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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL NARJARA INCALADO GARAJAU ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL: UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO SOCIAL PARA O PROGRAMA COZINHA COMUNITÁRIA Belo Horizonte 2013

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE …€ equipe de pesquisa: Ândrea, Maria Emília, Maína, Vanessa, Laudenice, Maria e Natália, acadêmicas do curso de Serviço social do Centro

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

NARJARA INCALADO GARAJAU

ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL: UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO

SOCIAL PARA O PROGRAMA COZINHA COMUNITÁRIA

Belo Horizonte

2013

NARJARA INCALADO GARAJAU

ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL: UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO

SOCIAL PARA O PROGRAMA COZINHA COMUNITÁRIA

Dissertação apresentada ao Mestrado em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento

Local do Centro Universitário UNA, como

requisito parcial á obtenção do título de

Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais,

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Processos político-sociais:

articulações interinstitucionais e

desenvolvimento local

Orientador/a: Drª. Maria Lúcia Miranda

Afonso.

Belo Horizonte

2013

FICHA CATALOGAÇÃO

G2012a GARAJAU, Narjara Incalado.

Articulação intersetorial: uma estratégia de Gestão social para o programa cozinha comunitário. [Manuscrito] / Narjara Incalado Garajau.- 2013. 143f.enc.

Orientadora: Maria Lúcia Miranda Afonso.

Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Programa de Pós- Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Bibliografia: f.115-119

1.Fome. 2. Política alimentar. 3. Politica social. I. Afonso, Maria Lúcia Miranda. II. Centro universitário UNA. III. Titulo.

CDU: 364.442

Ficha catalográfica elaborada por Daniela Pereira da Silva – CRB6-3062

Dedico este trabalho às pessoas que são acometidas pela fome, na utopia de que ele possa, de alguma forma, contribuir para a luta da erradicação da fome. Às pessoas que trabalham e lutam por um mundo onde todos possam viver com dignidade, tendo o seu Direito Humano à Alimentação Adequada respeitado. A todos que se empenham a possibilitar cidadania para todos, e não como privilégio de alguns. Para aqueles que idealizam uma estratégia de gestão diferente do modelo fragmentado e centralizador em busca de um país mais justo e melhor.

AGRADECIMENTOS

Agradecer tem o significado de reconhecer e demonstrar gratidão a todos

àqueles que, diretamente ou indiretamente, contribuíram para a concretização deste

processo de minha formação. Para a elaboração deste trabalho, obtive o apoio de

muitas pessoas queridas. A todos vocês meus sinceros agradecimentos por estarem

presente nesta caminhada. Em especial agradeço:

Aos meus pais, Solange e Vitório, por acreditarem nos propósitos que eu

tinha para minha vida, me incentivando e apoiando nesta trajetória acadêmica,

vibrando e estando sempre presentes em cada conquista.

Ao meu esposo, Davidson, pela compreensão da correria cotidiana e a

falta de tempo para lhe dedicar, pelo companheirismo, por entender que era um

processo importante para mim, ou melhor, para nós!

Aos meus irmãos, Higor, Victor e Caroline, verdadeiros amigos e

parceiros que estão sempre presente em todas as etapas de minha vida. Às minhas

cunhadas, irmãs e amigas, Tatiany e Flávia, na socialização de ideais, nas

discussões da produção. Aos sobrinhos, Larissa, Bárbara, Frederico, por aceitarem

a minha falta de tempo para estar com vocês. Às famílias Incalado e Garajau, que

sempre me acompanharam, apostando em meu potencial. Aos Andrade, pela

compreensão da ausência neste período.

A todos os amigos que vibraram com o resultado da seleção do mestrado,

em especial para as incentivadoras Camélia Penna, Renata Lago, Marisnei

Dourado, Paulina Zambelli, Eliane Pimenta, Fabrícia Maciel e Edna Alves.

Aos colegas do mestrado, que muito contribuíram em minha formação

com as discussões, trabalhos apresentados e debates. Em especial, à parceira

Sther Cunha.

Aos professores do programa, pela qualidade do trabalho, das aulas que

foram tão úteis e esclarecedoras, em especial aos professores Dr. Cláudio

Magalhães e Dra. Áurea Tomazi, que participaram da banca de qualificação

contribuindo para o enriquecimento do projeto.

À equipe do Programa Cozinha Comunitária pela valorosa contribuição e

atenção dispensadas desde o início da exploração empírica para a realização da

pesquisa.

À equipe de pesquisa: Ândrea, Maria Emília, Maína, Vanessa, Laudenice,

Maria e Natália, acadêmicas do curso de Serviço social do Centro Universitário UNA,

que contribuíram com sua disposição e empenho para a realização da pesquisa. Aos

colaboradores da pesquisa Altivo e Higor que conduziram o processo com muita

disponibilidade.

Aos integrantes da banca examinadora, Drª Aurea Regina Tomazi e

Bruno Lazarotti pelo aceite, pelos comentários e sugestões apresentados que em

muito acrescentaram para o aprimoramento do trabalho.

Manifesto aqui, meu especial agradecimento para a Prof. Drª Maria Lúcia

Miranda Afonso, pela disponibilidade manifestada em orientar a construção deste

trabalho, pela preciosa contribuição na definição dos elementos do projeto, seus

oportunos direcionamentos, pela exigência de método e rigor científico, por toda

revisão crítica do texto, pelos profícuos esclarecimentos, opiniões, sugestões

Agradeço a confiança e o permanente estímulo que, por vezes, se tornaram

decisivos na elaboração dessa dissertação.

Reitero, aqui, meus agradecimentos aos Deuses que sempre estão

comigo, não me abandonando em nenhum momento de minha vida, e agradeço a

oportunidade de ter em meu caminho todas estas pessoas que direta, ou

indiretamente contribuíram para este trabalho.

COZINHA COMUNITÁRIA EM POESIA

Complementando a alimentação, E melhorando as condições de vida

Temos orgulho de trabalhar Na preparação da comida.

Pessoas em situação de

Vulnerabilidade social, Todos os dias têm almoço, Com alto valor nutricional.

A alimentação é preparada,

Com o arroz, o feijão A carne e a salada.

Ainda temos a sobremesa Para uma refeição balanceada.

Para ser beneficiário

Algumas dicas vamos dar; Perto da cozinha

Você tem que morar, A renda per capita de cento e quarenta

Não pode passar.

Desempregado, hipertenso, Diabético ou cadeirante,

Em situação de desnutrição, Nutrizes e gestantes.

Para continuar no projeto,

Tem que ter responsabilidade, Participar das reuniões, pagar em dia,

Chegar no horário e trazer a identidade.

Não faltar ao fornecimento se avisar. Agindo assim,

Seu direito ninguém vai tirar.

Um trabalho que emprega A política pública de segurança alimentar

Que visa acima de tudo Servir como um degrau Para sua vida melhorar.

Autoras: Adilean, Marilene, Édna, Gleiciane e Erenice

(Equipe local da Cozinha Comunitária Nacional)

RESUMO

Tomada como fenômeno social e histórico na sociedade brasileira, a fome envolve fatores complexos, que vão além da escassez de alimentos. Para projetar uma possível superação, é necessário construir ações a partir da conexão entre as diferentes políticas públicas e setores sociais. Constata-se que ações, propostas e intervenções foram efetivadas, com enfoques e características diversas. Porém, é necessário adotar novas abordagens de gestão dos programas sociais relacionados à segurança alimentar. A intersetorialidade se anuncia como uma das formas de operacionalização da gestão social que se apoia em uma articulação possível entre os diversos atores sociais (sociedade, gestores, técnicos e usuários). Nesta dissertação buscou-se analisar a gestão do Programa Cozinha Comunitária de Contagem (MG), caracterizando seus aspectos relacionados à gestão tradicional ou à gestão social como estratégia de efetivação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Pretendeu-se identificar as estratégias, recursos e fluxos possíveis para uma articulação intersetorial da rede local com o programa Cozinha Comunitária. Foi analisado se, e como, a atual estratégia de gestão do programa no município tem contribuído para a efetivação dos objetivos relacionados ao Direito Humano à Alimentação Adequada e à Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Procurou-se identificar as possibilidades de implantação da gestão social por meio de estratégias de articulação intersetorial. Foram agregadas técnicas diferenciadas de coleta de dados em uma abordagem qualitativa e quantitativa, visando alcançar os objetivos propostos, assim como uma compreensão mais acurada do objeto de investigação. Os resultados da pesquisa revelaram a percepção que gestores e beneficiários têm sobre a estratégia de gestão, observando-se a sua dificuldade em operacionalizar os mecanismos da intersetorialidade, sendo as ações pautadas pelo viés setorializado. A operacionalidade deste modelo de gestão via intersetorialidade requer o envolvimento e o compromisso com ações propositivas e conjuntas, em busca de resultados integrados para atingir compromissos em conjunto. A pesquisa deu origem, ainda, a um produto técnico, integrado à dissertação, que se constituiu em uma proposta de Cooperação Técnica entre o Núcleo de Estágio em Serviço Social, do Centro Universitário UNA, e a Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de Contagem. Palavras-chave: Fome. Gestão social. Intersetorialidade. Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Programa Cozinha Comunitária.

ABSTRACT

Taken as a social and historical phenomenon in Brazilian society, hunger involves

complex factors that go beyond food shortages. To overcome them, we need to

construct actions from the connection between the different public policies and social

sectors. It seems that proposed interventions have been developed with different

characteristics and approaches. But it is also necessary to adopt new approaches to

the management of social programs related to food safety. Intersectoriality advertises

itself as a form of operationalization of social management that relies on a possible

articulation between the different social actors (society, managers, technicians and

users) . This dissertation is proposed to analyze the management of the Community

Kitchen Program, located in the city of Contagem (MG), seeking to characterize

aspects related to traditional management and social management as a strategy for

achieving the goals of the National Policy on Food and Nutrition Security. It is

intended to identify strategies, resources and flows possible for an intersectoral local

network with the Community Kitchen program. And also it considers whether and

how the current management strategy of the program in the municipality contributes

to the realization of the objectives related to the Right to Adequate Food and the

National Policy on Food and Nutrition Security, in addition to identifying the

possibilities of implementing management social strategies by means of intersectoral

linkages. The research aggregated different techniques of data collection in a

qualitative and quantitative approach to achieve their objectives, as well as a more

accurate understanding of the research object. The data point out to the perception

of managers and beneficiaries regarding the management strategy, remarking their

difficulties in operationalizing the mechanisms of intersectorality, since they show a

bias toward sectorial actions. The management model via intersectoriality requires

involvement and commitment to purposeful and integrated actions in order to reach

their compromises. The research has led also to a technical product integrated into

the dissertation, which constitutes a proposal for technical cooperation between the

Center of Internship in Social Work, at the University Center UNA and the

Coordination of Food Security and Nutritional Supply of the city of Contagem.

Key words: Hunger. Social management. Intersectorality. National Policy on Food

and Nutritional Security. Community Kitchen Program.

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Diagnóstico da fome. .......................................................................................... 21

FIGURA 2 O círculo vicioso da fome. .................................................................................. 23

FIGURA 3 Diferentes níveis de obrigação dos Estados ....................................................... 41

FIGURA 4 Implicações da gestão social para a efetivação do projeto societário ................. 49

FIGURA 5 Dimensões da intersetorialidade ......................................................................... 58

FIGURA 6 Intersetorialidade: um modelo ideal .................................................................... 60

FIGURA 7 Pensando a construção da rede. ........................................................................ 61

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 Tempo que é cadastrado no Programa Cozinha Comunitária .......................... 86

GRÁFICO 2 Avaliação do programa Cozinha Comunitária .................................................. 89

GRÁFICO 3 Principal refeição do dia ................................................................................... 91

GRÁFICO 4 Integrantes do núcleo familiar cadastrados no programa ................................. 94

GRÁFICO 5 Maior nível de escolaridade no grupo familiar .................................................. 95

GRÁFICO 6 Faixa etária dos membros do núcleo familiar ................................................... 96

GRÁFICO 7 Acesso a programas da prefeitura ................................................................... 99

GRÁFICO 8 Serviços públicos que acessa ........................................................................ 100

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BA – Banco de Alimentos

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CMAUF – Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar

COBAL – companhia Brasileira de Alimentos

CONSEA - Conselho Nacional de Segurança Alimentar

CRAS – Centro de Referência da Assistência social

CTSANS – Comitê Temático de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

DHAA – Direito Humano à alimentação adequada

FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

FBSAN - Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional

GTSANS – Grupo de Trabalho e de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INAM – Instituto Nacional de Alimentação do Trabalhador

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social

MESA – Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate a fome

NESS – Núcleo de Estágio de Serviço Social

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

PNAS – Política Nacional de Segurança Alimentar

SAN – Segurança Alimentar e Nutricional

SANS – Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

SAPS – Serviço de Alimentação da Previdência Social

SIMSANS – Sistema Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

SISAN – Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SMDS – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

TCLE – Termo de Consentimento Livre e esclarecido

UAN – Unidade de alimentação e nutrição

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15

1 INSEGURANÇA ALIMENTAR E A FOME COMO VIOLAÇÃO DE DIREITOS .................. 20

1.1 Caracterizando e compreendendo o fenômeno da fome ........................................... 21

1.2 O Direito Humano à Alimentação Adequada como direito fundamental ..................... 28

1.3 A intervenção do Estado no cenário da insegurança alimentar: a implementação da

Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional .................................................. 33

2 A GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL: A INTERSETORIALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE

OPERACIONALIZAÇÃO DA GESTÃO SOCIAL NA CONSOLIDAÇÃO DA POLÍTICA

NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ............................................ 43

2.1 As implicações da gestão social ................................................................................ 46

2.2 Reflexões sobre a intersetorialidade .......................................................................... 53

2.3 Intersetorialidade na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ........... 62

2.3.1 A previsão da intersetorialidade nas normativas da Política Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional .............................................................................. 63

2.3.2 O Programa Cozinha Comunitária e sua efetivação no município de Contagem 66

3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO .......................................... 74

3.1 Cenário social da pesquisa e os atores envolvidos ................................................... 75

3.2 Técnicas e as fases da pesquisa ............................................................................... 76

3.2.1 Primeira fase da pesquisa: entrevistas com a coordenadora e as técnicas do

programa .................................................................................................................... 79

3.2.2 Segunda fase da pesquisa: entrevistas com gestores de outras políticas públicas

que mantêm relação com a segurança alimentar no município ................................... 80

3.2.3 Terceira fase da pesquisa: aplicação dos formulários com os beneficiados do

programa Cozinha Comunitária .................................................................................. 81

4 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................... 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 107

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 114

ANEXOS ............................................................................................................................ 119

PRODUTO TÉCNICO ........................................................................................................ 120

INTRODUÇÃO

A presente dissertação é resultado de uma pesquisa desenvolvida sobre

o tema das interrelações entre a gestão social, a intersetorialidade e a Política

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN), a partir da análise do

Programa Cozinha Comunitária no município de Contagem. A pesquisa deu origem,

ainda, a um produto técnico, integrado à dissertação e que se constitui em uma

proposta de Cooperação Técnica entre o Núcleo de Estágios em Serviço Social

(NESS), do Centro Universitário UNA, e a Prefeitura de Contagem, especificamente

a Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de Contagem

(CSANA). Apresentar-se-á aspectos centrais da pesquisa, assim como seus

objetivos, metodologia e o produto técnico.

Considera-se como problema central, que as formas tradicionais de

gestão apresentam limites na operacionalização de programas e políticas,

comprometendo o atendimento às diferentes demandas sociais.

Como objetivo geral, a pesquisa propôs analisar a gestão social do

Programa Cozinha Comunitária de Contagem (MG), buscando caracterizar seus

aspectos relacionados à gestão tradicional ou à gestão democrática (social), como

estratégia de efetivação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,

com ênfase na articulação intersetorial e trabalho em rede. Para orientar o trabalho

de pesquisa, foram elencados os seguintes objetivos específicos: (1) Descrever e

analisar o programa Cozinha Comunitária em Contagem; (2) Compreender as

estratégias, recursos e fluxos na articulação intersetorial da rede local no Programa

Cozinha Comunitária, relacionando-os à gestão tradicional ou à gestão democrática;

(3) Analisar se e como a estratégia de gestão contribui para a efetivação dos

objetivos do programa e, (4) Elaborar uma proposta para o aprimoramento da gestão

social a partir de estratégias e ações intersetoriais.

É importante esclarecer a esse respeito que o Mestrado em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA de Belo

Horizonte, é um mestrado profissional e interdisciplinar, exigindo que o trabalho final

do aluno inclua um produto técnico que, no nível da práxis, traga contribuições à

questão pesquisada. O presente trabalho se insere na linha de pesquisa: “Processos

políticos sociais, articulações institucionais e desenvolvimento local”.

16

Em uma sociedade desigual e excludente, a insegurança alimentar está

diretamente relacionada ao sistema social, fazendo parte do cotidiano de uma

parcela significativa da população brasileira em situação de vulnerabilidade social.

Portanto, o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) torna-se

responsabilidade do Estado, que deve desenvolver ações que garantam o acesso

aos alimentos para os que se encontram em situação de vulnerabilidade. A garantia

deste direito requer, ainda, a responsabilidade da sociedade civil em participar,

controlar e fiscalizar as ações e serviços prestados pelo Estado.

A PNSAN propõe assegurar o DHAA à população principalmente àquelas

em situação de vulnerabilidade e risco social. O DHAA consiste na garantia de

acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidades suficientes.

Integrado a esta política, existe ainda o Fome Zero, que compreende um conjunto de

programas, dentre eles, o programa Cozinha Comunitária. Este é um equipamento

público de alimentação e nutrição implantado em várias cidades do Brasil, com

vistas ao fornecimento de alimentação preparada, nutricionalmente balanceada e de

baixo custo para cidadãos em situação de insegurança alimentar.

O presente trabalho analisa a gestão do Programa Cozinha Comunitária,

com ênfase na articulação intersetorial e de trabalho em rede, argumentando que

essas estratégias podem contribuir para responder às demandas sociais de garantia

do DHAA e para a efetivação da Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional. Indaga-se sobre a efetividade dessas ações e em que medida elas estão

sendo impactadas pelo modelo de gestão do Programa Cozinha Comunitária.

Pretende-se caracterizar as estratégias de gestão (tradicional e social)

correlacionando-as com o programa Cozinha Comunitária; identificar as estratégias,

recursos e fluxos possíveis para uma articulação intersetorial da rede local com este

programa. E, ainda, analisar, se e como, a atual estratégia de gestão do programa

no município de Contagem contribui para a efetivação dos objetivos relacionados ao

DHAA e da PNSAN e identificar possibilidades de implantação da gestão social por

meio de estratégias de articulação intersetorial e de trabalho em rede.

Defende-se que a intersetorialidade se anuncia como uma forma de

operacionalizar a gestão social, que pode tornar eficazes (quanto aos resultados

pretendidos) e efetivas (que o funcionamento produza efeito real) as ações

direcionadas à segurança alimentar. Assim, a análise proposta pretende apontar

para a relação de um modelo de gestão social no programa Cozinha Comunitária em

17

que participem, numa perspectiva de superação a gestão tradicional, o poder

público, os gestores do programa, a sociedade civil e os beneficiários. A partir do

reconhecimento de que o Estado deve respeitar, proteger, promover e prover a

segurança alimentar, para garantir o DHAA a todos os que dele necessitam, as

estratégias de gestão tradicionais devem ser reavaliadas, uma vez que este tipo de

gestão, com tendências à centralização, e á fragmentação das ações tende a

comprometer a participação, a emancipação e o empoderamento dos cidadãos e o

acesso aos direitos sociais.

Para desenvolver o trabalho, foi realizada uma pesquisa empírica,

precedida de cuidadosa revisão bibliográfica e de uma pesquisa exploratória.

Recorreu-se, também, à Coordenadoria de Segurança Alimentar e Abastecimento

(CSANA), efetivando visitas institucionais visando à lisura do processo de pesquisa.

O campo de investigação empírica, delimitado para obter informações acerca do

problema central, foi o programa Cozinha Comunitária, do município de Contagem,

em Minas Gerais, incluindo os seus dois equipamentos – na região de Nova

Contagem e na região do Ressaca. A pesquisa incluiu métodos qualitativos e

quantitativos visando uma compreensão mais acurada do objeto de investigação.

Este delineamento de pesquisa, complementando dados quantitativos e qualitativos,

foi escolhido para maior fidedignidade e validação da pesquisa no processo de

analise dos dados.

A dissertação foi organizada em três capítulos. No primeiro, é feita uma

reflexão sobre a insegurança alimentar e a fome como violações de direitos. Em

torno da discussão quanto ao estado nutricional, que leva o sujeito a estar em

condições de insegurança alimentar, aponta-se o fenômeno da fome, que assume

aspectos distintos e acomete a população de diversas maneiras, fruto de um sistema

social desigual e excludente.

Oferece-se uma breve reconstrução histórica da segurança alimentar, que

culminou no reconhecimento do DHAA, e que resultou, no Brasil contemporâneo, na

PNSAN. Nesta política, destaca-se o princípio da intersetorialidade, que será

discutida e fundamentada no segundo capítulo. Considerando os princípios da

PNSAN, realizou-se, no primeiro capítulo, uma revisão da proposta de um de seus

principais programas, o Cozinha Comunitária. A partir daí, é feita uma reflexão sobre

o desafio, na prática, para a incorporação da intersetorialidade na efetivação de tais

programas em nível local.

18

Buscou-se apresentar, no segundo capítulo apontamentos quanto à

formação social e política brasileira, a fim de delimitar o processo de administração

pública para correlacionar os modelos organizacionais da administração pública

(gestão gerencial, burocrático) apresentado neste estudo como gestão tradicional,

para chegar à discussão sobre esta estratégia de gestão social. Propõem-se definir

os indicadores de uma estratégia de gestão social, interpretando conceitos de

referência na literatura sobre a temática no intuito de delimitar um referencial quanto

à sistematização que compreende este modelo de gestão.

A gestão social traz consigo abordagens e incorpora critérios para efetivá-

la, como a descentralização, a participação, o controle social e a intersetorialidade.

Considera-se que, dentro desta lógica, a gestão tradicional deixaria de se referenciar

na administração pública tradicional e passaria a incorporar a intersetorialidade

como uma perspectiva inovadora para a política pública, estratégia para a condução

e operacionalização dos serviços, viabilizando uma nova relação entre o munícipe e

os gestores, considerando-se as peculiaridades e os problemas locais. Nessa linha

de discussão, abordar-se-á a intersetorialidade, apresentando-se conceitos,

argumentos e sistematização quanto ao que supõe ser o trabalho na lógica

intersetorial. Quanto à segurança alimentar, o componente determinante é a garantia

do direito humano à alimentação adequada, que necessita de estratégias de gestão

efetivas. Assim, a política de Segurança Alimentar e Nutricional tem, na

intersetorialidade, um princípio que qualifica e redimensiona as ações setoriais pré-

existentes.

No terceiro capítulo será apresentado o percurso metodológico da

pesquisa empírica, o cenário da pesquisa, os sujeitos envolvidos na coleta de dados

e as fases da pesquisa. As técnicas utilizadas foram entrevistas, guiadas por um

temário, com os gestores e técnicos, bem como formulários aplicados aos

beneficiários do programa Cozinha Comunitária.

No quarto capítulo, apresentar-se-á a análise dos dados, por meio de

gráficos e reprodução de informações aglutinadas a partir do conteúdo abordado. Os

resultados apontam para informações relevantes no aspecto do perfil dos

beneficiários, do acesso ao DHAA, da avaliação do programa, assim como, da

gestão, das relações entre os setores, das dimensões da gestão e das implicações

intersetoriais.

19

Argumentos enfatizando a mudança na estratégia de gestão faz-se

necessário para o enfrentamento do problema da fome, buscando identificar na

implementação da gestão social com ênfase na articulação intersetorial, estratégias

capazes de responder as demandas sociais numa perspectiva de garantir o DHAA e

efetivação da PSAN. Constata-se que, a implantação do Plano integrado de

Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem pode apresentar uma

significativa mudança nos padrões da gestão tradicional para a gestão social.

A proposta de um mestrado profissional busca interagir formação teórica

e prática, visando aprimorar os conhecimentos e apontar soluções para questões

que promovam o desenvolvimento local, integrado e sustentável.

Assim, como produção técnica, apresentar-se-á uma proposta de

Cooperação Técnica entre a Prefeitura de Contagem especificamente a

Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de Contagem

(CSANA) e o Núcleo de Estágio em Serviço Social do Centro Universitário UNA.

Para a universidade, que têm como parâmetro a indissociabilidade entre o

ensino, a pesquisa e a extensão, este projeto poderá ser direcionado como atividade

de extensão do Curso de Serviço Social.

Estima-se que o trabalho possa contribuir para o fortalecimento dos

instrumentos e meios de gestão social no combate à fome e na defesa do DHAA e

para a sua efetivação através da política pública, com participação dos cidadãos e

com ganhos efetivos para o desenvolvimento local, a qualidade de vida e o respeito

aos direitos humanos.

20

1 INSEGURANÇA ALIMENTAR E A FOME COMO VIOLAÇÃO DE DIREITOS

A fome – eis um problema tão velho quanto a própria vida. Para os homens, tão velho quanto a humanidade.

Josué de Castro

Para fins deste estudo analisar-se-á a insegurança alimentar com enfoque

na fome como um fenômeno social e historicamente determinado, a partir da

compreensão que, o estado nutricional do cidadão muitas vezes está ligado ao seu

posicionamento na estrutura social. A situação de insegurança alimentar está

diretamente relacionada ao sistema social, no qual a desigualdade é notória. A

relação entre a pobreza, o estado de insegurança alimentar e a fome faz parte do

cotidiano de uma parcela significativa da população brasileira.

A falta de acesso aos bens e aos direitos sociais se faz determinante para

a condição de insegurança alimentar (VASCONCELOS, 2008). Esta assume

aspectos distintos e acomete a população de diversas maneiras, seja a partir do não

acesso a alimentos por falta de renda, seja pelo aumento da obesidade e das

doenças crônicas não transmissíveis, além da nutrição inadequada (ROCHA et al.,

2004).

Evidencia-se que o quadro de insegurança alimentar decorre da falta de

qualidade e de quantidade dos alimentos na alimentação diária e, segundo Burity et

al. (2010), esta pode manifestar-se de duas formas: insegurança alimentar relativa,

quando há o comprometimento da qualidade nutricional mesmo com a oferta de

quantidade de alimentos; e insegurança alimentar absoluta, quando há

indisponibilidade quantitativa e qualitativa de alimentos por períodos curtos ou

longos, muitas vezes levando ao estado de fome e desnutrição.

A fome, como enfoque deste estudo, é considerada a expressão mais

grave da insegurança alimentar absoluta. Sua forma crônica está associada aos

desequilíbrios estruturais da sociedade e, por sua vez, só será efetivamente

combatida por meio de políticas públicas estruturais, como já defendia Josué de

Castro (1984), na década de 1950.

21

1.1 Caracterizando e compreendendo o fenômeno da fome

Como humanos, sentimos fome, o desejo da alimentação, que sacia a

vontade de comer. Porém, o fenômeno que afeta milhares de pessoas não está

relacionado somente à vontade de alimentar-se, mas à falta de acesso à quantidade

e qualidade necessárias para nutrir o organismo. Tal fato é intrínseco à discussão

sobre a insegurança alimentar e, compreendê-lo teórica e estruturalmente, permite-

nos romper com as expressões do senso comum, que remetem a questão somente

à ausência de alimentos. A seguir, destacará o ciclo, os apontamentos e a

fundamentação na dinâmica social do fenômeno da fome com o diagnóstico

sugerido por Rocha (2004).

FIGURA 1 - Diagnóstico da fome

Fonte: ROCHA, et al. 2004, p. 45.

O diagnóstico apresentado por Rocha et al. (2004) explicita a correlação

direta entre a insegurança alimentar e a pobreza extrema, que pode acarretar ao

cidadão a desnutrição e, por conseguinte, a situação de fome. Estes indicadores não

são recentes. A questão alimentar esteve, por um longo período na história,

diretamente relacionada com os hábitos de vida do homem. Oscilavam, assim, as

interpretações acerca das causas da fome. Quando o padrão era ser nômade, o ser

humano deveria buscar alternativas para se apropriar da oferta natural para se

alimentar, estabelecendo uma relação direta com a natureza. A partir do

desenvolvimento e da incorporação de estratégias de cultivo na produção de

alimentos na cultura, foi possível ao homem se firmar em determinado território e

22

desenvolver habilidades para o manejo da terra. Observa-se, na análise da temática,

que a fome aparece também como consequência de infortúnios como guerras,

catástrofes naturais, secas e enchentes.

Entretanto, a fome, na contemporaneidade, diferencia-se do contexto

supracitado pelo processo civilizatório no domínio do homem pelo trato com a

natureza. Assim, não cabe uma análise reducionista que considera que a fome está

ligada à escassez de alimentos, atribuindo a ocorrência do fenômeno somente aos

fatores de ordem natural, até mesmo porque vivencia-se, na atualidade, um cenário

com abundância na oferta de alimentos. Faz-se necessária uma análise que englobe

os fatores políticos, socioeconômicos e culturais com a abordagem da fome como

fenômeno de insegurança alimentar, pois esta abundância é acessível para alguns,

conforme será visto adiante.

Conceitua-se fome como “um fenômeno quantitativo, que pode ser

definido como a incapacidade da alimentação diária fornecer um total calórico

correspondente ao gasto energético realizado pelo trabalho do organismo”

(ABRAMOVAY, 1991, p. 14). Ou seja, a fome é uma situação em que a pessoa

permanece, por um longo período, privada, quantitativa e qualitativamente, de

alimentos que lhe forneçam as calorias necessárias para a manutenção da saúde.

Pode-se distinguir três categorias de análise do fenômeno: a fome aguda,

a momentânea e a crônica. Na forma momentânea, o indivíduo necessita saciar sua

necessidade biológica de alimentar-se, enquanto a fome aguda associa-se ao

apetite, à urgência de ingerir alimentos. Já a fome crônica é atingida quando a

alimentação diária não fornece energia suficiente para compensar os gastos

energéticos no cotidiano. A fome crônica afeta diretamente a condição nutricional da

pessoa e, consequentemente, a sua condição de saúde, sua qualidade de vida e

sua disposição para as atividades cotidianas (VASCONCELOS, 2008, p. 35).

Na dinâmica societária são vários os indicadores e os fatores que se

entrelaçam e se correlacionam, compondo um círculo vicioso que acarreta o

fenômeno da fome, conforme apresentado a seguir.

23

FIGURA 2 - O círculo vicioso da fome

Fonte: Instituto Cidadania, 2001, p. 81.

Esquematicamente apresentados pelo Instituto Cidadania (2001), os

fatores que ocasionam a reprodução da fome na sociedade podem ser elencados

por dois eixos: um está relacionado à questão agrícola, no que tange à produção,

comercialização, políticas e apoios governamentais, acabando por diminuir a oferta

de alimentos. O outro compreende a relação de consumo associado à condição

monetarista de acesso, que interfere diretamente no consumo, assim como a

concentração de renda; a incompatibilidade dos preços atuais dos alimentos com o

baixo poder aquisitivo para compra; exclusão de uma parcela da população do

mercado de trabalho, desemprego.

Desse modo, considera-se que a fome está diretamente relacionada ao

sistema capitalista de produção, que é um sistema econômico no qual o acesso aos

bens de consumo é efetivado pela comercialização e o atendimento a grande parte

das necessidades dos cidadãos, incluindo a alimentação, é operacionalizado por

meio de relações de troca por dinheiro/moeda. Nesse sentido, o quadro de fome

enfrentado atualmente tem relação direita com o acesso à renda:

24

O grau de carência alimentar depende essencialmente do déficit de renda registrado por uma família ou indivíduo, variando, portanto, bastante, em função da renda disponível vis-à-vis o patamar básico de uma dada pauta de alimentos. Graus agudos de carência de alimentar podem ser sinônimos de fome [...] (LAVINAS, 2004, p. 84).

Compreendendo por esta ótica, considera-se que a fome passa a

acometer mais pessoas a partir da instauração do sistema capitalista por ter sua

vinculação ao conflito capital versus trabalho. Trata-se de um período na história em

que o capitalismo concorrencial sucede ao capitalismo monopolista, recolocando o

sistema totalizante das contradições da ordem burguesa com seus traços de

exploração, alienação e desigualdade com objetivo de obter lucros1.

Surge assim, a partir da contradição entre o capital e o trabalho, a

questão social e suas diversas manifestações, decorrente da forma desigual como a

sociedade está organizada. É oportuno conceituar a questão social para

compreender os elementos que fundamentam a relação do fenômeno da fome com

as expressões geradas por este sistema, que resultam em problemas políticos,

sociais e econômicos engendrados na sociedade capitalista. A questão social diz

respeito às expressões de desigualdades sociais que perduram na sociedade

capitalista e que necessitam da intermediação do Estado. Ela encontra-se situada

entre as disputas da classe dominante e da classe trabalhadora, acerca de

concepções e propostas para a condução das políticas econômicas e sociais:

[...] a questão social, hoje, coloca-se basicamente a partir da produção e distribuição de riquezas. Traduz-se pela erosão dos sistemas de proteção social, pela vulnerabilidade das relações sociais e pelo questionamento da intervenção estatal [...] a questão social diz respeito aos vínculos históricos que amalgamam cada sociedade e as tensões e contradições levam à sua ruptura (WANDERLEY, 2000, p. 07).

Este problema de ordem social é expresso claramente no sistema

vigente. Para Iamamoto (apud CFESS, 2012, p. 47), “a questão social é

indissociável da forma de organização da sociedade capitalista, que promove o

desenvolvimento das forças produtivas do trabalho [...]”. Ela está relacionada às

expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista

madura, impensáveis sem a ação do Estado. Considera-se que a questão social é

histórica e estrutural, fruto da relação capital e trabalho, que tem como consequência

1 Para uma análise mais apurada, indica-se Netto (2001).

25

a desigualdade social entre as classes, e que vem a ser foco da intermediação do

Estado por meio de políticas e programas sociais dirigidos aos direitos de cidadania

dos seres sociais.

A questão social sintetiza o conjunto de resultantes estruturais e

conjunturais oriundo das desigualdades sociais produzidas pelo regime político-

econômico. Para o enfrentamento das manifestações dela, faz-se necessária a

formulação de políticas sociais destinadas à garantia das necessidades humanas

básicas para a sobrevivência. Evidencia-se que o problema da fome, como

expressão da questão social, está relacionado à falta de renda, reflexo deste

sistema excludente e desigual, que gera a condição de pobreza. Pode-se

correlacionar que a fome, sendo síntese de múltiplas determinações, evidencia-se

na situação de pobreza tanto quanto é a causadora desta. Esta condição que marca

o cenário nacional, sendo que, para Lavinas e Garcia (2004), a fome no Brasil

resulta da insuficiência aguda de renda nas camadas mais desfavorecidas da

população, expostas a um quadro de insegurança econômica bastante instável.

Definir o conceito de pobreza faz-se primordial para elucidar qual a

característica daqueles que são acometidos por este fenômeno. A pobreza pode ser

avaliada como uma situação excludente da sociedade devido ao não acesso aos

recursos básicos de manutenção das condições de vida, sendo uma expressão da

questão social.

Corroborando com Silva (2000), existem diversas apresentações teóricas

quanto à explicação sobre pobreza, analisada por diversos olhares e percepções

teóricas. Esta autora destaca quatro abordagens que são distintas entre si:

As abordagens culturalistas, cujas causas da pobreza são identificadas em fatores internos aos indivíduos, expressos pelo desenvolvimento de padrões valorativos, a partir dos quais os pobres são identificados; as abordagens estruturais, que apontam as determinações de ordem estrutural como causas determinantes da pobreza; as abordagens liberais/neoliberais que apontam como causa explicativa da pobreza o próprio indivíduo, ressaltando as deficiências pessoais: ignorância, preguiça, infortúnio, fraqueza, etc. e, finalmente, a abordagem que situa a pobreza enquanto um fenômeno multidimensional e relativo (SILVA, 2000, p. 13, grifo nosso).

Cada uma dessas concepções assume uma estratégia para analisar a

gênese da pobreza de acordo com uma acepção teórica. Contrapondo com as

demais, a aproximação adotada neste estudo situa-se no campo do marxismo, no

26

qual são encontrados os fundamentos para explicação do fenômeno da pobreza no

sistema capitalista, partindo de suas determinações estruturais. Apesar de Marx não

ter abordado diretamente a questão da fome, a sua perspectiva nos permite

considerá-la inerente ao sistema de produção capitalista, no qual a desigualdade e a

exploração são características para a sua manutenção. Para o pensador alemão, o

sistema capitalista desvirtua o ser, compromete a garantia das necessidades

essenciais a partir do momento em que ele se torna refém do sistema e, para ter

acesso, deve render-se ao consumo para a satisfação pessoal.

Para as determinações estruturais, aqueles acometidos pela pobreza têm

um desigual acesso ao mercado de trabalho, mantêm um padrão de renda instável e

um comprometimento da instrução. Estes fatores impedem a sua promoção social.

Outras indicações fortalecem a apreensão quanto à tipificação da

pobreza, explicação esta que pode recorrer a duas noções: “insuficiência dos níveis

de vida e desigualdade na distribuição de recursos, originando a concepção de

pobreza absoluta e pobreza relativa” (SILVA, 2000, p. 24).

Estas fundamentações permitem identificar o alcance ou não das

necessidades mínimas de sobrevivência, em termos monetários. Na conjugação

destes, a pobreza pode ser associada à condição que restringe liberdades

individuais, acesso aos direitos e priva o desenvolvimento de capacidades e

potencialidades.

A concepção de pobreza relativa é oriunda da compreensão da

desigualdade de acesso à renda e ao modo de vida produzido na sociedade. Nesse

contexto, o indivíduo pode ser considerado pobre por estar abaixo de uma

determinada escala de renda ou por dispor de rendas inferiores ao limite que

representa a renda média ou mediana de uma população (EUZEBY 1991 apud

SILVA, 2000, p. 25). O que orienta essa noção é a de que a pobreza varia no tempo

e no espaço em função da evolução socioeconômica e cultural.

De acordo ROCHA et al. (2004), a pobreza absoluta está vinculada às

questões de sobrevivência física; portanto, ao não atendimento das necessidades

vinculadas ao mínimo vital. Para estes autores, a desigualdade de rendimento está

intrinsecamente ligada à persistência da pobreza absoluta. Portanto, a pobreza

absoluta é a condição a qual as famílias e/ou sujeitos não conseguem ter acesso a

meios básicos de subsistência, passando por privações que acarretam à

insegurança alimentar e à fome.

27

Em 2004, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através

da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, especialmente voltada para a

questão da insegurança alimentar, apontou que, em 2003, cerca de 72 milhões de

brasileiros – aproximadamente 40% da população – viviam com algum grau de

insegurança alimentar. Destes, 14 milhões, ou seja, 7,7% da população vivem em

estado de insegurança alimentar grave, o que vale considerar a possibilidade de se

ter famílias inteiras que passam fome ou convivem, de forma rotineira, com o medo

da fome.

Quando a fome atinge grande contingente populacional, pode ocasionar

impactos na sociedade, tais como: a mortalidade infantil, o baixo rendimento escolar,

a queda no rendimento do trabalho, o alto impacto sobre a saúde da população.

Esse problema deve ser enfrentado por ações políticas voltadas para

desenvolvimento, com a reorganização da sociedade e a superação das

desigualdades:

Cada homem, mulher e criança tem o direito inalienável de estar livre da fome e da desnutrição a fim de manter e desenvolver plenamente suas faculdades físicas e mentais. A sociedade hoje já dispõe de recursos suficientes, capacidade organizacional e de tecnologia, portanto, a competência para alcançar esse objetivo. Assim, a erradicação da fome é um objetivo comum de todos os países da comunidade internacional, especialmente dos países desenvolvidos e outros em posição de ajudar (FAO, Relatório da Conferência Mundial da Alimentação, 1974).

O cidadão traz consigo o direito inalienável de ter acesso à alimentação,

visto que os efeitos da fome comprometem o indivíduo e a dinâmica social de várias

maneiras. Correlaciona-se que a pobreza, neste contexto, está vinculada às

questões de sobrevivência e que a falta de acesso à alimentação deve ser entendida

como violação dos direitos humanos.

O enfrentamento do fenômeno da fome engloba diversas estratégias de

ações, dentre as quais estão: o aumento da disponibilidade de renda da população e

a intervenção do Estado por meio de programas que garantam o acesso à

alimentação. Não mais se trata de combater a fome por razões filantrópicas ou

humanitárias. Trata-se do reconhecimento do Direito Humano à Alimentação

Adequada (DHAA) como parte do conjunto de direitos humanos, historicamente

reconhecidos e constituídos, que devem ser respeitados, promovidos, protegidos e

defendidos pelo Estado e pela sociedade. A fome e a insegurança alimentar não são

28

apenas calamidades ou situações de falta de humanitarismo, são violações de

direitos.

1.2 O Direito Humano à Alimentação Adequada como direito fundamental

O problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los.

Bobbio

A história aponta para uma sociedade que tem um legado de lutas contra

as mais diversas formas de intolerância, preconceito, exploração, violência,

discriminação, opressão e crueldade. Estabelece-se uma ampla distância entre os

povos até serem reconhecidos como sujeitos de deveres e direitos. Nesse cenário,

injustiças, conflitos e negação de direitos essenciais são perpetuados, como é o

caso da fome.

Tendo como referência o marco conceitual da positivação dos direitos,

pretende-se traçar breve argumentação acerca do que se convencionou apresentar

como “gerações dos direitos fundamentais”, compreendendo direitos econômicos,

civis, políticos, sociais, culturais, coletivos e difusos. Esses direitos emergem de

construções gradativas e paulatinas no percurso da humanidade e precisam ser

analisados a partir do momento histórico em que fora legitimado. Ressalta-se que os

direitos foram conquistados por meio de lutas e reivindicações da classe

trabalhadora e outros grupos que se viam em condição de exploração, alienação ou

exclusão social ao longo da história.

Os direitos do homem são direitos históricos, que emergem gradualmente das lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações das condições de vida que essas lutas reproduzem [...] enquanto direitos históricos, eles são mutáveis, ou seja, suscetíveis de transformação e de ampliação (BOBBIO, 1992, p. 36).

Comentando a teoria da geração dos direitos, sustentada por diversos

autores no campo jurídico, Bobbio (1992) sintetiza que os direitos de primeira

geração, considerados direitos políticos, foram conquistados em meio às revoluções

burguesas dos séculos XVII e XVIII, em que se objetivava garantir os direitos de

liberdade em resposta aos excessos praticados pela monarquia absoluta.

29

Com o avanço das lutas por direitos, a segunda geração incluiria os

direitos sociais, econômicos e culturais, sendo que o Estado deve garanti-los e

promovê-los na sociedade.

Posteriormente, o conceito de “gerações” incluiu a terceira e a quarta

gerações que referem-se, respectivamente, aos direitos coletivos, relacionados ao

meio ambiente e à biodiversidade, e aos direitos difusos, ligados à comunicação e à

democratização das informações. Os direitos relativos à questão tecnológica e

virtual comporiam os direitos de quinta geração. Estes apontam para a garantia de

direitos fundamentais que se constituem por regras e princípios positivados

constitucionalmente, dos quais possuem ordenamento jurídico que normativa a vida

em sociedade em um mundo de permanente mudança político e social.

Bobbio (1992) critica a visão linear da teoria das gerações de direitos e

discute como, nas diferentes sociedades, os direitos sempre surgiram das

necessidades contidas em cada período e da luta empreendida para conseguir

efetivá-los através de leis, e isto não seria diferente com os direitos humanos. Assim,

a história da emergência dos direitos, em cada sociedade, guarda as suas

especificidades.

A concepção de direitos humanos transformou-se ao longo da história e a

conquista destes sempre foi um processo político, envolvendo os mais diversos

setores da sociedade. Quando um direito passa a ser historicamente compreendido

como essencial para a proteção da dignidade do ser humano, ele deve ser garantido

por lei, pelo Estado e pela sociedade. Deve ser assegurado no conjunto de leis que

regulam a relação entre o Estado e os cidadãos, sendo consagrado como um direito

de cidadania (AFONSO, 2011; MEDEIROS, 2006).

Os direitos humanos são estendidos a todos os seres, pautando-se na

noção de dignidade humana, sendo iguais para todos. Cabe ressaltar que, já em

1948, por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, houve o

reconhecimento da dignidade inerente à pessoa humana e de seus direitos

fundamentais inalienáveis, conforme destaca o artigo que inclui a alimentação:

Artigo 25º – Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e serviços sociais indispensáveis e direito a segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em

30

circunstâncias fora de seu controle (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948, grifo nosso).

Reconhecidos como direitos intrínsecos ao ser humano, estes direitos da

Declaração de 1948 visam proteger a sua dignidade independente do território em

que esteja possibilitando o exercício da condição de cidadão. Historicamente no

Brasil, o acesso à alimentação para aqueles que necessitavam foi alvo de ações

caritativas, filantrópicas e assistencialistas, ou seja, não foram conduzidas como

responsabilidade do Estado e sim como ações paralelas a suas atribuições. Pedro

Demo (2005) sistematiza sua análise deste processo, conforme descrito a seguir:

Política social não é ajuda, piedade ou voluntariado. Mas o processo social, por meio do qual o necessitado gesta consciência política de sua necessidade, e, em consequência emerge como sujeito seu próprio destino, aparecendo como condição essencial de enfrentamento da desigualdade sua própria atuação organizada. Política social emancipatória é aquela que se funda na cidadania organizada dos interessados. Ou seja, não trabalha com objetos manipulados, mas com sujeitos co-participantes e co-decisores (DEMO, 2005, p. 25-26)

Nossos apontamentos para análise do sistema de proteção social sob

responsabilidade do Estado nos direcionam para a compreensão da mudança de

estratégia das políticas sociais brasileiras a partir da Constituição Federal de 1988,

fruto das reformas da década de 1980 e 1990, que até então caracterizava as

políticas como controle sobre a sociedade, restando aos assistidos ações

fragmentadas e descontínuas, com caráter de caridade e não de direito. Esta

mudança gera impactos na formatação das políticas quanto à compreensão dos

beneficiários e das estratégias de acesso aos benefícios. Considera-se de acordo

com SCHIEFER (2004), que os direitos de cidadania como aqueles garantidos pela

Constituição Federal e demais ordenamentos jurídicos que regulam a relação entre

os cidadãos e o Estado. Já os direitos humanos ganham materialidade com os

direitos de cidadania conquistados, mas também introduzem uma perspectiva mais

ampla: um horizonte político, ético, filosófico para a compreensão e construção

histórica do que é a dignidade humana.

Considera-se que o processo de democratização do Brasil,

especificamente a Constituição Federal de 1988, marcou um momento de

fortalecimento da cidadania e dos direitos humanos por meio do direcionamento

efetivado nas políticas sociais relacionadas à proteção social. O homem, como ser

31

social mantém-se como cidadão à medida que partilha com os outros membros os

mesmos direitos e deveres existentes na sociedade.

A cidadania constitui-se como atributo de todos os membros de uma

sociedade, pois ela estabelece uma medida efetiva de igualdade. Para Covre (1995),

o exercício da cidadania pode ser uma estratégia para a construção de uma

sociedade melhor, assegurando o direito de reivindicar direitos. A cidadania é o

próprio direito à vida em seu pleno sentido. Trata-se de direitos que precisam ser

construídos coletivamente não só em termos do atendimento às necessidades

básicas, mas do acesso a todos os níveis de existência.

Só existe cidadania se houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da luta para fazer valer os direitos do cidadão. O exercício da cidadania é algo possível, mas depende do enfrentamento político adotado por quem tem pouco poder (COVRE, 1995, p. 10).

De acordo com Demo (2000) pensar a cidadania é pensar que os

indivíduos, grupos ou movimentos sociais não devam se posicionar como simples

beneficiários e reprodutores de modelos tutelares ou assistencialistas, mas como

“capazes de, individual ou coletivamente, fazerem e fazer-se oportunidade, ou de

emanciparem-se” (DEMO, 2000, p. 23).

Para Jaccoud (2005), a cidadania, expandida tanto em termos políticos

como em termos sociais, permitiu a construção de um novo paradigma para a

organização da proteção social: os direitos sociais.

A construção dos direitos sociais para Jaccoud (2005) é a base da

cidadania social, reporta-se a uma estratégia de enfrentar a temática da

desigualdade, central no debate político das sociedades modernas, permitindo

ampliar a aderência entre direitos e obrigações, implícitos a este pertencimento por

intermédio da garantia de acesso a um conjunto de bens e serviços considerados

essenciais.

O marco da discussão quanto à cidadania faz-se pela possibilidade de

participação do cidadão de reivindicar que seus direitos sejam efetivados. Evelina

Dagnino introduz a discussão da emergência de uma “nova cidadania”, nas últimas

décadas do século XX e ressalta:

32

Afirmar a cidadania como estratégia significa enfatizar o seu caráter de construção histórica, definida, portanto por interesses concretos e práticas concretas de luta e pela sua contínua transformação. Significa dizer que não há uma essência única imanente ao conceito de cidadania, que o seu conteúdo e seu significado não são universais, não estão definidos e delimitados previamente, mas respondem à dinâmica dos conflitos reais, tais como vividos pela sociedade num determinado momento histórico (DAGNINO, 2004, p.107).

No quesito da segurança alimentar, as lutas e mobilizações sociais por

garantia de direitos nesta temática foram marcantes para ampliar a discussão e

fortalecer o combate à fome. Assim, normativas são instituídas para legitimar a

concretização do DHAA, como preconiza a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e

Nutricional (LOSAN) e tantas outras legislações internacionais. A LOSAN estabelece

que:

A alimentação adequada é um direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população (BRASIL, 2006, artigo segundo).

Em setembro de 2000 foi aprovada a Declaração do Milênio das Nações

Unidas, assinada por 191 países, dentre eles o Brasil. Esta Declaração estabelece

os “Objetivos de desenvolvimento do milênio”, que deveriam ser alcançados até o

ano de 2015. Observa-se que o primeiro deles é “erradicar a pobreza extrema e a

fome”. Em seguida, estão os objetivos de: assegurar educação básica para todos;

promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher; reduzir a mortalidade

infantil; melhorar a saúde materna; combater as epidemias e doenças; garantir a

sustentabilidade ambiental; e estabelecer parcerias mundiais para o

desenvolvimento.

No Brasil, é recente a evolução dos conceitos de Segurança Alimentar e

Nutricional (SAN) e do DHAA como garantia de direitos e de efetivação da

cidadania. Resulta de um movimento histórico e um dos seus marcos foi a

aprovação, em fevereiro de 2010, da proposta de Ementa Constitucional nº 64/2010,

incluindo, no Artigo sexto, a alimentação entre os direitos sociais:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

33

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (Brasil, 2010, grifo nosso).

O direito à alimentação é um direito básico do ser humano, pois, não

havendo acesso a uma alimentação adequada, tanto do ponto de vista da

quantidade quanto da qualidade, tampouco existe o direito à vida, ficando a

cidadania sem as suas garantias básicas. Assim, o poder público deve adotar as

políticas e ações necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e

nutricional da população brasileira.

Para a garantia dos direitos no que tange a alimentação, deve-se

preconizar que a fome será combatida com políticas públicas permanentes e de

grande alcance, através das quais o Estado garanta o acesso ao DHAA. É

necessária a articulação de políticas que garantam o acesso à segurança alimentar

dentro da PNSAN. Resguardar os direitos daqueles que vivem em condição de

pobreza é um desafio que todos devem enfrentar se almejar criar sociedades mais

inclusivas, prósperas e justas.

Sublinha-se que um direito tão básico que se mescla ao próprio direito de

sobrevivência só foi formalmente incorporado ao texto constitucional mais de vinte

anos após sua promulgação. A seguir, é feita uma síntese desse percurso histórico.

1.3 A intervenção do Estado no cenário da insegurança alimentar: a implementação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

É possível localizar, na história mundial e no Brasil, uma série de eventos

correlacionados com a questão da fome. Neste item, abordar-se-á o posicionamento

do Estado em diferentes períodos históricos no intuito de compreender como o

conceito contemporâneo da segurança alimentar foi paulatinamente adquirindo a

expressão que tem na atualidade. Para fins desta sistematização, somente serão

mencionados aspectos e intervenções de repercussão mundial e aqueles

relacionados ao setor público de âmbito federal.

Neste percurso histórico quanto à evolução do conceito de segurança

alimentar, utilizar-se-á dos estudos de ARANHA et al.(2010) e BURITY et al. (2010),

além de informações expressas em cartilhas do próprio MDS, para fundamentar

nossas considerações. Este núcleo agrega alguns elementos relacionados aos

34

aspectos nacionais e internacionais que fundamentam o conceito utilizado na

contemporaneidade.

O conceito de segurança alimentar é originário da Europa a partir da

Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Neste período, o enfoque estava na

capacidade de cada país em produzir sua própria alimentação, garantindo a sua

manutenção e evitando tornar-se vulnerável a possíveis embargos devido a razões

políticas ou militares.

No Brasil, em 1932, Josué de Castro realizou o inquérito sobre “As

condições de vida das classes operárias do Recife”. A relevância deste trabalho foi

que, pela primeira vez, foram estabelecidas relações diretas entre a produtividade do

trabalhador e a sua alimentação. Relacionou também as condições de vida, o tipo de

moradia e o salário, denunciando o flagelo dos trabalhadores e a fome. Esse

diagnóstico contribuiu, dentre outros fatores, para se instituir, em 1936, o salário

mínimo, que, mesmo não sendo uma política de alimentação, representou um

impacto na alimentação dos trabalhadores.

Em 1939, o Ministério do Trabalho criou o Serviço Central de

Alimentação, vinculado ao Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários,

que desenvolvia ações centradas na alimentação/educação. No ano seguinte, em

1940, esta Central foi substituída pelo Serviço de Alimentação da Previdência Social,

tendo como objetivo principal a melhoria da alimentação do trabalhador, visando sua

resistência para o desempenho no trabalho. Na década de 40, prevalecia a

compreensão de que a população acometida pelo fenômeno da fome era apenas

aquela atingida por fatores de ordem natural:

No Brasil da década de 1940, havia a ideia generalizada de que a população se alimentava bem, éramos um país com grandes áreas a explorar e uma população pouco densa. Admitia-se a ocorrência da fome apenas em períodos e em áreas atingidas por problemas climáticos, como as secas periódicas do Nordeste (ARANHA et al., 2010, p.18).

Deste modo, o Estado limitava-se a desenvolver ações e programas de

caráter assistencialistas2, repassando a ideia de que a seca era a responsável pelo

2 O assistencialismo implica em ações como benesse e supõe uma relação de ajuda que faz do

usuário um dependente de doações. O assistencialismo “é estratégia de manutenção das desigualdades sociais” sendo que “a assistência corresponde a um direito humano” (DEMO, 1994, p. 31).

35

quadro da fome e do subdesenvolvimento das regiões acometidas por este

problema climático.

No Brasil, ações voltadas diretamente para a segurança alimentar

remontam à década de 1940 no âmbito do Ministério do Trabalho, com a criação, em

1939, do Serviço Central de Alimentação no Instituto de Aposentadoria e Pensão

dos Industriários (IAPI), que foi substituído pelo Serviço de Alimentação da

Previdência Social (SAPS), a partir do Decreto-Lei no 2.478/1940, que instituiu os

primeiros restaurantes populares entre os anos de 1940 e 1967. O intuito era

melhorar a alimentação do trabalhador, fornecendo alimentação adequada e barata.

Por meio desta lei, tornou-se obrigatório às empresas o fornecimento de refeições e

a instalação de refeitórios. Afinal, a partir de uma boa refeição, melhorando o estado

nutricional dos operários, a capacidade de produção seria melhor.

Em 1945 foi criada a Comissão Nacional de Alimentação e, em 1946, foi

publicado o livro de Josué de Castro, intitulado Geografia da fome. A partir da

Segunda Guerra (1939-1945), a questão da segurança alimentar adquiriu uma

perspectiva internacional com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU)

e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO),

ambas fundadas em 1945. Passa-se, então, a tratar a insuficiência de

disponibilidade de alimentos através das iniciativas de assistência alimentar aos

países pobres utilizando-se do excedente de produção dos países ricos. Deve-se

mencionar a relevância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e

proclamada pela ONU em 1948, considerando o reconhecimento da dignidade

inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e

inalienáveis que devem ser protegidos pelo Estado de Direito:

Sob a perspectiva dos Direitos Humanos Internacionais, a fome e a pobreza são tratadas como uma violação dos direitos humanos. Nesse sentido, são definidos objetivos metas e prazos de diminuição das taxas de pobreza no mundo e de superação do fenômeno da fome (ARANHA et al., 2010, p. 47).

No âmbito da correlação entre educação e segurança alimentar, tem-se

em 1955 a criação da companha para merenda escolar, que paulatinamente amplia

sua contribuição para a garantia do DHAA.

36

Destaca-se que, em 1962, foi criada a Companhia Brasileira de Alimentos

(COBAL) para participar diretamente da execução dos planos e programas de

abastecimento elaborados pelo Governo.

Entretanto, conforme analisam BURITY et al.(2010), o aumento de

produção que ocorreu na década de 1960, e teve continuidade em 1980, não

beneficiou a população, pois permanecia vinculado aos interesses industriais e

capitalistas. Neste período, fica evidente que a insegurança alimentar devia-se à

falta de garantia de acesso físico e econômico aos alimentos em decorrência da

exclusão social.

Na década de 1970, argumentava-se que a insegurança alimentar

decorria da produção insuficiente de alimentos nos países pobres. Neste contexto,

foi lançada uma experiência social chamada “Revolução Verde”, que contribuiu para

o aumento da produção de alimentos associada ao uso de novas variedades

genéticas dependentes de insumos químicos. Essa produção, porém, não atingiu o

contingente populacional que sofria fome e nem lhe garantiu o acesso aos

alimentos. Nesse mesmo período, foi realizada a Conferência Mundial de

Alimentação, em meio à crise mundial de produção de alimentos, chegando-se à

conclusão de que a garantia da segurança alimentar teria que acontecer por meio de

políticas de armazenamento estratégico e de oferta de alimentos, associadas ao

aumento de sua produção. Portanto, não era suficiente produzir alimentos, mas

urgia garantir a regularidade do abastecimento.

Ainda naquela década, registra-se a criação, em 1972, do Instituto

Nacional de Alimentação do Trabalhador (INAN); em 1973, do Programa Nacional

de Alimentação e Nutrição; em 1976, do Programa de Alimentação do Trabalhador;

e, em 1979, do programa Nacional de Merenda Escolar. Mencionar estes fatos nos

permite compreender como foi paulatina e gradativa a evolução dos programas no

trato da questão da insegurança alimentar.

A partir de 1980, a produtividade permaneceu com ganhos contínuos e

gerando excedentes de produção, o que resultou na queda dos preços de

determinados alimentos. Contudo, “estes excedentes alimentares passaram a ser

colocados no mercado sob a forma de alimentos industrializados, sem que houvesse

a eliminação da fome” (BURITY et al., 2010, p. 12). Neste período, fica evidente que

a causa de insegurança alimentar era a falta de garantia de acesso físico e

econômico aos alimentos em decorrência da exclusão social. A pobreza persistia e,

37

portanto, não havia recursos financeiros para a aquisição de alimentos. “Assim, o

conceito de segurança alimentar passou a ser relacionado com a garantia de acesso

físico e econômico de todos – e de forma permanente – a quantidades suficientes de

alimentos” (BURITY et al., 2010, p. 12).

Um marco para a discussão da segurança alimentar no Brasil ocorreu no

ano de 1985, quando o documento “Segurança Alimentar – proposta de uma política

contra a fome”, do Ministério da Agricultura, recomendou a criação do Conselho

Nacional de Segurança Alimentar.

Na I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, ocorrida em 1986,

foi elaborado um novo conceito de segurança alimentar, tendo a participação da

sociedade civil, conceito este que reafirmou a noção de segurança alimentar do

ponto de vista nutricional e do ponto de vista dos direitos, ultrapassando a referência

individual para reafirmar a natureza social e política do fenômeno:

a garantia, a todos, de condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna (I CONFERÊNCIA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO, 1986 apud BURITY et al., 2010, p 12).

O processo de democratização do Brasil, ainda na década de 1980, abriu-

se para a mobilização popular pelas causas sociais, permitindo que os espaços de

participação e debates sobre o tema da fome e desnutrição fossem se estruturando.

Em 1988, foi promulgada a nova Constituição Federal, que tem como pilar a

dignidade da pessoa humana, os direitos fundamentais e a cidadania. Como

resultado da pressão política interna, bem como da pressão dos organismos

internacionais, amplia-se a discussão sobre segurança alimentar a partir da segunda

metade da década de 80, incorporando a ideia da necessária intervenção do Estado

para garantir o DHAA. Neste período, a iniciativa do Ministério da Agricultura

reduzia-se ainda à avaliação do estado nutricional dos indivíduos, principalmente no

que se referia à desnutrição infantil. Apenas mais tarde é que seria colocada uma

perspectiva mais ampla incluindo dimensões sociais e políticas.

Assim, no início da década de 1990, tem-se um novo olhar para a questão

da segurança alimentar, passando-se a incorporar a noção de acesso a alimentos

38

seguros, isto é, com qualidade nutricional, biológica, sanitária e tecnológica. Fruto da

discussão que se inicia, mundialmente, sobre o desenvolvimento sustentável (a

produção deve ser efetivada de forma sustentável, equilibrada e culturalmente

aceitável), destaca-se o compromisso com a população, agregando o aspecto

sanitário e nutricional ao conceito de segurança alimentar e nutricional. Essa visão

foi consolidada nas declarações da Conferência Internacional de Nutrição, realizada

em Roma, em 1992, pela FAO e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

(BURITY et al., 2010, p. 12).

No Brasil, a discussão sobre segurança alimentar amplia-se, incorporando

a necessária intervenção do Estado, devendo este criar condições para ofertar à

população bens e serviços que o mercado não ofertará a todos. A iniciativa do

Ministério da Agricultura era incipiente e remota, reduzindo-se à avaliação do estado

nutricional dos indivíduos, principalmente no que se referia à desnutrição infantil.

Contudo, essa medida teve sua utilidade para chegar aos avanços obtidos no início

do século XXI, destaca-se:

A proposta de um Sistema e de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional teve origem em dois eventos ocorridos em meados da década de 1980, um mais técnico e outro político. Primeiro, a elaboração do documento: Segurança Alimentar – proposta de uma política de combate à fome no âmbito do Ministério da Agricultura, em 1985, que deu mais ênfase às dimensões social e econômica. Segundo, a mobilização da sociedade civil, que levou à realização da I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição (CNAN), em 1986, cujas proposições levaram, entre outras, à introdução do qualificativo nutricional à noção de segurança alimentar (BURITY et al., 2010, p. 17).

Apesar de tais avanços nas concepções sobre segurança alimentar, as

ações desenvolvidas até a década de 1990 caracterizavam-se, conforme Aranha

(2010), pela fragmentação, descontinuidade e seletividade dos programas.

A organização não governamental Instituto da Cidadania lançou, em

1991, o documento que seria base para um programa de segurança alimentar e

nutricional e que serviu à proposta da Política Nacional de Segurança Alimentar

(PNSA). Uma intervenção eficaz, nessa época, foi a publicação do Mapa da Fome

no Brasil,3 em 1993, pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Por

3 “A metodologia utilizada para elaborar o Mapa da Fome foi extraída dos estudos sobre pobreza e

que consistia em levantar o custo, por região, de uma cesta básica de alimentos necessária para satisfazer as necessidades nutricionais das famílias para identificar quantas famílias tinham renda que permitia adquirir essa cesta básica. As pessoas que viviam em famílias com uma renda igual ou

39

conseguinte vai concorrer que, em 1993, seja estabelecido o Conselho Nacional de

Segurança Alimentar (CONSEA)4.

Faz-se necessário destacar a mobilização da população no

enfrentamento da fome, em 1993, ganha dimensão nacional a “Ação da Cidadania

contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, movimento liderado por Herbert de Souza,

com repercussão nacional.

No ano de 1994, em julho, ocorreu a I Conferência Nacional de

Segurança Alimentar, impulsionada pela mobilização social de alguns setores, em

âmbito nacional. Houve a elaboração de um documento brasileiro dirigido à Cúpula

Mundial da Alimentação por uma comissão tripartite (governo, sociedade civil e

iniciativa privada) e uma participação significativa da delegação brasileira na Cúpula.

Em Roma, em 1996, houve o reconhecimento da necessidade da mobilização social

pela segurança alimentar e nutricional no Brasil.

De fato, a mobilização da população brasileira contribuiu para a criação

do Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional (FBSAN), no ano de 1998,

constituindo uma rede nacional que congregava organizações sociais,

pesquisadores e técnicos governamentais, com ramificações na forma de fóruns

estaduais.

Como resultado de toda a mobilização política no âmbito da sociedade

civil, do Estado e das influências internacionais, a Política Nacional de Alimentação e

Nutrição foi instituída através da portaria nº. 710 de junho de 1999, contendo as

diretrizes programáticas que tiveram como princípio norteador o DHAA e a

Segurança Alimentar e Nutricional.

O FBSAN ampliou-se, agregando várias entidades afiliadas e tendo

desempenhado papel destacado na recriação do CONSEA (2003), bem como na

composição da agenda do Conselho e na articulação com outras redes que mantêm

interfaces com a SAN como: reforma agrária, economia solidária, agroecologia,

povos indígenas, populações tradicionais etc. A partir deste ano foi criado um o

Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome (MESA), inferior ao valor da cesta básica de alimentos eram então incluídas no grupo das que passavam fome. Assim, a fome podia ser medida com base na falta de renda para comprar os alimentos necessários a uma alimentação adequada. Com essa concepção se chegou ao número de 32 milhões de pessoas que não tinham renda para garantir a sua alimentação nos níveis recomendados” (ARANHA et al., 2010, p. 34).

4 Destaca-se que o CONSEA foi criado em 1993, foi extinto em 1994 e recriado em 2003.

40

responsável pela condução do então Programa Fome Zero, com o objetivo de

enfrentar a fome no país.

Em 2003, é criado o Programa Fome Zero, sendo elaborado e dirigido

pelo MESA, direcionado como uma estratégia de governo alterando a postura que

até então predominava na perspectiva de um Estado mínimo na garantia da

segurança alimentar via mercado. Sua organização visa à articulação de vários

ministérios no intuito de desenvolver ações estruturais e emergenciais para erradicar

a fome. Os eixos que o fundamentam são pautados no acesso aos alimentos;

fortalecimento da agricultura familiar; geração de renda, e a articulação, mobilização

e controle social. Deste modo, o Fome Zero pode ser conceituado como:

uma estratégia impulsionada pelo governo federal para assegurar o direito humano à alimentação adequada às pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos. Tal estratégia se insere na promoção da segurança alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome. [...] possibilita uma ação planejada e articulada com melhores possibilidades de assegurar o acesso à alimentação, a expansão da produção e o consumo de alimentos saudáveis, a geração de ocupação e renda, a melhoria na escolarização, nas condições de saúde, no acesso ao abastecimento de água, tudo sob a ótica dos direitos de cidadania (BRASIL. Fome Zero. Disponível em:<http://www.fomezero.gov.br>. Acesso em: 20 out. 2012)

Em janeiro de 2004, institui-se o Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome (MDS), integrando as ações do Ministério de Assistência Social, do

Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome e da

Secretaria-Executiva do Programa Bolsa Família. A II Conferência Nacional de SAN,

realizada em Olinda (PE), em 2004, ampliou o conceito de Segurança Alimentar e

Nutricional:

Segurança Alimentar e Nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável (BURITY et al., 2010, p.13).

Conforme destacaram Burity et al. (2010), todo esse arcabouço

(programas e legislações) serviu para a consolidação da Política de Segurança

Alimentar e Nutricional, pois, no contexto nacional, fazia-se necessário um novo

redirecionamento no trato da insegurança alimentar. É justamente nesse momento

41

que se coloca a necessidade de se estruturar a intervenção do Estado na área da

SAN através de mudanças de gestão. A amplitude e a complexidade do problema da

fome colocava a necessidade da ação integrada das diversas políticas públicas e

diversos atores da sociedade civil.

A PNSAN se coloca como uma ação permanente, devendo ser

independente de governos específicos, constituindo-se como uma política de

Estado, sendo que este passa a assumir a responsabilidade pelo combate à fome no

país. Estados e municípios, sob a autoridade do Governo Federal, e cobrados pela

mobilização da sociedade civil, são chamados a se posicionar perante a

problemática da insegurança alimentar no Brasil.

Decorrem daí várias iniciativas, planos e ações, em nível local, no intuito

de explicitar e redefinir o papel do Estado, da sociedade civil e do mercado na

garantia da segurança alimentar. Também foram instituídos mecanismos de

exigibilidade, reconhecendo a alimentação adequada com um direito do cidadão. A

tabela a seguir, apresentada em Burity et al. (2010), explicita o parecer da ONU

quanto à obrigação dos estados referente ás suas implicações perante à discussão

da segurança alimentar.

FIGURA 3 - Diferentes níveis de obrigação dos Estados Fonte: BURITY. et al.. 2010, p. 54.

Em 2006, o governo aprova e institui a Lei Orgânica de Segurança

Alimentar e Nutricional, estabelecendo as definições, princípios, diretrizes, objetivos

e composição do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN).

42

Este preconiza que, por meio do poder público, da participação da sociedade civil,

serão formulados e implementados políticas, planos, programas e ações com vistas

a assegurar o direito humano à alimentação adequada.

O DHAA é uma responsabilidade e obrigação do Estado (como regulador

e provedor de ações que contemplem o bem estar da população e a garantia de

direitos), bem como responsabilidade da sociedade civil (que deve controlar e

fiscalizar as ações e serviços prestados). A PNSAN deve se pautar pelos princípios

do DHAA ao elaborar e implementar os seus programas e projetos em âmbito

nacional, regional e municipal.

A PNSAN se consolidou e ganhou expressão na sociedade no ano de

2007, quando foi realizada a III Conferência Nacional de Segurança Alimentar, com

o tema “Por um desenvolvimento sustentável com soberania e segurança alimentar

nutricional”, evento este que visava fortalecer e legitimar a PNSAN no Brasil Os

resultados se fizeram notar quando, em 2010, foi aprovada a Ementa Constitucional

que inclui, no Artigo sexto, a alimentação entre os direitos sociais da Constituição

Federal. O CAISAN (Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional) é

o principal agente de condução do planejamento, gestão e execução da PNSAN. Foi

aprovado o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, para o período de

2012 a 2015, que tem como foco a consolidação da intersetorialidade e da

participação social na implementação da segurança alimentar em todo território

nacional.

A sistematização ressaltou o processo de desenvolvimento da PNSAN,

evidenciando que foi um processo gradativo e paulatino no que se refere à mudança

de concepção e, sobretudo, da proposta de garantia do direito humano à

alimentação adequada. Porém, a análise das ações da PNSAN exige um olhar sobre

a estratégia de gestão. O combate à fome não se efetiva por meio de programas

isolados e setoriais. É necessário integrar ações capazes de gerar mudanças

estruturais, tornar fundamental a implementação de uma nova gestão pública

visando à erradicação da pobreza, à defesa da cidadania e à promoção do

desenvolvimento sustentável, destaca-se assim, a necessidade de implementar

ações intersetoriais.

43

2 A GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL: A INTERSETORIALIDADE COMO ESTRATÉGIA DE OPERACIONALIZAÇÃO DA GESTÃO SOCIAL NA CONSOLIDAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

Buscar-se-á, nesta seção, definir o que compõe a estratégia de gestão

social, a operacionalização deste sistema de gestão por meio da intersetorialidade e

a inserção deste modelo para a efetivação da Política de Segurança Alimentar e

Nutricional. Para tal, faz-se necessário apresentar apontamentos quanto à formação

social e política brasileira, a fim de delimitar o processo para chegar à discussão

sobre esta estratégia de gestão social. Utilizar-se-á de Maia (2005), Carvalho (2007)

e Tenório (1998) para compreender os critérios de gestão adotados no Brasil que

influenciam a gestão pública até os dias atuais, além expressar as impressões

quanto ao termo gestão tradicional.

A formação social e política do Brasil acompanhou as mudanças sociais

por meio do processo de colonização, pressões políticas, sociais e econômicas,

sendo que os modelos de gestão pública seguiram tendências externas adaptando

ao contexto nacional na efetivação das políticas públicas.

Considera-se que as políticas públicas são um conjunto de ações do

governo que integram a administração pública. Representam a elaboração e

implantação das formas do exercício do poder político, tendo como foco delimitar as

diretrizes de ação do poder público entre a sociedade por meios de leis e programas

variando conforme a orientação política. Não pretende-se aprofundar sobre este

ponto, mas não há como não ressaltar que no Brasil vários modelos influenciaram

diretamente as estratégias de gestão no sistema politico.

A administração pública no Brasil tem seu inicio a partir da Independência

do país. Embrionariamente, institui-se o Estado nacional, instaurando-se o

patrimonialismo (1822-1929), que apresenta como principal característica a não

distinção entre o público e o privado, a apropriação de bens como terras, títulos,

desenvolvendo-se trocas sob a lógica do favorecimento pessoal em uma relação de

subalternidade para com a população. Este aspecto de gestão deixou um legado

para as gerações futuras, o clientelismo e o nepotismo, que vigorou (e vigora) na

administração pública.

44

Note-se que as mudanças para outros tipos de gestão foram gradativas,

perpassando pela gestão burocrática (1930-1979), que direcionava a ação do

Estado para o desenvolvimento em um modelo intervencionista, com foco na

manutenção da ordem social, pautado não pelo interesse social mas pelos

interesses das classes dominantes, e na administração da justiça de forma

centralizadora. Ressalta-se que, nos períodos de ditadura militar, o Estado foi ainda

repressor e autoritário.

Maia (2005) apresenta o processo posterior como pós-burocrático (1980-

1989) que, a partir do conflito de interesse de projetos societários distintos em

disputa, trouxe à tona a mobilização das classes sociais, grupos diversos em busca

da afirmação dos direitos. Contudo, a soberania do Estado instituiu, a partir de

influência econômica externa, o modelo de gestão neoliberal, tendo como padrão o

Estado mínimo, a falta de investimento na área social, programas sociais

compensatórios e implicando no recuo das conquistas, lutas e mobilizações

sustentadas nas décadas de 1970 e de 1980, para a efetivação dos direitos e da

democratização.

O modelo gerencial, em 1990, vigora a partir do contexto institucional

neoliberal voltado para atender às demandas do mercado, mais marcante que no

período anterior. O uso das práticas de gestão tem como referência a administração

do setor privado, organização estruturada em setores, estrutura piramidal,

diferenciação entre os planejadores e os executores, centralizados em estruturas

verticais. Mas, ao mesmo tempo, os direitos e as políticas sociais passam a ocupar

lugar na agenda devido à regulamentação jurídico legal que foram instituídas,

principalmente a Constituição Federal de 1988.

A conjuntura política apontava para outro cenário rompendo com o regime

ditatorial em que novos elementos estavam sendo incorporados, assim como

surgiam os ideais universalistas, a demanda por garantia de direitos, uma nova

interpretação de cidadania, e o clamor pela expansão da cobertura das políticas

sociais no que diz respeito a bens e serviços. As formas de gestão tradicionais,

sobretudo o modelo gerencial em voga na década de 1990, passaram a encontrar

sérias limitações quanto à oferta de serviços e à sua execução.

A partir dos anos 1980, instituiu-se um período de ampla reformulação

com impactos na gestão pública e no direcionamento das políticas sociais. O

processo de democratização do Brasil, a partir da promulgação da Constituição

45

Cidadã de 1988, passa a exigir o reordenamento da gestão das políticas públicas, a

fim de maximizar a capacidade dos serviços para garantir os direitos sociais.

A reforma do Estado, aprovada em 1995, introduz no sistema de gestão

os princípios da descentralização político administrativa e a participação da

sociedade civil das instâncias de gestão. Instituem-se legislações reguladoras das

políticas sociais, que forçam estas mudanças da operacionalização. A sociedade

civil conquista o direito de exercer a participação nos espaços políticos e a deliberar

procedimentos a partir da criação dos conselhos e comissões de gestão, exercendo

assim, o controle social sobre as políticas públicas.

Esta reconfiguração das relações entre o Estado e a sociedade, no

enfrentamento dos problemas complexos da dinâmica social, demandavam do

estado brasileiro a construção de um novo paradigma de gestão. Para Carvalho

(2007) “o problema político central no Brasil é construir um país que combine três

coisas: liberdade, participação e justiça social”.

Tornava-se necessário um reordenamento da gestão, alterando os

princípios de gerir do Estado, fortalecendo aspectos inseridos na Constituição

Federal de 1988 relacionados à garantia de direitos, ao controle social e à

descentralização político administrativa.

A Constituição reafirma a autonomia do governo municipal. Como afirma

Junqueira (1999, p. 20), o poder municipal no Brasil

tem como competência organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local. O exercício dessas competências tem relação direta com a garantia dos direitos sociais aos cidadãos (JUNQUEIRA, 1999, p. 20).

As exigências sobre a administração municipal confrontaram os limites

das formas tradicionais de gestão nas políticas públicas do estado democrático, isto

devido à falta de integralidade das ações, à ausência da participação popular, à

forma de gestão centralizada, verticalizada, setorializada e sem proposta de

articulação de rede de serviços. A esse propósito, é importante ressaltar:

As estruturas setorializadas tendem a tratar o cidadão e os problemas de forma fragmentada, com serviços executados solitariamente, embora as ações se dirijam à mesma criança, à mesma família, ao mesmo trabalhador e ocorra no mesmo espaço territorial e meio-ambiente. Conduzem a uma

46

atuação desarticuladada e obstaculizam mesmo os projetos de gestões democráticas e inovadoras (JUNQUEIRA, 1999, p. 58).

A reforma do Estado contribuiu para ampliar a discussão para a

efetivação de um novo modelo de gestão pública mais próxima dos cidadãos a partir

de uma reestruturação das relações institucionais. Uma nova vertente se instaura

enfatizando um processo mais próximo da população, pautado em um projeto

societário que repense o modelo de desenvolvimento do Brasil a partir da

legitimação da participação, da descentralização, do desenvolvimento econômico e

social. A esta vertente denomina-se “gestão social”.

Na sociedade brasileira, desigual e excludente, faziam-se necessárias

práticas emancipatórias, visando uma nova estratégia de administrar, ou seja, de se

construir e conduzir a política. A gestão social emerge neste cenário como uma

construção recente, que poderá introduzir uma nova ótica de análise para o social,

que compreende a gestão para atender as demandas sociais. Traz consigo algumas

abordagens e incorpora algumas estratégias, como a descentralização, a

participação, o controle social e a intersetorialidade a partir de uma nova ótima de

gestão.

Assim, na reconfiguração da relação entre Estado e sociedade, faz-se

necessário incorporar novas metodologias de gestão que dêem conta de atender as

demandas por uma sociedade mais justa e menos excludente. Na atualidade, a

administração pública requer novos arranjos que sejam mais coerentes com a

demanda, devido às expressões da questão social, que têm incorporado novos

contornos e acentuado os problemas sociais, tornando-os mais complexos, tais

como: a expansão da pobreza, a permanência do fenômeno da fome, o

subemprego, a exploração, a desigualdade, dentre tantos outros. Incorpora-se,

nesta discussão, o conceito de gestão social alinhada à gestão das ações públicas.

2.1 As implicações da gestão social

Sistematizar-se-á a concepção da gestão social a partir da correlação de

diversos autores que abordam a temática a fim de apresentar os aspectos em

comum que definem esta estratégia de gestão. A análise desta temática é uma

construção recente, e poderá introduzir na sociedade brasileira uma nova ótica de

47

intervenção para o social, apontando que o processo de administrar deve incorporar

as demandas e as necessidades dos cidadãos e, principalmente, a sua participação.

Na contemporaneidade, esta estratégia se constitui como uma tendência

para a gestão contemporânea e encontra-se, ainda, em construção, sendo alvo de

diversas interpretações. Algumas das principais referências conceituais absorvidas

neste estudo estão nas abordagens de Cançado (2011), Carvalho (2007), Maia

(2005), Junqueira (1999), Bronzo (2007) que em seus estudos abordam a gestão

social. Analisando as suas definições, sugere-se que a evolução da gestão social

passa a apresentar, como novas estratégias, o diálogo e a participação,

reconhecendo-os como formas inovadoras no modo de gerir problemas de ordem

social.

Na perspectiva de Carvalho (1999), Tenório (2008), Silva (2010), Barros e

Castro (2011) a gestão social se opõe à gestão tradicional pelo processo dialógico,

pela participação social, que contempla esta maneira de administrar. O conceito, ora

incorporado na análise da gestão social, se fundamenta com a descrição de Maia

(2005), que o define como:

[...] um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário emancipatório e transformador. É fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania, em vista do enfrentamento às expressões da questão social, da garantia dos direitos humanos universais e da afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade (MAIA, 2005, p. 78 ).

Esta estratégia de gestão social inclui processos sociais com potencial

para o desenvolvimento societário emancipatório e transformador, com vistas ao

enfrentamento das expressões da questão social como a desigualdade social e o

grande contingente populacional que se encontra em situação de vulnerabilidade

social no Brasil. A práxis da gestão social se concretiza a partir de processos que

compreendem a ordem individual e coletiva, implicando em repercussões possíveis

de instituir um novo projeto societário.

Segundo Maia (2005), a viabilização da gestão social é necessária ao

movimento de construção e articulação entre os projetos individuais, coletivos e

societários. Não basta compreender que esta estratégia relaciona-se somente à

ordem da administração, na mudança da operacionalização, mas deve-se

considerar que este processo implica diretamente na apropriação de valores de

48

mudança a partir do projeto individual de cada cidadão. O projeto individual firma-se

a partir dos interesses, motivações, visão de mundo e, consequentemente, da

implicação do sujeito em projetos de ordem social, o que resultará em ações

coletivas.

Assim, os projetos coletivos são espaços para o fomento e construção de

projetos individuais e sua efetivação dá-se na dinâmica das relações sociais

projetadas em espaços de disputa e confronto.

Compreender a gestão social por sua gênese possibilita entender que o

movimento dá-se a partir de implicações pessoais, em que o sujeito não renuncia

aos seus valores pessoais, mas reforçando que ele está na centralidade das

relações sociais, contribuindo a partir de sua implicação pessoal, na coletividade,

que age também em função do social. O somatório destas ações coletivas constitui-

se em um projeto societário que visa à transformação social. Maia (2005) esboçou,

por meio da análise do desenvolvimento societário, a concepção da gestão social,

que se revela na dialeticidade da construção dos projetos individuais, coletivos e

societário.

Busca-se sistematizar as “implicações da gestão social” a partir da

sintetização de MAIA (2005), destacando que, para a efetivação deste modelo de

administrar, requer-se um envolvimento pessoal dos cidadãos na busca de

execução dos processos, que são fundados em princípios pessoais e coletivos.

Estas implicações tratam da organicidade esperada para que se consiga efetivar a

gestão, um conjunto de processos sociais com potencial viabilizador do

desenvolvimento societário, emancipatório e transformador, que será sempre

executada, avaliada e monitorada por seres sociais a partir da apropriação

individual.

O intuito de tal sistematização é expressar as implicações da gestão

social no contexto societário, compreendendo que esta se torna uma estratégia de

que rompe com os modelos, até então, executados na gestão da política no contexto

nacional.

49

FIGURA 4 - Implicações da gestão social para a efetivação do projeto societário

Fonte: elaboração própria, a partir de reelaboração de Maia, 2005.

A sistematização proposta no esquema representa as implicações para

efetivação da gestão social, notória a representação de um movimento contínuo e

necessário, da relação contínua do ser social com a realidade que está inserida.

Destaca-se, a partir desta análise, que, para compreender a lógica de gestão é

necessário analisar os requisitos para alcançar sua efetivação.

Considera-se, como base para a transformação societária, o próprio ser,

pois todas as mudanças propostas na dinâmica das relações sociais, incluindo a

administração, dependem de implicação de ordem individual. A caracterização

adotada neste estudo aponta para o ser social que é singular, por sua unicidade, por

seus projetos individuais, sua consciência na busca de satisfazer seus projetos

expressos na dimensão subjetiva e ao mesmo tempo coletivo, pelos seus vínculos e

constituição social.

Deste modo, para a efetivação e execução deste modelo de gestão social

é necessária a implicação dos sujeitos envolvidos no processo.

50

O ser social, enquanto ser dotado de consciência, age decidindo sempre entre alternativas possíveis, portanto, todo ato social surge uma decisão entre alternativas, baseadas em escolhas axiológicas,

5 sobre posições

teológicas6 futuras (RAMOS, 2002, p. 83).

O ser coletivo se faz por meio de suas projeções coletivas, pela

integração, produto das relações sociais, da tomada de interesses na ordem social.

A orientação coletiva é construída para realizar objetivos concretos que corroboram

com ideais e processos sociais. De acordo com Ramos (2002) “a necessidade, a

consciência, e a vontade são elementos que contribuem para viabilizar a projeção, a

construção coletiva. Assim, considerar o ser (na interconexão do ser social e

coletivo) como base desta orientação para a mudança de gestão implica em um

avanço no âmbito da singularidade, que direciona para a ação coletiva. Esta

projeção é complexa, por sofrer influências de ordem econômica, política e cultural.

Segundo Ramos (2002), a ruptura com os entraves para mudança de postura do ser

só é possível na medida em que a consciência política avance e seja internalizada.

Para esta autora, a vontade constitui-se como um aspecto capaz de impulsionar e

materializar ações e os processos sociais. Supõe que estes processos podem

contribuir na dinâmica social por possibilitar tomada de consciência para o

desenvolvimento.

O direcionamento para uma nova estratégia de gestão implica em

consciência política, atitude para mudança, elaboração de projeções coletivas que

irão rebater no âmbito social mais amplo. Por conseguinte, esses processos têm

potencial viabilizador para o desenvolvimento societário, emancipatório e

transformador. Ressalta-se que a gestão não se baseia na projeção coletiva do

somatório dos projetos individuais, mas deve ser gestado de forma coletiva,

englobando a dimensão do projeto coletivo, formulando, assim, um novo padrão da

gestão da prestação de serviços que trará impactos para a sociedade.

Estes impactos envolvem um novo projeto societário, uma nova

5 Axiológica: o ramo da filosofia que estuda os valores. Etimologicamente, significa „teoria do valor‟.

Fonte: http://ep1.com.br/site/wp-content/uploads/2012/01/Nicola-Abbagnano-Dicion%C3%A1rio-de-Filosofia-parte-I.pdf. Acesso em 09 de setembro de 2013. 6 Teológicas: estudo sobre as divindades. Fonte http://ep1.com.br/site/wp-

content/uploads/2012/01/Nicola-Abbagnano-Dicion%C3%A1rio-de-Filosofia-parte-I.pdf. Acesso em 09 de setembro de 2013.

51

centralidade para as relações sociais, pautado na dialética das transformações,

trazendo o sujeito como participante do processo e não mais como mero assistido

por ações que são projetadas para o cidadão e não com o cidadão. Maia (2005, p.

82) descreve que, a “dialeticidade entre emancipação e transformação coloca-se

como núcleo do processo da gestão social, indicando, ao mesmo tempo, os sujeitos

centrais desse movimento, que são a sociedade e a humanidade”.

Afirma-se com coerência e total discernimento que a efetivação da gestão

social, com implicações pessoais que trarão repercussões para os processos

sociais, não é algo que irá acorrer de maneira natural e espontânea, com a

implicação dos diversos atores que compõem a trama social. Para se efetivar tal

questão faz-se necessário recorrer a estratégias para o envolvimento destes

sujeitos, bem como é necessário, também, tratar da emancipação dos cidadãos.

Maia (2005, p. 82) afirma que, “emancipação, transformação, cidadania e

democracia constituem-se em pilares ético-políticos da gestão social, indicando, com

isso, sua direção e implementação”.

Ao se projetar os processos sociais, com vistas a efetivar a gestão social,

estabelece-se a possibilidade de uma nova ordem em busca de um novo projeto

societário, por pautar em valores como diálogo, transformação social, participação,

descentralização.

Para Carvalho (1999), a gestão social “é, em realidade, a gestão das

demandas e necessidades dos cidadãos. A política social, os programas sociais, os

projetos são canais e respostas a estas necessidades e demandas”. Efetiva-se

como um processo a ser construído com a participação de diversos sujeitos. “Nesta

visão, o Estado é visto como articulador necessário e insubstituível, mas não como

promotor primordial e exclusivo do desenvolvimento” (SILVEIRA, 2010, p 46). Além

disso, como ressalta Maia (2005, p. 2):

Compreendemos que a gestão social é construção social e histórica, constitutiva da tensão entre os projetos societários de desenvolvimento em disputa no contexto atual. Assim, a gestão social é concebida e viabilizada na totalidade do movimento contraditório dos projetos societários – por nós concebidos como desenvolvimento do capital e desenvolvimento da cidadania. Essas duas referências de desenvolvimento apontam para distintas perspectivas de gestão social, que se constroem também neste movimento contraditório (MAIA, 2005, p. 2).

52

Destaca-se que, nesta estratégia de gestão, o Estado não perde sua

centralidade tampouco sua responsabilidade na garantia da oferta de serviços de

direito do cidadão. O que altera é o modo como se processa esta responsabilidade,

a operacionalidade e a resolutividade para com os problemas sociais dos cidadãos.

No modelo de gestão gerencial e/ou tradicional, observa-se à falta de integralidade

das ações, à ausência da participação popular no monitoramento e avaliação da

política pública, bem como na forma de gestão verticalizada, setorializada,

desarticulada e centralizada nos gestores (e não na população).

Para Bronzo (2007) esse novo modelo de gestão, flexível e adaptativo,

apresenta um caráter estratégico ao buscar assegurar que as políticas e programas

respondam de forma adequada aos problemas, o que demanda novos conteúdos e

novas ferramentas de gestão. Ou seja, a operacionalização do modelo de gestão

social traz consigo a utilização de procedimentos, ferramentas e abordagens como a

descentralização, o controle social, participação, e a intersetorialidade.

No Brasil, a idealização de ações pautadas nestes procedimentos

somente foi possível a partir da democratização nacional e da instituição da

Constituição Federal de 1988.

O processo de descentralização fortaleceu a partir da democratização no

Brasil com vistas à transformação político-administrativa no intuito de redistribuir

poder da ação estatal. Resulta na transferência de poder no que tange: o planejar, o

gerir, o executar, o monitorar e o avaliar. Destaca-se a reestruturação do aparelho

administrativo, em que estados e municípios adquiriram uma autonomia maior.

A Constituição Federal de 1988 reafirma esta autonomia municipal e

aponta para a municipalização da gestão de políticas sociais até então centralizadas

no governo federal e/ou nos governos estaduais. Com a descentralização,

proporciona-se a abertura de espaços, ficando mais próximo da população e

possibilitando o exercício do controle social.

O controle social está diretamente relacionado com a participação do

cidadão. É instituída, em um momento do sistema político brasileiro de

fortalecimento da democracia, a Constituição Federal de 1988, que preconiza

legalmente o direito do cidadão de intervir, opinar na administração pública,

exercendo o papel de fiscalizador das ações do Estado. Reconhece a população

excluída como sujeito de direitos, e o Estado como garantidor desses, que são

positivados pela Constituição Federal de 1988. Permite que os cidadãos participem

53

da formulação das políticas públicas e fiscalizem de forma a monitorar a aplicação

dos recursos públicos. O exercício da democracia está para além da escolha dos

representantes, está no acompanhar o processo de gestão. Atualmente, efetiva-se

este processo e, por meio dos conselhos gestores, são espaços públicos de

composição plural e paritária entre o Estado e a sociedade civil, oportuniza uma

nova relação entre a rede se serviços e as práticas com a esfera governamental.

Deste modo, a partir da compreensão dos diversos autores pesquisados,

buscou-se fundamentação em Maia (2005), Bronzo (2007) e Cançado (2010) para

delimitar a compreensão da gestão social como um conjunto de processos sociais

com potencial viabilizador para um novo desenvolvimento societário emancipatório e

transformador. É uma estratégia fundada nos valores, práticas e formação da

democracia e da cidadania, da garantia dos direitos humanos universais e da

afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova civilidade

voltados para as demandas e necessidades dos cidadãos, e é metodologicamente

flexível e adaptativo. Utiliza-se, também, de procedimentos, ferramentas e

abordagens, como a descentralização, o controle social, participação, e a

intersetorialidade. Tem-se na intersetorialidade uma ferramenta de

operacionalização deste modelo de gestão.

Tais referências foram fundamentais para chegars a esta argumentação

quanto a esta estratégia de gestão. A seguir, tratará especificamente da

intersetorialidade devido as suas especificidades para a análise da temática.

2.2 Reflexões sobre a intersetorialidade

As mudanças na estratégia de gestão tornam-se pré-requisito para o

desenvolvimento, pois propor resolutividade para o enfrentamento das expressões

da questão social é um desafio para as políticas sociais. Como descrito no item

anterior, a gestão social traz consigo abordagens e incorpora algumas estratégias,

como a descentralização, a participação, o controle social e a intersetorialidade.

Neste item, serão apresentados conceitos e argumentos a respeito da

intersetorialidade.

Buscando fundamentar em parâmetros das ciências sociais, realizar-se-á

aqui uma comparação da concepção de intersetorialidade com a

interdisciplinaridade. O enfoque interdisciplinar estabelece uma estratégia para

54

aplicar este pensamento na operacionalização da gestão social, que requer

envolvimento do ser social, participação, diálogo, comunicação, transparência,

dentre outros elementos. O que se pretende, a partir desta discussão preliminar, é

ressaltar os fundamentos e romper com a visão setorializada, fragmentada,

hierarquizada, oriunda de concepções de gestão tradicionais. Para Inojosa (2001), a

interdisciplinaridade, no campo das políticas públicas, será denominada de

intersetorialidade, que é “a articulação de saberes e experiências com vistas ao

planejamento, para a realização e avaliação de políticas, programas e projetos, com

o objetivo de alcançar resultados sinérgicos em situações complexas” (INOJOSA,

2011, p. 105).

Articular saberes requer uma “readequação” dos serviços ofertados pela

gestão pública, além de uma readequação na caracterização e envolvimento dos

sujeitos no processo de operacionalização das atividades de gestão. Percebe-se

que a estrutura posta nos modelos tradicionais, os planos e as ações, passam por

uma padronização pautada em decisões e definições das necessidades coletivas

formuladas a partir da perceptiva de técnicos e especialistas. Incluir a

intersetorialidade como eixo de operacionalização da gestão social no campo das

políticas públicas é um desafio, pois historicamente a administração pública não foi

organizada por esta referência.

Referenciar a interdisciplinaridade no bojo da política pública não significa

acabar com as estruturas setorializadas, e sim obter meios para articulá-las em

busca de resultados sinérgicos, visando à integração dos componentes específicos

para a construção de um conhecimento comum. Portanto, mantém-se a

especificidade de cada setor com o objetivo de torná-los interativos e articulados

entre si na busca de resolutividade para problemas complexos na ordem social.

A interdisciplinaridade e a intersetorialidade são, também, características importantes dos programas de apoio sócio-familiar, que devem articular diferentes políticas sociais básicas – em especial a saúde, a assistência social e a educação – e manter estreita parceria com o SGD,

7 sem prejuízo

do envolvimento de políticas como habitação, trabalho, esporte, lazer e cultura, dentre outras (BRASIL, 2006, p. 39)

Para Burlandy (2004) a intersetorialidade compõe os diferentes setores

que constroem, de forma conjunta e pactuada, um projeto integrado destinado a

7 Sistema de Garantia de Direitos.

55

alcançar objetivos mais amplos. Esse planejamento inclui a identificação de

determinantes, envolvimento dos sujeitos implicados no processo e a formulação de

intervenções estratégicas que transcendam as ações setoriais e impactuem

diferentes dimensões do problema em um processo técnico e político.

A composição de um trabalho de maneira transversal exige, de acordo

com Bronzo (2007), recursos estruturados em torno de dois eixos: o primeiro refere-

se ao conhecimento, à capacidade de análise e formulação de estratégias; o

segundo, à capacidade relacional, à integração das políticas e programas setoriais,

aos setores do governo, da sociedade civil e do mercado, destacando-se como um

novo arranjo institucional e organizacional necessário, principalmente em programas

de âmbito municipal, devido à proximidade com o público a ser assistido e à

necessidade de se obter informações quanto às demandas dos cidadãos. “A gestão

transversal permite conferir uma visibilidade horizontal à organização sem que se

perca a qualidade técnica e a especialização” (BRONZO, 2007, p. 15).

Desde modo, o trabalho intersetorial supõe não apenas o diálogo ou o

trabalho simultâneo entre os atores envolvidos, e sim a busca por resultados

integrados (INOJOSA, 2001, grifo nosso), dando ênfase a uma nova estratégia de

gestão da administração pública. Nesse aspecto, a relação entre a participação, a

descentralização, o controle social, e a própria intersetorialidade, têm possibilidades

de efetivação:

A qualidade de vida demanda uma visão integrada dos problemas sociais. A gestão intersetorial surge como uma nova possibilidade para resolver esses problemas que incidem sobre uma população que ocupa determinado território. Essa é uma perspectiva importante porque aponta uma visão integrada dos problemas sociais e de suas soluções. Com isso busca-se otimizar os recursos escassos procurando soluções integradas, pois a complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no âmbito de uma única política social (JUNQUEIRA, 1999, p. 27).

A partir desta lógica de gestão voltada para o social, a gestão tradicional

perderia espaço e a atuação do governo passaria a ter como referência a

transformação da sociedade. A intersetorialidade apresenta-se como uma

perspectiva inovadora na política pública para a condução e operacionalização dos

serviços ofertados, e para a reorganização da gestão, viabilizando uma nova relação

entre o munícipe e os gestores, considerando-se as peculiaridades locais e o

envolvimento dos seres sociais que compõem as tramas dessas relações, trazendo

56

sua singularidade e subjetividade, implicados como sujeitos no processo de gestão.

E a partir da efetivação dos processos sociais, pode-se almejar a condução de um

novo projeto societário.

Observa-se que, intrínsecos ao campo da intersetorialidade há princípios

básicos, a se destacar: senso de responsabilidade, de compartilhamento, parceria,

envolvimento, articulação, cooperativismo, interface, conexão, participação, diálogo,

trabalho em rede, integração, dentre outros.

A intersetorialidade envolve ações integradas de distintos setores no

atendimento à população cujas necessidades são pensadas a partir de sua

realidade concreta, de modo a colocar em pauta as peculiaridades de suas

condições de vida (INOJOSA; JUNQUEIRA; KOMATSU, 1997; REDE UNIDA, 2000).

A intenção é investir no caráter democrático para a construção da

intersetorialidade, que não pode ser compreendida como uma estratégia automática,

natural nem espontânea nas políticas públicas. Retomando a análise da FIG. 5,

sugere-se que é necessário ter uma implicação pessoal e coletiva para contribuir

com um novo projeto coletivo que contemple um método integrado de resolução dos

problemas complexos sociais. Implementar estratégias de ação intersetorial requer

um amplo esforço pessoal e das diversas áreas para atuar de forma integrada, no

intuito de consolidar um novo modo de direcionar ações para a resolução das

expressões da questão social.

Esses esforços da incorporação da intersetorialidade na gestão pública

requerem a mudança da dimensão ideológica de um novo projeto societário, de uma

nova estratégia de gestão. Requerem mudanças nas práticas institucionais na

formulação de ações e na resolutividade dos problemas sociais.

A estratégia intersetorial, com a efetivação de trabalhos simultâneos para

obtenção de resultados integrados, remete-nos ao trabalho em rede, com a

interconexão dos atores envolvidos.

Uma vez perfazendo a ação intersetorial, as redes de base local e/ou regional, reclamam por valorização e qualificação na interconexão de agentes, serviços, organizações governamentais e não governamentais, movimentos sociais e comunidades. Intervir em rede, na atualidade, requer que se estabeleçam, entre as diversas instituições de defesa de direitos e prestadoras de serviços, vínculos horizontais de interdependência e de complementaridade (COMERLATT, 2007, p. 269).

57

Pertinente é destacar que, neste contexto, as redes não consistem em

pontos de contato somente, mas em conexões possíveis a partir das demandas

apresentadas, considerando sua interdependência e complementaridade. Esta

análise aponta para uma visão integrada dos problemas sociais e a necessidade de

articulação para suas soluções. A este respeito, considera-se que não basta

encaminhar, orientar, direcionar para a rede de serviços, é necessário conhecê-la

para desenvolver um planejamento possível de ações entre os diversos setores.

Referente a este conceito, Afonso (2005) considera que este conceito:

traz a noção de entrelaçamento de atores e ações, uma malha, onde há pontos de sustentação e espaços ainda por construir, e por isso mesmo, uma estrutura em movimento, conforme as diferentes ações vão desfazendo e refazendo o tecido inicial. É um conceito cunhado para captar a flexibilidade, a conexão e a descentralização das ações na sociedade (AFONSO, 2005).

Esta abordagem nos leva a perceber o trabalho em rede como

fundamental para a efetivação da intersetorialidade. Contudo não basta argumentar

que o trabalho em rede é a base, deve-se compreender como é a dinamicidade

deste processo. Para Bourguignon (2001) a rede “pode ser o resultado do processo

de agregação de várias organizações afins em torno de um interesse em comum”. A

sistematização a seguir permite compreender as etapas para a concretização da

intersetorialidade via trabalho em rede.

Devido à amplitude de ações compreendidas em cada etapa, será

adotado, para cada uma, o termo “dimensão”, ou seja, concretizando as ações das

três primeiras dimensões tem-se a possibilidade de operacionalizar a

intersetorialidade.

Este é um conceito que necessita ser sistematizado, para que,

didaticamente, consiga expressar as dimensões que englobam sua execução.

Envolve em sua estratégia de operacionalização ações que vão além da análse de

rede para conduzir a dinamicidade no processo a relação dialética e envolvimento. A

partir de uma perspectiva de envolvimento e participação, pode ser aplicada em

vários âmbitos e setores das políticas públicas.

A seguir, apresentar-se-á, o que se convencionou analisar como

dimensões da intersetorialidade, no proposito de sua efetivação.

58

FIGURA 5 - Dimensões da intersetorialidade Fonte: elaboração própria.

A opção foi por desmembrar as implicações da intersetorialidade, que nos

remete a análise da rede como precursora da efetivação deste processo. Ressalta-

se que, a aplicabilidade da intersetorialidade tende a ter uma dinâmica própria de

acordo com o perfil dos sujeitos

e das situações que serão efetivadas. Porém, executar por estas três

dimensões faz-se crucial para o desenvolvimento intersetorial.

Conforme descrição, a intersetorialidade necessita de diálogo,

envolvimento, interface, conexão, participação, e isso supõe articulação em rede.

Uma estratégia primordial dá-se por meio do diagnóstico ou mapeamento da rede

por permitir que se desenvolva o conhecimento transversal dos possíveis envolvidos

no processo para a implementação da intersetorialidade. Esta etapa compõe a

primeira dimensão de uma possível articulação intersetorial. Ou seja, é um nível

básico de funcionamento com indicações das referências e contra referências que

59

servem de base para um possível planejamento integrado e articulado. Este nível de

articulação permite o conhecimento dos envolvidos, a proximidade com os seres

sociais que pactuam do mesmo processo social para que possam contribuir na

resolução da questão posta para intervenção.

Na segunda dimensão, a partir do conhecimento desenvolvido na

primeira, deve se estabelecer contatos e estreitar relações visando buscar suporte

para projetar ações comuns; definir possibilidades de intervenções, dialogar, pactuar

funções e diretrizes. Trata-se de construir estratégias para eventuais ações comuns

de acordo com a demanda expressa.

Na terceira dimensão, a objetividade na execução deve se fazer presente,

posto que, traçadas as duas dimensões anteriores (o mapeamento e a articulação),

é possível executar e planejar o papel de cada um dos envolvidos e gerar decisões

coletivas, planejamento integrados e atividades continuadas com os atores

envolvidos no desenvolvimento da ação em si, na busca da efetivação de ações

integradas.

Para a efetivação desta estratégia de ação, é pertinente obter

conhecimentos e informações quanto à rede de serviços disponíveis (podendo ser

serviços públicos, não governamentais, oriundos de associações, movimentos

sociais, e até mesmo o mercado). O conhecimento da rede é apontado como um

dos primeiros princípios para se efetivar a intersetorialidade, pois por meio de um

diagnóstico é possível delimitar quem são os envolvidos na busca de soluções

integradas.

Podemos considerar a intersetorialidade como um modelo de gestão de políticas públicas que se baseia basicamente na contratualização de relações entre diferentes setores, onde responsabilidades, metas e recursos são compartilhados, compatibilizando uma relação de respeito à autonomia de cada setor, mas também de interdependência (SANTOS, 2011, p. 26).

Ressalta-se que, de acordo com o território, com a implicação dos sujeitos

envolvidos, a intersetorialidade pode ser efetivada de maneira diferenciada, ou seja,

com critérios de funcionalidade inclusivos ou amplos. Na figura a seguir, Santos

(2011) aponta estrategicamente as modalidades de intersetorialidade que se

expressam nos exemplos analisados.

60

FIGURA 6 - Intersetorialidade: um modelo ideal Fonte: Santos, 2011, p. 39.

Esta tabela elaborada por Santos (2011) de um modelo ideal de

intersetorialidade indica a probabilidade de os fatores que aumentam ou diminuem

as possibilidades de uma gestão ser mais ou menos cooperativa, e mais ou menos

inclusiva. Os mecanismos delimitados para análise foram a inclusividade e a

integração. Quanto à dinâmica da execução desta proposta, a autora aponta

quesitos para se efetivar a integração:

Espaços institucionalizados de negociação e decisão entre os atores envolvidos (como reuniões periódicas, fóruns e conferências). Mecanismos de comunicação informal entre os setores. Integração nos Sistemas de Informação dos setores envolvidos. Comitês e/ou equipe intersetoriais permanentes; Planejamento conjunto das ações intersetoriais criando uma agenda comum; responsabilidades e metas compartilhadas; Conhecimento das normativas que orientem a ação conjunta e integrada proposta pelo programa, por parte dos atores envolvidos; Organização territorial e/ou por temática, não setorial de atendimento; Horizontalização das relações; Periodicidade no contato entre os atores dos diferentes setores; Atuação do núcleo de coordenação frente a problemas encontrados pelos setores na implementação do Programa (SANTOS, 2011, p. 33)

Quanto à inclusividade:

Descentralização dos processos e atividades; Possibilidade de participar do planejamento do programa; Possibilidade de fazer parte do conselho do Programa; Fontes alternativas de informação; Proximidade com outros atores da rede intersetorial; Ter opiniões igualmente consideradas para a construção das estratégias de ação; Ter um conselho participativo e informado (SANTOS, 2011, p. 33, grifo nosso).

61

Definido estes aspectos, torna-se relevante percebe-se que a gestão

intersetorial pode ter operacionalização diferenciada de acordo com a relação entre

as ações que compõe estes dois eixos, podendo ser uma gestão fechada, plena,

inclusiva, ou seja, o que irá então defini-la é a efetividade de ações desenvolvidas. A

materialização de ações intersetoriais, com envolvimento da rede de serviços, atores

responsáveis, se concretiza seguindo alguns itens que são fundamentais, a

sistematização de Afonso et al. (2011) aponta os sete indicadores para a efetivação,

conforme figura a seguir:

FIGURA 7 - Pensando a construção da rede

Fonte: Afonso et al., 2011.

Intervir em um processo que está historicamente posto na dinâmica da

administração pública brasileira é desafiador. Requer conhecimento das demandas

e dos sujeitos envolvidos. Busca-se, nesse processo, a emancipação do sujeito que,

por circunstâncias diversas, necessita ter seus direitos garantidos. Para o

enfrentamento de problemas complexos, como é o caso da insegurança alimentar e

do fenômeno da fome, a intersetorialidade se anuncia como estratégia de gestão

viável. Deve se apoiar na articulação possível, dentro da especificidade de cada

contexto social e histórico, entre os diversos atores sociais (gestores, técnicos e

beneficiados), promovendo o desenvolvimento local por meio do trabalho seguindo

as dimensões da execução das atividades em rede.

62

A PNSAN incorpora a intersetorialidade como estratégia de gestão desta

política, compactuando que a intervenção no âmbito da insegurança alimentar deve

ser efetivada por diversos atores, conforme apresentar-se-á no item a seguir.

2.3 Intersetorialidade na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Abordar-se-á a gestão social e a intersetorialidade como estratégias de

organização e direcionamento da prestação de serviços na efetivação da Política de

Segurança Alimentar e Nutricional que, aliás, já incorpora em suas diretrizes a

execução de ações intersetoriais. No contexto social excludente e desigual, um

conjunto de políticas públicas direcionadas ao combate à fome faz-se necessário.

Por política pública, compreende-se a estratégia política cuja principal

característica é a ação pública para a garantia dos direitos que se materializam por

meio da execução de serviços operacionalizados por políticas, programas e projetos,

visando o bem-estar social.

Pode-se destacar que as políticas públicas podem ser conduzidas pela

forma de organizar a gestão para o enfrentamento das expressões da questão

social, no intuito de garantir o direito do cidadão. De acordo com Lopes et al. (2008)

a criação e execução das políticas públicas permite analisar a participação de dois

atores: os estatais, oriundos do governo ou do Estado, e os privados, oriundos da

sociedade civil. Assim, as políticas públicas são definidas no Poder Legislativo, o

que insere os parlamentares (vereadores e deputados) nesse processo. As

propostas partem do Poder Executivo, e é esse poder que efetivamente as colocam

em prática. No contexto deste trabalho, destacará à representação do Estado, no

que refere à Política Pública de Segurança Alimentar.

Ressalta-se que a segurança alimentar, enquanto política pública, insere

a discussão da fome na agenda governamental, intensificando-se, em 2003, com os

planos e ações de combate a este problema social, e, a partir de 2006, com a

instituição da Política de Segurança Alimentar e Nutricional, tendo como objetivo

geral desta política a promoção da soberania, a segurança alimentar e nutricional, e

assegurar o direito humano à alimentação adequada em todo território nacional.

O texto da PNSAN propõe assegurar à população em situação de

vulnerabilidade e risco social o direito humano à alimentação adequada, que

consiste na garantia de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em

63

quantidades suficientes. Esta política preconiza a adoção de câmaras

governamentais intersetoriais de segurança alimentar e nutricional estaduais,

municipais e do Distrito Federal das respectivas políticas e planos de segurança

alimentar e nutricional.

Para a concretização deste plano, várias normativas são instituídas para

legitimar a pretensão desta, assim como destacar seus objetivos e finalidades.

Apresentar-se-á indicadores de algumas normativas que compõem o arcabouço

jurídico que menciona a intersetorialidade como operacionalização de um novo

modelo de gestão em consonância com a PNSAN.

2.3.1 A previsão da intersetorialidade nas normativas da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

Evidencia-se que o processo de gestão com indicadores para a efetivação

de ações intersetoriais, apresenta-se com estratégias em nível macro e microssocial.

No âmbito macro destaca-se um viés de gestão amplo, com articulações

interministeriais, ou entre governos e diversos setores, no nível microssocial

apresentação o resultado integrado e sinérgico na resolução de complexos sociais.

Trata-se então, de uma estratégia que apresenta possibilidades diversas de

articulação para atuar nos mais diversos complexos sociais, dentre estes, a

erradicação do problema da fome no país.

Referente ao marco legal, ás normativas nacionais tem-se a lei 11.346, de

15 de setembro de 2006, Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, que

cria o SISAN com vistas à assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá

outras providências. Consiste em um sistema público de gestão com elementos da

intersetorialidade e da participação popular. Consta no Artigo nono, que o SISAN

tem como base a promoção da intersetorialidade das políticas, programas e ações

governamentais e não governamentais.

O decreto nº 6273, de novembro de 2007, criou a Câmara Interministerial

de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN) com o propósito de articular os

ministérios no que tange a discussão da PNSAN.

Já o decreto nº 7.272, de 24 de agosto de 2010, regulamenta a Lei no

11.346, com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada, institui a

PNSAN, estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano Nacional de

64

Segurança Alimentar e Nutricional. No Artigo sétimo, os órgãos, entidades e

instâncias integrantes do SISAN terão as seguintes atribuições, no que concerne à

gestão do Sistema e da PNSAN,

instituição e coordenação de fóruns tripartites para a interlocução e pactuação, com representantes das câmaras governamentais intersetoriais de segurança alimentar e nutricional estaduais, municipais e do Distrito Federal, das respectivas políticas e planos de segurança alimentar e nutricional (BRASIL, 2010).

Quanto à operacionalização da Política, destaca-se a legislação que

preconiza no art. 18 aspectos que evidenciam a questão territorial e intersetorial

conforme apresenta-se a seguir :

incorporar estratégias territoriais e intersetoriais e visões articuladas das demandas das populações, com atenção para as especificidades dos diversos grupos populacionais em situação de vulnerabilidade e de insegurança alimentar e nutricional, respeitando a diversidade social, cultural, ambiental, étnico-racial e a equidade de gênero (BRASIL, 2010 – decreto 7272, grifo nosso).

A PNSAN propõe, a partir de sua construção histórica, ser um sistema

aberto e intersetorial. A pactuação intersetorial será um instrumento de

planejamento. Isso pode ser entendido como uma inovação, contudo, somente o

marco normativo não legitima a estratégia de funcionamento da gestão social assim

como a operacionalização da intersetorialidade.

os diferentes setores constroem de forma conjunta e pactuada um projeto integrado destinado a alcançar objetivos mais amplos, como a SAN. Esse planejamento inclui a identificação de determinantes-chave das situações de insegurança alimentar e a formulação de intervenções estratégicas que transcendem as ações setoriais e impactam diferentes dimensões do problema (BURLANDY, 2004, p.11)

Na segurança alimentar, o componente determinante é a garantia do

direito humano à alimentação adequada. Assim, Burlandy (2004) afirma que, “uma

política de SAN tem na intersetorialidade um princípio central que qualifica e

redimensiona as ações setoriais pré-existentes”.

Convém mencionar a Ementa Constitucional nº 64/2010, trata na

65

perspectiva intersetorial destacando que são direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação. Também o são o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção a maternidade, a assistência aos desamparados. Para

a efetivação destes direitos, pressupõe-se que sejam desenvolvidos a partir da

perspectiva intersetorial.

As referências do marco normativo de Minas Gerais apontam para a

instituição da Lei Estadual nº 15.982/2006 que cria o Sistema Estadual de

Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, composto pelo CONSEA, pela

Coordenadoria Geral da Política de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável e

pelos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável. O

Artigo quarto, estabelece que “a Política Estadual de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável será implementada mediante plano integrado e intersetorial

de ações governamentais e da sociedade”.

O decreto estadual nº 45562, de 18 de março de 2011, cria o Comitê

Temático de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (CTSANS), com sistema

similar da CAISAN, visando ter componentes para articular, acompanhar e a avaliar

o Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, apoiando em ações

intersetoriais.

As referências do município de Contagem apontam para a Lei nº 4276,

que cria o Sistema Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

(SIMSANS), que estabelece critérios de gestão participativa visando legitimar a

segurança alimentar no município por meio da articulação permanente com os

diversos setores que compõe a rede. Tal legislação prevê a instituição do comitê

intersetorial para fornecer estratégias de garantia do DHAA.

A gestão da segurança alimentar se organiza a partir do funcionamento

do COMSAN; do Conselho Gestor das Cozinhas Comunitárias; do CMAUF; Grupo

de trabalho de SAN; Comitê Gestor da CSANA; conferência Municipal de SAN.

O decreto municipal nº 1860, de 30 de maio de 2012, institui o Comitê

Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável com a finalidade de

promover a articulação e a integração dos órgãos e entidades da administração

pública municipal afetos à área de segurança alimentar e nutricional, com as

seguintes competências:

66

I - fomentar, no Município, o debate sobre a segurança alimentar e a questão nutricional, bem como criar ações articuladas entre o poder público, a sociedade civil organizada e os grupos socialmente vulneráveis, visando ao desenvolvimento de múltiplas ações integradas para a garantia do Direito Humano à Alimentação Adequada; II - promover canais para o exercício de atuação integrada dos órgãos públicos municipais que interagem com o tema de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, visando à transversalização das ações no desenvolvimento das políticas públicas municipais correlatas; III - coordenar a execução da Política e do Plano Municipal Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional (2012-2017) (CONTAGEM, 2012, grifo nosso).

Este comitê foi decretado a partir da representação das seguintes

secretarias: Desenvolvimento Social; Saúde; Educação e Cultura; Defesa Social;

Direitos e Cidadania; Adjunta de Limpeza Urbana; Desenvolvimento Urbano;

Governo; Administração Planejamento; Meio Ambiente; Trabalho e Geração de

Renda.

O conteúdo das normativas apresentadas permite verificar que as

orientações quanto à efetivação da intersetorialidade não se restringem somente à

câmara interministerial. Estendem também para o Estado, assim como para o

município, a responsabilidade da promoção da intersetorialidade e da sinergia das

ações na garantia do DHAA. Porém, as normativas apresentam, de forma ampla e

genérica, que devem efetivar a intersetorialidade, não apontando meios e

estratégias para demais detalhamentos.

Apresentar-se-á, a partir do próximo item, a aproximação desta estratégia

de gestão com um dos programas desenvolvidos na PNSAN, o programa Cozinha

Comunitária.

2.3.2 O Programa Cozinha Comunitária e sua efetivação no município de Contagem

O Brasil possui uma ampla extensão territorial, com estimativa de 192,4

milhões de habitantes, o que o torna um dos países mais populosos do mundo, com

ampla diversidade regional. Esta população tem também características

heterogêneas, tanto por razões culturais quanto econômicas. O quadro da fome é

uma das facetas mais perversas da exclusão social no Brasil e está atrelada à falta

de emprego, renda, habitação, lançando milhares de brasileiros em uma condição

indigna de sobrevivência.

67

Consolida-se, nesse cenário, a ação de vários programas inseridos na

Política Nacional de Segurança Alimentar dentre estes o programa Cozinha

Comunitária, sendo idealizado para ser um equipamento que busca garantir a

alimentação adequada aos que dela necessitam. De acordo com a cartilha do

Ministério de Desenvolvimento Social (MDS):

O Projeto de Incentivo à Instalação de Cozinhas Comunitárias faz parte do conjunto de ações voltadas para garantir o direito humano à alimentação adequada, combatendo a insegurança alimentar que atinge parcela considerável da população do país (MDS, 2008, p. 4).

A criação deste programa contempla, em sua constituição, a

implementação de uma rede de proteção, e se propõe a garantir o direito humano à

alimentação adequada, nas localidades com altos índices de vulnerabilidade.

A criação de Cozinhas Comunitárias visa implementar uma rede de proteção alimentar, em locais onde existam segmentos mais vulneráveis à fome, como famílias pobres, trabalhadores formais e informais de baixa renda, desempregados, estudantes, idosos, possibilitando-lhes o acesso a refeições balanceadas e de qualidade oriundas de processos seguros (MSD, 2008, p. 5).

Para a sua efetivação, há uma contrapartida entre União e municípios, a

título de cooperação. A União delimita, nacionalmente, as condicionalidades e

contrapartidas que o município deve oferecer para que seja enviado o recurso para a

gestão do programa. O Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome é

responsável por divulgar o edital para que os municípios possam concorrer e se

habilitar para receber a verba para adequar as instalações, equipamentos e

maquinários para executar o programa.

Compete às prefeituras participarem do processo e concorrer para

receber o orçamento da União, tendo verbas para investir em equipamentos, local,

manutenção. Depois deste processo inicial, a contrapartida da prefeitura para

execução do programa, remete a todo o custo com a operacionalização os insumos,

mão de obra, o funcionamento.

O programa se caracteriza como uma Unidade de Alimentação e Nutrição

(UAN) que deverá ter uma produção mínima de duzentas refeições por dia, em

funcionamento pelo menos cinco dias da semana. A equipe, preconizada pelo

68

Ministério do Desenvolvimento Social, envolve a contratação de: um nutricionista;

dois cozinheiros e três auxiliares de cozinha, que poderá ser composta por membros

da própria comunidade que tenham interesse e afinidade com o trabalho. A

coordenação das atividades deve contar com apoio de um nutricionista, que deve

fornecer orientações sobre planejamento, preparo e balanceamento de refeições,

técnicas de aproveitamento de alimentos.

Logo, compete ao município ofertar o serviço, delimitar a área de

vulnerabilidade em que este equipamento será locado, assim como a contratação da

equipe técnica, a manutenção do programa e o fornecimento dos alimentos.

Um dos municípios que executa esta ação em parceira com o MDS é a

cidade de Contagem. Localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, a 21

quilômetros da capital mineira, faz limite com Esmeraldas, Ibirité, Betim, Ribeirão das

Neves e a própria capital, seu território chega a 195 km2. Foi emancipado como

município de Minas em 1911. De acordo com dados do IBGE8 a população foi

estimada em 603.422 habitantes.

O desenvolvimento desta cidade possui uma historia peculiar ligado ao

desenvolvimento industrial, mas ao mesmo tempo de reprodução dos índices de

desigualdade social. No processo de desenvolvimento, destacam-se os centros

industriais, a criação da Cidade Industrial Juventino Dias em 1941, a criação do

Centro Industrial de Contagem CINCO). Em 1970, constata-se que é uma cidade em

constante evolução e desenvolvimento. A grande extensão territorial e a ocupação

desordenada formaram cenários díspares no município, além da desigualdade social

e exclusão.

Em 1974 inicia-se o funcionamento da CEAM (atual Centrais de

Abastecimento de Minas Gerais S/A - CeasaMinas) uma empresa de economia

mista, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Minas),

responsável por oferecer suporte ao comércio de hortigranjeiros e principal centro de

distribuição do estado.

Miranda e Avelar (2011) apontam que, o debate sobre a segurança

alimentar e nutricional, no poder público municipal, era ausente até o ano de 2005.

Elas também apontam a estratégia adotada para a implementação das primeiras

ações na segurança alimentar.

8 IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 15 ago

2012.

69

Partindo do diagnóstico de que o tema ainda é novo e não havia registro de experiências anteriores, tampouco orçamento destinado a qualquer ação, buscou-se realizar movimentos complementares entre a procura de estratégias internas na administração pública (municipal e federal) e a mobilização da sociedade civil que, por sua vez, desenvolvia ações, mesmo que de forma isolada, em prol da segurança alimentar da população (AVELAR; MIRANDA, 2011, p. 65).

A história da segurança alimentar e nutricional aponta que, no ano de

2005, diretrizes, legislações e experiências já estavam no cenário nacional, que

referenciam a elaboração da PNSAN nos três níveis de governo. As primeiras

estratégias em Contagem remetem à organização do Conselho Municipal de

Segurança Alimentar que, de acordo com Avelar e Miranda (2011), constituiu-se em

um processo dinâmico e participativo, compondo uma equipe com representantes do

poder público e da sociedade civil, que trabalhou durante oito meses, resultando na

criação e posse do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional

(COMSAN) e do Fundo Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (FUMSAN).

Obtiveram apoio do governo federal que, por sua vez, estimulou os municípios,

através de editais públicos, a buscarem recursos junto ao MDS para estruturarem

programas de SAN em seus territórios.

O marco legal foi a partir de 2009, com a regulamentação da Lei

4276/2009, que institui o Sistema Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional

Sustentável (SIMSANS), com o objetivo de criar condições para formulação da

Política e do Plano Municipais para a área de Segurança Alimentar Nutricional

Sustentável, com diretrizes, metas, recursos e instrumentos de avaliação e

monitoramento, compostos de ações e programas integrados envolvendo diferentes

setores de governo e da sociedade, na busca pelo DHAA para todos, em

consonância com as oito metas do milênio. Ressalta-se que a criação do SIMSAN

foi uma conquista para o município, no reconhecimento da questão da insegurança

alimentar como política pública.

Destaca-se que o principal objetivo do SIMSANS é integrar as ações de

governo e da sociedade civil para garantir o DHAA a toda população do município e

fazer de Contagem uma cidade sem fome, mais justa e saudável (MIRANDA, 2011,

p. 69). Em termos de gestão, destaca-se que a política de SANS está localizada na

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. No artigo 14º define-se que, a

PMSANS, em desenvolvimento “é coordenada pela Secretaria Municipal de

70

Desenvolvimento Social, através da Coordenadoria de Segurança Alimentar

Nutricional e Abastecimento e está estruturada em programas, projetos e ações”.

A política municipal de SANS está refletida nas peças orçamentárias (PPA, LDO e LOA),

9 sistematizada em três programas, com metas e orçamento

estabelecidos, anualmente. No âmbito do planejamento estratégico do governo, a SAN se tornou um Programa Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional coordenado por uma Câmara Intersetorial de Políticas Sociais. Essa Câmara é composta pelas Secretarias Municipais de Desenvolvimento Social, Educação e Cultura, Saúde, Direito e Cidadania. (AVELAR; MIRANDA, 2011, p. 67).

Segundo Avelar e Miranda (2011), os avanços desta política tiveram

relação com a metodologia utilizada, fundada no planejamento, na gestão

participativa e na intersetorialidade. Para as autoras, a percepção da abordagem

intersetorial se deu logo no início dessa experiência, a partir da constatação de que

o tema era desconhecido no município e de que as forças em potencial se

encontravam dispersas em diversos setores do governo e da sociedade civil.

Buscou-se integrar as ações de SANS com a Assistência Social e o Programa Bolsa

Família por serem políticas complementares, pois as ações da SAN são voltadas

prioritariamente para o mesmo público. Em Contagem, o SANS é estruturado a partir

de três eixos:

- o eixo promoção e educação alimentar nutricional articula o

fornecimento de alimentação nutricionalmente balanceada, realiza ações de

educação alimentar, divulga materiais informativos e realiza acompanhamento das

famílias beneficiadas, tem como referência o programa Cozinha Comunitária.

- o eixo abastecimento e complementação alimentar articula-se às ações

do Banco de Alimentos (BA) e o acompanhamento das instituições da rede de

proteção social, rede de doadores, apoio à rede metropolitana, arrecadação e

distribuição gratuita de alimentos, apoio aos programas de produção e

comercialização direta da agricultura familiar e do Plantão Social.

- o eixo fomento à produção e comercialização de alimentos saudáveis

articula as ações da agricultura urbana e familiar, por meio do Centro Municipal de

Agricultura Urbana e Familiar, visando à formação de multiplicadores, à organização

de grupos produtivos urbanos (comunitários em espaços públicos e privados) em

9 PPA – Plano Plurianual

LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias LOA – Lei Orçamentária Anual.

71

quintais e pequenos espaços bem como dando assessoria técnica para os

agricultores familiares.

Dentre os equipamentos de SANS (Banco de Alimentos, Ponto da Roça,

Centro Municipal de Agricultura Urbana e Familiar, dentre outros), utilizar-se-á como

foco de análise o Cozinha Comunitária, que compreende duas unidades instaladas

em regiões com índice de vulnerabilidade, beneficiam as famílias em situação de

insegurança alimentar.

Especificamente em Contagem, este programa é executado em duas

regiões (Nova Contagem e Região Nacional),10 com o objetivo de garantir o

fornecimento de alimentação preparada, balanceada e a baixo custo para famílias

e/ou pessoas em situação de insegurança alimentar.

Em consonância com as diretrizes nacionais do programa, o público alvo

são pessoas e/ou famílias em situação de vulnerabilidade social cadastradas para

esse atendimento e a população em situação de rua atendida pelo Centro de

Referência da Assistência Social/Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. A

gestão do equipamento garante o fornecimento de almoço nas duas unidades do

programa, cinco dias da semana. Em Nova Contagem é ofertado também o jantar. A

contrapartida dos beneficiários é o pagamento de dois reais por mês, para quem

apenas almoça, e de três reais por mês para quem almoça e janta. São exigências:

1. Renda per capita abaixo de R$ 120,00; 2. Pessoas em situação de desemprego; 3. Desnutrição (situação de baixo ou excesso de peso); 4. Situações de doenças (necessidade de dieta especial); 5. Pessoas com deficiência e em situação de rua. (CONTAGEM. Cozinha Comunitária. Disponível em: <http://www.contagem.mg.gov.br/?guia=221332>.Acesso em: 07 jan. 2012)

Este programa é uma estratégia da PNSAN, desenvolvido como política

social de combate à fome, fundamentado na lógica do DHAA. Porém, há de se

ressaltar que é um programa que poderia ser implementado por meio de estratégias

intersetoriais para que não se limite à oferta das refeições diárias.

Para Avelar e Miranda (2011), a política de SANS está sendo construída

como um sistema aberto e intersetorial. Para as autoras, isso pode ser entendido

como uma inovação, mas também como uma desvantagem, sob o ponto de vista da

10

Os bairros de Nova Contagem e da Região do Nacional são regiões que abrangem vários bairros, com ocupação por moradia popular e/ou ocupação irregular.

72

ação concreta devido a herança de gestão que valoriza as ações setorializadas.

Atuar nas questões de insegurança alimentar é um problema complexo e

requer uma análise intersetorial e a disposição dos diferentes setores de governo

para agir de forma integrada e intervir de forma eficaz na resolução desses

problemas. Nesse sentido, considera-se, conforme aponta Inojosa (2011, p. 105)

que a noção de intersetorialidade deve pautar-se na “articulação dos diversos

saberes e experiências com vistas ao planejamento, implementação e avaliação de

políticas, programas e projetos, com o objetivo de alcançar resultados sinérgicos em

situações complexas”, como é o caso da insegurança alimentar.

No processo de legitimação do SANS no município, um grupo de trabalho

para discutir e analisar a segurança alimentar foi instituído – nomeadamente, o

Grupo de Trabalho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (GTSANS).

Este grupo criou o Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional, em prol da

concretização do DHAA, pois as diversas secretarias municipais desenvolvem ações

relacionadas à SANS, sendo necessário, então, um direcionamento para a

efetivação de ações integradas. A Lei 4276/2009, em vigor, estabelece que a gestão

seja participativa, aponta para a instituição de um comitê intersetorial, com o objetivo

de articular os diferentes setores governamentais.

Este Plano foi lançado em 31 de maio de 2012 com o objetivo de

consolidar a SANS por meio de políticas articuladas e integradas para promover o

DHAA, além de ampliar o conhecimento do poder público e da sociedade civil

quanto aos direitos e aos deveres do Estado; de promover a atuação articulada,

fortalecer a participação popular e o controle social das políticas de SANS; fortalecer

os instrumentos e os meios de gestão intersetorial.

Torna-se um avanço a legitimação deste Plano ao traçar as diretrizes da

operacionalização da política de segurança alimentar, devido a proposta inovadora

em articular a gestão. Sua matriz operacional apresenta as prioridades pactuadas

entre o grupo de trabalho contendo ações, atividades, delegando os responsáveis e

os prazos a serem executados. Esse documento tem a pretensão de ser um

instrumento concreto para a efetivação da intersetorialidade, tendo em seus

resultados a possibilidade de uma nova proposição para a gestão das políticas

públicas. A partir do referencial teórico apresentado, foi desenvolvida a pesquisa

sobre o Programa Cozinha Comunitária em Contagem, com ênfase na gestão social

73

e intersetorialidade. Em seguida, serão apresentados os procedimentos

metodológicos e resultados da pesquisa.

74

3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO

Neste item serão discriminados os aspectos que compuseram pesquisa

de campo, o percurso para a realização desta foi precedido de pesquisa bibliográfica

e pesquisa exploratória no intuito de obter informações e dados para a investigação

do tema abordado.

Após a construção do projeto e o processo de qualificação, este foi revisto

a partir da contribuição dos avaliadores e submetido à Plataforma Brasil, tendo sido

apreciado e aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário UNA,

considerando os benefícios da pesquisa e a relevância do trabalho. Quanto aos

riscos, foram reconhecidos como “mínimos”, tendo em vista que os sujeitos

responderiam de livre e espontânea vontade, a um formulário composto de 16

questões e que a entrevista semiestruturada seria realizada exclusivamente pela

mestranda, após anuência e assinatura do TCLE dos sujeitos (Anexo II).

A partir da definição do tema, problema, objetivos e hipóteses, estes

foram substanciais à pesquisa bibliográfica, buscando o acesso a fontes primárias e

secundárias, visando o levantamento de dados e conceitos, utilizando livros,

legislações, decretos, artigos científicos e cartilhas do Ministério do Desenvolvimento

Social e do Combate à Fome.

A fase exploratória precedeu a pesquisa empírica, buscando obter

informações e dados para a construção do projeto. Recorreu-se à Coordenadoria de

Segurança Alimentar e Abastecimento, que é responsável pela implementação de

planos, programas e projetos nesta área no município de Contagem. Várias visitas

institucionais foram efetivadas, contatos estabelecidos, visando à lisura do processo.

Após a apresentação do projeto de pesquisa à coordenadoria, esta prontamente

autorizou a realização do trabalho, assinando o Termo de Autorização para a

Pesquisa no Programa Cozinha Comunitária. (Anexo II).

O processo de investigação incluiu métodos qualitativos e quantitativos,

considerando que:

método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista (MARCONI; LAKATOS, 2007, p. 83).

75

Uma pesquisa qualitativa e quantitativa nos remete a uma forma de se

obter entendimentos mais acurados dos objetos de investigação, optou-se por esta

metodologia tendo como parâmetro a área de estudo que é por demais complexa. O

delineamento integrado dessas metodologias aponta para uma maior fidedignidade

e validação da pesquisa no processo de investigação.

Os dados qualitativos foram obtidos a partir dos resultados das

entrevistas, com sujeitos que durante a fase exploratória foram reconhecidos como

informantes relevantes, uma vez que estavam envolvidos com o programa Cozinha

Comunitária. Por meio das entrevistas, buscou-se compreender e analisar a

percepção dos entrevistados sobre o problema investigado.

Quanto à abordagem quantitativa, efetivou-se a partir da aplicação dos

formulários, utilizando critérios estatísticos para a delimitação da amostragem e a

análise das informações levantadas.

3.1 Cenário social da pesquisa e os atores envolvidos

Considera-se como cenário da pesquisa o campo de investigação

empírica delimitado para obter informações acerca do problema central,

considerando-o como um local em que se desenvolvem ações da trama social e

política. Elegeu-se o programa Cozinha Comunitária do município de Contagem, em

Minas Gerais, como foco de investigação. Estão em funcionamento dois

equipamentos (na região de Nova Contagem e na região do Ressaca) que atendem,

cada um, cerca de duzentas pessoas, dentre adultos, crianças e idosos, conforme

informação obtida na fase exploratória da pesquisa. Delimitou-se, então, o universo

representativo em que foram aplicadas as técnicas selecionadas para a coleta das

informações.

Tem-se envolvidos com a execução do programa sujeitos diferenciados

em funções diversificadas, que estão relacionados com a execução do trabalho, que

possuem proximidade e familiaridade com as categorias que convencionou-se

abordar, destaca-se:

a coordenadora do programa Cozinha Comunitária;

gestores do município de Contagem;

uma nutricionista (técnica responsável do programa);

76

uma assistente social (técnica referência do programa).

beneficiários do programa (a amostragem será detalhada a seguir).

No envolvimento destes na pesquisa, técnicas para coleta de dados

diferenciadas foram executadas para melhor obtenção dos dados. Faz-se, agora,

necessário delimitar os métodos que foram aplicados para a compreensão do

percurso pautado neste trabalho.

3.2 Técnicas e as fases da pesquisa

Nesta pesquisa foram agregadas técnicas diferenciadas de coleta de

dados em uma abordagem qualitativa e quantitativa, visando alcançar os objetivos

propostos na investigação. A entrevista apresenta-se como estratégia de coleta de

informações a partir da delimitação de um eixo norteador que se constrói a partir do

resultado que se pretende alcançar.

Definidas as unidades de análise optou-se por direcionar as questões das

entrevistas por meio de um temário. Esta técnica se efetiva na elaboração de temas

coerentes com o objeto de estudo, que serão apresentados aos entrevistados,

utilizando-se da formulação de um temário, é possível deixar livre a expressão, não

restringindo a questões formuladas pelo entrevistador. Deste modo, tende-se a

apresentar significação para o entrevistado, partindo do princípio que, das

descrições apresentadas, as respostas detêm sentido para o emissor delas.

Basear em um temário implica em deixar o entrevistado “livre” para

apresentar suas considerações a partir da temática proposta e permite que o mesmo

expresse suas considerações a cerca da questão apresentada, considerando a

plena liberdade de expressão ao abordar o assunto proposto. Esta técnica

proporciona o estabelecimento um nível de comunicação que não afronte o

entrevistado, reduzindo o que Bourdieu (2007) apresenta como violência simbólica.

Permite expandir a possibilidade das questões fazerem sentindo para o entrevistado,

em que este poderá expressar suas considerações a partir da temática proposta,

sendo possível o entrevistado apresentar suas inquietudes, opiniões e

considerações pertinentes ao tema.

O temário apresenta-se para o entrevistado como uma provocação para

que o mesmo expresse suas considerações. Espera-se, contudo, que o pesquisador

obtenha autenticidade nas respostas, pois o emissor irá manifestar e relatar sua

77

percepção, seu conhecimento e sua análise quanto à temática abordada. As

questões assim apresentadas possibilita evitar o desconforto de uma questão

fechada, em que o entrevistado poderá ter dificuldades em formular uma resposta

que julgue adequada ao conteúdo da mesma.

O resultado desta técnica implica obter respostas a partir da relação do

entrevistado com o conteúdo abordado, pois este se apropria do discurso para

responder aos assuntos a partir de um lugar, de uma relação com o tema,

respeitando sua subjetividade nas considerações e impressões apontadas.

A finalidade desta estratégia é trazer para o destinatário do processo de

entrevista questões que tenham significados reais, que não sejam limitadas às

impressões do pesquisador, como é o caso de entrevistas com questões fechadas.

A sistematização do conteúdo busca caracterizar a realidade, transferi-las a temas a

serem abordados a partir dos significados e da percepção repassadas aos

entrevistados.

Esta técnica permite obter respostas quanto à temática investigada,

deixando ao entrevistado a livre exposição de suas impressões, relatado-as

espontaneamente. A gravação é fundamental para capturar todas as considerações

transmitidas, para, posteriormente, serem transcritas e analisadas.

Outra técnica apontada na realização deste estudo foi o método “Bola de

Neve”, tradução do inglês Snowball Sampling11, o pesquisador delimita um grupo de

envolvidos na pesquisa (grupo de primeira ordem) e estes indicarão o próximo grupo

de indivíduos a fazerem parte da pesquisa (grupo de segunda ordem) e assim por

diante. Esta fase da pesquisa termina quando não forem indicados novos envolvidos

(até o grupo de terceira ordem).

A opção em eleger esta metodologia para compor este trabalho partiu da

compreensão da orientadora e da orientanda de que os gestores e técnicos que

atuam no programa Cozinha Comunitária deveriam delimitar quem são os atores

que poderiam ser envolvidos no processo de gestão intersetorial neste equipamento

por fazerem interlocução com o programa, uma vez que a intersetorialidade é um

ponto central nesta investigação.

11

Essa é uma técnica de pesquisa utilizada para indicadores de amostragem, os critérios são definidos a partir dos participantes iniciais que irão indicar novos participantes que por sua vez indicam outros participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto o que é considerado o “ponto de saturação” que é quando o pesquisador considera que obteve o resultado esperado, pela repetição das informações.

78

Ressalta-se que as questões para a entrevista forão pautadas no temário,

estratégia que permite ao entrevistado a livre expressão quanto às questões

apontadas, sendo que o entrevistador pode manter um direcionamento durante a

abordagem com o entrevistado.

Neste estudo, a análise pautou-se por meio da técnica da análise de

conteúdo. Bardin (2011), referência nesse método, considera o mesmo como

conjunto de técnicas de análise das comunicações. O objeto da análise de conteúdo

é a fala, as expressões obtidas em uma entrevista, “o material principal da análise

de conteúdo: os significados” (BARDIN, 2011, p. 50).

Os significados são obtidos por meio das expressões descritas a partir

das temáticas utilizadas, “fazer uma análise temática consiste em descobrir os

núcleos de sentido que compõe a comunicação e cuja presença, ou frequência de

aparição, pode significar alguma coisa para o objetivo analítico” (BARDIN, 2011, p.

135).

Utilizou-se de formulários semiestruturados visando obter impressões dos

beneficiários quanto ao programa Cozinha Comunitária. A sua elaboração exigiu um

esforço para contemplar um conjunto relevante de indicadores para análise. Na

pesquisa de cunho quantitativo, para a representação do universo utiliza-se de

amostragem, pautando em conceitos estatísticos para indicar o número

representativo para a realização da técnica de coleta de dados. Definida a

amostragem, considera-se pertinente estabelecer a margem de erro amostral e o

nível de confiança que significa identificar a variação dos resultados e a

probabilidade de repetição dos resultados obtidos.

Convencionou-se denominar de fases da pesquisa, as etapas da coleta

de dados em campo. Ressalta-se que as entrevistas foram agendadas previamente

com os gestores e técnicos, assim como pactuadas as datas para aplicação do

formulário aos beneficiários com o total apoio da equipe do programa. Apontadas as

técnicas utilizadas, apresentar-se-á as fases da pesquisa, e sua execução.

79

3.2.1 Primeira fase da pesquisa: entrevistas com a coordenadora e as técnicas do programa

Foram realizadas entrevistas a partir do temário com a coordenadora e

duas técnicas. Direcionou-se dez itens que compuseram o temário, conforme

exposto a seguir:

análise do programa dentro da política nacional de segurança alimentar;

o fundamento social e político do programa Cozinha Comunitária;

percepção do programa como ação estrutural ou emergencial;

efetividade das ações no combate à fome e à superação da pobreza;

percepção do lugar ocupado pelo beneficiário no programa;

sentido percebido sobre o processo emancipador e de empoderamento

das famílias via ações no programa Cozinha Comunitária;

estratégias atuais de gestão do programa, com seus entraves e

possibilidades;

percepção das possibilidades de gestão social do programa; atividades

intersetoriais e de trabalho em rede;

percepção de parcerias possíveis e necessárias que podem e devem ser

construídas para ampliar a gestão social do programa;

sugestões de melhoramentos de gestão e ações intersetoriais.

É pertinente esclarecer que o temário não se constitui em um conjunto

fechado de questões (como um questionário ou formulário), mas organiza os temas

que devem ser abordados com os entrevistados, seguindo um ritmo e uma estrutura

que vão sendo construídos na relação com os entrevistados. Assim, um item do

temário pode dar espaço para várias questões, dependendo da disponibilidade do

entrevistado e de suas possíveis contribuições para a temática investigada,

respeitando a singularidade do entrevistado. Da mesma maneira, dependendo do

conhecimento do entrevistado, ele (a) conduzirá a entrevista com maior autonomia.

A existência do temário, no projeto de pesquisa, resguarda um fio lógico que o

pesquisador poderá utilizar para a análise dos dados. Assim, o temário situa-se

entre um questionário semi-estruturado e uma entrevista aberta em profundidade.

Esta técnica proporcionou que as entrevistadas apresentassem suas

considerações a partir da temática, expressando suas considerações acerca de

80

cada questão. Proporcionou um nível de comunicação que lhes permitiu expressar

suas inquietudes, opiniões, considerações pertinentes ao tema apresentado.

A livre exposição das impressões proporcionou a obtenção de respostas

que partiram da relação do entrevistado com o conteúdo abordado. Estas foram

fundamentais para a análise do objeto deste estudo, pois o discurso apresentado

emerge a partir de um lugar, da experiência, da visão e conhecimentos que estas

detêm dos eixos que compuseram a temática. Estas foram as razões pelas quais o

temário foi escolhido como instrumento para a entrevista na presente pesquisa.

3.2.2 Segunda fase da pesquisa: entrevistas com gestores de outras políticas públicas que mantêm relação com a segurança alimentar no município

Realizada a primeira fase da pesquisa, as três entrevistadas apontam que

todas as secretarias que compõem o Plano Integrado de Segurança Alimentar

Nutricional e Sustentável, que tem como objetivo consolidar a segurança alimentar e

nutricional sustentável no município por meio de políticas públicas articuladas e

integradas devem ser comprometidos neste processo.

As secretarias são: Desenvolvimento Social; Saúde; Educação e Cultura;

Defesa Social; Direitos e Cidadania; Adjunta de Limpeza Urbana; Desenvolvimento

Urbano; Governo; Administração Planejamento; Meio Ambiente; Trabalho e Geração

de Renda.

Nesta etapa, foi utilizada a técnica “bola de neve” que direcionaram os

demais envolvidos para a entrevista. Considerou-se que, uma vez sendo citados na

primeira fase em que se efetivou as entrevistas, a segunda fase da pesquisa

empírica seria entrevistar os gestores das secretarias sem uma ordem definida, já

que todos foram mencionados. Pretendeu-se, assim, com esta estratégia, possibilitar

a análise da intersetorialidade, uma vez que os entrevistados indicaram quais os

setores e/ou programas poderiam compor uma rede de trabalho na questão da

segurança alimentar. A partir desta indicação, novas entrevistas foram realizadas

com os gestores que compõem a estrutura administrativa da Prefeitura de

Contagem. Finalizou-se esta segunda etapa com saldo de três entrevistas, já que

apontava para a saturação dos dados, pois, unanimemente, os entrevistados

apresentaram que todas as secretarias que compõem o Plano Integrado de

Segurança Alimentar Nutricional e Sustentável devem se articular e estarem

81

integradas neste processo e percepção semelhante ao trabalho desenvolvido pelo

programa.

Ressalta-se que esta estratégia permite ao entrevistado a livre expressão

quanto às questões apontadas. O temário aplicado é apresentado abaixo:

o fundamento social e político do programa Cozinha Comunitária;

percepção do programa como ação estrutural ou emergencial;

percepção das possibilidades de gestão social do programa; atividades

intersetoriais e de trabalho em rede;

percepção de parcerias possíveis e necessárias que podem e devem ser

construídas para ampliar a gestão social do

sugestões de melhoramentos de gestão e ações intersetoriais.

As respostas partiram da relação do entrevistado com o conteúdo

abordado e foram fundamentais para a análise do objeto deste estudo. O temário foi

escolhido como instrumento por deixar a entrevista mais aberta às impressões que o

entrevistado desejar relatar.

3.2.3 Terceira fase da pesquisa: aplicação dos formulários com os beneficiados do programa Cozinha Comunitária

A técnica de coleta de dados, composta por aplicação de formulário como

processo da abordagem quantitativa, requer que a amostragem seja definida por

meios estatísticos. O número de formulários a serem aplicados deve ser calculado

conforme a definição do nível de confiança dos dados e de erro amostral

Considerando-se possíveis implicações éticas e técnicas, optou-se por

trabalhar apenas com usuários com faixa etária entre 18 e 65 anos. Dentre os

cadastrados á época da pesquisa exploratória haveria a média de 230 beneficiários

neste perfil. Almejando um nível de confiança nos dados coletados de 90% e um

erro amostral de 5%, a amostra foi calculada em 128, isto é, formulários aplicados.

Para a aplicação dos formulários foi fundamental a parceira do Centro

Universitário UNA, por meio do Núcleo de Estágio em Serviço Social (NESS). Foram

selecionadas oito estudantes do curso de Serviço Social, a partir do quarto período,

formando duas equipes, para colaborar na aplicação dos formulários nos

equipamentos em bairros e regiões distintas (Nacional e Nova Contagem). Ressalta-

se que os acadêmicos receberam treinamento dado pela pesquisadora em três

82

encontros, que foram tratados os objetivos do projeto, os temas de análise e a

relevância social da pesquisa, a abordagem com os entrevistados, apresentação,

leitura e assinatura do TCLE, apresentação do formulário e a realização de um pré-

teste. Efetivou-se a divisão das equipes de pesquisa para cada um dos

equipamentos, que fora realizada em três dias consecutivos. A pesquisadora

coordenou todo o processo de aplicação dos formulários, garantindo a sua

qualidade, legitimidade e lisura do processo.

No dia anterior à aplicação do formulário, os beneficiários cadastrados

receberam, por parte da equipe do programa, um comunicado convocando-os a

participar da pesquisa (ANEXO IV) e muitos compareceram em resposta à

convocação. Entretanto, durante a pesquisa, para atingir o total da amostra, houve

abordagem das pesquisadoras com beneficiários na Cozinha Comunitária. Com este

procedimento, foi possível atingir a da amostra.

A partir do aceite em participar da pesquisa, os usuários foram

direcionados a uma sala que fora reservada para a pesquisa, em que o pesquisador

apresentou o TCLE e aplicou o formulário. Considera-se pertinente ressaltar que

ambas as Cozinhas disponibilizaram salas para acomodar pesquisadores e

entrevistados. Em cada dia da pesquisa, a pesquisadora recolheu e arquivou os

formulários aplicados para garantir o sigilo e a segurança das informações. O

formulário foi construído a partir dos eixos norteadores:

condições socioeconômicas (número de pessoas no domicílio, idade e

grau de instrução, escolaridade, renda, bens disponíveis no domicílio);

familiares que são cadastrados no programa;

condições de habitacionais;

acesso aos serviços da rede social do município (educação, saúde,

assistência social);

período esteve em condições de insegurança alimentar (fome);

tempo (desde quando) de acesso ao programa Cozinha Comunitária;

avaliação que faz do programa;

percepção das atividades que poderiam compor o programa;

percepção do lugar ocupado pelo beneficiário no programa;

percepção do processo emancipador e de empoderamento das famílias

via ações no programa Cozinha Comunitária.

83

Obteve-se como resultado desta etapa 128 formulários válidos

preenchidos, atingindo a amostragem prevista . Aplicar o formulário aos beneficiários

permitiu que obtive-se impressões daqueles que utilizam o programa, as

características e perfil destes, assim como ouvi-los quanto aos serviços sociais que

utilizam. Intercalar questões fechadas e abertas proporcionou um nível de

comunicação que permitiu que os entrevistados expressassem suas opiniões e

sugestões. O resultado foi fundamental para a correlação com as demais fases da

pesquisa.

84

4 ANÁLISE DOS DADOS

Após o tratamento dos dados coletados foi possível formatar um relatório

composto por gráficos, transcrições das entrevistas e observações elencadas pelos

beneficiários na aplicação dos formulários. Apresentar-se-á as principais impressões

que correlacionam com as unidades de análise e a pertinência destes para analisar

os objetivos propostos neste estudo, intercalando de forma clara e objetiva as

informações obtidas nas técnicas de pesquisa utilizadas.

A adoção do município por implementar ações em consonância com a

Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional apontam para o ano de 2005,

em que legislações e programas estavam sendo implementados no cenário

nacional, conforme descrito no primeiro capítulo. As primeiras estratégias em

Contagem remetem à organização do Conselho Municipal de Segurança Alimentar,

posteriormente aos demais programas dentre eles o Cozinha Comunitária.

[...] o incentivo à Instalação de Cozinhas Comunitárias faz parte do conjunto de ações voltadas para garantir o direito humano à alimentação adequada, combatendo a insegurança alimentar que atinge parcela considerável da população do País (MDS, 2008, p. 4).

O equipamento da região de Nova Contagem foi implantado em 27 de

abril de 2007. Já na região do Nacional, a Prefeitura inaugurou em instalações

próprias em 26 de abril de 2011, a escolha para implantação deste serviço foi por

meio do Orçamento Participativo12. Ambos equipamentos são resultado de um

convênio firmado entre o MDS e a Prefeitura.13 Para a execução deste programa há

parcerias e convênios entre a União e os municípios que se habilitam para receber o

recurso. Quanto à atribuição de cada ente, as três entrevistadas descreveram o

mesmo processo quanto à competência do município e da união na implantação e

execução do programa:

12

Orçamento Participativo no Município de Contagem foi previsto a partir de 2005 na Lei Orgânica no Plano Plurianual, que prevê a promoção da participação da população na administração por meio da escolha na aplicação de alguns recursos. Esta estratégia esta prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). 13

PORTAL DA PREFEITURA DE CONTAGEM. Acesso em: 07 jul. 2012. Disponível em: <http://www.contagem.mg.gov.br/?materia=272937>.

85

No caso de Contagem, o município é o gestor direto do programa, a união participa, ou participou por que agente não tem visita do MDS, no andamento do programa, o ministério entra com o recurso, só quando fizemos a requisição para concorrer. Equipamentos, pessoal, local, manutenção, é por conta do município. Todo o custo e execução é o município. A união incentiva a criação, a implantação, acompanha só até aí. Quando digo união, entenda MDS, e a partir da construção da CAISAM a ideia é construir a PNSAN entre os ministérios - saúde, educação, ministério das cidades, e os outros (ENTREVISTADA 3, 2012).

No contexto brasileiro, o DHAA tornou-se princípio da Lei nº 11.346/2006,

denominada Lei Orgânica de Segurança Alimentar (LOSAN). Em consonância com

as diretrizes nacionais do programa, o público alvo do Cozinha Comunitária é

formado por pessoas e/ou famílias em situação de vulnerabilidade social. A

contrapartida dos beneficiários é o pagamento de dois reais por mês, para quem

apenas almoça, e de três reais por mês para quem almoça e janta, no caso de Nova

Contagem. Deste modo, a PNSAN propõe-se a assegurar o DHAA à população,

garantindo o acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em

quantidades suficientes. De acordo com o MDS a instalação de Cozinhas

Comunitárias em localidades com alto índice de vulnerabilidade visa garantir este

direito, a partir do fornecimento de refeições preparadas considerando a qualidade e

a quantidade suficiente para adultos e crianças e/ou a especificidade nutricional

apresentada, como é o caso dos diabéticos e hipertensos.

A delimitação amostral para a aplicação dos formulários foi abordar os

cadastrados com faixa etária entre 18 e 65 anos e dentre os 128 beneficiários que

responderam a pesquisa, 92 eram mulheres e 36 eram homens. Examinar esta

questão nos permite enfatizar a presença das mulheres que, tradicionalmente em

nossa cultura, assumem a responsabilidade do trato com a família. Para Sliprandi

(2004) as mulheres geralmente são protagonistas de programas da ordem alimentar.

Visto que as políticas de segurança alimentar podem reduzir a vulnerabilidade à

insegurança alimentar, bem como a incerteza que estas vivem pela responsabilidade

de obter e/ou preparar a comida.

De acordo com (SLIPRANDI, 2004 apud FILED, 1999) as mulheres fazem

da alimentação dos filhos uma prioridade; é preciso apoiar as mulheres para

assegurar a manutenção da família. Não se trata de defender que este cuidado seja

prerrogativa somente feminina, mas evidencia-se que historicamente a mulher, nas

mais diversas faixas etárias, assume esta função social. A idade predominante de

86

nossasdas entrevistadas foi entre (25 a 64 anos) e o nível de escolaridade

fundamental incompleto.

O propósito do programa Cozinha Comunitária é fornecer alimentação

preparada para as famílias. Neste quesito pode-se proporcionar uma disponibilidade

de tempo maior para que as mesmas busquem outros meios de contribuir para a

melhora da qualidade de vida das famílias, seja realizando cursos, participando de

oficinas, inserindo-se no mercado de trabalho e, para isso, é necessária uma

articulação da rede para envolvê-las em atividades diversas que poderão ser

direcionadas dentre as diversas políticas, programas e setores.

O programa pode acompanhar o cidadão e/ou seu núcleo familiar por um

período, oportunizando que os cadastrados se fortaleçam e se organizem em busca

de melhoria da qualidade de vida. Nesses anos de funcionamento, este

equipamento já atendeu a várias pessoas que foram cadastradas e assistidas, mas

o período de desligamento é inerente à proposta do programa para manter uma

rotatividade entre os assistidos. O gráfico a seguir expressa esse indicador de

rotatividade no programa.

GRÁFICO 1 - Tempo que é cadastrado no Programa Cozinha Comunitária

Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa

Cozinha Comunitária, 2013.

Analisar o tempo de cadastrado, permanência no programa permite

perceber se o programa está cumprindo sua função social, tendo rotatividade,

beneficiando e permitindo o acesso de outros cidadãos, participando do processo de

emancipação, proporcionando o desligamento quando os indicadores de ingresso no

programa forem suprimidos. Permite analisar o funcionamento e a gestão,

87

evidenciando o período que beneficiários estão permanecendo cadastrados.

Ressalta-se que aqueles que estão há mais de um ano têm, em média, de dois a

cinco anos em Nova Contagem. Quanto aos dados coletados com os beneficiários

cadastrados por um período superior a um ano, possibilita-se a obter informações do

programa por aqueles que detêm o conhecimento e uma vivência por um período

maior, podendo fazer uma avaliação do serviço com maior propriedade.

Técnicas e gestora relatam que a família, quando é inserida no programa,

assina um termo de compromisso e, neste documento, consta a responsabilidade do

poder público de assisti-la por um ano: “a gente avalia a cada ano para ver se ela

pode sair do programa ou se precisa continuar, algumas continuam”

(ENTREVISTADA 1, 2012). A proposta em manter o assistido por um ano objetiva

contribuir por um período que a pessoa e/ou família encontra-se em situação de

insegurança alimentar até que ocorra uma mudança relevante que a mesma possa

ser desligada. Esta rotatividade oportuniza que mais pessoas consigam acessar o

programa, pois há uma previsão de fornecimento das refeições diárias que não deve

ser ultrapassado. Pondera-se que o aprofundamento da gestão financeiro-

orçamentária não é foco de análise deste estudo, e sim os meios e instrumentos de

execução do programa.

É consensual na resposta das entrevistas que existe o desligamento por

parte dos cadastrados, devido à alteração do contexto que originou a inclusão no

programa. Neste trecho da entrevista emerge a seguinte descrição: “algumas

famílias pedem para sair, porque melhoraram as condições: arrumou emprego, por

não precisar mais, para dar lugar para outras pessoas” (ENTREVISTADA 1, 2012).

No que tange aos fundamentos sociais e políticos do programa a partir da

percepção das entrevistadas, estas consideraram que, no âmbito social, percebe-se

a melhoria dos hábitos alimentares, por proporcionar qualidade de vida, garantir

acesso alimentos para aqueles que não têm condições de obter por conta própria.

Destacam que a estratégia do programa possui também, um viés emergencial por

atender uma necessidade imediata e assistencial devido à prestação de serviços

que garanta o acesso aos direitos sociais. Estes indicadores podem contribuir para a

promoção da cidadania e legitimação dos direitos sociais. Percebe-se que, no

contexto das políticas públicas, há um fundamento político em direção ao

compromisso do Estado em sua obrigação de prover alimentos para aqueles em

situação de vulnerabilidade social. Para a Entrevistada 1 (2012), “o fundamento

88

social está na melhoria da qualidade de vida, e político pela opção da gestão em

garantir que isso aconteça”.

Assim, torna-se prerrogativa do Estado desenvolver ações que garantam

o acesso aos alimentos para aqueles que se encontram em situação de

vulnerabilidade, a partir do princípio de que este deve reconhecer, respeitar,

proteger, promover e prover a segurança alimentar, garantindo o DHAA a todos os

que dele necessitam. No item 16 do formulário aplicado aos beneficiários, foi

abordado se o programa garante o DHAA e foi expressiva a afirmação de 118

usuários ao dizerem que sim. O reconhecimento do direito à alimentação é resultado

de um processo que foi paulatinamente incorporado na doutrina jurídica e nos

moldes de alguns programas que ganharam expressão no Brasil a partir do século

XXI.

A gente consegue enxergar famílias que saíram de situações de desnutrição, situações econômicas que a Cozinha Comunitária pode contribuir neste aspecto. As famílias ganham muito, porque através do acompanhamento das famílias, a gente percebe famílias que tinham crianças com baixo peso, e que hoje já estão no peso ideal para a idade. Temos muitos relatos de famílias que mudaram o padrão de alimentação depois do programa, tem uma economia na questão da alimentação que podem investir em outra área (ENTREVISTADA 2, 2012. grifo nosso).

Em programas como o Cozinha Comunitária, que possibilitam o acesso

ao DHAA, é perceptível o compromisso na participação do empoderamento e

emancipação da família, conforme aponta a entrevistada 2, afirmando a mudança

que ocorre nos indicadores de insegurança alimentar. As respostas das

entrevistadas quanto ao tempo de permanência têm como premissa a melhoria da

condição que originou seu ingresso no programa, possibilitando condições de

empoderamento dos usuários. Bronzo (2007) afirma que, embora as pessoas

empoderem a si mesmas, governos e outros atores desempenham um papel vital

nesse processo. Os resultados das ações podem ser de diferentes tipos e

magnitudes, mas todos espelham uma mesma ordem de questões relativas ao

aumento do protagonismo, da autonomia, do senso de dignidade e das capacidades.

Ressalta-se que este programa é um dos agentes para este processo de

mudança, pois um problema complexo como a insegurança alimentar e/ou

fenômeno da fome não deve ser analisado como atribuição e competência de

apenas um agente neste contexto. Caindo nas armadilhas de uma análise desse

89

tipo, reforçaria-se os moldes de gestão tradicional, na qual cada setor deveria

assumir a responsabilidade de suas competências. O modelo de gestão social se

opõe ao modelo tradicional pelo processo dialógico e pela participação social que

contempla esta maneira de administrar, possibilitando o envolvimento de demais

setores visando o enfrentamento das questões sociais, o que se destacará quanto

ao envolvimento dos diversos setores no programa.

Os programas direcionados à prestação de serviços à população devem

ser executados visando à qualidade e ao compromisso com os assistidos, além do

compromisso societário, com diretrizes para a efetivação dos direitos sociais. Com

base nos formulários aplicados, considera-se que o programa Cozinha Comunitária

obteve uma avaliação expressiva, conforme apresentado no gráfico a seguir.

GRÁFICO 2 - Avaliação do programa Cozinha Comunitária

Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa

Cozinha Comunitária, 2013.

Considera-se esta avaliação positiva quanto análise do programa, que

pode ser caracterizada pela estratégia de operacionalização das ações adotadas.

Os alimentos são fornecidos durante os cinco dias úteis da semana (segunda à

sexta), exceto em feriados, sendo o horário de entrega da alimentação fidedigno

com o estabelecido nas normas de funcionamento. Os beneficiários avaliaram bem o

tratamento por parte da equipe que executa as atividades no programa, assim como

a qualidade e a quantidade da comida fornecida.

Outro item que foi destacado pelos usuários que contribui para a boa

avaliação é a presença de um responsável técnico nutricionista, critério este que

90

para os beneficiários proporciona o padrão alimentar com as calorias exigidas para

manter um bom estado nutricional.

Considerou-se pertinente avaliar a compreensão das representantes do

programa, referente ao entendimento que elas detinham quanto à percepção dos

beneficiários sobre o programa, ou seja, como elas acreditam que os usuários

percebem a Cozinha Comunitária. Assim, estas pontuaram:

Nas reuniões eles falam como o programa é bom e como mudou a vida deles. Os depoimentos da mudança dos hábitos alimentares,[...] meu filho não comia isso e agora está comendo (ENTREVISTADA 1, 2012)

Eles avaliam que o programa é bom, pois serve como um refúgio, em uma situação de emergência, quando esta passando por dificuldade, fome. Às vezes famílias que tem muitas crianças, são famílias muito extensas. ENTREVISTADA 2, 2012., grifo nosso).

Os demais gestores entrevistados (assistência, saúde, CRAS)

identificaram os benefícios da Cozinha Comunitária para a comunidade, apontando

até mesmo que deveriam ser levadas as ações para demais localidades no

município. Todos afirmam que o equipamento traz uma importante contribuição

social para a população assistida, que dá suporte as demais atividades de saúde e

assistência.

No item a seguir, constatou-se que os entrevistados acreditam que o

programa tem uma relevante contribuição social no combate à insegurança

alimentar e à fome. Esta evidência torna-se clara ao contrapor a informação que, a

grande maioria dos beneficiários afirma que a principal refeição do dia é fornecida

pelo programa.

91

GRÁFICO 3 - Principal refeição do dia Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

Sinaliza-se que as famílias ao acessarem o programa como a principal

fonte de realização da alimentação diária, implica num possível o reconhecimento do

Estado em promover e prover o DHAA. Porém, este dado também nos leva a

indagar como a questão da insegurança alimentar é tratada por outros setores da

rede, pois em uma situação como a apresentada não deve ser competência

somente de um serviço tratar das questões que correspondem à segurança

alimentar. De acordo com Burity et al. (2010):

praticamente todas as áreas de governo devem atuar na promoção da alimentação saudável e adequada. Por exemplo, a saúde deve garantir ações de orientações quanto ao aleitamento materno [...] a alimentação escolar deve oferecer diariamente alimentos saudáveis.(BURITY et al., 2010,p. 156)

É oportuno ressaltar que este gráfico agrega alguns elementos

relacionados à efetividade desta política, pois o estado nutricional está ligado ao

posicionamento na estrutura social atrelado à falta de emprego, renda, habitação,

dentre outros. As famílias, ao serem assistidas, têm garantido o mínimo do padrão

de alimentação para manter o seu estado nutricional, que é primordial para ter

condições dignas para acessar outras políticas, pois concebe-se que a alimentação

é fundamental para o equilíbrio orgânico tanto quanto para a efetivação da cidadania

e da dignidade humana.

92

A PNSAN, atrelada às estratégias do SIMSANS, objetiva criar condições

para formulação da política no âmbito municipal que visa assegurar, à população em

situação de vulnerabilidade e risco social, o DHAA, na estratégia de possibilitar o

acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidades suficientes.

Com relação à análise do programa perante a política nacional, a gestora e as

técnicas avaliam que é um programa necessário para garantir o direito das pessoas

em situação de vulnerabilidade social. Em destaque, dois relatos pertinentes:

O programa Cozinha Comunitária é um norte, um eixo, um pilar desta política maior da Segurança Alimentar e nutricional. O carro chefe do programa é o fornecimento da alimentação preparada direto ao beneficiário.[...] A gente entende que a Cozinha Comunitária é um dos equipamentos, é um instrumento que promove a segurança alimentar e o DHAA (ENTREVISTADA 3, 2012, grifo nosso).

Foi um passo importante da prefeitura de Contagem a opção pelo Cozinha Comunitária, pelo fato de poder escolher as famílias que iriam atender, na seleção das famílias com maior vulnerabilidade social. Para o social, a Cozinha Comunitária se encaixa para atender a população mais vulnerável. Referente a política nacional é um avanço implantar este programa (ENTREVISTADA 2, 2012).

Pertinente esclarecer que a entrevistada 2, ao declarar que o programa

Cozinha Comunitária pode escolher a quem atender, faz uma comparação com

outros programas do Programa Fome Zero. Por exemplo, o Restaurante Popular

tem, como critério de acesso às refeições, a contrapartida de um valor, ainda que a

preços populares. Nesse caso, qualquer cidadão pode utilizar o programa. Um

critério da gestão da Cozinha Comunitária em Contagem é a renda da família,

baseada no padrão nacional estabelecido pelo MDS de acesso ao Programa Bolsa

Família.14 De acordo com a entrevistada 2, “para o cadastro, a gente segue a renda

per capta do programa Bolsa Família, famílias com a RCP de até R$ 140,00.”

Diagnosticou-se que, dentre os 114 beneficiários, a renda familiar

declarada está entre a média de 200 reais e 622 reais, e somente catorze estão

acima de 622 reais. Assim, sem acesso a renda suficiente para prover sua

alimentação adequada às suas necessidades tende a contar com ações públicas

assim como o programa para ter acesso aos alimentos (e que hoje, para os

14

O Programa Bolsa Família (PBF) é um programa de transferência direta de renda que beneficia,

em todo país, famílias em situação de pobreza.

93

cadastrados, significa a principal refeição do dia, conforme apontado na FIG 8). O

perfil das famílias é compatível com a proposta que o programa se propõe a atender,

famílias que passam por situação de “pobreza absoluta” (ROCHA, 2004), por não

conseguirem satisfazer as suas necessidades básicas, assim como a alimentação.

Os dados quanto às condições econômicas do núcleo familiar corroboram

com as indicações teóricas que, devido à falta de renda, os sujeitos comprometem o

seu padrão alimentar. Lavinas (2004) aponta que o grau de carência alimentar

depende essencialmente do déficit de renda, evidencia-se que o problema da fome

como questão social está relacionado a este fator. Indicadores apresentados no

Circulo da fome (FIG 2), apontado pelo Instituto Cidadania (2001) considera a renda,

salários baixos, como um dos indicadores para efetivar o fenômeno da fome.

O baixo indicador de renda e o número de pessoas no núcleo familiar têm

um impacto no padrão de vida das famílias. Um representativo número de

entrevistados afirma que seu núcleo familiar tem no fornecimento da alimentação do

programa a principal refeição, demonstra-se a importância das políticas na garantia

dos direitos para aqueles que não teriam fácil acesso via mercado. Assim, o

programa desempenha um papel relevante quanto à soberania alimentar dos

munícipes assistidos, que têm como um de seus fundamentos básicos o

reconhecimento e o cumprimento do direito à alimentação.

A soberania alimentar é o direito dos povos de decidir seu próprio sistema alimentar e produtivo, pautado em alimentos saudáveis e culturalmente adequados, produzidos de forma sustentável e ecológica, o que coloca aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências dos mercados e das empresas, além de defender os interesses e incluir as futuras gerações (MALI, 2007).

Dentre os beneficiários que participaram da pesquisa, 85 relataram a

existência de pessoas acometidas por algum problema de saúde e/ou doença, o que

pode intensificar a situação de pobreza e vulnerabilidade a que as famílias estão

submetidas, pois o mercado tende a excluir os sujeitos fora do padrão aceitável de

produtividade.

94

GRÁFICO 4 - Integrantes do núcleo familiar cadastrados no programa Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

O exame deste item aponta para a configuração e perfil das famílias

assistidas. As famílias são numerosas, residem em território com índice de

vulnerabilidades social, grande maioria declaram viver em casa própria,, vinte em

casa cedida, catorze em casa alugada, seis em casa temporária de favor. O

diagnostico das técnicas e gestora complementam os dados mensurados quanto ao

perfil dos assistidos:

Desempregados, idosos, crianças. Diferencia pouco de uma Cozinha Comunitária para outra. Em Nova Contagem as famílias são mais numerosas e têm mais crianças. No Nacional, geralmente são mais idosos que moram sozinhos, que não tem condições de preparar sua refeição. Geralmente, o perfil são pessoas em situação de insegurança alimentar (ENTREVISTADA 1, 2012, grifo nosso).

Pessoas em situação de desemprego, gestantes, nutrizes, doentes graves e crônicos, desnutridos abaixo ou acima do peso chegam ao programa por demanda espontânea ou encaminhados. Demanda espontânea, famílias que procuram a Cozinha Comunitária e deixam o nome para posteriormente fazer uma visita para avaliar o perfil da família. Existem casos que são encaminhados pelo CRAS – que hoje é a grande maioria (ENTREVISTADA 2, 2012, grifo nosso).

[...] são pessoas vulnerabilizadas, desempregadas, doentes que necessitam de alimentação adequada e regular, outros alimentação estritamente balanceada, famílias em situação de risco, muitos filhos (ENTREVISTADA 3, 2012, grifo nosso).

95

Na narrativa das entrevistadas, percebe-se coerência quanto ao perfil dos

beneficiários, compondo indicadores de pessoas vulnerabilizadas pelo desemprego,

que consequentemente repercute em situações como desnutrição, sobrepeso e

doenças crônicas não transmissíveis. Reafirma-se conforme apontado por Silva

(2000), que, correlacionar que a fome é multidimensional e próxima da compreensão

da pobreza, tanto quanto é a causadora desta.

O padrão das famílias demanda por intervenções do Estado, assim como

da sociedade civil para que os direitos sociais sejam garantidos. A efetivação destes

direitos remetem a uma estratégia de enfrentar a desigualdade social e garantir a

cidadania por intermédio da execução de uma série de bens e serviços

considerados essenciais que devem ser ofertados, tais como a educação, saúde,

assistência e outros serviços.

Vive-se num ciclo vicioso em que as insuficiências de ontem trarão

reflexos para o amanhã, ou seja, destaca-se o perfil dos entrevistados, baixa renda e

escolaridade, que encontram-se em situação de insegurança alimentar, boa parte

adoecidos. Estes indicadores são determinantes para caracterizar que estes sujeitos

carecerão de uma intervenção do Estado para respeitar, promover, proteger e prover

os direitos sociais até que a pessoa tenha condição de manter a sua família.

Proporcionar condições de acesso às políticas de proteção social, assim

como saúde, educação e assistência, traduzem em um impacto social na melhoria

da qualidade de vida. Especificamente, a educação como propulsora para obter

condições de qualificar para inserir no mercado.

GRÁFICO 5 - Maior nível de escolaridade no grupo familiar Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

96

Pode-se considerar que a situação de vulnerabilidade em que se

encontram tem reflexo pela baixa escolaridade e, consequentemente, pela pouca

qualificação profissional que possibilite inserção no mercado de trabalho formal. O

sistema econômico vigente reforça a competitividade na inserção no mundo do

trabalho em função grau de instrução. É admissível considerar que a condição

socioeconômica tem relação direta com a escolaridade, que compõe fator para

vivenciar situações de insegurança alimentar.

Apoiar no trabalho articulando com as famílias seria uma estratégia de

assisti-las no sentido da construção dos direitos sociais, pois há uma relação direta

da carência em uma área que interfere diretamente na outra. Correlacionando com o

tema de estudo, a falta de escolaridade pode influenciar diretamente aos maus

hábitos alimentares e ao não acesso ao mercado de trabalho para subsidiar sua

alimentação. A Constituição Federal de 1988 contempla a universalidade do ensino

fundamental, mas não é acessível a todos, o que deve ser acompanhado

diretamente pelos programas e serviços sociais.

GRÁFICO 6 - Faixa etária dos membros do núcleo familiar Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

A representatividade etária permite ter uma percepção global do público

assistido no Cozinha Comunitária. Os indicadores apontam que todas as idades são

97

atendidas, compondo um índice maior de jovens e adultos. Este é um indicador que,

como a ênfase desta pesquisa está na analise da operacionalidade e da gestão, a

participação dos beneficiários assistidos poderia ser mais efetiva quanto à da gestão

do programa.

Existe a proposta de se fazer a gestão social por meio da

descentralização, da intersetorialidade, do controle social e da participação. Todas

as estratégias de operacionalização deste modelo, nos documentos e na fala dos

entrevistados, reafirmam a necessidade de envolver os cadastrados, fazendo com

que saiam da condição de assistidos para que sejam sujeitos no processo. Porém, a

avaliação da participação dos cadastrados por parte das entrevistadas retrata que a

adesão a estas atividades é baixa:

O lugar ocupado nos espaços que lhe competem são as reuniões e a participação não é das melhores. Quando é distante, tem que viabilizar transporte, senão, não comparece. A reunião tem que ser lá. A gente tenta envolver nas atividades gerais da coordenadoria de segurança alimentar, mas para ter participação tem que ser na comunidade (ENTREVISTADA 3,2012, grifo nosso).

Nós fazemos reuniões mensalmente nas duas Cozinhas Comunitárias. Reuniões de beneficiários, onde eles participam e a gente chama alguém para dar palestra - CRAS ou da Saúde (ENTREVISTADA 1, 2012, grifo nosso).

Nós temos reuniões mensais com as famílias e eles tem espaço para sugerir mudanças ou fazer reclamações. É um espaço que a gente abre para conversar com eles. E também tem as reuniões temáticas que eles escolhem o tema: já foi feito higiene de alimentos, manipulação, dengue; época das chuvas, a defesa civil foi falar das chuvas em áreas de risco. Eles escolhem o tema e nos providenciamos alguém para falar ou mesmo a própria equipe(ENTREVISTADA 2, 2012, grifo nosso).

Quando somos convocados para as reuniões a gente procura participar (ENTREVISTADA 4, 2012, grifo nosso).

As ações desenvolvidas, periodicamente tais como as reuniões, as

palestras e oficinas, abordando temáticas diversas, poderiam envolver a presença

dos beneficiários, na garantia da participação destes, assim como dos

representantes dos serviços públicos e dos equipamentos da rede social. Quanto ao

quesito participação, que é um dos aspectos fundamentais na diretriz para a

operacionalização da intersetorialidade, as entrevistadas relatam que os

98

beneficiários tendem a participar somente em ações na própria comunidade, não se

implicando no processo. Quanto aos demais setores, os mesmos aguardam

convocação para participar. Esta questão nos leva a perceber que o planejamento

integrado não se concretiza.

Ao ponderar-se que uma nova gestão é possível, esta requer outros

níveis de participação e implicações no processo. Na concepção dos entrevistados

(beneficiários, técnicos e gestores), participar da gestão está diretamente

relacionado a frequentar as reuniões que são realizadas. Sabe-se que este é um

meio de se estabelecer uma gestão participativa, mas para consolidar uma gestão

articulada e integrada, como propõe a gestão social, faz-se necessário integrar

novos instrumentos.

Indaga-se, porém, como se efetiva a comunicação entre estes, pois em

uma relação de trabalho e/ou atividades em rede, a comunicação e o diálogo devem

estar alinhados para alcançar êxito nos resultados almejados. Torna-se difícil avaliar

fenômenos participativos, pois, conforme se apontou nas implicações da gestão

social, primeiramente deverá haver um comprometimento de ordem pessoal neste

processo. O ser social age de acordo com as alternativas que considera coerente

com sua singularidade e seu envolvimento em ações coletivas. Para a efetivação e

execução deste modelo, depende diretamente da implicação dos sujeitos envolvidos

no processo. Deste modo, deve-se direcionar estratégias de mobilização,

participação e diálogo entre os envolvidos.

Considera-se que a práxis da gestão social se concretiza a partir de

processos tanto da ordem individual quanto da coletiva. Pessoal, por compreender a

ordem dos desejos, da singularidade de cada sujeito, da conquista em fazer parte,

de envolver-se em projetos na dinâmica societária. Coletivo, por corresponder aos

interesses de ordem social, envolver-se em tomada de decisões, vontades comuns,

institui, assim, uma estratégia de efetivar a gestão dos serviços sociais, em que as

pessoas dialogam, relacionam saberes, almejam objetivos e propõem projetos

comuns. Contudo, sabe-se que as motivações e os interesses são diferentes,

tornado difícil o envolvimento nesta ordem. A implicação individual remete aos

interesses do sujeito, e esta tomada de consciência que se aponta como uma das

possibilidades de estratégias para a resolução dos problemas sociais complexos

com o envolvimento na busca da resolução das questões sociais.

O sistema econômico vigente faz com que os cidadãos sejam assistidos

99

pelo Sistema Brasileiro de Proteção Social e estes possuem um perfil característico,

levando a acessarem uma série de serviços que lhes são de direito. Exemplificando,

tem-se a saúde e a educação, considerada por Jaccoud (2004) como um direito

incondicional de cidadania, acessível a todos os cidadãos, em caráter universal. Já a

assistência é destinada a quem dela necessitar, que são direcionadas as pessoas

em situação de vulnerabilidade. Tem-se, então, vários programas que são

desenvolvidos por estes eixos e que são acessadas concomitantemente por uma

série de pessoas.

Este é o perfil dos participantes da pesquisa, beneficiários do programa.

Eles acessam a uma série de serviços e baseado na gestão tradicional, cada qual

desenvolve suas atividades e prestam serviços sem correlacionar-se com os demais

setores e/ou áreas que prestam atendimento ao mesmo cidadão. Permanecendo

com este padrão de atuação, mantêm a reprodução de ações setorizadas e

centralizadas, reproduzindo o modelo tradicional de gestão.

GRÁFICO 7 - Acesso a programas da prefeitura Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

Na fase exploratória do projeto da pesquisa, foram levantados os

programas e serviços públicos municipais nas comunidades que eram instaladas o

programa Cozinha Comunitária. Assim, as questões fechadas direcionavam quais os

serviços que a população poderia acessar a partir da realidade local.

Reitera-se que nossa análise compreende que os diversos setores devem

100

permanecer cada qual realizando e cumprindo com as suas atribuições. A questão

posta para interpretação é que os setores atendendo às famílias em comum

abandonam a interação que compete à política social, pois existe ainda um reforço

da competitividade entre estes, a falta de interação e ações fragmentadas.

No gráfico a seguir, apresentar-se-á a descrição dos serviços ofertados

pelos beneficiários do Cozinha Comunitária, serviços estes que foram considerados

a partir da pesquisa exploratória que precedeu a pesquisa empírica.

GRÁFICO 8 - Serviços públicos que acessa Fonte: Dados da pesquisa. Articulação intersetorial: uma estratégia de gestão social para o programa Cozinha Comunitária, 2013.

Retoma-se a consideração que os beneficiários fazem parte,

simultaneamente, de uma série de programas e serviços ofertados que compõem o

Sistema Brasileiro de Proteção Social, que segundo Jaccoud (2004), compreende:

o conjunto de políticas e programas governamentais destinado à prestação de bens e serviços e à transferência de renda, com o objetivo de cobertura de riscos sociais, garantia de direitos sociais, equalização de oportunidades e enfrentamento das condições de destituição e pobreza(JACCOUD, 2004, p. 193).

Ainda, conforme a autora, este conjunto se faz abrangente de programas

especificamente sociais nas áreas da previdência e assistência, trabalho,

alimentação, saúde e educação, além de habitação e saneamento.

Observa-se que os programas tendem a atender o mesmo público e que

estes correm um sério risco da fragmentação da intervenção ou da sobreposição de

101

ações. Isto porque, sem uma articulação entre estas, o desenho das intervenções

podem ser semelhantes. A estratégia que se anuncia como uma saída para este

problema é a ação pautada na intersetorialidade, a partir da construção de

estratégias que irão envolver os serviços que atendem e/ou acompanham o mesmo

cidadão.

A cada setor compete uma responsabilidade na diretriz deste conjunto,

entretanto, o modelo tradicional, conduz a um processo de gestão setorizado e

fragmentado, em que cada setor atém suas atividades e as atribuições que acredita

que lhe é de competência. Observa-se a falta de integralidade das ações, a

ausência da participação popular no monitoramento e avaliação da política pública,

bem como na forma de gestão verticalizada, desarticulada e centralizada nos

gestores, e não na população.

Analisando a administração pública, esta requer novos arranjos, no que

tange a gestão, que seja coerente com as demandas da sociedade contemporânea,

que tem incorporado novos contornos e acentuado os problemas sociais, tais como:

a expansão da pobreza, a permanência do fenômeno da fome, o subemprego, a

exploração, a desigualdade, dentre outros.

Incorpora-se nesta discussão o conceito de gestão social alinhada à

gestão das ações públicas. Conforme apresenta Carvalho (1999), Tenório (2008),

Silva (2010), Barros e Castro (2011), a gestão social se opõe à gestão tradicional

pelo processo dialógico, pela participação social e inclui processos sociais com

potencial para o desenvolvimento societário emancipatório e transformador.

Para Bronzo (2007), os recursos devem ser estruturados em torno de dois

eixos: conhecimento, no que se refere à capacidade de análise e formulação de

estratégias; e a capacidade relacional, que requer a integração das políticas e

programas setoriais, os setores do governo, da sociedade civil e do mercado,

destacando-se como um novo arranjo institucional e organizacional necessário,

principalmente em programas de âmbito municipal. Na FIG 4 considerou-se os

elementos que devem ser implicados na gestão social, entendida, neste estudo,

como:

processos sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento

societário emancipatório e transformador;

fundamento nos valores, práticas e formação da democracia, e da

cidadania, da garantia dos direitos humanos universais;

102

afirmação dos interesses e espaços públicos como padrões de uma nova

civilidade;

voltado para as demandas e necessidades dos cidadãos;

flexível e adaptativo.

A execução e a efetivação deste modelo dependem diretamente da

implicação dos sujeitos envolvidos no processo (gestores, técnicos, sociedade civil)

que estão associados às demandas em determinado contexto. Quando indagou-se

aos técnicos e gestores quanto à contribuição de outros setores para a realização do

trabalho integrado na gestão do programa, obtive-se as seguintes considerações:

Para as reuniões, é a equipe do Cozinha Comunitária que procura para articular ações em conjunto. Normalmente, nós que procuramos. O que acontece, somos procurados para fazer divulgação das oficinas do CRAS. Colocam cartaz na Cozinha ou nas reuniões e eles falam o que vai acontecer. Neste caso, o Cozinha Comunitária entra como espaço de divulgação (ENTREVISTADA 1, 2012, grifo nosso).

Na maioria das vezes nós é que procuramos os setores para conduzir as reuniões, depende do tema (ENTREVISTADA 2, 2012).

Na execução das atividades, eles contribuem nas palestras, nas atividades que convidamos a participarem. O movimento é da Cozinha Comunitária em convocar, convidar. Ainda não existe um trabalho integrado (ENTREVISTADA 3, 2012).

Os técnicos e os gestores de uma maneira geral apontam para um

trabalho articulado a partir do momento que desenvolvem reuniões e divulgam ações

afins: “contribuímos quando somos acionados para realizar palestras e atividades

com os cadastrados no programa” (ENTREVISTADO 4, 2012).

A proposta de compreender, sistematizar e analisar a efetividade da

intersetorialidade, apresentada no segundo capítulo, pode-se considerar que as

percepções que compõem a análise dos técnicos e gestores estão vinculadaun s à

primeira dimensão da operacionalização das ações intersetoriais. Recapitulando as

dimensões propostas para a efetiva ação intersetorial:

a primeira dimensão requer o conhecimento da rede no espaço territorial

e o diagnóstico dos possíveis envolvidos em um processo compartilhado;

a segunda dimensão envolve a articulação com a rede, estabelecer

contato, diálogo, estreitar a comunicação e a parceiras com os envolvidos;

103

a terceira dimensão prevê decisões coletivas, estratégias de intervenção

pactuadas, planejamento e previsão de resultados em comum.

Correlacionando as impressões obtidas nas entrevistas e considerando a

articulação intersetorial no programa Cozinha Comunitária, percebe-se que as duas

primeiras dimensões se efetivam no direcionamento das atividades, conforme

declararam os entrevistados. Nota-se que conhecem a rede, o plano integrado de

segurança alimentar e deliberam quais são as secretarias que compõem o comitê

intersetorial. Os gestores e técnicos têm ciência dos envolvidos que podem ser

acionados para a resolução de problemas complexos, apresentam indicadores de

articulação da rede, mantêm o contato com os atores envolvidos, fornecem suporte

técnico, como citado pela entrevistada 1:

para as reuniões, a equipe do Cozinha Comunitária é que procura para articular ações em conjunto. Procuramos os setores para conduzir as reuniões. O movimento é do Cozinha Comunitária em convocar, convidar, ainda não existe um trabalho integrado (ENTREVISTADA 1, 2012).

Contudo, a intersetorialidade se efetiva de maneira efetiva quando se

constata a aplicabilidade das três dimensões, ou seja, conhecer a rede e efetivar o

diagnóstico dos serviços ofertados, articular a rede e direcionar planejamento e

ações integradas, visando resultados comuns. Percebe-se que aspectos que

compõem a terceira dimensão não são realizados: as decisões coletivas, as

estratégias de intervenção e planejamento em comum e a implicação dos envolvidos

no processo. Neste aspecto, afirmam os gestores:

Não existe um projeto comum nem planejamento integrado nas atividades com as famílias. Estamos caminhando para isso, mas não tem nada de concreto. Tem famílias que o CRAS atende e liga para a assistente. social e fala que esta família precisa de mais cuidado. Quanto à saúde, já fomos ao posto de saúde e pedimos para encaminhar se souber de alguém em insegurança alimentar (ENTREVISTADA 1, 2012).

Não tem um projeto em comum. Estamos tentando uma parceria com a saúde, para identificar novas famílias com as agentes comunitárias de saúde pelo contato direto que elas têm com famílias que a gente não consegue alcançar. O único objetivo é esse, não tem discussão de casos, das famílias acompanhadas em comum. Não tem projeto integrado. Com o CRAS, tem uma certa parceira, pois muitas são famílias em comum, uma estratégia de referência e contra referência e mais nada (ENTREVISTADA 2, 2012).

104

Frente ao exposto, é notória a concretização de um movimento preliminar

de atendimento que contempla a articulação da rede e a referencia em alguns

casos, como exemplificada a relação com o CRAS e a saúde. Porém, somente estes

aspectos não são indicadores da efetividade de um trabalho intersetorial.

Avalia-se que a operacionalidade da gestão social via intersetorialidade

requer um envolvimento e um compromisso pessoal em acreditar e valorizar que

resultados integrados são mais propositivos e que requer ações e planejamentos

pactuados. A partir deste entendimento as implicações com a gestão terão

repercussão com o coletivo, fazendo vigorar as conjuntas e integradas, que fazem

parte do processo intersetorial.

Em Contagem, uma alternativa existente é a proposta do Plano Integrado

de Segurança Alimentar Nutricional e Sustentável, que tem como objetivo

“consolidar a segurança alimentar e nutricional sustentável no município por meio de

políticas públicas articuladas e integradas que promovam o direito humano à

alimentação adequada” (CONTAGEM, 2012). Este Plano é resultado de um trabalho

do grupo de trabalho de segurança alimentar e nutricional, com envolvimento de

representantes de diversas áreas. Este documento é uma sistematização deste

grupo de trabalho por meio da análise da política de SANS. Ressalta-se o objetivo

de “fortalecer os instrumentos e os meios de gestão intersetorial e o monitoramento

do Sistema Municipal de Segurança Alimentar e nutricional sustentável”

(CONTAGEM, 2012). Dentre os resultados esperados com a efetivação deste plano,

as políticas e ações de SANS serão desenvolvidas pelas secretarias municipais de

maneira integrada.

Nós lançamos no dia 31/05/2012 o plano integrado de segurança alimentar e nutricional sustentável de Contagem, que foi construído com a participação de diversas secretarias, desenvolvimento social, saúde, educação e cultura, meio ambiente e outras. A Cozinha Comunitária é um dos equipamentos que lida com os mesmos públicos. A gente tem trabalhado sistematicamente na integração destas políticas, como efetivar, como operacionalizar, para conseguirmos estabelecer algumas parceiras. Acho que com o plano vai ficar fácil a articulação e a responsabilização de cada setor que pode ser envolvido neste trabalho, pois o combate à fome não é problema só da segurança alimentar no município (ENTREVISTADA 3, 2012).

A intersetorialidade apresenta-se como uma perspectiva inovadora na

política pública na condução e operacionalização dos serviços ofertados, na

105

reorganização da gestão, viabilizando que ocorra uma nova relação entre o

munícipe e os gestores, considerando-se as peculiaridades locais. O intuito é manter

a especificidade de cada setor, mas direcionar as intervenções associando a

estratégias de gestão social, efetivando articulações intersetoriais a fim de torná-los

interativos e articulados busca de resolução para problemas complexos na ordem

social.

As estruturas setorializadas tendem a tratar o cidadão e os problemas de forma fragmentada, com serviços executados solitariamente, embora as ações se dirijam à mesma criança, à mesma família, ao mesmo trabalhador e ocorra no mesmo espaço territorial e meio-ambiente. Conduzem a uma atuação desarticuladada e obstaculizam mesmo os projetos de gestões democráticas e inovadoras (JUNQUEIRA, 1999, p. 58).

Tratar o cidadão de forma fragmentada nos permite compreender que, no

padrão de administração tradicional, os serviços são executados de maneira isolada,

cada qual desempenhando a sua função e que estas, sendo direcionadas ao mesmo

sujeito, podem resultar em intervenções frágeis, sobrepondo-se as ações, e ainda

gerando dificuldade para aferir resultados e impactos com os beneficiários dos

serviços e programas.

Os serviços não devem somente relacionar entre si, mas integrar,

articular, planejar ações para alcançar objetivos comuns. Por meio desta estratégia,

consolidaria a efetividade dos trabalhos, ampliaria o conhecimento do poder público

dos problemas sociais, promoveria o acesso aos direitos e fortaleceria a sociedade

civil como sujeito do processo. E como seriam as ações frente às demandas da

população? Considera-se que, neste formato de gestão as prioridades não teriam o

enfoque totalmente setorial, mas seriam definidas a partir dos problemas em comum,

cujo direcionamento das intervenções deveria envolver ações integradas dos setores

envolvidos.

Especificamente no contexto da insegurança alimentar, correlacionando

com os dados coletados na pesquisa, a maioria das famílias assistidas tem na

alimentação fornecida pelo programa a sua principal refeição diária, é

majoritariamente adulta com baixo nível de escolarização e qualificação profissional,

renda familiar predominante abaixo ou até um salário mínimo. Este perfil resulta para

estes estar em condições de vulnerabilidade social. Resultado desta combinação,

acessar vários programas e serviços ofertados como estratégia de sobrevivência e

106

para garantia da cidadania. Ou seja, os beneficiários fazem parte simultaneamente

de uma série de programas e serviços ofertados que não interagem, não relacionam

entre si. Os setores assumem o que acreditam ser de sua responsabilidade

conduzindo a reprodução de um o modelo tradicional de gestão.

Seria ideal uma gestão intersetorial, por que as mesmas famílias atendidas por nos, são as mesmas atendidas pela saúde, educação e assistência. Teria que ter mais compromisso dos setores envolvidos para dar certo (ENTREVISTADA 02, 2012).

Para estes beneficiários não se trata apenas de fornecer a alimentação

diária, estes necessitariam ser direcionados a um trabalho intersetorial que

contemplasse um planejamento integrado, articulando os serviços na elaboração de

um diagnostico e na projeção de ações em comum. Contudo a busca da efetivação

da intersetorialidade não é algo que irá ocorrer de maneira natural, nem tão pouco

espontaneamente, para que se efetive, faz-se necessário:

compromisso pessoal enquanto ser social;

compromisso com projetos sociais;

compromisso de gestão;

formação continuada para aqueles envolvidos no serviço, visando

implicação pessoal no processo;

integração das ações desenvolvidas pelos diversos serviços, por meio

da efetivação de um plano de ação;

diálogo, comunicação e envolvimento;

participação das famílias - beneficiários;

compreensão das políticas como direito social;

assimilação das implicações da gestão social;

se efetivar as três dimensões do trabalho intersetorial.

Efetivando estas premissas no eixo da segurança alimentar, poderia

constituir e incorporar ao planejamento da Cozinha comunitária um trabalho

integrado com os demais serviços. Seria uma ação promissora para tornar este

programa uma “boa prática” se tornando referência para a condução ações para o

trato de outros problemas no investimento na promoção e na melhoria da qualidade

de vidas das famílias em condições de vulnerabilidade social visando seu

empoderamento e emancipação.

107

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A política de segurança alimentar que foi paulatinamente demarcada na

sociedade, apresenta-se ao século XXI com ações, programas e projetos a partir da

estratégia de combate a insegurança alimentar e a fome. Isto implica uma nova

maneira de proceder à administração pública dando enfoque nos direitos sociais de

uma ampla parcela brasileira que vive em situação de vulnerabilidade social.

A insegurança alimentar está diretamente relacionada ao sistema social,

que se apresenta excludente e desigual. A relação entre pobreza, o estado de

insegurança alimentar e a fome faz parte do cotidiano de uma parcela significativa

da população brasileira. O quadro de insegurança alimentar decorre de falta de

qualidade e de quantidade dos alimentos na alimentação diária, deste modo fazem-

se necessários programas assim como o Cozinha Comunitária, que tem como

propósito o fornecimento de alimentação preparada para pessoas em situação de

vulnerabilidade social.

Corrobora-se com a afirmativa que é papel do Estado respeitar, promover,

proteger e prover os direitos sociais dos brasileiros. A partir desta análise ressalta-se

que os direitos, devem ser “garantidos” e não “concedidos” pelo Estado. Dentre

estes, encontra-se o DHAA que é um direito básico do ser humano, pois, não

havendo acesso a uma alimentação adequada, tanto do ponto de vista da

quantidade quanto da qualidade, tampouco existe o direito à vida, ficando a

cidadania sem as suas garantias básicas.

Para que se efetivem estes parâmetros faz-se necessário haver uma

reconfiguração entre Estado e sociedade, incorporando métodos de gestão que

deem conta de atender as demandas por uma sociedade mais justa e menos

excludente. A administração pública requer novos arranjos que sejam mais

coerentes com a demanda, devido às expressões da questão social que tem

incorporado novos contornos e acentuando os problemas sociais, incorpora-se nesta

discussão o conceito de gestão social alinhada à gestão das ações públicas.

A estratégia de gestão social inclui processos com potencial para o

desenvolvimento societário emancipatório e transformador, pelas implicações de

ordem individual e coletiva que este modelo requer. Conforme aponta Carvalho

(1999), Tenório (2008), Silva (2010), Barros e Castro (2011), Bronzo (2007) a gestão

social, se opõe à gestão tradicional, pelo processo dialógico pela participação social

108

que contempla esta maneira de administrar, o modelo de gestão tradicional –

gerencial observa-se à falta de integralidade das ações, à ausência da participação

popular no monitoramento e avaliação da política pública bem como na forma de

gestão verticalizada, setorializada, desarticulada e centralizada nos gestores (e não

na população).

Para sua operacionalidade analisa-se pelo viés da intersetorialidade na

busca dos diferentes setores a construção pactuada um projeto integrado destinado

a alcançar objetivos mais amplos, resultados integrados. Envolve ações integradas

de distintos setores, no atendimento da população, cujas necessidades são

pensadas a partir de sua realidade concreta.

Por entender que a mudança na estratégia de gestão é necessária para

alcançar o enfrentamento do problema da fome, o objetivo deste trabalho foi analisar

a gestão do Programa Cozinha Comunitária de Contagem (MG), buscando

identificar na implementação da gestão social com ênfase na articulação intersetorial

e de trabalho em rede, estratégias capazes de responder as demandas sociais

numa perspectiva de garantia o direito humano a alimentação adequada e

efetivação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional.

Percebe-se que, existe um direcionamento instituído por meio da

publicação do Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de

Contagem que preconiza as ações, as atividades e os responsáveis para a

execução da intersetorialidade nessa área. Este plano representa uma significativa

mudança nos padrões da gestão tradicional para a gestão social por envolver as

secretarias que compõem o comitê intersetorial no desenvolvimento da matriz

operacional deste plano.

Contudo, observa-se nos relatos dos gestores a dificuldade em

operacionalizar os mecanismos da intersetorialidade, ações ainda com viés

setorializado. A operacionalidade deste modelo de gestão via intersetorialidade

requer um envolvimento e compromisso em ações propositivas e conjuntas, em

busca de resultados integrados de atingir compromissos em conjunto.

As considerações quanto aos itens propostos para análise temário

destacam a compreensão que o Programa cozinha Comunitária atende as

normativas da política nacional de segurança alimentar, assim como o planejamento

municipal, sendo um programa de notória relevância, a partir da constatação que

grande parte dos entrevistados este programa é responsável pela principal refeição

109

fornecida no dia, dado apontado na figura 08 no capítulo da análise dos dados.

Percebe-se que há um fundamento social e político no programa pela

melhoria dos hábitos alimentares, por proporcionar qualidade de vida, garantir

acesso alimentos por aqueles que não têm condições de obter por conta própria, por

garantir o DHAA. Nota-se um compromisso na garantia de prover alimentos para

aqueles em situação de vulnerabilidade social.

O programa pode ser caracterizado por efetivar ações de caráter

emergencial, atendendo famílias em momento peculiar de sua vida, assim como

estrutural, aludindo à possibilidade de manter os padrões de qualidade de vida, via

oferta de alimentos, para que o sujeito consiga obter meios para atingir autonomia e

empoderamento. Como destacou-se que, embora as pessoas empoderem a si

mesmas, governos e outros atores desempenham um papel relevante nesse

processo. Os resultados podem ser de diferentes tipos e magnitudes, mas todos

espelham uma mesma ordem de questões relativas ao aumento do protagonismo,

da autonomia, do senso de dignidade e das capacidades.

Por meio das declarações dos beneficiários há efetividade nas ações,

confirmado também na entrevista com demais gestores que apontam que este

programa deveria ser implantado em outras regiões do município.

Considera-se este programa como um dos agentes para este processo de

mudança, contudo não aponta-se como atribuição e competência de apenas um

agente neste contexto, pois assim reforçaria os moldes de gestão tradicional, na

qual cada setor deveria assumir a responsabilidade de suas competências.

Quanto ao lugar ocupado pelo beneficiário no programa, este possui um

canal de participação, que são as reuniões. Mas nada correlacionado ao

direcionamento das atividades e/ou ações integradas com outros serviços ou

entidades de controle social das políticas públicas. Considera-se relevante salientar

que todos os entrevistados apontam para certo nível de articulação, de

conhecimento da rede. Na dinâmica das relações, argumentam que efetivam

encaminhamentos, participações esporádicas em reuniões, cooperação das

atividades desenvolvidas, porém, a partir da fundamentação quanto à

intersetorialidade, este tipo de direcionamento para prática de interação não

caracteriza a operacionalização da intersetorialidade. Os entraves apresentam-se

devido a não compreensão das dimensões que apontam para a estratégia

intersetorial, gerando assim dificuldades para exercê-la.

110

Quanto às possibilidades de gestão social no programa, atividades

intersetoriais e de trabalho em rede, percebe-se que existe uma predisposição para

que ocorram, realizando parcerias possíveis e necessárias, que podem e devem ser

construídas para ampliar a gestão social do programa, bem como no cumprimento

das ações propostas na matriz operacional do Plano Integrado de Segurança

Alimentar e Nutricional Sustentável.

Nas ações pautadas como intersetoriais pelos entrevistados, percebe-se

que se efetiva apenas as duas primeiras dimensões que fora apresentada na (FIG 5)

dado o teor dos argumentos quanto a ação direcionada. Ou seja, conhecem a rede,

relatam ter conhecimento dos possíveis envolvidos no processo, assumem ter

contatos e parcerias no desenvolvimento das atividades. Porém, convencionou-se a

partir da revisão bibliográfica, considerar que, para se efetivar a intersetorialidade

deve ter a efetividade das três dimensões, sendo a terceira, pautada por decisões

coletivas, estratégias de intervenção comuns, assim como o planejamento e

devidas implicações dos envolvidos no processo, no intuito de alcançar resultados

integrados e sinérgicos.

O plano integrado de segurança alimentar delibera quais são as

secretarias que compõe o comitê intersetorial. Os gestores e técnicos têm ciência

dos envolvidos que podem ser acionados para a resolução de problemas

complexos, apresentam indicadores de articulação da rede, mantêm o contato com

os atores envolvidos, fornecem suporte técnico. Porém, para se efetivar a

intersetorialidade, ações pactuadas, planejamentos em comum, devem ser

executados, visando resultados integrados.

Direcionando o programa para este meio de acompanhamento das

famílias, poderia contribuir ainda mais para o empoderamento destas, pois são

famílias que têm, na alimentação fornecida pelo programa, a principal refeição diária.

São majoritariamente adultos com baixo nível de escolaridade, renda familiar

predominantemente abaixo ou até um salário mínimo. Resultado deste estudo

aponta que o acesso a vários programas e serviços ofertados se apresentam como

estratégia de sobrevivência e para garantia da cidadania.

Os beneficiários acessam simultaneamente uma série de programas e

serviços ofertados que não interagem, não relacionam entre si no sentido de

planejar, direcionar ações integradas. Se correlacionam a partir da intervenção que

evidenciou-se pontual ou em demandas mais emergentes. Os setores assumem o

111

que acreditam ser de sua responsabilidade conduzindo a reprodução de um o

modelo tradicional de gestão.

Deste modo, faz-se pertinente retomar a análise de nossa hipótese inicial,

que tecia a seguinte argumentação: a estratégia de gestão social do programa

Cozinha Comunitária, organizada segundo o paradigma da intersetorialidade e do

trabalho em rede (ou seja, a partir de ações integradas entre os setores do governo,

a sociedade civil e o mercado), favorece o empoderamento das famílias e o

desenvolvimento local.

Na pesquisa, encontrou-se um nível de eficácia do Programa Cozinha

Comunitária no que se refere à oferta de alimentos e ao conhecimento da rede.

Entretanto, a intersetorialidade não está desenvolvida nas dimensões das ações

integradas e continuadas. Pode-se verificar que os próprios gestores apontavam

para essa dificuldade e reconheciam a necessidade de incremento da

intersetorialidade para uma maior adesão do programa às diretrizes do PNSAN.

Percebe-se, então, que a fragilidade ou até mesmo a ausência da intersetorialidade

é um fator de entrave para o desenvolvimento do Programa enquanto proposta

emancipadora e da efetivação do DHAA, tomando como fundamento não apenas

como o acesso ao alimento, mas como o acesso às informações e à participação.

Nesse paradigma, a intersetorialidade é um componente essencial para

que a gestão social alcance resultados efetivos a partir das demandas e situações

complexas, envolvidas na política pública. O desenvolvimento da intersetorialidade

poderia oferecer a possibilidade do programa Cozinha Comunitária de Contagem

tornar-se uma “boa prática”, isto é, uma prática que ofereça referências para outras

ações e programas de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional em meio

urbano. Reiterando-se que esta política não está limitada à oferta de alimentos.

Considerando a avaliação dos entrevistados resultados do Cozinha

Comunitária aponta seu potencial em contribuir com a transformação da realidade

onde os equipamentos são instalados quanto à situação da insegurança alimentar.

Contudo, para que o programa se torne uma “boa pratica”, é necessário

envolver na gestão ações que integrem a perspectiva intersetorial. Pois a

responsabilidade no combate à fome não é somente da PNSAN. Novos mecanismos

de parcerias com diversos equipamentos no município deveriam ser desenvolvidos,

evitando sobreposições das ações, ou seja, buscando efetivar o que é preconizado

no Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável, destaca-se

112

para de fato ocorra, investimentos nas ações da matriz operacional do plano

integrado serão estratégicos para que os serviços aprimorarem o planejamento,

monitoramento e avaliação, irá contribuir significativamente para romper com a

execução de ações setorializadas.

A Cozinha comunitária apresenta-se como um programa que poderia se

tornar o eixo para a condução, pois já tem um território demarcado e um público

beneficiário e, sobretudo, por ser um programa que as pessoas frequentam

constantemente e por apontar melhoria na qualidade de vidas dos cadastrados.

A operacionalidade da gestão social via intersetorialidade requer um

envolvimento e um compromisso pessoal em acreditar e valorizar que resultados

integrados são mais propositivos e que requer ações e planejamentos pactuados. A

partir deste entendimento as implicações com a gestão terão repercussão com o

coletivo, fazendo vigorar ações conjuntas e integradas, que fazem parte do processo

intersetorial. Assim, as propostas que compõem a matriz operacional enfocam a

formação continuada sobre a temática de SANS, a realização de oficinas, palestras

e/ou cursos para famílias e usuários do programa Cozinha Comunitária e demais

programas, a realização de capacitações conjuntas de conselheiros, dentre outras

atividades para operacionalizar esta estratégia de gestão.

Investir nesta área é uma das alternativas para a mudança, pois a busca

da efetivação da intersetorialidade não é algo que irá ocorrer de maneira natural,

nem tão pouco espontaneamente, para que se efetive, faz-se necessário:

compromisso de gestão; formação continuada para aqueles envolvidos no serviço,

visando uma implicação pessoal no processo; integração das ações desenvolvidas

pelos diversos serviços, por meio da efetivação de um plano de ação; diálogo,

comunicação e envolvimento; participação das famílias - beneficiários; compreensão

das políticas como direito social, assimilação das implicações da Gestão Social.

O mestrado profissional fundamenta-se pela busca em correlacionar

formação teórica e prática, visando aprimorar os conhecimentos e apontar soluções

para a promoção do desenvolvimento local, integrado e sustentável.

Assim, como produção técnica deste trabalho, apresenta-se uma proposta

de Cooperação Técnica entre a Prefeitura de Contagem, mais especificamente a

Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de Contagem

(CSANA) e o Núcleo de Estágio em Serviço Social do Centro Universitário UNA.

Esta Cooperação Técnica prevê a realização e acompanhamento das ações

113

preconizadas nos objetivos da Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança

Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem referente à operacionalização da

intersetorialidade e ao cumprimento de seus prazos e metas. Além disso, pode

contribuir para o fortalecimento da adesão do município ao SISAN.

Por fim, considera-se que esta estratégia anuncia-se como uma

possibilidade de se proporcionar meios para o empoderamento e a promoção dos

cidadãos, a partir de um trabalho integrado e articulado com outros serviços, para

que se garanta direitos, principalmente a qualificação profissional, a geração de

renda, a escolarização. Reverter o quadro da fome requer a efetivação de práticas

conjuntas entre os atores envolvidos (governo, sociedade civil) para concretizar essa

estratégia que se anuncia como uma possibilidade de ampliar os resultados

positivos dos trabalhos com as famílias.

Considera-se que o combate à fome não se efetiva por meio de

programas isolados e setoriais, é necessário integrar na gestão social ações

capazes de gerar mudanças estruturais, deste modo é fundamental a

implementação da estratégia que compõe a intersetorialidade sendo esta uma

possibilidade de erradicação da fome, com base na defesa da cidadania e da

promoção do desenvolvimento. Os obstáculos são diversos, tanto na transferência

de poder no que tange: o planejar, o gerir, o executar, o monitorar e o avaliar quanto

na reestruturação da gestão.

114

REFERÊNCIAS

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E/CN.4/2002/58/Add.1).

ANEXOS

PARECER CONSUBISTANCIAL DO CEP TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA

PESQUISA NA COZINHA COMUNITÁRIA DE CONTAGEM

TCLE

PRODUTO TÉCNICO

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO

MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

NARJARA INCALADO GARAJAU

ARTICULAÇÃO INTERSETORIAL: UMA ESTRATÉGIA DE GESTÃO SOCIAL

PARA O PROGRAMA COZINHA COMUNITÁRIA

Produto técnico apresentado ao Mestrado

em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento Local do Centro

Universitário UNA, como requisito parcial

à obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Inovações Sociais,

Educação e Desenvolvimento Local.

Linha de pesquisa: Processos político-

sociais: articulações interinstitucionais e

desenvolvimento local.

Orientadora: Drª. Maria Lúcia Miranda

Afonso.

Belo Horizonte

2013

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CSANA - Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de

Contagem

CRAS – Centro de Referência da Assistência social

CTSANS – Comitê Temático de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

CONSEA - Conselho Nacional de Segurança Alimentar

DHAA – Direito Humano à alimentação adequada

FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

FBSAN - Fórum Brasileiro de Segurança Alimentar e Nutricional

GTSANS) grupo de trabalho e de segurança alimentar e nutricional sustentável

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INAM Instituto Nacional de Alimentação do Trabalhador ONU - Organização das

Nações Unidas

OMS – Organização Mundial de Saúde

PNAS - Política Nacional de Segurança Alimentar

SAPS - Serviço de Alimentação da Previdência Social

SAN - Segurança Alimentar e Nutricional

SANS -

SMDS – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social

SIMSANS – Sistema Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social

MESA – Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate a fome

NESS – Núcleo de Estágio de Serviço Social

UAN – Unidade de alimentação e nutrição

(INAN) instituto Nacional de Alimentação do Trabalhador

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Apresentação A partir das pesquisas bibliográfica e empírica, o trabalho de conclusão do Mestrado

culminou na elaboração da dissertação que proporcionou subsídios para o produto

técnico relacionado à qualificação profissional, no intuito de atender as demandas

sociais a partir de um criterioso trabalho de pesquisa.

O mestrado profissional busca interagir formação teórica e prática, visando aprimorar

os conhecimentos e apontar soluções para questões que promovam o

desenvolvimento local, integrado e sustentável. Pretende-se, como produção

técnica, apresentar um projeto de intervenção nos moldes de uma Cooperação

Técnica das ações incorporadas nos objetivos da matriz operacional do Plano

Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem,

consolidando um Termo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura de Contagem

especificamente a Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e

Abastecimento de Contagem (CSANA) e o Núcleo de Estágio em Serviço Social do

Centro Universitário UMA ( NESS).

A proposta ora apresentada pautou-se na análise da operacionalidade do Plano

Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem instituído

em 31 de março de 2012 (ANEXO I)

O NESS é o espaço institucional na UNA responsável pelo estágio, pesquisa e

extensão em Serviço Social, tendo por objetivo elaborar, aprimorar, e desenvolver

projetos, assim como fortalecer parcerias internas e externas à IES. A coordenadoria

de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento de Contagem é a responsável

pela direção e gestão do Plano Integrado, sendo a referência como órgão gestor

instituído pelo Município.

Esta cooperação técnica tem relevância para os envolvidos ao considerar-se que,

para a Prefeitura de Contagem, especificamente a CSANA, poderia ser mais um

agente a contribuir para a efetivação do Plano Integrado. Aponta, como desafio, a

superação de ações isoladas, paralelas, fragmentadas e residuais, o fortalecimento

da intersetorialidade, a consolidação da cultura de planejamento, monitoramento e

avaliação no âmbito da PNSAN bem como a participação qualificada da sociedade

civil.

Para a universidade, que têm como parâmetro a indissociabilidade entre o ensino, a

pesquisa e a extensão, esta cooperação técnica poderá ser direcionada como uma

atividade de extensão do Curso de Serviço Social. O Plano Nacional de Extensão

define as diretrizes para a extensão universitária, expressadas em quatro eixos,

sendo: impacto e transformação; interação dialógica; interdisciplinaridade;

indissociabilidade ensino – pesquisa – extensão. As atividades aqui propostas

estarão diretamente relacionadas a esses três eixos, inserindo-se como extensão

universitária.

Sendo projetada como uma atividade de extensão, poder-se-á contar com a

participação de acadêmicos extensionistas. Para o acadêmico é imprescindível sua

efetiva interação com as demandas sociais em seu processo de formação. Inserido

em atividades de extensão na universidade o acadêmico consolidará a busca de

resoluções exigidas e as inovações para atendimento as demandas sociais

O estabelecimento de cooperação entre as referidas partes tem em vista

acompanhar a coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento

na execução das ações previstas na Matriz Operacional do Plano Integrado de

Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem quanto à

operacionalização da intersetorialidade. Serão delimitadas na metodologia de

trabalho as técnicas propostas.

Este plano segue abordando os percursos metodológicos tendo como enfoque a

avaliação proposta a partir do resultado da pesquisa do Mestrado em Gestão Social,

Educação e Desenvolvimento Local , com objetivo de analisar a gestão social, a

intersetorialidade e a Política de Segurança Alimentar e Nutricional em Contagem.

Sabe-se que, a intersetorialidade se anuncia como uma forma de operacionalizar a

gestão social, que pode tornar eficazes (quanto aos resultados pretendidos) e

efetivas (que o funcionamento produza efeito real) as ações direcionadas à

segurança alimentar. A PNSAN visa assegurar, à população em situação de

vulnerabilidade e risco social, o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA),

que consiste na garantia de acesso regular e permanente a alimentos de qualidade,

em quantidades suficientes. Integrado a esta política o Fome Zero compreende um

conjunto de programas. Dentre eles está o programa Cozinha Comunitária, um

equipamento público de alimentação e nutrição implantado em várias cidades do

Brasil, com vistas ao fornecimento de alimentação preparada, nutricionalmente

balanceada e de baixo custo para cidadãos em situação de insegurança alimentar.

Este programa este envolvido na efetivação do Plano Integrado de segurança

alimentar nutricional sustentável de Contagem.

Buscou-se identificar as estratégias capazes de responder às demandas sociais

numa perspectiva de garantia do direito humano à alimentação adequada e

efetivação da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Assim, a

pesquisa empírica tinha o viés de caracterizar as estratégias de gestão (tradicional e

social) correlacionando com o programa Cozinha Comunitária. Analisar, se e como,

a atual estratégia de gestão do programa no município de Contagem contribui para a

efetivação dos objetivos relacionados ao DHAA e da PNSAN e identificar

possibilidades de implantação da gestão social por meio de estratégias de

articulação intersetorial e de trabalho em rede.

A pesquisa incluiu métodos qualitativos e quantitativos que permitiu obter uma

compreensão mais acurada dos objetos de investigação. Quanto aos dados

qualitativos, os resultados foram obtidos a partir das entrevistas realizadas, com

gestores e técnicos, buscou-se compreender e analisar a percepção destes quanto

ao processo de gestão. Outra técnica realizada neste estudo foi o método “Bola de

Neve”, em que o pesquisador delimita um grupo de envolvidos na pesquisa e estes

indicarão o próximo grupo de indivíduos a fazerem parte dela. A opção por esta

metodologia dá-se pela compreensão de que gestores e técnicos envolvidos

diretamente no programa Cozinha Comunitária deveriam delimitar quem são os

atores que poderiam contribuir no processo de gestão intersetorial, considerando

que a intersetorialidade é o ponto central desta investigação.

A abordagem quantitativa efetivou-se a partir da aplicação dos formulários aos

beneficiários do programa. Ouvir os beneficiários, intercalar questões fechadas e

abertas permitiu que pudésse ampliar impressões coletadas nas entrevistas,

delimitar as características e perfil destes, além de proporcionar um nível de

comunicação que estes se expressassem.

A intersetorialidade envolve ações integradas de distintos setores, no atendimento

da população, cujas necessidades são pensadas a partir de sua realidade concreta.

Percebe-se que a publicação do Plano integrado de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável de Contagem que preconiza as ações, as atividades e os

responsáveis para a execução. Documento este construído por meio do Grupo de

Trabalho que envolveu diversos atores (gestores, representantes das secretarias e

sociedade civil). Este Plano representa uma significativa mudança nos padrões da

gestão tradicional para a gestão social.

Observa-se como resultado da pesquisa que os gestores encontram dificuldade em

operacionalizar os mecanismos da intersetorialidade as ações direcionadas ao

Cozinha Comunitária tem o viés setorializado. A operacionalidade deste modelo de

gestão via intersetorialidade requer um envolvimento e compromisso em ações

propositivas e conjuntas, em busca de resultados integrados.

Constatou-se que, os entraves apresentam-se devido a não compreensão das

dimensões que apontam para a estratégia intersetorial, gerando assim dificuldades

para exercê-la. Efetivar ações como capacitações, realização de cursos e oficinas,

ampliar a articulação das políticas são estratégias integradas na matriz operacional

do plano integrado.

Justificativa

Esta proposta foi elaborada em conformidade com a Dissertação “Articulação

Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar” e

prevê a realização de uma Cooperação Técnica quanto as ações preconizadas nos

objetivos da Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável de Contagem referente a operacionalização da

intersetorialidade, visando acompanhar o cumprimento de prazos e metas

estabelecidos na Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável de Contagem, assim como para contribuir para o

fortalecimento da adesão do município ao SISAN.

Pondera-se que uma nova gestão é possível, assim como se fundamenta o plano

integrado, esta requer outros níveis de participação e implicações no processo.

Considera-se que, para efetivar a a gestão social, primeiramente deverá haver um

comprometimento de ordem pessoal neste processo. O Ser Social age de acordo

com as alternativas que considera coerente com sua singularidade e seu

envolvimento em ações coletivas. Para a efetivação e execução deste modelo

depende diretamente implicação dos sujeitos envolvidos no processo. Deste modo,

deve-se direcionar estratégias de mobilização, participação e diálogo entre os

envolvidos. A práxis da gestão social se concretiza a partir de processos tanto da

ordem individual como coletiva. Esta tomada de consciência que é apontada como

uma das estratégias para aplicar o direcionamento do Plano Integrado.

Constatou-se na pesquisa que, os programas tendem a atender o mesmo público e

que estes correm um sério risco da fragmentação da intervenção, ou da

sobreposição de ações. A estratégia que se anuncia como uma saída para este

problema, é a ação pautada na intersetorialidade. A partir da construção de

estratégias que irão envolver os serviços que atendem e/ou acompanham o mesmo

cidadão.

Objetivo geral

Implantar um projeto de cooperação técnica entre o NESS e a coordenadoria de

Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento, visando à operacionalização da

intersetorialidade na execução das ações previstas na Matriz Operacional do Plano

Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem.

Objetivos específicos

Acompanhar e discutir com a CSANA as atividades que forem pactuadas para a

implementação de ações intersetoriais;

Colaborar com a CSANA para a identificação de fatores que podem contribuir

para o cumprimento de prazos e metas estabelecidos na Matriz Operacional do

Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem;

Compreender e analisar como são os canais de comunicação entre os setores

envolvidos na execução do Plano;

Propor capacitações sobre os fundamentos da gestão social e da

intersetorialidade nas atividades designadas pela Coordenadoria de Segurança

Alimentar Nutricional e Abastecimento;

Sugerir atividades que serão desenvolvidas para a implementação de ações

intersetoriais;

Identificar os atores envolvidos, os meios e espaços de participação que se

articulam na gestão intersetorial;

Identificar a existência de empecilhos e os possíveis motivadores para a

operacionalização da intersetorialidade na efetivação do Plano;

Colaborar com a CSANA para a identificação de fatores que podem contribuir

para a adesão do município ao SISAN.

Desenvolver relatórios periódicos quanto à evolução do trabalho proposto

Público Alvo

Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento;

Componentes do comitê intersetorial de Segurança alimentar:

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social;

Secretaria Municipal de Saúde;

Secretaria Municipal de Educação e Cultura;

Secretaria Municipal de Defesa Social;

Secretaria Municipal de Direitos e Cidadania;

Secretaria Municipal de Adjunta de Limpeza Urbana;

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano;

Secretaria Municipal de Governo;

Secretaria Municipal de Administração Planejamento;

Secretaria Municipal de Meio Ambiente;

Secretaria Municipal de Trabalho e Geração de Renda;

Entidades Sociais;

Conselhos de Políticas públicas;

Grupo de Trabalho Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

Comitê intersetorial;

Usuários de políticas públicas.

Metodologia

A característica de uma cooperação técnica tem no trabalho afinidades em comum

entre instituições parceiras, caracteriza-se pela transferência, correlação de

conhecimentos e realiza-se com base em metodologia própria a atividade.

Esta proposta prevê a implementação de atividades destinadas a implantar um

projeto de cooperação técnica visando a operacionalização da intersetorialidade na

execução das ações previstas na Matriz Operacional do Plano Integrado de

Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem.

Metodologia - Etapas

Primeira Etapa

Apresentar o produto técnico ao Centro Universitário UNA, especificamente

ao Núcleo de Estágio em Serviço Social, e promover a sua discussão no

intuito de construir um projeto de extensão da UNA.

Apresentar e discutir a proposta da parceria técnica à Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento do Município de Contagem;

Segunda Etapa

A partir da aprovação do projeto, apresentá-lo e discuti-lo com os assistentes sociais

em exercício profissional na Prefeitura de Contagem que serão os representantes

nas secretarias do projeto, assim como para demais envolvidos indicados pela

Coordenadoria Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento do Município de

Contagem.

Discutir o projeto com os assistentes sociais que serão técnicos de referência

como supervisores de campos e parceiros nesta cooperação técnica,

acompanhando os acadêmicos (extensionistas) selecionados para o projeto.

Reuniões com técnicos e estagiários para apresentar e discutir os eixos

norteadores do projeto.

Terceira Etapa

Seleção dos acadêmicos do curso de Serviço Social do Centro Universitário

UNA para compor o projeto na modalidade de estagiários;

Capacitação dos acadêmicos a partir da Dissertação intitulada Articulação

intersetorial: uma estratégia de gestão social na Política de Segurança

Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem;

Realização de seminários e encontros com a abordagem das temáticas:

Gestão Social;

Intesetorialidade;

Segurança Alimentar;

Técnicas de observação para acompanhamento dos atividades;

Técnicas de registro para acompanhamento dos atividades;

Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de

Contagem , ênfase na Matriz Operacional;

Identificação do cenário, dos territórios, dos atores envolvidos;

Diagnostico das atividades a serem desenvolvidas;

Elaboração de cronograma de acompanhamento

Promoção da integração dos acadêmicos com os técnicos de

referência que serão os assistentes sociais supervisores de campos e

parceiros nesta cooperação técnica.

Quarta Etapa

Acompanhamento das atividades direcionadas pela Coordenadoria Segurança

Alimentar Nutricional e Abastecimento do Município de Contagem de acordo com

cada objetivo da Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança Alimentar e

Nutricional Sustentável de Contagem.

Esta etapa será desenvolvida a partir de uma metodologia participativa e integrada,

visando o acompanhamento das ações da Matriz Operacional visando contribuir e

cooperar tecnicamente para a efetivação do referido Plano.

Quinta Etapa

Reuniões periódicas para apresentação e discussão dos resultados dos objetivos

propostos nesta parceria:

Núcleo de Estágio em Serviço Social;

Coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e Abastecimento do Município de Contagem;

Assistentes sociais que desempenharão atribuição de técnicos de referência

enquanto supervisores de campos e parceiros nesta cooperação técnica;

Acadêmicos (extensionistas) do curso de Serviço Social. Especificamente

com este segmento as reuniões serão quinzenais, no Centro Universitário

UNA

o apontar sugestões;

o apresentar indicadores para avaliação da cooperação técnica;

o elaboração de relatório de acompanhamento;

o capacitação sobre as temáticas envolvidas no processo de

acompanhamento e assessoria.

Sexta Etapa

Organização da equipe de trabalho;

Elaboração do cronograma de atividades do semestre;

Previsão de custos;

Metodologia – Objetivos

Objetivo Específico – 01

Ampliar o conhecimento do poder público e da sociedade civil sobre o conceito de SANS como direito de todos e dever do Estado.

Ações Atividades Responsáveis Prazos

Inclusão de informações

sobre o conceito e as

Formação

continuada com

Secretarias de

Educação e

Anual

2012 –

práticas de SANS nos

processos de formação

dos servidores,

conselheiros e rede

conveniada.

professores e

demais profissionais

da rede escolar

sobre a temática de

SANS.

Cultura;

Desenvolvimento

Social / CSANA

2017

Fonte: Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem – 2012/2017

Contrapartida do proponente

De acordo com o disposto nas ações do objetivo 01, será proposta a seguinte

contrapartida:

1) Contribuir com a atividade de capacitação sobre a temática de SANS.

Metodologia: Conduzir palestras, oficinas e rodas de conversa;

Elaborar material explicativo quanto a estrutura SANS;

Fomentar a discussão do trabalho intersetorial;

Desenvolver instrumental de avaliação quanto a efetividade

das atividades desenvolvidas.

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

2) Manter articulação com a CSANA demandando acompanhamento da UNA

nos parâmetros que regem a cooperação técnica acompanhando as ações

previstas na Matriz operacional.

Metodologia: Acompanhar cronograma de ações;

Realizar visitar periódicas a CSANA

Acadêmicos extensionistas irão a campo para acompanhar as

ações

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

Objetivo Específico – 02

Promover a atuação articulada e integrada entre os setores governamentais para a priorização de SANS

Ações Atividades Responsáveis Prazos

Articulação e ampliação

das ações de

capacitação em

Segurança Alimentar e

nutricional,

desenvolvidas pelas

diferentes políticas

municipais com vistas á

formação de hábitos de

vida saudáveis e a

promoção da saúde.

Realização de oficinas,

palestras e/ou cursos

para família e usuários

dos programas:

Cozinha Comunitária e

Banco de Alimentos;

do projeto Alimentando

direitos; das atividades

com os idosos; da

comunidade escolar;

dos grupos operativos

com diabéticos e

hipertensos; das ações

da política de saúde

mental.

Secretaria de

Saúde;

Educação e

Cultura;

Desenvolvime

nto Social /

CSANA

Anual

2012 -

2017

Fonte: Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem – 2012/2017

Contrapartida do proponente

De acordo com o disposto nas ações do objetivo 02, será proposta a seguinte

contrapartida:

1) Contribuir na realização de oficinas e palestras sobre a temática de SANS

com os usuários do serviço.

Metodologia: Conduzir palestras, oficinas e rodas de conversa;

Elaborar material explicativo quanto a estrutura SANS;

Estimular participação e controle social.

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

2) Contribuir na realização de oficinas e palestras sobre a temática de SANS

com os profissionais das áreas elencadas.

Metodologia: Conduzir palestras e rodas de conversa;

Elaborar material explicativo quanto a estrutura SANS;

Fomentar a discussão do trabalho intersetorial;

Estimular participação e controle social.

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

3) Manter articulação com a CSANA demandando acompanhamento da UNA

nos parâmetros que regem a cooperação técnica acompanhando as ações

previstas na Matriz operacional.

Metodologia: Acompanhar cronograma de ações;

Realizar visitar periódicas a CSANA

Acadêmicos extensionistas irão a campo para acompanhar as

ações

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

4) Manter articulação com Secretaria de Saúde; Educação e Cultura

Metodologia: Acompanhar cronograma de ações;

Realizar visitar periódicas a CSANA

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

Objetivo Específico – 03

Fortalecer a participação popular e o controle social das políticas de SANS

Ações Atividades Responsáveis Prazos

Articulação entre os

diferentes Conselhos

para aprimoramento do

controle social das

políticas públicas.

Realização de

capacitações

conjuntas de

conselheiros.

Conselhos de

Alimentação

Escolar e de

Segurança

Alimentar

Nutricional;

outros conselhos

de políticas

públicas.

Anual

2012 -

2017

Instituição de

microrredes locais

composta pelos

diferentes atores sociais

com base nos territórios

dos Centros de

Referência de

Assistência Social

(CRAS)

Realização de

reuniões e

encontros regulares

das microredes

locais..

Secretaria de

Desenvolvimento

Social / CSANA

Anual

2012 -

2017

Fonte: Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem – 2012/2017

Contrapartida do proponente

De acordo com o disposto nas ações do objetivo 03, será proposta a seguinte

contrapartida:

1) Contribuir na realização de oficinas e palestras sobre a temática de SANS

com os Conselhos.

Metodologia: Conduzir palestras, oficinas e rodas de conversa;

Elaborar material explicativo quanto a estrutura SANS;

Estimular participação e controle social.

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

2) Contribuir na realização de oficinas e palestras sobre a temática de SANS

com os profissionais das áreas elencadas.

Metodologia: Conduzir palestras e rodas de conversa;

Elaborar material explicativo quanto a estrutura SANS;

Fomentar a discussão do trabalho intersetorial;

Estimular participação e controle social.

Responsável UNA: Narjara Garajau

Participação: Acadêmicos do Curso de Serviço Social do Centro

Universitário UNA.

Recursos

Recursos - FISICOS

Responsável Centro Universitário UNA:

Sala para reunião quinzenal com estagiários;

Recursos - MATERIAIS

Responsável Centro Universitário UNA:

Arquivo para arquivar documentação do Termo de Cooperação Técnica (

fichas cadastrais dos extensionistas, ficha de frequência, relatórios)

Gravador

Mesa

Cadeiras

Folhas de papel A4

Canetas

Cadernos de registro para observação

Recursos - HUMANOS

Responsável Centro Universitário UNA:

01 profissional bacharel em Serviço Social exerce a função de preceptor

contratado pelo Centro Universitário UNA;

12 estagiários do curso de Serviço Social do Centro Universitário UMA

Responsável Prefeitura Municipal de Contagem:

Assistentes sociais que desempenharão atribuição de técnicos de referência

enquanto supervisores de campos e parceiros nesta cooperação técnica;

Recursos - FINANCEIROS

Responsável Centro Universitário UNA:

Como uma atividade que qualificaria como uma extensão universitária, o centro

universitário UNa disponibilizaria uma técnica responsável, assistente social,

preceptora no acompanhamento dos trabalhos.

Responsável Prefeitura Municipal de Contagem:

As despesas com os deslocamentos da equipe de trabalho

Referências

AFONSO, Maria Lucia Miranda. A importância da escola para a construção de uma

cultura de promoção e defesa dos Direitos Humanos. In: DESLANDES et al. Por

uma cultura dos Direitos Humanos na escola: princípios, meios e fins.Belo Horizonte;

Fino Traço, 2011.

ARANHA. Adriana (org). Fome Zero: Uma História Brasileira. Brasília, DF: Ministério

do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Assessoria Fome Zero, v. 2, 2010.

p. 288.

MAIA, Marilene. Gestão Social: reconhecendo e construindo referências. In: Revista

Virtual Textos & Contextos, n 4, dez. 2005.

MAIA, Marilene. TESE DOUTORADO.Porto Alegre, 2005.

ANEXOS

Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional

Sustentável de Contagem

Termo de cooperação técnica

Edital seleção

MODELO TERMO COOPERAÇÃO TÉCNICA

TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA QUE ENTRE SI CELEBRAM O CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA, POR INTERVENIÊNCIA DO NÚCLEO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL, A PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, POR INTERVENIÊNCIA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL E DA COORDENADORIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E ABASTECIMENTO.

O CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA, representado pelo NÚCLEO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL, doravante denominado NESS, com sede na Rua Goitacazes, n. 1159, Bairro Barro Preto, na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais e a PREFEITURA MUNICIPAL DE CONTAGEM, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e ao Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional e Abastecimento, doravante denominado CSANA, com sede na Rua David Sarnof, nº 117, Bairro Eldorado, Contagem Estado de Minas Gerais, resolvem firmar o presente TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA, que será regido pelas cláusulas e condições que seguem: CLÁUSULA PRIMEIRA - DO OBJETO O presente TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA, que se realizará por meio deste

estabelecimento de vínculo de cooperação entre as partes, tem por objeto o Projeto

“Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de

segurança alimentar”. O estabelecimento de cooperação entre as referidas partes

tem em vista acompanhar a coordenadoria de Segurança Alimentar Nutricional e

Abastecimento na execução das ações previstas na Matriz Operacional do Plano

Integrado de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem quanto à

operacionalização da intersetorialidade.

CLÁUSULA SEGUNDA - DO PROGRAMA DE TRABALHO

O Programa de Trabalho, elaborado em conformidade com o Projeto “Articulação

Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança

alimentar” prevê a realização de cooperação técnica quanto a efetivação das ações

preconizadas nos objetivos da Matriz Operacional do Plano Integrado de Segurança

Alimentar e Nutricional Sustentável de Contagem quanto a operacionalização da

intersetorialidade, para contribuir para o fortalecimento da adesão do município ao

SISAN

Parágrafo Único - O Programa de Trabalho poderá ser ajustado de comum acordo entre as partes, tendo como referência o Projeto “Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar”. CLÁUSULA TERCEIRA - DAS RESPONSABILIDADES E OBRIGAÇÕES São responsabilidades e obrigações, além dos outros compromissos assumidos neste TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA: I – DO NESS – Núcleo de Estágio em Serviço Social a) indicar assistente social integrante do NESS responsável pela execução das atividades previstas no Projeto ““Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar” em conjunto com assistentes sociais indicados pela SMAAS e pelo CMAS; b) elaborar e executar, em conjunto com profissionais indicados pela Secretaria de Desenvolvimento Social e CSANA, o Programa de Trabalho em conformidade com o Projeto; c) estabelecer, em conjunto com os profissionais indicados a metodologia de trabalho e o cronograma das atividades; d) responsabilizar-se pela elaboração do instrumental da cooperação técnica das atividades a serem desenvolvidas; e) zelar pelo cumprimento das atribuições do assistente social indicado como responsável pela execução das atividades previstas no Projeto II – DA SECRETARIA MUNICIPAL ADJUNTA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL a) indicar o(s) profissional(is) para compor(em) a execução das atividades propostas no Projeto “Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar” b) acompanhar, supervisionar e fiscalizar a execução deste TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA, de acordo com o Programa de Trabalho aprovado em conjunto com o NESS - Núcleo de Estágio em Serviço Social e a CSANA; c) financiar, o custeio dos deslocamentos da equipe de trabalho aos espaços institucionais de referência do público-alvo da pesquisa, para acompanhamento das atividades direcionadas pela CSANA. CLÁUSULA QUARTA – DOS RECURSOS FINANCEIROS I – As despesas com os deslocamentos da equipe de trabalho necessários ocorrerão à conta da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. II – A Cooperação Técnica com o NESS – Núcleo de Estágio em Serviço Social, do Centro Universitário UNA, não implicará, para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. nem para o CSANA, em despesas relativas aos recursos humanos do Projeto. Parágrafo Primeiro – Os deslocamentos da equipe de trabalho para a realização das atividades do projeto ocorrerão em transporte coletivo urbano. Parágrafo Segundo – A implementação do Projeto não implicará em ônus operacional para o Centro Universitário UNA.

CLAUSULA QUINTA – DOS RECURSOS HUMANOS O profissional indicado pelo Núcleo de Estágio em Serviço Social - NESS será cedido pelo Centro Universitário UNA, de acordo com a carga-horária prevista para os trabalhos do referido Núcleo, para a realização Projeto em cooperação técnica. Parágrafo Único – Caso as demandas do Projeto ultrapassem a carga-horária do profissional do Centro Universitário UNA, destinado ao Núcleo de Estágio em Serviço Social - NESS, poderão ocorrer alterações neste TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA quanto às despesas com recursos humanos. CLÁUSULA SEXTA – DA AVALIAÇÃO DE RESULTADOS Parágrafo Único – A apresentação dos resultados será periódica e/ou semestralmente de acordo com o cronograma apresentado no Projeto “Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar” CLÁUSULA SÉTIMA – DA VIGÊNCIA E DA PRORROGAÇÃO O presente TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA terá o prazo indeterminado com vigência a partir da data de sua assinatura, podendo no seu vencimento ser renovado, por entendimento entre as partes, sempre por Termo Aditivo, conforme novo Programa de Trabalho. CLÁUSULA OITAVA – DA RESCISÃO O presente TERMO DE PARCERIA poderá ser rescindido por acordo entre as partes ou administrativamente, independente das demais medidas cabíveis, na seguinte situação: I – se houver descumprimento, ainda que parcial, das Cláusulas deste TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA, por quaisquer das partes. CLÁUSULA NONA – DA MODIFICAÇÃO Este TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA poderá ser modificado em qualquer de suas Cláusulas e condições, exceto quanto ao seu objeto, mediante Termo Aditivo, de comum acordo entre os PARCEIROS, desde que tal interesse seja manifestado, previamente, por uma das partes, por escrito.

CLÁUSULA DÉCIMA – DO FORO

Fica eleito o foro da cidade de Contagem- Minas Gerais para dirimir qualquer dúvida ou solucionar questões que não possam ser resolvidas administrativamente, renunciando as partes a qualquer outro, por mais privilegiado que seja. E, por estarem assim, justas e acordadas, firmam as partes o presente TERMO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA em 3 (três) vias de igual teor e forma e para os mesmos fins de direito, na presença das testemunhas abaixo qualificadas.

Contagem, de , de 2013

______________________________________________________________

SECRETARIA MUNICIPAL DESENVOLVIMENTO SOCIAL ______________________________________________________________ COORDENADORIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E ABASTECIMENTO ______________________________________________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA TESTEMUNHAS: ___________________________________ NOME: ENDEREÇO: CPF Nº ___________________________________ NOME: ENDEREÇO: CPF Nº

MODELO

SELEÇÃO PARA VAGAS EXTENSÃO EM SERVIÇO SOCIAL - 2013/01

O Núcleo de Estágio Curricular Supervisionado em Serviço Social -

NESS, por meio deste edital, divulga novas vagas para Estágio obrigatório e informa dos

procedimentos de inscrição e seleção.

1. CALENDÁRIO

Seleção:

Á definir

2. VAGAS

Instituição

Projeto “Articulação Intersetorial: uma estratégia de gestão social na política de segurança alimentar”

Local

Contagem

Centro

Universitário

UNA

Horário

06 horas

semanais.

Vagas ofertadas

12 vagas

Benefícios

XXX.

Área de atuação: Política Pública de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável

Conhecimentos: Trabalho em equipe; com ênfase em atividades multidisciplinar. Gestão social e intersetorialidade Norma padrão da língua portuguesa.

Pré requisito:

Acadêmicos de Serviço Social matriculado do 5º ao 6 º período.

Orientações para inscrição:

Os interessados devem participar das duas etapas do processo seletivo a realizar-se no Núcelo de

Estágio em Serviço Social.

Núcleo de Estágio em Serviço Social

Março/2013