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Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017 Chega para todos, em todo o mundo e para sempre

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Relatórioda Comissão de perspectivas IV –MISEREORQuarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Chega para todos, em todo o mundo e para sempre

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Este relatório da Comissão de perspectivas IV foi– adotado em 29 de setembro de 2017 pela Comissão de perspectivas,– aprovado em 13 de dezembro de 2017, após consulta à Assembléia dosMembros e no Conselho da MISEREOR, pela Subcomissão para questões dedesenvolvimento (MISEREOR) da Comissão da Igreja Universal da Conferênciados Bispos da Alemanha.

Editora:Bischöfliches Hilfswerk MISEREOR e. V. Mozartstraße 9, 52064 Aachen, Alemanha

Lugar de publicação: Aachen Janeiro de 2018

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 20172

MISEREOR deseja apresentar-lhe o documento com as linhas diretrizes que orientarão o nosso trabalhonos próximos cinco anos. A Conferência dos Bispos da Alemanha instalou pela quarta vez uma Co-

missão de perspectivas que, em 2016 e 2017, se ocupou de olhar ao contexto atual e de analisar os desafiosque a MISEREOR enfrentará nos próximos anos. Foram envolvidas ainda algumas organizações parceiras noprocesso de trabalho da Comissão de perspectivas, através de uma plataforma interativa, e consultados espe-cialistas da Alemanha como também os nossos próprios colaboradores(as). Com base neste trabalho foramelaboradas sete linhas diretrizes que abordam a contribuição que a MISEREOR poderá prestar nos próximoscinco anos para fazer face a estes desafios. O documento final da Comissão de perspectivas foi aprovado emdezembro de 2017 pela Subcomissão da Conferência dos Bispos da Alemanha para a MISEREOR e, sendoassim, entrou em vigor. Todo o tempo estava-se ciente de que a MISEREOR não pode alcançar seus objetivossozinha, mas sim, só conjuntamente e em estreito intercâmbio com parceiros em todo o mundo.

No presente relatório da Comissão de perspectivas, o leitor reconhecerá a MISEREOR que já conhece. Esta con-tinuidade é muito importante para nós e presumivelmente também para si. No entanto, também descobriráalgo novo que, na sua maioria, é abarcado pelo termo genérico de “transformação socioecológica”, numa refe-rência à Encíclica “Laudato sì” do Papa Francisco, e que atualiza os conteúdos de trabalho fomentados pelaMISEREOR e a metodologia adotada neste trabalho. Juntamente com a Comissão de perspectivas esperamospoder chegar a uma resposta adequada ao contexto em mutação, a fim de fortalecer a justiça social e ecológica.

Nas suas viagens e visitas, os colaboradores(as) da MISEREOR entrarão em diálogo sobre o documento. Paratal efeito, as “Perspectivas da MISEREOR” foram traduzidas, nomeadamente para o inglês, espanhol, francês eportuguês. Também pode fazer-nos chegar os seus comentários sobre o relatório da Comissão de por outroscanais. Os conhecimentos obtidos através deste diálogo serão incorporados numa avaliação intercalar, efetua-da a meio do período de vigência do documento.

Sem outro assunto de momento, desejamos-lhe uma leitura interessante.

Com os melhores cumprimentos,

Pirmin Spiegel Dr. Martin Bröckelmann-Simon Thomas AntkowiakDiretor Geral Diretor Diretor

A

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1 Missão e Horizonte 4

2 Perspectivas da MISEREOR 2018 –2022 6

3 Observações finais 14

4 Composição da Comissão de perspectivas 15

2.1 A MISEREOR contribui para a justiça e a 6

sustentabilidade, desde o nível local ao global.

2.2 A MISEREOR promove a paz e contribui 9

para a defesa dos direitos e a proteção

de refugiados ou migrantes.

2.3 A MISEREOR reforça sua participação em 10

redes, tanto no Sul global como no Norte global.

2.4 MISEREOR trabalha nos desafios globais 11

da transformação socioecológica,

também na Alemanha e na Europa.

2.5 A MISEREOR reforça a visibilidade do potencial 12

das pessoas empenhadas por um mundo

justo e sustentável.

2.6 A MISEREOR orienta sua organização interna 12

para os desafios e possibilidades da transformação

socioecológica.

2.7 A MISEREOR assegura suas receitas e garante um 13

crescimento dos próprios fundos, a fim de cumprir

sua missão fundamental.

Índice

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017 3

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Em 10 de dezembro de 2015, a Subcomissãopara questões de desenvolvimento da Co-

missão da Igreja Universal (Comissão X) da Conferên-cia dos Bispos da Alemanha (DBK) encarregou o Con-selho administrativo da MISEREOR e. V. de realizarum quarto processo de perspectivas. Para tal efeito,o Conselho administrativo criou uma Comissão (abre-viado, em alemão: PK IV) de cujo trabalho resultou opresente documento final.

A MISEREOR foi criada em 1958 pela Conferên-cia dos Bispos da Alemanha como organização

central de cooperação da Igreja Católica na Alemanha.Confiou-se à organização uma tríplice missão: Asuperação da pobreza através da cooperação para odesenvolvimento, a incidência política assim como otrabalho pastoral e de educação e sensibilização naAlemanha. O nome da organização foi escolhido comreferência à misericórdia de Jesus com as pessoasque vieram para ouví-lo, mas que ao final do dia jánão tinham o que comer. Distribuindo o que havia dealimento, uns poucos pães e peixes, todos comerame se saciaram (Mc 8,1-10). Desse modo, a atuação daMISEREOR está alicerçada há seis décadas num fun-damento bíblico-teológico. Desde o início deste milê-nio, a missão da organização já foi atualizada trêsvezes, por deliberação das Comissões de perspecti-vas, a partir das condições e desafios que se coloca-vam naquela altura (PK I 2000 – 2005, PK II 2006 –2011, PK III 2012 – 2016).

Hoje, a MISEREOR é uma organização em que pes-soas se comprometem a aceitar cada pessoa em suadignidade, independentemente da sua religião, gêne-ro, origem étnica ou social, a respeitar a natureza emsua essência e como fundamento de toda a vida, a de-nunciar injustiças, a ultrapassar a indiferença, a reivin-dicar uma “mudança de rumo” e a construir justiça.

A MISEREOR trabalha a partir da esperança que oamor vivido, a empatia e a solidariedade são mais im-portantes e sustentadores no trabalho do que todasas experiências de impotência e fracasso. Esta espe-

rança não é algo de que a MISEREOR, seus colabora-dores(as) e todos os demais que suportam a organi-zação simplesmente dispõem. É um dom. A MISERE-OR sabe que este dom se desdobra em dois aspec-tos: o de dar esperança e o de receber esperança. Nacooperação mundial, a MISEREOR encontra pessoase organizações que nos enchem de esperança. Aqui,Deus se manifesta de forma concreta: Dele vem avida que os seres humanos repassam. A MISEREOR,por sua parte, pode abrir espaços onde podem nas-cer esperanças indizíveis.

A MISEREOR é parte da comunidade global daIgreja, numa sociedade mundial pluralista e, frequen-temente, fragmentada. Ela está ciente de que possuiuma grande riqueza com a sua vasta experiência e arede global de relações e parceiros. Porém, a MISERE-OR sabe também que precisa confrontar-se, semprede novo e com humildade, com os limites da sua pró-pria ação: a falta de capacidades, de compreensão econhecimentos, de tempo e alcance.

Situações de vida alteradas em todos os conti-nentes e a mudança das condições-quadro da

cooperação para o desenvolvimento influem tambémhoje no trabalho da MISEREOR. Com a Agenda 2030 eo Acordo de Paris, a comunidade internacional estabe-leceu em 2015 uma base sobre a qual visa cooperarnos próximos anos para enfrentar os desafios globaisurgentes. Nas duas cartas encíclicas “Evangelii Gaudi-um“ (2013) e “Laudato sì“ (2015), o Papa Franciscodelineia uma nova compreensão de desenvolvimento,centrada na ideia de que as dimensões sociais e ecoló-gicas da múltipla crise global se diferenciam, mas nãopodem ser dissociadas. Esta nova compreensão re-quer uma atitude que não fique indiferente perante osofrimento dos outros e a destruição da natureza. Elainclui o respeito mútuo, a responsabilidade pelas gera-ções futuras e a proteção do mundo natural circundan-te. Por isso, procurou-se apontar no processo de per-spectivas as consequências possíveis e desejáveis des-tas mudanças para o trabalho da MISEREOR.

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Missão e Horizonte 1

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Nas recomendações da Comissão de perspecti-vas III (2012 – 2016), as mudanças no âmbito

da sociedade e da Igreja foram descritas sob a rubri-ca “Mutações”. Agora, uns anos mais tarde, a MISE-REOR fala de “transformação socioecológica” que,juntamente com muitos outros atores, devemos tocarpara frente. Na linguagem evidencia-se uma outraapreciação da situação: Existem razões para esperarque podemos contribuir ativamente na construção datransformação necessária rumo a uma paz globaljusta. Os próximos anos mostrarão até que ponto oconseguiremos fazer, apesar dos reveses previsíveis.De qualquer modo antecipa-se uma elevada volatili-dade da conjuntura geopolítica; é mais provável as in-certezas aumentarem do que diminuírem.

Com este pano de fundo, o presente documen-to final formula sete linhas diretrizes que

devem nortear o trabalho da MISEREOR nos próximoscinco anos e que darão continuidade aos processosde aprendizagem e mudança temática e organizacio-nal na MISEREOR. Cabe aos responsáveis e colabora-dores(as) da MISEREOR definir o seu próprio trabalhoespecífico dentro destas diretrizes e implementá-loatravés de planificações anuais concertadas. Isso in-clui o monitoramento contínuo dos processos de im-plementação.

Neste quarto processo de perspectivas foramconsultadas organizações parceiras seleciona-

das da África, Ásia e América Latina assim comoespecialistas alemães. Para além disso foram envolvi-dos no processo os colaboradores(as) da MISEREOR.

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2.1.1 Questões sociais e ecológicas globaisO trabalho da MISEREOR é cada vez mais marcadopelo fato de as esferas da economia, da ecologia, so-ciedade, política e cultura se terem tornado altamen-te globais e interdependentes. Por exemplo, os con-tornos da dicotomia Norte-Sul já não são tão nítidoscomo foram sessenta anos atrás, quando a MISERE-OR foi fundada. Em certos aspectos, o paradigmaNorte-Sul, predominante durante muito tempo, está adesagregar-se. Em contrapartida, a ideia de que existeum “Sul global” e um “Norte global”, tem ganhadoaceitação social. O termo „Sul global“ identifica oproblema de que em todas as regiões do mundovivem pessoas a quem são negados os meios parauma vida em dignidade. Com efeito, as causas da po-breza e exclusão estão mundialmente interligadas. O"Norte global" refere-se ao estilo de vida e modo deprodução das pessoas no Norte e Sul geográficos,cujo bem-estar material se baseia no fato de que cus-tos sociais e ecológicos são tornados invisíveis, oucujos encargos são imputados às pessoas no “Sulglobal”.

O perigo de que o sistema planetário, com o quale em que nós, seres humanos, estamos intrinseca-mente ligados, sofra danos irreversíveis, aumentou etornou-se mais evidente. Para as pessoas na regiãodo Pacífico, a subida do nível das águas do mar jáconstitui uma ameaça diária. A humanidade está emvias de destruir os fundamentos da sua própria sobre-vivência como também os das gerações futuras. Ape-nas lhe restam poucos anos para tomar as opções ne-cessárias, por exemplo, relativamente à mudança doclima. Os desenvolvimentos ameaçadores vão-seagravando e quando atingem certos “pontos de infle-xão”, os “elementos de inflexão”1 podem resultar emdanos irremediáveis. Uma vez ultrapassado estespontos, o sistema já não pode adaptarse continua elentamente, e as reações desencadeadas provocarãouma dinâmica não-linear com mudanças possivelmen-te dramáticas e abruptas.

Exemplos para tal são:– a fusão das calotas polares como parte da mu-

dança climática com suas graves consequências;– a perda da biodiversidade,– a redução das áreas da floresta húmida primária,– a morte dos recifes de coral e– a eutrofização de muitas águas, sobretudo em virtude da utilização excessiva de adubos na agricultura.

Além destes elementos de inflexão muito citados noâmbito da ecologia, a sociologia refere também ele-mentos de inflexão sociais.2 Embora estes sejammuitas vezes reversíveis, os custos (sociais) e o sofri-mento associados à sua superação são enormes.Exemplos destes elementos de inflexão sociais são:– a crescente clivagem dentro e entre países (ODM 10 “Reduzir as desigualdades”), viabilizada

por uma economia que, no final, “mata” (Evange-lii Gaudium, 53).

– Landgrabbing, a apropriação violenta de recursosnaturais, a luta pela supremacia regional, funda-mentalismo religioso, conflitos étnicos etc. comofatores que em muitos lugares fazem aumentarconflitos, a fragilidade, a expulsão, a fuga e a

migração,– as crescentes tendências nacionalistas e populis-

tas de direita em todo o mundo que, frequente-mente, vão acompanhadas de ameaças e cons-trangimentos para a atuação da sociedade civil

e da Igreja, e da erosão da democracia,– a ameaça constante aos povos indígenas.

Estes desenvolvimentos mostram que ninguém podee deve manter-se afastado. Por isso, a cooperação

Perspectivas da MISEREOR 2018 –20222

A MISEREOR contribui para a justiça e a sustentabilidade, desde o nível local ao global.

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2.1

1 Cf. Hans Joachim Schellnhuber: „Selbstverbrennung: Die fatale Dreiecks-beziehung zwischen Klima, Mensch und Kohlenstoff“. (Autoimolação. Arelação triangular fatal entre o clima, o ser humano e o carbono). Mu-nique: Bertelsmann. 2015. Capítulo 21. Ver também o site do Potsdam-Institut für Klimafolgenforschung:https://www.pik-potsdam.de/services/infothek/kippelementeEntretanto, a larga maioria dos cientistas segue esta abordagem sistêmi-ca e adverte para impactos irreversíveis.

2 O termo "elementos de inflexão" utilizado na ecologia baseia-se original-mente em estudos sociológicos (em inglês “tipping points”) que, todavia,não ficaram tão conhecidos como, mais tarde, os ecológicos.

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para o desenvolvimento também diz respeito a nósmesmos – aqui na Alemanha e na Europa, pois vive-mos em um mundo desfronteirizado. A Alemanha épaís em desenvolvimento, se bem que por outrosaspectos que, por exemplo, o Congo, o Brasil ou My-anmar. Isso é expresso muito claramente na encíclicaLaudato sì e nos 17 Objetivos de DesenvolvimentoSustentável (ODS). Globalmente, “ninguém deve serdeixado para trás” – F.

Há, contudo, também sinais esperançosos que acooperação pode gerar mudanças: Exemplos são acamada de ozono que realmente está a recuperarassim como o Acordo de Paris sobre o Clima.

2.1.2 A transformação socioecológica como respostaA MISEREOR aspira a uma transformação socioecoló-gica que seja inclusiva assim como, numa percepçãoabrangente, sustentável. A concretização desta trans-formação falhou até agora, devido à percepção con-sumista que muitas pessoas têm de “desenvolvimen-to” e “progresso”, como também em virtude dasestruturas econômicas predominantes em todo omundo que produzem condições de vida precárias eque estão profundamente enraizadas nas políticas eculturas. Daí que um “continuar como até agora” nãoé sustentável, nem em termos sociais, nem em rela-ção ao sistema ecológico. A transformação necessá-ria para a justiça global e a preservação da criaçãoexige respostas, para as quais a MISEREOR desejacontribuir, a partir da análise das relações de poder ena medida das possibilidades ao seu alcance. Desdehá décadas que a população mundial consome maisrecursos biológicos do que o planeta pode produzir.O primeiro passo para reduzir a pegada ecológica éfazer o consumo consciente e evitar o desperdício.Convencer pessoas para que, de livre vontade, ajus-tem suas exigências materiais a um nível que tantopara elas como para o ambiente natural seja susten-tável, é deveras um desafio. E também não será umatarefa fácil conseguir as necessárias mudanças derumo a nível político. Por isso, a MISEREOR procuraráincidir, também futuramente, na configuração dascondições-quadro políticas.

Para a MISEREOR, o apelo à conversão não é algofundamentalmente novo, porém, a situação hojeexige, mais do que nunca, aliados e uma ação atodos os níveis. Até agora, as organizações parceirasda MISEREOR atuaram sobretudo a nível local e regio-nal, às vezes a nível nacional e só ocasionalmente a

nível continental. Para ampliar a visão, deve-se inte-grar, em todos os âmbitos, a perspectiva global cen-trada no futuro do planeta, com prioridade para ospobres e a preservação dos ecossistemas globais. Opapel especial que as mulheres podem desempenharnestes processos deve ser valorizado expressamentee a sua participação deve ser promovida.

A MISEREOR continuará a apoiar pessoas, deforma muito concreta, a melhorar suas perspectivasde vida. Para este efeito, a MISEREOR centrará a suaatuação nas questões e propostas das organizaçõesparceiras – as existentes como as novas. Ao mesmotempo, a MISEREOR enfrentará, mais do que nunca, odesafio de colocar também o apoio a projetos (debase) no contexto das grandes questões globais. Ascondições locais dependem das condições globais eo global interfere no local. Mudanças locais que sedeseja alcançar requerem cada vez mais uma coope-ração a nível global. É preciso afinar a busca de opor-tunidades para esta cooperação nos projetos e nasrelações para com os nossos parceiros.

2.1.3 As quatro dimensões da transformaçãoNo caminho para a justiça, a paz e a responsabilida-de pela criação é imprescindível cooperar com pesso-as e organizações em diferentes lugares e através dediferentes abordagens. Neste contexto, realizam-seprocessos de aprendizagem complexos, em quetodos os envolvidos definem seus interesses e cujodesenlace não é previsível.

Nível político:O trabalho a níveis diferentes e complementares(local, regional, nacional e internacional) está nasmãos das próprias pessoas, das suas organizaçõesde representação, das nossas organizações parceirase nas mãos da MISEREOR. Isso não constitui algo denovo para MISEREOR. Uma maior sintonização dasatividades pode ajudar a aumentar a sua eficácia.Cada um sozinho pode assumir a responsabilidadepor si mesmo e agir de forma ambientalmente res-ponsável. No entanto, a mitigação das mudanças cli-máticas para mais além do nível individual e deforma mais generalizada, depende sobretudo dosEstados e de organizações internacionais que mol-dam as condições-quadro como, por exemplo, a infra-estrutura etc. Neste nível incidem também organiza-ções parceiras e a MISEREOR, para que os Estadoscumpram as suas obrigações, nomeadamente noscampos políticos “defesa dos direitos humanos”, “fo-

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mento de princípios democráticos”, “combate à po-breza” e “preservação dos recursos naturais essen-ciais à vida”. Esta missão política é parte da identida-de da MISEREOR.

Nível econômico: Trata-se de construir modelos econômicos, socialmen-te justos e ecologicamente sustentáveis. Isso envolvequestões relativas à necessidade e às condições docrescimento econômico: Quem necessita do cresci-mento de até agora, quem pode prescindir de ummaior crescimento? Será possível haver crescimentocontínuo que seja social e ecologicamente sustentá-vel? Pode uma economia funcionar sem crescimento?Qual é a justa medida de crescimento? Como se podereajustar a relação entre os aspectos globais, regionaise locais? Isso são questões que devem ser exploradaspara que se possa trilhar caminhos econômicos alter-nativos. MISEREOR continuará a apoiar os que desen-volvem relações econômicas alternativas. Ao mesmotempo reforçará o diálogo crítico com atores econômi-cos relevantes.

Nível tecnológico:Desenvolvimentos tecnológicos abrem novas oportu-nidades mas também comportam riscos. Os limitessão atingidos quando convertem tudo, também o serhumano, em um objeto do qual querem dispôr livre-mente (cf. LS 102-114). Embora o progresso tecnoló-gico por si só não leve à transformação necessária, écerto que a pesquisa e a inovação (por exemplo naprodução de energia) são indispensáveis e importan-tes (cf. LS 164).

A digitalização está avançando em todas as áreasda nossa vida. Emerge um mundo interconectado,onde a Share Economy (por exemplo car sharing oucarros compartilhados) mostra que a possibilidadede uso pode tornar-se mais importante do que a pro-priedade. A participação digital gera também oportu-nidades de participação social e política. Também asorganizações parceiras encontram oportunidades comodesafios na progressiva digitalização: há crescente-mente uma mudança no conteúdo dos projetos comotambém na configuração da relação das organiza-ções parceiras para com seus grupos alvo, e na coope-ração entre as organizações parceiras e MISEREOR.

Dimensão cultural-religiosa:Para que a transformação socioecológica se torneuma preocupação abrangente, é preciso que hajauma profunda mudança de mentalidade, no sentido

de uma orientação para o bem comum global – parao Bem Viver de todos os seres humanos, das gera-ções presentes e futuras. Sem uma mudança de valores,não se alcançará de forma duradoura justiça global,paz e responsabilidade pela criação. A mudança dementalidade fomenta a construção de estruturasmais justas e sustentáveis. Contudo, a mudança dementalidade pressupõe processos morosos. Nestecontexto, as religiões e filosofias de vida, enquantocomunidades, podem prestar um contributo específi-co, não se esgotando aí o seu papel.

O fundamento é o diálogo e a cooperação concre-ta. Assim, a MISEREOR continuará contribuindo como potencial da sua espiritualidade no sentido deuma fé libertadora. Ela é a base para uma redefiniçãode “progresso” e “desenvolvimento” (cf. LS 191,194). Nesta fé está fundamentada e enraizada anossa esperança para a humanidade e a criação.

Para a MISEREOR, a Campanha de Quaresmaocupa um lugar central neste processo. Seu objetivoé uma solidariedade universal, em que as pessoaspensam e agem para o bem da comunidade, onde avida de todos é mais importante do que a acumula-ção de bens de alguns poucos. “A solidariedade, en-tendida no seu sentido mais profundo, é uma formade fazer história.” (Papa Francisco aos participantesno primeiro Encontro Mundial dos Movimentos Popu-lares, Roma, 28 de outu-bro de 2014). A MISEREORcontribui com suas diversas possibilidades em todosos continentes para a proliferação desta orientaçãopara o bem comum de todos e para esta transforma-ção cultural.

2.1.4 Exemplo: Urbanização sustentável e inclusivaNeste contexto, cabe fazer referência ao trabalho daMISEREOR na área do desenvolvimento urbano sus-tentável e da promoção de relações campo-cidade jus-tas. Visto que a urbanização progride a um ritmoavassalador em todo o mundo, ameaçando que osdesenvolvimentos ecológicos e sociais atinjam umperigoso “ponto de inflexão”, MISEREOR deve prosse-guir e intensificar o trabalho que tem vindo a desen-volver exitosamente nesta área. Os direitos de todasas pessoas que vivem em e de espaços urbanosdevem ser garantidos e a sua defesa uma prioridade,também quando são feitas as adaptações necessári-as à mudança do clima. Só assim a urbanização po-derá realizar-se em harmonia com a qualidade devida e a dignidade humana. A cidade e o campo são

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suas respectivas tradições um rico acervo para pro-mover a convivência pacífica e o respeito pelos recur-sos naturais. Quando se articulam ou cooperam comoutras organizações têm melhores possibilidades deserem ouvidas. É imperioso que se oponham quandoas suas tradições religiosas são instrumentalizadaspor discursos para dar legitimidade à violência. AMISEREOR, como organização baseada na fé, devefocalizar continuamente a responsabilidade que lhecabe a este respeito.

2.2.3 Para tal efeito, a MISEREOR deve encorajar eapoiar as suas organizações parceiras em todo omundo a cumprir a sua responsabilidade pela paz,especialmente lá onde vive um grande número de ví-timas de guerra, de terror e de outras formas de vio-lência, ou lá onde a convivência das pessoas é grave-mente perturbada ou comprometida.

2.2.4 Na Alemanha, a MISEREOR deve, em parceriacom os diversos grupos da sociedade civil, continuara questionar, criticamente, condutas que incentivama violência na economia, nas finanças, cultura e polí-tica e apoiar medidas que promovem a paz. Em parti-cular, a MISEREOR deve empenhar-se, juntamentecom outras organizações da sociedade civil e religio-sas, no fortalecimento de medidas de resolução pací-fica de conflitos.

2.2.5 A violência está frequentemente na raiz da mi-gração. No entanto, o aumento dos fluxos migratóriosé também o resultado de um conjunto complexo defatores econômicos, sociais, políticos, demográficos,culturais ou ecológicos. A migração, por um lado, éuma constante antropológica na história da humani-dade, por outro, é uma estratégia de adaptação àscondições ambientais em mutação, como inunda-ções, falta de água ou tempos de chuva imprevisíveis. Ainterconexão global e a concorrência crescente pelosbens e recursos cada vez mais escassos geram fluxosmigratórios e conflitos que, por sua vez, provocam des-locações e fuga. Ao mesmo tempo, os desastres am-bientais aumentaram acentuadamente nos últimosanos. Os impactos da mudança do clima já comprome-tem os meios de subsistência de regiões inteiras.

Por isso, a atuação da MISEREOR na área de mi-gração e fuga só poderá ser eficaz se, na cooperaçãopara o desenvolvimento, prestar atenção a essaestrutura causal e aos diferentes campos e níveis deintervenção, associando-os plenamente entre si em

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2.2.1 Em muitas regiões da terra, tensões sociais,políticas, étnicas e religiosas degeneram em conflitosviolentos. Com frequência crescente, estes conflitosresultam no desmoronamento e na desintegração deEstados. Surgiram novas formas de guerra com umgrande número de grupos armados não estatais. Ge-ralmente, o emprego da força militar é precedido poruma fase latente com crescente agitação, durante aqual medidas de prevenção da violência podem con-tribuir para o desagravamento das tensões. Para a re-solução de conflitos violentos e nas fases pós-confli-to, são necessários múltiplos esforços para promovera construção de uma paz justa e duradoura.

2.2.2 Atores estatais e representações políticas daspartes envolvidas no conflito são as primeiras instân-cias responsáveis pela promoção da paz. Mas tam-bém sobre os atores da sociedade civil, entre eles asreligiões, recai uma responsabilidade pela preven-ção da violência, pela transformação pacífica de con-flitos e pelo fomento dos esforços de reconciliação.As comunidades religiosas enfrentam o desafio parti-cular de cumprir a sua responsabilidade pela paz.Porque, como comunidades religiosas, possuem nas

A MISEREOR promove a paz e contribui para a defesa dos direitos e a proteção

de refugiados ou migrantes.2.2

dependentes um do outro e a sua interação deve serfortalecida. O desenvolvimento urbano sustentávelrequer também um desenvolvimento rural que pro-porcione condições de vida dignas no campo.

2.1.5 A opção pelos pobres e a opção pela criação A MISEREOR permanece fiel à opção pelos pobres.Tendo em conta a preservação da criação ferida, apergunta que se coloca em relação a novos parceiros,aliados e grupos alvo, não é tanto “se”, mas sim “deque forma” MISEREOR pode ou quer cooperar com in-divíduos e grupos das novas classes médias globais.Isso deve-se sobretudo ao papel essencial que estegrupo social que cresce vertiginosamente em todo omundo terá no consumo de recursos e na mudançado clima, na formação de valores sociais e em pro-cessos políticos. Em especial, trata-se de aumentar aconsciência sobre justiça e solidariedade, a preserva-ção dos recursos naturais essenciais à vida assimcomo a necessidade de uma mudança de comporta-mentos.

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

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todos os níveis: paz, direitos humanos, desenvolvi-mento e ecologia. Na política internacional e na so-ciedade civil, isso evoluiu para um campo de inter-venção autônomo. Aqui, a cooperação para o desen-volvimento destina-se a melhorar as condições lo-cais, fortalecer estruturas e desenvolver perspectivas.Ao mesmo tempo, pessoas refugiadas ou migrantessão apoiadas e as comunidades acolhedoras fortale-cidas. Isso deve contribuir para que, numa fase pos-terior, os afetados possam decidir de forma livre eautodeterminada se querem ficar ou seguir paraoutro lugar.

2.2.6 Situações de fuga cada vez mais prolongadasdestituem os atingidos das suas capacidades e possi-bilidades de autodeterminação. Mas migrantes e re-fugiados possuem também um grande e variado po-tencial que pode ser útil e aproveitado no trabalho deapoio. A maioria das pessoas foram deslocadas den-tro dos seus países ou migram para países vizinhos.Proporcionar-lhes apoio e proteção continuarão a exi-gir grande atenção por parte da MISEREOR, tantomais que elas, assim como também a populaçãolocal que as acolhe, estão especialmente dependen-tes de ajuda.

2.2.7 Direitos internacionais de proteção às pessoasatingidas, entre os quais o reagrupamento familiar, odireito ao trabalho e à educação, são essenciais parauma vida digna e para a integração exitosa nas socie-dades dos países acolhedores. Como organização in-terligada com a sociedade civil e a Igreja Mundial, a MI-SEREOR deve trazer os seus valores para os discursospolíticos na Alemanha e Europa, a partir do seu traba-lho, baseado nos direitos e orientado para o desenvol-vimento com migrantes e refugiados, apesar da oposi-ção que possa enfrentar. Em especial, a MISEREORvolta-se contra uma instrumentalização política de me-didas de desenvolvimento para gerir os fluxos migrató-rios, o que muitas vezes apenas serve para agravar adivisão entre o Norte global e o Sul global.

Desde o início, a união da Igreja Universal e a ineren-te parceria mundial era, nos olhos da MISEREOR, umadessas redes que se interligava cada vez mais com asociedade civil que emergia. Nesse tipo de rede,cada organização participante investe sua expertise eseus recursos em forma de tempo, meios financeiros,conhecimento, poder de mobilização, etc. Em con-junto se busca soluções, se aprende com o outro. Ocritério para a participação é dispor de experiênciaconcreta (em projetos) e conhecimento especializadono tema específico. A cooperação resultará apenasse caminharmos juntos na busca pelas soluções. Issoirá favorecer a evolução para a igualdade de direitosnas relações. A MISEREOR poderá criar as condiçõesnecessárias a fim de instalar o diálogo. Porém, a or-ganização terá de apontar de forma clara sua própriaposição temática e suas raízes, a fim de garantir seulugar no debate. No decurso do debate, MISEREORtem que ter disponibilidade total para questionar suaprópria opinião, só assim sendo possível, em conjun-to com seus parceiros, negociar novas posições e de-senvolver conhecimento especializado numa parceriatão forte.

2.3.2 A MISEREOR tem expectativas justificadas noque toca a prestação de contas das organizações par-ceiras. Porém, terá de estar atenta à questão se os in-teresses das organizações parceiras estão a ser toma-dos em contas de forma satisfatória ou se os temas eos interesses da MISEREOR lhes estão a ser impostos.

Ao mesmo tempo, levanta-se a questão sobrecomo as organizações parceiras da MISEREOR podemcontinuar a reforçar os processos de desenvolvimen-to, que surgem por iniciativa das pessoas empobreci-das. É muito frequente estas não serem reconhecidascom a devida seriedade, por parte das organizaçõesapoiantes, como sendo o alvo do seu próprio desen-volvimento. Não obstante, desde sempre, a chancepara o desenvolvimento reside no potencial, nasideias e nos anseios dos homens e mulheres. Os es-forços empreendidos por MISEREOR em África, naÁsia, América Latina e também na Alemanha, no sen-tido de reforçar esse conceito (por exemplo, desen-volvimento liderado pelas pessoas – People led Devel-opment), devem ser continuados e intensificados.

2.3.3 As redes são sítios de encontro e de diálogoque podem servir de base na formação de uniões.Elas ajudam a alargar a base a partir da qual poderáemergir a influência na sociedade, política, eco-

10

2.3.1 Uma cooperação transversal aos continentesno contexto de questões sobre o futuro a nível mundi-al requer um trabalho mais intenso nas redes e a for-mação de comunidades.

A MISEREOR reforça sua participação em redes, tanto no Sul global como

no Norte global

2.3

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

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nomia e religião. A esperança por mudança só podecrescer onde existem alternativas à injustiça e à des-truição da natureza existentes. Porém, quando assemelhanças são demasiado ténues, o trabalho po-derá ser paralisado ou o reconhecimento do perfil daMISEREOR poderá sair desfavorecido.

2.3.4 Isso aponta para um conceito de desenvolvi-mento mais profundo. O que está em causa é a atitu-de, a espiritualidade na prática da cooperação para odesenvolvimento: a imposição dos direitos humanos,o esforço constante na luta por uma paz justa, a con-vivência dos gêneros, etnias e gerações em pé de igual-dade, o reconhecimento do valor próprio do mundonatural circundante.

A consternação comum, que, no entanto, se mani-festa de forma diferenciada, relativamente aos pro-blemas globais, resulta na necessidade de se encon-trar um consenso na atuação comum no mundo. Anível da Igreja, esse intercâmbio está sendo efetuadona Alemanha, em particular no âmbito da Conferên-cia Igreja Universal e da cooperação ecumênica. Aconsciência de que a cooperação global será o me-lhor meio para enfrentar os desafios atuais, e a esterespeito a Alemanha também não é mais que umpaís em desenvolvimento, tem impacto nas relaçõesda MISEREOR com as pessoas e suas organizaçõescom as quais coopera em todo mundo. Ela represen-ta uma chance de aprofundar a consciencialização jáexistente mas sempre difícil de atingir: o que maisimporta em qualquer trabalho da MISEREOR é o nívelrelacional. Sem relações viáveis, assentes em igual-dade, respeito, tolerância, solidariedade e capacida-de de crítica, a cooperação nos temas comuns emcontinentes diferentes dificilmente será possível. Aimportância desta pretensão não é diminuída pelosimples facto de o dinheiro e o poder influenciaremas relações e dificultarem a igualdade.

2.3.5 A MISEREOR pode decidir avançar com proje-tos concretos, junto com organizações parceiras jáexistentes ou novas, cuja concepção, observação eavaliação serão efetuadas de forma particularmenteintensa. Esse tipo de “laboratório” poderá providenci-ar o instrumento essencial para trabalhar determina-das questões de forma especializada, no sentido dainterconexão e da internacionalização no sul e nonorte. O trabalho prático no contexto dos desafiosglobais deverá criar novo conhecimento sobre os pro-cessos da mudança assim como promover a troca e

11

2.4.1 Nos tempos que correm, marcados pela globa-lização, uma separação categórica a nível geográfico,ou dentro e fora do país, tornou-se desapropriado.Em todos os domínios do seu trabalho, a MISEREORtem de ter em atenção não só o Sul geográfico comotambém o “Sul global” na Alemanha e na Europa.3

2.4.2 O trabalho de desenvolvimento sustentável temde assegurar que o contexto, em que o trabalho érealizado, seja compreendido integralmente e que per-mita uma atuação focada em mais justiça e responsa-bilidade pela criação, não só no Sul geográfico mastambém na Alemanha e na Europa. A MISEREOR temconsciência de que a transformação contínua comoconsequência da globalização contribui para a insegu-rança e o sentimento de sobrecarga em muitas pesso-as. Daí resulta o isolamento e a xenofobia, ou outrostipos de resistência contra a transformação socioecoló-gica, tão fortemente exigida. A MISEREOR terá de apli-car uma forma adequada de enfrentar essa situação.

2.4.3 Para a MISEREOR, como organização de coope-ração ao desenvolvimento, na Alemanha, no centroda Europa, a dimensão internacional da cooperaçãoé de primária importância. É a esse nível que a MISE-

A MISEREOR trabalha nos desafios globais da transformação socioecológica,

também na Alemanha e na Europa. 2.4

3 Para a MISEREOR isto não é terreno desconhecido: em 1996, a MISERE-OR trabalhava em conjunto com a organização BUND (Organização paraproteção do ambiente e da natureza na Alemanha), promovendo o estudo“A Alemanha sustentável. Um estudo sobre o desenvolvimento global su-stentável.”, no Instituto do Clima, Ambiente e Energia de Wuppertal. Estetrabalho deixou uma marca importante nos anos 90 no debate sobre a su-stentabilidade na sociedade alemã.

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

disponibilização a nível internacional do mesmo. Istorequer espaço suficiente para a criatividade e coope-ração entre disciplinas diferentes. Um exemplo dissoé a justiça bem sucedida, sustentabilidade, reforçodas opções de atuação local e cooperação global. Seos resultados forem positivos, a mensagem passadaao público é igualmente positiva: aqui as coisas fun-cionam manifestamente bem! A mudança é possivel!Idealmente promoverão, para além da aprendizagemconjunta dos participantes, que o foco de atenção dopúblico se afasta dos problemas e se dirige para assoluções.

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REOR se empenha, como membro ativo, no trabalhoda Rede Internacional das Organizações Católicaspara o Desenvolvimento CIDSE4.

2.4.4 Na Alemanha, para a MISEREOR, a seculariza-ção continuada, a pluralização da religião e a profun-da transformação na Igreja, representam desafiosconcepcionais e organizacionais importantes mastambém uma multiplicidade na projeção do seu tra-balho. Cada vez mais pessoas vivem a sua fé sempertencerem a uma comunidade religiosa. O direitoà liberdade da religião tornou-se também a nível glo-bal uma missão política central. É na base da auto-concepção cristã que se desenvolve o trabalho da MI-SEREOR na Alemanha, com o crescente número deatuantes diferentes no âmbito da transformação soci-al e ecológica. É importante partir das seguintes as-sunções:– a cooperação ecumênica deu provas positivas e

deverá ser continuada.– as bases na sociedade civil e as na Igreja devem

ser reforçadas de modo a continuarem a provi-denciar os alicerces sociais, financeiros e políti-cos necessários.

– o entendimento e a cooperação transversais àsculturas e religiões desempenham um papel cadavez mais importante para a MISEREOR, mesmo naAlemanha.

2.4.5 A base social da(s) Igreja(s) na Alemanha estáem recessão. Como organização pertencente à IgrejaCatólica, a MISEREOR continuará a contar com as pes-soas que apóiam a obra graças à sua própria crençae experiência cristãs. Seguindo a missão do Evan-gelho e a fim de ter impacto na sociedade, a MISEREORdeve manter sua pre-sença nas paróquias, dioceses,ordens, movimentos, grupos e associações. Hoje,aproximar-se das pessoas e fazer parte da sua vivên-cia é ainda mais importante. Por outro lado, a MISE-REOR tem um papel importante como força capaz deaglutinar e reforçar as correntes ligadas à Igreja nosentido de sustentar a transformação e de as tornarvisíveis à sociedade.

2.4.6 Ainda seguindo o mote da última Comissão deperspectivas - “Dar uma cara à MISEREOR” – MISE-REOR continua a investir na sua visibilidade na Ale-manha. A orientação da MISEREOR no que toca atransformação global necessária para a promoção dobem-estar no mundo deve tornar-se cada vez mais

12

2.5.1 A MISEREOR demonstra com exemplos concre-tos como a transformação socioecológica é possívelem todo mundo e como ela pode ser concebida e pro-movida pelas pessoas em conjunto. O lema da cam-panha de outdoors e da Campanha de Quaresma de2017 - “O mundo está cheio de boas ideias. Deixe-ascrescer.“ – e a campanha atual sobre projetos orien-tadores que permitem a ajuda à autoajuda, demons-tram que a MISEREOR está no caminho certo.

2.5.2 Não se trata de colocar simplesmente deforma positiva as questões negativas ou complexas.É importante que a injustiça social, econômica, políti-ca e cultural e o constante exceder das capacidadesdo planeta permaneçam no foco das atenções. Aomesmo tempo, porém, o potencial, a criatividade, aforça inovadora e a resiliência das pessoas deverãoestar cada vez mais em primeiro plano. É a dignidadedas pessoas afetadas e das a quem se dirigem asações de captação de fundos e de relações públicase educativas da MISEREOR que está em causa.

2.5.3 A MISEREOR concorre com outras organiza-ções e entidades de cooperação pelas doações. Exis-tem expectativas diferentes no que toca a comunica-ção aos doadores, o que significa ter de enfrentar odesafio de responder adequadamente às expectati-vas dos grupos de doadores, ao mesmo tempo quepromover a consciencialização do público para a ne-cessidade de uma transformação global.

2.5.4 Conseguir o equilíbrio destes dois propósitosnão é fácil: por um lado, com o nosso consumo de re-cursos, estamos constantemente a exceder a capaci-dade do planeta, e por outro a MISEREOR tem de en-dereçar estes temas junto das pessoas que se encon-tram no centro da sociedade e cuja agenda não incluia sustentabilidade global e a justiça social como pon-

A MISEREOR reforça a visibilidade

do potencial das pessoas empenhadas por um mundo justo e sustentável

2.5

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

4 A CIDSE (“Coopération Internationale pour le Développement et la Solida-rité”) é uma rede que integra 17 organizações católicas para o desenvolvi-mento. A MISEREOR é parte integrante desta rede, trabalhando em con-junto com 15 organizações europeias e duas norte-americanas.

perceptível na comunicação com os diferentes gru-pos alvo e nos canais de comunicação na Alemanha.

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2.6.1 Deverá ser continuado o processo de permea-bilização das divisões na MISEREOR, processo esseque já tem sido seguido há vários anos, e recente-mente até intensificado. Significa isso organizar o tra-balho de forma transversal aos departamentos comomaneira a promover a consciência e atitude de per-tença e de responsabilidade comum de todos os cola-boradores.

2.6.2 A crescente digitalização trará novas possibili-dades e desafios os quais a MISEREOR deverá enfren-tar com espírito construtivo. As consequências para otrabalho da MISEREOR já se fazem sentir. Mesmo osprocessos internos requerem uma avaliação constan-te e em alguns casos adaptação a esta nova realidade.

2.6.3 A MISEREOR adopta a transformação social eecológica na própria organização. Em primeiro lugar,isso significa uma atitude de respeito perante os ou-tros, a natureza e consigo própria. A nível de organi-zação interna, a gestão do ambiente, a justiça de gê-nero e a inclusão saem reforçados.

2.6.4 A MISEREOR compromete-se, tal como no pas-sado, em ter colaboradores(as) competentes e delhes proporcionar continuamente formação com vistaa manter e desenvolver a qualidade do trabalho. O

A MISEREOR orienta sua organização

interna para os desafios e possibilidades

da transformação socioecológica

2.6

2.7.1 Através de suas ações de captação de fundosnos últimos anos, a MISEREOR conseguiu aumentar asreceitas de doações específicas e não específicas evindas de fundações e empresas. Isto permite compen-sar significativamente as coletas decrescentes dasCampanhas de Quaresma no passado. Esses esforçosno sentido de aumentar as receitas devem ser conti-nuados. Assim, deve também ser contrariada, da mel-hor forma possível, a tendência decrescente das recei-tas nas coletas das Campanhas de Quaresma. As con-tribuições oriundas do imposto da Igreja, vindas atra-vés da Associação das Dioceses na Alemanha (Ver-band der Diözesen Deutschlands, VDD), têm vindo adiminuir continuamente desde 2010 em 2 por centoanuais. Ao mesmo tempo, as receitas de fundos públi-cos, o chamado título eclesiástico do Ministério Fede-ral da Cooperação Econômica e o Desenvolvimento(BMZ), através da Associação Católica de Cooperaçãoe Desenvolvimento (Katholische Zentralstelle für Ent-wicklungshilfe, KZE), que está ligada à MISEREOR,têm aumentado continuamente nos anos passados.Assim, nos anos passados e numa análise global, aMISEREOR tem registrado um crescimento regular dosrecursos que estão à sua disposição. É importante quea MISEREOR continue a envidar todos os esforços paraque estas receitas estejam asseguradas.

2.7.2 A MISEREOR deve abraçar esse crescimento deforma construtiva e ao mesmo tempo não perder devista os seus limites.

A fim de garantir sua independência, dado o au-mento de meios públicos, a MISEREOR tem de reforçara angariação de fundos diversificada e específica agrupos alvo. Neste contexto, serão avaliadas novasmedidas, sendo que o investimento adicional globalnecessário deverá manter-se, conforme definido pelascomissões de decisão da MISEREOR, abaixo do limitede 10 por cento estabelecido pelo Instituto Central Ale-mão para Questões Sociais (DZI) para despesas de re-presentação e adminis-tração (categoria “baixo”).

A MISEREOR assegura suas receitas e garante um crescimento dos próprios fundos,

a fim de cumprir sua missão fundamental. 2.7

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

tos mais importantes. A MISEREOR tem de conquistaras pessoas e as instituições em prol de uma transfor-mação da visão do mundo, para que em conjuntopossam conceber caminhos viáveis e financiáveis naprocura de novos estilos de vida. Porém, tanto entrenós e na classe média emergente dos países do Sulgeográfico sente-se uma forte resistência contra as res-trições materiais. Ainda é insuficiente o número depessoas que partilha a convicção de que a simplici-dade, em oposição à abundância e ao desperdício,pode ser enriquecedora.

2.5.5 Para a maioria dos jovens, não basta apenas in-formar e contar histórias interessantes. Muitos procu-ram uma forma de engajamento e envolvimento. Nissoreside um forte potencial que a MISEREOR tem desaber aproveitar de forma adequada. A tecnologia digi-tal poderá providenciar diversas formas de partilha.

trabalho em prol da transformação e internacional re-quer colaboradores(as) com uma atitude aberta noplano religioso e com capacidade de diálogo intercul-tural. A MISEREOR deve sustentar essa atitude nosseus colaboradores(as).

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As linhas diretrizes formuladas pela Comissão de Per-spectivas para o trabalho da MISEREOR nos anos de2018 a 2022 colocam a organização diante de gran-des tarefas. Para enfrentá-los, MISEREOR confia numamplo respaldo da Igreja e da sociedade. Apesar dapressão de tempo que resulta da urgência de respos-tas aos desafios globais descritos acima, MISEREORdeve atuar ponderadamente e dar todos os passosem conjunto com os seus parceiros. MISEREOR devemanter o coração e os ouvidos abertos para os excluí-dos deste mundo e contribuir para o cuidado da Terracomo casa comum de todos nós. Os próximos passosa tomar devem ser negociados e acordados com osparceiros em todo o mundo.

Isso não dispensa a MISEREOR da sua tarefa de defi-nir, por sua vez, passos de ação concretos com basenestas linhas diretrizes. Neste sentido, há que deter-minar o que as linhas diretrizes significam para o tra-balho da MISEREOR em geral como também paracada unidade de trabalho, não só neste período quin-quenal, mas também nas fases anuais. Para tal efeito,MISEREOR deve aperfeiçoar o sistema de planejamen-to interno que atualmente está sendo experimentado,e no qual as linhas diretrizes deste relatório devemocupar um lugar central como orientação geral. Esteplanejamento não poderá ocorrer sem o diálogo per-manente na rede mundial de parceiros e, portanto,deve estar sempre aberto para acolher novas ques-tões que talvez só venham a manifestar-se nos próxi-mos anos.

Observações finais: 3

Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

2.7.3 A captação de fundos também é trabalho desensibilização do público, e viceversa. Com vista à coe-rência na comunicação, o trabalho de sensibilizaçãodeve assegurar a visibilidade da MISEREOR tambémnas redes e alianças. Na comunicação com os doado-res, a perspectiva da transformação socioecológica de-verá ganhar maior destaque.

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1. Vigário-geral capitular Theo Paul Presidente do Conselho Administrativo

2. Katharina Jestaedt Conselho Administrativo

3. Hans Mülders Conselho Administrativo

4. Deão Werner Rössel Conselho Administrativo

5. Dr. Hans-Peter Röther Conselho Administrativo

6. Cônego Christoph Warmuth Representante eleito da Assembleia Geral

7. Dorota Steinleitner Representante eleito da Assembleia Geral

8. Michael Schöpf, SJ Presidente do Conselho Consultivo

9. Bernd Mussinghoff Secretaria da DBK, Subcomissão pela MISEREOR

10. Mons. Pirmin Spiegel Direção da MISEREOR

11. Dr. Martin Bröckelmann-Simon Direção da MISEREOR

12. Thomas Antkowiak Direção da MISEREOR

Membros da Comissão de Perspectivas 4

15Relatório da Comissão de perspectivas IV – MISEREOR, Quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

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Frontispício: Schwarzbach/MISEREO

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