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LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM Dr. Cornelius (Neal) Hegeman e Alejandro Cid (eds.) e estudantes de MINTS, Miami: Carlos Ruiz, Rubén Reyes, Alfonso Luis, Felipe González, Luis Pieschacon, Mara Parra, Curso do: MINTS [Seminario Internacional de Miami] 14401 Old Cutler Road Miami, FL 33158 786-573-7001 E-mail, [email protected] Página Web, mintsespanol.comq Prsb. José Aristides (Trad.) 2014 1

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LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM

Dr. Cornelius (Neal) Hegeman e Alejandro Cid (eds.) e estudantes de MINTS, Miami:Carlos Ruiz, Rubén Reyes, Alfonso Luis, Felipe González, Luis Pieschacon, Mara Parra,

Curso do:

MINTS [Seminario Internacional de Miami]14401 Old Cutler Road

Miami, FL 33158786-573-7001

E-mail, [email protected]ágina Web, mintsespanol.comq

Prsb. José Aristides (Trad.)

2014

1

ÍNDICE

LUCAS: JESUS CRISTO, O FILHO DO HOMEM

COMO ESTUDAR O CURSO

INTRODUÇÃO

LIÇÃO UM OS SERVOS DE DEUS (1: 1 - 80)INTRODUÇÃO1. LUCAS E TEÓFILO (1: 1 - 4)2. ZACARIAS, ISABEL, JOÃO O BATISTA E GABRIEL (1: 5 -

25)3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1: 26 - 38)4. ISABEL W MARIA (1: 39 - 56)5. NASCIMENTO DE JOÃO (1: 57 - 66)6. PROFECIA DE ZACARIAS (1: 67 - 80)CONCLUSÃO

LIÇÃO DOIS O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2: 1 - 52)INTRODUÇÃO1. O NASCIMENTO DE JESUS (2: 1 - 7)2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2: 8 - 20)3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPLO (2: 21 -38)4. O REGRESSO A NAZARÉ (2: 39 - 40)5. O MENINO JESUS NO TEMPLO (2: 41 - 52)CONCLUSÃO

LIÇÃO TRÊS A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO PÚBLICO (3:1 - 4: 44)INTRODUÇÃO1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3: 1 - 20)2. O BATISMO DE JOÃO (3: 21 - 22)3. A GENEALOGIA DE JESUS (3: 23 - 28)4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4: 1 - 13)5. O PRINCÍPIO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4:14- 15)

6. O INÍCIO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4:16-30)7. A CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO EM CAFARNAUM E

NA GALILÉIA (4:31-44) CONCLUSÃO

LIÇÃO QUATRO CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (5: 1 - 9: 50)INTRODUÇÃO1. A PESCA MILAGROSA E O CHAMADO DE PEDRO, JACÓ

E JOÃO (5: 1 – 11)2. JESUS CURA UM LEPROSO E UM PARALÍTICO (5: 12 – 16)

3. OS DISCÍPULOS COLHEM ESPIGAS NA DIA DE REPOUSO (6: 1 – 5)

4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6: 6 – 11)5. O CHAMADO DOS DOZE APÓSTOLOS (6: 12 – 19)6. BEM-AVENTURANÇAS E AIS (6: 20 – 26)

2

7. O AMOR E OS INIMIGOS (6: 27 – 36)8. JULGAR, PRODUZIR FRUTO E ESTAR FUNDAMENTADO (6: 37 – 48)

9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7: 1 – 10)10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA (7:11-17)11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA.12. JESUS NA CASA DE SIMÃO O FARISEU (7: 36 – 50)13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8: 1 – 3)14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (7: 18 – 35)15. A LUZ DEVE BRILHAR (8: 16 – 18)16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8: 19 -21)17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8: 22-25)18. LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONIADO (8: 26 – 39)19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O MANTO

DE JESUS (8: 40 – 56)20. A MISSÃO DOS DOZE (9: 1-6)21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9: 7 – 9)22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9: 10 – 17)23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9: 18 – 27)24. A TRANSFIGURAÇÃO (9: 28 – 36)25. JESUS CURA A UM JOVEM ENDEMONIADO (9: 37 -45)26. QUEM É O MAIOR? (9: 46 – 50)CONCLUSIÓN

LIÇÃO CINCO O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9: 51-19: 27)INTRODUÇÃO1. JESUS E OS DISCÍPULOS (9: 51 – 10: 24)2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR (10: 25 - 42)3. JESUS ENSINA A ORAR (11: 1 - 13)4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO (11: 14 - 12: 3)5. JESUS ENSINA COMO SEGUI-LO (12: 4 - 14: 35)6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLAS (15: 1 - 16: 15)7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16: 16 - 31)

8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17:1- 19:10) 9. PARÁBOLA DAS DEZ MINAS (19: 11 - 27) CONCLUSÃO

LIÇÃO SEIS A SEMANA DA PAIXÃO (19: 28 - 22: 71) INTRODUÇÃO

1. ENTRADA TRIUNFAL EM JERUSALÉM (19: 28 - 44)2. PURIFICAÇÃO DO TEMPLO (19: 45 – 48)3. A AUTORIDADE DE JESUS (20: 1 – 8)4. OS LAVRADORES MAUS (20: 9 – 18)5. A REAÇÃO DOS LÍDERES (20: 19 – 26)6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20: 27 - 40)6. DE QUEM JESUS É FILHO? (20: 41 – 44)7. JESUS ACUSA AOS ESCRIBAS (20: 45 – 47)8. A OFERTA DA VIÚVA (21: 1 - 4)

9. SINAIS ANTES DO FIM (21: 5 – 24) 10. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21: 25 – 38) 11. O COMPLÔ PARA MATAR A JESUS (22: 1 – 6)

3

12. A PÁSCOA E A INSTITUÇÃO DA CEIA DO SENHOR (22: 7 – 30)

13. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A QUESTÃO DO SUSTENTO (22: 31 – 38)

14. JESUS ORA NO GETSEMÂNI (22: 39 – 46)15. A PRISÃO DE JESUS (22: 47 – 71)

16. PEDRO NIEGA A JESÚS (22: 54 – 62) 17. JESUS PERANTE O TRIBUNAL JUDAICO (22: 63 – 71)

CONCLUSÃO

LIÇÃO SETE O JUÍZO E A MORTE DE JESUS (23: 1 - 56)INTRODUÇÃO1. JESUS E PILATOS (23: 1 – 5)

2. JESUS E HERODES (23: 6 - 12) 3. A SENTENÇA DE JESUS (23: 13 – 25) 4. CRUCIFICAÇÃO E MORTE DE JESUS (23: 26 – 49)

5. JESUS É SEPULTADO (23: 50 – 56) CONCLUSÃO

LIÇÃO OITO A GRANDE COMISÃO SEGUNDO LUCAS (LUCAS 24: 1 - 53)INTRODUÇÃO

1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24: 1 - 12) 2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24: 13 - 35) 3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE JESUS É

VISÍVEL E PAUPÁVEL (24: 36 – 49) 4. A CONTINUAÇÃO (24: 50 - 53)

CONCLUSÃO

CONCLUSÃOMANUAL DO PROFESSORAPÊNDICEBIBLIOGRAFIABIOGRAFIAFOLHA DE ESTUDO

4

INTRODUÇÃO

O propósito deste estudo sobre o Evangelho de Lucas é para saber: Por que foi escrito?

Que contribuição apresenta a pesquisa do Evangelho de Lucas sobre a vida e o ensino de

Jesus Cristo?

Nas introduções dos quatro Evangelhos, o foco cristológico destes livros é identificado

no princípio de cada Evangelho.

Mateus 1.1: Jesus com filho de Abraão (verdadeiro crente) e Filho de Davi

(verdadeiro rei).

Marcos 1.1: Jesus Cristo é o Filho de Deusi

Lucas 1.1-4: Jesus é o histórico e humano Filho de Deus.

João: Jesus é divino, ele é Deus.

A identificação do tema principal de Lucas está 4.18 e 19.10. “O Espírito do Senhor

está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres...” (O Messias, o ungido). E,

“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido” (Filho do Homem).

Uma estrutura cronológica é:

Lucas: Jesus Cristo é o Filho do Homem e Messias Histórico e Humano (1.1-4)

1. Prefácio e apresentação dos servos de Deus (Lucas 1.1-80);

2. O nascimentos e a apresentação de Jesus (1.1-52);

3. A preparação de Jesus para seu ministério público na Galiléia (3.1-4.44);

4. O ministério de Jesus na Galiléia (5.1-9.50);

5. O ministério em Samaria e Peréia (9.51-19.27);

6. A semana da paixão (19.28-22.71);

7. O juízo e a morte (23.1-56);

8. Ressurreição, Grande Comissão e ascensão (cap. 24).

A chave hermenêutica para estudar Lucas será examinar 8 passagens que se encontram

nesse Evangelho. Alguns são parcialmente mencionados em outros Evangelhos e alguns são

novos. Cremos que o foco de Lucas pode ser determinando nestas passagens.

5

Material Novo em Lucas1

1.1-4 Prefácio ou Prólogo

1.5-25 Promessa do nascimento de João Batista

1.26-38 O anúncio (Promessa a Maria do nascimento do Salvador)

1.39-45 Visita de Maria a Isabel

1.46-56 O Magnificat (canto de louvor de Maria)

1.57-66 O nascimento de João Batista

1.67-80 O Benedictus (Profecia de Zacarías)

2.1-7 O nascimento de Jesus

2.8-21 O anúncio do nascimento de Salvador aos pastores, “Glória a Deus nas

alturas”, a visita dos pastores, a Jesus é dado um nome.

2.22-38 A aprensentação de Jesus no templo

o Nunc Dimittís de Simão

Ação de graças de Ana

2.39-40 O retorno a Nazaré

2.41-52 O menino Jesus no Templo

3.1-20 O ministério de João Batista

3.23-38 A genealogia de Jesus

4.14-15 O início do grande ministerio na Galiléia

4.16-30 A rejeição de Jesus em Nazaré

5.1-11 Uma pesca milagrosa

7.11-17 A ressurreição do filho da viúva de Naim

7.36-50 Jesus é ungido por uma mulher pecadora

A parábola dos dois credores

8.1-3 As mulheres que ministram

9.51-56 Uma aldeia samaritana se nega a receber Jesus

10.1-12 A comissão dada aos setenta (ou setenta e dois)

10.17-20 O retorno dos setenta (ou setenta e dois)

10.25-37 A parábola do samaritano compassivo

10.38-42 Maria de Betância faz uma escolha correta

1 Guillermo Hendriksen, El Evangelio según San Lucas, pp. 31 - 33.6

11.1-4 “Ensina-nos a orar” O Pai Nosso

11.5-13 A parábola do amigo importuno

11.27-28 A verdadeira bem-aventurança

11.37-54 Jesus é convidado a comer na casa de um fariseu. Denúncia contra os

fariseus e os intérpretes da lei.

12.13-21 A parábola do rico insensato

12.32-34 “Não temais”. “Vendei os vossos bens e daí esmola”

12.35-40 A parábola dos servos vigilantes

12.49-50 Fogo e Batismo

13.1-5 Arrependei-vos ou perecereis

13.6-9 A parábola da figueira estéril e do viticultor misericordioso

13.10-17 A cura de uma mulher inválida no dia do repouso

13.22-30 A porta estreita

13.31-33 A partida da Galiléia

14.1-6 A cura do hidrópico

14.7-14 Uma lição para os convidados: A parábola dos lugares reservados, e

uma lição para o anfitrião

14.15-24 A parábola do convite rejeitado

14.25-33 O custo do discipulado

A parábola do homem que edificou sem calcular o custo

A parábola do rei razoável

15.1-7 A parábola da ovelha perdida

15.8-10 A parábola da moeda perdida

15.11-32 A parábola do filho pródigo

16.1-13 A parábola do mordomo astuto

16.14-15 Repreensão da justiça própria dos fariseus

16.19-31 A parábola do homem ostentador (o rico) e do mendigo (Lázaro)

17.5-6 “Aumenta-nos a fé”

17.7-10 A parábola do servo inútil

17.11-19 A cura dos dez leprosos, dos quais só um voltou para agradecer

17.20-37 A vinda do reino

18.1-8 A parábola da viúva que perseverou

7

18.9-14 A parábola do fariseu e do publicano

19.1-10 Jesus e Zaqueu

19.11-27 A parábola das minas

19.39-40 “Se estes se calarem as pedras clamarão”

19.41-44 “Quando viu a cidade chorou sobre ela”

21.20-24 O anúncio da destruição de Jerusalém

21.25-28 A vinda do Filho do Homem

21.34-36 Vigiai e orai, lembrando da vinda do Filho do Homem

21.37-38 Resumo do ensino final de Jesus no templo

22.3-6 Satanás entra no coração de Judas

22.14-23 A instituição da Ceia do Senhor

22.24-30 A disputa acerca da grandeza

22.31-34 A oração de Cristo por Pedro

22.35-38 “Porventura vos faltou alguma coisa?”

22.39-46 Jesus no monte das Oliveiras

22.47-53 Traição e Prisão

A orelha cortada e restaurada

“Esta é a vossa hora”

22.54-62 Pedro nega a Jesus

22.63-65 Jesus é zombado e espancado

22.66-71 Jesus é condenado pelo Sinédrio

23.1-5 Jesus perante Pilatos

23.6-12 Jesus perante Herodes

23.13-25 Jesus sentenciado à morte

23.26-43 Simão de Cirene

Choram as filhas de Jerusalém

Jesus crucificado entre dois criminosos

As duas primeiras palavras da cruz

23.44-49 A morte de Jesus

23.50-56 A sepultura de Jesus

24.1-12 A ressurreição de Jesus

24.13-35 A aparição de Cristo aos de Emaús

8

24.36-49 A aparição de Cristo a seus discípulos

24.50–53 A ascensão de Cristo

Nosso estudo se concentrará em oito porções dessas passagens.

9

LIÇÃO UM

OS SERVOS DE DEUS (1.1-80)

INTRODUÇÃO

Enquanto Mateus menciona Maria, José, os magos e João Batista; Marcos adiciona os

quatro discípulos pescadores (Simão, André, Tiago e João), e João menciona os demais

discípulos; Lucas nos fala de Teófilo, Isabel, Zacarias, Gabriel, Simão, Ana e, além disso, nos

dá varias particularidades sobre João Batista, Maria, José e Jesus. Lucas identifica servos de

Deus relacionados com os apóstolos, mas fora do círculo imediato dos apóstolos. Neste

sentido, o Evangelho de Lucas é uma apologia para os “leigos,” os crentes comuns, os pobres

e os servos de Deus.

1. LUCAS E TEÓFILO (1.1-4)

Lucas

Lucas é o autor do Evangelho de Lucas e de Atos. É o “médico amado” (Cl 4.14).

Estima-se que era um judeu grego (da circuncisão). Sua associação é com o apóstolo Paulo

(Cl 4.14; 2 Tm 4.11; Fl) É o primeiro historiados da igreja primitiva (Lucas 1.1-4; Atos 1.1).

Um judeu grego. Lucas era um judeu grego educado e mostra que o Evangelho não se

restringia a judeus hebreus, o evangelho é universal2. “Segundo a voz da tradição, Lucas era

grego. A exatidão, a amplitude e a beleza de seu estilo grego concordam com essa crença”.

Um leigo. Lucas não é contado como um apóstolo. Como “leigo” tem a mesma graça

que tinham os apóstolos para escrever Escritura. Por certo, Lucas estava associado com Paulo

e viajava com ele em algumas viagens missionárias (At 15.36-18.22). Nesse sentido, ele é

testemunha ocular da vida e ensinos dos apóstolos. Ele nos relata o que investigou junto a

testemunhas oculares e fiéis do Senhor Jesus.

Um médico. Como médico Luas presta atenção a certos detalhes físicos e emocionais

pelos quais são afetados os enfermos. Hendriksen escreve:

2 Hendriksen, p. 23.10

O ponto de vista equilibrado parece ser que o que sustêm tantos estudiosos – entre eles Berkhof, Harnack, Plummer, Ramsay, Robertson, Zahn – e que é resumido por G. T. Purves em seu artigo sobre Lucas (Westminster Dictionary of the Bible, pp. 364-366). Sua posição é a seguinte: Dado o fato de que Lucas certamente era médico (Cl 4.14), certas passagens do terceiro Evangelho (e Atos) coincidem com essa descrição. Para ver claramente isto, as seguintes passagens deveriam ser comparadas com suas paralelas em Mateus e/ou Marcos: Compare-se pois, Lc 4.28 com Mt 8.14 e Mc 1.30 (a natureza e o grau da febre da sogra de Pedro); Lc 5.12 com Mt 8.2 e Mc 1.40 (a lepra); e Lc 8.43 com Mc 5.26 (a mulher e os médicos). Facilmente podemos adicionar outras. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão direito que estava ressequida (6.6; cf. Mt 12.10; Mc 3.1), e entre os escritores sinóticos somente Lucas menciona que a orelha direita do servo do sumo sacerdote era a que foi cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Comparem-se ademais Lc 5.18 com Mt 9.2, 6 e Mc 2.3, 5, 9; e cf. Lc 18.25 com Mt 19.24 e Mc 10.25. Além disso, aqinda é certo que os quatro Evangelho apresentam a Cristo como o Médico compassivo de alma e corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram homens de terna compaixão, porém em nenhuma parte esse fato é mais abundantemente notório do que no terceiro Evangelho3.

Um historiador. Como historiador, Lucas 1.1-4 identifica seu método como o método

de documentar a história. Lucas reconhece outros autores, cita múltiplas testemunhas fiéis e

faz sua própria investigação sobre o que havia acontecido.

Ele reconhece os escritos de outros: “Visto que muitos houve que empreenderam uma

narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram”. Ele toma emprestado dos autores

dos outros Evangelhos e possivelmente de outra fonte que é conhecida como Q. Mas, não é

conhecido com certeza qual dos autores do Evangelho escreveu primeiro, mas há um bom

consenso de que foi Marcos.4 Os autores dos Evangelhos conheciam os demais autores e seus

escritos, porém não contradiziam um ao outro, mas tem seus próprios propósitos teológicos e

didáticos.

Seus escritos são baseados em um duplo testemunho: o testemunho ocular (“viram

como seus olhos”) e o testemunho cristão (“ministros da palavra). Além das testemunhas

oculares havia os que tinham ouvido das testemunhas oculares e fielmente haviam

comunicado a Palavra.5 Assim, a primeira e a segunda geração de testemunhas foram

investigadas por Lucas.

Os escritos de Lucas são fruto de investigação das coisas que haviam acontecido. Os

escritos de Lucas não caíram do céu, não foram ditados por anjos (ainda que ele faça menção

ao que disseram os anjos), não foi ditado por uma voz divina, foram, porém uma investigação

árdua realizada debaixo da inspiração do Espírito Santo.

3 Ibíd., p. 18.4 Ibíd., p. 38.5 Ibíd., p. 71.

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Teófilo

Um discípulo gentil. Teófilo, “amado de Deus” é o destinatário dos escritos de Lucas

(1.3; Atos 1.1). Fora dos escritos de Lucas, a Bíblia não fala mais dessa pessoa. Só sabemos

que era “excelentíssimo” e um discípulo que foi instruído no Evangelho de Jesus Cristo. O

que podemos discernir da menção de Teófilo como possível oficial gentil, que amava a Deus

e discípulo de Cristo e que ele necessitava ler a evidência histórica sobre os ensinos e obras de

Cristo. Os escritos de Lucas são uma apologia para os gentios: a verificação do Evangelho de

Jesus Cristo para a igreja universal.

2. ZACARIAS, ISABEL, GABRIEL E JOÃO BATISTA (1.5-25)

Zacarias

Um sacerdote. O anjo Gabriel não aparece ao sumo sacerdote nem aos líderes

superiores de Zacarias, nem ao tirando Herodes, mas a este homem, sacerdote humildes e sua

esposa. Assim é a graça de Deus, ele se revela aos humildes.

Zacarias é sacerdote segundo a ordem de Abias (Lc 1.5; 1 Cr 24.10). O serviço destes

sacerdotes era duas vezes por ano, por uma semana. Neste sentido, não era um sacerdote

servindo em tempo completo, mas um sacerdote “leigo.”

O sacerdócio é necessário para o povo de Deus. Os sacerdotes oram a Deus, são

intercessores perante Deus. A oração é simbolizada pelo incenso. Eles também preparam os

sacrifícios que são necessários para entrar na presença de Deus.

Sem a obra sacerdotal é impossível para o pecador entrar na presença de um Deus

santo e perfeito. O pecado impede tal entrada. Para entrar na presença de Deus o homem deve

reconhecer e crer no Deus verdadeiro, orar, fazer sacrifício pelo pecado e fazer uma oferenda

em gratidão. Deus providenciou o sacerdócio universal (o de Melquisedeque) e o sacerdócio

particular para Israel, o de Arão.

Casado. Zacarias era casado com Isabel. Eles não tinham filhos, mas eram fiéis em

seu matrimônio. A família é a instituição pela qual Deus trabalho no mundo. Na criação

original, só estava Deus e a família original: Adão e Eva. Milhares de anos depois, Deus vai

trabalhar por meio desta família humilde.

12

Os sacerdotes do Antigo Testamento podiam casar. No Novo Testamento, todos os

líderes cristãos tinham direito a casar. Proibir casar era considerado pelos apóstolos uma

apostasia (1 Tm 3.1-5).

O filho de Zacarias e Isabel, como Abel da primeira família, viria a ser martirizado.

Isso aconteceu com Abel, João Batista, os profetas e Jesus que foram perseguidos pelos Caim,

Herodes e Pilatos deste mundo.

Justo. Este homem humilde é identificado como justo. Sua justiça foi vista por suas

vidas irrepreensíveis em todos os mandamentos e ordenanças de Deus. São um contraste aos

líderes religiosos que também tinham os mandamentos e ordenanças de Deus, mas rejeitaram

ao Messias.

A justiça perfeita diante de Deus é uma justiça providenciada por Deus. Por isso, a

participação do povo de Deus no sacerdócio é importante. No sacerdócio, Deus mostra a

maneira como o homem pode reconciliar-se com Deus. Zacarias e Isabel eram fiéis a Deus e

mostram isso obedecendo aos mandamentos e participando nas suas ordenanças.

Homem de oração. Zacarias e Isabel havia orando por um filho, mas Isabel era estéril.

Eles necessitavam de um milagre de Deus. Gabriel anuncia que “a tua oração foi ouvida, e

Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João” (Lc 1.13).

A oração é parte da vida espiritual dos crentes. A oração não obriga Deus a agir mas é

um apelo à graça e à misericórdia de Deus. Deus é soberano e o crente mostra isso em oração.

Não é o crente que é soberano e Deus deve responder. Deus é soberano e o crente responde à

graça de Deus.

Faltou-lhe fé. Apesar de ser um homem justo e de oração, faltava fé a Zacarias, pois

ele não creu imediatamente nas palavras de Gabriel. Os justos não são perfeitos, mas salvos

pela graça de Deus. A justiça dos crentes não depende da fé do justo, mas depende de Deus,

nos qual o justo crer.

Ele ficou mudo. O castigo por não crer nas palavras de Gabriel foi ele ficar mudo até

que fosse cumprida a promessa do nascimento de João. Mathew Henry escreve:

Zacarias ouviu tudo o que disse o anjo, mas falou com incredulidade. Deus o tratou justamente ao deixá-lo mudo, pois ele tinha objetado a palavra de Deus. podemos admirar a paciência de Deus para conosco. Deus o tratou amavelmente, porque assim lhe impediu de falar mais coisas afastadas da fé e em incredulidade. Assim, também, Deus confirmou sua fé. Se pelas repreensões a que estamos submetidos por nosso pecado, somos guiados a dar mais crédito à palavra de Deus, não temos razão para queixar-nos. Ainda os crentes verdadeiros são dados a desonrar a Deus com

13

incredulidade; e suas bocas são fechadas com silêncio e confissão, quando pelo contrário, teriam devido estar louvando a Deus com gozo e gratidão.

Nos tratos da graça de Deus devemos observar suas considerações bondosas para conosco. Ele nos olhou com compaixão e favor e, portanto, assim nos tratou.

Foi vindicado. Por fim, Isabel, concebeu e o marido foi vindicado diante do povo. O

ter filho era considerado como uma mostra da graça de Deus. Porém, mais que isso, a

concepção de João era uma mostra da soberania de Deus e evidência de que Deus estava

cumprindo seu plano de redenção. Tal como Sara deu a luz a Isaque, segundo a promessa de

Deus, assim Deus continua mostrando seu poder e propósito. (Gn 21.1 e 2; Hb 11.11 e 12).

Um profeta. Os versos 67-79 relata a profecia de Zacarias. Zacarias cheio do Espírito

Santo, fala do Deus do pacto (1.67-75). O cumprimento das profecias do pacto é importante

para mostra a soberania e a misericórdia de Deus. O anelo deste humilde servo de Deus é

viver em santidade e justiça (v. 75) diante de Deus. O Salvador ia trazer esta santidade e

justiça.

Zacarias profetiza sobre seu filho. O filho ia preparar o caminho do Senhor. O Senhor

(um nome divino!) vem à terra! Jesus não nasce para chegar a ser divino e Deus (crença

mórmon), mas ele é o Filho de Deus que vai ser encarnado como homem.

João Batista foi viver no deserto. Tal como o povo de Israel teve que passar pelo

deserto para ser preparado para servir ao Senhor, assim João foi preparado no deserto para

servir ao Senhor.

Isabel

De família sacerdotal. Enquanto Zacarias era “da ordem de Abias”, Isabel era da

família sacerdotal de Arão. Aqui vemos a preservação da família sacerdotal. Apesar de, por

causa do pecado e da corrupção de Israel, os reis e os profetas haviam desaparecido, todavia

havia um remanescente sacerdotal fiel.

Estava fielmente casada com Zacarias. É importante notar que Zacarias e Isabel

observaram a lei e os profetas quanto ao matrimonio monogâmico (Gn 2; Dt 17.7). A

poligamia havia destruído as famílias de grandes reis, tais como Davi e Salomão. Por causa

das mulheres idólatras e homens adúlteros, os reis pecaram e Israel ficou dividido até hoje.

14

Era estéril, mas concebeu. Tal como Sara (mãe de Isaque), Ana (mão de Samuel) e

logo Maria (mãe de Jesus) ela ia conceber de uma maneira milagrosa. Pois, não foi a primeira

vez e nem a última que Deus iria intervir na história humana por meio de um milagre.

Apesar da esterilidade de Isabel, ela concebeu. “A extrema incapacidade do homem é

a oportunidade de Deus.” 6 Aqui se vê o imenso amor e misericórdia de Deus para esse casal.

Uma mulher. É notável que o primeiro capítulo apresente três mulheres servas de

Deus. Elas são Isabel, Maria e Ana.

O livro do médico amado tem sido chamado de Evangelho da mulher, devido à terna e profunda consideração do Salvador pelas mulheres que se destaca nesse Evangelho de forma mais clara que em qualquer outro. Por exemplo, note-se a proeminência que se dá a Maria, a mãe de Jesus, e a Isabel (cap. 1 e 2). Recorde-se também que somente esse Evangelho menciona Ana, a profetisa e Joana, a leal seguidora (2.36-28; 8.3; 24.10). A linda história em que Maria (irmã de Marta e Lázaro) faz uma escolha correta também aparece somente aqui (10.38-42). Issto também vale para o emocionante relato acerca da bondade de Cristo mostrada para com a viúva de Naim (7.11-81), e para com a mulher pecadora que ungiu ao Senhor (7.36-50). Ademais, é inesquecível a parábola da Viúva que perseverou (18.1-8). E veja-se 11.27, 28; 13.10-17; 23.27)7.

João Batista

Um grande homem. A grandeza de João Batista é muito diferente da grandeza do

mundo. “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt

11.11). Era, entretanto, muito humilde.

“Com espírito de humildade ele disse: Convém que ele cresça e que eu diminua (Jo

3.30). Em vista do fato de que o próprio Jesus ao descrever a natureza da verdadeira grandeza,

sempre a relaciona com a humildade (Lc 7.6, 9; cf Mt 8.8-10; Lc 9.46-48; cf Mt 18.1-5; Mc

9.33-37; e veja-se também Mt 15.27-28).”8

Consagrado e separado para Deus. Ainda que todos os homens possam viver como

João, ele foi separado por Deus para preparar o caminho do Senhor. Seu nascimento e

ministério vai trazer muito gozo para os crentes (v.14).

Cheio do Espírito. A primeira menção do Espirito Santo no Novo Testamento está

relacionada com João como um menino não nascido (no ventre da sua mãe).

É importante que o nome Espírito Santos seja com letra maiúscula em português

porque é um nome próprio. Isso mostra que o Espírito não é simplesmente um espírito que

6 Hendricksen., p. 93. 7 Ibíd., p. 58.8 Ibíd., p. 85.

15

vem de Deus, mas é Deus, a terceira pessoa da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (Mt

28.20).

A obra do Espírito Santo é parte da vida de Jesus como Messias. Jesus, como Messias,

foi ungido pelo mesmo Espírito Santo.

Herodes, o rei da Judéia, ia matar aos meninos em Belém. Aqui vemos um quadro

muito diferente entre os que matam meninos e os que voluntariamente abortam meninos. Aqui

se vê que a vida humana é sagrada e que Deus pode santificar e usar os meninos para sua

glória.

Um ministério santo. O ministério de João seria de chamar os israelitas para

arrependerem-se, para voltar a Deus e para preparar um povo para o Senhor. A unção do

Espírito Santo na vida e no ministério de João Batista mostra-se em santidade: o

arrependimento do pecado e reconciliação uns com os outros e com o Senhor. Hoje em dia,

pela influência dos neocarismáticos, pensa-se que a unção do Espírito Santo é uma

experiência de êxtase, uma emoção à parte de um arrependimento sincero, de uma

reconciliação autêntica e de um serviço compassivo aos pobres (veja-se Lucas 4.18).

Gabriel e Zacarias

Os anjos do céu são servos e mensageiros de Deus. São parte da equipe de Jesus.

René Zapata escreve:

O anjo Gabriel, cuja autoridade, como a de todos os anjos, provém de sua relação com Deus. A palavra anjo provém do grego “angelos”, e é mencionada no Novo Testamento cento e sessenta e cinco vezes. No Antigo Testamento é usada a palavra “malak” que aparece 108 vezes. Em ambos casos a correta tradução para o nosso idioma é “mensageiro”. A Bíblia nos declara que são seres criados por Deus. Em Colossenses 1.6: “pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.”9

Os anjos não aparecem todos os dias. Só vêm em tempos especiais quando a história

de redenção está desenvolvendo eventos especiais. No Antigo Testamento encontramos a

“Malak Adonai”, o anjo do Senhor. Consideramos que foi o próprio Filho de Deus pré-

encarnado. Também havia outros anjos tais como Gabriel e Miguel.

9 René Zapata, “Lucas” CBNC, p. 16.16

No ministério do Senhor Jesus Cristo os anjos desenvolveram muitas tarefas muito importantes: 1. Anunciaram seu nascimento (Lc 1.35);2. Anunciaram com um cântico a chegada de Jesus Cristo aos pastores (Lc 2.8-15);3. Indicaram o perigo para Jesus Cristo a José, seu pai (Mt 2.13);4. Serviram a Jesus Cristo depois das três tentações (Mt 4.11);5. Um anjo o ajudou nos momentos mais difíceis na jardim (Lc 22.43);6. Anunciaram a ressurreição (Lc 24.1-5);7. Estiveram na ascensão para dar instruções aos discípulos (At 1.10-11)10.

A concepção, o nascimento, a fuga para o Egito, a tentação, a paixão, a ressurreição e

ascensão de Jesus foram tempos quando houve intensas atividades angélicas na primeira

vinda do Senhor.

Gabriel aparece para anunciar a concepção, o nascimento e o ministério de João tal

como estes dados sobre Jesus.

Gabriel significa “homem poderoso de Deus”, é mencionado na Bíblia em Daniel 8.16: “Gabriel, dá a entender a este a visão”. E em Daniel 9.21, 2. “Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde. Ele queria instruir-me, falou comigo e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido”. Gabriel é um dos dois anjos na Bíblia que são nomeados. O outro é Miguel, o anjo guerreiro. Gabriel como já o havia feito antes e o faria posteriormente com Maria, tem a grande tarefa de dar a palavra de esperança e de boas notícias, já que em Lucas 1.19, ele identifica a si mesmo como mensageiro de boas notícias. Gabriel, o anjo do Senhor, que se dedica a explicar ou revelar, ou aclarar as visões que Deus mostra ao homem, se apresentou a Zacarias no momento preciso, o de maior importância em sua função como sacerdote, quando devia queimar o incenso. O destinatário de sua mensagem era alguém que podia entendê-lo porque conhecia sobejamente o ensino de que Elias ou alguém de características similares precederiam ao Messias tão esperado em sua vinda. A surpresa e temor característicos tomaram conta de Zacarias.”11

3. GABRIEL, JOSÉ E MARIA (1.26-38)

Gabriel e Maria

Enquanto Gabriel fala com Maria, segundo Lucas, Mateus relata como o anjo fala com

José três vezes (em relação a Maria, para escapar de Herodes e para voltar a Israel).

Segundo Mateus, Gabriel dá detalhes importantes sobre a concepção e o nascimento

de Jesus. O nascimento é em cumprimento às profecias de Isaías (7.14; 9.6) e será realizado

pelo Espírito Santo. Gabriel também anuncia os nomes do filho que ia nascer: Jesus

10 Ibíd., pp. 16-17.11 Ibíd., p. 17.

17

(Salvador) e Emanuel (Deus conosco). Deus enviou seu anjo especial para repetir e afirmar a

profecia de que Jesus é Emanuel, Deus conosco, o Filho de Deus.

Segundo Lucas Gabriel afirma a concepção milagrosa (v. 31) e a explica com detalhes

(v. 35). Jesus será concebido pelo Espírito Santo e assim nasce como Filho de Deus. Assim, a

divindade e a eternidade do Filho de Deus se mantêm na encarnação. Gabriel afirma o nome

humano do menino, Jesus (Salvador). Além disso, identifica Jesus como Filho do Altíssimo e

o Rei terno.

Gabriel apresenta a obra de Deus, o Pai, o Filho, e o Espírito Santos de uma maneira

que nenhum ser humano poderia explicar. Por isso, esta revelação vem diretamente, por meio

de anjos celestiais, para explicá-la aos servos de Deus. Então, Lucas chega a ser “angelio”

mensageiro desta boa notícia e nós, os leitores, somos responsáveis por crer e comunicar essa

mensagem aos demais.

Maria

Matthew Henry resume:

Aqui temos um relato da mãe de nosso Senhor; embora não devamos orar a ela, de todos modos devemos louvar a Deus por ela. Cristo devia nascer miraculosamente. O discurso do anjo somente significa: "Salve, tu que és a escolhida e favorecida especial do Altíssimo para ter a honra que as mães judias desejaram por tanto tempo".

Esta aparição e saudação prodigiosas atordoaram a Maria. O anjo lhe assegurou então que ela tinha achado favor com Deus e que seria a mãe de um filho cujo nome ela devia chamar de Jesus, o Filho do Altíssimo, um em natureza e perfeição com o Senhor Deus. Jesus! o nome que refresca os espíritos desfalecentes dos pecadores humilhados; doce para pronunciar e doce para ouvir, Jesus, o Salvador. Não conhecemos sua riqueza e nossa pobreza, portanto, não corremos a Ele; não percebemos que estamos perdidos e perecendo, em conseqüência, Salvador é palavra de pouco deleite. Se estivermos convencidos da imensa massa de culpa que há em nós, e a ira que pende sobre nossas cabeças, preste a cair sobre nós, seria nosso pensamento contínuo: É meu o Salvador? Para que possamos achá-lo, devemos pisotear todo o que estorva nosso caminho a Ele. A resposta de Maria ao anjo foi a linguagem da fé e humilde admiração, e ela não pediu sinal para confirmar sua fé. Sem controvérsia, grande foi o mistério da santidade, Deus manifestado em carne (1 Tm 3.16). A natureza humana de Cristo devia produzir-se dessa forma, para que fosse adequada para Aquele que seria unido com a natureza divina. Devemos, como Maria aqui, guiar nossos desejos pela palavra de Deus. em todos os conflitos devemos lembrar que nada é impossível para Deus; e ao lermos e ouvirmos suas promessas, convertamo-las em orações: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra"12.

12 Matthew Henry, Op. cit.18

José

Lucas quase não menciona José. O sonho de José foi contado em Mateus 1. Mateus 1

também relata a genealogia de Jesus segundo a linhagem de José, ainda que José não seja pai

biológico de Jesus. A genealogia mostra a herança legal de Jesus. Lucas, pois, completa a

informação sobre o anúncio do nascimento de Jesus e mostra a legalidade da genealogia de

Jesus.

Jesus

O primeiro capítulo tem muitos dados importantes sobre Jesus. Vamos mencionar os

mais sobressalentes nomes.

Jesus (v. 31). Mateus 1.21 dá a definição: ele salvará seu povo de seus pecados. Ele é

o Salvador de seu povo. Ele vai perdoar os pecados de seu povo. Ele não é o Salvador de

todos os seres humanos no mundo, mas de seu povo que está em todas as partes do mundo e

que vive em todas as classes de pessoas no mundo. Ele não vai perdoar os pecados de todo o

mundo, mas os pecados de seu povo que se encontra no mundo.

Filho do Altíssimo (v. 32). Ele é o Filho, não de um Deus, como os tinham os gregos e

romanos, mas Filho do único Deus supremo.

Ente Santo (v. 35). O Filho não terá o pecado de Adão, nem o pecado de sua mãe

Maria, porque é concebido pelo Espírito Santo. Se o Salvador tivesse pecado, não poderia ser

o substituto para seu povo e morrer por eles. O sacrifício do substituto deve ser perfeito.

Filho de Deus. Sendo Ele concebido pelo Espírito Santo, Jesus, diferentemente de

João e de todos os seres humanos, segue sendo o Filho eterno de Deus. A concepção do

Espírito Santo garante a continuação da natureza divina de Jesus e sua relação paternal com

Deus, o Pai.

Salvador (v. 47) Maria confessa que Jesus é Deus e Salvador. Ela não é a mãe de

Deus, porque como Filho eterno de Deus, ele não tem mãe divina. Jesus é o filho humano de

Maria. Maria é a mãe humana de Jesus como homem.

Poderoso Santo (v. 49). Além de ser o “ente santo,” ele é o Poderoso Santo. Como

santo, ele tem o poder de pregar sobre a santidade de Deus e perdoar os pecadores que nele

crêem.

19

Suas vocações. Ele vai reinar sobre o trono de Davi, sobre a casa de Israel e para

sempre. O reino de Jesus Cristo é pela igreja.

Lucas nota como Deus vai tratar com os humildes:

Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos.

Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia

a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais (vs. 51-54).

A obra do Senhor para exaltar os humildes e humilhar os ricos é um tema mostrado no

anúncio de seu ministério, nas bem-aventuranças, em sua resposta aos discípulos de João e em

seus milagres e ensinos.

4. ISABEL E MARIA (1.39-56)

A visita de Maria a Isabel confirma a vocação especial de ambas servas de Deus. A

vocação de todas as mães é sagradas, sendo que são os instrumentos de Deus para trazer vidas

humanas ao mundo. Maria e Isabel nos faz recordar a primeira mãe de todos os seres viventes,

Eva. Ainda que Eva tenha sido instrumento do diabo, agora estas duas filhas de Eva serão

servas na restauração e salvação de Deus.13

Isabel está grávida de João. O propósito de João é preparar o caminho do Senhor.

Isabel reconhece que o menino de Maria é o Senhor. Tal como José não era pai do Filho de

Deus – o Filho de Deus foi concebido pelo Espírito Santo para preservar a natureza divina –

assim Maria não é mãe de Deus, mas mãe de Jesus segundo sua humanidade, não segundo sua

divindade. A relação e distinção entre a natureza divina e a natureza humana de Jesus deve ser

preservada. Jesus é uma pessoa com duas naturezas.14

Quando Isabel entrou na presença de Maria, João saltou no ventre daquela. Pelo poder

do Espírito Santo, João estava afirmando seu propósito de vida15. Enquanto Herodes e os

inimigos de Deus estavam planejando a morte de Jesus, até os meninos não nascidos, estavam

13 É de acordo com esse contexto que podemos entender 1 Tm 2.15. A restauração, a dignidade da vocação de mã e exaltada.14 No Concílio de Éfeso (431) Maria foi declarada Mãe de Deus. A distinção entre a natureza humana e a natureza divina não foi honrada. 15 A vida humana começa na concepção, tal como vida de Jesus (Lucas 1: 31). Por isso, o aborto é um crime contra Deus e contra a humanidade.

20

cumprindo sua missão. A missão de Deus é cumprida pelo poder do Espírito Santo,

trabalhando pelos servos de Deus, sejam adultos ou meninos não nascidos.

Isabel ficou cheia do Espírito Santo e por isso pode testemunhar e profetizar. O que

era um testemunho e profecia particular para Isabel viria a ser uma experiência para todos os

crentes e seus filhos com a vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes (Atos 2.17).

Maria profetiza também. A primeira coisa que ela confessa é que ela é pecadora e

necessita de um Salvador: “meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador”. Só um pecador

precisa de um Salvador. Não menção alguma nas Escrituras de que Maria era imaculada sem

pecado.

Maria nota que ela é uma humilde serva que foi exaltada. E nota que não somente ela,

a humilhação dos ricos e a exaltação dos humildes por Deus, iriam acontecer em Israel.

Pelo Espírito Santo, Maria fala de Jesus como Senhor e Salvador. Ela afirma que o

Salvador é Deus. Afirma a divindade e deidade do filho que ia nascer. O Filho de Deus é

Deus desde a eternidade, por isso é concebido pelo Espírito Santo. O Filho de Deus não vem a

ser Deus, como pensam os mórmons, mas é declarado Deus já em seu nascimento.

5. O NASCIMENTO DE JOÃO (1.57-66)

O nome de João é dado pelo anjo Gabriel (1.13). A mão do Senhor está com João

desde antes do seu nascimento. Assim, isso é uma demonstração da soberania e da eleição de

Deus. Desde antes da fundação do mundo, Deus havia planejado e predestinado seus filhos no

plano da salvação. Esta passagem curta afirma de novo a soberania de Deus na vida de João e

seus pais.

6. A PROFECIA DE ZACARIAS (1.67-80)

Na profecia de Zacarias, pai de João, se vê a profissão de fé no Deus verdadeiro, a

confissão da necessidade de um Salvador e uma descrição da obra de redenção de Deus por

meio de Israel. A profecia de Zacarias é fruto da inspiração do Espírito Santo. É um modelo

de como a santidade e a verdade do Espírito viria a funcionar na vida de Jesus e nos crentes

em Jesus.

21

CONCLUSÃO

Os servos de Deus são o humilde povo de Deus. O anúncio do plano de Deus para o

nascimento de João e de Jesus não foi dado ao sumo sacerdote, aos escribas, aos fariseus ou a

outros líderes religiosos. O anúncio do nascimento de João e Jesus é dado aos leigos, aos

sacerdotes de baixo escalão e às mulheres. Deus é capaz de exaltar os humildes e humilhar os

que pensam que são grandes. Deus usa a vocação de pai e mãe e também as vocações

espirituais de profecia e sacerdócio, para trazer salvação e redenção ao povo de Deus.

O plano de salvação apresentado em Lucas 1 não é obra dos líderes políticos ou

religiosos. Não é obra dos seres humanos. É obra de Deus, executado pelos anjos de Deus e

seus humildes servos. É obra de um Deus soberano que presta atenção a detalhes tais como os

nomes e condição espiritual de seus humildes servos e servas.

22

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 1

1. Em comparação com Mateus, Marcos e João, qual é a perspectiva cristológica do

Evangelho segundo Lucas?

2. Quem é Lucas? Quais sãos suas características importantes?

3. Que método é identificado por Lucas de como ele escreveu o Evangelho?

4. Quem é Zacarias? Como sabemos que é um fiel servo de Deus? Era um homem

perfeito?

5. Quem é Isabel? Que papel ela desempenha como serva de Deus?

6. Por que a obra sacerdotal é importante?

7. Que diferença há entre a narrativa de Mateus e Lucas quando ao anúncio do

nascimento de Jesus?

8. Como foi preservada a natureza divina do Filho de Deus no seu nascimento?

9. Maria é mãe de Deus? Como devemos ver a relação entre Maria e Jesus?

10. Como notamos o tema da exaltação dos humildes e a humilhação dos grandes no

primeiro capítulo de Lucas?

23

LIÇÃO DOIS

O NASCIMENTO E A APRESENTAÇÃO DE JESUS (2.1-52)

Carlos Ruiz

INTRODUÇÃO

Talvez pudéssemos nos perguntar a razão pela qual Deus decidiu que havia chegado

“a plenitude dos tempos” (Gl 4.4-5) durante a época em que o Império Romano governava o

mundo para a chegada do Seu Filho à terra. Talvez nunca conheçamos todas as razões disso,

mas, o que sabemos é que foi uma época de grande expectativa na comunidade judaica; sem

dúvida não esperavam um Messias nas condições humildes e de pobreza nas quais veio o

Salvador, o Filho do homem. Lucas registra um pouco desta grande expectativa através da

passagem sobre um homem justo e piedoso chamado Simeão, a quem o Espírito Santo havia

dito que não morreria sem ver o Cristo de Deus (Lc 2.25-26).

Neste capítulo Lucas continua sua apologia para aqueles crentes comuns ou “leigos,”

os servos de Deus. Lucas relata a visita do anjo aos pastores, mas se abstém de mencionar os

reis Magos, assim ele cria um retrato perfeito sobre o nascimento humilde de nosso Criador e

se assegura de que o leitor experimente cada um dos detalhes sobre sua humilde condição e

pobreza, sem dúvida aquém do que qualquer rei humano haveria requerido para o nascimento

de seu primogênito. Posteriormente nos apresenta um Jesus consciente do papel que veio

desempenhar nessa terra; mesmo com pouca idade já sabia dos “negócios de Seu Pai” (Lc

2.49).16

Nesse capítulo estudaremos as seguintes passaagens:

2.1-7 O nascimento de Jesus

2.8-21 O anúncio do nascimento do Salvador aos pastores “Glória a Deus nas alturas”

A visita dos pastores, a Jesus é dado um nome

2. 22-38 A apresentação de Jesus no templo

O Nunc Dimittis de Simeão

Ação de graças de Ana

16 Hendricksen, pp. 109, 110.24

2.39-40 O retorno a Nazaré

2.41-52 O menino no templo

1. O NASCIMENTO DE JESUS (2.1-7)

Poderíamos dizer que este é o tema central deste capítulo, o nascimento do nosso

Redentor. Lucas começa marcando historicamente os fatos mediante a menção do censo

ordenado por Cesar Augusto (imperador Romano de 27 aC. a 14 dC.), sobrinho de Julio

César, que gozou de uma grande reputação por respeitar os costumes, convicções religiosas e

leis de suas colônias derrotadas, sempre e quando estas não interferiam nos interesses de

Roma17.

Miquéias 5.2-5 estabelece Belém como o lugar onde Jesus haveria de nascer já que

tanto José como Maria pertenciam à cada de Davi. Esta cidade histórica de Davi é

mencionada várias vezes na Bíblia (1 Sm 20.6; 2 Sm 23.15-16). Seu nome significa: “cada do

pão” que tem de certo modo um tom profético já que Jesus chamou a si mesmo de “o pão da

vida” 18.

O padrão do censo era do tipo familiar, segundo Hendriksen e Zapata. Logo, foi

necessário que Maria viajasse à sua cidade natal. As circunstâncias do nascimento de Jesus

foram muito difíceis. Cristo nasceu numa hospedaria; a maioria dos comentaristas bíblicos o

põem numa cova que servia de estábulo nas pousadas já que não havia lugar para José e sua

família. Alegoricamente isso nos mostra que veio ao mundo apenas temporariamente, como

quando se fica em uma pousada, para nos ensinar a fazer o mesmo. Foi assim também sua

vida na terra segundo ele mesmo disse: “As raposas têm os seus covis e as aves do céu têm

seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.”

A menção de Lucas sobre a primogenitura de Jesus é ressaltada, pois Maria não teve

relações com José antes do nascimento de Jesus (Mt 1.15). A citação de Marcos 6.3,4 nos

mostra que sem dúvida Maria teve mais filhos depois do nascimento de Jesus e que seus

irmãos foram: Tiago, José, Judas e Simão e também menciona-se algumas irmãos cujos

nomes não são citados.19

17 Hendiksen, pp. 111, 112.18 Zapata, p. 26.19 Ibíd., p. 27.

25

2. DADO A CONHECER AOS PASTORES (2.8-20)

Os anjos fora mensageiro de boas novas sobre o recém-nascido Salvador, mas foram

enviados só a alguns pastores pobres, humildes, piedosos e trabalhadores, que estavam

ocupados em sua vocação, vigiando seus rebanhos.20 Os pastores eram pessoas depreciadas

pela sociedade que vigiavam os rebanhos à noite para protegê-los de ladrões e animais. Crê-se

que a aparição angelical foi no “campo dos pastores” a um quilômetro ao leste de Belém. Esse

mesmo campo, que 1.100 anos antes havia pertencido a Boaz, foi o lugar onde se desenrolou

o romance entre Rute e Boaz, antepassados de Jesus.21 O relato de Lucas deixa muito claro

que estes pastores, aos quais se fez a proclamação do nascimento do Salvador eram diferentes.

Eram homens devotos, provavelmente conhecedores da profecia messiânica, e como Simeão,

“esperavam a consolação de Israel” (Lc 2.25). Notemos como o anjo de dirigiu a eles em

Lucas 2.10-12, e vejamos também sua reação exemplar (Lc 2.15, 17, 20).22

O anjo se apresenta ante os pastores de forma repentina. A glória do Senhor

mencionada em várias ocasiões no Antigo Testamento os rodeia (Ex 16.10; 24.16; Lc 9.23; 1

Rs 8.11). No Antigo Testamento a glória do Senhor é a prova da sua presença. A glória do

Senhor, também conhecida como Shekinah ou sinal visível da presença de Deus, é bem

conhecida no Tabernáculo de Moisés como algo tangível, sempre relacionada com a luz, um

resplendor ou uma nuvem; é um dos temas especiais que encontramos na Bíblia, a revelação

de Deus ao homem. Ezequiel foi transladado em uma nuvem para ver, em uma viagem

singular, através do tempo, a glória futura da cidade celestial. Jesus Cristo foi arrebatado ao

céu em uma nuvem e os anjos disseram que voltaria da mesma maneira. No Antigo

Testamento fazem-se muitas referências à Glória do Senhor em uma nuvem. Uma nuvem de

luz iluminou a Jesus Cristo em seu encontro, no monte da transfiguração, com Moisés e Elias,

etc23. Devido ao pecado do povo de Israel, a presença da glória do Senhor estava escondida

atrás do véu do santuário do templo. Mas, o fato de que a glória do Senhor rodeava estes

pastores humildes, significava que agora havia chegado o novo pacto no qual o Senhor vive

junto com seu povo. A reação dos pastores é, inicialmente, de temos. Ninguém pode ver a

glória do Senhor e sobreviver. Mas, o anjo dos Senhor os consola. Esta luz não é mortal para

os homens pecadores, pois traz boas novas de grande gozo que será para todo o povo. Isto 20 Matthew Henry, p. 3.21 Zapata, p. 27. 22 Henricksen, p. 120. 23 Zapata, pp. 27, 28.

26

quer dizer: o gozo imenso de um povo que foi reconciliado com Deus, e que agora pode ver

viver em sua glória, será efetuado por aquele que acabava de nascer.24

No versículo 11 Lucas menciona: “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o

Salvador, que é Cristo, o Senhor.” A ênfase destas palavras está na palavra “Salvador.” O

menino recém-nascido libertará do pecado; seu objetivo é lograr que o povo possa viver junto

a Deus.

O que os anjos exclamaram ou gritaram no verso 14 causa certa controvérsia quanto a

se usaram a palavra eudokia (boa vontade, beneplácito), ou se disseram eudokias (a mesma

palavra com sigma o “s” ao final de beneplácito). Os textos gregos variam nas opções. Alguns

intérpretes, aceitando a primeira leitura como genuína, adotam o primeiro ponto de vista,

segundo o qual os anjos disseram:

“Glória a Deus nas alturas, e na terra paz, boa vontade para com os homens.”25

Outros, havendo aceitado a segunda leitura, adotam o segundo ponto de vista, segundo

o qual os anjos disseram:

“Glória a Deus nas alturas e sobre a terra paz entre homens de seu beneplácito.”26

O genitivo significa simplesmente “de seu beneplácito”. O beneplácito de quem?

Claramente de Deus. Os anjos não estão se gloriando no homem nem em seus méritos, mas

em Deus e em sua graça (Ver Mt 11.26; Lc 10. 21; Ef 1.4, 5, 9). Logo, quando expressamos

em seu sentido pleno, a interpretação do segundo ponto de vista, é esta: “E sobre a terra paz

entre os homens a quem Deus escolheu por sua graça.” Sua soberana benevolência está neles.

Com eles, ele está satisfeito.27

A boa vontade Deus para com os homens está manifestada no envio do Messias, que

redunda em sua glória. A redenção do mundo é para sua glória nas alturas. A boa vontade de

Deus ao enviar o Messias, trouxe paz a este mundo, como menciona Matthew Henry em seu

comentário.

A passagem nos diz que os pastores não perderam tempo; se foram prontamente,

apressados ao lugar sinalizado pelo anjo. Apressaram-se para chegar em Belém a ver o

cumprimento da Palavra que o Senhor lhes havia dado. Satisfeitos tornaram conhecido por

toda parte acerca do menino, que Ele era o Salvador, Cristo o Senhor. Nos versos 18-20

24 Matthew Henry, p. 4.25 A Revista e Corrigida traz uma tradução semelhante da Reina Valera de 1960, usada pelo autor. Nota do Tradutor.26 Essa é uma opção mais próxima da Revista e Atualizada, bem como da NVI. Nota do tradutor.27 Hendricksen, p. 125.

27

podemos ver três tipos de reações: a primeira de gozo por parte dos pastores, a segundo de

silencia por parte das pessoas em geral e a terceira de Maria que comparava as palavras que

ouvia com as que anteriormente lhe foram ditas pelo anjo Gabriel e Isabel, tratando de

entender (uma tradução melhor que “meditar”) todas elas; e ao fazer isso, as guardava em seu

coração.

3. APRESENTAÇÃO DE CRISTO NO TEMPO, O NUNC DIMITTIS DE

SIMEÃO E A AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA

Nos versículos 21-39 lemos como Jesus foi posto debaixo da lei. No oitavo dia, Ele foi

circuncidado. Através desta circuncisão, Jesus foi incorporado ao povo de Israel no pacto de

Deus com Abraão. A circuncisão também significava que o israelita devia arrepender-se e

viver em um novo estilo de vida. Jesus não necessitava de nenhuma dessas coisas, já que

nasceu sendo Filho de Deus sem pecado. Entretanto, para nós é uma pregação do Evangelho.

Jesus foi circuncidado e desta maneira tratado como pecador, como se necessitasse da graça

de Deus para adquirir graça para nós.

Era um costume judeu levar o menino recém-nascido para ser circuncidar no templo

de Jerusalém quando se cumpriam os oito dias (Gn 17.12; Lv 12.3; cf. Lc 1.59). O nascimento

de um menino era considerado um dom de Deus e um acontecimento muito importante na

vida de uma mulher. Por isso, ela tinha de oferecer dois animais, um para expressar sua

gratidão a Deus e outro para receber o perdão de Deus por qualquer pecado que tivesse

cometido. Maria ofereceu o sacrifício dos pobres, previsto pela lei, duas rolas ou pombos

jovens, em vez de um cordeiro e uma pomba.28

O submeter-se à circuncisão foi um elemento na obediência requerida do Salvador, e

sem esta obediência não poderia ser verdadeiramente Jesus, isto é, Salvador, e foi o nome

dado pelo anjo antes da sua concepção. Tão importante era este nome que tanto José (Mt

1.21) como Maria (Lc 1.31) haviam sido instruídos para darem ao menino.

Jesus não nasceu em pecado e não precisou da mortificação de uma natureza corrupta

ou da renovação para santidade, que era o significado da circuncisão. Esta ordenança foi, no

seu caso, uma garantia de sua futura obediência perfeita de toda a lei, em meio a sofrimentos e

tentações, mesmo até a sua morte por nós.

28 Zapata, p. 30. 28

Nos versículos 22-24 se nos fala da apresentação de Jesus; o trouxeram a Jerusalém

para apresentá-lo no templo. O salvador recém-nascido é levado à casa de Deus pela segunda

vez. Lucas nos comenta que isso aconteceu quando os dias da purificação de Maria se

cumpriram. A apresentação significava na cultura judaica que cada primeiro menino dos

israelitas, o primogênito, tinha que servir a Deus no templo. Mas devido a seu pecado o povo

de Israel havia perdido esse direito; Deus havia designado à Tribo de Levi como a tribo que

lhe serviria na área sacerdotal (Nm 3). Ao final de quarenta dias, Maria foi ao templo para

oferecer os sacrifícios estabelecidos para sua purificação. Jose apresenta também ao santo

menino Jesus, porque como primogênito, tinha que ser apresentado ao Senhor, e ser redimido

conforme a lei.

“Apresentemos nossos filhos ao Senhor que no-los deu, rogando-lhe que os resgate do

pecado e da morte, e os faça santos para Ele.” 29

Simeão e o Nunc Dimittis

Pouco se sabe de Simeão. Esta passagem não estabelece que ele estava investido de

algum ofício específico; por exemplo, o de sacerdote. Parece que era o que hoje chamaríamos

de “leigo.”

A Bíblia nos mostra que a igreja precisa tanto dos leigos como dos ministros

ordenados. Não somente Moisés e Josué ocuparam um lugar de importância nos negócios do

reino, mas também Eldade e Medade que era “leigos” (Nm 11.26-29).

Simeão é descrito como justo. Também o era José, o esposo de Maria (Mt 1.29) e

também assim é descrita Maria, Zacarias e Isabel (Lc 1.60) E não nos esqueçamos de José de

Arimatéia (23.50). Simeão era “justo e piedoso”. Podemos ver outros exemplos de homens

piedosos em Atos 2.5; 8.2; 22.12. Com a máxima prudência estes homens assumiram os

deveres que Deus lhes tinha atribuído. São conscienciosos em seus planos, tendo sempre

como objetivo maior melhorar o bem-estar deles mesmos e o seu próximo, para a glória de

Deus. Esta combinação “justo e devoto” pode muito bem indicar que Simeão se conduzia de

tal modo que sua conduta com respeito aos homens (era justo) e para com Deus (era piedoso)

era objeto da aprovação divina.30

29 Matthew Henry, p. 4. 30 Hendriksen, p. 131.

29

Simeão viu ao menino, o tomou em seus braços e louvou a Deus dizendo as palavras

proféticas que seguramente o Espírito Santo, que lhe havia feito previamente reconhecer ao

menino, pôs em sua boca para que ficasse registrado para todo o mundo, inclusive para nós

hoje:31

Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra;

porque os meus olhos já viram a tua salvação,

a qual preparaste diante de todos os povos:

luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel.

Segundo a enciclopédia britânica o termo Nunc Dimittis provém do latim. Nunc que

significa “agora” e Dimittis que significa “enviar para fora,” na segunda pessoa do singular.

“Nunc Dimittis servum tuum.” “Agora Soberano Senhor, estás despedindo o teu servo,” é

usado como cântico na liturgia católica, e é conhecido como Nunc Dimittis ou cântico de

Simeão.32

O conceito “tua salvação” é definido por Simeão como “luz” e glória.” Para os gentios

a salvação é luz: o verdadeiro conhecimento de Deus, santidade e amor, gozo como nuca

antes havia sido experimentado. Por certo, é também luz para Israel, mas a expressão é

particularmente adequada quando se aplica aos gentios devido a que suas trevas eram mais

profundas. Para Israel a salvação é glória. Também é glória para os gentios, mas ninguém que

conheça a Bíblia deixará de entender porque esta descrição é apropriada especificamente para

Israel, já que é com Israel que nós associamos a Shekinah, isto é, a nuvem de luz, uma das

manifestações da presença do Senhor da qual falamos anteriormente.33 “O mesmo Espírito que

proveu para sustentar a esperança de Simeão, proveu para seu gozo,” menciona Matthew

Henry em seu comentário.

AÇÃO DE GRAÇAS DE ANA

31 Zapata, p. 31.32 www.britannic.com33 Hendricksen, p. 134.

30

Seu nome significa “Graça”. Era viúva, filha de Fanuel. É a transliteração grega do

nome hebraico mais conhecido Penuel, que também se escreve Peniel. Lembremos que Jacó,

ao voltar para sua terra, foi deixado sozinho junto ao vau de Jaboque. Ali lutou com o Anjo e

seu nome foi mudado para Israel. Em relação a essa passagem vemos o seguinte: “Àquele

lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva.” 34

Ana pertencia à tribo de Aser. Aser era o segundo filho de Zilpa, a escrava de Lia. Foi

chamado Aser (=Feliz) porque seu nascimento deixou Lia feliz. Era o oitavo filho de Jacó. O

fato de Lucas saber a que tribo Ana pertence indica que os judeus estavam conservando os

registros de família, ou genealogias, em dia.

Ana era uma profetisa. Um verdadeiro profeta é aquele que, havendo recebido

revelações do propósito e vontade de Deus, declara aos demais aquilo que recebeu. O

apóstolo Paulo considerava como muito importante o dom da profecia (1 Co 14.1).35

No aspecto material Ana poderia ter felicidade em sua vida, pois a havia perdido, era

viúva havia muitos anos e anciã, “de idade muito avançada,” segundo o relato de Lucas.

Alguns mencionam que tinha 105 anos aproximadamente. Ela encontrou consolo no serviço a

Deus; sendo já anciã, não se apartava do tempo, mas seguia sendo inspirada pelo serviço ao

Senhor, dia e noite através da oração e jejum (segundo o conceito corrente, o melhor meio

para concentrar-se na oração).

Imaginemos por um momento a situação: ao ficar no tempo, e também mediante a

revelação do Espírito Santo, Ana conheceu a Jesus como o Ungido de Deus recém-nascido, e

dá graças ao Senhor. Sua gratidão se converteu em um testemunho a todos os que esperavam

a redenção em Jerusalém. Veja as palavras de Simeão no seu Nunc Dimittis. Ela ouve

claramente cada palavra. Está convencida de que este menino é verdadeiramente o Messias.

Cheia de gratidão, ela imediatamente expressa sua gratidão a Deus.

Terminada sua oração, ela começa a falar a todas as pessoas que pensam de forma

similar a ela. A partir dali, ela falaria a todo aquele que, sendo de um mesmo espírito com ela,

esperava igualmente e com ansiedade a redenção de Jerusalém (v. 25), sua libertação do

pecado por meio do Salvador. Considerando o fato de que os Evangelho em suas páginas

descrevem a maldade e dureza do coração dos fariseus, dos escribas e de muitos de seus

seguidores, é interessante saber que, tanto nos tempos de Elias (1 Rs 19.18), como nos dias

34 Ibid., p. 136.35 Zapata, p. 32.

31

Paulo (Rm 11.5), e nos dias do menino Jesus, havia um “remanescente escolhido pela graça.

Assim será sempre. Assim é também agora.36

4. O RETORNO A NAZARÉ (2.39-40)

Outra vez, como nos versos 22, 23, 24 e 27 Lucas enfatiza o fato de que a conduta de

José e Maria estava em harmonia com a lei de Deus. Havendo cumprido todo o que a lei

exigia, eles voltaram para a Galiléia.37

De acordo com Lei dos judeus, o menino estava debaixo da responsabilidade da mãe

até os cinco anos, daí em diante, o pai era encarregado de cuidar de sua formação até os doze

anos quando ele era considerado responsável por si mesmo. Nesse momento ele era

considerado como um filho da lei. Lucas é o único evangelho que nos fala da infância de

Jesus ao nos dizer que crescia e se fortalecia, que crescia em sabedoria e a graça o

acompanhava.

5. O MENINO JESUS NO TEMPLO

A lei obrigava a todos os judeus varões de “idade madura” a ir a Jerusalém três vezes

ao ano para assistir a três grandes festas: páscoa, pentecostes e Tabernáculo (Ex 23.14-17;

34.22-23; Dt 16.16). Tornou-se um costume que muitos assistissem somente uma vez ao ano.

No caso de José e Maria, assim como de muitos outros, a festa escolhida foi a Páscoa que se

celebrava para comemorar a libertação dos judeus da escravidão do Egito. A lei não exigia

que as mulheres assistissem, o mandamento divino refere-se somente aos homens. Não

obstante, o fato de Maria também assistir mostra que era uma esposa muito piedosa.

Não havia unanimidade com respeito à idade exata quando um menino passava a ser

“bar mitzvah” (filho da lei), isto é, quando chegava à idade da maturidade e responsabilidade

quanto ao cumprimento dos mandamentos. A opinião majoritária é de que com a idade de

treze anos, um menino poderia assumir plenamente tal responsabilidade. Sabemos pelo menos

que quando Jesus alcançou os doze anos, José e Maria o levaram consigo a Jerusalém a fim de

36 Hendricksen, p. 138.37 Ibíd., p. 139.

32

assistir à festa da Páscoa. Segundo a lei, a festa durava sete dias completos (Ex 12.15, 16;

23.15; Lv 23.6; Dt 16.3).38

Aparentemente, foi em um dos pórticos do templo onde José e Maria encontraram

Jesus. Estava sendo “no meio do mestres,” escutando-os e às vezes dirigindo perguntas a eles.

Segundo vários comentaristas, estes eram os dias imediatamente seguintes à grande festa, e

posto que Jerusalém era a sede da religião judaica, podemos imaginar que vários mestres

famosos poderiam ser encontrados no templo, porque o ensino não era dado somente

enquanto durasse a festa. Esta era então uma oportunidade para Jesus, que a cidade de Nazaré

não poderia lhe proporcionar. Com suas perguntas e respostas revela uma perspicácia tal que

todos os que o escutavam estavam admirados, todos os olhos deviam está postos nele, de

modo que em um sentido muito real, quando ele falava se tornava o centro das atenções (ver

Mt 1.18-24; 2.13).39

Está claro na resposta de Jesus sobre onde ele havia estado, que com a idade de 12

anos, ele estava completamente consciente da relação única entre ele mesmo e Seu Pai

celestial. Mas tarde ele vai fazer referência a este maravilhoso tema repetidas vezes. “...Não

sabíeis (note-se o plural – vós, José e Maria) que me cumpria estar na casa de meu Pai?” É

como se ele dissesse: “Na casa de meu Pai, ali é onde eu estava, e é onde devia está. Não

sabia disso?”

Notamos que no Evangelho de Lucas, menciona-se várias vezes que: Jesus deve

pregar (4.43), Jesus deve sofrer (9.22), é necessário Jesus seguir o seu caminho (13.33), está

no lar de Zaque (19.5), era necessário ser entregue, ser crucificado e ressuscitar (24.7), sofrer

essas coisas e entrar em sua glória (22.37; 24.26), e cumprir todas as profecias do Antigo

Testamento que se referem a ele (24.44), ou seja, é claramente mostrado que tudo o que

sucede a Jesus é a realização do decreto eterno de Deus (Lc 22.22; cf. At 2.23). Mas José e

Maria não entenderam a declaração que ele lhes fez. Um aspecto do sofrimento de Jesus foi

exatamente isso, que os homens, incluindo seus próprios familiares e seus próprios discípulos,

não o entenderiam: Mt 16.22; Mc 9.10, 32; Jo 7.3-5. “E desceu com eles para Nazaré; e era-

lhes submisso.” Não pediu para ficar mais tempo na casa de Seu Pai. Sem fazer qualquer

objeção, nem perguntas, desceu a Nazaré com seus “pais.” Note-se “desceu.” Além disso,

rendeu uma contínua obediência a José e Maria apesar de toda debilidade deles e apesar da

falta de entendimento. “Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração”. Ela seguiu 38 Hendicksen, p. 140. 39 Zapata, p. 36.

33

procurando entender o que tanto o Anjo quanto Jesus, como todos os demais lhe falavam

acerca de seu filho. A última frase do verso 52, significa que ele continuou experimentando de

forma crescente a bondade de Seu Pai e também da amizade das pessoas que o rodeavam.40

CONCLUSÃO

No Capítulo dois vemos o cumprimento da promessa de Deus dada através de todo o

Antigo Testamento sobre o nascimento do Messias, o Salvador. Lucas parece deter-se de

propósito neste capítulo dando todos os detalhes de como pessoas “leigas” são as honradas

pelo Pai para dar louvor a seu filho recém-nascido.

Presenteia-nos com uma oração de Simeão, profunda e cheia de amor para o criador

fiel que cumpre suas promessas e nos conta de Ana, chamada a profetisa, que também nos

mostra o papel que um Leigo poderia desempenhar no serviço ao Deus todo-poderoso.

Lucas nos mostra um Jesus menino já consciente de seu papel na terra, conhecedor de

sua relação com seu Pai Celestial, mas humilde. O quadro de humildade que Lucas nos mostra

durante todo o tempo é uma alegoria aos pobres. A pobreza com a qual o Salvador da

humildade chega ao mundo, a pobreza naqueles que vem adorá-lo ao invés da realeza. A

pobreza das ofertas, as duas pombas que era as ofertas dos mais pobres, enfim, todo o quadro

que nos mostra o que realmente Jesus quis nos ensinar através de suas parábolas e, os

apóstolos apesar de conviverem com ele não conseguiram entender facilmente.

40 Hendricksen, p. 141. 34

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 2

1. De qual cidade José partiu e de qual era sua cidade natal?

2. De que tribo José e Maria eram descendentes?

3. Além de Maria e José, a quem o Anjo se apresentou primeiro para anunciar o nascimento

de Jesus?

4. Com que idade Jesus foi apresentado no templo?

5. Quem era Simeão e Nana, filha de Fanuel?

6. Como é comumente chamada a oração de louvor de Simeão?

7. Para que festa José e Maria viajava todos os anos para Jerusalém?

8. Comente sobre a purificação a que Maria devia se submeter de acordo com a Lei mosaica?

(Lv 12.2-5).

9. Que partes Lucas omitiu que são encontradas em Mateus 2.1-18?

10. Poderíamos dizer que Jesus já tinha consciência sobre sua missão e identidade, quando

ainda tinha pouca idade? (2.49). Explique.

35

LIÇÃO TRÊS

A PREPARAÇÃO DE JESUS PARA SEU MINISTÉRIO PÚBLICO

Alejandro Cid

INTRODUÇÃO

O tema principal dos capítulos 3 e 4 do Evangelho de Lucas, da mesma forma que

todo o livro é a mensagem da salvação. Os dois termos favoritos são “pregar o Evangelho” e

“salvação.” O primeiro resume o que Jesus fez: seus atos de ensino, cura e compaixão para

com as pessoas, eram todos parte da proclamação das boas novas de que Deus havia vindo ao

mundo. O segundo termo indica o conteúdo absoluto dessas boas novas. Se a “salvação” é

para os perdidos, então é para todos porque todos estão perdidos. Ainda que sua obra se

limitasse de alguma maneira, aos judeus, deixou bem claro que sua mensagem era para todos,

para os gentios e também para os samaritanos, os odiados inimigos dos judeus, e que essa

mensagem tinha conseqüências para os oprimidos e opressores.

1. A PREGAÇÃO DE JOÃO (3.1-20)

“Lucas relata com uma precisão assombrosa todo o contexto, a vida política e social

do império romano nessa época. Augusto estava já morto e Tibério foi nomeado por ele como

o segundo imperador romano no ano 14 DC,”41 em sucessão ao seu padrasto. A Palestina se

encontrava sumamente conturbada pela inquietante presença romana que exercia seu domínio

absoluto, tratando de obter os pagamentos de altos impostos, para sufragar os enormes gastos

que representava um império tão extenso.

Quanto ao governo dos assuntos religiosos da comunidade, estes estavam nas mãos de

Anás e Caifás. O sumo sacerdócio era exercido por um só sumo sacerdote por vez e este era

Caifás, que tinha sido nomeado pelo império romano, em substituição a Anás, que por sua vez

era sogro de Caifás e que já havia deixado de atuar oficialmente como sacerdote, mas ainda

mantinha para si uma forte e determinante influência nos destinos do povo judeu.

Assim, então, toda a estrutura estava já preparada e disposta para que começasse a

ação na região. O governo romano exercido por Tibério, o governo da Judéia por Pilatos, os

41 W. Hendriksen, p. 52.36

governos locais das províncias eram exercidos pelos filhos de Herodes. Também os religiosos

estavam que estavam no templo são mencionados minuciosamente por Lucas antes da ação

começar a desenrolar. Então como de costume, como quase sempre acontece, a maneira como

chega a Palavra de Deus aos protagonistas, João estava no deserto e a Bíblia nos diz que “veio

a Palavra de Deus a João.”

Assim, João se tornou um mensageiro, uma voz que proclamava ao Grande Rei que já

estava às portas. Sua mensagem era de arrependimento e mudança total de vida. Ele

proclamou isso fortemente, com veemência, chegou a chamar os religiosos da sua época de

“raça de víboras”, não fazia rodeios, não fez do Evangelho “algo doce”, gelatinoso, mas, ao

contrário com todas as suas forças, respaldado por sua atitude, anunciava que preparassem o

caminho porque chegava uma hora muito importante da humanidade. Vemos também ele que

se prestava ao diálogo, caso alguém lhe perguntasse se ele era o Cristo.

“João vestia-se como Elias, o profeta do Antigo Testamento, que da mesma forma que

João havia chamado ao povo de Israel a voltar-se para Deus. Mateus 3.4 diz que as roupas de

João era feitas de pelo de camelo e levava um cinto de couro ao redor da cintura. Se

alimentava com gafanhotos e mel silvestre. Os gafanhotos eram uma das comidas preferidas

nos tempos bíblicos, por sua abundância em vitaminas e minerais. Com um sabor parecido

com o de camarão eram comidos tostados. Segundo Levítico 11.22, os gafanhotos eram

considerados comida pura. A vestimenta e a frugalidade de João estavam de acordo com o

deserto onde ele pregava para as pessoas. A mensagem que ele proclamava era o oferecimento

do perdão por parte de Deus, para todos aqueles sobrecarregados por seus pecados. Um

perdão que era concedido pelo arrependimento.”42

O batismo que João oferecia era uma transição que exigia das pessoas duas coisas:

arrependimento e confissão pública de pecados. Aqueles que o faziam estavam em condições

de serem batizados no rio Jordão para dar testemunho de que realmente haviam se

arrependido de seus pecados e manifestavam seu propósito de encarar o resto de suas vidas de

uma maneira diferente. João lhes pedia que primeiro provassem com seus atos que tiveram

uma mudança real em suas vidas; requeria evidências de arrependimento antes de batizá-los.

Com o batismo de João as pessoas recebiam uma preparação que os dispunha a receber e

responder à mensagem do Evangelho que seria anunciado posteriormente pelo próprio Senhor

Jesus Cristo.

42 R.Zapata, p. 61.37

“Quando o mundo de Adão sucumbiu pelo dilúvio e toda aquela geração ficou

sepultada pelas águas para sempre, Deus se comprometeu a nunca mais destruir o mundo por

meio da água. O batismo de João representava a morte de uma vida ou de uma geração de

vida que tínhamos em Adão. O batismo do Espírito Santo é o batismo do Senhor Jesus Cristo

e é para estabelecer a presença do Espírito de Deus nas próprias pessoas. Paulo declararia com

respeito a esta recepção da pessoa de Deus em Gálatas 2.20: “Estou crucificado com Cristo;

logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na

carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim.”43

João Batista foi o avanço, o progresso do anúncio da rocha que chegaria a romper com

os sistemas humanos de governo. O anúncio de João não foi um anúncio qualquer, foi o

anúncio mais importante da história da humanidade. João teve o raro privilégio de ser morto

por algo que não sua própria culpa, e nisso se assemelhou ao Filho de Deus, ao qual estava

anunciando.

2. O BATISMO DE JESUS (3.21-22)

Todos os viam a João confessavam seus pecados, se consideravam pecadores, se

arrependiam, se purificavam na água e se obrigavam a seguir o sucessor de João que batizaria

com Espírito Santo e com fogo. Qual era o motivo de o próprio Jesus ser batizado também?

No batismo de João havia confissão de pecados. Que pecados Jesus teria para confessar?

Jesus estava representando um povo pecador e ao haver tomado, Ele mesmo, seu lugar ante a

lei, lhe era necessário confessar os pecados desse povo.

Também foi uma maneira de dar honra ao ofício de precursor de João Batista. No

próprio ato do batismo Jesus orou e no momento que saia da água escutou uma voz que dizia:

“Este é meu Filho amado, em quem me comprazo”. O próprio Deus falando sobre seu prazer,

o Espírito Santo visível como uma pomba e o Filho de Deus saindo da água depois de haver

cumprido o que era necessário e justo.

Além do nascimento pela água, também se produziu ali o nascimento oficial do

ministério de Deus pelos homens. Como quando foi necessário que o Espírito Santo fizesse

sombra sobre Maria (Lc 1.35) para o nascimento humano de Jesus, agora simbolicamente

43 G.J Wenham, Comentario Bíblico Siglo XXI, p. 58.38

também estava fazendo sombra, na pomba, no nascimento do ministério ou serviço humano

de Deus entre os homens.”44

Para João, o momento do batismo de Jesus foi o momento culminante de seu

ministério. João já havia despertado o povo da sua letargia, o próprio Senhor se havia

apresentado, tudo já estava feito. Vemos que o estava acontecendo foi ordenado do céu. João

sai de cena e o próprio Filho de Deus começava agora seu turno, seu caminho para a cruz do

Calvário.

3. A GENEALOGIA DE JESUS (3.23-28)

A genealogia de Jesus é dada imediatamente depois do seu batismo, é estritamente

pessoal e vem por sua ascendência de Maria, já que Lucas nos apresenta a Jesus como o Filho

do Homem, que nasceu de sua mãe virgem Maria. Trata-se da descendência linear de Maria

apresentando a descendência sanguínea de Jesus.

“Em Lucas, a genealogia de Jesus chega até Adão porque procura explicar ou

demonstrar nestes versículos sua ascendência humana. Também era em extremo necessário

confirmar nas Escrituras que o Messias tão esperado devia ser Filho de Davi e também ser

herdeiro real. Isso depreende-se de 2 Sm 7.12-13, Rm 1.3 e At 2.30-31.”45

Pelos costumes judeus a descendência de Maria vinha no nome do esposo, já que José

era “filho de Eli,” ou seja, seu genro, porque sabemos que o pai de José, como nos diz Mateus

se chamava Jacó.

4. A TENTAÇÃO DE JESUS (4.1-13)

Assim como Deus levou seu povo ao deserto, onde foi provado durante 40 anos antes

de poder entrar na terra prometida, também Jesus foi levado ao deserto para ser provado por

quarenta dias antes de iniciar oficialmente seu ministério terreno. Mas ao contrário do que

havia ocorrido com os israelitas, Jesus não cedeu a nenhuma das tentações.

A tentação, como podemos ver, seguiu-se imediatamente ao batismo, quando havia

sido proclamado pelo próprio Deus, que era seu Filho em quem ele tinha prazer. Seguramente,

foi uma dura batalha espiritual na programação dos três anos que culminaram com amorte de 44 A. Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano, p. 43.45 W. Hendriksen, p. 59.

39

Jesus Cristo na cruz. Esta batalha já estava programada desde a eternidade, porque foi Jesus

foi conduzido a ela pelo Espírito Santo.

A duração da batalha foi de 40 dias, mas seguramente sua definição foi no final,

quando nos é apresentada as três propostas de satanás, às quais Jesus Cristo não fez nenhuma

consideração nem negociação possível. Satanás encabeçava sempre suas tentações com as

mesmas palavras que foram proclamadas pelo Pai no batismo: “Se és Filho de Deus.” A

palavra grega “tentar” é a mesma que significa “provar,” ou seja, por à prova. Jesus rechaçou

as tentações dando importância definitiva e nível de excelência inapelável às Sagradas

Escrituras.

“Como Jesus que não tem pecado pode ser tentado? Em nosso intento por responder a

esta pergunta muito importante, devemos antes de mais nada fazer notar que foi a natureza

humana que foi tentada. Jesus não somente era Deus; ele era também homem. Por outro lado

sua alma não era dura como pedra ou fria como um cubo de gelo, era uma alma totalmente

humana, profundamente sensível, afetada e comovida pelos sofrimentos de toda espécie. Jesus

foi capaz de expressar carinho, compaixão, piedade, ira, gratidão e ainda grande anelo pela

salvação dos pecadores para a glória do Pai. Sendo não apenas Deus, mas também homem,

ele sabia o que era está cansado e com sede. Portanto, não deve nos surpreender o fato de que

depois do jejum de 40 dias, teve fome, e a proposta de converter as pedras em pão era uma

tentação muito real. Não obstante, não deixa de ser verdade que a possibilidade e a realidade

da tentação de Cristo ultrapassa o nosso entendimento.”46

À tentação relacionada com o pão, Jesus respondeu: “Está escrito: nem só de pão

viverá o homem”. À tentação relacionada com o domínio do mundo, Jesus respondeu: “Está

escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele darás culto.” À tentação relacionada com a

demonstração de poder, Jesus asseverou: “Também está escrito: não tentarás ao Senhor teu

Deus. Todas as possibilidades de debilidade humana estavam compreendidas nas três

tentações; não havia acesso possível por parte de Satanás àquele que veio ao mundo para

despojá-lo de seu poder aqui na terra.

O que realmente ocorreu foi uma batalha espiritual espetacular, que se fossem

utilizados os elementos com os quais contamos hoje em dia para expressar graficamente

coisas espirituais, veríamos raios, tormentas e batalhas difíceis de serem abarcadas por nosso

pensamento ou nosso conhecimento. O que está escrito em Lucas é a representação para nossa

46 R. Zapata, p. 66.40

compreensão da verdadeira luta espiritual que se desenrolou nesse deserto. Para reafirmar

isto, basta recordar o último versículo da cena onde Lucas nos diz que Satanás esgotou todos

os recursos de tentação. Satanás entrou rapidamente na cena com Adão e Eva e agora chegou

também rapidamente quando veio ao mundo o “segundo Adão.”

Então, Jesus foi tentado para se compadecer de nós. “Pois, naquilo que ele mesmo

sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.”47 Já que Satanás

havia vencido a Adão pela tentação, era necessário passar pelo mesmo processo e não ceder,

para vencer pelas mesmas armas que Ele nos daria para vencer também a Satanás: A Palavra

de Deus escrita e o poder do Espírito Santo em nós.

“As respostas de Jesus afirmaram a autoridade expressa e documental das Sagradas

Escrituras, esta autoridade excede o mero fato de manifestar uma intenção ou lei escrita e se

transforma em uma arma, como está escrito, de dois gumes, que escrita, expressa leis

espirituais que não se podem transgredir sem sofrer as conseqüências. Mas, o principal

propósito da tentação não era meramente saber se Jesus Cristo podia ceder ou não às tentações

de Satanás, mas que Jesus nunca faria nenhuma concessão, nem arranjo, nem trato com

Satanás e estava disposto a enfrentá-lo com a própria Palavra de Deus que Ele encarnava.”48

5. O COMEÇO DO MINISTÉRIO NA GALILÉIA (4.14-15)

“Jesus regressou à Galiléia no poder do Espírito Santo; o Salvador começava

rapidamente e com o poder de Deus a desenvolver seu ministério na terra. Qualquer um

poderia dizer que era muito melhor iniciar em Jerusalém, uma cidade de fama mundial, para

onde confluíam todos os transportes da época, rotas importantes e onde estavam as

autoridades mais importantes da Palestina. Mas Jesus voltou para começar seu ministério na

periferia, na parte subdesenvolvida e segregada pelos judeus que se consideravam de boa

linhagem, a tal ponto de Natanael chegou a dizer: ‘Pode vir alguma coisa boa da Galiléia?’” 49

A Galiléia era uma região isolada, separada da Judéia por Samaria, que era habitada

especialmente por não-judeus, desde que os Assírios levaram o povo de Israel, propriamente

dito à Assíria e a partir dali os dispersaram aos quatro pontos cardeais de seu império. A

extensão da Galiléia era aproximadamente de uns 70 km de largura por uns 40 km de

47 Hebreus 5.1848 A. Estrada, p. 71.49 G.J. Wenham, p. 79.

41

comprimento, com muitos bosques e terras produtivas; ao oriente da Galiléia está o rio Jordão

e o mar da Galiléia. A população era mesclada de judeus e gentios, por isso era chamada de

“Galiléia dos gentios” e os galileus tinham um sotaque muito particular de falar, que os

tornava facilmente reconhecidos por sua maneira de falar.

“Por toda esta região Jesus esteve ensinando sempre nas sinagogas. A sinagoga era

uma instituição herdada do tempo do exílio, quando longe do templo, os judeus se reuniam

para ler as Sagradas Escrituras. Mantinham assim seu culto a Deus e suas tradições. O termo

sinagoga é uma palavra grega que significa “assembléia.” Seu edifício era usado como lugar

de encontro da comunidade para ensino, como uma escola, mas antes de tudo era um lugar de

adoração, onde freqüentemente os líderes convidavam mestres visitantes para participar

ativamente em seus ofícios. O texto bíblico era lido em hebraico, como ainda o é hoje em dia,

mas a pregação ou ensino era transmitido em aramaico, um idioma muito próximo do

hebraico.”50

6. A INAUGURAÇÃO DO MINISTÉRIO EM NAZARÉ (4.16-30)

Jesus percorria então as sinagogas onde sempre havia pessoas dispostas a receber os

ensinamentos. A mensagem de Jesus era que o tempo estava cumprido e o reino de Deus está

próximo, que os homens deviam se arrepender de seus pecados e crer nas boas novas. Sua

mensagem sempre se baseava no que estava profetizado acerca dele mesmo; afirmava que já

era tempo do cumprimento do que estava profetizado. Quando voltou à cidade de Nazaré, a

cidade de sua infância, também se dirigiu à sinagoga, onde seguramente assistiam seus

amigos de infância e também familiares que o haviam visto crescer.

Todos os sábados eram lidos um rolo da lei e outro dos profetas, esse dia entregaram a

Jesus o manuscrito do profeta Isaías. Os rolos da sinagoga eram guardados em cofres de metal

na parte de trás, numa espécie de biblioteca. Jesus leu então Isaias 61 onde o profeta se referia

à época em que restauraria seu povo. A mensagem de Isaias é uma clara demonstração do

objetivo do Senhor Jesus Cristo e seu propósito de vir a ocupar o lugar do homem.

Quando Jesus Cristo leu, na sinagoga, o texto profético de Isaías 61, deixou bem claro

o propósito de seu ministério, para que não restassem dúvidas. Não se tratava nenhuma

religião nova, nenhuma reforma, nem de uma boa proposta religiosa, mas da resposta às

50 W. Hendriksen, p. 78.42

necessidades que o homem experimenta desde que se separou de Deus, a partir d que, tem

vivido em absoluta solidão e tristeza. A natureza da mensagem de Jesus era especial e era

eterna, estava maravilhosamente resumida no texto que Ele havia acabado de ler. Cristo veio

para: dar boas notícias aos pobres, dar liberdade aos cativos, dar vista aos cegos, liberdade aos

oprimidos e apregoar o ano aceitável do Senhor.” 51

Isso deve ter impressionado a todos os que estavam ali presentes que os estava

escutando e quando todos os olhavam assombrados disse: “Hoje se cumpre esta profecia

diante de vocês”. O anúncio estava feito, já não havia como voltar atrás, a salvação estava a

caminho e ia até a cruz, onde haveria de dar a vida por todos nós. O grande libertador já

percorria seu caminho decididamente, dando seus comunicados nos lugares onde as pessoas

se reuniam receber os ensinos sobre a lei e os profetas.

As afirmações de Jesus fizeram que o humor dos que estavam escutando mudasse

rapidamente e começou ali um grande alvoroço. Os que há alguns minutos somente o

admiravam, estavam agora enfurecidos. Jesus havia tocado em uma de suas posses mais

importantes: o orgulho. Jesus foi levado pela multidão ao cume da colina sobre a qual está

construída a cidade de Nazaré. Diz-nos a Bíblia que foi levantado pelo seu próprio povo, mas

não era para exaltá-lo, mas para lançá-lo abaixo.

“O Filho do Homem não havia descoberto nada na realidade, sabia o que havia no

coração do homem; mais adiante ele o denunciaria claramente, quando recordando o episódio

de Nazaré, disse sobre Jerusalém o que está escrito no capítulo 13.34: “Jerusalém, Jerusalém,

que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!”52

A maneira como ele se desvencilhou dos que o cercavam demonstra a graça que teve

para fazer as coisas por sua própria vontade e também como durante a batalha dos três anos de

seus ministério terreno tinha controle absoluto sobre tudo o que acontecia. A Bíblia nos diz

que Jesus não argumentou, nem lutou para se livrar daqueles que queriam jogá-lo abaixo,

simplesmente passou por eles, porque tinha a intenção de seguir seu caminho de obediência

até a morte e morte de cruz.

7. A CONTINUÇÃO DO MINISTÉRIO EM CAFARNAUM E NO RESTO DA

GALILÉIA (4.31-44).

51 G.J. Wenham, p. 82.52 R. Zapata, p. 74.

43

Apesar do que havia sucedido anteriormente, Jesus continuou com seu ministério e foi

a outra sinagoga, desta vez na cidade de Cafarnaum. “Nesse lugar havia algo que chama a

atenção de muitos pseudo-cientistas quando falam acerca da possibilidade de que uma pessoa

tenha em si mesmo a possibilidade de que habitem nele outras entidades, que a Bíblia

identifica claramente como ‘demônios.’”53

Em Cafarnaum diz o texto, havia um homem que estava possuído por um espírito

maligno, que gritava contra o Senhor com todas as suas forças: “Ah! Que temos nós contigo,

Jesus Nazareno?” Aquela não era a hora de um enfrentamento com Satanás como o foi no

deserto, agora era um enfrentamento contra alguns dos demônios que tinham possuído esse

homem, que estava presente na sinagoga.

Já sabemos que o confronto que estava tendo o Senhor Jesus Cristo, era nada menos

que, enfrentar o reino das trevas. O reino de Deus, é quando as pessoas recebem e aceitam o

governo de Deus em sãs vidas, é o reino da fé, da luz, do amor. O outro reino é o reino onde

as pessoas, imitando a Satanás se rebelam contra Deus e não o obedecem, é o reino das trevas,

da incredulidade, do ódio. Quando Cristo morreu na cruz teve uma decisiva e definitiva

vitória sobre o reino das trevas.

No relato de Lucas, Jesus Cristo enfrentou o demônio e liberou ao homem no meio das

pessoas e o demônio saiu dele sem fazer-lhe nenhum dano. Todos se assustaram; não estavam

frente a uma pessoa que estava dando ensinos bíblicos, estavam frente a alguém que

enfrentava aos demônios e estes o obedeciam. Jesus não estava pregando somente doutrinas

teológicas inatacáveis, estava trazendo uma poderosa palavra libertadora. Em toda a cidade da

Galiléia, as pessoas se deram conta de que o próprio Filho de Deus estava frente a eles.

A mensagem do Evangelho está indissoluvelmente unida ao ministério de cura das

pessoas. A sogra de Simão foi um exemplo da intervenção de Jesus Cristo nos assuntos da

saúde do corpo. O Senhor continuou curando as pessoas, pondo suas mãos sobre cada uma

delas.

“O ministério de Senhor Jesus no que diz respeito a curar os enfermos já havia sido

antecipado quando na sinagoga de Nazaré ele anunciou que veio para sarar os quebrantados

de coração; pregar liberdade aos cativos e dá vista aos cegos; a por em liberdade os

oprimidos; a pregar o ano aceitável do Senhor. Neste Evangelho temos a pauta da humanidade

e compaixão do Senhor Jesus. A cura dos enfermos e a libertação dos endemoniados são as

53 A. Estrada, p. 86.44

características mais importantes do ministério de Jesus Cristo e de seus discípulos e também a

mais desenvolvida nos textos dos Evangelhos e no livro histórico de Atos.”54

CONCLUSÃO

Nestes capítulos do Evangelho de Lucas inicia-se o ministério terreno de Jesus Cristo

com seu batismo com João. Mostra-se claramente no relato que é o Evangelho das “boas

novas” de salvação de Nosso Senhor. Foi uma salvação que não conheceu fronteiras, mas que

se estendeu até o último e mais humilde dos homens: o publicano desprezado, o pecador

proscrito, o samaritano odiado e até ao ladrão crucificado.

Ele continuará conosco, por Sua Palavra, por Seu Espírito e estenderá as mesmas

bênçãos a outras nações, até que todo o povo escolhido por Deus seja levado a reconhecê-lo

como Cristo, o Filho de Deus e achem redenção por meio do seu sangue, o perdão dos

pecados.

Por último, o relato de Lucas, está escrito em sua totalidade a partir do ponto de vista

de Maria e tem o propósito de mostrar as relações de Nosso Senhor Jesus Cristo com a

humanidade, ou seja, mostra a Jesus como o Filho do Homem.

54 W. Hendriksen, p. 88.45

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 3

1. Quem eram os sumos sacerdotes na época em que o capítulo 3 foi escrito?

2. Qual era o centro da mensagem que João proclamava?

3. Que linha de descendência Lucas mostra na genealogia de Jesus e qual o motivo

para isso?

4. Qual foi o motivo principal pelo qual Jesus foi batizado?

5. Quanto tempo durou a tentação de Jesus no deserto?

6. Quantas foram as tentações que Satanás apresentou ou ofereceu a Jesus nessa

oportunidade?

7. Em qual cidade Jesus iniciou seu ministério terreno?

8. Por que ele decide começar nesse lugar?

9. Qual livro do Antigo testamento Jesus leu quando chega a sinagoga de Nazaré?

10. Que profecia foi cumprida nessa ocasião?

46

LIÇÃO 4

CONTINUAÇÃO DO MINISTÉRIO NA GALILEIA (5.1-9.50)

Luis Alfonso Lucero Jaramillo y Rubén Reyes

INTRODUÇÃO

Nos capítulos seguintes do livro de Lucas encontraremos uma série de acontecimentos

que começam com o chamado dos primeiros discípulos e se estende até a polêmica de seus

próprios amigos, de quem seria o maior entre eles. Muitos consideram o chamado de seus

primeiros discípulos como o começo de um novo período no ministério público de Jesus. Sua

obra ia assumir uma forma mais estável. A crescente popularidade da sua pregação indicava

que o Evangelho era para o mundo inteiro. Para uma proclamação desta índole era necessário

preparar um grupo de obreiros. O crescimento do cristianismo sempre depende de que se

consigam homens que queiram confessar e seguir publicamente a Cristo. O cenário deste

chamado foi o “lago de Genesaré.” Esta encantadora extensão de água traz à memória tantas

cenas da vida de nosso Senhor que muitos estudiosos chegam a opinar, que este, poderia ser

chamado de “quinto Evangelho.” Nas margens ocidental e setentrional ficavam as cidades nas

quais se levou a cabo a maior parte da obra de Jesus; a parte oriental estava desabitada e para

ali ele se retirava para descansar.

Os homens aos quais Jesus chamou eram pescadores, vigorosos, independentes,

valentes. Jesus não lhes era estranho, nem eles ficaram parados, indiferentes ante as verdades

espirituais que Jesus proclamava. Haviam escutado a pregação de João Batista e havia

chegado a considerar Jesus como o Messias, mas agora estavam convidados a que deixassem

suas casas e ocupações e que se convertessem em companheiros e discípulos constantes, que

se atreveriam a levar as boas novas da graça e misericórdia de Deus.

1. A PESCA MARAVILHOSA E O CHAMADO DE PEDRO, TIAGO E JOÃO

(5.1-11).

Jesus entra na vida vocacional dos quatro discípulos que eram pescadores. Durante a

pesca Jesus mostra seu domínio sobre o mar e os peixes. O milagre maior era que os

discípulos iam ser pescadores de homens.

47

“O ‘lago de Genesaré’ era o outro nome do mar da Galiléia, também chamado de mar

de Tiberíades. É um lago de água doce, de uns 20 quilômetros de largura e 11 quilômetros de

cumprimento, e é atravessado pelo rio Jordão. O mar da Galiléia proporcionava abundante

pesca. A pesca era a principal ocupação nas cidades e povoados ao redor do lago. Grande

parte do ministério de Jesus estava centrado nesta área e quatro dos seus discípulos eram

pescadores. Era costume dentro do povo judeu nesse tempo que os mestres religiosos tiveram

muitos discípulos, os quais realmente escolhiam o seu mestre. Dos mestres eles aprendiam a

Torá e então seguiam estritamente seu ensino. Jesus romperia com esta tradição de ter muitos

discípulos já que escolheria somente doze. Este círculo íntimo de discípulos eram os

apóstolos, dentro dos quais havia outro círculo constituído de três discípulos: Simão Pedro,

Tiago, filho de Zebedeu e seu irmão, João. Os três eram pescadores.”

Nesta cena no mar da Galiléia vemos especificamente o chamado de Pedro, que era

conhecido de Jesus, já que nesses dias havia curado a sua sogra. Jesus havia solicitado alguns

barcos que eram utilizados pelos pescadores, nelas ele pregava sua mensagem de salvação e

arrependimento. Seguramente Simão já havia escutado anteriormente a mensagem, mas agora

tudo era diferente depois desse milagre de uma pesca tão grande, no lugar onde havia

fracassado recentemente. Jesus Cristo lhes disse que voltassem a lançar a rede e eles o

fizeram, seguramente por compromisso, como para não desagradar o mestre, que seguramente

já conheciam. Para um pescador experimentado como Simão Pedro o milagre foi muito

impressionante, já que Pedro conhecia as dificuldades que os pescadores suportavam para

extrair uma grande pesca, e ademais, porque havia trabalhado toda a noite sem nenhum

resultado.55

2. JESUS CURA A UM LEPROSO E A UM PARALÍTICO (5.12-16)

Os milagres de Jesus não eram irreais, Jesus curou os que de verdade tinham

enfermidades incuráveis como a lepra e a paralisia.

A lepra era considerada como a mais asquerosa e terrível das enfermidades. Ela tinha

várias formas, mas sua característica invariável era uma sujeira fétida. O leproso era um pária;

era obrigado a viver longe de toda a convivência humana. Lhe era exigido cobrir a boca e

advertir aos que se aproximavam com o grito: “Imundo! Imundo!” Como se considerava que

55 René Zapata, p. 53.48

não tinham esperança, eles era tidos como mortos. Pelo que tem de asqueroso, de corruptor,

de penetrante, de isolador, de contagiosa física e ritualmente, sem dúvida que a lepra é um

símbolo adequado do pecado; e este relato tão gráfico oferece uma parábola do poder que

Cristo tem para limpar, sarar e restaurar. O quadro que Lucas oferece está cheio de vida; a

confiança humildade do pobre enfermo, seu grito lastimoso, o contato compassivo de Jesus, a

palavra de ordem e a cura instantânea. Ainda que Jesus o tenha proibido de excitar os ânimos

com o relato da sua cura, também lhe ordenou que se apresentasse ao sacerdote, a fim de que

as autoridades religiosas supremas tivessem um testemunho indiscutível do poder divino de

Cristo, e também a fim de que o homem levasse oferendas que a Lei exigia e com isso

expressasse a Deus a sua gratidão. Nosso Mestre segue esperando que todos os que tenham

sentido seu contato curador dêem testemunho de sua graça e demonstrem sua gratidão

oferecendo-lhe o serviço de suas vidas.

Quanto ao paralítico, se a lepra era símbolo da sujeira do pecado, a paralisia o era da

impotência e da dor do mesmo. Na ocasião da cura do paralítico, Jesus, fez algo mais

supreendente: perdoou pecados. O pobre enfermo havia sido levado por quatro amigos, os

quais não desanimaram diante de nenhum obstáculo. Quando não puderam entrar pela porta

da casa onde Jesus estava, devido à multidão que lá estava, subiram ao telhado e por entre as

telhas o baixaram à presença de Jesus. Seu afinco é uma reprovação para nós os que fazemos

tão pouco esforço para levar a nossos companheiros para dentro da esfera da influência

curadora de Jesus. Ele viu a fé do homem, bem como a de seus amigos, e respondeu com uma

afirmação que produziu em seus ouvintes mais surpresa que o abrir do telhado: “Homem,

perdoados estão os teus pecados.” Ele não havia pedido tal perdão, mas Jesus leu seu

coração. Viu o anelo que o enfermo tinha de ser curado não só no corpo, mas também na

alma. Compreendeu seu pesar pelo pecado que havia causado a enfermidade que o agoniava,

e a angústia e o remorso, e de imediato pronunciou a palavra de perdão e de paz. Deste modo

Jesus proclamou a mensagem que o mundo parece relutante em aceitar. Afirmou que as

enfermidades físicas e os males sociais são menos graves que as perturbações morais e

espirituais das quais são sintomas e conseqüências ao mesmo tempo. Além disso, expressou

sua pretensão de poder divino para pronunciar o perdão e para remover a culpa. Esta

pretensão suscitou de imediato a aguda ira dos escribas e fariseus ali presentes e começaram a

arrazoar: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” O

49

raciocínio deles era correto. Jesus era um blasfemo merecedor da morte, a não ser que fosse

divino.56

3. OS DISCÍPULOS RECOLHEM ESPIGAS NO DIA DE REPOUSO (6.1-5)

O sábado, o dia de repouso, é para congregar-se para adorar a Deus, descansar dos

labores comuns e servir ao Senhor. Os fariseus sabiam como congregar-se e descansar, mas

não apreciaram como servir ao Senhor. Jesus e seus discípulos tinham fome porque estavam

servindo e ministrando. Era, pois, lícito comer para se sustentarem.

“Evidentemente os fariseus seguiam Jesus de perto, já que até criticavam o que ele

fazia quando cruzava os campos. Sua necessidade de encontrar falhas no caminho do Senhor

os fazia parece ridículos pelo minucioso desejo de encontrar erro.

Lamentavelmente em todas as épocas e também na nossa, encontramos muitas pessoas

que em nome da fé ou da sã doutrina não fazem mais que criticar e pouca disposição em

concordar em um espírito de boa fé. Era isso o que se passava com os fariseus, que

encontraram um tema de confrontação em algo tão particularmente apreciado pelos falsos

religiosos como o dia de sábado.

O sábado era uma lembrança da criação de Deus, que criou tudo segundo declara a

Bíblia para o próprio Senhor Jesus Cristo. Como nos diz em Colossenses 1.16: “Tudo foi feito

por meio dele e para ele.” Era este quem cruzava os campos em companhia de seus

discípulos.

O sábado também é um dos dez mandamentos instituídos por Deus, mandamentos que

Jesus Crist veio cumprir e não invalidar.

O sábado era um dia de descanso dedicado a que as pessoas pudessem adorar a Deus

publicamente. Na realidade o espírito dessa celebração era de alegria e devia ser usado para a

restauração física, mental e espiritual. Os fariseus, que tinham uma tendência natural a

agregar regras, adicionaram muitas restrições a este mandamento, transformando assim a festa

de alegria, a comunhão com Deus e o descanso, em uma pesada carga para as pessoas No

Antigo Testamento não se proibia recolher grãos para o próprio consumo, mas os fariseus que

exageravam a lei, consideravam que essa ação era colher.

56 Carlos R. Erdman, El Evangelio de Lucas, pp. 75, 76, 77, 78.

50

A contestação de Jesus Cristo tendia a mostra a flexibilidade, o amor e a compreensão

de Deus quando chega o momento e é necessário. Esta flexibilidade não existia nos corações

duros, rígidos e estruturados dos fariseus esta forma de ser, esta dureza, lhes trazia cansaço

moral, espiritual e físico, por isso talvez podia se dizer que os fariseus era a seita das “caras

amarradas.” O exemplo que Jesus Cristo lhes mostrou, de Davi e seus companheiros quando

tiveram fome, foi o melhor para pessoas tão rígidas que seguramente no lugar de Davi, não

haveriam procedido assim.

A maneira de Deus trabalhar sempre é surpreendente, como deve ter sido

surpreendente a resposta para os fariseus. Em sua resposta Jesus Cristo se apresentou como o

“Filho do homem,” que era o título que geralmente usava quando se referia a si mesmo. O

tema central do Evangelho de Lucas apresenta Jesus como o “Filho do Homem.” Existe uma

referência precisa a este nome em uma visão do profeta Daniel relatada no livro de Daniel

7.13-14: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu

um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-

lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas

o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será

destruído.”

Cristo afirmava com sua atitude e resposta que os sacrifícios ou ordenanças não são

um fim em si mesmo, mas um meio de mostrar a Jesus, o Filho de Deus, também chamado de

Filho do Homem, e que, portanto, o próprio fim ou objeto de todo bem, podia quebrar a

ordem dos sacrifícios e ordenanças.

Ele o afirmou claramente quando disse que Ele era o Senhor do sábado.57

“Vs. 1-5. Cristo justificou seus discípulos em uma obra necessária para eles próprios

no dia de repouso; podia colher espigas quando tinham fome, mas devemos cuidar de não

confundir esta liberdade com uma permissão para pecar. Cristo quer que saibamos e

recordemos que este é seu dia, portanto, devemos dedicá-lo a seu serviço e sua honra.58

“Jesus havia provocado a ira dos fariseus ao arrogar para si o direito de perdoar

pecados. Ele os havia enfurecido ainda mais com o seu modo de tratar pecadores. Mas o ódio

deles chegou a um ponto extremo de fúria ante a atitude que Jesus tomou em relação à

observância do sábado. Daí em diante buscaram destruí-lo.”

57 Rene C. Zapata, pp. 60-61.58 Mathew Henry, p. 8.

51

“A questão do sábado nunca “saiu de moda.” Os seguidores de Cristo devem ater-se

com firmeza aos princípios que seu Senhor estabeleceu. São poucos porém fundamentais: o

sábado é um dia para o culto a Deus e para o descanso e só de pode quebrar essa lei para obras

necessárias e de misericórdia.”

“A primeira das exceções ao descanso exigido é ilustrada no caso dos discípulos a

quem os fariseus acusaram de haver quebrado o sábado porque, ao caminhar pelos caminhos,

haviam colhido espigas maduras e por isso, segundo a interpretação de seus inimigos, se

haviam tornado culpados de fazer trabalho no sábado. Nosso Senhor não negou que a lei do

sábado havia sido quebrada. Simplesmente lembrou a seus inimigos o caso de Davi e de seus

companheiros que, pressionados pela fome, quebraram a Lei mosaica ao entrar no tabernáculo

e comer “os pães da proposição”. Jesus argumentou que, dada a necessidade de aliviar a fome,

seus seguidores estavam justificados em prescindir da lei do descanso.59”

4. O HOMEM DA MÃO RESSEQUIDA (6.6-11)

Os fariseus havia desenvolvido um conceito legalista acerca do sábado. Jesus, com

suas obras, quis expor e corrigi-los publicamente. Eles sempre tinham a intenção de expor ao

Senhor Jesus através do aparente não cumprimento deste mandamento. Wenham diz: “O

sábado, havia sido feito por causa do homem, e, em conseqüência, o Filho do Homem era seu

Senhor.”60

Acerca da pergunta que Jesus faz aos escribas e fariseus, de se era lícito, no dia de

sábado, fazer o bem ou fazer o mal, Hendriksen comenta: “A pergunta era razoável e

pertinente. Não eram os fariseus e escribas os mesmos que sempre estavam pretendendo saber

eles o que era “permitido,” “lícito,” e portanto, correto? Que dêem, então, eles sua opinião de

especialistas. É claro que a resposta à pergunta de Cristo era tão óbvia que uma criança

poderia dar a resposta. Se é lícito fazer o bem – acerca do qual veja-se também Lc 6.33, 35; 1

Pe 2.14, 15, 20; 3.6, 17; 4.19; 3 Jo 11 – qualquer dia ordinário da semana, não será correto

fazer o bem no dia de repouso? Além disso, no Antigo Testamento não era exatamente fazer o

bem tanto para Deus (amá-lo, servi-lo, deleitar-se nele) como para os homens (livrá-lo da

escravidão, dar-lhe de comer, vesti-lo) o que Deus pede e ainda enfatiza? E isto num contexto

de jejuns e observâncias sabáticas? Que estranho que estes críticos adversos não tenha 59 Carlos R. Erdman, p. 84.60 G. J. Wenham, p. 214.

52

lembrado o claro e definido ensino de Isaías 56.6; 58.6-14! O Senhor havia instado a Israel a

que usasse o dia de repouso para o propósito que Jesus o estava usando agora e sempre o

usava. Entretanto, era em Cristo, que aqueles homens que se consideravam experts na lei,

encontravam a falta.”61

Jamieson expressa: “Com esta forma nova de propor seu caso, nosso Senhor ensina o

grande princípio ético de que o deixar de atender alguma oportunidade de fazer o bem, é

contrair a culpa de fazer o mal; e por esta lei ele vivia.”62

Hendriksen continua: “Nesta tensa situação, o Senhor toma a ofensiva. Conhece os

pensamentos deles... Então, pede ao homem que se ponha de pé e fique onde todos possam

vê-lo.”

“Jesus insistia que seus milagres fossem feitos abertamente, de modo que toda suspeita

de engano ou de truque fosse excluída. Compare com os meios modernos de fazer as coisas às

ocultas, operações de luzes apagadas, etc. Além disso, Jesus também pode ter desejado

provocar a compaixão dos presentes para este homem gravemente limitado... A cura foi

instantânea e completa. Cf. 1 Rs 13.6. De um modo demasiado misterioso, como para que

qualquer mortal pudesse compreender, o Salvador havia concentrado sua mente na difícil

situação deste pobre homem, e por meio de seu poder e compaixão havia querido e realizado a

cura”.

Ante a pergunta de Jesus e o milagre ante seus olhos, os fariseus e escribas ficaram em

silêncio. Havia sido delatados ante o público pelo que realmente eram: dirigentes que

consideravam suas rígidas regras e sutilezas mais elevadas do que a lei divina do amor e que

estavam mais preocupados com suas “tradições” do que com a saúde e felicidade de um

homem tragicamente incapacitado. E se o silêncio que haviam imposto a si mesmos já os

havia enfurecido, o milagre que Jesus realizou fez com que tudo fosse muito pior para eles.

Oh!Quem dera que eles tivessem se arrependido e confessado sua maldade! Mas, não. Eles

discutiram entre si; trocando ideias, sobre o que poderiam fazer a Jesus!... O pecado nos leva

a tal profundidade de degradação, a menos que a graça intervenha.

5. A ESCOLHA DOS DOZE DISCÍPULOS (6.12-19)

61 William Hendriksen, p. 238.62 Roberto Jamieson, Comentario Exegético y Explicativo de la Biblia, Tomo II NT, p. 159.

53

Só Lucas dá ênfase ao fato de que Jesus passou toda a noite em oração antes de fazer a

escolha dos doze apóstolos. Este seria o primeiro passo dado em direção de uma de suas

missões mais importantes, a formação da igreja. Segundo Zapata, os apóstolos “constituíram o

fundamento da santa cidade de Jerusalém com as doze portas com os nomes de cada uma das

tribos de Israel, guardadas por doze anjos, que teria também doze fundamentos, nos quais

estavam os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro como consta Apocalipse 21.14.”63

Hendriksen expressa: “O apostolado é um ofício, uma comissão divinamente instituída com

autoridade para ser levada a cabo. O fato de Jesus escolheu doze homens, nem mais nem

menos, indica que estava pensando no novo Israel, porque o antigo Israel tinha doze tribos e

doze patriarcas. O novo Israel ia ser reunido dentre todas as nações, judeus e igualmente,

gentios (Mt 8.10-12; 16.18; 28.19; Mc 12.9; 16.15; Lc 4.25-27; Jo 3.16; 10.16; Ap 21.12,

14).”64

A palavra apóstolo significa: enviado ou mensageiro. Este representa aquele que o

envia, e está revestido de autoridade, a qual é derivada daquele que enviou. A palavra

apóstolo limita-se no Novo Testamento aos doze a Paulo, ainda que aqui Paulo não esteja

presente. Os doze apóstolos eleitos não tinham uma formação cultural especial, eles já

estavam seguindo Jesus e aprenderam diretamente dele. Foram eles:

1. Simão (Pedro), pescador, era líder do círculo íntimo de três apóstolos (junto com

Tiago e João); tinha um temperamento muito forte, mas ao mesmo tempo uma fé

inquebrantável no Senhor.

2. Tiago, filho de Zebedeu e irmão mais velho de João; foi chamado por Jesus, junto

com João, de “filhos do trovão”, por causa do seu caráter tempestuoso.

3. João, o discípulo amado de Jesus; por ser o discípulo mais jovem de Jesus, sua

longa vida lhe daria a experiência necessária para escrever seu Evangelho com uma visão

global da mensagem do Senhor Jesus Cristo.

4. André, irmão de Simão Pedro, pescador de Betsaida, também havia sido discípulo

de João Batista.

5. Bartolomeu (Natanael), conhecido pelo que é relatado em João 1.44-49, quando ao

ser convidado por Felipe para conhecer a Jesus disse: “De Nazaré pode sair alguma coisa

boa?”

63 René C. Zapata, p. 61.64 William Hendriksen, pp. 241, 242.

54

6. Felipe, nativo de Betsaida, o mesmo lugar de André e Pedro. Foi convidado por

Jesus a segui-lo e ele chamou a Natanael. Foi ele que disse: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso

nos basta.”

7. Mateus (Levi), publicano, coletor de impostos que deixou sua mesa de arrecadação

e celebrou um banquete para seus amigos quando se encontrou com Jesus; autor do

Evangelho que leva seu nome.

8. Tomé (Dídimo), palavra grega que significa “o gêmeo,” é mais conhecido por suas

expressões de dúvida, que foram satisfeitas pela direta intervenção de Jesus.

9. Jacó, filho de Alfeu, também chamado de Tiago.

10. Simão (O Zelote), chamado assim porque antes de seguir ao Senhor pertencia a

uma seita religiosa muito fanática chamada “os zelotes.”

11. Tadeu (Judas) filho de Tiago.

12. Judas Iscariotes, que era o único apóstolo não oriundo da Galiléia. Havia nascido

na cidade de Kerioth. Sempre é mencionado como “aquele que o traiu.” Era também o

tesoureiro do grupo.

Hendriksen comenta: “Mesmo quando deixamos de lado a Judas Iscariotes e somente

consideramos os demais, não podemos deixar de nos impressionar com a majestade do

Salvador, cujo poder de atração, sabedoria incomparável e amor sem igual eram tão

assombrosos que podia reunir ao seu redor e unir em uma família homens tão diferentes, às

vezes opostos quanto aos antecedentes e temperamentos. Dentro deste pequeno grupo

estavam: Pedro, o otimista (Mt 14.28; 26.33, 35), mas também Tomé, o pessimista (Jo 11.16;

20. 24, 25); Simão, o ex-zelote que odiava os impostos e estava ansioso por expulsar o

governo romano, mas também estava Mateus que voluntariamente havia oferecido seus

serviços de coleta de impostos a esse mesmo império romano; Pedro, João e Mateus,

destinados a serem famosos por seus escritos, mas também Tiago, o menos que é

desconhecido, que, sem dúvida, deve ter cumprido sua missão. Jesus os atraiu a si com as

cordas de sua terna e infalível compaixão . Ele os amou até o fim (Jo 13.1), e na noite antes de

ser traído os encomendou a Seu Pai.

Depois da escolha dos apóstolos, “Jesus voltou à planura onde as pessoas poderiam

escutá-lo mais facilmente quando se amontoavam de todos os arredores da Galiléia. Elas

podem ter sido atraídas especialmente por seu poder curador, mas Jesus aproveitou a

oportunidade para ensiná-las. Ao contar a história nesta ordem (em contraste com Marcos,

55

onde o chamado dos doze segue a este parágrafo), Lucas mostra que havia uma multidão

pronta para ouvir o sermão seguinte (Lucas 7.1) e que esse sermão não era dirigido só aos

doze.”65

6. BEM-AVENTURANÇAS E AÍS (6.20-26)

As bem-aventuranças apontadas por Lucas são distintas da bem-aventuranças

mencionadas por Mateus. Enquanto Mateus fala dos “pobres de espírito” Lucas fala dos

pobres. Além disso, no breve resumo de Lucas do Sermão do Monte, Lucas apresenta os

“ais”, as maldições associadas com os que não são pobres de espírito.

Não é difícil ver que as bem-aventuranças de Lucas são uma adaptação do sermão do

monte mais longo mencionado por Mateus. Lucas afirma a realidade da pobreza humana e a

perseguição religiosa e política. Os discípulos ia ser destituídos de seus bens pelos fanáticos

judeus e pelos militares romanos, por causa do Filho do Homem. Entretanto, os discípulos

devem amar seus inimigos. Jesus demonstrou este amor ao receber o centurião romano como

filho de Deus (7.1-10).

7. O AMOR E OS INIMIGOS (6.27-36)

Hendriksen nota a diferença entre o amor ao próximo e o amor a seu inimigo: “Amai a

vossos inimigos não era exatamente o que os escribas estavam ensinando às pessoas. Eles

diziam: ‘Amai ao teu próximo e odiai o vosso inimigo’, mudando assim a verdadeiro ênfase

da lei; a lei colocava toda a ênfase no amor acima da vingança, note-se Lv 19.18. Sendo como

é a natureza humana era muito fácil para as pessoas que viviam intimidadas pelo jugo

opressor estrangeiro ceder a seus maus impulsos, e assim, levantava-se uma muralha de

separação entre gentios e judeus, mas era difícil deter-se aí; então surgiu outra barreira entre

os “bons israelitas” como os escribas e fariseus e os “maus israelitas” como os renegados, os

publicanos e o povo em geral.”66

Zapata nota que o conceito de Cristo quando ao amor era revolucionário, uma

revolução de graça. “As palavras de Jesus eram uma verdadeira revolução espiritual e

incluíam uma visão mais clara do que Deus espera dos seus filhos. Era uma verdadeira 65G.J. Wenham, p. 215.66 W. Hendriksen, p, 256.

56

declaração do que a presença de Deus faria na vida das pessoas que vivessem em sua

presença. Isto sim, seria um verdadeiro resgate do que se havia perdido com Adão e que Jesus

Cristo veio restaurar, por isso é que está escrito: Misericórdia quero e não sacrifício.”67

Wenham, et al., observa que Cristo está preparando seus discípulos para a perseguição

imposta pelos inimigos de Deus. “A primeira parte do sermão trata sobre as relação dos

discípulos com Deus; esta segunda parte trata sobre as relações com os demais. Passa

diretamente ao dever para com os inimigos. O princípio básico se estabelece nos versos 27-

28, onde é claro que os inimigos que tinham em mente são especialmente aqueles que

perseguiam aos discípulos. São dados dois breves exemplos de tal amor: a submissão à

violência quando se é golpeado por alguém e a disposição de dar ao que lhe tira a capa ainda

mais.”68

O amor de Deus é revolucionário. É um amor que mostra misericórdia, graça e

paciência. Só Deus pode dar este tipo de amor.

8. JULGAR, PRODUZIR FRUTO E ESTÁ FUNDAMENTADO (6.37-49).

O ensino sobre amar seu inimigo é radical e consistente. Jesus continua ensinando

sobre julgar e a importância de ser frutífero e consistente. Nesta seção sobre as bem-

aventuranças e ais, o Senhor identifica aos humildes e a seus inimigos. Os inimigos de Deus

está cheio de ódio, são hipócritas, são carnais e inconsistentes.

Os judeus eram famosos por julgar e condenar aos gentios. Os gentios foram

considerados como cachorros. Entretanto, o Filho do Homem mostra que antes de julgar tem

de ser puro. É hipocrisia julgar ao outro.

O Filho de Deus deve produzir fruto espiritual. Quando os inimigos de Jesus estão

cheio de ódio e quando falam mentiras, mostram o que está em seus corações.

Os judeus identificaram a Jesus como Senhor, mas não o obedeciam. Só os que

confessam ao Senhor, e o seguem estão edificando sua vida sobre a rocha.

9. JESUS CURA O SERVO DE UM CENTURIÃO (7.1-10)

67 R.Zapata, p. 66.68 G.J. Wenham, p. 326.

57

A missão do Filho do homem não era somente para os judeus. Lucas apresenta o caso

do centurião, um oficial romano. Jesus nota a fé do centurião e o conta como um verdadeiro

filho de Deus.

Zapata escreve: “Um centurião era um oficial militar romano. O do relato,

seguramente pertencia a uma unidade auxiliar que estava debaixo do comando de Herodes

Antipas, Governador da Galiléia, no caminho da cidade de Cafarnaum. Quando Jesus passou

próximo da sua casa, ele manou dois amigos com a missão de interceptá-lo para que orasse

por seu servo que estava muito doente. Evidentemente a fama de Jesus já havia chegado a

todos os estratos sociais da Palestina naquele tempo. Os amigos do Centurião foram

representá-los já que não se considerava digno de receber Jesus em sua casa. As palavras do

centurião estavam tão carregados de fé ao ponto de Jesus ficar tão admirado que exclamou:

Nem mesmo em Israel encontrei fé como esta”. Jesus enviou sua palavra e o curou, de

maneira que quando chegaram os amigos do centurião, encontram o servo são. A crença em

Jesus por parte do centurião salvou a vida do seu servo, pela fé, que é um dom de Deus. A fé

pode mudar qualquer situação. Essa é uma das premissas fundamentais da relação com Jesus

Cristo que disse: “Tudo é possível ao que crer”. Cafarnaum era a cidade onde Jesus havia

estabelecido sua base durante seu ministério na Galiléia. Nesta cidade estava a casa de Pedro

e dos demais discípulos, que eram pescadores. Pelo incidente do centurião sabe-se que a

cidade estava aguardando com expectativa a chegada de Jesus, que teve ali um ministério

muito frutífero.69

10. JESUS RESSUSCITA O FILHO DE UMA VIÚVA (7.11-17)

Jesus veio para “trazer as boas novas aos pobres”. Com a ressurreição do filho de uma

viúva, Jesus não apenas restaura a vida do jovem, mas o sustento social e emocional desta

família humilde.

Wenham narra: “A história da cura de uma pessoa a ponto de morrer (7.2) é seguida

pela ressurreição de um morto em Naim, uma aldeia ao sul de Nazaré. Jesus sentiu uma

simpatia especial porque a mãe era uma viúva que tinha um só filho para sustentá-la. O morto

era levado em um ataúde aberto. Deixando de lado o fato de que tocar um cadáver o faria

religiosamente impuro, Jesus deteve a procissão fúnebre e ordenou ao jovem que se

69 Rene C. Zapata, p. 70.58

levantasse. Esta simples palavra de ordem foi suficiente para devolver a vida ao rapaz e as

pessoas ficaram cheias de uma mescla de terror e gozo ante o sobrenatural. Recordavam que

Elias e Eliseu tinham feito maravilhas semelhantes (1 Rs 17.17-24; 2 Rs 4.18-37) e viram a

mão de Deus em ação.”70

11. OS MENSAGEIROS DE JOÃO BATISTA (7.18-35)

João Batista envia dois discípulos a Jesus para pedir confirmação de que Jesus era o

Messias.

Hendriksen nota: “A fama pelos poderosos milagres de Jesus, que incluíam ressuscitar

mortos, foi crescendo incontidamente. João Batista, que o havia batizado não muito tempo

antes, enviou a dois de seus discípulos para confirmar se Jesus era aquele que ele estava

anunciando. A falta de contato direto entre eles, pelo fato de que João esta preso nesse tempo

foi seguramente o motivo do envio de seus discípulos, para conhecer o que estava

acontecendo, para afirmar sua fé, para assegurar-se, para ter uma confirmação, para poder

esperar no cárcere os acontecimentos.”71

A confirmação de que Jesus era o Messias era que os sinais do reino de Deus estavam

no ministério de Jesus. As profecias de Isaias 61 foram cumpridas. “...os cegos vêem, os

coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e

aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho”. Além disso isso foi uma referência direta aos

líderes e ao povo judeu que rejeitava ao Senhor: “E bem-aventurado é aquele que não achar

em mim motivo de tropeço.”

O ministério ungido do Messias (Lc 4.18-19) é parte da vinda do reino de Deus.

Henry observa: A seus milagres no reino da natureza, Cristo agrega este no reino da

graça. Prega-se o evangelho aos pobres. Indica claramente a natureza espiritual do Reino de

Cristo, como o arauto que enviou a preparar seu caminho o fez ao pregar o arrependimento e a

mudança de coração e de vida. Aqui se remarca com justiça a responsabilidade dos que não

foram atraídos pelo ministério de João Batista ou do próprio Jesus Cristo. Zombaram dos

métodos que Deus adotou para fazer-lhes o bem. Esta é a ruína de multidões: não são sérios

nos interesses de suas almas. Pensemos no modo de mostrar-nos como filhos da sabedoria

70 G. J. Wenham, p. 219.71 Rene C. Zapata, pp. 71-72.

59

atentando às instruções da Palavra de Deus e venerando os mistérios e a boa nova que os

infiéis e os fariseus ridicularizam e blasfemam.”72

12. JESUS NA CASA DE SIMÃO, O FARISEU (7.36-50)

Lucas continua narrando exemplo após exemplo sobre a verdade de que o Messias

veio para trazer boas novas aos pobres. Neste caso, é uma mulher “da cidade.” Zapata

comenta: “Esta mulher era considerada como algo sem valor na sociedade judia, entretanto,

quando soube que Jesus estava na casa do fariseu Simão, lançou mão de um frasco de

alabastro cheio de perfume e foi lavar os pés de Jesus Cristo.”73

Lucas presta atenção a como Simão, o fariseu, interpreta a ação da “mulher da

cidade.” Pode-se dizer de Simão que ele teve que ser perdoado por não ser pobre de espírito.

“Começou a ungi-lo com perfume, muito possivelmente pago com os ganhos de sua

vida imoral, mas as lágrimas a impediram de terminar a tarefa. Sem dúvida, essas ações eram

indecorosas, mas ela estava sob uma grande tensão emocional para se importar com o que as

pessoas pensavam. O fariseu se sentiu muito incomodado pela forma como Jesus aceitou o

respeito que lhe dava uma pessoa tão indesejável e de modo tão embaraçoso. A percepção de

que Jesus era um profeta se contradisse porque aparentemente ele não tinha consciência de

que a pessoa que estava lhe tocando era uma pecadora e, por fim, impura. Mas Jesus sabia o

que estava acontecendo e fez Simão notar isso por meio de uma parábola com uma mensagem

muito clara: o amor é a prova de que uma pessoa recebeu perdão, e que quanto mais é

perdoada mais amará.”74

O perdão dos pecados da mulher é acompanhado pelo perdão que Simão, o fariseu,

precisava, por não entender a graça de Deus e por não ser, como a mulher arrependida, pobre

de espírito.

13. MULHERES QUE SERVEM A JESUS (8.1-3)

Onde quer que Jesus falava, em qualquer povoado ou aldeia, fosse em uma casa, uma

sinagoga, ou ao ar livre, ele proclamava com entusiasmo e ardor as boas novas do “reino de

Deus”, o reino da graça no qual Deus é Rei e, no qual a salvação é seu dom gratuito a todos os

72 Matthew Henry, p. 10.73 René C. Zapata, p. 74.74 G. J. Wenham, p. 221.

60

que confiam nele. Nessa ocasião, Jesus estava com os doze, e também com algumas mulheres

que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades. Este grupo de mulheres

participava do ministério de Jesus e ajudava a prover suas necessidades e as de seus

acompanhantes varões. De acordo com Henry “isto mostra a baixa condição à qual se

humilhou o Salvador, a ponto de necessitar da bondade delas, e sua grande humildade em

aceitá-las. Sendo rico se fez pobre por nós.”75

“Nos alegra ler que além das três mulheres aqui mencionadas havia “muitas outras.” O

que temos aqui, portanto, é uma verdadeira sociedade feminina.”76

14. A PARÁBOLA DO SEMEADOR (8.4-18)

Para uma semente crescer, primeiro deve ser semeada, morrer e depois crescer. Os

discípulos entenderam as parábolas, mas depois da morte e ressurreição de Jesus e a vinda do

Espírito Santo puderam lembrar e aplicar esta parábola. A parábola é um excelente método

para lembrar ensinos importantes.

“Jesus ensinava usando histórias da vida cotidiana para ilustrar verdades espirituais ou

morais. Em geral, estas histórias tinham significados ocultos aos olhos comuns. O nome

“parábola” vem da palavra grega “parabole” que significa: pondo ao lado, ou também,

comparando. Pode-se dizer que o termo atual paralelismo seria mais adequado.”77

“Na parábola do semeador há muitas regras e excelentes advertências mui necessárias

para ouvir a palavra e aplicá-la. Bem-aventurados somos, e estamos sempre endividados com

a livre graça; o que para os outros é só um conto que os diverte, é uma verdade clara para nós

pela qual nos ensina e governa.

Devemos tomar cuidado com as coisas que nos impedem de tirar proveito da Palavra

que ouvimos; tomar cuidado para que não ouçamos com negligência e sem atenção; tomar

cuidado para que não abriguemos preconceitos contra a palavra que ouvimos; e cuidar para

que nosso espírito, depois de termos ouvido a palavra, não aconteça de perder o que

ganhamos. Os dons que temos perdurarão ou não segundo os usemos para a glória de Deus e

o bem de nossos irmãos. Tampouco basta sustentar a verdade com injustiça; devemos desejar

ter em alta conta a palavra de vida, e que resplandeça iluminando tudo ao redor de nós. Ela dá

75 Matthew Henry, p. 10.76 William Hendriksen, p. 303.77 René C. Zapata, p. 78.

61

grande ânimo àqueles que são fiéis ouvintes da Palavra e praticantes. Cristo os reconhecerá

como seus familiares.”78

15. A LUZ DEVE BRILHAR (8.16-18)

A luz dos ensinos do Senhor deve ser aplicada à vida. Todos os que escutaram a

Palavra tinham um dever moral para vivê-la. Não se deve esconder a luz. Os que agem assim

vão perder a luz. O ministério da palavra vai ser dado aos outros, aos gentios. “...e ao que não

tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado” (8.18).

16. A MÃE E OS IRMÃOS DE JESUS (8.19-21)

“Então”. O ensino sobre ler luz aplica-se também à família de Jesus. A família de

Deus se define, não simplesmente pela naturalidade, mas por seguir a Cristo. “Minha mãe e

meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam.”

“Não nos é revelado porque a mãe e os irmãos de Jesus estavam tentando fazer contato

com ele. Entretanto, é possível que Marcos 3.21-11 lance luz sobre o tema. Se assim é, então

a explicação mais benévola e provavelmente a mais natural seria que alguns comentários

inquietantes acerca de Jesus, por exemplo, que seus oponentes o consideravam

endemoninhado, haviam induzido Maria e aos irmãos de Jesus por afeto natural e

preocupação, a tentar tirá-lo da vista do público e provindenciar um lugar de repouso e

restauração.”79

Num momento tão importante de sua mensagem, apareceu sua mãe Maria e seus

irmãos. Evidentemente a intervenção deles era algo inoportuno, já que o que Jesus falava

tinha a ver diretamente com a extensão do reino de Deus através das pessoas que recebiam a

Palavra de Deus em seus corações. Era o momento no qual ele admoestava aos que o seguiam

que deviam transformarem-se inevitavelmente em seus porta-vozes e deviam manifestar ao

mundo o que haviam visto e ouvido. Não há boas referências na Bíblia acerca das relações

entre Jesus e os seus irmãos, que eram filhos de José e Maria.”80

78 Matthew Henry, pp. 10-11.79 W. Hendriksen, p. 313.80 R. Zapata, p. 80.

62

“Isto não significa que de alguma maneira Jesus estivesse rejeitando sua família;

porém sua presença permitiu uma boa ilustração do que ele estava querendo dizer.”81

17. JESUS ACALMA A TEMPESTADE (8.22-25)

A revelação da identidade divina do Filho do Homem é progressiva. Antes Jesus

mostrou, pela pesca milagrosa, que ele era o pescador de homens, agora, Jesus vai mostrar,

por seus feitos, que ele e Deus.

“O lago da Galiléia está rodeado de montanhas com vales estreitos entre elas; estes

formam canais por onde o vento sopra de repente com força, produzindo grandes ondas. A

resposta de Jesus aos discípulos sugere que eles tinham de se dar conta de que, ainda que

estivesse dormindo, nenhum mal poderia sobrevir sobre eles. Não obstante, se levantou e se

dirigiu ao vento e ao mar como se fosse seu dono. Esta “parábola em ação” levou os

discípulos à pergunta correta: Quem é este? A resposta é que Deus é quem governa o mar e

que seu poder estava em ação em Jesus (Salmo 89.8-9; 93.3-4; 106.8-9; 107.23-32; Isaías

51.9-10). Sem dúvida, os discípulos apenas começavam a entendê-lo.”82

18. A LIBERTAÇÃO DE UM ENDEMONINHADO (8.26-39)

Jesus mostra seu domínio sobre o mundo sobrenatural e o natural. O homem foi

libertado de demônios e os demônios foram enviados a uma manada de porcos.

“Quando chegaram ao lado oriental do lago, Jesus veio ao seu encontro um homem

que parecia está possuído por demônios, dado que tinha uma visão sobrenatural de quem era

Jesus. Num outro aspecto, sua condição era similar ao que agora se descreveria como uma

psicose maníaco-depressiva. O cuidado médico daquele tempo não conhecia outro tratamento

a não ser manter os enfermos mentais sob restrições, mas este homem havia superado todos os

intentos de controlá-lo. Sentia que era dominado por um conjunto de impulsos conflitantes e

que estava possuído por tantos demônios quantos soldados romanos haviam em uma legião

romana, ou seja uns 5.000. Jesus teve simpatia por ele e o libertou dos demônios. O homem

pode comprovar que haviam saído dele porque uma manada de porcos próxima, de repente,

mostrou sinais de haver sido possuída pelos demônios. As pessoas que o rodeavam ficaram 81 G. J. Wenham, p. 223.82 Ibíd., pp. 223-224.

63

aterrorizadas pelo ocorrido e pediram a Jesus que fosse embora. Não podiam reconhecer que

Deus em sua graça havia libertado ao homem de sua carga. Seguramente foi por isso que

Jesus insistiu com aquele homem que fosse para casa. Se as pessoas tinham medo de Jesus,

escutariam a uma pessoa conhecida que podia falar da bondade que Deus havia mostrado por

meio de Jesus.”

Os críticos lamentavam a destruição dos porcos, um grande rebanho do qual as

pessoas dependia para seu sustento, mas pode-se replicar que uma pessoa (sã) vale mais que

muitos porcos. Outros têm sugerido que a história deve explicar-se racionalmente: os porcos

estavam assustados pelos gestos do endemoninhado e saíram correndo para o lago. Porém se

admitimos a possibilidade da possessão demoníaca (ver 4.33), não seria sábio descartar a

explicação dada pelos evangelistas.”83

19. A FILHA DE JAIRO E A MULHER QUE TOCOU O MANTO DE JESUS

(8.40-56)

A restauração da filha do chefe da sinagoga e a cura de uma mulher que padecia de

fluxo de sangue são apresentadas juntas. Todos têm necessidade e a graça de Jesus não faz

acepção de pessoas.

“Não nos queixemos das pessoas, nem de uma multidão, nem da urgência se estamos

no caminho de nosso dever e fazendo o bem, pelo contrário, todo homem sábio se manterá o

mais longe que possa dessas coisas. Mais de uma pobre alma curada, socorrida e salva por

Cristo se acha oculta entre as pessoas e ninguém nota. Esta mulher veio trêmula, mas a sua fé

a salvou. Pode ser que haja temos onde há fé salvadora. – Observa as consoladoras palavras

de Cristo para Jairo: Não temas, tão somente crer, e tua filha será salva. Não era menos duro

não chorar a perda de uma filha única, que não temer a continuação dessa dor; mas na fé

perfeita não há temor; quanto mais temos, menos cremos. A mão da graça de Cristo vai com o

chamado de sua palavra pra fazê-la eficaz. – Cristo mandou dar-lhe somente carne. Como

bebês recém-nascidos assim desejam alimento espiritual os recém-ressuscitados do pecado,

para crescer.”84

20. A MISSÃO DOS DOZE (9.1-6)83 Ibíd., pp. 224.84 Mathew Henry, p. 11.

64

Os doze apóstolos receberam uma comissão especial para ministrar entre as pessoas. O

ministério dos apóstolos, tal como o de Jesus, é integral e amplo. São enviados para pregar o

reino de Deus, curar os enfermos e lançar fora os demônios. Fazem a obra dos evangelistas,

mestres, pregadores, pastores, médicos e psicólogos.

“Os enviou a pregar o Evangelho do reino de Deus... começou a falar-lhes do reino de

Deus. Pregar o reino (ou: reinado, governo real) de Deus significa nada menos que proclamar

a absoluta soberania de deus em todas as esferas, o coração, a mente, a vida, a família, a

aldeia, a cidade, a nação, o mundo, a educação, a indústria, o comércio, a arte, a ciência, a

política, etc. “E a curar enfermos”. Uma vida em harmonia com a regra “confiar e obedecer”

produz bênçãos tanto para o corpo como para a alma. Deveríamos dar graças a Deus tanto

privada quando publicamente, não somente pelos pastores cristãos, missionários, evangelistas

leigos, mas também pelos doutores e enfermeiros cristãos. “Percorriam todas as aldeias”. O

ministério cristão deve ser realizado não somente nas cidades, mas também nas aldeias; não

somente em espaçosos salões, mas também em capelas. Não atribuiu Spurgeon sua conversão

a um sermão pregado (com a bênção de Deus) por um leigo, em uma pequena capela? O que é

mui pequeno ante os olhos dos homens pode ser muito importante aos olhos de Deus. Veja-se

Miquéias 5.2; Zacarias 4.10; João 1.46.”85

21. A MORTE DE JOÃO BATISTA (9.7-9)

Herodes, que matou João Batista, tinha ouvido que Jesus era João ressuscitado.

Mesmo sendo essa informação incorreta, a ressurreição é uma realidade. A ideia da

ressurreição deve aterrorizar a consciência do homem que matou a um homem inocente como

João Batista. A ressurreição implica em um dia de juízo onde todas as vítimas de abortos

provocados, de crianças abusadas, de familiares vítimas de violência e de outras pessoas

maltratadas vão ser testemunhas da maldade de alguém.

“O grande êxito dos discípulos e a excitação tremenda que produziu sua missão indica

o fato de que os relatos de sua obra chegaram até Herodes, o rei, e os fizeram temer no trono.

Não é que temesse o que Jesus poderia fazer; era antes, devido a que houve nesses rumores

algo que despertou sua consciência adormecida e que o encheu de uma perturbação e temor

85 W. Hendriksen, p. 346.65

secretos. “... porque alguns diziam: João ressuscitou dentre os mortos.” Herodes havia

decapitado João, mas não pode apagar a memoria de sua vil ação; e agora se perguntava qual

seria a verdadeira índole dos milagres que se relatavam e do Homem em cujo nome se

realizavam. “E se esforçava para vê-lo.” Era simples curiosidade. Provavelmente queria vê-lo

realizando algum milagre. Não muito depois ele iria ter a oportunidade de estar frente a frente

ao Homem divino, ainda que fosse numa ocasião inesperada na qual o dito Homem estaria

como prisioneiro e na qual Herodes estaria com o poder de oferecer-lhe proteção e ainda,

libertação. Mas, chegada a ocasião, o silêncio de Jesus o desapontou e ele o deixou ir para a

crucificação e morte. Aquele que havia decapitado João não poderia entender a Jesus. Quem

viola sua própria consciência e fecha os ouvidos ás solenes admoestações ao arrependimento,

não pode esperar que Cristo se lhe revele em toda sua beleza, graça e poder salvador.”86

22. JESUS ALIMENTA A CINCO MIL (9.10-17)

Há uma resposta surpreendente ao ministério dos doze apóstolos. Não foi possível

descansar porque as pessoas tinha muita necessidade espiritual e física.

Depois de uma grande excursão pregando o Evangelho, Jesus e os apóstolos quiseram

fazer um retiro em um povoado chamado Betsaida. Zapata comenta: “Seguramente Jesus

sentiu a necessidade de se concentrar em seu treinamento, longe das multidões e dos

problemas religiosos ou políticos. Tal tranqüilidade para compartilhar com seus seguidores

imediatos teve que ficar para depois, pois quando as pessoas souberam que os apóstolos e

Jesus estavam ali, acudiu uma multidão, uns cinco mil, para vê-los e ouvi-los.”87

Toda essa multidão comendo junta simbolizava a unidade desta nova comunidade

cristã, congregada em torno do Senhor Jesus Cristo. Ele é o pão que desceu do céu, como o

maná a seus antepassados, que veio do céu. Todos comeram até ficar satisfeitos, que é a

medida que Deus nos dá sempre. Nesta oportunidade sobraram doze cestos. Os cestos cheios

davam aos discípulos uma prova material dos poderes supremos de Deus e seus propósitos de

alimentar com verdadeiro pão a todos os que têm fome de Deus. Henry expressa: Quando

recebemos consolo por meio de criaturas, devemos reconhecer que o recebemos de Deus, e

que somos indignos de recebê-lo; que tudo, e todo o consolo que tenhamos nele, o devemos à

mediação de Cristo, por meio de quem foi retirada toda a maldição. A bênção de Cristo fará 86 S.a., Comentario Evangelio de Lucas, p. 52.87 René C. Zapata, p. 89.

66

que o pouco sirva de muito. Ele satisfaz a toda alma faminta; a satisfaz abundantemente com a

abundância de sua casa. – Recolheram-se as sobras: na casa de nosso Pai, há pão suficiente e

ainda pode-se guardar. Não estamos limitados nem temos escassez em Cristo.”88

23. A CONFISSÃO DE PEDRO (9.18-27)

A confusão de Herodes e do povo é esclarecida por Jesus. Ela pergunta aos discípulos:

“Quem dizem as multidões que sou eu?” A resposta de Pedro é que Jesus é o Cristo, o

Messias, como foi anunciado em Lucas 4.18-19. Mateus adiciona que esta revelação não veio

de Pedro, mas pela iluminação de Deus (Mt 16.17).

Jesus fala do seu sofrimento, morte e ressurreição. O plano de Deus foi estabelecido

antes da fundação do mundo (Ef 1.4). As ameaças de Herodes e a perseguição dos líderes

religiosos são parte do plano de Deus para trazer salvação ao mundo.

Como Jesus ia morrer na cruz, assim os filhos de Deus devem fazer morrer a si

mesmo, “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-

me.” A morte do Filho do Homem não só é um fato histórico, mas também uma realidade

espiritual para o crente.

24. A TRANSFIGURAÇÃO (9.28-36)

Três dos discípulos, Tiago, João e Pedro, foram testemunhas da transfiguração. Na

transfiguração apareceram Moisés e Elias. Moisés representa a Lei e Elias os profetas. As

hostes celestiais estão atentos à história da redenção na terra.

Só Lucas registra que Jesus estava orando e, portanto, estava em contato com o mundo

celestial. Talvez a história tenha o propósito de mostrar como os olhos dos discípulos foram

abertos para que vissem o que ocorria quando Jesus estava em comunhão com seu Pai (2 Rs

6.17). Sua aparência mudou e suas vestes resplandeceram com uma luz celestial, e junto a ele

apareceram dois homens, que estavam mortos há tempos. Moisés e Elias, que representavam a

lei e os profetas, tiveram ambos, uma partida pouco comum deste mundo e esperava que

ambos reapareceriam ao fim dos tempos. Falavam com Jesus sobre sua partida (gr. êxodos) ou

seja, sua morte e ressurreição, e dessa forma confirmavam o que Jesus havia profetizado no v.

88 Matthew Henry, p. 12.67

22. Pedro sentiu que deviam fazer três tendas para Jesus e os visitantes, para honrá-los ou para

prover algum lugar onde pudessem ficar. Mas, o narrador insiste em que Pedro não havia

entendido qual era a situação. O verdadeiro significado devia encontrar-se na nuvem (um

símbolo da presença de Deus) e na voz celestial que repetiu o que havia sido dito no batismo

de Jesus (Lc 3.22), mas desta vez, dirigindo-se aos discípulos. Aquele Jesus a quem Pedro

havia confessado como Messias era realmente o Filho de Deus; não apesar de seus iminentes

sofrimentos, mas por causa deles. Portanto, os discípulos deviam obedecê-lo, e só a ele.”89

O testemunho do Pai é por uma voz que dizia: “Este é meu Filho amando; a ele ouvi.”

Deus o Pai, é uma pessoa divina tal como o Filho de Deus é uma pessoa divina. Não são a

mesma pessoa. Não é que Deus primeiro se manifesta como Pai e depois como Filho

(modalismo), mas cada pessoa da trindade fala por si.

25. JESUS CURA A UM RAPAZ ENDEMONINHADO (9.37-45)

Na transfiguração Deus o pai fala de Seu Filho amado. Ao descer do monte, Jesus e os

discípulos são encontrados por um pai cujo único filho é atormentado por um demônio. Os

discípulos não puderam livrar ao jovem, mas Jesus pode.

“Quão deplorável é o caso deste menino” Esta sob o poder de um espírito maligno. As

enfermidades dessa natureza são mais aterradoras que as que surgem de simples causas

naturais. Quanta maldade Satanás faz quando toma posse de uma pessoa! Mas bem-

aventurados são os que têm acesso a Cristo! Ele pode fazer por nós o que os discípulos não

puderam. Uma palavra de Cristo curou ao menino e quando nossos filhos se recobram da

enfermidade, nos consola recebê-los como curados pela mão de Cristo.” 90

Jesus “repreendeu o espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai.”

Libertação, cura e restauração família. Tudo é obra de Deus.

Apesar da grandeza da obra de Deus, Jesus menciona pela segunda vez que “o Filho

do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens”. Os espíritos maus, ele poderia

expulsá-los, porém o pecado dos homens precisa da morte e da ressurreição do Filho do

Homem.

26. QUEM É MAIOR? (9.46-50)89 G. J. Wenham, pp. 228-229.90 Mathew Henry, p.12.

68

“Agora suscitou-se entre eles uma disputa sobre quem era o maior; por um lado, um

maravilhoso autossacrifício e por outro, egocentrismo baixo. Com o intento de gravar nesses

homens a lição que tão desesperadamente precisavam, Jesus toma uma criança junto a si. Em

relação a isso não deve escapar-nos que quando Jesus fala de “crianças” está pensando em

traços característicos tais como a falta de pretensões e a confiança humilde. Assim,

considerados, “os pequeninos do Senhor” não são necessariamente jovens na idade e

pequenos da estatura física, mas todos os que revelam as características espirituais

mencionadas acima.”91

Os filhos dos homens devem receber o Filho do Homem. Ao receber o Filho do

Homem, recebem ao Filho de Deus, e “recebe ao que me enviou”. Recebe-se o Filho do

Homem por receber sua Palavra (8.14-15) e por fazer brilhar a luz do Evangelho (8.16-21).

CONCLUSÃO

O Filho do Homem, o Messias, veio para trazer e pregar boas novas aos pobres. Para

fazer isso o Senhor preparou seus discípulos. A pesca maravilhosa está relacionada com fazer

os discípulos de pescadores de homens. Jesus preparou aos discípulos para serem apóstolos;

para serem enviados para pregar; com autoridade sobre demônios e com poder para curar.

O Filho do Homem mostrou sua compaixão pelo ser humano livrando-o de espíritos

malignos e curando-os de várias enfermidades. Mesmo assim, os líderes religiosos iam

entregar o Filho do Homem para ser crucificado.

Os inimigos do Filho do Homem: os líderes religiosos e políticos, os “ricos” que

rejeitaram João Batista, rejeitaram ao Senhor e vão rejeitar aos discípulos do Senhor. Por isso,

os discípulos devem receber o Filho do Homem, obedecer a Sua Palavra, ser luz num mundo

de trevas e assim, receber as bênçãos de Deus.

91 W. Hendriksen, p. 372.69

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 4

1. Qual foi a resposta de Pedro ao milagre da pesca maravilhosa?

2. Qual foi a resposta de Jesus aos fariseus quando arrazoavam?

3. Para que Jesus veio, segundo a sua resposta aos fariseus e publicanos?

4. O que os fariseus não tinham lido nas Escrituras segundo o Senhor Jesus?

5. A quem se assemelha aquele que ouve a Palavra de Deus?

6. Quem se recusou a ser batizado por João Batista, rejeitando o propósito de Deus

sobre eles?

7. O que foi que salvou a mulher pecadora na casa do fariseu que convidou Jesus para

comer e o que foi que convenceu o centurião que seu servo seria curado com

apenas uma palavra de Jesus?

8. Segundo o capítulo 8 de Lucas, quem acompanhava Jesus pelos povoados e aldeias,

e o que proclamavam?

9. Quando Jesus subiu ao barco com seus discípulos, o que aconteceu no lago? O que

sentiram os discípulos? E o que Jesus fazia enquanto isso acontecia?

10. No capítulo 9 de Lucas relata-se que Jesus subiu a um monte para orar. Quem o

acompanhava? E, com que Jesus se encontrou e conversou?

70

LIÇÃO CINCO

O MINISTÉRIO EM PERÉIA E JERUSALÉM (9.51-19.27)

Luis Pieschacon y Mara Parra

INTRODUÇÃO

Lucas nos mostra que Jesus, como Filho do Homem, veio buscar aos perdidos,

humildes e desamparados; Mas, também salvou ricos ou “importantes” como Mateus,

Zaqueu, Paulo, etc. O que Lucas deixa claro é que cada uma dessas pessoas com privilégios

materiais ou com renome que o Senhor alcançou, reconheceu a pobre condição espiritual em

que se encontrava, e sua necessidade de um encontro com o Salvador do mundo.

1. JESUS E SEUS DISCÍPULOS (9.51-10.24)

Jesus repreende a Tiago e João (9.51-56)

Os judeus habitualmente alongavam o caminho desde a Galiléia até Jerusalém

rodeando Samaria porque consideravam os samaritanos impuros. Ainda assim, o Senhor

decidiu cruzar a cidade, mas os samaritanos não quiseram recebê-lo, e por isso estes

discípulos indignados lhe propuseram carnalmente ao Senhor fazer fogo descer do céu para

destrui-los. Jesus os repreendeu. “Nos é muito fácil dizer: Venham, vejam o zelo pelo Senhor!

E pensar que somos muito fiéis à sua causa, quando estamos seguindo nossos próprios

objetivos e até fazendo mal ao próximo.”92

Os que queriam seguir a Jesus (9.57-62)

Muitos queriam seguir ao Senhor. Um homem disse: “te seguirei a onde fores”; Jesus

o desanimou dizendo-lhe que sua missão era totalmente dependente de Deus. Outro disse que

ante tinha que sepultar seu pai. Jesus lhe informou que sua missão não se podia postergar.

Outro quis despedir-se de sua família. “Qualquer pessoa que começa a servir a Deus em seu

92 Henry, p. 12.71

ministério é um soldado total, alistado para sempre, sem uso do próprio critério do que está

bem ou mal, pelo contrário, como uma criança, confiante, decidido até à morte.”93

Missão dos setenta (10.1-12)

Lucas é o único que registra que Jesus mandou outro grupo de discípulos a fazer a

obra missionária. Setenta homens deviam ir com simplicidade, sem perder tempo, aceitar a

hospitalidade dos que lhe oferecessem, sem impor condições. Sua mensagem: o Reino de

Deus havia chegado; os sinais: as obras poderosas que fariam. Se a mensagem não fosse

recebida, deveriam dar-lhes uma advertência sobre o juízo de Deus.

Ais sobre as cidades impenitentes (10.13-16)

Jesus comentou sobre o destino das cidades que haviam rejeitado sua mensagem no

dia do juízo. Os judeus consideravam que as cidades pagãs da antiguidade eram

absolutamente ímpias. Quando se diz que elas teriam uma resposta mais cálida ao Evangelho,

que essas cidades judias era uma forma de declarar a cegueira dos judeus ao Evangelho.

Finalmente, Jesus enfatizou que os discípulos deviam ser representantes pessoais e, portanto,

representantes de Deus.

Regresso dos setenta (10.17-20)

Os setenta regressaram com alegria por sua missão cumprida. Mesmo os demônios se

submetiam a eles em nome de Cristo. Jesus os corrige. Sua alegria principal não devia

fundamentar-se em obras extraordinárias, mas, em participar de sua causa triunfante e receber

a salvação.

Jesus se regozija (10.21-24)

Jesus agradeceu a Deus porque sua revelação fora dada às pessoas comuns, e que não

estava ligada à sabedoria humana. Sua oração terminou com uma confissão de que esse

93 Zapata, p. 97.72

conhecimento lhe havia sido dado pelo Pai. Os discípulos haviam recebido esse conhecimento

da parte do Filho. As pessoas do passado podem ter visto com agrado a vinda do Reino, mas

só aos discípulos foi concedido ver e ouvir o Filho de Deus.

2. JESUS ENSINA SOBRE O AMOR AO PRÓXIMO E A DEUS (10.25-42)

O bom samaritano (10.25-37)

Jesus ensinou que não os ouvidores da lei que terão a vida eterna, mas os que a

praticam, e é impossível cumprir a lei sem a graça de Deus. Para os religiosos, o próximo era

uma minoria integrada por judeus e gentios convertidos ao judaísmo. Muitos, como acontece

hoje, evitavam aqueles que tinham um fé ou cultura diferente. “A história que Jesus contou

serviu para ampliar o conceito de próximo que os judeus tinham nesse momento, mostrando

que as pessoas devem entregar seu amor de todo coração, tal como Deus o faz, enquanto que

as ações do sacerdote e do levita mostraram que estavam seguindo a letra e não ao espírito da

lei.”94

Jesus visita Marta e Maria (10.38-42)

Estas duas irmãs adotaram atitudes completamente diferentes. Maria valorizou a

magnífica oportunidade de estar ante Jesus e não queria perder seus gestos ou palavras. As

obrigações de Marta, entretanto, a retiveram em outras tarefas. Sua indignação crescia até que

explodiu, repreendendo também a Jesus. Elas representam dois tipos de atitudes dos que

seguem ao Senhor: “Alguns têm um espírito de trabalho e luta, e lhes parece que se eles se

movimentam, trabalham com afinco, com muito esforço, então o Reino de Deus

verdadeiramente se estenderá sobre a terra. Estes seriam as Martas. Mas, há outros que se

animam a confiar e a esperar no Senhor e mais que andar revolucionando tudo, se dedicam a

orar, aprender, agradecer e escutar a Deus, em uma atitude melhor, de repouso, fé e confiança.

Jesus disse que essa era a melhor parte.”95

3. JESUS ENSINA A ORAR (11.1-13)94 Zapata, pp. 100, 101.95 Zapata, pp. 101, 102.

73

Jesus e a oração (11.1-13)

Em Lucas apresenta-se a oração cristã de uma forma mais breve que em Mateus. Esta

contém uma invocação e dois pedidos. “Pai traduz o aramaico Abba; Jesus convida seus

seguidores a usar o mesmo termo íntimo que ele usava para dirigir-se a Deus. Santificado seja

o teu nome é a primeira das duas petições relativas ao próprio Deus. Que seu nome, ou seja,

sua pessoa, seja honrado por todo o mundo. Venha o teu reino. Que o governo de Deus, em

paz e justiça, chegue a ser uma realidade. Depois as necessidades pessoais são mencionadas, a

oração de o pão nosso de cada dia. Esta petição pode ser não só por comida mais também

pelo pão da vida, o dom de Deus sem o qual não podemos viver. Depois, há uma oração por

perdão diário, concedido só àqueles que perdoam a outros. Finalmente, o que está pedindo,

pede para ser preservado da prova que poderia debilitar sua fé.

Lucas presta atenção ao ser ativo na oração. “Pois todo o que pede recebe; o que busca

encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.” Três vezes Jesus repete a mesma verdade: ao pedir,

buscar ou clamar Deus vai responder.

4. JESUS E OS INIMIGOS DO REINO DE DEUS (11.14-12.3)

Uma casa dividida contra si mesma (11.14-23)

Quando Jesus expulsou o demônio que tinha estava no homem mudo, alguns pensaram

que ele o fez no poder de Belzebu (príncipe dos demônios). Jesus apelou à racionalidade

dizendo-lhes que é impossível que um reino lute contra si mesmo. Como os benefícios

recebidos são contrários aos interesses do reino das trevas que consistem em roubar, matar e

destruir, aquilo só poderia ter sido pelo reino de Deus. “Tudo o que serve para aproximar as

pessoas de Deus, para que pelo novo nascimento entrem no reino de Deus, tudo o que traz ao

homem cura, libertação e bênção, nunca será feito pelo Diabo, pelo contrário é o Reino de

Deus que está em operação.”96

O Espírito imundo que volta (11.24-26)

96 Zapata, p. 105.74

O objetivo dessa passagem não é satisfazer a curiosidade sobre os demônios, mas

advertir sobre o perigo de um falso arrependimento. Essa é a condição do hipócrita. A casa é

varrida superficialmente por uma confissão forçada, como a de Faraó; por uma contrição

fingida como a de Acabe; ou por uma reforma parcial como a de Herodes. “A casa está

varrida, mas não lavada; o coração não está santificado... Nunca foi entregue a Cristo nem

habitado pelo Espírito.”97

Os que na verdade são bem-aventurados (11.27-28)

Enquanto os escribas e fariseus blasfemavam dos discursos de Jesus, a mulher dessa

passagem o admirava. Daí surgiu sua bênção sentimental: “Bem-aventurada aquela que te

concebeu, e os seios que te amamentaram!” Mas Cristo conduziu a esta mulher a uma

consideração mais elevada. Ainda que seja um grande privilégio ouvir a Palavra de Deus, só

são abençoados de verdade, os que a obedecem.

A geração perversa pede um sinal (11.29-32)

Ante os que seguiam o Senhor para ver milagres e sinais, ele disse que o único sinal

que lhe seria dado era o sinal do profetas Jonas, que esteve três dias nas profundidades do

corpo de um grande animal marinho. A missão do Senhor foi tão importante que é um

sacrilégio minimizar a mensagem do Evangelho, reduzindo-a à exibição de manifestações

divinas.

A Lâmpada do corpo (11.33-36)

Quando se acende uma lâmpada não é para ver algo escondido. Jesus denuncia os

fariseus que o viam sempre com má predisposição, e que viviam completamente em

escuridão. “O olho deve ter uma visão equânime, imparcial, e ver a realidade com

honestidade, já que o ponto de vista preconceituoso, como tinham os fariseus e muitos

97 Henry, p. 15.75

também na atualidade, impede uma visão clara da realidade.”98 Como diz o ditado popular: “O

pior cego é o que não quer ver.”

Jesus acusa aos fariseus e intérpretes da lei (11.37-54)

Jesus visitou a casa de um fariseu para uma refeição. Os fariseus se lavavam antes de

comer, não para limpar o corpo, mas para remover a impureza do pecado pelo contato com

pecadores. Jesus os criticou. Se Deus fez o exterior e o interior das pessoas, o interior também

deveria ser limpo. Os mestres da lei haviam criado as regras triviais da lei e punham carga aos

demais, mas eles mesmo não podiam carregá-las. Ainda que construíssem tumbas com muitos

ornamentos para os profetas, eram semelhantes aos seus antepassados que os haviam matado,

ignorando sua mensagem.

O fermento dos fariseus (12.1-3)

Jesus disse a seus discípulos cuidassem para não se contaminar com os fariseus e com

suas hipocrisias. Os fariseus sabiam claramente seu sistema de doutrina, mas o que lhes

faltava era a graça de Deus, a relação com Deus, a humildade; estavam atados a suas crenças

judias, mas não tinham o Espírito de Deus dirigindo suas vidas. O fermento irritante para

Jesus era a hipocrisia. A transparência é o requisito mais importante de um homem que segue

a Deus. Tudo o que é oculto, mesmo que pensamento, será exposto à luz.

5. JESUS ENSINA SOBRE COMO RECEBÊ-LO E SEGUI-LO (12.4-14.35)

A quem se deve temer (12.4-7)

Jesus ensinou que não se devia ter medo nem mesmo daqueles que matam o corpo,

pois nada mais podem fazer. Nada sucederá a um cristão que Deus não permita, pois tudo está

debaixo de seu controle, e Ele valora a cada um muito mais do que a qualquer pardal. A

exortação implícita é “Confiai e temei.”

98 Zapata, p.108.76

O que me confessar diante dos homens (12.8-12)

Jesus promete que confessará ou conhecerá ante os anjos de Deus aqueles que o

confessam. “A mensagem levada pelos discípulos não devia ser uma mera recitação de

palavras memorizadas. Ao contrário, os corações deviam está nessa mensagem. Sua pregação

devia consistir em dar testemunho.”99 O Espírito Santo é o que se encarrega de formar em nós

a imagem de Jesus e quem nos relaciona com o Pai. Por isso, é impossível que seja perdoada a

blasfêmia contra Ele.

O rico insensato (12.13-21)

Ainda que a igreja ofereça princípios morais ao ser humano, o âmbito da igreja é

espiritual. Por isso Jesus se negou a partir a herança, pois viu que o homem deixou de lado a

lei civil e buscou, com avareza, o seu apoio. Jesus admoestou a multidão sobre a avareza,

contando-lhes a história de um rico que acumulava bens para desfrutar deles em anos

posteriores, e que de repente, se viu ante a morte e o fato de deixar para outros aquilo que

possuía. Sua loucura foi esquecer que a fortuna e a própria vida dependem da vontade e da

bondade de Deus.

A ansiedade (12.22-31)

A comida, o vestir e a casa são necessidades humanas básicas. Jesus não

desconsiderou essas necessidades, senão que colocou em primeiro lugar o que vem de cima.

Ele exige uma atitude de fé que rompe com as estruturas humanas internas. As pessoas

alcançadas pelo Evangelho perdem primeiramente o medo, já que Deus não nos dá espírito de

temos, mas de poder, amor e domínio próprio. Quem busca em primeiro lugar ter atendidas

todas as suas necessidades, nunca terá uma boa relação com Deus nem uma participação mais

eficaz na extensão do Seu Reino.

Tesouros no céu (12.32-34)

99 Hendriksen, p. 468.77

Os tesouros celestiais não perdem seu esplendor: “uma fidelidade que jamais será

tirada” (Sl 89.33; 138.8), uma vida que nunca terminará (Jo 3.16), uma fonte de água que

nunca cessará de fluir dentro daquele que bebe dela (Jo 4.14), uma dádiva que jamais se

perderá (Jo 6.37, 39); uma mão da qual ninguém poderá jamais arrebatar uma ovelha do Bom

Pastor (Jo 10.28), uma cadeia que não poderá ser quebrada jamais (Rm 8.29, 30), um amor do

qual nunca poderemos ser separados (Rm 8.39), um chamado que não será revogado jamais

(Rm 11.29), uma fundamento que nunca será destruído (2 Tm 2.19) e uma herança que não se

manchará jamais (1 Pe 1.4, 5).”100

Jesus, causa de divisão (12.49-53)

Jesus não queria que seus seguidores pensassem que seu Reino poderia ser

estabelecido sem conflitos. A era presente é de lutas e divisões, e o próprio Mestre seria a

causa das mesmas. Sua obra necessariamente provoca oposição, mesmo no interior das

famílias.

Como não reconheceis este tempo (12.54-56)

As multidões seguiam-no sem crer, e Jesus recriminou sua ignorância. Eles sabiam

interpretar os sinais do tempo, predizer com acerto se choveria ou faria sol, mas não pôde ver

que Ele era o Cristo, o Salvador do mundo. Ele os exorta a que se arrependam antes que seja

tarde.

Acerta-te com o teu adversário (12.57-59)

As pessoas deveriam ser suficientemente prudentes para chegar a um acordo com o

adversário enquanto se dirigiam para a sala do tribunal, antes que fosse pronunciada a

sentença; deveriam ver que seria sábio buscar a paz com Deus antes de que o dia de

misericórdia e graça passe.

Arrependei-vos ou perecereis (13.1-5)

100 Hendriksen, p. 479.78

A torre de Siloé havia sido derrubada matando dezoito pessoas. O conceito do desastre

pessoal como resultado do pecado estava profundamente arraigado nos judeus. Jesus não só

refutou isso, mas também enfatizou que sem uma conversão genuína ninguém se salva, todos

perecem. Isto aplica-se não só aos galileus do acidente, mas a todos. “Cada pessoa deveria

examinar seu coração e vida e fazer-se a pergunta: ‘Tenho me arrependido verdadeiramente e

ponho toda a minha confiança em Deus, servindo só a ele?’. Se não, que peça misericórdia a

Deus, porque ‘se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.’”101

Jesus cura a uma mulher no dia de repouso (13.10-17)

Jesus curou uma mulher no sábado. O chefe da sinagoga argumentou que, como a vida

não estava em jogo, a cura poderia ter sido realizada em outro dia da semana. Com isso, ele

pretendia velar pelo cumprimento da lei, mesmo que negasse seu princípio essencial, o amor.

Sua interpretação da lei era absurda, porque impedia uma obra de misericórdia que, no

sábado, não só era permitida, mas também necessária. Jesus não insinuou que ia abolir o dia

de repouso; só quis devolver ao sábado o verdadeiro espírito de adoração, amor, liberdade e

gozo.

Lamento de Jesus sobre Jerusalém (13.31-35)

Alguns fariseus advertiram a Jesus que fugisse dos domínios de Herodes. Herodes não

podia fazer mal a Jesus, porque no momento, ele continuaria seu ministério. A cidade que

havia rejeitado os mensageiros de Deus, fez Jesus lamentar. Mesmo frente ao amor e a

compaixão de Jesus, Jerusalém seguia em sua rejeição. Portanto, seu templo estaria vazio da

presença de Deus e não veria Jesus senão até que o recebesse como o Messias, ou como Juiz.

No ano 70, cerca de 37 anos depois da morte de Jesus, o templo foi destruído pelos romanos.

101 Hendriksen, pp. 492, 494.79

Jesus cura um hidrópico (14.1-6)

Jesus foi comer na casa de um fariseu importante, num dia de sábado. Na casa do

fariseu, achou-se um enfermo que sofria de hidropisia. Como havia outros convidados que era

experts da lei, Jesus lhes perguntou se era permitido curar o enfermo ou não. Todos ficaram

calados, então Jesus o curou e o despediu. O Senhor enfrentou a hipocrisia dos religiosos e

lhes mostrou a necessidade de ajudar aos demais ainda que fosse no dia de sábado.

O que custa seguir a Jesus (14.25-33)

Em sua viagem a Jerusalém, Jesus se volta para as multidões e lhe diz que a devoção a

ele deve ser tão completa e de coração que nem mesmo a lealdade aos pais e aos outros

membros da família deve se interpor nisso. Na passagem de Mateus 10.37 fica claro que o

sentido de odiar na passagem de Lucas é amar menos. Em todas as coisas Cristo sempre deve

ter a preeminência (Cl 1.18). Jesus convida-os a calcular este custo e depois, considerar se

devem segui-lo.

Como o sal perde seu sabor (14.34-35)

O discípulo de Cristo será posto a prova de alguma forma. Como discípulos

procuremos ser cuidadosos para não relaxar quanto a nossa profissão de fé; que possamos ser

o bom sal da terra, para salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo.

6. JESUS ENSINA COM PARÁBOLOAS (15.1-16.15)

Lucas apresenta uma série de parábolas que apóia o ensino de Jesus de que o reino do

céu é para os humildes que recebem a palavra de Deus e a põe em prática.

PARÁBOLAS ENSINO

Exortação à

vigilância: O

Servo vigilante e

Jesus ordenou os seus discípulos a vigiar. Ilustrou esta atitude com

duas parábolas, a do senhor que regressa e a do ladrão. Na primeira, o

senhor foi a um casamento, seus empregados estão atentos e tudo está

80

O servo infiel

(12.35-48)

preparado para recebê-lo. Ao chegar, fica tão prazeroso com a

fidelidade que deseja compartilhar o banquete com eles.

A outra parábola ilustra que não se sabe quando o ladrão vai chegar;

pelo que devem está preparados. Se o servo tira vantagem da ausência

de seu senhor, será surpreendido com seu retorno, e descobrirá que seu

destino é com os infiéis. No juízo celestial, ser ou não culpável, não é

um simples assunto; há vários graus de juízo e de recompensa.

Da figueira

estéril (13.6-9)

A advertência é clara: a figueira, a menos que dê fruto, será cortada.

Esta parábola refere-se em primeiro lugar, ao povo judeu, mas, sem

dúvida é para despertar a igreja visível. Deus tolerará por muito tempo,

mas nem sempre o fará.

Da semente de

mostarda (13.18-

19)

A planta que nasce da semente de mostarda chega a crescer tanto como

uma árvore. Seus ramos adquirem rigidez e muitas aves encontram

nela abrigo e sombra. De forma similar, o Reino de Deus cobre com

sua graça a todo o que crer em Jesus Cristo, o qual se estenderá por

toda a terra.

Do fermento

(13.20-21)

O reino dos céus também é como uma pequena porção de fermento

que ao misturar-se com a massa a faz crescer. Não é uma instituição

humana, mas espiritual, que abarca as pessoas em todo o mundo. Seu

agir se vê em todos os âmbitos da vida e da cultura.

A porta estreita

(13.22-30)

Jesus comparou as bênçãos de seu Reino a um banquete em um

palácio. A porte de entrada do palácio é estreita, e muitos convidados

não querem entrar. Quando a porta se fecha, os que antes não haviam

querido entrar suplicam, em vão, ao Dono da casa que volte a abrir a

porta. Ficam excluídos para sempre, e o remorso e o pesar os oprimem.

A porta estreita é a do arrependimento e fé em Cristo; a oportunidade

para entrar é atual, mas não é perpétua.

Os convidados

para as bodas

(14.7-14)

Na festa das bodas seria melhor sentar-se em um lugar inferior e

esperar ser convidado a ocupar um assento de maior posição. Deus

exalta aos humildes e humilha aos orgulhosos. Jesus está condenando a

atitude de fazer o bem para receber uma recompensa tangível ou uma

recompensa celestial maior e mais duradoura. Devemos fazer o bem

81

aqueles que não nos podem dar nada em troca, e deixar o

reconhecimento e as recompensas com Deus.

Parábola da

grande ceia

(14.15-24)

Um homem convidou muitas pessoas para um banquete, mas os

convidados começaram a desculparem-se e romper o compromisso

assumido. Ante as desculpas dos convidados, o homem convidou os

pobres, desvalidos e estranhos. O servo que os contatou representa

Jesus, os fariseus e mestres da lei seriam os primeiros convidados ao

banquete celestial, mas ao rejeitar o convite de Deus, aqueles que estão

à margem da sociedade seriam os beneficiados.

Quando o sal

perde seu sabor

(14.34-35)

O discípulo de Cristo será posto à prova de alguma forma. Sem vacilar

procuremos ser discípulos e sejamos cuidados para não relaxarmos

nem nossa profissão de fé; que possamos ser o bom sal da terra, para

salgar aqueles que nos rodeiam com o sabor de Cristo.

Da ovelha

perdida (15.1-7)

A ovelha perdida representa o pecador separado de Deus e exposto à

ruína. Jesus declara seu papel de Pastor, com sua missão de cuidar de

cada uma de suas ovelhas. Ele se preocupa com o destino de cada

individuo sob seu cuidado. Não significa que Deus valore a uma

ovelha mais do que a noventa e nove, mas que compreende e perdoa

àqueles que saem de seu caminho.

Da moeda

perdida

(15.8-10)

Se uma mulher perde uma moeda e a busca, muito mais o Pastor de

ovelhas fará com cada pessoa que tem sob seu cuidado. “Os anjos têm

acesso direto a Deus e estão atentos às vicissitudes das pessoas, igrejas

e nações e celebram com o Pai cada triunfo obtido na terra com

expressões de alegria.”102

Parábola do

filho pródigo

(Lucas 15.11-

32)

Esta parábola mostra a natureza do arrependimento e a prontidão do

Senhor para acolher bem e abençoar a todos os que voltam-se para Ele.

Depois que o filho mais novo gastou sua parte da herança, sua pobreza

e solidão produziram nele desespero e arrependimento sincero. Seu

pai, lhe deu boas-vindas, e deu ordens para celebrar. O irmão mais

velho representa a todos os que carecem de misericórdia para com os

perdidos, e agem com egoísmo e acusação.

102 Zapata, p. 129.82

Do mordomo

infiel (16.1-15)

O mordomo dessa passagem defraudou os bens de seu senhor. Todos

somos passíveis da mesma acusação; não tiramos o proveito devido do

que Deus nos tem encarregado. A astúcia do mordomo não nos é

colocado como um exemplo, nem para justificar a desonestidade, mas

para sinalizar o cuidado que têm os homens mundanos. Bom seria que

os filhos da luz aprendessem dos homens do mundo e com igual

diligência, trabalhassem por um melhor objetivo.

Parábola da

viúva e do juiz

iníquo (Lucas

18.1-8)

Se um juiz que não honra as leis de Deus pode ser induzido a agir

pelos clamores incessantes de uma viúva, quanto mais agirá Deus para

ajudar o seu povo quando clamar a ele. “Não pode haver dúvidas do

fato de que ainda haverá crentes na terra quando o Filho do Homem

regresse. Mas, haverá essa fé, a fé perseverante como a dessa

viúva?”103

Parábola do

fariseu e do

publicano (18.9-

14)

O cobrador de impostos era considerado demasiadamente impuro para

aproximar-se de Deus. Jesus falou sobre a atitude de autossuficiência,

justiça própria e condenação para com os demais que tinha o fariseu,

que contrastava com a atitude do cobrador de impostos, que consciente

de suas falhas e da condenação que em geral recebia da comunidade,

orava sinceramente a Deus, pedindo-lhe perdão por seus pecados.

Jesus deixou claramente estabelecida uma das leis mais importantes do

Reino de Deus, que é a humildade e o não exaltar a si mesmo.104

Parábola das dez

minas (19.11-

27)

O relato recorda a parábola dos talentos, e sinaliza o castigo dos

inimigos juramentados de Cristo e dos fariseus professos. A diferença

principal está em que a mina dada a cada um parece apontar a dádiva

do Evangelho, que é a mesma para todos os que o ouvem; mas os

talentos parece indicar que Deus dá diferentes capacidades e vantagens

aos homens, pelas quais podem melhorar de maneira diferente este

dom único do Evangelho.

As parábolas de Jesus afirma o tema do livro: que o Filho do Homem vem, por graça

(pai bondoso, juiz justo, mordomo fiel) para buscar aos perdidos (ovelha perdida, moeda 103 Hendriksen, pp. 564, 565.104 Zapata, p. 143.

83

perdida, filho pródigo, publicano) e os discípulos devem ser semelhantes ao Filho do Homem

(servo fiel, porta estreita, árvore com fruto, semente, a grande ceia, convite para as bodas, dez

minas).

7. JESUS ENSINA SOBRE A LEI (16.16-31)

A lei e o Reino de Deus (16.16-17)

Jesus anuncia um novo pacto, uma nova época na relação entre Deus e o homem.

Desde a vinda de João há boas notícias do Reino de Deus e todos se esforçam por entrar nele.

“Neste reino as leis se cumpriram de uma maneira diferente, com o próprio Deus vivendo no

coração dos homens pelo Espírito Santo.”105

Jesus ensina sobre o divórcio (16.18)

Jesus dá um exemplo do caráter permanente da lei moral, em oposição aos intentos

dos fariseus de se esquivar dela. Jesus declara que todo aquele que se divorcia de sua esposa e

se casa com outra comete adultério e o homem que se casa com uma divorciada também

comete adultério. Seguindo o conceito de que os seguidores de Cristo têm o Espírito de Deus

e que seus corpos são templos do Espírito Santo, seriam impossível levar uma vida motivada

pelos próprios gostos ou prazeres. Neste entendimento, o divórcio é impensável para um

cristão.

O rico e Lázaro (16.19-31)

O pecado deste rico era que só pensava em si mesmo. Nunca se interessou por Lázaro.

Nem no inferno pede perdão. O condenado ao inferno não terá o mínimo alívio de seu

tormento. Os pecadores são chamados agora a se reavaliarem, mas se morrerem em seus

pecados, não há saída porque acabaram do mesmo modo. O rico tinha cinco irmãos e queria

detê-los em seu rumo pecaminoso; entretanto, um mensageiro vindo dos mortos não poderia

105 Zapata, p. 134.84

dizer mais do que é dito nas Escrituras. A mensagem do Cristo ressuscitado não ia mudá-los,

como não mudou aos judeus obstinados antes e depois da ressurreição de Cristo.

8. JESUS ENSINA SOBRE A FÉ E A FIDELIDADE (17.1-19.27)

Inevitabilidade do escândalo (17.1-6)

Jesus advertiu seriamente a seus discípulos sobre a possibilidade de se tornarem a

causa de outros pecarem. Seria melhor que tais pessoas fossem afogadas antes de poder

realizar sua má ação e sofrer o destino reservado para os tentadores. Pelo contrário, os

discípulos deviam ajudar a qualquer membro de seu grupo que caiu em pecado mostrando-lhe

seu erro e estando dispostos a perdoar, com a freqüência que seja necessária.106

Aumenta-nos a fé (17.5-6)

Como conseqüência da advertência que Jesus fez aos discípulos, estes pediram que

Jesus lhes aumentasse a fé. A fé não é somente para fazer milagres, a fé é sumamente

necessária para a vida cristã cotidiana. É fruto do Espírito Santo, é um dom de Deus, segundo

a Bíblia.

O dever do servo (17.7-10)

“O Senhor tem direito sobre toda criatura como nenhum homem pode ter sobre outro;

Ele não tem nenhuma obrigação com eles por seus serviços, nem os servos merecem nenhuma

recompensa sua.”107

Dez leprosos são curados

106 Wenham, p. 253.107 Henry, p. 21.

85

Esta passagem está relacionada com o poder de Deus e com o agradecimento que

devem experimentar as pessoas pelos dons recebidos de Deus. É interessante a afirmação de

Jesus, que depois de haver perguntado pelos outros nove, disse ao único agradecido: “vai a tua

fé te salvou.” Esta aparente contradição é pelo fato de que o doador e consumador da fé,

mesmo da que nós temos, é o mesmo Deus.

A vinda do Reino (17.20-37)

O reino de Deus está sendo estabelecido desde a chegada de Jesus. Trata-se de nascer

de novo, receber a vida de Deus e experimentar a libertação do reino das trevas. “Quando

Jesus vier julgar o mundo, os pecadores serão achados totalmente descuidados, porque, de

forma semelhante, os pecadores da época andarão em seus maus caminhos achando-se

seguros, sem lembrar do seu fim próximo. Onde que se que achem os ímpios, marcados para a

ruína eterna, serão alcançados pelos juízos de Deus.”108

Jesus abençoa as crianças (18.15-17)

Ninguém é demasiado jovem para ser levado a Cristo. Ele sabe mostrar bondade aos

incapazes de prestar-lhe um serviço. A promessa é para nós e para nossa descendência. Ele os

receberá conosco. “Devemos receber seu reino como crianças, não comprá-lo, e devemos

considerá-lo um presente de nosso Pai.”109

O jovem rico (18.18-30)

Este rico não podia aceitar a condição de Cristo de abrir mão de seu patrimônio

Muitos, depois de lutar com suas convicções e corrupções, deixam as últimas vencerem.

Como eles devem deixar um deles, deixarão a Deus, não a sua ganância mundana. Os homens

são dados a falar muito do que abandonaram e perderam, do que fizeram e sofreram por

Cristo, como fez Pedro. Mas, devemos nos envergonhar de que haja dificuldade para fazer

isso.

108 Ibíd., p. 22.109 Ibíd., p. 23

86

Novamente Jesus anuncia sua morte (18.31-34)

O Espírito de Cristo nos profetas do Antigo Testamento testificava de antemão de seus

sofrimentos e da glória que se seguiria. O preconceito dos discípulos era tão forte que não

entendiam literalmente estas coisas. Estavam tão concentrados nas profecias que falavam da

glória de Cristo, que esqueceram as que falavam dos seus sofrimentos. Somos tão relutantes

em aprender as lições dos sofrimentos de Cristo como o eram os discípulos. Através do

cumprimento, estas predições feitas pelos profetas, regressariam às mentes dos apóstolos e a

fé deles seria fortalecida.

Um cego de Jericó é curado (18.35-43)

Jesus estava passando pelo único caminho que os peregrinos utilizavam em sua rota a

Jerusalém, por isso, nesse caminho era habitual encontrar mendigos. “O que comoveu o

Senhor foi o pedido de compaixão de alguém que estava ali à beira do caminho e talvez já

tivesse ouvido falar muito daquele que agora está próximo, o Filho de Davi, sim, mas também

o Filho do Homem e o Filho de Deus, que chamaria a si mesmo: ‘A Resplandecente Estrela

da Manhã.’ Essa pessoa especial era quem ia dar ao necessitado a manhã mais gloriosa que

qualquer homem pode ter, estava para dar a ele não só a visão, mas a manhã da eternidade.

Que queres que eu te faça? Senhor que eu torne a ver! A pergunta ficou vibrando e continua

vigente para todos os cegos do mundo: Que queres que eu te faça? A resposta que deve ser

um pedido, que certamente será respondida, está muito perto. “Perto de ti está a palavra, esta é

a verdade que pregamos.”110

Jesus e Zaqueu (19.1-9)

Os que, como Zaqueu, desejam sinceramente ver a Cristo, vencerão quaisquer

obstáculos e se esforçarão para vê-lo. Aquele que quer conhecer a Cristo será conhecido por

ele. Aqueles a quem Cristo chama, devem humilhar-se e descer. Zaqueu publicamente deu

provas de haver chegado a ser um verdadeiro convertido. Não buscou ser justificado por suas

obras como fariseu, mas por suas boas obras demonstrará a sinceridade de sua fé e do

110 Zapata, p. 146.87

arrependimento pela graça de Deus. Zaqueu, agora que é salvo de seus pecados, de sua culpa,

do poder deles, tem todos os benefícios da salvação. Cristo foi à sua casa, e onde Cristo vai,

leva consigo a salvação. Ele veio a este mundo perdido para buscá-lo e salvá-lo. Seu objetivo

era salvar, e não há salvação em nenhum outro. Ele busca aos que não o buscam e nem

perguntam por Ele.

Parábola das dez minas (19.11-27)

O discípulo deve semear. Tem que semear o que Deus lhe tem dado. É melhor dar do

que receber. A parábola das dez moedas fala diretamente aos que haviam preservado a Lei e

as tradições e haviam se esquecido de mostrar misericórdia e graça aos necessitados.

CONCLUSÃO

Jesus, na Judéia, confrontou de muitas maneiras os fariseus, escribas e intérpretes da

lei. Expôs com testemunho e ensinos o caráter humilde de um filho de Deus, em

contraposição ao orgulho desses judeus recalcitrantes e cheio de engano. Jesus ensinou a seus

discípulos e a todos os que o seguiam, de diversas maneiras: confrontando, usando parábolas,

exemplos reais, e a quem Ele queria, de forma direta. Este foi outro aspecto fundamental no

ministério de Jesus que Lucas mostrou: o labor do ensino é mais importante que fazer

milagres e sinais.

88

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 5

1. Quem respondeu à pergunta de Jesus: “E vós quem dizeis que eu sou? E qual foi sua

resposta?

2. O que disseram, quando regressaram os setentas discípulos enviados por Jesus na

missão a cada cidade que Ele haveria de ir? E o que respondeu o Senhor?

3. O que Jesus disse aos fariseus e intérpretes da lei a respeito da demanda de Deus

com essa geração, logo depois que Ele enviou seus profetas e apóstolos?

4. A quem Jesus se refere quando disse: “...Temei aquele que, depois de matar, tem

poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer”?

5. Em seu caminho para Jerusalém, alguém lhe perguntou: “São poucos os que serão

salvos?”. Qual foi a resposta de Jesus?

6. Qual condição Jesus impõe para aqueles que querem segui-lo ou ser seu discípulo?

7. Nas três parábolas do capítulo 15, qual ensino Jesus enfatiza e o que ocorre no seu

quando os perdidos são encontrados?

8. Até onde foi a lei e os profetas?

9. De acordo com a passagem dos dez leprosos que foram curados, pode-se dizer que

quando Jesus fez milagres de cura, ele sempre concede salvação também?

10. De acordo com a passagem de Lucas 19, Zaqueu era um homem justo? Por que ele

precisava da salvação do Filho do Homem? Explique.

89

LIÇÃO 6

A SEMANA DA PAIXÃO

Felipe González y Alejandro Cid

INTRODUÇÃO

Jesus foi a Betânia, a três quilômetros da cidade de Jerusalém. Apenas uma semana

antes, Jesus tinha devolvido a vida a seu amigo Lázaro (Jo 12.9), mas mostrando em seu rosto

que ia para Jerusalém onde entregaria sua própria vida. Esse é o contraste de Jesus: entrega

sua vida à morte para dar vida a outros. A Semana da Paixão é contada da entrada de Jesus na

cidade de Jerusalém. Foi uma semana e foi de pura paixão. Paixão pela cidade: choro sobre

ela. Paixão pelo templo: expulsou àqueles que o contaminavam com suas mercadorias. Paixão

pela defesa da Sá doutrina: respondeu com autoridade e sabedoria a várias tentativa de

desacreditá-lo e surpreendê-lo em alguma falta. Paixão pelos pobres que são ricos para o

Reino: foi com paixão que ficou observando a viúva que lançou suas duas únicas moedas.

Paixão em preparar até o mínimo detalhe a última páscoa com seus discípulos; paixão em

expor o traidor frente a todos provocando assim que seus inimigos tivessem que agir na festa

como não queriam. Paixão ao ter que anunciar a seu querido amigo e discípulo Pedro, aquele

que havia declarado que Ele era o Cristo de Deus, que este o negaria três vezes. Paixão sobre

os joelhos, no Getsêmani onde suou gotas de sangue, esmagado pela hora difícil que iria viver

pela vontade do Pai. Foi sem dúvida a semana mais intensa na vida de nosso Senhor. Os

sentimentos lhe golpeavam o peito. Por um lado, o amor tão grande pelos seus, aos quais

amou até ao fim; por outro a profunda reverência e obediência em cumprir a vontade do Pai

até o mais mínimo detalhe. Por um lado, a responsabilidade tão grande de ser o Ungido de

Deus, por outro o peso tão grande de levar sobre si mesmo o pecado dos transgressores. Foi a

paixão do Filho do Homem em sua última semana.

90

1. ENTRADA TRIUNFAL A JERUSALÉM (19.28-44)

“Subindo a Jerusalém” (Lucas 19.28). A cidade de Jerusalém está sobre as montanhas

de Judéia, a uma altura de 600 a 880 metros sobre o nível do mar. Ir para Jerusalém é subir.

Jesus vai subindo a Jerusalém, mas sua visão está mais além. A partir dali também vai

subindo ao Pai (Jo 20.17).

“...achareis preso um jumentinho... o Senhor precisa dele.” (Lucas 19.30). Jesus envia

dois de seus discípulos a buscar um jumentinho. A forma como se dão esses fatos divide os

comentaristas em duas opiniões: a primeira é que Jesus sabia de todos os detalhes por sua

onisciência como Deus. “Ele sabia de tudo, e tinha a chave do coração humano.”111 E a

segunda é que aquela família era conhecida de Jesus, e o reconhecia como o Senhor, cedendo

o jumentinho sem nenhuma reclamação. “Disso podemos tirar a conclusão que os donos (v.

33) eram amigos de Jesus. Deve ter sido pessoas que reconheciam Jesus como seu Senhor.”112

A forma como estes fatos se desenrolaram nos dá a ideia de como Deus, em sua

soberania e propósito eterno, move os fios dos acontecimentos e estes se cumprem dentro da

vontade de Deus já que a profecia de Zacarias 9.9 havia anunciado, muitos anos antes que o

Messias entraria em Jerusalém montado em um jumentinho, cria de jumenta: “Alegra-te

muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador,

humilde, montado em jumento, num jumentinho, cria de jumenta.”

Tem-se dito que o fato de Jesus montar o jumentinho para entrar em Jerusalém é

tomado como símbolo de humildade, mas isto não é correto. Pessoas ricas e/ou de posição

usaram asnos como é o caso de Abraão, “Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo

preparado o seu jumento...” (Gn 22.3). O caso de Juízes, “Depois dele, se levantou Jair,

gileadita, e julgou a Israel vinte e dois anos. Tinha este trinta filhos, que cavalgavam trinta

jumentos; e tinham trinta cidades, a que chamavam Havote-Jair, até ao dia de hoje, as quais

estão na terra de Gileade” (Jz 10.3-4). Também o caso de Acsa, filha de Calebe, “Esta,

quando se foi a ele, insistiu com ele para que pedisse um campo ao pai dela; e ela apeou do

jumento; então, Calebe lhe perguntou: Que desejas? (Jz 1.14); também Abigail, a esposa do

rico Nabal, “Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre

o rosto diante de Davi, inclinando-se até à terra”. (1 Sm 25.23).113

111 Jamieson-Fausset-Brown, v. 31, p. 184.112 Hendriksen, v. 31, p. 598.113 Jamieson, et. al., Op. Cit.

91

O uso do jumentinho para Jesus entrar em Jerusalém tem outro significado. O cavalo é

símbolo dos tempos de guerra, mas o jumento, o tempo de paz. O uso que Jesus fez de um

jumento foi para significar que Ele era o Príncipe da Paz (Is 9.6), mas que um capitão de um

exército.

A expressão “o Senhor precisa dele...” não quer dizer que o Senhor não pode fazer

algo sem nós, mas precisamente que ele, por sua vontade, deseja fazer por nosso intermédio.

“...toda a multidão dos discípulos passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por

todos os milagres que tinham visto...” (Lc 19.37). A multidão que em alta voz aclamava Jesus

entrando na cidade de Jerusalém era mista. Estavam os que vinham com Ele desde Betânia, e

que havia visto a ressurreição de Lázaro, que o seguiam como discípulos, tal como nos

informa Lucas. E estavam também os peregrinos que vinham para a festa da páscoa e já

estavam em Jerusalém, mas ao escutar as notícias que vinham de Betânia, e saber que aquele

que ressuscitou a Lázaro vinha entrando na cidade, se lançaram para a porta oriental para com

curiosidade, ver ao que estava entrando no jumentinho (Jo 12.12-13). O detalhe de Lucas nos

que a aclamação de “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas

maiores alturas!” partiu dos discípulos, aqueles que o seguiam de perto. Entre a multidão

vieram também fariseus (v. 39); dentro da igreja também estarão aqueles que não vêm para

louvar e adorar a Cristo, mas para intrometer-se no que se faz, e para desaguar sua raiva por

causa dos louvores ao Rei. Tal foi seu ódio e incômodo por ver aquele que entrava sendo

objeto dos louvores que só eram devidos a Deus, que em vez de tentar eles mesmo calar as

pessoas, pediram a Jesus que o fizesse! Os louvores ao Senhor sempre vão incomodar os seus

inimigos!114

“Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou...” (Lc 19.41). Este é outro dos

momentos da paixão de Jesus. Ainda se escutava o eco dos louvores de sua entrada, e já chora

sobre a cidade de Davi. Jesus sabe que diante dos olhos de todos os habitantes da cidade está

o Ungido de Deus, Aquele que foi enviado de Deus para trazer paz e bênção a seu povo, isso,

entretanto, estava encoberto aos olhos deles. Os louvores partiram dos corações de seus

discípulos, aqueles que lhe reconheciam como o Messias, mas Jesus sabe que essa não é a

opinião de toda Jerusalém. Eles não queriam “esse Messias”, queriam um Messias à sua

própria maneira de ver as coisas.

114 Ibíd.92

“...não deixarão em ti pedra sobre pedra...” As palavras proféticas de Jesus sobre

Jerusalém se cumpriram ao pé da letra. No ano 70 dC, o general romano Tito e suas legiões

romanas literalmente arrasaram com a cidade. Os dados históricos são recolhidos por Josefo

em sua obra: “Guerra dos Judeus.”

“Enquanto o santuário está queimando... não houve piedade por causa da idade, nem

respeito por classe. Pelo contrário, as crianças e os anciãos, leigos e sacerdotes foram

igualmente mortos.”115

“O imperador ordenou que a cidade inteira e o templo foram arrasados. Deixando

somente as mais altas torres... e a porção do muro que cercava a cidade pelo ocidente... Todo

o resto do muro que rodeava a cidade foi tão completamente destruído que os visitantes do

lugar no futuro não teriam nenhuma razão para pensar que a cidade tenha sido alguma vez

habitada.”116

2. PURIFICAÇÃO DO TEMPO (19.45-48)

A purificação do templo que é relatada aqui em Lucas não se pode identificar com a

que é narrada em João 2.13-17. São duas purificações que Jesus fez no templo. Uma no

princípio de seu ministério e a outra no final, na semana da sua paixão. Lucas não dá muitos

detalhes sobre este feito, a leitura de Marcos 11.15-19 lança mais luz sobre o incidente. Este

feito ocorreu no átrio do templo, chamado “átrio dos gentios”. Jesus nunca entrou no

santuário do templo, porque não era nesse santuário terreno que Ele tinha que entrar, mas no

celestial, onde entrou como Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e com seu

próprio sangue, ou seja, sendo sacerdote e vítima, a fim de apresentar o Sumo Sacrifício pelos

pecados do seu povo (Hebreus 4.13; 9.11-12).

É verdade que alguém que fosse ao templo para oferecer sacrifício poderia levar seu

próprio animal, mas corria o risco de ao ser examinado pelos sacerdotes, ser reprovado. Os

mercadores do tempo pagavam aos sacerdotes para que “desaprovassem” os animais trazidos

a fim de que as pessoas se vissem na necessidade de comprara ali os animais que já estavam

aprovados pelo sacerdócio para os sacrifícios. Era um negócio entre os sacerdotes e os

vendedores de animais.

115 Josefo, “Guerra de los Judíos,” VI. 271.116 Ibíd. VII. 1-3.

93

Jesus vê todo o negócio entre a casta sacerdotal e os mercadores e sente o mau cheiro

dos excrementos dos animais ali apinhados, aquilo era adoração a Deus? Sem dúvida, esta é

outra das manifestações de sua paixão. “O zelo pela tua casa me consumirá” (Salmo 69.9).

Quando as mesas dos cambistas foram viradas, e as jaulas dos animais abertas ficou claro que

Jesus era o verdadeiro Senhor do tempo (Mateus 12.6);

3. A AUTORIDADE DE JESUS (20.1-8)

“Estando Jesus a ensinar o povo no templo e a evangelizar...” (Lucas 20.1). Jesus

tinha acabado de virar as mesas dos cambistas, e de acabar com o negócio dos mercadores do

templo, agora ali mesmo ensina e anuncia ao povo o Evangelho do Reino. Não se trata só de

parar o que está mal feito na igreja, mas de ensinar ao povo a verdade da Palavra do

Evangelho. Se não se ensina e anuncia a verdade na igreja, logo as mesas dos cambistas e as

jaulas dos fraudulentos vendedores de animais estarão de novo postas ali, e em vez de sentir-

se o gratificante aroma de seu conhecimento (2 Co 2.14), volta-se a sentir o nauseabundo odor

dos que convertem a casa de Deus em covil de salteadores, e usam as coisas sagradas para

manipular aos pobres. Jesus, o Filho do Homem, veio para pregar o Evangelho aos pobres,

hoje muitos dos que se dizem serem seus ministros usam os pobres para enriquecer.

“...sobrevieram os principais sacerdotes e os escribas, juntamente com os anciãos...”

Estas eram as três partes integrantes do Sinédrio. Os que se aproximaram de Jesus e

questionaram sua autoridade eram do Sinédrio. Esta foi uma tentativa de desacreditar Jesus.

Com sua pergunta “com que autoridade fazes estas coisas?” ele estavam pedindo as

credenciais de Jesus. Se tivesse êxito em desacreditar Jesus em público, as pessoas perderiam

o respeito. Por outro lado, se ele considerava autorizado a fazê-las, poderia ser acusado de

blasfêmia, porque estaria fazendo coisas que só Deus poderia fazer. Jesus lhes respondeu com

outra pergunta, algo que era comum nos ensinos rabínicos do momento. Ao verem-se presos

na sua própria astúcia, disseram a Jesus que não sabiam de onde vinha o batismo de João. Ao

responder Jesus deixa claro que não é que eles não soubessem, mas que não queriam

responder, para não verem-se descobertos em sua má intenção. Se hoje alguém nos pergunta

com que autoridade ensinamos as Escrituras, ou pregamos a mensagem do Evangelho, que lhe

responderíamos?

94

4. OS LAVRADORES MAUS (Lucas 20.9-18)

“A seguir, passou Jesus a proferir ao povo...” Jesus foi interpelado e agredido pelos

líderes maus do Sinédrio. Agora ele se volta para o povo para adverti-lo sobre este tipo de

pessoa. Para entender essa parábola que Jesus usa como ilustração para mostrar ao povo sobre

o que havia acontecido com seus profetas, e finalmente com o Filho temos de entender que

naquele tempo a parte alta do vale do Jordão e as ribeiras ocidental e norte do mar da Galiléia

continham extensas propriedades que pertenciam a estrangeiros. Era comum que proprietários

de fazendas vivessem longe de suas propriedades e comissionassem pessoas para que

cuidassem e lhe enviassem os frutos do lucro.

Na parábola, o dono é Deus, o filho do dono é Cristo, seus servos enviados foram os

profetas com a mensagem para o povo de Israel, os lavradores maus representam os líderes

judeus e todo Israel que rejeita a Jesus como o Ungido de Deus, que depois de rejeitar as

várias mensagens enviadas por Deus através de seus profetas, mataram o seu próprio Filho.

“...Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros” (v. 16). A

destruição dos lavradores maus viu-se no ano 70 dC. com a destruição de Jerusalém, mas que

aponta também o castigo eterno que terão todos aqueles que rejeitam o Filho. Os que estavam

ali estavam muito seguros de que os privilégios dados a Israel nunca seriam tirados e muito

menos dados a outros, mas isso ocorreu exatamente como disse Jesus na parábola (Mateus

21.43; 28.19; Atos 13.46). Não há nenhum privilégio étnico para receber a bênção de Deus. É

dentro da cidadania da igreja universal que se recebem os benefícios do pacto de Deus. O

pacto dado a Abraão como depositário até que chegasse o Mediador (Cristo) é o mesmo pacto

que cobre a igreja universal de Cristo com suas bênçãos e promessas; as quais, nas palavras

do Apóstolo Pedro são “para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que

ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (Atos 2.39).

É uma bênção total, que “a vinha” não seja recuperada, nem destruída completamente,

mas que é dada a outros para produzam seu fruto! As bênçãos são tiradas dos judeus como

nação, e são dadas à igreja universal (formada por judeus e gentios) a qual não substitui Israel,

mas é “o Israel de Deus” (Gálatas 6.16). Por isso somos contra a doutrina da substituição, na

qual se crer que a igreja substitui Israel. Não há substituição, há um alargamento do “espaço

da tua tenda” (Isaías 54.2-3). De dois povos fez um maior, derrubando a parede da separação

(Efésios 2.14). Os que crêem que Deus tem dois planos, e dois povos distintos (Israel e a

95

igreja) não entenderam a parábola dos lavradores maus ensinada por Jesus neste capítulo do

Evangelho de Lucas. Antes a igreja era nacional (Israel como povo), agora é universal

(formada por homens de todos os povos, língua, raça, cor e nação... incluindo os judeus do

remanescente da graça).

“Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair

ficará reduzido a pó” (v. 18). Jesus reprova aos líderes judeus que rejeitaram ao Messias, o

Ungido de Deus, e lhes cita as palavras do Salmo 118.22 sobre “a pedra que os construtores

rejeitaram.” Todo aquele que persista em sua rejeição e oposição a Cristo será literalmente

esmigalhado em juízo debaixo da pedra. Todo aquele que cair sobre a pedra angular, ficará

em pedaços; da mesma forma que a pedra principal de um edifício é a que marca a linha,

fazendo com que todas as outras venham a ser colocadas ao seu lado e tenham de ser

alinhadas por ela, assim Cristo é quem marca a linha e está construindo uma casa espiritual

com pedras com pedras vivas: a sua igreja!

5. REAÇÃO DOS LÍDERES JUDEUS À QUESTÃO DO TRIBUTO (20.19-26)

“Naquela mesma hora, os escribas e os principais sacerdotes procuravam lançar-lhe

as mãos, pois perceberam que, em referência a eles, dissera esta parábola; mas temiam o

povo” (v. 19). Os líderes judeus compreenderam muito bem que aquela parábola sobre os

lavradores maus era um referência a eles. Eles conheciam muito bem as palavras de Isaías 5.7:

“Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel...” Também se deram conta que

Jesus os identificou com os edificadores que descartaram a pedra angular ao citar as palavras

do Salmo 118.22, então, seu ódio contra Jesus foi maior, e os desejos de lançar Mao dele e

prendê-lo ia crescendo, mas eles temiam o povo. Assim acontece com todos os que não tem

uma conduta honesta e reta: eles temem ser vistos. Aquele que anda corretamente não teme o

escrutínio público.

“Observando-o subornaram emissários que se fingiam de justos para verem se o

apanhavam em alguma palavra...” O Sinédrio havia questionado a autoridade de Jesus, mas

ele os rechaçou com a pergunta que lhes fez sobre o batismo de João. Ele deitou por terra o

plano deles, agora eles mudaram a tática usando emissários que fingiam ser honestos e

sinceros; ele o adulam por meio da lisonja para levá-lo a questões capciosas a fim de

surpreendê-lo em alguma falta e desacreditá-lo frente aos seus seguidores. O grupo de

96

emissários estava composto de fariseus e herodianos (Marcos 12.13) partido político que

simpatizava com a dinastia de Herodes e queriam manter-se no poder. Fariseus e herodianos

eram inimigos porque tinham ideias completamente opostas, mas, agora se tinham juntado

nesse ataque contra Jesus. A pergunta sobre o tributo feita a Jesus era uma “intriga muito

astuta”117 porque se ele respondesse afirmativamente não apresentaria o sentimento patriótico

da maioria do povo e seus líderes; por outro lado, se respondesse negativamente, então seria

um confronto direto com as autoridades romanas. Jesus pediu que eles mostrassem uma

moeda, “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (v. 25). “O denário do tempo

do reinado do então imperador Tibério, representava no anverso a cabeça do imperador. No

reverso aparece ele sentado no trono. Ele usava um diadema e estava vestido como

sacerdote.”118

“Não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e, admirados da sua

resposta, calaram-se” (v. 26). Com esta resposta, Jesus lhes disse que paguem imposto a

César, mas disse também que César não é a autoridade suprema, mas, o Deus soberano, e que

eles está sentado no seu trono. Aqueles emissários hipócritas e astutos haviam sido detidos

uma vez mais em seus planos perversos pela sabedoria das respostas do Mestre, porque “a

sabedoria que é do alto dirigirá a todos os que ensinem verdadeiramente o caminho de Deus

para que evitem armadilhas feitas contras eles pelos homens ímpios; e ensinarão nosso deve a

Deus, a nossos governantes e a todos os homens tão claramente que os opositores não terão

nada mal que dizer de nós.”119

6. A PERGUNTA SOBRE A RESSURREIÇÃO (20.27-40)

“Chegando alguns dos saduceus, homens que dizem não haver ressurreição...” (v.

27). Jesus é atacado por todos os seus inimigos. Já o haviam atacado os principais dos

sacerdotes, os escribas, os anciãos, os fariseus, os herodianos e agora veio uma representação

dos saduceus, os quais eram contrários aos fariseus, mas ante um inimigo comum se aliaram

para combatê-lo. Quem era os saduceus? Não se sabe exatamente a sua origem, mas eles se

vangloriavam de traçar sua história até o sacerdote Zadoque que durante o reinado de Davi

117 Hendriksen, p. 616.118 Ibíd., p. 617.119 Matthew Henry, vv. 20 - 26, p. 25.

97

exercia o sacerdócio com Abiatar (2 Sm 8.17; 15.24; 1 Rs 1.35), o qual foi deixado

posteriormente como único sacerdote por Salomão (1 Rs 2.35).

As crenças dos saduceus eram as seguintes:

“Aceitavam somente a palavra escrita, não eram como os fariseus que também

aceitavam as tradições orais. Negavam a imortalidade da alma, criam que a alma morria

juntamente com o corpo. Rejeitavam o decreto eterno de Deus, o qual chamava de “destino” e

aceitavam o livre arbítrio.”120

Politicamente os saduceus aceitavam o status quo, o qual os fazia, de certa maneira,

simpatizantes políticos do império, e eram apoiados pelas classes mais ricas da sociedade

romana. O ataque de Satanás contra o Filho do Homem foi astutamente planejado,

observemos a estratégia usada: enviaram os mais “religiosos” (principalmente sacerdotes,

escribas e fariseus) a fazer perguntas ardilosas de tipo ético-políticas (o tributo); e enviaram

aos comprometidos politicamente com Roma (saduceus) a fazer perguntas teológicas. Fogo

cruzado da parte de Satanás!

“Esta mulher, pois, no dia da ressurreição, de qual deles será esposa? Porque os sete

a desposaram? (v. 33). Os saduceus com este ataque a Jesus pretendiam “matar dois coelhos

com uma cajadada só”, porque colocariam numa posição ridícula com esta pergunta teológica

sobre a ressurreição e também venceriam seus arqui-inimigos, os fariseus, que criam que

havia vida depois da morte. A resposta de Jesus, mas uma vez, é dirigida pela sabedoria

divina. Depois de deixar claro os detalhes quanto às relações no século vindouro (vs. 35-36)

onde o sexo não tem a dimensão que tem neste século, Jesus passa a responder aos saduceus

quanto à sua crença: a vida após a morte. E ele o faz com a parte das Escrituras que eles

davam maior valor: o Pentateuco. Jesus usa o texto de Êxodo 3.1-6 para refutar o argumento

deles. Aqueles com os quais Deus fez um pacto, não estão mortos, estão vivos. Abraão,

Isaque e Jacó não estão mortos, porque Deus não é Deus de mortos, mas de vivos. Com que

sabedoria Jesus responde aos seus detratores usando as próprias Escrituras que eles mais

valorizavam. Que Ele nos ajude a estudar a Palavra de Deus para saber fazer frente aos

inimigos do Reino!

Há outro fator digno de ser notado nesta parte do Evangelho de Lucas. Jesus está

lançando por terra conceitos filosóficos gregos que também estavam sendo incorporados pelos

romanos. Segundo a filosofia grega, o corpo era a prisão da alma. O conceito hebraico, de

120 Ver la siguiente fuente: Josefo, Antigüedades XIII. 171–173, 297, 298, XVIII. 16, 17.98

acordo com a revelação especial, é diferente. Deus trata com o homem como um todo, não

somente com sua alma, ou com seu corpo. Deus ama seus filhos em corpo e alma. A alma

participa com o corpo da honra de ser templo do Espírito Santo (1 Co 6.19-20), assim como o

corpo é “para o Senhor, e o Senhor para o corpo” (1 Co 6.13). Ao dizer “eu sou o Deus de

Abraão, de Isaque e de Jacó” com uma ênfase em repetir três vezes a palavra Deus para

denotar a relação com cada um deles, está dizendo que estão vivos, não mortos, o que indica

que seus corpos não serão deixados aos vermes, mas que um dia serão ressuscitados

gloriosamente! O Deus do Pacto não é Deus de gente morta, mas de gente viva!

“Então, disseram alguns dos escribas: Mestre, respondeste bem! Dali por diante, não

ousaram mais interrogá-lo” (vs. 39-40). Sem dúvidas, este texto nos diz que aquele diálogo

entre Jesus e os representantes dos saduceus atraiu alguns dos escribas que eram seus rivais e

ao ver seus oponentes sendo vencidos pelas respostas de Jesus o felicitaram quando eles

mesmos o haviam atacado da mesma maneira. Tal é a hipocrisia dos inimigos do Senhor! As

sábias respostas de Jesus a todos os seus inimigos tanto de um lado como do outro os fizeram

calar. Já não ousaram perguntar-lhe mais nada. Foram desarmados, não tinham mais

argumentos. Cumpre-se o dito em Romanos 3.4: “e venhas a vencer quando fores julgado.”

7. DE QUEM É FILHO O CRISTO? (20.41-44)

“Como podem dizer que o Cristo é filho de Davi?” (v. 44). Ao ver Jesus a todos os

oponentes derrotados pelos peso e sabedoria de sua Palavra, então passa a responder a

pergunta que lhe fizeram depois de limpar o purificar o templo: “com que autoridade faze

estas coisas?” e a responde usando nada mais, nada menos, que ao Rei Davi, que junto com

Abraão eram figuras quase idolatradas pelos judeus.

Em outras ocasiões o haviam chamado de “Filho de Davi.” Por exemplo: O mendigo

cego em Lucas 18.38, as multidões que o receberam na entrada de Jerusalém e gritaram:

“Hosana ao Filho de Davi,” em Mateus 21.9.

Usando as mesmas palavras de Davi no Salmo 110, ele deixa claro que “o doce cantor

de Israel”, lhe chama de “Senhor,” e, portanto, ainda que seja filho, por ser descendente, é

mais que isso, é Senhor de Davi. Com isso deixa claro que até o próprio rei Davi lhe dá

autoridade, algo que eles não estava reconhecendo. Ao dizer-lhes isso, Ele queria que eles

aceitassem três coisas:

99

“1. O Filho de Davi não é somente um descendente de Davi; é Senhor de Davi.

2. Sendo Senhor de Davi, é o Filho de Deus.

3. Posto que é Filho de Deus, todos devem pôr sua confiança nele.”121

Jesus deixou claro a seus inimigos com que autoridade fez e disse: por ser o Senhor de

Davi.

8. JESUS ACUSA OS ESCRIBAS (20.45-47)

“Ouvindo-o todo o povo, recomendou Jesus a seus discípulos:Guardai-vos dos

escribas...” (v. 45). Uma vez que derrotou seus inimigos de todas as suas armadilhas, e tendo

deixado claro qual era a sua autoridade, agora vai advertir ao povo sobre o perigo dos ensinos

e condutas daqueles inimigos. Os fariseus e escribas andavam entre o povo para buscar

seguidores, de fato, os tinham, por isso Jesus os desmascara diante do povo. E o faz em seis

pontos, que listamos abaixo:

1. “Que gostam de andar com vestes talares...” Estes homens gostavam de darem a si

mesmos ares de grandeza; andavam por aí vestidos como reis ou sacerdotes a ponto de

cumprir funções oficiais.

2. “...das saudações nas praças” cf 11.43b. Ainda que a Palavra usada aqui para

saudação pudesse indicar uma saudação amistosa oral ou uma mensagem escrita de

felicitações (1 Co 16.21; Co 4.18; 2 Ts 3.17), neste caso tem uma conotação mais formidável,

igual ao contexto imediato na passagem paralela de Mateus 23.7: “...as saudações nas praças

e o serem chamados mestres pelos homens.” Os homens aqui descritos anelavam, não por

uma simples mostra de amizade, mas por uma demonstração de respeito, um reconhecimento

público de sua proeminência.

3. “...as primeiras cadeiras na sinagira...” (v. 46). Estes eram assentos postos sobre a

plataforma onde ficava a pessoa que dirigia as orações e a leitura da Escritura. Nesse assento,

o individuo tinha a dupla vantagem de estar perto da pessoa que orava ou lia a Escritura e de

121 Hendriksen, v. 41. p. 622.100

estar de frente para a congregação, e portanto, poder ver a todos os presentes. Além disso, ser

conduzido até esse assento era considerado como um sinal de honra.

4. “...os primeiros lugares nos banquetes.” Jesus havia pronunciado uma advertência

contra esse mesmo pecado de buscar os melhores assentos em um banquete ou ceia (Lc 14.8).

Tiago condena o pecado de reservar os melhores lugares aos ricos, enquanto se diz ao pobre

que fique em pé ou que se sente no chão juntos ao estrado dos pés de outra pessoa.

5. “...os quais devoram as casas das viúvas.” Jesus apresenta os escribas como aqueles

que devoram – engordam com base em – as casas destas mulheres solitárias.

Como fazem isto? Esta pergunta tem sido respondida de várias formas. Algumas

respostas sugeridas são: pediam as viúvas que contribuíssem mais do que podiam para fundos

que estavam debaixo do controle dos escribas e dos quais eles podiam usar; ou, ofereciam

ajuda para administrar os bens que a viúva havia recebido, enquanto eles ficavam com um

montante maior do que entregavam à viúva; ou se aproveitavam injustamente do sustento

material que inicialmente havia sido oferecido voluntariamente pelas viúvas. Seja qual for o

método usado, é claro que Jesus está condenando com estas palavras o delito de extorsão que

se praticava com as viúvas, delito nefasto de acordo com as Escrituras. A história da igreja

oferece muitos exemplos desse mal122. (Para saber mais sobre isso pode-se ler e C. Chiniquy, “The Priest, Purgatory, and the Poor Widow’s Cow.”)

6. Os louvores dos homens. “...para o justificar, fazem longas orações”. Os escribas

ofereciam estas largas e quase intermináveis orações com o propósito de atrair a atenção para

si mesmos (cf 1 Ts 2. 5, 6). Tudo o que estavam buscando era a honra dos homens... Ou isso

era tudo realmente? A justaposição gramatical de “devorando as casas das viúvas “e” fazem

longas orações” tem levado a alguns a sugerir que entre estas duas atividades havia uma

relação muito estreita, sendo o significado o seguinte: eles devoram as casas das viúvas e para

dissimular sua perversidade faziam largas orações. Quanto mais longamente oram pelas

viúvas (ou pelo menos na presença delas) maior é o que eles podem devorar. Cada um decida

por si mesmo se há suficiente evidência para esta interpretação. Mesmo sem isso, o mal aqui

condenado é escandaloso123.

“...estes sofrerão juízo muito mais severo” (v. 47). Os escribas eram os que passavam

tempo estudando e copiando as Escrituras, e tinha o dever de ensinar ao povo. Ao denunciar

sua má conduta como líderes, Jesus anuncia que eles terão maior condenação. O que foi dito

122 Fifty Years in the Church of Rome, Nueva York, 1886, pp. 41–48.123 Hendriksen, p. 624.

101

ao grupo de escribas fica para todos aqueles que devendo ensinar a igreja de Deus, a corrompe

com seus maus exemplos.

9. A OFERTA DA VIÚVA (21.1-4)

Havendo manifestado publicamente a hipocrisia dos escribas e fariseus, Jesus passa

agora a revelar a sinceridade de certa viúva. Nesta passagem ele coloca em contraste a

religião genuína com a religião fingida. Ao observar Jesus notou que os ricos lançavam suas

ofertas no gazofilácio do templo de forma separada, para diferentes propósitos, mas o

importante aqui não era a soma depositada, mas o coração. Segundo o modo humano de

calcular, a oferta da viúva era insignificante, mas segundo as normas divinas era incalculável.

“O que esta viúva fez era tão importante aos olhos de Jesus, que de acordo com

Marcos 12.43, ele reuniu todos os discípulos a fim de chamar sua atenção para isso. Este

mesmo tipo de convocatória dos Doze havia ocorrido antes, ou seja, em ocasiões muito

importantes e esta era um delas. Em harmonia com isto está o fato de que o Mestre introduziu

este ensino com a frase: “Verdadeiramente vos digo”, mostrado que o que está por dizer era

da mais alta importância e devia ser levado a sério.”124

10. SINAIS ANTES DO FIM (21.5-24)

Jesus, em seguida, prediz a destruição do templo de Jerusalém e ante isso os discípulos

lhe perguntam acerca dos sinais que deviam esperar e fazem uma relação da destruição do

templo com o fim do mundo. De um modo geral Jesus respondeu a sua pergunta e lhe falou

do “sinal” que eles deviam procurar. Jesus para corrigir a inferência equivocada dos seus

seguidores explica-lhes que nem todo o que parece ser um sinal do fim do mundo é realmente

um sinal, mas por certo que os acontecimentos listados aqui têm importância, são etapas que

conduzem para a meta final, por meio deles se prefigura e se aproxima o fim da era e o plano

de Deus é concretizado.

O importante é que Jesus disse que esta perseguição virá por “causa do meu nome.”

Quando alguém persegue aos discípulos de Cristo, está perseguindo ao próprio Cristo, fato

que ficou estampado indelevelmente na mente e no coração de Paulo que apesar das variações

124 Hendricksen, p. 628.102

que ele deu ao relato de sua conversão, as palavras: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”, se

encontram nos três relatos (Atos 9.4-5; 22.7-8; 26.14-15). O perseguido sofria os maltratos

por causa da sua lealdade a Cristo. E ninguém foi capaz jamais de separá-lo do amor de Cristo

e do consolo que ele traz.125

O acontecimento que cumpriu a profecia de Jesus nessa passagem foi que anos antes

da guerra, o jugo do império romano havia se aguçado e esta ação provavelmente produziu

uma reação. O imperador Nero enviou o general Vespasiano e a rebelião foi dominada com

um grande custo de vidas. O sítio final da cidade de Jerusalém foi no ano 70 dC e o

historiador Josefo, em seu livro “Guerra Judaica” indica que o número de prisioneiros foi de

97.000 e os mortos passaram de 1.100.000.126

11. A VINDA DO FILHO DO HOMEM (21.25-38)

Jesus continua seu relato relacionando a profecia anterior com sua segunda vinda e o

quadro é certamente muito vívido: o sol se escurece, a lua também deixa de dar sua luz e

como estes astros têm forte influência no clima da terra, aparecem as marés, se ouvem sons

terríveis e as pessoas sentem medo.

No versículo 27, quando Jesus usa a palavra “verão” é evidente que se refere ao

pronome “eles,” dando a entender aqui que toda a humanidade poderá ver com clareza ao

Filho do Homem e também observamos que tanto Lucas quando Marcos omitem

deliberadamente a palavra chave “sinal,” apenas dizem: “verão o Filho do Homem,” ou seja,

apresentam Cristo majestosamente, porque a própria aparição do Filho do Homem é o próprio

sinal, o único sinal que se deve esperar.

No versículo 28 encontramos a frase: “quando estas coisas começarem a acontecer.”

Aqui Cristo mostra a seus discípulos que quando os sinais que aparecerão e que produzirão

terror e desconforto na humanidade, essas mesmas coisas serão para os filhos de Deus o sinal

de que se aproxima sua iminente liberação, para eles significará que essas alarmantes

perturbações só significará que seus dias de sofrimentos logo terão acabado. “Junto com a

volta de Cristo virá a redenção. Essa redenção, que já foi conquistada em favor dos eleitos na

cruz e que já a terão experimentado em suas almas, será então compartilhada a seus corpos.

Juntamente com os filhos de Deus que já haviam morrido e cujas almas, então, se reunião 125 Hendricksen, p. 637.126 Josefo, p. 420.

103

com seus corpos maravilhosamente transformados, eles subirão para encontrarem-se com

Jesus, nos ares, para permanecer com Ele para sempre; agora em plena possessão de sua

salvação, para a glória de Deus.”127

Havendo terminado o discurso de Jesus, Lucas agrega que durante esta estadia mui

breve, em Jerusalém, Cristo ensinava no templo durante o dia e pernoitava no monte das

Oliveiras. Lucas termina seu relato dizendo no verso 38: “E todo o povo ia ter com ele ao

templo, de manhã cedo, para o ouvir.”

12. O COMPLÔ PARA MATAR JESUS (22.1-6)

O plano para matar Jesus existia, na realidade, há muito tempo. Várias passagens nos

mostra claramente isso, como por exemplo: Mc 3.6; 11.18; 12.7; Jo 5;18; 7.1, 19, 25; 8.37,

40; 11.53 e em Lucas 19.47; 20.19 especialmente. Na realidade esta passagem é uma

repetição de situações anteriores, deixando implícito que os conspiradores: “temiam ao povo.”

Temos que lembrar que Cristo tinha um número importante de seguidores entre os galileus, e

deve-se somar a isso que durante a festa da páscoa predominava na nação judaica a ideia da

libertação do império romano, era portanto, evidente que nos corações dos inimigos de Jesus

existisse um certo temor quanto a isso.

Então, os inimigos de Jesus esperavam o momento de prendê-lo e Judas lhe facilitou a

tarefa, oferecendo-se voluntariamente para entregar Jesus a seus inimigos de forma secreta, ou

seja, sem provocar nenhum distúrbio público. Os principais sacerdotes e os capitães da guarda

romana ficaram satisfeitos e concordaram em dar-lhe dinheiro por seu trabalho.

13. A PÁSCOA E A INSTITUIÇÃO DA CEIA DO SENHOR (22.7-30)

Esta passagem começa com Jesus dando instruções precisas a Pedro e a João sobre

como preparar o necessário para celebrar a festa da páscoa com seus discípulos. Cristo lhes

mostra como localizar o lugar onde se celebrará a ceia e é evidente, por suas palavras, que o

proprietário da cada onde se celebraria a páscoa era um seguidor de Cristo.

“Desejei muito comer convosco esta Páscoa, antes que padeça!” Jesus fez referência

de comer “esta páscoa” mas acrescenta: “convosco”. Não é isto o que nos lembra Jo 13.1:

127 Hendricksen, p. 643.104

“Tendo amado os seus amou-os até ao fim?” Jesus sabia o que sua morte, que ocorreria em

poucas horas, faria por eles e por milhões de pessoas mais, ele os amava com um amor

impossível ser expressado em palavras.”128

Posteriormente Cristo toma um copo de vinho e o ato de tomar esse copo era parte do

ritual da ceia pascal. Note-se algo importante: a ação de graças que deve preceder ao ato de

beber o vinho. Ao dar a ordem de distribuir o conteúdo do copo entre todos os presentes,

Jesus, atuando como anfitrião, enfatiza a unidade que existe entre todos os participantes e que

é experimentada por cada um deles, e depois, volta a reiterar: “porque vos digo que já não

beberei do fruto da vide, até que venha o Reino de Deus.” Estas palavras não tem um sentido

pessimista, pelo contrário, são totalmente otimistas. Jesus não está dizendo aqui: “minha

jornada chegou ao fim, já não voltaremos a nos ver mais;” o que ele está dizendo na realidade

é: “Mesmo que nossa comunhão nesta terra esteja próximo de terminar, vai ser renovada

gloriosamente no reino de Deus, reino de luz e de amor, de triunfo e de louvor.”

Depois disso, Jesus toma "fatia" ou pedaço de pão e começa a parti-lo em pedaços

pequenos e entregá-lo aos seus discípulos. Quando mencionou a frase: “Isto é o meu corpo,

que é dado por vós...” significa que realmente Cristo está dizendo que os pedaços de pão que

está entregando a seus discípulos simbolizam nesse momento o seu corpo físico, ou seja, não

era literalmente o corpo de Cristo, não se transformavam em sua substância; um não se

transformou no outro nem tomou as propriedades ou características físicas do outro. Se

atentarmos para o ministério do Senhor, podemos comprovar que ele sempre utilizou

mensagem simbólica.

Cristo acrescenta finalmente a frase: “Fazei isso em memória de mim.” Era o desejo

de nosso Senhor que por meio da ceia aqui instituída, a igreja comemorasse seu sacrifício e o

amasse, refletisse sobre seu sacrifício e o abraçasse com fé, olhando para frente com viva

esperança de sua gloriosa segunda vinda. Por certo, a celebração adequada da Santa Ceia é

uma lembrança de amor, mas é muito mais que isso, porque Cristo está presente e ativo em

Seu Espírito; seus seguidores “tomam e comem”, se apropriam de Cristo por meio de uma fé

viva e são fortalecidos nesta fé.”129

Finalizada a ceia, inicia-se entre os discípulos uma disputa sobre quem seria o maior.

Imaginemos por um instante a cena: ali estava Jesus, próximo de dar sua vida por estes

homens, centrando toda sua atenção neles e amando-os terna e intensamente, e eles, enquanto 128 Hendricksen, p. 656.129 Hendricksen, p. 658.

105

isso, estavam discutindo entre si, com uma atitude totalmente egoísta. Jesus quer que seus

discípulos tenham um espírito muito diferente dessa forma de pensar e, portanto, mostrem

uma disposição oposta, por isso lhes disse que o maior deles deveria chegar a ser como o

“menor,” ou seja, como o de menos honra.

14. PREDIÇÃO DA NEGAÇÃO DE PEDRO E A QUESTÃO DO SUSTENTO

(22.31-38)

A tripla negação de Pedro é predita. Pedro não reconhece a condição de seu coração e

continua pensando que iria defender Jesus.

Surge um diálogo sobre o sustento dos discípulos. A partir de agora ele vão precisar de

comida, roupa e proteção.

15. JESUS ORA NO GETSÊMANI (22.39-46)

Vemos no versículo 39 que diz: “E, saindo, foi, como costumava, para o monte das

Oliveiras” e, se pensarmos na reação de qualquer pessoa que se encontre em perigo de ser

preso, sabemos que ele nunca se dirigiria a um lugar que sempre freqüenta, porque

obviamente seria o primeiro lugar onde seria procurado por seus inimigos. Cristo sabe

perfeitamente que Judas estava fazendo arranjos para sua prisão com seus cúmplices; sabe

também que Judas conhece perfeitamente o lugar onde achá-lo e que iriam diretamente para o

Getsêmani; o pastor está em vias de entregar sua vida por suas ovelhas, deve fazê-lo, quer

fazer um sacrifício voluntário, o único tipo de sacrifício que será suficiente como expiação de

todos os pecados de todos aqueles que põem sua fé e sua confiança nele.

16. A PRISÃO DE JESUS (22.47-53)

O versículo 47 começa dizendo: “...surgiu uma multidão...,” ou seja, um grupo

importante de pessoas, entre as quais estava Judas que se aproxima de Jesus para beijá-lo e há

quem afirme que o beijo era a forma habitual da época de saudar um rabi, seja como for,

devemos convir que o beijo era uma expressão de amor e de amizade, de suma confiança, de

106

relação estreita, entretanto, nesse caso específico era o sinal acertado entre os inimigos de

Jesus para prendê-lo.

Ato seguido, nos versículos 49 e 50, Lucas relatada que um dos discípulos feriu com a

sua espada a um servo do sumo sacerdote cortando-lhe a orelha. Mesmo que o acontecido seja

relatado nos quatro Evangelhos, somente João menciona o nome destas duas pessoas: Pedro e

Malco, o servo do Sumo sacerdote; e a razão possivelmente é que quando João escreveu seu

Evangelho já não era possível castigar o que atacou. O relato continua dizendo que o Senhor

tocou a orelha do servo e a curou.

Por último, Cristo sinaliza aos que haviam chegado para prender-lhe, a forma tão

covarde e pérfida como estavam se comportando, porque vieram com um exército contra ele,

equipados de espadas e porretes como se fossem lidar com um assaltante, um revolucionário,

um rebelde ou um provocador de badernas.

17. PEDRO NEGA A JESUS (22.54-62)

Nos versículos 54 a 62 Lucas relata a história das três negações de Pedro, as quais

também são relatadas nos outros três Evangelhos.

Pedro provavelmente tenha seguido de perto a Jesus, enquanto ele era conduzido para

a cada do sumo sacerdote, por curiosidade, ou encorajado pelas palavras que havia dito a

Jesus anteriormente com respeito a segui-lo até a morte, mas seguramente cheio de medo e de

preocupação, a tal ponto de sua atitude levantar suspeitas.

Em primeiro lugar, uma criada suspeitou dele e disse: “Também este estava com ele” e

evidentemente Pedro ficou agoniado ante essas palavras e realiza ali a primeira de suas

negações, afirmando: “Mulher, não o conheço.”

Quase imediatamente, em um espaço muito curto de tempo, Pedro é increpado outras

duas vezes, sendo acusado diretamente de ser um dos seguidores de Jesus e ele frustrado e

provavelmente em pânico, o nega outras duas vezes, tal como o Senhor o havia profetizado

anteriormente.

Depois disso um galo cantou e quando Pedro ouviu o canto do galo, viu Jesus que

estava sendo transferido e o olha diretamente nos olhos, cheio de pesar, mas também cheio de

perdão e misericórdia; e saindo do palácio chorou amargamente, estando seu coração cheio de

um genuíno arrependimento pelo que havia feito.

107

18. JESUS PERANTE O CONCÍLIO (22.63-71)

Os membros do Sinédrio mostram seu verdadeiro caráter e coração, Ainda que possa

deduzir que as torturas às quais Jesus foi submetido vieram dos subordinados dos principais

sacerdotes, devemos lembrar que eles consentiam diretamente com a situação, e que

cooperavam com isso. A crueldade humana somada à zombaria alcança seu clímax quando os

torturadores golpeavam o rosto do prisioneiro, que estavam vendados, dizendo-lhe:

“Profetiza-nos, quem é que te feriu?”, enquanto também o insultavam ferozmente.

A razão, com certeza, pela qual rapidamente se reuniu os integrantes do Sinédrio, era

para dar certa aparência de legalidade ao ato vergonhoso que fariam logo depois. Quando um

corpo oficial judeu, como o Sinédrio, por meio de uma ação ilegal “busca testemunhas” falsas

para acusar Jesus, quando o levaram a Anás, (um homem que já não tinha nenhuma

autoridade oficial); quando o sumo sacerdote pretende forçar o prisioneiro a que declare algo

contra si mesmo, a única conclusão justa a que podemos chegar é que estamos frente não a

um ato de justiça, mas de perversão.

Caifás, desesperado porque as testemunhas falsas apresentadas não podiam oferecer

um testemunho confiável, tenta por todos os meios “arrancar” de Jesus uma confissão

incriminatória que permitisse acusá-lo e apresentá-lo ante as autoridades romanas para matá-

lo.

Os membros do Sinédrio não tiveram nenhuma dúvida que quando Jesus disse: “O

Filho do Homem” ele estava se referindo a si mesmo e sabiam também que aquele a quem Ele

estava se referindo de acordo com Daniel 7.13 era na realidade divino. O sumo sacerdote e os

demais que estavam presentes consideraram imediatamente essa afirmação como uma

pretensão de usurpação de honra divina reservada somente a Deus, por parte de um homem

comum, em outras palavras era uma blasfêmia. Diante disso o sumo sacerdote rasgou suas

vestes e todos foram de acordo que não precisava de nenhum outro testemunho para acusá-lo.

108

CONCLUSÃO

Tendo denunciado a hipocrisia dos escribas, ao elogiar a entrega total de uma viúva de

tudo o que tinha, Jesus não somente estabeleceu um contraste entre a hipocrisia e a

sinceridade, mas também mostrou a forma como devem ser tratadas as viúvas.

Posteriormente Jesus predisse a destruição do templo de Jerusalém e seus discípulos

tomaram isso como um presságio do fim do mundo e Cristo os acalma com palavras de amor

e segurança, acrescentando que a contemplação destes sinais deve conduzir a uma atitude de

vigilância, uma vida de santificação. Quando finaliza o discurso de Cristo, Lucas relata que

durante essa breve estadia do Senhor em Jerusalém, ele ensinava durante o dia no templo e

pernoitava no Monte das Oliveiras, e que todo o povo se levantava cedo para ouvi-lo.

É compreensível que esta “fama” de Jesus, que sempre aumentava, fez com que os

dirigentes de irassem, de tal maneira que estavam planejando desfazer-se dele sem causar

tumulto. Nesta situação comprometedora, receberam a ajuda inesperada de um homem, que

pertencia nem mais nem menos aos discípulos de Jesus, que estava disposto a entregá-lo em

troca de dinheiro.

Na páscoa, Cristo instituiu com seus discípulos, sem a presença de Judas, a Ceia do

Senhor, para ser observada perpetuamente “em memória” dele. Depois da ceia saíram para o

Monte das Oliveiras, onde Jesus instruiu seus discípulos a que orassem para não caírem em

tentação. Enquanto estavam orando chegou uma turba encabeçada por Judas, que prendeu

Jesus e o transferiu para a residência do sumo sacerdote. No pátio desse local Pedro negou

três vezes ao seu Senhor. Numa reunião convocada apressadamente, no meio da madrugada,

Cristo é apresentado diante do Sinédrio, onde é acusado de blasfêmia e sentenciado à morte.

109

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO 6

1. Para onde Jesus enviou dois dos seus discípulos e o que lhes pediu?

2. O que Jesus fez ao entrar no templo e o que disse aos que estavam ali?

3. O que discutiam entre si os escribas, os anciãos e os principais sacerdotes? Explique

o dilema deles.

4. Qual o propósito dos emissários enviados a Jesus, e qual o tema que abordaram?

Explique brevemente.

5. Segundo o texto, como se chama os que se aproximaram de Jesus, que não criam na

ressurreição e com que pergunta abordaram Jesus?

6. O que Jesus disse acerca da destruição do templo?

7. O que acontecerá com os astros do céu antes da vinda do Senhor?

8. Quem entrou em Judas e qual é o seu (de Judas) sobrenome?

9. No reino de Deus ou no serviço dele, quem é o maior, o que senta na mesa ou o que

serve?

10. Quando bateram no Senhor, depois da sua prisão, o que lhe pediram que

profetizasse?

110

LIÇÃO SETE

O JUIZO E A MORTE DE JESUS

Alejandro Cid

INTRODUÇÃO

“Lucas só oferece um esquema simples do episódio que o apóstolo João escreve

melhor. Ele nos dá porém, o suficiente para mostrar a indignidade infame dos judeus e os

vãos esforços de Pilatos para se desculpar do crime que finalmente cometeu. Lucas nos faz

ver que no julgamento e na condenação de Jesus, os judeus tão habilmente manipularam a

acusação, que Pilatos não teve outra alternativa senão satisfazer suas demandas e com que

violência apresentaram o trataram. A degradação dos dirigentes judeus foi total, com todo o

comhecimento que eles tinham acerca da lei moral, os que professavam ser representantes de

Deus, levaram à morte o Seu Filho.130

1. JESUS E PILATOS (23.1-5)

A frase: “toda a assembléia” significa o Sinédrio. A razão pela qual a assembléia fez

isso é porque para os judeus teria sido uma violação do direito romano ter, eles mesmos,

pronunciado uma sentença. Pôncio Pilatos era o quinto procurador de Samaria e Judéia, estava

debaixo da autoridade do legado da Síria e com respeito a seu caráter existem muitas

informações. Um exemplo é Filo, que citando uma carta de Agripa I a Calígula o chama:

“inflexível, sem compaixão e obstinado,” mas uma coisa é certa: usou com bem pouco bom

senso as relações, já deterioradas, dos judeus com os opressores romanos.

“A ocasião que conduziu Pilatos a perder sua função foi sua interferência com uma

turba de fanáticos que, sob da liderança de um falso profeta, estava a ponto de subir ao monte

Gerizim com a finalidade de buscar os vasos sagrados, que segundo criam, Moisés havia

escondido ali. Viajou para Roma a fim de responder às acusações que haviam sido

apresentadas contra ele, mas antes de chegar a Roma, o imperador Tibério morreu. Uma

130 W. Hendriksen, p. 122.111

história não confirmada, relatada por Eusébio, afirma que Pilatos ‘foi forçado a tirar sua

própria vida.’”131

Ao combinar o relato dos Evangelhos, alguns chegam à impressão de que do princípio

ao fim Pilatos fez todo o possível para desfazer-se do caso de Jesus. Ele não gostava dos

judeus e não quero agradá-los nem conceder-lhes sua petição. Entretanto, no fundo do seu

coração, temia que eles usassem a ocasião para lhe prejudicar. Até certo ponto estava disposto

a fazer o que a justiça exigia, mas somente até certo ponto, quando sua posição de poder

ficava ameaçada, então, ele se rendia.

Pilatos começa perguntando aos judeus porque trouxeram Jesus a ele: “Que acusações

trazeis contra esse homem?” Eles responderam: “Se este não fosse malfeitor, não to

entregaríamos,” em outras palavras: “Não faças perguntas, somente confirme a sentença que

nós já damos.” Mas Pilatos se nega a conceder-lhes esse favor e como eles não puderam fazer

nenhuma acusação, trata de devolver-lhes o prisioneiro, dizendo: “Tomai-o vós outros e

julgai-o segundo a vossa lei.” Então, os judeus esclareceram que eles desejam nada menos do

que a morte do prisioneiro.

“É claro que mesmo o Sinédrio acusando Jesus de blasfêmia, diante de Pilatos os

líderes judeus não apresentaram imediatamente essa acusação. Devem ter pensado e com justa

razão, que uma acusação especificamente política teria melhor possibilidade de ser

considerada legalmente válida do ponto de vista da jurisprudência romana. Além disso,

podem ter pensado que uma acusação estritamente religiosa causaria mui pouca impressão a

um pagão. Entretanto, isso não significa que a acusação religiosa não tivesse lugar no tribunal.

Sim, teria, mas não imediatamente, por isso foi reservada para mais tarde.”132

Ante a acusação, Pilatos perguntou a Jesus: “És tu o rei dos judeus?” Ele fez essa

pergunta para sua própria proteção e Jesus lhe respondeu: “Tu o dizes!” Ante a resposta e com

intenções evidentes de livrar-se do problema, Pilatos disse aos sacerdotes e às pessoas, que

não encontrava nenhum delito no prisioneiro.

No versículo cinco, a multidão presente, diante da resposta de Pilatos acerca da

inocência de Jesus, se alvoroçou e começou a gritar, insistindo com sua acusação, mas o que

deve ter despertado, de forma especial, o interesse de Pilatos, foi outra coisa. De acordo com

os gritos e as acusações, Jesus provinha da Galiléia e o tetrarca da Galiléia era Herodes

Antipas e justamente nesse momento, este se encontrava em Jerusalém. Pilatos considerou 131 Ibid.132 R. Zapata, p. 216.

112

esta circunstância como uma maravilhosa coincidência e possivelmente a possibilidade de se

desfazer do problema.

2. JESUS E HERODES (23.6-12)

Os acusadores seguramente devem ter ouvido o comentário de Pilatos de que Jesus era

da Galiléia como um golpe de mestre para sua acusação. Isso era devido a que Galiléia

sempre fora um berço da revolução. Dali saíram os zelotes e os patriotas que eram

literalmente guerrilheiros dessa época, causando continuamente problemas ao governo

romano.

Logo descobriram que na realidade estavam sendo derrotados, porque Pilatos, no seu

propósito de desfazer-se do problema, viu nesse vínculo entre Jesus e a Galiléia, a

oportunidade perfeita, já que o governante da Galiléia era Herodes Antipas, dado que a lei

romana permitia que uma pessoa pudesse ser julgada na província a que pertencia ou onde

havia nascido.

Jesus foi então, remetido à presença de Herodes Antipas, que acreditava que se tratava

de João Batista ressuscitado dentre os mortos e tinha muita curiosidade de conhecer Jesus,

esperando vê-lo realizar algum milagre e assim divertir-se um pouco com ele.

Mesmo que Jesus não tenha realizado nenhum milagre diante de Herodes, este pensou

que ao menos o prisioneiro conversaria com ele e responderia suas perguntas. Mas, Jesus não

respondeu de forma nenhuma e quando Jesus se negou a falar, seus inimigos, seus principais

acusadores, os sacerdotes e escribas falaram ainda com mais força acusando-o

veementemente diante de Herodes.

Ante o silêncio de Jesus, e apesar de não pode achar nenhuma culpabilidade nele,

Herodes, irritado porque a situação o ridicularizou, disse-nos o versículo 11: “Mas Herodes,

juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se

de um manto aparatoso, e o devolveu a Pilatos.” “Provavelmente Herodes estava bastante

assustado para condenar Jesus à morte, sua consciência não lhe permitia esquecer o que havia

feito com outra pessoa inocente: João Batista; estava cheio de uma horrível superstição. Mas,

além disso, provavelmente estava irado com Jesus para deixá-lo livre, porque sua curiosidade

113

não havia sido satisfeita. Do palácio onde Herodes provavelmente estava hospedado, o cortejo

regressou ao pretório.”133

3. A SENTENÇA DE JESUS (23.13-25)

Quando regressaram com Jesus a Pilatos, este convocou não somente os membros do

Sinédrio mas também ao povo em geral, porque deseja fazer um anúncio público. Em relação

à acusação de que Jesus era um revolucionário, Pilatos declara: “...tendo-o interrogado na

vossa presença...;” isto indica que Lucas nos está entregando somente um breve resumo do

ocorrido, porque em seu relato lemos pouco acerca de um interrogatório público.

Então Pilatos faz esses assombrosos anúncios: “...nada verifiquei contra ele dos crimes

de que o acusais”. Estas são duas afirmações notáveis e se somamos a elas as que se

encontram nos versos 4 e 22 deste mesmo capítulo 23 e as registradas em João 13.38; 19.6,

pode-se ver claramente que em não menos de cinco ocasiões Pilatos declarou publicamente a

inocência de Jesus.

“Temos direito de esperar, então, que Pilatos dissesse: Portanto o colocarei em

liberdade! Por que não disse isso? Com toda certeza, como o demonstra sua conduta posterior,

era devido ao medo que ele tinha do que poderiam fazer o Sinédrio e as pessoas que se

haviam deixado convencer por ele. Está sendo motivado não pelos princípios morais, mas

pela conveniência política. Então o que Pilatos realmente disse foi: “Portanto, após castigá-lo,

soltá-lo-ei.”134

Pilatos estava começando já a desesperar-se, estava desejoso, mui desejoso de

desfazer-se desse problema. Primeiro havia tratado de devolver Jesus ao Sinédrio, mas isso

não aconteceu. Depois resolveu mandá-lo a Herodes para que este tomasse a decisão, mas

novamente não teve êxito. Agora havia feito uma tentativa de chegar a um acordo: primeiro

castigar Jesus e depois colocá-lo em liberdade, isso tampouco satisfez as pessoas.

“Uma nova oportunidade para a solução do problema de Pilatos parece que agora se

apresenta. Visto que aqui, uma vez mais, Lucas abrevia, pare seu esclarecimento voltemos à

passagem paralela em Marcos: “Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos

presos, qualquer que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores,

os quais em um tumulto haviam cometido homicídio. Vindo a multidão, começou a pedir que 133 M. Henry, p. 324.134 G.J. Wenham, p. 357.

114

lhes fizesse como de costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o

rei dos judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam

entregado. Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência,

Barrabás.”135 Foi a resposta da multidão.

Nos versos 22 e 23 encontramos virtualmente uma repetição do que Pilatos vinha

dizendo anteriormente, a única exceção é que finalmente Pilatos pergunta: “Que mal fez

este?”, reconhecendo mais uma vez que não existia delito algum pelo qual Jesus pudesse

merecer a pena de morte. As palavras “...portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei”, mostram

que Pilatos está novamente violando as demandas da justiça, porque certamente Jesus não

merecia castigo algum, nem mesmo um castigo suave. Entretanto, a essas alturas, as pessoas

estava completamente consciente do fato de que só se persistissem em sua demanda,

poderiam fazer o obstinado ceder.

O sentido do verso 23 seria então, que devido à incitação constante dos principais

sacerdotes, escribas e anciãos, os gritos da multidão exigindo que Jesus fosse crucificado, se

tornaram mais e mais fortes até que por fim, acabaram com qualquer oposição que pudessem

ter. Mas, qualquer das traduções que possamos pesquisar a respeito chega à mesma conclusão:

foi a vitória dos que gritavam, do Sinédrio, da injustiça cruel e sádica, mas também da

providência soberana de Deus e da salvação de seu povo do pecado.

4. A CRUCIFICAÇÃO E A MORTE DE JESUS (23.26-49)

Finalmente o desejo da turba fanática, que se expressou de forma mais e mais

insistente para que Jesus fosse crucificado, unida à ameaça: “Se soltas a este, não és amigo de

César!” fez com que Pilatos se rendesse, de modo que ditou a sentença de Jesus; que fosse

crucificado. Este pronunciamento, da parte de um juiz que repetidamente havia estabelecido

que Jesus era completamente inocente, acaba sendo a mais espantosa tergiversação da justiça

que a história jamais registrou.

“O que Lucas diz é isto: “Jesus porém, foi rendido (ou entregue à vontade deles).”

Quao significativa é essa expressão! Não podemos deixar de pensar em Isaías 53.6, 12:

“...mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos;” “...porquanto derramou sua

alma na morte...” Não devemos jamais esquecer que Lucas está escrevendo sob a inspiração

135 W. Hendriksen. p. 692.115

do Espírito Santo. O próprio Espirito, portanto, nos está dizendo que aquele que foi entregue é

o cumprimento da profecia, o Messias, o Salvador do pecado. Aleluia!”136

O verso 26 nos relata que segundo o costume e de acordo com a lei, a execução devia

ser realizada fora da cidade. Os condenados à crucificação deviam carregar sua própria cruz e

Jesus também carrega a sua, mas não foi por muito tempo. O tremendo cansaço, a tortura que

havia sofrido, a importante quantidade de sangue que havia perdido fizeram que se tornasse

difícil carregar a cruz por muito tempo, e quando Jesus sucumbiu sob a carga, os legionários,

exercendo o direito de “requisição” ou de “”fazer exigências” ao povo, obrigaram Simão, um

cirineu ou um homem de Cirene, a levar a cruz de Cristo pelo resto do caminho.

A passagem compreendida entre os versos 27 a 31 nos descreve o caminho de Jesus

rumo a seu lugar de crucificação. Descobrimos que nem todos em Jerusalém estavam contra

Jesus, havia aqueles que eram seguidores fiéis e havia também aqueles que pelo menos

simpatizavam com ele. Naquela multidão que seguia Jesus se encontravam algumas mulheres

que sentiam grande pesar pelo que estava acontecendo. Jesus ao vê-las, se volta para elas e

lhes diz: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por

vossos filhos!”. Para Jesus, mesmo que agora ele estivesse sofrendo, e ainda que nas próximas

horas fosse sofrer ainda mais, o seu futuro é seguro. Mas, a menos que estas mulheres se

arrependessem, o futuro delas não seria seguro, nem tampouco o de seus filhos. Tão terrível

sofrimento viria sobre a cidade, que se considerariam bem-aventuradas aquelas mulheres que

não tivessem gerado filhos.

“No verso 31, Jesus está fazendo uso de um provérbio muito comum. Está traçando

um contraste entre o “lenho verde” e a “lenho seco.” A madeira verde arde e se consome

rapidamente; quando a madeira ainda está verde e úmida, isso não ocorre. A madeira verde

representa Jesus e a madeira seca representa seus inimigos que não se arrependerem.” 137

João Calvino tinha razão quando interpretou esse versículo da seguinte maneira:

“Sabemos que a madeira seca geralmente se lança primeiro ao fogo... O lamento das mulheres

é néscio se não esperam e temem também o terrível castigo de Deus que está sobre os

ímpios.”138

Nos versículos 32 e 33 deste capítulo 23, menciona-se que “quando chegaram ao lugar

chamado Calvário”... Por que deram esse nome a esse lugar? Por que parecia uma caveira?

136 W.Hendriksen, p. 694.137 Mathew Henry, p. 556. 138 Juan Calvino, Harmony, Vol. III, pp. 294, 295.

116

Por que encontraram ali uma caveira? Só podemos fazer suposições. O que realmente

sabemos é que Jesus foi crucificado fora dos muros da cidade. Note-se quão poucas palavras

são usadas em seguida, no original são somente três: “ali o crucificaram”. Essas palavras são

usadas para indicar este acontecimento tão relevante para toda a humanidade. O pronome

“eles” refere-se aos soldados romanos, como é claro na passagem paralela de Marcos 15.16-

24. Bem se diz nos livros de história que a pessoa que morria crucificada “morria mil vezes.”

Através de suas mãos e pés se cravavam grossos pregos. Entre os horrores que sofriam a

pessoa enquanto estava sendo suspensa praticamente no ar, estavam os seguintes: inflamação,

a supuração das feridas na região dos pregos, a dor insuportável dos tendões partidos e

rasgados, uma angústia espantosa devido à posição na qual se encontrava o corpo, uma dor de

cabeça insuportável e uma sede profunda.

“Foi uma tremenda injustiça que Jesus tenha sido crucificado entre dois criminosos,

como se ele também fosse um criminosos. Não obstante, visto à luz da providência divina, foi

também uma honra. Não é verdade que Jesus veio à terra com o fim de buscar e salvar o que

estava perdido (19.10)? Não era ele “amigo de publicanos e pecadores” (Mt 11.19)? Ao

crucificar Jesus entre esses dois criminosos, a intenção de Pilatos teria sido a de insultar ainda

mais os judeus? Era sua intenção dizer: “É este seu rei, ó judeus, um rei que nem mesmo é

melhor que um bandido, e que por isso merece ser crucificado entre dois deles?” Seja como

for, uma coisa é certa: a profecia de Isaías 53.12 – “Foi contado com os transgressores” –

estava se cumprindo aqui. E, à luz de Lucas 23.39-43, se cumpriu de forma gloriosa.”139

Continuando com a análise do capítulo, no versículo 34 encontramos a primeira das

sete frases que Jesus disse enquanto estava pendurado na cruz. “Pai, perdoa-os porque não

sabem o que fazem.” E é deplorável que se tenha levantado tanta oposição com respeito à esta

primeira frase. Há alguns que quiseram excluí-la diretamente e outros tratam de degradá-lo.

Há pensamento que diz que os que mataram Jesus eram todos réprobos e que Deus em

nenhum sentido abençoa aos réprobos, portanto Jesus quis dizer realmente: “Pai, retém a tua

ira; não a derrames imediatamente em plena medida sobre eles.”

Para o autor esta fervorosa súplica tem o seguinte verdadeiro sentido: a palavra

“perdoa-os”, significa exatamente isso: “retira suas transgressões completamente”. Em tua

soberana graça faz com que eles se arrependam de verdade, de modo que possam ser

perdoados completamente. O sentido da frase está claro, porquanto é a mesma construção

139 W. Hendriksen, p. 700.117

gramatical da frase que Jesus disse: “E perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11.4) e “se ele se

arrepender, perdoa-lhe” em Lc 17.3. Isso mostra ser inconcebível que aquele que insiste

enfaticamente que seus seguidores devem perdoar a todos os devedores e que devem ainda

amar seus inimigos, não dê o exemplo ele mesmo.

“O Pai ouviu esta oração e a respondeu? Parte da resposta bem poderia ser o fato de

que a queda de Jerusalém não ocorreu imediatamente. Através de um período de quarenta

anos, o Evangelho da livre e plena salvação estava sendo proclamado aos judeus. Não só isso,

mas também muitos foram realmente conduzidos ao Senhor. No dia de Pentecostes se

converteram três mil; mais adiante mais de mil (Atos 4.4). Ainda: “...também muitíssimos

sacerdotes obedeciam à fé” (Atos 6.7). Não se converteram todas as pessoas, mas muitas

pessoas e famílias, sim.”140

Havendo crucificado a Jesus, os legionários ali presentes, como era costume entre eles,

dividiram as vestes de Jesus lançando sortes. Com toda probabilidade repartiram entre quanto

as vestes, lançando dados para entregar o manto que cobria a cabeça, as sandálias, o cinto e a

capa, tudo isto de acordo com a profecia do Salmo 22.18, a qual Lucas pode ter levando em

conta ao descrever isto. Milhares e milhares de pessoas devem ter se reunido no lugar da festa

da Páscoa e agora estavam ali parados observando a cena.

As Escrituras continuam relatando que os governantes e líderes judeus não estavam

satisfeitos com o fato de que haviam triunfado sobre Pilatos, e de acordo com o que eles

pensavam, também sobre Jesus. Eles também não mostraram piedade com a miséria da sua

vítima, e se alegraram maliciosamente por causa da sua condição aparentemente desesperada.

Gritavam que ele que havia salvado outros deveria salvar a si mesmo. Dizem os versículos 36

e 37 que os soldados romanos faziam exatamente o mesmo e que utilizavam a informação que

haviam recebido com respeito à acusação apresentada contra Jesus para zombar dele e

ridicularizá-lo.

No parágrafo compreendido entre os versículos 39 a 41 podemos ler: “Não és tu o

Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós também. Respondendo-lhe, porém, o outro, repreendeu-o,

dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando sob igual sentença? Nós, na verdade, com

justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem; mas este nenhum mal fez.”

Esta história é relatada somente por Lucas. No princípio os delinqüentes zombavam, eles

blasfemavam de Jesus, repetiam as palavras e os sentimentos dos governantes e líderes

140 R. Zapata, p. 612.118

religiosos. Por fim, um dos delinqüentes ficou em silêncio e se arrependeu; sem sua breve

intervenção ele: a) Repreendeu seu companheiro; b) Reconheceu sua própria culpa; c)

Reconheceu Jesus como vindo de Deus. No versículo 42 ele disse a Jesus: “Lembra-te de mim

quando entrares no teu reino.” Ele se dirige a Jesus como seu Salvador. O que quis dizer o

ladrão arrependido? Estava pedindo que no final dos tempos, quando regressasse em glória,

Jesus se lembrasse deste suplicante agora convertido. O homem está pedindo a Jesus,

portanto, que se lembre dele naquele tempo. Não pede um lugar de honra, mas se lança

completamente sobre a graça do Salvador, pedindo somente que se lembre dele.

No versículo 43, Jesus lhe responde e diz: “Te digo, que hoje mesmo estarás comigo

no paraíso.” Este delinqüente recebeu muito mais do que realmente havia pedido. O homem

havia pedido uma bênção num futuro remoto e recebe uma promessa para este mesmo dia,

Jesus lhe disse: “hoje...” Ele havia pedido que “se lembrasse dele” e recebe muito mais que

isso, recebe a segurança de que “estarás comigo” e a pergunta é: onde? Não é nenhuma região

mística de fantasmas, nem no purgatório, mas no paraíso e o paraíso nada mais é do que o

céu, tão simples assim!

Posteriormente nos é dito que repentinamente na terra fez-se trevas e o fato de se

mencionar esta escuridão na Bíblia mostra que deve ter sido intensas e inesquecíveis. Além

disso, ocorreu quando ninguém esperava, à plena luz do dia e duraram três horas. “Esta

escuridão significou o juízo de Deus sobre os pecados. Este castigo foi recebido por Jesus, de

modo que Ele, como nosso substituto sofreu a mais intensa agonia, a dor mais indescritível,

um terrível isolamento ou abandono. Esse dia, o inferno chegou até o Calvário e o Salvador

desceu até ao inferno e levou seus horrores nesse lugar.”141 O próprio versículo 45, o texto

diz: “E rasgou-se pelo meio o véu do santuário.” No momento da morte de Cristo, esta cortina

se rasgou, repentinamente, em duas partes, de cima a baixo, como narram Mateus e Marcos, e

isto ocorreu às três da tarde, à hora em que os sacerdotes devem está oficiando no templo.

Como aconteceu? Não foi por desgaste natural, pelo uso, porque em tal caso haveria tido

rompimentos por todas as partes e a ruptura principal teria sido produzida, com maior

probabilidade, de baixo para cima. Tampouco deve-se tem em conta a possibilidade de um

terremoto. O acontecimento deve ser atribuído a um milagre.

Vemos no versículo 46 que depois disso, Jesus exclamou: “Pai, em tuas mãos entrego

o meu espírito.” “A palavra final, por meio do qual o Salvador, com as palavras do Salmo

141 G. Wenham, p. 578. 119

31.5, entrega sua alma ao cuidado de seu Pai, é muito bonita por: a) o que retém do Salmo

31.5; b) O que lhe acrescenta; c) o que omite. Retém: “Encomendo meu espírito,” isto é

significativo, porque indica que o Salvador sofreu o único tipo de morte que podia satisfazer a

justiça de Deus e salvar os homens. Tinha que ser um sacrifício voluntário. Acrescenta: a

palavra significativa “Pai” que não se encontra no Salmo. Omite: a oração que segue

imediatamente no Salmo: “Tu me remiste”, no caso de Cristo, o Santo, sem pecado, não era

necessário e nem sequer possível a redenção.”142

O versículo 47 diz: “Vendo o centurião o que tinha acontecido, deu glória a Deus,

dizendo: Verdadeiramente, este homem era justo.” O centurião tinha visto como Jesus havia

se comportado em meio a tantas provocações e zombarias, e além disso a dor que suportava.

Com toda probabilidade, o legionário não era judeu, ou seja, seu coração não havia sido

endurecido. Assim, começou a adorar e glorificar a Deus, reconhecendo a justiça de Jesus.

A passagem finaliza, nos narrando nos versículos 48 e 49 que, como mencionado

anteriormente, havia se reunido uma multidão e que esta multidão seguramente, devido a tudo

o que haviam presenciado até ali, regressava a seus lares, golpeando-se no peito em sinal de

autorreprovação, dizendo: “Nós fizemos isso.” E continua dizendo que todos os seus

conhecidos, incluindo as mulheres estavam próximos da cruz.

5. JESUS É SEPULTADO (23.50-56)

José era membro do concílio, isto é, da Corte Suprema dos judeus, o Sinédrio, ou seja,

era um membro altamente distinto e respeitado, proeminente, alguém cujo conselho era

buscado ansiosamente, pessoa cuja palavra tinha muito peso.

Pois bem, este homem foi a Pilatos para pedir o corpo de Jesus a fim de que recebesse

um sepultamento honroso. Foi preciso coragem para fazer isso. Primeiro, porque de acordo

com a lei romana, os crucificados perdiam o direito de serem sepultados. Em segundo lugar,

Pilatos odiava os judeus e, somado a isso, com sua atitude José de Arimatéia estava

professando abertamente, que era crente em Jesus. Indubitavelmente é necessário muita

valentia. José havia sido um discípulo de Jesus em secreto, alguém que por temor aos judeus

não se atrevia a tomar partido por Jesus de forma direta e aberta.

142 Mathew Henry, p. 598.120

Lemos posteriormente nos versículos 53 e 54 a frase: “e tirando-o do madeiro.” Esta

frase não pode significar que José fez isso sozinho, evidentemente tinha ajudantes, um deles

era Nicodemos e provavelmente tinha outros mais, porque temos de levar em conta que José

era rico.

Então, uma vez o corpo retirado foi levado para o túmulo, que era propriedade de José

e foi tratado segundo era costume dos judeus ao sepultar seus mortos. Isso provavelmente

incluía a lavagem do corpo, envolvê-lo numa tela de linho e enquanto era envolvido

ajustadamente ao redor do corpo, se untava o corpo com a mistura de mirra e aloés fornecidos

por Nicodemos.

Mesmo que não haja nada que indique que as mulheres tenham ajudado de alguma

forma em retirar o corpo e no enterro, nos é dito que estiveram altamente interessadas no que

estava ocorrendo. Elas seguiram de perto, de modo que puderam ver exatamente onde ficava

o túmulo e como foi posto o corpo dentro dele. Então regressaram a suas casas e prepararam

essências e perfumes para a ocasião, mas como o dia de repouso estava próximo não

chegaram a realizar todos os preparativos antes.

“Terminado o dia de repouso, e sendo agora mais de seis da tarde, os bazares já

estavam abertos novamente. E assim, como lemos em Marcos 16.1, Maria Madalena e Maria,

mãe de Tiago e Salomé compraram especiarias para ir sem mais tardança ao túmulo de manhã

bem cedo e ungir o corpo de Jesus.”143

CONCLUSÃO

Quando Jesus confessou francamente ante o Sinédrio que era o Messias, o próprio

Filho de Deus, o Sinédrio o condenou à morte. Mas o direito romano não permitia aos judeus

executar a sentença. Assim toda a assembléia em plenário levou Jesus à presença do

procurador geral, Pôncio Pilatos.

As autoridades judias sendo obrigadas por Pilatos a apresentar uma acusação formal,

apresentaram várias acusações, equivalentes a: “Jesus é culpado de alta traição, ele se

considera um rei.” No final do interrogatório Pilatos disse aos líderes religiosos que não

encontrava nenhum delito na conduta de Jesus e como soube que ele era da Galiléia, desejoso

de livrar-se do caso decidiu remetê-lo a Herodes, tetrarca da Galiléia. Jesus na presença deste,

143 W. Hendriksen, p. 712.121

se negou a pronunciar qualquer palavra e então Herodes o vestiu com uma túnica e o

devolveu a Pilatos.

Diante disso, Pilatos pensou em outro modo de livra-se do problema e propôs castigar

a Jesus e depois liberá-lo. Mas a multidão não aceitou a proposta e começou a exigir de

Pilatos a liberação de um perigoso delinqüente e assassino de nome Barrabás e a crucificação

de Jesus. Finalmente Pilatos constrangido pelas circunstâncias cede diante das autoridades

judias e entrega Jesus para ser crucificado.

Foi assim que Jesus foi crucificado no Monte Calvário, fora dos muros da cidade de

Jerusalém como exigia a lei, juntamente com dois delinqüentes, um de cada lado dele. Uma

vez efetuada sua morte, José de Arimatéia se apresenta a Pilatos e solicita a entrega do corpo

de Jesus; pedido que é concedido por Pilatos e se processa então, o sepultamento em um

túmulo de propriedade de José.

122

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO SETE

1. Por que o Sinédrio não pode executar a sentença contra Jesus?

2. Que era o tetrarca da Galiléia perante quem Jesus compareceu?

3. Quem o povo judeu pediu para ser libertado no lugar de Cristo?

4. Que profecia foi cumprida quando Jesus foi entregue para ser crucificado?

5. Que comparação Jesus faz quando no verso 31 fala de “lenho seco” e “lenho

verde”?

6. Como se chamava a pessoa que foi obrigada a levar a cruz em lugar de Jesus?

7. Qual foi a primeira frase que Jesus disse estando crucificado?

8. Quando os soldados romanos lançaram sortes aos pertences de Cristo, que profecia

foi cumprida?

9. Quando Jesus exclamou: “Pai em tuas mãos entrego o meu espírito”, a que outro

texto bíblico fazia referência?

10. Quem era proprietário do túmulo onde Cristo foi sepultado?

123

LIÇÃO OITO

A GRANDE COMISSÃO SEGUNDO LUCAS (24.1-53)

INTRODUÇÃO

Cada um dos quatro Evangelhos, tem a Grande Comissão de Jesus Cristo ao final do

escrito. Cada Grande Comissão tem imperativos que mostram uma ênfase importante.

Mateus 28.19-20 – Façam discípulos

Marcos 16.15 – Preguem

Lucas 24.39 – Vejam, apalpem, verifiquem

João 20.21-22 – Recebam.

Para Mateus, Jesus Cristo é o verdadeiro israelita (Mt 1.1, filho de Abraão) e discípulo

e digno de ser obedecido como Rei (Mt 1.1, filho de Davi). Na Grande Comissão de acordo

com Mateus, Jesus Cristo anuncia que tem toda autoridade divina e universal para fazer

discípulos (Mt 28.16-20).

O tema de Marcos, anunciado em Marcos 1.1, é o Evangelho do Filho de Deus. Este

Evangelho deve ser pregado a toda criatura (16.15). Sinais divinos acompanharão os que

pregam o Evangelho do Filho de Deus.

O Evangelho de João ensina sobre a divindade do Filho de Deus (1.1) e os discípulos

receberão o Espírito Santo para poder perdoar e não perdoar pecados (20.21-23).

O propósito do Evangelho de Lucas é mostrar que Jesus é o Filho do Homem (4.18;

19.10) que veio resgatar os perdidos. O Filho do Homem ressuscitou fisicamente (24.7). Os

imperativos da Grande Comissão de Lucas mostram as evidências visíveis da ressurreição

física do Filho do Homem.

Como Filho do Homem, Jesus é o segundo Adão, o representante do homem diante de

Deus, o Pai. Como Filho de Deus todas as coisas foram feitas por ele (Jo 1.2). Como Filho do

Homem ele se encarnou como homem, ele participou da vida humana, ele chegou a ser

substituto para o povo de Deus na cruz e na ressurreição (1 Co 15.22).

Lucas 24 começa com o relato das mulheres que não encontraram o corpo de Cristo no

sepulcro (1-3). Dois anjos aparecem e anunciam que o Filho do Homem havia ressuscitado (4-

124

7). As mulheres informaram aos discípulos, mas eles não acreditaram (8-11). Pedro, então, foi

ver o túmulo e o encontrou vazio (v. 12).

Lucas conta a história dos dois discípulos não apostólicos, que conheceram ao Cristo

ressuscitado no caminho de Emaús. Tal como no capítulo um, a ênfase é a revelação a todo o

povo de Deus, incluindo as mulheres, os não-apóstolos e aos futuros apóstolos. Neste sentido,

a ressurreição não é somente conhecida pelos líderes cristãos, mas é uma revelação a todo o

povo de Deus.

O versículo 39 é a chave para entender a ressurreição física do Filho do Homem.

Lucas menciona duas evidências de como a ressurreição física é conhecida: por ver e apalpar;

Estes dois sentidos afirmam a ressurreição do Filho do Homem.

1. A RESSURREIÇÃO DO FILHO DO HOMEM (24.1-12)

O Filho do Homem ressuscitou! (v. 7). É uma realidade histórica, necessária e

sobrenatural. A realidade histórica da ressurreição é descrita de acordo com o tempo, de

acordo com muitas testemunhas e registrada socialmente.

A ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana, um domingo. Jesus ressuscitou

como o primogênito da nova criação. O Filho do Homem venceu a morte, pagou pelos

pecados de seu povo e agora é ressuscitado pelo Espírito de Deus.

Lucas menciona várias testemunhas deste primeiro dia da semana. Eram Maria

Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e Pedro. João menciona também a João (Jo 20.2-4).

Também há testemunhas celestiais. Lucas menciona a dois anjos. Assim, como o livro de

Lucas começa com a aparição de anjos, o capítulo 24 termina com o testemunho dos anjos.

2. NO CAMINHO DE EMAÚS (24.13-35)

A aparição do Cristo ressuscitado aos dois discípulos no caminho de Emaús só é

mencionado por Lucas. De acordo com o capítulo, a aparição é a dois crentes comuns, não são

líderes, nem apóstolos. A historicidade do relato é afirmada por mencionar o nome do lugar, o

nome de um dos crentes, Cleopas, e por dar detalhes sobre o ensino dado por Jesus a eles.

125

3. AS EVIDÊNCIAS DA RESSURREIÇÃO FÍSICA DE JESUS É VISÍVEL E

TOCÁVEL (24.36-49)

A necessidade de revelar a verdade sobre a ressurreição física existe porque o ser

humano não tem capacidade própria para entender e crer nisso. Por que foi necessário

apresentar evidências físicas da ressurreição do Senhor? A resposta é porque os cristãos não

iam crer sem estas evidências. Os discípulos pensaram que estavam vendo um espírito.

“Os discípulos precisavam ser convencidos de que estavam vendo uma pessoa

autêntica e que realmente era Jesus, e que tivessem seus temores acalmados ante esta

manifestação sobrenatural. Por isso, Jesus lhes mostrou seu corpo físico de carne e osso, e

suas mãos e pés com os sinais dos cravos. Para dar mais provas da realidade de sua presença,

comeu algo enquanto estava com eles.”144

A incredulidade dos crentes. Em Lucas 24.37, os discípulos ainda tinham dificuldades

em crer que Jesus havia ressuscitado. As evidências são apresentadas, mas ainda tinha

problemas com isso. Por isso, a necessidade do imperativo de Jesus: Vede e apalpai-me. Jesus

manda os discípulos e também a nós, crermos em sua ressurreição física. A mesma prova foi

dada a Tomé: “Não sejas incrédulo, mas crente” (Jo 20.27).

Dado o fato de que os crentes são imperfeitos, eles necessitam, constantemente, da

pregação da Palavra de Deus e dos ensinos dos imperativos da Grande Comissão. O

conhecimento da ressurreição física do Senhor não pode ser entendida simplesmente pela

lógica e racionalidade humana. É um conhecimento que deve ser revelado, seja pelos anjos,

pelo Senhor, pelo Espírito da verdade e pela Bíblia. Deus deve abrir a nosso entendimento.

“Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras.”

A incredulidade dos não-crentes. Há os que crêem que a ressurreição é espiritual.

Incrédulos! Se alguém crer que Jesus ressuscitou espiritualmente, não crer, pois, na

ressurreição. Jesus não morreu espiritualmente. Jesus morreu fisicamente. Seu espírito foi

entregue ao Pai (Lucas 23.46). Por isso testificamos que a ressurreição é corporal ou física. O

artigo XI do Credo Apostólico afirmam: “Creio na ressurreição do corpo.”

As Testemunhas de Jeová, os mórmons e os liberais que crêem na ressurreição

espiritual não crêem na ressurreição histórica e real de Jesus Cristo. Aqueles que negam a

144 Comentario Siglo XXI , e-sword.126

ressurreição, disse Paulo são condenados por Deus (1 Co 15) e são parte do espírito do

Anticristo (1 Jo 5).

A rejeição da ressurreição de Jesus vai nos causar problemas graves. A rejeição do

Messias ressuscitado chegou ao ponto de Deus entregar os judeus aos romanos. Lucas

menciona detalhes sobre a destruição do templo em Jerusalém.145

O historiador, Josefo, escreve que nenhum cristão morreu na defesa do templo quando

os romanos o destruíram no ano 70 dC. Os cristãos não defenderam o templo porque o Cristo

ressuscitado é seu templo e eles como crentes são parte do templo do Espírito Santo.

É imperativo que todos creiam que Jesus ressuscitou fisicamente porque um dia os

justos e os injustos vão morrer e ressuscitar fisicamente (1 Co 15.17-22). Cada um deve

prestar contas ao Filho do Homem ou porque creram e serviram ao Deus verdadeiro ou não.

Por isso, cada pessoa deve considerar com toda seriedade, as razões para crer na ressurreição

física.

Jesus enviou seus discípulos para serem testemunhas de sua ressurreição (v. 48).

4. RAZÕES PARA SE CRER NA RESSURREIÇÃO FÍSICA

Há testemunhas oculares. Os discípulos foram testemunhas oculares da ressurreição

de Jesus e que Ele não era simplesmente um espírito. Em 1.1-4, Lucas indica que está fazendo

uma pesquisa entre as testemunhas oculares e os ministros fiéis do Senhor. Aqui Lucas mostra

como eles viram a Jesus.

Há múltiplas testemunhas. John Gill observa que a visão poderia enganar aos

discípulos, mas a verificação de outro sentido, o tato, confirmará o que foi visto.146 É o

princípio da dupla verificação. A verdade é verificada pelo testemunho de duas ou mais

testemunhas.

Há uma relação entre a crucificação histórica e a ressurreição histórica do Senhor.

As marcas físicas no corpo ressuscitado de Jesus são evidências de que ele foi histórica e

fisicamente torturado e morto na cruz do Calvário.

As marcas preservadas no corpo de Jesus mostram a razão de sua morte. Há

evidências no corpo ressuscitado de Jesus Cristo da necessidade de morrer por nosso pecados.

E isso foi necessário para perdoar “a seu povo dos seus pecados”. Alguém teve que pagar com 145 Hendricksen, Op. cit., Vease Lucas 19: 39 - 44; 21: 20 – 38.146 John Gill, Comentario, e-sword

127

sangue e vida pelas ofensas do povo de Deus. Só Jesus, como homem perfeito, pode ser um

sacrifício e substituto perfeito para nós. Ele que morreu na cruz é o substituto para os filhos de

Deus.

Ele que morreu na cruz por nós é 100% humano e 100% Deus. Como ser humano, ele

é o segundo Adão. Ele teve que ser exatamente igual ao primeiro Adão e exatamente igual a

nós. O segundo Adão não era mais evoluído que o primeiro Adão e nós não somos mais

evoluídos que o segundo Adão. Por isso, se a evolução humana for considerada verdadeira,

não há doutrina da substituição expiatória por nossos pecados e Jesus ressurreto não pode ser

nosso substituto na ressurreição.

A ressurreição física do Filho do Homem, o segundo Adão, é diferente da teoria da

evolução do super-homem do século XXI. A expressão máxima da humanidade é o Filho do

Homem que ressuscitou. Leia Hebreus 2.

As marcas no corpo do Filho do Homem são parte do “caso moral” que Deus o Pai,

tem contra nós que será manifestado no dia do juízo. A ressurreição do Filho do Homem e de

todos os homens implica que todos os homens devem dar conta ao Filho do Homem do que

fizeram nessa vida. A justiça de Deus vai ser cumprida. Não há escape.

Nossa única resposta adequada ante a morte do Filho do Homem é humilharmo-nos e

pedir perdão ao Pai por haver sido parte da necessidade de crucificar o Filho do Homem por

causa de nossos pecados. Talvez você pense que, por não está na multidão que gritava

pedindo o sangue a vida de Cristo, seja inocente. Engano. Cada vez que pecamos, como seres

humanos, estamos ofendendo ao Filho do Homem que vive para sempre.

As marcas são uma evidência de nossa depravação total. As marcas da crucificação

no corpo de Cristo nos fazem lembrar quem somos. Somos tão maus que somos capazes de

matar ao Filho do Homem. Isso deve nos ajudar a não nos exaltarmos, mas deve nos humilhar

completamente e nos fazer clamar pela misericórdia e graça de Deus.

A ressurreição do corpo de Cristo dá esperança aos pobres. Os pobres são os que

tem necessidades. São enfermos, cegos, encarcerados, oprimidos, quebrantados de coração.

Seus sofrimentos são causados pelas conseqüências do pecado no mundo. Os pobres que são

de Deus vão buscar seu socorro com Deus. Lucas 7.20-23 mostra os primeiros frutos da

chegada do Reino de Deus entre os pobres. Um dia, quando os pobres de Deus forem

ressuscitados, sua restauração será completa.

128

A ressurreição vai trazer justiça aos pobres. Os que oprimiram e perseguiram os

justos vão ser julgados quando os justos e injustos forem ressuscitados. O Filho do Homem

vai julgar a todos os filhos do homem.

5. A CONTINUAÇÃO (24.50-53)

Lucas narra que o Filho do Homem subiu fisicamente ao céu. Isso tem muitas

implicações.

O fato de o Filho do Homem subir fisicamente ao céu para reinar à destra do Pai

significa que ele não é um espírito que vai aparecer aqui e ali e vir muitas vezes ao mundo.

Sendo que a ascensão é física e o Filho do Homem só pode estar em um lugar por vez, seu

reinado é estendido espiritualmente à igreja por seu Espírito Santo e pela Palavra de Deus,

Sua volta física é única.

Em Atos, Lucas narra de novo como foi a ascensão e o que aconteceu depois. Deus, o

Pai, e o Filho enviaram o Espírito Santo no dia de Pentecostes. Aqui se nota a continuação do

ministério de Jesus, que agora vai reinar por sua igreja a partir da sede principal do universo.

Qual é a sede principal? Jerusalém? O Vaticano? Genebra? Orlando? Cristo no céu é a

sede principal e a igreja fiel é a agência principal para a continuação dos ministérios e da

missão do Filho do Homem.

Ele está reinando espiritualmente pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus usando a

igreja como sua agência principal.

CONCLUSÃO

A conclusão do Evangelho segundo Lucas é semelhante às conclusões de Marcos,

Mateus e João. Há um testemunho da ressurreição história de Jesus e um testemunho da

Grande Comissão. O que é peculiar em Lucas é a menção dos “leigos”, os dois discípulos a

caminho de Emaús e o relato extenso do encontro de Jesus com os discípulos que haviam

regressado a seu trabalho. O Filho do Homem ressuscitou (24.7), sua ressurreição é histórica

(v. 39) e agora a história da redenação vai continuar com a ascensão (v. 51) e com o futuro

Dia de Pentecostes.

129

PERGUNTAS PARA A LIÇÃO OITO

1. Quais são os imperativos na Grande Comissão ao final de Cada Evangelho?

2. Como estão relacionados os dois imperativos em Lucas 24.39?

3. Que relação há entre o tema do Filho do Homem com a Grande Comissão segundo

Lucas?

4. Porque se alguém crer só na ressurreição espiritual de Jesus, está negando a

ressurreição?

5. Que conseqüências teria para a nação de Israel, no primeiro século, a rejeição de

Jesus Cristo? Onde o Senhor profetizou isso?

6. De que maneira a ressurreição de Jesus afirma que Ele foi historicamente

crucificado?

7. Por que a testemunha ocular é importante para se crer na ressurreição de Jesus?

8. De que maneira se ver o múltiplo testemunho da ressurreição de Jesus?

9. Por que Deus, tem um “caso moral” contra a humanidade?

10. Você tem alguma pergunta quando à Grande Comissão segundo o Evangelho de

Lucas?

130

BIBLIOGRAFÍA

Juan Calvino, Harmony, Vol. 111, cehel.

Comentario Siglo XXI. e-sword

Estrada, Comentario Bíblico Mundo Hispano.

Carlos R. Erdman, El Evangelio de Lucas. Grand Rapids, Libros Desafíos.

Fifty Years in the Church of Rome, Nueva York, Toronto, 1886.

John Gill. Cometario. e-sword

Guillermo Hendriksen. Comentario al Nuevo Testamento. Exposición del Evangelio

según San Lucas. Grand Rapids: Libros Desafío, 2002.

Roberto Jamieson, Comentario exegético y explicativo de la Biblia, Tomo II NT,

Jamieson-Fausset-Brown, Comentario del NT, e-sword

Josefo, Antigüedades XIII, XVIII.

Josefo, Guerra Judaica.

Matthew Henry. Comentario, “Lucas.” e-sword

G.J. Wenham, J.A. Motyer, D.A. Carson, R.T. France. Nuevo Comentario Bíblico

Siglo Veintiuno. Nuevo Testamento. El Paso: Editorial Mundo Hispano, 2003.

René Zapata. Comentario Bíblico del Nuevo Continente. “San Lucas.” Miami:

UNILIT, 1986.

www.britannic.com

131

FOLHA DE ESTUDO BÍBLICO147

Texto: Título:

MÉTODO TEOLÓGICO

Relação do texto com Deus o Pai. Relação do texto com Deus, o Filho. Relação do

texto com Deus, o Espírito Santo. Identificação de ídolos.

MÉTODO CRÍTICO

Identificação dos manuscritos usados

Compreensão das diferenças que há entre os manuscritos

Versão Bíblica

Idioma do texto

Idioma usado na interpretação

MÉTODO INDUTIVO

(Textos de referência)

(Explicações de dados importantes)

Palavras importantes:

Anotações gramaticais:

Comparação de traduções:

Gênero literário:

Autor e ouvintes originais:

Contexto cultural:

Contexto histórico:

Contexto bíblico:

Título e Tema da passagem:

MÉTODO EXPOSITIVO147 O formato desta folha de trabalho é uma adaptação da Folha de Trabalho de uma Passagem Bíblica do curso do dr. Neal Hegeman: Introdução ao Estudo Bíblico, Miami: MINTS, 2009.

132

(observações sobre cada versículo)

MÉTODO LITERÁRIO

(formular uma estrutura temática da passagem)

Identificar o gênero da passagem e texto.

Identificar o tema do livro e sub-tema da passagem onde está inserido.

MÉTODO ANALÍTICO

Verdade(s) Mentira(s) Evangelho Idolatria

MÉTODO DOUTRINÁRIO

Sua igreja tem uma interpretação quando ao texto que estamos considerando? Onde

está escrito?

MÉTODO PESSOAL

Que importância tem seu estudo da Bíblia com sua relação com Deus?

Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com outros?

Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com você mesmo?

Que importância tem seu estudo do texto bíblico com sua relação com os pobres?

Qual é seu costume de ler a Bíblia?

Qual é seu hábito para recordar o que a Bíblia diz?

MÉTODO CONTEXTUALIZADO

133

Qual é a condição social do intérprete ou ouvinte? Estão em que condição? Há

pobreza?

MÉTODO DEVOCIONAL

Oração e Ação

Louvor:

Confissão de pecado:

Petições especiais:

Ação de graças:

MÉTODO DO CÍRCULO HERMENÊUTICO

1. O que o texto diz sobre Deus?

2. O que diz o texto acerca da revelação de Deus?

3. Que relação tem o texto com o resto da Bíblia?

4. Como o Evangelho é comunicado (Cristo)?

5. O que o texto diz sobre o coração de Deus, o coração humano, o coração do

ouvinte?

6. Que relação tem o texto com o contexto do autor humano, o contexto dos

ouvintes ou leitores originais e o contexto do ouvinte agora?

7. Como este texto traz glória a Deus?

REGISTRO DE CLASSE

134

FREQUENCIA TAREFAS LEITURA DE

COMENTÁRIOS

ESCREVER

UM

TRABALHO

PROVA

FINAL

NOTA

FINAL

15% 25% 25% 25% 10% 100%

Um ponto para

cada hora e um

ponto extra para

cada hora de

aula com o

grupo.

Responder

ás perguntas

ao final de

cada lição.

São 3

pontos para

cada lição e

se todas são

respondidas

a tempo, um

ponto a

mais de

bônus.

No nível de

Bacharelado 300

páginas e no

Mestrado 600

páginas.

No trabalho de

mestrado o aluno

deve citar ao

menos seis

comentários em

seu trabalho e no

de bacharel três.

A prova

deverá

constar de

perguntas

que foram

respondidas

na lição.

135