânea dos

envolvidos, como política pública a ser implantada e compreendida pelos atores

interessados.

137

A estrutura institucional da RMBH foi descrita, contextualizada historicamente e

analisada sob o ponto de vista da cooperação e da participação, o que permitiu perceber

que não há uma estrutura definida como fomentadora de práticas de cooperação, mas

princípios gerais que devem ser adaptados à realidade de cada época e lugar,

principalmente diante da heterogeneidade existente no país. Os referidos princípios

estão conceituados no referencial teórico, como o do emprego de uma gestão social para

a administração pública dialógica, da participação popular e da busca pelo

desenvolvimento local.

Esse resultado foi alcançado a partir da análise do caso prático da acessibilidade da

RMBH, que demonstrou que não basta a simples criação de órgãos para a

institucionalização de uma região, mas é necessária uma articulação entre os órgãos e a

sociedade civil, de modo que os interesses comuns sejam conhecidos e concretizados.

A resolução dos objetivos específicos contribuiu para a pesquisa. Demonstrar as

diferenças quanto à concepção de gestão metropolitana antes e depois da Constituição

Federal de 1988, narrar a formação do sistema federativo no Brasil e a ocupação do

espaço da RMBH fez com que fosse bem compreendido o modo de institucionalização

da região e o desenrolar da ocupação e uso dos espaços, permitindo conhecer a

distribuição dos serviços públicos prestados, a garantia de acesso aos mesmos e a

segregação socioespacial belorizontina. A acessibilidade foi diagnosticada como um

grave problema da RMBH, derivado da ausência de uma gestão dialógica e cooperativa.

Descrever qual a formação institucional da administração pública atual e

caracterizar os instrumentos de gestão criados para a promoção da dialogicidade

possibilitaram identificar a capacidade de gerar, por meio da cooperação, o

desenvolvimento local da metrópole estudada. Instrumentos como o conselho

deliberativo e a realização de fóruns de discussão foram exemplos citados como

avanços que têm tomado espaço na gestão da RMBH. No entanto, ainda há muito que

melhorar, principalmente quanto à forma de uso desses instrumentos e a preparação das

pessoas para de fato contribuírem para a gestão urbana.

“Um governo municipal progressista precisa se fazer acompanhar de um estilo de

gestão genuinamente democrático, o que lhe dará muito maiores credibilidade e

legitimidade e evitará que encarne uma contradição” (SOUZA, 2008, p. 418). A partir

dessa ideia, verifica-se que especialistas em planejamento e gestão da cidade precisam

entender a si próprios como educadores ou pedagogos urbanos (SOUZA, 2008). A

socialização das informações e o estabelecimento de uma comunicação fácil são

138

essenciais para um processo eficiente de pedagogia urbana que viabilize a construção de

uma sociedade democrática autonomista, envolvida em uma administração pública

dialógica.

Quanto ao objetivo específico de criação de alternativas para a solução dos

problemas diagnosticados, não foi possível concluí-lo, já que ficou clara a

impossibilidade de definição de um modelo específico de institucionalização

metropolitana. Pôde ser comprovada a relevância da observação de pontos como a

cooperação e a participação, normalmente desprezadas pelos políticos, muitas vezes

interessados em realizar ações de interesse próprio.

Esses pontos ressaltam a opinião de Lopes (2006, p. 153) de que a saída legalista é

limitada e, quando muito, “poderá fortalecer um marco jurídico de possibilidades, mas

sem necessariamente ampliar a dinâmica em torno do tema metropolitano, que, ao fim e

ao cabo, constitui uma questão política”. Machado (2009) recomenda que o recurso da

cooperação seja transformado em recurso político poderoso aos propósitos pessoais dos

atores metropolitanos, pois o reconhecimento das oportunidades negociais favorece o

bom desempenho da gestão urbana intermunicipal. “As afinidades políticas entre atores

públicos e o poder econômico exercem um papel na redução de custos de transações

metropolitanas visivelmente mais importante do que as instituições” (MACHADO,

2009, p. 139).

Enfim, a cooperação interinstitucional depende de vontade política e da participação

popular promovidas pela gestão social, tendo em vista o desempenho de uma

administração pública dialógica para o desenvolvimento local da RMBH.

139

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

A dissertação produzida para a conclusão do mestrado em Gestão Social, Educação

e Desenvolvimento Local, inserida na linha de pesquisa Processos Políticos Sociais,

Articulações Institucionais e Desenvolvimento Local, cujo título é Cooperação

Interinstitucional como Instrumento de Gestão da Região Metropolitana de Belo

Horizonte e de promoção do Desenvolvimento Local resultou na proposta de realização

de um seminário com o tema Gestão Metropolitana Cooperativa e o Desenvolvimento

Local, conforme foi previsto no projeto de pesquisa.

A realização de um seminário tem o objetivo de dar publicidade aos resultados

encontrados na pesquisa e promover inovações sociais, para que os cidadãos

interessados possam conhecer as sugestões e conclusões alcançadas. Desse modo, todo

o empenho empregado na realização deste trabalho poderá ser aproveitado em prol da

sociedade.

O público alvo envolve a comunidade acadêmica, administradores públicos,

representantes de organizações da sociedade civil, estudantes e cidadãos em geral.

Quanto aos aspectos práticos, um espaço dentro da própria instituição UNA poderia

ser utilizado para o evento, já que proporcionaria maior visibilidade para o centro

universitário e para o curso de mestrado.

O tempo necessário para apresentação de palestras e debates é de um dia com dois

momentos de discussão, um pela manhã e outro à tarde. O evento teria início às 9h e

finalizaria às 18h. As palestras teriam duração de trinta minutos e, após duas

apresentações, haveria um debate de quinze minutos para promover o envolvimento do

público.

A programação proposta é de, em um primeiro momento, a autora de respectivo

trabalho apresentar os temas que serão discutidos e fazer uma breve introdução,

destacando a metodologia e as tendências diagnosticadas como relevantes para que a

administração pública utilize de forma cooperativa os instrumentos existentes para a

gestão da região cuja cidade pólo é Belo Horizonte.

A segunda palestrante seria a professora Marinella Machado Araújo, professora da

PUC Minas que apresentou o tema da cooperação interinstitucional para a autora da

dissertação. Assim, Marinella traçaria esclarecimentos da relevância da cooperação na

regionalização, especialmente no que tange à redução dos custos de transação, pois

quando esses são excessivos há perda de interesse no desenvolvimento de ações

cooperativas.

140

A terceira apresentação ficaria a cargo da Professora Jupira Gomes Mendonça, que

participará da banca da mestranda e foi por ela entrevistada. Jupira é professora da

Faculdade de Arquitetura da UFMG e pesquisa Belo Horizonte enquanto metrópole,

tanto no aspecto institucional quanto em relação à expansão da mancha urbana. A

referida professora publicou diversos textos sobre a RMBH e pode contribuir muito

para a contextualização do processo de regionalização e sua institucionalização.

Gustavo Gomes Machado seria o convidado que encerraria o ciclo de discussões do

turno da manhã, falando sobre os consórcios intermunicipais, tema do seu livro Gestão

Metropolitana e autonomia municipal. Dilema das transações federativas, publicado

pela Editora PUC Minas.

Após um intervalo de duas horas para o almoço, o evento seria retomado com uma

palestra de um representante da Secretaria Estadual Extraordinária de Gestão

Metropolitana. Esse representante teria a função de transmitir informações acerca da

forma institucional da RMBH e a definição de seus órgãos constituintes. Em seguida,

Vivian Barros Martins, diretora da Agência Metropolitana, narraria sobre programas e

projetos que devem ser implantados na RMBH e sobre as intervenções de maior

destaque que já foram realizadas, principalmente a Linha Verde, pois o caso dessa obra

foi tratado na dissertação que gerou a proposta do seminário.

José Abílio Belo, arquiteto, funcionário do CREA MG e conselheiro metropolitano,

falaria no seminário sobre sua experiência enquanto representante da sociedade civil na

gestão urbana da RMBH. José Abílio Belo também foi entrevistado e contribuiu para a

realização da pesquisa aqui em discussão, assim como o próximo professor indicado

para ter uma fala no seminário, Leandro Cardoso.

Leandro Cardoso foi funcionário da BH TRANS, trabalhou na preparação do PDDI

e leciona na Faculdade de Engenharia da UFMG. Sua área de trabalho é acessibilidade,

principalmente no que diz respeito à mobilidade. Assim, Leandro seria o último

convidado do evento a se apresentar e sua função seria a de ensejar o debate acerca da

acessibilidade metropolitana.

Para encerrar o seminário, a autora da pesquisa, Natália Marra, faria um enlace dos

temas discutidos com a gestão social e a promoção do desenvolvimento local através da

promoção de uma discussão entre os participantes do evento sobre os temas discutidos.

Cronograma do seminário:

9h - Credenciamento

9:30h – Introdução e Apresentação de Natália Cardoso Marra – 30 minutos

141

10h – Cooperação Interinstitucional em Regiões Metropolitanas para a Redução dos

Custos de Transação – Apresentação de Marinella Machado Araújo - 30 minutos

10:30h – A Região Metropolitana de Belo Horizonte - Apresentação de Jupira Gomes

Mendonça - 30 minutos

Debates: 15 minutos

11:15h– Consórcios Intermunicipais - Apresentação de Gustavo Gomes Machado - 30

minutos

Debates: 15 minutos

12h às 14h - Intervalo

14h – A Institucionalização da RMBH – Apresentação de um representante da SEGEM

Machado - 30 minutos

14:30h – A Agência Metropolitana – Apresentação de Vivian Barros Martins - 30

minutos

Debates: 15 minutos

15:15h – A Experiência do Conselho Deliberativo da RMBH - Apresentação de José

Abílio Belo – 30 minutos

Debates: 15 minutos

16h Intervalo

16:15h– Acessibilidade urbana e metropolitana - Apresentação de Leandro Cardoso –

30 minutos

Debates: 15 minutos

17h – Considerações Finais, Debate e Encerramento – Apresentação de Natália Cardoso

Marra - 60 minutos

A partir do seminário, poderá ser proposto um curso de especialização em

Governança Regional e Cooperação Interinstitucional na própria instituição Centro

Universitário UNA.

142

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