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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA
MESTRADO EM DIREITO EMPRESARIAL E CIDADANIA
PALOMA CARVALHO ZAMBON
LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ:
ESTUDO SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
CURITIBA
2018
PALOMA CARVALHO ZAMBON
LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ:
ESTUDO SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
Dissertação apresentada ao Mestrado em Direito Empresarial e Cidadania do Centro Universitário Curitiba, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Edmilson de Souza
Lima
CURITIBA
2018
PALOMA CARVALHO ZAMBON
LIMITES E POTENCIALIDADES DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ: ESTUDO
SOBRE OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS
Dissertação apresentada ao Mestrado em Direito do Centro Universitário Curitiba –
UNICURITIBA, área de concentração Direito Empresarial e Cidadania, linha de pesquisa
I - Obrigações e Contratos Empresariais – Responsabilidade Social e Efetividade, como
requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Orientador: Professor Doutor José
Edmilson de Souza Lima.
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________________________
Professor Doutor José Edmilson de Souza Lima (Orientador)
Centro Universitário Curitiba
_________________________________________________________
Professora Doutora Sandra Mara Maciel de Lima
Centro Universitário Curitiba
__________________________________________________________
Professora Doutora Daniele Regina Pontes
Universidade Federal do Paraná
Dedico à minha querida mãe.
AGRADECIMENTOS
Ao concluir essa pesquisa e essa fase tão marcante na minha vida que foi o
curso de mestrado, a única palavra que pode expressar meu sentimento é:
GRATIDÃO!
Gratidão a Deus que sempre foi e é muito bom comigo: que me concedeu a
vida com uma família maravilhosa; que me presenteou com energia, capacidade física
e cognitiva de concluir essa pesquisa; que sempre me oferece ótimas oportunidades;
que me protege e, ainda, coloca pessoas incríveis no meu caminho.
Gratidão a Nossa Senhora de Aparecida e Santa Rita de Cássia por sempre
estarem ao meu lado, em todos os momentos, me guardando e iluminando minha
vida.
Gratidão à melhor mãe que eu poderia escolher: Cláudia Carvalho, minha
melhor amiga, confidente, companheira, compreensiva. Gratidão por todo amor, por
sempre me dizer as melhores palavras de apoio, por me incentivar em tudo e me dar
forças para seguir em frente nos momentos de desânimos.
Gratidão aos meus avós Sandra Maria Medina Carvalho e José Carlos
Carvalho, por todo amor, carinho, cuidado e assistência que sempre me deram.
Gratidão ao meu namorado Bertrand Le Guilloux, pela cumplicidade, pelas
conversas, e por todo amor nos momentos de lazer e de trabalho.
Gratidão ao meu orientador, que eu admiro muito como profissional e como
pessoa, o professor José Edmilson de Souza Lima por todos os ensinamentos que
vão muito além da pesquisa e que, certamente, eu levarei para toda a vida. Minha
sincera gratidão por toda sua paciência, dedicação, carinho ao lecionar e por sempre
me deixar ser eu mesma!
Gratidão às professoras Sandra Mara Maciel de Lima e Carolina dos Anjos de
Borba pelas considerações construtivas e pela maneira gentil como elas foram
expostas, com certeza agregaram muito a essa pesquisa e à Paloma, como
pesquisadora.
Gratidão à professora Viviane Coelho de Séllos-Knoerr, pessoa gentil,
carinhosa e atenciosa, que me motivou a fazer o mestrado e a quem tenho profunda
admiração!
Da mesma forma, minha gratidão aos demais professores do mestrado por todo
enriquecimento que me trouxeram, e à Josilene Mariano da Silva por sua gentileza e
por estar sempre disposta a ajudar!
Enfim, gratidão ao Universo e ao seu fluxo maravilhoso que emana uma energia
incrível a quem consegue sentir! GRATIDÃO, GRATIDÃO, GRATIDÃO!
Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. Ser um ser humano é trabalhar por algo além de si mesmo.
VIKTOR FRANK
RESUMO
Um grande sintoma da crise socioambiental decorrente do estilo de vida contemporâneo pautado no consumismo é a poluição por gestão inadequada dos resíduos sólidos. Através de algumas práticas como a coleta seletiva e a logística reversa, é possível facilitar a reciclagem de materiais e diminuir a quantidade de lixo disposta nos aterros sanitários, de modo que esses materiais, suscetíveis a reaproveitamento voltem à cadeia de produção, o que possibilita benefícios ao meio ambiente, como a atenuação da extração de recursos naturais e matérias primas necessários à produção de novos insumos. A Lei 12.305/10 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos e dispõe de alguns instrumentos, diretrizes e metas a fim de garantir a gestão adequada dos resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável do país. No entanto, para que isso seja efetivado, é necessário haver a inserção social dos catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, vez que o fortalecimento das associações/cooperações proporciona o melhoramento da gestão dos resíduos sólidos. O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social, criado pelo Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar Estadual) com convênio técnico-financeiro junto à Companhia de Saneamento Básico do Paraná (Sanepar) que se propõe a prestar auxílio às Cooperativas e/ou Associações de catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, a fim de promover o fortalecimento e a inserção desse segmento social e melhorar a qualidade da gestão dos resíduos sólidos, de modo a gerar benefícios socioambientais. Esta dissertação tem o intuito de verificar em que medida o Programa Ecocidadão Paraná consegue cumprir as exigências dispostas na Lei 12.305/2010 e ampliar espaços para a cidadania dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. Além disso, a presente dissertação também verifica alguns objetivos e instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Para alcançar os objetivos desta dissertação foi realizada pesquisa bibliográfica através de análise de dispositivos legais, análise quali-quantitativa de documentos secundários, como dossiês de órgão públicos e privados, pesquisas e dados acerca da problemática dos resíduos sólidos, buscas doutrinárias e bibliográficas acerca do tema em bibliotecas, acervo pessoal e diversos sítios da internet, principalmente em páginas de órgãos públicos e revistas virtuais. Em segundo instante, para realizar o estudo do Programa Ecocidadão Paraná, foi feita a coleta e a análise quali-quantitativa de documentos secundários, como dados e relatórios, provenientes da fonte direta, o Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR. A partir da pesquisa, foi possível verificar que o Programa Ecocidadão Paraná é uma maneira interessante de melhorar a produção de reciclados, contudo ainda se mostra limitado quanto à promoção da cidadania e a inserção social dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento sustentável; Catadores de materiais recicláveis e/ou reutilizáveis; Gestão de Resíduos Sólidos; Responsabilidade socioambiental; Lei 12.305/10.
ABSTRACT
A serious symptom of the socioenvironmental crisis resulting from the contemporary lifestyle based on consumerism is the pollution caused by inadequate management of solid waste. Through some practices such as selective collection and reverse logistics, it is possible to facilitate the recycling of materials and reduce the amount of waste disposed in landfills, so these materials, susceptible to reuse, return to the production chain, which provides benefits to the environment, such as the attenuation of the extraction of natural resources and raw materials necessary for the production of new inputs. The National Solid Waste Policy established by the Law 12.305/10 has some instruments, guidelines and targets in order to ensure the adequate management of solid waste and the sustainable development of the country. However, in order to achieve this, it is necessary to have the social insertion of collectors of recyclable and/or reusable materials, since the strengthening of associations/cooperations provides the improvement of solid waste management. The Ecocidadão Paraná Program is a social program created by the Paraná Volunteer Program (Provopar Estadual) with a technical-financial agreement with the Paraná Basic Sanitation Company (Sanepar), which proposes to provide assistance to cooperatives and/or associations of collectors of recyclable and/or reusable materials in order to promote the strengthening and insertion of this social segment and improve the quality of solid waste management in order to generate socio-environmental benefits. This dissertation aims to verify the extent to which the Paraná Ecocidadão Program is able to fulfill the requirements established in Law 12.305/2010 and to expand spaces for the citizenship of collectors of recyclable and reusable materials. In addition, the present dissertation also verifies some objectives and instruments of the National Policy of Solid Waste. In order to reach the objectives of this dissertation, a bibliographic research was carried out through analysis of legal devices, qualitative and quantitative analysis of secondary documents, such as public and private organ dossiers, research and data on solid waste issues, doctrinal and bibliographic searches on the subject in libraries, personal collection and various websites, mainly on pages of public agencies and virtual magazines. Secondly, in order to carry out the study of the Ecocidadão Paraná Program, the qualitative and quantitative analysis of secondary documents, such as data and reports, from the direct source, the Paraná Volunteer Program - PROVOPAR, was carried out. From the research, it was possible to verify that the Ecocidadão Paraná Program is an interesting way to improve the production of recycled products, yet it is still limited in the promotion of citizenship and the social insertion of collectors of recyclable and reusable materials
KEY WORDS: Sustainable development; Collectors of recyclable and/or reusable materials; Solid waste management; Socio-environmental responsibility; Law 12.305/10.
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1 – A GRANDE MANCHA DE LIXO NO PACÍFICO.......................24
FIGURA 2 – INFOGRAFIA DE PROBLEMAS AMBIENTAIS GLOBAIS. A
GRANDE MANCHA DE LIXO NO PACÍFICO ..............................................25
FIGURA 3 – GESTÃO ADEQUADA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS................50
FIGURA 4 – A LOGÍSTICA REVERSA, A RESPONSABILIDADE
COMPARTILHADA E OS ACORDOS
SETORIAIS....................................................................................................53
FIGURA 5 – LIXÃO ESTRUTURAL EM BRASÍLIA –DF................................60
FIGURA 6 – ELEVADOR DE FARDO CEDIDO PELO PROGRAMA
ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................66
FIGURA 7 – DINÂMICA EM GRUPO REALIZADA PELO PROGRAMA
ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................67
FIGURA 8 – CURSO TÉCNICO OFERTADO PELO PROGRAMA
ECOCIDADÃO PARANÁ ...............................................................................68
TABELA 1 – DESTINO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS POR UNIDADES
DE DESTINO DOS RESÍDUOS NO BRASIL ................................................46
TABELA 2 – NÚMERO DE ASSOCIAÇÕES QUE PARTICIPARAM DO
PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ DURANTE O PERÍODO DE 2011 A
2016 ...............................................................................................................72
TABELA 3 – COMPARATIVO DA RENDA MÉDIA DOS CATADORES ANTES
E DEPOIS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ NO PRIMEIRO
SEMESTRE DE 2016 ....................................................................................76
TABELA 4 – COMPARATIVO DA RENDA MÉDIA DOS CATADORES ANTES
E DEPOIS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ NO PRIMEIRO
SEMESTRE DE 2014 ....................................................................................77
TABELA 5 – PRODUTIVIDADE DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ
REFERENTE À RECICLAGEM DE MATERIAIS E SEPARAÇÃO DE
REJEITOS NOS ANOS DE 2013, 2014 E 2015 (ATÉ OUTUBRO) ..............78
TABELA 6 – RESULTADOS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ DE
JANEIRO A OUTUBRO DE 2015 ..................................................................79
LISTA DE SIGLAS
ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e
Resíduos Especiais
CCC - Contas de Consumo de Combustíveis
CF - Constituição Federal
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
MMA - Ministério do Meio Ambiente
ONU - Organização das Nações Unidas
PIB - Produto Interno Bruto
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos
PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PROVOPAR - Programa do Voluntariado Paranaense
RIMA - Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente
SANEPAR - Companhia de Saneamento Básico do Paraná
SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNVS - Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 11
2 SOCIEDADES DE CONSUMO E CRISE SOCIOAMBIENTAL ................... 15
2.1 OS SERES HUMANOS E OS RECURSOS NATURAIS .......................... 15
2.2 A CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL ................................................... 15
3 A CRISE SOCIOAMBIENTAL E O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE
.................................................................................................................................. 24
3.1 O DEBATE GLOBAL SOBRE A CRISE SOCIOAMBIENTAL ................... 24
3.2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988 .......................................................................................................... 38
4 A LEI 12.305/10 QUE INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS
SÓLIDOS ........................................................................................................ 44
4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................ 44
4.2 A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA E A LOGÍSTICA REVERSA
.................................................................................................................................. 51
4.3 A VALORIZAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E
REUTILIZÁVEIS ............................................................................................. 56
5 ESTUDO DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ ................................ 64
5.1 DESCRIÇÃO ............................................................................................ 64
5.2 METODOLOGIA APLICADA PELO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ
.................................................................................................................................. 66
6 SÍNTESE DOS RESULTADOS ................................................................... 72
6.1 QUANTO AO FORTALECIMENTO DAS ASSOCIAÇÕES E A RENDA DOS
CATADORES ................................................................................................. 72
6.2 QUANTO AOS RECICLADOS .................................................................. 78
CONCLUSÃO ................................................................................................. 80
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 84
11
1 INTRODUÇÃO
O padrão de vida atual da sociedade evidencia o grande conflito entre a
natureza e a sociedade de consumo. O surgimento do plástico e dos descartáveis, o
culto ao novo e o consumo exacerbado têm como consequência a geração demasiada
de resíduos sólidos que, se dada a destinação ambientalmente inadequada, pode
causar graves e irreversíveis danos ao meio ambiente.
A discussão da problemática ambiental surgiu em meados dos anos de 1960,
mas entrou mesmo em ascensão na década de 1970 com a Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo. A partir de então, líderes mundiais
reconheceram oficialmente a crise socioambiental e assumiram a urgente
necessidade da mudança de rumo sobre o desenvolvimento mundial (NAÇÕES
UNIDAS NO BRASIL, 2018).
Diante disso, surgiu a necessidade de quebrar paradigmas pautados no
antropocentrismo e no fundamentalismo de mercado, e de rever a racionalidade a
partir de um novo conceito de meio ambiente, considerando as variáveis ambientais,
sociais e econômicas.
Sendo assim, ocorreu o surgimento de uma nova preocupação: a de promover
o desenvolvimento humano e econômico sem esquecer-se da natureza, de modo a
preservá-la para esta e as futuras gerações. Daí emergiu o conceito de
sustentabilidade.
Não obstante esse tema ter sido uma das principais questões nas agendas
políticas mundiais durante o final da década de 1960 e início da década de 1970, o
Brasil se mostrou resistente a adotar práticas sustentáveis durante um bom período,
e somente em 1988 com a promulgação da Constituição Federal foi que o país
assumiu oficialmente o desenvolvimento sustentável como valor supremo e objetivo
da República.1
No Brasil e no mundo, a crise socioambiental é um desafio real a ser enfrentado
pela a administração pública, pelas empresas e pela população em geral, vez que o
desequilíbrio provocado pela destruição ambiental e pelo esgotamento dos recursos
1 A partir da interpretação sistemática do Preâmbulo da Constituição Federal de 1988, do art. 225, do art. 170 e de vários outros dispositivos constitucionais, é possível afirmar que o desenvolvimento sustentável é valor supremo e objetivo da República. O terceiro capítulo da dissertação contém um tópico que aborda o desenvolvimento sustentável na Constituição de 1988 mais detalhadamente.
12
naturais coloca em risco, além da sobrevivência de espécies animais e plantas, da
própria humanidade. Com o propósito de enfrentar esse problema, um tema
importante a ser tratado é o da gestão dos resíduos sólidos.
No Brasil, foram gerados 78,3 milhões de toneladas de resíduos sólidos
urbanos em 2016, com índice de cobertura de coleta em 91%, deste modo 7 milhões
de toneladas de resíduos sólidos não foram coletados no país, o que
consequentemente acarretou na sua destinação incorreta. (ABRELPE, 2016)
Em contrapartida, os níveis de recuperação de materiais recicláveis no país
ainda são baixos, em 2016 a média nacional de reaproveitamento de materiais é de
4,08%. A melhor média é a do estado do Paraná, com 8,9% de materiais
reaproveitados (MENEZES, 2016).
Segundo publicados em 2016 pelo Programa das Nações Unidas para o
Ambiente (Pnuma) – o Global Waste Management Outlook – que realizou a estimativa
global referente à situação dos resíduos sólidos, no Brasil cada habitante produz cerca
387 kg de resíduos sólidos urbanos por ano, quantidade similar à de países com
melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) e de produto interno bruto (PIB)
como a Croácia (também 387 kg), a Hungria (385 kg) e maior que a de nações como
o Japão (354 kg) ou Coreia do Sul (358 kg). No entanto, esses países trabalham com
taxas mínimas de 96% dos resíduos destinados corretamente. (GIRARDI, 2016)
A partir da prática de alguns instrumentos como a coleta seletiva e da logística
reversa, é possível facilitar a reciclagem do material reciclável ou reutilizável e diminuir
a quantidade de lixo disposta nos aterros sanitários, de modo que esses materiais
suscetíveis a reaproveitamento voltem à cadeia de produção, e possibilitem a
atenuação da extração de recursos naturais e matérias primas necessários à
produção de novos insumos.
Nesse sentido, aspirando ao desenvolvimento sustentável do país, foi
sancionada a Lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), após vinte e um anos de discussão no Congresso Nacional (FEDERAÇÃO
DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2012), a qual dispõe de diretrizes
e metas para a gestão e o gerenciamento de Resíduos Sólidos, adotando práticas
sustentáveis que considerem as variáveis sociais, ambientais e econômicas.
Por conseguinte, a referida Lei fez questão de evidenciar a valorização de uma
figura social essencial para o cumprimento das metas dispostas pela PNRS, os
catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. A Lei 12.305/10 incentiva,
13
expressamente, o apoio às associações e/ou cooperativas de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis, a fim de fortalecer esse segmento social. Para isso a
inserção social dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis mostra-se
fundamental, tendo em vista que o fortalecimento dessas Associações/Cooperativas
proporciona, de maneira geral, melhor gerenciamento e gestão dos resíduos sólidos.
Vale salientar que tendo em vista a abordagem do Programa de Mestrado em
Direito Empresarial e Cidadania do Unicuritiba, a dissertação atende às questões de
cidadania e responsabilidade social, relacionadas às diretrizes fundamentais da
sustentabilidade, da inclusão social e dignidade da pessoa humana, ao tratar de
assuntos como, por exemplo, a importância da preservação e da educação ambiental,
a necessidade de mudança dos padrões de consumo e a valorização dos catadores
de materiais recicláveis e reutilizáveis.
A presente pesquisa tem como base de estudo a Constituição Federal de 1988
e a Lei infraconstitucional nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos a fim de melhorar a qualidade do meio ambiente a partir do gerenciamento e
da gestão adequada do lixo.
De maneira que, a presente dissertação concentrou-se em analisar, a partir da
análise e da síntese dos resultados do Programa Ecocidadão Paraná, em que medida
esse programa social consegue alcançar as exigências prescritas na Lei 12.305/2010,
orientando e dando apoio às associações e cooperativas de catadores de materiais
recicláveis e reutilizáveis ao redor do Estado do Paraná e, como o Programa
Ecocidadão Paraná auxilia no cumprimento de algumas metas e diretrizes
estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social criado pelo
Programa do Voluntariado Paranaense (Provopar) em convênio técnico-financeiro
com a Companhia de Saneamento Básico do Paraná (Sanepar) em 2011. Este
programa se propõe a trabalhar dando auxílio às associações e/ou cooperações de
catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, através de cursos técnicos de
capacitação sobre manejo de resíduos sólidos e incremento de maquinário.
(PROVOPAR, 2018)
Além disso, este estudo também tem como objetivo verificar se alguns dos
instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos têm conseguido melhorar a
qualidade da gestão dos resíduos sólidos e o desenvolvimento sustentável brasileiro.
A partir da análise desses temas específicos, a dissertação verifica, ainda, em que
14
medida o Programa Ecocidadão Paraná consegue ampliar espaços para a cidadania
dos coletores de materiais recicláveis e reutilizáveis.
Para alcançar os objetivos desta dissertação foi realizada pesquisa bibliográfica
através de análise de dispositivos legais, análise quali-quantitativa de documentos
secundários, como dossiês de órgão públicos e privados, pesquisas e dados acerca
da problemática dos resíduos sólidos, buscas doutrinárias e bibliográficas acerca do
tema em bibliotecas, acervo pessoal e diversos sítios da internet, principalmente em
páginas de órgãos públicos e revistas virtuais. Em segundo instante, para realizar o
estudo do Programa Ecocidadão Paraná, foi feita a coleta e a análise quali-quantitativa
de documentos secundários, como dados e relatórios, provenientes da fonte direta, o
Programa Voluntariado Paranaense – PROVOPAR.
A dissertação está dividida em sete capítulos sendo que o primeiro é a presente
introdução. No segundo capítulo é apresentada uma contextualização histórica da
crise socioambiental.
O terceiro capítulo consiste em expor o surgimento da racionalidade ambiental
e dos principais debates acerca da crise socioambiental ao redor do mundo e no Brasil
desde a Constituição Federal de 1988.
O quarto capítulo análise os principais aspectos jurídicos sobre a gestão dos
resíduos sólidos no Brasil e dos principais instrumentos estabelecidos pela Lei
12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a fim de solucionar a
problemática dos resíduos sólidos no país. Ademais, é analisada a questão referente
à valorização dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e a relevância da
prática da cidadania para o desenvolvimento sustentável e a inserção social desse
segmento.
No quinto inicia-se o estudo do Programa Ecocidadão Paraná, é feita a
descrição do programa, a metodologia aplicada na capacitação dos catadores de
materiais recicláveis e reutilizáveis e os objetivos desse projeto social.
Por fim, o sexto capítulo expõe e analisa a síntese dos resultados atingidos pelo
Programa Ecocidadão Paraná. E o último capítulo expõe as conclusões derivadas da
pesquisa.
15
2 SOCIEDADES DE CONSUMO E CRISE SOCIOAMBIENTAL
2.1 OS SERES HUMANOS E OS RECURSOS NATURAIS
Os seres humanos sempre utilizaram dos recursos naturais para a sua
sobrevivência, desenvolvimento de atividades, conforto e bem-estar. No entanto,
durante um longo período, sabe-se que a relação homem-natureza se dava de
maneira equilibrada, como um todo, sem a separação de um e outro e sem o domínio
e a relação de posse do ser humano sobre a natureza.
Há cerca de 10 mil anos, com a Revolução Agrícola, os seres humanos se
tornaram mais vulneráveis que os caçadores-coletores no que diz respeitos a
aspectos de saúde que jamais tinham os afetado: o clima, problemas com nutrição,
as doenças e as pestes, artrites e dores decorrentes de trabalhos que não faziam
parte da vida humana, como carregar baldes e passar horas arando o solo. Ainda, “As
pessoas que não se afastaram dos resíduos gerados por eles próprios
experimentaram a primeira poluição crônica da humanidade.” (MEADOWS, 2007, p.
267)
A partir da Revolução Agrícola, já fixados em grandes áreas, os Homo Sapiens
criaram civilizações com bases sociais, políticas e econômicas, o que gerou um
grande aumento populacional, em 10.000 a.C. contavam em torno de 10 milhões de
seres humanos no planeta (MEADOWS, 2007, p. 266). Com toda a expansão de
civilizações e surgimento de novas, em 1750 o número de Homo Sapiens já estava
em 800 milhões de pessoas, de modo que havia muita escassez especialmente de
terras e energia. Portanto, foi necessária outra revolução: a industrial. (MEADOWS,
2007, p. 267)
2.2 A CRISE SOCIOAMBIENTAL GLOBAL
A Revolução Industrial começou na Inglaterra com a utilização da combustão
do carvão como fonte de energia. Com isso, ocorreu o grande boom populacional da
história, em 1700 estima-se que haviam cerca de 700 milhões de humanos; em 1800
a população humana mundial era em torno de 950 milhões; em 1900 esse número era
de 1,6 bilhão de sapiens na Terra; e, nos anos 2000, quadruplicou para 6 bilhões.
16
Atualmente, já passa de 7 bilhões e esse número só aumenta. (CENSUS BUREAU’S
POPULATION ESTIMATES PROGRAM, 2018)
Ainda, tendo em vista a combinação de mão de obra abundante e barata
(operários), junto a energia abundante e barata, e ainda matérias-primas abundante e
barata, a Revolução Industrial também gerou uma explosão na produtividade humana,
de modo que ocasionou a utilização de recursos naturais e a geração de resíduos
como nunca antes na história do planeta Terra.
Além disso, a Revolução Industrial causou uma série de mudanças na vida
cotidiana, nos ditames sociais e na mentalidade humana, como por exemplo: a
mudança da perspectiva de tempo, a substituição dos ritmos da agricultura tradicional
pelo cronograma preciso de horários da indústria; o trabalho industrial por produção
em série e linha de montagem, onde cada operário maneja uma máquina que
corresponde a fabricação de apenas uma parte do produto final; o trabalho se tornou
mais árduo e degradante nas indústrias; a diminuição dos camponeses e a ascensão
do proletariado; a urbanização; o empoderamento do indivíduo comum; a
democratização, entre outras mudanças sociais e políticas.
Não obstante, a maior transformação social foi a ascensão do Estado e do
mercado. A Revolução Industrial ofereceu grandes poderes ao mercado e proveu ao
Estado novas organizações, como policiais, professores e assistentes sociais. Como,
de início, as comunidades e famílias tradicionais tinham pouca afeição por qualquer
intervenção externa, o Estado juntamente do mercado utilizaram de várias estratégias
para incentivar a liberdade individual. (HARARI, 2017, p. 370)
Com isso, o poder das culturas e tradições foram mitigadas, bem como o modo
de pensar como membros de uma comunidade. A grande maioria dos indivíduos, na
contemporaneidade, não enxergam-se mais como membros de uma comunidade, e
sim como indivíduos autônomos. Isto gera uma consequência, que é a perda de uma
sociedade voltada aos sentidos coletivos, atenta às necessidades presentes e futuras
dos seres humanos e não humanos, e ao fortalecimento de uma sociedade
individualista e egoísta, voltada principalmente ao fundamentalismo de mercado.
Por conseguinte, para propor vínculos tribais, os Estados e os mercados
promovem espécies de comunidades imaginadas, que contém milhões de pessoas
estranhas umas às outras, mas são adaptadas para necessidades comerciais e
nacionais. Os maiores exemplos disso são o consumismo e o nacionalismo, ambos
são imaginados, visto ser impossível que todos os consumidores de um mercado ou
17
todos os membros de uma nação realmente se conheçam de fato. (HARARI, 2017, p.
373)
Com todas essas mudanças sociais e civilizatórias, a estrutura capitalista
requer um aumento constante de produção para sobreviver, para mantê-la, no
entanto, além de produzir muito, faz-se necessário muitos consumidores. Para
garantir que as pessoas estejam sempre comprando e consumindo o que quer que a
indústria e o mercado produzam, surgiu uma nova ética: o consumismo.
De acordo com Bauman, na chama de fase “sólida” da modernidade, o
consumo era baseado principalmente na segurança. Nos termos do sociólogo
polonês,
Na era sólido-moderna da sociedade de produtores, a satisfação parecia de fato residir, acima de tudo, na promessa de segurança a longo prazo, não no desfrute imediato de prazeres. Essa outra satisfação, se alguém se entregasse a ela, deixaria o sabor amargo da imprevidência, se não do pecado. A utilização, no todo ou em parte, do potencial dos bens de consumo para oferecer conforto e segurança precisava ser adiada, quase indefinidamente, no caso de terem deixado de realizar a principal função da mente de seu dono quando foram, de maneira laboriosa, montados, acumulados e estocados – ou seja, a função de continuar em serviço enquanto pudesse surgir a necessidade de usá-los (praticamente “até que a morte os separe”). Apenas bens de fato duráveis, resistentes e imunes ao tempo poderiam oferecer a segurança desejada. Só esses bens tinham a propensão, ou ao menos a chance, de crescer em volume, e não diminuir – e só eles prometiam basear as expectativas de um futuro seguro em alicerces mais duráveis e confiáveis, apresentando seus donos como dignos de confiança e crédito. (BAUMAN, 2008, p. 43)
No entanto, a era sólido-moderna da sociedade de produtores, a qual
dignificava o trabalho, a produção e o acúmulo de riquezas para garantir estabilidade
perdeu espaço para o consumismo, que se desenvolveu de forma que é normal e bem
visto comprar diversos produtos os quais ninguém realmente precisa ou sequer sabia-
se de sua existência até a compra. Ainda, foi criada a obsolescência programada a
fim de fomentar todo esse ciclo infinito de consumo, e os fabricantes produzem
premeditadamente bens de vida útil curtíssima e inventam novos designs e modelos
de produtos que devem ser – desnecessariamente - comprados para seguir as
tendências do mercado.
Além disso, na contemporaneidade, o consumismo é tão forte que chega a ser
a base de identidade de muitas pessoas, que são definidas acima de tudo por aquilo
que consomem. Nas palavras de Bauman (2008, p. 41)
18
Pode-se dizer que o “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, “neutros quanto ao regime”, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais. O “consumismo” chega quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade de produtores era exercido pelo trabalho.
Desse modo, além dos problemas ecológicos ocasionados pelo consumismo,
como a depredação de recursos naturais, desmatamento, poluição do ar, das terras e
das águas, geração demasiada de resíduos e rejeitos, e tantos outros problemas,
ainda existem grandes problemas sociais decorrentes disso, é que acredita-se ter
afetado a qualidade e a profundidade das relações íntimas.
Bauman, portanto, chama a sociedade atual, devido a esse padrão social de
comportamento, como de sociedade de consumo. Nesse contexto, o ser humano
utiliza o consumo como desejo exacerbado e desregrado de possuir cada vez mais
bens materiais supérfluos, a fim de acompanhar a moda, a tecnologia, ou então de
suprir vazios existenciais e tentar achar a felicidade em produtos ou serviços.
Isso gera um ciclo vicioso no qual induz as pessoas a agirem com um padrão
de comportamento dentro de um sistema de mercado idealizado para uma sociedade.
Zygmunt Bauman (2009) salienta a obsessão do consumo pelo novo em detrimento
do que é antigo, de modo que impõe uma ideia de defasado a um bem material que
ainda possui utilidade, boa funcionalidade e ainda satisfaz o seu objetivo. No entanto,
na sociedade de consumo, o que não é novo e é taxado como velho, mesmo estando
próprio para consumo deve ser descartado, pois não agrega ao status e à autoestima
do indivíduo integrante desta sociedade.
Nesse sentido, a sociedade de consumo impôs aos indivíduos um padrão de
comportamento no qual deve consumir para ser alguém de valor, com status e
autoestima, a fim de promover a felicidade com a aquisição de novos produtos.
Nos termos de Bauman (1999, p.78),
(...) a maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada primeiro e acima de tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor. A norma que nossa sociedade coloca para seus membros é a da capacidade e vontade de desempenhar esse papel.
19
Sendo assim, isso gerou um círculo o qual tem como fundamento as seguintes
premissas: insatisfação – infelicidade – compra de bens ou serviços – felicidade –
satisfação. O grande problema é que a partir do momento em que o ser humano
acredita que sua insatisfação pode ser suprida mediante o consumo exagerado de
bens, ele nunca estará satisfeito, pois com o avanço da tecnologia, do design e a
inquietude do mercado capitalista, a cada ano, mês ou quiçá semana, é lançado um
produto novo no mercado, taxando aquele, que ainda tem utilidade e funcionalidade,
como velho e impróprio para o uso.
Dessa maneira, isso gera algumas crises, pois além das crises psicológicas de
vazio existencial (FRANKL, 2015, p. 131), tendo em vista nunca conseguir chegar a
satisfação2, esse sistema ainda gera uma crise social, visto que nem todos são
providos de suficiente poder aquisitivo para acompanhar as últimas novidades do
mercado.
Além da desigualdade social, este sistema gera ainda, uma grave crise
ambiental, visto o poder das grandes corporações que geram maior produção de bens,
o que requer maior exploração dos recursos naturais, e além disso, que diz respeito à
grande produção de resíduos e rejeitos gerados por esse padrão de comportamento
consumista da sociedade atual3, entre os indivíduos que possuem poder aquisitivo
para adquirir produtos supérfluos e seguir as tendências do mercado.
Neste sentido, a sociedade de consumo intensifica as perdas das tradições ao
reduzir – ou promover, como alguns consideram - o ser humano à condição de
consumidor. Sem saber por si próprio como agir ou o que desejar, o consumidor
contumaz passa a viver de acordo com os ditames sociais, desejando o que os outros
fazem ou o que querem que ele faça.
Sendo assim, após a Revolução Industrial e, principalmente, com o surgimento
da sociedade de consumo, a produção demasiada de resíduos, a destruição
ambiental, o risco da falta de acesso aos recursos naturais, a poluição do ar, do solo
e das águas, o risco de colapso da natureza, o aumento do buraco na camada de
ozônio, o derretimento das calotas polares e a subida do nível do mar, o aumento da
2 Aqui se fala da satisfação a partir da premissa da sociedade de consumo, ou seja, consumir bens materiais para estar satisfeito e feliz. 3 Tendo em vista o círculo do sistema imposto pela sociedade de consumo, para buscar maior felicidade e status, os indivíduos jogam fora bens que ainda são próprios para uso, mas são considerados “velhos” pelo mercado. (BAUMAN, 2013)
20
infertilidade devido aos alimentos transgênicos e o aumento da desigualdade social
parecem indicar alguns sinais da crise do mundo globalizado.
Não obstante, outro aspecto que destaca a indiferença sobre a natureza é que
o meio ambiente urbano está tão próximo que é difícil perceber mais os estragos, já
que esses estragos estão demasiadamente presentes, nas cidades:
a terra original não existe mais e está coberta pelas casas ou prédios, por calçamentos ou asfalto. Mesmo encanada, a água está cada vez mais poluída, a tal ponto que imperceptivelmente passamos a desconfiar das torneiras e comprar água mineral para o nosso consumo. O ar que respiramos está cada vez mais se tornando um gás venenoso, responsável por doenças respiratórias. Em certas cidades, temos até de andar com máscara. Em período de seca, o fogo acaba com o que resta nas matas virgens. As árvores originais já não existem mais e a vida animal, anteriormente existente, foi substituída por gatos e cachorros, ratos, camundongos e baratas. Até o espaço está nos bombardeando de irradiações nocivas do campo eletromagnético dos fios de alta tensão dos postes na rua. E se entrarmos em casa e observarmos todas as coisas e objetos que usamos, todos eles provêm de materiais da natureza, muitas vezes vindos de lugares distantes. Mediante a aquisição de objetos, muitas vezes inúteis, estamos consumindo vorazmente materiais do Planeta Terra. (WEIL, 2017, p. 176)
Desta maneira, tendo em vista o cenário de crise ambiental, social e ético, o
pensamento sobre o futuro do planeta e das próximas gerações se tornou um tema
pertinente para discussão. A sustentabilidade é o tema do século XXI, visto a transição
da modernidade “truncada e inacabada” para uma pós-modernidade incerta, marcada
pelo rápido avanço tecnológico, pela democracia, pelas diversidades e autonomia.
(LEFF, 2009, p. 9).
A educação ambiental e a prática sustentável nunca foram tão importantes,
tendo em vista a necessidade de reflexão da sociedade global atual sobre a
construção social, onde percebe-se que a natureza está em crise devido ao estilo de
vida humano, e se não houver a conscientização e a mudança de padrões
comportamentais, o planeta Terra entrará em colapso o que atingirá toda a
humanidade.
O mundo pós-moderno é muito complexo, e requer a reflexão sobre inúmeras
questões, como ambientais e sociais. Nas palavras de Enrique Leff:
Vivemos hoje um mundo de complexidade, no qual se amalgamam a natureza, a tecnologia e a textualidade, onde sobrevivem e tomam novo significado reflexões filosóficas e identidades culturais no torvelinho da cibernética, da comunicação eletrônica e da biotecnologia.
21
Tempos de hibridação do mundo – a tecnologização da vida e a economização da natureza -, de mestiçagem de culturas, de diálogo de saberes, de dispersão de subjetividades, onde se está descontruindo e reconstruindo o mundo, onde se estão ressignificando identidades e sentidos existenciais a contracorrente do projeto unitário e homogeneizante da modernidade. Tempos em que emergem novos valores e racionalidades que reorientam a construção do mundo. Tempos em que se descongelam, se decantam, se precipitam e se reciclam os tempos históricos passados; onde hoje se reenlaçam suas histórias diferenciadas e se relança a história para novos horizontes. (LEFF, 2009, p. 9-10)
Sendo assim, o debate sobre a sustentabilidade não é apenas a evolução de
um pensamento que reflete a crise ambiental, mas também reflete a crise social de
um mundo no qual reivindicou a democracia e questionou o autoritarismo e a
repressão de ideias, buscando a liberdade e o bem-estar geral, no presente e no
futuro.
Nesse diapasão, o pensador mexicano ainda comenta que
(...) os direitos humanos relativos ao ambiente surgem como uma reivindicação fundamental para melhorar a qualidade de vida, que é entendida não só como a satisfação de necessidades básicas e de certo bem-estar material, mas também como o direito a uma vida digna, ao pleno desenvolvimento das faculdades dos seres humanos e à realização de suas aspirações morais, intelectuais, afetivas e estéticas, mediante a reconstrução do ambiente. Sustentado nos valores da paz, solidariedade e na diversidade, o conceito de qualidade de vida aparece como “o supremo valor moral do nosso tempo [...] o que implica que em nenhuma das atividades e motivações do homem se tentará submeter aos mecanismos da uniformidade, da repetição ou da necessidade lógica, nem aos imperativos da produção e do rendimento, a singularidade própria e incomparável dos seres vivos, sua iniciativa e sua espontaneidade criadora. (LEFF, 2000, p.220-221)
Neste sentido, a degradação do meio ambiente ecológico manifesta-se como
um dos sintomas de uma crise da atual civilização, que é marcada pelo modelo da
modernidade e que tem como motor propulsor o desenvolvimento tecnológico e
econômico sobre a organização da natureza. A questão da crise ambiental
problematiza as bases de produção e sugere a desconstrução do modelo econômico
da modernidade e a mudança de padrões, para que seja possível a construção de um
futuro baseado nos potenciais ecológicos, nos limites das leis biofísicas, na
criatividade humana e na produção de sentidos sociais.
Assim, com a compreensão desta crise socioambiental, o conceito de meio
ambiente foi reestruturado a uma nova perspectiva do desenvolvimento humano,
multifacetado, que incorpora também os potenciais e os valores da natureza, as
22
externalidades sociais e a complexidade do mundo antes denegado pela
racionalidade simplista, unidimensional e mecanicista que liderou o processo de
modernização da sociedade.
Entretanto, inicia-se um pensamento de quebra de paradigmas dentro do
modelo antropocentrista e surge a visão biocentrista, a qual coloca seres humanos e
natureza no mesmo nível de interações, ou seja, a humanidade dentro do meio social
e a utilização dos recursos naturais em um mesmo patamar. Desta maneira, segundo
Berté (2009, p. 26) altera-se o conceito de meio ambiente como apenas uma unidade
biótica/abiótica para o ponto de vista de um meio ambiente multidimensional, que é
abrangente e trata de múltiplos aspectos.
Para Leff, foi desta maneira que se iniciou
(...) o debate teórico e político para valorizar a natureza e internalizar as “externalidades socioambientais” ao sistema econômico. Deste processo crítico surgiram as estratégias do ecodesenvolvimento, promovendo novos tipos de desenvolvimentos fundados nas condições e potencialidades dos ecossistemas e no manejo prudente dos recursos (Sachs, 1982). A economia foi concebida como um processo governado pelas leis da termodinâmica que regem a degradação de energia em todo processo de produção e consumo (Georgescu-Roegen, 1971). O sistema econômico viu-se imerso num sistema físico-biológico mais amplo que o contém e lhe dá seu suporte de sustentabilidade (Passet, 1979). Daí surgiram os novos paradigmas da economia ecológica, buscando integrar o processo econômico com a dinâmica ecológica e populacional (Constanza et al., 1996). (LEFF, 2009, p.16)
Nesse sentido, a despeito de que a sociedade atual tenha se desenvolvido
tendo o consumismo4 como seu alavanque tecnológico e econômico, haja vista a
produção desenfreada que gera não apenas bens de consumo, mas em proporções
maiores danos colaterais, muitos irreversíveis, causados pelos seres humanos no
Planeta Terra, o saber ambiental conquista um novo espaço na ética. Surge, assim,
um dever da sociedade de se sensibilizar sobre a magnitude das ações humanas e
de suas intervenções nos ambientes biofísicos e socioculturais. Destarte, nas palavras
4 A fim de melhor esclarecimento, é importante ressaltar a diferença entre consumo e consumismo. O consumo é essencial à vida, todos os seres vivos consomem, os seres humanos consomem diversas coisas para poder viver bem, bem como os animais, e até mesmo as plantas consomem água, oxigênio e luz. Desse modo, o consumo é inerente à vida. É essencial à manutenção da vida humana digna o consumo de coisas como: os recursos naturais ou artificiais, produtos ou serviços, como, por exemplo, os recursos naturais essenciais (água, luz, oxigênio), energia elétrica, alimentos, vestuário, etc. (BAUMAN, 2008, p. 37-38)
23
de Hans Jonas (2006, p.39), “a natureza como uma responsabilidade humana é
seguramente um novum sobre o qual uma nova teoria ética deve ser pensada.”
Dessa maneira, o conceito de desenvolvimento sustentável como ferramenta
para a superação da crise socioambiental envolve o questionamento de um agir ético
perante a degradação do meio ambiente.
De acordo com Souza-Lima (2006, p. 55-56),
é preciso mergulhar no sistema social para explicitar e demonstrar as causas profundas que acentuam a crise ambiental contemporânea. Enquanto as contradições intrínsecas à forma social de produção capitalista não forem enfrentadas, as explicações permanecerão em níveis consideráveis de superficialidade.
Assim, tendo em vista o novo conceito multidimensional do meio ambiente,
requer-se da humanidade uma nova racionalidade que se refere a um saber
reintegrador da diversidade, multifacetado, que traz novos valores éticos5 e
sinergéticos originados pela articulação de processos tecnológicos, ecológicos e
culturais.
Portanto, com a mudança de comportamento dos padrões sociais e o
surgimento do consumismo, o planeta Terra começou a mostrar os sintomas da
destruição, o que tornou evidente a crise socioambiental. A degradação ecológica e
os problemas ocasionados pelo estilo de vida do Homo Sapiens moderno chegaram
a certo ponto que tornou necessário discutir o rumo do desenvolvimento civilizatório
no mundo inteiro. Com a globalização essa discussão tornou-se possível e
necessária. No capítulo seguinte desta dissertação será exposto como se deu, no
mundo e no Brasil, as discussões em torno deste assunto e do princípio da
sustentabilidade como forma de enfrentamento desta crise socioambiental.
5 Para Hans Jonas (2006), as inovações tecnológicas e o estilo de vida contemporâneo, trouxeram novas dimensões da responsabilidade, nunca antes pensadas no campo de estudo da ética. Os grandes danos produzidos pela humanidade, devido à sua intervenção na natureza, tornaram visível a vulnerabilidade do Planeta Terra e agora a ética se obriga a refletir também sobre as condições globais da vida, sobre a preservação das espécies e sobre o futuro.
24
3 A CRISE SOCIOAMBIENTAL E O PRINCÍPIO DA SUSTENTABILIDADE
3.1 O DEBATE GLOBAL SOBRE A CRISE SOCIOAMBIENTAL6
Um dos principais indicadores globais da crise socioambiental decorrente do
estilo de vida contemporâneo é a “grande mancha de lixo no Pacífico” (Figura 1), que
se encontra no oceano Pacífico, entre o estado americano da Califórnia e o Havaí.
Essa “mancha” é a maior coleção de plástico amontoado que se sabe no planeta, são
pelo menos 79 mil toneladas de resíduos flutuando nas águas do oceano, que formam
uma extensão de 1,6 milhões de km², o equivalente a quase três vezes o território da
França. (LEBRETON, 2018)
Figura 1: A grande mancha de lixo no Pacífico
FONTE: PHYS.ORG, 2018
As pesquisas realizadas em 2017 pela Ocean Cleanup Foundation, publicadas
no Scientific Reports (LEBRETON, 2018), afirmaram que a grande mancha de lixo no
Pacífico possui em torno de 1,8 trilhões de pedaços de resíduos flutuando, sendo que
6 A estrutura desse tópico foi inspirada no Capítulo 1 da dissertação de Karlla Maria Martini (2014).
25
94% são pedaços de microplásticos. Ademais, as pesquisas indicaram que 46% da
massa suspensa desta “ilha” do oceano são resíduos de redes e artigos de pesca, e
que apesar de ser a maioria em quantidade de resíduos, 8% da massa são
microplásticos (Figura 2).
Figura 2: Infografia de problemas ambientais globais. A grande mancha
de lixo do Pacífico.
FONTE: Depositphotos, 2018
A equipe de pesquisadores coletou amostras da grande mancha de lixo no
Pacífico, entre 50 itens selecionados desta amostra, havia um item plástico com data
de fabricação legível de 1977, sete itens da década de 1980, dezessete da década de
1990, 24 da década de 2000 e um de data de fabricação de 2010. Ainda, os
pesquisadores coletaram cerca de 386 objetos com palavras ou frases legíveis em
nove língua diferentes.
Os estudos ainda revelaram que o consumo anual global de plásticos atingiu,
em 2016, mais de 320 milhões de toneladas, ou seja, mais do que o total de plástico
produzido na última década. (LEBRETON, 2018)
No Brasil, em 2016 foram produzidas 5,8 milhões de toneladas de produtos
plásticos. Dessa quantidade, apenas 9% foi reciclado, o restante não receberam
26
tratamento de reciclagem e tiveram como seu destino final os aterros sanitários,
aterros controlados, lixões ou descartados no meio ambiente. (BORGES, 2018)
Além do problema da produção demasiada de resíduos plásticos7, os impactos
do plástico no meio ambiente ecológico já começam na extração das matérias-primas,
visto que são obtidos a partir do petróleo.
Sendo assim, os sintomas da crise socioambiental trouxeram questionamentos
sobre os paradigmas teóricos que legitimaram e incentivaram o desenvolvimento com
acento apenas no aspecto econômico, esquecendo da natureza. Visto que o
progresso civilizatório pautado em uma visão mecanicista cartesiana que negou os
paradigmas naturais da vida, ocasionou a degradação ambiental e a destruição
ecológica como sintomas de uma grave crise.
A crise socioambiental tornou-se fortemente evidente em meados dos anos 60,
quando surgiu a consciência ambiental sobre a irracionalidade ecológica dos padrões
dominantes de produção e consumo e, a partir de então, o ser humano se deu conta
dos limites do crescimento econômico.
Assim, chefes de Estado, intelectuais de diversas áreas, líderes mundiais e de
grandes corporativas se reuniram em abril de 1968 em um vilarejo próximo a Roma
para discutir e analisar medidas que deveriam ser praticadas, a longo prazo, ao redor
do mundo a fim de superar o pensamento nacionalista e regionalista que geralmente
conduzem as políticas públicas. Esse encontro ficou mundialmente conhecido como
Clube de Roma e trouxe importantes contribuições para a racionalidade ambiental.
Após o surgimento da consciência ambiental nos anos 60 e a sua expansão
nos anos 70. Em 1971 o relatório elaborado pelo Clube de Roma, intitulado de “Limites
do Crescimento”8 foi mundialmente publicado. Este relatório colocou, pioneiramente,
em pauta o debate acerca do crescimento econômico desenfreado e ilimitado, sem
considerar os limites naturais dos recursos e das espécies.
Ademais, o relatório teve grande repercussão quando apontou um cenário
catastrófico onde não seria possível continuar com o crescimento econômico infinito,
visto que este levaria ao esgotamento dos recursos naturais, e causou alvoroço
quando apresentou como solução do problema o “crescimento zero”.
7 Atualmente, um terço do lixo doméstico é composto por embalagens plásticas. Cerca de 80% delas são descartadas após uma única vez de uso. (BORGES, 2018) 8 “The Limits to Grow”: relatório com autoria de Donella H. Meadows, Jorge Randers e William W. Behrens III, produzido por uma equipe de cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), sob a direção de Dennis Meadows, com o patrocínio da Volkswagen Foundation.
27
A principal conclusão do Clube de Roma foi que a destruição ecológica e a
degradação ambiental eram consequências do crescimento populacional
descontrolado e da utilização de recursos naturais causada por este. De modo que a
solução “crescimento zero” apresentada, de maneira resumida, propunha a redução
das taxas de natalidade9 e dos índices de crescimento econômico a fim de minimizar
o consumo, ou até não consumir determinados produtos para que diminuíssem a
produção.
Apesar de ter sofrido críticas, principalmente pelas nações em
desenvolvimento10 as quais consideraram a proposta como manutenção e
preservação de negócios e não da natureza e afirmaram que mitigaria o “direito ao
crescimento”, o relatório Limites para o Crescimento foi de grande importância para o
avanço dos estudos sobre o desenvolvimento sustentável que seguiu em ascensão
nos debates dentro das agendas políticas mundialmente.
Mais tarde, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
também conhecida como Declaração de Estocolmo, realizada em 1972, em
Estocolmo, discutiu amplamente o polêmico relatório Limites para o Crescimento, e o
discurso do desenvolvimento sustentável foi oficializado e legitimado.
A conferência realizada em Estocolmo propôs o “ecodesenvolvimento”, cuja
premissa é o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental coexistindo de
forma harmonizada, visto que são interdependentes para o progresso civilizatório.
Contudo, na ocasião, o Brasil vivia um período intenso de regime ditatorial
militar e grande foco no crescimento econômico a qualquer custo. Até então, as
políticas brasileiras demonstravam pouco caso com as questões ambientais e,
inclusive, se posicionou contrários às propostas da conferência em 1972, defendendo
a soberania nacional com argumento de que os países desenvolvidos deveriam pagar
e se emprenhar para evitar a poluição ambiental, e que os países em desenvolvimento
não deveriam sacrificar seu crescimento.
9 O relatório Limites para o Crescimento tinha uma perspectiva “neomalthusiana” e considerava o boom demográfico como o grande vilão da civilização. Vale apontar, apenas para esclarecimento, que para a teoria neomalthusiana, a qualidade de vida e o desenvolvimento da economia de uma região ou país necessita de medidas de controle populacional. 10 Nesta época, o presidente do Brasil era o general Emílio Médici e a sociedade brasileira passava por um profundo processo político que implantou um regime ditatorial e o projeto “Brasil Grande Potência”. Neste período buscava-se a qualquer custo o crescimento econômico brasileiro e havia total descaso pelas questões do meio ambiente ecológico. Além disso, o Brasil ainda tinha uma visão de que os recursos naturais eram abundantes e inesgotáveis.
28
O Brasil, que liderava os países subdesenvolvidos no intuito da reprovação das
propostas de “crescimento zero”, mostrou-se apreensivo diante dos debates em pauta
na conferência:
Argumentaram os representantes do país que a preocupação com aspectos relativos à proteção ambiental servia aos propósitos dos países de primeiro mundo no sentido de impedir a expansão das indústrias dos países em desenvolvimento, e assim, bloquear os processos de crescimento. (BERTÉ, 2009, p. 34)
Ainda, na ocasião, a Delegação Brasileira afirmou que o país está “aberto a
poluição, porque o que se precisa é dólares, desenvolvimento e empregos” (BRASIL,
2018a).
Essa postura era conveniente para o projeto “Brasil Grande Potência”, que
resultou também a criação de grandes obras como, por exemplo, a empresa
binacional Itaipu, hoje a segunda maior hidrelétrica do mundo (na época era a maior),
e na ponte Rio-Niterói. Vale, ainda, ressaltar que durante esse período o Brasil estava
vivendo uma grande expansão econômica: no final da década de 60 as bolsas de
valores brasileiras tiveram incríveis altas; a inflação oscilou entre 15% e 20% ao ano;
o PIB cresceu uma média de 10% ao ano; e a construção civil teve um crescimento
em média de 15% ao ano. (BERTÉ, 2009, p. 34)
Entretanto, com foco apenas no desenvolvimento econômico, até esse
momento da história brasileira, não havia nenhuma política de preservação ambiental
no país, nem interesse para isso, já que o crescimento econômico era considerado
incompatível com a harmonia do meio ambiente ecológico.
Não obstante esses acontecimentos no cenário brasileiro, em junho de 1972,
113 países11 e 250 organizações não governamentais e organismos da Organização
das Nações Unidas (ONU) participaram da Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável (MILARÉ, 2005, p. 1002), o primeiro encontro global
voltado para a discussão do desenvolvimento sustentável, que foi um marco na
história política internacional.
11 A título de curiosidade, vale citar que não houve a participação da União Soviética e dos países do leste Europeu, bem como da Alemanha Oriental que não participou pois não era membro da ONU. (MARTINI, 2014, p. 21)
29
Conforme o posicionamento de Philippe Le Preste (2005, p. 174-175), foram
quatro os principais fatores que, à época, provocaram a decisão de realizar uma
conferência mundial sobre a preservação da natureza:
a) o aumento da cooperação científica nos anos 60, da qual decorreram inúmeras preocupações, como as mudanças climáticas e os problemas da quantidade e da qualidade das águas disponíveis; b) o aumento da publicidade dos problemas ambientais, causado especialmente pela ocorrência de certas catástrofes, eis que seus efeitos foram visíveis (o desaparecimento de territórios selvagens, a modificação das paisagens e acidentes como as marés negras são exemplos de eventos que mobilizaram o público); c) o crescimento econômico acelerado, gerador de uma profunda transformação das sociedades e de seus modos de vida, especialmente pelo êxodo rural, e de regulamentações criadas e introduzidas sem preocupação suficiente com suas consequências em longo prazo; d) inúmeros outros problemas, identificados no fim dos anos 1960 por cientistas e pelo governo sueco, considerados de maior importância, afinal, não podiam ser resolvidos de outra forma que não a cooperação internacional. São exemplos destes problemas as chuvas ácidas, a poluição do Mar Báltico, a acumulação de metais pesados e de pesticidas que impregnavam peixes e aves.
A partir dos problemas acima elencados, a conferência procurou soluções
eficazes para tais questões, além do reconhecimento dos Estados12 sobre o a crise
ambiental que atinge o planeta, a sensibilização dos países em desenvolvimento
sobre a responsabilidade nesta questão e, por fim, a necessidade global de agir.
Diante disso, originou-se uma nova dinâmica por meio de atitudes novas e foi
aprovada a Declaração de Estocolmo que traz um fundo de financiamento de
programas e pesquisas no assunto, um plano de ação com 109 recomendações, 26
princípios que orientam comportamentos destinados a guiar decisões referentes às
questões ambientais, e sete pontos principais citados no preâmbulo da Declaração:
1. O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano,
12 Vale fazer nota de que apesar de o Brasil não concordar com as propostas de “crescimento zero”, em 1973 foi criada a primeira instituição brasileira encarregada das questões ambientais, a Secretaria Especial de Meio Ambiente – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior. (BRASIL, 2018a)
30
o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.
2. A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)
Nestes primeiros pontos apresentados no Preâmbulo da Declaração de
Estocolmo, é possível afirmar a consciência dos líderes de Estado de que existe uma
forte relação de interdependência entre a qualidade do meio ambiente e a qualidade
da vida humana.
Ademais, seguindo este caminho, o primeiro princípio da Declaração dispõe
que é direito fundamental dos seres humanos a liberdade, a igualdade e adequadas
condições de vida em um ambiente que permita o bem-estar e a vida digna, e ainda,
impõe às pessoas a responsabilidade de preservar e melhorar o meio ambiente para
esta e as futuras gerações e, também, condena qualquer tipo de discriminação,
opressão e dominação.13
Além disso, nos itens subsequentes, o preâmbulo prega a preocupação com a
degradação ambiental e os problemas sociais e ambientais decorrentes da destruição
ambiental:
3. O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo, inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, a capacidade do homem de transformar o que o cerca, utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, do ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio ecológico da biosfera; destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a saúde física,
13 II PRINCÍPIOS Expressa a convicção comum de que: Princípio 1 O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)
31
mental e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente naquele em que vive e trabalha. 4. Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão motivados pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo muito abaixo dos níveis mínimos necessários para uma existência humana digna, privada de alimentação e vestuário, de habitação e educação, de condições de saúde e de higiene adequadas. Assim, os países em desenvolvimento devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo presente suas prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o meio ambiente. Com o mesmo fim, os países industrializados devem esforçar-se para reduzir a distância que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, os problemas ambientais estão geralmente relacionados com a industrialização e o desenvolvimento tecnológico. (DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO, 1972)
Tendo os Estados feito o reconhecimento da crise socioambiental que aflige o
Planeta Terra e assumido a responsabilidade e preocupação diante de tais problemas,
a Declaração de Estocolmo convenciona diversos princípios para ajudar na resolução
desta crise.
Entre esses princípios, foi convencionado que os Estados devem: promover a
educação ambiental; elaborar cuidadosamente planos e ordenamentos ambientais;
assegurar o desenvolvimento econômico adequado para propiciar a qualidade de vida
das pessoas e do meio ambiente; destinar recursos a fim de garantir a preservação e
o melhoramento do meio ambiente social e ecológico; transferir quantidade
consideráveis de assistência financeira e tecnológica, além de fomentar pesquisas e
o desenvolvimento científico e tecnológico para questões ambientais; fazer
planejamentos sobre os assentamentos urbanos; e instituir órgão nacionais
competentes para planejar, administrar ou controlar a utilização dos recursos naturais
(DECLARAÇÃO DA CONFERÊNCIA DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE
HUMANO, 1972).
Além da Declaração de Estocolmo, os países aprovaram um Plano de Ação
para o Meio Ambiente composto por 109 recomendações, que, segundo SOARES
(2003, p.54), são
centradas em três grandes tipos de políticas: (a) as relativas à avaliação do meio ambiente mundial, o denominado ‘Plano Vigia’ (Earthwatch); (b) as de gestão do meio ambiente; e (c) as relacionadas às medidas de apoio (como a informação, educação e formação de especialistas).
Ainda, foi instituído o Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
(PNUMA) com o intuito de promover o desenvolvimento sustentável e coordenar as
ações internacionais sobre proteção do meio ambiente.
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Sendo assim, é inegável que a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente foi o primeiro grande alavanque global a respeito da proteção do meio
ambiente. A partir dela ocorreu o grande despertar dos Estados sobre a grave crise
socioambiental, e ainda, é possível afirmar que a consolidação da Declaração de
Estocolmo influenciou fortemente os ordenamentos jurídicos e as políticas de
preservação ambiental ao redor do mundo.
Logo após a Conferência de 1972, a PNUMA realizou três outras conferências:
em 1976, que tratou sobre questões humanas e duas em 1977 relativas à
desertificação e a água. No entanto, as mesmas não obtiveram tanta repercussão e
sucesso quanto a Conferência de 1972 realizada em Estocolmo.
Somente no começo da década de 1980 que a ONU retomou os debates sobre
questões socioambientais. Em 1984 foi criada a Comissão Mundial sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, a pedido do secretário-geral das Nações Unidas, para
avaliar os avanços dos processos de degradação ambiental e, também, avaliar a
eficácia das políticas ambientais para enfrentar esse problema. Após três anos de
estudos, audiências públicas e deliberações, a Comissão, chefiada pela primeira-
ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, publicou suas conclusões em um
documento chamado de “Nosso Futuro Comum” conhecido também como Informe (ou
Relatório) Brundtland. (CAMARGO, 2003, p. 52)
Entre as metas em âmbito internacional disposta pelo Relatório, está
principalmente medidas e estratégias a serem adotadas para a efetivação do
desenvolvimento sustentável. A noção de “desenvolvimento sustentável” definida pelo
Informe Brundtland expressou a necessidade de se reavaliar a atividades econômicas
dominantes, de modo a levar em conta o resultado negativo das interações do homem,
esquecendo-se da natureza.
Se por um lado o conceito de desenvolvimento sustentável reflete um
entendimento de que “o meio ambiente não é apenas uma questão de preservação
passiva, mas também de busca ativa” (FLORES, 2018, p. 786) por outro condena a
insustentabilidade do modelo econômico neoliberal, ao tratar a natureza como mera
externalidade do processo produtivo.
Nos ensinamentos de Enrique Leff,
As estratégias de apropriação dos recursos naturais no processo de globalização econômica transferiram assim seus efeitos para o campo teórico e ideológico. O ambiente foi caindo nas malhas do poder do discurso do
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crescimento sustentável. Porém, o conceito de ambiente cobra um sentido estratégico no processo político de supressão das “externalidades do desenvolvimento” – a exploração econômica da natureza, a degradação ambiental, a desigual distribuição social dos custos ecológicos e a marginalização social – que persistem apesar da ecologização dos processos produtivos e da capitalização da natureza. (LEFF, 2009, p. 18 -19)
Ademais, pela primeira vez na história dos debates socioambientais, foi exposta
a ideia de que desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
humanas atuais sem comprometer a qualidade de vida das futuras gerações, ou seja,
a partir desse momento, além da preocupação com a crise a qual acomete os seres
presentes, a preocupação e a responsabilidade assumida ultrapassa o âmbito
intrageracional e se estende para o âmbito intergeracional.
Na década de 80 o Brasil começou realmente a dar importantes e inovadores
passos nessas questões. Em 1981 foi sancionada a Lei 6.938 que institui a Política
Nacional do Meio Ambiente e que criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), o qual dispõe de princípios, instrumentos e diretrizes para a proteção do
meio ambiente. Essa lei foi claramente inspirada no princípio 21 da Declaração o qual
dispões que “os Estados têm direito soberano de explorar seus próprios recursos, de
acordo com a sua política ambiental”.
Mais tarde, em 1985 foi criado o Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente, com competência para definir políticas públicas e coordenar as atividades
governamentais na área ambiental. Além disso, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente (Conama) aprovou resoluções que dispõem sobre o licenciamento
ambiental (Resoluções nº 001/1986 e no 009/1987) que tratam, respectivamente,
sobre o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima)
e sobre as audiências públicas prévias ao licenciamento.
Ademais, dois anos mais tarde do Relatório de Brundtland e um ano depois da
promulgação da Constituição Federal de 1988, em 1989 foi dado mais um grande
passo nas questões socioambientais, no mundo e no Brasil. A Assembleia Geral da
ONU convocou os Estados para mais uma conferência a ser realizada no Rio de
Janeiro em 1992.
Vale lembrar que nessa época já tinha ocorrido a queda do regime militar e o
Brasil estava vivendo uma nova era democrática com uma nova Constituição Federal,
promulgada em 1988. Pela primeira vez na história brasileira a Constituição Federal
de 1988 dispõe de um capítulo exclusivo sobre o Meio Ambiente e vários artigos sobre
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a proteção do meio ambiente e a responsabilidade do Estado, das empresas e dos
cidadãos sobre a sua preservação. Mais adiante será tratado mais detalhadamente o
tema na Constituição Federal de 1988.
Assim, em junho de 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, a maior de todas
as Conferências feitas pela ONU, que teve a participação de 178 países, 3 mil
representante de ONGs credenciadas e mais de mil ONGs participando em fórum
paralelo e 8 mil delegados. (LE PRESTE, 2005, p. 203)
A reunião, que também ficou conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da
Terra, inspirada no Relatório de Brundtland discutiu, em seu cerne, propostas para
que o desenvolvimento econômico e social dos países se dê de maneira harmonizada
com a natureza, a fim de garantir a qualidade de vida na geração presente e futuras.
As discussões sobre essas questões partiram do pressuposto de que se todos
seguirem o mesmo modelo de desenvolvimento dos países ricos, haverá insuficiência
de recursos naturais para todo mundo e danos sérios e irreversíveis para o meio
ambiente ecológico.
Nessa conferência todos os países concordaram claramente que era
necessário e importante conciliar a preservação da natureza com o desenvolvimento
econômico e social, inclusive os países em desenvolvimento, que nos primeiros
debates sobre o assunto não concordaram com essa ideia e defendiam o crescimento
econômico a qualquer custo.
No entanto, houve algumas discordâncias quando se tratou de aspectos
específicos que atrapalhava interesses econômicos de alguns países, como foi, por
exemplo, o caso dos Estados Unidos, que se opôs a negociações sobre CCC – Contas
de Consumo de Combustíveis, as quais propunham um cronograma rígido a fim de
reduzir as emissões de poluentes. Também ocorreram divergências com os países
produtores de petróleo, quando foi tratado o assunto de mudanças climáticas.
A despeito disso, chegou-se à conclusão que o desenvolvimento deve levar em
consideração os aspectos sociais, ambientais e econômicos sem detrimento de
nenhum. Ainda, o ambiente político internacional auxiliou a aceitação pelos países
desenvolvidos de que a responsabilidade por um convívio social equilibrado com o
planeta e pela proteção do meio ambiente ecológico são diferentes.
Ainda, na conferência Rio-92 ficou convencionado que os países em
desenvolvimento deveriam receber auxílio tecnológico e financeiro para atingirem
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outro modelo de desenvolvimento, de modo sustentável, inclusive com a diminuição
dos padrões de consumo, principalmente de combustíveis fósseis. Essa decisão foi
de grande importância para a busca do desenvolvimento sustentável e para a
superação de problemas registrados em reuniões passadas, como na de Estocolmo.
Além disso, teve ótima produtividade e foi um passo muito importante para os
estudos ambientais e para a política ambiental internacional. Esse grande encontro
originou duas convenções, sobre mudanças climáticas e biodiversidade, e três
documentos: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
a Declaração de Princípios sobre Florestas e a Agenda 21, que até hoje orientam as
ações nacionais e internacionais que aspiram pelo desenvolvimento sustentável.
(CAMARGO, 2003, p. 55)
Ainda, em relação a preocupação com a gestão dos resíduos sólidos que
repercutiu na Assembleia da ONU realizada no dia 22 de dezembro de 1989. A
Resolução nº 44/228, que emergiu da ocasião, defende o desenvolvimento
sustentável e a preservação do meio ambiente através de diretrizes e metas para a
mudança do padrão de consumo; redução e reutilização de resíduos sólidos; a
utilização de instrumentos como a reciclagem; a promoção da coleta e do tratamento
adequado e de políticas públicas voltadas à gestão dos resíduos sólidos.
Essa Resolução foi, posteriormente, na conferência Rio-92, incorporada na
Agenda 21:
CAPÍTULO 21
MANEJO AMBIENTALMENTE SAUDÁVEL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E QUESTÕES RELACIONADAS COM OS ESGOTOS
INTRODUÇÃO
21.1. O presente capítulo foi incorporado à Agenda 21 em cumprimento ao disposto no parágrafo 3 da seção I da resolução 44/228 da Assembléia Geral, no qual a Assembléia afirmou que a Conferência devia elaborar estratégias e medidas para deter e inverter os efeitos da degradação do meio ambiente no contexto da intensificação dos esforços nacionais e internacionais para promover um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países, e no parágrafo 12 g) da seção I da mesma resolução, no qual a Assembléia afirmou que o manejo ambientalmente saudável dos resíduos se encontrava entre as questões mais importantes para a manutenção da qualidade do meio ambiente da Terra e, principalmente, para alcançar um desenvolvimento sustentável e ambientalmente saudável em todos os países.
21.2. As áreas de programas incluídas no presente capítulo da Agenda 21 estão estreitamente relacionadas com as seguintes áreas de programas de outros capítulos da Agenda 21:
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(a) Proteção da qualidade e da oferta dos recursos de água doce: (capítulo 18);
(b) Promoção do desenvolvimento sustentável dos estabelecimentos humanos (capítulo 7);
(c) Proteção e promoção da salubridade (capítulo 6);
(d) Mudança dos padrões de consumo (capítulo 4).
(...)
21.4. O manejo ambientalmente saudável desses resíduos deve ir além do simples depósito ou aproveitamento por métodos seguros dos resíduos gerados e buscar resolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padrões não sustentáveis de produção e consumo. Isso implica na utilização do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade única de conciliar o desenvolvimento com a proteção do meio ambiente.
21.5. Em consequência, a estrutura da ação necessária deve apoiar-se em uma hierarquia de objetivos e centrar-se nas quatro principais áreas de programas relacionadas com os resíduos, a saber:
(a) Redução ao mínimo dos resíduos;
(b) Aumento ao máximo da reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos;
(c) Promoção do depósito e tratamento ambientalmente saudáveis dos resíduos;
(d) Ampliação do alcance dos serviços que se ocupam dos resíduos.
21.6. Como as quatro áreas de programas estão correlacionadas e se apóiam mutuamente, devem estar integradas a fim de constituir uma estrutura ampla e ambientalmente saudável para o manejo dos resíduos sólidos municipais. A combinação de atividades e a importância que se dá a cada uma dessas quatro áreas variarão segundo as condições sócio-econômicas e físicas locais, taxas de produção de resíduos e a composição destes. Todos os setores da sociedade devem participar em todas as áreas de programas. (BRASIL, 2018b)
No Brasil, no mesmo ano de 1992 foi criado o Ministério do Meio Ambiente
(MMA). Mais tarde, em 1997 foi sancionada a Lei 9.433/97 que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos. Um ano depois, em 1998, criou-se a Lei de Crimes
Ambientais (9.605/98).
Nota-se que cada vez mais o Brasil criava novas leis e instituições sobre a
proteção ambiental. Porém, tais leis não se mostravam tanto eficazes, principalmente
pelo fato da carente fiscalização pelos órgãos, que na maioria das vezes faltavam
funcionários. O Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, no início tinha apenas
poucos funcionários emprestados de outros órgãos ou terceirizados com contratos
temporários, além disso faltava recurso financeiro e a maior parte das verbas eram
obtidas através de recursos oriundos de empréstimos, como do Banco Mundial ou do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
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Dez anos após a Eco-92, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento na África do Sul, em Joanesburgo. A conferência
ficou conhecida como Rio +10, e em suas discussões os países buscaram revisar a
Agenda 21 e desenvolver planos e metas para a real implementação. (BRASIL, 2018c)
Os debates deste encontro não tiveram muito sucesso, principalmente por
razão dos poucos resultados práticos devido aos conflitos entre os países
desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Os países desenvolvidos
demonstraram falta de vontade em assumir as suas responsabilidades. Um dos
exemplos desses conflitos é dos Estados Unidos que não concordou com a
determinação feita na ocasião da Rio-92 de que os países têm responsabilidades
comuns em relação à proteção do meio ambiente, porém de maneiras diferentes.
Em suma, a produtividade da Rio +10 foi aquém do esperado, e dos debates
originam-se apenas dois documentos: a Declaração Política e o Plano de
Implementação, os quais tinham como principal objetivo tornar eficaz a execução da
Agenda 21.
Mais dez anos se passaram e em 2012, novamente, foi realizada no Rio de
Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
que ficou conhecida como Rio +20.
Baseada em três fundamentos, social, econômico e ambiental, os dois
principais assuntos colocados em pauta nas discussões da Rio +20 foram: a economia
verde no contexto do desenvolvimento sustentável da erradicação da pobreza; e a
estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável. (BRASIL, 2018d)
Na ocasião também foi instaurado um plano de gestão de resíduos sólidos,
baseado na Lei 12.305/10 que buscou consolidar o modelo de gestão baseado na
hierarquia da não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição
final adequada de resíduos sólidos. Além disso, um dos pilares do plano de gestão é
a atuação da coleta seletiva da Rio+20, que incentiva a formação de associações de
catadores, a fim de promover a educação ambiental e sensibilizar os integrantes sobre
o sistema de coleta seletiva proposto no plano, que foi dividido em quatro principais
grupos: recicláveis, não recicláveis, orgânicos e pilhas, celulares e baterias. (BRASIL,
2018d)
Contudo, 20 anos após a Rio-92, as perspectivas da Rio +20 desde o início já
não eram positivas e, de fato, a conferência não obteve tanto sucesso e tampouco
trouxe tantos avanços como sua antepassada. Isso devido a várias razões, como por
38
exemplo, a crise econômica, à época enfrentada pelos países desenvolvidos, a falta
de consenso entre os países em desenvolvimento e em razão do problema na
dinâmica das discussões internacionais no geral. (BRASIL, 2018e)
O momento de conjuntura nas esferas social, política e econômica que
defrontavam-se principalmente os Estados Unidos e os países Europeus foi
considerado o principal empecilho dos acordos mais contundentes na Conferência em
2012. Afinal de contas, qualquer alteração no padrão de exploração dos recursos
naturais e energéticos poderia causar, em um primeiro momento, descontentamentos
populares e problemas sociais sérios em meio à crise, como aumentar o número de
desempregos.
Além disso, a criação de fóruns específicos para tratar assuntos como as
mudanças climáticas e a água, limitou, na Rio +20, a pauta sobre desenvolvimento
sustentável, visto que esses fóruns possuem processos próprios de negociação.
Enfim, com todos os problemas à época enfrentados pela Conferência, a
Rio+20 se limitou a analisar os progressos dos últimos 20 anos e, também, os
problemas para implementação de acordos e os novos desafios. Como resultado,
especialistas concordaram que deveria ser elaborado um documento mais político que
técnico, uma carta de intenções que apenas reafirmava o pacto mundial acerca da
sustentabilidade.
3.2 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE
1988
Além dos avanços em âmbito global referente à proteção da natureza e ao
desenvolvimento sustentável, durante todo esse período histórico de movimentos
ambientalistas, o Brasil mostrou que tem avançado gradualmente no estabelecimento
de dispositivos legais, políticas públicas e de processos de institucionalização a favor
da proteção do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.
Diante do cenário mundial delicado que se originou a partir da Revolução
Industrial, de todas as mudanças nos modos de produção e consumo, dos avanços
tecnológicos, da globalização, da explosão populacional, da poluição, da produção
demasiada de resíduos, e de tantos outros problemas e desastres ambientais que são
39
registrados, os seres humanos perceberam que os recursos naturais do planeta Terra
são esgotáveis e a gravidade dos problemas causados pela destruição ambiental.
Mais do que isso, conforme a contextualização feita nesse capítulo, desde a
década de 1960 os Estados admitiram a crise socioambiental e confirmaram que o
mundo deve agir em conjunto a fim de melhorar a qualidade de vida atual e das futuras
gerações.
De acordo com Kassmayer (2010, p. 423) evidenciou-se assim “o desafio da
regulamentação jurídica dos riscos socioambientais e da administração pública no
alcance à justiça socioambiental.”
Ao longo de todos os anos de discussões sobre o desenvolvimento sustentável,
o Brasil também se ajustou nesse sentido e, pela primeira vez em uma Constituição,
percebe-se que os preceitos da sustentabilidade são consoantes com os valores
supremos dispostos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o que
faz do desenvolvimento sustentável constitucionalmente determinado, porém de
forma implícita.
A partir da interpretação sistemática na leitura do ordenamento jurídico pátrio,
é possível notar que a República Federativa do Brasil possui o objetivo de concretizar
o desenvolvimento sustentável. O Preâmbulo14 da Constituição da República de 1988
institui um Estado Democrático o qual assegura o exercício dos direitos sociais e
individuais, a justiça, a igualdade, liberdade, o bem-estar, a segurança e o
desenvolvimento como valores supremos de uma sociedade pluralista, desprovida de
preconceitos e fraterna, fundada na harmonia social.
Conforme os valores supremos citados no preâmbulo, se interpretados
sistematicamente, a sustentabilidade entra, portanto, em cena como um princípio
constitucional, um valor supremo que torna-se imperioso para o cumprimento dos
objetivos fundamentais da República. E o desenvolvimento a que se refere, a partir da
interpretação do texto constitucional dentro do contexto15 em que foi criado, é o
14 PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (BRASIL, 1988) 15 Aqui leva-se em conta o contexto de todas as discussões e movimentos em prol das questões ambientais supracitadas, a queda do regime ditatorial, a ascensão da democracia brasileira e o
40
desenvolvimento sustentável, que se preocupa mais do que apenas com o progresso
econômico, mas também com o crescimento de maneira que considere todas as
variáveis econômicas, sociais e ambientais e almejando sempre o bem-estar social e
natural, sem detrimento de qualquer área do meio ambiente.
Além do Preâmbulo, a Constituição Federal de 1988 dedica um capítulo
exclusivo ao meio ambiente, o Capítulo VI, que determina no art. 225 o direito de todos
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, à qualidade de vida e confere ao Poder
Público e a toda coletividade a obrigação de preservá-lo para a presente e futuras
gerações.
A Constituição instituiu o Poder Público como o principal responsável por
garantir aos cidadãos o meio ambiente equilibrado, e para isso, incumbe sete
atribuições para que esse direito seja assegurado:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988)
No entanto, para que esse direito seja de fato assegurado, a coletividade
também precisa usar os recursos naturais de forma consciente. No entanto, isso nem
sempre acontece devido à diversos motivos, como mesmo a ignorância ou interesses
privados. No caso de conflitos ambientais e degradação do meio ambiente, cabe
também ao Poder Público intervir a fim de restabelecer o ambiente degradado e evitar
conflitos entre a sociedade.
Relatório de Brundtland, que foi publicado em época concomitante à promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
41
Diante disso, para o exercício dos deveres impostos ao Poder Público na
gestão ambiental, é necessário planejamento e visão estratégica a fim de cada vez
mais preservar o meio ambiente e, no caso de destruição, condicionar a imediata
reparação dos danos pelo infrator.
Além do art. 225, o conceito constitucional de desenvolvimento traz a
sustentabilidade em inúmeras normas constitucionais como, por exemplo: o art. 170,
VI que consagra, expressamente, a defesa do meio ambiente como princípio da ordem
econômica e impõe um tratamento diferenciado das atividades econômicas conforme
o impacto que causam; o art. 174, §1º que determina o planejamento do
desenvolvimento equilibrado; o art. 192 dispõe que o sistema financeiro deve
promover o desenvolvimento equilibrado respeitando os interesses coletivos. E mais,
o art. 205 da CF determina o desenvolvimento da pessoa; o art. 219 que ordena o
incentivo do desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar e a autonomia
tecnológica.
Ademais, da interpretação sistemática dos dispositivos constitucionais dos
artigos supracitados, e ainda da junção interpretativa dos arts. 3º, 170, VI, 172, §1º e
225, a sustentabilidade além de valor supremo da Constituição, pode ser interpretada
como objetivo da República, que requer o desenvolvimento equilibrado, voltado para
a equidade social e o bem-estar continuado, durável intra e intergeracional, de
maneira que a considere o crescimento do país nos âmbitos econômico, social e
ambiental.
Sendo assim, é possível perceber que quando a CF cita o desenvolvimento
como sendo valor supremo da República, faz-se referência ao desenvolvimento
sustentável que leva em consideração o progresso ético e multifacetado (ambiental,
social e econômico).
Nesse sentido, Freitas (2016, p. 118) faz uma interessante colocação sobre o
desenvolvimento de acordo com os valores e os objetivos da Constituição da
República de 1988, diga-se que bem diferente do pensamento passado, à época da
ditadura, que buscava crescimento econômico a qualquer custo:
Como resulta cristalino, da sinapse dos comandos constitucionais, o valor da sustentabilidade, com a sua pluridimensionalidade valorativa, inspira a completa ultrapassagem do modelo tradicional de desenvolvimento (medido pelo enganador PIB), de ordem a não restringi-lo à esfera medíocre, limitada e limitante, do crescimento material iníquo e desordenado. Tampouco o modelo para o hiperconsumismo patológico, que faz as classes médias dos
42
países desenvolvidos adotarem padrão de vida que simplesmente não consegue ser generalizado pelas classes médias dos países emergentes.
Ainda, a partir cargas semânticas distintas, conforme o mesmo pesquisador, a
definição de sustentabilidade é muito mais profunda, pois
(a) é princípio ético-jurídico, direta e imediatamente vinculante (do qual são inferíveis regras), que determina o oferecimento de condições suficientes para o bem-estar das atuais e futuras gerações, (b) é valor constitucional supremo (critério axiológico de avaliação de políticas e práticas) e (c) é objetivo fundamental da República (norte integrativo de toda interpretação e aplicação do Direito. Nessa vertente, a ascensão valorativa da sustentabilidade catalisa a transformação de estilo de pensamento ético jurídico-político, no intuito de fazê-lo fonte de desenvolvimento durável, resiliente e socialmente justo. Numa expressão: desenvolvimento sistematicamente sustentável, com a eficiência a serviço da eficácia, numa perspectiva renovadora da hermenêutica das relações jurídicas, preferencialmente adotando soluções em conformidade com a natureza. (FREITAS, 2016, p. 119)
De sorte que, para que seja possível o progresso racional e ético de uma
sociedade fraterna de acordo com os objetivos da República, é interessante desfazer
as premissas conforme o fundamentalismo de mercado e a ideia que associa o bem-
estar e a felicidade humana ao consumismo.
Em matéria legislativa, o Brasil tem mostrado seguir os parâmetros da
sustentabilidade e desde a Constituição Federal de 1988, surgiram muitos outros
dispositivos infraconstitucionais que regulam as questões ambientais e visam
promover o equilíbrio do meio ambiente.
Em 1997, por exemplo, foi sancionada a Lei 9.433 que institui a Política
Nacional de Recursos Hídricos e determina a utilização racional da água e dos
transportes aquaviário visando o desenvolvimento sustentável. Ademais, o art. 48, II,
da Lei 11.445/07 estabelece que a União deverá, em sua política de saneamento,
aplicar recursos financeiros a fim de promover o desenvolvimento sustentável; a Lei
8.666/93 teve alteração que incluiu o princípio desenvolvimento sustentável; ainda, a
Lei nº 9.985/2000 que dispões alguns artigos sobre o extrativismo sustentável e a
sustentabilidade econômica.
Nesse sentido, entre os diversos dispositivos normativos brasileiros acerca das
questões ambientais que surgiram desde a CF de 1988, em 2010 foi sancionada a Lei
12.305, que a fim de buscar o equilíbrio do meio ambiente considerando as esferas
43
ecológicas, sociais, políticas, culturais e econômicas, de modo a promover o
desenvolvimento sustentável, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A Lei nº 12.305/10 é bastante atual e inovadora, visto ser a primeira na história
brasileira que trata exclusivamente dos problemas sociais, ambientais e econômicos
decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Seguindo os parâmetros
éticos e racionais da sustentabilidade, a referida lei prevê a redução na geração de
resíduos e propõe a mudança prática de hábitos de consumo sustentável juntamente
de instrumentos que possibilitam o aumento da reutilização e da reciclagem dos
resíduos sólidos e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos.
44
4 A LEI 12.305/10 QUE INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Postas as considerações sobre os debates acerca da crise socioambiental no
mundo, e desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, nota-se que a
legislação brasileira tem dado mais importância às questões ambientais, e mostrado
engajada no assunto, de forma que se tornou uma das mais completas legislações
ambientais do mundo. (Brasil, 2010b)
O constante crescimento populacional brasileiro urbano proporcionou grande
geração de resíduos sólidos.16 Este aumento gerou também alto número de descarte
inadequado de rejeitos e resíduos, o que prejudica o meio ambiente ecológico e a
saúde pública, devido à contaminação do solo e das águas, por exemplo. Além disso,
é desperdiçado um grande potencial socioeconômico, visto que muitos resíduos
sólidos são passíveis de reutilização e reciclagem, de maneira a poupar a demanda
por novas matérias-primas e a extração de recursos naturais, financeiros e a emissão
de CO².
Desse modo, a crescente preocupação com a proteção do meio ambiente
ecológico associada às questões sociais e econômicas acerca dos resíduos sólidos
indica que as políticas públicas referentes ao tema tendem a ser cada vez mais
reivindicadas pela sociedade. Uma vez que o descarte inadequado traz uma série de
graves danos ao meio ambiente e à saúde pública e correlata a um trágico quadro
socioeconômico, visto o elevado número de famílias que, marginalizadas pela
sociedade, sobrevivem dos (e nos) lixões, onde moram e de onde retiram os materiais
recicláveis e reutilizáveis que comercializam e utilizam para viver.
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os municípios
passaram a serem considerados entes federativos autônomos, dotados de
competências próprias, independência legislativa, administrativa e financeira e, ainda
16 Em 2016, a população brasileira cresceu 0,8% em relação ao ano de 2015 e a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil chegou a 214.405 toneladas por dia. No entanto, a coleta total de resíduos sólidos urbanos foi de 195.452 toneladas por dia, ou seja, a relação condizente de dados entre a coleta e geração de resíduos sólidos urbanos apresenta índices negativos. (ABRELPE, 2016) Na região sul do país, em 2016, a produção de resíduos sólidos urbanos por pessoa é de 1,07 kg/ dia, e no estado do Paraná são produzidos diariamente 11.186 toneladas de resíduos sólidos urbanos. (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017)
45
contemplados com a possibilidade de legislar acerca de assuntos de interesses local;
suplementar a legislação federal e a estadual e, ainda, prestar e organizar,
diretamente ou sob regime de permissão ou concessão, serviços públicos de
interesses local e de caráter essencial (Art. 30 incisos I, II e V, CF/88). Além disso, a
Constituição Federal ainda determina a competência comum entre a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios para proteger o meio ambiente e combater
a poluição em qualquer de suas formas (art. 23, inciso VI, CF). Portanto, a partir da
interpretação dos dispositivos constitucionais, os municípios são detentores da
titularidade dos serviços de limpeza urbana e de gestão, gerenciamento e manejo dos
resíduos sólidos, desde a coleta até a destinação final.
Contudo, embora já existissem normas que abordam sobre resíduos sólidos,
especialmente as Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA,
antes da Lei 12.305/10 não havia, no Brasil, nenhum instrumento legal que
estabelecesse diretrizes e regulamentasse a questão dos resíduos sólidos a fim de
nortear os Estados e Municípios na gestão adequada desses resíduos17.
Conforme pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em 1989, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) mostrava que
o apenas 10,7% dos municípios brasileiros destinavam seus resíduos sólidos de
maneira adequada e 88,2% dos resíduos sólidos tinham os vazadouros a céu aberto
– os lixões – como seu destino final. Já nos anos 2000, pesquisas realizadas pelo
IBGE e pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (Abrelpe), notaram que a maioria esmagadora das regiões do Brasil
dispunham os resíduos sólidos em vazadouros a céu aberto ou em áreas alagadas
correspondendo a 72,25% do universo pesquisado (ABRELPE, 2003). Em 2008,
houve uma melhora relativa nesse quadro com o aumento da participação dos aterros
sanitários e a diminuição da disposição dos resíduos sólidos em lixões, de acordo com
a Tabela 1.
17 Cabe salientar que a União não possui competência privativa para legislar sobre resíduos sólidos. (MACHADO, 2014, p. 635)
46
Tabela 1 – Destino final dos resíduos sólidos por unidades de destinos dos resíduos no
Brasil:
FONTE: IBGE, 2000 e 2008
Vale ressaltar, a título de esclarecimento, a diferença entre vazadouros a céu
aberto – lixões -, aterros controlados e aterros sanitários: os vazadouros a céu aberto
não possuem nenhum tratamento adequado para os resíduos ali dispostos, ou seja,
os resíduos sólidos simplesmente são jogados e amontoados em enormes depósitos
ao ar livre e geralmente distantes dos centros urbanos; nos aterros controlados, os
resíduos sólidos são dispostos de maneira controlada e recebem uma cobertura de
solos, porém do ponto de vista ambiental, pouco diferem dos lixões visto que não
possuem o aglomerado de sistemas necessários para a proteção da saúde pública e
do meio ambiente; por sua vez, os aterros sanitários são construídos conforme
normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e necessitam de um
conjunto de sistemas como impermeabilização do solo, coberturas, manutenção e
controle a fim de proteger o meio ambiente e a saúde pública. (FOGAÇA, 2014)
Feita a ressalva, embora este quadro tenha melhorado gradativamente ao
longo dos últimos 20 anos mostrados na Tabela 1, principalmente nas Regiões
Sudeste e Sul do País, a situação ainda configurava como um cenário preocupante
sobre a destinação reconhecidamente inadequada, a qual exigia soluções urgentes,
estruturais e eficazes para o setor. Para isso, é certo que tais soluções requerem
mudanças sociais, culturais e econômicas.
Em resposta a essas demandas, foi sancionada em 02 de agosto e
regulamentada em 23 de dezembro de 2010 a Lei 12.305 que institui a Política
Nacional de Resíduos Sólidos, a qual dispõe de instrumentos e objetivos visando à
gestão integrada e o correto gerenciamento dos resíduos sólidos.
A Lei estabelece um marco regulatório nessa questão e deve ser entendida
como um instrumento norteador para o desenvolvimento ambiental, social e
econômico. A importância do tema e sua regulamentação legal, portanto, é um passo
Ano Vazadouro a céu aberto Aterro controlado Aterro sanitário
1989 88,2 9,6 1,1
2000 72,3 22,3 17,3
2008 50,8 22,5 27,7
Destino final dos resíduos sólidos, por unidades de destinos dos resíduos (%)
47
relevante para que o Brasil alcance um melhor grau de evolução de tecnologia limpa,
crescimento sustentável e consciência ambiental.
Além disso, a PNRS foi um marco, pois de maneira inédita e exclusiva, a lei
aborda todas as espécies de resíduos sólidos: domésticos, industriais,
eletroeletrônicos, entre outros, e também regulamenta a gestão dos rejeitos18, de
maneira a promover a destinação adequada e estabelecer responsabilidades ao
integrar Poder Público, empresas e cidadãos.
Em linhas gerais, a Lei 12.305/10 busca orientar de forma clara e eficiente a
respeito da responsabilidade pós-consumo, com base na interpretação dos
dispositivos normativos para os seus aplicadores. E para isso, introduz uma série de
princípios que devem ser lidas sistematicamente com o corpo da lei, de modo a
considerar as definições estabelecidas no art. 3, as disposições gerais do art. 4º, os
objetivos do art. 7º e os instrumentos dispostos no art. 8°, os dois últimos serão vistos
de forma mais detalhada adiante.
Nesse diapasão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos possui os seguintes
princípios dispostos no art. 6º da Lei 12.305/10:
Art. 6o São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - a prevenção e a precaução;
II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;
IV - o desenvolvimento sustentável;
V - a ecoeficiência, mediante a compatibilização entre o fornecimento, a preços competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida e a redução do impacto ambiental e do consumo de recursos naturais a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta;
VI - a cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da sociedade;
VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;
IX - o respeito às diversidades locais e regionais;
X - o direito da sociedade à informação e ao controle social;
18 Resíduos que não podem ser reutilizados ou reciclados. (BRASIL, 2017b)
48
XI - a razoabilidade e a proporcionalidade. (BRASIL, 2010a)
O primeiro princípio reflete a importância da “política dos 5 Rs”: repensar,
reduzir, reutilizar, reciclar e recusar consumir produtos que gerem impactos
socioambientais significativos (BRASIL, 2018f). Ademais, o art. 9o da Lei 12.305/10
determina que “na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada
a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos.” (BRASIL, 2010)
Desse modo, é interessante observar que os primeiros “Rs” quais a Lei se
refere são redução e reutilização. Estas são as etapas mais importantes para a gestão
dos resíduos sólidos e que fazem parte de um processo educativo que visa à mudança
de hábitos cotidianos dos cidadãos e do padrão das sociedades de consumo.
Além disso, o descumprimento dessas obrigações traz ao poluidor encargos
financeiros. Também desse primeiro princípio surgiu na Lei 12.305/10 o princípio da
responsabilidade compartilhada, que impõe aos geradores responsabilidade pela
destinação dos resíduos.
Tendo em vista todos os princípios expostos em lei, fica evidente que almeja-
se não apenas a proteção do meio ambiente, e sim o verdadeiro desenvolvimento
sustentável o qual possui essência multidimensional e abrange todas as áreas. Além
disso, fica claro que a lei busca a cooperação entre as esferas públicas e privadas, a
partir da leitura dos princípios VI, VII, VIII, IX e X, por exemplo, é possível notar a
importância da interdependência entre as instituições econômicas e sociais para a
efetivação de uma boa gestão integrada dos resíduos sólidos.
A Lei lista, também, 15 objetivos que, para serem cumpridos de maneira eficaz
e conseguir atingir os fins da lei, devem estar sempre em mente na vida dos cidadãos
e sendo cobradas pelas instituições. Trata-se de objetivos importantes para a melhoria
da qualidade de vida da sociedade brasileira e para o crescimento sustentável do país.
O artigo 7º elenca os seguintes objetivos:
Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:
I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;
II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;
49
III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;
IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais;
V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;
VII - gestão integrada de resíduos sólidos;
VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;
IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de 2007;
XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para:
a) produtos reciclados e recicláveis;
b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;
XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;
XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético;
XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. (BRASIL, 2010a)
Novamente, a partir da leitura dos objetivos é possível perceber que o foco da
lei é o desenvolvimento sustentável do país a partir da responsabilidade pós-
consumo, tendo em vista tratar sobre os aspectos de saúde pública; qualidade de vida
da sociedade e da natureza; inclusão social; incentivo à mudança no padrão de
consumo e à gestão ambiental e empresarial, a fim de melhorar os processos de
produção; a relevância sobre a interdependência entre as esferas públicas e privadas;
por fim, a promoção de ações sustentáveis e tecnologia limpa.
Diante da breve análise dos artigos 6º e 7º da Lei 12.305/10, nota-se que os
dispositivos normativos se complementam e ao mesmo tempo coincidem, de forma
que faz-se importante a leitura conjunta das normas.
50
De maneira ilustrada e bem simplificada (Figura 3), os princípios e objetivos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos buscam o funcionamento da gestão e do
gerenciamento19 dos resíduos sólidos conforme o desenho abaixo (art. 9º da PNRS):
Figura 3: Gestão adequada dos resíduos sólidos conforme a PNRS
FONTE: Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2010, c)
Entretanto, para que os princípios e os objetivos possam ser cumpridos de
modo eficaz, é importante que haja a conscientização ambiental da população, a
inclusão social e a capacitação dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis,
o incentivo à mudança dos padrões de consumo e à utilização de tecnologias
sustentáveis que otimizam a gestão dos resíduos. Para isso, a lei estabelece algumas
diretrizes e instrumentos que estão expressos no art. 8º.
19 A fim de esclarecimento, cabe diferenciar as palavras gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos (art. 3º, X e XI da Lei 12.305/10): a gestão possui conotação mais ampla e se refere como todas as normas, leis e estratégias políticas, financeiras e ambientais visando o desenvolvimento sustentável. O gerenciamento, por sua vez, trata de todas as operações envolvidas com os resíduos, como a coleta, o deslocamento, o tratamento, a disposição final, e outras, ou seja, diz respeito ao planejamento exato e integrado sobre os resíduos sólidos.
51
4.2 A RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA E A LOGÍSTICA REVERSA
Entre os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos dispostos no
art. 8º da Lei 12.305/10, estão no inciso III, a coleta seletiva, a logística reversa e
outras ferramentas que estão relacionadas à implementação da responsabilidade
compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Nota-se que a lei é bem clara e faz questão de conceituar em seu art. 3º todos
esses termos técnicos para a gestão dos resíduos sólidos. Tendo em vista que todas
as pessoas têm responsabilidade pós-consumo e que a interdependência entre o
Poder Público, as empresas e a coletividade é importante para a gestão adequada
dos resíduos sólidos, todos os leitores, sendo eles profissionais ou leigos conseguem
compreender os instrumentos da lei. Desse modo, o art. 3º conceitua os termos coleta
seletiva, logística reversa e responsabilidade compartilhada das seguintes formas:
Art. 3o Para os efeitos desta Lei, entende-se por:
(...)
V - coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição;
(...)
XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;
(...)
XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei; (BRASIL, 2010a)
Nesse sentido, a logística reversa é um instrumento para auxiliar na aplicação
da responsabilidade compartilhada, e para viabilizar a devolução dos resíduos sólidos
a seus respectivos fabricantes/ importadores/ distribuidores/ comerciantes
responsáveis. Segundo Paulo Affonso Leme Machado (2014, p. 647), o sistema da
logística reversa também traz consigo a aplicação do princípio poluidor-pagador (art.
52
6º, II, da Lei 12.305/10 e art. 4ª, VII, da Lei 6.938/81), visto que impõe a
responsabilidade pós-consumo.
Desse modo, é possível o reaproveitamento dos resíduos descartados pelo
próprio fabricante, ou em ciclos produtivos diversos. Esse instrumento se aplica a
todas as espécies de resíduos sólidos, principalmente embalagens e produtos que
oferecem riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
Para alguns resíduos a Lei aplica obrigatoriamente o sistema de logística
reversa, são seis principais grupos: baterias e pilhas; lâmpadas fluorescentes de vapor
de sódio e mercúrio e de luz mista; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; produtos eletroeletrônicos e seus componentes e embalagens de
agrotóxicos.
A logística reversa deve ser feita independente do oferecimento de serviço
público de limpeza urbana, segundo o caput do art. 33 da Lei, de modo a assegurar o
retorno desses resíduos ao fabricante/ importador/ distribuidor/ comerciante
responsável após o descarte pelo consumidor final.
Contudo, é viável que o Poder Público se encarregue das obrigações dos
responsáveis mediante acordo setorial ou termo de compromisso, de maneira
remunerada, conforme o art. 33, §7º. Os acordos setoriais têm natureza contratual e
são firmados entre o Poder Público e o respectivo responsável pelos resíduos. Os
termos de compromisso, por sua vez, caberão nas hipóteses em que não houver, em
uma mesma área de abrangência, acordo setorial ou regulamento específico,
consoante o estabelecido no Decreto nº 7.404/2010 ou
no caso de compromissos e metas mais exigentes que o previsto em acordo setorial
ou regulamento, e apenas terão eficácia a partir da homologação pelo órgão ambiental
competente do SISNAMA, conforme sua abrangência territorial. Vale ressaltar que
não é permitido de modo algum, por Lei, que o serviço público ou a concessionária
faça gratuitamente essas operações de logística reversa. (BRASIL, 2018g)
A figura 4 tem o objetivo de simplificar e ilustrar a explicação sobre a
responsabilidade compartilhada, o sistema de logística e os acordos setoriais:
53
Figura 4: a logística reversa, a responsabilidade compartilhada e os acordos
setoriais
FONTE: PREFEITURA DE FLORIANÓPOLIS, 2018
Dessa maneira, a logística reversa possibilita o retorno do resíduo sólido
descartado ao setor produtivo, de modo a poupar a utilização de novas matérias-
primas.
Contudo, para que seja possível executar o sistema de logística reversa, todos
os sujeitos envolvidos no processo de produção, transportação, venda e consumo têm
a obrigação de contribuir para o encaminhamento adequado dos produtos/resíduos
sólidos para reciclagem ou destinação final ambientalmente correta.
Os consumidores nesse processo têm a responsabilidade de fazer a devolução
de seus produtos, resíduos sólidos e embalagens aos comerciantes ou distribuidores
após o descarte. Aos comerciantes e distribuidores cabe fazer o retorno aos
fabricantes ou aos importadores dos resíduos sólidos acumulados e devolvidos. Por
sua vez, os fabricantes e os importadores possuem o dever de destinar
adequadamente os resíduos sólidos reunidos ou devolvidos, e também devem fazer
a disposição final dos rejeitos de maneira ambientalmente adequada, nos termos
54
estabelecidos pelo órgão competente do SISNAMA ou, se houver, pelo plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.
Ainda, o não cumprimento da logística reversa pode acarretar em multa e
sanção. O Decreto nº 6514, que regulamenta a Lei de Crimes Ambientais, em seus
art. 61 e 62, VI estabelece que quem causar poluição que possa resultar em danos à
saúde humana ou ao meio ambiente, incluindo a disposição inadequada de resíduos
sólidos, estará sujeito à multa de R$ 5 mil a R$ 50 milhões. (BRASIL, 2017b)
Seguindo esse sentido, no Paraná, por exemplo, já existe plano de logística
reversa dos medicamentos e de acordo com a Lei estadual 17.211/12 em consonância
com a PNRS, as multas pelo descumprimento do plano de logística reversa de
medicamentos podem variar de R$ 7.172 a R$ 71.720 por estabelecimento, e em caso
de reincidência, poderão dobrar de valor (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARANÁ,
2014).
No entanto, apesar do dever imposto pela legislação ambiental e da existência
de coerção em caso de descumprimento, a logística reversa é um grande desafio a
ser enfrentado. A carga onerosa das operações do sistema de logística reversa em
um país de extensão continental com suas complexidades peculiares referente à
logística é uma das principais dificuldades. Além disso, sabe-se que qualquer sistema
que vise um planejamento adequado desencadeará despesas maiores, porém
necessárias para o desenvolvimento sustentável do país. Não obstante esses gastos
serem, muitas vezes, enxergados pelas empresas como apenas um ônus econômico,
se visto de forma mais consciente, essas despesas não trarão prejuízo econômico, e
sim precaverão maiores dispêndios que eventualmente virão a fim de recuperar a
destruição do meio ambiente causado pelo descarte inadequado dos resíduos sólidos
(PORTAL RESÍDUOS SÓLIDOS, 2013).
Ademais, a PNRS enfrenta grandes dificuldades de sair do papel em vários
aspectos. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o quadro institucional
também é negativo, apesar de encontrar-se em estado de evolução. As Prefeituras
Municipais, em sua maioria, ainda não dispõem de recursos técnicos e financeiros
para sanar os problemas relacionados à gestão dos resíduos sólidos. Ademais, muitas
vezes, ignoram as possibilidades de estabelecer parcerias com setores sociais que
deveriam estar envolvidos na gestão e na busca de alternativas para soluções
efetivas.
55
Os municípios, ainda, raramente utilizam das vantagens e das possibilidades
de cooperação com outros entes federados através de consórcios públicos nos termos
previstos pela de Lei de Consórcios Públicos, Lei nº 11.107/2005, e pela Lei de
Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007) e de seus respectivos decretos de
regulamentação, Decreto nº 6.017/2007 e Decreto nº 7217/2010. Desse modo,
continua sendo frequente a gestão de resíduos sólidos sem prévio e adequado
planejamento técnico-econômico. (BRASIL, 2018f)
Tendo em vista os obstáculos enfrentados, a Lei 12.305 sugere, em seu
parágrafo 3º do art. 33, sem detrimento das exigências específicas fixadas em lei ou
regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do SISNAMA e do Sistema
Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), ou em acordos setoriais e termos de
compromisso, firmados entre o poder público e o setor empresarial, que os
responsáveis legalmente pela operação de logística reversa adotem os seguintes
procedimentos:
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
(...)
§ 3o Sem prejuízo de exigências específicas fixadas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS, ou em acordos setoriais e termos de compromisso firmados entre o poder público e o setor empresarial, cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos a que se referem os incisos II, III, V e VI ou dos produtos e embalagens a que se referem os incisos I e IV do caput e o § 1o
tomar todas as medidas necessárias para assegurar a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa sob seu encargo, consoante o estabelecido neste artigo, podendo, entre outras medidas:
I - implantar procedimentos de compra de produtos ou embalagens usados;
II - disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis;
III - atuar em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos casos de que trata o § 1o. (BRASIL, 2010a)
Nota-se que a PNRS incentiva e prioriza a parceria com cooperativas ou de
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis e
estabelece que sua participação nos sistemas de coleta seletiva e de logística
reversa é essencial, tendo em vista as contribuições muito significativas dos catadores
de materiais recicláveis e reutilizáveis para o processo de reciclagem, já que atuam
56
na coleta seletiva, na triagem, na classificação, no processamento e na
comercialização dos resíduos sólidos.
Desse modo, visto a importância do trabalho dos catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis, a Lei 12.305/10 atribui um grande destaque à esse
segmento e estabelece como alguns de seus princípios “reconhecimento do resíduo
sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de
trabalho e renda e promotor de cidadania” e a “responsabilidade compartilhada pelo
ciclo de vida dos produtos” (BRASIL, 2010a).
4.3 A VALORIZAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E
REUTILIZÁVEIS
A partir do advento da Lei 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, os catadores de materiais recicláveis ou reutilizáveis tiveram seu
importante papel social consagrado e a letra normativa deixou bem clara a importância
desse segmento social ao meio ambiente ecológico e à sociedade. Tendo em vista
que a Lei menciona os catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis pelo menos
doze vezes é inegável e evidente o destaque dado à este segmento social para a
eficácia dos objetivos pretendidos pelo legislador.
Entre os princípios e objetivos da PNRS, o art. 6º, inciso VIII da lei reconhece
os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis como um bem de valor econômico e
social, gerador de trabalho, renda e promotor de cidadania.
Os catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis são sujeitos sociais que
conseguem seguir bem esse princípio e cumprem o objetivo de dar um novo
significado à materiais que, em primeiro momento, seriam considerados inúteis e
descartados como mero “lixo” pela grande maioria da população. O trabalho realizado
por essas pessoas, que consiste em fazer a coleta, triagem, gestão, transporte e,
muitas vezes, a reutilização os resíduos reaproveitáveis e/ou a venda para reciclagem
a partir de seu valor comercial deixa claro e importância da atividade de gestão dos
resíduos sólidos como alternativa de trabalho digno, de grande utilidade social e
ambiental, merecedor de incentivo e respeito.
De fato, visto a sua importância na gestão integrada dos resíduos sólidos, esse
segmento social desempenha uma função essencial na implementação da Lei
57
12.305/10. Apesar de estarem presentes no cenário social urbano brasileiro há muito
tempo, apenas em 2002 a partir da CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, a
atividade profissional dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis foi
reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. (BRASIL, 2018h)
A despeito disso, ainda ocorrem muitos casos de marginalização e preconceito
social contra esses trabalhadores, além das condições precárias de trabalho,
realizadas de maneira autônoma, a partir do manejo impróprio dos resíduos em lixões
ou nas ruas.
A fim de promover o desenvolvimento sustentável e a cidadania, melhorar a
renda e a qualidade de vida dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, e
ainda, da própria natureza e da sociedade, a PNRS propõe a valorização da figura
dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e o fortalecimento desse
segmento social a partir de auxílios sociais, fortalecimento de cooperativas e/ou
associações de catadores.
Entre os objetivos da Lei 12.305/10 dispostos no art. 7º, está estabelecido no
inciso XII a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações
que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
Ainda, entre os instrumentos da PNRS determinados pelo art. 8º da lei, está o
incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, nos termos do inciso
IV.
O fortalecimento das cooperativas e/ou associações de catadores é de suma
importância para a eficácia da Lei e de seus instrumentos, visto que oferece
possibilidade ao desenvolvimento sustentável de modo a gerar benefícios ao meio
ambiente, como o aumento de vida útil dos aterros sanitários dos municípios, por meio
da coleta seletiva, da logística reversa, e da triagem dos materiais, de modo a reduzir
a quantidade de resíduos reutilizáveis e recicláveis dispostos nesses locais, e fazê-
los retornar ao ciclo produtivo.
O art. 15, V, da Lei, também procura melhorar essa questão ao determinar que
a União elaborará, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o Plano
Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por prazo indeterminado e horizonte de
20 (vinte) anos, a ser atualizado a cada 04 (quatro) anos, e que deve obrigatoriamente
conter metas a fim de eliminar e recuperar os lixões, associadas à inclusão social e à
emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.
58
No Paraná, por exemplo, houve uma melhora em relação à destinação dos
resíduos sólidos após a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em
2013, segundo o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), dos 399 municípios
paranaenses, 185 (46,4%) municípios dispunham os resíduos sólidos em aterros
sanitários, 121 (30,3%) em aterros controlados e 93 (23,3%) em vazadouros a céu
aberto. O relatório divulgado pelo IAP em 2017 apontou que 301 cidades do Paraná
(75%) destinam seus resíduos a aterros sanitários licenciados, 74 (19%) dispõem os
resíduos em aterros controlados, mas ainda 24 (6%) municípios destinam seus
resíduos aos lixões (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017).
Segundo a engenheira química do IAP, Alessandra Mayumi Nakamura,
coordenadora do levantamento dos dados do relatório:
É possível perceber a redução no número de lixões e de aterros controlados, principalmente porque as prefeituras optaram por destinar os resíduos em aterros particulares ou através de consórcios.
(...)
Isso tem ocorrido muito com os municípios de pequeno porte, que têm dificuldade tanto financeira como de equipe técnica qualificada para fazer a implantação e gestão de um aterro, afirma. (INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ, 2017)
A questão da eliminação e recuperação dos lixões, em especial, é um grande
obstáculo a ser enfrentado pela lei e que vêm encontrando grandes dificuldades para
sair do papel. Não obstante a melhora no cenário ambiental brasileiro sobre os
resíduos sólidos, a qualidade da gestão dos resíduos sólidos no país ainda é
preocupante, segundo a Câmara dos Deputados, em 2017, ou seja, com 07 anos de
vigência, a Lei conseguiu eliminar os lixões em apenas 40% dos municípios do país.
Todavia, inicialmente a lei estipulou o prazo de 04 anos - até agosto de 2014 - para a
eliminação dos lixões e sua substituição pelos aterros sanitários no Brasil. Apesar
disso, foi levantando em torno de três mil lixões no país até o ano passado. (BRASIL,
2017a)
As dificuldades para erradicação dos lixões no Brasil são várias, entre elas
estão principalmente o custo oneroso para os municípios executarem o tratamento e
a destinação adequada dos resíduos, a falta de planejamento e de regularização
ambiental do serviço de coleta e a escassez de funcionários especializados em
manejo de resíduos. (BRASIL, 2017c)
59
Segundo o coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Política Nacional
de Resíduos Sólidos, o deputado Victor Mendes do PMDB do Maranhão, afirma, em
entrevista à Câmara dos Deputados, que a Lei 12.305/10 é boa, porém enfrenta
dificuldades para a sua implementação devido as obrigações não estarem divididas
igualmente entre o poder público e o setor privado. Na ocasião da entrevista ele
afirmou que:
Tratar resíduo é caro. Não adianta só gerar mais uma obrigação, com possibilidade de punição dos gestores municipais sem fazer parceria, sem estender a mão, sem orientar. Apenas terceirizando, depois cobrando, depois punindo, como está acontecendo hoje. A gente quer que essa lei, que é uma lei bem feita, que é modelo para todo o mundo, mas que ela não seja modelo apenas na teoria, mas que ela também seja um bom modelo na prática. Que o Brasil entre no protagonismo também do tratamento de resíduos, que está muito longe disso acontecer. (BRASIL, 2017c)
Vale comentar sobre a existência do Lixão Estrutural20 (figura 5), desativado
em janeiro de 2018, o maior lixão da América Latina, que estava localizado a apenas
15 km do centro do governo federal. Em entrevista à reportagem publicada pela
Câmara dos Deputados, a diretora presidente do Serviço de Limpeza Urbana do
Distrito Federal - SLU, Heliana Kátia Tavares Campos, explicou que o encerramento
do lixão não é um problema apenas do SLU, vez que não se trata de questão não de
técnica somente, mas engloba muitas áreas:
Em dois meses que eu estava aqui eu descobri que lá tinha: desova de carro roubado queimado, tráfico de entorpecentes, venda de alimentos vencidos e vincendos, poluição do subsolo com horta ali do lado. Fizemos uma reunião com o governador e falamos: quem tem que lidar com isso aqui são 17 órgãos. Então, o SLU não sabe lidar com esse tanto de questões. (BRASIL, 2017d)
20 Em uma área de 201 hectares, o equivalente a cerca de 280 campos de futebol, o Lixão Estrutural era o segundo maior do mundo. Em 2016, foram depositadas 830.055 toneladas de resíduos domiciliares, estimativas do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) afirmam que cerca de 40 milhões de toneladas de lixo foram aterradas no Lixão Estrutural desde a década de 1960, quando a área começou a ser utilizada para esse fim. (BRASIL, 2018i)
60
Figura 5: Lixão Estrutural em Brasília-DF
FONTE: MENEZES, 2016
Nesse sentido, a questão da gestão dos resíduos sólidos no Brasil vai muito
além dos problemas ambientais e de saúde pública. Trata-se de uma problemática
muito mais profunda, que envolve cidadania, questões sociais, segurança e trabalho.
O problema da gestão dos resíduos sólidos no país, portanto, não se trata apenas de
problemas normativos, técnicos e/ou tecnológicos, mas também de problemas
institucionais e estruturais da própria sociedade brasileira.
No caso do Lixão Estrutural, um problema sério enfrentado pelas autoridades
durante o processo de desativação do lixão, segundo Ariovaldo Caodaglio, presidente
do Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana do Estado de São Paulo (Selur) era o
destino dos 02 mil catadores que trabalhavam no local. (MENEZES 2016)
Não obstante a lei tratar de algumas dessas questões ao incentivar o
fortalecimento das cooperativas e/ou associações de catadores de materiais
recicláveis e reutilizáveis, a fim de melhorar a qualidade de vida, a renda e promover
a autonomia desse segmento social, a mudança da realidade continua lenta. De
acordo com o representante do Movimento Nacional dos Catadores, Ronei Alves da
61
Silva, na prática a lei não é eficaz ao melhorar a vida dos catadores, pois, na realidade,
Ronei afirma que os catadores são os responsáveis pela coleta seletiva e pela
reciclagem, porém não ganharam espaço para trabalhar e continuam vivendo em
situações precárias. (BRASIL, 2017d)
Desse modo, além dos benefícios ambientais, o fortalecimento dessas
cooperativas e/ou associações é essencial do ponto de vista sustentável, vez que os
trabalhos dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis junto às associações
proporcionam melhoria nas condições de trabalho e de vida, a dignidade da pessoa
humana, a economia solidária com a inclusão social dessas famílias quanto à geração
de renda, e o desenvolvimento sustentável.
Além disso, segundo Paulo Affonso Leme Machado (2014, p. 649) no âmbito
jurídico, o associativismo gera também uma vantagem processual, vez que a
associação e/ou cooperativa de catadores detém legitimidade ativa para ingressar
com Ação Civil Pública nos termos da Lei 7.347/85.
Visto isso, o governo federal vem, através de um conjunto de ações
empreendidas por diferentes órgãos, atuando para alcançar para o fortalecimento da
atuação do trabalho dos catadores com melhoria das condições de trabalho, a fim de
contribuir também para a implementação da PNRS.
Para isso é necessário programas e políticas públicas articuladas e integradas
com ações de cunho social, de ordem econômica e ambiental. A inserção dos
catadores nos planos de gestão de resíduos sólidos justifica-se tanto para fins
ambientais, como sociais e econômicos. Para a promoção da cidadania e para
assegurar os direitos fundamentais previstos na Constituição que impliquem na
melhoria das atuais condições das famílias desse segmento, é possível melhorar o
contexto atual através da efetiva inclusão social dos catadores, pois além de garantir
a destinação adequada dos resíduos sólidos, possibilita o incremento da renda, a
melhoria da qualidade do trabalho e da vida dos catadores e de suas famílias.
(CARVALHO, 2010, p. 432)
Entre algumas ações do governo federal estão: o Comitê Interministerial para
Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis
(CIISC); o Programa Pró-Catador; o Prêmio Cidade Pró-Catador; o Programa
Cataforte; o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec)
– Modalidade Pronatec Catador; e por fim, o Programa Coleta Seletiva Solidária.
(BRASIL, 2018h)
62
Além dos programas do governo federal, aos catadores do extinto Lixão
Estrutural no Distrito Federal, foi aberto pelo Serviço de Limpeza Urbana e a
Secretaria do Trabalho com convênio técnico-financeiro firmado com o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial do Distrito Federal (Senai-DF), o projeto
“Agentes da Cidadania Ambiental”, programa de inclusão social que oferece aos
catadores capacitação técnica e oportunidades de trabalho digno na gestão de
resíduos. (BRASIL, 2018j)
Ainda, com o intuito de fortalecer as associações/cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e melhorar o cenário social e ambiental referente à problemática
da gestão dos resíduos sólidos, no Paraná existe o Programa Ecocidadão Paraná que
possui como objetivo auxiliar as cooperativas e associações de catadores a fim de
conceder autonomia a essas pessoas, a partir da inserção social dos catadores,
cursos técnicos de manejo adequado de resíduos, disponibilização de materiais para
trabalho, entre outros auxílios técnicos e de educação.
Nesse diapasão, Souza-Lima (2014, p. 48) ainda comenta sobre a importância
das ações sociais:
As ações socialmente responsáveis das empresas, governos e pessoas em geral tendem a estimular a inclusão social à medida que criam ou ampliam espaços para a cidadania; além do que, transformam pessoas marginalizadas em pessoas dignas de respeito diante da sociedade.
Assim, é inegável a importância da educação e do auxílio social para a prática
e o desenvolvimento da cidadania ambiental. Nesse sentido, a Política Nacional de
Educação Ambiental também determina em seus objetivos no art. 5º da Lei 9795/99,
o fortalecimento da cidadania:
Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental:
(...)
II - a garantia de democratização das informações ambientais;
(...)
IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
(...)
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (BRASIL, 1999)
63
Portanto, projetos sociais como o Programa Ecocidadão Paraná, que será
analisado no capítulo seguinte, mostram-se interessantes para desenvolver questões
de cidadania e responsabilidade social, relacionadas às diretrizes fundamentais da
sustentabilidade, da inclusão social e dignidade da pessoa humana, ao tratar de
assuntos como, por exemplo, a importância da preservação e da educação ambiental,
o manejo adequado dos resíduos sólidos e a valorização dos catadores de materiais
recicláveis e reutilizáveis.
Ademais, tais práticas aderem às determinações normativas, como os direitos
fundamentais expostos pela Constituição Federal de 1988, a Lei 9.795/99, que institui
a Política Nacional de Educação Ambiental e a Lei infraconstitucional nº 12.305/10,
que institui a PNRS com intuito de melhorar a qualidade do meio ambiente a partir do
gerenciamento e da gestão adequada do lixo.
64
5 ESTUDO DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ
5.1 DESCRIÇÃO
O Programa Ecocidadão Paraná é um programa de cunho social realizado pelo
Provopar Estadual21 e pela Sanepar, através de convênio técnico-financeiro. Este
programa iniciou seus trabalhos em dezembro de 2011, nos municípios do litoral do
Paraná e atualmente atua em 67 municípios paranaenses. O projeto social se propõe
a dar auxílio e orientação às associações e cooperativas de catadores de matérias
recicláveis e reutilizáveis.
Desde o início dos seus trabalhos em dezembro de 2011 até janeiro de 2018,
o Programa Ecocidadão Paraná atendeu 197 municípios do estado do Paraná e mais
de 2,4 mil famílias de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis em estado de
vulnerabilidade social. Além disso, este projeto social, em sete anos, proporcionou
auxílio e orientação a 213 associações/cooperativas de catadores de materiais
recicláveis ou reutilizáveis, o que possibilitou a destinação adequada de 78 mil
toneladas de materiais recicláveis que foram retirados do meio ambiente por
catadores capacitados pelo Programa. (PROVOPAR, 2018)
O Programa Ecocidadão Paraná trabalha a fim de estimular os catadores de
materiais recicláveis ou reutilizáveis a participar e intensificar ações de educação
ambiental, tanto em relação à técnica de separação e manejo adequado dos resíduos
sólidos, quanto à educação no que diz respeito à sensibilização de porta a porta sobre
valores e princípios sustentáveis. Este projeto social é feito por meio de um grupo de
técnicos especializados que percorrem os municípios do Paraná inscritos no
Programa, e o trabalho com os catadores se dá através de curso técnico e
disponibilização de equipamentos e maquinário. (PROVOPAR, 2018)
Para participar do Programa Ecocidadão Paraná, é necessário que o município
possua, obrigatoriamente, associação ou cooperativa de catadores de materiais
recicláveis ou reutilizáveis legalmente constituída e formalizada.22 Tendo esse
21 O Provopar Estadual é uma associação civil, com personalidade jurídica de direito privado, sem fins econômicos e lucrativos que trabalha com objetivo de dar assistência social, educacional, beneficente, cultural, ambiental, saúde e geração de renda aos municípios paranaenses. (PROVOPAR, 2018) 22 Para os municípios que não possuem associação/cooperativa legalmente constituída e formalizada, e têm interesse em participar, o Programa EcoCidadão Paraná prevê orientação e auxílio para constituir e formalizar grupos de catadores locais.
65
requisito, o município requerente deve enviar um ofício para a Unidade de Gestão de
Resíduos Sólidos da Sanepar e do Provopar Estadual, que, posteriormente irá entrar
em contato a fim de agendar visita técnica.23
Contudo, é importante ressaltar que para participar do Programa EcoCidadão
Paraná não há ônus a ser suportado pela prefeitura dos municípios, vez que os
equipamentos para a execução do trabalho social são fornecidos pela Sanepar em
regime de cessão de uso para as associações/cooperativas de catadores, e a
capacitação é realizada pelos técnicos do convênio técnico-financeira entre o
Provopar Estadual e a Sanepar.
Não obstante, a prefeitura deve auxiliar nos custos cartorários sobre
formalização e renovação de documentos da associação/cooperativa participante,
além de disponibilizar barracão para os catadores trabalharem e arcar com as
despesas correntes deste espaço, nos casos em que a associação/cooperativa não
possua recursos financeiros para tanto.
Para desenvolver o trabalho do Programa Ecocidadão Paraná, são
disponibilizados24, em sistema de cessão de uso para o trabalho de separação dos
materiais recicláveis e/ou reutilizáveis e mediante diagnóstico da capacidade
operacional das associações/cooperativas de catadores pelos técnicos do projeto
social, às associações/cooperativas equipamentos básicos para manejo dos resíduos
sólidos como: balanças, prensas, mesas de triagem, elevador de fardo (Figura 6),
carrinhos de movimentação de fardo e equipamentos de proteção individual (EPI).
Cabe salientar, que a cessão de uso de tais equipamentos devem respeitar o plano
orçamentário aprovado com a supervisão da Sanepar.
23 Reuniões com os gestores públicos municipais para implantação do Programa Ecocidadão Paraná nos municípios; realização de diagnóstico para avaliação do espaço físico para melhoria da logística interna e layout dos barracões visitados; verificação da documentação das Associações/Cooperativas; reunião para avaliação das demandas das Associações/Cooperativas com seus integrantes. 24 Há municípios em que não é necessário haver cessão para uso de tais equipamentos, tendo em vista o apoio de suas prefeituras que atuam ativamente fornecendo espaço, equipamentos e maquinários, e ainda em alguns casos, funcionários técnicos para trabalhar, durante 8 horas diárias, dentro da associação/cooperativa.
66
Figura 6: Elevador de fardo cedido pelo Programa Ecocidadão Paraná
FONTE: PROVOPAR, 2018
5.2 METODOLOGIA APLICADA PELO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ
Com o intuito de capacitar os catadores de materiais recicláveis participantes,
o Programa Ecocidadão Paraná utiliza a metodologia Competências, Econômicas
Através Da Formação De Empreendedores (CEFE). Vale ressaltar que a metodologia
é aplicada através de materiais de fácil compreensão e manipulação.
A metodologia aplicada pelos técnicos do Provopar Estadual e da Sanepar, foi
criada pela Sociedade Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) e é baseada em
resultados de muitas pesquisas, incluindo estudos da Universidade Harvard (EUA).
Através de 265 pesquisas, obtiveram-se as Características Empreendedoras
Pessoais (CEP), que consistem em identificar comportamentos e características
inerentes ao ser humano em relação a planejamento, realização e competição.
Desse modo, com a aplicação dessas metodologias, o Programa busca criar
redes de apoio que instiguem os catadores a tomarem iniciativas de pesquisar
oportunidades, ter eficiência, persistência, aprender a correr riscos, criar objetivos,
metas e cumprir trabalhos, além de obter noções de planejamento e informação.
A metodologia ainda conta com a Aprendizagem por Ação (APA), na qual são
realizadas atividades dinâmicas em grupo (figura 7), como simulação e dramatização
de diferentes situações cotidianas do empreendedor, com o intuito de ensinar os
67
catadores a lidar com resolução de problemas, diante de internalização de
experiências vividas e determinadas metas.
Figura 7: Dinâmica em grupo realizada pelo Programa Ecocidadão Paraná
FONTE: PROVOPAR, 2018
Esta metodologia, segundo a coordenação do Programa Ecocidadão Paraná,
é um dos pilares mais importantes do curso, pois os técnicos estimulam os catadores
a tirarem por si próprios o aprendizado de atividades cotidianas variadas, sem impor
conhecimentos precedentes.
Tal metodologia é aplicada em grupo de maneira dinâmica, de modo a gerar
um ambiente de calor humano e confiança entre os integrantes do grupo, facilitando
o trabalho de sensibilização, qualificação, capacitação, produção, gestão e
comercialização, a fim de atingir a autonomia dos catadores. A figura 8 demonstra
uma atividade do curso técnico ofertado pelo Programa Ecocidadão Paraná.
68
Figura 8: Curso Técnico ofertado pelo Programa Ecocidadão Paraná
FONTE: PROVOPAR, 2018
No total, o curso se divide em seis módulos com carga horária de 6 horas cada:
Módulo 1: DIAGNÓSTICO (6 horas)
Visita técnica a fim de verificar as características estruturais do barracão, reunião com gestores municipais e integrantes da Associação para apresentação do Programa Ecocidadão Paraná.
Módulo 2: ASSOCIATIVISMO E COOPERATIVISMO (6 horas)
Sensibilizar a comunidade sobre os benefícios ambientais, humanos, sociais e econômicos dos grupos produtivos que se organizam em forma de Associação ou Cooperativa. Garantir a partilha associativa, através de métodos que alcancem as metas e resultados produtivos e econômicos.
Módulo 3:LEGISLAÇÃO|DOCUMENTAÇÃO (6 horas)
Sensibilizar e organizar dos trabalhadores através do processo associativista, realizando abordagem sobre os temas ligados a legislação, tais como o estudo do estatuto social, regimento interno, livros(ata, matricula,ponto) licenças contrato de serviços, política nacional de saneamento e política nacional de resíduos sólidos trazendo como elemento principal o entendimento dos processos associativistas, a gestão de pessoas e o processo operacional e administrativo de acordo com a legislação vigente.
Módulo 4: PLANEJAMENTO/LIDERANÇÃ|SEGURANÇA NO TRABALHO (6 horas)
Orientação quanto a elaboração de estratégias de programas para ações e execuções dentro das associações analisando, preparando e estruturando estratégias e condições para a concretização do estado desejado. Motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem objetivo da equipe e da organização. Desenvolver atividades ligadas a segurança no trabalho
69
identificando os principais riscos à saúde do catador e enfatizando a legislação existente sobre o tema.
Módulo 5: PRODUÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO/ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA|LOGISTCA (06 horas)
Melhorar a produtividade do grupo, a forma e os métodos de separação; auxiliando-os para que busquem novos compradores e não fiquem refém de atravessadores locais, incentivando a se organizarem em “redes” com outras associações e cooperativas próximas, enfatizando que quanto mais volume de reciclado, melhor é o preço do produto final.
Orientar os membros da associação quanto à elaboração de planilhas e utilização de outras ferramentas para o controle de entrada e saída dos materiais, carga horária dos associados, pagamentos, custos e gastos.
Melhorar a organização interna do barracão, diferenciando e gerenciando os setores da produção, desde o recebimento do material até a venda. Otimizar espaço e tempo nos processos de reciclagem e trabalhar a respeito da limpeza do barracão.
Módulo 6: SUSTENTABILIDADE (6 horas)
Sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio ambiente, utilizando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro.
Orientar os associados para que esses sejam capazes, após a aplicação dos módulos anteriores, de realizar a autogestão de seu empreendimento.
A adoção de ações de sustentabilidade garantem a médio e longo prazo um planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas formas de vida, inclusive a humana. Garante os recursos naturais necessários para as próximas gerações, possibilitando a manutenção dos recursos naturais (florestas, matas, rios, lagos, oceanos) e garantindo uma boa qualidade de vida para as futuras gerações. (PROVOPAR, 2018)
Além do curso, são realizadas reuniões periódicas com as
Associações/Cooperativas integrantes do programa, separadas por módulos que
abordam os seguintes temas: segurança ocupacional; associativismo; estudo do
estatuto e regimento interno; liderança; planejamento; produção e comercialização;
organização e logística; e sustentabilidade.
É importante que haja treinamentos e equipamentos adequados para auxílio
dos catadores, pois do contrário eles levam muito tempo para separar os materiais
recicláveis, visto que na maioria das vezes estão misturados com resíduos orgânicos.
Isto também provoca o descarte de, em média, 30 a 40% de material que poderia ser
reaproveitado, de modo a causar possíveis esgotamentos dos aterros sanitários, além
de causar maior demora no fechamento das cotas de resíduos destinados às
indústrias. (PREFEITURA DE CAMPO LARGO, 2017)
5.3 OBJETIVOS DO PROGRAMA ECOCIDADÃO PARANÁ
70
O Programa Ecocidadão Paraná foi idealizado pelo Provopar Estadual para
cumprir as determinações da Lei 12.305/2010 e atender a essas novas demandas. O
trabalho com os catadores é feito dentro de barracões (Figura 7), onde recebem as
capacitações para se tornarem autogestores do empreendimento, aumentando assim
a rede de produtividade o que, como consequência, proporciona também benefícios
ao meio ambiente: com maior número de reciclados, ocorre menor depredação de
matérias primas, visto o retorno dos materiais à cadeia de produção; aumento da vida
útil dos aterros sanitários; menor disposição de resíduos descartados
inadequadamente em rios, lagos e mananciais.
Desse modo, o projeto busca melhorar as condições de trabalho dos
profissionais desta área, fortalecer suas organizações e ajudá-los a valorizar os
materiais recicláveis na comercialização.
A partir do treinamento dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e
de os variados trabalhos realizados pelo projeto social, o Programa Ecocidadão, que
tem como base a Lei 12.305/10, busca alcançar os seguintes resultados:
- Orientação, organização e apoio às associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Estado quanto a organização administrativa, física e comercial, promovendo a inclusão e o fortalecimento de catadores na cadeia da reciclagem.
- Apoio na comercialização do material reciclável de associações de catadores, visando melhorar o escoamento do reciclável.
- Adequação e otimização das instalações de associações e cooperativas, através da oferta de equipamentos (prensa, balança, mesa de separação, EPI, uniforme, big bags, etc).
- Promoção da inclusão social do catador no que se refere à geração de trabalho e renda, permitindo sustentabilidade econômica e o fomento ao desenvolvimento local.
- Destinação de todo resíduo reciclável do município para associações de catadores, conforme estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº12.305/10).
- Capacitação técnica e gerencial a associados e cooperados, realizada pelos técnicos do convênio entre Sanepar e Provopar Estadual. O trabalho inicia com um Diagnóstico, seguido da fase de Sensibilização e Capacitação, Qualificação e Gestão, Produção e Comercialização, tendo como objetivo final a autonomia dos catadores e a autogestão do empreendimento.
- Aumento da vida útil de aterros sanitários dos municípios, através da atuação dos catadores no que se refere à coleta seletiva, logística reversa e a triagem dos materiais.
- Implantação de um modelo tecnológico misto que privilegia a minimização da geração e o manejo diferenciado de resíduos sólidos, com a triagem e a recuperação dos resíduos que constituem bem econômico e valor social, e a
71
disposição final exclusivamente dos rejeitos, de forma ambientalmente adequada. (PROVOPAR, 2018)
Em suma, por meio dos auxílios materiais e técnicos que são oferecidos aos
catadores, o Programa busca estimular e desenvolver a autonomia financeira para
essas pessoas, com o objetivo de melhorar as suas condições de trabalho e de vida.
E, ainda, o projeto social pretende assim, a partir do desenvolvimento pessoal e
técnico almejado pelo Programa Ecocidadão, que os participantes tenham melhores
condições de realizar a gestão adequada dos resíduos sólidos, de modo a favorecer
também o cenário ambiental no que se refere ao problema dos resíduos sólidos, nos
municípios onde esteve presente o trabalho do Programa Ecocidadão Paraná.
72
6 SÍNTESE DOS RESULTADOS
6.1 QUANTO AO FORTALECIMENTO DAS ASSOCIAÇÕES E A RENDA DOS
CATADORES
A partir da pesquisa realizada através de documentos e relatórios cedidos pelo
Provopar Estadual foi possível constatar que o trabalho executado pelo Programa
Ecocidadão Paraná consegue atingir muitos de seus objetivos, como, por exemplo, a
otimização das instalações de associações e cooperativas, através da oferta de
equipamentos, a geração do aumento de renda familiar dos catadores e da produção
de reciclagem, bem como a diminuição de matérias nos aterros sanitários.
Ainda, ocorreu também o fortalecimento das associações/cooperativas de
catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, visto que a cada ano aumentou o
número de inscritos que tiveram o auxílio do programa, o que contribuiu para a
capacitação de mais catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis. A tabela 2
mostra o comparativo de associações/cooperativas integrantes do Programa
Ecocidadão Paraná desde o seu início até o ano de 2016:
Tabela 2: número de associações que participaram do Programa
Ecocidadão Paraná durante o período de 2011 a 2016.
FONTE: PROVOPAR, 2016
Vale ressaltar que as 06 associações que saíram do Programa Ecocidadão
Paraná em 2015, se desligaram pois não possuíam espaço (barracão) e/ou não
tinham verba suficiente para suportar despesas como, por exemplo, eletricidade.
Ainda, as respectivas prefeituras não forneceram barracões e/ou auxílio financeiro, de
maneira a tornar inviável a continuidade dos trabalhos do Programa.
Além disso, conforme dados fornecidos pelo Provopar, em 2017 o Programa
Ecocidadão Paraná totalizou o número de 104 municípios paranaenses atendidos,
ANO ASSOCIAÇÕES QUE
INGRESSARAM
ASSOCIAÇÕES QUE
SAÍRAMTOTAL
2011 7 0 7
2012 4 0 11
2013 23 0 34
2014 16 0 50
2015 18 6 62
2016 15 0 77
73
sendo 65 deles no primeiro semestre de 2017 e o restante no segundo. Ainda, 844
catadores foram beneficiados pelo Programa no ano de 2017 e 2.444 catadores desde
o início (em 2011) até o final do ano de 2017, de acordo com a fonte.
No que se refere à geração de renda, conforme a análise dos dados fornecidos
pelo Provopar, o Programa Ecocidadão Paraná consegue aumentar o rendimento
financeiro mensal dos catadores. A título de demonstração e comparação dos
resultados, para a dissertação foi feito o levantamento dos números referentes aos
municípios que foram atendidos no primeiro semestre do ano de 201625:
1) Castro, município paranaense 71.501 habitantes (2017), com índice de
desenvolvimento humano (IDH) de 0,703 (2010) (INSTITUTO PARANAENSE DE
DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018a).
Anteriormente ao Programa Ecocidadão Paraná, a renda média mensal dos
catadores contabilizava R$ 400,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, em junho,
a renda média mensal dos catadores era de R$ 500,00.
Conforme relatório do Programa, o número de associados ao Programa foi de
15 catadores. O município de Castro possui aterro sanitário, coleta seletiva e realiza
atividades de Educação Ambiental com a população. A coleta de recicláveis é
realizada por empresa terceirizada em dias alternados a coleta do lixo orgânico. O
barracão em que os catadores trabalham foi cedido pela prefeitura e possui edícula
com refeitório e vestiário. Os equipamentos (prensa, balança e carrinho de fardo)
foram cedidos por parceiros do projeto, as empresas Tetra Pak e Castrolanda. Ao
Ecocidadão Paraná solicitaram apenas uma mesa de separação. Cerca de 3
toneladas de resíduos sólidos foram reciclados no primeiro semestre de trabalho do
Programa.
Os pontos positivos elencados pelos técnicos do Programa Ecocidadão Paraná
foram sobre a associação participativa e o barracão limpo e organizado. Em
contrapartida, os pontos negativos elencados foram de que a prefeitura é ausente em
relação à gestão dos resíduos; a associação não possuía CNPJ o que dificulta os
andamentos burocráticos de empréstimo de equipamentos, por exemplo; e a falta de
segurança, pois o barracão sofre roubos frequentemente. (PROVOPAR ESTADUAL,
2016)
25 Foi escolhido o primeiro semestre do ano de 2016 para a demonstração dos resultados, pois conforme a pesquisa realizada, este foi o período em que foi possível obter dados mais completos e precisos a partir dos documentos fornecidos pelo Provopar Estadual.
74
2) Bandeirantes, município paranaense com população estimada em 32.486
habitantes (2017) e IDH 0,727 (INSTITUTO PARANAENSE DE
DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018b).
A renda média mensal dos catadores, anterior ao Programa Ecocidadão
Paraná, contabilizava R$ 370,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, em junho, a
renda média mensal dos catadores era de R$ 600,00.
Segundo o relatório do Programa, o número de associados ao Programa foi de
15 catadores. Em 2016, o município tinha acabado de encerrar o lixão municipal e
estava destinando os rejeitos para um aterro sanitário de empresa terceirizada
chamada INOVA que realiza a coleta seletiva no município, em dias alterados à coleta
de resíduos orgânicos. Em 2015, a cidade iniciou programa de Educação Ambiental
com a população. O barracão para trabalho foi cedido pela prefeitura, porém fora
parcialmente destelhado devido aos temporais na época. O Programa forneceu à
associação: 01 prensa, 01 balança, 01 mesa de triagem e 01 carrinho de fardo. Foram
recicladas aproximadamente 04 toneladas de resíduos durante o primeiro semestre
de trabalho do Programa Ecocidadão Paraná.
De acordo com os técnicos do Programa, o grupo de catadores foi unido e
participante e a prefeitura é presente e atuante nas associações junto aos catadores,
e ainda, fornecia cesta básica. O único ponto negativo citado foi que a renda média
mensal ainda não conseguiu equiparar o salário mínimo à época. (PROVOPAR
ESTADUAL, 2016)
3) Guaratuba, município paranaense com população estimada em 35.986
habitantes (2017) e IDH 0,717 (INSTITUTO PARANAENSE DE
DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018c).
Antes do Programa Ecocidadão Paraná, a renda média mensal dos catadores
perfazia R$ 450,00. Ao final do primeiro semestre de 2016, a renda média mensal foi
de R$ 600,00. O número de associados foi de 21 catadores e foram cerca de 10
toneladas recicladas no primeiro semestre junto ao Programa.
De acordo com o relatório fornecido, o barracão foi cedido pela prefeitura e no
mesmo local, anteriormente, havia outra Associação que recebeu do Programa
Ecocidadão Paraná, em 2012, 01 prensa e 01 balança. Quando este grupo se
extinguiu, foi formada uma nova diretoria e associados. No entanto, os equipamentos
cedidos continuaram no barracão e sendo utilizados pelo novo grupo na ocasião.
Ainda, no mês de julho de 2016 foi cedido um elevador de fardo, que foi solicitado pela
75
própria associação, devido ao grupo ser composto, na época, em sua maioria por
idosos. O elevador auxiliava o carregamento dos fardos para comercialização, de
modo a diminuir o risco de acidentes de trabalho.
Além disso, conforme os técnicos foram elencados vários pontos positivos no
trabalho com o município de Guaratuba: a associação era determinada, criativa e
participativa; o barracão limpo e organizado; a prefeitura foi atuante e presente, e
ainda disponibilizava uma técnica para trabalhar dentro da associação em
acompanhamento aos catadores durante 8 horas diárias; a prefeitura ajudava também
com busca constante de parcerias; ocorreu o acompanhamento do Centro de
Referência de Assistência Social de Guaratuba (CRAS), da secretaria da saúde que
ajudou com vacinas e do clube Rotary que prestou serviços de alfabetização aos
associados.
Não obstante, os elementos que dificultaram o trabalho de gestão dos resíduos
foram a grande quantidade de idosos e deficientes, e a necessidade de complementar
a renda dos catadores com cesta básica. (PROVOPAR ESTADUAL, 2016)
4) Piraí do Sul, município paranaense com população estimada em 25.277
habitantes (2017) e IDH 0,708 (INSTITUTO PARANAENSE DE
DENSENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL, 2018d).
A renda média dos catadores anterior ao Programa era de R$ 430,00, a renda
após o trabalho no primeiro semestre de 2016 não constava no relatório. O número
de associados era de 04 catadores. A associação possuía barracão e equipamentos
(prensa, balança e mesa de triagem) cedidos pela prefeitura. O volume total de
resíduos reciclados foi em torno de 02 toneladas.
De acordo com os técnicos, o barracão e os equipamentos estavam em ótimas
condições, a prefeitura era presente e atuante e a associação participativa. No
entanto, as dificuldades encontradas no trabalho dos técnicos foram devido ao
extravio de documentação; ao baixo número de associados, pois poucas pessoas na
cidade estavam interessadas em trabalhar com reciclagem; e a constatação de pouca
separação de resíduos recicláveis pela população. (PROVOPAR ESTADUAL, 2016)
Sendo assim, conforme o comparativo demonstrado (tabela 3), a renda dos
catadores aumentou em média 40% após o trabalho do Programa Ecocidadão
Paraná. Nesse sentido, o projeto social conseguiu, no primeiro semestre de 2016,
atingir parcialmente sua meta no que se refere à inclusão social dos catadores através
da geração do aumento de renda dos associados, visto que nenhuma das
76
associações participantes do Programa neste período conseguiu atingir o salário
mínimo da época que perfazia R$880,00.
Tabela 3: comparativo da renda média dos catadores antes e depois do
Programa Ecocidadão Paraná no primeiro semestre de 2016
Município Renda média anterior
(R$)
Renda média posterior
(R$)
Castro 400 500
Bandeirantes 370 600
Guaratuba 450 600
Piraí do Sul 430 não informado
FONTE: PROVOPAR, 2016
Não obstante, o Provopar Estadual relatou que já conseguiu atingir esse
objetivo algumas vezes, como, por exemplo, no primeiro semestre de 2014 (Tabela
4): no município de Pitangueiras que antes do Programa a renda média dos catadores
era de R$ 600,00 e ao final do primeiro semestre de 2014 chegou a R$ 800,00; em
Matinhos onde os catadores anteriormente tinham renda média de R$ 600,00, e após
o auxílio do Programa Ecocidadão Paraná conseguiram aumentar a renda média para
R$ 891,67; em Telemaco Borba os catadores tinham renda média de R$ 600,00 antes
do Programa, após o trabalho do Ecocidadão a renda média foi para R$ 960,00; na
cidade de Rio Branco a renda dos catadores antes do Programa Ecocidadão era R$
700,00 e após o auxílio do Programa a renda média mensal atingiu o valor de R$
966,67. Sendo assim, conseguiram superar o salário mínimo que neste ano era R$
724,00.
77
Tabela 4: comparativo da renda média dos catadores antes e depois do
Programa Ecocidadão Paraná no primeiro semestre de 2014
Município Renda média anterior
(R$)
Renda média posterior
(R$)
Pitangueiras 600 800
Matinhos 600 891
Telemaco Borba 600 960
Rio Branco 700 966
FONTE: PROVOPAR, 2014
Além disso, conforme gráfico 1, em 2015 a renda média dos catadores superou,
na maioria dos meses, o salário mínimo na época que era R$ 788,0026:
Gráfico 1: Renda média dos catadores após o Programa Ecocidadão
Paraná (janeiro a outubro de 201527)
FONTE: PROVOPAR, 2015
Desse modo, quanto ao aumento da geração de renda e o fortalecimento desse
segmento social através das associações e cooperativas, o Programa Ecocidadão
Paraná demonstra de modo geral bons resultados visto que consegue possibilitar que
a renda referente aos materiais reciclados se destine diretamente aos catadores. Não
26 Contudo, não convém demonstrar especificadamente cada município trabalhado neste ano, visto que não foi fornecido o comparativo de renda média dos catadores antes e depois do Programa. 27 Os dados referentes aos meses de novembro e dezembro não foram fornecidos.
R$ 849
R$ 814
R$ 793R$ 792
R$ 848R$ 841
R$ 782R$ 773
R$ 800
R$ 813
R$ 720,00
R$ 740,00
R$ 760,00
R$ 780,00
R$ 800,00
R$ 820,00
R$ 840,00
R$ 860,00
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro NovembroDezembro
78
obstante, apresenta algumas limitações visto que em períodos específicos não
conseguiu atingir o salário mínimo o que deixa a desejar no quesito inclusão social.
Contudo, vale salientar que conforme exposto nos relatórios apresentados pelo
Provopar, o trabalho do Programa parece ter melhor desenvolvimento e apresenta
melhores resultados quando há presença ativa da prefeitura municipal quanto ao
auxílio aos catadores e a gestão dos resíduos sólidos.
6.2 QUANTO AOS RECICLADOS
Desde o início de seus trabalhos em dezembro de 2011 até janeiro de 2018 o
Programa Ecocidadão Paraná apresentou bons resultados quanto à produção de
reciclados, ao total este programa possibilitou a reciclagem de 78 mil toneladas de
materiais. (PROVOPAR, 2018)
Ademais, de acordo com dados fornecidos pelo Provopar Estadual, o número
de materiais reciclados por catadores associados ao Programa foi crescente ao longo
dos anos de trabalho do Programa Ecocidadão Paraná, é possível notar na tabela 5
os que os resultados foram melhores a cada ano. Contudo, a título de esclarecimento
o número total de reciclados referente aos anos de 2012, 2016 e 2017 não foram
fornecidos pela fonte, o que se sabe, todavia, é que o total até janeiro de 2018 é de
78 mil toneladas de materiais reciclados através do Programa Ecocidadão Paraná
(PROVOPAR, 2018).
Tabela 5: Produtividade do Programa Ecocidadão Paraná referente à
reciclagem de materiais e separação de rejeitos nos anos de 2013, 2014 e 2015
(até outubro).
Comparativo 2013 a 2015 Produtividade de Reciclado e Rejeito
(KG)
Ano Total Reciclado Total Rejeito
2013 6.636.988 1.974.544
2014 11.132.998 3.284.781
2015 até outubro
11.160.009 2.560.168
FONTE: PROVOPAR, 2015
79
Ainda, até o mês de outubro no ano de 2015, o Programa Ecocidadão Paraná
apresentou resultados satisfatórios, principalmente em relação à quantidade de
resíduos reciclados através dos catadores capacitados pelo Programa, conforme a
tabela 6 que apresenta os dados referentes aos trabalhos de reciclagem, a renda
média dos catadores e o número de associados.
Tabela 6: Resultados do Programa Ecocidadão Paraná de janeiro a outubro de
2015
FONTE: PROVOPAR, 2015
Sendo assim, o Programa Ecocidadão Paraná apresenta bons resultados e
cumpre sua meta quanto à destinação de materiais reciclados, de modo a diminuir o
número de materiais dispostos em aterros, rios e mananciais. Além disso, também
atende aos requisitos da Lei 12.305 quanto à destinação adequada e a reciclagem
dos resíduos sólidos, promovendo o fortalecimento da classe dos catadores de
materiais recicláveis e/ou reutilizáveis, principalmente por trabalhar em municípios
menores do estado do Paraná, os quais geralmente não possuem grandes
planejamentos e provisões orçamentárias para a gestão e gerenciamento de resíduos
sólidos e dependem de serviços terceirizados de empresas particulares.
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro
Reciclado 1.130.505 959.711 1.116.796 1.100.362 1.157.894 1.156.091 1.071.840 1.027.426 1.240.098 1.281.287
Rejeito 244.595 289.879 294.306 287.674 270.882 274.053 226.832 222.692 249.630 263.551
Média Salarial R$ 848 R$ 813 R$ 793 R$ 792 R$ 848 R$ 841 R$ 782 R$ 773 R$ 800 R$ 813
nº Associados 671 657 669 672 672 662 700 708 731 710
80
CONCLUSÃO
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os municípios se
tornaram entes federativos autônomos, dotados de independência administrativa,
financeira, legislativa e de competências próprias. O art. 30, incisos I. II e V, determina
que os municípios têm competência de legislar sobre assuntos de interesse local;
suplementar a legislação federal e a estadual e, ainda, organizar e prestar,
diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local de caráter essencial (BRASIL, 1988). Portanto, deriva-se então a
interpretação de que o município é responsável pelos serviços de limpeza urbana e
da gestão e manejo dos resíduos sólidos, desde a coleta até a sua destinação final.
Contudo, apesar de existir normas que abordassem a temática dos resíduos
sólidos, ainda não havia, no Brasil, um instrumento legal que estabelecesse diretrizes
gerais aplicáveis aos resíduos sólidos para orientar os Estados e os Municípios na
gestão adequada dos resíduos sólidos.
Com o advento da Lei 12.305/2010 foi incorporada à legislação brasileira a
Política Nacionais de Resíduos Sólidos que dispõe de diretrizes e ferramentas para
solucionar a problemática da gestão dos resíduos sólidos. Ressaltam-se alguns
desses instrumentos:
Coleta seletiva: coleta de resíduos sólidos previamente segregados de acordo
com sua composição;
Catadores de materiais recicláveis: valorização desse segmento social
essencial para a gestão correta dos resíduos sólidos, diversos artigos da Lei 12.305
abordam o tema, principalmente com o incentivo a mecanismos que fortaleçam a
atuação de associações/cooperativas;
Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de
atribuições dos importadores, fabricantes, distribuidores, comerciantes, consumidores
e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos
pela minimização do volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como pela
redução dos impactos causados à saúde humana e do meio ambiente ecológico,
decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos da lei 12.305/10;
Logística Reversa: instrumento a fim de promover o desenvolvimento
socioeconômico, caracterizado por procedimentos destinados a viabilizar a coleta e a
81
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para a destinação final
adequada ambientalmente ou reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos. (BRASIL, 2010)
Apesar de gestão de resíduos sólidos no Brasil ter melhorado gradativamente
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o quadro institucional ainda deixa a
desejar, visto que o país ainda possui cerca de três mil lixões em funcionamento, e
segundo dados da ABRELPE (2016), 9% dos resíduos sólidos urbanos não foram
coletados em 2016, o que acarretou na destinação incorreta desses resíduos.
As dificuldades na aplicação dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos
Sólidos são diversas: a maioria das prefeituras municipais não dispõe de recursos
técnicos e financeiros para solucionar os problemas relacionados à gestão de
resíduos sólidos; ademais, a falta de planejamento e de regulação e controle social
no setor também configuram problemas frequentes.
Portanto, a problemática de resíduos sólidos vai muito além dos problemas
puramente técnicos e/ou tecnológicos, é também um problema legislativo e social.
Planejar e executar a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos são
responsabilidades grandes e onerosas, que exigem altos recursos financeiros e
técnicos. A partir da pesquisa, pode-se concluir que a realidade brasileira é de que a
maioria dos municípios não possui condições suficientes para executá-los da forma
socioambientalmente adequada. Além disso, para possibilitar a gestão adequada dos
resíduos sólidos é necessário haver inserção social dos catadores de materiais
recicláveis e reutilizáveis, visto tratar-se de uma figura social que desempenha um
papel fundamental na gestão integrada e que ganhou um grande destaque na PNRS.
O Programa Ecocidadão Paraná foi criado em dezembro de 2011, pelo
Provopar Estadual com convênio técnico-financeiro com a Sanepar, com o intuito de
colocar em prática alguns instrumentos da PNRS, principalmente o fortalecimento das
associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis.
A partir da análise e da síntese dos resultados expostos do Programa
Ecocidadão Paraná, é possível concluir que o Programa consegue cumprir algumas
exigências prescritas na Lei 12.305/10, como: o fortalecimento e incentivo às
associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis; o
aumento da vida útil dos aterros sanitário a partir da coleta seletiva e da otimização
do trabalho dos catadores, de forma a diminuir a quantidade de rejeitos dispostos a
céu aberto e reciclar grande número de materiais, visto que ao total o Programa
82
conseguiu reciclar em torno de 78 mil toneladas de materiais, o equivalente à
quantidade de resíduos dispostos na grande mancha de lixo no Pacífico.
Além disso, o Programa Ecocidadão Paraná utiliza alguns dos principais
instrumentos de gestão de resíduos sólidos determinados pela Lei 12.305/10, quais
sejam: a coleta seletiva, a responsabilidade compartilhada, o fortalecimento das
associações/cooperativas de catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis e a
reciclagem.
Quanto à emancipação econômica dos catadores (art. 15, V, e art. 17, IV da
Lei), o Programa Ecocidadão Paraná trabalha de forma interessante, visto que todos
os resíduos sólidos recicláveis dos municípios integrantes do projeto social são
destinados para as associações/cooperativas de catadores, conforme dispõe a Lei
12.305/2010.
Contudo, ainda deixou a desejar em alguns períodos, conforme os dados
fornecidos pelo Provopar, em relação à geração de cidadania e a inclusão social dos
catadores com aumento da renda familiar, tendo em vista que foram constatados
períodos e municípios em que a renda média mensal dos catadores não atingiu o
salário mínimo, como por exemplo, todos os municípios trabalhados pelo Programa
no primeiro semestre de 2014.
Cabe salientar que, conforme os relatórios analisados e os dados expostos foi
possível concluir que este programa tem uma atuação importante nos municípios
pequenos que não possuem planejamento para gestão e gerenciamento de resíduos
sólidos, tampouco capacidade técnica e financeira para arcar com as ações
necessárias para dar a destinação ambientalmente adequada aos resíduos.
No entanto, demonstrou-se que muitas vezes o trabalho do Programa
Ecocidadão Paraná possui limitações quanto ao seu trabalho com os catadores, visto
que depende de muitas formalidades e ações que vão além da competência do
Provopar Estadual e que dependem de muitas ações provenientes das prefeituras
municipais e de políticas públicas, como por exemplo, a estrutura necessária para os
trabalhos (barracões – o Provopar disponibiliza aos catadores apenas os
equipamentos, não o espaço), a formalização das associações e o sistema adequado
de coleta nos municípios.
Por fim, diante da pesquisa realizada, vale propor algumas indagações acerca
da problemática dos resíduos sólidos no Brasil:
83
01) Ao que parece, os municípios enfrentam dificuldades, devido a grande
responsabilidade e os altos custos, em realizar a limpeza urbana e gerir
adequadamente os resíduos sólidos de forma eficaz. Ressalta-se que de acordo com
a Constituição essa competência é privativa dos municípios, que por sua vez são os
entes federativos mais frágeis. Seria interessante reavaliar a interpretação da
legislação constitucional acerca do assunto?
02) A problemática dos resíduos sólidos tem como origem a produção/consumo
demasiado proveniente do estilo de vida das sociedades de consumo. Conforme
dados expostos, os habitantes brasileiros consomem de forma igual ou superior a
países com PIB e IDH mais elevados que o do Brasil, no entanto a gestão dos resíduos
sólidos no país ainda deixa a desejar. A própria Política Nacional de Resíduos Sólidos
determina em seu art. 9º a não utilização, a redução e a reutilização. Todavia, essas
são práticas de consumo consciente, e para isso é necessário educar a população a
fim de compreenderem essa problemática e repensarem os padrões de consumo
atual. Nesse sentido, em que medida a Política Nacional de Educação Ambiental
instituída pela Lei 9.795/99 demonstra eficácia?
84
REFERÊNCIAS
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