Chabloz em cartaz - PATRÍCIA LAURETTI

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  • 7/23/2019 Chabloz em cartaz - PATRCIA LAURETTI

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    Campinas, 15 a 21 de outubro de 201212

    Publicao

    Dissertao: Rumo Amaznia, terrada fartura: Jean-Pierre Chabloz e os carta-zes concebidos para o SEMTA.

    Autora: Ana Carolina Albuquerque deMoraes

    Orientao: Maria de Ftima MorethyCouto

    Unidade: Instituto de Artes (IA)

    PATRCIA LAURETTI

    [email protected]

    artista suo Jean-Pierre Cha-bloz j estava morando noBrasil quando recebeu o con-vite para atuar como dese-nhista publicitrio no Servio

    Especial de Mobilizao de Trabalha-dores para a Amaznia (Se-mta), rgo estatal do go-verno Getlio Vargas. Entrejaneiro e julho de 1943, eledesenvolveu vasto materialde propaganda, cujo obje-tivo imediato parecia serarregimentar nordestinospara trabalhar na reativaodos seringais amaznicos,os chamados soldadosda borracha. O programa

    empreendido pelo EstadoNovo procurava atender necessidade poltico-eco-nmica de garantir a produ-o de borracha aos pasesaliados na Segunda GuerraMundial, uma vez que osjaponeses controlavam aquase totalidade dos serin-gais asiticos.

    A dissertao Rumo Amaznia, terra da fartura:Jean-Pierre Chabloz e oscartazes concebidos parao Semta, de Ana CarolinaAlbuquerque de Moraes,restaura parte da histriado perodo com o objetivode analisar, como docu-mentos visuais, quatro car-

    tazes que o artista produziupara a Campanha da Bor-racha. A anlise do mate-rial de propaganda criadopor Chabloz extrapola oscampos das artes visuais eda publicidade/propagan-da, para englobar tambmquestes de histria sociale de histria econmica. Alm dovalor esttico, os cartazes constituemdocumentos visuais bastante repre-sentativos da ideologia dominanteem um perodo significativo tanto dahistria do Brasil como da histria

    mundial, avalia.

    Em relao Campanha, no sa migrao no foidesenvolvida com

    idoneidade comoa produo de bor-racha tambm nofoi satisfatria. OsEstados Unidosforam perdendointeresse pelo pro-grama e deixandode injetar dinhei-ro, o que pioravaas condies dosmigrantes e deseus dependentesdiretos, assistidos

    pelo Semta com verba-norte-ameri-cana. Em 1946, com o final da Guer-ra, foi instaurada a CPI da Borracha.

    Para desenvolver o estudo, AnaCarolina mergulhou na documenta-o do arquivo Jean-Pierre Chabloz

    no Museu de Arte da UniversidadeFederal do Cear (MAUC), espe-cialmente em dois dirios de servi-

    Chabloz

    Chabloz em cartaz

    Obra feita por Chabloz em 1943, ano de sua chegada ao Cear,e que figurou na primeira exposio individual do artista no Estado

    Ana Carolina Albuquerque deMoraes, autora da dissertao:analisando os cartazes,a trajetria do artistae o contexto histrico

    o do perodo do Semta e correspondncias.Tambm realizou entrevistas com a filha doartista, Ana Maria Chabloz Scherer, e o diretordo MAUC, Pedro Eymar Barbosa Costa. A dis-sertao apresenta trs frentes de discusso: oartista, o contexto histrico e os cartazes.

    Chabloz estudou na Escola de Belas-Artesde Genebra (1929-33), na Academia de Belas-Artes de Florena (1933-36) e na AcademiaReal de Belas-Artes de Milo (1936-38). Em1940, por causa da Segunda Guerra Mundial,

    veio para o Brasil, aportando primeiramenteno Rio de Janeiro. No Cear, a partir de 1943,realizou atividades como artista plstico, m-sico, professor, conferencista, crtico de arte efomentador cultural.

    A pesquisadora ressalta a persistncia doartista ao se deparar com a incipiente vida cul-tural da Fortaleza da dcada de 1940. Ele or-ganizou exposies, foi professor tanto de de-senho como de violino, colunista do jornal O

    Estado, conferencista, alm de alavancar outrascarreiras. O papel de fomentador cultural dividido com o grupo de artistas com os quaiso suo passou a atuar, como, por exemplo,Mrio Baratta, Joo Maria Siqueira, AntonioBandeira, Aldemir Martins e Barboza Leite.

    Por quatro perodos na cidade, entre adcada de 1940 e os anos de 1980, quandomorreu, Chabloz deixou sua herana. A pon-to de influenciar integrantes das novas gera-

    es, como a pesquisadora da Unicamp, quedesde criana ouvia falar no artista. Seu tra-balho acadmico o primeiro a analisar, em

    profundidade, a atuao de Chabloz comodesenhista publicitrio da Campanha daBorracha. O trabalho tambm documentaas relevantes iniciativas do suo em prol dasartes no Cear.

    QUATROPEASMais borracha para a vitria; Vai tam-

    bm para a Amaznia, protegido pelo Se-mta; Vida nova na Amaznia; e Rumo

    Amaznia, terra da fartura so, na opinioda pesquisadora, os mais ambiciosos proje-tos que Chabloz desenvolveu no rgo. Oslayouts dos cartazes eram enviados para oRio de Janeiro, ento capital do pas, paraimpresso por meio da litografia. Os lit-grafos copiavam a mo os desenhos para ela-borar as matrizes e, posteriormente, faziama impresso em papel, o que influenciava oresultado final e envolvia uma questo deautoria, explica Ana Carolina.

    Nos documentos pesquisados por ela,consta que Chabloz no ficou satisfeito coma impresso dos dois primeiros cartazes. Eleestava preocupado em criar volumes, pormeio de jogos sutis de luz e sombra. Ao sedeparar com as verses finalizadas dessasimagens, no entanto, considerou que resulta-ram planas, lisas, sem vibrao colorida. Oartista desejava que os seus cartazes fossem

    reproduzidos mecanicamente, por processofotolitogrfico.

    A pesquisadora comparou a esttica dos

    Fotos: Reproduo / Divulgao

    Na sequncia, trs dos cartazes concebidospor Chabloz para o Semta e a capado primeiro brevirio criado pelo artistapara ser distribudo a potenciais migrantes

    quatro cartazes com 24 layouts doacervo pesquisado, relacionados,sobretudo, ao perodo de formaode Chabloz na Europa, entre as d-cadas de 1920 e 1930. De modogeral, percebi nos layouts europeusuma maior preocupao com a ex-perimentao formal. O artista esta-va em sintonia com tendncias en-to em voga na Europa. Ele flertoucom a vertente de art dcoreinante

    nas artes grficas francesas da po-ca. Naquele perodo, Chabloz davamuito valor simplificao das for-mas, aplicao de cores no interiorde zonas claramente definidas e tendncia bidimensionalidade dosmotivos.

    Quando vem para o Brasil, Cha-bloz adota uma abordagem diferen-te, mais convencional e didtica,tornando-se mais tradicional naabordagem tanto dos motivos quan-to das letras. Ele se preocupa coma obteno de volume nas formas,com os contrastes de luz e sombra,com a plasticidade dos motivos,distanciando-se das pesquisas decarter mais nitidamente formalistapara adentrar uma abordagem maisvoltada ao pronto reconhecimento

    dos motivos e rpida assimilaoda cena representada.

    Para a pesquisadora, uma hipte-se para esta mudana seria a propos-ta de atingir melhor a populao deFortaleza na dcada de 1940, poucoconectada com as experimentaes

    formais de correntes ento consideradas mo-dernas. Outra possibilidade de investigaoconsiste em avaliar o quanto o artista dialo-gou, ainda na Europa, com o contexto do re-torno ordem.

    A dissertao de Ana Carolina o primei-ro trabalho acadmico especificamente dire-cionado compreenso de aspectos da arte deChabloz, tendo sido concluda no momentoem que o nome do artista tem sido bastan-te valorizado. Houve, em 2010 e 2012, duasimportantes exposies de documentos per-tencentes ao arquivo de Chabloz no MAUC,

    acervo que, a partir deste ano, est sendodigitalizado, afirma. A recuperao da his-tria dos cartazes do Semta tambm umareflexo sobre a ideologia dominante do Es-tado Novo. Penso ter conseguido comear aconstruir uma histria de Chabloz como car-tazista, e, dentre o material que ele produziu,talvez os cartazes da Campanha da Borrachasejam aqueles envolvidos em um contextohistrico mais significativo.