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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO LÍSIA MARINA MAGALHÃES MACEDO ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDO DE CASO NUMA SECRETARIA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Belo Horizonte 2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO

PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

LÍSIA MARINA MAGALHÃES MACEDO

ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDO DE CASO NUMA

SECRETARIA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

Belo Horizonte

2015

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LÍSIA MARINA MAGALHÃES MACEDO

ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDO DE CASO NUMA

SECRETARIA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

Dissertação apresentada a Diretoria de Educação Continuada e Pesquisa do Centro Universitário UNA, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Inovação e Dinâmica Organizacional

Linha de pesquisa: Dinâmica Organizacional, Inovação e Sociedade

Orientadora: Prof. Dra. Íris Barbosa Goulart

Belo Horizonte

2015

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Ficha cFicha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

M141a

Macedo, Lísia Marina Magalhães

Adoecimento mental no trabalho: estudo de caso numa Secretaria de Saúde

de Minas Gerais. / Lísia Marina Magalhães Macedo. – 2015.

99f.

Orientadora: Profa. Dra. Íris Barbosa Goulart.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de Pós-

graduação em Administração.

Inclui bibliografia.

1. Satisfação no Trabalho. 2. Administração de Serviços de Saúde. 3.

Psicopatologia. I. Goulart, Íris Barbosa. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658

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Dedico este Mestrado aos meus pais, Dilce

e Levindo pelo incentivo, apoio e confiança

incondicional em todas as minhas escolhas

e decisões da vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, por sempre me guiar e por me dar este

grande prazer de comemorar mais uma vitória na minha vida.

Agradeço, de forma muito especial, a minha linda mamãe que me estendeu a mão e

sempre me motivou a continuar os meus estudos, principalmente nas fases mais

difíceis e que até mesmo pensei em desistir. Muito obrigada, mãe, por acreditar em

mim e estar ao meu lado sempre.

Ao meu pai de coração, Henrique pelas sábias palavras, pelo colo oferecido nas

minhas fases de angústia e por me fazer acreditar no meu potencial.

Ao meu grande amor, Thiago pela paciência, incentivo e compreensão às minhas

longas horas de dedicação ao estudo.

As minhas irmãs, Letícia e Nádia, pela parceria, carinho e força em todos os momentos

da minha vida.

A minha grande amiga Marta, pelas palavras doces de conforto e de motivação nos

momentos de dificuldade e cansaço. Ao meu amigo, Júlio César pelos sábios

conselhos e palavras amigas nos momentos de cansaço.

A minha orientadora Íris por dividir comigo sua sabedoria, serenidade e confiança.

A todos os meus colegas do curso de Mestrado, por compartilhar suas experiências e

por dividir comigo conhecimentos e também os aflitos durante toda a trajetória.Em

especial, meus dois amigos Giovanni Sales e Alexandre Pelli, que no momento final

me incentivaram e me ajudaram nos últimos detalhes da dissertação.

Ás minhas colegas de trabalho da Secretaria Municipal de Saúde pela participação

fundamental para realização desta dissertação, pela credibilidade e familiaridade que

me acolheram. Enfim, agradeço a todos aqueles que de alguma maneira

contribuíram para que esta conquista pudesse ser concluída.

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“O homem não teria alcançado o

possível, se inúmeras vezes não tivesse

tentado atingir o impossível”.

Max Weber

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RESUMO Esta dissertação teve como objetivo analisar os fatores determinantes de adoecimento psíquico de profissionais que trabalham numa Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de um município do estado de Minas Gerais, no período de 2013 a 2015. Foi feita uma pesquisa bibliográfica destinada a fundamentar o referencial teórico e, a partir dela, discorreu-se sobre a Psicopatologia e a Psicodinâmica do Trabalho, com base principalmente nos estudos de Christophe Dejours, e apresenta-se o levantamento da produção científica sobre adoecimento mental no trabalho. Também foi realizada uma pesquisa descritiva, que constitui um estudo de caso, mediante entrevistas feitas com oito servidores públicos que apresentaram manifestações de insatisfação com o trabalho, estresse e sofrimento/adoecimento vinculados às atividades laborais. Essas entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo qualitativa, dando-se ênfase aos aspectos subjetivos do processo de adoecimento desses profissionais. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos designados pela Plataforma Brasil. Os procedimentos adotados obedeceram aos Critérios da Ética em Pesquisa conforme Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e a pesquisa foi aprovada no dia 07 de abril de 2015, com o Parecer 1.141.262. Na análise realizada, buscou-se identificar as tarefas realizadas pelos sujeitos que têm manifestado adoecimento mental; caracterizar o processo de adoecimento desses profissionais, de acordo com a percepção expressa por eles, identificar os fatores determinantes do adoecimento. Os resultados apontaram que os servidores que manifestaram adoecimento mental e que procuraram atendimento psiquiátrico e/ou psicológico se mostraram inseguros quanto à sua estabilidade no trabalho, uma vez que são contratados "pro tempore", não tendo garantia de permanecerem nos cargos que ocupam. As queixas de sofrimento mental feitas pelas servidoras não estão correlacionadas ás tarefas laborais que realizam na SMS e, sim, às características que a organização do trabalho oferece. Foram relatados somatizações, sofrimentos, insatisfações com a organização do trabalho, sintomas psíquicos e até mesmo afastamento das atividades laborais decorrentes de adoecimento mental. Foi comprovado que nem todos os sujeitos que apresentaram características e ou sintomas psíquicos foram considerados portadores de doenças mentais. Percebe-se, ainda, que algumas servidoras, devido as suas características de personalidade e elaboração de sistemas defensivos eficazes, conseguiram transformar o sofrimento no trabalho em prazer, conforme foi exposto na teoria dejouriana. Conclui-se que as causas de sofrimento e/ou adoecimento mental identificadas estão correlacionadas ao que a organização de trabalho oferece e/ou deixa de oferecer aos seus funcionários, bem como às características de personalidade dos sujeitos de pesquisa.

Palavras-chave: Adoecimento no Trabalho. Adoecimento Mental. Serviço Público.

Saúde pública.

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze the determinants of mental illness professionals working in the Municipal Health Department (SMS) of a municipality in the state of Minas Gerais, between 2013 and 2015. A bibliographic research was made designed to justify reference theoretical and, from it, he spoke about the psychopathology and psychodynamics of the work, based primarily on studies of Christophe Dejours, and presents a survey of the scientific literature on mental illness at work. a descriptive research was also carried out, which is a case study through interviews with eight civil servants who showed dissatisfaction demonstrations with work, stress and suffering / illness related to work activities. These interviews were submitted to qualitative content analysis, giving emphasis to the subjective aspects of these professionals getting sick. The research was submitted to the Ethics Committee for Research involving Human Beings designated by Platform Brazil. The procedures adopted met the criteria of the Ethics in Research as the National Health Council Resolution 466/2012 and the research was approved on April 7, 2015, with Opinion 1,141,262. In the analysis, we sought to identify the tasks performed by individuals who have expressed mental illness; characterize the disease process of these professionals, according to the perception expressed by them, identify the determinants of illness factors. The results showed that the servers that expressed mental illness and sought psychiatric and / or psychological care proved insecure about their job security, since they are hired "pro tempore", with no guarantee to remain in the positions they occupy. The mental suffering complaints made by the servants are uncorrelated ace work tasks they perform in the SMS and yes, the characteristics that the organization of work offers. somatization, suffering, dissatisfaction with the organization of work, psychiatric symptoms and even withdrawal from work activities due to mental illness have been reported. It has been proven that not all subjects with features and or psychological symptoms were considered to have mental illness. It is noticed also that some servants because of their personality characteristics and development of effective defensive systems, managed to transform the suffering at work in pleasure, as was exposed in dejourian theory. It is concluded that the causes of suffering and / or identified mental illness are correlated to the work organization offers and / or fails to provide its employees as well as the personality characteristics of the subjects. Keywords: Illness at Work. Mental illness. Public service. Public health.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACS

CID

DATAPREV

PORT

DPMs

ESF

IBGE

INSS

LER

NASF

SMS

SUS

TMCs

OMS

OIT

SC

Agente Comunitário de Saúde

Classificação Internacional de Doenças

Empresa de Tecnologia e Informação da Previdência Social

Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

Distúrbios Psiquiátricos Menores

Estratégia Saúde da Família

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Instituto Nacional do Seguro Social

Lesões por Esforços Repetitivos

Núcleo de Apoio à Saúde da Família

Secretaria Municipal de Saúde

Sistema Único de Saúde

Transtornos Mentais Comuns

Organização Mundial de Saúde

Organização Internacional do Trabalho

Santa Catarina

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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Doenças relacionadas ao trabalho ....................................................25

QUADRO 2 – Conceito e evoluções da Psicopatologia e da Psicodinâmica do trabalho

...............................................................................................................38

QUADRO 3 – Categorias temáticas e subcategorias correspondentes às análises das

entrevistas .............................................................................................53

QUADRO 4 – Atividades realizadas no trabalho pelas servidoras da SMS .............77

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................13

1.1 Justificativa e relevância do tema .......................................................................16

1.2 Problema ............................................................................................................18

1.3 Objetivos.............................................................................................................18

1.3.1 Objetivo geral ..................................................................................................18

1.3.2 Objetivos específicos .......................................................................................18

1.4 Estrutura do texto ...............................................................................................21

2 REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................22

2.1 Abordagem teórica do adoecimento no trabalho ................................................22

2.2 Contextualização da Psicopatologia e Psicodinâmica do Trabalho ...................29

2.2.1 Psicopatologia do Trabalho .............................................................................30

2.2.2 Psicodinâmica do Trabalho .............................................................................35

2.3 Produção científica sobre o adoecimento mental no trabalho ............................40

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................48

3.1 Caracterização da pesquisa ..............................................................................48

3.2 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa .......................................................49

3.3 Instrumentos de coleta de dados ......................................................................51

3.4 Técnicas de interpretação dos resultados .........................................................52

3.5 Submissão ao Comitê de Ética ...........................................................................54

4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ........................................55

4.1 Categoria 1: Significado do trabalho .................................................................56

4.2 Categoria 2: Manifestações do processo de adoecimento mental associado ao

trabalho ...................................................................................................................59

4.3 Categoria 3: Fatores determinantes de adoecimento mental no trabalho .........62

4.4 Categoria 4: Implicações do Atendimento Psicológico e/ou Psiquiátrico ..........72

4.5 Categoria 5: Ambiente saudável para a saúde mental dos trabalhadores ........77

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................83 REFERÊNCIAS ........................................................................................................89

6 PRODUTO TÉCNICO ............................................................................................94

APÊNDICE................................................................................................................95

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ..........................................................95

APÊNCIDE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

..................................................................................... ...................................98

ANEXO .....................................................................................................................99

ANEXO A – CARTA DE APROVAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA, EMITIDA

PELO COMINTÊ DE ÉTICA EM PESQUISA – CENTRO UNIVERSITÁRIO UN.....98

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INTRODUÇÃO O interesse da autora pelo tema adoecimento mental no trabalho surgiu em

decorrência da sua atuação profissional como Psicóloga, na área da Saúde

Pública. No seu cotidiano, foram acolhidos inúmeros casos clínicos com

queixas de sofrimento psíquico ocasionado pelo trabalho ou relacionado

às atividades desempenhadas pelos trabalhadores. Houve também a

oportunidade de presenciar colegas que foram afastados temporariamente por

apresentarem sintomas de estresse, depressão e insônia decorrentes do contexto

laboral.

Na tentativa de compreender a relação entre adoecimento psíquico e condições de

trabalho, a autora optou por ampliar os conhecimentos no campo dos estudos sobre

Psicopatologia e Psicodinâmica do Trabalho. Vale ressaltar a dupla interpretação

do trabalho na vida do ser humano: ele também pode ser uma referência para a

auto realização do sujeito quanto o fator determinante do equilíbrio emocional e

mesmo físico. Logo, o significado do trabalho pode ser positivo ou negativo.

Pode-se afirmar que o trabalho desempenha um papel importante na vida das

pessoas, constituindo uma categoria fundamental para a vida do ser humano. De

acordo com Araújo (2005), como atividade produtiva, o trabalho é um

elemento fundamental na constituição da identidade do sujeito. Araújo (2005)

destaca que:

A questão do trabalho está relacionada a nossa sobrevivência e a nossa forma de inserção no mundo. O trabalho, ao longo da história vem se constituindo num importante, se não o principal determinante da forma de organização das sociedades, sendo o meio através do qual o homem constrói o seu ambiente e a si mesmo (...). (ARAÚJO, 2005, p.11)

É relevante a importância do trabalho na vida do homem e sua contribuição para a

construção da realidade psíquica, emocional e cognitiva, sendo ele, pois, parte

determinante na constituição da subjetividade humana.

Jardim e Lancman (2009) ressaltam a importância do trabalho na vida do homem:

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ampara a estruturação da identidade, das redes de relações sociais, tais como

pertencimento a um grupo, trocas afetivas e econômicas, além do seu papel

psíquico, na composição do sujeito.

Entretanto, algumas vezes, as condições de trabalho ou as relações que se

estabelecem no trabalho se podem causar sofrimento ou até mesmo adoecimento.

Para se obter uma compreensão do sofrimento psíquico do trabalhador

deve-se realizar uma análise da sua história ocupacional, levando em

consideração suas particularidades, no âmbito psíquico, econômico e social. É

necessário procurar entender como o trabalho é organizado, suas relações

interpessoais e o significado que o trabalho tem para o sujeito (LIMA, ASSUNÇÃO

e FRANCISCO, 2002).

O trabalho representa um conflito entre o mundo objetivo – com suas regras e

desafios e o mundo interno do trabalhador – sua singularidade e valores. Este

confronto entre o mundo do trabalho e as pessoas representa não somente o

sofrimento, como também, oportunidade de crescimento e desenvolvimento

psicossocial do trabalhador. Portanto, as relações entre o trabalho e o sujeito

representam um ambiente de multiplicidade subjetiva e social (JARDIM; LANCMAN,

2009).

Para que o trabalho não se torne uma fonte geradora de sofrimento mental, o

mesmo deve representar para o sujeito possibilidades de realização profissional e

pessoal. A partir do momento em que o trabalho perde essas significações, quando

o trabalhador não visualiza um sentido para o trabalho, o mesmo compromete a

integridade da sua saúde física e mental (DEJOURS,1992).

Abrahão e Torres (2004) referem-se à organização do trabalho considerando-a

como um processo complexo, que envolve a divisão de tarefas, a repartição, a

definição das cadências, o modo operatório prescrito; e a divisão de homens,

repartição de responsabilidades, hierarquia, comando e controle. Todos esses

fatores, dependendo de como são administrados, podem ser considerados

responsáveis pela adequação do trabalhador no ambiente laboral ou pela

desestabilização do seu ajustamento a este ambiente.

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Atualmente, algumas organizações têm exigido dos trabalhadores habilidades que

contribuem de maneira negativa tanto para o relacionamento interpessoal, como

também, para a sua saúde mental. Como exemplos, vale ressaltar as pressões para

cumprimento de metas, longas jornadas de trabalho, individualismo, conflitos entre

os setores e colegas, entre outros fatos.

As organizações têm papel fundamental na manutenção da saúde mental

equilibrada do trabalhador. Algumas organizações, na sua forma de sistematizar o

trabalho podem determinar fatores patogênicos que aliados aos aspectos pessoais e

subjetivos podem ocasionar sofrimento psíquico. Dejours (1992, p.52) afirma que:

O sofrimento começa quando a relação homem-organização do trabalho está bloqueada; quando o trabalhador usou o máximo de suas faculdades intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de adaptação. Quando um trabalhador usou de tudo que dispunha de saber e de poder na organização do trabalho e quando ele não pode mais mudar de tarefa: isto é, quando foram esgotados os meios de defesa contra a exigência física. (...) A certeza de que o nível atingido de insatisfação não pode mais diminuir marca o começo do sofrimento.

Nota-se que há uma relação direta entre satisfação do trabalhador e organização do

trabalho. O adoecimento físico ou mental pode surgir como uma conseqüência

quando estes dois fatores não estão alinhados. Dejours (1992) afirma que quanto

mais rígida for à organização, a divisão de trabalho mais acentuada e as

possibilidades mínimas de mudanças, maiores são as chances do sofrimento

psíquico no trabalho aumentar.

Analisando a produção científica sobre o tema, pesquisas demonstram que tais

características de uma organização do trabalho inadequada acarretam nos

profissionais desgastes, cansaço físico e mental, fadiga, ansiedade, depressão,

além do alto índice de rotatividade (ARAÚJO, 2005; TRINDADE et al., 2007;

VASCONCELOS; FARIA, 2008; JODAS; HADDAD, 2009; KIRCHHOF et al., 2009;

LANCMAN et al., 2009; BRAGA, CARVALHO; BLINDER, 2010; SOUZA et al.,

2010; JARDIM, 2011).

Dentro dessa mesma premissa, merece destaque a pesquisa feita por Minayo, Assis

e Oliveira (2011) sobre o impacto na saúde física e mental das atividades

profissionais dos militares e civis do Rio de Janeiro. Foram citados os sintomas de

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sobrecarga de trabalho, sofrimento psíquico, baixa qualidade de vida, estresse

psicológico e insônia decorrente das atividades laborais. É oportuno lembrar que os

sujeitos da presente pesquisa são funcionários públicos e por este motivo

desempenham atividades próximas dos mencionados nestas pesquisas.

Da mesma maneira que o reconhecimento do sujeito com o seu trabalho são

interpretados de forma subjetiva, as doenças muitas vezes são consideradas

também como subjetivas, não sendo reconhecidas pelos especialistas clínicos. Além

disso, culturalmente em nosso país, as pessoas encontram certa resistência de

assumir qualquer doença, seja da esfera física seja mental.

Muitos trabalhadores têm a falsa denotação de que podem ter domínio e controle

sobre o seu corpo. Tal fato contribui para procurar ajuda somente quando o caso

clínico ou mental já está bem agravado. Com relação às doenças mentais, ainda

prevalece o preconceito de se procurar atendimento psicológico ou psiquiátrico,

relacionando-se essa busca com a loucura e não a considerando apenas um

transtorno da saúde.

A partir dessas considerações, surgiu o interesse de analisar os fatores

determinantes de adoecimento mental de profissionais que trabalham numa

Secretaria Municipal de Saúde (SMS) no estado de Minas Gerais.

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1.1Justificativa e relevância do tema O tema se mostra relevante para os trabalhadores no serviço público uma vez que

as condições de trabalho, bem como a organização do trabalho em repartições

públicas são orientadas, principalmente, por aspectos políticos e alteradas

sempre quando uma nova gestão assume o poder. É, pois, oportuno salientar

o efeito dessas alterações para o processo de adaptação do funcionário.

A escolha da autora pela pesquisa ocorreu em função do envolvimento pessoal e

profissional pela temática de adoecimento mental. A pesquisadora trabalha, no

momento da realização deste trabalho, como Psicóloga do Núcleo de Apoio à

Saúde da Família (NASF), com atuação profissional em oito Estratégias Saúde

da Família (ESF) e considera importante avaliar os fatores determinantes de

adoecimento mental dos trabalhadores no ambiente de trabalho, para que

possam ser adotadas medidas de prevenção e manutenção da saúde mental

equilibrada dos servidores públicos.

A presente pesquisa torna-se relevante para a organização estudada, pelo fato de

que, para os servidores públicos oferecerem à população da cidade um serviço de

saúde pública de qualidade, eles devem estar emocionalmente equilibrados, a fim de

que possam exercer suas funções. Também se torna necessário identificar os

motivos que causam adoecimento mental dos servidores, para que este órgão

público invista em ações de prevenção e promoção da saúde mental de seus

colaboradores. Por consequência, seriam evitados os afastamentos das atividades

laborais decorrentes de adoecimento mental.

No ano de 2006, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) custeou o equivalente

a R$ 90 milhões com auxilio doença para pessoas com patologias de transtornos

neuróticos e relacionadas ao estresse. Além disso, os transtornos de humor

neste mesmo ano foram considerados o segundo motivo de maior

afastamento de pessoas do trabalho. Isto justifica a importância econômica da

pesquisa.

Se analisada na perspectiva acadêmica, esta pesquisa aborda um conteúdo que já

vem sendo estudado por diversos autores ARAÚJO, 2005; TRINDADE et al.,

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2007; VASCONCELOS e FARIA, 2008; JODAS e HADDAD, 2009; KIRCHHOF et

al., 2009; LANCMAN et al., 2009; JARDIM, 2011.

Vale destacar pesquisas realizadas por Sousa et al. (2009) nas quais se refere ao

estresse ocupacional e Burnout, que são doenças mentais que tem acometido

muitos trabalhadores contemporâneos. Na mesma premissa, Braga, Carvalho e

Blinder (2010) investigam as condições de trabalho e transtornos mentais comuns

em servidores públicos de Botucatu (SP).

No mesmo contexto desta pesquisa, Lancman et al. (2009) avaliaram as

repercussões da violência na saúde mental de trabalhadores da Estratégia Saúde da

Família (ESF) e Silva et al. (2009) complementaram os estudos na área com

a pesquisa das considerações sobre o transtorno depressivo decorrente

das atividades laborais. O aprofundamento de tais temas apresenta relevância

para a academia, o aumento do número de pesquisas contribui para verificar

reflexões e hipóteses sobre o complexo campo de saúde mental.

Como se trata de um trabalho acadêmico, pode-se inferir que está dissertação

constitui oportunidade de se discutir questões fundamentais como o sentido do

trabalho humano, a satisfação e a insatisfação no trabalho e ainda a possibilidade do

adoecimento derivado do sofrimento no trabalho.

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1.2Problema Diante do contexto apresentado, e levando em consideração que a autora deste

trabalho desenvolve suas atividades profissionais no Núcleo de Apoio à Família

(NASF), atendendo oito unidades de saúde – Estratégia Saúde da Família (ESF) e

ainda que este trabalho é realizado no Mestrado Profissional em Administração, a

pesquisa realizada pretende oferecer subsídios à administração municipal. Para

tanto, a questão norteadora desta pesquisa é a seguinte: Quais os fatores

capazes de causar adoecimento mental em profissionais que trabalham

numa Secretaria Municipal de Saúde do estado de Minas Gerais no período de

2013 a 2015?

1.3 Objetivos Para responder à questão norteadora da pesquisa foram definidos os seguintes

objetivos: 1.3.1 Objetivo Geral

Analisar os fatores capazes de causar adoecimento mental de profissionais que

trabalham numa Secretaria Municipal de Saúde do estado de Minas Gerais no

período de 2013 a 2015.

1.3.2 Objetivos específicos

Identificar as tarefas realizadas pelos sujeitos que têm manifestado adoecimento

mental.

Caracterizar o processo de adoecimento desses profissionais, de acordo com o

prontuário dos mesmos.

Identificar os fatores determinantes de adoecimento mental dos sujeitos

pesquisados, de acordo com a percepção deles.

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Como produto técnico, elaborar, um guia de sugestões que possam prevenir o

adoecimento diante das demandas do trabalho na Secretaria Municipal de Saúde.

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1.4Estrutura do texto Esta dissertação é iniciada com o cap í tu lo re la t i vo a Introdução, que trata da

apresentação do tema, define a questão norteadora da pesquisa, delineia os

objetivos e apresenta a justificativa para a realização do trabalho.

Após a Introdução, apresenta-se o segundo capítulo, que diz respeito ao referencial

teórico do trabalho: inicia-se com as relações entre o adoecimento e a organização

do trabalho e após, será abordada a contextualização da Psicopatologia e

Psicodinâmica do Trabalho: a origem e desenvolvimento da teoria e qual também

serão expostas as pesquisas realizadas na área de autores como Sivadon, Le

Guillant e Dejours.

Em seguida, os subitens estabelecem uma relação entre o sofrimento no trabalho e

o adoecimento do trabalhador e expõem os domínios do conhecimento que têm

abordado o tema: a Psicopatologia e a Psicodinâmica do Trabalho. São feitas

referências aos autores que abordam tais questões e é analisada a evolução e a

importância dessas abordagens para o entendimento da relação homem e trabalho.

Por último, faz-se uma exposição sobre a produção científica sobre o tema de

adoecimento mental no trabalho, num recorte dos últimos dez anos.

A Metodologia é exposta no terceiro capítulo, caracteriza o tipo da pesquisa,

apresenta a unidade de análise e os sujeitos de pesquisa, assim como os

instrumentos de coleta de dados e a técnica de interpretação de resultados.

O capítulo quatro apresenta os resultados, mostra os fatores de adoecimento mental

e tece considerações sobre doenças associadas às atividades laborais. O quinto

capítulo trata das conclusões e considerações finais associadas à análise dos

resultados obtidos nesta pesquisa.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo aborda a questão do adoecimento do trabalhador, relaciona o

sofrimento experimentado com o trabalho e busca os estudos que se dedicaram a

esclarecer como ocorre este processo. Por este motivo, as temáticas abordadas

neste referencial teórico são as seguintes: as relações entre o adoecimento e a

organização do trabalho; referência à Psicopatologia do Trabalho, seu objeto de

estudo e as contribuições teóricas mais relevantes e a Psicodinâmica do Trabalho,

seu conceito e sua contextualização. Ainda neste referencial é apresentada a

produção científica sobre adoecimento mental no trabalho no período compreendido

entre 2005 a 2015.

2.1 Abordagem teórica do adoecimento no trabalho

Este tópico aborda as diversas nuances que ocorrem com o indivíduo que apresenta

características de sofrimento no trabalho até desencadear um adoecimento mental

acometido por atividades laborais.

Dejours (1990) define como condições de trabalho as pressões físicas, mecânicas e

biológicas do local de trabalho que tem como objeto o corpo do sujeito; já a

organização do trabalho que representa a divisão das atividades laborais atinge o

funcionamento psíquico. Os autores Vasconcelos e Faria (2008) corroboram com

Dejours (1990) ao afirmarem que as empresas, de maneira geral, são responsáveis

pela saúde mental de seus trabalhadores, já que a organização do trabalho em si,

pode apresentar características de fragilização mental para os sujeitos envolvidos.

De acordo com Dejours (1992), historicamente, o trabalho passou por grandes

transformações na sociedade. Na busca de melhorias nas condições de trabalho, o

século XIX foi marcado pelas lutas operárias com o objetivo de direito à vida ou

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sobrevivência nas situações laborais e redução da jornada de trabalho. As

reivindicações dos trabalhadores deram início, de forma lenta e gradativa, para um

olhar humanizado dentro das indústrias.

Ocorreram mudanças significativas na relação homem – trabalho com o advento de

alguns benefícios e leis trabalhistas. Minayo, Assis e Oliveira (2011, p.2200) afirmam

que “(...) as relações laborais tanto podem produzir saúde, bem-estar físico e

emocional como podem, também, ser marcadas por insatisfações, estresse e

sofrimento”. O trabalho em si apresenta uma ambivalência; ao mesmo tempo em

que pode ser considerado como fonte de prazer, quando permite ao trabalhador

atender as suas necessidades humanas, trazendo satisfação, pode também,

ocasionar adoecimento físico ou mental, quando o indivíduo não tem uma

identificação com o mesmo (DEJOURS, 1992).

Lima et al. (2007) alegam que o prazer e o sofrimento são resultado da vinculação

entre a subjetividade do trabalhador e a organização do trabalho. A instituição

proporciona ao sujeito vivencias de prazer relacionadas ao apoio, aoportunidade

de crescimento, entre outros, com também de sofrimento, associado à rigidez

da hierarquia, aos conflitos entre colegas de trabalho, entre outras situações.

Vasconcelos e Faria (2008, p.455) ao realizarem uma pesquisa com os

trabalhadores sobre as contradições a respeito do tema saúde mental no trabalho,

obtiveram respostas unânimes sobre a relação entre o trabalho e adoecimento

mental:

(...) Todos os entrevistados afirmaram que o trabalho pode influenciar, prejudicar ou aumentar o sofrimento e possíveis adoecimentos mentais ou psicossomáticos. Esses podem ser propiciados através dos seguintes fatores: estresse; fofocas; condições físicas de trabalho inadequadas; relacionamento difícil com chefia, com subordinados, colegas, clientes, insatisfação no trabalho, falta de reconhecimento, pressão, responsabilidades, sensação de ser vigiado e orientações contraditórias para a execução da tarefa.

Infere-se, portanto, que algumas instituições, em sua própria estrutura, ou seja, tanto

na organização quanto nas condições de trabalho, contêm características que

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podem causar sofrimento psíquico ao trabalhador. É notório o aumento da

ocorrência de doenças psíquicas ou psicossomáticas relacionadas ao trabalho. Vale

destacar, também, que as instituições contemporâneas, em busca de adaptação ao

mercado de trabalho global e competitivo, adotam mudanças constantes no seu

modo de organização, na cobrança por produtividade, na exigência por mão de obra

qualificada, no aumento da pressão por lucros e resultados e, consequentemente,

todas estas questões afetam o trabalhador de maneira incisiva e considerável, pois

os sujeitos se sentem na condição imposta de adaptar-se aos novos

processos (VASCONCELOS; FARIA, 2008).

A relação entre a organização e o trabalhador inclui questões organizacionais,

sociais, econômicas e principalmente, subjetivas intrínsecas a cada sujeito.

O tipo e intensidade dos sintomas psicossomáticos variam de acordo com a

subjetividade de cada trabalhador, para alguns podem desencadear sofrimentos e

queixas somáticas, como para outros, pode causar adoecimento psíquico e

ocasionar o seu afastamento das atividades laborais.

A maneira como o trabalho é organizado pode motivar o sofrimento psíquico do

trabalhador. No campo de saúde pública, as Agentes Comunitárias de Saúde

(ACS´s) obrigatoriamente devem morar e trabalhar na mesma comunidade. Desta

maneira, assumem uma dualidade de função: de ser conjuntamente agente e

sujeito, ou seja, há um distanciamento precário entre o pessoal e o profissional.

Além de realizar diariamente visitas domiciliares, morar no mesmo bairro e

frequentar os mesmos espaços físicos dos usuários, fatores como criação de

vínculos e envolvimento com as situações precárias de saúde, financeira e social

dos pacientes implicam em desgaste emocional e fonte de sofrimento

psíquico para o agente. (JARDIM e LANCMAN, 2009).

Vasconcelos e Faria (2008, p.455) destacam os transtornos mentais e do

comportamento mais comuns relacionados ao trabalho de acordo com dados do

Ministério da Saúde:

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Entre os contextos geradores estão: (a) a falta de trabalho ou a ameaça de perda de emprego; (b) o trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido; (c) situações de fracassos, acidente de trabalho ou mudança na posição hierárquica; (d) ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, manifestação de insatisfações e sugestões dos trabalhadores em relação à organização; (e) fatores relacionados ao tempo, o ritmo e o turno de trabalho; (f) jornadas longas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas; (g) pressão por produtividade; (h) níveis altos de concentração somada com o nível de pressão exercido pela organização do trabalho e (i) a vivencia de

acidentes de trabalho traumáticos.

Percebe- se, portanto, que as causas que podem gerar sofrimento no sujeito são

diversificadas e apresentam formas singulares; englobam a ausência ou receio de

perder a ocupação, trabalho sem sentido para o trabalhador, conflitos no ambiente

laboral, excesso de carga horária, metas exigidas pela organização, as quais os

trabalhadores devem cumprir, entre outros.

Neste mesmo conteúdo, Ferreira (2007) ressalta que os avanços da gestão de

processos e as novas tecnologias vigentes no universo do trabalho contemporâneo

estão saturados de condições que conduzem à precarização do trabalho e causam

efeitos maléficos para os seus trabalhadores, como sofrimento subjetivo,

individualismo e adoecimento. O autor ainda destaca que os estudos apontados pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Internacional do Trabalho

(OIT) são pessimistas quanto ao impacto destas novas políticas de gestão do

trabalho para a saúde mental dos trabalhadores e sinalizam danos psíquicos para os

mesmos, tais como estresse, angústias, depressões, entre outras psicopatologias.

De acordo com os autores citados, percebe-se que o universo de trabalho atual

contém características maléficas à saúde mental dos trabalhadores, chamando

atenção dos órgãos de saúde e do trabalho sobre as novas políticas trabalhistas de

gestão.

Jacques (2007) ressalta que os transtornos mentais têm origem em inúmeras causas

com interação de fatores complexos. Segundo terminologia utilizada pelo Ministério

da Saúde (2001) os transtornos mentais e do comportamento podem ser

classificados nos grupos I, II e III, exemplificados no QUADRO 1.

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QUADRO 1 – Doenças relacionadas ao trabalho

Grupo

Classificação

Relação com o trabalho

Patologias associadas

I

Exposição a substâncias tóxicas/ químicas e/ou fatores inerentes.

Trabalho como causa necessária.

Demência, delirium, transtorno cognitivo leve, transtorno mental orgânico, episódios depressivos, síndrome da fadiga relacionada ao trabalho, estado de estresse pós-traumático e transtorno do ciclo vigília sono (atividades em turnos alterados e/ou trabalho noturno).

II

Evidências epidemiológicas com excesso de prevalência em grupos ocupacionais.

Trabalho como fator contributivo, mas não necessário.

Alcoolismo crônico, outros transtornos neuróticos, síndrome de esgotamento profissional, episódios depressivos e síndrome de fadiga relacionada ao trabalho.

III

Atividade laboral como causa não favorável.

Trabalho como provocador de um distúrbio latente ou agravador de doença já estabelecida.

Alcoolismo crônico, outros transtornos neuróticos, síndrome de esgotamento profissional, episódios depressivos e síndrome de fadiga relacionada ao trabalho.

Fonte: Extraído de Jacques (2007).

Analisando este quadro, verifica-se que no grupo I, as doenças são

primordialmente físicas e fisiológicas, podendo, conteúdo determinar

transtornos mentais como estados depressivos, estresse e alterações do sono.

No grupo II, as doenças epidemiológicas que atribuem o trabalho como fator

contributivo, mas não necessário podem levar a transtornos mentais

como manifestações neuróticas, episódios depressivos e síndrome de fadiga.

O grupo III por sua vez se refere ao trabalho como provocador de um

distúrbio latente ou provocador de uma doença já estabelecida. Assim, como no

grupo II, as patologias associadas a este grupo incluem o alcoolismo crônico,

os transtornos neuróticos, estados depressivos e fadiga.

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Tanto no grupo II como no grupo III são necessários laudos técnicos para

comprovar os nexos causais entre o trabalho e a doença mental, já que ambas

as patologias não podem ser consideradas como derivadas do trabalho,

porém, podem ser motivadas pelas atividades laborais. Sendo assim, há a

necessidade de uma apuração diagnóstica precisa, e buscar compreender “as

relações entre condições de vida e de trabalho e o surgimento, a frequência ou

a gravidade dos distúrbios mentais” (JACQUES, 2007, p.116).

Araújo (2005), nos seus estudos sobre as repercussões do trabalho no adoecimento

mental, ilustra o caso de uma servidora da UFMG, afastada algumas vezes do

trabalho devido às crises constantes e foi diagnosticada como portadora

de Transtorno Afetivo Bipolar. Esta pesquisa teve como objetivo identificar

as características patogênicas do trabalho e de relacionar os dados com a história

de vida do sujeito pesquisado. Através de entrevistas biográficas, merecem

destaques as características peculiares na forma da organização do trabalho que

se mostraram significativas para as descompensações da entrevistada. São elas:

Falta de afinidade e desconhecimento das tarefas a serem descompensadas, aliadas a falta de treinamento; falta de tranquilidade para a realização das atividades, somando-se ao acumulo de tarefas, gerando angústia e ansiedade diante da possibilidade de não se conseguir concluir o trabalho dentro do horário determinado; tratamento diferenciado entre os professores e os funcionários técnicos administrativos da instituição (...); pouca possibilidade de interferir no próprio trabalho (falta de autonomia), somando-se a falta de organização e condições inadequadas de trabalho gerando desprazer; conteúdo empobrecido das tarefas (monotonia); trabalho desprovido de significação e sem reconhecimento; falta de preparo das chefias para lidar com os funcionários; individualismo e falta de solidariedade por parte de alguns funcionários; competição entre funcionários e desonestidade no trabalho; ociosidade; sentimento de impotência diante das ordens das chefias que se mostravam em desacordo com os objetivos do trabalho (ARAÚJO, 2005, p.35-36).

Nas considerações finais da pesquisa mencionada, Araújo (2005) concluiu que

os coeficientes intrínsecos da organização aliados com as características

pessoais, familiares e comportamentais da servidora, favoreceram para o

agravamento do seu adoecimento mental.

Nota-se que todas as queixas são de caráter peculiar e subjetivo. Sendo assim, o

sofrimento ocasionado pelo trabalho manifesta-se de diversas formas, porém, de

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maneira única para cada sujeito. Torna-se essencial, portanto, levar sempre em

consideração a subjetividade do trabalhador aliando-a a sua história de vida.

Retomando os estudos de Dejours, que evoluiram da Psicopatologia para a

Psicodinâmica do Trabalho, verifica-se que os fatores relacionados ao trabalho

combinam-se aos fatores de personalidade dos sujeitos e é esta combinação que

explica o sofrimento experimentado pelo trabalhador, bem como seu provável

adoecimento.

A parte empírica deste trabalho confirmará esta premissa exposta por Dejours em

suas pesquisas sobre o assunto.

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2.2 Contextualização da Psicopatologia e Psicodinâmica do Trabalho A partir de 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial, surgiu na França um

movimento denominado Psiquiatria Social, do qual participaram alguns teóricos, que

contribuíram para a construção do campo da Saúde Mental e Trabalho naquele país.

Entre eles, destacam-se os nomes de Paul Sivadon, François Tosquelles,

SvenFollin, LucienBonnafé, Claude Veil e Louis Le Guillant (LIMA, 2006).

Cada um desses teóricos construiu sua trajetória de forma singular e não há um

consenso entre eles. O que eles possuíam em comum era a rejeição à Psiquiatria

praticada na época e o desejo de compreender os impactos nefastos do processo de

trabalho sobre a saúde mental dos trabalhadores. É oportuno lembrar que uma vez

terminado o período de guerra, as cidades afetadas pela destruição se dedicaram a

restaurar as construções e os hospitais em geral e, especialmente os psiquiátricos,

estavam repletos de pacientes com transtornos mentais e sem condições de

assumirem o trabalho de modo produtivo.

Clot (2006) considerou as doenças que proliferavam na França na fase pós-guerra

de “doenças da produtividade” e os autores citados, admitindo o fracasso das

práticas tradicionais da Psiquiatria, construíram os pilares da transformação que

ganhou adeptos em outras partes do mundo. Além disso, como definiu Billiard

(2001), eles não se limitaram a propor a revisão das práticas de assistência aos

pacientes no âmbito do hospital ou a criação de instituições extra-hospitalares. Eles

encaminharam uma reflexão sobre o lugar do psiquiatra na sociedade, agindo na

prevenção dos transtornos mentais em todos os lugares nos quais eles se

manifestam e investiram num esforço junto à população, visando reduzir as atitudes

de rejeição que sugeriam o isolamento dos doentes mentais (LIMA, 2006).

De acordo com Clot (2006), na França, uma primeira fundação da Psicologia do

Trabalho, estudada por Isabelle Billiard (2001), com a contribuição de Le Guillant

entre outros especialistas e em controvérsia com eles (Sivadon, Tosquelles e Veil),

foi seguida pela obra de Dejours, que culminou na proposição do campo de estudos

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que se denomina Psicodinâmica do Trabalho. É oportuno realçar que a proposta de

Dejours rompe de forma nítida com a Psicopatologia do Trabalho e com a herança

da década de 1950, adotando como sua principal referência a Psicanálise.

Nos próximos subitens, são colocados os pontos de vista desses três autores:

Sivadon, Le Guillant e Dejours.

2.2.1 Psicopatologia do trabalho Este tópico aborda a origem da Psicopatologia do trabalho na França e busca

ressaltar os autores principais que contribuíram para o seu desenvolvimento.

Após a II Guerra, mudanças ocorreram no conceito de trabalho. Vale destacar a

readaptação ao sistema produtivo e o início de questionamentos a respeito de saúde

mental e trabalho. Na tentativa de compreender a relação entre adoecimento mental

e trabalho, alguns pesquisadores intensificaram seus estudos nesta área, os quais

merecem destaque da psiquiatria social francesa, Paul Sivadon e Louis Le

Guillant (LIMA, 1998).

Na França, no final da década de 1940, a Psiquiatria Social iniciou uma reflexão

sobre o papel da Psiquiatria na sociedade, despertando um olhar diferenciado para

os trabalhadores que regressaram dos hospitais psiquiátricos e sua inserção na

sociedade e no mundo do trabalho. O movimento aproximou-se da sociedade e dos

campos teóricos na área da saúde e trabalho. Os psiquiatras buscavam aprofundar

conhecimentos e intervir nas condições que supostamente poderiam acarretar ou

intensificar doenças mentais (BILLIARD, 2001 citado por SOUZA e ATHAYDE,

2006).

Os teóricos franceses organizaram o corpo de conhecimentos que foi denominado

Psicopatologia do Trabalho, e, desde a sua origem foi marcado por correntes

científicas bem distintas sendo que, todas têm como única característica tentar

definir a complexidade do campo saúde mental e trabalho.

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Souza e Athayde (2006) destacam que os textos publicados na França por Paul

Sivadon e Louis Le Guillant são considerados como fundadores da Psicopatologia do

Trabalho. Em destaque, Louis Le Guillant, em 1951, fez uma interposição no

Symposium de Bonneval, com a publicação de “PsychologieduTravail” e, em 1954,

publicou “Introduction á une PsychologieSociale” e o psiquiatra Paul Sivadon

publicou em 1952, o artigo “Psycho- pathologieduTravail” trabalho no qual ressalta a

teoria da Ergoterapia – readaptação dos pacientes psiquiátricos ao ambiente de

trabalho.

Segundo Lima (1998), Paul Sivadon considera que o trabalho deve ser reconhecido

pelo seu valor de integração social, apesar de admitir também que algumas formas de

organização do trabalho contêm características patogênicas. O termo

“Psicopatologia do Trabalho” foi empregado pela primeira vez por este autor, que

defende a dicotomia do trabalho, que tanto pode ser visto como fonte de evolução da

psique humana como também fonte que possibilita o surgimento de doenças

mentais no trabalhador.

Nassif (2005) ressalta que em concordância com Sivadon, Le Guillant concluiu que o

trabalho pode conter características patogênicas, porém, adotou uma corrente

teórica bem diferente. Louis Le Guillant considera a história de vida do sujeito e suas

condições de trabalho.

Para Lima (1998, p.13) Louis Le Guillant, contemporâneo de Paul Sivadon defende

“uma abordagem psicossociológica da doença mental, na qual o trabalho estaria no

centro da realidade social”. Ou seja, para uma compreensão do surgimento da

doença mental no trabalho devem ser analisadas conjuntamente as condições de

vida e de trabalho do sujeito. Para afirmar a relação causal entre transtorno mental e

trabalho deve ser feita uma análise do sujeito numa esfera bio-psico-social, ou seja, o

autor defende a integração complexa entre os fatores orgânicos, psíquicos, sociais e

organizacionais (NASSIF, 2005).

Souza e Athayde (2006) corroboram com os autores Lima (1998) e Nassif (2005) ao

ressaltarem que Louis Le Guillant se afastou dos conceitos que buscavam as

questões patogênicas do trabalho e tentou enfatizar as incoerências e os conflitos

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que tais situações empunham ao trabalhador. Dessa maneira, adota a perspectiva

sociogenética das patologias mentais. Buscou-se estabelecer o vínculo entre os

problemas psicopatológicos, as condições de existência e as situações vividas pelo

sujeito no ambiente de trabalho.

Assunção e Francisco (2004) afirmam que Louis Le Guillant também defende que

sob certas condições o trabalho pode conter aspectos insalubres e estudou as

categorias profissionais das telefonistas que apresentavam quadros

psicopatológicos graves associados às condições de trabalho impostas para estas

trabalhadoras.

Nassif (2005) destaca que na pesquisa realizada com as telefonistas, Louis Le

Guillant primeiramente agrupou os sintomas psicopatológicos frequentes nestas

profissionais, que são alterações de humor, distúrbios do sono e alterações

somáticas, e posteriormente, elaborou um questionário no qual os seus resultados

deveriam ser analisados juntamente com os exames clínicos. Vale ressaltar que

Louis Le Guillant na sua pesquisa evidenciou as condições de vida econômica, social e

histórico familiar das entrevistadas.

Santos e Galery (2011) concluíram que o ritmo acelerado e a exigência de rigor e de

cautela, ou seja, a realidade concreta do trabalho eram o que determinava a

neurose destas profissionais. Le Guillant defende que um ambiente de trabalho com

condições salubres, sem exigências de controle da organização do trabalho não

provocaria adoecimento mental nos seus colaboradores, independente do sujeito

que realizasse a função.

Percebe-se que nas suas análises de sofrimento mental ocasionado pelo trabalho,

Louis Le Guillantnão singulariza o indivíduo apenas a um aspecto biologizante e

nem psicologizante, mas adota uma visão do sujeito como um todo e leva em

consideração todas as suas esferas - físicas, emocionais, sociais, econômica para,

posteriormente, inter-relacionar com suas atividades laborais.

Os autores Sivadon e Le Guillant representam o marco inaugural da Psicopatologia do

Trabalho, definida por Dejours (1990, p.120) como:

Podemos propor a seguinte definição de Psicopatologia do trabalho: é a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação do

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sujeito com a realidade do trabalho. (...) O termo Psicopatologia foi conservado porque possui duas vantagens: 1) contém a raiz pathos, que remete ao sofrimento e não só à doença ou à loucura. Neste sentido, o termo Psicopatologia designará o estudo dos “mecanismos e processos psíquicos mobilizados pelo sofrimento”, sem pressupor seu caráter mórbido ou não mórbido; 2) o termo psicopatologia(...), não é evocado aqui, de forma fortuita, mas a título de referência explícita à teoria psicanalítica do funcionamento psíquico.

Percebe-se que, o termo Psicopatologia está voltado para o aspecto de sofrimento

e/ou doença vinculadas ao trabalho. Evidencia-se que não somente Dejours, como os

autores, Paul Sivadon e Louis Le Guillant nas suas pesquisas iniciais buscavam

comprovar as psicopatologias causadas pelo trabalho.

De acordo com o modelo causalista e a relação trabalho- saúde mental, uma das

primeiras pesquisas realizadas por Dejours com o objetivo de demonstrar as

evidências de doenças mentais especificas do trabalho, estavam destinadas aos

operários semiqualificados submetidos ao trabalho repetitivo, pressão do tempo e

condições de exploração. Porém, não foram encontrados os resultados de

caracterização da doença mental. A partir deste momento, Dejours adota um novo

modelo teórico, renuncia ao modelo causalista e inicia seus estudos para comprovar o

sofrimento no trabalho e as defesas que o trabalhador utiliza contra o adoecimento

mental. Além da discordância referente ao patológico e não patológico surgiu à

incongruência entre o social e o privado, as pressões no trabalho ou outra

característica patogênica presente na organização do trabalho são incapazes de

aflorar, por exemplo, uma psicopatologia de massa. Tal fato se justifica que entre as

contingências do trabalho e a doença mental, encontra-se o indivíduo, que se torna

capaz de reagir e defender-se de acordo com a sua subjetividade, histórico familiar e da

estrutura de personalidade (DEJOURS, 1990).

Lima, Assunção e Francisco (2004) afirmam que Christophe Dejours adota uma

visão teórica bem diferente de Sivadon e Le Guillant. A partir dos resultados obtidos

nas suas pesquisas iniciais, Dejours (1992) nega a existência de transtornos mentais

ocasionados exclusivamente pelo trabalho e considera que o trabalho pode ser

considerado como um elemento que provoca a descompensação do indivíduo, mas

jamais como terminante. Ele acrescenta que as pessoas, antes de

ingressarem numa organização, já têm sua estrutura de personalidade formada,

embutidas de descompensações neuróticas ou psicóticas.

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Dejours (1992) ressalta ainda que a condição na qual o sofrimento é revestido varia de

acordo com o tipo de organização. Como por exemplo, o trabalho repetitivo gera

insatisfação ao trabalhador e as tarefas perigosas executadas coletivamente,

originam medos específicos, tais modelos são considerados como uma porta de

entrada para as doenças psicopatológicas. Porém, de acordo com o autor, contra a

angústia e o sofrimento os trabalhadores criam estratégias defensivas coletivas para se

protegerem psicologicamente.

O autor citado acima considera ainda que a relação entre o aparelho mental e a

organização do trabalho é ambígua, pois há situações em que o trabalho é favorável ao

equilíbrio mental do sujeito. Quando a organização do trabalho é positiva, ao invés

de ser conflituosa, pelo menos uma, das duas condições a seguir é realizada: as

exigências intelectuais, motoras ou psicossensoriais da atividade laboral estão em

conformidade com as necessidades do trabalhador ou quando o mesmo pode

transformar a organização de seu trabalho (conteúdo, ritmo e modo operatório) de

acordo com o seu desejo ou suas conveniências.

Após a publicação de seu primeiro livro (Travail, usure mentale, 1980), Dejours

continuou realizando suas pesquisas como psiquiatra e professor da Faculdade de

Medicina de Paris e renunciou ao enfoque sobre as doenças mentais, transferindo

suas pesquisas para os mecanismos de defesa que os indivíduos utilizam contra o

sofrimento no trabalho. O texto do livro Psicodinâmica do Trabalho, publicado com

Elizabeth Abdoucheli e Christian Jayet, mostra esta nova postura de Dejours. Lima,

Assunção e Francisco (2004) ressaltam que os teóricos franceses foram os

fundadores do campo da Saúde Mental e Trabalho. Apesar das divergências

teóricas entre eles, todos tinham em comum o objetivo de esclarecer e comprovar as

relações entre certas formas de organização do trabalho e certos transtornos

mentais.

Portanto, as teorias referentes ao campo da saúde mental e trabalho estão distantes

de entrarem em um consenso. A seguir, apresenta-se o contexto da Psicodinâmica do

trabalho, área que trata a questão segundo nova perspectiva.

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2.2.2 Psicodinâmica do Trabalho Neste tópico são apresentados os princípios teóricos da Psicodinâmica do Trabalho,

seu objeto de estudo e propósito. A temática foi desenvolvida por Christophe

Dejours, na França, nos anos de 1990. Inicialmente, com referenciais teóricos da

Psicopatologia e, atualmente, com forte influência de conceitos da Psicanálise

(MENDES, 2007).

Numa perspectiva de abordagem diferente dentro do mesmo contexto, Christophe

Dejours adota não as doenças mentais como objeto de estudo e, sim, a normalidade. O

foco das pesquisas de Dejours se direciona para as estratégias que os

trabalhadores adotam para enfrentar mentalmente as disfunções no trabalho

(BRANT e MINAYO - GOMEZ, 2004).

Dejours (1992) defende que o trabalho não é o fator determinante para adoecimento

mental do trabalhador, e, enfatiza que cientificamente nunca foi comprovada “(...) a

existência de uma patologia mental decorrente do trabalho” (DEJOURS, 1992,

p.122).

Diante da mudança do enigma da Psicopatologia do Trabalho, que representa o

deslocamento do foco da doença para normalidade, Dejours propõe a mudança de

nome para Psicodinâmica do Trabalho:

(...) Segundo Dejours o grande enigma para a Psicopatologia do Trabalho não é a doença mental e sim a normalidade, isto é, o que importa realmente é compreender as estratégias defensivas (individuais e/ou coletivas) adotadas pelos trabalhadores com a finalidade de evitar a doença e preservar ainda que precariamente seu equilíbrio psíquico. A partir dessa constatação, ele propõe a mudança do nome da disciplina para “Psicodinâmica do Trabalho” argumentando que não foi possível estabelecer uma relação causal entre certos distúrbios psíquicos e certas formas de organização do trabalho. Além disso, considera esta segunda denominação mais adequada na medida em que amplia o campo de investigação, permitindo um olhar para o sofrimento, mas também para o prazer no trabalho. Em suma, Dejours não admite que o trabalho seria causador de doenças mentais, podendo no máximo desencadeá-las e,

ainda assim, sob certas circunstancias bastante específicas (...). (LIMA, 2006, p. 13-14).

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Dejours (2008) define como finalidade da Psicodinâmica do Trabalho analisar o

trabalho enquanto atividade humana, na qual se busca interpretar clinicamente o

porquê e como o mesmo trabalho, dependendo da forma como é organizado, tanto

pode causar destruição, como também, ser construtor de saúde.

Na perspectiva epistemológica, a pesquisadora Mendes (2007, p.32) define a

Psicodinâmica como “(...) uma teoria crítica do trabalho, que envolve dimensões da

construção – reconstrução das relações entre sujeitos-trabalhadores e realidade

concreta do trabalho”.

Na tentativa de definição da Psicodinâmica do Trabalho, percebe-se o

distanciamento de autores que buscam focar apenas o lado negativo do trabalho. A

adequada definição supõe uma compreensão da complexa relação entre o

sofrimento e a manutenção da saúde mental equilibrada dos trabalhadores no

ambiente laboral.

De acordo com Mendes (2007), o sofrimento no trabalho, segundo a teoria

dejouriana, assume uma dualidade entre a saúde e a patologia. Quando o

trabalhador consegue enfrentar estas situações de desconforto no trabalho, que

causam a instabilidade psicológica, o sofrimento cede lugar ao prazer. A patologia

ocorre quando são instauradas falhas neste enfrentamento e o desejo da produção

fica sobreposto ao do trabalhador. Em conformidade com Mendes (2007), os autores

Brant e Minayo - Gomez (2004, p.219) destacam que “(...) o adoecimento pode

acontecer devido a uma retenção de energia pulsional por uma situação de trabalho

que impede a descarga adequada da carga psíquica”.

O sofrimento está presente nas atividades laborais, pois trabalhar inclui enfrentar o

real – regras e as incidências que ocorrem diante das previsões. Contudo, o ato de

trabalhar presume a superação dos obstáculos e a busca por soluções. Deduz-se

que o trabalho apresenta possibilidades de transformar este sofrimento e depende,

portanto, da subjetividade do sujeito: quando vence a resistência do real, transforma-se

a si mesmo, ou seja, de algum modo torna-se mais confiante e inteligente para

enfrentar novas dificuldades, porém, quando não há o enfrentamento ou superação

deste sofrimento, eventualmente pode desencadear uma doença psicopatológica

(DEJOURS, 2008).

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Athayde (2005, p.988) corrobora com Dejours (2004) e ressalta “(...) os

trabalhadores não se mostram passivos em face das (...) pressões organizacionais, e,

sim, capazes de se proteger dos efeitos nefastos à saúde mental. Eles sofriam, mas

sua liberdade se exercia (...) na construção de sistemas defensivos (...)”.

Dentre os conceitos elaborados por Dejours (1992), compreende-se por estratégias

defensivas regras de condutas coletivas elaboradas pelos próprios trabalhadores

com o intuito de suportar e minimizar o sofrimento. São marcadas pela criatividade,

específicas de cada categoria profissional e mantidas para lidar com as

contingências do trabalho.

Nota-se, portanto que os trabalhadores criam modelos de defesa para lidar com as

adversidades presentes no contexto laboral. E, que nem sempre, o trabalhador que

está com algum tipo de sofrimento no trabalho obrigatoriamente torna-se um sujeito

doente. Tanto o sofrimento quanto as estratégias defensivas são importantes para a

manutenção da saúde dos trabalhadores.

Mais adiante, Dejours caracteriza o trabalho como fonte de prazer e de sofrimento.

Segundo o autor, o sofrimento instiga o trabalhador para que o mesmo encontre

uma saída para o seu desajuste psíquico. E a fonte de prazer remete ao conceito de

mobilização subjetiva, na qual o trabalhador, através do coletivo, da sua

subjetividade e do seu saber fazer, tenta dar um novo sentido ao trabalho, ou seja,

subvertendo o significado do sofrimento (MENDES, 2007).

Com o intuito de elucidar as informações sobre a Psicodinâmica do Trabalho, serão

abordadas as suas principais características, visando compreender como os

trabalhadores conseguem manter o equilíbrio psíquico, mesmo diante de condições de

trabalho que oferecem características patogênicas. Esta abordagem visa o

coletivo e não os sujeitos individualmente. Ela deve ser compreendida como uma

teoria crítica do trabalho e ao mesmo tempo, como uma clínica, que utiliza como

bases epistemológicas a Psicanálise e a Sociologia Crítica. Seu uso é traçado nas

discrepâncias e na dinâmica que envolve as relações intersubjetivas: o sujeito, o

trabalho, o sofrimento, a doença e a normalidade. Por meio da fala, as pesquisas

realizadas pela Psicodinâmica do Trabalho destinam-se a compreender o sofrimento

expressado pelos trabalhadores participantes. A pesquisa é composta de três etapas:

a primeira é caracterizada pela interpretação da demanda; a segunda, refere-se ao

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momento em que são discutidas em grupo as relações entre a organização do

trabalho e as vivências de prazer e sofrimento dos trabalhadores e, por último,

tem-se a validação dos resultados (DEJOURS, 2004; MERLO e MENDES, 2009).

De acordo com o que foi abordado, o trabalho constitui papel fundamental na

dualidade do processo saúde–adoecimento. Cabe a cada sujeito trabalhador

encontrar maneiras subjetivas de transformar o sofrimento em prazer e,

principalmente, buscar maneiras para dar sentido ao trabalho que realiza.

Uma análise da produção científica sobre Psicopatologia do Trabalho e Psicodinâmica

aponta a evolução de pontos de vista dos autores, especialmente de Paul Sivadon, Le

Guillant e Christophe Dejours. O quadro 02, construído pela autora deste trabalho,

aponta as divergências e os pontos de encontro desses trabalhos.

É oportuno lembrar, antes de se proceder à leitura do quadro 02, que vários estudiosos

brasileiros da questão sofrimento/adoecimento no trabalho realizaram suas pesquisas

em universidade francesa em diferentes momentos e que seus trabalhos refletem a

orientação dominante em cada momento.

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QUADRO 2 - Conceitos e evolução da Psicopatologia e Psicodinâmica do Trabalho

Psicopatologia do Trabalho

Autor

Paul Sivadon

Louis Le Guillant

Christophe Dejours

Período

1952

1956

1980

Publicações

“Psicopatologia do Trabalho”

“Neurose das Telefonistas”

“A loucura do Trabalho”.

Perspectiva

Organicista

Sociogenética

Causalista

Objeto de estudo

Sofrimento/doe nça no trabalho

Sofrimento/ doença no trabalho

Sofrimento/ doença no trabalho

Ponto central

O trabalho provoca distúrbios mentais.

Certas formas de organização do trabalho provocam distúrbios mentais.

As pressões do trabalho podem provocar doenças psicopatológicas.

Contribuições

Ergoterapia

Abordagem Psicossociológica.

Não é possível provar uma patologia mental decorrente do trabalho.

Psicodinâmica do Trabalho

Autor

Christophe Dejours (1ª Fase)

Christophe Dejours (2ª Fase)

Christophe Dejours (3ª Fase)

Período

1980

1990

1990 até atualidade

Publicações

“A loucura do trabalho”.

“Da Psicopatologia à Psicodinâmica do trabalho”.

“A banalização da injustiça social”.

Perspectiva

Causalista

Psicanalítica

Psicanalítica

Objeto de estudo

Origem do sofrimento no confronto sujeito-trabalhador com a organização do trabalho.

Enfoca as vivências de prazer – sofrimento inerentes ao contexto do trabalho.

Como os trabalhadores subjetivam as vivências de prazer-sofrimento no trabalho.

Ponto central

Identificar as síndromes ou as doenças mentais caracterizadas pelo trabalho.

Identificar as estratégias (individuais/coletiv as) usadas pelos trabalhadores para manter a saúde e evitar o adoecimento mental.

Identificar a maneira como os modos de subjetivação dos trabalhadores são construídos, tendo como base o sofrimento e as estratégias de ação perante as novas formas de organização do trabalho.

Contribuições

Compreender o sofrimento dos trabalhadores no trabalho.

Foco a normalidade e não, o sofrimento do trabalhador.

As relações sociais e a produção de sentido no trabalho.

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa (2015)

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O próximo subitem apresenta a produção científica sobre o adoecimento mental no

trabalho, fenômeno abordado tanto na perspectiva da Psicopatologia, quanto da

Psicodinâmica nos trabalhos que foram identificados na literatura.

2.3 Produção científica sobre o adoecimento mental no trabalho Utilizando-se as palavras-chave - sofrimento no trabalho, adoecimento mental,

adoecimento no trabalho, saúde do trabalhador - foram consultadas as bases de

dados Scielo, Capes, Google acadêmico, Portal Capes e foram levantadas

algumas pesquisas referentes às psicopatologias mais comuns decorrentes do

trabalho e, também, as consequências advindas das doenças laborais tanto

para o sujeito quanto para a organização nos últimos 10 anos.

Pesquisadores na área de Saúde Mental e Trabalho apontam dificuldades em

estabelecer a correlação entre os transtornos mentais e o trabalho. Também

ressaltam a dificuldade de identificar quais são as atividades decorrentes do trabalho

que favorecem o surgimento de transtornos mentais (SILVA et al., 2009).

Frente à globalização, as organizações contemporâneas estão em crescentes

transformações com o objetivo de adaptar às exigências do mercado de trabalho

vigente. Estas mudanças também influenciam o trabalhador pelos seguintes fatores:

sobrecarga de trabalho para cumprir metas, carga horária intensa, conflitos

interpessoais, medo da demissão, entre outros. Dentre as características do mundo

do trabalho atual, os pesquisadores Bevian e Assmann (2012) realçam que:

(...) os trabalhadores encontram-se nesta condição, sendo extremamente controlados, submetidos a regime de trabalho extenuantes, com metas exorbitantes às suas limitações físicas e mentais; com fins de sua manutenção no emprego, em termos de globalização, com mão de obra excedente e ainda com baixo poder aquisitivo, acabam se sujeitando a este

sistema, sem resistências e resultando, muitas vezes, adoecidos. (BEVIAN; ASSMANN, 2012, p. 12)

Muitos trabalhadores, por medo da demissão, pela sua baixa autoestima, por falta

de estudo ou qualificações profissionais e condições socioeconômicas limitadas,

ficam estagnados no ambiente de trabalho, que contêm características patológicas e

podem ocasionar, ao longo do tempo, doenças físicas e psíquicas.

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Além disso, quando há contradição entre os desejos do sujeito a respeito do seu

trabalho e a forma como este é organizado, podem ocorrer conflitos entre colegas e

chefias, determinados pelo individualismo e competição. Submetido a essas

condições do universo do trabalho, o sujeito torna-se suscetível às doenças

ocupacionais, como os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho

(DORT), a Lesão por Esforços Repetitivos (LER), a depressão, a síndrome de

Burnout, entre outras (BEVIAN e ASSMANN, 2012).

Esses autores ressaltam que quando, a iniciativa e criatividade do trabalhador são

bloqueadas pelo modo de organização do trabalho, o sujeito nega a sua

subjetividade nas atividades laborais, gerando intenso sofrimento psíquico para si

mesmo.

Os autores Braga, Carvalho e Blinder (2010), por sua vez, apontam que os

Transtornos Mentais Comuns (TMC) são definidos como queixas somáticas, as

quais acarretam prejuízos ao funcionamento normal do sujeito. Essas queixas

compõem o quadro de problemas de saúde pública e ocasionam elevados índices

de absenteísmos no trabalho.

Com o intuito de se adaptarem às novas formas de organização do trabalho, os

trabalhadores ficam suscetíveis a um grande desgaste mental. Dentro dessa

premissa, os autores, Souza et al. (2010) realizaram uma pesquisa para identificar

os aspectos psicossociais do trabalho e transtornos mentais comuns em

eletricitários e concluíram que, nervosismo e insônia são queixas frequentes deste

grupo de trabalhadores advindas de situações de tensão em suas atividades

laborais.

Um estudo elaborado por Jodas e Haddad (2009) relata o alto risco para a

manifestação da Síndrome de Burnout (definida como resposta do estresse laboral

crônico) em trabalhadores da área de enfermagem. Dentre os motivos apontados

para este elevado índice, merecem notoriedade as dificuldades em balizar os

diferentes papéis da profissão, falta de reconhecimento profissional, além da auto

cobrança do profissional de trabalhar com “vidas em risco”.

Os autores Kirchhof et al. (2009) corroborando com Jodas e Haddad (2009)

acrescentam que os trabalhadores da área da saúde, especialmente em ambiente

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hospitalar, lidam com diversos fatores desgastantes no dia-a-dia de trabalho.

Pesquisas apontam a profissão de enfermagem como uma das categorias com alto

risco de desgaste e adoecimento. Entre as questões que contribuem para esta

estatística vale destacar: “(...) dupla jornada de trabalho, a desvalorização do

trabalho feminino e a hegemonia do discurso médico em relação aos demais

profissionais da área (...)” (KIRCHHOF et al. 2009, p.216).

Lancman et al. (2009), em sua pesquisa sobre as repercussões da violência na

saúde mental de trabalhadores do Programa Saúde da Família, ressaltam que os

profissionais que trabalham nesta área ficam mais expostos às situações de

violências por estarem alocados em áreas de maior risco social. Esses profissionais

têm contato direto com a população atendida além de, muitas vezes, o atendimento

ser realizado na residência do usuário ou em grande parte, em ambientes abertos.

Portanto, a organização do trabalho do Programa expõe os empregados a

sentimentos de impotência perante os problemas sociais que presenciam, além de

causar-lhes medo do risco da exposição e receio de retaliação.

O ambiente de trabalho citado é vivenciado pela autora desta pesquisa, que destaca

também a dificuldade que os trabalhadores encontram em distanciar o aspecto

pessoal do profissional. Em sua maioria, as Agentes Comunitárias de Saúde

(ACS´s) testemunham situações de risco e criam vínculos direto com os pacientes,

o que proporciona sentimento de ineficácia frente à complexidade das questões

que, muitas vezes, é de difícil solução. Tais condições contribuem para desestabilizar

a estrutura emocional do servidor público envolvida.

Nesta mesma premissa, o estudo científico elaborado por Braga, Carvalho e Blinder

(2010), sobre condições de trabalho e transtornos mentais comuns em

trabalhadores da rede básica de saúde de Botucatu (SP) revela que a maioria dos

trabalhadores enquadrou-se em situações de trabalho que requer elevada

demanda psicológica.

Outro aspecto relevante nesta pesquisa é que as categorias profissionais com

baixos salários, pertencentes a escalões hierárquicos inferiores e que recebem altas

cobranças com relação ao cumprimento de horários, apresentaram elevados índices

de Transtornos Mentais Comuns (TMCs).

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Ainda no contexto de saúde pública, Trindade et al. (2007), na pesquisa sobre

cargas de trabalho entre os agentes comunitários de saúde, destacam como

gravames psíquicos da profissão o risco das ACS´s serem agredidas nas visitas

domiciliares. Além disso, esses profissionais experimentam desgastes emocionais

por lidarem com pessoas que residem no seu bairro, por desenvolverem trabalho

monótono e repetitivo e pela falta de recursos individuais e institucionais para

enfrentarem as demandas da profissão. Falta-lhes, ainda, liberdade para tomar

iniciativas e para organizar o trabalho. Tais fatores contribuem para o desgaste físico

e determinam doenças somáticas desses profissionais, acarretando insatisfação,

desânimo, fadiga, desmotivação no trabalho e intenso sofrimento psíquico.

Silva et al. (2009) ressaltam que a forma de organização do trabalho pode acarretar

ao trabalhador disfunções biológicas e psicológicas, o que impacta a saúde física e

mental do mesmo. Dentre as condições que podem expor o trabalhador à situações

de sofrimento no trabalho valem destacar produtividade elevada, jornadas extensas

de trabalho, horários de turno, pressões de chefias para cumprir metas, entre outros.

Percebe-se, portanto, que algumas categorias profissionais, devido à forma de

organização do trabalho na qual estão inseridas, ficam mais suscetíveis ao

adoecimento mental. Logo, as cobranças intensas exigidas pelas organizações

podem gerar sobrecargas nos trabalhadores, e acarretar sérios danos para sua

saúde física e mental. Em consequência do desequilíbrio mental decorrente desta

sobrecarga, o trabalhador não realiza bem suas atividades laborais.

Souza et al. (2010) corroboram com Silva et al. (2009) ao apontarem que fatores

presentes na organização do trabalho como exigência excessiva e baixo apoio social

aumentam a vulnerabilidade às enfermidades dos trabalhadores. Baseado nesta

premissa, Jardim (2011, p.88) concluiu que: “os métodos de dominação atual na

organização do trabalho para a qualidade total tendem a destruir o mundo social e

aponta para o absurdo de hoje em dia, o envolvimento demasiado com o trabalho

representar um verdadeiro perigo”.

Nesta mesma premissa, Dejours (2008) destaca a avaliação individualizada e a

qualidade total presentes nas empresas contemporâneas como uma forma de

pressão que pode ser considerada como fonte ou causa do agravamento de

doenças psicopatológicas no trabalho.

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Observa-se, então, que para o trabalhador conseguir suprir às cobranças impostas

pela empresa, se doam intensamente às atividades laborais. Em consequência

disso, ficam sobrecarregados emocionalmente e tornam-se mais vulneráveis às

doenças psicopatológicas.

A pesquisa realizada pelos autores Bevian e Assmann (2012) sobre o adoecimento

do trabalho revela que, segundo dados do IBGE, 10% dos trabalhadores com

emprego formal na cidade de Blumenau (SC), são afastados do trabalho todos os

anos, devido à incapacidade para o trabalho.

Os autores Kirchhof et al. (2009) afirmam que sintomas de fadiga, insônia,

irritabilidade, diminuição da concentração, ansiedade entre tantos outros, são os

mais citados por trabalhadores com diagnóstico de Distúrbios Psiquiátricos Menores

(DPMs). Tais fatores ocasionam incapacidade laboral igual ou maior do que quadros

crônicos de Transtornos Mentais.

O adoecimento mental decorrente do trabalho ocasiona grandes perdas, não

somente para o trabalhador, como também, para a organização. De acordo com

dados da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social

(DATAPREV), em 2009, os Transtornos Mentais e do Comportamento segundo

a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) ocupam o terceiro lugar em

número de auxílios-doença concedidos pelo Instituto Nacional de Seguro Social

(INSS) (JARDIM, 2011).

Na pesquisa realizada sobre estresse ocupacional e Burnout, os autores Souza et

al. (2009) salientam que a pessoa exposta ao estresse no ambiente de trabalho

pode desenvolver ou não a Síndrome de Burnout. Em relação às diferenças entre

estas duas patologias, os autores ressaltam que o estresse se desenvolve a

partir de episódios específicos, enquanto a Síndrome de Burnout resulta de um

longo período de tentativas frustradas de lidar com o estresse ocupacional

cumulativo, que acaba provocando exaustão emocional, o sentimento de não se

reconhecer em suas ações – despersonalização e ausência de realização pessoal.

Os autores ainda ressaltam que a Síndrome de Burnout afeta de forma

substancial a saúde do trabalhador e está diretamente relacionada com o

desempenho no trabalho, com a qualidade de vida e com o bem-estar

psicológico e traz nocivas consequências para o trabalhador, tanto nas

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relações interpessoais quanto profissionais. Esta variação irá depender da

capacidade individual de enfrentamento das ocorrências problemáticas dentro do

contexto laboral. Em outras palavras, não é somente vivenciar os problemas

no trabalho que causa o adoecimento mental e sim, a maneira como o sujeito

enfrenta as situações-problema.

De acordo com Jodas e Haddad (2009), a Síndrome de Burnout pode ser evitada,

desde que a organização invista em atividades preventivas, com atuação

multidisciplinar no qual permita ao trabalhador resgatar as características afetivas

dentro do contexto do trabalho. Mediante esta e em outras pesquisas, as

organizações devem se aprimorar em programas sociais e de prevenção de

adoecimento mental dos seus trabalhadores.

Infere-se que apesar da Síndrome de Burnout ter sua origem relacionada às

atividades laborais, ela afeta de maneira significativa as esferas íntima, coletiva e

profissional do sujeito. Conclui-se, também, uma grande influência dos aspectos

subjetivos, como traços da personalidade, estrutura psíquica e recursos de

confrontação do trabalhador como determinantes ou não de adoecimento mental

decorrente das atividades do trabalho.

Pesquisas apontam que os transtornos mentais constituem a principal causa de

afastamento de funcionários do trabalho. A Organização Mundial de Saúde

(OMS) divulgou que a depressão foi a quarta causa de perda de dias de atividades

laborais (JARDIM, 2011). Atualmente, a depressão tornou-se um transtorno mental

bem comum; entretanto, ainda se tem dúvida com relação aos seus sintomas:

O quadro sintomatológico para este transtorno configura-se como uma tristeza de maior intensidade e frequência que uma tristeza cotidiana comum. Indivíduos acometidos com o transtorno apresentam baixa responsividade em relação aos elementos do meio, incluindo o trabalho, como sintomas como redução no nível de motivação, retardo psicomotor, lentidão do pensamento, pessimismo extremo, baixa auto-estima e sentimentos de desvalorização. Aparecem também pensamentos intrusivos, idealizações suicidas, sintomas e manifestações de ordem somática, além de alterações e perturbações como perda de apetite, alterações do ciclo sono-vigília e perda do interesse sexual. Entretanto, ressalta-se que é preciso uma alteração significativa desses elementos para caracterizar-se a

depressão (SILVA et al., 2009, p.84). Vale ressaltar que todo sujeito apresenta alterações psíquicas no seu estado mental,

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ou seja, naturalmente ocorrem oscilações no humor, nos sentimentos, nas formas de

reagir a momentos difíceis. Porém, para serem caracterizados como patologia, estes

sintomas devem permanecer por um período prolongado, com certa intensidade e

ocasionando prejuízos para o sujeito na esfera social, conjugal e laboral.

Souza (2010) ressalta o silêncio como um sintoma que acomete muitos depressivos.

Devido a esta dificuldade de expressar seus sentimentos, muitas vezes ocorre à

demora em encontrar o diagnóstico correto e o trabalhador fica paralisado diante dos

sofrimentos acometidos pela doença.

Na pesquisa a respeito das considerações sobre o transtorno depressivo, os autores

Silva et al. (2009, p.34) apresentam uma lista de 12 transtornos mentais e do

comportamento relacionados às atividades laborais, de acordo com a portaria do

Ministério da Saúde, nº 1.339, de 18 de novembro de 1999:

a) demência em outras doenças específicas classificadas em outros locais; b) delirium, não sobreposto à demência, como descrita; c) transtorno cognitivo leve; d) transtorno orgânico de personalidade; e) transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado; f) alcoolismo crônico; g) episódios depressivos; h) estado de estresse pós-traumático; i) neurastenia; j) outros transtornos neuróticos especificados; k) transtorno do ciclo vigília-sono devido a fatores não orgânicos; l) síndrome de Burnout ou esgotamento profissional.

Vale destacar que, no universo do trabalho contemporâneo, estão embutidos fatores

que expõem o trabalhador ao adoecimento físico e mental. Porém, ainda há uma

dificuldade de estabelecer a causalidade entre estes transtornos mentais e o

trabalho desempenhado pelo sujeito.

Mendes (2007) observa que de acordo com a teoria de Dejours (2004) em seus

estudos recentes, destaca-se a existência de três patologias sociais associadas ao

trabalho. A primeira é denominada de sobrecarga que é instaurada na relação entre

a contrariedade e liberdade da organização com o trabalhador, ou seja, surge

quando a liberdade é limitada pelas imposições do trabalho e o sujeito encontra-se

vinculado a uma auto exigência em excesso. A segunda utiliza o conceito

de servidão voluntária que demonstra os extremos exigidos pela organização

aos trabalhadores através dos fundamentos de racionalidade econômica,

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flexibilização do capital, submissão consentida e banalização do sofrimento com a

finalidade de garantir a produtividade da organização do trabalho. E, por fim, tem-se

a patologia da violência caracterizada ações destrutivas contra si mesmo, contra

o patrimônio e contra os outros, estas relações ocorrem quando há a ruptura

entre na junções subjetivas com o trabalho, no qual o mesmo perde o sentido e o

sofrimento acomete também a vida social e familiar do sujeito.

Nota-se que particularmente todas as três patologias sociais citadas são

prescritas pela organização do trabalho, que impõe ao trabalhador processos

elaborados pela própria instituição e que ultrapassam o limite de defesas mentais do

sujeito. Dessa maneira, rompe-se a vinculação saudável entre empresa e

trabalhador e, como consequência, surgem às doenças psicopatológicas.

Diante da profundidade dos sintomas da depressão, torna-se viável que as

organizações invistam em programas de acompanhamento psicológico para seus

trabalhadores, para que os mesmos tenham espaço para falar dos seus conflitos

internos, do trabalho, familiares, entre outros. Desta maneira, o local de trabalho não

ocuparia apenas um espaço penoso, e, sim, um ambiente saudável e prazeroso

para o sujeito.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este capítulo apresenta a caracterização da pesquisa realizada, os instrumentos de

coleta de dados, a unidade de análise e os sujeitos de pesquisa e a técnica utilizada

para a interpretação dos resultados.

3.1 Caracterização da pesquisa O objetivo central desta pesquisa é analisar fatores determinantes de adoecimento

mental de profissionais que trabalham numa Secretaria Municipal de Saúde. Como

se trata do estudo de aspectos subjetivos relacionados à saúde desses profissionais,

a autora optou pela abordagem qualitativa. O campo de estudo em saúde mental é

amplo e contêm características intrínsecas à história de vida do sujeito e à sua

personalidade, itens fundamentais para entender o processo de adoecimento

mental. Para Fraser e Gondim (2004, p.141):

(...)a abordagem qualitativa ou ideográfica parte da premissa de que a ação humana tem sempre um significado (subjetivo ou intersubjetivo) que não pode ser apreendido somente do ponto de vista quantitativo e objetivo (aqui entendido como independente do percebedor e do contexto da percepção). O significado subjetivo diz respeito ao que se passa na mente consciente ou inconsciente da pessoa (individualismo metodológico – o nível de análise é a pessoa) e o significado intersubjetivo se refere ao conjunto de regras e normas que favorecem o compartilhamento de crenças por grupo de pessoas inseridas em determinado contexto sociocultural (...).

Percebe-se, portanto, que a interpretação subjetiva dos entrevistados sobre o tema

a ser investigado tem relevância fundamental na pesquisa qualitativa. Godoy (1995)

corrobora com os autores já citados e acrescenta que o pesquisador vai a campo

coletar e analisar dados com o objetivo de entender o objeto de estudo a partir da

dinâmica e perspectiva das pessoas que estão envolvidas no processo.

Quanto aos fins, a presente pesquisa é descritiva. Goulart (2002, p.7) define que

“as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das

características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de

relações entre variáveis”. Portanto, o estudo irá analisar, de acordo com a percepção

dos servidores públicos estudados, quais são as relações entre o adoecimento

mental e as atividades do trabalho.

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Segundo Vergara (2011, p. 42), as pesquisas descritivas “não têm compromisso de

explicar os fenômenos que descrevem, embora sirvam de base para tal explicação”.

Em contrapartida, podem estabelecer correlações entre variáveis e definir sua

natureza.

Quanto aos meios, a pesquisa constitui um estudo de caso. Trata-se de uma

técnica muito utilizada nos estudos sociais, como meio de investigação. Como

definição de estudo de caso, Godoy (1995, p.25) afirma que “se caracteriza como

um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente”.

De acordo com Yin (2010), o estudo de caso é uma forma de se fazer pesquisa

empírica que investiga fenômenos contemporâneos, buscando responder como e

por que eles acontecem dentro de seu contexto real. Godoy (1995) acrescenta que o

estudo de caso pode ser considerado também como uma técnica de ensino, na qual

há uma estreita relação entre prática e teoria, porque objetivamente proporciona

uma análise, discussão e reflexão de um problema advindo da vida real.

Segundo os autores Godoy (1995); Gil, (1999) e Yin (2010), o pesquisador

quando opta pela técnica de estudo de caso deve estar disponível para novas

descobertas, porque são abordadas realidades complexas vividas dentro de um

mesmo contexto social.

3.2. Unidade de análise e Sujeitos da pesquisa Esta pesquisa foi realizada na Secretaria Municipal de Saúde, em um

município do estado de Minas Gerais, que, à época da coleta de dados, contava

com uma população de estimada de 229.887 habitantes, segundo dados do IBGE

(2010). Na unidade estudada, trabalham servidores efetivos que ingressaram na

Secretaria por concursos públicos e contratados, mediante processos seletivos

conduzidos pelo setor de Gestão de Pessoas e que desempenham diferentes

funções.

A população da presente pesquisa é constituída por servidores públicos da

Secretaria Municipal de Saúde que experimentaram adoecimento no período ao qual

se refere a presente pesquisa. Tendo como referência aqueles que buscaram

atendimento psiquiátrico ou psicológico, a amostra foi constituída por aqueles que

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aceitaram submeter-se a entrevista realizada pela autora desta pesquisa. De

acordo com a especificidade do assunto, a seleção da amostra foi intencional,

não-probabilística, por acessibilidade. Não se trata, portanto, de uma

amostra que representa numericamente a população estudada, mas trata-se de

uma seleção de sujeitos que experimentaram o adoecimento e cujas

percepções de realidade podem ser representativas do universo de

servidores. Esses oito sujeitos de pesquisa selecionados são servidores

públicos que apresentam como características o fato de, no período

compreendido entre janeiro de 2013 a maio de 2015, apresentarem sintomas

depressivos, estressados, insatisfeitos com o trabalho e/ou poli queixosos. Esses

trabalhadores desempenham funções de agentes comunitários de saúde,

enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de serviços gerais e nutricionistas.

Não houve critério de seleção referente à idade, sexo, estado civil,

escolaridade e exercício de algum cargo.

A caracterização desses sujeitos de pesquisa é a seguinte:

Uma – Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Estratégia de Saúde A.

Uma – Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Estratégia de Saúde B.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde C.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde D.

Uma enfermeira – Coordenadora da Estratégia de Saúde E.

Uma técnica de enfermagem da Estratégia de Saúde F.

Uma auxiliar de Serviços Gerais da Estratégia de Saúde G

Uma nutricionista – que atuava no Núcleo de Apoio à Saúde da

Família (NASF).

Para evitar a identificação desses funcionários, os mesmos foram citados na análise

de resultados mediante a designação Servidor, seguida de um numeral de 1 a 8.

(Servidor 1, Servidor 2, etc.).

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3.3 Instrumentos de coleta de dados Na presente pesquisa, como instrumento de coleta de dados foi utilizada a

entrevista, que segundo Gil (1999) é

A técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. (GIL, 1999, p. 117)

Na pesquisa cientifica, a entrevista é comumente utilizada como fonte de coleta de

dados. Na pesquisa qualitativa, os autores Fraser e Gondim (2004) definem suas

vantagens de utilização:

A entrevista na pesquisa qualitativa, ao privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. Em outras palavras, a forma específica de conversação que se estabelece em uma entrevista para fins de pesquisa favorece o acesso direto ou indireto às opiniões, às crenças, aos valores e aos significados que as pessoam atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante (...).(FRASER; GONDIM, 2004, p. 140)

Godoy (1995) completa o ponto de vista dos autores já citados ao reforçar que

frequentemente se faz a combinação da técnica da observação com a entrevista. A

observação pode ser de caráter não participante – quando o pesquisador atua como

espectador atento e, participante – quando o pesquisador procura não somente

ver como registrar o máximo de ocorrências importantes para o estudo. Nessa

pesquisa, foi utilizado o tipo de observação participante, porque a

pesquisadora também trabalha na Secretaria de Saúde da Prefeitura.

A autora da presente pesquisa optou pelo modelo semi-estruturado, pelo contato

próximo que tem com os sujeitos a serem pesquisados, o que favorece um clima de

confiança, liberdade e espontaneidade entre os entrevistados e a pesquisadora:

Podemos entender por entrevista semi-estruturada, em geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas dos informantes (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).

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A opção pela entrevista semi-estruturada possibilita a coleta de relatos subjetivos

dos entrevistados, com base em roteiro previamente formulado. Não há necessidade

de imposição de uma ordem rígida de questões, mas as perguntas fundamentais

devem estar relativamente estruturadas para que se obtenha mais precisão nos

dados coletados (GODOY, 1995). O pesquisador tem autonomia para modificar ou

acrescentar perguntas pertinentes ao tema de estudo caso verifique necessidade.

No roteiro de entrevista, as questões foram construídas visando alcançar os

objetivos específicos da pesquisa e são subdivididas em:

Significado do trabalho.

Manifestações do processo de adoecimento mental associado ao trabalho.

Fatores determinantes do adoecimento mental (relacionados ao trabalho).

Implicações do Atendimento psicológico e/ou psiquiátrico.

As entrevistas foram realizadas individualmente no próprio ambiente de trabalho.

Inicialmente, foi feita pela autora uma breve exposição sobre o tema a ser

pesquisado e estabelecido um rapport, para que os entrevistados se sentissem à

vontade. As entrevistas foram gravadas, com vista a garantir a fidelidade das

respostas. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e validadas com cada

sujeito entrevistado. A pesquisadora teve o cuidado de assegurar aos entrevistados

o sigilo com relação à sua identidade.

3.4Técnica de interpretação dos resultados As entrevistas coletadas foram submetidas à análise de conteúdo conforme o

modelo proposto por Bardin (2007), segundo a qual a análise de conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2007, p.42)

A realização da análise de conteúdo implica na observação das seguintes fases:

Fase da pré-análise: Inclui uma leitura flutuante do material, para se

tomar conhecimento do assunto; a escolha dos documentos que serão

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utilizados e o preparo do material a ser analisado.

Fase de exploração do material: Nesta fase, têm lugar as operações de

codificação, enumeração em função de regras previamente formuladas e

categorização.

A codificação é uma transformação dos dados brutos do texto, segundo regras

precisas. Esta transformação é feita por recorte, agregação e enumeração e permite

atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão, capaz de esclarecer

características do entrevistado.

A categorização é uma classificação dos elementos constitutivos de um conteúdo e

geralmente se baseia nos objetivos específicos do trabalho e no referencial teórico

que fundamenta a análise dos resultados.

Quando as categorias não são definidas previamente, a leitura das entrevistas pode

direcionar a escolha das categorias e mesmo das subcategorias. Neste caso,

podem-se inferir os temas que estão presentes em todas ou quase todas as

entrevistas. No presente caso, as categorias foram pré-definidas, pois serviram

de referência para elaboração roteiro de entrevista que foi adotado para a coleta de

dados. Estas categorias estão apresentadas no Quadro 03, colocado ao final deste

ítem; incluem-se no quadro também as subcategorias que foram identificadas

quando se fez a análise das entrevistas realizadas.

Fase da análise e interpretação dos dados: Nesta fase, o pesquisador procura

tornar significativos e válidos os resultados obtidos. Na presente da pesquisa

foram coletadas as falas dos sujeitos e no momento da interpretação foram as

mesmas submetidas a uma análise qualitativa.

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QUADRO 3- Categorias temáticas e Subcategorias correspondentes à análise das entrevistas

Categorias

Subcategorias

Subcategorias

4.1. Significado do trabalho

- Importância/ identificação com o trabalho - Reconhecimento no trabalho

- Relação trabalho x Saúde

4.2. Manifestações do processo de adoecimento mental associado ao trabalho

- Sintomas de adoecimento mental

4.3. Fatores relacionados ao adoecimento mental no trabalho

- Privação dos direitos trabalhistas - Falta de transparência da gestão

- Protecionismo com servidores efetivos

-Insegurança/ambiente de trabalho inadequado

- Desvalorização do funcionário público - Falta de recursos/incentivos

- Pressão/sobrecarga no trabalho

4.4. Implicações do Atendimento Psicológico e/ou Psiquiátrico

- Ajuda especializada

- Diagnóstico/ medicação

- Afastamento das atividades laborais 4.5. Ambiente de trabalho saudável para a

saúde mental dos trabalhadores

- Garantia de direitos trabalhistas - Remuneração

- Apoio da gestão

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa (2015)

3.5 Submissão ao Comitê de Ética

A pesquisa realizada foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo

Seres Humanos designados pela Plataforma Brasil. Os procedimentos adotados

nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos

conforme Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, no qual assegura

os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica e aos sujeitos da

pesquisa, sendo aprovado em 7 de abril de 2015, com número do Parecer

1.141.262.

Com o objetivo de respaldar e elucidar os direitos dos sujeitos participantes da

pesquisa encontram-se no Apêndice A e B desta pesquisa os Termos

de Consentimento Livre e Esclarecido assinado por todas as servidoras públicas

que foram entrevistadas. No anexo A, pode ser visualizada a carta de aprovação

do Comitê de Ética em Pesquisa para a realização desta dissertação.

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4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Como foi mencionado no capítulo anterior, foram identificadas cinco categorias

temáticas, as quais serviram para a construção do roteiro de entrevista aplicado:

Significado do trabalho, Manifestações do processo de adoecimento mental

associado ao trabalho, Fatores determinantes do adoecimento mental relacionado

ao trabalho, Implicações do atendimento psicológico e/ou psiquiátrico e por

último, Ambiente de trabalho saudável para a saúde mental dos trabalhadores. Após

a leitura das entrevistas, foi possível identificar subcategorias, as quais constam

também do quadro 03.

A primeira categoria engloba o significado do trabalho. Busca-se compreender a

importância, a identificação, o reconhecimento e a relação do trabalho com a saúde

de acordo com a percepção dos servidores públicos participantes desta pesquisa.

A segunda categoria refere-se aos sintomas de adoecimento mental apresentados

pelos servidores públicos envolvidos associados ás atividades laborais dos mesmos.

A terceira categoria relaciona de acordo com a vivência no trabalho dos sujeitos

pesquisados, quais fatores podem ser considerados como determinantes do

adoecimento mental associados ao dia-a-dia no trabalho.

A penúltima categoria busca definir se houve procura por profissionais

especializados na área de saúde mental, identificar o diagnóstico, o uso de

medicamentos e afastamentos das atividades laborais decorrentes do adoecimento

mental do trabalhador.

Na última categoria pretende- se identificar na perspectiva dos sujeitos analisados

quais fatores é necessário para a garantia de um ambiente de trabalho saudável

para a saúde mental.

Com o propósito de tornar mais perceptível a clareza da análise dos dados, foi

utilizada fragmentos das entrevistas realizadas.

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4.1Categoria 1: Significado do Trabalho

Esta categoria diz respeito ao conceito que os servidores públicos têm sobre o

significado do trabalho. Assimilar essas concepções pode auxiliar no entendimento

da representatividade que o trabalho tem de acordo com a subjetividade de cada

servidor que trabalha nessa Secretaria Municipal de Saúde.

Não se pode negar a importância que o trabalho representa para o ser humano.

Ávila e Barcelos (2011) ressaltam que o trabalho é o meio que propicia ao sujeito a

realização de si. Os depoimentos a seguir demonstram a importância e a

identificação positiva de trabalhar na área de Saúde Pública.

“Pra mim, este trabalho é tudo. Me faz sentir útil ne? (..) e eu dei sorte por estar na área pública, que é uma área que eu gosto também. Então eu gosto do que eu faço, apesar de estar cansada, (...) gosto do dia a dia”.(Servidora 04).

“O Nasf sempre foi uma área que eu quis trabalhar, que é a área de saúde pública, desde a faculdade e foi a oportunidade que eu tive de crescer como profissional e também de relação interpessoal. Lidar com os pacientes de todas as classes, lidar com todos os casos possíveis e impossíveis, com as adversidades, limites de prefeitura e de burocracia, enfim, um pouco de tudo a gente vivencia e de todos os empregos que eu tive até hoje foi o que mais me marcou, o que me deu mais bagagem profissional e também pessoal. Grandes amizades também, mas de uma forma geral, todos se unem muito pela proposta do SUS, pelas dificuldades que a gente tem e eu acho que isso é bem importante”.(Servidora 08)

O primeiro comentário ressalta a concepção do trabalho como categoria

fundamental na vida desta servidora, sendo que ela realça seu gosto pela atividade.

O segundo depoimento enfatiza, principalmente, a oportunidade do relacionamento

social que advém do exercício profissional.

Os autores Jardim e Lacman (2009) ressaltam o trabalho com um fator fundamental

na formação de redes sociais, nas trocas afetivas e econômicas, no fato de

pertencer a um grupo e afirmam também que o trabalho tem a função psíquica de

ser a base para constituição do sujeito. Percebe-se que em ambos os relatos, as

servidoras citam as dificuldades de atuação profissional no serviço público, porém,

os benefícios, o crescimento pessoal e profissional, a satisfação de trabalhar com o

que atividades das quais se gosta e o trabalho em equipe se sobressaem quanto

aos aspectos negativos.

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É importante também destacar o reconhecimento no trabalho. Para que o sujeito

sinta-se motivado no trabalho, é necessário que o mesmo seja reconhecido. E este

reconhecimento somente é possível após uma experiência compartilhada, que é o

resultado colaborativo. Logo, o reconhecimento acontece após o julgamento

avaliativo do trabalho realizado. Os julgamentos podem ser identificados como

sendo de utilidade – realizada pelos gestores, subordinados ou clientes (linha

vertical) ou de estética ou de beleza – realizados pelos colegas de trabalho (linha

horizontal). Conclui-se, portanto, que para a efetivação do reconhecimento no

trabalho, é preciso que ocorra anteriormente uma análise dos julgamentos

(DEJOURS, 2008).

O reconhecimento proporciona ao trabalhador visibilidade sobre a maneira pela qual

seus colegas de trabalho e chefia à qual está subordinado o percebem e o

valorizam. Tal processo contribui de maneira positiva para a construção da sua

identidade no trabalho; o sujeito se sente realizado e consequentemente saudável

no âmbito psíquico. (ROSSI et al., 2009). O relato a seguir exemplifica este

processo.

“Nossa! o meu trabalho é muito importante porque (...) eu fiz prova e tudo, consegui entrar por mérito meu ne? Ai eu fui ACS (Agente Comunitária de Saúde) por dois anos e depois eu fui para a portaria, como atendente de portaria eu tenho um reconhecimento enorme aqui no posto, isso me deixa muito feliz, não que eu queira mandar ou desmandar, mas a enfermeira confia em mim, o médico confia em mim (...). O trabalho é importante para mim por causa do reconhecimento. (...) Porque o salário é pouco, mas, este reconhecimento da minha chefa, do médico, de pessoas de grau de nível superior, isto é importante. Muitas vezes eu penso em sair daqui, mas eu fico presa não ao salário ne? Mas a isso (...)”.(Servidora 05).

Percebe- se a motivação e a satisfação da servidora pelo fato do seu trabalho ser

reconhecido pelo julgamento de utilidade, representado pela observação feita por

sua gestora imediata e seus colegas com níveis superiores hierárquicos. Importante

registrar que ainda que o salário seja considerado insatisfatório, a servidora

considera que o reconhecimento supera esta falta.

Buscando a teoria que explique esta avaliação, encontra-se em Jardim e Lancman

(2009) que é a partir do olhar do outro que o ser humano se constitui como sujeito;

na relação com o próximo é que se estabelece o processo de semelhanças,

diferenças e reconhecimentos, e o trabalho aparece como mediador da

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constituição psíquica e da identidade.

Dejours (2004) afirma que a identidade pode ser considerada como uma proteção

psíquica que o sujeito tem contra os desafios que são impostos pela organização de

trabalho, e produz para o sujeito sentimentos de estabilidade, integração e

continuidade. Entretanto, o que intermedia esta proteção é o olhar do outro, então, a

produção de saúde torna-se intersubjetiva, ou seja, depende da estrutura de

personalidade do sujeito aliado ao vínculo estabelecido pelo mesmo no ambiente de

trabalho.

O trabalho em si apresenta dualidades – da mesma forma que pode gerar

sofrimento, pode ser responsável pela criação de oportunidade de crescimento

psicossocial para o sujeito. Isto significa que o trabalho tanto pode ocasionar

sofrimento/adoecimento, como também pode ser considerado fonte de prazer e de

desenvolvimento humano do sujeito (JARDIM e LANCMAN, 2009). Ademais, vale

destacar também que a ausência de trabalho na vida do sujeito pode causar

desajustes emocionais.

“Para mim o trabalho me ajudou demais, até porque quando eu arrumei este serviço, eu tinha acabado de fazer um transplante (eu tive aplasia de medula- falta dos glóbulos vermelhos) e pra mim foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. (...) Na minha cabeça e para minha família, aconteceu isso comigo porque eu estava desempregada na época, e eu fiquei louca e ficava imaginando quem é que ia pagar as minhas coisas, eu fiquei preocupada porque desde os meus 10 anos eu trabalho. Eu estava desempregada e sem dinheiro, ai veio a doença. (...) O trabalho me ajudou a recuperar porque eu conheci várias pessoas, cada uma com os seus problemas ne? E isso me ajudou demais. E todo mundo que reclamava alguma coisa comigo, eu contava o que tinha acontecido comigo pra eles e isso me ajudou demais”.(Servidora 02).

Nota-se que a pessoa pesquisada atribuiu seu adoecimento ao fato de ter estado

desempregada, evidenciando que o vínculo criado com o trabalho não é apenas

financeiro, mas também, psicossocial. Nesta mesma premissa, os autores Campos e

David (2011) ressaltam que o trabalho é considerado muito além de apenas ganhos

e serviços, é visto também como um recurso para determinar valores e adquirir

identidade.

Percebe-se que o universo do trabalho aliado ao meio humano está embutido um

espaço de múltiplas subjetividades. No próximo item será exposto como iniciou o

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processo de surgimento de sintomas psíquicos associados às atividades laborais

das servidoras públicas pesquisadas.

4.2Categoria 2: Manifestações do processo de adoecimento mental associado

ao trabalho Esta categoria busca identificar as manifestações do processo de adoecimento

mental dos servidores da Secretaria Municipal de Saúde quando associado às suas

atividades laborais. Verificar como surgem esses sintomas e o que ocasionam pode

auxiliar a instituição a investir em medidas corretivas e/ou preventivas no seu modo

de organização do trabalho, com a finalidade de manter equilibrada a saúde mental

dos servidores públicos.

Campos e David (2011) corroboram com Jardim e Lancman (2009) ao

reconhecerem o trabalho como fonte causadora de prazer e sofrimento. Quando os

trabalhadores conseguem transformar as situações que causam desgastes

emocionais e geram sofrimento, este enfrentamento torna-se saudável. A patologia

emerge quando o sujeito não consegue contornar este sofrimento, ou seja, quando o

trabalhador já utilizou todos os investimentos intelectuais e psicoafetivos para

atender às exigências impostas pela organização. Os autores ainda ressaltam que

os trabalhadores não são sujeitos passivos diante das dificuldades enfrentadas no

trabalho; buscam proteger-se dos efeitos maléficos, utilizando práticas de defesas

psíquicas, tais como: cooperação e inteligência.

Quando falta ao trabalhador reconhecimento no seu trabalho, nas oportunidades em

que não consegue utilizar sua inteligência e criatividade para contrapor às situações

não saudáveis impostas pela organização de trabalho, existe uma tendência ao

surgimento de sintomas psicopatológicos (DEJOURS, 2004).

As servidoras públicas relatam sintomas como crises de enxaqueca, ansiedade,

alterações no sono, estresse e iniciam o uso de medicação ansiolítica e depressiva

para conseguir enfrentar os transtornos causados pelo trabalho.

“(...) O primeiro episódio que eu tive foi uma faringite, fiquei totalmente afônica, e consultei com o médico no SUS que me deu o diagnóstico de que era Estresse. Um tempo depois eu comecei a apresentar um quadro de

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ansiedade que evoluiu para um quadro de enxaqueca, e eu fui obrigada a continuar trabalhando com enxaqueca, sofri um acidente de carro. Tive que continuar trabalhando com enxaqueca, minha crise de enxaqueca durou 35 dias, sendo que, os especialistas falam que qualquer crise que passam dos cinco dias já não é normal, tive que tomar muita medicação intravenosa, inclusive para dormir porque eu ficava cinco a seis horas sem dormir, sem efeito nenhum, eu acho que os quadros mais gritantes foram estes e fiz uso de ansiolíticos e antidepressivos, fiz uso até de anti-convulsivos para tentar controlar este quadro de enxaqueca e de ansiedade e o fato é que desde que eu sai da secretaria de saúde não faço mais uso de nenhum destes medicamentos”. (Servidora 08).

“ (...) Eu chegava em casa e tinha crises de choro, me perguntavam porque eu estava chorando e você não sabe explicar o porque e nem pra que. Sua cabeça, parecia que tinha um buraco que você sacudia e parecia que estava puro ar (...)”. (Servidora 04).

Estes danos estão relacionados com o nível de estresse das servidoras públicas e

são ligados ao trabalho. Segundo as narrativas, os sintomas inicialmente aparecem

como físicos, tais como, faringite, enxaqueca e falta de atenção concentrada,

porém, todas estas patologias dentro do contexto estudado são da esfera

emocional. Outro fato a ser destacado é que as queixas dos sintomas

psicopatológicos são semelhantes entre pessoas com profissões diferentes,

mas dentro do mesmo ambiente laboral.

Com o intuito de esclarecer e associar os relatos dos sujeitos obtidos nas

entrevistas com o contexto desta pesquisa é oportuno expor o que é preconizado

pelo Ministério Público da Saúde a respeito das atribuições da Estratégia Saúde da

Família (ESF).

A ESF é designada como a porta de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde

(SUS), que prescreve o direito à saúde e a equidade no cuidado hierarquizado e

regionalizado. O principal pressuposto da ESF é levar para mais próximo das

famílias a saúde e melhorar a qualidade de vida da população assistida. A equipe da

ESF é composta por no mínimo um médico da família, uma enfermeira, uma auxiliar

de enfermagem, as agentes comunitárias de saúde e, em algumas unidades,

podem conter dentista, auxiliar em saúde bucal, técnico em saúde bucal,

além dos profissionais do Núcleo de Atenção à Saúde da Família (NASF).

Cada ESF fica responsável por acompanhar no máximo quatro mil pessoas de um

território, e tem a corresponsabilidade no cuidado da saúde, na oferta de atenção

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integral, permanente e de qualidade aos membros pertencentes à área. A

atuação das equipes ocorre dentro da unidade, na residência e nos espaços

comunitários (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

A Agente Comunitária de Saúde (ACS) trabalha em um território

geograficamente delimitado, e cada ACS fica responsável por um micro área de

aproximadamente 450 a 750 usuários. As ACS´s representam a ligação entre a

comunidade e os demais profissionais da equipe de saúde, pelo fato de

realizarem diariamente as visitas domiciliares aos usuários. Como norma do

Ministério da Saúde a ACS deve residir e trabalhar na mesma região (JARDIM e

LANCMAN, 2009).

Dentre as atividades realizadas pelas ACS´s, estão: realizar visitas

domiciliares periódicas; entregar exames, atuar juntamente com os profissionais do

NASF nos grupos oferecidos para a população, entre outros. De acordo com o

Ministério da Saúde (2010), o objetivo do NASF é apoiar, ampliar, aperfeiçoar a

atenção e a gestão da saúde na Saúde da Família. Dentre os profissionais que

podem atuar no NASF estão Psicólogo, Assistente Social, Farmacêutico,

Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Médico (Ginecologista, Homeopata,

Acupunturista, Pediatra e Psiquiatra), Educador Físico, Nutricionista e Terapeuta

Ocupacional. Cada equipe de NASF pode estar vinculada a no mínimo oito e no

máximo 20 equipes de Saúde da Família. Os profissionais do NASF atuam em

territórios específicos e devem priorizar atendimento compartilhado e interdisciplinar,

troca de saberes, atuação em grupos, projetos terapêuticos, entre outros.

Na Secretaria Municipal de Saúde estudada, cinco equipes de NASF oferecem

suporte para as ESF´s. A pesquisadora até o momento deste estudo atua como

Psicóloga do NASF em sete ESF´s, do qual fazem parte também as servidoras

públicas selecionadas para participar da pesquisa. O nível de proximidade com as

entrevistadas propiciou um ambiente de liberdade e espontaneidade para abordar as

questões de adoecimento mental no trabalho.

Com relação às atividades profissionais executadas pelas ACS´s, vale destacar as

situações imprecisas que estas servidoras enfrentam na sua rotina de trabalho.

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“Com relação às visitas domiciliares, tem um ano e meio que faço isso e ainda não aprendi, mas acho que é o meu jeito mesmo. Eu fico muito emotiva, esses dias eu tive que parar por causa disso, eu não estava conseguindo, se os pacientes me falavam dos seus problemas, eu chorava junto com eles. Mas muita coisa também, foi coisa daqui de dentro que foi me abalando, abalando, ai foi a gota d´água, ai eu chorava com os assistidos. Então, eu estava levando daqui pra lá, daqui pra casa e de lá pra cá. Eu chego aqui contando para Y(gestora), passando as visitas pra ela e começava a chorar, agora até que não é muito mais não (...). Nos dias que eu estava em crise, ai a doutora me passou uns remédios, eu notei que estava diferente, aqui dentro mesmo, com os assistidos, eu começava a chorar e também não ficava conversando, se perguntasse alguma coisa, ai eu só chorava, então, isso me atingiu bem. Hoje eu não estou boa para falar não (choro intenso)”. (Servidora 01).

“Eu não tinha problemas de pressão alta, eu não tomava remédio, hoje em dia, eu tenho problema de pressão alta por causa do estresse ne? O que aconteceu aqui na unidade, tenho que tomar os meus remédios controlados e até o tratamento psiquiátrico constante ne?”. (Servidora 07).

Dentre as condições adversas que dificultam a efetivação das atividades

profissionais das ACS´s estão à dificuldade de distanciar o envolvimento pessoal e

profissional ocasiona esgotamento emocional para o trabalhador. Baseado nesta

premissa, os autores Jardim e Lancman (2009) salientam que as funções atípicas de

trabalho dessas agentes causam sentimentos de insegurança, receio de entrar

nos domicílios e na vida privada dos pacientes, demasiado envolvimento

com a população assistida, lidar com as impossibilidades de ação, além dos

limites encontrados na área de saúde pública.

Diante dos fatos expostos, são notórios os sentimentos ambivalentes de prazer

e sofrimento que as servidoras públicas vivenciam no ambiente de trabalho. De

forma específica, nota-se também que a maneira como o trabalho das ACS´s é

organizado pode ser considerada como uma fonte de sofrimento psíquico para elas.

No próximo item serão analisados os fatores que podem ser considerados

determinantes de adoecimento psíquico relacionado às atividades laborais

especificamente no caso dos servidores da organização analisada.

4.3Categoria 3: Fatores determinantes do adoecimento mental relacionado ao

trabalho

A análise das entrevistas permitiu identificar os fatores de adoecimento dos sujeitos

de pesquisa na situação de trabalho na Secretaria Municipal de Saúde. Nesta

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categoria são apresentados esses fatores, segundo o ponto de vista das servidoras

públicas pesquisadas. As funcionárias entrevistadas evidenciam quais elementos

referentes às atividades laborais realizadas nas ESF´s podem promover sofrimento

mental e, em alguns casos, resultar em manifestações patológicas, tais como,

depressão, ansiedade, estresse, dentre outras.

A sobrecarga e a pressão no trabalho foram queixas frequentes, conforme

demonstram os relatos a seguir:

“Dor de cabeça com frequência, eu não tinha isso, nunca fui de ter dor de cabeça por qualquer outro motivo, e de um ano á um ano e meio pra cá, todos os dias estou sentindo dor de cabeça e ela está se intensificando cada vez mais. E um sono que não me sustenta, eu posso dormir a noite inteira que eu acordo com uma sensação de que eu não dormi. E às vezes quando eu estou mais sobrecarregada, é mais desgastante este sono, e isto está relacionado com a sobrecarga do trabalho”. (Servidora 06).

“Teve uma vez que eu tive um estresse por causa de pressão de serviço, metas a serem cumpridas porque a gente tem muita meta, se não cumprir, é chamada a atenção, a gente não tem descanso, o descanso é só final de semana, igual já tinha falado, não tem férias, e ai teve uma vez que eu me estressei mesmo com o trabalho porque já tinha muito tempo que não tinha um descanso, cheguei a bater meu carro por causa disso, no horário de serviço e ai foi isso que aconteceu.” (Servidora 03).

Em relação às exigências da organização do trabalho, percebe-se um desgaste

físico e mental das funcionárias para o cumprimento de metas, ausência de

descanso e tensão no trabalho. Tais fatores interferem não somente nas atividades

realizadas no trabalho, como também, causam alterações no sono e desconforto

físico, manifesto como dor de cabeça e fadiga frequentes.

Mendes e Araújo (2007) alegam que a sobrecarga no trabalho em níveis moderados

torna-se, algumas vezes, necessária para promover possíveis ajustamentos às

situações laborais. Porém, quando apresentada em grande intensidade, a

sobrecarga pode ocasionar efeitos maléficos na saúde dos trabalhadores,

interferindo nas relações sociais, gerando hiperaceleração e, até mesmo,

paralisias subjetivas e físicas.

Neste mesmo contexto, merece destaque as atribuições das enfermeiras nas ESF´s,

as quais realizam a gestão dos serviços administrativos, técnicos, operacionais, de

pessoal e também são corresponsáveis pelo trabalho que a equipe do NASF exerce

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na unidade. O excesso de responsabilidades, o cansaço e a sobrecarga de trabalho

são contestados por estas profissionais.

“Aqui na unidade tudo é a enfermeira, todo mundo depende de mim, ainda mais agora que a unidade é nova, acho que as pessoas dependem mais de mim. Muito trabalho administrativo que a gente tem, muita responsabilidade com todos os pacientes que eu tenho de cada um, todo mundo vem aqui é me procurar. Então, as atividades que eu faço todas tem muita responsabilidade e eu tenho que resolver tudo.” (Servidora 03).

“ Eu gosto do que eu faço, mas, este trabalho aqui é muito estressante, pela responsabilidade que a gente tem de tudo, uma população de mais ou menos 3.500 pessoas de sua responsabilidade e você ainda não ter férias? E atrasa pagamento? Tudo isso pode ser determinante para o adoecimento mental”. (Servidora 03).

Associado às questões de sofrimento no trabalho, as servidoras ainda enfrentam

odescumprimento de benefícios legais trabalhistas por parte da instituição. Além

de terem que lidar com os fatores internos negativos na organização do

trabalho, também sofrem com as cobranças externas do público que utiliza os

serviços de saúde do SUS.

“E outra coisa, a gente lida com todo tipo de paciente, então, se você não tiver muito jogo de cintura, não souber lidar com eles. Porque tem paciente que as vezes querem as coisas para ontem, e em lugar nenhum, nem ela pagando (...) Uma paciente queria que eu marcasse uma consulta com o clínica na mesma hora, eu (...) expliquei que as consultas são marcadas antecipadamente, e que não tinha como marcar a consulta do jeito que ela queria, ai não contentando com o que eu falei, ela veio aqui no posto e ficou batendo boca comigo, aí, eu falei que não ia ficar discutindo porque ela estava muito nervosa e que iria marcar a consulta, mas não para agora, que não tinha jeito e eu achei que este dia ela iria bater na minha cara. Porque acontece muitas vezes de paciente achar que nós, acs´s é que vamos resolver tudo para eles e não é assim, entendeu? (...) E eles acham que a gente resolve tudo, eu até explico, o que a gente pode fazer, a gente faz, mas, tem coisa que não depende da gente, (...). E os pacientes pressionam muito a gente, tanto é que, se você for na casa dele umas dez vezes, as dez vezes eles perguntam pelo exame que foi mandado para a central de marcação e que não voltou (...) ai eles cobram as coisas da gente, tanto é que este mês eu falei que não vou fazer visita agora no princípio do mês, vou entregar o que tiver de entregar e visita mesmo, vou deixar mais para o final do mês, que ai já está perto do mês seguinte e tem como eu já marcar para inicio do outro mês para não ter tanta cobrança”. (Servidora 02).

Este depoimento enfatiza a situação enfrentada pelas ACSs, que sofrem a

agressão das pessoas, que descarregam sobre elas o mal-estar criado por situações

pelas quais não são responsáveis. O contato com os pacientes passa a ser tão

ameaçador que a entrevistada expressa sua intenção de não mais realizar a visita,

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evitando sofrer situação constrangedora como a que experimentou.

Essas servidoras públicas lidam cotidianamente com situações desfavoráveis,

como a impossibilidade de atender a toda demanda existente, incluindo as

urgências dos usuários. Além disso, há dificuldade de conseguir agendar

consultas com especialistas, bem como exames de alta complexidade. Esses

obstáculos sobrecarregam as ACS´s pelo contato direto e frequente com os

usuários que, muitas vezes, não compreendem que a precariedade do serviço

de saúde não é culpa da própria servidora. Situações como as expostas

acarretam desgaste e sofrimento para as agentes, que se sentem responsáveis

pela solução dos pedidos solicitados pelos pacientes (JARDIM e LANCMAN, 2009).

Devido à complexidade das tarefas realizadas pelas ACS´s no trabalho, constata-se

que estas servidoras acabam criando artifícios de autodefesa para manter a

estabilidade física e mental no trabalho. Dejours (1992) ressalta que os

trabalhadores, para enfrentarem o sofrimento advindo das atividades relacionadas

ao trabalho, elaboram estratégias defensivas, ou seja, criam modos de agir

individualmente ou coletivamente, visando a atenuar o sofrimento. Essas

estratégias de defesa são necessárias para a saúde do trabalhador, pois

minimizam o sofrimento e contribuem para manter o equilíbrio psíquico.

As servidoras participantes desta pesquisa destacaram as exigências da

organização como prejudiciais para a saúde, como se depreende do relato:

“(...) A pressão é muito grande, a cobrança é muito grande, e o salário muito pouco. Então, às vezes você tem que se desdobrar por causa deste trabalho aqui, você tem cobrança do seu chefe, tem cobrança do público ne? Porque o público cobra demais e no final das contas, nem vale a pena. Ai você carrega muitos problemas, porque você ganha pouco e está sendo muito cobrada”. (Servidora 05).

Em relação às cobranças sentidas pelos servidores públicos, percebe-se que elas

não provêm apenas dos usuários mas também da instituição e uma das queixas

evidencia a defasagem entre o salário e as exigências impostas ao servidor público.

Existem vários estudos científicos relacionados à sobrecarga e à desvalorização

do profissional de enfermagem. Traesel e Merlo (2009) destacam que os

enfermeiros, na sua atuação profissional, têm elevados índices de

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responsabilidade, fazem doações ilimitadas para os pacientes, além de

sofrerem com a ansiedade e o excesso da auto cobrança de atender a todas as

demandas. Outro fato destacado é a ausência de reconhecimento do trabalho,

tanto por parte da organização, quanto pelos pacientes, o que ocasiona para

estes trabalhadores sofrimento e esgotamento profissional.

Neste mesmo cenário, Campos e David (2011) alegam que as pesquisas

desenvolvidas sobre a saúde dos trabalhadores de enfermagem, na grande maioria,

destacam apenas os riscos ocupacionais da profissão, sendo necessário, portanto,

intensificar os estudos a respeito das causas de insalubridade dos enfermeiros que

sejam associadas ao ambiente de trabalho.

Durante as entrevistas realizadas, foram presenciadas queixas das servidoras com

relação à falta de recursos e incentivos financeiros na área de saúde pública. Foram

destacados o local de trabalho, bem como os materiais que são disponibilizados

para a execução das atividades laborais.

“Eu acho que a gente precisava mais de ajuda, da Secretaria, às vezes, a gente gasta do dinheiro nosso para estar comprando as coisas, igual grupo, por exemplo, muitos brindes que nós damos para os pacientes, somos nós ACS´s que compramos. A Secretaria podia fornecer material de trabalho pra gente, isso já ajudava demais. Falta incentivo financeiro.” (Servidora 02).

Constata-se, nesse depoimento, que a falta de recurso financeiro e de materiais

necessários ao trabalho gera uma indignação por parte da servidora. Verificou-se

que as ACS´s se dispõem a utilizar meios particulares para desenvolver um bom

trabalho, visando a suprir a falta de materiais e a má organização do trabalho.

Esta avaliação é peculiar às instituições públicas da área de saúde, em existem

frequentemente faltas de instrumentos de trabalho, os equipamentos são precários

para realização de tarefas e os materiais de consumo são fornecidos em escala

menor do que a demanda laboral exige. Percebe-se, portanto, um descaso com os

servidores públicos que ficam submetidos às condições materiais e estruturais

precárias de trabalho o que favorece sofrimento e a falta de motivação no ambiente

de trabalho (CAMPOS e DAVID, 2011).

Além da escassez de recursos materiais e financeiros, as servidoras públicas lidam

com o trabalho desgastante de atendimento a um número elevado de pacientes,

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quando o quadro de funcionários é pequeno, como se nota no presente no relato:

“Teve uma época que estava trabalhando em outra unidade que eu já não estava produzindo mais, cabeça muito cansada (...). Eu perdia o raciocínio muito fácil. Ai foi nessa época que eu cheguei, conversei com o gerente, que eu já estava um bom tempo já sem médico e estava muito cansada, fisicamente e mentalmente, aí foi quando eu pedi transferência. Demorou um pouco pra essa transferência sair, mas, saiu. Trabalhei na outra unidade quase dois anos, mas, sem médico lá eu fiquei um ano e seis meses. Então, eu fiquei muito sobrecarregada, muito cansada, os pacientes cobrando demais e, infelizmente, eu preciso do profissional médico para poder me ajudar. Eu não consigo fazer tudo sozinha e foi ai que tudo começou, foi ai que comecei a fazer o tratamento psiquiátrico”.(Servidora 04).

Nesse relato, percebe-se o sofrimento e o desgaste emocional da servidora por

trabalhar sem contar com um profissional médico na equipe. Apesar da ausência

deste profissional, a organização de trabalho exige que a funcionária execute suas

tarefas laborais, mas não oferece o recurso necessário para realização das mesmas.

A servidora responsável pelas ESF exerce a função de Enfermeira e registra seu

incômodo com as exigências que lhe é feita na área de saúde pública.

Traesel e Merlo (2011) em uma pesquisa realizada com os trabalhadores de

enfermagem no contexto hospitalar, destacam características prejudiciais à saúde

destes profissionais, tais como, doação intensa ao trabalho, procura pela

perfeição nas atividades laborais, falta de relacionamento efetivo da

equipe com predominância da técnica e das prescrições realizadas no trabalho,

limitação nos espaços de convivência, discussão e ainda restrição de tempo e

espaço para diálogo e cuidado. Dentro do mesmo contexto de recursos

financeiros e quadro de funcionários reduzido, ainda foi ressaltada a escassez

de recursos motivacionais para os servidores públicos.

“Ter um incentivo, acho que todo profissional precisa de um incentivo, de uma forma ou de outra, seja ele psicológico, seja ele com qualquer coisa financeira, alguma coisa de final de ano, ou no dia do aniversário, uma folga, qualquer coisa que estimule o profissional, que dar um ânimo, fatores para motivar um funcionário, não tem nenhum, não tem comemoração de nada, nenhuma férias, não tem nenhum trabalho voltado para que a gente tenha estimulo para trabalhar, não é questão de salário não, o salário da gente é aquele e a gente já entrou sabendo, é alguma outra coisa que possa estimular. Eu gosto muito do que faço, só que eu estou cansada ne?”.(Servidora 06).

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“Precisa de mais reconhecimento no trabalho que a gente faz a gente não tem reconhecimento nenhum, só é cobrado, é muita cobrança, é muita meta a ser cumprida”.(Servidora 03).

Verifica-se a insatisfação da servidora com a Secretaria Municipal de Saúde em

razão da ausência de estímulos motivacionais. Observa-se que além de a

remuneração ser considerada insuficiente, não existe por parte da instituição outro

incentivo não financeiro. As servidoras reclamam sobre a necessidade de uma

valorização oferecida pela organização, para que se sintam recompensadas pelo

trabalho. Ávila e Barcelos (2009) acentuam que o sujeito carece que o seu trabalho

seja reconhecido para conservar-se motivado e satisfeito no exercício de sua

atividade profissional.

Dejours (2008) afirma que o trabalho gera sofrimento, porém, o reconhecimento do

outro pode converter este sofrimento em prazer. Portanto, os trabalhadores

necessitam de reconhecimento, quando é negado ou não transmitido ao sujeito, a

relação com o trabalho perde o sentido, ocasionando para o trabalhador sofrimento,

até chegar ao ponto de desencadear doenças psicopatológicas. Este processo de

transformação do sofrimento em prazer é denominado por Dejours de sublimação.

Dentre as condições adversas que as entrevistadas citaram com relação à

organização do trabalho merece destaque a desvalorização do funcionário público.

“Eu acho assim que o profissional, eu não sei exatamente em outros lugares, mas aqui (...) o serviço de funcionário público não tem muito valor. Trabalhar sem férias, sem garantia de nada, isto te estressa, te cansa muito. Você sabe que se você adoecer hoje, você adoece, eles te pagam aquilo que é de responsabilidade deles, mas quando você volta, você não tem mais garantia do seu serviço. Então, é estressante, eu acho que você não tem valor como profissional”.(Servidora 04).

Compreende-se que as servidoras públicas se sentem desvalorizadas pela

instituição pelo fato do não se registrar o reconhecimento pelo trabalho realizado;

além disso, convivem com a ausência de férias, o excesso de cobranças e a falta de

estabilidade no emprego. Mendes e Araújo (2007) consideram que as novas formas

de organização se baseiam em três dimensões: exigências, desestabilização e

ameaça. A primeira se refere às demandas do trabalho, a segunda diz respeito à

falta de respeito à individualidade e a acentuada competição nas relações de

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trabalho, e a última dimensão está ligada ao relato da servidora 04 e inclui o medo

de errar, a insegurança, a precarização das condições de trabalho e os riscos de

perder o emprego. Os autores acrescentam que essas dimensões se vinculam às

três bases estruturais do sofrimento que são a insegurança, a angústia e o medo.

Dentro do mesmo contexto, algumas servidoras públicas relatam que a Secretaria

Municipal de Saúde adota procedimentos administrativos diversificados para

servidores efetivos e contratados, havendo geralmente privilégio para os primeiros e

desconsideração com os demais.

“O primeiro ponto a ser melhorado é o respeito ao colaborador, não importa se ele é efetivo ou contratado. Independente de ter ou não carteira assinada, de ser contrato, é fato, é conhecimento de que de acordo com a Constituição Federal que rege mesmo estes empregos seria a CLT que, a gente é totalmente lesado neste quesito (...) Mas o princípio básico é respeitar o profissional, respeitar aquela pessoa que está prestando o serviço, antes de mais nada, ela é um individuo. Se eles esperam que o SUS cresça e respeite a individualidade tal como o contexto das diretrizes do SUS, isto tem que começar pelo profissional. Um profissional doente, um profissional insatisfeito, ele não produz, e a gente percebe isso pelos próprios efetivos, se os efetivos estivessem satisfeitos e num ambiente saudável, não teria tanta necessidade de funcionários contratados. Então, o princípio básico é respeitar o próximo, e respeitar o profissional que eles tem ali, respeitar pela formação e como ser humano e proporcionar a ele uma condição de trabalho digna, pelo menos, não com um ambiente de ostentação, mas com um ambiente minimamente saudável e digno porque a gente trabalha sem dignidade”. (Servidora 08).

Esta exposição feita pela funcionária evidencia sua repulsa pela maneira como são

tratados os funcionários pela organização, registrando uma queixa de todos os que

foram entrevistados: a desigualdade entre servidores públicos efetivos e

contratados. Todos realçaram as condições de trabalho inadequadas e o não

cumprimento de benefícios legais regidos pela Constituição Federal.

A privação dos direitos trabalhistas gera nas servidoras entrevistadas indignação e

aversão à Secretaria Municipal de Saúde, como se pode inferir dos relatos

apresentados a seguir:

“(...) Porque a gente por ser funcionário contratado, não tem férias, principalmente esta questão de férias que eu acho que mais estressa a gente, o pagamento atrasado todo mês, então, tudo isso gera só estresse para todo mundo, uma das piores coisas da SMS é a falta de férias. Tem dois anos que não tiro férias”.(Servidora 07).

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“Podia tanto fazer direito ne? Nós que somos contratados poderíamos ter os nossos direitos iguais a todos os funcionários de carteira assinada tem ne? A gente poderia ter direito a férias, porque eu penso assim: se eles melhorarem esta questão, dessem férias pra nós, ia ajudar muito, não ia ter tanto funcionário doente, tanta gente estressada, tanta gente doente de depressão e de alguma coisa assim ne? Porque a gente trabalhando na área da saúde tem que estar bem ne? Porque senão ... As férias eu acho que é a melhor coisa que eles poderiam fazer que poderia melhorar pra nós”. (Servidora 07).

“Eles te privam de férias, você é ameaçado quando pega atestado, você sofre acidentes de trabalho, batem no seu carro, você não tem direito a licença, se uma servidora engravida, ela não sabe se vai voltar, você assina um contrato que você sabe que não consta que você tem direito a 13º, fala que você tem direito a uma bonificação natalina, então, o funcionário já começa a trabalhar sob pressão e exerce sua função sendo lesado nos seus direitos básicos que é preconizado, que é defendido, que é lei pela Constituição.” (Servidora 08).

“Eu, muitas vezes fico estressada demais porque a gente trabalha cansada, não tem férias, e trabalha direto mexendo com pessoas, é muito difícil e desgastante demais. Tem dia que eu não gosto nem de conversar, eu fico no meu canto, não gosto nem de conversa, porque você lidar com o povo e trabalhar sem férias, você não ter direito nem as férias? Tanto que eu já conversei pra vê se me dá pelo menos uma semana, pra vê se alivia um tiquinho, porque já tem três anos que eu estou trabalhando sem férias nenhuma, tem as folgas de vez em quando de feriados, mas isso, não ajuda”. (Servidora 02).

Os relatos das servidoras são unânimes ao mencionar o mal-estar causado pelo

comportamento da instituição que não garante seus direitos legais trabalhistas,

sendo essas trabalhadoras privadas do direito às férias, não autorizando seu

afastamento por motivo de doenças, mesmo quando dispõem de atestado médico.

Acresce a tudo isto a instabilidade no emprego do funcionário contratado e ainda o

atraso no pagamento do salário, além de irregularidades presentes no contrato de

trabalho.

Tais fatores potencializam o sofrimento das servidoras no trabalho. De acordo com

Campos e David (2011) quando a organização de trabalho permite ao trabalhador

expressar sua individualidade e criatividade é possível vivenciar o prazer no

trabalho. Porém, quando a instituição apresenta rigidez no modo de organização do

trabalho e inibem os trabalhadores de construírem estratégias de interposição para

harmonizar o trabalho prescrito e o real, podem eclodir sofrimento e doenças

psicopatológicas.

Os mesmos autores ainda destacam que quanto mais rígida for à organização do

trabalho, mais perceptível se torna sua divisão. Em consequência disso, o conteúdo

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do trabalho torna-se pouco significativo para o servidor e aumenta

proporcionalmente o seu sofrimento. Isto indica que há uma falta de resolutividade

de conflito entre o sujeito portador de uma história singular e a organização de

trabalho.

Dentre as atividades executadas pelas Agentes Comunitárias de Saúde, verifica-

se que, ao entrarem em contato direto com as famílias da comunidade, elas lidam

com grande diversidade de situações de pobreza, problemas de saúde e

financeiros, e devido à necessidade de manterem sigilo profissional, vão

acumulando tais situações até chegarem ao ponto de se fragilizarem diante das

situações precárias, como já haviam apontado Jardim e Lancman (2009). Segundo

esses autores, o fato de trabalhar com serviços de saúde na mesma comunidade

onde se mora dificulta o distanciamento entre os pacientes assistidos e o

profissional. Assim, as relações com as famílias ficam misturadas com a vida do

agente, vizinho, amigo, confidente, pois muitas vezes essas pessoas frequentam os

mesmos espaços sociais que os usuários. A multiplicidade de relações causa

transtornos e sofrimento para os agentes que, muitas vezes, ficam sem saber como

reagir. Acresce a essas circunstâncias que as servidoras públicas ainda lidam com a

falta de transparência da gestão administrada pela Secretaria Municipal de Saúde.

“Outro ponto é que falta transparência da Secretaria, então, a gente tem aí uma gestão que desconta o INSS e quando os funcionários vão aposentar o que não é mistério para ninguém, os funcionários tem que apresentar todos os contracheques porque sempre tem um erro. Falta transparência na gestão, existe um excesso de protecionismos, acho que todos estes pontos diminuem os outros profissionais, fere as pessoas nos seus direitos, são desiguais nos direitos e a questão da falta de transparência é uma coisa que me incomoda muito, (...), a gente não sabe para onde vai a verba que o salário que atrasa todo mês, a verba vem para o Ministério da Saúde e porque ela não é repassada para os funcionários? O que aconteceu com esta verba para justificar o atraso?”. (Servidora 08).

Outro aspecto seguidamente denunciado é referente ao desrespeito às

oportunidades de descanso que um trabalhador precisa ter, assim como aos

benefícios que deveriam ser garantidos e não o são porque essas pessoas não têm

um vínculo empregatício adequado com a SMS.

“ (...) Um fator é a falta de férias, um profissional trabalhar dois, três e quatro anos sem férias é muito desgastante. A SMS tira benefícios que a gente tem sem dar uma explicação, vai lá e corta sem dar uma explicação prévia

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pra quem está trabalhando, então, isso também é desgastante. Primeiro cortou o vale, aquele cartão de alimentação, então, não avisou que ia cortar, então a gente contava com aquilo no mês e chega no mês, não, não tem mais e mês que vem volta e ninguém da uma explicação definitiva. Ai depois veio a insalubridade, cortou de uma vez e não fala assim talvez não vai ter mais, não avisa e corta. Eu tenho quatro anos que estou sem férias, pelo fato de eu ter mudado de profissão, antes era Agente Comunitária de Saúde e, depois passei para técnica de enfermagem, eu perdi uma férias, mas por direito são três anos, três anos seguidos sem férias. Eu acho que todos esses motivos, pode causar adoecimento mental porque a gente fica esperando as férias para descansar, para passear, e não da para planejar nada, ai você fica naquela expectativa. Não tem uma explicação do porque não tem férias, questões administrativas mesmo”. (Servidora 06).

Constata-se que a falta de clareza da instituição causa indignação nos servidores

públicos. O primeiro relato expõe irregularidades ligados á aposentadoria dos

funcionários, atraso de pagamentos, ausência de clareza de atitudes e ainda

protecionismo entre contratados e efetivos. Semelhante à primeira narração, a

segunda destaca que o servidor não pode se organizar contando com um

benefício que ao mesmo tempo que é oferecido, também é cortado sem

explicações prévias, como acontece com as férias e o cartão de alimentação.

Tais irregularidades da organização causam repulsa nos servidores que exercem

suas funções laborais estressados, cansados, desmotivados, desvalorizados

profissionalmente e inconformados por direitos trabalhistas não assumidos

legalmente pela Secretaria Municipal de Saúde.

No próximo item serão abordados os desajustes emocionais ou até mesmo as

psicopatologias ocasionadas pelas atividades laborais entre as servidoras públicas

entrevistadas, que as levaram a procurar atendimento de especialistas na área de

Saúde Mental.

4.4Categoria 4: Implicações do Atendimento Psicológico e/ou Psiquiátrico

Esta categoria aborda os casos das servidoras públicas participantes desta pesquisa

que optaram por procurar atendimentos Psicológicos e/ou Psiquiátricos para

atenuarem o sofrimento ou até mesmo o adoecimento mental causado pelas

atividades laborais.

Foram relatados sintomas de irritabilidade, esgotamento profissional, estresse, entre

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outros decorrentes das atividades laborais. Ávila e Barcelos (2011) reforçam que

quanto mais os sujeitos se individualizam e evitam colaborar com os colegas de

trabalho, mais estes sintomas se tornam competitivos. Desta maneira, o trabalho vai

se distanciando do lugar de segurança e felicidade que o servidor deve compartilhar

com seus colegas e familiares. Em decorrência desse processo, surge o

adoecimento psíquico.

Mendes e Araújo (2007) destacam que a organização do trabalho tanto provoca e

intensifica o sofrimento, como também oferece condições aos funcionários para

enfrentarem as adversidades, por meio das estratégias defensivas. Diante do

sofrimento, são possíveis dois trajetos – a mobilização subjetiva, na qual o

trabalhador utiliza sua inteligência prática e de cooperação, através do

reconhecimento e do espaço público da fala tenta dar um novo significado a este

sofrimento, superando-o e visando manter estável sua saúde mental. Outro

trajeto ocorre quando a organização do trabalho não oferece recursos para esta

transformação do sofrimento; o trabalhador pode utilizar as estratégias defensivas,

que têm a função de negar ou distorcer os riscos oferecidos pelo trabalho e

desempenham uma dualidade de papel: o de negação ou alienação. Portanto,

quando o sofrimento é muito intenso, as estratégias defensivas se esgotam e as

defesas não conseguem exercer o seu papel de proteção; consequentemente,

ocorrem os comportamentos psicopatológicos associados ao trabalho.

Dejours (1992) define que o sofrimento representa um estado de confronto do sujeito

contra a rigidez da organização do trabalho, que pode induzir o trabalhador á doença

mental. O relato seguinte exemplifica o que motivou a servidora pública a procurar

ajuda especializada de profissionais da área de saúde mental.

“Então, foi quando eu comecei a fazer um tratamento psicológico, comecei a tomar remédio e fui melhorando, melhorei bastante, mas assim, eu falo que eu aprendi muito lá também, porque eu absorvia demais o problema dos outros, então, eu acho que foi uma coisa que a própria Psicóloga, a própria Psiquiatria me ajudou muito a barrar um pouco isso, a reconhecer que eu realmente estava exagerando.” (Servidora 04).

A servidora relata, desse modo, que após ter iniciado o tratamento psicológico e

psiquiátrico, sentiu-se mais segura para enfrentar as dificuldades impostas pelo seu

trabalho, como por exemplo, manter o distanciamento entre as vivências

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profissionais e as experiências pessoais, não absorvendo os problemas dos seus

pacientes.

Em alguns casos específicos, ocorre a necessidade do uso de medicação para

manter a estabilidade do quadro de saúde mental. Uchida (2007) ressalta que

quando as estratégias de defesa começam a falhar e os sintomas recorrentes de

irritabilidade, tendinite, tensões e crise de angústia se intensificam, muitos

trabalhadores recorrem ao uso de medicações psicofarmacológicas que são os

antidepressivos e ansiolíticos. Algumas narrações exemplificam que muitas

servidoras públicas entrevistadas utilizaram tais recursos:

“ Estresse. Eu continuo fazendo o tratamento psiquiátrico, psicológico não. Hoje eu tomo Sertralina. Meu sono é muito leve, sou péssima para dormir, eu acordo a noite inteira, eu tenho insônia, ai ela optou por eu tomar o medicamento de manhã e tem dado uma boa resposta. Eu chego em casa,

custo a pegar no sono, mas quando eu durmo, eu durmo a noite inteira e acordo só de manhã para poder vir trabalhar”. (Servidora 04).

“Estresse. Fluoxetina e Clonazepan porque eu não durmo sem o remédio mais. E se eu ficar sem o Fluoxetina também não consigo sair para trabalhar, ter animo, então, realmente o remédio me dá ânimo (...)”.

(Servidora 07).

Estes relatos mostram que as três servidoras foram diagnosticadas com Estresse e

fazem o uso de ansiolíticos e antidepressivos para auxiliar no sono e, até

mesmo, para ter ânimo para trabalhar. É perceptível também na fala de algumas

funcionárias a dependência do uso de tais medicamentos. Neste mesmo

cenário, merece destaque o relato da servidora que se recusou a fazer o uso da

medicação, mesmo com a prescrição médica.

“Estresse. O médico prescreveu Fluoxetina e Amitriptilina também, mas, eu não fiz o uso da medicação não”. (Servidora 03).

Percebe-se uma resistência da servidora pública para utilizar o medicamento

prescrito pelo médico. De acordo com Brant e Minayo – Gomez (2004),

alguns trabalhadores tentam resistir à questão de se tornarem doentes mentais e,

por isto, evitam fazer o uso de medicamentos. Os autores consideram que tal

comportamento se justifica pelo fato do médico ignorar o sofrimento e reconhecer

apenas a doença do sujeito. Frequentemente, alguns funcionários omitem o uso

do medicamento ou também alegam durante a consulta evoluções dos quadros

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sintomatológicos para evitarem o aumento da dose medicamentosa.

Segundo esses mesmos autores, a saúde e a doença, não podem ser

renomadas apenas pela ausência ou presença de certos sintomas. Não pode ser

reducionista, pois além das manifestações de uma doença existe uma bagagem

histórica, cultural, política e subjetiva que não pode ser reduzida apenas a uma

fórmula numérica ou dado estatístico.

A seguir, são apresentadas narrações de servidoras públicas que fazem o uso

abusivo de medicamentos, sem nem mesmo ter a certeza do diagnóstico correto.

“Depressão e Enxaqueca. Procurei um psiquiatra, fiz um acompanhamento durante alguns meses e eu tomei Turval, Venlafexina, Clorazepam, Cefálio, Ibuprofeno, posteriormente fiz o uso de Escitalopram, cheguei a fazer o uso de Diazepam com Plazil e Dipirona para controlar um quadro mais agudo sem resposta e usei Clonazepam num espaço de 08 meses.” (Servidora 08).

“Depressão, estresse relacionado ao trabalho. Procurei ajuda psiquiátrica e eu ainda estou fazendo o tratamento com ele. Estou tomando muito remédio com ele ainda, uso o medicamento Fluoxetina e Bupopriona.” (Servidora

01).

A servidora 08 relata o uso de muitos medicamentos para tentar encontrar um

diagnóstico preciso dos seus sintomas de enxaqueca. Em contrapartida, a servidora

01 apresenta o diagnóstico de depressão relacionada ao trabalho e expressa

insatisfação por considerar o uso abusivo de medicação.

Em alguns casos, a intervenção medicamentosa ou psicoterapêutica torna-se

insuficiente para a evolução do quadro de saúde mental do funcionário, sendo

necessário o afastamento das atividades laborais.

“Eu fiquei poucos dias, quando eu comecei a fazer o uso do remédio, eu passei muito mal, o remédio estava me dando muita reação, eu estava tendo muito enjoo, vomito e tive que trocar o remédio. Ai eu acho que fiquei 10 dias afastada, foi quando ela trocou a medicação para eu poder adaptar, porque eu não fiquei bem”. (Servidora 04).

“Eu fiquei sete dias afastada, foi após este episódio, eu comecei a fazer um tratamento, ai o Psiquiatra viu que eu estava muito nervosa, muito estressada e que precisava ficar afastada, ai eu fiquei mais dez dias afastada”. (Servidora 07).

Deduz-se que em ambos os relatos, as servidoras públicas buscam se justificar pelo

fato de terem sido afastadas do trabalho por motivo de doenças mentais. Pode-se

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inferir que culturalmente, no Brasil, a doença é, muitas vezes, vista como invalidez

e, no âmbito de saúde mental, existe preconceito vinculado ás questões de

insanidade e/ou loucura. Além das servidoras lidarem com estas circunstâncias

pessoais, ainda lidam com as opressões da organização de trabalho.

“Fiquei afastada, o médico me deu 10 dias de atestado, daí, com o medo que eu fiquei de ser demitida, porque a gente não pode ter nem atestado, eu voltei a trabalhar antes do tempo”. (Servidora 03).

“Eu fui afastada por 15 dias, diagnóstico de enxaqueca e depressão. Quando eu passei na perícia, eles me obrigaram a voltar com dez dias, alegando que o médico do SUS não poderia me afastar por mais de dez dias, tive que voltar a trabalhar mesmo de atestado que foi contestado pelo médico responsável e não foi o primeiro afastamento. Eu afastei umas três vezes em decorrência da enxaqueca, mas quando eu estava de faringite, eu tive que trabalhar mesmo sem voz porque houve uma certa coação de que se eu não trabalhasse poderia encontrar outra pessoa no meu lugar quando eu voltasse”. (Servidora 08).

Em ambas as narrações, percebe-se um desabafo das servidoras públicas sobre a

intimidação sofrida pelo fato de pegarem atestado. Nota-se a insegurança e o medo

que elas demonstram de perder o emprego caso os afastamentos ocorram com

certa frequência.

Neste contexto, Bevian e Assman (2012) ressaltam que existem médicos que têm

resistência em aceitar doenças advindas do trabalho e tentam associar as doenças

laborais a outros motivos, como causas degenerativas ou congênitas. Ainda com

relação as perícias, tanto no INSS quanto nos casos que envolvem mérito jurídico,

há resistência na confirmação do nexo causal técnico entre o trabalho e problemas

de saúde mental.

Percebe-se, portanto que, existem muitas divergências entre a associação do

complexo campo de saúde metal e o mundo do trabalho. Na próxima categoria, será

demonstrado de acordo com a percepção das servidoras públicas quais itens são

necessários que o ambiente de trabalho tenha para manter uma estabilidade mental

dos seus trabalhadores.

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4.5Categoria 5: Ambiente saudável para a saúde mental dos trabalhadores Esta categoria visa identificar, na perspectiva das servidoras públicas entrevistadas,

quais são os elementos fundamentais que devem existir no ambiente de trabalho

para que haja equilíbrio da saúde mental dos trabalhadores.

Com o intuito de elucidar as tarefas realizadas pelos sujeitos participantes da

pesquisa e que manifestaram sintomas ou adoecimento mental relacionado às

atividades laborais da Secretaria Municipal de Saúde, foi elaborado o quadro 04,

apresentado a seguir.

É notório que, com exceção das profissionais Agente Comunitária de Saúde (ACS´s)

e as Enfermeiras que foram no total duas entrevistadas, as demais realizam

atividades de trabalho diferenciadas umas das outras. Referente a como a

organização age sobre o trabalhador, Dejours (1992) ressalta que a instituição

determina o conteúdo da atividade através da divisão do trabalho, porém, não

somente conteúdo significativo, mas também o ergonômico que representa os

gestos, a postura e o ambiente físico que de certo modo, apontam a estrutura do

corpo do trabalhador em situação de trabalho. O autor ainda destaca que, quando o

sujeito não consegue encontrar uma resolução mental para um determinado

desajuste no trabalho, suscita no corpo do trabalhador desordenamentos endócrino-

metabólicos, ponto inicial de uma doença somática. A esse processo, Dejours

chama somatização.

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QUADRO 04: Atividades realizadas no trabalho pelas servidoras da SMS

Profissão

Quantidade

Atividades realizadas

Agente

Comunitário de Saúde

(ACS)

2

“Eu faço visita domiciliar, visitas com o médico, visitas aos acamados, entrega de exames para os pacientes, grupos com os profissionais do NASF”.

“(...) Entregar os exames, tenho que estar em dia com eles e as visitas domiciliares mensais: os diabéticos, os hipertensos, as gestantes”. Atendente de

Portaria

1

“Eu faço tanta coisa, marcação de consulta, atendimento direto ao público, envio de documentos para a central de marcação, atendimento telefônico, de certa forma, você acaba sendo um pouco de secretária de todo mundo. Eu estou sempre disposta para ajudar, o médico, a enfermeira, eu sou a porta de entrada da unidade e acaba que faço um pouquinho de cada coisa e acaba que você ajuda todo mundo ne¿ A dentista chega do consultório e fala alguma coisa comigo, protocola isso daqui pra mim, ai eu protocolo e eu acabo ajudando todo mundo”.

Auxiliar de Serviços Gerais

1

“Eu chego de manhã e limpo a unidade ne¿ Faço um café de manhã, lavo os banheiros, lavo a área de serviço, ai eu limpo toda a unidade”.

Enfermeiras

2

“Tudo. Desde a gerência até a assistência. Eu gerencio uma equipe, a responsabilidade de toda a equipe é minha, todos os erros que são acontecidos dentro da equipe por mais que as meninas sejam punidas, sou eu que respondo. É atender paciente, tudo. Desde um curativo simples até um ferimento mais invasivo, mais específico, eu tenho que estar avaliando, apesar de ter a técnica pra me ajudar, mas eu tenho que estar sempre supervisionando, tudo”.

“Eu faço consulta, visita, todo o administrativo da unidade sou eu que tenho que fazer, além de ter que fazer consulta, demanda de todos os dias, todos os pacientes que chegam que não estão agendados com a médica, faço os preventivos que são agendados, pré-natal e visita domiciliar dependendo da demanda”. Nutricionista

1

“Atendimento individual, atendimento a grupos, visita domiciliar, avaliação de dieta, reuniões de capacitações dos protocolos de feridas, capacitações estratégia amamenta e alimenta pelo Ministério da Saúde”.

Técnica de enfermagem

1

“Aferir pressão, curativo, glicose, visita domiciliar e acolhimento de pacientes”.

Fonte: Elaborado pela autora da pesquisa (2015)

De acordo com os relatos das servidoras públicas citadas anteriormente, percebem-

se sinais de somatização em algumas, inclusive em manifestações psicopatológicas

para as quais os clínicos iniciaram a medicação sem um diagnóstico preciso.

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Associadas a estes fatores, as funcionárias também relatam contrariedade com

relação aos seus direitos trabalhistas, uma vez que consideram que são lesados

pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

“Atraso de pagamento deixa a gente desvalorizado, desmotivado, então eu acho que tem que colocar em dia isso. Férias também porque a gente fica muito desgastada, até pelo contato que a gente tem com paciente todo dia, é muito desgaste que a gente tem, então, eu acho que, pelo menos férias, a gente tinha que ter, isso é o mínimo”. (Servidora 03).

“(...) Eu acho que deveria mudar mais a parte administrativa talvez da própria secretaria. Eu acho assim que se já garantisse os direitos que a gente tem já era um bom começo ne? Por exemplo, preservar as férias dos funcionários (...)”. (Servidora 04).

A partir das narrações feitas pelas servidoras públicas, percebem-se a contrariedade

das mesmas por se sentirem desvalorizadas, sobrecarregadas com a rotina do

trabalho, e desmotivadas com a organização. Acresce que lidar com a ausência de

férias regulamentar espara o descanso apropriado do trabalhador, conforme regem

as leis trabalhistas, amplia este sentimento de desvalorização.

Barros (2007) ressalta que um contexto produtivo insalubre é representado pelas

precárias condições de trabalho, exploração do funcionário, elevada rotatividade de

pessoal, falta de segurança, sistema de contratação irregular, entre outros. O

pesquisador ainda destaca que a negligência referente aos direitos legais do

trabalhador, como pagamento das férias e do 13º salário geram periculosidade ao

trabalhador, ocasionando o sofrimento. Desse modo, o autor afirma que as

características da instituição e das condições de trabalho que são oferecidas aos

trabalhadores influenciam a saúde física e psíquica dos mesmos, os riscos

aumentam de acordo com a falta de flexibilidade e condições inapropriadas do

trabalho.

Além da ausência de férias, as servidoras públicas reivindicam a remuneração

vigente na instituição:

“ (...) A questão do salário que eu acho que é um pouco defasado, eu não falo nem pelo curso superior só, mas o nível médio é muito defasado, eu fico vendo minha técnica mesmo, não é que a gente está menosprezando a função de uma e outra, mas ela recebe o mesmo valor que o salario mínimo, que é a mesma coisa que as ACS´s recebem, então, ela estudou,

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ela pagou por este curso e não tem reconhecimento. Então, se começasse por ai eu acho que já começaria com uma boa resposta e apoio também ne?”. (Servidora 04).

“Eu acho que todo trabalhador merece ter um descanso, incentivo financeiro, porque pelo que a gente faz e pelas coisas que a gente tem que aguentar dos pacientes, acho que o salário da gente é muito pouco, aliás, já foi aumentado, só que nós não recebemos até hoje, por lei, desde o ano passado que eu fiquei sabendo e até hoje nós não recebemos, falaram que vai ter uma prova, para fazer este aumento de salário, mas acho que tudo isso é política, ainda mais que ano que vem vai ser ano político, ai eles aumentam para fazer de conta que aprovou recente, mas a gente já sabe, a gente assiste tv, tem até lugares aí que eles já estão recebendo o novo salário e a gente nada”. (Servidora 02).

Na primeira narração, a servidora expõe a desvalorização com os profissionais de

nível técnico, o que demonstra uma defasagem administrativa da SMS em relação

ao plano de cargos e salários dos seus funcionários. Em concordância com o

primeiro, o segundo relato, evidencia a repulsa da servidora pública ao saber que

por lei o salário não é o adequado e por questões políticas a organização se

compromete a cumprir a legislação trabalhista, mas não executa o prometido da

maneira correta.

Dejours (2004) destaca que as pessoas executam suas atividades no trabalho, se

envolvem com a tarefa da organização de trabalho, mas, em troca, esperam uma

retribuição que pode ser, de forma material que representa o salário, as férias, as

gratificações, mas também pode assumir formas simbólicas, que representam o

reconhecimento no trabalho. O autor ainda destaca que, apesar da importância das

duas dimensões estarem alinhadas, a simbólica é considerada inestimável em

relação a material.

Em concordância com o exposto por Dejours (2004), os relatos a seguir expõem a

importância da retribuição simbólica no ambiente de trabalho:

“Eu acho que de apoio, eu não posso reclamar do meu gerente, porque graças a Deus ele entende muito o nosso lado, mas a gente sabe que nem sempre é assim, então se a gente tivesse uma gestão que trabalhasse com a gente mesmo e caminharmos juntos ia dar mais resposta”.(Servidora 03).

“Os gerentes tentam fazer o máximo que podem para tentar ajudar a gente, incentivando e tal, só que o administrativo lá em cima é que deixa a desejar”. (Servidora 04).

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As servidoras públicas descrevem como se sentem seguras e valorizadas pelo fato

de terem o apoio do gestor imediato, e ambas consideram a gestão administrativa

vigente da SMS ineficaz, o que interfere de maneira negativa nas atividades de

trabalho que são executadas pelas mesmas.

O trabalho representa uma relação com o outro, portanto, torna-se fundamental o

conceito de cooperação, no nível horizontal inclui o auxílio com os colegas e com a

equipe e o nível vertical são representados pelos superiores e subordinados. Nos

dois níveis, a cooperação é uma construção, na qual as pessoas envolvidas se

comprometem com o desempenho coletivo, na adaptação e no respeito às regras do

trabalho que exige dos trabalhadores demandas nos debates coletivos e exposição

ao olhar crítico dos outros. (DEJOURS, 2004). Barros (2007) corrobora com Dejours

(2004) e destaca que as relações sociais se tornam adequadas quando há

cooperação entre os trabalhadores e que a união do grupo concede superação de

bloqueios pessoais e no trabalho.

Neste mesmo contexto, Mendes (2007) baseada na teoria da Psicodinâmica do

Trabalho afirma que se torna possível para os trabalhadores vivenciar o prazer em

contextos laborais precários, desde que a instituição disponibilize aos seus

funcionários desenvolver três ações que são: a mobilização da inteligência prática, a

fala e a cooperação. A mobilização da inteligência prática funciona como um corte

entre o trabalho prescrito e o real; representa a ruptura das regras, e os

trabalhadores utilizam este recurso para minimizar o sofrimento e transformá-lo em

prazer. A segunda ação é representada pela fala, e ocorre no espaço público que é

construído pelos trabalhadores, no qual os mesmos podem expressar suas opiniões

contraditórias, crenças, desejos e experiências técnicas dentro do contexto laboral.

A última é nomeada de cooperação e caracteriza-se pela valorização e

reconhecimento de cada trabalhador na construção em equipe de um serviço ou

produto baseado na confiança e solidariedade entre os envolvidos.

Conclui-se que os itens necessários que as servidoras públicas consideram

essenciais para a garantia de uma saúde mental estabilizada são os aspectos que

lhes são assegurados pela legislação: a garantia dos direitos trabalhistas, tais

como, estabilidade e segurança no emprego, férias, 13º salário, a remuneração

condizente com o nível de estudo e das atividades executadas no trabalho e

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o apoio da organização e dos gestores.

Dejours (1992) ressalta que os efeitos patogênicos das condições de trabalho

inadequadas são potencializados na medida em que ocorre o conflito entre a

estrutura psicossomática dos trabalhadores e a organização do trabalho. Este

bloqueio é considerado pelo autor uma das causas principais da doença somática.

Pode-se afirmar também, que ao identificar as atividades desenvolvidas pelos

sujeitos da pesquisa, não há nenhuma ligação entre os sintomas psíquicos de

sofrimento ou adoecimento mental citado pelas entrevistadas com as funções que as

mesmas exercem no trabalho, já que possuem cargos diferentes umas das outras.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho desempenha um papel importante na vida das pessoas e,

atualmente, tem-se consciência de que ele representa um conflito entre o mundo

objetivo e o mundo interno do trabalhador. Enquanto o mundo objetivo impõe

regras e desafios aos quais o trabalhador deve responder, o mundo interno do

trabalhador se refere às questões relacionadas à subjetividade humana, sua

singularidade e valores. Este confronto entre o mundo do trabalho e as

pessoas representa, de um lado, oportunidade de crescimento e

desenvolvimento psicossocial do trabalhador e, de outro, a possibilidade de

ocorrer sofrimento, que pode culminar no adoecimento psíquico. Logo, as

relações entre o trabalho e o sujeito representam um ambiente de multiplicidade

subjetiva e social.

Levando-se em conta a importância do trabalho na vida do homem e sua

contribuição para a construção da realidade psíquica, emocional e cognitiva, esta

dissertação analisa a influência das atividades laborais na constituição da

subjetividade humana. Nesse sentido, pode-se retomar Jardim e Lancman (2009)

que realçam o papel do trabalho na vida do homem, na medida em que contribui

para a construção da identidade, para a estruturação das relações sociais, para

definir o pertencimento a um grupo, e, sobretudo para a composição do sujeito.

Decorre desta importância do trabalho na vida humana o fato de que algumas vezes

as condições sob as quais o trabalho se realiza ou as relações que se estabelecem

no ambiente do trabalho podem constituir fatores capazes de causar sofrimento

ou até mesmo de adoecimento. O presente texto buscou identificar esses fatores e

relacioná-los a casos de adoecimento mental de profissionais que trabalhavam

numa secretaria municipal de saúde do estado de Minas Gerais no período de 2013

a 2015. Levou em conta, ainda, as características de personalidade

desses trabalhadores que foram sujeitos da pesquisa.

A perspectiva teórica adotada leva em consideração que só se pode obter

uma compreensão do sofrimento psíquico e, até mesmo, do adoecimento psíquico

do trabalhador mediante análise de sua história ocupacional, levando em

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consideração suas particularidades, no âmbito psíquico, econômico e social.

Torna-se necessário, portanto, entender como o trabalho é organizado, de

que forma se estabelecem as relações interpessoais e o significado que o

trabalho tem para o sujeito, sem perder de vista as características da estrutura de

personalidade do trabalhador. Por este motivo, a abordagem teórica priorizada

neste estudo é a da Psicodinâmica do Trabalho, especialmente, a partir das

considerações feitas a partir de Christophe Dejours.

A pesquisa realizada para fundamentar a elaboração desta dissertação consistiu

num estudo de abordagem qualitativa, de caráter descritivo, constituído do estudo de

casos de adoecimento mental de trabalhadores que desenvolvem suas atividades

numa secretaria municipal de saúde de uma cidade do interior de Minas Gerais.

Embora a coleta de dados, feita a partir da realização de entrevistas individuais

busque na Psicologia fundamentos da abordagem e da interpretação das falas, a

análise dos resultados obtidos se apresenta como uma contribuição aos gestores,

especialmente aqueles que atuam em órgãos do serviço público. Esta justificativa

aponta a adequação do estudo feito às exigências de um Mestrado Profissional em

Administração, em que as pesquisas devem estar relacionadas ao mercado

de trabalho, onde ocorrem as questões relacionadas ao trabalho e ao

trabalhador e buscam sua inspiração nas ciências que oferecem suporte à

administração.

Os objetivos específicos definidos para a pesquisa foram os seguintes:

Identificar as tarefas realizadas pelos sujeitos que têm manifestado adoecimento

mental.

Caracterizar o processo de adoecimento desses profissionais, de acordo com o

prontuário dos mesmos.

Identificar os fatores determinantes de adoecimento mental dos sujeitos

pesquisados, de acordo com a percepção deles.

Para o alcance do primeiro objetivo específico, foram identificadas, através das

entrevistas, as tarefas realizadas pelas servidoras públicas que manifestaram

sintomas psicopatológicos. Verificou-se que as queixas de sofrimento mental

registradas pelas servidoras não estão correlacionadas às tarefas laborais que

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realizam na SMS, e sim às características da organização do trabalho na Secretaria.

Assim, mesmo as servidoras que exercem diferentes funções apresentam queixas

comuns relacionadas à organização do trabalho.

Através do relato das servidoras públicas e levando em conta o prontuário de cada

uma, ficou comprovado que nem todos os que apresentaram sintomas de sofrimento

psíquico podem ser considerados portadores de doenças mentais. Na verdade, o

adoecimento parece estar relacionado não apenas às condições laborais, mas

também à subjetividade de cada servidor.

Foram relatados sofrimentos, somatizações, insatisfações com a organização do

trabalho, sintomas psicopatológicos e até mesmo diagnósticos precisos que

sugeriram afastamento das atividades laborais em razão de adoecimento mental.

Percebe-se, contudo, que algumas servidoras, devido às suas características da

personalidade e à elaboração de sistemas defensivos eficazes, conseguem

transformar o sofrimento no trabalho em prazer, conforme foi exposto na teoria

dejouriana. Tal fato foi comprovado através do relato das oito servidoras públicas

entrevistadas, pois nem todas adoeceram mentalmente, apesar de queixas

psicopatológicas estarem presentes em todos os relatos; muitas demonstraram

estar satisfeitas e realizadas com o trabalho. Isso justifica a ambivalência do

trabalho, que ao mesmo tempo em que pode ser promotor de saúde física e mental,

também pode causar adoecimentos e somatizações.

Vale destacar que os resultados das entrevistas realizadas apontam o

predomínio de sofrimento, apesar de alguns indicativos de prazer

relacionados ao fato de trabalharem na Secretaria Municipal de Saúde. A literatura

que justifica tal fato encontra-se em Dejours (1990, p.128) ao afirmar que “prazer e

sofrimento são vivências subjetivas, que implicam um ser de carne e um corpo onde

ele se exprime e experimenta (...), de forma que não pode ser, em nenhum caso, a

mesma de um sujeito para o outro”.

Para alcance do terceiro objetivo, foram identificados com unanimidade os aspectos

do trabalho que são relacionados ao adoecimento mental dos sujeitos pesquisados,

de acordo com a percepção deles. As causas de sofrimento e/ou adoecimento

mental estão correlacionadas ao que a organização de trabalho oferece e/ou deixa

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de oferecer aos seus funcionários. Portanto, depende da organização do trabalho

disponibilizar aos seus trabalhadores um ambiente propício para a saúde mental

estável. Dentre os itens que as servidoras consideram essenciais, vale ressaltar a

garantia dos direitos trabalhistas, estabilidade e segurança no emprego, férias, 13º

salário, a remuneração adequada, amparo da organização e dos gestores e

principalmente o reconhecimento.

Até o momento da realização desta pesquisa, o ambiente de trabalho era

experimentado pela autora, que considera que apesar das características insalubres

que a organização de trabalho oferece aos seus servidores, muitos deles

conseguem evitar o adoecimento mental, devido ao reconhecimento que têm do seu

trabalho não por parte da organização, mas sim, pelos pacientes aos quais são

ofertados os serviços de saúde pública. Este reconhecimento contribui para dar

sentido ao trabalho que é realizado e favorece a motivação que impele o sujeito a

continuar exercendo um serviço de boa qualidade. Dessa maneira, o servidor

público sente-se valorizado e reconhecido pelo trabalho que realiza, mesmo que

este reconhecimento não seja originário da Secretaria Municipal de Saúde,

mas dos usuários do sistema de saúde.

Portanto, pode-se afirmar que o objetivo geral foi alcançado, tendo-se conseguido

realizar uma análise dos fatores determinantes de adoecimento mental de

profissionais que trabalham numa Secretaria Municipal de Saúde do estado de

Minas Gerais no período de 2013 a 2015.

Dentre os motivos que causam o adoecimento mental por parte das servidoras

públicas entrevistadas vale destacar a organização de trabalho, a falta de

reconhecimento da organização, a privação dos direitos trabalhistas, a falta de

transparência da organização que, privilegia os servidores efetivos em relação

aos contratados acresce a tudo isto a insegurança no trabalho, já que a indicação

dos servidores é pautada em indicações políticas e resulta num contrato de

trabalho com duração de um ano. O ambiente de trabalho apresenta, ainda,

características insalubres, além da falta de recursos e de incentivos,

pressão e sobrecarga no trabalho e retaliação aos trabalhadores que ficam de

licença ou pegam atestados por motivos de adoecimento mental.

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Algumas servidoras expressaram a satisfação de trabalhar na área de saúde

pública, realçaram o apoio oferecido por alguns gerentes, o relacionamento

interpessoal satisfatório, o sentimento de utilidade derivado da avaliação feita pelos

colegas de trabalho e ainda o reconhecimento por parte dos usuários do sistema de

saúde oferecido SUS. Esses aspectos são pontos positivos percebidos pelos

sujeitos de pesquisa.

Vale destacar alguns aspectos perceptíveis além dos previstos nos objetivos geral

e específicos, como o que foi notado nos relatos das servidoras que comentaram

que ainda hoje prevalece o preconceito sobre o adoecimento mental. Nesse caso, o

afastamento de funcionários por este motivo constitui oportunidade para críticas,

comentários maldosos, ironia. Dejours (1992) afirma que apenas o sofrimento físico

é reconhecido, enquanto o mental, particularmente a ansiedade, não pode ser

elucidado no local de trabalho. Várias servidoras entrevistadas relataram o medo de

seguir o tratamento ou até mesmo de pegar os atestados médicos referentes a

doenças psicopatológicas.

A limitação principal desta pesquisa está relacionada ao fato de se tratar de um

estudo de alguns casos, baseado na análise de prontuários, de entrevistas e de

observação feita pela pesquisadora e tais técnicas impedem generalizações amplas.

Como pesquisas sugeridas, devem ser lembrados temas relacionados à gestão de

pessoal dentro das organizações públicas, visando ao bem-estar físico e emocional

de seus trabalhadores. Outra sugestão deve ser investigar a maneira de se evitar o

adoecimento mental dos trabalhadores, identificando técnicas que se adequem à

subjetividade do trabalhador, para evitar e/ou amenizar o sofrimento no ambiente de

trabalho. Também deve-se desenvolver pesquisas aplicadas, visando o uso da

Psicodinâmica do Trabalho nas organizações, com o objetivo de prevenir as

doenças mentais vinculadas ao trabalho, privilegiando a fala do trabalhador

mediante criação de espaço para sua expressão.

Conclui-se, portanto, a dualidade do trabalho; ao mesmo tempo em que pode ser

considerado como fonte de prazer, nele podem estar embutidas características que

causam sofrimento e/ou adoecimento nos trabalhadores. Frente aos resultados

obtidos desta pesquisa ficou claro que entre a organização do trabalho e o sujeito

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existe uma multiplicidade de fatores que determinam a satisfação ou não no

ambiente laboral.

Para que o trabalho não se torne uma fonte geradora de sofrimento mental, o

mesmo deve representar para o sujeito possibilidades de realização profissional e

pessoal. A partir do momento em que o trabalho perde essas significações, quando

o trabalhador não visualiza um sentido para o trabalho, o mesmo compromete a

integridade da sua saúde física e mental. (DEJOURS,1992).

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REFERÊNCIAS

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6 PRODUTO TÉCNICO

ORIENTAÇÕES PARA GESTÃO DE SETORES DE ATENDIMENTO À SAÚDE

A partir dos resultados obtidos na pesquisa realizada sobre Adoecimento mental no

trabalho: Estudo de caso numa Secretaria de Saúde de Minas Gerais, foram

identificadas ações que podem prevenir adoecimento de profissionais que

trabalham no atendimento à saúde:

Apresentar um quadro definido de pessoal, de modo que as funções sejam

claramente definidas e informem ao funcionário os seus deveres e os seus

direitos no exercício de suas atividades.

Adotar um processo de seleção e admissão de pessoal marcado pela justiça

e pelo mérito e que evite a influência de indicações políticas.

Resguardar os direitos trabalhistas dos funcionários, mediante respeito à

legislação pertinente e sem o recurso de coações indevidas.

Evitar a transitoriedade no exercício dos cargos, o que tende a gerar

insegurança e falta de estabilidade.

Investir em treinamentos/ capacitações aos gerentes para que possam ser

adotadas medidas próprias de uma gestão mais humanizada;

Proporcionar atendimento médico e psicológico aos funcionários sempre que

solicitado por eles.

Acompanhamento frequente dos servidores, mediante criação do "espaço da

fala" na organização, para a expressão do sentimento de mal estar no

trabalho, sobrecarga, conflitos e insatisfações em geral.

Expressar a valorização do servidor público, proporcionando benefícios não

ligados diretamente à remuneração: divulgação de datas significativas como

aniversários, nascimento de filhos, casamento de familiares próximos e,

sempre que possível, associar tais eventos a dispensa de atividades laborais.

Criar oportunidade de expressar o reconhecimento da organização em

função das metas definidas e alcançadas.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Dados de identificação do entrevistado

Sujeito no.

Idade:

Sexo:

Escolaridade:

Cargo ocupado:

Tempo de trabalho na organização:

Perguntas

1. Qual a importância que este trabalho tem para você?

2. Procure me falar sobre sua atividade no trabalho que faz.

3. Me conte um pouco sobre a sua trajetória e desafios enfrentados aqui na SMS.

4. Como você percebeu alterações no seu estado de saúde decorrente de atividades

realizadas no trabalho? O que aconteceu?

5. O que aconteceu no trabalho que te levou ao adoecimento mental?

6. Você se lembra de qual foi o diagnóstico quando foi afastado (a)? Como foi

tratado (a)? Procurou ajuda especializada? (Clínica, psicológica ou psiquiátrica)

Tomou remédios? Quais?

7. Como a rotina de trabalho pode influenciar no adoecimento do funcionário?

8. Você tem sugestões para tornar o trabalho aqui na SMS mais agradável? Para

evitar o adoecimento dos funcionários?

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezada participante,

Você está sendo convidada para participar da pesquisa sobre Adoecimento Mental

no Trabalho: Estudo de casos. Desenvolvida por Lísia Marina Magalhães Macedo,

discente de Mestrado Profissional em Administração do Centro Universitário UNA

sob orientação da professora Dra. Íris Barbosa Goulart.

O objetivo central do estudo é analisar fatores determinantes de adoecimento mental

de profissionais contratados para uma Secretaria Municipal de Saúde. Para sua

realização serão feitas entrevistas com oito servidores públicos da Secretaria

Municipal de Saúde que se encontram estressados, insatisfeitos com o trabalho e

apresentam características depressivas ou de outras patologias de saúde mental

decorrente das atividades laborais.

Sua participação não é obrigatória e você tem plena autonomia para decidir se quer

ou não participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento, sem

penalizações. Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa

através do telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário através do telefone

do Comitê de Ética em Pesquisa.

A sua participação consistirá em responder perguntas de um roteiro de entrevista à

pesquisadora do projeto. A entrevista somente será gravada se houver autorização

da entrevistada. O tempo de duração da entrevista é de aproximadamente trinta

minutos. As entrevistas serão transcritas e armazenadas, em arquivos digitais, mas

somente terão acesso às mesmas a pesquisadora e sua orientadora.

A participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Em casos de

constrangimentos durante a entrevista, como, por exemplo, alterações do estado

emocional da entrevistada, a pesquisadora irá adotar medidas através do diálogo

para minimizar os danos e, caso verifique a necessidade, a entrevistada será

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encaminhada para acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico no Centro de

Saúde de Referência. Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das

informações prestadas. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos

Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no.

466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Ao participar desta pesquisa, você não terá nenhum benefício direto. Entretanto,

acredito que este estudo irá contribuir para que sejam adotadas medidas de

prevenção e manutenção da saúde mental equilibrada dos servidores públicos. Os

resultados obtidos serão divulgados.

Você não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como

nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para

participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que seguem.

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Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia

deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação

dos dados obtidos neste estudo.

________________________________________________________________ Nome e assinatura do Participante da Pesquisa

________________________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora

________________________________________________________________ Assinatura da Orientadora

Dados da pesquisadora:

Lísia Marina Magalhães Macedo

Rua Avelino Macedo, 559 – São Geraldo - Sete Lagoas – MG. CEP: 35700-202

(31) 9905- 3439

[email protected] Centro Universitário UNA

Comitê de Ética em Pesquisa– CEP

Rua dos Guajajaras, 175 – 4º andar – Centro – Belo Horizonte/MG. CEP: 30180-100

(031) 3508 – 9136

[email protected]

Adaptado pelos modelos de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido disponível em: http://www.una.br/images_anima/pdf/doc6.doc http://www.ensp.fiocruz.br/etica http://www.fumec.br/anexos/pesquisa/roteiro_basico_TCLE.pdf

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ANEXO

ANEXO A- Carta de aprovação do projeto de pesquisa, emitida pelo Comitê de

Ética

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA / MG

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO: ESTUDOS DE CASOS NUMA SECRETARIA DE SAÚDE DE MINAS GERAIS

Pesquisador: Lísia Marina Magalhães Macedo

Área Temática:

Versão: 1

CAAE: 46505015.8.0000.5098

Instituição Proponente: Centro Universitário UNA

Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER Número do Parecer: 1.141.262

Data da Relatoria: 07/07/2015

Apresentação do Projeto:

O propósito da pesquisa é analisar os fatores determinantes de adoecimento mental de profissionais

contratados para uma Secretaria Municipal de Saúde. Será realizado uma entrevista semiestruturada com 8

servidores públicos contratados pela Secretaria Municipal de Saúde que apresentam como características o

fato de serem depressivos, estressados, insatisfeitos com o trabalho e/ou poli- queixosos. A pesquisadora

atua como psicóloga em oito ESF´s – Estratégia de Saúde da Família e selecionou esses colegas de

trabalho porque além de representarem as características citadas, trabalham em postos de saúde de áreas

divergentes. Não houve nenhum critério de seleção referente à idade, sexo, estado civil, escolaridade e

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100

exercício de algum cargo. As entrevistas serão realizadas individualmente no próprio ambiente de

trabalho. Inicialmente, será feita pela autora uma breve exposição sobre o tema a ser pesquisado e

estabelecido um rapport, para que os entrevistados se sintam mais à vontade. A coleta de dados por

entrevista será gravada, com vista a garantir a fidelidade das respostas. Posteriormente, as entrevistas serão

transcritas e validadas com cada sujeito entrevistado. Será assegurado aos entrevistados o sigilo com

relação à sua identidade. Trata-se de pesquisa qualitativa que pretende utilizar o Estudo de Caso.

Endereço: Rua dos Guajajaras, 175 CEP: 30.180-100 Município: BELO HORIZONTE

Bairro: Centro UF: MG