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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local MARISTELA JORGE MITRE O TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas Belo Horizonte 2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA

Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

MARISTELA JORGE MITRE

O TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas

Belo Horizonte 2015

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MARISTELA JORGE MITRE

TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação - Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão Social.

Área de concentração: Inovações sociais e desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Gestão Social e desenvolvimento local Professor Orientador: Profa. Drª.Wânia

Maria de Araújo

Belo Horizonte 2015

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

M684t Mitre, Maristela Jorge

O trabalho social nos programas de habitação de interesse social: análise e

proposições para adequações. / Maristela Jorge Mitre. – 2015.

222f. il.

Orientador: Prof.ª. Drª. Wânia Maria de Araújo

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Bibliografia f. 149-154

1. Habitação popular - Brasil. 2. Desenvolvimento urbano sustentável. I. Araújo, Wânia Maria de. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

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Primeiramente dedico esse trabalho aos meus pais amados que, com esforço e sacrifício me proporcionaram trilhar os primeiros passos na direção do conhecimento e cuja vida abreviou-lhes a dimensão de sua instrução. Todas as horas de estudo sobre o tema e seus frutos eu dedico a dois grupos que se encontram no caminho da intervenção social: os técnicos sociais que, em sua missão sacerdotal e idílica, não se cansam de conjugar os verbos querer e poder na vontade de imprimir a mudança ocupando ainda um lugar tão pequeno na escala de valor; e as pessoas que também desejam seu lugar no território do viver, sejam elas quais for, que estão sempre a espera de uma

vida repleta de lugares. Que essa espera se converta em busca ativa.

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AGRADECIMENTOS

Chegar até aqui foi uma prova de resiliência. Mostrou-me que a vida é uma constante

renovação do nosso ser nesse mundo. E nesta empreitada uma luz divina conduzia-

me. Agradeço, portanto, primeiramente a Deus.

Tive companhias preciosas nessa caminhada como a do Lucius que, apoiando-me

com dedicação, abdicou de muitos momentos de convívio sem abdicar de sua fina

cumplicidade. Minha gratidão e minha reverência eterna por toda parceria e amor.

Agradeço à Rossana, minha querida orientadora institucional, aos meus gestores da

Caixa Econômica Federal que gentilmente me permitiram conciliar o trabalho com os

estudos confiando em minha responsabilidade profissional.

Agradeço aos colegas de trabalho, queridos, que seguraram as ausências, sempre

acompanhando as aventuras, aos técnicos sociais das prefeituras de Alfenas e Três

Pontas, e aos credenciados da Caixa Econômica Federal, sujeitos da pesquisa, que,

mais do que gentis, foram comprometidos com a participação.

Agradeço à professora Dra. Wânia Maria de Araújo, minha orientadora, por ter sido

essa pessoa tão querida. Às professoras Dras. Matilde Meire Miranda Cadete e

Alexandra Nascimentos Passos, externo um especial agradecimento pelas palavras

de incentivo quando da qualificação do projeto. Aos professores das disciplinas

cursadas, meu carinho e agradecimento pelo conhecimento agregado. Por meio de

vocês reporto-me também aos servidores do Centro Universitário UNA pela atenção

a mim dispensada e a todos os queridos colegas da turma do mestrado.

Aos professores da banca de defesa, Dra. Raquel Garcia Gonçalves e Dra. Alexandra

Nascimentos Passos meu reconhecimento pela certeza da contribuição para meu

crescimento cognitivo.

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As necessidades sociais têm um fundamento antropológico[...]. A essas necessidades antropológicas socialmente elaboradas [...] acrescentam-se necessidades específicas, que não satisfazem os equipamentos comerciais e culturais que são mais ou menos parcimoniosamente levados em consideração pelos urbanistas. Trata-se da necessidade de uma atividade criadora, de obra [...], necessidade de informação, simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas. [...]. As necessidades urbanas específicas não seriam necessidades de lugares qualificados, lugares de simultaneidade e de encontros [...]? Henri Lefebvre, 2001, P.105.

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RESUMO

As normas do Ministério das Cidades para programas de habitação de interesse social constantes da Política Nacional de Habitação determinam a realização de um trabalho social conjugado com a produção de empreendimentos habitacionais. Esse trabalho social, regido pela Portaria 21/2014, do Ministério das Cidades, consiste em estratégias e ações voltadas à promoção de processos participativos e de mobilização social, inserção social e econômica dos beneficiários, desenvolvimento socioterritorial e sustentabilidade dos bens e serviços disponibilizados. A partir de estudos diagnósticos participativos e de um conjunto de atividades informativas, sócio-educativas e estruturantes, o trabalho social assume um papel importante na promoção e consolidação da gestão social e do desenvolvimento urbano, tornando-se capaz de contribuir na formação de comunidades cívicas, aptas a fazer a mediação entre a sociedade e o Estado na conquista de direitos e na materialização do acesso a bens e serviços para consagração da cidadania plena. Entretanto, o fato de estar normatizado e ser potencialmente viabilizador da gestão social, não garante sua concretude; e esse é ponto de origem da discussão que constitui essa dissertação do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA. A pesquisa, realizada por meio de revisão bibliográfica, pesquisa documental e questionários aplicados junto a profissionais do trabalho social adotando o paradigma qualitativo, teve o propósito de buscar respostas para as seguintes perguntas: o trabalho social pode ser considerado o “mediador” entre o que está previsto nas normativas que regulamentam os programas de HIS e o que se espera materializar nos empreendimentos habitacionais voltados à população de menor renda? Como propor formas de viabilizar uma participação construtiva, com engajamento e coesão do público destinatário dos programas e projetos? Os profissionais do trabalho social conhecem e aplicam as metodologias de intervenção mais adequadas às intervenções? As instituições estão preparadas para a implementação do trabalho social com governança e governabilidade? A concepção dos programas e a forma como são implantadas os empreendimentos contribuem para uma ação transformadora pelo viés do trabalho social? Uma análise da Política Nacional de Habitação e do Programa Minha Casa Minha Vida abre a discussão que passará também por uma abordagem sobre o tema da gestão social, tomando como base a dinâmica de produção e reprodução das relações no território e deste próprio território.

Palavras-chave: Trabalho Social. Habitação de Interesse Social. Gestão Social. Desenvolvimento Urbano. Política Nacional de Habitação.

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ABSTRACT

The legal regulations of the Ministry of cities for housing programs social interest constituent from the National Housing Policy determine the accomplishment of a social work combined with the production of housing developments. This social work, ruled by the 21st / 2014 Therm, from the Cities Ministry, consists of strategies and actions toward the promotion of participatory and and social mobilization processes, social and economic insertion of the gainers, social-territorial development and, the riches and the available services sustainability. From participatory diagnostic studies and a set of information, social-educational and structuring activities, the social work assumes an important role in the promotion and consolidation of social management and urban development, becoming able to contribute in the formation of civic communities, apt to doing the mediation between the society and the State in the achievement of rights and in the materialization of access to the riches and services to the consecration of the fully citizenship. However, the fact of being standardized and being potentially enabler of the social management, doesn’t ensure its concreteness; and this is the point of origin of the discussion that constitutes this dissertation resulting from research of the completion of the Professional Master Course in Social Management, Education and Local Development of the Post-graduation Program from UNA University Centre. The research, carried out through literature and documentary research and questionnaires applied with professionals from social work adopting the qualitative paradigm, aimed to seek answers for the following questions: Can the social work be considered the “mediator” between what is foreseen in the regulations which settle the programs of Social Housing Interest and what is hoped to be materialized in the housing developments directed to the low-income population? How to propose ways of making feasible a constructive participation, with engagement and cohesion of the target public of programs and projects? Do the professionals of social work know and apply the most appropriate intervention methodology to interventions? Are the institutions prepared for the implementation of social work with governance and governability? Do the conception of programs and the way the enterprises are implemented contribute to a transforming action through the bias of social work? An analysis from the National Housing Policy and the Program “Minha Casa Minha Vida” (My House My Life) opens the discussion which will also undergo an approach about the theme of social management, based on the production and reproduction dynamics in the territory and this own territory.

Key-words: Social Work. Social Housing Interest. Social Management. Urban Development. National Housing Policy.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Trabalho Social

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Tabela 1 – Marcos Temporais e Instrumentos de Execução do Trabalho Social

Quadro 1 – Categoria 9 - Metodologias consideradas mais adequadas e ferramentas

mais utilizadas pelos profissionais na realização do trabalho social

Quadro 2 – Categoria 13 – Atividades realizadas pelos profissionais na realização do

trabalho social

Quadro 3 – Considerações gerais e sugestões dos profissionais para o incremento

do trabalho social

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BNH Banco Nacional de Habitação

CADÚNICO Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal

CAIXA Caixa Econômica Federal

CEP Comitê de Ética em Pesquisa

COHAB Companhias de Habitação

CONCIDADES Conselho das Cidades

FAR Fundo de Arrendamento Residencial

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FDS Fundo de Desenvolvimento Social

FGTS Fundo de Garantia Por Tempo de Serviço

FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

HBB Habitar Brasil BID

HIS Habitação de Interesse Social

MCIDADES Ministério das Cidades

ONG Organização Não Governamental

OGU Orçamento Geral da União

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PLANHAB Plano Nacional de Habitação

PMCVM Programa Minha Casa Minha Vida

PMCMV-FAR Programa Minha Casa Minha Vida com recursos FAR

PMI Project Management Institute

PNH Política Nacional de Habitação

PNHIS Política Nacional de Habitação de Interesse Social

PNHU Programa Nacional de Habitação Urbana

PPA Plano Plurianual

SNHIS Sistema Nacional de habitação de Interesse Social

TAC Taxa de Apoio Comunitário

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Sumário

Lista de Figuras .............................................................................................................

Lista de Siglas ...............................................................................................................

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

CAPÍTULO 1: Habitação de Interesse Social: O trabalho social como possibilidade de

gestão social ............................................................................................................. 26

Resumo ..................................................................................................................... 15

Introdução ................................................................................................................. 29

1.1. Política Nacional de Habitação de Interesse Social ........................................... 33

1.1.1. Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social. ...................................... 35

1.2. O trabalho social como possibilidade de gestão social ..................................... 44

1.3. Gestão Social e trabalho social .......................................................................... 58

1.4. Considerações finais .......................................................................................... 65

Referências Bibliográficas ......................................................................................... 67

CAPITULO 2. Um olhar técnico sobre o trabalho social nos Programas de Habitação

de Interesse Social .................................................................................................... 73

2.1. Introdução .......................................................................................................... 74

2.2. O trabalho social no contexto da habitação de interesse social ......................... 81

2.2. Metodologia da pesquisa.................................................................................... 86

2.3. Coleta de Dados e categorias de análise ........................................................... 90

2.5.Considerações finais ......................................................................................... 145

Referências ............................................................................................................ 148

CAPÍTULO 3. Produto Técnico: Guia de Orientações Metodológicas para o Trabalho Social

APÊNDICES

I. Questionário ...............................................................................................................

II. Questionário ..............................................................................................................

......................................................................................................................................

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INTRODUÇÃO

O objeto de estudo da presente pesquisa está centrado no trabalho social1 no contexto

do desenvolvimento urbano2 com recorte nos Programas de Habitação de Interesse

Social – HIS, do Governo Federal geridos pelo Ministério das Cidades – MCidades. A

arquitetura da discussão abriga as premissas e os objetivos do trabalho social no

contexto em questão e busca identificar, ressaltar e avaliar as dificuldades e

potencialidades dos Projetos de Trabalho Social3 na promoção da participação, da

gestão social e do desenvolvimento local no âmbito da Política Nacional de Habitação

de Interesse Social – PNHIS, instituída pela Lei 11.124/2005.

Para iniciar a discussão buscou-se analisar, à luz da legislação e das normativas do

MCidades, as premissas dos programas de provisão habitacional, comparando-as

com a prática e os instrumentos utilizados pelos profissionais da área social nos

projetos propostos e implementados nas intervenções.

Para uma melhor compreensão do que se propõe, é pertinente trazer à tona a

concepção do trabalho social na perspectiva dos programas de provisão habitacional,

que, com a faculdade de promover um conjunto de ações organizadas por eixos de

atuação, tem por objetivo promover a autonomia e o protagonismo social por meio de

mecanismos que viabilizem a “participação dos beneficiários nos processos de

decisão, implementação e manutenção dos bens e serviços a fim de adequá-los às

necessidades e realidade local” (BRASIL, 2010, p. 81 ), configurando-se como um

1 Seus objetivos, premissas e condições de realização serão descritos com maior profundidade no primeiro capítulo desta dissertação. 2 Desenvolvimento urbano entendido como melhoria das condições materiais e subjetivas de vida nas cidades,

com a diminuição da desigualdade social e garantia de sustentabilidade ambiental, social e econômica. Ao lado da dimensão quantitativa da infraestrutura, dos serviços e dos equipamentos urbanos, o desenvolvimento urbano envolve também uma ampliação da expressão social, cultural e política do indivíduo e da coletividade, em contraponto aos preconceitos, à segregação, à discriminação, ao clientelismo e à cooptação. (www.antac.org.br/pdf/relator/1.pdf, aces. em 20/03/2006, apud SANTOS, C.C.B. Participação cidadã e

participação comunitária, p. 19, 2006). 3 Documento que sistematiza a proposta de trabalho a ser realizado junto aos beneficiários e exigido nas

intervenções de habitação e de desenvolvimento urbano geridas pelo Ministério das Cidades que tenham impacto direto na vida das comunidades ou que envolvam reassentamento, remanejamento de famílias ou produção de moradia. Fundamenta-se nos princípios da participação comunitária e sustentabilidade dos empreendimentos e tem enfoque multidisciplinar. Tais projetos devem ser desenvolvidos pelos agentes executores (prefeituras e outras entidades ) com todas as famílias beneficiárias. As equipes técnicas destinadas a elaborá-los e executá-los devem ser interdisciplinares e constituídas por profissionais da área social com experiência em processos participativos devendo a responsabilidade técnica ficar a cargo de Assistentes Sociais ou Sociólogos (BRASIL, 2010, p.4).

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componente essencial para a gestão social, sustentabilidade das intervenções e

desenvolvimento local.

A pergunta norteadora da pesquisa foi assim estruturada: o trabalho social pode ser

considerado o “mediador” 4 entre o que está previsto nas normativas que

regulamentam os programas de HIS e o que se espera materializar nos

empreendimentos habitacionais voltados à população de menor renda? Dessa

questão central derivaram outras que foram traduzidas da seguinte forma: é possível

contribuir na proposição de melhores projetos, no incremento e efetividade das ações

de mobilização e organização comunitárias desenvolvidas no trabalho social com

vistas à promoção do desenvolvimento local e da gestão social? É possível propor

formas de viabilizar uma participação construtiva, com engajamento e coesão do

público destinatário dos programas e projetos? Os técnicos sociais, responsáveis pela

elaboração e execução dos projetos sociais, conhecem e aplicam as metodologias de

intervenção mais adequadas ao público beneficiário e ao tipo de programa a que estão

inseridos? As instituições estão preparadas para a implementação do trabalho social

com governança e governabilidade?

Partiu-se do pressuposto de que há uma grande dificuldade entre os profissionais da

área social na aplicação prática do conhecimento, na interpretação e na aplicação das

orientações técnicas, premissas, leis e normas necessárias para a realização do

trabalho social e sua interlocução com as obras. Mas acredita-se, sobretudo, que as

ferramentas, metodologias e técnicas de intervenção utilizadas na execução de

projetos não são condizentes com o que se espera do trabalho social, principalmente

no que concerne à comunicação, à informação, à instauração de processos

participativos para a mobilização e organização comunitárias, para a construção de

diagnósticos e a apropriação e potencialização de saberes locais. Presume-se ainda,

pela forma como se deu o processo de descentralização e municipalização das

políticas públicas no país, que os governos locais ainda não estão preparados para

4 A partir do conceito de mediação como instituto jurídico que visa à promoção do diálogo cooperativo das partes e meio consensual e imparcial de facilitar a comunicação e a construção de acordos (OAB/Guarujá. 2010). Nesse sentido, o Trabalho social como mediador estaria responsável por viabilizar a participação ampla e ativa e viabilizar a interlocução entre as políticas públicas e as demandas das comunidades atendidas com o objetivo final de promover a “apropriação e o usufruto efetivo dos serviços e programas sociais” [...] (CARVALHO, 2014, p. 19).

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se ‘adaptarem ao seu meio social’ (PUTNAM, 2006) apresentando fraco desempenho

no campo da implementação das políticas públicas.

A realização da pesquisa teve sua origem nos questionamentos da pesquisadora que,

trabalhando na área de habitação desde 1989 e atuando como Assistente de Projetos

Sociais na área de Desenvolvimento Urbano da Caixa Econômica Federal desde

2000, desenvolveu ao longo de sua atuação profissional uma percepção crítica acerca

das deficiências dos projetos sociais, da maneira como o trabalho social é visto,

proposto e desenvolvido junto aos empreendimentos de Habitação de Interesse Social

e da forma como as instituições lidam com a exigência de sua realização nos

programas. Tal percepção constituiu-se como balizadora ao longo de toda pesquisa.

Assim, credita-se ao presente estudo a oportunidade de poder identificar onde

residem as dificuldades na implementação de projetos sociais efetivos, que, em

consideração às suas premissas, levem a cabo seus objetivos suscitando assim um

debate em torno das reais possibilidades do trabalho social nos programas de

provisão habitacional.

Ressalta-se que ao trabalho social é atribuída a responsabilidade pela

sustentabilidade dos empreendimentos, a qual compreende, nesse caso, a promoção

da inserção social das famílias beneficiárias no processo construtivo e nos novos

espaços de moradia, a redução dos impactos nos ou decorrentes dos

reassentamentos de famílias, o correto uso e apropriação dos bens e serviços, o

desenvolvimento local e gestão social. Para o alcance desse feito, as equipes técnicas

responsáveis pelo trabalho social devem estar aptas a desenvolver ações

informativas, socioeducativas e psicopedagógicas aliadas a ações estruturantes5 a

partir de metodologias de intervenção social próprias a cada etapa dos trabalhos – do

diagnóstico, passando pela implementação até o pós-obra e a avaliação final –

permeando todo o processo com ações de monitoramento. Entretanto, para tamanho

desafio, não lhe são oferecidas condições logísticas, operacionais, institucionais e

instrucionais para sua realização resultando em projetos superficiais desenvolvidos

5 Ações voltadas à geração de trabalho e renda, à inclusão de gênero e ao desenvolvimento sócio-organizativo que resultem na mudança efetiva nas condições de vida das comunidades diretamente beneficiadas pelos programas. Essas ações, a partir da publicação da Portaria 21 do Ministério das Cidades, em janeiro de 2014, devem levar em consideração a macroárea do empreendimento.

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apenas como cumprimento de uma exigência protocolar deixando para trás um legado

que só reforça a fragilidade das políticas públicas.

Como parte integrante de uma política habitacional setorizada e fragmentada, os

projetos sociais não são pensados dentro de um horizonte de totalidade e

complementaridade que promova uma interface entre as esferas econômica, social e

política (PAZ; TABOADA, 2006). O resultado disso são ações dispersas que não se

consolidam como projeto estruturante voltado às demandas sociais e à promoção do

desenvolvimento socioeconômico e sócio-organizativo. O trabalho social, que poderia

ser o elemento articulador de uma intersetorialidade e interdisciplinaridade 6 que

contribuísse na promoção da interlocução das políticas públicas, se vê pouco vigoroso

e inoperante diante da precariedade das condições em que é realizado.

Dessa forma, o problema central da pesquisa residiu na fragilidade do trabalho social

nos programas de habitação de interesse social que, percebe-se, não vem sendo

efetivo no cumprimento de suas premissas e das diretrizes dos programas de provisão

habitacional. Essa não efetividade do trabalho social, resultante também da falta de

interesse e apoio político e logístico por parte do poder executivo local e da forma

como as intervenções são concebidas, planejadas e influenciadas pelas instituições

formais (PUTNAM, 2006), compromete sobremaneira a sustentabilidade dos

empreendimentos habitacionais voltados à população de baixa renda.

A partir dessa questão estabeleceu-se uma discussão em torno dos limites e

possibilidades do trabalho social na Política Nacional de Habitação de Interesse Social

com um olhar direcionado aos métodos e técnicas de intervenção social e de

gerenciamento dos projetos sociais nos programas de provisão habitacional para

população de baixa renda. Entende-se haver certa fragilidade nas ações voltadas à

realização de diagnósticos socioterritoriais e nas ações inerentes à gestão social e ao

desenvolvimento local que minimamente englobarão atividades socioeducativas e

informacionais, de mobilização e organização comunitárias, de geração de trabalho e

renda. Por sua vez, a gestão dos recursos do projeto e o processo de transição,

6 Interdisciplinaridade “[...] não apenas na sua faceta cognitiva - sensibilidade à complexidade, capacidade para

procurar mecanismos comuns, atenção a estruturas profundas que possam articular o que aparentemente não é articulável - mas também em termos de atitude - curiosidade, abertura de espírito, gosto pela colaboração, pela

cooperação, pelo trabalho em comum” (POMBO, OLGA, 2004).

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entendido como o momento da conclusão dos trabalhos, da saída da equipe da área

de intervenção e da entrega dos produtos da intervenção social às comunidades,

também se coloca como um ponto frágil desse processo.

Assim, constituiu-se como objetivo geral da pesquisa a análise das metodologias de

intervenção social e de gerenciamento de projetos adotadas pelos técnicos sociais na

proposição e execução dos projetos sociais a partir das orientações normativas do

MCidades relativas ao trabalho social nos Programas de HIS, tendo em vista o

desenvolvimento de contribuição técnica na área de gestão social voltada ao

desenvolvimento local. Para o desenvolvimento da pesquisa foram definidos os

seguintes objetivos específicos:

1. Analisar as orientações e premissas das normativas que regem o trabalho social

nas políticas de desenvolvimento urbano, notadamente no que concerne à HIS;

2. Investigar, descrever e analisar como o trabalho social vem sendo realizado pelos

técnicos sociais das prefeituras e pelos técnicos sociais credenciados7 pela Caixa

Econômica Federal para a prestação de serviços nas intervenções de

desenvolvimento urbano voltadas à HIS;

3. Identificar junto aos técnicos sociais vinculados às prefeituras e junto aos

credenciados da Caixa Econômica Federal as dificuldades na aplicação das

orientações contidas nas normativas em especial no que tange aos processos

participativos e de organização comunitária, buscando conhecer as metodologias

de intervenção social e de gerenciamento de projetos utilizadas na elaboração e

execução dos projetos;

4. Desenvolver um Guia de Orientações Metodológicas Para a Intervenção Social

como contribuição técnica na área de gestão social voltada à promoção do

desenvolvimento local..

7 Profissionais e empresas especializadas em coleta e análise de dados, elaboração e execução de projetos sociais

e planos de intervenção, apoio técnico e consultoria especializada, contratados pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL por meio de editais específicos regidos pela Lei 8666/93, conforme Edital de Credenciamento nº

1447/2014 - CPL/GILOG/BH da Caixa Econômica Federal.

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Cabe dizer que a relevância da pesquisa reside no fato de poder contribuir com as

discussões em torno das políticas públicas concernentes aos programas de

desenvolvimento urbano com foco na habitação de interesse social colocando o

citadino no centro dessa discussão. É possível dizer que, apesar do trabalho social

estar prescrito na regulamentação dos programas e ser inerente às questões urbanas,

muito pouco do que lhe é atribuído se implementou de fato nas intervenções até então

realizadas no país. Dada sua importância, é uma prática que necessita de

amadurecimento, profissionalização, reconhecimento, valorização e consolidação e

as instituições responsáveis pela gestão e implementação das políticas públicas, por

sua vez, precisam colocá-lo na pauta da sua governança.

É ainda importante ressaltar que o trabalho social nesses programas, que sempre

acabam por produzir grandes conjuntos habitacionais, sustenta-se na crença de que

a concessão da moradia pura e simplesmente não se configura como ação

emancipatória e de construção da cidadania. O direito à moradia está associado ao

direito e acesso à saúde, à educação, ao lazer, ao esporte, ao trabalho, à mobilidade,

à informação. Defende-se, portanto, que é preciso trazer o beneficiário para o centro

do processo de concepção e consolidação dos empreendimentos, promovendo ali,

nas comunidades, uma gestão social baseada na formação política dos indivíduos e

da coletividade para o despertar de uma nova consciência cidadã que leve à exata

compreensão dos papéis e atribuições de cada um na concepção e aplicação das

políticas públicas.

As informações apuradas a partir da pesquisa permitiram, não só confirmar certos

pressupostos, mas construir um produto técnico que, conjectura-se, possa contribuir

para a potencialização e efetividade das ações na consecução dos objetivos do

trabalho social como parte de uma política pública de habitação que deve ser, por

essência, intersetorial, interdisciplinar e ter como centro os indivíduos e as

comunidades atendidas.

Espera-se que a pesquisa realizada possa elucidar e ratificar as dimensões do

trabalho social no desenvolvimento urbano reforçando sua importância enquanto

instrumento capaz de promover a participação e a mobilização comunitária, a gestão

social e o desenvolvimento local. Empreendeu-se como resultado a produção de um

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guia prático aplicável às ações do trabalho social não necessariamente de forma

inovadora, mas de forma que os técnicos sociais possam vislumbrar mais facilmente

algumas aplicações práticas da teoria para a concretização das premissas dos

programas e do próprio trabalho social. Um contributo para a formação e qualificação

do trabalhador social que recebe o título de Guia de Orientações Metodológicas para

a prática social e que compõe o Capítulo 3 desta dissertação.

Por fim, acredita-se que a revisão bibliográfica, que constituirá o corpo teórico desta

pesquisa, e os relatos advindos da análise dos dados possam contribuir na ampliação

do debate e na disseminação das premissas e conceitos relacionados ao trabalho

social no desenvolvimento urbano ratificando sua importância como meio capaz de

promover a gestão social e o desenvolvimento local a partir da utilização de

metodologias adequadas de informação, comunicação e participação e abrindo novas

questões ao colóquio.

Ao oferecer, como resultado desta pesquisa, um suporte didático-metodológico

relacionado à perspectiva do gerenciamento de projetos e da intervenção social em

habitação, tornar-se-á possível contribuir para o trabalho dos profissionais

responsáveis pela elaboração e execução e acompanhamento de projetos sociais

facilitando-lhes a escolha das metodologias mais adequadas a cada situação ou etapa

das intervenções, contribuindo assim na promoção da eficácia, eficiência e efetividade

de suas ações.

Uma outra expectativa é a de que a pesquisa e o produto técnico dela resultante

possam permitir a percepção de novos caminhos para a realização do trabalho social

junto aos programas de HIS, dada a carência na disseminação de instrumentos,

métodos e materiais que melhor possam elucidar e incrementar a prática dos

profissionais do trabalho social que atuam na promoção do desenvolvimento urbano.

Portanto, a pesquisa tem a intenção de contribuir para a identificação e proposição

de metodologias apropriadas à realização de diagnósticos e implementação de

processos participativos que resultem no fortalecimento social, no desenvolvimento

local, no alcance dos objetivos dos programas, na sustentabilidade das intervenções.

E que essa sustentabilidade possa se traduzir na promoção e ampliação da cidadania,

na melhoria contínua e apropriação, pelos beneficiários dos bens e serviços

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produzidos e que findem na inclusão social e econômica das famílias atendidas e na

disseminação e assimilação de informações e conceitos que possam gerar

empoderamento social.

Do ponto de vista da produção de conhecimento, a pesquisa traz uma discussão em

torno da temática urbana no contexto da recente Política Nacional de Habitação de

Interesse Social fazendo uma abordagem dos conceitos inerentes ao trabalho social,

em especial das metodologias de intervenção social em programas de provisão

habitacional e de gerenciamento de projetos públicos aplicados ao desenvolvimento

socioeconômico e territorial.

O referencial teórico que embasa essa discussão traz autores como Henri Lefrebvre

(1997; 1999), Milton Santos (2000), Dirce Koga (2011), Ermínia Maricato (2001; 1987),

Raquel Rolnik (2000; 2002); Ana Fani Carlos ( 2012 ), debatendo a questão urbana;

Robert D. Putnam (2006), Maria da Gloria Gohn (2004), Marilene Maia (2005); apoiam

a discussão da gestão social e do desempenho institucional do poder público. Serge

Paugam (2004 ) traz para esta discussão um embasamento para abordagem da

questão da exclusão social. O tema do trabalho social vinculado ao desenvolvimento

urbano propriamente dito ainda é incipiente na literatura, mas as ponderações da

pesquisadora encontraram forte identificação com as reflexões de Maria do Carmo

Brant de Carvalho (2014).

Pela interface identificada, entendeu-se mais pertinente o enquadramento do presente

estudo na linha de pesquisa em Gestão Social e Desenvolvimento Local do Mestrado

Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de

Pós-Graduação do Centro Universitário UNA. Dessa forma, pela pertinência, torna-se

essencial, portanto, o direcionamento de algumas reflexões no sentido de definir as

escalas do desenvolvimento delimitando todos esses conceitos no contexto da cidade

por ser esse o cenário em que se insere a pesquisa..

Em decorrência das grandes transformações observadas nos modos de produção e

acumulação capitalista, os sentidos atribuídos ao desenvolvimento adquiriram novos

pressupostos conceituais exigindo que façamos a aproximação necessária ao

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presente debate que tem por contorno as comunidades atendidas pelos programas

de habitação de interesse social fulcro da premissa do desenvolvimento local.

Pensando que o desenvolvimento em qualquer de suas escalas acontece a partir das

relações de troca, sejam elas sociais, econômicas, culturais, torna-se essencial trazer

o citadino para o centro da discussão e pensar seus papéis enquanto agente propulsor

ou limitador do processo de desenvolvimento que se instaura a partir de uma

organização espacial caracterizada pelo bairro, a comunidade ou a cidade. E, pelo

exposto, considerando essa dimensão relacional existente no princípio do

desenvolvimento imprime-se como exigência uma discussão em torno do conceito de

gestão social. Todas essas abordagens serão feitas no primeiro capítulo desta

dissertação.

Essa prática, constituída pelo trabalho social, que tem ao mesmo tempo uma estreita

relação com a gestão social e com o desenvolvimento local adquire um profundo teor

de uma educação popular “que promova a conscientização a partir de uma leitura

crítica do mundo, tomando consciência dos problemas [...] no sentido não somente de

conhecer, mas de compreender, analisar criticamente, refletir [...] e transformá-lo”

(QUARESMA, 2012, p.188 ). Será por esse viés que se pensará a gestão social e o

desenvolvimento local no âmbito do presente estudo em interlocução com os

conceitos de governança e governabilidade como ingredientes essenciais para um

desempenho institucional generoso na efetividade das ações e políticas públicas.

A definição da metodologia da pesquisa levou em consideração o fato de que a

pesquisa nas Ciências Sociais lida diretamente com o indivíduo, a sociedade e todas

as suas implicações culturais, sociais, políticas, emocionais, econômicas, e, como tal,

acaba por ter “um substrato comum de identidade com o investigador, tornando-os

solidariamente imbricados e comprometidos” (DESLANDES; GOMES, MINAYO,

2012, p. 13).

As questões implícitas na pesquisa social comportam particularidades que dificilmente

se permitem quantificar constituindo, dessa forma, seu caráter “essencialmente

qualitativo” (DESLANDES; GOMES, MINAYO, 2012, p.14, grifo dos autores ), que

envolve o “universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos

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valores, das atitudes” (DESLANDES; GOMES, MINAYO, 2012, p. 21 ) numa relação

dinâmica e processual entre o mundo real e os sujeitos. A partir dessa relação e nas

observações e padrões encontrados nos dados levantados, o pesquisador desenvolve

conceitos, ideias e entendimentos e, intervindo na realidade, muda a si próprio e/ou

instiga a mudança no outro. Essa dinâmica fundamenta-se no método dialético e

constitui o arcabouço da abordagem qualitativa aqui adotada.

Portanto, a pesquisa, desvia-se da perspectiva anunciada pelo positivismo clássico,

inerente às ciências exatas e ao paradigma quantitativo, privilegiando assim a

percepção da ação de sujeitos estruturada de forma dinâmica e relacional e o contexto

social, jurídico, político-institucional, econômico e ambiental que envolve a questão

urbana. Por esta razão a pesquisadora valeu-se dos princípios da fenomenologia e da

dialética adotando o paradigma qualitativo. Essa temática será objeto de reflexão no

capítulo 2.

Entre os procedimentos de coleta de dados para a presente pesquisa incluiu-se a

revisão bibliográfica e a pesquisa documental em razão da natureza inter e

multidisciplinar que rege o campo de interesse e a amplitude do objeto da pesquisa,

considerando seu caráter institucional e sua relação com um programa do Governo

Federal de abrangência nacional. Nas investigações, procurou-se privilegiar

publicações dos últimos cinco anos que abordem os conceitos pertinentes à discussão

aqui proposta tais como trabalho social, cidadania, território, desenvolvimento local,

gestão social, participação, mobilização social, governança e governabilidade na

busca de reunir elementos que possam cercar tais conceitos da visão da

interdisciplinaridade e da intersetorialidade reconhecidamente essenciais nos projetos

de desenvolvimento.

Para o levantamento de dados empíricos foi utilizada a técnica de questionário

autoaplicado contendo questões abertas e fechadas o qual foi aplicado junto a 02

(dois) técnicos sociais da Prefeitura de Alfenas e 03 (três) da Prefeitura de Três

Pontas8, ambos os municípios localizados no Sul de Minas Gerais e com intervenções

em programas habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida, inserido na

8 Apêndice I

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PNHIS. O primeiro com empreendimentos na tipologia verticalizada, no formato de

condomínio, e o segundo com empreendimentos na tipologia horizontal, no formato

de loteamento. Outro modelo de questionário 9 foi aplicado também junto a 13

profissionais da área social, credenciados pela Caixa Econômica Federal para

prestação de serviços especializados em trabalho social, o que caracterizou uma

amostragem não probabilística intencional.

O universo desses técnicos constitui-se necessariamente, por exigência do Ministério

das Cidades, de psicólogos, pedagogos, sociólogos e assistentes sociais os quais

trabalham não só com os programas de habitação de interesse social, recorte do

objeto de pesquisa, mas com outros programas e outras ações incluindo aquelas

relacionadas ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com intervenções

em saneamento, regularização fundiária, reassentamento e remanejamento de

famílias. A partir desse universo, os sujeitos desta pesquisa foram os técnicos sociais

que já tiverem realizado, ou que realizam trabalho social em empreendimentos

habitacionais de interesse social no âmbito da PNH.

Buscou-se, junto aos sujeitos da pesquisa, identificar como aqueles profissionais

atuam como Responsáveis Técnicos (RT) na proposição e execução dos projetos

sociais e dos programas de habitação de interesse social. Sabe-se, entretanto, que

não é possível generalizar os resultados do inquérito a toda a população de técnicos

sociais, embora esse universo seja representativo, mas as informações ali contidas,

seguramente auxiliaram na consecução das análises realizadas.

Ciente de que todo o conhecimento gerado a partir da investigação não se consagrará

como verdade absoluta, infalível ou definitiva, coube a esta pesquisadora primar pela

compreensão de tudo o que buscou investigar, ainda que a explicação dos

fenômenos, dados e informações levantados não seja um princípio ou a primazia do

método qualitativo.

De acordo com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, F. (1998, p. 170)

Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um

9 Apêndice II

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processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não linear, que implica um trabalho [...] que se inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai [...] construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações [...].

Assim, considerando o caráter descritivo da pesquisa e a utilização de método

indutivo, característico da pesquisa qualitativa, a investigação não envolveu uma

coleta de dados voltada à comprovação de teorias, mas adotou procedimentos

interpretativos e exploratórios para uma melhor compreensão do tema apresentado.

Buscou-se estruturar uma investigação maior dos significados que cercam os erros e

acertos, limites e possibilidades do trabalho social no desenvolvimento urbano.

Como o contexto da pesquisa está diretamente relacionado com a área de atuação

profissional da pesquisadora, que, por conseguinte, já indaga, apreende, pressupõe,

se inquieta e muitas vezes constata algumas dimensões da análise no seu fazer

cotidiano de trabalho, é possível afirmar que, apesar das dificuldades inerentes a esse

tipo de pesquisa, essa análise foi desenvolvida durante toda a investigação por

“teorizações progressivas em processo interativo com a coleta de dados” (ALVES-

MAZZOTI A.J; GEWANDSZNAJDER, F. , 1998, p.171), em decurso contínuo e

permanente de reflexão para a compreensão.

O conteúdo que se apresenta aqui está estruturado em três capítulos, cada um

desenvolvido no formato de artigo, conforme determinação do colegiado do programa

de Pós de Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do

Centro Universitário UNA. O primeiro consiste do referencial teórico para a inserção e

discussão dos conceitos de território, governança e governabilidade, gestão social, e

desenvolvimento local; todos inerentes e essenciais à compreensão do objeto da

pesquisa e aprofundamento do tema.

Pela perspectiva educadora existente no trabalho social, ainda no primeiro capítulo

faz-se uma aproximação da práxis do trabalho social como processo de gestão

coletiva com a perspectiva da educação como ação política e transformadora proposta

por Paulo Freire. O capítulo apresenta também uma aproximação do trabalho social

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com as metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos indagando

sobre os limites e potencialidades do trabalho social como instrumento de mediação

entre aquilo que está prescrito nas normativas dos programas de habitação de

interesse social e o que efetivamente se materializa ou se espera materializar na

prática. Para contextualização dessa abordagem, por pertinência, percebeu-se

necessário introduzir algumas informações sobre o MCidades e a Política Nacional de

Habitação trazendo com tema central o trabalho

O segundo capítulo discute mais especificamente no trabalho social nos programas

de Habitação de Interesse Social e apresenta os relatos da pesquisa e procedimentos

adotados na coleta de dados. A análise das informações obtidas a partir do

questionário aplicado junto a profissionais do trabalho social, estruturado com

questões, abertas, fechadas e mistas, descortinou, portanto, a prática desses

profissionais nas intervenções de habitação de interesse social, suas percepções,

experiências e dificuldades.

As informações levantadas e apresentadas nesse capítulo embasam um debate em

torno das potencialidades e deficiências do trabalho social e permitem elucidar

algumas ações que, desejáveis, levariam a uma maior efetividade do trabalho social

a partir de metodologias de intervenção social e de gerenciamento de projetos

adequadas à natureza das intervenções em questão. O mais importante a considerar

é que as percepções e discussões trazidas nesse capítulo abrem caminho para novas

pesquisas e indagações que possam contribuir na consolidação do trabalho social

como um importante instrumento a ser colocado a serviço do desenvolvimento

socioterritorial.

O terceiro capítulo, resgatando parte do referencial teórico, traz uma síntese

conclusiva da pesquisa, abre caminho para novas pesquisas e indagações e nos leva,

na sequência, às considerações finais construindo assim uma reflexão acerca dos

limites e possibilidades do trabalho social. O capítulo encerra com a apresentação do

produto técnico constituído por um guia de orientações metodológicas e de

gerenciamento de projetos aplicável não só aos programas de provisão habitacional

para populações de baixa renda, mas a outras intervenções sociais com foco no

desenvolvimento, o qual tem por objetivo reunir em um só instrumento algumas

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orientações técnicas para a proposição e execução de projetos sociais na intenção de

facilitar o trabalho dos profissionais da área social. Espera-se, portanto, que a

aplicação do produto técnico não se restrinja apenas ao universo do recorte desta

pesquisa, mas estenda-se como orientação metodológica a intervenções sociais de

outras naturezas.

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CAPÍTULO 1

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL: o trabalho social como possibilidade de

gestão social

MITRE, Maristela Jorge1

ARAÚJO, Wânia Maria de2

RESUMO

A presente análise é parte integrante da dissertação de mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, realizado pelo Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA, e busca contribuir para o debate em torno da temática urbana e das metodologias de intervenção social nos programas voltados ao desenvolvimento socioterritorial, entre eles os de provisão habitacional. As abordagens e reflexões aqui trazidas serão desenvolvidas de forma a inserir o leitor no contexto da Política Nacional de Habitação de Interesse Social instituída pelo Ministério das Cidades, com recorte no Programa Minha Casa Minha Vida, e do Trabalho Social como parte integrante e essencial para a consecução de suas premissas. Pela pertinência em relação ao tema, conceitos como território, gestão social, participação governança e governabilidade e práxis social amarram a discussão que está referenciada, entre outros, em Santos (2010); Koga (2011); Putnam (2006); Maia (2005); Gohn (2004); Tenório (2005); Maricato (2011); Rolnik (2000; 2002); Carlos ( 2012 ); Carvalho (2014) e Paugam (2003). O referencial teórico incorpora ainda, nesse primeiro capítulo da dissertação, uma discussão em torno das dificuldades e potencialidades do trabalho social na promoção da participação e do desenvolvimento sócio territorial. Por tratar-se de pesquisa social com particularidades não quantificáveis toda discussão e análise levou em consideração a ação dinâmica e relacional dos sujeitos sob regência do método dialético. Para discussão do conteúdo deste artigo realizou-se revisão bibliográfica em torno dos conceitos e temas pertinentes e relativos ao trabalho social.

Palavras-chave: Trabalho Social; Habitação de Interesse Social. Gestão Social. Território. Desenvolvimento Urbano. Projeto Social.

ABSTRACT

The present analysis is part of a Master course dissertation in Social Management,

Education, and Local Development, carried out by the Post-graduation Program of

UNA University Centre, and aims to contribute to the debate around the urban issue

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and the social intervention methodologies in the programs regarding the social-

territorial development, among them the ones of housing provision. The approaches

and thoughts brought here will be developed in a way which will insert the reader in

the context of the Social Interest National Housing Policy by the Cities Ministry,

focusing on the Program “Minha Casa Minha Vida” (My House My Life), and the Social

Work as a component and essential part for the success of their premisses. For the

pertinence related to the theme, concepts as territory, social management, governance

and governability participation, and social práxis tie the discussion which is referenced,

among others, in Milton Santos (2010); Dirce koga (2011); Putnam (2006); Maia

(2005); Gohn (2004); Tenório (2005); Ermínia Maricato (2011); Carvalho (2014) e

Paugam (2003). The theoretical referencial also incorporates, in this first chapter of the

dissertation, a discussion around the difficulties and potentialities of social work in the

promotion of participation and the social-territorial development. Being a social

research with non-quantifiable particularities, all discussion and analysis, took into

consideration the dynamic and the relational action of the subjects under the rules of

the dialectic method. The data which served as baseline were taken from a

questionnaire containing open and closed questions, applied with professionals from

social work and through literature review and documentary research whose results and

analysis are described in the chapter 2 of this dissertation. For further discussion of

the paper's content, a literature review about the concepts and pertinent themes

related to social work was carried out

Key-words: Social Work; Social Housing Interest. Social Management. Territory.

Urban Development. Social Project.

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1 INTRODUÇÃO

O processo de produção e reprodução das cidades no Brasil vem desde sempre

reforçando as condições de vulnerabilidade 10 , exclusão social e segregação

socioespacial colocando a situação de pobreza num patamar que não apenas está

sustentado pela questão da renda, mas pela “impossibilidade de usufruir de bens e

serviços da sociedade e pela falta de acessos à cidade e a espaços de participação e

ao poder” (PAZ; TABOADA, 2006, p.2).

De acordo com Rolnik (2000, p. 12)

O quadro de contraposição entre uma minoria qualificada e uma maioria com condições urbanísticas precárias relaciona-se a todas as formas de injustiça social. Essa situação de exclusão é muito mais do que a expressão da desigualdade de renda e das desigualdades sociais: ela é agente de reprodução dessa desigualdade. Em uma cidade dividida entre a porção legal, rica e com infraestrutura e a ilegal, pobre e precária, a população que está em situação desfavorável acaba tendo muito pouco acesso a oportunidades de trabalho, cultura ou lazer. Simetricamente, as oportunidades de crescimento circulam nos meios daqueles que já vivem melhor, pois a sobreposição das diversas dimensões da exclusão incidindo sobre a mesma população fazem com que a permeabilidade entre as duas partes seja cada vez menor.

Essa relação tão perversa provoca tensões entre as classes que por um lado,

detentoras de condições de mobilidade e de apropriação econômica e social do

espaço, se cercam de meios e aparatos de segurança, e outros, destituídos, acabam

por ser relegadas ao que lhes sobra do espaço urbano, espalhando pela cidade

fenômenos como o da gentrificação que Hirata ( 2010 ) qualifica como “a substituição

de antigos moradores por outros de faixas mais altas de renda, que acompanha a

verticalização das construções” (HIRATA, 2010, p.67).

Guerra (2002) afirma que esse fenômeno da gentrificação e da “polarização social

crescente nas cidades” (GUERRA, 2002, p.108), além de obstaculizar as

possibilidades de acesso ao mercado de trabalho e consequetemente à “mobilidade

social ou profissional [...], traduzindo-se assim, em segregação residencial, cultural e

10 Sobre os conceitos de vulnerabilidade e pobreza ver Kowarick (2002); Cunha (2006); Paugam

(2003)

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simbólica”11 ( GUERRA, 2002, p.108 ), vem associado ao conceito de “relegação

urbana” ( GUERRA, 2002, p. 109-110 ) que Guerra diz traduzir-se

[...] pela degradação das relações sociais e das identidades colectivas. Esses espaços relegados 12 caracterizam-se por uma distância relativa face ao centro, o que acarreta para os seus habitantes uma constante «pendularidade casa-trabalho»,por outro lado, são espaços geralmente marcados por uma certa «desertificação cultural» e distantes da qualidade de vida que caracteriza o centro urbano13 ( GUERRA, 2002, p. 109-110 ).

Constituir espaços de vocalização e participação, criar condições de articulação de

políticas públicas, inovar em termos da capacidade de intervir na realidade, criar

mecanismos de governança e governabilidade investindo no desenvolvimento

institucional, na intersetorialidade e no fortalecimento das entidades representativas e

movimentos sociais constitui-se assim no arranjo minimamente competente para o

enfrentamento e mitigação das desigualdades sociais e de uso e apropriação do

espaço urbano que deve ser conjugado com a complementaridade das políticas.

Leva-se em consideração que a universalização das políticas públicas, a efetividade

de programas e ações, o bom uso dos espaços que constituem as cidades, a

valorização da cultura, pressupõem não somente o enfrentamento da ditadura do

mercado e o conflito de interesses, mas também, e tanto pela sua interligação, a

necessidade do desenvolvimento institucional dos governos municipais, responsáveis

na ponta pela operacionalização desses programas, políticas e ações, e a superação

do patrimonialismo, o clientelismo e a cultura da exceção e do favorecimento que se

perpetuam nas relações.

Acredita-se que, a partir da relação dialética da gestão social com a governabilidade,

que requer, provoca e é em si empoderamento e participação, abre-se espaço para

uma repactuação social por meio da qual os cidadãos possam creditar a si a

capacidade de transformar o caráter relacional, instrumental e burocrático presente

na forma de gerir e implementar as políticas públicas fazendo-se seus destinatários

11 Guerra ( 2002 ) cita Christ Hamnett tece importantes considerações, “La polarisation sociale: déconstruction d’un

concept chaotique?”, in Albert Martens e Monique Vervaeke (coords.), La Polarisation Sociale des Villes Européenes, Paris, Anthropos, 1997, pp. 111-123 para a busca de maior profundidade sobre esta questão 12 Cf. Jean Labbens, “Le quart monde des cités d’urgence”, in Serge Paugam, (dir.), L’Exclusion, l’État des Savoirs,

pp. 228-236 ( apud GUERRA, 2002 ). 13 Expressões de Isabel Guerra, “Viver na periferia”, in Sociedade e Território, n. 18, 1993 (apud GUERRA, 2002).

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naturais por direito em lugar da benesse que até agora só vem escamoteando o traço

“hierárquico-autoritário” presente nas concessões ( KOGA, 2011, p. 44).

Pelo exposto, considerando o contexto da discussão, apreende-se que a essência dos

programas de provisão habitacional no recorte da habitação de interesse social

necessita estar emoldurada no que Rolnik (2002) chama de “política urbana contra a

exclusão”, consolidando a premissa de que habitar vai muito além de ocupar um

espaço físico sob o solo. O habitar carrega em si o sentido da cultura, da interação,

do convívio, das relações sociais que se estabelecem no território enquanto lugar

social dotado de complexidade e multiplicidade e do exercício da cidadania, mas

também exige que esses lugares representem as centralidades necessárias ao existir

de qualquer cidadão.

O trabalho social de que tratamos nesse estudo traz em si um potencial agregador de

todas essas forças e elementos para imprimir complementaridade aos programas e

ações partindo do princípio de que não se poder atribuir exclusivamente às políticas e

aos governos a capacidade de minimizar os efeitos históricos da exclusão

socioterritorial. Entende-se que a intersetorialidade, a participação e a mobilização

social têm um papel complementar que o trabalho social é capaz de orquestrar.

Segundo Carvalho (2014, p.7),

[...] o trabalho social é a mediação necessária a toda política pública que se comprometa com a busca da equidade e enfrentamento das gritantes desigualdades sociais, mas também envolve uma reflexão sobre a gestão social com seus novos arranjos e especificidades próprios à condução da política pública em sociedades que são cada vez mais complexas.

Este artigo, portanto, resultante de pesquisa realizada no Mestrado Profissional do

Programa de Pós-Graduação em Gestão Social Educação e Desenvolvimento Local

do Centro Universitário UNA pretende provocar a continuidade desse debate trazendo

à luz uma discussão em torno do trabalho social14 concebido como um conjunto de

14 “[...] conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados

e participativos [...] compreendendo as dimensões: social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional do território” ( BRASIL, 2014 ) estruturado em projeto, cronograma e composição de custos específicos e realizados por profissionais com formação e experiência requerida, a ser implementado

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estratégias que se voltam à informação, participação e mobilização social e

desenvolvimento socioterritorial realizadas junto a famílias beneficiárias dos

programas habitacionais da Política Nacional de Habitação ( PNH ) do Governo

Federal instituída pelo Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social ( SNHIS )

operacionalizado pelo Ministério das Cidades ( MCidades ).

Portanto, o teorema que norteia a pesquisa estrutura-se em torno dos limites e

possibilidades desse trabalho social enquanto potencial instrumento de mediação

entre as premissas dos programas de habitação de interesse social, e do próprio

trabalho social, e o que efetivamente se materializa nos empreendimentos produto

das intervenções.

Entretanto, abstrai-se que o simples fato de estar normatizado e ser parte integrante

dos programas de provisão habitacional não garante ao trabalho social sua

concretude. Antes é preciso vencer todo arcabouço de dificuldades que enfrenta para

a consecução de suas premissas e objetivos entre as quais enumera-se a falta de

governança e governabilidade, ausência de espaços de vocalização, falta de inovação

metodológica nas intervenções sociais combinada com assistencialismo e

patrimonialismo e a frequência com que os projetos se apresentam precários e

incompatíveis com o porte da intervenção, com a realidade dinâmica e relacional como

campo de ação, com o perfil das famílias envolvidas e características socioterritoriais,

a falta de reconhecimento de sua importância, desinteresse dos beneficiários em

constituir-se parte, e, sobretudo, pela instabilidade administrativa frente à

transitoriedade dos governos e ausência de intersetorialidade.

O trabalho social de que tratamos é sistematizado por meio de instrumentos de

execução estruturados a partir de quatro eixos temáticos estabelecidos pela Portaria

21/2014 do Ministério das Cidades, quais sejam: Mobilização, Organização e

fortalecimento Social; Acompanhamento e Gestão da Intervenção; Educação

ambiental e Patrimonial e Desenvolvimento Socioeconômico (BRASIL, 2014).

junto ao público alvo dos programas geridos pelo Ministério das Cidades, contextualizado aqui nos programas de habitação de interesse social.

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Para debater sobre o assunto, fez-se essencial buscar um referencial teórico que

anunciasse conceitos como território, cidadania, governança e governabilidade, práxis

social, civismo e gestão social, todos imprescindíveis à compreensão do objeto da

pesquisa. Uma abordagem sobre o processo de constituição e implementação do

SNHIS, da PNH e do Programa Minha Casa Minha Vida como a principal bandeira da

política, abre o contexto do trabalho social como tema central da discussão.

1.1 A Política Nacional de Habitação de Interesse Social

A criação do Ministério das Cidades ( MCidades ) no primeiro mandato do governo

Lula, em 2003, representou para o país a institucionalização da política urbana e das

políticas setoriais de habitação e saneamento. Com a alçada de promover o

desenvolvimento urbano, o MCidades incorpora em suas ações a política de

subsídio15 à habitação popular e o compromisso de promover a articulação com as

diversas esferas de governo, com o setor privado e organizações não governamentais

na gestão das áreas de sua competência (BRASIL, 2010, p.28-29 ).

Para promover essa articulação e a mobilização para a discussão da questão urbana

no Brasil, o MCidades realizou, em parceria com a sociedade civil organizada, as

conferências municipais das cidades e, em outubro de 2003, foi realizada a

Conferência Nacional das Cidades, que, além de definir as diretrizes para a nova

Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNHU) e seus componentes setoriais,

elegeu o Conselho das Cidades (ConCidades), como instância de discussão das

questões relativas às cidades brasileiras (BRASIL, 2004).

Por intermédio da Lei 11.124, de 16 de Junho de 2005, e com o objetivo de se

consolidar a Política Nacional de Habitação (PNH), o MCidades instituiu o Fundo

Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS) e o Sistema Nacional de

Habitação de Interesse Social (SNHIS), regido pelo princípio constitucional da moradia

como direito e vetor de inclusão social e garantia de acesso à terra urbanizada e ao

15 Os subsídios, em caráter único e no formato de desconto aplicado às prestações, são concedidos às famílias, de forma pessoal e intransferível, e não ao imóvel. Tem o propósito de compatibilizar o custo de aquisição do imóvel à capacidade de renda da população mais pobre ( BRASIL, 2004).

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pleno desenvolvimento da função social da cidade e da propriedade. Priorizar o

atendimento habitacional para a população de menor renda é uma das diretrizes do

SNHIS.

Para enaltecer a força e a importância da mobilização social e da participação, que

integram o objeto da presente discussão, cumpre ressaltar que, desde a década de

1990, já havia uma proposta de política habitacional elaborada pelos movimentos

sociais e que deu origem ao FNHIS, o qual foi aprovado para atender às pressões que

na época resultaram em um projeto de lei de iniciativa popular entregue ao Congresso

Nacional naquele ano contendo mais de um milhão de assinaturas ( MARICATO,

2011).

Entre 2007 e 2008, como um desfecho das ações e desdobramento da PNH, o

MCidades preparou o Plano Nacional de Habitação (PlanHab), elaborado a partir de

estudos técnicos e consultoria contratada, levando em consideração o perfil do déficit

habitacional brasileiro, a demanda por moradia e a diversidade do território nacional.

O PlanHab foi objeto de amplo debate e pactuação com os diversos segmentos da

sociedade caracterizando-se, simultaneamente, como um plano estratégico de longo

prazo e ferramenta de planejamento das ações públicas e privadas de enfrentamento

das necessidades habitacionais do país ( BONDUKI; ROSSETTO; GHILARDI, 2006).

Garantir que os recursos públicos para moradia sejam destinados exclusivamente

para subsidiar a população de mais baixa renda compõe o objetivo principal do SNHIS

que estabelece também que o acesso à moradia seja assegurado por meio do FNHIS

de forma articulada entre as três esferas de Governo. O SNHIS constitui-se de um

sistema concebido para ser democrático e participativo e sustenta um modelo

descentralizado de gestão que convoca os entes federados a uma

corresponsabilidade na implementação da política de habitação de interesse social. A

gestão e o controle dos recursos do FNHIS são feitos pelo Conselho Gestor do FNHIS

(CGFNHIS).

Uma nova sistemática de acesso aos recursos do Orçamento Geral da União (OGU)

e do FNHIS foi instituída a partir da criação do SNHIS e a obtenção dos recursos

passou então a depender da adesão formal dos entes federados ao sistema e do

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cumprimento das atribuições firmadas em termo específico. Essa adesão constitui-se

em mecanismo que fundamenta a relação de parceria e integração da União com os

Estados, Distrito Federal e Municípios para viabilizar a descentralização das ações

inerentes à PNH, cuja estrutura configura uma interinstitucionalidade que teria sido

concebida para potencializar ações e recursos e compartilhar os compromissos

advindos das políticas públicas relativas ao desenvolvimento urbano tanto entre as

instâncias federativas quanto com a sociedade.

O Termo de Adesão assinado pelos Entes Federados estabelece os padrões de

reciprocidade e contrapartidas atribuídos às partes e inclui a obrigatoriedade de

constituição de Conselho e Fundo Local de Habitação de Interesse Social pelos

estados, Distrito Federal e Municípios e o compromisso de elaborarem, de forma

participativa, seus próprios Planos Locais de Habitação de Interesse Social para terem

acesso aos recursos do OGU e FNHIS (BRASIL, 2005).

Como ferramenta de planejamento, o PlanHab apresenta propostas operacionais que

devem ser implementadas no curto, médio e longo prazos de forma articulada com os

Planos Plurianuais (PPAs) e como plano estratégico define metas a serem alcançadas

até o ano de 2023 com revisões a cada quatro anos e avaliação de resultados e

análise de novos cenários e projeções (BRASIL, 2010). Por sua essência estratégica,

envolvendo diagnósticos, prognósticos, prospecção e planejamento, tal sistemática

requer o um engajamento da sociedade, principal interessada e alvo das ações e,

consequentemente, a consolidação e efetividade das instâncias de participação, que

devem ser permanentes, para que as demandas e ajustes necessários sejam

incluídos nas agendas e nas metas estabelecidas.

Tanto a PNH quanto o PlanHab foram resultantes de processos participativos

envolvendo os diversos segmentos da sociedade civil. Movimentos populares,

empresários, organizações não governamentais (ONGs), setor acadêmico, entidades

de classe, e poder público municipal e estadual foram mobilizados em torno das

discussões para construção do cenário habitacional brasileiro e proposição de um

plano que pudesse desenhar as formas de atendimento às demandas identificadas e

inspirar os governos municipais e estaduais na elaboração dos seus próprios planos.

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A PNH divide-se em Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS),

voltado à população com renda entre 0 e 5 salários mínimos, e o Sistema de Habitação

de Mercado, que atende principalmente às classes de renda entre 5 e 10 salários

mínimos ( BRASIL, 2011). A presente discussão está centrada no SNHIS.

1.1.1 Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS

Os Programas do SNHIS utilizam recursos originários do Fundo de Garantia por

Tempo de Serviços (FGTS), Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), Fundo de

Desenvolvimento Social (FDS), Orçamento Geral da União (OGU), Fundo de

Arrendamento Residencial (FAR) e Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social

(FNHIS) ( BRASIL, 2011). Os benefícios e subsídios concedidos a partir destes

recursos são inversamente proporcionais à capacidade de pagamento da família

beneficiária, assim, as prestações habitacionais são tanto menores quanto menor a

renda familiar caracterizando uma sistemática mais redistributiva e menos

assistencialista uma vez que o beneficiário é alçado à condição de participante e

corresponsável na provisão de sua moradia. Uma sistemática que supera os modelos

anteriores no sentido de substituir procedimentos paternalistas de cessões de uso e

doações por uma forma concebida para propiciar, ainda que de maneira simbólica, a

participação financeira do beneficiário na produção e aquisição de seu imóvel

residencial e o retorno financeiro aos cofres públicos na forma de prestações

subsidiadas pelo governo federal.

Para ter acesso aos recursos do FNHIS, estados e municípios devem atender a três

exigências regulamentares: ter firmado Termo de Adesão ao SNHIS; ter instituído o

Fundo Local de Habitação de Interesse Social com dotação orçamentária própria de

sua instância governamental; ter constituído seus conselhos estaduais e municipais

de habitação, respectivamente, garantindo ¼ dos assentos aos representantes dos

movimentos sociais, e ter elaborado, de forma participativa, seus Planos Municipais

de Habitação de Interesse Social ( BRASIL. Lei nº 11.124, 2005, Art.12 ). Ou seja, um

modelo de governança e um arranjo institucional que reproduz em âmbito municipal e

estadual um arcabouço criado no âmbito Federal para a gestão dos recursos e da

própria política e que representa um pacto firmado com as respectivas instâncias

governamentais.

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Os Conselhos Municipais de Habitação, apesar de terem sido constituídos de forma

compulsória, por exigência do SNHIS, para que os municípios pudessem fazer jus aos

recursos do FNHIS, foram concebidos para garantir integração com a sociedade e

deveriam, com ela, debater e aprovar as políticas, definir prioridades e critérios de

elegibilidade, seleção e enquadramento dos programas, das famílias e das áreas na

aplicação dos recursos financeiros originários da União, estados e municípios. Juntos,

SNHIS, FNHIS, ConCidades e conselhos municipais constituem uma estrutura criada

para dar ancoragem à política nacional de habitação no Brasil ( BRASIL,2012.) e

favorecer o planejamento das ações de urbanização, regularização e integração de

assentamentos precários e provisão habitacional.

Tal sistemática veio propor a efetivação de um novo paradigma na formulação e

implementação de políticas públicas baseado na criação de canais legítimos de

interlocução voltados à promoção de uma maior transparência e corresponsabilidade

dos entes federados e da sociedade civil no atendimento às demandas setoriais de

habitação, saneamento ambiental, infraestrutura, mobilidade e transporte coletivo,

equipamentos públicos e serviços, integrando a Política de habitação ao conceito de

desenvolvimento urbano integrado.

Desde a extinção do Banco Nacional da Habitação (BNH), em 1986, nenhum outro

mecanismo institucional de gestão que pudesse dar conta da enorme demanda

habitacional instalada havia sido implementado no país. Uma carência de políticas,

programas e ações que negligenciou ao longo dos anos os preceitos constitucionais

que consideram a habitação como direito do cidadão e a participação social como um

princípio da gestão democrática expresso no Artigo 1º da Constituição Federal e

previsto no Estatuto das Cidades, Lei 10.257/2001, em seu Artigo 43, Capítulo IV.

A PNH e o PLANHAB representam, portanto, um marco histórico, primeiramente por

terem o propósito de suprir o vazio deixado pelo BNH, segundo por constituir-se num

grande aparato voltado à consolidação de ações e alocação de recursos, envolvendo

as três esferas de governo e a iniciativa privada que encerra um modelo de

governança pública jamais visto; e terceiro por prescrever a participação popular no

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planejamento de ações contínuas e integradas, com metas de longo prazo e revisões

periódicas.

Ainda assim não se pode deixar de mencionar que a política habitacional, tanto aquela

adotada pelo BNH, quanto a que está vigente trazendo um arcabouço de gestão

compartilhada, privilegia o modelo capitalista de produção, promovendo empresas

ligadas ao financiamento, produção e venda de moradias (MARICATO, 1987 apud

HIRATA, F. 2009 )16 e definindo a localização dos empreendimentos.

Por outro lado, a amplitude e complexidade do PMCMV, concebido como a bandeira

da PNH, passou a exigir do gestor público local um papel de articulador e parceiro

essencial do Governo Federal, cabendo-lhe promover a interlocução entre os diversos

atores, a seleção das famílias beneficiárias e a implementação do trabalho social junto

ao público atendido. Esse talvez seja o grande diferencial trazido pela PNH que levou

os municípios a terem que assumir um protagonismo e uma corresponsabilidade na

aplicação dos recursos destinados à implementação do programa que, a princípio,

viabilizaria a participação e o controle social.

Entretanto, apesar dos avanços na construção de políticas voltadas ao

desenvolvimento urbano e de todos os dispositivos de governança e governabilidade17

previstos no SNHIS, “a implementação das políticas e do processo de participação

ainda está muito aquém dos anseios e apostas feitas pelos movimentos de moradia e

de reforma urbana” ( FERREIRA, 2012, p.9 ). Como nas palavras de Ferreira ( 2012,

p.9),

O principal programa habitacional do atual governo, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), por exemplo, sequer foi discutido no Conselho das Cidades antes do seu lançamento, em 2009. Teve como objetivo principal reaquecer o mercado imobiliário no Brasil – respondendo à crise mundial de 2008 – financiando diretamente empresas e construtoras para a construção para as classes de faixa de renda de 0 até 10 salários mínimos. É um programa dos governos Lula e Dilma que responde a uma demanda do empresariado da construção civil, desconsiderando o papel que os governos municipais e estaduais podem (e devem) ter na formulação e implementação de uma política habitacional mais ampla, que inclua produção de novas

16 MARICATO,E. Política Habitacional no Regime Militar. Petrópolis:Vozes, 1987. 17 Governabilidade referindo-se “as condições sistêmicas sob as quais se dá o exercício do poder, centrando-se, sobretudo, no processo de tomada de decisões; e governança compreendida como a capacidade de tomar e executar decisões, garantindo sua continuidade no tempo (...)” (Diniz, E. Crise, reforma do Estado e Governabilidade: Brasil, 1985-95. Rj. FGV, 2000, apud CARVALHO, 2014, p. 51).

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moradias, estoque de terras, urbanização, regularização fundiária e planejamento urbano ( FERREIRA, 2012, p.9 ).

Enquanto programa de habitação de interesse social, o PMCMV busca atender à

demanda habitacional do público formado por famílias com renda de até R$5.000,00,

priorizando inicialmente aquelas com renda de até R$1.600,00 em um leque de

estratégias para favorecer o acesso à moradia por meio de subsídio do Estado

associado ou não à concessão de crédito. Os recursos para o programa foram

divididos pelas regiões do país de acordo com o déficit habitacional de cada uma delas

e conforme regulamentação específica para municípios com população acima de 50

mil habitantes e entre 20 mil e 50 mil habitantes ( BRASIL. Lei 11.977, 2009 ).

Cabe ressaltar que o mecanismo de priorização de regiões de acordo com seu número

de habitantes presente no programa não caracteriza uma política redistributiva e de

universalização e não leva em consideração a “expressão territorial das

desigualdades” (KOGA, 2011, p. 24) assumindo, portanto, um caráter apenas paliativo

“de minorar as agudizações e não de universalizar um padrão de cidadania” (KOGA,

2011, p. 25) e caracterizando o direito como mérito. Para Koga,

neste caso, a orientação que é tomada como parâmetro para uma ação é a busca em localizar a agudização de situações e não as restrições à cidadania e à justiça social. A precariedade de condições de vida espalha-se no Brasil e está presente em todas as cidades [...]. Selecionar os municípios restringe direitos dos cidadãos ( KOGA, 2011, p. 25 ).

A elegibilidade das famílias no público alvo do programa é definida pela Portaria

595/2013, do MCidades e o controle, verificação, organização e seleção da demanda

são feitos por meio do CADÚNICO18, cujas informações são utilizadas durante o

processo de seleção das famílias19 para o levantamento de todos os integrantes do

18 CADÚNICO, ou Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, é um instrumento coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS) que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. Utilizado como base de informação e dados para obtenção de diagnóstico e seleção de beneficiários nos programas, incluindo o PMCMV ( BRASIL, 2010), o CADÚNICO funciona também como ferramenta de controle uma vez que nele ficam registrados os nomes dos beneficiários contemplados nos programas habitacionais do Governo Federal. 19 O MCidades estabeleceu três critérios nacionais para enquadramento de beneficiários no PMCMV: Mulheres

chefes de família, famílias residentes em áreas de risco e famílias que tenham em sua composição idosos e portadores de necessidades especiais. As entidades proponentes devem constituir outros três critérios locais que,

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grupo familiar ( BRASIL, 2010 ). O CADMUT, Cadastro de Mutuários, de abrangência

nacional, é utilizado para verificar o impeditivo da existência de financiamentos

habitacionais ativos ou inativos ou a titularidade de imóvel em nome dos proponentes.

Os subsídios do PMCMV são intransferíveis, válidos apenas para famílias que não

possuam outro imóvel em qualquer parte do território nacional. Sendo de ordem

pessoal, esses subsídios são concedidos uma única vez e, tendo recebido o subsídio,

o beneficiário contemplado não se beneficia novamente com recursos de mesma

natureza constituindo assim um mecanismo colocado a serviço da gestão do déficit

habitacional do país.

O que ocorre, entretanto, é que muitos beneficiários ao receberem o imóvel não o

destinam à sua própria moradia, seja pela localização dos empreendimentos, sempre

distante e precária, seja por não quererem abrir mão dos vínculos estabelecidos em

seus locais de origem. Muitos desses beneficiários, ainda no processo de inscrição,

já possuindo seu próprio imóvel, agem como “pequenos capitalistas” vendo no

programa a chance de promover sua “reserva patrimonial”. Dentre as várias situações

que denotam essa questão, observa-se casos em que os beneficiários ou mantêm o

imóvel vazio, desocupado, sujeito a invasões e depreciação, ou vendem, alugam ou

até mesmo cedem a terceiros e continuam morando em áreas de risco ou em situação

de vulnerabilidade social preterindo outras famílias que efetivamente necessitam da

moradia. Há também situações, em que esses próprios beneficiários se recolocam

nos cadastros da assistência social do município para obtenção de novo imóvel. Tais

comportamentos afetam diretamente a gestão do déficit habitacional no país.

Cabe aqui uma digressão para lembrar que o programa é voltado à população de

menor renda, mas o indivíduo ou a família20, para ser contemplada, deve atender

também a outros requisitos além da renda, inclusive não ter outro imóvel residencial

junto com os critérios nacionais, comporão o conjunto de critérios para seleção e hierarquização das famílias beneficiárias ( BRASIL, Lei 11.124/2005) 20 A regulamentação da PNH classifica a população destinatária do PMCMV como “beneficiários”. Seria interessante discutir a pertinência de tal nomeação, mas, de certa forma, teríamos que desviar o foco dessa discussão. Entretanto, faz-se oportuno ressaltar a carga de estigma que a nomenclatura pode carregar uma vez que define um “status social” vinculado a uma condição de desfavorecimento na estrutura econômica e social. Paugam (2003) aborda a questão da “concessão de assistência” e as rotulagens ( pobre, assistido”, fragilizado ) dela decorrentes.

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financiado em seu nome em qualquer parte do país ou quitado no município no qual

está se inscrevendo ao programa. Os beneficiários passam por processo de inscrição

e seleção a partir de diagnóstico socioeconômico realizado pelo poder público e essa

população indicada ao PMCMV, Faixa I, compõe um grupo social composto por muitas

pessoas em situação de vulnerabilidade social que pode ser comparada à condição

de pobreza.

A questão é que a pobreza21 tem um caráter relativo, e, apesar de não ser fulcro dessa

discussão, é importante ressaltar que podendo ser concebida, nesse caso, como uma

condição social composta por um “conjunto de pessoas cujo status social é definido

por instituições especializadas de ação social que assim a designam [...] e para quem

a legislação reconhece o direito de auxílio ou de assistência” (PAUGAM, 2003, p.55),

manifesta-se aí uma certa fragilidade ao processo de seleção e enquadramento dos

possíveis destinatários das ações, podendo resultar naquela situação acima exposta.

Assim, é preciso verificar “o sentido que os indivíduos atribuem às suas experiências

vividas” (PAUGAM, 2003, p.60 ) e questionar acerca da relação22 que se estabelece

entre os “beneficiários” e a instituição concessora e/ou os assistentes sociais que se

colocam na linha de frente dos diagnósticos. E aí, dado o caráter jurídico vinculado ao

direito ao benefício (PAUGAM, 2003 ) é possível que a população alvo se coloque na

condição de destinatário intrínseco ou que se estabeleça com aqueles profissionais

uma relação de dependência ( que pode ou não ser mútua ).

Após essa breve digressão acrescenta-se que os beneficiários de programas

habitacionais que agem daquela maneira, aceitando o rótulo, ou até mesmo

coadunando com o processo de rotulagem instituído, arriscam-se a permanecer na

condição de desfavorecidos que o próprio rótulo lhes confere, e de destituídos, pois o

agente financeiro, em cumprimento às determinações legais e contratuais deve,

nesses casos, promover a reintegração de posse do imóvel para que este possa ser

destinado a outra família. Aquele beneficiário que deu outra destinação ao imóvel que

não a de sua própria moradia, num programa de subsídio habitacional que é de

21 Ver em Serge Paugam. A Desqualificação social: ensaio sobre a nova pobreza. 2003. 22 Paugam (2003 ) faz um breve debate sobre essa questão com Jeanine Verdès-Leroux (J.Verdès-Leroux, Le Travail social, 1978).

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interesse social, se verá impossibilitado de se beneficiar novamente com programas

de mesma natureza dado o caráter único do subsídio instituído para programas de

HIS.

Apesar dos pontos críticos ressaltados, é possível afirmar que o PMCMV inova ao

articular mecanismos de transferências de recursos não onerosos, de diferentes

fontes (na forma de transferência de renda, como subsídio à família, e não ao imóvel),

priorizando o atendimento à parcela da população de baixa renda e à classe média (

BRASIL, 2010 ). Por outro lado padece por não incorporar os instrumentos de gestão

urbana23 previstos no Estatuto das Cidades, em especial no que tange ao combate à

segregação socioespacial, tornando frágil seu alcance social.

E é importante ressaltar que à medida que o programa incorpora uma sistemática de

subsídio único e intransferível, é preciso que sejam feitos diagnósticos despidos de

assistencialismo e imunes ao patrimonialismo e, já no processo de seleção de

beneficiários, sejam adotadas metodologias adequadas que privilegiem a informação

e a conscientização sobre a natureza do programa e a origem dos recursos, buscando

favorecer mais a justiça social e a gestão do déficit habitacional qualitativo e

quantitativo existente.

Um outro ponto que merece destaque reside no fato de que o modelo de subsídio

único e intransferível adotado no PMCMV exige do aparelho estatal a adoção de

mecanismos de controle integrados para a sistematização dos dados e eficiência na

gestão das informações. Uma eficiência que a máquina estatal já demonstrou ainda

não possuir24 e que se confirma nas várias matérias publicadas nos grandes veículos

de comunicação informando sobre os empreendimentos do Programa Minha Casa

23 De acordo com a Constituição Federal o principal instrumento da política de desenvolvimento e expansão

urbana devem ser os Planos Diretores. O Estatuto da Cidade, Lei no 10.257/2001, “dedica grande parte de seu

conteúdo aos instrumentos para a promoção da política urbana, em especial na esfera municipal, classificados, de acordo com sua natureza, em tributários, financeiros ou econômicos; jurídicos; administrativos e políticos. parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo; desapropriação com pagamento em títulos da dívida; e usucapião especial de imóvel urbano. direito de superfície; o direito de preempção (de preferência); a outorga onerosa do direito de construir e de alteração de uso; as operações urbanas consorciadas; a transferência do direito de construir; e o estudo de impacto de vizinhança” ( OLIVEIRA, 2001, p.7-10 ). 24 A exemplo da falta de eficiência e efetividade na aplicação da metodologia do IPTU Progressivo

previsto no Estatuto das Cidades ( Lei 10.257/2001) que prevê o aumento do imposto na medida da ociosidade e reserva de terras à especulação imobiliária nos centros urbanos.

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Minha vida dominados pelo crime organizado, invadidos e depreciados, muitas vezes

com a aquiescência dos próprios beneficiários do programa.

Assim, no que tange às políticas públicas, é necessário que o Estado possua a

capacidade necessária não só para pensá-las, mas para implementá-las e

acompanhar sua execução, monitorando dados e resultados. De acordo com

Filgueiras e Andrade é importante levar em consideração “a organização do governo

municipal para a execução das políticas sociais” (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p.

127 ). Segundo as autoras, no caso da provisão habitacional, da urbanização e em

outras ações, pesam sobre as administrações municipais “diversas exigências em

termos de habilidades políticas, recursos operacionais, diagnósticos das situações e

clareza dos propósitos das intervenções” (FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p. 127).

Citando Santos Jr25, as autoras afirmam que

O organograma da área social e a capacidade institucional dos órgãos gestores são alguns dos muitos fatores que podem incidir sobre o desempenho de programas nesta área. A frágil capacidade técnico-operacional das administrações municipais pode ser constatada pela deficiência na oferta de serviços públicos, pela precária informatização dos procedimentos administrativos, pelo reduzido número e baixa capacitação profissional dos quadros técnicos, pelos procedimentos orçamentários desvinculados da atividade de planejamento e não submetidos a controle social e pela administração escassamente dotada de instrumentos adequados para o planejamento a médio e longo prazo ( SANTOS JR, 2001, apud FILGUEIRAS; ANDRADE, 2010, p. 127 ).

Apesar de Filgueiras e Andrade ( 2010 ) estarem se referindo à questão urbana nas

regiões metropolitanas, as ponderações por elas apresentadas estendem-se a outras

cidades de menor porte que também padecem da falta de saneamento, da incidência

de ocupações irregulares e precárias, de problemas fundiários, da falta de capacidade

técnica, administrativa e logística, da falta de espaços de participação, e sobretudo,

de gestões “personificadas no gestor” demandando portanto que se estabeleça um

modelo de governança também para essas cidades compatível não só com as

matrizes das políticas, mas com a complexidade dos problemas, da sociedade e do

próprio Estado.

25 SANTOS Jr. Orlando Alves dos. Democracia e governo local: dilemas da reforma municipal no Brasil. RJ: Revan/Fase, 2001.

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É nesse contexto das cidades que se insere o trabalho social como elemento

integrante dos programas de desenvolvimento urbano, essencial no incremento da

relação Estado sociedade e potencializador da governabilidade e da gestão social. De

acordo com Carvalho (2014), esse trabalho social, que atravessou momentos de uma

“razão instrumental” baseada em controles técnicos, vem resgatando seu papel de

mediação no processo de implementação das políticas públicas e promotor de

processos participativos “associados à transformação e à emancipação social”

(CARVALHO, 2014, p. 18).

1.2 Trabalho Social na Habitação de Interesse Social como possibilidade de

gestão social

É possível afirmar que o trabalho social como componente obrigatório dos programas

de HIS e política de governo está presente desde que o extinto Banco Nacional de

Habitação (BNH) definiu sua Política Nacional de Habitação e Saneamento entre 1968

e 1986. As atividades eram desenvolvidas naquela época pelas Companhias de

Habitação (COHABs) com recursos da Taxa de Apoio Comunitário (TAC), uma taxa

criada em 1973 para manutenção dos conjuntos habitacionais e seus equipamentos

comunitários ou para pagamento de assistentes sociais que atuassem nos

empreendimentos. Os custos das ações eram embutidos no preço do imóvel

financiado ao mutuário (BRASIL, 2010).

A partir de 1994, na gestão do Presidente Itamar Franco, o Programa Habitar

introduziu o trabalho social como contrapartida dos estados e municípios, mas foi

somente a partir de 1999, na primeira gestão do Presidente Fernando Henrique

Cardoso, tendo como base o Programa Habitar Brasil BID (HBB), que o trabalho social

tornou-se uma exigência. Naquele momento, o Governo Federal passou a incluir os

recursos necessários para o desenvolvimento do trabalho social nos custos do

empreendimento, cujas verbas dependiam de emendas parlamentares, ( BRASIL,

2010 ).

A experiência adquirida com o HBB, em que se tinha como exigência a execução das

intervenções físicas de forma integrada à realização de um trabalho social junto às

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famílias beneficiárias, mostrou-se interessante e eficaz em relação ao modelo

anterior26 levando os órgãos gestores a normatizá-lo e estendê-lo, ainda que de forma

limitada, às ações de urbanização de favelas, inaugurando assim uma etapa de

regulamentação do trabalho social. Desde então o trabalho social, regido sob dois

grandes marcos regulatórios (a Instrução Normativa 050/2008 e a 008/2009) vem

ganhando respaldo normativo e, após a criação do MCidades, o número de programas

com exigência do trabalho social se ampliou (PAZ; TABOADA, 2006).

Conforme se pode verificar na regulamentação dos próprios programas de provisão

habitacional e saneamento do MCidades, em muitos desses programas, embora o

trabalho social fosse obrigatório, não havia destinação específica de recursos para a

sua realização, devendo ser realizado por meio de contrapartida de Estados e

Municípios. Depois, passou-se a estabelecer percentuais mínimos “desejáveis” para

a sua realização em alguns programas.

Hoje, com a Política Nacional de Habitação e o PAC, e expressivos volumes de

investimentos, são definidos percentuais mínimos obrigatórios para a realização do

trabalho social que passou a ser visto como componente essencial à sustentabilidade

das intervenções, ratificando assim a percepção de que “[...] as mediações produzidas

pelo trabalho social são indispensáveis para a apropriação e o usufruto efetivo dos

serviços e programas sociais priorizados pelas políticas públicas” (CARVALHO, 2014,

p.19).

Tendo como escopo um conjunto de atividades informativas, sócio-educativas e

estruturantes, o trabalho social vinculado aos programas de provisão habitacional para

famílias de baixa renda passa a ter um papel importante na promoção e consolidação

das premissas do desenvolvimento territorial e urbano. A partir de eixos específicos

de atuação, o trabalho social pressupõe a inserção dos beneficiários no processo

construtivo, a geração de trabalho e renda, a educação sanitária, ambiental e

patrimonial, a inclusão de gênero, a mobilização e organização comunitárias,

participação nos processos decisórios, comunicação e transparência e a gestão

26 Modelo tecnocrático e instrumental adotado na década de 1990, que sustentou a crença de que “a expansão da política social e seus serviços criavam por si próprios os insumos para a redução das desigualdades” e que sucedeu aquele adotado na década de 1960, em que a ênfase era colocada “nas metodologias de educação popular” sob influência das proposições de Paulo Freire (CARVALHO, 2014, p.18).

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condominial nos empreendimentos verticalizados. Seu objetivo maior passa a ser o

de contribuir na promoção da defesa dos direitos sociais, promover a participação e a

mobilização social, o acesso à cidade, aos serviços públicos e à informação.

Tais premissas inscrevem os programas habitacionais na política de desenvolvimento

urbano integrado e sustentável27, guarnecendo a concepção de uma intervenção que

promova o acesso das comunidades não só à habitação, mas aos serviços e

equipamentos públicos e seu desenvolvimento social, político e econômico. Prover

moradia passa a significar e demandar também inserção social das famílias, a

mobilização comunitária e a participação das famílias no processo, desde a sua

concepção até o pós-obra, a gestão democrática dos investimentos públicos, a

verificação e análise prévia da viabilidade social e ambiental das intervenções, a plena

apropriação dos bens e serviços disponibilizados, enfim, a implementação de ações

inovadoras voltadas à gestão social e ao desenvolvimento local28 que têm no trabalho

social seu instrumento de consolidação.

Não se pode ter a intenção de imputar a esse trabalho social o papel patronal de

promover a gestão social e o desenvolvimento socioterritorial ignorando as muitas

condicionantes que dificultam sua realização, os diversos agentes envolvidos na

consecução de suas premissas e o próprio Estado com suas atribuições,

complexidades e responsabilidades. Como assinala Koga (2011, p. 19), “o social

subjaz à economia” e nessa relação o trabalho social também não conquistou seu

lugar de reconhecimento na prática. Embora se tenha ampliado o número de

programas que o têm como componente obrigatório, sua execução ainda é realizada

sem o apoio institucional de que necessita. Mas, como um conjunto de atividades a

ser implementado em determinado território, o trabalho social adquire uma dimensão

macro que se potencializa, dada a pluralidade existente no território de sua ação,

catapultando-o a uma posição privilegiada na escala relacional que se volta à gestão

social.

27 Abrangendo o desenvolvimento econômico, social, cultural, político e institucional, a organização físico-territorial e a gestão ambiental ( FRANCO, 1998, p.8 ). A sustentabilidade nesse sentido seria alcançada pela articulação de todas essas esferas de ação no processo de mobilização e organização social com foco na melhoria contínua do empreendimento e seu entorno. 28 Local como um espaço de atuação de diferentes indivíduos e segmentos sociais na busca do desenvolvimento que implica na necessidade da mobilização e articulação de atores sociais ( FRANÇA, 2002, p.6-7 ).

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Koga afirma que “ o território [...] representa o chão do exercício da cidadania, pois

cidadania significa vida ativa no território, onde se concretizam as relações sociais, as

relações de vizinhança e solidariedade, as relações de poder [...] (KOGA, 2000, p. 33

). É nesse território que o trabalho social deve estabelecer seu lugar buscando agir a

partir do que nele acontece cotidianamente de forma coerente com a concepção de

território adotada por Milton Santos que o considera “utilizável para a análise social

[...] a partir do seu uso, a partir do momento em que o pensamos juntamente com

aqueles atores que dele se utilizam” ( SANTOS, 2000, apud KOGA, 2011, p. 35 ).

O trabalho social visto nessa perspectiva adquire uma outra envergadura que se volta

para a totalidade ( figura 1 ) e não apenas para uma dimensão focal, devendo levar

em consideração as relações, identidades, ações, vocações, saberes e contextos

locais, onde a participação deve imbuir-se do significado da construção coletiva “ao

intervir com novos e velhos princípios centrados no e com o território, na ação

integrada e intersetorial e no fortalecimento de aportes culturais e vínculos

sociorrelacionais” ( CARVALHO, 2014, p.22 ).

Figura 1

-

Fonte: CARVALHO, 2014, p.22.

Há, portanto, nesse trabalho social que se propõe uma aproximação com a práxis

social como “ação política do ser humano” que busca “a melhoria de suas condições

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de vida e, consequentemente, da sociedade, uma vez que compreende também a

dimensão coletiva” ( QUARESMA, 2012, p.185 ). O trabalho social inserido nesse

contexto e representado na figura 1 pressupõe e requer ação transformadora a partir

de um agir individual e/ou coletivo baseado na perspectiva da ação-reflexão-ação não

alienante “[...] na qual o homem faz história com sua práxis nela, e, com ela, cria-se

a si mesmo, produz-se a si mesmo” ( SÁNCHEZ VÁSQUEZ29, 2007, p. 404, apud

QUARESMA, 2012, p.185 ) e assim transforma o ambiente vivido e construído.

Adotando esses movimentos do processo pedagógico, o trabalho social incorpora um

“componente estratégico” nos programas de desenvolvimento urbano, tornando-se

capaz, a partir de metodologias adequadas, de “promover a retotalização da ação da

política pública [...]” (CARVALHO, 2014, p.21 ) e assim assumir o desafiante papel de

compartilhar e instigar competências para pensar, propor e executar projetos

societários consistentes e avaliados permanentemente com vistas à sua efetividade.

Tais premissas já haviam sido regulamentadas nas Instruções Normativas 050/2008

e 008/2009 que regulamentavam o trabalho social nos programas de desenvolvimento

urbano, e a Portaria 21/2014, instituída pelo MCidades em 22/01/2014, e instruída

pela Orientação Operacional 01/2014, vem ratificá-las principalmente na proposição

dos eixos Mobilização, Organização e Fortalecimento Social e Desenvolvimento

Socioeconômico e Territorial por meio dos quais propõe-se que o trabalho social

implemente processos de informação e organização sociocomunitária e ações

estruturantes que levem à autonomia e o protagonismo social, inserção das ações

desenvolvidas pelas organizações existentes na macroárea no escopo do projeto, a

constituição e a formalização de novas representações e novos canais de participação

e controle social.

Os demais eixos de atuação, igualmente importantes e obrigatórios previstos na

Portaria 21/2014 são: Acompanhamento e gestão social da intervenção; educação

ambiental e patrimonial e desenvolvimento socioeconômico e territorial. A ênfase a

ser dada em cada um deles deve respeitar o perfil dos beneficiários, as características

29 SÁNCHEZVÁSQUES, A. Filosofia da práxis. 1. Ed.Buenos Aires: consejo Latino-americano de Ciencias sociales – CLACSO; São Paulo; Expressão Popular, 2007.

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da área de intervenção e da macroárea30 indicadas no diagnóstico (BRASIL, 2014).

As ações que constituem o escopo do trabalho social devem ser implementados

antes, durante e após as obras, de acordo com um cronograma previamente

estabelecido e aprovado por meio de três instrumentos distintos de execução: o

Projeto Social Preliminar (PTS-P), o Projeto de Trabalho Social (PTS ) e o Plano de

Desenvolvimento Socioterritorial (PDST), cada um com escopos e objetivos

específicos e amarrados a marcos temporais próprios.

A Portaria 21 estabelece alguns mecanismos de governança que, não fosse sua

dificuldade de estruturação, mitigaria muitos problemas relativos ao processo de

construção e destinação das unidades habitacionais às famílias como as invasões,

ocupações irregulares, problemas construtivos, controle social. Vejamos: o PTS-P

deve ser apresentado pelo Ente Público e aprovado pela Instituição Financeira com

vistas à assinatura do convênio para realização do trabalho social em, no máximo, até

15% da obra. A partir desse momento o Ente Público inicia as ações relativas ao

cadastro, seleção e hierarquização das famílias para caracterização da demanda.

Nesse ínterim, período que tem duração de doze meses, ou até 65% da obra, a equipe

técnica vai realizando o diagnóstico socioeconômico das famílias, a caracterização da

macroárea e as atividades informativas iniciais e procede à elaboração e entrega do

PTS à instituição financeira. A partir daí, e durante oito meses, até a assinatura dos

contratos com os beneficiários, a equipe técnica implementa o PTS em cujo

cronograma devem constar os arranjos necessárias à viabilização da

intersetorialidade necessária à complementaridade de políticas e ações e a inserção

da macroárea no processo. Já o PDST é elaborado a partir da consolidação dos

arranjos intersetoriais voltados à integração territorial para o desenvolvimento

econômico e deve ser apresentado pelo Ente Público e aprovado pela Instituição

Financeira até no máximo o final da Fase de Obras e iniciado após a assinatura do

contrato ou a mudança das famílias para as unidades habitacionais tendo duração de

até doze meses.

30 Incluindo a poligonal dos empreendimentos compreende todo o território da intervenção e constitui-se de “região relativamente homogênea de vulnerabilidades e riscos sociais, que inclui uma ou mais áreas de intervenção física, próximas e seu entorno com o qual tal(ais) área(s) de intervenção interage(m) para acesso a serviços e equipamentos públicos, ao mercado de trabalho, a organizações sociais (comunitárias, ONGs e movimentos sociais)”. BRASIL, 2014, P. 54.

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Abnegado, para cumprir seu papel o trabalho social precisa ser diligente e fazer valer

seu grande poder de comunicar e transitar pelas disciplinas, áreas, setores,

instituições, lideranças, enfim, movimentar-se com inovação na direção de seu

objetivo maior: transformar a qualidade da democracia uma vez que, abrindo espaço

à participação de pessoas e instituições existentes no território, torna-se capaz de

contribuir na formação de comunidades políticas fortalecidas e aptas a fazer a

mediação entre sociedade e Estado na conquista e manutenção de direitos e na

materialização do acesso a bens e serviços, viabilizando a emancipação dos

indivíduos e a autonomia das comunidades. Nesse sentido, o trabalho social ganha

um atributo especial de também poder intervir na promoção da qualidade da

cidadania.

Considerando a transversalidade31 e complexidade das questões que aborda e dos

próprios fenômenos urbanos, o trabalho social demanda interdisciplinaridade e

intersetorialidade, capacidade técnica e de gestão criativa, além de estreita

interlocução entre as políticas públicas e as obras. Boa parte do que se espera do

trabalho social, tanto como processo, quanto como resultado, depende

essencialmente de um efetivo processo comunicativo e de participação com adoção

de ferramentas adequadas para se pensar, propor e executar os projetos a partir de

diagnósticos consistentes e preferencialmente participativos. Governança e

governabilidade, portanto, são mecanismos imprescindíveis aqui.

O trabalho social, privilegiando a informação e a formação, tem um enorme potencial

de promover, para além de um formalismo burocrático e de projetos prescritos, uma

mudança de consciência e a educação para a transformação do espaço de vivência

das pessoas que, beneficiárias de programas de habitação de interesse social, devem

transformar-se em sujeitos da ação capazes de impulsionar forças construtivas,

cívicas, modificadoras da área de intervenção e seu entorno estimulando de forma

contínua o desenvolvimento socioterritorial.

31 As ações que integram os eixos do trabalho social para a consolidação de suas premissas passam pela comunicação, informação, educação patrimonial, educação sanitária e ambiental, mobilização social, geração de trabalho e renda, inclusão de gênero, que encerram em si diversas atividades multidisciplinares e intersetoriais e uma multiplicidade de possibilidades de ação, atores e parcerias.

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Cabe aqui ressaltar, entretanto, que, “para que as pessoas se mobilizem e tomem

uma decisão de se engajarem em algum movimento, projeto ou ação, é preciso não

só que estas pessoas tenham carências e problemas em comum, mas que

compartilhem valores e visões de mundo semelhantes” (HENRIQUES; BRAGA;

MAFRA, 2004, p.4 ). Os problemas nesse sentido devem ser colocados “em

movimento e circulação na sociedade para o que é essencial estabelecer estratégias

comunicativas” com “um mínimo de informação”, trabalhando “o imaginário, emoções

e conhecimentos sobre a realidade das coisas [...], gerando a reflexão e o debate para

a mudança” (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.3-4).

Nesse quesito ressalte-se que “o grande desafio da comunicação32, ao mobilizar, é

tocar a emoção das pessoas, sem, contudo, manipulá-las, porque se assim se fizer,

ela será autoritária e imposta” (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.4 ). É preciso

planejá-la “no sentido de permitir a tomada de posições [...] de motivar, associar e

integrar os diversos públicos através da criação, da manutenção e do fortalecimento

dos vínculos [...] com o projeto instituído”. E assim, “o fazer comunicativo”

mais do que informar, tem por tarefa criar uma interação própria [...] através do compartilhamento de sentidos e de valores. Deseja-se, assim, que sejam fortalecidos os vínculos destes públicos com os movimentos e que sejam capazes de tomar iniciativas espontâneas de contribuir à causa (sic) dentro de suas especialidades e possibilidades HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2004, p.5 ).

Portanto, abona-se a conjectura de que a execução de um trabalho social consistente

e estruturante demanda a utilização de mecanismos de intervenção social e

participação que garantam legitimidade às ações e canais de comunicação eficientes,

disponibilizados de forma acessível e abrangente para garantir um mínimo de

vocalização, interlocução, alcance e transparência necessários e desejáveis em se

tratando, em especial, de ações envolvendo a aplicação de recursos públicos.

Acredita-se ser esta uma medida necessária à regulação e controle social.

Fomentar a participação de qualidade, precedida e permeada pelos passos

necessários ao entendimento de suas razões, entre eles a contínua construção, troca

32 Comunicação aqui entendida não apenas como repasse de informações, “mas também como uma troca de ideias, pensamentos ou sentimentos entre pessoas [...] tanto por meio da linguagem falada, quanto da escrita, assim como de sinais, gestos, atitudes, atos ou até mesmo a omissão dos mesmos” ( PFEIFFER, 2006, p.29 )

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e disseminação de informações, permite garantir a regulação e o controle social

permanentes, contribui na realização de um projeto democrático e um passo

significativo na direção da mobilização e engajamento daqueles para quem se pensa

as políticas e ações e da instituição de uma corresponsabilidade entre as partes

envolvidas. Afinal, “as prioridades contempladas pelas políticas públicas são

formuladas pelo Estado, mas nascem na sociedade civil” (ÁVILA, 2001, p.14). As

políticas públicas, das quais fazem parte o trabalho social,

dependem hoje de soluções democraticamente partilhadas entre Estado e sociedade. [...] Nenhuma política nasce do Estado. As prioridades em políticas públicas emergem na sociedade e só adentram a agenda do Estado quando se constituem em demanda vocalizada (CARVALHO, 2014, p.50).

Imbuído de uma dimensão pedagógica, o trabalho social tem a prerrogativa de

fomentar a gestão social que implica um processo de desenvolvimento societário

constituído de poder, conflito, aprendizagem (FISCHER, 2002, apud MAIA, 2005) e

transformação (DOWBOR, 1999 apud MAIA, 2005), sustentáculo da governança

pretendida. Como tal, dá seguimento a “processos de adesão de sujeitos sociais

implicados” e qualifica mecanismos “de tomada de decisão e de implantação de

políticas e programas sociais” (CARVALHO, 2014, p. 33). Nesse sentido, o trabalho

social constitui-se a base de um processo dialético de formação e consolidação de

uma cidadania deliberativa que dará ancoragem à própria noção de gestão social.

Citando Schön (1992; 2000), Alarcão (2003) e Gómez (1992), Silva e Araújo ( 2005 )

recuperam o conceito de reflexão a partir de Paulo Freire e apresentam um modelo

de gestão social e participação que insere quatro movimentos no processo

pedagógico implícito naquele conceito: “o conhecimento na ação; a reflexão na ação;

a reflexão sobre a ação; e a reflexão para a ação” (SILVA; ARAÚJO, 2005, p. 2) todos

atinentes ao trabalho social, tanto do ponto de vista do técnico que o implementa ou

das entidades proponentes, quanto do beneficiário e da comunidade atendida. Os

autores então explicam

O conhecimento na ação é o conjunto de saberes interiorizados (conceitos, teorias, crenças, valores, procedimentos), que são adquiridos através da experiência e da atividade intelectual, mobilizados de forma inconsciente e mecânica nas ações cotidianas [...]. A reflexão na ação é a reflexão desencadeada durante a realização da ação pedagógica, sobre o conhecimento que está implícito na ação. Ela é o melhor

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instrumento de aprendizagem [...], pois é no contato com a situação prática que [...] (se) adquire e constrói novas teorias, esquemas e conceitos, tornando-se um profissional flexível e aberto aos desafios impostos pela complexidade da interação com a prática. No entanto, a reflexão realizada sobre a ação e para a ação é de fundamental importância, pois elas podem ser utilizadas como estratégias para potencializar a reflexão na ação. A reflexão sobre a ação é a reflexão desencadeada após a realização da ação pedagógica, sobre essa ação e o conhecimento implícito nessa ação. Neste momento, também poderá ser realizada a reflexão sobre a reflexão realizada durante a ação. A reflexão para a ação é a reflexão desencadeada antes da realização da ação pedagógica, através da tomada de decisões no momento do planejamento da ação que será desenvolvida (SILVA; ARAÚJO, 2005, p.2).

Defende-se essa aproximação com Paulo Freire uma vez que no trabalho social prevê

a implementação de ações que promovam o desenvolvimento socioterritorial de longo

prazo a partir da educação, da capacitação, da mobilização social, da participação e

isso se torna possível somente se essas ações puderem pressupor uma “educação

que promova a conscientização a partir da leitura crítica do mundo” (QUARESMA,

2012, p. 188 ) por meio da qual a ação não seja “puramente técnica” mas contribua

para uma formação política ( idem ). A autora complementa esse pressuposto dizendo

À educação, na perspectiva da práxis social, cabe a tarefa de construir situações de aprendizagem nas quais os interesses, as visões de mundo, os desejos, as experiências individuais e coletivas de participação e autogestão, os conflitos ideológicos surjam discutidos, debatidos, tendo em vista essa

percepção crítica da realidade ( QUARESMA, 2012, p. 189 )

As intervenções no desenvolvimento urbano são potencialmente favoráveis à

apropriação do local como espaço de “encontro das ações do Estado e da sociedade”

[...] e ao mesmo tempo “alvo (grifo do autor) socioterritorial” dessas ações ( FRANCO,

1998, p.7 ), que demandam uma articulação entre o social, o político e o econômico

na promoção do desenvolvimento que se quer local. Defende-se, portanto, o caráter

mobilizador, socializador, mediador do trabalho social, pois é no território que se

concentram os problemas, mas é também no território que residem “as energias e

forças sociais da comunidade, constituindo o poder local [...]” (GOHN, 2004, p 24).

Segundo Gohn (2004, p.24)

no local onde ocorrem as experiências, ele” (o poder local) “é a fonte do verdadeiro capital social, aquele que nasce e se alimenta da solidariedade como valor humano. O local gera capital social quando gera autoconfiança nos indivíduos de uma localidade, para que superem suas dificuldades. Gera,

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junto com a solidariedade, coesão social, forças emancipatórias, fontes para mudanças e transformação social.

Assim, para um trabalho social consistente, estruturante e desafiador, que faça

cumprir as diretrizes das normativas e promova o desenvolvimento local e a gestão

social, é preciso criar competências locais, instituir metodologias de proposição,

execução e monitoramento apropriadas. Os profissionais envolvidos em tais ações

necessitam de capacitação para gerir processos, pessoas e recursos e buscar

entender quais são os produtos que, construídos a partir de e junto com as

comunidades atendidas, lideranças, conselhos e entidades representativas, devem

ser apresentados aos agentes promotores e gestores dos programas e aos que

residem na área de intervenção e seu entorno.

Por ser recente sua inscrição no patamar das ações inerentes às intervenções

urbanas, o trabalho social ainda requer profissionalização e necessita de

metodologias específicas, adequadas às realidades encontradas. Os profissionais

que nele atuam precisam conhecer melhor suas atribuições e funções e estar mais

bem preparados para irem além da ação assistencial e da burocrática tarefa de

favorecer a abertura e manutenção dos canteiros de obras e a facilitação do trabalho

dos agentes executores dos empreendimentos e das construtoras.

As deficiências do trabalho social decorrem também da fragilidade dos processos

participativos, pois, num país de tenra democracia, as formas e canais de participação

ainda estão sendo edificados e os instrumentos de controle social33 persistem em se

manter precários e conflitantes na perspectiva da vigilância social sobre as ações do

Estado na implementação das políticas públicas e na defesa dos interesses das

camadas menos favorecidas da sociedade.

Nesse sentido, as intervenções sociais no âmbito dos programas habitacionais devem

se desfazer do modelo tutelar que objetiva somente a informação unidirecional

constituída para satisfazer às formalidades e preceitos normativos e imbuir-se de

33 Atente-se para a ambiguidade do significado de “Controle social” no sentido do controle do Estado sobre a sociedade na medida do atendimento a algumas de suas demandas e da sociedade sobre o Estado. A perspectiva utilizada aqui considera a capacidade da sociedade civil tem de interferir na gestão pública (CORREIA, M.V.C, 2009)

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estruturas interacionais inovadoras que motivem as interlocuções, a formação política

e o protagonismo social para que, efetivamente, se processe mudanças no contexto

socioterritorial a partir das pessoas. Segundo Carvalho ( 2014 ), “nenhuma mudança

ocorre se não querida e apropriada” (CARVALHO, 2014, p. 176).

Despertar nas pessoas e grupos beneficiários as aptidões de pertencer e apropriar-se

de espaços constituídos, provocar nos indivíduos a disposição para fortalecer

identidades a partir de atitudes mentais construtivas que se coloquem a serviço da

coletividade, é algo que requer dos profissionais responsáveis pelos projetos de

trabalho social certas habilidades específicas para a percepção, adoção e condução

de metodologias apropriadas. Como assinala Carvalho (2014), tais metodologias

“devem identificar e construir oportunidades que permitam à população processar

mudanças desde dentro” ( CARVALHO, 2014, p. 176). Carvalho (2014, p. 170) ainda

afirma que as “metodologias de trabalho social são constructos pensados a partir de

intencionalidades, conhecimentos e experiências”. Na intervenção social, a

efetividade das ações depende das metodologias adotadas pois são elas que,

“sustentadas por um quadro referencial constituído de aportes teóricos e da

experiência acumulada” garantem o “ordenamento da ação” que se quer exitosa.

Não há como prescrever a melhor metodologia para o trabalho social que se vincula

aos programas habitacionais, pois são programas implementados em distintas e

complexas realidades e destinados a territórios dotados de uma dinâmica própria que

incorpora ao mesmo tempo “totalidades e particularidades” que exigem “um olhar

dialógico entre o todo e as partes, entre o singular e o coletivo” (CARVALHO, 2014,

p. 173). Para pensá-la é preciso considerar o contexto em que irá se inserir tendo em

mente que um “programa social é sempre sociorrelacional” (CARVALHO, 2014, p.

172).

Os Projetos de Trabalho Social (PTS) desenvolvidos nos empreendimentos de

habitação de interesse social são direcionados a territórios determinados envolvendo

não somente as comunidades diretamente beneficiárias, mas também o seu entorno,

tratado pela Portaria 21/2014 como macroárea, e, de forma indireta, contemplam a

sociedade como um todo. Garantir a apropriação e o bom uso dos bens e serviços

disponibilizados, despertar nas pessoas os sentidos de pertencimento e preparar os

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beneficiários para dinamização e a melhoria contínua do território devem ser a

essência das ações dos projetos de trabalho social.

O êxito desses projetos demanda modos de organizar a alocação dos recursos em

um cronograma físico-financeiro que leve em consideração todas as etapas que

envolvem a proposição e execução de um conjunto de atividades, desde o

planejamento, na fase pré-contratação, até o pós-entrega dos produtos aos

beneficiários e usuários finais. O PDST dever representar a possibilidade de deixar na

comunidade a perspectiva de continuidade da intervenção por outras entidades

presentes na macroárea. Num processo de avaliação e monitoramento constantes, é

preciso verificar ao longo de toda a sua execução a necessidade de redirecionar

ações.

A elaboração e execução de projetos de trabalho social requer dos profissionais da

área social capacidade técnica para a definição e a aplicação de metodologias

apropriadas às necessidades e objetivos dos projetos para a garantia da efetividade

e eficácia das ações, mas requer também a sensibilidade necessária para conduzir o

processo de apreensão da realidade. Pressupõe, portanto, uma atuação técnica ao

mesmo tempo sistemática e flexível que dê conta de todas as variáveis relevantes

contidas num projeto de intervenção, que requer habilidades de gestão e de

gerenciamento de Projetos34.

No trabalho social os projetos dispensam padrões e receitas, não são estanques nem

engessados. Devem se valer da própria riqueza da estrutura social e territorial e da

própria dinâmica que nela se encerra, mas isso não isenta o trabalho social e as

metodologias eleitas em sua realização de métodos de planejamento e

gerenciamento, pois o trabalho social, de acordo com Carvalho (2014, p. 180),

[...] consolida-se como uma ação intencionada com base em diretrizes teóricas e metodológicas, que devem se materializar num ordenamento dos processos de trabalho no contexto da operação das políticas sociais. Isto quer dizer que as ações de diagnóstico, planejamento e avaliação, próprias do ciclo da gestão, também permeiam o cotidiano do trabalho social. A intervenção requer o processo sistemático de leitura e análise da realidade,

34 Conforme Pfeiffer (2005), o termo “gerenciamento” aplicado a projetos está relacionado ao nível operacional relativo ao planejamento, organização e implementação. Diferente do termo “gestão” que tende a assumir uma conotação mais política, voltada mais para o nível estratégico e institucional.

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da conjuntura e da própria intervenção no âmbito dos programas e serviços sociais.

Dessa forma, o gerenciamento e a gestão de um projeto aplicado ao trabalho social

no desenvolvimento urbano deve levar em consideração os sujeitos e suas demandas

priorizando dessa forma não o objetivo final do projeto e as mudanças que irão se

consolidar, mas o processo de construção dessa mudança e as deliberações dela

decorrentes que se quer coletivas e compartilhadas. Gerenciar um projeto social,

portanto, requer que se considere a heterogeneidade presente na coletividade, a

dialogicidade e, consequentemente, a produção e a socialização de saberes como

processo permanente (MACHADO, 2004 apud AFONSO, 2010).

O ato de gerenciar projetos sociais, de certa forma, se assemelha ao ato de gerenciar

projetos de desenvolvimento 35 pois implica aplicar “conhecimento, habilidades,

ferramentas e técnicas às atividades do projeto a fim de atender aos seus requisitos”

(PMI, 2004 apud PFEIFFER, 2005, p.3136) e assim pressupõe a participação não só

dos beneficiários diretos e indiretos, mas de todas as partes interessadas,

antecipando situações futuras desejadas, definindo os caminhos para alcançá-las e

delimitando “o quê compartilhar e de que forma” (PFEIFFER, 2005, p.31). Antever as

áreas implicadas nas ações propostas e definir os mecanismos que viabilizarão a

inserção dessas áreas no processo de implementação do projeto é fundamental para

o êxito dos propósitos. Garantir um modelo de governança a partir da

intersetorialidade, da interlocução entre as áreas, do diálogo aberto, da troca entre os

saberes constituídos, da interdisciplinaridade, é condição essencial na proposição e

implementação de projetos sociais.

O modo de trabalhar e gerenciar os projetos sociais influencia significativamente

nesse processo de construção coletiva e interdisciplinar e impacta de maneira direta

nos resultados pretendidos, e, nesse quesito, é preciso levar em conta a articulação

de conceitos como identidade, comunicação, representações sociais, atitudes,

35“ Voltados à mudança de uma situação social [...]. Processo de transição de uma situação atual, caracterizada pela existência de problemas [...], para uma situação futura, melhorada [...]. Se o projeto pretende alavancar a transição, não só com a instalação de bens e serviços, mas também procurando a participação dos envolvidos, ele pode ser considerado um Projeto de Desenvolvimento” ( PFEIFFER, 2005, p. 19). 36 PMI (Project Management Institute (2004): Um Guia do Conjunto de Conhecimentos de Gerenciamento de Projetos.

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vínculos, grupos, instituições, poder, (AFONSO, 2010), controle social. A condução

dos projetos deve ser feita na direção de uma execução responsável, que valorize o

processo como premissa não apenas do resultado imediato, mas de um legado

consistente e duradouro que seja resultante de uma dimensão ético-política intrínseca.

Como menciona Cury (2001, p. 38)

A dimensão técnica – maior competência na busca de conteúdos e de estratégias que nos permitam aferir resultados eficientes e eficazes – não é suficiente. Existe uma outra dimensão, a ético-política, que importa ressaltar, a qual organiza e sustenta esse processo, delimita-o em seu sentido e em seus fins, pois atuar na esfera pública, coletiva e social exige, antes de mais nada, um compromisso com a efetividade e, para isso, é preciso que tenhamos uma visão crítica que questione, a todo momento, o sentido desse nosso agir.

É imprescindível conhecer a relação do projeto com a entidade proponente e definir a

responsabilidade técnica para sua implementação. A garantia de execução e êxito,

entretanto, é assegurada também por outras variáveis igualmente importantes:

objetivos bem definidos, claros e exequíveis, abrangência ou escopo coerente com as

limitações do projeto, planejamento realista e bom dimensionamento dos recursos

(PFEIFFER, 2005), a interação entre os sujeitos, a nomeação de facilitadores

constituídos do próprio grupo, a instituição de canais permanentes de informação e

comunicação, a construção de diagnósticos participativos e interativos.

Assim, gerenciar projetos, no contexto das políticas públicas, pressupõe desconstruir

as relações hierárquicas em favor da participação horizontalizada. Uma

coparticipação que leve os sujeitos a pensar e agir em suas próprias demandas

(AFONSO, 2010). Pressupõe, além do que já foi dito, a preparação das comunidades

beneficiárias para a fase do desligamento da equipe técnica para que, imbuídos do

espírito de pertencimento, coletividade e solidariedade, pressupostamente

desenvolvido pelas metodologias de intervenção no trabalho social, possam se fazer

representar e, não só trabalhar pela melhoria contínua, mas demandar aos gestores

dos programas, em qualquer instância governamental o incremento da área de

intervenção e do seu entorno para a constituição de centralidades e consolidação de

seus vínculos.

Parte-se da premissa de que os programas de provisão habitacional não são capazes

de promover emancipação e inclusão social pela tão somente disponibilização de

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moradia sem que com ela estejam vinculadas políticas de inserção socioterritorial do

público favorecido. O trabalho social então, constituindo-se como parte integrante dos

programas habitacionais, assume uma dimensão estratégica de promoção da

“retotalização da ação ” ( CARVALHO, 2014, p. 169) e articulação da intervenção física

com uma intervenção social de caráter sociopedagógico que se quer dialógico e

mediador ( CARVALHO, 2014, p. 169 ).

Pelo exposto, considerando o longo caminho a percorrer na direção da consolidação

do trabalho social como mediador nas implementação das políticas públicas, o

presente estudo propõe como produto técnico um guia de orientações metodológicas

para a atividade profissional dos técnicos responsáveis pelo trabalho social nas

intervenções do desenvolvimento urbano sem que se tenha o propósito de engessar

a ação, mas na intenção de facilitar a prática e contribuir com o tão necessário

incremento da capacidade técnica para a conquista de maior efetividade dos projetos

sociais.

1.3 Gestão social e Trabalho Social

De acordo com Ávila (2001), “a gestão social é em realidade, a gestão das demandas

e necessidades dos cidadãos” ( ÁVILA, 2001, p. 14 ), e como tal impõe às populações

o desafio de serem protagonistas na construção de seus próprios territórios pois as

políticas, programas e projetos virão em resposta a essas demandas que

“reconhecidas como legítimas” ( ÁVILA, 2001, p.14 ) passam a se constituir em direito

fundamentando, por sua vez, as políticas públicas ( ÁVILA, 2001).

A gestão social impõe ao Estado o desafio e a condição de se estruturar para não só

atender às necessidades da sociedade, mas de participar de forma ativa do processo

de identificação e organização das demandas e contendas sociais. Na gestão social

cabe ainda o planejamento das ações públicas necessárias à universalização das

políticas sociais em conjunto com os demais atores e partes interessadas, rompendo

de vez com seu modelo anacrônico de se aparelhar para se enclausurar na máquina

burocrática e ineficiente.

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O princípio da gestão social, assim como da governança e governabilidade, permite

aos atores repensar a “concepção do exercício do poder”. Como processo sinérgico e

intersetorial, demanda “capacidade de mediação entre opostos, conciliando

conhecimentos, ética e efetividade” (ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ) num processo

contínuo e dialético de compartilhamento do agir por meio do qual a técnica e o

conhecimento tácito (ou “poder político da população”) ( ROCHA; SANTOS, 2012, p.

79 ) retroalimentam os saberes, habilidades e potencialidades locais. Imbuído de tal

princípio a gestão social “rompe o hiato entre a técnica e a política” (PAES DE

PAULA37, 2005, p. 46, apud ( ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ).

De acordo com Rocha; Santos (2012) os processos de gestão assim instituídos

“objetivam a consolidação de um projeto político societário” por meio do qual “a

democracia e a participação cidadã ativa são exercidas dialeticamente por todos os

sujeitos envolvidos” ( ROCHA; SANTOS, 2012, p. 79 ) e no qual o gestor passa a ser

“[...] um mediador entre pessoas (dimensão individual), coletivos (dimensão relacional)

e interorganizacional [...]” ( FISCHER38, 2006, p.22, apud ROCHA; SANTOS, 2012, p.

79 ). Mais do que uma “estratégia administrativa”, a gestão social é uma ação política

contra-hegemônica frente às formas tradicionais de gestão.

Entretanto, promover a gestão social em estruturas complexas de Estado e sociedade,

emoldurados por profundos e históricos problemas sociais é naturalmente difícil

quando em sua dimensão territorial novos atores emergem com seus interesses

particulares. Essas políticas, tratadas sob o paradigma da benesse, da concessão,

“como dotações exclusivas do Estado [...] e, portanto, dissociadas do plano de direitos

subjetivos de seus destinatários” só agravam o processo de exclusão social ( PIRES,

2010, p. 186 ).

Tais circunstâncias demonstram a existência de uma sociedade segmentada em seus

interesses dificultando a construção e o fortalecimento das políticas públicas, a

universalização de direitos, a oferta democrática de serviços e a formação de

37 PAES DE PAULA, A.P.Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão social. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 45, n. 1, p. 36-49, jan./mar. 2005. 38 FISHCER, T.; MELO, V.P. Programa de desenvolvimento e gestão social: uma construção coletiva. In: FISHCER,T. et al.( Org). Gestão do desenvolvimento territorial e residência social: casos para ensino. Salvador: EDUFBA, CIAGS/UFBA, 2006. P. 13-41.

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“comunidades cívicas”39 . Para ajustar essa engrenagem, Estado, sociedade civil,

iniciativa privada e mercado devem se reordenar e buscar pontos de convergência

para um trabalho conjunto na construção da cidadania e fortalecimento das ações que

se destinem ao bem coletivo. Boschi (1999), em consonância com o que diz Putnam,

afirma

Práticas institucionalizadas de ‘bons governos’ são geralmente identificadas com o estabelecimento de relações sociais horizontais que tenderiam a fortalecer a sociedade civil frente ao Estado. [...]. Relações verticais, assimétricas e hierárquicas dariam lugar à instauração de práticas autoritárias e de relações sociais predatórias, por sua vez impeditivas da geração de políticas conducentes ao desenvolvimento. [...] com a consequente utilização de bens públicos como moeda de troca para se auferirem benefícios privados ( BOSCHI, 1999, p. 656 )

Carvalho (2014) complementa essas colocações dizendo que a ação pública para ser

efetiva deve ser sinérgica e não setorial, em razão, inclusive, da heterogeneidade e

complexidade dos fenômenos sociais, demandando para tal o “ amadurecimento das

instituições” (SILVA, 2012, p. 22-23). Segundo Carvalho (2014, p. 53)

fortalecer a gestão compartilhada pressupõe consolidar um novo padrão de articulação e complementaridade no qual a heterogeneidade de grupos sociais derive na construção de um novo compromisso social, engajando a todos de forma democrática, participativa e proativa.

É relevante a atuação das organizações sociais no território no contexto das políticas

públicas, o que revela a “incompletude do Estado e a necessidade de democratização

da ação pública” (CARVALHO, 2014, p. 44). Para a autora, conjugar o papel do Estado

com a participação da sociedade nas decisões públicas das cidades contemporâneas

é o grande desafio. Segundo ela, “o fortalecimento da intelligentsia (grifo da autora)

do fazer público, do ponto de vista da gestão, terá de apostar na consolidação dos

mecanismos de integração, articulação, negociação e participação da sociedade” (

CARVALHO, 2014, p.44).

39 De acordo com Putnam ( 2006) “numa comunidade cívica, a cidadania se caracteriza primeiramente pela participação nos negócios públicos [...]. Implica direitos e deveres iguais para todos. Tal comunidade se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação, e não por relações verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais, e não como patronos e clientes ou como governantes e requerentes. Nessa comunidade, [...] os líderes devem ser e considerar-se responsáveis por seus concidadãos” (PUTNAM, 2006, p. 101-102).

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Putnam ( 2006 ) afirma que “as associações civis contribuem para a eficácia e a

estabilidade do governo democrático” por disseminar “hábitos de cooperação,

solidariedade e espírito público”. Segundo o autor, “a participação em organizações

cívicas desenvolve [...] o senso de responsabilidade comum para com os

empreendimentos coletivos” ( PUTNAM, 2006, 103-104 ).

Constituir o vigor de um governo democrático e representativo e a vitalidade política

de uma comunidade estaria por assim dizer diretamente relacionado a uma

propriedade sócio-organizativa endógena, capaz de surgir no interior do próprio tecido

social de forma pragmática a partir das condições locais instaladas e de visões e

problemas compartilhados. Os cidadãos aqui representados adquirem a faculdade de,

não só participar de, mas de participar em organizações que se constituem para gerir

de forma organizada as demandas sociais. Essa estrutura de engajamento fortalece

os propósitos e projetos comunitários e o próprio Estado.

Trata-se de reconhecer as “novas potencialidades relacionadas à ampliação dos

atores sociais envolvidos na gestão da coisa pública” (FREY, 2007, p.138) e a

necessidade de promover a intersetorialidade e a articulação desses atores em favor

da melhoria da capacidade de governar do Estado em prol do bem comum. Essa

orientação inspira a adequação de um modelo de gestão pública de caráter mais

gerencialista40 por uma gestão “democrático-participativa” (FREY, 1996, apud FREY,

2007, p. 138 ) no sentido de “mobilizar todo conhecimento disponível na sociedade

em benefício da melhoria da performance administrativa e da democratização dos

processos decisórios locais” ( FREY, 2007, p.138 ) e consolidar a gestão social.

Em meio às diversas relações que se estabelecem entre os diferentes atores sociais;

em meio aos “projetos societários de desenvolvimento em disputa” ( MAIA, 2005, p.2)

que Maia polariza no “desenvolvimento do capital e desenvolvimento da cidadania”

(MAIA, 2005, p.2 ), representando interesses públicos ou privados, individuais ou

coletivos, torna-se exigência incondicional à criação de mecanismos estratégias,

40 Baseado no modelo gerencial que incorpora na administração pública o princípio da eficiência voltada a resultados e apadrinhado pelo conceito da Nova Gestão Pública ( New Public Management – NGP ) que propunha uma “reforma geral do Estado” ( PAES DE PAULA, 2005, apud FERREIRA NETO, 2012, p. 90 ) em razão das

crises globais da década de 1970 que abalaram o processo de construção do Estado de Bem Estar Social. O modelo foi adotado no Brasil dentro do que se chamou “administração pública gerencial” ( BRESSER-PEREIRA, 1998, apud FERREIR NETO, 2012, p. 90 )

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ferramentas, metodologias ou instrumentos que sustentem os processos de condução

desses interesses e que constitui em si a gestão social.

Nessa estrutura composta de interesses hegemônicos e contra-hegemônicos, a

gestão social como “processo social de desenvolvimento ou conjunto de processos

sociais, viabilizador do desenvolvimento societário” (MAIA, 2005, p.14, grifo da autora)

pode assumir o viés da “gestão do social” - como soma das ações em torno das

políticas públicas e sociais - ou “gestão contra o social” (MAIA, 2005, p. 2-3). Sob a

perspectiva gerencialista, que coloca o social como meio e o capital como fim (como

nas ações de responsabilidade social), a gestão social, que deve ser “determinada

pela solidariedade” (TENÓRIO, 2005, p.103), assume o caráter de gestão contra o

social (MAIA, 2005). Enquanto aquela perspectiva gerencialista exclui do processo,

ou do conjunto de processos, pessoas e comunidades, que deveriam, muito antes,

ser tomadas como agentes da ação, a gestão social que se ancora na solidariedade,

ao contrário, prima “pela concordância, em que o outro deve ser incluído” ( TENÓRIO,

2005, p. 103 ).

O contexto desse estudo incorpora portanto o conceito de gestão social proposto por

Maia (2005), para quem gestão social é então

[...] um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade. Construção realizada em pactuação democrática, nos âmbitos local, nacional e mundial; entre os agentes das esferas da sociedade civil, sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder.

Como o objeto de estudo aqui apresentado por si só já pressupõe os diversos

segmentos da sociedade como partícipes do processo de implementação de

programas e ações do governo, trazendo o setor privado representado, por exemplo,

pelas grandes construtoras e incorporadoras, os especuladores imobiliários e

latifundiários desejosos de desmembrar suas terras para implantação dos

empreendimentos habitacionais e assim se beneficiarem da extensão da

infraestrutura até suas propriedades, os cartórios que não abrem mão de suas

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estruturas monopolizantes, o setor público, a sociedade e comunidades destinatárias

das intervenções, é conveniente trabalhar também com o conceito de gestão social

proposto por Tenório (2005) que a entende como “processo gerencial dialógico no

qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação”

(TENÓRIO, 2005, P. 102 ), pois nessa mesma concepção, o autor considera o ‘social’

que adjetiva a gestão como espaço de diálogo e interação “ sem nenhum tipo de

coação” e ressalta o coletivo como centro do processo.

Diante da “centralidade do mercado na gestão da vida social” (FERREIRA NETO,

2012, p. 89 ), e considerando que ao Estado cabe regular, normatizar e cuidar do

interesse público, e compreendendo que “entre a administração pública e a cidadania

não há um contrato comercial com base individual”, mas “um contrato social e político

de base coletiva” (FERREIRA NETO, 2012, p. 97) é do Estado a incumbência de se

organizar para que a gestão social genuinamente aconteça e se consolide. E nesse

sentido é preciso que ele consiga aliar “resolutividade” às suas práticas gerenciais

viabilizando o exercício do controle social por meio de canais efetivos de participação

direta (FERREIRA NETO, 2012).

Ao discorrer sobre governança urbana e participação pública, Frey ( 2007 ) traz uma

colocação bastante interessante e complementar ao tema que diz: “Governar torna-

se um processo interativo porque nenhum ator detém sozinho o conhecimento e a

capacidade de recursos para resolver problemas unilateralmente” (STOKER, 2000, p.

9341, apud FREY, 2007, p.138 ) e complementa com Kickert ( 1999 ): “O governo é

apenas um entre muitos influentes atores sociais que estão envolvidos na formulação

e implementação de políticas públicas” (KICKERT et al.42, 1999, p.5, apud FREY,

2007, p.138 ).

Assim, permeiam entre si os conceitos de gestão social, governança e

governabilidade e é tênue a linha que separa conceitualmente um do outro. Rocha e

Santos ( 2012 ) afirmam que

41 Stoker, g. 2000. Urban political science and the challenge of urban governance. In J.Pierre (Ed.). Debating Governance: authorit, steering and democracy (pp.91-109). New York:Oxford university Press. 42 Kickert, W. J. M., Klijn, E. H., & Koppenjan, J. F. M. (1999b). Introduction: a management perspective on policy networks. In W. J. M. Kickert, E. H. Klijn, & J. F. M. Koppenjan (Eds.). Managing complex networks. Strategies for the public sector (pp.1-13). London, Thousand Oaks, New Delhi: SAGE.

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A gestão social se diferencia dos modelos tradicionais de gestão pela sua finalidade e também pelo processo. Finalidade e processo se complementam como faces da mesma moeda. O modo de gerir é reinventado para alcançar determinada finalidade, a finalidade proposta reformula e transgride o modo de gerir em movimento dialético. [...] A gestão social caracteriza-se pela construção coletiva de regras, normas, instrumentos de gestão, pela inovação de metodologia que privilegiam o diálogo, a participação, decisões compartilhadas, horizontalidade hierárquica, com valorização de diferentes saberes na ação [...]. O modo de gerir da gestão social constitui-se como verdadeiros processos coletivos de aprendizagem. A gestão social resgata o processo da gestão coletiva e democrática deixada como herança pela educação popular idealizada por educadores da geração dos anos de 1960 e 1970 e deve ser entendida como um processo educativo. [...] A gestão social supõe posicionamento político quanto à sua finalidade, ‘ a favor de quem e do quê ( ROCHA;SANTOS, 2012, pp.75-77 ).

Dessa maneira, os servidores e gestores públicos, a que Carvalho (2014) chama de

“atores internos” e os grupos da sociedade civil, que para essa autora são os “atores

externos”, devem agir de modo conciliador buscando “fortalecer e construir novas

relações entre Estado e sociedade civil para recuperar a confiança social perdida e

fortalecer a dimensão da participação” (CARVALHO, 2014, p. 51) instituindo assim

modelos de governança e governabilidade para organizar e gerir os interesses

coletivos.

1.4 Considerações finais

Vimos que o SNHIS instituído em junho de 2005 pelo Ministério das Cidades, por

intermédio da Lei 11.124, criou mecanismos de governança e governabilidade na

implementação da política de provisão habitacional para a população de menor renda

e delegou às administrações públicas municipais uma corresponsabilidade no

processo de implementação dos programas imputando-lhes atribuições para uma

gestão compartilhada. As prefeituras ganharam papel central na articulação com o

Governo Federal e interlocução entre os atores tendo que assumir um protagonismo

na aplicação dos recursos destinados à execução das intervenções e na

implementação da Política Nacional de Habitação (BRASIL, 2005).

A constituição da SNHIS e da PNH foi um passo importante na direção de uma política

urbana que contemple os princípios da função social da propriedade estabelecido na

Constituição Federal e no Estatuto da Cidade e que abarque o estímulo à participação

e ao compartilhamento de ações, a intersetorialidade e uma “atuação coordenada e

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articulada entre os entes federativos” (BONDUKI; ROSSETO; GHUILLARD, 2006).

Entretanto, a implementação da PNH depende de ações voltadas ao desenvolvimento

institucional, pois as prefeituras continuam não dispondo de capacidade governativa

para a consolidação de suas premissas. Tomamos as palavras de Milton Santos para

ratificar tal postulado

A luta pela cidadania não se esgota na confecção de uma lei ou da Constituição porque a lei é apenas uma concreção, um momento finito de um debate filosófico sempre inacabado. Assim como o indivíduo deve estar sempre vigiando a si mesmo para não se enredar pela alienação circundante, assim o cidadão, a partir das conquistas obtidas tem de permanecer alerta para garantir e ampliar sua cidadania (SANTOS, 2001, p. 104).

Se os mecanismos de governança estão dados, prescritos e tratados, resta-nos

pensar que o que esteja faltando sejam então os mecanismos de governabilidade e

gestão social que façam permear pelo campo da exequibilidade aquilo que a norma

guardou para si. E nesse sentido, dado que necessitamos de, para isso, promover

espaços de vocalização, estimular a participação deliberativa, consciente, cívica, resta

ao trabalho social um papel a desempenhar.

Assim, o trabalho social que se deseja ver executado está exatamente centrado na

preparação das comunidades para o exercício das virtudes cívicas ou no despertar

das virtudes das comunidades, para que a reciprocidade, a interação, a solidariedade,

a confiança mútua e a cooperação sejam resultantes de relações horizontalizadas e

baseadas no princípio da igualdade política (PUTNAM, 2006). Considera-se como

princípio desta dissertação que o trabalho social pode se constituir em uma

oportunidade de investir nas consciências individual e coletiva (virtude cívica) como

ingredientes na construção da ‘força social’ (LEFEBVRE, 1991, p. 116) necessária à

transformação da realidade. Enxergar nos beneficiários dos programas e políticas

públicas o potencial agente de transformação que reside em cada um, fazendo-os

migrar do cômodo papel de pacientes suplicantes ou destinatários das ações e

“favores”, para o lugar de protagonistas e coparticipantes da ação, poderá fazer da

sustentabilidade das intervenções a consequência e não a meta a ser alcançada.

Neste sentido, o trabalho social deve ser colocado não somente como mediador entre

a norma e o concreto, mas como mecanismo que irá investir nas atitudes que

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precedem a norma, ou seja, na preparação dos indivíduos para o cumprimento de

acordos tácitos que viabilizem a superação dos ‘familismos amorais’43 ( BANFIELD,

1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ), que degeneram a própria lei ou norma. E

por esse caminho o trabalho social toma para si também a ação naquilo que está

formalmente expresso, normatizado.

Mas objetiva-se pensar também num trabalho social que descubra a arte, que invista

na cultura, na criatividade e potencialidade ao mesmo tempo latente, ao mesmo tempo

oculta que existe nas comunidades mas que não encontra espaço de manifestação.

Esse trabalho deve servir à sede de vocalização das pessoas em relação a

expectativas, anseios, demandas ou simplesmente sentimentos.

Em suas empreitadas, este trabalho social precisa encarregar-se de despertar nos

indivíduos a compreensão daquilo que não precisa ser dito, mas que está implícito,

subentendido no cotidiano das pessoas, dos núcleos familiares ou da comunidade de

onde deve emergir a atitude cívica que os leve para além dos enunciados da lei. É

essa a mediação que se espera do trabalho social na implementação das políticas

públicas, pois o agir no tácito transcende o explícito, se encarrega dele.

Segundo Carvalho (2014, p. 7), “toda política pública que se comprometa com a busca

da equidade e enfrentamento das gritantes desigualdades sociais” deve ter um

trabalho social como mediador capaz de gerar “uma reflexão sobre a gestão social

(grifo da autora) com seus novos arranjos e especificidades próprios à condução da

política pública em sociedades que são cada vez mais complexas” (CARVALHO,

2014). Descomplexificar a sociedade começa por reverter o processo de postergação

do agir no e para o coletivo, extirpando das relações a acomodação de delegar ao

outro a obrigação cívica sem ver-se no compromisso de também ter parte nela.

Assim posto, conjuga-se o trabalho social como um conjunto de atividades

psicopedagógicas e socioeducativas com uma concepção de práxis social como ‘ação

política’ para conhecimento e transformação de uma dada realidade de forma dialética

43 Falta de virtude cívica existente na intenção de “maximizar a vantagem material e imediata da família nuclear”;

supondo “que todos os outros agirão da mesma forma” ( BANFIELD, 1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ). A questão é abordada no segundo capítulo desta dissertação.

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e dialógica (QUARESMA, 2012, p. 185) e permanentemente crítica, voltada à

formação de cidadãos virtuosos e de estruturas sólidas de reciprocidade e respeito

mútuo e viabilizador da gestão social, governança e governabilidade.

Referências

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Capítulo 2

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UM OLHAR TÉCNICO SOBRE O TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE

HABITAÇÃO SOCIAL.

MITRE, Maristela Jorge1

ARAÚJO, Wânia Maria de2

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados da pesquisa realizada no Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA referente ao trabalho social presente nos programas de habitação de interesse social da Política Nacional de Habitação regido pela Portaria 21/2014 do Ministério das Cidades. Concebido como um conjunto de ações para o desenvolvimento socioterritorial, o trabalho social objetiva o fomento à participação e à mobilização social, o apoio à inclusão produtiva, a articulação de políticas, a manutenção, apropriação e a sustentabilidade dos bens e serviços disponibilizados. Diante de tão complexas atribuições e a partir dos dados coletados na pesquisa a presente discussão busca fazer uma abordagem crítica em torno das metodologias de intervenção adotadas pelos técnicos sociais responsáveis pela execução do trabalho social para a consecução dos seus objetivos bem como às condições de realização do trabalho social nos programas de habitação de interesse social. Os dados oriundos da pesquisa foram distribuídos em 20 categorias de análise para identificar na prática dos técnicos sociais as dificuldades e deficiências da atuação profissional e a compreensão acerca das potencialidades do trabalho social, para proposição de melhorias. O levantamento de dados foi feito por meio de questionários autoaplicados, contendo questões abertas e fechadas, direcionados aos técnicos de prefeituras e técnicos credenciados pela Caixa Econômica Federal para prestação de serviços. Para análise dos fatos foi considerada a ação de sujeitos estruturada de forma dinâmica e relacional e o contexto social, jurídico, político, econômico e ambiental que envolve a questão urbana a partir dos princípios da fenomenologia e da dialética.

Palavras-chave: Metodologias de intervenção, Trabalho Social, Projeto Social Desenvolvimento Urbano. Habitação de Interesse Social.

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ABSTRACT

This dissertation presents the results of the research carried out in the Master course

in Social Management, Education and Local Development of the Post-graduation

Program of UNA University Centre, carried out in the context of social work in social

housing interest programs from the National Housing Policy ruled by the 21/2014

Therm of the Cities Ministry. The research looked for answers to the following

questions: To what extent do the intervention methodologies adopted by the social

work professionals allow the materialization of their guidelines, premises, and

objectives? What are the limits and potentialities of social work as an enabler

instrument of the social management? Conceived as a set of actions for the social-

territorial development, the social work aims to promote the participation and social

mobilization, the support to productive inclusion, the articulation of policies, the

maintenance, appropriation and sustainability of the riches and the available services.

Facing so many complex assignments, and from the data collected in the research,

the current discussion aims to provide a critical approach around the intervention

methodologies adopted by the social technicians responsible for the execution of social

work for accomplishing their objectives as well as the conditions for the achievement

of social work in the programs of social housing interest. The data from the research,

which also included literature and documentary review, were distributed in 20 analysis

categories, all of them intending to identify in the practice of the social technicians the

difficulties and the weaknesses in the professional performance, and the

comprehension about the potentialities of social work, for the proposal of

improvements. The data survey was done through self-administered questionnaires,

containing open and close questions, directed to the municipalities technicians, and

authorized technicians by Caixa Econômica Federal, as public bank, for the provision

of services. For the analysis of the facts, it was considered the action of subjects

structured in a dynamic and relational way, and the social, legal, political, economic,

and environmental context which involves the urban issue from the principles of the

phenomenology and dialectics adopting the qualitative paradigm. As a result from the

research, there was the elaboration of a Methodological Guideline to the Social Work

which doesn’t intend to plaster the social doing, mainly because they are the

proponents that arbitrate the methodologies to be used in projects, but support the

professionals in the difficult task of thinking and doing technical projects in dynamic

and complex realities.

Key-words: Intervention Methodologies. Social Work. Social Project. Urban

Development. Social Housing Interest. Social Intervention.

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2.1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo, resultante da pesquisa realizada no Mestrado em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local do Programa de Pós-Graduação do

Centro Universitário UNA, é construir uma reflexão em torno da prática dos

profissionais do trabalho social e das metodologias de intervenção adotadas nos

programas de habitação de interesse social. Buscou-se responder essencialmente às

seguintes perguntas: até que ponto as metodologias de intervenção adotadas pelos

profissionais do trabalho social permitem a materialização das diretrizes, premissas e

objetivos prescritos nas normativas dos programas de habitação de interesse social?

Quais os limites e potencialidades do trabalho social como instrumento de mediação

entre as normas, as premissas e a ação? Como os profissionais do trabalho social

conduzem a intervenção social no âmbito dos programas de habitação de interesse

social? Os entes públicos garantem mecanismos de governança para a realização

sistemática do trabalho social?

As atividades que compõem o escopo dos instrumentos de execução do trabalho

social devem contemplar “os temas da mobilização e organização comunitária,

educação sanitária e ambiental e geração de trabalho e renda dispostos no Decreto

7.499, de 16 de Junho de 2011” ( BRASIL, 2014, p.30 ). Nesse sentido, a Portaria

21/2014 que regulamenta o trabalho social estabeleceu quatro eixos distintos de

atuação que devem obrigatoriamente ser observados pelo trabalho social respeitando

as características da intervenção indicadas no diagnóstico. Esses eixos são

respectivamente: i) Mobilização, organização e fortalecimento social: voltado à

autonomia, ao protagonismo social, bem como ao fortalecimento, a constituição e a

formalização de novas representações e novos canais de participação e controle

social; ii) Acompanhamento e gestão social da intervenção: voltado ao

acompanhamento das obras e gestão tempestiva dos problemas construtivos junto às

construtoras, com a participação representativa dos beneficiários; iii) Educação

ambiental e patrimonial: voltado à percepção crítica e mudanças de atitude em relação

ao meio ambiente, ao patrimônio e à vida saudável; iv) Desenvolvimento

Socioeconômico: visando à inclusão produtiva, econômica e social, de forma a

promover o incremento da renda familiar para um processo de desenvolvimento

socioterritorial de médio e longo prazo ( BRASIL, 2014, p. 30).

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De acordo com suas diretrizes, o trabalho social deve ter enfoque multidisciplinar e

intersetorial, deve ser realizado em sincronia com a execução das obras viabilizando

a disseminação permanentes de informações “sendo a transparência um elemento

essencial na construção do processo participativo” (BRASIL, 2009, p.4). Além disso,

deve promover a integração das políticas sociais de forma a contribuir para o acesso

aos serviços essenciais como saúde, educação, esporte, lazer, cultura, assistência

social, segurança alimentar, segurança pública, etc.

De acordo com a portaria 21/2014 trabalho social compreende

[...] um conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do território, compreendendo as dimensões social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional do território e da população beneficiária, além das características da intervenção, visando promover o exercício da participação e a inserção social dessas famílias, em articulação com as demais políticas públicas, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e para a sustentabilidade dos bens, equipamentos e serviços implantados (BRASIL, 2014, p.5).

Assim concebido, o trabalho social parte das premissas de que a participação dos

beneficiários nos processos de planejamento e execução das intervenções e nas

ações do trabalho social promove uma melhor adequação dos seus produtos e

resultados às necessidades e demandas dos grupos envolvidos dando suporte à

sustentabilidade das intervenções. Entende-se que a participação comunitária gera

comprometimento e apropriação para um melhor uso dos bens e serviços

disponibilizados, abre espaço para o exercício dos direitos e deveres para a

consolidação dos princípios da cidadania ativa e do controle social. Nesse sentido, o

trabalho social acabaria por se tornar um viabilizador da gestão social.

Compreendendo quatro marcos temporais distintos (ver tabela 1), o trabalho social

deve começar antes mesmo do início das obras com o processo de seleção da

demanda habitacional e disseminação das informações preliminares sobre, entre

outras coisas, o programa, requisitos de participação e seleção, procedimentos de

destinação das unidades habitacionais e condições contratuais, estendendo-se por

todo o período de obras e pós-obras. Para cada etapa está previsto um instrumento

próprio de planejamento e execução das atividades de acordo com o Capítulo III da

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portaria. O Projeto de Trabalho Social Preliminar (PTS-P) deve ser apresentado até

quatro meses após o início das obras ou quando estas atingirem o percentual de 15%,

com previsão de execução em doze meses ou até quando as obras atingirem o

percentual de 65%, o que ocorrer primeiro. Ao atingir este percentual de obras

apresenta-se o Projeto de Trabalho Social (PTS), que, elaborado durante a execução

do PTS-P, deverá ter prazo de oito meses antes da assinatura dos contratos com os

beneficiários. E, por último, o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial (PDST) que

deve ser apresentado até o final das obras e iniciado logo após a mudança das

famílias para os imóveis, com duração de 12 meses. O PDST tem por objetivo o

desenvolvimento econômico e a integração socioterritorial dos beneficiários. Dada

sua relação com o território, o PDST necessita de articulações intersetoriais, cujos

mecanismos devem ser garantidos explicitamente no PTS ( idem ).

Tabela 1

Marcos temporais e instrumentos de execução do trabalho social

Fases 1. Pré-cotratação 2. Pré-obras 3. Obras 4. Pós-obra

Marcos Temporais

Da apresentação e seleção de propostas até a assinatura do instrumento de repasse/ financiamento.

Da assinatura do instrumento de repasse/ financiamento até o início das obras.

Do início das obras até a conclusão/ mudança das famílias.

Da conclusão das obras ou mudança das famílias, pelo período de 6 a 12 meses.

Instrumento de Planejamento

PTS-P - Projeto Social Preliminar

PTS – Projeto de Trabalho Social

PTS ou PDST (PDST-Plano de Desenvolvimento Socioterritorial )

PTS e PDST

Atividades - Execução das ações para a elaboração e aprovação do PTS.

- Execução das ações do PTS para essa fase.

- Execução das ações do PTS. - Elaboração e aprovação do PDST. - Eventual início da execução do PDST.

- Execução do PTS e PDST.

Fonte: Portaria 21/2014 do Ministério das Cidades

Os questionamentos que deram origem à pesquisa partiram do princípio de que o

trabalho social traz em si um grande potencial de mediar a prescrição da norma que

regulamenta os programas de habitação na concretização de um protagonismo social

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humanizador das relações e na implementação de ações que resultem no despertar

dos sentidos de pertencer à comunidade, ao bairro, à cidade nas populações

destinatárias dos programas e na consolidação das próprias políticas. Como afirma

Carvalho (2014, p. 17-18)

[...] a política social como ação do Estado tem intencionalidades, diretrizes, planos, prevendo desenhos para a implementação das metas e resultados a serem perseguidos. Mas ela depende de processos que a concretizem no território, produzam adesão e participação dos cidadãos. A essa ação, chamamos de trabalho social.

Acredita-se que os projetos sociais podem se tornar mais efetivos partir da adequação

das metodologias de intervenção social que, adotadas de maneira criteriosa, permitem

a realização de um trabalho social consistente e desafiador, fazendo cumprir suas

diretrizes normativas de forma menos tutelar, unilateral e assistencialista e menos

instrumental e mais interacional e inovadora. Para isso é preciso desenvolver

competências e habilidades, instituir e adequar as metodologias de execução e

monitoramento apropriadas, aprimorar os instrumentos e mecanismos de

comunicação, preparar os profissionais para a sua aplicação na busca do

protagonismo social e da autonomia nas comunidades envolvidas e promover o

desenvolvimento institucional dos Entes Públicos para o incremento de sua

capacidade governativa e consequentemente para a efetivação das políticas públicas

e sociais.

De acordo com Maria do Carmo Brant de Carvalho

as novas gerações de trabalhadores sociais encontram-se pouco seguras para o agir competente na questão social tal qual se apresenta na sociedade complexa em que vivemos. [...] há uma baixa competência dos trabalhadores sociais em mover processos que produzam mudanças substantivas, emancipação, participação [...] (CARVALHO, 2014, p.17).

Como fruto das observações recolhidas ao longo da prática profissional da autora

deste estudo e da percepção crítica acerca da maneira como o trabalho social é visto,

proposto e desenvolvido junto aos empreendimentos de habitação de interesse social,

entende-se que a execução desse trabalho social ainda padece dos seguintes

agravantes que, por sua vez, de alguma forma, encontram-se abordados na literatura

que trata da questão urbana e social:

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a) implantação e replicação de empreendimentos padrão, sem inovações, sem

áreas de convívio, sem áreas verdes, em regiões destituídas dos serviços e

equipamentos públicos, distantes dos centros geradores de renda e trabalho,

desfocados das necessidades, expectativas e perfil das famílias beneficiárias;

b) remanejamento e reassentamento de famílias sem as devidas e necessárias

pactuações prévias sobre os impactos em suas vidas: desconsideração aos seus

vínculos sociais e à prerrogativa do acesso à cidade, imposição da condição de habitar

o não-lugar44;

c) proposição de projetos e execução das obras à revelia das famílias

beneficiárias, embora esteja prevista normativamente sua participação na concepção

e acompanhamento das obras e da aplicação dos recursos;

d) embaraço à sustentabilidade das intervenções no pós-obra e à viabilização das

condicionalidades para a gestão social e o desenvolvimento local;

e) deficiências na oferta e disponibilidade de equipamentos e serviços

enfrentadas pelos beneficiários no pós-ocupação comprometendo os níveis de

satisfação e apropriação por parte das famílias e descumprindo as diretrizes e

premissas do Estatuto das Cidades e planos diretores;

f) impactos negativos dos empreendimentos habitacionais de interesse social

sobre o entorno, os quais são propostos e construídos sem a devida análise de

viabilidade;

g) tímida participação dos beneficiários nas atividades e ações e nítido

esvaziamento dessa participação ao longo da execução do projeto e após a entrega

das unidades habitacionais, extinguindo a representatividade do grupo e sua

capacidade de mobilização e comprometendo a legitimidade das demandas;

44 A partir do conceito de lugar como um “fenômeno da experiência humana” (RELPH, 1979, apud CARLOS, A.F.A;

SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (org), 2012, p. 100). Essas experiências definem o lugar como “histórico, relacional e identitário”. “Um espaço que não se pode definir de tal modo deve ser encarado então como um não lugar” (CARLOS, A.F.A; SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (orgs), 2012).

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h) reaplicação de projetos (social e construtivo) em toda e qualquer realidade,

como matrizes pré-concebidas, sem verificação das especificidades, demandas e

potencialidades de cada uma, sem pactuações prévias, sem participação e sem

construção de conhecimento;

i) execução de projetos sem registro e “benefícios das Lições Aprendidas” (

PFEIFFER, 2005, p.48 ) e sem a experimentação e consolidação de metodologias que

possam se adequar ao tipo de intervenção que envolve os programas de habitação

de interesse social;

j) extensão do clientelismo e do patrimonialismo para além dos programas de

transferência de renda a exemplo dos programas de provisão habitacional dificultando

a gestão do déficit habitacional e a sustentabilidade das intervenções;

k) fragilidade da governança e da governabilidade45;

l) verticalização e periferização da moradia. Distanciamento das centralidades

dos serviços, equipamentos e polos geradores de renda, sem garantia de constituição

de outras centralidades; descumprimento da função social da propriedade ( Artigos

182 e 183 da Constituição Federal ).

2.2 O trabalho social no contexto dos programas de habitação de interesse

social

O Capítulo III da Portaria 21/2014, cuja aplicação é instruída pela Orientação

Operacional 01/2014, é dedicado exclusivamente ao Programa Minha Casa Minha

Vida implementado com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR)

45 Governança como modus operandi do Estado (SANTOS, 1997) ou capacidade governativa ( World Bank,

1992:1, apud SANTOS, 1997) e governabilidade como a “capacidade conferida pela sociedade ao Estado para o exercício do poder, para governar e empreender as transformações necessárias” ( SILVA, 2012, p.17 ). Apreende-se a governabilidade, portanto, resultante da gestão social e, como tal, essencial, não só para garantir que se promova a implantação e a universalização das políticas públicas, mas para que se instaure aptidões de gestão e avaliação contínua dessas políticas e consolide a participação.

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destinado a municípios com mais de 50 mil habitantes, que caracterizando-se como

programa de habitação de interesse social funda-se como objeto do presente estudo.

A regulamentação em questão define as atribuições dos agentes envolvidos na

implementação do programa ficando a Caixa Econômica Federal (CAIXA), como

instituição financeira, responsável por prestar assistência técnica aos Entes

Federados, as demais entidades responsáveis por executar o programa e aos

profissionais do trabalho social, com a atribuição de acompanhar e monitorar a

realização do Trabalho Social, assim como verificar a regular aplicação dos recursos

financeiros, condicionando sua liberação ao cumprimento de metas previamente

estabelecidas nos instrumentos de execução do trabalho social ( BRASIL, 2014 ).

A regulamentação em questão imputa ao Ente Público 46 , na implementação do

programa, a responsabilidade de, a partir de convênio específico assinado com o

agente financeiro, elaborar e executar o projeto de trabalho social, definir a forma de

execução do trabalho social, que pode ser com equipe própria ou contratada,

“assegurar, na sua integralidade, a qualidade técnica dos projetos e da execução do

trabalho social”[...], “articular e integrar políticas públicas em todas as fases do

trabalho Social, de forma a promover a multidisciplinaridade, intersetorialidade e a

sustentabilidade das intervenções, fomentando condições para o processo de

desenvolvimento socioterritorial de médio e longo prazos, com a criação de arranjo

institucional que possibilite a articulação de políticas públicas” ( BRASIL, 2014, p. 29).

Cabe-lhe disponibilizar equipe multidisciplinar para o planejamento, execução e

avaliação das ações devendo seus componentes comprovar experiência compatível

com o escopo dos projetos. O coordenador, responsável técnico, dos trabalhos neste

caso deve ser do quadro funcional da prefeitura e deve ter graduação

preferencialmente em Serviço Social ou Sociologia, admitindo-se também graduação

em Pedagogia e Psicologia, e prática profissional em processos participativos. Pode

o Ente Público optar por realizar o trabalho social com equipe contratada, mas isso

não o exime da responsabilidade de designar equipe de coordenação e

acompanhamento dos trabalhos (BRASIL, 2014).

46 No contexto em questão, a administração pública do Distrito Federal, dos estados ou municípios responsáveis

pela assinatura dos convênios para a execução das intervenções e realização do trabalho social

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As famílias beneficiárias, por sua vez, cuja seleção é regulamentada pela Portaria

595/2013, do MCidades, também assumem responsabilidades específicas definidas

na Portaria 21, entre elas, apropriar-se corretamente dos bens e serviços implantados

pela intervenção, contribuindo para a manutenção e conservação do patrimônio

gerado com investimentos públicos e cumprir as obrigações previstas em contrato,

especialmente quanto à vedação de transferência ou alteração de uso e destinação.

É prevista a participação financeira do beneficiário no Programa Minha Casa Minha

Vida – FAR, uma vez que o programa se constitui na modalidade de alienação com

parcelamento traduzida no financiamento, sem juros, para aquisição da unidade

habitacional com subsídios do governo federal às famílias cuja renda não ultrapasse

R$1600,00.

O Programa Minha Casa Minha Vida, central nesse contexto, amarra-se em

arcabouço legal que lhe assegura, na forma, mecanismos de governança. Há na

regulamentação uma expectativa de transparência no processo de seleção da

demanda depositada na determinação de uma definição conjunta dos critérios locais

de seleção das famílias que devem ser somados aos critérios predefinidos pela

norma. Espera-se uma participação ativa das equipes interdisciplinares na ação de

definir as famílias beneficiárias, dos conselhos municipais e dos movimentos sociais,

que devem ter ¼ dos assentos nos conselhos de habitação. Entretanto, diante do

histórico caráter voluntarista presente na composição desses conselhos, do aspecto

formal de sua composição, da essência patrimonialista que valoriza a cultura do favor,

e do assistencialismo, essa transparência ao final torna-se frágil.

A natureza de reduzir agudizações sem a presunção do direito impõe limites ao

PMCMV na premissa da universalização da política habitacional. A esperada

capacidade governativa dos municípios, a falta de intersetorialidade e interlocução

entre os agentes envolvidos em sua implantação, bem como a falta de

complementaridade das políticas, não permitem materializar muitos dos preceitos do

programa.

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Grandes empreendimentos, pequenas ilhas de privações. De serviços, equipamentos,

lazer, cultura, espaço, privacidade, convívio, conforto, trabalho. Entre as modalidades

do PMCMV encontra-se a produção de empreendimentos na tipologia de condomínio.

Verticalizar as cidades tornou-se uma diretriz também para os municípios de pequeno

e médio portes sob o argumento de que neles também não existem terras

urbanizadas. Relega-se a grande massa da população despossuída a habitar o

longínquo, distante das centralidades, que segundo Rolnik caracteriza o “urbanismo

de risco” (ROLNIK, 2002, p.2).

Confinar os beneficiários a esse modelo de habitação certamente não se constitui na

melhor opção do ponto de vista da mobilidade urbana, do ponto de vista social,

econômico, cultural. Na perspectiva da preservação do patrimônio, a verticalização da

moradia para baixa renda requer a constituição de fundos de reserva para

manutenções e conservação que não fazem parte dos hábitos das pessoas que

compõem o público alvo. Por sua vez, o entendimento da coletividade sobre o

compartilhamento de espaços coletivos e o viver em condomínios se embasam em

uma outra noção, a da informalidade.

O programa não dá, financia. O beneficiário então não ganha; adquire. Mas a

compreensão dessa questão é mais complexa do que parecer. Deixar entender o

contrário é melhor. Com efeito, sustenta-se o assistencialismo ao invés de dar

sustentação aos cofres públicos para a superação do déficit habitacional no longo

prazo. Mas por outro lado, não se quer entender, pois assim fica mais fácil se

desobrigar com o encargo financeiro decorrente da aquisição. A inadimplência é o

resultado e com ela a depreciação. Deprecia-se a própria vida e perpetua-se a

alienação.

Beneficiar-se de uma unidade habitacional do programa pode representar para muitas

famílias enquadradas no público alvo uma oportunidade, ainda que a moradia não

seja sua necessidade maior, mais imediata ou premente. Preterir outras famílias em

piores condições muitas vezes não tem significado para algumas delas. O

individualismo suplanta o espírito cívico e nesse sentido, beneficiários em certa

proporção, se apropriam de uma colocação na fila de selecionados, favorecidos pela

ausência de mecanismos de controle e da cultura do clientelismo e assistencialismo.

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Ao ser contemplado, não se apropria do bem. Torna-o mercadoria, objeto de

consumo. Cláusulas contratuais deixam de ter importância. Gestão e controle social

se perdem nessa estrutura. Superação do déficit habitacional também. O civismo que

reclama o direito, deveria também exercer o dever. E como diz Milton Santos

A luta pela cidadania não se esgota na confecção de uma lei ou da Constituição porque a lei é apenas uma concreção, um momento finito de um debate filosófico sempre inacabado. Assim como o indivíduo deve estar sempre vigiando a si mesmo para não se enredar pela alienação circundante, assim o cidadão, a partir das conquistas obtidas tem de permanecer alerta para garantir e ampliar sua cidadania (SANTOS, 2001, p. 104).

A sustentabilidade das intervenções tão aclamada pela norma não pode ser vista

como meta, como objetivo, como algo que vem depois, mas como pressuposto, como

algo que já nasce intrínseca, amarrada em uma estrutura de ética, compromisso,

condições institucionais de torná-la pré-requisito e não uma expectativa remota,

perdida num turbilhão de obstáculos a sua materialidade. Cumprir o que está previsto

na lei, é sobretudo premissa, dever, não só do Estado, mas de todas as partes

envolvidas.

É diante desse cenário que o trabalho social se coloca como elemento estruturante

dos programas de provisão habitacional da PNHIS. Recai sobre ele, portanto, uma

grande responsabilidade, ao tempo em que se reveste de grande potencial. A acepção

do termo potencial aqui deve ser literal, no sentido do que ainda se encontra em

estado latente, como faculdade, uma possibilidade que necessita de outras variáveis.

A governança, a governabilidade, o apoio institucional, logístico, operacional, político,

a capacidade técnica, são as variáveis prementes.

A prescrição do trabalho social como parte integrante e obrigatória nos programas de

HIS, no contexto descrito, acaba por encerrar um caráter muito mais mitigador dos

impactos, circunstâncias e agravantes, do que de propriamente intervir nas

potencialidades. Nesse sentido, as expectativas nele depositadas, além de

ultrapassar suas atuais e reais possibilidades, dadas as condições para a sua

realização e o cenário em que se inscreve, desafiam as capacidades e competências

locais constituídas, comprometendo seus resultados, perpetuando os problemas e

estigmatizando o próprio trabalho social que, de forma cíclica, padece da falta de

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métodos eficazes de gestão e execução. Faltam-lhe inovação e capacidade técnica,

mas faltam-lhe antes, as condições necessárias para que as premissas ainda idílicas

alcancem o exequível e factível.

A opção, portanto, de se fazer uma abordagem em torno do trabalho social no

Desenvolvimento Urbano, especificamente no que diz respeito à HIS, está posta em

virtude das observações pessoais enquanto profissional da área que vem enfrentando

as mais diversas frustrações em torno da ineficácia do trabalho social em se alinhar

correta e satisfatoriamente, na prática, às suas diretrizes ao tempo em que padece de

falta de reconhecimento, valorização e o apoio institucionais de que necessita e

almeja.

A pesquisa então realizada representou uma empreitada no sentido de se buscar

descobrir as dificuldades e dilemas enfrentados pelos técnicos sociais na consecução

dos objetivos do trabalho social nos programas de HIS, despertar para a necessidade

de se criar condições para a sua efetividade, tanto pelo viés da capacitação, quanto

do desenvolvimento da governança e da governabilidade.

Nesse sentido, os questionamentos que recaem sobre a efetividade do trabalho social

em relação ao que lhe é prescrito parte do pressuposto de que não somente a precária

capacidade técnica dos profissionais dificulta a realização de um trabalho social

consistente, mas a frágil governança e governabilidade também compromete sua

realização. Além disso, postula-se que, assim como a gestão social, o exercício

profissional dos técnicos do trabalho social, a governabilidade e a governança

necessitam de um rompimento com a ação clientelista e assistencialista para dar lugar

a uma “interação negociada” que despreze o caráter tecnoburocrático e instrumental

em função da relação direta entre gestão e participação (TENÓRIO, 2004, p.1).

Assim, a pesquisa teve como sujeitos dezoito profissionais do trabalho social, sendo

cinco técnicos sociais dos municípios de Alfenas e Três Pontas, no sul de Minas

Gerais e treze técnicos credenciados pela Caixa Econômica Federal ( CAIXA ) para

prestação de serviços técnicos especializados na área do desenvolvimento urbano

que atuam em Belo Horizonte e região metropolitana e em diversas cidades do Estado

de Minas.

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2.3 A metodologia da pesquisa

Ao realizar sua investigação, o pesquisador lida com informações amplas, subjetivas

e carregadas de símbolos e significados47 que oferecem uma gama de possibilidades

de análise. O próprio pesquisador, ao embarcar numa pesquisa qualitativa, leva

consigo sentimentos e valores que poderão interferir no processo de pesquisa e

esbarra nos limites paradigmáticos que utiliza para entender seu objeto pesquisado

em razão do que pensa, conhece ou pensa conhecer sobre a realidade (gnose) e da

própria natureza da realidade. Nesse sentido, o ontológico e o morfológico podem

conduzi-lo a uma compreensão ampla e menos profunda daquilo que quer investigar.

Assim, nesse exercício de apreensão da realidade, considerando que os significados

na pesquisa não são apenas social, material e historicamente dados, mas resultantes

de uma interação do pesquisador com seu objeto no contexto de sua pesquisa e das

próprias relações que se estabelecem no território-campo de sua investigação, torna-

se importante uma a aproximação da dialética com a fenomenologia como paradigma.

Uma buscando o registro do vivido, o sentido histórico daquilo que se quer apreender,

e a outra buscando conhecer sua essência, ouvir os sujeitos, conhecê-los para

interpretá-los. Juntos, esses paradigmas podem ser complementares construindo o

“vir-a-ser” do pesquisador e de seu objeto.

Serpa (2006) em seu estudo sobre o trabalho de campo da geografia, que tem o

território como ponto de intercessão com o presente debate, traz algumas

considerações que respaldam a escolha do diálogo entre os paradigmas em questão

em que

[...] dialética e fenomenologia não se excluem [...]. Enquanto métodos podem funcionar como estratégias complementares, buscando-se sempre a construção da síntese sujeito-objeto, própria ao ato de conhecer, ora utilizando-se da história enquanto categoria de análise, ora buscando-se intencionalmente abstrair a historicidade dos fenômenos, visando à explicitação de sua “essência”.

47 Do ponto de vista da abordagem microssociológica do Interacionismo simbólico de George Herbert Mead (1862-1931) e Charles H. Cooley (1864-1929), que postula que a sociedade é constituída de pessoas que atuam em relação às outras pessoas e aos objetos em seu ambiente com base nos significados que essas pessoas e objetos têm para aquelas. Esses significados, por sua vez, surgem da interação que cada pessoa tem com as outras e são estabelecidos e modificados mediante um processo interpretativo. (...) Do ponto de vista metodológico, (...) como os símbolos e significados são forjados pelos atores, requer-se o conhecimento da natureza reflexiva dos sujeitos (GIL, A.C, 2008, pg. 23).

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Trata-se de reconhecer que a própria relação da sociedade com seu espaço é dialética

e assim voltar-se ao território, enxergar as interações e manifestações culturais que

ali se estabelecem e perceber nele a sua própria dinâmica, as desigualdades

existentes, as potencialidades latentes e “elementos aparentemente invisíveis, mas

significativos, que dizem respeito aos valores, sentimentos, perspectivas que rodeiam

as vidas das populações” (KOGA, 2012, p. 56). É o território o lugar dos sujeitos e é

nele que se estabelece a condição de cidadania. Reafirmando tal postulado, Milton

Santos assinala que “é impossível imaginar uma cidadania concreta que prescinda

do componente territorial” (SANTOS, 2001, p.144). E Koga complementa

Esse território que expande sua definição para além dos limites geográficos alcançando as gamas de relações nas suas formas objetivas e subjetivas, de vida individual e coletiva, literalmente ganha espaço à medida que se complexifica e faz a reflexão sobre a comunidade. Em contextos de fortes desigualdades sociais, de tendências à focalização cada vez mais presentes nas propostas de políticas sociais, o território representa uma forma de fazer valer as diferenças sociais, culturais que também deveriam ser consideradas nos desenhos das políticas públicas locais ( KOGA, 2012, p. 56).

Nesse sentido, o objeto da pesquisa não foi recortado de forma objetiva e racional,

restringindo-se o olhar às condições materiais do que lhe é dado a ver, mas analisado

em um contexto ampliado considerando o lugar “como um fenômeno da experiência

humana” (SERPA, 2012, p.99 ), os vários sujeitos envolvidos e suas relações, a

realidade em que se inserem, com seus conflitos e contradições, e a necessidade do

diálogo não só entre as diversas áreas e disciplinas que envolvem seu objeto, mas

também entre os paradigmas definidos para a análise que consideram os sujeitos e o

território, sua ação e sua história, suas relações e contradições, produções e

reproduções. Ora o sujeito é visto como produto do espaço e de sua história, ora ele

é abstraído de sua história, centrado em seu agir, entre o pensar e o viver em seu

meio presente, constituído.

Os procedimentos de coleta de dados para a presente pesquisa dividiram-se entre

revisão bibliográfica e pesquisa documental em razão da natureza inter e

multidisciplinar que rege o campo de interesse e a amplitude do objeto da pesquisa,

considerando seu caráter institucional e sua relação com um programa do Governo

Federal de abrangência nacional e com amplo arcabouço legal e normativo. As duas

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formas de pesquisa, documental e bibliográfica, são semelhantes, porém com

algumas distinções notadamente em relação à natureza das fontes.

Pesquisa documental, de acordo com Gil (2008), é aquela por meio da qual o

pesquisador utiliza-se de materiais que ainda não receberam um tratamento analítico,

como arquivos de órgãos públicos e Instituições privadas, regulamentos, ofícios, etc.

Lakatos e Marconi (2003) descrevem essa pesquisa como uma coleta de dados de

documentos, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Foram objeto da

pesquisa documental os arquivos e publicações do MCidades, normas e leis entre

elas a Lei 11.124/2005, que dispõe sobre o SNHIS, a Lei 11.977/2009, que dispõe

sobre o Programa Minha Casa Minha vida, o Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001, e

a Portaria 21/2014.

A pesquisa bibliográfica, segundo Gil (2008), abrange o uso de documentos impressos

para determinado público, como livros e artigos científicos. Para a realização da

pesquisa em questão utilizou-se levantamento bibliográfico, por meio de livros, teses,

artigos sobre o tema incluindo o material disponibilizado ao longo do Mestrado em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, além da coleta de informações

relativas ao objeto de estudo em jornais, revistas e pesquisa virtual em periódicos

indexados.

O critério de saturação foi utilizado com a suspensão dos questionários a partir da

percepção de traços de redundância ou repetição nos dados levantados

(FONTANELLA; RICAS.; TURATO, 2008 ); o que é esperado, pois, apesar do

universo constituir-se de profissionais de diferentes formações na área social, com

diferentes vínculos, que atuam em diferentes municípios e programas, e além da

proposição de projetos seguir determinado roteiro com eixos de atuação e

macroações predefinidos, essa atuação se desenvolve sob o mesmo rigor normativo

e sob as mesmas orientações teórico e técnico-metodológicas advindas do Ministério

das Cidades e da Caixa Econômica Federal, e mesmo da literatura que trata a

questão urbana e suas implicações socioespaciais, econômicas e políticas.

Pelo exposto e como pressuposto, foram utilizados como critérios de exclusão para a

participação na pesquisa os técnicos sociais da prefeitura de Alfenas e Três Pontas

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que não realizaram trabalho social em empreendimentos habitacionais de interesse

social e os técnicos sociais credenciados48 pela Caixa Econômica Federal que não

estiveram envolvidos em atividades de trabalho social em tais tipos de

empreendimentos.

Para realização da pesquisa empírica foram elaborados dois tipos de questionários

semiestruturados. Um direcionado aos técnicos das prefeituras, que se constitui do

Apêndice I e outro, que se constitui do Apêndice II, foi aplicado junto a treze

credenciados da CAIXA. O primeiro foi aplicado junto a dois técnicos da Prefeitura do

município de Alfenas e Três técnicos da Prefeitura de Três Pontas, ambas no Sul de

Minas Gerais.

Os dados oriundos da pesquisa foram distribuídos em 20 categorias de análise

partindo da formação acadêmica e tempo de experiência dos profissionais, passando

pela relação entre as formações acadêmicas e o preparo dos profissionais para

atuação na área, dificuldades apresentadas na elaboração e execução dos projetos,

metodologias adotas na execução do trabalho social, visão dos profissionais acerca

do trabalho social, indo até sugestões de melhorias. Todas depositadas na intenção

de identificar na prática desses profissionais as metodologias utilizadas nas

intervenções de habitação de interesse social voltadas à participação e ao

desenvolvimento sócio-territorial, as dificuldades e deficiências da atuação

profissional e a compreensão acerca das potencialidades do trabalho social.

2.4 Coleta de dados e categorias de análise

Explicar os fenômenos, dados e informações levantados em pesquisa não é um

princípio ou a primazia do método qualitativo, portanto, cabe ao pesquisador primar

pela compreensão de tudo o que buscar investigar ciente de que todo o conhecimento

gerado a partir de sua investigação não se consagrará tampouco como verdade

absoluta, infalível ou definitiva principalmente “numa ciência, onde o observador é da

48 Profissionais e empresas especializadas em coleta e análise de dados, elaboração e execução de projetos

sociais e planos de intervenção, apoio técnico e consultoria especializada, contratados pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL por meio de editais específicos regidos pela Lei 8666/93, conforme Edital de Credenciamento nº

1447/2014 - CPL/GILOG/BH da Caixa Econômica Federal.

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mesma natureza que o objeto, e o observador é, ele próprio, uma parte de sua

observação” (LEVY-STRAUSS, 1975 apud DESLANDES; GOMES; MINAYO, 2012,

p. )49.

Assim, considerando o caráter descritivo da pesquisa e a utilização de método

indutivo, característico da pesquisa qualitativa, a investigação não envolveu uma

coleta de dados voltada à comprovação de teorias, mas adotou procedimentos

interpretativos e exploratórios para desenvolvimento de uma teoria acerca do tema

apresentado. Buscou-se uma compreensão maior dos símbolos e significados que

cercam os erros e acertos, limites e possibilidades do trabalho social no

desenvolvimento urbano. De acordo com Alves-Mazzotti; Gewandsznajder, (1998,

p.170)

Pesquisas qualitativas tipicamente geram um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Este é um processo complexo, não linear, que implica um trabalho [...] que se inicia já na fase exploratória e acompanha toda a investigação. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai [...] construindo interpretações e gerando novas questões e/ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações [...].

Nesse sentido, todos os dados foram tabulados para sistematização das informações

apuradas cuja análise foi norteada pelos pressupostos e pelo referencial teórico. Os

dados foram organizados em vinte categorias de análise sobre as quais se tecem as

considerações que seguem apresentadas no próximo tópico deste artigo.

2.4.1 CATEGORIA 1: Formação e experiência na área do desenvolvimento

urbano/habitação

Esta categoria teve o propósito de identificar a formação acadêmica e o tempo de

experiência dos profissionais na área de desenvolvimento urbano uma vez que, por

determinação do Ministério das Cidades, os profissionais que atuam como

49 LÉVY-STRAUSS, C. Aula inaugural. In ZALUAR, A ( Org.) Desvendando máscaras sociais. Rio de Janeiro: Francisco Alves,

1975, p. 211-244.

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responsáveis técnicos nos projetos sociais atrelados ao desenvolvimento urbano

devem ter experiência em processos participativos e graduação em nível superior,

preferencialmente em Serviço Social ou Sociologia, mas também em pedagogia e

psicologia ( BRASIL, 2014 ).

Detectou-se que todos os sujeitos da pesquisa são graduados em uma dessas

formações, sendo um deles ‘educador social’ e a maioria tem alguma especialização

Lato Sensu na área de atuação. Entre os treze credenciados que participaram da

pesquisa, somente seis possuem especialização. Dos dezoito respondentes, somente

quatro, entre os credenciados, indicaram possuir mestrado. No âmbito das prefeituras

a maioria dos profissionais possui entre cinco e dez anos de experiência na área de

habitação e entre os credenciados a maioria está há mais de dez anos prestando

serviços à CAIXA na área de desenvolvimento urbano em âmbito regional.

2.4.2 CATEGORIA 2: Relação entre formação e preparação para atuar na área

Nesta categoria buscou-se identificar a contribuição da formação acadêmica para a

atuação profissional dos técnicos na área objeto da pesquisa, a necessidade de

especialização e a percepção dos técnicos em relação ao que lhes falta para uma

atuação competente.

Entre os cinco profissionais das prefeituras que responderam aos questionários,

quatro consideram que os cursos de graduação e especialização lhes permitiram

compreender a complexidade dos fenômenos sociais, mas que não adquiriram, pela

graduação ou especialização, conhecimentos em gestão urbana e de projetos e

consideram que os conhecimentos relacionados à questão urbana adquiridos na

prática ou nos cursos realizados não os habilitam a elaborar, executar e gerenciar

projetos sociais de habitação de interesse social.

Para oito, dos treze credenciados CAIXA que responderam aos questionários, a

formação e especialização proporcionaram à maioria a compreensão da

complexidade dos fenômenos sociais e a formação necessária para a elaboração e

execução de projetos sociais na área de desenvolvimento urbano, mas o

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conhecimento em gestão urbana e gerenciamento dos projetos foi adquirido na

prática.

Todos os profissionais, tanto da prefeitura, quanto os credenciados, por unanimidade,

acreditam que é preciso melhorar sua capacidade técnica, que “lhes falta algo” para

sua atuação profissional. E, nesse sentido, os profissionais não se sentem aptos a

elaborar projetos sociais e relatórios e realizar diagnósticos socioeconômicos e

socioterritoriais. Seis credenciados e quatro técnicos municipais entenderam haver

déficit de conhecimento específico relacionado ao gerenciamento de projetos e

conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação em

projetos de habitação. Dois dos cinco profissionais das prefeituras sentem falta de

conhecimento teórico. Um desses profissionais expressou a necessidade do trabalho

social em habitação romper com os métodos assistencialistas adotados nos

programas de transferência de renda.

Ressalta-se que onze, dos treze credenciados, em sua maioria com mais de 10 anos

de experiência no desenvolvimento urbano, afirmaram que lhes faltam conhecimentos

acerca de métodos e técnicas de intervenção social e mediação específicos para

projetos em habitação. Sete credenciados mencionaram falta de conhecimento

prático e experiência profissional seis mencionaram a falta de conhecimento

específico relacionado a gerenciamento de projetos. Isso pode ser considerado um

elemento que evidencia, portanto, a necessidade de especialização e capacitação dos

técnicos sociais para a realização do trabalho social em habitação de interesse social

ratificando a afirmação de Carvalho ( 2014 ) no sentido de que esses profissionais

sentem-se inseguros para a atuação técnica.

Ao afirmarem que os cursos de graduação não lhes proporcionaram conhecimentos

acerca da questão urbana, que sentem falta de conhecimento teórico, apresentam um

indicativo da necessidade de reforma ou maior enfoque da questão urbana com

melhor orientação para a intervenção social nos currículos de graduação dos cursos

das áreas de formação social e humana. Detectou-se também a partir das respostas

a necessidade de preparação dos técnicos no quesito gerenciamento de projetos.

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Carvalho, “como professora na universidade em cursos de Serviço Social e, ao mesmo

tempo, como profissional na gestão pública” afirma

Parece que as universidades, em sua missão formativa, nem sempre tem explicitado e instrumentalizado os jovens profissionais para as urgências éticas de busca concreta da transformação da qualidade de vida daqueles para os quais se destinam os programas sociais (CARVALHO, 2014, p. 17).

Os dados da pesquisa aqui apresentados e as colocações de Carvalho nos mostram

quão pertinente se faz nos perguntarmos: como os profissionais do trabalho social

executam os projetos sociais nas intervenções do desenvolvimento urbano que, por

sua natureza, exigem capacidade técnica e operacional para executar as políticas

públicas e “incorporar uma agenda de desenvolvimento do território” (CARVALHO,

2014, p. 21 ). E assim chamar à reflexão os gestores dos programas e políticas

públicas, as universidades, os Entes Federados, agentes financeiros e os próprios

profissionais no sentido de que a capacitação para a realização do trabalho social não

é somente necessária, é urgente para que possamos viabilizar a efetividade das

políticas sociais e a consolidação da cidadania plena e ativa.

Já a superação do clientelismo e do princípio da exceção, que privilegiam o

favorecimento em lugar da universalização do direito e que segmentam o público-alvo

das políticas públicas ( KOGA, 2011 ), cuja necessidade se fez presente tanto na fala

dos técnicos das prefeituras, quanto na dos credenciados, depende

fundamentalmente de uma profunda reformulação da cultura institucional no sentido

de torná-la capaz de gerir os processos de tomada de decisão “em nível das partes

em conflito” e não em nível dos elos ( DaMATTA, 1997, p.10750, apud KOGA, 2011, p.

43 ). Koga afirma que

Na cultura institucional presente em organismos governamentais, não-governamentais, empresariais, partidários, eclesiais, de movimentos sociais... enfim, nas formas organizacionais mais diversas, é comum encontrarmos a prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional. Trata-se de um enraizamento tão forte nas relações que chega a naturalizar práticas iníquas, do ponto de vista da cidadania e dos direitos humanos.

Há que se reforçar, portanto, a governança e governabilidade numa agenda que

defina prioridades, que compartilhe soluções de forma responsável, que reconheça e

50 DaMATTA, Roberto. A casa e a rua. 5.ed. Rio de Janeiro, Rocco, 1997.

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institua a intersetorialidade como um princípio essencial na condução das políticas

públicas e que instigue e valorize espaços de participação sustentados pela

informação e conhecimento, pela técnica e pela mobilização social.

2.4.3 CATEGORIA 3: Logística e gestão do processo de elaboração e execução

dos projetos

A Categoria 3 centrou-se na análise da capacidade instalada das prefeituras e dos

técnicos credenciados para a implementação do trabalho social. No âmbito das

prefeituras pesquisadas, há assistentes sociais que trabalham na secretaria de

assistência social e no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS). Entre eles,

somente um profissional fica com dedicação exclusiva aos projetos e contando com

equipe de apoio. Esse profissional afirma trabalhar de forma interdisciplinar e

intersetorial. Os demais acumulam atribuições da assistência social e do

desenvolvimento urbano “prestando serviços” para o setor de habitação quando é

necessário elaborar e executar projetos sociais.

Os dados referentes a categoria 3 apresentam uma amostra da realidade presente

nos municípios que enfrenta quadros deficitários de técnicos. Estes, por sua vez,

acabam por acumular funções sob pena de se sobrecarregarem de atribuições e

comprometer a qualidade dos serviços prestados à população. Apreende-se, portanto,

um indicativo sobre a necessidade de se investir no desenvolvimento institucional dos

municípios com incremento do quadro funcional e formação de equipes

interdisciplinares para instauração de melhor capacidade governativa para atuar nas

políticas públicas. Mas, sobretudo, é preciso inverter a lógica de que “o social subjaz

à economia” ( KOGA, 2011, p. 19 ) e materializar o princípio de que é nas pessoas

que se encontra o poder de transformação de qualquer realidade e é nelas que se

deve investir.

Quanto aos credenciados, cuja maioria é habilitada para atuar em âmbito regional, na

elaboração e execução de projetos sociais fora do município-sede, identificou-se que

o Responsável Técnico ou permanece com equipe própria no município da

intervenção para elaboração e execução do projeto durante todas as etapas, desde o

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diagnóstico até o pós-obra/pós-ocupação, ou subcontrata profissionais para a

execução fazendo o acompanhamento da execução à distância e deslocando-se

conforme a necessidade para acompanhamento no local.

Somente quatro, dos treze representantes dos credenciados, permanecem com

equipe própria no município da intervenção durante todas as etapas do projeto.

Portanto, na maioria das vezes, quando as atividades são fora do município sede do

credenciado, ocorre a subcontratação dos serviços nos municípios da intervenção. Tal

logística acaba por demonstrar uma atuação polarizada na qual o responsável técnico

se desdobra para realizar o acompanhamento das ações à distância, denotando

muitas vezes o acompanhamento simultâneo de mais de um projeto em municípios

diferentes. Pode-se inferir, pelas respostas dadas, que os responsáveis técnicos

assinam os relatórios de execução dos projetos sem um acompanhamento

sistemático das ações ou ainda um comprometimento da capacidade de avaliação

periódica e gestão tempestiva de problemas e demandas geradas pela própria

dinâmica dos projetos e consequentemente de sua efetividade; e ainda o

comprometimento da capacidade de se fazer a representação institucional diante dos

órgãos demandantes e de se garantir a intersetorialidade requerida.

2.4.4 CATEGORIA 4: Forma de atuação dos responsáveis técnicos credenciados

na realização de suas atribuições

Nesta categoria buscou-se avaliar a atuação dos responsáveis técnicos na execução

dos projetos sociais visto que muitas vezes assumem a implementação simultânea de

projetos

Como responsáveis técnicos pela elaboração e execução dos projetos sociais, nove,

dos treze credenciados CAIXA se encarregam de acompanhar a execução das ações

fazendo pontos de controle com a equipe quando necessário, oito elaboram e

executam os projetos, sete, mesmo não executando o projeto, vão a campo,

participam de algumas atividades e verificam o cumprimento do escopo e do

cronograma. Há entre os profissionais quatro que elaboram e assinam os projetos

para uma equipe técnica constituída executá-los. Quanto aos relatórios das

atividades, três dos respondentes disseram recebê-los da equipe técnica assinando-

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os junto com a equipe. Curiosamente dois dos treze profissionais elaboram e assinam

os relatórios das atividades que a equipe realizou.

Essa questão, que não foi abordada com os técnicos das prefeituras, ratifica as

ponderações da questão anterior relacionadas aos relatórios de execução.

2.4.5 CATEGORIA 5: Habilidades e experiência no desenvolvimento de ações

Considerando que na execução de um projeto social está prevista a realização de

ações complementares que passam pelo diagnóstico, avaliação e execução

propriamente dita, buscou-se nesta categoria identificar onde se concentram as

habilidades e experiências dos profissionais.

Verificou-se que entre os técnicos municipais, três sentem-se mais aptos e possuem

maior experiência em ações de mobilização comunitária e em processos participativos

e quatro na seleção dos beneficiários. Dois deles têm maior experiência na em

execução de projetos. Um técnico se sente apto a realizar diagnóstico e um se acha

capaz de executar projetos sociais.

Entre os credenciados que responderam aos questionários, sete se sentem aptos e

possuem maior experiência em executar, acompanhar e avaliar projetos sociais,

realizar atividades de mobilização e organização comunitária. Cinco se disseram

aptos a elaborar projetos, três em gerenciar projetos sociais, cinco em trabalhar na

seleção de beneficiários e elaboração de relatórios. Dos treze credenciados que

participaram da pesquisa, três disseram possuir experiência em todas as atividades

aqui mencionadas.

Os técnicos das prefeituras possuem maior experiência em seleção de beneficiários

e na realização de ações de mobilização e organização comunitária e processos

participativos. Há indicação em menor incidência, de aptidão em execução de projetos

sociais. Apenas um técnico se disse apto a realizar diagnóstico socioeconômico.

A análise dos dados coletados indica a fragmentação do trabalho desempenhado

pelos técnicos, fato que não deveria ocorrer, pois os programas de habitação de

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interesse social são sociorrelacionais por essência e são implementados em territórios

dotados não só de mazelas, mas de demandas, histórias, relações e potencialidades

(GATTI51, 2004, apud CARVALHO, 2014 ). A execução polarizada e segmentada do

trabalho social dificulta a consolidação da intersetorialidade, interlocução e

simultaneidade que tanto se faz necessária nas intervenções do desenvolvimento

urbano. Como afirma Carvalho (2014, p. 173)

[...] para se avançar na ação é preciso romper com as fronteiras setoriais e disciplinares; tornou-se necessário um olhar, pensar e agir multidimensionais. [...]. A realidade está em movimento e se revela numa cadeia de múltiplas determinações e multicausalidades, de forma que intervir nela supõe agir na sua totalidade.

Um outro ponto delicado na análise dos dados está no fato de que entre os técnicos

das prefeituras apenas um deles possui experiência em diagnóstico socioeconômico

e territorial sendo o diagnóstico o caminho necessário para romper a barreira entre a

“intuição e a evidência” (PUTNAM, 2006, p. 28 ) na construção das percepções que

balizam as ações de um bom projeto social. Como propor e realizar projetos sociais

em determinado território sem conhecer sua dinâmica, suas relações, demandas,

potencialidades com toda a complexidade que lhe é inerente? Como pensar a

mudança sem conhecer seu ponto de partida? Desenvolver essa capacidade torna-

se portanto uma necessidade premente notadamente em razão das novas exigências

da Portaria 21/2014.

Carvalho (2014) afirma que

[...] na formação do trabalhador social é absolutamente necessário um consistente e contínuo aprendizado voltado para a leitura e análise da conjuntura econômica, social, cultural, política, em seus desdobramentos reais no movimento de comunidades ou na sociedade em dado momento, considerando todos os atores sociais envolvidos (CARVALHO, 2014, p. 198).

Não se espera que o profissional do trabalho social esteja preparado para todas as

percepções necessárias à interpretação da realidade, razão da importância da

interdisciplinaridade. Espera-se, ao contrário, que a incompletude seja sempre a

premissa da busca do outro, da complementaridade, em especial no desenvolvimento

urbano onde a intervenção requer mesmo a leitura sob o olhar da sociologia, da

51 GATTI, Bernadete. Avaliação de Projetos Sociais. São Paulo, 2004 (Mimeo.).

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pedagogia, do serviço, social, da psicologia, da antropologia, da arquitetura,

engenharia, meio ambiente, para a leitura das relações, permeadas de subjetividade,

objetividade, cultura e poder, que produzem e reproduzem os territórios físicos e

usados.

2.4.6 CATEGORIA 6: Preparação técnica para elaborar e executar projetos

A Categoria 6 está centrada num dos pontos nodais desta pesquisa visto que focalizou

a preparação técnica dos profissionais para a elaboração e execução de projetos

sociais partindo do pressuposto de que os projetos são replicados sem inovação e

particularização em relação ao território das intervenções.

Para elaborar e executar projetos, os profissionais pesquisados utilizam-se

principalmente de leis, decretos, portarias e normas do Ministério das Cidades, ou

seja, de um arcabouço legal, bem como de textos, artigos e cartilhas, além de

assistência técnica da CAIXA como fontes de consulta e orientação. Livros didáticos

e técnicos somente um técnico de prefeitura e quatro credenciados utilizam.

Infelizmente, sem surpresa, identificou-se, entre os pesquisados, dois credenciados e

um técnico municipal que costumam replicar o mesmo projeto em intervenções

diferentes mudando apenas alguns itens do escopo. Seis credenciados e um técnico

municipal se valem de projetos elaborados por outros colegas profissionais da área

ou de outras prefeituras.

Na elaboração do escopo dos projetos, doze credenciados afirmam seguir as

instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades. Cinco credenciados

buscam reproduzir ou adaptar outros cronogramas de outros projetos já realizados,

uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam, replicando o que já deu

certo em outras experiências. Cinco dizem construir os projetos em conjunto com as

comunidades que auxiliam na realização do diagnóstico e na proposição de ações

participando ativamente das etapas do trabalho. Quatro profissionais buscam

inspiração na própria comunidade e na realidade onde o projeto será implementado

orientando-se pelo diagnóstico. A opção de resposta “ elabora escopo e cronograma

enxutos, pois os projetos baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam

as pessoas” foi marcada por um credenciado ( Questionário TCC 11).

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Três dos técnicos das prefeituras disseram normalmente reproduzir ou adaptar

cronogramas de outros projetos já realizados uma vez que a estrutura e os eixos de

atuação não variam replicando, portanto, o que já deu certo em outras experiências,

os mesmos três disseram também seguir as determinações contidas nas normas para

elaboração dos projetos propondo ações informativas dentro dos eixos de ação

previstos ou seguem roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades e por fim um

deles preza a elaboração de escopo e cronogramas curtos e enxutos, pois os projetos

baseiam-se sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas.

Todos os profissionais, tanto credenciados, quanto das prefeituras, foram unânimes

em afirmar que, na elaboração e implementação dos projetos sociais, é dada maior

ênfase em conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o

programa antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e

intersetorial.

Nas prefeituras, os dados mostram que, na hora de elaborar e executar os projetos

sociais, os técnicos dão ênfase ao cumprimento das funções de controle do tipo

elaboração de relatórios, documentos de registro e sistematização das atividades para

envio à CAIXA e em reportar-se às comunidades apresentado o diagnóstico realizado

informando sobre o plano de ação e o cronograma estabelecido. Um, entre os cinco

técnicos municipais, dá maior ênfase em cumprir as formalidades relativas às

exigências do Ministério das Cidades e da CAIXA. Apenas um entre eles indicou

preocupação em construir um bom diagnóstico, participativo e discutido com a

comunidade envolvida como ponto de partida para a elaboração do projeto.

Os dados trouxeram a informação de que quatro técnicos dos municípios realizam os

diagnósticos a partir de visitas às famílias para levantamento socioeconômico. Três o

fazem por meio ou por meio do CADÚNICO 52 e outras fontes de informações

existentes na prefeitura e no CRAS/CREAS. Um técnico informou que busca parceria

52 CADÚNICO, ou Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, é um instrumento coordenado

pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome (MDS) que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda. Utilizado como base de informação e dados para obtenção de diagnóstico e seleção de beneficiários nos programas, incluindo o PMCMV ( BRASIL, 2010), o CADÚNICO funciona também como ferramenta de controle uma vez que nele ficam registrados os nomes dos beneficiários contemplados nos programas habitacionais do Governo Federal

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com essas unidades de atendimento para o preenchimento de fichas

socioeconômicas relativas ao diagnóstico necessário à elaboração dos projetos

sociais.

Os dados mostram que a “unidade de intervenção” (CARVALHO, 2014, p. 61) da

assistência social enquanto responsável também pela realização do trabalho social

no âmbito dos programas de provisão habitacional, é a família. Preocupa-se em

identificar as condições de renda, saúde, escolaridade, adição (alcoolismo, drogas,

dependência química), de forma apartada do contexto socioterritorial,

desconsiderando a interdependência das vulnerabilidades sociais (CARVALHO,

2014). O que resulta desse modelo é a fragilização das capacidades e possibilidades

de vocalização e perpetuação da relação clientelista e patrimonialista presente na

gestão pública, sobre a qual se deve verter investidas de superação e rompimento

definitivo.

Ainda, de acordo com Paugam (2003), é importante estar atento ao peso que deve

ser atribuído às relações que se estabelecem entre as populações destinatárias das

políticas públicas e as instituições de assistência social. O autor reconhece “a

dependência das populações-alvo em relação aos profissionais da ação social e

sobretudo o efeito da estigmatização nascida dessa relação” (PAUGAM, 2003, p. 58)

mas pondera dizendo

Poder-se-ia dizer que os beneficiários dos serviços sociais participam também, ao menos em parte, na definição de seu status social e na constituição de sua identidade pessoal, ao aceitarem ou recusarem as imposições da intervenção pontual ou regular em sua vida privada [...]. Aceitar a designação de “pobre” depende, então, da condição social objetiva das populações em situação de precariedade econômica e social, de sua dependência em relação aos serviços assistenciais e, enfim, dos interesses recíprocos do assistente – que designa – e dos beneficiários – que são designados” (PAUGAM, 2003, p.59-60 ).

Seguindo com os dados desta pesquisa, Sete credenciados disse dar ênfase também

ao cumprimento das funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de

presença, fotografias de eventos e atividades para encaminhar à CAIXA e cumprir as

formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das Cidades e da

CAIXA. Interessante é que entre os credenciados apenas cinco se preocupam em

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construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discutindo-o com a comunidade

envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto ou que se reportem

às comunidades fazendo devolutivas e informando sobre a intervenção, as ações do

projeto e o cronograma. Cinco credenciados disseram focar em cumprir os prazos

para garantir a liberação dos recursos financeiros e dois afirmaram realizar

diagnósticos gerais privilegiando fontes secundárias.

Dos 13 credenciados, 06 costumam construir coletivamente os diagnósticos a partir

de levantamento socioeconômico e territorial com utilização de metodologias de

intervenção/mediação. Há credenciados que visitam todas as famílias e/ou utilizam

dados do CADÚNICO, do IBGE e/ou de fichas de caracterização socioeconômica

preenchidas em parceria com os CRAS/CREAS. Um credenciado criou um modelo de

questionário com levantamento de “informações sobre saúde, educação, renda e

conhecimentos de benefícios municipais para cada família” que utiliza alterando

questões de acordo com o necessário.

Na análise dos dados fica claro o caráter instrumental dado à execução dos projetos

sociais ao perceber a grande preocupação que se tem com as atividades

tecnocráticas da execução: elaborar relatórios, atas, listas de presença, cumprir

prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros. A ação de replicar projetos

em diferentes intervenções adaptando o cronograma demonstra, por sua vez, uma

despreocupação com a questão territorial e com a dimensão sociorrelacional do

trabalho social que tem por objeto a transformação da realidade que por essência é

complexa e dinâmica. Como personalizar, enrijecer e congelar cronogramas que

devem antes passar por um planejamento vivencial, compartilhado, participativo no e

com os sujeitos da área de intervenção?

É comum ouvir dos profissionais do trabalho social que as realidades são diferentes e

por isso os projetos devem ser diferentes. Mas na prática o que se tem são “escopos

matriz” de replicação consecutiva de projetos que não se diversificam e se restringem

a enquadrar os destinatários das ações a beneficiários. Fatos interessantes nesse

sentido já aconteceram e como narrativa pessoal vejo oportunidade em colocar: como

Assistente de Projetos Sociais na área de habitação da CAIXA, já testemunhei

retornarem para mim projetos de uma determinada prefeitura com transcrições de

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orientação técnica passada formalmente a outra prefeitura e que depois se

multiplicaram em inúmeros outros projetos ao ponto de se legitimarem como

necessárias.

Tem-se ainda a percepção de que o “conhecer a área de intervenção e seu entorno”

antes de pensar o projeto social, mencionado pelos técnicos como ênfase dada em

sua atuação, refere-se à ação de dar vistas ao terreno, identificar os equipamentos

públicos existentes (ou não existentes) no entorno imediato e, junto com os

engenheiros (ou não), conhecer o projeto construtivo da unidade habitacional e de

implantação do empreendimento. Não está evidente que essa seria uma preocupação

em identificar o território, seus atores, seus agentes, suas relações, sua realidade de

déficits e potencialidades, sua produção e reprodução.

2.4.7 CATEGORIA 7: Dificuldades apresentadas para elaboração, execução de

projetos e aplicação do conhecimento e das orientações técnicas normativas

Nesta categoria objetivou-se identificar as dificuldades apresentadas pelos

profissionais na aplicação prática dos conhecimentos e das orientações técnicas na

elaboração e execução dos projetos sociais pressupondo que os técnicos privilegiam

o aspecto formal da execução e o caráter mais expositivo e informacional das ações.

De acordo com os dados levantados nas pesquisas, quatro técnicos das prefeituras

sentem dificuldades na aplicação prática do conhecimento elaborar os projetos

sociais. Para três dos técnicos municipais, essa dificuldade reside principalmente na

definição dos itens de custos dos projetos. De acordo com as respostas, ‘há mais

recursos do que o necessário para os escopos propostos’ (questionário TSP3; TSP4;

TSP5). Para dois técnicos falta conhecimento, experiência e para um deles não há

orientação técnica, e um outro entende faltar apoio logístico, instrucional e institucional

por parte dos demandantes dificulta o trabalho.

Essa falta de apoio logístico, instrucional e institucional é sentida também pelos

técnicos credenciados. Outras dificuldades sentidas por eles residem na definição dos

custos dos projetos ( questionários TCC 9; TCC 11; TCC12; TCC13), na falta de

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conhecimento e experiência ( questionários TCC5; TCC 9; TCC12; ). Dois dos

credenciados disseram que os roteiros de projetos são confusos e complexos

(questionários TCC1; TCC6); outros dois disseram apenas cumprir as exigências

apostando no aspecto tecnocrático do projeto (executar, registrar as ações com fotos

e listas de presença e elaborar relatórios) ( questionários TCC3; TCC10). Dois

credenciados afirmaram: “é difícil pensar em ações estruturantes para compor o

cronograma no contexto dos projetos, por isso me restrinjo a palestras”

(questionáriosTCC5; TCC10). Para um dos credenciados, “a CAIXA não oferece

treinamento e capacitação para os credenciados, especialmente das normativas e

portaria seria importante nivelar informações com os credenciados” (questionário TCC

4).

Quanto à execução dos projetos sociais foi interessante observar que somente um

dos cinco técnicos das prefeituras sente dificuldades na aplicação do conhecimento e

das orientações técnico-normativas na hora de executar os projetos sociais, mas ao

mesmo tempo todos falam das maiores dificuldades na execução dos projetos e essas

dificuldades variam entre a falta de compromisso das pessoas com a própria cidadania

e interesse pelas questões da coletividade; gerenciamento de prazos e recursos; falta

de colaboração e interesse das comunidades que só comparecem nas primeiras

reuniões. Três técnicos disseram que a falta de mecanismos de promoção da

intersetorialidade e interdisciplinaridade acaba por levá-los a executar os projetos

sozinhos ou com um pequeno apoio de mais alguns funcionários. Um outro técnico

afirmou ser difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do

projeto, promover processos participativos e mobilização social.

Dos treze credenciados, sete disseram sentir dificuldades na aplicação prática do

conhecimento e das orientações técnicas na hora de executar os projetos sociais.

Sete atribuíram essa dificuldade à falta de compromisso das pessoas com a própria

cidadania e interesse pelas questões coletivas. Sete disseram também ser difícil

gerenciar prazos e recursos. Atrair o interesse do público beneficiário ao longo da

execução, promover processos participativos e mobilização social foram as outras

dificuldades mais apontadas. Mas houve também apontamentos em relação à

dificuldade de interlocução com a equipe de engenharia (questionários TCC1; TCC4;

TCC6;TCC7;TCC10). Falta de colaboração e interesse das comunidades que só

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comparecem nas primeiras reuniões ( questionáriosTCC8; TCC10) e dificuldades na

adoção de mecanismos de comunicação eficazes que façam chegar as informações

à população beneficiária de forma adequada foram também relatadas. Um

credenciado sente dificuldades na execução de projetos sociais por desconhecer as

metodologias de intervenção e mediação adequadas ao trabalho social vinculado a

programas habitacionais (TCC6).

Antes da PNH havia um consenso de que os recursos destinados ao trabalho social

eram escassos e imputava-se a isso sua condição de não efetividade. Hoje, no

Programa Minha Casa Minha Vida, é destinado o percentual de 1,5% do valor de

aquisição de cada unidade habitacional ao trabalho social e considera-se que ‘há mais

recursos do que o necessário para os escopos propostos’ (questionários TSP3 e TSP

4). Tomando como referência as análises das questões anteriores, apreende-se que

sobra recurso porque faltam projetos consistentes uma vez que na prática, além de

não se prezar a realização de diagnósticos socioterritoriais ampliados, intersetoriais,

interdisciplinares, interinstitucionais, com a participação dos sujeitos e partes

interessadas para balizar as ações e o escopo dos projetos (que certamente seriam

mais ricos), tem-se a replicação de cronogramas que se constituem em sua grande

maioria de atividades expositivas apoiadas basicamente em palestras que submetem

os participantes a condição de ouvintes.

Carvalho (2014 ), citando Gatti53 (2004) afirma ser “preciso quebrar com a lógica

dominante de processos diretivos de transmissão de informações/conhecimentos que

consideram apenas sua dimensão cognitiva, para recuperar as dimensões

socioafetiva, relacional e cultural envolvidas” (CARVALHO, 2014, p. 178).

Complementando com Gatti (2004),

”os conhecimentos adquirem sentido ou não, são aceitos ou não, incorporados ou não, em função de complexos processos não apenas cognitivos, mas socioafetivos-culturais. Essa é uma das razões pelas quais tantos programas que visam mudanças de práticas, de posturas, mostram-se inefetivos. Seu centramento apenas nos aspectos cognitivos individuais esbarra nas representações sociais e na cultura de grupos (GATTI, 2004 apud CARVALHO, 2014).

53 GATTI, Bernadete. Avaliação de projetos sociais. São Paulo, 2004.

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As dificuldades na elaboração de projetos estruturantes, de aplicar os conhecimentos

nessa empreitada, também se deve ao fato de que o técnico centraliza nele e

exclusivamente nele todo o esforço de pensar os projetos que por essência deve ser

construído coletivamente. Se, além de pensá-los a partir de diagnósticos consistentes,

resultantes de processos participativos, que por si só lhe garantirão imaginação,

criatividade e pertinência, o técnico buscasse a intersetorialidade, compartilhasse com

seus pares e as áreas complementares a tarefa de elaborar os projetos para

determinada intervenção, seguramente poderia abrir-se uma janela na superação das

dificuldades na aplicação prática do conhecimento.

Uma outra imposição ao bom desempenho dos técnicos está relacionada

inevitavelmente ao comprometimento dos governos com os programas e políticas

públicas. Como diz Silva (2012, p. 22)

Sem o envolvimento dos agentes participantes da política [...], o resultado não sai do papel. Afinal, a política é uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados. [...]. Não adianta estabelecer apenas leis se não existem arranjos institucionais capazes de implementá-los, executá-los e acompanhá-los.

2.4.8 CATEGORIA 8: Metodologias utilizadas na execução de projetos e alcance

dos objetivos propostos

Nesta categoria a intenção foi identificar a percepção dos profissionais acerca das

metodologias adotadas na realização dos projetos enquanto meio para o alcance dos

objetivos.

Nove dos treze credenciados e dois técnicos municipais acreditam que as

metodologias adotadas nos projetos promovem o desenvolvimento da cidadania e a

articulação de políticas sociais. Dois técnicos municipais e nove credenciados

acreditam também na mobilização comunitária como ação promovida pelas

metodologias do trabalho social. Para sete, dos treze credenciados, de acordo com

essas metodologias, é possível fomentar o diálogo, quatro atribuem a elas a

participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e manutenção

dos bens e serviços e o controle social. Três credenciados e dois técnicos municipais

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acreditam que a aplicação de metodologias adequadas pode levar também à

implantação de processos socioeducativos. Um credenciado acredita ser possível

alcançar parcialmente todos os objetivos aqui descritos.

De acordo com Carvalho (2014), “a dimensão metodológica é aquela que alia os

fundamentos teóricos a formas de ação gerando métodos de trabalho, no sentido da

criação de caminhos que dão significação concreta às perspectivas teleológicas”

(CARVALHO, 2014, p.170). Nesse sentido, diante da necessidade de transformação

de uma dada realidade, a escolha da metodologia pressupõe uma aposta que se faz

nas metas e objetivos definidos a partir do conhecimento prévio mínimo que (já) se

tem da realidade, a partir de um projeto de intervenção social.

O que as respostas dos técnicos retratam é o reconhecimento do poder das

metodologias de intervenção social de provocar mudanças, de fazer a mediação entre

o teórico e o concreto, as políticas públicas e as demandas, entre a norma e a prática,

entre o indivíduo e o coletivo, o sujeito, a família e o território e, portanto, de consolidar

as premissas das políticas públicas. O que ocorre entretanto é que a falta do

conhecimento teórico, da prática e experiência dos profissionais do trabalho social, e

a conjuntura estrutural, institucional e logística retratadas na pesquisa, dificultam sua

aplicação.

2.4.9 CATEGORIA 9: Metodologias consideradas mais adequadas e

ferramentas/técnicas mais utilizadas

A Categoria 9 indagou aos técnicos sobre as metodologias consideradas mais

adequadas para a intervenção social sob o pressuposto de que os projetos sociais

padecem de inovação social por falta de conhecimento acerca das metodologias de

intervenção social mais apropriadas ao trabalho social em habitação ou de como

aplicá-las.

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Para Wanderley e Oliveira54 (2004 apud CARVALHO, 2014, p. 170, p. 17), “definir

uma metodologia de intervenção significa exercer a difícil arte de transformar os

pressupostos teóricos escolhidos em diretrizes operacionais, e detalhar processos e

técnicas de abordagem no seio das relações sociais que se pretende alterar”.

É correto afirmar que as metodologias não são prescrições transmutáveis de uma

realidade a outra sem ponderação de sua pertinência ou adequação se o que se

almeja na intervenção em territórios que são dinâmicos, complexos e diferentes entre

si é a efetividade da ação. Portanto, no trabalho social não há a metodologia mais

adequada na estrutura de um projeto, mas a mais adequada no contexto em que esse

projeto se coloca, no nível da ação que se quer imprimir e dos resultados que se quer

alcançar, das transformações que se quer realizar. Ainda assim, com monitoramento

e avaliação constantes, que, mais que desejáveis, são necessárias, a opção feita

estará sujeita à própria dinâmica do processo que pode requerer redirecionamentos

no percurso de sua execução, pois “avançar na intervenção social” requer uma

“proximidade dialética entre teoria e prática. Inovação e compromisso se constroem

nesta cumplicidade reflexão-ação-reflexão” (CARVALHO, 2014, p. 174).

Às perguntas sobre as metodologias consideradas mais adequadas às intervenções

de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse social e aos objetivos

dos projetos, os credenciados responderam

Grupo focal, grupo operativo e plantão social (questionário TCC2). Até então utilizamos as metodologias participativas de pesquisa ação que tem demonstrado eficácia no alcance dos objetivos propostos ( questionário TCC3). Informação, implantação e organização condominial, educação sanitária e ambiental, ações envolvendo crianças e adolescentes (questionárioTCC8). Participativas, questões práticas, vividas por beneficiários ( questionário TCC7). Metodologias participativas que atuem a partir de questões de prática da população (questionário TCC6). Junto aos beneficiários levantar suas reais necessidades e organizar a estruturação do TTS (Trabalho Técnico Social) de acordo com os apontamentos feitos por eles, buscando a partir disso intervir nessas

54 WANDERLEY, M.B; OLIVEIRA, I.C ( Org.). Trabalho com famílias: metodologia e monitoramento. São Paulo: IEE-PUC-SP, 2004.v.1.

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necessidades, criando uma organização comunitária entre estes beneficiários (questionário TCC1 ) Metodologias participativas, encontros que promovam a participação das pessoas e a discussão dos sentidos das intervenções, metodologias que os próprios moradores possam propor (questionário TCC4) Participativa, onde os beneficiários durante o desenvolvimento do projeto possam discutir, refletir e dar sugestões de interesse do grupo e da comunidade. Iniciar as intervenções antes mesmo das famílias adquirirem o imóvel para conscientização dos seus direitos e deveres. No plano ideal, a participativa é sempre mais adequada. Contudo não se viabiliza muitas vezes, especialmente em grandes grupos. Com pequenos grupos, ou aqueles beneficiários que apresentam maior disposição em “estar junto”, aplicamos o método ZOPP (uso de tarjetas). Entendo que como o diagnóstico, o planejamento – a atividade em si – vai acontecendo “na hora”, ao vivo, isso atrai a atenção dos participantes/beneficiários (questionário TCC10 ). Metodologias participativas como pesquisa-ação, fenomenologia, grupo operativo, pesquisa participante (questionário TCC9). Informação, conscientização ( TCC5 )

Para técnicos das prefeituras as metodologias mais condizentes com as intervenções

em habitação seriam:

Metodologias participativas que realmente incluam a população atendida no processo como um todo, fazendo com esta assuma de fato seu papel dentro do programa ou projeto; reuniões e encontros para esclarecimentos e repasse de informações ( atividades informativas ). Mobilização de grupo através de propostas contextualizadas na sua realidade (questionário TSP2). As de mobilização comunitária, cidadania. Onde tem um grande agente transformador, onde o beneficiário começa a ter sua autonomia (questionário TSP1) Participativa onde os beneficiários durante o desenvolvimento do projeto possam: discutir, refletir e dar sugestões de interesse do grupo e da comunidade (questionário TSP 3 ) As atividades estratégicas de acordo com o perfil do grupo, clareza quanto as informações que serão repassadas aos mesmos (questionário TSP4) Metodologia participativa, uma vez que proporciona um maior interesse da população; através de pesquisa de campo ( questionário TSP5) Um diagnóstico para levantamento de demandas. Desta forma fico conhecendo a realidade de cada família encaminhando quando necessário e mediando da melhor forma com a realidade da população beneficiada ( questionário TSP4)

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Considero a pesquisa de campo uma das metodologias de extrema importância para a transformação de um contexto social ( TSP3) Planejamento estratégico para as ações (questionário TSP4)

Na pergunta sobre as ferramentas e técnicas utilizadas, os técnicos das prefeituras

disseram adotar formulários, reuniões, “explicações visuais e depois um espaço para

eles falarem, expor suas dúvidas e sugestões, reclamações” (questionário TSP1),

grupos de discussão, gráficos, pesquisa, parcerias, encaminhamentos, relatórios,

entrevistas, dinâmicas de grupo, palestras, campanhas, cartilhas, panfletos

(questionários TSP3, TSP4, TSP5), “formulários socioeconômico; relatórios,

questionários de avaliação, reuniões, assembleias, visitas domiciliares, entrevistas,

dinâmicas de grupo, palestras, campanhas, cartilhas [...] ” ( questionário TSP2)

Os credenciados adotam como ferramentas: grupo focal, grupo operativo e plantão

social, diagnóstico e pesquisa de campo, entrevistas, avaliação constante, discussão

mensal do planejamento, Diagnóstico Rápido Urbano Participativo (DRUP55), mapa

falado, formação de grupos, reuniões de planejamento e avaliação, dinâmicas, visitas,

mapas interativos, fotografias para construção de diagnóstico de trabalho em grupo,

produção coletiva de eventos, grupos de discussões, gráficos, “o projeto desenvolvido

e aprovado pela Caixa Econômica Federal” ( questionário TCC13), exposições

dialogadas ,

Ferramentas e técnicas que busquem a integração/interação [...] a valorização do indivíduo [...]. É importante ratificar o quão importante eles são para o projeto, para suas famílias, para a vida do bairro, do condomínio. Tenho percebido que o componente motivacional tem que estar inserido em qualquer abordagem: rodas de conversas, reuniões informativas, oficinas. Como hoje a participação/a adesão é frágil, tenho refletido bastante e buscado estudar as técnicas ou melhor a prática de utilizar a “mistica” dos antigos movimentos de base – e tentar introduzi-la nas ações do social. Uma vez que participar é “caro” para o indivíduo, no sentido de ser custoso, tem que fazer escolhas entre programas de TV, internet, o próprio descanso. E o retorno, a contrapartida do indivíduo não é imediata e também não se tem garantias. Então promover um espaço/momento agradável, gostoso de se estar é tão importante. Acolher bem é importante (questionário TCC10).

55 Diagnóstico Rápido Urbano Participativo

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E sobre as metodologias consideradas pelos credenciados como mais adequadas aos

objetivos dos projetos sociais em programas de habitação, o quadro mostra as

respostas

Quadro 1

Categoria 9

Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à habitação?

A mais adequada é difícil dizer, pois depende da realidade/demanda da população. É importante sempre, informação constante, incentivo a grupalização, capacitação das equipes e trabalhos educativos ( questionário TCC8)

Durante nosso período de atuação temos desenvolvido metodologias próprias (TCC7)

A experiência de longos anos de atuação na área social nos possibilita a adequação de várias metodologias participativas, a realidade e necessita do trabalho. O enfoque dado por nós ao trabalho social está relacionado aos seguintes apelos: a) informação sistemática todos os moradores e aos grupos, b) a grupalização, incentivando, apoiando e constituindo grupos que além de se tornarem elementos de apoio e mobilizadores da comunidade, se constituirão em mediadores entre comunidade e outros agentes, em especial públicos: a qualificação e capacitação desses grupos para o exercício de suas funções; a formação da comunidade e dos grupos, trabalho essencialmente educativo; ação sistemática junto a comunidade (imersão nesta), processo avaliativo permanente (questionário TCC6)

Os eixos de intervenção indicados como educação patrimonial, saúde, educação, entre outros são importantes porém o mais importante é atender as famílias, dentro da realidade local, ex: trabalhar transporte em uma cidade com mais de 100 mil habitantes é importante, já em uma cidade de 10 mil seria necessário ( questionário TCC1)

Metodologia de participação com a formação de grupos de interesse de acordo com as demandas e proposições do público beneficiário ( TCC4 )

Os projetos elaborados e executados pelo município foram embasados no Caderno de Orientações Técnico Social - COTS56; Portaria 21 e demais orientações sobre MCMV ( TCC11)

O caderno de orientações para o trabalho técnico (TCC13)

Entendo que a melhor metodologia é aquela mais hibrida e porosa, no sentido de ser possível de ser reformada em qualquer etapa ( questionário TCC TCC10)

pesquisa-ação, diagnóstico participativo, fenomenologia ( questionário TCC 9)

Fonte: Apendice II, questão 34

Percebe-se nas respostas dos profissionais certa falta de discernimento entre

paradigma, metodologia, ferramenta, técnica, ação e atividade. A perspectiva da

grupalização, da mobilização social e da mediação das comunidades com os agentes

públicos citada pelos técnicos representa uma aproximação com os objetivos do

trabalho social, mas pela frequência com que entendem que a melhor metodologia é

a ‘participativa’, apreende-se um entendimento de que é comum a incorporação da

56 Com a publicação da Portaria 21/2014, a CAIXA suspendeu a utilização do COTS. Para os credenciados, entretanto, a CAIXA disponibiliza o COT-“Caderno de Orientações Técnicas para Empresas Credenciadas do Trabalho Social”, o qual não apareceu citado nas entrevistas pelos profissionais.

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participação como princípio e fim do método sem ser possível reconhecer nas

manifestações, o reconhecimento das formas de se viabilizar essa participação, o

seja, quais metodologias adotam para tal, nem de que participação estão falando. As

respostas a essa questão, que é central na pesquisa, ratifica mais uma vez as

colocações de Carvalho (2014 ) acerca da “baixa competência dos trabalhadores

sociais em mover processos que produzam mudanças substantivas, emancipação,

participação, autorias, qualidade de vida duradoura e inclusão social” (CARVALHO,

2014, p.17). E, nesse sentido, é tácita e explícita a necessidade urgente de

investimento na formação técnica dos profissionais do trabalho social, mas de,

sobretudo, esses profissionais tomarem contato com essa realidade que se lhes

apresenta para começarem a enxergar nela a possibilidade de emergirem nas

múltiplas possibilidades de transformação social existentes no trabalho social e

buscarem sua própria formação para o exercício profissional.

2.4.10 CATEGORIA 10: Mecanismos de comunicação utilizados na execução de

projetos e identificação de possíveis ruídos nessa comunicação

Enquadrou-se na categoria 10 os mecanismos e o processo de comunicação no

trabalho social. Considera-se essa uma questão importante na análise da efetividade

do trabalho uma vez que a comunicação aqui está relacionada ao caráter dialógico do

trabalho social e pressupõe mais do que informar.

Em relação aos mecanismos de comunicação na execução de projetos sociais, nove

credenciados e quatro técnicos das prefeituras disseram utilizar o celular. Sete

credenciados utilizam também faixas e cartazes em pontos estratégicos da área de

intervenção e entorno; cartas e bilhetes também são empregados. Nas prefeituras, os

técnicos utilizam-se também do envio de cartas e bilhetes às famílias, além de

panfletos e flyers, carros de som e faixas. Um credenciado e um técnico de prefeitura

utilizam a internet como instrumento de comunicação. Alguns credenciados fazem

“contatos individuais entregando convites ou outro instrumento, jornal, mural, jornal

institucional, folder, boletim informativo” ( questionário TCC6), e usam ainda os cultos,

missas e eventos locais para as comunicações necessárias e jornais e boletins

informativos locais. Um credenciado informou que

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na primeira entrevista cada beneficiário recebe um cronograma de todo o projeto, com datas e horários e todo mês na reunião recebem por escrito e assinam a ata de possível alteração ou nova reunião. Quando necessário ligo de casa em casa mantendo assiduidade dos beneficiários (Questionário TCC1).

Todos os técnicos das prefeituras disseram verificar se as informações estão

chegando às pessoas de forma adequada e tempestiva verificando e cuidando dos

possíveis ruídos de comunicação fazendo-o por meio de reuniões e visitas

domiciliares. Entre os credenciados, dez verificam das seguintes formas: “em todos

os encontros é verificado como as informações estão niveladas. E são ajustados os

possíveis ruídos” (questionário TCC2); “fazendo uma visita e conversando” (

questionário TCC8); “nas reuniões ou atividades, contatando as pessoas e

reproduzindo as informações” (questionário tcc6); com “pesquisa” (questionário

TCC7); “via telefone e visita domiciliar” (questionário TCC11); “através de reuniões

comunitárias e ligações” (questionário TCC13); “contato com lideranças locais que

servem de termômetro metodológico” (TCC3); “programação de carro de som ao

meio-dia e a tardinha/noite. Entrega de convite porta a porta com coleta de assinatura,

confirmando o recebimento. Perguntamos no plantão social57 e na atividade como e

quando ficou sabendo da atividade” (questionário TCC10)

De acordo com Carvalho (2014, p. 177), “a natureza sociorrelacional do trabalho social

exige relações de proximidade e supõe mover ações em duas dimensões-chave de

fundamental importância: a arte da comunicação e a arte da articulação”. E

complementa

Comunicação e articulação têm como perspectiva construir participação, mobilizar vontades e implementar pactos de complementaridade entre atores sociais, organizações, projetos e serviços. Movem processos e atividade em coautoria com os próprios implicados na ação. É preciso que os diversos sujeitos envolvidos queiram, valorizem e reconheçam como factíveis as ações desenvolvidas e as metas traçadas. Dessa forma, a produção de metodologias de trabalho social não pode ser mais pautada numa racionalidade apenas instrumental (CARVALHO, 2014, p. 179 ).

57 “Estrutura(s) de escritório/plantão social, constituída(s) por, no mínimo, uma estrutura fixa na área da

intervenção, dotada de recursos humanos e equipamentos, eventualmente complementada por outro imóvel dependendo do tamanho da área, que deverão ser mantidas ao longo de toda a intervenção para o atendimento da população, onde serão disponibilizadas todas as informações necessárias, funcionando também como base logística para o Trabalho Social e para funcionamento do mecanismo para prevenção e mediação de eventuais conflitos” ( BRASIL, 2014, p, 17-18).

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Nesse sentido, é importante que o trabalho social se desvista do caráter instrumental

do qual se vale para construir uma performance mais interacional, da articulação, em

que os próprios destinatários das políticas sejam reconhecidos como atores. Utilizar

essa premissa para a construção de redes de relacionamentos no território, trazer

para dentro dos projetos as tecnologias que hoje já se encontram ao alcance de parte

significativa dos seus usuários é premissa básica da comunicação minimamente

diretiva. Mas a comunicação de que se fala no trabalho social não é apenas a

informacional ou de construção de agendas, mas aquela relacionada às leituras e

tradução da realidade, construção de pactos, participação, inserção e para essa

comunicação, são necessárias as metodologias de intervenção adequadas ao

processo dialógico que se quer construir. Não se detectou essa compreensão nas

colocações dos participantes da pesquisa, conforme se descreve a seguir na categoria

11.

2.4.11 CATEGORIA 11: Ações para motivar e envolver o público beneficiário nas

ações

Nesta categoria encontra-se um dos pontos altos da pesquisa e que está relacionada

às formas de promover os processos participativos, de angariar o interesse, a

motivação para a participação visto que na execução dos projetos sociais é comum

uma maciça “presença” no início das atividades e um esvaziamento ao longo da

intervenção. O que se quer detectar é se os técnicos têm essa percepção em relação

ao que é promover essa participação ativa, de sujeitos, e o que é viabilizar a presença

nas atividades.

As formas de buscar a motivação e o envolvimento do público alvo nas atividades do

trabalho social não variaram muito entre os credenciados e os técnicos dos

municípios. Em três das respostas dadas pelos técnicos das prefeituras à questão

percebe-se que o argumento da importância da participação é utilizado no processo

de sensibilização do público alvo. Os técnicos informam a necessidade da

participação “avisando com antecedência por bilhetes, visitas e convites entregues em

casa” ( questionário TSP1), dizem ser uma “exigência da CAIXA” ( questionário TSP4)

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; apresentam “os objetivos e as melhorias que os projetos e programas trarão no grupo

beneficiado e mostrando aos beneficiários possibilidades de crescimento pessoal e

até profissional através das ações do TTS” (questionário TSP2). Foram dadas duas

possibilidades de resposta à essa pergunta: anunciando que haverá lanche ou

informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes. Apenas um técnico de

prefeitura e um credenciado informaram utilizar a distribuição ou sorteio de brindes

como elemento de incentivo e um credenciado diz utilizar o lanche em todas as

atividades como fator de motivação.

A prática não variou muito entre os credenciados. Afirmando a necessidade de

mobilizar constantemente esses técnicos também focam no argumento de que o

trabalho social é exigência da CAIXA e da importância da participação apropriando-

se também de visitas, convites individuais, flyers, ‘reuniões dinâmicas, com

informações claras e transparentes’. Encontrou-se entre eles as seguintes respostas

“Na primeira entrevista com a família, explico a importância do ‘TTS’ (Trabalho Técnico Social) e convoco a responsabilidade deles em frequentar as reuniões, cada um assina uma declaração dizendo da importância do TTS e firmando o compromisso de estar presente em todas elas e quando necessário faltar, enviar um representante” ( questionário TCC1) “O lanche e o brinde são práticas que a empresa que trabalho sempre combateu, no sentido de servirem de isca para as atividades. Atualmente temos lançado mão dos brindes. Contudo quando a indiferença da população é significativa, nem mesmo o brinde é suficiente para atrair. [...] fizemos uma confraternização junina. Foi anunciado o bingo com distribuição de cartelas gratuitas e que um dos prêmios era um forno microondas. E mesmo assim nem 20 pessoas compareceram ao bingo” (questionário, TCC10) “Escolhendo horários alternativos, como noturno e finais de semana, escolhendo técnicas adequadas de acordo com o tema, visitas e ou contatos mais diretos com a população, escolha de locais apropriados/próximos para a realização das atividades” (questionário TCC 9)

Nas atividades do trabalho social cabe a participação consultiva e deliberativa, mas

cabe também aquela participação conduzida pela “intencionalidade pedagógica” de

aproximação dos sujeitos, de construção dos espaços de vivência, de valorização e

resgate de saberes, “de organização espacial das relações entre as pessoas da

cidade, voltando o olhar para os suportes espaciais dos intercâmbios e atividades de

troca (econômicos e/ou sociais)” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 7). Para isso é

preciso convocar vontades e “[...] apoiar o indivíduo, o grupo no ato de conhecer e no

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agir, com ênfase nas capacidades de ligar e religar fatos e significados, realizar

mediações, expressar, argumentar, pesquisar, construir nexos de compreensão do

mundo e dele(s) no próprio mundo” (CARVALHO, 2014, p. 208).

Essa participação que se espera no trabalho social não se concretiza em reuniões ou

em assembleias de comunicação unidiretiva, onde se expõe um tema e depois se abre

(ou não) um debate onde ninguém se manifesta, ou, ao se manifestar finda-se ali a

exposição do tema sem valorizar os desdobramentos necessários. Nem tampouco se

tratada como imposição ou exigência de terceiros. Nesses formatos ela poderá ser

avaliada quantitativamente, mas não qualitativamente. Apenas dizer que é importante

participar não provoca a ação. É como dizer que preciso cuidar da casa, dos espaços

e equipamentos coletivos, da saúde, que é preciso ser cidadão. O dizer não induz à

ação. Se não houver um estímulo, uma motivação que ‘venha de dentro’ para que os

indivíduos e a coletividade tragam os seus conhecimentos, experiências, a sua

vivência e a sua contribuição ao processo, dificilmente o argumento da exigência ou

da importância de participar os retirará da inércia.

É importante ressaltar que responsabilidade pelo estímulo à participação e pela

qualidade técnica da execução do trabalho social não recai apenas sobre os técnicos,

mas deve ser compartilhada, pois está amarrada a uma “estrutura cívica e cidadã”

(SOUZA58, 2001, apud MILANI, 2008, P. 557) ainda incipiente. Portanto, desenvolver

espírito cívico é meio e fim precípuo para a participação ativa, premissa da

participação espontânea, da gestão social e do poder local. Nesse sentido, planejar a

participação requer que se pense nela não em termos percentuais, computando o

número de presentes nos eventos e atividades realizadas, mas que se valorize o

processo participativo, com toda a sua riqueza e poder.

58 SOUZA, Celina. A nova gestão pública. In: Gestão pública: desafios e perspectivas. Salvador: Fundação Luís

Eduardo Magalhães, 2001. p. 38-62., 2001.

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2.4.12 CATEGORIA 12: Ferramentas utilizadas para interpretar os problemas

mais relevantes do diagnóstico

Um bom diagnóstico é o ponto de partida para um bom projeto de intervenção social.

E esse diagnóstico não pode e não deve se restringir ao caráter socioeconômico das

famílias, mas estender-se ao território da ação. Nesse sentido, esta categoria também,

aliadas às demais, constitui-se numa oportunidade essencial para analisar o

significado do diagnóstico para os técnicos e identificar o modo como o realizam já

pressupondo a ênfase que é dada ao núcleo familiar como objeto dos levantamentos.

Perguntados sobre as ferramentas que utilizam para estabelecer a relação causa e

efeito entre os problemas mais relevantes do diagnóstico os técnicos das prefeituras

e os credenciados, em sua maioria, demonstraram não valorizarem (ou não

reconhecerem) essas percepções. Vejamos: Cinco credenciados deixaram a questão

em branco, nem responderam. Um afirmou que não utiliza ( questionário TCC7). Os

técnicos municipais mencionaram: “um questionário com tabulação,

encaminhamentos quando necessário, reuniões com temas identificados”

(questionário TSP1); “coleta de dados e construção de gráficos” (questionário TSP3);

“aplicação de questionários para a coleta de dados” (questionário TSP5); Dois

técnicos municipais disseram

Visitas domiciliares para discussão de questões gerais e também particulares, assembleias para discussão, avaliação e votação de conteúdos do projeto. Inscrição de beneficiário nos trabalhos e delegação de atribuições de apoio ao TS59 entre outros (questionário TSP2). Como às (sic) do Residencial são referenciadas ao CRAS ( Centro de Referência de Assistência Social ) muitos dos problemas apresentados são encaminhados aos órgãos competentes para providências.

Nas análises os pressupostos se confirmaram. Entre os profissionais das prefeituras,

a centralidade das intervenções está na família. Não são consideradas as variáveis

socioterritoriais, as dificuldades, problemas e desajustes advindos das relações que

se estabelecem no território das intervenções. Consequentemente não são

reconhecidas as ferramentas de intervenção social aplicáveis a diagnósticos

socioterritoriais.

59 Técnico Social ou Trabalho Social. Não é possível identificar o emprego que o técnico quis dar à sigla.

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Entre os credenciados elencam-se as seguintes respostas: “a ferramenta comumente

utilizada são os relatórios de pesquisa, gráficos dos diagnósticos” (questionário

TCC3); “avaliação com os beneficiários” (questionário TCC1); “coleta de dados e

planejamento de ações com alternativas para solucionar e/ou minimizar os

apontamentos” (questionário TCC11); “parcerias e encaminhamentos para resolução

dos problemas apresentados” (questionário TCC13). Houve credenciado que

informou não utilizar ferramentas de interpretação dos problemas mais relevantes.

Outras três respostas foram

“Dinâmicas de construção de mapas interativos para identificação de pontos fracos, potencialidades e proposições. Reuniões por blocos de apartamentos, diagnóstico fotográfico dos problemas e potencialidades dos próprios moradores” (questionário TCC4) . “Entrevistas em profundidade com pessoas ‘chave’ do território, seja beneficiários e/ou órgãos prestadores de serviços” (questionário TCC10); . “Técnicas do PES – Planejamento estratégico situacional” (questionário TCC 9)

Entre as respostas observou-se relevantes as percepções acerca do PES –

Planejamento Estratégico Situacional e mapas interativos 60 como ferramenta de

análise de situações problemáticas adaptável ao contexto do trabalho social na

habitação social. Entretanto, a centralidade nos beneficiários ainda se manifesta forte.

De acordo com Reg e Filho ( 2002, p.164 )

O PES apresenta três características principais. A primeira é o subjetivismo, que tem por objetivo identificar e analisar uma situação problemática, centra-se nos indivíduos envolvidos (atores), em suas percepções e pontos de vista, pressupondo, portanto, que se cada indivíduo tem suas próprias características, sua interpretação de determinada situação vai depender de seus conhecimentos, experiências, crenças, posição no jogo social etc (RIEG; FILHO, 2002, p. 164 )

Dos profissionais do trabalho social espera-se certa capacidade de análise e

compreensão da realidade, e de também agir sobre essa realidade numa busca

conjunta da mudança que se quer imprimir sobre ela unindo a técnica aos

60 Embora não se tenham definido do uso de tais ferramentas.

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conhecimentos tácitos, implicando todos os envolvidos nas análises da realidade que

se quer mudar. A matéria de sua ação, as relações sociais, seus frutos e

desdobramentos, as vulnerabilidades, deficiências e potencialidades, esta se

consolida no território e sobre esse território não se pode contentar com uma visão

genérica e pessoal. Como afirma Koga (2014, p. 26)

É preciso um exercício de revisita à história, ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive nesse território, se o considerarmos para além do espaço físico, isto é, com toda gama de relações estabelecidas entre seus moradores, que de fato o constroem e reconstroem.

E nesse sentido a perspectiva multidimensional, interdisciplinar e intersetorial deve

nortear essa ação sobre o território de forma a romper com a percepção fragmentada

da realidade. Na prática do diagnóstico, por exemplo, o olhar compartilhado, buscando

o destinatário das políticas públicas para além de sua capacidade expectante,

“permitiria inventar novos tipos de relação entre os diferentes atores que intervêm num

projeto urbano” (VILLANOVA, 2013, p.224). Essa mesma autora diz

O compartilhamento do diagnóstico leva à tomada de consciência de pontos de vista e de usos em uma apreensão comum e diferenciada do espaço perceptível. Ela solicita a responsabilidade de cada um em reavaliar seu comportamento e suas preferências. Assim, adquire-se uma cultura da concertation, que permite a reapropriação do espaço com que o habitante se identifica, invertendo a prescrição de identidades verificadas nas relações assimétricas entre governantes e governados (VILLANOVA, 2013, p. 224).

São muitos e múltiplos os modos, meios e mecanismos de leitura e compreensão da

realidade que, consequentemente sustentam os procedimentos de realização de

diagnósticos, cada um com suas incompletudes e complementaridades. Na

“sociologia cartográfica ou cartografia simbólica” (SANTOS 61 , 200, apud KOGA,

2011), pela qual se lê o território como um “sujeito em ação” (KOGA, 2011, p.21 ),

tudo o que se vê, implícito nos conceitos que representam a realidade, é

imprescindível à compreensão das relações sociais. E nesse sentido Koga lembra o

que disse Milton Santos: “o homem não vê o universo a partir do universo” mas “desde

um lugar” (KOGA, 2011, p. 26).

61 SANTOS, B.S de. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000.

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Indo um pouco mais além, é ainda possível se trabalhar com “experiências sensoriais

da cidade” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 9) no âmbito da “microescala, como a

antropologia sempre pensou” ( DUARTE; VILLANOVA, 2013, p. 9). Para as autoras,

“os instrumentos de observação da cidade e de seus usos” deve “levar em

consideração o discurso do morador para o conhecimento do universo urbano”, para

“apreensão da dimensão vivida do espaço, seja ela individual ou coletiva; a dimensão

dos sentimentos, das sensações, das representações e das significações dos locais

no interior da moradia e em espaços públicos” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p.9-15).

De qualquer maneira, as formas de analisar e interpretar a realidade não será nunca

absoluta, estará sempre permeada de erros e acertos, será sempre semiplena,

inacabada, imperfeita. O tempo, o espaço, as relações (de poder, de troca, de afeto),

as comunicações, o mercado, a política, serão sempre senhores de sua incompletude

e de suas mutações.

Não é em vão que as equipes técnicas do trabalho social devem ser multidisciplinares

e interdisciplinares. Para que os olhares se cruzem num processo produtivo de visões

e apropriações menos sujeitas ao erro ou, pelo menos mais complementares, onde o

sociólogo, o antropólogo, o assistente social, o pedagogo, o psicólogo, o arquiteto,

possam contribuir com suas disciplinas para além do funcionalismo histórico (que

rotula as funções de cada uma dessas áreas do conhecimento), sem hierarquia. Como

afirma Villanova (2013, p. 224)

O compartilhamento do diagnóstico leva à tomada de consciência de pontos de vista e de usos em uma apreensão comum e diferenciada do espaço perceptível. Ela solicita a responsabilidade de cada um em reavaliar seu comportamento e suas preferências. Assim, adquire-se uma cultura de concertation que permite a reapropriação do espaço com que o habitante se identifica invertendo a prescrição de identidades verificadas nas relações assimétricas entre governantes e governados. A busca da compreensão mútua certamente não evita os jogos de poder na arte de tomar a palavra, contudo, a relação se abre para a circulação dos saberes top-down e bottom-up [...]. Trata-se, de algum modo, de fazer emergir os saberes de minorias étnicas e culturais.

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2.4.13 CATEGORIA 13: Atividades realizadas para a execução do projeto

Esta categoria, a exemplo das demais, busca confirmar pressupostos de que há nos

projetos uma configuração expositiva desvinculada dos sujeitos, apartada do território.

Na implementação dos projetos sociais os técnicos das prefeituras privilegiam

atividades informativas realizadas em reuniões, assembleias e no plantão62 social,

cujo objetivo foca na apresentação do projeto, da equipe, dos agentes envolvidos,

informação sobre o andamento das obras e abordagens sobre o tema da saúde e da

questão ambiental. Palestras, oficinas, confraternizações, filmes e cursos também são

atividades que os técnicos dizem realizar.. Em uma das respostas houve indicação do

“acompanhamento pós-ocupação 63 através de visitas in loco, participação nas

reuniões de comissões e/ou associações no empreendimento ou entorno” (

questionário TSP3). Seguem transcritas algumas das respostas

Atividades informativas como reuniões e assembleias, além do plantão social; Levantamento de demandas para trabalhos como palestras, filmes, dinâmicas de grupo que agreguem os temas levantados e os objetivos do projeto. Avaliações periódicas para levantamento de resultados ao final do projeto (questionário TSP2)

Informações aos beneficiários: apresentação do projeto e dos responsáveis por sua execução; origem dos recursos, atribuição dos agentes envolvidos, dentre outras. Participação e organização comunitária: reuniões e demais eventos tais como palestras, encontros, oficinas, confraternização com temas voltados para a participação, andamento das obras, educação sanitária ambiental e saúde, dentre outras ( questionário TSP3). Reuniões; palestras; curso de acordo com a necessidade; encaminho quando necessário ;plantão social ( questionário TSP1).

reuniões com o público alvo para expor sobre o trabalho que será realizado (questionário TSP4).

Fica evidente nas respostas dadas pelos técnicos das prefeituras que os projetos

sociais executados nos municípios assumem uma modelagem expositiva, permeada

62 “Estrutura(s) de escritório/plantão social, constituída(s) por, no mínimo, uma estrutura fixa na área da

intervenção, dotada de recursos humanos e equipamentos [...] que deverá(ão) ser mantida(s) ao longo de toda a intervenção para o atendimento da população, onde serão disponibilizadas todas as informações necessárias, funcionando também como base logística para o Trabalho Social e para funcionamento do mecanismo para prevenção e mediação de eventuais conflitos” ( BRASIL, 2014, p.17-18 ). 63 Etapa que se inicia após a conclusão das obras e se consolida com a mudança das famílias para os imóveis.

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de informações unidirecionais, que lida com os destinatários das políticas públicas

mais como pacientes ouvintes do que como sujeitos partícipe, ratificando todas as

ponderações já feitas até aqui.

As respostas dadas pelos técnicos credenciados à questão encontram-se no quadro

abaixo. Um dos profissionais deixou a questão em branco.

Quadro 2

Categoria 13

Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Grupos focais, palestras, oficinas ( questionário TCC2).

Costumo realizar as atividades integrantes no escopo de cada projeto social apresentado e aprovado ( questionário TCC3).

1)pesquisa quantitativa e qualitativa, 2) reuniões informativas, 3) atendimentos, visitas, 4) representantes de bloco e subsíndicos mirins, 5) utilização de informativos ( questionário TCC 8).

Pesquisas quantitativas e qualitativas, atuação com jovens e crianças (GR meio ambiente, síndicos mirins), monitoramento, teatros, oficinas ( questionário TCC7).

Pesquisa quantitativa e qualitativa (DPR64, grupo focal, observação participante, mapa falado), diagnóstico, reuniões informativas com pequenos grupos; visitas domiciliares, monitoramento dos domicílios e famílias; implantação de grupos diversos: representantes de quadra de blocos, subsíndicos mirins, agentes mirins, outros; planejamento participativo, avaliações de resultados; distribuição de material informativo e educativo a partir das atividades em andamento, festas apresentações teatrais, jornal mural; dinâmicas diversas; oficinas, seminários e palestras ( questionário TCC6).

Na geração de renda ofereço cursos de capacitação na educação e possibilidade de formação com cursos do PRONATEC que além de trazer formação trazem aumento de renda. Na saúde palestras de informação e direcionamento, acompanhado do beneficiário, quando necessário, entre outros eixos como organização comunitária e educação patrimonial que trabalhamos em palestras e grupos de discussão ( questionário TCC1).

Mobilização: arrastão de informação porta a porta, elaboração conjunta de formas e canais de comunicação; organização comunitária: reuniões por blocos, formação de grupos de interesse, criação de um grupo de gestão do empreendimento, representação, formação de um grupo intersetorial com as prefeituras para o atendimento das demandas. Esse grupo intersetorial deveria ser constituído antes da entrega do empreendimento. Só depois da mudança da família é que as prefeituras se mobilizam para resolver as demandas; Eixo educação sanitária/ambiental: nesse eixo o objetivo é criar um espaço saudável de viver. A noção ambiental está ligada à construção de espaços saudáveis de moradia. Dessa forma, temos promovido atividades de lazer e esportivas para gerar apropriação dos espaços coletivos e discutir o bem-estar dos moradores. Para as crianças e adolescentes também propomos a mesma forma com a discussão da defesa dos seus direitos. Normalmente todos os problemas de depredação condominial são atribuídos a esse público; Eixo educação patrimonial: as atividades são na mesma linha da discussão ambiental acrescentado a tratativa do empreendimento como patrimônio coletivo e patrimônio da família, construção de segurança e tranquilidade; Eixo Empreendedorismo: é o eixo mais problemático e de difícil execução, o tempo de execução do PHS não permite o desenvolvimento de ações, esse eixo acaba sendo desenvolvido com ações fracas e sem diagnóstico da situação de trabalho das famílias. E os

64 Diagnóstico Rápido Participativo

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técnicos não tem capacidade e nem treinamento para essa ação. Na minha avaliação ele não deveria constar no PHS e precisa ser revisto (TCC4).

Informação ao beneficiário [...] encontros voltados para fortalecimento da convivência comunitária, orientações sobre a preservação e valorização do meio ambiente, discussão sobre o uso racional dos recursos hídricos, valorização do imóvel, adimplência e inadimplência. [...] incentivo à criação de comissões, associações ou participação em associações já existentes no entorno do empreendimento [...]( questionário TCC 11)

Reunião Comunitária para explicar no que consiste o trabalho social. Monitoramento das atividades e avaliação dos resultados alcançados. Abordagem de temas de interesse geral dos moradores. Emancipação dos usuários através da realização do TTS ( questionário TCC 13)

Reunião para apresentação e rápido diagnóstico de demandas para realizar encaminhamentos, grupos de convivência: crianças e adolescentes, mães e idosos. Visitas guiadas a horto florestal, dia de lazer com cinema na rua. Distribuiçao de mudas de plantas frutíferas ou hortaliças ou ornamentais de pequeno porte. Atendimento individual para empreendedores locais, orientação jurídica para acesso a direitos, benefícios, como pensão, questões trabalhistas, oficinas de esporte: jogos para crianças e adolescentes e exercícios e caminhadas para adultos e idosos. Confraternização em datas comemorativas ( questionário TCC 10)

Evento inicial para expor o trabalho que será realizado; reuniões de mobilização comunitária, articulação interinstitucional, cursos e oficinas de acordo com o diagnóstico inicial; pesquisa sócio familiar; palestras com profissionais específicos; escolha de representantes dos moradores; encaminhamentos para setores públicos/privados; plantão social; visitas domiciliares ( questionário TCC 9)

Mobilização e comunicação: ações informativas, suporte as intervenções físicas, articulação para parcerias, avaliação e monitoramento. Participação comunitária e desenvolvimento sócio-educativo: monitoramento e organização comunitária, atividade sócio cultural, geração de trabalho e renda, educação ambiental, patrimonial saúde e sanitária ( questionário TCC 5)

Fonte: Apêndice II, questão 36

Da fala dos técnicos credenciados, apreendem-se algumas questões que merecem

ser ressaltadas: Pergunta-se acerca das atividades realizadas na implementação dos

projetos. Um dos técnicos, ao referir-se ao trabalho realizado com os jovens na

Educação Sanitária e Ambiental, diz que “normalmente todos os problemas de

depredação condominial são atribuídos a esse público” ( questionário TCC 4) e

menciona que “para as crianças e adolescentes também propomos [...] a discussão

da defesa dos seus direitos”. Entendemos que nesse caso faltou o tratamento da

dimensão jurídica do cidadão, seja ele criança, jovem ou adulto, que implica não

somente o conhecimento e a defesa de seus direitos, mas a exata noção de seus

deveres, repaginando o assistencialismo comum na gestão pública. Mas algumas

respostas trazidas por esse mesmo profissional demonstram uma compreensão

diferenciada acerca do Eixo Educação Ambiental e Patrimonial no qual relaciona a

variável ambiental na perspectiva do “ambiente saudável de viver” e o patrimônio na

perspectiva do coletivo. ( questionário TCC4). Outra percepção desse profissional

que reflete o modelo de trabalho social realizado até então relaciona-se ao eixo do

empreendedorismo, da geração de trabalho e renda e do desenvolvimento

socioeconômico. De acordo com esse profissional, esse “é o eixo mais problemático

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e de difícil execução”. Segundo ele o tempo do trabalho social não é suficiente para

“desenvolver ações efetivas” ( questionário TCC4).

Cabe ressaltar que, é possível extrapolar o eixo do empreendedorismo de negócio,

onde empreender é apenas engajar-se em uma atividade lucrativa qualquer. No

trabalho social é possível e pertinente trabalhar com a noção de empreendedorismo

cívico e empreendedorismo social65 que, por sua vez, faz interface com o próprio

empreendedorismo de negócio, pois, para este é necessário antes promover a

formação ética e cívica dos indivíduos e da coletividade. E para a consolidação do

eixo do desenvolvimento socioeconômico, no qual está incluído o empreendedorismo,

está previsto, a partir da publicação da Portaria 21/2014, o Plano de Desenvolvimento

Socioterritorial, que deve ser construído de forma coletiva, prevendo a

complementaridade e a participação dos diversos agentes presentes na macroárea,

inserindo o público alvo da intervenção nas ações e programas implementados pelas

instituições que atuam no território.

Já o Eixo Educação Patrimonial precisa extrapolar a noção do patrimônio enquanto

empreendimento ou unidade habitacional e incorporar a noção de patrimônio em suas

variadas manifestações culturais tangíveis e/ou intangíveis, que reconheçam

memória, história, valores, lugares como fonte de conhecimento, reconhecimento (de

fatos, coisas, vivências), desenvolvimento sócio-organizativo e construções coletivas

a serem apropriadas pelo trabalho social. De acordo com Carter

A Educação Patrimonial objetiva o estabelecimento de uma relação de afeto da comunidade pelo patrimônio histórico-cultural, sendo a sua metodologia aplicável aos mais variados grupos sociais e podendo ter como objeto qualquer tipo de bem cultura. [...] permite à comunidade reapropriar-se de objetos, lugares e saberes importantes para o reconhecimento de sua cidadania (CARTER, 2004, p.38-50)

65 Em consonância com um dos conceitos trazidos por Oliveira (2004 ) da Foud Schwab, Suíça: "São agentes de

intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam idéias inovadoras e vêem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social." (OLIVEIRA, E.M, Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias. Rev. FAE, Curitiba, v.7, n.2, p.9-18, jul./dez. 2004).

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2.4.14 CATEGORIA 14: Monitoramento e avaliação de projeto

A Categoria 14 apresenta as questões relativas ao monitoramento e avaliação de

projetos sociais.

Os técnicos das prefeituras responderam que realizam as avaliações “com relatórios,

avaliações dos beneficiários” (questionário TSP1); “aplicação de questionário de

avaliação das ações” (questionário TSP4); “não somente através do cumprimento de

metas e prazos como também da satisfação dos beneficiários através de

questionários aplicados” (questionário TSP3). Um dos técnicos não respondeu à

questão e outro especificou dizendo que

“Acontece da seguinte forma: 1ª avaliação no início dos trabalhos ( marco zero); 2ª avaliação no início dos trabalhos ( 50% das ações executadas ) e 3ª avaliação no último encontro, geralmente uma assembleia para discussão do projeto como um todo, avaliação final e encerramento do trabalhos” (questionário TSP2).

Um entre os treze credenciados não realiza monitoramento dos projetos. Nas

respostas dos doze outros foi dito que o monitoramento é realizado por meio de

“avaliações dos beneficiários de todas as ações realizadas” (questionário TCC2);

“pesquisa de monitoramento ao final de cada atividade” (questionário TCC3); “através

de visitas nas casas dos beneficiários e questionários de avaliação dos resultados”

(questionário TCC1); “através de pesquisa com os moradores” (questionário TCC13);

“aplicando avaliação” (questionário TCC5); “pesquisa e avaliação” (questionário

TCC7). Seguem outras respostas extraídas dos questionários, Apêndice II

Pesquisa Ex-Ante (questionário, DRUP, outros ), monitoramento, reuniões de equipe, reuniões de avaliação com a população, dinâmicas com população, reuniões com a prefeitura, seminários, oficinas, avaliação pós-ocupação, pesquisa quantitativa e qualitativa ( geralmente grupo focal ), relatório (questionário TCC6); Relatórios e dinâmicas e avaliação após os encontros com os moradores. Esse é um item que avalio como fraco no meu trabalho. Ainda temos uma dificuldade de gerar processos avaliativos com os participantes. Se o público se distancia, temos poucas ferramentas para avaliar os motivos e reprogramar o trabalho (questionário TCC4); Nosso monitoramento tem sido pela sistematização das fichas de avaliação e listas de presença. Por meio de nº de participantes nas atividades, pelo conceito de avaliação que ele dá à atividade e pelas anotações-avaliação qualitativa. Além da manifestação da equipe técnica (questionário TCC10).

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Avaliações feitas com a equipe técnica, contratante e beneficiários verificando listas de presença, fichas de inscrição, fichas de atendimento do plantão social, pesquisa final avaliação ( questionário TCC9).

Em relação à percepção dos técnicos sobre o significado da avaliação final dos

projetos sociais em habitação, todas as opções de respostas foram consideradas nos

diferentes questionários, sendo que dois profissionais, um técnico credenciado e um

técnico municipal, marcaram todas as opções, ou seja, entendem-na como um

momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o

êxito, as lições aprendidas, a pertinência das metodologias empregadas, como um

momento de fazer a análise crítica do projeto, de fazer a prestação de contas e zerar

pendências, de verificar a eficácia e se os esforços dispensados foram adequados e

compensadores. Entre os credenciados há o entendimento de que a avaliação final

representa uma oportunidade de “verificar as falhas e excessos e tentar corrigi-los

[...]”(questionário TCC1). “Avalio que todos os itens acima ( referindo-se a todas as

respostas dadas no questionários e que foram acima elencadas ) correspondem à

finalização do projeto, contudo como as ações de monitoramento são fracas, essas

avaliações poderiam ocorrer durante a execução do projeto” (questionário TCC4).

Em todas as respostas é possível verificar que em nenhum momento foi mencionada

a utilização de indicadores de monitoramento e avaliação nem tampouco a

discriminação de métodos relacionados à relação temporal das avaliações face aos

momentos de execução do projeto ou à própria natureza das avaliações. Além disso,

fica explícita a assimilação da avaliação como um instrumento relacionado à

intervenção microespacial, no âmbito do empreendimento, da família, das pessoas,

muitas vezes na intenção de avaliar a “satisfação dos beneficiários” em relação à

intervenção ou às atividades realizadas sem se preocupar com a verificação de seus

impactos no âmbito macroespacial, sem trazer para dentro dessa avaliação a

dimensão socioterritorial. Ainda assim resta a pergunta: satisfação em que nível?

Medida de que forma? Em relação a quê? Como foram estabelecidos os critérios de

participação na “pesquisa” de avaliação? Como foi feita a análise? Com que

profundidade e consistência? A julgar pelo beneficiário que não participou

efetivamente das atividades, mas está feliz por ter sido contemplado com a moradia a

avaliação não serve para medir o trabalho social propriamente dito nem para medir as

transformações sociais geridas no âmbito da família, do empreendimento ou da

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comunidade. E ainda, a satisfação daquele indivíduo com sua moradia espelha o

contexto em que essa moradia se constituiu? Ou seja, a satisfação está atrelada ao

sentido da gratidão pela oportunidade de se ter obtido um “teto” para si e para sua

família ou pelo fato de que a moradia representou para ele a propriedade de um bem

que se constitui de uma infraestrutura dotada dos equipamentos e serviços

necessários, da qualidade ambiental, controle urbanístico, inserção urbana, vida

social e comunitária? A qualidade dos serviços e equipamentos está implícita nessa

avaliação?

Analisando comparativamente as respostas às questões relativas ao monitoramento

e à avaliação final, parece ser precário o discernimento entre a ação de monitorar e a

ação de avaliar que, embora se complementem e intercedam, cada uma tem suas

“particularidades de sentido, metodologias e estratégias” ( BRASIL, 2010, p.117 ) que

devem ser cuidadas separada e paralelamente para a gestão técnica, política e

gerencial do projeto. E nesse sentido é necessário compreender que a avaliação

engloba o monitoramento, pois para avaliar é preciso monitorar. Nesse sentido, a

avaliação, amparada no monitoramento, é capaz de identificar “processos, resultados

e impactos”, e de comparar “dados de desempenho”, julgar, informar e propor ações,

redirecionamentos, políticas, programas, articulações (BRASIL, 2010, p.117 ).

Ressalta-se que em se tratando de intervenções vinculadas a políticas públicas e

realizadas com recursos públicos a avaliação torna-se

uma obrigação pública, um dever ético, pois envolve recursos que são da coletividade, exigindo maior probidade no gasto e maior distributividade social. Por isso, está relacionada à relevância social, ao desempenho, eficiência, resultados e impactos do projeto no contexto dos objetivos estabelecidos, sendo um instrumento de gestão pública e de controle social das políticas públicas (BRASIL, 2010, p. 117).

E é, portanto, esperado na execução dos projetos sociais em programas de provisão

habitacional que as avaliações ocorram durante todo o ciclo de vida de seu processo

de implementação, desde sua concepção ou marco zero ( ex-ante ), passando pelo

monitoramento, ou avaliação ‘intra’, onde se avaliam as atividades do processo

enquanto estas se desenvolvem, identificando os acertos, os erros, as dificuldades de

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forma a permitir que, tempestivamente, se redirecione ações com vistas à efetividade

do projeto, e pelo post, que coincide com a finalização imediata da execução do

projeto, detectando, registrando e analisando os primeiros resultados (ABDALA,

2004). A avaliação ex-post, realizada tempos após a conclusão do projeto para

verificação dos impactos e resultados consolidados no tempo, pode agora, com a

sistemática da Portaria 21/2014, ser feita ao final do prazo de elaboração e execução

do PDST para verificação do projeto social propriamente dito. Quanto ao ex-post do

próprio PDST, fica a sugestão para o Ministério das Cidades criar condições de sua

realização uma vez que este instrumento pressupõe um prazo de incubação e

maturação.

A aplicação da Portaria 21/2014, com a consistência necessária à materialização do

que acima se expõe, esbarra inevitavelmente nas limitações, e até mesmo na

inexistência, dos métodos e técnicas de gerenciamento dos projetos da intervenção

integrada por parte da gestão municipal e dos projetos sociais elaborados e

implementados pelos profissionais responsáveis pelo trabalho social resultando em

ações isoladas e numa entrega dos produtos descomprometida com a

sustentabilidade.

Ressalta-se, entretanto, que o ciclo de vida dos projetos de trabalho social não permite

a avaliação ex-post no rigor do método e de suas premissas. Para um levantamento

mais apurado dos impactos do trabalho social e das intervenções não só na vida das

pessoas, mas no território, seria necessário que os programas fossem constituídos da

prerrogativa do retorno das equipes aos empreendimentos após determinado período

de tempo para os levantamentos necessários ao aprimoramento das ações e políticas

públicas e ao controle social

Considerando que, de acordo com a portaria 21/2014, o Ministério das Cidades,

responsável por definir as diretrizes e procedimentos operacionais de implementação

do trabalho social, tem a atribuição de definir com as instituições financeiras os

instrumentos de avaliação e monitoramento do trabalho social, além de desenvolver

e apoiar ações de capacitação voltadas aos Entes Públicos, fica aqui uma sugestão:

que o Governo Federal/MCidades institua programas e ações de avaliação ex-post

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das intervenções de habitação de interesse social como uma ação a ser realizada

pelas equipes do trabalho social.

2.4.15 CATEGORIA 15: Como considerar o projeto concluído

A Categoria 15 traz a compreensão dos técnicos acerca do processo de conclusão de

um projeto social no sentido do que isso significa para eles em termos dos objetivos

dos projetos, de como é feita a transição, ou a “transferência” dos bens e serviços à

população para então a equipe deixar a área de intervenção.

Para sete credenciados e dois técnicos municipais, concluir um projeto social em

habitação significa a entrega e aceitação do relatório final do projeto. Para cinco

credenciados e um técnico municipal significa também a conclusão dos contratos

firmados. Para cinco credenciados e um técnico de prefeitura, o

pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados

também representa a conclusão de um projeto. Entre os técnicos das prefeituras

houve dois outros entendimentos além das opções dadas acima: “significa a

possibilidade da realização de muitas famílias terem seu lar, sua casa, com dignidade,

sendo desta forma agentes transformadores tendo assim uma moradia digna”

(questionário TSP1); “significa cumprir todas as ações propostas de forma

minimamente satisfatória, podendo observar na realidade de vida dos beneficiários a

reprodução dos conteúdos trabalhados e discutidos durante o TS66” (questionário

TSP2).

Dois credenciados entendem que a conclusão do projeto seria o momento de realizar

evento de encerramento e desmobilizar a equipe (questionários TCC7 e TCC 13), o

momento em que a comunidade encontra-se “organizada” (questionário TCC 7).

Houve quem dissesse que “o prazo de execução define o encerramento do trabalho e

assim acaba sendo um elemento limitador do projeto” (questionário TCC4). Alguns

deles se expressaram além das opções dadas afirmando

66 Trabalho Social

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Concluir um trabalho social é realizar todas as atividades, ações programadas e contratadas, tendo avaliado todo o trabalho ( equipe e comunidade ), tendo a segurança de deixar a comunidade com bom nível de organização (questionário TCC6).

Ao final de uma execução, pessoalmente, busco avaliar e identificar um legado, algo que o TS possa ter deixado naquele bairro/residencial/polígono ou público alvo. Com poucos anos de experiência que tenho na área, infelizmente o legado não é tão significativo quantitativamente, mas o é qualitativamente. Exemplo do curso de manicure e pedicure e cabeleireiro, em Campo Belo (MG), formou-se um salão comunitário junto a associação de moradores. Em Itaúna, houve maior utilização dos serviços de cata-treco, pois os móveis eram deixados na rua do residencial Santa Edwirges. Em Nova Serrana estamos deixando uma associação de moradores bastante ativa, especialmente com diálogo com o poder público municipal. Em Araguari o que comoveu e envolveu os moradores foram as mudas de plantas frutíferas que foram distribuídas. Como também a escolhinha de futebol e o curso de fotografia. Enfim, não são em todos os eixos do TS que os beneficiários se envolvem e interessam. E a conclusão do projeto pra mim é quando consigo identificar um item, uma atividade que deixou um legado ao bairro (questionário TCC 10).

Ao serem perguntados sobre como percebem que o projeto atingiu seus objetivos, Os

credenciados responderam: quando “possibilitou modificação no comportamento dos

beneficiários” (questionário TCC2); quando os moradores estão “organizados”

(questionário TCC7); “quando as avaliações realizadas, principalmente pela

população beneficiada, foram positivas nas atividades realizadas, demonstrando que

a metodologia foi adequada” (questionário TCC9); “quando houve compreensão das

famílias de tudo o que foi trabalhado, e conhecimento para a realização de mudandas”

(questionário TCC1); Quando os beneficiários entendem qual é o verdadeiro objetivo

do trabalho e quando o mesmo modifica por completo a vida das famílias envolvidas

( questionário TCC13). Outras respostas dos credenciados acerca do que significa

para eles concluir um projeto seguem transcritas

Consegue implantar uma equipe administrativa que consegue atuar de forma objetiva e defendendo os interesses da comunidade (questionário TCC8); Quando houve mudança de comportamentos e atitudes frente à moradia; consolidaram-se atitudes em direção à autogestão; representantes da comunidade conseguem conduzir e solucionar problemas coletivos, encaminhando-os (questionário TCC6); Pelo grau de satisfação demonstrado pelos beneficiários durante a execução do projeto e avaliação final (questionário TCC11);. Quando repassou informações úteis aos mutuários/beneficiários. Esclacreceu e informou sobre os serviços públicos, atendimentos e horários; conversou e conscientizou sobre o patrimônio adquirido. Conscientizou sobre

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a manutenção e conservação do território e seus equipamentos (questionário TCC10); “quando os objetivos propostos são alcançados e verifica-se o envolvimento e participação de todos os agentes envolvidos no processo. Quando todos estão informados e conscientes de seus deveres e obrigações” (questionário TCC3) Quando o mesmo contribui e viabiliza a promoção da qualidade de vida das famílias beneficiárias. Fator de grande relevância para diminuição do déficit habitacional e controle social ( questionário TCC5). Quando é possível identificar um nível de organização dos moradores reconhecido pela maioria da pop67 (sic) do empreendimento ( questionário TCC4).

Para os técnicos dos municípios o projeto atingiu seus objetivos quando “a população

se apoderou das informações repassadas e discutidas durante o TS e passou a agir

na realidade de forma consciente e efetiva, fazendo com que estes conteúdos sejam

usados no dia-a-dia [...]” (questionário TSP2); quando “todas as famílias estão

morando no empreendimento, respeitando o outro, que é público e privado, e

principalmente tendo sua autonomia com direito a educação, saúde e lazer”

(questionário TSP1); “quando os beneficiários ou maioria deles compreenderam o

objetivo das ações realizadas e no seu cotidiano usufruem do que foi aprendido”

(questionário TSP4); “pelo grau de satisfação demonstrado pelos beneficiários

durante a execução do projeto e avaliação final” (questionário TSP3);

Sobre o momento de transição e entrega, ou seja, o momento em que a equipe técnica

irá “sair de campo” pela conclusão do trabalho social, os técnicos das prefeituras

dizem consistir:

Dos beneficiários terem sua autonomia, enfim de se verem como responsáveis pelo empreendimento e pelas suas casas (questionário TSP1); No início de uma nova etapa dos gestores da política de assistência social junto aos beneficiários objetivando a sustentabilidade do empreendimento (questionário TSP3); Em conscientizar os beneficiários que desse momento em diante eles devem assumir seus imóveis de forma responsável e consciente, pois todo o TS foi realizado para dar suporte a este momento de assumir as responsabilidades sobre a UH, sobre outros bens que por ventura foram construídos no projeto e sobre as atribuições de cada pessoa em seu meio comunitário (questionário TSP2);

67 População

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Consiste em ‘sair de campo’ sabendo que o trabalho contribuiu com a melhora da qualidade de vida dos beneficiários. Ter a consciência que eles poderão repassar o que foi aprendido aos seus familiares, amigos, entre outros e principalmente a valorização do bem adquirido ( questionário TSP4).

Os técnicos das prefeituras afirmaram que preparam os beneficiários para esse

momento ao longo da execução do projeto “com palestras, encontros pertinentes, já

tratando do assunto” (questionário TSP1); Um dos técnicos disse que “esse momento

já vem sendo trabalhado desde o início do projeto com os beneficiários, através de

informações aos mesmos que o TTS (Trabalho Técnico Social) será finalizado,

visando o protagonismo dos usuários” (questionário TSP4); Um dos técnicos afirmou

durante os trabalhos os beneficiários são constantemente lembrados que quando receberem seus imóveis devem zelar dos (sic) mesmos, devem assumir a responsabilidade sobre os mesmos por si só, sabendo que não mais contarão com o apoio das equipes técnicas, que estarão trabalhando em novos projetos e não cuidando constantemente de projetos já encerrados (questionário TSP2);

Para os credenciados, a transição do projeto, “significa cortar os laços com o público

alvo deixando a certeza de uma intervenção bem feita e uma comunidade mais

madura” (questionário TCC3); “consiste na autonomia dos beneficiários em relação

ao protagonismo de suas vidas” (questionário TCC13); consiste no “momento de

finalização do projeto” (questionário TCC2); na “avaliação final e a certeza da

população organizada” (questionário TCC7); na avaliação final do trabalho e definição

de um plano compartilhado para o futuro” (questionário TCC6); “momento importante

para ocorrer o empoderamento da população (questionário TCC9); “desde o início

[...] a população é preparada [...].No final ]...] essa etapa é considerada normal pelos

moradores, fazendo parte de uma sequência” (questionário TCC6); “oportunidade de

empoderamento da sustentabilidade habitacional à população atendida” (questionário

TCC5). Outros três credenciados responderam

No programa Minha Casa Minha Vida, sinto que a transferência é penosa. A equipe administrativa, nem os moradores estão (sic) preparados, ainda, devido a vários fatores, à ‘saída de campo’ da equipe técnica (questionário TCC8); Um momento de avaliação do que foi realizado, e a definição de uma nova agenda para os grupos que foram criados/formados. A elaboração de um pequeno plano de ação para o grupo (questionário TCC4);

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Penso que seja o momento de um grupo gestor ou associação de moradores já estar constituído, e a equipe repas sar as informações sobre articulações realizadas, órgãos e entidades/instituições de relevância para o bairro (questionário TCC10); A partir do momento que a família tem a capacidade de escolher o caminho pelo qual quer seguir, tendo conhecimento de todas as possibilidades que foram apresentadas (questionário TCC1).

Ao analisar o conjunto das respostas, percebe-se que preparar os beneficiários para

o momento da conclusão do projeto significa informar o prazo da intervenção, realizar

“capacitação, dinâmica na qual o objetivo principal é o fortalecimento da equipe

administrativa” (questionário TCC8);. Um credenciado afirmou que realiza “grupo focal

para a avaliação do que foi realizado e elaboramos conjuntamente um plano de ação

para o grupo desenvolver” (questionário TCC4); outro disse que os prepara

“transmitindo informações dos locais e pessoas que eles podem procurar para ajudá-

los a resolver os problemas que surgem no dia-a-dia e me colocando à disposição

quando há dúvidas permitindo que eles liguem, enviem e-mail e dando orientações

para eles” (questionário TCC1); “[...] informando [...] durante todo o projeto que o

mesmo vai ter fim e as pessoas precisam se apropriar do que for oferecido no TS”

(questionário TCC9).

Percebe-se o aspecto formal e tecnocrático dispensado ao trabalho realizado pelos

profissionais do trabalho social ao responderem que concluir um projeto significa

principalmente a entrega e aceitação do relatório final do projeto, conclusão dos

contratos firmados e o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços

entregues e realizados. Na conclusão dos projetos de trabalho social os técnicos

devem antes ter a certeza do que se legou ao território, à área de intervenção, às

comunidades, às pessoas, e a si próprios enquanto parte das relações que se

estabeleceram no processo de implementação dos projetos, que por sua natureza é

dialética - ao trabalhar no e com o território, esse técnico modifica a si mesmo.

Portanto, ter a certeza de que o trabalho social foi capaz de contribuir na subversão

da ordem patrimonialista e clientelista enraizada na gestão pública, criou condições e

espaços de vocalização, instaurou capacidades de problematização e transformação

das relações para uma práxis social transformadora (QUARESMA, 2012, p. 198 ), e,

ressalte-se, foi dito ‘contribuir’, pois essa obra será sempre inacabada e em contínua

construção - é minimamente aí que o trabalho social poderá ser considerado concluído

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enquanto projeto de intervenção, mas outras e novas e contínuas intervenções serão

necessárias.

Não é o caso de ignorar a importância das questões práticas, administrativas,

operacionais, racionais e objetivas desse momento como romper os laços

construídos, desmobilizar as equipes, preparar as pessoas para seguirem seus

caminhos aplicando os conhecimentos adquiridos, que são parte integrante do

processo, mas estas sucedem àquelas, caso contrário, as metodologias de avaliação,

se aplicadas, indicariam a necessidade de redirecionar alguma ação para que os

objetivos e metas do trabalho social se concretizassem.

E hoje, considerando a normatização do trabalho social vigente, é preciso levar em

consideração o Plano de Desenvolvimento Socioterritorial (PDST) que pressupõe a

aproximação do setor privado e do terceiro setor atuantes na macroárea com o

trabalho social. Implica inserir projetos e proposições desses segmentos no

cronograma de desenvolvimento do território. Nesse sentido, encerrar o projeto social

poderia significar a entrega da comunidade, do empreendimento, à outro segmento

para a continuidade de uma intervenção potencializadora das ações iniciadas pelo

trabalho social visto que o setor privado e as entidades do terceiro setor lidam com o

princípio da responsabilidade social tendo equipes e departamentos exclusivamente

voltados à elaboração e execução de projetos nas comunidades com as quais se

relacionada direta ou indiretamente e trabalham com fundos incentivados como o

Fundo a Infância e da Adolescência ( FIA ), leis de incentivo à cultura, ao esporte e à

aprendizagem ( BRASIL, 2010, p.268-273 ).

2.4.16 CATEGORIA 16: Identificação de problemas após a saída de técnico

Nesta Categoria buscou-se identificar o conhecimento dos técnicos acerca de

problemas ocorridos nos empreendimentos após o término do trabalho social ou

mesmo durante sua realização que não tenham sido solucionados ao longo do período

de execução do projeto de intervenção.

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Treze técnicos, entre os municipais e os credenciados afirmaram ter tido

conhecimento de problemas que não tenham sido solucionados ou encaminhados

pela equipe técnica ou seus respectivos responsáveis. Entre os problemas relatados

pelos credenciados encontram-se aqueles relativos às questões construtivas, falta de

equipamentos e serviços públicos (escola, creche, transporte, posto de saúde ),

segurança, violência, “violência relacionada à droga”(questionário TCC7). Seguem

transcritas algumas colocações dos técnicos credenciados

Geralmente problemas de violência são constantes durante o trabalho social e em muitos casos costumam piorar com a saída dos técnicos sociais (de campo/conclusão dos trabalhos). São problemas estruturais que fogem a competência com o trabalho social. Geralmente ligados a grupo a margem da lei, ligados ao tráfico, em suas diversas formas (questionário TCC6); Depredação das áreas coletivas/do salão comunitário; as denúncias de imóveis alugados; os vícios construtivos dos imóveis sem solução pela construtora (questionário TCC4); Relacionados à segurança: assassinato e estupro. Também invasão, roubo ao escritório social. Vícios construtivos que não são respondidos pela ouvidoria do MCMV. Assassinato: uma mutuaria alugou o imóvel para traficantes. Após buscar o pagamento do aluguel, que teve dificuldades em receber, ela foi encontrada enterrada de cabeça para baixo próximo ao imóvel, o fato aconteceu no residencial Geraldo Veloso em Formiga/MG. O caso referente ao estupro foi no Portal de Fátima em Araguari/MG. A equipe do TS identificou nas reuniões informativas, por meio de desenhos de moradores, problema da sujeira em áreas institucionais e áreas não capinadas, sujas, em que a CEMIG 68 dizia que era responsabilidade da prefeitura e vice-versa. Em Janeiro/14 a equipe comunicou às secretarias pertinentes. Nada foi feito. Em fevereiro comunicou novamente. No final de março uma senhora foi estuprada na área de matagal. Em abril o secretário de limpeza urbana visitou o escritório social (questionário TCC10);

Nas respostas dos técnicos dos municípios encontram-se relatados “alguns conflitos

entre vizinhos e interesse em comercialização do imóvel” (questionário TSP3);

“abandono do apartamento, “moradores irregulares” 69 (questionário TSP1). Dois

relatos desses técnicos merecem destaque

68 Centrais Elétricas de Minas Gerais. 69 Moradores que residem nos imóveis sem terem sido os destinatários originais dos subsídios e que, portanto, são desprovidos de contrato formal com a CAIXA. De acordo com a regulamentação do programa e as condições contratuais, a destinação dos imóveis é única e exclusivamente para a moradia da família beneficiária não havendo a possibilidade, por exemplo, da utilização do imóvel para fins comerciais e o prazo para mudança do para os imóveis, que antes era de 30 dias, agora deve ser imediatamente após o recebimento das chaves. Como os subsídios financeiros concedidos para a aquisição da unidade habitacional são pessoais e intransferíveis, o beneficiário não pode vender o imóvel até a quitação do valor do financiamento. Muitos, entretanto o fazem, descumprindo cláusulas contratuais. Mas há também o caso de unidades habitacionais invadidas, cedidas, doadas e dominadas pelo crime organizado ( como o caso do Residencial Guadalupe no subúrbio do Rio de janeiro que ficou nacionalmente conhecido pela veiculação na grande mídia que foi invadido pelos traficantes em Novembro de 2014 que necessitou de intervenção do Estado para reintegração de posse).

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Venda de UH (unidades habitacionais) para terceiros pouco tempo depois da entrega da mesma; invasão da UH antes do término da obra ou mesmo antes da entrega destas ao beneficiário de direito, roubo de materiais das UH durante de depois da conclusão das obras; locação de UH. Inadimplência nos programas de financiamento; desistência de beneficiário durante o processo (questionário TSP2).

A entrada dos técnicos em campo já é precedida de uma carga de problemas,

dificuldades e obstáculos que as equipes precisam enfrentar para criar as condições

mínimas de trabalho. Alguns absolutamente insolúveis pelas mãos do trabalho social.

Estes, relacionados aos problemas construtivos, para os quais a equipe técnica tem

no máximo, hoje, a prerrogativa de prover as condições para os encaminhamentos

necessários, trabalhando, claro, paralelamente, como lhe é atribuição, a formação de

consciências, a capacidade de mobilização social em torno da questão, para criar

meios de conduzir o enfrentamento aos interesses políticos e às leis de mercado que

até então legitimaram o princípio de que se é os pobres pode ser de qualquer jeito e

em qualquer lugar.

Outras condições antepostas, que prejudicam o legado do trabalho social e que lhe

fogem ao controle por serem objeto de interlocução entre políticas públicas, alinham-

se às condições macroeconômicas e sociais. Os empreendimentos em sua grande

maioria localizam-se em áreas de periferia, onde facções criminosas constituem um

“terceiro poder” contra o qual trabalho social não tem forças, capacidade e nem

autoridade para enfrentar, não lhe sendo também atribuição direta. Promover a

inserção social, econômica, cultural e política das comunidades constitui o

enfrentamento a longo prazo da questão da droga, da ociosidade, da marginalidade,

da criminalidade, da adição, mas isso é ação indireta prevista no trabalho social. As

outras ações cabem ao poder público, às políticas públicas.

Resta ainda o enfrentamento à falta de civismo, de vontade coletiva. O trabalho social

aqui consegue apenas contribuir na construção de comunidades cívicas, compostas

de cidadãos com obrigações a cumprir, “virtuosos e imbuídos de espírito público”

(PUTNAM, 2006, PP.100-101 ). Essas, a longo prazo, serão capazes de combater a

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outra vertente que dificulta a ação eficiente do trabalho social: o patrimonialismo e a

cultura do favor.

Putnam utiliza a expressão “familismo amoral”, de “Edward Banfield”70, para elucidar

a falta de virtude cívica existente na intenção de “maximizar a vantagem material e

imediata da família nuclear”; supondo “que todos os outros agirão da mesma forma”

(BANFIELD, 1958, p. 85 apud PUTNAM, 2006, p. 102 ). Seria falta de virtude cívica,

portanto, as questões elucidadas pelos técnicos de depredação dos espaços coletivos

(a pedra que se joga para o alto ), aquelas situações já ditas, em que as famílias,

ainda que reconheçam não preencher os requisitos previstos nos programas, invistam

na tentativa de deles se beneficiar ou, uma vez beneficiadas, não se apropriam daquilo

que lhes foi concedido, como nos programas de habitação de interesse social, em que

não utilizam o imóvel para sua própria moradia e fazem desse imóvel um objeto de

reserva patrimonial.

Não se espera altruísmo das comunidades beneficiárias dos programas de habitação

de interesse social ou das políticas públicas de um modo geral, mas um mínimo de

civismo e compreensão do que lhe é atribuído enquanto cidadãos que, ao se

apropriarem de direitos, lhe são reservadas expectativas de cumprimento de deveres.

Como diz Putnam que nos convida a uma análise bastante interessante

Pode muito bem haver um exagero na dicotomia entre interesses próprios e altruísmo, pois nenhum mortal e nenhuma sociedade bem-sucedida podem ( sic ) prescindir do poderoso estímulo do interesse próprio. Os cidadãos da comunidade cívica não têm que ser altruístas. Mas na comunidade cívica os cidadãos buscam o que Tocqueville (1996) chamava de “interesse próprio corretamente entendido”, isto é, o interesse próprio definido no contexto das necessidades públicas gerais, o interesse próprio que é “esclarecido” e não “míope”, o interesse próprio que é sempre sensível aos interesses dos outros [...].Os cidadãos de uma comunidade cívica não são santos abnegados, mas consideram o domínio público algo mais do que um campo de batalha para a afirmação do interesse pessoal ( PUTNAM, 2006, p. 102 ).

Essa foi a base inspiradora da realização do presente estudo e é nela que se acredita

que o trabalho social realizado nas intervenções do desenvolvimento urbano deve se

apoiar para a construir o caminho da superação de toda a estrutura que emperra a

consolidação da gestão social, governança e governabilidade.

70 BANFIELD, EDWARD C. The moral basis of a backward society. Chicago Free Press, 1958, p. 85.

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2.4.17 CATEGORIA 17: Papel transformador do trabalho social

Nesta categoria objetivou-se verificar se os técnicos do trabalho social reconhecem

nele algum potencial transformador da realidade. Primeiramente, cabe destacar que

todos os técnicos respondentes dos questionários desta pesquisa consideraram que

o trabalho social tem um papel transformador.

De acordo com Carvalho (2014), referindo-se aos idos dos anos de 1960, quando “a

ênfase era colocada nas metodologias de educação popular [...] sob influência das

proposições de Paulo Freire” (CARVALHO, 2014, p. 18), o trabalho social

[...] era compreendido como ação sociopedagógica que requeria a combinação de saberes múltiplos convertidos em processo, argumento, instrumento, conteúdo, relação. Abarcava processos políticos de mobilização e, igualmente, aqueles processos clássicos do trabalho social consubstanciados no trato psicossocial, na pedagogia emancipatória, na afetividade, no cuidado. [...]

Na década de 1990, de acordo com a autora, o trabalho social atravessou momentos

de uma “razão instrumental” baseada em controles técnicos, e hoje vem resgatando

seu papel de mediação no processo de implementação das políticas públicas e

promotor de processos participativos “associados à transformação e à emancipação

social” (CARVALHO, 2014, p. 18). É possível dizer que, a julgar pelo número de

programas de desenvolvimento urbano com exigência de sua realização a exemplo

das ações de provisão habitacional, saneamento, urbanização de assentamentos

precários, regularização fundiária, seu o lugar de reconhecimento está posto. A

consagração da premissa de que a disponibilização de bens e serviços por si só,

apesar de essenciais, não promove inclusão social nem emancipa se feita sem as

mediações necessárias que o trabalho social é capaz de fazer, é condição essencial

à sua consolidação.

O trabalho social tem, portanto, um grande poder de transformar a realidade das

comunidades/pessoas destinatárias dos programas e políticas públicas, de contribuir

na promoção da mobilidade social, de despertar nas pessoas atitudes cívicas, de

promover mobilização social e abrir trincheiras para o desenvolvimento socioterritorial.

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Sua concepção avançou significativamente no sentido de incorporar a macroárea

como seu campo de atuação, de ser objeto de maiores percentuais de recursos para

sua execução, de considerar a educação patrimonial e ambiental e o desenvolvimento

socioeconômico como eixos de ação, falta entretanto o apoio institucional e político,

logístico, operacional e instrucional para que o reconhecimento suplante as

dificuldades de sua efetiva aplicação, pois o fato de estar normatizado, ser parte

integrante dos programas e ser potencialmente viabilizador da gestão social, não

garante sua concretude.

2.4.18 CATEGORIA 18: Grau de intensidade e objeto central do poder

transformador do trabalho social

A Categoria 18 teve o propósito de verificar junto aos profissionais onde reside o maior

poder transformador do trabalho social e em que intensidade. De acordo com as

análises todos os técnicos das prefeituras acreditam que o trabalho social tem um

intenso poder de transformar a realidade. Entre os técnicos credenciados esse

entendimento, entretanto não é unânime. Oito credenciados acreditam ser intensa

essa capacidade do trabalho social de mediar as políticas públicas e promover

transformações importantes. Um deles acredita ser “intensa em alguns casos” e

“pouco intensa em outros” ( questionário TCC6). Dois acreditam ser pouco intensa e

dois acreditam ser muito intensa.

Entre os técnicos das prefeituras, quatro acreditam na perspectiva socioeducativa e

de formação política para a construção da cidadania presente no trabalho social. Dez

credenciados também o creem. Outras perspectivas presentes no trabalho social

consideradas pelos técnicos: portunidade de se colocar profissionais da área social

em campo atuando como agentes desta transformação ( 03 credenciados e 03

técnicos municipais ); proposição de ações voltadas à informação e formação a partir

de metodologias adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho social(

02 técnicos municipais e 4 credenciados ). Entre esses técnicos, dois técnicos

municipais atribuíram ao trabalho social o poder de transformar a realidade a partir

das ações de educação ambiental e quatro credenciados, sendo que um destes

credita essa possibilidade ao “público infanto-juvenil” e à possibilidade da “venda do

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óleo de cozinha usado [...] ou na coleta de móveis e utensílios domésticos”

(questionário TCC10), na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas

importantes relacionados à saúde e à higiene (02 credenciados e 02 técnicos

municipais). Enquanto quatro técnicos municipais acreditam que esse poder se

concentra também na oportunidade de agir no território, somente três, dos treze

credenciados, atribuem a essa possibilidade o potencial transformador do trabalho

social.

Cabe ressaltar que as dificuldades relacionadas ao trabalho social vão além da

capacidade de se propor e executar projetos. Devem levar em consideração também

a precária inserção urbana dos empreendimentos, a falta de conexão do trabalho

social com a intervenção física que impacta sobremaneira a efetividade do trabalho

social, as deficiências na capacidade governativa dos municípios, que assumiram pelo

Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social novas atribuições, mas não

promoveram seu desenvolvimento institucional. Além disso, há falhas importantes no

encadeamento do processo produtivo que precisam ser corrigidas, a começar do

momento da concepção da intervenção quando os gestores institucionais se reúnem,

deliberam, a equipe de engenharia é convocada a elaborar o projeto sem a

participação das equipes sociais e, consequentemente, sem considerar as variáveis

sociais implícitas no processo e na implantação do empreendimento. A

implementação dos programas de habitação de interesse social ainda é feita sem

garantia dos princípios da intersetorialidade e da interdisciplinaride necessária,

consequentemente fica deficitária a articulação com outras políticas setoriais.

A Portaria 21/2014 estabelece alguns parâmetros de governança na relação do

trabalho social com as obras ao propor marcos temporais que determinam o momento

de iniciar a seleção das famílias e de elaborar e executar cada um dos instrumentos

do trabalho social – PTS-P, PTS e PDST. Entretanto, a sistemática exige uma

capacidade de gestão e comunicação entre todos os agentes envolvidos no processo

– CAIXA, prefeituras, construtoras, equipes técnicas e gerenciais, órgãos de

licenciamentos, cartórios. Essa conexão ainda não chegou a um nível de precisão que

permita um fluxo satisfatório de execução e até que as equipes do trabalho social se

organizem (visto que sua inserção no processo é tardia) para entregar os produtos

do trabalho social – projetos e seleção das famílias, as obras tomaram seu curso de

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forma descompassada as ações sociais. O resultado acaba sendo muitas vezes

desastroso ao ponto dos empreendimentos serem concluídos sem a relação de

beneficiários estar definida ou sem que o próprio trabalho social tenha iniciado

sujeitando o empreendimento a invasões e outros problemas como desistências de

beneficiários, destinação irregular das unidades habitacionais, etc.

Por oportuno ainda é importante lembrar que no Programa Minha Casa Minha Vida, a

obrigação de selecionar as famílias é do Ente Público seguindo a orientações

normativas da Portaria 595/2013, a qual estabelece três critérios de priorização do

público alvo: famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido

desabrigadas; famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; e famílias

de que façam parte pessoas com deficiência. De forma a complementar os critérios

nacionais; Distrito Federal, estados, municípios e entidades organizadoras poderão

estabelecer até três critérios adicionais de priorização. Os critérios adicionais deverão

harmonizar-se com os nacionais, estabelecidos no subitem 4.1 da Portaria 595/2013.

2.4. 19 CATEGORIA 19: Sentidos do trabalho social nos PHIS

Na Categoria 19 a pergunta norteadora foi relativa às possibilidades contidas no

desenvolvimento do trabalho social.

Para onze dos treze técnicos credenciados e três técnicos das prefeituras, o trabalho

social contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança, familiares e o vínculo

patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções. Dez técnicos

credenciados e três municipais acreditam que o trabalho social estimula o

envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas ao seu território;

promove a cidadania e o protagonismo social. Seis credenciados acreditam que o

trabalho social garante a participação ativa, a mobilização e a organização

comunitárias. Interessante é que nenhum técnico municipal atribuiu essa perspectiva

ao trabalho social. Sete, dos treze credenciados, e quatro, dos cinco técnicos das

prefeituras, disseram que o trabalho social realmente provoca mudanças de

comportamento das pessoas em relação à saúde, ao meio ambiente, aos bens e

serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia.

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Com a fala de Dirce Koga é possível apreender o potencial que o trabalho social tem

enquanto um conjunto de ações capaz de viabilizar o que se apresenta em suas

colocações

faz parte da cidadania a incorporação do território como espaço não somente de habitação, mas também de vivência e convivência. Significa morar bem, passear com prazer e segurança, usufruir bem dos serviços. A cidadania significa vida ativa no território [....]. Assim, parece se fazerem necessárias novas formas de resgatar o pertencimento ao lugar à cidade. [...] é preciso que estes territórios exerçam um papel de sujeito e não apenas de objeto das políticas públicas. [...]. território permite esta consideração das totalidades dos lugares e das pessoas, das diferenças e das desigualdades, das necessidades e das potencialidades. Esta visão traz consequentemente à tona a questão da intersetorialidade não simplesmente como uma soma de programas e projetos, mas fundamentalmente como um instrumento de mobilização de recursos e potências locais considerados na sua totalidade territorial (KOGA, 2011, p.117-118 e p. 296 ).

2.4.20 CATEGORIA 20: Sugestões para incremento do trabalho social no

desenvolvimento urbano

Essa categoria teve o propósito de identificar as observações e sugestões dos

técnicos para o incremento do trabalho social no desenvolvimento urbano. Pressentia-

se obter desse espaço concedido aos técnicos uma gama de colocações importantes,

de sugestões para o aprimoramento das intervenções sociais e da relação do técnico

com seu objeto de ação. Entre os técnicos credenciados, cinco não fizeram uso do

espaço.

As colocações dos participantes apresentam-se no quadro abaixo.

Quadro 3

Considerações gerais e sugestões dos profissionais para o incremento do trabalho social

CREDENCIADOS PREFEITURAS Percebo ao longo de minha experiência que os verdadeiros efeitos do trabalho social só são realmente sentidos a longo prazo. Temos um público em programas de habitação voltados a vida de maneira muito informal e a adaptação a esta realidade mais formal com normas, regras, deveres e obrigações dificulta no entendimento de que qualidade de vida e moradia melhor exige o cumprimento de várias normas e combinados estabelecidos. A maior dificuldade do trabalho social nestes programas consiste em favorecer a

Sinto a necessidade dos técnicos sociais terem mais cursos de capacitação, mais ferramentas de trabalho, e menos burocracia para a realização efetiva do trabalho social. Afinal de contas trabalham com pessoas (seres humanos), fragilizados pois se a família não tem nem uma moradia digna, ela não tem educação, não tem saúde, e muitas vezes nem o que comer, já que uma casa é muito mais do que quatro paredes e um teto. Desta forma trabalhamos com sonhos, com

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apreensão destes novos valores e criar neste público novos hábitos de vida (questionário TCC3).

possibilidades, e o trabalho social acompanha essas famílias, desde a visita na sua "casa" , até a casa nova, é um grande potencializador de mudança na vida dessas pessoas (questionário TSP1).

Uma questão que dificulta o trabalho social é a burocracia. Tanto na elaboração, como na execução. Diferentes critérios de acordo com os técnicos que analisam os projetos, demora na análise dos relatórios parciais e final e consequente demora no repasse dos recursos (questionário TCC2).

Investimento em capacitações para técnicos devido as dificuldades encontradas na elaboração e execução do projeto técnico social em habitação. Outro ponto relevante que precisa ser pensado a nível municipal é a criação de uma Secretaria e/ou setor específico para habitação evitando a fragilização do trabalho (questionário TSP3).

Uma investigação com maior tempo para verificar a real necessidade da família, mais visitas e orientações; durante o tempo de pagamento do imóvel durante o tempo de pagamento deveria ocorrer fiscalização ao menos uma vez por ano e nessa visita verificar a situação da família e quando necessário convidá-la a participar dos grupos de T.T.S novamente, instituir encontros trimestrais com o grupo de beneficiários 1 ano após a finalização do projeto. Ter a possibilidade de mais tempo e recurso financeiro para acompanhar as famílias mais de perto (questionário TCC1).

É essencial ao TS que os beneficiários só sejam incluídos no CADMUT quando receberam as UH por conta das desistências e problemas para retirar os beneficiários deste cadastro quando não receberam a U.H; seria muito proveitoso se o ministério das cidades montasse uma "equipe itinerante" para visitar as cidades periodicamente para dar suporte aos técnicos sociais em seus trabalhos; outra ideia é que a primeira fase do TS - seleção de famílias parte informativa de assinatura de contrato, etc; esteja executada e seja condição para a emissão da ordem de serviço (para o inicio da obra), e que a partir disso, todas as medições de obras não ultrapassem percentual de TS realizado; seria interessante também uma maior quantidade de eventos como simpósios, congressos, cursos de capacitação, entre outros. para melhorar a capacidade profissional dos técnicos e disseminar as trocas de experiência entre os mesmos e também que fosse firmado um calendário anual para estes eventos, para que os técnicos pudessem se preparar para os mesmos (questionário TSP2).

O programa minha casa minha vida, é um programa que atende uma população de baixa renda. Uma população sem acesso a moradia digna, a saúde, a educação, a segurança, ao transporte, ao lazer. Para a efetivação deste programa tem-se vários agentes envolvidos. Se estes agentes cumprirem com os seus compromissos, com certeza este programa será a menina dos olhos (questionário TCC8)

No decorrer das avaliações sociais das famílias inscritas no Programa MCMV, foi observado um grande número de candidatos que possuem imóveis, sendo constatado, inclusive, que uma pessoa possuía 7 (sete) imóveis. Outra situação também observada, foi a omissão de companheiros/cônjuge por um grande número de mulheres, no intuito de serem incluídas no critério (de seleção) “mulheres chefes de família”, sendo tal omissão confirmada em loco/visita domiciliar. Com essa constatação sugere-se que o quesito “mulher chefe de família” seja excluído como critério classificatório, mas observado na avaliação social. Em relação ao programa como um todo, é de extrema valia que se tenha mais capacitações e exigência de uma equipe multiprofissional ( setor de habitação ) por parte das prefeituras para um bom desenvolvimento do programa (questionário TSP5).

Penso que não há uma maneira uniforme de se avaliar os projetos sociais. Relatórios são analisados diferentemente de acordo com a capacidade técnica do contratante. Uns são mais exigentes do que outros, muitas vezes despendendo-se muito tempo para as questões burocráticas, de formatos de relatórios, do que na realização in loco das ações e atividades em contato direto com os beneficiários. Muito obrigado, é muito importante essa pesquisa para uma melhor qualificação dos profissionais que desenvolvem TS (questionário TCC9).

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Fator dificultador de maior relevância tem sido a falta de comprometimento do poder público municipal e despreparo técnico. Sugestões: estabelecer a co-participação dos municípios e capacitação técnica conforme os normativos dos programas (questionário TCC5).

O item do questionário que deu origem a esta categoria constituiu-se de um espaço

para os técnicos fazerem suas considerações, sugestões para o incremento do

trabalho social no desenvolvimento urbano, apontamentos importantes, enfim,

colocações que julgassem pertinentes e necessárias. Mais de uma resposta refletiu o

clamor por capacitação e apontamentos acerca das dificuldades tecnocráticas do

trabalho social que foram atribuídas à “burocracia”, à “falta de comprometimento do

poder público municipal e despreparo técnico” e falta de uniformidade nas análises

dos projetos e relatórios. Reflete aí também um clamor em relação à atenção da

instituição financeira no sentido de oferecer melhor assistência técnica e às prefeituras

o apoio necessário. A ambos, melhor condição de realização do trabalho social no que

tange à descomplexificação de processos. Os apontamentos do questionário TSP5

ratificam as considerações apresentadas nesse artigo relativos aos familismos

amorais e à falta de atitude cívica e à necessidade de se instituir mecanismos de

controle e gestão das políticas públicas. Também ratificam a centralidade da família,

do beneficiário e a ausência de foco no “binômio família-território” ( CARVALHO, 2014,

p. 71).

2.5 Considerações Finais

A discussão aqui proposto teve início com os questionamentos acerca das

potencialidades do trabalho social e das condições institucionais, logísticas,

instrucionais, técnicas e políticas para sua realização no âmbito das políticas de

habitação de interesse social. Pretendia-se responder a algumas questões

relacionadas à sua capacidade de concretizar no território da ação aquilo que lhe é

prescrito, notadamente no que tange ao desenvolvimento sócio-organizativo e à

participação social e, então, por pertinência indagava-se acerca da capacidade

técnica dos profissionais por ele responsáveis. Mas também nos perguntávamos de

que forma seria possível contribuir na proposição de melhores projetos. Já nos

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antecipando na certeza de que a pouca efetividade do trabalho social amarra-se a

várias condicionantes, queríamos também saber se as instituições estão preparadas

para um fazer intersetorial, interdisciplinar e aberto à noção de território como

requerido na implementação dos programas de provisão habitacional e do trabalho

social.

Importante resgatar em que contexto esse trabalho se coloca e então caminhar para

algumas considerações que não pretendem e não devem ser conclusivas e sim

alusivas ao desejo de continuar na busca de novas perguntas e novas respostas que

conduzam a novas ações. Esse contexto, do SNHIS e da PNH, abarca mecanismos

de governança e governabilidade que são essenciais à efetividade do trabalho social

como foi dito no capítulo anterior. Pressupõe coparticipação, responsabilidades

compartilhadas, conselhos municipais de habitação atuantes, transparência.

Os mecanismos de governança e governabilidade previstos no SNHIS não se

consolidaram. A gestão do programa é segmentada. Assim, é parte essencial, com

lugar de destaque, a necessidade urgente de que se promova o desenvolvimento

institucional dos municípios, compreendendo conhecimento, processos, pessoas e

logística. As distâncias entre sociedade e governos devem ser encurtadas, os

servidores públicos devem unir seus conhecimentos aos conhecimentos que

genuinamente emergem da sociedade promovendo juntos, governos e sociedade, a

“praxis produtiva” e a “práxis social ou política” transformando “a realidade natural,

física, humana e social a partir do trabalho” e a sociedade por meio dela própria e do

Estado (QUARESMA, 2012, p. 185). Conduzir a gestão social e a gestão pública por

esse caminho, sem assistencialismo e patrimonialismo, rompendo a cultura do favor,

é conciliar técnica, conhecimento e política de maneira construtiva e estruturante em

proveito da democracia e de projetos societários.

Quanto aos profissionais do trabalho social? Suas dificuldades foram expostas.

Constituiu-se aqui um espaço de vocalização de suas angústias, expectativas, visões,

percepções. De seu fazer social. São muitos os obstáculos a superar. Seu campo de

atuação exige esforço hercúleo. Algum investimento no incremento da preparação

técnica dos responsáveis pelo trabalho social está sendo feito a exemplo dos cursos

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do Programa Capacidades do Ministério das Cidades, gratuitos, na modalidade à

distância. É incipiente essa oferta, mas é aberta à participação.

Cabe-lhes a busca. Inovar, conhecer, estudar, investigar, melhorar sua capacidade

técnica. Se lhes oferece como resultado de sua contribuição nesse estudo, um Guia

de Orientações Metodológicas Para a Intervenção Social para mais um passo nessa

direção. Aos demais agentes cabe a responsabilidade pela governança e o

reconhecimento de que investir no trabalho social é investir na complementaridade de

políticas e ações, nos arranjos intersetoriais, na interdisciplinaridade, no

desenvolvimento socioterritorial.

Portanto, tentando responder à pergunta inicial, é possível dizer, de acordo com os

dados da pesquisa, que há no trabalho social um intenso potencial de mediação entre

a norma e o concreto, a prescrição e realidade, de incentivo ao protagonismo, de

mitigador das condições de privação e intercessor na preparação das comunidades

para o exercício do controle social e a formação de comunidades cívicas, para o

incremento dos programas e políticas públicas e acesso a uma cidade democrática,

de direitos e deveres consolidados. O Plano de Desenvolvimento Socioterritorial

proposto na Portaria 21/2014, incorpora a variável território na definição do escopo

dos projetos e traz para o trabalho social uma perspectiva de fortalecimento de sua

capacidade de intervir na realidade e consolidar suas premissas a partir do princípio

da complementaridade de ações em parcerias estabelecidas com outros atores

presentes no território. Os técnicos e as entidades executoras precisam compreender

essa proposta, descobrir e estruturar mecanismos para viabilizá-la.

Existem inúmeros obstáculos a transpor e que devem ser reconhecidos por todos os

agentes que integram o complexo processo de elaboração e implementação de

políticas públicas. A intersetorialidade, a interdisciplinaridade, a complementaridade

dessas políticas e a governança constituem as condições mínimas necessárias à

consolidação do trabalho social como promotor da gestão social e da governabilidade.

Reconhecê-lo dotado das capacidades aqui mencionadas, disponibilizando as

condições mínimas de realização é um passo importante na direção dessa

consolidação. A participação, ponto nodal do trabalho social, é um outro enfoque dado

pela portaria. A comunicação também ganha centralidade quando a questão do

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trabalho esbarra na necessidade de inovação. É preciso começar a inserir no trabalho

social a perspectiva de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação,

encurtar tempo e distância, trabalhar com ferramentas visuais.

Nas mãos dos técnicos estão os desafios da criatividade, adaptabilidade, inovação e

metodologias apropriadas. Aos outros agentes envolvidos, resta o apoio e a

estruturação das condições necessárias à sua materialização. Buscar pontos de

intercessão entre mercado, Estado e sociedade para viabilização de

empreendimentos melhor inseridos, mais acessíveis, com menor incidência de

verticalização também torna-se questão central.

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Capítulo 3

Produto Técnico – Guia de Orientações Metodológicas para o trabalho social

em intervenções de habitação

MITRE, Maristela Jorge1

ARAÚJO, Wânia Maria de2

RESUMO

Este capítulo foi reservado ao produto técnico resultante da pesquisa realizada com

técnicos sociais municipais e técnicos sociais credenciados pela Caixa Econômica

Federal para prestação de serviços técnicos especializados. A pesquisa teve por

objetivo identificar os limites e potencialidades do trabalho social enquanto elemento

integrante dos programas de habitação de interesse social composto por um conjunto

de ações estratégicas voltadas ao desenvolvimento socioterritorial e à

sustentabilidade das intervenções. Este artigo acrescenta algumas considerações

teóricas focalizando as reflexões no campo das práticas sociais daqueles profissionais

e apresenta um Guia de Orientações Metodológicas para Intervenções Sociais. Este

Guia foi elaborada a partir da revisão da literatura, das percepções pessoais da autora

enquanto Assistente de Projetos Sociais na área de habitação da Caixa Econômica

Federal e nos dados apurados na pesquisa de campo. Não há uma pretensão em

dizer que o trabalho social seja uma prática austera, rígida, inflexível, engessada em

ferramentas e metodologias preconcebidas, prescritas por agentes externos à sua

realização. O Guia tem como propósito apresentar modos de intervir na realidade-

campo do trabalho social de forma a contribuir com os profissionais do trabalho social.

Embora esteja contextualizado no âmbito dos programas de habitação de interesse

social que integram a Política Nacional de Habitação, espera-se que sua aplicação

seja atemporal e que possa ser estendida a construção de diagnósticos e apreensão

da realidade em toda intervenção urbana que se pretenda emancipatória, mediadora

e construtora de processos participativos e aprendizados coletivos.

Palavras-chave: Trabalho Social, Metodologias de Intervenção social, Projeto Social. Habitação de Interesse Social.Diagnóstico socioterritorial. Gestão Social.

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ABSTRACT

This chapter was reserved to the technical product resulting from the research carried out with municipal social technicians and social technicians authorized by “Caixa Econômica Federal” for the provision of specialized technical services. The research aimed to identify the limits and potentialities of social work as a component element of the social housing interest programs composed by a set of strategic actions towards the social-territorial development and the interventions sustainability. The article which composes the chapter adds some theoretical considerations to the ones brought in the previous articles focusing the reflections in the field of social practices from those professionals, and presents one Methodological Guideline for Social Interventions. Aware about the impossibility of exhausting the theme, on the contrary, knowing that this debate is emerging, it was searched in literature, in the author’s personal perceptions as Assistent of Social Projects in the housing area of “Caixa Econômica Federal” and in the data abtained in the research, the theoretical and conceptual basis to sketch a proprosal which is applicable to the social practice and it’s expected that other reflections can be expressed and aggregated to this one in a continuous building process. There’s not a pretension in saying that social work is an austere, strict, inflexible practice plastered in preconceived tools and methodologies, precribed by external agents to its accomplishment. Definitely not. The choice of the best methodology is up to the executor of the intervention in perfect harmony and interaction with their object, territory, and the people who compose it, with views to the objectives and goals to reach from constructive processes. Carvalho says that “in the condition of prescription, the methodology puts on second place and even kills the intentionality; standardizes and infantilizes the professionals who move the action. Its application subdues to the context in which it is applied.” (CARVALHO, 2014, p.172). It’s expected, however, that this guide, structured in the process of completion of the Professional Master course from the Post-graduation Program of UNA University Centre, can be put into service of this process of apprehension of the ways to intervene in the social work’s field-reality. It’s ended in the instrument the objective of contributing with the professionals in the difficult task of recognizing the best way to do it, making sure that, even so, the choices may inhabit the threshold of uncertainties which reflect attempts and mistakes characteristic of relational and dynamic processes found in the reality and that may require correction of paths and adequacies. Although it is contextualized in the ambit of the social interest housing programs that integrate the National Housing Policy, it is expected that its application is timeless and can be extended to the construction of diagnosis and aprehension of reality in the whole urban intervention that intends to be emancipatory, mediator, and builder of participative processes and collective learning can be extended. Key-words: Social Work, Social Project. Social Interest Housing. Social-territorial Diagnosis. Social Management.

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3.1 INTRODUÇÃO

O trabalho social nos programas de habitação de interesse social encontra-se sob a

regência da Portaria 21/2014, publicada em 22 de janeiro de 2014 pelo Ministério das

Cidades. Como componente da política pública de habitação, o trabalho social de que

trata a norma constitui-se de ações a serem realizadas nos territórios onde os

empreendimentos habitacionais são construídos. Dessa forma, estrutura-se em torno

de estratégias que viabilizem, mais do que ações informacionais unidirecionais, a

inserção dos beneficiários71 no processo de produção dos empreendimentos numa

perspectiva socioeducativa voltada ao fortalecimento da capacidade participativa e

sócio-organizativa das comunidades em articulação com outras políticas públicas para

a defesa de direitos, a consolidação de atitudes cívicas, o desenvolvimento

socioterritorial e a sustentabilidade das intervenções.

De acordo com a portaria as ações devem ser realizadas “a partir de diagnósticos

integrados e participativos compreendendo as dimensões social, econômica,

produtiva, ambiental e politico-institucional do território e da população beneficiária”

(BRASIL, 2014, p.5). Almeja-se não só desenvolver entre os beneficiários a

capacidade de acompanhar a implantação dos bens e serviços disponibilizados, como

forma de melhor adequá-los à realidade local e às necessidades identificadas, mas

sua manutenção, ao longo prazo, e a continuidade do processo de defesa de direitos

e exercício dos deveres em todas as dimensões acima citadas.

Nesse sentido, o trabalho social tem a participação como meio e fim de sua

concretude. Entretanto, a defesa que se faz aqui é que esta participação seja

construtiva, engajada e responsável, promotora da gestão social, do controle social e

da gestão democrática, como preceito constitucional. Essa participação pelo viés do

trabalho social não deve ser apenas consultiva e deliberativa, mas voltada a uma

aproximação dos sujeitos numa perspectiva relacional direcionada ao conhecimento,

71 E assim, promover a ressignificação de “beneficiário” para “destinatário” das políticas públicas de habitação que na condição de direito, não devem ser postas como benefício, vinculado a uma noção assistencialista e estigmatizante.

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reconhecimento e construção dos espaços de vivência e convivência (VILLANOVA72,

2013) e consecução de processos cognitivos.

As estratégias de ação do trabalho social, portanto, devem incorporar o componente

territorial pensando-o para além do beneficiário buscando substituir a ação

patrimonialista do Estado para com os destinatários das políticas por relações

horizontais que possam se estabelecer nesse território e que promovam

governabilidade, construções coletivas, processos societários e emancipatórios. Em

se tratando de programas de provisão habitacional, é preciso levar em consideração

as escalas, pois, de acordo com Villanova (2013), “o espaço de morar” se coloca entre

o “espaço monumental” e as “ relações entre os homens” e cria um movimento

dialético de produção e reprodução desses espaços e das relações.

Carlos (2012), ao analisar a “espacialidade como imanente à existência constitutiva

da sociedade” afirma

Tal enfoque aponta para a ideia de que a sociedade, ao produzir-se, o faz num espaço determinado, como condição de sua existência, mas através dessa ação, ela também produz, consequentemente, um espaço que lhe é próprio e que, portanto, tem uma dimensão histórica com especificidades ao longo do tempo e das diferentes escalas e lugares do globo [...]. A sociedade se apropria do mundo, enquanto apropriação do espaço-tempo determinado. Nesse contexto, a reprodução continuada do espaço se realiza como aspecto fundamental da reprodução ininterrupta da vida. Nessa perspectiva, revela-se uma prática social que é e se realiza espacialmente, o que implica pensar a relação dialética sociedade/espaço ( um se realiza no outro e através do outro ) e as mediações entre eles (CARLOS, 2012, p.53).

Apreende-se, portanto, a importância de focalizar a ação nas relações e atividades

dos grupos humanos em espaços e realidades mutantes, numa articulação da “teoria

(a produção do conhecimento como ato de compreensão do mundo) e prática (práxis)

em sua indissociabilidade [...]” ( CARLOS, 2012, p.55). De acordo com a autora, torna-

se então essencial apropriar-se da realidade buscando entender o que seria passível

de transformação como perspectiva de futuro da sociedade.

72 In DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de. Novos olhares sobre o lugar: ferramentas e metodologias, da arquitetura à antropologia.

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Portanto, o território ganhou centralidade no trabalho social e com ele vem a ideia dos

sujeitos que o usam e o transformam em seu cotidiano imputando-lhes uma

apropriação interventiva de criação e recriação de significados. Koga busca em Guy

de Méo (1998) um significado para essa ‘territorialidade’ “Ela nos leva à sua lógica

pessoal, ao seu espaço vivido, feito de relatos íntimos, reais ou imaginários junto aos

lugares, relatos enriquecidos por suas experiências, por suas aprendizagens sociais

e espaciais (MÉO, 1998 apud KOGA, 2011, p. 39).

Para consolidar o território como centralidade no trabalho social é preciso, entretanto,

o ajuste das engrenagens que comandam seu funcionamento, ou seja, para a questão

em pauta, seus atores, representados aqui pelos diversos segmentos presentes na

macroárea, devem buscar minimamente uma convergência de objetivos, um ponto de

intercessão que permita direcionar parte de suas ações ao reordenamento social

desse território num propósito de gestão compartilhada capaz de instituir a

complementaridade como princípio essencial da mudança para a universalização de

direitos.

Nesse sentido, este artigo, resultante da conclusão do Mestrado em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local, do Programa de Pós-Graduação do Centro

Universitário UNA objetiva apresentar algumas orientações metodológicas voltadas

ao trabalho social como componente dos programas de habitação de interesse social.

Partiu-se da premissa de que o ajuste da engrenagem depende, não só da

interlocução dos diversos agentes, colocando o trabalho social como mediador nesse

processo, mas da premissa de que antes, esse trabalho social deve imbuir-se de sua

capacidade de gerar conhecimento, de provocar uma dinâmica de consolidação das

intercessões (de objetivos, políticas, ações, recursos, saberes ) na promoção de

projetos societários.

3.1 Pré-Produção e contratação do empreendimento

3.1.1 Concepção da intervenção

Reza a norma e o bom entendimento do que seja premissa de sustentabilidade, que

a participação dos beneficiários no processo de concepção e implantação dos

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empreendimentos de habitação de interesse social seja fundamental para que o

sentimento de pertencer ao processo dê lugar à correta apropriação dos bens e

serviços que serão disponibilizados. Garantir espaços de discussão e proposições

nesse decurso, de forma tempestiva, desde as primeiras tratativas, não será garantia

de atender a todos os interesses, em especial em um contexto de forças antagônicas

sob a autoridade soberana do mercado e das relações patrimonialistas e clientelistas,

mas seguramente promoverá uma melhor adequação das propostas/projetos às

necessidades e expectativas das partes interessadas, conduzindo o processo no

caminho da correta apropriação dos bens e serviços que serão disponibilizados.

Pertencer torna-se condição da apropriação que se quer.

Em se tratando de programas de provisão habitacional, aos moldes de algumas

modalidades do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em que os beneficiários

ainda não tenham sido definidos 73 , a participação destes logicamente não será

possível. Caberá então aos gestores e à equipe técnica do trabalho social (esta sim,

já deve estar definida e constituída de forma interdisciplinar) garantir a participação

dos grupos representativos dos interesses do público alvo, da população e da

comunidade onde o empreendimento será implantado. Nesse sentido, a orientação

deve ser a de convocar a participação do Conselho Municipal de Habitação,

constituído por determinação da Política Nacional de Habitação exatamente para fazer

essa representação, dos demais conselhos municipais, entidades de interesse,

associações de moradores e movimentos sociais, estes obrigatoriamente com ¼ dos

assentos no conselho, presentes na área do empreendimento e entorno.

O que se propõe nesse modelo de gestão interinstitucional é, mais do que uma

simples “conversa sobre projetos”, mas uma pactuação de princípios, uma

corresponsabilidade, um compartilhamento de interesses, a busca da intercessão,

pois, como a pedra que se joga para o alto, os impactos daquilo que não se planejou

recai sobre todos que com eles não se preocuparam. Na questão urbana, sobre todos

os citadinos. Mais do que mitigar, é precaver, mais do que remediar, é cuidar,

preventivamente, envolver-se com, ao invés de ignorar, afastar-se pensando não ser

73 No PMCMV- Recursos FAR ( Fundo de Arrendamento Residencial ) cabe ao poder público local a seleção dos beneficiários a qual não se conclui antes do início das obras.

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parte. Esse é o espírito, essa é a condição para a formação de uma sociedade mais

igualitária, justa, democrática, evoluída e cívica.

Temos um histórico de elaboração de instrumentos de gestão urbana que não são

postos em prática em toda a sua plenitude: Estatuto das cidades, com seus vários

mecanismos de acesso à cidade, os planos diretores, a própria Constituição Federal

com seus capítulos 182 e 183, o Sistema Nacional de Habitação e Política Nacional

de Habitação, ambos com capítulos exclusivos direcionados à habitação de interesse

social, Fundos Locais de Habitação de Interesse Social e Conselho Local de

Habitação de Interesse Social. Todos elaborados com a participação e em

atendimento às demandas dos movimentos sociais.

Enquanto isso, continuamos produzindo cidades espraiadas que, para atender a

interesses privados, não só oneram os cofres públicos na ação de estender a

infraestrutura aos seus confins, como na destinação das periferias dessas cidades aos

mais despossuídos, consolidando o “ urbanismo de risco” (ROLNIK, 2002, p.2). A

estes, não se dá o direito de estar próximo dos polos geradores de renda, de se

locomover com facilidade da casa para o trabalho e do trabalho para a casa. As áreas

que lhes são destinadas para moradia são destituídas dos serviços e equipamentos

necessários ao bom uso e ocupação do território. Nesse sentido, esse território se

fragmenta em seu caráter de espaço do vivido, quase se restringindo ao espaço

geográfico de onde as pessoas se deslocam bem cedo para o trabalho e voltam à

noite, privando-se das relações que ali deveriam estar estabelecidas.

O passo primeiro para fazer frente a esse cenário de segregação socioespacial é

trabalhar para a aplicação concreta dos instrumentos de regulação do uso e

destinação do solo urbano, a exemplo dos supracitados, dialogando com os diversos

segmentos sociais na busca das intercessões diante de tão conflitantes interesses. O

outro, e este sim, se constitui em objeto primeiro do presente estudo, é fazer com que

as pessoas que habitam aqueles territórios longínquos se reconheçam neles. Esse é

um dos grandes objetivos do trabalho social nas intervenções do desenvolvimento

urbano. Na habitação de interesse social, esse trabalho social incorpora esse grande

desafio, o de não só fazer a mediação entre as premissas dos programas de

desenvolvimento urbano, entre a norma e a realidade, mas a remediação naquilo que

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se consolidou ou poderá se consolidar como problema, dificuldade, carência,

necessidade, demanda.

Assegurar a participação dos diversos segmentos que em algum momento farão parte

da implementação dos empreendimentos habitacionais, ou de intervenção urbana, de

um modo geral, é uma condição premente na busca da inserção social e do

desenvolvimento socioterritorial. As construtoras, loteadores e incorporadores,

instituição financeira, concessionárias, cartórios, prestadores de serviços, executivo,

legislativo, movimentos sociais, conselhos municipais, população, sociedade civil,

todos esses atores precisam iniciar um diálogo urgente para a mitigação dos grandes

problemas urbanos que estamos enfrentando, mas principalmente para a busca de

soluções locais. Sem o caráter tecnocrático como foi o processo de discussão do

estatuto das cidades, ou de elaboração dos planos diretores municipais e dos Planos

Locais de Habitação de Interesse Social (este último determinado pelo Sistema

Nacional de Habitação de Interesse Social (BRASIL. Lei nº 11.124, 2005, Art.12).

De acordo com Paugam ( 2003, p. 9)

Hoje, as orientações da intervenção social ultrapassam a esfera tradicional da assistência. Pelo fato de elas abordarem o problema da integração, no sentido sociológico, e consequentemente o problema do vínculo social, revelam uma das dimensões essenciais das sociedades contemporâneas [...]. Constata-se, hoje, tentativas de promover um outro modo de intervenção na realidade que não se baseia exclusivamente no “trabalho social personalizado”, ou seja, numa abordagem psicologizante da pobreza e das dificuldades das populações atendidas pelos serviços sociais [...]. Uma nova concepção da intervenção social esforça-se hoje em completar a ação individual por uma ação dita “global”, favorecendo a negociação entre diferentes parceiros para tratar de situações complexas. Sem entrar em detalhes, é possível afirmar que esse modelo consiste em agir mais sobre o meio social do que sobre os indivíduos ou grupos. A ação volta-se, então para o espaço vital, os esquipamentos coletivos dos bairros urbanos socialmente desqualificados, por exemplo [...], para a animação sociocultural, baseando-se frequentemente numa política conjunta de urbanização, de ordenamento do território [...] (PAUGAM, 2003, p. 276).

Diante da “incompletude do Estado” (CARVALHO, 2014, p. 44) torna-se necessário

chamar as organizações sociais presentes na macroárea, trazê-las para dentro do

trabalho social valorizando as forças endógenas e incentivando hábitos de

cooperação. Mobilizar recursos, conhecimentos, objetivos comuns, e compartilhar

responsabilidades, no rigor do princípio da interinstitucionalidade, é a premissa básica

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da complementaridade das políticas e ações pela realização de projetos societários

(mais do que comunitários).

Seguramente, esta busca da intercessão permitirá costurar análises e discussões

para a proposição de melhores empreendimentos viabilizando as condicionantes de

sua implantação – localização, projeto de implantação, projetos executivos,

acessibilidades, adequação de serviços e equipamentos necessários, garantias de

preservação da cultura local e de disponibilização de áreas de convívio e lazer da

população destinatária, minimização de impactos e maximização das potencialidades

existentes, fluxo e gestão do processo. Inovar nas propostas de moradia para a baixa

renda e garantir o atendimento daquelas condicionantes para promoção da inserção

social, é premência na hierarquia dos problemas decorrentes das intervenções dos

programas de provisão habitacional.

Não se está, nesse sentido, tratando apenas do universo que se resume ao

empreendimento, conjunto de casas ou apartamentos, mas da escala que se relaciona

à produção do espaço que produz e reproduz as relações que, como diz Carlos,

[...] importa conteúdos e determinações, obriga-nos a considerar os vários níveis da realidade como momentos diferenciados da reprodução geral da sociedade em sua complexidade. Obriga-nos a considerar o sujeito da ação: O Estado, como aquele da dominação política; o capital, com suas estratégias objetivando sua reprodução continuada ([...] e suas articulações com os demais setores da economia, como o mercado imobiliário); os sujeitos sociais que, com suas necessidades e seus desejos vinculados à realização da vida humana, têm o espaço como condição, meio e produto de sua ação ( CARLOS, 2012, p. 64 ).

Pelo exposto, tão logo se tenha o grupo de beneficiários definido, deve-se providenciar

sua inserção no processo começando por apresentar a metodologia de concepção do

empreendimento, os mecanismos de representatividade adotados, as questões que

foram consideradas para a definição dos produtos que lhes serão entregues (visto que

nesta modalidade de intervenção, em especial, sua participação neste processo não

se fez possível. Quando o é, assim o deve ser). Paralelamente, deve-se organizar um

momento especificamente para que a instituição financeira, que tem atribuições

relativas à liberação de recursos financeiros, acompanhamento das obras e do

trabalho social, assistência técnica, análise de documentos e projetos e geração de

contratos, preste os esclarecimentos necessários acerca do programa, das condições

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contratuais, das obrigações e direitos das partes no processo desde sua produção até

o pós-obra (BRASIL, 2014; BRASIL, 2005)

Nesse sentido, toda estrutura e mecanismos para garantir transparência, fluxo de

informações, interação e participação é necessária. Quanto antes for possível inserir

as pessoas no processo, melhor. Sugere-se por exemplo um “escritório social”

(BRASIL, 2014, p. 36) na área de intervenção com assento para a

interdisciplinaridade. Nele deve ser colocada a maquete do empreendimento

(sinalizando todo o seu entorno e que, entende-se, foi utilizada como ferramenta do

planejamento), pois, de acordo com Villanova (2013, p. 11, 12)

A maquete para o sociólogo ou para o antropólogo é uma representação fria, estanque, de formas construídas em que o vivo está ausente, enquanto para o arquiteto ela diz muita coisa: representação do espaço em sua globalidade, ela suscita o devaneio, desenvolve sua totalidade, enfrentando o espaço praticado, vivido [...]. Ela pode ser então uma ferramenta de discussão sobre o projeto urbano, um suporte para exprimir os usos [...]. Uma ferramenta buscada pelas oficinas de discussão envolvendo o poder público, os técnicos planejadores e os habitantes em situações de motivação ou participação. Ela pode favorecer novos modos de acesso às representações dos atores nas intervenções urbanas [...]. Ela pode suscitar, para os moradores, representações que escapam habitualmente a nossos modos de conhecimento [...] levando [...] à reflexão da microescala, do subjetivo, do sensível e, no melhor dos casos, do papel ativo do habitante.

A equipe técnica do trabalho social, em interlocução com a equipe de engenharia,

deve integrar-se ao grupo de planejamento e execução desde as fases de concepção,

alinhada também, nos casos de empreendimentos com mais de 500 unidades, com

Grupo de Análise de Empreendimentos, responsável pelo Relatório de Diagnóstico da

Demanda por Equipamentos e Serviços Públicos e Urbanos, previstos na Portaria

518/2013, do Ministério das Cidades, trabalhando de forma integrada ( BRASIL,

2013).

3.1.2 Diagnóstico socioeconômico e seleção de beneficiários

Qual o sentido do diagnóstico? Por que empregar um termo médico para as atividades

de planejamento das políticas urbanas? Por que seu uso pelos profissionais do

trabalho social, pelos arquitetos e urbanistas. Villanova (2013) apresenta esses

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questionamentos que lhe foram feitos por Francois Laplatine e ela própria traz

importantes considerações acerca da questão no sentido de que esse emprego

representa “tão somente a continuidade de uma longa história entre o pensamento

higienista e a arquitetura” [...] que “faz do habitat degradado um corpo doente” (

VILLANOVA, 2013, p. 209 ). A autora então complementa dizendo que “a mobilização

de um saber especializado na realização de um diagnóstico instaura, de imediato, uma

relação assimétrica entre o sujeito doente e aquele que sabe nomear e prescrever

medicamentos” (VILLANOVA, 2013, p. 209 ).

Nesse sentido, para conhecer os destinatários das políticas públicas é necessário que

eles próprios se apresentem. Deixar que eles contem suas histórias de vida, sua

relação consigo mesmos, com a família, com a comunidade, com o trabalho, com seus

sonhos e frustrações, com suas doenças e suas vocações, com o bairro, a cidade, é

portanto horizontalizar a relação e despertar seres adormecidos na ação

assistencialista e patrimonialista, na discriminação e na segregação social que

reprimem os espaços de vocalização. É buscar a “legitimidade do diagnóstico” (

VILLANOVA, 2013, p. 2011 ).

De acordo com Paugam ( 2003 ), muitas famílias frequentam os serviços de

assistência social contra sua vontade74, às vezes por desemprego prolongado e falta

de perspectiva de recolocação e “precariedade das condições de vida”. De acordo

com o autor, “o sentimento de serem inúteis podem levar algumas dessas pessoas a

romper totalmente com a sociedade” ( PAUGAM, 2003, p. 31 ). Nesse sentido,

ratificando as ponderações acerca da legitimidade do diagnóstico, é necessário que

os indivíduos que compõem o público alvo das políticas de habitação expressem

“sentimentos subjetivos acerca da própria situação que esses indivíduos

experimentaram no decorrer de suas experiências sociais, e, enfim, as relações

sociais que mantém entre si e com o outro” ( PAUGAM, 2003, p. 47 ). É o que o autor

chama de “sentido vivido, ou seja, o sentido que essas populações atribuem à sua

existência e ao lugar que ocupam na sociedade” (PAUGAM, 2003, p. 47 ).

74 Em uma pesquisa que o autor realizou na França, ele estabelece três tipos de população segundo a relação

mantida com a assistência social: “os fragilizados, os assistidos e os marginalizados”, distinguindo as respectivas experiências vividas.

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Apreender que a moradia tem primazia na escala de valor, que um endereço

referencia, o endereço tem o poder de inserir ou reinserir indivíduos na sociedade, e

que o seu fim último é exatamente promover o sentimento da segurança como

premissa da autonomia, não cabe no diagnóstico para provisão habitacional uma

relação de perpetuação da condição de dependência e manutenção da assistência,

mas uma possibilidade de alavancagem de processos de rompimento dos indivíduos

com a condição de assistidos. Favorecer a implementação de um novo modelo de

intervenção, em substituição ao que Paugam ( 2003 ) chama de “trabalho social

personalizado ( Paugam, 2003, 276), é “[...]atenuar os efeitos indesejáveis da

assistência, sobretudo os que se referem à atomização e à rotulação das famílias

desfavorecidas” (PAUGAM, 2003, p. 276 ).

Paugam (2003) apresenta os instrumentos que utilizou em sua pesquisa realizada na

França sobre o perfil da nova pobreza indicando um agrupamento dos dados

levantados junto às famílias que pode ser incorporado aos nossos diagnósticos

habitacionais e que abordam “a trajetória residencial; a trajetória socioprofissional; a

vida familiar; as relações de vizinhança; os ritmos cotidianos; o tempo livre”; a

“reputação” da comunidade” (reputação da cité) ( PAUGAM, 2003, p. 75 ). No grupo

de perguntas direcionado às relações do entrevistado com o território ele focaliza

questões relacionadas com eventuais conflitos entre os habitantes da comunidade,

porque razões elas ocorrem e se são duradouras; existência de pequenos grupos no

interior da comunidade, como se formaram, comportamentos dos membros da

comunidade, usufruto de equipamentos, participação do entrevistado em associações

de moradores (PAUGAM,2003, p.314). Essas perguntas ajudam a suscitar a

percepção do beneficiário em relação ao seu bairro, à sua comunidade e a construir

proposições de intervenção.

Ressalta-se a importância de se realizar a análise e interpretação dos dados obtidos

nas entrevistas, questionários e observações de forma interdisciplinar com a

participação dos conselhos municipais de habitação e de assistência social. E nesse

sentido, os técnicos precisam estar atentos não às respostas que se irá ouvir, mas à

escuta, ao processo, aos contornos da relação que se está estabelecendo entre quem

pergunta, quem responde, como responde, e o que o ambiente diz sobre aquilo que

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se está perguntando, buscando perceber “os sentidos atribuídos pelos indivíduos

entrevistados às suas condutas e às suas experiências” ( PAUGAM, 2003, p. 85).

Para Paugam (2003), muitas vezes os sujeitos não dizem o que querem dizer, mas

aquilo que acreditam que os entrevistadores gostariam de ouvir. O componente

relativo à trajetória de vida e a variável territorial presentes nos grupos de perguntas

propostos por Paugam permitem estabelecer um outro olhar sobre a condição do

indivíduo e da família na comunidade. Com atenção no processo de análise, os

técnicos tormam-se capazes de identificar como ele a vê, mas sobretudo de instigar

um processo de reflexão sobre como também o indivíduo e a família se veem nela.

3.2 Diagnóstico socioterritorial

Sob regência da Portaria 21/2014, publicada pelo Ministério das Cidades, o trabalho

social nos programas de habitação de interesse social passa a incorporar o

componente territorial no escopo de seus instrumentos de execução. Nesse sentido

as equipes técnicas precisam verter seu olhar sobre a macroárea da intervenção que,

de acordo com a portaria, engloba

a poligonal dos empreendimentos compreende todo o território da intervenção e constitui-se de “região relativamente homogênea de vulnerabilidades e riscos sociais, que inclui uma ou mais áreas de intervenção física, próximas e seu entorno com o qual tal(ais) área(s) de intervenção interage(m) para acesso a serviços e equipamentos públicos, ao mercado de trabalho, a organizações sociais (comunitárias, ONGs e movimentos sociais)”. BRASIL, 2014, P. 54.

Trazer a macroárea para dentro do trabalho social significa aproximar os diversos

setores que ali atuam para pensarem um projeto societário comum, e de forma

conjunta, numa perspectiva de retotalização da ação ( CARVALHO, 2014, p.169 ) e

integração do território. Mas isso não é tarefa fácil, requer sinergia e amplitude de

visão. Olhar para além dos beneficiários, para fora dos projetos, para fora do

empreendimento, e de seu núcleo executor.

O Plano de Desenvolvimento Socioterritorial ( PDST ) previsto na Portaria 21 tem esse

propósito de reconhecer na macroárea as potencialidades do território, considerando

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“as dimensões social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional”

(BRASIL, 2014, p. 5) e promover arranjos intersetoriais e interinstitucionais para a

articulação e a integração de recursos, políticas e ações. Seu propósito é o de

conjugar ações durante a execução do trabalho social e garantir a entrega dos

produtos desse trabalho a outras instituições existentes na macroárea e que possam

dar continuidade às intervenções como uma estratégia voltada ao desenvolvimento

contínuo das comunidades.

A ideia é inserir no cronograma do trabalho social os projetos e ações desenvolvidos

por outras instituições presentes no território e que permitam a continuidade da

intervenção iniciada no trabalho social, visto que o setor privado e as entidades do

terceiro setor investem em ações de responsabilidade social com estrutura própria

para tal objetivo e recursos oriundos de leis de incentivo e outros fundos (como Fundo

a Infância e da Adolescência ( FIA ), leis de incentivo à cultura, ao esporte e à

aprendizagem) ( BRASIL, 2010, p.268-273 ), além de recursos próprios. Muitas vezes

faltam-lhes projetos e comunidades aptas ao investimento.

Entretanto, tais premissas exigem a realização de um criterioso diagnóstico

socioterritorial que não deve ser realizado sob o olhar exclusivo da equipe técnica,

mas a partir de uma construção coletiva que valorize a perspectiva sociorrelacional

presente no território. Identificar quais os segmentos estão presentes ali, qual sua

política de relacionamento com as comunidades nas quais estão inseridas, quais os

projetos e ações são realizados em favor dessas comunidades, com que recursos e

garantir os arranjos intersetoriais e interinstitucionais torna-se premissa da

consolidação do PDST no território.

Por sua vez, é preciso também inserir as próprias comunidades no processo. Os

beneficiários devem trazer suas impressões, suas expectativas, suas visões. Construir

o olhar compartilhado é a grande missão do diagnóstico socioterritorial. Como afirma

Villanova,

o diagnóstico deixou de ser o apanágio de governantes e especialistas, pois pode ser realizado também pelos moradores, que têm um papel a desempenhar. Estes se tornam sujeitos e não mais objeto do diagnóstico, aprisionados numa relação de dependência (VILLANOVA, 2013, p. 210 ).

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O compartilhamento do olhar na realização de diagnóstico socioterritorial participativo

é eficaz do ponto de vista da concertation, do aspecto dialógico intrínseco. Permite a

apropriação e a “reapropriação do espaço com que o habitante se identifica” (

VILLANOVA, 2013, p.224 ). Um desafio que demanda método, comprometimento,

interdisciplinaridade e cuidado. Trata-se de abrir espaço à fala, à vocalização,

portanto, saber ouvir, saber ‘fazer a leitura’ do que se fala com os olhos, nas

percepções dos participantes, nas manifestações que emergem em suas mais

diversas formas requer sensibilidade.

As metodologias de intervenção neste caso devem voltar-se à percepção da

necessidade de uma interação do indivíduo com o território e vice-versa, dos

indivíduos entre si, dos indivíduos com as equipes, das equipes com os indivíduos,

dos segmentos e atores, num processo dialético e dialógico. Os profissionais devem

estar atentos para perceber as posturas políticas, as atitudes cívicas e não cívicas, os

desejos, as expectativas, os sonhos, as relações, as frustrações, as interações e,

sobretudo, as potencialidades que emergem do processo. A sensibilidade do

profissional que irá empregá-las é que instituirá seu valor enquanto instrumento da

intervenção social.

De acordo com Duarte75 ( 2013 ), ao adotar determinados métodos de intervenção

arrisca-se a que os participantes ajam ou respondam o que suponham que o

profissional queira ver e ouvir, ao tempo em que todo o resto diz diferente. A autora

afirma

‘O que você espera, o que você gosta, como gostaria que fosse?’ perguntávamos a nossos informantes, que imbuídos de boa vontade, pareciam por vezes responder o que supunham que o pesquisador gostaria de ouvir. Ao mesmo tempo, os móveis de suas casas, seus objetos, suas paredes, seus telhados ‘falavam’ junto, exigindo também uma leitura e, consequentemente, abordagens e métodos para essa ‘escuta ( DUARTE, 2013, p. 32 ).

Essa tarefa exige muito da equipe técnica. Exige olhar atento, exige método,

ferramentas próprias, interdisciplinaridade e capacidade dialógica. Certamente não

será uma tarefa fácil, como também não se deve ter a expectativa de solucionar tudo

75 In DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de. Novos olhares sobre o lugar: ferramentas e metodologias, da arquitetura à antropologia.

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em um único tempo. É uma construção, um processo de desenvolvimento da

capacidade de reflexão, de conhecimento e reconhecimento de si, do outro, do

ambiente e de si no ambiente. Essa é, sem dúvida, premissa essencial para despertar

nos indivíduos as percepções de pertencimento que geram comprometimento,

confiança, responsabilidades e condição indivisível para a consecução da gestão

social e da governabilidade. Demanda a superação de muitos obstáculos, inclusive

aqueles relacionados à necessidade de transparência, gestão da informação, apoio

institucional, governança e capacidade técnica.

Como contribuição técnica ao desenvolvimento das capacidades, apresenta-se neste

artigo um conjunto de ferramentas que, pretende-se, possa ser empregado pelos

profissionais do trabalho social na difícil tarefa de promover o desenvolvimento

socioterritorial, a participação e a gestão social. Este guia foi elaborado a partir da

análise comparativa das normativas e dos resultados da pesquisa de conclusão de

Mestrado do Programa de Pós-Graduação do Centro Universitário UNA, a qual

permitiu conhecer as limitações técnicas e as dificuldades enfrentadas pelos

profissionais e o que vem sendo realizado na prática. Vislumbra a adoção de métodos

e técnicas mais condizentes com o fortalecimento de processos participativos e

cognitivos, fazendo-os coesos e consistentes, e promotores da sustentabilidade das

intervenções, fim supremo do trabalho social.

3.3 Ferramentas para a intervenção social

O trabalho social como componente dos programas de habitação de interesse social

tem no território seu campo de ação e nos destinatários dos programas sua finalidade.

Conjugar esses dois elementos torna-se então objeto do trabalho social. Nesta

perspectiva, o trabalho social abre-se para uma ação totalizante de fortalecimento das

potencialidades locais e de construção coletiva que tem aproximação direta com a

práxis social como ação política de dimensão dialógica. O trabalho social nesse

sentido, adquire, de forma dialética, a capacidade de fomentar a gestão social e a

proposição de projetos societários ao tempo em que promove no território espaços de

cidadania que por sua vez regam os caminhos da gestão social. Resta então a

pergunta: Como materializar essa capacidade do trabalho social de promover esses

processos construtivos no âmbito de sua área de atuação? Que metodologias adotar?

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Como intervir na realidade garantindo a consecução de suas premissas e seus

objetivos?

A escolha dos métodos, técnicas e ferramentas a empregar nas intervenções sociais

é arbitrada ao agente executor e isso está claro, não só no senso comum, mas nas

orientações normativas que regulamentam o trabalho social. A equipe técnica,

conhecendo a realidade, a dinâmica do território, o perfil da população envolvida, as

características da intervenção, objetivos do projeto, recursos e prazos disponíveis é

que irá definir que caminho seguir. Não cabe a agentes externos tentar propor as

metodologias próprias. Presume-se, entretanto, que nenhum técnico se negaria a

conhecer ou ter a seu dispor uma “caixa de ferramentas” em apoio ao seu trabalho,

principalmente quando se tem em mãos dados que demonstram as dificuldades que

os técnicos sociais têm em relação à definição das metodologias de intervenção social

voltadas ao trabalho social em habitação.

Ressalta-se que não se tem a pretensão de engessar a prática social, transformá-la

em um receituário transmutável, replicável em qualquer território, de forma estéril e

fechada em si mesma, transformando o meio em fim. Pretende-se sim, disponibilizar

uma caixa de ferramentas que podem ser utilizadas em determinadas situações sob

a condição de sua adaptabilidade ao seu objeto.

Este guia pretende, portanto, visa a contribuir no sentido de apresentar orientações

metodológicas e ferramentas para a intervenção social em programas de provisão

habitacional com foco na realização de atividades dialogadas, diagnósticos

participativos e na implementação de atividades socioeducativas voltadas ao

desenvolvimento do território, ao tempo em que se ressalta toda metodologia é sujeita

a adaptações ao contexto no qual se pretende empregá-las.

O segmento que deu origem às orientações aqui contidas foi o do trabalho social

desenvolvido nos programas de habitação de interesse social contidos na Política

Nacional de Habitação, sob a regência da Portaria 21/2014. Entretanto, espera-se que

as orientações metodológicas e as ferramentas disponibilizadas neste guia, possam

ser aplicadas em outros programas de intencionalidades.

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O trabalho social no contexto aqui proposto assume um caráter de promoção de

processos cognitivos acreditando que a experiência do vivido promove a percepção

de sentidos e, portanto, de significados. Essa percepção muito se aproxima do

princípio da etnografia, que tem como objeto um “conjunto de significantes com que

os eventos, fatos, ações e contextos são produzidos, percebidos e interpretados [...]

(DUARTE, 2013, P. 31).

As proposições relacionadas à etnografia no sentido de “captar a dimensão da cidade

sensível” (DUARTE; VILLANOVA, 2013, p; 9 ) muito se aproximam das novas

perspectivas do trabalho social que demandam uma incursão de “experiência

sensorial” ( DUARTE; VILLANOVA, 2013, p; 9 ) do território não só para identificá-lo

mas para promover sua integração e seu desenvolvimento como propõe a Portaria

21/2014. As autoras fazem uma aproximação da antropologia com a arquitetura, num

convite à interdisciplinaridade e a interação da técnica com os saberes genuínos, da

teoria com a prática, dentro das possibilidades existentes nas localidades da

intervenção. De acordo com Duarte; Villanova (2013),

as ferramentas “foram concebidas” [...] “para agir sobre o espaço construído com seus usurários [...] na intenção de renovar o olhar sobre os espaços de vida, o espaço doméstico, a morada, o bairro, a cidade em interação do vivido com o construído” [...]. Apresenta técnicas de compilação de narrativas, desvendando os desdobramentos possíveis da cidade – da objetivação formal ao sensível subjetivo, do programado ao espontâneo – e consiste num convite à multiplicidade de olhares.

Entretanto, para garantir a eficácia das metodologias adotadas, é preciso que se tenha

“um amplo conhecimento da realidade territorial, um conhecimento sobre o perfil da

população e de suas relações no território, um amplo levantamento dos serviços e

programas [...]” ( TABOADA, 2006, p.2). É necessário também que o profissional

garanta o conhecimento teórico necessário à aplicação dos métodos e técnicas

escolhidos e não abdique da dimensão ético-política, valorizando os saberes

constituídos. De acordo com Carvalho ( CARVALHO, 2014, p.170-173).

é a metodologia que costura e assegura a intencionalidade e a efetividade social almejada e estabelece um ordenamento da ação, sustentado por um quadro referencial constituído de aportes teóricos e da experiência acumulada [...]. O rigor da construção metodológica e a construção de percursos objetivos da ação não podem estar dissociados da realidade [...]. Uma metodologia de ação reconhece totalidades e particularidades exigindo

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um olhar dialógico entre o todo e as partes, entre o singular e o coletivo. Pressupõe, assim, pensar a realidade como processo [...]

É nessa perspectiva da aproximação dialética entre teoria e prática, singular e

coletivo, produção e reprodução das relações, do território, na dimensão micro e

macro, que então se apresentam as ferramentas de intervenção social para a prática

do trabalho social nos programas de desenvolvimento urbano, considerando os

sujeitos inseridos em seu contexto, na vida coletiva e cotidiana em dado território (

CARVALHO, 2014, p. 176).

3.3.1 Maquetes

A maquete do empreendimento (sinalizando todo o seu entorno e que, entende-se, foi

utilizada como ferramenta do planejamento), é uma ferramenta de representação e de

significação do espaço. Construída de forma dialogada conjuga o imaginário das

pessoas e provoca a reflexão acerca de desejos, possibilidades, limites. Deve ser

trabalhada em espaços que permitam uma movimentação das pessoas em torno dela.

Sugere-se a adoção do “Escritório Social” ( BRASIL, 2014, p.17) como seu ponto de

apoio. De acordo com Villanova (2013, p. 11, 12)

A maquete para o sociólogo ou para o antropólogo é uma representação fria, estanque, de formas construídas em que o vivo está ausente, enquanto para o arquiteto ela diz muita coisa: representação do espaço em sua globalidade, ela suscita o devaneio, desenvolve sua totalidade, enfrentando o espaço praticado, vivido [...]. Ela pode ser então uma ferramenta de discussão sobre o projeto urbano, um suporte para exprimir os usos [...]. Uma ferramenta buscada pelas oficinas de discussão envolvendo o poder público, os técnicos planejadores e os habitantes em situações de motivação ou participação. Ela pode favorecer novos modos de acesso às representações dos atores nas intervenções urbanas [...]. Ela pode suscitar, para os moradores, representações que escapam habitualmente a nossos modos de conhecimento [...] levando [...] à reflexão da microescala, do subjetivo, do sensível e, no melhor dos casos, do papel ativo do habitante.

3.3.2 Croqui de campo

O “Croqui de Campo é uma ferramenta utilizada na pesquisa etnográfica por

arquitetos, antropólogos, sociólogos, é, de acordo com Duarte ( 2013 ), “muito mais

do que ilustração. Ele se transforma na própria descrição” ( DUARTE, 2013, p. 35),

uma vez que permite ao observador registrar suas impressões enquanto desenha,

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conscientizando-se do que lhe chama a atenção. Mais utilizada por arquitetos “para a

descrição espacial dos eventos e sua verificação física no ambiente” ( DUARTE, 2013,

p. 36), essa ferramenta pode ser utilizada tanto no trabalho de observação quanto

de interpretação imediata” ( DUARTE, 2013, p. 36), De acordo com a autora, o Croqui

de Campo consiste em um produto gráfico da observação, constituído de desenhos

arqutetônicos, rabiscos, esquemas [...] é muito mais do que ilustração.

Sua adaptação para o trabalho social deve ser feita com a participação de equipes

interdisciplinares, com participação notadamente de arquitetos.

3.3.3 Arquivo mnemônico do lugar

De acordo com Duarte (2013),

essa metodologia privilegia as narrativas dos moradores da cidade que, ao falar sobre ela, remexem em suas lembranças e externam suas percepções e lógicas de inserção e interpretação do meio urbano. [...] todas as narrativas coletadas [...] são encerradas em um mesmo quadro, identificando-se, em seguida, tanto as metáforas que delas emergem, quanto os esquecimentos, as lacunas [...]. A cada metáfora, é atribuída uma cor, o que transforma as narrativas em gráficos coloridos, que poderão [...] ser comparados em termos de frequência do aparecimento das metáforas, repetição do tema ou ressignificação do lugar ( DUARTE, 2013, p.38).

3.3.4 Mapeamento de manifestações

Essa ferramenta foi aplicada por Duarte (1993) para o mapeamento das

manifestações de afeto ou desafeto de vizinhos em conjunto habitacional

comprovando a relação entre “excessiva aglomeração e stress urbano” (DUARTE,

2013, p. 41). A metodologia consiste “na espacialização em planta baixa das

manifestações de afeto [...] ou outro evento social ocorrido em campo” (DUARTE,

2013, p. 41).

O método das visitas guiadas, também chamado de método dos itinerários ou de diagnóstico em processo, é frequentemente utilizado [...]. Ele repousa sobre o reconhecimento da equivalência da fala do outro, razão pela qual se consideram a relação que os moradores mantêm com o meio ambiente, o que relatam como experiências pessoais ou coletivas, e as emoções no momento em que efetuam o percurso proposto.[...] Alguns percursos se constituem em uma das maneiras de apreender as grandes sociabilidades de bairro e as

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relações entre os moradores76[...] permite observações comparativas dos

comportamentos sobre, por exemplo, calçadas e pracinhas ( VILLANOVA, 2013, p. 220 ).

3.3.4. Diagnóstico Rápido Urbano Participativo

O Diagnóstico Rápido Participativo-DRUP tem por objetivo identificar, de forma breve

e rápida, informações, sentimentos, expectativas, angústias, percepções, e a partir

dos dados levantados construir, de forma coletiva as proposições para a mudanças

que se deseja implementar. Não se deve atribuir um caráter de “participação

concedida” (SOUZA, 2009, p.36), em que os parâmetros da participação são dados

por uma equipe técnica detentora de uma sabe , mas promover a dinamização do

processo participativo. De acordo com Souza (2009)

Um processo participativo deve proporcionar a oportunidade de auto-avaliação de si e da cultura do grupo a que pertence, capacidade reflexiva sobre os efeitos de vida cotidianos, capacidade de criar e recriar não somente objetivos materiais, mas, também, e, fundamentalmente, criar e recriar formas novas de vida e de convivência social. As técnicas de diagnóstico e planejamento participativo devem valorizar, por sua vez, o processo de obtenção de informações. É importante que este processo seja, ele mesmo, um fator de formação e discussão política no seio no seio da comunidade. Os dados devem ser utilizados, principalmente, pela própria comunidade (SOUZA, 2009, p.36)

O emprego do DRP como metodologia participativa é o processo de construção do

diagnóstico que deve ser valorizado. Tudo deve ser observado e apropriado pelo

técnico que deve se colocar atento a todos os eventos que se estabelecem durante

sua realização. A comunidade envolvida não tem um papel apenas de fornecer

informações, mas de suscitá-las e participar do processo de interpretação dos dados

e informações. Esse processo pode ser implementado por meio de diversas

ferramentas e técnicas. Entre elas o “Diagrama de Venn”, “Técnica da

realidade/desejo”.

76 A autora cita aqui a complementação da ação com “observação participante em inúmeras reuniões,

festas e visitas [...] (VILANOVA, 2013, p. 221 ).

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3.3.4.1 Diagrama de Venn

O diagrama de Venn consiste em identificar os atores presentes no território e sua

relação com a comunidade. De acordo com Souza ( 2009 ) nessa técnica as pessoas

vão identificando as entidades que de alguma forma se relacionam com a

comunidade. Uma vez identificadas todas elas, o grupo discute suas atribuições, sua

relação com a comunidade e esses papéis são representados graficamente. Quanto

mais próxima da comunidade, que na representação gráfica deve estar no centro, a

entidade estiver, maior a sua relação com essa comunidade. A dimensão dessa

proximidade também pode ser representada graficamente a partir do uso de figuras

maiores ou menores para cada uma delas (SOUZA, 2009)

Essa é uma ferramenta que pode ser utilizada no processo de elaboração do Plano

de Desenvolvimento Socioterritorial Previsto na Portaria 21/2014.

3.3.4.2 Mapa da Realidade/Desejo ou Realidade/Sonhos

Essa técnica consiste em discutir, a partir de temas previamente acordados, as

expectativas, desejos, sonhos, e os obstáculos à sua concretização. Um mediador é

fundamental para que o processo se construa na confrontação com a realidade. Um

painel deve representar o resultado da construção coletiva buscando a partir disso

refletir sobre as possibilidades de mobilização em torno das expectativas do grupo e

da percepção dos limitadores tangíveis e intangíveis, sobre os quais se tem ou não

gestão e a quem compete fazê-la.

No contexto do DRUP e da realização de diagnósticos socioeconômicos e

socioterritoriais ampliados, existem ainda outras técnicas voltadas à mediação e à

consolidação de processos de cognição e reflexão, como os “Mapas Conceituais,

Nuvens de Palavras e construção de Mapas Colaborativos” “Rodas de Conversa” ou

“Rodas de Diálogo”, Observação Participante, todas mediadoras no processo de

reflexão e cognição em que podem ser abordados diversos temas como “cidadania e

direitos humanos; gênero e direitos humanos; trabalho, cidadania e direitos humanos;

Direitos de cidadania e ciclos de vida (infância, adolescência, idade adulta e terceira

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idade); Etnia, raça e direitos humanos” (AFONSO; ABADE, 2008, p.5). As visitas

guiadas, o “método ‘dos percursos comentados’ ou do “diagnósticos ao caminhar”,

que permitem o “cruzamento de olhares” técnicos e comunitários para leitura de

determinada realidade, também consistem em metodologias muito adequadas aos

objetivos dos diagnósticos socioterritoriais (como também às ações da Educação

Patrimonial prevista na Portaria 21/2014).

Aos profissionais responsáveis pelas intervenções cabe o olhar crítico e sensível para

identificar qual a técnica que melhor se aproxima das percepções que se deseja

abstrair em cada situação ou etapa da intervenção, responsabilizando-se sempre por

realizá-la de forma sistematizada, compartilhada e de forma interdisciplinar. Garantir

o ‘diálogo’ entre a leitura técnica e a leitura comunitária na construção das percepções

torna-se premissa básica para consolidação dos processos cognitivos e socioafetivos

necessários às mudanças que se deseja implementar. Ressalta-se entretanto a

necessidade de se adotar nas intervenções sociais a utilização das tecnologias de

informação e comunicação (TIC)77.

3.3.4.3 Planejamento Estratégico Situacional

O PES é uma ferramenta de planejamento de ações intersetoriais (e por isso, bem

empregado no Plano de Desenvolvimento Socioterritorial Previsto na portaria

21/2013) que pode ser empregada de forma complementar aos diagnósticos. O PES

tem centralidade na subjetividade dos indivíduos que dotada de características

próprias influencia a forma como esses indivíduos interpretam determinada situação.

Dada a pessoalidade dessas percepções, o método preconiza que a realidade não

pode ser explicada por uma simples descrição (diagnóstico), mas pelas diferentes

interpretações dadas pelos atores envolvidos (apreciação situacional).

77 A exemplo da proposta de construção de “Cenários Motivacionais” com “interface de aplicativos, utilizando o Google Maps, apresenta-se, a partir de diagnósticos realizados, as tendências de transformação urbana do contexto estudado [...]”, com “sobreposição de objetos virtuais ao espaço real ou físico” (MEDVEDOVSKI; SILVA; SOPEÑA, 2014 , p. 2876).

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De acordo com Teixeira e Paim (2000), no PES deve-se primeiramente identificar e

analisar o problema, definindo os objetivos a alcançar. A partir daí deve-se elaborar

“módulos operacionais” avaliando a “viabilidade de implementação das propostas e

Definição dos indicadores de acompanhamento e avaliação” (TEIXEIRA; PAIM, 2000,

p. 74). Os autores complementam afirmando que

do ponto de vista metodológico inclui análise dos problemas, o desenho da situação-objetivo [...] que se pretende alcançar no médio e longo prazos, a definição dos cenários prováveis nos quais se estará atuando no curto prazo e a formulação dos objetivos propriamente ditos; o desenho das estratégias, que inclui a definição das linhas de ação, a análise de viabilidade das ações propostas e a elaboração de projetos dinamizadores para a construção da viabilidade; a programação, o gerenciamento da execução e a avaliação, o que corresponde à programação detalhada das ações a serem realizadas, concomitantemente à condução e ao estabelecimento dos mecanismos de acompanhamento e avaliação periódica dos resultados alcançados e à gerência cotidiana da execução das ações propostas ( TEIXEIRA; PAIM, 2000, 72 )

É uma ferramenta que pode ser utilizada para avaliação dos problemas existentes no

território e a forma como esses problemas afetam a coletividade, verificando em que

grau essa comunidade é atingida e quais são as possibilidades de enfrentamento. Sua

aplicabilidade deve ser feita de acordo com a ilustração da figura 2.

Figura 2: Os quatro momentos do PES

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Fonte: RIEJ;FILHO, 2002, 165.

3.5. Gerenciamento de projetos

3.5.1 Método ZOPP

O Método Zopp (planejamento de projetos orientado para resultados) trabalha com o

princípio da moderação tomando a comunicação como o ponto alto no processo de

gerenciamento de projetos ( Pfeiffer, 2005 ). De acordo com Pfeiffer, “a participação é

facilitada por uma boa comunicação. E se a participação funciona, as decisões são

mais facilmente compreendidas e compartilhadas, o que por sua vez leva a um

compromisso maior com o projeto” ( PFEIFFER, 2005 p. 144).

De acordo com Pfeiffer, No Método Zopp, o Quadro Lógico, ou Matriz de Marco Lógico

ou ainda Martriz de Planejamento de Projeto ( MPP) , pressupõe um planejamento

que toma por base uma análise da situação que se deseja mudar com a intervenção

e deve ser usado desde a fase de concepção do projeto com o objetivo de descrever

os aspectos mais importantes do projeto. Essa ferramenta permite ao técnico avaliar

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se o projeto está bem estruturado, permitindo um acompanhamento sistemático e uma

avaliação mais objetiva do projeto ( PFEIFFER, 2005).

3.6 Educação patrimonial

Eixo Educação Patrimonial previsto na regulamentação do trabalho social deve

extrapolar a noção do patrimônio enquanto empreendimento ou unidade habitacional

e incorporar a noção de patrimônio em suas variadas manifestações culturais

tangíveis e/ou intangíveis, que reconheçam memória, história, valores, lugares como

fonte de conhecimento, reconhecimento (de fatos, coisas, vivências),

desenvolvimento sócio-organizativo e construções coletivas a serem apropriadas pelo

trabalho social. De acordo com Carter

A Educação Patrimonial objetiva o estabelecimento de uma relação de afeto da comunidade pelo patrimônio histórico-cultural, sendo a sua metodologia aplicável aos mais variados grupos sociais e podendo ter como objeto qualquer tipo de bem cultura. [...] permite à comunidade reapropriar-se de objetos, lugares e saberes importantes para o reconhecimento de sua cidadania (CARTER, 2004, p.38-50)

Nessa perspectiva, além de ações que despertem o sentimento de apropriação dos

bens e serviços disponibilizados pela intervenção, o técnico deverá também realizar

outras que promovam o resgate ou a consolidação das manifestações culturais,

artísticas, hábitos e costumes. Cabe nessa ação atividades que permitam a união de

grupos identitários, que compartilham interesses, vocações, habilidades e que se

identifiquem entre si. Nessa “identificação” compartilhada o grupo é levado a

compartilhar também o aprendizado e desenvolver objetivos comuns (grupalização,

agremiações, rodas de conversa). Essas ações podem evoluir para um projeto maior

de empreendedorismo, gestão social, de criação de espaços para divulgação da arte,

de desenvolvimento socioterritorial.

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3.7 Desenvolvimento socioeconômico e empreendedorismo

No senso comum, o empreendedorismo está relacionado apenas com a geração de

pequenos negócios, onde empreender é apenas engajar-se em uma atividade

lucrativa qualquer. No trabalho social é possível e pertinente trabalhar com a noção

de empreendedorismo cívico e empreendedorismo social que, por sua vez, faz

interface com o próprio empreendedorismo de negócio, uma vez que, para este é

necessário antes promover a formação ética e cívica dos indivíduos e da coletividade.

Esse empreendedorismo cívico, de acordo com um dos conceitos trazidos por Oliveira

(2004 ) da Foud Schwab, Suíça: "São agentes de intercambiação da sociedade por

meio de proposta de criação de ideias úteis para resolver problemas sociais,

combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos

procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de auto

sustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às

associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver

os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar

uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam

ideias inovadoras e vêem oportunidades onde outros não vêem nada; combinam risco

e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos,

são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas,

e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social." (OLIVEIRA. 2004,

p.11).

4 Considerações finais

De acordo com Carvalho ( 2014 ) as metodologias de intervenção social não podem

ser reduzidas a meras prescrições para uma aplicação apartada da realidade ,

desconectada do território da ação. Citando GATTI, a autora complementa afirmando

que

nas intervenções de caráter social, há de se considerar o contexto de implementação e desenvolvimento dos programas em um território que possui identidade, histórias, relações, necessidades e demandas, porta experiências e potências, porta projetos. Portanto, exige o reconhecimento de identidades e trajetórias, exige interlocução com ações simultâneas

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desenvolvidas por vários outros setores e sujeitos sociais no mesmo território ( GATTI, 2004, apud CARVALHO, 2014, p. 172)

O importante é ter a compreensão de que a construção de espaços comunitários ricos

de conhecimento, sentimentos de pertença e apropriação, postura cívica, enfim, que

a promoção da gestão social requer o olhar atento dos profissionais (com ênfase no

plural para reforçar a necessidade da interdisciplinaridade ) que fazem a mediação

no processo cuidando para que as trocas entre os saberes genuínos, “de quem vive

a realidade” ( CARVALHO, 2014, p.99) e as leituras técnicas sejam totalizantes e

geradoras e aprendizagens ( Carvalho, 2014).

Longe da intenção de esgotar o universo de possibilidades, de métodos e técnicas de

intervenção social, esse guia, modesto, se coloca apenas como um instrumento de

incentivo à curiosidade e à busca de novos caminhos para o fazer social, levando em

consideração que cada ferramenta que se apresenta pode ser adaptada e se

desdobrar em outras técnicas desenvolvidas no calor da própria intervenção e no

processo de interação com o grupo.

Neste artigo foram sugeridas algumas ferramentas, mas não foram disponibilizados

os procedimentos necessários à sua aplicação, deixando assim aos profissionais a

possibilidade da investigação. Desvendar os meios de sua aplicação é algo, portanto

que se coloca aos técnicos, entendendo não haver, apesar de seus preceitos, uma

liturgia para sua aplicação uma vez que, na escolha da metodologia para uma ação

que almeja-se transformadora, os profissionais deverão ter sempre em mente que

“não é possível avançar na intervenção social sem a proximidade dialética entre teoria

e prática. Inovação e compromisso se constroem nesta cumplicidade reflexão-ação-

reflexão” (CARVALHO, 2015, p. 174).

Conclusão

No contexto das cidades, onde o processo de produção e reprodução do espaço

urbano reforça as condições de exclusão e vulnerabilidade social impondo aos grupos

sociais menos favorecidos a condição de habitar o longínquo, destituído de espaços

de participação e sem opção de usufruir dos bens e serviços produzidos, torna-se

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premente garantir a complementaridade de programas e políticas públicas para que

se possa minimamente mitigar as condições de privação advindas desse contexto

socioeconômico que lhes são impostas. Nessa perspectiva o trabalho social constitui-

se num elemento agregador, capaz de promover a intersetorialidade, a

interdisciplinaridade e a complementaridade das políticas e ações, a participação e a

mobilização social, buscando a intercessão de práticas, objetivos, recursos, para

orquestrar as transformações que se deseja implementar nos territórios.

Para isso, as metodologias de intervenção social que o trabalho social precisa adotar

devem ter centralidade na intencionalidade da ação, consequentemente, nas relações

que se estabelecem no território, valorizando o processo de construção de saberes

para que delas resulte governabilidade e gestão social, tendo como fim último a

consolidação de comunidades cívicas, atuantes e participantes da vida política da

cidade, do bairro, do lugar de moradia. Nesse sentido, a gestão social que o trabalho

social é capaz de instituir permite que os atores repensem suas relações para a

construção de projetos políticos societários contra-hegemônicos e formação de

protagonistas para a sustentabilidade das intervenções e promoção do

desenvolvimento socioterritorial contínuo.

A pesquisa que encerra a presente dissertação buscou analisar os desafios e

possibilidades do trabalho social, enquanto elemento integrante e essencial nos

programas de habitação de interesse social, de colocar-se como mediador nessas

premissas. Identificou-se muitas de suas potencialidades e foram reconhecidos seus

limites. Estes residem nas dificuldades enfrentadas pelos profissionais na aplicação

prática dos conhecimentos, e da própria falta de conhecimento teórico e das

metodologias que se aplicam nas intervenções em questão, na aplicação das

metodologias adequadas, na capacidade de gerenciar os projetos de intervenção, na

falta de interesse dos destinatários das políticas em participar das atividades, na falta

de apoio institucional. Verificou-se pelas informações extraídas das pesquisas, a

necessidade de capacitação técnica dos profissionais para o incremento do fazer

social.

Uma grande dificuldade enfrentada pelos profissionais do trabalho social reside na

falta de governança, na ausência de intersetorialidade nas gestões públicas

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municipais, na postura patrimonialista e assistencialista, centrada na família fora de

seu contexto social, ainda presentes na gestão pública. Mas o executivo não é o único

poder responsável pela governança e pela interface das políticas com a sociedade. É

igual e essencialmente importante que as casas legislativas da esfera municipal,

estadual e federal, como ágoras contemporâneas, se consolidem como espaços de

cidadania, abertas ao debate político, incentivando a participação formal, deliberativa,

organizada, delegando à sociedade, de forma responsável, a faculdade de agir na

discussão e na construção das políticas públicas aproximando-se de suas bases no

pleno exercício de seus papéis e atribuições. Agir como representantes de sua ordem

maior: a comunidade na qual estão inseridas – sem favoritismos, sem clientelismo ou

patrimonialismo, sem o uso do prestígio ou poder político local como fonte de arranjos

políticos e privilégios pessoais. Promover a educação legislativa da população,

portanto, integra esse processo.

Reforça-se ainda a necessidade de se dar mais sentido aos fóruns, conferências,

órgãos colegiados, conselhos para que se consolidem como espaços permanentes

de discussão e proposições na promoção de uma gestão democrática e de

construções coletivas. Os movimentos sociais devem voltar-se às suas bases e

instigar a participação e uma interlocução contínua com o legislativo e o executivo

locais. Essas, são estruturas essenciais para a consolidação da gestão social e do

exercício do controle social sobre as políticas públicas para que os programas, planos,

projetos e o próprio arcabouço legal sejam representativos das demandas territoriais

e objeto de melhoria contínua em prol do desenvolvimento com sustentabilidade.

Cabe ressaltar, entretanto, que essas instâncias, a dos conselhos em especial,

embora estejam no papel de “servir ao Estado”, devem ser mais pragmáticas,

cuidando daquilo que pertence ao comunitário, e menos voluntariosas, pois se está a

serviço primeiro da própria sociedade. E assim ocuparem-se mais de conhecer,

reconhecer e discutir de forma continuada as causas dos problemas, seus

antecedentes e consequências possíveis, buscando fazer a gestão das condições em

que estes se apresentam. Esse exercício relativo ao que é de interesse comunitário

ou de Estado permitirá aos seus agentes, com o tempo, a antecipação de demandas

vindouras contribuindo para promover a eficiência do Estado.

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A defesa que se faz aqui muito se assemelha àquela experimentada pela ex Secretaria

de Habitação e Desenvolvimento Urbano dirigida por Ermínia Maricato, no nascedouro

do MCidades, entre os anos de 1989 e 1992. Naquela gestão lançou-se o mote

“inverter prioridades”, referindo-se à transformação do orçamento e dos

procedimentos em realmente públicos, “incluindo corações, mentes e

‘especializações’ dos servidores da máquina ‘pública’” (MARICATO, 2011, p.21-22)

para que a cidadania não seja tratada como um “privilégio de classe fazendo-a ser

uma concessão regulada e periódica da classe dominante às demais classes sociais,

podendo ser-lhes retirada [...]” (CHAUI78, 1986, p.54-54, apud KOGA, 2011, p.41).

Para uma sociedade atuante e uma cidadania deliberante, capaz de empreender

reflexões e discussões importantes, é preciso haver um Estado organizado, aberto à

participação popular e sensível às causas sociais provocando de modo contínuo o

“empoderamento social nas decisões coletivas que sustenta a própria democracia”

(SILVA, 2012, p. 22 ). Não um empoderamento concedido por uma benevolência

superior e oriundo de relações hierarquizadas típicas das sociedades patriarcais e

autoritárias, mas resultante de uma repactuação social por meio do qual o cidadão

possa ocupar o centro das relações e de onde suas demandas, desejos e

necessidades possam reverberar no enfrentamento ao patrimonialismo que institui a

cultura do favor “intrínseco ao próprio funcionamento institucional” ( KOGA, 2011, p.

43).

A superação do clientelismo e do princípio da exceção, que privilegiam o

favorecimento em lugar da universalização do direito e que segmentam o público-alvo

das políticas públicas ( KOGA, 2011 ), depende fundamentalmente de uma profunda

reformulação da cultura institucional no sentido de torná-la capaz de gerir os

processos de tomada de decisão “em nível das partes em conflito” e não em nível dos

elos ( DaMATTA79, 1997, p.107, apud KOGA, 2011, p. 43 ).

Dirce Koga afirma que

78 CHAUI, Marilena. Conformismo e resistência. São Paulo:Brasiliense, 1986. 79 DaMATTA, Roberto. A casa e a rua. 5.ed. Rio de Janeiro, Rocco, 1997.

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Na cultura institucional presente em organismos governamentais, não-governamentais, empresariais, partidários, eclesiais, de movimentos sociais... enfim, nas formas organizacionais mais diversas, é comum encontrarmos a prevalência do aspecto relacional sobre o aspecto racional. Trata-se de um enraizamento tão forte nas relações que chega a naturalizar práticas iníquas, do ponto de vista da cidadania e dos direitos humanos. Essa tendência poderia ser observada, como uma alternativa explicativa da naturalização do clientelismo e do favor na realidade brasileira (KOGA, 2011, 43-44).

Nesse sentido, é recomendável quebrar paradigmas, Subverter a ordem

patrimonialista enraizada na gestão pública, enxergar a complexidade da questão

urbana e inovar de forma cuidadosa para que o território, constituído de relações, não

se transforme no território da ação estratégica, que reproduz as formas de dominação

do próprio Estado e das grandes corporações e que está cada vez mais presente e

constituindo o arcabouço das políticas públicas e programas habitacionais. Um

cenário no qual “em vez da ação que [...] procura compreender o Outro em suas

circunstâncias, adotam-se intervenções que buscam a rendição do Outro” (RIBEIRO,

2011, p.27 )80 muito presente na formatação dos programas de habitação de interesse

social sobre os quais se desenha essa discussão.

Referências

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80 RIBEIRO, A.C.T. Território da sociedade: por uma cartografia da ação. In SILVA, C.A, da (Org.).

Território e Ação Social: sentidos da apropriação urbana/Cátia Antônia da Silva (Org.). – Rio de Janeiro: Lamparina, 2011.

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Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Presidência da República, Casa Civil. _______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Portaria 518/2013. Brasília, 2013. 96 p. _______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Portaria nº 21, de 22 de janeiro de 2014. Aprova o Manual de Instruções do Trabalho Social nos Programas e Ações do Ministério das Cidades. CARLOS, A.F.A; SOUZA, M.L, de; SPÓSITO, E.B (org). A Produção do Espaço Urbano: Agentes e Processos, Escalas e Desafios. São Paulo: Contexto, 2012. CARTER, Karin Kreismann EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E BIBLIOTECONOMIA: uma interação inadiável. Inf. & Soc.: Est., João Pessoa, v. 14, n. 2, p. 31-52, jul./dez. 2004 .CARVALHO Maria do Carmo Brant de. Gestão Social e Trabalho Social. Desafios e percursos metodológicos. – São Paulo: Cortez, 2014. DUARTE, C.R; VILLANOVA, R.de ( Org ). Novos Olhares Sobre o Lugar: ferramentas e métodos, da arquitetura à Antropologia.. Rio de Janeiro: Contra Capa; FAPERJ, 2013. HIRATA, Francini. Minha Casa, Minha Vida: Política Habitacional e de Geração de Emprego ou Aprofundamento da Segregação Urbana? Aurora, Ano III, número 4, Julho de 2009. KOGA, D.Medidas de Cidades: entre territórios de vida e territórios vividos. 2.ed. São Paulo : Cortez, 2011. MARICATO, E. O Impasse da Política Urbana no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. MEDVEDOVSKI, NIRCE; SILVA; ALMEIDA; SOPEÑA. Análise de estratégias para requalificação urbana frente ao conceito de tecnologia social. XV encontro nacional de tecnologia do ambiente construído ,2014; P. 2874). OLIVEIRA, E.M, Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias. Rev. FAE, Curitiba, v.7, n.2, p.9-18, jul./dez. 2004. PAUGAM, Serge. A desqualificação social:ensaio sobre a nova pobreza / Seerge Paugam / Trads. Camila Giorgetti, Tereza Lourenço; pref. E ver. Maura Pardini Bicudo Véras. – São Paulo ; Educ/Cortez, 2003. PAZ, Rosângela Dias Oliveira da; TABOADA, Kleyd Junqueira. Política Nacional de Habitação, Intersetorialidade e Integração de Políticas Públicas. Trabalho Social em Programas e Projetos de habitação de Interesse Social. Ensino à distância, Ministério das cidades, p.24, 2006. PFEIFFER, Peter. Gerenciamento de Projetos de Desenvolvimento: Conceitos, instrumentos e aplicações. RJ, Brasport, 2005.

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RIEG Denise Luciana; FILHO Targino Araújo de. – O Uso das Metodologias “Planejamento Estratégico Situacional”e “Mapeamento Cognitivo”. Gestão e Produção - ago. 2002v.9, n.2, p.163-179, ago. 2002 SOUZA Murilo Mendonça Oliveira de. A utilização de metodologias de diagnóstico e planejamento participativo em assentamentos rurais: O diagnóstico rural/rápido participativo ( DRP). EM EXTENSÃO, Uberlândia, v. 8, n. 1, p. 34 - 47, jan./jul. 2009.

TEIXEIRA, CARMEM FONTES; PAIM, Jairnilso Silva Planejamento e programação de ações intersetoriais para a promoção da saúde e da qualidade de vidaRevi st a de Administração Pública 6/2000.

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X. ANEXO

X.1 Anexo I - Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa –

CONEP

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APÊNDICE II

QUESTIONÁRIO AOS TÉCNICOS SOCIAIS DAS PREFEITURAS

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento

Local

Projeto de Pesquisa:

TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL: análise e proposições para adequações metodológicas

Prezado colaborador, este formulário é parte integrante da pesquisa de conclusão do curso

de mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, que está

sendo realizado por mim no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, sob orientação da

professora Dra. Wânia Maria de Araújo. Sua participação neste processo irá contribuir na

identificação das formas como o trabalho social vem sendo conduzido junto aos programas

de Desenvolvimento Urbano e na construção e consolidação deste conceito para uma prática

mais coerente com as diretrizes e premissas dos programas de governo, em especial aqueles

voltados à Habitação de Interesse Social. O conteúdo do formulário está relacionado ao

gerenciamento de projetos e aos métodos e técnicas de intervenção social para a construção

de processos participativos. Aproveite esta oportunidade e contribua. Busque ser verdadeiro

pensando no que efetivamente você realiza e não o que deveria ser realizado por você para

que possamos identificar onde o trabalho social precisa e pode melhorar para a consecução

dos objetivos dos programas de desenvolvimento urbano.

Não é necessário se identificar, basta responder às perguntas abaixo.

Quando julgar pertinente, poderá marcar mais de uma resposta.

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I – FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

1. Sua formação acadêmica

( ) Ciências Sociais

( ) Sociologia

( ) Pedagogia

( ) Serviço Social

( ) Psicologia

( ) Outra. Qual: _______________________________________

2. Você tem especialização?

( ) Não. Se não, pule para a questão 4.

( ) Sim. Se sim responda a questão 3

3. Seu nível de especialização

( ) MBA. Curso: _________________________________________________

( ) Especialização Lato Sensu. Curso: ________________________________

( ) Mestrado. Curso: ______________________________________________

( ) Doutorado

( ) Pós-Doutorado.

4. Na Prefeitura você

( ) é assistente social do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ou Centro

de Referência Especializado de Assistência Social ( CREAS) e presta serviços para o

setor de habitação quando é necessário elaborar e executar projetos sociais

( ) é assistente social da secretaria de assistência social e presta serviços para o setor

de habitação quando é necessário elaborar e executar projetos sociais;

( ) trabalha com os programas de transferência de renda e dá apoio ao setor de

habitação na elaboração e execução de projetos sociais;

( ) é sociólogo, pedagogo ou psicólogo de setores da Assistência Social e presta

serviços ao setor de habitação na elaboração e execução de projetos sociais;

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( ) é sociólogo, pedagogo, psicólogo ou assistente social atuando na secretaria de

educação ou outro departamento da prefeitura com função distinta de sua formação e

quando necessário presta serviços na elaboração e execução de projetos sociais na

habitação;

( ) é técnico social com uma das formações acima e atua nos programas de habitação;

( ) é contratado pela prefeitura sempre que é necessário elaborar e executar projetos

sociais para o setor de habitação;

( ) outros. Especifique __________________________________________

_____________________________________________________________.

5. Se trabalha no CRAS ou outro setor da prefeitura, quando é chamado a elaborar

e executar projetos sociais no setor de habitação, você

( ) acumula as atribuições;

( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto social e tem equipe de apoio;

( ) acumula atribuições mas tem uma equipe técnica de apoio;

( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto mas atua sozinho(a) desde o diagnóstico

até a conclusão do projeto;

( ) fica com dedicação exclusiva ao projeto, tem equipe de apoio e trabalha de forma

interdisciplinar e intersetorial.

6. Quantos anos de experiência na área de Desenvolvimento Urbano/habitação?

( ) Menos de 01 ano

( ) De 01 a 05 anos

( ) De 05 a 10 anos

( ) Mais de 10 anos

7. Você considera que o seu curso de graduação e especialização lhe

proporcionaram

( ) conhecimento na área de gestão urbana;

( ) conhecimento na área de gestão de projetos sociais;

( ) conhecimento em gestão urbana e projetos sociais;

( ) compreensão da complexidade dos fenômenos sociais;

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( ) a formação necessária para elaboração e execução de projetos sociais na área de

desenvolvimento urbano;

( ) os conhecimentos necessários para gerenciar projetos sociais;

( ) O conhecimento em gestão urbana e em gerenciamento de projetos sociais foi

adquirido na prática.

( ) não proporcionou conhecimento em nenhuma das áreas.

8. Você considera que o conhecimento relacionado à questão urbana adquirido na

prática ou nos cursos realizados é suficiente para elaborar, executar e gerenciar

projetos sociais de habitação?

( ) Sim.

( ) Não.

9. Você acredita que falta algo para melhor capacitar a atuação dos técnicos

sociais?

( ) Sim. Se sim, responda a questão 10

( ) Não.

10. No seu entendimento lhe falta ou falta aos técnicos sociais em geral

( ) conhecimento teórico;

( ) conhecimento prático, experiência profissional;

( )conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação

específicos para projetos em habitação;

( ) conhecimento específico relacionado a gerenciamento de projetos;

( ) desvinculação dos métodos e técnicas de cunho mais assistencialistas adotados

na assistência social e nos programas de transferência de renda.

( ) outros. Especifique

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

11. Sente-se mais apto e possui maior experiência em

( ) diagnóstico socioeconômico e territorial;

( ) seleção de demanda/beneficiários;

( ) elaboração de projetos sociais;

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( ) execução de projetos sociais;

( ) elaboração de relatórios e sistematização de processos;

( ) mobilização e organização comunitária/Processos participativos;

( ) acompanhamento e avaliação de projetos sociais;

( ) gerenciamento, elaboração e execução de projetos sociais com experiência

equivalente em todas as ações acima descritas;

( ) outros.______________________________________________________

II – ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS SOCIAIS

12. Quais são suas fontes de consulta para a elaboração e execução de projetos?

( ) leis, decretos, portarias e normas do Ministério das Cidades;

( ) livros didáticos/livros técnicos;

( ) textos, artigos e cartilhas;

( ) assistência técnica da CAIXA

( ) outras consultorias;

( ) projetos elaborados por outros colegas/profissionais da área/de outras

prefeituras;

( ) costumo replicar o mesmo projeto em intervenções diferentes mudando apenas

alguns itens do escopo/conteúdo;

( ) nenhuma;

( ) outros. Quais_____________________________________________________.

13. Qual a sua inspiração para a elaboração do escopo dos projetos?

( ) normalmente busco reproduzir ou adaptar cronogramas de outros projetos já

realizados uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam. Replico o que

já deu certo em outras experiências;

( ) sigo as instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades;

( ) Realizo palestras e outras atividades expositivas aos moldes do que é adotado em

outros trabalhos comunitários executados pelos CRAS e CREAS; não aplico

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metodologias de intervenção/mediação específicas para projetos sociais em

habitação;

( ) elaboro escopo e cronogramas curtos e “enxutos” pois os projetos baseiam-se

sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas;

( ) não sigo roteiros. Busco inspiração na comunidade e na realidade onde o projeto

será implementado. Oriento-me pelo diagnóstico o qual inspira possíveis inovações

metodológicas;

( ) Vou seguindo as determinações contidas nas normas para elaboração dos projetos

propondo ações informativas dentro dos eixos de ação previstos;

( ) construo o projeto em conjunto com as comunidades. Os beneficiários auxiliam no

diagnóstico e na proposição das ações e participam de forma ativa nas etapas do

processo desenvolvendo a própria dinâmica do projeto;

14. Sua maior ênfase na elaboração e implementação dos projetos sociais está

relacionada a

( ) cumprir as formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das

Cidades/CAIXA;

( ) cumprir os prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros de forma

tempestiva;

( ) cumprir as funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de presença,

fotografias de eventos e atividades para encaminhar à CAIXA;

( ) elaborar e executar projetos simplificados com um mínimo de ações em cada etapa

prevista priorizando a realização de palestras e outras atividades expositivas;

( ) conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o programa

antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e intersetorial;

( ) fazer um diagnóstico geral, privilegiando fontes secundárias e a partir daí elaborar

o projeto social;

( ) fazer devolutivas às comunidades envolvidas, se reportar a elas apresentando o

diagnóstico realizado, informando sobre a intervenção, sobre as ações do projeto, o

plano de ação e o cronograma estabelecido;

( ) construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discuti-lo com a comunidade

envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto;

15. Como costuma realizar o diagnóstico?

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( ) faço o levantamento socioeconômico das famílias por meio do CADÚNICO e outras

informações existentes na prefeitura local;

( ) faço visitas amostrais para levantamento socioeconômico das famílias;

( ) visito todas as famílias para levantamento socioeconômico;

( ) busco parceria com o CRAS/CREAS local para preenchimento de ficha

socioeconômica e me baseio nesses dados;

( ) faço levantamento socioeconômico e territorial a partir de metodologias de

intervenção/mediação para a construção coletiva do diagnóstico;

( ) outros. Especifique.

16. Sente dificuldades na aplicação prática do conhecimento na hora de pensar os

projetos sociais?

( ) Sim

( ) Não

17. Quais as maiores dificuldades na elaboração dos projetos?

( ) falta orientação técnica;

( ) falta conhecimento e experiência;

( ) falta apoio logístico, instrucional e institucional por parte dos demandantes;

( ) roteiros de projetos confusos e complexos;

( ) dificuldades na definição dos itens de custo. Normalmente há mais recursos do que

o necessário para os escopos propostos e por isso nunca sei onde aplicá-los;

( ) é difícil pensar em ações estruturantes para compor o cronograma no contexto dos

projetos, por isso me restrinjo a palestras;

( ) apenas cumpro a exigência e aposto no aspecto tecnocrático do projeto (

executar, registrar as ações com fotos e listas de presença e elaborar os relatórios ).

18. Acredita que a(s) metodologia(s) adotada(s) nos projetos que realiza auxilia(m)

na promoção de qual(is) dos objetivos relacionados ao Trabalho Social abaixo

descritos

( ) participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e

manutenção dos bens e serviços;

( ) mobilização comunitária;

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( ) desenvolvimento da cidadania;

( ) articulação de políticas sociais;

( ) inclusão produtiva coerente com o potencial econômico e as características

culturais da região/área de intervenção;

( ) fomento ao diálogo e controle social;

( ) implantação de processos socioeducativos;

( ) parcialmente todos os objetivos acima descritos;

( ) parcialmente alguns dos objetivos acima descritos. Neste caso, quais?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

19. Sente dificuldades na aplicação do conhecimento e das orientações

técnico/normativas na hora de executar os projetos sociais?

( ) Sim.

( ) Não

20. Quais as maiores dificuldades na execução dos projetos sociais?

( ) as comunidades não colaboram, não se interessam pelas questões propostas, só

comparecem nas primeiras reuniões;

( ) falta compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões

da coletividade;

( ) desconhecimento das metodologias de intervenção e mediação adequadas ao

trabalho vinculado a programas habitacionais;

( ) faltam mecanismos de promoção da intersetorialidade e interdisciplinaridade e

acabo executando os projetos sozinho (a) ou com um pequeno apoio de mais alguns

funcionários ( o que não chega a ser uma equipe);

( ) as responsabilidades não são compartilhadas;

( ) falta interlocução com a equipe de engenharia e qualquer atraso e/ou paralisação

das obras interfere significativamente no trabalho social dificultando sua execução pois

os beneficiários ficam inseguros com relação ao seu término;

( ) é difícil gerenciar prazos e recursos;

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( ) é difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do projeto,

promover processos participativos e mobilização social;

( ) enfrento grandes dificuldades na adoção de mecanismos de comunicação eficazes.

É difícil produzir e fazer chegar à população beneficiária de forma adequada as

informações necessárias.

( ) Só elaboro os projetos e outros técnicos executam.

21. Quais os mecanismos de comunicação você utiliza na execução dos projetos?

( ) carro de som;

( ) faixas em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno;

( ) Cartazes em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno;

( ) envio cartas aos beneficiários;

( ) envio bilhetes às famílias;

( ) utilizo panfletos e flyers;

( ) celular;

( ) internet;

( ) uso as missas, cultos e eventos locais para as comunicações necessárias;

( )outros. Quais__________________________________________________.

22. Costuma verificar se as informações estão chegando às pessoas de forma

adequada e tempestiva verificando e cuidando de possíveis ruídos de

comunicação?

( ) Não

( ) Sim; Se sim, de que forma?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

23. Você acredita que o Trabalho Social tenha um potencial transformador?

( ) Sim. Se sim, responda a questão 24 e 25;

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( ) Não. Se não, pule a questão 24 e 25;

24. Para você, qual a intensidade do poder de transformação de uma realidade por

meio do Trabalho Social

( ) muito intensa

( ) intensa

( ) pouco intensa

25. Onde você acredita que esteja centrado o maior poder transformador do

Trabalho Social?

( ) na oportunidade de se colocar os profissionais da área social em campo atuando

como agentes desta transformação;

( ) nas ações de educação ambiental;

( ) na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas importantes

relacionados à saúde e higiene;

( ) na proposição de ações voltadas à informação e formação a partir de metodologias

adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho;

( ) na perspectiva socioeducativa e de formação política para a construção do

protagonismo e da cidadania;

( ) na oportunidade de agir no território.

26. Para você o Trabalho Social nos programas de habitação

( ) de fato promove a cidadania e o protagonismo social;

( ) garante a participação ativa, a mobilização e a organização comunitárias;

( ) estimula o envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas

ao seu território;

( ) realmente provoca a mudança de comportamento das pessoas em relação à saúde,

ao meio ambiente, aos bens e serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia;

( ) contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança e familiar e o vínculo

patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções;

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201

( ) não promove participação ativa, não provoca mudanças e não estimula o exercício

do controle social.

27. Nas intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse

social quais as metodologias você considera mais adequadas?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

28. Quais as ferramentas e técnicas costuma usar?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

29. Como busca motivar e envolver o público beneficiário nas atividades, ou seja,

como incentiva a participação, o engajamento e a coesão do público beneficiário

durante todas as etapas do projeto

( ) anunciando que haverá lanche em todas as atividades;

( ) informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes;

( ) Outros. Especificar_________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

30. Costuma buscar apoio das pessoas do próprio grupo e/ou entidades locais

para a realização das atividades?

( ) Sim, de pessoas do próprio grupo;

( ) Sim, de entidades locais;

( ) Sim, de pessoas do grupo e de entidades locais;

( ) Não. Porque ______________________________________________________

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202

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

31. Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos

objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à

habitação?

( ) Não

( ) Sim. Se sim, quais utiliza e considera mais eficientes?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

32. Que ferramentas utiliza para estabelecer a relação causa e efeito entre os

problemas mais relevantes do diagnóstico?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

33. Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Tente

responder por eixo de atuação. Se não for possível, responda de forma geral. (

Se for necessário utilize o verso da folha identificando o nº da questão)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___________________________________________________________________.

34. Você realiza o monitoramento dos projetos verificando a produção dos

resultados almejados e de impactos?

( ) Não

( ) Sim. De que forma?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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203

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

35. Para você, o que significa concluir um projeto social em habitação?

( ) a entrega e aceitação do relatório final do projeto;

( ) o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados

( ) a conclusão dos contratos firmados

( ) a desmobilização da equipe

( ) a realização de evento de encerramento

( ) outros.

Especifique___________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

36. Como você enxerga a avaliação final de um projeto social em habitação?

( ) oportunidade de analisar a pertinência das metodologias envolvidas no curso do

projeto;

( ) oportunidade de realizar a prestação de contas e zerar pendências

( ) oportunidade de verificar o que foi alcançado

( ) oportunidade de verificar o grau de eficácia do que foi alcançado

( ) oportunidade de analisar se os esforços aplicados foram adequados e

compensadores

( ) momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o

êxito, as lições aprendidas. Momento de fazer a análise crítica do projeto.

( ) outros. Especifique _________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

37. Para você um projeto social em programas habitacionais atingiu seus objetivos

quando

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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204

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

38. Como todo projeto é finito, há sempre o momento em que a equipe técnica irá

“sair de campo”. É o momento da “transferência” dos bens e serviços

realizados à população beneficiária. Para você, no que consiste esse

momento?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

39. Você prepara e trabalha esse momento da transferência? Se sim, como o faz?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

40. Você tem informação sobre algum tipo de problema que tenha ocorrido nos

empreendimentos após o término do Trabalho Social ou mesmo durante sua

realização que não tenha sido solucionado durante sua realização?

( ) Não;

( ) Sim. Quais?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

___________________________________________________________________.

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205

41. Este espaço está reservado para suas considerações, sugestões apontamentos

importantes, enfim, colocações que julgar pertinentes e necessárias.

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

Muito obrigada por sua valiosíssima colaboração!

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206

APÊNDICE III

QUESTIONÁRIO PARA OS TÉCNICOS SOCIAIS CREDENCIADOS CAIXA

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

Programa de Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento

Local

Projeto de Pesquisa:

TRABALHO SOCIAL NOS PROGRAMAS DE HABITAÇÃO DE INTERESSE

SOCIAL: Análise e proposições para adequações metodológicas

Prezado colaborador, este formulário é parte integrante da pesquisa de conclusão do

curso de mestrado profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

que está sendo realizado por mim no Centro Universitário UNA, em Belo Horizonte, sob

orientação da professora Dra. Wânia Maria de Araújo. Sua participação neste processo

irá contribuir na identificação das formas como o trabalho social vem sendo conduzido

junto aos programas de Desenvolvimento Urbano e na construção e consolidação

deste conceito para uma prática mais coerente com as diretrizes e premissas dos

programas de governo, em especial aqueles voltados à Habitação de Interesse Social.

O conteúdo do formulário está relacionado ao gerenciamento de projetos e aos

métodos e técnicas de intervenção social para a construção de processos

participativos. Aproveite esta oportunidade e contribua pensando no que efetivamente

você realiza e não o que deveria ser realizado por você para que possamos identificar

onde o Trabalho Social precisa e pode melhorar para a consecução dos objetivos dos

programas de desenvolvimento urbano e como ele já vem contribuindo para a

sustentabilidade das intervenções.

Não é necessário se identificar, basta responder às perguntas abaixo.

Quando julgar pertinente, poderá marcar mais de uma resposta.

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207

I – FORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

1. Sua formação acadêmica

( ) Ciências Sociais

( ) Sociologia

( ) Pedagogia

( ) Serviço Social

( ) Psicologia

( ) Outra. Qual: _______________________________________

2. Você tem especialização?

( ) Não. Se não, pule para a questão 4.

( ) Sim. Se sim responda a questão 3

3. Seu nível de especialização

( ) MBA. Curso: _________________________________________________

( ) Especialização Lato Sensu. Curso: ________________________________

( ) Mestrado. Curso: ______________________________________________

( ) Doutorado.

( ) Pós-Doutorado

4. A empresa foi credenciada

( ) em âmbito municipal. Se marcou esta opção, pule a questão 5.

( ) em âmbito regional. Se marcou esta opção, responda à próxima questão

5. Para a elaboração e execução de projetos em âmbito regional sua empresa

( ) subcontrata outras empresas em âmbito local para todas as fases do projeto;

( ) subcontrata empresas locais para a fase de diagnóstico e posteriormente elabora

e executa o projeto com equipe própria;

( ) elabora o diagnóstico com equipe própria e subcontrata empresas para elaborar e

executar o projeto;

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208

( ) subcontrata profissionais autônomos/prestadores de serviços para todas as etapas

do projeto;

( ) subcontrata profissionais autônomos/prestadores de serviços para a fase de

diagnóstico e posteriormente elabora e executa o projeto com equipe própria;

( ) elabora o diagnóstico com equipe própria e subcontrata profissionais

autônomos/prestadores de serviços para elaborar e executar o projeto;

( ) Permanece com equipe própria no município da intervenção para elaboração e

execução do projeto durante todas as etapas desde o diagnóstico até o pós-obra/pós-

ocupação;

( ) Desloca-se para o município e lá seleciona empresa ou profissionais autônomos

para a elaboração e execução do projeto inclusive diagnóstico. retorna ao município

sede da empresa e faz o acompanhamento da execução à distância;

( ) adota outras formas. Especifique

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

6. Há quanto tempo a empresa foi credenciada?

( ) Menos de 01 ano

( ) De 01 a 05 anos

( ) De 05 a 10 anos

( ) Mais de 10 anos

7. Quantos anos de experiência na área de Desenvolvimento Urbano/habitação

você tem?

( ) Menos de 01 ano

( ) De 01 a 05 anos

( ) De 05 a 10 anos

( ) Mais de 10 anos

8. Você responde pela empresa e atua na elaboração e execução de projetos

sociais como Responsável Técnico?

( ) Sim, respondo pela empresa e pela responsabilidade técnica nos projetos sociais;

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209

( ) Sim, respondo pela empresa, atuo nos projetos mas não como responsável

técnica;

( ) Sim, sou Responsável Técnico nos projetos mas não respondo pela empresa;

( ) Apenas componho a equipe técnica mas não respondo nem pela empresa, nem

pela responsabilidade técnica nos projetos;

9. Você como Responsável Técnico pela elaboração e execução dos projetos

sociais

( ) elabora e executa os projetos;

( ) elabora e assina os projetos para uma equipe técnica constituída executar;

( ) elabora e assina os relatórios das atividades que a equipe realizou;

( ) recebe da equipe técnica os relatórios de execução e assina junto com elas os

relatórios;

( ) acompanha a execução do projeto fazendo intervenções e pontos de controle com

a equipe quando necessário;

( ) mesmo não executando o projeto vai a campo, participa de algumas atividades,

verifica resultados, impactos, cumprimento satisfatório do escopo e do cronograma

aprovado

10. Na empresa credenciada você

( ) é sócio-proprietário, coordenador/gestor, coordenador de equipe

( ) contratado por projeto

( ) é o responsável técnico respondendo pelos projetos sociais

( ) atua em outros projetos e quando necessário presta serviços na elaboração e

execução de projetos sociais na habitação compondo a equipe;

( ) outros. Especifique _________________________________________________

____________________________________________________________________

11. Você considera que o seu curso de graduação e especialização(ões) lhe

proporcionaram

( ) conhecimento na área de gestão urbana;

( ) conhecimento em gestão urbana e projetos sociais;

( ) compreensão da complexidade dos fenômenos sociais;

( ) a formação necessária para elaboração e execução de projetos sociais na área de

desenvolvimento urbano;

( ) conhecimentos necessários para gerenciar projetos sociais;

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210

( ) conhecimento em gestão urbana e gerenciamento de projetos sociais foi

adquirido na prática.

12. Você acredita que falta algo para melhor capacitar a atuação dos técnicos

sociais?

( ) Sim. Se sim, responda a questão 13

( ) Não

13. No seu entendimento, o que lhe falta ou falta aos técnicos sociais em geral?

( ) conhecimento teórico;

( ) conhecimento prático, experiência profissional;

( ) conhecimento acerca de métodos e técnicas de intervenção social/mediação

específicos para projetos em habitação;

( ) conhecimento específico relacionado a gerenciamento de projetos;

( ) desvinculação dos métodos e técnicas de cunho mais assistencialistas adotados

na assistência social e nos programas de transferência de renda;

( ) outros. Especifique

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

14. Sente-se mais apto e possui maior experiência em

( ) diagnóstico socioeconômico e territorial;

( ) seleção de demanda/beneficiários;

( ) elaboração de projetos sociais;

( ) execução de projetos sociais;

( ) elaboração de relatórios e sistematização de processos;

( ) mobilização e organização comunitária/Processos participativos;

( ) acompanhamento e avaliação de projetos sociais;

( ) gerenciamento, elaboração e execução de projetos sociais com experiência

equivalente em todas as ações acima descritas;

( ) outros.______________________________________________________

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211

II – ELABORAÇÃO E EXECUÇÃO DOS PROJETOS SOCIAIS

15. Quais são suas fontes de consulta para a elaboração e execução de projetos?

( ) leis, decretos, portarias e normas;

( ) livros didáticos/livros técnicos;

( ) textos, artigos e cartilhas;

( ) assistência técnica da CAIXA ou outras consultorias;

( ) projetos elaborados por outros colegas/profissionais da área/de outras

prefeituras;

( ) costumo replicar o mesmo projeto em intervenções diferentes mudando apenas

alguns itens do escopo/conteúdo;

( ) nenhuma;

( ) outros. Quais_____________________________________________________.

16. Como elabora o escopo dos projetos ( e/ou, caso seja o responsável

técnico/coordenador ) como orienta sua equipe na elaboração)?

( ) normalmente busco reproduzir ou adaptar outros cronogramas de outros projetos

já realizados uma vez que a estrutura e os eixos de atuação não variam. Replico o

que já deu certo em outras experiências;

( ) sigo as instruções e os roteiros predefinidos pelo Ministério das Cidades;

( ) Realizo palestras e outras atividades expositivas aos moldes do que é adotado em

outros trabalhos comunitários executados pelos CRAS e CREAS das prefeituras onde

atuo; não aplico metodologias de intervenção/mediação específicas para projetos

sociais em habitação;

( ) construo o projeto em conjunto com as comunidades. Os beneficiários auxiliam no

diagnóstico e na proposição das ações e participam de forma ativa nas etapas do

processo desenvolvendo a própria dinâmica do projeto;

( ) elaboro escopo e cronogramas curtos e “enxutos” pois os projetos baseiam-se

sempre em atividades expositivas que cansam as pessoas;

( ) não sigo roteiros. Busco inspiração na comunidade e na realidade onde o projeto

será implementado. Oriento-me pelo diagnóstico o qual inspira possíveis inovações

metodológicas.

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17. Sua maior ênfase na elaboração e implementação dos projetos sociais está

relacionada a

( ) cumprir as formalidades relativas às exigências normativas do Ministério das

Cidades/Caixa Econômica Federal;

( ) cumprir os prazos para garantir a liberação dos recursos financeiros;

( ) cumprir as funções de controle do tipo elaborar atas, relatórios, listas de presença,

fotografias de eventos e atividades para encaminhar à Caixa Econômica Federal;

( ) elaborar e executar projetos simplificados com um mínimo de ações em cada etapa

prevista priorizando a realização de palestras e outras atividades expositivas;

( ) conhecer o projeto construtivo, a área de intervenção, seu entorno e o programa

antes de pensar o projeto social atuando de forma interdisciplinar e intersetorial;

( ) fazer um diagnóstico geral, privilegiando fontes secundárias e a partir daí elaborar

o projeto social;

( ) fazer devolutivas às comunidades envolvidas, se reportar a elas apresentando o

diagnóstico realizado, informando sobre a intervenção, sobre as ações do projeto, o

plano de ação e o cronograma estabelecido;

( ) construir um bom diagnóstico, de forma participativa, discuti-lo com a comunidade

envolvida e, a partir dele, desenvolver de forma coletiva o projeto;

18. Como costuma realizar o diagnóstico?

( ) faço o levantamento socioeconômico das famílias por meio do CADÚNICO e outras

informações existentes na prefeitura local;

( ) faço visitas amostrais para levantamento socioeconômico das famílias;

( ) visito todas as famílias para levantamento socioeconômico;

( ) busco parceria com o CRAS/CREAS local para preenchimento de ficha

socioeconômica e me baseio nesses dados;

( ) faço levantamento socioeconômico e territorial a partir de metodologias de

intervenção/mediação para a construção coletiva do diagnóstico;

( ) Outros. Especifique

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

19. Sente dificuldades na aplicação prática do conhecimento na hora de pensar os

projetos sociais?

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213

( ) Sim

( ) Não

20. Quais as maiores dificuldades na elaboração dos projetos?

( ) falta orientação técnica;

( ) falta conhecimento e experiência;

( ) falta apoio logístico, instrucional e institucional por parte dos demandantes;

( ) roteiros de projetos confusos e complexos;

( ) dificuldades na definição dos itens de custo

( ) é difícil pensar em ações estruturantes para compor o cronograma no contexto dos

projetos por isso me restrinjo a palestras;

( ) apenas cumpro a exigência e aposto no aspecto tecnocrático do projeto (

executar, registrar as ações com fotos e listas de presença e elaborar os relatórios ).

21. Acredita que as metodologias adotadas nos projetos que realiza garantem o

alcance de qual (is) dos objetivos relacionados ao Trabalho Social abaixo

descritos.

( ) participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e

manutenção dos bens e serviços;

( ) mobilização comunitária;

( ) desenvolvimento da cidadania;

( ) articulação de políticas sociais;

( ) inclusão produtiva coerente com o potencial econômico e as características

culturais da região/área de intervenção;

( ) fomento ao diálogo e controle social;

( ) implantação de processos socioeducativos.

( ) parcialmente todos os objetivos acima descritos;

( ) parcialmente alguns dos objetivos acima descritos. Neste caso, quais?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

22. Sente dificuldades na aplicação do conhecimento e das orientações

técnico/normativas na hora de executar os projetos sociais?

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( ) Sim.

( ) Não

23. Quais as maiores dificuldades na execução dos projetos sociais?

( ) as comunidades não colaboram, não se interessam pelas questões propostas, só

comparecem nas primeiras reuniões;

( ) falta compromisso das pessoas com a própria cidadania e interesse pelas questões

da coletividade;

( ) desconhecimento das metodologias de intervenção e mediação adequadas ao

trabalho vinculado a programas habitacionais;

( ) falta interlocução com a equipe de engenharia e qualquer atraso e/ou paralisação

das obras interfere significativamente no trabalho social dificultando sua execução pois

os beneficiários ficam inseguros com relação ao seu término;

( ) É difícil gerenciar prazos e recursos;

( ) É difícil atrair o interesse do público beneficiário ao longo da execução do projeto,

promover processos participativos e mobilização social;

( ) enfrento grandes dificuldades na adoção de mecanismos de comunicação eficazes.

É difícil produzir e fazer chegar à população beneficiária de forma adequada as

informações necessárias.

24. Quais os mecanismos de comunicação você utiliza na execução dos projetos?

( ) carro de som;

( ) faixas em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno;

( ) Cartazes em pontos estratégicos da área de intervenção e entorno;

( ) envio cartas aos beneficiários;

( ) envio bilhetes às famílias;

( ) utilizo panfletos e flyers;

( ) celular;

( ) internet;

( ) missas, cultos e eventos locais para as comunicações necessárias;

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( )outros. Quais______________________________________________________.

25. Costuma verificar se as informações estão chegando às pessoas de forma

adequada e tempestiva verificando e cuidando de possíveis ruídos de

comunicação?

( ) Não

( )Sim. Se sim, de que forma?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

26. Você acredita no potencial transformador do Trabalho Social?

( ) Sim. Se sim, responda a questão 27 e 28;

( ) Não. Se não, pule as questões 27 e 28.

27. Para você, qual a intensidade do poder de transformação de uma realidade por

meio do Trabalho Social

( ) muito intensa

( ) intensa

( ) pouco intensa

28. Onde você acredita que esteja centrado o maior poder transformador do

Trabalho Social?

( ) na oportunidade de se colocar os profissionais da área social em campo atuando

como agentes desta transformação;

( ) nas ações de educação ambiental;

( ) na oportunidade de reunir pessoas explanando sobre temas importantes

relacionados à saúde e higiene;

( ) na proposição de ações voltadas à informação e formação a partir de metodologias

adequadas ao tipo de intervenção a que se vincula o trabalho;

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( ) na perspectiva socioeducativa e de formação política para a construção do

protagonismo e da cidadania.

( ) na oportunidade de agir no território.

29. Para você o Trabalho Social nos programas de habitação

( ) promove a cidadania e o protagonismo social

( ) garante a participação ativa, a mobilização e a organização comunitárias

( ) estimula o envolvimento das pessoas com as questões sociopolíticas vinculadas

ao seu território

( ) realmente provoca a mudança de comportamento das pessoas em relação à saúde,

ao meio ambiente, aos bens e serviços disponibilizados nas intervenções, à moradia

( ) contribui para o fortalecimento das relações de vizinhança e familiar e o vínculo

patrimonial garantindo assim a sustentabilidade das intervenções;

( ) não promove participação ativa, não provoca mudanças e não estimula o exercício

do controle social

30. Nas intervenções de desenvolvimento urbano voltadas à habitação de interesse

social quais as metodologias você considera mais adequadas?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

31. Quais as ferramentas e técnicas costuma usar?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

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32. Como busca motivar e envolver o público beneficiário nas atividades, ou seja,

como incentiva a participação, o engajamento e a coesão do público beneficiário

durante todas as etapas do projeto

( ) anunciando que haverá lanche em todas as atividades;

( ) informando que haverá distribuição ou sorteio de brindes;

( ) Outros. Especificar_______________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

33. Costuma buscar apoio das pessoas do próprio grupo e/ou de entidades locais

para a realização das atividades?

( ) Sim, de pessoas do próprio grupo;

( ) Sim, das entidades locais;

( ) Sim, das pessoas do grupo e de entidades locais;

( ) Sim, de lideranças locais constituídas ou natas;

( ) Não. Explique porque _______________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

34. Você conhece as metodologias de intervenção/mediação mais adequadas aos

objetivos dos projetos sociais e premissas dos programas voltados à

habitação?

( ) Sim

( ) Não

( ) Se sim, cite a(s) que considera mais adequada(s)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

35. Que ferramentas utiliza para estabelecer a relação causa e efeito entre os

problemas mais relevantes do diagnóstico?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

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36. Que atividades costuma realizar na implementação dos projetos sociais? Tente

responder por eixo de atuação. Se não for possível, responda de forma geral.

( Se for necessário utilize o verso da folha identificando o nº da questão)

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

37. Você realiza o monitoramento dos projetos verificando a produção dos

resultados almejados e impactos?

( ) Não

( ) Sim. De que forma?

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________.

38. Para você, o que significa concluir um projeto social em habitação?

( ) a entrega e aceitação do relatório final do projeto;

( ) o pagamento/recebimento de todos os produtos e serviços entregues e realizados

( ) a conclusão dos contratos firmados

( ) a desmobilização da equipe

( ) a realização de evento de encerramento

( ) outros.

Especifique___________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

39. Como você enxerga a avaliação final de um projeto social em habitação?

( ) oportunidade de analisar a pertinência das metodologias envolvidas no curso do

projeto;

( ) oportunidade de realizar a prestação de contas e zerar pendências

( ) oportunidade de verificar o que foi alcançado

( ) oportunidade de analisar se os esforços aplicados foram adequados e

compensadores

( ) momento de medir as competências dispensadas ao projeto, os desempenhos, o

êxito, as lições aprendidas. Momento de fazer a análise crítica do projeto.

( ) outros. Especifique

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____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

40. Para você um projeto social em programas habitacionais atingiu seus objetivos

quando

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

____________________________________________________________________

41. Como todo projeto é finito, há sempre o momento em que a equipe técnica irá

“sair de campo”. É o momento da “transferência” dos bens e serviços

realizados à população beneficiária. Para você, no que consiste esse momento?

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42. Você prepara e trabalha esse momento da transferência? Se sim, como o faz?

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43. Você tem informação sobre algum tipo de problema que tenha ocorrido nos

empreendimentos após o término do Trabalho Social ou mesmo durante sua

realização que não tenha sido solucionado durante sua realização?

( ) Não;

( ) Sim. Quais?

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44. Este espaço está reservado para suas considerações, sugestões para o

incremento do Trabalho Social no desenvolvimento urbano, apontamentos

importantes, enfim, colocações que julgar pertinentes e necessárias ( utilize o

verso da folha, se necessário).

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Muito obrigada por sua valiosíssima colaboração!

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APÊNDICE III

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Trabalho Social nos Programas de Habitação de Interesse Social: análise e

proposições para adequações metodológicas

Maristela Jorge Mitre

Prezado Técnico Social, você está sendo convidado a participar desta pesquisa que

tem como finalidade conhecer os limites e potencialidade do Trabalho Social no

desenvolvimento urbano, em especial nos programas de Habitação de Interesse

Social. A pesquisa consistirá da análise das normas a partir das metodologias de

intervenção social adotadas pelos profissionais na implementação de projetos e,

como resultado, pretende-se criar proposições para um melhor desempenho

profissional a serem disponibilizadas como contribuição técnica, que se constituirá de

orientações teórico-metodológicas para o fazer social no contexto em questão.

Além de revisão bibliográfica e pesquisa documental, a pesquisa irá se valer de

questionário autoaplicado contendo questões abertas e fechadas, os quais serão

aplicados junto aos técnicos sociais de prefeituras municipais e profissionais que

prestam serviços para a Caixa Econômica Federal na elaboração e execução de

projetos sociais. Espera-se que esses questionários forneçam algumas respostas que

possam auxiliar na elaboração das orientações teórico-metodológicas pretendidas.

A sua participação nessa pesquisa permitirá ao pesquisador conhecer um pouco mais

acerca das metodologias empregadas pelos profissionais na implementação de

projetos sociais nos programas de provisão habitacional, suas dificuldades na

aplicação prática do conhecimento e das normas e orientações técnicas para a

elaboração e execução dos projetos e os limites e possibilidades do Trabalho Social

na consecução dos objetivos e premissas desses programas.

Antecipadamente lhe será assegurada a liberdade de se recusar a participar ou de

suspender sua participação em qualquer fase da pesquisa, sem lhe acarretar qualquer

prejuízo, e, sempre que desejar poderá solicitar mais informações sobre a pesquisa

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por meio do telefone (35 ) 9961.4846 ou (3729.6600) ou ainda, se necessário, pelo

telefone do Comitê de Ética em Pesquisa ( 31 ) 35089110.

Esclarece-se que todas as informações coletadas nesta pesquisa serão de

conhecimento apenas do pesquisador e seu orientador. Neste sentido, serão

assegurados todos os procedimentos que garantam a confidencialidade e privacidade

das respostas de forma a resguardar o respondente de todo e qualquer tipo de

constrangimento, desconforto ou risco à sua dignidade, zelando para que as

informações obtidas por meio do questionário não sejam utilizadas de forma

prejudicial aos participantes ou mesmo à categoria profissional dos técnicos sociais.

Tais procedimentos obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Reconhece-se que, ao participar dessa pesquisa, não lhe serão concedidos benefícios

diretos, entretanto espera-se que os conhecimentos construídos a partir das

informações obtidas por meio dos questionários e dos estudos realizados permitam

sistematizar os pontos negativos e positivos, limitadores e possibilidades do Trabalho

Social nos programas habitacionais viabilizando proposições que possam ser

colocadas à serviço dos técnicos sociais para uma atuação mais satisfatória e

realizadora na área do desenvolvimento urbano.

Em tempo, esclarece-se que não há qualquer tipo de despesa ou remuneração por

sua participação e, caso seja de seu interesse, poderá obter mais informações acerca

das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos

na Resolução nº 466, de 12 de Dezembro, de 2012.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os dados abaixo solicitados.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

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Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu,

__________________________________________________, de forma livre e

esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que

recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a

divulgação dos dados obtidos neste estudo.

__________________________________

Nome:

__________________________________

Pesquisador: Maristela Jorge Mitre CPF: 489.526.216-20

___________________________________

Orientadora: Dra. Wânia Maria de Araújo Orientadora

Dúvidas, esclarecimentos, informações, entre em contato com: Maristela Jorge Mitre - ( 35 ) 3729.6600 - ( 35 ) 9961.4846 Ou Comitê de Ética em Pesquisa Una: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG Telefone: ( 31 ) 3508.9110.