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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL (UNINTER)
Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e Marketing
DIEGO PORTELLA
PROPAGANDA NAZISTA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “TRIUNFO DA
VONTADE”
CURITIBA
2013
DIEGO PORTELLA
PROPAGANDA NAZISTA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “TRIUNFO DA
VONTADE”
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda e Marketing ao Centro Universitário Internacional (Uninter). Orientador: Doutor Doacir Gonçalves de Quadros
CURITIBA
2013
FOLHA DE APROVAÇÃO
DIEGO PORTELLA
PROPAGANDA NAZISTA: UMA ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “TRIUNFO DA
VONTADE”
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social para obtenção do título de Bacharel em Publicidade, Propaganda e Marketing.
Aprovada em 6 dezembro de 2013.
Componentes da banca examinadora: ______________________________ Centro Universitário UNINTER
Prof.--------------------- – Orientadora
______________________________ Centro Universitário UNINTER
Prof. -----------------------
______________________________ Centro Universitário UNINTER
Prof. -----------------------
CURITIBA
2013
DEDICATÓRIA
Não atingimos nossos objetivos sem os respectivos auxílios de pessoas que,
mesmo não sabendo de sua real importância, contribuem para tal êxito. Há de se ter
humildade e respeito em reconhecer os indivíduos que lhe ajudaram nesta
caminhada.
Primeiramente, devo agradecer à minha mãe, a senhora Eva dos Santos, a
pessoa mais importante da minha vida, que sempre me apoiou, me suportou, me
deu uma base sólida não apenas para a escrita deste Trabalho de Conclusão de
Curso, mas durante todos os aspectos que precisei nestes meus 23 anos. Obrigado
Mãe, você já fez mais que precisava.
Agradeço a Doutora Angela Luzia Miranda pela pouca, porém importante
convivência, se tornando uma grande amiga, mentora e instigando o meu anseio
pelos estudos e posteriormente pela docência.
Agradeço ao meu orientador, o Doutor Doacir Gonçalves de Quadros, por tirar
minhas dúvidas, me auxiliar na construção do projeto e se mostrar presente ao longo
de todo este percurso. Esses meses de construção do Trabalho de Conclusão de
Curso se mostraram mais fáceis devido à sua ajuda.
Agradeço a todos os docentes que passei durante os 4 anos de graduação.
Os mesmos professores que me ajudaram a evoluir como profissional, mas mais
importante que isso, evoluir como pessoa.
Agradeço aos profissionais que convivi na redação do jornal Tribuna do
Paraná e as pessoas do Paraná Online, que cativaram em mim o gosto pelo
jornalismo e trouxeram-me satisfação em cada dia convivido durante estes dois
anos. Destaque para os jornalistas Magaléa Mazziotti, Adriano Naressi e Jonatan
Silva pela amizade criada, cada um com sua devida importância, e pela também
assistência em correções textuais do trabalho.
E finalizando, agradeço aos meus grandes amigos Diego Rodrigues de
Souza, Christian Rafael, Mike, Bruna Baggio, Dan, Anderson Meletti e Daniel Soyer
– que tenho grande apreço pela nossa amizade – pela compreensão da minha
ausência durante estes últimos meses de graduação. Quis a vida que não tivesse
irmãos de sangue, contudo, quis igualmente que tivesse vocês.
“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor,
a eletricidade e a energia atômica: a vontade”.
Albert Einstein
RESUMO
Este trabalho procura analisar a utilização da propaganda no regime Nacional Socialista Alemão (1920-1945) evidenciando as técnicas utilizadas pelo governo nazista para obter o controle da opinião pública do país. Com o intuito de identificar estes métodos na prática, esta monografia analisa os conceitos persuasivos empregados no documentário “Triunfo da Vontade”, de 1935, da diretora Leni Riefenstahl, referente ao 6° Congresso de Nuremberg realizado pelo partido nazista. A partir da pesquisa bibliográfica e da análise documental para contextualizar o trabalho e da interpretação de aspectos persuasivos das imagens tiradas do documentário nazista, é possível compreender a utilização da propaganda política e como ela auxiliou o partido Nacional Socialista na manipulação da população alemã. PALAVRAS-CHAVE: Publicidade e Propaganda. Propaganda Política. Adolf Hitler. Nazismo. Triunfo da Vontade.
ABSTRACT
This academic work tries to make an analysis of adverts on National Socialist German Workers’ Party (1920-1945) exploring the ways used by government to control of German public opinion. Trying to identify the method in the practical way, this work makes an analysis of Leni Riefenstahl’s 1935 documentary “Triumph des Willens” shot on the 6th Party Congress, held in Nuremberg. From books and documental research to bring sense to this work it’s possible to understand the use of image as persuasion object in the Nazi Party to handle the German people. KEY WORDS: Advertising. Political Propaganda. Nazi. Triumph des Willens.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
JORNAL 1 - EXEMPLAR DO JORNAL “DER STÜRMER” (1929) ............................ 53
JORNAL 2 - EXEMPLAR DO JORNAL “DER STÜRMER” (1943) ............................ 54
FIGURA 1 - A ÁGUIA DO INÍCIO DA OBRA ............................................................. 66
FIGURA 2 - TRABALHADORES A POSTOS AO REGIME....................................... 68
FIGURA 3 - HITLER OBSERVANDO A JUVENTUDE ALEMÃ ................................. 70
FIGURA 4 - ADOLF HITLER DISCURSANDO NO CAMPO ZEPPELIN ................... 72
FIGURA 5 - HOMENAGEM À HINDENBURG .......................................................... 74
FIGURA 6 - PASSEATA DOS LÍDERES NAZISTAS ................................................ 76
FIGURA 7 - ÚLTIMO DISCURSO DE HITLER NO SALÃO DO CONGRESSO ........ 78
FIGURA 8 - MARCHA DOS SOLDADOS DA SA ...................................................... 80
LISTA DE SIGLAS
BBC - “British Broadcasting Corporation” (Corporação Britânica de
Radiodifusão)
SPD - “Sozialistische Partei Deutschlands” (Partido Socialista da Alemanha)
DAP - “Deutsche Arbeiterpartei” (Partido Alemão dos trabalhadores)
NSDAP - “Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei“ (Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães)
SA - “Sturmabteilung” (Seção de assalto)
UFA - “Universum Film Aktien Gesellschaft” (Sociedade por ações do Universo
dos Filmes)
SS - “Schutzstaffel” (Tropa de Proteção)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 15
3 PUBLICIDADE E PROPAGANDA ......................................................................... 17
3.1 OS PRIMEIROS PASSOS .................................................................................. 18
3.2 PROPAGANDA POLÍTICA .................................................................................. 21
3.3 PROPAGANDA LENINISTA ................................................................................ 25
3.4 PROPAGANDA HITLERISTA ............................................................................. 26
3.5 LEIS DA PROPAGANDA POLÍTICA ................................................................... 26
3.5.1 Lei da simplificação e do inimigo único ............................................................ 26
3.5.2 Lei da ampliação e desfiguração ...................................................................... 27
3.5.3 Lei da orquestração .......................................................................................... 28
3.5.4 Lei de transfusão .............................................................................................. 28
3.5.5 Lei da unanimidade e de contágio .................................................................... 29
4 PROPAGANDA NAZISTA ..................................................................................... 30
4.1 INÍCIO DO SÉCULO – PRÉ-GRANDE GUERRA ............................................... 30
4.2 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL .......................................................................... 31
4.3 REPÚBLICA DE WEIMAR .................................................................................. 33
4.4 ASCENSÃO DO PARTIDO NACIONALISTA ALEMÃO ...................................... 36
4.5 ADOLF HITLER ................................................................................................... 38
4.6 JOSEPH GOEBBELS.......................................................................................... 44
4.7 PROPAGANDA ................................................................................................... 45
4.8 MEIOS IMPRESSOS........................................................................................... 51
4.9 RÁDIO ................................................................................................................. 55
4.10 CULTURA POPULAR ....................................................................................... 56
5 TRIUNFO DA VONTADE ....................................................................................... 58
5.1 CINEMA NAZISTA .............................................................................................. 58
5.2 O DOCUMENTÁRIO ........................................................................................... 60
5.3 PRODUÇÃO ........................................................................................................ 62
5.4 LENI RIEFENSTAHL ........................................................................................... 63
5.5 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “TRIUNFO DA VONTADE” ............................. 65
5.5.1 Imagens e interpretações ................................................................................. 66
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 82
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 86
ANEXOS ................................................................................................................... 90
12
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é identificar os métodos de propaganda utilizados
pelo regime nazista analisando os elementos persuasivos encontrados no
documentário “Triunfo da Vontade”, de Leni Riefenstahl, e por meio desta obra
cinematográfica, compreender como ocorreu a manipulação da população alemã.
A publicidade e a propaganda, atualmente indispensáveis em pleno século
XXI em virtude de sua ampla utilização pelas empresas, têm o seu respectivo
destaque em um fatídico acontecimento que afetou todos os países do mundo: a
Segunda Guerra Mundial. Uma guerra que teve aproximadamente 60 milhões de
mortos entre soldados e civis, abalo nas estruturas de grandes países deixando
apenas resquícios do que um dia foi o Velho Continente, avanço da ciência na
indústria bélica e barbáries executadas independentemente do lado que se lutava,
serviu também para uma total reformulação no conceito da propaganda. E parte
deste aspecto histórico a respectiva curiosidade e anseio na compreensão deste
tema.
A importância deste projeto perante os acadêmicos de publicidade seria
resgatar o conhecimento da história de seu curso aos alunos. A compreensão do
seu surgimento, como e por que a propaganda foi importante na Segunda Guerra
Mundial, e também convém na identificação do estilo de se fazer propaganda
política servindo de comparação à maneira feita antigamente com a atual. No âmbito
social, convém o indivíduo sem conhecimento na área de comunicação, à entender
como a propaganda aliada aos meios de comunicação funcionava anteriormente e,
para seu próprio discernimento, compreender como funciona nos dias atuais
evitando uma respectiva manipulação.
Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda nazista, utilizou-se de seu
absoluto controle dos meios de comunicação para propagar e fortalecer a ideologia
Nacional Socialista em toda a Alemanha. Com isso, também acabou com qualquer
possibilidade de frentes contrárias ao regime, chegassem à população alemã,
monopolizando e manipulando todo o conteúdo transmitido por jornais, cinema,
transmissões de rádios, cultura e literatura. Hitler investiu na cultura do país e
resgatou a tradição de uma antiga Alemanha deixada para trás na gestão anterior.
Literatura, teatro, artes plásticas e a música foram motivo de atenção ao Führer que
atrela sua ideologia a qualquer tipo de cultura desenvolvida em seu período de
13
vigência no poder. O cinema se torna uma nova forma de divulgação ideológica para
o partido. A diretora cinematográfica Leni Riefenstahl, contratada pelo regime
nazista, produziu verdadeiras obras a serviço de Hitler. Uma delas foi o “Triumph des
Willens” (Triunfo da Vontade), documentário produzido da convenção anual de
Nuremberg, em 1934, no qual reuniam os principais chefes nazistas e milhares de
militares alemães com o intuito de glorificar o novo chanceler da Alemanha, Adolf
Hitler.
Esta utilização dos meios de comunicação fez com que o regime obtivesse o
sucesso em toda Alemanha, e mais que isso, manipulasse uma população inteira. O
ódio direcionado aos judeus, a ideia de uma raça alemã superiora, o monstro
personificado nos comunistas e a imagem de uma guerra necessária foram preceitos
transmitidos para uma Alemanha em reestruturação. Este Trabalho de Conclusão de
Curso gera o resgate da história da propaganda por meio da análise deste recorte
temporal e procura esclarecer alguns dos métodos da propaganda ideológica, até
então novos, utilizados pelo Partido Nacional Socialista Alemão que levaram a
manipulação de uma nação. A concordância ou a inércia da população em relação
ao domínio nazista trouxe práticas desumanas executadas contra povos que não
carregavam a linhagem ariana, e a aceitação da falta de liberdade de expressão e o
fato de Adolf Hitler ser tratado na Alemanha como um indivíduo santificado são
fatores de destaque deste projeto.
Levando em consideração que a publicidade e a propaganda do ponto de
vista histórico teve grande influência em uma Alemanha que se reestruturava após a
Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Qual a relação entre o surgimento e
solidificação do regime totalitário alemão com a transformação da propaganda como
curso reconhecido pela ciência? E de que maneira os meios de comunicação
influenciaram na divulgação e propagação do Nazismo? Para compreender essa
relação da propaganda como ciência com o partido Nacional Socialista, pretende-se
elaborar um estudo cronológico desde o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914
até o surgimento do nazismo e posteriormente seus anos de vigência (1919-1945).
Este resgate tem como objetivo descrever algumas das ações que o governo
Nacional Socialista Alemão se utilizou dos meios de comunicação para a publicidade
de seu regime.
Uma das hipóteses desta pesquisa é que por meio da análise do
documentário “Triunfo da Vontade”, de Leni Riefenstahl, será possível identificar de
14
modo claro a atenção dada pelo regime nazista referente à propaganda. A segunda
hipótese seria reconhecer a importância do cinema nazista no processo de
manipulação da população alemã por meio dos elementos utilizados nas imagens do
documentário “Triunfo da Vontade”. E a terceira hipótese é que ocorre o
desenvolvimento da propaganda no mundo após a utilização da propaganda pelo
regime nazista.
O Objetivo geral do trabalho é identificar qual função e a utilização da
propaganda como elemento de propagação midiática para a implantação da
ideologia do regime Nacional Socialista na Alemanha, seguindo objetivos
específicos, como identificar a situação da Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial,
contextualizar o surgimento do nazismo nesta época, ponderar a utilização da
propaganda nazista pelos meios de comunicação e por último analisar o
documentário “Triunfo da Vontade”.
Este Trabalho de Conclusão de Curso está estruturado da seguinte maneira.
Inicia-se expondo a metodologia adotada nesta pesquisa para logo a seguir
descrever alguns traços sobre o surgimento da propaganda, a origem da
propaganda política, a origem do partido nazista à sua ascensão e o seu total
domínio na Alemanha. Os meios de comunicação, usados como instrumentos
importantes para o regime totalitário na Alemanha, terão seções descritivas de sua
utilização pelo regime nazista. E, finaliza-se com a análise do documentário “Triunfo
da Vontade” com o intuito de identificar detalhadamente elementos persuasivos nas
oito imagens selecionadas.
15
2 METODOLOGIA
Um dos métodos adotado ao longo de grande parte deste Trabalho de
Conclusão de Curso será o da pesquisa bibliográfica e o da análise documental. De
forma simplificada, a Pesquisa Bibliográfica é o planejamento global inicial de
qualquer trabalho de pesquisa. Este tipo de pesquisa faz o levantamento de toda
bibliografia já escrita sobre o determinado tema que, por meio de livros,
enciclopédias, revistas, folhetos, boletins, monografias, teses e dissertações, têm o
intuito de aproximar o pesquisador do material já existente. (LAKATOS; MARCONI,
1987, p. 66). Consequentemente, a pesquisa bibliográfica é um dos principais
métodos utilizados podendo comparar diferentes pontos de vista sobre o mesmo
assunto e assim trazer maior veracidade ao seu estudo. Em virtude de o projeto ser
voltado especificadamente ao contexto histórico mundial no século XX, o trabalho
teve seu embasamento nas bibliografias escritas sobre o respectivo assunto, e
documentos da época como gravações, fragmentos de diários, cartas, depoimentos
de personalidades importantes, fotos e filmes.
Análise Documental é uma das técnicas de maior confiabilidade, segundo
Godoy (1995, p. 21). Dados adquiridos possibilitam a validação de informações
obtidas, adquirindo o conhecimento necessário por via da raiz da informação. Estes
arquivos históricos que fornecem os respectivos dados podem ser encontrados no
âmbito público ou privado assim como informações resumidas por órgãos públicos
ou particulares. Os tipos de documentos incluem-se neste tipo de pesquisa a de
forma escrita ou fontes não escritas, como fotografia, gravações, imprensa falada,
desenhos, pinturas, gravações e objetos. (LAKATOS; MARCONI, 1987, p. 57).
Na análise do documentário “Triunfo da Vontade”, foi utilizado o estudo de
caso para identificar os pontos persuasivos do filme de Leni Riefenstahl, e aplicado
em cima do estudo de uma metodologia específica elaborada para obter tal êxito. O
estudo de caso trata-se de uma pesquisa empírica, com procedimentos pré-
estabelecidos que investigue fenômenos em um determinado contexto e
posteriormente gere um relatório crítico ou analítico do assunto. (CHIZZOTTI, 1995,
p. 102). O estudo de caso, segundo Monteiro e Savedra (2001, p. 66), identifica o
resultado deste tipo de pesquisa como uma complementação de outras já utilizadas
anteriormente. No caso do procedimento utilizado no estudo do documentário
16
“Triunfo da Vontade”, será mais bem descrita à metodologia seguida antes de iniciar
a análise, no capítulo 5.
O método utilizado no estudo de caso foi inspirado na monografia de
graduação do publicitário Maurício Brenner, que também faz uma análise do “Triunfo
da Vontade”, porém, Brenner baseia-se suas interpretações a partir de cenas
selecionadas do filme, ou seja, uma sequência de alguns segundos. No caso deste
trabalho, a forma escolhida para análise será selecionar oito imagens que
contextualizam a cena, tanto para uma melhor identificação nos aspectos
persuasivos quanto para mostrar de maneira clara ao leitor. O modo escolhido parte
da divisão da duração do filme em oito partes buscando figuras de impacto ao longo
do documentário com diferentes planos de câmera, formas de gravação e que
abrangem todas as partes do “Triunfo da Vontade”. A justificativa pela escolha desta
metodologia parte do intuito de obter uma observação mais aprofundada e
minuciosa, que ao contrário da análise feita por Brenner (2005), não conseguiu se
aprofundar nas interpretações de suas imagens.
17
3 PUBLICIDADE E PROPAGANDA
Este capítulo trata-se de uma breve contextualização do surgimento dos
termos publicidade e propaganda ao longo da história. Antes de compreender a
utilização da propaganda nazista há de entender como, por que e de que modo
surgiu a publicidade e a propaganda sabendo diferenciar os dois conceitos.
O termo propaganda provém do latim e significa propagar no sentido de
semear o solo. Foi extraída da nomenclatura “Congregatio de propaganda
Fide” (Congregação para a Propagação da Fé), uma organização fundada em 1622
pela Igreja Católica Apostólica Romana, visando propagar o catolicismo, formar
missionários, traduzir livros sagrados e os divulgar pela imprensa e com o objetivo
de se opor aos pensamentos ideológicos da Reforma Luterana1, que surgia e
ganhava força na época. (SANDMANN, 1993). Já a primeira vez que o termo
publicidade apareceu foi no dicionário Acadêmico Francês, “publicité” (Publicidade),
e obtinha cunho político referindo-se a publicação ou leitura de leis e julgamentos. O
sentido jurídico da palavra é perdido no século XIX, e assim, adquire significado
comercial. A designação da palavra é relacionada com o ato de divulgar ao próximo,
tornar público. Sua etimologia advém do latim: público + - (i)dade = Publicidade.
(PINHO, 1990, p. 16). A diferenciação dos termos de publicidade e propaganda, nos
dias atuais, acontece no objetivo estipulado em cada uma. Enquanto a publicidade
tem o lucro como grande pilar de desígnio, a propaganda têm suas raízes plantadas
na divulgação ideológica do respectivo pensamento. Seja religioso ou político, a
priori, ela aparece de modo gratuito.
No Brasil, ambos os nomes são utilizados sem qualquer diferenciação de
uma forma ampla da divulgação de um produto ou uma suposta ideologia, contudo,
em outros países têm outros significados. (MALANGA, 1987). No século passado,
profissionais da área defendiam a diferenciação dos assuntos. Publicidade tinha sua
essência relacionada com o que era transmitido pelos veículos de comunicação. Já
o significado de propaganda tinha sua atividade ligada aos anúncios. (PEDREBON,
2008, p. 19). A conotação da palavra propaganda em alemão, reklame, por exemplo,
é ligado à ideia. No inglês, o vocábulo também é relacionado com a transmissão
1 Reforma Luterana foi um movimento religioso que, por meio da publicação das 95 teses de Martinho
Lutero, criticava inúmeros aspectos da Igreja Católica. (HISTORIANET, 1999).
18
ideológica, mas obtém um sentido pejorativo. O termo “advertising” (Propaganda) já
adquire sentido comercial. (MALANGA, 1987).
3.1 OS PRIMEIROS PASSOS
Desde o nascimento do indivíduo até sua morte, a maior necessidade
estabelecida instintivamente pelo homem é o ato de se comunicar. O recebimento e
a transmissão da mensagem se torna uma obrigação do ser, o fator de se socializar
com outros de sua mesma espécie e criar uma conexão, uma proximidade – mesmo
que temporária – com pessoas da sua mesma classe econômica, social, política ou
cultural. A história nos mostra que a necessidade de comunicação já permeava
desde nossos antepassados. Desde os desenhos dos homens das cavernas, o
objetivo ali era claro: um modo que os aproximassem e mantivessem de certa forma
um vínculo, no caso deles, alertando sobre lugares seguros ou que teriam comida,
ou seja, relacionado à sobrevivência do grupo. (STEPHEN, 1993).
No decorrer dos séculos, segundo Alves (2011, p. 23), civilizações, que
estavam em constante evolução, descobriram o recurso de se comunicarem por
meio de símbolos. Os vigias das torres, no império romano, além de ter como função
a observação, tinham que avisar o restante da tropa utilizando tochas ou bandeiras
de acordo com a regra pré-estabelecida. Os chineses usavam o mesmo artifício.
Tribos africanas se utilizavam de tambores e os índios americanos se comunicavam
por meio de fumaça se tornando evidente os primeiros passos na comunicação
audiovisual.
Ao certo, não se sabe explicar quando aconteceu o primeiro ato de
propaganda. Poderíamos citar que quando o homem pré-histórico pendurava uma
pele de animal na faixada de sua caverna, ele estaria fazendo divulgação aos
interessados de seu produto, contudo, poderia ter outra relação daquela pele estar
na entrada do lugar onde residia. (MARTINS, 1999, p. 35). A autora Márcia Nogueira
Alves (2011, p. 79) menciona em seu livro que talvez a propaganda teve seu início
com os próprios egípcios. A fonte seria um pedaço de papiro de 1000 A.C, guardado
no Museu de Londres, relatando a recompensa oferecida para quem localizasse um
escravo fugitivo. Segundo a autora, a oralidade era predominante nestas primeiras
sociedades, consequentemente os indivíduos com grande poder oratório poderiam
ser considerados garotos-propagandas do período.
19
Os primeiros anúncios, no século XVIII, fugiam da ideia de persuadir o
comprador, mas sim eram utilizados para informar. Os então chamados reclames
tinham como premissa a divulgação de determinados produtos ou serviços.
Propriedades de terra, comércio de escravos, aulas particulares e leilões eram os
avisos mais frequentes que apareciam nos cartazes naquela época. (PINHO, 1990).
Como Marcondes (2002, p. 15) menciona, “a propaganda nasceu prestando
serviços, na forma que poderíamos chamar de primórdios dos classificados
modernos”.
O real cunho da propaganda era o informativo. Divulgar determinadas
localizações nas quais o indivíduo poderia encontrar o devido serviço, ou comprar o
respectivo produto era a importância da existência da propaganda. Aos poucos,
obras artísticas começam a ter veiculações atreladas aos anúncios e com isso o
começo do surgimento da necessidade de persuasão. Artistas famosos da época
incluíam seus textos nos cartazes, ilustrações serviam para chamar a atenção do
público, e os anúncios – que já não serviam apenas para a informação de locais –
divulgavam lojas, pousadas e mercadorias para todo e qualquer interessado.
Após isso, com a Revolução Industrial e sua produção em larga escala, a
necessidade de disseminar uma série de informações e expressões do comércio
para o outro estabelecimento, da indústria para a outra empresa, e lógico, para o
consumidor, se tornou muito importante para a estabilidade do momento vivido
naquela época. (MARCONDES, 2002). A abundância na fabricação dos produtos,
no decorrer dos anos, se despontou como um problema. Martins (2006. p. 28)
comenta que na virada do século, a venda dos excedentes de produção e estoque
era complicada, e o tradicional método de comércio – produzir em excesso e depois
vender – ineficaz.
Quando a inteligência humana descobriu que os processos de persuasão pessoal podiam ser apoiados, ou até mesmo substituídos, por mensagens dirigidas a um público, iniciou-se um fenômeno da comunicação em massa. (PEDREBON, 2008, p. 20).
Isso torna plausível, somado com outros aspectos como da própria
Revolução Industrial, o surgimento do chamado “mercado”, com seus respectivos
consumidores e segmentos. (PEDREBON, 2008, p. 20).
A publicidade e a propaganda são transformadas em instrumentos utilizados
pelos grandes empresários da época, possuidores dos meios de comunicação,
20
como uma forma de propagar seus respectivos interesses – mercadológicos ou
políticos – à população. Chauí (2001, p. 82) afirma que a classe que oprime
economicamente só poderá manter seus privilégios e conservar o domínio, se
também adquirir o controle político da sociedade de massa. Com isso, pode-se
evidenciar a importância da publicidade e propaganda na sociedade em relação ao
auxilio do então sustento da ordem social. Theodor Adorno e Max Horkheimer,
teóricos da escola de Frankfurt, em seu livro “Dialektik der Aufklarung” (Dialética do
Esclarecimento), segue esta concepção da utilização da propaganda no processo de
dominação do mais forte para o mais fraco. Os autores mencionam:
A propaganda faz da linguagem um instrumento, uma alavanca, uma máquina. A propaganda fixa o modo de ser dos homens tais como eles se tornaram sob a injustiça social, na medida em que ela os coloca em movimento. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 119).
Basicamente, a síntese da citação dos teóricos é a utilização da propaganda
para o controle absoluto do indivíduo modificando e moldando homem e
consequentemente a sociedade.
No ano de 1864, foi criada a primeira agência de propaganda do mundo, a J.
Walter Thompson, que se tornaria por várias décadas seguintes a mais renomada
do planeta. O surgimento da empresa aconteceu em virtude da Revolução Industrial,
que com a produção em escala dos produtos, necessitava ampliar seu mercado
consumidor. No início do século XX, a propaganda, aliada com a evolução dos
meios de comunicação, geraram um grande impulso na venda de mercadorias,
transformando as revistas francesas, norte-americanas e inglesas entre os principais
veículos publicitários da época. (ALVES, 2011, p. 79). Contudo, em 1916, nos
Estados Unidos surgiu a Liga Nacional dos Consumidores e tinha o intuito de
resguardar a população consumidora. A associação atacava fortemente a
propaganda publicando listas de fabricantes que tinham bons ou maus anúncios.
Consequentemente, a propaganda se tornou uma prática mal vista pela população,
e muito se dava por conta dos próprios anunciantes, que focavam em divulgar os
produtos estacionados. (ALVES, 2011, p. 80). No início da Primeira Guerra Mundial,
em 1914, a propaganda comercial encalhou sendo utilizada apenas para motivar à
população a se alistar. Outro aspecto utilizado foi na conscientização popular dos
países em conservar energia durante a guerra. (ALVES, 2011, p. 80).
21
Resumidamente até aqui se destacou neste capítulo que o surgimento do
termo propaganda advém da igreja católica e era utilizado para propagar a fé na
religião, que se encontrava em conflito com a Reforma Luterana. Já o termo da
publicidade tem seu surgimento no dicionário acadêmico francês e significava fazer
a leitura ou publicar leis e julgamentos. No século XIX, com a Revolução Industrial,
empresas necessitavam aumentar seu mercado consumidor para conseguir vender
seus produtos fabricados em larga escala e a propaganda e a publicidade auxiliaram
estas indústrias no processo. No século XIX é criada a primeira agência publicitária,
a J. Walter Thompson, sendo considerada por décadas a maior agência do mundo.
Contudo, em virtude da má utilização da publicidade e propaganda, que apenas
divulgava produtos encalhados, a prática se tornou mal vista pela população, e com
o começo da Primeira Guerra Mundial, a propaganda comercial é deixada de lado
sendo utilizada apenas para alistamento militar e conscientizar a população a
conservar energia.
Atualmente, a publicidade e a propaganda se diferem primeiramente pelo
objetivo destinado para sua utilização. Enquanto a publicidade tem o intuito de gerar
lucro para o anunciante, ainda auxiliando empresas a venderem seus respectivos
produtos, a propaganda divulga sua ideologia à população, podendo ser elaborada
por meio religioso, político ou social. Com o discernimento dos dois termos, nos
próximos capítulos será utilizado apenas o termo propaganda.
3.2 PROPAGANDA POLÍTICA
Nesta seção abordaremos as causas e o surgimento da propaganda política
no contexto histórico mundial. Em virtude de este trabalho ser sobre a propaganda
nazista, é necessário discernir a maneira que a propaganda política age, o estilo de
se fazer propaganda e com qual intuito ela é designada pelos governantes.
É na Revolução Francesa, de acordo com o Afonso Albuquerque (2005, p.
217), que o termo propaganda política de fato foi empregado. Conforme é escrito em
seu livro “Advertising ou Propaganda?”, “tratava-se de um esforço dirigido ao
conjunto dos cidadãos, tendo em vista a sua conversão a uma nova ordem”.
Albuquerque cita que no século XIX, com a criação de símbolos nacionais,
bandeiras e os hinos nacionais nas festas políticas, estes instrumentos foram
fundamentais para a construção do termo. Contudo, movimentos políticos já
22
obtinham certo tipo de propaganda anteriormente, fossem eles por escrita em
muros, músicas que ditavam o ritmo dos desfiles, uniformes utilizados pelas tribos e
emblemas. Conforme Tchakhotine (1967, p. 300), súditos obedeciam a seus
respectivos chefes devido às ordens transmitidas por gestos e palavras. Caso
houvesse desobediência por parte do subordinado, a política era feita de acordo
com a vontade dos mandantes.
No século XX, o motivo do aparecimento do termo ocorreu por via da grande
evolução sucedida no século anterior por dois motivos: a estruturação de nações
com o objetivo de manter o país unificado e a Revolução Industrial, que ocasionou
no êxodo rural da população e no desenvolvimento industrial dos países. Com a
aglomeração de pessoas nos grandes centros europeus, o indivíduo passa a ter
valor e contribuição importante para a sociedade. Com a possibilidade do voto e
convocações para guerras, a politica não se diz mais respeito apenas aos chefes de
Estado, mas sim a toda uma nação. O cunho político aflora e acarreta na opinião
nacional e pública dos governados. (DOMENACH, 1955, p. 14).
Este aumento populacional e outros tópicos como a pobreza, a insegurança
econômica e a transformação constante do mercado, se tornam responsáveis pela
agitação política do trabalhador urbano da época, que se encontrava em um estado
de subsistência e buscava por melhores condições de vida e de trabalho.
O progresso dos meios de comunicação, a formação dos aglomerados urbanos, a insegurança da condição industrial, as ameaças de crise e de guerra, a que se juntam múltiplos fatores de uniformização progressiva da vida moderna (língua, costumes e outros), tudo isso contribui para criar massas ávidas de informações, influenciáveis e suscetíveis de brutais reações coletivas. (DOMENACH, 1955, p. 16).
Domenach (1955, p. 16-17) cita aspectos importantes na relação de
fragilidade da população europeia, que se encontrava em um estado de constante
desenvolvimento, mudança e transformação. O descontrole de toda a Europa era
confirmado, o que ajudou na criação dos meios de comunicação de massa pela
necessidade de obter total alcance sobre uma sociedade instável. Nélson Jahr
Garcia (2005, p. 10) afirma que a propaganda política tem como função moldar
maior parte da concepção ideológica dos indivíduos e consequentemente direcionar
o comportamento social do mesmo. De acordo com o autor:
As mensagens apresentam uma versão da realidade, a partir da qual se propõe a necessidade de manter a sociedade nas condições que se
23
encontra ou de transforma-la em sua estrutura econômica, regime político ou sistema cultural. (GARCIA, 2005, p. 10).
Os meios de comunicação possibilitavam na dispersão de informações e na
imediata resposta do receptor. Este rápido retorno permitia uma reformulação
instantânea do emissor obtendo o respectivo controle da massa. Na metade do
século XIX, o livro e o jornal eram privados à elite, devido seu alto custo e seus
longos prazos de impressão. Um indivíduo com recurso de adquirir assinatura de um
determinado jornal era considerado uma pessoa de alto escalão econômico. A
escrita da época conta com um estilo conversador, ponderado, um jornal que tinha
mais cunho de apresentação do que realmente de opinião. Com as máquinas em
desenvolvimento, a invenção da rotativa possibilitou um aumento considerável na
tiragem dos jornais, o que ocasionou no decréscimo dos preços, os deixando
acessível para a massa. Automóveis, aviões e trens transportavam as tiragens e isso
gerava uma entrega mais rápida que anteriormente.
Com o auxilio do telégrafo, a aceleração na obtenção das informações pelas
agências de informação – que substituíram o uso de pombos correios – se tornou
mais constante e as perdas de informações pelo trajeto de entrega, comum naquela
época, não aconteciam mais. O estilo de fazer jornal também muda, o surgimento de
jornais de opinião tem papel determinante na popularização dos jornais. Alta
tiragem, baixo custo, de apresentação popular e a serviço do Estado ou do
capitalismo, este seria o jornal moderno. (DOMENACH, 1955, p. 18).
O limite antes imposto na propagação da palavra, não existia mais após a
criação do rádio. O alcance das ondas sonoras aliada com o poder da oratória
facilitava na transmissão de informações e com isso devolvia a credibilidade nela
anteriormente perdida para a imprensa. Antes a palavra, depois a escrita e com a
criação da fotografia, a imagem se torna o contribuinte mais convincente e fidedigno
da época. Uma foto aliada com a notícia trazia credibilidade ao fato, em suma, a
veracidade não era questionada quando se tinha uma foto. Por meio da palavra, da
escrita e da imagem, a transmissão excessiva de informações do mundo inteiro para
uma população até pouco tempo atrás de exclusa participação, impossibilitando a de
obter um devido controle sobre o conteúdo das informações, gerou uma assustadora
harmonia da opinião da sociedade. (DOMENACH, 1955, p. 19).
No período da Primeira Guerra Mundial, o jornalista Walter Lippmann e o
psicólogo Edward Bernays auxiliaram o governo dos EUA no convencimento da
24
opinião pública americana em uma favorável inserção na Grande Guerra. De acordo
com o jornalista, para a propaganda ter o seu efeito perante a população, deve
existir um bloqueio entre o governo e os comandados, ou seja, a censura. Em seu
livro “Public Opinion” (Opinião Pública), Lippmann menciona o seguinte:
Sem alguma forma de censura, propaganda no sentido estrito da palavra é impossível (...). Acesso ao ambiente real precisa ser limitado, antes que alguém crie um pseudo-ambiente que imagine ser mais adequado ou desejável. (LIPPMANN, 2008, p. 51).
Lippmann acreditava que a política deveria ser restringida apenas ao
governo sem qualquer intervenção ou discernimento da sociedade. Segundo
Lippmann, “a ação política deveria ser deixada a critério dos poucos bem informados
homens de ação. O público é visto como um fantasma, pois a pessoa comum não
consegue ter opinião de qualidade sobre assuntos políticos”. (LIPPMANN, 2008, p.
15).
O contexto de disseminar uma ideologia, manipular a massa e direcioná-la
conforme sua necessidade, de acordo com Armando Sant’Anna (2010, p. 337),
considera o ato como um retorno a essência do termo propaganda. Conforme o
autor, como era o objetivo da Igreja Católica quando criou a “Congregatio de
Propaganda Fide” (Congregação para a Propagação da Fé), a propaganda política
trata-se ainda de difundir a fé ideológica, porém utilizando da psicologia e de
técnicas para obter tal êxito.
Recapitulando, a propaganda política tem seu surgimento na Revolução
Francesa, porém, antes mesmo desta época, movimentos políticos já se utilizavam
de aparatos que auxiliavam na propagação de sua ideologia, como roupas similares
nas tribos, tambores que ditavam o ritmo do movimento e até escritas em muros. No
século XIX, o aspecto fundamental para a consolidação do termo foi a criação de
instrumentos que remetessem ao movimento, como hinos, bandeiras, emblemas,
uniformes. Na Primeira Guerra Mundial, o governo dos EUA se utilizou da
propaganda política para manobrar a população americana em uma situação
favorável no ingresso da guerra. Auxiliados por Walter Lippmann e Edward Bernays,
o governo americano convenceu a opinião pública a aceitar a participação dos
Estados Unidos na Grande Guerra.
A seguir, serão evidenciados os estilos de propaganda política comparando
a propaganda russa com a propaganda nazista alemã. O autor Jean-Marie
25
Domenach menciona algumas leis seguidas por estes dois regimes na construção
de sua propaganda, que também serão vistas na sequência.
3.3 PROPAGANDA LENINISTA
De acordo com o documentário da BBC, Primeira Guerra Mundial, após
sofrer uma dura derrota para a Alemanha na Grande Guerra, em 1916, a Rússia se
afastou das frentes de batalha e entrou em conflito interno. O descontentamento da
população, que trabalhava entre 12 a 16 horas por dia e ganhava-se muito pouco,
aliado com a revolta da massa de operários e camponeses com o regime opressor
de Czar Nicolau II, resultou em diversos conflitos armados no país. Ao final, a
aristocracia de Czar cairia e o Partido Bolchevique assumiria o poder instaurando o
primeiro país socialista do mundo. Vladimir Ilyitch Ulianov, mais conhecido como
Lenin, se tornou líder do país.
Sant’anna (2010, p. 33) comenta sobre a importância de propaganda política
para a instauração do bolchevismo. Segundo o autor, a revolução comunista e o
fascismo seriam apenas utópicos sem a existência da propaganda política. Com
fundamentos marxistas, a propaganda de Lenin pode ser relacionada a duas formas
essenciais para seu devido sucesso: a revelação política e a palavra de ordem.
(DOMENACH, 1955, p. 31). Conforme Sant’anna (2010, p. 338), estas revelações
políticas incidem em evidenciar os reais interesses e fundamentos do governo
bolchevista, e de forma clara, transmitir à população russa suas intenções.
A palavra “ordem” age de forma combativa e construtiva para a propaganda.
Nela, demonstra a intenção de maior prioridade do governo no atual momento tendo
fácil compreensão das massas e ganhando forte apelo político ao público
direcionado. (SANT’ANNA, 2010, p. 338). No bolchevismo, para distinção e difusão
das propagandas, duas espécies de agentes eram designados: os propagandistas e
os agitadores. Ambos tinham como função utilizar-se de todos os meios de
comunicação, adaptar o discurso para cada meio empregado e manipular a opinião
pública de acordo com sua necessidade. (SANT’ANNA, 2010, p. 338).
26
3.4 PROPAGANDA HITLERISTA
Inegavelmente houve uma grande contribuição de Hitler e Goebbels para o
desenvolvimento da propaganda. Diversas técnicas relacionadas à propaganda
foram elaboradas neste período e continuam sendo usadas atualmente.
(SANT’ANNA, 2010, p. 333).
De acordo com Domenach (1955, p. 47-48), o conceito da propaganda
nazista difere-se completamente da propaganda leninista. Lenin baseia a sua
propaganda na transparência política e esclarecida para a sociedade, mais
precisamente à classe proletária. Em suma, o entendimento da propaganda leninista
se dá ao direcionamento objetivo e claro de suas intenções. Exemplificando, o
slogan de Lenin “Terra e Paz” significa exatamente dividir as terras para poder
assinar o tratado de paz. A síntese da propaganda hitlerista não instala seus pilares
na objetividade, na vontade de obter um resultado claro e direto. Lógico, procurava-
se o resultado, mas por meios demasiadamente mascarados ao olho comum. Um
exemplo desse funcionamento foi à afirmação feita por Goebbels de que a nação
alemã participa da guerra “em defesa da civilização cristã”. Para ele, na época,
poderia não representar muita coisa ideologicamente falando, mas serviria como um
método para agitar e comover os alemães à causa.
3.5 LEIS DA PROPAGANDA POLÍTICA
A utilização demasiada da propaganda, tanto por parte dos comunistas
como dos nacionalistas alemães, serviu como base para a análise e compreensão
de algumas leis que Domenach (1955, p. 60) expõe em seu texto. Segundo ele,
independentemente do estilo de propaganda, e com frentes totalmente contrárias
como dos comunistas e nazistas, estas leis são ratificadas por ambas as partes.
3.5.1 Lei da simplificação e do inimigo único
Jean-Marie Domenach fala sobre a lei da simplificação como uma divisão
proposital da doutrina e a argumentação, para um melhor discernimento da opinião
pública. Domenach (1955, p. 72) relata que isto acontece por via de palavras de
efeito e slogans, que transmitem a ideia mais concisa do polo emissor.
27
Progredindo sempre no sentido de maior simplificação, a palavra de ordem e
o slogan tornaram-se os mais breves possíveis e bem inventados pela propaganda.
Vimos que a palavra de ordem tem conteúdo tático: resume o objetivo a atingir; o
slogan apela diretamente às paixões políticas, ao entusiasmo, ao ódio: “Terra e Paz”
é uma palavra de ordem; “Ein volk, ein Reich, ein Führer” (Um cidadão, um império,
um líder), é um slogan. “Nem um tostão, nem um homem para a guerra do
Marrocos” é uma palavra de ordem; “Doriot no poder”, “Rex vencerá” são slogans. A
distinção, aliás, nem sempre é clara. (DOMENACH, 1955, p. 69).
Em relação à individualização do inimigo, Domenach (1955, p. 72-73),
menciona sobre os pontos positivos se de revelar e conjurar um único adversário.
De acordo com Domenach, ao demonizar apenas um indivíduo e não um partido ou
nação, se ganha duplamente: convence seus partidários de que não existe uma
massa contrária à causa, e sim um mau líder que persuadiu seus adeptos. E
também trazer sujeitos de seu concorrente, tornando-se então, favorável a seu
partido.
3.5.2 Lei da ampliação e desfiguração
A lei da ampliação é o excesso na importância de uma positiva notícia a seu
partido. Domenach afirma:
A ampliação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado correntemente pela imprensa de todos os partidos, que coloca em evidência todas as informações favoráveis aos seus objetivos. (DOMENACH, 1955, p. 75).
Resumidamente, Domenach indaga sobre a importância destinada pelo
respectivo partido político em informações que o beneficiariam de algum modo e a
irrelevância das matérias que supostamente o desfavoreceriam. Jean Domenach
também frisa sobre o aproveitamento de frases de impacto, retiradas de seu
contexto e implantadas em outras perspectivas, que eram muito utilizadas e
manipuladas pela imprensa. As notícias transmitidas ao público já vinham
valorizadas no jornal, nada bruto chegava à massa tendo um emprego
propagandista evidenciado nas informações. (DOMENACH. 1955. p. 75-76).
28
3.5.3 Lei da orquestração
A lei da orquestração, em suma, seria a repetição incessante de temas
principais. Domenach (1955, p. 77) fala também que uma reprodução contínua e
idêntica acarretaria em um status monótono, contudo, a ideologia deve ser
transmitida incansavelmente de todas as perspectivas possíveis ao polo receptor.
A propaganda deve limitar-se ao pequeno número de ideias e repeti-las incansavelmente. As massas não se lembrarão das ideias mais simples a menos que sejam repetidas centenas de vezes. As alterações nela introduzidas não devem jamais prejudicar o fundo dos ensinamentos a cuja difusão nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve ser apresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, em uma fórmula invariável, à maneira de conclusão. (HITLER, 1925, p. 171).
O que Adolf Hitler queria dizer em seu livro “Mein Kampf” (Minha luta), seria
a obrigação da propaganda ser transmitida de várias formas diferentes à massa, de
modo que o indivíduo reconheça e memorize o que lhe é passado, mas também que
a propaganda não perca, nem por um momento, o principal objetivo ideológico do
partido. Podemos encaixar nesta lei a famosa frase de Goebbels, em que diz que
“uma mentira contada mil vezes, torna-se verdade”.
Domenach menciona sobre a importância da ideologia do partido estar
sempre em alta: “a qualidade fundamental de toda campanha de propaganda é a
permanência do tema” (DOMENACH, 1955, p. 78). Ou seja, a repetição do que é
necessário transmitir e manter, independente muitas vezes da veracidade, é
comprovado como de maior importância para a empreitada propagandista.
3.5.4 Lei de transfusão
De acordo com Domenach, a lei da transfusão é a identificação de preceitos
existentes na massa e o aproveitamento dos mesmos em uma respectiva adaptação
do gosto popular à sua propaganda. A característica básica de todo orador é a não
contradição de seu público, observando-o primeiramente.
O chefe político apela imediatamente para o sentimento preponderante da multidão (...). O que conta é prender, pela palavra e por associações sentimentais, o programa proposto, à atitude primitiva que se manifestou na multidão. (DOMENACH, 1955, p. 86).
29
Estes preceitos pode-se tirar vantagem tanto de uma mitologia nacional (no
caso Domenach cita a Revolução Francesa e também os mitos germânicos), como
até ódios e complexos existentes em meio a anos de repressão ou revolta com a
atual situação da nação. (DOMENACH, 1955, p. 87). Como exemplo, podemos citar
o estímulo da humilhação sofrida pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial, e
utilizado pelos nazistas, para justificar o ingresso necessário em uma próxima
guerra.
3.5.5 Lei da unanimidade e de contágio
Jean Domenach fala nesta lei sobre o fato de um individuo poder conceber
duas opiniões, mesmo que totalmente contrárias, sobre um determinado assunto.
Isto variaria de acordo com sua esfera privada e pública. Conforme Domenach
(1955, p. 89), “desde que a sociologia existe, tem-se focalizado a pressão do grupo
sobre a opinião individual e os múltiplos conformismos que surgem nas sociedades”.
Ou seja, em um âmbito privado, sua opinião tende a ser clara e verdadeira, que
segundo o autor, não acontece em um espaço público. Sua opinião se adequa – por
pressão social – a imagem dos demais grupos pré-estabelecidos criando-se um
conformismo do indivíduo e um bloqueio natural de sua verdadeira opinião.
Para criar sentido de unanimidade, partidos utilizavam-se de processos no
qual seu respectivo grupo ou formação disposta no local, se sobressaísse a
indivíduos não participantes, de modo que estes mesmos sujeitos passassem
desapercebidos em comparação a mobilização da frente partidária. Desfiles,
congressos e comícios construíam um corpo maior e, consequentemente, pessoas
aglomeradas tendem a agir de forma emocional. (DOMENACH, 1955, p. 92-93). O
autor cita esta mobilização emocional como “lei do contágio psíquico”.
Compreendemos aqui, que independentemente do estilo elaborado de
propaganda, tais pontos são encontrados na propaganda nazista e comunista. As
leis são encontradas tanto no caso da propaganda Leninista, que se utilizava da
objetividade para propagar sua ideologia, quanto na propaganda de Hitler, que
instaurou sua propaganda na subjetividade da informação disseminada à população.
A partir destas leis será possível descrever melhor no próximo capítulo alguns
aspectos relativos à propaganda nazista.
30
4 PROPAGANDA NAZISTA
Neste capítulo falaremos sobre a Propaganda Nazista, contudo, antes de
chegarmos às técnicas utilizadas pelo partido Nacional Socialista Alemão, é
importante entender como surgiu o movimento político, conhecer os aspectos que o
levaram à ascensão e ao domínio completo no período entre guerras na Alemanha.
Este capítulo inicia-se com uma contextualização a partir de alguns aspectos
econômicos e políticos relativos à Alemanha no período anterior a existência do
partido nazista. Finaliza-se este capítulo descrevendo alguns traços sobre duas das
principais lideranças do partido nazista, Hitler e Goebbels, e a identificação dos
métodos utilizados pela propaganda nazista.
4.1 INÍCIO DO SÉCULO – PRÉ-GRANDE GUERRA
Para o auxílio na compreensão do surgimento do partido, serão expostos
aqui os principais pontos que fizeram o movimento político de Adolf Hitler ser criado
e ter se tornado o principal regime daquela época. Esta contextualização também
tem a intenção de fazer com que o leitor compreenda a situação que se encontrava
a Alemanha naquele período.
Entre o final do século XIX e o início do século XX podemos considerar que
a população europeia, de fato, conhecia o significado da palavra paz. Não houvera
no Velho Continente, guerras envolvendo todas as grandes potências. Apesar de
que no oriente o Japão tivesse enfrentado e derrotado a Rússia, não teve grandes
guerras no período de 1871 a 1914. (HOBSBAWM, 1995, p. 29). Contudo, em meio
a esta paz na Europa, existia o descontentamento entre os chefes de Estado das
grandes nações. No século XIX, a divisão da Ásia e da África, beneficiando países
como França e Inglaterra deixando de fora do processo neocolonial à Alemanha e a
Itália, serviu para aumentar, logo em seguida, a irritação entre as potências.
Outros motivos também eclodiram na Grande Guerra, como a disputa
acirrada entre as nações pelo mercado consumidor, a corrida armamentista
realizada pelos Estados para suas proteções de futuros ataques, e também o
revanchismo entre países como França e Alemanha. No final do século XIX ocorreu
a Guerra Franco-Prussiana, que após o termino da mesma resultou na perda por
parte dos franceses da região de Alsácia-Lorena para os alemães. Com este
31
revanchismo declarado, os franceses esperavam ter uma oportunidade de obter as
ricas terras novamente. O nacionalismo exacerbado pelos germânicos e eslavos,
somou-se para que a Europa entrasse em um estado de alerta. A vontade de unir,
em apenas uma nação, todos os países de origem germânica, e o mesmo com os
eslavos, preocupava o resto da Europa. O pangermanismo e o pan-eslavismo2 foi
considerado uma grande ameaçada para as demais nações.
4.2 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
De acordo com o extenso documentário: Primeira Guerra Mundial – To
Arms, produzido pela BBC (British Broadcasting Corporation), quem acendeu a
pólvora e deu início a colisão entre os países foi a Sérvia. Em uma visita a Sarajevo,
capital da Bósnia-Herzegovina e região dos Balcãs3, o arquiduque do império austro-
húngaro e próximo sucessor ao trono, Franz Ferdinand, e sua esposa foram
assassinados. O assassino por trás do ocorrido, Gravilov Princip, foi relacionado a
um grupo terrorista sérvio chamado Mão-Negra. Antes mesmo do assassinato, uma
eminente guerra entre a Sérvia e a Áustria-Hungria já era prevista, no entanto,
aprazada pelas fortes alianças que a governo Sérvio tinha. Mesmo após o
assassinato, ainda existia hesitação da Áustria-Hungria por temer um possível
ataque russo – aliado da Sérvia – em caso de guerra. Contudo, com o apoio
declarado da Alemanha e com a negativa das exigências feitas pelo império austro-
húngaro aos sérvios em relação ao assassinato do arquiduque, no dia 28 de junho
de 1914, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia.
A Grande Guerra, de acordo com Hobsbawm (1995, p. 32), começou como
uma guerra essencialmente europeia entre a Tríplice Aliança ou as chamadas
Potências Centrais, com Itália, império Turco-otomano, Império Austro-Húngaro e
Alemanha contra a Tríplice Entente, formada por Rússia, França, e Reino Unido. No
início, a Itália era aliada das potências centrais da Tríplice Aliança, mas por
considerar que a união tinha cunho defensivo, o estado italiano não se sentia
vinculado com a aliança e devido a isso permaneceu se neutra à guerra. Só em
2 Pangermanismo e pan-eslavismo foram movimentos do século XIX que defendiam a junção dos
povos germânicos e eslavos da Europa. 3 Balcãs é o nome concebido a uma região localizada no sudeste da Europa que abrange países
como Albânia, Áustria, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Grécia, Kosovo, Montenegro, Macedônia, Romênia, Sérvia e uma parte da Turquia. (CASTELO BRANCO, E. L, 2012).
32
1915, através do “Pacto de Londres”4, que os italianos resolveram entrar na guerra,
abdicando da Tríplice Aliança e se unindo com a Tríplice Entente.
Sobre o estilo de guerra adotado pelos países, Eric Hobsbawm relata que:
A Alemanha planejava uma campanha relâmpago (o que seria, na Segunda Guerra Mundial, chamado de blitzkrieg). O plano quase deu certo, mas não inteiramente. O exército alemão avançou sobre a França, inclusive atravessando a Bélgica, neutra (...). (HOBSBAWM, 1995, p. 32-33).
Apesar da estratégia alemã, segundo Hobsbawm (1995, p. 32-33), que
planejava uma campanha rápida e combativa contra a França e depois partir com a
mesma rapidez contra a Rússia, a Primeira Guerra Mundial acabou sendo marcada
por ser uma guerra de trincheira. Soldados dos países em conflito ficavam meses
entrincheirados para poder conquistar pedaços de terras tornando-se assim uma
guerra lenta e tortuosa. Em 1917, acontece um acontecimento importante para o
desfecho da Primeira Guerra. Até então como apenas fornecedores, os EUA viram
seus investimentos ameaçados devido a frequentes ataques de submarinos alemães
aos navios ingleses que traziam consigo suprimentos que abasteciam a Grã-
Bretanha. Devido a este fato, os americanos entraram na Guerra ao lado da Tríplice
Entente. (HOBSBAWM, 1995, p. 36).
A mera superioridade do exército alemão enquanto força militar poderia ter se mostrado decisiva se a partir de 1917 os aliados não tivessem podido valer se dos recursos praticamente ilimitados dos EUA. (HOBSBAWM, 1995, p. 36).
Segundo o autor, a Alemanha obteve sucesso na vitória sobre os russos, no
leste, os expulsando da guerra. Após isso, os alemães puderam se concentrar na
batalha que acontecia na frente ocidental chegando invadir o bloqueio do oeste e
avançando sobre Paris. Contudo, devido os reforços e equipamentos americanos, a
Tríplice Entente se recuperou. Este, de acordo com o Hobsbawm (1995, p. 36), foi o
último esforço de uma Alemanha fadigada pela guerra.
E em outubro de 1918, é citado no documentário da BBC: Primeira Guerra
Mundial - Guerra sem Fim, que após a derrota sofrida pela Bulgária para os sérvios
e com a constatação do esgotamento das forças da Turquia e Áustria-Hungria, a
Alemanha não via outra forma a não ser oferecer à Tríplice Entente uma proposta de
paz. Sendo assim, a França e seus aliados entregaram no dia 8 de novembro as
4 “Pacto de Londres” foi um tratado assinado entre Itália e Inglaterra, em 1915, no qual os italianos se
comprometeram a combater a Alemanha e o império Austro-Húngaro na Grande Guerra em troca de terras desejadas. (HISTORIANET, 1999).
33
condições da rendição aos alemães, e no dia 11 é assinado o termo de cessar-fogo,
que mais tarde ficaria conhecido como “Dia do Armistício”.
Os derrotados, além de assinar uma carta de rendição, tiveram de assinar
acordos punitivos que, conforme Eric Hobsbawm (1995, p. 38), variou de acordo
com a região. No caso da Alemanha, o “Tratado de Versalhes” foi assinado de modo
que se tornasse impossível uma segunda guerra como de fato aconteceria mais
tarde. Elaborado em 1919 pelas grandes nações europeias vencedoras (França,
Grã-Bretanha, EUA e Itália), a Alemanha perdeu vários territórios para países de sua
fronteira – como o retorno de Alsácia-Lorena para a França – de modo que seu
poderio fosse enfraquecido. Seu exército também foi sumariamente reduzido,
proibido de fabricar armas e consequentemente imposto uma multa astronômica por
compensações da guerra. (HOBSBAWM, 1995, p. 39). O acordo “humilhou e
arrasou a Alemanha e por suas condições foi assumido como um verdadeiro ditado
imposto pelos vencedores, sobretudo pela França”. (CURY, 1998, p. 86).
A Primeira Guerra mundial, segundo o documentário da BBC, fez mais de 10
milhões de vítimas, entre soldados e civis, e 20 milhões de feridos.
4.3 REPÚBLICA DE WEIMAR
O início da democratização da Alemanha, instituída em 1919, acontece,
segundo o documentário da BBC: “Primeira Guerra Mundial”, devido à pressão dos
países vencedores da Grande Guerra e também da população alemã que clamava
por uma mudança política. Como Richard descreve,
Em todas as cidades (...) os dias de novembro de 1918 se assemelham aos da capital. Greves, manifestações, assembleias gerais, discursos, votações de resoluções, ocupações de prédios públicos, cortejos fúnebres se repetem sensivelmente da mesma maneira. (RICHARD, 1988, p. 40-41).
Mas foi o exército alemão que forçou o Kaiser5 a abdicar o poder quando se
recusou a defender a família real da multidão revoltada.
A República de Weimar ganhou este nome pelo fato da proclamação da
república alemã ter ocorrido na cidade de Weimar. O primeiro a comandar a
República de Weimar foi o chanceler alemão, Friedrich Ebert, líder do partido SPD,
“Sozialistische Partei Deutschlands” (Partido Socialista da Alemanha), de influência
5 Kaiser significa Imperador em alemão.
34
operária que em acordo com o exército alemão, assumiu o poder. E o último
presidente foi o General Paul Von Hindenburg, um dos comandantes que auxiliou
nas negociações no acordo de rendição da Alemanha na Primeira Guerra e
anteriormente homem de confiança do Kaiser. (BBC: Primeira Guerra Mundial –
Guerra sem fim)
Após a guerra, a República assume a Alemanha e apesar de chegar ao
poder praticamente sem enfrentamentos, o novo modelo de Estado teve de arcar
com a “pesada herança da derrota”. (LOUREIRO, 2005, p. 62). A fragilidade
instaurada pelas perdas da guerra e pelo “Tratado de Versalhes”, que impossibilitava
o desenvolvimento industrial alemão, limitava a recuperação econômica do país.
Posteriormente ao surgimento da República de Weimar, frentes contrárias ao
governo aparecem. Em um lado estava exército e milícias operárias, no outro, o
governo e conselhos de trabalhadores também os comunistas.
Vale ressaltar que nessa época houve um grande engajamento cultural da
população alemã. O sentimento de que o futuro estava em aberto e poderia ser
moldado ao seu modo influenciou na inovação cultural.
Nos meses de agitação revolucionária que se tinham seguido o armistício, um movimento de atividade criadora de uma amplitude sem precedentes tivera início em toda a Alemanha. Todas as paixões reprimidas explodiam, todos os laços artificiais se quebravam. A vontade de romper com o passado, de construir algo novo, inflava a maior parte de uma geração de poetas e pintores que, apenas saídos da adolescência, tinham sido atingidos pelas atrocidades da guerra. Seu ideal? Regenerar a humanidade, abrir caminho para o reinado de um homem novo, de um homem verdadeiramente humano! (RICHARD, 1988, p. 253-254).
No final de 1922, já com um novo chanceler no comando do país alemão,
Wilhelm Cuno, a França começou a exigir o pagamento das indenizações
relacionadas ao acordo do “Tratado de Versalhes”. Alegando garantir o cumprimento
do pacto por parte da Alemanha, os franceses ocuparam o Vale do Ruhr, região
metropolitana da Alemanha. Em decorrência deste acontecimento, a Alemanha se
torna vítima de inúmeros protestos da população. Com isso, o governo decreta a
“resistência passiva”6 no país e consequentemente os operários das regiões
invadidas pelos franceses entraram em greve. Isso resultou na dura repressão do
exército francês matando dezenas de operários. Este acontecimento agravaria a
situação econômica da Alemanha ocasionando na crise social, hiperinflação,
6 Resistência passiva significa resistir contra o opressor sem recorrer à violência.
35
salários em baixa, e a quebra de instituições. Como Reis Filho (1984, p. 34)
comenta: “a crise, além de econômica, era social e moral”.
Segundo o autor E. J. Gumbel:
A Primeira Guerra fora financiada pela inflação. A República deu continuidade ao processo inflacionário, que durou até 1923. Esse processo alcançou uma dimensão sem precedentes. De 1917 até meio de 1923 o valor do dólar subiu de 4,2 Marcos para 10.000,00 Marcos (...). Em outras palavras, em 5 anos, o Marco Alemão caiu 10¹² parte de seu valor original. Isso criou degeneração moral, uma corrupção alastrada (...). Por esses motivos, grandes parcelas da população tornaram-se hostis ao governo. (GUMBEL, 1958, p. 203-219).
A crise vivida pelo país abriu também precedentes para a radicalização
política e movimentos fascistas começaram a ganhar força. Os partidos extremistas
culpavam a república e o sistema parlamentar pelo fracasso alemão, que logo
veriam a queda do governo de Cuno. Porém, a república seguia no poder e
conseguia apesar da sua fragilidade, manter-se na liderança da Alemanha. Em
1923, sanou a hiperinflação através de um plano arquitetado pelo ministro Hjalmar
Schacht, que ficaria conhecido como “Plano Schacht”. Foi também criado o
Rentenmark, uma nova moeda que circulava separada do Marco, mas em vez do
lastramento ser feito a partir do ouro, foi adotado por uma hipoteca sobre a
propriedade das empresas e a produção agrícola. Surtiu efeito e conseguiu manter
uma temporária estabilidade econômica. (THALMAN, 1988, p. 47-48).
No final da década de 20 aconteceu um fato que balançou de vez com a
estrutura da república e consequentemente foi um dos grandes responsáveis pela
queda da mesma. A “Grande Depressão” de 1929, iniciada nos EUA com a quebra
da Bolsa de Nova York e alastrada para as grandes potências industrializadas da
Europa, foi o marco que decretou desestabilizou a República de Weimar e se
manteve até seu derradeiro fim. A crise abalou todas as grandes nações da Europa
e rapidamente instaurou o caos econômico na Alemanha. Investidores que
aplicaram seu capital no país alemão, em 1923, sumiram, e a taxa de desemprego
aumentou exacerbadamente.
De acordo com Brener:
Nos primeiros meses de 1929, cerca de quatrocentos milhões de dólares em ouro voaram dos bancos centrais de outros países rumo a Wall Street. Só o Reichsbank, o Banco Central Alemão, perdeu 41 milhões de dólares no período e tentou estancar a hemorragia oferecendo taxas de juros mais altas, na expectativa de seduzir os investidores. O juro alto, por sua vez, torna o dinheiro mais caro e inibe os empréstimos às atividades produtivas. (BRENER, 1996, p. 8-9).
36
Devido a forte crise econômica e política do país, a instabilidade da
Alemanha só aumentava e o descontentamento dos chefes de indústrias e
aristocratas também. O fim da República de Weimar aconteceria após da escolha de
Adolf Hitler, no dia 30 de janeiro de 1933, para chanceler alemão, devido à
nomeação do atual presidente, Paul Von Hinderburg. No próximo capítulo falaremos
melhor sobre esta chegada ao poder. Segundo o documentário da History Channel,
“A Vida de Hitler”, o fracasso da República pode ter ocorrido devido à pressão
imposta pelos vencedores da Primeira Guerra em democratizar o país alemão. O
sistema político não foi algo desejado.
4.4 ASCENSÃO DO PARTIDO NACIONALISTA ALEMÃO
Como se observou na seção anterior, os anos seguintes pós-Primeira
Guerra não foram fáceis para a Alemanha, que tinha de se preocupar em combater
a crise econômica e política do país, além de cumprir com o acordo assinado no
“Tratado de Versalhes”. Em meio a esse caos instaurado no país vários movimentos
políticos começam a aparecer na Alemanha e, antes mesmo da guerra acabar,
surge um pequeno partido político criado em Bremen e intitulado de “Freier
Ausschuss für einen deutschen Arbeiterfrieden” (Comitê livre para uma paz dos
trabalhadores alemães). Em 1919, o nome foi alterado para “Deutsche
Arbeiterpartei” (Partido Alemão dos trabalhadores, sigla DAP). O partido, segundo
Ribeiro Junior (1991, p. 23), instalou seus pilares em uma ideologia de unificação do
país, também procurando organizar um Estado confiante, disciplinador, dedicado e
honroso.
O DAP seria renomeado, em 1920, para “Nationalsozialistische Deutsche
Arbeiterpartei“ (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, abreviado
NSDAP) que faria no mesmo ano sua primeira manifestação pública ocorrida em 24
de fevereiro já com seu novo movimento. Neste momento o partido foi reformulado e
novas diretrizes, que visavam enfrentar os inúmeros movimentos existentes na
época, principalmente os de esquerda, foram inseridas. (HITLER, 1925, p. 344).
Esta reestruturação, segundo Hitler, definiria o principal objetivo do partido: a
conquista nacional da grande massa do povo alemão.
Deve ser esta a mais alta e importante tarefa de um movimento, cuja eficiência não se deve esgotar na satisfação de um movimento, mas deve
37
submeter toda a sua ação a um exame sobre as consequências futuras prováveis. (HITLER, 1925, p. 319).
O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães tem sua ideologia
instaurada em 25 teses elaboradas em que Hitler (1925, p. 344) cita como “novo
movimento”. Basicamente, estas leis falam sobre uma unificação da nação alemã
através da força e da propaganda, excluindo qualquer movimento contrário a causa
e evidenciando a comunidade judaica como grande responsável pelo atual
momento. O partido utiliza-se da política fascista como base de seu governo, muito
embora adeptos ao ideal considerassem como um movimento nacionalista e
totalitário do socialismo. O autor Ribeiro Junior (1991, p. 9) acredita em causas
semelhantes para o aparecimento tanto do fascismo na Itália, como o nazismo na
Alemanha. Segundo o autor, o surgimento parte de um sistema político democrático
falho, dúbio, poderosa frente esquerdista, nacionalismo desgastado que se baseia
apenas em glórias passadas e grave crise econômica causando miséria e
desempregos em massa.
No dia 9 de novembro de 1923, ao comando de Adolf Hitler, aconteceria um
ocorrido que mais tarde ficaria conhecido como “Münchener Putsch” (Golpe de
Munique). Este acontecimento tratava-se de uma tentativa falha do Partido Nacional
Socialista em aplicar um “Golpe de Estado”, na capital da Baviera, com o intuito de
assumir o poder. O plano fracassou, vários integrantes do partido foram presos entre
eles o próprio Hitler, e 16 militantes do partido foram mortos (HITLER. 1925. p. 2). O
ocorrido, aliado com uma temporária estabilidade econômica da República,
contribuiu para a diminuição do eleitorado nazista no ano seguinte.
Segundo Eric Hobsbawm:
Após a recuperação econômica de 1924, o Partido dos Trabalhadores Nacionais Socialistas foi reduzido a uma rabeira de 2,5 a 3% do eleitorado, conseguindo pouco mais da metade do que o pequeno e civilizado Partido Democrático alemão (...) nas eleições de 1928. (1995, p. 132).
Mas a quebra na bolsa de Nova York, de 1929, se tornaria um marco para a
ascensão do partido nazista na Alemanha. Após a crise mundial no final da década
de 30, nos anos de 1932 e 1933, apenas 56% da população alemã estava
empregada. Consequentemente o colapso econômico estava novamente instaurado
na República, pois devido à inflação pós-guerra, se encontrava mais frágil que os
demais países. Um ano após a “Grande Depressão”, o partido teve um aumento
considerável em adeptos à causa subindo para mais de 18% e tornando-se o
38
segundo partido mais forte da Alemanha. Três anos depois, alcançaria 37% de
aprovação nacional se transformando no maior partido. Torna-se evidente o
crescimento se comparar o eleitorado de 1928, pré-crise, com o mesmo durante a
crise de 1929. (HOBSBAWM, 1995, p. 132).
Em 1932, os grupos conservadores alemães, chamados junkers, junto com
os donos de empresas do Vale do Rühr eram demasiadamente prejudicados por
consequência da crise política que vivia a República e viam Adolf Hitler como uma
boa solução para os membros aristocratas e chefes das indústrias. O presidente da
República de Weimar, o general da Primeira Guerra, Paul Von Hindenburg, reeleito
em março daquele mesmo ano, por influência do ex-chanceler do Reich da atual
República, Franz Von Papen, que gozava de grande admiração do presidente, com
o intuito de voltar a fazer parte do parlamento, indicou Hitler para chanceler alemão,
cargo que estava até então com Kurt Von Scheleicher. E assim, conforme o
documentário da History Channel, “Terceiro Reich: A Ascensão”, em 30 de janeiro
de 1933, após a renúncia de Scheleicher, Hindenburg escolhe Adolf Hitler para o
cargo de chanceler7 alemão.
4.5 ADOLF HITLER
Hitler nasceu no dia 20 de abril de 1889 em uma pequena cidade chamada
Braunau no Inn, na Áustria. Filho de Alois Hitler e Klara Hitler, um funcionário público
e uma dona de casa, Hitler também teria uma irmã, Paula Hitler, a mais nova da
família.
O Führer8 conta em seu livro que na sua infância era uma criança agitada de
temperamento difícil, talvez seu talento em discussões tenha começa nesta época.
Segundo ele, “eu me tinha tornado um pequeno chefe de motins, que, na escola,
aprendia com facilidade, mas era difícil de ser dirigido”. (HITLER, 1925, p. 7).
Também nesses anos, o chanceler conta que começou o gosto por assuntos
militares, ao encontrar em uma biblioteca, uma edição popular da guerra franco-
prussiana de 1870-1871 tornando-se a leitura favorita da criança. Mas apesar de
gostar do curso de humanas, seu pai achava melhor, devido o temperamento
7 Chanceler é um título dado ao primeiro-ministro de alguns países. No caso da Alemanha, era o
segundo cargo mais alto, abaixo apenas do presidente. 8 Führer significa líder em alemão.
39
explosivo e seu caráter, ingressar seu filho em uma escola profissional até pela certa
habilidade que tinha em desenhar. Hitler descreve que o desejo de seu pai era que
seguisse a carreira de funcionário público também, uma ideia totalmente refutada
pelo filho. (HITLER, 1925, p. 10).
Na escola profissional, o talento de Hitler para o desenho era claro, e apesar
de ter sido um dos motivos da escolha da escola, nunca tinha imaginado uma
carreira de pintor para seu filho.
Pela primeira vez (...) fui interrogado sobre que profissão desejava então escolher e quase de repente deixei escapar a firme resolução que havia adotado de ser pintor, ele quase perdeu a palavra. (...) - Pintor, não! Enquanto eu viver, nunca! (HITLER, 1925, p. 10-11).
Depois disso, em confronto ao seu pai, Hitler resolveu abdicar de matérias
na escola que não tivessem proveito à sua carreira de pintor. Suas notas, segundo
ele, eram extremas, excelentes para umas, sofríveis para outras. Também conta que
seu nacionalismo foi aflorado devido a aulas entusiastas do seu antigo professor de
história, Leopold Pötsch, da escola profissional de Linz.
Era ele um homem idoso, bom, mas enérgico e, sobretudo pela sua deslumbrante eloquência, conseguia não só prender a nossa atenção, mas empolgar-nos de verdade. Ainda hoje, lembro-me com doce emoção do velho professor que, no calor de sua exposição, fazia-nos esquecer do presente, encantava-nos com o passado e do nevoeiro dos séculos retirava os áridos acontecimentos históricos para transformá-los em viva realidade. (HITLER, 1925, p. 15).
Ainda aos 13 anos, em 1903, perdeu seu pai, vítima de um ataque
apoplético9, Adolf Hitler fala que o maior desejo de seu pai, apesar de suas
frequentes brigas devido a sua contrariedade em se tornar funcionário público, era
facilitar a vida de seu filho, poupando do sofrimento que o experimentara em outrora.
Sua mãe, obstinada em continuar a educação de Hitler e seguir conforme o desejo
de seu falecido marido, tentou obrigar seu filho a seguir a carreira de funcionário
publico, esforço novamente em vão. (HITLER, 1925, p.18). Sua mãe veio a falecer
em 1907, como o próprio Hitler cita: “uma longa e dolorosa enfermidade que, logo de
começo, pouca esperança de cura oferecia. Não obstante isso, o golpe atingiu-me
atrozmente. Eu respeitava meu pai, mas por minha mãe tinha verdadeiro amor”.
(HITLER, 1925, p. 19).
9 Ataque Apoplético é a designação antiga de AVC - Acidente vascular cerebral.
40
Com 18 anos, Adolf Hitler recebeu uma pensão destinada aos órfãos,
porém, mal dava para as necessidades básicas. Decide se mudar para Viena e
seguindo os passos de seu pai tentar ser “alguém”, mas em caso algum, funcionário
público. Seria a segunda vez que Hitler se encontrava na grande cidade, a primeira
foi para prestar o primeiro exame admissional, aos 16 anos, na escola pública de
pintura. Em Viena novamente, o adolescente tentaria entrar na academia, e o
resultado foi o mesmo do primeiro exame: reprovado. (HITLER, 1925, p. 19-20).
Segundo ele, sua não admissão aconteceu não por causa da escola de artes, mas
sim pela vocação de Hitler, que seria outra.
Quando me apresentei ao diretor para pedir-lhe os motivos da minha não aceitação à escola pública, assegurou-me ele que, pelos desenhos por mim trazidos, evidenciava-se a minha inaptidão para a pintura e que a minha vocação era visivelmente para a arquitetura. (HITLER. 1925. p. 20-21).
Após isso, para sobreviver, Adolf Hitler trabalhou como ajudante de operário,
estudava nas horas vagas e as vezes trocava sua refeição por uma ida à ópera,
suas preferidas eram as compostas por Richard Wagner. (HITLER, 1925, p. 22). Em
1910, sua situação se modifica em Viena e começa a ganhar seu dinheiro por conta
própria, como desenhista e pintor em aquarela. De acordo com Hitler, ainda ganhava
muito pouco, mas o suficiente para adquirir certos lazeres e tempo para os estudos.
Hitler afirma que o começo de sua concepção política, que mais tarde seria melhor
desenvolvida e implantada na ideologia do Partido Nacional Socialista, foi elaborada
após muito estudo, debate e observação da política existente de Viena. (HITLER,
1925, p. 120).
Adolf Hitler, em 1912, com seus 24 anos incompletos, se muda para
Munique e continua vendendo quadros e desenhos para se manter e continuar seus
estudos. Segundo Hitler:
Aquela cidade parecia-me tão familiar como se eu tivesse morado há longo tempo dentro de seus muros. Isso provinha do fato de que os meus estudos a cada passo se reportavam a essa metrópole da arte alemã. Quem não conhece Munique não viu a Alemanha, quem não viu Munique não conhece a arte alemã. (HITLER, 1925, p. 121).
Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, em 1914, Adolf Hitler solicita
dispensa de sua apresentação ao exército da Áustria para assentar praça no
regimento alemão. Como a secretaria do governo estava muito atarefada, no dia
seguinte, sua solicitação foi aceita. “Poucos dias depois, eu envergava a farda, que
só quase seis anos mais tarde deveria despir”. (HITLER, 1925, p. 155).
41
Sua participação na Grande Guerra o fez amadurecer. O jovem soldado,
junto com todo o exército alemão, em dois anos, se transformou em um bravo
combatente. (HITLER, 1925, p. 157). Foi atingido na perna, dia 7 de outubro de
1916, se afastando dos confrontos, mas depois retorna ao front10 e lá permanece
quase ao final da Guerra até sua infantaria ser atingida por granadas de gás, em 13
de outubro de 1918, o deixando temporariamente cego. E foi no hospital enquanto
se recuperava do ataque de gás, que soube das notícias da Revolução. O império
tinha caído, a República se erguido. (HITLER, 1925, p. 180-191).
O velho e digno senhor parecia tremer ao nos comunicar que a casa dos Hohenzollern não mais poderia usar a coroa imperial e que a Pátria se tinha transformado em república, e que só restava pedir ao “Todo Poderoso” que concedesse a sua bênção a essa transformação e não abandonasse o nosso povo do futuro. (HITLER, 1925, p. 192).
Após a perda da Guerra, Adolf Hitler retorna para Munique. Ele continuaria
no exército, desta vez como informante militar, e cabia ao futuro Führer investigar
colegas que organizavam revoltas marxistas dentro do exército. Um dos partidos
que Adolf Hitler espionou, segundo o documentário da History Channel, “A Vida de
Hitler”, foi uma agremiação que costumava se reunir em uma cervejaria, se
intitulavam Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP). Hitler conta em seu livro
“Mein Kamp” (Minha Luta), que ao assistir uma assembleia, o partido pareceu como
quaisquer tantas outras associações que estavam surgindo naquela época.
Contudo, ao acabar a reunião, lhe foi entregue um panfleto que expunha
resumidamente a ideologia do partido no qual Hitler se identificou com seus
preceitos políticos. Motivado pela curiosidade, Adolf Hitler participou de mais uma
próxima reunião ficando em evidência a falta de preparo e o amadorismo deste
partido, porém, após dois dias, resolve entrar naquele pequeno partido (HITLER,
1925, p. 208-211). Como Hitler fala ao final do capítulo de seu livro, “não havia e não
podia haver um recuo. Aceitei a minha inclusão como sócio do Partido Trabalhista
Alemão e recebi um cartão provisório de sócio, com o número sete”. (HITLER, 1925,
p. 212).
Encarregado das propagandas do Partido Nazista, Hitler tinha como objetivo
arrecadar fundos e novos ingressantes ao partido. Sua extrema oposição aos judeus
em seus discursos era fator de atração perante os partidos de extrema direita e dos
grupos antissemitas. Outro fator foi sua relação aproximada com o exército,
10
Neste caso, “retorna ao front” significa voltar à frente de batalha.
42
incorporando assim, grupos paramilitares. Seu poder oratório, aliado com a grande
encenação montada em seus comícios, serviu para aumentar consideravelmente os
números de adeptos do partido e também lhe serviu para chegar à presidência do
partido nazista, em 1921. (HITLER, 1925, p. 434). Naquele mesmo ano é fundada a
“Sturmabteilung” (Seção de assalto, abreviado SA), que por meio da intimidação,
força bruta e medo tinham o intuito de proteger e ganhar as ruas a favor do partido.
(HITLER, 1925, p. 503).
No dia 9 de novembro de 1923, como falamos no capítulo anterior, ocorreu o
“Münchener Putsch” (Golpe de Munique), 16 integrantes foram mortos e Adolf Hitler,
preso. Porém, de acordo com o documentário da History Channel, “Terceiro Reich: A
Ascensão”, este ocorrido serviu para aumentar ainda mais a popularidade de Hitler,
que agora havia se tornando uma personalidade conhecida em toda a Alemanha. As
mortes de seus companheiros ocorridas naquele dia não seriam em vão. Tornaram-
se mártires e objetivo de utilização para incitar a bravura dos colegas no intenção de
seduzir mais adeptos ao partido. Adolf Hitler aproveitou o tempo enquanto passou
na prisão, para escrever seu livro “Mein Kampf” (Minha Luta). De acordo com o
documentário “A Vida de Hitler”, Hitler ditou totalmente seu livro a Rudolf Hess. O
começo do livro, o até então futuro chanceler relata sua estadia no presídio militar de
Landsberg. (HITLER, 1925, p. 1).
Seu livro, Hitler destina o primeiro volume aos 16 mortos no Golpe de
Estado.
As chamadas autoridades nacionais recusaram aos heróis mortos um túmulo comum. Por isso eu lhes dedico, para a lembrança de todos, o primeiro volume desta obra, a fim de que esses mártires iluminem para sempre os adeptos do nosso movimento. (HITLER, 1925, p. 2).
Em 1925, Adolf Hitler é libertado de Landsberg e retorna às atividades
políticas. Conforme é mencionado em “A Vida de Hitler”, ele fez uma reestruturação
no partido que no atual momento se encontrava em ruínas. Também pensando
concorrer às eleições para a presidência, freou o ímpeto violento da SA, que
causava mal estar à população alemã. Assim, depois de tomadas as devidas
providências, “atraiu para o movimento nazista a classe média e os industriais,
obtendo 6 milhões de votos e 107 cadeiras no Parlamento”. (II Guerra Mundial: 60
anos, 2005, p. 36).
43
Em 1932, foi a única vez que Adolf Hitler concorreu à presidência. De acordo
com “A Vida de Hitler”, o futuro chanceler se sentiu confiante para desafiar o espírito
paternal da Alemanha, Paul Von Hindenburg. Hitler foi atrás dos aristocratas e
chefes industriais para angariar fundos à sua campanha. Chegou a fazer 20
discursos em uma semana viajando por todo o país alemão, contudo, a maioria dos
votos foi para Hindenburg e Hitler perderia a eleição. No entanto, Hitler continuava
muito popular e tinha o apoio dos grandes empresários, banqueiros e investidores
da época, que o viam como uma solução no combate ao comunismo. Então assim,
devido à forte pressão política e também por influencia de Von Papen, Hindenburg o
nomearia chanceler da Alemanha. Após assumir o cargo, Adolf Hitler, de acordo
com o documentário, “A Vida de Hitler”, acontece um incêndio no parlamento
alemão, que serviu para o chanceler usar os marxistas como bode expiatório. Hitler
começaria então a prender todos os comunistas ou integrantes de partido que
fossem contra o governo. É neste momento que começam a surgir os primeiros
campos de concentração.
E no dia 23 de março de 1933, 52 dias após se tornar o chanceler, segundo
“A Vida de Hitler”, os chefes militares votaram na fusão do cargo de chanceler com o
da presidência da república, que dava plenos poderes a Adolf Hitler para controlar a
Alemanha. Em 14 de julho do mesmo ano, o chanceler promulgaria a lei do
unipartidarismo, uma norma que acabaria com qualquer partido na Alemanha, só
podendo existir o de Adolf Hitler. E em 2 de agosto de 1934, o idoso presidente Paul
Von Hindenburg, vem a falecer assumindo o poder Adolf Hitler. Também em
setembro de 1934, aconteceria o 6° Congresso de Nuremberg, o primeiro com Adolf
Hitler no poder. A convenção foi gravada e posteriormente se tornou uma das
principais obras associadas ao nazismo, “Triumph dês Willens” (O Triunfo da
Vontade), dirigido pela cineasta Leni Riefenstahl.
Adolf Hitler morreu no dia 30 de abril de 1945, em um bunker11 em Berlim.
De acordo com “A Vida de Hitler”, pouco antes de seu suicídio, Hitler se casou com
Eva Braun, uma assistente de seu fotógrafo pessoal.
11
Bunker é uma estrutura de defesa construída para suportar ataques inimigos.
44
4.6 JOSEPH GOEBBELS
O outono de 1924 marca na história do partido nazista a entrada do grande
suporte que Hitler viria a ter em sua incessante busca pelo controle da Alemanha.
Nascido no dia 29 de outubro de 1897, em Rheydt, uma pequena cidade industrial
da Alemanha, Goebbels era de família católica, filho de Fritz Goebbels e Marian.
Seus pais queriam que seu filho seguisse a vida de padre, pois além de serem
católicos, a igreja arcaria com os gastos de seu ensino superior. (IRVING, 1996, p.
23). Enquanto cursava o doutorado, para se manter, Goebbels trabalhou em banco e
também na bolsa de valores em Köln, na Alemanha. No dia 18 de novembro de
1921 Joseph Goebbels termina sua teve e se consagra Doutor em filologia pela
Universidade de Heidelberg. (IRVING, 1996, p. 42).
Após o término de seus estudos, Goebbels recebia muito pouco no banco
que trabalhava e devido a isso resolveu abandonar o emprego. Desempregado e
sem dinheiro, Goebbels encontra-se desanimado e sem qualquer perspectiva de um
futuro próspero. Até que em 1922, o Doutor conheceu partido Nacional Socialista
Alemão e se afiliou ao partido. De acordo com o documentário “O Experimento
Goebbels”, sua grande habilidade como orador e político fica em evidência entre os
partidários nazistas. O documentário, elaborado a partir de relatos escritos por
Goebbels em seu diário, relata a improvisação do Doutor, que nunca elaborava o
que falaria em discurso. O reconhecimento veio logo após. Recebeu o cargo de
administrador do NSDAP, na região de Elbelfeld, e editor de uma revista nazista
lançada quinzenalmente. No dia 26 de outubro de 1926, graças a um conflito gerado
entre Adolf Hitler e a ala anticapitalista do partido Nazista, que se instalava em
Berlim, Joseph Goebbels seria nomeado líder do distrito, tendo como objetivo
conquistar a confiança dos alemães e tomar o controle da situação (IRVING, 1996,
p. 93).
Joseph Goebbels não gostava de pessoas, mas principalmente não gostava
dos judeus e comunistas. O seu ódio e sua repulsa pelos judeus e esquerdistas
eram passados para a população alemã por folhas impressas. Com o cargo de
editor do jornal “Der Angriff” (O Ataque), Goebbels publicava ameaças aos judeus e
em contrapartida seduzia a população alemã com promessas de um futuro melhor.
Apesar do ódio exacerbado, de acordo com o documentário “O Experimento
Goebbels”, o Doutor também considerava a propaganda bolchevista muito útil. Ao
45
assistir “Os Dez Dias que Comoveram o Mundo”, de Eisenstein, Goebbels
considerou o filme muito superficial, porém o cunho propagandístico era alto e com
isso poderia se aprender alguma coisa dos marxistas.
Contudo, o ano de 1928 é marcado por um grande salto na carreira política
de Goebbels. Hitler nomeia o exímio orador, diretor da propaganda do Partido para
toda Alemanha. Com esse novo cargo, Goebbels começa por em prática a
elaboração do mito, o mito chamado Adolf Hitler. Joseph Goebbels tinha “a função
de mostrar a imagem de Hitler e a organizar os eventos, passeatas, comícios e
congressos”. (II Guerra Mundial: 60 anos, 2005, p. 36). No mesmo ano, segundo o
“Experimento Goebbels”, Goebbels foi eleito para o “Reichstag” (Parlamento
alemão) em uma das 12 cadeiras destinadas ao Partido nacional Socialista.
No dia 20 de dezembro de 1931, Joseph Goebbels se casou com Magda
Quandt, sua única esposa até seu suicídio em 1945, e com ela, teve seus 6 filhos,
Heidrun, Holdine, Hedwig, Helmut, Hildegard e Helga. Em 1933, após o incêndio do
Parlamento, já com Adolf Hitler no cargo de chanceler, Joseph Goebbels é nomeado
Ministro da Propaganda do Reich tornando-se responsável por controlar e
supervisionar a imprensa e a cultura alemã. O Ministro da Propaganda manteve se
fiel a Adolf Hitler durante toda a Segunda Guerra Mundial, até seus últimos
momentos, no bunker, em Berlim. Em seu testamento, Hitler nomeou Goebbels
como chanceler da Alemanha, função que ficou por apenas um dia. No dia 1° de
maio de 1945, Joseph Goebbels, sua esposa e seus 6 filhos se suicidam logo após
os soviéticos invadirem Berlim. (History Channel: “O Experimento Goebbels”).
4.7 PROPAGANDA
Com a utilização da propaganda, “Hitler, sem recorrer à força militar,
conseguiu a anexação da Áustria e da Tchecoslováquia ao Reich e a queda da
França”. (RIBEIRO JÚNIOR, 1991, p. 71). Adolf Hitler conta em seu livro que
aprendeu a utilizar a propaganda com seus inimigos, os marxistas.
Não nos faltava oportunidade para pensar sobre essa questão. Infelizmente as lições práticas eram fornecidas pelo inimigo e custaram-nos caro. O adversário aproveitou, com inaudita habilidade e cálculo verdadeiramente genial, aquilo de que nos havíamos descuidado. (HITLER, 1925, p. 167).
46
Hitler ao ingressar no partido nazista, em 1919, como já mencionado, fica
encarregado da propaganda do partido, uma área considerada por ele como de
maior relevância para o crescimento da agremiação. De acordo com o Hitler, a
propaganda deveria preceder à organização, conquistando o material humano.
(HITLER, 1925, p. 537). Ele também acreditava que um grande teórico dificilmente
seria um líder capaz de mover multidões.
Um agitador capaz de comunicar uma ideia à grande massa precisa conhecer a psicologia do povo, mesmo que ele não seja senão um demagogo. Mesma nessa hipótese, ele será um líder mais apto do que o teórico desconhecedor da psicologia humana. (HITLER, 1925, p. 537).
Ao definir o principal objetivo de um partido – conquistar as grandes massas
– visto na seção “Ascensão do Partido Nacional Socialista”, Adolf Hitler (1925, p.
319-332) elaborou 14 pontos táticos para obter o respectivo êxito. Resumidamente,
são eles:
1. Nenhum sacrifício econômico é pesado demais.
2. A educação nacional só poder ser feita após uma elevação social do
partido.
3. A nacionalização das massas nunca acontecerá por meias afirmações,
medidas tímidas.
4. Aniquilação dos adversários.
5. Conservação racial.
6. A unificação das classes não significa a abdicação da representação
de interesses.
7. Determinada atitude do partido deve ser claramente expressa na
propaganda.
8. Objetivo do partido não será alcançado por meio da propaganda
intelectual.
9. Rejeitar toda teoria baseada na maioria dos votos, que implique a ideia
que o líder do movimento cumpra ordens dos outros.
10. Evitar tomar partido por todo e qualquer movimento fora de seu campo
de atuação.
11. Diminuição do número de mediadores entre o líder e os adeptos ao
partido.
47
12. O futuro do movimento depende do fanatismo e tolerância de seus
integrantes.
13. O movimento tem que educar de tal modo que seus adeptos façam
qualquer esforço pró à causa.
14. Utilizar-se de todos os meios para obter o respeito das grandes
personalidades.
Jean-Marie Domenach (1955, p. 51-52), em seu livro “A Propaganda
Política”, menciona que um dos estudos psicológicos utilizados por Joseph
Goebbels, Ministro da Propaganda nazista, foi o “Reflexo Condicionado”. A teoria do
Reflexo Condicionado foi uma descoberta feita pelo fisiologista russo Ivan Pavlov e
adotada por Goebbels na sua jornada para mistificar Adolf Hitler. Simplificando, será
descrita a experiência feita por Pavlov. Mostraremos a um cão imobilizado um
pedaço de carne, e com isso ele começará a salivar. Depois de inúmeras
visualizações do cão à carne, adicionaremos um sino toda vez que a carne for vista
pelo cão, ele continuará a salivar. Mais tarde retiraremos a carne e deixaremos só o
som do sino, e então, o cão prosseguirá salivando. Através de muitas repetições, o
sino induzirá o cachorro a lembrar do pedaço de carne. Porém, se continuarmos a
tocar o sino e deixarmos de mostrar o pedaço de carne ao cachorro, acabará por
fim, anulando suas funções reflexas.
A saudação “Heil Hitler”, por exemplo, remetia a população alemã em
lembrar-se dos conceitos do partido nacionalista como raça superior, nova
Alemanha, futuro promissor e ao ódio perante os judeus. Contudo, se esse
entendimento da população não fosse revigorado constantemente, o reflexo
condicional implantado não surtiria mais efeito. O reflexo condicional ajudou o
governo nazista a chegar ao poder, começar a guerra com o apoio da nação e a
manter viva às esperanças da população e do exército, mesmo quando já não
tinham mais probabilidade de vitória. (DOMENACH, 1955, p. 47-48).
Ainda relacionado com os meios de comunicação de massa, Adolf Hitler
acreditava que quanto maior a simplificação das propagandas, melhor seria o
resultado, “as grandes massas têm uma capacidade de recepção muito limitada,
uma inteligência modesta, uma memória fraca”. (LENHARO, 1986, p. 47). O Führer
também entendia que quando um indivíduo se misturava em um grupo, ele ficava
mais suscetível a tomar atitudes pela emoção. Segundo Domenach (1955, p. 41), “o
povo, em grande maioria, está em uma disposição e em um estado de espírito a tal
48
ponto feminino, que as suas opiniões e seus atos são determinados muito mais pela
impressão produzida nos sentidos que pela reflexão pura”.
É esse o segredo da propaganda: atingir aqueles que a propaganda quer atingir, intoxicá-los com as ideias veiculadas sem que eles o notem. Claro que a propaganda tem um objetivo, mas esse objetivo tem de ser tão bem camuflado que aqueles que o devem absorver não se percebam de nada. (GOEBBELS, 1996).
Este depoimento de Goebbels encontrado no documentário “Hitlers Helfer
Gobbels“ (Goebbels Ajudante de Hitler) deixa claro o conceito seguido pelo mesmo
na utilização da propaganda nazista. Segundo ele, a propaganda é uma arma que
deve ser usada em doses comedidas, sutis e com o objetivo de passar
desapercebidamente pela grande massa, tendo assim, seu resultado esperado.
Contudo, para isso acontecer, Adolf Hitler (1925, p. 358) comenta sobre a
importância da sinergia entre os integrantes do partido para utilizar a propaganda.
De acordo com o Führer, quando um movimento tem o intuito de destruir um sistema
político existente para reconstruir outro, é preciso que todos os líderes encontrem-se
em natural harmonia.
Mas havia um aspecto que Adolf Hitler e Joseph Goebbels discordavam: até
quando seria utilizada a propaganda. Hitler considerava que “quando a propaganda
já conquistou uma nação inteira a uma ideia, surge o momento asado para a
organização, com um punhado de homens, retirar as consequências práticas”
(HITLER, 1925, p. 540). Simplificando, após atingir o determinado objetivo, Hitler
confiava que a propaganda não seria mais necessária. Após se tornar chanceler da
Alemanha, em 1933, Hitler acreditava que a propaganda cairia, já que seu escopo
foi concluído. Mas Goebbels discordava. Joseph Goebbels acreditava que a
propaganda serviria tanto para mobilizar as massas para uma nova implantação de
regime de Estado, como também manter em alta o entusiasmo e compromisso da
população à sua ideologia. (WELCH, 2002, p. 23).
Uma das técnicas utilizadas por Hitler, segundo o documentário “A Vida de
Hitler”, foi a utilização de mártires no intuito de angariar mais adeptos ao partido.
Após a fracassada tomada de poder, em 1923, Adolf Hitler transformou as 16
vítimas em heróis de guerra associando o sangue dos nazistas ao vermelho utilizado
nas bandeiras. Outro artifício interessante criado por Goebbels foi os assim
chamados “cultos à morte”. Tratava-se de uma homenagem sempre que um militar
de patente elevada morria. O velório se tornava em comício e uma oportunidade de
49
renovar os valores e as esperanças alemãs perante o partido. Segundo Goebbels,
mártires eram boas propagandas, e por isso, aproveitava-se de sua morte para fins
de maior importância.
No dia 12 de março de 1933, por um decreto de Hindenburg, é criado o
“Reichsministerium für Volksaufklärung und Propagand” (Ministério do Iluminismo
Popular e Propaganda), e escolhido para função de ministro, Joseph Goebbels. A
ideia era desenvolver um Ministério de educação pública, no qual cinema, rádio,
imprensa, literatura, propaganda e arte seriam totalmente fiscalizados e moldados
partindo da ideologia do Reich. (WELCH, 2002, p. 28). De acordo com o
documentário “O Experimento Goebbels”, o Ministério era dividido em grandes 5
departamentos: rádio, imprensa, cinema, propaganda e teatro.
Obtendo o controle total de todos os meios de comunicação da Alemanha, o
partido nazista utilizava-se de todas as formas possíveis de propaganda. Paula Diehl
(1996, p. 85) afirma que: “o que faz a sua propaganda tão eficaz são principalmente
as combinações de elementos coletados de várias fontes, como teatro, ópera,
propaganda política e dos meios de comunicação de massa que acabavam de
nascer nos anos 20”. O ataque propagandístico ocorria por todos os meios possíveis
recordando incessantemente os símbolos utilizados pelo estado nazista.
Irving (1996, p. 582) avalia que outra técnica muito importante foi a repetição
da ideologia nazista. A construção da mistificação de Hitler estava sendo construída
em meio dessa reprodução exacerbada. Joseph Goebbels definia a repetição dos
argumentos eficazes como o princípio mais básico da propaganda. Segundo o
Ministro da Propaganda, “A propaganda significa repetição e ainda mais repetição!”.
Todos os veículos de comunicação repercutiam os mesmos argumentos
incessantemente. “O homem moderno está surpreendentemente disposto a crer”, já
dizia Mussolini em seus discursos e Adolf Hitler tinha pleno conhecimento disso.
(DOMENACH, 1955, p. 48).
Vê-se em decorrência, a importância do ritmo com que os hitleristas conduziam a propaganda. Jamais cessava, nem no tempo nem no espaço, constituindo-se em permanente tela, visual e sonora, que, embora variando de intensidade, mantinha alerta o povo. (DOMENACH, 1955, p. 56).
A suástica, emblema nazista, segundo Adolf Hitler, traz consigo todas as
informações ideológicas do partido nazista, “no vermelho, vemos a ideia socialista
do movimento, no branco, a ideia nacional, na cruz suástica a missão da luta pela
50
vitória do homem ariano, simultaneamente com a vitória da nossa missão
renovadora que foi e será eternamente antissemítica”. (HITLER, 1925, p. 460). O
Führer também menciona sobre a confusão que o vermelho causava por ser uma
cor comunista. Segundo ele, servia para provocar os marxistas, fazerem frequentar
os comícios gerando uma oposição natural.
Até aqui se analisou que o surgimento do Partido Nacional Socialista Alemão
acontece em virtude do descontentamento gerado pela população alemã após a sua
derrota na Primeira Guerra Mundial. O Tratado de Versalhes, considerado pelos
alemães da época como uma humilhação, impedia com que a Alemanha de
desenvolvesse. Em decorrência da dívida de guerra e da mudança forçada do
sistema político, passando de um governo aristocrata para uma república, a crise se
instaurou na Alemanha e a miséria e o desemprego atingiram proporções
catastróficas. Vendo a situação crítica do país, Adolf Hitler, ex-soldado combatente
na Grande Guerra, ingressou no NSDAP (Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães), um pequeno partido político, e se encarregou de melhorar
a propaganda do movimento.
No tempo que esteve preso, em 1923, após um falho golpe de Estado do
partido nazista, Adolf Hitler escreveu seu livro, “Mein Kampf” (Minha Luta), que conta
como foi sua infância, suas inspirações para conceber sua visão política e a
importância da propaganda para o Führer. No livro, Hitler também determina o real
objetivo de um partido. Segundo ele, o escopo principal de um movimento político é
mobilizar a massa a ponto de conquistá-la a seu favor. Seguindo esta premissa, o
futuro chanceler elabora 14 regras para atingir e manipular a população, que as
seguiria durante a chegada ao poder. A tomada, aliás, veio em formas legais. Em
1932, Hitler concorre pela única vez à presidência da Alemanha, mas perde para o
General Paul Von Hindenburg. Contudo, em 1933, por pressões externas,
Hindenburg nomeia Adolf Hitler a chanceler do país, e 52 dias após, por votação no
parlamento, é sancionada a lei que uniria o cargo de chanceler com o da presidência
república.
Adolf Hitler acreditava que a propaganda de fato era muito importante para
um movimento, contudo, após atingir seu verdadeiro objetivo, devia ser deixada de
lado sem interferir na administração do governo. Mas seu Ministro da Propaganda
tinha opinião contrária à sua. O Doutor em Filologia, Joseph Goebbels, que
ingressou no partido nazista em 1924 e vinha prestando seus serviços fielmente à
51
Hitler, acreditava que a propaganda além de ajudar a conquistar as massas a uma
nova ideia, devia auxiliar o regime em um processo de manutenção do entusiasmo
às questões ideológicas do partido se tornando uma mediadora do governo à
população. Apesar da divergência, a propaganda se mostrou uma grande aliada ao
partido mesmo após a tomada do poder alemão.
A seguir veremos como funcionou o Ministério de Comunicação e os
principais meios midiáticos utilizados pelo partido nazista.
4.8 MEIOS IMPRESSOS
Com Joseph Goebbels no comando do Ministério da Propaganda, o controle
dos meios de comunicação e da produção cultural alemã era total. Originalmente,
eram 5 departamentos como mencionado acima, mas em abril de 1933, o Ministério
ganha sua estrutura física e a divisão acontece para 7 setores. (WELCH, 2002, p.
31). São eles:
Departamento I: Legislação e Problemas Legais; Orçamento, Finanças
e Contabilidade.
Departamento II: Coordenação do Iluminismo Popular e Propaganda
(propaganda ativa); Órgãos Regionais do Ministério; Academia de Políticas alemã,
cerimônias oficiais e demonstrações; Emblemas Nacionais, questões raciais;
Tratado de Versalhes; ideologias opostas; organizações da juventude, saúde pública
e do desporto; orientais e perguntas frequentes, Comitê Nacional de viagens.
Departamento III: Rádio, Companhia Nacional de Radiodifusão
(Reichsfunk-Gesellschaft).
Departamento IV: Imprensa Nacional e Estrangeira; Jornalismo;
Imprensa Arquivos; Novos serviços e Imprensa Nacional de Associação da
Alemanha.
Departamento V: Filme, Indústria do Filme e Imagem; Censura
Cinematográfica, Atualidades.
Departamento VI: Teatro.
Departamento VII: Música, Artes Plásticas e Cultura Popular.
Após isso, Goebbels começaria a desenvolver um novo modelo de
imprensa. A intenção era poder manusear o público a qualquer direção desejada.
52
(WELCH, 2002, p. 44). De acordo com o filme “Hitlers Helfer Gobbels – Der
Brandstifter” Goebbels criou a “Lei da Obediência Antecipada”, que consistia em
disciplinar os impressos alemães a ponto de não houver nenhum questionamento. A
explicação para isso era dito por Goebbels que todo o país já se encontrava aliado
com o partido nacionalista, e por isso, não deveria haver mais nenhuma discussão.
A imprensa foi adestrada de tal maneira, que os próprios jornalistas nem percebiam
a manipulação. Este é um depoimento do jornalista Hans Borgelt, encontrado no
documentário “Hitlers Helfer Gobbels” (Goebbels Ajudante de Hitler):
Eu me sentia relativamente livre. Sempre acreditei que pudesse escrever o que quisesse. Mas, estranhamente, no primeiro ano seguinte, ao ler velhos artigos, espantei-me com o diferente estilo no qual foram escritos. Eram realmente como espíritos em posição de sentido, aguardando ordens. (BORGELT, 1996).
Outro fator que garantiu o controle da imprensa alemã foi a aquisição
comedida pelo partido nazista de todos os jornais do país. Welch (2002, p. 4)
menciona que isto viria a se tornar um dos aspectos de maior relevância para o
partido.
Uma das tarefas mais importantes que confrontam o “Reichsministerium für Volksaufklärung und Propagand” (Ministério da Propaganda) quando ele veio ao poder, era a eliminação de fontes alternativas de informação. (WELCH, 2002, p. 44).
De acordo com Welch (2002, p. 45), no início de 1933, o Partido Nacional
Socialista possuía 59 jornais da Alemanha, de tiragem diária com uma circulação de
785.121 exemplares, que atingia apenas 2,5% da população do país. Até o final
daquele ano foi comprado mais 27 jornais aumentando sua tiragem para, 2,4
milhões de exemplares. O objetivo dos jornais eram os mesmos dos outros meios de
comunicação, o ataque aos comunistas, posteriormente intensificados aos judeus e
a mistificação de Hitler perante população alemã. O jornal “Der Angriff” (O Ataque),
tinha o costume de publicar caricaturas dos judeus para descrevê-los.
53
Jornal 1 - Exemplar do Jornal “Der Stürmer” (1929).
Fonte: CALVIN: GERMAN PROPAGANDA ARCHIVE
Nesta tiragem de 1929, antes de Hitler chegar ao poder, a degeneração
judaica fica por conta da frase estampada em todos os exemplares nazistas: “Die
Juden unser Unglück!” (Os Judeus são a nossa desgraça!). Na invasão da
Alemanha à Polônia em 1939, os jornais começariam a empregar a ideia de que os
judeus não são apenas sub-humanos, mas também um perigo para a sociedade e
teriam de ser banidos de todo o território alemão. Isto foi feito visando os campos de
concentrações e o extermínio em massa que futuramente aconteceria. Hitler
buscava aí o consentimento da nação alemã para tais fins planejados.
54
Jornal 2 - Exemplar do Jornal “Der Stürmer” (1943)
Fonte: CALVIN: GERMAN PROPAGANDA ARCHIVES
Já neste exemplar de 1942, do jornal “Der Stürmer”, (O Atacante), é
visualizada a fotografia de um judeu com a escrita “Der Satan” (O Satan), fica
evidente a demonização dos judeus perante a sociedade alemã.
Com o funcionamento do Ministério da Propaganda, os autores modernistas
da década de 20 começaram a ser perseguidos. A considerada “degeneração
cultural” envolta dos comunistas e também associados aos judeus, transformava
então numa caça constante a seus trabalhos. Na Alemanha tinha uma forte
fiscalização de qualquer aspecto relacionado à arte, e seguindo isto não foi diferente
com a literatura. Livros associados a movimentos esquerdistas ou de menção
contrária ao nazismo eram cassados e exterminados. No dia 10 de maio de 1933,
houve uma “purificação cultural” na Alemanha. Em plenas praças públicas de
cidades universitárias, milhares de livros foram queimados neste dia. Qualquer
critica ou obra que não se adequasse aos padrões do Nacional Socialismo foi
totalmente incendiada. A intenção de Goebbels era acabar de uma vez por todas
com qualquer resquício da antecessora República de Weimar. (History Channel: “O
Experimento Goebbels”).
55
4.9 RÁDIO
O rádio em toda a construção do regime nazista, desde a ascensão até os
anos de vigência, teve um apreço e uma respectiva importância dada pelo partido a
este meio de comunicação de massa. O discurso de Joseph Goebbels após a
nomeação de Adolf Hitler para o cargo de chanceler, no dia 30 de janeiro de 1933,
foi transmitido por todas as instituições de rádio do país e aplaudido por toda a
população. (BENZ, 2000, p. 19).
Após a criação do Ministério da Propaganda, em 1933, o partido buscou
uma forma de desenvolver aparelhos de rádio que alcançassem todas as casas
alemãs, barateassem os custos e também interferisse na sintonização de outros
sinais. Engenheiros aliados ao partido mapearam o território alemão e
desenvolveram um transmissor simples para a captação de ondas curtas e que
interferiam nos demais sinais. O “Volksempfänger” (Rádio Popular) ou abreviado
VE301 – número que simbolizava o dia da chegada de Hitler ao poder – foi
apresentado pela primeira vez na Exposição de Rádio de Berlim, em agosto de
1933, e custava em torno de 76 Reichsmarks12. O aparelho tinha função de
transmitir a ideologia do partido para todas as casas da Alemanha e também gerar
entretenimento à população. Escolas, empresas e agências governamentais foram
alcançadas pelo partido também devido ao alto investimento feito para a produção
dos aparelhos. De 1933 até 1939, houve um crescimento considerável na aquisição
dos transmissores, pulando de 25% da população, para 70%. (BENZ, 2000, p. 60). A
rádiofusão, nas palavras do Ministro Joseph Goebbels, “significa a proclamação da
unidade ideológica do Nacional Socialismo”. (BENZ, 2000, p. 60).
O início do trabalho da propaganda pelo rádio começou paralelamente
quando Hitler assumiu o poder. Segundo o documentário “O Experimento
Goebbels”, o Doutor Joseph Goebbels acreditava que uma boa programação de
rádio tem de conter vários elementos até criar uma fórmula exata de entretenimento,
diversão, política, ensino e educação. No rádio, não poderia haver espaço para
falhas e tentativas, afinal, como Goebbels cita em um discurso no documentário, a
programação é transmitida para milhões de ouvintes e deve se deixar de lado o
experimento. De acordo com anotações feitas por Goebbels em seu diário e
12
Reichsmarks foi a moeda oficial da Alemanha nos anos de 1924 a 1948.
56
descritos no livro de David Irving (1996, p. 581), em 1940, Goebbels gabava-se de
que suas transmissões de rádio já estavam sendo feitas em 22 línguas estrangeiras,
incluindo o gaélico, africano, árabe, hindu e uma variedade de línguas Balcãs.
Quatro anos antes, em 1936, eram feitas apenas em 4 idiomas, uma enorme
evolução.
Há um maior convencimento na voz em vez de um texto impresso, a vida e
essência na fala adquire o diferencial determinante para obter êxito na ideologia
transmitida. Esta questão já era compreendida por Adolf Hitler muito de chegar ao
poder. Ele pondera em seu livro:
Sei muito bem que se conquistam adeptos menos pela palavra escrita do que pela palavra falada e que, neste mundo, as grandes causas devem seu desenvolvimento não aos grandes escritores, mas aos grandes oradores. (HITLER, 1925, p. 1).
Durante a Segunda Guerra Mundial, conforme “O Experimento Goebbels”, o
rádio tinha a função de passar informações aos comandantes do Terceiro Reich, já
que seus veículos já tinham receptores da frequência utilizada pelos nazistas. O
meio de comunicação também servia para melhorar o ânimo dos soldados durante
toda a guerra, não deixando os abater após uma derrota. Wolfgang Benz (2000, p.
59), em seu livro “Geschichte des Dritten Reiches” (História do Terceiro Reich),
afirma que a rádiofusão foi o meio de massa mais importante do Terceiro Reich.
4.10 CULTURA POPULAR
Na República de Weimar, a revolução cultural das artes, os movimentos
culturais como o “bolchevismo cultural”, iniciava um novo modelo de arte, sendo
assim chamado de modernismo alemão. Segundo o conhecido documentário
“Arquitetura da Destruição”, Hitler considerava que esse novo modelo provinha dos
judeus e tinha caráter negativo à sociedade na Alemanha, degenerando e
marginalizando a arte no país. As pinturas modernistas, segundo os nazistas,
mostravam sinais de problemas mentais dos artistas, e seguindo este contexto,
foram perseguidas e dizimadas, acabando assim com qualquer tipo de movimento
cultural dos anos 20. A vanguarda alemã vinda da República foi totalmente
expurgada do país.
57
No dia 15 maio de 1934, Joseph Goebbels promulga a “Lei do Teatro”. A
norma consistia no direito de supervisionar, através do policiamento alemão, criação
das artes e também os moldando ao partido, "as artes são para o Estado nacional-
socialista um exercício público. Elas não são apenas estéticas, mas moral na
natureza e, portanto, o interesse público exige não apenas a supervisão da polícia,
mas até orientação”. (WELCH, 2002, p. 32). Goebbels acreditava que a revolução
nazista deveria atingir todos os campos possíveis e que uma arte inspirada no
sistema político atual, daria suporte para o futuro do país no comando do Terceiro
Reich.
A tarefa de arte moderna alemã não é para dramatizar os programas dos partidos, mas para dar forma poética e artística para o enorme impulso espiritual dentro de nós (...). O renascimento político deve definitivamente ser espiritual e ter fundações culturais. Portanto, é importante para criar uma nova base para a vida da arte alemã. (WELCH, 2002, p. 33).
Com o Ministério da Propaganda em funcionamento na Alemanha, todos os
meios de comunicação foram fiscalizados, manipulados e dirigidos de maneira que a
única ideologia, única cultura e o único partido relevante fosse o Nacional Socialista.
Os meios de massa como cinema e as transmissões de rádio foram de suma
importância para manter a ideia nazista em alta e justificar a caça que acontecia nos
sistemas contrários ao regime, como outros partidos e os comunistas. Em seguida,
os meios de comunicação serviram também para demonizar os judeus à população
alemã explicando também a perseguição ocorrida perante a eles.
58
5 O TRIUNFO DA VONTADE
Neste capítulo faremos a identificação e análise dos elementos persuasivos
encontrados no documentário “Triumph dês Willens” (Triunfo da Vontade), com a
intenção de entender como o partido nazista se utilizava do cinema para manipular a
população alemã.
5.1 CINEMA NAZISTA
O interesse da Alemanha pelo novo mercado cinematográfico surgiu ainda
na Primeira Guerra Mundial. A “Universum Film Aktien Gesellschaft” (Sociedade por
ações do Universo dos Filmes, abreviado UFA), foi um projeto financiado pelo alto
escalão militar que tinha o intuito de equilibrar a informação e a propaganda gerada
pelas Potências Centrais. (KRACAUER, 1988, p. 50). Com a República de Weimar,
devido à crise econômica instaurada, os cineastas alemães tiveram êxito na
comercialização de seus filmes possibilitando-os vender para o exterior.
Estrangeiros não exportavam seus trabalhos para a Alemanha. Neste período, a
UFA foi mantida, mas com um terço apenas de suas ações. Em 1927, Alfred
Hugenberg, obtém o controle majoritário da UFA e, secretamente, começa a
financiar movimentos nacionalistas na Alemanha. Um dos partidos financiados o
Nacional Socialista, ganhando destaque nos cinejornais e consequentemente
aumentando seu eleitorado. Mais tarde, como Kreimer (1992) pondera, Hugenberg
foi nomeado Ministro da Economia por Adolf Hitler.
A escalada eleitoral dos nazistas teve muito a ver com a utilização do cinema, “um dos meios mais modernos e científicos de influenciar as massas”, de acordo com a afirmação de Goebbels. (LENHARO. 1986, p. 52).
O cinema alemão, ao lado do soviético, sem dúvida foi um dos setores que
mais receberam atenção pelas duas nações. O cinema aparece como um dos mais
importantes veículos para a divulgação do conceito Nacional Socialista Alemão. De
acordo com Ferro (1992, p. 72-73), ambos os países foram os primeiros a encarar
com seriedade o mercado cinematográfico analisando o modo que deveria ser
empregado e criando um estatuto para o mesmo. O autor menciona também que o
cinema não serviu apenas para entreter a massa ou transmitir sua ideologia, mas
59
serviu também como veículo de informação para a população alemã. Segundo o
documentário “O Experimento Goebbels”, ao assistir “Os Dez Dias que Comoveram
o Mundo”, de Eisenstein, como já mencionado, acreditava que os filmes comunistas,
apesar de sua história superficial e o uso demasiado da propaganda, tinha aspectos
que poderiam ser aprendidos e reutilizados.
Após a criação do Ministério, o departamento V supervisionava todas as
obras desenvolvidas na Alemanha e organizava o processo de inclusão à ideologia
nazista e a exclusão de frentes contrárias. A censura começou a funcionar neste
período controlando a elaboração dos filmes desde seu processo criativo. Os
autores Crocci e Kogan (2003, p. 55) afirmam sobre a proibição da resenha critica.
Nesta época, só ficou era possível elaborar uma pequena dissertação sobre o filme,
sem opiniões, apenas como um modelo de sinopse13.
Em novembro de 1937 se chega a proibir todo juízo crítico, já que os filmes que estreavam respondiam ao modelo nazista e era evidente que nunca poderiam ser objetados. Só se lhes permitia um resumo narrativo sem o menor juízo de valor. (CROCCI; KOGAN, 2003, p. 55).
Estima-se que ao longo do Governo nazista foi produzido mais de 1.350
filmes, todos tentavam de alguma forma transmitir a ideologia do partido à população
alemã, consequentemente, transformando o país no segundo maior na produção
cinematográfica. Conforme Lenharo (1986, p. 53), os temas preferidos dos
adolescentes alemães eram filmes com forte envolvimento ao espírito de luta,
patriotismo alemão e heroísmo dos soldados. Apesar disso, praticamente metade
das obras do Terceiro Reich tinha cunho de entretenimento. O motivo era por própria
orientação de Goebbels, que no intuito de valorizar o cinema submetendo-se às leis
de mercado, aumentava o consumo da população perante o cinema. Com isso, se
parecia que o governo tinha aberto espaço para filmes inocentes, sem qualquer
relação política-ideológica. (ALBRECHT, 1969, p. 96-97).
A produção cinematográfica teve um papel de suma importância na
implantação ideológica do antissemitismo racial, da superioridade alemã e do ódio
aos judeus transmitidos pelos nazistas. Nos primeiros filmes nazistas, os comunistas
eram personagens cômicos que no decorrer do enredo se mostrando de maneira
maléfica. Com o decorrer do tempo, inimigos do Reich tiveram atenção especial nos
cinemas, ingleses, eslavos, russos, judeus, todos apareceram como os vilões da
13
Sinopse é o resumo de uma obra literária, cinematográfica ou científica.
60
Alemanha. Logo mais, os nazistas procuravam associar respectiva raça ou doutrina
com aspectos de perversidade, exploração e destruição. (FURHAMMA; ISAKSSON,
1976, p. 188-193) Os filmes, segundo o escritor Francis Courtade e Pierre Cadars
(1972), em seu livro “Histoire du cinéma nazi” (História do Cinema Nazi), descreviam
os judeus como seres inferiores que se infiltravam na sociedade alemã. Ou seja, um
mal inerente que necessitava ser combatido pelos alemães. A eterna disputa entre o
bem, os nazistas, e o mal, os comunistas, era evidenciada constantemente nos
filmes.
“Thiumph dês Willens” (Triunfo da Vontade) foi o único documentário feito
pelo partido com a intenção de personificar Adolf Hitler em uma figura mística.
Porém, em contrapartida, foram produzidos vários filmes que homenageavam
personalidades importantes de uma antiga Alemanha. Por exemplo, o rei Frederico
nos filmes “Der Grobe König” (O Rei Áspero), de 1942, e Bismarck, de 1940, o
compositor Friedemann Bach, de 1941.
No ano de 1938, Leni Riefenstahl, que tinha já dirigido “O Triunfo da
Vontade”, lança mais um documentário para o Partido. Sob o tema das Olimpíadas
de Berlim, nomeado de “Olympia” (falaremos um pouco mais sobre este
documentário ns próxima seção). Após o começo da Segunda Guerra mundial, a
cineasta se afastou das atividades cinematográficas. Em 1940, foi o ano em que
Fritz Hippler, cineasta associado ao Partido, lançar seu filme “Der Ewige Jude” (O
Eterno Judeu). O filme retrata os judeus como parasitas culturais ambulantes
movidos pela promiscuidade e pelo capital. O filme tinha o intuito de justificar para a
opinião pública sobre a caça aos judeus que estava acontecendo.
5.2 O DOCUMENTÁRIO
Entre os dias 4 e 10 de setembro do ano de 1934, aconteceu o 6°
Congresso de Nuremberg. Organizado pelo Partido Nacional Socialista, os
Congressos de Nuremberg tratavam-se de comícios anuais que reuniam os
principais militares nazistas, milhares de soldados alemães e adeptos do partido em
uma convenção que celebrava o poderio nazista. Neste 6° Congresso, Leni
Riefenstahl, foi escolhida por Adolf Hitler para gravar o documentário. Contudo, a
diretora não tinha a intenção de dirigir o filme. Segundo ela, chegou a rejeitar o
convite feito por Rudolf Hess, delegado do partido nazista, a mando do Führer. Mas
61
no final, em reunião com o próprio Hitler, foi convencida a assumir a direção do
filme. (RIEFENSTAHL, 1995, p. 221-222).
Intitulado “Triumph dês Willens” (Triunfo da Vontade), o filme foi planejado e
desenvolvido para amplificar ao máximo a grandeza do partido. Em muitas cenas, a
retratação das massas nazistas aglomeradas, entre eles soldados e simpatizantes,
segundo Lenharo (1986, p. 59), era vista como uma comunhão mística entre o Adolf
Hitler e as massas e a evidenciação da solidariedade entre soldados e trabalhadores
alemães.
O nome do documentário foi uma sugestão do próprio Hitler, que tinha como
inspiração a grande obra de Friedrich Nietzsche, “Der Wille zur Macht” (A Vontade
de Poder). A ideia advém de um dos aspectos abordados no texto do filósofo
alemão, que cita que a vontade é uma força irracional e invencível, e quem fosse
possuidor dela, poderia chegar a lugares jamais inalcançados. (NIETZSCHE, 2008,
p. 88-89).
O documentário “Triunfo da Vontade” é dividido em 12 cenas, com duração
em sua totalidade de 1 hora e 49 minutos e considerado por muitos como uma obra
prima.
É uma das maiores realizações, talvez a mais brilhante de todas na história da propaganda cinematográfica. É uma obra de arte magnificamente controlada, e, ao mesmo tempo, um documento sobre um acontecimento captado em todo seu terrível imediatismo. (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976, p. 67).
Conforme o Autor Siegfried Kracauer (1974. p. 342), em seu livro “De
Caligari a Hitler – Uma História psicológica do cinema alemão”, o 6° Congresso de
Nuremberg foi disposto especialmente para a produção do filme. Cada soldado,
cada aspecto apresentado no documentário, estava antecipadamente posicionado
conforme aconteceriam as gravações das películas. Esta “encenação” da realidade
aliada com o forte cunho propagandista ali inserido, segundo Leiser (1968), tornaria
difícil a diferenciação do término da realidade e o começo da encenação. De acordo
com Leiser, não é mais possível saber se as câmeras filmaram o Congresso, ou se
tudo foi apenas encenado para o documentário. Lenharo (1986, p. 59) é mais
enfático ao comentar sobre isso. O escritor menciona que o “verdadeiro congresso
do partido realizou-se somente no cinema: o filme criou o congresso”. (LENHARO,
1986, p. 59).
62
5.3 PRODUÇÃO
A equipe de produção da filmagem era considerada enorme para os filmes
da época. Contabilizando mais de 170 pessoas a seus serviços, 36 câmeras e
recursos ilimitados para a filmagem. Leni Riefenstahl tinha a disposição
equipamentos de primeira linha para concluir as vontades de Hitler, que não
desejava mostrar o Congresso pelo ponto de vista de um cineasta experiente no
ramo, mas pela visão de alguém que se importasse com os mínimos detalhes.
(RIEFENSTAHL. 1995. p. 223).
Em seu livro Memórias - Leni Riefenstahl, a diretora relata exatamente a
ideia que Adolf Hitler tinha para o documentário:
Eu não quero um filme chato de partido, sem gravações de atualidade, mas um documento de imagem artística. Os homens competentes do partido não entendem isso e você mostrou que você pode. (RIEFENSTAHL, 1995, p. 222).
Inúmeras câmeras filmavam um mesmo acontecimento por diferentes
ângulos criando uma variedade imensa de cenas para criar à narrativa na edição na
moviola (equipamento desenvolvido para editar filmes). De acordo com Leni (1995,
p. 226), foram gravados 130.000 metros de filme, em que seriam utilizados apenas
3.000 metros. Também foram construídos mastros e elevadores – com o auxílio de
Albert Speer, Ministro do Armamento e arquiteto-chefe de Hitler – capazes de
levantar as câmeras por 38 metros de altura, para captar toda a multidão do
Congresso. (RIEFENSTAHL, 1995, p. 224). A diretora utilizou-se principalmente de
objetivas “normais” de 50 milímetros, assim, mesmo que tivessem fenômenos
naturais que pudessem estragar a qualidade da imagem, a imagem não perderia a
nitidez e a qualidade. De acordo com Alcir Lenharo que fala sobre as técnicas de
filmagem utilizadas:
A câmera apanha, em angulações estáticas e simétricas, as insígnias das tropas formadas em gigantescos blocos. Em tomadas de baixo, ascendendo pelos mastros das bandeiras, sublinha as dimensões colossais do congresso. (LENHARO, 1986, p.59).
No documentário, Leni Riefenstahl ainda faz o uso demasiado de planos
detalhes e planos próximos14. A relevância dada em rostos, mãos e objetos que
compuseram a cena ficam engrandecidas e estáticas na tela devido também a forte 14
Plano Detalhe é o enquadramento que evidencia alguma parte do corpo de um indivíduo ou objeto. Plano Próximo é o enquadramento do rosto de um personagem.
63
luminosidade. Conforme o autor Kracauer (1974, p. 342), “cada um destes primeiros
planos evidencia claramente como a metamorfose da realidade foi obtida”. Kracauer
também indaga sobre o aspecto de continuidade que o documentário transmite.
Segundo ele:
O Triunfo da Vontade exagera na ênfase ao movimento infindável. A nervosa vida das chamas é mostrada; os impressionantes efeitos de uma multidão de bandeiras avançando ou de estandartes são sistematicamente explorados. Panorâmicas, travellings a câmera para cima e para baixo são constantes. (KRACAUER, 1974, p. 342).
A iluminação do documentário também teve a sua importância. Todas as
luzes posicionadas para os discursos nazistas foram colocadas de maneira
programada com os locais estabelecidos das câmeras. Para Leni o objetivo era
preencher toda a tela das câmeras de maneira mais eficiente possível. Dependendo
da disposição do sol, a diretora procurava filmar as pessoas principais da imagem
contra a luz, isso transmitia uma grande silhueta do indivíduo captado. Os autores
Furhammar e Isaksson (1976, p. 37) afirmam que Leni Riefenstahl avaliou até o
tempo do discurso de Adolf Hitler. De acordo com os escritores:
O discurso do chanceler era calculado de modo a que seu fecho coincidisse com a chegada da noite, e durante suas últimas palavras acendiam-se fogueiras no horizonte, inumeráveis holofotes rasgavam os céus, dando a ilusão de que o campo inteiro estava cercado por uma vasta floresta de colunas humanas. (FURHAMMAR; ISAKSSON, 1976, p. 37).
5.4 LENI RIEFENSTAHL
A diretora Leni Riefenstahl nasceu em Berlim, no dia 22 de agosto de 1902.
Filha de Alfred Theodor Paul Riefenstahl e Bertha Ida Sherlach, Helene Amalia
Bertha Riefenstahl estudou pintura e começou sua carreira artística – mesmo contra
gosto do pai – como dançarina. Contudo, uma lesão no joelho pôs fim a sua carreira
nos palcos e, como ela mesma relata no documentário de Ray Müller, “The
Wonderful Horrible Life of Leni Riefenstalh” (A horrível vida maravilha de Leni
Riefenstahl), viu uma oportunidade de seguir a carreira artística, só que desta vez
como atriz. A consagração mundial veio com os filmes: “Der heilige Berg” (1926) (A
Montanha Azul), “Der große Sprung” (1927) (O Grande Salto), “Die weiße Hölle vom
Piz Palü” (1929) (O Inferno Branco de Pitz Palu), “Stürme über dem Mont Blanc”
(1930) (As Tempestades sobre o Monte Branco), “Der weiße Rausch” (1931) (A
64
Chama Branca), “Das Blaue Licht” (1932) (A Luz Azul) e “SOS Eisberg” (1933) (SOS
Iceberg). No filme “A Luz Azul”, de 1932, aliás, além de ser protagonista do filme,
Leni escreveu, dirigiu e produziu o filme. Este foi seu primeiro trabalho como
produtora independente.
“Triunfo da Vontade”, como mencionado, foi gravado entre os dias 4 e 10 de
1934, mas a finalização da edição para o lançamento só foi acontecer seis meses
após, no dia 28 de março de 1935. Riefenstahl também comenta sobre as
dificuldades enfrentadas em relação aos cortes das imagens. Sem um prazo prévio
estipulado para a conclusão, Leni se dedicou inteiramente até o término da edição
chegando a trabalhar 14 horas por dia no projeto. De acordo com a diretora, após os
primeiros dois meses, toda a equipe que trabalhava na pós-produção do
documentário já estava esgotada. (RIEFENSTAHL, 1995, p. 227-228). O filme
transformou-se em uma de suas obras primas ganhando a Medalha de Ouro em
Veneza, em 1935, e a medalha de ouro na Exposição Mundial de Paris, em 1937.
Leni Riefenstahl ainda gravaria o documentário “Olympia”, de 1936. A
Cineasta relata em seu livro que o convite para dirigir o documentário partiu de um
organizador dos Jogos Olímpicos, mais precisamente do Secretário-Geral da
Comissão Organizadora das Olimpíadas, Professor Carl Diem (1995. p. 236).
Contudo, arquivos recentemente liberados por herdeiros de Joseph Goebbels
podem provar o contrário (Anexo I). Nestes documentos há uma carta de Leni
destinada a Goebbels que relata a sua estadia no hospital devido a uma infecção
renal:
Graças aos venenos estou melhor e sem dor... Estou lendo tudo a respeito dos Jogos Olímpicos... Tenho agora uma ideia cada vez mais clara de como este tipo de filme deveria ser feito... Estou muito animada com este trabalho e de poder criarmos algo juntos neste momento... O Führer veio ao hospital visitar o senhor (Rudolf) Hess e também veio ao meu quarto... um raio de sol nestes dias cinzentos. (RIEFENSTAHL, 1935).
Ao analisar este trecho percebemos nitidamente o projeto do filme, o que
desmentiria a versão de Riefenstahl que seria um pedido do Conselho Olímpico. O
documentário foi dividido em duas partes, trata-se de “Fest der Volker” (Festival das
nações) e “Fest des Schönheit” (Festival da Beleza) e levou 18 meses para ser
finalizado, sendo lançado apenas em 1938. Tornou-se ao lado do “Triunfo da
Vontade” como as principais obras de Leni Riefenstahl. Ganhou a Medalha de Ouro
em Paris, em 1937, foi eleito em Veneza como melhor filme do mundo em 1938 e o
65
prêmio Olímpico pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), em 1939. Também
incluído pela revista “Times”, em 2010, entre os 100 melhores filmes de todos os
tempos.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Leni foi presa devido ao forte
envolvimento que teve ao longo dos anos com o regime nazista, porém libertada no
dia 3 de junho de 1945 pela ausência de provas. (RIEFENSTAHL, 1995, p. 419). As
atividades cinematográficas foram encerradas por falta de oportunidades, como ela
mesma relata: “Todos os outros bons escritores foram reservados” (1995. p. 355).
Depois disso, a ilustre diretora viveu um certo tempo na África, onde produziu
documentários fotográficos sobre a vida selvagem do local (Anexo II). Fotos
reportagens sobre sua estada com os Nubas15 foram publicados pela primeira vez
na revista "Stern". Em uma destas viagens pela África, já com seus 98 anos,
Riefenstahl sobreviveu a um grave acidente de helicóptero sofrido em fevereiro de
2000. A diretora teve de ser levada por um avião de resgate para um hospital
alemão, em que posteriormente descobriu que tinha sofrido uma série de fraturas
nas costelas. No dia 8 de dezembro de 2003, com 101 anos de idade, a diretora,
escritora, atriz, dançarina e fotógrafa vêm a falecer no município de Pöcking, estado
de Baviera, na Alemanha.
5.5 ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “TRIUNFO DA VONTADE”
A metodologia utilizada para análise do documentário “Triunfo da Vontade” é
inspirada na monografia do publicitário Maurício Brenner, graduado em 2005, pelo
Centro Universitário Feevale. Contudo, diferentes aspectos serão utilizados. A
análise a seguir sobre o filme será dividida em quatro momentos: o frame16 da cena
escolhida com seu tempo real, seguido de uma breve descrição da imagem com
menção dos dados técnicos e seu contexto no documentário. Complementa-se a
análise expondo os aspectos persuasivos identificados na figura e finaliza-se a
análise com a interpretação sobre a imagem. A justificativa pela escolha desta
metodologia parte do intuito de obter uma observação mais aprofundada e
minuciosa, que ao contrário da análise feita por Brenner (2005), não conseguiu se
aprofundar nas interpretações de suas imagens. Maurício Brenner se utilizou da
15
Nubas são povos que habitam as montanhas no centro-sul do Sudão. 16
Um frame significa uma imagem. Várias composições de frames fazem um filme.
66
cronologia das cenas para chegar ao seu êxito e houve preferência em elaborar uma
análise a partir das imagens sequenciais de alguns segundos de determinada parte
do documentário. Como compreendemos, um filme cinematográfico é composto por
várias junções de frames, em virtude disso, também a escolha de uma imagem
predominante por cena. Ao todo, para obter uma gama relativamente abrangente de
imagens, planos utilizados, artifícios de edição, técnicas empregadas em respectivos
contextos ali inseridos, serão utilizados oito imagens do documentário na análise.
5.5.1 Imagens e interpretações
Figura 1 - A águia do início da obra
a) Tempo: 1min: 33seg
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
Após os créditos iniciais, esta imagem é o primeiro aspecto que aparece
para todos os telespectadores no documentário de Leni Riefenstahl, antes mesmo
67
até do nome do filme. Após mostrar, a câmera fez um movimento panorâmico17 para
baixo e enquadraria o nome sugerido por Hitler ao documentário.
c) Elementos persuasivos
Iluminação ao fundo.
Nuvens ou fumaça claramente destacadas.
Águia enquadrada em toda a tela.
d) Interpretação
Na imagem, percebemos ao fundo, fumaças que propositalmente tinham a
intenção de representar nuvens simulando uma respectiva ambientação para o
objeto principal da cena, a águia. Podemos analisar que, com essas nuvens, o
documentário está em um suposto patamar acima dos homens comuns mistificando
ainda mais o Nazismo, Hitler e até a própria obra de Leni. Um aspecto a ressaltar é
que em vez das luzes iluminarem a águia, o que é iluminado de fato são as fumaças
ao fundo, com isso, cria-se um enorme sombreamento no aspecto principal da
imagem. Este sombreamento evidenciou o ar de mistério que é dado ao conjunto da
cena, o que auxiliaria ainda mais na mistificação proposital da primeira imagem do
filme.
A escolha da águia para primeiro objeto do documentário parte da relação
histórica do povo alemão com este símbolo. Segundo Diehl, na cultura alemã, a
águia já era um forte emblema para a população. Contudo, o aspecto guerreiro
deste animal passa a ser utilizado com frequência no regime nazista. A autora
também menciona que a combinação dos emblemas predominantes no Nacional
Socialismo Alemão, a águia e a suástica, representam também um aspecto maléfico
exaltando demasiadamente sua força, sua coragem. (DIEHL, 1996, p. 106).
17
É um movimento feito pela câmara em que a mesma não se desloca, mas apenas gira sobre o seu próprio eixo.
68
Figura 2 - Trabalhadores a postos ao regime
a) Tempo: 38min: 39seg
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
Mais de 52 mil trabalhadores enfileirados que, segundo o Chefe do Serviço
do Trabalho alemão, Konstantin Hierl, diz anteriormente em seu discurso: “estão a
postos e prontos para o trabalho incansável esperando as ordens do Führer”. Trata-
se de uma homenagem dos trabalhadores alemães a Hitler e mostrar sua força de
vontade em transformar os próximos anos na Alemanha. Adolf Hitler ao final da
homenagem viria a discursar sobre a importância neles depositadas para uma nova
Alemanha
c) Elementos persuasivos
Águia ao fundo.
Exército Jovem do Reich.
Enxadas em suas mãos.
Multidão à frente.
69
Bandeiras.
Posição da câmera.
d) Interpretação
O exército jovem do III Reich organizado em fileiras em suas mãos
representando o trabalhador significa a importância depositada por Hitler nos
labutadores da Alemanha. De acordo com o Führer, o conceito de trabalho não seria
mais de divisão das tarefas e sim de união para a construção de uma Alemanha
ideal. As enxadas em suas mãos reforçam ainda mais a ideia de igualdade do
trabalhador rural aos demais, justificado por Hitler como não menos importante que
as demais áreas.
A águia ao fundo, observa o esplendor da multidão meticulosamente
enfileirada, prestando suas homenagens a Adolf Hitler. Em seu lado, as bandeiras
nazistas e dos trabalhadores alemães como fator de lembrança ao nacional-
socialismo, incessantemente executada pelo partido. O enquadramento da câmera é
bem aproveitado por Leni, que com a intenção de mostrar a visão do próprio
exército, se mistura em meio aos jovens soldados do Reich e com um movimento de
travelling o evidencia para o documentário.
70
Figura 3 - Hitler observando a juventude alemã
a) Tempo: 52min: 50seg.
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
Nesta cena do documentário, Hitler discursa no estádio alemão para uma
legião de jovens alemães falando sobre a importância deles para o futuro da nação.
O Führer fala sobre a continuação da ideologia nazista por estas crianças, que
teriam a obrigação de obedecer e estudar.
c) Elementos persuasivos
Posição e movimento da câmera.
Posição de Hitler.
Multidão ao fundo.
Bandeiras nazistas.
Uniforme de Hitler.
71
d) Interpretação
Nos discursos de Adolf Hitler ao longo do documentário, o Führer sempre se
apresentava ao público sob uma postura totalmente ereta, rígida, sem demonstrar
um mínimo desleixo por parte do chanceler. Esta maneira militarista de Hitler
transmitia imponência pela sua atitude, convencimento em o que dizia ao público
mantendo sempre o seu olhar em estado de igualdade ou superioridade ao próximo.
O uniforme militar é inseparável e com isso criava a união entre o mito e sua
ideologia aumentando a seriedade de suas palavras. A posição da cabeça de Hitler
enquanto discursava – olhando para a multidão adepta ao partido com suas
bandeiras tremulando ao fundo – evidencia o claro direcionamento da mensagem. O
mais importante em se fazer uma festa de celebração nazista e posteriormente seu
documentário, era convencer uma Alemanha inteira de sua ideologia. Como diz
Goebbels em seu discurso na primeira parte do filme: “pode se conseguir o controle
do país através da força, mas é melhor o convencimento pelo uso da propaganda”.
Leni Riefenstahl também dá ênfase no protagonismo hitlerista do
documentário. Nesta imagem, é perceptível a posição do cinegrafista que, ainda que
levemente, está em um degrau abaixo de Hitler. Esta imagem em contra-plongée18,
além de Adolf Hitler se tornar mais visível a toda uma massa ali presente, comunica
ainda mais o ar superior do chanceler aos demais, pois é visto de cima pela multidão
de modo que a idolatria perante ele se torne mais natural. Ao longo do discurso, em
alternância de cortes19 com rostos que expressavam alegria por aquele momento, a
câmera se movimentava ao redor de Hitler saindo da direita para esquerda até
completar um meio circulo. Este cuidado que Leni teve em captar o Führer por todos
os ângulos, não existiu por nenhum dos outros indivíduos que tiveram destaque no
filme. Isto comprova ainda mais que o documentário era para se tornar uma
glorificação plena de Adolf Hitler.
18
Contra-plongée é um plano de câmera que enquadra o objeto de baixo para cima. 19
Os cortes podem ser classificados conforme a modificação espacial ou a modificação temporal estabelecida entre os planos A e B. (BURCH, 1969).
72
Figura 4 - Adolf Hitler discursando no Campo Zeppelin
a) Tempo: 1h: 00min: 08seg.
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
Esta é uma das imagens do discurso de Adolf Hitler na reunião noturna dos
líderes políticos que aconteceu no campo Zeppelin. Na transição até a chegada ao
local, Albert Speers, arquiteto-chefe do partido, elabora uma marcha militar e cada
soldado carregava um estandarte nazista. Speers também foi responsável pelo jogo
luzes feito no palanque para o discurso de Hitler, a chamada “Catedral das Luzes”.
Ao final, o Führer com seu braço estendido em referência à saudação nazista aos
milhares de soldados ali presentes.
c) Elementos persuasivos
Águia ao fundo.
Iluminação.
Posição de saudação.
Plano contra-plongée.
73
Passagem de um pilar.
d) Interpretação
Ao longo do discurso de Adolf Hitler, um dos aspectos percebidos na
imagem são as luzes que iluminam o palco. A distribuição da iluminação no
palanque, além de deixar em evidência o Führer, a ponto de ser visto por todos os
expectadores, concebe um ar ancestral a cena. A noite acaba se tornando um
grande aliado para essa realização. Como Diehl cita que a escuridão proporciona a
situação ideal para os rituais nazistas em que o partido abusa do uso de fogos e
tochas criando um sombreamento similar aos da idade média.
Todas as luzes foram elaboradas e organizadas por Albert Speers, que de
acordo com Alcir Lenharo (1986, p. 41), tinham a intenção de criar efeitos
expressionistas, aumentando a estatura física das estátuas e consequentemente
transformando as em símbolos de uma grandeza única, mística. Lenharo afirma
também que a mobilização dos holofotes antiaéreos era total e a causa para o
respectivo resultado.
Enquanto Adolf Hitler discursava, a águia posicionada atrás do chanceler
tem o efeito de recordação dos anos de glória, de uma não tão antiga Alemanha.
Como se o animal, símbolo alemão, observasse e concordasse com o ritual nazista
que estava acontecendo, e depositasse neles a esperança de recuperar uma nação
em crise. Hitler em todas as suas oratórias no documentário, gesticula bastante para
expressar também em sinais, o que ele afirmava com tanta veemência. Na imagem,
o Führer faz questão de direcionar seus gestos à plateia, demonstrar para quem é a
mensagem. Leni Riefenstahl, para reforçar este direcionamento, utiliza-se
novamente do plano contra-plongée para captar Hitler e engrandece-lo novamente.
A passagem atrás dos pilares é para mostrar incorporar a visão do cinegrafista no
ponto de vista do público, ou seja, tornar a câmera subjetiva20.
20
Câmera subjetiva é a câmera que simula o ponto de vista de um determinado personagem.
74
Figura 5 - Homenagem à Hindenburg
a) Tempo: 1h: 04min: 31seg
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
A figura mostra Adolf Hitler e dois oficiais passando por milhares de
soldados e chegando ao local da cerimônia em homenagem ao falecido ex-
presidente alemão, Paul Von Hindenburg. Ao final do corredor humano, encontrava-
se o túmulo de Hindenburg com uma banda marcial a posta para o tributo.
c) Elementos persuasivos
Plano plongée21 da câmera.
Enquadramento geral do ambiente.
Quantidade imensurável de soldados.
Ordenação dos indivíduos
Individualização de Hitler para com os demais.
21
Plano Plongée é o plano feito pela câmera de cima para baixo. Significa mergulho em francês.
75
d) Interpretação
A grandiosidade da imagem começa pelo enquadramento da cena. Para o
documentário, como foi citado na seção da produção do filme, foram construídos
mastros com mais de 35 metros de altura, e neles acoplados elevadores para subir o
cinegrafista e sua câmera. A captação deste frame, devido sua altura e seu
enquadramento geral do local, consegue transmitir a grandiosidade que Hitler
almejava para o documentário. O plano plongée da câmera, que dependendo do
contexto incluído, significa inferioridade, diminuição e apesar de realmente aparecer
os soldados a uma grande distância, no caso desta cena, demonstra grandeza, algo
divino.
Essa impressão deificada22 da figura acontece por dois motivos. Primeiro,
seria a organização metódica e perfeccionista dos soldados alemães à cena. Como
Diehl cita: “esse espetáculo, mais do que teatral, é imponente, impressiona a todos,
transmitindo, ao mesmo tempo, coragem e medo, poder e impotência, ânimo e
intimidação”. (1996, p. 61). Percebemos que além de alinhados, eles seguem um
padrão de divisão, deixando pequenos espaços separando uma fileira da outra.
Também é evidenciado que as divisões não são feitas por grupos igualmente
divididos existindo pequenos grupos exclusos e também blocos que atravessam o
local inteiro. Essas variações geram uma dinâmica na imagem não a tornando
monótona ou maçante. E o segundo ponto seria a individualização de Hitler
(centralizado) e os dois chefes militares que o acompanhavam, Heinrich Himmler
(direita), líder da SS23 e Chefe da Polícia Alemã, e Viktor Lutze (esquerda), Chefe do
Estado Maior. Hitler atravessando aqueles milhares de soldados posicionados,
segundo Paula Diehl, o ato tem forte apelo religioso, assemelhando-se a Moisés
atravessando a passo o Mar Vermelho com desígnio de libertar seu povo do império
estrangeiro. O endeusamento proposital em Adolf Hitler podemos entender que seria
uma reencarnação de uma entidade divina e estaria ali para salvar os alemães das
últimas décadas sombrias que haviam passado, assim pelo menos era o que os
nazistas queriam que a opinião pública o considerasse.
22
Transformar em Deus, divinizar. 23
SS é a abreviação de “Schutzstaffel” (Tropa de Proteção).
76
Figura 6 - Passeata dos líderes nazistas
a) Tempo: 1h: 16min: 35 seg.
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
No frame mostra a passagem dos líderes nazistas em carros abertos e a
cortejo da população alemã presente na Praça Adolf Hitler, em frente à
“Frauenkirche” (Igreja de Nossa Senhora), ao chanceler alemão. Inúmeras pessoas
aparecem nas janelas dos prédios no intuito de enxergar Hitler e sua comitiva.
Muitos dos indivíduos prestam a saudação nazista a Adolf Hitler, que os retribui da
mesma maneira. Após a sua chegada à praça, começa a marcha da SA conduzida
por Viktor Lutze.
c) Elementos persuasivos
Bandeiras nazistas nas sacadas dos prédios
População alvoroçada
Construções antigas
Ordenação dos carros
77
Plano Geral
d) Interpretação
Uma das escolhas da cidade de Nuremberg para a realização dos
congressos nazistas seria devido as suas edificações medievais, que remetem a
uma nostálgica lembrança dos seus gloriosos antepassados. Em todo o
documentário é ratificada essa alusão ao passado vitorioso para confirmar um futuro
alemão próspero, logicamente, sob o comando nazista. As construções também
transmitem um ar místico necessário para transformar Hitler em uma personificação
deísta. As bandeiras do partido estão dispostas em todas as varandas dos prédios
misturando-se com toda a arquitetura do local. Podemos interpretar como aspectos
que lembram o passado e o presente, além da própria óbvia lembrança incessante
da ideologia nazista carregada em seus estandartes.
O plano geral da câmera conclui com êxito sua função: captar tudo que está
acontecendo no ambiente. Pessoas em êxtase pela presença de Hitler, carros
abertos com todos os líderes do partido organizados em ordem hierárquica, prédios
antigos, bandeiras com a suástica, compõem e transmitem toda uma grandeza
ideológica. A idolatria pelo Führer, através desta imagem, beira o fanatismo devido
às ensandecidas pessoas que reverenciavam Adolf Hitler. Conforme Paula Diehl
afirma em seu livro: “esse espetáculo, mais do que teatral, é imponente, impressiona
a todos, transmitindo, ao mesmo tempo, coragem e medo, poder e impotência,
ânimo e intimidação”. (DIEHL, 1996, p. 61).
78
Figura 7 - Último discurso de Hitler no salão do Congresso
a) Tempo: 1h: 43min: 19seg.
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
A imagem é tirada do último comício de Hitler no documentário, que
acontece a cerimônia de encerramento no salão do Congresso, e também seria o
último dia do evento. Adolf Hitler e os outros líderes do partido são vistos ao fundo
da figura no meio do recinto com milhares de soldados e civis sentados escutando
seu último discurso.
c) Elementos persuasivos
Suástica enorme e centralizada no local
Iluminação
Quantidade de pessoas saudando Hitler
Espaço no meio dividindo a multidão
Pilares do salão do congresso
Tamanho e altura do palco
79
Escuridão do ambiente
d) Interpretação
O último discurso de Adolf Hitler, as últimas palavras a serem ditas a seu
público, seus fãs, acontece em um organizado salão do congresso. A suástica
erguida e centralizada no estabelecimento além de significar a ideologia nazista cria
um envolvimento religioso a ser contemplado. A comparação da cerimônia de
encerramento nacional socialista com um culto religioso é inevitável, devido aos
inúmeros objetos que constrói a imagem. A suástica centralizada no meio para que
todos possam enxergar, substituindo uma imagem de cristo pregado na cruz, Adolf
Hitler como um pastor pregando seus ideais, os assentos separando os
expectadores em dois grandes blocos como acontecem nas missas e os pilares
simétricos lembrando arquiteturas greco-romanas fortalecem ainda mais a ideia de
um culto, só que desta vez a religião adotada seria o nazismo.
A escuridão do local com apenas a iluminação dos holofotes tira qualquer
importância dos alemães, soldados ou civis, ali presentes. A grande multidão é mero
objeto de composição da imagem, mas sem qualquer estima. Como nos talk shows
televisivos atuais, a relevância da multidão seria aplaudir quando se era mandado,
ovacionar Adolf Hitler quando necessário. O grande espetáculo estava no palco, o
protagonista da noite era Adolf Hitler. As luzes, dispostas ao público também causa
um efeito de extrema coordenação na plateia. Mesmo que apenas seja um caso de
pessoas sentadas ao lado das outras em fileiras, com a iluminação, representa uma
organização maior do que realmente é. Lenharo (1986, p. 41) fala sobre este efeito
em um caso semelhante na análise da Figura 4. A luminosidade, que varia de
acordo com os movimentos coordenados pelo técnico de luz, transmite uma ideia de
que um show está acontecendo naquele palco. A altura do palco aliada com a
largura cria ainda mais a semelhança com uma apresentação musical. Com isso,
parafraseando Brenner (2005, p. 62), a ocasião se transformou em um verdadeiro
showmício.
80
Figura 8 - Marcha dos soldados da SA
a) Tempo: 1h: 49min: 23seg.
Fonte: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der NSDAP.
b) Descrição
Este é o último take24 do Triunfo da Vontade, de Leni Rifenstahl. A
passagem da suástica do salão do Congresso de Nuremberg, para os soldados da
SA marchando lentamente.
c) Elementos persuasivos
Suástica
Plano médio do símbolo nazista
Marcha lenta dos soldados da SA
Céu claro com muitas nuvens
Transição de imagens
Plano contra-plongée dos soldados
24
Take é uma cena, uma tomada do filme.
81
d) Interpretação
Como na “Figura 1” foi escolhido o primeiro objeto do premiado
documentário de Leni Riefenstahl, a última figura será a também a respeito da última
cena do filme. Ao final da oratória de Rudolf Hess, delegado de Adolf Hitler que
discursou após o próprio, acontece à comemoração do público ali presente. A
suástica ao fundo do salão se torna a imagem principal da tela, e em um efeito de
transição elaborado por Leni é passada para a cena da marcha dos soldados da SA.
A suástica, símbolo predominante do nazismo, fecha o documentário que foi
aberto pelo monumento da águia. Apesar de o partido nacional socialista utilizar
ambos os símbolos, os significados se diferem. A águia, representante da garra e
superioridade alemã, abre o documentário com o intuito da recordação do público
alemão às décadas vitoriosas de seus antepassados. No final do filme, como se
quisesse dizer que o futuro de uma Alemanha superiora fosse o nazismo, com a
implantação da suástica na imagem, a abertura e fechamento do filme se condizem.
Podemos interpretar que na primeira imagem do filme a nação alemã obtêm
recordações de melhores épocas vividas, e após ver a obra completa de Leni, o
único modo de se ter novamente aquela nostálgica sensação seria por meio do
partido nazista.
A transição demorada feita por Leni Riefenstahl, mantendo a suástica na tela
com uma marcha lenta e tranquila dos soldados alemães, é propositalmente
significativa para reforçar este conceito de consentimento ao nazismo. O andar
pacífico dos militares passa uma ideia de calmaria aos telespectadores, de
momentos de paz, que com a enorme suástica ainda na imagem, representa que
essa tranquilidade só seria possível se a população alemã adotasse completamente
o partido de Adolf Hitler. As nuvens claras e com nuvens no céu fortalecem a síntese
de dias pacíficos na Alemanha pelo comando nazista. O plano contra-plongée
demonstra mais uma vez a superioridade, mas desta vez do exército alemão em
comparação aos demais. Contudo, também podemos discernir que o exército ou
qualquer simpatizante à causa, fosse superior e mais inteligente em relação aos
outros que não eram, e que se o respectivo indivíduo ainda não tivesse se afiliado
ao partido, deveria ingressar o quanto antes para também fazer parte da sociedade
superiora alemã.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso foi a identificação de
aspectos manipuladores utilizados pela propaganda nazista à população alemã,
contudo, além disso, a também assimilação de fatores que auxiliaram neste total
controle do partido Nacional Socialista. Uma das dificuldades em realizar este
trabalho foi adquirir bibliografias que falassem sobre a propaganda política. A
maioria dos autores que abordaram o respectivo tema, se baseavam no livro, “A
Propaganda Política”, de Jean Marie Domenach, e em virtude disso, me
impossibilitou de adquirir qualquer outro ponto de vista. Outro difícil aspecto foi
encontrar bibliografias que discorressem sobre os dados técnicos do filme “Triunfo
da Vontade”, como equipe de produção e equipamentos. O discurso político da
propaganda nazista não foi analisado em decorrência do direcionamento para
apenas a identificação dos elementos visuais persuasivos no filme. Aspectos que
geralmente passam despercebidos pela grande população.
A propaganda, tendo seu início com a igreja católica que procurava uma
forma de impedir o crescimento da frente protestante, surgiu com o intuito de
propagar a palavra e fortalecer a ideologia, trazendo consigo mais adeptos ao
catolicismo. No século XVIII, ao contrário da propaganda atual que atua de forma
persuasiva, a priori servia apenas para informar o determinado produto ou serviço à
população. Isto começa a mudar em decorrência da Revolução Industrial, no século
seguinte. A fabricação de produtos em larga escala fez com que as empresas
aumentassem obrigatoriamente seu mercado consumidor. Consequentemente, a
propaganda então se tornou uma grande aliada das companhias, que com a
evolução dos meios de comunicação, contribuiu na divulgação das mercadorias e
impulsionou suas vendas.
A propaganda política antes mesmo da Grande Guerra já havia indícios de
suas utilizações, como Tchakhotine (1967, p. 300) afirma. Na Revolução Francesa,
com a criação de símbolos como bandeiras, emblemas e hinos, estes elementos se
tornaram fundamentais para a construção do termo, que tinha a intenção de
mobilizar a população a uma nova ordem política. Na Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), o governo americano utilizou-se da propaganda para convencer
convencimento a população dos EUA em um fatídico ingresso à guerra. O governo
83
se preocupava com a aprovação do país em uma suposta entrada, e por isso
Lippmann e Bernays foram essenciais na persuasão da opinião pública americana.
Com o uso exacerbado da propaganda política no século XX, Jean-Marie
Domenach conseguiu assimilar pontos importantes utilizados pelos governos nazista
e bolchevista para o convencimento da massa e, posteriormente descritos em seu
livro “A Propaganda Política”, elaborou 5 leis que são utilizadas por estes dois
regimes. As leis de simplificação e do inimigo único, ampliação e desfiguração,
orquestração, transfusão e a lei da unanimidade e de contágio são encontradas pelo
autor nos diferentes sistemas de governo, criando um respectivo padrão de
utilização da propaganda. Ele também diferencia o estilo próprio da propaganda de
cada governo evidenciando a base instaurada por ambas. A propaganda de Lenin,
líder do partido bolchevique, é baseada na transparência em transmitir os
verdadeiros interesses do governo. Enquanto a propaganda de Adolf Hitler e Joseph
Goebbels instalam seus pilares na subjetividade da mensagem. Muitas vezes, na
propaganda nazista, a informação passada pelo partido não tinha de fato tantos
valores significativos, contudo, servia para criar uma agitação do ouvinte e
consequentemente um entusiasmo espontâneo da população.
No tempo em que esteve preso, em 1923, após um falho golpe de Estado do
partido nazista, Adolf Hitler escreveu seu livro “Mein Kampf” (Minha Luta). Na obra,
Hitler evidencia o real objetivo de um partido. Segundo ele, o principal fim de um
movimento político é mobilizar a massa a ponto de conquistá-la a seu favor.
Seguindo esta premissa, o futuro chanceler elaborou 14 regras para atingir e
manipular a população, que as seguiria durante toda a chegada ao poder.
O chanceler acreditava que a propaganda de fato era muito importante para
um movimento, contudo, devia ser deixada de lado após auxiliar o movimento
político a conquistar toda à população. Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda
nazista, pensava de modo contrário. Ele acreditava que a propaganda além de
ajudar a conquistar as massas à uma nova ideia, devia auxiliar o regime em um
processo de manutenção da ideologia do partido. O Ministério da Propaganda
fiscalizava, manipulava e dirigia todos os meios de comunicação da época. O
cinema e as transmissões de rádio foram de suma importância para manter a ideia
nazista em alta e justificar a caça que acontecia nos sistemas contrários ao regime,
como outros partidos e os comunistas. Também serviu para caçar os judeus os
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transformando em grandes culpados por todo o sofrimento que a Alemanha passou
na década passada.
O documentário “Triunfo da Vontade”, de Leni Riefenstahl, lançado em 1935,
mas gravado em 1934 no 6° Congresso de Nuremberg, se tornou uma das principais
obras do governo Nacional Socialista Alemão pela glorificação desenvolvida envolto
de Adolf Hitler. Autores como Kracauer e Leiser mencionam sobre a disposição de
todo Congresso, que foi totalmente desenvolvido para as gravações do
documentário. Leiser afirma que não era possível distinguir onde acabava o real e
começava a encenação. Ao longo da análise feita, percebemos estilos de corte na
edição, planos utilizados das câmeras – empregados ainda nos filmes atuais – e
uma organização incrível das tropas e objetos que compuseram cada cena do
documentário.
Planos gerais que cobriam todo o local foram bastante enfatizados pela
diretora durante o filme, a transição de uma imagem a outra se abstendo muitas
vezes do corte seco, hora criava uma breve sensação de ligação entre uma cena à
outra, hora deixava o telespectador apreensivo ao querer descobrir o que viria logo
em seguida e, que de tempos em tempos, criava-se um flerte tentador entre Adolf
Hitler e um deus. Planos detalhes que mostravam as expressões de cada soldado,
mãos, rostos, objetos, serviam para ilustrar todo um contexto da imagem
possibilitando assim gerar um maior fortalecimento no convencimento daquilo que
estava sendo dito. Câmeras subjetivas, também muito usadas por Leni, transmitia
um aspecto de união entre o partido com o público que o assistia. A percepção de
estar em meio aos soldados trazia consigo toda uma vontade e entusiasmo do
indivíduo. As posições plongée e contra-plongée da câmera criavam, cada uma a
seu modo, um aspecto de diminuição ou aumento da proporção do retratado. Como
mencionado na análise, o cinegrafista que filmava Adolf Hitler de baixo para cima
criava a impressão de que o Führer estava em um patamar acima dos demais, uma
superioridade insólita.
Todas essas técnicas aliadas com inúmeros elementos de persuasão, como
bandeiras, emblemas nazistas, símbolos que lembravam uma antiga e poderosa
Alemanha, gestos, depoimentos de chefes militares, auxiliaram na exaltação de
Adolf Hitler cultivando na população alemã a grandeza, o ritual, o poder e a mística
em torno do chanceler. Um personagem que se tornaria singular na história mundial
e embora a gravação do documentário tivesse acontecido no começo de seu regime
85
totalitário, o Führer já estava ciente deste fato. O conhecimento destas técnicas
empregadas pelo regime totalitário alemão serve como base de comparação para a
propaganda utilizada atualmente pelos partidos políticos, obtendo um crescimento
importante para o futuro profissional da área de comunicação, mas mais que isso,
também a compreensão de como a propaganda funcionava, e como ela pode afetar
o seu âmbito social se não houver um mínimo discernimento do profissional em
publicidade e propaganda.
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ANEXOS
ANEXO I - Carta de Leni Riefenstahl
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ANEXO II - Leni na África
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FICHA TÉCNICA
Filme: Triumph dês Willens (Triunfo da Vontade)
Gênero: Documentário/Guerra
Duração: 109 minutos
Lançamento: 1935
País: Alemanha
Classificação etária: livre Diretora: Leni Riefenstahl. Escritores: Leni Riefenstahl, Walter Ruttmann, Eberhard Taubert.
Companhia Produtora: Leni Riefenstahl-Produktion, Reichspropagandaleitung der
NSDAP. Edição: Leni Riefenstahl. Música: Herbert Windt. Estrelas: Adolf Hitler, Hermann Göring, Max Amann, Joseph Goebbels, Rudolf Hess.
ANEXO III