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2 CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DOENÇAS BRÔNQUICAS EM FELINOS JULIANA TOLEDO DUARTE SÃO PAULO 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

DOENÇAS BRÔNQUICAS EM FELINOS

JULIANA TOLEDO DUARTE

SÃO PAULO

2009

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JULIANA TOLEDO DUARTE

DOENÇAS BRÔNQUICAS EM FELINOS

Trabalho de Conclusão de Curso realizado

durante o 10º semestre do curso de Medicina

Veterinária sobre orientação da Profª. Dra.

Ana Claudia Balda.

SÃO PAULO

2009

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DUARTE, J.T.

Asma Felina/Juliana Toledo Duarte. – São Paulo:

Centro Universitário FMU, 2009. p.62; 26

Notas

1.Bronquite e asma felina. I. Juliana Toledo Duarte. II. Asma Felina

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JULIANA TOLEDO DUARTE

DOENÇAS BRÔNQUICAS EM FELINOS

Trabalho de Conclusão de Curso realizado

durante o 10º semestre do curso de Medicina

Veterinária sobre orientação da professora

Ana Claudia Balda.

___________________________________________________

Profª. Dra. Ana Claudia Balda

Orientador

___________________________________________________

Profª. MS. Dra. Aline Machado de Zoppa

1º avaliador

___________________________________________________

M.V. Fabiana Paula Di Giorgio

2º avaliador

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Para Duky e Honey, o gato e a cadela que me

amaram da forma mais pura e que foram tão

especiais em minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus por me colocar neste caminho tão gratificante e

permitir que tudo o que eu sempre sonhei esteja se realizando, por me auxiliar nas minhas

escolhas e por me confortar nas horas difíceis.

A minha formação pessoal e profissional não poderia ter sido concretizada sem a

ajuda da minha mãe Elizabeth Toledo, que no decorrer da minha vida, proporcionou-me

além de extenso carinho e amor, os conhecimentos da integridade, da perseverança e de

procurar sempre em Deus a força maior para o meu desenvolvimento como ser humano. Por

essa razão, gostaria de agradecer e reconhecer minha imensa gratidão, ninguém um dia

recebeu mais amor e apoio incondicional do que tive de você. Mãe, eu te amo do umbigo!

Agradeço também à minha família pela base sólida que me deu força para encarar a

vida de frente, em especial minha vovó Beth e minha tia Rute que sempre me mimaram.

Obrigada pela dedicação, pelos ensinamentos, e pelo apoio em todos os momentos da minha

vida. Amo vocês.

Ao vovô Alfeu (in memorian) que presenciou o início, que participa a distância no

final e que onde está sei que torce por mim!

Ao meu primo Leonardo Toledo, que sempre foi como um irmão, e a minha amiga

Fernanda Fozzati, obrigada pela força de sempre, pelos conselhos, pela ajuda, pelos auxílios

nas situações boas e ruins, pelas risadas e pelos momentos de descontração. Que vocês

também consigam completar essa trajetória para encontrar um lugar ao sol.

Ao amigo e veterano Leandro Chaud, que durante o curso também sempre esteve ao

meu lado me passando força e entusiasmo para superar eventuais obstáculos e programar os

mais importantes projetos para o futuro.

Sou grata ao Rogério, que mesmo entrando no final do curso se tornou o “melhor

amigo da sala”, obrigada pela atenção, pelas risadas, e pelo apoio.

À minha orientadora Ana Claudia Balda, por todo o conhecimento passado, pelas

supervisões, orientações e por ter me auxiliado na conclusão dessa monografia.

Aos demais professores deste instituto que fizeram parte dessa jornada em sala de

aula, no hospital veterinário, e nos corredores, em especial: Aline Machado de Zoppa,

Ronaldo Jun Yamato, Debora Gidali Menaged, e Eduardo Lopes Eziliano (in memorian).

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À Médica Veterinária Fabiana Di Giorgio, alguém em que eu me espelho e que

admiro. Muito obrigada pelo apoio, por me ensinar e me ajudar nesses primeiros passos

dentro da profissão e principalmente, pela amizade e todos os bons momentos

compartilhados.

Ao Dr. Alir Di Biaggi Filho sou muito grata, pois apesar do pouco tempo juntos, me

incentivou, me ensinou e me fez apaixonar ainda mais por uma espécie ímpar, os felinos.

Agradeço também a Dra. Luciana Chiara e a Dra. Cláudia Maria Joia, pela ajuda,

pelos ensinamentos e pelo apoio nessa fase final da minha vida acadêmica.

Aos meus antigos amigos que permaneceram comigo mesmo com toda a distância,

provocada por este curso. Em especial à Carla e Fabiana. O contato é pouco, mas o carinho

é imenso.

Minha gratidão especial, ao Nescau, Wolverine, Mel, Delilah, e tantos outros animais

que me ensinaram e me ensinam a cada dia.

E finalmente a todos aqueles que direta ou indiretamente, contribuíram para esta

imensa felicidade que sinto nesse momento.

À todos vocês, meu muito obrigada!

Venci!!!

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“Gatos amam mais as pessoas do que elas

permitiriam. Mas eles têm sabedoria suficiente

para manter isso em segredo”

Mary Wilkins

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RESUMO

DUARTE, J.T. Doenças brônquicas em felinos. 62 p, 2009

A asma felina caracteriza-se por uma reação do organismo aos diversos tipos de alérgenos ou

agentes infecciosos. Essa reação conduz a uma inflamação de toda a árvore brônquica, com

excesso de produção de muco e secreções. Conseqüentemente, o lúmen brônquico torna-se

menor e o gato exibe algum grau de dificuldade respiratória, essa doença não tem cura e o

objetivo do tratamento é reduzir a quantidade de secreções produzidas, diminuir a inflamação

brônquica e, assim, promover um melhor fluxo de ar aos brônquios, diminuindo o número de

crises asmáticas. Como medida profilática, deve-se eliminar os desencadeantes ambientais

identificados nos arredores do paciente. Para os gatos com crises freqüentes é necessário o uso

de broncodilatadores, bem como de anti-inflamatórios esteroidais.

Palavras chave: Asma felina. Inflamação brônquica. Broncodilatadores. Anti-inflamatórios

esteroidais.

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ABSTRACT

DUARTE, J.T. Doenças brônquicas em felinos [Bronchial disease in cats] 62 p, 2009

The feline asthma is characterized by a body's reaction to various types of allergens or

infectious agents. This reaction leads to inflammation of the entire bronchial tree, with excess

production of mucus and secretions. Therefore, the bronchial lumen becomes smaller and the

cat displays some degree of breathing difficulty, this disease has no cure and the goal of

treatment is to reduce the amount of secretions produced, reduce bronchial inflammation and

thus promote better airflow to the bronchial tubes, reducing the number of asthma attacks. As

a prophylactic measure, it should eliminate the environmental triggers identified in the

vicinity of the patient. For cats with seizures frequently require the use of bronchodilators and

anti-inflammatory steroids.

Key words: Feline asthma. Bronchial inflammation. Bronchodilators. Anti-inflammatory

steroids.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Classificação da doença brônquica felina............................................ 15

QUADRO 2 Resposta das vias aéreas aos estímulos nocivos.................................. 23

QUADRO 3 Principais manifestações clínicas em gatos com doenças

brônquicas............................................................................................

24

QUADRO 4 Questões que podem esclarecer o tipo de doença brônquica

presente.......................................................................................

28

QUADRO 5 Causas de Tosse e distrição respiratória em gatos............................... 44

QUADRO 6 Doses dos fármacos β2 agonista.......................................................... 47

QUADRO 7 Dosagens dos broncodilatadores para uso em gatos............................ 51

QUADRO 8 Dosagens dos corticosteróides em gatos com asma e bronquite

crônica..................................................................................................

52

QUADRO 9 Causas de não resposta aos corticosteróides em gatos com doenças

brônquicas crônicas.............................................................................

53

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Imagem histopatológica pulmonar de um felino com bronquite

severa onde a arquitetura foi perdida................................................

16

FIGURA 2 Principais divisões do aparelho respiratório...................................... 17

FIGURA 3 Imagem ilustrativa do tórax de um felino sem alterações................. 19

FIGURA 4 Imagem histopatológica do brônquio de um felino, sem alterações. 20

FIGURA 5 Felino com distrição respiratória durante uma crise de asma

brônquica...........................................................................................

25

FIGURA 6 Felino com a boca aberta demonstrando sinais de distrição

respiratória severa..............................................................................

26

FIGURA 7 Caixa de oxigênio.............................................................................. 28

FIGURA 8 Felino na caixa de oxigênio............................................................... 29

FIGURA 9 Auscultação pulmonar em um felino................................................. 30

FIGURA 10 Percussão torácica em um felino....................................................... 30

FIGURA 11 Radiografia torácica de um felino normal, as áreas de baixa

radiopacidade correspondem aos lobos pulmonares e à traquéia,

que estão preenchidos por ar.............................................................

31

FIGURA 12 Radiografia torácica típica de um felino com asma.......................... 32

FIGURA 13 Radiografia torácica de um felino com asma.................................... 33

FIGURA 14 Radiografia torácica do mesmo felino com asma, em projeção

ventro-dorsal......................................................................................

34

FIGURA 15 Broncoscopia de um felino, onde nota-se diminuição do lúmen

brônquico...........................................................................................

35

FIGURA 16 Imagens obtidas por broncoscopia.................................................... 36

FIGURA 17 Equipamento para realizar o lavado traqueal.................................... 38

FIGURA 18 Lavado traqueal em um felino........................................................... 39

FIGURA 19 Citologia do lavado traqueal de um felino com bronquite crônica... 40

FIGURA 20 Citologia do lavado traqueal de um felino com asma. Observa-se

eosinofilia e excesso de muco...........................................................

41

FIGURA 21 Citologia do lavado traqueal de um felino com pneumonia.............. 42

FIGURA 22 Felino em uma tenda de oxigênio...................................................... 48

FIGURA 23 Felino sendo medicado através do espaçador.................................... 54

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FIGURA 24 Espaçador utilizado para administrar a medicação inalatória em

felinos................................................................................................

55

FIGURA 25 Felino sendo medicado através de um espaçador caseiro................. 55

FIGURA 26 Felino recebendo a medicação inalatória através de um espaçador

caseiro................................................................................................

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 14

2 ASPECTOS ANATÔMICOS E FUNCIONAIS............................................. 17

3 FATORES PREDISPONENTES E ETIOPATOGENIA.............................. 22

4 FISIOPATOGÊNIA.......................................................................................... 23

5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS...................................................................... 24

6 DIAGNÓSTICO................................................................................................. 27

6.1 Anamnese e Exame Físico do Paciente............................................................. 27

6.2 Exame Radiográfico........................................................................................... 31

6.3 Broncoscopia...................................................................................................... 35

6.4 Avaliações Cardiopulmonares.......................................................................... 36

6.5 Estudos Laboratoriais....................................................................................... 37

6.6 Lavados traqueobrônquicos.............................................................................. 38

6.6.1 Técnica do lavado traqueal.................................................................................. 38

7 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS................................................................ 43

8 TRATAMENTO................................................................................................ 46

8.1 Tratamento emergencial................................................................................... 46

8.2 Terapia intermediária e a longo prazo............................................................. 48

8.3 Terapia com broncodilatadores........................................................................ 49

8.4 Terapia com corticosteróides............................................................................ 52

8.5 Terapia com medicações inalatória.................................................................. 53

8.6 Terapia com antibióticos................................................................................... 56

8.7 Terapia com anti-histamínicos.......................................................................... 57

9 PROGNÓSTICO............................................................................................... 58

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10 CONCLUSÃO.................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS................................................................................................. 60

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1 INTRODUÇÃO

As doenças respiratórias que comumente comprometem o trato respiratório inferior

dos felinos são: bronquite crônica, asma brônquica e pneumonias de origem viral e bacteriana

(SHERDING, 1989).

Na asma brônquica, ocorre com freqüência, um aumento da sensibilidade alérgica do

animal às substâncias estranhas existentes no ar (GUYTON; HALL, 2006).

Um felino pode ter mais de um tipo de bronquite, embora nem sempre seja possível a

determinação dos tipos de doença brônquica presente sem o uso de testes sofisticados de

função pulmonar, na maioria dos gatos podem-se utilizar os dados clínicos de rotina, dados do

histórico, achados do exame físico, radiografias torácicas, análise de espécimes das vias

aéreas e progressão das manifestações clínicas, para classificar a doença.

A classificação proposta por Moise et al (1989, apud NELSON; COUTO, 2006),

formulada com base nos processos patológicos semelhantes que ocorrem em seres humanos, é

recomendada para os felinos como uma maneira de definir melhor a doença brônquica nessa

espécie, a fim de obterem recomendações para o tratamento e o prognóstico (Quadro 1).

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Asma Brônquica:

Característica predominante: obstrução reversível das vias aéreas primariamente

resultantes de broncoconstrição.

Outras Características Comuns: hipertrofia do músculo liso; aumento na

produção de muco, inflamação eosinofílica.

Bronquite Aguda:

Característica predominante: inflamação reversível das vias aéreas de curta

duração (< 1 - 3 meses).

Outras Características Comuns: aumento na produção de muco, inflamação

neutrofílica e macrofágica.

Bronquite crônica:

Característica predominante: inflamação crônica das vias aéreas (> 2 – 3 meses)

resultando em lesão irreversível (por exemplo, fibrose).

Outras Características Comuns: aumento na produção de muco; inflamação

neutrofílica, eosinofílica, ou mista; isolamento de bactérias ou microrganismos

causadores de infecção ou como habitantes não-patogênicos; asma brônquica

simultânea.

Enfisema:

Característica predominante: destruição das paredes alveolares e brônquicas,

resultando em espaços aéreos periféricos aumentados.

Outras Características Comuns: lesões cavitárias (bolhas); resultante de (ou

simultâneo com) bronquite crônica.

QUADRO 1 - Classificação da doença brônquica felina.

Fonte: NELSON; COUTO, 2006

A principal causa de bronquite crônica em seres humanos é o fumo, em gatos, não

foram identificadas as causas de bronquite crônica e asma. Sabe-se que a fumaça, agentes

poluentes e irritantes, o granulado da caixa de areia, produtos de limpeza, problemas

alérgicos, infecções e o convívio com fumantes, favorecem o aparecimento das manifestações

clínicas (MORAIS, 2003).

A reação alérgica provoca um edema localizado nas paredes dos bronquíolos

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terminais, e um espasmo da musculatura brônquica. Estes efeitos aumentam a resistência das

vias aéreas que vão aos alvéolos. O diâmetro bronquiolar torna-se ainda mais reduzido

durante a expiração para se alargar novamente durante a inspiração (Figura 1)

(CUNNINGHAM, 2004).

FIGURA 1 - Imagem histopatológica pulmonar

de um felino com bronquite severa

onde a arquitetura foi perdida.

Corado com hematoxilina e eosina.

Fonte: MOORE, 2005

A capacidade funcional residual e o volume residual do pulmão sofrem um grande

aumento durante as crises asmáticas, justamente pela dificuldade da expiração (GUYTON;

HALL, 2006).

Os principais fatores responsáveis pelo aumento desta resistência pulmonar são: muco,

edema, inflamação, espessamento de parede brônquica e broncoconstrição (MORAIS, 2003).

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2 ASPECTOS ANATÔMICOS E FUNCIONAIS

O sistema respiratório é composto por estruturas tubulares que comunicam o

parênquima pulmonar com o meio exterior visando conduzir o ar do meio ambiente para os

alvéolos pulmonares (CUNNINGHAM, 2004).

O aparelho respiratório pode ser dividido em: porção condutora composto pelas fossas

nasais, nasofaringe, laringe, traquéia, brônquios e bronquíolos; porção de transição e porção

respiratória representada pelos alvéolos, que são os responsáveis pela troca gasosa, ductos e

sacos alveolares (Figura 2) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

FIGURA 2 - Principais divisões do aparelho respiratório.

Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008

A traquéia e os brônquios formam um sistema continuo de tubos que conduzem o ar

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entre a laringe e os bronquíolos. A traquéia está unida indiretamente ao diafragma pelos

ligamentos pulmonares e tecido conjuntivo mediastínico e, também, mais eficientemente, pela

pressão intrapleural negativa que torna os pulmões aderentes à parede torácica, incluindo o

diafragma (Figura 3) (DYCE; SACK; WENSING, 1997).

Na árvore brônquica, a traquéia ramifica-se originando dois brônquios curtos,

chamados de primários, que penetram no pulmão através do hilo, pelo hilo também entram

artérias, e saem vasos linfáticos e veias, que formam uma estrutura revestida por um tecido

conjuntivo denso, esse conjunto é conhecido como raiz pulmonar. Esses brônquios primários

dão origem a outros brônquios, que vão suprir os lobos pulmonares, denominados brônquios

lobares, que continuam se dividindo repetidas vezes, até formar os bronquíolos. Cada

bronquíolo penetra num lóbulo pulmonar, onde se ramifica originando cerca de cinco a sete

bronquíolos terminais (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

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FIGURA 3 - Imagem ilustrativa do tórax de um felino sem alterações.

Fonte: Hill’s Atlas of Veterinary Clinical Anatomy, 2006

Os bronquíolos terminais darão origem a um ou mais bronquíolos respiratórios,

marcando assim o início da porção respiratória, esta compreende os ductos alveolares, sacos

alveolares e alvéolos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

A laringe, traquéia e brônquios, são revestidos por tecido conjuntivo fibroelástico; nas

ramificações menores dos brônquios o epitélio torna-se cilíndrico simples ciliado, seguindo

para mucosa uma camada muscular lisa, formada por dois feixes musculares dispostos em

espiral que circulam os brônquios. Externamente a essa camada muscular, existem glândulas

do tipo mucoso ou misto, cujos ductos abrem para luz brônquica (Figura 4) (JUNQUEIRA;

CARNEIRO, 2008).

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FIGURA 4 - Imagem histopatológica do brônquio de

um felino, sem alterações, corado com

hematoxilina e eosina.

Fonte: MOORE, 2005

As partes cartilaginosas existentes são envolvidas por tecido conjuntivo rico em fibras

elásticas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

É comum encontrarmos nódulos linfáticos nos pontos de ramificação da árvore

brônquica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os bronquíolos que se encontram nos segmentos intralobulares, e que tem diâmetro de

um milímetro ou menor, não possuem cartilagem, glândulas ou nódulos linfáticos. O epitélio

que nas porções iniciais é cilíndrico simples ciliado, passa à cúbico simples ciliado ou não nas

porções finais. A lâmina própria é delgada e constituída principalmente por fibra elástica

(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Comparando-se a espessura das paredes dos brônquios com as dos bronquíolos

percebe-se que a musculatura bronquiolar é mais desenvolvida que a brônquica. Dessa

maneira os espasmos asmáticos são causados principalmente pela contração da musculatura

bronquiolar (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

A musculatura brônquica e a musculatura dos bronquíolos estão sob o controle do

nervo vago e do sistema simpático. A estimulação vagal diminui o diâmetro dos segmentos

brônquicos e bronquiolares, enquanto a estimulação do simpático produz efeito contrário.

Assim se explica porque a adrenalina e outras drogas simpaticomiméticas são utilizadas com

freqüência nas crises de asma, para relaxamento da musculatura lisa (JUNQUEIRA;

CARNEIRO, 2008).

O bronquíolo respiratório pode ser considerado um bronquíolo terminal, revestido por

um epitélio simples que varia de colunar baixo á cubóide, podendo ainda apresentar cílios na

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porção inicial. O músculo liso e as fibras elásticas estão bem desenvolvidos. É onde

encontramos os alvéolos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os alvéolos são expansões saculiformes e são revestidos por um epitélio capaz de

realizar trocas gasosas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

O volume do parênquima pulmonar é fornecido pelos brônquios, vasos pulmonares,

tecido conjuntivo perivascular e tecido conjuntivo peribrônquico. Os brônquios principais

direito e esquerdo emergem na bifurcação traqueal sobre o coração e, após entrarem no

pulmão, a raiz de cada um deles, emite um brônquio para o lobo cranial, antes de continuar

caudalmente (DYCE; SACK; WENSING, 1997).

O pulmão direito é o maior dos dois. Possui lobos cranial, médio, caudal e acessório; o

pulmão esquerdo possui um lobo cranial dividido e um lobo caudal simples. Os lobos são tão

profundamente divididos por fissuras que vários deles se ligam apenas pelos brônquios e

vasos sanguíneos. (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os lóbulos pulmonares não são perceptíveis a olho nu devido a uma membrana serosa

que os envolve, denominada pleura pulmonar ou visceral (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os pulmões estão normalmente expandidos pela pressão do ar dentro da árvore

respiratória, sendo elásticos, encolhem e colabam-se tão logo o ar entre nas cavidades pleurais

por traumatismo, cirurgia ou dissecação. Possuem uma coloração que varia de intensidade

com o conteúdo de sangue, os pulmões dos animais que passam suas vidas em atmosferas

extremamente poluídas, adquirem uma tonalidade acinzentada, por causa do depósito de

fuligem ou de outras partículas inaladas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os ductos alveolares são condutos longos e tortuosos, formados por ramificações dos

bronquíolos. Esse segmento possui inúmeros alvéolos e sacos alveolares em suas paredes.

Os alvéolos são pequenas invaginações em forma de saco, que constituem as últimas

porções da árvore brônquica (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

O oxigênio do ar alveolar passa para o sangue capilar através de membranas, e o gás

carbônico difunde-se em direção contrária (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

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3 FATORES PREDISPONENTES E ETIOPATOGENIA

A bronquite pode se desenvolver em gatos de qualquer idade, embora seja mais

comum em adultos jovens e em animais de meia-idade (NELSON; COUTO, 2006).

De acordo com Morais (2003) essas doenças parecem ocorrer mais em gatos siameses,

usualmente entre seis e oito anos.

A origem da bronquite alérgica felina é desconhecida havendo evidências de ter como

causas alérgenos inalados; portanto os proprietários devem ser cuidadosamente questionados,

com o intuito de estabelecer uma associação entre as manifestações clínicas e a exposição a

possíveis alérgenos ou irritantes, tais como: granulado sanitário recém-introduzido

(geralmente perfumado), fumaça de cigarro ou de lareira, produtos de limpeza, itens

domésticos que contenham perfumes, como desodorante ou spray para cabelos, e também

qualquer modificação recente no ambiente em que vive o gato, o que poderia também ser uma

fonte de alérgenos. As exacerbações e mudanças sazonais constituem outro sinal de exposição

a um alérgeno em potencial, causando assim a inflamação dos brônquios (NELSON;

COUTO, 2006).

As ocorrências episódicas e sazonais de sinais respiratórios não são incomuns, mas a

afecção freqüentemente torna-se persistente e não-sazonal (BICHARD; SHERDING, 1998).

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4 FISIOPATOGÊNIA

A bronquite pode ser aguda quando for de curta duração e reversível. Pacientes com

bronquite aguda têm aumento de muco por inflamação neutrofílica, ou por macrófagos

(MORAIS, 2003).

Na bronquite crônica ou de longa duração, ocorre também o aumento de muco

intraluminal com inflamação neutrofílica, eosinofílica ou mista e presença de fibrose. A

bronquite crônica é um processo irreversível, mas que pode ser controlado (MORAIS, 2003).

Alguns fatores reversíveis que ocorrem na bronquite aguda, por exemplo, são:

broncoespasmo e inflamação. Fatores irreversíveis presentes na bronquite crônica são: fibrose

e enfisema (NELSON; COUTO, 2006).

A asma é uma obstrução reversível que resulta de hiperreatividade da árvore

brônquica, pode acompanhar a bronquite, está associada à hipertrofia dos músculos lisos, ao

aumento da produção de muco, e usualmente à inflamação eosinofílica. Várias peculiaridades

anatômicas e funcionais das vias aéreas de felinos ajudam a explicar porque gatos têm asma.

Como a árvore brônquica tem uma capacidade limitada de resposta aos estímulos nocivos, a

exposição crônica a estes estímulos, independente da causa, leva à alterações anatômicas e

funcionais similares (Quadro 2) (MORAIS, 2003).

Epitélio Hipertrofia Metaplasia Erosão e

Ulceração

Células Globóides e

glândulas submucosas

Hipertrofia Aumento da produção

de muco viscoso

-

Mucosas e Submucosas

bronquiais

Edema Infiltrado inflamatório -

Músculo liso Bronquial Hipertrofia Espasmo -

QUADRO 2 - Resposta das vias aéreas aos estímulos nocivos.

Fonte: MORAIS, 2003

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5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Felinos com problemas brônquicos são trazidos à clínica por apresentarem distrição

respiratória ou tosse (Quadro 3) (MORAIS, 2003).

Tosse:

Sonora e paroxística

Produtiva

Auscultação Pulmonar:

Sibilos

Crepitações

Ruídos mudam de

intensidade com profundidade da

inspiração

Distrição Respiratória:

Expiratória ou mista

Padrão Obstrutivo

Presença de sons

pulmonares

Respiração Oral

Manifestações Clínicas:

Hipertermia Leve

Perda de Peso

Apatia

Cianose

Anorexia

QUADRO 3 - Principais manifestações clínicas em gatos com doenças brônquicas.

Fonte: MORAIS, 2003

As manifestações variam de tosse intermitente até distrição respiratória grave. Em

felinos com problemas brônquicos, a tosse é paroxística, sonora, associada a chiados, e

respiração ruidosa. A tosse costuma ser produtiva, e ocasionalmente é seguida de

expectoração (MORAIS, 2003).

De acordo com Nelson e Couto (2006) as manifestações clínicas são lentamente

progressivas e não estão presentes: perda de peso, anorexia, depressão ou outras

manifestações sistêmicas.

Em controvérsia Sherding (1989) justifica que, a tosse pode ser tão violenta que acaba

por desencadear o vômito ou a rejeição de líquidos digestivos, e isso ocorre devido à

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expectoração das secreções traqueobrônquicas que estão associadas a espirros e engasgos,

também relata que a principal queixa do proprietário, é a falta de apetite e o emagrecimento

crônico do animal.

No exame físico observa-se uma manifestação clínica importante, que é a extrema

dificuldade respiratória apresentada pelo paciente, caracterizada por uma expiração laboriosa,

associada ao colapso das vias respiratórias na expiração, resultante de espasmo brônquico,

obstrução luminal por muco e exsudato, além do edema da musculatura lisa brônquica

(LORENZ; CORNELIUS; FERGUSON 1993).

Um gato em crise exibe esforços respiratórios aumentados durante a expiração,

associados a taquipnéia, ficando prostrado no solo com cotovelos afastados, pescoço esticado,

boca aberta com a língua para fora, com ruídos respiratórios acentuados, vulgarmente

designados por farfalheira, e cianose nos casos mais severos devido à oxigenação insuficiente

(Figuras 5 e 6) (SHERDING, 1989)

FIGURA 5 - Felino com distrição respiratória durante uma crise de

asma brônquica.

Fonte: http://cats.pro/cat-health, acesso em: 27 nov 2009

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FIGURA 6 - Felino com a boca aberta demonstrando sinais de distrição

respiratória severa.

Fonte: http://cats.pro/cat-health, acesso em: 27 nov 2009

Ocasionalmente além dos sibilos respiratórios, estão presentes também crepitações.

Essas alterações clínicas são resultantes da obstrução das vias aéreas menores, podendo não

ser digno de nota nos intervalos entre os episódios de crise asmática (NELSON; COUTO,

2006).

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6 DIAGNÓSTICO

A condição dos felinos que apresentam angústia respiratória aguda deve ser

estabilizada antes da realização de exames diagnósticos (NELSON; COUTO, 2006).

O diagnóstico presuntivo de bronquite felina é estabelecido mediante o exame clínico

e exames complementares, destacando-se as radiografias torácicas. Os resultados da análise

dos fluidos da lavagem traqueal e da lavagem bronco-alveolar podem confirmar a presença de

inflamação das vias aéreas, e juntamente com um desses procedimentos, são realizados os

testes para dirofilariose e parasitismo pulmonar, com a finalidade de identificar doenças

específicas que possam estar envolvidas. Acredita-se que os gatos com bronquite

(particularmente asma brônquica) apresentam eosinofilia periférica, entretanto, esse achado

não é específico nem sensível, e não devendo ser utilizado para excluir, ou diagnosticar

definitivamente a bronquite felina. (NELSON; COUTO, 2006).

6.1 Anamnese e exame físico do paciente

A anamnese de um paciente felino com suspeita de doença brônquica deve ser

completa e cuidadosa, sendo um auxílio útil no diagnóstico. As respostas do proprietário para

as seguintes questões podem indicar o tipo de doença brônquica presente (Quadro 4)

(MCKIERNAN, 1990).

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Há quanto tempo o proprietário tem notado o problema?

A duração do problema determina se a doença é crônica (persistente por meses ou anos),

subaguda (menos do que 24 horas), ou está entre as duas.

A tosse é produtiva ou não?

Tosse que produz secreção pode ser indicativa de uma infecção, tal como bronquite.

O gato tem problema respiratório? O gato ronca ou espirra? Existe secreção nasal

ou ocular?

Chiados ou respiração ruidosa são manifestações de doenças do trato respiratório

inferior. Contudo, espirro, ronqueira, secreção nasal e ocular são características de

doenças do trato respiratório superior.

QUADRO 4 - Questões que podem esclarecer o tipo de doença brônquica presente.

Fonte: MCKIERNAN, 1990

O veterinário deve observar o animal em sua mesa, ou na caixa de transporte, antes de

iniciar o exame físico. A freqüência respiratória de um gato calmo deve ser em média de 20 a

40 respirações por minuto (SHERDING, 1989).

Um gato com distrição respiratória, normalmente está ansioso e possui uma pequena

reserva pulmonar, por essa razão a contenção durante o exame deve ser mínima e o exame

físico deve ser realizado o mais breve possível. Muitos animais precisam ser colocados em

uma caixa de oxigênio durante o exame físico (Figuras 7 e 8) (SHERDING, 1989).

FIGURA 7- Caixa de oxigênio.

Fonte: MOORE, 2005

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FIGURA 8 - Felino na caixa de oxigênio.

Fonte: MOORE, 2005

Devemos notar também, a profundidade e a regularidade da respiração, e assim

classificar se essa distrição respiratória ocorre na inspiração ou na expiração. Distrição

respiratória inspiratória ocorre em doenças restritas, tais como pneumotórax, efusão pleural ou

neoplasia. Distrição respiratória do tipo expiratória ocorre em doenças obstrutivas tais como

bronquites, bronquiectasias, edema pulmonar severo ou asma, e ainda assim a distrição

respiratória pode ser mista. Pequenas respirações rápidas são típicas de doenças restritivas;

respirações baixas e profundas ocorrem com doenças obstrutivas (MCKIERNAN, 1990).

A temperatura retal de um paciente com distrição respiratória estará elevada devido o

esforço respiratório intenso, não significando febre por infecção pulmonar, e sim hipertermia

(SHERDING, 1989).

Os ruídos pulmonares anormais detectados pela auscultação incluem ruídos

brônquicos altos, chiados (tipicamente expiratórios), roncos e estalidos (Figura 9). O som

hiperressonante pode ser obtido pela percussão (Figura 10) (BICHARD; SHERDING, 1998).

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FIGURA 9 - Auscultação pulmonar em um felino.

Fonte: MOORE, 2005

FIGURA 10 - Percussão torácica em um felino.

Fonte: MOORE, 2005

A auscultação cardíaca é geralmente normal; no entanto, um murmúrio sistólico de

origem incerta torna-se detectável em alguns gatos. Observa-se arritmia sinusal (incomum em

felinos normais) nos gatos com bronquite (BICHARD; SHERDING, 1998).

O que devemos lembrar é que a tosse (comum na broncopatia e infecções parasitárias

brônquicas) é incomum nos gatos com insuficiência cardíaca (BICHARD; SHERDING,

1998).

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6.2 Exame Radiográfico

Radiografias são imagens produzidas pela passagem de raios X através dos tecidos,

registradas em um filme fotográfico. A interação dos fótons dos raios X com os écrans

intensificadores dentro do chassi produzem uma fluorescência. Esta luz interage com a prata

do filme para produzir uma imagem latente. A imagem é convertida em branco e preto no

processo de revelação (Figura 11) (O’BRIEN, 2003).

FIGURA 11 - Radiografia torácica de um felino normal, as áreas de baixa radiopacidade

correspondem aos lobos pulmonares e à traquéia, que estão preenchidos por

ar.

Fonte: www.lbah.com/images/Asthma/typical.jpg, acesso em 21 nov 2009

As radiografias fornecem informações, não respostas. Qualquer posicionamento,

técnica ou revelação erradas poderá levar a uma imagem sem qualidade diagnóstica

(O’BRIEN, 2003).

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A maioria dos gatos com bronquite crônica e asma, apresentam padrão bronquial na

radiografia de tórax, embora o padrão intersticial de leve à moderado, e algumas vezes padrão

alveolar, possam estar presentes (Figura 12) (MORAIS, 2003).

FIGURA 12 - Radiografia torácica típica de um felino com asma.

Fonte: www.lbah.com/images/Asthma/typical.jpg, acesso em 21 nov 2009

Podem estar presentes imagens intersticiais reticulares aumentadas e manchas de

radiopacidade alveolares. Os pulmões podem sofrer uma hiperinflação, como resultado do

bloqueio de ar, e, ocasionalmente, pode-se observar colapso (atelectasia) do lobo pulmonar

medial direito. Nas figuras 13 e 14 a seta indica a lesão de um gato com asma (NELSON;

COUTO, 2006).

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FIGURA 13 - Radiografia torácica de um felino com asma.

Fonte: www.lbah.com/images/Asthma/typical.jpg, acesso em 21 nov 2009

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FIGURA 14 - Radiografia torácica do mesmo felino

com asma, em projeção ventro-dorsal.

Fonte: www.lbah.com/images/

Asthma/typical.jpg, acesso em 21 nov

2009

De acordo com Sherding (1989) as radiografias podem também apresentar um

diafragma achatado, infiltração periobrônquica e infiltrados intersticiais difusos ou maculares

suaves. A aerofagia é comum nos animais com doenças brônquicas.

O tamanho cardíaco é normal ou ligeiramente aumentado de volume (BICHARD;

SHERDING, 1998).

As anormalidades radiográficas podem (mas não invariavelmente) melhorar após a

terapia bem- sucedida (BICHARD; SHERDING, 1998).

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As radiografias devem ser também examinadas cuidadosamente à procura de sinais de

doenças específicas, como dirofilariose ou parasitose pulmonar (NELSON; COUTO, 2006).

Lembrando que radiografia de tórax normal não descarta a possibilidade de asma ou

bronquite crônica (NELSON; COUTO, 2006).

O aumento da opacidade do brônquio pode ser considerado normal em pacientes

geriátricos ou em casos de calcificação residual secundária à bronquite crônica que pode ou

não ser ativa. (O’BRIEN, 2003).

6.3 Broncoscopia

Indica-se broncoscopia quando o gato não responde a terapia apropriada para asma e

bronquite, ou quando é necessário excluir outros diagnósticos (como o pólipo nasofaríngeo,

laringopatia, obstrução das vias aéreas maiores, corpo estranho intraluminal ou neoplasias)

(Figura 15) (BICHARD; SHERDING, 1998).

FIGURA 15 - Broncoscopia de um

felino, onde nota-se

diminuição do lúmen

brônquico.

Fonte: MOORE, 2005

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O edema da mucosa e o excesso de muco constituem achados típicos de bronquite. Na

figura 16 pode-se comparar o aspecto normal à direita, com a imagem em vigência de asma à

esquerda, observando-se hiperemia, edema ao nível da carina, com redução da luz das vias

aéreas, além da presença de secreção aderida a parede. (BICHARD; SHERDING, 1998).

Portanto, aumento de muco com presença de secreções mucopurulentas, edema de

mucosa com mucosa granular e proliferação mucosa polpóide podem ser encontrados na

broncoscopia (MORAIS, 2003).

FIGURA 16 - Imagens obtidas por broncoscopia.

Fonte: TELLES, 2009

6.4 Avaliações Cardiopulmonares

O eletrocardiograma, embora fique tipicamente normal, pode mostrar hipertrofia

ventricular direita (cor pulmonale) ou um bloqueio do ramo do feixe direito (BICHARD;

SHERDING, 1998).

Pode-se utilizar um ecocardiograma para excluir insuficiência cardíaca como causa de

sinais semelhantes (BICHARD; SHERDING, 1998).

Podem-se utilizar os testes de função pulmonar (como a análise de circuito de volume

de fluxo respiratório tidal) para detectar hiperreatividade das vias aéreas; no entanto, esses

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testes ainda não se encontram disponíveis rotineiramente (BICHARD; SHERDING, 1998).

6.5 Estudos Laboratoriais

As anormalidades laboratoriais são incompatíveis, podemos observar que a eosinofilia

encontra-se presente em menos de um terço dos casos de bronquite, já a neutrofilia é menos

comum (BICHARD; SHERDING, 1998).

Bronquite asmática crônica é mais freqüente do que a condição aguda e é geralmente

acompanhada por eosinofilia, hiperglobulinemia, e em alguns casos hipoxemia arterial

(BICHARD; SHERDING, 1998).

Padrid (1999) afirma que tem sido reconhecido há algum tempo que os eosinófilos

parecem ter um papel principal na inflamação das vias aéreas dos asmáticos crônicos

humanos e felinos, pois os grânulos dos eosinófilos liberam proteínas nas vias aéreas onde

causam interrupção epitelial e descamação.

Em alguns gatos, o teste de ensaio imunoabsorvente (ELISA), ligado a enzima quanto

ao vírus da leucemia felina ou da imunodeficiência felina pode ficar positivo, especialmente

no caso dos gatos com bronquite bacteriana, pneumonia do lobo pulmonar médio recorrente

ou sinusite crônica (BICHARD; SHERDING, 1998).

É necessário realizar um ELISA quanto à dirofilária, flutuação fecal e técnica de

sedimentação fecal para descartar infecção parasitária (BICHARD; SHERDING, 1998).

Dois casos de dirofilariose foram vistos com manifestações clínicas semelhantes à

asma felina, mas parasitas normalmente não são encontrados na maioria dos gatos asmáticos

(HOLZWORTH, 1987)

Podemos lembrar também que a bioquímica sérica não é digna de nota (BICHARD;

SHERDING, 1998).

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6.6 Lavados traqueobrônquicos

A cultura e o exame citológico das secreções brônquicas são importantes, porém é

difícil de estabelecer o significado de uma cultura positiva em gatos com doenças bronquiais

crônicas (BICHARD; SHERDING, 1998).

6.6.1- Técnica do lavado traqueal

Deve-se intubar o gato e fazer uma lavagem das vias aéreas com uma sonda

endotraqueal estéril. É necessário utilizar um adaptador de seringa estéril ou cateter urinário

estério para conseguir as amostras para cultura bacteriana (incluindo cultura de Mycoplasma

spp.) e citologia (Figuras 17 e 18) (BICHARD; SHERDING, 1998).

FIGURA 17 - Equipamento para realizar o lavado traqueal.

Fonte: MOORE, 2005

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FIGURA 18 - Lavado traqueal em um felino.

Fonte: MOORE, 2005

O crescimento bacteriano pode indicar bronquite bacteriana primária ou infecção

secundária. A Pasteurella multocida é o microorganismo mais freqüentemente isolado

(BICHARD; SHERDING, 1998).

O exame citológico é variável, mas o número de células e o percentual de células

inflamatórias são proporcionais à gravidade da doença (MORAIS, 2003).

Os gatos com bronquite apresentam aumento do muco e aumento do número de

células inflamatórias. Na figura 19, observa-se macrófagos e hiperplasia celular. (BICHARD;

SHERDING, 1998).

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FIGURA 19 - Citologia do lavado traqueal de um

felino com bronquite crônica, corado

com hematoxilina e eosina.

Fonte: MOORE, 2005

A presença de eosinófilos nas amostras citológicas brônquicas não é diagnóstico de

asma. Visto que os gatos normais podem apresentar 25% de eosinófilos no fluido de lavagem

broncoalveolar, via normal de expulsão dessa célula, deve-se interpretar a contagem celular

em conjunto com outros achados (BICHARD; SHERDING, 1998).

Embora não seja um achado específico, a inflamação eosinofílica é sugestiva de uma

reação de hipersensibilidade à alérgenos ou parasitas (Figura 20) (NELSON; COUTO, 2006).

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FIGURA 20 - Citologia do lavado traqueal de um

felino com asma. Observa-se

eosinofilia e excesso de muco,

corado com hematoxilina e eosina.

Fonte: MOORE, 2005

Muitos gatos com bronquite e sinais clínicos de asma exibem resposta

predominantemente neutrofílica (BICHARD; SHERDING, 1998).

Os neutrófilos devem ser examinados quanto aos sinais de degeneração, sugestivos de

infecção bacteriana, como na figura 21, onde observa-se um grande número de neutrófilos e

hemácias (NELSON; COUTO, 2006).

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FIGURA 21 - Citologia do lavado traqueal de

um felino com pneumonia

corado com hematoxilina e

eosina.

Fonte: MOORE, 2005

As lâminas devem ser cuidadosamente examinadas quanto à presença de

microrganismos, particularmente bactérias, ovos ou larvas de parasitas, especialmente quando

a maioria das células for de eosinófilos. Deve-se realizar cultura bacteriana do fluido, tendo

em mente que o crescimento do microrganismo pode indicar ou não a existência de infecção

verdadeira. A cultura para Mycoplasma spp. pode ser útil, porém é difícil ocorrer crescimento

desses microrganismos, e o tempo para obtenção dos resultados pode ser muito longo

(NELSON; COUTO, 2006).

O Mycoplasma é comumente isolado de gatos com doenças bronquiais, mas não em

gatos normais. O papel da micoplasmose em doenças bronquiais felinas ainda não está

estabelecido, mas os micoplasmas podem indiretamente aumentar os níveis de substância P

nas vias aéreas. A substância P é um neuropeptídeo que atua como mediador para a excitação

da musculatura lisa, e no gato irá causar edema e broncoconstrição (MORAIS, 2003).

Os testes para dirofilariose são também indicados. Múltiplos exames fecais utilizando

técnicas de concentração especiais são realizados para avaliação adicional dos felinos jovens e

daqueles com eosinofilia das vias aéreas, quanto à presença de vermes pulmonares

(NELSON; COUTO, 2006).

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7 DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Os principais diagnósticos diferenciais para tosse em gatos são: bronquite crônica,

asma, dirofilariose, pneumonia, parasitas pulmonares e neoplasias (Quadro 5) (MORAIS,

2003).

Gatos com bronquite crônica tossem com regularidade durante o ano, enquanto gatos

com asma podem ser assintomáticos entre as crises. Tanto bronquite crônica como asma são

doenças crônicas com crises de agudização. Pacientes com bronquite crônica têm melhoras e

pioras, mas não ficam normais. Períodos de normalidade entre as crises sugerem que o

paciente tenha asma (MORAIS, 2003).

Em gatos com doenças brônquicas, a distrição respiratória é expiratória ou mista,

obstrutiva e com presença de ruídos pulmonares (normais e anormais). A efusão pleural é o

principal diagnóstico diferencial em gatos com distrição respiratória do tipo expiratória ou

mista. A distrição respiratória associada à efusão pleural é restritiva com respiração rápida e

superficial, e volumes pulmonares diminuídos. A principal diferença na auscultação de gatos

com efusão pleural e bronquite crônica e asma é a presença ou não de ruídos pulmonares

(MORAIS, 2003).

Em gatos com efusão pleural não é possível auscultar ruídos pulmonares nas porções

ventrais do tórax. Embora útil esta diferenciação, é às vezes difícil em gatos (MORAIS,

2003).

Nos felinos com problemas brônquicos é possível auscultar crepitações e sibilos

pulmonares. Estes sons anormais podem mudar de intensidade com a profundidade da

inspiração e após o gato ter tossido (MORAIS, 2003).

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Doença Brônquica Crônicas:

Asma Brônquica

Bronquite Crônica

Distúrbios de vias aéreas inferiores:

Edema Cardiogênico

Edema Neurogênico

Traumas

Fraturas

Doenças Bacterianas:

Gram-Positivas ou Gram-Negativas

Micoplasmas

Yersinia pesti em regiões endêmicas

Clamidiose

Distúrbios de vias aéreas superiores:

Rinite/Sinusite

Pólipo nasofaríngeo

Paralisia de Laringe

Colapso de traquéia

Micoses sistêmicas:

Histoplasmose

Blastomicose

Neoplasias

Traqueais

Intrapulmonares comprimindo árvore

brônquica

Metástases pulmonares

Doenças Parasitárias:

Dirofilariose

Parasitas Pulmonares

Capacidade Anormal de Carreamento de

Oxigênio:

Anemia

Metahemoglobinemia

Toxicidade por monóxido de carbono

Fumaça de cigarro

Doenças Virais

Caliciviroses

Herpesvirose

Peritonite Infecciosa Felina

Distúrbios e Efusão Pleural

Hérnia Diafragmática

Quilotórax

Piotórax

Hemotórax

Hidrotórax

Pneumonia Protozoária

Toxoplasmose

-

QUADRO 5 - Causas de tosse e distrição respiratória em gatos.

Fonte (SHERDING, 1989)

Além disso, exame coproparasitológico e tratamento dos vermes pulmonares são

recomendados em todos os gatos com doenças brônquicas. Em áreas endêmicas para

dirofilariose, gatos com problemas brônquicos devem ser testados para Dirofilaria immitis

(MORAIS, 2003).

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Também devemos lembrar que como a documentação da infecção por Mycoplasma é

difícil, deve-se considerar uma tentativa de tratamento com antibióticos (doxiciclina,

cloranfenicol, azitromicina). (NELSON; COUTO, 2006).

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8 TRATAMENTO

O objetivo do tratamento é estabilizar as funções respiratórias do paciente e reduzir a

inflamação das vias respiratórias (LORENZ; CORNELIUS; FERGUSON 1993).

A terapia visa o controle da secreção bronquial, melhora da ventilação alveolar,

normalização dos reflexos e controle da inflamação. A cura não é uma expectativa realista. As

principais drogas utilizadas no manejo da bronquite crônica e da asma são broncodilatadores e

os glicocorticosteróides (MORAIS, 2003).

Segundo McKiernan (1990), drogas que garantem broncodilatação (por exemplo,

adenosina cíclica intramuscular) são efetivas em tratar doenças constritivas.

Catcott (1984) relata que o rápido alívio dos sinais por broncodilatadores, tais como

epinefrina, é quase diagnóstico, já que são de pouco ou quase nenhum beneficio em outras

condições, tais como enfisema ou bronquite.

Sherding (1989) garante que a adição de corticosteróides aumenta a resposta e que a

atropina é evitada por causa de sua ação secante que espessa o muco; esta desvantagem supera

a ação broncodilatadora.

8.1 Tratamento emergencial

Segundo McKiernan (1990) em casos de emergência de distrição respiratória, deve-se

administrar oxigênio com glicocorticóides. A maioria dos gatos responde em 15 a 30 minutos.

Os ataques asmáticos agudos podem exigir tratamento emergencial (MCKIERNAN,

1990).

É necessário colocar o felino em uma tenda de oxigênio e esperar que o animal

estabilize a angústia respiratória para iniciar o exame físico (Figura 22). Pode-se administrar

aminofilina via oral (5 mg/kg, a cada 8 horas, por 24 horas). A absorção oral é rápida e evita o

estresse da contenção necessária para a administração intravenosa. Se a aminofilina for

administrada endovenosa deve ser feita de forma lenta na dose de 5 mg/kg também, seguido

de terapia oral.

Corticosteróides também podem auxiliar no tratamento emergencial de um gato com

crise asmática (prednisolona: 1mg/kg, via intramuscular, a cada 12 horas ou succinato sódico

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de prednisolona: 10 mg/kg, via endovenosa).

Uma resposta inadequada dentro de 2 horas indica a necessidade de tratamento

adicional, com fármacos de atividade β2 agonista (Quadro 6):

Isoproterenol (subcutâneo) 0,1 a 0,2 ml.

Adrenalina (subcutâneo) 1 a 2 ml

Cloridrato de Terbutalina (oral) Comprimidos de 2,5 mg. Administrar ¼ de

comprimido por gato.

QUADRO 6: Doses dos fármacos β2 agonista.

Fonte: MCKIERNAN,

1990

Nos casos dos gatos não-responsivos, considere a atropina (para reduzir o tônus

colinérgico), a 0,04 mg/kg, via intramuscular (BICHARD; SHERDING, 1998).

Para Bichard e Sherding (1998) um ataque agudo é tratado por injeção subcutânea de

0,1 a 0,2 ml de epinefrina (1:1000), injeções intravenosas de 5 a 10 mg de hidrocortisona

(succinato de sódio) e oxigênio por máscara.

Tratamento seguido e administrado oralmente que pode ser continuado por vários dias

(BICHARD; SHERDING, 1998).

Após a administração dos fármacos o felino deve ser mantido em um ambiente frio,

calmo, e enriquecido com oxigênio (NELSON; COUTO, 2006).

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FIGURA 22: Felino em uma tenda de oxigênio.

Fonte: MOORE, 2005

8.2 Terapia intermediária e a longo prazo

A causa subjacente e os resultados dos lavados traqueais determinam a terapia

intermediária e a longo prazo. Alguns gatos com asma verdadeira podem exigir somente um

tratamento intermitente durante a exacerbação da sua doença. Outros gatos necessitam de

tratamento recorrente ou crônico para controlar os sinais clínicos (BICHARD; SHERDING,

1998).

Segundo McKiernan (1990) se uma alergia ou hipersensibilidade é a causa da doença,

então a prednisolona é usada em uma dose mínima que alcança uma boa resposta.

Administração de um esteróide de longa duração pode ser útil quando o cliente não é capaz de

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manipular seu gato.

De acordo com Ettinger e Feldman (1997), o tratamento prolongado da bronquite

alérgica felina consiste na eliminação dos estímulos antigênicos potenciais, na terapia

antiinflamatória, e em broncodilatadores. As fontes ambientais de antígeno raramente são

descobertas, mas geralmente estas não são buscadas agressivamente através de cuidadosa

tomada da história, e de ensaios de eliminação. O grão da liteira pode ser substituído por

jornal ou outra areia durante algumas semanas. Os gatos criados no interior da casa podem

mostrar melhoras em seguida à troca dos filtros de aquecedores, pelo uso de filtros de ar.

Fontes possíveis de hipersensibilidade são descobertas a partir de uma minuciosa avaliação

diagnostica inicial, com a repetição da avaliação, se ocorrer insucesso terapêutico.

Como medidas gerais preventivas, deve-se eliminar a poeira (cama para gatinhos), a

fumaça (incluindo o tabaco), os pós (produtos antipulgas e limpadores de carpete), os sprays e

outras substâncias potencialmente estimulantes do ambiente do gato. Encontram-se

disponíveis camas para gatos reutilizáveis plásticas e sem poeira a partir de diferentes

fabricantes. Reduza o peso corporal nos gatos obesos para reduzir o efeito restritivo da

gordura na ventilação. Considere um curso de 10 dias de fembendazol nos gatos com reação

brônquica eosinofílica (BICHARD; SHERDING, 1998).

8.3 Terapia com broncodilatadores

Broncodilatadores funcionam melhor na asma do que na bronquite crônica, porque

gatos asmáticos têm um início súbito de broncoconstrição reversível. As dosagens dos

principais broncodilatadores utilizados em gatos estão no quadro 7 (MORAIS, 2003).

Os principais broncodilatadores utilizados com doenças bronquiais crônicas são as

xantinas e os agonistas adrenérgicos β2 (MORAIS, 2003).

Os agonistas β2 são mais eficazes, especialmente em pacientes que têm

broncoconstrição. A broncodilatação ocorre independente do estímulo para broncoconstrição.

Agonistas β2 diminuem a viscosidade do muco, aumentam a atividade ciliar e previnem a

liberação de mediadores da inflamação, sendo eficazes por via oral, parenteral e inalatória

(MORAIS, 2003).

A terbutalina administrada pela via subcutânea é excelente no manejo das crises de

broncoconstrição em gatos com asma. Tem ação rápida e pode, inclusive, ser usada pelo

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proprietário em casa, no início da crise, diminuindo a necessidade de hospitalização do

animal. Outra forma de reduzir as hospitalizações é com o uso de agentes inalatórios

("bombinhas") a base de salbutamol (albuterol). Gatos com asma toleram muito bem esse tipo

de medicação chegando inclusive a procurar a bombinha logo que as crises começam

(MORAIS, 2003).

As xantinas causam broncodilatação, estabilizam mastócitos, aumentam a eliminação

do muco e também a contratilidade dos músculos respiratórios. As teofilinas de longa duração

são as mais indicadas para os gatos, porque requer uma única administração diária, entretanto,

quando administrada deve-se monitorar os efeitos adversos causados por essa droga como a

ansiedade, êmese e possíveis tremores (MORAIS, 2003).

De acordo com Nelson e Couto (2006) os efeitos adversos potenciais das xantinas

incluem sinais gastrointestinais, arritmias cardíacas, ansiedade e convulsões. Efeitos colaterais

graves são extremamente raros quando se utilizam doses terapêuticas. As formas de liberação

imediata são absorvidas rapidamente após a administração oral; portanto, a injeção parenteral

é raramente necessária. Se houver necessidade de administração intravenosa, o fármaco deve

ser injetado lentamente.

A aminofilina é outro fármaco do grupo das xantinas que pode ser usado como

broncodilatador. Em gatos com problemas brônquicos crônicos, a aminofilina é reservada

para uso emergencial. Deve-se ter cuidado com a administração intravenosa, porque ela pode

causas vômito, uma complicação indesejável em um paciente dispnéico. A administração pela

via intramuscular ou subcutânea de aminofilina é dolorosa em gatos. Como os seus efeitos

broncodilatadores são leves, há uma preferência pelo uso de outros agentes durante as crises

(por exemplo, a terbutalina). Outros efeitos colaterais das xantinas incluem excitação do

sistema nervoso central e arritmias cardíacas (BICHARD; SHERDING, 1998).

Sherding (1989) diz que após 7 a 14 dias de terapia com teofilina de liberação

prolongada, 25 mg/kg, via oral, a cada 24 horas, é necessário medir o nível sanguíneo basal

sérico de teofilina (10 à 12 horas após a administração da pílula); os níveis terapêuticos são de

5 a 20 mg/ml.

O metabolismo individual de todas as metilxantinas é variável, e as concentrações

plasmáticas de teofilina devem ser monitorizadas também em animais que não apresentam

resposta adequada. Os picos das concentrações terapêuticas, obtidos de humanos, são 5 a 20

µg/ml (BICHARD; SHERDING, 1998).

Para a determinação da concentração do fármaco, o plasma deve ser coletado 12

horas após a administração noturna dos produtos de longa ação e duas horas após os produtos

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de curta ação. A medida da concentração imediatamente antes da próxima dose programada

fornece informações úteis com relação à duração das concentrações terapêuticas (BICHARD;

SHERDING, 1998).

As concentrações plasmáticas podem também ser afetadas por outros fármacos que

estejam sendo administrados concomitantemente. Por exemplo, fluoroquinolona e

cloranfenicol podem causar concentrações plasmáticas aumentadas de teofilina e

subseqüentes sinais de toxicidade. Se tais drogas forem usadas, as doses de teofilina devem

ser reduzidas de um terço à metade, ou administram-se fármacos simpatomiméticos

(NELSON; COUTO, 2006).

Indica-se a terapia crônica com teofilina nos gatos com doença progressiva e não-

sazonal (BICHARD; SHERDING, 1998).

Considere a terapia de combinação com a teofilina e a terbutalina em dose baixa no

caso dos casos refratários, e cuidado com os efeitos colaterais da terbutalina, que incluem

ansiedade, taquicardia e hipotensão (BICHARD; SHERDING, 1998).

Para Lorenz et al (1993) a broncodilatação provocada por compostos da teofilina de

uso oral constitui a terapia de eleição no passado. Todavia o efeito broncodilatador da

teofilina foi posto em dúvida. Além disso, estudos sobre o tratamento de pessoas asmáticas

demonstram que, embora esses compostos aliviem os sintomas, é necessário também

empregar a terapia com corticóides para dificultar a progressão do processo inflamatório

estabelecido nas vias respiratórias.

Agonistas Adrenérgicos β2 Xantinas Anticolinérgicos:

Terbutalina:

0,625 – 1,25 mg via oral, a

cada 12 horas.

Teofilina:

25 mg/gato a cada 24 horas,

à noite.

Não são indicados

Salbutamol:

50 µg/kg via oral, a cada 8

horas.

200 µg para inalação.

Aminofilina:

4 – 6 mg/kg via oral, a cada

12 horas.

2 – 5 mg/kg intravenoso, a

cada 8 ou 12 horas.

-

QUADRO 7: Dosagens dos broncodilatadores para uso em gatos.

Fonte: MORAIS, 2003

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8.4 Terapia com corticosteróides

Corticosteróides são essenciais no tratamento da asma e bronquite crônica. Pacientes

com asma têm inflamação das vias aéreas mesmo quando não têm sintomas. Corticosteróides

reduzem a inflamação e a migração de células inflamatórias para as vias aéreas, estabilizam os

mastócitos, diminuem a produção de muco e aumentam a sobrevivência. Além disso, eles

parecem ter efeito sinérgico com os broncodilatadores. Doses altas por via oral com

diminuição gradual nos dois meses subseqüentes são as mais indicadas para controle da asma.

As dosagens dos principais broncodilatadores utilizados em gatos estão no quadro 8

(MORAIS, 2003).

Prednisona:

1 – 2 mg/kg via oral, a cada 12 horas por 2 semanas. Diminuir gradativamente a

dose pelas próximas 6 semanas.

Fluticasona:

Inalação

Metilprednisolona (gatos com proprietários que não toleram comprimidos):

10 – 20 mg/gato intramuscular, a cada 2 a 4 semanas.

QUADRO 8 - Dosagens dos corticosteróides em gatos com asma e bronquite crônica.

Fonte: MORAIS, 2003

São recomendados os produtos de curta ação, como a prednisona, porque a dose pode

ser diminuída até se alcançar a menor dose eficaz possível. Inicialmente, deve-se administrar

0,5 mg/kg a cada 8 a 12 horas, dose esta que pode ser dobrada se não houver resposta clínica

em uma semana. Quando os sinais clínicos forem controlados, a dose deve ser diminuída.

Uma meta razoável é administrar 0,5mg/kg ou menos em dias alternados (NELSON;

COUTO, 2006).

Gatos que não toleram comprimidos, ou que os proprietários têm dificuldade em

administrá-los, podem ser tratados com metilprednisolona injetável. Uma reavaliação do

diagnóstico e da terapia é necessária em gatos que não respondem aos corticosteróides

(Quadro 9). Corticosteróides injetáveis de ação rápida revertem rapidamente os sinais durante

as crises de distrição respiratória (MORAIS, 2003).

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Diagnóstico errado:

Reavaliar o diagnóstico

Proprietário não consegue administrar o

medicamento:

Tente corticosteróides injetáveis

Complicações:

Terapia antimicoplasma

Necessidade de terapia auxiliar:

Adicione broncodilatadores

Diminua a exposição dos gatos aos

alérgenos.

QUADRO 9 - Causas de não resposta aos corticosteróides em gatos com doenças

brônquicas crônicas.

Fonte: (MORAIS, 2003)

Scherding (1989) diz que devemos interromper a prednisolona caso se eliminem todos

os sinais da doença. Porém seja criterioso quando tomar essa decisão, pois muitos gatos não

exigem tratamento crônico, mas podem necessitar de terapia intermitente quando ocorrer

recidiva. Avise o proprietário sobre os efeitos adversos da terapia com glicocorticóides nos

gatos, incluindo desenvolvimento de diabetes mellitus.

8.5 Terapia com medicações inalatória

Glicocorticosteróides e broncodilatadores podem ser utilizados por inalação

(bombinhas) em gatos. Como os gatos não conseguem sincronizar a inspiração com o apertar

da bombinha, e muitos ficam assustados com o jato, deve-se usar um espaçador (Figura 23).

Este espaçador consiste de um tubo plástico para uso pediátrico de aproximadamente doze

centímetros que é conectado de um lado no inalador e no outro a uma máscara (como as

usadas em anestesia) para gatos (Figura 24). Um frasco de soro cortado em meia lua no final

pode ser usado como alternativa para o encaixe da bombinha. Um punho de luva colocado no

extremo oposto do frasco permite fazer a vedação na face do gato. Esta adaptação caseira

funciona bem em gatos (Figuras 25 e 26). A bombinha é disparada dentro do espaçador e o

conjunto é colocado sobre a face do paciente, que pode respirar normalmente (sete a dez

inspirações/expirações) (MORAIS, 2003).

Albuterol (salbutamol) é um agonista adrenérgico β2 que proporciona alívio imediato

da broncoconstrição em gatos com asma. O efeito, no entanto dura apenas quatro horas.

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Salmeterol, também um agonista β2 controla a broncoconstrição por até doze horas, mas

demora até uma hora para iniciar sua ação. Propionato de fluticasona é um agente

glicocorticóide que auxilia no controle a longo prazo da inflamação, sendo necessária duas

semanas para que seja atingido seu efeito máximo. Os demais fármacos disponíveis para uso

por inalação ainda não foram testados em gatos (MORAIS, 2003).

FIGURA 23 - Felino sendo medicado através do espaçador.

Fonte: MOORE, 2005

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FIGURA 24 - Espaçador utilizado para administrar a

medicação inalatória em felinos.

Fonte: MOORE, 2005

FIGURA 25 - Felino sendo medicado através de um espaçador caseiro.

Fonte: PINTO, 2008

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FIGURA 26 - Felino recebendo a medicação inalatória através de um

espaçador caseiro.

Fonte: PINTO, 2008

8.6 Terapia com antibióticos

Não existem evidências que as infecções bacterianas sejam importantes em gatos com

asma. Em gatos com bronquite crônica, infecções podem ser mais importantes. Antibióticos

são indicados apenas quando houver evidências de que há infecção. É importante lembrar que

é possível cultivar microorganismos no lavado traqueal de gatos sadios. A antibioticoterapia é

recomendada em pacientes em que houve crescimento direto na placa (sem passar por meios

enriquecedores) e deve ser baseada no antibiograma. Antibióticos com boa penetração na

árvore brônquica devem ser utilizados. Em gatos suspeitos de micoplasmose ou que não estão

respondendo à terapia, antibioticoterapia empírica com doxiciclina pode ser iniciada

(MORAIS, 2003).

Bichard e Sherding dizem que caso se necessite de terapia empírica, deve-se escolher

os fármacos efetivos contras as espécies de Pasteurella (ampicilina e cefalosporinas).

Suspeite de infecção bacteriana em situações como febre, cultura das vias aéreas

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positivas, consolidação lobar ou padrão pulmonar alveolar, sinusite mucopurulenta,

inflamação supurativa das vias aéreas com neutrófilos degenerativos, processos inflamatórios

mistos, com predominância de neutrófilos bem preservados, podendo iniciar a

antibioticoterapia empírica no caso de respostas inflamatórias mistas, ou suspender o

tratamento com antibióticos, dependendo da cultura do fluído traqueobrônquico,

manifestações clínicas de doenças respiratórias em gatos que sejam positivos para o vírus da

leucemia e imunodeficiência felina (BICHARD; SHERDING, 1998).

8.7 Terapia com anti-histamínicos

Os anti-histamínicos não são recomendados no tratamento da bronquite felina porque

a histamina, em alguns gatos, produz broncodilatação (NELSON; COUTO, 2006).

Entretanto, um trabalho realizado por Padrid et al (1995, apud NELSON; COUTO,

2006) mostrou que o antagonista da serotonina, a ciproeptadina, tem um efeito

broncodilatador (in vitro). Pode-se administrar essa medicação na dose de 2mg/gato

oralmente a cada 12 horas aos felinos com sinais clínicos que não podem ser controlados com

o tratamento rotineiro à base de broncodilatadores e glicocorticóides. Entretanto, o

proprietário deve estar ciente da natureza experimental dessa indicação

Morais (2003) diz que a ciproeptadina pode ser utilizado na dosagem de 2 a 4 mg/gato,

por via oral, a cada doze horas nos animais que estão recebendo doses altas de

corticosteróides e broncodilatadores. O efeito broncodilatador aparece em torno de quatro a

sete dias. O principal efeito colateral é a depressão e costuma aparecer em até 24 horas. Gatos

que recebem doses mais altas que 2mg/kg podem se tornar agressivos.

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9 PROGNÓSTICO

De acordo com Ettinger e Feldman (1997) o prognóstico para os gatos com bronquite

alérgica é bom em termos de controle, embora possa ocorrer morte devido à grave

exacerbação dos sintomas. O controle é conseguido através da identificação e eliminação de

um antígeno excitante, ou por remissão espontânea.

Quando a medicação é interrompida, acima da metade dos pacientes exibirá recidiva

das manifestações clínicas. Complicações como a bronquite crônica e enfisema resultam em

um prognóstico menos otimista, embora a freqüência de complicações em gatos não tenha

sido documentada (BICHARD; SHERDING, 1998).

Esta doença requer uma diligência por parte do cliente na administração das

medicações e na observação das exacerbações da doença (BICHARD; SHERDING, 1998).

O veterinário deve realizar uma avaliação diagnóstica inicial completa e manter

suspeita de complicações de broncopatia, como infecções e pneumonias bacterianas

(BICHARD; SHERDING, 1998).

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10 CONCLUSÃO

Pode-se concluir com este estudo, que a asma brônquica nos seus diversos estágios, é

uma doença de risco que pode levar à óbito.

Observam-se diferentes fatores desencadeantes exógenos e endógenos, que

comprometem a qualidade de vida de seu portador, levando a uma angústia respiratória. O

controle pode ser obtido através das várias alternativas terapêuticas.

Acredito que ações preventivas, associadas ao tratamento adequado, podem contribuir

com a melhora significativa dos pacientes.

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