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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE MATOS RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: Uma questão de cidadania? CURITIBA 2015

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA

JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE MATOS

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: Uma questão de cidadania?

CURITIBA 2015

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JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE MATOS

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: Uma questão de cidadania?

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Direito. Orientadora: Profa. Dra. Sandra Mara Maciel-Lima

CURITIBA 2015

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JOSÉ ANTÔNIO SOUZA DE MATOS

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: Uma questão de cidadania?

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em

Direito Empresarial e da Cidadanía, do Centro Universitario Curitiba, pela banca

examinadora formada pelos profesores:

Orientadora: ________________________________

Profa. Dra. Sandra Mara Maciel-Lima

________________________________

Prof. Dr. José Edmilson de Souza Lima

________________________________

Prof. Dr. Marco Antônio Villatore

Curitiba 26 de Junho de 2015

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Dedico este trabalho ao meu amigo (in

Memóriam) Edemilson Correia pela amizade,

pelo carinho e pelo amor fraterno que tive o

prazer de que desfrutar em sua breve

passagem por esta terra. Profissional

exemplar, dedicado e fiel amigo que gostava

de reunir os amigos para jogar futebol. Meu

eterno agradecimento a Deus por ter

conhecido um amigo assim.

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AGRADECIMENTOS

Agradecimentos à Professora Doutora Sandra Mara Lima-Maciel pela sua

orientação, pela paciência, compreensão e dedicação em me orientar.

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RESUMO

Ultimamente se escreve muito em responsabilidade social, mas afinal de contas o que é responsabilidade social? É um conceito? É um modo de agir? É uma necessidade do mundo moderno? É uma ferramenta de marketing? Ou é um pouco de tudo isso? Atitudes de responsabilidade social não podem estar dissociadas de comportamentos éticos. Esta preocupação com a responsabilidade social já existia no passado, no entanto, com outra conotação. O cuidado com o meio ambiente é recente, começando a surgir em meados do século passado. No entanto, a responsabilidade social no passado era realizada com as ações de filantropia. A partir da constituição brasileira de 1988 a preocupação com o social passou a fazer parte da legislação através de vários artigos. Já no primeiro artigo deixa claro que a República tem por fundamento a soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Uma empresa ética é uma empresa comprometida com o cliente, com os fornecedores, com os colaboradores, com o meio ambiente, enfim com todos e é uma empresa socialmente responsável. As empresas atualmente não podem se preocupar somente em equacionar a questão de custo com a matéria prima e o preço de venda. Para continuarem no mercado tem que se preocupar também com os reflexos das suas atividades no meio ambiente. Em última análise, pelo fato de que a matéria prima extraída do meio ambiente é finita, modifica de fato a biosfera interferindo diretamente na vida de todos. Ademais, esta interferência no meio ambiente influencia o seu consumidor provocando assim um reflexo direto no sucesso da empresa. As empresas socialmente responsáveis são recompensadas com incentivos fiscais, os quais concedem abatimento em tributos dos valores investidos em determinadas atividades. Dentro o incentivo fiscal mais utilizado está o incentivo aos projetos culturais, pois além de agregar valor a marca da empresa, pode abater 100% do valor doado. O que deve ser observado é o limite de 4% do valor devido do imposto de renda para as empresas que estão submetidas ao regime do lucro real. Palavras Chave : ética empresarial, função social, meio ambiente, ética, benefícios fiscais.

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ABSTRACT

Lately we write a lot in social responsibility, but after all what is social responsibility? It is a concept? It is a way of acting? It is a necessity of the modern world? It is a marketing tool? Or is it a bit of all this? Social responsibility attitudes can not be separated from the ethical behavior. This concern for social responsibility existed in the past, however, with another connotation. Care for the environment is recent, begins to emerge in the last century. However, social responsibility in the past was performed through philanthropy. From the Brazilian Constitution of 1988 the concern for the social became part of the law through several articles. In the first article makes clear that the Republic is based on sovereignty, citizenship, dignity of the human person, the social values of work and free enterprise. An ethical company is a company committed to the client, with suppliers, with employees, with the environment, in short with everyone and is a socially responsible company. Companies today can not worry only equate the issue of cost with the raw material and the sale price. To stay in business have to also worry about the consequences of their activities on the environment. Ultimately, the fact that the raw material extracted from the environment is finite, in fact modifies the biosphere directly interfering in everyone's life. Moreover, this interference in the environment influences the consumer thus causing a direct reflection on the success of the company. Socially responsible companies are rewarded with tax incentives, which grant reduction in taxes of amounts invested in certain activities. In the most widely used tax incentive is the incentive for cultural projects, as well as add value to the company's brand, can kill 100% of the amount donated. What should be noted is the limit of 4% of the amount due from income tax for companies that are subject to the taxable income regime.

Keywords : business ethics, social function, environment, ethics, tax benefits.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 09

2.0 O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................... 12

2.1 ÉTICA EMPRESARIAL ...................................................................................... 23

2.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL A PARTIR DO ORDENAMENTO

JURÍDICO.................................................................................................................. 32

3.0 FUNÇÃO SOCIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA E SUAS

DIFERENÇAS........................................................................................................... 40

3.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL VISTA PELOS EMPRESÁRIOS

DO EXTERIOR……………………………………………………...…......……...……… 45

3.2 O PAPEL ATUAL DA EMPRESA NA RESPONSABILIDADE SOCIAL.............. 51

3.3 DA NECESSIDADE EM PAGAR TRIBUTOS. HÁ RESPONSABILIDADE

SOCIAL SEM PAGAR TRIBUTO? ........................................................................... 61

3.4 QUAIS OS BENEFÍCIOS LEGAIS PARA A EMPRESA QUE TEM UMA ATITUDE

RESPONSÁVEL........................................................................................................ 65

3.4.1 DEDUÇÕES E BENEFÍCIOS .......................................................................... 66

3.4.2 Deduções do IR ............................................................................................... 67

4.0 ANÁLISE DE CASOS PRÁTICOS ENVOLVENDO A RESPONSABILIDADE

SOCIAL E ÉTICA..................................................................................................... 69

4.1. CASO 01: O DESASTRE AMBIENTAL PROVOCADO PELA CHEVRON

NA BACIA DE CAMPOS RJ EM 2011. .................................................................... 69

4.2.0 CASO 02: LEITE ADULTERADO ................................................................... 74

4.3 CASO 03: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN EXEMPLO DE RESPONSABILIDADE

SOCIAL..................................................................................................................... 77

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 79

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 82

ANEXOS ....................................................................................................................88

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem a pretensão de discutir a responsabilidade social

em vários aspectos, sendo assim procura a responder até que ponto ela é reflexo da

cidadania, instrumento de marketing, ou um negócio rentável? O presente trabalho

procura refletir se é um fim a ser alcançável ou um instrumento que serve para

ajudar a reduzir a pobreza, desigualdade e a degradação ambiental? Qual a

contribuição para uma sociedade cidadã? Ou ainda se é fruto da determinação legal

que visa proteger o consumidor e o meio ambiente? Procura também refletir sobre o

que é responsabilidade social, por que as empresas atualmente estão muito

preocupadas em desenvolver atividades que demonstrem ser socialmente

responsáveis.

Muitas empresas utilizam a responsabilidade social como forma de usufruir

dos benefícios tributários e assim, além de beneficiar a sociedade em função das

medidas adotadas, a própria empresa beneficia-se também com essas medidas

quando literalmente aproveita os benefícios disponibilizados. Há ainda um ganho

indireto quando passa a contemplar no rol de empresas socialmente responsáveis e,

em razão disso há um aumento na demanda por seus produtos ou serviços.

Procura-se refletir sobre o modo como a responsabilidade social foi tratada ao

longo dos anos nos vários segmentos da sociedade, tais como no direito, nas

empresas, no meio acadêmico.

Está em alta discutir sobre responsabilidade social, pois, é um tema que está

na ordem do dia. Mas o que é responsabilidade social e quando passou a ser

praticada? Todos que falam sobre o tema e procuram praticar é por altruísmo?

Quem ganha e quem perde nas atitudes que denotam responsabilidades sociais?

As mudanças que vem ocorrendo na sociedade, em todas as áreas, nos

últimos anos são visíveis a todos. Basta observarmos as mudanças que o próprio

Estado constituído tem passado. Até bem pouco tempo atrás haviam vários Estados

totalitários, como os países comunistas, por exemplo. Havia também uma sociedade

neoliberal como nos Estados Unidos da América a qual, nos últimos anos, também

vem sofrendo mudanças.

Atualmente há empresário que não pensa só no lucro, naturalmente ele

almeja o lucro, mas sabe que para o seu negócio ter longevidade precisa mais do

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que o lucro. Precisa ter um produto e uma imagem que transmitam outros valores

para os seus consumidores, como por exemplo, a imagem de uma empresa

socialmente responsável.

Neste trabalho se reflete também se a preocupação de muitos empresários

com o tema é uma questão de “modismo”? Não se tem a intenção de fazer um

levantamento exauriente da origem da preocupação com a responsabilidade social,

mas se faz necessário uma introdução sobre o tema. Para alguns autores, São

Tomás de Aquino foi o precursor da discussão. Outros defendem a tese de que foi

na encíclica Rerum Novarum que se deu início à discussão.

Há, no entanto, um consenso que reconhece a existência de alguns

acontecimentos determinantes para provocar a discussão sobre a Responsabilidade

Empresarial Social. Entre os quais se destacam a Revolução industrial, a quebra da

bolsa de Nova Iorque, a Segunda Guerra Mundial e aproximação do exaurimento

dos recursos naturais renováveis.

Os fatos acima deixaram mazelas que marcaram as sociedades. Diante das

mazelas surgiram movimentos de filantropia que mais tarde foram denominados de

Responsabilidade Social Empresarial – RSE – a qual é uma tendência corporativa

empresarial que procura incorporar a ética entre a empresa e seus colaboradores,

clientes e sociedade de modo geral.

Assim, o que no primeiro momento era um filantropismo evoluiu para

voluntariado empresarial que passou a incorporar compromissos além da simples

ajuda financeira. O conceito atual de voluntariado empresarial aqui entendido são

como doação de tempo e dinheiro com o intuito de mitigar o sofrimento dos

desvalidos, ou seja, segundo Souza-Lima e Maciel-Lima (2014, p. 35) “o objetivo

continua o mesmo, transformar a filantropia em pratica social mais dinâmica e

eficiente”. Portanto, hoje o mais comum é falar de responsabilidade social e ou

desenvolvimento sustentável que é muito mais abrangente.

É notório o interesse das empresas do setor privado em desenvolver

atividades com conotação de respeito à comunidade e ao meio ambiente, assim

procuram demonstrar a todos que se preocupam com a preservação da espécie

humana na terra. A presente dissertação procura também discutir o que leva os

empresários a investir nas relações com a sociedade para que seja reconhecido

como uma empresa responsável e comprometida com o meio ambiente. Este

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comprometimento agrega valores ao seu produto ou serviço. O problema reside no

fato de que, muitas vezes, o discurso não é compatível com a realidade fática.

Sabe-se que determinados assuntos/temas são tratados de forma diferentes,

dependendo do lugar onde são abortados, ou seja, cada lugar tem um modo de ver

e tratar, conforme a expectativa, perspectiva e cultura de cada região. Eis o

interesse em saber como o tema Responsabilidade Social é tratado na Europa e,

qual a perspectiva?

Tal tema é estudado a partir da literatura sobre o assunto. Percebe-se que o

na Europa o tema tem outro viés, diferente de como é tratado no Brasil. Acredita-se

naturalmente que pela própria situação sócia econômica dos países europeus.

Enquanto aqui ainda há uma preocupação em garantir uma situação mínima de

dignidade para todos, na Europa, na maioria dos países está situação já esta

resolvida.

Não se olvida que o tema, responsabilidade social empresarial, nos últimos

anos também na Europa passou a despertar mais interesse tanto no meio

empresarial, como na comunidade em geral. Também lá, às vezes, o tema é tratado

de forma pragmático, ou seja, visando o lucro direito, algo que proporcionara mais

lucro para quem o pratica.

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2 O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL

Antes de iniciar a reflexão sobre a responsabilidade social, se faz necessário

destacar que um dos marcos teórico dessa dissertação é Hans Jonas a partir do

livro “O princípio responsabilidade”. O diálogo da dissertação com Jonas ocorre

quando ele reflete sobre atitudes de responsabilidade social e seus reflexos na

sociedade, ou seja, a importância de se ter atitudes responsáveis para a

continuidade de sobrevivência de toda a sociedade. No capítulo V do livro “O

principio responsabilidade” representa a conexão entre o tema central deste trabalho

e a ideia defendida por Jonas. O titulo do capítulo V é “A responsabilidade hoje: o

futuro ameaçado e a ideia de progresso”.

O que é a responsabilidade no momento presente? O futuro está ameaçado

pelo progresso? Ou o que entendemos por progresso a atualmente é que está

ameaçando a possibilidade da existência de um futuro? O livro “O princípio

responsabilidade” faz uma reflexão critica sobre a ética, ou a falta dela, e as

consequências em decorrência do progresso. Jonas (2006, p. 21) no prefácio do

livro afirma que “a tese de partida do livro é que a promessa da tecnologia moderna

se converteu em ameaça, ou esta se associou àquela de forma indissolúvel”.

A responsabilidade hoje tem um novo significado, assim como o conceito de

ética hoje deve ser diferente do conceito de ética tradicional. O conceito de

responsabilidade atual “deve levar em consideração mais do que somente o

interesse “do homem”, pois nossa obrigação se estenderia para mais além”,

segundo afirma Jonas (2006, p. 41). Não pode ser entendida como atitude

responsável aquela que contempla somente a preocupação com o homem presente.

Explico melhor, a atitude responsável deve levar em consideração as consequências

para o homem que ainda não existe, ou seja, as gerações futuras.

Segundo Jonas (2006, p. 57) a ética tradicional da simultaneidade, do aqui e

agora não corresponde as necessidade ou expectativas da vida moderna, pois esta

ética não corresponde mais as necessidades atuais. Para Jonas a nova ética exige

“previsão e responsabilidade” para garantir a existência de gerações futuras. A

responsabilidade a qual Jonas se refere, é a responsabilidade objeto de reflexão

nesta dissertação.

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Basta cotejar a tese defendida por Jonas, segundo a qual, a sociedade

contemporânea não pode fazer uso de uma ética pensado somente no homem e

mais, não pode pensar somente no homem presente, mas defende que a sociedade

atual deve pensar nas próximas gerações. Assim responsabilidade para Jonas é ter

atitudes cujas consequências contribuam para a existência digna das futuras

gerações.

Para que isso ocorra se faz necessário que todos contribuam para tal, ou

seja, pessoa física, pessoa jurídica devem fazer cada um a sua parte. Cientes disso,

tanto empresa quanto pessoa física, cada qual a seu modo, devem contribuir para

se alcançar o fim almejado. Aquela contribuindo para produzir sem degradar o meio

ambiente, esta prestigiando quem de fato se preocupa com o meio ambiente e age

de forma socialmente responsável.

Ao agir com responsabilidade social, está sendo ético e responsável, segundo

Jonas, pois uma atitude socialmente responsável tem consequências benéficas para

a sociedade. Os mesmos efeitos são experimentados por toda a sociedade quando

se age com ética e responsabilidade.

No entanto, conforme já foi ventilado nesta dissertação, o tema

responsabilidade social ainda suscita muitas dúvidas, pois afinal de contas o que é

responsabilidade social? É um conceito? É um modo de agir? É uma necessidade

do mundo moderno? É uma ferramenta de marketing? É um pouco de tudo isso?

Segundo Souza-Lima e Maciel-Lima (2014, p.11), o termo responsabilidade

social foi deturpado, banalizado em que pese haver muitos estudos, reflexões sobre

práticas autodeclaradas “Responsáveis”, as quais demonstram que a retórica é

muito mais forte que a prática. Isto significa que as corporações e governos, muitas

vezes, têm incorporado a temática somente no discurso e não prática.

Ressalta-se que o termo responsabilidade social é mais abrangente que o

termo função social. O termo função social ganhou relevância primeiro,

posteriormente é que surge a preocupação com a responsabilidade social. Os dois

conceitos podem conviver simultaneamente sem problema algum. Assim alguns

autores se dedicam ao tema função social, como é o caso de Tomasevicius Filho

(2005, p. 197), segundo o qual foi São Tomas de Aquino quem tratou do tema, como

evidencia o texto a seguir:

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A ideia de função social foi formulada pela primeira vez por São Tomás de Aquino, quando afirmou que os bens apropriados individualmente teriam um destino comum, que o homem deveria respeitar. Essa ideia, no entanto, ganhou força apenas no século 19, devido às profundas alterações econômicas e sociais que ocorreram naquele período. No entanto, como sempre ocorre na história, às ideias filosóficas surgem com bastante antecedência em relação ao período em que as mudanças ocorrem.

Percebe-se assim que o tema já era estudado na Idade Média. São Tomás já

expressava a preocupação com o coletivo, quando afirmava que os bens

apropriados individualmente deveriam ter um destino que todos pudessem usufruir

dos benefícios que os mesmos apresentassem.

Segundo Bertoncini e Corrêa (2012, p. 97) a Encíclica Rerum Novarum

também tratou do tema, vejamos:

Fica evidente que na Encíclica Rerum Novarum observou-se, ainda que não pudesse propriamente ser chamada de função social, mas uma preocupação bastante aguçada tanto com a ideia de defesa da propriedade (em especial dos mais necessitados), como também da noção de proteção da classe trabalhadora. Esses dois elementos foram definitivos posteriormente no surgimento da função social da propriedade, uma vez que, como se verá, o ideal surge como limitador a tal poder: é permitido a todos possuir a propriedade, desde que, evidentemente, essa respeite aos interesses maiores da coletividade.

A Encíclica Rerun Novarum novamente destaca a primazia da coletividade

sobre o individual. Isso prova que o conceito de responsabilidade social já era

defendido, antes mesmo de ser definido como hoje o conhecemos.

Henry Ford, o pai da indústria automobilística já empunhava a bandeira da

responsabilidade social, quando em 1919 afirmava que as empresas deveriam

participar do bem estar coletivo, segundo Ashley et al. (2002, p.18-19),

Em 1919, a questão da ética, da responsabilidade e da discricionariedade dos dirigentes de empresas abertas veio a público com o julgamento do caso Dodge versus Ford, nos EUA, que tratava da competência de Henry Ford, presidente a acionista majoritário da empresa, para tomar decisões que contrariavam interesses dos acionistas John e Horace Dodge. […] A Suprema Corte de Michigan foi favorável aos Dodges, justificando que a corporação existe para o benefício de seus acionistas e que diretores corporativos têm livre-arbítrio apenas quanto aos meios para alcançar tal fim, não podendo usar os lucros para outros objetivos.

Assim se conclui que o termo responsabilidade social, embora tenha se

destacado nas últimas décadas do século passado, já vinha sendo objeto de

reflexão há muito tempo.

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A partir do início do século XIX a responsabilidade social passou a ser cada

vez mais presente na vida das empresas e da comunidade em geral. Tal conceito é

algo muito abrangente e muitas vezes confundido como se fosse um tema que diz

respeito somente as Organizações Não Governamentais (ONG) ou outras

instituições filantrópicas. Tal confusão é decorrente do fato de que no passado, eram

as entidades de caridades quem preponderantemente assistiam aos desvalidos.

Até o início do século XIX não havia ainda a grande preocupação que se tem

hoje com o meio ambiente. Até então, a preocupação era somente com o homem e

com a sua sobrevivência. Sendo assim, as entidades que se preocupavam com os

menos favorecidos eram as entidades de caridades e filantrópicas, tais como as

Santas Casas de Misericórdias que se preocupavam com a saúde dos pobres, as

instituições religiosas que assistiam os órfãos.

Segundo Souza-Lima e Maciel-Lima (201, p.34) a primeira casa erguida no

Brasil para amparar os necessitados foi a Irmandade de Misericórdia instalada na

Capitania de São Vicente em 1543. Em seguida outras entidades de cunho religioso

a se espalhar por todo o território nacional, “isto comprova que beneditinos,

franciscanos e carmelitas foram pioneiros de algumas práticas inspiradoras e

fundantes do que veio a ser caracterizado hodiernamente como práticas socialmente

responsáveis” (SOUZA-LIMA e MACIEL-LIMA, 2014, p. 34).

Ainda os mesmos autores afirmam que “a caridade nos séculos passados era

diferente da atual sob diversos aspectos”, pois, naquela época, a preocupação

estava em fornecer o “peixe” aos necessitados. Atualmente a preocupação está em

“ensinar a pescar.” Responsabilidade social vai muito além de ações de caridade,

filantropia, estas estão no âmbito de “dar o peixe” e aquela se preocupa em ensinar

a pescar (SOUZA-LIMA e MACIEL-LIMA, 2014, p. 34).

Se por um lado a caridade, filantropia e responsabilidade social têm o mesmo

objetivo, tais como: aumentar o bem estar social das pessoas, atuando de modo

semelhante e muitas vezes utilizando o mesmo caminho, por outro lado, os

resultados alcançados não são os mesmos.

Tal diferença decorre do próprio significado de cada termo. Em que pese os

termos filantropia e caridade, na maioria das vezes, serem utilizados como

sinônimos, efetivamente não o são. Contudo, esses dois termos possuem diferenças

relevantes.

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O termo caridade, segundo Ferreira (1986, p. 353) vem do latim Caritate que

significa no vocabulário cristão o amor que move a vontade, à busca efetiva do bem

de outrem, ou seja, amor, fazer o bem, ajudar o próximo sem interesse algum. O

termo caridade tem uma conotação religiosa, inclusive é uma das sete virtudes

teologais. Assim o termo caridade significa em ajudar os outros sem esperar

retribuição alguma. O termo caridade tem o mesmo significado de Ágape, termo

grego e segundo Ferreira (1986, p. 777) a palavra Filantropia vem do grego (amor)

e (homem), e significa "amor à humanidade", todos os termos com significado

parecidos.

Por sua vez responsabilidade social tem um significado muito mais amplo,

pois, tem no seu bojo a ideia, o significado que vai além do simples ajudar o outro. A

responsabilidade social pode ser entendida como atitudes, posturas,

comportamentos e ações adotadas por pessoa física ou jurídica, de forma voluntária

com intuito de proporcionar um mundo melhor a todos, ou para com algum grupo

especifico, como os mais necessitados. Pode ser ainda atitudes que proporcione

àqueles que ainda não nasceram um mundo melhor. Deve ser uma atitude

transformadora da realidade. Não pode ser algo paliativo.

Os frutos das respectivas ações são diferentes. Enquanto atitudes de

responsabilidade social modificam a situação fática transformando a realidade,

despertando a consciência de que é necessário fazer algo que torne o mundo

melhor, a filantropia e a caridade, na maioria das vezes, têm o caráter leniente, ou

seja, não tem a preocupação em mudar a realidade. As ações de filantropia, bem

como a de caridade estão preocupadas em diminuir os sofrimentos ou minorar os

impactos sociais.

A transformação proporcionada pela responsabilidade social, além de

transformar a realidade das pessoas, tem que contribuir para a preservação do meio

ambiente. Empresa alguma pode aspirar ser conhecida como socialmente

responsável se preocupando somente com as pessoas, deixando de lado a

preservação do meio ambiente.

Neste sentido, para Souza-Lima e Maciel-Lima (2014, p. 38) a

responsabilidade social vai além da filantropia, pois,

A organização socialmente responsável coloca a serviço da comunidade, recursos financeiros, produtos, serviços, know-how da organização e dos seus funcionários. O objetivo é “assegurar o desempenho ético, correto” e o desempenho ambiental adequado da empresa, melhorar a qualidade de

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vida de seus funcionários e dependentes, usar o poder e a relação da empresa com seus fornecedores e concorrentes para mobiliza-los a ser socialmente responsáveis (por exemplo, não comprar nenhum fornecedor que usa trabalho infantil), implementar normas de respeito ao consumidor e mobiliza-lo para atos de solidariedade, utilizar todos os espaços de comunicação para transmitir valores e informações de interesse da comunidade. Nesta dimensão, a empresa orienta suas ações sociais a partir de princípios e valores éticos, além de reforçar suas relações com funcionários, clientes, fornecedores, acionistas, parceiros, governo sociedade e comunidade.

Como se observa no texto a empresa socialmente responsável disponibiliza

para a sociedade recursos financeiros serviços com o intuito de melhorar a

qualidade vida de toda a comunidade. Ao ter atitudes socialmente responsáveis, a

empresa está também estimulando que seus colaboradores ajam da mesma forma

proporcionando que toda comunidade seja beneficiada.

Para Araújo e Souza (2007, p. 115), a responsabilidade social é um modo de

agir fruto da necessidade dos tempos atuais, que surge no Século XIX visando à

proteção dos trabalhadores, fruto de uma ação paternalista de cunho ético moral.

A emergência da RSE situa-se historicamente precisamente no século XIX e no sentimento de paternalismo que implantou sistema de pensão e serviços médicos aos trabalhadores das indústrias bem como benefícios aos filhos destes num contexto de ordem trabalhista ético-moral que vigorava nos Estados Unidos e na Inglaterra. Constituía-se um hábito as congregações de caráter religioso selecionarem seus investimentos e aplicarem recursos em empresas selecionadas por atividades, dando preferencia aquelas que desenvolviam atividades não relacionadas à armamentos, tabacos, jogo, etc., e investindo naquelas que se enquadrassem nos padrões de atividade ética da época. Surgiam nesse momento os fundos éticos precursores do que conhecemos hoje por fundos socialmente responsáveis.

A própria escolha de investimento passava pelo perfil social responsável.

Algumas empresas passaram a ser selecionadas para receberem investimentos, a

partir do que produziam. Assim empresas que produziam tabacos, armas, por

exemplo, passaram a ser preteridas.

Já na visão de Tenório (2004, p. 13) a responsabilidade social começa a ser

abordada no início do século XX, portanto, a preocupação é recente. Em que pese à

controvérsia sobre a origem da responsabilidade social, a preocupação com o meio

ambiente, como é concebida hoje, era algo inconcebível há alguns anos atrás. A

própria crise hídrica contribuiu para despertar a consciência e a necessidade do

cuidado permanente com o meio ambiente.

A abordagem da atuação social empresarial surgiu no início do século XX, com o filantropismo. Em seguida, como esgotamento do modelo industrial e

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o desenvolvimento da sociedade pós-industrial, o conceito evoluiu, passando a incorporar os anseios dos agentes sociais ao plano de negócios das corporações. Assim, além do filantropismo, desenvolveram-se conceitos, como voluntariado empresarial, cidadania corporativa, responsabilidade social, por último, desenvolvimento sustentável.

Para Bertoncini e Corrêa (2012, p. 125) o conceito de função social evoluiu

para a responsabilidade social da empresa. Sendo assim, o que antes se

denominava função social, atualmente se denomina de responsabilidade social,

governança corporativa. Conceitualmente é um pouco diferente, pois, a função

social, normalmente é decorrente de uma previsão legal, ocorrendo inclusive

penalidade no caso de descumprimento. Na visão dos autores, a responsabilidade

social é algo mais abrangente.

Assim, pode-se afirmar que a responsabilidade social realmente é um plus em relação à função social. Pode-se considerar que a empresa socialmente responsável é aquela que além de cumprir sua função social Qual seja, todos os ditames constitucionais que regem a atividade empresarial do Brasil, ainda visam ao alcance de novas e varias metas, que podem inclusive variar com o momento histórico que a circunda.

Destaca-se, contudo que a responsabilidade social não diz respeito somente

aos órgãos estatais ou as instituições assistenciais. Responsabilidade social é muito

mais do que a figura caricata que muitas vezes se tem sobre o tema. Ainda há quem

acredita que responsabilidade social está ligada ao conceito de caridade e, por

conseguinte, entende-se como algo que diz respeito às entidades religiosas e de

assistência social.

A partir do inicio do século XX a responsabilidade social passou a ser cada

vez mais presente na vida das empresas e da comunidade em geral.

Deve-se ressaltar o fato de que há pessoas que entendem ser a

responsabilidade social um tema de interesse somente das entidades de caridades,

ou aos órgãos não governamentais. Tais pessoas entendem que a

Responsabilidade Social Empresarial é algo paliativo e não transformador da

realidade. Porém, se há algo que a responsabilidade social não pode ser é paliativa.

Precisa ser mais do que isto, precisa colaborar para transformar a realidade. Mas

como a responsabilidade social pode e deve transformar a realidade?

Para Souza-Lima e Maciel-Lima, no livro “A Arte de cuidar do outro” a

responsabilidade social que transforma a realidade é aquela vista a partir da ótica

que demonstra a preocupação em cuidar do outro. Cuidar do outro passou a ser

uma arte. Mas em quais aspectos é possível pensar em “A arte de cuidar do outro”?

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Considerando que o outro não foi identificado, é possível entender o “outro” como

sendo todos, inclusive aqueles que ainda não nasceram.

É neste sentido que Jonas (2006, p. 56) afirma que se deve agir em função de

um futuro, conforme texto a seguir transcrito:

O agir ocorre em função de um futuro que não será usufruído nem por seus atores, nem por suas vitimas, ou contemporâneos. A obrigação para com o presente provém de lá, e não do bem estar ou do mal estar de seu mundo contemporâneo.

Ora o outro deve ser entendido como os contemporâneos e os que ainda

virão, ou seja, as gerações futuras. Sendo que as gerações futuras englobam as

pessoas, a natureza e tudo mais que seja necessário para que ambas possam viver

em harmonia.

Este conceito de preocupação com as gerações futuras aplica-se também

para as empresas. Estas devem se preocupar com as próximas gerações, pois, se

não se preocuparem, quem serão os seus consumidores no futuro? Portanto, o

conceito de que a responsabilidade social é “arte de cuidar do outro” aplica-se as

pessoas físicas e jurídicas (Souza-Lima; Maciel-Lima, 2014, p. 37)

Naturalmente para as pessoas jurídicas a preocupação para com o outro vai

além de algo piegas e sentimental, conforme destacam Souza-Lima e Maciel-Lima

(2014, p. 37), a seguir transcrito:

Nessa perspectiva a responsabilidade social de uma organização (...) significa apoiar o desenvolvimento da comunidade, com agressões mínimas ao meio ambiente responsável. É necessário investir no bem-estar dos seus funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de promover comunicações transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com seus parceiros e garantir a satisfação dos seus clientes e/ou consumidores.

Neste sentido se conclui que o termo responsabilidade social é muito mais

abrangente, vai além da bandeira panfletária “do cuide da natureza para sobreviver”.

Responsabilidade social é um conjunto de ações voltadas para bem estar de todos

e, neste conceito passa necessariamente pela obrigação de cuidar do ser humano e

da natureza. Atualmente não é mais possível entender que um cidadão seja

responsável ou ainda que uma empresa seja responsável, somente pelo fato de se

preocupar em praticar ato de benevolência com o próximo como era entendido no

passado.

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Responsabilidade social é atitude voluntária que as pessoas físicas ou

jurídicas praticam sem estarem obrigadas, visando o bem da coletividade. Estas

atitudes não devem buscar o proveito próprio, podem, até obter vantagens, mas o

objetivo primeiro é o bem do outro, da coletividade. As ações tomadas a partir de

determinação legal, não é responsabilidade social, pois, neste caso, são atos

compulsórios. Quem os pratica, em tese, os pratica por que está obrigado, quiçá

para evitar uma penalidade.

Para Araújo e Lopes (2010, p. 62), a Responsabilidade Social pode ser

comprovada pelas atitudes, pelo comportamento da empresa. A Responsabilidade

Social vai além do discurso, conforme se observa no texto a seguir transcrito.

Responsabilidade Social se traduz pela maneira que as empresas e as pessoas se comportam em relação ao ambiente em que estão inseridas. A maneira como uma empresa conscientiza e instrui seus colaborados para a responsabilidade que cada um tem com a sociedade e o meio em que vive. Ela está criando uma consciência social, fazendo com que eles transmitam e ajam de forma mais responsável para a preservação do meio ambiente, diminuição da desigualdade social e preconceito, além de serem mais éticos uns com os outros. Isso faz dela uma empresa preocupada com o futuro do planeta e das próximas gerações, ou seja, uma empresa sócio-ambientalmente correta.

Assim resta claro que a Responsabilidade Social implica em atitudes que

reflitam o cuidado com o meio ambiente, com o social e o próprio ambiente

empresarial. Tais ações exigem que haja uma mudança de atitude, que se tenha

ética e transparência.

A responsabilidade social não pode ser pensada como um conceito teórico

separado da realidade. Só faz sentido falar em responsabilidade social se for

acompanhado de atitudes e práticas que transformem o mundo em lugar melhor

para todos inclusive para as gerações futuras.

Segundo Pondé (2013, p.18) a sustentabilidade é tratada como uma grife

pelos ambientalistas, ou seja, passou a ser um bom negócio econômico

proporcionando lucros. Embora muitas vezes a responsabilidade social seja usada

como peça de marketing não se ressume a isso. Ao analisar a responsabilidade

social, sobre a ótica empresarial se percebem três grupos de empresas: empresas

para as quais a responsabilidade social faz parte de sua cultura e está embutida na

missão da empresa; empresas em que a responsabilidade social está somente em

ações de marketing, pois a responsabilidade social é uma bandeira que agrega

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benefícios para a empresa; e, por fim, empresas que sequer se preocupam com a

responsabilidade social, nem mesmo por questão de marketing.

A importância da responsabilidade social é tamanha que foram criadas

algumas padronizações em torno do conceito de socialmente responsáveis. Assim

foram criados procedimentos que visam certificar se a empresa é ou não

socialmente responsável. Para obter tal certificado, entre outros itens, a empresa

tem que demostrar que suas atitudes não contribuem para degradar o meio

ambiente, por exemplo.

As empresas que detêm o certificado “ISO 14000” são atestadas pela

International Organization for Standardization, ou Organização Internacional para

Padronização “ISO”14000. Essas certificações “ISO´s” têm em comum a conexão da

responsabilidade social em todos a sua cadeia de produção e distribuição. Assim a

empresa que aderiu a certificação 14000 deve acompanhar toda a cadeia produtiva,

de distribuição para verificar se os procedimentos estão em conformidades com os

determinados pela “ISO” causando o menor impacto possível no meio ambiente.

Com adoção destas medidas socialmente responsáveis e éticas, as empresas

procuram contribuir para a construção um mundo melhor.

Muitas empresas têm aproveitado o fato de possuírem os certificados de

International Organization for Standardization e divulgarem que são empresas

possuidoras de tais certificados. Sabem, as mesmas, que na medida em que as

pessoas vão adquirindo maior consciência de suas responsabilidades, em contra

partida, exigem das empresas mais ética e responsabilidade social nas relações

comerciais. Por isso que não basta simplesmente às empresas adotarem uma

postura de responsabilidade social com intuito de marketing, ou seja, que a atitude

de responsabilidade social seja somente “pro-forma”, sem qualquer engajamento de

fato. A maioria dos consumidores está atenta aos atos praticados e sabem distinguir

quando é “pró-forma” e quando é engajamento com intuito de contribuir para uma

melhoria na qualidade de vida da comunidade.

Sendo assim, é possível concluir que a responsabilidade social é

consequência, uma somatória das atitudes e ações que demonstram preocupação

para com um mundo melhor. São ações e atitudes altruístas, que por mera

liberalidade são realizadas com o único interesse de colaborar em tornar o mundo

um lugar melhor para as pessoas com as quais convive, bem como para as

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próximas gerações. Atitudes realizadas por qualquer pessoa sem interesse em ter

um ganho econômico direto.

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2.1 ÉTICA EMPRESARIAL

Vive-se em uma sociedade que está cada dia mais interligada e globalmente

conectada. Desta forma, qualquer ação boa ou má, realizada pela empresa pode

tornar-se conhecida por todos imediatamente. As empresas muitas vezes produzem

com a mesma qualidade técnica produtos que atingem os mesmos consumidores

etc. Quando tal fato ocorre, um dos parâmetros utilizado pelo consumidor para

diferenciar uma empresa de outra, é a forma como a ética tratada por aquela

empresa. É esta virtude que poderá determinar o sucesso de uma empresa e não o

sucesso de outra empresa, por exemplo, uma vez que o produto ou serviço por ela

oferecido são iguais. Assim uma empresa ética agrega valores aos seus produtos

tornando-os mais valiosos, enquanto que a empresa não ética o mesmo não ocorre.

Melo Neto e Froes (2004, p. 26-27) têm uma visão de ética mais abrangente.

Segundo eles a ética é centrada no dever cívico, ou seja, tem um conceito muito

abrangente. Contempla assim um agir de forma ilibada com todos, ter atitudes e

posturas que contribuíam e estimule o desenvolvimento do cidadão, enfim toda a

sociedade será beneficiada com a ética social centrada no dever cívico. Portanto,

segundo os autores a ética empresarial está contemplado no dever cívico, conforme

o texto a seguir transcrito:

A Responsabilidade Social busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Sua ética social é centrada no dever cívico (...). As ações de Responsabilidade Social são extensivas a todos os que participam da vida em sociedade – indivíduos, governo, empresas, grupos sociais, movimentos sociais, igreja, partidos políticos e outras instituições. (Destaque) O dever cívico contemplado no conceito de ética emp resarial , não pode ser somente um discurso. Deve ser uma atitude e um conceito transportado para a prática. A atitude profissional por parte da empresa faz a diferença e significa conquistar a confiança do consumidor e o respeito da comunidade no geral. No entanto, basta uma atitude por parte da empres a sem respeito à ética da sociedade onde está inserida qu e a empresa perde o mercado e ganha desconfiança por parte de seus co nsumidores . (Destaque nosso)

Segundo Gondim e Souza (2007, p. 250) a ética empresarial engloba a busca

pelo justo, pelo bom, pelo belo. Tais anseios parecem ser inerentes à condição

humana e, é objetivo central de todas as gerações e comunidades. Ainda segundo a

autora supramencionada, a ética é meio, é instrumento e não fim a ser alcançado.

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Portanto, a ética é um instrumento que deve ser utilizado e não um objetivo a ser

alcançado.

Neste mesmo sentido se manifestou Jonas (2006, p. 51-52) quando afirma

que a ética clássica é a “ética da simultaneidade e da imediaticidade”, ou ainda a

ética como fim a ser alcançada. Nestas situações o agir com ética depende do outro

que se vê. Esta é a ética como um fim a ser alcançado. Assim, se me vejo no outro

necessito agir de forma ética. Deve-se agir com ética sempre, frente à natureza e

não somente quando se está frente a outro homem.

Desta forma age com ética quem toma decisões pensando naquelas

gerações que ainda não estão aqui

O dever cívico contemplado no conceito de ética empresarial, não pode ser

somente um discurso. Deve ser uma atitude e um conceito praticados no dia a dia

da empresa, ou seja, devem ser uma realidade vivenciada por todos. A atitude

profissional por parte da empresa faz a diferença e significa conquistar a confiança

do consumidor e o respeito da comunidade no geral. No entanto, basta uma atitude

por parte da empresa sem respeito à ética da sociedade onde está inserida que a

empresa perde o mercado e ganha desconfiança por parte de seus consumidores.

Todavia, quando se refere à ética como meio, não está a se referir àquelas

empresas que usam a ética, a responsabilidade como instrumento de Marketing.

Pois, estas empresas, que usam a responsabilidade social somente como marketing

não se preocupam com o meio ambiente, com os consumidores, fornecedores,

colaboradores e com própria sociedade onde está inserida. Tais empresas se

preocupam é com o lucro.

Quando se discorre sobre ética empresarial está se referindo aquelas

empresas que se preocupam em zelar pela marca dos seus produtos, pelo nome

empresarial, pela qualidade de seus serviços, produtos, pelos seus clientes,

colaboradores. Enfim tem respeito pelo consumidor e naturalmente não sonegam

impostos. Estas empresas têm cuidado com o meio ambiente e com a comunidade

onde está inserida.

Há outras empresas que se preocupam de fato com a ética e, neste caso, não

usam a ética somente como um instrumento de publicidade, pois agir ético faz parte

da cultura da empresa. Outras empresas fazem uso deste expediente somente para

beneficiar-se dos frutos proporcionados pelo fato de divulgarem que são empresas

éticas e socialmente responsáveis, incluindo assim o “ativo verde”. Neste sentido

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Araújo e Lopes (2010, p. 57) informam que muitas marcas cuidam do ativo “verde”,

pois este proporciona maiores lucros.

Através do Brand Equity muitas organizações veem em suas marcas o ativo mais valioso que elas possuem. Até mesmo seu produto e a estrutura física perdem na questão de valor financeiro ‘o Brand Equity é um importante ativo intangível que representa valor psicológico e financeiro para a empresa’. Para os autores, Zyman e Miller (2001, p. 70), ‘[...] a marca será o ativo mais valioso jamais construído em uma empresa’, compreende-se que quando a organização consegue fazer com que sua marca seja mais valiosa do que qualquer outro patrimônio, ela possui um importante diferencial competitivo. Todas as marcas são como espelhos para as empresas, conforme a teoria de Bedbury (2002, p. 174) “[...] as marcas refletem a empresa que representam e os valores que a caracterizam”, sendo assim uma empresa que possuir valores bem definidos transmitirão esses valores aos seus clientes através da marca.

Continuam os autores supramencionados afirmando que hoje os

consumidores estão conscientes de que também depende deles para poder viver em

um planeta mais equilibrado, melhor preservado. Em função disso passam a vigiar

as condutas das empresas e prestigiar aquelas que contribuem para a preservação

do meio ambiente, que são socialmente responsáveis. As empresas, por sua vez,

sabedora de tal fato, valorizam e divulgam toda atividade ou procedimento que

contribuem para a preservação do meio ambiente, divulgam também aquelas

atividades que demonstram que a empresa tem uma responsabilidade socialmente

responsável. Neste sentido também escreveram Araújo e Lopes (2010, p. 64).

Uma das formas mais usadas pelas empresas é a respo nsabilidade ambiental ou gestão ambiental que para Tachizawa (2 002, p. 26) ‘[...] não é apenas uma atividade filantrópica [...] mas t ambém uma atividade que pode proporcionar ganhos financeiros para as empresas’ . É a forma como as empresas produzem sem agredir o meio ambiente preocupando-se com a qualidade de vida da sociedade. (Destaque) A responsabilidade ambiental nas empresas passou a ter tanta importância devido à mudança de comportamento dos c onsumidores que segundo Tachizawa (2002) passou a ser mais cons ciente e buscar empresas éticas e comprometidas com o meio ambiente . Muitos consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto ecológico, produzido sem prejudicar a natureza. Esse fato fez com que as empresas enxergassem nos produtos ‘verdes’ (feitos sem agredir o meio ambiente), um grande diferencial competitivo futuro. (Destaque nosso)

A ética, a responsabilidade social em todos os seus aspectos é tão importante

que há um ranking das empresas “mais responsáveis”. A jornalista Abrantes (2013)

publicou uma matéria, na revista Exame, no formato digital, sobre as 100 empresas

mais responsáveis que atuam no Brasil. O comportamento ético é um dos itens

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avaliados Um detalhe a ser destacado é a data da publicação da matéria. Em maio

de 2013 não eram ainda conhecidos do grande público os desvios vultosos que

ocorriam na Petrobras. Naturalmente, empresa como a Petrobras, envolvida em

escândalo de desvio de valores, não deve fazer parte do rol de empresa socialmente

responsável.

QUADRO 1 – DESEMPENHO DAS PRINCIPAIS EMPRESAS EM CA DA CRITÉRIO

COMPORTAMENTO

ÉTICO

TRANSPARÊNCIA

E BOA

GOVERNANÇA

RESPONSABILIDADE

COM FUNCIONÁRIOS

COMPROMISSO

COM MEIO

AMBIENTE

CONTRIBUIÇÃO À

COMUNIDADE

Natura Natura Natura Natura Natura

Itaú Unibanco Itaú Unibanco Petrobras Petrobras Petrobras

Nestlé Petrobras Google Vale Vale

Gerdau Vale Magazine Luiza Itaú Unibanco Bradesco

Petrobras Bradesco Vale O Boticário Itaú Unibanco

Vale Gerdau Unilever Odebrecht Pão de Açúcar

Bradesco Ambev Itaú Unibanco Santander Nestlé

Unilever Nestlé Gerdau Unilever Globo

Pão de Açúcar Coca-Cola Nestlé Votorantim Coca-Cola

O Boticário Odebrecht Pão de Açúcar Pão de Açúcar Gerdau

Fonte: ABRANTES, 20131

QUADRO 2 – CINCO EMPRESAS COM MELHOR IMAGEM CORPORA TIVA NO BRASIL

RANKING AS EMPRESAS MAIS RESPONSÁVEIS E COM MELHOR

GOVERNANÇA CORPORATIVA

PONTOS

1 Natura 10000

2 Petrobras 6001

3 Vale 5313

4 Itaú Unibanco 5096

5 Bradesco 4323

Fonte: ABRANTES, 20132

1 Esta pesquisa foi feita “em parceria com o Ibope, a Merco consultou 450 executivos, 259 analistas de mercado e mil consumidores para chegar aos nomes dos 100 líderes com melhor reputação no Brasil e das 100 empresas com melhor imagem corporativa, além das 100 mais responsáveis” (ABRANTES, 2013, s/p.) 2 Este é somente parte do quadro apresentado pela Revista Exame.

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Os quadros 1 e 2 que ilustram a reportagem servem como exemplo, para

destacar que empresas muitas vezes vistas pela sociedade como empresas éticas,

socialmente responsáveis, nem sempre são responsáveis. Mais uma vez o exemplo

cabe no caso da Petrobrás, envolvida em tamanho escândalo de corrupção. Não

pode ser desprezado que o fato dessas empresas estarem contempladas na relação

de empresas responsáveis lhes proporciona ganhos.

Sendo assim, ser ético é um predicado imprescindível para as empresas, pois

há uma tendência de que os consumidores relutem em aceitar produtos de empresa

que polui, degrada o meio ambiente, bem como explora o trabalhador utilizando mão

de obra escrava ou análoga à escravidão. Portanto, quem não pratica atitudes

socialmente responsáveis pode ter seus produtos preteridos pelos consumidores.

Deste modo, conclui-se que há empresas que se preocupam em transmitir a

imagem de uma empresa socialmente responsável e ética, somente “pró-forma” e há

empresas que realmente estão preocupadas com o meio ambiente. Portanto ser

ético é um dos predicados importante para a empresa obter reconhecimento da

comunidade em geral. Tal fato proporciona as empresas alavancar os ganhos, pois,

os consumidores, não aceitam adquirir produtos de empesa que polui, degrada o

meio ambiente, bem como explora o trabalhador utilizando mão de obra escrava ou

análoga à escravidão. Destarte, quem não pratica atitudes socialmente responsáveis

tem os seus produtos preteridos pelos consumidores. Atualmente o consumidor, de

um modo geral, está criando o hábito de conhecer a empresa e saber qual a sua

atuação em relação ao meio ambiente, à comunidade onde está inserida etc.

Certamente ter o nome atrelado a qualquer pratica desabonadora é algo que

preocupa as empresas. Se assim não fosse, não teria Associação Brasileira de

Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC) que reúne as maiores construtoras do Brasil

ajuizado uma ação judicial para suspender a publicação da “lista negra” que

continha os nomes das empresas que utilizam mão de obra “análoga à de escravo”

(Rodrigues, 2015, p. 1), conforme transcrição a seguir:

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, determinou, em caráter liminar, que o Ministério do Trabalho e Emprego se abstenha de divulgar ao público a relação de empregadores flagrados ao submeter trabalhadores à formas degradantes de trabalho ou a condições análogas ao trabalho escravo. A suspensão da publicação da chamada “Lista Suja do Trabalho Escravo” foi pedida no último dia 22 pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), a qual estão associadas grandes construtoras, como a Andrade Gutierrez, Odebrecht, Brookfield Incorporações, Cyrela, MRV

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Engenharia, entre outras. De acordo com informações disponíveis no site do STF, em pleno recesso do Poder Judiciário, Lewandowski apreciou o pedido por estar de plantão e apresentou a decisão já no dia seguinte. O veto temporário à divulgação foi decidido com tamanha rapidez devido à atualização do cadastro, que ocorreria esta semana. [...] A relação deveria ter sido atualizada esta semana. Na última atualização, feita em julho deste ano, a lista trazia 609 nomes de pessoas físicas e jurídicas. A maioria dos flagrantes registrados até então aconteceu no Pará, com 27% do total. Em seguida vinham Minas Gerais (11%); Mato Grosso (9% e Goiás (8%). Entre as atividades econômicas nas quais os fiscais do trabalho encontraram mais condições análogas à escravidão estão à pecuária (40%); produção florestal (25%) e indústria da construção (7%).

O fato da ABRAINC ter ajuizado a Ação Direta de Inconstitucionalidade

no 5.209 é algo muito significativo. Naturalmente demonstra que não é de interesse

da empresa ter seu nome no rol das empresas que utilizam “serviço análogo ao de

escravo”, muito menos que tal lista seja divulgada. Portanto, fazer parte da referida

lista é um fato desabonador sendo motivo para desvalorizar o produto de quem

utiliza tal expediente. O consumidor não pactua com tais atitudes e por isso não

prestigia o produto de quem usa mão de obra análoga a de escravo, agride o meio

ambiente.

Cabe ressaltar que a preocupação dos consumidores com a ética está em

toda cadeia produtiva, não somente na ponta. Lima e Surkanp (2012, p. 21) relatam

no livro “‘Erva Mate erva que escraviza”, que no início a fiscalização sobre o trabalho

escravo era realizada no norte e nordeste do Brasil. Destaca-se que atualmente há

fiscalização na região sul e se constata a existência do trabalho escravo. Em que

pese o trabalho realizado pelos autores supras citados fora restrito sobre a cultura

da erva mate, mais especificamente com relação à colheita da erva mate. Portanto,

ainda que as empresas que beneficiam a erva mate e comercializam não sejam

responsáveis diretamente pela extração da erva mate, ainda assim são

responsáveis solidariamente pela utilização da mão de obra análoga a de escrava

no momento da colheita.

Naturalmente quem beneficia e comercializa a erva mate, não pode alegar o

desconhecimento da utilização da mão de obra. Ora uma empresa que utiliza

matéria prima ou até mesmo insumo produzido por mão de obra análoga escravo,

também é responsável por esta exploração. Portanto, esta empresa não tem ética,

bem como também não é uma empresa socialmente responsável.

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Ser ético está intimamente imbricado com agir corretamente, ser honesto, agir

em conformidade com os valores da sociedade em que vive. Estes são os

predicados básicos do agir ético aqui e agora. Por sua vez Jonas (2006, p. 51)

defende que a ética não pode ser somente a ética da simultaneidade. Mas á ética do

futuro. Assim a empresa ética, é a empresa que se preocupa também com o futuro,

com as gerações que ainda virão. A preocupação com a responsabilidade social,

com a ética empresarial não pode ser somente uma peça publicitária, mas uma

preocupação constante de todas as empresas. Um cuidado que vai além da

produção do bem que será disponibilizado ao mercado.

A Ética e a Reponsabilidade Social andam lado a lado e são frutos de uma

sociedade em um determinado tempo. Não havia, no início do século XVIII, por

exemplo, esta preocupação com a ética e com o meio ambiente. É bem provável

que a ética naquela época tenha sido muito diferente de como é entendida

atualmente. Por isso que cada época tem a sua ética.

Quando Jonas (2006, p.57) se refere à ética, está se referindo sobre ética

como valores morais, costumes que são muitas vezes frutos de determinadas

culturas, conforme texto a seguir transcrito:

Nossa comparação se deu com as formas históricas da ética da

simultaneidade e da imediaticidade, para as quais a ética Kantiana serviu de

exemplo. O que está em questão não é a validade delas no próprio domínio,

mas a suficiência delas para as novas dimensões do agir humano, que lhes

transcendem. Nossa tese é que os novos tipos e limites do agir exigem uma

ética de previsão e responsabilidade compatível com esses limites, (...).

Quando Jonas faz referencias as “formas históricas da ética”, se pode afirmar

que a ética é fruto de cada época, ou seja, sofre a interferência cultural de cada

momento. Na página 237 o capítulo V “a responsabilidade de hoje; o futuro

ameaçado e a ideia de progresso” do referido livro Jonas também nos remete a

ideia de que a ética hoje, ou falta dela ameaça o futuro e a ideia de progresso. A

ética, a responsabilidade ontem não significava uma ameaça para o progresso,

O mesmo se pode afirmar da ética empresarial, pois é a relação da empresa

com todas as pessoas envolvidas, tais como fornecedores, clientes, colaboradores,

comunidade onde está inserida, com o meio ambiente natural e o cultural, com os

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governos constituídos etc. Assim conclui-se que a ética empresarial é o reflexo das

relações comerciais da empresa com todos que o cercam.

A ética também deve ser refletida a partir da necessidade de repensar o modo

como o meio ambiente é tratado e o reflexo deste tratamento no planeta. Tal

conclusão ocorre em função do impacto ambiental provocado pela exploração dos

recursos naturais e da escassez dos mesmos.

Considerando que os recursos naturais são finitos e o exaurimento destes

traz consequências, as quais irão atingir a todos, cresce assim a preocupação com o

meio ambiente. Diante deste quadro, que aponta para o fim dos recursos naturais e

da grande quantidade de lixo existente no planeta, precisamos refletir sobre os

meios necessários para preservar o meio ambiente. Uma empresa responsável que

se preocupa em preservar o meio ambiente, passou a ser um diferencial que agrega

valores ao produto. Assim o serviço ou os produtos oferecidos pela empresa

socialmente responsável pode ser mais ou, menos valorizado, em função da postura

de quem produz com o meio ambiente.

A empresa tem um papel fundamental na preservação do meio ambiente

natural. Muitos empresários estão cientes de que os lucros das empresas estão

diretamente imbricados com atitudes éticas, ou seja, como estes tratam o meio

ambiente em toda a cadeia produtiva. Ressalta-se que esta preocupação com o

meio ambiente, função social e lucro têm adquirido importância cada dia mais, a tal

ponto que muitos empresários têm procurado outras maneiras abordar o tema

desenvolvimento sustentável e intervir no meio ambiente.

A importância que as pessoas dão ao meio ambiente e aos cuidados a ele

dispensados, fez com que as empresas passassem a divulgar as ações

desenvolvidas em prol do meio ambiente. Desta forma, as empresas, procuram

diferenciar-se diante dos consumidores e comunidade em geral, divulgando as

atividades que desenvolvem em prol do meio ambiente demonstrando assim que

são empresas éticas e agem com responsabilidade social. Com isso almejam

angariar a simpatia de todos em torno de seu nome e seus produtos.

Pode-se afirmar que a divulgação de atitudes éticas e socialmente

responsáveis somente como instrumento de marketing, tem demonstrado que não é

a melhor opção para a empresa. Por sua vez quando se divulga uma atitude de fato

socialmente responsável, esta agrega valor ao produto da empresa, alavancando o

faturamento da mesma. Neste sentido destaca Bueno (2003, p.111-112):

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O valor agregado à imagem da empresa, entendido como a atitude favorável que a sociedade atribui a uma organização, como reconhecimento por sua atuação na comunidade; 2. Nova fonte de motivação e escola de liderança para os funcionários, porque, estimuladas sem seu papel de cidadãs e engajadas em programas consistentes, as pessoas apresentam um rendimento pessoal surpreendente, com reflexos favoráveis para outros papéis, como o familiar e o pessoal; 3. Consciência coletiva interna de estar participando no encaminhamento de soluções de causas sociais, como reflexos na consolidação de valores de solidariedade e aproximação da hierarquia, raiz natural do espírito de equipe; 4. Mobilização de recursos disponíveis da empresa, sem necessariamente implicar custos adicionais. (Destaque nosso)

Como se observa no texto acima atitudes éticas agregam valores à imagem

da empresa proporcionando a mesma potencializar o aumento do ganho em todos

os sentidos. Portanto, quando de fato há implantação de um programa ético voltado

para o desenvolvimento e inclusão social da comunidade e que visa à preservação

do meio ambiente, a empresa aufere lucros com o aumento do faturamento. Além

dos ganhos diretos com o aumento do faturamento, há também o aumento da

produtividade com a diminuição das faltas dos seus colaboradores. Ressalta-se que

quando a preocupação da empresa em agir com ética e responsabilidade social é

somente “pró-forma”, não é uma empresa ética e muito menos socialmente

responsável.

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2.2 A RESPONSABILIDADE SOCIAL A PARTIR DO ORDENAMEN TO JURÍDICO

A responsabilidade social empresarial não está dissociada do direito. Refletir

sobre tal tema necessariamente acompanha as alterações do direito.

Considerando que atualmente a sociedade é muito diferente da sociedade

que existiu no inicio do século passado, posto que é muito mais dinâmico e plural.

Sendo assim não é mais possível falar em direito como um sistema codificado,

fechado, imutável, pois o direito está em constante modificação. Assim as alterações

no direito provocadas pela dinâmica da sociedade são muitas, razão pela qual esta

reflexão não conseguirá contemplar todas as alterações. Sendo assim será feito um

corte histórico o qual servirá de data limítrofe para começo da reflexão.

A data escolhida é 1880, ano das reformas implantadas por Otto Von

Bismarck, o Primeiro Ministro da Prússia. Embora conservador, implantou algumas

medidas de cunho social, como a aposentadoria aos 70 anos de idade, seguro de

acidente de trabalho, seguro doença, seguro invalidez e velhice, seguro específico

de condições de trabalho. Este sistema implantado por Bismarck foi adotado por

outros países europeus, e a implantação de tais medidas teve um impulso

substancial com o advento do comunismo na URSS segundo (Casadei & Góis,

2007, p.01).

Comparato (2014, p.01) ao escrever sobre a Constituição Mexicana de 1917,

afirma que a mesma introduziu novos direitos. Foi a primeira Constituição a atribuir

aos direitos trabalhistas a categoria de direitos fundamentais, juntamente com as

liberdades individuais. É oportuno salientar que a Constituição Mexicana foi a

percussora, pois, na Europa, tal tema somente foi positivado após o termino da

primeira guerra mundial.

A Carta Política mexicana de 1917 foi a primeira a atribuir aos direitos trabalhistas à qualidade de direitos fundamentais, juntamente com as liberdades individuais e os direitos políticos (arts. 5º e 123). A importância desse precedente histórico deve ser salientada, pois na Europa a consciência de que os direitos humanos têm também uma dimensão social só veio a se firmar após a grande guerra de 1914-1918, que encerrou de fato o longo século XIX. A Constituição de Weimar, em 1919, trilhou a mesma via da Carta mexicana, e todas as convenções aprovadas pela então recém-criada Organização Internacional do Trabalho, na Conferência de Washington do mesmo ano de 1919, regularam matérias que já constavam da Constituição mexicana: a limitação da jornada de trabalho, o desemprego, a proteção da maternidade, a idade mínima de admissão nos trabalhos industriais e o trabalho noturno dos menores na indústria.

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Outro evento que marcou o campo social foi a Constituição Alemã de Weimar

1919, a qual foi influenciada pela Constituição mexicana, pois é posterior. Aquela

representou um avanço significativo para época e acabou influenciando diversos

outros países, inclusive o Brasil. Segundo Auad (2008, p.336),

A constituição de Weimar, a qual instituiu a Primeira República alemã, foi promulgada em 1919, fruto da Pós-Primeira guerra mundial, o qual foi um período bastante conturbado para a sociedade alemã, que, desestabilizada pela derrota na guerra, buscava a reconstrução de suas instituições. fator que era dificultado pelos inúmeros compromissos impostos à Alemanha pelos países vitoriosos com a assinatura do tratado de Versalhes (AUAD, 2008, p. 336).

Além da Constituição de Weimar ter sido influenciada pela derrota, não deve ser desprezado o fato do Estado passar a ser responsável pela efetivação dos direitos de natureza constitucional, conforme destacou Auad (2008, p. 339).

No modelo de Weimar, a efetivação de direitos sociais tornou-se uma responsabilidade do Estado de natureza constitucional, possível de ser cobrada institucionalmente. A abertura do Parlamento à participação política das classes sociais menos privilegiadas, as quais passaram a exigir direitos de igualdade com mais força, em contraposição aos interesses da elite econômica dominante, que reivindicava manutenção de seu status quo.

Outro marco fundamental destacado por Auad (2008, p. 340) foi a influencia que exerceu em muitos países, inclusive no Brasil.

Apesar de a vigência da constituição de Weimar ter sido curta, representou um marco para o reconhecimento histórico dos direitos sociais como direitos fundamentais e complementares aos direitos civis e políticos. Weimar inspirou diversas constituições de outros países e, no Brasil, em especial, inspirou a constituição getulista, de 1934.

No Brasil, em 24 de fevereiro de 1932, Getúlio Vargas promulgou o 1o Código

Eleitoral pelo Decreto no 21.076, adotando o voto direto, obrigatório, secreto e o

sufrágio universal, em oposição ao sufrágio restrito de 1891 que permitia o voto

somente dos homens e eram abertos, entre outras características. Para Silva (2006,

p.82), a Constituição de 1934 sofreu forte influência da Constituição Alemã de

Weimar de 1919.

Destaca-se, também, que o segundo grande avanço no campo social, na

primeira metade do século passado, foi à criação da Consolidação das Leis

Trabalhistas (CLT) por Getúlio Vargas. Segundo o Tribunal Superior Trabalhista

(TST) (BRASIL, 2014, s/p), a CLT foi um enorme avanço experimentado pela

sociedade brasileira na década de 40, conforme se observa na transcrição a seguir:

Dia 1o de maio de 2013 a Consolidação das Leis do Trabalho completa 70 anos. A CLT foi criada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, durante o período do Estado Novo. A Consolidação foi assinada pelo então presidente no Estádio de São

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Januário (Club de Regatas Vasco da Gama), que estava lotado para comemorar o feito. Dois anos antes, em 1941, Getúlio havia assinado a criação da Justiça do Trabalho, no mesmo local e mesmo dia do ano. A Consolidação unificou toda a legislação trabalhista então existente no Brasil e foi um marco por inserir, de forma definitiva, os direitos trabalhistas na legislação brasileira. Seu objetivo principal é regulamentar as relações individuais e coletivas do trabalho, nela previstas. Ela surgiu como uma necessidade constitucional, após a criação da Justiça do Trabalho. Em janeiro de 1942 o presidente Getúlio Vargas e o ministro do trabalho, Alexandre Marcondes Filho, trocaram as primeiras ideias sobre a necessidade de fazer uma consolidação das leis do trabalho. A intenção inicial foi criar a Consolidação das Leis do Trabalho e da Previdência Social.

Assim, com a promulgação da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) foi

instituída uma jornada de trabalho de oito horas, repouso semanal remunerado.

Proibiu-se ainda o trabalho para menores de 14 anos, remuneração dos dias

feriados, pausa para a alimentação, férias, fiscalização contra acidentes, adicional

de insalubridade, proibição de discriminar no emprego mulheres casadas e grávidas,

licença maternidade.

Portanto, como se observa, ocorreram dois avanços significativos na primeira

metade do século passado no campo social, sendo o primeiro o voto feminino e o

segundo a promulgação da Consolidação das Leis Trabalhista (CLT).

Outro avanço social observado a partir da legislação foi à promulgação do

Estatuto da Terra Lei 4.504/1964. Foi no referido Estatuto que constou, pela primeira

vez, o termo função social da terra. A terra cumpre a função social quando cumpre

integralmente o que estava previsto no artigo 2o a seguir transcrito:

Art. 2o É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei. § 1 o A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando, simultaneamente: a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; b) mantém níveis satisfatórios de produtividade; c) assegura a conservação dos recursos naturais; d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem. (BRASIL, 1964, s/p)

O Estatuto da Terra já previa há 50 anos a desapropriação por interesse

social para a proteção da fauna, flora e outros recursos naturais conforme consta no

artigo 18 do referido estatuto. Embora, atualmente o país viva uma crise hídrica sem

precedente, não há noticias que alguma área tenha sido desapropriada para

proteger ou recuperar áreas de mananciais.

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A titulo exemplificativo citam-se outras leis infraconstitucionais, as quais

também têm contribuído para preservação do meio ambiente, bem como para que

as empresas também façam a parte que lhes cabe. São elas, entre outras, a Lei

Rouanet; o Programa Nacional de Apoio à Cultura; o Programa de Atividade

Audiovisual; Fundos de Direitos da Criança e do Adolescente; Benefícios para o

Trabalhador; Doações às Entidades Sem Fins Lucrativos; Imunidade Tributária das

Instituições sem Fins Lucrativos; Programas Governamentais de Responsabilidade

Social com participação do Setor Privado – Parcerias; Programas Governamentais

de Responsabilidade Social com participação do Setor Privado – Parcerias; Projetos

Sociais; Incentivos à Pesquisa; Incentivos aos Programas de Educação; Incentivos

aos Programas de Meio-Ambiente; Incentivos aos Programas de Assistência Social;

Incentivos à Pesquisa Tecnológica; Programas de Inclusão Digital.

Todas as leis anteriormente citadas demonstram uma preocupação do

legislador constitucional ou infraconstitucional com o social.

Por sua vez, a Constituição brasileira de 1988 (BRASIL, 1988) trata do tema

em diversos artigos, de um modo direito e indiretamente. Já no primeiro artigo deixa

claro que a República Federal brasileira tem por fundamentos a soberania,

cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa.

A preocupação com o social está também no artigo 3o quando deixa claro que

os objetivos fundamentais da República são “construir uma sociedade livre, justa e

solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1988).

No artigo 5o, Inc. XXIII dispõe “a propriedade atenderá à sua função social”

isto é, a função social da propriedade é proporcionar o bem estar social,

promovendo o desenvolvimento da comunidade atendendo aos interesses coletivos.

O que significa não diminuir nenhum direito de propriedade ao invocar-se a função

social da mesma, mas significa a existência do poder-dever do proprietário, devendo

este dar uma destinação a propriedade que atenda aos ditames constitucionais, de

modo especial aos previstos nos artigos, 1o, 3o, 5o e 6o da Constituição de 1988.

Observa-se que o constituinte ao explicitar esses princípios fundamentais deu

prioridade ao desenvolvimento de medidas que aplainem as desigualdades sociais.

Assim se preocupou em inserir na comunidade os excluídos e o fez (ou deferia

fazer) usando as ferramentas previstas no artigo 6o, através da educação, saúde,

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trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à

infância e assistência aos desamparados.

Na Constituição de 1988 está expresso que a sociedade será livre, justa e

solidária. Estas são as metas prioritária e fundamental da República brasileira,

motivo pelo qual, o seu artigo 21 trata da competência da União, deixando claro que

a mesma é responsável para “elaborar e executar planos nacionais e regionais de

ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social”.

É relevante que se destaque o fato dos direitos individuais estarem protegidos

pela Constituição, conforme expressa o artigo 60 da Constituição de 1988:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...) § 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...) IV - os direitos e garantias individuais. (BRASIL, 1988 s/p)

Naturalmente dentre estas garantias individuais está o direito á propriedade

preconizados nos artigos 170, 185 e 186 da Constituição 1988. A garantia á

propriedade naturalmente existe, desde que esta cumpra a função social delineada

na Constituição. Deve se ressaltar que a preocupação com o social, não se restringe

somente aos artigos aqui elencados.

O artigo 170, inciso III, ao tratar da ordem econômica procura amenizar as

diferenças sociais existentes na sociedade brasileira. Isso ocorre quando a

Constituição procura “assegurar a todos existência digna”. Para que todos tenham

existência digna é preciso ter acesso e usufruir de uma boa educação, saúde,

segurança, moradia, lazer, trabalho etc. Quando uma empresa proporciona que seus

colaboradores, fornecedores, consumidores e todos os envolvidos tenham acesso a

tais serviços, está sendo socialmente responsável.

Ao analisar o caput do artigo 170 e seus incisos da Constituição de 1988,

(BRASIL, 1988, s/p), pode se observar que nos princípios lá existentes, procuram

proporcionar a todos o bem estar social. Assim resta claro que a ordem econômica é

um instrumento que deve ser utilizado para proporcionar a todos uma vida digna.

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) II - propriedade privada; III - função social da propriedade; IV - livre concorrência;

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V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País.

Considerando que a propriedade é uma parte fundamental à ordem

econômica, justifica-se assim a participação do Estado nas relações às quais se

tratam da propriedade. Ademais a preocupação com a função social está estampada

também nos artigos 185 e 186, (BRASIL, 1988, s/p) nos quais, deixa claro que a

propriedade que cumpre a função social não será objeto de desapropriação:

Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos à sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Ressalta-se que a propriedade está sendo usada de forma socialmente

responsável quando for capaz de proporcionar a todos, e não somente aos seus

proprietários, uma vida digna com justiça e bem estar. Pode se afirmar ainda que o

uso da de modo responsável da propriedade ocorre quando os interesses

particulares não se sobre põe ao interesse coletivo. Naturalmente isso não significa

diminuir os interesses dos proprietários. Estes continuam exercendo o seu direito de

proprietários, desde que a sua propriedade seja usada de modo socialmente

responsável.

A Constituição de 1988 foi um marco, pois as empresas localizadas no

território nacional passaram a demonstrar interesse pela responsabilidade social,

culminando com a criação de entidades não governamentais, as quais conclamaram

as empresas a assumirem as suas parcelas de responsabilidade social frente à

ineficácia dos governos em resolver os problemas sociais.

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Nos anos 90 se passou a defender a responsabilidade social através do

desenvolvimento sustentável, visando buscar um crescimento econômico e com a

preservação do meio ambiente. As empresas visavam conquistar admiração de

todos, fornecedores, colaboradores, consumidores e da sociedade em geral. Assim,

garantia o seu mercado e a continuidade da empresa. Em meados dos anos 90

foram criadas algumas organizações com esse intuito, entre as quais se destacam o

Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) e Instituto Ethos de Empresas e

Responsabilidade Social.

No Brasil, a responsabilidade social, foi valorizada através das ações de

entidades não governamentais, como um dos institutos mais valorizados foi a

International Organization for Standardization as ISO´s. A parir de então muitas

empesas procuraram fazer as adequações necessárias para poder obter o

certificado “ISO”. Para a empresa obter o certificado “IISO” e ser considerada

socialmente responsável precisam seguir alguns protocolos que colaboram em

manter o meio ambiente preservado.

O fato da diferença entre as classes sociais no Brasil ser abissal, faz com que

muitas atividades que deveriam ser desenvolvidas pelos governos sejam

desenvolvidas pelas empresas em prol da comunidade. Essas ações valorizam as

empresas que a praticam, pois proporcionam mudanças significativas na sociedade.

Na sociedade atual, para as empresas sobreviverem, não basta somente

equacionar receitas e despesas, precisa de muito mais. Um desses ingredientes que

ajudam as empresas a ultrapassar essa barreira é a inserção na comunidade

através de programas sociais. Desta forma, as empresas auxiliam a sociedade a

superar as deficiências e auferir ganhos significativos, pois tais práticas ajudam a

elevar o prestigio da marca, conforme afirmam Cappellin e Giuliani (1999, p. 10),

Na busca de eficiência e excelência empresarial, parece não ser mais satisfatória a tradicional alquimia do cálculo custo-benefício com o aumento da produtividade e a ampliação das vendas no mercado. Os critérios de avaliação do sucesso começam a incorporar dimensões que vão além da organização econômica e que dizem respeito à vida social, cultural e à preservação ambiental.

Um detalhe importante é que na prática estas atividades de responsabilidade

social somente trazem benefícios para a empresa que a faz, quando a empresa que

a realiza se compromete com as ações, ou seja, as atividades de responsabilidade

social não podem ser simplesmente proforma. As atividades devem ser reais. Caso

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contrário não haverá ganho para a sociedade e muito menos para a empresa. É

necessário que, as atividades de responsabilidade social estejam na cultura da

empresa e seja incorporado por todos, fornecedores, colaboradores etc. Na hipótese

da responsabilidade social ser simplesmente proforma, em um determinado

momento irá ser percebido pela comunidade que a empresa não é o que divulga ser.

Pode-se usar como exemplo o caso da Chevron, a qual divulga no site que é

uma empresa socialmente responsável e que se preocupa com o meio ambiente.

Entretanto, foi responsável por um dos maiores desastre ambiental no Brasil.

Por seu turno, aquela empresa que desenvolvem uma atividade de

responsabilidade social efetiva tem a sua imagem valorizada e naturalmente o seu

produto também. Desta forma acaba angariando maior respeito, admiração e

lealdade por parte dos consumidores, o que reflete em uma maior participação no

mercado.

Embora a relação entre responsabilidade social e lucratividade não seja algo

matemático, direto, ou seja, realiza uma atividade social e em contra partida tem

uma lucratividade, ainda assim é sabido por todos que havendo este compromisso

por parte da empresa, a lucratividade aumenta. Entre outros motivos por que há uma

identificação com o público consumidor como sendo aquela uma empresa ética.

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3.0 FUNÇÃO SOCIAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPR ESA E SUAS

DIFERENÇAS

Segundo Araújo e Souza (2007, p. 112), desde o início o conceito de empresa

está acompanhado pela ideia de exploração da propriedade privada com o intuito de

obter lucro e acompanhado da noção de usar, fruir e dispor. Atualmente esse

conceito está elastecido, em função da ineficiência do Estado, passando assim a

empresa desempenhar também uma atividade de cunho social, o qual vai além da

função social da empresa.

A função social da empresa está prevista na Constituição 1988, a qual alterou

muitos conceitos e direitos até então absolutos, como a propriedade, por exemplo. O

mesmo diploma legal destacou outros institutos que tinham pouca relevância, como

a função social da propriedade, posto que, conforme já fora ventilado, o proprietário

era “Senhor absoluto” do bem. A partir da promulgação da Constituição de 1988,

muitos direitos sociais foram inseridos no ordenamento jurídico, como é o caso da

função social da propriedade, o qual está previsto nos artigos 1o, IV e 5o, XXIII e 170

e incisos e186 todos da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988).

A função social da propriedade e a responsabilidade social da empresa têm

em comum o objetivo de proporcionar o bem estar de todos. Além da previsão

Constitucional há também a previsão no Código Civil o qual positivou diversos

princípios, os quais antes tinham pouca relevância. Um exemplo desta mudança

ocorreu com a previsão expressa do parágrafo único do artigo 2.035 onde resta

claro a supremacia do coletivo sobre o individual.

Art. 2.035. (...)

Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.

Destaca-se que não foi o Código Civil quem primeiro tratou sobre o tema, mas

antes do Código Civil e da Constituição de 1988, a Lei 6.404/1976 abordou o

assunto. Basta citar, por exemplo, que os artigos 116 parágrafo único, 154 tratam da

função social. O artigo 116 se refere à obrigação do acionista controlador, obrigada

a cumprir a função social.

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Art. 116. [...]

Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social , e têm deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente respeitar e atender. (...) Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da função social da empresa (grifos nossos).

O administrador não tem a liberalidade de escolher se vai ou não cumprir a

determinação sobre a função social. A lei impõe a obrigação do cumprimento e

afirma que o administrador tem obrigações para com os acionistas e com a

comunidade.

Além dos artigos citados acima há outros princípios, cuja finalidade é

proporcionar o bem estar social, tais como os previstos no artigo 3o da Constituição

de 1988:

Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

A função social da empresa não tem por fim último e único simplesmente

obter lucro para os sócios. Naturalmente o lucro é um dos objetivos da empresa,

sem o qual ela não poderá subsistir. No entanto, a empresa não é somente uma

unidade geradora de riqueza para seus proprietários. A empresa é, antes de tudo, é

um agente gerador de riquezas, a qual deve servir para transformar a sociedade. Os

benefícios gerados pela empresa devem ser usufruídos pelos sócios, fornecedores,

colaboradores, consumidores e a sociedade em geral.

A distribuição de parte do lucro gerado para a sociedade ocorre, ou deve

ocorrer, através do desenvolvimento proporcionado pela movimentação da

economia local, muito em função dos salários pagos aos empregados. Assim, ao

proporcionar empregos, esses movimentam a economia local, está à empresa em

partes, cumprindo a sua função social. Ademais, a empresa deve pagar tributos que

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são revertidos em benefícios da comunidade. Portanto, a função social da empresa

deve ser de produzir riqueza e distribuir para todos.

Naturalmente estará à empresa cumprindo a função social, quanto

proporcionar o desenvolvimento econômico social sociedade e quanto os bens que

produzir estiverem em consonância com os interesses da sociedade. Deve ainda

observar e cumprir o que determinam as leis ambientais, trabalhistas, tributária, do

consumidor e todas as demais leis previstas no ordenamento pátrio.

Ressalta-se que a Constituição não retirou lucro como objetivo a ser

alcançado pela empresa. A constituição simplesmente ampliou a finalidade da

empresa de tal forma que deixou o lucro de ser o único objetivo a ser alcançado. O

que ocorreu foi que a Constituição limitou a obtenção dele através da exploração

dos colaboradores, do meio ambiente etc.

Assim, a empresa deve contemplar nos objetivos a serem alcançados, além

da finalidade econômica, a qual deve estar fundada na valorização humana e na

livre iniciativa, de modo que assegure a todos que fazem parte de sua cadeia de

produção ou não uma existência digna conforme determina a Constituição brasileira.

A responsabilidade social, por sua vez, é mais abrangente. Vai além do

previsto ou determinado pelo ordenamento jurídico. Assim, há autores, os quais

afirmam que a diferença entre responsabilidade social da empresa e função social

da empresa consiste no fato de que a primeira trata dos atos voluntários ou

espontâneos do empresário, sem necessidade de coerção. Por sua vez a função

social é imposta, positivada, não há opção para o empresário, até por que há a

previsão legal na constituição penalizando quem não cumprir. Acrescenta-se ainda o

fato de que a função social está dentro ou ainda restrita ao objeto social.

Entre os autores que defendem essa tese está Zanoti (2006, p. 97):

Quando a empresa cumpre, em termos sociais apenas o que está previsto no direito positivado, em seus estritos limites, ela tem uma visão eminentemente legalista, a que se atribui o nome de função social, ao passo que a efetiva responsabilidade se inicia justamente a partir desse marco. Ou seja, uma empresa pode ser considerada responsável quando, além de cumprir rigorosamente todas as obrigações legais junto aos seus stakeholders, proporciona um plus, um adicional, e oferecer uma cesta variada e benefícios sociais para esse mesmo público, que ultrapassa as fronteiras do direto positivado.

No mesmo sentido Araújo e Souza (2007, p. 122) afirma que a comunidade

europeia entende que ser a Responsabilidade Social Empresarial uma ação

voluntária, conforme texto a seguir transcrito:

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[...] a definição contida no Livro Verde da Comissão da União Europeia, diz-se que a RSE é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das empresas nas suas operaçõe s e na sua interação com outras partes interessadas. (Destaque nosso)

Portanto, o fato de ser uma ação voluntária é o que diferencia a função social

da Responsabilidade social. Há autores que justificam a diferenciação entre esses

dois conceitos, pois, segundo os mesmos, atualmente a responsabilidade social

ocupa o espaço que outrora foi da Filantropia. Entre os que defendem tal tese está

Bessa (2006, p.139), o qual comunga com a mesma tese defendida pela

Comunidade Europeia ao conectar responsabilidade social e filantropia.

A análise das concepções de responsabilidade social das empresas advindas dos diferentes setores da sociedade evidenciou que elas apresentam em comum as seguintes ideias: a) as empresas são corresponsáveis em relação ao desenvolvimento social e ambiental; b) há uma demanda por atuação ética e que leve em conta as necessidades dos diferentes grupos que são por ela afetadas; c) as empresas devem administrar os impactos que causam; d) Todas são obrigações da empresa e que, portanto, devem ser considerados os processos decisórios e incorporados à sua gestão estratégica. Mas, uma melhor inteligibilidade da responsabilidade social das empresas exige, ainda, sua diferenciação em relação à filantropia empresarial.

Considerando que a autora entende haver necessidade de diferenciar

responsabilidade social e filantropia, conclui-se que são semelhantes a tal ponto de

haver necessidade de afirmar que são diferentes.

Também neste sentido entende Tomasevicius Filho (2003, p. 46), ou seja, a

responsabilidade social é um ato voluntário. “A responsabilidade social das

empresas consiste na integração voluntária de preocupações sociais e ambientais

por parte das empresas nas suas operações e na interação com a comunidade”.

Também defende a tese de que a responsabilidade social está associada ao

voluntariado, os autores Souza-Lima e Maciel-Lima (2014), pois afirmam que o

profissional que desenvolve algum trabalho voluntário é um profissional socialmente

responsável. Portanto, mais uma vez a responsabilidade social está ligada a um ato

voluntário, ou seja, não é obrigatório.

Portanto a responsabilidade social é um ato voluntário no qual o empresário

decide contribuir para o desenvolvimento da comunidade de graciosamente.

Pode-se afirmar que a função social é decorrente da necessidade de

promover a igualdade social limitando o individualismo e garantindo o interesse da

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coletividade. As atividades desenvolvidas decorrentes da função social estão ligadas

a atividade empresarial.

Por sua vez a responsabilidade social leva a desenvolver atividades que

normalmente não estão relacionadas com a atividade empresarial, vão além do

objeto social da empresa.

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3.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL VISTA PELOS EMPRESÁRI OS DO

EXTERIOR

A partir de meados do século passado a responsabilidade social passou a ser

cada vez mais presente na vida das empresas e da comunidade em geral. Os

empresários europeus têm uma visão diferente dos empresários brasileiros, pois a

realidade europeia é outra.

Não se olvida que o tema, responsabilidade social empresarial, nos últimos

anos também na Europa passou a despertar mais interesse tanto no meio

empresarial, como na comunidade em geral. Também lá, às vezes, o tema é tratado

de forma pragmática, ou seja, visando o lucro direito, algo que proporcionara mais

lucro para quem o pratica.

Segundo o site da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica – Apifarma (2011, s/p) a Comissão Europeia, realizou um planejamento sobre a responsabilidade social para os anos de 2011 a 2014. O objetivo do planejamento era, segundo os organizadores, preparar o espirito empresarial para implementação de medidas de responsabilidade social, conforme se observa no texto a seguir transcrito:

O objectivo desta comunicação é apoiar as empresas e o espírito empresarial dentro do espaço europeu, sobretudo ao nível da implementação de medidas de Responsabilidade Social com vista a um crescimento económico mais sustentável. Os referenciais a seguir nas políticas Europeias em matéria de Responsabilidade Social estão balizados pela mais recente abordagem internacional à Responsabilidade Social, nomeadamente os princípios e linhas de orientação conforme definidos pelos Dez Princípios do Global Compact das Nações Unidas e pela própria ISO 26000 Norma Internacional para a Responsabilidade Social. (Destaque nosso).

A partir do texto retro transcrito podemos inferir várias análises, pois o mesmo

afirma que o objetivo é “apoiar as empresas e o espirito empresarial dentro do

espaço europeu”. A primeira leitura que pode se fazer é que objetivo da

responsabilidade social diz respeito somente para as empresas europeias. A

segunda leitura é que diz respeito somente para as empresas que atuam na Europa,

ou seja, diz respeito para aquelas empresas europeia que atuam na Europa. Por sua

vez as empresa europeia que atuam no mercado chinês, por exemplo, não teriam os

mesmos direitos dos colaboradores europeus. Ora por que esta dicotomia?

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Não é um pensamento recente em que os europeus, ou boa parte deles,

“pensam o mundo” a partir da Europa. Assim, o “centro do mundo” é a Europa. Este

é o continente mais importante, segundo esta visão. Partindo desse viés é possível

fazer uma leitura, segundo a qual a comunidade europeia está preocupada em

apoiar as empresas e o espirito empresarial dentro do espaço europeu. Mas e quem

está fora do espaço europeu?

Segundo a Apifarma (2011, s/p), a responsabilidade social das empresas

compreende "a responsabilidade das empresas pelos seus impactes na sociedade".

As empresas são responsáveis pelos impactos causados na natureza e,

naturalmente o reflexo em toda a comunidade. A responsabilidade social

empresarial proporciona que as empresas transmitam mais segurança aos

consumidores aumentando o bem estar social. Com isso, a empresa contribui para o

bem estar social das pessoas. Os mecanismos utilizados reforçam as 03 (três)

propostas sugeridas pela Comissão, as quais visam incentivar as empresas

responsáveis, facilitar o espirito empresarial e reduzir a burocracia para as pequenas

e médias empresas.

A Comissão europeia se preocupou em apresentar um conjunto de medidas

para alavancar as empresas socialmente responsáveis. A responsabilidade não está

necessariamente em ajudar alguém, pois, este cuidado já existe por grande parte

dos governos europeus. O viés não é educar o povo, pois em tese são educados.

Mas reforçar a ideia de empresa socialmente responsáveis. Por isso que as

propostas estão voltadas para as empresas, conforme texto da Apifarma (2011, s/p)

a seguir transcrito:

O pacote de propostas para as empresas mais responsáveis segue-se ao acto do mercado único, no qual foram estabelecidas doze alavancas para relançar o mercado único em 2012. Este relançamento pretende estimular um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, tendo sido identificadas duas acções-chave: a criação e o desenvolvimento de pequenas e médias empresas através da introdução de regulamentação facilitadora e da redução de entraves burocráticos, bem como e a criação de um ecossistema propício ao desenvolvimento do espírito empresarial responsável. A Comissão Europeia Comissão Geral Empresas, no site oficial, disponibiliza um texto que trata da “Introdução à Responsabilidade Social das Pequenas e Médias Empresas”. Neste texto é tratado da responsabilidade social como um objetivo a ser alcançado que irá suprimir em partes as necessidades e expectativas dos empresários ao satisfazer as necessidades dos clientes e gerar mais vendas. O texto instiga o empresário a pensar como ele pode pensar em seu negócio a longo prazo, preservando os atuais e conquistando novos clientes? A resposta está em ser uma empresa socialmente responsável.

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A responsabilidade social é ferramenta para preservar o negocio,

satisfazendo as necessidades dos atuais clientes e gerando lucro para a empresa. O

texto procura demonstrar que uma estratégia de sustentabilidade será muito rentável

para a empresa. Pode alavancar o sucesso da empresa e ser um diferencial frente

aos demais concorrentes.

O texto indaga empresário ativo, de que modo assegura a vantagem

competitiva e a continuidade a longo prazo da sua empresa? Satisfazendo as

necessidades dos seus atuais clientes e conquistando novos clientes,

desenvolvendo novos produtos e serviços e, sobretudo, gerando lucros. A

responsabilidade social das empresas (RSE) – ou espírito empresarial responsável,

como é designado no presente documento – podem o ajudar a atingir todos estes

objetivos.

O termo “espírito empresarial responsável” remete para a garantia de sucesso económico de uma empresa mediante a integração de considerações sociais e ambientais no seu funcionamento. Por outras palavras, trata-se de satisfazer as necessidades dos seus clientes, gerindo simultaneamente as expectativas de outras pessoas, como os trabalhadores, os fornecedores e a comunidade local. Trata-se de contribuir, de forma positiva, para a sociedade e de gerir os impactos ambientais da sua empresa, o que poderá proporcionar vantagens directas para o seu negócio e assegurar a competitividade em longo prazo (APIFARMA, 2011, s/p).

O mesmo texto afirma que o empresário com um espírito responsável obtém

sucesso e é admirado pelos seus clientes e colaboradores. Ademais ao satisfazer os

desejos dos clientes está contribuindo de forma positiva para a comunidade e

contribuindo para diminuir os impactos ambientais, ou seja, preservando o meio

ambiente.

Ter um espírito empresarial responsável consiste, essencialmente, numa preocupação em manter o sucesso económico e obter vantagens comerciais através da criação de uma boa reputação e da conquista da confiança das pessoas que trabalham na sua empresa ou vivem na comunidade local. Os seus clientes pretendem um fornecedor de confiança, que goze de uma boa reputação quanto à qualidade dos produtos e serviços. Os seus fornecedores procuram um cliente que continue a realizar encomendas e efectue antecipadamente os pagamentos. A comunidade local deseja estar segura de que a sua empresa funciona de uma forma responsável em termos sociais e ambientais. E, por último, os seus trabalhadores querem trabalhar numa empresa a que se orgulhem de pertencer e que valorize o seu contributo.

Como pode se observar nos trechos citados, a preocupação com o lucro está

no pano de fundo, ou seja, não é algo direto, mas em função desta atitude o

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empresário socialmente responsável obtém lucro. A atitude responsável vem

também em função da pressão exercida pelos consumidores/clientes. O mesmo

texto recomenda que as práticas socialmente responsáveis devam ser divulgadas

para que a comunidade fique sabendo,

O artigo disponibilizado no site da Comissão Europeia destaca o fato de que a

responsabilidade social pode e deve ser praticada por pequena, média e grande

empresa. Inclusive cita o caso da Koffie Kàn, uma torrefacção de café belga com

três trabalhadores que obteve grande sucesso econômico e se envolveu na

comunidade em que está inserida.

A responsabilidade social pode ser exercida de várias formas, segundo a

Apifarma (2011, s/p) entre as quais o cuidado com o descarte da matéria prima não

utilizada, com a destinação das embalagens que envolvem a matéria prima.

A sua empresa pode contribuir para a preservação do meio ambiente. A eficiência energética, a prevenção da poluição e a minimização e reciclagem de resíduos podem proporcionar uma diminuição dos custos, contribuindo, assim, para a viabilidade da empresa. Tais medidas podem também contribuir para melhorar o relacionamento com a responsabilidade social empresarial possibilita que o empresário desenvolve uma gama muito grande de procedimentos que demonstram estar a empresa socialmente comprometida.

No site “Compêndio para a sustentabilidade Ferramentas de Gestão de

Responsabilidade Socioambiental“, que aborda a Responsabilidade Social

Empresarial na União Europeia (SER), há uma frase emblemática, a qual afirma que

o movimento de Responsabilidade Social Empresarial na União Europeia pretende

“Fazer da Europa um pólo de excelência em matéria de RSE”. (Compêndio Para a

Sustentabilidade, 2011, s/p).

Esta frase consta no documento publicado pela Comissão Europeia anuncia

ao Conselho e ao Comitê Econômico e Social Europeu, em março de 2006, o apoio

a uma aliança europeia para a RSE. Embora não seja um instrumento jurídico, ainda

assim é um documento que expressa uma manifestação, um estimulo para

implantação da Responsabilidade Social Empresarial visando um desenvolvimento

sustentável com criação de empregos.

Este movimento em prol da responsabilidade social empresarial no qual são

as empresas as peças chaves, não pode ser negligenciado a importância dos

stakeholders enquanto público interessado seja ele cliente, fornecedor ou

comunidade em geral. São os stakeholders parte importante neste processo, pois

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são estes que muitas vezes vão indicar o rumo a ser seguido pelo ator principal, a

empresa.

Nesta carta ao parlamento se percebe que a Responsabilidade Social

empresarial não tem o viés de marketing, mas sim a preocupação com o social e

com o crescimento autossustentável, conforme se observa em partes da carta a

seguir transcrita:

Em sua carta ao Parlamento, a Comissão Europeia enfatiza a contribuição potencial da RSE ao desenvolvimento sustentável e a estratégia europeia para o crescimento e o emprego. Defende ainda que, embora não tenham a intenção de substituir a ação dos poderes públicos, as práticas de RSE podem ajudar estes últimos a realizar vários dos seus objetivos, notadamente o desenvolvimento de competências, a utilização mais racional dos recursos naturais, melhores desempenhos em matéria de inovação, redução da pobreza e maior respeito aos direitos humanos. O documento lista oito aspectos aos quais a Comissão prestará atenção específica nos seus esforços de incentivo à RSE: 1. Sensibilização e troca de boas práticas; 2. Apoio às iniciativas multilaterais 3. Cooperação com os estados membros; 4. Informação dos consumidores e transparência; 5. Pesquisa; 6. Educação; 7. Pequenas e médias empresas; 8. Dimensão internacional da RSE. (COMISSÃO EUROPEIA, 2006)

Destaca-se que as empresas ao investirem milhões de dólares esperam obter

algum beneficio econômico, além do reconhecimento das pessoas, Portanto, não é

crível que se tenha uma visão pueril imaginado que as empresas investiriam milhões

de euros ou dólares simplesmente para ter a imagem de uma empresa responsável.

Por outro lado é inegável que há empresa que realmente se preocupa com o meio

ambiente, com a comunidade onde obtém a matéria prima, com seus consumidores

etc. Ademais, no caso em tela. É inegável também que a legislação nos países

europeus é mais rígida, sobretudo para as empresas que atuam em seus territórios.

Tanto é verdade que os grandes desastres ambientais não são causados na

Europa, mas nos países periféricos, como o de 2 de dezembro de 1984. Segundo

Machado (2006, p.6) um acidente na fabrica de pesticidas na cidade de Bhopal,

capital do estado indiano de Madhya Pradesh, lançou 45 toneladas de Metil

isocianato na atmosfera. Em poucas horas, milhares de pessoas morreram, nos

meses seguintes mais pessoas morreram devido a complicações geradas pela

contaminação. Outro desastre ocorreu no Equador, provocado pela petroleira norte-

americana Chevron na Amazônia equatoriana, onde sua filial Texaco operou entre

1964 e 1995, foi um crime deliberado. Este desastre causado na selva equatoriana é

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pior do que o da BP (British Petroleum) no Golfo do México ou ainda, maior que o

desastre ambiental causado na Bacia de Campos no Rio de Janeiro em 2011.

Portanto conclui-se que os grandes desastres ambientais ocorrem nos países

em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, conforme elencados anteriormente.

Sendo apontada como causas possíveis a falta de cuidado na exploração da

atividade econômica, as quais, naturalmente as mesmas empresas ao

desenvolverem suas respectivas atividades econômicas na Europa ou nos países

desenvolvidos, devem redobrar os cuidados com intuito de evitar tais desastres.

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3.2 O PAPEL ATUAL DA EMPRESA NA RESPONSABILIDADE SO CIAL

Antes de passar a discorrer sobre o papel atual se faz necessário conceituar

empresa. O conceito elaborado por Zanoti (2006, p.15) é que assim define empresa:

Pelo termo empresa subentende-se condição ativa, ação, diligência, dentre outras. Logo, em existindo empresa, há atividade mediante o exercício de uma série de atos coordenados, complexos ou não, com objetivo específico. Essa atividade tem fins econômicos.

Pode ser aferido do conceito acima que empresa é uma organização a qual

tem uma atividade com um fim especifico, qual seja, uma atividade econômica.

Portanto, empresa tem um fim econômico.

Por sua vez o artigo 966 do Código Civil assim define empresário:

Art. 966 Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento da empresa.

O artigo 966 do Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002 s/p) está dentro do livro

II o qual trata do Direito de Empresa, razão pela qual, o termo, organização

profissional contido no caput do referido artigo, está se referindo a empresa e essa

via de regra almeja o lucro. Assim a atividade deve ser contínua e com intuito de

lucro, objetivando meio de vida, pois atos isolados não são atos empresariais,

mesmo que destes atos se obtenha proveito econômico.

Partindo do pressuposto de que a empresa é uma atividade organizada com

intuito de lucro e para que consiga auferir lucro precisa estar sempre melhorando o

seu produto ou serviço, significa afirmar que a empresa contém a semente do

desenvolvimento e da destruição em si mesma. Pode-se afirmar que é um

movimento de auto-superação, pois o próprio desenvolvimento é a força motriz que

propulsiona o progresso e que, se não auto reinventar-se será superado por outra

empresa que revoluciona o invento.

Neste sentido escreveu Jonas (2006, p. 43):

Hoje, na forma da moderna técnica, a techne transformou-se em um infinito impulso da espécie para adiante, seu empreendimento mais significativo. Somos tentados a crer que a vocação dos homens se encontra no continuo

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progresso desse empreendimento, superando-se sempre a si mesmo, rumo a feitos cada vez maiores. A conquista de um domínio total sobre as coisas e sobre o próprio homem surgiria como a realização do seu destino.

Jonas demonstrou que o progresso tem várias facetas nefastas. Uma delas é

a superação do produto mais moderno, ou seja, o progresso continua fazendo com

que outras empresas coloquem no mercado produtos melhores. Foi o que ocorreu

com a Kodak, sinônimo de máquina fotográfica e acessório para fotografia, o qual

ajudou a desenvolver. A falência da Kodak foi decorrente do fato de ter sido o

produto por ela inventado, a máquina fotográfica, se tornado obsoleta. Em seu lugar,

surgiu uma nova máquina mais moderna. Assim o seu próprio invento, foi melhorado

com o advento das máquinas digitais levando a Kodak falência.

Outro fator é a finitude, o exaurimento da matéria prima extraída da natureza.

Também neste sentido Jonas (2006, p. 39) chamou atenção ao destacar em 1979 a

preocupação com a vulnerabilidade do meio ambiente, conforme transcrição a

seguir:

A vulnerabilidade da natureza Toma-se, por exemplo, como primeiro grande alteração ao quadro herdado, a critica da natureza provada pela intervenção técnica do homem – uma vulnerabilidade que jamais fora pressentida antes de que ele se desse a conhecer pelos danos já produzidos. Essa descoberta, cujo choque levou ao conceito e ao surgimento da ciência do meio ambiente (ecologia), modifica inteiramente a representação que temos de nós mesmos como fator causal no complexo sistema das coisas.

Portanto, muitos empresários atualmente têm que se preocupar também com

os reflexos das suas atividades no meio ambiente. Em última análise, pelo fato de

que a matéria prima extraída do meio ambiente é finita, modifica de fato a biosfera e

conforme destaca Jonas. Ademais, esta interferência no meio ambiente influência o

seu consumidor provocando assim um reflexo direto no sucesso da empresa.

Porém, em função das transformações ocorridas no mundo, as empresas não

têm passado incólumes por tais alterações. A relevância dessas transformações

decorre do fato de que o mundo atual não tem fronteiras, assim, qualquer alteração,

em algum grande fornecedor pode ser sentido em todas as partes do mundo.

O que outrora era local, no presente tornou-se tornou global. Uma empresa

que mácula a sua imagem no hemisfério norte, pode sofrer boicotes no hemisfério

sul. Ademais a globalização está em todas as áreas. Assim, basta citar que com a

utilização de um computador é possível comprar um produto na China, sem nunca

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ter visto o fornecedor, se quer saber se ele de fato existe. Sem falar que muitas

empresas fisicamente não existem.

Em razão deste quadro esboçado sobre as empresas não é mais plausível

que as mesmas tenham por finalidade, acima de tudo, somente proporcionar lucro

para os sócios/acionistas.

No entanto, segundo (FARAH, 2014, s/p) Milton Friedman defendia a tese de

que a finalidade da empresa é gerar lucro para os acionistas, vejamos:

A ideia de que a missão de uma empresa é dar lucro aos investidores constitui o núcleo da “teoria do acionista” (stackholder theory), cujo defensor mais célebre é Milton Friedman, economista norte-americano ultraliberal. Segundo essa teoria, os acionistas adquirem ações da empresa com a única finalidade de maximizar o retorno de seu investimento. Em tais condições, o principal dever dos administradores é maximizar o retorno financeiro dos investidores fazendo com que a companhia obtenha o maior lucro possível.

Partindo da tese defendida por Friedman cabe aos gestores se preocuparem

em proporcionar lucros aos acionistas, sendo objetivo último da empresa elevar ao

máximo o retorno dos valores investidos. Esta visão contida na stackholder theory

ou “teoria do acionista” emana do conceito de propriedade privada quando esta era

concebida como algo absoluta. Dentro dessa visão o proprietário poderia dispor

gozar e usufruir do jeito que melhor lhe conviesse, sem estar obrigado a prestar

contas para ninguém sobre aquilo e da forma que utilizasse o seu patrimônio.

Tal modo de pensar, usufruir, gozar e dispor como bem entendesse também

foi usado nas empresas. Um fato marcante para que tal pensamento sofresse uma

alteração, servindo de partida para a mudança atual foi à queda da bolsa de Nova

Iorque em 1929. Diante da catástrofe provocada pela quebra da bolsa segundo

Asheley, Coutinho e Tomei (2000, p.3).

Em 1919, a questão da responsabilidade e discricionariedade dos dirigentes de empresas abertas veio à tona publicamente pelo julgamento na Justiça Americana do caso Dodge versus Ford. Tratava-se da amplitude da autoridade de Henry Ford, presidente e acionista majoritário, em tomar decisões que contrariavam interesses de um grupo de acionistas da Ford, John e Horace Dodge. Em 1916, Henry Ford, argumentando a realização de objetivos sociais, decidiu não distribuir parte dos dividendos esperados, revertendo-os para investimentos na capacidade de produção, aumento de salários e como fundo de reserva para a redução esperada de receitas devido ao corte nos preços dos carros. A Suprema Corte de Michigan se posicionou a favor dos Dodges, justificando que a corporação existe para o benefício de seus acionistas e que diretores corporativos têm livre arbítrio apenas quanto aos meios de se alcançar tal fim, não podendo usar os lucros para outros fins. A filantropia corporativa e o investimento na imagem da corporação para atrair consumidores poderiam ser realizados, na medida em que favorecessem os lucros dos acionistas.

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Em contra partida surge a Teoria dos Stakeholders ou Teoria das Partes

Interessadas. Esta defende a tese de que a empresa deve ser socialmente

responsável. Portanto, a empresa deve se preocupar não só com o lucro, mas

também com os interessados, ou seja, com a comunidade. Até por que, quando há

alguma mazela advinda da atividade empresarial, toda a comunidade sofre, como

por exemplo, um vazamento de produto químico, como ocorreu com a explosão do

navio Vicuña em Paranaguá. Em função do desastre ambiental, a pesca na região

foi proibida, e toda a comunidade sentiu o reflexo negativo da proibição, posto que é

uma atividade econômica relevante para o local.

Na visão dos que defendem o stackholder theory, socializa-se o prejuízo, mas

não o lucro, ou seja, o lucro é privado, mas o prejuízo decorrente da atividade

econômica é da comunidade, pois é esta que sofre o ônus. Tal visão não está mais

em consonância com o momento atual.

Hodiernamente a tese defendida pelos stackholder theory já foi superada. É

inconcebível imaginar uma empresa que tenha por finalidade somente obter lucro.

Atualmente o que prevalece é a tese de que propriedade deve beneficiar não

somente os proprietários e no caso em tela, os sócios da empresa, mas sim toda a

coletividade passando pelos fornecedores, colaboradores, consumidores em geral. A

empresa passou a ser visto como uma entidade que deve beneficiar a sociedade

produzindo riqueza e desenvolvimento

Portanto, no momento atual, a empresa não pode se preocupar somente com

a qualidade de seus produtos, com o preço final e com o lucro. Além disso, a

empresa precisa e deve se preocupar com o que já foi elencado, acrescido da ética,

transparência e preocupações socioculturais, ambientais, enfim deve estar

contemplado um conjunto de ações que proporcione ganho para toda a sociedade.

Indiscutivelmente a maioria das empresas continua em busca do lucro, com o

acréscimo de ferramentas que proporcione demonstrar aos seus consumidores que

agem com ética, lisura. O uso desses instrumentos, ética, lisura, respeito ao meio

ambiente entre outros, serve para alavancar a venda e potencializar o lucro. A partir

do momento que utilizam tais ferramentas, as empresas têm fidelizado os clientes e

fortalecido a imagem da empresa perante a comunidade. Foi nesse sentido que

concluiu a pesquisadora Borger (2001, p. 01) conforme parte do artigo a seguir

transcrito:

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Hoje, as empresas querem associar suas marcas a projetos, iniciativas e parcerias com ONGs, divulgam as Metas do Milênio, os Princípios Pacto Global, ostentam as ISOs, apresentam relatórios. Por outro lado, os gestores recebem uma avalanche de informações, banalizando as práticas e as políticas de responsabilidade social e os processos de gestão. Parece que as preocupações estão mais direcionadas a mostrar que somos “socialmente responsáveis ” e “sustentáveis ” do que integrar a dimensão socioambiental nos negócios. E ainda se supõe que “sustentável” se refere aos aspectos ambientais e “responsabilidade social” aos aspectos sociais, e que sustentabilidade é um novo modelo de negócios, mais “moderno” do que responsabilidade social. (Destacado no original)

Considerando que o objetivo da empresa de buscar o lucro não foi suprimido,

mas foram inseridos novos elementos, assim as empresas cientes de que, muitos

consumidores estão atentos àquelas empresas com praticas sociais, procuram

desenvolver tais praticas e divulga-las com o intuito de fidelizar o seu consumidor. É

claro que não pode ser subestimada a capacidade de manipulação dos fatos, ou

seja, uma empresa que não é socialmente responsável tem sua imagem manipulada

a tal ponto que a sociedade não percebe o quão nocivo são os procedimentos por

ela adotados.

Também não pode ser desprezado o fato de que as pessoas por melhor

intencionadas que são, nem sempre resistem a uma promoção. É de conhecimento

público que empresas associados á algum fato desabonador o qual pode levar

algum boicote por seus consumidores, usa o expediente de reduzir de forma

considerável o preço de seus produtos. Em razão dessa redução muitas pessoas

acabam declinando de seus propósitos. Tais fatos, a manipulação da realidade bem

como a prática de reduzir o preço dos produtos para induzir os clientes afastarem de

seus propósitos de boicotes, não estão no escopo dessa tese razão pela qual não

será objeto de maiores reflexões.

Desta forma ser gestor de uma empresa não significa que deve se abandonar

a busca pelo lucro e transformar a empresa em uma instituição de caridade.

Significa sim que devem ser agregados outros valores além do econômico, o lucro

deve ser almejado e perseguido, porém, com responsabilidade social.

O termo responsabilidade social conforme esclarece Borger (2001, p. 01)

surgiu nos anos 50 do século passado:

O conceito teórico de responsabilidade social originou-se na década de 1950, quando a literatura formal sobre responsabilidade social corporativa aparece nos Estados Unidos e na Europa. A preocupação dos pesquisadores daquela década era com a excessiva autonomia dos negócios e o poder destes na sociedade, sem a devida responsabilidade pelas consequências negativas de suas atividades, como a degradação

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ambiental, a exploração do trabalho, o abuso econômico e a concorrência desleal. Para compensar os impactos negativos da atuação das empresas, empresários se envolveram em atividades sociais para beneficiar a comunidade, fora do âmbito dos negócios das empresas, como uma obrigação moral. (Destaque nosso).

A filantropia empresarial surgiu como um novo campo de atuação que vem conquistando crescente visibilidade no Brasil, vindo compartilhar e disputar espaços com outras formas de ações privadas em benefício público. No entanto, a expressão “filantropia empresarial” está associada a referências históricas como caridade, paternalismo e assistencialismo, que têm uma conotação negativa, porque não trouxeram transformações sociais e econômicas efetivas para o desenvolvimento das comunidades. Hoje, quando se pensa em filantropia empresarial nota-se consenso sobre a exigência de que esse investimento ocorra como uma política da empresa, e não somente como um compromisso pessoal do empresário. Assim, buscaram termos alternativos para designar as ações próprias a esse campo, como investimento social, ação social empresarial, participação social ou comunitária da empresa ou desenvolvimento social.

A responsabilidade social, segundo texto acima, tem sua origem em ações

de caridade, paternalistas e assistencialistas, as quais não mudaram a realidade

social. Foram ações lenitivas que serviram para amenizar uma situação difícil.

Atualmente a preocupação principal não é somente em mitigar as adversidades,

mas em transformar a realidade desfavorável em um mundo melhor. Tal enfoque

implica em compromisso voluntário por parte das empresas em prol do

desenvolvimento da sociedade, preservação do meio ambiente, passando pelo

tratamento digno para seus fornecedores, colaboradores e consumidores. Neste

sentido em 2009, Emilio Odebrecht escreveu na Folha de São Paulo digital

(ODEBRECHT, 2009, s/p) sobre o papel das empresas. O texto serve como fulcro

de reflexão para destacar um aspecto: Um belo discurso não resiste a uma realidade

diversa daquela apresentada no texto.

Em que pese à beleza do texto escrito, destaca-se que Emilio Odebrecht é

Diretor Presidente da Holding Odebrecht S/A, um dos maiores conglomerados do

pais. O texto foi escrito há 06 anos antes de ser deflagrada a operação Lava a Jato,

a qual tornou públicas as corrupções que envolveram políticos e empresários

brasileiros. Destaca-se que Emilio Odebrecht, ora autor do texto comentado, não

menciona que a Responsabilidade Social da empresa contempla a ética. Um dos

papéis da empresa é ser ética com a sociedade em geral. Tal fato, ausência da ética

no rol das obrigações dentro da responsabilidade social da empresa, no mínimo

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denota que a empresa não é tão responsável como procura divulgar, no texto

parcialmente transcrito:

Hoje, cobra-se das empresas que estejam vigilantes quanto ao seu papel social. É correto que assim seja. Preservar o meio ambiente, usar com parcimônia os recursos naturais e oferecer oportunidades de realização profissional, econômica e emocional a seus integrantes, principalmente mediante o desafio da autorremuneração, ou seja, da participação nos resultados que geram, são algumas das responsabilidades precípuas que as companhias têm perante a sociedade. Sei que é preciso ir além, mas não acredito na mera caridade. O assistencialismo só faz sentido em situações limite. Praticado sem critérios, pode transformar em pedintes permanentes aqueles que recebem a ajuda. As ações sociais das empresas devem tornar as pessoas agentes do próprio destino, capazes de prover a si mesmas condições dignas de vida, e é adequado que tenham conexão com suas atividades fim. Um exemplo que conheço bem e do qual, como empresário, participo, acontece em Angola. Lá, investimos em educação, construímos postos de saúde, disseminamos técnicas de prevenção da malária, fornecemos estrutura às campanhas públicas de vacinação e apoiamos o combate ao HIV/AIDS. Agimos assim por compromisso com a mudança nos padrões de vida daquela nação e porque qualquer projeto empresarial passa pela qualificação profissional e pela preservação da saúde dos jovens que, no futuro, como operários, técnicos ou executivos, tornarão esse projeto realidade. Ações de responsabilidade social com o enfoque descrito acima não são, portanto, simples benemerência. São investimentos. Os problemas sociais e ambientais em diversas partes do mundo são, hoje, tão grandes que as empresas ou ajudam a resolvê-los ou perecerão com a sociedade. Lembremos que, atualmente, o consumidor sabe bem quais companhias são solidárias e quais não são - e aprendeu a optar pelas primeiras. Há, finalmente, a questão da retenção de talentos. Os jovens que estão iniciando suas vidas profissionais tenderão a vincular-se de forma permanente àquelas organizações cujas ações sociais sejam parte da estratégia dos negócios. A sociedade contemporânea se tornou complexa e está repleta de demandas. Somos, hoje, quase 7 bilhões de pessoas no planeta, e os governos espalhados pelo globo já não conseguem dar conta sozinhos das necessidades econômicas, educacionais e sociais de seus povos. Cabe, então, às empresas suprir parte de tais necessidades, pois têm recursos e competência para tanto e podem assumir esse compromisso como um dever.

Sendo assim não é possível falar em responsabilidade social quando a

empresa se preocupa somente com parte de suas responsabilidades. Segundo o

Instituto Ethos (2015, s/p) a responsabilidade é a forma de gestão que define pela

relação ética e transparente da empresa, sendo um conjunto de ações/atitudes

compatível com o desenvolvimento sustentável da sociedade, vejamos.

Responsabilidade Social Empresarial É a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o

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desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.

Ainda segundo o Instituto Ethos (2015, s/p.) a responsabilidade social tem

uma relação direta com a maturidade empresarial social. A maturidade empresarial

significa que a empresa compreendeu o seu papel não é fazer ações pontuais de

assistencialismo e caridade. Este tipo de ação é filantropia. Maturidade empresarial

significa que a empresa busca boas qualidades nas relações que estabelece com

todos, fornecedores, consumidores, colaboradores comunidade em geral, refletindo

positivamente para todos os envolvidos.

Nesta relação fornecedor e consumidor, os meios de comunicações têm

proporcionado experiência até pouco tempo atrás inimagináveis. Em função dos

avanços dos meios de comunicações, de modo especial a internet, tem deixado o

mundo mais “fluido, full time”. Assim tem-se a sensação de que ontem é um tempo

passado muito longínquo, tamanha a rapidez com que invenções são anunciadas e

com maior rapidez ficam obsoletas. Assim, não estranhamos que hoje determinada

instituição existe e amanhã deixa de existir, semana que vem seremos capazes de

nos perguntar se realmente ela existiu, pois, neste lapso tantas outras invenções

foram anunciadas e se tornaram obsoletas.

No ambiente empresarial não é diferente. Empresas surgem e desaparecem

com uma rapidez muito grande. Razão pela qual, empresas centenárias que faziam

parte do cenário mundial, sucumbem frente à rapidez com que as inovações são

apresentadas. Por isso que algumas marcas, as quais no passado próximo eram

solidas e lideres nos seus respectivos segmentos hoje já não existem mais ou estão

com grandes dificuldades para se manter no mercado. Também pode ser citado

como exemplo de empresas que já foram ícones e desapareceram a Mesbla,

Mappin entre outras.

Diante desse panorama de mudanças se percebe que muitas transformações

são provocadas pelas exigências do mercado e que, algumas vezes, as empresas

não percebem os sinais que o mercado transmite. Em outras ocasiões as empresas

percebem os sinais dados pelo mercado e alteram o seu produto, como foi o caso da

Enciclopédia Britânica.

Atualmente as inovações ocorrem diuturnamente provocando uma grande

preocupação não só com os produtos que vendem, mas também quanto à forma de

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administrar e de se relacionar com seus parceiros sendo eles fornecedores, clientes,

colaboradores e comunidade em geral.

Diante deste cenário extremante dinâmico somente sobreviverão às

empresas que perceberem, com muitos anos de antecedência, que o fim de

determinado produto se aproxima e promoverem alterações que proporcione a

continuidade da empresa. Foi exatamente isso que fez a companhia responsável

pela publicação da Enciclopédia Britânica, a mais antiga do mundo publicada em

inglês, a Enciclopédia Britânica.

O Jornal O Globo (2012, s/p.) publicou a noticia que o Presidente da

Companhia anunciou o fim da publicação impressa da Enciclopédia, a qual era

publicada desde 1768, portanto, um produto de 244 anos não seria mais oferecido

aos seus clientes da forma tradicional. A importância de perceber as alterações

provadas pelo mundo moderno proporcionou a continuidade da empresa; pois,

quando foi encerrada a publicação impressa da Enciclopédia, o valor arrecadado

com a venda representava somente 1% do faturamento total da companhia.

Em 1994 a companhia responsável pela publicação da Enciclopédia Britânica

já havia aderido o mundo digital. Portanto, ao deixar de oferecer um produto, que há

244 anos era oferecido, a empresa não deixou de existir, somente alterou a forma de

oferecer o seu produto.

Diante desse panorama versátil pergunta-se: qual a causa do desparecimento

de empresas que ontem eram sólidas? Perderam o “tempo” e deixaram de ser o

sujeito ativo passando a ser o sujeito passivo do desenvolvimento?

Não perceberam que as mudanças são “instantâneas”, ou seja, acontecem de

forma muito rápida e na maioria das vezes não há “repetição”? Assim, o modo como

são administrada as empresas, o procedimento utilizado para alcançar o objetivo

pode influenciar a longevidade de uma empresa. Naturalmente o relacionamento da

empresa com a sociedade também influencia na longevidade da empresa.

Atualmente os empresários além de se preocuparem com o produto que

fornecem, devem se preocupar ainda com a imagem que transmitem ao consumidor.

O empresário que tem uma preocupação com o social, a sua empresa tem uma

imagem melhor posicionada perante os consumidores e por isso tem uma maior

longevidade. Esta realidade mudou em função das alterações socioeconômicas

experimentadas pelo mercado nos últimos anos. Em razão dessas alterações surge

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a necessidade dos empresários adotarem uma conduta mais responsável, como a

transparência nos negócios e responsabilidade social adotando medidas.

Para servir de base para uma reflexão, e para ilustrar a dinamicidade dos

fatos, basta lembrar que a primeira revolução industrial ocorreu em meados do

século XVIII com a invenção da máquina a vapor e aplicação dessa nova técnica na

produção têxtil. A segunda revolução industrial ocorreu no final do século XIX até a

segunda guerra mundial.

Para Branco (2007, s/p.) a terceira revolução industrial surge após a segunda

guerra com uso da energia atômica e com o desenvolvimento da informática. A

terceira revolução industrial ficou caracterizada pelo uso de novas tecnologias, uso

do aço que proporcionou o desenvolvimento do carro, avião, etc. O que se observa é

que as revoluções ocorreram cada vez mais em um menor espaço de tempo.

Observa-se também que a força motriz que transformou profundamente a sociedade

foi à indústria em todos os seus segmentos.

Diante deste cenário de mudanças cada vez mais amiúde, onde quase tudo,

com a mesma rapidez que surge, se torna ultrapassado, onde o alvorecer se

confunde com o crepúsculo, se pergunta qual o papel das empresas no momento

atual? O papel das empresas hoje é o mesmo dela ontem? Naturalmente o papel

das empresas no presente não é o mesmo das empresas de ontem. Assim como

hoje a empresa precisa ter um produto ou serviço inovador, sob pena de ser banida

do mercado pela concorrência, assim também será tal relação com o meio ambiente.

Não demorará muito em que empresas dispensarão o mesmo tempo e

recurso para investir em tecnologia voltada a preservação o meio ambiente, assim

como atualmente dispensam para ter um produto ou serviço de ponto a ser

disponibilizado para seus clientes.

Diante da crise hídrica e elétrica sem precedentes que se vive no momento,

todos os empresários querem demonstrar que agem com responsabilidade social e

preservam o meio ambiente. Indubitavelmente, na hipótese de uma indústria fazer

mau uso dos recursos hídrico sofrem o risco de terem os seus produtos boicotados.

Esse é um caminho sem volta, ou seja, a responsabilidade social passa

necessariamente pelo cuidado com o outro.

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3.3 DA NECESSIDADE EM PAGAR TRIBUTOS. HÁ RESPONSABI LIDADE

SOCIAL SEM PAGAR TRIBUTO?

Para Hobbes os cidadãos através do contrato concedem ao Estado vários

poderes, entre os quais está o de tributar, através do qual o Estado pode criar e

cobrar tributos com intuito de proporcionar a todos a segurança, pois precisa de um

soberano forte para reinar a paz. Hobbes (2014, p. 118-119). Desta forma, com um

Estado forte o homem deixou de viver no estado natural abrindo mão de sua

liberdade em prol de sua segurança através do “contrato” pelo qual transfere ao

Estado a sua liberdade.

Portanto para que a vida em sociedade seja viável os cidadãos delegam

poderes para o Estado e este organização disciplina. Para tanto se faz necessário

que uma autoridade coordene tudo isso. O Estado, por sua vez, precisa de receitas

para poder fazer frente as suas despesas, razão pela qual cria tributos e cobra dos

contribuintes. Como escreveu Nabais (2014, p. 01) os tributos são “os deveres e dos

custos dos direitos”. Portanto, para que os direitos sejam respeitados, faz-se

necessário todos contribuíam com para o Estado.

No mesmo sentido também lecionam Sanches e Gama (2005, p. 31) quando

afirmam que “não há Estado sem direitos, nem direitos sem impostos, nem impostos

sem dinheiro, nem dinheiro sem Direto, nem Direto com, abuso”. Para que exista o

Estado precisa de direito e dinheiro, logo é impossível existir Estado sem impostos.

Destaca-se que não está nos objetivos deste trabalho fazer uma digressão

histórica até a origem do surgimento do Estado. Vamos partir do principio que o

Estado é uma necessidade, sem o qual, não seria possível viver em comunidade,

sob pena de voltarmos a viver em uma sociedade onde “é cada um por si e Deus

para todos”. Para que isso não acorra o Estado deve prestar serviços públicos e

para tanto necessita de recursos financeiros, os quais obtém através cobrança de

tributos. Com relação aos tributos vamos nos ater ao pagamento dos tributos pela

pessoa jurídica.

Considerando que não há alternativa a não ser pagar tributos, a questão que

se coloca é: pagar tributos é uma questão de responsabilidade social? Considerando

que embora sociedade, de um modo geral, tem resistência em pagar tributos por

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vários fatores, dos quais serão destacados somente dois, pois não está no escopo

desta dissertação refletir sobre a resistência em pagar tributos.

Um dos motivos destacado é uma questão histórica, ou seja, pelo fato de que,

segundo Nabais (2014. p. 1-2), direitos e deveres não estão no mesmo plano.

Ocorreu um “esquecimento dos deveres fundamentais” enquanto que os direitos

foram destacados. O descompasso entre deveres e direitos iniciou com a

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão no Século XVII. Os próprios textos

constitucionais, nos últimos anos, deram muito mais ênfase aos direitos e foram

deixados de lado os deveres. Em função disso muitos pensam que só existam

direitos sem haver em contra partida deveres.

Dentro de uma dialética natural dos movimentos políticos e ideológicos surgiu

a necessidade de exorcizar um período em que as pessoas somente tinham

deveres. Em razão disso, Segundo Nabais, se passou a dar destaque aos direitos

dos homens com leis afirmativas como a Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão. Até a revolução francesa, havia somente o destaque dos deveres, no

segundo momento, neste caso, a partir da revolução francesa, passou a destacar os

direitos dos homens, esquecendo-se muitas vezes dos deveres. Neste sentido

escreveu Nabais (2014, p. 7):

Uma idade que começou justamente com as declarações de direitos do século dezoito, entre as quais se destaca, por ser justamente a mais célebre, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de Agosto de 1789. Uma declaração que, deve assinalar-se, rejeitou integrar uma declaração de deveres. E embora os textos constitucionais, que vimos de referir, não deixem de ser expressão duma evolução que começou justamente nessas declarações de direitos, somos de opinião que um tal esquecimento dos deveres fundamentais tem causas mais próximas. Entre estas contam-se certamente quer a conjuntura política, social e cultural do segundo pós-guerra, quer o regresso a uma estrita visão liberal dos direitos fundamentais. E quanto à primeira causa apontada, basta-nos recordar que a preocupação dominante nessa época visando a instituição ou fundação de regimes constitucionais suficientemente fortes no respeitante à protecção dos direitos e liberdades fundamentais. Isto é, de regimes que se opusessem duma maneira plenamente eficaz a todas e quaisquer tentativas de regresso ao passado totalitário ou autoritário. Era, pois, necessário exorcizar o passado dominado por deveres, ou melhor, por deveres sem direitos. Foi isto o que aconteceu no século vinte. Mais precisamente nos finais dos anos quarenta em Itália e na então República Federal da Alemanha, depois nos anos setenta na Grécia, Portugal e Espanha, e já nos anos oitenta no Brasil. E isto para não referirmos outros países, como os libertados do comunismo já na década de noventa.

O outro motivo da aversão ao pagamento de tributos é o mau uso, pelos

governantes, dos valores arrecadados em função do pagamento de tributos. Tal

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afirmativa dispensa maiores comentários, pois, qualquer cidadão de conhecimento

mediano tem elementos suficientes para formar o seu juízo de valor acerca do mau

uso ou não dos valores arrecadados provenientes dos tributos pagos. Infelizmente

os governantes, em todas as esferas, têm demonstrado que são gestores

incompetentes, tal fato não será motivo de reflexão nesta dissertação.

No entanto, embora não esteja no escopo dessa dissertação refletir sobre

deficiência por parte das autoridades constituídas, na gestão do dinheiro público,

cabe um questionamento. A má gestão do dinheiro público, não é decorrente da

falta de cobrança/acompanhamento de como as autoridades estão utilizando os

valores que todos pagam? Se houvesse uma maior cobrança por parte da

população, as autoridades não seriam mais responsáveis? Essa falta de cobrança e

acompanhamento não significa conivência?

Independente da aderência dos empresários ao pagamento dos tributos, o

fato é que a cobrança dos tributos existe e, naturalmente o pagamento se faz

necessário e não há como se eximir de pagá-lo completamente a partir do momento

em que pratica algum fato gerador definido em lei.

O pagamento de tributo está dentro da autonomia privada do cidadão, ou

seja, em função da autonomia da vontade o cidadão pode decidir se vai desenvolver

determinada atividade ou não. Portanto, a opção de pagar tributo, em última análise

é do próprio cidadão. É ele que decide se vai pagar tributo ou não com a sua

declaração de vontade que culminou com a opção por desenvolver esta ou aquela

atividade ou ainda optou por não desenvolver nenhuma atividade econômica.

Neste sentido Hobbes (2014, p. 111) afirma que o direito consiste na

liberdade de fazer ou de omitir, enquanto que a lei obriga. Ainda segundo Hobbes o

homem tem o direito de praticar ou não determinado atos, já o que é previsto em lei

então há liberalidade. Pois, segundo ele, o direito permite que se faça ou não,

enquanto que a lei obriga ou impede que se faça algo.

Portanto, a partir do momento que o individuo optou por constituir uma

atividade comercial, por exemplo, usou a liberdade que o direito lhe faculta. No

entanto, ao fazer a opção está obrigado conforme a determinação da lei. Sendo

assim o cidadão tem o direito de desenvolver determinada atividade ou não a partir

do momento que desenvolve, a lei obriga a pagar tributos, não havendo a

possibilidade de não pagar o tributo.

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Feito a opção em desenvolver determinada atividade pagará tributos

inerentes àquela atividade. Desta forma a tributação deve ser entendida como um

instrumento que irá possibilitar a vida em comunidade de forma pacífica. O cidadão

outorga poderes ao Estado, o qual tem a legitimidade de cobrar tributos para poder

fazer frente às necessidades econômicas inerentes a atividade administrativa.

Ao pagar tributos, o contribuinte está se privando de parte do seu patrimônio,

em prol da coletividade, do bem comum, posto que a coletividade tem preferência

sobre os interesses individuais. Assim para evitar o que afirmava Hobbes, ou seja, a

ausência do Estado provocaria um “estado de guerra” em que o mais forte iria

dominar o mais fraco é que se faz necessário um Estado governando todos.

Ao abrir mão de parte do seu patrimônio, o contribuinte está também

garantindo a posse do seu próprio patrimônio, sua segurança e contribuindo para a

paz social. Esta cobrança de tributos é aceita na medida em que a comunidade

percebe os efeitos sociais benéficos para todos. Ademais a tributação também o

condão de redistribuir de riqueza, promovendo assim a redução das desigualdades

sociais.

A cobrança de tributos é decorrente da necessidade do Estado promover as

políticas públicas, as quais visam o bem comum. Inclusive a proporção dos serviços

públicos prestados deve estar diretamente relacionada à carga tributária. Assim,

quanto mais tributos cobra, mais e melhores serviços públicos devem ser prestados.

Razão pela qual o pagamento de tributos é uma questão de cidadania, de

responsabilidade social de todos.

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3.4 QUAIS OS BENEFÍCIOS LEGAIS PARA A EMPRESA QUE T EM UMA

ATITUDE RESPONSÁVEL?

Numa época em que a sociedade cobra mais respeito ao meio ambiente, as

empresas se preocupam em demonstrar que têm responsabilidade social e, por isso

respeitam o meio ambiente. Naturalmente as empresas além de demonstrar aos

consumidores o cuidado com o meio ambiente e ainda buscam obter algum proveito

econômico com os benefícios fiscais.

“As empresas sabem que a maioria dos consumidores valoriza os produtos

das empresas socialmente responsáveis”, pois, ao adquirir os produtos e serviços

destas empresas, de uma forma indireta estão contribuindo para um mundo melhor.

Certamente foi pensando nisso que os governantes criaram alguns incentivos

fiscais. Dentre desse incentivo, cita-se a destinação de parte do Imposto de Renda

(IR) ou de tributos estaduais para diversas áreas como cultura, esportes, crianças e

idosos. Muitas empresas utilizam desse expediente, doação de parte do IR para

contribuir com a melhoria da sociedade e, naturalmente demonstrar que é uma

empresa socialmente responsável. Assim, ao mesmo tempo em que promovem

benefícios diretos à sociedade, também se beneficia com essa ação, pois agrega

valor à marca.

Os governantes ao concederem benefícios fiscais às empresas, como forma

de incentivo a praticas socialmente corretas, estão proporcionando que a iniciativa

privada ajude a diminuir as desigualdades sociais.

Becker (1963, p. 609) afirma que o Estado fazendo uso da tributação

extrafiscal, utiliza uma regra jurídica pré-estabelecida para estimular, desestimular e

até mesmo impedir determinados atos ou fatos que o legislador entender ser

pertinente. Assim pelas normas tributarias, usando uma politica progressiva ou

regressiva ou por intermédio de incentivos fiscais, utilizado pelo Estado como

mecanismo para fomentar determinadas atitudes que possam aliar e contribuir para

que as empresas e os cidadãos tenham praticas socialmente responsável. Desta

forma além de contribuir para o bem estar de toda a empresa promove o seu nome

ainda obtém lucros através dos incentivos fiscais.

Foi nesse sentido que foi criada a Lei 8.313, de 23 de dezembro de 1991,

conhecida como Lei Rouanet para fomento da cultura, no começo de 1990. O

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governo federal criou também a Lei do Esporte, a do Audiovisual e a que designa o

Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA) nos municípios

brasileiros. Todas permitem doações por meio do IR para ações nessas áreas, tanto

por parte de pessoas jurídicas quanto pessoas físicas. Além desses programas,

muitos Estados criaram outros incentivos com os seus respectivos tributos

estaduais.

3.4.1 DEDUÇÕES E BENEFÍCIOS

A Lei Rouanet tem uma limitação, pois somente empresas que fazem a opção

pelo lucro real podem doar e obter algum proveito econômico. A pessoa física que

fizer a declaração no modelo completa, pois a simplificada não está albergada pelo

incentivo.

A lei Rouanet Lei 8.313/1991 no artigo 26 (BRASIL, 1991, s/p) prevê que o

apoio pode ocorrer de duas maneiras. Uma dessas maneiras é através da doação, a

outra maneira é por patrocínio. Nos projetos de entidades sem fins lucrativos o apoio

ocorre por intermédio de doação. Neste caso de doação é vedada a publicidade

paga para divulgar a doação. Nesta categoria de beneficio, podem as pessoas

jurídicas distribuir aos seus colaboradores ingressos para eventos de cunho

artísticos-cultural. Também estão enquadradas como doação as despesas

realizadas por pessoa jurídica com o objetivo de conservar ou restaurar bens

próprios ou que estejam sob sua posse legitima, tombada pelo governo Federal.

Nesta modalidade de doação efetuada por pessoa física, o doador pode

abater 80% do valor doado do imposto de renda, desde que não ultrapasse 6% do

imposto devido. As pessoas jurídicas podem abater 100% do valor, desde que sejam

optantes do lucro real. A dedução do percentual de 100% ocorrerá como despesa

operacional para fins de cálculo do IRRPJ e CSSL.

Assim, para pessoas jurídicas, a lei Rouanet permite doar 4% do IR, valor que

é deduzido do imposto. Já a do audiovisual abrange 3% do IR. As leis dos

chamados FMDCA e dos Esportes permitem dedução de 1%. Já as pessoas físicas

podem deduzir 6% do IR para qualquer uma dessas alternativas.

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Art. 18. Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do Imposto sobre a Renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de natureza cultural, como através de contribuições ao FNC, nos termos do art. 5o, inciso II, desta Lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos no art. 1o desta Lei. § 1o Os contribuintes poderão deduzir do imposto de renda devido às quantias efetivamente despendidas nos projetos elencados no § 3o, previamente aprovados pelo Ministério da Cultura, nos limites e nas condições estabelecidos na legislação do imposto de renda vigente, na forma de: a) doações; b) patrocínios. § 2o As pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real não poderão deduzir o valor da doação ou do patrocínio referido no parágrafo anterior como despesa operacional.

A Lei Rouanet possibilita que o contribuinte, pessoa física e jurídica, possa

efetuar a doação de parte do imposto através das modalidades doação, patrocínio e

contribuições. Em todas essas modalidades basta preencher os requisitos previstos

na Lei, tanto o doador como a entidade que pretende receber as doações.

3.4.2. Deduções do IR

As declarações do Imposto de Renda permitem deduções, as quais estão

previstas no Art. 26 da Lei 8.313/1991:

Art. 26. O doador ou patrocinador poderá deduzir do imposto devido na declaração do Imposto sobre a Renda os valores efetivamente contribuídos em favor de projetos culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta Lei, tendo com base os seguintes percentuais: I – no caso das pessoas físicas, oitenta por cento das doações e sessenta por cento dos patrocínios; II – no caso das pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, quarenta por cento das doações e trinta por cento dos patrocínios. § 1o. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações e patrocínios como despesa operacional. § 2o O valor máximo das deduções de que trata o caput deste artigo será fixado anualmente pelo Presidente da República, com base em um percentual da renda tributável das pessoas físicas e do imposto devido por pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real (BRASIL, 1991)

O percentual de dedução permitido em investimentos à cultura via doação ou

patrocínio, realizados pelo Fundo Nacional da Cultura ou do Mecenato são:

a) Pessoas Jurídicas: Doação 40% e Patrocínio 30%;

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b) Pessoas Físicas: Doação 80% e Patrocínio 60%.

O artigo 18 da Lei 9.784/1999, por determinação do legislador, permite a

dedução de 100% do valor doado ou destinados ao patrocínio para o fomento das

seguintes atividades:

a) Artes Cênicas;

b) Livros de valor artístico, literário ou humanístico;

c) Música erudita ou instrumental;

d) Exposição de artes visuais;

e) Doação de acervos para bibliotecas públicas, museus, cinematecas;

f) Produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média

metragem;

g) Preservação do patrimônio cultural, material e imaterial.

O incentivo fiscal mais utilizado tem sido na modalidade de doação,

incentivando projetos culturais, pois além de agregar valor a marca da empresa,

pode abater 100% do valor doado. O que deve ser observado é o limite de 4% do

valor devido do imposto de renda para as empresas que estão submetidas ao

regime do lucro real.

Destaca-se que os benefícios do ordenamento jurídico não permitem que as

empresas ou até mesmo as pessoas físicas deixem de pagar os tributos devidos.

Simplesmente, possibilita que as empresas e até mesmo as pessoas físicas

destinem suas doações para projetos sociais que queiram. Assim, as empresas

podem acompanhar o uso do recurso devido e estimular áreas de responsabilidade

social que lhe aprouver.

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4.0 ANÁLISE DE CASOS PRÁTICOS ENVOLVENDO AS RESPONS ABILIDADES

SOCIAL E ÉTICA

Neste capítulo serão analisados casos de empresas que se preocupam com o

meio ambiente e de fato, a preocupação não fica somente no marketing. Há outras

que embora expressem e divulguem uma preocupação com o meio ambiente, na

prática, atuam de forma a contrariar o que afirmam. A análise foi realizada tendo por

paradigma o que informa o site da empresa analisada e o que divulgam os meios de

comunicações.

4.1 CASO 01: O DESASTRE AMBIENTAL PROVOCADO PELA CHEVRON NA

BACIA DE CAMPOS NO RIO DE JANEIRO EM 2011

A exploração do petróleo está regulada pela Lei 12.351, de 22 de Dezembro

de 2010, BRASIL (2010 s/p). Dispõe sobre a exploração e a produção de petróleo,

de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, sob o regime de partilha de

produção, em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas; cria o Fundo Social (FS) e

dispõe sobre sua estrutura e fontes de recursos; altera dispositivos da Lei 9.478, de

6 de agosto de 1997 (BRASIL, 1997); e dá outras providências.

No entanto para qualquer empresa fazer a exploração do petróleo, precisa

antes obter todas as licenças aos respectivos órgãos reguladores, como Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), no Paraná Instituto Ambiental do Paraná

(IAP).

As licenças, exigências e autorizações das atividades de exploração e

produção de petróleo e gás natural são de cinco tipos diferentes. Sendo elas, licença

prévia para perfuração, licença prévia de produção e pesquisa, licença de

instalação, licença de operação para atividade de exploração e produção marítima e

para atividade sísmica. Estudo de Impacto Ambiental (EIA) Relatório de Impactos

Ambientais (RIMA) Agência Nacional de Petróleo (ANP). O fato de obter as licenças

necessárias, não significa que não haverá risco de desastre ambiental. O risco

sempre haverá e, na hipótese de desastre ambiental, a empresa que explora a

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extração de petróleo deve agir com lisura e ética, informando as autoridades sobre o

acidente. Ao que tudo indica, não foi o que ocorreu com a Chevron, no acidente no

Estado do Rio de Janeiro em 2011.

É de conhecimento público o desastre ambiental provocado pela operação de

exploração de petróleo, amplamente divulgado na mídia à época do desastre, em 08

de Novembro de 2011 na bacia de Campos no Rio de Janeiro. O desastre provocou

um derramamento no mar de algo em torno de 4.000 barris de óleo cru. Foram

indiciados 17 pessoas, entre elas o presidente na companhia no Brasil. O Presidente

da companhia Georg Buck pagou uma fiança de R$ 500.000,00 e teve o direito de

deixar o país segundo a revista exame. O que são R$ 500.000,00 para uma

empresa que teve um lucro líquido de US$ 26,895 bilhões em 2011, segundo o G1

Globo (2012, s/p).

A Chevron fechou o ano de 2011 com lucro líquido de US$ 26,895 bilhões, ou US$ 13,44 por ação, alta de 41,37% na comparação com os ganhos de US$ 19,024 bilhões, ou US$ 9,48 por papel, observados em 2010. A petroleira norte-americana fechou o quarto trimestre do ano passado com lucro de US$ 5,123 bilhões, o equivalente a US$ 2,58 por ação. O resultado foi 3,24% inferior ao ganho de US$ 5,295 bilhões, ou US$ 2,64 por papel, registrado no último trimestre de 2010. As vendas e outras receitas operacionais no quarto trimestre atingiram US$ 58 bilhões, 11,53% maiores que os US$ 52 bilhões de um ano antes. Segundo a empresa, o aumento das receitas operacionais foi consequência dos preços mais altos do petróleo e dos produtos refinados.

Diante de um lucro estrondoso o valor da multa paga não significa nada.

Ademais basta verificar que site da empresa não há uma única noticia sobre o

desastre ambiental provocado, bem como referente à recuperação do meio

ambiente promovida em função do desastre ambiental causado pela empresa em

2011.

O dano ambiental foi de grandes proporções, mas segundo Mendes (2011,

s/p) na matéria divulgada pelo site da Band, o desastre maior foi ético, pois a

Chevron mentiu.

Para a especialista, ecossistema local será recuperado em pouco tempo, mas o caso expõe irresponsabilidade das companhias petrolíferas. Vazamento de petróleo na Bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro, provoca mais danos éticos do que ecológicos. A declaração é do professor André Felipe Simões, coordenador do curso de gestão ambiental da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades) da USP (Universidade de São Paulo). Para ele, as falhas cometidas pela Chevron, companhia norte-americana que administra a plataforma onde houve o acidente, são grandes. A Chevron não investiu o necessário para impedir que acontecesse um desastre ambiental. Além disso, mentiu para as autoridades brasileiras

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ao alegar que tomou as precauções devidas e ao tent ar responsabilizar a Petrobras. Houve uma falha moral e ética muito gr ande .

Mais um fato que demonstra a falta de comprometimento da Chevron, pois

faltou com a verdade ao alegar que tomou todas as precauções. Aliado episódio a

Chevron procurou responsabilizar a Petrobras pelo desastre, demonstra que o dano

moral é muito superior ao dano material.

A falta de ética e a falta de responsabilidade social ficam demonstradas

também no fato da Chevron apresentar um plano para “matar” o poço e acabar com

o vazamento. No entanto, ao apresentar tal plano, editou as imagens que apresenta

e omite informação de que parte do material necessário para “matar” o poço

chegaria somente vários dias após apresentar o plano, conforme consta na matéria

publica na revista Carta Maior por Barroca e Najla (2011 s/p) conforme se observa

abaixo:

No dia 8 de novembro, teve início um vazamento de petróleo de poço explorado pela multinacional a 1,2 mil metros de profundidade na Bacia de Campos, no litoral do Rio. No dia 12, a Chevron apresentou à Agência Nacional do Petróleo (ANP) um plano para “matar” o poço e acabar com o vazamento, aprovado no dia seguinte e implementad o a partir do dia 16 – pelo menos, era isso que a Chevron dizia à ANP.(grifo nosso) O plano, porém, dependia de um equipamento que só c hegou dos Estados Unidos nesta segunda-feira (21), e isso a C hevron não contara antes . (Destaque nosso) Imagens submarinas que a empresa fornecera às autoridades para mostrar o fechamento do poço estariam incompletas e teriam sido editadas para iludir as mesmas autoridades . “Houve falsidade de informações”, disse o chefe da ANP, Haroldo Lima. “Isso é inaceitável”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. (Destaque nosso)) Pela lei atual, cada uma das multas pode chegar no máximo a R$ 50 milhões, uma ninharia para a Chevron mesmo que se some a autuação anunciada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), também no valor de R$ 50 milhões. No ano passado, a multinacional faturou US$ 200 bilhões. No primeiro semestre de 2011, lucrou US$ 14 bilhões. Como compa ração: em fevereiro, a mesma empresa foi condenada no Equador a pagar US$ 8 bilhões por um crime ambiental . (Destaque nosso)

Embora tenha ocorrido o desastre de grandes proporções, por falta de

investimento e de capacidade técnica/responsabilidade social, ao perceber o

derramamento do óleo no mar, ao invés de recolher o óleo do mar, a Chevron

dispersou segundo o Jornal Valor Econômica (2012 s/p):

Embora constasse em seu Plano de Emergência Individual (PEI), a Chevron não tentou recolher o óleo do mar, optando pelo uso da dispersão mecânica, que causou o espalhamento do petróleo e aumentou o desastre ambiental. A auditoria da ANP evidenciou ainda a presença de apenas uma

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embarcação destinada à dispersão mecânica da mancha, diz a nota do MPF.

Diante de todas as evidências de descasos e negligências, ainda assim o site

da Chevron (2015, s/p) apregoa que estão preocupados com o meio ambiente e

com o progresso econômico e sustentável, conforme se observa na transcrição

parcial abaixo:

A Filosofia da Chevron Visão, Valores e Estratégia. Nossa visão Ser a empresa global de energia mais admirada graças à sua gente, às suas parcerias e ao seu desempenho. Fornecemos, com segurança, produtos do setor de energia vitais para o progresso econômico sustentável e para o desenvolvimento humano em todo o mundo; Somos pessoas – e uma organização – com alto nível de competência e comprometimento; Conquistamos a admiração de todas as pessoas que têm interesse na empresa – investidores, clientes, governos, comunidades e nossos funcionários – não só pelas nossas conquistas, mas pela forma como as atingimos. Integridade Somos honestos com os outros e com nós mesmos. Fazemos aquilo que prometemos, nos responsabilizamos por nossos trabalhos e ações e nos dedicamos a eles. Proteção às pessoas e ao meio ambiente Colocamos como nossa mais alta prioridade a saúde e a segurança de nossa força de trabalho e a proteção do meio ambiente e de nossos ativos. Alto desempenho Nos comprometemos com a excelência em tudo o que fazemos e com a melhoria contínua. Buscamos sempre alcançar resultados que excedem expectativas – as nossas e as dos outros. Estratégias Nosso plano estratégico direciona e alinha nossa organização e nos diferencia da concorrência. Ele guia nossas ações para que possamos, com sucesso, controlar os riscos e entregar valor aos nossos acionistas. Executar com excelência Fazemos isso através da nossa Excelência Operacional e de sistemas éticos de gestão de recursos que garantem a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente, das comunidades e de uma administração disciplinada.

Este é somente um caso onde o divulgado no seu próprio site não tem

consistência com a realidade fática. A falácia vai além. No site da Chevron, na sua

página inicial, consta uma tela com o titulo “Educação Ambiental”, o qual remete a

um texto, em que a Chevron afirma que escolheu pescadores como tema de seu

calendário, conforme texto a seguir transcrito.

Chevron escolhe os pescadores como tema do seu calendário de 2014 A Chevron no Brasil escolheu os pescadores da Bacia de Campos, área de influência do Campo Frade, operado pela empresa, como tema do calendário de 2014 que está distribuindo para os seus colaboradores e parceiros.

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Inspirado nas incríveis histórias de pescadores e no seu respeitoso relacionamento com o mar, a publicação reúne belos depoimentos e imagens registradas em cinco municípios do Rio de Janeiro e Espírito Santo: Cabo Frio, Itapemirim, Macaé, São Francisco de Itabapoana e São João da Barra.

Esta é a educação ambiental que a empresa que derramou mais de 4.000

barris de petróleo no mar realiza? Prova assim que o discurso nem sempre é

condizente com a realidade fática.

A preocupação com ética deve fazer parte de todos e de todas as empresas.

Porém, quanto mais uma empresa se destaca no cenário empresarial mais atenta

deve ficar com as questões éticas. Basta analisar os casos concretos em que as

empresas se envolveram para verificar se realmente é uma empresa com ética, ou

se a preocupação ambiental é somente de “fachada”.

Sabe-se que empresas que tem valores éticos sólidos são percebidas pela

sociedade e tem um futuro promissor. Por sua vez empresas sem comprometimento

ético social tem mais dificuldade em se manter no mercado. É claro que no caso da

Chevron é um pouco diferente, pois a empresa atua na exploração petrolífera e,

neste caso, tem duas variáveis. Primeira é uma empresa que em 2011, ano do

desastre faturou mais de 200 bilhões de dólares, segundo tem operações em 180

países. Logo a regra de ser ética pra ser manter no mercado, talvez não sirva para a

Chevron, em função do produto que explora.

Com relação às ações cíveis, segundo o próprio Ministério Público Federal

(2014) informa que foi assinado um Termo de Ajuste de Conduta – TAC – com o

Ministério Público Federal (MPF), no qual há Chevron se obrigada a investir 300

milhões para reparar o meio ambiente degradado pelo acidente na bacia de Frade.

Em caso de descumprimento há uma multa de R$ 1.000.000,00 (Um milhão) dia. Em

que pese o Ministério Público Federal (MPF) ter celebrado o Termo de Ajuste de

Conduta – TAC denunciou 17 pessoas. No entanto, nenhum dos responsáveis pelo

desastre foi preso e o processo criminal continua. O juiz Federal de 1o Grau havia

extinguido a ação, o Ministério Público Federal (MPF) recorreu e em sede de 2o

Grau conseguiu que 12 fossem denunciados, conforme transcrição a seguir:

A Procuradoria Regional da República da 2ª Região (PRR2) refutou na Justiça os recursos de 12 réus – entre eles, a Chevron – no processo penal em que são julgados por crimes cometidos num vazamento de óleo, em dezembro de 2011, na Bacia de Campos. A unidade do Ministério Público Federal (MPF) enviou a manifestação (contrarrazões dos embargos infringentes) no último dia 25 ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), que em outubro passado recebeu a denúncia do MPF, reformando

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uma decisão da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro em recurso (RSE) interposto pelo MPF/RJ. Os réus puderam recorrer porque a denúncia foi acolhida com um voto contrário entre os três magistrados da 1ª Turma do TRF2. Quando a Justiça recebe a ação penal, tem início o processo criminal – nesse caso, ele tramitará na 10ª Vara Federal Criminal/RJ. Os acusados respondem por vários crimes: causar poluição ambiental lançando resíduos; extrair recursos minerais em desacordo com o aval obtido; operar irregularmente serviços com potencial poluidor; crime contra o patrimônio com exploração irregular de matéria-prima da União; e dano contra o patrimônio público (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2014, s/p)

A Chevron e os 12 réus foram denunciados por vários crimes, entre os quais

extrair mineral em desacordo com a licença permitida e por poluição ambiental. É

possível concluir que a empresa causadora de um acidente ambiental da proporção

do acidente na Bacia de Campos não é uma empresa social responsável. Portanto o

que Chevron divulga no site não está em conformidade com o seu modus operandis.

4.2 CASO 02: LEITE ADULTERADO

Outro caso emblemático da falta de ética é ocaso do leite adulterado no Rio

Grande do Sul. Faz mais de um ano que foi descoberta fraude e continuam

adulterando o leite. Em maio de 2013 foi descoberta fraude com adição de ureia,

formol e outros produtos químicos proibidos. Tais produtos são acrescentados no

leite para aumentar o lucro, conforme informou Grizotti (2013, s/p) no jornal o Globo.

Mais de um ano depois continua o problema da adulteração de leite. A

empresa continua vendendo o leite adulterado e os mercados continuam vendendo

o produto embora impróprio para consumo. A noticia foi veiculada pelo site do Portal

VipCP (2014 s/p) e amplamente divulgada na mídia.

Pois bem, adulteração comprovada, inclusive com prisão, mesmo assim a

empresa, no caso em tela a CONFEPAR, cooperativa responsável pela marca Polly,

entre outras, afirma que está se “inteirando” conforme matéria veiculada pelo Jornal

Zero Hora (COLUSSI, 2014, s/p) em junho de 2014. Na nota de esclarecimento a

CONFEPAR nega qualquer envolvimento da empresa com o grupo e fraudadores.

No entanto, cumpre destacar que várias prisões foram realizadas, conforme publicou

o jornal a Gazeta do Povo na matéria escrita por Gonçalves (2013, s/p) a seguir

publicada a nota de esclarecimento:

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A Confepar vem sendo citada em reportagens referentes à operação “Leite Compensado” desencadeada no Rio Grande do Sul e tem a dizer que reitera seu repúdio a ações fraudulentas, como as citadas nas investigações do Ministério Público e reafirma que sempre cumpriu com rigor seus procedimentos e controles internos de qualidade, de ntro dos padrões da legislação vigente . (Destaque nosso) Atestando esta garantia, a Confepar conta com laboratório altamente tecnificado, que acompanha com análises criteriosas o produto desde a entrada em nossa unidade, passando por todas as fases de industrialização, até o produto final. Ainda, para maior garantia, submetemos normal e frequentemente nossos produtos e matéria-prima a laboratórios externos, isentos de qualquer interesse e credenciados pelo Ministério da Agricultura. O leite apreendido no Rio Grande do Sul, na operação Leite Compensado, continua sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura e nunca foi destinado para nossa unidade industrial de Londrina-PR. A cooperativa esclarece que a Coopleite - Cooperativa Central de Captação de Leite, afiliada da Confepar e responsável pela captação de leite, no Rio Grande do Sul, recebeu o memorando do Ministério da Agricultura e, de imediato, intensificou as análises e controles do produto recebido com processos ainda mais criteriosos, que não apontaram nenhum problema ou irregularidade. A Confepar tem total interesse no esclarecimento dos fatos e continua à disposição das autoridades para esclarecimentos necessários e assegura aos clientes e consumidores que nossos produtos podem ser consumidos com a mesma segurança que garantimos há mais de 30 anos.

Apesar de ter informado pela empresa, via nota de esclarecimento, que

sempre cumpriu com rigor seus procedimentos e controles internos de qualidade,

dentro dos padrões da legislação vigente e negar qualquer irregularidade, os fatos

apurados pelas autoridades apontam em outra direção, ou seja, os fatos

demonstram outra realidade. Os meios de comunicações e a polícia, afirmam

categoricamente que a adulteração ocorreu, inclusive efetuando prisões, conforme

matéria escrita pela jornalista Colussi (2014, s/p) e amplamente divulgado pela Zero

Hora. Vejamos:

Operação Leite Compen$ado descobre ramificação da f raude no Paraná Pela primeira vez, a Operação Leite Compen$ado — do Ministério Público Estadual — realiza prisão e apreensões de caminhões e documentos no Paraná. Deflagrada na manhã desta quarta-feira, a fase seis da investigação focou a ação na receptação de leite gaúcho adulterado. Conforme o MPE, a Confepar Agro-Indústria Cooperativa Central, fabricante de leite UHT e derivados da marca Polly, tem conhecimento de que adquire o produto adulterado. A cooperativa tem sede em Londrina, importante cidade agroindustrial no norte paranaense. Na cidade de São Martinho e arredores, no noroeste gaúcho, foram presos suspeitos de serem os fornecedores do leite adulterado. Além dos cinco mandados de prisão expedidos— sendo que quatro pessoas já foram presas —, a sexta etapa da Leite Compen$ado cumpriu 16 mandados de busca e apreensão nas cidades paranaenses de Londrina e Pato Branco e nos municípios gaúchos de Ijuí, Taquaruçu do Sul, Ibirubá, Campina das Missões, Alegria, Boa Vista do Buricá, Crissiumal, São Valério do Sul, São Martinho, Cruz Alta e Coronel Barros. A Justiça de Santo

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Augusto autorizou a apreensão de 24 caminhões utilizados para transportar leite adulterado nessas cidades. Procurada pela reportagem, a Confepar disse estar ‘se inteirando’ do assunto e que decidirá se vai se pronunciar.

Embora tudo isso venha ocorrendo o site da empresa (CONFEPAR, 2014,

s/p), através do endereço eletrônico informa que empresa está preocupada com o

meio ambiente, conforme texto abaixo:

A CONFEPAR, além de fabricar produtos com qualidade, também preocupa-se com o Meio Ambiente e tem investido em tecnologia e parcerias nessa área. Buscando a sustentabilidade ambiental, na Confepar, além de fabricarmos produtos com qualidade, também nos preocupamos com o meio ambiente e investimos em tecnologia e parcerias nessa área.

Este é um discurso típico de uma empresa que fala em preocupação com o

meio ambiente, querendo demonstrar responsabilidade social sem qualquer

comprometimento com a realidade. Se fosse uma empresa preocupada com meio

ambiente, com certeza teria implantado uma política de controle de qualidade melhor

a ponto de não permitir a mistura de ureia e formal, ente outros produtos ao leite,

com um único intuito de alavancar o lucro. É claro que poderia haver uma

adulteração sem o conhecimento da empresa. No entanto, uma adulteração que

vem ocorrendo a mais de um ano, qualquer empresa preocupada com a qualidade e

com meio ambiente não permitiria que tal fraude ocorresse.

A empresa não se manifestou de forma adequada sobre as fraudes na qual

se envolveu ou foi envolvida, além de um simples “está inteirando-se.” Uma empresa

socialmente responsável e comprometida com o meio ambiente possui e defende

valores que vão além da cadeia produtiva. É incongruente a atitude de uma empresa

que afirma estar preocupada com o meio ambiente e coloca no mercado um produto

impróprio para o consumo, principalmente sendo o produto alimento.

A empresa responsável socialmente deve contribuir para um futuro melhor

tanto para esta geração, como para as gerações futuras. Esta contribuição implica

necessariamente em atitudes e ações que contribuiriam para melhoria do mundo

para todos que nele estão e ainda virão.

Uma empresa ética é uma empresa socialmente responsável, logo uma

empresa que não é socialmente responsável não é ética. Ser ético é como ser

socialmente responsável é para com todos, ou seja, não é possível ser ético

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somente com os consumidores e não ser ético com os seus colaboradores. Pode-se

concluir que a ética e a responsabilidade social não se fracionam.

4.3 CASO 03: HOSPITAL ALBERT EINSTEIN EXEMPLO DE RESPONSABILIDADE

SOCIAL

Há empresas que se preocupam com o meio ambiente e procuram reduzir o

impacto ambiental com a diminuição de descarte de resíduos, por exemplo. Tal

atitude também é passível de questionamento, isto é, a redução busca a minorar o

impacto ambiental ou simplesmente é marketing social? No caso em tela, o Hospital

Albert Einstein (2015, s/p) em São Paulo, demostrou que conseguiu implantar

medidas que reduziram significativamente os descartes de resíduos no meio

ambiente. Vejamos:

Água Para uma unidade hospitalar, o sistema de refrigeração de ar é de grande importância. Além disso, a necessidade de manter as instalações e equipamentos sempre limpos e higienizados faz com que o consumo de água seja bastante elevado. A instalação de uma central unificada e automatizada para fazer a refrigeração do ar na Unidade Morumbi é um exemplo prático de como funciona a estratégia do Einstein. Com a expansão do complexo, a área a ser climatizada aumentaria de 70 mil m² para 135 mil m², demanda que teria de ser atendida por equipamentos já obsoletos e com baixa eficiência. Com os investimentos realizados, foi instalado um sistema resfriador com compressor centrífugo e condensação à água, que permite ainda a recuperação de calor para pré-aquecer a água de uso sanitário – levando a economia também no consumo de gás natural. Resíduos Os diversos resíduos gerados em uma Unidade podem apresentar riscos à segurança dos pacientes, colaboradores e à sociedade em geral. Por isso, diversas ações práticas foram tomadas para alcançar esse objetivo. No início de 2012, por exemplo, foram adquiridos dois redutores de resíduos orgânicos, máquinas que podem processar aproximadamente 800 kg de resíduos por dia, originando composto orgânico e água. Outro exemplo é a forma como o Einstein promove o engajamento de seus fornecedores para a adoção de materiais mais adequados e sustentáveis. Em um projeto desenvolvido com o fabricante de caixas de instrumentos cirúrgicos, o hospital conseguiu implantar um processo de reciclagem das mantas de TNT (Tecido Não Tecido) que revestem essas embalagens e que não entraram em contato com nenhum material biológico. As mantas recicladas podem ser transformadas em peças de plástico (como cadeiras) e o processo ajuda a diminuir o volume de resíduos infectantes. A meta para a redução de resíduos infectantes estabelecida pelo Einstein foi superada em 13%. A de redução do resíduo comum ficou 10% acima do projetado e a de aumento no volume de materiais recicláveis, 2%. O Einstein procura reciclar todos os resíduos gerados em suas unidades. Além disso, também trabalha com materiais de menor impacto, como o

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papel utilizado nas impressoras e copiadoras, certificado pelo Forest Stewardship Council (FSC), que atesta o manejo correto das florestas de onde foram retiradas as matérias-primas para a produção desses papéis. Um problema com o descarte de plásticos de agosto de 2011 a abril de 2012 provocou a suspensão da coleta desse material e, como resultado, cerca de 90 toneladas de plásticos foram descartadas como resíduo comum e dispostos em aterro sanitário. A renda obtida com a venda de recicláveis foi totalmente revertida em ações para a comunidade de Paraisópolis

A Responsabilidade Social Empresarial deve ser almejada como uma forma

de gestão que se concretiza através da relação ética da empresa com os

fornecedores, funcionários clientes, meio ambiente e governos constituídos. Assim,

dentro deste espírito de respeito, a ética tem um “viés” de Hans Jonas (2006), o

respeito pelo planeta e para gerações futuras.

Nos exemplos retros mencionados restou claro que a empresa que não

respeita os seus consumidores não pode ser conceituada como ética. Não adianta

publicar em seu site que se preocupa com o meio ambiente se não respeita os

consumidores quando coloca no mercado um produto impróprio para consumo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A responsabilidade social e a ética são duas virtudes imprescindíveis para as

empresas que almejam sucesso, lucro e admiração, não necessariamente nesta

ordem. É possível concluir que uma empresa ética é uma empresa socialmente

responsável. Aparentemente o que parecia ser um paradoxo, o fato da empresa

almejar o lucro e o reconhecimento da comunidade, restou demonstrado que não é

um paradoxo.

Esta conclusão está amparada no fato de que as empresas divulgam as

atividades sociais que desenvolvem, inclusive apregoam quando fazem parte de

alguma relação de empresas mais responsável. Porém quando estão inclusas em

alguma lista desabonadora, como o caso da lista de empresa que utilizam mão de

obra semelhante ao trabalho escravo, ajuízam ação para impedir que a mesma seja

divulgada. Ora, se atitudes desabonadoras não provocassem prejuízos, com certeza

as empresas não estariam preocupadas em esconder tais fatos.

Outra conclusão é que a preocupação com a ética e a responsabilidade social

não são fenômenos dos dias atuais. Naturalmente não existiam com as mesmas

preocupações que se tem atualmente, pois cada época tem a sua característica

própria. Ultimamente a grande preocupação é com o meio ambiente. Esta

preocupação é justificável, pois, sem o meio ambiente saudável o homem também

não será saudável e todos correm o risco de perecerem, razão pela qual se justifica

a preocupação com a sustentabilidade do planeta.

A responsabilidade pela preservação é de todos inclusive das empresas,

posto que as suas ações são impactantes ao meio ambiente. A responsabilidade

social da empresa consiste na iniciativa espontânea das empresas em realizar

atividades que contribuam para a construção de uma sociedade menos desigual e

para um meio ambiente mais preservado.

De fato, a ética e a responsabilidade social caminham lado a lado. Ocorre que

muitas vezes, algumas empresas, patrocinam e incentivam ou mantem programas

sociais, mas usam de subterfúgios para potencializar os lucros com atitudes

antiéticas ou irresponsáveis. Quando isso ocorre os fatos desmarcaram a

publicidade. É o que ocorreu com as empresas citadas, como a Chevron,

CONFEPAR etc. Aquela alardeia que é uma empresa responsável, pois faz

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calendário com pescadores, mas não divulga o que fez para recuperar o meio

ambiente degradado pelo desastre ambiental que provocou.

A Ética e a Responsabilidade social precisam ser completas. Nenhuma

empresa consegue ser ética somente em alguma parte do seu processo. Por isso,

que não adianta propagar a preocupação com o meio ambiente, sendo irresponsável

e colocando produto no mercado inadequado para o consumo, deixando de recolher

os tributos devidos ou ainda, se não paga corretamente seus colaboradores.

O marketing ambiental separado da ação de fato não significa nada. As

empresas que se preocupam em demonstrar algo que não é a realidade sua de fato,

não agregam e não acrescentam qualquer valor aos seus produtos ou serviços.

Pois, as empresas que agem desta forma não têm responsabilidade social, a qual

vai além da simples doação de valores. Responsabilidade social é engajamento que

leva melhorias e transforma a sociedade. Já o marketing ambiental é pura falácia.

Também há inúmeras empresas que, de fato se preocupam com o meio

ambiente, com seus colaboradores, com os seus fornecedores, com consumidores,

enfim com a sociedade. Neste perfil citamos a Natura Cosméticos e o Hospital Albert

Einstein.

A responsabilidade social também é reflexo da noção de cidadania, isto é, os

consumidores estão cientes de que a preservação do meio ambiente também

depende de suas escolhas como consumidores. Iniciando pela escolha de produtos

que não provoquem o desequilíbrio ambiental, passando por empresas que sejam

socialmente responsáveis.

Conclui-se, deste modo que a empresa ética está preocupada em fazer o que

é correto, pois uma empresa é ética quando está comprometida com o cliente, com

os fornecedores, com os colaboradores, com o meio ambiente, enfim é uma

empresa socialmente responsável. Ademais, a responsabilidade social além de ser

um negócio lucrativo para a empresa, pois quem obtém o reconhecimento da

sociedade como tal agrega valores aos seus produtos ou serviços, assim consegue

alavancar o faturamento.

É uma questão de cidadania, pois, ao contribuir para que toda sociedade

usufrua dos benefícios advindos do seu produto ou serviço, está retribuindo a

sociedade parte dos benefícios que obteve dela. Com isso contribui também para

uma sociedade melhor e mais igualitária, promovendo com a circulação de riqueza.

Ao promover a circulação de riqueza está contribuindo para que mais pessoas

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tenham acesso aos seus produtos, ou seja, está contribuindo para o surgimento de

novos consumidores de seus produtos.

Destaca-se também que a Responsabilidade social e a ética devem ser

adotadas em todas as relações do cotidiano. Deste a extração da matéria prima até

a relação com os membros internos e externos da empresa. Não podem ser um fim

a ser atingido, mas um meio por intermédio do qual todas as relações devem estar

pautadas.

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ANEXOS

ANEXO A - MPF DENUNCIA CHEVRON E TRANSOCEAN POR DESASTRE

AMBIENTAL NA BACIA DE CAMPOS

ANEXO B - MULTAS DE ATÉ R$ 260 MILHÕES PARA PUNIR VAZAMENTO DE

ÓLEO

ANEXO C - CHEVRON ASSINA TAC COM MPF, APÓS VAZAMENTOS DE

PETRÓLEO NO RIO DE JANEIRO

ANEXO D - JUIZ ENCERRA PROCESSO CONTRA CHEVRON E TRANSOCEAN

POR VAZAMENTO NO RIO

ANEXO E - A BRITISH PETROLEUM (BP) VAI PAGAR US$ 4,5 BI DE

INDENIZAÇÃO POR VAZAMENTO DE PETRÓLEO NO GOLFO

ANEXO F - MPF CONTRAPÕE RECURSO NO CASO CHEVRON

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ANEXO A

MPF DENUNCIA CHEVRON E TRANSOCEAN POR DESASTRE AMBI ENTAL NA

BACIA DE CAMPOS

Do UOL, em São Paulo

21/03/201215h15 > Atualizada 21/03/201216h12

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou criminalmente as empresas

Chevron, Transocean e mais 17 pessoas por crime ambiental e dano ao patrimônio

público em virtude do vazamento de petróleo no campo de Frade, da bacia de

Campos, no Rio de Janeiro, em novembro de 2011. O presidente da Chevron no

Brasil, George Buck, e mais três funcionários da empresa responderão ainda por

dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público, se omitir em cumprir obrigação de

interesse ambiental, apresentar um plano de emergência enganoso e por falsidade

ideológica, ao alterarem documentos apresentados a autoridades públicas.

Na denúncia, o MPF pede também o sequestro de todos os bens dos

denunciados e o pagamento de fiança de R$ 1 milhão para cada pessoa e R$ 10

milhões para cada empresa. Caso sejam condenados, o valor da fiança servirá para

pagar a indenização dos danos, multa e custas do processo.

Segunda a denúncia apresentada na 1ª Vara Federal de Campos, o

derramamento de óleo afetou todo o ecossistema marítimo --podendo levar à

extinção de espécies-- e causou impactos às atividades econômicas da região, além

de danos ao patrimônio da União, uma vez que o vazamento ainda está em curso.

Para o procurador da República Eduardo Santos de Oliveira, os funcionários das

empresas Chevron e Transocean causaram uma “bomba de contaminação de efeito

prolongado” ao empregarem uma pressão acima da suportada, ocasionando fraturas

nas paredes do poço que vazaram o óleo no mar, mesmo após o seu fechamento.

O advogado da Chevron Nilo Batista disse hoje que o procurador que fez a

denúncia contra a empresa não tem competência jurídica para atuar no caso.

Batista argumenta que o processo, que inicialmente estava em Campos dos

Goytacazes (RJ) e que passou para a Justiça Federal do Rio, não poderia ter

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voltado para Campos por determinação de juiz substituto, como ocorreu em 23 de

dezembro do ano passado.

Segundo o advogado, a volta do caso para Campos deveria ter sido decidida

por um juiz titular, no retorno do recesso judiciário, em 17 de janeiro.

Segunda a ANP (Agência Nacional de Petróleo), foram detectadas falhas

gravíssimas em equipamentos na plataforma SEDCO 706 --de propriedade da

Transocean--, demonstrando a precariedade das condições em que a Chevron

promovia a perfuração dos poços de petróleo. Embora constasse em seu Plano de

Emergência Individual, a Chevron não tentou recolher o óleo do mar, optando pelo

uso da dispersão mecânica, que causou o espalhamento do petróleo e aumentou o

desastre ambiental. A auditoria da ANP evidenciou ainda a presença de apenas uma

embarcação destinada à dispersão mecânica da mancha.

Entre os denunciados pelo MPF, está também uma analista ambiental da

empresa Contecom, presa em flagrante pela Polícia Federal em novembro de 2011

pelo armazenamento e processamento inadequado de produtos tóxicos

provenientes da perfuração da Chevron no campo de Frade. Foi constatado que o

material transbordava no tanque, misturando-se a outros produtos tóxicos e

escorrendo até galerias de águas pluviais.

Comportamento criminoso

Questionado sobre a possibilidade de um pedido de prisão preventiva, o

procurador disse que é necessário revisar "todos os elementos do processo", porém

a princípio não há tal intenção. "Pela legislação brasileira, até seria possível entrar

com um pedido de prisão preventiva. Mas não sei se temos nesse momento todos

os elementos necessários, já que nós conseguimos a medida cautelar e, com a

solicitação do pagamento de fiança, demandaria uma análise mais cuidadosa. É

uma questão de análise", afirmou.

De acordo com o procurador, o Ministério Público Federal está convicto do

"comportamento criminoso" da Chevron e espera que os representantes da

petroleira sejam condenados com rigor. Em entrevista ao UOL, o procurador afirmou

que após a denúncia na esfera criminal, iria protocolar uma medida cautelar para

que a Chevron fosse interditada.

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Oliveira argumentou que a medida cautelar que exige entrega dos

passaportes dos empresários americanos para a Polícia Federal, em um prazo de

24 horas após a notificação, obrigando assim a permanência no Brasil, foi motivada

pela própria postura da Chevron ao anunciar o vazamento. "O que chegou para a

gente é que logo após o anúncio da mancha de óleo, a empresa imediatamente

requereu à ANP a suspensão das atividades. Isso motivou a medida cautelar, pois

entendemos que o pedido de suspensão é um indício de que eles queriam deixar o

país", disse.

Outro lado

A Chevron disse que vai respeitar a lei brasileira. "A empresa vai respeitar a

lei brasileira e defender seus empregados com todos os recursos que a lei oferece",

disse nesta segunda-feira (19) o diretor de Assuntos Corporativos da empresa,

Em 18 de novembro de 2011 - O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

(INPE) divulgou uma série de imagens do radar Asar, a bordo do Envisat, e do

sensor Modis, dos satélites Aqua e Terra, ao IBAMA e à Petrobras. Elas estão sendo

utilizadas para avaliar o vazamento de petróleo no campo da empresa americana

Chevron, situado na bacia de Campos, no litoral norte do Rio de Janeiro. A

Em relação ao afloramento de óleo constatado na semana passada, Jaen

afirmou que a situação está sob controle. "São gotas que saem do subsolo. Todos

os dias fazemos sobrevoos, e a mancha está diminuindo.” O diretor disse que a

mancha estava sendo dispersa com jatos de água: "Fragmentada, concentra dois

litros de óleo", afirmou.

Segundo ele, a petroleira interrompeu suas operações no campo de Frade e a

intenção é retomar as atividades após a conclusão de um estudo geológico "técnico

e profundo", realizado em conjunto com a Petrobras. "Por enquanto, são

especulações, hipóteses e teorias.”

Excesso de pressão

No relatório da Polícia Federal e do MPF, o excesso de pressão na

perfuração do poço superior à tolerada é apontado como uma das principais causas

dos problemas.

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O procurador em Campos acusa a Chevron de "ter botado uma pressão maior

que a suportada e ter cavado além do que foi autorizado". "Eles assumiram um risco

premeditado", afirmou. "O vazamento não é mais no poço, é na rocha reservatória, e

não tem como ser controlado. Não se sabe a capacidade. É uma cratera no solo

marinho.”

O delegado da Polícia Federal Fábio Scliar, responsável pelo inquérito,

também afirmou, baseado no depoimento de geólogos, que houve excesso na

pressão usada na injeção de fluido de perfuração. "O poço explodiu e depois foi

necessário usar mais pressão para abandoná-lo".

Segundo ele, uma área de cerca de 7 quilômetros quadrados do Campo de

Frade pode estar sob risco de novos vazamentos. "A situação é grave e está fora de

controle. Como é inédita, a indústria não está preparada para responder.”

Novos vazamentos

O novo afloramento da semana passada ocorreu a 3 quilômetros do poço que

vazou em novembro, e a Chevron admitiu um afundamento na área em que se

formou uma fissura de 800 metros. De acordo com a ANP, foram identificados desde

a semana passada cinco pontos de vazamento ao longo de uma fissura de 800

metros, de onde se observava o aparecimento de gotículas de óleo, em uma vazão

reduzida.

Na noite da última sexta-feira (16), a ANP consentiu que a empresa

interrompesse totalmente a produção do campo de Frade. Foi criado um comitê para

avaliar o vazamento, coordenado pela ANP, que terá o Ministério de Minas e

Energia como observador.

Em nota, a Marinha informou que um inspetor naval da Capitania dos Portos

do Rio de Janeiro realizou um sobrevoo na semana passada e detectou o novo

incidente a aproximadamente 130 km da costa, mas classificou a mancha como

“tênue”. (Com reportagem de Hanrrikson de Andrade, do UOL, no Rio).

Veja quem foram os denunciados e as penas possíveis:

1) CHEVRON BRASILEIRA DE PETRÓLEO LTDA

2) TRANSOCEAN BRASIL LTDA

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3) GEORGE RAYMOND BUCK III – Presidente da CHEVRON no Brasil e

Engenheiro de Petróleo. Pena de até 31 anos e 10 meses.

4) ERICK DYSON EMERSON - Engenheiro e gerente de perfuração e

completação da CHEVRON. Pena de até 21 anos e 10 meses.

5) FLÁVIO MONTEIRO - Gerente de segurança, saúde e meio ambiente da

CHEVRON. Pena de até 31 anos e 10 meses.

6) JOÃO FRANCISCO DE ASSIS NEVES FILHO - Engenheiro de perfuração da

CHEVRON, responsável pela elaboração dos relatórios diários acerca da

perfuração da sonda no dia dos fatos. Pena de até 21 anos e 10 meses.

7) MARK THOMAS LYNCH - Geólogo da CHEVRON e responsável pelos poços

perfurados no Campo do Frade. Pena de até 21 anos e 10 meses.

8) ALEXANDRE CASTELLINI - Engenheiro de reservatórios da CHEVRON,

membro da equipe de planejamento do poço. Pena de até 21 anos e 10

meses.

9) JASON WARREN CLENDENEN - Engenheiro de perfuração da CHEVRON,

também integrante da equipe de planejamento do poço e um dos

responsáveis pelo cálculo do peso de lama a ser bombeado na perfuração.

Pena de até 21 anos e 10 meses.

10) GLEN GARY EDWARDS - Engenheiro da CHEVRON e gerente do ativo do

Campo de Frade. Atuou, ainda, no centro de comando de incidentes formado

pela CHEVRON após o vazamento, sendo certo que o mencionado centro

encarregou-se de implementar as medidas elencadas no plano de

emergência e no plano de resposta a vazamentos. Pena de até 31 anos e 10

meses.

11) CLIFTON EDWARD MENHENNITT - Geólogo coordenador da CHEVROM,

responsável pela coleta dos dados geológicos para a plataforma. Pena de até

21 anos e 10 meses.

12)JOHNNY RAY HALL - Gerente de perfuração da CHEVROM, responsável por

supervisionar as operações diárias a bordo da sonda SEDCO 706, da qual ele

é o Drill Site Manager (DSM), certamente, um dos funcionários mais

graduados da CHEVRON na plataforma. Pena de até 21 anos e 10 meses.

13)GUILHERME DANTAS ROCHA COELHO - Diretor Geral da TRANSOCEAN.

Pena de até 21 anos e 10 meses.

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14)1MICHEL LEGRAND - Gerente Geral da TRANSOCEAN. Pena de até 21

anos e 10 meses.

15) GARY MARCEL SLANEY, Superintendente de off-shore da TRANSOCEAN.

Pena de até 21 anos e 10 meses.

16) IAN JAMES NANCARROW - Gerente em terra da sonda operacionalizada

pela TRANSOCEAN. Pena de até 21 anos e 10 meses

17) BRIAN MARA - sondador da TRANSOCEAN e operador da sonda SEDCO

706, responsável no dia dos fatos pela respectiva sonda e pelo bombeamento

da lama no poço. Pena de até 21 anos e 10 meses.

18) PATRÍCIA MARIA BACCHIN PRADAL - Gerente de desenvolvimento de

negócios e relações governamentais da CHEVRON. Pena de até 31 anos e

10 meses.

19) CINTIA VASCONCELOS FIGUEIREDO - Analista Ambiental da empresa

CONTECOM. Pena de até 21 anos e 10 meses.

Fonte: NOTICIAS UOL. MPF denuncia Chevron e Transocean por desastre ambi ental na bacia de Campos . 21/03/2012. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/03/21/mpf-denuncia-chevron-e-transocean-por-desastre-ambiental-na-bacia-de-campos.htm> Acesso em: 02 out. 2014

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ANEXO B

MULTAS DE ATÉ R$ 260 MILHÕES PARA PUNIR VAZAMENTO D E ÓLEO

Chevron mentiu e ocultou informações, diz ANP, que estuda proibir empresa

de operar no país.

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. Pode chegar a R$ 260 milhões o total de

multas, indenizações e compensações ambientais que a Chevron Brasil terá de

pagar pelo acidente no Campo de Frade, na Bacia de Campos. Esse valor inclui

cobranças do IBAMA (R$ 50 milhões), da Agência Nacional do Petróleo (R$ 100

milhões) e do governo do Estado do Rio (mais R$ 100 milhões). Segundo a ANP, a

petrolífera americana mentiu, ocultando informações e imagens sobre o vazamento

de petróleo iniciado há 15 dias, e poderá ser proibida de operar no país. A Chevron

disse ter recebido as autuações e que estuda o assunto para decidir que medidas

tomar.

A empresa tem até esta terça-feira para apresentar ao IBAMA os

comprovantes de cumprimento do Programa de Emergência Individual (PEI), que faz

parte da licença ambiental. Caso o IBAMA considere as informações inconsistentes,

pode emitir mais uma multa de R$ 10 milhões, além da de R$ 50 milhões aplicada

ontem. Este valor, que é o máximo permitido no país, será usado, conforme

acordado entre o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente, para sanar os danos

ambientais em parques da costa do Rio. Segundo a ministra do Meio Ambiente,

Izabella Teixeira, a Chevron poderá sofrer novas punições por descumprimento do

licenciamento ambiental e do PEI.

As multas da ANP estão baseadas na falta de equipamento adequado para

estancar o vazamento e na ocultação de informações. As penalidades impostas pela

agência foram anunciadas após uma reunião com a presidente Dilma Rousseff, que

assumiu a liderança do processo.

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Óleo na rocha ainda virá à superfície

A diretora da ANP Magda Chambriard disse que "a empresa atuou em

completa violação ao contrato de concessão e à legislação brasileira":

Consideramos um tratamento completamente inaceitável, tanto com a ANP

quanto com o governo brasileiro e o Brasil em geral: uma empresa que edita

imagens, que são de obrigação de fornecimento, e manda imagens para a ANP

editadas, com trechos cortados. E nós tivemos de ir a bordo da plataforma para

buscar as imagens nas 24 horas que foram adquiridas. Isso representa uma

penalidade que não pode ser pequena.

Enquadrada na categoria operadora classe A (com licença para perfurar,

inclusive, no pré-sal), a Chevron, segundo o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima,

pode ser descredenciada. Mas admite que essa medida extrema seja "um problema

complicado":

A Chevron não estava preparada para executar o plano de abandono do

poço disse Lima.

Segundo a ANP, uma média de 330 barris por dia vazou por mais de uma

semana. Lima disse que os representantes da Chevron mitigaram informações e

esconderam fotos que mostrariam a real proporção do acidente.

A agência não foi tratada pela concessionária de forma correta. As

informações não foram passadas como era de se esperar, e um equipamento-chave

não estava presente no Brasil, o que atrasou o processo, razão pela quais certas

prerrogativas que a empresa está tendo hoje, como operadora A, vão ser mais bem

examinadas pela diretoria da ANP.

A ação civil impetrada pela Secretaria estadual do Ambiente pode chegar a

mais R$ 100 milhões. O secretário Carlos Minc notificou nesta segunda-feira a

Chevron e a Transocean — que esteve no foco das atenções do acidente da BP, no

Golfo do México, em abril de 2010 — a realizar auditorias de padrões internacionais

em todas as suas instalações, na terra e no mar.

As auditorias podem custar até R$ 5 milhões calcula Minc, afirmando que,

depois, a exigência pode se estender a todas as petrolíferas que atuam no país.

Precisamos aprender com os erros.

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A Defensoria Pública Federal, do Rio, também abriu procedimento

administrativo, que, se aprovado, poderá redundar em indenização. Esse valor, no

entanto, ainda não foi arbitrado.

Também nesta segunda-feira, o presidente do IBAMA, Curt Trennepohl, falou

pela primeira vez. Segundo ele os dados técnicos indicam que o vazamento foi

estancado:

Mas o óleo que está infiltrado nas rochas pode levar ainda uns três ou quatro

dias para aflorar à superfície — disse, acrescentando que a Brasco Logística

Offshore já recolheu 385 metros cúbicos de uma mistura de óleo e água. — O óleo

foi encaminhado à Ilha da Conceição, no Rio.

Criticado pela inexistência de um Plano Nacional de Contingência e pelo valor

baixo da multa do IBAMA, afirmou que o plano estaria em "fase de finalização" e

admitiu que a multa "está, sim, defasada". Mas reafirmou que, ainda que o país

tivesse plano, não seria o caso de acioná-lo. Trennepohl não quis culpar a Ecologus,

empresa responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Para ele, está claro

que a causa do acidente foi à falha na operação do poço, não as características

geológicas do local.

A inexistência de um plano nacional não convenceu o defensor público federal

do Rio André Ordacgy, que entra nesta terça-feira com dois inquéritos contra a

Chevron. Ele anunciou também que vai intimar o Ministério do Meio Ambiente a

concluir o Plano Nacional de Contingência num prazo de 90 dias:

Caso o plano não saia nesse prazo, poderemos entrar com uma ação civil

pública com pedido de liminar. Nesta ação, a ministra Izabella Teixeira poderia até

ser punida por improbidade administrativa.

A PF, que instaurou inquérito, vai ouvir depoimentos desta quarta-feira até

sexta-feira. O crime ambiental varia de um a quatro anos de reclusão, disse o

delegado Fábio Scliar.

O presidente da OAB, Ophir Cavalcante, quer que a Justiça seja acionada

pelo Ministério Público contra a Chevron. A Comissão de Meio Ambiente do Senado

aprovou requerimento para convidar representantes da Chevron e do governo. A

Comissão de Minas e Energia da Câmara, por sua vez, faz audiência pública quarta-

feira com o presidente da Chevron Brasil, George Buck.

Colaboraram: Catarina Alencastro, Henrique Gomes Batista e Mariana Durão.

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Fonte: O GLOBO. Multas de até R$ 260 milhões para punir vazamento d e óleo . Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/multas-de-ate-260-milhoes-para-punir-vazamento-de-oleo-3290358> Acesso em: 25 nov. 2014.

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ANEXO C

CHEVRON ASSINA TAC COM MPF, APÓS VAZAMENTOS DE PETR ÓLEO NO

RIO DE JANEIRO.

13/09/2013 16h42 - Atualizado em 13/09/2013 19h37

Incidentes aconteceram em Campos entre o fim de 201 1 e início de 2012.

Empresa terá que investir R$ 95 milhões em melhoria s socioambientais.

Do G1, no Rio.

Uma das responsáveis pelos vazamentos de petróleo no Campo do Frade, na

Bacia de Campos, em novembro de 2011 e em março de 2012, a Chevron assinou

um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público Federal

(MPF) na tarde desta sexta-feira (13), no Centro do Rio. O documento prevê

obrigações de precaução e prevenção de novos incidentes, além de um

investimento em melhorias compensatórias socioambientais de R$ 95 milhões. Em

2012, a Chevron chegou a pagar R$ 35 milhões a Agência Nacional de Petróleo

(ANP) pelo vazamento.

No mesmo ano, O MPF realizou uma audiência pública para divulgar as

consequências dos vazamentos e moveu duas ações civis públicas contra a

Chevron Brasil, a Chevron Latin America e a Transocean Brasil, que foram

apontadas como as culpadas pelo incidente. Cumpridas as obrigações do TAC, no

entanto, as duas ações podem até ser extintas.

Em abril de 2013, a petrolífera americana Chevron já anunciou que pretendia

retomar sua produção no Campo do Frade, conforme antecipou o diretor de

Exploração e Produção da Petrobrás, José Formigli. Segundo ele, a presidente da

Chevron, Kelly Hartshorn, comentou a intenção após a empresa obter autorizações

da Agência Nacional de Petóleo (ANP) para a retomada.

Ainda segundo informações de Formigli, ditas na ocasião, o Brasil poderá ter

autossuficiência em petróleo em 2014, com base na previsão de aumento da

produção por conta da melhora operacional da Bacia de Campos e da entrada em

operação de novas plataformas.

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Mas a autossuficiência em derivados só deverá ser atingida em 2020,

segundo o diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza. Ele explicou que chega

a 4,2% o aumento anual do consumo de derivados no país e, mantida essa média, a

autonomia pode ser atingida entre 2018 e 2020.

O diretor afirma que a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, já

tem 73% de sua obra construída, assim como o Complexo Petroquímico do Rio de

Janeiro (Comperj), em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio, já está com 51,5%

de suas instalações concluídas. O primeiro trem (unidade de refino) da Renst está

previsto para novembro de 2014; o primeiro trem do Comperj tem como data paa

operar abril de 2015.

A falta de definição sobre a possível parceria entre Renest e a petrolífera

venezuela PDVESA, Cosenza disse que a situação em nada compromete o

cronograma da refinaria pernambucana.

"Nosso último contato com representantes da Pdvesa foi em 28 de fevereiro.

Desde então aguardamos uma resposta", disse.

Consenza disse que o custo do refino dimimui 11% no primeiro trimestre de

2013 contra o trimestre anterior e a produção de derivados cresceu 6% na mesma

comparação. Segundo o diretor, as refinarias brasileiras operaram com 98% da

capacidade de suas instalações neste primeiro trimestre.

Já o diretor Financeiro e de Relações com Investidores, Almir Barbassa, disse

que até 2017 a Petrobras tem necessidade de captar US$ 61 bilhões. Mas quando

vai fazer a captação depende das condições de mercado, completou.

"O primeiro trimestre foi tranquilo do ponto de vista do caixa, a dívida total não

se moveu e isso nos dá conforto", disse.

As paradas de operação das plataformas da Petrobrasx para manutenção,

que ocorreram no primeiro trimestre de 2013 com maior frequência do que do que

no quatro trimestre de 2012, vão continuar ocorrendo no mesmo nível neste

segunde trimestre, informou Formigli, ao detalhar para investidores o resultado da

empresa no primeiro trimestre de 2013.

"As paradas programadas são a única forma de se perder a eficiência

operacional da Bacia de Campos", disse.

Fonte: G1 GLOBO. Chevron assina TAC com MPF, após vazamentos de petr óleo no RJ. Disponível em: <http://g1.globo.com/economia/negocios/noti01 jcia/2013/09/chevron-assina-tac-com-mpf-apos-vazamentos-de-petroleo-no-rj.html> Acesso em: 01 jan. 2015.

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ANEXO D

JUIZ ENCERRA PROCESSO CONTRA CHEVRON E TRANSOCEAN P OR

VAZAMENTO NO RIO

O vazamento de petróleo de uma plataforma da Chevron foi um dos maiores

desastres ambientais de 2011

Um juiz federal encerrou uma ação contra a petroleira norte-americana

Chevron e a empresa de perfuração Transocean, encerrando uma batalha jurídica

de quase dois anos de duração a respeito de um vazamento de óleo ocorrido na

costa do Rio de Janeiro em novembro de 2011.

O Ministério Público pedia uma indenização de R$ 40 bilhões por danos após

o vazamento de 3.600 barris no campo de Frade, operado pela Chevron.

O juiz federal Raffaele Felice Pirro encerrou o processo após aceitar um

termo de ajustamento de conduta com a Chevron, que obriga a empresa a gastar

cerca de R$ 300 milhões em ações compensatórias e disse que a Transocean não

tinha nenhuma responsabilidade no vazamento.

R$ 1 mi por dia

A petroleira assinou, no último dia 13, um TAC (Termo de Ajustamento de

Conduta) que prevê multa de R$ 1 milhão por dia caso não cumpra as exigências

estabelecidas no acordo com o Ministério Público, o IBAMA e a ANP (Agência

Nacional do Petróleo).

"A empresa tem interesse em cumprir. Se ela não cumprir, há uma multa

prevista de R$ 1 milhão por dia. Ninguém quer ficar pagando multa sem

necessidade", afirmou a procuradora da República Gisele Porto, que assumiu a

função de intermediar o acordo.

O TAC substitui, segundo Gisele, as duas ações judiciais --cada uma no valor

de R$ 20 bilhões-- que foram movidas contra a petroleira logo após os vazamentos.

"Nós vamos cumprir. Já cumprimos com muitas das obrigações [determinadas pelo

MPF após uma audiência pública realizada no ano passado]. E vamos continuar a

cumprir com os nossos compromissos", disse a gerente da Chevron Brasil, Eunice

de Carvalho.

Fonte: NOTICIAS UOL. Juiz encerra processo contra chevron e transocean p or vazamento no Rio . Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2013/10/01/juiz-encerra-processo-contra-chevron-e-transocean-por-vazamento-no-rio.htm> Acesso em: 01 jan. 2015.

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ANEXO E

A BRITISH PETROLEUM (BP) VAI PAGAR US$ 4,5 BI DE IN DENIZAÇÃO POR

VAZAMENTO DE PETRÓLEO NO GOLFO

O JORNAL O Estadão (2012) informa que a British Petroleum (BP) anunciou

ontem que fez um acordo com o governo dos Estados Unidos e pagará US$ 4,5

bilhões (R$ 9,3 bilhões) pelo maior desastre ambiental no país. Acordo este

decorrente do derramamento de 750 milhões de litros de óleo e 6 milhões de litros

de dispersantes químicos por 86 dias, em 2010, no Golfo do México.

Além disso, dois funcionários da petroleira foram indiciados por homicídio

culposo pela morte de 11 trabalhadores na explosão que provocou o vazamento e

um terceiro por mentir perante o Congresso durante a investigação do caso.

De acordo com o procurador-geral Eric Holder, esse acordo é o maior já feito

em um processo criminal na história dos Estados Unidos. O dinheiro - do qual US$

1,3 bilhão corresponde a multas - será usado para restaurar o meio ambiente na

região atingida, que sofreu com a morte de espécies e o fechamento à pesca

comercial, entre outros problemas. Holder também afirmou que o acordo e os

indiciamentos não encerram a investigação criminal.

O vazamento causado pela explosão na plataforma Deepwater Horizon em

abril de 2010 expôs a falta de rigor da fiscalização do governo e levou a uma

proibição temporária das perfurações em grandes profundidades. A administração

Obama enfrentou problemas políticos, em parte porque subestimou a quantidade de

óleo que vazava no fundo do mar.

Indiciados

O governo federal acusa dois responsáveis pelo poço que vazou Robert

Kaluza e Donald Vidrine, de terem agido de forma negligente ao supervisionar os

principais testes de segurança na plataforma Deepwater Horizon, antes da explosão.

Eles são acusados de não terem telefonado para engenheiros no continente para

alertar sobre os problemas na perfuração.

O outro indiciado é David Rainey, ex-presidente de exploração do Golfo do

México, acusado de falso testemunho e obstrução à investigação do Congresso. Ele

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é acusado de ter mentido ao ser questionado como calculava a taxa de vazamento

no poço afetado pela explosão, nos primeiros dias após o desastre.

Até ontem, a única pessoa indiciada por causa do desastre era um ex-

engenheiro da BP, preso em abril por obstrução da Justiça. Ele foi acusado de

apagar mensagens de texto sobre a resposta da companhia ao vazamento.

Acreditamos que essa resolução é a melhor para a BP e seus acionistas", afirmou ontem o presidente da empresa, Carl-Henric Svanberg. "Ela remove dois grandes riscos legais e nos permite defender vigorosamente a companhia contra as acusações civis existentes.

O acordo ainda deve ser aprovado por um juiz federa l.

Um juiz em New Orleans analisa separadamente uma proposta de acordo de

US$ 7,8 bilhões entre a BP e mais de 100 mil empresas e indivíduos que se dizem

prejudicados pelo acidente.

Repercussão

O grupo ambientalista Greenpeace criticou o acordo, dizendo que o valor -

que será pago num intervalo de cinco anos - é minúsculo para uma corporação do

tamanho da BP. No trimestre passado, o lucro da petroleira baseada em Londres foi

de US$ 5,5 bilhões.

Chevron pagou R$ 35 milhões após acidente em Campos

Um vazamento de petróleo em alto-mar ocorrido na Bacia de Campos há um

ano causou temor da repetição, no Brasil, do desastre ambiental envolvendo a

British Petroleum no Golfo do México em abril de 2010. A quantidade de óleo vazado

durante a perfuração de um poço da Chevron aqui, porém, foi bem menor.

A Chevron acabou multada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis (ANP) em R$ 35 milhões por irregularidades encontradas pelo

órgão regulador durante investigação sobre o primeiro vazamento da petroleira no

Campo de Frade, na Bacia de Campos, em novembro de 2011. Na ocasião, uma

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falha durante a perfuração do poço provocou o vazamento de 3,7 mil barris de óleo

no mar.

A empresa norte-americana pagou a multa no fim de setembro. Como não

recorreu da decisão, a Chevron se beneficiou do desconto de 30% previsto na

legislação. Já em relação à multa de R$ 50 milhões aplicados pelo Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), houve

recurso.

A multa da ANP referia-se a irregularidades encontradas durante processo

administrativo para apurar as causas do derramamento do ano passado. Além de

equívocos no gerenciamento da pressão, na interpretação de dados geológicos, na

injeção de água e no revestimento do poço, o documento indica que a empresa não

considerou dados de resistência da rocha na região do campo e descumpriu o seu

próprio manual de procedimentos.

Em outubro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendeu parcialmente

liminar do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) que obrigava a Chevron a

interromper todas as suas atividades no País.

Fonte: INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS. BP vai pagar US$ 4,5 bi de indenização por vazamento de petróleo no golfo. 15/11/2012. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515556-bp-vai-pagar-us-45-bi-de-indenizacao-por-vazamento-de-petroleo-no-golfo> Acesso 01 jan 2015

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ANEXO F

MPF CONTRAPÕE RECURSO NO CASO CHEVRON

A Procuradoria Regional da República da 2ª Região (PRR2) do Ministério

Público Federal (MPF) contrapôs na Justiça recursos de 12 réus - dentre eles, a

petroleira americana Chevron - no processo penal em que são julgados por

possíveis crimes cometidos no vazamento de petróleo, no Campo de Frade, na

Bacia de Campos, operado pela petroleira.

Dois vazamentos de óleo ocorreram no local. Um em novembro de 2011, com

o despejo de 3,7 mil barris de óleo, e o outro em março de 2012, que jogou ao mar

cerca de 25 barris.

Após o segundo incidente, o MPF em Campos formalizou denúncia criminal

contra as empresas Chevron e Transocean e alguns de seus executivos, por crime

ambiental e dano ao patrimônio público, movido para a jurisdição no Rio.

Inicialmente, a Justiça havia rejeitado a denúncia integralmente e o MPF no

Rio recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF). No fim do ano passado, o recurso

foi acatado pelo o TRF da 2ª região, que recebeu a denúncia e reformou a decisão

da 10ª Vara Federal Criminal do Rio, dando início ao processo. Nesse processo,

foram excluídos a Transocean e seus executivos.

Na manifestação, para contrapor recursos apresentados pelos réus, o

procurador regional João Marcos Marcondes, do MPF, refuta três alegações das

defesas: de a denúncia não individualizar condutas dos réus; de ela não caracterizar

os crimes ambientais por falta de indícios de dano desse tipo; e de os réus não

terem descumprido obrigação de relevante interesse ambiental (eles são acusados

de sonegar dados e imagens).

Em nota, o MPF reafirmou ainda que o presidente da Chevron, George Buck,

preferiu assumir o risco dos danos ao explorar reservatório que sabia estar em

condições críticas.

Além da questão criminal, após cada um dos vazamentos, o MPF em Campos

moveu uma ação civil pública com pedido de indenização de R$ 20 bilhões contra a

Chevron e a Transocean. O processo cível, também encaminhado para a jurisdição

no Rio, foi resolvido em outubro de 2013, quando a Justiça homologou um Termo de

Ajustamento de Conduta (TAC) que prevê que a Chevron empenhe R$ 95 milhões

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em medidas ambientais compensatórias. Procurada, a Chevron não respondeu até o

fechamento desta edição.

Logo após o segundo vazamento, a empresa pediu à Agência Nacional do

Petróleo (ANP) autorização para interromper a produção em Frade. Apenas em abril

do ano passado, a Chevron foi autorizada pela agência a voltar a produzir.

Entretanto, a petroleira permaneceu impedida de perfurar ou injetar gás e água em

poços, procedimentos importantes para o retorno da produção em níveis anteriores.

Na segunda-feira, a Chevron recebeu permissão da agência para reiniciar

seis poços produtores no campo de Frade. Atualmente, a empresa tem quatro poços

produtores, que produziram 19,89 mil barris de petróleo/dia, registrado em janeiro.

Fonte: Valor Econômico. MPF contrapõe recurso no caso Chevron. 05/04/2014. Disponível em <http://clickmacae.com.br/?sec=47&pag=noticia&cod=11745> Acesso em 01 jan 2015.

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ANEXO G

AUTORIDADES BRASILEIRAS ALIVIAM A BARRA DA CHEVRON POR

VAZAMENTO NO RIO

Ministério Público queria indenizações de R$ 20 bi na época do

derramamento. Cogitou-se expulsar empresa do país. Quase dois anos depois,

multas não passarão de R$ 150 milhões.

Desastre saiu barato: em um mês, de Frade, a Chevron extrai em torno de

R$ 100 milhões.

São Paulo – As autoridades brasileiras desistiram de estabelecer punições

mais severas às empresas responsáveis pelo acidente geológico no Campo de

Frade, na Bacia de Campos, que em novembro de 2011 provocou o vazamento de

3,7 mil barris de petróleo na costa fluminense. Novos derramamentos voltaram a

ocorrer em março de 2012, e indícios revelam que o petróleo continua escorrendo

até hoje.

As ameaças de expulsar a Chevron do país, suspender suas atividades,

processá-la e aplicar-lhe uma multa de R$ 20 bilhões pelos danos causados ao

ecossistema marinho se reduziram a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)

considerado “insuficiente” por profissionais da área. Engenheiros e sindicalistas

acreditam que o acordo, além de não castigar a empresa pela sua falta de

compromisso com a segurança e o meio ambiente, tampouco servirá para evitar

novos acidentes.

O documento foi assinado na última sexta-feira (13) pelo Ministério Público

Federal (MPF), pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

(ANP) e pelo Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) com as companhias responsáveis pelo derramamento. Além da

Chevron, o acidente também contou com a participação da empresa perfuradora

suíça TransOcean.

Trocadinhos

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O protocolo determina que a Chevron tenha de pagar R$ 95 milhões em

compensações socioambientais, além das multas de R$ 25 milhões e R$ 42 milhões

que já havia destinado, respectivamente, aos cofres da ANP e do IBAMA. No total,

considerando-se o desconto de 30% que a empresa pode conseguir junto às

autoridades, como ocorreu nas indenizações anteriores, os vazamentos no Campo

de Frade implicarão em punições inferiores a R$ 150 milhões: menos de 1% do valor

inicialmente pretendido pelo MPF.

“A Chevron produz no Campo de Frade em torno de 15 mil barris de petróleo

por dia. Basta multiplicar essa quantidade por 100 dólares, posto ser este o preço do

barril, e por 30, que são os dias do mês, e se perceberá que o TAC assinado com as

autoridades brasileiras é irrelevante em vista dos lucros da empresa e dos danos

que causaram e ainda estão ao meio ambiente”, segundo a critica José Maria

Rangel, diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP). A conta dá em torno de

R$ 100 milhões mensais.

“É uma demonstração muito clara de que meio ambiente, saúde e segurança

não têm a devida atenção dos órgãos de fiscalização brasileiros”, continua. “Esse

descaso estimula as empresas a descumprirem as normas. Elas têm a clareza de

que o crime compensa, porque a penalidade é ínfima em relação à sua lucratividade.

As empresas são praticamente estimuladas a não investir em segurança devido à

frouxidão das leis.”

Manchas

A benevolência das autoridades brasileiras se agrava, na visão do

sindicalista, lembrarmos que as companhias responsáveis pelo acidente no Campo

de Frade possuem histórico desfavorável de danos socioambientais causados em

outros países. Rangel lembra que a TransOcean é a companhia que fazia

perfurações na plataforma Deepwater Horizon, no Golfo do México, a pedido da

British Petroleum (BP), quando a estrutura explodiu, em abril de 2010.

Na ocasião, onze trabalhadores morreram. A plataforma pegou fogo durante

dois dias antes de afundar, e petróleo vazou livremente durante 87 dias. Ao todo, 4,9

milhões de barris escorreram para o meio ambiente marinho, chegando a praias dos

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Estados Unidos. Os danos à flora e à fauna são incalculáveis. Foi um dos maiores

desastres da história da indústria petrolífera.

A Chevron, por sua vez, foi condenada em 2011 pela justiça do Equador a

pagar indenizações de 19 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 40 bilhões) para

paliar os danos ambientais causados por sucessivos derramamentos de petróleo

ocorridos entre 1964 e 1992, período em que operou no país. Perícias indicam que a

empresa – na época conhecida como Texaco – lançou aproximadamente 1,5 bilhão

de galões de petróleo e outros elementos tóxicos diretamente no solo e cursos

d'água da Amazônia equatoriana.

O número de atingidos beira os 30 mil, entre camponeses e indígenas. A

chegada da empresa promoveu a extinção de dois povos tradicionais e dobrou a

taxa de ocorrência de câncer nas populações locais. Os danos estão fartamente

documentados e podem ser vistos a olho nu por quem visitas as regiões produtoras

da província de Sucumbíos. Apesar disso, a Chevron se nega a pagar as multas,

argumentando que o processo foi manipulado. A batalha judicial já dura quase 20

anos, e está longe de acabar.

Descaso

Em magnitude, o acidente causado por Chevron e TransOcean no Rio de

Janeiro nem se compara aos negros e viscosos vestígios que ambas companhias

deixaram em suas passagens pelo Golfo do México e pela Amazônia equatoriana.

“Mas, aqui, os danos não foram provocados apenas pelo vazamento do óleo: houve

prejuízos à formação rochosa. Isso é muito mais complicado”, pontua Fernando

Mainier, professor de Gás e Petróleo na Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Ao causar acidentes geológicos desse tipo, as empresas colocam em risco

a viabilidade econômica de todo o reservatório. E a perda de um reservatório

significa a perda de dividendos para o país.” Mainier lembra que o acidente na Bacia

de Campos poderia ter inviabilizado permanentemente uma fonte de riquezas que

não pertence à companhia, mas ao Estado brasileiro. Felizmente, não foi o que

aconteceu. Tanto que, em abril, a Chevron retomou a extração no Campo de Frade,

após tê-la suspendido voluntariamente em março.

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De acordo com o vice-presidente da Associação de Engenheiros da

Petrobras, Fernando Siqueira, as razões que levaram ao acidente na Bacia de

Campos foram às mesmas que provocaram a tragédia no Golfo do México:

economia de recursos. “E a grande responsável é a Chevron”, explica, lembrando

que a TransOcean estava perfurando no Campo de Frade cumprindo ordens da

empresa norte-americana.

“A mesma TransOcean, que causou esses acidentes, já furou cerca de 30

poços dentro e fora do pré-sal por encomenda da Petrobras sem problema nenhum,

porque a Petrobras segue as regras”, anota. “É uma empresa estatal, com controle

social, e não faz esse tipo de concessão à segurança. As empresas internacionais,

porém, costumam ter esse descuido com o meio ambiente.”

Frouxidão

Por isso, Siqueira acredita que o TAC não ajuda muito. “Mesmo assinando

esse documento, não quer dizer que as companhias vão cumpri-lo.” O engenheiro

tampouco aposta numa solução que passe pela aplicação de multas bilionárias.

“Elas ficam contestando os valores na justiça.” Mais eficaz seria intensificar a

fiscalização no sentido de assegurar investimentos suficientes em segurança.

“Os projetos de perfuração devem se preocupar com o meio ambiente. Mas

as empresas internacionais se preocupam apenas com o lucro: querem reduzir os

custos de produção sem se importar muito com acidentes e derramamentos. Por

isso, a fiscalização é um ponto principal, e a ANP deveria ter maiores condições de

realizar seu trabalho. Hoje não tem.”

Em 2011, durante as investigações sobre o acidente, o MPF apurou que

Chevron e TransOcean não foram capazes de controlar os danos causados pelo

vazamento dos 3,7 mil barris no Campo de Frade, o que evidenciaria a falta de

planejamento e gerenciamento ambiental das empresas.

Na época, o procurador da República no Rio de Janeiro, Eduardo Santos de

Oliveira, afirmou que as empresas demoraram para fechar o poço e cimentar as

fontes de vazamento, insistindo na alegação de que o acidente era ínfimo. Além

disso, a técnica utilizada pela Chevron para conter o derramamento não surtiu efeito,

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pois o cimento usado seria instável, o que revela o despreparo e descaso da

empresa.

“Estamos satisfeitos com a resolução do TAC e permanecemos

comprometidos com nossa política de transparência e estreita colaboração com as

autoridades brasileiras”, afirmou, em nota, a presidente da Chevron Brasil, Eunice de

Carvalho. Nenhum diretor da empresa quis gravar entrevista. “Nos incidentes do

Frade, agimos de acordo com as melhores práticas da indústria, e o monitoramento

contínuo da área mostrou que não houve impacto ambiental perceptível.”

Procurados, ANP, IBAMA e MPF não comentaram o assunto.

BREDA, Tadeu. Autoridades brasileiras aliviam a barra da Chevron por vazamento no rio. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2013/09/autoridades-brasileiras-aliviam-a-barra-da-chevron-em-acidente-no-campo-de-frade-2041.html> acesso em 28 abr. 2015.