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Universidade Federal Fluminense
Escola de Engenharia
Curso de Graduacao em Engenharia de
Telecomunicacoes
Charles de Jesus Costa Pereira
Maria Carolina Vilar Lessa
Estudo da refletividade de ondas eletromagneticas na
presenca de areia
Niteroi – RJ
2019
i
Charles de Jesus Costa Pereira
Maria Carolina Vilar Lessa
Estudo da refletividade de ondas eletromagneticas na presenca de areia
Trabalho de Conclusao de Curso apresentado ao
Curso de Graduacao em Engenharia de Teleco-
municacoes da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para obtencao do Grau de
Engenheiro de Telecomunicacoes.
Orientador: Prof. Dr. Tadeu Nagashima Ferreira
Niteroi – RJ
2019
ii
iii
Charles de Jesus Costa Pereira
Maria Carolina Vilar Lessa
Estudo da refletividade de ondas eletromagneticas na presenca de areia
Trabalho de Conclusao de Curso apresentado ao
Curso de Graduacao em Engenharia de Teleco-
municacoes da Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para obtencao do Grau de
Engenheiro de Telecomunicacoes.
Aprovada em 12 de Dezembro de 2019.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Tadeu Nagashima Ferreira - Orientador
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof. Dr. Pedro Vladimir Gonzalez Castellanos - Coorientador
Universidade Federal Fluminense - UFF
Profa. Dra. Leni Joaquim de Matos
Universidade Federal Fluminense - UFF
Profa. Dra. Vanessa Przybylski Ribeiro Magri Souza
Universidade Federal Fluminense - UFF
Niteroi – RJ
2019
iv
Resumo
A evolucao das tecnologias de comunicacao sem fio ao longo dos anos significou
uma mudanca de paradigmas para toda a sociedade. Com ela, surgiram novos habitos e
novas formas do ser humano lidar com o mundo que o cerca, e todas essas mudancas tor-
naram necessaria a expansao das redes de transmissao para locais onde antes nao existia
a necessidade de cobertura. Devido a isso, tornou-se cada vez mais necessario o estudo
do comportamento de ondas eletromagneticas em diferentes ambientes. Este trabalho
final de curso aborda o estudo do comportamento da refletividade de ondas eletromag-
neticas na presenca de um ambiente com areia para diferentes faixas de frequencia, alem
de discutir sobre alguns efeitos provenientes da teoria de propagacao ja consolidada. O
objetivo deste projeto e demonstrar, atraves de experimentos realizados em ambiente in-
door, o comportamento absorvedor da areia quando se encontram sinais provenientes de
transmissoes de radiocomunicacao expostos a ela. Este material torna-se, entao, respon-
savel por atenuar parte do sinal refletido, reduzindo os efeitos de multipercurso. Para
os experimentos realizados em ambiente fechado, sao utilizados dois sinais na faixa de
gigahertz, com frequencias de 1,5 GHz e 3,5 GHz, com o intuito de observar o comporta-
mento para diferentes faixas de frequencia quando expostas ao mesmo tipo de ambiente
composto por areia, em diferentes distancias entre a transmissao e a recepcao do sinal. A
analise dos resultados obtidos sintetiza a teoria abordada e a relaciona com os dados pro-
venientes das medicoes no cenario de teste, formando assim a compreensao deste trabalho.
Palavras-chave: Reflexao. Propagacao. Refletividade na areia. Atenuacao. Espalha-
mento.
v
Abstract
The evolution of wireless communication technologies over the years has meant a
paradigm shift for the entire society. With it, new habits came and new ways for humans
to deal with the world around them, and all these changes made it necessary to expand
transmission networks to places where there was no need for coverage before. Due to
this, it became increasingly necessary to study the behavior of electromagnetic waves in
different environments. This final course work discusses the behavior of the reflectivity
of electromagnetic waves in the presence of a sand environment for different frequency
ranges, and also discusses some effects from the already established propagation theory.
The aim of this project is to demonstrate, through experiments performed in the indoor
environment, the sand absorbing behavior when signals coming from radio communicati-
ons exposed to it are found. This material then becomes responsible for attenuating part
of the reflected signal, reducing the multipath effects. For experiments performed indoors,
two signals are used in the gigahertz band, with frequencies of 1.5 GHz and 3.5 GHz, in
order to observe the behavior for different frequency bands when exposed to the same
type of sand environment, at different distances between the transmission and reception
of the signal. The analysis of the results obtained synthesizes the theory and relates it to
the data from the measurements in the test scenario, thus forming the understanding of
this work.
Keywords: Reflection. Propagation. Reflectivity in the sand. Attenuation. Scattering.
vi
Agradecimentos
Esta parte do trabalho, mesmo nao tendo nenhum valor para a nota final, e sem
duvidas uma das partes mais importantes, pois e aqui que temos a honra e a oportunidade,
mesmo que por um breve momento, de agradecer um pouco a todos que, de diversas formas
diferentes, nos forneceram apoio e suporte ao longo de toda essa trajetoria.
Primeiro, eu gostaria de agradecer ao meus pais por todo apoio e por sempre acre-
ditarem em mim. Gostaria de agradecer ao meu pai por sempre abracar todas as minhas
ideias de estudar e nunca em nenhum momento cogitar desistir devido as dificuldades e
barreiras que apareceram. Gostaria de agradecer a minha mae por sempre brigar comigo
pra ir estudar para as provas, por sempre abaixar o volume da TV, sorrateiramente, para
que eu nao percebesse, quando via que eu estava estudando e por sempre me acordar de
manha dizendo que eu ia me atrasar pra escola.
Gostaria de agradecer tambem a todos os professores e mestres, ao longo de toda
minha vida academica, que tive a honra de conhecer e o privilegio de poder aprender um
pouco de sua sabedoria. Agradeco a cada um deles por ser parte importante em cada
parcela que ajudou a construir e alcancar quem sou hoje.
Agradeco a UFF por todas as oportunidades que me deu, por todas as amizades
que fiz e por todas as experiencias que me proporcionou.
Gostaria de agradecer tambem a Carol que me aturou por todos esses anos e que
topou embarcar nessa ideia maluca de fazer esse ultimo trabalho comigo.
Por fim, gostaria de agradecer profundamente ao professor Tadeu por toda paci-
encia e suporte que nos deu em ao longo de todo trabalho e que mesmo passando por um
momento delicado, jamais nos ignorou ou deixou de nos ajudar. Professor, gostaria que o
senhor soubesse que isso jamais sera esquecido.
Charles de Jesus Costa Pereira.
vii
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos meus pais por todo apoio moral
e financeiro concedidos a mim durante esse tempo de graduacao. Todas as caronas e
lanchinhos no meio dos estudos foram essenciais para me fazer seguir em frente. Eles
sempre me ensinaram sobre a importancia dos estudos, entao todo meu compromisso e
persistencia provem de seus ensinamentos.
Aos amigos da faculdade que trilharam esse longo e sinuoso caminho ao meu lado,
meu muito obrigada, tambem. Obrigada por todas as risadas, todas as infinitas horas de
estudo, os trabalhos em grupo e os desesperos pre-prova. Obrigada, tambem, por sempre
me acalmarem e dizer que vai dar tudo certo. Tenho muita sorte de ter conhecido tanta
gente bacana e competente nesses ultimos anos, torco muito por todos voces. Aqui vai um
agradecimento especial ao meu parceiro de TCC, que tambem e meu amigo desde 2014
e me ajudou muito a chegar aonde chegamos, mesmo as vezes me dando alguns motivos
para ”querer mata-lo”.
A UFF que, alem dos estudos em sala de aula, me proporcionou a oportunidade de
participar de projetos incrıveis, os quais sempre levarei no coracao, alem das experiencias
adquiridas.
Ao meu namorado, o homem mais carinhoso, respeitador e incentivador que ja
conheci. Obrigada por ser meu fa numero um.
Por fim, agradeco tambem aos professores do Departamento de Tele que sempre
deram seu melhor para nos passar seus ensinamentos, em especial nosso orientador, Ta-
deu, sempre atencioso, compromissado e gentil conosco.
Maria Carolina Vilar Lessa.
viii
Lista de Figuras
2.1 Exemplo de Desvanecimento em pequena e larga escala. . . . . . . . . . . . 7
2.2 Exemplo de raio refletido e raio refratado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 (a) Onda refletida com campo eletrico paralelo ao plano de incidencia e (b)
Onda refletida com campo eletrico perpendicular ao plano de incidencia. . 11
2.4 Modelo de dois raios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 Espalhamento de um sinal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.6 Camara anecoica Compact Payload Test Range utilizada para teste de efi-
ciencia e comportamento de antenas e satelites, localizada em Noordwijk,
na Holanda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1 Ilustracao dos cenarios presentes no experimento. . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Gerador de sinais MG3700A da Anritsu utilizado no experimento . . . . . 24
3.3 Analisador de espectro MS2034A da Anritsu utilizado no experimento . . . 24
3.4 Antena omnidirecional Celta utilizada no experimento (frequencia de 1,5
GHz) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.5 Antena diretiva impressa utilizada no experimento (frequencia de 3,5 GHz) 25
3.6 Representacao esquematica do experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.7 Ambiente real do experimento para a frequencia de 1,5 GHz . . . . . . . . 27
3.8 Ambiente real do experimento para a frequencia de 3,5 GHz . . . . . . . . 27
4.1 Grafico relativo aos dados encontrados na frequencia de 1,5 GHz . . . . . . 30
4.2 Grafico relativo aos dados encontrados na frequencia de 3,5 GHz . . . . . . 32
4.3 Grafico de comparacao do sinal recebido na presenca da areia para as dife-
rentes frequencias (cenario 3) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Sumario
Resumo iv
Abstract v
Agradecimentos vi
Lista de Figuras viii
1 Introducao 1
1.1 Motivacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Resumo dos Capıtulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2 Conceitos Basicos de Propagacao 5
2.1 Perda de Percurso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Reflexao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.1 Coeficiente de Reflexao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.2 Modelo de reflexao no solo (Modelo de dois raios) . . . . . . . . . . 12
2.3 Espalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Camara Anecoica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3 Experimento 20
3.1 Equipamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.2 Ambiente de Teste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
4 Resultados e Analise 28
4.1 Frequencia de 1,5 GHz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.2 Frequencia de 3,5 GHz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
ix
x
4.3 Analise referente as frequencias de 1,5 GHz e 3,5 GHz somente no cenario 3 33
5 Conclusoes 35
5.1 Trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Referencias Bibliograficas 38
Capıtulo 1
Introducao
As tecnologias que envolvem todo tipo de comunicacao a distancia estao mudando
rapidamente. E nao sao poucas as opcoes: Internet, telefone celular, teleconferencias, etc.
Com elas, e necessario que os estudos avancem na mesma velocidade destas evolucoes
tecnologicas para que seja viavel sua utilizacao da melhor forma possıvel. Assim, torna-se
plausıvel surgir o estabelecimento de novos padroes, novos desafios e novas visoes sobre o
ambiente em que as inovacoes estao inseridas.
Entender claramente o local onde esta sendo utilizada certa tecnologia e essencial
para que possamos garantir o melhor funcionamento desta. Isto inclui, dentre outras
coisas, uma analise profunda sobre os aspectos relevantes presentes naquele ambiente.
Sao estas particularidades que definem como o sistema ira se comportar e o que pode
ser feito para minimizar possıveis perdas e adversidades que possam interferir no bom
funcionamento de um projeto.
No cenario atual, e impossıvel imaginarmos a vida sem os sistemas de comunicacoes
moveis. Estamos conectados o tempo todo e em qualquer lugar, e nao ira parar por aı. A
ideia e que no futuro, alem das pessoas conectadas, estaremos habeis a conectar objetos.
Seguindo essa logica, um estudo sobre o comportamento das ondas eletromagneticas em
variadas frequencias utilizadas em diferentes tecnologias se faz extremamente necessario.
Neste projeto, medicoes sao realizadas em um ambiente indoor, com a presenca de
solo arenoso, e suas devidas observacoes sao efetuadas para que essa pesquisa possa ser
aproveitada para estudos futuros, que serao necessarios no ambito das novas tecnologias
que utilizarao frequencias em torno de alguns gigahertz.
2
1.1 Motivacao
Com a chegada da quinta geracao de telefonia movel ao mercado e com toda a
mudanca de paradigmas que ela trara, trazendo altıssimas velocidades na conexao para
dispositivos moveis e a possibilidade de suporte a um numero muito maior de dispositi-
vos conectados simultaneamente, torna-se um fator de extrema importancia a realizacao
de estudos referentes ao comportamento dos sinais propagados nessas novas frequencias
quando expostos a diferentes ambientes. As frequencias usadas serao, em sua maioria,
mais altas que as utilizadas nas geracoes anteriores, sendo algumas distribuıdas em faixas
na ordem de GHz, embora existam algumas faixas tambem na casa dos MHz. Devido
a isso, este trabalho aborda um estudo inicial sobre o comportamento das ondas eletro-
magneticas em ambientes com a presenca de superfıcies com areia, em altas frequencias,
pois locais que possuem areia, como por exemplo praias, sao bastante frequentados por
usuarios de aparelhos celulares que fazem uso desse tipo de sinal. O estudo foi realizado
abordando simulacoes em ambiente indoor e as devidas observacoes foram realizadas de
acordo com os resultados obtidos. A partir da analise dos dados coletados, serao de-
monstrados, ao longo do trabalho, diversos fatores importantes sobre o estudo de sinais
eletromagneticos e suas influencias sobre o sinal recebido, alem do comportamento desses
sinais para diferentes frequencias quando expostos a este tipo de terreno.
1.2 Objetivo
Este trabalho tem como objetivo estudar os efeitos de propagacao de sinais ele-
tromagneticos quando expostos a ambientes onde o solo e coberto por areia, ja que, com
a necessidade das pessoas de estarem conectadas o tempo todo aumentando a cada dia,
novos ambientes precisam ser estudados para que seja possıvel prever os problemas exis-
tentes e melhorar a experiencia do usuario. Este estudo tem o intuito de demonstrar a
caracterıstica desse tipo de terreno de atenuar, consideravelmente, o sinal incidente de-
vido a sua composicao e as reflexoes difusas causadas por sua superfıcie nao uniforme,
colaborando assim com perda de parte do sinal transmitido. Para isso, este trabalho foi
conduzido com a intencao de realizar uma serie de testes simulando o ambiente proposto,
expondo o material arenoso em questao a sinais que se propagaram em diferentes faixas
de frequencia, para que se tornasse possıvel a coleta do maximo de informacoes acerca de
3
seu comportamento, permitindo assim uma analise mais profunda do projeto.
1.3 Resumo dos Capıtulos
O presente trabalho foi organizado em cinco blocos com o objetivo de construir de
forma clara as ideias demonstradas atraves da apresentacao de conceitos que envolvem a
propagacao de ondas eletromagneticas. Nesta primeira parte, no capıtulo 1, sao pautados
os conceitos nos quais foram baseadas as observacoes realizadas, de acordo com os con-
textos apresentados, que tornam esse o tipo de estudo relevante e os motivos responsaveis
pela escolha desse tema em questao para o projeto de final de curso.
No capıtulo 2, e apresentada uma breve introducao teorica de diversos conceitos
de propagacao de sinais de radio, relevantes para as analises realizadas neste trabalho.
Ao longo dele, sao explicadas as definicoes dos mecanismos basicos que influenciam a
propagacao de sinais em sistemas moveis, a reflexao, a difracao e o espalhamento, alem
de uma serie de fatores importantes para a analise dos resultados obtidos, como a perda
de percurso, metodos de predicao do sinal, caracterısticas de materiais e ambientes que
apresentam comportamento semelhantes com algumas de suas particularidades.
O capıtulo 3 aborda todos os procedimentos utilizados para a realizacao do ex-
perimento, assim como todos os fatores relevantes para a realizacao do mesmo. Nele,
primeiramente, e apresentada a descricao completa dos ambientes onde foram realizadas
as medicoes. Em seguida, sao apresentados todos os equipamentos utilizados, suas ca-
racterısticas, frequencias utilizadas nas medicoes, o roteiro dos testes praticados e todos
os procedimentos realizados no processo de coleta dos dados que foram utilizados para
realizar as analises.
No capıtulo 4, e apresentada uma breve introducao dos dados obtidos e, em seguida,
sao apresentados todos os resultados encontrados separados em dois grandes blocos, onde
os dados sao apresentados em forma de tabelas para cada faixa de frequencia utilizada.
Mais adiante, sao feitas as analises dos dados coletados pontuando todas as suas caracte-
rısticas de comportamento com base nos conceitos apresentados nas sessoes anteriores.
No capıtulo 5, sao apresentadas as conclusoes a respeito do tema proposto ao longo
de todo o trabalho, corroborando todos os conceitos apresentados ao longo do mesmo,
alem de uma breve avaliacao sobre possıveis trabalhos futuros provenientes dos estudos
4
iniciados a partir deste.
Capıtulo 2
Conceitos Basicos de Propagacao
Nas proximas secoes, serao apresentados os principais conceitos para que seja pos-
sıvel realizar uma introducao teorica, ajudando na compreensao do trabalho realizado.
Dentre os assuntos escolhidos para serem abordados estao perda de percurso, reflexao,
espalhamento e camara anecoica.
2.1 Perda de Percurso
Em um caminho percorrido por uma onda eletromagnetica, principalmente quando
falamos de sistemas moveis, o cenario encontrado no dia-a-dia nao e de visada direta entre
transmissor e receptor. Pelo contrario, muitas obstrucoes sao identificadas ao longo do
percurso, fazendo com que o sinal sofra variacoes e perdas.
A perda de percurso refere-se a atenuacao sofrida pelo sinal devido a distancia
percorrida por ele. E a relacao entre as potencias recebida e transmitida, com seus devidos
ganhos e perdas de sistema. O valor altera de acordo com o ambiente por onde este
sinal transita, ja que a existencia de obstaculos quando nao considerado um modelo de
espaco livre (o que representa um caso real) tambem pode interferir na qualidade do
sinal que chega ao receptor [3]. Existem dois tipos de modelos de atenuacao, presentes
na propagacao dos sinais, que devem ser levados em consideracao para a realizacao de
medicoes da intensidade do sinal: os modelos de desvanecimento em larga escala e em
pequena escala.
No modelo em larga escala, observa-se um decaimento lento no sinal com o aumento
da distancia entre o transmissor e o receptor. Esse tipo de modelo faz com que sejam
6
previstas as variacoes no nıvel medio do sinal que percorre o caminho entre eles. O efeito
abordado esta ligado a alguns modelos de propagacao que tem como objetivo a predicao do
nıvel de sinal recebido, considerando a influencia dos mecanismos basicos da propagacao
(reflexao, difracao e espalhamento) e as devidas atenuacoes presentes nas comunicacoes
por canal de radio movel. Podemos citar o metodo de propagacao no espaco livre, que
considera a perda quando transmissor e receptor possuem linha de visada sem obstrucoes
no caminho, e os modelos de perda de caminho log-distancia e sombreamento log-normal.
Alem disso, tambem e possıvel que possa ser encontrado presente, no modelo em larga
escala, o efeito de sombreamento, pois esta relacionado as atenuacoes provenientes de
edifıcios e outras construcoes, que causam regioes de sombras eletromagneticas.
No modelo em pequena escala, sao consideradas as variacoes rapidas que podem
ocorrer no sinal recebido. Essas variacoes podem ocorrer em diferentes caracterısticas,
como amplitude, fase ou atraso em sinais que percorrem distancias relativamente peque-
nas entre o transmissor e receptor, na ordem de alguns comprimentos de onda, ou em
curtos perıodos de tempo, cerca de segundos. Essa rapidas flutuacoes na intensidade ins-
tantanea do sinal sao resultado da juncao de varias parcelas do sinal que surgem devido as
dispersoes e aos multiplos caminhos percorridos. Estas parcelas podem sofrer uma serie
de reflexoes ao longo dos diferentes caminhos e alcancar o receptor em tempos diferentes
resultando, assim, em um sinal final que e composto por diferentes componentes com
diferentes caracterısticas. Devido a natureza aleatoria desses sinais provenientes de mul-
tipercurso, suas contribuicoes podem ser construtivas ou destrutivas e afetar de formas
diferentes a composicao do sinal, considerando situacoes onde o receptor esta parado e
os obstaculos a volta se movem ou quando o receptor se move mais rapidamente que os
objetos ao seu redor. Dessa forma, o sinal pode variar bastante para distancias muito
pequenas, na magnitude de fracoes do comprimento de onda[9] [8].
A figura 2.1, a seguir, demonstra o corportamento dessas variacoes que podem
ocorrer nos sinais eletromagneticos.
7
Figura 2.1: Exemplo de Desvanecimento em pequena e larga escala.
Em termos matematicos, quando consideramos o ambiente de espaco livre (sem
obstaculos no caminho), a perda de percurso aumenta com o quadrado da distancia. Para
que isso seja compensado, faz-se uso de antenas de ganho alto. Segue abaixo, na equacao
2.1, a representacao matematica deste tipo de perda de percurso (em dB) incluindo-se os
ganhos [8]:
PL = −10log
(GtGrλ
4πd
)2
(2.1)
E possıvel, ainda, citarmos rapidamente alguns dos modelos de propagacao mais
utilizados que levam em consideracao a perda de caminho para estimar o nıvel do sinal
recebido.
• Modelo de perda de caminho log-distancia
Baseia-se em estudos de medicao onde foi constatado que a potencia do sinal di-
minui logaritmicamente com a distancia. Este modelo e utilizado para longas distancias
entre o transmissor e o receptor. A representacao da perda de caminho media e feita pela
seguinte expressao:
8
PL(dB) = PL(d0)− 10 · n · log(d
d0
)(2.2)
Sendo:
n ⇒ expoente de perda de caminho
d0 ⇒ distancia de referencia proxima (medida perto do transmissor; na zona de
campo distante)
d ⇒ distancia da separacao entre transmissor e receptor
Nesta expressao aparece um expoente n, chamado de expoente de perda de caminho,
que mede a velocidade com que a perda vai aumentando de acordo com a distancia que
vai sendo percorrida. Ele varia conforme o ambiente de propagacao do sinal, sendo que
em ambientes com mais obstrucoes, o valor de n torna-se maior. Podemos citar alguns
exemplos de ambientes de propagacao e seus respectivos valores de expoente de perda de
caminho:
Tabela 2.1: Expoente de perda de caminho em certos ambientes de propagacao
Ambiente n
Espaco livre 2
Radio celular em area urbana 2,7 a 3,5
Linha de visada do predio 1,6 a 1,8
Obstruıdo no predio 4 a 6
• Sombreamento log-normal
Este modelo surge para adicionar as condicoes de ruıdo do ambiente que por ora
nao foram consideradas no modelo de log-distancia. Este fato e muito importante dado
que os ruıdos podem ser muito diferentes independente da distancia entre o transmissor
e o receptor, ou seja, eles podem ter a mesma distancia, mas o ambiente no qual estao
inseridos influencia no resultado da medida. Pelas medicoes, e visto que a perda de
9
caminho do sinal e aleatoria e segue uma distribuicao log-normal. A teoria se traduz na
seguinte equacao:
PL(d)[dB] = PL(d) +Xσ = PL(d0)− 10 · n · log(d
d0
)+Xσ (2.3)
Onde:
Xσ ⇒ variavel aleatoria com distribuicao gaussiana de media zero com desvio pa-
drao σ, ambos em dB
O sombreamento log-normal surge da aleatoriedade que o sinal pode assumir em
areas de sombra, ocorrendo em diversos lugares medidos com seus nıveis de ruıdo diferentes
presentes na trajetoria da propagacao, sendo ela descrita pela distribuicao log-normal.
Os resultados de medidas diferentes se dao pelo fato de que cada ambiente possui um
nıvel de ruıdo diferente. Os nıveis dos sinais apresentam uma distribuicao gaussiana.
Esta distribuicao e utilizada por conta dos efeitos aleatorios do sinal provenientes do
sombreamento [9].
2.2 Reflexao
Uma onda eletromagnetica quando se propaga atraves do espaco pode sofrer uma
serie de efeitos, que podem influenciar tanto sua trajetoria quanto na intensidade do seu
sinal. Um desses fenomenos e a reflexao, parte fundamental que compoe o sinal recebido
pelo receptor, juntamente com difracao e espalhamento.
A reflexao e um fenomeno que ocorre quando uma onda incidente se choca com
um obstaculo de proporcoes maiores que o comprimento de onda (λ) da onda incidente,
gerando assim um onda refletida com um determinado angulo de reflexao. Dependendo do
tipo de material com o qual a onda incidente se choca, a componente que corresponde a
onda refletida pode apresentar mais ou menos energia, isso ocorre devido as caracterısticas
eletricas presentes nos materiais que compoem os obstaculos.
Quando a onda incidente colide com um objeto constituıdo de material dieletrico,
parte dessa onda e refletida e parte e refratada. Dessa forma, parte da energia da onda
10
incidente segue com a onda refratada, fazendo com que a energia presente na onda refletida
seja menor do que na onda original. Porem, o mesmo nao ocorre quando a onda incidente
se choca com um obstaculo constituıdo por material perfeitamente condutor. Quando
isso acontece, toda energia proveniente da onda original e transmitida de volta para a
onda refletida, uma vez que esse tipo de material deve apresentar campo eletrico nulo
em toda sua superfıcie a fim de respeitar as equacoes de Maxwell, nao permitindo assim
que nenhuma parte da onda o ultrapasse. A figura 2.2, mostrada adiante, demonstra um
exemplo das componentes de raio refletido e raio refratado de um sinal.
Figura 2.2: Exemplo de raio refletido e raio refratado.
2.2.1 Coeficiente de Reflexao
A reflexao resultante do sinal ao encontrar uma obstrucao ocorre com um angulo
que e igual ao de incidencia. O obstaculo pode ser tanto um objeto contido entre a visada
direta das antenas como a superfıcie da Terra ou a agua, por exemplo, alem de um solo
composto por diversos tipos de materias, como a areia, principal elemento do nosso estudo.
O coeficiente de reflexao mede a relacao entre as amplitudes do sinal que incide
e do sinal que e refletido, sendo entao capaz de mostrar quando um material tem boa
capacidade de refletir as ondas eletromagneticas ou nao. Quando este apresenta valor
zero para o caso de polarizacao de campo paralelo, significa que nao ha reflexao. As
equacoes abaixo traduzem de forma matematica o conceito apresentado, onde a equacao
2.4 representa o coeficiente de reflexao para o campo eletrico paralelo e a equacao 2.5
representa o coeficiente de reflexao para o campo perpendicular ao plano de incidencia,
onde o primeiro meio percorrido pelo sinal e o espaco livre.
11
Γ|| =−εrsenθi +
√ε2r − cos2θi
εrsenθi +√ε2r − cos2θi
(2.4)
Γ⊥ =senθi −
√εr − cos2θi
senθi +√εr − cos2θi
(2.5)
A figura 2.3 a seguir ilustra a reflexao da onda eletromagnetica quando esta incide
com campo eletrico paralelo ou com campo eletrico perpendicular ao plano de incidencia,
como mencionado acima.
Figura 2.3: (a) Onda refletida com campo eletrico paralelo ao plano de incidencia e (b)
Onda refletida com campo eletrico perpendicular ao plano de incidencia.
Segundo a definicao de coeficiente de reflexao, e possıvel a partir de seu calculo es-
timar a refletividade de determinados materiais, ou seja, ambientes onde a reflexao e mais
provavel de ocorrer. Vemos na tabela 2.2 os valores de Permissividade e Condutividade
de alguns materiais selecionados para efeito de comparacao os entre diferentes elementos
existentes. De posse desses dados, torna-se possıvel, entao, a utilizacao das equacoes 2.4
e 2.5 apresentadas.
12
Tabela 2.2: Valores de permissividade e condutividade do concreto, madeira e barro
arenoso.
Material Permissividade (εr) Condutividade (σ)
Concreto 5,31 9, 0× 10−2 S/m
Madeira 1,99 1, 8× 10−2 S/m
Barro nu, seco e arenoso 2 3× 10−2 S/m
2.2.2 Modelo de reflexao no solo (Modelo de dois raios)
Com o avanco das tecnologias de telecomunicacao ao longo do tempo, o mundo
se tornou cada vez mais conectado. Tanto locais densamente povoados, como grandes
cidades, quanto ambientes mais rurais, como pequenos povoados ou fazendas, tornaram-
se zonas de cobertura e passaram a usufruir desse tipo de tecnologia. Dessa forma, os
sistemas de telecomunicacoes passaram a cobrir uma serie de ambientes, cada um com suas
proprias caracterısticas e peculiaridades. Para isso, se fez necessaria a criacao de diversos
modelos que pudessem representar o comportamento dos sinais de radiocomunicacao, com
o objetivo de criarem sistemas cada vez mais eficientes. Assim, surgiram varios modelos
de predicao e um desses modelos foi o modelo de dois raios [9]
Em sistemas de transmissao de sinal de radio, existem diversas formas do sinal
transmitido por uma estacao base alcancar o receptor, a estacao movel, e a transmissao
atraves de visada direta dificilmente e a unica forma possıvel para que isso aconteca. O
modelo de dois raios leva isso em consideracao e, para a composicao do sinal recebido,
ele considera, tambem, uma componente refletida no solo, de forma que essa componente
tambem influencia no sinal final recebido pela estacao movel.
O modelo de dois raios foi considerado um modelo razoavel para prever a intensi-
dade do sinal que chega no receptor em ambientes onde nao haja obstaculos laterais que
possam causar outros sinais provenientes de multipercurso e/ou locais onde o sinal pro-
veniente da reflexao no solo e o mais relevante. Ele faz uso da optica geometrica entre os
raios de visada direta e o de reflexao no solo entre o transmissor e o receptor para construir
o calculo do sinal resultante e pode ser aplicado tanto em ambientes em que ambos estao
separados por alguns quilometros e o transmissor esta localizado em torres altas, quanto
em ambientes urbanos em zonas onde o transmissor e o receptor nao estao tao distantes.
13
Como nesses tipos de propagacao a distancia entre transmissor e receptor nao e grande o
suficiente para que seja necessario considerar a curvatura da terra, o ambiente pode ser
considerado de terra plana e o modelo se torna aplicavel.
Na Figura 2.4, esta ilustrado o modelo basico que representa a optica geometrica
utilizada pelo modelo de dois raios. Nele esta presente o raio de visada direta onde esta
presente a componente do campo eletrico da visada direta ELOS e o raio refletido no solo
que carrega a componente de campo eletrico Eg que somados formam o campo eletrico
total presente no sinal recebido ETOT . Alem disso, ht representa a altura do transmissor,
hr a altura do receptor e d a distancia entre o transmissor e o receptor [9].
Figura 2.4: Modelo de dois raios.
Considerando uma distancia de referencia d0 do transmissor e E0 como o campo
eletrico no espaco livre para essa distancia em V/m, e possıvel demonstrar a expressao de
ETOT em funcao dos dois raios considerados pelo modelo, onde cada um deles percorre
caminhos diferentes ate alcancar o receptor. A onda de visada direta que atinge o receptor
percorre uma distancia d′
e pode ser expressa atraves da equacao 2.6 [9]:
ELOS(d′, t) =
E0d0d ′ cos
(ωc
(t− d
′
c
))(2.6)
Onde:
ωc ⇒ Frequencia portadora
c ⇒ Velocidade da luz
14
Ja o campo Eg, correspondente ao raio refletido no solo, percorre uma distancia
um pouco maior do que o raio de visada direta, definida como d′′, e pode ser demonstrada
atraves da equacao 2.6 [9]:
ELOS(d′′, t) = Γ
E0d0d ′′ cos
(ωc
(t− d
′′
c
))(2.7)
Sendo Γ o coeficiente de reflexao no solo e respeitando as regras da reflexao em
dieletricos que diz que o angulo de reflexao e igual ao angulo de incidencia, podemos definir
que o campo eletrico Eg pode ser representado em funcao do campo eletrico incidente, de
tal forma que o mesmo pode ser definido como na equacao 2.8:
Eg = ΓEi (2.8)
Dessa forma, o campo eletrico total que chega no receptor, que e formado pela
soma vetorial dos dois campos presentes, tanto no raio de visada direta quanto no raio
refletido, pode ser descrito como na equacao 2.9:
Et = (1 + Γ)Ei (2.9)
2.3 Espalhamento
E importante analisar o comportamento das ondas eletromagneticas quando existe
a presenca de objetos pelo percurso que podem afetar a propagacao do sinal transmitido
devido a ocorrencia de diversos fenomenos. Um dos fenomenos que podem ocorrer neste
tipo de situacao e o espalhamento do sinal. Este e um fenomeno bastante comum quando
se considera a propagacao de sinais em ambientes com a presenca de muitos obstaculos,
como ambientes urbanos ou regioes com a presenca de vegetacao muito densa.
O fenomeno do espalhamento ocorre quando os obstaculos existentes possuem um
tamanho muito menor que o comprimento de onda do sinal que esta sendo propagado.
Quando o numero destas pequenas obstrucoes e muito grande, como ocorre na presenca de
superfıcies asperas, o sinal pode sofrer um efeito significativo de dispersao, causado pelo
espalhamento. Quando as ondas eletromagneticas se chocam em objetos como arvores e
15
postes, por exemplo, sua energia e dispersada. Devido a esse fenomeno, o sinal chega ao
receptor com energia adicional, alem do que se e previsto por modelos que consideram
somente a reflexao e difracao. Essa energia adicional e proveniente dessas outras com-
ponentes resultantes da ocorrencia do espalhamento. A figura 2.5 representa o efeito do
espalhamento em um sinal eletromagnetico.
Figura 2.5: Espalhamento de um sinal.
A dispersao da onda eletromagnetica causada pelo espalhamento e muito comum
em quase todos os contextos onde se analisa a propagacao atraves de ondas de radio.
Isso porque toda superfıcie consideravelmente maior que o comprimento de onda pode
ser considerada uma superfıcie refletora e, quando essa superfıcie apresenta diversas ir-
regularidades em sua forma, ela pode ser considerada aspera e uma potencial causadora
do espalhamento. Para determinar a aspereza de uma superfıcie e utilizado o criterio de
Rayleigh demonstrado na equacao apresentada a seguir. Ele calcula a altura crıtica das
protuberancias de uma superfıcie para um angulo de incidencia. Essa altura pode ser
calculada conforme a equacao 2.10 [9]:
hc =λ
8senθi(2.10)
Utilizando o criterio de Rayleigh e considerando a altura das irregularidades presen-
tes na superfıcie refletora, pode-se determinar se ela pode ser considerada uma superfıcie
lisa ou aspera. Isso pode ser feito calculando a diferenca de altura entre as protuberancias
maxima e mınima de uma superfıcie. Caso a diferenca seja menor que hc, a superfıcie pode
ser considerada lisa, e caso a diferenca seja maior que hc, a superfıcie pode ser considerada
aspera. Para superfıcies asperas, o coeficiente de reflexao e modificado para considerar
16
a diminuicao do campo refletido. Esse coeficiente de reflexao para superfıcies asperas
e obtido multiplicando-se o coeficiente de reflexao no plano por uma fator de perda de
dispersao, onde o fator de perda de dispersao pode ser definido atraves da equacao 2.11
[9].
ρS = exp
[−8
(πσhsenθi
λ
)2]I0
[8
(πσhsenθi
λ
)2]
(2.11)
Sendo que I0 representa a funcao de Bessel de ordem zero e primeiro tipo e σh
e o desvio padrao da altura das protuberancias da superfıcie em relacao a altura media
da superfıcie. Assim, o coeficiente de reflexao para superfıcies asperas pode ser definido
como na equacao 2.12 [9]:
Γsuperficies asperas = ρs Γ (2.12)
A analise do espalhamento e feita introduzindo-se o “campo disperso” ao campo
total. Suas componentes, representadas por ES, HS, sao somadas as componentes do
campo incidente Ei, Hi, que representa o campo sem os obstaculos de dispersao resultando,
assim, nas componentes do campo total das equacoes 2.13 e 2.14 [1]:
Et = Ei + ES (2.13)
Ht = Hi +HS (2.14)
Como citado anteriormente, a presenca de obstaculos pode ser responsavel por cau-
sar o efeito de espalhamento do sinal e esses obstaculos podem ser constituıdos de diversos
materiais diferentes, cada um deles causando maior ou menor influencia na atenuacao do
sinal. Com o intuito de contextualizar nosso estudo a partir da analise de situacoes que
envolvem elementos cotidianos, estabelecemos abaixo um lista de alguns materiais que
podem causar o efeito do espalhamento nos sinais de ondas eletromagneticas.
17
• Areia
Principal elemento de nosso estudo, a areia parece apresentar caracterısticas atenu-
adoras. Pesquisas realizadas em ambientes com ampla presenca deste material comprovam
esses aspectos que prejudicam a propagacao das ondas eletromagneticas em tal ambiente.
Em tempestades de areia, muito comuns em alguns lugares do mundo, como no Oriente
Medio por exemplo, foi constatado que, nessas ocasioes, a atenuacao das ondas somente
e verificada quando existe um grande volume de areia. Isto e, a relacao entre a densidade
de areia presente na tempestade e proporcional a relevancia dessas atenuacoes, que sao
mais fortemente observadas nas ocasioes de baixa visibilidade. Alem disso, este fenomeno
tambem e observado mais fortemente quando utilizado sinais em altas frequencias (ou
seja, em ondas milimetricas). O que acontece, entao, e a atenuacao do sinal pelos feno-
menos de espalhamento e absorcao das partıculas de areia suspensas no ar presentes na
tempestade, devido a sua alta concentracao [7].
• Concreto
O concreto e um dos elementos largamente utilizados na construcao civil, e os
estudos sobre os efeitos dos sinais eletromagneticos quando estes vao de encontro a ele sao
recorrentemente abordados no campo das telecomunicacoes. Com a evolucao das redes
moveis de telefonia e as redes sem fio, cada vez mais equipamentos que utilizam essas redes
como meio de comunicacao passaram a fazer parte do cotidiano das casas e escritorios.
Os estudos mostram que estruturas de concreto, muitas vezes reforcadas com metal, sao
os principais responsaveis pelo espalhamento e reflexao de sinais de redes sem fio, e que
parametros como a dimensao da espessura da parede e o angulo de incidencia da onda
eletromagnetica tem grande efeito na difusao do sinal transmitido [11].
• Madeira
Neste contexto, e possıvel que entendamos a dispersao presente na madeira a partir
de estudos relacionados ao espalhamento presente em uma fibra de madeira, que compoe
o tronco de uma arvore e e utilizada na fabricacao de papel, por exemplo. Com a utili-
zacao de medicoes em uma fibra separadamente, um experimento foi realizado com um
Laser incidindo sobre a superfıcie da mesma, na intencao de avaliar o comportamento
18
de espalhamento causado por este material. O comportamento de espalhamento e obser-
vado devido a propria estrutura da fibra, que apresenta pequenas irregularidades em sua
superfıcie [12].
2.4 Camara Anecoica
Durante a analise do comportamento de dispositivos eletronicos, antenas e equi-
pamentos de telecomunicacoes, e extremamente comum a presenca de ruıdo nos dados
coletados. Isso ocorre naturalmente devido a uma serie de interferencias que podem acon-
tecer no local onde o experimento e realizado. Contudo, mesmo sendo algo comum a
existencia desses ruıdos, muitas das vezes se faz necessaria a execucao dessas experien-
cias em ambientes onde esses ruıdos sao atenuados, permitindo, assim, uma analise mais
apurada dos resultados. A partir dessas necessidades foram criadas as chamadas camara
anecoicas.
A criacao das camaras anecoicas surgiu da necessidade que os pesquisadores tinham
em obter um local onde as ondas resultantes de espalhamento e reflexoes em paredes e teto
nao pudessem afetar os resultados dos experimentos que estavam sendo realizados, algo
que normalmente acontecia em laboratorios, por exemplo. Para que isso fosse evitado,
foram desenvolvidos espacos onde, dependendo da necessidade, ondas sonoras ou eletro-
magneticas eram atenuadas e/ou absorvidas quando se chocassem com as extremidades
do interior da camara, criando assim um ambiente livre de reflexoes [2].
A camara anecoica e de um ambiente fechado e revestido com material especıfico
para blindagem de qualquer influencia externa e atenuacao maxima de todas as ondas
geradas em em seu interior, sendo capaz de atenuar ou absorver as ondas. Neste tipo de
ambiente, ondas de frequencias menores sao atenuadas devido ao formato piramidal do
material que a reveste, ja ondas de frequencias mais altas sao absorvidas, impedindo seu
retorno. Dessa forma, e possıvel criar um ambiente onde as reflexoes sao praticamente
nulas, simulando o que seria o mais proximo de uma propagacao no espaco livre. Entao,
nesse espaco, ocorre absorcao quase total das ondas, tornando-se um ambiente isolado
de interferencia. Um aspecto importante diz respeito a sua blindagem, que chega a ter
coeficiente da ordem de 100 dB.
Devido a essa sua caracterıstica de isolamento, as camaras anecoicas se tornam
19
ambientes ideais para a realizacao de testes com equipamentos nos quais se deseja detec-
tar comportamentos sutis, ou seja, pequenas variacoes que nao seriam percebidas caso
os equipamentos fossem testados em ambientes expostos a interferencias cotidianas, tais
como antenas e satelites utilizados em meios de telecomunicacoes [4]. A figura 2.6, a
seguir, mostra um camara anecoica real utilizada para testes com equipamentos de tele-
comunicacoes.
Figura 2.6: Camara anecoica Compact Payload Test Range utilizada para teste de efici-
encia e comportamento de antenas e satelites, localizada em Noordwijk, na Holanda.
Capıtulo 3
Experimento
Para validar a proposta levantada por nosso projeto final, foram realizados testes
iniciais indoor, mais especificamente localizados no Laboratorio de Propagacao da UFF
(LAPROP-UFF), no bloco E da Escola de Engenharia. Atraves dos testes realizados,
foi possıvel induzir a ocorrencia de diversas situacoes distintas presentes nas propaga-
coes de ondas eletromagneticas, sendo possıvel simular os diferentes fenomenos citados
anteriormente atuando sobre o cenario estruturado para o estudo. Para isso, os testes
foram realizados utilizando dois tipos de antenas de propagacao que operam em faixas de
frequencia diferentes, uma atuando em uma faixa mais baixa, de 1,5 GHz e outra atuando
sobre uma faixa mais alta, de 3,5 GHz.
Para a realizacao do experimento, foram utilizados uma caixa contendo areia, um
gerador de sinal modelo MG3700A da Anritsu, um analisador de espectro MS2034A, tam-
bem da Anritsu, dois cabos coaxiais, dois pares de antenas (um par para cada frequencia)
e uma espuma absorvedora utilizada para bloquear parte do sinal. Os testes foram rea-
lizados utilizando a configuracao explicitada adiante, na Figura 3.6, onde cada uma das
antenas foi conectada atraves de cabos coaxiais a um dos equipamentos, sendo a antena
transmissora conectada ao gerador de sinais enquanto a receptora e conectada ao anali-
sador de espectro.
O experimento foi realizado em uma sala onde o pe direito e alto, com o objetivo
de criar um ambiente onde as reflexoes no teto exercessem nenhum ou o mınimo de
influencia possıvel sobre os dados coletados. Com isso em mente, para cada uma das
tres distancias propostas, foram realizados tres procedimentos diferentes, todos visando
coletar o maximo de dados que pudessem demonstrar a influencia dos raios refletidos no
21
solo, mais especificamente sobre o recipiente com areia, na composicao da intensidade do
sinal recebido. Para isso, primeiramente foi realizada a transmissao sem nenhum tipo
de obstrucao entre as antenas e sem a presenca de areia no piso, conforme mostrado no
cenario 1 abaixo, de forma que se pudesse coletar o sinal maximo recebido pela antena.
Apos esse primeiro teste, foi colocada a espuma absorvedora na distancia exata entre as
antenas de forma que a mesma pudesse obstruir a visada direta permitindo somente que
os raios refletidos no solo alcancassem a antena receptora, conforme cenario 2. Por ultimo,
foi realizada a medicao dos dados utilizando novamente a espuma absorvedora posicionada
perfeitamente entre as antenas para obstruir a visada direta, porem agora foi adicionada
ao solo a caixa onde estava presente a areia, tambem posicionada entre as antenas, logo
abaixo da espuma, de forma que o raio que atingisse o interior do recipiente com areia
tivesse um angulo de incidencia que permitisse que a antena receptora fosse alcancada
quando o sinal fosse refletido, de acordo com o cenario 3. Podemos observar na Figura
3.1 a representacao de cada um dos cenarios explicitados acima.
22
Figura 3.1: Ilustracao dos cenarios presentes no experimento.
Isso nos permitiu analisar os diferentes comportamentos dos sinais quando sao
expostos as diferentes condicoes de propagacao descritas neste documento, tornando-se
possıvel, entao, analisar a influencia dos raios refletidos na composicao do sinal recebido
quando os mesmos sao expostos a um ambiente onde existe a presenca de solo arenoso e
comparar este cenario aos demais cenarios apresentados.
3.1 Equipamentos
Parte de fundamental importancia em todo experimento cientıfico que deseja co-
letar dados, com a maior confianca possıvel, sao os equipamentos escolhidos para realizar
os procedimentos. A definicao dos equipamentos corretos para cada tipo de atividade
especıfica e de extrema importancia, uma vez que eles sao os responsaveis por captar e
traduzir os dados para os observadores. Alem da escolha correta, tambem e de funda-
23
mental importancia a calibragem dos mesmo, de forma a garantir que os dados coletados
sejam os mais precisos e exatos possıveis, se aproximando assim ao maximo da realidade,
o que garante a veracidade dos dados coletados.
Com isso em mente, e a fim de obter os dados mais fieis possıveis, utilizamos
para nossos testes equipamentos robustos presentes no LAPROP-UFF, todos devidamente
regulados e calibrados, com o objetivo de garantir a coleta dos dados com maior precisao e
exatidao. Para isso, foram utilizados equipamentos adequados para a transmissao e analise
de ondas de radio em diferentes frequencias, sendo eles um gerador de sinal reponsavel
por originar o sinal transmitido, um analisador de espectro responsavel por medir o nıvel
de potencia do sinal recebido, dois pares de antenas que operam nas frequencias 1,5 GHz
e 3,5 GHz para transmissao e recepcao dos sinais e um espuma absorvedora responsavel
por absorver e atenuar parte do sinal. Alem disso, para introduzir o elemento principal de
nosso estudo, utilizamos uma caixa de papelao retangular repleta de areia em seu interior,
com as seguintes dimensoes: 47 cm de comprimento, 10 cm de altura e 38 cm de largura.
A areia ocupava a maior parte da mesma, preenchendo um volume de 80% do total, sendo
100% a ocupacao da superfıcie horizontal.
As antenas foram parte fundamental na definicao dos resultados vistos mais a
frente. E importante mencionar que, na frequencia mais baixa (1,5 GHz), as antenas
utilizadas para transmissao e recepcao foram antenas omnidirecionais da marca Celta
modelo CE-150727, com uma faixa de frequencia de 698 MHz a 2,7 GHz e 2 a 5 dBi de
potencia de irradiacao. Quanto maior o valor em dBi da antena, mais diretiva ela sera. Na
frequencia mais alta, entretanto, as antenas usadas eram impressas, de formato retangular
com tamanho menor, direcionais e de fabricacao propria do laboratorio de propagacao [6].
Essa diferenciacao nas caracterısticas interfere no decorrer dos experimentos nas diferentes
frequencias.
Seguem abaixo as imagens referentes aos equipamentos utilizados que foram men-
cionados neste item, sendo na Figura 3.2 ilustrado o gerador vetorial de sinais, na Figura
3.3 o analisador de espectro, na Figura 3.4 a antena omnidirecional utilizada na frequencia
de 1,5 GHz e, na Figura 3.5, a antena diretiva impressa utilizada na frequencia de 3,5
GHz.
24
Figura 3.2: Gerador de sinais MG3700A da Anritsu utilizado no experimento
Figura 3.3: Analisador de espectro MS2034A da Anritsu utilizado no experimento
25
Figura 3.4: Antena omnidirecional Celta utilizada no experimento (frequencia de 1,5 GHz)
Figura 3.5: Antena diretiva impressa utilizada no experimento (frequencia de 3,5 GHz)
26
3.2 Ambiente de Teste
Para efetuar os testes em ambiente fechado, foi disponibilizada uma das salas do
LAPROP-UFF, alem dos equipamentos citados, que foram necessarios para realiza-los
com sucesso. Foram feitos experimentos utilizando a frequencia de 1,5 GHz e, posteri-
ormente, utilizando a frequencia de 3,5 GHz, implementadas pelo gerador de sinais, com
o intuito de estudar os comportamentos dessas diferentes frequencias quando expostas a
propagacao em ambiente com solo arenoso. Basicamente, para ambos os casos, foi apli-
cada a mesma configuracao, bastante simples, de disposicao dos elementos, sendo a unica
diferenca presente na altura das antenas com relacao ao chao. Na frequencia 1,5 GHz,
ambas as antenas foram fixadas a 66 cm do chao, enquanto na frequencia de 3,5 GHz
elas foram inseridas a 79 cm acima do chao, porem nos dois casos elas foram firmadas em
cadeiras que funcionaram como um suporte e posicionadas em visada direta, separadas
por tres distancias distintas, cada uma produzindo um resultado diferente a ser analisado
a posteriori. A representacao da composicao do ambiente de teste esta ilustrada no es-
quema da Figura 3.6 apresentada a seguir.
Figura 3.6: Representacao esquematica do experimento
A caixa com areia esta localizada exatamente na metade do caminho entre as
antenas e a distancia D foi modificada tres vezes, sendo ela primeiramente de 80 cm,
seguida de 156 cm e, por ultimo, 297 cm. Apos cada medicao, afastou-se em alguns
centımetros a antena de transmissao da antena de recepcao, tambem reposicionando o
27
local da areia sempre para o ponto central entre as antenas, de forma que as distancias d1
e d2 tivessem valores iguais. O material absorvedor era colocado entre as antenas na altura
delas, com ou sem a caixa embaixo, e utilizado na medicao para que fosse possıvel absorver
a componente do sinal de visada direta, ficando apenas com a componente proveniente de
reflexao. Todos os valores de distancia aqui presentes foram repetidos nas medicoes com
as duas frequencias diferentes, de forma que a analise possa ser realizada e comparada de
maneira correta para ambos os casos.
A seguir, as imagens reais capturadas do ambiente nas duas configuracoes de teste:
1,5 GHz e 3,5 GHz.
Figura 3.7: Ambiente real do experimento para a frequencia de 1,5 GHz
Figura 3.8: Ambiente real do experimento para a frequencia de 3,5 GHz
Capıtulo 4
Resultados e Analise
A partir dos dados obtidos com os experimentos realizados, foi possıvel analisar
os diferentes efeitos presentes em transmissoes de sinais eletromagneticos, com grande
destaque para os efeitos de reflexao especular e difusa, muito comuns em diversos tipos de
ambientes. Os diferentes cenarios aqui experimentados tiveram o objetivo de nos permitir
testar a premissa da influencia da areia nas reflexoes das ondas de sinal de radio, sendo
necessarios para corroborar as afirmacoes teoricas apresentadas ao longo do trabalho e
consolidar a proposta.
Os resultados apresentados variam conforme a frequencia utilizada na transmissao
e a distancia considerada entre transmissor e receptor, dessa forma, sao obtidos os nıveis
de potencia de recepcao considerando cada caso, sendo aplicados os termos visada direta
considerando o cenario 1, que se trata da transmissao sem qualquer obstrucao (onde
a visada e predominante), reflexao no chao considerando o cenario 2, que se trata da
configuracao com absorvedor e sem areia (onde obstrui-se a visada e apenas as ondas
refletidas no chao e que predominam) e reflexao na areia considerando o cenario 3, que
se trata do uso do absorvedor com a caixa de areia embaixo (onde a visada e novamente
obstruıda, mas dessa vez as ondas sao refletidas na areia). Os itens 4.1 e 4.2 mostram os
resultados para as duas frequencias.
4.1 Frequencia de 1,5 GHz
Nas tabelas 4.1, 4.2 e 4.3 estao representados, na frequencia de 1,5 GHz, os resul-
tados obtidos nos tres cenarios usados para cada uma das tres distancias utilizadas.
28
29
• Distancia: 80 cm
Tabela 4.1: Valores medidos para a distancia de 80 cm em 1,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -60 dBm
2 - Reflexao no chao -58 dBm
3 - Reflexao na areia -78 dBm
• Distancia: 156 cm
Tabela 4.2: Valores medidos para a distancia de 156 cm em 1,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -56 dBm
2 - Reflexao no chao -59 dBm
3 - Reflexao na areia -60 dBm
• Distancia: 297 cm
Tabela 4.3: Valores medidos para a distancia de 297 cm em 1,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -66 dBm
2 - Reflexao no chao -69 dBm
3 - Reflexao na areia -69 dBm
• Analise
Primeiramente, faz-se necessaria uma analise dos resultados encontrados para a
frequencia de 1,5 GHz. E importante relembrar que, neste caso, foi utilizada uma an-
tena omnidirecional que, devido a sua natureza nao diretiva de propagacao, impactou
os resultados dos testes realizados. Entretanto, mesmo assim, os testes realizados nesta
30
frequencia sao validos, ja que sao considerados os resultados obtidos com antenas reais que
sao utilizadas em ambientes urbanos. Na figura 4.1 sao apresentados os dados coletados
consolidados em forma de grafico, onde o eixo das abscissas representa a distancia entre
as antenas em centımetros e o eixo das ordenadas representa a potencia recebida medida
com o analisador de espectro, em dBm.
Figura 4.1: Grafico relativo aos dados encontrados na frequencia de 1,5 GHz
Percebe-se que as curvas obtidas para os dados coletados nesta primeira fase de
testes mostram uma instabilidade nos dados. Na primeira distancia, de 80 cm, os nıveis
de sinal recebido no cenario 1 (visada direta) e no cenario 3 (reflexao sobre a areia) sao
consideravelmente menor quando comparados com as demais distancias, com excecao do
cenario 2 (reflexao no solo), no qual os dados se comportaram como o esperado. Ja a
partir da distancia de 156 cm, os valores encontrados ja passaram a se comportar de
forma mais concreta com o esperado, apresentando nıveis de sinal que se apresentavam
cada vez menores quando expostos aos diferentes tipos de testes. Contudo, os valores
obtidos para os diferentes tipos de propagacao foram muito proximos uns dos outros,
principalmente para os modelos que consideravam somente as reflexoes como forma de
propagacao do sinal.
As variacoes apresentadas nas informacoes expostas podem ter ocorrido devido a
uma serie de fatores que influenciam na recepcao do sinal captado, muitos deles proveni-
entes dos materiais envolvidos no experimento. A propria natureza nao diretiva do tipo
31
de antena utilizada pode ser uns dos fatores que ajudaram para a formacao de dados
com valores nao esperados. Outro fator que pode ter sido responsavel pelo surgimento do
efeito de multipercurso dos raios refletidos no ambiente e a propria espuma absorvedora
utilizada para bloquear as ondas de visada direta, componente com maior intensidade de
energia do sinal transmitido.
4.2 Frequencia de 3,5 GHz
Nas tabelas 4.4, 4.5 e 4.6 estao representados, na frequencia de 3,5 GHz, os resul-
tados obtidos nos tres cenarios usados para cada uma das tres distancias utilizadas.
• Distancia: 80 cm
Tabela 4.4: Valores medidos para a distancia de 80 cm em 3,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -59 dBm
2 - Reflexao no chao -74 dBm
3 - Reflexao na areia -83 dBm
• Distancia: 156 cm
Tabela 4.5: Valores medidos para a distancia de 156 cm em 3,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -81 dBm
2 - Reflexao no chao -92 dBm
3 - Reflexao na areia -99 dBm
• Distancia: 297 cm
32
Tabela 4.6: Valores medidos para a distancia de 297 cm em 3,5 GHz
Cenario Valor medido
1 - Visada direta -94 dBm
2 - Reflexao no chao -105 dBm
3 - Reflexao na areia -109 dBm
• Analise
No segundo grafico, presente na figura 4.2, sao exibidos os resultados encontrados
com a frequencia de 3,5 GHz. Ja neste caso, as antenas utilizadas para transmitir e receber
o sinal foram antenas diretivas.
Figura 4.2: Grafico relativo aos dados encontrados na frequencia de 3,5 GHz
Aqui, vemos resultados mais condizentes com o esperado e com o que foi proposto
no inıcio deste trabalho. Percebe-se que, na visada direta, sao encontrados os maiores
valores referentes a distancia em estudo no momento, para todas as tres diferentes sepa-
racoes. Quando inserimos o absorvedor para obter somente a reflexao do sinal no chao,
o nıvel do sinal ja decai consideravelmente, cerca de 15 dB na distancia de 80 cm e 11
dB nas demais distancias. Quando, finalmente, incluımos a areia, o valor da potencia cai
bastante novamente, cerca de 20 dB de media considerando os valores das tres distancias
em comparacao com o cenario de visada direta, o que nos confirma a tese proposta ao
33
longo do estudo: a areia possui caracterıstica absorvedora semelhante a dos materiais
presentes em camaras anecoicas, sendo capaz de, por si so, atenuar parte do sinal que a
atinge, reduzindo, assim, a potencia do sinal refletido.
4.3 Analise referente as frequencias de 1,5 GHz e 3,5
GHz somente no cenario 3
Com o objetivo de evidenciar melhor o comportamento absorvedor da areia na
refletividade das ondas eletromagneticas e poder analisar com maior clareza o seu com-
portamento para cada uma das frequencias utilizadas neste estudo, isolamos os resultados
obtidos para os casos do cenario 3, que representa a reflexao sobre a areia, em ambas as
frequencias, onde os sinais foram expostos a refletividade neste tipo de material para cada
uma das diferentes distancias, como mostra a figura 4.3 a seguir. Na imagem, o eixo das
abscissas apresenta as tres distancias (em centımetros) consideradas entre o transmissor
e o receptor nas medicoes realizadas e o eixo das ordenadas apresenta a potencia recebida
(em dBm) em cada uma dessas distancias, somente para o cenario 3.
Figura 4.3: Grafico de comparacao do sinal recebido na presenca da areia para as diferentes
frequencias (cenario 3)
Como e possıvel observar atraves do grafico da figura 4.3, tem-se uma percepcao
mais apurada acerca das situacoes de espalhamento e multipercurso existentes em funcao
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das distancias, presentes nas medicoes envolvendo as duas frequencias empregadas. Ao
mesmo tempo que visualmente verificamos o efeito de multipercurso presente na frequencia
de 1,5 GHz, percebem-se os resultados mais consistentes provenientes das medicoes da
frequencia de 3,5 GHz, onde a imagem mostra uma curva decrescente mais coerente com o
esperado pelo trabalho. Avaliando as duas curvas, apesar do primeiro ponto da frequencia
de 1,5 GHz destoar dos demais, e possıvel observar que, independente disto, para todas as
distancias, a menor frequencia apresentou maiores valores de potencia no sinal recebido
quando comparada aos valores recebidos em 3,5 GHz. Essa diferenca pode ter advindo,
como ja citado anteriormente, do fato da antena utilizada para a frequencia de 1,5 GHz ter
sido do tipo omnidirecional, o que pode ter ocasionado reflexoes em outros locais (como
obstaculos laterais) e nao somente no solo, enquanto que na frequencia de 3,5 GHz e
utilizada uma antena diretiva. Isto pode ter favorecido a recepcao de valores mais elevados
do sinal transmitido, ja que assim o sinal recebido e formado por mais componentes de
sinal provenientes de multipercurso.
Outro fator que pode ser observado no comportamento dos dados obtidos e a
influencia da distancia no efeito do coeficiente de reflexao, devido ao fato de conforme a
distancia entre as antenas transmissora e receptor aumentava, os angulos de incidencia
das componentes de raio refletido no solo reduzia, o que afeta diretamente a intencidade
do coeficiente de reflexao. Tambem e importante citar a p a distancia entre as antenas
transmissora e receptora aumentava, os angulos de incidencia das componentes de raio
refletido no solo reduzia, o que afeta diretamente a intencidade do coeficiente de reflexao.
Tambem e importante citar a presenca do efeito da perda de percurso, no qual o sinal
tende a decair conforme a distancia entre as antenas transmissora e receptora aumenta,
efeito que foi bastante evidente durante todo o teste. Conforme a distancia entre as
antenas era aumentada, ou seja, quanto maior a distancia percorrida pelo sinal, menor
era o nıvel do sinal recebido.
Com todos os dados expostos e as analises realizadas, e importante ressaltar que,
para ambas as frequencias utilizadas no experimento, todos os valores medidos para o
cenario onde os raios refletidos foram expostos a areia apresentaram valores menores
de potencia recebida quando comparados aos demais cenarios abordados. Isso ajuda
a corroborar a ideia proposta de que a areia apresenta sim certa influencia nos sinais
refletidos sobre ela.
Capıtulo 5
Conclusoes
A fim de sintetizar e estabelecer o desfecho de todo o trabalho elaborado acima,
este topico apresenta as principais conclusoes que podemos inferir a partir de toda a teoria
estudada e todos os dados coletados em nosso experimento.
De acordo com a analise do experimento e considerando os resultados encontrados
no ambiente de teste com a presenca de areia, chega-se ao importante entendimento de
que este material possui caracterısticas absorvedoras. Assim, os sistemas de transmissao
que utilizam ondas eletromagneticas num ambiente deste tipo, que contenha grandes
dimensoes cobertas por areia, devem priorizar a visada direta entre transmissor e receptor,
uma vez que ocorre atenuacao na potencia em todas as componentes do sinal que sofrem
reflexao no solo nessas ocasioes. No caso de nao haver a possibilidade de uma visada
direta, o ideal e escolher pontos estrategicos onde os cenarios de reflexao na areia sejam
os menores possıveis.
Vale ressaltar, tambem, os resultados inesperados advindos das medicoes com ante-
nas de transmissao e recepcao omnidirecionais. Por conta dos diversos efeitos de reflexao
devido a irradiacao omnidirecional no plano horizontal do sinal que colabora para a ocor-
rencia do efeito do multipercurso que uma antena deste tipo pode causar, algumas das
medicoes obtidas nessa fase da experiencia ficaram fora do esperado, porem, de uma forma
geral, ainda se mantiveram dentro da logica proposta ao longo do trabalho. Por mais que
a atenuacao causada fosse pequena e a variacao nos valores nao fosse tao expressiva como
quando comparados com os apresentados para a frequencia de 3,5 GHz, ela existiu, ou
seja, apesar de todos esses fatores, mesmo assim as caracterısticas atenuadoras da areia
se mostraram presentes e relevantes aos resultados dos dados coletados.
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Os fenomenos existentes na propagacao de ondas eletromagneticas tambem se mos-
tram presentes ao longo de todo o experimento. As reflexoes presentes em cada cenario,
a presenca do espalhamento e a perda de percurso sao alguns dos conceitos basicos que
puderam ser observados em laboratorio. Ficou bem claro que, quanto mais se afastava o
transmissor do receptor, maior era a atenuacao e, consequentemente, menor era o valor
da potencia recebida. Alem disso, com a confirmacao da propriedade de espalhamento
da areia, conseguimos tambem concluir que este material causa uma reducao na intensi-
dade da componente de raio refletido semelhante aos efeitos que ocorrem com sinais de
radiocomunicacao quando expostos a testes realizados em camaras anecoicas, devido as
caracterısticas de ambas que se assemelham no que diz respeito a atenuacao e absorcao
das ondas eletromagneticas.
5.1 Trabalhos futuros
Com a realizacao deste trabalho, muitas observacoes importantes a respeito do
comportamento dos sinais de radiocomunicacao quando expostos a ambientes com su-
perfıcies cobertas por areia foram feitas, porem ainda existem muitas perguntas a serem
respondidas e ainda existe muito a ser feito para a continuacao dos estudos nesta linha
de pesquisa. Desta forma, esta pesquisa serve como ponto de partida para uma serie
de outros trabalhos abordando questoes pertinentes, que nao foram aprofundadas neste
documento.
Um dos importantes aspectos que podem ser explorados, futuramente, e a expansao
dessa pesquisa para o ambiente outdoor, com o objetivo de coletar dados que demonstrem
o real comportamento das ondas eletromagneticas na presenca de ambientes cobertos por
grandes extensoes de areia, como largas faixas de areia presentes em praias ao longo
de todo litoral brasileiro ou em regioes cobertas por grandes extensoes de dunas. Uma
outra alternativa ao ambiente de praia, ja que a maresia pode ser um impeditivo para a
utilizacao de certos equipamentos de medicao, poderia ser um campo de futebol de areia
ou ate mesmo uma area aberta de praca composta por areia.
Outros pontos importantes que devem ser levados em consideracao e podem ser
estudados sao a influencia das ondulacoes presentes na areia no grau de espalhamento
do sinal, afetando assim a sua recepcao, e a relacao do angulo de incidencia das ondas
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eletromagneticas refletidas no solo com o nıvel de atenuacao do sinal para esse tipo de
ambiente.
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