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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA MESTRADO EM DIREITO EMPRESARIAL E CIDADANIA PALOMA CARVALHO ZAMBON LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ: ESTUDO SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS CURITIBA 2018

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA

MESTRADO EM DIREITO EMPRESARIAL E CIDADANIA

PALOMA CARVALHO ZAMBON

LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ:

ESTUDO SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

CURITIBA

2018

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PALOMA CARVALHO ZAMBON

LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ:

ESTUDO SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Dissertação apresentada ao Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Edmilson de Souza

Lima

CURITIBA

2018

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PALOMA CARVALHO ZAMBON

LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ: ESTUDO

SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

Dissertação apresentada ao Mestrado em Direito do Centro Universitário Curitiba –

UNICURITIBA, área de concentração Direito Empresarial e Cidadania, linha de pesquisa

I - Obrigações e Contratos Empresariais – Responsabilidade Social e Efetividade, como

requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Orientador: Professor Doutor José

Edmilson de Souza Lima.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________________________

Professor Doutor José Edmilson de Souza Lima (Orientador)

Centro Universitário Curitiba

_________________________________________________________

Professora Doutora Sandra Mara Maciel de Lima

Centro Universitário Curitiba

__________________________________________________________

Professora Doutora Daniele Regina Pontes

Universidade Federal do Paraná

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Dedico à minha querida mãe.

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AGRADECIMENTOS

Ao concluir essa pesquisa e essa fase tão marcante na minha vida que foi o

curso de mestrado, a única palavra que pode expressar meu sentimento é:

GRATIDÃO!

Gratidão a Deus que sempre foi e é muito bom comigo: que me concedeu a

vida com uma família maravilhosa; que me presenteou com energia, capacidade física

e cognitiva de concluir essa pesquisa; que sempre me oferece ótimas oportunidades;

que me protege e, ainda, coloca pessoas incríveis no meu caminho.

Gratidão a Nossa Senhora de Aparecida e Santa Rita de Cássia por sempre

estarem ao meu lado, em todos os momentos, me guardando e iluminando minha

vida.

Gratidão à melhor mãe que eu poderia escolher: Cláudia Carvalho, minha

melhor amiga, confidente, companheira, compreensiva. Gratidão por todo amor, por

sempre me dizer as melhores palavras de apoio, por me incentivar em tudo e me dar

forças para seguir em frente nos momentos de desânimos.

Gratidão aos meus avós Sandra Maria Medina Carvalho e José Carlos

Carvalho, por todo amor, carinho, cuidado e assistência que sempre me deram.

Gratidão ao meu namorado Bertrand Le Guilloux, pela cumplicidade, pelas

conversas, e por todo amor nos momentos de lazer e de trabalho.

Gratidão ao meu orientador, que eu admiro muito como profissional e como

pessoa, o professor José Edmilson de Souza Lima por todos os ensinamentos que

vão muito além da pesquisa e que, certamente, eu levarei para toda a vida. Minha

sincera gratidão por toda sua paciência, dedicação, carinho ao lecionar e por sempre

me deixar ser eu mesma!

Gratidão às professoras Sandra Mara Maciel de Lima e Carolina dos Anjos de

Borba pelas considerações construtivas e pela maneira gentil como elas foram

expostas, com certeza agregaram muito a essa pesquisa e à Paloma, como

pesquisadora.

Gratidão à professora Viviane Coelho de Séllos-Knoerr, pessoa gentil,

carinhosa e atenciosa, que me motivou a fazer o mestrado e a quem tenho profunda

admiração!

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Da mesma forma, minha gratidão aos demais professores do mestrado por todo

enriquecimento que me trouxeram, e à Josilene Mariano da Silva por sua gentileza e

por estar sempre disposta a ajudar!

Enfim, gratidão ao Universo e ao seu fluxo maravilhoso que emana uma energia

incrível a quem consegue sentir! GRATIDÃO, GRATIDÃO, GRATIDÃO!

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Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. Ser um ser humano é trabalhar por algo além de si mesmo.

VIKTOR FRANK

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RESUMO

Um grande sintoma da crise socioambiental decorrente do estilo de vida contemporâneo pautado no consumismo é a poluição por gestão inadequada dos resíduos sólidos. Através de algumas práticas como a coleta seletiva e a logística reversa, é possível facilitar a reciclagem de materiais e diminuir a quantidade de lixo disposta nos aterros sanitários, de modo que esses materiais, suscetíveis a reaproveitamento voltem à cadeia de produção, o que possibilita benefícios ao meio ambiente, como a atenuação da extração de recursos naturais e matérias primas necessários à produção de novos insumos. A Lei 12.305/10 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dispõe de alguns instrumentos, diretrizes e metas a fim de garantir a gestão adequada dos resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável do país. No entanto, para que isso seja efetivado, é necessário haver a inserção social dos catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, vez que o fortalecimento das associações/cooperações proporciona o melhoramento da gestão dos resíduos sólidos. O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social, criado pelo Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar Estadual) com convênio técnico-financeiro junto à Companhia de Saneamento Básico do Paraná (Sanepar) que se propõe a prestar auxílio às Cooperativas e/ou Associações de catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, a fim de promover o fortalecimento e a inserção desse segmento social e melhorar a qualidade da gestão dos resíduos sólidos, de modo a gerar benefícios socioambientais. Esta dissertação tem o intuito de verificar em que medida o Programa Ecocidadão Paraná consegue cumprir as exigências dispostas na Lei 12.305/2010 e ampliar espaços para a cidadania dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. Além disso, a presente dissertação também verifica alguns objetivos e instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Para alcançar os objetivos desta dissertação foi realizada pesquisa bibliográfica através de análise de dispositivos legais, análise quali-quantitativa de documentos secundários, como dossiês de órgão públicos e privados, pesquisas e dados acerca da problemática dos resíduos sólidos, buscas doutrinárias e bibliográficas acerca do tema em bibliotecas, acervo pessoal e diversos sítios da internet, principalmente em páginas de órgãos públicos e revistas virtuais. Em segundo instante, para realizar o estudo do Programa Ecocidadão Paraná, foi feita a coleta e a análise quali-quantitativa de documentos secundários, como dados e relatórios, provenientes da fonte direta, o Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR. A partir da pesquisa, foi possível verificar que o Programa Ecocidadão Paraná é uma maneira interessante de melhorar a produção de reciclados, contudo ainda se mostra limitado quanto à promoção da cidadania e a inserção social dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento sustentável; Catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis; Gestão de Resíduos Sólidos; Responsabilidade socioambiental; Lei 12.305/10.

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ABSTRACT

A serious symptom of the socioenvironmental crisis resulting from the contemporary lifestyle based on consumerism is the pollution caused by inadequate management of solid waste. Through some practices such as selective collection and reverse logistics, it is possible to facilitate the recycling of materials and reduce the amount of waste disposed in landfills, so these materials, susceptible to reuse, return to the production chain, which provides benefits to the environment, such as the attenuation of the extraction of natural resources and raw materials necessary for the production of new inputs. The National Solid Waste Policy established by the Law 12.305/10 has some instruments, guidelines and targets in order to ensure the adequate management of solid waste and the sustainable development of the country. However, in order to achieve this, it is necessary to have the social insertion of collectors of recyclable and/or reusable materials, since the strengthening of associations/cooperations provides the improvement of solid waste management. The Ecocidadão Paraná Program is a social program created by the Paraná Volunteer Program (Provopar Estadual) with a technical-financial agreement with the Paraná Basic Sanitation Company (Sanepar), which proposes to provide assistance to cooperatives and/or associations of collectors of recyclable and/or reusable materials in order to promote the strengthening and insertion of this social segment and improve the quality of solid waste management in order to generate socio-environmental benefits. This dissertation aims to verify the extent to which the Paraná Ecocidadão Program is able to fulfill the requirements established in Law 12.305/2010 and to expand spaces for the citizenship of collectors of recyclable and reusable materials. In addition, the present dissertation also verifies some objectives and instruments of the National Policy of Solid Waste. In order to reach the objectives of this dissertation, a bibliographic research was carried out through analysis of legal devices, qualitative and quantitative analysis of secondary documents, such as public and private organ dossiers, research and data on solid waste issues, doctrinal and bibliographic searches on the subject in libraries, personal collection and various websites, mainly on pages of public agencies and virtual magazines. Secondly, in order to carry out the study of the Ecocidadão Paraná Program, the qualitative and quantitative analysis of secondary documents, such as data and reports, from the direct source, the Paraná Volunteer Program - PROVOPAR, was carried out. From the research, it was possible to verify that the Ecocidadão Paraná Program is an interesting way to improve the production of recycled products, yet it is still limited in the promotion of citizenship and the social insertion of collectors of recyclable and reusable materials

KEY WORDS: Sustainable development; Collectors of recyclable and/or reusable materials; Solid waste management; Socio-environmental responsibility; Law 12.305/10.

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LISTA DE FIGURAS E TABELAS

FIGURA 1 – A GRANDE MANCHA DE LIXO NO PACÍFICO.......................24

FIGURA 2 – INFOGRAFIA DE PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS. A

GRANDE MANCHA DE LIXO NO PACÍFICO ..............................................25

FIGURA 3 – GESTÃO ADEQUADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS................50

FIGURA 4 – A LOGÍSTICA REVERSA, A RESPONSABILIDADE

COMPARTILHADA E OS ACORDOS

SETORIAIS....................................................................................................53

FIGURA 5 – LIXÃO ESTRUTURAL EM BRASÍLIA –DF................................60

FIGURA 6 – ELEVADOR DE FARDO CEDIDO PELO PROGRAMA

ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................66

FIGURA 7 – DINÂMICA EM GRUPO REALIZADA PELO PROGRAMA

ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................67

FIGURA 8 – CURSO TÉCNICO OFERTADO PELO PROGRAMA

ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................68

TABELA 1 – DESTINO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS POR UNIDADES

DE DESTINO DOS RESÍDUOS NO BRASIL ................................................46

TABELA 2 – NÚMERO DE ASSOCIAÇÕES QUE PARTICIPARAM DO

PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ DURANTE O PERÍODO DE 2011 A

2016 ...............................................................................................................72

TABELA 3 – COMPARATIVO DA RENDA MÉDIA DOS CATADORES ANTES

E DEPOIS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ NO PRIMEIRO

SEMESTRE DE 2016 ....................................................................................76

TABELA 4 – COMPARATIVO DA RENDA MÉDIA DOS CATADORES ANTES

E DEPOIS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ NO PRIMEIRO

SEMESTRE DE 2014 ....................................................................................77

TABELA 5 – PRODUTIVIDADE DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ

REFERENTE À RECICLAGEM DE MATERIAIS E SEPARAÇÃO DE

REJEITOS NOS ANOS DE 2013, 2014 E 2015 (ATÉ OUTUBRO) ..............78

TABELA 6 – RESULTADOS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ DE

JANEIRO A OUTUBRO DE 2015 ..................................................................79

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LISTA DE SIGLAS

ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e

Resíduos Especiais

CCC - Contas de Consumo de Combustíveis

CF - Constituição Federal

CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento

CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente

EIA - Estudo de Impacto Ambiental

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

MMA - Ministério do Meio Ambiente

ONU - Organização das Nações Unidas

PIB - Produto Interno Bruto

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos

PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PROVOPAR - Programa do Voluntariado Paranaense

RIMA - Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente

SANEPAR - Companhia de Saneamento Básico do Paraná

SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNVS - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11

2 SOCIEDADES DE CONSUMO E CRISE SOCIOAMBIENTAL ................... 15

2.1 OS SERES HUMANOS E OS RECURSOS NATURAIS .......................... 15

2.2 A CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL ................................................... 15

3 A CRISE SOCIOAMBIENTAL E O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

.................................................................................................................................. 24

3.1 O DEBATE GLOBAL SOBRE A CRISE SOCIOAMBIENTAL ................... 24

3.2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

DE 1988 .......................................................................................................... 38

4 A LEI 12.305/10 QUE INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS

SÓLIDOS ........................................................................................................ 44

4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................ 44

4.2 A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA E A LOGÍSTICA REVERSA

.................................................................................................................................. 51

4.3 A VALORIZAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E

REUTILIZÁVEIS ............................................................................................. 56

5 ESTUDO DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ ................................ 64

5.1 DESCRIÇÃO ............................................................................................ 64

5.2 METODOLOGIA APLICADA PELO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ

.................................................................................................................................. 66

6 SÍNTESE DOS RESULTADOS ................................................................... 72

6.1 QUANTO AO FORTALECIMENTO DAS ASSOCIAÇÕES E A RENDA DOS

CATADORES ................................................................................................. 72

6.2 QUANTO AOS RECICLADOS .................................................................. 78

CONCLUSÃO ................................................................................................. 80

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 84

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1 INTRODUÇÃO

O padrão de vida atual da sociedade evidencia o grande conflito entre a

natureza e a sociedade de consumo. O surgimento do plástico e dos descartáveis, o

culto ao novo e o consumo exacerbado têm como consequência a geração demasiada

de resíduos sólidos que, se dada a destinação ambientalmente inadequada, pode

causar graves e irreversíveis danos ao meio ambiente.

A discussão da problemática ambiental surgiu em meados dos anos de 1960,

mas entrou mesmo em ascensão na década de 1970 com a Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo. A partir de então, líderes mundiais

reconheceram oficialmente a crise socioambiental e assumiram a urgente

necessidade da mudança de rumo sobre o desenvolvimento mundial (NAÇÕES

UNIDAS NO BRASIL, 2018).

Diante disso, surgiu a necessidade de quebrar paradigmas pautados no

antropocentrismo e no fundamentalismo de mercado, e de rever a racionalidade a

partir de um novo conceito de meio ambiente, considerando as variáveis ambientais,

sociais e econômicas.

Sendo assim, ocorreu o surgimento de uma nova preocupação: a de promover

o desenvolvimento humano e econômico sem esquecer-se da natureza, de modo a

preservá-la para esta e as futuras gerações. Daí emergiu o conceito de

sustentabilidade.

Não obstante esse tema ter sido uma das principais questões nas agendas

políticas mundiais durante o final da década de 1960 e início da década de 1970, o

Brasil se mostrou resistente a adotar práticas sustentáveis durante um bom período,

e somente em 1988 com a promulgação da Constituição Federal foi que o país

assumiu oficialmente o desenvolvimento sustentável como valor supremo e objetivo

da República.1

No Brasil e no mundo, a crise socioambiental é um desafio real a ser enfrentado

pela a administração pública, pelas empresas e pela população em geral, vez que o

desequilíbrio provocado pela destruição ambiental e pelo esgotamento dos recursos

1 A partir da interpretação sistemática do Preâmbulo da Constituição Federal de 1988, do art. 225, do art. 170 e de vários outros dispositivos constitucionais, é possível afirmar que o desenvolvimento sustentável é valor supremo e objetivo da República. O terceiro capítulo da dissertação contém um tópico que aborda o desenvolvimento sustentável na Constituição de 1988 mais detalhadamente.

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naturais coloca em risco, além da sobrevivência de espécies animais e plantas, da

própria humanidade. Com o propósito de enfrentar esse problema, um tema

importante a ser tratado é o da gestão dos resíduos sólidos.

No Brasil, foram gerados 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos

urbanos em 2016, com índice de cobertura de coleta em 91%, deste modo 7 milhões

de toneladas de resíduos sólidos não foram coletados no país, o que

consequentemente acarretou na sua destinação incorreta. (ABRELPE, 2016)

Em contrapartida, os níveis de recuperação de materiais recicláveis no país

ainda são baixos, em 2016 a média nacional de reaproveitamento de materiais é de

4,08%. A melhor média é a do estado do Paraná, com 8,9% de materiais

reaproveitados (MENEZES, 2016).

Segundo publicados em 2016 pelo Programa das Nações Unidas para o

Ambiente (Pnuma) – o Global Waste Management Outlook – que realizou a estimativa

global referente à situação dos resíduos sólidos, no Brasil cada habitante produz cerca

387 kg de resíduos sólidos urbanos por ano, quantidade similar à de países com

melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) e de produto interno bruto (PIB)

como a Croácia (também 387 kg), a Hungria (385 kg) e maior que a de nações como

o Japão (354 kg) ou Coreia do Sul (358 kg). No entanto, esses países trabalham com

taxas mínimas de 96% dos resíduos destinados corretamente. (GIRARDI, 2016)

A partir da prática de alguns instrumentos como a coleta seletiva e da logística

reversa, é possível facilitar a reciclagem do material reciclável ou reutilizável e diminuir

a quantidade de lixo disposta nos aterros sanitários, de modo que esses materiais

suscetíveis a reaproveitamento voltem à cadeia de produção, e possibilitem a

atenuação da extração de recursos naturais e matérias primas necessários à

produção de novos insumos.

Nesse sentido, aspirando ao desenvolvimento sustentável do país, foi

sancionada a Lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS), após vinte e um anos de discussão no Congresso Nacional (FEDERAÇÃO

DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012), a qual dispõe de diretrizes

e metas para a gestão e o gerenciamento de Resíduos Sólidos, adotando práticas

sustentáveis que considerem as variáveis sociais, ambientais e econômicas.

Por conseguinte, a referida Lei fez questão de evidenciar a valorização de uma

figura social essencial para o cumprimento das metas dispostas pela PNRS, os

catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. A Lei 12.305/10 incentiva,

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expressamente, o apoio às associações e/ou cooperativas de catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis, a fim de fortalecer esse segmento social. Para isso a

inserção social dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis mostra-se

fundamental, tendo em vista que o fortalecimento dessas Associações/Cooperativas

proporciona, de maneira geral, melhor gerenciamento e gestão dos resíduos sólidos.

Vale salientar que tendo em vista a abordagem do Programa de Mestrado em

Direito Empresarial e Cidadania do Unicuritiba, a dissertação atende às questões de

cidadania e responsabilidade social, relacionadas às diretrizes fundamentais da

sustentabilidade, da inclusão social e dignidade da pessoa humana, ao tratar de

assuntos como, por exemplo, a importância da preservação e da educação ambiental,

a necessidade de mudança dos padrões de consumo e a valorização dos catadores

de materiais recicláveis e reutilizáveis.

A presente pesquisa tem como base de estudo a Constituição Federal de 1988

e a Lei infraconstitucional nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos

Sólidos a fim de melhorar a qualidade do meio ambiente a partir do gerenciamento e

da gestão adequada do lixo.

De maneira que, a presente dissertação concentrou-se em analisar, a partir da

análise e da síntese dos resultados do Programa Ecocidadão Paraná, em que medida

esse programa social consegue alcançar as exigências prescritas na Lei 12.305/2010,

orientando e dando apoio às associações e cooperativas de catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis ao redor do Estado do Paraná e, como o Programa

Ecocidadão Paraná auxilia no cumprimento de algumas metas e diretrizes

estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos.

O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social criado pelo

Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) em convênio técnico-financeiro

com a Companhia de Saneamento Básico do Paraná (Sanepar) em 2011. Este

programa se propõe a trabalhar dando auxílio às associações e/ou cooperações de

catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, através de cursos técnicos de

capacitação sobre manejo de resíduos sólidos e incremento de maquinário.

(PROVOPAR, 2018)

Além disso, este estudo também tem como objetivo verificar se alguns dos

instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos têm conseguido melhorar a

qualidade da gestão dos resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável brasileiro.

A partir da análise desses temas específicos, a dissertação verifica, ainda, em que

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medida o Programa Ecocidadão Paraná consegue ampliar espaços para a cidadania

dos coletores de materiais recicláveis e reutilizáveis.

Para alcançar os objetivos desta dissertação foi realizada pesquisa bibliográfica

através de análise de dispositivos legais, análise quali-quantitativa de documentos

secundários, como dossiês de órgão públicos e privados, pesquisas e dados acerca

da problemática dos resíduos sólidos, buscas doutrinárias e bibliográficas acerca do

tema em bibliotecas, acervo pessoal e diversos sítios da internet, principalmente em

páginas de órgãos públicos e revistas virtuais. Em segundo instante, para realizar o

estudo do Programa Ecocidadão Paraná, foi feita a coleta e a análise quali-quantitativa

de documentos secundários, como dados e relatórios, provenientes da fonte direta, o

Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR.

A dissertação está dividida em sete capítulos sendo que o primeiro é a presente

introdução. No segundo capítulo é apresentada uma contextualização histórica da

crise socioambiental.

O terceiro capítulo consiste em expor o surgimento da racionalidade ambiental

e dos principais debates acerca da crise socioambiental ao redor do mundo e no Brasil

desde a Constituição Federal de 1988.

O quarto capítulo análise os principais aspectos jurídicos sobre a gestão dos

resíduos sólidos no Brasil e dos principais instrumentos estabelecidos pela Lei

12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a fim de solucionar a

problemática dos resíduos sólidos no país. Ademais, é analisada a questão referente

à valorização dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e a relevância da

prática da cidadania para o desenvolvimento sustentável e a inserção social desse

segmento.

No quinto inicia-se o estudo do Programa Ecocidadão Paraná, é feita a

descrição do programa, a metodologia aplicada na capacitação dos catadores de

materiais recicláveis e reutilizáveis e os objetivos desse projeto social.

Por fim, o sexto capítulo expõe e analisa a síntese dos resultados atingidos pelo

Programa Ecocidadão Paraná. E o último capítulo expõe as conclusões derivadas da

pesquisa.

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15

2 SOCIEDADES DE CONSUMO E CRISE SOCIOAMBIENTAL

2.1 OS SERES HUMANOS E OS RECURSOS NATURAIS

Os seres humanos sempre utilizaram dos recursos naturais para a sua

sobrevivência, desenvolvimento de atividades, conforto e bem-estar. No entanto,

durante um longo período, sabe-se que a relação homem-natureza se dava de

maneira equilibrada, como um todo, sem a separação de um e outro e sem o domínio

e a relação de posse do ser humano sobre a natureza.

Há cerca de 10 mil anos, com a Revolução Agrícola, os seres humanos se

tornaram mais vulneráveis que os caçadores-coletores no que diz respeitos a

aspectos de saúde que jamais tinham os afetado: o clima, problemas com nutrição,

as doenças e as pestes, artrites e dores decorrentes de trabalhos que não faziam

parte da vida humana, como carregar baldes e passar horas arando o solo. Ainda, “As

pessoas que não se afastaram dos resíduos gerados por eles próprios

experimentaram a primeira poluição crônica da humanidade.” (MEADOWS, 2007, p.

267)

A partir da Revolução Agrícola, já fixados em grandes áreas, os Homo Sapiens

criaram civilizações com bases sociais, políticas e econômicas, o que gerou um

grande aumento populacional, em 10.000 a.C. contavam em torno de 10 milhões de

seres humanos no planeta (MEADOWS, 2007, p. 266). Com toda a expansão de

civilizações e surgimento de novas, em 1750 o número de Homo Sapiens já estava

em 800 milhões de pessoas, de modo que havia muita escassez especialmente de

terras e energia. Portanto, foi necessária outra revolução: a industrial. (MEADOWS,

2007, p. 267)

2.2 A CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL

A Revolução Industrial começou na Inglaterra com a utilização da combustão

do carvão como fonte de energia. Com isso, ocorreu o grande boom populacional da

história, em 1700 estima-se que haviam cerca de 700 milhões de humanos; em 1800

a população humana mundial era em torno de 950 milhões; em 1900 esse número era

de 1,6 bilhão de sapiens na Terra; e, nos anos 2000, quadruplicou para 6 bilhões.

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16

Atualmente, já passa de 7 bilhões e esse número só aumenta. (CENSUS BUREAU’S

POPULATION ESTIMATES PROGRAM, 2018)

Ainda, tendo em vista a combinação de mão de obra abundante e barata

(operários), junto a energia abundante e barata, e ainda matérias-primas abundante e

barata, a Revolução Industrial também gerou uma explosão na produtividade humana,

de modo que ocasionou a utilização de recursos naturais e a geração de resíduos

como nunca antes na história do planeta Terra.

Além disso, a Revolução Industrial causou uma série de mudanças na vida

cotidiana, nos ditames sociais e na mentalidade humana, como por exemplo: a

mudança da perspectiva de tempo, a substituição dos ritmos da agricultura tradicional

pelo cronograma preciso de horários da indústria; o trabalho industrial por produção

em série e linha de montagem, onde cada operário maneja uma máquina que

corresponde a fabricação de apenas uma parte do produto final; o trabalho se tornou

mais árduo e degradante nas indústrias; a diminuição dos camponeses e a ascensão

do proletariado; a urbanização; o empoderamento do indivíduo comum; a

democratização, entre outras mudanças sociais e políticas.

Não obstante, a maior transformação social foi a ascensão do Estado e do

mercado. A Revolução Industrial ofereceu grandes poderes ao mercado e proveu ao

Estado novas organizações, como policiais, professores e assistentes sociais. Como,

de início, as comunidades e famílias tradicionais tinham pouca afeição por qualquer

intervenção externa, o Estado juntamente do mercado utilizaram de várias estratégias

para incentivar a liberdade individual. (HARARI, 2017, p. 370)

Com isso, o poder das culturas e tradições foram mitigadas, bem como o modo

de pensar como membros de uma comunidade. A grande maioria dos indivíduos, na

contemporaneidade, não enxergam-se mais como membros de uma comunidade, e

sim como indivíduos autônomos. Isto gera uma consequência, que é a perda de uma

sociedade voltada aos sentidos coletivos, atenta às necessidades presentes e futuras

dos seres humanos e não humanos, e ao fortalecimento de uma sociedade

individualista e egoísta, voltada principalmente ao fundamentalismo de mercado.

Por conseguinte, para propor vínculos tribais, os Estados e os mercados

promovem espécies de comunidades imaginadas, que contém milhões de pessoas

estranhas umas às outras, mas são adaptadas para necessidades comerciais e

nacionais. Os maiores exemplos disso são o consumismo e o nacionalismo, ambos

são imaginados, visto ser impossível que todos os consumidores de um mercado ou

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17

todos os membros de uma nação realmente se conheçam de fato. (HARARI, 2017, p.

373)

Com todas essas mudanças sociais e civilizatórias, a estrutura capitalista

requer um aumento constante de produção para sobreviver, para mantê-la, no

entanto, além de produzir muito, faz-se necessário muitos consumidores. Para

garantir que as pessoas estejam sempre comprando e consumindo o que quer que a

indústria e o mercado produzam, surgiu uma nova ética: o consumismo.

De acordo com Bauman, na chama de fase “sólida” da modernidade, o

consumo era baseado principalmente na segurança. Nos termos do sociólogo

polonês,

Na era sólido-moderna da sociedade de produtores, a satisfação parecia de fato residir, acima de tudo, na promessa de segurança a longo prazo, não no desfrute imediato de prazeres. Essa outra satisfação, se alguém se entregasse a ela, deixaria o sabor amargo da imprevidência, se não do pecado. A utilização, no todo ou em parte, do potencial dos bens de consumo para oferecer conforto e segurança precisava ser adiada, quase indefinidamente, no caso de terem deixado de realizar a principal função da mente de seu dono quando foram, de maneira laboriosa, montados, acumulados e estocados – ou seja, a função de continuar em serviço enquanto pudesse surgir a necessidade de usá-los (praticamente “até que a morte os separe”). Apenas bens de fato duráveis, resistentes e imunes ao tempo poderiam oferecer a segurança desejada. Só esses bens tinham a propensão, ou ao menos a chance, de crescer em volume, e não diminuir – e só eles prometiam basear as expectativas de um futuro seguro em alicerces mais duráveis e confiáveis, apresentando seus donos como dignos de confiança e crédito. (BAUMAN, 2008, p. 43)

No entanto, a era sólido-moderna da sociedade de produtores, a qual

dignificava o trabalho, a produção e o acúmulo de riquezas para garantir estabilidade

perdeu espaço para o consumismo, que se desenvolveu de forma que é normal e bem

visto comprar diversos produtos os quais ninguém realmente precisa ou sequer sabia-

se de sua existência até a compra. Ainda, foi criada a obsolescência programada a

fim de fomentar todo esse ciclo infinito de consumo, e os fabricantes produzem

premeditadamente bens de vida útil curtíssima e inventam novos designs e modelos

de produtos que devem ser – desnecessariamente - comprados para seguir as

tendências do mercado.

Além disso, na contemporaneidade, o consumismo é tão forte que chega a ser

a base de identidade de muitas pessoas, que são definidas acima de tudo por aquilo

que consomem. Nas palavras de Bauman (2008, p. 41)

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Pode-se dizer que o “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, “neutros quanto ao regime”, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais. O “consumismo” chega quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho.

Desse modo, além dos problemas ecológicos ocasionados pelo consumismo,

como a depredação de recursos naturais, desmatamento, poluição do ar, das terras e

das águas, geração demasiada de resíduos e rejeitos, e tantos outros problemas,

ainda existem grandes problemas sociais decorrentes disso, é que acredita-se ter

afetado a qualidade e a profundidade das relações íntimas.

Bauman, portanto, chama a sociedade atual, devido a esse padrão social de

comportamento, como de sociedade de consumo. Nesse contexto, o ser humano

utiliza o consumo como desejo exacerbado e desregrado de possuir cada vez mais

bens materiais supérfluos, a fim de acompanhar a moda, a tecnologia, ou então de

suprir vazios existenciais e tentar achar a felicidade em produtos ou serviços.

Isso gera um ciclo vicioso no qual induz as pessoas a agirem com um padrão

de comportamento dentro de um sistema de mercado idealizado para uma sociedade.

Zygmunt Bauman (2009) salienta a obsessão do consumo pelo novo em detrimento

do que é antigo, de modo que impõe uma ideia de defasado a um bem material que

ainda possui utilidade, boa funcionalidade e ainda satisfaz o seu objetivo. No entanto,

na sociedade de consumo, o que não é novo e é taxado como velho, mesmo estando

próprio para consumo deve ser descartado, pois não agrega ao status e à autoestima

do indivíduo integrante desta sociedade.

Nesse sentido, a sociedade de consumo impôs aos indivíduos um padrão de

comportamento no qual deve consumir para ser alguém de valor, com status e

autoestima, a fim de promover a felicidade com a aquisição de novos produtos.

Nos termos de Bauman (1999, p.78),

(...) a maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada primeiro e acima de tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor. A norma que nossa sociedade coloca para seus membros é a da capacidade e vontade de desempenhar esse papel.

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Sendo assim, isso gerou um círculo o qual tem como fundamento as seguintes

premissas: insatisfação – infelicidade – compra de bens ou serviços – felicidade –

satisfação. O grande problema é que a partir do momento em que o ser humano

acredita que sua insatisfação pode ser suprida mediante o consumo exagerado de

bens, ele nunca estará satisfeito, pois com o avanço da tecnologia, do design e a

inquietude do mercado capitalista, a cada ano, mês ou quiçá semana, é lançado um

produto novo no mercado, taxando aquele, que ainda tem utilidade e funcionalidade,

como velho e impróprio para o uso.

Dessa maneira, isso gera algumas crises, pois além das crises psicológicas de

vazio existencial (FRANKL, 2015, p. 131), tendo em vista nunca conseguir chegar a

satisfação2, esse sistema ainda gera uma crise social, visto que nem todos são

providos de suficiente poder aquisitivo para acompanhar as últimas novidades do

mercado.

Além da desigualdade social, este sistema gera ainda, uma grave crise

ambiental, visto o poder das grandes corporações que geram maior produção de bens,

o que requer maior exploração dos recursos naturais, e além disso, que diz respeito à

grande produção de resíduos e rejeitos gerados por esse padrão de comportamento

consumista da sociedade atual3, entre os indivíduos que possuem poder aquisitivo

para adquirir produtos supérfluos e seguir as tendências do mercado.

Neste sentido, a sociedade de consumo intensifica as perdas das tradições ao

reduzir – ou promover, como alguns consideram - o ser humano à condição de

consumidor. Sem saber por si próprio como agir ou o que desejar, o consumidor

contumaz passa a viver de acordo com os ditames sociais, desejando o que os outros

fazem ou o que querem que ele faça.

Sendo assim, após a Revolução Industrial e, principalmente, com o surgimento

da sociedade de consumo, a produção demasiada de resíduos, a destruição

ambiental, o risco da falta de acesso aos recursos naturais, a poluição do ar, do solo

e das águas, o risco de colapso da natureza, o aumento do buraco na camada de

ozônio, o derretimento das calotas polares e a subida do nível do mar, o aumento da

2 Aqui se fala da satisfação a partir da premissa da sociedade de consumo, ou seja, consumir bens materiais para estar satisfeito e feliz. 3 Tendo em vista o círculo do sistema imposto pela sociedade de consumo, para buscar maior felicidade e status, os indivíduos jogam fora bens que ainda são próprios para uso, mas são considerados “velhos” pelo mercado. (BAUMAN, 2013)

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infertilidade devido aos alimentos transgênicos e o aumento da desigualdade social

parecem indicar alguns sinais da crise do mundo globalizado.

Não obstante, outro aspecto que destaca a indiferença sobre a natureza é que

o meio ambiente urbano está tão próximo que é difícil perceber mais os estragos, já

que esses estragos estão demasiadamente presentes, nas cidades:

a terra original não existe mais e está coberta pelas casas ou prédios, por calçamentos ou asfalto. Mesmo encanada, a água está cada vez mais poluída, a tal ponto que imperceptivelmente passamos a desconfiar das torneiras e comprar água mineral para o nosso consumo. O ar que respiramos está cada vez mais se tornando um gás venenoso, responsável por doenças respiratórias. Em certas cidades, temos até de andar com máscara. Em período de seca, o fogo acaba com o que resta nas matas virgens. As árvores originais já não existem mais e a vida animal, anteriormente existente, foi substituída por gatos e cachorros, ratos, camundongos e baratas. Até o espaço está nos bombardeando de irradiações nocivas do campo eletromagnético dos fios de alta tensão dos postes na rua. E se entrarmos em casa e observarmos todas as coisas e objetos que usamos, todos eles provêm de materiais da natureza, muitas vezes vindos de lugares distantes. Mediante a aquisição de objetos, muitas vezes inúteis, estamos consumindo vorazmente materiais do Planeta Terra. (WEIL, 2017, p. 176)

Desta maneira, tendo em vista o cenário de crise ambiental, social e ético, o

pensamento sobre o futuro do planeta e das próximas gerações se tornou um tema

pertinente para discussão. A sustentabilidade é o tema do século XXI, visto a transição

da modernidade “truncada e inacabada” para uma pós-modernidade incerta, marcada

pelo rápido avanço tecnológico, pela democracia, pelas diversidades e autonomia.

(LEFF, 2009, p. 9).

A educação ambiental e a prática sustentável nunca foram tão importantes,

tendo em vista a necessidade de reflexão da sociedade global atual sobre a

construção social, onde percebe-se que a natureza está em crise devido ao estilo de

vida humano, e se não houver a conscientização e a mudança de padrões

comportamentais, o planeta Terra entrará em colapso o que atingirá toda a

humanidade.

O mundo pós-moderno é muito complexo, e requer a reflexão sobre inúmeras

questões, como ambientais e sociais. Nas palavras de Enrique Leff:

Vivemos hoje um mundo de complexidade, no qual se amalgamam a natureza, a tecnologia e a textualidade, onde sobrevivem e tomam novo significado reflexões filosóficas e identidades culturais no torvelinho da cibernética, da comunicação eletrônica e da biotecnologia.

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Tempos de hibridação do mundo – a tecnologização da vida e a economização da natureza -, de mestiçagem de culturas, de diálogo de saberes, de dispersão de subjetividades, onde se está descontruindo e reconstruindo o mundo, onde se estão ressignificando identidades e sentidos existenciais a contracorrente do projeto unitário e homogeneizante da modernidade. Tempos em que emergem novos valores e racionalidades que reorientam a construção do mundo. Tempos em que se descongelam, se decantam, se precipitam e se reciclam os tempos históricos passados; onde hoje se reenlaçam suas histórias diferenciadas e se relança a história para novos horizontes. (LEFF, 2009, p. 9-10)

Sendo assim, o debate sobre a sustentabilidade não é apenas a evolução de

um pensamento que reflete a crise ambiental, mas também reflete a crise social de

um mundo no qual reivindicou a democracia e questionou o autoritarismo e a

repressão de ideias, buscando a liberdade e o bem-estar geral, no presente e no

futuro.

Nesse diapasão, o pensador mexicano ainda comenta que

(...) os direitos humanos relativos ao ambiente surgem como uma reivindicação fundamental para melhorar a qualidade de vida, que é entendida não só como a satisfação de necessidades básicas e de certo bem-estar material, mas também como o direito a uma vida digna, ao pleno desenvolvimento das faculdades dos seres humanos e à realização de suas aspirações morais, intelectuais, afetivas e estéticas, mediante a reconstrução do ambiente. Sustentado nos valores da paz, solidariedade e na diversidade, o conceito de qualidade de vida aparece como “o supremo valor moral do nosso tempo [...] o que implica que em nenhuma das atividades e motivações do homem se tentará submeter aos mecanismos da uniformidade, da repetição ou da necessidade lógica, nem aos imperativos da produção e do rendimento, a singularidade própria e incomparável dos seres vivos, sua iniciativa e sua espontaneidade criadora. (LEFF, 2000, p.220-221)

Neste sentido, a degradação do meio ambiente ecológico manifesta-se como

um dos sintomas de uma crise da atual civilização, que é marcada pelo modelo da

modernidade e que tem como motor propulsor o desenvolvimento tecnológico e

econômico sobre a organização da natureza. A questão da crise ambiental

problematiza as bases de produção e sugere a desconstrução do modelo econômico

da modernidade e a mudança de padrões, para que seja possível a construção de um

futuro baseado nos potenciais ecológicos, nos limites das leis biofísicas, na

criatividade humana e na produção de sentidos sociais.

Assim, com a compreensão desta crise socioambiental, o conceito de meio

ambiente foi reestruturado a uma nova perspectiva do desenvolvimento humano,

multifacetado, que incorpora também os potenciais e os valores da natureza, as

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externalidades sociais e a complexidade do mundo antes denegado pela

racionalidade simplista, unidimensional e mecanicista que liderou o processo de

modernização da sociedade.

Entretanto, inicia-se um pensamento de quebra de paradigmas dentro do

modelo antropocentrista e surge a visão biocentrista, a qual coloca seres humanos e

natureza no mesmo nível de interações, ou seja, a humanidade dentro do meio social

e a utilização dos recursos naturais em um mesmo patamar. Desta maneira, segundo

Berté (2009, p. 26) altera-se o conceito de meio ambiente como apenas uma unidade

biótica/abiótica para o ponto de vista de um meio ambiente multidimensional, que é

abrangente e trata de múltiplos aspectos.

Para Leff, foi desta maneira que se iniciou

(...) o debate teórico e político para valorizar a natureza e internalizar as “externalidades socioambientais” ao sistema econômico. Deste processo crítico surgiram as estratégias do ecodesenvolvimento, promovendo novos tipos de desenvolvimentos fundados nas condições e potencialidades dos ecossistemas e no manejo prudente dos recursos (Sachs, 1982). A economia foi concebida como um processo governado pelas leis da termodinâmica que regem a degradação de energia em todo processo de produção e consumo (Georgescu-Roegen, 1971). O sistema econômico viu-se imerso num sistema físico-biológico mais amplo que o contém e lhe dá seu suporte de sustentabilidade (Passet, 1979). Daí surgiram os novos paradigmas da economia ecológica, buscando integrar o processo econômico com a dinâmica ecológica e populacional (Constanza et al., 1996). (LEFF, 2009, p.16)

Nesse sentido, a despeito de que a sociedade atual tenha se desenvolvido

tendo o consumismo4 como seu alavanque tecnológico e econômico, haja vista a

produção desenfreada que gera não apenas bens de consumo, mas em proporções

maiores danos colaterais, muitos irreversíveis, causados pelos seres humanos no

Planeta Terra, o saber ambiental conquista um novo espaço na ética. Surge, assim,

um dever da sociedade de se sensibilizar sobre a magnitude das ações humanas e

de suas intervenções nos ambientes biofísicos e socioculturais. Destarte, nas palavras

4 A fim de melhor esclarecimento, é importante ressaltar a diferença entre consumo e consumismo. O consumo é essencial à vida, todos os seres vivos consomem, os seres humanos consomem diversas coisas para poder viver bem, bem como os animais, e até mesmo as plantas consomem água, oxigênio e luz. Desse modo, o consumo é inerente à vida. É essencial à manutenção da vida humana digna o consumo de coisas como: os recursos naturais ou artificiais, produtos ou serviços, como, por exemplo, os recursos naturais essenciais (água, luz, oxigênio), energia elétrica, alimentos, vestuário, etc. (BAUMAN, 2008, p. 37-38)

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de Hans Jonas (2006, p.39), “a natureza como uma responsabilidade humana é

seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria ética deve ser pensada.”

Dessa maneira, o conceito de desenvolvimento sustentável como ferramenta

para a superação da crise socioambiental envolve o questionamento de um agir ético

perante a degradação do meio ambiente.

De acordo com Souza-Lima (2006, p. 55-56),

é preciso mergulhar no sistema social para explicitar e demonstrar as causas profundas que acentuam a crise ambiental contemporânea. Enquanto as contradições intrínsecas à forma social de produção capitalista não forem enfrentadas, as explicações permanecerão em níveis consideráveis de superficialidade.

Assim, tendo em vista o novo conceito multidimensional do meio ambiente,

requer-se da humanidade uma nova racionalidade que se refere a um saber

reintegrador da diversidade, multifacetado, que traz novos valores éticos5 e

sinergéticos originados pela articulação de processos tecnológicos, ecológicos e

culturais.

Portanto, com a mudança de comportamento dos padrões sociais e o

surgimento do consumismo, o planeta Terra começou a mostrar os sintomas da

destruição, o que tornou evidente a crise socioambiental. A degradação ecológica e

os problemas ocasionados pelo estilo de vida do Homo Sapiens moderno chegaram

a certo ponto que tornou necessário discutir o rumo do desenvolvimento civilizatório

no mundo inteiro. Com a globalização essa discussão tornou-se possível e

necessária. No capítulo seguinte desta dissertação será exposto como se deu, no

mundo e no Brasil, as discussões em torno deste assunto e do princípio da

sustentabilidade como forma de enfrentamento desta crise socioambiental.

5 Para Hans Jonas (2006), as inovações tecnológicas e o estilo de vida contemporâneo, trouxeram novas dimensões da responsabilidade, nunca antes pensadas no campo de estudo da ética. Os grandes danos produzidos pela humanidade, devido à sua intervenção na natureza, tornaram visível a vulnerabilidade do Planeta Terra e agora a ética se obriga a refletir também sobre as condições globais da vida, sobre a preservação das espécies e sobre o futuro.

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3 A CRISE SOCIOAMBIENTAL E O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE

3.1 O DEBATE GLOBAL SOBRE A CRISE SOCIOAMBIENTAL6

Um dos principais indicadores globais da crise socioambiental decorrente do

estilo de vida contemporâneo é a “grande mancha de lixo no Pacífico” (Figura 1), que

se encontra no oceano Pacífico, entre o estado americano da Califórnia e o Havaí.

Essa “mancha” é a maior coleção de plástico amontoado que se sabe no planeta, são

pelo menos 79 mil toneladas de resíduos flutuando nas águas do oceano, que formam

uma extensão de 1,6 milhões de km², o equivalente a quase três vezes o território da

França. (LEBRETON, 2018)

Figura 1: A grande mancha de lixo no Pacífico

FONTE: PHYS.ORG, 2018

As pesquisas realizadas em 2017 pela Ocean Cleanup Foundation, publicadas

no Scientific Reports (LEBRETON, 2018), afirmaram que a grande mancha de lixo no

Pacífico possui em torno de 1,8 trilhões de pedaços de resíduos flutuando, sendo que

6 A estrutura desse tópico foi inspirada no Capítulo 1 da dissertação de Karlla Maria Martini (2014).

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94% são pedaços de microplásticos. Ademais, as pesquisas indicaram que 46% da

massa suspensa desta “ilha” do oceano são resíduos de redes e artigos de pesca, e

que apesar de ser a maioria em quantidade de resíduos, 8% da massa são

microplásticos (Figura 2).

Figura 2: Infografia de problemas ambientais globais. A grande mancha

de lixo do Pacífico.

FONTE: Depositphotos, 2018

A equipe de pesquisadores coletou amostras da grande mancha de lixo no

Pacífico, entre 50 itens selecionados desta amostra, havia um item plástico com data

de fabricação legível de 1977, sete itens da década de 1980, dezessete da década de

1990, 24 da década de 2000 e um de data de fabricação de 2010. Ainda, os

pesquisadores coletaram cerca de 386 objetos com palavras ou frases legíveis em

nove língua diferentes.

Os estudos ainda revelaram que o consumo anual global de plásticos atingiu,

em 2016, mais de 320 milhões de toneladas, ou seja, mais do que o total de plástico

produzido na última década. (LEBRETON, 2018)

No Brasil, em 2016 foram produzidas 5,8 milhões de toneladas de produtos

plásticos. Dessa quantidade, apenas 9% foi reciclado, o restante não receberam

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tratamento de reciclagem e tiveram como seu destino final os aterros sanitários,

aterros controlados, lixões ou descartados no meio ambiente. (BORGES, 2018)

Além do problema da produção demasiada de resíduos plásticos7, os impactos

do plástico no meio ambiente ecológico já começam na extração das matérias-primas,

visto que são obtidos a partir do petróleo.

Sendo assim, os sintomas da crise socioambiental trouxeram questionamentos

sobre os paradigmas teóricos que legitimaram e incentivaram o desenvolvimento com

acento apenas no aspecto econômico, esquecendo da natureza. Visto que o

progresso civilizatório pautado em uma visão mecanicista cartesiana que negou os

paradigmas naturais da vida, ocasionou a degradação ambiental e a destruição

ecológica como sintomas de uma grave crise.

A crise socioambiental tornou-se fortemente evidente em meados dos anos 60,

quando surgiu a consciência ambiental sobre a irracionalidade ecológica dos padrões

dominantes de produção e consumo e, a partir de então, o ser humano se deu conta

dos limites do crescimento econômico.

Assim, chefes de Estado, intelectuais de diversas áreas, líderes mundiais e de

grandes corporativas se reuniram em abril de 1968 em um vilarejo próximo a Roma

para discutir e analisar medidas que deveriam ser praticadas, a longo prazo, ao redor

do mundo a fim de superar o pensamento nacionalista e regionalista que geralmente

conduzem as políticas públicas. Esse encontro ficou mundialmente conhecido como

Clube de Roma e trouxe importantes contribuições para a racionalidade ambiental.

Após o surgimento da consciência ambiental nos anos 60 e a sua expansão

nos anos 70. Em 1971 o relatório elaborado pelo Clube de Roma, intitulado de “Limites

do Crescimento”8 foi mundialmente publicado. Este relatório colocou, pioneiramente,

em pauta o debate acerca do crescimento econômico desenfreado e ilimitado, sem

considerar os limites naturais dos recursos e das espécies.

Ademais, o relatório teve grande repercussão quando apontou um cenário

catastrófico onde não seria possível continuar com o crescimento econômico infinito,

visto que este levaria ao esgotamento dos recursos naturais, e causou alvoroço

quando apresentou como solução do problema o “crescimento zero”.

7 Atualmente, um terço do lixo doméstico é composto por embalagens plásticas. Cerca de 80% delas são descartadas após uma única vez de uso. (BORGES, 2018) 8 “The Limits to Grow”: relatório com autoria de Donella H. Meadows, Jorge Randers e William W. Behrens III, produzido por uma equipe de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), sob a direção de Dennis Meadows, com o patrocínio da Volkswagen Foundation.

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A principal conclusão do Clube de Roma foi que a destruição ecológica e a

degradação ambiental eram consequências do crescimento populacional

descontrolado e da utilização de recursos naturais causada por este. De modo que a

solução “crescimento zero” apresentada, de maneira resumida, propunha a redução

das taxas de natalidade9 e dos índices de crescimento econômico a fim de minimizar

o consumo, ou até não consumir determinados produtos para que diminuíssem a

produção.

Apesar de ter sofrido críticas, principalmente pelas nações em

desenvolvimento10 as quais consideraram a proposta como manutenção e

preservação de negócios e não da natureza e afirmaram que mitigaria o “direito ao

crescimento”, o relatório Limites para o Crescimento foi de grande importância para o

avanço dos estudos sobre o desenvolvimento sustentável que seguiu em ascensão

nos debates dentro das agendas políticas mundialmente.

Mais tarde, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,

também conhecida como Declaração de Estocolmo, realizada em 1972, em

Estocolmo, discutiu amplamente o polêmico relatório Limites para o Crescimento, e o

discurso do desenvolvimento sustentável foi oficializado e legitimado.

A conferência realizada em Estocolmo propôs o “ecodesenvolvimento”, cuja

premissa é o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental coexistindo de

forma harmonizada, visto que são interdependentes para o progresso civilizatório.

Contudo, na ocasião, o Brasil vivia um período intenso de regime ditatorial

militar e grande foco no crescimento econômico a qualquer custo. Até então, as

políticas brasileiras demonstravam pouco caso com as questões ambientais e,

inclusive, se posicionou contrários às propostas da conferência em 1972, defendendo

a soberania nacional com argumento de que os países desenvolvidos deveriam pagar

e se emprenhar para evitar a poluição ambiental, e que os países em desenvolvimento

não deveriam sacrificar seu crescimento.

9 O relatório Limites para o Crescimento tinha uma perspectiva “neomalthusiana” e considerava o boom demográfico como o grande vilão da civilização. Vale apontar, apenas para esclarecimento, que para a teoria neomalthusiana, a qualidade de vida e o desenvolvimento da economia de uma região ou país necessita de medidas de controle populacional. 10 Nesta época, o presidente do Brasil era o general Emílio Médici e a sociedade brasileira passava por um profundo processo político que implantou um regime ditatorial e o projeto “Brasil Grande Potência”. Neste período buscava-se a qualquer custo o crescimento econômico brasileiro e havia total descaso pelas questões do meio ambiente ecológico. Além disso, o Brasil ainda tinha uma visão de que os recursos naturais eram abundantes e inesgotáveis.

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O Brasil, que liderava os países subdesenvolvidos no intuito da reprovação das

propostas de “crescimento zero”, mostrou-se apreensivo diante dos debates em pauta

na conferência:

Argumentaram os representantes do país que a preocupação com aspectos relativos à proteção ambiental servia aos propósitos dos países de primeiro mundo no sentido de impedir a expansão das indústrias dos países em desenvolvimento, e assim, bloquear os processos de crescimento. (BERTÉ, 2009, p. 34)

Ainda, na ocasião, a Delegação Brasileira afirmou que o país está “aberto a

poluição, porque o que se precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (BRASIL,

2018a).

Essa postura era conveniente para o projeto “Brasil Grande Potência”, que

resultou também a criação de grandes obras como, por exemplo, a empresa

binacional Itaipu, hoje a segunda maior hidrelétrica do mundo (na época era a maior),

e na ponte Rio-Niterói. Vale, ainda, ressaltar que durante esse período o Brasil estava

vivendo uma grande expansão econômica: no final da década de 60 as bolsas de

valores brasileiras tiveram incríveis altas; a inflação oscilou entre 15% e 20% ao ano;

o PIB cresceu uma média de 10% ao ano; e a construção civil teve um crescimento

em média de 15% ao ano. (BERTÉ, 2009, p. 34)

Entretanto, com foco apenas no desenvolvimento econômico, até esse

momento da história brasileira, não havia nenhuma política de preservação ambiental

no país, nem interesse para isso, já que o crescimento econômico era considerado

incompatível com a harmonia do meio ambiente ecológico.

Não obstante esses acontecimentos no cenário brasileiro, em junho de 1972,

113 países11 e 250 organizações não governamentais e organismos da Organização

das Nações Unidas (ONU) participaram da Conferência das Nações Unidas sobre o

Desenvolvimento Sustentável (MILARÉ, 2005, p. 1002), o primeiro encontro global

voltado para a discussão do desenvolvimento sustentável, que foi um marco na

história política internacional.

11 A título de curiosidade, vale citar que não houve a participação da União Soviética e dos países do leste Europeu, bem como da Alemanha Oriental que não participou pois não era membro da ONU. (MARTINI, 2014, p. 21)

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Conforme o posicionamento de Philippe Le Preste (2005, p. 174-175), foram

quatro os principais fatores que, à época, provocaram a decisão de realizar uma

conferência mundial sobre a preservação da natureza:

a) o aumento da cooperação científica nos anos 60, da qual decorreram inúmeras preocupações, como as mudanças climáticas e os problemas da quantidade e da qualidade das águas disponíveis; b) o aumento da publicidade dos problemas ambientais, causado especialmente pela ocorrência de certas catástrofes, eis que seus efeitos foram visíveis (o desaparecimento de territórios selvagens, a modificação das paisagens e acidentes como as marés negras são exemplos de eventos que mobilizaram o público); c) o crescimento econômico acelerado, gerador de uma profunda transformação das sociedades e de seus modos de vida, especialmente pelo êxodo rural, e de regulamentações criadas e introduzidas sem preocupação suficiente com suas consequências em longo prazo; d) inúmeros outros problemas, identificados no fim dos anos 1960 por cientistas e pelo governo sueco, considerados de maior importância, afinal, não podiam ser resolvidos de outra forma que não a cooperação internacional. São exemplos destes problemas as chuvas ácidas, a poluição do Mar Báltico, a acumulação de metais pesados e de pesticidas que impregnavam peixes e aves.

A partir dos problemas acima elencados, a conferência procurou soluções

eficazes para tais questões, além do reconhecimento dos Estados12 sobre o a crise

ambiental que atinge o planeta, a sensibilização dos países em desenvolvimento

sobre a responsabilidade nesta questão e, por fim, a necessidade global de agir.

Diante disso, originou-se uma nova dinâmica por meio de atitudes novas e foi

aprovada a Declaração de Estocolmo que traz um fundo de financiamento de

programas e pesquisas no assunto, um plano de ação com 109 recomendações, 26

princípios que orientam comportamentos destinados a guiar decisões referentes às

questões ambientais, e sete pontos principais citados no preâmbulo da Declaração:

1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano,

12 Vale fazer nota de que apesar de o Brasil não concordar com as propostas de “crescimento zero”, em 1973 foi criada a primeira instituição brasileira encarregada das questões ambientais, a Secretaria Especial de Meio Ambiente – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior. (BRASIL, 2018a)

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o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.

2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)

Nestes primeiros pontos apresentados no Preâmbulo da Declaração de

Estocolmo, é possível afirmar a consciência dos líderes de Estado de que existe uma

forte relação de interdependência entre a qualidade do meio ambiente e a qualidade

da vida humana.

Ademais, seguindo este caminho, o primeiro princípio da Declaração dispõe

que é direito fundamental dos seres humanos a liberdade, a igualdade e adequadas

condições de vida em um ambiente que permita o bem-estar e a vida digna, e ainda,

impõe às pessoas a responsabilidade de preservar e melhorar o meio ambiente para

esta e as futuras gerações e, também, condena qualquer tipo de discriminação,

opressão e dominação.13

Além disso, nos itens subsequentes, o preâmbulo prega a preocupação com a

degradação ambiental e os problemas sociais e ambientais decorrentes da destruição

ambiental:

3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo, inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, a capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a saúde física,

13 II PRINCÍPIOS Expressa a convicção comum de que: Princípio 1 O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)

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mental e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente naquele em que vive e trabalha. 4. Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão motivados pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo muito abaixo dos níveis mínimos necessários para uma existência humana digna, privada de alimentação e vestuário, de habitação e educação, de condições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em desenvolvimento devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo presente suas prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o meio ambiente. Com o mesmo fim, os países industrializados devem esforçar-se para reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, os problemas ambientais estão geralmente relacionados com a industrialização e o desenvolvimento tecnológico. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)

Tendo os Estados feito o reconhecimento da crise socioambiental que aflige o

Planeta Terra e assumido a responsabilidade e preocupação diante de tais problemas,

a Declaração de Estocolmo convenciona diversos princípios para ajudar na resolução

desta crise.

Entre esses princípios, foi convencionado que os Estados devem: promover a

educação ambiental; elaborar cuidadosamente planos e ordenamentos ambientais;

assegurar o desenvolvimento econômico adequado para propiciar a qualidade de vida

das pessoas e do meio ambiente; destinar recursos a fim de garantir a preservação e

o melhoramento do meio ambiente social e ecológico; transferir quantidade

consideráveis de assistência financeira e tecnológica, além de fomentar pesquisas e

o desenvolvimento científico e tecnológico para questões ambientais; fazer

planejamentos sobre os assentamentos urbanos; e instituir órgão nacionais

competentes para planejar, administrar ou controlar a utilização dos recursos naturais

(DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE

HUMANO, 1972).

Além da Declaração de Estocolmo, os países aprovaram um Plano de Ação

para o Meio Ambiente composto por 109 recomendações, que, segundo SOARES

(2003, p.54), são

centradas em três grandes tipos de políticas: (a) as relativas à avaliação do meio ambiente mundial, o denominado ‘Plano Vigia’ (Earthwatch); (b) as de gestão do meio ambiente; e (c) as relacionadas às medidas de apoio (como a informação, educação e formação de especialistas).

Ainda, foi instituído o Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

(PNUMA) com o intuito de promover o desenvolvimento sustentável e coordenar as

ações internacionais sobre proteção do meio ambiente.

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Sendo assim, é inegável que a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente foi o primeiro grande alavanque global a respeito da proteção do meio

ambiente. A partir dela ocorreu o grande despertar dos Estados sobre a grave crise

socioambiental, e ainda, é possível afirmar que a consolidação da Declaração de

Estocolmo influenciou fortemente os ordenamentos jurídicos e as políticas de

preservação ambiental ao redor do mundo.

Logo após a Conferência de 1972, a PNUMA realizou três outras conferências:

em 1976, que tratou sobre questões humanas e duas em 1977 relativas à

desertificação e a água. No entanto, as mesmas não obtiveram tanta repercussão e

sucesso quanto a Conferência de 1972 realizada em Estocolmo.

Somente no começo da década de 1980 que a ONU retomou os debates sobre

questões socioambientais. Em 1984 foi criada a Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, a pedido do secretário-geral das Nações Unidas, para

avaliar os avanços dos processos de degradação ambiental e, também, avaliar a

eficácia das políticas ambientais para enfrentar esse problema. Após três anos de

estudos, audiências públicas e deliberações, a Comissão, chefiada pela primeira-

ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, publicou suas conclusões em um

documento chamado de “Nosso Futuro Comum” conhecido também como Informe (ou

Relatório) Brundtland. (CAMARGO, 2003, p. 52)

Entre as metas em âmbito internacional disposta pelo Relatório, está

principalmente medidas e estratégias a serem adotadas para a efetivação do

desenvolvimento sustentável. A noção de “desenvolvimento sustentável” definida pelo

Informe Brundtland expressou a necessidade de se reavaliar a atividades econômicas

dominantes, de modo a levar em conta o resultado negativo das interações do homem,

esquecendo-se da natureza.

Se por um lado o conceito de desenvolvimento sustentável reflete um

entendimento de que “o meio ambiente não é apenas uma questão de preservação

passiva, mas também de busca ativa” (FLORES, 2018, p. 786) por outro condena a

insustentabilidade do modelo econômico neoliberal, ao tratar a natureza como mera

externalidade do processo produtivo.

Nos ensinamentos de Enrique Leff,

As estratégias de apropriação dos recursos naturais no processo de globalização econômica transferiram assim seus efeitos para o campo teórico e ideológico. O ambiente foi caindo nas malhas do poder do discurso do

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crescimento sustentável. Porém, o conceito de ambiente cobra um sentido estratégico no processo político de supressão das “externalidades do desenvolvimento” – a exploração econômica da natureza, a degradação ambiental, a desigual distribuição social dos custos ecológicos e a marginalização social – que persistem apesar da ecologização dos processos produtivos e da capitalização da natureza. (LEFF, 2009, p. 18 -19)

Ademais, pela primeira vez na história dos debates socioambientais, foi exposta

a ideia de que desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades

humanas atuais sem comprometer a qualidade de vida das futuras gerações, ou seja,

a partir desse momento, além da preocupação com a crise a qual acomete os seres

presentes, a preocupação e a responsabilidade assumida ultrapassa o âmbito

intrageracional e se estende para o âmbito intergeracional.

Na década de 80 o Brasil começou realmente a dar importantes e inovadores

passos nessas questões. Em 1981 foi sancionada a Lei 6.938 que institui a Política

Nacional do Meio Ambiente e que criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente

(SISNAMA), o qual dispõe de princípios, instrumentos e diretrizes para a proteção do

meio ambiente. Essa lei foi claramente inspirada no princípio 21 da Declaração o qual

dispões que “os Estados têm direito soberano de explorar seus próprios recursos, de

acordo com a sua política ambiental”.

Mais tarde, em 1985 foi criado o Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio

Ambiente, com competência para definir políticas públicas e coordenar as atividades

governamentais na área ambiental. Além disso, o Conselho Nacional do Meio

Ambiente (Conama) aprovou resoluções que dispõem sobre o licenciamento

ambiental (Resoluções nº 001/1986 e no 009/1987) que tratam, respectivamente,

sobre o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima)

e sobre as audiências públicas prévias ao licenciamento.

Ademais, dois anos mais tarde do Relatório de Brundtland e um ano depois da

promulgação da Constituição Federal de 1988, em 1989 foi dado mais um grande

passo nas questões socioambientais, no mundo e no Brasil. A Assembleia Geral da

ONU convocou os Estados para mais uma conferência a ser realizada no Rio de

Janeiro em 1992.

Vale lembrar que nessa época já tinha ocorrido a queda do regime militar e o

Brasil estava vivendo uma nova era democrática com uma nova Constituição Federal,

promulgada em 1988. Pela primeira vez na história brasileira a Constituição Federal

de 1988 dispõe de um capítulo exclusivo sobre o Meio Ambiente e vários artigos sobre

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a proteção do meio ambiente e a responsabilidade do Estado, das empresas e dos

cidadãos sobre a sua preservação. Mais adiante será tratado mais detalhadamente o

tema na Constituição Federal de 1988.

Assim, em junho de 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre

o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, a maior de todas

as Conferências feitas pela ONU, que teve a participação de 178 países, 3 mil

representante de ONGs credenciadas e mais de mil ONGs participando em fórum

paralelo e 8 mil delegados. (LE PRESTE, 2005, p. 203)

A reunião, que também ficou conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da

Terra, inspirada no Relatório de Brundtland discutiu, em seu cerne, propostas para

que o desenvolvimento econômico e social dos países se dê de maneira harmonizada

com a natureza, a fim de garantir a qualidade de vida na geração presente e futuras.

As discussões sobre essas questões partiram do pressuposto de que se todos

seguirem o mesmo modelo de desenvolvimento dos países ricos, haverá insuficiência

de recursos naturais para todo mundo e danos sérios e irreversíveis para o meio

ambiente ecológico.

Nessa conferência todos os países concordaram claramente que era

necessário e importante conciliar a preservação da natureza com o desenvolvimento

econômico e social, inclusive os países em desenvolvimento, que nos primeiros

debates sobre o assunto não concordaram com essa ideia e defendiam o crescimento

econômico a qualquer custo.

No entanto, houve algumas discordâncias quando se tratou de aspectos

específicos que atrapalhava interesses econômicos de alguns países, como foi, por

exemplo, o caso dos Estados Unidos, que se opôs a negociações sobre CCC – Contas

de Consumo de Combustíveis, as quais propunham um cronograma rígido a fim de

reduzir as emissões de poluentes. Também ocorreram divergências com os países

produtores de petróleo, quando foi tratado o assunto de mudanças climáticas.

A despeito disso, chegou-se à conclusão que o desenvolvimento deve levar em

consideração os aspectos sociais, ambientais e econômicos sem detrimento de

nenhum. Ainda, o ambiente político internacional auxiliou a aceitação pelos países

desenvolvidos de que a responsabilidade por um convívio social equilibrado com o

planeta e pela proteção do meio ambiente ecológico são diferentes.

Ainda, na conferência Rio-92 ficou convencionado que os países em

desenvolvimento deveriam receber auxílio tecnológico e financeiro para atingirem

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outro modelo de desenvolvimento, de modo sustentável, inclusive com a diminuição

dos padrões de consumo, principalmente de combustíveis fósseis. Essa decisão foi

de grande importância para a busca do desenvolvimento sustentável e para a

superação de problemas registrados em reuniões passadas, como na de Estocolmo.

Além disso, teve ótima produtividade e foi um passo muito importante para os

estudos ambientais e para a política ambiental internacional. Esse grande encontro

originou duas convenções, sobre mudanças climáticas e biodiversidade, e três

documentos: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

a Declaração de Princípios sobre Florestas e a Agenda 21, que até hoje orientam as

ações nacionais e internacionais que aspiram pelo desenvolvimento sustentável.

(CAMARGO, 2003, p. 55)

Ainda, em relação a preocupação com a gestão dos resíduos sólidos que

repercutiu na Assembleia da ONU realizada no dia 22 de dezembro de 1989. A

Resolução nº 44/228, que emergiu da ocasião, defende o desenvolvimento

sustentável e a preservação do meio ambiente através de diretrizes e metas para a

mudança do padrão de consumo; redução e reutilização de resíduos sólidos; a

utilização de instrumentos como a reciclagem; a promoção da coleta e do tratamento

adequado e de políticas públicas voltadas à gestão dos resíduos sólidos.

Essa Resolução foi, posteriormente, na conferência Rio-92, incorporada na

Agenda 21:

CAPÍTULO 21

MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E QUESTÕES RELACIONADAS COM OS ESGOTOS

INTRODUÇÃO

21.1. O presente capítulo foi incorporado à Agenda 21 em cumprimento ao disposto no parágrafo 3 da seção I da resolução 44/228 da Assembléia Geral, no qual a Assembléia afirmou que a Conferência devia elaborar estratégias e medidas para deter e inverter os efeitos da degradação do meio ambiente no contexto da intensificação dos esforços nacionais e internacionais para promover um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países, e no parágrafo 12 g) da seção I da mesma resolução, no qual a Assembléia afirmou que o manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontrava entre as questões mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente, para alcançar um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países.

21.2. As áreas de programas incluídas no presente capítulo da Agenda 21 estão estreitamente relacionadas com as seguintes áreas de programas de outros capítulos da Agenda 21:

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(a) Proteção da qualidade e da oferta dos recursos de água doce: (capítulo 18);

(b) Promoção do desenvolvimento sustentável dos estabelecimentos humanos (capítulo 7);

(c) Proteção e promoção da salubridade (capítulo 6);

(d) Mudança dos padrões de consumo (capítulo 4).

(...)

21.4. O manejo ambientalmente saudável desses resíduos deve ir além do simples depósito ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e consumo. Isso implica na utilização do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade única de conciliar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente.

21.5. Em consequência, a estrutura da ação necessária deve apoiar-se em uma hierarquia de objetivos e centrar-se nas quatro principais áreas de programas relacionadas com os resíduos, a saber:

(a) Redução ao mínimo dos resíduos;

(b) Aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos;

(c) Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos;

(d) Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam dos resíduos.

21.6. Como as quatro áreas de programas estão correlacionadas e se apóiam mutuamente, devem estar integradas a fim de constituir uma estrutura ampla e ambientalmente saudável para o manejo dos resíduos sólidos municipais. A combinação de atividades e a importância que se dá a cada uma dessas quatro áreas variarão segundo as condições sócio-econômicas e físicas locais, taxas de produção de resíduos e a composição destes. Todos os setores da sociedade devem participar em todas as áreas de programas. (BRASIL, 2018b)

No Brasil, no mesmo ano de 1992 foi criado o Ministério do Meio Ambiente

(MMA). Mais tarde, em 1997 foi sancionada a Lei 9.433/97 que institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos. Um ano depois, em 1998, criou-se a Lei de Crimes

Ambientais (9.605/98).

Nota-se que cada vez mais o Brasil criava novas leis e instituições sobre a

proteção ambiental. Porém, tais leis não se mostravam tanto eficazes, principalmente

pelo fato da carente fiscalização pelos órgãos, que na maioria das vezes faltavam

funcionários. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, no início tinha apenas

poucos funcionários emprestados de outros órgãos ou terceirizados com contratos

temporários, além disso faltava recurso financeiro e a maior parte das verbas eram

obtidas através de recursos oriundos de empréstimos, como do Banco Mundial ou do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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Dez anos após a Eco-92, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento na África do Sul, em Joanesburgo. A conferência

ficou conhecida como Rio +10, e em suas discussões os países buscaram revisar a

Agenda 21 e desenvolver planos e metas para a real implementação. (BRASIL, 2018c)

Os debates deste encontro não tiveram muito sucesso, principalmente por

razão dos poucos resultados práticos devido aos conflitos entre os países

desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Os países desenvolvidos

demonstraram falta de vontade em assumir as suas responsabilidades. Um dos

exemplos desses conflitos é dos Estados Unidos que não concordou com a

determinação feita na ocasião da Rio-92 de que os países têm responsabilidades

comuns em relação à proteção do meio ambiente, porém de maneiras diferentes.

Em suma, a produtividade da Rio +10 foi aquém do esperado, e dos debates

originam-se apenas dois documentos: a Declaração Política e o Plano de

Implementação, os quais tinham como principal objetivo tornar eficaz a execução da

Agenda 21.

Mais dez anos se passaram e em 2012, novamente, foi realizada no Rio de

Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

que ficou conhecida como Rio +20.

Baseada em três fundamentos, social, econômico e ambiental, os dois

principais assuntos colocados em pauta nas discussões da Rio +20 foram: a economia

verde no contexto do desenvolvimento sustentável da erradicação da pobreza; e a

estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. (BRASIL, 2018d)

Na ocasião também foi instaurado um plano de gestão de resíduos sólidos,

baseado na Lei 12.305/10 que buscou consolidar o modelo de gestão baseado na

hierarquia da não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição

final adequada de resíduos sólidos. Além disso, um dos pilares do plano de gestão é

a atuação da coleta seletiva da Rio+20, que incentiva a formação de associações de

catadores, a fim de promover a educação ambiental e sensibilizar os integrantes sobre

o sistema de coleta seletiva proposto no plano, que foi dividido em quatro principais

grupos: recicláveis, não recicláveis, orgânicos e pilhas, celulares e baterias. (BRASIL,

2018d)

Contudo, 20 anos após a Rio-92, as perspectivas da Rio +20 desde o início já

não eram positivas e, de fato, a conferência não obteve tanto sucesso e tampouco

trouxe tantos avanços como sua antepassada. Isso devido a várias razões, como por

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exemplo, a crise econômica, à época enfrentada pelos países desenvolvidos, a falta

de consenso entre os países em desenvolvimento e em razão do problema na

dinâmica das discussões internacionais no geral. (BRASIL, 2018e)

O momento de conjuntura nas esferas social, política e econômica que

defrontavam-se principalmente os Estados Unidos e os países Europeus foi

considerado o principal empecilho dos acordos mais contundentes na Conferência em

2012. Afinal de contas, qualquer alteração no padrão de exploração dos recursos

naturais e energéticos poderia causar, em um primeiro momento, descontentamentos

populares e problemas sociais sérios em meio à crise, como aumentar o número de

desempregos.

Além disso, a criação de fóruns específicos para tratar assuntos como as

mudanças climáticas e a água, limitou, na Rio +20, a pauta sobre desenvolvimento

sustentável, visto que esses fóruns possuem processos próprios de negociação.

Enfim, com todos os problemas à época enfrentados pela Conferência, a

Rio+20 se limitou a analisar os progressos dos últimos 20 anos e, também, os

problemas para implementação de acordos e os novos desafios. Como resultado,

especialistas concordaram que deveria ser elaborado um documento mais político que

técnico, uma carta de intenções que apenas reafirmava o pacto mundial acerca da

sustentabilidade.

3.2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

1988

Além dos avanços em âmbito global referente à proteção da natureza e ao

desenvolvimento sustentável, durante todo esse período histórico de movimentos

ambientalistas, o Brasil mostrou que tem avançado gradualmente no estabelecimento

de dispositivos legais, políticas públicas e de processos de institucionalização a favor

da proteção do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.

Diante do cenário mundial delicado que se originou a partir da Revolução

Industrial, de todas as mudanças nos modos de produção e consumo, dos avanços

tecnológicos, da globalização, da explosão populacional, da poluição, da produção

demasiada de resíduos, e de tantos outros problemas e desastres ambientais que são

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registrados, os seres humanos perceberam que os recursos naturais do planeta Terra

são esgotáveis e a gravidade dos problemas causados pela destruição ambiental.

Mais do que isso, conforme a contextualização feita nesse capítulo, desde a

década de 1960 os Estados admitiram a crise socioambiental e confirmaram que o

mundo deve agir em conjunto a fim de melhorar a qualidade de vida atual e das futuras

gerações.

De acordo com Kassmayer (2010, p. 423) evidenciou-se assim “o desafio da

regulamentação jurídica dos riscos socioambientais e da administração pública no

alcance à justiça socioambiental.”

Ao longo de todos os anos de discussões sobre o desenvolvimento sustentável,

o Brasil também se ajustou nesse sentido e, pela primeira vez em uma Constituição,

percebe-se que os preceitos da sustentabilidade são consoantes com os valores

supremos dispostos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o que

faz do desenvolvimento sustentável constitucionalmente determinado, porém de

forma implícita.

A partir da interpretação sistemática na leitura do ordenamento jurídico pátrio,

é possível notar que a República Federativa do Brasil possui o objetivo de concretizar

o desenvolvimento sustentável. O Preâmbulo14 da Constituição da República de 1988

institui um Estado Democrático o qual assegura o exercício dos direitos sociais e

individuais, a justiça, a igualdade, liberdade, o bem-estar, a segurança e o

desenvolvimento como valores supremos de uma sociedade pluralista, desprovida de

preconceitos e fraterna, fundada na harmonia social.

Conforme os valores supremos citados no preâmbulo, se interpretados

sistematicamente, a sustentabilidade entra, portanto, em cena como um princípio

constitucional, um valor supremo que torna-se imperioso para o cumprimento dos

objetivos fundamentais da República. E o desenvolvimento a que se refere, a partir da

interpretação do texto constitucional dentro do contexto15 em que foi criado, é o

14 PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 1988) 15 Aqui leva-se em conta o contexto de todas as discussões e movimentos em prol das questões ambientais supracitadas, a queda do regime ditatorial, a ascensão da democracia brasileira e o

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desenvolvimento sustentável, que se preocupa mais do que apenas com o progresso

econômico, mas também com o crescimento de maneira que considere todas as

variáveis econômicas, sociais e ambientais e almejando sempre o bem-estar social e

natural, sem detrimento de qualquer área do meio ambiente.

Além do Preâmbulo, a Constituição Federal de 1988 dedica um capítulo

exclusivo ao meio ambiente, o Capítulo VI, que determina no art. 225 o direito de todos

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, à qualidade de vida e confere ao Poder

Público e a toda coletividade a obrigação de preservá-lo para a presente e futuras

gerações.

A Constituição instituiu o Poder Público como o principal responsável por

garantir aos cidadãos o meio ambiente equilibrado, e para isso, incumbe sete

atribuições para que esse direito seja assegurado:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988)

No entanto, para que esse direito seja de fato assegurado, a coletividade

também precisa usar os recursos naturais de forma consciente. No entanto, isso nem

sempre acontece devido à diversos motivos, como mesmo a ignorância ou interesses

privados. No caso de conflitos ambientais e degradação do meio ambiente, cabe

também ao Poder Público intervir a fim de restabelecer o ambiente degradado e evitar

conflitos entre a sociedade.

Relatório de Brundtland, que foi publicado em época concomitante à promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

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Diante disso, para o exercício dos deveres impostos ao Poder Público na

gestão ambiental, é necessário planejamento e visão estratégica a fim de cada vez

mais preservar o meio ambiente e, no caso de destruição, condicionar a imediata

reparação dos danos pelo infrator.

Além do art. 225, o conceito constitucional de desenvolvimento traz a

sustentabilidade em inúmeras normas constitucionais como, por exemplo: o art. 170,

VI que consagra, expressamente, a defesa do meio ambiente como princípio da ordem

econômica e impõe um tratamento diferenciado das atividades econômicas conforme

o impacto que causam; o art. 174, §1º que determina o planejamento do

desenvolvimento equilibrado; o art. 192 dispõe que o sistema financeiro deve

promover o desenvolvimento equilibrado respeitando os interesses coletivos. E mais,

o art. 205 da CF determina o desenvolvimento da pessoa; o art. 219 que ordena o

incentivo do desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar e a autonomia

tecnológica.

Ademais, da interpretação sistemática dos dispositivos constitucionais dos

artigos supracitados, e ainda da junção interpretativa dos arts. 3º, 170, VI, 172, §1º e

225, a sustentabilidade além de valor supremo da Constituição, pode ser interpretada

como objetivo da República, que requer o desenvolvimento equilibrado, voltado para

a equidade social e o bem-estar continuado, durável intra e intergeracional, de

maneira que a considere o crescimento do país nos âmbitos econômico, social e

ambiental.

Sendo assim, é possível perceber que quando a CF cita o desenvolvimento

como sendo valor supremo da República, faz-se referência ao desenvolvimento

sustentável que leva em consideração o progresso ético e multifacetado (ambiental,

social e econômico).

Nesse sentido, Freitas (2016, p. 118) faz uma interessante colocação sobre o

desenvolvimento de acordo com os valores e os objetivos da Constituição da

República de 1988, diga-se que bem diferente do pensamento passado, à época da

ditadura, que buscava crescimento econômico a qualquer custo:

Como resulta cristalino, da sinapse dos comandos constitucionais, o valor da sustentabilidade, com a sua pluridimensionalidade valorativa, inspira a completa ultrapassagem do modelo tradicional de desenvolvimento (medido pelo enganador PIB), de ordem a não restringi-lo à esfera medíocre, limitada e limitante, do crescimento material iníquo e desordenado. Tampouco o modelo para o hiperconsumismo patológico, que faz as classes médias dos

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países desenvolvidos adotarem padrão de vida que simplesmente não consegue ser generalizado pelas classes médias dos países emergentes.

Ainda, a partir cargas semânticas distintas, conforme o mesmo pesquisador, a

definição de sustentabilidade é muito mais profunda, pois

(a) é princípio ético-jurídico, direta e imediatamente vinculante (do qual são inferíveis regras), que determina o oferecimento de condições suficientes para o bem-estar das atuais e futuras gerações, (b) é valor constitucional supremo (critério axiológico de avaliação de políticas e práticas) e (c) é objetivo fundamental da República (norte integrativo de toda interpretação e aplicação do Direito. Nessa vertente, a ascensão valorativa da sustentabilidade catalisa a transformação de estilo de pensamento ético jurídico-político, no intuito de fazê-lo fonte de desenvolvimento durável, resiliente e socialmente justo. Numa expressão: desenvolvimento sistematicamente sustentável, com a eficiência a serviço da eficácia, numa perspectiva renovadora da hermenêutica das relações jurídicas, preferencialmente adotando soluções em conformidade com a natureza. (FREITAS, 2016, p. 119)

De sorte que, para que seja possível o progresso racional e ético de uma

sociedade fraterna de acordo com os objetivos da República, é interessante desfazer

as premissas conforme o fundamentalismo de mercado e a ideia que associa o bem-

estar e a felicidade humana ao consumismo.

Em matéria legislativa, o Brasil tem mostrado seguir os parâmetros da

sustentabilidade e desde a Constituição Federal de 1988, surgiram muitos outros

dispositivos infraconstitucionais que regulam as questões ambientais e visam

promover o equilíbrio do meio ambiente.

Em 1997, por exemplo, foi sancionada a Lei 9.433 que institui a Política

Nacional de Recursos Hídricos e determina a utilização racional da água e dos

transportes aquaviário visando o desenvolvimento sustentável. Ademais, o art. 48, II,

da Lei 11.445/07 estabelece que a União deverá, em sua política de saneamento,

aplicar recursos financeiros a fim de promover o desenvolvimento sustentável; a Lei

8.666/93 teve alteração que incluiu o princípio desenvolvimento sustentável; ainda, a

Lei nº 9.985/2000 que dispões alguns artigos sobre o extrativismo sustentável e a

sustentabilidade econômica.

Nesse sentido, entre os diversos dispositivos normativos brasileiros acerca das

questões ambientais que surgiram desde a CF de 1988, em 2010 foi sancionada a Lei

12.305, que a fim de buscar o equilíbrio do meio ambiente considerando as esferas

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ecológicas, sociais, políticas, culturais e econômicas, de modo a promover o

desenvolvimento sustentável, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A Lei nº 12.305/10 é bastante atual e inovadora, visto ser a primeira na história

brasileira que trata exclusivamente dos problemas sociais, ambientais e econômicos

decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Seguindo os parâmetros

éticos e racionais da sustentabilidade, a referida lei prevê a redução na geração de

resíduos e propõe a mudança prática de hábitos de consumo sustentável juntamente

de instrumentos que possibilitam o aumento da reutilização e da reciclagem dos

resíduos sólidos e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos.

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4 A LEI 12.305/10 QUE INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Postas as considerações sobre os debates acerca da crise socioambiental no

mundo, e desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, nota-se que a

legislação brasileira tem dado mais importância às questões ambientais, e mostrado

engajada no assunto, de forma que se tornou uma das mais completas legislações

ambientais do mundo. (Brasil, 2010b)

O constante crescimento populacional brasileiro urbano proporcionou grande

geração de resíduos sólidos.16 Este aumento gerou também alto número de descarte

inadequado de rejeitos e resíduos, o que prejudica o meio ambiente ecológico e a

saúde pública, devido à contaminação do solo e das águas, por exemplo. Além disso,

é desperdiçado um grande potencial socioeconômico, visto que muitos resíduos

sólidos são passíveis de reutilização e reciclagem, de maneira a poupar a demanda

por novas matérias-primas e a extração de recursos naturais, financeiros e a emissão

de CO².

Desse modo, a crescente preocupação com a proteção do meio ambiente

ecológico associada às questões sociais e econômicas acerca dos resíduos sólidos

indica que as políticas públicas referentes ao tema tendem a ser cada vez mais

reivindicadas pela sociedade. Uma vez que o descarte inadequado traz uma série de

graves danos ao meio ambiente e à saúde pública e correlata a um trágico quadro

socioeconômico, visto o elevado número de famílias que, marginalizadas pela

sociedade, sobrevivem dos (e nos) lixões, onde moram e de onde retiram os materiais

recicláveis e reutilizáveis que comercializam e utilizam para viver.

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os municípios

passaram a serem considerados entes federativos autônomos, dotados de

competências próprias, independência legislativa, administrativa e financeira e, ainda

16 Em 2016, a população brasileira cresceu 0,8% em relação ao ano de 2015 e a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil chegou a 214.405 toneladas por dia. No entanto, a coleta total de resíduos sólidos urbanos foi de 195.452 toneladas por dia, ou seja, a relação condizente de dados entre a coleta e geração de resíduos sólidos urbanos apresenta índices negativos. (ABRELPE, 2016) Na região sul do país, em 2016, a produção de resíduos sólidos urbanos por pessoa é de 1,07 kg/ dia, e no estado do Paraná são produzidos diariamente 11.186 toneladas de resíduos sólidos urbanos. (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017)

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contemplados com a possibilidade de legislar acerca de assuntos de interesses local;

suplementar a legislação federal e a estadual e, ainda, prestar e organizar,

diretamente ou sob regime de permissão ou concessão, serviços públicos de

interesses local e de caráter essencial (Art. 30 incisos I, II e V, CF/88). Além disso, a

Constituição Federal ainda determina a competência comum entre a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios para proteger o meio ambiente e combater

a poluição em qualquer de suas formas (art. 23, inciso VI, CF). Portanto, a partir da

interpretação dos dispositivos constitucionais, os municípios são detentores da

titularidade dos serviços de limpeza urbana e de gestão, gerenciamento e manejo dos

resíduos sólidos, desde a coleta até a destinação final.

Contudo, embora já existissem normas que abordam sobre resíduos sólidos,

especialmente as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA,

antes da Lei 12.305/10 não havia, no Brasil, nenhum instrumento legal que

estabelecesse diretrizes e regulamentasse a questão dos resíduos sólidos a fim de

nortear os Estados e Municípios na gestão adequada desses resíduos17.

Conforme pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) em 1989, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) mostrava que

o apenas 10,7% dos municípios brasileiros destinavam seus resíduos sólidos de

maneira adequada e 88,2% dos resíduos sólidos tinham os vazadouros a céu aberto

– os lixões – como seu destino final. Já nos anos 2000, pesquisas realizadas pelo

IBGE e pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos

Especiais (Abrelpe), notaram que a maioria esmagadora das regiões do Brasil

dispunham os resíduos sólidos em vazadouros a céu aberto ou em áreas alagadas

correspondendo a 72,25% do universo pesquisado (ABRELPE, 2003). Em 2008,

houve uma melhora relativa nesse quadro com o aumento da participação dos aterros

sanitários e a diminuição da disposição dos resíduos sólidos em lixões, de acordo com

a Tabela 1.

17 Cabe salientar que a União não possui competência privativa para legislar sobre resíduos sólidos. (MACHADO, 2014, p. 635)

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Tabela 1 – Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destinos dos resíduos no

Brasil:

FONTE: IBGE, 2000 e 2008

Vale ressaltar, a título de esclarecimento, a diferença entre vazadouros a céu

aberto – lixões -, aterros controlados e aterros sanitários: os vazadouros a céu aberto

não possuem nenhum tratamento adequado para os resíduos ali dispostos, ou seja,

os resíduos sólidos simplesmente são jogados e amontoados em enormes depósitos

ao ar livre e geralmente distantes dos centros urbanos; nos aterros controlados, os

resíduos sólidos são dispostos de maneira controlada e recebem uma cobertura de

solos, porém do ponto de vista ambiental, pouco diferem dos lixões visto que não

possuem o aglomerado de sistemas necessários para a proteção da saúde pública e

do meio ambiente; por sua vez, os aterros sanitários são construídos conforme

normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e necessitam de um

conjunto de sistemas como impermeabilização do solo, coberturas, manutenção e

controle a fim de proteger o meio ambiente e a saúde pública. (FOGAÇA, 2014)

Feita a ressalva, embora este quadro tenha melhorado gradativamente ao

longo dos últimos 20 anos mostrados na Tabela 1, principalmente nas Regiões

Sudeste e Sul do País, a situação ainda configurava como um cenário preocupante

sobre a destinação reconhecidamente inadequada, a qual exigia soluções urgentes,

estruturais e eficazes para o setor. Para isso, é certo que tais soluções requerem

mudanças sociais, culturais e econômicas.

Em resposta a essas demandas, foi sancionada em 02 de agosto e

regulamentada em 23 de dezembro de 2010 a Lei 12.305 que institui a Política

Nacional de Resíduos Sólidos, a qual dispõe de instrumentos e objetivos visando à

gestão integrada e o correto gerenciamento dos resíduos sólidos.

A Lei estabelece um marco regulatório nessa questão e deve ser entendida

como um instrumento norteador para o desenvolvimento ambiental, social e

econômico. A importância do tema e sua regulamentação legal, portanto, é um passo

Ano Vazadouro a céu aberto Aterro controlado Aterro sanitário

1989 88,2 9,6 1,1

2000 72,3 22,3 17,3

2008 50,8 22,5 27,7

Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destinos dos resíduos (%)

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relevante para que o Brasil alcance um melhor grau de evolução de tecnologia limpa,

crescimento sustentável e consciência ambiental.

Além disso, a PNRS foi um marco, pois de maneira inédita e exclusiva, a lei

aborda todas as espécies de resíduos sólidos: domésticos, industriais,

eletroeletrônicos, entre outros, e também regulamenta a gestão dos rejeitos18, de

maneira a promover a destinação adequada e estabelecer responsabilidades ao

integrar Poder Público, empresas e cidadãos.

Em linhas gerais, a Lei 12.305/10 busca orientar de forma clara e eficiente a

respeito da responsabilidade pós-consumo, com base na interpretação dos

dispositivos normativos para os seus aplicadores. E para isso, introduz uma série de

princípios que devem ser lidas sistematicamente com o corpo da lei, de modo a

considerar as definições estabelecidas no art. 3, as disposições gerais do art. 4º, os

objetivos do art. 7º e os instrumentos dispostos no art. 8°, os dois últimos serão vistos

de forma mais detalhada adiante.

Nesse diapasão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos possui os seguintes

princípios dispostos no art. 6º da Lei 12.305/10:

Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

I - a prevenção e a precaução;

II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;

III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;

IV - o desenvolvimento sustentável;

V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;

VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade;

VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;

IX - o respeito às diversidades locais e regionais;

X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;

18 Resíduos que não podem ser reutilizados ou reciclados. (BRASIL, 2017b)

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XI - a razoabilidade e a proporcionalidade. (BRASIL, 2010a)

O primeiro princípio reflete a importância da “política dos 5 Rs”: repensar,

reduzir, reutilizar, reciclar e recusar consumir produtos que gerem impactos

socioambientais significativos (BRASIL, 2018f). Ademais, o art. 9o da Lei 12.305/10

determina que “na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada

a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,

tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos

rejeitos.” (BRASIL, 2010)

Desse modo, é interessante observar que os primeiros “Rs” quais a Lei se

refere são redução e reutilização. Estas são as etapas mais importantes para a gestão

dos resíduos sólidos e que fazem parte de um processo educativo que visa à mudança

de hábitos cotidianos dos cidadãos e do padrão das sociedades de consumo.

Além disso, o descumprimento dessas obrigações traz ao poluidor encargos

financeiros. Também desse primeiro princípio surgiu na Lei 12.305/10 o princípio da

responsabilidade compartilhada, que impõe aos geradores responsabilidade pela

destinação dos resíduos.

Tendo em vista todos os princípios expostos em lei, fica evidente que almeja-

se não apenas a proteção do meio ambiente, e sim o verdadeiro desenvolvimento

sustentável o qual possui essência multidimensional e abrange todas as áreas. Além

disso, fica claro que a lei busca a cooperação entre as esferas públicas e privadas, a

partir da leitura dos princípios VI, VII, VIII, IX e X, por exemplo, é possível notar a

importância da interdependência entre as instituições econômicas e sociais para a

efetivação de uma boa gestão integrada dos resíduos sólidos.

A Lei lista, também, 15 objetivos que, para serem cumpridos de maneira eficaz

e conseguir atingir os fins da lei, devem estar sempre em mente na vida dos cidadãos

e sendo cobradas pelas instituições. Trata-se de objetivos importantes para a melhoria

da qualidade de vida da sociedade brasileira e para o crescimento sustentável do país.

O artigo 7º elenca os seguintes objetivos:

Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

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III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais;

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

VII - gestão integrada de resíduos sólidos;

VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;

IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:

a) produtos reciclados e recicláveis;

b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;

XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;

XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético;

XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. (BRASIL, 2010a)

Novamente, a partir da leitura dos objetivos é possível perceber que o foco da

lei é o desenvolvimento sustentável do país a partir da responsabilidade pós-

consumo, tendo em vista tratar sobre os aspectos de saúde pública; qualidade de vida

da sociedade e da natureza; inclusão social; incentivo à mudança no padrão de

consumo e à gestão ambiental e empresarial, a fim de melhorar os processos de

produção; a relevância sobre a interdependência entre as esferas públicas e privadas;

por fim, a promoção de ações sustentáveis e tecnologia limpa.

Diante da breve análise dos artigos 6º e 7º da Lei 12.305/10, nota-se que os

dispositivos normativos se complementam e ao mesmo tempo coincidem, de forma

que faz-se importante a leitura conjunta das normas.

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De maneira ilustrada e bem simplificada (Figura 3), os princípios e objetivos da

Política Nacional de Resíduos Sólidos buscam o funcionamento da gestão e do

gerenciamento19 dos resíduos sólidos conforme o desenho abaixo (art. 9º da PNRS):

Figura 3: Gestão adequada dos resíduos sólidos conforme a PNRS

FONTE: Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2010, c)

Entretanto, para que os princípios e os objetivos possam ser cumpridos de

modo eficaz, é importante que haja a conscientização ambiental da população, a

inclusão social e a capacitação dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis,

o incentivo à mudança dos padrões de consumo e à utilização de tecnologias

sustentáveis que otimizam a gestão dos resíduos. Para isso, a lei estabelece algumas

diretrizes e instrumentos que estão expressos no art. 8º.

19 A fim de esclarecimento, cabe diferenciar as palavras gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos (art. 3º, X e XI da Lei 12.305/10): a gestão possui conotação mais ampla e se refere como todas as normas, leis e estratégias políticas, financeiras e ambientais visando o desenvolvimento sustentável. O gerenciamento, por sua vez, trata de todas as operações envolvidas com os resíduos, como a coleta, o deslocamento, o tratamento, a disposição final, e outras, ou seja, diz respeito ao planejamento exato e integrado sobre os resíduos sólidos.

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4.2 A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA E A LOGÍSTICA REVERSA

Entre os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos dispostos no

art. 8º da Lei 12.305/10, estão no inciso III, a coleta seletiva, a logística reversa e

outras ferramentas que estão relacionadas à implementação da responsabilidade

compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Nota-se que a lei é bem clara e faz questão de conceituar em seu art. 3º todos

esses termos técnicos para a gestão dos resíduos sólidos. Tendo em vista que todas

as pessoas têm responsabilidade pós-consumo e que a interdependência entre o

Poder Público, as empresas e a coletividade é importante para a gestão adequada

dos resíduos sólidos, todos os leitores, sendo eles profissionais ou leigos conseguem

compreender os instrumentos da lei. Desse modo, o art. 3º conceitua os termos coleta

seletiva, logística reversa e responsabilidade compartilhada das seguintes formas:

Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

(...)

V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição;

(...)

XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;

(...)

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei; (BRASIL, 2010a)

Nesse sentido, a logística reversa é um instrumento para auxiliar na aplicação

da responsabilidade compartilhada, e para viabilizar a devolução dos resíduos sólidos

a seus respectivos fabricantes/ importadores/ distribuidores/ comerciantes

responsáveis. Segundo Paulo Affonso Leme Machado (2014, p. 647), o sistema da

logística reversa também traz consigo a aplicação do princípio poluidor-pagador (art.

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6º, II, da Lei 12.305/10 e art. 4ª, VII, da Lei 6.938/81), visto que impõe a

responsabilidade pós-consumo.

Desse modo, é possível o reaproveitamento dos resíduos descartados pelo

próprio fabricante, ou em ciclos produtivos diversos. Esse instrumento se aplica a

todas as espécies de resíduos sólidos, principalmente embalagens e produtos que

oferecem riscos à saúde pública e ao meio ambiente.

Para alguns resíduos a Lei aplica obrigatoriamente o sistema de logística

reversa, são seis principais grupos: baterias e pilhas; lâmpadas fluorescentes de vapor

de sódio e mercúrio e de luz mista; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e

embalagens; produtos eletroeletrônicos e seus componentes e embalagens de

agrotóxicos.

A logística reversa deve ser feita independente do oferecimento de serviço

público de limpeza urbana, segundo o caput do art. 33 da Lei, de modo a assegurar o

retorno desses resíduos ao fabricante/ importador/ distribuidor/ comerciante

responsável após o descarte pelo consumidor final.

Contudo, é viável que o Poder Público se encarregue das obrigações dos

responsáveis mediante acordo setorial ou termo de compromisso, de maneira

remunerada, conforme o art. 33, §7º. Os acordos setoriais têm natureza contratual e

são firmados entre o Poder Público e o respectivo responsável pelos resíduos. Os

termos de compromisso, por sua vez, caberão nas hipóteses em que não houver, em

uma mesma área de abrangência, acordo setorial ou regulamento específico,

consoante o estabelecido no Decreto nº 7.404/2010 ou

no caso de compromissos e metas mais exigentes que o previsto em acordo setorial

ou regulamento, e apenas terão eficácia a partir da homologação pelo órgão ambiental

competente do SISNAMA, conforme sua abrangência territorial. Vale ressaltar que

não é permitido de modo algum, por Lei, que o serviço público ou a concessionária

faça gratuitamente essas operações de logística reversa. (BRASIL, 2018g)

A figura 4 tem o objetivo de simplificar e ilustrar a explicação sobre a

responsabilidade compartilhada, o sistema de logística e os acordos setoriais:

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Figura 4: a logística reversa, a responsabilidade compartilhada e os acordos

setoriais

FONTE: PREFEITURA DE FLORIANÓPOLIS, 2018

Dessa maneira, a logística reversa possibilita o retorno do resíduo sólido

descartado ao setor produtivo, de modo a poupar a utilização de novas matérias-

primas.

Contudo, para que seja possível executar o sistema de logística reversa, todos

os sujeitos envolvidos no processo de produção, transportação, venda e consumo têm

a obrigação de contribuir para o encaminhamento adequado dos produtos/resíduos

sólidos para reciclagem ou destinação final ambientalmente correta.

Os consumidores nesse processo têm a responsabilidade de fazer a devolução

de seus produtos, resíduos sólidos e embalagens aos comerciantes ou distribuidores

após o descarte. Aos comerciantes e distribuidores cabe fazer o retorno aos

fabricantes ou aos importadores dos resíduos sólidos acumulados e devolvidos. Por

sua vez, os fabricantes e os importadores possuem o dever de destinar

adequadamente os resíduos sólidos reunidos ou devolvidos, e também devem fazer

a disposição final dos rejeitos de maneira ambientalmente adequada, nos termos

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estabelecidos pelo órgão competente do SISNAMA ou, se houver, pelo plano

municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.

Ainda, o não cumprimento da logística reversa pode acarretar em multa e

sanção. O Decreto nº 6514, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, em seus

art. 61 e 62, VI estabelece que quem causar poluição que possa resultar em danos à

saúde humana ou ao meio ambiente, incluindo a disposição inadequada de resíduos

sólidos, estará sujeito à multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões. (BRASIL, 2017b)

Seguindo esse sentido, no Paraná, por exemplo, já existe plano de logística

reversa dos medicamentos e de acordo com a Lei estadual 17.211/12 em consonância

com a PNRS, as multas pelo descumprimento do plano de logística reversa de

medicamentos podem variar de R$ 7.172 a R$ 71.720 por estabelecimento, e em caso

de reincidência, poderão dobrar de valor (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARANÁ,

2014).

No entanto, apesar do dever imposto pela legislação ambiental e da existência

de coerção em caso de descumprimento, a logística reversa é um grande desafio a

ser enfrentado. A carga onerosa das operações do sistema de logística reversa em

um país de extensão continental com suas complexidades peculiares referente à

logística é uma das principais dificuldades. Além disso, sabe-se que qualquer sistema

que vise um planejamento adequado desencadeará despesas maiores, porém

necessárias para o desenvolvimento sustentável do país. Não obstante esses gastos

serem, muitas vezes, enxergados pelas empresas como apenas um ônus econômico,

se visto de forma mais consciente, essas despesas não trarão prejuízo econômico, e

sim precaverão maiores dispêndios que eventualmente virão a fim de recuperar a

destruição do meio ambiente causado pelo descarte inadequado dos resíduos sólidos

(PORTAL RESÍDUOS SÓLIDOS, 2013).

Ademais, a PNRS enfrenta grandes dificuldades de sair do papel em vários

aspectos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o quadro institucional

também é negativo, apesar de encontrar-se em estado de evolução. As Prefeituras

Municipais, em sua maioria, ainda não dispõem de recursos técnicos e financeiros

para sanar os problemas relacionados à gestão dos resíduos sólidos. Ademais, muitas

vezes, ignoram as possibilidades de estabelecer parcerias com setores sociais que

deveriam estar envolvidos na gestão e na busca de alternativas para soluções

efetivas.

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55

Os municípios, ainda, raramente utilizam das vantagens e das possibilidades

de cooperação com outros entes federados através de consórcios públicos nos termos

previstos pela de Lei de Consórcios Públicos, Lei nº 11.107/2005, e pela Lei de

Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007) e de seus respectivos decretos de

regulamentação, Decreto nº 6.017/2007 e Decreto nº 7217/2010. Desse modo,

continua sendo frequente a gestão de resíduos sólidos sem prévio e adequado

planejamento técnico-econômico. (BRASIL, 2018f)

Tendo em vista os obstáculos enfrentados, a Lei 12.305 sugere, em seu

parágrafo 3º do art. 33, sem detrimento das exigências específicas fixadas em lei ou

regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA e do Sistema

Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), ou em acordos setoriais e termos de

compromisso, firmados entre o poder público e o setor empresarial, que os

responsáveis legalmente pela operação de logística reversa adotem os seguintes

procedimentos:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:

(...)

§ 3o Sem prejuízo de exigências específicas fixadas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS, ou em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V e VI ou dos produtos e embalagens a que se referem os incisos I e IV do caput e o § 1o

tomar todas as medidas necessárias para assegurar a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa sob seu encargo, consoante o estabelecido neste artigo, podendo, entre outras medidas:

I - implantar procedimentos de compra de produtos ou embalagens usados;

II - disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis;

III - atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o § 1o. (BRASIL, 2010a)

Nota-se que a PNRS incentiva e prioriza a parceria com cooperativas ou de

outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e

estabelece que sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística

reversa é essencial, tendo em vista as contribuições muito significativas dos catadores

de materiais recicláveis e reutilizáveis para o processo de reciclagem, já que atuam

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na coleta seletiva, na triagem, na classificação, no processamento e na

comercialização dos resíduos sólidos.

Desse modo, visto a importância do trabalho dos catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis, a Lei 12.305/10 atribui um grande destaque à esse

segmento e estabelece como alguns de seus princípios “reconhecimento do resíduo

sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de

trabalho e renda e promotor de cidadania” e a “responsabilidade compartilhada pelo

ciclo de vida dos produtos” (BRASIL, 2010a).

4.3 A VALORIZAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E

REUTILIZÁVEIS

A partir do advento da Lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de

Resíduos Sólidos, os catadores de materiais recicláveis ou reutilizáveis tiveram seu

importante papel social consagrado e a letra normativa deixou bem clara a importância

desse segmento social ao meio ambiente ecológico e à sociedade. Tendo em vista

que a Lei menciona os catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis pelo menos

doze vezes é inegável e evidente o destaque dado à este segmento social para a

eficácia dos objetivos pretendidos pelo legislador.

Entre os princípios e objetivos da PNRS, o art. 6º, inciso VIII da lei reconhece

os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis como um bem de valor econômico e

social, gerador de trabalho, renda e promotor de cidadania.

Os catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis são sujeitos sociais que

conseguem seguir bem esse princípio e cumprem o objetivo de dar um novo

significado à materiais que, em primeiro momento, seriam considerados inúteis e

descartados como mero “lixo” pela grande maioria da população. O trabalho realizado

por essas pessoas, que consiste em fazer a coleta, triagem, gestão, transporte e,

muitas vezes, a reutilização os resíduos reaproveitáveis e/ou a venda para reciclagem

a partir de seu valor comercial deixa claro e importância da atividade de gestão dos

resíduos sólidos como alternativa de trabalho digno, de grande utilidade social e

ambiental, merecedor de incentivo e respeito.

De fato, visto a sua importância na gestão integrada dos resíduos sólidos, esse

segmento social desempenha uma função essencial na implementação da Lei

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12.305/10. Apesar de estarem presentes no cenário social urbano brasileiro há muito

tempo, apenas em 2002 a partir da CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, a

atividade profissional dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis foi

reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. (BRASIL, 2018h)

A despeito disso, ainda ocorrem muitos casos de marginalização e preconceito

social contra esses trabalhadores, além das condições precárias de trabalho,

realizadas de maneira autônoma, a partir do manejo impróprio dos resíduos em lixões

ou nas ruas.

A fim de promover o desenvolvimento sustentável e a cidadania, melhorar a

renda e a qualidade de vida dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, e

ainda, da própria natureza e da sociedade, a PNRS propõe a valorização da figura

dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e o fortalecimento desse

segmento social a partir de auxílios sociais, fortalecimento de cooperativas e/ou

associações de catadores.

Entre os objetivos da Lei 12.305/10 dispostos no art. 7º, está estabelecido no

inciso XII a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações

que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Ainda, entre os instrumentos da PNRS determinados pelo art. 8º da lei, está o

incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de

associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos termos do inciso

IV.

O fortalecimento das cooperativas e/ou associações de catadores é de suma

importância para a eficácia da Lei e de seus instrumentos, visto que oferece

possibilidade ao desenvolvimento sustentável de modo a gerar benefícios ao meio

ambiente, como o aumento de vida útil dos aterros sanitários dos municípios, por meio

da coleta seletiva, da logística reversa, e da triagem dos materiais, de modo a reduzir

a quantidade de resíduos reutilizáveis e recicláveis dispostos nesses locais, e fazê-

los retornar ao ciclo produtivo.

O art. 15, V, da Lei, também procura melhorar essa questão ao determinar que

a União elaborará, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o Plano

Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por prazo indeterminado e horizonte de

20 (vinte) anos, a ser atualizado a cada 04 (quatro) anos, e que deve obrigatoriamente

conter metas a fim de eliminar e recuperar os lixões, associadas à inclusão social e à

emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

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No Paraná, por exemplo, houve uma melhora em relação à destinação dos

resíduos sólidos após a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em

2013, segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), dos 399 municípios

paranaenses, 185 (46,4%) municípios dispunham os resíduos sólidos em aterros

sanitários, 121 (30,3%) em aterros controlados e 93 (23,3%) em vazadouros a céu

aberto. O relatório divulgado pelo IAP em 2017 apontou que 301 cidades do Paraná

(75%) destinam seus resíduos a aterros sanitários licenciados, 74 (19%) dispõem os

resíduos em aterros controlados, mas ainda 24 (6%) municípios destinam seus

resíduos aos lixões (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017).

Segundo a engenheira química do IAP, Alessandra Mayumi Nakamura,

coordenadora do levantamento dos dados do relatório:

É possível perceber a redução no número de lixões e de aterros controlados, principalmente porque as prefeituras optaram por destinar os resíduos em aterros particulares ou através de consórcios.

(...)

Isso tem ocorrido muito com os municípios de pequeno porte, que têm dificuldade tanto financeira como de equipe técnica qualificada para fazer a implantação e gestão de um aterro, afirma. (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017)

A questão da eliminação e recuperação dos lixões, em especial, é um grande

obstáculo a ser enfrentado pela lei e que vêm encontrando grandes dificuldades para

sair do papel. Não obstante a melhora no cenário ambiental brasileiro sobre os

resíduos sólidos, a qualidade da gestão dos resíduos sólidos no país ainda é

preocupante, segundo a Câmara dos Deputados, em 2017, ou seja, com 07 anos de

vigência, a Lei conseguiu eliminar os lixões em apenas 40% dos municípios do país.

Todavia, inicialmente a lei estipulou o prazo de 04 anos - até agosto de 2014 - para a

eliminação dos lixões e sua substituição pelos aterros sanitários no Brasil. Apesar

disso, foi levantando em torno de três mil lixões no país até o ano passado. (BRASIL,

2017a)

As dificuldades para erradicação dos lixões no Brasil são várias, entre elas

estão principalmente o custo oneroso para os municípios executarem o tratamento e

a destinação adequada dos resíduos, a falta de planejamento e de regularização

ambiental do serviço de coleta e a escassez de funcionários especializados em

manejo de resíduos. (BRASIL, 2017c)

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Segundo o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Política Nacional

de Resíduos Sólidos, o deputado Victor Mendes do PMDB do Maranhão, afirma, em

entrevista à Câmara dos Deputados, que a Lei 12.305/10 é boa, porém enfrenta

dificuldades para a sua implementação devido as obrigações não estarem divididas

igualmente entre o poder público e o setor privado. Na ocasião da entrevista ele

afirmou que:

Tratar resíduo é caro. Não adianta só gerar mais uma obrigação, com possibilidade de punição dos gestores municipais sem fazer parceria, sem estender a mão, sem orientar. Apenas terceirizando, depois cobrando, depois punindo, como está acontecendo hoje. A gente quer que essa lei, que é uma lei bem feita, que é modelo para todo o mundo, mas que ela não seja modelo apenas na teoria, mas que ela também seja um bom modelo na prática. Que o Brasil entre no protagonismo também do tratamento de resíduos, que está muito longe disso acontecer. (BRASIL, 2017c)

Vale comentar sobre a existência do Lixão Estrutural20 (figura 5), desativado

em janeiro de 2018, o maior lixão da América Latina, que estava localizado a apenas

15 km do centro do governo federal. Em entrevista à reportagem publicada pela

Câmara dos Deputados, a diretora presidente do Serviço de Limpeza Urbana do

Distrito Federal - SLU, Heliana Kátia Tavares Campos, explicou que o encerramento

do lixão não é um problema apenas do SLU, vez que não se trata de questão não de

técnica somente, mas engloba muitas áreas:

Em dois meses que eu estava aqui eu descobri que lá tinha: desova de carro roubado queimado, tráfico de entorpecentes, venda de alimentos vencidos e vincendos, poluição do subsolo com horta ali do lado. Fizemos uma reunião com o governador e falamos: quem tem que lidar com isso aqui são 17 órgãos. Então, o SLU não sabe lidar com esse tanto de questões. (BRASIL, 2017d)

20 Em uma área de 201 hectares, o equivalente a cerca de 280 campos de futebol, o Lixão Estrutural era o segundo maior do mundo. Em 2016, foram depositadas 830.055 toneladas de resíduos domiciliares, estimativas do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) afirmam que cerca de 40 milhões de toneladas de lixo foram aterradas no Lixão Estrutural desde a década de 1960, quando a área começou a ser utilizada para esse fim. (BRASIL, 2018i)

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Figura 5: Lixão Estrutural em Brasília-DF

FONTE: MENEZES, 2016

Nesse sentido, a questão da gestão dos resíduos sólidos no Brasil vai muito

além dos problemas ambientais e de saúde pública. Trata-se de uma problemática

muito mais profunda, que envolve cidadania, questões sociais, segurança e trabalho.

O problema da gestão dos resíduos sólidos no país, portanto, não se trata apenas de

problemas normativos, técnicos e/ou tecnológicos, mas também de problemas

institucionais e estruturais da própria sociedade brasileira.

No caso do Lixão Estrutural, um problema sério enfrentado pelas autoridades

durante o processo de desativação do lixão, segundo Ariovaldo Caodaglio, presidente

do Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana do Estado de São Paulo (Selur) era o

destino dos 02 mil catadores que trabalhavam no local. (MENEZES 2016)

Não obstante a lei tratar de algumas dessas questões ao incentivar o

fortalecimento das cooperativas e/ou associações de catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis, a fim de melhorar a qualidade de vida, a renda e promover

a autonomia desse segmento social, a mudança da realidade continua lenta. De

acordo com o representante do Movimento Nacional dos Catadores, Ronei Alves da

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Silva, na prática a lei não é eficaz ao melhorar a vida dos catadores, pois, na realidade,

Ronei afirma que os catadores são os responsáveis pela coleta seletiva e pela

reciclagem, porém não ganharam espaço para trabalhar e continuam vivendo em

situações precárias. (BRASIL, 2017d)

Desse modo, além dos benefícios ambientais, o fortalecimento dessas

cooperativas e/ou associações é essencial do ponto de vista sustentável, vez que os

trabalhos dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis junto às associações

proporcionam melhoria nas condições de trabalho e de vida, a dignidade da pessoa

humana, a economia solidária com a inclusão social dessas famílias quanto à geração

de renda, e o desenvolvimento sustentável.

Além disso, segundo Paulo Affonso Leme Machado (2014, p. 649) no âmbito

jurídico, o associativismo gera também uma vantagem processual, vez que a

associação e/ou cooperativa de catadores detém legitimidade ativa para ingressar

com Ação Civil Pública nos termos da Lei 7.347/85.

Visto isso, o governo federal vem, através de um conjunto de ações

empreendidas por diferentes órgãos, atuando para alcançar para o fortalecimento da

atuação do trabalho dos catadores com melhoria das condições de trabalho, a fim de

contribuir também para a implementação da PNRS.

Para isso é necessário programas e políticas públicas articuladas e integradas

com ações de cunho social, de ordem econômica e ambiental. A inserção dos

catadores nos planos de gestão de resíduos sólidos justifica-se tanto para fins

ambientais, como sociais e econômicos. Para a promoção da cidadania e para

assegurar os direitos fundamentais previstos na Constituição que impliquem na

melhoria das atuais condições das famílias desse segmento, é possível melhorar o

contexto atual através da efetiva inclusão social dos catadores, pois além de garantir

a destinação adequada dos resíduos sólidos, possibilita o incremento da renda, a

melhoria da qualidade do trabalho e da vida dos catadores e de suas famílias.

(CARVALHO, 2010, p. 432)

Entre algumas ações do governo federal estão: o Comitê Interministerial para

Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis

(CIISC); o Programa Pró-Catador; o Prêmio Cidade Pró-Catador; o Programa

Cataforte; o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec)

– Modalidade Pronatec Catador; e por fim, o Programa Coleta Seletiva Solidária.

(BRASIL, 2018h)

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Além dos programas do governo federal, aos catadores do extinto Lixão

Estrutural no Distrito Federal, foi aberto pelo Serviço de Limpeza Urbana e a

Secretaria do Trabalho com convênio técnico-financeiro firmado com o Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial do Distrito Federal (Senai-DF), o projeto

“Agentes da Cidadania Ambiental”, programa de inclusão social que oferece aos

catadores capacitação técnica e oportunidades de trabalho digno na gestão de

resíduos. (BRASIL, 2018j)

Ainda, com o intuito de fortalecer as associações/cooperativas de catadores de

materiais recicláveis e melhorar o cenário social e ambiental referente à problemática

da gestão dos resíduos sólidos, no Paraná existe o Programa Ecocidadão Paraná que

possui como objetivo auxiliar as cooperativas e associações de catadores a fim de

conceder autonomia a essas pessoas, a partir da inserção social dos catadores,

cursos técnicos de manejo adequado de resíduos, disponibilização de materiais para

trabalho, entre outros auxílios técnicos e de educação.

Nesse diapasão, Souza-Lima (2014, p. 48) ainda comenta sobre a importância

das ações sociais:

As ações socialmente responsáveis das empresas, governos e pessoas em geral tendem a estimular a inclusão social à medida que criam ou ampliam espaços para a cidadania; além do que, transformam pessoas marginalizadas em pessoas dignas de respeito diante da sociedade.

Assim, é inegável a importância da educação e do auxílio social para a prática

e o desenvolvimento da cidadania ambiental. Nesse sentido, a Política Nacional de

Educação Ambiental também determina em seus objetivos no art. 5º da Lei 9795/99,

o fortalecimento da cidadania:

Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental:

(...)

II - a garantia de democratização das informações ambientais;

(...)

IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

(...)

VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (BRASIL, 1999)

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Portanto, projetos sociais como o Programa Ecocidadão Paraná, que será

analisado no capítulo seguinte, mostram-se interessantes para desenvolver questões

de cidadania e responsabilidade social, relacionadas às diretrizes fundamentais da

sustentabilidade, da inclusão social e dignidade da pessoa humana, ao tratar de

assuntos como, por exemplo, a importância da preservação e da educação ambiental,

o manejo adequado dos resíduos sólidos e a valorização dos catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis.

Ademais, tais práticas aderem às determinações normativas, como os direitos

fundamentais expostos pela Constituição Federal de 1988, a Lei 9.795/99, que institui

a Política Nacional de Educação Ambiental e a Lei infraconstitucional nº 12.305/10,

que institui a PNRS com intuito de melhorar a qualidade do meio ambiente a partir do

gerenciamento e da gestão adequada do lixo.

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5 ESTUDO DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ

5.1 DESCRIÇÃO

O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social realizado pelo

Provopar Estadual21 e pela Sanepar, através de convênio técnico-financeiro. Este

programa iniciou seus trabalhos em dezembro de 2011, nos municípios do litoral do

Paraná e atualmente atua em 67 municípios paranaenses. O projeto social se propõe

a dar auxílio e orientação às associações e cooperativas de catadores de matérias

recicláveis e reutilizáveis.

Desde o início dos seus trabalhos em dezembro de 2011 até janeiro de 2018,

o Programa Ecocidadão Paraná atendeu 197 municípios do estado do Paraná e mais

de 2,4 mil famílias de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis em estado de

vulnerabilidade social. Além disso, este projeto social, em sete anos, proporcionou

auxílio e orientação a 213 associações/cooperativas de catadores de materiais

recicláveis ou reutilizáveis, o que possibilitou a destinação adequada de 78 mil

toneladas de materiais recicláveis que foram retirados do meio ambiente por

catadores capacitados pelo Programa. (PROVOPAR, 2018)

O Programa Ecocidadão Paraná trabalha a fim de estimular os catadores de

materiais recicláveis ou reutilizáveis a participar e intensificar ações de educação

ambiental, tanto em relação à técnica de separação e manejo adequado dos resíduos

sólidos, quanto à educação no que diz respeito à sensibilização de porta a porta sobre

valores e princípios sustentáveis. Este projeto social é feito por meio de um grupo de

técnicos especializados que percorrem os municípios do Paraná inscritos no

Programa, e o trabalho com os catadores se dá através de curso técnico e

disponibilização de equipamentos e maquinário. (PROVOPAR, 2018)

Para participar do Programa Ecocidadão Paraná, é necessário que o município

possua, obrigatoriamente, associação ou cooperativa de catadores de materiais

recicláveis ou reutilizáveis legalmente constituída e formalizada.22 Tendo esse

21 O Provopar Estadual é uma associação civil, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins econômicos e lucrativos que trabalha com objetivo de dar assistência social, educacional, beneficente, cultural, ambiental, saúde e geração de renda aos municípios paranaenses. (PROVOPAR, 2018) 22 Para os municípios que não possuem associação/cooperativa legalmente constituída e formalizada, e têm interesse em participar, o Programa EcoCidadão Paraná prevê orientação e auxílio para constituir e formalizar grupos de catadores locais.

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requisito, o município requerente deve enviar um ofício para a Unidade de Gestão de

Resíduos Sólidos da Sanepar e do Provopar Estadual, que, posteriormente irá entrar

em contato a fim de agendar visita técnica.23

Contudo, é importante ressaltar que para participar do Programa EcoCidadão

Paraná não há ônus a ser suportado pela prefeitura dos municípios, vez que os

equipamentos para a execução do trabalho social são fornecidos pela Sanepar em

regime de cessão de uso para as associações/cooperativas de catadores, e a

capacitação é realizada pelos técnicos do convênio técnico-financeira entre o

Provopar Estadual e a Sanepar.

Não obstante, a prefeitura deve auxiliar nos custos cartorários sobre

formalização e renovação de documentos da associação/cooperativa participante,

além de disponibilizar barracão para os catadores trabalharem e arcar com as

despesas correntes deste espaço, nos casos em que a associação/cooperativa não

possua recursos financeiros para tanto.

Para desenvolver o trabalho do Programa Ecocidadão Paraná, são

disponibilizados24, em sistema de cessão de uso para o trabalho de separação dos

materiais recicláveis e/ou reutilizáveis e mediante diagnóstico da capacidade

operacional das associações/cooperativas de catadores pelos técnicos do projeto

social, às associações/cooperativas equipamentos básicos para manejo dos resíduos

sólidos como: balanças, prensas, mesas de triagem, elevador de fardo (Figura 6),

carrinhos de movimentação de fardo e equipamentos de proteção individual (EPI).

Cabe salientar, que a cessão de uso de tais equipamentos devem respeitar o plano

orçamentário aprovado com a supervisão da Sanepar.

23 Reuniões com os gestores públicos municipais para implantação do Programa Ecocidadão Paraná nos municípios; realização de diagnóstico para avaliação do espaço físico para melhoria da logística interna e layout dos barracões visitados; verificação da documentação das Associações/Cooperativas; reunião para avaliação das demandas das Associações/Cooperativas com seus integrantes. 24 Há municípios em que não é necessário haver cessão para uso de tais equipamentos, tendo em vista o apoio de suas prefeituras que atuam ativamente fornecendo espaço, equipamentos e maquinários, e ainda em alguns casos, funcionários técnicos para trabalhar, durante 8 horas diárias, dentro da associação/cooperativa.

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Figura 6: Elevador de fardo cedido pelo Programa Ecocidadão Paraná

FONTE: PROVOPAR, 2018

5.2 METODOLOGIA APLICADA PELO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ

Com o intuito de capacitar os catadores de materiais recicláveis participantes,

o Programa Ecocidadão Paraná utiliza a metodologia Competências, Econômicas

Através Da Formação De Empreendedores (CEFE). Vale ressaltar que a metodologia

é aplicada através de materiais de fácil compreensão e manipulação.

A metodologia aplicada pelos técnicos do Provopar Estadual e da Sanepar, foi

criada pela Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e é baseada em

resultados de muitas pesquisas, incluindo estudos da Universidade Harvard (EUA).

Através de 265 pesquisas, obtiveram-se as Características Empreendedoras

Pessoais (CEP), que consistem em identificar comportamentos e características

inerentes ao ser humano em relação a planejamento, realização e competição.

Desse modo, com a aplicação dessas metodologias, o Programa busca criar

redes de apoio que instiguem os catadores a tomarem iniciativas de pesquisar

oportunidades, ter eficiência, persistência, aprender a correr riscos, criar objetivos,

metas e cumprir trabalhos, além de obter noções de planejamento e informação.

A metodologia ainda conta com a Aprendizagem por Ação (APA), na qual são

realizadas atividades dinâmicas em grupo (figura 7), como simulação e dramatização

de diferentes situações cotidianas do empreendedor, com o intuito de ensinar os

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catadores a lidar com resolução de problemas, diante de internalização de

experiências vividas e determinadas metas.

Figura 7: Dinâmica em grupo realizada pelo Programa Ecocidadão Paraná

FONTE: PROVOPAR, 2018

Esta metodologia, segundo a coordenação do Programa Ecocidadão Paraná,

é um dos pilares mais importantes do curso, pois os técnicos estimulam os catadores

a tirarem por si próprios o aprendizado de atividades cotidianas variadas, sem impor

conhecimentos precedentes.

Tal metodologia é aplicada em grupo de maneira dinâmica, de modo a gerar

um ambiente de calor humano e confiança entre os integrantes do grupo, facilitando

o trabalho de sensibilização, qualificação, capacitação, produção, gestão e

comercialização, a fim de atingir a autonomia dos catadores. A figura 8 demonstra

uma atividade do curso técnico ofertado pelo Programa Ecocidadão Paraná.

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Figura 8: Curso Técnico ofertado pelo Programa Ecocidadão Paraná

FONTE: PROVOPAR, 2018

No total, o curso se divide em seis módulos com carga horária de 6 horas cada:

Módulo 1: DIAGNÓSTICO (6 horas)

Visita técnica a fim de verificar as características estruturais do barracão, reunião com gestores municipais e integrantes da Associação para apresentação do Programa Ecocidadão Paraná.

Módulo 2: ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO (6 horas)

Sensibilizar a comunidade sobre os benefícios ambientais, humanos, sociais e econômicos dos grupos produtivos que se organizam em forma de Associação ou Cooperativa. Garantir a partilha associativa, através de métodos que alcancem as metas e resultados produtivos e econômicos.

Módulo 3:LEGISLAÇÃO|DOCUMENTAÇÃO (6 horas)

Sensibilizar e organizar dos trabalhadores através do processo associativista, realizando abordagem sobre os temas ligados a legislação, tais como o estudo do estatuto social, regimento interno, livros(ata, matricula,ponto) licenças contrato de serviços, política nacional de saneamento e política nacional de resíduos sólidos trazendo como elemento principal o entendimento dos processos associativistas, a gestão de pessoas e o processo operacional e administrativo de acordo com a legislação vigente.

Módulo 4: PLANEJAMENTO/LIDERANÇÃ|SEGURANÇA NO TRABALHO (6 horas)

Orientação quanto a elaboração de estratégias de programas para ações e execuções dentro das associações analisando, preparando e estruturando estratégias e condições para a concretização do estado desejado. Motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem objetivo da equipe e da organização. Desenvolver atividades ligadas a segurança no trabalho

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identificando os principais riscos à saúde do catador e enfatizando a legislação existente sobre o tema.

Módulo 5: PRODUÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO/ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA|LOGISTCA (06 horas)

Melhorar a produtividade do grupo, a forma e os métodos de separação; auxiliando-os para que busquem novos compradores e não fiquem refém de atravessadores locais, incentivando a se organizarem em “redes” com outras associações e cooperativas próximas, enfatizando que quanto mais volume de reciclado, melhor é o preço do produto final.

Orientar os membros da associação quanto à elaboração de planilhas e utilização de outras ferramentas para o controle de entrada e saída dos materiais, carga horária dos associados, pagamentos, custos e gastos.

Melhorar a organização interna do barracão, diferenciando e gerenciando os setores da produção, desde o recebimento do material até a venda. Otimizar espaço e tempo nos processos de reciclagem e trabalhar a respeito da limpeza do barracão.

Módulo 6: SUSTENTABILIDADE (6 horas)

Sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, utilizando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.

Orientar os associados para que esses sejam capazes, após a aplicação dos módulos anteriores, de realizar a autogestão de seu empreendimento.

A adoção de ações de sustentabilidade garantem a médio e longo prazo um planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a humana. Garante os recursos naturais necessários para as próximas gerações, possibilitando a manutenção dos recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e garantindo uma boa qualidade de vida para as futuras gerações. (PROVOPAR, 2018)

Além do curso, são realizadas reuniões periódicas com as

Associações/Cooperativas integrantes do programa, separadas por módulos que

abordam os seguintes temas: segurança ocupacional; associativismo; estudo do

estatuto e regimento interno; liderança; planejamento; produção e comercialização;

organização e logística; e sustentabilidade.

É importante que haja treinamentos e equipamentos adequados para auxílio

dos catadores, pois do contrário eles levam muito tempo para separar os materiais

recicláveis, visto que na maioria das vezes estão misturados com resíduos orgânicos.

Isto também provoca o descarte de, em média, 30 a 40% de material que poderia ser

reaproveitado, de modo a causar possíveis esgotamentos dos aterros sanitários, além

de causar maior demora no fechamento das cotas de resíduos destinados às

indústrias. (PREFEITURA DE CAMPO LARGO, 2017)

5.3 OBJETIVOS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ

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70

O Programa Ecocidadão Paraná foi idealizado pelo Provopar Estadual para

cumprir as determinações da Lei 12.305/2010 e atender a essas novas demandas. O

trabalho com os catadores é feito dentro de barracões (Figura 7), onde recebem as

capacitações para se tornarem autogestores do empreendimento, aumentando assim

a rede de produtividade o que, como consequência, proporciona também benefícios

ao meio ambiente: com maior número de reciclados, ocorre menor depredação de

matérias primas, visto o retorno dos materiais à cadeia de produção; aumento da vida

útil dos aterros sanitários; menor disposição de resíduos descartados

inadequadamente em rios, lagos e mananciais.

Desse modo, o projeto busca melhorar as condições de trabalho dos

profissionais desta área, fortalecer suas organizações e ajudá-los a valorizar os

materiais recicláveis na comercialização.

A partir do treinamento dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e

de os variados trabalhos realizados pelo projeto social, o Programa Ecocidadão, que

tem como base a Lei 12.305/10, busca alcançar os seguintes resultados:

- Orientação, organização e apoio às associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado quanto a organização administrativa, física e comercial, promovendo a inclusão e o fortalecimento de catadores na cadeia da reciclagem.

- Apoio na comercialização do material reciclável de associações de catadores, visando melhorar o escoamento do reciclável.

- Adequação e otimização das instalações de associações e cooperativas, através da oferta de equipamentos (prensa, balança, mesa de separação, EPI, uniforme, big bags, etc).

- Promoção da inclusão social do catador no que se refere à geração de trabalho e renda, permitindo sustentabilidade econômica e o fomento ao desenvolvimento local.

- Destinação de todo resíduo reciclável do município para associações de catadores, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº12.305/10).

- Capacitação técnica e gerencial a associados e cooperados, realizada pelos técnicos do convênio entre Sanepar e Provopar Estadual. O trabalho inicia com um Diagnóstico, seguido da fase de Sensibilização e Capacitação, Qualificação e Gestão, Produção e Comercialização, tendo como objetivo final a autonomia dos catadores e a autogestão do empreendimento.

- Aumento da vida útil de aterros sanitários dos municípios, através da atuação dos catadores no que se refere à coleta seletiva, logística reversa e a triagem dos materiais.

- Implantação de um modelo tecnológico misto que privilegia a minimização da geração e o manejo diferenciado de resíduos sólidos, com a triagem e a recuperação dos resíduos que constituem bem econômico e valor social, e a

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71

disposição final exclusivamente dos rejeitos, de forma ambientalmente adequada. (PROVOPAR, 2018)

Em suma, por meio dos auxílios materiais e técnicos que são oferecidos aos

catadores, o Programa busca estimular e desenvolver a autonomia financeira para

essas pessoas, com o objetivo de melhorar as suas condições de trabalho e de vida.

E, ainda, o projeto social pretende assim, a partir do desenvolvimento pessoal e

técnico almejado pelo Programa Ecocidadão, que os participantes tenham melhores

condições de realizar a gestão adequada dos resíduos sólidos, de modo a favorecer

também o cenário ambiental no que se refere ao problema dos resíduos sólidos, nos

municípios onde esteve presente o trabalho do Programa Ecocidadão Paraná.

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72

6 SÍNTESE DOS RESULTADOS

6.1 QUANTO AO FORTALECIMENTO DAS ASSOCIAÇÕES E A RENDA DOS

CATADORES

A partir da pesquisa realizada através de documentos e relatórios cedidos pelo

Provopar Estadual foi possível constatar que o trabalho executado pelo Programa

Ecocidadão Paraná consegue atingir muitos de seus objetivos, como, por exemplo, a

otimização das instalações de associações e cooperativas, através da oferta de

equipamentos, a geração do aumento de renda familiar dos catadores e da produção

de reciclagem, bem como a diminuição de matérias nos aterros sanitários.

Ainda, ocorreu também o fortalecimento das associações/cooperativas de

catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, visto que a cada ano aumentou o

número de inscritos que tiveram o auxílio do programa, o que contribuiu para a

capacitação de mais catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. A tabela 2

mostra o comparativo de associações/cooperativas integrantes do Programa

Ecocidadão Paraná desde o seu início até o ano de 2016:

Tabela 2: número de associações que participaram do Programa

Ecocidadão Paraná durante o período de 2011 a 2016.

FONTE: PROVOPAR, 2016

Vale ressaltar que as 06 associações que saíram do Programa Ecocidadão

Paraná em 2015, se desligaram pois não possuíam espaço (barracão) e/ou não

tinham verba suficiente para suportar despesas como, por exemplo, eletricidade.

Ainda, as respectivas prefeituras não forneceram barracões e/ou auxílio financeiro, de

maneira a tornar inviável a continuidade dos trabalhos do Programa.

Além disso, conforme dados fornecidos pelo Provopar, em 2017 o Programa

Ecocidadão Paraná totalizou o número de 104 municípios paranaenses atendidos,

ANO ASSOCIAÇÕES QUE

INGRESSARAM

ASSOCIAÇÕES QUE

SAÍRAMTOTAL

2011 7 0 7

2012 4 0 11

2013 23 0 34

2014 16 0 50

2015 18 6 62

2016 15 0 77

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73

sendo 65 deles no primeiro semestre de 2017 e o restante no segundo. Ainda, 844

catadores foram beneficiados pelo Programa no ano de 2017 e 2.444 catadores desde

o início (em 2011) até o final do ano de 2017, de acordo com a fonte.

No que se refere à geração de renda, conforme a análise dos dados fornecidos

pelo Provopar, o Programa Ecocidadão Paraná consegue aumentar o rendimento

financeiro mensal dos catadores. A título de demonstração e comparação dos

resultados, para a dissertação foi feito o levantamento dos números referentes aos

municípios que foram atendidos no primeiro semestre do ano de 201625:

1) Castro, município paranaense 71.501 habitantes (2017), com índice de

desenvolvimento humano (IDH) de 0,703 (2010) (INSTITUTO PARANAENSE DE

DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018a).

Anteriormente ao Programa Ecocidadão Paraná, a renda média mensal dos

catadores contabilizava R$ 400,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, em junho,

a renda média mensal dos catadores era de R$ 500,00.

Conforme relatório do Programa, o número de associados ao Programa foi de

15 catadores. O município de Castro possui aterro sanitário, coleta seletiva e realiza

atividades de Educação Ambiental com a população. A coleta de recicláveis é

realizada por empresa terceirizada em dias alternados a coleta do lixo orgânico. O

barracão em que os catadores trabalham foi cedido pela prefeitura e possui edícula

com refeitório e vestiário. Os equipamentos (prensa, balança e carrinho de fardo)

foram cedidos por parceiros do projeto, as empresas Tetra Pak e Castrolanda. Ao

Ecocidadão Paraná solicitaram apenas uma mesa de separação. Cerca de 3

toneladas de resíduos sólidos foram reciclados no primeiro semestre de trabalho do

Programa.

Os pontos positivos elencados pelos técnicos do Programa Ecocidadão Paraná

foram sobre a associação participativa e o barracão limpo e organizado. Em

contrapartida, os pontos negativos elencados foram de que a prefeitura é ausente em

relação à gestão dos resíduos; a associação não possuía CNPJ o que dificulta os

andamentos burocráticos de empréstimo de equipamentos, por exemplo; e a falta de

segurança, pois o barracão sofre roubos frequentemente. (PROVOPAR ESTADUAL,

2016)

25 Foi escolhido o primeiro semestre do ano de 2016 para a demonstração dos resultados, pois conforme a pesquisa realizada, este foi o período em que foi possível obter dados mais completos e precisos a partir dos documentos fornecidos pelo Provopar Estadual.

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2) Bandeirantes, município paranaense com população estimada em 32.486

habitantes (2017) e IDH 0,727 (INSTITUTO PARANAENSE DE

DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018b).

A renda média mensal dos catadores, anterior ao Programa Ecocidadão

Paraná, contabilizava R$ 370,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, em junho, a

renda média mensal dos catadores era de R$ 600,00.

Segundo o relatório do Programa, o número de associados ao Programa foi de

15 catadores. Em 2016, o município tinha acabado de encerrar o lixão municipal e

estava destinando os rejeitos para um aterro sanitário de empresa terceirizada

chamada INOVA que realiza a coleta seletiva no município, em dias alterados à coleta

de resíduos orgânicos. Em 2015, a cidade iniciou programa de Educação Ambiental

com a população. O barracão para trabalho foi cedido pela prefeitura, porém fora

parcialmente destelhado devido aos temporais na época. O Programa forneceu à

associação: 01 prensa, 01 balança, 01 mesa de triagem e 01 carrinho de fardo. Foram

recicladas aproximadamente 04 toneladas de resíduos durante o primeiro semestre

de trabalho do Programa Ecocidadão Paraná.

De acordo com os técnicos do Programa, o grupo de catadores foi unido e

participante e a prefeitura é presente e atuante nas associações junto aos catadores,

e ainda, fornecia cesta básica. O único ponto negativo citado foi que a renda média

mensal ainda não conseguiu equiparar o salário mínimo à época. (PROVOPAR

ESTADUAL, 2016)

3) Guaratuba, município paranaense com população estimada em 35.986

habitantes (2017) e IDH 0,717 (INSTITUTO PARANAENSE DE

DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018c).

Antes do Programa Ecocidadão Paraná, a renda média mensal dos catadores

perfazia R$ 450,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, a renda média mensal foi

de R$ 600,00. O número de associados foi de 21 catadores e foram cerca de 10

toneladas recicladas no primeiro semestre junto ao Programa.

De acordo com o relatório fornecido, o barracão foi cedido pela prefeitura e no

mesmo local, anteriormente, havia outra Associação que recebeu do Programa

Ecocidadão Paraná, em 2012, 01 prensa e 01 balança. Quando este grupo se

extinguiu, foi formada uma nova diretoria e associados. No entanto, os equipamentos

cedidos continuaram no barracão e sendo utilizados pelo novo grupo na ocasião.

Ainda, no mês de julho de 2016 foi cedido um elevador de fardo, que foi solicitado pela

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própria associação, devido ao grupo ser composto, na época, em sua maioria por

idosos. O elevador auxiliava o carregamento dos fardos para comercialização, de

modo a diminuir o risco de acidentes de trabalho.

Além disso, conforme os técnicos foram elencados vários pontos positivos no

trabalho com o município de Guaratuba: a associação era determinada, criativa e

participativa; o barracão limpo e organizado; a prefeitura foi atuante e presente, e

ainda disponibilizava uma técnica para trabalhar dentro da associação em

acompanhamento aos catadores durante 8 horas diárias; a prefeitura ajudava também

com busca constante de parcerias; ocorreu o acompanhamento do Centro de

Referência de Assistência Social de Guaratuba (CRAS), da secretaria da saúde que

ajudou com vacinas e do clube Rotary que prestou serviços de alfabetização aos

associados.

Não obstante, os elementos que dificultaram o trabalho de gestão dos resíduos

foram a grande quantidade de idosos e deficientes, e a necessidade de complementar

a renda dos catadores com cesta básica. (PROVOPAR ESTADUAL, 2016)

4) Piraí do Sul, município paranaense com população estimada em 25.277

habitantes (2017) e IDH 0,708 (INSTITUTO PARANAENSE DE

DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018d).

A renda média dos catadores anterior ao Programa era de R$ 430,00, a renda

após o trabalho no primeiro semestre de 2016 não constava no relatório. O número

de associados era de 04 catadores. A associação possuía barracão e equipamentos

(prensa, balança e mesa de triagem) cedidos pela prefeitura. O volume total de

resíduos reciclados foi em torno de 02 toneladas.

De acordo com os técnicos, o barracão e os equipamentos estavam em ótimas

condições, a prefeitura era presente e atuante e a associação participativa. No

entanto, as dificuldades encontradas no trabalho dos técnicos foram devido ao

extravio de documentação; ao baixo número de associados, pois poucas pessoas na

cidade estavam interessadas em trabalhar com reciclagem; e a constatação de pouca

separação de resíduos recicláveis pela população. (PROVOPAR ESTADUAL, 2016)

Sendo assim, conforme o comparativo demonstrado (tabela 3), a renda dos

catadores aumentou em média 40% após o trabalho do Programa Ecocidadão

Paraná. Nesse sentido, o projeto social conseguiu, no primeiro semestre de 2016,

atingir parcialmente sua meta no que se refere à inclusão social dos catadores através

da geração do aumento de renda dos associados, visto que nenhuma das

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76

associações participantes do Programa neste período conseguiu atingir o salário

mínimo da época que perfazia R$880,00.

Tabela 3: comparativo da renda média dos catadores antes e depois do

Programa Ecocidadão Paraná no primeiro semestre de 2016

Município Renda média anterior

(R$)

Renda média posterior

(R$)

Castro 400 500

Bandeirantes 370 600

Guaratuba 450 600

Piraí do Sul 430 não informado

FONTE: PROVOPAR, 2016

Não obstante, o Provopar Estadual relatou que já conseguiu atingir esse

objetivo algumas vezes, como, por exemplo, no primeiro semestre de 2014 (Tabela

4): no município de Pitangueiras que antes do Programa a renda média dos catadores

era de R$ 600,00 e ao final do primeiro semestre de 2014 chegou a R$ 800,00; em

Matinhos onde os catadores anteriormente tinham renda média de R$ 600,00, e após

o auxílio do Programa Ecocidadão Paraná conseguiram aumentar a renda média para

R$ 891,67; em Telemaco Borba os catadores tinham renda média de R$ 600,00 antes

do Programa, após o trabalho do Ecocidadão a renda média foi para R$ 960,00; na

cidade de Rio Branco a renda dos catadores antes do Programa Ecocidadão era R$

700,00 e após o auxílio do Programa a renda média mensal atingiu o valor de R$

966,67. Sendo assim, conseguiram superar o salário mínimo que neste ano era R$

724,00.

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Tabela 4: comparativo da renda média dos catadores antes e depois do

Programa Ecocidadão Paraná no primeiro semestre de 2014

Município Renda média anterior

(R$)

Renda média posterior

(R$)

Pitangueiras 600 800

Matinhos 600 891

Telemaco Borba 600 960

Rio Branco 700 966

FONTE: PROVOPAR, 2014

Além disso, conforme gráfico 1, em 2015 a renda média dos catadores superou,

na maioria dos meses, o salário mínimo na época que era R$ 788,0026:

Gráfico 1: Renda média dos catadores após o Programa Ecocidadão

Paraná (janeiro a outubro de 201527)

FONTE: PROVOPAR, 2015

Desse modo, quanto ao aumento da geração de renda e o fortalecimento desse

segmento social através das associações e cooperativas, o Programa Ecocidadão

Paraná demonstra de modo geral bons resultados visto que consegue possibilitar que

a renda referente aos materiais reciclados se destine diretamente aos catadores. Não

26 Contudo, não convém demonstrar especificadamente cada município trabalhado neste ano, visto que não foi fornecido o comparativo de renda média dos catadores antes e depois do Programa. 27 Os dados referentes aos meses de novembro e dezembro não foram fornecidos.

R$ 849

R$ 814

R$ 793R$ 792

R$ 848R$ 841

R$ 782R$ 773

R$ 800

R$ 813

R$ 720,00

R$ 740,00

R$ 760,00

R$ 780,00

R$ 800,00

R$ 820,00

R$ 840,00

R$ 860,00

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro NovembroDezembro

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78

obstante, apresenta algumas limitações visto que em períodos específicos não

conseguiu atingir o salário mínimo o que deixa a desejar no quesito inclusão social.

Contudo, vale salientar que conforme exposto nos relatórios apresentados pelo

Provopar, o trabalho do Programa parece ter melhor desenvolvimento e apresenta

melhores resultados quando há presença ativa da prefeitura municipal quanto ao

auxílio aos catadores e a gestão dos resíduos sólidos.

6.2 QUANTO AOS RECICLADOS

Desde o início de seus trabalhos em dezembro de 2011 até janeiro de 2018 o

Programa Ecocidadão Paraná apresentou bons resultados quanto à produção de

reciclados, ao total este programa possibilitou a reciclagem de 78 mil toneladas de

materiais. (PROVOPAR, 2018)

Ademais, de acordo com dados fornecidos pelo Provopar Estadual, o número

de materiais reciclados por catadores associados ao Programa foi crescente ao longo

dos anos de trabalho do Programa Ecocidadão Paraná, é possível notar na tabela 5

os que os resultados foram melhores a cada ano. Contudo, a título de esclarecimento

o número total de reciclados referente aos anos de 2012, 2016 e 2017 não foram

fornecidos pela fonte, o que se sabe, todavia, é que o total até janeiro de 2018 é de

78 mil toneladas de materiais reciclados através do Programa Ecocidadão Paraná

(PROVOPAR, 2018).

Tabela 5: Produtividade do Programa Ecocidadão Paraná referente à

reciclagem de materiais e separação de rejeitos nos anos de 2013, 2014 e 2015

(até outubro).

Comparativo 2013 a 2015 Produtividade de Reciclado e Rejeito

(KG)

Ano Total Reciclado Total Rejeito

2013 6.636.988 1.974.544

2014 11.132.998 3.284.781

2015 até outubro

11.160.009 2.560.168

FONTE: PROVOPAR, 2015

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79

Ainda, até o mês de outubro no ano de 2015, o Programa Ecocidadão Paraná

apresentou resultados satisfatórios, principalmente em relação à quantidade de

resíduos reciclados através dos catadores capacitados pelo Programa, conforme a

tabela 6 que apresenta os dados referentes aos trabalhos de reciclagem, a renda

média dos catadores e o número de associados.

Tabela 6: Resultados do Programa Ecocidadão Paraná de janeiro a outubro de

2015

FONTE: PROVOPAR, 2015

Sendo assim, o Programa Ecocidadão Paraná apresenta bons resultados e

cumpre sua meta quanto à destinação de materiais reciclados, de modo a diminuir o

número de materiais dispostos em aterros, rios e mananciais. Além disso, também

atende aos requisitos da Lei 12.305 quanto à destinação adequada e a reciclagem

dos resíduos sólidos, promovendo o fortalecimento da classe dos catadores de

materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, principalmente por trabalhar em municípios

menores do estado do Paraná, os quais geralmente não possuem grandes

planejamentos e provisões orçamentárias para a gestão e gerenciamento de resíduos

sólidos e dependem de serviços terceirizados de empresas particulares.

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro

Reciclado 1.130.505 959.711 1.116.796 1.100.362 1.157.894 1.156.091 1.071.840 1.027.426 1.240.098 1.281.287

Rejeito 244.595 289.879 294.306 287.674 270.882 274.053 226.832 222.692 249.630 263.551

Média Salarial R$ 848 R$ 813 R$ 793 R$ 792 R$ 848 R$ 841 R$ 782 R$ 773 R$ 800 R$ 813

nº Associados 671 657 669 672 672 662 700 708 731 710

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CONCLUSÃO

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os municípios se

tornaram entes federativos autônomos, dotados de independência administrativa,

financeira, legislativa e de competências próprias. O art. 30, incisos I. II e V, determina

que os municípios têm competência de legislar sobre assuntos de interesse local;

suplementar a legislação federal e a estadual e, ainda, organizar e prestar,

diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de

interesse local de caráter essencial (BRASIL, 1988). Portanto, deriva-se então a

interpretação de que o município é responsável pelos serviços de limpeza urbana e

da gestão e manejo dos resíduos sólidos, desde a coleta até a sua destinação final.

Contudo, apesar de existir normas que abordassem a temática dos resíduos

sólidos, ainda não havia, no Brasil, um instrumento legal que estabelecesse diretrizes

gerais aplicáveis aos resíduos sólidos para orientar os Estados e os Municípios na

gestão adequada dos resíduos sólidos.

Com o advento da Lei 12.305/2010 foi incorporada à legislação brasileira a

Política Nacionais de Resíduos Sólidos que dispõe de diretrizes e ferramentas para

solucionar a problemática da gestão dos resíduos sólidos. Ressaltam-se alguns

desses instrumentos:

Coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados de acordo

com sua composição;

Catadores de materiais recicláveis: valorização desse segmento social

essencial para a gestão correta dos resíduos sólidos, diversos artigos da Lei 12.305

abordam o tema, principalmente com o incentivo a mecanismos que fortaleçam a

atuação de associações/cooperativas;

Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de

atribuições dos importadores, fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores

e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos

pela minimização do volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como pela

redução dos impactos causados à saúde humana e do meio ambiente ecológico,

decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos da lei 12.305/10;

Logística Reversa: instrumento a fim de promover o desenvolvimento

socioeconômico, caracterizado por procedimentos destinados a viabilizar a coleta e a

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restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para a destinação final

adequada ambientalmente ou reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos

produtivos. (BRASIL, 2010)

Apesar de gestão de resíduos sólidos no Brasil ter melhorado gradativamente

com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o quadro institucional ainda deixa a

desejar, visto que o país ainda possui cerca de três mil lixões em funcionamento, e

segundo dados da ABRELPE (2016), 9% dos resíduos sólidos urbanos não foram

coletados em 2016, o que acarretou na destinação incorreta desses resíduos.

As dificuldades na aplicação dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos

Sólidos são diversas: a maioria das prefeituras municipais não dispõe de recursos

técnicos e financeiros para solucionar os problemas relacionados à gestão de

resíduos sólidos; ademais, a falta de planejamento e de regulação e controle social

no setor também configuram problemas frequentes.

Portanto, a problemática de resíduos sólidos vai muito além dos problemas

puramente técnicos e/ou tecnológicos, é também um problema legislativo e social.

Planejar e executar a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos são

responsabilidades grandes e onerosas, que exigem altos recursos financeiros e

técnicos. A partir da pesquisa, pode-se concluir que a realidade brasileira é de que a

maioria dos municípios não possui condições suficientes para executá-los da forma

socioambientalmente adequada. Além disso, para possibilitar a gestão adequada dos

resíduos sólidos é necessário haver inserção social dos catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis, visto tratar-se de uma figura social que desempenha um

papel fundamental na gestão integrada e que ganhou um grande destaque na PNRS.

O Programa Ecocidadão Paraná foi criado em dezembro de 2011, pelo

Provopar Estadual com convênio técnico-financeiro com a Sanepar, com o intuito de

colocar em prática alguns instrumentos da PNRS, principalmente o fortalecimento das

associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis.

A partir da análise e da síntese dos resultados expostos do Programa

Ecocidadão Paraná, é possível concluir que o Programa consegue cumprir algumas

exigências prescritas na Lei 12.305/10, como: o fortalecimento e incentivo às

associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis; o

aumento da vida útil dos aterros sanitário a partir da coleta seletiva e da otimização

do trabalho dos catadores, de forma a diminuir a quantidade de rejeitos dispostos a

céu aberto e reciclar grande número de materiais, visto que ao total o Programa

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conseguiu reciclar em torno de 78 mil toneladas de materiais, o equivalente à

quantidade de resíduos dispostos na grande mancha de lixo no Pacífico.

Além disso, o Programa Ecocidadão Paraná utiliza alguns dos principais

instrumentos de gestão de resíduos sólidos determinados pela Lei 12.305/10, quais

sejam: a coleta seletiva, a responsabilidade compartilhada, o fortalecimento das

associações/cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e a

reciclagem.

Quanto à emancipação econômica dos catadores (art. 15, V, e art. 17, IV da

Lei), o Programa Ecocidadão Paraná trabalha de forma interessante, visto que todos

os resíduos sólidos recicláveis dos municípios integrantes do projeto social são

destinados para as associações/cooperativas de catadores, conforme dispõe a Lei

12.305/2010.

Contudo, ainda deixou a desejar em alguns períodos, conforme os dados

fornecidos pelo Provopar, em relação à geração de cidadania e a inclusão social dos

catadores com aumento da renda familiar, tendo em vista que foram constatados

períodos e municípios em que a renda média mensal dos catadores não atingiu o

salário mínimo, como por exemplo, todos os municípios trabalhados pelo Programa

no primeiro semestre de 2014.

Cabe salientar que, conforme os relatórios analisados e os dados expostos foi

possível concluir que este programa tem uma atuação importante nos municípios

pequenos que não possuem planejamento para gestão e gerenciamento de resíduos

sólidos, tampouco capacidade técnica e financeira para arcar com as ações

necessárias para dar a destinação ambientalmente adequada aos resíduos.

No entanto, demonstrou-se que muitas vezes o trabalho do Programa

Ecocidadão Paraná possui limitações quanto ao seu trabalho com os catadores, visto

que depende de muitas formalidades e ações que vão além da competência do

Provopar Estadual e que dependem de muitas ações provenientes das prefeituras

municipais e de políticas públicas, como por exemplo, a estrutura necessária para os

trabalhos (barracões – o Provopar disponibiliza aos catadores apenas os

equipamentos, não o espaço), a formalização das associações e o sistema adequado

de coleta nos municípios.

Por fim, diante da pesquisa realizada, vale propor algumas indagações acerca

da problemática dos resíduos sólidos no Brasil:

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01) Ao que parece, os municípios enfrentam dificuldades, devido a grande

responsabilidade e os altos custos, em realizar a limpeza urbana e gerir

adequadamente os resíduos sólidos de forma eficaz. Ressalta-se que de acordo com

a Constituição essa competência é privativa dos municípios, que por sua vez são os

entes federativos mais frágeis. Seria interessante reavaliar a interpretação da

legislação constitucional acerca do assunto?

02) A problemática dos resíduos sólidos tem como origem a produção/consumo

demasiado proveniente do estilo de vida das sociedades de consumo. Conforme

dados expostos, os habitantes brasileiros consomem de forma igual ou superior a

países com PIB e IDH mais elevados que o do Brasil, no entanto a gestão dos resíduos

sólidos no país ainda deixa a desejar. A própria Política Nacional de Resíduos Sólidos

determina em seu art. 9º a não utilização, a redução e a reutilização. Todavia, essas

são práticas de consumo consciente, e para isso é necessário educar a população a

fim de compreenderem essa problemática e repensarem os padrões de consumo

atual. Nesse sentido, em que medida a Política Nacional de Educação Ambiental

instituída pela Lei 9.795/99 demonstra eficácia?

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